Leonor Pinhão - O Regresso

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a bola
Será que vai demorar muito para verem que esta SENHORA tem a clarividência para denunciar a INVERDADE DESPORTIVA que pauta o nosso campeonato? Demorará muito a convidarem-na para um dos programas de comentário das jornadas? Evandro, o homem da jornada 1Evandro foi o homem da 16.ª jornada da SuperLiga. Evandro? — perguntarão os mais distraídos. Evandro, exactamente. Evandro, sim senhor. Então numa jornada de Benfica- Sporting, o grande derby da capital, o jogo das multidões, vêm agora falar do Evandro? Mas, afinal, quem é esse Evandro? Evandro é aquele jogador do Rio Ave que nas Antas, aos 87 minutos do jogo com o FC Porto, com 0-0 no marcador, correu sem ninguém pela frente para a baliza de Vítor Baía, partindo de posição limpíssima, e viu o árbitro auxiliar, atento, muito atento, erguer a bandeirola e anular a jogada de golo eminente. Golo «eminente». Não quereria, antes, dizer golo «iminente»? Nem pensar. Está visto que é melhor ir buscar o dicionário. «Iminente» quer dizer que qualquer coisa, um golo, por exemplo, está prestes a acontecer, está próximo de se verificar, o que se aplica, não há que duvidar, ao caso do golo que se adivinhava e que o árbitro auxiliar, muito atento, não permitiu, em nome da lei, a Evandro, o tal Evandro, que o assinasse com êxito, de pé direito ou de pé esquerdo, de chapéu ou mesmo de cabeça, caso o avançado do Rio Ave entendesse que o melhor seria picar a bola para o alto e dar-lhe uma tolada, porque tempo e espaço tinha para fazer tudo isso. Pois, pois, mas o caso é que a jogada protagonizada por Evandro, o homem da jornada, foi mesmo de golo «eminente», com «e» e não com «i». Eminente quer dizer notável, digno de mérito, superior, o que se aplicaria, precisamente, ao golo de Evandro, que selaria, à beira do fim, a primeira derrota em casa do FC Porto desde Fevereiro de 2002, quando o Beira-Mar venceu nas Antas e Carlos Xistra, o pobre árbitro, expulsou dois jogadores do FC Porto. É verdade que sim. E Xistra esteve quase dois rapidíssimos anos na iminência, com «i», de voltar a apitar jogos do FC Porto, o que acabaria por suceder só na corrente temporada, no jogo com o Marítimo, no Funchal, «tirando do apito um penalty daquele género que quanto mais se olha menos se vê», na opinião abalizada do senhor Joaquim Campos, especialista em temas de arbitragem, com coluna fixa no Record. Já agora: quantos anos ficará o jovem árbitro Nuno Almeida na «iminência» de voltar a apitar jogos do FC Porto depois de se ter atrevido, há coisa de 15 dias, a expulsar, nas Antas, Benny McCarthy? Quando estas coisas se passam (e passam-se com tanta frequência) no Estádio da Luz—expulsões de jogadores da casa, penalties contra inventados por jogadores ardilosos ou sonhados por árbitros zelosos—é como se não se tivesse passado nada. Os benfiquistas merecem, só por isto, o troféu fair play da FIFA para a última década interinha. Esse prémio está ganho e com merecimento. Mas, afinal, por que razão é que foi eminente, com «e» e não com «i», a jogada de golo anulada a Evandro, na noite de segunda- feira, nas Antas, com 0-0 no marcador, a três minutos do fim do jogo? Muito francamente: porque está em jogo o título nacional numa competição que se estende ao longo de 10 meses de suspense e que tem reclamado, como condição para a sua sobrevivência, a urgência da credibilização do espectáculo e da seriedade da indústria do futebol. Já imaginaram o que era o Evandro, o homem da jornada, ter feito 1-0 para o Rio Ave e o jogo acabar assim? Com o Sporting a 2 pontos e os Benfica a 6 pontos —um pulinho de cobra—do FC Porto? Ena pá! E, assim, acontece que estas eminências, com «e», todas juntas, por mais humanas que sejam, acabam com o suspense e dão de barato, por volta do Natal, o nome do futuro campeão. De que raio de eminências, com «e», estamos a falar? São tantas. E giras, bem giras. Lembram-se, por exemplo, destas três? Lembram-se daquele golo eminente e achapelado que o João Tomás marcou ao FC Porto, com o resultado em 1-1, em Guimarães e que o senhor António Costa anulou por alegado fora-de-jogo? E daquele golo eminente e limpinho do Duda, contra o mesmo adversário, com 0-0 no marcador, que o senhor Paulo Paraty anulou por alegado forade- jogo? E daquele lance de grande penalidade eminente contra os visitantes, nos instantes finais do Moreirense-FC Porto, com o resultado em 0-0, que o senhor Duarte Gomes não vislumbrou? Somem as eminências, vão buscar as máquinas de calcular e dêem três vivas ao Evandro, o homem da jornada, pelo que de significativo representa a acção individual por si, em vão, tentada. Não fez golo, é certo, mas fez a fotografia exacta desta SuperLiga. 2O último Benfica-Sporting produziu momentos fenomenais. O mais fenomenal de todos foi termos de ouvir, numa estação de televisão, o antigo árbitro Jorge Coroado afirmar peremptoriamente que não existiram faltas nas duas grandes penalidades que o meu consócio Pedro Proença marcou contra o Benfica, a abrir e a fechar o jogo. Ao que isto chegou... Disse também Jorge Coroado que se fosse ele a nomear o árbitro para o clássico a sua escolha recairia sobre Lucílio Baptista, que, por não ser adepto do Glorioso, acrescento eu, a esta hora ainda lá estaria, no relvado da Luz, a mandar marcar penalties e a expulsar jogadores do Benfica. O último FC Porto-Rio Ave também proporcionou a José Mourinho uma tirada notável: — O resultado é injusto. Três pontinhos para cá e siga o baile. Já Mozer, jogador do Rio Ave, teve de recorrer a metáforas: — Até parece que viemos ao circo mas nós não somos palhaços! Bom, palhaços, palhaços, parece- me um bocado exagerado. Um bocadinho. 3O Sporting está a ser levado ao colo até ao segundo lugar? Que disparate, como se essas coisas fossem possíveis de acontecer num país que vai organizar o Euro e que tem 10 estádios novos e ultramodernos. Não obstante estes factores do progresso do betão, nas duas últimas jornadas o Sporting foi altamente beneficiado: o golo anulado a Maciel no jogo com o Leiria — tem graça, é a última vez que me preocupo com golos anulados a Maciel... mas, por outro lado, tenho a certeza de que este foi o último golo que lhe anularam nesta e nas próximas três temporadas —, o cartão amarelo poupado a Custódio aos 10 segundos de jogo (este foi o lance capital do derby) e o penaltizinho de abertura com o Benfica deram uma ajuda preciosa às ambições sportinguistas. Mas daí até se dizer que está a ser levado ao colo...