Eleições 2021 09Out. Sáb. 08h00 - 22h00

pexim

Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
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lancadordedois

Citação de: pexim em 12 de Outubro de 2021, 10:01
Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
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Jon agora é que vai ser o Rui vai dar a volta a isto tudo , vamos ter finalmente um Benfica.

#InovarBenfica

#Benficadevolta

#Oseuamigodesempre!

#ObrigadoBenfica

tomaz

Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
Melhor post que li aqui.

pexim

Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 22:51
Citação de: AlexanderMostovoi em 11 de Outubro de 2021, 21:19
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 19:24
Citação de: Soundwave em 11 de Outubro de 2021, 16:56
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 02:32
Citação de: Soundwave em 10 de Outubro de 2021, 09:05
Os sócios mexeram-se e através do Movimento SoB apresentaram alternativas. Se os sócios só querem Vieirismo então a responsabilidade do que vier daqui para a frente é apenas dessas pessoas.

Esses que não venham daqui a uns tempos dizer que o Benfica tem é de jogar mais e outras do estilo.

A responsabilidade dos resultados é de quem dirige, não de quem os elege. E podemos e devemos exigir sempre mais.

Ou se, por exemplo, o Noronha fosse eleito, quem o elegeu nada podia exigir e a sua eleição seria certeza absoluta de mais vitórias? Quem me dera que assim fosse. Quem puder garantir vitórias que apareça para eu votar nele.

Quem elegesse JNL estaria precisamente a eleger para cobrar resultados. Quem elegeu Vieira não, porque nem o facto de ir preso abalou a intenção de voto naquela que foi sua política.

Quem elegeu a continuidade não tem moral nenhuma para exigir algo de diferente. Ponto.

Há aí um problema. Eu não estou satisfeito com o resultado dos últimos 4 anos. Mas o que a oposição apresenta como alternativa não me convenceu. Aliás está aqui um problema. A oposição não conseguir apresentar uma figura com carisma, força e credibilidade que possa dar novo rumo ao SLB. Acharem que basta aparecer alguém e que isso é suficiente para ser eleito é o que está a falhar e vai continuar a deixar muita gente frustrada.

O Benitez foi o que se viu. O Noronha podia ser muito jeitoso por onde andou mas tinha o carisma de uma múmia e era fracote na comunicação.

Reparem, quem a isso assistiu, a como foi possível remover o JVA quando tal não parecia possível: o Vilarinho foi atrevido, cascou no JVA, não foi politicamente correcto, tinha aquele carisma meio brejeiro e terra a terra, meteu umas petas (vinda do Jardel) e ganhou com 2 terços dos votos.

Estava aqui a pensar que um candidato como o Noronha dificilmente terá sucesso. Demasiado tecnocrata e frio. Não atrai senão os que seriam atraídos por qualquer alternativa. Ou quem venha com muita conversa de depois fazer estratégias e planos também não vai lá. Por exemplo, o monte de propostas da lista B. Acham que mais de 10% dos votantes vão ler aquilo tudo? Eu até li mas porque gosto de saber pormenores. Mas a enorme maioria não quer saber.

Eu ainda estou para perceber o porquê de grande maioria dos sócios querem alguém com "carisma" (seja lá o que se entende por tal)... O que se devia exigir neste momento é alguém capaz, alguém que rompe com todo este passado recente das últimas direcções que muito nos envergonha e prejudicou o clube. Alguém capaz de passar a pente fino às contas do clube e da SAD e demonstrar claramente como é que as mesmas se encontram. Alguém capaz de montar um grupo de trabalho directivo em prol do clube.

Dirigentes carismáticos... É ver onde andam os dirigentes carismáticos dos últimos 30 anos do SL Benfica...

Não entendeste o racional: ser um líder carismático é para agradar ao grosso dos votantes. Não é que isso seja essencial para a função. É que, de outro modo, o mais provável é não ser eleito.

