Fonte
www.abola.pt
Luís Filipe Vieira, orgulhoso pelo que já fez, aborda, sem tabus, nas páginas que se seguem, os tem as mais quentes da actualidade benfiquista, de Fonseca Santos a Camacho, da renovação com Simão à normalização das relações com o Sporting, do futuro da indústria do futebol à mudança que a tragédia de Fehér provocou na sua maneira de estar no futebol...
— O Benfica, aos 100 anos, tem razões para ser um clube optimista?
— O Benfica tem todas as condições para construir um futuro risonho. Independentemente de uma ou outra oscilação, o passado do Benfica foi brilhante, hoje há linhas de orientação perfeitamente traçadas e há que encarar o futuro com ânimo e optimismo, assim todos os benfiquistas entendam as mensagens e adiram aos projectos que vamos lançar.
— Qual é a maior riqueza do Benfica?
— A sua História. Somos, inequivocamente, a maior instituição portuguesa.
— Este é o centenário que gostaria de ter?
— Tenho a certeza de que todos os benfiquistas vão ter orgulho nas celebrações do centenário. Havia quem pensasse que se devia fazer um grande jogo no próprio dia do centenário e isso, até pela Taça UEFA, foi impossível, mas teremos jogos e eventos fantásticos ao longo deste ano.
— Que mensagem tem para os benfiquistas neste dia tão especial?
— Gostava de ver o estádio, no domingo, completamente cheio, a comemorar 100 anos de história e glória. E desejo que nos sintamos, neste fim-de-semana carregado de simbolismo, muito perto uns dos outros.
O futebol, sempre o futebol
— Como caracteriza a época em curso?
— O Benfica está a consolidar-se, dando continuidade a um trabalho iniciado há 30 meses, quando cheguei ao Benfica, e creio que há alguns indicadores muito positivos: há muito tempo que o Benfica não tinha quatro/cinco jogadores na Selecção Nacional; no Campeonato somos terceiros, e aí não escondemos que, porventura, as nossas expectativas seriam outras; está na Taça de Portugal e na Taça UEFA. Não estou desiludido, sei que estamos a aprender, a ficar mais fortes e é assim que continuará a ser.
— A ideia é manter e melhorar?
— Manter e melhorar. Não abdicamos disso.
— Que filosofia vai ser implementada no futebol, o treinador é contratado para treinar ou para construir um plantel?
— Bom, desde já, quero clarificar que Camacho foi e é uma mais valia para o Benfica e que continua ser o homem de confiança da Direcção. Sei que, até ao dia em que sair, Camacho vai só pensar no nosso clube e que, a cada dia que passa, o Benfica está mais forte. Camacho não é um oportunista, não exigiu este ou aquele jogador e já temos na equipa principal elementos das nossas escolas. A seguir, posso garantir que vamos continuar a apostar na lógica de manter os principais valores, procurando fortalecer pontualmente o grupo de que já dispomos. Não está no nosso horizonte desfazermo-nos de qualquer jogador importante. Dentro desta política, conseguimos a renovação com Simão Sabrosa. Trata-se de um jogador muito identificado com a nossa instituição, quis continuar no Benfica, não exigiu nada e mantiveram-se as condições do contrato que estava em vigor. Simão quer, acima de tudo, ser campeão pelo Benfica.
— O presidente do Benfica tem a expectativa de, na próxima época, construir uma equipa de futebol mais forte do que a desta temporada?
— Vamos ser muito mais competitivos.
— Para isso é preciso ter mais e melhores jogadores...
— Lógico. Sem cometer loucuras, vamos reforçar a equipa nalgumas áreas. A filosofia é manter e melhorar. — Isso acontecerá sob orientação de Camacho?
— Tudo o que está a ser feito é em consonância com o nosso treinador.
— Então, o Benfica está plenamente satisfeito com o trabalho desenvolvido por Camacho?
