Morreu Alan Ogg, contratação "bizarra" da década de 90

Dandy

 





   Nem todas as pessoas se lembrarão, certamente, até porque nem todos viveram aquelas épocas. Tenho 34 anos, era um adolescente... mas lembro-me como se fosse hoje.


   O Benfica vivia aquela que foi, para mim, a Era mais excitante da sua secção de basquetebol com a internacionalização da sua equipa e as vitórias alcançadas perante alguns históricos europeus da modalidade.
   Vivendo no Porto, sem internet, num país que sempre viveu de costas viradas para o basquetebol, tentar saber os resultados dos jogos da Taça da Europa e do Campeonato Europeu de Clubes, disputados a meio da semana, à noite, era um trabalho hercúleo.


   Muitas das vezes, ficar à espera da Bola Branca ou da RDP, até à meia-noite, com aulas no dia seguinte, não me solucionava o problema... ou porque nem sempre era enviado um repórter para acompanhar os jogos em casa (quando falo em acompanhar não me refiro, obviamente, a uma transmissão em directo) ou porque o evento não era suficientemente importante para entrar no alinhamento noticioso... ou porque o resultado de um jogo de basquetebol, de uma equipa portuguesa, na Turquia (Efes Pilsen, quem se lembra?), por exemplo, e que acabava tardíssimo para a hora portuguesa, era coisa para excêntricos.
   E os jornais do dia seguinte, dada a hora de fecho das redacções, também não saciavam a curiosidade dos poucos leitores em busca dessa informação.


   Eram tempos difíceis, aqueles, em matéria de informação... comparados com os de hoje. Mas foram os tempos da melhor constelação de estrelas do nosso basquetebol:


   Lisboa, Jacques, Plowden, Guimarães, Vieira, Pedro Miguel, Steve Rocha, Flávio Nascimento, Silvestre, Artur Leiria, Artur Cruz, Nuno Rodinhas, Seixas, Luís Silva, Torgeir Bryin, Emanuel Madaleno, Henrique Pina, Baltasar Galheto, Mário Palma, Mário Gomes, ... e pouquíssimos americanos.


   Entre os americanos contratados, nessas épocas, falou-se de uma torre que, pela sua altura, 216 centímetros, iria revolucionar o basquetebol português. Uma espécie de efeito Wilt Chamberlain... 30 anos depois.
   Estávamos, então, na pré-época 1994-95.


   Pessoalmente, nunca o vi jogar. Nunca vi, sequer, uma foto sua... durante mais de 10 anos.
   Alan Ogg era o seu nome. Pouco tempo depois, seriam semanas?, noticiou-se a sua incapacidade para superar os testes médicos feitos em Lisboa. Balde de água fria, senti na altura, ainda não era desta que iria ver o Benfica a jogar com um guarda-redes... à Vrankovic.


   Logo veio outro americano, Havrilla... e o implacável carrocel da vida continuou. Os jornais de hoje serão o lixo de amanhã, já sabemos...


   Da época, encontrei esta breve notícia, do Público:


   A desilusão americana

     James Havrilla, o norte-americano do Benfica, chegou há alguns meses ao basquetebol nacional com um monte de ilusões na bagagem, já que vinha integrar a equipa campeã de Portugal e uma das agradáveis surpresas do último Campeonato da Europa de Clubes. Principal missão: substituir o seu compatriota Alan Ogg, que, devido a alegados problemas cardíacos, havia sido reprovado pelo Centro de Medicina e voltava para a sua terra, onde hoje ironicamente milita numa das equipas da NBA.


   Com 25 anos, formado na Universidade de Western Michigan, com passagens pelo basquetebol australiano e pela CBA, Havrilla, após algumas semanas de adaptação a uma nova vida e aos seus colegas de equipa, mostrava um basquetebol que parecia de grande utilidade para a sua nova equipa, com algumas boas exibições que aos poucos se foram esfumando, como atestam as suas últimas prestações.
 