Tu achas que o Noronha iria ser uma maravilha. Sabe-se lá. Como se comprova por décadas e mais décadas, desde, pelo menos, o Fernando Martins, inclusive, que pouco acabou por se aproveitar. Não falo para trás, que não tinha idade para entender. O João Santos, pareceu-me que fez um trabalho interessante. De todos, indubitavelmente, o LFV foi o que teve a tarefa mais espinhosa, de reerguer um clube basicamente falido e arruinado. Fez obra muito significativa e tinha visão para isso. Falhou no futebol porque não percebia nada do assunto e acho que tinha demasiada influência no dia-a-dia. Mas muita gente que assistiu às décadas anteriores tinha razões para o apoiar pois viu que o clube esteve quase a fechar a porta. Dizer que são todos uns mentecaptos é não querer perceber as motivações das pessoas. É nisso que aqui, neste forúm, se peca muito. Agarram-se ao roubou, ladrão, bandido. Quem sabe, talvez, espero que não. Não valorizam o que se fez de bom. Ah, e também acho que aquela época do, que poderia ser o penta, foi uma desgraça. Enorme desinvestimento e, a cereja no topo do bolo, o Bruno Varela? :disgust: Pessoalmente acho que foi excesso de confiança. Reparem: 4 títulos seguidos; fcp nas ruas da amargura, intervencionado, sem poder comprar jogadores, quem julgava que iriam conseguir? scp? Foi o costume. Acharam que eram favas contadas. Correu terrivelmente mal, embora, mesmo assim, quase que conseguiam. Erro de julgamento. Se pudessem voltar atrás teriam feito diferente.
A diferença de Vieira para os outros foi um quase ilimitado crédito na banca. Se não fosse o dinheiro dos bancos, o Vieira não teria feito as suas fantásticas obras. O que aconteceu, de facto, foi que era preciso haver obras para o dinheiro circular. E o Benfica foi utilizado para fazer essas obras. A obra do Vieira é, na verdade, obra dos bancos.

pexim

Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 22:53
Citação de: Brainshow em 11 de Outubro de 2021, 21:41
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 19:56
Citação de: Brainshow em 11 de Outubro de 2021, 19:27
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 19:05
Citação de: Brainshow em 11 de Outubro de 2021, 15:50
Benfica campeão já nesta época.

Senão RUA!!!

You wish.

E se for o Noronha ou o Benitez? Se não ganharem vão logo fora? O pessoal parece ter-se afeiçoado a eleições a toda a hora.

Mas o Noronha ou o Benitez são presidentes do Benfica?

O Rui Costa é Presidente do Benfica e tem de ser responsabilizado.

Pergunto se qualquer presidente tem de ser campeão senão, rua

Dado que este sujeito esteve 13 anos colado ao pior Presidente de sempre do Benfica,  só mesmo este.

Gostava de saber se acompanhaste o consulado do JVA? Se sim, afirmares que o LFV foi o pior presidente denota alguma distracção, no mínimo.
Distraídos estiveram todos os benfiquistas que elegeram o Vieira eleições atrás de eleições. O Vale e Azevedo só foi pior do que o Vieira até 2006. A partir daí foi sempre a somar.

pexim

Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 22:57
Citação de: rsd em 11 de Outubro de 2021, 22:05
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 21:37
Citação de: Survivor em 11 de Outubro de 2021, 20:03
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 19:54
Citação de: Survivor em 11 de Outubro de 2021, 19:06
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 19:05
Citação de: Brainshow em 11 de Outubro de 2021, 15:50
Benfica campeão já nesta época.

Senão RUA!!!

You wish.

E se for o Noronha ou o Benitez? Se não ganharem vão logo fora? O pessoal parece ter-se afeiçoado a eleições a toda a hora.

É mais a PJ a decidir isso.

Já explicaste porque é que não falas dos 13 anos de Rui Costa como parceiro do Vieira?

Falar de quê? O LFV era, obviamente, um lider muito forte, que decidia tudo o que era substantivo e marcava a agenda do que eram as linhas de acção. O RC era uma peça, com funções muito delimitadas, na parte do acompanhamento do futebol. O que é que há mais para dizer?

