Francisco Lázaro, o Eterno Maratonista (Atletismo)

joaonunes

Nome: Francisco Lázaro
Nacionalidade: Portuguesa
Local de Nascimento: Benfica, Lisboa
Data de Nascimento: 21 de Janeiro de 1891
Falecimento: Estocolmo, 15 de Julho de 1912


Carreira
Lázaro obteve a sua primeira vitória na "segunda maratona" em 3 de Maio de 1908, na dita Maratona Portuguesa, uma corrida de 24 km. Em 1909 não competiu, devido a problemas de saúde. Em 1910, triunfou na primeira verdadeira maratona realizada em Portugal numa distância próxima da olímpica (42,8 km), com 2h57m35s, com o 2.º classificado a cerca de 15 minutos. No ano seguinte, Lázaro venceu de novo, desta vez com o tempo de 3h09m57s, passando a ter uma enorme popularidade. A primeira prova prova disputada por Francisco Lázaro com a camisola do Benfica foi o cross-country nacional que teve lugar na época de 1910/11, fazendo parte da formação os atletas Augusto Fernandes, Félix Bermudes, Josué Correia, Francisco Rocha e Germano Vasconcelos e que terminou com a vitória de Francisco Lázaro. Pouco depois, em 18 Julho de 1911, no âmbito dos II Jogos Olímpicos Nacionais, Lázaro obteve na maratona a mais espectacular vitória do atletismo benfiquista até então, tendo também vencido nesse ano o G.P. do S.C. Progresso.


O ano olímpico de 1912 começou una nova vitória na maratona, com 2h52m08s um percurso de 42,2 km particularmente difícil que incluía estradas esburacadas e a subida da Calçada de Carriche. Quatro anos antes, nos jogos de Londres, o vencedor da maratona olímpica tinha registado um tempo de cerca de 2h55m. Havia confiança que Lázaro pudesse ter um bom resultado em Estocolmo.


Francisco Lázaro era carpinteiro de uma fábrica de carroçarias de automóveis na travessa dos Fiéis de Deus no Bairro Alto em Lisboa. Não tinha treinador. Após o trabalho, Lázaro corria diariamente de Benfica até S. Sebastião da Pedreira, desafiando, no percurso inverso, os transportes públicos eléctricos.




Jogos Olímpicos de Estocolmo (1912)

A primeira representação portuguesa nos Jogos Olímpicos era constituída por Armando Cortesão, António Stromp e Francisco Lázaro, no atletismo, os lutadores Joaquim Vital e António Pereira e o esgrimista Fernando Correia, que era também chefe da delegação portuguesa. Lázaro foi o porta-bandeira no desfile inaugural dos jogos.




Última corrida

Francisco Lázaro almoçou às 10 horas do domingo 14 de Julho de 1912. Os seus colegas contaram que estava confiante. Foi levado de automóvel para o estádio, dirigindo-se para o balneário. O calor era sufocante: 32°. Instantes do início da corrida da maratona, Armando Cortesão e Fernando Correia, seus colegas da equipa olímpica, foram procurar Lázaro que ainda não estava junto à partida. Encontraram-no a besuntar-se com sebo. Cortesão e Correia tentaram dissuadir Lázaro e tentaram que ele tomasse um banho, mas não havia tempo. Lázaro foi correr a maratona todo besuntado com sebo, com os poros da pele tapados, o que impedia a transpiração cutânea.


Lázaro começou bem a corrida na cabeça do pelotão. Os restantes 5 portugueses da equipa olímpica tinham-se colocado ao longo do percurso, para ajudarem e incentivarem Lázaro. Ao km 15, Lázaro era 27.º, com um atraso de 4 minutos para o líder da prova. Ao km 25, era 18º, e seguia de muito perto os homens da frente. Terá dito que estava bem, apenas com sede, tendo bebido sofregamente a água que lhe foi dada. Ao km 35, os colegas Pereira e Stromp aguardavam pela passagem de Lázaro, que nunca mais chegava, deixando-os preocupados. Também alarmados, Cortesão e Fernando Correia, que estavam no estádio, entraram numa viatura e cumpriram, no sentido inverso, todo o percurso, sem encontraram sinal de Lázaro. A triste notícia do abandono de Lázaro foi-lhes dada por António de Castro Feijó, o embaixador de Portugal na Suécia. Ao km 29, na colina de Öfver-Järva, Lázaro tinha cambaleado, caído por várias vezes e por várias vezes se levantado para continuar a prova, até cair para não mais se levantar. Um médico foi-lhe prestar assistência. Aplicou-lhe gelo em plena estrada. Levaram-no para o hospital onde lhe diagnosticaram erradamente uma meningite. Viria a morrer na madrugada do dia seguinte.


A corrida e a medalha de ouro foi ganha por Kennedy Kane McArthur, com a medalha de prata para Christian Gitsham, ambos sul-africanos. O americano Gaston Strobino conquistou a medalha de bronze.


