Mawete Júnior

Avançado, 42 anos,
Angola
Equipa Principal: 2 épocas (1999-2000, 2001-2002), 12 jogos (371 minutos), 2 golos

Stefan Schwarz

Citação de: Alento-10 em 14 de Maio de 2014, 16:32
Com todo o respeito pelo rapaz, mas o nosso Benfica é mesmo o maior do mundo, resistiu a tanta coisa...
Mawete Junior
Avançado angolano formado no benfica desde os iniciados e que chegou á equipa principal do Benfica antes de ser emprestado sucessivamente sem sucesso. Foi meu companheiro na formação do Benfica e posso afirmar que tinha enorme talento e é uma excelente pessoa. Tivesse surgido noutra altura do Benfica e teria feito outra carreira certamente... Grande abraço Mawa....


Manel dos Anzois

#92
Fica aqui a reportagem que o Theroux em cima indicou, publicada pelo "Mais Futebol" sobre o percurso de Mawete até aos dias de hoje.

Um grito que não se esquece: «Ó Toni, mete o Mawete!»



"Ó Toni, mete o Mawete!"

O grito que o angolano não esquece. Chegou ao Benfica em meados da década de 90, viu-lhe ser colado o rótulo de enorme promessa e saiu pela porta mais pequena em 2005, sem grandes explicações.

Mawete Júnior procurou relançar a carreira, já após duas graves lesões nos tendões de Aquiles, mas não conseguiu ir além de clubes belgas, cipriotas e malteses. Desiludido, terminou a carreira aos 30 anos no FC Cabinda, em Angola.

O que faz ele agora?  Hotelaria, agropecuária e piscicultura no norte de Angola .

O céu e o inferno entre 1999 e 2011. A Luz aos seus pés no final da adolescência e o fim abrupto por iniciativa própria, percebendo que o futuro teria de passar pelos negócios de família e não por um futebol europeu que lhe ia virando as contas.

Nascido em Angola a 25 de janeiro de 1981, o jovem Mawete rumou a Itália aos nove anos. O seu pai era na altura Embaixador angolano em Roma.

«Foi uma forma de rever o meu pai. Ingressei no La Sorta de Roma, onde o meu irmão Ludi treinava. Com 9 anos comecei a jogar com os iniciados e não me esqueço do Torneio de Mor Lupo, onde o meu treinador me chamou 'Il Treno' (O Comboio). Também recordo o Torneio da Lazio, onde despertei o interesse de clubes como a própria Lazio e a Samdória, mas o meu pai fechou essas portas porque queria que eu continuasse os estudos em Portugal, já que a escola portuguesa em Roma só ia até à 5ª classe.»

Em entrevista ao Maisfutebol, o avançado recorda o caminho seguido para chegar ao Estádio da Luz.

«Fui viver para Massamá, onde conheci pessoas excelentes, e ingressei no Recreativo de Massamá, atual Real após fusão com o Clube de Queluz, rival na altura. Na 2ª jornada do campeonato, jogámos contra o Benfica e perdemos por 4-2, mas marquei os dois golos na minha equipa e desde aí o Benfica mostrou interesse. Fui para lá na época seguinte. Os meus pais diziam que os estudos vinham em primeiro lugar mas o Benfica tornou-se um sonho, deixei-me envolver pela mística e tive um processo de formação fantástico. Fui campeão de juvenis e juniores, algo que não acontecia há 10 anos no Benfica, e cheguei ao ponto de ser visto como uma promessa no futebol europeu.»

Ainda com idade de júnior, Mawete começa a treinar com o plantel principal em agosto de 1999. Jupp Heynckes lança o jovem num encontro particular frente à União de Leiria e este não faz por menos: marca o golo da vitória.

Foi o melhor momento da minha ascenção desportiva, estar ao lado dos jogadores da equipa principal como João Pinto ou Nuno Gomes e ser treinado por Jupp Heynckes. Depois do jogo-treino com a U. Leiria e o golo, fiz a estreia oficial com o Santa Clara, em Ponta Delgada (0-3). Lembro-me de estar ao lado de João Pinto no banco e o treinador optar por me colocar primeiro em campo. Depois joguei no antigo Estádio da Luz contra o E. Amadora, numa das maiores enchentes daquele estádio, e foi lindo ouvir os adeptos gritarem o meu nome. Estava a cumprir o meu sonho de ser profissional de futebol.»