Então e achas que ele sabia do que passava mas nunca se insurgiu?

Ou achas que era apenas alguem que estava por lá para ganhar dinheiro e ficar calado?

Pormenores de negócios de compra e venda de jogadores, que alguns, sem provas, acusação ou condenação, insistem terem sido falcatruadas? Acho que não estava dentro disso, nem tinha que estar. Cada macaco no seu galho.

Todavia, onde até acho que pode não ter estado muito bem, não é naquilo, mas na definição de plantéis. Só que nunca ficou totalmente claro quem tinha a palavra final. Julgo que seria mais o LFV. Lembro-me, há tempos, de ouvir o RC dizer que nem sempre concordava com o LFV. Mas quem tinha a última palavra era o LFV, como sabemos.

O que não acho é que andasse por lá para ganhar dinheiro. O homem fartou-se de ganhar dinheiro enquanto jogou para agora ter de viver a vida à vista do SLB? Sempre achei que lá andava para servir o clube. Se tivesses a vida orientada, mais dinheiro do que precisas, não eras capaz de o fazer? Eu, se tivesse alguma utilidade para o clube, sim.

Com que então o pelouro do diretor desportivo (que entretanto chegou a vice-presidente) não está relacionado com a compra e venda de jogadores.

O DSO bem dizia que o Rui enCosta é um preguiçoso.

Tem mas, quando depois entram os pormenores dos Euros não tem nem tem de estar. O seu pelouro seria indicar jogadores e contribuir para a formação de plantéis. Pormenores de prazos de pagamentos, comissões, etc., etc., era com o RC? A que propósito?
Não era? Então porque é que existem contratos de jogadores assinados por ele?

PontapeDoIsaias

Citação de: S-Line em 11 de Outubro de 2021, 13:16
Citação de: PontapeDoIsaias em 11 de Outubro de 2021, 12:35
Citação de: S-Line em 11 de Outubro de 2021, 11:44
Citação de: Red Eyes em 11 de Outubro de 2021, 11:20
Porra! Enterrem este tópico de vez nas profundezas abissais. Ler isto é como esfregar sal numa chaga... :disgust:
Completamente!!!
Este tópico foi uma caixa de surpresas .
Gente que regressou dos mortos , porrada, insultos , "muita democracia " e acima de tudo revelou a verdadeira face de muitos anjinhos.
Neste momento , de fórum Benfiquista não tem nada . Como disse ontem , agora até tenho "receio" de comentar , tal a raiva que vai no sangue dessa gente toda .
Epa nao facas isso han!!
Nao deixes de comentar!! Por favor!

É com cada um..lol
Como se precisasse da tua opinião para comentar .
Amigo , 37 anos , dois filhos e a nível de fórum estou aqui desde 2005.
Não é com cada um , é uma realidade . Não gostas não comes. Não tenho filhos da tua idade .
Se quiseres o meu nif e número de sócio também te posso dar , para veres tal a importância da tua mensagem cheia de fina ironia.
Porreiro pa.

Perth

Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
This JonSnow knows something.

So enganou-se na ultima frase. O Benfica ja morreu, foi assassinado e enterrado, e os socios ate foram à campa cuspir e debitar uns improperios.

O que existe hoje é um foculbenfica a todos os niveis, so que ganha menos titulos que o foculporco.

alsohugo

Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.

Este comentário é para emoldurar!

RedFut

Citação de: Perth em 12 de Outubro de 2021, 10:46
Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
This JonSnow knows something.

So enganou-se na ultima frase. O Benfica ja morreu, foi assassinado e enterrado, e os socios ate foram à campa cuspir e debitar uns improperios.

O que existe hoje é um foculbenfica a todos os niveis, so que ganha menos titulos que o foculporco.

É isto...!!!


lancadordedois

Citação de: RedFut em 12 de Outubro de 2021, 10:50
Citação de: Perth em 12 de Outubro de 2021, 10:46
Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
This JonSnow knows something.

So enganou-se na ultima frase. O Benfica ja morreu, foi assassinado e enterrado, e os socios ate foram à campa cuspir e debitar uns improperios.

