Decifrando imagens do passado

RedVC

#270
 :coolsmiley:

Eu já franzi o sobrolho a esse detalhe.

Mas que eu saiba não há outro indício que nos leve a pensar que foi uma estética pouca feliz no desenho. Aliás não sei qual será a versão mais antiga desse emblema. Não sei qual a fonte, qual a data da versão que conhecemos.

Se formos por essa teoria então penso que não é râguêbi...


Captura de ecran feita no Vitórias e Património nº 52

6 de Outubro de 1924.

Não sei muito de râguebi mas pelo que percebi é esta a data indicada pelo V&P 52 para o início da modalidade no Sport Lisboa e Benfica. O primeiro capitão e principal promotor da modalidade no clube terá sido Pedro Gomes. Ou seja começou já nos tempos das Amoreiras ainda Cosme Damião e Bento Mântua estavam ao leme do clube.

O processo terá começado através de um anúncio no jornal Sport Lisboa. Bastou uma semana para juntar atletas e iniciar os treinos e apenas três meses para o primeiro jogo. Contra o SCP (que terá começado em 1923). A primeira competição oficial em Portugal terá tido o Carcavelinhos, Ginásio Clube Português, SCP e Benfica.

O nosso clube é o mais antigo a praticar a modalidade sem interrupções.

http://videos.sapo.pt/w7ZOWdIzCfjhwNzsuvCP


http://rugbyoeiras.paginas.sapo.pt/historiaRugby.htm

Aqui se diz que: Em Portugal, o Rugby foi introduzido em 1903 (pelo menos é essa a data desde a qual existe uma prova documental), altura em que foi disputado um jogo entre os oficiais de uma esquadra inglesa e o Lisbon Football Club. Apesar desse tipo de jogos se ter mantido durante algum tempo no nosso país, as equipas eram constituídas apenas por ingleses.

Em 1922 o Royal Football Club decidiu lançar verdadeiramente o Rugby em Portugal (sob proposta de alguns membros franceses) utilizando, para isso, participantes nacionais. A 22 de Março desse ano, o Royal Football Club jogou contra o Sporting aquele que foi o primeiro jogo entre duas equipas portuguesas.

Cinco anos depois, alguns clubes fundaram a Associação de Rugby de Lisboa que organizou o desporto até 1957, data em que foi criada a Federação Portuguesa de Rugby.




Theroux

Exacto, na questão excluí a hipótese de ser uma bola de rugby após ler esse texto sobre a introdução do desporto em Portugal e o cruzar com o que está no site oficial relativo às actividades desportivas do Grupo Sport Lisboa no campo da Feiteira.

RedVC

Falta-nos aqui alguma arqueologia de emblemas. Não deve ser fácil.

RedVC

#273
Citação de: Theroux em 05 de Agosto de 2015, 23:54
Dois jogadores de hóquei com um longo percurso no Benfica:
...


Germano Magalhães.

Representou o Benfica sensivelmente durante 20 anos, pouco depois da secção ter aberto, em 1919, e posteriormente de 1926 até ao momento em que se retirou.

Retirado do tópico: Memorial Benfica, Glórias.

Estará, porventura, entre os jogadores de maior longevidade, no desporto português. Fez parte da primeira selecção nacional que disputou o I Campeonato da Europa em 1939, participou no I Campeonato do Mundo, realizado na Alemanha, em 1936, e foi campeão de Lisboa de 1927 a 1931 e em 1937. Abandonou as provas oficiais em Dezembro de 1947, com 47 anos, dos quais 42 como praticante e 30 como jogador. É uma das mais relevantes figuras do clube. Ao despedir-se, no Pavilhão dos Desportos, declarou à revista Stadium: "A minha maior consolação está em oferecer ao Benfica todas as medalhas que ganhei desde 1911. Assim, ao menos, sinto que vivo no clube e para o clube. A vida é tão curta."

Falando em Germano de Magalhães. A propósito da sua festa de despedida:

Século Ilustrado, No. 518, Dezembro 6 1947 - 16


Germano Abílio Torre Frazão de Magalhães
Nascido em 1900 na cidade de Lourenço Marques.
42 anos de actividade desportiva!
Começou aos 5 acabou aos 47 anos.
Mais de 500 jogos de hóquei em patins.

