Entrevista a Rui Mourinha

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 Rui Mourinha em entrevista exclusiva
«Trabalho de José Jardim tem de ser reconhecido»

O presidente da secção de voleibol do Benfica cedeu uma entrevista exclusiva ao site oficial do Clube, tendo feito um ponto de situação relativamente às expectativas da modalidade no Campeonato Nacional. No entanto, também a organização da prova e até as competições europeias foram focadas numa franca conversa onde nem faltaram as referências ao saudoso Dudu, ao recém-operado Manuel Silva e ao treinador José Jardim.

«O treinador pensa mais nisto do que na família»

P – A preparação para a actual temporada ficou inicialmente marcada pela impossibilidade física de Manuel Silva em ajudar a equipa. Agora que já recupera da operação a que foi sujeito, acha que ele ainda vai a tempo de festejar o desejado título?
R – De facto, não contávamos com essa situação no início da época, mas pode acontecer a qualquer jogador. Segundo o médico, se ele não fosse operado poderia ter de terminar a carreira. Ainda tem mais um ano de contrato e queremos que volte em grande, embora saibamos que até ao final deste campeonato deverá ser difícil vir a recuperar a tempo. Esperemos que ele festeje uma possível conquista do título e da Taça connosco, mas será difícil que o faça em campo. Vamos ver...

P – Por seu turno, a equipa tem somado vitórias, mas perdeu em casa com os seus dois principais oponentes. Mas ainda é possível terminar a primeira fase do campeonato em primeiro lugar?
R – Nós queremos terminar a primeira fase do campeonato em primeiro lugar, porque o factor casa é importante no play-off. Depois, claro, queremos chegar ao título. Falta muito campeonato e a equipa está a ultrapassar muito bem os desaires averbados com o Sp. Espinho e o V. Guimarães.

P – Os sócios podem estar, pois, descansados com os intentos desta equipa.
R – Nós treinamos quase todos os dias de manhã e à tarde. Não é por falta de trabalho que deixaremos de tentar cumprir os nossos objectivos. Os sócios podem estar descansados quanto à quantidade e qualidade de trabalho que esta equipa realiza. Além disso, exagerando um pouco, podemos dizer que o treinador principal pensa mais nisto do que na família. Quanto à escolha que fazemos dos atletas, somos sempre muito criteriosos e isso voltou a acontecer este ano, onde nos sentimos satisfeitos com o profissionalismo de cada um deles. Agora, quando jogamos diante de grandes equipas, tudo isso pode ser colocado em causa por uma bola que cai de um lado e não do outro. É o voleibol.

P – No entanto, o que o Benfica tem conseguido nos últimos anos é de louvar, especialmente tendo em conta que a nata do voleibol nacional está localizada a Norte?
R – Nós temos maior dificuldade em encontrar voleibolistas de qualidade, porque eles estão mais concentrados no Norte, onde mudam de clube para clube sem terem de mudar de casa ou de hábitos. Depois, em termos económicos, torna-se quase tão dispendioso contratar alguém a um clube nortenho como em ir ao estrangeiro. Lisboa não é, de facto, a capital do voleibol.

«Não tem lógica abdicar de uma equipa competitiva só para ir à Europa»

P – As jornadas duplas acabam por não ajudar à estabilização definitiva da equipa...
R – É um facto crónico num campeonato que se realiza entre Outubro e Abril. Jogamos vários fins-de-semana ao sábado e ao domingo. Existe sempre alguma causa para isso. Este ano foram os Jogos da Lusofonia. O que é certo é que a fase competitiva fica muito encurtada e concentrada. Depois temos de fazer as jornadas duplas, sempre muito desgastantes, especialmente no nosso caso, que somos a única equipa do Sul.

P – Talvez por isso se justifique, também, a ausência nas competições europeias.
R – Sim. É uma experiência muito desgastante, tendo em conta que fazemos jornadas duplas no campeonato. O ano passado chegámos a fazer 11 jogos em 15 dias. Nem tínhamos tempo para treinar. Além disso, a Liga dos Campeões está completamente acima das possibilidades financeiras das equipas portuguesas. Podemos participar na Top Teams Cup ou na Taça CEV, mas por norma apanhamos equipas de leste, sendo as viagens muito longas. Felizmente que a CEV deverá alterar o formato da prova, realizando-se em poules, com decisões em três dias antes de uma fase final jogada em casa e fora.

P – Mas podemos sonhar com um Benfica a participar na Liga dos Campeões dentro de pouco tempo?
R – Sonhar não custa, mas no estádio actual do voleibol nacional é muito complicado porque é uma prova com caderno de encargos que se aproxima quase de uma liga de futebol. A orgânica que envolve os jogos é mais pesada. Assim, não tem lógica abdicar de uma equipa competitiva só para ir à Europa. Preferimos começar por cimentar as conquistas nacionais e só depois pensarmos mais além.

«Ajudar a máquina a manter-se oleada»

P – Falemos de José Jardim. Qual o segredo para a sua longevidade no Clube?
R – Ele veio como atleta e passou depois a ser treinador das camadas jovens, tendo conseguido tornar-se campeão nacional de juniores. E depois subiu à equipa principal, onde se mantém. Ninguém tem dúvidas do seu valor, mas também é pela sua personalidade, empenho e pelos resultados obtidos, mesmo quando estávamos mais limitados, que o seu trabalho tem de ser reconhecido.

P – Ao nível da secção, após a saída de Sousa Seco foi Rui Mourinha a tornar-se no principal responsável pelo funcionamento da mesma. Que balanço faz deste ano de trabalho na função?
R – Com a saída de Sousa Seco, eu e o Evaristo Silva tivemos de continuar a ajudar a máquina a manter-se oleada. Temos conseguido levar o barco a bom porto. Mantemos a formação, com a ajuda de seccionistas que o fazem por amor à camisola, e tentamos desenvolver cada vez mais a estrutura profissional dos seniores.

P – Uma última palavra para Dudu, sem dúvida alguém de que toda a gente sente falta...
R – O Dudu esteve duas épocas connosco e não ia ficar na equipa na próxima época. Ele já tinha sido contratado pelo Fonte Bastardo. De qualquer forma, foi sempre um jogador que marcou muito esta casa ao longo dos dois anos em que aqui esteve. Quer como atleta, quer como pessoa, era muito solicitado por toda a gente. A sua simpatia ajudava. Foi uma fatalidade que aconteceu até porque nunca houve algo que indiciasse o que pudesse acontecer. Foi um choque. Posso contar-lhe que, em forma de homenagem, vários atletas quiseram ficar com a camisola 17 e acabou por ser o Carlos Teixeira a ficar com esse número, até porque foi o primeiro a pedir. Ele deixou a sua marca nos últimos títulos que conquistámos e isso não esquecemos.

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