Fonte
www.abola.pt
O presidente da direcção do clube e (ainda) presidente da SAD, Manuel Vilarinho, assumiu, no caso da troca do treinador, um protagonismo invulgar e inesperado, sendo já do domínio público que a decisão de Toni começou a tomar forma depois de uma reunião amigável e em espírito de profundo benfiquismo, entre o presidente e o técnico.
De parte, em silêncio e na expectativa, ficara o gestor do futebol profissional, Luís Filipe Vieira. Ainda sem estatuto oficial no clube, o prometido presidente da SAD do Benfica ter-se-á limitado a consentir o silêncio, apesar de, em privado, ter manifestado a opinião de que não teria sido este o melhor momento para mudar o treinador, manifestando-se, pois, pela continuidade de Toni, pelo menos, até ao final da época.
Contra a anulação do presidente
Vilarinho sofria, porém, outro tipo de pressões. Vários sectores influentes no clube faziam questão de considerar que este seria o momento exacto para a mudança de técnico, isto, se o Benfica ainda queria lutar, esta época, pelo título. Por outro lado, nessa pressão sobre Vilarinho estava, igualmente, subjacente a ideia de que esta seria a altura ideal para o presidente reassumir, por inteiro, as suas responsabilidades e a legitimidade da acção.
No fundo, para alguns críticos persistentes, estava em causa a figura de Luís Filipe Vieira, o que consideravam ser o seu excesso de protagonismo e, por via disso, a total anulação da figura do presidente.
Vilarinho tomou em mãos a operação mudança de treinador. Foi ele quem «guiou» Toni à decisão da renúncia; foi ele quem assumiu a liderança dos contactos com Mourinho.
Difícil é entender se Vilarinho avaliou suficientemente a situação. De facto, não seria preciso ser-se um observador particularmente arguto para entender que o Benfica começava a entrar num beco sem saída. Luís Filipe Vieira considerava a figura de Jesualdo Ferreira intocável (assim como a do preparador físico José Gomes e do treinador de guarda-redes Samir Shaker) e fez sempre questão de sublinhar que Jesualdo nunca haveria de depender, nem de resultados, nem de eventuais mudanças de chefia técnica. O que limitaria a escolha de um novo treinador e, sobretudo, colocaria em causa a escolha de José Mourinho.
O nó cego
Assim, o que poderia parecer um simples pormenor ou, por outras palavras, um pequeno detalhe, passava a ser um nó cego, impossível de desatar. Luís Filipe Vieira podia consentir, em silêncio, na saída de Toni, mas não admitiria estar ele próprio em causa, uma vez que «tirara» Jesualdo do Alverca com a garantia de que seria, o professor, o homem fixo na estrutura técnica do futebol do Benfica.
Os factos estão agora mais claros. Mourinho nem precisou de deixar esticar a corda, tanto mais que terá tido um decisivo «piscar de olho» de outro grande clube. Perante a possibilidade de cair no vazio técnico, a opção foi a de promover Jesualdo a chefe de equipa.
Os acontecimentos estão longe de terem sido aceites em ambiente pacífico. Os sócios e adeptos do clube sentiram que a montanha, afinal, tinha parido um rato e que as expectativas de mudança se tinham gorado.
As eleições e os presumíveis candidatos
Gerou-se, também, um mal estar latente entre as duas principais figuras do Benfica. Vilarinho e Luís Filipe Vieira, que tanta e tanta gente tem procurado afastar, começaram, de facto, um certo distanciamento que, a agudizar-se, pode não ter retorno. A ser assim, e uma vez que é a liderança do Benfica que volta a estar em causa, torna-se provável que a saída mais previsível seja a de eleições antecipadas, que teriam a vantagem de clarificar, de vez, a situação confusa da liderança efectiva do clube e do seu futebol.
Se a solução for eleitoral – e não se adivinha outra- é quase certo que Luís Filipe Vieira se irá candidatar à presidência, mas poderá não encontrar na luta eleitoral o seu actual presidente. Vilarinho não esconde nem o cansaço, nem a desilusão que a missão presidencial lhe tem causado. Mas é quase certo que surgirão outros candidatos e, entre eles, alguém que representará a facção mais tradicional e histórica do clube e alguém que representará a facção animada por Vítor Santos que se afastou, definitivamente, de Luís Filipe Vieira e passou a ser um dos seus mais acérrimos críticos, tal como já era crítico do treinador Toni.
Certo é que os tempos mais próximos vão ser decisivos no futuro quase imediato do Benfica.