Arsénio

Nome completo
Arsénio Trindade Duarte
Posição
avançado
Número
8
Data de nascimento
11 Outubro 1925
Data de morte
11 Fevereiro 1986 (60 anos)
País
Portugal
Periodo na equipa principal

1943-1955

Deu-se Arsénio a descobrir com a inocência comparável aos pés desnudados gozando com a bola de trapos. Era o brinquedo dos pobres. Também no Barreiro. Sobretudo no Barreiro, terra de operários, de gente laboriosa, mas com vida inclemente. A dos pais dos “homens que nunca foram meninos”, no retrato de Soeiro Pereira Gomes.

Menino não foi Arsénio, o Pinga para os amigos das traquinices e das pelejas nos areais. Na década de 30, Pinga (que era o seu ídolo) era o mais cobiçado dos elogios, já que o jogador do FC Porto, nascido no Funchal resplandecia nos primitivos recintos da bola lusitana.

No inicio da adolescência deu-se o sortilégio. Ofereceram-lhe o palco. No Barreirense se estreou. Foi perante o Sporting, na festa do adeus a Francisco Câmara. “Ainda não tinha 16 anos e quem me marcou foi o Aníbal Paciência. Ao principio estava um pouco enervado, mas, depois, serenei e perdi o respeito ao valoroso jogador do Sporting”. Arsénio viria a sagrar-se esse ano, campeão nacional da II Divisão, consumado o triunfo (6-1) sobre a Sanjoanense, nas Amoreiras, com gente ilustre do Benfica atenta ao desenrolar do encontro.

Na companhia de Moreira, o conhecido Pai Natal, Arsénio ainda tentou a sorte no mais reputado Vitória de Setúbal, mas do reputadíssimo Benfica chegou a proposta. Recebeu seis contos pela assinatura e 750 escudos mensais daí para a frente. Mas continuou a trabalhar como aprendiz de serralheiro, mais tarde oficial, na CUF. De cacilheiro viajava, com toque madrugador, às 5.45 horas. Era assim três vezes por semana. Treinava-se pela manhã, trabalhava à tarde. Foi assim durante anos. In illo tempore.

Com apenas 18 anos, a 19 de Dezembro de 1943, Arsénio envergou pela primeira vez a camisola do Benfica. Logo aos cinco minutos, disse ao que ia, apontando o primeiro golo. Foi no Campo Grande, nesse triunfo (5-1), ante o Vitória de Guimarães. Titularidade garantida, a ouro fechou a temporada, através da conquista da Taça de Portugal, na maior goleada (8-0) de sempre, com o Estoril Praia.

Actualmente, Arsénio seria número 10. Nesses tempos, actuava como interior-direito. De baixa estatura, era rápido, driblava bem e tinha apurado instinto de golo. Em 446 jogos pelo Benfica marcou 350 golos. Trezentos e cinquenta que a imponência merece escrita por extenso. Até aos nossos dias, só Eusébio, José Águas e Nené mais golos fizeram. Sempre a dissertar na sua linguagem favorita, ganhou a idolatria das massas, o carinho dos companheiros, o respeito dos antagonistas. Um dia, frente ao Estoril Praia, na vitória (7-0), fez seis golos. Melhor ainda, em plena festa de inauguração do Estádio das Antas, marcou cinco, fazendo os nortenhos……perder o Norte!



Numa dúzia de temporadas, venceu três Campeonatos e seis Taças de Portugal, quatro delas consecutivas. Mentalmente forte, adepto dos grandes ambientes e decisões, nunca perdeu uma Taça. Que o digam o Sporting (duas vezes), o Estoril, o Atlético, a Académica e o FC Porto. E quase sempre com golos probatórios dos seus amplos recursos de finalizador. Como aquele, memorável e decisivo, que marcou ao Bordéus, na final da Taça Latina. Os franceses estavam em vantagem, por 1-0, desesperavam as hostes encarnadas, quando, a 15 segundo do fim, Arsénio restabeleceu a igualdade. Jogaram-se dois prolongamentos, até que Julinho haveria de selar o primeiro grande triunfo europeu do Benfica.