— Todos nós, benfiquistas, temos Camacho como uma referência.
— Se Camacho sair amanhã do Benfica, entende que deixa o futebol do clube melhor do que recebeu?
— Inequivocamente. Ele mudou a mentalidade do grupo de trabalho. E até podemos ir mais longe. Ele mudou o Benfica.
— E se o técnico sair no final da época, isso será muito mais por vontade dele do que do Benfica?
— Não é assunto para agora. Estamos numa fase crucial da época e não é benéfico comentar estas matérias. Mas que fique claro que estamos muito satisfeitos com o trabalho do Camacho. Se ele entender que não deve continuar, nem valerá a pena negociar isto ou aquilo, porque não será, por certo, um problema de dinheiro. Para já, penso que todos os benfiquistas estão satisfeitos com José António Camacho.
— Continua a falar muito com José António Camacho?
— A nossa relação vai para além do futebol, por isso é normal que conversemos bastante. Mas nunca vou falar com ele de opções técnicas. Isso não faço. Do resto sim, de coisas do Benfica, falamos abertamente.
— Considera Camacho exactamente da mesma forma que o considerava quando foi a Vigo renovar-lhe o contrato?
— De forma clara e inequívoca. Quem trabalha com a seriedade que ele põe no que faz, só pode atingir bons resultados. E Camacho representa algo perante os sócios do Benfica. É verdade que quer mais e mais para o clube e às vezes isso não é possível; mas, pelo menos, não lhe estamos a tirar o que já tem e a cada dia que passa somos mais fortes.
— Simão renovou o contrato. Quem se segue?
— Na altura própria se saberá. Ninguém sonhava que o Simão ia renovar... Para nós, o importante é saber se o jogador sente a camisola e quer continuar no Benfica.. Quem estiver no nosso clube com o pensamento de sair para o estrangeiro, não serve e não está bem.
— O Benfica, que não tem capacidade para comprar no primeiro mercado, vai continuar a apostar em soluções imaginativas, nomeadamente empréstimos, para reforçar a equipa?
— Temos o centro de estágio em construção, o que indica que faz parte do nosso programa um investimento muito grande na formação. Mas não deixaremos de estar atentos ao mercado, numa óptica selectiva. Vamos ser muito cuidadosos nas aquisições. Sei que cometemos alguns erros, mas é preciso ver a conjuntura em que nos encontrávamos. O clube estava desmotivado e quando falei da equipa-maravilha recebi muitas críticas, mas os sócios do Benfica acreditaram e a média de espectadores aumentou imenso. E aquilo que sempre disse está a verificar-se, ou seja, que íamos ser cada vez mais competitivos e que procuraríamos criar um núcleo duro cada vez mais identificado com a instituição. Hoje, dentro do balneário, uma derrota e sinónimo de grande sofrimento.
— Há um regresso da mística?
— Só a voltaremos a ter se mantivermos uma estrutura estável. Temos de ter jogadores com seis e sete anos de clube que passem a mensagem aos mais novos.
Lutar pelo título
—Se o Benfica não se qualificar para a Liga dos Campeões isso será uma grande derrota?
— Não. O importante é que se traçaram projectos e houve evolução. Acredito que o próximo ano é o ano do Benfica. Desde que haja sintonia, com o sucesso do empréstimo obrigacionista e do cartão de adepto, temos todas as condições para formarmos um grupo capaz de nos dar a grande alegria que ambicionamos há alguns anos de termos o Benfica campeão. Este objectivo não se consegue apenas com um ou outro jogador. É preciso acompanhar e motivar diariamente o grupo. Na próxima época temos todas as condições de concretizarmos o sonho de todos os benfiquistas e de sermos mais do que candidatos ao título.
— Com mais jogadores portugueses ou mais estrangeiros?
— Com aqueles que vierem enriquecer de facto o plantel. Sem complexos. Desde que venham para somar. E garanto que não é qualquer jogador que vestirá a camisola do Benfica.