O angolano faz quatro jogos pelo Benfica entre setembro e dezembro. Porém, é desviado para a equipa B, que nessa altura disputa a II Divisão. Viviam-se momentos conturbados no emblema da Luz. No início da época seguinte, Heynckes sai para a entrada de José Mourinho. Mawete convive com o Special One mas não tem oportunidades na formação principal.

«Tive contacto com o mister Mourinho, pois ele sempre gostou de manter os setores muito próximos, de forma a poder acompanhar os jovens valores do Benfica. Já se via uma forma de trabalhar diferente, pois era um treinador que até dava maior importância ao trabalho das pessoas de limpeza ou dos tratadores de relva. Motivou sempre os jogadores de uma forma que só ele sabe e merece todo o sucesso que tem tido.»

Mourinho sai abruptamente e Toni assume o comando técnico. Seria ele a recuperar Mawete para uma nova dose de promessas. Em outubro de 2001, o avançado vai para o banco em dois jogos do campeonato, entra e marca. Fá-lo pela primeira vez em Leiria, frente à União de José Mourinho (1-1), e eleva a fasquia na jornada seguinte, em pleno Estádio da Luz, frente ao Gil Vicente (2-0). Em ambas as ocasiões, entra ao intervalo e marca em poucos minutos .

«Marcar à União de Leiria não teve sabor especial, não havia nada contra o Mourinho, aquele golo e aquela exibição foi apenas para comprovar o meu crescimento como jogador. Estava no melhor momento da minha vida, tudo corria bem e agradeci muito ao mister Toni por ter apostado em mim. Depois vem novo golo, ao Gil Vicente na Luz, e senti que era a minha hora, que era a hora de me fazer homem no futebol, estava no topo e já lia coisas como Mawete Expresso 50 (ndr. o número na camisola).»

Mawete Júnior disputa oito jogos com a camisola do Benfica até final de 2001. Entretanto, nova mudança de treinadores e uma decisão amarga para o jogador. Na reabertura do mercado de transferências, o angolano segue por empréstimo para o Sp. Braga.

«A minha ida para o Sp Braga foi uma opção técnica do mister Jesualdo, que até hoje não entendi. Emprestar um jogador que estava a dar cartas no plantel principal a cada jornada, é algo que custa perceber.»

O avançado regressaria ao Benfica no final da temporada mas, em julho de 2002, sofreria as lesões que iriam comprometer a sua carreira.

«As minhas lesões nos tendões mudaram para sempre a minha vida como jogador. Rompi os dois tendões, um a seguir ao outro, algo que me colocou um ano e seis meses longe dos relvados. Com uma lesão tão grave como essa, os clubes passaram a ter receio de me contratar, com receio que um dos tendões cedesse, então fiquei esquecido no Benfica B.»

Mawete Júnior não volta a jogar pela equipa principal. A ligação termina em 2005, de forma triste. O jogador procura rumar ao Walsall, de Inglaterra, mas não chega a entrar em campo. Segue-se o Olivais e Moscavide e aventuras em escalões inferiores de Bélgica e Chipre.

«Na primeira vez que saí de Portugal, podia ter ido para clubes de maior envergadura mas não percebi o procedimento do Benfica, que não cedeu os documentos pedidos pelo clube inglês. Isso obrigou-me a regressar a Lisboa onde também vi vetada a possibilidade de ir para melhores clubes. Só consegui ser inscrito pelo Olivais e Moscavide, onde subi de divisão e fui campeão da II Divisão B. Mas quem sai do Olivais e Moscavide não consegue ser visto como jogador de primeira, portanto tive de batalhar em escalões inferiores de outros países para tentar voltar a aparecer.»

Nada feito. Mawete só recupera alguma visibilidade na temporada 2009/10, com vários golos no campeonato de Malta pelos Hamrun Spartans. Aproximava-se o fim, de qualquer forma, e o jogador decidiu regressar a Angola.

