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A Bola On-Line
Lutaremos até ao fim!
Barba impecavelmente desfeita, roupa desportiva, discurso confiante. Um brilho especial nos olhos, próprio de quem redescobriu na Luz o prazer de jogar futebol, tantas vezes amordaçado pelo preciosismo táctico de Van Gaal no Barcelona. Simão Sabrosa tem mais quatro anos de contrato com o Benfica e gostaria de cumpri-lo. Quer o título nacional a todo o custo, sonha com a presença no Mundial e golos, muitos golos, para dedicar à pequena Mariana, musa inspiradora de um pai babado e feliz.
Simão é o homem do momento no plantel benfiquista e reconhece que está num excelente momento de forma. Alerta, contudo, que sozinho não carrega o piano. Em entrevista entusiasta e emotiva, o jogador confessou a A BOLA sonhos, frustrações e enorme crença de que ainda é possível lutar pelo título de campeão nacional até ao fim. Sem desistir.
— Três anos depois de Barcelona, regressou o grande Simão?
— Concordo. Senti dificuldades no primeiro ano em Barcelona, porque tacticamente me obrigaram a jogar encostado à linha, um ou dois toques e cruzamentos. Agora, no Benfica, recuperei a confiança, tenho novamente prazer e voltei a sentir-me à vontade no um para um, também porque os treinadores me ajudaram, principalmente Jesualdo Ferreira, que já me conhecia bem.
— Das grandes apostas do Benfica para esta época parece que apenas Simão funcionou. Concorda?
— Os outros também são grandes jogadores, mas falo por mim e penso que mudei a opinião de algumas pessoas que não acreditavam muito no meu valor. Não fiz a pré-época, mas sinto-me bem e consegui trazer os sócios para o meu lado, o que é sempre complicado porque joguei no Sporting. Dou o máximo e sinto-me orgulhoso de representar este clube.
— Existe um compromisso para sair no final da época?
— Sinceramente não sei de nada. Tenho cinco anos de contrato com o Benfica, sinto-me bem e gostaria de cumpri-lo. Tudo depende das pessoas que mandam, mas gostaria de ficar.
— Terá problemas em voltar ao estrangeiro?
— Sou ambicioso e não teria problemas em voltar a sair de Portugal. As pessoas dizem que tive uma má experiência em Barcelona, mas foi muito boa. No segundo ano fui totalista até me lesionar, o que não é fácil. Caso venha a acontecer, não tenho problemas, mas gostaria de ficar.
Um piano, vários pianistas
— Sente que carrega o Benfica às costas?
— Não. Estou num bom momento, mas não é o Simão que carrega o piano. Para poder fazer um bom jogo preciso de um bom suporte, de assistências, que é o que acontece. Sei que as pessoas desacreditaram um pouco, mas temos um grupo espectacular e enquanto for matematicamente possível vamos lutar até ao fim pelo título e não desistiremos.
— Sente que estão abaladas as expectativas de início da época?
— Continuo a ter exactamente a mesma confiança, até mais, pois nesta fase o Benfica está bem melhor que no início, está a atravessar um bom momento e temos o segundo melhor ataque. Só o Sporting tem melhores indíces, mas tem um jogador fora-de-série na área. Não nos podemos desculpar só com os árbitros, também cometemos erros, mas o melhor exemplo do nosso bom momento foi o jogo das Antas.
— Também lhe pertencem várias assistências para golo...
— Aprendi muito em Barcelona. Fico tão feliz por fazer um golo como numa assistência para um golo de outro jogador. Dá-me um gozo enorme. No jogo com o Varzim, fiz um cruzamento que entrou na baliza e nem festejei, mas levantei a camisola e fiquei feliz quando cruzei para o golo de Carlitos.
— Vem ai a temporada mais goleadora de Simão?
— Quando vim para o Benfica, um dos meus objectivos era ultrapassar os dez golos que marquei no Sporting. No princípio não foi fácil, mas agora tudo corre bem. Não estou obcecado, tudo vai acontecer naturalmente. Já consegui marcar sete golos em 20 jogos.
Direita, esquerda... volver
— Em que lado prefere jogar?
— É-me indiferente. Agora prefiro jogar na esquerda, porque tudo está a correr bem e comecei a marcar golos, mas se tiver de ir para a direita vou sem problemas.
— Só foi uma vez substituído nos últimos 17 jogos, está em boa forma física?
— Comecei tarde e demorei dois ou três meses a recuperar, mas agora sinto-me bem numa altura em que normalmente os jogadores começam a ficar mais cansados. Espero continuar assim, no campeonato e no Mundial.