Morreu num ringue num jogo entre amigos. Paz à sua Alma. Um Glorioso imortal!


RedVC

Sobre o râguebi em 1927 no boletim do nosso clube


Theroux

RedVC, sabes se existe um tópico dedicado à equipa das Marias? Tinha ideia que sim, mas não consigo encontrar.

RedVC

Não me lembro de ter visto. Mas deve haver. É perguntar ao faneca_slb4ever.

Theroux

#277


La diligencia

O que tem esta escultura de 1952, que se encontra no Prado, Montevideo, a ver com o Benfica?

No Museu encontra-se uma, igual, excepto na dimensão, oferecida pelo Peñarol, após jogar na Luz para a Taça Intercontinental (1 - 0 em casa, 5 - 0 fora, e 2 - 1 na finalíssima, também no Uruguai).



Ambas as obras foram criadas por José Belloni, um dos maiores escultores uruguaios do século XX.





A diligência

Um dos pormenores da escultura:


RedVC

#278
Excelente!  :cool2: Não fazia ideia.

Sei que temos muitos troféus com histórias pitorescas e detalhes inesperados.
É um filão imenso que só por si merece um lugar de destaque nesta secção de Memórias.
Aliás no segundo piso do nosso museu há uma secção em que estão expostos uma meia dúzia de troféus que são tudo menos taças convencionais. Provenientes de diversos países e continentes.

É a universalidade do Benfica!

RedVC

#279
-62-
13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro.

7 de Maio de 1911. Campo do Lumiar.
48 atletas distribuídos por oito equipas alinhadas à partida.

Este foi o dia do I Cross-Country Nacional organizado sob a égide da Liga Sportiva de Trabalhos Atléticos. Seria esse o dia da primeira Glória Benfiquista de Francisco Lázaro.



Alinhamento das oito equipas participantes à partida para o I Campenato Nacional de Cross Country.
Fonte: Sports Ilustrados.


Vai já longínqua a data da realização desse I Cross Country Nacional ou numa outra designação do I Campeonato Nacional de corta-mato. Com regulamentos aprovados no mês anterior, no dia 5 de Abril, foi definido um percurso de 4.800 metros que partiu do Campo do Lumiar. Nesse tempo o Lumiar ainda não era ocupado pelo SCP, que ainda se mantinha no Sítio da Mouras, as suas primeiras instalações desportivas. A mudança para o campo do Lumiar (alugado) aconteceria apenas a partir de 1914.

Inscreveram-se e compareceram oito equipas. Por ordem alfabética: Ateneu Comercial, Club Internacional de Foot-Ball, Escola Académica, Ginásio Club Português, Sport Club Império, Sport Club Progresso, Sport Lisboa e Benfica e Sporting Club de Portugal. Cada equipa formada por 6 corredores.

A prova contava com um conjunto muito diferenciado de atletas com diferente potencial e capacidade. Provavelmente apenas uma minoria cumpria algum tipo de planificação de treino mesmo que rudimentar. Alguns, os mais dotados ou os mais empenhados treinavam com mais afinco marcando vantagem decisiva perante os restantes. Não existiam igualmente oportunidades para competir no estrangeiro. Isso aliás foi notado pelo jornal "O Século" de 8 de Maio de 1911 que para além de se congratular com o evento questionava-se acerca de como se portariam os atletas Portugueses em competição com estrangeiros, caso se dispusessem a treinar com ordem e método.

Baseado no artigo dos Sports Ilustrados de 13 de Maio de 1911, ficamos a saber quais foram os seis gloriosos que integraram a equipa do Sport Lisboa e Benfica nessa competição. Entre eles estava uma figura decisiva da história do Glorioso e uma outra figura, trágica, dos primórdios do nosso atletismo. Estavam também nomes menos conhecidos, sendo que dois deles até tiveram passagens prestigiadas pela nossa 1ª equipa de futebol. Os seis Gloriosos atletas (e seis grandes bigodaças...) foram: Félix Bermudes, Francisco Lázaro, Josué Correia, Augusto Fernandes, Germano de Vasconcellos Júnior e Francisco Júlio Rocha.