No dia 20 de Julho de 1912, 24.000 pessoas que estavam no estádio prestaram as homenagens póstumas a Lázaro como a primeira vítima mortal dos Jogos Olímpicos. Pierre de Coubertin enviou condolências à família Lázaro. O Comité Olímpico Português teve dificuldades financeiras para transladar o cadáver para Portugal. Isso só viria a acontecer decorridos vários meses após a morte do atleta.




Causas da morte

A partida para a Maratona foi dada às onze e meia da manhã debaixo de um calor sufocante. Trinta e dois graus à sombra.


Até desfalecer Lázaro correu sempre no grupo da frente. Reza a história que antes da partida Lázaro afirmou solenemente "Ou ganho ou morro". E assim se cumpriu o destino.


Anos mais tarde, Armando Cortesão colega de Lázaro na fatídica participação olímpica de 1912, explicou o drama: "O Lázaro morreu por dois motivos: primeiro, porque se untou com sebo. Fui eu e o Fernando Correia, quando ele não aparecia à partida na maratona, que o procurámos no balneário e o encontrámos a besuntar-se com sebo. Não faço a menor ideia como Lázaro conseguiu arranjá-lo. Eu e o Fernando Correia ainda tentámos que ele tomasse banho, mas não havia tempo. E ele lá foi correr a maratona todo besuntado com sebo, com os poros da pele tapados, o que impedia a transpiração cutânea nessa parte do corpo... E outra coisa: só ele e um japonês é que foram de cabeça descoberta àquele sol..."
Francisco Lázaro com o seu procedimento entrou em desequilíbrio hidro-electrolítico irreversível e, em consequência em colapso. Acreditamos que assim tenha sido, mas não só.


Na altura o problema da "emborcação" tudo indica era muito comum entre os atletas não só do pedestrianismo como do ciclismo. Por isso aquela não tinha sido certamente a primeira vez que Lázaro se untava com aquele tipo de emborcação. Este tipo de substâncias fazia parte da cultura do tempo pelo que não pode ser vista aos olhos dos nossos dias. No "Tiro e sport" de 15 de Setembro de 1910, num artigo encomendado pelo próprio director do jornal, intitulado "A Emborcação no Treino" A. Malheiro escrevia:

    "Devemos partir do principio de que é com a Emborcação que vamos assegurar a elasticidade e perfeita maleabilidade dos músculos de que se exigem os esforços mais efectivos, tornando-os insensíveis á dor e á fadiga, e evitar quanto possível as caimbras que têm sido e serão sempre o inimigo irredutível de todos aqueles que se dedicam ao sport."

E a receita de A. Malheiro até era divulgada na mesma edição, para quem a quisesse preparar:

    * Claras d'ovos – 4;
    * Gemma d'ovo – 1;
    * Agua distillada – 450 grs;
    * Essencia de terebinthina rectificada – 700 grs;
    * Acido acético – 700 grs.


Contudo, o verdadeiro problema de Lázaro não se deve ter ficado pela essência de terebintina e o ácido acético. Ao tempo, a emborcação ia bem mais longe. De facto, a comunicação social informou que Lázaro abusava da estricnina. E a este respeito, A. Malheiro no "Tiro e Sport" desiludia os ingénuos: "Não se julgue que é só com as aplicações da Emborcação que se obtém a energia precisa, para se operarem esforços violentos. É um engano."


Lázaro foi vítima de uma cultura que aconselhava o "emborcamento" como um complemento do próprio treino. Representava a utilização da técnica ao serviço do desenvolvimento. Assim na V edição dos Jogos Olímpicos morreu o primeiro atleta. A comunicação social criou à sua volta uma lenda e desencadeou um processos que, decorridos que estão quase cem anos, ainda está por resolver. Ao tempo os médicos dos Jogos de Estocolmo recomendavam ao Comité Olímpico Internacional: "Em caso algum, uma prova desportiva como efeito atlético, não tem tanto valor que mereça pôr em risco a vida dos participantes."


Os atletas continuam a morrer! Será que algum dia vai ser resolvido. Estamos em crer que não. Até porque no dia em que o for, certamente o desporto deixará de ser aquilo que é. Por isso, tal como tantos outros problemas na vida o doping não se resolverá com mais ou menos sistemas de controlo porque esses serão sempre ultrapassados pela própria condição humana e a sua necessidade sem limites de superação.




Principais Homenagens

O nome de Francisco Lázaro tornou-se no mais lendário do desporto português. O seu nome foi dado a uma rua de Lisboa e pequeno estádio do Clube de Futebol Benfica.



Frases soltas:

"... Lázaro foi o primeiro grande atleta da história do atletismo português..."

"...Francisco Lázaro foi a primeira grande figura (com excepção dos fundadores) do Sport Lisboa e Benfica."

