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Passado => Memórias => Tópico começado por: RedVC em 08 de Novembro de 2013, 23:37

Título: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Novembro de 2013, 23:37
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(https://i.postimg.cc/HkqQwLN1/Gourlade-Bermudes-Cosme-FF-DIP.jpg)
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Não sei se já existe um tópico semelhante.

-1-
Uma proposta de identificação

imagem retocada
(http://s12.postimg.org/64l1iginx/SLBmisterio001.png)

não retocada
(http://s11.postimg.org/ibts9xxxv/DF_CRR_FL.jpg)

Alguém consegue decifrar quem são estes jogadores do Sport Lisboa?

Este é um desafio difícil mas por isso mesmo é interessante.

Estes homens foram dos primeiros jogadores do Sport Lisboa, algures entre 1904 e 1907. A memória vai-se mas felizmente estes pioneiros cada vez mais vão sendo lembrados, especialmente pelo o V&P, com o novo museu e com a dedicada divulgação de alguns historiadores do nosso clube.

Este fórum tem algum pessoal muito sabedor destas matérias por isso é de esperar que possam haver opiniões.

A minha hipótese para esta primeira fotografia (captura de um dos últimos V&P, alusivo a um Sport Lisboa - CIF) é, da esquerda para a direita:


David Fonseca; Cândido Rosa Rodrigues e Fortunato Levy (ou será Marcial da Costa?). Bem se calhar não acertei nenhum...

Sugestões?


ps: Acabei de ver que Alberto Miguens já tinha estas mesmas identificações no seu blog:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2012/10/eleicoes-centenarias-e-sempre.html
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Novembro de 2013, 00:10
Índice

-1- Uma proposta de identificação. (p.1)
-2- Uma identificação errada. (p.1)
-3- Um jogo de beneficência. (p.1)
-4- Os mestres Ingleses na Feiteira. (p.1)
-5- Rostos familiares. (p.2)
-6- À porta da Farmácia Franco.  O0 (p.2)
-7- Sonho de uma noite de Verão. (p.2)
-8- A última alegria do Chacha.  O0 (p.2)
-9- Recuando no tempo. (p.2)
-10- Catataus e Co. (p.3)
-11- Uma homenagem em terras africanas.  O0 (p.3)
-12- Uma taça e dois pioneiros (I). (p.3)
-13- Uma taça e dois pioneiros (II). (p.3)
-14- As camisolas de Júlio Cosme Damião. (p.3)
-15- Futebol e touros. (p.4)
-16- Um regresso feliz. (p.4)
-17- Nos areais de Belém. (p.4)
-18- Uma imagem rara. (p.4)
-19- Um Stromp à Benfica. (p.4)
-20- O António das Caldeiradas.  O0 (p.4)
-21- O terceiro homem.  O0 (p.5)
-22- Os primeiros troféus (parte I): o Restaurante Bacalhau.  O0 (p.5)
-23- Um Ilustre nos primórdios do futebol sadino. (p.5)
-24- Os Condes do Restelo. (p.5)
-25- Resistência: sugestão e mistério. (p.5)
-26- Araújo: uma carreira que ficou por fazer. (p.6)
-27- A primeira Águia.  O0 (p.6)
-28- Amor à camisola. (p.6)
-29- Amor ao clube! (à falta de camisola...). (p.6)
-30- Prémios aos campeões. (p.6)
-31- O primeiro guardião. (p.7)
-32- Glorioso por um dia.  O0 (p.7)
-33- Eusébio às riscas. (p.8)
-34- Dois dias de festa. (p.8)
-35- Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia.  O0 (p.8)
-36- 111 anos depois: a (possível) iconografia dos fundadores. (p.8)
-37- Três gigantes, três caminhos separados. (p.8)
-38- Um ancião curioso.  O0 (p.9)
-39- Um banquete de notáveis. (p.9)
-40- Cosme, o presidente. (p.10)
-41- Um militar futebolista. (p.10)
-42- Duas despedidas e um alegre convívio. (p.10)
-43- Um jogo infeliz, uma pista extraordinária.  O0 (p.11)
-44- Homenagem a um grande artista. (p.11)
-45- Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral.  O0 (p.12)
-46- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte I)  O0 (p.12)
-47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte II)  O0 (p.13)
-48- A última ceia. (p.13)
-49- A noite da Cruz Vermelha. (p.13)
-50- Ascenção e queda do Pantufas. (p.13)
-51- Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras.  O0 (p.13)
-52- Uma escala africana, um desafio histórico.  O0 (p.14)
-53- Dois entre doze. (p.14)
-54- Dois sadinos, duas Saudades. (p.14)
-55- Dois Casapianos num barco sadino. (p.14)
-56- Revisitando o Campo Grande. (p.14)
-57- A vida Paulista de Bella Guttman. (p.14)
-58- Um encontro Americano.  O0 (p.14)
-59- Alguém tinha de pagar!  O0 (p.15)
-60- Belém, a Benfiquista.  O0 (p.16)
-61- Um certo pátio.  O0 (p.17)
-62- 13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro. (p.19)
-63- O arquitecto da Catedral. (p.19)
-64- O tribunal dos conspiradores.  O0 (p.20)
-65- Festa de gerações. (p.20)
-66- Memórias Francesas. (p.20)
-67- Cosme e o inventor do Fla-Flu.  O0 (p.20)
-68- Desforra Inglesa em tempo de Monarquia. (p.21)
-69- As manas Bermudes, Gloriosas a pedalar. (p.21)
-70- O dia da dúzia! (p.21)
-71- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I).  O0 (p.21)
-72- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (II).  O0 (p.21)
-73- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (III).  O0 (p.22)
-74- A Taça Amadora (parte I): Os Recreios Desportivos da Amadora (p.22)
-75- A Taça Amadora (parte II): O grande jogo.  (p.22)
-76- Huelva 1910, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-77- Extinções e fusões, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-78- O casal virtuoso.  O0 (p.23)
-79- Da vida de Cosme (parte I). (p.23)
-80- Da vida de Cosme (parte II). (p.23)
-81- Gloriosos mesa-tenistas no Brasil. (p.23)
-82- Eterno Bermudes. (p.24)
-83- O poço dos nossos adversários. (p.24)
-84- Ora festeje lá outra vez! (p.24)
-85- Gloriosas compras na pátria do futebol.  O0 (p.24)
-86- Um inesperado Glorioso. (p. 25)
-87- As Terras das Salésias. (p. 25)
-88- "O Benfica saúda o Porto"  O0 (p. 25)
-89- Outros Carnavais (p. 25)
-90- Construtor de Catedrais  O0 (p. 25)
-91- Pantera Negra em noite madrilena (p. 26)
-92- Da Catumbela a Freamunde (p. 26)
-93 - 112 anos de Paixão! (p. 26)
-94- O sósia.(parte I)  (p. 26)
-95- O sósia.(parte II)  (p. 26)
-96- L'étude fait l'avenir (parte I)  O0 (p.27)
-97- L'étude fait l'avenir (parte I) (p.27)
-98- Um fresco em prosa: o António das Caldeiradas revisitado.  O0 (p.27)
-99- A Pharmácia Franco (I) – As duas primeiras gerações.  O0 (p.28)
-100- A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa O0 (p.28)
-101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. (p.29)
-102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém.  (p.29)
-103- Os primeiros troféus (parte III) – a Taça "Olímpica".  (p.29)
-104- Miramons de Portugal.  (p.29)
-105- Águias na Guerra (parte I)  O0 (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II)  O0 (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III)  O0 (p.30)
-108- Olhos de fogo, coração de Belém  O0 (p.30)
-109- Em homenagem a Guilherme Pinto Basto. (p.30)
-110- Acidente no Cartaxo (parte I) (p.31)
-111- Acidente no Cartaxo (parte II) (p.31)
-112- Unidos na dor. (p.31)
-113- Um hóquista feliz. (p.31)
-114- Primus inter pares. (p.32)
-115- A "Corrida da Marathona". (p.32)
-116- "Memórias de Viena". (p.32)
-118- Taça Charles Miller '55 (parte I): O torneio e o seu tempo. O0 (p.32)
-119- Taça Charles Miller '55 (parte II): A comitiva Benfiquista. O0 (p.32)
-120- Taça Charles Miller '55 (parte III): Esses loucos dias cariocas. O0 (p.32)
-121- Taça Charles Miller '55 (parte IV): Entre treinos e feijoadas. O0 (p.32)
-122- Taça Charles Miller '55 (parte V): Mengo, Mengão; Azarão!    O0 (p.33)
-123- Taça Charles Miller '55 (parte VI): Escaramuças Uruguaias! O0 (p.33)
-124- Taça Charles Miller '55 (parte VII): Doces Palmeiras.    O0 (p.33)
-125- Taça Charles Miller '55 (parte VIII): America amarga. O0 (p.33)
-126- Taça Charles Miller '55 (parte IX): O "caseiro" Alemão. O0 (p.33)
-127- Taça Charles Miller '55 (parte X): Gente boa que se vai! O0 (p.33)
-128- Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis. O0 (p.33)
-129- O "caramujo" do futebol (parte I). (p.34)
-130- O "caramujo" do futebol (parte II). (p.34)
-131- Mobilis in mobile. O0 (p.35)
-132- O trepidante Costa (p.36)
-133- Catedral O0 (p.36)
-134- Os botes da Ericeira O0 (p.36)
-135- O "Café Gelo" (p.36)
-136- Uma equipa infantil (p.37)
-137- Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro O0 (p.37)
-138- Gloriosa Magyarország (parte II): János Biri, uma aposta feliz! (p.37)
-139- O outro Živković (p.38)
-140- Um avô especial (p. 38)
-141- Os 24 Primeiros O0 O0 (p. 38)
-142- Este árbitro é um Artista! O0 (p. 39)
-143- Sport Lisboa, Bemfica 1923 (p. 39)
-144- A Taça Ruy da Cunha (p. 40)
-145- Gourlades da linha. O0 (p. 40)
-146- Cosme, para lá da Lenda O0 (p. 40)
-147- Capitães Latinos (Parte I) (p. 41)
-148- Capitães Latinos (Parte II) (p. 41)
-149- De Como a Milão (p. 42)
-150- Mântuas de Belém (p. 42)
-151- Festival taurino do SLB (p. 42)
-152- O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante (p. 42)
-153- A batalha de Madrid (p. 43)
-154- A Rotunda da Vitória O0 (p. 43)
-155- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte I) (p. 44)
-156- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte II) (p. 44)
-157- Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver" O0 (p. 44)
-158- Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra. (p. 44)
-159- Loio e o fim do Feitiço (p. 44)
-160- A semente da Farmácia Franco O0 (p. 44)
-161- O primeiro Luís F. Vieira O0 (p. 44)
-162- De Guilherme para Guilherme (p. 45)
-163- Um princípio com regras (parte I)  (p. 45)
-164- Um princípio com regras (parte II)  (p. 45)
-165- A lenda de Nicolau I  (p. 45)
-166- Para lá de Nicolau  (p. 45)
-167- Pelas estradas de Sintra  (p. 45)
-168- Braga à Benfica (parte I) -  o princípio é um tempo delicado O0 (p. 45)
-169- Braga à Benfica (parte II) – De fusões e omissões O0 (p. 46)
-170- Rebelde com causas O0 (p. 46)
-171- O Sonho, o Homem, a Obra O0 (p. 46)
-172- Até sempre Alfredo Valadas! (p. 46)
-174- O Olímpico Bermudes (parte I) – Gloriosos tiros O0 (p. 46)
-175- O Olímpico Bermudes (parte II) – Fora de Paris, dentro dos Jogos O0 (p. 46)
-176- O Olímpico Bermudes (parte III) – Muitos tiros, poucos pontos O0 (p. 46)
-177- Tamancos de oiro (parte I) – por terras do Sul O0 (p. 46)
-178- Tamancos de oiro (parte II) – as quinas da glória O0 (p. 46)
-179- Tamancos de oiro (parte III) – o Glorioso Tamanqueiro O0 (p. 46)
-180- Tamancos de oiro (parte IV) – do Sado ao Rio. O0 (p. 47)
-181- Tamancos de oiro (parte V) – o Benfica não esquece os seus! O0 (p. 47)
-182- Amesterdão 1928 (parte I) – a varanda dos heróis O0 (p. 47)
-183- Amesterdão 1928 (parte II) – o evento e os eleitos O0 (p. 47)
-184- Amesterdão 1928 (parte III) – um Chili saboroso (p. 47)
-185- Amesterdão 1928 (parte IV) – e todas as esperanças foram permitidas (p. 47)
-186- Amesterdão 1928 (parte V) – morrer sim, mas de pé... (p. 47)
-187- Amesterdão 1928 (parte VI) – emoções à Holandesa O0 (p. 47)
-188- Caçador de leões O0 (p. 48)
-189- O professor providencial (p. 48)
-190- A manhã mais radiosa (p. 48)
-191- Asilado mas não exilado (p. 48)
-192- Poeira do tempo: Francisco Calejo (p. 48)
-193- As filiais perdidas (p. 48)
-194- O "bombardeiro Marroquino" (p. 48)
-195- Só nós sentimos assim! O0 (p. 48)
-196- No comments! O0 (p. 49)
-197- Félix e os Leões da Estrela (p. 49)
-198- Aquela traidora de franja (p. 49)
-199- Vasco, Vasquinho, Vascão (part I) (p. 49)
-200- Vasco, Vasquinho, Vascão (part II) (p. 49)
-201- Um ano de goleadas (p. 49)
-202- 114 Anos de Glória O0 (p. 49)
-203- Os primeiros da Luz (p. 49)
-204- Pesadelos de Berna O0 (p. 49)
-205- Superga por um fio (p. 50)
-206- Os filhos do campeão (p. 50)
-207- Uma referência elaborada (p. 51)
-208- Laranja vintage (p. 51)
-209- Magaga, Holandês Voador e Calções Limpinhos (p. 51)
-210- Glorioso preto e branco (p. 51)
-211- Cruzamentos para Amesterdão I – os protagonistas (p. 52)
-212- Cruzamentos para Amesterdão II – a grande final O0 (p. 52)
-213- Saraiva já é nome de Saudade (p. 53)
-214- Doutor coragem O0 (p. 53)
-215- Berna 61' (parte I) - a noite da glória e dos "palos cuadrados"  O0 (p. 53)
-216- Berna 61' (parte II) - glória aos vencedores, honra aos vencidos!  O0 (p. 53)
-217- A semente que frutificou (p. 54)
-218- Nas escadarias da Quinta Nova (parte I) – Uma fotografia histórica (p. 54)
-219- Nas escadarias da Quinta Nova (parte II) – Os Mestres Ingleses de Carcavelos (p. 54)
-220- Por terras Açorianas (parte I) – Um desafio no Relvão (p. 55)
-221- Por terras Açorianas (parte II) – Um Belenense entre Açorianos  O0 (p. 55)
-222- De Lavos a Belém; da bola ao cinzel (p. 55)
-223- Dos Sudetas às Amoreiras (parte I): o caminho para o Sado (p. 55)
-224- A ilustre Casa do Dr. Meireles (p. 55)
-225- Lar do jogador, ninho de Campeões (parte I)  O0  (p. 56)
-226- Lar do jogador, ninho de Campeões (parte II)  O0  (p. 56)
-227- Neste ano 115  O0  (p. 56)
-228- A Peste Branca  O0  (p. 56)
-229- Águias na guerra (parte VI): os manos Vivaldo  (p. 57)
-230- A propósito de um filme  (p. 57)
-231- Essa Beira Benfiquista... (parte I)  (p. 57)
-232- Essa Beira Benfiquista... (parte II)  (p. 57)
-233- Um Príncipe do Fado  O0  (p. 57)












Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Abril de 2014, 20:02
-2-
Uma identificação errada

1907, Sport Lisboa vs CIF

(http://i59.tinypic.com/faqab.png)
Fonte: AML

Esta imagem é frequentemente datada de 1909. Não é verdade. Aqui se identificam e de forma inequívoca jogadores que desertaram para o SCP em Maio de 1907. Estão também Fortunato Levy e David da Fonseca que saíram respectivamente para Cabo Verde e para o Cruz Negra. David Fonseca regressaria um ano depois. Fortunato Levy nunca mais regressou à metrópole.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Abril de 2014, 18:07
-3-
Um jogo de beneficência.

(http://i57.tinypic.com/wapugl.png)
Fonte: AML

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Julho de 2014, 16:36
-4-
Os mestres Ingleses na Feiteira

1910, Campo da Feiteira, Benfica

Sport Lisboa e Benfica vs Carcavellos SC

Imagens disponíveis não sei se são relativas ao jogo do campeonato de 1910 ganho pelo Benfica  ou se do segundo, um particular, ganho em desforra pelo Carcavelos SC. Resolução fracota a partir de imagens da Torre do Tombo (com marca de água):

(http://i62.tinypic.com/166amvc.png)
Fonte: Digitarq

Em duas fotografias distingue-se a figura inconfundível de Cosme Damião.

Capturas de imagens do periódico Ilustração Portugueza:
(http://i57.tinypic.com/20h92mo.png)
(http://i61.tinypic.com/wgq3i0.png)
(http://i61.tinypic.com/zlerl4.png)
(http://i57.tinypic.com/24l8vuf.png)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa

nota-se uma maior participação de diversos jogadores mais avançados do Benfica, e por isso presumo em atitude ofensiva (está um Inglês encostado a um poste). Está um outro Inglês de calções pretos, presumo ser o guarda-redes. O tamanho do Inglês mais à esquerda era mesmo de impor respeito.


Em qualquer dos casos penso tratarem-se de fotografias tiradas pelo grande fotógrafo Joshua Benoliel:

http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765 (http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765)
Fonte: Fórum Ser Benfiquista

Na assistência notam-se pessoas sentadas no chão, notam-se chapéus de chuva (jogo em Janeiro). O detalhe de pessoas a assistir na varanda da vivenda é delicioso. O primeiro camarote VIP num campo em que... não havia bancadas. O árbitro o Sr. Charles Etur parece estar com um chapéu branco.

Por último, da leitura do texto da Ilustração Portugueza, percebe-se que Jorge Rosa Rodrigues, o quarto e último dos Catataus a sair para o SCP, era um temperamental. A minha interpretação é que desagradado com a decisão do árbitro decidiu abandonar o seu lugar de guarda-redes, o que provavelmente quer dizer o campo. Naquele tempo a especialização do lugar de guarda-redes não era uma norma e por isso deverá ter sido substituido nesse lugar por um dos colegas.

Ai Catatau, Catatau...
(http://i57.tinypic.com/x3xw9d.png)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 14 de Julho de 2014, 00:29
Excelente tópico! :)

P.S. Deveria estar na secção "Memórias", na minha opinião.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 14 de Julho de 2014, 13:44
???
(http://i.imgur.com/YU7eY7j.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 14 de Julho de 2014, 14:15
Parece o Estádio do Restelo...não sei...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Julho de 2014, 16:45
Essa magnífica fotografia já foi colocada num dos tópicos. Se não me engano no das "melhores imagens da história do Benfica".

São os antigos campos do Benfica (Campo Grande) e do Sporting (Lumiar) e também  já se vê a construção do estátio José de Alvalade.

O estádio do Campo Grande foi inaugurado em 1912 e foi do Lisbon FC até 1917. Depois foi usado pelo SCP até 1937 e por fim foi recuperado e usado pelo Benfica desde 1941 até 1954, data em que foi inaugurado o Estádio da Luz. Ainda assim esse pelado foi usado pelo Benfica (para as suas camadas jovens) penso que até meados da década de 70.

O estádio do Lumiar foi usado pelo SCP até 1956 data em que foi inaugurado o Estádio José Alvalade.

Eramos vizinhos - bem vizinhos do SCP...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 14 de Julho de 2014, 18:45
Qual era o nosso ali?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Julho de 2014, 00:33
Citação de: Benfiquista_ em 14 de Julho de 2014, 18:45
Qual era o nosso ali?

Estive à espera de uma ajuda de alguém que sabe muito mais do que eu.
E a resposta que me deu foi surpreendente: os dois!

Os dois campos lado a lado são do Benfica. Existia um bancada dupla entre os dois que dava para um campo (do futebol) e outro. Engenhoso.

O segundo campo tinha uma pista de cinza (inaugurada em 1946), um campo de ténis no topo e um campo de basquetebol e voleibol atrás da churrasqueira. Aí o Benfica jogava hóquei em campo, râguebi e andebol.

O Estádio do Lumiar era onde depois foi o Estádio de Alvalade. A fotografia deve ser de 1947 pois são visíveis obras nesse estádio. Seria assim uma remodelação do Lumiar e não o princípio da construção do José Alvalade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 15 de Julho de 2014, 15:43
Obrigado! ;)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Julho de 2014, 23:15
Citação de: Benfiquista_ em 15 de Julho de 2014, 15:43
Obrigado! ;)

Obrigado também Benfiquista_ pelos comentários e interesse.
Vejo que está sempre atento e aprecia estas curiosidades da história do Glorioso.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 15 de Julho de 2014, 23:32
Citação de: RedVC em 15 de Julho de 2014, 23:15
Citação de: Benfiquista_ em 15 de Julho de 2014, 15:43
Obrigado! ;)

Obrigado também Benfiquista_ pelos comentários e interesse.
Vejo que está sempre atento e aprecia estas curiosidades da história do Glorioso.
De nada! ;)

Tudo o que seja Benfica tenho interesse :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 16 de Julho de 2014, 21:16
Caros profissionais da decifração, acudam-me!
Os arquivos por vezes confundem mais do que esclarecem!

No meio de mais uma exploração dou com esta foto:

(http://i62.tinypic.com/2hrlfrr.jpg)
Com a seguinte descrição:

Acto de cerimónia protocular de entrega de taça, referente a evento não identificado, inferindo-se, no entanto, que possa estar relacionado com a condecoração da Ordem de Cristo, atribuída à agremiação Sport Lisboa e Beira de que faz parte o Futebol Club da Beira.

DATAS DESCRITIVAS
[1930-1942]

Eu nem sabia que existia um Sport Lisboa e Beira. Uma filial no estrangeiro, suponho eu com base em mais fotos do Sport Lisboa e Beira.
Se não tivesse qualquer descrição eu diria que era o nosso presidente Manuel da Conceição Afonso (http://serbenfiquista.com/forum/imortais/manuel-da-conceicao-afonso-(presidente)/) a receber a taça de campeão da Federação no Estádio do Belenenses.
Estarei eu a alucinar ou estará o arquivo redondamente errado?  :confused:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Julho de 2014, 22:04
Eu já vi essa fotografia legendada mas não me lembro onde. Está também no digitarq. As legendas por vezes são trocadas outras vezes explicam apenas parcialmente o que representam.

É possível que tenha alguma coisa nos meus arquivos terei de procurar mas só terei tempo lá para o fim de semana.

Agora assim de repente noto:

- trata-se da entrega de uma taça de campeão nacional.

- trata-se de Manuel da Conceição Afonso

- o placar do marcador indica AFL e AFP (presumo) o que parece ser Associação de Futebol de Lisboa e Associação de Futebol do Porto.

- o homem de óculos é Virgílio Paula antigo jogador do Benfica, depois dirigente do Clube de Futebol "os Belenenses" (está bem visível o emblema deste clube). Penso ter sucedido a Cosme Damião como presidente da comissão central de árbitros.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 16 de Julho de 2014, 22:09
Muito obrigado, da minha parte, completamente esclarecido.
Foi mesmo no digitarq. Malandros  :tickedoff:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Julho de 2014, 20:43
A fotografia saiu num número do jornal do Benfica na década de 80 a propósito do campeonato de 1936-1937, o segundo campeonato que conquistamos.
Era um conjunto de crónicas publicadas na última página e assinadas por Vieira de Carvalho. Descreviam detalhadamente a evolução e conquista dos campeonatos ganhos pelo Benfica até à época de 1982-1983.

(http://i60.tinypic.com/9tlg03.png)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 04 de Agosto de 2014, 18:27
Este tópico deveria estar na secção memórias. Muitpo bom, mesmo. A foto do nosso estádio no Campo Grande está demais. Dois rivais separados por escassos metros!

As nossas reservas usaram o pelado salvo erro até 1971.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Agosto de 2014, 10:24
Citação de: Ned Kelly em 04 de Agosto de 2014, 18:27
Este tópico deveria estar na secção memórias. Muitpo bom, mesmo. A foto do nosso estádio no Campo Grande está demais. Dois rivais separados por escassos metros!

As nossas reservas usaram o pelado salvo erro até 1971.

Pela minha parte (outros tem contribuído) muito obrigado.
Sim de facto talvez esteja melhor noutra secção. Deixo isso ao critério dos moderadores.

Tenho muito mais casos interessantes e alguns bem surpreendentes para expor aqui um destes dias. O tempo é que não é muito. Mas a seu tempo aqui aparecerão.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Agosto de 2014, 22:02
-5-
Rostos familiares

Equipa do Instituto Industrial de Lisboa que participou no Campeonato Escolar do Foot-Ball de 1908
(http://i62.tinypic.com/34sla8w.png)
Fonte: Tiro e Sport, Hemeroteca de Lisboa


Camisola e calções brancos. Faixa azul e branca.


Instituto Industrial de Lisboa
(fonte: Wikipedia)
Fundado por decreto de 30 de Dezembro de 1852 de Fontes Pereira de Melo, integrado em 1869 no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa (por fusão com a Escola de Comércio). A instituição funcionou, com múltiplas alterações, até 1911, ano em que foi dividida no Instituto Superior Técnico (IST) e no Instituto Superior de Comércio, actual Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).


Nesta fotografia estão 3 (bem) antigas glórias entre os futebolistas pioneiros do Sport Lisboa e Benfica:
- Leopoldo Mocho que integrou o Sport Lisboa ainda desde o tempo das Salésias.
- Carlos Homem de Figueiredo que talvez tenha sido recrutado nesta equipa para o SLB.
- Germano Vasconcellos Júnior era atleta de diversas modalidades no Grupo Sport Benfica (antes da fusão). Futebolista ocupando várias posições no campo. Nesta equipa era aparentemente guarda-redes, eventualmente capitão de equipa.

Estão também Álvaro Vivaldo, Júlio Castro e Joaquim Gomes Cal que jogaram nas categorias inferiores do SLB. Álvaro Vivaldo não atingiu outra notoriedade porque o titular na sua posição na primeira categoria era Cosme Damião.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Agosto de 2014, 20:17
-6-
À porta da Farmácia Franco

Vão ter de me desculpar a auto-citação mas é importante para enquadrar.

Citação de: RedVC em 29 de Abril de 2014, 22:30
1916, preparativos para o embarque de tropas que combateriam na Primeira Guerra Mundial.

Rua de Belém. O grande fotógrafo Joshua Benoliel tira um instantâneo que ilustra um desfile.

Hoje longíquo, esse momento, esse ângulo capta outra coisa.

(http://i57.tinypic.com/2nmv4.jpg)

A Farmácia Franco.

Às suas portas abertas estão paradas seis pessoas a ver desfilar as tropas. Quem seriam? Não sabemos... Mas podemos calcular. Algum deles será Inácio José Franco, segundo conde do Restelo? Algum deles será o Dr. António de Azevedo Meireles? O que havia em comum a esses homens? Em 1904 foram os dois sócios beneméritos do Sport Lisboa,  mais tarde Sport Lisboa e Benfica. E quando o clube se mudou para as instalações de Benfica, eles continuaram com essa ligação.

É talvez a mais antiga fotografia da Pharmácia Franco. 1916. Doze anos depois da fundação do Sport Lisboa, oito anos depois da fusão com o Grupo Sport Benfica.

Esta fotografia está num artigo recente que faz parte de um conjunto de artigos sobre o glorioso jogador Álvaro Gaspar. Como diz o seu autor, o "Gaitán desse tempo". Aqui, no Em Defesa do Benfica:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/ (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/)

"A titularidade de Álvaro Gaspar", é o sétimo de um conjunto de doze artigos que serão publicados durante o ano de 2014. A não perder.

É hoje minha convicção de que o homem de bata branca à porta da Farmácia Franco é Daniel Santos Brito. Funcionário da Farmácia Franco. Colega de Manuel Gourlade. Ambos fundadores do Sport Lisboa. 
A Farmácia Franco era propriedade de Pedro Franco e tinha como médico responsável o Dr. António de Azevedo Meireles, sócios beneméritos do Sport Lisboa. Em 1916, presumo que Gourlade já não era funcionário da Farmácia. Foi trabalhar como interprete para o porto de Lisboa. Daniel dos Santos Britos, especulo eu, terá sido juntamente com o seu patrão as "mãos amigas" que levaram Manuel Gourlade para o seu último ninho, o asilo D' Espie Miranda . A primeira Águia teve outras que souberam cuidar dela.

Aqui fica a ligação, feita comparando com uma outra fotografia de Daniel Santos Brito já numa fase mais idosa:

(http://i58.tinypic.com/69l3t0.png)
Fonte: AML
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 27 de Agosto de 2014, 16:50
 Craque :bow2: :bow2: :bow2: :bow2: :bow2: :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Agosto de 2014, 23:32
Obrigado Fake.  O0

-7-
Sonho de uma noite de Verão

Primeira equipa do CFB, 1919.

(http://i20.photobucket.com/albums/b231/bs-imaging/Primeiraequipa19191130.jpg)

Ex-Benfiquistas: Carlos Sobral, Francisco Pereira, Aníbal dos Santos, Manoel Veloso, Alberto Rio, Romualdo Bogalho e Artur José Pereira. Falta aqui ainda Henrique Costa que quase não jogou dada a sua veterania. Todos filhos de Belém.

Carlos Sobral foi um grande nadador e talvez o primeiro grande globe-trotter futebolístico: CIF, SCP, SLB, CFB e... selecção AFL.

Bogalho e Santos jogaram na categoria principal mas não atingiram a proponderância dos outros.

Joaquim Rio era irmão de Alberto e embora ainda não tenha certeza penso que poderá ter chegado a jogar nas categorias inferiores do SLB.

Francisco Pereira jogou desde muito cedo (categoria suplementar) no Sport Lisboa e Benfica. Era irmão de Artur José Pereira.

Alberto Rio e Artur José Pereira foram desertores para o SCP.

O segundo foi a primeira grande estrela do futebol Português.

Alberto Rio foi o gatilho para a formação do CFB. Depois de desertar para o SCP onde nunca voltou a exibir-se ao mesmo nível. Curiosamente alguns dirigentes do SCP tiveram a decência de ser contra essa contratação. Não sei detalhes mas penso ter existido a possibilidade de Rio rgressar ao SLB mas a Direção defendeu os valores que sempre nortearam o clube (particularmente quando Cosme Damião foi o capitão-geral) e recusou. A pressão dos seus ex-colegas Belensenses levou a roturas. Henrique Costa diligente e dedicado capitão tentou mediar o conflito mas nada havia a fazer. Depois, numa noite de Verão surge a tal reunião espontânea no banco de Jardim em Belém. Artur José Pereira, nessa altura no SCP lidera o sonho de voltar a formar um clube representativo da zona de Belém. O Ajudense e o Sport União Belenense estavam extintos havia anos. O Sport Lisboa era agora Benfica. E esses tempos estavam na nostalgia dos filhos de Belém.

Rezam as crónicas que o passo seguinte levou Artur José Pereira a pedir a Jorge Vieira para que intermediasse junto de Francisco Stromp para o dispensar do SCP. A resposta de Stromp foi manda-lo à "merda" e que fosse fundar o clube a Belém. Estava aberto o caminho.

E assim a partir desse momento para o SL Benfica o viveiro de Belém quase que estancava. Também Francisco Belas e Luís Vieira viriam de alguma forma a envolver-se no novo clube embora já não como jogadores dada a sua veterania. Luis Vieira é um caso particularmente interessante. Velha glória do Sport Lisboa desde os tempos das Salésias, foi um dos resistentes aquando da deserção de 1907, chegou a... presidente do Belenenses (penso que o terceiro, entre 1921 e 1924).

A genealogia das primeiras equipas do SCP, CFB e Casa Pia passa pelo.... Sport Lisboa e Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Agosto de 2014, 14:05
-8-
A última alegria do Chacha

Está quase. Está quase a fazer 99 anos que morreu o grande Álvaro Gaspar.

No dia 3 de Setembro estejam atentos ao último episódio da vida e percurso de Álvaro Gaspar que está a ser publicada por Alberto Miguéns no seu blog "Em Defesa do Benfica". Será como sempre magnífico e terá seguramente factos novos, nunca antes revelados.

Antes, e a propósito do S. L. Benfica vs SCP de amanhã, aqui fica uma evocação desse pequeno grande génio a partir de uma descoberta que fiz quase por acaso.

17 Janeiro 1915, Campo de Sete Rios.
O Sport Lisboa e Benfica vence o Sporting por 3-0
A nossa equipa alinha com:
Mário Monteiro, Henrique Costa, Leopoldo Mocho, Carlos Homem de Figueiredo, Cosme Damião (cap.), Aníbal Santos, Manuel Veloso, Rogério Peres, Herculano Santos, Cândido de Oliveira e Francisco Pereira.

Golos: Rogério Peres (2) e Herculano Santos (1)

Na nossa equipa notam-se duas faltas:
Artur José Pereira, a grande estrela dos anos anteriores tinha desertado para o SCP.
Álvaro Gaspar, o pequeno génio. Onde estaria ele?

Mas não, ele não era feito da mesma massa de AJP. O "Chacha" continuava e continuaria sempre fiel ao nosso clube.

Infelizmente estava impossibilitado de jogar pela doença que padecia desde há alguns meses. Apaixonado pelo Benfica, apesar de gravemente doente ele não poderia faltar ao grande jogo.

E de facto... atentem na imagem da assistência desse célebre jogo:

(http://i62.tinypic.com/2mhdfle.png)

Sim, é ele. O "Chacha".

Debilitado pela terrível doença que o viria a vitimar, em dia de inverno, ainda assim ele estava lá para ver os seus companheiros. Lá, pouco anónimo entre a assistência, teve uma das últimas alegrias da sua curta mas intensa vida. No final o seu Benfica vencia por 3-0. O seu Benfica, sim, ele que o sentia intensamente, ele que era ainda do tempo do Sport Lisboa (conforme Alberto Miguéns provou).

Do lado do SCP, surpreendentemente, Artur José Pereira não alinha. Essa circunstância poupou Gaspar ao desgosto de ver mais um antigo companheiro do outro lado. Ainda assim alinham pelo SCP os desertores Boaventura Silva e os dois Catataus, António e Cândido.

Muito provavelmente para Gaspar terá sido o último S.L. Benfica vs SCP. Sabemos agora que ele estava lá, entre a assistência a ver o seu Benfica.

Oito meses mais tarde estava morto.

Paz e honra aos que glorificaram o nosso Benfica. Paz e honra a Álvaro Gaspar.

(http://2.bp.blogspot.com/-GyPvSwKbli0/Uw6H4vYc9DI/AAAAAAAAMYI/TCTHLQzMOYA/s1600/Placa+CG.jpg)
Fonte: blog Em Defesa do Benfica


ps: Alberto Miguéns ao localizar e divulgar a certidão de óbito demonstrou que a doença fatal de Gaspar foi uma tuberculose. Doença terrível que nessa época não tinha cura e que também levou figuras ilustres da sociedade Portuguesa. Comovente, a descrição de que antes da morte pediu para darem um abraço ao seu mentor, amigo e capitão Cosme Damião. E que a bandeira do Benfica cobrisse o seu caixão. Assim foi.

Ainda hoje, no cemitério da Ajuda está anónima mas preservada a gaveta contendo os seus restos mortais. O seu grande admirador António Ribeiro dos Reis tratou disso. Ribeiro dos Reis jogava nas camadas inferiores quando Álvaro Gaspar era uma estrela. Por isso e por acima de tudo ser um grande Benfiquista, Ribeiro dos Reis tratar de preservar a última morada de Gaspar. Os grandes Benfiquistas sabem ser gratos aos outros grandes Benfiquistas.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: slbfan1904 em 12 de Setembro de 2014, 01:33
Que maravilha de leitura. Obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: HJDK em 12 de Setembro de 2014, 01:38
Excelente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Setembro de 2014, 09:34
Obrigado a ambos.  O0

Há mais casos para aqui expor. A nossa história é rica em pessoas e factos. Falta é tempo de qualidade para compilar informação e torna-la apresentável.

Por outro lado como alguns colegas do fórum tem apontado, esta talvez não seja a melhor secção para este tópico. Na altura pareceu-me bem mas agora a evolução foi noutro sentido. Fica ao critério dos moderadores.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: saivet em 15 de Setembro de 2014, 19:43
Grande!!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Setembro de 2014, 16:16
-9-
Recuando no tempo

Bem, lá estou eu a citar-me... mas é para contextualizar.

Citação de: RedVC em 29 de Abril de 2014, 22:30
1916, preparativos para o embarque de tropas que combateriam na Primeira Guerra Mundial.

Rua de Belém. O grande fotógrafo Joshua Benoliel tira um instantâneo que ilustra um desfile.

Hoje longíquo, esse momento, esse ângulo capta outra coisa.

(http://i57.tinypic.com/2nmv4.jpg)

A Farmácia Franco.

Às suas portas abertas estão paradas seis pessoas a ver desfilar as tropas. Quem seriam? Não sabemos... Mas podemos calcular. Algum deles será Inácio José Franco, segundo conde do Restelo? Algum deles será o Dr. António de Azevedo Meireles? O que havia em comum a esses homens? Em 1904 foram os dois sócios beneméritos do Sport Lisboa,  mais tarde Sport Lisboa e Benfica. E quando o clube se mudou para as instalações de Benfica, eles continuaram com essa ligação.

É talvez a mais antiga fotografia da Pharmácia Franco. 1916. Doze anos depois da fundação do Sport Lisboa, oito anos depois da fusão com o Grupo Sport Benfica.

...


Uma nova fotografia, uma vez mais de Joshua Benoliel:

(http://i59.tinypic.com/2rqzsdx.jpg)
Fonte: AML

Esta não é tão bonita mas é igualmente relevante do ponto de vista histórico.

Recua a 1910.

Rua de Belém, cerimónia integrada nas comemorações do Centenario do nascimento do historiador Alexandre Herculano.

Como disse não é tão bonita mas tem o mérito de fazer recuar em seis anos a data relativa à mais antiga fotografia em que se vislumbra a Farmácia Franco.

(http://i59.tinypic.com/104rl1c.png)

Seis anos após a fundação do Sport Lisboa. Dois anos após a fusão com o Grupo Sport Benfica.

Note-se que existem pessoas nas varandas do prédio onde estava a Farmácia Franco. Ora sabemos que a família dos Catataus morava nesse prédio. Há pois uma boa probabilidade de nessas varandas estarem alguns fundadores do Sport Lisboa.

(http://i59.tinypic.com/vew3ko.png)

Bem, nessa altura já eram membros do SCP. Enfim, uma família que preferiu os chás dançantes. Mas nem por isso deixa de ser uma família a quem a família Benfiquista deve muito.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 23 de Setembro de 2014, 22:34
Espetacular!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Setembro de 2014, 21:11
Obrigado Fake  O0

-10-
Catataus e Co.

Em adição ao que disse sobre a família Rosa Rodrigues aqui fica informação publicada por Alberto Miguéns sobre a sociedade C. Rodrigues & Cª.

(http://3.bp.blogspot.com/-hb1PkdujKO4/UlnCL1ZfOsI/AAAAAAAAKXA/8iZ_8DM4AYk/s1600/154.jpg)
Fonte: blog Em Defesa do Benfica

Interessante pois tem a fotografia do pai dos Catataus. Sabe-se também que existia uma irmã. Eram pois quatro irmãos (jogaram todos no SL) e uma irmã.

Deduz-se igualmente que seriam uma família com recursos. Os Catataus seriam assim bem diferentes dos miúdos da Casa Pia com que se vieram a cruzar e com alguns a fundar o Sport Lisboa. Não admira também que fossem os donos da bola. E logo, quando não havia bola não havia jogo... Existe aliás uma fotografia em que essa convivência fica expressa:

(http://1.bp.blogspot.com/-8DLbF7ceg1E/UmoAb1aluNI/AAAAAAAAKfw/9coybt6Hrrs/s1600/grupo+com+BFC+e+AB.jpg)

Nesta fotografia para além de Cândido Rosa Rodrigues, presumivelmente o primeiro à esquerda, está à paisana José da Cruz Viegas, um Casapiano que embora não fundador viria a ser decisivo na definição das cores do Sport Lisboa. Entre os outros, penso que os Casapianos seriam os que se apresentavam com as camisolas de listas escuras (presumivelmente azuis e vermelhas). As camisolas de listas pretas e brancas seriam eventualmente de alunos do Liceu Pedro Nunes.

Quem sabe se alguns dos jovens Casapianos não incluiriam fundadores do Sport Lisboa dos quais não temos qualquer fotografia ou apenas de adultos? Nomes tais como Amadeu Rocha, António Severino, Francisco Calisto, João Ignácio Gomes, João Goulão, Joaquim Almeida, Joaquim Ribeiro, José Linhares. São hipóteses, especulações, mas porque não? Pelo menos estavam no local e em período compatível.

Voltando aos Rosa Rodrigues, seria talvez inevitável que atendendo a serem de uma família burguesa, fossem parar ao elitista e ambicioso SCP? Sim talvez. O que é certo é que assim aconteceu com os quatro irmãos. José, António, Cândido viraram costas logo em 1907. Jorge Rosa Rodrigues, o menos dotado para a prática do futebol - jogou poucos jogos na primeira categoria - seguiria o mesmo caminho alguns uns anos mais tarde. Mas, enfim não foram apenas os Catataus. Também antigos Casapianos como António do Couto, Emílio de Carvalho, Daniel Queiroz dos Santos, Francisco Santos e até Januário Barreto (pouco antes da sua morte) também fizeram essa mudança. Seria difícil para pessoas que já tinham ou queriam atingir um outro estatuto social resistir a tamanha sedução. Outros tempos. Compreensível. Ainda assim a excepção que confirmou essa regra foi Félix Bermudes. Oriundo de uma família abastada, foi homem dos primeiros tempos e quis não apenas permanecer nos tempos difíceis como também contribuir activamente para a sobrevivência e para o crescimento do clube.
Mas voltando aos que viraram costas, o que é certo é que todos estes homens deram uma excelente contribuição para a formação e para os primeiros anos de actividade do Sport Lisboa. Alguns, como Cândido Rosa Rodrigues defenderam que o Sport Lisboa tinha terminado. Debalde. Era um dos criadores mas já não tinha mais esse poder. Saíram e por isso deixaram de o poder fazer. É curioso, pois os Catataus terão continuado durante algum tempo a pagar quotas e aliás o seu irmão António viria a jogar dois jogos do campeonato de Lisboa em 1909 pelo Sport Lisboa e Benfica usando... a camisola do Sport Lisboa. Mas enfim, o vírus leonino estava instalado e já não havia nada a fazer. Ai Catataus, Catataus...

(http://i57.tinypic.com/mvm068.png)

António Rosa Rodrigues jogando em 1909 no SLB com a gloriosa camisola do SL. Regressaria ao SCP. Note-se que Carlos Homem de Figueiredo (e a restante equipa) jogou com a segunda camisola do nosso clube. As cores eram as mesmas os símbolos eram os mesmos, as pessoas eram quase as mesmas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Outubro de 2014, 14:39
-11-
Uma homenagem em terras africanas.

Maio de 1969. O Benfica desloca-se a Luanda para os oitavos de final da Taça de Portugal. Dois jogos contra o ASA, dia 11 vitória por 4-0, dia 15 vitória por 3-2.

(http://i61.tinypic.com/xemtg2.png)
Fonte: jornal Diário de Lisboa

(http://i59.tinypic.com/160dkqe.png)
Fonte: jornal "A Bola"

Mas o para além da competição nacional o ponto de maior interesse foi de natureza social e de homenagem. Com efeito, aproveitando essa deslocação o Presidente Dr. Borges Coutinho e a comitiva visitam uma velha glória do Sport Lisboa e Benfica.

Um homem de contribuição fugaz mas decisiva para a história do Sport Lisboa mais tarde Sport Lisboa e Benfica.

Marcolino Leopoldino Neto de Bragança Pinto de Meireles.

(http://i57.tinypic.com/5umx3p.png)

Para a nação Benfiquista simplesmente Marcolino de Bragança.

Aqui está o registo desse momento cheio de significado histórico e de merecido reconhecimento. Uma notável concentração de glórias Benfiquistas:


(http://i58.tinypic.com/2d9r9eh.png)
Fonte: blog http://milita.free.fr/4-SPANISH/benfica-SPANISH.htm

Legenda:
1 - Marcolino Bragança
2 - Eusébio
3 - Praia
4 - Adolfo
5 - Nina (filha Marcolino Bragança)
6 - Milita (filha Marcolino Bragança)
7 - Humberto Coelho
8 - Simões
9 - José Henriques
10 - ?
11 - Raúl
12 - Jaime Graça
13 - Coluna
14 - Dr. Borges Coutinho
15 - Zeca
16 - Adolfo Vieira de Brito
17 - ?
18 - Otto Glória
19 - José Augusto
20 - ?



(alguém consegue identificar os outros?)


Marcolino fez os seus estudos liceais em Lisboa tendo depois regressado a Angola. Foi fazendeiro perto da povoação de Beça Monteiro, zona do Ambrizete.

(http://3.bp.blogspot.com/_14q7-dz__-E/SrpkKuPIBvI/AAAAAAAAAM8/dggmRGwRnk4/s400/digitalizar0006.jpg)
Beça Monteiro


(http://ambrizete.blogs.sapo.pt/arquivo/ambrizete-3.jpg)
Ambrizete

Honra à sua memória.
(http://i62.tinypic.com/24mgkk2.png)


Adenda: recentemente li uma entrevista de sua filha Milita. Nela disse que o seu pai era natural de São Tomé. Foi viver para Angola porque casou com uma Angolana, natural do Golungo Alto (Malanje).

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 18 de Outubro de 2014, 17:25
O 10 parecia-me este:

(https://lh6.googleusercontent.com/-USPRTmDz7VU/TgSSU8FLOEI/AAAAAAAAONU/fj6vwXd6IBQ/w1049-h787-no/5CF300D6.jpg)
O dentista do Benfica, mas duvido muito  :2funny:

16 - Romão Martins?! Parece-me claramente o Adolfo Vieira de Brito  :confused:

Excelente trabalho como sempre. Eterno Marcolino de Bragança.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Outubro de 2014, 18:19
Ehehehe  :) algumas crises dentárias na equipa levaram o homem até Luanda...

e sim, claro, Adolfo Vieira de Brito. Vou corrigir. Obrigado Fake!

ps: Para além do dentista e de Arsénio e José Água temos lá atrás o jogador Vieirinha. Nessa altura era um avançado promissor que veio do Estoril Praia. Embora tenha jogado algum tempo na primeira equipa nunca concretizou as expectativas que o rodeavam. Foi depois treinador de diversas equipas da I divisão.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Outubro de 2014, 16:27
-12-
Uma Taça e dois pioneiros (I)

1904, Taça Lisboa. Uma obra prima.

(http://i57.tinypic.com/2lxux04.png)

Instituída pelo semanário Tiro e Sport, foi disputada entre a Real Associação Naval, Real Club Naval de Lisboa, Club dos Aspirantes de Marinha e Club Naval Madeirense. Seria conquistada pela primeira agremiação desportiva.

(http://i59.tinypic.com/259bj7n.png)

Mas o que terá a ver esta Taça com o Sport Lisboa e Benfica ou atendendo à data com o Sport Lisboa?

A resposta está relacionada com quem a desenhou e com quem a cinzelou:

(http://i57.tinypic.com/2n8pkqq.png)

Emílio e Pedro foram dois antigos Casapianos, membros da gloriosa equipa que em 1893 e 1894 conseguiu o feito de ser a primeira equipa integralmente constituída por Portugueses a derrotar os poderosos Ingleses do Carcavellos Club. Feito extraordinário principalmente num contexto pós-ultimatum na sequência da questão do mapa cor-de-rosa.

(http://dubleudansmesnuages.com/wp-content/uploads/2008/07/casa-pia-de-lisboa-_-carcavelos.jpg)
Pedro Guedes, capitão de equipa com a bola nas mãos.
Emílio de Carvalho, 3º de pé a contar da esquerda.



Mas mais importante do que isso, estes dois homens fizeram parte da primeira equipa da primeira categoria do Sport Lisboa em 1904-1905. Pedro Guedes tanto quanto sei actuou apenas uma vez como guarda-redes. Com cerca de 30 anos, retirou-se da prática desportiva dedicando-se à sua carreira profissional de pintor e professor na Casa Pia. Já Emílio de Carvalho, afamado cinzelador, foi membro destacado da equipa até Maio de 1907, data em que desertou com mais sete companheiros de equipa para o recém-formado e ambicioso SCP. Inaugurou-se assim a prática verde de rapinar o talento alheio para compensar fraquezas internas. Sempre atrás, sempre invejoso, sempre a rapinar a casa alheia. Rapinaram o Sport Lisboa que sobreviveu e floresceu. Rapinaram o CIF que sofrendo um rombo semelhante, embora também por outros factores, não conseguir manter a sua preponderância inicial no futebol Português.

Voltando a Emílio, este actuava mais frequentemente a defesa, jogando ao lado quer de José da Cruz Viegas quer de Henrique Costa. Também estes dois seriam desertores mas curiosamente Henrique Costa viria a regressar um ano depois para durante muitos mais servir de forma dedicada o nosso clube. Henrique só sairia no seguimento da crise de 1918-19 que levou à formação do CFB. Mas isso é outra história...

Ainda assim a especialização de lugar era coisa pouco frequente e a demonstrar isso, Emílio veio a actuar no SCP pelo menos algumas vezes como guarda-redes. Talvez (má língua minha) pela sua forma e pelo seu estado anafado.

Infelizmente não existem fotografias de Pedro Guedes com a camisola do Sport Lisboa mas para Emílio é fácil encontrar. Na mais antiga fotografia de grupo (e a mais famosa) é o gordinho de pé, mais à direita:

(http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/63/Benfica1904.jpg)
A mais antiga das Gloriosas equipas. Da esquerda para a direita. De pé: José da Cruz Viegas, Manuel Mora, Fortunato Monteiro Levy, Albano dos Santos, António Couto, Emílio de Carvalho. Sentados: António Rosa Rodrigues, Silvestre da Silva, Cândido Rosa Rodrigues, José Rosa Rodrigues e Carlos França.

Também presentes estão outros casapianos tais como António do Couto e Silvestre da Silva, igualmente integrantes das famosas equipas de 1893-94. Aquela geração casapiana, conhecida por geração Margiochi, teve grande relevância social, artística e como se vê desportiva. Cheia de grandes artistas e grandes personalidades. Francisco dos Santos pintor e escultor, António do Couto, arquitecto, Pedro Guedes, pintor, Emílio de Carvalho, cinzelador, José Netto, escultor. Grandes personalidades a que acresce Januário Barreto, médico, homem de grande talento e inteligência que viria a ser o primeiro presidente eleito do Sport Lisboa, presidente da Liga Portuguesa de Futebol e que infelizmente morreu jovem ainda antes da instituição da República (ele que era um grande activista republicano). Pena que não tenhamos mais fotografias deste tempo.

(http://2.bp.blogspot.com/-V1v2Rv2e2s8/Umn88gNKFcI/AAAAAAAAKe4/wRHLQOm11mM/s400/Grupo+Margiochi.jpg)
Geração Margiochi. Quatro jogaram no Sport Lisboa: António do Couto, Silvestre da Silva, Emílio de Carvalho (sentados, 2º, 3º e 5º respectivamente, a contar da esquerda). Pedro Guedes, de pé, é o primeiro da esquerda. Embora aparentemente não tenha jogado, Januário Barreto foi igualmente decisivo para o Sport Lisboa (sentado, com bengala, é o segundo a contar da direita) embora pouco antes da sua morte tenha aderido ao SCP onde chegou a ser presidente do conselho fiscal. Outros tempos.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 25 de Outubro de 2014, 16:50
Uma bela representação do Brasão de Lisboa: O barco e o corvo.
O conceito de o corvo a sobrevoar o barco, soberbo.
(http://sm.vectweb.pt/media/38/Image/CML%20logo.jpg)

Uma pequena dúvida: a Taça referia-se a uma competição futebolística?
Abraço.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Outubro de 2014, 17:05
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Uma Taça e dois pioneiros (II)

Citação de: Fake Blood em 25 de Outubro de 2014, 16:50
Uma bela representação do Brasão de Lisboa: O barco e o corvo.
O conceito de o corvo a sobrevoar o barco, soberbo.
(http://sm.vectweb.pt/media/38/Image/CML%20logo.jpg)

Uma pequena dúvida: a Taça referia-se a uma competição futebolística?
Abraço.

Realmente... um detalhe básico que me escapou. Bom ponto Fake.

Não era uma competição futebolística mas sim de remo. Citando:

É neste contexto que em 1904, a pedido de Joaquim Leotte, a Associação Naval de Lisboa, o Clube Naval de Lisboa, o Clube de Aspirantes de Marinha e o extinto Clube Naval Madeirense instituíram a Taça Lisboa em Remo como Campeonato de Portugal, Taça ainda hoje em competição, constituindo a prova desportiva mais antiga do nosso país. Assim nasceu a Taça Lisboa e a Convenção que se lhe seguiu assinada pelos mesmos clubes, a 20 de Abril de 1904.
A primeira regata da taça foi realizada a 29 de Maio, ao longo da muralha da Junqueira, entre as docas de Santo Amaro e do Bom Sucesso. A Convenção, o primeiro regulamento de regatas de Remo, estabelece as bases para a regulamentação "das corridas de embarcações de Remo e tinha como fim último promover "o desenvolvimento do rowing portuguez", a ela se devendo o rápido desenvolvimento que o Remo atingiu nos anos que se lhe seguiram.

Fonte:
http://www.vianaremadoresdolima.pt/wp-content/uploads/2013/10/Hist%C3%B3ria-do-Remo-em-Portugal.pdf (http://www.vianaremadoresdolima.pt/wp-content/uploads/2013/10/Hist%C3%B3ria-do-Remo-em-Portugal.pdf)
(http://4.bp.blogspot.com/_tGSAtoKLyqA/TIAhWbEs8fI/AAAAAAAAFYg/o1ojnsqGbYo/s320/vencedores1915RAN.JPG) (http://1.bp.blogspot.com/_tGSAtoKLyqA/TIAhLor05BI/AAAAAAAAFYY/ne7t938o31s/s320/CNL1914.JPG)

Agora, pelo seu bico curvo acho que a ave que sobrevoa o barco é uma gaivota.

Pedro Guedes era um artista talentoso. É dele também o desenho do emblema do Casa Pia Atlético Clube. Neste caso e naturalmente com a presença do ganso.

(http://dubleudansmesnuages.com/wp-content/uploads/2008/07/da-casa-pia-ao-casa-pia.jpg)
(http://www.zerozero.pt/img/logos/equipas/59/17359_ori_casa_pia.jpg)

ps1: Não sei se algum dos moderadores lê este tópico mas realmente ele tem evoluído no sentido de ser mais memórias do que imagens... Talvez fosse boa ideia mudar.


ps2: alguns detalhes adicionais que encontrei acerca desta Taça Lisboa em http://remo-historia.blogspot.pt/search/label/Ta%C3%A7a%20Lisboa (http://remo-historia.blogspot.pt/search/label/Ta%C3%A7a%20Lisboa)

A Taça Lisboa é o troféu desportivo mais antigo de Portugal em disputa, realiza~se, praticamente sem interrupção desde 1904. Foi instituída por Joaquim Leotte, director do Clube Naval e adquirida por subscrição popular e custou 200 000 Réis.

(http://4.bp.blogspot.com/_tGSAtoKLyqA/THGbZhkOChI/AAAAAAAAFVI/bV4UEn1iPSU/s1600/Ta%C3%A7alx.JPG)

(http://2.bp.blogspot.com/_tGSAtoKLyqA/THGbVvGYvEI/AAAAAAAAFVA/3yqRrCe95hA/s1600/Poster+1.JPG)



ps3: Esta fotografia dá uma ideia melhor desta Taça. Verdadeira obra prima

(http://2.bp.blogspot.com/_tGSAtoKLyqA/THGXA-cjAdI/AAAAAAAAFUo/gMqbHJEUmgo/s1600/Foto+1+CH.jpg)

e já agora a factura

(http://1.bp.blogspot.com/_tGSAtoKLyqA/THGagtMru5I/AAAAAAAAFUw/IKGpzAE04dU/s1600/Factura2CH.JPG)(http://3.bp.blogspot.com/_tGSAtoKLyqA/THGajMJfO_I/AAAAAAAAFU4/s2Rhmwj8ioo/s1600/Factura1CH.jpg)

Fonte: http://remo-historia.blogspot.pt/search/label/Ta%C3%A7a%20Lisboa (http://remo-historia.blogspot.pt/search/label/Ta%C3%A7a%20Lisboa)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: manager2013 em 26 de Outubro de 2014, 13:47
Extraordinário tópico RedVC, li os teus posts todos. Continua.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Outubro de 2014, 23:47
Obrigado manager2013.  O0

No final da época para além da vitória no campeonato espero também que este tópico seja um pouquinho mais especial.

O nosso Benfica tem matéria prima para nos surpreender. Alguma que já por aqui tenho será surpreendente para o pessoal e outra sairá só em condições especiais. Mas estou certo que vai aparecer mais. É preciso pesquisar e organizar. E isso é que me leva ao que há pouco: tempo de qualidade para montar as histórias.

Acho também que há pessoal que pode adicionar coisa interessantes aqui. Vamos esperar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Outubro de 2014, 21:46
-14-
As camisolas de Júlio Cosme Damião.

(http://i60.tinypic.com/29e4nq0.png)


Este é um exercício de aproximação. Algumas datas e factos poderão não estar correctos mas ainda assim vale a pena descrever. São bem vindos sugestões para correcções.

Cosme era um desportista e um homem que defendia a sã prática desportiva e os valores do amadorismo, espírito de equipa, solidariedade social.

Assim sendo, aqui estão as nove camisolas que (pelo menos) Cosme Damião envergou.

1 – Gloriosa camisola de flanela do Sport Lisboa 1904-1910. Vermelha. Dos tempos das Salésias até à Quinta de Feiteira. Transitou para depois da fusão que levou ao Sport Lisboa e Benfica.

2 – Camisola do Grupo Sport Benfica, 1907. Camisola às listas brancas e ??. Talvez não fossem pretas (pois essas eram as cores do CIF e regra geral nesse tempo os clubes procuravam diferenciar-se). Seriam vermelhas? Verdes? Azuis? Cosme era sócio dos dois clubes e isso foi decisivo para a fusão num processo em que juntamente com Félix Bermudes assumiu grande protagonismo.

3 – Segunda camisola do Glorioso. Vermelha. Terá aparecido algures em 1909. Cosme Damião, Romualdo Bogalho e David da Fonseca entre outros jogaram diversas vezes com a antiga camisola de flanela quando os restantes colegas de equipa já jogavam com esta segunda camisola. Dava estatuto. Outro exemplo é dado em cima com o regresso ocasional em 1909 de António Rosa Rodrigues ao nosso clube. A desmontagem visual da versão de seu irmão Cândido segundo o qual o Sport Lisboa terminou aquando da sua debandada para o SCP.

4 – Camisola da Selecção da Associação de Futebol de Lisboa que defrontou os Franceses do Stade Bordelais em 1910 na Quinta de Feiteira. Era provavelmente bipartida azul e branca, cores da monarquia.

5 – Camisola branca de misto Português que em Fevereiro de 1909 defrontou um misto Inglês num jogo de beneficência a favor das vítimas de um terramoto na Sicília e na Calábria.

6 – Camisola da Seleção da Associação de Futebol de Lisboa que em Julho-Agosto de 1913 fez uma digressão ao Rio de Janeiro e a São Paulo. Camisola negra (os punhos e colarinhos eram vermelhos e o calção branco).

7 – Camisola do Sporting Clube de Portugal . Bipartida verde e branca, hoje conhecida por camisola "Stromp". Foi em Julho de 1914. A propósito de um convite de um clube de Huelva, Espanha, o SCP visando reforçar a sua equipa e representar com prestígio o nosso país – uma lógica MUITO diferente dos dias de hoje – fez um convite a Cosme Damião, Henrique Costa e Luís Viera (Sport Lisboa e Benfica) e a Francisco Belas (Sport União Belenense) para reforçarem a sua equipa. Assim para prestígio do nosso país e somente por um jogo, esses quatro jogadores envergaram dignamente essa camisola.

8 – Camisola do Pedrouços (Clube Sportivo de Pedrouços?). Listas vermelhas e brancas. Data incerta.

9 – Camisola de uma equipa da Casa Pia, presumo para o campeonato escolar. Desconheço as cores. As cores tradicionais das equipas da Casa Pia eram listas encarnadas e azuis mas horizontais. Data incerta.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 27 de Outubro de 2014, 22:17
Então e este?
(http://img577.imageshack.us/img577/6788/cdamiao.jpg)
Simplesmente um casaco?

(http://ligammur.files.wordpress.com/2009/11/transfer3.png)
Ou equipamento de jogo?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Outubro de 2014, 22:26
Casaco.
A primeira fotografia aliás é demonstrativa disso. Eduardo Luiz Pinto Basto com o casaco do Clube Internacional de Futebol e Júlio Cosme Damião com o casaco do Sport Lisboa e Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 27 de Outubro de 2014, 22:43
A segunda é que me colocava em dúvida. Já no terreno de jogo, lá atrás um jogador também com o casaco.
Muito à frente, muita classe.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Outubro de 2014, 23:16
Sim. Nada mau para um clube que ao contrário do seu vizinho lutava com uma escassez de recursos.

(http://i45.tinypic.com/28bfrlt.jpg)

Essa fotografia é fascinante. Uma das mais belas da história do futebol Português.
Júlio Cosme Damião e Francisco Stromp, talvez os dois mais famosos capitães de equipa dos eternos rivais a cumprimentarem-se antes de mais um capítulo do derby eterno.
Afonso de Melo associa esta fotografia a um jogo em Sete Rios em 1915 em que ganhamos ao SCP por 3-0 (golos de Rogério Peres - 2 e Herculano Santos - 1).
Árbitro Plácido Duro (CIF) com casaco castanho. Está também Artur Santos (casaco preto).
Cosme Damião tem a bengala com o castão que lhe foi ofertada no Brasil em 1913.

Uma palavra de grande admiração a quem fez a colorização desta fotografia. Excelente trabalho (concerteza feito por um profissional).

Penso que esta fotografia de grupo é também desse jogo:

(http://i57.tinypic.com/300dvs6.png)
(salvo o erro) De pé, esquerda para direita: Mário Monteiro (gr), Carlos Homem de Figueiredo, Henrique Costa, Cosme Damião, Leopoldo Mocho, Francisco Pereira.
Sentados, esquerda para direita: Herculano Santos, Aníbal dos Santos, Manuel Veloso, Rogério Peres, Cândido de Oliveira.


Estes casacos terão sido usados pelo menos até 1919-1920. Talvez só nos jogos mais importantes.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ft.johИИ em 27 de Outubro de 2014, 23:27
excelente tópico ;)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Outubro de 2014, 20:50
-15-
Futebol e touros

(http://i58.tinypic.com/2psiywj.png)

Futebol e touros? Falemos de Jayme Cadete...

Bandarilheiro amador e futebolista. Uma combinação curiosa durante as primeiras décadas do século XX.

(http://i62.tinypic.com/15clg1v.png)

Mas, o que teve este homem a ver com o Sport Lisboa e Benfica?

Em boa verdade teve mais a ver com o SCP do que com o SLB. Jayme Cadete para além de ilustrar os tempos pitorescos do princípio do nosso futebol esteve envolvido num episódio da crescente polémica entre os eternos rivais de Lisboa nas primeiras décadas do século XX.

Nascido em 30 de Dezembro de 1899, Jayme Cadete iniciou-se nas segundas categorias do Império tendo a partir de 1910/11 sido jogador da primeira categoria do SCP durante quatro épocas.

Apesar dos dois maiores clubes serem o Benfica e o CIF, já nessa época a rivalidade com o Sporting vinha num crescendo. O problema? Como sempre a inveja assente nos resultados desportivos e na popularidade do primeiro e da falta delas no segundo. Antes como agora. O SLB tinha sucedido aos Ingleses do Carcavellos no domínio do futebol regional de Lisboa e mesmo com parcos recursos e com a falta de campo próprio, conseguia formar novos craques sendo frequente ganhar os campeonatos das diversas categorias. Afigurava-se pois que o sucesso tinha vindo para durar. Por outro lado o clube dos chás dançantes perdia, desistia, perdia e voltava a desistir. Quase passada uma década desde a sua fundação, títulos nem vê-los. A inveja vestia-se de verde...

Apesar dos acontecimentos de 1907, ia sendo respeitado um acordo de cavalheiros entre clubes, o que fez com que o nosso clube tenha recusado a inscrição de Jayme Cadete e de Sebastião Campos, atletas do SCP que tinham manifestado intenção de jogarem no SLB.

Ora, em 1914/15, farto de perder (e por diversas vezes de desistir a meio das provas para não assumir as derrotas...) o SCP decide desrespeitar o acordo e fazer mais uma incursão para rapinar jogadores no tricampeão regional. Objectivo: fragilizar o rival e atenuar as suas próprias debilidades internas.