— No início da época o Benfica fartou-se de falhar contratações...
— Quais? Muitas vezes é o que dizem os jornais...
— Ricardo, Júnior, Atouba, mais recentemente o Ricardinho...
— Na minha óptica não houve contratações falhadas. Porque, nesses momentos, nunca abdiquei de certos princípios que defendo. No caso do Ricardo fomos muito correctos como Boavista. A seguir, a opção de não vir para o Benfica foi do jogador. Ele seguiu a vida dele e nós a nossa. O Moreira deu provas de valor, está de pedra e cal e nós estamos muito satisfeitos com ele. Mas já me habituei, a propósito de contratações, a que determinadas pessoas nos ofereçam jogadores e que os nomes apareçam, um dia ou dois depois, nos jornais. Usam-nos apenas para valorizarem os jogadores. Também nesse aspecto temos aprendido bastante.
— Estava no vosso pensamento reforçar mais a equipa no mercado de Inverno?
— Assumi um compromisso com o plantel do Benfica e nunca os trairia. Porque acredito no valor dos nossos jogadores. Se tivesse havido uma lesão grave, ou então uma daquelas propostas do outro mundo, teríamos pensado nisso. Assim, não fomos à procura.
— Mas o plantel continua a ser curto e desequilibrado e isso nota-se cada vez que aparecem lesões...
— O grupo cresceu e há jogadores que evoluíram muito. Mas admito que será preciso realizar alguns reajustamentos.
— É possível chegar à final da taça UEFA?
— Eu acredito que sim. Mal de mim se não acreditasse neste grupo de trabalho.
— O caso Mantorras é, para si, sinónimo de uma grande mágoa?
— Custa-me. Mas o Mantorras vai ser uma realidade. E, se calhar, teremos, em breve, alguma surpresa.
— Continua a acompanhar muito de perto o sofrimento do Mantorras?
— Para dar uma pequena ideia, digo-lhe que o Mantorras passou a viver numa casa muito perto de mim.
Como é dirigir o Benfica
— Ao longo do tempo que já tem de Benfica, primeiro como gestor do futebol e depois como Presidente, viu os sócios e adeptos sempre solidários coma equipa, ou percebeu movimentações críticas, susceptíveis de travar o desenvolvimento do clube?
— Não vejo o Benfica apenas como uma equipa de futebol. Vejo a instituição, como elemento fundamental e depois, num plano inferior, várias empresas, uma das quais a SAD do futebol, que tem, sem dúvida, uma grande importância na consolidação de todo o projecto. Quanto ao que se diz ou deixa de dizer, tenho uma certeza: não podemos cair no ridículo de todos os anos mudarmos de treinador e esse treinador arrastar nove ou dez jogadores. Não é essa a nossa estratégia. A visão que temos para todas as empresas do universo Benfica passa pela profissionalização, pela estabilidade, competência e responsabilização. No caso do futebol, estamos a fazer o que prometemos durante a campanha eleitoral. Manteremos os principais activos, que serão a base para fazer o Benfica reviver o seu passado glorioso.
— É possível construir o sucesso no Benfica, sem que se parta do sucesso da equipa de futebol? Ou seja, em jeito de caricatura, haverá alguém disponível para comprar uma camisola de um clube perdedor?
— O futebol é a mola real do projecto. E, neste momento, ainda é o futebol a alimentar a instituição. Mas a capacidade de construirmos uma equipa forte, capaz de alavancar todo o projecto, passa pela disponibilidade dos sócios e simpatizantes do Benfica. Que ninguém pense que haverá mecenas no Benfica. O clube vale pela sua marca, pela história da instituição e pela legitimidade que a sua Direcção, sufragada por 90 por cento dos votantes, possui. E na altura em que lançarmos o cartão do benfiquista, esperamos que todos venham a aderir. Da mesma forma que vai acontecer com o empréstimo obrigacionista.