"...Francisco Lázaro foi protagonista em Estocolmo do primeiro drama dos Jogos Olímpicos da era moderna."



Fontes: "100 Anos de Lenda"; "O Século do Benfica"; Fórum Olímpico e Wikipédia

.:VMPT:.

Que fique como exemplo....

Até sempre campeão.... :metal:

Rodolfo Dias

Antes de representar o Benfica.


Fonte: desconhecida1




1- trocando por miúdos, figura num fascículo que vinha n'A Bola de 21 de Fevereiro de 1995, mas não sei qual era a obra completa.

Messi87

Centenário da primeira participação em 1912
Comité Olímpico homenageia benfiquista Francisco Lázaro

Faz 100 anos que faleceu Francisco Lázaro, um dos atletas que fez parte da primeira equipa olímpica portuguesa. Em vésperas da partida para as Olimpíadas de Londres, o Comité Olímpico de Portugal homenageou esses participantes.

O benfiquista Francisco Lázaro não sabia ler nem escrever, contudo, não lhe faltava em empenho e garra quando corria. Há quem diga até que foi essa determinação desmedida que lhe levou a vida.

O atleta tinha corrido os primeiros 30 quilómetros da Maratona de Estocolmo quando caiu desmaiado no chão, acabando por falecer nessa madrugada. Na cerimónia de comemorativa do centenário da primeira participação lusa nos Jogos, o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), Vicente Moura, recordou este sábado a tragédia que abalou a comitiva na altura. "É uma homenagem duplamente merecida, pelos 100 anos sobre a morte de Francisco Lázaro e por ter sido primeira participação olímpica portuguesa. Eram seis atletas e houve alguma improvisação, alguma ambição desmedida e o que acabou por acontecer foi uma tragédia", disse.

Nuno Delgado, actual chefe adjunto da Missão Olímpica para Londres, salientou a importância de recordar quem representou Portugal. "É uma homenagem aos nossos antepassados, a todos nós, porque o movimento olímpico é algo que está dentro do coração de todos os portugueses", apontou.

http://aovivo.slbenfica.pt/Noticias/DetalhedeNoticia/tabid/790/ArticleId/23576/language/pt-PT/Comite-Olimpico-homenageia-benfiquista-Francisco-Lazaro.aspx

Juvelacio

Li que foi a primeira morte ocorrida em provas dos Jogos Olímpicos da era moderna.



Fake Blood


RedVC

#8
Citação de: ââ,¬Â  em 16 de Julho de 2012, 23:06
http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/search/label/Francisco%20L%C3%A1zaro
10 grandes posts sobre o grande Francisco Lázaro.

Uma fonte excelente e muito completa do infeliz atleta. Morreu com apenas 21 anos.
Estreou-se pelo Sport Lisboa e Benfica em 7 de Maio de 1911.



Venceu o 1º Corta-Mato Nacional com o nosso emblema numa equipa onde estavam também Félix Bermudes, Josué Correia e Germano de Vasconcelos Júnior, três homens que também jogaram na nossa primeira equipa de futebol.

No final da época deixou o nosso clube e transferiu-se para o Lisboa Sporting Clube.


Fake Blood

Uma homenagem do cantor português Noiserv

Do seu facebook:

CitaçãoE assim surgiu esta música:
"O porta-estandarte foi Francisco Lázaro, um carpinteiro de 22 anos que trabalhava numa fábrica de carroçarias de automóveis no Bairro Alto, em Lisboa. Antes de partir, prometera à mulher, Sofia, que estava grávida: "Ou ganho, ou morro". A 14 de julho de 1912, haveria de cumprir-se parte da profecia.
(...)
Lázaro iniciou a corrida às 13 horas, no pico do calor, ainda com sebo no corpo. Perto do quilómetro 30, caiu inanimado. Foi transportado para o Hospital Seraphim, onde viria a morrer. Metade dos atletas desistiram devido ao sol intenso."

http://expresso.sapo.pt/desporto/2016-08-08-A-morte-saiu-a-estrada

https://www.youtube.com/watch?v=_ri9-7PC0Ww





Mercurio_10

Não sei se alguém leu, mas fizeram uma reportagem curiosa sobre Francisco Lázaro. Um senhor que vive no Brasil veio identificar-se como seu neto, e possuia inclusivamente vários itens do espólio de Francisco Lázaro. Foi recebido pelo Presidente do COI e pela Rosa Mota.

http://observador.pt/especiais/francisco-lazaro-a-morte-ao-sol-do-carpinteiro-que-se-fez-mito-na-maratona/


Ricardo Cataluna

Boa tarde,

Partilho convosco um documentário em espanhol sobre o Francisco Lázaro. Iniciativa do projeto "El Mítico Benfica" a propósito do 120.º anversário do nosso clube.