O Benfica foi esta noite eliminado da Taça UEFA ao perder por 4-3 ante o Inter de Milão, no Giuseppe Meazza, em jogo da segunda mão dos oitavos-de-final da competição.
Foi um resultado de sabor duplamente amargo, o averbado esta noite em Milão pela equipa encarnada: não só porque a exibição e a atitude evidenciadas esta noite «pediam» outro resultado, mas sobretudo por ser legítimo pensar que se os «encarnados» tivessem conseguido traduzir em golos a clara vantagem da primeira mão poderiam estar agora a festejar o apuramento para os quartos-de-final, apesar da derrota de hoje.
Foi um encontro peculiar, aquele a que assistimos esta noite. Os números finais do resultado deixam antever esse facto, mas foi sobretudo a diferença de atitude evidenciada pelo Inter nas duas metades do encontro que conduziu a que o jogo assumisse duas faces claramente distintas.
Se dúvidas havia sobre a predisposição «encarnada» para subir ao relvado do Giuseppe Meazza e discutir a eliminatória, elas ficaram dissipadas logo na fase inicial do encontro. Ante um Inter completamente amorfo, pesado e irreconhecível, os jogadores encarnados não tiveram pejo em assumir as «despesas» do jogo, transportando a discussão da partida para o meio campo «nerazzurri» e criando, inclusive, as mais claras situações de golo ao longo do primeiro tempo.
Voltou, no entanto, a ser perdulário em demasia o ataque «encarnado», falhando ocasiões que, como é por demais reconhecido, não se podem falhar em jogos deste calibre. Zahovic, aos seis minutos, lançou o mote, esbanjando preciosa situação, com um remate fraco e torto quando estava em boa posição para bater Toldo.
Com o Inter a desenvolver o seu futebol aos repelões e muito dependente de iniciativas individuais, o Benfica ia ganhando maior serenidade, trocando a bola entre os seus jogadores com relativo à-vontade e jogando com paciência em busca dos caminhos ideais para visar a baliza italiana.
Armando (26 m) e João Pereira (31 m) voltaram a falhar boas situações de golo, invariavelmente criadas pelo flanco esquerdo, onde Simão assumia particular preponderância na criação de situações de desequilíbrio. O «filme» da primeira mão parecia começar a repetir-se, para desespero dos adeptos «encarnados», até que Nuno Gomes finalmente inaugurou o marcador, com um remate seco, rasteiro e bem colocado, desferido ainda longe da baliza, a colocar o Benfica em vantagem no jogo e na eliminatória.
Pareciam bem encaminhadas as «coisas» para as aspirações lusas, mas a falta de inspiração no momento da concretização continuava a fazer-se sentir. Dois minutos depois do golo inaugural, Armando «ganha» a linha de fundo no flanco esquerdo e cruza para Nuno Gomes, que desvia para o poste da baliza de Toldo. Um lance que poderia ter «acabado» com o jogo, sobretudo se atendermos ao facto de a fortuna ter sorrido de forma particularmente brilhante aos italianos, quando já decorriam os descontos do primeiro tempo.
Sem nada ter feito para merecer a obtenção de um golo, o Inter acabou por beneficiar de um lance de inspiração do grego Karagounis, que fez «gato-sapato» da defensiva benfiquista e ofereceu de bandeja o golo a Martins.
Injusto, na realidade, o resultado que se verificava ao intervalo. A boa exibição «encarnada» não se nos afigurava como merecedora de tamanho castigo, mas o facto é que os jogadores encarnados só se podiam queixar da si mesmos, na medida em que durante 45 minutos tiveram um adversário à mercê e falharam sempre no momento de desferir o golpe fatal.
E foi então que se operou a reviravolta total no jogo. Moralizado com o golo obtido já no período de descontos da primeira metade, o Inter entrou no segundo tempo com outra disposição, assumindo finalmente o controlo do jogo e instalando-se no meio campo benfiquista. Por incrível que pareça, foi preciso esperar pelos últimos 45 minutos desta eliminatória para, enfim, ver alguns dos pormenores que fizeram do Inter uma das mais temidas equipas do futebol europeu. Mas quando os italianos se soltaram, a estrutura «encarnada» acabou mesmo por «tremer».
E foi um senhor de nome Recoba quem acabou por saltar do banco de suplentes para praticamente levar o Inter ao colo para os quartos-de-final da Taça UEFA. Aos 60 minutos, na primeira vez em que tocou na bola, atirou a contar para o fundo da baliza de Moreira. Três minutos depois, conduziu um contra-ataque letal, solicitando Vieri para que o (até então apagado) avançado italiano elevasse a contagem para 3-1...
Parecia sentenciada a eliminatória, mas o Benfica ainda encontrou forças para se manter na discussão do resultado. E um golo oportuno de Nuno Gomes, aos 66 minutos, reduzindo para 3-2, fez com que o jogo entrasse num período completamente «louco», no qual os esquemas tácticos já quase se assemelhavam a meros «pormenores».
O Benfica acreditou que era possível vencer este Inter e nem o golo apontado por Martins, aos 70 minutos, elevando a contagem para 4-2 após assistência de Recoba – quem mais? –, impediu os «encarnados» de se manter em jogo: Tiago respondeu aos 75 minutos, fazendo o terceiro golo «encarnado» e mantendo viva a esperança de restabelecer a igualdade que levaria a formação portuguesa para os quartos-de-final.
Mas os últimos minutos, nos quais, para além da crença dos jogadores, era também necessária substancial dose de felicidade, acabaram por não ser favoráveis às aspirações benfiquistas. E um lance já no período de descontos, em que Sokota, após cruzamento de Miguel, falhou por milímetros o desvio para o fundo das redes de Toldo, acabou por ser o espelho fiel de uma eliminatória em que ao Benfica «faltou um bocadinho assim» para bater um Inter perfeitamente acessível e seguir em frente na Taça UEFA.
Valeu a atitude no jogo de hoje, que permitiu aos adeptos reviver finalmente os bons velhos tempos do Benfica europeu, capaz de discutir as eliminatórias em qualquer estádio e perante qualquer adversário. Ficou, no entanto, este sabor amargo, provocado pela certeza de que, com um pouco mais de sorte, o Benfica até poderia ter eliminado este «Inter-em-crise» com relativa facilidade.
Ficha do jogo
Com arbitragem do francês Alan Sars, as equipas alinharam:
INTER - Toldo; Gamarra, Adani e Córdoba; Javier Zanetti, Lamouchi, Buruk (Recoba, 58m) e Kily Gonzalez; Karagounis (Brechet, 71 m); Martins (Almeyda, 86 m) e Vieri.
BENFICA - Moreira; Miguel, Luisão, Ricardo Rocha e Armando; Tiago e Petit (Geovanni, 85 m); João Pereira (Manuel Fernandes, 64 m), Zahovic (Sokota, 64 m) e Simão; Nuno Gomes.
Marcador: 0-1, Nuno Gomes, 35 m; 1-1, Martins, 45 m; 2-1, Recoba, 60 m; 3-1, Vieri, 63 m; 3-2, Nuno Gomes, 66 m; 4-2, Martins, 70 m; 4-3, Tiago, 75 m.
Disciplina: cartão amarelo a Tiago (21 m), Buruk (41 m), João Pereira (56 m), Armando (78 m) e Recoba (79 m).