Na sequência dessas contratações, Jayme Cadete é informado pelos dirigentes leoninos que passará a jogar na segunda categoria. Recusando baixar de categoria consegue obter autorização dos dirigentes para se transferir para outro clube. O diabo é que só mais tarde se apercebem que o destino é o SLB...

Jayme Cadete tornou-se assim o primeiro jogador (de que eu tenha conhecimento) a fazer o percurso SCP ---> SLB, ou seja o percurso inverso ao que foi feito anteriormente por (estimo eu) nada menos do que dezasseis jogadores e dirigentes:

1907 - Henrique Costa, Cândido Rosa Rodrigues, António Rosa Rodrigues, José da Cruz Viegas, Daniel Queiroz dos Santos, Emílio de Carvalho, António do Couto, Albano dos Santos. Acrescem a estes nomes de dirigentes tais como José Rosa Rodrigues, Januário Barreto e o emigrante regressado Francisco dos Santos.

1912 - Jorge Rosa Rodrigues. O quarto último dos Catataus a desertar. Guarda redes com pouca (e infeliz) actividade na primeira categoria.

1913 – Francisco Viegas. Antigo jogador do Sport União Belenense. Esteve no Benfica durante duas épocas.

1915 – Artur José Pereira, Boaventura Silva e Augusto Paiva Simões.



Assim sendo, a motivação de Jayme Cadete não terá sido certamente dinheiro tanto mais que Cosme Damião era inflexível nesse aspecto, defendendo o amadorismo. A motivação de Cadete terá sido a vontade de continuar a jogar em primeiras categorias.

Essas "contratações" vieram de facto a beneficiar o SCP pois em particular Artur José Pereira e nisso todos os testemunhos concordam, era realmente um jogador de eleição e que fazia a diferença. Esse facto, acrescido de um conjunto de circunstâncias infelizes, fez com que no último jogo da época o Benfica viesse a perder o jogo decisivo com o SCP e com isso o título regional.

Nessa época Cadete jogou seis dos dez jogos do campeonato regional mas o que é facto é que na época seguinte regressou às origens ou seja ao Império onde terá jogado ainda por mais duas épocas. Curioso, com essa única época de águia ao peito Cadete perdeu a oportunidade de se sagrar campeão regional. O SCP só voltaria a ser campeão regional em 1918/19.

Mas voltando aos touros e apesar de amador, em Fevereiro de 1908 Jayme fez o seu debute no Campo Pequeno e parece que o fez com sucesso:

(http://3.bp.blogspot.com/-2pLhp4ANcaw/TaKZ4x9XyxI/AAAAAAAAB3w/F-bhtGv9Sys/s1600/ip08cadete.jpg)

Resta dizer que Jayme era filho de Jorge Cadete, um famoso bandarilheiro que em 1914 foi homenageado com uma tourada:

(http://3.bp.blogspot.com/_NtVLnncC5dg/TSgOAww1jvI/AAAAAAAABsE/aI11aNw6qec/s1600/ip14touradaCP.jpg)

Ah.... e sabemos ainda que era proprietário da "Taberninha Taurina". Tempos pitorescos.

(http://i57.tinypic.com/24l7t4n.jpg)


Olé!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Novembro de 2014, 17:46
-16-
Um regresso feliz.

No seguimento de considerandos feitos a propósito da história de Jayme Cadete, poder-se-á dizer que numa outra perspectiva o primeiro homem a fazer o tal percurso SCP --> SLB foi na verdade um desertor:

Henrique Costa

(http://i59.tinypic.com/2zg98v4.png)

Henrique Costa saiu em Maio de 1907 do Sport Lisboa para o SCP mas ao fim de uma época (e em boa hora) decidiu regressar.

Foi um dedicado e excelente defesa podendo também a actuar a... avançado. Chegou a ser capitão da nossa equipa quando Cosme abandonou. Sairia mais tarde para ajudar a fundar o CFB mas já em fim de carreira. Essa saída ocorreu num contexto diferente, tendo Henrique sido arrastado pela força das circunstâncias e pela nostalgia dos tempos gloriosos do nascimento em Belém do Sport Lisboa. Mas isso são outras histórias. E de facto, há imagens para decifrar e muito que contar acerca deste homem. Um dia destes falarei sobre ele.

Ainda assim, Jayme Cadete fica como o primeiro que sem passado Benfiquista trocou o SCP pelo Glorioso. Durou pouco mas foi o primeiro.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Reed em 03 de Novembro de 2014, 04:05
Bom tesourinho este Red. O primeiro a ter juízo!

P.S: Bela bigodaça que ele tinha  :smokin:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Novembro de 2014, 10:23
Muito bom que este tópico tenha sido movido para uma secção mais ajustada ao seu conteúdo. Obrigado aos administradores.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Novembro de 2014, 17:20
-17-
Nos areais de Belém

(http://i60.tinypic.com/aaxj5u.png)

Um grupo de futebolistas posando num areal de Belém perto de onde hoje se localiza o padrão dos descobrimentos.
Vê-se o Torreão do Mosteiro de Santa Maria de Belém ou Jerónimos.
Fotografia de data incerta, talvez de 1903-1904.

Olhando de perto nem todos são desconhecidos... Há ali um rosto conhecido: Henrique Costa.

Henrique Costa, futuro mestre cordoeiro e talvez o primeiro grande defesa Português.

A fotografia capta para a eternidade um momento de convívio entre dois grupos de futebolistas, posando em conjunto como era prática comum nessa época. Ao todo contam-se 20 jogadores, 10 com calças brancas e 10 com calças escuras.
Um jogador está diferenciado por se apresentar todo de branco: talvez o guarda-redes de um dos grupos. As equipas não estão identificadas na fotografia mas é possível que uma delas – talvez a das calças brancas ou até talvez as duas – fosse a designada em algumas notícias da época como Clube Naval. Seis dos elementos de calças brancas têm chapéus de marinheiro. Henrique Costa tem calças brancas. Terá pois sido marinheiro e possivelmente estes foram alguns dos seus companheiros de armas.

(http://lh6.ggpht.com/-lKqN4ENIr98/VDJIAWAKV2I/AAAAAAABWDE/QQ2i9WhONls/Corodoaria-Nacional_thumb3.jpg?imgmax=800)
Cordoaria nacional onde se produzia o cordame, velas, tecidos e bandeiras para os numerosos navios do reino, muitos dos quais inundavam positivamente o Tejo lisboeta.

(http://i237.photobucket.com/albums/ff84/Pelha/A12743.jpg)
Cais da Ribeira de Lisboa - 1893
(http://4.bp.blogspot.com/-9Gqk8PiRWME/TjEeXB1c5WI/AAAAAAAADcg/FuxeMIPTU6w/s1600/ilust.29%2Bfaluas.jpg)
Faluas no Tejo, 1900

Henrique Costa foi também um dos rapazes que por volta de 1903-1904, partilharam uns chutos na bola com o grupo dos Catataus nos areais de Belém. Sempre Belém.

Mais tarde Henrique viria a ser um futebolista de grande presença e categoria, com contribuição longa e consistente nesses tempos pioneiros do futebol Português.

Apesar de não ter sido um dos fundadores, em Novembro de 1906 fixou-se na primeira categoria do Sport Lisboa.
Antes, jogou no Club Campo de Ourique e também no Futebol Cruz Negra. Um tempo em que era possível a um jogador representar um clube numa semana e outro na semana seguinte.

Pouco depois, em Maio de 1907 foi um dos oito jogadores que atraídos pelo dinheiro e pelos chás dançantes desertou para o SCP. Assim durante um ano jogou nas elegantes instalações da quinta das Mouras mas no final dessa época de 1907/1908 decide sair.

Decide regressar ao Sport Lisboa, entretanto transformado em Sport Lisboa e Benfica.
Razões? Inadaptação a um clube elitista? Saudosismo dos dias felizes de camaradagem em Belém e das vitórias do Sport Lisboa? A amizade que o unia a Cosme Damião? Se calhar todas essas e mais algumas que não sabemos. Talvez os finíssimos chás não fossem a bebida ideal para um calejado marinheiro. Talvez que no clube das Mouras se diferenciassem jogadores consoante o seu berço.

Em meu entender este rápido regresso poderá também indiciar que quando saiu para o SCP estaria convencido que o Sport Lisboa estava condenado. Verificada a continuidade e a vitalidade do SLB, Henrique terá decidido com o coração. Apesar de pressionado para ficar no SCP (penso ter lido – infelizmente esqueci a fonte - que os dirigentes do SCP chegaram a oferecer-lhe um relógio valioso para ficar) decide regressar. Em boa hora o fez. Com isso, Henrique veio a tornar-se um dos grandes pilares desportivos do nosso clube.

Jogou quase sempre de águia ao peito. Jogou muito e pelo que sabemos bem. Em Portugal e no estrangeiro. Foi seleccionado de forma recorrente para as equipas da Associação Futebol Lisboa, tendo integrado o grupo que fez digressão no Brasil em 1913.

Ao seu lado, no sector defensivo, evoluíram outros grandes jogadores. Senão vejamos: numa primeira fase foi companheiro de José da Cruz Viegas e Emílio de Carvalho. Mais tarde teve parcerias com Leopoldo Mocho, Carlos Homem de Figueiredo e Francisco Belas. Tudo craques, tudo nomes hoje algo esquecidos mas de grande relevância na época. Se calhar tornaram-se ainda mais craques por jogarem ao seu lado.

(http://i62.tinypic.com/2h6u2qa.png)
Três aspectos de jogo envolvendo Henrique Costa e um companheiro da defesa.
A – 1906/07 com Emílio de Carvalho (SL vs CIF); B - 1910, com Leopoldo Mocho (SLB vs SCP); C – 1912 com Carlos Homem Figueiredo (SLB vs Carcavellos).


Sobre ele, atentemos nas palavras do temperamental e genial Artur José Pereira (talvez o maior talento do futebol Português até à chegada de Coluna e Eusébio): Combativo ao máximo, velocíssimo, pontapé regular com ambos os pés, engano fácil, o que fazia dele um avançado perigoso, lugar que ocupava excelentemente quando era necessário (...).

Em Dezembro de 1917 faz o seu último jogo pelo Benfica. Pouco tempo depois tentou mediar os conflitos que opuseram o contingente de jogadores Benfiquistas oriundos de Belém e a Direcção do Sport Lisboa e Benfica. Em causa a contratação de Alberto Rio pelo SCP. Rio estava suspenso no SLB e as turbulências entre clubes e mesmo dentro do SCP ditaram uma rápida e pouco feliz passagem pelo Campo Grande. Mas havia uma outra causa mais profunda. Essa guerra tripartida entre SLB, SCP e alguns jogadores está directamente ligada à génese de um outro grande clube: o Clube de Futebol os Belenenses. Por isso também no lado do SCP aconteciam factos importantes. Um nome chave neste episódio foi uma vez mais Artur José Pereira. Carregado de nostalgia e da vontade de criar um grande clube representativo das gentes de Belém, Artur José Pereira consegue desligar-se do SCP. Pouco depois propõe aos seus antigos companheiros a fundação desse novo clube. Depois do Sport Lisboa, do Ajudense Futebol Clube e do Sport União Belenense fundava-se assim o CFB. Ora, Belém não era apenas um dos berços do futebol Português, era também uma das maiores fontes de recrutamento do SLB nas suas duas décadas iniciais. A sua perda teve consequências graves na competitividade do nosso clube. Mais detalhes, aqui:

http://cantoazulaosul.blogspot.pt/2005/09/inevitvel-impulso.html (http://cantoazulaosul.blogspot.pt/2005/09/inevitvel-impulso.html)

Ali se lê que Henrique Costa terá sido o único que inicialmente resistiu. Tentou ainda mediar o conflito mas ao ver-se impotente para alterar posições extremadas acabou por finalmente juntar-se aos seus companheiros e contribuir para a aventura da fundação do CFB.

O seu nome era respeitado entre os seus companheiros, e assim se compreende que Artur José Pereira o tenha proposto para sócio nº 1 do CFB. Um indubitável gesto de reconhecimento das qualidades humanas e desportivas de Henrique. E foi ainda de Henrique Costa a proposta vencedora para a escolha das cores iniciais do CFB: camisola azul com a Cruz de Cristo e calções negros.

(http://multimedia.iol.pt/oratvi/multimedia/imagem/id/541ebc4e0cf20f9aadc7ebab/550)


Dada a sua veterania, Henrique jogou pouco de Cruz de Cristo ao peito. Terá jogado em alguns particulares tendo assumido funções de treinador e recusado o cargo de Capitão-Geral (em favor de Carlos Sobral).
 
(http://photos1.blogger.com/blogger/7682/556/400/henriquecosta.jpg)
em idade mais avançada

Faleceu em Março de 1953 já depois de ter visto partir muitos amigos e antigos companheiros, em particular AJP (1945) e Cosme (1947).

Henrique Costa foi um grande nome do futebol Português e do universo Benfiquista e Belenense. Merece ser lembrado e reconhecido pelos Benfiquistas e Belenenses pela sua contribuição para o futebol Português e para a implantação desses dois grandes e populares clubes. Do que sei e de como interpreto a sua contribuição aqui fica a minha homenagem.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Novembro de 2014, 23:25
-18-
Uma imagem rara

(http://2.bp.blogspot.com/-IuWRGLJ3Vwc/UdtLWx0d7YI/AAAAAAAAsLw/Y8W00WF4LLg/s1600/benfica+1972.jpg)

Uma imagem rara: João Alves e Vítor Martins na mesma equipa.

Tentando a identificação:
Em cima: ?, Malta da Silva, Carlos Marques, ?, Rui Rodrigues, Vítor Martins,  Zeca.
Em baixo: Barros, Franque?, Diamantino, Néné?, João Alves, Fonseca.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Novembro de 2014, 21:37
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Um Stromp à Benfica

Uma curiosidade interessante para Benfiquistas e... sportinguistas.

(http://i57.tinypic.com/2h7qd8o.png)
Fonte: Tiro e Sport, Lisboa 20 de Maio 1908.

1908. Competidores da Marathona. Maratona embora a corrida fosse entre Cascais e Algés num percurso de 24 Km.

A figura mais notável é Francisco Lázaro alinhou pelo Velo Club de Lisboa. Em 1911 Lázaro alinharia pelo Sport Lisboa e Benfica: http://serbenfiquista.com/forum/saudade/francisco-lazaro-(atletismo)-o-eterno-maratonista/ (http://serbenfiquista.com/forum/saudade/francisco-lazaro-(atletismo)-o-eterno-maratonista/)

Mas o outro detalhe interessante é atentar na equipa do Grupo Sport Benfica, aqui designado por Grupo do Sport Club de Benfica. Esse mesmo que fundindo-se com o Sport Lisboa faria surgir o Sport Lisboa e Benfica.

Vejamos: António Fernandes, Carlos Marques e... José Stromp.
Um Stromp à Benfica? Sim.

José Stromp era o mais velho dos Stromps, um dos dissidentes do Campo Grande Football Club, e um dos fundadores principais do SCP. Outros tempos.


Ah, e a prova foi vencida por Francisco Lázaro.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 17 de Novembro de 2014, 10:37
Bonita curiosidade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Novembro de 2014, 23:38
Sim, é interessante.

Um grande Benfiquista enviou-me a fotografia da direita (apesar de não o nomear aqui fica um agradecimento) com o seguinte comentário: "Como tudo muda. Só o Benfica é eterno".

(http://i62.tinypic.com/24axuv5.png)

Não poderia concordar mais.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 18 de Novembro de 2014, 10:15
Nem mais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Novembro de 2014, 20:08
Não se trata de material novo. Já foi publicado em Junho deste ano mas achei que faz mais sentido estar aqui por isso vou transferi-lo com ligeiras alterações. Um texto que gostei de fazer. Espero não existirem objeções por parte dos moderadores.

-20-
O António das Caldeiradas

(http://i59.tinypic.com/sm3bqx.png)

Alguém conhece? Alguém ouviu falar?

(http://i59.tinypic.com/eu4w9g.jpg)
Fonte: AML, Eduardo Portugal

Situado na Rua Vieira Portuense na Belém antiga foi um importante lugar para a génese do Sport Lisboa (e Benfica). Mas lá iremos.

(http://i58.tinypic.com/e6669s.png)
Rua Vieira Portuense panorâmica

A partir das considerações de Fialho de Almeida (7/05/1857-4/03/1911) sobre a culinária, e em particular sobre a caldeirada, sabemos que a mais emblemática da sua época era a do António da "Barbuda", cuja casa se situava para os lados de Belém, mais precisamente na Rua do Cais de Belém, local que desapareceu com a Exposição do Mundo Português, em 1940. O nome de António da Barbuda terá ficado a dever-se ao buço da mãe... (1).

Também Rafael Bordalo Pinheiro (21/03/1846-23/01/1905) apreciador de patuscadas, caldeiradas incluídas, mencionou o "António das Caldeiradas", tendo-o apresentado sob a forma de Zé Povinho travestido de anjo, em gravura publicada in António Maria de 19.07.1883, pg. 230 (2).

(http://i58.tinypic.com/6sf6o2.png)

E o que terá esta antiga casa de pasto a ver com a pré-história do nosso clube?

Bem para isso vamos à fonte mais credível. Vamos a uma transcrição de uma passagem de uma célebre entrevista de um dos nossos fundadores, Cosme Damião ao jornal "A Bola" (3):

"...Veio o primeiro treino, realizado num domingo, compareceram talvez uns 24 jogadores. Formaram-se dois grupos e não houve lugar para todos... Ao segundo treino, no domingo imediato, marcado, como todos, para o Hipódromo, compareceram apenas 18 ou 19. Já não foi possível arranjar dois «teams»... No terceiro domingo, o número desceu para 12 ou 13.

(http://1.bp.blogspot.com/-Wwn-sUn22sQ/UmoApXfCQMI/AAAAAAAAKf0/k3M3d2AlNOY/s1600/17.+Treino+nas+Sal%C3%A9sias.jpg)

Quando os treinos findaram, os que podiam reuniam-se em almoço, na casa do António das Caldeiradas, à esquina do Largo de Belém.

Os teinos, os almoços, tudo isto se foi tornando conhecido a pouco e pouco, em Belém.

E começou a aparecer gente a ver os nossos treinos. Foi num dos domingos do Hipódromo que se travou conhecimento com o José Trabucho, antigo mestre do hiate real, e que acompanhava o grupo dos rapazes de Belém. E foi ali também que conhecemos um outro rapaz, o Manuel Gourlade"


O resto é história (ver o tópico de Manuel Gourlade)


(http://i62.tinypic.com/2lleu82.jpg)
Rua Vieira Portuense, ilustração de Roque Gameiro

Esse restaurante foi pois um lugar central no convívio entre os dois grupos de rapazes que esteve na base da ideia da junção de forças e talentos. Foi um dos lugares chave para o convívio entre rapazes pobres e remediados, mistura de classes e experiências de vida, congregação de vontades e talentos. Reunidos pelo amor ao futebol, construindo uma ideia de clube apologista da defesa dos valores e da saudável competição mas já com o desejo indómito de ganhar. Uma construção do povo e para o povo. De espírito Português com desejo de se estender pelo país e pelo mundo.

De Belém para o mundo com passagem e morada em Benfica: Sport Lisboa e Benfica!

(http://1.bp.blogspot.com/-RRQ-CqmjjvM/Tp2ZhRSkyAI/AAAAAAAAEs8/k1MnpXRe1C0/s1600/lagos%2Bart%2Bhistory%2Bartistic%2Bportuguese%2Bpavement%2Blisbon%2Bcity%2Broc2c%2Bpeople%2Blimestone%2Bcal%25C3%25A7ada%2Bportuguesa%2BPortugal%2B%25E8%2591%25A1%25E8%2590%2584%25E7%2589%2599%2B%25E8%2591%25A1%25E8%2590%2584%25E7%2589%2599%25E8%25B7%25AF%25E9%259D%25A2%2B%25E9%2587%258C%25E6%2596%25AF%25E6%259C%25AC%2Brua%2Bvieira%2Bportuense%2B2.jpg)
Rua Vieira Portuense nos dias de hoje.

Da próxima vez que lá forem não se esqueçam de parar numa esplanada e brindar aos nossos fundadores. Afinal eles são os responsáveis por uma parte importante da nossa vida.

Ah, e já agora para os que desconhecem. O terreno à frente desse restaurante foi também o local do primeiro campo do Clube de Futebol "os Belenenses". A sede era um prédio bem ao lado do António das Caldeiradas.

"Os Belenenses", clube fundado por grandes ex-futebolistas do Benfica numa tentativa de recuperar o ideal e bairrismo de Belém. Local onde nasceu o Sport Lisboa mas também o Sport União Belenense e o Ajudense Futebol Clube, clubes de existência efémera mas todos demonstrativos da vitalidade e paixão que nesses tempos pioneiros se viveram em Belém e nos seus grandes descampados.

(http://3.bp.blogspot.com/_NNEzVXMChCU/TN57KBXuKuI/AAAAAAAAAtQ/TcnzrlyEXKs/s1600/pau_fio.jpg)
Campo do Pau do fio. O primeiro campo do CFB.

Em segundo plano lá está o António das Caldeiradas. Ao lado vê-se a bandeira do CFB hasteada na primeira sede que este clube teve.

Belém foi um local seminal em tantas épocas da nossa história. Porque não haveria também de o ter sido para o futebol?


Referências:
(1)   João Reboredo in http://www.gazetacaldas.com/24865/caldeiradas/ (http://www.gazetacaldas.com/24865/caldeiradas/)
(2)   http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OAntonioMaria/OAntonioMaria.htm (http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OAntonioMaria/OAntonioMaria.htm)
(3)   http://tudoportibenfica.blogspot.pt/2013/02/entrevista-cosme-damiao-ii.html (http://tudoportibenfica.blogspot.pt/2013/02/entrevista-cosme-damiao-ii.html)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 23 de Novembro de 2014, 20:26
Craque.
É sempre um prazer ver que existe material novo neste tópico.
Um excelente trabalho de pesquisa, tudo organizado, é um verdadeiro gosto ver a história ser tão bem tratada. Muito obrigado pela partilha.

PS: Foto do "Pau do fio" é espectáculo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Novembro de 2014, 20:41
Obrigado Fake  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Manel dos Anzois em 25 de Novembro de 2014, 03:35
Que tópico sensacional!

Obrigado RedVC!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Novembro de 2014, 08:34
Obrigado Manuel dos Anzóis  O0
Tenho conseguido ter encontrar material interessante e perguntando ou pesquisando ir conseguindo fazer algumas ligações.
Anda por aí muito material da nossa gloriosa história. Seria excelente que sempre que encontremos alguma coisa intrigante a possamos trazer a este tópico.
Mesmo que não encontremos respostas dará sempre gozo partilhar dúvidas e nesse caminho ir sabendo mais da história do Glorioso.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 25 de Novembro de 2014, 10:34
Obrigado RedVC.

Um prazer ler os teus posts.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2014, 00:00
-21-
O terceiro homem

Uma nova fotografia. Várias pistas:

(http://visite-besign.com/AFL100/images/foto_hist/13.jpg)
Fonte: AFL

Esta é uma foto histórica.
A razão está expressa na legenda da fotografia retirada da AFL.
18 homens, 18 presidentes da AFL. Figuras de grande relevo, todos tiveram influência no futebol Lisboeta e Português.
Os mais antigos foram verdadeiros pioneiros do futebol Português.
De vários se poderia falar. Homens como Raúl Nunes, Pedro Del Negro, Magalhães Godinho. No entanto vou escolher dois ligados directamente ao Benfica. Duas grandes figuras. Dois presidentes do Benfica.

Manuel da Conceição Afonso.
(http://i60.tinypic.com/vpeupu.png)
Um dos maiores presidentes do Benfica. Manuel da Conceição Afonso foi o 14º presidente do nosso clube. Exerceu funções de 1931 a 1932, de 1936 a 1938 e em 1946. Um homem de notabílissimas capacidades. Mais e (e muito boa) informação: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/search/label/Manuel%20da%20Concei%C3%A7%C3%A3o%20Afonso

Augusto da Fonseca Júnior
(Colos, 10 de Fevereiro de 1895 — Lisboa, 2 de Janeiro de 1972)
(http://i57.tinypic.com/4iebgw.png)
Foi o 17º presidente do Glorioso. Exerceu funções de 1939 a 1945. Curioso, durante o periodo da II Guerra Mundial.  Antes foi também jogador do Benfica. Muita e boa informação aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/search/label/Augusto%20da%20Fonseca

Mas... há um terceiro homem.
Uma figura interessantíssima e do qual durante algum tempo procurei fotografias alternativas. Um homem ligado ao Benfica e ao Belenenses:

Engenheiro Francisco Reis Gonçalves.
(http://i62.tinypic.com/9fmn7k.png)

Já alguém associou este nome ao Benfica?

Foi alguém que esteve no sítio certo à hora certa.

Alguém que estava numa farmácia no dia 28 de Fevereiro de 1904.

Sim, Francisco Reis Gonçalves foi um dos 24 fundadores do Sport Lisboa.

Não sei ao certo se nasceu em Belém mas seguramente teve uma ligação forte a esse local.

Em 1919, foi um dos homens que cedo adoptou o sonho de Artur José Pereira, de quem era amigo como aqui se vê:
(http://4.bp.blogspot.com/-24obPRWR8nI/Ufg6IC-np4I/AAAAAAAAJ2k/CRKPcSAyqic/s1600/IMG_0001.jpg)
Fonte: "História do Sport Lisboa e Benfica: 1904-1954" Mário de Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva


Atendendo às suas capacidades pessoais foi nomeado presidente da Junta Directiva aquando da fundação do CFB, nesse tumultuoso ano de 1919.

Seria depois presidente da Direcção de 1920 a 1922. A ele sucederia Luis Vieira, outra saudosa glória do Sport Lisboa e Benfica. Aqui: http://www.osbelenenses.com/home/clube/lista-de-presidentes/ (http://www.osbelenenses.com/home/clube/lista-de-presidentes/)

Há ainda um outro homem que esteve ligado ao SLB e ao CFB, Virgílio Paula que foi igualmente presidente da AFL. Virgílio Paula não está no entanto na fotografia dos presidentes. Médico de profissão, foi nosso jogador e esteve igualmente na fundação do CFB. Ele e Reis Gonçalves eram os cérebros que deram corpo à primeira ideia, carregada de paixão bairrista de Artur José Pereira. Infelizmente penso que à data da fotografia Virgílio Paula já era falecido. No Belenenses Francisco e Virgílio fizeram parte de uma elite dirigente e que manteve ligações algo privilegiadas ao antigo regime:

(http://photos1.blogger.com/blogger/7381/1317/1600/tomas_cfb.jpg)

Américo Tomás era aliás sócio do CFB e note-se o estádio desse clube chegou a ser o Estádio Almirante Américo Thomaz:

(http://4.bp.blogspot.com/-7IsVpfcp6LQ/U67yoxqTBMI/AAAAAAAATME/cHtS-aiHB7Y/s1600/2014-06-21.jpg)

Pois é. Outros tempos...

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Dandy em 04 de Dezembro de 2014, 00:37





   Parabéns pelo teu trabalho de pesquisa.

   É um prazer ler e aprender.

   Obrigado, Red.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 04 de Dezembro de 2014, 11:34
Brutal, Red.

Obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: pcssousa em 04 de Dezembro de 2014, 14:40
Verdade, o RedVC tem feito um trabalho extraordinário, de grande valor e mérito.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: flavioslb em 04 de Dezembro de 2014, 14:52
Espectacular! Grande RedVC  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2014, 19:49
A todos, muito obrigado pelas vossas palavras.

Este é um tópico complementar a outros que existem tais como o "Recortes", o "Outros tempos", o "Retalhos da vida de um Gigante" e vários outros. Todos têm uma natureza distinta mas tem como ponto comum divulgarem informação que não é fácil encontrar. Informação que é de enorme interesse para qualquer Benfiquista. Neste tópico a ideia é partir de uma fotografia e ir decifrando, juntando pontas de forma a revelar mais sobre figuras e factos do Glorioso.

A prioridade de qualquer Benfiquista é ganhar. Ganhar no presente e contribuir individualmente para um futuro colectivo ainda mais ganhador. Com a nossa quota, com o nosso apoio, com a justa medida das possibilidades do nosso esforço. Mas eu acredito que é importante ter um entendimento mais profundo do Benfica. É preciso olhar para trás para entender. Como poder explicar a nossa actual grandeza se não conhecermos o nosso passado glorioso? Falei no Belenenses mas pode-se falar de outros clubes que tinham a nossa dimensão e que não conheceram igual crescimento. Nascemos pobres e vivemos com a casa atrás das costas. Fomos escorraçados das Salésias, da Feiteira, de Sete Rios, das Amoreiras. Clube do antigo regime? Uma ova. Andamos 50 anos a gastar o que os outros puderam investir no futebol. Éramos pobres mas competentes. Éramos pobres mas solidários. Nem todos os Benfiquistas sabem que no princípio o Sport Lisboa comprou 12 camisolas que tinham de dar para 3-4 categorias por vezes no mesmo dia. Nem todos sabem que se teve de pedir um empréstimo para comprar uma bola em segundos pés... Nem todos sabem que se teve de fazer uma subscrição para salvar o clube. Muitos outros se extinguiram. De muitos ninguém mais ouviu falar. Como pudemos  sobreviver e crescer até este ponto? Como explicar o percurso desde um terreno para treinos de cavalaria até ao gigante de aço e betão onde hoje orgulhosamente vemos as camisolas berrantes a ganhar?

A explicação só pode estar relacionada com um passado glorioso. Com factos e figuras ilustres que rechearam o nosso passado. O Benfica é a comunhão. Que outro clube têm isso inscrito no seu emblema? De todos um.

Há hoje possibilidades tremendas de comunicação. A net é um recurso espantoso e há material intrigante por aí. Por isso na partilha e na troca de ideias teremos mais e melhor conhecimento. Teremos ainda mais orgulho no nosso clube. Por isso a ideia é não ignorar quando encontramos uma fotografia que não saibamos o que é. Este espaço - proponho eu - pode ser um dos locais no SB para trocarmos material e ideias. Temos também outros tópicos vocacionados para recortes, para histórias escritas e para vídeos. Tudo na mesma lógica. A partilha de experiências e conhecimento em prol do Glorioso.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Dezembro de 2014, 00:32
-22-
Os primeiros troféus (parte I): o Restaurante Bacalhau..

Restaurante Bacalhau, Ruas das Fontaínhas, às portas de Benfica.

(http://2.bp.blogspot.com/_vyPcxm-fW6Y/S2ISlvs3_JI/AAAAAAAAIQs/pmjTfZ4rI7c/s320/Restaurante+Bacalhau+portas+benfica.jpg)
Fotografia de Eduardo Portugal. Fonte: AML.

31 de Julho de 1910. Um conjunto de 44 homens convivem à volta de seis troféus:
(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)
Fotografia de J.A. Correia, "Photografia Ideal", Benfica.

Os motivos estão aqui descritos:

(https://i.postimg.cc/rpPmjvjR/03.jpg)

As circunstâncias foram também já excelentemente descritas por Alberto Miguéns:
http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/07/museu-longa-marcha-dos-benfiquistas.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/07/museu-longa-marcha-dos-benfiquistas.html)

Tratou-se de uma celebração das primeiras vitórias do Sport Lisboa e Benfica. Pouco tempo antes o clube tinha quebrado a hegemonia dos Ingleses do Carcavellos Football Club. Em Fevereiro o nosso Clube tinha festejado seis anos de idade. Estavamos agora dois anos após a grande fusão (mais tarde viria a dos Desportos de Benfica) que re-centrou as actividades do nosso clube de Belém para Benfica.

Infelizmente, dois desses troféus, os bronzes com figuras de atletas, desapareceram e não constam hoje do espólio do nosso museu. Segundo se diz por terem sido colocados no prego numa situação de maior aperto no clube. Nunca mais apareceram.

Com estas vitórias e com esta celebração iniciava-se assim a saga cujo mais recente episódio foi a nossa ida ao Marquês no passado mês de Maio. Ora, nesse ano de 1910 ainda a águia não tinha ninho certo, ainda o país estava em suspenso de transformações que viriam enfim no dia 5 de Outubro de 1910. Ainda e sempre lutávamos pela sobrevivência mas já éramos vencedores e formávamos novos vencedores. À volta da mesa juntavam-se dirigentes e jogadores do Benfica numa almoçarada em que se convidaram também figuras externas ao clube, entre os quais Carlos Villar, jogador e dirigente do CIF, um dos grandes pioneiros do futebol Português e também Duarte Rodrigues, director do periódico "Tiro e Sport". No final do repasto o fotógrafo J. A. Correia tirou fotografias aos convivas das quais conhecemos esta. Para mim esta fotografia ilustra mesmo a ideia "De todos, um".

É uma fotografia célebre e por isso mereceu justamente a honra de estar à entrada do nosso Museu. É magnífica.

(http://3.bp.blogspot.com/-T5CEZZSgj84/UfJE9EPbJgI/AAAAAAAAD8A/n-jFs60G1FM/s1600/Museu+Cosme+Dami%C3%A3o.png)

Olhem para aquelas caras. São rostos de gente de fibra. Gente que iniciou uma aventura, um projecto imenso, já centenário.

A fotografia é também um desafio de identificação dos homens nela imortalizados. Desafio esse em que sou capaz apenas de fazer algumas identificações. Será que alguém tem dados que possam ajudar a fazer mais algumas? Seria excelente. Enquanto isso não acontece aqui vão as minhas propostas:


(https://i.postimg.cc/9QXQhWNq/05.jpg)

1 - António da Silva Marques (?), jogador
2 –
3 -  Duarte Rodrigues, Jornalista Director técnico do jornal Tiro e Sport
4 – Carlos Villar (?), dirigente CIF
5 – António Nunes de Almeida Guimarães, dirigente, Secretário da Direcção, presidente eleito em 26 de Março de 1911 sucedendo a João José Pires
6 -
7 –
8 -  Alberto Rio, jogador
9 - Germano de Vasconcelos Júnior, jogador
10 – António Bernardino Costa, jogador
11 – Félix Bermudes, jogador, dirigente
12 – Cosme Damião, jogador, capitão-geral, dirigente, fundador
13 – António Augusto Marques, jogador
14 – António Meireles, jogador
15 – Luís Vieira, jogador
16 – Artur José Pereira, jogador
17 – Francisco Pereira, jogador
18 –
19 –
20 – Carlos França, jogador, fundador
21 –
22 -
23 –
24 – Carlos Homem de Figueiredo, jogador e jornalista
25 – Eduardo Corga, jogador, fundador
26 -
27 -
28 – David da Fonseca, jogador
29 – João Carvalho Persónio, jogador
30 - João Carlos Mascarenhas de Melo, dirigente
31 -
32 –
33 -
34 -
35 -
36 –
37 – Álvaro Gaspar, jogador
38 -
39 -
40 -
41 -
42 -
43 -
44 -


Na primeira fila estão predominantemente dirigentes, na segunda e terceira uma maioria de jogadores e na terceira provavelmente predominam outros sócios.

104 anos depois. E hoje? Uma vez mais tudo muda, só o Benfica é eterno. Ora vejam:

(https://i.postimg.cc/g09thJFx/06.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 06 de Dezembro de 2014, 11:36
Bela história.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: SLB É O REI DO MUNDO em 06 de Dezembro de 2014, 19:23
Tópico fabuloso, RedVC  :bow2:

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Dezembro de 2014, 20:02
Obrigado pelas vossas palavras simpáticas O0

Aqui vai mais uma:

-23-
Um Ilustre nos primórdios do futebol sadino.

Equipa do Setubalense Sporting Club:
(http://fotos.sapo.pt/fVYEKYl7MBi4gbR4tMtV/x435)
Fonte: http://setubaldoutrostempos.blogs.sapo.pt/2008/10/ (http://setubaldoutrostempos.blogs.sapo.pt/2008/10/)
Fonte original: revista Os Sports Ilustrados de 10 de Setembro de 1910


Setubalense Sporting Club, o precursor do Vitória Futebol Clube, popularmente conhecido por Vitória de Setúbal. Mas acerca dos primórdios do futebol setubalense podemos encontrar uma fonte com bastantes detalhes aqui:

Assim começou o Vitória Futebol Clube

Era o ano de 1910, entre Agosto e Setembro, quando D. Bernardo Mesquitela – de estirpe fidalga e de tradição elegante da corte – ilustre Comandante da canhoeira "Zaire", ancorada no Porto de Setúbal, e que tinha o gosto de promover festas elegantes e desportivas, que muita animavam o Parque da Saboaria e as salas do Palacete de Quintela da Saboaria, onde habitava.
Entre as muitas figuras que frequentavam essas festas do Comandante Quintela, destacavam-se o Capitão do Porto de Setúbal, José Maria Martins Pereira; o Director da Alfândega, Narciso David e ainda o Primeiro-Tenente da "Zaire", António Henriques.
Destes convívios foi criado o Setubalense Sporting Clube, onde António Carlos Botelho Moniz, José Pombo Ahrens, dr. Silveira (oficial médico da Marinha), Joaquim da Costa Novais, entre outros, fizeram parte da primeira comissão de honra executiva.
Entre os inúmeros festivais organizados pelo novel clube – que mereceram grandes elogios nos jornais de Lisboa – destacam-se os terrestres, como por exemplo: corridas de Atletismo, Estafetas, Ciclismo e ainda um jogo de Futebol – o primeiro realizado na cidade de Setúbal – onde uma das equipas trajava camisolas listadas de "verde-branco".
Em 20 de Novembro de 1910 existiam três clubes em Setúbal: o Setubalense Sporting Clube, o Sport Clube Académico e o Bonfim Futebol Clube.
Entretanto dois jogadores do Bonfim Futebol Clube, Joaquim Venâncio e Henrique Santos, deixaram o clube e formaram o Sport Vitória, clube que aglutinou "dissidentes" dos outros clubes.
Em 5 de Maio de 1911 o jornalista Joaquim Correia propôs, na primeira Assembleia Geral, que o clube passasse a ter o nome de VITÓRIA FUTEBOL CLUBE.
A primeira Direcção do Clube foi composta por, Manuel dos Santos Barreira, João Diniz, Mário Ascensão Ledo e Joaquim Venâncio.
Em 15 de Maio desse ano o Vitória Futebol Clube disputaria o primeiro jogo da sua existência. O adversário foi o Futebol Grupo Nacional que venceram o estreante competidor por sete bolas a zero.
Em 21 de Junho de 1912 o Vitória estreia as suas camisolas verde-brancas. Na estreia venceu o Lisboa Futebol Clube por uma bola sem resposta.
No ano seguinte o Vitória Futebol Clube adquire casa própria para receber os seus adversários. Procedeu-se à inauguração do Campo dos Arcos, com um jogo com um gigante do futebol português – o Sport Lisboa e Benfica.

Fonte: http://www.viiiexercito.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=240:historiavfcsetubalsense&catid=1:latest-news (http://www.viiiexercito.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=240:historiavfcsetubalsense&catid=1:latest-news)



Já temos aqui uma primeira menção relativa ao nosso clube e acerca de uma modesta mas significativa contribuição que deu para a implantação do futebol em terras Setubalenses. Mas existe uma outra, menos evidente. Para isso voltemos ao Setubalense Sporting Clube.

Voltemos atrás, ao dia 10 de Setembro de 1910, em que o periódico Sports Ilustrados reporta um jogo entre o Setubalense Sporting Club e o Sport Club Império.

O Império era um clube com alguma notoriedade no futebol Lisboeta até 1928, data em que foi extinto, sendo nessa altura capitaneado por Travassos Lopes. Segundo a crónica o encontro terá tido uma assistência de cerca de duas mil pessoas. Uma outra curiosidade lateral das notas desse jogo é a indicação de que no grupo do Império alinharam António Bentes e Jayme Cadete, dois futebolistas que depois seriam atletas do SCP e (no caso do último) do Sport Lisboa e Benfica. O jogo terminaria com a vitória do Império por 2-1.

Mas esse não é o aspecto interessante na notícia. O aspecto que para nós é verdadeiramente interessante prende-se com uma pista que nos remete uma vez mais para Belém. Sempre Belém, sempre o Sport Lisboa.

Para estabelecer essa pista, notemos a composição da equipa do SSC. Notemos que entre os 11 jogadores se encontrava um tal de Jorge Augusto Sousa:

(http://i58.tinypic.com/14b2v5c.png)
Fonte: Sports Ilustrados

É... é o mesmo Jorge Sousa listado entre os fundadores do  Sport Lisboa. Mais um dos 24 homens que dia 28 de Fevereiro de 1904 se reuniram na Farmácia Franco para fundar o Sport Lisboa. Apressadamente que havia que ir treinar... Mais um dos companheiros de Cosme Damião e de Francisco Reis, de quem já aqui se falou.

Jorge de Sousa, pela disposição da equipa na fotografia era provavelmente o médio direito daquela equipa. Para além disso assumia uma outra função, a de tesoureiro desse novo clube, o que explica o seu destaque no medalhão à direita. O outro medalhão refere-se a Aureliano Soares Leite, presidente da Direcção nessa altura. Mais tarde, Jorge de Sousa viria a ser o segundo presidente eleito do Vitória Futebol Clube.

(http://i61.tinypic.com/55p991.png)

Jorge de Sousa nasceu em Almada em 1881. Em Setúbal evidenciou-se como organizador de actividades na área da educação física, especialmente nas referentes ao desporto. Em 1909 formou um grupo de amigos do futebol. Quando em 1911 se fundou o clube Vitória foi ele o seu principal animador. O jornal O Sport de Lisboa referia-se-lhe em 10 de Outubro de 1920 como "saudoso desportista" Fonte: http://mcquintas.paginas.sapo.pt/index11.html (http://mcquintas.paginas.sapo.pt/index11.html).

Terá pois morrido ainda antes de 1920 mas ainda hoje tem uma Rua com o seu nome em Setúbal.

Jorge Sousa pertencia ao grupo de antigos casapianos que juntamente com o grupo dos Catataus fundou o Sport Lisboa. Foi assim mais um dos antigos casapianos cujo dinamismo e cultura desportiva produziram tantos e tão benéficos efeitos em tantos locais de Portugal. Nesse tempo a cultura desportiva era incipiente e a acção destes pioneiros nos locais para onde a sua profissão os levou, contribuiu grandemente para a revolução de mentalidades e para as fundações de uma outra perspectiva de vida e de associativismo desportivo. Entre esses nomes incluem-se José Joaquim Mira e Carlos Homem de Figueiredo também em Setúbal, Leopoldo Mocho em Portalegre, José Domingos Fernandes, Raúl Vieira Joaquim dos Santos Pimenta  em Coimbra, Constantino da Encarnação em Braga e Viana do Castelo, António Maria de Oliveira e Artur Pereira no Barreiro e por aí adiante. A lista é longa e notável podendo ser encontrados mais detalhes aqui: http://www.casapia-ac.pt/pioneirismo.pdf (http://www.casapia-ac.pt/pioneirismo.pdf).

Para que conste e para que o seu nome seja lembrado. Por Benfiquistas e por Sadinos.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Dezembro de 2014, 01:15
-24-
Os Condes do Restelo

Junho 1907, Paços Concelho, Lisboa
Fotografia de Joshua Benoliel.

(http://i59.tinypic.com/30uzi1h.png)
Á esquerda esboço de Ignacio José Franco - Conde do Restello em 1903 - Fontes: Tiro Civil 255. e AML

Na fotografia estão retratados os homens que constituiam o elenco que dirigia a Camara Municipal de Lisboa. Presidido por Teodoro Ferreira Pinto Basto (barbas brancas), esse elenco tinha como um dos vereadores um nome ligado ao Sport Lisboa e Benfica: Inácio José Franco.

Inácio foi o 2º Conde do Restelo depois da morte de seu pai Pedro Augusto Franco, se não estou em erro ocorrida em 1903.

Era proprietário da Farmácia Franco juntamente com o seu irmão igualmente chamado Pedro Augusto Franco.

Por ser diplomado em Farmácia Pedro Augusto Franco substituiu o seu pai na Direção da Farmácia. Foi juntamente com o Dr. António de Azevedo Meireles, sócio benemérito do Sport Lisboa.

Os dois irmãos Franco viam com bonomia a actividade daquele grupo de jovens entusiastas do futebol que no pátio da Farmácia e depois nos areais de Belém, nas Terras do Desembargador e nas Salésias davam pleno curso à sua paixão pela prática do futebol.

(http://www.cbenfica.com/imgs/TerrasDoDesembargador.jpg)

Localizei também uma fotografia do pai de ambos,  o 1º conde do Restelo, Pedro Augusto Franco (1833-1903):

(https://www.cgd.pt/Institucional/Patrimonio-Historico/Noticias/Presidentes/PublishingImages/Pedro-Franco_196.jpg)
Como se vê o 1º conde do Restelo foi o 3º administrador ou presidente da Caixa Geral de Depósitos, cargo que assumiu pela primeira vez no início de 1881.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Dandy em 13 de Dezembro de 2014, 01:35




   Inchem, Viscondes!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Dezembro de 2014, 01:09
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Resistência: sugestão e mistério

Nota prévia: este texto foi de construção um pouco ingrata. Há muito ainda por descobrir e em alguns pontos o texto é mais interpretativo podendo ter algum elemento menos correcto. Serão bem vidas contribuições que possam adicionar detalhes ou corrigir eventuais erros.

1907, equipa de futebol do Grupo Sport Benfica.

(http://i60.tinypic.com/2lbp0xw.jpg)

Esta fotografia consta da História do SLB (1904 – 1954) de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. A sua legenda identifica 10 dos 11 jogadores. Da esquerda para a direita:
1ª fila – guarda redes e defesas: João Carvalho Persónio, Custódio Xavier, Luís Vieira;
2ª fila - médios: António Marques, Cosme Damião, Dias da Silva;
3ª fila - avançados: Robert Matos, António Vieira, NN, Mário Costa e Marcolino Bragança.

Qual a sua importância?

Em primeiro lugar a sua raridade. É a única que conheço de uma equipa de futebol do Grupo Sport Benfica. É também importante porque se reporta a meados de 1907, um período de resistência, crítico para o nosso clube. Esta fotografia integra alguns homens chave nesse processo.

Em 1907, o Grupo Sport Benfica, por vezes também designado Sport Clube Benfica, era conhecido por a maioria dos seus sócios serem empregados do comércio que nos seus dias de descanso faziam excursões ou festas desportivas (ver Tiro e Sport nº 360, 15 Agosto 1907). Era um clube ecléctico embora privilegiando o ciclismo e atletismo como modalidades desportivas primordiais. Não era por acaso que o seu emblema ostentava uma roda de bicicleta, pormenor que ainda hoje subsiste.

(http://i58.tinypic.com/jgief5.png)

As suas equipas de futebol eram fracas e pouco competitivas. Em contraste, o clube tinha arrendado à época um excelente campo de jogo, a Quinta da Feiteira.

Mas esta formação de 1907 já era uma equipa reforçada ao integrar pelo menos quatro jogadores vindos do Sport Lisboa: Persónio, Luís Viera, Cosme e Marcolino. Tinha também outros elementos que desconheço se ainda jogaram pelo Sport Lisboa mas que sei seguramente terem jogado por outros clubes: Robert de Matos (Cruz Negra) e Dias da Silva (CIF). Ao integrarem a equipa do Grupo de Sport Benfica, esses 4 jogadores do Sport Lisboa procuravam continuar a sua actividade futebolística e ao mesmo tempo - presumo eu - manter uma reflexão colectiva para decidir o futuro.

O Sport Lisboa vivia assim num limbo, numa indefinição total quanto ao seu futuro. Era um clube que rapidamente tinha conquistado grande adesão popular apesar de ter sido fundado apenas três anos antes. Estava agora à beira do precipício pois quase todo o seu núcleo duro competitivo tinha desertado, rendido às dificuldades e atraído pelos chás dançantes. Os que ficaram devem ter sentido que aquelas gloriosas camisolas vermelhas mereciam continuar a exibir-se orgulhosamente, vencendo nos campos Lisboetas.

Mas as dificuldades eram enormes. Sem campo, sem dinheiro, sem primeira categoria e com a desmotivação de ver alguns fundadores a desertarem. A agravar isso, a deserção dos 8 jogadores da primeira categoria para o SCP sinalizou também o caminho para outros. E de facto vários desiludidos optaram por procurar outro clube. Apenas um pequeno grupo decidiu resistir.

O que iria na mente de Cosme, Gourlade, Bermudes e seus pares? Aceitar a extinção do Sport Lisboa e procurar o futuro noutro clube ou pelo contrário resistir?

Não terá sido imediato mas finalmente decidiram resistir e com o seu entusiamo iniciaram um processo activo que contagiou muitos dos que tinham partido. E assim, gradualmente, entre 1907 e o ano seguinte, muitos viriam a regressar.

Mas quem foram esses resistentes? Quem integrou esse núcleo duro de vontade indómita, de crença persistente e que liderou esse processo?

Recentemente um grande Benfiquista com muito mais capacidade e informação do que eu tenho caracterizou-me a resistência de uma forma muito interessante e que me agradou. Esse núcleo duro pode ser estruturado numa 1.ª linha de resistência: Marcolino Bragança (ideia), Cosme Damião (organização) e Félix Bermudes (financiamento adiantado).

Ora nesta fotografia desses três apenas Bermudes não está presente.

De Cosme não vou falar pois felizmente tem-se falado muito e quase sempre bem.

Félix Bermudes apesar de ainda jogar já tinha outras responsabilidades, fruto da sua capacidade financeira e do seu meio social. Félix foi um dos homens que pelo lado do Sport Lisboa lideraram as negociações que levaram à fusão de Setembro de 1908. Evidenciava também uma visão colectiva e ecléctica do clube, não se coibindo de alinhar pelas categorias secundárias – se esse facto fosse benéfico quer do ponto de vista competitivo quer do ponto de vista motivacional para os mais jovens – como também de praticar muitas outras modalidades desportivas: tiro, hipismo, esgrima, atletismo.

De Marcolino de Bragança, fica a ideia de um meteoro pois a sua passagem pelo clube foi fugaz mas brilhante uma vez que cedo regressaria a África. Marcolino deu a ideia sobre a qual tudo assentou. A ideia simples e lúcida de passar a segunda para primeira categoria. Com essa transição a competitividade foi assegurada pois essa equipa era fortíssima. Cosme apelidou-o de "jogador esplêndido" e nesta fotografia ele aparece-nos como extremo esquerdo mas terá jogado também como médio esquerdo.

A este núcleo eu acrescentaria Manuel Gourlade, a primeira águia. O homem que foi o principal motor da junção do grupo dos Catataus com os Casapianos, foi apenas um jogador modesto com actividade regular nas categorias inferiores se não estou em erro entre 1904-1905. Mas em 1907 a acção dinâmica de Gourlade continuaria a ser fundamental para a sobrevivência. Gourlade levou a cabo uma subscrição popular bem-sucedida, que terá tendido 27 mil Réis, tendo ele próprio doado muita das suas economias. Outros beneméritos foram o Conde do Restelo e o Dr. António Azevedo Meireles cujo prestígio e suporte monetário deu significativa contribuição para o processo.

Mas existiram outros elementos que numa 2.ª linha de resistência viriam a ter contribuições igualmente importantes. Sabemos de alguns tais como: Virgílio Paula (tesoureiro-secretário) e Luís Kruss Gomes (ambos originários do Restelo FC), Silvestre Silva e Daniel Santos Brito (fundador e colega de Gourlade).

Por exemplo Silvestre da Silva, antigo jogador e prestigiado casapiano (chegou a vice-director) terá sido o autor do primeiro golo de um jogo do Sport Lisboa reportado pelos jornais. Em 1907, Silvestre já não jogava mas coube-lhe concretizar a inscrição para que o Sport Lisboa disputasse o campeonato de 1907-1908. Uma formalidade burocrática mas de enorme significado para a sobrevivência do Sport Lisboa, garantindo a continuidade da sua actividade desportiva e competitiva.

Mas, esta fotografia dá pistas para adicionar pelo menos mais dois resistentes à lista: João Carvalho Persónio e Luís Vieira. A estes homens o Sport Lisboa e Benfica deve também um reconhecimento especial.

Persónio foi um antigo casapiano, que jogando a avançado integrou as equipas que desafiaram os mestres Ingleses do Cabo Submarino. Embora sem certezas, presumo que Persónio ainda terá jogado nos campos do Campo-Pequeno. No Sport Lisboa foi guarda-redes apesar de ter uma estatura não muito compatível com o lugar. Teve também uma acção importante na evolução desportiva do clube após a fusão.

Luís Vieira é um outro caso, por sinal curiosíssimo. Filho de Belém, jogador do tempo das Salésias, integrou as equipas das categorias inferiores do Sport Lisboa. Assumiu muitos lugares em campo mas foi no lugar de avançado que se fixou. Foi igualmente um dos primeiros jogadores – talvez o segundo – a jogar no estrangeiro. De facto, após a digressão de Julho-Agosto de 1913 de uma equipa da AFL ao Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo), Vieira decidiu ficar no Brasil. Jogou no Botafogo do Rio de Janeiro onde não sendo estrela foi no entanto destaque. Marcou golos. Regressou em 1916, voltando a jogar pelo seu Benfica. Alberto Miguéns fala disto e muito mais, aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/08/francisco-luiz-e-rogerio.html. Luís Vieira no entanto viria a ser mais um dos homens que na turbulência da crise Belém-Benfica de 1919, veio a ingressar no recém-formado Clube de Futebol "os Belenenses". Já não jogava mas foi importante, tendo aliás em 1920 chegado a presidente, substituindo o Engº Reis Gonçalves, um dos fundadores do...Sport Lisboa. Estes factos expõem a clivagem que os filhos de Belém provocaram, desencantados com a evolução do SLB e principalmente com a deslocalização do clube de Belém para Benfica.

Mas voltando à resistência de 1907, fica claro que acção de Cosme e deste núcleo duro evitou a extinção do Sport Lisboa. A evolução fez com que dois clubes prosseguissem a sua actividade juntando forças.

E dessa forma durante a época de 1907-1908 as camisolas vermelhas continuaram em campo. Aliás, durante essa época o clube continuou a chamar-se Sport Lisboa. Ganhou-se oxigénio, esperança e convicção de que o caminho passava por manter e vitalizar o clube. E a oportunidade surgiu com os contactos entre Cosme, Bermudes e os líderes do Grupo Sport Benfica. Mas essa é outra história.

Em jeito de homenagem aqui fica uma imagem composta com estes Benfiquistas de boa cepa:

(http://i60.tinypic.com/211qlaw.png)

Por último a fotografia desafia-nos também com uma questão intrigante: de que cor seriam as listas da camisola do Grupo Sport Benfica? Seriam pretas, azuis, vermelhas ou verdes? Talvez isso esteja nos estatutos do clube. Gostaria de saber. Alguém sabe?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 23 de Dezembro de 2014, 12:29
Muito obrigado por estas histórias da nossa história.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Dezembro de 2014, 18:10
Obrigado Ned  O0

(http://2.bp.blogspot.com/_scZlKAsQ7HU/R20WKX2hzqI/AAAAAAAAAes/C_6oVAw-GEo/s400/Benfica-gorro.jpg)

Boa festas para todos e que 2015 seja Benfiquista e Campeão!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Dezembro de 2014, 10:23
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Araújo: uma carreira que ficou por fazer

Durante algum tempo procurei uma fotografia de melhor qualidade e lá a encontrei.

(http://images-01.delcampe-static.net/img_large/auction/000/252/913/608_001.jpg)

Serve então para fazer uma pequena evocação de um jogador cuja infelicidade pessoal inviabilizou aquilo que poderia ter sido uma grande carreira. Decifrando uma imagem.

Médio.José Simões Ferreira de Araújo,nasceu em Coina a 28 de Setembro de 1958.Depois de ter representado a Cuf, transferiu-se em 1978-79 para o Barreirense, onde alinhou dois anos antes de rumar para o Benfica, onde permaneceu três épocas,abandonando o futebol devido a gravíssima lesão,quando tinha 25 anos.Voltaria para clubes secundários nomeadamente em 1987-88 quando representou os Pescadores da Costa da Caparica na segunda divisão.
Fonte: http://jogadoresdobarreirense.blogs.sapo.pt/5730.html (http://jogadoresdobarreirense.blogs.sapo.pt/5730.html)


Um quase desconhecido para a maioria dos Benfiquistas mas na altura era colocado ao nível de um seu colega no Barreirense, Carlos Manuel, o Carlão, situação que permite perceber o que poderia ter sido.

Chegou ainda à seleção de esperanças em 1978/79. Ao seu lado reconhecem-se alguns nomes de ilustres Benfiquistas tais como Jorge Silva e Carlos Manuel e Folha (em baixo) e Pereirinha e Fidalgo em cima:
(http://6.fotos.web.sapo.io/i/Bb01494c7/17532984_42kP9.jpeg)
Em cima: Francisco Silva,Tobica,Pereirinha,Fidalgo,Olavo,Nelito
Em baixo: Araujo,Jorge Silva,Carlos Manuel,Folha,Alexandre Alhinho.



Nesta imagem Araújo integra uma equipa do FC Barreirense onde estavam também Jorge Martins, Pavão, Frederico e Carlos Manuel que também passaram pelo Benfica. O filão do Barreiro era então um dos maiores viveiros de craques para o Benfica..

(http://photos1.blogger.com/blogger/7130/1802/1600/Barreirense,%201978-79%20com%20legenda%20para%20blogue.0.jpg)

Aqui já no Benfica à civil e a ladear outros gloriosos jogadores do valioso filão do Barreiro:
José Luis e Diamantino em cima; Bento, Oliveira, Chalana e Carlos Manuel em baixo:

(http://5.fotos.web.sapo.io/i/N27077761/9873586_aDwrR.jpeg)

Uma evocação merecida para um jogador cuja infelicidade pessoal nos privou de mais um craque do SLB. Também destas histórias se faz a grande história do Glorioso.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Janeiro de 2015, 16:21
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A primeira águia

Hoje é especial. Hoje tenho o prazer e orgulho de colocar aqui informação inédita sobre uma figura fundamental da história do nosso clube. Para isso vamos partir de uma fotografia já conhecida:

(http://i59.tinypic.com/mszo2f.png)

É uma imagem triste de um homem no ocaso da vida.

É a última imagem conhecida de Manuel Gourlade, a primeira águia.

Que idade teria? Não sabemos. Aliás deste homem conhece-se pouco. O que se conhece é basicamente aquilo que reuni aqui: http://serbenfiquista.com/forum/imortais/manuel-gourlade/

Trata-se de material divulgado em diversos livros e que basicamente reportam o que foi dito por Daniel Santos Brito e Cosme Damião em duas entrevistas que deram já numa fase avançada das suas vidas. Nessas entrevistas faziam justiça à figura pioneira e à acção decisiva de Gourlade. Deixavam claro que tinha sido um homem generoso, voluntarista, e com uma acção fundamental para a fundação e sobrevivência de um clube pobre mas cheio de homens de fibra e talento.

Depois de 1908-1909 Gourlade quase desapareceu. Do meu conhecimento, e como Alberto Miguéns recentemente mostrou, apenas a notícia de ter sido uma das pessoas citada por jornais em 1915 aquando do funeral de Álvaro Gaspar. Depois mais nada à excepção das ditas entrevistas.

Por isso tive uma satisfação especial em recentemente localizar documentação que permite saber mais qualquer coisa sobre Gourlade. Tanto quanto sei é a primeira vez que se revela esta informação.

(http://i62.tinypic.com/287f8rp.png)

Trata-se do registo de baptismo de Gourlade. Com este documento sabemos que faleceu no primeiro dia de 1944 com cerca de 72 anos. É uma informação nova e de certa forma inesperada. Dá uma compreensão diferente à fotografia de Gourlade já idoso, que se pensava ser datada da década de 20 ou eventualmente de 30 dado que existia indicação que tinha envelhecido precocemente.

Este documento diz-nos igualmente que Manuel Gourlade nasceu em 25 de Outubro de 1872, provavelmente em casa de seus pais, na Rua da Paz, nº 118, freguesia da Ajuda.

(http://i61.tinypic.com/20qi4n9.png)

Foi baptizado no dia 31 de Outubro daquele ano na Igreja da Nossa Senhora da Ajuda

(http://4.bp.blogspot.com/_aDyJwSCy0m8/S_rvaBhPpzI/AAAAAAAAAXk/iIqk4HXv8vA/s1600/paroquia%2520frente.jpg)

Era filho de António Maria Gourlade, baptizado na Ajuda e de Joanna Maria da Glória Gourlade, baptizada em Alcântara. Era neto pelo lado paterno de Bernardo Augusto Gourlade e de Thereza Polycarpa Jorge Gourlade e pelo lado materno de António Maria Figueira e de Maria da Conceição Gomes Figueira.

Gourlade nasceu assim não muito longe das terras do desembargador, às Salésias. Perto do palco, do berço do Sport Lisboa, perto de onde tudo se iria passar.

Mas voltando à imagem de partida, é conhecido que Gourlade numa dada fase da sua vida deixou a Farmácia Franco e começou a trabalhar como intérprete no cais. Era um homem que falava diversas línguas e por isso seria qualificado para essa função. A sua acção no clube começou a desvanecer-se a partir de 1908, coincidindo com a deslocalização do clube para Benfica. Gradualmente começou a afastar-se. Depois veio o envelhecimento precoce e a decadência pessoal. Tanto que motivaram, nas palavras do seu antigo colega de trabalho Daniel Santos Brito, que mãos amigas o levassem para o asilo d'Espie Miranda em Campolide. Suspeito que essas mãos amigas seriam o próprio Daniel Santos Brito e o seu patrão Pedro Augusto Franco ou eventualmente o irmão deste último, Ignácio José Franco, 2º conde do Restelo, falecido em 1931. Em Campolide desconhecemos a vida de Gourlade. Sabemos que terá recebido visitas de Daniel Santos Brito e de Cosme Damião, dos quais terá tido oportunidade de saber do crescimento e da dimensão nacional do clube que ele ajudou a fundar. E por lá terá ficado até morrer. Pensava-se que teria falecido algures pela década de 20 ou 30. Sabemos agora que viveu bem mais do que isso. 

Gourlade foi uma alma nobre e generosa. Nas palavras de Daniel Santos Brito, Gourlade comprometeu seriamente a sua bolsa em prol de um ideal. Foi um exemplo ilustre de um homem decisivo para o nosso clube, pelo sonho que teve e mais importante pela acção concreta e persiste num tempo bem difícil não apenas de um ponto de vista desportivo mas social. Hoje somos todos a prova de que não foi inglório esse esforço. Ao sonho e acção dele, de Cosme, de Bermudes e de mais um punhado de grandes homens devemos esta realidade esmagadora e maravilhosa que é o Sport Lisboa e Benfica. É confortante saber que Gourlade ainda viveu para perceber pela voz de outros da grandeza do clube que ajudou a fundar.

Paz, Honra e Glória à memória de Manuel Gourlade (1872-1944)
(http://i58.tinypic.com/14kl4w3.png)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: M1904 em 05 de Janeiro de 2015, 10:53
É dele a carta a pedir bolas, apitos e livro de regras ao Liverpool em 1904. Documento muito interessante e de grande importância histórica!

Esse documento está no museu. Já tive algures uma digitalização, mas não a consigo encontrar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 05 de Janeiro de 2015, 12:14
Citação de: M1904 em 05 de Janeiro de 2015, 10:53
É dele a carta a pedir bolas, apitos e livro de regras ao Liverpool em 1904. Documento muito interessante e de grande importância histórica!

Esse documento está no museu. Já tive algures uma digitalização, mas não a consigo encontrar.

Sim, está no Museu.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Janeiro de 2015, 16:37
É uma fotografia. Se alguém tiver uma digitalização claro que é melhor.

(http://i60.tinypic.com/25ro8yw.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Janeiro de 2015, 18:11
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Amor à camisola

O clube é maior do que qualquer homem.

Essa é uma regra que não se discute. Mas claro, salientar algumas figuras é salutar e inspirador para a mística.

Vamos partir de uma fotografia que já por aqui apareceu. Restaurante  Bacalhau, Benfica, fim de época de 1909-1910.

Festejava-se o primeiro título de campeão do campeonato regional de Lisboa em futebol. Nesse tempo não existia um campeonato nacional de futebol mas inquestionavelmente era em Lisboa que estavam os clubes mais evoluídos e os melhores jogadores do país.

Depois de derrotados os mestres Ingleses do Carcavellos, e conquistado o campeonato o Sport Lisboa e Benfica impunha-se enfim nesse ano e depois nessa década, como a força dominante do futebol Português. Entre os 44 convivas (mais o fotógrafo que provavelmente também deu ao dente) reinava a alegria. Mas se repararem apenas um dos convivas enverga a camisola do Glorioso.

(http://i59.tinypic.com/13z8yt1.png)

E vamos pegar nesse detalhe tão revelador para falar um pouco desse homem, de um Benfiquista especial:


(http://i58.tinypic.com/2130vfs.png)
David José da Fonseca.


David da Fonseca integrou  a nossa primeira categoria de 1905 a 1907, tendo sido titular frequente. Foi um antigo casapiano que jogou nas célebres equipas que acumularam vitórias e prestígio no final do século XIX. Juntamente com outros companheiros desses tempos, David aderiu entusiasticamente ao novo clube, o Sport Lisboa. Camisola vermelha, cor da alegria, águia, o símbolo da vitória e divisa, e pluribus unum. Irresistível.

