CN 4ª J: Vitória FC 0 - 5 SL Benfica, 12Set. Sex. 20h30 *SPORTTV1*

Vitória FC 0 - 5 SL Benfica

Campeonato Nacional


Vitória FC: Raeder, Pedro Queirós, Frederico Venâncio, Miguel Lourenço, Advíncula, Dani, João Schmidt, Miguel Pedro, Zequinha, Manú, Giovani
Treinador: Domingos Paciência
SL Benfica: Artur Moraes, Maxi Pereira, Luisão, Jardel, Eliseu (André Almeida [65m]), Andreas Samaris, Enzo Pérez (Bryan Cristante [73m]), Eduardo Salvio, Nico Gaitán (Ola John [65m]), Anderson Talisca, Lima
Treinador: Jorge Jesus
Golos: Eduardo Salvio (10), Anderson Talisca (37), Anderson Talisca (42), Anderson Talisca (55), Ola John (77)

SkiL

Vai ser difícil... vai ser preciso lutar muito. É o relvado em mau estado, é uma equipa do Domingos, etc...

RedEagleNN



certim


20Nico Gaitan20

Tirando o Eliseu e o Samaris, vamos ter um 11 com 9 sul americanos... ;D

RedEagleNN


BC



MALU15

Citação de: SkiL em 11 de Setembro de 2014, 18:16
Vai ser difícil... vai ser preciso lutar muito. É o relvado em mau estado, é uma equipa do Domingos, etc...
Relvado em mau estado, porquê? Hoje nem sequer choveu em Setúbal.

pcssousa


emulate


LX

Ansioso por voltar a ver o glorioso. Não se faz, tanto tempo sem Benfica..

Holmesreis

MEMÓRIAS DO TUGÃO (Parte IV)