  Na sua segunda participação na Liga Europeia, o Benfica procurava com Alan Ogg um antídoto para as grandes «torres» adversárias, que normalmente colocavam grandes problemas na luta das tabelas a J. Jacques e Steve Rocha. Até porque não contaria com Mike Plowden (o seu melhor defensor), que entretanto havia saído do clube.


  Ogg, um experiente basquetebolista de 2,16m, com passagens pela NBA e CBA (a segunda Liga Profissional americana) cumpria as exigências de Mário Palma, o técnico «encarnado», que procurava dotar a sua equipa com outras armas.
Com a partida de Ogg, o Benfica via-se a braços com o problema da sua substituição, que havia de recair em James Havrilla, um americano que Mário Palma conhecera em New Jersey. O motivo mantinha-se: Mário Palma queria ressaltos, luta nas tabelas e pontos.



  No entanto, depois de uns promissores jogos iniciais, Havrilla começou a baixar de rendimento e nem os seus 2,06m, numa equipa em que é o jogador mais alto, são já argumentos para integrar o «cinco» inicial «encarnado», onde as suas prestações vão de mal a pior, nomeadamente na Liga Europeia, onde vem revelando uma notável inoperância. E o descontentamento instalou-se, não só nos adeptos benfiquistas como na equipa técnica «encarnada».

   Poucos minutos em jogo, reduzido número de pontos marcados, alguma fragilidade defensiva e na luta das tabelas, Havrilla aparece referenciado nas estatísticas europeias apenas nos ressaltos ofensivos, onde ocupa a sexta posição: a aposta benfiquista na «torre americana» foi para já uma aposta perdida.


   É possível que J. Havrilla seja possuidor de recursos que, atendendo ao «bloqueio psicológico» a que o técnico benfiquista se refere, não consiga pôr em campo, até porque é de crer que, ao observar o jogador nos EUA, Mário Palma não se tenha enganado tão redondamente. É natural que o afastamento da família e as responsabilidades que lhe cabiam na campanha europeia tenham contribuído para o «desaparecimento» do jogador. A realidade é que neste momento é um atleta sem qualquer influência na formação «encarnada», onde tem sido completamente ofuscado pelas prestações do seu colega J. Jacques, que surge nas estatísticas europeias como o sexto melhor marcador, com uma média de 18,6 pontos; o quarto ressaltador defensivo; o nono ressaltador ofensivo; e, em conjunto, o quinto melhor ressaltador do Campeonato da Europa.
   Tarefas que eventualmente Mário Palma teria imaginado para a sua aposta americana.



  Carlos Cerqueira


   Havrilla seria rendido, mais tarde, para as finais, pelo único norueguês que representou o Benfica e que experimentou a NBA: Torgeir Bryin.


   Os anos foram passando e chegou a internet... essa coisa.


   Quem nunca deu consigo, a navegar na net, à procura de coisas e de pessoas que, de outra forma, dificilmente encontraria ou tentaria encontrar?
   Esse é o meu caso, também.


   O mais curioso é que não foi de hoje, nem de ontem, que voltei, nas minhas buscas, ao nome de Alan Ogg.
   Há já alguns anos o fizera, 3 ou 4, movido pela curiosidade que envolveu este atleta, por ter estado ligado ao Benfica e, também, pela facilidade com que se fixa um apelido de somente três letras.


   Pois bem... esta noite, lamentavelmente, fiquei a saber que Alan Ogg morreu no passado dia 1 de Novembro, de 2009, aos 42 anos, vítima de uma infecção estafilocócica.


   Ao ler algumas das entradas, do Google, fica a certeza de que, não sendo um excelente jogador, era um favorito dos adeptos e muito recordado pelas suas qualidades humanas.


   Se alguém recorda tê-lo visto, durante os seus dias em Portugal... se alguém o viu treinar, na sua passagem pela Luz... se alguém se cruzou com ele... faça o favor de escrever aqui qualquer coisa, se assim desejar.
   De certeza que gostaremos de ler algo sobre este atleta... que quase foi nosso.