O que existe hoje é um foculbenfica a todos os niveis, so que ganha menos titulos que o foculporco.

É isto...!!!

ando a ouvir isso de alguns conhecidos mesmo antes das eleiçoes do ano passado.

offtopic.

Em breve o Belenenses estar na primeira liga e com mais dinheiro, vai ser giro ver o clube a jogar contra a SAD, tornando se no primeiro derby/classico da nova modernidade?

Mattamouros

Citação de: Perth em 12 de Outubro de 2021, 10:46
Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
This JonSnow knows something.

So enganou-se na ultima frase. O Benfica ja morreu, foi assassinado e enterrado, e os socios ate foram à campa cuspir e debitar uns improperios.

O que existe hoje é um foculbenfica a todos os niveis, so que ganha menos titulos que o foculporco.

A questão é mesmo esta.

Andamos aqui com a conversa dos valores, dos ideais, do Benfica do antigamente.. mas a verdade é que, queiramos ou não, este já lá vai..

Eu continuo a sonhar, continuo a lutar, fui um dos assinantes e estive presente na AGE, fui delegado do SoB numa casa, mas este 'Benfica de 1904' que muitos (onde me incluo) por aqui apregoam, já não existe.

Basta ver os resultados das eleições anteriores (a acreditar que são verdadeiros) e destas. Os sócios escolheram, a maioria quer este 'novo' Benfica. Somos nós que estamos presos a um passado que não acredito que voltará..

Foi bom termos conseguido as conquistas que se conseguiu, a nivel de AGE e de fazer umas eleições transparentes e democráticas, mais teremos para fazer numa futura alteração de estatutos que acredito será aprovada também, mas na sua génese, a maioria dos sócios votantes gosta da situação actual, já a validou por duas vezes.

O Benfica 'morreu' e nós nem demos por isso. Essa é que é essa..

patrickvieira

Citação de: Mattamouros em 12 de Outubro de 2021, 11:00
Citação de: Perth em 12 de Outubro de 2021, 10:46
Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
This JonSnow knows something.

So enganou-se na ultima frase. O Benfica ja morreu, foi assassinado e enterrado, e os socios ate foram à campa cuspir e debitar uns improperios.

O que existe hoje é um foculbenfica a todos os niveis, so que ganha menos titulos que o foculporco.

A questão é mesmo esta.

Andamos aqui com a conversa dos valores, dos ideais, do Benfica do antigamente.. mas a verdade é que, queiramos ou não, este já lá vai..

Eu continuo a sonhar, continuo a lutar, fui um dos assinantes e estive presente na AGE, fui delegado do SoB numa casa, mas este 'Benfica de 1904' que muitos (onde me incluo) por aqui apregoam, já não existe.

Basta ver os resultados das eleições anteriores (a acreditar que são verdadeiros) e destas. Os sócios escolheram, a maioria quer este 'novo' Benfica. Somos nós que estamos presos a um passado que não acredito que voltará..

Foi bom termos conseguido as conquistas que se conseguiu, a nivel de AGE e de fazer umas eleições transparentes e democráticas, mais teremos para fazer numa futura alteração de estatutos que acredito será aprovada também, mas na sua génese, a maioria dos sócios votantes gosta da situação actual, já a validou por duas vezes.

O Benfica 'morreu' e nós nem demos por isso. Essa é que é essa..
como o presidente que achavas que deveria ter sido eleito não o foi então o Benfica morreu. Só rir. Morreu para ti