«Em Malta, vi o meu nome voltar a ser falado e era reconhecido em todo o país. É um país onde até hoje tenho amigos, mas por motivos familiares tive de sair de Malta e fui para Angola. Joguei no FC Cabinda, equipa onde encerrei a carreira após dois anos em que dei tudo. Pelo que já tinha passado no futebol, decidi seguir outro rumo. Não valia a pensar continuar a ter insónias, pensando numa vida melhor no futebol, quando podia dormir relaxado e fazer outra coisa qualquer.»

Mawete: hotelaria, agropecuária e piscicultura em Angola

O fim chegou com naturalidade, aos 30 anos. Sem o glamour esperado mas com a sensação de dever cumprido. Mawete Júnior vestiu por 12 vezes a camisola do Benfica em jogos oficiais e marcou 2 golos. Esteve ligado ao clube por mais de uma década e guarda boas recordações. Ficam para a sua história.

Cada dia de treino era uma sensação nova, cada golo, cada drible, cada aceleração, tudo tem a sua recordação. Vivi intensamente essa experiência e hoje sou o que sou muito graças ao Benfica. Não posso esquecer o principal, os adeptos, e aquele grito mítico: 'Ó Toni, mete o Mawete!' Enchia-me de alegria quando ouvia esse grito e quis sempre marcar para retribuir o carinho. Lembro-me também dos colegas, dos funcionários, o tratador de relva Sousa, os roupeiros como o saudoso José Luís, que nos deixou há pouco tempo. Enfim, muita gente que me tratou bem e que viu os meus bons e maus momentos no Benfica.»

Quem rejeitaria a possibilidade de marcar um golo pela equipa principal do Benfica? E fazê-lo por duas vezes em jogos oficiais, de forma consecutiva? Porém, não é essa a melhor recordação de Mawete no clube encarnado. Fica o registo, em jeito de despedida.

«Para além dos golos na equipa principal, o meu melhor momento foi o grande jogo que nos consagrou como campeões de juniores, em que arranquei da nossa área até à área do Sporting, passando por todos os adversários, até assistir o meu colega de equipa que marcou o golo da vitória. Grandes tempos.»

Manel dos Anzois

#93
Mawete: hotelaria, agropecuária e piscicultura em Angola

Antiga promessa do Benfica encerrou a carreira com 30 anos e reinventou-se como gestor de projetos.



Penalizado por duas graves lesões nos tendões de Aquiles, o avançado não mais recuperou o brilho e encerrou a carreira aos 30 anos, no seu país natal. Tinha pela frente outros desafios, igualmente exigentes, no desenvolvimento de projetos na companhia familiar Osmats.

Mawete tem atualmente 33 anos e gere negócios nas áreas de hotelaria, agropecuária, piscicultura e não só. A sua zona de ação vai de Uíge, no norte de Angola, a Kibocolo, terra natal do pai, a caminho da fronteira com o Congo.

«A minha vinda para Angola já foi pensada para jogar e trabalhar com meu pai num projecto familiar. Criámos uma empresa e estamos a fazer esforços para desenvolver Angola. Temos a nossa base de ação no Uíge, porque é a zona mais propícia para desenvolver as nossas actividades, visto que Kibocolo é a terra natal do meu pai.»

Mawete João Batista, o Sénior: General, antigo embaixador e governador de Cabinda, por exemplo. Homem de influência com ligação forte ao seu filho, o Júnior.

«Tive desde que nasci uma ligação muito forte com o meu pai, por isso tenho o mesmo nome que ele (sou chará). Desde que nasci conheci o meu pai como embaixador, a ida para Itália foi mesmo por ele lá estar a trabalhar, quanto aos restantes países em que ele trabalhou não houve relação com a minha carreira de jogador, foi coincidência.»

Esses capítulos da história pertencem ao passado. Mawete Júnior surge agora como um homem de negócios, trilhando caminhos para desenvolver os conceitos que a empresa vai implementando. Um deles encanta particularmente o antigo jogador.

«O Resort na Cidade Mawete é um dos nossos desafios e a nossa grande aposta hoteleira, pois é um projecto com 4 blocos de alojamentos (128 quartos), piscina de 30m, 2 zonas de restaurantes e outros serviços por realizar.»