Na Selecção Nacional, por ironia, não fez mais que dois golos, ambos com a Espanha. O talentoso Manuel Vasques, grande amigo de infância no Barreiro, barrou-lhe também o lugar, numa altura em que a maleabilidade táctica vinha ainda distante. Quando o brasileiro Otto Glória ingressou no Benfica, outros ventos sopraram, os ventos do profissionalismo. Já na casa dos trinta, Arsénio optou por abandonar o clube e aderir ao projecto da CUF, empresa onde mantinha o seu posto de trabalho. Com 33 anos, para mal dos pecados dos benfiquistas, seria ainda o melhor goleador do Nacional.

Exibiu o requinte dos predestinados, naquela relação apaixonada pelo golo. Arsénio marcou mais, muito mais, que uma geração do Benfica. Arsénio marcou o Benfica.


 

Épocas no Benfica: 12 (43/55)

Jogos: 298
Golos: 220

Títulos: 3CN, 6 TP, 1 Taça Latina

 

 

Texto: Memorial Benfica, 100 Glórias
Copiado de Ednilson

 

 


Equipa Principal Jogos Minutos Cartões (A./V.) Golos
  1943/1944 14 1260 0 / 0 5  
Campeonato Nacional 6 540 0 / 0 2
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 3
Taça Império 1 90 0 / 0 0
Amigáveis 0 0
  1944/1945 30 2700 0 / 0 16  
Campeonato Nacional 17 1530 0 / 0 10
Campeonato de Lisboa 6 540 0 / 0 1
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 5
Amigáveis 2 0
  1945/1946 30 2700 0 / 0 18  
Campeonato Nacional 20 1800 0 / 0 16
Campeonato de Lisboa 8 720 0 / 0 1
Taça de Portugal 2 180 0 / 0 1
Amigáveis 2 2
  1946/1947 26 2340 0 / 0 29  
Campeonato Nacional 18 1620 0 / 0 20
Campeonato de Lisboa 8 720 0 / 0 9
Amigáveis 2 1
  1947/1948 27 2430 0 / 0 17  
Campeonato Nacional 24 2160 0 / 0 15
Taça de Portugal 3 270 0 / 0 2
Amigáveis 2 0
  1948/1949 25 2250 0 / 0 21  
Campeonato Nacional 20 1800 0 / 0 14
Taça de Portugal 5 450 0 / 0 7
Amigáveis 2 1
  1949/1950 27 2430 0 / 0 12  
Campeonato Nacional 24 2160 0 / 0 10
Taça Latina 3 270 0 / 0 2
Amigáveis 3 1
  1950/1951 30 2700 0 / 0 35  
Campeonato Nacional 23 2070 0 / 0 25
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 10
Amigáveis 1 1
  1951/1952 32 2880 0 / 0 24  
Campeonato Nacional 25 2250 0 / 0 20
Taça de Portugal 7 630 0 / 0 4
Amigáveis 6 4
  1952/1953 22 1980 0 / 0 17  
Campeonato Nacional 19 1710 0 / 0 12
Taça de Portugal 3 270 0 / 0 5
Amigáveis 6 1
  1953/1954 21 1890 0 / 0 10  
Campeonato Nacional 18 1620 0 / 0 6
Taça de Portugal 3 270 0 / 0 4
Amigáveis 4 0
  1954/1955 16 1440 0 / 0 16  
Campeonato Nacional 10 900 0 / 0 4
Taça de Portugal 6 540 0 / 0 12
Amigáveis 2 0
  1955/1956  
Amigáveis 11 1
Total Jogos Amigáveis 43 12
Total Jogos Oficiais 300 27000 0 / 0 220
Na equipa principal

Primeiro jogo

Último jogo


Por administrador a Sexta, 5 Janeiro 2024