— Mas, então, necessitam tornar o projecto empresarial de alguma forma blindado quanto à bola que entra ou vai ao lado?
— Tudo dependerá, sempre, em boa medida, do aspecto desportivo, mas é preciso criar mecanismos que limitem essa dependência.
— Com a adesão dos benfiquistas aos projectos da Direcção isso acontecerá?
— Sem dúvida. O cartão do benfiquista, que será lançado em breve, visa não apenas os sócios e adeptos que vão ao futebol, mas um universo mais largo. Há quem me acuse de ser megalómano, mas quando se pensa num projecto sério, que tem por base a maior instituição portuguesa, tem de se ser ambicioso e procurar trazer para o seio do clube o maior número possível de adeptos.
— Que passos estão a ser dados para colocar de pé esse projecto?
— O primeiro, que está a correr, é o empréstimo obrigacionista; o segundo passa pelo lançamento do cartão, que tudo leva a crer será activado em finais de Maio; depois, passa pela profissionalização de todas as áreas de negócios do Benfica, de forma a potenciar o rigor da gestão, libertando o presidente do clube para estar mais perto das comunidades benfiquistas, em Portugal e por esse mundo fora. É minha convicção que a nossa instituição possui condições para se tornar um caso ímpar a nível mundial.
— Já encontrou as pessoas certas para preencher os lugares nas várias empresas do Benfica?
— Nunca farei nada, no clube, sem que a Direcção esteja solidária. Quanto à profissionalização, não há dúvidas de que esse é o caminho a seguir. Os nomes, a seu tempo, serão apresentados, discutidos e, por fim, tornados públicos. Mas os benfiquistas podem estar certos de que vamos profissionalizar, modernizar, planear e credibilizar, enquadrando tudo numa filosofia empresarial. Acabou o tempo emque as pessoas serviam o Benfica e também se serviam do Benfica para criar protagonismo.
O «caso» Fonseca Santos
— A Direcção já está novamente solidária, após o solavanco dado por Fonseca Santos?
— Sejamos claros. Escreveu-se muito em torno de Fonseca Santos e quero deixar bem claro que não há, nem houve, divergências entre nós. Provavelmente, todo o alarido provocado só serviu para reforçar a nossa união. Aliás, pela distribuição das administrações das empresas, percebe-se que as pessoas comungam das mesmas ideias. Concretamente em relação a Fonseca Santos, temos uma relação fabulosa há muitos anos, ajudou-me a resolver alguns problemas , está normalmente, perto de mim, colaborando em todas as decisões. Tudo o que foi escrito e muitas vezes empolado vale o que vale. Importante é que toda a Direcção sabe quem é o presidente do Benfica. Mas vou mais longe. É muito difícil, mas muito difícil mesmo, que alguém, algum dia, consiga arranjar um problema entre o Luís Filipe Vieira e o Fonseca Santos, ou entre mim e o resto dos Órgãos Sociais do Benfica. Sei do que sou capaz, até onde posso ir, com quem conto e, curiosamente, o Benfica não teve, nos últimos anos, uma Direcção tão complementar quanto esta. Se isto preocupa algumas pessoas, deixo um conselho: não vão por aí, que não conseguem... Mas digo mais, para que não venham especular: o dr. Fonseca Santos vai estar fora do País em missão de grande importância para o Benfica e estará ausente do jantar de aniversário (ontem à noite, no Estoril, n.d.r.) e do jogo com o Moreirense, na Luz. Que fique já clara a situação para que não venham, depois, criar conflitos onde eles não existem. Repito que está a cumprir missão fundamental para a vida da instituição.
— Vai alargar o Conselho de Administração da SAD do futebol de 3 para 5 membros?
— Primeiro, vou falar com a Direcção.
— Mas tem ideias definidas?