pexim

Citação de: patrickvieira em 12 de Outubro de 2021, 11:05
Citação de: Mattamouros em 12 de Outubro de 2021, 11:00
Citação de: Perth em 12 de Outubro de 2021, 10:46
Citação de: JonSnow em 11 de Outubro de 2021, 20:05
Era puto, teria os meus cinco ou seis anos, quando tenho aquela que será a minha memória mais antiga e mais vívida do Benfica : a final da taça Uefa na Luz. Não percebendo quase nada de futebol ainda, não entendendo sequer as mais básicas regras do jogo, nada percebendo de tácticas, sabia que o meu amor se chamaria sempre Sport Lisboa e Benfica. Estava no meu coração, na minha alma, e nem a perda dessa noite - que tristemente vi replicada demasiadas vezes - me demoveu de sentir que estava fadado a andar com a chama imensa dentro de mim para sempre.
Foi o meu avô que me passou o seu Benfiquismo, o meu avô que já me parecia impossivelmente envelhecido, ele que passava os dias sentado na sua poltrona porque quase não conseguia andar já, e que frequentemente me dizia, logo pela manhã para ir comprar a edição desse dia d'A Bola, o meu avô que me falava das glórias dos seus dias, dos triunfos, das edificações, das lendas, de quem tornou o Benfica maior que o próprio país.
Mas durante toda a minha infãncia, era apenas um adepto do Benfica, ainda que fervoroso. Em casa nunca tivemos a cultura de ir ao estádio, certamente devido ao portismo do meu pai, e como o meu avô estava circunscrito á casa, não tinha ninguém que me levasse ao estádio. Então a minha devoção ao Benfica foi através da rádio e da televisão. Foi através das cadernetas e dos cromos, e quando havia um mundial ou europeu, fazia essas colecções e passava que tempos a contabilizar quantos jogadores teria lá o Benfica representado.
No princípio da década de 90, decidi que queria dar um passo á frente, e quis ser sócio. Confesso que não me recordo já se precisei de autorização dos meus pais ou algo assim, mas sei que certo dia peguei em mim e fui á antiga Catedral, trouxe de lá os formulários necessários, e em três tempos já eu era sócio. Durante os primeiros meses a minha avó ofereceu-me as quotas - o meu avô tinha entretanto falecido - e comecei então o hábito de ir á Luz ver o Benfica. Não pude ir sempre, infelizmente não tinha liquidez financeira que mo permitisse, e também a separação dos meus pais alterou o meu paradigma familiar. Mas sempre que podia, estava eu na Luz a apoiar o Benfica. Vi momentos fantásticos, vi derrotas difíceis de digerir, vi jogos bons, vi jogos maus, vi de tudo. Fui a finais da taça de Portugal, fui ver o Mostovoi marcar um golaço de livre directo em contumil, vi o mesmo Mostovoi falhar um golo (quase) cantado no mesmo estádio, vi o Yuran, o Isaías, o Paneira, o Pacheco (antes de nos apunhalar pelas costas), vi os meninos que foram campeões mundiais, vi-os a serem naquela mítica final na Luz contra um enorme Brasil, dizia que o Bizarro era um grande guarda-redes, não! afinal o Brassard é que era, via o Benfica do Fernando Martins, do João Santos, e via o Benfica de um senhor, desculpem, de um Senhor, que há muito admirava e cujas muitas contribuições foram vitais para a sobrevivência do Benfica. Quando o senhor Jorge de Brito se tornou presidente do Sport Lisboa e Benfica, mal poderia imaginar ele que estávamos prestes a entrar numa das fases mais conturbadas da nossa história, nem ele nem nós. Infelizmente, e porque muito estávamos dependentes da sus fortuna pessoal, os problemas que o mesmo atravessou na sua vida pessoal traduziram-se em menor afluência financeira da nossa parte, e tudo isso levou a que em Dezembro de 1993, os sócios do Sport Lisboa e Benfica o demitissem em assembleia. Ele, que mais do que quase qualquer outra figura na nossa história, merecia sim uma estátua, um busto, a mais singela e profunda homenagem que fosse. Ele, que do bolso dele, ofereceu ao Sport Lisboa e Benfica a pista de tartan que rodeou durante tanto tempo o nosso então campo de treinos. Ele, que na sua generosidade, perdoou ao Benfica uma dívida, que traduzida para valores de hoje, se cifraria das dezenas de milhões de euros. Ele, que do seu bolso custeou vencimentos, prémios e transferências. E a maneira dos sócios o honrarem foi demiti-lo.