A Gloriosa equipa que participou no I Campeonato Nacional de Cross Country em 30 de Abril de 1911. De pé e da esquerda para a direita: Francisco Lázaro (13), Josué Correia (36), Augusto Fernandes (21), Félix Bermudes (14). Em baixo, Germano de Vasconcellos Júnior (5) e Francisco Júlio Rocha (41). Fonte: Sports Ilustrados, 13 Maio 1911.

Nesses tempos de amadorismo o eclectismo era bastante comum. Era normal que os futebolistas optassem por desportos alternativos durante os meses de Verão. O futebol era e será sempre um desporto de Inverno.

Dos nossos atletas Francisco Lázaro é um caso aparte. É um mito que ganhou corpo pela tragédia que lhe ceifou a vida. Um caso de breve Glória e brutal epílogo. Um caso de excesso de voluntarismo e ignorância. Atleta com talento e voluntarismo, ganhou competições nos três clubes que representou: Velo Club (até 1910), Sport Lisboa e Benfica (1911) e Lisboa Sporting Club (1912). Estava pois no seu ano Benfiquista. E seria esta a sua primeira Glória com o manto sagrado. Outras viriam no breve período em que envergou as nossas cores.

De Lázaro há muito mais para dizer mas, como noutros caso remeto quem estiver interessado para um conjunto de artigos de referência publicados por Alberto Miguéns. Aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/search/label/Francisco%20L%C3%A1zaro. Também no tópico de Lázaro aqui no SB existe muita e boa informação.

De Augusto Fernandes e Francisco Costa pouco sei. Provavelmente estiveram apenas ligados ao atletismo. Se alguém souber será interessante ter mais dados biográficos. Josué Correia teve uma passagem episódica mas prestigiada pela nossa primeira categoria do futebol. Foi nosso avançado nas épocas de 1909/10 e 1910/11. Depois mais nada.

Os restantes, Félix Bermudes e Germano de Vasconcellos Júnior eram juntamente com Lázaro os atletas de maior renome nesta equipa. Notoriedade sim mas não apenas no Atletismo. Estes dois homens foram ilustres representantes do ecléctismo dos primeiros anos do Sport Lisboa e Benfica.

Félix Bermudes é uma figura decisiva da nossa história. Intelectual, poeta, dramaturgo. Foi o 10º Presidente do Sport Lisboa e Benfica, cumprindo mandato de 15/07/1916 a 7/10/1916. Voltaria ao cargo 29 anos depois, de 18/01/1945 – 19/01/1946. Para além do apoio financeiro determinante que deu ao clube na fase mais crítica da sua história, foi um dos homens decisivos nas negociações que levaram à fusão de 1908. Esteve por trás inclusivamente da definição do actual nome do clube. No Benfica, praticou futebol, ténis, natação, esgrima, ciclismo, hipismo, tiro e atletismo. Terá sido aliás o primeiro atleta do Benfica a praticar atletismo. Foi campeão nacional de esgrima aos 50 anos de idade. Participou nos Jogos Olimpícos de Paris 1924 na modalidade de tiro. Félix Bermudes merece outro destaque. Talvez um dia destes.



Vencedores do XVIII Concurso Nacional de Tiro. Disputado na carreira de tiro de Pedrouços, a competição foi organizada pelo Ministério da Guerra. Fonte: Ilustração Portugueza, No. 610, 29 de Outubro de 1917

Germano de Vasconcellos Júnior foi igualmente um praticante de futebol, ciclismo e atletismo. Foi um dos pouco atletas provenientes do Grupo Sport Benfica que que - com tempo - conseguiram entrar na equipa da 1ª categoria. Cosme era muito exigente... Assim só em em 1910 conseguiu integrar a nossa equipa da 1ª categoria de futebol. Jogou com o manto sagrado de 1910/11 a 1912/13, quer a avançado quer a guarda-redes!


