Fonte
abola.pt
Estou muito preocupado com a crise directiva
Walter Marques, presidente do Conselho Fiscal, está muito preocupado com a demissão de Fonseca Santos das sociedades participadas do Benfica e as críticas que fez, em carta aberta, ao presidente Luís Filipe Vieira. Para analisar essas críticas, pediu aos fiscais de contas da SAD e Benfica Estádio e aos auditores da KPMG para se reunirem amanhã com o Conselho Fiscal. O objectivo é a recolha de dados (leia-se números) que permitam dar resposta às questões de Fonseca Santos. Walter Marques quer assim fazer o chamado trabalho de casa para a reunião dos corpos sociais de 19 de Abril, essa sim a prometer uma clarificação quando Fonseca Santos e Luís Filipe Vieira estiverem sentados à mesma mesa. Em declarações a A BOLA, Walter Marques não toma partido nas questões de fundo, mas recusa o cenário de desonestidade do presidente. Será imparcial e mantém a consideração pessoal pelos protagonistas da crise. Quer ouvir primeiro, só depois tomará uma posição. Está, de resto, mais preocupado quanto às consequências da quebra de coesão interna do que quanto às críticas de Fonseca Santos. Por isso, censura a forma como o vice-presidente decidiu assumir a ruptura. Pessimista, já não acredita na coabitação.
Censura
Historiar a crise
— Neste momento são mais as perguntas do que as respostas sobre esta crise directiva. O que posso dizer, historiando um pouco o processo, é que me encontrava em Macau quando a carta aberta de Fonseca Santos foi publicada. Fui, inclusivamente, acordado a meio da noite com um telefonema de Lisboa. Como não podia ler a carta, explicaram-me o conteúdo e perguntaram-me se estava de acordo com uma censura comum dos restantes dirigentes, nos quais me incluo como presidente do Conselho Fiscal, quanto à forma encontrada por Fonseca Santos para dar a conhecer as suas divergências, entendendo esses dirigentes unir-se para preservar o presidente, enquanto pólo congregador de uma equipa. Não tive dúvidas. De certeza que sim. Estamos todos com o presidente, por isso integrámos uma lista comum. Posso discutir a forma como essa censura à conduta de Fonseca Santos foi elaborada, mas no essencial considero que a atitude do vice-presidente foi reprovável, inaceitável, inadmissível.
Conversas
Quais as explicações de Fonseca Santos e Filipe Vieira?
— Continuo a ter grande consideração quer por Fonseca Santos quer por Luís Filipe Vieira. De resto, pensava entrar em contacto com os dois, mas nem foi preciso já que ambos tiveram a amabilidade de entrar em contacto comigo. O presidente disse-me que estava disponível para esclarecer qualquer dúvida que tivesse. Por seu lado, Fonseca Santos fez questão de frisar que o que estava em causa na sua carta aberta eram críticas à gestão e nunca qualquer insinuação quanto à honestidade do presidente. Considerou ainda que havia gente que estava a tentar ultrapassar o presidente e que no fundo as suas críticas se baseavam nos choques que entende existirem entre SAD e Benfica Estádio.
Voz activa
O que pode fazer o Conselho Fiscal?
— Apesar do capital social da SADe da Benfica Estádio ser maioritariamente do Benfica, o facto é que estas sociedades, entre si e a própria instituição Benfica, são autónomas. Numa análise estrita, a acção fiscalizadora deste Conselho a que presido resume-se aos actos da Direcção do clube. Mas os próprios membros do Conselho Fiscal já se interrogaram por mais de uma vez, em reunião, se, de uma forma indirecta e como accionistas maioritários da SAD e Benfica Estádio, não teremos reflexo dos actos de gestão das duas sociedades em causa. Na resposta a esta pergunta entra também o facto de ambas terem fiscalização própria e autónoma do clube. Por isso, decidimos solicitar, nunca ordenar, aos órgãos fiscalizadores da SAD e da Benfica Estádio que se reunissem connosco para nos ajudarem a perceber o alcance das perguntas que foram formuladas por Fonseca Santos na sua carta aberta. Esses órgãos fiscalizadores são, no fundo, fiscais únicos que ambas têm e os auditores da KPMG. Todos anuíram ao pedido que formulámos.
Informação
Quais os objectivos da reunião?
— A reunião decisiva quanto a esta crise directiva é a que vai ocorrer a 19 de Abril e que juntará à mesma mesa todos os órgãos sociais. É aí que eu espero que Fonseca Santos reitere o que disse, pormenorizando, e que Luís Filipe Vieira diga de sua justiça. De resto, esse é o local próprio para a manifestação de divergências, deveria ter sido esse o caminho seguido por Fonseca Santos. O Conselho Fiscal, que quer participar activamente na busca de soluções, nunca no avolumar de problemas, entendeu que deveria ir para essa reunião com o máximo de informação possível sobre as questões que estão em cima da mesa. Tinha uma reunião marcada para esta quarta-feira e antecipou-a por um dia. Vamos, como disse, falar com os órgãos fiscalizadores da SAD e da Benfica Estádio e, com o trabalho de casa feito, penso que economizamos esforços para esclarecer todas as dúvidas. Em conjunto, como sempre deveria ter sido.
União minada
Que consequências terá a crise?
— Estou muito preocupado com os contornos e mais ainda com o desfecho desta crise directiva. Em termos de legitimidade democrática, ou institucional, se preferirem, ela significa o minar da coesão de uma equipa. E esta é uma equipa. Não sei o que vai acontecer. É certo que os três órgãos sociais são independentes, mas apresentaram-se a sufrágio numa única lista comum pressuposto de unidade. E foi esse princípio que foi colocado em causa. O que aconteceu é lamentável, já que precisávamos de um Benfica forte, unido e seguro.
Pessimismo
O que esperar?
— Primeiro, vamos esperar pelos esclarecimentos que forem prestados e pela gestão que cada uma das partes fará do que acontecer. Mas estou pessimista. Mais com o que acontecerá em termos directivos na coabitação entre Fonseca Santose Luís Filipe Vieira do que quanto às respostas que forem dadas às dúvidas de Fonseca Santos sobre a gestão da Benfica Estádio. Não acredito que exista nesse do mínio qualquer desonestidade. Pode é acontecer um desajustamento entre a SAD e a Benfica Estádio ou uma descoordenação nos actos de gestão ou até um menor acerto nalgumas decisões. Nada mais do que isso e, a meu ver, insuficiente para a crise que se instalou e que ganhou os contornos que se conhecem devido à forma como Fonseca Santos entendeu manifestar as suas divergências como presidente.
Futuro
Coabitação entre Filipe Vieira e Fonseca Santos?
— Coabitação? Penso que já não existe qualquer possibilidade de coabitação entre Fonseca Santos e Luís Filipe Vieira. Choque de personalidades? Não sei, mas pelo menos choque de estilos existe.