Foram essas as minhas últimas quotas pagas. Senti que o Benfica que tinha crescido a amar tinha começado a voltar as costas aos seus valores primordiais. Senti algo a mudar, e essa mudança trouxe-nos Manuel Damásio e a sua operação coração. trouxe-nos Vale e Azevedo, e todas as polémicas e humilhações associadas. Trouxe-nos Manuel Vilarinho, e aqui confesso que durante breves momentos - breves apenas - imaginei que se pudesse ter um Benfica novo, um Benfica de valores.
Enganei-me.
O Benfica que amava estava a ser substituído, pedaço por pedaço. A decisão tomada pelos sócios do Benfica nesse Dezembro de 1993 ecoou ainda quase uma década depois quando Luis Filipe Vieira entra no Benfica. Nunca serei ingrato por qualquer título ganho por nós. Não tenho memória de algum título 'fácil', de algum título em que não tívessemos de ter sido uns verdadeiros heróis de algum título em que não sentisse que forças nefastas conspiravam para que não os ganhássemos.
Por isso dou valor ás conquistas - que todavia me parecerão sempre parcas - que obtemos no seu reinado. Não presidência, atentem. Reinado. Um reinado que só poderia terminar em nepotismo, não surpreendendo ninguém que tenhamos como novo presidente o herdeiro que foi preparado durante anos a fio para que o status quo se mantivesse.
E eu sei que o vou dizer, e pedir, quase ninguém o quererá entender, porque a ilusão que vos venderam é demasiado forte. E eu respeito o vosso voto, respeito os resultados, aceito-os, mas entendam por favor que optaram pela continuidade das duas últimas décadas. Optaram pela política desportiva frequentemente mal-pensada e desastrosa. A mesma com que faz com em pleno 2021 continuemos com as mesmas lacunas no plantel que há anos e anos que estão identificadas. Optaram por quem vos vai continuar a dizer que a formação e o Seixal são para ser aposta, e mais frequentemente do que não serão estrelas noutros clubes e não na Luz. Optaram por um Benfica de integridade e honestidade dúbias, de negociatas e intermediários e de casos jurídicos. Optaram por um Benfica perdido, desorientado, e ultrapassado no grosso das modalidades amadoras. Optaram pelo Benfica dos zero pontos nas fases de grupos e das goledas que amiúde sofremos. Optaram por um Benfica com exigência zero, o que eleva gajos como o André Almeida a lendas. Optaram por um Benfica cujo canal televisivo não é nem para os Benfiquistas, nem pelos Benfiquistas, mas sim mais um meio de propaganda institucional.
Optaram por um Benfica ferido na sua identidade, e parco de valores. Optaram por quem vos mentiu descaradamente.
E eu tenho de respeitar, e aceitar isso. Foi essa a vossa escolha, a escolha da vasta maioria.
Conhecem a frase 'Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la'?
Sinto que desde 1993 que andamos a repetir os mesmos erros.
E talvez aqui haja um quê de culpa minha, também. Talvez o futebol tenha mudado de tal maneira que seja impossível ter um clube de honra e de valores. Talvez o neanderthal aqui seja eu. Talvez.
Mas sem sombra de dúvidas sei o que me custa saber que quem mais deveria defender o clube é suspeito de roubá-lo, ou de ser, no mínimo, conivente com isso. E o Benfica, tal como Roma, não deveria pagar a traidores. Tampouco deveria perdoá-los. O Benfica que temos é o que fez a maior canalhice da sua história a uma das suas figuras magistrais.
O Benfica que quiseram é o que vai dar continuidade a décadas de assalto interno. O Benfica que nos dão é o Benfica de gente desapaixonada pelo clube, desinteressada por qualquer outra coisa que não o seu ao fim do mês. É o Benfica que acolhe em sua casa quem o trai, quem goza com ele e depois assume lugar de relevância, e que dá o seu trono ao seu maior inimigo para que, ufano, se gabe de quando nos roubaram um título em plena Luz.
Eu olho agora para o puto que viu o Benfica perder essa final da taça Uefa, e que, triste por não a ter vencido, sentia todavia um orgulho enorme.
Perdoem-me se hoje, já não o consiga.
Serei sempre do Benfica, para o Benfica, e pelo Benfica. Temo é que o Benfica que cresci a amar não exista durante muito mais tempo.
This JonSnow knows something.