O Sport Lisboa, era assim a mais perfeita emanação da efervescência futebolística de Belém no início do século XX. Formava-se assim em 1904 o Sport Lisboa, fruto das vontades entre o grupo dos Catataus e um conjunto de ex-casapianos. O grupo foi fundado maioritariamente por jovens mas os prestigiados veteranos casapianos, bons de bola, cedo vieram a aderir trazendo ao novo clube os seus conhecimentos técnicos e tácticos e capacidade competitiva e ganhadora.

David era um desses homens, apresentando-se geralmente como avançado. As vitórias e a utilização exclusiva de jogadores Portugueses fizeram com que o Sport Lisboa conquistasse rapidamente o coração de muitos Lisboetas. A conquista do país viria nas décadas seguintes.

Ora, em Maio de 1907, na sequência da crise despoletada pelo canto de sereia que levou à deserção de 8 jogadores para o SCP, David para manter a actividade futebolística preferiu sair para o Cruz Negra, onde jogou durante a época de 1907-1908. Alegou mais tarde que estava convencido que o Sport Lisboa seria extinto, mas que mesmo assim não quis ir para o SCP. E de facto ao fim de uma época regressou ao Sport Lisboa, voltando a envergar orgulhosamente a gloriosa camisola vermelha.

Em 1908 se não estou em erro, foi aliás o autor de um dos golos com que pela primeira vez vencemos o SCP (2-0, tendo o outro golo sido marcado pelo capitão Cosme Damião). Era um jogador prestigiado.

(http://i62.tinypic.com/m76pgz.png)


David viria a jogar não apenas na primeira categoria mas também em categorias inferiores. A idade veio e cobrou o seu preço mas mesmo assim defendeu sempre com o orgulho aquela camisola vermelha que tanto amava. E tão orgulhosamente a defendia que em 1911, na sua última época como jogador, em contraste com os seus colegas que já usavam o novo modelo, David persistiu em usar a primeira, a mítica camisola de flanela que muito provavelmente foi comprada vários anos antes na Casa do Povo d'Alcântara. Os seus colegas usavam a camisola do segundo modelo (ambas estão à venda na loja do museu) e ele persistia em usar aquela que lhe lembrava os primeiros tempos da glória das Salésias e da Quinta Nova em Carcavelos. Nessa época de 1910-1911 já com 32 anos, idade à época que era sinónimo de um jogador já bem veterano, é fácil imaginar que ele dentro de campo e na segunda categoria, jogava sem complexos com a humildade e paixão que sempre pôs no jogo.

(http://i57.tinypic.com/2zdqdl2.png)


David José da Fonseca, era filho de Joaquim da Fonseca e Carolina Amélia, tendo nascido em 27-06-1879 e morrido em 8-08-1964. Os seus pais moravam nas terras de Santana, (presumo que perto do Largo do Rato) lugar onde terá nascido.

(http://fotos.sapo.pt/biclaranja/pic/000qhaqh/s500x500)
Campo de Santana, Lisboa, [ant. 1891].
Fonte: http://biclaranja.blogs.sapo.pt/32817.html (http://biclaranja.blogs.sapo.pt/32817.html)


Não muito longe, na Igreja de São Roque o seu pai desempenhava a curiosa profissão de sineiro na Igreja de São Roque. Sineiro? Em princípio (julgo eu) deveria ser tocador de sino. Função que exigia uma grande força física e que era bem mais importante do que se calhar hoje pensamos.

E... David morreu em 1964? Esperem aí! Este homem morreu com 85 anos depois da conquista das duas taças dos clubes campeões europeus! Este homem viu essas vitórias e antes ainda viu a magnífica conquista da Taça Latina, título que significava o Campeão Latino numa altura em que o melhor futebol Europeu estava na região mediterrânica... Este homem ainda viu Francisco Ferreira, Rogério Pipi, Águas, Coluna e Eusébio e tantos outros! Que orgulho deve ter sentido! Uma vida longa e cheia de glória Benfiquista.


Honra e Glória a David José da Fonseca:

(http://i60.tinypic.com/25j8p3m.png)
(Terras de Santana 1879 - Olivais 1964)


nota: queria deixar expresso um agradecimento especial a Alberto Miguens, esse grande Benfiquista e conhecedor superlativo da história e mística Benfiquista que divulgou várias das imagens que aqui coloquei e que por várias vezes salientou a figura de David da Fonseca.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 12 de Janeiro de 2015, 08:43
Belas histórias.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Janeiro de 2015, 00:25
Obrigado faneca_slb4ever.  O0
Felizmente há por aqui um pequeníssimo núcleo de leitores apreciadores de histórias antigas.
Não sou profissional disto e pesquisar e organizar material dá trabalho e consome tempo que se rouba à família e ao trabalho.
Principalmente o que é inédito - e tem havido alguma coisa - dá muito trabalho e provavelmente isso não é muito visível. A seu tempo ficarão aqui coisas que gradualmente poderão ser descobertas por quem vê um pouco mais para além da espuma dos dias. Que também tem a sua importância mas... que não explica este sentimento de Ser Benfiquista.
A seu tempo talvez apareça alguma coisa especial.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Janeiro de 2015, 15:15
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Amor ao clube! (à falta de camisola...)

O grande fotógrafo Joshua Benoliel tirou felizmente algumas fotografias de futebol. Não tantas como gostariamos mas algumas inesperadas e de grande valor. É o caso desta. Tirada na Quinta da Feiteira num jogo contra o Sport União Belenense.

Equipa suplementar do Sport Lisboa e Benfica (Outubro 1910):

(http://i59.tinypic.com/2v0lb1s.png)
Fonte: AML

Esta fotografia tem associada algumas identificações dos nosso jogadores, embora tenha notado pelo menos uma falha relativamente ao que me disseram.

Assim tanto quanto é possível fazê-la, esta é uma possível identificação destes jovens jogadores, aprendizes da mística Benfiquista:
1- Jorge Rosa Rodrigues(?); 2- Joaquim Cal; 3- Gonçalves; 4- Francisco Rocha; 5- Artur Ferreira; 6- Arnaldo Sobral; 7- Rogério Peres; 8- NN; 9- Francisco Pereira; 10. Augusto Jorge(?); 11- NN

Alguns destes jovens chegaram à primeira equipa do Benfica sendo que dois deles vieram a ter até algum destaque como avançados: 9- Francisco Pereira (irmão de Artur José Pereira) e 7- Rogério Peres (presumo que familiar de Fausto Peres, jogador já da década de 20).

A fotografia foi também divulgada no blog Retalhos de Benfica:
http://retalhosdebemfica.blogspot.pt/2009/12/origem-da-vila-ana-e-da-vila-ventura.html (http://retalhosdebemfica.blogspot.pt/2009/12/origem-da-vila-ana-e-da-vila-ventura.html)

As duas equipas como era costume da época, posam juntas no final do jogo. Nota-se um conjunto diversificado de "equipamentos" do lado do SLB enquanto que do lado do SUB são uniformes sendo possível pela gola da camisola identificar os seus dez jogadores de campo (números a azul). Os dois guarda redes têm uma indumentária semelhante mas o nosso, Jorge Rosa Rodrigues, a ser ele, na altura teria cerca de 18 anos. Compatível. Note-se que este era o mais novo dos Catataus e também aquele que mais tarde deixou o nosso clube para sair para o SCP. Seria no entanto um atleta de pouco talento e que não se destacou.

Seis dos nossos jogadores de campo apresentavam-se com a camisola normal dessa época ou seja o segundo modelo da nossa história. Note-se que a gola desta camisola era ligeiramente mais larga que a do SUB e os cordões também eram diferentes). Os restantes usavam a sua própria roupa sendo que três pareciam usar uma camisa ou camisola interior e outro uma camisola às listas que penso seria a camisola do Liceu Pedro Nunes, à época um Liceu que desenvolvia uma grande actividade desportiva. Em termos de cores a nossa camisola seria certamente vermelha e a do SUB seria azul. Não era o CF "os Belenenses" mas também se equipavam de azul. Provavelmente em 1919 aquando da escolha das suas cores, a camisola azul proposta pelo nosso Henrique Costa - em oposição à branca proposta por Carlos Sobral - foi influenciada pela memória do extinto SUB.

Voltando à imagem, o improviso dos equipamentos dá uma boa ideia da escassez de recursos que o nosso clube tinha de enfrentar. Era virtualmente amor ao clube, amor à camisola sem a ter...

Não sei ao certo se se tratava de uma equipa de terceiras ou quartas categorias do Benfica mas o que é certo é que essas equipas eram encaradas de forma séria, sendo um investimento que o clube fazia no seu futuro.

Alberto Miguéns explica isso de forma notável e factual, aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/02/formacao-made-in-slb.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/02/formacao-made-in-slb.html)

em que fala inclusivamente de uma equipa de infantis, em actividade por volta de 1913-1914.

Notável esta visão de Cosme Damião, percebendo que era necessário investir na formação para assegurar o futuro. Aliás esse entendimento deveria assentar na lucidez de perceber que as fontes de recrutamento tradicionais do Benfica poderiam no futuro ser comprometidas, o que como sabemos veio efectivamente a acontecer no final dessa década e no principio da seguinte com a fundação do Clube de Futebol "os Belenenses" e do Casa Pia Atlético Clube, respectivamente. A actividade das equipas de categorias inferiores visava não apenas formar jovens mas também introduzir-lhes a mística e transmitir-lhes os valores e o comportamento competitivo do clube. Era o viveiro dos novos jogadores e eram assim raros os casos de futebolistas da primeira equipa que não tinham feito o percurso, às vezes durante vários anos, nas categorias inferiores. Assim de cabeça lembro-me apenas de futebolistas de excepção tais como Artur José Pereira, Francisco Belas e Cândido de Oliveira. Mas até nesses posso estar errado. O que é certo é que a norma era fazer-se um trajecto antes de estar habilitado a jogar ao mais alto nível, já dotados da mística e da competitividade exigíveis para tal prestigiosa camisola.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 17 de Janeiro de 2015, 21:16
Citação de: RedVC em 04 de Janeiro de 2015, 16:21
-27-
A primeira águia
Muito e muito obrigado por este post. Acho que Gourlade é uma figura que merecia ser muito mais conhecida do que o que é, sendo tantas vezes desprezada em detrimento de Cosme Damião. Para mim saber-se a data da sua morte e como passou os seus últimos anos é mais uma peça no puzzle da sua vida. Bem hajas!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Janeiro de 2015, 23:29
Citação de: Rodolfo Dias em 17 de Janeiro de 2015, 21:16
Citação de: RedVC em 04 de Janeiro de 2015, 16:21
-27-
A primeira águia
Muito e muito obrigado por este post. Acho que Gourlade é uma figura que merecia ser muito mais conhecida do que o que é, sendo tantas vezes desprezada em detrimento de Cosme Damião. Para mim saber-se a data da sua morte e como passou os seus últimos anos é mais uma peça no puzzle da sua vida. Bem hajas!

Obrigado Rodolfo. Estimo muito as tuas palavras e quanto a Gourlade não posso estar mais em acordo com elas. Aliás como é costume meu vou elaborar um pouco...

Como disse anteriormente é importante conhecer o nosso passado e as nossas principais figuras para perceber porque o nosso clube é diferente, porque tem esta dimensão e entusiasmo popular.

No conhecimento do nosso passado estão também as respostas que explicam porque fomos um baluarte da democracia num tempo em que este país vivia em ditadura. Num tempo em que os outros clubes dito grandes tinham presidentes nomeados por oligarquias estreitamente ligadas ao regime. O conhecimento é a maior arma contra a difamação e a trapaça. E depois, felizmente temos uma história tão grande, tão rica e tão fascinante que dá gosto ir conhecendo.

Tenho-me concentrado nas duas primeiras décadas embora também saiba alguma coisa da década de 60 e depois claro, da de 80 em frente. A ideia de me concentrar nessas duas primeiras década é tentar perceber as fundações do nosso clube. Porquê esta democracia interna? Porque esta paixão? Porquê esta grandeza, porquê esta universalidade? Como explicar que um clube que esteve quase 50 anos sem ter um campo próprio pudesse ainda assim tornar-se logo após a sua primeira década de existência no maior e melhor clube Português? A resposta está na génese do nosso clube e na fibra dos fundadores e de outros homens fundamentais nos primeiros anos.

A esse propósito, é para mim hoje claro que existiam grandes diferenças sócio-económicas entre os 24 fundadores do Sport Lisboa. No dia e no acto de fundação formalizou-se (mas não muito...) a junção de esforços e talentos entre miúdos de Belém, mais abonados e antigos casapianos, dotados de conhecimento e valores de camaradagem mas com maiores carências económicas. Essas diferenças eram ainda mais reforçadas porque para além dos 24 fundadores presentes naquela farmácia no dia 28 de Fevereiro de 1904, existiram outros homens que não estavam ou não assinaram mas que foram igualmente fundamentais. Nesses incluíam-se antigos casapianos já bem instalados na vida ou em vias disso. Incluíam-se arquitectos, médicos, escultores, cinzeladores, militares. Um deles, José da Cruz Viegas, teve contribuição fundamental para a definição do nome e das cores do nosso clube e isto aparentemente ainda durante as conversas mantidas em 1903... Um dia deste será justo falar destes homens. 

Voltando a Gourlade, acredito que seria o mais velho deles todos. Tinha quase 32 anos nesse dia e provavelmente uma personalidade mais madura. Era com toda a certeza um homem dinâmico, entusiasta. Era um homem letrado (como se vê na carta por ele manuscrita em inglês, em cima) e via-se que tinha capacidade organizativa (como se vê no célebre bilhete que ainda recentemente o museu nos relembrou, em baixo) e ainda parece ter assumido funções de treinador durante o período de 1904-1907.

(http://i57.tinypic.com/b67alg.jpg)

Tanto Gourlade como Cosme tiveram um papel determinante na génese e no desenvolvimento inicial do clube. Gourlade pelo que se tem dito concentrou a sua importância em cerca de 4-5 anos, Cosme estendeu-a por quase 20 anos.
Cosme teria outras características pessoais e pelo seu méritos desportivo, organizativo, motivacional e pela sua longevidade, foi decisivo na sobrevivência de um clube quase condenado pela sua própria pobreza e pela força bruta do dinheiro dos viscondes.
Sem Gourlade não existiria Benfica. Esteve na fundação do Sport Lisboa e esteve também na fusão entre o Sport Lisboa e o Grupo Sport Benfica.

Penso no entanto que a diferente visibilidade destas duas figuras não se explica apenas por haver esta desproporção de anos de actividade Benfiquista. Respeitando outras opiniões, acho que isso se deve a questões de marketing em que se procura deliberadamente simplificar a mensagem para as massas. Acredito que o próprio museu do clube pode ainda fazer mais para salientar Gourlade. Deveria por exemplo haver uma galeria de notáveis dos primeiros 10 anos. Temos fotografias de quase todos... Ainda assim nos últimos anos, com a inauguração do museu e com a Benfica TV, tem-se feito muita coisa boa para dar a conhecer a história do clube e para salientar algumas das suas figuras e conquistas. Se pensarmos bem há uns anos atrás havia um conhecimento vago da figura de Cosme e quase nada ou mesmo nada de Gourlade. A procura de informação que ainda pode ser recuperada (infelizmente muita já terá sido perdida) é importante. A preservação dessa informação é igualmente decisiva. Estamos no caminho certo mas há ainda muita coisa por fazer e falta ainda salientar algumas figuras.

Dito isto, penso ser de uma justiça elementar colocar Gourlade ao nível dos maiores. Não é uma questão de opinião. É um facto histórico, incontornável, e é também uma acção de justiça que torna mais verdadeira e engrandece a história do Sport Lisboa e Benfica.

Daqui a algum tempo haverá mais qualquer coisa sobre este imortal.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 19 de Janeiro de 2015, 09:39
Citação de: Rodolfo Dias em 17 de Janeiro de 2015, 21:16
Citação de: RedVC em 04 de Janeiro de 2015, 16:21
-27-
A primeira águia
Muito e muito obrigado por este post. Acho que Gourlade é uma figura que merecia ser muito mais conhecida do que o que é, sendo tantas vezes desprezada em detrimento de Cosme Damião. Para mim saber-se a data da sua morte e como passou os seus últimos anos é mais uma peça no puzzle da sua vida. Bem hajas!

Verdade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Janeiro de 2015, 23:07
Sobre o signo do número 30...

-30-
Prémios aos campeões

30 de Junho de 1930, algures em Lisboa decorre uma cerimónia de distribuição de prémios aos jogadores do Sport Lisboa e Benfica, vencedores do Campeonato de Portugal em futebol.

(http://i59.tinypic.com/okwnsp.png)
Fonte: digitarq

Nessa época, o Benfica punha cobro a um jejum prolongado de títulos ganhando o Campeonato de Portugal, competição equivalente à actual Taça de Portugal.

O jogo da final foi disputado no dia 1 Junho 1930 no Campo Grande (nessa altura ainda era usado pelo SCP).

http://serbenfiquista.com/jogo/sl-benfica-3-x-1-barreirense (http://serbenfiquista.com/jogo/sl-benfica-3-x-1-barreirense)

O SL Benfica alinhou com guarda redes: Artur Dyson, defesas: António Pinho, Jorge Teixeira; médios: Aníbal José, João de Oliveira e Vítor Hugo; avançados: Augusto Dinis, Mário Carvalho, Jorge Tavares, António Guedes Gonçalves e Manuel de Oliveira. Marcaram para o Benfica: Augusto Dinis, Manuel de Oliveira e António Guedes Gonçalves. O nosso treinador era o Inglês Arthur John. Arbitrou o antigo casapiano Silvestre Rosmaninho que em 1921 foi um dos jogadores que abandonou o Benfica para seguir Cândido de Oliveira na fundação do Casa Pia Atlético Clube.

Ora este prémio era dado aos vencedores e era algo curioso: Gillettes de ouro nos respectivos estojos.  Isso mesmo... Enfim, nada mau para a época.

Parece que terá sido iniciado alguns alguns anos antes, em 1923/1924, época em que o Sporting Clube Olhanense saiu vencedor. O prémio terá sido promovido pelo Sr. João Machado da Conceição e pela Companhia Limitada de Lisboa, representantes da Gillette (Nova Iorque, EUA) em Portugal.

(http://i61.tinypic.com/2m7gacg.png)
Fonte: revista Ilustração 1 Novembro 1928.

Assim, e olhando para a composição da nossa equipa na final, podem-se reconhecer na fotografia 7 dos nossos atletas e ainda o presidente Alfredo Ávila de Melo.

Ávila de Melo foi foi nomeado em 1926 por Cosme Damião não ter aceite a sua eleição. Fez quatro mandatos (pouco felizes dada a ausência de títulos) entre 25-08-1926 a 15-08-1930. Este terá sido um dos últimos actos públicos deste presidente.

Assim temos da esquerda para a direita: Vítor Hugo, Aníbal José (avô do LOW), António Guedes Gonçalves, Alfredo Ávila de Melo, presidente do Benfica , ?, Carlos José Oliveira, ?, Jorge Tavares, Augusto Dinis, Artur Dyson e Mário de Carvalho. Nota-se pois a ausência de quatro dos nossos campeões: os irmãos Oliveira (também conhecidos por "Bananeiras"), o excelente defesa internacional António Pinho e o defesa Jorge Teixeira.

Infelizmente não se vislumbram as Gillettes mas antes os restos do repasto que isto de lidar com campeões de barba rija requer algo para aconchegar o estômago...

E era ainda para continuar:


(http://2.bp.blogspot.com/-DKbQIjyP1SY/U3vV-B_S6rI/AAAAAAAAOH8/wdreJU3gjxw/s1600/1929.30.jpg)
Banquete de homenagem uma semana depois, no dia 6 de Julho.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 31 de Janeiro de 2015, 01:15
Bela história :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Fevereiro de 2015, 15:45
-31-
O primeiro guardião

Pedro Guedes
(http://i60.tinypic.com/24nqlo3.png)
(8/11/1874 - 07/07/1961)

Dois instantes da vida de Pedro Guedes, futebolista, pintor e professor de Desenho da Casa Pia.

A primeira fotografia reporta-se à sua actividade de grande futebolista e capitão das vitoriosas equipas pioneiras da Casa Pia. Essa excelente equipa teve actividade na última década do século XIX. Ali aparece, sentado ao centro com a bola nas suas mãos, indicador do seu estatuto de capitão de equipa.

Pedro Guedes fazia parte de um grupo de jogadores notáveis, pioneiros do futebol em Portugal. A sua acção e exemplo foram inspiradores para muitos miúdos que se sentiram atraídos para esse jogo, até ali desdenhado quer pela ausência de prática desportiva generalizada no nosso país quer por ser visto como uma diversão de ingleses. Inicialmente nos dois campos ou melhor nos dois terrenos mais ou menos planos do Campo Pequeno (hoje são ocupados pela praça de touros) vieram a suceder os vastos terrenos da zona de Belém e em particular as Terras do Desembargador. Nesses espaços se juntaram as vontades e talentos de vários grupos com particular destaque para o grupo dos Catataus e um grupo de ex-Casapianos. Estes últimos (entre os quais se incluía Cosme Damião) eram de uma geração mais nova do que a equipa de Pedro Guedes. Os mais velhos eram pois vistos como jogadores prestigiados pelos seus feitos desportivos e pela sua personalidade. Afinal eles eram os vencedores de dois jogos contra os ingleses do Carcavellos, feito raríssimo e dificílimo e por isso ainda mais admirado e comentado.

(http://1.bp.blogspot.com/-rV27lQpGUvE/U-PpBNBpjVI/AAAAAAAAPxk/i-4KOHRpbSc/s1600/26+-+10+-+2013.jpg)
Pedro Guedes, capitão de equipa com a bola nas mãos.

Sabe-se que Pedro Guedes jogou noutras posições de campo para além de guarda-redes. Assim talvez o seu recuo para a baliza se tenha devido à veterania.

O que é certo é que foi o primeiro guarda-redes da história do Sport Lisboa e Benfica. Guardião da baliza vermelha na estreia absoluta do nosso clube. Ao meio dia do dia 1 de Janeiro de 1905, nas terras do Desembargador, às Salésias, o Grupo Sport Lisboa vence por 1-0 o Grupo do Campo de Ourique. O golo esse foi marcado por Silvestre da Silva, outro professor e grande figura casapiana. O Grupo do Campo de Ourique era um dos mais prestigiados senão mesmo o mais prestigiado dos clubes com jogadores Portugueses. Curiosamente na baliza do Campo de Ourique estava Manuel Mora, outro pintor de renome e que viria a ser o nosso segundo guarda redes. Os grandes atraem os grandes.

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html)


Como relata Alberto Miguéns, esta escolha de antigos casapianos tais como Pedro Guedes, Silvestre da Silva, António do Couto e Emílio de Carvalho não foi feita ao acaso. Para além dos miúdos de Belém a equipa foi desde logo doseada com experiência e talento de quem já tinha uma década de futeboladas em cima. A escolha teve pois virtudes e efeitos imediatos no aumento da capacidade competitiva e nos conhecimento técnicos de jogo (relembre-se que Gourlade tinha encomendado uns meses antes as regras do jogo directamente a Inglaterra). Depois claro havia o elemento de prestígio pelos motivos acima referidos. O resultado foi uma vitória logo no primeiro jogo. Moldava-se desde cedo a raça Benfiquista.

A segunda fotografia já se reporta à faceta de artista, professor, homem das artes. Pedro Guedes foi um artista reputado, um homem da cultura e uma figura de prestígio e autoridade na Casa Pia. Aquela geração conhecida por geração Margiochi tinha outras figuras de grande relevância nas artes tais como os escultores Francisco dos Santos e José Netto, o arquitecto António do Couto, o professor Silvestre da Silva, o cinzelador Emílio de Carvalho, o médico Januário Barreto e o coronel Bruno do Carmo. Estão todos nesta fotografia. Apenas os dois últimos nunca terão jogado com a camisola vermelha embora Januário Barreto tenha sido o primeiro presidente eleito do Sport Lisboa. Esses dois homens foram segundo a tradição os homens aqueles que terão introduzido o jogo na Casa Pia. Para isso receberam a aprovação de Francisco Simões Margiochi, provedor da instituição à época e que inclusivamente veio encomendar uma bola de Inglaterra.

Ora e a este propósito, na fotografia lá em cima note-se que a bola que Pedro Guedes tem nas mãos ostenta as iniciais GCP, facto que pode ser interpretadas de duas formas. a primeira que já ouvi é que seria Ginásio Clube Português, um grupo prestigiado onde jogaram os Pinto Basto, introdutores do futebol em Portugal. Assim sendo a fotografia reportar-se-ia a um dia de jogo disputado contra esse grupo. A outra hipótese seria tão somente Grupo Casa Pia. E assim sendo então porque não admitir que se tratava da famosa bola encomendada por Francisco Simões Margiochi?

(http://i60.tinypic.com/iv8obq.png)
Francisco Simões Margiochi
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%B5es_Margiochi (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%B5es_Margiochi)
Fonte: AML

Outros homens, embora não pertencendo a essa elite culta foram seus companheiros de futeboladas e verdadeiras formiguinhas na implantação do futebol em Portugal. Alguns deles foram-no no Benfica como por exemplo João Carvalho Persónio e David da Fonseca entre outros.

Mas voltando a Pedro Guedes, por ser já veterano (à época 30 anos era já considerada uma idade veterana) aquele acabou por ser o único jogo que veio a fazer pelas nossas cores. É possível que não tenha voltado a joga futebol. As prioridades de vida nessa altura foram certamente ditadas pelas condicionantes da idade e pelas obrigações profissionais. Mas a história regista que foi ele o primeiro dos guarda-redes gloriosos.

Depois viriam

  (2) Manuel Mora veio do Campo de Ourique, emigrou para o Brasil;
  (3) João Persónio, antigo casapiano;
  (4) Alfredo Machado, também foi jogador de campo;
  (5) Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos Catataus;
  (6) Constantino da Encarnação, antes jogador de campo; viria a jogar no FCP;
  (7) João Matos, veio do Cruz Negra;
  (8) Mário Monteiro, também foi jogador de campo;
  (9) Augusto Paiva Simões, depois jogou no SCP e voltou ao SLB;
(10) Cirillo Miramon, Português de ascendência Francesa;
(11) José Picoto, depois dirigente do Clube;
(12) Adolfo Stock, que depois emigrou para o BRasil;
(13) Carlos Guimarães, antigo casapiano, saiu para o CACP;
(14) Clemente Guerra, antigo casapiano, saiu para o CACP;
(15) Francisco Viera conhecido por Chiquinho.

Isto falando da primeira categoria.
Há pelo meio uns casos curiosos mas isso fica para outro dia.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 03 de Fevereiro de 2015, 22:16
Fantástico trabalho que tens feito aqui, RedVC. Foi um prazer ler estas páginas e enriquecer o meu conhecimento do Benfica. Obrigado e continua!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Fevereiro de 2015, 22:54
Muito obrigado Lorne Malvo  O0
Vou aprendendo e vou partilhando. Com tempo irão aparecendo mais umas coisas. À medida que houver disponibilidade para pesquisar e organizar. Gostava que fosse mais regular mas isto é mesmo um passatempo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 04 de Fevereiro de 2015, 10:53
Histórias fantásticas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jotenko em 06 de Fevereiro de 2015, 11:45
Citação de: Theroux em 14 de Julho de 2014, 13:44
???
(http://i.imgur.com/YU7eY7j.jpg)

2ª circular do lado direito?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Eddie_ em 06 de Fevereiro de 2015, 13:00
Penso que ainda não havia 2ª circular nessa altura.

Do lado direito deve ser a alameda linhas de torres
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2015, 21:04
Sim, o Eddie_ tem razão.

Note-se que nem existe troço de estrada do que é hoje a saída da 2ª circular que passa ao lado do Colégio de Santa Doroteia.

Aqui fica a minha ideia do que está na fotografia.

(http://i61.tinypic.com/2mfaomd.png)


Note-se o número 0. É mais ou menos por ali...

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Goldberg em 06 de Fevereiro de 2015, 21:23
Este tópico é uma autêntica maravilha!Uma espécie de museu do clube aqui do fórum!Que lindas "viagens" ao nosso passado  :slb2: Parabéns pela ideia e obrigado pela dedicação!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 06 de Fevereiro de 2015, 21:30
Citação de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2015, 21:04
Sim, o Eddie_ tem razão.

Note-se que nem existe troço de estrada do que é hoje a saída da 2ª circular que passa ao lado do Colégio de Santa Doroteia.

Aqui fica a minha ideia do que está na fotografia.

(http://i61.tinypic.com/2mfaomd.png)


Note-se o número 0. É mais ou menos por ali...


Citação de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2015, 21:04
Sim, o Eddie_ tem razão.

Note-se que nem existe troço de estrada do que é hoje a saída da 2ª circular que passa ao lado do Colégio de Santa Doroteia.

Aqui fica a minha ideia do que está na fotografia.

(http://i61.tinypic.com/2mfaomd.png)


Note-se o número 0. É mais ou menos por ali...


0 8 é o museu da cidade,e o 7 ao lado é o novo edifício da nós.
o resto está tudo bem.
o sanatório,entao chamado d.carlos,fica ao fundo, a caminho da travessa do alqueidao.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2015, 21:39
Obrigado pelas correcções. Fui adicionando items a uma versão inicial e esqueci-me de actualizar os números. Aqui fica a versão corrigida.

(http://i61.tinypic.com/29axr1j.png)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 06 de Fevereiro de 2015, 21:44
Citação de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2015, 21:39
Obrigado pelas correcções. Fui adicionando items a uma versão inicial e esqueci-me de actualizar os números. Aqui fica a versão corrigida.

(http://i62.tinypic.com/23vjjav.png)
assim está tudo certo.
abraço benfiquista.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2015, 21:58
Não adianta muito mas está aqui outra mais ou menos da mesma época.
Vê-se o lago do Campo Grande e o final da Avenida do Brasil.

(http://i61.tinypic.com/24l7jmt.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2015, 23:49
-32-
Glorioso por um dia.


César de Melo
(http://i60.tinypic.com/33crg5x.png)


Continuando a falar da primeira equipa do nosso clube, hoje acerca de outra presença curiosa. Curiosa não apenas porque inesperada mas também pela figura em causa. Um nome quase esquecido mas que no seu tempo foi uma figura importante: César Baptista Ferreira de Melo de seu nome completo. Nasceu em Moçamedes, Angola, no dia 3 de Julho de 1880. Ou seja tinha 24 anos aquando desse jogo mítico de 1 de Janeiro de 1905.

Segundo Alberto Miguéns (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html)), César de Melo alinhou nesse jogo como centre half back. Nesse tempo e durante muitos anos o futebol praticava-se segundo a táctica 2-3-5 ou a táctica da pirâmide.

(http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/69/Metodo_(ENG).png/220px-Metodo_(ENG).png)

Neste modelo de jogo, a posição de centre half-back era da maior importância para a equipa. Tinha por obrigação ajudar a defesa e ao mesmo tempo distribuir jogo para os avançados sendo por isso geralmente atribuída ao jogador de maior prestígio.

Não surpreendentemente e tanto quanto é do meu conhecimento entre Janeiro de 1905 e Maio de 1907, sempre que esteve disponível, essa posição na nossa primeira categoria foi assumida por António do Couto, antigo casapiano e arquitecto. Couto era uma grande personalidade e um grande futebolista. Seria mais tarde co-autor da estátua do Marquês de Pombal. Uma estátua que recentemente esteve muito bem vestida de vermelho, coisa que voltará a acontecer dentro de poucos meses.

Depois de Maio de 1907 o lugar seria assumido por Cosme Damião. E assim foi até à sua retirada em 1916. Isso mostra bem a relevância do lugar.

Mas voltando ao jogo de Janeiro de 1905, assim se nota que nesse jogo António do Couto foi colocado mais sobre a esquerda. O lugar de centre half-back foi assim ocupado por César de Melo no único jogo em que envergou as nossas cores. Porquê razão ou porque razões? Afinal este homem não tinha aparentemente qualquer ligação com os 24 fundadores ou com o núcleo mais alargado (homens já perto da casa dos 30s) que se foi associando ao novo clube. Não sabemos e provavelmente nunca saberemos as respostas mas podemos imaginar.

(http://i57.tinypic.com/2e36d20.png)

Para mim existiram duas razões:
1) ganhar o jogo, aumentando a competitividade desportiva (capacidade atlética e táctica);
2) ganhar prestígio, incluindo na equipa nomes conhecidos e prestigiados no meio.

Ou seja ganhar já era o lema. Era importante ganhar o jogo mas também e rapidamente a atenção, respeito e admiração por parte pequena mas elitista comunidade desportiva desse tempo. Afinal o Sport Lisboa tinha menos de um ano de actividade. Os ingleses do Carcavellos eram quase imbatíveis e só aceitavam jogar com o melhor dos "teams" ditos Portugueses (coisa que por exemplo com o CIF estava longe de ser verdade...). Em Lisboa, depois do Carcavellos, os grupos mais prestigiados eram o CIF e o Campo de Ourique. E lá está, o Sport Lisboa para jogo de estreia batia o Campo de Ourique! O Sport Lisboa implantava-se de forma ambiciosa e - factor distintivo - com uma matriz Portuguesa. E seria assim até 1979...

Assim não se fez por menos com a inclusão de nomes já bem conhecidos no meio futebolístico tais como os antigos casapianos Pedro Guedes, Emílio de Carvalho, António do Couto e Silvestre da Silva. A estes acresceria César de Melo. Nada menos de cinco jogadores. Os restantes faziam parte dos jovens, alguns dos assíduos dos treinos nas terras do Desembargador.

Assim, e nesse tempo quem era César de Melo? De onde viria esse presuntivo prestígio? Que méritos teria para assumir tal posição na equipa?

A primeira pesquisa que fiz trouxe até a dificuldade de conseguir uma imagem que fosse. Parecia um nome obscuro. Gradualmente e nas fontes adequadas fui sabendo que afinal foi um lutador de grande prestígio no principio do século XX. Com fama de imbatível, era o campeão de pesos médios:

(http://i60.tinypic.com/vimy9x.png)
César de Melo é o segundo lutador a contar da esquerda.
Fonte: Tiro e Sport, 1907

Um pouco ao estilo da época atente-se aos exageros que dele alguém escreveu no prestigiado periódico Tiro e Sport:

(http://i58.tinypic.com/2ntk9k0.png)

Pelas suas vitórias sucessivas e prestígio, César de Melo esteve aliás para integrar a comitiva aos jogos Olímpicos de Estocolmo em 1912. Ou seja esteve para ser colega de Francisco Lázaro:

(http://i57.tinypic.com/2qxnxxk.jpg)

Para além de Lázaro a comitiva integrou os atletas Armando Cortesão e António Stromp, os lutadores Joaquim Vital e António Pereira e o esgrimista Fernando Correia. Esses seis homens estão retratados nessa fotografia no dia 26 de Julho ainda no Terreiro do Paço.

Ora, César de Melo apesar de inicialmente escalado acabou por não ir. Como se lê eme baixo, acabou por não ir. Como atleta não teria outra oportunidade.

A comitiva portuguesa debateu-se com a falta de meios financeiros para se deslocar até Estocolmo, uma vez que o Comité Olímpico português não atribuiu nenhum subsídio. Por força disso mesmo, tiveram de ser excluídos quatro atletas do grupo inicial de dez que estavam selecionados para os Jogos. Correia Leal e Matias de Carvalho, no atletismo, Sebastião Herédia, na esgrima, e César de Melo, na luta, foram os excluídos (fonte: http://www.infopedia.pt/$jogos-olimpicos-de-estocolmo-1912 (http://www.infopedia.pt/$jogos-olimpicos-de-estocolmo-1912)).

Era pois um atleta de prestígio, e com aptidão para a prática de outros desportos. Homem de grande força mas também ágil e flexível, qualidades essas que eram úteis para o futebol e também para outros desportos tais como por exemplo a esgrima. Podemos vê-lo aqui , de negro praticando esgrima com Fernando Correia, esgrimista de prestígio e chefe da comitiva Portuguesa a Estocolmo 1912:

(http://i61.tinypic.com/25sagao.png)
Fonte: AML

César era médico de profissão, mas foi igualmente um pedagogo e sendo uma figura prestigiada do dirigismo desportivo Português foi gradualmente assumido cargos de responsabilidade no dirigismo Olímpico. Assim, nada mais lógico que já perto da conclusão da sua vida de dirigente desportivo, tenha sido nomeado para chefiar a comitiva aos jogos Olímpicos de Helsínquia de 1952. Com 72 anos, e 40 anos depois de Estocolmo 1912 foi a uma Olimpíada num país nórdico. Nessa Olimpíada a comitiva Portuguesa integrou 71 membros entre os quais e pela primeira vez duas atletas do sexo feminino. César de Melo participou já não participou como atleta mas como chefe de comitiva. Talvez não tenha sido esse o caso mas quase apetece dizer que o foi em jeito de compensação.

(http://i61.tinypic.com/1oox2d.jpg)
César de Melo é o membro sentado mais à direita.
Fonte: Digitarq

(http://i58.tinypic.com/21km050.png)
Ficha de César de Melo, chefe da comitiva Portuguesa a Helsínquia 1952.
Fonte: Arquivo do Comité Olímpico

Fica a memória, algo que é devido e importante para qualquer homem.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Reed em 07 de Fevereiro de 2015, 01:55
Muito bom Red  :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 07 de Fevereiro de 2015, 09:20
Espectacular Red :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Fevereiro de 2015, 09:53
Obrigado pelos vossos comentários.  O0
A descoberta e reunião de informação foi o grande desafio neste último caso.
Nem todos os casos envolvem figuras que estiveram relacionadas ao mais alto nível social e político. Mesmo sendo esse o caso de César de Melo foi necessário saber onde procurar.
Vamos ver se neste mês de Fevereiro poderá haver mais qualquer coisa especial.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Centrix em 08 de Fevereiro de 2015, 09:58
Este tópico é uma tentação, principalmente em dia de derby e véspera de exames de recurso  :police:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: miki_moto em 08 de Fevereiro de 2015, 11:32
fantáfantástico o teu trabalho RedVC  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Fevereiro de 2015, 15:34
Obrigado pessoal  O0
Dois desejos: uma vitória para logo e um bom exame para o Julio_slb.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2015, 00:38
-33-
Eusébio às riscas

Stoke-on-Trent, Inglaterra, 12 de Dezembro de 1973:

(https://pbs.twimg.com/media/B6O_J3JCYAEHGW0.jpg)

De facto assim foi. Jogo de despedida de Gordon Banks, o grande guarda-redes Inglês.

Jogo contra o Manchester United. Eusébio joga com a camisola do Stoke City. Derrota do Stoke City por 2-1. Quem marca o golo do Stoke? Isso.

(http://www.stokesentinel.co.uk/images/localworld/ugc-images/276370/Article/images/20404013/5682218-large.jpg)


Testemunho de Banks:
Eusébio era um grande, grande jogador. Fiquei extremamente triste ao saber da sua morte.
Quando enfrentamos Portugal na semi-final de 1966, Alf Ramsey fez questão em alertar-nos para a sua qualidade. Eusébio era um daqueles jogadores capaz de fazer coisas notáveis com aquela bola pesada, coisas só ao alcance de poucos.
Naquele dia ele marcou-me de penalti o primeiro golo que concedi no Mundial - enganou-me, enviou-me para o lado errado.


(http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2014/01/05/article-2534038-1A6E2AB700000578-216_634x479.jpg)

Era um cavalheiro. No final desse jogo apertámos as mãos e ele desejou-nos o melhor... Fiquei muito honrado em ele ter participado no meu jogo de despedida. Era uma grande pessoa.

E de facto assim foi. Mais uma oportunidade para conviverem e apertarem as mãos. E já não vinha longe também a despedida de Eusébio.

(http://www.collectsoccer.com/acatalog/GordonBanksTestimonial-L.jpg)

(http://i.guim.co.uk/static/w-620/h--/q-95/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2014/9/20/1411209454220/6e780c22-b9ed-4848-b147-7a4d6f3c202b-680x1020.jpeg)

(http://i2.mirror.co.uk/incoming/article2990268.ece/alternates/s615/Gordon-Banks-goalkeeper-for-England-with-Eusebio-in-1973.jpg)

Fonte:http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F  (http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F)


Gordon Banks foi um fantástico guarda-redes do Chesterfield, Leicester City, Stoke City e da selecção Inglesa. Finalizou a sua actividade depois de um acidente de automóvel que lhe afectou a visão do olho direito. Um caso muito triste à semelhança do craque Brasileiro Tostão, e do nosso excelente defesa Vicente.

A sua defesa no mundial de 1970 após um remate de cabeça de Pelé é ainda hoje considerada a melhor da história do futebol.

(http://extra.globo.com/esporte/418537-fe8-93f/w976h550/12_01_ghg_70banks.jpg)

A qualidade não é boa mas três meses antes Gordon Banks esteve no jogo da festa de homenagem a Eusébio em  26 de Setembro de 1973. O dia em que Hagan bateu com a porta. Mas isso é outra história.

(http://terceirotempo.bol.uol.com.br/imagens/54/84/arq_35484.jpg)
(http://images-01.delcampe-static.net/img_large/auction/000/222/330/166_003.jpg?v=2)

Dois gigantes que se respeitaram e que se habituaram a apertar as mãos. Mereceram ambos a homenagem recíproca. Os grandes atraem os grandes.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Reed em 14 de Fevereiro de 2015, 00:45
Como sempre, mais uma belíssima história Red. É uma delícia poder aprender tudo isto  :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2015, 00:47
Obrigado Reed  O0 Curioso de Red para Reed  :cool2:
Fiquei na dúvida entre colocar aqui ou no tópico de Eusébio.
De Eusébio há uma mina para explorar. Mas o nosso Benfica tem tantos filões.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 14 de Fevereiro de 2015, 10:24
Bela história :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Fevereiro de 2015, 23:31
-34-
Dois dias de festa

29 de Março de 1934, Estádio das Amoreiras,
comemoração dos 30 anos do Sport Lisboa e Benfica.

(http://i57.tinypic.com/11mdf2t.png)

Vamos hoje olhar não para uma mas 4 imagens. Um fartote. Mas também são alusivas a uma comemoração especial. São alusivas ao primeiro desses dois dias especiais.

(http://i58.tinypic.com/23m7hcp.png)
Fonte: Digitarq


Um programa de festas que constou de futebol, hóquei em campo, atletismo e o começo de uma aventura célebre do ciclismo Benfiquista.

Vamos por partes.

No futebol realizaram-se dois jogos.

A FOTO 1 reporta-se ao primeiro entre uma equipa da Saudade Benfiquista contra um misto de dirigentes de diversas secções do nosso clube (alguns ele próprios também Saudade). Ganharam os da Saudade por 4-1. Voltaremos a esta fotografia para tentar fazer algumas identificações. As figuras lá imortalizadas assim o merecem.

Depois decorreu um jogo entre as equipa principais do Benfica e do Vitória de Setúbal. Os nossos ganharam por 2-1.

No hóquei em campo não encontrei registo fotográfico mas a nossa equipa venceu o de Setúbal igualmente por 2-1. No atletismo sei pouco do que se passou mas na FOTO 2 ficaram imortalizados os participantes na prova 4 x 1500m.

Depois deu-se a partida dos ciclistas para o raid Lisboa-Paris-Lisboa, registada na FOTO 3. Dispenso-me de elaborar pois Alberto Miguéns já falou tão magnificamente que sugiro fortemente a leitura deste um artigo excepcional:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/11/onde-e-que-esta-placa.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/11/onde-e-que-esta-placa.html)

Um orgulho que os Benfiquistas tenham feito esta maravilhosa homenagem aos milhares de homens que tombaram longe da pátria pela vontade de alguns políticos. Que eu saiba mais nenhum clube o fez. Mais nenhum tem a dimensão desportiva, social e cultural do Sport Lisboa e Benfica.

Por fim na FOTO 4 registou-se a numerosa assistência no Campo das Amoreiras. Vibrante como só os Benfiquistas sabem fazer. A pujança do Benfica. Um clube que investia o que tinha não directamente no futebol mas sim na necessidade de por fim criar uma casa própria. Uma casa que o antigo regime trataria de expropriar e nos mandar para o campo abandonado pelos viscondes verdes. Clube do antigo regime. Treta!


No segundo dia a nossa principal equipa jogou nada mais nada menos que contra o Atlético de Madrid. Com chuva e lama as equipas empataram 4-4 num jogo muito difícil mas emotivo.


Voltando ao jogo entre veteranos e o misto de homens das secções do nosso clube temos particular destaque para as nossas Saudades (que no Benfica não existem veteranos nem "velhas" glórias).

(http://i57.tinypic.com/1znmnih.png)


Sabe-se que alinharam pelo misto dos homens das secções do clube (dos quais só consegui identificar uns poucos): Manuel Alexandre (19), Álvaro Sanches, Hipólito Silva (20), Monteiro Neves, Ilídio Nogueira (21), Mário Montalvão (16), José Carrasco, António Gonçalves, Alfredo Luis Piedade (25), Marques, Aniceto Travassos (27), Bengala Reis (26).

Quanto às Saudades, a identificação foi mais fácil por existirem fotografias embora quando eram bem mais jovens... Assim temos:

1 Jesus Crespo,
futebolista de eleição, dedicação ao clube, primeiro atleta a receber a Águia de ouro.
2 Vítor Gonçalves,
excelente jogador, foi depois treinador da nossa equipa tendo-se sagrado campeão nacional, pai do futuro primeiro ministro Vasco Gonçalves.
3 Artur Augusto
grande atleta, fez um hiato para jogar dois anos no FCP - provavelmente questões profissionais - num tempo em que a rivalidade era contra o SCP. Regressaria ao nosso clube para encerrar carreira.
4 Horácio Ferreira
capitão das segundas categorias na primeira década do séc XX.
5 Vítor Hugo
excelente atleta da década anterior, empregado no comercio.
6 João Morais
um dos homens do final da decada 1910-1920.
7 José Simões
avançado, jogador competitivo do principio que jogou toda a década de 20.
8 António Coelho
atleta glorioso da década de 20.
9 Francisco Vieira
o super-popular e talentoso Chiquinho, guarda-redes internacional. Em 1925, Cândido de Oliveira dele dizia: ...é um guarda-redes que sai sempre vitorioso da severa análise dos técnicos e que sabe como poucos, pelas suas excelentes qualidades de jogador, dominar, assombrando, as grandes multidões sempre tão apaixonadas e caprichosas.
10 António Pinho
o magnífico defesa internacional que seguiu Cândido de Oliveira na formação do Clube Atlético Casa Pia mas que depois regressou ao Benfica - um gesto que o deixou de costas voltadas com mestre Cândido...
11 Herculano Santos
o gloriosíssimo Herculano, companheiro de Cosme, do Chacha, de AJ Pereira, Henrique Costa e seus pares, combatente na primeira guerra mundial, jogador excelente, funcionário de uma fábrica de chocolates - cujo efeito se consegue observar...


Tudo Saudades, enormes Saudades, Glórias Benfiquistas. No 30 aniversário da nossa gloriosa história, do gloriosíssimo Sport Lisboa e Benfica!


ps: queria deixar um forte agradecimento a Alberto Miguéns pela cedência de detalhes preciosos para compor este sumário e para a identificação de alguns elementos.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Fevereiro de 2015, 17:03
-35-
Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia.

No arquivo municipal de Lisboa existe uma fotografia de autor não identificado (eventualmente Alexandre Cunha) que interessa tirar do anonimato.

(http://4.bp.blogspot.com/-0v_ptENUBLc/VOUAhd7qO0I/AAAAAAAAUfI/YhGdaauu-h0/s1600/SEGUNDA%2BCATEGORIA.png)
Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa


Sobre este documento foi já publicado um texto notável: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/se-as-fotografias-falassem.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/se-as-fotografias-falassem.html)

O processo de identificação da equipa e dos jogadores que nela estão retratados levou algum tempo e ainda não está completo.

Como tem sido um interessante exercício de comparação e dedução vou aqui relatar o caminho seguido. O texto vai ser algo longo mas para aqueles que gostam deste tópico acho que tem interesse.

A fotografia faz parte do acervo do Arquivo Municipal de Lisboa mas está apenas catalogada "Equipa de futebol no campo das Salésias".

A primeira questão foi assim: "Será mesmo o antigo campo das Salésias?"

E de facto, olhando para o enquadramento nota-se lá ao fundo o perfil inconfundível do Palácio Nacional da Ajuda. Era o antigo campo das Salésias, um dos berços do nascimento do futebol Português. Local de enorme importância histórica tendo sido a escolha de recurso para os pioneiros do futebol Lisboeta após a perda dos terrenos onde em 1892 foi erigida a Praça de touros do Campo Pequeno. As Salésias foram então nesse tempo um local de confluência de jogadores, curiosos e mirones de Belém e doutros cantos da cidade desejosos de ver ou praticar esse novo e entusiasmante desporto. Um desporto que até aí era visto como de "Ingleses".

A pergunta seguinte foi: "Que equipa seria esta?"

Com aquelas camisolas e naquele enquadramento? A resposta foi óbvia e imediata: o Sport Lisboa.

Tinhamos aqui a soma de dois elementos interessantes: o Sport Lisboa e as Salésias.

A fotografia apresentava-nos 11 jogadores desconhecidos sendo que 10 deles envergavam a primeira e gloriosa camisola de flanela vermelha do Sport Lisboa. Assim embora não se distinga por apresentar uma óptima resolução, esta é provavelmente a única fotografia existente que capta uma equipa de futebol do Sport Lisboa alinhada no campo das Salésias.

O aparecimento de uma fotografia dessa época e com estes elementos é raro e merece pois um investimento sério para tentar decifrar todos os detalhes possíveis.

A pergunta seguinte trouxe as primeiras dúvidas: "Qual o ano da fotografia?!"

Aqui ainda não podemos determinar uma data precisa. Nem sequer o ano... No entanto, tendo em conta o equipamento, a constituição da equipa e o facto de ainda ser nas Salésias (antes da partida para a Quinta da Feiteira) as probabilidades apontam fortemente para os anos de 1905, 1906, eventualmente o início do ano de 1907. Para já não há uma resposta conclusiva. Em frente.

Passou-se por fim à etapa mais difícil: "Que jogadores estariam aqui retratados?"

Constatou-se que não estava presente nenhum dos jogadores da primeira categoria do Sport Lisboa que competiu entre 1905 e 1907. Não estavam Mora, Viegas, Levy, Couto, Carvalho, os Catataus, e outros. Também não estavam alguns dos mais conhecidos jogadores da segunda categoria desse tempo: Félix Bermudes, Cosme Damião ou Marcolino Bragança. Assim tudo apontava para que fosse uma equipa da segunda ou mesmo da terceira categoria do Sport Lisboa referente ao período de 1905-1907.

"Seria possível identificar algum jogador?"

Bom, olhando de perto e comparando com fotografias legendadas desse período começaram gradualmente a ser feitas as desejadas identificações. E a satisfação foi crescendo. No imediato quatro casos foram óbvios:

1 – defesa-direito: Henrique Teixeira;
fundador do clube;

7 – extremo-direito: António Costa;
conhecido por "Tótinhas";

10 – interior-esquerdo: Eduardo Corga;
fundador do clube;

11 – extremo-esquerdo: António Meireles;
irmão do fundador Abílio Meireles.

A seguir foram feitas mais três identificações, um pouco mais difíceis e feitas por comparação cuidadosa com outras fotografias contemporâneas:

3 – defesa-esquerdo: Leopoldo Mocho;
um notável defesa que por afazeres profissionais teve participação algo irregular nas nossas equipas e que por isso foi um dos pioneiros do futebol em Portalegre;

6 – médio-esquerdo: Luís Viera,
o segundo jogador Português a jogar no estrangeiro, o primeiro no Brasil (Botafogo do Rio de Janeiro, 1913-1916);

9 – avançado-centro: Luís Rodrigues;
que por ter a bola a seus pés seria em princípio o capitão de equipa;

(http://i57.tinypic.com/2mmvqp.png)

E depois veio uma revelação:

2 - guarda-redes: Manuel Gourlade, a primeira Águia.
Inicialmente pensou-se em Francisco Calisto, um dos fundadores mas depois percebeu-se que seria mesmo Manuel Gourlade. A primeira águia não passou de um jogador mediano e que já trintão, pelo seu dinamismo e personalidade, assumiu tarefas fora de campo que - com as características próprias da época - podem de alguma forma ser definidas como de treinador. Nesta fotografia aparece-nos como guarda-redes talvez pela necessidade, pela falta de um jogador para ocupar a posição. Esta fotografia dá-nos assim não apenas uma nova imagem deste fundador e figura fundamental dos primeiros três anos do nosso clube como também nos apresenta um Gourlade em actividade como jogador do Sport Lisboa.

A seguir mais duas identificações, que apesar de ainda não serem conclusivas, apontam para o curioso detalhe de serem dois irmãos:

4 – médio-direito: Carlos Monteiro
com participação fugaz na primeira categoria e presença mais regular nas categorias inferiores. Para este caso admite-se ainda a hipótese de se tratar de Francisco Reis Gonçalves, outro dos fundadores e futuro presidente do CFB;

5 – médio-centro: Mário Monteiro,
irmão do anterior, um homem que mais tarde se veio a destacar como guarda-redes da nossa primeira categoria.

Estes dois casos beneficiariam da existência de mais fotografias legendadas para esta época. Infelizmente ou não existem ou ainda não apareceram. Se de facto como tudo aponta forem os irmãos Monteiro, temos aqui os "Monteiros" referidos por Mário Oliveira e Rebelo da Silva na sua fabulosa História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1950. Curiosamente, há vários irmãos que nessa época treinavam e competiam no Sport Lisboa. Para além dos 4 Catataus e destes Monteiros, temos também os Carrilhos, os Corga (Álvaro e Eduardo), os Meireles (Abílio e António). O elemento comum entre estes homens? A sua ligação ao Bairro de Belém e em particular à Rua Direita e à Rua dos Jerónimos. Os locais onde tudo começou.

Mas não poderíamos deixar de ter na lista um caso por resolver. Até aqui já tínhamos 10 jogadores identificados. Faltava um.

"Quem seria o jogador 8 – interior-direito?"

Pelas constituições de equipas da época e focando atenção na linha avançada, surgiu com maior probabilidade o nome de  António Alves .

Infelizmente é ainda e apenas uma suposição. A única fotografia conhecida deste jogador é infelizmente de fraca qualidade e captada já na Quinta da Feiteira.

Chegado a este ponto estamos pendentes de novas fotografias. Quem sabe o que ainda está por aí para descobrir.

E decifrar.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2015, 00:57
-36-
111 anos depois: a (possível) iconografia dos fundadores.

Publicada em 1957, a 1ª edição da fabulosa obra "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954", da autoria de Mário Oliveira e Rebelo da Silva, presenteava os Benfiquistas com uma imagem que reunia fotografias de 20 dos 24 fundadores do Sport Lisboa.

Passados mais de 50 anos foi notável que tenham conseguido reunir fotografias para 20 dos 24 fundadores. Infelizmente penso que será muito muito difícil virmos algum dia a conhecer o rosto de quatro dos fundadores: Manuel França, Amadeu Rocha, João Ignácio Gomes e Joaquim Ribeiro. O mistério perdura.

Os autores notaram em particular o caso de Manuel França, irmão de Carlos França (outro fundador) e de Francisco França (mais tarde episodicamente jogador da nossa primeira equipa). Manuel França terá falecido muito novo.

Para os 20 representados, diferentes destinos, diferentes notoriedades, diferentes percursos Benfiquistas. Assim temos:

Abílio Meireles
jogador SL 1904-1905; o seu irmão de António Meireles conseguiu maior notoriedade no clube.

Amadeu Rocha
mistério.

António Rosa Rodrigues
Neco; o 3º Catatau; jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; jogador do SL entre 1904-1907; saíu para o SCP em Maio de 1907; regressou episódicamente em 1909-1910.

António Severino
mistério.

Cândido Rosa Rodrigues
Candinho, o 2º Catatau; jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; jogador do SL entre 1904-1907; saíu para o SCP em Maio de 1907.

Carlos França
jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; jogador do SL 1904-1910;

Cosme Damião
tinha 19 anos em 1904; Casapiano; fundador da Associação do Bem; jogador do SLB entre 1904-1916; Capitão-Geral até 19126; presidente CA Casa Pia; presidente da Associação Central de Árbitros.

Daniel Santos Brito
funcionário Farmácia Franco; jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; jogador do SL 1904-1905; secretário da 1ª e da 2ª Direção.

Eduardo Corga
funcionário Farmácia Franco; jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; jogador do SL 1904-1908; irmão de Álvaro Corga que jogou na primeira equipa entre 1907-1910.

Francisco Calisto
mistério.

Francisco Reis Gonçalves
em 1919 também fundador do CF Belenenses; presidente da AFL.

Henrique Teixeira
militar; jogador SLB 1904-1911.

João Ignácio Gomes
mistério.

João Goulão
mistério.

Joaquim Almeida
mistério.

Joaquim Ribeiro
mistério.

Jorge Augusto Sousa
em 1910 também ligado à fundação do Vitória de Setúbal.

Jorge Costa Afra
jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; mistério.

José Linhares
mistério.

José Rosa Rodrigues
o mais velho Catatau; jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; jogador do SL entre 1904-1907; 1º presidente do SL; saíu para o SCP por volta de 1908-1909.

Manuel Gourlade
32 anos em 1904; a primeira Águia; funcionário Farmácia Franco; jogou no fugaz Belém Foot-ball Clube; jogador do SL 1904-1907; treinador do SL 1904-1907.

Manoel França
irmão de Carlos França; morreu muito cedo.

Raúl Empis
filho de um industrial Belga; casou com uma senhora da família Burnay.

Vírgilio Cunha
mistério.

Em homenagem a estes 20 notáveis decidi seleccionar a meu gosto, algumas fotografia para apresentar uma nova versão.


111 anos depois, aqui ficam esses primeiros Benfiquistas:

(http://i62.tinypic.com/dvhjjc.jpg)

VIVA o Sport Lisboa e Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 28 de Fevereiro de 2015, 10:37
Obrigado, Red.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Reed em 28 de Fevereiro de 2015, 14:16
E pensar que o Cosme tinha a minha idade quando fundou o nosso clube, faz-me sentir de uma inutilidade tremenda   
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Março de 2015, 17:42
-37-
Três gigantes, três caminhos que divergiram.

(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=41A506F14EF464596AD6C842AF003043&r=0&ww=1000&wh=600)
Fonte: Digitarq

1 - Artur José Pereira; 2 - Cândido de Oliveira; 3 - António Ribeiro dos Reis



Três personalidades gigantes do nosso futebol. São hoje recordados de forma ocasional e poucas vezes com o carinho e reconhecimento que merecem. Estes três homens, as suas personalidade e percursos divergentes simbolizam um período crítico do Benfica.


Vamos por partes.


(http://i62.tinypic.com/14lrjuw.png)
Artur José Pereira
(Belém, 16-11-1889 - Belém, 6-9-1943)

Foi antes de mais um génio do futebol - pelo menos à escala do seu tempo e tomando por bom o que dele foi dito. Foi igualmente uma personalidade fascinante e polémica, um jovem impetuoso, por vezes mal compreendido. Foi um filho de Belém que revelou um amor e bairrismo sem limites. Entrou no Benfica quando o clube era ainda e apenas Sport Lisboa, a mais perfeita emanação do entusiasmo juvenil pelo futebol em Portugal. Artur entrou no Sport Lisboa em 1907 e só a contra-gosto em 1908 seguiu o clube aquando da fusão para a Quinta da Feiteira deixando a sua querida Belém. Anteviu aliás, aquando da fusão, que o clube no futuro iria apenas ser conhecido por Benfica. Talvez isso devesse merecer uma reflexão de todos os Benfiquistas para usarmos mais vezes a designação correcta: Sport Lisboa e Benfica.

AJ Pereira, como era conhecido, era um futebolista de talento raro. Jogou e encantou em Lisboa, Porto, Rio de Janeiro, São Paulo, Corunha, Madrid e Bilbao (neste dois caso sem certeza da minha parte). Venceu, foi amado e odiado. Ganhou muito com o nosso emblema. Foi um dos preferidos do Povo. Ele e o Chacha eram os mais populares e amados. Portuguêses, talentosos, carismáticos, filhos do povo. Mas ao contrário do Chacha, AJ Pereira tinha uma relação conflituosa com Cosme Damião. Rebelde, não gostava de treinar, achando-se com um talento à parte dos outros. Chegou a ser funcionário da Farmácia Franco onde ao que parece o seu patrão lhe dava pouco trabalho antes preferindo passar horas a falar com ele, provavelmente de futebol. Em AJ Pereira, Cosme Damião depositava a esperança de vir ser o futuro capitão da primeira equipa. O destino ou melhor AJ Pereira assim o não quis. Depois de mais uma desavença com Cosme e com o clube, e a troco de 30 e poucos escudos e prioridade no uso da banheira de água quente desertou para o SCP. Lá também ganhou mas também não foi inteiramente feliz. A memória de Belém e a nostalgia dos tempos juvenis ia crescendo e era mais forte do que tudo. E finda a época de 1919 tendo como base o conflito entre o SLB e Alberto Rio (e outros jogadores com ele solidários) lançou a ideia e o desafio de fazerem um clube e deixarem de jogar pelos outros. Assim foi. Assim partiram Henrique Costa, Francisco Pereira, Carlos Sobral, Aníbal Santos, Manoel Veloso, Alberto Rio, Romualdo Bogalho, Luís Viera e Francisco Belas. Assim se fundou o CF "os Belenenses". E assim se perdeu definitivamente a ligação do Sport Lisboa e Benfica a Belém. Artur José Pereira representa o caminho da perda da ligação ao viveiro de Belém. O corte com o berço. No CFB, AJ Pereira seria jogador, treinador, massagista, formador, mentor. Era tudo menos dirigente. Não tinha personalidade para isso. É por tudo isso e justamente reconhecido como o pai do CFB. Um clube que ainda hoje parece orfão do seu criador. Um clube cuja saída das Salésias para o Restelo terá sido bem mais gravosa do que se pensa. Perdeu a ligação ao bairro mais popular e mostrou-se incapaz de ganhar dimensão nacional. Bem diferente do trajecto do outro clube nascido em Belém... Cosme estava certo naquelas duas primeiras décadas. Mas o tempo vem e mais tarde ou mais cedo também Cosme perdeu o seu tempo. E por falar em tempo, AJ Pereira infelizmente não teve a merecida recompensa de ver o seu Belém ser campeão nacional. Morreria três anos antes. Mas foi campeão regional, ganhou a taça de Portugal (naquele tempo chamada campeonato de Portugal), recrutou, formou, e assim viu a chegada e a partida de muitos talentos, entre eles Pepe, esse grande jogador de dimensão trágica. Símbolos de um passado de grandeza perdida.

(http://i20.photobucket.com/albums/b231/bs-imaging/Primeiraequipa19191130.jpg)
(mais detalhes em "-7- Sonho de uma noite de Verão"
http://osbelenenses.blogspot.pt/2009/06/artur-jose-pereira-ou-origem-do.html)

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(http://i60.tinypic.com/140w7yx.png)
Cândido Fernandes Plácido de Oliveira
(Fronteira, 24-11-1896 - Estocolmo, 23-06-1958)

Foi um grande talento como futebolista. Esse talento e a maturidade competitiva que revelava explica aliás ter sido um dos casos raros em que Cosme permitiu a entrada de um jogador directamente para a primeira equipa. Entrou no Benfica em 1914, vindo da Casa Pia, a casa mãe de tantos outros jogadores do Benfica. Trazia a garra e os valores e rapidamente adquiriu a mística. De compleição física entroncada era conhecido como o Chumbaca. Sairia em 1920, depois da conquista do título de campeão regional (que nesse tempo não havia campeonato nacional). Um pouco como AJ Pereira, Cândido de  Oliveira tinha a aspiração de fazer um clube que fosse representativo da casa mãe. Fundou assim o Clube Atlético Casa Pia. Por essa ideia e pelo magnetismo da sua personalidade arrastou com ele homens de grande talento futebolista e de importância extrema para a nossa equipa. Com ele e por serem igualmente filhos da Casa Pia, partiram António Pinho, Clemente Guerra, os irmãos Gralha, José de Almeida, Silvestre Rosmaninho, Loureiro, entre outros. Uma nova e abundante sangria. Saíram e saíram a mal. Ficaram Cosme que nunca acreditou no projecto, ficaram Vítor Gonçalves e... António Ribeiro dos Reis. Depois da sangria de 1919 para Belém, viria nesse ano de 1920 uma nova e violenta sangria com a perda do viveiro da Casa Pia. Mais informação aqui: http://www.casapia-ac.pt/Casa_Pia_Implantao.pdf (http://www.casapia-ac.pt/Casa_Pia_Implantao.pdf). As consequências para o Sport Lisboa e Benfica seriam brutais. A perda da capacidade competitiva e ganhadora durante mais de uma década. Mas o clube sobreviveria a mais essa prova. A deserção de Cândido de Oliveira representou a perda do viveiro Casapiano. Findo o viveiro Belenense, a partida de Cândido e seus pares sinalizou a perda das duas fontes de recrutamento originais do clube. O nosso clube teria que caminhar com outros pés e com outros horizontes. Nada fácil acrescer esse problema à já crónica falta de instalações próprias. Ainda assim o Clube era já uma realidade maior, expandindo-se para uma realidade verdadeiramente nacional, muito para além da realidade micro-regional do seu berço. Tínhamos ganho Portugal e dentro de algumas décadas ganharíamos a Europa.

