As sete tarefas da águia

Fonte
www.abola.pt
As sete tarefas da águia O anúncio do futuro treinador do Benfica, num processo que, mais do que nunca, não concede margem para erros e não vê a sua vida facilitada pela míngua de recursos, é uma das tarefas mais mediáticas que o Benfica está a levar a cabo actualmente e que só na próxima semana deverá conhecer o epílogo. Mas à semelhança de Hércules, que teve de superar 12 duras tarefas ditadas por Euristeu, o Benfica tem outros dossiers em mãos, alguns deles menos mediáticos mas igualmente preponderantes quanto ao futuro da instituição. O clube joga contra o tempo, apesar de já ter recuperado grande parte do atraso, contra a asfixia financeira ditada pelo caos herdado do passado e multiplica-se em esforços que ditam profissionalismo, rigor, risco e, porque não, muita imaginação. Numa escolha não exaustiva, são eleitas sete tarefas que retratam bem quão estreita é a margem de manobra e quão escassa é a margem de erro. E se é dos actuais responsáveis que se espera a condução dos processos, não raro os ouvimos, mormente Luís Filipe Vieira, apelar a um esforço conjunto, de retaguarda, para que o Benfica consiga cumprir as suas próprias tarefas. Sem o carácter mitológico das que couberam a Hércules, mas com igual sentido de transcendência e, porque não dizê-lo, sobrevivência. Do centro de estágio, da reorganização interna, do combate ao passivo, até ao reforço do plantel. Tarefa 1 – Escolha de treinador A saída de José António Camacho provocou um vazio difícil de preencher. Substituir um treinador com o carisma do espanhol e o grau de aceitação entre os benfiquistas não é, reconheça-se, tarefa fácil para Luís Filipe Vieira e José Veiga. O perfil aponta para um técnico na mesma linha, quanto a métodos de trabalho, personalidade e gestão de grupo. Não está fácil. Luiz Felipe Scolari assentava que nem uma luva, mas a primeira abordagem logo travou os desejos encarnados. Esta é uma fase de sondagem do mercado. A margem de manobra não é muita e o dinheiro não abunda. Acertar na mouche sem prejudicar as finanças é prioritário. Para a semana haverá fumo branco. Será europeu. Tarefa 2 – Reforçar plantel Paulo Almeida e Alcides estão contratados. Existe acordo com Carlitos e Yannick. Há interesse recíproco com Fernando Couto. O Benfica continua no mercado, movimentando-se nesse caminho estreito que permita conciliar qualidade com baixo investimento. O que aguça o engenho, com várias investidas. A não contratação de jogadores desejados não deve ser considerada uma derrota. É a realidade, tão-só. Falta um ponta-de-lança, um número 10 e possivelmente um lateral esquerdo. Noutro prisma, negoceiam-se rescisões ou empréstimos. Hélder, Fernando Aguiar e Zack Thorton acabaram contrato. Há renovações na calha, melhoramento de contratos a fazer e ainda propostas que chegam para os melhores jogadores, como Tiago. Há que manter o equilíbrio entre encaixe financeiro e manutenção de equipa competitiva. E o treinador quererá ainda ter uma palavra neste dossier. Tarefa 3 – Reorganizar a SAD Profissionalização é a palavra chave para Luís Filipe Vieira. Por isso decidiu avançar para a reorganização da SAD, com opções que não geraram unanimidade entre os benfiquistas. José Veiga foi o nome escolhido para homem forte do futebol. Lourenço Pereira Coelho terá funções relevantes na SAD. António Carraça terá funções algo abrangentes, com um destaque na reorganização da formação. Cunha Vaz é bem mais do que um director de comunicação, um precioso interlocutor junto da banca. António Simões passa de director desportivo para o gabinete de prospecção. Estes alguns casosmais mediatizados. O presidente não olhou a cores clubísticas e escolheu quem lhe parecia mais competente para este projecto. Enfrentou algumas críticas pelas escolhas, apesar de tudo diluídas na ampla base de apoio que tem junto dos benfiquistas. Reorganizar e profissionalizar. Eis o mote. Tarefa 4 – Centro de estágio Não tem sido fácil levar este barco a bom porto. A construção do Centro de Estágio e Formação é essencial para o futuro do clube. Há tantos anos concebido, vai já no terceiro presidente sem que tivesse sido concluído. A dada altura do processo, ficou claramente a perder para um outro projecto bem mais ambicioso: a construção do estádio novo. Com o caos herdado por Manuel Vilarinho, uma escandalosa dívida, também herdada, ao Fisco, um passivo que atirou o clube para os cuidados intensivos, a necessidade de se colocar a casa em ordem, revitalizar a equipa de futebol e encontrar os recursos para o novo estádio, o centro de estágio acabou por ser o mais prejudicado. As obras no Seixal arrancaram com Vilarinho, mas desaceleraram drasticamente e esperam por um novo enquadramento financeiro. Todos esperam que durante a próxima época possa abrir à equipa. Parcialmente. Tarefa 5 – Cartão de sócio Está para muito breve o lançamento de um dos mais arrojados projectos do presidente. Um repto vital para os sócios e para a saúde financeira da instituição. A proposta que é feita aos sócios é muito simples: comprem o novo cartão de sócio, que será pago no acto de aquisição, e obtenham descontos de grandes empresas como a Vodafone, Galp, PT, Mac’Donalds ou Toys r’Us, entre outras. Ou seja, o investimento terá retorno, ajudando-se o Benfica. Esta é a mensagem, o presidente quer 500 mil sócios. Contra os estudos de mercado, apostando na paixão dos benfiquistas, que tantas vezes escapam às lógicas de mercado. A verdade é que se o cartão tiver sucesso o Benfica fará um encaixe financeiro muito significativo, anualmente, podendo viver com outro desafogo de tesouraria e apostar em novas estratégias de investimento. Os benfiquistas decidirão. Tarefa 6 – Passivo Foi no jantar de inauguração da Casa do Benfica de Vila Real de Santo António que Luís Filipe Vieira falou, no meio do discurso, da negociação de todo o passivo do Benfica com a banca. Ou seja, o que o Benfica pretende é diminuir a pressão do passivo, rescalonando-o e transformando-se em dívida de longo prazo, com encargos menores para a tesouraria. Parte desse objectivo foi já conseguido com o empréstimo obrigacionista, que rendeu 15 milhões de euros. Verba anunciada para transformar passivo de... ontem para longo prazo. Pelo que foi possível depreender das palavras do presidente no Algarve, o objectivo passa por ir mais longe. Congregar todo o passivo que ainda tolhe os movimentos do Benfica, negociá-lo como um todo junto da banca e permitir pagamentos mais dilatados no tempo, logo menos exigentes no imediato, o que dará margem de manobra para o investimento, essencial para projectos futuros. Tarefa 7 – Nova sede Um dos projectos imobiliário do Benfica é a construção de um edifício na Avenida Lusíada, perto do Estádio da Luz, onde se concentrarão todos os serviços e departamentos das empresas do universo Benfica. Como a SAD ou a Benfica Estádio, por exemplo. Inicialmente no anterior estádio, estes serviços foram provisoriamente instalados na Lisboa Gás e encontram-se agora a funcionar no Estádio da Luz. Uma situação também ela provisória, à espera que seja disponibilizado o investimento necessário para a construção de novo edifício-sede, que poderá ver o seu espaço rentabilizado das mais diversas formas. Mas com tantas frentes para combater e tantos projectos mais prioritários, a avanço desta obra aguarda ainda luz verde. Uma autêntica tarefa de Hércules, à espera de um outro cenário financeiro. Mas uma obra importante.