So enganou-se na ultima frase. O Benfica ja morreu, foi assassinado e enterrado, e os socios ate foram à campa cuspir e debitar uns improperios.

O que existe hoje é um foculbenfica a todos os niveis, so que ganha menos titulos que o foculporco.

A questão é mesmo esta.

Andamos aqui com a conversa dos valores, dos ideais, do Benfica do antigamente.. mas a verdade é que, queiramos ou não, este já lá vai..

Eu continuo a sonhar, continuo a lutar, fui um dos assinantes e estive presente na AGE, fui delegado do SoB numa casa, mas este 'Benfica de 1904' que muitos (onde me incluo) por aqui apregoam, já não existe.

Basta ver os resultados das eleições anteriores (a acreditar que são verdadeiros) e destas. Os sócios escolheram, a maioria quer este 'novo' Benfica. Somos nós que estamos presos a um passado que não acredito que voltará..

Foi bom termos conseguido as conquistas que se conseguiu, a nivel de AGE e de fazer umas eleições transparentes e democráticas, mais teremos para fazer numa futura alteração de estatutos que acredito será aprovada também, mas na sua génese, a maioria dos sócios votantes gosta da situação actual, já a validou por duas vezes.

O Benfica 'morreu' e nós nem demos por isso. Essa é que é essa..
como o presidente que achavas que deveria ter sido eleito não o foi então o Benfica morreu. Só rir. Morreu para ti
Faz-me muita impressão quando alguém aponta como um momento de quebra as eleições do ano passado, em que muitos e muitos já diziam o que se esperar do Vieira e ainda haver alguém que tenha apoiado o ladrão até ao dia da detenção (alguns até depois) e ainda ter a arrogância de querer dar lições aos outros.
Eu, depois de levar uma chapada de realidade daquelas, teria, no mínimo a humildade de duvidar das minhas convicções.

Senhor Aimar

Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 22:51
Citação de: AlexanderMostovoi em 11 de Outubro de 2021, 21:19
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 19:24
Citação de: Soundwave em 11 de Outubro de 2021, 16:56
Citação de: jc007 em 11 de Outubro de 2021, 02:32
Citação de: Soundwave em 10 de Outubro de 2021, 09:05
Os sócios mexeram-se e através do Movimento SoB apresentaram alternativas. Se os sócios só querem Vieirismo então a responsabilidade do que vier daqui para a frente é apenas dessas pessoas.

Esses que não venham daqui a uns tempos dizer que o Benfica tem é de jogar mais e outras do estilo.

A responsabilidade dos resultados é de quem dirige, não de quem os elege. E podemos e devemos exigir sempre mais.

Ou se, por exemplo, o Noronha fosse eleito, quem o elegeu nada podia exigir e a sua eleição seria certeza absoluta de mais vitórias? Quem me dera que assim fosse. Quem puder garantir vitórias que apareça para eu votar nele.

Quem elegesse JNL estaria precisamente a eleger para cobrar resultados. Quem elegeu Vieira não, porque nem o facto de ir preso abalou a intenção de voto naquela que foi sua política.

Quem elegeu a continuidade não tem moral nenhuma para exigir algo de diferente. Ponto.

Há aí um problema. Eu não estou satisfeito com o resultado dos últimos 4 anos. Mas o que a oposição apresenta como alternativa não me convenceu. Aliás está aqui um problema. A oposição não conseguir apresentar uma figura com carisma, força e credibilidade que possa dar novo rumo ao SLB. Acharem que basta aparecer alguém e que isso é suficiente para ser eleito é o que está a falhar e vai continuar a deixar muita gente frustrada.

O Benitez foi o que se viu. O Noronha podia ser muito jeitoso por onde andou mas tinha o carisma de uma múmia e era fracote na comunicação.