(http://i62.tinypic.com/k0njom.jpg)

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(http://i60.tinypic.com/11m3okk.png)
António Ribeiro dos Reis
(Lisboa, 10-07-1896 - Lisboa, 3-12-1961)

Grande amigo de Cândido de Oliveira, aliás amigo de toda uma vida. Foi seu contemporâneo na primeira categoria do SLB. Começou a jogar no clube nas categorias inferiores aos 16 anos, e embora tivesse menos talento como jogador do que Cândido, foi uma dedicação de uma vida inteira ao seu clube de coração. Concluída a carreira como jogador foi um gigante enquanto dirigente e até treinador do nosso clube. Veio também da Casa Pia e do Liceu Pedro Nunes onde estudou. Ribeiro dos Reis teve um papel fundamental desde o dia que entrou no clube até à sua morte. Em particular naquele ano de 1926 em que juntamente com Vítor Gonçalves e Ávila de Melo, tiveram a dura mas realista tarefa de afastar Cosme Damião do futebol do clube. Ganharam as eleições contra a lista de Cosme e Bento Mântua e mesmo oferecendo a presidência a Cosme o destino estava traçado. Cosme partiria e deixaria o Benfica a Ribeiro dos Reis e seus pares. A diferença de visões e a realidade dos tempos já incompatível com o amadorismo defendido intransigentemente por Cosme estava a deixar o clube para trás. O clube estava acima de qualquer homem. A dura missão de afastar Cosme acabou por se revelar fundamental para a sobrevivência e a reconquista da capacidade competitiva e ganhadora do clube. Mais informação resumida mas interessantes sobre Ribeiro dos Reis: http://www.record.xl.pt/Futebol/Nacional/1a_liga/Benfica/interior.aspx?content_id=159561 (http://www.record.xl.pt/Futebol/Nacional/1a_liga/Benfica/interior.aspx?content_id=159561). Nesse tempo Cândido já nada tinha a ver com o SLB. e essa é para mim uma das maiores interrogações. O que teria acontecido se Cândido ainda lá estivesse. Estou convencido que com Cândido e com Ribeiro dos Reis o Benfica teria mais rapidamente voltado aos títulos. Mesmo com a força bruta do dinheiro dos viscondes e com o talento e garra dos azuis de Belém. António Ribeiro dos Reis representa assim o caminho dos valores, da persistência, da mística Benfiquista no seu estado mais puro. De valores incorruptíveis até ao fim. O clube para alem de qualquer homem. Um gigante.

António e Cândido. Ambos talentos multifacetados, personalidades de enorme riqueza e com acção seminal no desporto e na cultura em Portugal. Ambos jogadores, treinadores (campeões nacionais e seleccionadores de Portugal). Ambos dirigentes desportivos e ambos jornalistas. Fundadores em 1945 do jornal "A Bola", jornalistas de excepção - aliás Cândido de Oliveira morreria em missão como jornalista no campeonato do mundo da Suécia em 1958, mundial onde despontou um jogador chamado Pelé. Tudo os ligava inclusivamente uma forte amizade. Uma coisa os separava e assim foi até à morte.

(http://i62.tinypic.com/2wbss1w.jpg)

Da amizade entre estes dois homens o mínimo que se pode dizer é que foi forte e pura, atravessou uma vida mas foi igualmente complexa pois teve sempre uma sombra: o Sport Lisboa e Benfica. Ribeiro dos Reis nunca perdoou a deserção de Cândido de Oliveira. Segundo ele nunca ninguém que saía a mal do Benfica mereceria voltar. Cândido de Oliveira sabia, teve de compreender e teve de se resignar. Sabia dos valores e da fibra inflexível do seu amigo. Sabia o que tinha feito. E tendo Cândido sido o melhor treinador do seu tempo teve de se resignar a nunca treinar o seu clube de coração. Sim porque arrefecida a aventura do Casa Pia Atlético Clube, o amor ao Benfica esteve sempre no coração de mestre Cândido. Mas seria sempre tarde. Seria impossível. Com a amizade salvaguardada, treinar o Benfica foi uma aspiração que lhe foi sempre vedada pelo seu amigo Ribeiro dos Reis. Mestre Cândido viria a treinar o SCP, o FCP, o CFB (aliás a convite - irrecusável de AJ Pereira), a Académica, até o Flamengo do Brasil (em 1950), entre outros. Ribeiro dos Reis foi sempre inflexível. Em relação a esta amizade e à verticalidade de valores de ambos os homens, com particular destaque para o calvário de mestre Cândido enquanto preso político, curvo-me perante este maravilhoso texto de Alberto Miguéns. Qualquer Benfiquista e homem de valores deve ler este texto: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/07/candido-ribeiro-dos-reis-godinho-e-o.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/07/candido-ribeiro-dos-reis-godinho-e-o.html)



A memória é credora do reconhecimento e semente do futuro.


Como remate final, saliento que é devido um enorme obrigado e reconhecimento a estes três homens. Artur, Cândido e António. Três homens, três percursos, três destinos. Em comum o facto de terem vestido o manto sagrado. Com tudo o que de diverso e polémico caracterizou o seu percurso Benfiquista e de homens, uma coisa é certa, enquanto foram Benfiquistas honraram o manto sagrado. Foram fundamentais para aumentar a popularidade do nosso clube e contribuíram para o sedimentar como maior clube de Portugal.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: ivodaniello em 02 de Março de 2015, 00:23
Citação de: Theroux em 14 de Julho de 2014, 13:44
???
(http://i.imgur.com/YU7eY7j.jpg)

Citação de: RedVC em 15 de Julho de 2014, 00:33
Citação de: Benfiquista_ em 14 de Julho de 2014, 18:45
Qual era o nosso ali?

Estive à espera de uma ajuda de alguém que sabe muito mais do que eu.
E a resposta que me deu foi surpreendente: os dois!

Os dois campos lado a lado são do Benfica. Existia um bancada dupla entre os dois que dava para um campo (do futebol) e outro. Engenhoso.

O segundo campo tinha uma pista de cinza (inaugurada em 1946), um campo de ténis no topo e um campo de basquetebol e voleibol atrás da churrasqueira. Aí o Benfica jogava hóquei em campo, râguebi e andebol.

O Estádio do Lumiar era onde depois foi o Estádio de Alvalade. A fotografia deve ser de 1947 pois são visíveis obras nesse estádio. Seria assim uma remodelação do Lumiar e não o princípio da construção do José Alvalade.


Meu deus, então quer dizer que o novo estádio do sportém está exactamente localizado no terreno onde outrora era pertença do Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Abidos em 02 de Março de 2015, 01:16
Não.
O terreno nunca pertenceu ao Benfica, era um Aluguer da CML. Solução encontrada após a expropriação do Campo das Amoreiras... esse sim, era nosso.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Março de 2015, 09:25
Exacto. O Abidos tem toda a razão. O primeiro ocupante do terreno foi o Lisbon Cricket Club.
Eu já vi elementos dispersos mas nunca juntei dados.
Assim salvo o erro o campo terá sido inaugurado em 1912. Foi utilizado pelo Lisboa Foot-ball Club que equipava de azul e branco. Entre 1914 e 1920 o campo foi conhecido por Stadium de Lisboa. Depois de umas questões com rendas terá passado para o uso do SCP. Assim foi verde entre 1916 e 1937. Em 1936 os visconde passaram a chama-lo Campo 28 de Maio (quem é que era o clube do regime, quem era?). Esteve inactivo entre 1937 e 1941 uma vez que o SCP mudou-se para o lado para o campo do Lumiar. Como o Sport Lisboa e Benfica foi expropriado pelo Estado (recebendo um valor bem inferior ao que lá tinha investido - clube do regime uma OVA!) o nosso clube teve de arranjar uma solução de recurso. Em pouco tempo forma construídas bancadas de madeira e alindado de tal forma que ficou melhor do que o verde Campo do Lumiar  ali ao lado. Mas o nosso clube não fez só investimentos também lhe mudou o nome. E assim como todos os outros estádios da nossa história foi chamado de Estádio do Sport Lisboa e Benfica (clube do regime uma OVA!). Em 1947 os viscondes fizeram obras (a fotografia deve ser dessa época) pois Alvalade só seria concluído lá para 1956.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Abidos em 02 de Março de 2015, 11:35
As bancadas em Madeira já existiam quando fomos para lá, mas estavam todas podres!!!
Tal como aconteceu mais tarde no Estádio da Luz, foram os sócios que voluntariamente, e gratuitamente, meteram mãos à obra...
Foi remodelado, com o suor e calos dos Benfiquistas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Março de 2015, 09:11
-38-
Um ancião curioso.

24 de Julho de 1932, Asilo d'Espie de Miranda em Campolide. Sessão solene cujo motivo não está explicitado na legenda da fotografia:

(http://i57.tinypic.com/dxibno.jpg)
Fonte: Digitarq


Ora, o asilo d'Espie de Miranda,  ainda hoje existe. Presentemente é uma associação sem fins lucrativos, legalmente reconhecida pela Segurança Social e que tem por missão apoiar o cidadão idoso.

(http://i61.tinypic.com/2vipkb6.jpg)

Fundado em 1875, foi inaugurado em 6 de Junho 1900. Era um asilo para idosos e inválidos com sede na antiga residência dos fundadores, na antiga Quinta da Mineira, ao Arco das Águas Livres, a Campolide. Tinha por base o património deixado pelos seus instituidores, dr. João José de Miranda, a sua esposa D. Adelaide de Espie Miranda e Pedro Gomes da Silva. Destinava-se a albergar artistas pobres do sexo masculino, impossibilitados de trabalhar.

Na fotografia é captado um momento dessa sessão solene, sendo possível ver retratos nas paredes daqueles que se presume foram os beneméritos da instituição. À esquerda um retrato de uma Senhora, à direita um retrato de dois homens e uma outra figura que parece ter sido apagada de propósito.

Entre os presentes, nota-se que três homens conduziam a sessão, provavelmente responsáveis pela instituição e eventualmente – digo eu - representantes do Estado Português.

Na audiência estão 23 pessoas sentadas, compondo um grupo diversificado em idade, em género e aparentemente em estrato social. Alguns deveriam ser convidados outros quase seguramente residentes no Asilo. Nota-se também na primeira fila estava sentada uma Senhora de idade que tinha uma medalha ao peito, facto que indicia ter sido homenageada nesse dia.

Mas a nós interessa olhar não para a primeira fila mas antes para a última. Reparem que lá ao fundo, à esquerda podemos ver um ancião que inclinava a cabeça para a sua esquerda para melhor observar o que se ia passando.

Olhar vivo, rosto enrugado. Lembra-vos alguém?

(http://i60.tinypic.com/23vahcl.jpg)

Manuel Gourlade, ele mesmo.

Manuel Gourlade, o diligente empregado da Farmácia Franco. A primeira águia, um homem que 28 anos antes, cheio de genica, entusiasmo e dinamismo esteve com mais 23 companheiros na fundação de um Grupo que originou o Sport Lisboa e Benfica.

Sabemos que em 1929, Gourlade já estava recolhido no Asilo d'Espie de Miranda. Nessa época tinha 57 anos de idade mas pelo envelhecimento precoce requeria já cuidados de terceiros. Sabemos que foi levado para lá por mãos amigas – presumo por Daniel Santos Brito e pelo seu antigo patrão Pedro Augusto Franco, que o encontraram já em decadência física e privações materiais.

Em Julho de 1932, neste dia da sessão solene, Gourlade estava perto dos 60 anos de idade mas mantinha um olhar vivo e curioso. Sabemos que por lá ficou por mais cerca de 11 anos. Sabemos que recebeu visitas de Daniel Santos Brito e tenho ideia de haver indícios de ter sido visitado por Cosme Damião. Ambos o terão mantido informado sobre a evolução do clube que ele ajudou a fundar e a dinamizar numa acção seminal e determinante para a sua sobrevivência. Um feito de perseverança e coragem num tempo em que clubes se fundavam e extinguiam a uma velocidade vertiginosa.

Gourlade viria a falecer em 1-01-1944, com quase 74 anos de idade. Faleceu anónimo e quase completamente esquecido. Nesse tempo era apenas recordado por um punhado de Benfiquistas e de pessoas que com ele conviveram nos dias felizes.
Hoje cabe a nós, Benfiquistas, resgatar a sua memória, exaltar a sua obra, agradecendo em pequenas contribuições a sua acção, os seus ideais e coragem. Contribuições decisivas para que hoje exista o Sport Lisboa e Benfica.

Obrigado Manuel Gourlade. Descansa em Paz. O clube vive. E viverá vencedor.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 07 de Março de 2015, 09:14
Enorme Manuel Gourlade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 07 de Março de 2015, 12:05
Sensacional trabalho de pesquisa  :clap1:

Grande história entre o RdR e o CdO. Amigos, amigos... Benfica à parte.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Março de 2015, 12:16
Obrigado Fake  O0
Fui beber muita informação a pessoas que sabem muito mais do que eu entre as quais destaco (e de forma recorrente porque merecida) Alberto Miguéns.
Tu também és um pesquisador e sabes com certeza que dá muito prazer encontrar alguma coisa rara e que não está devidamente legendada e relacionada.
Dá prazer e tenho também a noção que é uma pequena mas interessante contribuição para que outros conheçam a nossa história, as nossas grandes figuras, mesmo que com algumas falhas e incongruências.
Vamos em frente. Vamos continuar a explorar e a partilhar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 07 de Março de 2015, 22:23
Citação de: RedVC em 07 de Março de 2015, 12:16
Obrigado Fake  O0
Fui beber muita informação a pessoas que sabem muito mais do que eu entre as quais destaco (e de forma recorrente porque merecida) Alberto Miguéns.
Tu também és um pesquisador e sabes com certeza que dá muito prazer encontrar alguma coisa rara e que não está devidamente legendada e relacionada.
Dá prazer e tenho também a noção que é uma pequena mas interessante contribuição para que outros conheçam a nossa história, as nossas grandes figuras, mesmo que com algumas falhas e incongruências.
Vamos em frente. Vamos continuar a explorar e a partilhar.
como é que é possível o alberto migueis não ser património do clube.
o homem é um museu vivo,uma relíquia.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Março de 2015, 23:28
Falar de Alberto Miguéns é falar de um Benfiquista superlativo. Da excelência de valores, do conhecimento rigoroso, da capacidade de comunicar, da perspicácia, da seriedade. Intransigente contra a trapaça, a mentirola, a reinvenção da história e o ataque recorrente ao Sport Lisboa e Benfica. É falar de um Benfiquista que tem mantido ao longo de várias décadas (e felizmente é alguém ainda bastante novo) uma pesquisa paciente, sistemática e rigorosa. O nosso clube tem muita sorte por ter um sócio e adepto desta fibra. E espero que os homens que conduzem o nosso clube, o reconheçam sempre. Espero que ele me perdoe por estar a falar assim tão enfaticamente dele mas é-lhe merecido e eu não ficaria bem comigo se não aproveitasse a deixa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 07 de Março de 2015, 23:32
Citação de: RedVC em 07 de Março de 2015, 23:28
Falar de Alberto Miguéns é falar de um Benfiquista superlativo. Da excelência de valores, do conhecimento rigoroso, da capacidade de comunicar, da perspicácia, da seriedade. Intransigente contra a trapaça, a mentirola, a reinvenção da história e o ataque recorrente ao Sport Lisboa e Benfica. É falar de um Benfiquista que tem mantido ao longo de várias décadas (e felizmente é alguém ainda bastante novo) uma pesquisa paciente, sistemática e rigorosa. O nosso clube tem muita sorte por ter um sócio e adepto desta fibra. E espero que os homens que conduzem o nosso clube, o reconheçam sempre. Espero que ele me perdoe por estar a falar assim tão enfaticamente dele mas é-lhe merecido e eu não ficaria bem comigo se não aproveitasse a deixa.
excelente post.parabens.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 08 de Março de 2015, 00:13
(http://i.guim.co.uk/static/w-1920/h--/q-95/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2015/3/7/1425715251158/03e4b23f-c3c1-46ac-80c9-25b1057f823a-1020x612.jpeg)

1987

União Futebol Comércio Indústria vs Sport Lisboa e Benfica
_______

Alguém sabe a que competição se refere este jogo?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Março de 2015, 01:09
Olha... José Mourinho.
A Taça de Portugal não foi http://serbenfiquista.com/team/19861987-seniores-futebol/sl-benfica (http://serbenfiquista.com/team/19861987-seniores-futebol/sl-benfica)
O União Futebol Comércio Indústria pertence à AF Setúbal.Terá sido um amigável?

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 09 de Março de 2015, 21:24
Eu estou com o RedVC. Taça de Portugal não foi e Taça de Honra da AF Lisboa também não, porque essa equipa pertence à AF Setúbal. Só pode ter sido um amigável.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Março de 2015, 00:47
-39-
Um banquete de notáveis.

O texto vai ser longo mas com boas razões.
Vamos hoje olhar para uma fotografia extraordinária:

(https://norbertoaraujoinmemoriam.files.wordpress.com/2012/12/jornalistas-do-c2absport-lisboac2bb-1913.jpg)

Pertence ao espólio de um dos retratados, o grande Norberto de Araújo.

Norberto Moreira de Araújo nasceu em Lisboa a 21 de março de 1889. Foi um grande jornalista, escritor e Olissipógrafo. Muita e boa informação reunida por seus herdeiros acerca da sua vida e da qualidade da sua obra e pensamento: http://norbertoaraujo.org/ (http://norbertoaraujo.org/)

A fotografia está datada de 15/11/1913 e capta treze convivas que participaram num banquete de homenagem ao foto-jornalista Arnaldo Garcêz, celebrando o éxito da sua participação numa Exposição Nacional das Artes Gráficas que terá decorrido nesse mesmo ano. Caso para dizer se fossem supersticiosos espero bem que tenham convidado o fotógrafo para também dar ao dente.

O que há de notável nesta fotografia? Em primeiro lugar os homens retratados e depois o motivo indirecto para que estivessem reunidos. Senão vejamos as identificações:

(http://i58.tinypic.com/16rybo.png)

Um fundador, quatro presidentes, dois eméritos jogadores. Todos figuras notáveis da primeira década do Sport Lisboa e Benfica. Parece-me que isso por si só basta...

Vamos por partes.

Cosme Damião, glorioso fundador do Sport Lisboa. Não foi a figura de maior relevo nos primeiros 3-4 anos mas a partir de 1908/1909 veio a ser o homem decisivo do clube. E foi a Alma maior do clube durante cerca de 18 anos. Homem de valores e ideias. Homem da fundação, da resistência, da expansão. Tinha uma ideia ecléctica e uma visão de clube com uma dimensão combinada e complementar em aspectos desportivos, sociais e culturais. Soube gerir outros homens. Soube organizar e inovar. Descobriu e orientou talentos novos para a nossa equipa de futebol. Ganhou campeonatos atrás de campeonatos fazendo do Sport Lisboa e Benfica o maior e mais ganhador clube de Portugal. Tudo isto logo na primeira década de vida do nosso clube. Introduziu diversas novas modalidades no clube e no país. Estimulou a criação de filiais que propagaram os nossos valores e ideais. Liderou um clube pobre, sem casa própria, com carências diversas que ao contrário dos outros tinha de investir em casa alheia para depois ser escorraçado e ter de procurar casa nova. Até o Estado Português nos escorraçava. Riam-se de quem vos falar em clube de regime. Mas Cosme e seus pares, com uma vontade imensa e liderando um número crescente de almas e talentos, conseguiram moldar um clube que pelo seu dinamismo e decisões acertadas cedo revelou uma capacidade surpreendente de captar novos sócios e crescer. Tudo isto de forma sustentada. Por isso e pelas vitórias sucessivas motivava a inveja alheia. E claro isso rapidamente se começou a notar na hostilidade de uma boa parte da imprensa desportiva da época. Em reacção a essas campanhas e pela vontade de dar aos sócios e simpatizantes uma visão mais completa e rigorosa Cosme e seus pares viriam a concretizar uma ideia pioneira e original. em certa medida num paralelismo interessante com os dias de hoje. Mas lá iremos.

E quanto aos outros notáveis da fotografia?

Luís Carlos de Faria Leal, presidente do Grupo Sport Benfica, de 18/11/1906 – 15/09/1907. Teve um papel de relevo no processo de fusão entre o GSB e o SL. Foi opositor ao regime de Salazar tendo por isso sofrido graves dissabores e provavelmente por isso não terá tido outro protagonismo no clube. Ainda assim no sítio oficial do SLB é adjectivado de "eclético, empreendedor e organizado". E ainda: "...Em 12 de Agosto de 1906, foi designado presidente da Direcção, sendo confirmado no cargo a 18 de Novembro de 1906, em Assembleia Geral. Foi eleito "Sócio Benemérito" (1909). O carácter ecléctico do clube, bem como a sua organização, atraíram inúmeros associados, entre eles, sócios do Grupo Sport Lisboa, como Cosme Damião, fundador do Sport Lisboa, que foi o associado n.º 81 do Grupo Sport Benfica." Não sei a data da sua morte mas sei que ainda viveu o suficiente para assistir à vitória da Taça Latina e à inauguração do Estádio da Luz. É uma figura fascinante da história do nosso clube. Gostaria de saber mais da sua vida.

Alberto Lima, presidente do Sport Lisboa e Benfica por três vezes, compreendendo dois períodos: de 09/07/1911 a 31/03/1912 e depois de 05/12/1912 a 29/08/1915. Segundo o sítio oficial do SLB "Teve um primeiro mandato de oito meses, após o qual foi vice-presidente. Regressou à presidência numa gerência em que estreou uma sede, na Baixa (Rua Garrett), iniciando-se a ginástica (1913);... inaugurou o campo de Sete Rios, onde se iniciaram a natação e o ténis. O futebol obteve o primeiro "tri" no Regional de Lisboa (1912, 1913 e 1914), com a proeza (única) de ter ganho as quatro categorias em 1914, com Cosme Damião, médio-centro e capitão da 1.ª categoria, como treinador e dirigente." Homem de grande personalidade e cultura. Respeitoso e respeitado, foi também um fotógrafo amador. Uma personalidade notável.

José Eduardo Moreira Sales, presidiu ao clube de 31/03/1912 – 05/12/1912 ou seja num período entre os mandatos do Dr. Alberto Lima. Dele se diz no sítio oficial do clube: "Foi de curta duração esta gerência, com os Estatutos, elaborados por Alberto Lima (vice-presidente) e Félix Bermudes e aprovados em Assembleia Geral em 1912, a fazerem coincidir os mandatos com os anos civis, pelo que houve eleições no final de 1912. Durante a curta gerência, trocou-se o periférico bairro de Benfica pelo centro da cidade, na Baixa Pombalina, inaugurando então a Sede em pleno Rossio, de forma a tornar-se mais acessível aos associados, pois o clube há muito que extravasara os limites de Benfica e Belém (onde continuava a ser muito popular)."

Alberto Silveira Ávila de Melo, foi o presidente num período de 25/08/1926 – 15/08/1930. Esse período marcou uma rotura decisiva e traumatizante. A rotura com a gestão e visão de Cosme Damião e Bento Mântua. Companheiro de lista de António Ribeiro dos Reis e de Vítor Gonçalves, dele se diz no sítio oficial do clube: "Nos três mandatos iniciais, teve Ribeiro dos Reis como Capitão-Geral, num período com carência de vitórias no futebol (apesar das valorosas conquistas nas categorias inferiores). Com a situação financeira do Clube a melhorar foi construído, junto ao estádio das Amoreiras, um campo para uma nova modalidade, o basquetebol (1927). Surge, também, o ténis de mesa (1928). Com a mudança na política de aquisição de futebolistas, conquistou-se em 1930, pela primeira vez, o Campeonato de Portugal. Em 1929, era o presidente, quando o maior clube português comemorou as Bodas de Prata."

Temos ainda dois eméritos jogadores de futebol do nosso clube:

Carlos Homem de Figueiredo, que se notabilizou como médio à direita embora tenha também por vezes evoluído com defesa ao lado do grande Henrique Costa ou de Francisco Belas. Era aliás nessa posição que o grande Artur José Pereira, seu companheiro de equipa dele disse que teria jogado quase sempre na posição errada. Uma bicada nas opções de Cosme Damião. AJ Pereira era assim de opinião que Homem de Figueiredo teria sido muito melhor defesa do que médio. É possível que tivesse razão mas em defesa de Cosme presumo que como sempre ele terá pensado primeiro no benefício do clube do que benefício do jogador. Carlos Homem de Figueiredo teve actividade no nosso clube de 1910 a 1918 com um episódico regresso na época de 1921/1922. Foi um dos integrantes da comitiva da AFL ao Brasil uns meses antes, em Julho-Agosto de 1913. Essa selecção é em minha opinião a primeira selecção nacional. Apenas não o foi em termos oficiais mas isso é um detalhe irrelevante. Os melhores jogadores do país estavam no campeonato de Lisboa e Homem de Figueiredo era um deles.
 
Florindo Serras, Casapiano como Cosme. Foi avançado, tendo no entanto tido menor notoriedade futebolística, com presenças entre 1909 a 1914 embora em 1910/1911 tenha evoluído na 2º categoria. Esse facto não quer dizer menos da sua qualidade futebolística pois Cosme por vezes reforçava propositadamente uma categoria inferior quando pretendia ganhar um campeonato ou troféu. O clube acima de qualquer homem. E há vários casos destes. Mas Florindo Serras foi também um emérito praticante de outras modalidades tais como atletismo (salto em altura e comprimento, corrida com barreiras), aliás com bons resultados.

Quanto ao homenageado, Arnaldo Garcêz foi um excelente repórter fotográfico. Mais e boa informação aqui:
http://www.tipografos.net/fotografia/garcez.html (http://www.tipografos.net/fotografia/garcez.html).
http://historia-dos-tempos.blogspot.pt/2009/03/arnaldo-garcez.html (http://historia-dos-tempos.blogspot.pt/2009/03/arnaldo-garcez.html)
Era um homem de instrução limitada mas com enorme força de vontade e empreendedorismo. À semelhança do grande Joshua Benoliel, Arnaldo Garcez integrou as tropas portuguesas que participaram na I Guerra Mundial, tornando-se assim num dos primeiros fotógrafos a ser repórter de guerra. Embarcou para França como Alferes equiparado em 17/12/1917. Fotógrafo auto-didacta, veio a reportar o dia-a-dia das trincheiras em imagens impressivas que relatavam a dureza e crueldade daquele conflito. Estes fotógrafos deixaram-nos um legado impressionante.
http://postaisilustrados.blogspot.pt/2013/04/os-portugueses-na-primeira-grande.html (http://postaisilustrados.blogspot.pt/2013/04/os-portugueses-na-primeira-grande.html). Quando olho para essas imagens penso quão inconsciente são as pessoas que falam em conflitos como estratégias de xadrez e quão criminosas são as pessoas que decidem esses conflitos. Mas voltando a Garcêz, a sua ligação ao nosso clube deverá ter recuado a uns bons anos antes. Penso ter encontrado referência à sua participação em 14 de Julho de 1907 numa prova velocipédica organizada durante um evento desportivo organizado pelo Grupo Sport Benfica. Uma figura que não desmerecia em nada dos restantes convivas que aliás o justamente homenagearam nesse dia de 1913.

Os restantes convivas terão sido jornalistas e personalidades eméritas do jornal "O Sport Lisboa" mas a minha ignorância e falta de pesquisa não permitem dar detalhes.

E é justamente aqui que falamos da tal razão indirecta para que estes homens se tenham reunido. O banquete de homenagem a Arnaldo Garcez realizou-se em Novembro. Cerca de 3 meses antes, em 24 de Agosto de 1913, iniciou-se a publicação do jornal "O Sport Lisboa". Curioso como foi escolhido o nome do grupo que Cosme fundou.

(http://1.bp.blogspot.com/_BALpMCOY_xo/SX4uOqZCK1I/AAAAAAAAALo/u2vVe8E0UyA/s400/sljornal.jpg)
Fonte: http://soudeumclubelutador.blogspot.pt/2009_01_01_archive.html (http://soudeumclubelutador.blogspot.pt/2009_01_01_archive.html)

O jornal era propriedade do nosso clube e tinha como Director o Dr. Alberto Lima, como editor Alfredo Ávila de Melo e como administrador Jorge Paixão. Custava dois centavos (20 réis). Pretendia não apenas dar informação mais extensa e acima de tudo rigorosa aos sócios e simpatizantes das actividades do clube mas igualmente fornecer notícias com um foco mais alargado. Conforme refere Francisco Pinheiro na excelente obra "Imprensa desportiva portuguesa: do nascimento à consolidação (1893-1945)", apresentava "secções variadas, como por exemplo: "Crónicas do Porto" e "O «Sport» no Estrangeiro"".

Soa familiar esta preocupação de rapidamente ter um carácter extra-Benfica?

É... Salvaguardando as devidas distâncias e as enormes diferenças de época, soa-me muito a alguns dos motivos que estiveram na base da formação da Benfica TV. Agredidos constantemente por uma imprensa hostil ao clube, que transmitia informação escassa e frequentemente com carácter tendencioso ou mesmo mentiroso das actividades e factos associados ao nosso clube, era natural a indignação frequente da nossa Direcção. Tenho ideia do próprio Cosme terá respondido por escrito a campanhas com evidente má-fé e deturpação da verdade por exemplo acerca da postura e acções de AJ Pereira. Cosme sempre em defesa do nosso clube. Antes como agora, tudo se repete...

Mas finalizando, o jornal terminaria (ou evoluiria numa outra perspectiva) em 27 de Agosto de 1915. Sucedeu-lhe o jornal "O Sport de Lisboa" que saiu para as bancas em 13 de Março de 1915 apenas sendo extinto em 26 de Maio de 1934. Ou seja, foi um jornal desportivo que sobreviveu à I Guerra Mundial. "O Sport de Lisboa" tinha igualmente periodicidade semanal sendo dirigido por Álvaro de Lacerda , Eduardo Pereira e José Colmeiro. O nome era assim ligeiramente diferente e deixou de ser propriedade do clube passando a ser detido pela empresa de "O Sport de Lisboa". Mas claro a linha de sucessão era bem evidente.

Para quem quiser saber mais aqui fica a ligação do trabalho de Francisco Pinheiro: http://www.ceis20.uc.pt/ceis20/site/UserFiles/Image/FranciscoPinheiroLerHistoria49.pdf (http://www.ceis20.uc.pt/ceis20/site/UserFiles/Image/FranciscoPinheiroLerHistoria49.pdf)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 14 de Março de 2015, 08:15
Obrigado Red.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Março de 2015, 22:47
Obrigado também faneca_slb4ever, sempre atento e sempre apreciador destas histórias  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Março de 2015, 23:02
-40-
Cosme, o presidente.

3 de Julho de 1938, dia de festa Casapiana!

CERIMÓNIA DA ENTREGA DA NOVA BANDEIRA AO CASA PIA ATLÉTICO CLUBE, NO DIA DAS FESTAS COMEMORATIVAS DO SEU ANIVERSÁRIO.

(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=CD96067D4995795BC08DA3ECC83AF5C0&r=0&ww=1000&wh=600)
Fonte: Digitarq


Nessa cerimónia está presente a Direcção do clube Atlético Casa Pia fundado 18 anos antes. Ao lado do seu antigo companheiro, o arquitecto António do Couto que ocupava o cargo de vice-presidente encontra-se o Presidente da Direcção. Um homem alto de figura esguia e inconfundível: Cosme Damião!

De Cosme Damião, dizia Rogério Jonet, um grande Benfiquista já desaparecido: "Foi tudo no clube menos Presidente e porque não quis".

Cosme Damião filho de Cosme Damião, neto de Cosme Damião. Não há aqui nenhum Júlio...

Orfão de pai aos 10 anos foi admitido na Real Casa Pia por pedido de sua mãe que não tinha meios para criar os seus filhos. Da Travessa do Alqueidão para Belém, iniciava-se uma nova e frutuosa vida. O jovem Cosme fez a viagem, tal ganso desprotegido para ser acolhido no regaço da Casa Pia. Na Casa Pia cresceu em corpo e recebeu uma formação e qualificação profissional que lhe permitiu ter um futuro profissional seguro (Administração da Casa de Palmela).

Recebeu também os valores da Honra, da Solidariedade e Honestidade que sempre soube respeitar enquanto desportista. E foram esses valores que juntamente com os seus companheiros, esses pioneiros Gloriosos de 1903-1904, inscreveu no código de honra e conduta do maior clube Português.

De 1904 a 1926, Cosme viveu para o Sport Lisboa e Benfica. Lá foi tudo menos presidente. E porque não quis!

Mas em 1926 sopraram ventos de mudança. O Futebol, o deporto e a sociedade Portuguesa estavam a mudar mas o nosso clube mantinha uma organização alheada dessas mudanças e da progressiva mercantilização do futebol. Afogado em dívidas e perdendo campeonatos em série, a maioria dos sócios decidiu que o clube deveria mudar de rumo. E pela primeira vez teve de dizer não ao seu pai. Teve de dizer não para se adaptar, para continuar a crescer e para ganhar o futuro. Terá sido doloroso mas como qualquer Pai, Cosme não conseguiu afastar-se completamente. Nem quem passou a liderar deixou que isso acontecesse. Por isso de 1931 a 1935 regressaria para ser... presidente da Assembleia Geral.

Mas Cosme foi também presidente de um clube. Não do seu Benfica mas de um outro clube querido. O clube da sua Casa Pia. E facto, de 1936 a 1938 foi presidente do Clube Atlético Casa Pia, instituição fundada em 3/07/1920 por Cândido de Oliveira e seus pares.

(http://dubleudansmesnuages.com/wp-content/uploads/2008/07/casa-pia-atletico-club-armando-01.jpg) (http://1.bp.blogspot.com/-w-tih2BRPHA/Uf0i6qxq-gI/AAAAAAAAAtk/kGASXTZRUJg/s1600/Casa+Pia+Atl%C3%A9tico+Clube.jpg)


Ironia do destino. Logo Cosme que se tinha oposto à criação daquele clube para proteger o seu Benfica. Cosme via nesse projecto de Cândido de Oliveira a partida do maior talento atlético e intelectual que o Sport Lisboa e Benfica tinha nessa altura. A perda de um homem de grande valor e para quem Cosme teria destinado a sua sucessão. Cruel desfecho, perdia-se um homem e atleta valoroso e perdiam-se igualmente muitos mais jogadores, também antigos Casapianos que decidiram sair com Cândido. Foram perdas irreversíveis, agravadas com a perda daí em diante do prolífico viveiro Casapiano.

E mesmo assim Cosme foi presidente do CACP. Por amor à Casa Pia e talvez por sentir que seria um clube no qual ainda revia os valores do desporto totalmente amador que ele tanto estimava. Aqui está uma outra fotografia do mesmo dia referente ao banquete que se seguiu:

ASPECTO DO BANQUETE DE CONFRATERNIZAÇÃO DOS SÓCIOS DO CASA PIA ATLÉTICO CLUBE, COMEMORANDO O 158º ANIVERSÁRIO DA CASA PIA E O 18º DAQUELE CLUBE.


(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=00E1F69AC0A00F8C98D60EC655D72A6B&r=0&ww=1000&wh=600)
Fonte: Digitarq


Cosme, enfim presidente.


Foi um dia de festa. Na fotografia de cima podem ver-se alguns jovens casapianos com instrumentos musicais pousados no chão. Na de baixo vemos ginastas femininas que evoluíam graciosamente celebrando a alegria desse dia de festa.

EXERCÍCIOS DE GINÁSTICA, PELA CLASSE FEMININA DO CASA PIA ATLÉTICO CLUBE, NAS FESTAS COMEMORATIVAS DO ANIVERSÁRIO DAQUELE CLUBE

(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=74E4C28BF33B06DD01F107158286F759&r=0&ww=1000&wh=600)
Fonte: Digitarq


Foi igualmente um dia de celebração dos valores Casapianos, presidido pelo maior de todos nós. O homem que foi tudo no Benfica menos presidente. E porque não quis!

Depois do CACP, Cosme viria ainda a ser presidente da Comissão Central de Árbitros onde a sua postura e isenção foram mais uma contribuição valiosa para o Futebol Português.

Quando morreu em 1947 Cosme tinha o respeito de todos os desportistas Portugueses. Mas tinha também aquilo que lhe deveria ser mais precioso. Tinha e terá sempre o reconhecimento e o carinho eterno de todos os Benfiquistas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 14 de Março de 2015, 23:45
Grandes textos, desconhecia que tinha sido presidente do Casa Pia. Estive a confirmar e nessa altura eles não jogavam no Campeonato Nacional, o que evitou uma situação muito estranha.

Relativamente ao Arq. António do Couto acrescento que além do papel que teve Casa Pia foi o primeiro capitão do Sport Lisboa, sócio nº1 do Sporting e, a nivel profissional, foi o responsável pela estátua do Marquês de Pombal (juntamente com Adães Bermudes). Se estou a repetir informação que já anda por aqui peço desculpa pela redundância.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Março de 2015, 00:59
Citação de: Theroux em 14 de Março de 2015, 23:45
Grandes textos, desconhecia que tinha sido presidente do Casa Pia. Estive a confirmar e nessa altura eles não jogavam no Campeonato Nacional, o que evitou uma situação muito estranha.

Relativamente ao Arq. António do Couto acrescento que além do papel que teve Casa Pia foi o primeiro capitão do Sport Lisboa, sócio nº1 do Sporting e, a nivel profissional, foi o responsável pela estátua do Marquês de Pombal (juntamente com Adães Bermudes). Se estou a repetir informação que já anda por aqui peço desculpa pela redundância.


Obrigado.  O0

Em relação ao monumento onde em breve celebraremos mais um título resta ainda acrescentar o nome do escultor Francisco Santos, outro ex-casapiano, jogador do Sport Lisboa, Lazio e SCP. Foi autor das esculturas do monumento. Morreu ainda antes da inauguração. Dois arquitectos e um escultor.

(http://i59.tinypic.com/10nrqs1.png)
Francisco dos Santos;
Fonte: Ilustração Portuguesa

Excelente informação relacionada, aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/05/repto-aos-petardeiros-e-riscadores.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/05/repto-aos-petardeiros-e-riscadores.html)


(http://luminescencias.blogspot.pt/19170812_Lancamento-da-primeira-pedra-do-monumento_Marques-de-Pombal.jpg)

Inaugurado a 13 Maio 1934

(http://1.bp.blogspot.com/-tReQQgWySKw/UifLefOXUmI/AAAAAAAAN7Y/QZtbkFcmfgk/s1600/5.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 16 de Março de 2015, 10:33
Fantástico texto :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 17 de Março de 2015, 18:01
Tivessem os actuais dirigentes desportivos metade da postura, do carácter e dos valores de Cosme Damião, e o futebol português seria um mundo muito melhor. Um exemplo de Homem, e não digo isto por ter sido um dos principais fundadores do Benfica mas sim por todo o seu histórico de vida.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: poiudivino em 17 de Março de 2015, 18:57
(https://fbcdn-sphotos-b-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xft1/v/t1.0-9/11068301_963446003690145_6723346432423309448_n.jpg?oh=e1ec72d3a9d26c6bdf50a87733adcab6&oe=55714630&__gda__=1433775034_2e025c5bde11a6294832030d0700c8f7)


Encontrei esta imagem no facebook do Ricardo Campos (GR da direita, e actual GR da Uniao da Madeira). Estão presentes entre outros João Vilela e o falecido Baião
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Março de 2015, 00:22
Vale o que vale mas encontrei esta informação no ForaDeJogo acerca dos dois anos em que Baião foi júnior do SLB

Plantel 2003/2004 Júniores
Treinador: Alberto Bastos Lopes
Fernando Alexandre (17)   Benfica B (III)
Manuel Fernandes (17)   Benfica (I)
João Vilela (17)   Benfica B (III)
João Coimbra (17)   Benfica (JUV)
Tiago Gomes (16)   Benfica B (III)
Luís Zambujo (16)   Benfica (JUV)
Manuel Curto (16)   Benfica (JUV)
Hugo Grilo (16)   Benfica (JUV)
Rui Nereu (17)   Benfica (JUV)
Ricardo Campos (17)   Benfica B (III)
Fausto (18)   Louletano (JUN)
Bruno Baião (17)   Benfica B (III)
Tiago Costa (18)   Benfica B (III)
Bruno Carvalho (17)   Benfica (JUV)
Hélio Roque (17)   Benfica B (III)
Ricardo Nunes (17)   Benfica (JUV)
Bruno Costa (16)   Benfica (JUV)
Jorge Almeida (17)   Benfica (JUV)
Tiquinho (17)   Benfica B (III)
Ivo Miranda (17)   Benfica (JUV)
Nuno Veludo (17)   Benfica (JUV)
Éder (17)   Benfica (JUV)
Carlitos Seidi (18)   Benfica B (III)
Diogo Cardoso (17)   Benfica (JUV)
Hélio Freitas (16)   Ginásio Corroios (JUV)

****************************************************

Plantel 2003/2004 Júniores
Fernando Alexandre (16)   Benfica (JUV)
João Vilela (16)   Benfica (JUV)
Tiago Gomes (16)   Benfica (JUV)
Ricardo Campos (16)   Benfica (JUV)
Diogo Martins (17)   Benfica (JUV)
Tiago Costa (17)   Benfica (JUV)
Hélio Roque (16)   Amora (JUV)
Rúben Franco (17)   Benfica (JUV)
Vasco Firmino (17)   Benfica B (III)
Filipe Duarte (17)   Benfica (JUV)
Dani (18)   Atlético CP (JUN)
Tiquinho (16)   Benfica (JUV)
Décio Gomes (17)   Benfica B (III)
Tiago Santos (16)   Benfica (JUV)
Carlitos Seidi (17)   Mercês (JUN)
Sandro (16)   Benfica (JUV)
Alex (18)   Benfica B (III)
Tiago Cerqueira (16)   Benfica (JUV)
Bruno Alves (17)   Benfica (JUV)
Tiago Carvalhinho (18)   Benfica (I)
Óscar Menino (17)   Benfica (JUV)
Bruno Baião (16)   Benfica (JUV)
Francisco Cunha (17)   Benfica (JUV)


José Henrique, Alberto Bastos Lopes e Rui Baião são facilmente identificáveis.
Manuel Fernandes já andava pela equipa A.
No facebook de Ricardo Campos estão algumas identificações:

Em baixo, a contar da esquerda: 2º Tiago Costa, 5º Tiquinho Ferraz, 6º Rui Baião, 7º João Vilela,
De pé, a contar da esquerda Ricardo Campos (g.r.) 9º.

Para os restantes não será propriamente fácil fazer identificações.
Talvez algum antigo júnior desta equipa ande aqui por este fórum.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 18 de Março de 2015, 11:09
Obrigado pela informação.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 18 de Março de 2015, 21:29
Estamos sempre a aprender. Não sabia que o Cosme Damião tinha sido presidente do Casa Pia. Obrigado por estes textos e fotos. Um grande Homem, que admiro muito.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jotenko em 19 de Março de 2015, 10:21
Excelente tópico RedVC. Muito obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Março de 2015, 00:02
Obrigado pelos vossos comentários.  O0

Vamos ao 41...


-41-
Um militar futebolista

2 de Maio de 1929, chegada de um grupo de futebolistas madrilenos a Lisboa. Na estação ferroviária do Rossio a comitiva madrilena é recebida por militares Portugueses que integravam a comissão de recepção e organização do Lisboa – Madrid militar, jogo marcado para o dia 5 de Maio. Entre eles estava o Major João da Cruz Viegas (indicado com o nº 5).

(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=DISSEMINATION/DF1A9ABB226FB5490B3C59BA246CB760&r=0&ww=1000&wh=600)
Fonte: Digitarq


Mas a nós interessa-nos mais o seu irmão, o Capitão José da Cruz Viegas. Este último tinha menos oito anos de idade e pertencia igualmente à referida comissão. Na fotografia de baixo o Capitão José da Cruz Viegas aparece-nos com o nº 5:

(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=DISSEMINATION/7B0BDA2A0348A9AAC7B0D17355DA8396&r=0&ww=1000&wh=600)
Fonte: Digitarq


Servem estas duas fotografias para ilustrar um aspecto da vidas longas, aventurosas e certamente frutuosas dos irmãos Cruz Viegas e em particular de José da Cruz Viegas no qual centraremos atenções. A sua vida enquanto militar foi no entanto parte da sua história pessoal. A nós interessa-nos mais a sua contribuição para a grande história do Sport Lisboa e Benfica. E não foi pequena...


José da Cruz Viegas não foi um dos fundadores de 1904. Não foi igualmente um dos resistentes de 1907 (antes pelo contrário...) mas foi seguramente um dos mais importantes de entre os nomes ilustres dos primeiros dias do nosso clube.

Se não vejamos: cor, símbolo, nome. Nem mais.

- Vermelho da nossa paixão. A cor que nos electriza por esses campos, que nos alegra o coração e perturba os nossos adversários. A cor da alegria, da vivacidade!

- Águia, animal nobre que encima as nossas cores e o nosso escudo. Que de asas abertas altaneira, forte e orgulhosa segura a nossa divisa.

- Sport Lisboa, o nome. O primeiro nome do nosso clube resultou de uma discussão entre várias propostas. Sabiam que entre outros nomes se chegou a falar com alguma força em "Grupo de Futebol Lisbonense" ou "Grupo de Futebol Lisboa"? Esse(s) nome(s) acabaria(m) por não vingar por se recear que a respectiva sigla GFL pudesse ser confundida com Guarda Fiscal de Lisboa. Quem fez notar esse aspecto? José da Cruz Viegas. Acabaria por se adoptar o nome de Sport Lisboa. Mais tarde, depois da crise de 1907 e da fusão de 1908, viria o nome definitivo: Sport Lisboa e Benfica.

Cor, símbolo, nome. Três elementos críticos da identidade de qualquer clube. Como deixar de prestar homenagem a este homem que apesar de presença fugaz foi importante na história inicial do nosso clube? José da Cruz Viegas foi um nome chave para a definição de todos estes elementos críticos da identidade do maior clube Português! Isto apesar de no dia 28 de Fevereiro de 1904 ele não se encontrar entre os 24 fundadores.

E a esse propósito, já o disse e reafirmo, a fundação do nosso clube foi bem mais complexa do que a história oficial nos diz. Cosme foi um dos fundadores... para esse processo contribuíram muito mais do que 24 homens. Alguns dos que não estavam presentes - ou não assinaram - foram dos mais importantes nos primeiros anos. Um clube não se funda vindo do nada, partindo para o futuro num momento de inspiração súbita. O Sport Lisboa fundou-se fruto das vontades de muitos mais do que 24 homens. Um deles foi José da Cruz Viegas.

Nas palavras imortais de Cosme Damião:
«A ideia de formar o Sport Lisboa não resultou do propósito de constituir um clube em determinadas condições. No nosso bairro, na escola, na corporação a que se pertencia, surgia, de quando em quando, a ideia de um clube. Se fizéssemos um clube nestes moldes? – era pergunta que não se tomaria como impertinente, numa altura em que ainda não havia grandes clubes. Mas não se sucedeu isso com o Sport Lisboa, foi o contrário. Constituído um «team» para jogar com outro mais forte, o bom resultado de um desafio, fazendo reunir numa pequena festa de alegria os jogadores vitoriosos, levou-os a pensar em dar consistência ao «team», transformando-o em clube. Veio primeiro a ideia do jogo, pelo prazer de jogar. A ideia do clube seguiu-se ao prazer do triunfo. Houve desde logo a certeza de que pela união nos podíamos tornar mais fortes. Neste sentimento inicial se pedia a escolha da divisa do novo clube – um por todos, todos por um».


Assim, o elemento decisivo foi a paixão pelo jogo partilhada por muitos jovens jogadores e o gatilho foram os desafios contra o grupo dos Pinto Basto no final do ano de 1903. Nesses meses que antecederam a fundação, as conversas terão certamente abordado questões concretas tais como as cores, nome e simbologia do novo clube. No dia da fundação estou certo que esses elementos já estariam numa fase avançada de evolução.

(http://1.bp.blogspot.com/-8DLbF7ceg1E/UmoAb1aluNI/AAAAAAAAKfw/9coybt6Hrrs/s1600/grupo+com+BFC+e+AB.jpg)
Alguns miúdos de Belém, companheiros de futeboladas com José da Cruz Viegas (à paisana). Nota-se a diversidade de equipamentos, entre eles as camisolas da Casa Pia e do Liceu Pedro Nunes.


Filho de Belém, José da Cruz Viegas estudou na Casa Pia como aluno externo a expensas do legado de Luz Soriano. Teve aliás uma posição interessante pois terá praticado o futebol não apenas no(s) grupo(s) da Casa Pia mas também com alguns outros miúdos de Belém, filhos de famílias mais abastadas e  que mais tarde integraram o grupo dos Catataus. por exemplo, na fotografia de cima, José da Cruz Viegas está à paisana, junto de outros filhos de Belém, companheiros de futeboladas. Entre eles dois jovens: Cândido Rosa Rodrigues (Catatau) fundador do nosso clube e João Bentes. Mais tarde ambos jogariam no SCP.


Pouco depois, no dia 1 de Janeiro de 1905, com a idade de 23 anos, José da Cruz Viegas foi integrante da primeira equipa do nosso clube. No campo das Salésias, contra o Sport Clube Campo de Ourique, ao lado de Emílio de Carvalho e à frente de Pedro Guedes, ele lá estava no primeiro jogo e na primeira vitória do nosso clube.

(http://fotos.sapo.pt/g7M1iMMVdgdKjK0agMWT/500x500)
José da Cruz Viegas é o primeiro de pé a contar da esquerda.


(http://i60.tinypic.com/5cj8z8.png)
José da Cruz Viegas no princípio de 1907
depois de um jogo contra o CIF, Clube Internacional de Futebol.

Mas em Maio de 1907 o Sport Lisboa chegou a um ponto de quase rotura. À fragilidade económica e de instalações adicionou-se a dramática perda de 8 jogadores para o novo e ambicioso SCP. José da Cruz Viegas era um dos jogadores que pela idade e posição social via já com apreensão as precárias condições que eram oferecidas pelo nosso clube. Viria a aceitar a proposta de José de Alvalade e com sete companheiros lá foi jogar de branco para o Sítio das Mouras. Outros tempos, a génese de uma velha rivalidade.

No entanto por via das exigências da sua vida profissional, José da Cruz Viegas veio a ter participações competitivas intermitentes quer na nossa equipa quer depois no SCP. Mais tarde e tal como o seu irmão, viria a integrar o corpo expedicionário Português que combateu na I Guerra Mundial. Sabemos que em Maio de 1917 embarcou como capitão de Batalhão para França, tendo pouco depois vindo a ser ferido em combate. Viria a receber um louvor por zelo e pela inexcedível inteligência e competência profissional com que exerceu o seu posto.

Em 9 de Abril de 1918, o seu batalhão sofreu uma forte ofensiva das tropas Alemãs que desencadearam a batalha de La Lys. Nessa batalha morreram centenas, eventualmente milhares de Portugueses (não encontrei um número sólido) e terão sido feitos milhares de prisioneiros. José da Cruz Viegas foi um desses prisioneiros. Outros não tiveram a mesma sorte. Entre as baixas dessa brutal batalha encontra-se o nome do Tenente Vidal Pinheiro, futebolista do FCP. Concluída e Grande Guerra, José da Cruz Viegas viria a ser libertado e a regressar a Portugal no final de 1918.

(http://3.bp.blogspot.com/-dTqk5l-bk_8/TZ-f-g8Tx1I/AAAAAAAAEWI/Nes7-_mlGD0/s1600/1Guerra%2BMundial_soldados%2Bportugueses_trincheiras.jpg)
Fonte: Almanaque Republicano

(http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/55/Bundesarchiv_Bild_183-S30568,_Westfront,_portugiesische_Kriegsgefangene.jpg)
Portugueses prisioneiros de guerra em 1918. Fonte: Bundesarchiv

(http://www.momentosdehistoria.com/PrisioneirosimagesBreesen_N669_b.jpg)
Oficiais portugueses prisioneiros em Breesen procedendo à limpeza da louça e talher após acabarem a refeição.
Fonte: http://www.momentosdehistoria.com/

Passada a Guerra, e mantendo-se na vida militar, José da Cruz Viegas pode assim voltar à sua paixão pelo futebol. O seu envolvimento na realização deste jogo Ibérico entre militares assim o demonstra.

Faleceu em Lisboa em 1957 com a idade de 76 anos. Nessa sua longa vida teve oportunidade de ver e participar em muitas transformações na vida social e desportiva Portuguesa. Viu o crescimento do SCP e do SLB. Não mais os pequenos clubes onde ele teve a oportunidade de jogar mas antes realidades à escala nacional. Teve ainda a oportunidade ver a grande vitória do Benfica na Taça Latina. Com que sentimentos terá vivido essa primeira grande vitória internacional de um clube Português? E logo do clube que ele ajudou a fundar. Não sei se morreu sportinguista mas sei que foi um homem com diversas contribuições importantes para o nosso clube. Merece por isso ser recordado com respeito como um dos pioneiros de coração nobre que deram o melhor das suas capacidades e inteligência para esse período tão frágil, tão belo e tão decisivo como foram os anos de 1903-1907.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Março de 2015, 18:50
-42-
Um cartaz e duas despedidas.

Hoje o nosso ponto de partida é um cartaz. No fundo trata-se de um menu humorístico de um convívio do Sport Lisboa. Remete-nos a 5 de Abril de 1907.

(http://i60.tinypic.com/120sbgo.jpg)

Nesse dia despediam-se dois jogadores, Fortunato Levy e Manuel Mora. Dois gloriosos pioneiros do Sport Lisboa. Era o fim da primeira versão do Sport Lisboa. Iniciava-se a sangria que havia de colocar em causa a sobrevivência do próprio clube.

Vamos olhar para cada um desses jogadores. O primeiro remete-nos para uma fotografia de um ilustre cabo-verdiano quando já era um ancião:

(http://www.barrosbrito.com/pictures/fortunato_levy_3i.jpg)
Fonte: site http://www.barrosbrito.com/ (http://www.barrosbrito.com/)

Fortunato Monteiro Levy, nascido em 1 de Abril de 1888, na cidade da Praia, ilha de Santiago. Filho de Bento Levy e de Paula da Conceição Monteiro. Faleceu na sua terra natal em 31 de Dezembro de 1969, com 81 anos de idade.

(http://i61.tinypic.com/25ahseq.png)

Viveu grande parte da vida na sua terra natal onde se terá dedicado ao negócio de família.

(http://i59.tinypic.com/2uif9g2.png)

Tanto quanto se sabe os anos passados em Lisboa foram curtos e apenas durante a sua juventude, provavelmente para fazer os seus estudos liceais. Tempo curto mas suficiente para ganhar a imortalidade como um dos gloriosos pioneiros do nosso clube. E não apenas de futebol. De facto, embora não saibamos ao certo quando chegou a Lisboa sabemos que durante esse período escolar Lisboeta, o jovem Fortunato interessou-se pelo desporto e em particular pelo ciclismo e pelo futebol. Nos anos em que ainda só existia Sport Lisboa. Entre 1904 e 1907, o nosso clube terá tido actividade nas modalidades de futebol (primordial), ciclismo e atletismo. No caso do ciclismo por via de Fortunato Levy.

Diz-se assim que Fortunato terá sido o primeiro ciclista do clube. É provável que assim tenha sido porque existe referência de Fortunato ter participado em duas provas de competição velocipédica no dia 11 de Junho de 1906 no velódromo de Palhavã. O jornal Tiro e Sport notícia uma série de corridas no velódromo de Palhavã nos dias 17, 22, 24 e 29 de Junho de 1906. Entre as provas e vencedores lá está o nome de Fortunato Levy em duas corridas de 1000 metros, a primeira no dia 17 de Junho e a segunda no dia 29 de Junho. Diz a crónica que em representação do G.S.L., Grupo Sport Lisboa. Penso, sem ter a certeza, de já ter visto uma fotografia de Levy a competir neste dia mas infelizmente não a guardei.

Mas a notoriedade veio um pouco antes e veio por via do futebol. No dia 1 de Janeiro de 1905, nas terras do Desembargador, às Salésias, com apenas 16 anos de idade, Fortunato fez parte da primeira equipa registada por um jornal. Nesse dia o Sport Lisboa debutava contra o Sport Clube de Campo de Ourique, uma das melhores equipas desse tempo. Vitória por 1-0, golo de Silvestre da Silva marcado a... Manuel Mora Pois... nesse dia Mora estava do outro lado mas em breve viria a ser nosso guarda-redes.

(http://1.bp.blogspot.com/-c9bsvDzRqSw/VOUdGfylSrI/AAAAAAAAUgA/14412je3s_g/s1600/0001_M_041.jpg)
Fotografia de jogo entre o Sport Lisboa e o CIF, Clube Internacional de Futebol nas Terras do Desembargador. Este era o verdadeiro derby daqueles tempos. Talvez disputado já mesmo no ano crítico de 1907. Fortunato está à esquerda observando os seus colegas em activa disputa da bola. Dos nossos jogadores temos da esquerda para a direita:
Fortunato Levy, David da Fonseca, Albano dos Santos, Daniel Queiroz dos Santos e José da Cruz Viegas.
Fonte: Arquivo Muncipal de Lisboa.

Mas voltanto a Fortunato, nessa equipa ocupou o lugar de half-back à direita, jogando num meio campo ocupado ao centro pelos atlético César de Mello e à esquerda pelo enérgico e jongleur António Couto. Um meio campo de força, talento e experiência. Com apenas 16 anos (!) Fortunato não tinha a última das qualidade dos outros. Fortunato era aliás o mais novo de uma equipa com predominância de trintões. Nessa época a idade era um posto, e assim para o jovem Fortunato integrar a equipa teria que ter qualidades futebolísticas convincentes. E de facto das suas capacidades disse-nos o grande Artur José Pereira no jornal "os Sports" em 1 de Julho de 1940:

Médio esquerdo do Sport Lisboa. Se jogasse hoje, o Levy seria o expoente máximo do futebol peninsular. Tinha aproximadamente um metro e oitenta de altura. Bastante negro. Delgado, fortíssimo, ginasta completo. Exímio no dribbling, pontapé fortíssimo. Uma maravilha.

Sugestivo. Isto depois de estarem passados mais de 30 anos sobre as suas fugazes mas talentosas aparições com a gloriosa camisola de flamela vermelha! Pela descrição e pela sua posição em campo parece-me uma perfeita definição de um ilustre antecessor do nosso glorioso bicampeão Europeu, o Sr. José Augusto.

Mas a vida não pára. Cerca de 2 anos depois Levy regressava à terra Natal e assim, em 5 de Abril de 1907, era tempo de dizer adeus. Mas não foi o único. E isso leva-nos de volta ao ponto de partida. Se Fortunato Levy regressava a Cabo Verde, Manuel Mora partia para a Argentina.

(http://i59.tinypic.com/34e5atx.jpg)
Manuel Mora e Fortunato Levy

O cartaz é delicioso quanto a ressaltar as duas figuras. Um guarda-redes de mãos gigantes e um jogador de raça negra. Não há dúvidas. Representam Mora e Levy:

(http://i60.tinypic.com/2vbuckj.jpg)

O cartaz revela aliás o entusiasmo e criatividade que abundava no clube e naqueles convivas. Não sabemos quem foi o autor do cartaz mas realmente candidatos não faltavam. Afinal entre esses gloriosos jogadores tínhamos artistas de diversas áreas. Tínhamos pintores, arquitectos, escultores, cinzeladores...

Uma transcrição mais ou menos fiel do texto do cartaz:

Menu
Kick de sahida
Bola fora acompanhada de free kick
Goal-keeper assado com purée de penalties
Back d'Arrayolos com schots e dibblings
Refreee arreliado com os competentes linemen
Jogadores com várias equipes
Half-back à vontade
OB. não se permitem rasteiras
Pinhões e falhanços diversos - Forward sem medo
Que bom jogo!!! e Levy líquido
Trrri... trri... trri... (apito final)
Em seguida serão erquidos hurrahs
pelos players que tenham feito
o maior número de goals
Ao fazer as contas vae tudo
à defeza
O desafio termina com moitas palmas e abraços


Mas falemos de Manuel Mora. Nasceu em 19 de Março de 1884. Foi considerado o melhor guarda-redes da sua época. Sabe-se pouco sobre eles antes de chegar ao nosso clube, algures ainda durante o ano de 1905 uma vez que, como atrás se disse, no dia 1 de Janeiro de 1905 ainda estava no Sport Clube Campo de Ourique. Era companheiro do médio Albano dos Santos que com ele fez a viagem para Belém. Os melhores atraem os melhores. Manuel Mora viria ainda a fazer 3 épocas com a camisola vermelha. Literalmente porque aparece sempre com as mesmas cores das envergadas pelos seus companheiros.

Pelo que se sabe em 1907 o destino de emigração de Mora foi a Argentina. Um pouco mais tarde radicou-se no Brasil onde viria a fazer carreira e ganhar notoriedade na ilustração e cartofilia. Colaborou com revistas de arte, cultura, moda, mundanidades. Fez exposições. Viajou bastante numa procura comum aos artistas de todos os tempos, para se actualizar e perceber as tendências modernistas de seu tempo. Fez trabalhos para revistas e também para organismos oficiais tais como o Departamento de Turismo da Municipalidade do Rio de Janeiro. Notoriedade feita por via do seu grande talento. Ora verifiquem:

http://www.brasilcult.pro.br/rio_antigo2/manuel_mora/bem_vindo.htm (http://www.brasilcult.pro.br/rio_antigo2/manuel_mora/bem_vindo.htm)

Deixo aqui a transcrição mas merece uma visita:

MANUEL MÓRA
Coleção: Paulo Bodmer
Texto: Marcelo Del Cima
    O lugar que ocupa Manuel Móra na cartofilia brasileira é, sem dúvida, de singular importância no contexto geral dos temas que a compõem. Em 1934, Móra, que já havia realizado alguns desenhos especialmente para cartões-postais, concebeu uma série de 8 cartões coloridos para o Departamento de Turismo da Municipalidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal que o tornaria reconhecidamente nosso único grande ilustrador de postais. O conjunto de bandeiras e figuras femininas, laureando os turistas, homenageando os laços do Brasil com a Argentina, os Estados Unidos, a França, a Alemanha, a Itália, a Inglaterra, a Espanha e Portugal é hoje apreciado e cobiçado por todos os colecionadores e apreciadores do belo, e documentam para sempre o estilo do notável artista. Manuel Móra nasceu em Portugal a 19 de março de 1884. Pintor ativo no Rio naturalizado brasileiro, desde o início dos anos 20, fez ilustrações para numerosas capas de revistas nacionais como Para Todos, Cinearte e O Cruzeiro. Para o Parc Royal dedicou grande parte de sua vida e muitas de suas belas criações, até o incêndio do Magazine em 1943 - fato que talvez justifique o desaparecimento dos originais da maioria de suas ilustrações. Durante o período do Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas, em 1937, Móra colaborou com o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda). Seus desenhos foram, também, admirados nos convites dos famosos bailes de Carnaval do Teatro Municipal, do Rio de Janeiro. Vítima de tuberculose pulmonar, faleceu no Rio, em 1° de abril de 1956.


Com este texto ficamos ainda a saber que Mora faleceu em 1956 com 72 anos de idade. Terá regressado de forma passageira e breve a Portugal em trânsito para Paris. Mas isso são detalhes para um outro dia.

(http://i57.tinypic.com/e65ag5.png)


Dois nomes grandes dos primórdios do nosso clube. Duas estrelas que brilharam de forma fugaz mas com beleza e intensidade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 30 de Março de 2015, 01:54
Já tinha lido algures algumas coisas sobre Fortunato Levy, mas sobre o Mora não sabia nada.

Sempre a aprender com o RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: HJDK em 30 de Março de 2015, 07:25
RedVC a fazer o serviço público do costume. Um grande bem haja para ti.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Março de 2015, 16:51
Obrigado pelos vossos comentários.  O0
Vai-se aprendendo, pesquisando e partilhando.
Tenho ideia que os regulares deste tópico são umas duas dezenas de Benfiquistas.
Mas são dos bons!  :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: M1904 em 30 de Março de 2015, 17:54
Infelizmente a maioria dos adeptos do Benfica, e dos outros clubes, não se interessam pela história do Clube, é pena, mas é assim.

Felizmente há Benfiquistas destes como o RedVC com os seus tópicos aqui, e outros como Alberto Miguéns e Antonio Melo no "em defesa do Benfica" que têm gosto e paciência de pesquisar e compilar imenso material histórico, e de o partilhar connosco!

PS- Faz falta uma publicação à séria, tipo como a "História do SL Benfica, de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva" de 1904 a 1954, melhorada e continuada até aos dias de Hoje!
Não falo de livrinhos que contam a estórias, mas algo tipo enciclopédia do Benfica!
Mas pronto, o publico alvo é pequeno...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Março de 2015, 20:46
Citação de: M1904 em 30 de Março de 2015, 17:54
Infelizmente a maioria dos adeptos do Benfica, e dos outros clubes, não se interessam pela história do Clube, é pena, mas é assim.

Felizmente há Benfiquistas destes como o RedVC com os seus tópicos aqui, e outros como Alberto Miguéns e Antonio Melo no "em defesa do Benfica" que têm gosto e paciência de pesquisar e compilar imenso material histórico, e de o partilhar connosco!

