Memórias Europeias - 1957, a estreia.

Dandy

Citação de: pcssousa em 05 de Maio de 2013, 23:43
Citação de: Dandy em 05 de Maio de 2013, 22:49
Citação de: pcssousa em 05 de Maio de 2013, 21:58
Sendo que essa famosa derrota de Dortmund tem uma explicação muito lógica... aliás, mais do que uma, mas uma delas é mesmo bem lógica.




   Referes-te à ausência do Eusébio, nesse jogo, para além do frio?
A ausência de Eusébio? esse foi o jogo em que se registaram várias ausências, a começar por Costa Pereira.
Se considerarmos a equipa tipo ao longo da época: Costa Pereira, Cavém, Neto, Luciano, Cruz, Coluna, Augusto Silva, José Augusto, Simões, Eusébio e Torres; fazendo-se uma comparação com os que jogaram: Rita, Cavém, Raúl, Humberto Fernandes e Luciano, Coluna, José Augusto, Santana, Iaúca, Serafim e Simões, é fazer as contas, 6 ausências.
Algumas dessas "ausências" já vinham de trás e a imprensa nos dias anteriores ao embate falou num  "Mini-Benfica".
Na verdade, já se previa que algo de estranho aconteceria naquela eliminatória, na primeiar mão tivemos o famoso jogo das 6 bolas à madeira, paracia algo de sobrenatural... Depois em pleno e gelado Dezembro alemão, um mini-Benfica sofre 3 golos em 3 minutos e dá-se o descalabro. Serafim que tinha sido o grande craque do FCP chegou ao Benfica e confirmou que isso não chegava para ser alternativa no clube, o mesmo para Iaúca em relação ao Belenenses... contudo, penso que Serafim fez os 4 jogos da nossa campanha europeia desse ano e até terá marcado três golos na eliminatíoria com o Distillery, e que Iaúca terá jogado 3 jogos.


Os jogo verdadeiramente negro das nossas campanhas dos anos 60 foi a derrota caseira com o United, este na Alemanha foi força das circunstâncias e o com o Ajax foi  fruto de um jogo de desempate jogado em Paris, com todos os golos a serem marcados no prolongamento desse mesmo desempate, e que estivemos muito perto de evitar pois na Luz o 2-3 esteve muito perto, mas não apaga completamente o fabuloso jogo que fizemos em Amesterdão, cidade-talismã para o clube (ainda lá perderiamos por 1-0 em Abril de 1972 nas meias finais da TCCE.


Bem, vou-me calar que ainda me voltam a chamar doidinho...




   Não tinha conhecimento dessa razia absentista nem sabia que em Lisboa tínhamos endossado 6 remates aos ferros. Deve ter sido um acerto de contas com Berna...  :-X

   No zerozero consta que o Cruz jogou, por troca com o Raul que mencionas. Sinceramente, não faço ideia.

   http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=261786

   Mas sabes dizer-me o porquê dessas ausências? Foi uma onda de lesões ou foi outra coisa?




Dandy







   Um dos aspectos que mais me chama a atenção, desse jogo, é a idade do nosso treinador, Lajos Czeizler:

   70 anos, nada menos.




pcssousa

#47
Citação de: Dandy em 06 de Maio de 2013, 15:02
Não tinha conhecimento dessa razia absentista nem sabia que em Lisboa tínhamos endossado 6 remates aos ferros. Deve ter sido um acerto de contas com Berna...  :-X

   No zerozero consta que o Cruz jogou, por troca com o Raul que mencionas. Sinceramente, não faço ideia.

   http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=261786

   Mas sabes dizer-me o porquê dessas ausências? Foi uma onda de lesões ou foi outra coisa?

A nossa defesa foi Cavém, Cruz, Humberto e o malgorado Luciano... de facto, cometi um erro pois escrevi de cabeça, embora até me pareça (quando chegar a casa logo o tenatrei confirmar) mas parece-me que há em algumas publicações erros acerca do nosso 11. Raul jogou na 1ª mão e estava lesionado para este jogo, tal como Costa Pereira que também saiu da equipa para entrar Rita, curiosamente primo de Domiciano Cavém. Anos mais tarde, outro primo de Domiciano ingressaria no Benfica... nem mais nem menos que Tamagnini Nené.

