Fenerbahçe: trocar um pouco de paixão pela razão (análise)

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maisfutebol

O Fenerbahçe decidiu trocar parte da tradicional paixão turca por uma abordagem mais racional do jogo. Não abdicou de toda a impulsividade genética, mas tem uma faceta mais «resultadista», sobretudo na Liga Europa.
 

Nas três eliminatórias anteriores (seis jogos) marcou seis golos e sofreu apenas dois. Fecha-se muito bem, sobretudo quando está satisfeita com o resultado, revelando grande solidariedade, com todos os jogadores disponíveis para trabalho defensivo.
 

O técnico Aykut Kocaman aposta por vezes no 4x3x3, mas a escolha mais frequente é um falso 4x2x3x1. Falso no sentido em que o lado esquerdo tem sido entregue a Sow, senegalês que começou a época como ponta de lança, e por isso já tem 19 golos marcados, mas com a chegada de Webó, em janeiro, foi encostado à esquerda. Na prática forma dupla com o camaronês no centro do ataque. A outra opção é Caner Erkin, um talentoso sósia de Cristían Rodríguez, que se enquadra mais no perfil de ala, mas que cumpre castigo na 1ª mão.
 

O lado direito do ataque é propriedade de Kuyt (15 golos). O holandês também está longe de ser um flanqueador, mas sacrifica-se imenso em trabalho defensivo. Ofensivamente também procura o espaço interior [imagem B], a tentar tirar proveito da capacidade que Webó tem para segurar a bola de costas para a baliza. O tridente ofensivo é muito forte fisicamente, muito combativo, e daí a a aposta frequente no futebol direto. Os laterais do Benfica terão de estar muito atentos.
 

A movimentação dos extremos pede a subida dos laterais. Gökhan Gönül, o direito, é o mais «atrevido». Sobe muito, sobretudo com a bola nos pés. Na esquerda joga Ziegler, que chegou a ser negociado pelo Benfica, e que voltou a Istambul em janeiro, depois de uma primeira passagem em 2011/12. O suíço também sobe bastante, mas para assumir-se quase como um extremo, e não tanto em arrancadas com a bola. Refira-se ainda que Gönul tem alguma dificuldade com cruzamentos do lado contrário que caem na sua zona, ou seja ao segundo poste. Muitas vezes deixa-se antecipar ou vê o adversário saltar mais alto nas costas.
 

Gönul e Ziegler cruzam bem, também, mas a vocação ofensiva deixa espaço nas costas. Com a agravante de que os centrais são lentos, até mesmo em passes longos para as costas. Yobo e Korkmaz são os habituais titulares, mas Irtegüz também joga regularmente.
 

É dos médios defensivos que vem algum equilíbrio. Topal e Meireles procuram compensar a subida dos laterais, mas por vezes fica um «buraco» entre linhas, à frente dos centrais [imagem D], sobretudo quando tentam pressionar um pouco mais à frente [imagem E]. O Fenerbahçe gosta de forçar o adversário a fazer jogo direto, com o ponta de lança a cortar a ligação entre centrais. É uma pressão posicional: mais do que importunar o portador da bola, a ideia é não lhe dar nenhuma solução de passe segura. Selcuk Sahin é alternativa a Meireles e Topal, um jogador mais talhado para ser «trinco», para jogar perto dos centrais. Refira-se que, por vezes, a zona central é ocupada em 1x2 e não em 2x1.
 

A posição «10» tem sido entregue a Cristian Baroni, jogador brasileiro que é forte no último passe, a cobrar livres, e muito perigoso no remate de fora da área, mas que sente dificuldades frente a equipas fechadas, pois circula a bola com pouca intensidade. Nesse aspeto o jovem Salih Uçan, que tem conquistado espaço nos últimos tempos, oferece outro perfil. É um jogador mais mexido, que desequilibra em arrancadas com a bola no pé.
 

Referência ainda para Volkan Demirel, o guarda-redes, forte a fazer a mancha mas muito inseguro a jogar com os pés. Tem tendência para pontapear mal a bola ou fazer passes muitos arriscados. É também algo lento a sair dos postes para responder a cruzamentos.