O dia em que Eriksson calou os críticos

   Ao contrário do que muita gente pensa, os primeiros tempos de Sven-Goran Eriksson no Benfica não foram muito pacíficos. Apesar de ser notório que os grandes êxitos nacionais e internacionais se tinham devido a técnicos não-portugueses, o estilo frio e metódico do sueco não era consensual entre as altas esferas do nosso clube que por vezes compactuavam com crónicas e artigos jornalísticos demasiado mordazes em relação a Eriksson. Cruz dos Santos escrevia na Bola «Técnico demasiado jovem com um currículo exemplar, mas chegará para as exigências de um colosso como o Benfica?»
   Eriksson chegou ao Benfica ainda com o cheiro da conquista da Taça UEFA ao serviço do IFK Gotemburgo. Tinha sido uma aposta arriscada da troika Domingos Claudino, Manuel da Luz Afonso e Gaspar Ramos que, à época, eram os principais conselheiros do Presidente Fernando Martins para as questões futebolísticas. O Benfica tinha feito uma época 81-82 medíocre com problemas internos no balneário que tinham conduzido à saída do húngaro Lajos Baroti.
   Homem de poucas falas, Eriksson depressa mostrou ao que vinha, no decorrer da pré-época. Ao contrário do que estipulava a História recente do Benfica até então, Eriksson considerava a criação de laços de empatia como premissa fundamental para extrair do jogador os seus maiores índices motivacionais. No plano técnico, intercalava sessões de treino com pesadas cargas físicas com outras de prelecções tácticas e exercícios de jogo posicional sem bola. Apesar do handicap de não saber falar Português, Eriksson rapidamente encontrou um excelente intérprete, o jovem José Manuel Delgado (o subdirector de A Bola) recém-contratado ao Portimonense e que antes de ser jornalista, demonstrara as suas razoáveis competências como GR na Primeira Divisão. Dialogando em Inglês, idioma que Delgado dominava, o treinador sueco conseguia comunicar à equipa as diversas matizes e desconstruções do seu estranho 4-4-2 sem trinco ou médio de características mais recuadas. O «6» e o «8» estariam ao mesmo nível, destruindo e construindo jogo numa área mais avançada do que aquilo que os benfiquistas estavam habituados.
   O Tugão 82-83 começara sobre a égide dos três grandes a praticarem um futebol sensaborão. No Sporting, o treinador Malcolm Alisson tinha sido despedido pelo Presidente João Rocha devido a um episódio de cariz alcoólico ocorrido num estágio e fora substituído por António Oliveira que acumularia a dupla função de jogador-treinador com resultados pouco animadores como se viria a confirmar. No FCP, Pinto da Costa, recém-empossado Presidente, convidara o seu treinador de sempre José Maria Pedroto a regressar a casa, fazendo regressar também Fernando Gomes depois de duas temporadas para esquecer no Gijón. O Benfica tinha apostado na prata da casa e não tinha feito contratações sonantes. Acreditava-se que Eriksson tinha matéria-prima para potenciar (onde é que eu já ouvi isto?...). O sorteio do campeonato foi favorável ao Benfica. Primeira jornada no velhinho Campo da Avenida e vitória tangencial sobre o Espinho (1-0). Na segunda jornada, melhor o resultado do que a exibição (3-0) numa Luz cheia perante a visita do Boavista.
   Consideravam os jornalistas que o verdadeiro teste estava reservado para a terceira jornada: visita ao Bonfim. Neves de Sousa escrevia na extinta «Gazeta dos Desportos»: «Prova de fogo para o gelo nórdico». E o Setúbal era na altura uma equipa incomodativa, orientada por um veterano como Manuel de Oliveira (Ex-comentador da Radio Renascença) que gostava de dar um cariz defensivo às suas equipas com um 5-3-2 líbero, dando a Nunes (mais tarde nosso jogador) essa função. Com um contra-ataque venenoso, o Setúbal poderia causar mossa a um Benfica que não apresentava um futebol de encher o olho.
   Em Setembro, os benfiquistas apresentavam algum pessimismo em relação ao futebol jogado na pré-época e primeiras duas jornadas. Para além disso, na mesma semana em que fomos jogar ao Bonfim, o preço da carne e de outros bens essenciais subiram 12%, reveladores de uma inflação galopante que o então primeiro-ministro Pinto Balsemão não conseguia controlar. Internamente, Jorge de Brito, Manuel Barbosa demitiram-se da estrutura directiva e Ilídio Fulgêncio ameaçou demitir-se da coordenação do futebol juvenil. Fernando Martins estava a implementar uma política de contenção de custos e era veementemente criticado pelos seus pares.
   O jogo no Bonfim começou de forma catastrófica para nós: aos 15 minutos já estávamos a perder, fruto de um lance em que Bento foi mal batido, deixando passar por baixo do corpo um remate rasteiro do Fernando Cruz que tinha fugido à marcação do António Bastos Lopes. Já na pré-época e, apesar de gostar de jogadores polivalentes, Eriksson tinha definido as diferentes posições defensivas: Pietra na direita, Veloso na esquerda e a dupla Humberto Coelho-Bastos Lopes. O jogo parecia talhado para os setubalenses e na véspera, Manuel de Oliveira tinha afiançado à Gazeta dos Desportos que a derrota do Benfica seria o desfecho mais verossímil. O Setúbal começou a apostar numa marcação homem-a-homem muito dura e Alder Dante começou a puxar dos seus galões para que o jogo não descambasse. Então, Eriksson tirou um coelho da cartola: mandou avançar Alves no campo e recuar Carlos Manuel. Os defensores setubalenses passaram então a ter 3 jogadores do Benfica com presença constante na grande área: o Luvas Pretas e a dupla Nené-Filipovic. Como Manuel de Oliveira reparou que o jovem Cerdeira não tinha pernas para acompanhar Alves, mandou recuar Octávio Machado para a marcação ao Luvas Pretas: resultado, perdeu o meio-campo. Filipovic mandou avançar a linha recuada, obrigando a que Fernando Cruz (o homem mais avançado) fosse apanhado constantemente em fora de jogo. Paulatinamente, fomos virando o jogo: Nené empatou e Filipovic bisaria.


Aos 60 minutos, o Manuel de Oliveira ainda fez entrar o Jorge Jesus para aproveitar o facto de o Benfica jogar sem trinco, mas o Setúbal estava rigorosamente manietado. No dia seguinte, os jornais elogiaram a lição táctica do sueco e a qualidade do futebol apresentado sobretudo ao nível das transições ofensivas. E, com a vitória no Bonfim, o Benfica tornou-se líder isolado à terceira jornada e não mais cederia a posição rumo ao título. Mesmo assim, Eriksson não embandeiraria em arco e queixou-se a Fernando Martins que o nosso meio-campo era demasiado leve e que necessitaria de maior presença física e muscular. Meses depois, chegaria aquele que se tornou num dos melhores estrangeiros a ter actuado com o Manto Sagrado.

Reconhecem-no?

SLB_CAMPEAO04


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