Germano de Vasconcellos Júnior a guarda-redes integrando a Gloriosa equipa que disputou jogos na Corunha em Junho de 1912. Da esquerda para a direita: Virgílio Paula, Francisco Viegas, Henrique Costa, Germano Vasconcellos Júnior (de equipamento branco, jogando a guarda-redes), José Domingos Fernandes, Cosme Damião, Artur José Pereira, Romualdo Bogalho, Álvaro Gaspar, Francisco Belas e Alberto Rio. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Por motivos profissionais (funcionário dos CTT) foi destacado para Braga. E lá como diversos outros nossos antigos futebolistas deixou marca. Por essa cidade jogou inicialmente no Estrela FC (1913/14) e depois ajudou a fundar e jogou no Sport Lisboa e  Braga (1914/15 a 1915/16). Mais um dos semeadores da mística Benfiquista por esse país fora. Mais alguns detalhes aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/03/alto-e-para-o-baile-bailarico.html.

Regressaria episodicamente ao Glorioso para fazer uns jogos em 1916/17. Germano de Vasconcellos, por motivos profissionais regressaria a Braga. Aliás num fórum do Sporting Clube de Braga diz-se que existe uma tradição de que o Braga passou a jogar de vermelho - mudando do verde inicial - em 1924 ou 1925 por exigência de Germano Vasconcellos... Seria acompanhado por outra grande Glória do Benfica, Alberto Augusto. Seria ainda árbitro de futebol, facto que comprova o seu prestígio nos meios futebolísticos. Era assim naquele tempo...

Como velocista, Vasconcellos bateu por diversas vezes António Stromp do SCP, que era bastante reputado nessa modalidade. Mas, ao contrário deste, Vasconcellos acabaria por não integrar a comitiva que participou nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, 1912. Para além das flutuações de forma física e das condicionantes próprias do amadorismo, existiram também restrições orçamentais importantes. A pequena comitiva de seis elementos que seguiria para a capital Sueca não incluiria outros atletas inicialmente escalados. Entre eles estava o prestigiado lutador César de Mello, outro homem de quem já falamos (ver nº 32, "Glorioso por um dia") por em 1905 ter sido integrante da primeira equipa oficial da nossa história.


Germano de Vasconcellos a vencer uma prova de velocidade no velódromo de Palhavã. António Stromp foi segundo.


Mas voltando ao I Campeonato Nacional de corta-mato, nesse dia concorreram oito equipas, representativas das maiores agremiações lisboetas da época.

A partida da prova foi dada às 11 horas e meia. Os 48 corredores tiveram de percorrer um percurso algo acidentado que incluía encostas, barreiras, charcos. Obstáculos múltiplos num terreno irregular percorrido pelos atletas com o ardor próprio desses tempos.



Aspectos da prova que ilustram bem a dureza do traçado. Fonte: Sports Ilustrados.


A prova até começou dominada por outras cores. Mathias Carvalho, atleta do SCP, até arrancou em bom estilo e ainda liderou a corrida por algum tempo mas viria a enganar-se no percurso e a ser alcançado pelo duo Benfiquista. Nas palavras do jornal "despistou-se" após ter passado por um charco. Caso para dizer que meteu água. Depois seria a classe de Lázaro a fazer a diferença, conquistando o primeiro lugar da classificação individual, cumprindo a prova em 20 minutos e 25 segundos. Nesse dia Lázaro ostentava o dorsal número 13. Deu sorte.

O nosso Augusto Fernandes foi segundo que gastou 20 minutos e 36 segundo tendo o pódio sido completado por Mathias de Carvalho, atleta do SCP, que gastou 20 minutos e cinquenta e dois segundos.




Os nossos dois grandes campeões. Francisco Lázaro (13) e Augusto Fernandes (21).

Infelizmente, à semelhança do sportinguista, também dois atletas Benfiquistas (não especificados no jornal) viriam a "despistar-se". Esse lapso ter-nos-à custado a vitória na classificação colectiva. Aliás o jornal "Sports Ilustrados" salientava que o Benfica tinha a equipa mais homogénea e que em condições normais teria ganho também na classificação colectiva. Apenas esse engano dos nossos dois atletas explica o terceiro lugar final.

