Uma chama imensa

Submetida por Andris em
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Lágrimas, palmas, emoção. Mito, rei, lenda, o melhor de sempre! Faltam palavras para Eusébio da Silva Ferreira; para o dia que Lisboa viveu ontem, no adeus, o último adeus, à maior figura do futebol português. As 15 mil pessoas que correram ao Estádio da Luz foram, certamente, poucas comparadas com aquelas que gostariam de ter estado na homenagem ao Pantera Negra. Foi ali, em pleno relvado, que tantas vezes tratou por “tu”, e que poucos segredos lhe escondia, que Eusébio se despediu dos que o amam, idolatram e não o esquecem. Foi ali que se cumpriu o último desejo de uma figura mundial. Foi ali que a família de sangue, Flora, a companheira de todas as horas, e as filhas, Sandra e Carla, choraram o adeus partilhado com a multidão, e com a outra família, a do futebol. Luís Filipe Vieira foi apenas o anfitrião numa casa pequena para tantos anónimos e conhecidos, para jogadores da Seleção, que perde um embaixador, para os futebolistas do Benfica, alguns inconsoláveis no momento do adeus. Em Dia de Reis, Lisboa parou para acenar ao Pantera Negra. Na Luz, ou ao longo do trajeto até à Praça do Município, foram muitos os anónimos que se renderam a Eusébio, que coloriram o momento, e que estenderam pela capital a figura duma enorme passadeira vermelha, onde só os melhores têm direito a passar. Luto por um ano. O momento é de emoção, mas Vieira quer que o país não o esqueça e promete um ano de luto na equipa e no clube por Eusébio.Uma forma, mais uma, de homenagear a maior figura do emblema encarnado. Falar no dia de ontem é sinónimo de intensidade, de multidão.Foi assim durante todas as cerimónias fúnebres, cujos horários foram religiosamente cumpridos até à chegada ao cemitério do Lumiar, onde, para já, na campa número 439, está Eusébio. A trasladação para o Panteão é, agora, um assunto em discussão, um desejo dos benfiquistas e dos amantes do futebol em geral. Foi ali, no Lumiar, muito perto do local onde vivia, que a multidão teve séria dificuldade em despedir-se de Eusébio. As ruas estreitas complicaram a passagem do carro que transportava o Rei.Há imagens que ficam para a eternidade.A de Cardozo agarrado ao carro, de Luisão a chorar compulsivamente, de Rui Costa em apoio a Flora e a tentar, juntamente com Jesus, organizar a entrada no cemitério, são algumas das que ninguém vai esquecer. São as caras de um clube que Eusébio amou até ao fim. De um clube, um país que lhe mostrou respeito e admiração. Sinónimo de união Hoje é dia de treino no Seixal, de trabalho para a generalidade dos portugueses. O ponteiro dos relógios vai andar à velocidade normal de um outro qualquer dia, menos acelerado do que o palpitar de milhões de corações que se despediram de Eusébio, presencialmente ou através da televisão. Sem política, sem cores, sem clubes. De cumprimentos entre Luís Filipe Vieira e Bruno de Carvalho, entre Passos Coelho e António José Seguro. Uma chama imensa, uma prova de união. Uma forma dos portugueses lhe dizerem as últimas palavras. Um enorme obrigado! Rui Costa, Jesus, Luisão e Cardozo resistiram a tudo O dia foi muito longo, mas nem a chuva nem o frio nem mesmo o enorme número de pessoas que marcaram presença no cemitério do Lumiar impediu Rui Costa, Jorge Jesus, Luisão e Cardozo de ficarem ao lado da viúva de Eusébio, Flora, e das duas filhas da antiga glória das águias, Sandra e Carla. O quarteto aguentou até ao fim: acompanhou de perto o carro funerário, assistiu atentamente à missa no cemitério e manteve-se bem perto da família mais próxima de Eusébio, enquanto os restos mortais do antigo internacional português eram entregues à terra. Visivelmente emocionados por todo o contexto, o administrado da SAD Rui Costa, o treinador Jorge Jesus e os capitães Luisão e Cardozo resistiram a tudo e a todos. Mantiveram-se hirtos e firmes no acompanhamento da última viagem de Eusébio e não arredaram pé enquanto Flora, Sandra e Carla prestavam a última homenagem ao marido e ao pai.