Acerca das ausências: quase todas por lesão. Na verdade, verificava-se bastante desgaste no Benfica, no espaço de 22 dias fizera seis jogos, o que para a realidade da época era alguma coisa, com viagem para Inglaterra onde em dois dias jogara com Stoke City e Sunderland e depois em Portugal jogos com Barreirense, Porto e Belenenses.
Na realidade, já teria havido na direcção do clube quem na época anterior se tivesse insurgido contra a excessiva carga de jogos (por causa de particulares que o clube ia jogando um pouco por toda a Europa) e muitos culparam também essa sobrecarga pela perda do titulo nacional em 1961-62 (creio que à volta de uma dezena de particulares disputados por toda a Europa), algo que terá até levado Guttmann a dizer na altura "dadas as circunstâncias, o Benfica não tem cú para duas cadeiras (campeonato e TCCE)".
O Benfica até terá entrado no jogo ao ataque, tenmtando suster assim as investidas Germânicas, trocando a bola pausadamente, mas os alemães lançavam mortíferos contra-ataques, um deles resultou numa bola ao poste por volta dos 18-20 min de jogo.
Continuaram com os contra-ataques até que Czeizler, após sofrer 3 golos em 3 minutos, resolveu jogar num 4-3-3 pronunciado com a linha de meio campo a ser preenchida por Coluna, Santana e José Augusto de forma a tentar ganhar preponderância no meio-campo. O problema fois apenas e só um, A linha avançada constituida por Iaúca, Simões e Serafim não conseguia suster os defesas alemães, que assim deitavam por terra a tal tentativa de superioridade no meio-campo. Iaúca e Serafim não tinham andamento para estas andanças e Eusébio e Torres faziam uma falta danada...

Na sua segunda experiência em terras germânicas, o Benfica voltava a passar grandes dificuldades, recordo que já com o Nuremberga só a tal história de arrancar as travessas das botas para com os pregos ter melhor aderência é que permitiu minimizar os estragos de forma a conseguir ultrapassá-los em Lisboa... e que atropelamento levaram...


As minhas desculpas pelo erro.


ah, uma coisa acerca de Serafim, acabou aziado com o Benfica aquando da segunda passagem de Guttmann pelo Benfica e deu uma entrevista onde se referia ao austro-húngaro de forma muito pouco elogiosa para não dizer desrespeitosa... Acabou por ir para a Académica, ele que tinha protagonizado a mais elevada transferência entre dois clubes portugueses depois de formar uma ala esquerda fortíssima no FCP com Nóbrega e de ter marcado os 4 golos na Luz em 61 na final do torneio Internacional de Juniores da UEFA (fomos campeões da Europa) integrado numa selecção onde junto com Simões e Jorge (jogador benfiquista que acabou por não singrar e rumou a Coimbra) e outros benfiquistas como Pedras, Amândio ou o guarda-redes Melo.

Ah, jogou por nós a célebre final da Taça de Portugal desta época onde ganhámos 6-2 ao porto. Marcou o 5º golo, num onze constituido por: Costa Pereira; Cavém, Germano, Raul e Cruz; Coluna e José Augusto; Simões, Torres, Eusébio e Serafim

MNascimento

Mais um vez obrigado pela narrativa  O0 

Baretta75


Dandy

Citação de: pcssousa em 06 de Maio de 2013, 16:34


As minhas desculpas pelo erro.






   Não aceito é que me peças desculpas quando nem eu próprio sei quem é que está correcto.  :amigo:

   Não apresentei a questão como uma reclamação ou com o intuito de contradizer-te. Nem sequer o zerozero me merece mais crédito, do que tu próprio, enquanto fonte de informação.

   Apenas mencionei a divergência dos relatos, nada mais, sem pretender enfatizar a (supostamente, maior) razão de alguma das partes.

    :flagglorioso:



Dandy

Citação de: Baretta75 em 06 de Maio de 2013, 17:00
:flagglorioso: Estão aqui os 4 golos do Ajax-Benfica 1-3 de 1969!!!

http://www.youtube.com/watch?v=HfxYH3XJc9s



   Jacinto Santos (um dos bebés de Matosinhos)

   Torres

   Zé Augusto



pcssousa

Citação de: Dandy em 06 de Maio de 2013, 17:11
Citação de: pcssousa em 06 de Maio de 2013, 16:34


As minhas desculpas pelo erro.






   Não aceito é que me peças desculpas quando nem eu próprio sei quem é que está correcto.  :amigo:

   Não apresentei a questão como uma reclamação ou com o intuito de contradizer-te. Nem sequer o zerozero me merece mais crédito, do que tu próprio, enquanto fonte de informação.

   Apenas mencionei a divergência dos relatos, nada mais, sem pretender enfatizar a (supostamente, maior) razão de alguma das partes.

    :flagglorioso:
Posso garantir que o Raul estava mesmo lesionado e portanto foi um erro da minha parte.


quanto ao Czeizler, era já um treinador em finall de carreira e mais um dos bons exemplos da escola austro-húngara. Um perfeito conhecedor do futebol e alguém que não se agarrava em demasia às concepções tácticas do passado e soube ir evoluindo.
Foi campeão na Suécia, foi campeão italiano e latino com o Milan e ainda treinou a selecção italiana.