Reparem, quem a isso assistiu, a como foi possível remover o JVA quando tal não parecia possível: o Vilarinho foi atrevido, cascou no JVA, não foi politicamente correcto, tinha aquele carisma meio brejeiro e terra a terra, meteu umas petas (vinda do Jardel) e ganhou com 2 terços dos votos.

Estava aqui a pensar que um candidato como o Noronha dificilmente terá sucesso. Demasiado tecnocrata e frio. Não atrai senão os que seriam atraídos por qualquer alternativa. Ou quem venha com muita conversa de depois fazer estratégias e planos também não vai lá. Por exemplo, o monte de propostas da lista B. Acham que mais de 10% dos votantes vão ler aquilo tudo? Eu até li mas porque gosto de saber pormenores. Mas a enorme maioria não quer saber.

Eu ainda estou para perceber o porquê de grande maioria dos sócios querem alguém com "carisma" (seja lá o que se entende por tal)... O que se devia exigir neste momento é alguém capaz, alguém que rompe com todo este passado recente das últimas direcções que muito nos envergonha e prejudicou o clube. Alguém capaz de passar a pente fino às contas do clube e da SAD e demonstrar claramente como é que as mesmas se encontram. Alguém capaz de montar um grupo de trabalho directivo em prol do clube.

Dirigentes carismáticos... É ver onde andam os dirigentes carismáticos dos últimos 30 anos do SL Benfica...

Não entendeste o racional: ser um líder carismático é para agradar ao grosso dos votantes. Não é que isso seja essencial para a função. É que, de outro modo, o mais provável é não ser eleito.

Tu achas que o Noronha iria ser uma maravilha. Sabe-se lá. Como se comprova por décadas e mais décadas, desde, pelo menos, o Fernando Martins, inclusive, que pouco acabou por se aproveitar. Não falo para trás, que não tinha idade para entender. O João Santos, pareceu-me que fez um trabalho interessante. De todos, indubitavelmente, o LFV foi o que teve a tarefa mais espinhosa, de reerguer um clube basicamente falido e arruinado. Fez obra muito significativa e tinha visão para isso. Falhou no futebol porque não percebia nada do assunto e acho que tinha demasiada influência no dia-a-dia. Mas muita gente que assistiu às décadas anteriores tinha razões para o apoiar pois viu que o clube esteve quase a fechar a porta. Dizer que são todos uns mentecaptos é não querer perceber as motivações das pessoas. É nisso que aqui, neste forúm, se peca muito. Agarram-se ao roubou, ladrão, bandido. Quem sabe, talvez, espero que não. Não valorizam o que se fez de bom. Ah, e também acho que aquela época do, que poderia ser o penta, foi uma desgraça. Enorme desinvestimento e, a cereja no topo do bolo, o Bruno Varela? :disgust: Pessoalmente acho que foi excesso de confiança. Reparem: 4 títulos seguidos; fcp nas ruas da amargura, intervencionado, sem poder comprar jogadores, quem julgava que iriam conseguir? scp? Foi o costume. Acharam que eram favas contadas. Correu terrivelmente mal, embora, mesmo assim, quase que conseguiam. Erro de julgamento. Se pudessem voltar atrás teriam feito diferente.

Obviamente que não foi. Foi propositado pq o dinheiro que havia tinha de ser canalizado noutra direção que nao o reforço do plantel. O dinheiro era para pagamentos antecipados à banca em cotnrapartida por alargamento de creditos vencidos e nao pagos de empresas do universo de LFV. Ponto final paragrafo.
Usou (e abusou) do Benfica para indirectamente (ja nem digo directamente pq isso cabe ao tribunal) tirar beenficido como alargamento de prazos para pagamento, perdão de dividas, etc...
A determinada altura dos longos 17 anos que esteve no Benfica, o Benfica deixou de ser uma prioridade e passou a ser um escudo, um objecto.

Se um homem for bom p a sua esposa e ao fim de 20 anos a matar, é bom home pq a tratou bem e cuidou? Não, será sempre um animal que deve ser condenado