A companhia Osmats inaugurou entretanto o Hotel Sofia Kibokolo, uma unidade com 4 estrelas numa zona sem outros projetos do género. Um movimento de antecipação.

«O nome do hotel é uma homenagem à minha falecida avó e está colocado numa zona estratégica, onde dentro em breve haverá a abertura das minas de Mavoio e com isso as empresas mineiras de exploração irão precisar de alojamento e outros serviços. Esse hotel é o unico na zona para dar assistência às empresas.»

A hotelaria é apenas uma das áreas de negócio na região. Mawete teve de desenvolver competências em vários ramos, chegando até à agropecuária e piscicultura. O contacto diário com a vida selvagem no norte de Angola leva um sorriso ao seu rosto.

«Sempre gostei de animais e sempre tive o sonho de ter um macaco, por culpa do Michael Jackson. Agora tenho um, que se chama Djoni. Para além disso, nas nossas fazendas temos vários tipos de animais selvagens, desde galinhas selvagens a elefantes! Ainda não tive a sorte de me cruzar com eles mas vejo os rastos de destruição na fazenda, destruindo os cultivos. Vivi em cidades lindas como Lisboa, Roma, etc... mas sempre fui amante da natureza e da vida selvagem, na Europa passava horas a ver o National Geografic.»



Mawete Júnior assume-se, de qualquer forma, como um gestor.

«O meu dia a dia é passado no escritório assumindo o papel de administrador, quando não estou no Uige a averiguar o andamento dos projectos. Quanto ao contacto com a natureza, é de controlo e averiguação dos projetos agrícolas, agropecuários e exploração de terrenos. Não sou eu que trato de cavalos, pois tal requer uma certa formação, ou lavro as terras, vou sim averiguar o desenvolvimento das ideias criadas. Depois de largar o futebol, o objetivo passou por dar maior amplitude aos negócios da empresa, restruturar as infraestruturas e melhorar o seu funcionamento. Sou a ponte entre a ideia e a execução, por isso estou envolvido em todos projectos.»

Apenas 33 anos e o futebol profissional como memória já longínqua, face a um dia a dia agitado e exigente. A antiga promessa do Benfica sente-se feliz entre os seus projetos mas não consegue esquecer o desporto.

«Atualmente sou gestor e mentor da criação de certos projetos da empresa, mas gostava de ser dirigente de futebol e o futuro irá tratar disso, pois já temos a equipa de futebol Mawetes na nossa aldeia, Kibocolo. Para já é uma brincadeira, para dar coragem aos jovens da aldeia, mas quem sabe se no futuro iremos dar mais importância e seriedade à equipa e tentar voos mais altos no futebol angolano?»

O futebol estará sempre presente na vida de Mawete Júnior. Por ali, no norte de Angola, vai participando em jogos com antigos profissionais angolanos, onde se podem encontrar várias caras conhecidas dos adeptos portugueses.

«Quem jogou futebol e fez do futebol a sua vida, tal como eu, tem sempre saudades do futebol, do campo, da relva, do público, etc. Os jogos que vou realizando com amigos e ex-jogadores não dão para matar saudades mas sim para alimentar o bichinho. Nesses jogos costumam estar também figuras como Mendonça, Mateus, Paíto, Quito, Dias Caires, Toizinho, Riquinho, Renato Campos, Akwá, André Macanga ou Edgar Pacheco.»

RodrigoVivo

Benfica - Gil Vicente, 20 Outubro 2001

Estávamos a vencer os Galos por 1-0 golo do Fernando Meira, jogo pouco intenso e, naquela altura, rezávamos para que o Gil não fizesse o 1-1. A meio da 2ª parte, o Toni lança o Mawete no jogo para delírio dos benfiquistas que estavam na Luz (incluindo eu, tenho essa recordação por causa do brilharete que ele fez em Leiria). Entrou, marcou e arrumou com o jogo :)

Pancho Lopes 67

Foi o nosso amuleto da sorte durante 2 jogos seguidos em 2001-02 contra Gil Vicente e Leiria, antes disso lembro-me da TVI (penso eu) dar em directo um jogo de Juniores na temporada 1999-00 em que ganhamos 1-0 com golo dele numa equipa que ele era estrela da companhia...