PS- Faz falta uma publicação à séria, tipo como a "História do SL Benfica, de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva" de 1904 a 1954, melhorada e continuada até aos dias de Hoje!
Não falo de livrinhos que contam a estórias, mas algo tipo enciclopédia do Benfica!
Mas pronto, o publico alvo é pequeno...

Muito obrigado pelas palavras elogiosas às minhas pesquisas. Têm muito significado porque são feitas por Benfiquistas como eu. E em verdade nada teria sentido se não fosse partilhado. Não posso assumir regularidade porque nem sempre há tema e porque a minha vida profissional é outra... Não disponho de tempo para ir aos arquivos por isso tenho de me valer só pelo que está na net. Vou pesquisando e partilhando. E quase sempre tenho de voltar atrás para editar disparates que escrevi...

O tópico foi iniciado com a ideia de termos um espaço para discutir fotografias curiosas e que nos ajudem a conhecer melhor a fabulosa história do nosso clube. Por ser temático (restrito a fotografias) e predominantemente ter material das duas primeiras décadas do nosso clube, talvez algum pessoal se iniba de colocar aqui alguns casos interessantes de outras épocas. Mas a ideia é conversar sobre fotografias mesmo que sejam de ontem. Não é preciso ter explicações. Basta que achemos interessante discutir. Felizmente já temos aqui casos muito interessantes.

Subscrevo por completo a ideia de que falta um livro que preencha o intervalo de 1955 até ao tempo presente. Um livro de grande fôlego e rigor sobre o nosso clube. Mas não é fácil pois o desafio é ciclópico, o eventual público alvo é pequeno e seria um produto muito caro.

Aliás nem sequer alguma vez ouvi falar do nosso clube fazer uma edição moderna da fabulosa "História do SL Benfica 1904 a 1954", de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva". Mesmo que fosse caro eu estaria na fila para comprar. Acho é que a fila não seria muito grande... Mas às vezes os produtos caros e de luxo são os que se vendem melhor. Talvez um bom marketing ajudasse.

Felizmente a comparação entre o Benfica com outros clubes Portugueses é muito favorável para o nosso lado. O fcp parece ter um museu com alguns méritos não obstante alguns detalhes com nível de esgoto... O scp é uma anedota. O Clube Atlético Casa Pia parece ter muito e bom material. Mas tanto quanto sei mais nenhum clube tem a sofisticação e a profundidade apresentada pelo nosso museu e pelo nosso Departamento de Restauro e Conservação. E em boa hora foram concretizados estes projectos. Pelo que sei já em décadas recentes foi lamentavelmente perdido algum precioso material de arquivo.

Na minha opinião Alberto Miguéns é um caso à parte. É um caso de excelência. Em cada mensagem há sempre descobertas a fazer. Sobre a história do clube, sobre as patranhas divulgadas por anti-Benfiquistas e sobre esse sentimento de Ser Benfiquista que muitas vezes sentimos mas nem sempre sabemos explicar. Existem outros autores com livros de grande mérito como Carlos Perdigão e Afonso de Melo, entre outros.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Abril de 2015, 10:08
Citação de: Lorne Malvo em 30 de Março de 2015, 01:54
Já tinha lido algures algumas coisas sobre Fortunato Levy, mas sobre o Mora não sabia nada.

Sempre a aprender com o RedVC.

Há bastante mais a contar sobre Manuel Mora mas isso são coisas para outros dias e locais. Vai para além do Benfica. Teve uma vida aventurosa e criativa. Este país era demasiado pequeno para a sua ambição artística. Mas ao que sei ainda antes de partir colaborou na sua área da ilustração, com pelo menos um periódico Português.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Abril de 2015, 21:23
-43-
Um jogo infeliz, uma pista extraordinária.

Hoje o nosso ponto de partida é uma fotografia de um jogo de futebol.

(http://i58.tinypic.com/esluzn.png)
Fonte: Diário da Noite, 5 de Agosto 1931

Um jogo disputado entre o Sport Lisboa e Benfica e o Clube de Regatas Vasco da Gama, no dia 12 de Julho de 1931. Como veremos foi um jogo infeliz para as nossas cores. Mas esta é parte da história. Há uma outra parte bem mais interessante. Mesmo extraordinária. Já lá vamos.


O clube

O Clube de Regatas Vasco da Gama é uma agremiação desportiva fundada em 21 de Agosto de 1898 por 62 rapazes, na sua maioria Portugueses. O seu emblema demonstra bem essa origem lusa. E tal como o nosso sofreu evoluções durante os já quase 117 anos de existência.

(http://www.claudiocruzdesign.com/footballbadgedesign/brasil/vascodagamaold.jpg)


A viagem
Em 1931, a direcção do Vasco da Gama presidida pelo voluntarioso Raúl Campos, decide efectuar a primeira digressão Europeia do clube. Antes, dos clubes cariocas, apenas o Paulistano em 1926 tinha já recebido um convite para semelhante digressão. Os vascaínos jogaram em Espanha e Portugal e deixaram boa marca da sua qualidade técnica e competitiva, somando 8 vitórias, 1 empate e 3 derrotas, marcando 45 e sofrendo 18 golos. Um bom pecúlio.



(http://3.bp.blogspot.com/-TpvLSNwU080/VXTT-Dt4hwI/AAAAAAAAAvE/MU6GVrykMDk/s640/Embarque-do-Vasco-com-loop.gif)
(http://www.supervasco.com/media/uploads/2015/06/11/careta-1199-29-1931-07-13pequeno.jpg)
Fonte: http://www.supervasco.com/ (http://www.supervasco.com/)

(https://scontent-mad1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xpt1/v/t1.0-9/12004132_530630510435832_7814086438353664208_n.jpg?oh=95cdd8f1faccda2721333f94c512fc47&oe=56A44A2B)
A base da equipa de 1929 era constítuida pelos campeões cariocas de 1929. Uma grande equipe. Fonte: facebook Vasco da Gama

(http://i57.tinypic.com/wvze4n.png)
No Arlanza, navio que trouxe a delegação carioca à Europa
Fonte: Diário da Noite, 29 de Julho 1931

Em Espanha:

(http://1.bp.blogspot.com/_ArV_Ho5abtQ/S9omHu_CxNI/AAAAAAAABjY/6o5zO3QXVfE/s1600/VASCO+DA+GAMA+1931.jpg)
Fonte: http://russinhofc.blogspot.pt/2010_04_01_archive.html (http://russinhofc.blogspot.pt/2010_04_01_archive.html)

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Domingo, 28 de Junho de 1931
Local: Campo de Las Cortes, Barcelona                   
Barcelona 3 x 2 CR Vasco da Gama           
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Segunda-feira, 29 de Junho de 1931           
Barcelona 1 x 2 CR Vasco da Gama           
Local: Barcelona
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Sábado, 4 de Julho de 1931           
Celta FC de Vigo 2 x 1 CR Vasco da Gama
Local: Estádio de Balaidos,  Vigo 
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Terça-feira, 7 de Julho de 1931       
Celta 1 x 7 CR Vasco da Gama     
Local: Vigo                         
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As exibições em Espanha contra o Barcelona deram brado principalmente pelo guarda-redes Jaguaré que no seguimento foi contratado pelo FC Barcelona e... uns anos depois acabaria por jogar no SCP. Não ficou cá por muito tempo. Jaguaré é ainda famoso porque terá sido o primeiro guarda-redes em Portugal a usar... luvas. Curioso que na fotografia do jogo contra nós não usa as luvas. Terá ganho o hábito depois.

Em Portugal
Ora a parte Portuguesa da digressão foi desde cedo assumida pelos Brasileiros como a mais importante. Compreensível, pela origem do clube e pelos laços de amizade que pretendiam desenvolver.

No entanto, a equipa do Vasco da Gama chegou a Lisboa num período particularmente complicado para o futebol Português. Na verdade nem sequer se sabia se iriam encontrar adversários para competir. Ao que parece, a AFL e nomeadamente alguns dos seus filiados (Sporting, Belenenses, Carcavelinhos, União de Lisboa, Bomsucesso, Chelas, Barreirense e Luso) estava em guerra activa com a FPF. Apenas o SL Benfica e o CA Casa Pia estavam disponíveis para os jogos. As confusões do costume.


(http://i58.tinypic.com/2d75ttx.png)

Apesar disso foi possível montar um plano:

(http://i60.tinypic.com/1zyc2yw.png)

Assim, no dia 12 de Julho o popular clube carioca fazia a sua primeira partida em Portugal defrontando o campeão de Portugal: o Sport Lisboa e Benfica.

Infelizmente o contexto era francamente desfavorável para as nossas cores. Depois depois de um final de época cansativo, a nossa equipa não jogava já há algum tempo. Assim, com os arranjos e desarranjos já habituais deste conflituoso futebol Português não houve tempo para fazer a necessária preparação – mesmo que mínima – para enfrentar uma equipa tão poderosa. Para além disso, durante o jogo dois dos nossos jogadores tiveram de ser substituídos por impedimento físico, sendo um deles o guarda-redes titular Dyson e o outro Manoel de Oliveira, um avançado e outro dos habituais titulares. Assim com uma assistência estimada em 10.000 pessoas e no estádio de Lisboa (sim foi no estádio do SCP...) perdemos por 0-5. Crónica e ficha do jogo:

(http://i59.tinypic.com/qrg0a9.png)
Fonte: Diário da Noite, 5 de Agosto de 1931.

(http://i61.tinypic.com/24fmxrr.jpg)
As duas equipas alinhadas. quase não se distinguem no preto e branco.
Dos nossos reconhecem-se Manuel de Oliveira e Aníbal José.

Víctor Silva foi unanimemente reportado como o melhor dos nossos, mostrando uma categoria em nada inferior ao melhor dos cariocas. Do jogo ainda ficam alguns detalhes por contar nomeadamente alguns acesos despiques entre Russo, um dos goleadores cariocas e Aníbal José, o nosso médio centro (e avô do LOW). Mas a crónica já vai longa e por isso fica para melhor ocasião.

Os resultados do Vasco da Gama em Portugal foram:
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Domingo, 12 de Julho de 1931
Benfica 0 x 5 CR Vasco da Gama
Local: Estádio de Lisboa, Lisboa   
Juiz: Silvestre Rosmaninho (C.A. Casa Pia)         
Golos: Carvalho Leite 5', Russinho 25', Russinho 44' (1° tempo), Mattos 40', Nilo 43'     
Benfica: Dyson (depois Alexandre), Ralph Bailão, Luís Costa, João Correia, Aníbal José, Pedro Ferreira, Augusto Dinis, Emiliano Sampaio, Víctor Silva, João Oliveira e Manuel Oliveira (depois Gatinho). 
Vasco da Gama: Jaguaré, Itália, Brilhante, Tinoco, Fausto, Molla, Bahianinho, Nilo, Russinho, Leite, Mattos
Público: 10.000 pessoas
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Terça-feira, 14 de Julho de 1931
Combinado de Lisboa 2 x 4 CR Vasco da Gama     
Local: Lisboa     
Juiz: Antonio Palhinhas   
Combinado: António Roquete; Ralph Bailão e Ferreira; Augusto José, Anibal José e Pedro Ferreira; Augusto Dinis, Pite, Víctor Silva, Martins e Nazareth   
Vasco da Gama: Jaguaré, Itália, Brilhante, Tinoco, Fausto, Molla, Bahianinho, Nilo, Russinho, Leite, Mattos
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Sábado, 18 de Julho de 1931         
Combinado do Porto 1 x 3 CR Vasco da Gama       
Local: Estádio Lima, Porto         
Juiz: José Guimarães     
Golos: Russinho 27' (1° tempo), Carneiro 4', Carvalho Leite, Nilo         
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Quarta-feira, 22 de julho de 1931
Povoa do Varzim 2 x 9 CR Vasco da Gama             
Local: Póvoa de Varzim
Juiz: Silva Rocha
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Sexta-feira, 24 de Julho de 1931   
Associação Desportiva Ovarense 2 x 6 CR Vasco da Gama
Local: Parque da Oliveirinha, Ovar, Portugal           
Juiz: Silva Rocha
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Domingo, 26 de Julho de 1931
Sel. Porto 2 x 1 CR Vasco da Gama           
Local: Porto               
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Quinta-feira, 30 de Julho de 1931   
Vitória de Setúbal 1 x 1 CR Vasco da Gama         
Local: Campo das Amoreiras,  Lisboa, Portugal                     
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Domingo, 2 de Agosto de 1931
Sporting CP 1 x 4 CR Vasco da Gama             
Local: Lisboa, Portugal                   
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Adaptado de: http://brfut.blogspot.pt/2012/11/excursao-do-cr-vasco-da-gama-europa-em.html


Curiosamente o Vítória de Setúbal jogou contra o Vasco da Gama no nosso campo. E na sua equipa alinhou pelo menos um dos nossos futuros jogadores: Luís Xavier.

Aqui está um aspecto do jogo entre o Vasco e o misto Casa Pia, Victória de Setúbal e Benfica:
(http://i60.tinypic.com/3130xef.jpg)


E... uma pista extraordinária!

Extraordinária? Nem mais. Ora reparem:

(http://i57.tinypic.com/16itpo7.png)
Fonte: Jornal dos Sports em 25 Agosto 1931 e Correio da Manhã, 30 e Agosto 1931

Sim! Filmado por 8 operadores. Reparem no que lá se diz:

"o match com o Benfica poderá ser apreciado como se estivessemos lá, tão completo e detalhado está".

(http://i60.tinypic.com/2jfeyol.jpg)
Fonte: Correio da Manhã em 26 Agosto 1931

Imagine-se Vítor Silva filmado de águia ao peito!  Uma filmagem de um jogo integral! Filmagens no Campo das Amoreiras!

Tirando as filmagens da selecção nacional nos jogos Olímpico de 1928 e do SCP na digressão de Julho de 1928 serão as filmagens mais antigas do futebol Português. Do nosso clube serão certamente.

Alguém gostaria de ver filmagens destes gloriosos jogadores mesmo que num dia infeliz?

(http://4.bp.blogspot.com/-2rod_DBXjBY/TbIIaJJulpI/AAAAAAAAAMg/XPFNnIRRVTw/s400/CP+1930-31.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica
Ralph Bailão, Dyson, Luís Costa
João Correia, Aníbal José, Pedro Ferreira
Diniz, Emiliano Sampaio, Víctor Silva, João Oliveira, Manoel Oliveira

Seria interessante.  :coolsmiley:

Espero que as filmagens ainda existam e que venham a estar disponíveis para serem exibidas no nosso museu. Aliás, pela descrição até de um ponto de vista sociológico me parece notório o grande interesse que este documento poderá ter. Espero por isso que o nosso clube se mostre interessado e que faça as necessárias diligências. Há com certeza contactos por fazer.

:flagglorioso:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 08 de Abril de 2015, 14:21
Faz chegar essa informação ao Benfica (talvez ao Centro de Documentação e Informação).

Acho que temos boas relações com o Vasco da Gama, caso esse filme ainda exista e o Benfica o solicite eles não deverão colocar problemas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Abril de 2015, 19:31
Citação de: Lorne Malvo em 08 de Abril de 2015, 14:21
Faz chegar essa informação ao Benfica (talvez ao Centro de Documentação e Informação).

Acho que temos boas relações com o Vasco da Gama, caso esse filme ainda exista e o Benfica o solicite eles não deverão colocar problemas.

Ao nível do nosso clube já foi feito ou está em vias de ser feito.

Estou apreensivo acerca da preservação do filme. Tem um valor histórico brutal tanto para o lado de lá como para o lado de cá.

O filme fez sucesso na altura e foi muito noticiado nos jornais (há mais notícias que não coloquei aqui). Encontrei muito poucas imagens dele mas isso para a época não é muito estranho. O que acho estranho é hoje não existam referências à sua existência ou até mesmo excertos na internet. Espero que não seja um mau sinal. Em termos comparativos, dessa época existe disponível no youtube pelo menos um pequeno filme da digressão do SCP ao Brasil de 1928 (jogo contra o Fluminense). Foi registado por particulares e marca a estreia do equipamento-listado-osga.

https://www.youtube.com/watch?v=DSGH4WuBQm0 (https://www.youtube.com/watch?v=DSGH4WuBQm0)


Mas voltando ao filme que interessa, se ainda existir e se vier a estar disponível então estaremos numa verdadeira janela do tempo. Os detalhes que se percebem das notícias são notáveis. Filmado por oito operadores, em diferentes locais de Portugal tendo abordado diversos aspectos desportivos, culturais e sociológicos:

. O "Arlanza" chega a Lisboa
. O percurso pelas ruas principais
. O primeiro "bate bola" em terra portugueza
. Visita à Igreja dos Jeronymos, onde se encontra o túmulo de Vasco da Gama
. O primeiro encontro
. O match com o Benfica, que poderá ser apreciado como se estivessem lá, tão completo e detalhado está
. A visita ao Collegio Vasco da Gama
. Como se cultiva o Sport em Portugal
. O Water-polo
. Equitação
. As garraiadas
. Outros encontros memoraveis, sobressaindo os do combinado Lisboeta e do Victória e, já na volta do Porto, o grande encontro com o Sporting



Nota-se como já disse que o encontro com o Victória (setúbal) foi disputado nas Amoreiras embora tenha sido interrompido aos 35 minutos por falta de visibilidade.

Ainda, o jogo com o combinado Lisboeta tinha jogadores do C.A. Casa Pia (destque para o guarda-redes Roquete), do Victória e do... Benfica (salvo o erro, Ralph Bailão, Anibal José, Augusto Dinis e Víctor Silva) que provavelmente eram os melhores da nossa equipa.


Assim, percebe-se que foi o filme formatado para ser um documentário muito completo que pudesse registar uma ocasião de grande significado histórico para um clube carioca fundado por Portugueses. Percebe-se que estavam preparados com os meios e com um plano bem estruturado para reportar essa digressão.

Quem sabe... Pode ter sido perdido (nem quero acreditar). Pode estar esquecido (difícil acreditar). Vamos esperar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Trezeguet em 10 de Abril de 2015, 17:41
Benfica-Vialonga para a TDP

(http://i.imgur.com/gAB6B8N.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Abril de 2015, 01:24
Citação de: Trezeguet em 10 de Abril de 2015, 17:41
Benfica-Vialonga para a TDP

(http://i.imgur.com/gAB6B8N.jpg)

Uma bela fotografia. A festa da Taça. 3 golos do grande Viking!

http://serbenfiquista.com/jogo/benfica-vialonga (http://serbenfiquista.com/jogo/benfica-vialonga)


...A Taça era óptima para mim porque marcava muitos golos [18 jogos e 22 golos, quatro deles ao Ponte da Barca, três ao União de Santarém, outros três ao FC Porto, este em eliminatórias diferentes, e mais três ao Vialonga]...

http://redpass.blogs.sapo.pt/39252.html (http://redpass.blogs.sapo.pt/39252.html)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Abril de 2015, 14:53
- 44 -
Homenagem a um grande artista

(http://i61.tinypic.com/2pobpxj.jpg)

Uma pequena amostra do magnífico talento e criatividade de Manuel Mora.

Chegou ao Brasil vindo da Argentina por volta de 1910. Fez carreira como desenhista em casas comerciais e em revistas. Foi reconhecido pelo seu grande talento. Fez exposições. Viajou por alguns locais em geografias diversas. Foi xadrezista e criador de tulipas. Faleceu em 1956 na sua casa da ilha do Governador. Terá deixado mulher e dois filhos. Discípulo de dois grandes nomes das nossas Artes. Um valor que Portugal não soube reconhecer e acarinhar. O seu talento era maior do que o País. Nas cores e aromas Sul-Americanos soube encontrar o seu destino. Muito do seu espólio perdeu-se num terrível incêndio. O que se salvou credita o seu nome numa galeria de autores de raro talento criativo num traço imaginativo e inspirador.

A minha homenagem ao grande

(http://i58.tinypic.com/r7sw7m.png)
Manuel Mora
(Lisboa 19 de Março 1884 - Rio de Janeiro 1 de Abril 1956)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 16 de Abril de 2015, 02:15
Este tópico é absolutamente fantástico.

Obrigado RedVC!

Alguém me poderia legendas esta foto, que é magnifica:

(http://s13.postimg.org/5lq0xqrk7/2015_04_10_01_25_07.jpg)

Suponho que seja o Campo da Feiteira e um dos intervenientes, Cosme Damião.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 16 de Abril de 2015, 20:29
(http://www.institutoelzotulio.org.br/iet/wp-content/uploads/2014/12/DSCF8834.jpg)

Estádio?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Abril de 2015, 20:48
Muito obrigado pelas tuas palavras Benfiquista_!  O0

É muito agradável quando percebo que para além do meu próprio prazer em pesquisar e partilhar existem outros Benfiquistas como eu que gostam de conhecer a nossa Gloriosa história.

Quanto a essa fotografia é talvez a fotografia mais antiga que existe de um jogo disputado por uma equipa do nosso clube. Talvez de 1904 ou de 1905, não sabemos ao certo.

O que sabemos ao certo é que não se trata da Quinta da Feiteira. Só por volta de 1907-1908 viriamos a fazer os primeiros jogos nesse campo.

O terreno retratado na fotografia era o terreno designado por Terras do Desembargador. situado na zona das Salésias, com vista para o palácio da Ajuda. É perto da zona onde se situou o antigo Estádio das Salésias ocupado pelo CF "os Belenenses" até 1956, altura em que foi inaugurado o estádio do Restelo. Alberto Miguéns tem um texto excelente em que se fala das Terras do Desembargador:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html)

e outro acerca dos nossos antigos campos, a começar pela Quinta da Feiteira:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/10/onze-anos-brilhar.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/10/onze-anos-brilhar.html)



As Terras do Desembargador era um terreno usado pelo nosso clube mas era um terreno público que na maior parte dos dias era usado para outros fins inclusivamente para picadeiro da tropa que estava aquartelada por ali perto. Imagina-se o estrago que os casco de cavalos e as botas da tropa causavam no campo.

A história pode ser simplificada assim: depois da perda dos terrenos onde foi construída a Praça de touros do Campo Pequeno, os praticantes do futebol passaram a escolher os descampados de Belém que eram muito adequados para a prática do futebol.
Por volta de 1903-1904, antecedendo a fundação do nosso clube diversos grupos de miúdos confluíram para partilhar a sua paixão pelo futebol nos areais de Belém. Eram jovens que moravam nas cercanias da Farmácia Franco (com predominância da Rua Direita de Belém e da Rua dos Jerónimos) e jovens ex-Casapianos, sendo que destes todos ou quase todos tiveram formação e vivência no Mosteiro dos Jerónimos, uma vez que nesse tempo parte desse edifício estava ocupado pela Casa Pia.

Mais detalhes, uma vez mias contados por quem sabe:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/10/era-uma-vez-o-futebol.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/10/era-uma-vez-o-futebol.html)

Estou certo que a fundação do nosso clube foi bem mais complexa do que o que a história oficial nos diz. Sabe-se algumas coisas mas usando alguns raciocínios fico com a convicção de que para essa fundação contribuíram muito mais do que 24 jovens. É um assunto que penso um dia destes poderá ser debatido por aqui.

Voltando à fotografia em causa. Como disse é quase certo ou de 1904 ou de 1905. Foi publicada na História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954 por Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Nessa obra de excepção a legenda é esta:

(http://i62.tinypic.com/2qw0f40.jpg)

Trata-se pois de um treino uma vez que existem jogadores à paisana e outros com o equipamento do Sport Lisboa - camisola vermelha e calção branco. Nesse tempo treinavam os mais novos. Os mais velhos, os veteranos casapianos apenas jogavam. Questões de estatuto...

Quem está na fotografia? Não sabemos. É possível que um deles (o que tem a boina) seja um jovem Cosme Damião (teria 18-19 anos). Não é certo.

Outro parece-me ser um jogador negro. E apesar de naquele tempo existirem alguns (poucos) jogadores negros, acho que com boa probabilidade este em particular seria Marcolino Bragança, um homem que em 1907 viria a ser chave na sobrevivência do nosso clube. Não é certo, apenas provável.

Por último, a legenda fala-nos num "elemento que veio a ser um companheiro fiel da equipa"  mas que não identifica esse homem vestido de branco mais à direita na fotografia. Uma hipótese que considero credível é de que seria o Dr. António Azevedo Meireles, médico da Farmácia Franco. Talvez um dia se saiba mais alguma coisa.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Abril de 2015, 20:57
Citação de: Fake Blood em 16 de Abril de 2015, 20:29
(http://www.institutoelzotulio.org.br/iet/wp-content/uploads/2014/12/DSCF8834.jpg)

Estádio?

Bonfim.

http://serbenfiquista.com/jogo/v-setubal-sl-benfica-16 (http://serbenfiquista.com/jogo/v-setubal-sl-benfica-16)

V. Setúbal 0 x 2 SL Benfica, Campeonato Nacional, 13 Fev 1988

Sábado, Fevereiro 13, 1988
1   Silvino   
2   Dito   
3   Carlos Pereira   
4   Mozer   
5   Álvaro Magalhães   
6   Elzo   
7   Padinha   
8   Diamantino (C)   
9   Pacheco   
10   Magnusson   
11   Rui Águas

Suplentes:
?   Veloso   
?   Shéu
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 16 de Abril de 2015, 21:01
Muito obrigado RedVC!

Excelente explicacão histórica!

És o Alberto Minguéns aqui do SB  :drunk: :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Abril de 2015, 21:10
Credo Benfiquista_...
Muito obrigado pelo elogio mas ainda me faltam muitos anos para chegar perto.
E ainda bem pois como se costuma dizer: "a recompensa é o caminho".
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 17 de Abril de 2015, 00:37
Citação de: RedVC em 16 de Abril de 2015, 20:57
Citação de: Fake Blood em 16 de Abril de 2015, 20:29
(http://www.institutoelzotulio.org.br/iet/wp-content/uploads/2014/12/DSCF8834.jpg)

Estádio?

Bonfim.

http://serbenfiquista.com/jogo/v-setubal-sl-benfica-16 (http://serbenfiquista.com/jogo/v-setubal-sl-benfica-16)

V. Setúbal 0 x 2 SL Benfica, Campeonato Nacional, 13 Fev 1988

Sábado, Fevereiro 13, 1988
1   Silvino   
2   Dito   
3   Carlos Pereira   
4   Mozer   
5   Álvaro Magalhães   
6   Elzo   
7   Padinha   
8   Diamantino (C)   
9   Pacheco   
10   Magnusson   
11   Rui Águas

Suplentes:
?   Veloso   
?   Shéu

Eh pá, o Carlos Pereira e o Padinha! Há nomes que um gajo quase apaga da nossa memória, há anos que não me lembrava deles.

O Carlos Pereira ainda foi presidente do Farense e acho que teve uns cargos federativos. Do Padinha não sei rigorosamente nada.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 17 de Abril de 2015, 03:49
Citação de: RedVC em 16 de Abril de 2015, 21:10
Credo Benfiquista_...
Muito obrigado pelo elogio mas ainda me faltam muitos anos para chegar perto.
E ainda bem pois como se costuma dizer: "a recompensa é o caminho".
Eheheh

Foi "apenas" para afirmar que sabes muito da nossa História ;)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 18 de Abril de 2015, 00:57
(https://igcdn-photos-h-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xfa1/t51.2885-15/11111387_378973302227423_580204077_n.jpg)

Quem será o 5?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 18 de Abril de 2015, 01:27
Não conheço muito bem jogadores antigos do sporting, muito menos antes dos anos 80, mas apostava no Inácio...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Abril de 2015, 01:49
De Sporting percebo pouco... Não sei também de que data é a fotografia. É um jogo na Luz.

O último Benfica Sporting para o campeonato nacional em que Eusébio jogou terá jogado penso ter sido em Dezembro 2, 1973. Ora Eusébio saiu do Benfica em 1974/1975. O último jogo de Eusébio foi contra o Oriental (4 X 0 ) em 29 Mar 1975. Eusébio não terá jogado o Benfica Sporting nessa época (Dezembro 22, 1974).

Ora em 1973/74 e 1974/75, Inácio terá feito apenas 1 jogo como sénior do SCP. Por isso parece-me pouco provável que tenha sido contra o Benfica na Luz. Mas quem sabe, talvez até seja... Outros defesas do SCP? Laranjeira (ainda tinha cabelo nessa altura), José Carlos, Bastos? Ou aparece uma legenda milagrosa ou terá de ser algum especialista em SCP...

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 18 de Abril de 2015, 02:59
Não sei também.

Só mesmo um lagarto que saiba da história deles eheh

Nós por aqui também conseguimos identificar muitos dos nossos, com poucos dados disponíveis.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Abril de 2015, 09:21
-45-
Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral.

Uma das mais belas fotografias dos primórdios da natação Portuguesa:
(http://i60.tinypic.com/15r1od1.png)
Fonte: Tiro e Sport nº 338; 15 Set 1906

Hoje é dia para falar de Carlos Burnay da Cruz Sobral, um campeão, um desportista ecléctico, notável nadador e talentoso futebolista. Um homem destemido que como veremos teve uma vida intensa até ao fim.

(http://i59.tinypic.com/2jb9t2p.png)
Fonte: Tiro e Sport

Nascido em 1891, Carlos Sobral é uma figura interessante dos primórdios do futebol e da natação Portuguesas e merece ser recordado. Praticou também boxe, esgrima e parecia talhado para ser campeão nos desportos que praticou. Falar dele é falar de um excelente desportista que talvez se tenha notabilizado mais na natação do que propriamente no futebol. Mas como veremos foi igualmente competente nas duas modalidades.

Futebol

Carlos Sobral foi geralmente um avançado, posição para a qual beneficiou da sua boa compleição física. No entanto o facto mais saliente da sua carreira futebolística foi o de ter jogado no CIF, no Sporting, no Benfica, e no Belenenses. É ainda possível que antes do CIF, clube grande dessa época, Sobral tenha também jogado noutros clubes de menor destaque. Foi por isso um dos primeiros globetrotters Portugueses. À frente dele, que me lembre, só mesmo Artur José Pereira (F. Cruz Negra, Ajudense F.C. (provável), S.U. Belenense, S.L. Benfica, Sporting C.P., e C.F. "os Belenenses").

Assim, no seu percurso de doze épocas futebolísticas, Carlos Sobral começou a "futebolar" com listas pretas e brancas e acabou de azul e negro com a Cruz de Cristo ao peito:

(http://i62.tinypic.com/xpy434.png)


A saída do CIF deverá terá acontecido devido ao progressivo esvaziamento da competência futebolística deste clube. Este definhamento aconteceu não apenas por via da debandada dos Ingleses, mobilizados pela sua Pátria para a Grande Guerra mas também pelo perda de jogadores seduzidos pelo canto da sereia de viscondes verdes endinheirados. A passagem de Sobral pelo SCP foi no entanto fugaz, talvez porque não se tenha adaptado ao sistema elitista do clube verde. Regressaria ao CIF por mais três épocas antes de ingressar no Gloriosíssimo.

Entre 1909-1910, Sobral terá tido um hiato futebolístico. Curiosamente foi nessa época que o CIF ganhou o seu único título de Campeão Regional de Lisboa. Sobral ainda viria a ganhar 3 títulos de Campeão Regional de Lisboa mas já no Benfica... Interessa aqui dizer que nessa época os melhores jogadores estavam em Lisboa e por isso esses títulos regionais de Lisboa podem ser encarados como correspondendo à melhor equipa nacional dessa época.

(http://i58.tinypic.com/14uj61w.png)
Sobral à CIF, 1908 a 1911; na fotografia da esquerda é o 4º sentado a contar da esquerda e na fotografia da direita é o primeiro a contar da direita. Regressaria ao CIF para um período de 1913 a 1915.

(http://i61.tinypic.com/14yaauf.jpg)
Sobral no SCP apenas em 1911/1912. Está aqui com uma guarda de honra de respeito e com ligações ao Benfica, formada por dois Catataus (António à sua direita e Cândido à sua esquerda).

(http://i62.tinypic.com/4lsgap.png)
Sobral enfim de águia ao peito. Na fotografia da esquerda é o 4º sentado a contar da esquerda. Ficou com uma guarda de honra formada por Herculano Santos à sua direita e Alberto Rio à sua esquerda e na fotografia da direita é o primeiro de pé à direita ao lado de Alfredo Mengo.
(http://i59.tinypic.com/33k3w1t.png)
16 de Janeiro de 1916, Benfica vs SCP, Sobral de águia ao peito pressionando o ex-Benfiquista Paiva Simões.

(http://i61.tinypic.com/2d8591t.png)
Sobral de cruz de Cristo ao peito. Está aqui ladeado à sua direita pelo guarda redes Mário Duarte e por Francisco Pereira (irmão de Artur José).
Fonte: Jornal "Os Sports"


Em 1918-19, Sobral foi um dos jogadores que entrou em litígio com a Direção do Benfica por via da polémica em torno de Alberto Rio. E é nesse contexto, que surge o desafio de Artur José Pereira para fundarem um novo clube em Belém. Assim, Sobral, Francisco Pereira, Aníbal dos Santos, Henrique Costa, Manuel Veloso, Alberto Rio, Joaquim Rio entre outros, saem do Benfica para fundar o CFB. Não sei ao certo quantos anos Sobral ficou no CFB. Já encontrei referências de que terá lá estado durante quatro anos mas que foi depois foi desmentida por outra a meu ver mais credível, indicando que em 1920 já por lá não andaria. Ainda assim sabemos que Sobral no tempo em que esteve no CFB assumiu o cargo de capitão-geral, um papel de grande relevo para a época. Sobral foi também um dos autores de uma das propostas para definir o equipamento do CFB. Sobral propôs calção negro e camisola branca mas acabou por ganhar a proposta de Henrique Costa (outra grande figura Benfiquista): calção negro e camisola azul. Curioso ou talvez não, digo eu, o SLB é o único que se manteve fiel às suas cores de origem. Passados 111 anos mantemos a nossa querida camisola vermelha, calção branco e meia vermelha. Simples e belo.

Mas voltando a Sobral, o seu mérito futebolístico foi plenamente reconhecido pelos seus pares. Isso é demonstrado pelo facto de ter sido seleccionado múltiplas vezes para jogar na seleção da AFL (Associação de Futebol de Lisboa). Como atrás dissemos, nesse tempo a AFL agrupava os melhores jogadores nacionais, podendo ser considerada uma verdadeira selecção nacional Portuguesa daqueles tempos. Sobral lá esteve quer em jogos realizados em Portugal quer na equipa que competiu durante a digressão de 1913 ao Brasil. E foi aliás um dos jogadores mais utilizados pelo Capitão Geral dessa digressão, Cosme Damião, pois claro.

(http://i57.tinypic.com/vqo409.png)
Esquerda: 21 de maio 1911, Campo da Feiteira, Lisboa. Equipa da AFL que jogou contra o Stade Bordelais.
Sobral está sentado, 2º à direita, ladeado por dois sportinguistas, Francisco Stromp à sua direita e João Bentes à sua esquerda.  Fotografia de Joshua Benoliel.
Direita: Sobral integrando a equipa da AFL em 1913 durante a digressão ao Rio de Janeiro e a São Paulo. Está ladeado por António Stromp (SCP) à sua direita e José Domingos Fernandes (SLB) à sua esquerda.
Fonte: Em Defesa do Benfica.

Natação

Mas como atrás se disse Carlos Sobral foi participante em provas de natação. Naquele tempo não existiam piscinas e por isso as provas desenrolavam-se em estilos e condições muito diferentes dos dias de hoje.

(http://i61.tinypic.com/111qbgp.png)
Trafaria, Travessia do Tejo 1910
Fonte: Tiro e Sport, nº 455, 31 de Agosto 1910

Carlos Sobral foi um vencedor crónico nas provas que participou tendo por isso gozado de um grande prestígio nesse meio:

(http://i57.tinypic.com/osfkmt.png)
Sobral numa prova em Leixões.
Fonte: Tiro e Sport, nº 455, 31 de Agosto 1910

Enquanto nadador, Sobral representou quer o Clube Naval quer o CIF. Desconheço se também o fez na sua breve passagem pelo futebol do SCP. No nosso clube e segundo Alberto Miguéns, Carlos Sobral acumulou o futebol com a prática do polo aquático, pelo menos no ano de 1916. E como não podia deixar de ser era avançado centro. Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/07/gloriosa-natacao-ha-precisamente-98-anos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/07/gloriosa-natacao-ha-precisamente-98-anos.html)

(http://i58.tinypic.com/w7zw60.png)
Avancados Francisco Lima, Rosendo da Silva, Carlos Sobral e Aníbal de Almeida
Defesas e guarda-redes Vinhas, Gilberto Monteiro e Idelino Lima.
nota: é impressão minha ou nesta foto Sobral até se parece com... Luís Filipe Vieira?
Fonte: Em Defesa do Benfica.


O fim

Do que atrás se disse fica claro que falamos de um desportista multifacetado, talentoso e vitorioso. A este perfil deveria certamente corresponder uma personalidade forte e dinâmica. Findo o tempo do desporto de competição, Carlos Sobral foi em busca do seu destino.

Em 1920, Sobral foi para Moçambique para trabalhar como director na "Mozambique Industrial & Commercial Coy. Ltd". E por lá mostrou a sua fibra. Depois viria a tragédia.
O assunto é pouco abordado e compreensivelmente dado tratar-se de uma situação dramática. Sabe-se que Sobral, de carácter destemido, se dedicou apaixonadamente à caça grossa. Numa dessas caçadas, no dia 26 de Novembro de 1926, Sobral travou uma luta corpo a corpo com o décimo terceiro leão que tentou abater. Vítima de graves ferimentos, foi evacuado para o Hospital de Caia, na Zambézia onde acabaria por morrer.  Morreu com a idade de 35 anos. Na força da vida.

O escritor Joaquim Paço d'Arcos que o conheceu em África fez dele a personagem central do seu romance "Herói derradeiro". E a ele se referiu como: Carlos Burnay da Cruz Sobral, "grande caçador do mato", "herói lendário" e "símbolo alto do destemor, da força viril, da lealdade"

e acrescentou:

"É preciso conhecer certos territórios de África e a eterna dependência em que o português ali vive do Estado ou das grandes companhias, alheado por completo das qualidades de iniciativa que fazem dele no Brasil um elemento tão útil, é preciso conhecer aqueles meios de parasitagem e de covardia, para admirar em todo o seu valor a serena confiança com que Carlos Sobral, por ser português de "antes quebrar que torcer", trocava uma cómoda e rendosa situação pela tão mais humilde e ingrata profissão de pequeno agricultor", afirmava, na introdução, este jovem escritor que iria ser sempre assim, aristocrata pelo espírito e inconformado com o espectáculo da decadência do País e de certos valores.
Nota: a saliência a negrito é da minha responsabilidade

(http://i60.tinypic.com/2hyh4bl.png)

...

Paz e honra à sua memória.
Memória de um homem forte e de valores. Memória de um grande desportista e campeão que teve o privilégio de ter envergado a camisola rubra com a águia ao peito.


(http://i57.tinypic.com/20sf29v.png)
Caricatura de Carlos Sobral.
Fonte Sports ilustrados nº 33, 28 Janeiro 1911

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 19 de Abril de 2015, 20:17
Mais um grande momento de cultura benfiquista, RedVC. Nunca é de mais agradecer-te por enriqueceres o benfiquismo de quem te lê.

Espectacular a imagem do jogo de pólo aquático, no meio do rio, com os barcos em pano de fundo. E os casacos dos jogadores na imagem da esquerda, uma maravilha!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Abril de 2015, 20:23
Citação de: Lorne Malvo em 19 de Abril de 2015, 20:17
Mais um grande momento de cultura benfiquista, RedVC. Nunca é de mais agradecer-te por enriqueceres o benfiquismo de quem te lê.

Espectacular a imagem do jogo de pólo aquático, no meio do rio, com os barcos em pano de fundo. E os casacos dos jogadores na imagem da esquerda, uma maravilha!

Obrigado Lorne! O0

Essas digitalizações foram colocadas por Alberto Miguéns no seu blogue. Penso que são da História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954.

Concordo contigo que essas fotografias são espetaculares. E seriam ainda mais se tivéssemos cópias de alta resolução. Se ainda existem nunca as encontrei. Há no entanto fotografias maravilhosas de competições dessa época na doca de Alcântara e na doca de Santos. Como competiam aqueles atletas... Tinha mesmo de ser por paixão ao clube e à modalidade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 19 de Abril de 2015, 21:19
Citação de: RedVC em 19 de Abril de 2015, 20:23
Citação de: Lorne Malvo em 19 de Abril de 2015, 20:17
Mais um grande momento de cultura benfiquista, RedVC. Nunca é de mais agradecer-te por enriqueceres o benfiquismo de quem te lê.

Espectacular a imagem do jogo de pólo aquático, no meio do rio, com os barcos em pano de fundo. E os casacos dos jogadores na imagem da esquerda, uma maravilha!

Obrigado Lorne! O0

Essas digitalizações foram colocadas por Alberto Miguéns no seu blogue. Penso que são da História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954.

Concordo contigo que essas fotografias são espetaculares. E seriam ainda mais se tivéssemos cópias de alta resolução. Se ainda existem nunca as encontrei. Há no entanto fotografias maravilhosas de competições dessa época na doca de Alcântara e na doca de Santos. Como competiam aqueles atletas... Tinha mesmo de ser por paixão ao clube e à modalidade.

O cenário era praticamente igual em todas as modalidades: poucas condições, poucos recursos, muita vontade e muito brio.

Até no futebol, como se constata pelos célebres relatos dos duches frios e de trocarem de roupa a céu aberto, fizesse sol ou chuva, que, entre outras coisas, acabaram por servir de desculpa para a debandada de vários dos nossos jogadores para o Sporting.

"O Sporting tem dinheiro. Nós temos dedicação. No imediato o dinheiro vence a dedicação. No futuro, a dedicação goleia o dinheiro." Cosme Damião previu o futuro.  :bandeiraslb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Abril de 2015, 23:02
Nem mais.
Cosme era uma grande figura. Tinha uma personalidade forte e sabia pensar o futuro.
Tenho pena de só ter conseguido ler uma entrevista longa de Cosme já no fim da sua vida:

http://tudoportibenfica.blogspot.pt/p/artigo-de-bola-com-entrevista-cosme.html (http://tudoportibenfica.blogspot.pt/p/artigo-de-bola-com-entrevista-cosme.html)

Não sei quantas mais existem mas devem haver mais.
Seria excelente conhecer mais do seu pensamento.
É uma lacuna brutal que por exemplo o museu poderia colmatar localizando e divulgando.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 19 de Abril de 2015, 23:14
Citação de: RedVC em 19 de Abril de 2015, 23:02
Nem mais.
Cosme era uma grande figura. Tinha uma personalidade forte e sabia pensar o futuro.
Tenho pena de só ter conseguido ler uma entrevista longa de Cosme já no fim da sua vida:

http://tudoportibenfica.blogspot.pt/p/artigo-de-bola-com-entrevista-cosme.html (http://tudoportibenfica.blogspot.pt/p/artigo-de-bola-com-entrevista-cosme.html)

Não sei quantas mais existem mas devem haver mais.
Seria excelente conhecer mais do seu pensamento.
É uma lacuna brutal que por exemplo o museu poderia colmatar localizando e divulgando.

Sem dúvida!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Maio de 2015, 01:25
-46-
A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte I)

Uma selecção de imagens da digressão de uma seleção da AFL, Associação de Futebol de Lisboa ao Rio de Janeiro e São Paulo entre Julho e Agosto de 1913.

As fotografias são de qualidade inferior pois são provenientes de jornais da época. Apesar da sua inferior qualidade, merecem aqui ser colocadas pois essa comitiva pode perfeitamente ser considerada a primeira selecção Portuguesa a jogar na América do Sul.

A comitiva Portuguesa deslocou-se por convite do Botafogo Foot-ball Clube, convite esse que penso ter sido feito cerca de 4 anos antes. Não deve ter sido fácil reunir condições para essa deslocação e pretendeu-se ser não apenas concretizar uma digressão desportiva mas também que assumisse uma vertente diplomático. Isso aliás fica patente pela presença frequente de Bernardino Machado, na altura embaixador de Portugal no Brasil e que viria a ser presidente da República pouco tempo depois.

Em termos sociais e "intelectuais" (citação de jornais da época) a comitiva era liderada por Duarte Rodrigues, jornalista do "Tiro e Sport". Em termos desportivos era capitaneada por Cosme Damião. Esse detalhe é notável pois mesmo com a presença do ilustre Eduardo Luís Pinto Basto, um dos pioneiros mais relevantes do futebol Português), ainda assim a Cosme já era reconhecido prestígio e carisma para lhe ser delegada essa responsabilidade. Eduardo Luis Pinto Basto tinha igualmente funções compatíves com o seu estatuto. Foi nomeado manager, chefe do protocolo e secretário da missão, tendo por isso recebido 150 escudos para despesas. Assim sendo, a gestão desportiva estava exclusivamente a cargo de Cosme Damião, que à época era claramente o homem que mais percebia de futebol no nosso país.

(http://i57.tinypic.com/3136uqo.jpg)
Eduardo Luís Pinto Basto ladeado por Cosme Damião.
Os líderes dos maiores clubes de Portugal em 1913: Clube Internacional de Futebol e Sport Lisboa e Benfica.
Eduardo Luís, guarda-redes e defesa, filho de Guilherme Pinto Basto um dos introdutores do futebol em Portugal.


A comitiva Portuguesa integrava não apenas 16 jogadores de futebol mas também jornalistas e figuras da sociedade Lisboeta com ligação ao "Sport". Eram como na época se dizia, verdadeiros "sportsmen". Homens tais como o já mencionado jornalista Duarte Rodrigues, Alberto Lima presidente do Benfica e Mário Duarte, desportista e representante do governo Português. Entre os jogadores tínhamos jogadores de perfil de salão tais como Eduardo Luís Pinto Basto (que abandonaria o futebol como praticante no último jogo dessa digressão), Cândido Rosa Rodrigues e também jogadores de perfil popular, aliás os preferidos das multidões tais como Artur José Pereira e Álvaro Gaspar, o "Chacha". Era uma selecção com grandes valores apesar de algumas ausências de vulto entre os 17 que constavam da primeira convocatória: Picão Caldeira (Império), Jaime Cadete (SCP/SLB), Augusto Sabbo (CIF), António Rosa Rodrigues (SCP) e Gama Lobo (CIF). Estes seriam substituídos por Augusto Paiva Simões (SLB), Amadeu Cruz (SCP), Boaventura Belo (CIF) e Álvaro Gaspar (SLB). A estes nomes eu acrescentaria ainda Leopoldo Mocho (SLB), Francisco Belas (SLB), Alberto Rio (SLB) e Fernando Pinto Basto (CIF), destacados jogadores da época que por motivos diversos não foram convocados.

(http://2.bp.blogspot.com/-N2LYDLUc4W0/U4TT-gOaxCI/AAAAAAAAOWs/sRjA87xrVno/s1600/22+CONVOC.jpg)
Primeira convocatória de 17 jogadores para a digressão ao Brasil. Está assinada por Raúl Nunes, secretário daquela instituição. A sublinhado estão os jogadores que acabaram por ir na digressão. Documento do arquivo pessoal de Cândido Rosa Rodrigues.
Fonte: Em Defesa do Benfica (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/05/o-brasil-de-alvaro-gaspar.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/05/o-brasil-de-alvaro-gaspar.html)
)


(http://i61.tinypic.com/24fn23c.png)

Os 16 jogadores da comitiva Portuguesa. Metade eram jogadores gloriosos.
Cândido Rosa Rodrigues, jogador do SCP foi fundador do... Sport Lisboa.
Carlos Sobral viria a jogar no Glorioso 2 anos depois.


Em termos de resultados como se verá os resultados não foram famosos: 3 derrotas, 2 empates e 2 vitórias. A equipa Portuguesa ia precedida de grande fama mas quer pela competência dos Brasileiros quer pelo cansaço provocado pelo clima e pelo intenso programa social, o desempenho desportivo foi o que foi. Temos aliás uma demonstração recente disso quando nos lembramos da nossa selecção no mundial de 2014...

Ficam aqui algumas composições fotográficas relativas aos primeiros dias e jogos. Um período correspondente à primeira semana.


(http://i58.tinypic.com/sbps1k.png)
(http://i59.tinypic.com/15kf29.png)
(http://i58.tinypic.com/2vaayvq.png)
(http://i60.tinypic.com/2q2len5.png)
(http://i58.tinypic.com/zu0byg.png)

Interessa também perceber um pouco o que era o Rio de JAneiro naquele tempo. E existem boas fotografias para ilustrar a beleza, a tropicalidade com que a nossa comitiva se deparou.

(http://4.bp.blogspot.com/-vBVnXehFe1M/U1cdUO_0JlI/AAAAAAAALNg/J9ld8Do0t1A/s1600/Malta+Hotel+avenida+-+foto+furtada+do+acervo+do+arquivo+da+cidade+3.jpg)
Hotel Avenida, onde a comitiva Portuguesa ficou alojada durante a visita ao Rio de Janeiro

(http://i62.tinypic.com/2co066g.png)
Em cima: dois aspectos da Avenida Beira-Mar no Rio de Janeiro por volta de 1913
Em baixo: dois aspectos de um dia de regatas na baía de Botafogo.

(http://i59.tinypic.com/143qrsg.png)
Em cima: dois aspectos da zona portuária e costeira do Rio de Janeiro por volta de 1913
Em baixo: dois aspectos da zona urbana do Rio de Janeiro.


(http://i61.tinypic.com/29c1beu.png)
Locais visitados pela comitiva Portuguesa:
pavilhão Mourisco; pavilhão de regatas do Botafogo Foot-ball Clube; estrada de ferro do Corcovado e
morro da Urca, Pão de Açucar, inaugurado em Janeiro de 1913 ou seja 18 anos antes do Corcovado.

Ao olhar para estas fotografias noto a beleza natural com que a comitiva Portuguesa se deparou. Terá sido a viagem da vida para muitos deles. Pergunto-me também se Manuel Mora, o segundo guarda-redes da nossa história, emigrante e morador lá perto, na ilha do Governador, também terá estado com esta comitiva? Manuel Mora tinha saído cinco anos antes e jogou com e contra a maior parte desses jogadores. É bem possível que tenha convivido com eles durante os dias cariocas dessa digressão. Manuel Mora nessa época ainda não tinha a fama que depois merecidamente veio a conquistar. Talvez um dia saibamos mais.

(http://www2.nitnet.com.br/imagens/mapa_bandalarga.gif)

(continua)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Maio de 2015, 17:20
-47-
A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte II)

Finalizando a maratona de imagens da digressão da AFL no Brasil em 1913.
Depois da primeira semana foi tempo para o 4º e mais importante jogo no Rio de Janeiro, o jogo contra o Botafogo F.C. Depois foi tempo para a partida para São Paulo onde se disputariam mais três jogos. Curiosamente a equipa Portuguesa ganharia apenas... os dois jogos mais importantes, ou seja aqueles em que estavam em jogo os troféus e que foram disputados contras as equipas teoricamente mais fortes. Esses troféus ainda hoje são exibidos na AFL.

(http://i58.tinypic.com/wjjbdz.png)
(http://3.bp.blogspot.com/_ghslP3ewkys/Slb_n9Dz26I/AAAAAAAAE9w/JPN1V9hsKEc/s1600/Velharia_portugueses.jpg)
(http://i59.tinypic.com/315c0bb.png)
(http://i59.tinypic.com/10p1sp3.png)

E como hoje, as diferenças entre o Rio de Janeiro e São Paulo devem ter sido notórias para a comitiva Portuguesa. Estes foram alguns dos locais visitados pela comitiva.

(http://i58.tinypic.com/10n5pom.png)
(http://i62.tinypic.com/fem3o9.png)
(http://i62.tinypic.com/mmy1ci.png)
(http://i58.tinypic.com/avfvpw.png)

Os três jogos foram disputados no Velódromo Paulistano.

Finda a aventura Paulista a comitiva regressaria ao Rio de Janeiro para as despedidas e para os últimos compromissos sociais, em particular a recepção na Embaixada de Portugal no Brasil.

(http://i61.tinypic.com/12504lt.png)
(http://i59.tinypic.com/2iijsdh.png)
(http://i62.tinypic.com/34ni3j7.png)


Assim em termos de balanço, temos 2 vitórias 3 derrotas  e 2 empates:

Rio de Janeiro
13 Julho  1913 - AFL vs Misto inglês (Rio Cricket e Paysandu) 1-3.
14 Julho  1913 - AFL vs Misto brasileiro 0-1.
17 Julho  1913 - AFL vs Liga Metropolitana 0-0.
20 Julho  1913 - AFL vs Botafogo F.C. 1-0.

São Paulo:
23 Julho  1913 - AFL vs  A. Atlética das Palmeiras  2-2.
25 Julho  1913 - AFL vs Colégio Mackenzie 1-5.
26 Julho 1913 - AFL vs Clube Atlético Paulistano 1-0.

Os portugueses marcaram 6 golos e sofreram 11. Artur José Pereira foi o máximo goleador com 3 golos. Marcaram ainda Carlos Sobral, António Stromp e Boaventura Belo.

Foram totalistas:
Henrique Costa (7);
Carlos Homem de Figueiredo (7);
António Stromp (7);
João Bentes (7)

Jogaram ainda:
Cosme Damião (6);
Artur José Pereira (6);
José D. Fernandes (6);
Álvaro Gaspar (6);
Luís Vieira (6);
Carlos Sobral (5);
Augusto Paiva Simões (4);
Eduardo Luís Pinto Basto (3);
Boaventura Belo (3);
Amadeu Cruz (3);
Francisco Stromp (1).
Cândido Rosa Rodrigues, lesionado (0).


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: M1904 em 06 de Maio de 2015, 11:31
Excelente.  O0

Penso que a AFL chegou no ano passado a assinalar essa data, lembro-me de ter lido algo sobre isso, com uma exposição, mas entretanto não encontrei nada.

Interessante algumas notas sobre a viagem ao Brasil:

"1-Os cinco valiosos troféus que o grupo trouxe do Brasil pelas vitórias alcançadas ficaram retidos na Alfândega, pois estavam sujeitos ao pagamento de direitos considerados inconcebíveis numa representação de carácter desportivo e de propaganda de Portugal. Graças a Francisco Luís da Silva Calejo e ao despacho do então Primeiro-Ministro, Afonso Costa, foram libertados só em 1915!

2-Luís Vieira, do Benfica, não regressou a Portugal, pois ficou a jogar no Botafogo.

3-Júlio de Araújo, dirigente da Associação de Futebol de Lisboa, considerou acertada a escolha do mandatário da A.F.L., porquanto de outro modo maiores teriam sido os incidentes com o jornalista Duarte Rodrigues, que se arvorou em empresário e que só na situação oficial de Cosme Damião encontrou entraves para os seus excessos."

4-Para capitão do grupo foi eleito, pelos jogadores, Cosme Damião, que era o capitão do S.L.B., campeão de Lisboa nessa época.
Eduardo Luís Pinto Basto foi nomeado secretário do grupo. A direcção da A.F.L. confiou também a Cosme Damião a representação oficial da Associação no Brasil e entregou-lhe para despesas de representação 150$00 (cento e cinquenta escudos) [hoje, 75 cêntimos de euro...].

PS- No Museu do Benfica, no espaço dedicado a Come Damião, está lá a Bengala oferecida pelo Botafogo ao Cosme Damião. Interessante e historico!  O0


Aqui nesta pagina/blog podem encontrar mais alguma informação, incluindo alguns dos troféus:

http://albertohelder.blogspot.pt/2013/06/associacao-de-futebol-de-lisboa-o.html

Ver também nessa pagina a entrevista de Cândido Rosa Rodrigues em 1965, sobre essa viagem e outros assuntos, incluindo algumas considerações sobre Félix Bermudes:

1-"- Mas então, embora muito sumariamente, não era estabelecido qualquer plano para os jogos?
Visivelmente encantado pela ingenuidade da pergunta, o nosso «jovem» respondeu:
- Não meu amigo. Nessa época cada jogador tinha uma zona do campo onde actuava e dali quase não saía.
Tácticas não havia e somente um homem, que me lembre, se arriscou a falar em tal.
E num tom de verdadeira saudade continuou:
- Esse homem foi Félix Bermudes, uma pessoa inteligentíssima e que já nessa época, portanto com dezenas de anos de avanço, procurava estabelecer planos tácticos para cada jogo. Como deve calcular não o levávamos a sério e por nós foi alcunhado do «tácticas». Se fosse hoje...
Sem que o deixássemos interromper, prosseguiu:
- Já que falei de Félix Bermudes deixe-me contar-lhe um facto que prova o seu bom senso e o tom precavido de todos os seus actos. Ora escute: muitos dos nossos jogos eram realizados nuns terrenos frente ao campo das Salésias, chamados «Terras do Desembargador». Para aí iam também os soldados de determinado regimento de cavalaria fazer os seus exercícios. Pois bem. Félix jogava sempre de calças compridas e luvas, como precaução contra o tétano. Era o único em tais preparos. Como vê em tudo o que ele era precavido e meticuloso. Não admira, portanto, que pensasse também impor certa disciplina ao jogo."

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Maio de 2015, 20:21
Obrigado M1904 O0 Essas notas são excelentes e revelam alguém que é um conhecedor.  Algumas notas sobre essas notas

1- Eu conheço essa página do excelente blogue do Senhor Alberto Hélder. Obrigado por essa menção pois não lhe fiz a justiça devida. Os troféus são muito bonitos e de facto essa situação foi foi recambolesca.

2- Sim, Luís Vieira é um caso interessante. Gostaria de falar dele um dia destes. Já tenho alguns elementos mas falta-me uma peça que está difícil encontrar.

3 - Tinha-me esquecido de Júlio de Araújo, tenho ideia que ele também esteve na comitiva e que foi um dos que partiu em viagem de recreio para a Argentina.
Foi uma figura do SCP, aqui está uma fotografia dele:
(http://i57.tinypic.com/730184.png)
Fonte: http://www.vinculadosaobarreiro.com/23julioaraujo/main_julioaraujo.html (http://www.vinculadosaobarreiro.com/23julioaraujo/main_julioaraujo.html)

4 - Sim, a Cosme Damião foi reconhecido mérito desportivo e humano. Essa bengala e o castão são prova disso mesmo. Duarte Rodrigues esteve envolvido pelo menos num pequeno mal-entendido o que aliás o levou a fazer um desmentido pela imprensa. Aparentemente foram algumas afirmações menos felizes que terão caído mal. Se calhar um reflexo de tradicional problema de comunicação (Português PT vs Português BR...)

5 - Os arquivos de Cândido Rosa Rodrigues devem ter mais pérolas. Tenho ideia que era o mais organizado existindo aliás uma agenda onde registava notas sobre diversos jogos daquele período 1903-1907. Aliás não me admiraria que os descendentes de Cândido e dos outros seus três irmãos tenham diversas recordações dessa época. Era uma família de gente esclarecida e com posses. Há várias coisas interessantes em relação à família Rosa Rodrigues. Um dia será talvez interessante voltar a falar deles. É uma ironia amarga que tenham todos virado Sportinguistas.

(http://3.bp.blogspot.com/-Gg2EQQGoGGo/VOV7xK25XpI/AAAAAAAAUgY/2JKCln8LEQA/s1600/Jogo%2B19.02.1905.jpg)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Maio de 2015, 14:33
-48-
A última ceia.

Cumpriram-se 66 anos.
(http://www.baaa-acro.com/Photos-63/I-ELCE-1.jpg)
Fonte: http://www.baaa-acro.com/1949/archives/crash-of-a-fiat-g-212-in-torino-31-killed/ (http://www.baaa-acro.com/1949/archives/crash-of-a-fiat-g-212-in-torino-31-killed/)

4 de Maio de 1949 foi um dia triste para a memória colectiva, para todos os desportistas e em particular para os Gloriosos Sport Lisboa e Benfica e Torino F.C.

Em contraste, o dia anterior foi um dia feliz, um dia pleno de convívio humano, de desporto, de vida. Foi o dia da brilhante e justa homenagem ao nosso grande capitão Chico Ferreira. Nessas horas felizes decorreu um programa social e um programa desportivo que vincaram a enorme categoria e simpatia dos italianos assim como a grandeza e popularidade do nosso capitão.


Recepção no salão de honra do Município de Lisboa:
(https://cld.pt/dl/download/22344ec1-0111-43fd-b7d0-cd6610e3e81f/106.JPG)
Distinguem-se Francisco Ferreira, Valentino Mazzola, Dr. Mário Madeira (presidente do Benfica), Dr. Álvaro Salvação Barreto (presidente da Câmara de Lisboa), Egri Erbstein (director técnico Torino), Lievesley (treinador do Torino), entre outros. Fonte: Çula, http://serbenfiquista.com/forum/memorias/benfica-em-alta-resolucao/45/ (http://serbenfiquista.com/forum/memorias/benfica-em-alta-resolucao/45/)

Jogo no Estádio Nacional:
(http://iv1.lisimg.com/image/5234711/600full-grande-torino.jpg)
Valentino Mazzola, Henry Pearce (árbitro Inglês) e Francisco Ferreira.
Fonte: http://www.listal.com/viewimage/5234711 (http://www.listal.com/viewimage/5234711)


(http://3.bp.blogspot.com/-SakVVBU51OQ/UVXIOOkAU0I/AAAAAAAAAlM/Q07VyS7-dEM/s1600/un+momento+di+gioco+foto+AMSG.jpg)
Mazzola salta com o nosso guarda-redes (que já tenho visto indicado ser Pinto Machado - terá havido substituição? - que faria o último jogo pelo SLB cinco dias depois...) - Estão rodeados de Benfiquistas, Jacinto (2), Fernandes, Félix (5) e Moreira (4).
Fonte e créditos: http://www.tgcom24.mediaset.it/sport/speciale-amarcord/l-ultima-partita-del-grande-torinoa-lisbona-fini-4-3-per-il-benfica_2109126-201502a.shtml (http://www.tgcom24.mediaset.it/sport/speciale-amarcord/l-ultima-partita-del-grande-torinoa-lisbona-fini-4-3-per-il-benfica_2109126-201502a.shtml)

Equipas
(http://i60.tinypic.com/zsslxl.png)
De pé e da esquerda para a direita: Jacinto, Moreira, Fernandes, Félix, Francisco Ferreira, massagista, Rogério Contreiras. Agachados: Corona, Arsénio, Espírito Santo, Melão e Rogério Pipi.

(http://upload.wikimedia.org/wikipedia/it/thumb/d/dc/Grande_Torino_scan.jpg/620px-Grande_Torino_scan.jpg)
De pé e da esquerda para a direita: Lievesley (treinador), Castigliano, Ballarin, Rigamonti, Lloik, Mazzola, Bacigalupo e Egri Erbstein (director técnico). Agachados: Martelli, Menti, Grezar, Gabetto e Ossola.


O Benfica ganhou esse jogo emocionante que terminou em fraterno convívio entre as duas equipas. Nesse jogo, a gloriosa comitiva do Torino demonstrou bem a sua qualidade desportiva.

À noite demonstraram também que eram campeões da simpatia ao participar num banquete de convívio entre os dois clubes em que se deu continuidade à homenagem ao nosso grande capitão.

Essa descontraída ceia decorreu no restaurante Alvalade, na zona do Campo Grande:

(http://i62.tinypic.com/2jaxjlk.png)
Restaurante Alvalade ao Campo Grande. Exterior e interior do salão de jantar.
Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014/07/lago-do-jardim-do-campo-grande.html

viria a ser a última ceia dos imortais italianos, ficando imortalizada nesta excelente fotografia:

(http://i59.tinypic.com/2ecou4x.jpg)
Interior do salão do Restaurante Alvalade, noite de 3 de Maio de 1949. Jantar e momento de convívio em homenagem a Francisco Ferreira.
Fonte e créditos: http://www.tgcom24.mediaset.it/sport/speciale-amarcord/l-ultima-partita-del-grande-torinoa-lisbona-fini-4-3-per-il-benfica_2109126-201502a.shtml (http://www.tgcom24.mediaset.it/sport/speciale-amarcord/l-ultima-partita-del-grande-torinoa-lisbona-fini-4-3-per-il-benfica_2109126-201502a.shtml)

É difícil fazer as identificações mas percebe-se que em primeiro plano temos alguns dos jogadores italianos, Lloik, Ballarin, Gabetto, Ossola. Dos nossos, lá atrás distinguem-se o defesa Fernandes e Rogério Pipi. Estiveram lá com certeza todos os outros jogadores Benfiquistas mas o ângulo não permite mais identificações. Gostava de ter mais fotografias desse evento pois não vejo por exemplo o nosso Francisco Ferreira.

Com as bandeiras dos dois clubes por trás, a mesa dos dirigentes era presidida pelo Dr. Mário Madeira e pelo Major Ribeiro dos Reis, respectivamente presidente da Direcção e da assembleia geral do Sport Lisboa e Benfica. Estariam lá também outras figuras Benfiquistas e também os dirigentes e técnicos da comitiva Italiana.

Dispenso-me a transcrever a excelente descrição desse convívio feita na revista Mística por Luis Lapão. Pode ser lida no Indefectível: http://oindefectivel.blogspot.pt/2011/08/grande-torino.html (http://oindefectivel.blogspot.pt/2011/08/grande-torino.html)

No dia seguinte, o dia do acidente o Diário de Lisboa publica a notícia do banquete. Em breve a notícia seria outra.

(http://i61.tinypic.com/vdhc92.png)


Glória ao grande Torino. Glória aos seus campeões.

