Os melhores árbitros têm estado afastados dos jogos dos três “grandes”

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A discussão sobre a arbitragem voltou a subir de tom após a 22.ª jornada da I Liga. As críticas mais incisivas vieram do Sporting, que empatou 2-2 em Setúbal num jogo no mínimo polémico: Vasco Santos errou em vários lances fulcrais, incluindo a invalidação de um golo legal ao Sporting e a marcação de uma grande penalidade inexistente a favor dos sadinos. “Estamos a bater um recorde mundial de golos mal anulados”, queixou-se o treinador dos “leões”, Leonardo Jardim.

Vasco Santos não teve uma classificação propriamente brilhante na época passada. O árbitro da Associação de Futebol do Porto foi 20.º entre os 25 juízes da primeira categoria. Mesmo assim, na presente temporada, já mereceu a confiança do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol para quatro jogos a envolver um dos três ditos “grandes”: a visita do FC Porto a Arouca e a recepção dos “dragões” ao Estoril, a visita do Benfica ao Olhanense e o famigerado Vitória de Setúbal-Sporting.

Mas o árbitro de Gaia não é caso único. Paulo Baptista, que em 2012-13 foi o segundo pior na classificação (manteve-se na primeira categoria graças ao abandono de João Ferreira, que atingiu o limite de idade), é o recordista de jogos a envolver Benfica, FC Porto ou Sporting. O árbitro de Portalegre ajuizou três encontros dos “encarnados”, outros tantos dos “leões” e dois dos “dragões”: oito do total de dez jogos da I Liga para os quais foi nomeado. Paulo Baptista completará em Dezembro 45 anos, a idade limite para os árbitros exercerem a sua actividade na categoria principal.

Desde que, a 1 de Novembro, a arbitragem portuguesa passou a ter um grupo de nove profissionais, apenas 14 dos 40 jogos disputados pelos três ditos “grandes” na I Liga contaram com juízes deste lote. Se a análise incluir as 22 jornadas já cumpridas, do total de 62 encontros realizados por Benfica, FC Porto e Sporting, 22 tiveram arbitragem de um dos juízes profissionais – os mesmos nove que possuem o estatuto de árbitro internacional.

O Sporting foi o clube que teve mais jogos apitados por árbitros internacionais: exactamente metade dos 22 disputados na I Liga. No caso do FC Porto foram nove, enquanto o Benfica teve apenas seis árbitros com estatuto internacional em 22 partidas do campeonato.

“Há uma gestão que está a ser feita, mas qualquer árbitro da primeira categoria está apto para arbitrar qualquer jogo da primeira divisão. Na teoria os árbitros internacionais deveriam estar nos grandes jogos, mas há condicionantes regulamentares e de disponibilidade física”, sublinhou ao PÚBLICO o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, José Gomes.

O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar o presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, Vítor Pereira, para obter esclarecimentos.

Os números mostram que os principais árbitros têm estado afastados dos jogos dos três “grandes”. Pedro Proença, internacional desde 2003 e que em 2011-12 apitou as finais da Liga dos Campeões e do Euro 2012, foi nomeado para dois jogos dos emblemas que lutam pelo título: FC Porto-Vitória de Guimarães e Estoril-Sporting. Metade dos encontros para os quais a UEFA chamou o árbitro lisboeta (segundo classificado em 2012-13), nesta época, na Champions.

Jorge Sousa foi o melhor árbitro português em 2012-13, segundo a classificação do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, mas também só apitou dois jogos de candidatos ao título – Marítimo-Benfica, na primeira jornada, e Gil Vicente-Sporting. O árbitro do Porto foi nomeado para um total de nove partidas da I Liga e 12 da II Liga. Olegário Benquerença, internacional desde 2001 e quinto classificado na época passada, só mereceu a nomeação para um jogo dos três “grandes”: o Olhanense-Sporting da quarta jornada. Enquanto isso, já foi chamado para cinco partidas das competições da UEFA.

A título de comparação, o britânico Howard Webb, árbitro profissional e um dos melhores do futebol mundial, apitou 23 jogos em 29 jornadas da Premier League, 11 deles a envolver equipas que lutam pelo título, e foi nomeado pela UEFA para cinco jogos da Liga dos Campeões.