Simão – O delírio do goleador

Fonte
www.record.pt
A generalidade dos jogadores de futebol não gosta de falar em objectivos pessoais. Prefere muitas vezes comentar o desígnio colectivo, o da equipa, defendendo a ideia de que quando algo de bom acontece é “mérito de todos”. Mas, no íntimo de cada um, existe sempre um gozo especial quando se ultrapassa uma barreira e se chega a um novo limite. Sábado à noite no Estádio do Bonfim, Simão Sabrosa delirou ao apontar o seu 14º golo da temporada, destacando-se de Gaúcho e ultrapassando a sua melhor marca de sempre, ou seja, os 11 golos marcados ao serviço do Benfica, na temporada passada. Conjugando isto com a goleada obtida e com o “simples” facto de ter conseguido o primeiro “hat-trick” da carreira, Simão estava, obviamente, radiante. Lá admitiu que “é bom atingir os objectivos” mas, depois, voltou a levar o discurso para o plano colectivo. Certo é que Simão entrou no lote restrito de futebolistas encarnados que cometeram a proeza de marcar três golos numa partida. O jovem recrutado ao Barcelona foi o primeiro da equipa a consegui-lo, na presente SuperLiga. De resto, um “hat-trick”, hoje em dia (excepto para goleadores de excepção do tipo Mário Jardel) já não é coisa que se faça todos os dias – lá vai o tempo em que Eusébio, Torres e “companhia” cilindravam quem surgia pelo caminho. Para os lados do Estádio da Luz ninguém marcava três golos desde uma noite da época passada em que Pedro Mantorras forçou Marco Tábuas, guardião do... Vitória de Setúbal, a ir buscar a bola à baliza três vezes. Nas últimas dez temporadas, incluindo a que decorre, registaram-se dez “hat-tricks” a favor do Benfica. O mais notável foi, sem dúvida, aquele que abre esta contagem, arrancado por João Vieira Pinto no 6-3 ao Sporting, em Alvalade. Depois disso, o actual número 25 dos leões ainda fez miséria mais uma vez e deixou a tarefa para outros. Até hoje, Nuno Gomes, Maniche, João Tomás e Van Hooijdonk foram os restantes a causar delírio na bancada. Com a curiosidade de o primeiro, internacional português, estar agora de volta ao Benfica, após tornar-se especialista numa matéria que o levou até Florença. Agora, com Nuno Gomes muito discreto em termos de finalização, Simão assume para já o estatuto líder da Bota de Ouro, numa equipa onde marcar é, de resto, uma tarefa muito repartida (Tiago tem 10 golos). Desde que se estreou no Sporting, pela mão de Octávio Machado, Simão nunca tinha feito mais do que bisar. Fê-lo por quatro vezes, uma no Sporting e as restantes três já ao serviço do Benfica. A dimensão goleadora do extremo encarnado é então algo de recente, já que em Barcelona, em dois anos, somou apenas três golos. Ao serviço do clube de formação, somou 12 golos nos três campeonatos que disputou. Apenas um reparo: este ano, Simão só marcou três golos de bola corrida...