(http://www.footballgeeza.com/wp-content/uploads/2012/10/Il-Torino-Campionissimo-Source-Il-Calcio-Illustrato-May-1949-Numero-Speciale.-Special-issue-in-memory-of-the-players-who-perished-in-the-Superga-air-disaster.jpg)

Um clube que ficará para sempre ligado ao Glorioso.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 11 de Maio de 2015, 18:02
(https://scontent-lhr.xx.fbcdn.net/hphotos-xaf1/v/l/t1.0-9/10258681_444857099029019_4594046442811524735_n.jpg?oh=c64d1b690fe9b6a31a6390cca48ac133&oe=55C39658)

Em 1965, a pedido da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), o Benfica disputou um entusiasmante jogo de futebol com o Eintrach a fim de ajudar monetariamente aquela instituição. A iniciativa foi um sucesso e, no final, a CVP condecorou o Clube com a medalha da Cruz Vermelha de Benemerência. Este diploma documenta esse momento histórico.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Cuccittini em 11 de Maio de 2015, 18:04
Orgulho.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Maio de 2015, 20:38
-49-
A noite da Cruz Vermelha.

Noite de 7 de Outubro de 1965, Estádio da Luz:
(http://i60.tinypic.com/2cosr6d.png)
Fonte: DL, 8/10/1965

Aproveitando a boleia do post do Theroux, falemos dessa noite de 7 de Outubro de 1965, em que uma vez mais o Sport Lisboa e Benfica se associou a uma iniciativa em benefício de uma instituição com missão no apoio social a desprotegidos da sociedade e a vítimas de cataclismos.

Mas ainda antes, recuemos no tempo. Recuemos muito no tempo para demonstrar que essas iniciativas do Benfica tem raízes na nossa história inicial.

De facto, é uma tradição que tem sido respeitada ao longo das décadas de história do nosso clube. Tradição essa que tem o seu primeiro capítulo no já longínquo dia 2 de Fevereiro de 1909. Nesse dia o nosso Cosme Damião teve papel relevante numa iniciativa da Liga Portugueza de Foot-Ball, antecessora da AFL. Reuniram-se diversas vontades para que no terreno do SCP, o melhor à época, fosse organizado um jogo de beneficência em favor das vítimas de um terramoto na Sicília e na Calábria.

(http://www.grifasi-sicilia.com/messina_dopo_il_terremoto_banca_italia.jpg)
Edifício do Banco de Itália em Messina, um exemplo da devastação do cataclismo.
Fonte: http://www.grifasi-sicilia.com/messina_terremoto_1908_banca_italia_gbr.html (http://www.grifasi-sicilia.com/messina_terremoto_1908_banca_italia_gbr.html)

Aliás a própria Cruz Vermelha estava presente em Messina e como seria de esperar teve um papel relevante na resposta imediata às vítimas do cataclismo.

(http://images-02.delcampe-static.net/img_large/auction/000/226/530/760_001.jpg)
Fonte: http://www.grifasi-sicilia.com/messina_terremoto_1908_banca_italia_gbr.html (http://www.grifasi-sicilia.com/messina_terremoto_1908_banca_italia_gbr.html)

Imagens terríveis foram registadas nesse dia 28 de Dezembro de 1908 e nos dias seguintes:
(http://cronologia.leonardo.it/storia/a1908h.jpg)
Fonte: http://cronologia.leonardo.it/storia/a1908b.htm (http://cronologia.leonardo.it/storia/a1908b.htm)


Nesse jogo de Fevereiro de 1909, o nosso clube forneceu oito dos onze jogadores (só não forneceu nove porque Henrique Costa estava doente...) que ajudaram a vencer por 4-1 os mestres Ingleses do Carcavellos FC. No Tiro e Sport foi dado particular destaque ao grande defesa Leopoldo Mocho e à grande estrela da época Artur José Pereira. Algum detalhe do jogo de 1909 no nº 3 deste tópico (-3- Um jogo de beneficência.)

(http://i58.tinypic.com/1zgf21w.png)
Fonte: Tiro e Sport, 20 de Fevereiro 1909. Perspectiva do lado da baliza do Misto Português, onde se vê o nosso guarda-redes João Persónio. Ao seu lado direito suspeito estar (embora admito sem provas) Félix Bermudes. 

Irónicamente, esse gesto de solidariedade foi algo premonitório pois em 23 de Abril desse ano dar-se-ia também um devastador terramoto em Benavente.

(http://2.bp.blogspot.com/-FklOZo-94Xk/UhStXuTqroI/AAAAAAAAtjA/3r31uQQBHGI/s1600/3+terramoto+1909+-+benavente.jpg)
Fonte: Jornal de Nisa, http://jornaldenisa.blogspot.pt/2013/08/memoria-o-terramoto-de-1909-em.html (http://jornaldenisa.blogspot.pt/2013/08/memoria-o-terramoto-de-1909-em.html)


Mas voltemos a avançar cinquenta e seis anos. Voltemos a essa noite de 7 de Outubro de 1965.

No relvado encharcado do Estádio da Luz escreveu-se mais um capítulo do papel social e benemérito que o Benfica sempre soube honrar. Assistiram cerca de 30.000 espectadores que por diversas vezes manifestaram o seu desagrado pelo fraco jogo do Benfica. O Benfica jogou no entanto com diversas ausências de vulto entre as quais Coluna e Eusébio, este último por se ter casado na segunda feira anterior.

No final, empate 0-0 com boa exibição do nosso guarda-redes Melo e do grande Germano. Os Alemães jogaram bem mas com desacerto na concretização. Destaque para Grabowski um jogador que viria a dar cartas na selecção Alemã. O Eintracht tinha um novo treinador, Elek Schwarz que tinha deixado recentemente o Benfica e que ficaria no clube Alemão até 1968.

(http://i58.tinypic.com/30c3q0w.png)
Fonte: DL, 8/10/1965

Nessa noite o Eintracht foi agraciado com uma condecoração da Cruz Vermelha e o Benfica recebeu a Taça Turismo.

(http://i60.tinypic.com/5lsbc2.png)
Fonte: DL, 8/10/1965

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 11 de Maio de 2015, 21:10
Citação de: Theroux em 18 de Abril de 2015, 00:57
(https://igcdn-photos-h-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xfa1/t51.2885-15/11111387_378973302227423_580204077_n.jpg)

Quem será o 5?
marinho.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Maio de 2015, 22:59
Citação de: Lorne Malvo em 17 de Abril de 2015, 00:37
Citação de: RedVC em 16 de Abril de 2015, 20:57
Citação de: Fake Blood em 16 de Abril de 2015, 20:29
(http://www.institutoelzotulio.org.br/iet/wp-content/uploads/2014/12/DSCF8834.jpg)

Estádio?

Bonfim.

http://serbenfiquista.com/jogo/v-setubal-sl-benfica-16 (http://serbenfiquista.com/jogo/v-setubal-sl-benfica-16)

V. Setúbal 0 x 2 SL Benfica, Campeonato Nacional, 13 Fev 1988

Sábado, Fevereiro 13, 1988
1   Silvino   
2   Dito   
3   Carlos Pereira   
4   Mozer   
5   Álvaro Magalhães   
6   Elzo   
7   Padinha   
8   Diamantino (C)   
9   Pacheco   
10   Magnusson   
11   Rui Águas

Suplentes:
?   Veloso   
?   Shéu

Eh pá, o Carlos Pereira e o Padinha! Há nomes que um gajo quase apaga da nossa memória, há anos que não me lembrava deles.

O Carlos Pereira ainda foi presidente do Farense e acho que teve uns cargos federativos. Do Padinha não sei rigorosamente nada.

Padinha, um bicampeão. Tal como Carlos Pereira e outro nome obscuro também aqui tratado, o guarda-redes Diamantino vindo da Sanjoanense:

http://observador.pt/2015/05/14/padinha-diamantino-os-bicampeoes-ninguem-lembra/ (http://observador.pt/2015/05/14/padinha-diamantino-os-bicampeoes-ninguem-lembra/)

este artigo apresenta aliás várias fotografias deliciosas:

(http://observador.pt/wp-content/uploads/2015/05/cartao-benfica-socio-577x433.jpg)

(http://observador.pt/wp-content/uploads/2015/05/plantel-benfica-603x433.jpg)

(http://img.obsnocookie.com/s=w800,pd1/o=80/http://observador.pt/wp-content/uploads/2015/05/benfica-eriksson-4_770x433_acf_cropped.jpg)
Néné, Carlos Pereira, Filipovic, Alberto Bastos Lopes, Eriksson, Stromberg, Carlos Manuel II, José Luis

E reparem nesta da selecção de júniores em que Diamantino defendeu as redes:

(http://observador.pt/wp-content/uploads/2015/05/torneio-de-israel-equipa-609x433.jpg)
De pé: Venâncio (SCP), ?, Diamantino (Sanjoanense/SL Benfica), ?, Morato (scp), ?, Jaime (Amora), José Augusto, ? Em baixo: ?, ?, Chico Faria (SL Benfica), João Pinto (FCP), ?, ?

Alguém consegue identificar mais?

Olhando para diversas convocatórias percebe-se que essa selecção de júniores tinha alguns jogadores interessantes:

Grs. - Diamantino (Sanjoanense/SL Benfica) e Guimarães (SL Benfica/Torralta)

Dfs. - Morato (SCP), Mário Paz (CFB), Venâncio (SCP), Madureira (F. C. Porto), Feliciano (SCP), Paulo Vilar (CFB), Pedro Lopes (CFB)

Mds. - Jaime Mercês (Amora/CFB), Décio (SL Benfica/Torralta), Vieira (Nacional) e Jorge Silva (CFB), Chainho (Vit. Setúbal), Pinheiro (FCP) e José Duarte (Marítimo)

Avs. - Faustino (Vit. Setúbal), Chico Faria (SL Benfica), Carlos Ferreira (SL Benfica), Carlos Brito (Boavista FC), Laranja (SC Braga), Dé (SCP), Bonito (CFB) e Futre (SCP).

Seleccionador - José Augusto.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 14 de Maio de 2015, 23:33
Essa equipa de juniores é de que época?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Maio de 2015, 23:38
1981/1982.

http://nomesnumerosfutebol.blogspot.pt/2011/12/81-82-seleccoes.html (http://nomesnumerosfutebol.blogspot.pt/2011/12/81-82-seleccoes.html)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Maio de 2015, 14:15
Citação de: Fake Blood em 16 de Julho de 2014, 21:16
Caros profissionais da decifração, acudam-me!
Os arquivos por vezes confundem mais do que esclarecem!

No meio de mais uma exploração dou com esta foto:

(http://i62.tinypic.com/2hrlfrr.jpg)
Com a seguinte descrição:

Acto de cerimónia protocular de entrega de taça, referente a evento não identificado, inferindo-se, no entanto, que possa estar relacionado com a condecoração da Ordem de Cristo, atribuída à agremiação Sport Lisboa e Beira de que faz parte o Futebol Club da Beira.

DATAS DESCRITIVAS
[1930-1942]

Eu nem sabia que existia um Sport Lisboa e Beira. Uma filial no estrangeiro, suponho eu com base em mais fotos do Sport Lisboa e Beira.
Se não tivesse qualquer descrição eu diria que era o nosso presidente Manuel da Conceição Afonso (http://serbenfiquista.com/forum/imortais/manuel-da-conceicao-afonso-(presidente)/) a receber a taça de campeão da Federação no Estádio do Belenenses.
Estarei eu a alucinar ou estará o arquivo redondamente errado?  :confused:

e

Citação de: RedVC em 17 de Julho de 2014, 20:43
A fotografia saiu num número do jornal do Benfica na década de 80 a propósito do campeonato de 1936-1937, o segundo campeonato que conquistamos.
Era um conjunto de crónicas publicadas na última página e assinadas por Vieira de Carvalho. Descreviam detalhadamente a evolução e conquista dos campeonatos ganhos pelo Benfica até à época de 1982-1983.

(http://i60.tinypic.com/9tlg03.png)


esta fotografia é do mesmo dia, tirada no Campo das Salésias:

(http://i61.tinypic.com/2j2ibeo.png)

pena é que a qualidade seja fraca.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Maio de 2015, 09:23
-50-
Ascenção e queda do Pantufas.

Começamos hoje com uma fotografia que ilustra o auge da carreira de Félix Antunes, o nosso Pantufas. Nela se vê Félix, capitão de equipa, em plena entrevista concedida a Artur Agostinho um sportinguista e um grande e respeitoso profissional radiofónico.

(http://i62.tinypic.com/345hhl5.png)
Félix Antunes entrevistado por Artur Agostinho numa final da Taça de Portugal. Na foto identifica-se também o comentador radiofónico Alves dos Santos. Fonte: Esporte Ilustrado, 1951


Félix Assunção Antunes, nasceu no Barreiro em 14 de Fevereiro de 1922 e faleceu com 76 anos, no dia 6 de Julho de 1998 na cidade de Pretoria, África do Sul. Mas de certa forma morreu muito antes. Em 1953, com apenas 31 anos, Félix morria para o futebol. Morria numa tarde infeliz de futebol na cidade de Setúbal.

(http://i59.tinypic.com/292v2ba.png)
Félix Antunes no traço do desenhador António Maia. Lente em futebol. Imans nos seus pés. Um craque!
Fonte: Esporte Ilustrado, 1951

Félix fez a sua formação na CUF do Barreiro, e depois de se ter destacado, por volta de 1938 transferiu-se depois para a CUF de Lisboa onde também jogaram outros elementos de valor como Travassos e Passos (SCP).

Mais informação sobre o Unidos Futebol Clube / CUF:
http://futebolsaudade-victor.blogspot.pt/2010/11/lisboa-e-os-unidos.html (http://futebolsaudade-victor.blogspot.pt/2010/11/lisboa-e-os-unidos.html)
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/06/cuf-companhia-uniao-fabril.html (http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/06/cuf-companhia-uniao-fabril.html)



Em 1944, o Benfica consegue ganhar a corrida à sua contratação. Félix era já notado e tinha muitos pretendentes. Como nessa altura o Benfica tinha dois excelentes médios, Moreira e Francisco Ferreira, Félix acabaria por jogar pouco nas duas primeiras épocas tendo sido obrigado a recuar no campo.

De acordo com o magnífico blogue "Vedeta ou Marreta", http://vedetaoumarreta.blogspot.pt/2010/06/n186-felix-antunes.html (http://vedetaoumarreta.blogspot.pt/2010/06/n186-felix-antunes.html); Félix estreou-se de águia ao peito em 26 de Novembro de 1944, no Campo Grande num jogo contra o Estoril ganho pelo Benfica por 2-0. E no mesmo blogue percebemos o trajecto futebolístico de Félix:

1954/55 - Torreense - ? Jogos / ? Golos
1953/54 - S.L.Benfica - 3 Jogos / 0 Golos
1952/53 - S.L.Benfica - 17 Jogos / 0 Golos
1951/52 - S.L.Benfica - 25 Jogos / 0 Golos
1950/51 - S.L.Benfica - 20 Jogos / 0 Golos
1949/50 - S.L.Benfica - 25 Jogos / 0 Golos
1948/49 - S.L.Benfica - 23 Jogos / 1 Golo
1947/48 - S.L.Benfica - 10 Jogos / 0 Golos
1946/47 - S.L.Benfica - 23 Jogos / 0 Golos
1945/46 - S.L.Benfica - 1 Jogo / 1 Golo
1944/45 - S.L.Benfica - 1 Jogo / 0 Golos


Apesar da sua enorme classe, Félix terá marcado apenas 3 golos na sua carreira Benfiquista. Segundo a base de dados do SB esses golos aconteceram nos seguintes jogos:
SL Benfica 4 x 2 Boavista   12/05/1946
SL Benfica 6 x 1 Sp. Covilhã   23/01/1949
Atlético CP 2 x 2 SL Benfica   24/09/1950

Sendo que apenas o primeiro não terá sido na transformação de uma grande penalidade.

No Benfica, jogando como defesa central ou como médio centro, Félix espalhou a sua classe e elegância a jogar. Dele chegou a dizer o jornalista Inglês Roy Peskett, que era um dos melhores do mundo. Assim antecedeu com igual classe, os notáveis Germano de Figueiredo e Humberto Coelho. Em minha opinião, nos 111 anos do nosso clube há uma verdadeira dinastia de defesas centrais Benfiquistas de excepção.

Ela foi iniciada por Henrique Costa (1907-1919) e por Leopoldo Mocho (1907-1917) e passou depois pelas décadas que se seguiram por António Pinho (1918-1933), Gustavo Teixeira (1932-1939), Félix Antunes (1944-1954), Germano de Figueiredo (1960-1967), Humberto Coelho (1968-1984), Carlos Mozer (1987-1995), Ricardo Gomes (1988-1996) e que actualmente tem continuidade em Luisão (2003-...).

Existem alguns outros nomes que se tivessem ficado no Benfica mais algum tempo ou se tivessem beneficiado de circunstâncias um pouco mais felizes poderiam ter assumido um lugar nessa dinastia. Homens como Luciano, Eurico Gomes, Gamarra e Garay.

(http://4.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/TBVSSl1e9QI/AAAAAAAAEwQ/EFZuS5HCWBk/s1600/FA008.jpg)
A gloriosa equipa Benfiquista que venceu a Taça Latina na tarde de 18 de Junho de 1950. Em cima, da esquerda para direita: Moreira, Félix, Fernandes, Contreiras, José da Costa, Jacinto, Barros. Em baixo: Corona, Arsénio, Julinho, Rogério Pipi, Rosário. Talvez o momento mais cintilante de Félix e de todos os seus companheiros.

Na altura não haviam muitos jogos internacionais mas ainda assim Félix viria a ser internacional Português por cerca de 15 vezes.

(http://1.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/TBVSYX0QwyI/AAAAAAAAEwY/JUQfUAOWHXQ/s1600/FA009.jpg)
Félix numa das suas internacionalizações. Entre outros companheiros notam-se Francisco Ferreira e Fernando Caiado. Fonte: Vedeta ou Marreta

(https://largodoscorreios.files.wordpress.com/2013/08/canc3a1rio-quatro.jpg)
Uma das últimas internacionalizações de Félix. Contra a Itália no Estádio Nacional. Uma selecção onde predominavam lagartos. Fonte: Largo dos Correios.

E foi justamente num desses jogos, o seu último jogo pela selecção, que viria a ser decisivo para o seu fim como jogador. Tudo aconteceu antes e depois de uma tristemente célebre derrota da selecção Portuguesa. Derrota por 9-1 no dia 26 de Setembro de 1953 em Viena contra a Áustria. Nesse jogo, Félix terá tido um comportamento competitivo pouco condizente com a sua qualidade e estatuto. Era seleccionador Salvador do Carmo (homem ligado ao Belenenses) e foi de facto uma das piores derrotas da história da nossa selecção. Aqui se pode ver:

(http://i59.tinypic.com/2hn0y0i.png)

https://www.youtube.com/watch?v=XdgMyxI5gJA (https://www.youtube.com/watch?v=XdgMyxI5gJA)

Jogaram por Portugal: Barrigana, Virgílio, Carvalho, Félix, Castela, Ângelo, Travasso, Serafim, Vasques, José Águas, Rogério. Entraria ainda Martins.

O único golo de Portugal foi marcado pelo grande José Águas, aliás considerado o melhor avançado Português. Muita coisa estaria para mudar com a chegada pouco tempo depois ao futebol luso de homens como Otto Glória, Mário Coluna e Alberto Costa Pereira...

Mas voltando a Félix, dele disse Tavares da Silva no Diário de Lisboa de 28-09-1953: "Félix não brihou fazendo porventura a sua menos boa actuação internacional. Faltou-lhe sobretudo, conjugação com os parceiros." Ou seja nada de muito a destoar perante o desacerto geral.

Fora de campo, Félix terá no entanto estado ainda envolvido em situações de menor empenho durante o estágio que lhe custaram um processo disciplinar. Multado pela selecção e na sequência também penalizado pelo Benfica, Félix não aceitou bem esses castigos.

Pouco depois viriam mais factos graves. Fatalmente graves.

No dia 18 de Outubro de 1953, aquando da terceira jornada do campeonato nacional de 1953/54, o Benfica foi a Setúbal jogar contra o Vitória no antigo Campo dos Arcos. Félix entrou emocionalmente desfeito nesse jogo de Setúbal. E correu mal. Correu muito mal. Derrota por 5-3:

Campeonato Nacional ; V. Setúbal 5 X 3 SL Benfica
18 Out 1953
Equipa inicial: José Bastos, Ângelo Martins, Félix Antunes, Artur Santos, Joaquim Fernandes, Fialho, Rogério Pipi, Francisco Moreira, Fernando Caiado, José Águas, Arsénio
Treinador: Ribeiro dos Reis
Golos: Rogério Pipi, Fernando Caiado, José Águas
Fonte: http://serbenfiquista.com/jogo/v-set%C3%BAbal-5-x-3-sl-benfica (http://serbenfiquista.com/jogo/v-set%C3%BAbal-5-x-3-sl-benfica)

Foi o seu ultimo jogo de águia ao peito.

(http://fotos.sapo.pt/htBcauiHY8GnPZBjR9fI/500x500)
Uma das últimas equipas que Félix integrou. Bastos, Artur, Francisco Moreira, Félix, Fernandes, Angelo; Rosário, Arsénio, Águas, Vieira, Rogério. Fonte: http://equipasfutebol.blogs.sapo.pt/tag/benfica (http://equipasfutebol.blogs.sapo.pt/tag/benfica)

Ecos desse jogo:

(http://i60.tinypic.com/mljv41.png)
Fonte: Tavares da Silva, DL 19/10/1953.

Curiosamente o jornalista dá enfoque à linha media do Benfica e nem por uma vez refere o nome de Félix. Mas, apesar dessa tempestade no campo, o desastre maior dar-se-ia nos balneários.

Revoltado pelos dia anteriores e com a derrota ainda quente, escudado no seu estatuto de (aparentemente) intocável, Félix cometeu actos que lhe custaram a carreira. Actos que mancharam para sempre a sua vida como homem e atleta. Terá num gesto de raiva atirado com a camisola da águia ao chão, te-la-á pisado e depois atirado com as botas ao ar.

Implacável, o grande presidente Joaquim Ferreira Bogalho que estava presente no local actuou rapidamente. E pode-se dizer que esteve à altura da história do Benfica. O clube acima de qualquer homem. Implacável, Bogalho ali mesmo determinou que Félix não jogaria mais de águia ao peito. E assim foi. Foi o fim. Félix efectivamente não jogaria mais pelo Glorioso. Perderia alias a hipótese de ainda vir a jogar no Estádio da Luz que estava a pouco mais de um ano de vir a ser inaugurado.

Como explicar esta atitude de um homem com 10 anos de Benfica? De um capitão de equipa? De um homem tão experimentado? Em minha opinião foi uma infeliz conjugação de circunstâncias.

(http://i58.tinypic.com/29zc6qf.png)
Fonte: DL, 19/10/1953. A única imagem que tenho do célebre jogo em Setúbal. O grande José Águas eleva-se no ar tentando bater o guarda-redes do Vitória de Setúbal.

Apareceram depois ecos desta situação na imprensa:

(http://i62.tinypic.com/2rcscp5.png)
Fonte: DL, 21/10/1953

E um comunicado da Direcção, esclarecia oficialmente a situação, suspendendo o jogador por tempo indeterminado:

(http://i61.tinypic.com/2ilh9h4.png)
Fonte: DL, 22/10/1953


Impedido de voltar a jogar num grande, não sendo frequente a transferência para o estrangeiro, Félix ainda viria a tentar jogar pelo Torreense. Mas num novo golpe cruel cedo sofreu uma grave lesão que ditou logo ali uma triste e imerecida despedida precoce dos campos de futebol. Não mais se veria Félix num campo de futebol.

Perdeu o Benfica e perdeu o homem. Não sei depois qual foi o seu trajecto de vida mas de facto a partir daí as notícias deixaram de falar deste jogador.

A página inicial deste jogador neste forum é excelente. Merece ser lida:
http://serbenfiquista.com/forum/imortais/felix-antunes-o-pantufas/ (http://serbenfiquista.com/forum/imortais/felix-antunes-o-pantufas/)

A memória deste jogador nunca poderá ficar esquecida daquela atitude grave e irreflectida. Todos os Benfiquistas com algum conhecimento da história do clube terão sempre um nó na garganta acerca deste capítulo final da carreira de um jogador de excepção. Félix era um jogador impressionante e cheio de qualidade. Ainda assim acabou para o futebol aos 31 anos de idade. É assim, o futebol. Será sempre assim o futebol. Por mais alto que se chegue há sempre hipótese de se cair e desaparecer por completo. Mas ainda assim a história tem algum poder de redenção. Lembrar é homenagear. Não se trata de limpar os factos mas antes tentar ser justo nessa memória. Esforço aliás que a memória de Félix merece. Foi um dos nossos, foi um dos melhores e por isso deve ser sempre lembrado. O clube estará sempre acima de qualquer homem mas os homens particularmente os de excepção devem ser sempre lembrados. De forma justa.

Obrigado Campeão. Descansa em Paz.
(http://4.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/TBVSIlTGznI/AAAAAAAAEvo/lFaOe8j8BOk/s1600/FA003.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Maio de 2015, 21:40
-51-
Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras.


24 de Abril de 1930. No seu atelier, Francisco esculpia a cabeça de uma estátua monumental. Em cima podia ver-se o busto feminino oficial da República portuguesa e ao lado a estátua de Prometeu que está hoje no Jardim Constantino. Todas obras destinadas a perdurar na memória colectiva deste país.

(http://i59.tinypic.com/15s0jya.jpg)
Fonte: TT.

Dava talvez alguns retoques decisivos. Mas, apesar da evolução do projecto Francisco já não viveria o suficiente para ver a sua inauguração.

(http://i58.tinypic.com/hsvty8.jpg)
Fonte: TT.

Dois meses mais tarde, a 27 de Junho de 1930, Francisco dos Santos morria. Com apenas 52 anos de idade morria vítima de uma congestão cerebral.

(http://i59.tinypic.com/16itdas.jpg)
Fonte: Século Ilustrado


Outros tratariam de a concluir.

(http://i58.tinypic.com/2nl696r.jpg)
Fonte: TT.

Finalmente a 13 de Maio de 1934, oito anos depois de iniciadas as obras (dezassete depois de lançada a primeira pedra e vinte e um depois da conquista do concurso...) era inaugurado o monumento a Sebastião José de Carvalho e Melo. E assim numa rápida cronologia visual

1913, divulgação do projecto vencedor.
(http://lh3.googleusercontent.com/-KZcy-BrzAGw/VGheV2NhmAI/AAAAAAABZXw/N7n6sle3nFo/s1600/Esttua-Marqus-de-Pombal.5.jpg)

Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014/11/monumento-ao-marques-de-pombal.html (http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014/11/monumento-ao-marques-de-pombal.html)


1917, lançamento da primeira pedra com presença do presidente da Republica Dr. Bernardino Machado.
(http://lh3.googleusercontent.com/-uJegSY6pfAk/VGheh8jVzBI/AAAAAAABZZg/Nozn42aQVSw/s1600/Primeira-pedra.3.jpg)

Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014/11/monumento-ao-marques-de-pombal.html (http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014/11/monumento-ao-marques-de-pombal.html)


1926, início das obras.
(http://2.bp.blogspot.com/-MkXSHUkCOh8/U9VJWEGLihI/AAAAAAAAoyc/8KL4-gYLco4/s1600/13+de+Maio+de+1926.jpg)
Podem distinguir-se os autores do projecto: Adães Bermudes (4º a contar da esquerda), António do Couto (11º) e Francisco dos Santos (12º).
Fonte: http://manuel-bernardinomachado.blogspot.pt/2014_07_01_archive.html (http://manuel-bernardinomachado.blogspot.pt/2014_07_01_archive.html)


1934, inauguração
(http://2.bp.blogspot.com/-lZuHqqncxQk/U9VCFQaLJ8I/AAAAAAAAoxI/HCKSaT2DsAc/s1600/Inaugura%C3%A7%C3%A3o+a.JPG)
13 de Maio de 1934, inauguração do monumento com a presença do presidente da Republica General Óscar Carmona.
Fonte: http://manuel-bernardinomachado.blogspot.pt/2014_07_01_archive.html (http://manuel-bernardinomachado.blogspot.pt/2014_07_01_archive.html)

Quem poderia imaginar que esse talentoso escultor, futebolista pioneiro do Sport Lisboa depois levado para o SCP, viria a esculpir o leão mais celebrado pelos Benfiquistas? Nota curiosa, os outros autores do projecto foram... os arquitetos António do Couto e Adães Bermudes (irmão de Félix Bermudes). Todos de alguma forma ligados ao Benfica.


Mas voltando a Francisco... Nascido em 1878, na localidade de Paiões, Rio de Mouro, Sintra, ficou ficou órfão de pai aos dois anos de idade. Por isso deu entrada na Casa Pia, onde fez os seus estudos e se fez homem. Cedo revelou grande talento para o desenho e para a escultura. Ao mesmo tempo esteve presente no momento chave em que dois dos seus colegas, Bruno do Carmo e Januário Barreto (primeiro presidente eleito do Benfica) sob o patrocínio do provedor introduziram o futebol na Casa Pia. E também aí Francisco dos Santos revelou grande talento. Tornou-se um membro ilustre das célebres equipas da Casa Pia de 1893 e 1894 que ousaram vencer os Ingleses do Carcavellos e que forneceram alguns dos mais notáveis jogadores para as primeiras equipas do nosso clube. Aliás a Casa Pia seria um viveiro incontornável nas duas primeiras décadas do Benfica.

(http://1.bp.blogspot.com/-rV27lQpGUvE/U-PpBNBpjVI/AAAAAAAAPxk/i-4KOHRpbSc/s1600/26+-+10+-+2013.jpg)
Rodeado de outras grandes figuras Casapianas, Francisco é o jogador mais à direita.

E de facto, Francisco não foi apenas um escultor excepcional mas também um futebolista de talento. Essa mistura levou-a a uma circunstância feliz e de todo improvável. Francisco teve a visão de enriquecer a sua formação artística fora do país. Assim por volta de 1903 partiu para estudar em Paris e depois em Roma. E foi enquanto estudava na cidade eterna que por um acaso da história, teve a oportunidade de treinar e jogar na Lazio de Roma. Tornou-se o primeiro Português a jogar num clube estrangeiro. Pioneiro entre pioneiros. Só seis anos mais tarde Luís Viera se tornaria o segundo Português a jogar num clube estrangeiro.

(https://ssl1900.files.wordpress.com/2011/10/st1902-tre.png?w=700)
Lazio, 1907

Dele disseram os Italianos:
"Dos Santos é um jovem português (...) que está em Roma para se tornar escultor. O seu físico é anti-atlético por excelência, pois é pequeno, assimétrico, dir-se-ia um homem disfarçado de cacto, com aquele tufo de bigodes, sobrancelhas e cabelos fartos e pretos que sublinham, circunscrevem e emolduram o rosto (...) Pequeno, divertido, aparentemente mais frágil que o pedúnculo de cristal, este estudante português revelou e impôs uma vitalidade espantosa. Salta mais alto do que todos, é o primeiro a correr, o último a mostrar-se cansado e a render-se, é rápido, resistente, em suma, é um fenómeno através do qual, mais uma vez, a natureza parece querer dizer que nunca nos devemos fiar nas aparências". [Mario Penacchia, em "Storia della Lazio"]
Fonte: artigo "Francisco, o ''bisavô'' de Couto e Conceição" de César de Oliveira in Record, 12 agosto de 2003


Terá sido durante um curto regresso (talvez entre Paris e Roma) que entre 1904 e 1906 Francisco teve oportunidade de jogar com a gloriosa camisola encarnada do Sport Lisboa. Com os seus amigos casapianos e na na ressaca da Associação do Bem, viveriam os tempos das Salésias. Lá estiveram António Couto (arquiteto), Emílio de Carvalho (cinzelador), Silvestre da Silva (professor), Pedro Guedes (professor), David da Fonseca (?). As participações de Francisco foram muito escassas e talvez por isso se explica não conhecermos nenhum registo fotográfico seu com o manto sagrado. Quem sabe se um dia não irá aparecer... É uma das fotografias desse período que eu mais gostaria de ver.


Para aqueles que quiserem saber mais duas excelentes fontes:

http://jogos.centenariorepublica.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=69:do-futebolista-da-lazio-o-busto-da-republica-e-a-estatua-do-marques&catid=1&Itemid=8 (http://jogos.centenariorepublica.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=69:do-futebolista-da-lazio-o-busto-da-republica-e-a-estatua-do-marques&catid=1&Itemid=8)

e

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/08/francisco-luiz-e-rogerio.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/08/francisco-luiz-e-rogerio.html)


Um escultor de excepção, um futebolista sem fronteiras e bem, uma figura incontornável quando pensamos no estágio último da perfeição.

A evolução última do Marquês:
(http://8.fotos.web.sapo.io/i/ue4161d9f/16857815_4mJQ5.jpeg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: M1904 em 19 de Maio de 2015, 11:17
Sobre o Pantufas, lembro-me quando era pequeno o meu avô contar muitas vezes essa história, segundo a sua versão, o Pantufas limpou a camisola no rabo e mandou ao chão  :bah2:

Mais uma vez, os parabéns pelos textos!  :slb2:


PS- Já agora outra história que o meu avô conta, no Famoso 12-2 ao fcp, no estádio do Campo Grande (vulgo "ilha da madeira" ou "estancia"), o meu avô (jovem na altura) ia com o seu pai apanhar o autocarro para o jogo, quando passaram por um cinema em que estava em exibição um filme sobre boxe ou mesmo um combate, e o meu bisavô preferiu ver o filme pois era aficionado de boxe, em vez do jogo, pois na altura o fcp não era grande coisa... ainda hoje o meu avô tem essa mágoa por ter perdido esse jogo histórico.  :buck2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Maio de 2015, 21:22
Citação de: M1904 em 19 de Maio de 2015, 11:17
Sobre o Pantufas, lembro-me quando era pequeno o meu avô contar muitas vezes essa história, segundo a sua versão, o Pantufas limpou a camisola no rabo e mandou ao chão  :bah2:

Mais uma vez, os parabéns pelos textos!  :slb2:


PS- Já agora outra história que o meu avô conta, no Famoso 12-2 ao fcp, no estádio do Campo Grande (vulgo "ilha da madeira" ou "estancia"), o meu avô (jovem na altura) ia com o seu pai apanhar o autocarro para o jogo, quando passaram por um cinema em que estava em exibição um filme sobre boxe ou mesmo um combate, e o meu bisavô preferiu ver o filme pois era aficionado de boxe, em vez do jogo, pois na altura o fcp não era grande coisa... ainda hoje o meu avô tem essa mágoa por ter perdido esse jogo histórico.  :buck2:

Obrigado M1904. Estimo muito essas as tuas palavras pois são de um Benfiquista conhecedor.

Que preciosidade ter um avô! Que preciosidade ainda maior ele contar histórias desse tempo. Realmente foi pena ter perdido esse jogo histórico. Mas certamente o teu avô deve ter outras memórias desses tempos. Se quiseres partilhar este espaço é mesmo para isso. Talvez arranjemos fotografias para ilustrar esses momentos.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Maio de 2015, 06:41
-52-
Uma escala africana, um desafio histórico.

Hoje vamos decifrar algo especial.

Mas para isso vamos abrir uma excepção. Vamos decifrar não uma fotografia mas sim um recorte de jornal. Isso porque infelizmente não deverá existir um registo fotográfico do que vamos falar. Mas a relevância histórica justifica a excepção.

Vamos olhar para uma notícia da "Folha de São Vicente" no jornal "O Futuro de Cabo Verde".

A notícia faz-nos viajar para a ilha de São Vicente, uma das dez do arquipélago de Cabo Verde. Leva-nos até à bela cidade do Mindelo e até ao vasto campo da Salina. E faz-nos recuar até ao dia 8 de Agosto de 1913.

(http://i61.tinypic.com/nzlk5v.png)

Nesse dia e nesse local, decorreu um:


(http://i57.tinypic.com/2w3yl34.jpg)
"Folha de S. Vicente" no jornal "O Futuro de Cabo Verde" n.º 17-21.Agosto.1913. pág.3. Fonte: Joaquim Saial


A divulgação desta notícia foi feita pelo Sr. Joaquim Saial, autor do excelente blogue Praia de Bote: http://mindelosempre.blogspot.pt/2011/09/0103-primeira-vitoria-do-benfica-no.html (http://mindelosempre.blogspot.pt/2011/09/0103-primeira-vitoria-do-benfica-no.html).  O blogue é uma janela para o mundo que nos fala da história, das tradições mas também da actualidade de Cabo Verde e em particular da bela cidade do Mindelo. Merece ser visitado. Ao Sr. Joaquim Saial deixo um forte agradecimento pela disponibilização deste recorte.

E manda ainda a justiça que se mencione que a notícia foi igualmente divulgada na página 309 do livro "A imprensa Cabo-Verdiana 1820-1975" de João Nobre de Oliveira.


Então o Benfica jogou em Cabo Verde em 1913!?

Bem... Sim e não. Vejamos o que realmente está por trás deste recorte.

Se olharmos para os detalhes veremos que a situação é um pouco mais complexa mas não menos extraordinária.

Já aqui falamos da Missão Sportiva e Cultural Portugueza no Brasil, ou seja da digressão de uma selecção de jogadores da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) ao Rio de Janeiro e a São Paulo. A 26 de Junho de 1913, comitiva Portuguesa embarcou no cais de Lisboa no paquete Drina e chegou ao Rio de Janeiro no dia 10 de Julho.


(http://i57.tinypic.com/28cq4uq.png)
10 de Julho 1913, chegada da comitiva Portuguesa ao Rio de Janeiro.
De pé, da esquerda para a direita, reconhecem-se: Alberto Lima, João Bentes, ?, António Stromp, Cândido Rosa Rodrigues, Mário Duarte, ?, Francisco Stromp, ?, Eduardo Luís Pinto Basto, Amadeu Cruz, José Domingos Fernandes, Álvaro Gaspar, Henrique Costa, ?, Carlos Homem de Figueiredo, Cosme Damião, Artur José Pereira, Duarte Rodrigues. Em baixo, Boaventura Belo, Carlos Sobral e Luís Vieira.

Depois de um intenso programa desportivo e social, fizeram-se as despedidas e a maior parte da comitiva regressou a Lisboa no paquete Orina. Partiram do Rio de Janeiro no dia 31 de Julho e chegaram a Lisboa no dia 12 de Agosto de 1913.

E assim se percebe que no dia 8 de Agosto, esta gloriosa selecção aproveitou uma escala na ilha de São Vicente, para desafiar por radiograma os ingleses da Western Telegraph destacados em São Vicente, para disputarem um jogo de futebol.


(http://i59.tinypic.com/35lbzt4.png)
Três aspectos das instalações da Western Telegraph no Mindelo. Princípio do Séc. XX.
   
Também em Lisboa, os ingleses do Carcavellos SC (Cabo Submarino) eram os mais destacados praticantes de futebol. Até 1910 eram quase invencíveis e por isso este desafio Africano faz todo o sentido.

Desconheço o dinamismo desportivo e futebolístico da época em Cabo Verde embora tenha ideia de já ter visto notícias. E aliás, a imagem disponível do Campo da Salina parece denotar um espaço vasto e bem definido, perfeitamente adequado para partidas de futebol daquele tempo.

(http://i58.tinypic.com/15xjnye.png)
Campo da Salina. Fonte: Joaquim Saial


E assim no vasto Campo da Salina, onze bravos jogadores Portugueses, liderados por Cosme Damião disputaram um jogo de enorme significado histórico. Tornaram-se os primeiros a disputar sucessivamente jogos na América do Sul e em África. Provavelmente os primeiros Portugueses que, como equipa, jogaram em três continentes.  Com esta notícia sabemos agora que Cosme Damião e alguns dos seus pares jogaram em Portugal, Espanha, Brasil e Cabo Verde. Numa época em que ainda não existia Federação Portuguesa de Futebol... Notável!

Assim, pelo menos onze jogadores Portugueses desafiaram e venceram os mestres ingleses da ilha de São Vicente. E se juntarmos fontes até os podemos identificar. E com boa margem de segurança. Se não vejamos: dos dezasseis jogadores que saíram de Lisboa, cinco não regressaram no Orina. Eduardo Luís Pinto Basto (CIF) e Cândido Rosa Rodrigues (SCP) embarcaram numa pequena comitiva em viagem de recreio para a Argentina. Boaventura Belo e Carlos Sobral (ambos do CIF) decidiram ficar mais alguns dias no Rio de Janeiro. E por último, Luís Vieira (SLB), que encantado com o Rio de Janeiro decidiu ficar por lá. Empregou-se numa casa comercial, jogou no Botafogo do Rio de Janeiro e por lá permaneceu durante alguns anos.

Sobram onze, os onze bravos jogadores que com toda a probabilidade defrontaram os ingleses da Western Telegraph. Foram eles:

(http://i61.tinypic.com/119xuzp.png)
A Gloriosa equipa da AFL que jogou no Mindelo no dia 8 de Agosto de 1913.

Ou seja, sete Benfiquistas e quatro Sportinguistas. Não admira que o jornalista tenha escrito que era uma equipa do Sport Lisboa e Benfica...

E para finalizar, não resisto a fazer uma especulação. Na verdade é quase um desejo de que assim tenha acontecido. O primeiro Cabo-verdino que envergou a camisola do nosso clube foi Fortunato Monteiro Levy. Nascido em 21 de Abril de 1888, na Cidade da Praia, ilha de Santiago, Fortunato estreou-se no futebol do nosso clube com apenas 16-17 anos. Foi um dos pioneiros, um dos famosos integrantes da nossa primeira equipa oficial (ver: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html)). Entre 1904 e 1907 destacou-se particularmente tendo sido titular indiscutível exibindo-se como um jogador de grande qualidade ("uma maravilha", nas palavras do grande Artur José Pereira). Em Abril de 1907 regressou a Santiago, para junto da família e dos seus negócios e nunca mais regressou à Metrópole.

Será? Será que Fortunato terá vindo de Santiago a São Vicente para estar com alguns dos seus antigos companheiros? Será que ainda fez o gosto ao pé e participou nesse jogo? Quem sabe se um dia não teremos a resposta definitiva?


(http://i59.tinypic.com/9h6u5u.png)
A equipa que defrontou o Lisbon Football Clube no troféu "Viúva Senna", promovido pelo jornal "Tiro e Sport" em 1906.  Fortunato Levy é o primeiro jogador de pé, à direita. Ao seu lado está Cosme Damião.
Será que se voltaram a encontrar em Cabo Verde? Será que voltaram a jogar juntos?


____________________________________________________________________
A primeira digressão do Benfica a África decorreu entre Junho e Setembro de 1950. Passou por Moçambique, África do Sul, Angola e pasme-se o Congo Belga. Na bagagem 11 vitórias, 1 empate e 4 derrotas, 58 golos marcados e 24 sofridos. Muito desgaste (que se pagaria mais tarde com um fraco campeonato) mas também uma contratação fabulosa: José Águas! Maravilhoso filão Africano! Seria no entanto preciso esperar pelo ano de 2008 para que o Benfica visitasse Cabo Verde pela primeira vez, neste caso a Ilha do Sal. Jogo contra uma Selecção de jogadores do Sal e de S. Vicente. Vitória do Benfica por 2-0.
____________________________________________________________________



ps: dei conhecimento deste artigo à AFL. Como disse, considero que este evento tem uma grande relevância histórica para a AFL e para o futebol Português. Esperemos que conforme me disseram procurem envidar esforços para localizar mais documentação que, caso exista, possa complementar o que aqui se descreveu.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Junho de 2015, 23:54
-53-
Dois entre doze.

Recentemente publicada por Alberto Miguéns. Equipa sénior do Sport Lisboa e Benfica, 1932/33:

(http://1.bp.blogspot.com/-YP9BPWCrhrY/VW-DD8wWXKI/AAAAAAAAXYU/bwsFMSPMcyw/s640/IMG.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica, http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/06/o-que-e-ser-treinador-do-benfica.html

Não é bonita, não é a cores, não tem boa resolução mas é interessante em alguns detalhes.

Para começar temos aqui o detalhe curioso de termos doze jogadores e... nenhum guarda-redes! É possível que a fotografia esteja truncada mas lá que falta um guarda-redes, lá isso falta.

Se não vejamos, em cima da esquerda para a direita:
Albino (med.), Manuel Oliveira (ava.), Rogério Sousa (ava.), Alberto Cardoso (ava.), António Guedes Gonçalves (ava.), Germano Campos (def.), Vítor Silva (ava.) e João Oliveira (med.).

Em baixo:
Augusto Dinis (ava.), João Correia (def.), Luiz Xavier (ava.) e Emídio Pinho (ava.).

Nessa época Dyson já tinha desertado para o SCP por isso se não estou em erro o dono das nossa balizas já era Augusto Amaro. "Ó Amaro onde é que estás?"

É certo que alguns destes jogadores terão jogado em mais do que uma posição mas nenhum que eu saiba foi guarda-redes. Um pequeno mistério interessante.

Interessante também Guedes Gonçalves e o seu sobretudo. Estaria doente?

Depois, outro detalhe. Reparem nas botas com que eles jogavam. Era o tempo das travessas. O tempo dos campos pelados, muitas vezes enlameados. Dos "balneários" rudimentares. Do equipamento que pesava principalmente depois de uma chuvada. Das bolas pesadas que como dizia Julinho magoavam os que ousavam dar cabeçadas. Dos cuidados médicos rudimentares. Era o tempo dos heróis da bola. Do amor à camisola.

Estão na fotografia alguns jogadores com um interessante trajecto Benfiquista. Para além dos que atrás se refere. Os irmãos Oliveira "bananeira" de quem eu desconheço quase tudo mas que tiveram actividade longa e frutuosa no nosso clube. Rogério de Sousa, um internacional A de quem pouco se fala. Luís Xavier, recentemente vindo do Vitória de Setúbal e de quem espero falar num futuro próximo. De Germano Campos, Alberto Miguéns falou recentemente com o vasto conhecimento que se lhe reconhece.  Dos outros pouco sei.

Assim não podendo (e não sabendo...) falar de todos, escolhi dois:

(http://i62.tinypic.com/9fwap2.png)
Duas figuras míticas, dois gigantes do nosso clube.

Albino: http://serbenfiquista.com/forum/imortais/albino/ (http://serbenfiquista.com/forum/imortais/albino/)

Vítor Silva: http://serbenfiquista.com/forum/imortais/vitor-silva/ (http://serbenfiquista.com/forum/imortais/vitor-silva/)


Albino, o tempero

Temos aqui uma das mais antigas senão a mais antiga imagem de Francisco Alves Albino. Tão novinho... Alto, esguio, seco de carnes e de rija têmpera. Um Beirão, vindo de Tortosendo, vila do concelho da Covilhã para o Benfica justamente nesse ano de 1932/1933. Nascido em 2 de Novembro de 1912, Albino iniciou a sua vida desportiva no Sport Tortosendo e Benfica. O Sport Tortosendo e Benfica, 4ª filial do Sport Lisboa e Benfica foi fundado em 1922. Foi portanto fundado quando Albino tinha 10 anos de idade. Ou seja o jovem Albino viu nascer o clube. E a ele aderiu e por lá começou a dar os pontapés na bola. Era pois já desde essa altura e de forma inerente, um Benfiquista de alma e coração.

Albino estreou-se na primeira categoria do Benfica com 20 anos. É essa a idade com que está na fotografia. Segundo fontes de Tortosendo, Albino veio para Lisboa cerca de três anos antes, com apenas 17 anos. Segundo o jornal Record terá sido logo aos 15 anos. O que é certo é que a sua estreia na equipa principal ocorreu nesse ano de 1932. Que nesse tempo era difícil chegar ao pé dos campeões. Albino era um campeão, teve de lutar e assumir a dedicação e por isso a sua hora chegou.

Mais informação, aqui:

http://www-tortosendo.blogspot.pt/2013/11/benfica-o-tortosendense-francisco-alves.html

e aqui:

http://www.record.xl.pt/Futebol/Nacional/1a_liga/Benfica/interior.aspx?content_id=171049

Albino honrou-nos de águia ao peito durante 13 épocas até 1944/1945. Da sua terra Natal trouxe o seu talento, a sua abnegação, humildade e garra. Trouxe também como Alberto Miguéns nos explicou a sua implacável aversão desportiva ao Sporting. Os dérbis que disputou contra o Sporting da Covilhã não lhe podiam deixar outro sentimento.

(http://i61.tinypic.com/5k0iu9.png)
O grande Albino. Celebrado Campeão. "Arrabenta lagartos".

Ganhou assim a fama de "arrebenta lagartos" que dos andrades trataria o Chico Ferreira alguns anos depois! Albino é uma figura mítica, um jogador que todos os Benfiquistas deviam conhecer e recordar.

Depois de 13 épocas gloriosas teve a sua merecida festa de despedida já no Estádio do Campo Grande.

(http://1.bp.blogspot.com/-W-5p-vNO1iY/ULUYc3chAhI/AAAAAAAAF5k/0TnJMfx7r20/s1600/FA002.jpg)
Campo Grande, 13-05-1945. Festa de despedida de Albino. Nesse dia o SCP venceria por 3-1...
Fonte: Vedeta ou Marreta

Nesse dia de 13 de Maio de 1945, 5 dias após o final da II Guerra Mundial na Europa, Albino foi homenageado num jogo contra o seu adversário de estimação, o Sporting Clube de Portugal. E enfim, dessa vez ganhariam os lagartos.

Mas era tempo de festa. Melhor, era tempo de um misto de festa e tristeza. Nesse dia e com todo o merecimento, Albino teve direito uma sentida e calorosa festa de despedida com discursos de homenagem de três outros gigantes do nosso clube: Félix Bermudes (por sinal presidente do clube nessa época), Ribeiro dos Reis e Ferreira Bogalho.

E como os Benfiquistas têm memória, conforme lembrado recentemente pelo facebook do Museu Cosme Damião, Albino seria homenageado uma vez mais em 30 de Dezembro de 1973. Tinha nessa data 61 anos de idade mas mantinha uma grande vitalidade. Foi homenageado no Pavilhão do Estádio da Luz no iniciativa do jornal O Benfica. Do programa da festa fizeram parte um jogo de andebol feminino e três partidas de futebol (iniciados, seniores e veteranos). Na vitória do Sport Lisboa e Saudade sobre os veteranos do Vitória de Setúbal, por 5-2, Albino foi autor de um dos golos. Note-se por motivos que falarei um dia destes, esta escolha do Vitória de Setúbal faz todo o sentido para a época em que jogou Albino.

Aqui estão dois excelentes textos acerca do enorme Albino:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/03/arrabenta-com-eles-albino-parte-i.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/03/arrabenta-com-eles-albino-parte-i.html)

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/03/arrabenta-com-eles-albino-parte-ii.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/03/arrabenta-com-eles-albino-parte-ii.html)



Vítor Silva, o Cabecinha de Ouro

Depois está também Vítor Silva com a sua boina. A tal que pode ser vista no museu.

(http://i59.tinypic.com/x6a8p5.png)
Boina de Vitor Silva, exposta no Museu Cosme Damião.

Vítor Marcolino da Silva é pelos relatos da época um dos melhores avançados de sempre do futebol Português. Sem espinhas. Mestre Cândido de Oliveira foi peremptório acerca disso: "Vitor Silva foi a mais prodigiosa intuição para o futebol que jamais conheci". Reparem na sua altura... Não impressiona por isso pois não? Bem, o que é certo é que ficou conhecido por "cabecinha de oiro". A sua intuição e impulsão explicavam a alcunha.

Pelo ar

(http://1.bp.blogspot.com/-zzvE7_XkgRo/TmUdkCjnCLI/AAAAAAAAAIM/HwledKypvi4/s1600/Nega_Ferreira_168.jpg)
Benfica - Carcavelinhos. Vítor Silva e Carlos Alves, o primeiro luvas pretas.

ou pelo chão, nada o parava:

(http://1.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/TTjArE6vU8I/AAAAAAAAFUI/eebfZyAF-sE/s1600/VS003.jpg)

A sua qualidade ficou aliás salientada em 1931 aquando da vinda da poderosa equipa do Vasco da Gama a Portugal. Os Brasileiros esmagaram mas Vítor Silva brilhou e ficou patente que a sua classe em nada ficava atrás dos Brasileiros. Um fora de série.

É pena que ainda não existam novidades sobre a sobrevivência de um filme sobre essa deslocação dos Brasileiros a Portugal. Nesse filme estarão imagens em movimento de Vítor Silva e seus companheiros, jogando de águia ao peito. Serão as únicas. Como gostaria de o ver. Mas temo o pior... Ainda assim parecem existir gravações em filme de Vítor Silva enquanto jogador da Selecção Portuguesa.

Vítor Silva, jogou nove épocas, mais de 20 mil minutos de águia ao peito. Marcou uma mudança de paradigma no nosso clube depois da era de Cosme Damião. Foi a primeira contratação da nossa história! Contratação cara (15 contos de reis) mas que valeu todos os tostões pagos. Tivesse Cosme Damião continuado ao leme do nosso clube após as eleições de 1926, provavelmente Vítor Silva nunca teria jogado de águia ao peito. Ironias da história...

Carregava a equipa num tempo onde geralmente não abundava a qualidade. Fez parte da selecção olímpica de Portugal de 1928. Talvez a melhor selecção do futebol Português até à década de 40. Estreou-se bem novo, logo aos 18 anos mas foi forçado a abandonar a carreira com apenas 27 anos. Não havia alternativa. Vítor Silva fazia um jogo e tinha de ficar muitos dias a recuperar pois o seu joelho inchava para além do que era razoável. Diagnóstico: joelho de água. Lesão do menisco. Naquele tempo uma simples operação ao menisco era algo fora das possibilidades da medicina desportiva! Reparem na fotografia, reparem no joelho esquerdo de Vítor Silva... Que desperdício.

E reparem nesta já da época seguinte:
(http://1.bp.blogspot.com/-_ariN68PP4o/U6oVF1Ssz4I/AAAAAAAAO38/T24IxMc97FQ/s1600/054_001.jpg)
Sport Lisboa e Benfica, 1933/1934,
De pé, esquerda para a direita: Júlio Silva, João Correia, Gustavo Teixeira, Augusto Amaro, João Oliveira, Pedro Silva. Agachados: Domingos Lopes, Luís Xavier, Vítor Silva, Carlos Torres, Eugénio Salvador.
Note-se as travessas nas botas de Luís Xavier. Note-se o joelho esquerdo de Vítor Silva. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Vítor Silva foi um mito. É um mito. As décadas passam mas dele se deve ter sempre a imagem de um grande jogador, de um grande Benfiquista. Um fora de série. Dele se dizia no Diário de Lisboa:
"O segredo da popularidade de Vítor deve-se, além da sua natural simpatia à sua maneira de jogar, malabarista, viva, de artista de circo. Era um gato a brincar com uma bolinha... O público deixava-se encantar pelas suas jogadas e elas outro intuito não tinham do que encanta-lo!... Vítor teve jogadas que ficam para sempre. Os seus "goals", de cabeça, em vôo, quando a bola parecia já ter fugido, electrizavam o público, admirador ou não."

(http://2.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/TTjB6BJhMqI/AAAAAAAAFUg/XTUKusWIhzk/s1600/VS009.jpg)
Fonte: Vedeta ou Marreta

Nesse dia Vítor silva insistiu que fosse o seu pequeno filho a dar o pontapé de saída. Terá sonhado que um dia ele chegasse à primeira equipa do seu querido Benfica? Tanto quanto sei seria preciso esperar pela família Águas. Mas em todo o caso ficou a ternura do momento. Equipado a rigor

(http://i60.tinypic.com/dvhx5l.jpg)




Alguns outros interessantes detalhes sobre a carreira desportiva de Vítor Silva:
http://vedetaoumarreta.blogspot.pt/2010/12/n203-vitor-silva.html (http://vedetaoumarreta.blogspot.pt/2010/12/n203-vitor-silva.html)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Junho de 2015, 00:39
-54-
Dois sadinos, duas Saudades.

Vamos hoje partir de uma fotografia retratando uma equipa do Vitória Futebol Clube de regresso de uma curiosa digressão internacional na década de 20.

O Vitória Futebol Clube, clube geralmente conhecido por Vitória de Setúbal foi fundado em 20 de Novembro de 1910 estando entre os seus fundadores Jorge Augusto Sousa, um fundador do Sport Lisboa (ver capítulo -23- Um nome ilustre nos primórdios do futebol sadino.) As ligações são assim muito antigas. Esta fotografia marca um outro capítulo, cerca de duas décadas depois, dessas relações.

A fotografia está datada de 1927-08-17, e tem a seguinte legenda: "Os componentes dos Onze de honra do Vitória Futebol Clube, regressados a Lisboa, tendo realizado nas Canárias uma série de encontros".

A fotografia retrata assim a chegada da comitiva sadina composta pelo menos por 20 integrantes. Entre os jogadores podemos reconhecer dois que depois ingressariam – em tempos distintos - no Sport Lisboa e Benfica:  Aníbal José e Luís Xavier.


(http://i60.tinypic.com/xarz8k.png)
Fonte: Digitarq


Relativamente à digressão sadina para já não encontrei muita informação disponível. Não é fácil. Mas ainda assim sei que os sadinos jogaram entre outros com o Marino Fútbol Club da Gran Canaria fundado em 1905 e extinto em 1949. Terão feito mais jogos mas a informação parece não estar acessível.


Aníbal José

(http://i59.tinypic.com/149poc0.png)
Fonte: http://viiiexercito.com/

http://serbenfiquista.com/jogador/anibal-jos%C3%A9 (http://serbenfiquista.com/jogador/anibal-jos%C3%A9)

Jogador poderoso, jogador de raça e de qualidade, atributos que lhe valeram chegar a internacional A. Foi um centro-campista que jogava na zona central, lugar antes como agora de grande importância para a transição ofensiva e para o apoio aos centrais. Não sei ao certo quantos jogos internacionais fez mas sei que fez várias viagens ao exterior e que há registo fotográfico disso num tempo em que o Benfica tinha não mais de 3-4 jogadores e ser chamados regularmente à Selecção: António Pinho, Vítor Silva, Jorge Tavares e Aníbal José. Já iam longe os tempos do Tamanqueiro, outra grande figura.

No Benfica, Aníbal José estreou-se no dia 11 de Novembro 1928 num jogo contra o Carcavelinhos que terminou empatado 0-0. Fonte: http://serbenfiquista.com/jogo/carcavelinhos-0-x-0-sl-benfica-1 (http://serbenfiquista.com/jogo/carcavelinhos-0-x-0-sl-benfica-1).

(http://4.bp.blogspot.com/-2rod_DBXjBY/TbIIaJJulpI/AAAAAAAAAMg/XPFNnIRRVTw/s1600/CP+1930-31.jpg)
Em cima: Ralph Bailão, Artur Dyson e Luís Costa. No meio: João Correia, Aníbal José e Pedro Ferreira. Em baixo: Augusto Dinis, Emiliano Sampaio, Vítor Silva, João Oliveira e Manuel Oliveira. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Há várias histórias relatando o seu voluntarismo. Por exemplo, num jogo no campo do Porto, é ainda hoje acusado de ter carregado o portista Norman Hall ao ponto de este ter ficado KO. Isto eventualmente a pedido de Vítor Silva... Eram tempos em que se dava e levava. Estou certo que Aníbal deveria levar também muitas "medalhas" para casa. Depois há o episódio contra o Vasco da Gama, em 1931 em que andou pegado com um Brasileiro.

(http://i58.tinypic.com/esluzn.png)
Aníbal José disputando um lance com um homem do Vasco da Gama.


Aníbal José deixaria o Benfica pouco depois, no final da época de 1931/1932 tendo o seu último jogo sido disputado em 29 de Maio de 1932 contra o Luso FC. Empate a duas bolas.


Luís Xavier

(http://i62.tinypic.com/2s9554w.png)
Fonte: http://viiiexercito.com/

http://serbenfiquista.com/jogador/lu%C3%ADs-xavier (http://serbenfiquista.com/jogador/lu%C3%ADs-xavier)

Depois temos Luís Xavier Júnior. Chegou de Setúbal em 1931 e deixou o Benfica em 1939. Um avançado vivo e que teve fases goleadoras. Jogou no Glorioso por oito épocas fazendo mais de 200 jogos pelo Benfica Nas fotografias de equipa percebe-se que devia ter uma personalidade viva, alegre, contagiante.

(http://1.bp.blogspot.com/-CszWusMyKVo/U44vkNorjYI/AAAAAAAAOdM/ycz-wK0dfIU/s1600/CP+1934-35.jpg)
Em cima: Francisco Gatinho Augusto Amaro e Gustavo Teixeira (capitão); No meio: Albino, Lucas e Gaspar Pinto; Em baixo: Fernando Cardoso, Luís Xavier, Carlos Torres, Rogério de Sousa e Valadas. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Luís Xavier terá feito um dos seus últimos jogos com a camisola do Vitória de Setúbal no Estádio das Amoreiras não contra o Benfica mas contra o Vasco da Gama. Jogo na quinta-feira, 30 de Julho de 1931 que foi interrompido por causa do nevoeiro. Não seria reiniciado ficando o resultado final em 1-1. Luís Xavier estreou-se na nossa equipa contra o Casa Pia em 16 de Outubro de 1932. Empate 0 - 0 http://serbenfiquista.com/jogo/chelas-f-x-f-sl-benfica (http://serbenfiquista.com/jogo/chelas-f-x-f-sl-benfica)


O clube Sadino precedeu o Barreirense Futebol Clube nas décadas de 60 a 80, como o fornecedor de bons jogadores para o Benfica. O melhor viveiro de jogadores além Tejo que o Benfica teve. Foram muitos e bons. Por exemplo um outro que não está na fotografia - penso estar um irmão dele - , chamado Francisco Rodrigues. Um avançado goleador.

O Vitória Futebol Clube é um grande clube. Teve a sua época áurea nos anos 60 e 70 mas agora luta tenazmente para sobreviver e que com altos e baixos vai sempre formando novos talentos para o futebol Português.

Voltaremos a Setúbal.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Junho de 2015, 18:20
-55-
Dois Casapianos num barco sadino.

E vamos agora a uma outra fotografia em que nos aparece mais uma equipa do Vitória Futebol Clube. Desta vez embarcada de partida para uma digressão ao Brasil.

Entre os jogadores sadinos identificamos Luís Xavier que dois anos depois partiria para as Amoreiras para jogar no Benfica.

Mas curiosamente identificamos também dois grandes Casapianos. Um deles veio depois a ser uma Saudade Benfiquista e o outro... bem já lá vamos.

A fotografia está datada de 17 de Julho de 1929 e legendada como "Partida, para o Brasil, do Vitória Futebol Clube".

(http://i61.tinypic.com/o5yich.png)
Comitiva Sadina de partida para as Canárias. Note-se o detalhe de alguns jogadores/dirigentes estarem acompanhados de mulheres. Fonte: digitarq

Naquele tempo era comum que as equipas Portuguesas que iam jogar ao estrangeiro se reforçassem temporariamente com alguns elementos emprestados por outros clubes. Isto aliás já vinha de muito longe (lembrem-se da rábula de alguns lagartos acharem que a fotografia de 1910 em que em Huelva Cosme Damião envergou a camisola deles era sinal que o que ele queria mesmo era ser lagarto... Que tristeza. Que estupidez. Que ignorância.). Tudo isso tendo como objectivo conseguir vir a representar da melhor forma possível o nosso País no estrangeiro. E assim foi até pelo menos à década de 50.

E assim não é de estranhar que encontremos dois jogadores emprestados pelo Casa Pia Atlético Clube. Um deles viria a ser um defesa internacional A e capitão do Benfica, o outro guarda-redes ra já um inernacional A consagrado e veio a ter uma ligação bem mais fugaz ao Benfica. Mas lá iremos.

Gustavo Teixeira
(http://www.slbenfica.pt/Portals/0/Images/Historia/GUSTAVOTEIXEIRA_final.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/gustavo-teixeira (http://serbenfiquista.com/jogador/gustavo-teixeira)

Grande atleta, grande personalidade. Transmontano, natural de Vila Real, nasceu em 26 de Dezembro de 1908. Foi jogador da Casa Pia, companheiro de António Roquete entre 1925 e 1931.

Chegou às Amoreiras em 1931 com a idade de 23 anos. Em 1934 com apenas 26 anos e com outros companheiros bem mais antigos no clube já era capitão de equipa o que só se explica pela sua personalidade. No Benfica faria um total de 229 jogos, com quatro golos apontados.

Estreou-se no Benfica no dia 13 de Novembro de 1932 num jogo contra o Carcavelinhos. Ganhamos por 4 – 2. Nesse jogo o Sadino Luís Xavier marcou 3 golos. O outro foi marcado por uma figura algo misteriosa que me desperta curiosidade: Octávio Policarpo. Fonte: http://serbenfiquista.com/jogo/sl-benfica-4-x-2-carcavelinhos-1 (http://serbenfiquista.com/jogo/sl-benfica-4-x-2-carcavelinhos-1)

Jogador esquerdino, jogou por isso a defesa esquerdo mas também a central. Jogador de classe que sabia sair a jogar e colocar a bola à distância. Vestiu a camisola das quinas por 10 vezes mesmo num tempo em que a selecção não fazia muitos jogos. E claro, também ali acabou por assumir o estatuto de capitão.

