Quem vê Jardel, hoje um dos capitães do Benfica, não imagina os desafios que ele enfrentou até chegar ao duelo contra o poderoso Bayern de Munique, na próxima terça-feira. Depois do começo promissor e a passagem frustrada por um grande clube brasileiro, o zagueiro teve uma doença misteriosa em que quase perdeu a vida, passou pelo último nível do futebol brasileiro até chegar à Europa.
"Em um ano e meio fui da quarta divisão paulista para a Champions League em um dos maiores clubes do mundo. É o destino. Não tive muita sorte na minha passagem pelo Brasil", resumiu de forma bem humorada, o zagueiro em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br.
O defensor começou a carreira nas categorias de base do Avaí aos 13 anos, após ser indicado para um teste pelo tio que era funcionário do clube. Ele subiu aos profissionais no final da Série B de 2004, mas só estreou no ano seguinte pelo Campeonato Catarinense. Suas boas atuações chamaram atenção do Vitória.
"Joguei bem na Bahia, mesmo com o clube rebaixado. O problema é que tive uma lesão no púbis na temporada, só voltei no fim do ano", relatou.
Apesar da campanha ruim do clube rubro-negro, Jardel ganhou uma oportunidade no Santos, em 2006. Na Vila Belmiro, porém, passou pela primeira grande frustração da carreira.
"Estava treinando muito bem, mas por causa do púbis não joguei. Fiquei muito tempo parado tratando e tive que operar. Depois recuperei só em novembro, fui para alguns jogos no banco, mas nunca joguei, infelizmente", lamentou.
Sem espaço no time paulista, o zagueiro foi contratado disputar o Campeonato Paranaense do ano seguinte pelo Iraty. Depois retornou ao Avaí, onde teve outra lesão, desta vez nas costas. Como a equipe do Paraná tinha parceria com o Joinville, ele foi emprestado ao time tricolor.
"Lá não tive sorte também e peguei uma infecção misteriosa. Fiquei sete dias internado, isolado, correndo risco de morte, ninguém sabia o que eu tinha. Saí do hospital e só joguei o final do estadual", recordou.
4ª DIVISÃO PAULISTA
O zagueiro voltou ao clube paranaense para manter a forma quando a Traffic, que tentou sua contratação no passado sem sucesso, adquiriu seus direitos. Jardel foi repassado ao Ituano para a disputa do Campeonato Paulista de 2009, mas entrou em campo poucas vezes porque sentiu novamente a lesão no púbis. "Depois disso, treinei no CT da Traffic porque não tinha outras propostas de clubes", comentou.
Como a empresa tinha recém-criado o Desportivo Brasil, que iria disputar sua primeira competição profissional, o defensor foi atuar na quarta divisão do Campeonato Paulista pela equipe da cidade de Porto Feliz.
"Os campos e os vestiários são muito diferentes da primeira divisão, mas a qualidade dos jogadores era boa. Depois de oito partidas eu estava jogando bem, sem lesões e veio uma parceria com o Estoril-POR. Caso essa situação não acontecesse, eles iam tentar arrumar algum clube para mim no Brasil. Mas como deu certo, fui junto com uns 11 jogadores para lá", disse.
A Traffic comprou o clube que estava na segunda divisão portuguesa como uma forma de projetar seus vários atletas no mercado europeu.
"Lá correu tudo bem, me adaptei rápido mesmo com um futebol bem diferente. Com isso, fui para o Olhanense, que estava na primeira divisão portuguesa. O time estava muito bem, lá. Eu joguei com o Lulinha (ex-Corinthians) e Ismailly (Shakhtar Donetsk-UCR)", afirmou.
A equipe era a grande surpresa da temporada 2010/2011 e ocupava a quinta posição na Liga. As boas atuações do clube da cidade de Olhão chamou atenção dos adversários, que sofreu um desmanche no meio da temporada.
CAPITÃO NO BENFICA
Jardel chegou ao Benfica em janeiro de 2011, poucos dias antes de David Luiz ser vendido ao Chelsea. Em Lisboa, ele precisou esperar uma oportunidade de se firmar na equipe principal. "Estreei numa partida da Taça da Liga de Portugal, mas fiquei bastante tempo na reserva. Na saída do Fábio Coentrão para o Real Madrid, o Garay veio para cá", recordou.
Com a transferência do defensor argentino para o Zenit, da Rússia, no meio de 2014, o brasileiro não decepcionou. Tomou conta da posição e formou uma segura dupla de defesa ao lado de outro compatriota.
"Luisão é um amigão que fiz por aqui e me ajudou demais desde a chegada ao clube. Espero que ele se recupere o quanto antes do problema no braço e volte ao futebol para nos ajudar", projetou.
Além de evitar gols adversários, ele também já balançou as redes em momentos decisivos, que ajudaram na conquista das duas últimas edições do Campeonato Português.
"Um dos jogos mais especiais foi contra o Sporting em fevereiro do ano passado, um duelo importante pela liderança do campeonato. Fiz o gol de empate (1 a 1) aos 48 minutos do segundo tempo e conseguimos manter a vantagem para sermos campeões", contou.
Nem mesmo a polêmica saída de Jorge Jesus no começo de temporada para o rival de Lisboa afetou o desempenho do clube. Após um início instável, o Benfica lidera a tabela da Liga Nacional e disputa com o Bayern de Munique uma vaga nas semifinais da Uefa Champions League.
"Nós conhecíamos o trabalho do Rui no Vitória de Guimarães, é um excelente treinador. A gente precisava de tempo para assimilar bem essa nova filosofia dele. No começo tivemos dificuldade nas competições, mas passando o tempo está dando muito certo. Estamos em uma fase muito boa e brigando por títulos", analisou.
Para ratificar a melhor fase da carreira, Jardel é um dos líderes do elenco. "Por tempo de casa, cinco anos, fui escolhido um dos capitães da equipe ao lado do Luisão e do Gaitán. Quando os dois não estão em campo, eu herdo a braçadeira. É uma sensação fantástica viver isso em um clube tão vitorioso e de tantas glórias", finalizou.
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