— Tenho ideias muito claras. Haverá, brevemente, mudanças nas estruturas do Benfica, especialmente nas áreas de negócios. Profissionalizar e responsabilizar, eis o lema.
— Depois da recomposição da estrutura vai afastar-se da condução directa do futebol?
— Independentemente das reestruturações nunca abdicarei de que seja a administração da SAD do futebol a definir a contratação ou a venda de um jogador. Porém, em algumas situações, nomeadamente operações-relâmpago, terei de decidir por mim, se avaliar que se trata de uma boa oportunidade para o Benfica.
— Os benfiquistas causam mais problemas à Direcção do Benfica que os não-benfiquistas?
— Vamos ver... eu ando na rua todos os dias e ainda não ganhei nada no Benfica; e sei o que represento para os sócios e como eles falam comigo. Há sintonia. O que falta é haver mais unidade em torno de uma Direcção que foi eleita por 90 por cento dos votos, mesmo que esta possa cometer um erro ou outro. Agora, os benfiquistas podem estar certos de que elegeram um grupo de pessoas que defenderá o clube até às últimas consequências, dentro de parâmetros de rigor e transparência. O Benfica, nestes últimos três anos, evoluiu bastante; o que era e o que é, são duas realidades completamente diferentes. O passivo, por exemplo. Hoje está identificado porque está no sistema financeiro e não em off-shores ou contas marginais E as pessoas têm de ter a noção exacta de que a recuperação completa da instituição só poderá ser feita como concurso de todos os benfiquistas. Nós não podemos, como alguns sustentam, vender os melhores jogadores e apostar apenas nos jovens. Costumo dizer, como caricatura, que isso levaria a que o passivo ainda aumentasse, porque deixaríamos de gerar receitas.
O empréstimo obrigacionista
— Relativamente a algumas questões específicas, gostávamos de fazer o ponto da situação: empréstimo obrigacionista...
— Em primeiro lugar e com a maior transparência, digo que lançamos o empréstimo porque precisamos do dinheiro. Estou convencido de que teremos um sucesso a 100 por cento, para o montante previsto de 15 milhões de euros. Há situações de curto prazo que queremos passar para o longo prazo, aliás uma operação a que Sporting e FC Porto já recorreram, precisamos de injectar dinheiro na tesouraria e reestruturar o passivo bancário. No âmbito do centenário do Benfica, e para apresentar todas as acções, incluindo as de natureza financeira, nomeadamente o empréstimo obrigacionista que, em Portugal, estão a ser levadas a cabo, estarei nos Estados Unidos e Canadá em Março, junto das comunidades lusitanas.
— Casas do Benfica...
— Foi A BOLA que disse que as Casas do Benfica devem ser o braço armado do clube e a sua presença na comemoração do centenário será visível. É fundamental que o vínculo dos benfiquistas não seja apenas a esta ou àquela Casa, mas também à instituição. Não me parece normal que os simpatizantes estejam filiados nas Casas e não sejam sócios do Benfica. Em termos estatutários, creio que, após debate, há larga margem de manobra. Desejo, também, informatizar todas as casas do Benfica e colocá-las em rede, no sentido de aproximar o clube aos adeptos.
Futebol, espectáculo para as famílias
— Gostou do exemplo de fair-play que foi o Benfica-FC Porto?
— Todos os intervenientes naquele espectáculo estão de parabéns. Inclusivamente, as claques do Benfica e do FC Porto deram o verdadeiro exemplo do que deve ser a sua o espectáculo num estádio de futebol. Já no jogo com a Académica o comportamento do público foi excepcional, embora, nessa noite, houvesse associada uma carga emocional muito grande.
— Os dirigentes devem, ao longo da semana, por acção ou por omissão, dar o exemplo e criar condições para um bom espectáculo?
— Os dirigentes têm de defender a indústria e ajudar o espectáculo. Há todas as condições para, em prol do futebol, nos sentarmos a uma mesa e definitivamente resolvermos o que há para resolver. O futebol tem de ser abordado de forma séria, é preciso dialogar ...
