Salonica, 21 de outubro de 1999. Primeira mão da 2.ª eliminatória da Taça UEFA, no Estádio Toumba. PAOK de um lado, Benfica do outro. Com uma assistência (67') e um golo do central Ronaldo (89'), as águias venceram na estreia naquele palco por 1-2 (Fratzeskos, aos 87', marcou para os gregos).
Figura desse primeiro encontro da história do Clube com o PAOK, Ronaldo Guiaro representou o Benfica de 1996 a 2001, tendo participado em 141 jogos e apontado cinco golos. Em entrevista ao Site Oficial, o brasileiro, de 44 anos, recorda a noite em que brilhou intensamente no Estádio Toumba e fala do reencontro dos gregos e das águias agendado para as 20h00 de quarta-feira, na segunda mão do play-off da Liga dos Campeões.
PAOK-Benfica Ronaldo Guiaro
Na primeira visita do Benfica ao PAOK nas provas da UEFA, Ronaldo foi o homem do jogo: uma assistência e um golo. Lembra-se de como fez a diferença na área adversária?
Sim, lembro-me muito bem dessa partida e dessa vitória. É uma daquelas jornadas que ficam para sempre na memória. Foi um jogo muito bom e muito disputado contra uma equipa difícil. Eu estava numa boa fase no Benfica e tive a oportunidade de marcar o golo da vitória quase no fim do encontro. Além disso, também fiz o passe para o golo do Nuno Gomes.
E foi uma assistência de calcanhar! Num momento de magia na área do PAOK começou a nascer o triunfo...
É verdade, foi assim um passe meio de classe, resultou bem. A jogada foi muito bem trabalhada até ao momento da assistência para o Nuno Gomes. No meu golo, apareci na área e, à segunda tentativa, já de pé direito, no ar, toquei a bola para dentro da baliza depois de um passe do Sérgio Nunes.
Foi felicitado por alguém em particular após a partida? Esteve em dúvida até ao último minuto devido a uma entorse num tornozelo...
Quando se ganha um jogo numa prova europeia, ainda por cima fora de casa, é sempre marcante. Todos me deram os parabéns, mas foi uma situação normal, uma coisa daquela semana. Como se diz aqui no Brasil, na semana a seguir o futebol já correu. No momento foi um resultado importante para a nossa equipa.
Anos mais tarde representou o Aris, de Salonica, e pôde viver pode dentro, digamos assim, a grande rivalidade com o PAOK. Jogar no Estádio Toumba é assim tão difícil como se diz?
É realmente um estádio muito complicado, principalmente neste momento. Estive na Grécia há quatro meses e vi como o PAOK investiu muito. Hoje em dia é um dos clubes com mais dinheiro na Grécia. Criaram uma equipa muito forte. Quando jogam ali, o estádio está quase sempre cheio. Os seus adeptos são muito agressivos no apoio e na pressão.
O Benfica tem de se preparar bem, porque a pressão é constante e começa logo na hora em que se chega ao estádio. Prossegue durante a partida e, dependendo do resultado, após o encontro. O Benfica tem de ir bem preparado para superar a pressão que se faz lá. Saiu do Estádio da Luz com um empate a uma bola, mas tem todas as possibilidades de reverter a eliminatória a seu favor, mesmo sabendo das dificuldades que vai encontrar.
“Este Benfica é muito diferente do Benfica do meu tempo” – são palavras suas numa outra entrevista. Consegue explicar ou detalhar a transfiguração constatada?
Mudou tudo! Não tem como comparar o Benfica da minha época com este Benfica. Hoje, o Clube tem uma estrutura espetacular, um centro de treinos e de formação espetacular, um estádio novo; tem capacidade financeira e consegue atrair bons jogadores. É outro mundo! O futebol evoluiu muito e ainda bem que o Benfica conseguiu acompanhar essa evolução. Fico muito feliz com isso. Tem uma projeção europeia muito boa. O Benfica está de parabéns pela forma como se transformou.
Em março deste ano teve oportunidade de estar no Estádio da Luz e de visitar o Caixa Futebol Campus…
Sim, estive uma semana em Lisboa, fui visitar o Caixa, um centro de treinos e de formação altamente apetrechado e qualificado, e pude estar novamente no Estádio da Luz, que já conhecia, mas não da forma como estive da última vez. É uma coisa fabulosa! Está ao nível dos estádios dos maiores emblemas da Europa. O Benfica teve um restart fabuloso.
Elege algum ou alguns momentos entre os que viveu de águia ao peito?
Não faço essa seleção. Sei que estive no Benfica numa fase difícil e que em termos desportivos não foi tão boa. Gostaria que tivesse sido muito melhor. Tive grande êxito no Atlético Mineiro e, depois de sair da Luz, fui ídolo no Besiktas. Infelizmente, a fase que o Benfica vivia não ajudou a que eu fosse o Ronaldo que era no Brasil e o que fui na Turquia. Mas guardo tudo no coração, o Benfica é um clube que adoro. Quando me perguntam, a minha resposta é que o Benfica é espetacular. A maior mágoa é comigo mesmo por não conseguido contribuir ainda mais.
Jardel, seu compatriota e antigo colega, é um dos elementos da dupla de centrais do Benfica que efetuou os primeiros seis jogos oficiais nesta temporada…
Jogámos juntos no Santos, ele era muito novo. Chegou ao clube numa fase parecida com a minha no Benfica. Jardel tem muita qualidade, merece estar no Clube e fazer o que vem fazendo.
Você está a formar-se, a desenvolver-se como treinador. Por onde e para onde é o caminho?
Fiz todos os cursos da CBF e trabalhei numa equipa de porte pequeno no Brasil, mas muito boa no estado de São Paulo, o XV de Piracicaba. Trabalhei na base, Sub-20, tive várias passagens pela equipa sénior… Foi uma aprendizagem durante dois anos. Agora estou a atualizar-me ainda mais com vários cursos que a CBF fornece. Também estive na Grécia a tratar do curso da UEFA. Tenho em mente treinar na Europa, que é onde passei a maior parte da minha vida. As portas podem abrir-se mais rápido do que no Brasil. Estou a preparar-me o melhor possível para a partir de janeiro tentar a minha entrada no mercado europeu.
Texto: João Sanches
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