No final da prova e num total de 48 atletas apenas um não finalizou o percurso. Os nossos atletas tiveram a seguinte classificação: Francisco Lázaro (1º), Augusto Fernandes (2º), Josué Correia (6º), Germano de Vasconcellos Júnior (12º), Félix Bermudes (20º) e Francisco Júlio Rocha (33º).

Nessas circunstâncias venceria e bem o Sport Clube Império sendo secundado pelo SCP e só depois pelo nosso clube. Em quarto classificar-se-ia o Sport Clube Progresso, em quinto o Clube Internacional de Futebol (CIF), em sexto o Atheneu Comercial, em sétimo o Gymnasio Clube Português e em oitavo e último a Escola Académica. Para ilustrar aqui ficam os clichés (como se costumava dizer na época) das equipas que se classificaram até ao 5º lugar. Fotografias da autoria do autodidacta e excelente fotógrafo Arnaldo Garcez Pereira de quem já aqui falamos (ver nº 39 "Um banquete de notáveis").



Fotografia de grupo do Sport Clube Império (1º), Sporting Clube de Portugal (2º),
Sport Clube Progresso (4º) e Clube Internacional de Futebol (5º).

E como Benfica também é cultura não devo deixar passar um detalhe curioso.
Na equipa do CIF participou Armando Cortesão (dorsal nº 30), que um ano depois integrou a comitiva aos Jogos Olímpicos de Estocolmo, 1912. Nesse dia Armando Cortesão foi 10º classificado, à frente do nosso Germano de Vasconcellos Júnior. Mais tarde Armando seguiria uma notável carreira multifacetada de engenheiro agrónomo (formação base), administrador colonial e historiador. Era irmão (7 anos mais novo) de Jaime Cortesão, médico (formação base), poeta, dramaturgo, soldado, deputado, político, jornalista, pedagogo e ilustríssimo historiador. Uma figura gigantesca da nossa Cultura. Uma família notável em que pelo menos Armando esteve ligado ao desporto.



L0W

Citação de: RedVC em 21 de Junho de 2015, 00:39
-54-
Dois sadinos, duas Saudades.

Vamos hoje partir de uma fotografia retratando uma equipa do Vitória Futebol Clube de regresso de uma curiosa digressão internacional na década de 20.

O Vitória Futebol Clube, clube geralmente conhecido por Vitória de Setúbal foi fundado em 20 de Novembro de 1910 estando entre os seus fundadores Jorge Augusto Sousa, um fundador do Sport Lisboa (ver capítulo -23- Um nome ilustre nos primórdios do futebol sadino.) As ligações são assim muito antigas. Esta fotografia marca um outro capítulo, cerca de duas décadas depois, dessas relações.

A fotografia está datada de 1927-08-17, e tem a seguinte legenda: "Os componentes dos Onze de honra do Vitória Futebol Clube, regressados a Lisboa, tendo realizado nas Canárias uma série de encontros".

A fotografia retrata assim a chegada da comitiva sadina composta pelo menos por 20 integrantes. Entre os jogadores podemos reconhecer dois que depois ingressariam – em tempos distintos - no Sport Lisboa e Benfica:  Aníbal José e Luís Xavier.



Fonte: Digitarq


Relativamente à digressão sadina para já não encontrei muita informação disponível. Não é fácil. Mas ainda assim sei que os sadinos jogaram entre outros com o Marino Fútbol Club da Gran Canaria fundado em 1905 e extinto em 1949. Terão feito mais jogos mas a informação parece não estar acessível.



Jogador poderoso, jogador de raça e de qualidade, atributos que lhe valeram chegar a internacional A. Foi um centro-campista que jogava na zona central, lugar antes como agora de grande importância para a transição ofensiva e para o apoio aos centrais. Não sei ao certo quantos jogos internacionais fez mas sei que fez várias viagens ao exterior e que há registo fotográfico disso num tempo em que o Benfica tinha não mais de 3-4 jogadores e ser chamados regularmente à Selecção: António Pinho, Vítor Silva, Jorge Tavares e Aníbal José. Já iam longe os tempos do Tamanqueiro, outra grande figura.

