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20/02/2004 10:40 José Carlos em entrevista exclusiva
«O Benfica tem potencial para ser uma equipa forte no futuro»
Com 34 anos, José Carlos é a voz da experiência no balneário do Benfica. O único jogador da famosa geração de 90 do hóquei em patins benfiquista que permanece no plantel, incute a mística aos mais novos e faz-lhes ver a responsabilidade de envergarem a camisola do «Glorioso».
Com o estatuto de capitão, o famoso guarda-redes, há oito anos a servir exemplarmente o nosso Clube, faz um balanço positivo da temporada e encara o futuro com optimismo desde que os jogadores sejam protegidos e apoiados.
Com saudades do calor da Luz, o defensor das redes da “águia” diz sentir-se com capacidade para continuar a exercer a modalidade nos próximos anos.
Depois de uma primeira volta muito complicada, a qualificação para a Poule A parece estar cada vez mais ao alcance do Benfica...
Na primeira volta do campeonato, tivemos de jogar sempre fora e durante algum tempo nem sequer tínhamos um pavilhão em condições para treinar, factores que naturalmente não ajudaram nada. Mas penso que as coisas estão agora a ir pelo caminho certo. Tudo é possível pois há muitos pontos ainda em disputa.. Estou confiante de que vamos conseguir a qualificação para a Poule A, que é o grande objectivo da época. Mas as pessoas não podem esquecer que somos uma equipa nova.
Já não falta muito para o Benfica finalmente fixar-se no pavilhão da Luz depois de ter andado durante muito tempo com a “casa às costas”. Aposto que está com saudades do ambiente da Luz...
Completamente. Uma coisa é jogar na Amadora e outra é jogar na Luz, na nossa verdadeira casa. É totalmente diferente. São poucos os adeptos que vão ver os nossos jogos quando não actuamos na Luz. No final do mês vamos finalmente para a Luz e já não teremos de andar com a “casa às costas”. Penso até que vai haver uma outra motivação e predisposição dos jogadores para treinarem quando estivermos na Luz.
Que balanço faz da prestação do Benfica até ao momento nesta época?
No campeonato, não estamos nos lugares cimeiros, mas, mesmo assim, faço um balanço positivo uma vez que, como foi referido, jogamos fora durante toda a primeira volta. Em relação à Liga dos Campeões, ainda não temos nenhum ponto conquistado, mas o grupo do Benfica é muito forte. Os nossos adversários são o Prato, actual campeão de Itália, o FC Porto e o VIC, que é uma formação bastante competitiva. Quanto à Taça de Portugal, continuamos presentes neste prova e podemos ir longe. Em suma, as coisas não estão assim tão mal como algumas pessoas querem fazer ver.
Está satisfeito com o trabalho que tem sido desenvolvido pelo técnico Paulo Garrido?
O Paulo Garrido, que tem a mesma escola do Carlos Dantas (ex-treinador do Benfica), apanhou uma equipa nova, com jogadores pouco entrosados e precisou de incutir neles uma mentalidade e um estilo de jogo diferentes. Depois, com a vinda mais tarde do Alan Karan, o Paulo Garrido teve de adaptar este jogador à maneira de actuar da nossa equipa. Penso que o nosso técnico está a fazer um bom trabalho.
«Temos de deixar o passado para trás»
Qual é a sua opinião sobre o actual plantel que sofreu uma profunda restruturação na sequência da saída de vários jogadores nucleares, casos do Vítor Fortunato, Filipe Gaidão e Ricardo Pereira?
Temos um plantel ‘engraçado’, com alguma margem de progressão. Se os jogadores forem sempre apoiados, podemos alcançar os objectivos que nos propusemos atingir. Temos valor mais do que suficiente para ficarmos nos seis primeiros lugares no final do campeonato.
Até onde pode ir esta renovada equipa do Benfica?
Temos potencialidades para ser uma equipa forte no futuro, mas infelizmente o Benfica costuma dar “tiros nos próprios pés”. Por exemplo, recentemente saíram notícias a público referindo que o Benfica contratou cinco jogadores ao Paço de Arcos. É evidente que este tipo de notícias afectam os jogadores da actual equipa do Benfica. Neste clube tudo se sabe. Porque é que não se guarda segredo? Se este grupo for protegido, terá todas as condições para elevar bem alto o nome do Benfica.
Que papel desempenha um jogador tão experiente e repleto de títulos como o José Carlos, num grupo maioritariamente constituído por hoquistas jovens, ainda com um palmarés pouco significativo?
Procuro transmitir a mística do Benfica, que é um clube diferente de todos os outros. Faço ver aos jogadores mais jovens a importância e a responsabilidade de vestirem a camisola do Benfica. Neste clube perder por um é diferente de perder por três.
O José Carlos estava habituado a representar equipas do Benfica que lutavam pelo título mas esta época o nosso Clube não se assume como candidato ao título. Qual é a sensação de não jogar pelos objectivos mais ambiciosos possíveis?
Custou-me imenso, sobretudo na fase inicial da época, lidar com as derrotas. Estava habituado a ver o Benfica com uma outra perspectiva a nível de objectivos. Devido a factores de ordem económica não foi possível manter no plantel vários jogadores que eram importantes. Nós temos é de pensar que estamos a trabalhar para construir algo de positivo no Benfica. Temos de deixar o passado para trás. O objectivo é formar uma equipa para, no futuro, podermos novamente lutar por objectivos mais ambiciosos.
«Se houver organização e capacidade financeira, vamos fazer coisas bonitas»
Qual foi o momento mais marcante da sua carreira desde que representa o nosso Clube?
O que marca mais é a conquista de campeonatos nacionais. Andamos uma época inteira a lutar pelo título nacional, pelo que quando o vencemos sentimos uma imensa alegria. Vencer Taças de Portugal é muito bom mas, como é óbvio, o campeonato é muito mais importante. Infelizmente não sou campeão nacional há muitos anos. Já estou com saudades (risos).
Quando é que pensa pendurar os patins?
É uma pergunta muito pertinente. Não sei se o Benfica conta comigo para o ano, mas se não ficar vou continuar a jogar de certeza. Não sei onde, mas vou continuar. Enquanto nos sentirmos bem e acharmos que estamos minimamente em condições de competir, por que não continuar a jogar? Adoro jogar hóquei em patins!
Como perspectiva o futuro do hóquei em patins do Benfica?
Se houver organização e capacidade financeira, vamos fazer de certeza coisas bonitas. Pelo que tenho lido e apercebido, o Benfica está a apostar em construir uma equipa forte no futuro.
Quando o José Carlos sair, o Benfica irá perder o seu último grande símbolo do hóquei em patins...
Hoje em dia os dirigentes não pensam nos símbolos do clube e na mística. Têm uma maneira diferente de encarar as coisas...
PALMÁRES DE JOSÉ CARLOS
BENFICA
- Dois Campeonatos Nacionais
- Quatro Taças de Portugal
- Duas Supertaças
SELECÇÃO NACIONAL
- Três Campeonatos da Europa
- Duas vezes Vice-Campeão do Mundo
Texto: Victor Pinto
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