O JOGO do JOGO!

Submetida por Guerreiro em
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Ameaça de incêndio!! A apetência azul para triunfar em terreno alheio - tinha-o feito por cinco (!) vezes... - como que embrulhava o jogo da Luz num fascínio suplementar daquele que sempre derrama de um "clássico". E como os benfiquistas tiveram dificuldades em desembrulhar essa "encomenda" superiormente concebida por Marinho Peres e que levou os encarnados a sofrerem até aos derradeiros instantes... JOAQUIM RITA Sem a carga qualitativa que os mais optimistas poderiam admitir, o jogo da Luz terá valido pela emotividade e "duração", o que, desde logo, projecta o Belenenses para um patamar de justificada evidência. Ter resistido a incerteza até tarde - e como foi "quente" o seu final!... - foi, talvez, o encanto maior do jogo, com os azuis a não se acomodarem perante uma igualdade que se arrastava no tempo e que Jankauskas se encarregou de desfazer. Com uma estratégia que privilegiava a anulação de espaços de penetração aos benfiquistas, o Belenenses cedo deixou claro duas coisas: -- a dispensa de um avançado fixo no eixo, preferindo trocá-lo pela alternância entre Neca e Verona, que recuavam até a equipa ganhar a bola - nascia a superioridade numérica na zona central; -- na intermediária, a marcação premente de Tuck a Zahovic e de Marco Paulo a Tiago, deixando Andersson mais liberto; Mas ia mais longe o caderno de encargos das intenções de Marinho Peres, jogando com dois alas abertos - Ricardo Sousa na direita e César Peixoto na esquerda - para, assim, desmobilizar a dinâmica ofensiva que pudesse nascer das iniciativas dos laterais da Luz. Com uma disciplina de movimentação quase milimétrica, o Belenenses como que forçava o Benfica a jogar de forma menos harmoniosa, com inferior ligação, sem que os homens de Jesualdo Ferreira conseguissem transportar o jogo "colado" para o meio campo do Restelo. As razões desse embaraço benfiquista tinham a ver com três aspectos: - - laterais incapazes de se envolverem em lances verticais, portanto, (in)capazes de oferecerem combinações com os alas; - - Mantorras (direita), Jankauskas (centro) e Simão (esquerda) muito pressionados pelos opositores directos, portanto, sem beneficiarem de apoios curtos; - - um meio campo em aflições sucessivas - porque, para lá das marcações individuais contrárias (de Tuck e Marco Paulo), Andersson não dispunha de explosão que lhe permitisse "substituir" Zahovic, como se sabe, o mais credenciado criativo da Luz. E, como lhe está na massa do sangue, o Belenses teimava em não ampliar espaços entre os sectores, antes os encolhia quando não dispunha da bola dada a incumbência de Verona (ou Neca) para recuarem de modo a deixarem no "desemprego" a dupla de centrais encarnada. Assim, não espantava a facilidade com que os azuis recuperavam a bola e, depois, se soltavam em incursões pelo meio-campo contrário. Mas nem tudo eram rosas para os azuis porque o espaço que se abria nas costas da defensiva benfiquista era excessivo para quem transportava a bola controlada e não tinha, depois, um "poste" com quem tabelar. Dito de outro modo: à carga técnica dos azuis - Neca, Ricardo Sousa, Verona, César Peixoto, mesmo Marco Paulo - faltava, como "extremidade", um rompedor capaz de derrubar a estrutura defensiva benfiquista. Foi por isso, afinal, que o Belenenses tentou algumas vezes os remates de meia distância - sempre inofensivos, todos... imberbes. Falhanço posicional de Lito e Simão mostra classe Sem mobilidade atacante, o Benfica sentia dificuldades para ganhar ascendência no meio-campo do Restelo que lhe permitissem situações de remate. E, neste plano, passou-se qualquer coisa como isto: - - 31' - Mantorras, em esforço continuado, transportou a bola durante largos metros pela direita antes de rematar por alto; - - 41' - beneficiando da desconcentração posicional de Lito, Simão recolheu um passe de Tiago na esquerda e, depois de flectir para dentro e com Wilson na sua frente, rematou em "corte", levando a bola a entrar junto ao poste esquerdo da baliza azul. Soberbo! Sucedeu, no entanto, que pouco depois, na sequência de um pontapé de canto, o Belenenses igualou, voltando o jogo à estaca zero. O intervalo não turvou as intencionalidades mantendo-se a dinâmica de movimentação que tinha como objectivo impedir a criação de zonas utilizáveis por onde o Benfica impusesse acelerações. O Benfica mantinha-se manietado, o seu futebol continuava "engasgado", cremos que por dois motivos: - - porque os médios não conseguiam transportar a bola até aos avançados; - - porque, perante essa incapacidade, os passes de meia-distância saíam defeituosos, por vezes mesmo sem nexo. Com meio a hora por jogar, Jesualdo Ferreira trocou Zahovic por Drulovic. Sem espanto. Assim, o esquerdino foi jogar no sector direito enquanto Mantorras derivava para as proximidades de Jankasuskas, mantendo-se Simão aberto na esquerda. O Benfica passava a jogar em 4.2.4, num risco compreensível e inevitável. Para os encarnados a questão que se colocava reduzia-se ao seguinte: - - aumentavam as dificuldades para recuperar a bola; - - ampliavam-se os espaços de manobra (azul) no meio campo da Luz. Com Mantorras no eixo, Tuck passou a segui-lo, o que levou à perda de alguma disciplina na cobertura que os azuis faziam na intermediária. Os homens do Restelo mantinham-se harmoniosos nas saídas para o contra-ataque, mas carentes de poder finalizador. Jesualdo Ferreira chamou ainda Pepa (flanco direito), num tudo-por-tudo feito de desespero. Depois aconteceu o "sketch" do golo (mal) anulado a Drulovic, no livre indirecto a punir atraso de Wilson para o seu guarda-redes, mas o jugoslavo não tardou em se vingar, mercê de um arranque empolgante até oferecer "em mão" o golo a Jankauskas. E, assim, por obra e graça de um lituano sem os tiques de vedetismo de outros - por ele falam os golos... - o incêndio que ameaçava a Luz extinguiu-se por encanto. Já poucos acreditariam, sobretudo os do Restelo... 18-02-2002