— E isso é possível, com o presidente do FC Porto, com o presidente do Sporting? Está a lançar um desafio?
— É possível. Só se as pessoas não estiverem de boa fé... se houver quem entenda que vale a pena ganhar a qualquer preço, então não terá lugar. O futebol é um espectáculo que é a paixão do nosso povo e temos de lhe dar credibilidade, embora saibamos que a arbitragem será sempre complicada, que haverá erros. O que é preciso é dar aos árbitros as melhores condições possíveis...
— Defende a autonomia do sector da arbitragem?
— Claramente. E demos o primeiro passo nesse sentido aquando da eleição do major Valentim Loureiro. Não acredito em sorteios e creio que a arbitragem deve ser completamente autónoma, com um responsável de corpo inteiro. O que acordámos, quanto à Liga, foi que seria a APAF a indicar o presidente da Comissão de Arbitragem.
Com convicção, sem arrependimento
— Não está arrependido da aventura em que se meteu no Benfica?
— Nunca me arrependo. Deram-me uma grande responsabilidade e espero estar à altura. Não vou esconder aos benfiquistas que os últimos dois anos me desgastaram um pouco e que tenho mais três à minha espera. Porém, as pessoas que foram escolhidas para os órgãos sociais do clube não vão desiludir os sócios e simpatizantes.
— O momento de maior alegria que viveu no Benfica foi a inauguração do estádio?
— Foi um momento importantíssimo da história do Benfica. Mas eu manifesto as minhas alegrias para dentro, no silêncio. Ninguém me vê gritar num golo, nem do Benfica...
— E manda em tudo, no Benfica?
— Creio que se toda a estrutura que temos prevista para o Benfica for implementada rapidamente e eu não for solicitado a cada minuto para todas as soluções o clube me pode aproveitar naquilo em que posso ser muito útil, ou seja, na estratégia e na proximidade aos adeptos.
— O Luís Filipe Vieira é um controlador nato, como dizem?
— Se eu tivesse esse defeito não tinha tempo para estar no Benfica. Se não descentralizasse nas minhas empresas, não podia ser presidente do Benfica. Ora, é uma organização desse tipo que quero, para que o Benfica nunca fique dependente de um presidente.
Aconselhei Simão como um pai
— Fala muito com os jogadores?
— Dou um exemplo: na renovação de Simão, aconselhei-o como um pai, mostrando-lhe o que era aliciante para ele e para a sua família e, ao mesmo tempo, para a nossa instituição. Se calhar, no dia em que negociei com o Simão, falei mais como um pai do que como presidente do Benfica. Mas há outros casos de jogadores que falaram directamente comigo e que aconselhei mais como amigo do que como presidente. Daí, provavelmente, a grande sintonia existente entre mim e os jogadores.
— A sua presença no treino após a derrota com o Nacional insere-se nessa linha de acompanhamento?
— Há momentos especiais e apesar de os jogadores saberem que estou sempre com eles, a minha presença por vezes é importante. Para o clube, para os adeptos, julgo que também se trata de uma mensagem de solidariedade positiva.
— Como é conviver comum Director de Comunicação que não é benfiquista?
–– Num projecto desta natureza, a única coisa importante é a competência e o profissionalismo. Se alguma vez mudar esta posição, é sinal que alguma coisa vai mal e me tornei permeável a recados. Sou incapaz de coabitar com a incompetência.
— Há lugar para José Veiga num futuro projecto empresarial do Benfica?
— Não vou personalizar. Tenho ideias definidas em relação ao clube e às suas participadas. Vou aprofundar a questão na próxima reunião de Direcção.
— Quem são as pessoas?
— Brevemente se saberá.
— Mas quando? Até ao final da época tudo ficará definido?
— Antes disso; até ao final do mês de Março.