Reportagem: Começa o longo julgamento de Vale e Azevedo...

Submetida por K_POBORSKY em
Quinta-Feira, dia 10 de Janeiro de 2002, tem inicio o julgamento de João Vale e Azevedo! No banco dos réus, Vale e Azevedo vai responder formalmente perante a Justiça, à acusação do Ministério Público, de 14 crimes de peculato e um de branqueamento de capitais, relativos à alegada apropriação indevida de cerca de 950 mil euros, resultado da transferência do guarda-redes russo, Serguei Ovchinnickov, que o ex-líder das águias terá utilizado na compra do barco «Lucky Me». A defesa elaborou uma argumentação com 70 páginas, mas a caminho estão já novas acusações contra o ex-comandante da nau encarnada. O julgamento de Vale e Azevedo, será conduzido pelo colectivo de juizes composto por Anabela Marques, João Carola e Guilherme Castanheira.
Este é um dos dias mais aguardados pelos adeptos do Sport Lisboa e Benfica - clube lesado - que esperam que o ex-presidente «encarnado» seja penalizado. Certamente que será um julgamento inédito em Portugal, e mais propriamente no futebol nacional. Desde o dia 7 de Agosto de 2001 em prisão preventiva, o antigo dirigente do clube da Luz será presente pelas 9h30 à 2ª vara do Tribunal da Boa Hora, na primeira audiência relativa ao caso Ovchinnikov.
Relativamente ao guarda-redes russo, Vale e Azevedo, observamos que primeiro, as verbas do negócio foram depositadas no Banco BCP/Bank & Trust, {mostrarimagem("vale.jpg","right","")}nas Ilhas Caimão. Depois Vale e Azevedo movimenta o dinheiro, depositando-o na sucursal do BCP instalada na «off shore» da Madeira. De seguida a verba transita para a conta de uma firma «off shore», de que o ex-presidente será proprietário, a J.F. International Yachts, Limitedional Westminster Bank, em Gilbraltar. Por fim, através de um depósito numa conta do Banco Cassa di Risparmio di Carrara SPA, o dinheiro chega à Cantieri Navale San Lorenzo, construtora italiana do «Lucky Me», que cobrou pelo iate perto de 580 Mil Contos.
Quando Vale e Azevedo decidiu adquirir o luxuoso iate, ironicamente baptizado de «Lucky Me», o então presidente do Benfica estava longe de pensar que este se tornaria o símbolo máximo do calvário que hoje enfrenta. Seguindo o esquema argumentativo da acusação, o advogado terá alegadamente comprado a embarcação ao fabricante italiano, com o dinheiro proveniente da transferência do guarda-redes Ovchinikov, para o Alverca, tal como foi referido anteriormente. Em declarações prestadas às autoridades italianas, o fabricante do barco de recreio garantiu que foi o próprio na altura presidente do Benfica que, acompanhado pela mulher, escolheu a faustosa decoração da embarcação, tendo acrescentado ainda que o casal Vale e Azevedo esteve também presente no momento da entrega do barco. Mas ao que tudo ind{mostrarimagem("Vale_e_Azevedo2[2].jpg","left","")}ica, o antigo presidente terá supostamente procedido à venda do mesmo barco, tido como prova das irregularidades cometidas, em Fevereiro de 2001, numa altura em que já tinha sido decretada a prisão domiciliária de João Vale e Azevedo, cumprida na sua casa de Almoçageme, em Sintra.
O negócio foi entendido pela juíza Conceição Oliveira, de turno no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa (TIC), como clara obstrução à Justiça, a qual decretou, no passado dia 7 de Agosto, a prisão preventiva do arguido João Vale e Azevedo na nova área prisional da Policia Judiciária de Lisboa.
José António Barreiros é o advogado de defesa de Vale e Azevedo, num julgamento que se apresenta longo. O advogado de defesa tentará convencer o colectivo de juizes de que o seu constituinte não passa de uma guerra movida pelo «lobby» do futebol...
No fundo são cerca de 70 as páginas apresentadas por José António Barreiros, ao Tribunal da Boa Hora. Do documento é possível concluir que a defesa pretende minimizar o polémico caso «Lucky Me», alegando que a ostentação de prosperidade na figura do presidente, neste caso através da compra do luxuoso barco, era útil para o fortalecimento da imagem pública do Benfica, clube de renome nas praças mundiais. Todavia, o argumento mais forte da defesa baseia-se em provas de que Vale e Azevedo foi obrigado{mostrarimagem("vale2.jpg","right","")} a fazer muitos pagamentos do Benfica, com dinheiro dos cofres do seu escritório de advogados e das suas empresas, numa altura de dificuldades financeiras para o clube, face ao congelamento temporário das contas da colectividade. Tal deveu-se a uma avultada dívida do emblema da Luz ao Finibanco, contraída no mandato de Manuel Damásio. Quanto aos referidos acertos, terão começado a ser feitos, seis meses após João Vale e Azevedo ter sido eleito para a presidência do clube. No relatório de contas apresentado pela defesa consta uma dívida do Benfica a Vale e Azevedo na ordem dos 6.980 milhões de euros. No entanto, posteriores investigações, conduzidas pela actual Direcção de Manuel Vilarinho e pela Polícia Judiciária revelaram outro cenário, segundo o qual verbas apresentadas pelo advogado como sendo despesas do clube, eram, na realidade, devoluções a clientes do seu escritório. Neste contexto, Vale e Azevedo passou de credor a devedor de 5.990 milhões de euros. Mas não fica por aqui! Em breve o SL-BENFICA.COM colocar-lhe-á à sua disposição uma nova reportagem que vos dará conta de que Vale e Azevedo é também acusado de seis novos crimes e mais poderão surgir. Fique atento...

Texto de: Rafael P. Santos
Fonte: Arquivo Sl-Benfica.com / Revista «Visão» / DesportoDigital
Fotos: Arquivo Sl-Benfica.com / Revista «Visão»