No Benfica, Aníbal José estreou-se no dia 11 de Novembro 1928 num jogo contra o Carcavelinhos que terminou empatado 0-0. Fonte: http://serbenfiquista.com/jogo/carcavelinhos-0-x-0-sl-benfica-1.


Em cima: Ralph Bailão, Artur Dyson e Luís Costa. No meio: João Correia, Aníbal José e Pedro Ferreira. Em baixo: Augusto Dinis, Emiliano Sampaio, Vítor Silva, João Oliveira e Manuel Oliveira. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Há várias histórias relatando o seu voluntarismo. Por exemplo, num jogo no campo do Porto, é ainda hoje acusado de ter carregado o portista Norman Hall ao ponto de este ter ficado KO. Isto eventualmente a pedido de Vítor Silva... Eram tempos em que se dava e levava. Estou certo que Aníbal deveria levar também muitas "medalhas" para casa. Depois há o episódio contra o Vasco da Gama, em 1931 em que andou pegado com um Brasileiro.


Aníbal José disputando um lance com um homem do Vasco da Gama.


Aníbal José deixaria o Benfica pouco depois, no final da época de 1931/1932 tendo o seu último jogo sido disputado em 29 de Maio de 1932 contra o Luso FC. Empate a duas bolas.



Depois temos Luís Xavier Júnior. Chegou de Setúbal em 1931 e deixou o Benfica em 1939. Um avançado vivo e que teve fases goleadoras. Jogou no Glorioso por oito épocas fazendo mais de 200 jogos pelo Benfica Nas fotografias de equipa percebe-se que devia ter uma personalidade viva, alegre, contagiante.


Em cima: Francisco Gatinho Augusto Amaro e Gustavo Teixeira (capitão); No meio: Albino, Lucas e Gaspar Pinto; Em baixo: Fernando Cardoso, Luís Xavier, Carlos Torres, Rogério de Sousa e Valadas. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Luís Xavier terá feito um dos seus últimos jogos com a camisola do Vitória de Setúbal no Estádio das Amoreiras não contra o Benfica mas contra o Vasco da Gama. Jogo na quinta-feira, 30 de Julho de 1931 que foi interrompido por causa do nevoeiro. Não seria reiniciado ficando o resultado final em 1-1. Luís Xavier estreou-se na nossa equipa contra o Casa Pia em 16 de Outubro de 1932. Empate 0 - 0 http://serbenfiquista.com/jogo/chelas-f-x-f-sl-benfica


O clube Sadino precedeu o Barreirense Futebol Clube nas décadas de 60 a 80, como o fornecedor de bons jogadores para o Benfica. O melhor viveiro de jogadores além Tejo que o Benfica teve. Foram muitos e bons. Por exemplo um outro que não está na fotografia - penso estar um irmão dele - , chamado Francisco Rodrigues. Um avançado goleador.

O Vitória Futebol Clube é um grande clube. Teve a sua época áurea nos anos 60 e 70 mas agora luta tenazmente para sobreviver e que com altos e baixos vai sempre formando novos talentos para o futebol Português.

Voltaremos a Setúbal.
Mais uma vez obrigado RedVC, tanto pelo teu contributo ao forum como por me alertares e mostrares conteúdos do meu avô Aníbal! O0

RedVC

#281
-63-
O arquitecto da Catedral.

Vamos partir de uma fotografia que encontrei hoje mesmo. Nela está identificado um jogador, uma figura interessante do universo Benfiquista.  Ainda não consegui identificar nenhum dos restantes...


Equipa das 2ª ou da 3ªcategoria do Sport Lisboa e Benfica.
João Simões está assinalado. Local: Estádio da Amoreiras. Data: desconhecida.

