Vitor Paneira em entrevista - memórias de Vizela e do Benfica

Fonte
slbenfica.pt

Despertou atenções e foi notícia no Vizela, e depois agitou jogos e brilhou com o Manto Sagrado. Vítor Paneira, antigo médio-direito, tem carinho pelo clube nortenho, mas confessa que no sábado, às 20h45, o coração não vai estar dividido. “Todos sabem que o meu clube é o Benfica”, sublinhou.

 

Na contagem decrescente para o pontapé de saída do jogo da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal, o Site Oficial entrevistou Vítor Paneira, que partilhou várias memórias, histórias e curiosidades...

 

Quando soube do resultado do sorteio da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal? Onde estava?

Estava na casa do meu filho, mas nem estava a assistir. Porém, comecei a receber notificações no telemóvel com os comentários do Luisão e desconfiei que fosse o Vizela, porque o Luisão recordou os tempos em que joguei no Vizela. Logo aí percebi que teria saído o Vizela ao Benfica na Taça.

 

 

 

 

Quantas mensagens recebeu de pessoas a lembrar-lhe que teríamos um Vizela-Benfica na Taça de Portugal?

O número ao certo não sei, mas recebi algumas.

 

Recebeu alguma mensagem mais curiosa? Qual?

Recebi algumas de amigos a dizer: “Regresso ao passado”; “Vais-te lembrar do Vizela muitos anos depois”; “O Benfica vai jogar com o teu Vizela”. Mensagens deste género. Também há muitas pessoas que pensam que sou natural de Vizela, mas não sou. Sou natural de Famalicão!

 

 

Qual foi a sua reação quando soube que Vizela e Benfica se iriam reencontrar na Taça de Portugal?

A primeira coisa em que pensei foi se a eliminatória seria em Vizela ou no Estádio da Luz. Pensei: se for no Estádio da Luz, OK; se for em Vizela… O Vizela está a fazer um excelente Campeonato de Portugal, tem feito excelentes campeonatos nas últimas épocas em que não subiu por milímetros. Prevejo um jogo difícil. O Benfica vai ter de ser competente – como tem sido sempre –, mas será difícil. Depois, também pensei que se fosse noutros tempos ainda seria pior, porque o Benfica teria de jogar num campo pequeno, como eu joguei. Quase uma gamela, como dizemos no Norte. O Vizela tem um bom estádio, vai ter muitas pessoas do Benfica ou do Vizela. A cidade tem, ainda, bons restaurantes, por isso os Benfiquistas de Lisboa vão usufruir.

 

 

Vai ver o jogo no Estádio do Vizela? Já tem bilhete? Vai de cachecol ou mais discreto?

Ainda não sei, mas eventualmente sim. O estádio é perto da minha casa. Nunca levo cachecol, vou sempre normal, até porque tenho obrigações para com um canal de televisão onde trabalho. Todos sabem qual é o meu clube, nunca o escondi, mas tenho de ter respeito pela televisão onde trabalho, bem como pelos adeptos do futebol em geral.

 

 

Apesar de ser confesso adepto do Benfica, o coração vai estar dividido?

Não, não vai estar dividido. Gosto do Vizela e da cidade. Tenho amigos e gosto de lá ir. Mas não vou estar com o coração dividido. É um clube de que gosto, joguei lá, desfrutei, foi importante na minha carreira. Foi do Vizela que saí para o Benfica depois de um campeonato muito bom. O jogo é de Taça, mas o Benfica é favorito.

 

 

 

“Fui para o Benfica com o receio de ser emprestado, mas percebi que iam apostar em mim”

Quando se fala de Vizela, no universo Benfica, lembramo-nos logo de Vítor Paneira. Tem sido muito abordado por causa deste jogo?

Já aconteceu, já me ligaram para falar sobre este jogo. Vários jornalistas o fizeram, nomeadamente de jornais e de rádios. Há sempre a minha ligação a Vizela e ao Benfica, tal como também tenho ao V. Guimarães porque joguei lá. Mas Vizela é diferente porque, como já disse, há pessoas que pensam que nasci lá.

 

 

Regressemos ao passado. Como se deu a transição de Vizela para o Benfica?