(http://1.bp.blogspot.com/-cj0KNClMTBs/Ue0TVUA34YI/AAAAAAAATcw/v08y4cLmWD8/s1600/0+a+ESP+Port35+a387.jpg)
Gustavo, capitão num Particular entre Portugal e Espanha, Lisboa, 5 de Maio de 1935

(http://i62.tinypic.com/347ifpy.jpg)
Gustavo como capitão da selecção num jogo contra a Alemanha no dia 24 de Abril de 1938.
À porta da II Guerra Mundial.


Em 1938 terminou a sua carreira como capitão do Benfica e da selecção nacional. Tinha um problema no joelho e nota-se que já tinha ganho peso. Era bancário de profissão. Foi fundador do Sport Lisboa e Saudade. Foi ainda Seleccionador Nacional de juniores em 1962/63.

(http://i60.tinypic.com/1550xtc.png)
Gustavo Teixeira, capa "Sporting", Jornal Desportivo de Janeiro de 1938. Apesar do nome este foi o primeiro jornal desportivo bissemanário portuense. Fonte: Arquivo Municipal do Porto.

Gustavo foi um dos grande capitães de sempre do Benfica. Pertence a uma linha de excelência de grandes jogadores do nosso clube e da selecção nacional. Está nessa galeria. Paz à sua alma.



António Roquete

(http://i60.tinypic.com/27ysgw3.png)

Nasceu em 1906. Foi um grande guarda-redes da Casa Pia e da Seleção Nacional entre 1926 e 1933. Foi internacional A por 16 vezes tendo sido o guardião das redes da nossa equipa Olímpica de 1928. Eram só craques e ele era outro. Pepe, Vitor Silva, Tamanqueiro, Carlos Alves, Jorge Vieira, Pinho, etc.

Chegou a ser eleito o melhor guarda-redes de sempre do futebol Português. Foi jogador de um só clube, o Casa Pia Atlético Clube. Não obstante, como aqui vemos fez uma digressão ao Brasil com vestindo a camisola do Vitória Futebol Clube. Mas já um ano antes tinha feito uma outra com o Sporting justamente ao Brasil. Aliás, nota de rodapé esta digressão sportinguista haveria de marcar a história do clube pois pela primeira vez jogaram com aquele equipamento "riscado".

(http://images-02.delcampe-static.net/img_large/auction/000/210/558/058_001.jpg?v=1)

Em 24 de Março de 1929, Portugal e França defrontam-se em Paris no Stade des Colombes. Uma camara acompanha Roquete e assimpodemos ter uma imagem da sua elegância e atenção ao jogo. A França venceria por 2-0.

https://www.youtube.com/watch?v=Xd-YSfCOPY0 (https://www.youtube.com/watch?v=Xd-YSfCOPY0)

(http://i62.tinypic.com/amcuxg.png)
Captura de imagem do filme acima apresentado. Lá está Roquete tendo no seu lado esquerdo o inconfundível Tamanqueiro e Carlos Alves, o avô de João Alves e primeiro luvas pretas e no seu lado direito entre outros o infeliz Pepe. Se virem o filme poderão ainda ver dois Benfiquistas, Vítor Silva e a sua inconfundível boina e o excelente defesa António Pinho.

Mas curiosamente tanto António Fernandes Roquete e Gustavo Teixeira já eram internacionais por Portugal...em natação. De facto em 1926 participaram no I Portugal-Espanha, classificando-se em 3.º lugar nas provas que disputaram. Assim o constatamos neste documento de origem Casapiana: http://www.casapia-ac.pt/Palmares.pdf (http://www.casapia-ac.pt/Palmares.pdf).

E por fim há uma surpresa. António Roquete, jogador de um só clube para além dos jogos com a camisola sadina e a sportinguista acabou por fazer também um jogo pelo... Benfica.

Nem mais. Uma única vez pelo Benfica e em circunstâncias especiais. No Estádio das Amoreiras, no dia 21 de Abril de 1935, a pedido do seleccionador nacional, Cândido de Oliveira Roquete substitui Amaro na baliza do Benfica. Cândido de Oliveira queria testar a forma física de Roquete sabendo que ele não jogava pela selecção desde 1933 e que não jogava por um grande clube. Aproveitou um jogo do Benfica com um adversário austríaco, o Wacker.

(http://i62.tinypic.com/eg8nwg.png)
Fonte: Diário de Lisboa, 21 Abril 1935.

E como se portou Roquete?

(http://i62.tinypic.com/2e3tvuf.png)
Fonte: Diário de Lisboa, 21 Abril 1935.

Roquete fez assim os seus 90 gloriosos minutos de águia ao peito. Glorioso por um jogo. E segundo os jornais fez boa exibição. Mesmo assim não voltaria à baliza nacional. Já eram tempos de Amaro e Azevedo (scp). Ou seja Roquete deixou de jogar pela selecção com 27 anos. Havia já capacidade de escolha. Havia também o que hoje continua a existir: os jogadores de clubes pequenos estão sempre em desfavor para os de clubes grandes.

Terminada a sua carreira desportiva António Fernandes Roquete veio depois entrar para a polícia política PVDE. Este ligado de forma directa a vários casos tenebrosos. Mais tarde tentou afastar-se desse lado negro emigrando para Moçambique onde fez carreira na Polícia. Tentou de forma activa apagar esse lado da sua vida mas não o conseguiu. Depois do 25 de Abril veio a ter alguns problemas. Falecer em Dezembro de 1995. Tinha 89 anos de idade. Foi uma grande figura desportiva e Casapiana e essa sua faceta desportiva deve ser lembrada. As outras facetas da sua vida ficam para a avaliação de cada homem segundo os seus valores e convicções.

(http://images-02.delcampe-static.net/img_large/auction/000/258/041/827_001.jpg)


ps: mais recentemente deparei-me com esta notícia do jornal "A Manhã" datado de 4 de Agosto de 1929

(http://s24.postimg.org/yrwp7gxbp/A_Manha.png)

Daqui se percebem mais alguns detalhes. Foram também na comitiva um outro Benfiquista, o Tamanqueiro Raúl Figueiredo (que apesar do que lá se escreve já tinha retornado ao Olhanense). Carlos Alves, avô de João Alves foi outro. Alves tal como Roquette e Gustavo Teixeira tinha estado no Rio de Janeiro no ano anterior com o... Sporting. Eram outros tempos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 22 de Junho de 2015, 00:06
Obrigado RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Junho de 2015, 00:28
Estes artigos são um gosto que tenho de moderar pois há muitas outras coisas para fazer. Mas são também terapia.

Acabei de ver que em A Bola "diamante" (a que eu não tenho acesso) falam da Taça Lisboa e publicaram uma interessante montagem:

(http://i61.tinypic.com/xlh6it.png)


Esta aqui faz parte do artigo -12- Uma Taça e dois pioneiros (I), publicado em 25 de Outubro de 2014.

(http://i59.tinypic.com/259bj7n.png)

É bom ver que há leitores para além do SB.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Junho de 2015, 20:52
-56-
Revisitando o Campo Grande.

Lembram-se?
 
(http://i61.tinypic.com/29axr1j.png)


Hoje vamos olhar para uma nova fotografia pertencente ao acervo do AML. E é notável, apesar dos danos infligidos pelo tempo e pelo bolor. Dá-nos detalhes que nos revelam um pouco mais do que era o nosso complexo desportivo no Campo Grande. Ora vejam:

(http://i61.tinypic.com/35dajom.jpg)
Fonte: AML


Bonita, não é?

Mais de seis décadas depois e com material gráfico escasso, a esmagadora maioria dos Benfiquistas não tem um conhecimento mínimo sobre o que era o nosso complexo desportivo no Campo Grande. E no entanto, apesar da modéstia que exibia era também um monumento à obra, persistência e paixão Benfiquista!

Em 23 de Junho de 1940 o Sport Lisboa e Benfica fazia o seu último jogo no Estádio das Amoreiras. Fomos escorraçados. Era um rude golpe no mais popular clube Português. As Amoreiras representavam a casa própria, a primeira que o Benfica tinha tido capacidade de erigir. Começou devido ao sonho e diligência de Cosme Damião. E foi sua última obra. Foi a concretização do seu sonho e do sonho de tantos e tantos dos primeiros Benfiquistas. Mais informação aqui:
http://www.slbenfica.pt/pt-pt/estadio/estadiosanteriores/estadiodasamoreiras.aspx (http://www.slbenfica.pt/pt-pt/estadio/estadiosanteriores/estadiodasamoreiras.aspx)

Inaugurado em 1925, o campo das Amoreiras foi usado apenas durante 15 anos aquele que era um Estádio feito para durar décadas e décadas. Fomos escorraçados de lá por um Estado intransigente e déspota, que não nos pagou sequer o que lá investimos. O Benfica teve que encontrar uma nova casa à pressa e a única solução viável foi ocuparmos um campo que o SCP tinha abandonado pouco tempo antes. Por falta de condições... Imagine-se ficar com um campo que durante mais de duas décadas foi a casa do SCP... Pior ainda, era ficarmos porta com porta com o rival.

E aquilo que poderia ter sido desalento e uma regressão perigosa foi afinal tornado em orgulho e um renascer do nosso clube. Obra feita, com contribuição e fundos colectivos como só os Benfiquistas conseguem. O Campo Grande foi remodelado, expandido e alindado em escasso tempo. E que espanto, quando foi inaugurado em 5 de Outubro de 1941 era ainda melhor do que o Estádio do Lumiar! E foi a nossa casa até 1954, data da inauguração do Estádio da Luz.

E assim, explicado o contexto, vamos olhar e tentar decifrar esta imagem. Para isso tive a decisiva ajuda de Alberto Miguéns  :bow2:. Então vamos lá:

___________________________________________________________________
(http://i60.tinypic.com/90nga9.png)

1 – Estádio do Campo Grande, campo principal.
Ao contrário do que pensava, o Campo Grande já era conhecido por "estância de madeiras" desde o tempo em que era ocupado pelo SCP. O Campo Grande tinha um terreno pelado com bancadas de madeira e nota-se também que tinha uma rede no topo das bancadas.
De acordo com Alberto Miguéns, os sócios do Benfica ocupavam três bancadas (de madeira) com uma capacidade de cerca de 10 mil lugares. Existiam ainda mais 2 mil reservados para venda de bilhetes a não sócios. Havia ainda um peão (de pedra) para o público que formava um talude que permitia instalar bancadas para assistir às actividades que decorriam no campo anexo. Ao que parece para além do que em baixo se fala existiria ainda uma carreira de tiro.

2. Campo anexo ou Campo Grande-A
Usado para o Andebol de 11, Râguebi, Hóquei em Campo e Futebol/Formação.

3. Court ténis
Não se vê aqui mas pode ver-se na fotografia inicial; mas por trás da Churrasqueira existia ainda o nosso campo de basquetebol. Tinha uma qualidade inferior e não tinha bancadas, tendo por isso servido basicamente para treinos.

4. Portão principal
Não se vê na fotografia mas penso que era por aqui.

5. Portão secundário
Confrontava para o Estádio de Alvalade...

6., 7., 8. Edifícios de apoio
Parecem pelo menos três. Eventualmente quatro. Um deles servia como balneário, outro era para o guarda do campo. Nele se guardavam os apetrechos para cuidar do piso e engalanar o campo para poder jogar.

Aqui vê-se melhor:

(http://www.zerozero.pt/img/estadios/010/52010_med_campo_grande.jpg)


9. Bancadas do campo anexo
Uma solução engenhosa. Dá ideia que existiam espaços interiores por baixo dessas bancadas.

10. Pista de cinza
Inaugurada no final de 1946. Tinha seis pistas.

11. Estádio de Alvalade
Inaugurado em 1956. A fotografia foi portanto tirada nessa data ou pouco depois.

12. Alameda das Linhas de Torres
Uma artéria que ganhou ainda maior importância a partir destes anos em que se edificaram os dois Estádios. Na década de 50 novo facto relevante com a instalação da RTP nas suas cercanias.

13. Sanatório Popular de Lisboa
também designado Sanatório de D. Carlos I. Em 1975 foi rebaptizado Hospital Pulido Valente.
___________________________________________________________________


Detalhe a detalhe, a descoberta gradual de fotografias do Campo Grande permite-nos ter outra compreensão e orgulho relativamente ao que os nossos antecessores foram capazes de fazer em tão difíceis circunstâncias. Gostaria que o mesmo acontecesse com as Amoreiras e com os campos ainda mais antigos. Quem sabe o que anda por aí...

E assim o que nos diz a aventura do Campo Grande? Diz-nos que o Benfica nunca se rendeu. E que apesar de andar de campo em campo, a gastar recursos em casa dos outros, sempre se reergueu para cumprir o seu destino: ser o maior de Portugal. Diz-nos que fomos solidários, inventivos, generosos e apaixonados. E soubemos sempre honrar a memória dos nossos fundadores e antecessores.

Ressoam sempre as palavras do maior de todos nós: Houve, desde logo, a certeza de que, pela união, nos podíamos tornar mais fortes.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 25 de Junho de 2015, 21:38
Citação de: RedVC em 25 de Junho de 2015, 20:52


RedVC, por falar em património, por acaso sabes que ligação existiu entre o clube e um Parque de Campismo na Costa da Caparica?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Junho de 2015, 21:57
Citação de: Theroux em 25 de Junho de 2015, 21:38
Citação de: RedVC em 25 de Junho de 2015, 20:52


RedVC, por falar em património, por acaso sabes que ligação existiu entre o clube e um Parque de Campismo na Costa da Caparica?

Não. Infelizmente não. Tenho guardadas algumas fotografias interessantes mas ainda não explorei o tema. Uma vez mais penso que Alberto Miguéns é a pessoa indicada para responder a essa pergunta.

Esta é uma das fotografias, infelizmente com marca de água:

(http://images-01.delcampe-static.net/img_large/auction/000/291/086/076_001.jpg)

Infelizmente não encontro as outras. Quando encontrar coloco aqui. Pode ser que alguém venha a acrescentar qualquer coisa interessante.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Julho de 2015, 00:39
-57-
A vida Paulista de Bella Guttman

1 de Março de 1957, Manoel Raymundo, o presidente do São Paulo Futebol Clube apresenta Bella Guttman a Gino Orlando, grande avançado do São Paulo:

(http://media2.saopaulofc.net/media/99206/site-mr02_crop_galeria.jpg)

Assinado o contrato:
(http://www.jogosdosaopaulo.com.br/jogos/wp-content/uploads/2014/03/contrato-bela-guttmann.jpg)

Começava uma nova etapa do treinador Húngaro, verdadeiro cidadão do mundo

(http://trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/08/guido-bela-guttmann-caxambu.jpg)
(http://trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/08/guttmann1.png)

Prédio onde Béla Guttmann morava, na Rua do Arouche:

(http://www.jogosdosaopaulo.com.br/jogos/wp-content/uploads/2014/04/predio-bela-guttmann-rua-arouche.jpg)

Mas como chegou Guttman a este momento, como chegou a São Paulo?

Guttman chegou ao Brasil em Janeiro de 1957. Quase por acidente, após ter recebido um convite da grande equipa do Hónved que estava em digressão no Brasil. Na verdade era mais uma fuga de que uma digressão... Nessa grande equipa Húngara que pelos tristes acasos da história nunca a viria a ser campeã europeia, incluíam-se os grandes Koczis, Puskas e Czibor. Estavam também outros jogadores como Grosics, o excelente guarda-redes que até pertencia aos quadros do Tatabanya. Os Húngaros estavam no Brasil a convite do Flamengo mas também por recusarem voltar à sua pátria que então vivia dias negros com a invasão soviética. Desterrados, viviam dias de indefinição quanto ao futuro, continuando a fazer o que melhor sabiam: jogar futebol.

(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/5/5e/Budapest_Honved_FC_logo.png)

(http://i62.tinypic.com/11b0xgh.png)
Fonte: Correio da Manhã


Guttman já antes tinha sido treinador do Hónved o clube do exército.  Em 1947-1948 1949, sobrevivente ao nazismo, ao contrário de seu irmão morto num campo de concentração, Guttman treinou o Hónved quando este ainda se chamava Kispest. Saíria em rota de colisão com Puskas. Foi também treinador da selecção Húngara. Esteve no centro dos acontecimentos, vendo por isso o nascimento e a desintegração das grandes equipas do Hónved e da selecção Húngara. Uma das maiores de sempre. Hoje por vezes não se toma consciência mas a Hungria já teve a melhor selecção nacional de futebol do mundo. A infeliz final do mundial de 1954 evitou a consagração mundial de uma geração dourada de jogadores. Uma geração que humilhou a Inglaterra por 3-6 em pleno estádio de Wembley. Depois a invasão soviética evitaria que os Húngaros ainda tivessem equipas competitivas para lutar pela Taça dos Clubes Campeões Europeus. Quase todos os grandes jogadores Húngaros se dispersariam por grande equipas Europeias, tendo o Real Madrid e Barcelona sido os mais afortunados.

Mas ironia, mais uma ironia ou então chamemos-lhe mais uma maldade da história, os Húngaros tiveram dificuldades inclusivamente para concretizar alguns jogos. A Federação Paulista pressionada pela CBD e esta pela FIFA, chegou a proibir os jogos agendados pelos Húngaros com equipas Paulistas, entre elas o Santos onde despontava Pelé.

(http://i58.tinypic.com/35lvqdg.png)
Fonte: Tribuna da Imprensa

(http://trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/02/imagem620.png)
O Hónved num famoso jogo contra o Flamengo do Rio de Janeiro. Puskas em grande plano..


Passada essa digressão a diáspora leva-los-ia a diferentes equipas mas Guttman ficou no Brasil a convite do São Paulo. E como seria de esperar, Guttman veio a ter um papel marcante e inovador:

(http://i.imgur.com/lzKCCg6.png)

Não deixando de mostrar de forma clara o seu pensamento:
(http://trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/08/Bella-Guttmann.jpg)

"Sempre me interessou que o ataque fizesse mais gols do que obrigar a defesa a não os sofrer. Não me desgosta nada que o adversário marque três ou quatro gols, desde que a minha equipe marque quatro ou cinco...", declarou Guttmann, em 1962, durante entrevista ao jornal português A Bola. Algo que já era possível de notar desde os tempos de São Paulo: "Cada equipe precisa de ter um sistema próprio, adaptado às características dos jogadores. E assim como um alfaiate não faz o mesmo feitio para um corcunda ou para um homem normal, do mesmo modo um treinador não pode dar a todas as equipes o mesmo figurino de jogo".

No Brasil, Guttman foi visto como um treinador de feitio difícil mas exigente exigente. foi também visto como um verdadeiro pedagogo num meio em que era difícil garantir a disciplina e a exigência competitiva:

(http://i.imgur.com/acig6RL.png)

Com inovações nos treinos, principalmente nos fundamentos, Guttmann ensinou a todos os jogadores do time paulista como cobrar faltas, chutar bem uma bola no gol, e mostrou que o foco deveria ser sempre na objetividade e na precisão. Nada de fintas e jogadas que não levassem a lugar nenhum. O importante era o gol. Quanto mais, melhor. Uma característica de Guttmann nos tempos de São Paulo foi desenhar alvos com números para os jogadores acertarem com seus chutes, uma espécie de paredão do chute ao alvo. Esse símbolo básico de fundamento permanece até hoje no centro de treinamentos do tricolor.

Fonte: http://imortaisdofutebol.com/2013/04/12/tecnico-imortal-bela-guttmann/ (http://imortaisdofutebol.com/2013/04/12/tecnico-imortal-bela-guttmann/)

E como em tantos outros locais Guttman sagrar-se-ia campeão. Campeão Paulista, um campeonato muito difícil. Campeão Paulista sucedendo ao Santos que tinha sido bicampeão antes da chegada do feiticeiro Húngaro:

(http://trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/08/bela-guttmann.jpg)

Aqui, Guttman e a sua equipa, posando para a posteridade:
(http://www.jogosdosaopaulo.com.br/jogos/wp-content/uploads/2014/03/spfc-campeao-paulista-1957.jpg)

Mas cumprindo um padrão de comportamento que mostrou ao longo da sua vida, Guttman decidiu partir. Rescindia com o São Paulo:
(http://www.jogosdosaopaulo.com.br/jogos/wp-content/uploads/2014/03/manchete-bela-guttmann-rescinde-contrato-spfc.gif)

Contrato rescisão:
(http://www.jogosdosaopaulo.com.br/jogos/wp-content/uploads/2014/03/rescisao-bela-guttmann.jpg)

E despediu-se como se vê de forma amigável:
(http://media2.saopaulofc.net/media/99205/site-mr01_crop_galeria.jpg)

Era tempo para novas aventuras.

Segundo se diz, Guttman deixou no Brasil um legado futebolístico importante. Pelo que li, parece existir uma corrente de opinião que Guttman terá sido o pai do 4-2-4 Brasileiro. É dito que nessa passagem pelo São Paulo, Guttman acabou por ter um papel indirecto na conquista da primeira Copa do Mundo pelo Brasil na Suécia em 1958.  Terá deixado como herança o 4-2-4, sistema adoptado por Vicente Feola, o grande mas improvável treinador de um dos mais esplendorosos escretes canarinhos, que daria o primeiro título mundial ao maior país da Lusofonia:

https://tardesdepacaembu.wordpress.com/tag/hungaro-bela-guttmann/ (https://tardesdepacaembu.wordpress.com/tag/hungaro-bela-guttmann/)


(http://img.fifa.com/mm/photo/classic/coaches/02/00/74/45/2007445_full-lnd.jpg)
Djalma Santos, Zito, Vicente Feola e Pelé. Suécia, 1958

(http://www.ligadonofutebol.com.br/19584_clip_image006.jpg)
Bellini, Vicente Feola, Gilmar e a Taça Jules Rimet, Súecia, 1958.

Esse sistema viria a ser interpretado com pleno sucesso por esse magnífico escrete marcando a letras de ouro a história do futebol. Mas como o feiticeiro dizia, o segredo foi também adaptar o esquema às características dos jogadores. E entre eles despontava um jovem negro com um talento nunca visto: Edson Arantes do Nascimento. Uma das lenda maiores do futebol.

E para onde decidiu ir Guttman? Especulou-se que iria para um clube carioca mas no final acabou por mudar de forma radical. Em Novembro de 1958, escolheu a cidade do Porto...

(http://i60.tinypic.com/a30207.png)
Fonte: Correio da Manhã, 5 de Novembro de 1958

Detalhe delicioso. Nesta notícia diz-se que questionado sobre o que conhecia do futebol Português Guttman diria que "Naturalmente que vi jogar, no Brasil o quadro do Benfica e pareceu-me uma grande equipe". E sobre isto comentava o jornalista "essa opinião parece pouco alentadora para seus novos empregadores, que se negam a reconhecer o Benfica como um grande quadro".


É... eu acho que Guttman quando veio para Portugal já a tinha fisgado... Era um feiticeiro e já "sabia" que seria grande no Benfica. Estava escrito. Apesar da porta de entrada ter sido (por sinal até bem sucedida) no Porto a glória suprema tinha inevitavelmente que vir no Benfica:

(http://1.bp.blogspot.com/-OZIxFCVxR4g/U81FN-v1epI/AAAAAAAASQ0/8Z4n_s7nZ5g/s1600/B%C3%A9la+Guttmann+-+foto+8.jpg)

(https://imortaisdofutebol.files.wordpress.com/2013/04/122-bela-guttmann.jpg)

Tempos de lenda.


E realmente como é o futebol, como é a vida... Como uma decisão pode mudar tudo. Em 18 de Agosto de 1960, o jornal Ultima Hora dizia que Guttman tinha sido sondado pelo Vasco da Gama para assinar contrato e mudar-se para o Rio de Janeiro.

(http://i59.tinypic.com/5bo8s0.png)
Fonte: Ultima Hora, 18 de Agosto de 1960[/color]

Guttman era campeão Português pelo Benfica repetindo o feito do ano anterior com o Porto. Mas estava ainda para vir a glória Europeia. Estava ainda para vir aquele ganho de trezento contos...

Guttman declinou gentilmente o convite dizendo:
"A única possibilidade seria a do Benfica me liberar... Mas não acredito nisso. De resto sinto-me bem no clube. Estou satisfeito com o Benfica e com a Direção que parece estar satisfeita comigo. Não seria fácil abandonar esse grande clube".

Ainda bem que assim foi. Havia História para escrever. Lendas para fabricar.

Obrigado Feiticeiro,
(http://3.bp.blogspot.com/-l61fUF5gWJQ/U3Af9Pz00cI/AAAAAAAAFKg/Mvl6xbMn2tM/s1600/Digitalizar0005.jpg)


Fontes diversas:

http://spfc.terra.com.br/news.asp?nID=124501 (http://spfc.terra.com.br/news.asp?nID=124501)

http://trivela.uol.com.br/bela-guttmann-o-terceiro-e-ultimo-mestre-hungaro-transformar-o-futebol-brasileiro/ (http://trivela.uol.com.br/bela-guttmann-o-terceiro-e-ultimo-mestre-hungaro-transformar-o-futebol-brasileiro/)

http://www.sousaopaulofc.com.br/wiki/hist%C3%B3ria_do_morumbi (http://www.sousaopaulofc.com.br/wiki/hist%C3%B3ria_do_morumbi)

http://www.jogosdosaopaulo.com.br/despedida-bela-guttmann/ (http://www.jogosdosaopaulo.com.br/despedida-bela-guttmann/)

http://www.literaturanaarquibancada.com/2014/07/bela-guttmann-uma-lenda-do-futebol.html (http://www.literaturanaarquibancada.com/2014/07/bela-guttmann-uma-lenda-do-futebol.html)

http://trivela.uol.com.br/honved-o-esquadrao-hungaro-que-revolucionou-o-futebol/ (http://trivela.uol.com.br/honved-o-esquadrao-hungaro-que-revolucionou-o-futebol/)

http://www.spfc1935.com.br/2010/12/sao-paulo-decada-de-60.html (http://www.spfc1935.com.br/2010/12/sao-paulo-decada-de-60.html)

http://imortaisdofutebol.com/2013/04/12/tecnico-imortal-bela-guttmann/ (http://imortaisdofutebol.com/2013/04/12/tecnico-imortal-bela-guttmann/)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 06 de Julho de 2015, 12:17
Obrigado RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Julho de 2015, 01:43
-58-
Um encontro Americano.


Verdadeiramente inesperada.

Esta fotografia, o encontro e as personalidades envolvidas. De quem hoje vamos falar.

Um exemplo de como do nosso Glorioso clube podemos partir para o mundo. Partir para a Arte, para grandes feitos da Aviação e para a política. Para falar de duas figuras, duas grandes personalidades.

A foto de um encontro Americano de dois pioneiros:

(http://i62.tinypic.com/123ba53.png)
Fonte: revista "Para Todos", 1924.


É... Voltamos hoje ao nosso efémero mas Glorioso Manuel Mora. Um dos nossos primeiros guarda-redes a par de outros nomes Gloriosos como Pedro Guedes, José Rosa Rodrigues, Manuel Gourlade e Joáo Carvalho Persónio.

(http://i59.tinypic.com/9bm06w.png)
Manuel Mora,
(Lisboa 19/03/1884 - Rio de Janeiro 1/04/1956),
envergando a Gloriosa camisola de flanela vermelha

Como já antes falei, Mora emigrou para a Argentina em 1907 e por volta de 1910 radicou-se no Brasil. Lá, foi um reputado, um muito reputado desenhador de moda, cartofilista, pintor, jornalista, criador de orquídeas, entre outros interesses e talentos. Tudo isso e tudo o mais que não sabemos. Aos poucos vamos recuperando pequenos pedaços.

Aqui, aparece-nos numa fotografia verdadeiramente inesperada. Manuel Mora com a sua família – presumo mulher, dois filhos e dois gatos - junto de um nome ilustre: José Manuel Sarmento de Beires, um nome pouco conhecido à excepção daqueles que têm a paixão da aviação e dos seus gloriosos pioneiros. Neste país, em que isso é "só" quase o sinónimo de citar Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

Assim, começando num pioneiro do Benfica, vamos encontrar uma fotografia de um encontro Americano, em Oakland entre a família de Mora e um importante pioneiro da aviação e uma figura da política das décadas de 20 e 30, com alguns episódios interessantes de ligação ao desporto.

Tanto quanto julgo saber - a publicação não dá detalhes - esta Oakland é uma cidade do estado da Califórnia que está em frente e ligada à cidade de San Francisco pela famosa ponte San Francisco–Oakland Bay Bridge (construção iniciada em 1933 e concluída em 1936). Oakland foi uma cidade ligada a actividades pioneiras da aviação, por exemplo o correio aéreo logo desde 1912. Também em 1927-1928 seria local de partida de alguns dos primeiros voos transoceânicos.

(http://www.route40.net/images/postcards/ca-bay-bridge-c1936-5.jpg)
A San Francisco–Oakland Bay Bridge depois de concluída, por volta de 1936. Quando Mora e Beires se encontraram ainda não existia. No 1º plano está a cidade São Francisco. Oakland está na margem mais distante.


Oakland teve logo desde o século XIX alguns milhares de Portugueses lá radicados. Aliás nessa mesma cidade, na década de 20 (não encontrei uma data concreta) foi erigida um monumento de homenagem ao Português João Rodrigues Cabrilho, que tem a fama de ter sido o primeiro Europeu a lá chegar. Mais tarde, já na década de 40, o ministro António Ferro ainda prometeu doar outra estátua a Oakland mas que depois de muita polémica acabou por ser colocada em Point Loma, San Diego. Hoje é monumento nacional da América. (detalhes: http://www.loc.gov/rr/hispanic/portam/chronology.html (http://www.loc.gov/rr/hispanic/portam/chronology.html)). Ou seja alguns factos que talvez possam explicar o encontro de dois Portugueses nessa cidade no ano de 1924.


Vamos assim falar desta duas figuras. Brevemente, claro está, tendo em conta a dimensão das suas vidas e obra.

(http://i57.tinypic.com/fbmk50.png)
Manuel Mora

Manuel Mora foi nas suas próprias palavras, discípulo de dois nomes superiores das Artes em Portugal: o pintor e aguarelista Roque Gameiro e o caricaturista Jorge Colaço. Mora ainda antes de emigrar chegou a fazer alguns trabalhos na Ilustração Portugueza. No entanto Portugal era pequeno demais para a sua ambição e sede de aventura. Partiu para os grandes espaços, para conhecer as paisagens, os sons, os cheiros e a riqueza cultural dos povos coloridos da América do Sul. E aí trabalhou como artista, sozinho ou associado a outros artistas. Destacou-se particularmente como desenhista de moda de uma das grandes casas de moda e comércio do Rio de Janeiro: o Parc Royal.

(http://blogs.odia.ig.com.br/rio-450-anos/files/2014/12/parc-royal.jpg)
(https://bainhadefitacrepe.files.wordpress.com/2014/08/83c566db89d006a4ab63821524926664.jpg?w=474)

Em cima a grande loja do Parc Royal no Rio de Janeiro.
Em baixo uma das criações de Mora para essa casa. Nota-se a assinatura característica do grande desenhista.



O Parc Royal foi fundado em 1873 por um Português, José Vasco Ramalho Ortigão, tendo depois sido liderado por Vasco Ramalho Ortigão que foi patrão de Mora e que reconhecia o talento de Mora. No principio da década de 20 há notícia de que foram em viagem de negócios a Paris, cidade de referência da Arte e dos negócios associados à moda.

Essa loja do Parc-Royal viria a desaparecer num incêndio pavoroso no ano de 1943. Mas durante esses 70 anos foi uma glória da elegância e requinte da moda carioca.
Mais informação, aqui: http://modahistorica.blogspot.pt/2015/05/breve-historia-do-parc-royal-um.html (http://modahistorica.blogspot.pt/2015/05/breve-historia-do-parc-royal-um.html)

(http://2.bp.blogspot.com/-kJckaZNinIs/VUk6s8NJD6I/AAAAAAAAc3k/TxKX9jAMDPo/s640/16%2Bparc%2Broyal%2Bhistoria%2Bda%2Bmoda%2Ba%2Bnoite%2Bparc%2Breal.jpg)

Entre muitos trabalhos, Mora desenhou muitas capas para diversas revistas de cultura e actualidades sociais e políticas Brasileiras. Numa dessas, dando eco e homenageando o grande feito de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Mora desenhou uma capa alusiva:

(http://i58.tinypic.com/1e70xi.png)

No Brasil, Manuel Mora teve uma carreira longa, prestigiada e produtiva. Há muito material por aí mas infelizmente a maior parte dos seus originais a cores desapareceu no incêndio que consumiu os arquivos do Parc Royal.

Mora morreu em Abril de 1956, rodeado pela sua família, na sua casa da Ilha do Governador. Nessa altura a ilha era um local de exuberante e deslumbrante beleza natural e isolamento. Um local tão propício para um artista e onde seguramente Mora se inspirou para desenhar e partir para o mundo.

E numa dessas paragens, num local improvável, 32 anos antes, Mora encontrou Sarmento de Beires.

(http://i58.tinypic.com/2iw7fqa.png)
Sarmento de Beires

Muitos dos elementos biográficos seguintes são adaptados deste excelente artigo a quem faço vénia e recomendo leitura atenta: http://altimagem.blogspot.pt/2012/03/primeira-travessia-aerea-nocturna-do.html (http://altimagem.blogspot.pt/2012/03/primeira-travessia-aerea-nocturna-do.html)

José Manuel Sarmento de Beires, nasceu em Lisboa, freguesia da Lapa, a 4 de Setembro de 1892.  Mas seria no Porto, local onde viria a assentar praça em Setembro de 1909, que se deu um acontecimento marcante da sua vida. Foi nessa cidade que viria a conhecer o Brasileiro Alberto Santos-Dumont, o «Pai da Aviação» (cidade onde viveram a mãe e três irmãs do grande pioneiro Brasileiro). Deste encontro disse Sarmento de Beires: "Foi talvez esse o momento decisivo do meu destino."

Para além dos outros detalhes biográficos descritos no artigo supra-citado, Sarmento de Beires viria a destacar-se pelas longas travessias aeronáuticas que constituíram feitos notáveis na época. Duas delas, realizadas em 1924 e 1927, foram particularmente celebradas e elevaram-no à condição de herói nacional:

(http://i61.tinypic.com/1hs48o.png)
(http://i62.tinypic.com/29mxie0.png)
1924, Travessia Vila Nova de Milfontes a Macau.
Em cima, Sarmento de Beires com os seus companheiros da aventura Transatlântica. Aos comandos do "Pátria".
Em baixo, com o seu companheiro de viagem Brito Pais, em apoteótica recepção pelos Lisboetas.


(https://gagocoutinho.files.wordpress.com/2009/03/manifestacao-de-homenagem-aos-aviadores-do-patria-brito-pais-e-sarmento-de-beires-e-ao-mecanico-manuel-gouveia-apos-a-travessia-aerea-lisboa-macau.jpg?w=500)
Outra fotografia de homenagens a Brito Pais e Sarmento de Beires.
Em primeiro distingue-se também o Almirante Gago Coutinho


(http://i60.tinypic.com/292tycp.png)
1927, 1ª Travessia Aérea Nocturna do Atlântico no famoso hidroavião «Argos»

(http://timeandnavigation.si.edu/sites/default/files/multimedia-assets/si-76-2412.jpg)
Junto a Sarmento de Beires e seus companheiros do hidroavião Argos pode identificar-se com a sua bengala, o presidente do Brasil Washington Luís
Fonte: National Air and Space Museum, Smithsonian Institution.

Detalhes fascinantes, aqui: http://ex-ogma.blogspot.pt/2013/11/hidroaviao-argos-em-alverca-1927.html (http://ex-ogma.blogspot.pt/2013/11/hidroaviao-argos-em-alverca-1927.html)

No auge da glória Sarmento de Beires foi promovido a Major em 7 de Abril de 1924. O regime contava certamente com esta figura para solidificar a sua implantação.

(http://i57.tinypic.com/2qby6mq.png)
26 de Outubro de 1927. Sarmento de Beires entre a elite. Recepção a Ruth Elder (1902-1977), actriz e pioneira da aviação Norte-Americana. Entre outros está o General Óscar Carmona. Fonte: Digitarq.


Mas os heróis manifestam-se não apenas pelos seus feitos como também por serem consequentes com os seus valores e ideias. E assim foi com Sarmento de Beires. Era um democrata, um herói, e também um homem do seu tempo, um homem que estava contra a instauração de um regime ditatorial no seu País.

E assim, em 1928 esteve envolvido numa tentativa de golpe de estado contra o regime que emergia desde a revolução do 28 de Maio de 1926. Em fuga, Beires refugiou-se em França. O regime Português que quatro anos antes o tinha elevado a herói, tirou-lhe a patente e demitiu-o da Instituição Militar. Sarmento de Beires passou a ser mais um dos heróis proscritos.

(http://1.bp.blogspot.com/-I3nxfEK6O40/VVBrhfj35ZI/AAAAAAAAENE/YCVjnIkDFtE/s1600/O%2BGoverno%2BMente%2BSarmento%2BBeires.jpg)

Sarmento de Beires era um homem de fibra. Não vergava. E assim em 1931 esteve envolvido num outro golpe de estado, novamente malogrado:
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2010/12/revolta-de-26-de-agosto-de-1931.html (http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2010/12/revolta-de-26-de-agosto-de-1931.html)


Tragicamente, numa acção armada em que tentou bombardear o forte de Almada, a bomba caiu por engano no largo da Vila de Almada causando várias vítimas civis. Hoje é o Largo da vítimas de 26 de Agosto de 1931. Trágico.

Seria preso em 1934 e depois de um julgamento no tribunal marcial da Trafaria seria condenado a 7 anos de exílio e à perda dos direitos cívicos por 10 anos. O regime punia duramente os líderes da revolta. Apenas em 1974 seria novamente confrontado com outra acção militar.


(http://i62.tinypic.com/311ufx0.png)
Um aspecto do julgamento de Sarmento de Beires, na Trafaria. [Identificados no álbum:] Henrique Ribeiro e Sarmento de Beires. Fonte: Digitarq

No seu exílio, Beires percorreu destinos diversos: Espanha, França, Indochina. Em 1935 chegaria ao Brasil onde gozava de grande prestígio na comunidade Portuguesa. Aí manteve uma activa vida civil. Foi jornalista, escritor, tradutor e com certeza terá privado mais vezes com Manuel Mora.

(http://2.bp.blogspot.com/_7RFtQJBFMYI/TNu_BTFEAmI/AAAAAAAAKE4/ih-0SMe2DHc/s1600/sarmento+de+beires.jpg)
Fonte: http://macauantigo.blogspot.pt/2012/04/viagem-do-patria-em-1924.html

Mas na verdade era um regresso. Como se compreende, Sarmento de Beires era já desde 1927, um nome prestigiado em terras do Brasil. E com manifestações imortalizadas desse prestígio.

De facto, em Abril de 1927, no auge da sua glória e enquanto ainda era bem visto pelo Regime Português, Sarmento de Beires foi o convidado de honra do Clube de Regatas Vasco da Gama na inauguração do seu novo estádio de São Januário. O clube dos Portugueses no Rio de Janeiro prestigiava assim a Pátria da língua Portuguesa e um dos seus filhos dilectos.

(http://i60.tinypic.com/34g39y0.png)
(http://i57.tinypic.com/2co5sms.png)
Fonte: Revista "O Malho", Abril 1927

(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/2b/Fachada_S%C3%A3o_Janu%C3%A1rio.JPG/525px-Fachada_S%C3%A3o_Janu%C3%A1rio.JPG)


(http://2.bp.blogspot.com/--SA682bwCzY/VBd4sSANRCI/AAAAAAAAXV0/1ys-6_oizWU/s1600/01%2BA%2B02%2BA%2B01%2BA%2B02%2BJ%2B27%2B230427%2Brevista%2Bfon%2Bfon%2B01.jpg)

Longo foi o percurso. E, apenas em 1951, Sarmento de Beires seria finalmente amnistiado. Apenas nessa data lhe foi concedido o regresso a Portugal. E só em 1972, já depois da morte de Salazar, seria reintegrado na Força Aérea Portuguesa com atribuição da patente de Coronel.

(http://2.bp.blogspot.com/-uVmZbMVhaYs/T7_L9cl_2BI/AAAAAAAAGxM/K6lasvnZLrM/s1600/Sarmento_Beires3.jpg)
Fonte: http://altimagem.blogspot.pt/2012/03/primeira-travessia-aerea-nocturna-do.html (http://altimagem.blogspot.pt/2012/03/primeira-travessia-aerea-nocturna-do.html)

José Manuel Sarmento de Beires faleceu em Lisboa no dia 8 de Junho de 1974.
Escassas semanas depois de se abrirem, por fim, as portas da Liberdade.


A Ditadura

Sabes a vida que levo
desde o dia em que te vi
Ou preso ou então na rua,
a conspirar contra ti.

Mais uma que se perdeu,
não vale a pena chorar.
Tanta vez hei-de bater-me,
que acabarei por ganhar.

Sarmento de Beires, Abril de 1931
Versos escritos no tecto da sua cela, na prisão de Angra do Heroísmo.


Paz à sua Alma.
Honra à sua memória.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: VitorPaneira7 em 11 de Julho de 2015, 15:09
Excelentes artigos REDVC mas alguns erros em relação a Bella Guttman, eu já discuti isso noutros tópicos, muito devido à alusão de haver uma ligação entre a formação da Hungria de 1954 e a mitica equipa do Honved dos anos 50.Ele não esteve no nascimento da equipa e não foi figura central, só se envolveria mais tarde , principalmente de forma solidária, com o Honved arranjando tournés para uma equipa que pretendia arranjar dinheiro para as famílias dos jogadores que se encontravam isoladas numa Hungria pós revolução de 1956 e vítima de invasão soviética .

Guttman orientou o Kispest entre 1947 e 48 e saiu em conflito com Puskas em 1948. Em 1949 encontava-se em itália no Pádova e quem esteve no centro dos acontecimentos assumindo o Honved como equipa do Exército e o controlo da selecção húngara foi Gustav Sebes, é ele ,usando o poder político do recém eleito partido comunista, que  vai buscar os melhores jogadores dos rivais MTK e Ferencvaros, não Bella Guttman, para construir mágicos magiares.

Tal como Bella Guttman é apologista do 4-2-4 e usa esta como táctica base de ambas as equipas.

É um mito que se criou há algum tempo que Guttman teve influência na construção da míticas equipas do Honved e da Hungria, quando na verdade foi tudo obra de Sebes, em conjunto com Kalmar que foi colocado no clube, e da sua influência na máquina de Estado. Há que relembrar que estas míticas equipas foram construídas entre 1949 e 1954, nesse período Guttman andava por Itália, onde orientou em 1949 o Padova e depois durante alguns anos treinou o Triestina e o Ac Milan.

Bella Guttman teve um papel importante transportando as suas ideias de 4-2-4 por onde passou e enquanto Sebes estabelecia o 4-2-4 na hungria, o feiticeiro foi o principal divulgador e impulsionador fora da Hungria orientando no Brasil, Itália e Portugal. São papéis diferentes mas de grande importância.

PS - Em itália em 28 de julho de 1949 Guttman assina pelo Pádova
http://www.padovasport.tv/lunedi-amarcord/l-avventurosa-vita-di-bela-guttmann-lo-stregone-del-benfica-che-passo-anche-per-padova-10320

site oficial do Honved com indicação de que Guttman orientou só até 1948 e foi susbtituido pelo pai de Puskas e depois sucedido por Kalmar.
http://www.honvedfc.hu/tartalom/73

Gustav Sebes, Biografia e existem outras fontes de como usou o poder político para formar as equipas
http://www.fifa.com/classicfootball/coaches/coach=61688/index.html
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Julho de 2015, 15:22
Óptimas notas, que muito agradeço, VitorPaneira7.

Penso ter sido um misto de má interpretação minha e de fontes igualmente com algumas incorrecções.

Fica ainda assim a ideia do trajecto de vida fantástico de Guttman e da trágica e acidentada vida de todos aqueles que estiveram envolvidos nas diversas equipas Húngaras das décadas de 40 e 50. As ideias e a personalidade de Guttman tiveram uma contribuição que merece sempre ser lembrada e reconhecida.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Julho de 2015, 01:09
"Auto-citação" com bons motivos.

Alberto Miguéns publicou mais um excelente artigo com novas e interessantes informações biográficas do grande Marcolino Bragança.

Aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/07/se-nao-fosses-tu-marcolino.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/07/se-nao-fosses-tu-marcolino.html)




Citação de: RedVC em 18 de Outubro de 2014, 14:39
-11-
Uma homenagem em terras africanas.

Maio de 1969. O Benfica desloca-se a Luanda para os oitavos de final da Taça de Portugal. Dois jogos contra o ASA, dia 11 vitória por 4-0, dia 15 vitória por 3-2.

...

Mas o para além da competição nacional o ponto de maior interesse foi de natureza social e de homenagem. Com efeito, aproveitando essa deslocação o Presidente Dr. Borges Coutinho e a comitiva visitam uma velha glória do Sport Lisboa e Benfica.

Um homem de contribuição fugaz mas decisiva para a história do Sport Lisboa mais tarde Sport Lisboa e Benfica.

Marcolino Leopoldino Neto de Bragança Pinto de Meireles.

(http://i57.tinypic.com/5umx3p.png)

Para a nação Benfiquista simplesmente Marcolino de Bragança.

Aqui está o registo desse momento cheio de significado histórico e de merecido reconhecimento. Uma notável concentração de glórias Benfiquistas:


(http://i58.tinypic.com/2d9r9eh.png)
Fonte: blog http://milita.free.fr/4-SPANISH/benfica-SPANISH.htm

Legenda:
1 - Marcolino Bragança
2 - Eusébio
3 - Praia
4 - Adolfo
5 - Nina (filha Marcolino Bragança)
6 - Milita (filha Marcolino Bragança)
7 - Humberto Coelho
8 - Simões
9 - José Henriques
10 - ?
11 - Raúl
12 - Jaime Graça
13 - Coluna
14 - Dr. Borges Coutinho
15 - Zeca
16 - Adolfo Vieira de Brito
17 - ?
18 - Otto Glória
19 - José Augusto
20 - ?



(alguém consegue identificar os outros?)


Marcolino fez os seus estudos liceais em Lisboa tendo depois regressado a Angola. Foi fazendeiro perto da povoação de Beça Monteiro, zona do Ambrizete.

(http://3.bp.blogspot.com/_14q7-dz__-E/SrpkKuPIBvI/AAAAAAAAAM8/dggmRGwRnk4/s400/digitalizar0006.jpg)
Beça Monteiro


(http://ambrizete.blogs.sapo.pt/arquivo/ambrizete-3.jpg)
Ambrizete

Honra à sua memória.
(http://i62.tinypic.com/24mgkk2.png)


Adenda: recentemente li uma entrevista de sua filha Milita. Nela disse que o seu pai era natural de São Tomé. Foi viver para Angola porque casou com uma Angolana, natural do Golungo Alto (Malanje).
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 17 de Julho de 2015, 09:37
Excelente artigo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Julho de 2015, 18:47
-59-
Alguém tinha de pagar!

(http://i57.tinypic.com/mm3812.jpg)

Uma imagem improvável. Um jogador de futebol com um boneco.

Mas o jogador não foi um jogador qualquer nem o boneco estava ali por um motivo fútil.

Supertições, crendices, escapes, desculpas, motivações, todo o tipo de sentimentos que através das décadas são comuns aos jogadores de futebol. E assim é neste caso. Mas lá iremos.

(http://2.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/SYTV2IhLjzI/AAAAAAAADvI/sSZNRhymc4Y/s400/279.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/francisco-vieira (http://serbenfiquista.com/jogador/francisco-vieira)

Francisco Agostinho Viera, nasceu em 28 de Agosto de 1897 na Rua 4 de Infantaria, Campo de Ourique, Lisboa. Um dos locais seminais e de prestigiosa tradição do pioneirismo futebolístico Português.

(http://3.bp.blogspot.com/-Q3x9nwOcKRQ/UexVn1zrFGI/AAAAAAAAVVA/vC-3ZhxjIZ0/s640/1002474_10151513050976596_301111316_n.jpg)
Rua 4 Infantaria, 1955

No mundo do futebol ficou conhecido por Chiquinho. Foi um excelente guarda-redes do Sport Lisboa e Benfica e da selecção nacional Portuguesa. Foi também e até ao aparecimento do mítico Costa Pereira, talvez o mais popular dos guardiões Benfiquistas.

(http://1.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/SY4q_fdvvCI/AAAAAAAADvQ/pjzGqK_XTFY/s400/06-09-1925.jpg)

Em 1925, dele dizia Cândido de Oliveira: ...é um guarda-redes que sai sempre vitorioso da severa análise dos técnicos e que sabe como poucos, pelas suas excelentes qualidades de jogador, dominar, assombrando, as grandes multidões sempre tão apaixonadas e caprichosas.

Chiquinho começou a praticar o futebol nas Oficinas de S. José, internato de Lisboa onde foi educado.

(http://lh4.ggpht.com/-0rwdreYPF3Q/VFM_vOowXdI/AAAAAAABYOE/oM-U4dMsRDQ/Oficinas-de-S.-Jos.10-1953_thumb1.jpg?imgmax=800)
Oficinas de S. José na Praça S. João Bosco no Alto dos Prazeres em Lisboa, em fotos de 1953.
Mais informação, aqui: http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014_10_01_archive.html (http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2014_10_01_archive.html)


Oficialmente, o Benfica foi o único clube que representou. E começou não na posição de guarda-redes mas antes como defesa à esquerda.

(http://3.bp.blogspot.com/-r0ByvKUWV7g/U0RDfUD6PBI/AAAAAAAANJg/iAK5H_4RQ1E/s1600/3.%C2%AA+cat.+HSLB+I.+120.jpg)
A 3.ª categoria Campeã Regional em 1909/1910.
Fonte: Em Defesa do Benfica. Chiquinho é o jogador no primeiro plano mais à direita. Está ao lado do... guarda redes Augusto Jorge!

Curiosamente na hora do abandono, em 1926 referia que mesmo não "desgostando" do lugar de guarda redes, preferiria ter feito uma carreira a avançado centro ou a médio. Coisas do futebol...

No nosso clube começou a jogar na primeira equipa em 1918/1919, o que denota a sua persistência pois iniciou-se pelo menos 9 anos antes nas nossas categorias inferiores.

Em 1926, dá uma entrevista em que explica as razões do abandono do futebol. Razões económicas, como se percebe as suas palavras:  "Não posso deixar de me afastar. A necessidade da vida pede mais do que a nossa vontade".

Como eram diferentes esses tempos. Tempo do amadorismo e do amor à camisola. Francisco Viera era operário e lavrador. Ao fim de semana era jogador. A vida, a dura subsistência não lhe permitia continuar. Impunham-se as obrigações familiares. E assim por Porto de Mós, local onde residia, limitava-se a fazer um pouco de ginástica sueca. Sem ócios, apenas com duro trabalho. Relembrando os tempos de glória.

Para trás ficavam tempos de glória com as suas participações internacionais. Entre outras:

Espanha-Portugal 3-0. Particular. Sevilha em 16 de Dezembro de 1923
(http://2.bp.blogspot.com/-3deMwYbxhdE/UexLXIF3ryI/AAAAAAAATZk/T_BZ7dvGhbw/s1600/0+a+esp+3+Port+a383.jpg)
Foto: Vaz Velho. Chiquinho entre os seus colegas. O primeiro jogador à esquerda é o velho "Alberto Rio. Um ex-Benfiquista e fundador do CFB. Entre outros, nota-se também a presença de António Pinho.


Portugal-Itália 1-0. Particular, Lisboa 18 de Junho de 1925. (http://2.bp.blogspot.com/-D0x45ETpCx8/UexP-E6sCjI/AAAAAAAATaM/wi6rXDv2-9g/s1600/0+a+ita+5+Port+a386.jpg)
Foto: Vaz Velho. Chiquinho numa demonstração do seu estilo


Na hora do abandono comparavam-no para aos melhores até aquele tempo. Eduardo Luiz Pinto Basto e Picão Caldeira. Ficaram célebres e os seus mergulhos com estilo e mestria

(http://4.bp.blogspot.com/-tYaG8zHjZhE/Uit85nKekKI/AAAAAAAAKH8/eyEu2DC3Kbw/s400/2_2.jpg)


Como Alberto Miguéns nos mostrou alguns dias atrás, até Mestre Almada Negreiros se deixou impressionar e por isso o imortalizou num desenho mostrando esse estilo e generosidade. Aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/07/benficar-todos-os-dias.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/07/benficar-todos-os-dias.html).

Na hora da despedida, quando lhe perguntaram, Chiquinho apontou António Roquette do Casa Pia Atlético Clube como o mais completo e mais promissor guarda redes para lhe suceder. Assim seria.

Mas voltando à fotografia do início. Foi justamente Alberto Miguéns que me explicou a a história deste boneco. Uma história deliciosa! Tratava-se de uma mascote. Mas uma mascote muito peculiar e que ficou famosa. Chiquinho levava-a para os jogos para dar sorte mas ao mesmo tempo levava uma vara pau de marmeleiro. E colocava as duas encostadas às redes da baliza. E assim, cada vez que sofria um golo fazia "sofrer" a mascote à varada para que aprendesse e não voltasse a dar azar!

E reparem nesta capa de "O Domingo Ilustrado":

(http://3.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/SY4q_e2ZTQI/AAAAAAAADvg/j1ptMCy95lw/s400/17-05-1925.jpg)

O grande Ricardo Zamora, mítico guarda redes do Real Madrid e da selecção espanhola  também tinha a sua mascote!

(https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/a0/1c/8d/a01c8dc7f7206e98a75e0eede086d245.jpg)

E como se pode ler aqui: http://www.alvarezgomez.com/blog/ricardo-zamora-el-mejor-portero-del-mundo/ (http://www.alvarezgomez.com/blog/ricardo-zamora-el-mejor-portero-del-mundo/):

Así era Ricardo Zamora, el mejor. Y en su maletín, siempre, como una fiel mascota, una muñeca de trapo y  un frasco de colonia "Alvarez Gómez"
Um boneco de trapos e um frasco de água de colónia! Resta saber se também levava o pau de marmeleiro...



Era assim. Chiquinho comparava-se entre os grandes. À BENFICA. Sempre com espírito de vitória. Alguém tinha de pagar!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Reed em 19 de Julho de 2015, 21:11
Certamente uma das superstições mais engraçadas da história do futebol! Mais uma bela história Red. Muito obrigado pela partilha :amigo:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Julho de 2015, 22:12
Obrigado Reed  O0

Sabes Reed, a quantidade de histórias que andam por aí das figuras e factos do nosso Benfica são imensas. Levanta-se "uma pedra" e aparecem uma série de curiosidades, por vezes hilariantes, outras trágicas. Muitas e boas histórias atendendo à extraordinária qualidade e quantidade das nossa figuras.

Eu estou muito, cada vez mais centrado em descobrir coisas. Dá uma satisfação danada. Há coisas na incubadora mas nunca sei ao certo se alguma vez irão acabar aqui. Não há muito tempo e por vezes até tenho de me controlar. O que é giro é que há histórias que estão paradas e depois com uma nova fotografia ou com um recorte de jornal acabam por explodir. Depois é uma questão de montar e sai num ápice.

O pior disto é que há muita coisa que não se sabe porque está guardada. Seja porque ainda não está disponível ou catalogada online seja porque jornais não disponibilizam os seus arquivos.

Uma peça após outra. Estou certo que mais material aparecerá.

Quanto às superstições, concordo. Esta do Chiquinho era deliciosa. Hoje chamavam-lhe maluco. Lembro-me por exemplo do nosso grande Manuel Bento que pelo que se diz guardava algo na suas luvas. E fez questão em fazer segredo...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: bicadas.come em 19 de Julho de 2015, 22:53
Grande Serviço ao Benfiquismo RedVCS "esse" de Super
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 19 de Julho de 2015, 23:58
Citação de: Reed em 19 de Julho de 2015, 21:11
Certamente uma das superstições mais engraçadas da história do futebol! Mais uma bela história Red. Muito obrigado pela partilha :amigo:

Muito engraçado. Gostei muito de conhecer mais uma história bonita.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Julho de 2015, 00:03
Citação de: bicadas.come em 19 de Julho de 2015, 22:53
Grande Serviço ao Benfiquismo RedVCS "esse" de Super

Obrigado bicadas.come e faneca.slb4ever O0

O retorno que recebo dos Benfiquistas como eu daquilo que escrevo é muito recompensador.

O Benfiquismo é feito do que se contribui no presente, do que se pensa e planeia para o futuro e do que se respeita e honra relativamente ao passado. Para isso é preciso conhece-lo. Quanto mais o conheço mais amo o Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 20 de Julho de 2015, 00:03
Citação de: RedVC em 20 de Julho de 2015, 00:03
Citação de: bicadas.come em 19 de Julho de 2015, 22:53
Grande Serviço ao Benfiquismo RedVCS "esse" de Super

Obrigado bicadas.come  O0

O retorno que recebo dos Benfiquistas como eu daquilo que escrevo é muito recompensador.

O Benfiquismo é feito do que se contribui no presente, do que se pensa e planeia para o futuro e do que se respeita e honra relativamente ao passado. Para isso é preciso conhece-lo. Quanto mais o conheço mais amo o Benfica.

Nem mais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Reed em 20 de Julho de 2015, 00:15
Citação de: RedVC em 20 de Julho de 2015, 00:03
Citação de: bicadas.come em 19 de Julho de 2015, 22:53
Grande Serviço ao Benfiquismo RedVCS "esse" de Super

Obrigado bicadas.come e faneca.slb4ever O0

O retorno que recebo dos Benfiquistas como eu daquilo que escrevo é muito recompensador.

O Benfiquismo é feito do que se contribui no presente, do que se pensa e planeia para o futuro e do que se respeita e honra relativamente ao passado. Para isso é preciso conhece-lo. Quanto mais o conheço mais amo o Benfica.

Não diria melhor  :).
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 20 de Julho de 2015, 13:51
http://www.publico.pt/local/noticia/uma-casa-airosa-para-tres-homens-de-matosinhos-que-nao-tinham-casa-1702417

O senhor mais à esquerda chamasse Augusto Fernandes e no artigo dizem que jogou com o Shéu. Alguém sabe que carreira teve no clube?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Julho de 2015, 22:00
Não conheço.

Não consta da base de dados dos jogadores que jogaram na primeira equipa.

Nas equipas de juniores onde jogou Shéu evoluíram outros jovens de grande potencial: Alves, António Bastos Lopes, Fidalgo, Jordãoe outros mais obscuros como Franque, Eurico Caires, Queiroz, Sarmento, Rachão, Baptista, entre outros. Não consta nenhum Augusto Fernandes. Terá jogado com Shéu nos juvenis. Há muitos jogadores com passagem fugaz nas camadas jovens do Benfica.

Aqui estão algumas fotos que encontrei de equipas jovens desses períodos. Não consta.

(http://i59.tinypic.com/n670gg.png)

Citação de: zappendrix em 11 de Fevereiro de 2015, 11:09
(http://i59.tinypic.com/30vdix2.jpg)
Grande equipa de júniores do Benfica com António Fidalgo, António Bastos Lopes, João Alves, Vital, Shéu, Norton de Matos...


É difícil mas talvez alguém possa ajudar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 21 de Julho de 2015, 09:37
Obrigado pelas fotos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Microwaves em 21 de Julho de 2015, 22:38
Que tópico delicioso...que bom estar de férias e ter tempo para andar perdido pelo fórum
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Julho de 2015, 01:05
Citação de: Microwaves em 21 de Julho de 2015, 22:38
Que tópico delicioso...que bom estar de férias e ter tempo para andar perdido pelo fórum

A inveja é verde por isso resta-me desejar umas óptimas férias.
Obrigado pelo elogio ao tópico. Boas leituras. Estas e outras.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Trezeguet em 22 de Julho de 2015, 10:51
(http://i.imgur.com/juu7xQ7.jpg)

Época de 1980-81. De pé: Nené, César, Bastos Lopes, Frederico, Laranjeira e Bento.
Em baixo: João Alves, Vital, Carlos Manuel, Pietra e Shéu.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 22 de Julho de 2015, 12:35
Boa equipa.

Cheia de mística!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 23 de Julho de 2015, 22:24
Regresso após vencer o primeiro campeonato da história do clube, na segunda edição da competição (o primeiro foi para o porto):

(https://scontent-mad1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xaf1/v/t1.0-9/q82/s720x720/11781762_484685101712885_3396203643560633796_n.jpg?oh=30633b0e409ba54d631b2dc8657cf910&oe=56145F3D)

A bordo do "Lima", a caminho da saudosa Lisboa, a equipa vencedora do primeiro Campeonato Nacional recorda as paisagens, o acolhimento e as vitórias na Madeira, após a sua visita à Pérola do Atlântico entre 10 e 22 de julho de 1936.

Navio Lima: (http://navios.no.sapo.pt/lima.jpg)

Campeonato vencido com apenas mais uma vitória que o 5º classificado: http://www.zerozero.pt/edition.php?op=&id_edicao=58

Não sei se o clube foi lá porque queria aumentar a popularidade ou porque já era muito popular. A nível de competições oficiais raramente (nunca?) devem ter ido lá jogar desde a fundação até esse ano (e a volta a Portugal claro que não passava por lá).
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Julho de 2015, 23:39
Essas visitas à Madeira ficaram célebres. Bem sucedidas do ponto de vista desportivo e social. A primeira foi logo em 1922, chefiada por Cosme Damião e Júlio Ribeiro da Costa. Alberto Miguéns publicou no final de 2011 um excelente artigo acerca dessas diversas visitas:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/12/glorioso-na-madeira-esta-se-bem.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/12/glorioso-na-madeira-esta-se-bem.html)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 24 de Julho de 2015, 23:50
Portanto em 36 já foram convidados parcialmente devido ao bom nome do clube criado na visita de 1922 e que resulta da semente plantada por Cosme Damião em 1912.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Julho de 2015, 00:06
Exacto.
Cosme foi uma figura extraordinária. Ele via antes dos outros. Ele fazia mais do que os outros. As suas ideias eram inovadoras. A criação das casa do Benfica era parte da estratégia. Mérito também para muitos ex-jogadores do Benfica levavam a semente para outras cidades e clubes. E depois os sócios entusiastas que fundaram as casas do Benfica pelo país e fora dele. O Benfica nacional e mundial foi sonhado bem cedo por Cosme Damião e seus pares.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Julho de 2015, 00:21
Ainda sobre o boneco mascote de Chiquinho existe uma outra imagem:

(http://i58.tinypic.com/seyqg2.png)

Em cima: Eduardo Pombo, Artur Augusto, José Pimenta, Francisco Vieira, Fernando de Jesus e Vítor Hugo Tavares.
Em baixo: Jesus Crespo, António Ribeiro dos Reis, Alberto Augusto, Vítor Gonçalves e João Morais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 28 de Julho de 2015, 09:50
Citação de: RedVC em 25 de Julho de 2015, 00:06
Exacto.
Cosme foi uma figura extraordinária. Ele via antes dos outros. Ele fazia mais do que os outros. As suas ideias eram inovadoras. A criação das casa do Benfica era parte da estratégia. Mérito também para muitos ex-jogadores do Benfica levavam a semente para outras cidades e clubes. E depois os sócios entusiastas que fundaram as casas do Benfica pelo país e fora dele. O Benfica nacional e mundial foi sonhado bem cedo por Cosme Damião e seus pares.

Nem mais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2015, 00:50
-60-
Belém, a Benfiquista


Primazia para as imagens. Decifrando, deleitando. Benficando.

(http://i58.tinypic.com/2zsw77b.png)
(http://i59.tinypic.com/xpu6ah.png)
(http://i57.tinypic.com/212740y.png)
(http://i57.tinypic.com/fm77ko.png)
(http://i59.tinypic.com/2ikayk7.png)
(http://i60.tinypic.com/14cqk28.png)
(http://i58.tinypic.com/34diwrs.png)
(http://i59.tinypic.com/2z5m2br.png)
(http://i58.tinypic.com/2dm84yo.png)
(http://i62.tinypic.com/jfkvv7.png)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 02 de Agosto de 2015, 20:20
Benficando.

Delícia :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Agosto de 2015, 23:45
Obrigado faneca_slb4ever.  O0

Belém foi local onde tudo começou. Não foi o único mas foi o mais importante.
Depois há Benfica. E aí sei tão pouco...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 03 de Agosto de 2015, 09:14
Citação de: RedVC em 02 de Agosto de 2015, 23:45
Obrigado faneca_slb4ever.  O0

Belém foi local onde tudo começou. Não foi o único mas foi o mais importante.
Depois há Benfica. E aí sei tão pouco...

Sem dúvida, um local sagrado :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: manager2013 em 04 de Agosto de 2015, 14:39
Verdadeiro serviço público RedVC. Obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Agosto de 2015, 19:29
Muito obrigado O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 05 de Agosto de 2015, 23:54
Dois jogadores de hóquei com um longo percurso no Benfica:

(http://i.imgur.com/45HNGyg.jpg)

Leonel Costa.

Serviu o clube entre 1927 e 1944 tendo vencido inúmeros títulos regionais e representado a selecção em europeus e mundiais.

(http://i.imgur.com/qVx99Rr.jpg)

Germano Magalhães.

Representou o Benfica sensivelmente durante 20 anos, pouco depois da secção ter aberto, em 1919, e posteriormente de 1926 até ao momento em que se retirou.

Retirado do tópico: Memorial Benfica, Glórias.

