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A polémica estava tão quente quanto a temperatura estival: Cardozo empurrara Jesus na final da Taça de Portugal, andara a treinar-se à parte e a possibilidade de sair fora uma constante. Mas houve quem se opusesse: na inauguração do Museu Cosme Damião, Eusébio pediu para que houvesse um entendimento, que o Benfica não podia prescindir de um goleador como o paraguaio.
Foi, apenas, um exemplo da admiração que o pantera negra tinha pelo Tacuara. E Cardozo foi, ontem, um dos jogadores mais emocionados na despedida de quem nunca viu jogar. Ainda na entrada principal, quando o corpo se encontrava junto à águia de mármore, o ponta de lança pediu para ver-lhe o rosto. Seguiram-se segundos de introspeção e alguma comoção, transportando com os dedos um beijo à testa do king.
No cemitério, Cardozo raramente saiu de perto do carro funerário, exibindo uma linguagem facial e corporal reveladoras de um apego quase familiar. Ao que A BOLA apurou, a razão é simples: o avançado desenvolveu com Eusébio uma relação estreita, porque se encontravam muitas vezes à noite num restaurante em Sete Rios, jantando juntos e mantendo longas conversas sobre futebol, o Benfica e aquilo que tanto os unia: a arte de marcar golos.
As palavras de Cardozo, à entrada para a missa, na Igreja do Seminário, no Largo da Luz, foram curtas para tanto sentimento do jogador de 30 anos. «Aprendi muito com Eusébio», disse o camisola 7 do Benfica. Mais não disse, devido aos condicionalismos que rodeiam a equipa profissional dos encarnados. Mas percebeu-se que queria dizer mais.
Exprimiu-se, depois, com lágrimas, no momento de o caixão descer à terra, no cemitério do Lumiar. Habitualmente fleumático, o «miúdo» paraguaio mostrou, afinal, que também chora. «Miúdo» era como Eusébio tratava os jovens jogadores. Era assim, por exemplo, que o king se referia a Maradona.
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