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Crónica de Leonor Pinhão, "ilustre" Benfiquista: " 1. A transformação dos clubes em SAD não veio salvar o futebol português da ruína e da má fama mas teve o mérito de destapar a verdade crua das respectivas tesourarias, retirando-lhes o manto diáfano da fantasia e revelando, como a lei obriga, em todo o seu esplendor, os volumosos prejuízos acumulados com uma rapidez estonteante por gestores e gestões de todas as cores que, de um modo geral, têm levado longe de mais o seu esforço. Ainda bem que é assim. A transparência é uma coisa boa. Vem a isto a propósito das recentes declarações dos presidentes do F. C. Porto e do Sporting — por esta ordem — a propósito da contratação pelo Benfica do jogador Nuno Gomes. Pinto da Costa e Dias da Cunha — sempre por esta ordem — não se escusaram a comentar em termos muito negativos o acontecimento que fez delirar o Estádio da Luz na noite de sábado e que, obviamente, não lhes diz respeito directo. Como bons pedagogos, sentiram-se motivados os dois dirigentes a mendigar um pouco de atenção para o brilhantismo financeiro e fiscal com que têm dirigido as suas respectivas agremiações em comparação com os safardanas da Luz. Há coisa de poucos meses ficou toda a gente a saber, através da publicação dos últimos relatórios oficiais, que as SAD do F. C. Porto e do Sporting produziram no último ano prejuízos de muitos e muitos milhões de euros, o que não pode ser directamente assacado a contratações multimilionárias, num passado recente, de jogadores como Ibarra, o melhor lateral-direito do Mundo na clandestinidade, ou como Rodrigo Tello que, um dia destes, ainda há-de fazer explodir todo o seu talento. Agora, chorosos, Pinto da Costa e Dias da Cunha — por esta ordem — lamentaram que o Benfica tivesse garantido os serviços de Nuno Gomes à custa de um decreto governamental. Pelo menos foi essa a mensagem que quiseram fazer passar. O primeiro a falar, o presidente do F. C. Porto, anunciou que recebeu uma carta «muita chata das Finanças» relativa ao seu IRS e lamentou que nem todos possam «dar acções como garantia para pagar impostos». Estava profundamente enganado. Mas pode ser que já esteja, finalmente, esclarecido. Para isso bastar-lhe-ia ter ouvido o jurista Ricardo Sá Fernandes na noite de segunda-feira, na SIC, explicar a toda a gente que o Benfica não pagou impostos com acções e, esta é a parte melhor..., que qualquer pessoa ou entidade pode garantir com o seu património as suas obrigações perante o Estado. E, naturalmente, Pinto da Costa, como cidadão, poderá também fazê-lo se assim se decidir pela resolução do seu caso pessoal com as Finanças. Terá é que dar como garantia as suas acções e não as do F. C. Porto, como, na brincadeira, sugeriu em declarações a este jornal na segunda-feira: «... também vou pedir para dar como garantia acções do F. C. Porto». O segundo a falar, o presidente do Sporting, anunciou que a prioridade do seu clube é a solução do problema fiscal, pelo que a contratação de Nuno Gomes seria uma grave contradição de procedimentos. Constatou de seguida Dias da Cunha que o Benfica, ao contratar Nuno Gomes, incorre no terrível pecado da «concorrência desleal». Mas, de um ponto de vista mais prático, não poderá também o Benfica queixar-se de concorrência desleal? Como qualificar os 20 penalties que o Sporting teve em seu favor no último Campeonato? E os quatro anos seguidos em que o Sporting não sofreu nenhuma grande penalidade? E, se tivermos a mania da perseguição, não será também uma hipótese absurda de concorrência desleal o famoso erro na emissão da factura das férias mexicanas de um determinado árbitro? De um modo resumido, a situação apresenta-se assim: desmentindo todas as primeiras páginas dos jornais desportivos no mês de Julho, todas as notícias das rádios e das televisões e todos os sussurros em corredores e gabinetes esplendorosamente alcatifados, nem o Sporting nem o F. C. Porto — por esta ordem — quiseram alguma vez contratar Nuno Gomes. Porque uma coisa é certa: um clube que é sério não contrata Nuno Gomes, como, aliás, acabou por se provar na noite de sábado, em directo na RTP. É impossível prever o rendimento desportivo do ex-jogador da ex-Fiorentina neste seu regresso à Luz. Mas as perspectivas são promissoras. Nuno Gomes deve muito da sua competência como profissional de futebol ao alemão Jupp Heynckes, que passou muitas horas na Luz em trabalho específico com o jogador. O n.º 21 do Benfica tem um descaramento em frente da baliza que lhe confere um jeito enorme para marcar golos e, para mais, quando a sua equipa não ataca exibe uma honesta generosidade na luta pela recuperação da bola. São estes os seus principais atributos. É impossível, por outro lado, prever o rendimento financeiro da operação Nuno Gomes, mas as perspectivas são ainda melhores. O Benfica vendeu-o há três anos à Fiorentina por quatro milhões de contos, recuperou-o agora a custo zero e, negociando directamente com o jogador, ficou detentor de 100 por cento do passe numa futura venda. Para já só houve uma parte a fazer um grande negócio: Nuno Gomes, que se apresentou livre na Luz. Mas é muito provável que, mais ano menos ano, o Benfica acabe também por fazer um excelente negócio, relançando o goleador no mercado internacional a preços correntes. O que incomoda mais os adversários do Benfica em toda esta operação não é o jogador Nuno Gomes mais os golos que há-de marcar. É o negócio Nuno Gomes que os incomoda. E têm toda a razão. É um excelente negócio. 2. O Partido Socialista também teve uma opinião sobre a contratação de Nuno Gomes pelo Benfica. Para os socialistas trata-se de «uma situação que pode revelar favorecimento e distorção da concorrência». Segundo o deputado Joel Hasse Ferreira, muito condescendente, «ao Benfica compete conseguir bons jogadores» e, muito responsável, «ao Estado compete gerir os seus meios com parcimónia e equilíbrio». Exactamente o que aconteceu, precisamente, nas contas das obras do autódromo do Estoril, por exemplo. 3. O Benfica é muito mais que um clube de futebol. É uma referência institucional e uma personagem colectiva. O Benfica é, sobretudo, uma ideia inspirada e inspiradora. Nos últimos anos não pudemos encontrar o nome do clube nas listas dos vencedores de qualquer prova nacional nem nas listas dos participantes de qualquer prova internacional. Não faz mal. O Mundo não acaba aqui. Eu, por exemplo, consegui descobrir uma referência subtil e inteligente ao Benfica em A Segunda Oportunidade, o primeiro romance de Vítor Elias, um novo autor português, editado pela Quetzal. É um bom romance, muito bem escrito e sendo triste é, por vezes, alegre. E como é triste e alegre ao mesmo tempo é um mundo. Apreciem este trecho: «— Vais para casa? – pergunta-me o Borges. Ainda não — respondo. Sou capaz de beber um copo com um amigo meu, falar um bocado do Glorioso. Fazem vocês muito bem. Falar de Nosso Senhor ajuda qualquer pessoa a encontrar orientação.» É bom ou não é?" - O que dizer depois deste trabalho?! Enfim, perfeito.