   Alan Ogg: o Gigante que nunca conhecemos.


   Descanse em Paz.



                      We Like Obscure NBA Players: Alan Ogg





Torgeir Bryn

Apenas me recordo do nome, nada mais.
Mas paz à sua alma.


rcoelho

lembro-me vagamente desta personagem...... não pelo nome mas pela altura.....

4ever Red Devil

Sou muito novo para me lembrar, mas o nome é familiar.               

lanceiro

Sim lembro-me, sobretudo pela altura que tinha 2,16 m, por isso nunca mais me esqueci


Alento-10

Não tendo a certeza do que vou dizer, tenho uma vaga ideia de ver uma entrevista deste para a RTP em que a jornalista aparecia em cima de uma cadeira, na altura penso que o destaque tinha sobretudo a ver com a sua altura...

Não tenho a certeza repito, mas penso que este episódio se passou com este rapaz.

Paz à sua alma.

SAL.

Lembro-me dele apenas de nome.

Descanse em paz.

Qto às restantes memórias, identifico-me com muitas delas pois tenho 33 anos... Como vivi 30 anos a "5 minutos" do Estádio, tive a sorte de, apesar de não ser um assíduo espectador de basket, ter estado presente em alguns jogos míticos, como uma cabazada que demos salvo erro sobre o Croácia Zagreb, q nos deu a passagem à fase de grupos da Taça dos Campeões!

Este jogo é um dos mais marcantes da carreira do Carlos Lisboa, conforme suas declarações numa das primeiras Mística.
 

zerocool

Ainda vi salvo erro um jogo dele na taça da liga da altura que se disputava no inicio de época...falhou os testes médicos devido a problemas coronários segundo o que se disse naquele tempo. Ao contrário da foto que aí está ele quando cá esteve tinha cabelo comprido.


Dandy

Citação de: SAL. em 11 de Junho de 2010, 10:53
Lembro-me dele apenas de nome.

Descanse em paz.

Qto às restantes memórias, identifico-me com muitas delas pois tenho 33 anos... Como vivi 30 anos a "5 minutos" do Estádio, tive a sorte de, apesar de não ser um assíduo espectador de basket, ter estado presente em alguns jogos míticos, como uma cabazada que demos salvo erro sobre o Croácia Zagreb, q nos deu a passagem à fase de grupos da Taça dos Campeões!

Este jogo é um dos mais marcantes da carreira do Carlos Lisboa, conforme suas declarações numa das primeiras Mística.
 



   Partizan de Belgrado    :amigo:




pcssousa

Verdade, morreu o ano passado vitima de uma endocardite bacteriana... Já tinha sido submetido a cirurgia cardíaca em 2003.
Tanto quanto sei jogou na NBA 2 anos nos Heat, e uma época a meias nos Bucks e Bullets. Penso que jogou também profissionalmente na Alemanha, Porto rico, Paraguai, Filipinas, China e Colômbia.
Recordo-me que na altura que veio para Portugal o Benfica até tinha encomendado um carro especial para que ele pudésse utilizar, pois era difícil arranjar um automóvel onde alguém com 2,16 se sentisse confortável. Foi por cá que se detectou pela primeira vez a gravidade da sua patologia cardíaca congénita.
Paz à sua Alma!

Mishkin

Não me recordo dele confesso.

Que descanse em paz.

Dandy

Citação de: pcssousa em 11 de Junho de 2010, 14:46

Recordo-me que na altura que veio para Portugal o Benfica até tinha encomendado um carro especial para que ele pudésse utilizar, pois era difícil arranjar um automóvel onde alguém com 2,16 se sentisse confortável. Foi por cá que se detectou pela primeira vez a gravidade da sua patologia cardíaca congénita.
Paz à sua Alma!



   As coisas de que te lembras...


   Isso do carro adaptado soubeste pelos jornais da época?


   Na verdade, ele aparece referido, sempre, como medindo 7´2"... o que, no sistema métrico, daria à volta de 218 centímetros.