A minha ida para o Benfica tem um pouco de tudo. Estou no Famalicão, estava num impasse para renovar e, entretanto, apareceram três/quatro clubes. Apareceu o Felgueiras, o Penafiel, o Vizela… Ainda era jogador do Famalicão quando assinei pelo Vizela. A coisa fez-se num fim de semana. Encontro-me na sexta-feira, assino contrato no sábado e na segunda-feira recebo um telefonema do falecido “tio” Peres Bandeira, a dizer que vinha da parte do Benfica e que precisavam de falar comigo. No início pensava que estavam a gozar comigo, mas a verdade é que a pessoa se apresentou, disse-me que tinha visto treinos meus e que me queriam contratar. A partir daí disse que sim, mas avisei que tinha assinado pelo Vizela. Disseram-me que não havia problema nenhum, que os clubes tinham boas relações. Fiquei naquele impasse. Entretanto, o telefone nunca mais tocava, até que um dirigente do Vizela me disse que o acordo estava feito. Aí percebi que era a sério.

 

 

Teve receio de não se conseguir afirmar no Benfica?

Fui para o Benfica com algum receio. Contrataram, na altura, oito ou nove jogadores. Recordo-me do Pacheco e do Augusto do Portimonense, do Vitinha… Eu fui mais um. Tive receio de chegar lá e ser emprestado. Na apresentação disseram-me que não ia ser emprestado, que ia ficar no plantel. Aí, percebi que queriam apostar em mim.

 

 

O que fez naquela altura para encantar o Benfica?

Nessa altura percebi que muitos clubes desta zona [Norte] me queriam contratar, porque era um jogador que entrava e mexia com o jogo. No Vizela fiz 15 golos numa 2.ª Divisão, a jogar como “10”. As pessoas viam os meus jogos. Soube mais tarde que, nessa altura, o “tio” Peres via os meus jogos e ficava contente quando marcava um golo. As pessoas acreditavam em mim e ganhei mais créditos quando fui ao Torneio de Toulon. Fui ainda chamado para fazer uns treinos no Estádio da Luz logo a seguir à final perdida com o PSV e as coisas correram-me bem. Acho que as pessoas foram ficando encantadas e as coisas correram de feição.

 

 

Quais foram, para si, os melhores jogos de Taça de Portugal em que participou pelo Benfica? Conte-nos as melhores memórias...

Lembro-me da minha primeira final da Taça de Portugal com o Belenenses [1-2 para os do Restelo em 1988/89]. Íamos fazer a dobradinha, mas o Juanito faz aquele golo de livre… Podíamos ter vencido a Taça, até porque éramos fortemente favoritos; tenho a primeira Taça de Portugal que conquistei [5-2 ao Boavista em 1992/93]. Marquei um golo. Dizem os entendidos que foi um dos melhores Benfica dos últimos 30 anos. Para além de mim, havia Rui Costa, Futre, Paulo Sousa, Isaías, João Pinto, Rui Águas… o Mozer tinha regressado. Ainda havia os três russos [Yuran, Kulkov e Mostovoi]. Esse era um grande Benfica!

 

 

Sabe que tem uma ligação com o V. Setúbal nos jogos da Taça de Portugal? É a equipa a quem marcou mais golos – três – e acabou expulso em 1994/95...

 

Tenho essa noção. Um dos golos mais bonitos da minha carreira – senão o mais bonito – foi frente ao V. Setúbal e acabámos por perder 2-1 [16 avos de final da Taça de Portugal em 1990/91]. Foi um golo incrível, com um remate de fora da área.

 

 

No que diz respeito à Taça de Portugal, a procissão ainda vai no adro. Todavia, dado que tem acompanhado os jogos do Benfica, acredita que a equipa pode marcar presença na final no Jamor?

Há qualquer coisa de especial numa final da Taça de Portugal. Só quem a vive é que pode descrever esta envolvência que existe antes, durante e depois do jogo. Acredito que o Benfica possa estar na final. O Sporting e o V. Guimarães, dois candidatos, foram eliminados prematuramente e à medida que mais equipas forem saindo, nomeadamente as mais fortes, o Benfica tem mais possibilidade de estar no Jamor.

 

 

Texto: Marco Rebelo

https://www.slbenfica.pt/pt-pt/agora/noticias/2019/11/20/futebol-clube-vitor-paneira-entrevista-site-oficial-benfica-taca-portugal