Para além da fotografia, o artigo de hoje não traz algo de particularmente novo. Mas é uma oportunidade para lembrar e agradecer a uma grande figura Benfiquista e da Arquitectura Portuguesa

Arquitecto João Simões Antunes,

O arquitecto João Simões foi responsável pelo projecto da nossa maravilhosa Catedral:





Fonte: blogue Restos e Colecção.


Serve assim esta evocação para relembrar e celebrar a memória deste homem, nosso jogador na década de 20 nas Amoreiras.

A Luz foi provavelmente o mais apaixonante projecto da sua vida.

Segundo Tiago Mota Saraiva (http://5dias.net/2009/02/05/120000/) existe um detalhe importante que determinou o seu envolvimento no projecto:
Contaram-me há alguns dias uma história engraçada sobre a qual ainda tenciono escrever mais umas linhas. Parece que o Ministro das Obras Públicas de então, julgo que Cancela de Abreu, havia determinado que o projecto fosse feito pelo Mestre Carlos Ramos, que já estaria a trabalhar no projecto do Estádio do Restelo. João Simões estaria a desenvolver outro projecto público. Ao que me contaram, João Simões, contactou Carlos Ramos e, invocando o seu benfiquismo, pediu-lhe para trocarem os projectos.

As obras do novo Estádio arrancaram em Julho de 1952 tendo o envolvimento dos 15 mil sócio do clube e dos milhares e milhares de simpatizantes sido decisivo para a concretização do projecto. No dia 1 de Dezembro de 1954 foi inaugurado o Estádio da Luz. A segunda casa própria do nosso clube. O mais lindo Estádio que alguma vez existiu. E no qual tive o gosto de entrar antes mesmo do fecho do terceiro anel.






E temos mais alguns detalhes da sua personalidade e desse período da sua vida profissional. Aqui fica com o devido agradecimento, pelo testemunho e conteúdos, ao Dr. Francisco George, aqui: http://www.franciscogeorge.pt/10201/46001.html, fica uma homenagem ao grande arquitecto e Benfiquista.

Reparem no entusiasmo com que ele se empenhou no projecto:

João Simões (1908-1995)

João Simões era um Homem de rara qualidade. Associava, de forma absolutamente ímpar, a discrição à competência. Cultivava a serenidade. Nascido em Lisboa, em 1908, viria a morrer em Beja, aos 87 anos de idade (1995). Conheci-o muito de perto, em família, uma vez que casei, em 1970, com sua Filha Maria João.

Arquitecto pela Escola de Belas Artes de Lisboa desde 1932, João Simões, por genuína sobriedade que marcava a sua personalidade, não exibia o sucesso que alcançara ao longo da sua vida dedicada à arquitectura e à construção de notáveis obras modernistas.

Republicano convicto, participou activamente nos movimentos da Oposição Democrática a Salazar. Porém, essa condição não o impediu de colaborar com o ministro Duarte Pacheco em grandes obras públicas que marcaram a época, nomeadamente o Hospital de Santa Maria, a Escola de Enfermagem do IPO (1), mas também os Armazéns Frigoríficos de Alcântara (2), a Casa da Imprensa, os estádios Universitário (Lisboa) e do Braga ou, ainda, a Caixa Geral dos Depósitos da Figueira da Foz e muitos outros trabalhos, incluindo equipamentos industriais e de habitação, igrejas e edifícios públicos e privados. Galardoado duas vezes com o cobiçado Prémio Valmor, João Simões integrou com Cassiano Branco, Veloso Reis Camelo, Raul Martins, Faria da Costa e Francisco Keil do Amaral, entre outros, o movimento de intervenção que impôs qualidade e novo estilo às edificações urbanas.

Antigo jogador de futebol no estádio das Amoreiras do Sport Lisboa e Benfica, João Simões aceita o desafio do Presidente do Clube Joaquim Ferreira Bogalho para desenhar um novo estádio nos terrenos da Luz.

Quando, pela primeira vez, entrei na sua casa no número 8 da Rua Alexandre Braga, ainda senti o ambiente do atelier então preparado para receber os grandes estiradores que tinham sido ali colocados para facilitar o trabalho de concepção do projecto de arquitectura do novo Estádio.

