Jan Oblak assume a baliza do Benfica aos 20 anos. A lesão de Artur Moraes abre o caminho da titularidade para o jovem esloveno, intensificando uma relação que dura desde o final de 2009. «Era uma questão de tempo», considera quem o acompanha desde o Olimpija Ljubljana.
Nem tudo foi um mar de rosas, ainda assim. Neste verão, o guarda-redes testou a paciência dos responsáveis encarnados com uma longa estadia no seu país.
Após quatro períodos de empréstimo, Oblak sentiu que a sua oportunidade não ia chegar. Gerou-se uma situação de tensão, com ameaça de divórcio unilateral, mas o Benfica conseguiu resolver o imbróglio, tal como fez com Oscar Cardozo, e manteve um ativo para valorizar a curto prazo.
A 27 de agosto, o guarda-redes renovou contrato com o emblema encarnado até 2018. «Um novo contrato, um novo começo. Não vou ser emprestado, ficarei no Benfica e vou lutar por um lugar, como desejava. Também vou lutar para jogar na Liga dos Campeões, o que seria o cumprir de um sonho», disse o esloveno à imprensa do seu país. A Champions está fora de hipótese na presente temporada.
Como mandam as regras, Jan Oblak pediu desculpas através da Benfica TV. «Gostava de explicar aos adeptos que tudo se tratou de um mal-entendido. Agora estou no clube. Assinei um novo contrato com o Benfica e estou feliz.»
«Quero pedir desculpa aos adeptos por ter ficado demasiado tempo no meu país. Treinei enquanto lá estive estes dois meses. Estou preparado para começar a treinar com a equipa e espero em breve poder ajudar o clube. Não pensei em vestir outra camisola porque o Benfica é o meu clube», garantiu.
Artur Moraes manteve a titularidade até à deslocação ao reduto do Olhanense. O esloveno participara em apenas três jogos até este domingo: dois da Liga de Honra, pela equipa B, e um na Taça de Portugal frente ao Cinfães. No Algarve, entrou em campo para substituir o brasileiro, devido a lesão, e irá agora ter a sua oportunidade.
Jan Oblak cumprirá o sonho que o acompanha desde 2009. Com apenas 16 anos, chegou à baliza do Olimpija Ljubljana e não mais saiu. Nessa altura, teve de justificar a aposta perante um concorrente direto com maior experiência. Acontecerá o mesmo no Benfica.
«Na altura não dávamos nada por ele, sinceramente. Era um miúdo apenas. Mas o titular, Damir Botonjic, lesionou-se e o Oblak foi titular num jogo-treino. Fez um jogo incrível, defendeu tudo e nunca mais saiu da equipa. O Botonjic, que tinha jogado no futebol turco e tinha estatuto, recuperou rapidamente mas ficou na sombra», recorda Léo Bonfim, à Maisfutebol Total.
Léo Bonfim representa atualmente o Salgueiros mas estava no Olimpija Ljubljana quando Oblak apareceu. «Fez uma época fantástica a partir daí. Defendia tudo, dizíamos que parecia um gato! Tinha uma qualidade enorme e dentro de campo nem parecia ter a idade que tinha, era extremamente maduro e seguro», recorda o brasileiro.
Os observadores estavam atentos. Em junho, o guarda-redes tinha ido a Londres, a convite do Fulham. Porém, não chegou a abandonar o seu clube. «Ele esteve em Londres e passou algum tempo com o Fulham. Gostaram muito dele mas o Jan quer ficar no Olimpija. Renovou até 2011», revelou o diretor desportivo Simon Seslar, na altura.
Tudo mudou em poucos meses. O Benfica entrou em cena e, aproveitando a paragem de inverno, Oblak veio a Portugal para assinar pelos encarnados. «Foi no final de ano de 2009. Ele desapareceu por uns dias, a imprensa não sabia onde estava. Quando voltou, veio ter comigo, porque eu tinha jogado em Portugal (ndr. no V. Setúbal e no Gondomar) e disse-me que tinha assinado pelo Benfica.»
«Ele ficou no Olimpija até final da época e todos acabaram por saber que ele já estava comprometido com o Benfica. Começou logo a aprender português e até pedia a minha ajuda. Um dia perguntou-me: 'como é que se diz eu te amo?' Expliquei-lhe e ele passado um tempo disse: 'Leo, eu te amo!' Lá tive de lhe explicar que não se devia usar assim a expressão», recorda o defesa, entre gargalhadas.
Jan Oblak comprometeu-se com o Benfica no final de 2009 e chega à titularidade no final de 2013. Quatro anos de espera. Tempo suficiente para crescer e comprovar o seu talento.
«Foi dos melhores guarda-redes com que me cruzei. Já era muito completo naquela idade, não lhe via grandes falhas. E sempre foi muito humilde, só falava quando falavam com ele. Lembro-me que o pai o acompanhava para todo o lado, até porque ele não podia conduzir. Coitado, recebeu um carro novo do clube mas não tinha carta. Ficava no parque de estacionamento, ligava só o carro mas nem arriscava a arrancar», conta Léo Bonfim.
O jovem esloveno rumou a Portugal no verão de 2010. Fez apenas dois jogos no Beira Mar de Leonardo Jardim e seguiu para o Olhanense, na segunda metade da época. Na temporada seguinte, 17 aparições na baliza da U. Leiria, uma delas no famoso jogo com apenas oito elementos em campo, antes da afirmação plena no Rio Ave.
Ao longo da época passada, sob o comando de Nuno Espírito Santo, Jan Oblak confirmou todo o seu potencial. Sentia que a sua hora estava a chegar. «Eu também voltei a Portugal e fui acompanhando a sua carreira. No final da época, encontrei-o num centro comercial de Matosinhos e estivemos à conversa. Foi incrível, porque ele ainda cresceu uns centímetros. Na altura disse-me que queria voltar ao Benfica, afirmar-se, mas que ainda não sabia o que o clube queria. Depois até houve uma confusão no início da época, não foi?»
«Demorou mas chegou a oportunidade, era o que ele precisava. O Artur é um grande guarda-redes mas o Oblak vai dar uma grande dor de cabeça ao Jorge Jesus mais à frente, de certeza. É um prazer para mim ver onde ele está agora, é um talento puro», remata Léo Bonfim, à Maisfutebol Total.