Dandy








   Além da meia-final de 71-72... alguma vez fomos derrotados em Amsterdam, num jogo de futebol oficial?

   Eis o golo que nos eliminou, aos 2'53'' do filme:

   http://www.youtube.com/watch?v=lmXJ5ZU2U0Q



pcssousa

Não. Essa, que eu saiba, foi a nossa única derrota lá em termos oficiais.

JJ já lá ganhou o célebre torneio de Amsterdão, em termos não oficiais.

Dandy

Citação de: pcssousa em 06 de Maio de 2013, 18:30
Não. Essa, que eu saiba, foi a nossa única derrota lá em termos oficiais.

JJ já lá ganhou o célebre torneio de Amsterdão, em termos não oficiais.




   De referir, ainda, que o Benfica foi o adversário mais difícil de superar, por parte do Ajax, na sua caminhada vitoriosa de 1971-72.

   E esta comparação integra, também, o finalista derrotado.

   Tivemos uma enorme equipa nesse ano, alcançando, a nível interno:


   Campeonato nacional (Sporting a 12 pontos e Porco a 22 pontos)

   Taça de Portugal (com um 6-0 contra o Porco, nas meias)



Dandy

Citação de: pcssousa em 24 de Setembro de 2012, 18:58
A ESTREIA DO BENFICA NAS COMPETIÇÕES EUROPEIAS





Celebrou-se no passado dia 19 de Setembro, 55 anos que o Sport Lisboa e Benfica se estreou em competições da UEFA. Na quente tarde de uma quinta-feira, 19 de Setembro de 1957, o Benfica entraria em campo num jogo a contar para a Taça dos Clubes Campeões Europeus, num jogo que ficaria histórico por ser a antecipação de grandes glórias do clube na prova.
A bem da verdade, a estreia do Benfica deveria ter sido dois anos antes, na 1ª edição da competição, mas a primeira edição da prova, fortemente impulsionada pelo jornal deportivo francés L'Équipe, pelo seu editor Gabriel Hanot junto com o seu colega Jacques Ferran e o presidente do Real Madrid, Santiago Bernabéu, só apoiada à última hora pela UEFA, teve a particularidade dos seus participantes terem integrado a competição por convite e, o Sporting, em virtude do seu maior peso político junto da sociedade portuguesa derivado das suas estreitas ligações ao antigo regime, mas também do prestígio interno grangeado pela sua equipa dos 5 violinos, acabou por ser convidado, pese embora o Benfica ter sido a única equipa portuguesa até então a ter ganho uma competição internacional oficial, a Taça Latina, e uma das 5 equipas a possuirem o troféu no seu palmarés. Nessa 1ª edição, de 1955/56, o campeão português, Benfica não participaría na prova.
Teriamos, então, que aguardar pela conquista do titulo nacional de 1956/57 para que o Benfica se apurasse para a prova, tendo o sorteio ditado que o adversário da 1ª eliminatória seria o Sevillha FC e o jogo da 1ª mão, disputada na capital da Andaluzia, no Campo Nervion. O Sevilha era vice-campeão espanhol e, a razão para ter participado na prova é simples: naquela altura, os regulamentos previam que se o campeão europeu fosse igualmente campeão nacional do seu país, então o 2º cassificado desse campeonato participaria igualmente na Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 61/62 o Sporting Clube de Portugal beneficiaria desta prorrogativa para participar na prova mesmo tendo sido 2º clasificado no nacional anterior.
A deslocação a Sevilha efectuou-se precisamente duas semanas depois de uma célebre vitória benfiquista no estádio do Restelo sobre o FC Barcelona por 4-0, ainda hoje a mais volumosa vitória do Benfica sobre os catalães.
Os benfiquistas entrariam em campo com uma bandeira gigante do Sevilha, conforme se pode ver na foto, sendo aplaudidos pelos cerca de 40 mil espectadores presentes.
O jogo começa e notava-se algum nervosismo entre os portugueses, o Benfica não seria feliz. O Sevilha, com a tradicional "fúria" española, foi demasiado forte, valendo aos encarnados a grande exibição do guarda-redes José Bastos,  para que o resultado final não fosse mais ampliado.
Na primeira parte, apesar do dominio territorial da equipa da casa o empate a zero manteve-se mas logo aos dois minutos do segundo tempo, os espanhois através de Pahuet, abriram o activo.
O Benfica ripostou de imediato e, dois minutos depois, Francisco Palmeiro obteria aquele que ficou para a história como o primeiro golo benfiquista nas competições europeias. Palmeiro que, fora também em 1954, o primeiro benfiquista a marcar no Estádio da Luz, realizou excelente jogada individual , conseguindo vencer a oposição do defesa espanhol Campanal e rematar com êxito.
O empate manteve-se por pouco tempo. Aos 59 e 79 minutos, Antoniet e Pepillo colocaram o resultado final em 3-1 para os andaluzes.
Coube a honra a Fernando Caiado  de ser capitão de equipa do Benfica neste jogo, ele que seria o único jogador a sair da equipa da 1ª para a 2ª mão, cedendo o lugar a Zezinho.
Na segunda mão, uma semana depois, na Luz, os espanhois defenderam-se bem, perante um Benfica muito lutador, e mantiveram o 0-0 final, deixando a equipa benfiquista, orientada por Otto Glória, pelo caminho logo na 1ª eliminatoria.
Apenas mais uma vez, em 1976/77, ante o Dinamo de Dresden, o Benfica ficaria pelo camino logo à primeira ronda.
Depois desta eliminação antes os espanhois, a glória chegaria, na participação seguinte o Benfica conseguiría incrivelmente sagra-se campeão, revadilaria o feito logo na época seguinte e na outra chegaria ao jogo final, onde a pesar de ter estado em vantagem e, muito próximo do tri, acabaría, por factores diversos por baquear... estaba portanto prestes a iniciar-se a maior odisseia da história do clube que o tornaria no melhor da década seguinte em toda a europa, mais nenhum clube ganharia mais títulos europeus, 2, ou atingiría tantas finais, 5, como o Benfica durante essa década. O seu nome ficaria escrito para todo o sempre a Ouro na galería dos maiores.