Maria João, que tinha nascido em 1948, foi, naturalmente, influenciada por estes trabalhos de seu Pai que, depois do jantar, pela noite até alta madrugada, em cima dessas grandes mesas, desenhava sem parar. Por vezes, via-o, verdadeiramente, a gatinhar em cima dos estiradores com a lapiseira numa mão e régua na outra. Relatava-me pormenores dessas memórias com um misto de admiração e orgulho. O pensamento do arquitecto transposto para desenho em papel, representava, para Maria João, um fascínio que terá sido decisivo na opção que, depois, viria a tomar pelo curso de arquitectura nas Belas Artes de Lisboa que iniciou em 1966.

O Estádio seria inaugurado no dia 1 de Dezembro de 1954 com quase 50 mil lugares distribuídos nos seus magníficos dois anéis. A sua construção fora possível graças às numerosas sacas de cimento oferecidas pelos benfiquistas, às cotizações suplementares espontâneas e ao trabalho voluntário dos sócios que aos fins-de-semana se apresentavam nos estaleiros da obra.

Mais tarde, João Simões conduz os estudos da primeira fase do terceiro anel. A partir de 1960 a Luz passa a receber 80 mil espectadores.

Em 1985, a conclusão do outro terceiro anal passou a fazer da Luz a "grande catedral" com a possibilidade de receber 120 mil assistentes (passa a ser o maior estádio da Europa e o 3º maior de Mundo).

Em 2003, 49 anos depois da inauguração, foi demolido.

João Simões gostou muito de ter desenhado o "seu" Estádio. Pela primeira vez utilizara betão pré-esforçado. À semelhança da generosidade demonstrada pelo conjunto da massa associativa, também ele ofereceu o seu trabalho ao Clube, tal como o tinha feito enquanto jogador de futebol (3). Outros tempos...

Francisco George
Março de 2013



Não ficaria por aqui a sua contribuição ao seu Clube uma vez que como o Dr. Francisco George refere, estaria também envolvido na primeira fase da construção do 3º anel.


1960. Apresentação ao presidente da CML França Borges, da maquete para a construção do terceiro anel. Fonte: AML

O arquitecto João Simões deixou muitas outras e prestigiadas obras. E fui ver algumas:


Prémio Prémio Valmor de 1949,
originalmente projectado para a Companhia de Seguros Sagres,
Rua da Artilharia Um:

Fonte: AML
hoje:



Prémio Municipal de Arquitectura de 1945
Praça Duque de Saldanha

Fonte: AML

Rua do Ouro, esquina com a Rua da Conceição, Lisboa

Fonte: AML

Centro Regional Vida Popular (arq. Veloso Reis e João Simões),
a partir de 1948 Museu de Arte Popular (parte da Exposição do Mundo Português de 1940):

Obras de restauro financiadas pela Fundação Oriente:]http://www.museudooriente.pt/214/edificio.htm#.Vew4ZhFViko

Plano de Urbanização da Praça do Marquês de Pombal:

Fonte: Restos de Colecção


Plano de Urbanização do Cartaxo:

Fonte: Restos de Colecção

Moradia:

Fonte: Biblioteca de Arte da FC Gulbenkian.
Outras aqui: https://www.flickr.com/photos/biblarte/11711901114/in/photostream/


kangaroo

Encontrei no museu do brinquedo em ponte de lima.

RedVC

Interessante. Só craques.
No FCP ainda estava Paula, um defesa que depois ainda jogou duas épocas no Benfica. De 1966/67 a 1967/68 ainda jogou uma meia dúzia de jogos na primeira equipa. A competição era implacável.


Theroux

RedVC, perdoa-me a pergunta extemporânea, mas já leste os primeiros estatutos do clube?

Queria saber se inicialmente eram admitidas mulheres como associadas, pois no Barcelona, por exemplo, a sua entrada foi proibida durante vários anos. Já no Sporting não foi esse o caso:

Spoiler
ARTIGO 1.º
Sporting Club de Portugal é o título d'uma associação composta d'individuos d'ambos os sexos de boa sociedade e conducta irreprehensivel.
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