1ª mão:

19 Setembro 1957 - Estadio de Nervión, Sevilha

Sevilha: 3
Busto, Campanal, António Valero, Manuel Romero, Herrera, Pépin, Arza, Ramoní, Antoniet, Pahuet, Pepillo

Benfica: 1
José Bastos, Ângelo, Serra, Calado, Pegado, Alfredo, Caiado, Coluna, Cavém, José Águas e Francisco Palmeiro
Golos: 1-0 aos 47 ' por Pahuet, 1-1 aos 49' por  Francisco Palmeiro, 2-1 aos 59' por Antoniet, 3-1 aos 79' por Pepillo

2ª mão:

26 de Setembro 1957 – Estádio da Luz, Lisboa

Benfica: 0
José Bastos, Ângelo, Serra, Calado, Pegado, Alfredo, Zezinho , Coluna, Cavém, José Águas e Francisco Palmeiro

Sevilha: 0
Busto, Campanal, António Valero, Manuel Romero, Herrera, Pépin, Ruíz Sosa, Arsénio Iglésias, Antoniet, Loren, Pahuet





   Em relação à nossa estreia, ouvi o Ângelo Martins relatar, num documentário, que os jogadores do Benfica chegaram de avião, a Sevilha, na manhã do dia do jogo, almoçaram e... foram jogar.

   Outros tempos, sem dúvida.




Bekambol

TODAS AS MEMÓRIAS SÃO GRANDIOSAS.....
SÓ QUEREMOS QUE ESTA SEJA MAIS UMA

VITORIOSA........

alfredo

ainda ontem estive a rever alguns dados históricos do benfica e passei pela primeira presenca numa competicao europeia, que aqui comemoras, pcssousa.
uma obra magnifica que deixaste aqui, e nao só esta. muito obrigado por partilhares o teu profundo conhecimento conosco!

pcssousa

Dos 11 jogadores que estiveram na nossa estreia na competição e também em competições europeias de clubes, 5 seriam campeões Europeus enquanto jogadores e Caiado seria como adjunto.
Curiosamente, Otto Glória planeara colocar Costa Pereira na baliza, mas uma lesão num treino, dias antes, levou a que fosse o Campeão Latino, José Bastos a actuar.
Bastos estaria também na inolvidável jornada de Berna, mas do lado de fora. Dias antes tinha, com a camisola do Atlético, apadrinhado a estreia de Eusebio com a camisola do Benfica, numa noite de festa que serviu para que se impusessem as faixas de campeões nacionais aos nossos jogadores e também para que os Bemfiquistas se despedissem destes e lhes desejassem boa sorte. Depois, Bastos meteu-se no seu Ford e rumou à Suiça, onde, na bancada gritou pelos seus e chorou de felicidade. Desceu ao balneário e abraçou os colegas um a um.

Esse jogo com o Atlético marca outro episódio engraçado. Guttmann, virou-se para Caiado e interroga-o: " Caiado, quem é este guarda-redes? É muito bom.", o adjunto respondeu-lhe " o sr. não se lembra do guarda-redes que dispensou há meses?"... Uma das muitas histórias peculiares à volta do húngaro. Mais serão contadas um destes dias.