Estará, porventura, entre os jogadores de maior longevidade, no desporto português. Fez parte da primeira selecção nacional que disputou o I Campeonato da Europa em 1939, participou no I Campeonato do Mundo, realizado na Alemanha, em 1936, e foi campeão de Lisboa de 1927 a 1931 e em 1937. Abandonou as provas oficiais em Dezembro de 1947, com 47 anos, dos quais 42 como praticante e 30 como jogador. É uma das mais relevantes figuras do clube. Ao despedir-se, no Pavilhão dos Desportos, declarou à revista Stadium: "A minha maior consolação está em oferecer ao Benfica todas as medalhas que ganhei desde 1911. Assim, ao menos, sinto que vivo no clube e para o clube. A vida é tão curta."
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Agosto de 2015, 00:26
Muito bom!

O Benfica é o clube mais antigo do mundo a praticar hóquei em patins sem interrupção. Desde Junho de 1917. O célebre ringue por trás da sede na Gomes Pereira foi palco de muitos jogos e vitórias.

Essa atitude de Germano de Magalhães é mesmo à Benfica.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 06 de Agosto de 2015, 09:36
Citação de: RedVC em 06 de Agosto de 2015, 00:26
Muito bom!

O Benfica é o clube mais antigo do mundo a praticar hóquei em patins sem interrupção. Desde Junho de 1917. O célebre ringue por trás da sede na Gomes Pereira foi palco de muitos jogos e vitórias.

Essa atitude de Germano de Magalhães é mesmo à Benfica.




Hóquei é BENFICA!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 06 de Agosto de 2015, 14:59
Alguns dos atletas que passaram pelo rinque da Gomes Pereira, que o RedVC referiu. Entre eles António Livramento, de joelhos ao centro:

(http://i.imgur.com/Ciyo5yf.jpg)

E aqui está a primeira equipa de hóquei do Bemfica:

(http://i.imgur.com/Xq34jS4.png)

Carlos Salgado, José Amaral, Rogério Marques, Jorge Evaristo, Eduardo Sobral Basto, Diamantino Tojal, Rogério Futsher, Isidoro d'Almeida, Augusto Sobral Basto e Carlos Morais da Costa.

Após 23 anos de actividade:

(http://i.imgur.com/NKOVMji.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Agosto de 2015, 20:24
Excelente Theroux!
Principalmente essa foto de 1917 era para mim totalmente desconhecida. Foto magnífica. Os primeiros hóquistas do Glorioso! Obrigado pela partilha.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Agosto de 2015, 20:48
A história  de como a Gomes Pereira chegou à posse do clube é bastante curiosa. É um local de grande significado para o Benfica. E durante muito tempo. Existem muitas histórias. Recordações doce de um dos berços do Benfica.

(http://2.bp.blogspot.com/_vyPcxm-fW6Y/SxZRbJtNq8I/AAAAAAAAH00/SOE6WRpT91g/s1600/slbyh8.jpg)

No blogue Retalhos de Benfica há este interessante depoimento:

"Tomo a liberdade de lhe enviar este mail que achei interessante, principalmente a foto que se refere ao Cinema do S.L.B., local onde hoje funciona a Junta de Freguesia; foi o cinema onde a grande maioria dos habitantes do bairro pela 1ª vez assistiu a um filme.

É um lugar cheio de história do bairro de Benfica, funcionava no local a sede do Sport Lisboa em Benfica, tinha um ringue onde a modalidade de excelência era o hóquei em patins, por lá passaram grandes glórias desse desporto que foi, a par do futebol, o mais popular em Portugal, entre os anos 40 e 80; por lá passou o maior hoquista mundial de todos os tempos António Livramento, por lá passou António Lobo Antunes que também praticou a modalidade. Também por lá passei eu, num plano bem mais modesto, pois joguei hóquei desde os 12 anos aos 18 no S.L.B., e onde fiz muitas amizades que perduram até hoje.

No edifício existiam várias salas onde se podia jogar às cartas, xadrez, damas, ping-pong, bilhar, matraquilhos, existia também um ginásio, e um pequeno café. No verão havia cinema ao ar livre no ringue, e onde hoje é a piscina era um campo de tiro ao arco.

Outra faceta que para mim tem um significado muito especial eram os bailes que se realizavam na sala de cinema no fim do ano e Carnaval, foi lá que conheci a minha mulher em 1967 num baile de Carnaval, uma menina do Calhariz de Benfica com a qual continuo casado e namorando.

Cumprimentos
Vitor Filipe"


Duas entre as imagens que estão disponíveis nesse magnífico blogue:

Salão-Cinema do Sport Lisboa e Benfica (fonte original: digitarq)
(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=CEE3DCC1D679EFCA3D4B46A3659AA0FC&r=0&ww=1000&wh=600)


Juniores 1959
(http://1.bp.blogspot.com/_vyPcxm-fW6Y/Syqfc2rhmHI/AAAAAAAAH6w/ue3hcxH0sSs/s1600/Carlos+ao+centro+com+15+anos+1959.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 06 de Agosto de 2015, 21:50
Citação de: Theroux em 06 de Agosto de 2015, 14:59
Alguns dos atletas que passaram pelo rinque da Gomes Pereira, que o RedVC referiu. Entre eles António Livramento, de joelhos ao centro:

(http://i.imgur.com/Ciyo5yf.jpg)

E aqui está a primeira equipa de hóquei do Bemfica:

(http://i.imgur.com/Xq34jS4.png)

Carlos Salgado, José Amaral, Rogério Marques, Jorge Evaristo, Eduardo Sobral Basto, Diamantino Tojal, Rogério Futsher, Isidoro d'Almeida, Augusto Sobral Basto e Carlos Morais da Costa.

Após 23 anos de actividade:

(http://i.imgur.com/NKOVMji.jpg)
fabulosa a foto do livramento.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 06 de Agosto de 2015, 22:04
Reliquia :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Mikaeil em 07 de Agosto de 2015, 15:54
Que trabalho fantástico!!!  :bow2: :smitten: :drunk:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Agosto de 2015, 16:12
-61-
Um certo pátio.

No AML pode encontrar-se uma fotografia de Eduardo Portugal retratando uma porta situada em Belém. Essa porta é encimada por uma placa com inscrições que nos esclarecem acerca da sua importância histórica seiscentista. No entanto nada é dito acerca de que essa porta (ainda hoje) se situa no interior de um certo pátio em Belém; um lugar com uma enorme importância para o universo Benfiquista.

(http://i60.tinypic.com/334kqjq.jpg)
Fonte: AML

A este mesmo lugar se refere o jornalista e escritor Homero Serpa na sua fascinante História do Desporto em Portugal:

... O pátio situado nas traseiras da Farmácia tinha o seu valor histórico. Ali tinham funcionado as mercearias da rainha Dª. Catarina fundadas em Maio de 1619 a favor de vinte cavaleiros de África. O conde do Restelo encarava os prejuízos causados pelo jogo com bonomia, limitando-se a mandar colocar grades nas janelas.

Percebe-se assim que se trata do pátio das traseiras da Farmácia Franco. A famosa farmácia propriedade do Conde do Restelo.

É comum dizer-se que esse pátio é o espaço onde "tudo começou". Assente no que li, penso que a ideia sendo correcta é também simplista. Foi assim mas não apenas. Na minha interpretação, a ideia de fundar o nosso clube foi sendo construída em diversos tempos e espaços e com a contribuição de mais, muito mais do que 24 homens. Há que diferenciar a ideia do que foi o acto da fundação. Há também que usar de bom senso. Quando leio essa nova teoria que olha para o papel do primeiro treino e sugere que o Sport Lisboa terá tido dez fundadores hesito entre considera-la primária ou absurda. É não entender o essencial.

Mas voltando ao que para aqui interessa, a explosão da ideia "com estes jogadores fazia-se um grande Grupo só com Portugueses" acontecida no final de 1903 no Café do Gonçalves em Belém, teve por trás um processo. Antes e depois. Desde esse dia e até ao acto fundador de 28 de Fevereiro de 1904 houve lugar a uma conjugação de ideias, vontades e solidariedades. A formação de um clube não surge do nada nem muito menos depois de um treino.

Com o processo em marcha a virtude da ideia tornou-se certamente óbvia. Como disse Cosme "a ideia do clube seguiu-se ao prazer da vitória". Cosme referia-se à vitória num jogo contra o grupo dos Pinto Basto nas terras do Desembargador às Salésias; um dos locais da zona de Belém com aptidão para a prática do futebol.

E Belém tinha essa vantagem. Era uma terra de muita juventude, com extensos areais e vastos campos onde se tornava possível o encontro de diversos grupos de miúdos e alguns veteranos para praticar o futebol. Por lá se travavam conhecimentos, partilhavam saberes e estabeleciam solidariedades. Tempos pioneiros de precárias condições e improvisados campos, com jogadores mostrando uma enorme força de vontade vinda da paixão pelo jogo, mesmo que sofrendo alguma reprovação social. Não eram fáceis esses tempos.

A fundação do Sport Lisboa e Benfica teve pois vários palcos e vários tempos. Concretizou-se em 28 de Fevereiro de 1904 mas começou antes. Começou entre Portugueses e nos espaços onde conviviam antigos Casapianos, membros do clube Naval e do Arsenal do Alfeite, e muitos miúdos de Belém. A ideia do nosso clube começou nesses locais onde se cruzaram diversos grupos de fluída composição para praticar o futebol. Começou nos areais de Belém, começou nas terras do Desembargador às Salésias, começou também num certo pátio. O pátio da Farmácia Franco.

É de notar que ao se salientar outros locais em nada se faz diminuir a importância deste pátio, que é sem dúvida um local ilustre do universo Benfiquista. Por esse pátio futebolaram inicialmente os Catataus acompanhados de Daniel dos Santos Brito e Manuel Gourlade, os diligentes funcionários da Farmácia Franco. E é justamente acerca deste tempo que Daniel dos Santos Brito nos deixou um testemunho fascinante:

"Quando se estava na maior influência e os vidros se partiam, aparecia o velhote Mendes, administrador da Farmácia, que muito apitado, punha termo ao jogo, sem apito. O Manuel Gourlade, que era empregado na Farmácia, dedicou-se a este jogo e principiou com os Rosa Rodrigues e eu a organizar um grupo, pois os jogadores iam aumentando de número e o espaço do pátio da farmácia não tinha condições para ter tão elevado número. Principiamos pois a jogar, primeiro na Rua Vieira Portuense depois na Praia do Restelo onde hoje é a Praça do Império, na retaguarda da Quinta da Praia (Loulé) e ainda à beira do rio, no terreno entre as duas docas." (fonte: História do Sport Lisboa e Benfica, 1904-1954 de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva).

Ora, como escreveu Homero Serpa, tudo isto se passava com a cumplicidade e bonomia do conde do Restelo que em resposta aos estragos infligidos nos vidros das janelas desse espaço apenas mandava colocar grades. Nesses tempos estavam também presentes, Pedro Augusto Franco, irmão do Conde do Restelo assim como Manuel Franco, farmacêutico e presumo também familiar do Conde do Restelo.

Estava também o médico António Azevedo Meireles que prestava igualmente serviço na dita farmácia. António Azevedo Meireles e Manuel Franco foram sócios protectores do clube nos seus primeiros tempos de vida, assim se mantendo mesmo depois da partida para Benfica. Certamente que o seu apoio financeiro terá tido grande importância para a sobrevivência do nosso clube.

Uma homenagem a quatro desses seis bravos homens:

(http://i62.tinypic.com/2rmlc01.png)
Inácio José Franco (conde do Restelo), António de Azevedo Meireles (médico), Daniel Santos Brito e Manuel Gourlade (funcionários da Farmácia). Não conheço infelizmente fotografias de Pedro Augusto Franco e de Manuel Franco.

Do interior da Farmácia não temos fotografias mas temos uma imagem que nos dá uma ideia de como era o escritório da Farmácia, o local onde provavelmente terá sido assinada a Acta fundadora do nosso clube

(http://i61.tinypic.com/2en9stt.png)
O escritório da Farmácia Franco. Em 28 de Fevereiro de 1904,
numa destas mesas terá sido constituída a Acta de fundação do Sport Lisboa.

Os quatro irmãos Rosa Rodrigues moravam no 1º andar da Rua Direita de Belém, nº 144. José, António e Cândido, os três mais velhos foram fundadores do Sport Lisboa mas todos vestiram o manto sagrado.

Apesar de em 1904 ter apenas entre 22 a 24 anos de idade, José Rosa Rodrigues foi nomeado o primeiro presidente do Sport Lisboa. Não sendo o mais velho dos 24 fundadores (Gourlade por exemplo tinha 32 anos) era no entanto o mais velho dos Catataus. A sua escolha para líder era pois óbvia demonstrando o prestígio e influência dos Catataus no seio do novo clube. Era um clube de jogadores e por isso José não foi apenas dirigente mas também jogador, evoluindo nas posições de guarda-redes ou defesa.

Cândido e António Rosa Rodrigues eram os irmãos do meio e os que mais se destacaram como jogadores. No Sport Lisboa e no SCP sempre actuaram na primeira categoria. Tinham prestígio e qualidade futebolística tendo por isso representado a AFL em jogos internacionais. Nesse tempo não existia ainda a FPF e as selecções de Lisboa tinham a quase totalidade dos melhores jogadores nacionais. Cândido jogava usualmente a interior à esquerda ou avançado ao centro enquanto António evoluía frequentemente como interior à direita.


Por fim, Jorge Rosa Rodrigues teve menor notoriedade futebolística. Era o mais novo dos quatro não fazendo parte dos fundadores provavelmente por à data ter apenas 12 anos de idade. Capitaneou durante algum tempo a nossa segunda categoria e teve presenças episódicas na primeira categoria. Pelas fotografias percebe-se que jogou quer como avançado à direita quer como guarda-redes.

Nota importante: dos quatro irmãos, José, António (este apenas em dois jogos em 1909) e Jorge representaram o nosso clube já depois da fusão de 1908. Não sei ao certo se José também ainda o fez antes de se tornar sócio do SCP. Apenas Cândido tenho ideia de ter cortado totalmente com o nosso clube após aquela data. Isto é importante para se perceber como a fusão marcou a continuidade do Sport Lisboa e do Grupo Sport Benfica. Dos dois, um.

Juntamente com a sua irmã Maria José, constituíam os cinco filhos do empresário Cândido Rodrigues, armador e proprietário de barcos de pesca com concessões nas costas da Nazaré, Figueira da Foz, Ericeira, Sesimbra e Setúbal.

(http://i57.tinypic.com/2yzaop5.png)
Postal datado de 1924 retratando a "chegada das barcas do Catatau". Era talvez alusiva a José Rosa Rodrigues apesar deste já ter falecido em 30 de Abril de 1924.

Os Catataus eram pois miúdos de classe média-alta. Moravam numa rua elegante, num prédio burguês e tinham amigos igualmente bem posicionados. Por via de um depoimento de Cosme Damião* sabemos que com os Catataus jogavam também com os irmãos Carrilho, seus vizinhos, e com os irmãos Monteiro (presumo que Mário e Carlos) moradores na mesma rua. A estes nomes podemos ainda com segurança acrescentar os irmãos Carlos e Manoel França,igualmente moradores nessa Rua Direita de Belém e fundadores do Sport Lisboa. Manuel morreu muito novo e por isso é um dos quatro fundadores de quem não temos qualquer fotografia. Mas destes e de muitos outros miúdos de Belém talvez um dia ainda voltemos a falar.
* "História do Sport Lisboa e Benfica, 1904-1954" de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva


(http://i57.tinypic.com/35apylk.png)
Outra fotografia de Eduardo Portugal (Fonte: AML). A Rua de Belém. Ainda hoje a Rua mais destacada de Belém.

Os Catataus eram ainda os donos da bola. Literalmente. Os donos da bola de muitas dessas primeiras futeboladas. A bola, esse objecto de prazer, tão raro quanto desejado nesses dias pioneiros. Por isso e pelos seus talentos futebolísticos, os Catataus tiveram uma grande preponderância nos grupos onde evoluíram. Eles serão sempre parte integrante e fundamental da nossa história. As decisões que tomaram e que determinaram caminhos separados do nosso clube a partir de 1907 (António e Cândido), 1908-09 (José) e cerca de 1914 (Jorge), devem ser percebidas no seu tempo e nas suas circunstâncias. Ao que parece e talvez de forma compreensível, os Rosa Rodrigues não terão visto com bons olhos o rumo que o clube foi tomando após a fusão. Saíram e por isso deixaram de influenciar o destino do clube. E na vida é assim. Tomam-se opções e enfrentam-se as consequências. Felizmente, o clube sobreviveu a essa crise de 1907 e a muitas outras que se seguiram. E, talvez "pecado" maior, o clube expandiu-se muito para além do que alguns dos seus criadores alguma vez imaginaram.

Dar justo reconhecimento ao papel inicial dos Rosa Rodrigues em nada ofusca a importância central de Cosme Damião. Nem muito menos afecta o reconhecimento à contribuição seminal de Manuel Gourlade. Nem (como justamente defende Hélder Tavares, o notável responsável pelo arquivo do Casa Pia Atlético Clube) menoriza a importância do Professor Silvestre da Silva, um ilustre Casapiano e Benfiquista desses tempos. Cosme Damião foi o maior e melhor de todos nós mas o Sport Lisboa e Benfica teve felizmente muitas outras grandes figuras. Antes e depois de Cosme.

Aos quatro irmãos Rosa Rodrigues é devido um justo reconhecimento. Como só os Benfiquistas sabem dar. Não esquecendo a história nem renegando os nossos pioneiros.

(http://i57.tinypic.com/s6q87p.png)

Por fim, olhando para as datas em que faleceram percebemos que os quatro irmãos acompanharam de forma distinta a evolução do nosso clube:

José faleceu em 1924 com apenas 40 a 42 anos de idade. O Benfica estava a pouco tempo de a inaugurar o estádio das Amoreiras, a primeira casa própria da sua história.

António faleceu em 1938 com apenas 51 anos. Nesse ano o Benfica levava 12 anos da era pós-Cosme e já tinha feito uma evolução interessante mantendo um aceso despique com o SCP pela liderança do futebol nacional.

Ao invés, Cândido com 89 anos e Jorge com 79 anos, falecidos respectivamente em 1974 e 1971, tiveram oportunidade de ver a grandeza mundial atingida pelo clube que ajudaram a nascer mas que cedo abandonaram. Viram as conquistas da Taça Latina e das duas Taças dos Campeões. Viram as obras de Cosme, Bermudes, Afonso, Bogalho e Coutinho, viram a construção dos estádios das Amoreiras, Campo Grande e Luz. Viram a ascensão e glória de Vítor Silva, Albino, Rogério Pipi, Águas, Coluna, Eusébio e tantos outros. Dos seus tempos de jogador, Cândido Rosa Rodrigues deixou-nos uma agenda onde escrevia as suas impressões e algumas notas sumárias dos jogos disputados pelo Sport Lisboa. Não sei se terá registado outras notas ao longo da sua vida. Mas se existirem serão com certeza muito curiosas. Muito mesmo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Eddie_ em 18 de Agosto de 2015, 17:03
Estou sem palavras.
Fantástico texto, RedVC.  :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Agosto de 2015, 20:13
Muito obrigado Eddie_  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 19 de Agosto de 2015, 04:07
Fantástico texto, RedVC.

Tens mais sobre a altura da fusão de 1908?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Agosto de 2015, 08:53
Citação de: Gottschalk em 19 de Agosto de 2015, 04:07
Fantástico texto, RedVC.

Tens mais sobre a altura da fusão de 1908?

Muito obrigado Gottschalk  O0

Em resposta à pergunta: não.
Tenho no entanto interesse em perceber mais do que foi o Grupo Sport Benfica e como se processou essa fusão. Não porque tenha dúvidas sobre o que ela foi genericamente mas porque tenho curiosidade nos detalhes. Ainda não me debrucei sobre ela mas se encontrar algum elemento interessante irei partilhar. A fusão é um período muito interessante da nossa história mas para o qual é preciso ter fontes originais de que não disponho.  Sei que no entanto há uma pessoa que um dia poderá fazer um trabalho excelente sobre esse período. Vamos esperar.

Só não digo que deva ser trabalho para profissionais porque o que tenho visto é que alguns profissionais tem feito muito mau serviço ao Benfica e aos Benfiquistas. Há que ser exigente e pedir explicações para alguns absurdos e incompetências que tem sido praticadas a coberto do nome do Benfica. Há situações embaraçosas que deviam envergonhar quem as fez. Por outro lado há amadores que sabem e divulgam muito melhor. Sem erros grosseiros e mais importante com respeito pela verdade histórica e pelo carácter de homens que construíram o Sport Lisboa e Benfica. Devemos-lhe isso. Com paixão e comprometimento com o clube e com a verdade.

O que eu faço é puramente amador. A minha vida é outra. É por isso passível de ter alguns erros mas faço um esforço para que sejam poucos. Dedico algum dos meus momentos de lazer a esta pesquisa e divulgação para 1) satisfazer o meu prazer e a minha curiosidade; 2) fomentar o conhecimento colectivo e a discussão sobre estes temas do passado do nosso clube. Acredito que nos ajudam a perceber a nossa grandeza enquanto colectividade. Uma vez mais o que interessa neste tópico não é exibir conhecimento. O que interessa é fomentar discussão e no final ficarmos mais ricos e conscientes porque Ser Benfiquista é um sentimento único. Pelo que sentimos nos Estádios e pavilhões mas também pelo orgulho da nossa história e das nossa figuras.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 19 de Agosto de 2015, 19:04
Ir às fontes originais deve ser fascinante. E tentar mapear melhor e com mais rigor esses anos embrionários, por assim dizer, da nossa história.

É um trabalho que devia ser feito. A minha área de estudos é história por isso é algo que me interessa sempre.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Elvis the Pelvis em 19 de Agosto de 2015, 19:08
Excelente trabalho que o RedVC faz.

Para mim, a secção do passado do Benfica é, com larga distância, a melhor de todo o fórum, e tenho pena que os próprios users ou a grande maioria deles, não participe mais nela. Era uma forma de conhecer melhor a história riquíssima do seu próprio clube.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Agosto de 2015, 08:58
Citação de: Gottschalk em 19 de Agosto de 2015, 19:04
Ir às fontes originais deve ser fascinante. E tentar mapear melhor e com mais rigor esses anos embrionários, por assim dizer, da nossa história.

É um trabalho que devia ser feito. A minha área de estudos é história por isso é algo que me interessa sempre.

Felizmente há quem o já tenha feito.
Apesar das vicissitudes que o nosso acervo passou através das décadas foi sendo salvo a maior parte. Algumas Direcções foram precavidas, outras desleixadas. Algumas roçaram a inconsciência. Ter-se-à perdido material precioso (por exemplo na década de 90). Hoje existe uma recuperação e preservação exemplar e uma valorização satisfatória desse acervo. Acho que o clube ainda pode melhorar nesse último aspecto. É preciso ideias e é preciso trabalho. Esperemos que continue a existir interesse e investimento. Esperemos também que se aposta nas pessoas e nos projectos certos para isso.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 20 de Agosto de 2015, 17:48
Quem é que trabalha na área do acervo documental do clube, RedVC?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 20 de Agosto de 2015, 19:09
Citação de: RedVC em 20 de Agosto de 2015, 08:58
Citação de: Gottschalk em 19 de Agosto de 2015, 19:04
Ir às fontes originais deve ser fascinante. E tentar mapear melhor e com mais rigor esses anos embrionários, por assim dizer, da nossa história.

É um trabalho que devia ser feito. A minha área de estudos é história por isso é algo que me interessa sempre.

Felizmente há quem o já tenha feito.
Apesar das vicissitudes que o nosso acervo passou através das décadas foi sendo salvo a maior parte. Algumas Direcções foram precavidas, outras desleixadas. Algumas roçaram a inconsciência. Ter-se-à perdido material precioso (por exemplo na década de 90). Hoje existe uma recuperação e preservação exemplar e uma valorização satisfatória desse acervo. Acho que o clube ainda pode melhorar nesse último aspecto. É preciso ideias e é preciso trabalho. Esperemos que continue a existir interesse e investimento. Esperemos também que se aposta nas pessoas e nos projectos certos para isso.


Penso que o primeiro passo mais eficaz para "devolver" a história do clube aos benfiquistas é criar um projecto praticamente sem custos, bastante simples em termos logísticos, mas de enorme valor: colocar todos os jornais do clube online.

Seria uma contribuição fantástica para a divulgação da história do clube, a meu ver. Se tivesse algum tipo de influência nessa área era a prioridade nº1, claramente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Agosto de 2015, 20:45
Citação de: Theroux em 20 de Agosto de 2015, 19:09
Citação de: RedVC em 20 de Agosto de 2015, 08:58
Citação de: Gottschalk em 19 de Agosto de 2015, 19:04
Ir às fontes originais deve ser fascinante. E tentar mapear melhor e com mais rigor esses anos embrionários, por assim dizer, da nossa história.

É um trabalho que devia ser feito. A minha área de estudos é história por isso é algo que me interessa sempre.

Felizmente há quem o já tenha feito.
Apesar das vicissitudes que o nosso acervo passou através das décadas foi sendo salvo a maior parte. Algumas Direcções foram precavidas, outras desleixadas. Algumas roçaram a inconsciência. Ter-se-à perdido material precioso (por exemplo na década de 90). Hoje existe uma recuperação e preservação exemplar e uma valorização satisfatória desse acervo. Acho que o clube ainda pode melhorar nesse último aspecto. É preciso ideias e é preciso trabalho. Esperemos que continue a existir interesse e investimento. Esperemos também que se aposta nas pessoas e nos projectos certos para isso.


Penso que o primeiro passo mais eficaz para "devolver" a história do clube aos benfiquistas é criar um projecto praticamente sem custos, bastante simples em termos logísticos, mas de enorme valor: colocar todos os jornais do clube online.

Seria uma contribuição fantástica para a divulgação da história do clube, a meu ver. Se tivesse algum tipo de influência nessa área era a prioridade nº1, claramente.

Essa ideia a concretizar-se seria fenomenal.

Estou certo que o Clube já tem tudo digitalizado. Disponibilizar na rede todo esse material mesmo com marca de água (para mim um compromisso aceitável) certamente que não traria custos muito acrescidos. Seria também uma medida inovadora pois não conheço outro clube que o tenha feito.

Seria importante para profissionais mas também para os amadores que já têm interesse e trabalho feito. Seria igualmente importante para estimular novas pessoas, sócios e simpatizantes, a conhecer a nossa Gloriosa história. Às vezes tem de ser a informação a ir ter connosco para nos apercebemos de quão fascinante é. Fazer fluir a informação é sempre positivo.

Mais pessoas, mais interesse, mais trabalho significaria mais hipóteses de se descobrir factos e pessoas hoje esquecidas. O processo da descoberta é subtil. Depende de cada pessoa. O que para uma passa despercebido para outra é óbvia. E na descoberta o mais difícil não é ver. O mais difícil é saber o que se está a ver, relacionar e perceber.

Estou certo que há pessoas do museu que são leitores deste e doutro tópicos do SB. Fiquei com essa certeza da última vez que fui ao Museu...  :coolsmiley:

Estou certo que são pessoas inteligentes. Vamos esperar que o mérito da ideia se imponha. Estou certo que acontecerá. A questão é saber quando.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Agosto de 2015, 20:47
Citação de: Gottschalk em 20 de Agosto de 2015, 17:48
Quem é que trabalha na área do acervo documental do clube, RedVC?

Pessoas do museu, naturalmente. Não sei qual a política actual de consulta por profissionais ou por amadores. Penso que um contacto com o Museu responderá a isso.

No passado outras pessoas trabalharam e bem sobre o acervo. Ajudaram a preservar e estudaram muito material. O Benfica deve muito a essas pessoas. Algumas infelizmente já não estão entre nós.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 20 de Agosto de 2015, 23:15
RedVC, se é provável que pessoas do Museu acabem por ler o tópico não me custa nada apresentar um modelo especifico para o projecto (entre vários possíveis).

O ideal será sempre a divulgação gratuita e sem barreiras estéticas, mas este modelo alternativo dissiparia alguma dúvida que possa existir sobre a racionalidade a longo prazo do projecto (são mais de 3.000 edições), que como mencionaste seria inédito (a nível mundial, creio).

a) Divulgação gratuita dos jornais com uma resolução apenas razoável e marca de água.

b) Arquivo dos jornais acessível mediante a assinatura por um ano do O Benfica. Sem marca de água, e com a melhor resolução e qualidade possível.

Fomentava-se o interesse na história do clube, através da versão gratuita, que se traduziria num aumento de receitas para o jornal actual, ou seja, o acesso gratuito e universal às edições antigas acabava por ser uma fonte de receitas.

Mas, repito, o ideal seria mesmo a divulgação gratuita com a melhor qualidade possível.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Agosto de 2015, 00:03
Uma excelente contribuição, Theroux. São pois três os modelos propostos:
1 - gratuito e boa resolução
2 - gratuito com resolução razoável e marca de água
3 - acessível mediante assinatura de "O Benfica" e boa resolução

Mesmo este último modelo da assinatura do jornal me agrada. Traria algum retorno para o clube. Outra hipótese seria torna-lo acessível para sócios.

Admitindo um quarto (e pior) cenário que obrigasse à assinatura e disponibilizasse o acervo apenas o material numa resolução razoável ainda assim seria uma excelente notícia. O que mais importa é o acesso à informação. Incluo nisso o acesso aos jornais mas também aos números antigos do "Benfica Ilustrado".

Hoje em dia as questões ligadas aos de direitos de autor são complicadas mas permitem pelo menos parcialmente assegurar uma fonte de rendimento para as insitutições com esse tipo de acervo. Parece-me pois razoável que o Benfica venha a ter uma estratégia semelhante a outras instituições que já licenciam o direito de reprodução consoante o fim pretendido e para isso estabelecem tabelas de preços.

Não existem muitos jornais com o acervo disponível. Em Portugal para além da hemeroteca de Lisboa (poucas novidades nos últimos tempos) temos o DL por via da Fundação Mário Soares e o Digitarq que disponibiliza uma parte do acervo fotográfico de "O Século". É muito pouco. A falta do acervo de outros periódicos especialmente os que já não existem é uma lacuna gritante. Se o acervo catalogado do DN estivesse disponível, mesmo que com qualidade razoável seria muito interessante. Infelizmente vamos tendo apenas um cheirinho do tesouro do que por lá está guardado. Lá fora existem alguns bons projectos como por exemplo o "El Mundo Deportivo". Era bom que se multiplicassem.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 21 de Agosto de 2015, 00:38
RedVC, refereste ao Diário de Notícias? Existem algumas edições desse jornal online?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Agosto de 2015, 00:57
Não. Apenas fotos dispersas e num tamanho pequeno.
O jornal online tem uma secção antiga (ainda está online) "Lembra-se de"

Um exemplo: http://www.dn.pt/desporto/lembrasede/interior.aspx?content_id=1770261 (http://www.dn.pt/desporto/lembrasede/interior.aspx?content_id=1770261)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 21 de Agosto de 2015, 17:30
O Ricardo Serrado que apareceu em alguns programas do Vitórias e Património já não colabora com o Benfica, certo?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Agosto de 2015, 20:35
Tanto quanto eu sei, não.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 21 de Agosto de 2015, 21:46
Só para concluir a conversa sobre a divulgação de informação, um dos objectivos do CDI é colocar o conteúdo online: http://www.imageaccess.de/_Press/Reports/Apriva-Benfica.pdf
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Agosto de 2015, 21:58
Não consegui perceber qual a data do documento.

Positivo: o trabalho de digitalização, preservação e catalogação com (espero) práticas arquivísticas correctas.

Negativo: até agora o que vi desse projecto foi pouco e de qualidade (resolução) baixa.

Mas esperemos que no futuro o Benfica possa inovar e arranjar uma solução para tornar acessível esse material. Seria fantástico
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 21 de Agosto de 2015, 22:48
Esse artigo é de 2010, talvez de 2011. Certamente estão a utilizar as práticas mais correctas, as empresas e parceiros envolvidos no projecto dão essa garantia. O questão é mesmo a divulgação (que praticamente se resume ao Museu).

Resta aguardar por novidades, pois a qualidade é garantida:
Spoiler
https://www.youtube.com/watch?v=WNU4Q3mWH90
[fechar]
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 23 de Agosto de 2015, 22:18
(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a0/Emblema_Grupo_Sport_Benfica_%28Sem_fundo%29.png)

O que está representado no centro do símbolo?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Agosto de 2015, 23:04
 :coolsmiley:

Eu já franzi o sobrolho a esse detalhe.

Mas que eu saiba não há outro indício que nos leve a pensar que foi uma estética pouca feliz no desenho. Aliás não sei qual será a versão mais antiga desse emblema. Não sei qual a fonte, qual a data da versão que conhecemos.

Se formos por essa teoria então penso que não é râguêbi...

(http://i61.tinypic.com/2m3ralh.png)
Captura de ecran feita no Vitórias e Património nº 52

6 de Outubro de 1924.

Não sei muito de râguebi mas pelo que percebi é esta a data indicada pelo V&P 52 para o início da modalidade no Sport Lisboa e Benfica. O primeiro capitão e principal promotor da modalidade no clube terá sido Pedro Gomes. Ou seja começou já nos tempos das Amoreiras ainda Cosme Damião e Bento Mântua estavam ao leme do clube.

O processo terá começado através de um anúncio no jornal Sport Lisboa. Bastou uma semana para juntar atletas e iniciar os treinos e apenas três meses para o primeiro jogo. Contra o SCP (que terá começado em 1923). A primeira competição oficial em Portugal terá tido o Carcavelinhos, Ginásio Clube Português, SCP e Benfica.

O nosso clube é o mais antigo a praticar a modalidade sem interrupções.

http://videos.sapo.pt/w7ZOWdIzCfjhwNzsuvCP (http://videos.sapo.pt/w7ZOWdIzCfjhwNzsuvCP)


http://rugbyoeiras.paginas.sapo.pt/historiaRugby.htm (http://rugbyoeiras.paginas.sapo.pt/historiaRugby.htm)

Aqui se diz que: Em Portugal, o Rugby foi introduzido em 1903 (pelo menos é essa a data desde a qual existe uma prova documental), altura em que foi disputado um jogo entre os oficiais de uma esquadra inglesa e o Lisbon Football Club. Apesar desse tipo de jogos se ter mantido durante algum tempo no nosso país, as equipas eram constituídas apenas por ingleses.

Em 1922 o Royal Football Club decidiu lançar verdadeiramente o Rugby em Portugal (sob proposta de alguns membros franceses) utilizando, para isso, participantes nacionais. A 22 de Março desse ano, o Royal Football Club jogou contra o Sporting aquele que foi o primeiro jogo entre duas equipas portuguesas.

Cinco anos depois, alguns clubes fundaram a Associação de Rugby de Lisboa que organizou o desporto até 1957, data em que foi criada a Federação Portuguesa de Rugby.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 23 de Agosto de 2015, 23:23
Exacto, na questão excluí a hipótese de ser uma bola de rugby após ler esse texto sobre a introdução do desporto em Portugal e o cruzar com o que está no site oficial relativo às actividades desportivas do Grupo Sport Lisboa no campo da Feiteira.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2015, 00:17
Falta-nos aqui alguma arqueologia de emblemas. Não deve ser fácil.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2015, 21:06
Citação de: Theroux em 05 de Agosto de 2015, 23:54
Dois jogadores de hóquei com um longo percurso no Benfica:
...
(http://i.imgur.com/qVx99Rr.jpg)

Germano Magalhães.

Representou o Benfica sensivelmente durante 20 anos, pouco depois da secção ter aberto, em 1919, e posteriormente de 1926 até ao momento em que se retirou.

Retirado do tópico: Memorial Benfica, Glórias.

Estará, porventura, entre os jogadores de maior longevidade, no desporto português. Fez parte da primeira selecção nacional que disputou o I Campeonato da Europa em 1939, participou no I Campeonato do Mundo, realizado na Alemanha, em 1936, e foi campeão de Lisboa de 1927 a 1931 e em 1937. Abandonou as provas oficiais em Dezembro de 1947, com 47 anos, dos quais 42 como praticante e 30 como jogador. É uma das mais relevantes figuras do clube. Ao despedir-se, no Pavilhão dos Desportos, declarou à revista Stadium: "A minha maior consolação está em oferecer ao Benfica todas as medalhas que ganhei desde 1911. Assim, ao menos, sinto que vivo no clube e para o clube. A vida é tão curta."

Falando em Germano de Magalhães. A propósito da sua festa de despedida:

Século Ilustrado, No. 518, Dezembro 6 1947 - 16

(http://farm4.static.flickr.com/3397/3629604780_153c1cd48d_o.jpg)

Germano Abílio Torre Frazão de Magalhães
Nascido em 1900 na cidade de Lourenço Marques.
42 anos de actividade desportiva!
Começou aos 5 acabou aos 47 anos.
Mais de 500 jogos de hóquei em patins.

Morreu num ringue num jogo entre amigos. Paz à sua Alma. Um Glorioso imortal!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2015, 21:56
Sobre o râguebi em 1927 no boletim do nosso clube

(http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/SportLisboaeBenfica/N01/N01_master/JPG/SportLisboaeBenfica_N01_0016_branca_t0.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 24 de Agosto de 2015, 22:05
RedVC, sabes se existe um tópico dedicado à equipa das Marias? Tinha ideia que sim, mas não consigo encontrar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2015, 22:22
Não me lembro de ter visto. Mas deve haver. É perguntar ao faneca_slb4ever.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 25 de Agosto de 2015, 15:21
(https://c2.staticflickr.com/8/7205/6787411776_6bf74ef159_b.jpg)

La diligencia

O que tem esta escultura de 1952, que se encontra no Prado, Montevideo, a ver com o Benfica?

No Museu encontra-se uma, igual, excepto na dimensão, oferecida pelo Peñarol, após jogar na Luz para a Taça Intercontinental (1 - 0 em casa, 5 - 0 fora, e 2 - 1 na finalíssima, também no Uruguai).

(http://2.bp.blogspot.com/-rASrbURPxWs/VH8zGcr0DrI/AAAAAAAAcTQ/L_0tnoz4Epc/s1600/1961%2BFinal%2BTa%C3%A7a%2BIntercontinental.jpg)

Ambas as obras foram criadas por José Belloni, um dos maiores escultores uruguaios do século XX.

(http://i.imgur.com/oKufY1r.png)

(http://i.imgur.com/qzLDZi1.png)

A diligência

Um dos pormenores da escultura:

(http://i.imgur.com/wojNYTE.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Agosto de 2015, 20:34
Excelente!  :cool2: Não fazia ideia.

Sei que temos muitos troféus com histórias pitorescas e detalhes inesperados.
É um filão imenso que só por si merece um lugar de destaque nesta secção de Memórias.
Aliás no segundo piso do nosso museu há uma secção em que estão expostos uma meia dúzia de troféus que são tudo menos taças convencionais. Provenientes de diversos países e continentes.

É a universalidade do Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Agosto de 2015, 00:50
-62-
13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro.

7 de Maio de 1911. Campo do Lumiar.
48 atletas distribuídos por oito equipas alinhadas à partida.

Este foi o dia do I Cross-Country Nacional organizado sob a égide da Liga Sportiva de Trabalhos Atléticos. Seria esse o dia da primeira Glória Benfiquista de Francisco Lázaro.


(http://i59.tinypic.com/25f165z.png)
Alinhamento das oito equipas participantes à partida para o I Campenato Nacional de Cross Country.
Fonte: Sports Ilustrados.


Vai já longínqua a data da realização desse I Cross Country Nacional ou numa outra designação do I Campeonato Nacional de corta-mato. Com regulamentos aprovados no mês anterior, no dia 5 de Abril, foi definido um percurso de 4.800 metros que partiu do Campo do Lumiar. Nesse tempo o Lumiar ainda não era ocupado pelo SCP, que ainda se mantinha no Sítio da Mouras, as suas primeiras instalações desportivas. A mudança para o campo do Lumiar (alugado) aconteceria apenas a partir de 1914.

Inscreveram-se e compareceram oito equipas. Por ordem alfabética: Ateneu Comercial, Club Internacional de Foot-Ball, Escola Académica, Ginásio Club Português, Sport Club Império, Sport Club Progresso, Sport Lisboa e Benfica e Sporting Club de Portugal. Cada equipa formada por 6 corredores.

A prova contava com um conjunto muito diferenciado de atletas com diferente potencial e capacidade. Provavelmente apenas uma minoria cumpria algum tipo de planificação de treino mesmo que rudimentar. Alguns, os mais dotados ou os mais empenhados treinavam com mais afinco marcando vantagem decisiva perante os restantes. Não existiam igualmente oportunidades para competir no estrangeiro. Isso aliás foi notado pelo jornal "O Século" de 8 de Maio de 1911 que para além de se congratular com o evento questionava-se acerca de como se portariam os atletas Portugueses em competição com estrangeiros, caso se dispusessem a treinar com ordem e método.

Baseado no artigo dos Sports Ilustrados de 13 de Maio de 1911, ficamos a saber quais foram os seis gloriosos que integraram a equipa do Sport Lisboa e Benfica nessa competição. Entre eles estava uma figura decisiva da história do Glorioso e uma outra figura, trágica, dos primórdios do nosso atletismo. Estavam também nomes menos conhecidos, sendo que dois deles até tiveram passagens prestigiadas pela nossa 1ª equipa de futebol. Os seis Gloriosos atletas (e seis grandes bigodaças...) foram: Félix Bermudes, Francisco Lázaro, Josué Correia, Augusto Fernandes, Germano de Vasconcellos Júnior e Francisco Júlio Rocha.


(http://i62.tinypic.com/214ujdk.png)
A Gloriosa equipa que participou no I Campeonato Nacional de Cross Country em 30 de Abril de 1911. De pé e da esquerda para a direita: Francisco Lázaro (13), Josué Correia (36), Augusto Fernandes (21), Félix Bermudes (14). Em baixo, Germano de Vasconcellos Júnior (5) e Francisco Júlio Rocha (41). Fonte: Sports Ilustrados, 13 Maio 1911.

Nesses tempos de amadorismo o eclectismo era bastante comum. Era normal que os futebolistas optassem por desportos alternativos durante os meses de Verão. O futebol era e será sempre um desporto de Inverno.

Dos nossos atletas Francisco Lázaro é um caso aparte. É um mito que ganhou corpo pela tragédia que lhe ceifou a vida. Um caso de breve Glória e brutal epílogo. Um caso de excesso de voluntarismo e ignorância. Atleta com talento e voluntarismo, ganhou competições nos três clubes que representou: Velo Club (até 1910), Sport Lisboa e Benfica (1911) e Lisboa Sporting Club (1912). Estava pois no seu ano Benfiquista. E seria esta a sua primeira Glória com o manto sagrado. Outras viriam no breve período em que envergou as nossas cores.

De Lázaro há muito mais para dizer mas, como noutros caso remeto quem estiver interessado para um conjunto de artigos de referência publicados por Alberto Miguéns. Aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/search/label/Francisco%20L%C3%A1zaro (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/search/label/Francisco%20L%C3%A1zaro). Também no tópico de Lázaro aqui no SB existe muita e boa informação.

De Augusto Fernandes e Francisco Costa pouco sei. Provavelmente estiveram apenas ligados ao atletismo. Se alguém souber será interessante ter mais dados biográficos. Josué Correia teve uma passagem episódica mas prestigiada pela nossa primeira categoria do futebol. Foi nosso avançado nas épocas de 1909/10 e 1910/11. Depois mais nada.

Os restantes, Félix Bermudes e Germano de Vasconcellos Júnior eram juntamente com Lázaro os atletas de maior renome nesta equipa. Notoriedade sim mas não apenas no Atletismo. Estes dois homens foram ilustres representantes do ecléctismo dos primeiros anos do Sport Lisboa e Benfica.

Félix Bermudes é uma figura decisiva da nossa história. Intelectual, poeta, dramaturgo. Foi o 10º Presidente do Sport Lisboa e Benfica, cumprindo mandato de 15/07/1916 a 7/10/1916. Voltaria ao cargo 29 anos depois, de 18/01/1945 – 19/01/1946. Para além do apoio financeiro determinante que deu ao clube na fase mais crítica da sua história, foi um dos homens decisivos nas negociações que levaram à fusão de 1908. Esteve por trás inclusivamente da definição do actual nome do clube. No Benfica, praticou futebol, ténis, natação, esgrima, ciclismo, hipismo, tiro e atletismo. Terá sido aliás o primeiro atleta do Benfica a praticar atletismo. Foi campeão nacional de esgrima aos 50 anos de idade. Participou nos Jogos Olimpícos de Paris 1924 na modalidade de tiro. Félix Bermudes merece outro destaque. Talvez um dia destes.


(http://i60.tinypic.com/2pru1jq.png)
Vencedores do XVIII Concurso Nacional de Tiro. Disputado na carreira de tiro de Pedrouços, a competição foi organizada pelo Ministério da Guerra. Fonte: Ilustração Portugueza, No. 610, 29 de Outubro de 1917

Germano de Vasconcellos Júnior foi igualmente um praticante de futebol, ciclismo e atletismo. Foi um dos pouco atletas provenientes do Grupo Sport Benfica que que - com tempo - conseguiram entrar na equipa da 1ª categoria. Cosme era muito exigente... Assim só em em 1910 conseguiu integrar a nossa equipa da 1ª categoria de futebol. Jogou com o manto sagrado de 1910/11 a 1912/13, quer a avançado quer a guarda-redes!

(http://3.bp.blogspot.com/-1x2XyoSGM6Y/U2BNi-FTt3I/AAAAAAAANqk/Xe0dB5gZxf0/s1600/Na+Corunha+em+1911.12.jpg)
Germano de Vasconcellos Júnior a guarda-redes integrando a Gloriosa equipa que disputou jogos na Corunha em Junho de 1912. Da esquerda para a direita: Virgílio Paula, Francisco Viegas, Henrique Costa, Germano Vasconcellos Júnior (de equipamento branco, jogando a guarda-redes), José Domingos Fernandes, Cosme Damião, Artur José Pereira, Romualdo Bogalho, Álvaro Gaspar, Francisco Belas e Alberto Rio. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Por motivos profissionais (funcionário dos CTT) foi destacado para Braga. E lá como diversos outros nossos antigos futebolistas deixou marca. Por essa cidade jogou inicialmente no Estrela FC (1913/14) e depois ajudou a fundar e jogou no Sport Lisboa e  Braga (1914/15 a 1915/16). Mais um dos semeadores da mística Benfiquista por esse país fora. Mais alguns detalhes aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/03/alto-e-para-o-baile-bailarico.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/03/alto-e-para-o-baile-bailarico.html).

Regressaria episodicamente ao Glorioso para fazer uns jogos em 1916/17. Germano de Vasconcellos, por motivos profissionais regressaria a Braga. Aliás num fórum do Sporting Clube de Braga diz-se que existe uma tradição de que o Braga passou a jogar de vermelho - mudando do verde inicial - em 1924 ou 1925 por exigência de Germano Vasconcellos... Seria acompanhado por outra grande Glória do Benfica, Alberto Augusto. Seria ainda árbitro de futebol, facto que comprova o seu prestígio nos meios futebolísticos. Era assim naquele tempo...

Como velocista, Vasconcellos bateu por diversas vezes António Stromp do SCP, que era bastante reputado nessa modalidade. Mas, ao contrário deste, Vasconcellos acabaria por não integrar a comitiva que participou nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, 1912. Para além das flutuações de forma física e das condicionantes próprias do amadorismo, existiram também restrições orçamentais importantes. A pequena comitiva de seis elementos que seguiria para a capital Sueca não incluiria outros atletas inicialmente escalados. Entre eles estava o prestigiado lutador César de Mello, outro homem de quem já falamos (ver nº 32, "Glorioso por um dia") por em 1905 ter sido integrante da primeira equipa oficial da nossa história.

(http://1.bp.blogspot.com/-PyGjUdjCodc/VO91oHtEx2I/AAAAAAAAUsg/j91DQuwuiss/s1600/IMG_0003%2B(2).jpg)
Germano de Vasconcellos a vencer uma prova de velocidade no velódromo de Palhavã. António Stromp foi segundo.


Mas voltando ao I Campeonato Nacional de corta-mato, nesse dia concorreram oito equipas, representativas das maiores agremiações lisboetas da época.

A partida da prova foi dada às 11 horas e meia. Os 48 corredores tiveram de percorrer um percurso algo acidentado que incluía encostas, barreiras, charcos. Obstáculos múltiplos num terreno irregular percorrido pelos atletas com o ardor próprio desses tempos.


(http://i60.tinypic.com/b88yg2.png)
Aspectos da prova que ilustram bem a dureza do traçado. Fonte: Sports Ilustrados.


A prova até começou dominada por outras cores. Mathias Carvalho, atleta do SCP, até arrancou em bom estilo e ainda liderou a corrida por algum tempo mas viria a enganar-se no percurso e a ser alcançado pelo duo Benfiquista. Nas palavras do jornal "despistou-se" após ter passado por um charco. Caso para dizer que meteu água. Depois seria a classe de Lázaro a fazer a diferença, conquistando o primeiro lugar da classificação individual, cumprindo a prova em 20 minutos e 25 segundos. Nesse dia Lázaro ostentava o dorsal número 13. Deu sorte.

O nosso Augusto Fernandes foi segundo que gastou 20 minutos e 36 segundo tendo o pódio sido completado por Mathias de Carvalho, atleta do SCP, que gastou 20 minutos e cinquenta e dois segundos.



(http://i61.tinypic.com/vqsmkw.png)
Os nossos dois grandes campeões. Francisco Lázaro (13) e Augusto Fernandes (21).

Infelizmente, à semelhança do sportinguista, também dois atletas Benfiquistas (não especificados no jornal) viriam a "despistar-se". Esse lapso ter-nos-à custado a vitória na classificação colectiva. Aliás o jornal "Sports Ilustrados" salientava que o Benfica tinha a equipa mais homogénea e que em condições normais teria ganho também na classificação colectiva. Apenas esse engano dos nossos dois atletas explica o terceiro lugar final.

No final da prova e num total de 48 atletas apenas um não finalizou o percurso. Os nossos atletas tiveram a seguinte classificação: Francisco Lázaro (1º), Augusto Fernandes (2º), Josué Correia (6º), Germano de Vasconcellos Júnior (12º), Félix Bermudes (20º) e Francisco Júlio Rocha (33º).

Nessas circunstâncias venceria e bem o Sport Clube Império sendo secundado pelo SCP e só depois pelo nosso clube. Em quarto classificar-se-ia o Sport Clube Progresso, em quinto o Clube Internacional de Futebol (CIF), em sexto o Atheneu Comercial, em sétimo o Gymnasio Clube Português e em oitavo e último a Escola Académica. Para ilustrar aqui ficam os clichés (como se costumava dizer na época) das equipas que se classificaram até ao 5º lugar. Fotografias da autoria do autodidacta e excelente fotógrafo Arnaldo Garcez Pereira de quem já aqui falamos (ver nº 39 "Um banquete de notáveis").


(http://i58.tinypic.com/51vipj.png)
Fotografia de grupo do Sport Clube Império (1º), Sporting Clube de Portugal (2º),
Sport Clube Progresso (4º) e Clube Internacional de Futebol (5º).

E como Benfica também é cultura não devo deixar passar um detalhe curioso.
Na equipa do CIF participou Armando Cortesão (dorsal nº 30), que um ano depois integrou a comitiva aos Jogos Olímpicos de Estocolmo, 1912. Nesse dia Armando Cortesão foi 10º classificado, à frente do nosso Germano de Vasconcellos Júnior. Mais tarde Armando seguiria uma notável carreira multifacetada de engenheiro agrónomo (formação base), administrador colonial e historiador. Era irmão (7 anos mais novo) de Jaime Cortesão, médico (formação base), poeta, dramaturgo, soldado, deputado, político, jornalista, pedagogo e ilustríssimo historiador. Uma figura gigantesca da nossa Cultura. Uma família notável em que pelo menos Armando esteve ligado ao desporto.

(http://i58.tinypic.com/ehnfh5.png)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: L0W em 31 de Agosto de 2015, 01:22
Citação de: RedVC em 21 de Junho de 2015, 00:39
-54-
Dois sadinos, duas Saudades.

Vamos hoje partir de uma fotografia retratando uma equipa do Vitória Futebol Clube de regresso de uma curiosa digressão internacional na década de 20.

O Vitória Futebol Clube, clube geralmente conhecido por Vitória de Setúbal foi fundado em 20 de Novembro de 1910 estando entre os seus fundadores Jorge Augusto Sousa, um fundador do Sport Lisboa (ver capítulo -23- Um nome ilustre nos primórdios do futebol sadino.) As ligações são assim muito antigas. Esta fotografia marca um outro capítulo, cerca de duas décadas depois, dessas relações.

A fotografia está datada de 1927-08-17, e tem a seguinte legenda: "Os componentes dos Onze de honra do Vitória Futebol Clube, regressados a Lisboa, tendo realizado nas Canárias uma série de encontros".

A fotografia retrata assim a chegada da comitiva sadina composta pelo menos por 20 integrantes. Entre os jogadores podemos reconhecer dois que depois ingressariam – em tempos distintos - no Sport Lisboa e Benfica:  Aníbal José e Luís Xavier.


(http://i60.tinypic.com/xarz8k.png)
Fonte: Digitarq


Relativamente à digressão sadina para já não encontrei muita informação disponível. Não é fácil. Mas ainda assim sei que os sadinos jogaram entre outros com o Marino Fútbol Club da Gran Canaria fundado em 1905 e extinto em 1949. Terão feito mais jogos mas a informação parece não estar acessível.


Aníbal José

(http://i59.tinypic.com/149poc0.png)
Fonte: http://viiiexercito.com/

http://serbenfiquista.com/jogador/anibal-jos%C3%A9 (http://serbenfiquista.com/jogador/anibal-jos%C3%A9)

Jogador poderoso, jogador de raça e de qualidade, atributos que lhe valeram chegar a internacional A. Foi um centro-campista que jogava na zona central, lugar antes como agora de grande importância para a transição ofensiva e para o apoio aos centrais. Não sei ao certo quantos jogos internacionais fez mas sei que fez várias viagens ao exterior e que há registo fotográfico disso num tempo em que o Benfica tinha não mais de 3-4 jogadores e ser chamados regularmente à Selecção: António Pinho, Vítor Silva, Jorge Tavares e Aníbal José. Já iam longe os tempos do Tamanqueiro, outra grande figura.

No Benfica, Aníbal José estreou-se no dia 11 de Novembro 1928 num jogo contra o Carcavelinhos que terminou empatado 0-0. Fonte: http://serbenfiquista.com/jogo/carcavelinhos-0-x-0-sl-benfica-1 (http://serbenfiquista.com/jogo/carcavelinhos-0-x-0-sl-benfica-1).

(http://4.bp.blogspot.com/-2rod_DBXjBY/TbIIaJJulpI/AAAAAAAAAMg/XPFNnIRRVTw/s1600/CP+1930-31.jpg)
Em cima: Ralph Bailão, Artur Dyson e Luís Costa. No meio: João Correia, Aníbal José e Pedro Ferreira. Em baixo: Augusto Dinis, Emiliano Sampaio, Vítor Silva, João Oliveira e Manuel Oliveira. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Há várias histórias relatando o seu voluntarismo. Por exemplo, num jogo no campo do Porto, é ainda hoje acusado de ter carregado o portista Norman Hall ao ponto de este ter ficado KO. Isto eventualmente a pedido de Vítor Silva... Eram tempos em que se dava e levava. Estou certo que Aníbal deveria levar também muitas "medalhas" para casa. Depois há o episódio contra o Vasco da Gama, em 1931 em que andou pegado com um Brasileiro.

(http://i58.tinypic.com/esluzn.png)
Aníbal José disputando um lance com um homem do Vasco da Gama.


Aníbal José deixaria o Benfica pouco depois, no final da época de 1931/1932 tendo o seu último jogo sido disputado em 29 de Maio de 1932 contra o Luso FC. Empate a duas bolas.


Luís Xavier

(http://i62.tinypic.com/2s9554w.png)
Fonte: http://viiiexercito.com/

http://serbenfiquista.com/jogador/lu%C3%ADs-xavier (http://serbenfiquista.com/jogador/lu%C3%ADs-xavier)

Depois temos Luís Xavier Júnior. Chegou de Setúbal em 1931 e deixou o Benfica em 1939. Um avançado vivo e que teve fases goleadoras. Jogou no Glorioso por oito épocas fazendo mais de 200 jogos pelo Benfica Nas fotografias de equipa percebe-se que devia ter uma personalidade viva, alegre, contagiante.

(http://1.bp.blogspot.com/-CszWusMyKVo/U44vkNorjYI/AAAAAAAAOdM/ycz-wK0dfIU/s1600/CP+1934-35.jpg)
Em cima: Francisco Gatinho Augusto Amaro e Gustavo Teixeira (capitão); No meio: Albino, Lucas e Gaspar Pinto; Em baixo: Fernando Cardoso, Luís Xavier, Carlos Torres, Rogério de Sousa e Valadas. Fonte: Em Defesa do Benfica.

Luís Xavier terá feito um dos seus últimos jogos com a camisola do Vitória de Setúbal no Estádio das Amoreiras não contra o Benfica mas contra o Vasco da Gama. Jogo na quinta-feira, 30 de Julho de 1931 que foi interrompido por causa do nevoeiro. Não seria reiniciado ficando o resultado final em 1-1. Luís Xavier estreou-se na nossa equipa contra o Casa Pia em 16 de Outubro de 1932. Empate 0 - 0 http://serbenfiquista.com/jogo/chelas-f-x-f-sl-benfica (http://serbenfiquista.com/jogo/chelas-f-x-f-sl-benfica)


O clube Sadino precedeu o Barreirense Futebol Clube nas décadas de 60 a 80, como o fornecedor de bons jogadores para o Benfica. O melhor viveiro de jogadores além Tejo que o Benfica teve. Foram muitos e bons. Por exemplo um outro que não está na fotografia - penso estar um irmão dele - , chamado Francisco Rodrigues. Um avançado goleador.

O Vitória Futebol Clube é um grande clube. Teve a sua época áurea nos anos 60 e 70 mas agora luta tenazmente para sobreviver e que com altos e baixos vai sempre formando novos talentos para o futebol Português.

Voltaremos a Setúbal.
Mais uma vez obrigado RedVC, tanto pelo teu contributo ao forum como por me alertares e mostrares conteúdos do meu avô Aníbal! O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Setembro de 2015, 12:04
-63-
O arquitecto da Catedral.

Vamos partir de uma fotografia que encontrei hoje mesmo. Nela está identificado um jogador, uma figura interessante do universo Benfiquista.  Ainda não consegui identificar nenhum dos restantes...

(http://www.franciscogeorge.pt/mediac/400_0/media/DIR_104/62b5279815937b2cffff8270ffff8709.jpg)
Equipa das 2ª ou da 3ªcategoria do Sport Lisboa e Benfica.
João Simões está assinalado. Local: Estádio da Amoreiras. Data: desconhecida.

Para além da fotografia, o artigo de hoje não traz algo de particularmente novo. Mas é uma oportunidade para lembrar e agradecer a uma grande figura Benfiquista e da Arquitectura Portuguesa

Arquitecto João Simões Antunes,
(http://www.franciscogeorge.pt/mediac/400_0/media/DIR_104/c8d1668fad6087f5ffff880dffff8709.jpg)

O arquitecto João Simões foi responsável pelo projecto da nossa maravilhosa Catedral:

(http://lh4.ggpht.com/-CgItg3PtVCc/UbGT_aP5F9I/AAAAAAAA50s/S_dIMULLhwU/1956-SLB-Parque-Desportivo_thumb1.jpg?imgmax=800)
(http://lh3.googleusercontent.com/-U-FAYHlsUm4/UbGUAJWGLSI/AAAAAAAA500/L9TcynpwPag/s1600/Maqueta.111.jpg)
(http://lh3.googleusercontent.com/-ehJUyXbWS4A/UbGUPKN0D4I/AAAAAAAA54E/zYLuj7y-rlM/s1600/Obras.26.jpg)
(http://lh3.googleusercontent.com/-jhzI6LrvhEc/UbGUUjUjsGI/AAAAAAAA55U/wcIT7U3-xD4/s1600/1958-Estdio-da-Luz.14.jpg)
Fonte: blogue Restos e Colecção.


Serve assim esta evocação para relembrar e celebrar a memória deste homem, nosso jogador na década de 20 nas Amoreiras.

A Luz foi provavelmente o mais apaixonante projecto da sua vida.

Segundo Tiago Mota Saraiva (http://5dias.net/2009/02/05/120000/ (http://5dias.net/2009/02/05/120000/)) existe um detalhe importante que determinou o seu envolvimento no projecto:
Contaram-me há alguns dias uma história engraçada sobre a qual ainda tenciono escrever mais umas linhas. Parece que o Ministro das Obras Públicas de então, julgo que Cancela de Abreu, havia determinado que o projecto fosse feito pelo Mestre Carlos Ramos, que já estaria a trabalhar no projecto do Estádio do Restelo. João Simões estaria a desenvolver outro projecto público. Ao que me contaram, João Simões, contactou Carlos Ramos e, invocando o seu benfiquismo, pediu-lhe para trocarem os projectos.

As obras do novo Estádio arrancaram em Julho de 1952 tendo o envolvimento dos 15 mil sócio do clube e dos milhares e milhares de simpatizantes sido decisivo para a concretização do projecto. No dia 1 de Dezembro de 1954 foi inaugurado o Estádio da Luz. A segunda casa própria do nosso clube. O mais lindo Estádio que alguma vez existiu. E no qual tive o gosto de entrar antes mesmo do fecho do terceiro anel.


(http://estadio.no.sapo.pt/luz_interactivo13.jpg)
(http://estadio.no.sapo.pt/inauguracao_luz.jpg)
(http://photos1.blogger.com/blogger/5701/669/1600/inaugura.jpg)

E temos mais alguns detalhes da sua personalidade e desse período da sua vida profissional. Aqui fica com o devido agradecimento, pelo testemunho e conteúdos, ao Dr. Francisco George, aqui: http://www.franciscogeorge.pt/10201/46001.html (http://www.franciscogeorge.pt/10201/46001.html), fica uma homenagem ao grande arquitecto e Benfiquista.

Reparem no entusiasmo com que ele se empenhou no projecto:

João Simões (1908-1995)

João Simões era um Homem de rara qualidade. Associava, de forma absolutamente ímpar, a discrição à competência. Cultivava a serenidade. Nascido em Lisboa, em 1908, viria a morrer em Beja, aos 87 anos de idade (1995). Conheci-o muito de perto, em família, uma vez que casei, em 1970, com sua Filha Maria João.

Arquitecto pela Escola de Belas Artes de Lisboa desde 1932, João Simões, por genuína sobriedade que marcava a sua personalidade, não exibia o sucesso que alcançara ao longo da sua vida dedicada à arquitectura e à construção de notáveis obras modernistas.

Republicano convicto, participou activamente nos movimentos da Oposição Democrática a Salazar. Porém, essa condição não o impediu de colaborar com o ministro Duarte Pacheco em grandes obras públicas que marcaram a época, nomeadamente o Hospital de Santa Maria, a Escola de Enfermagem do IPO (1), mas também os Armazéns Frigoríficos de Alcântara (2), a Casa da Imprensa, os estádios Universitário (Lisboa) e do Braga ou, ainda, a Caixa Geral dos Depósitos da Figueira da Foz e muitos outros trabalhos, incluindo equipamentos industriais e de habitação, igrejas e edifícios públicos e privados. Galardoado duas vezes com o cobiçado Prémio Valmor, João Simões integrou com Cassiano Branco, Veloso Reis Camelo, Raul Martins, Faria da Costa e Francisco Keil do Amaral, entre outros, o movimento de intervenção que impôs qualidade e novo estilo às edificações urbanas.

Antigo jogador de futebol no estádio das Amoreiras do Sport Lisboa e Benfica, João Simões aceita o desafio do Presidente do Clube Joaquim Ferreira Bogalho para desenhar um novo estádio nos terrenos da Luz.

Quando, pela primeira vez, entrei na sua casa no número 8 da Rua Alexandre Braga, ainda senti o ambiente do atelier então preparado para receber os grandes estiradores que tinham sido ali colocados para facilitar o trabalho de concepção do projecto de arquitectura do novo Estádio.

Maria João, que tinha nascido em 1948, foi, naturalmente, influenciada por estes trabalhos de seu Pai que, depois do jantar, pela noite até alta madrugada, em cima dessas grandes mesas, desenhava sem parar. Por vezes, via-o, verdadeiramente, a gatinhar em cima dos estiradores com a lapiseira numa mão e régua na outra. Relatava-me pormenores dessas memórias com um misto de admiração e orgulho. O pensamento do arquitecto transposto para desenho em papel, representava, para Maria João, um fascínio que terá sido decisivo na opção que, depois, viria a tomar pelo curso de arquitectura nas Belas Artes de Lisboa que iniciou em 1966.

O Estádio seria inaugurado no dia 1 de Dezembro de 1954 com quase 50 mil lugares distribuídos nos seus magníficos dois anéis. A sua construção fora possível graças às numerosas sacas de cimento oferecidas pelos benfiquistas, às cotizações suplementares espontâneas e ao trabalho voluntário dos sócios que aos fins-de-semana se apresentavam nos estaleiros da obra.

Mais tarde, João Simões conduz os estudos da primeira fase do terceiro anel. A partir de 1960 a Luz passa a receber 80 mil espectadores.

Em 1985, a conclusão do outro terceiro anal passou a fazer da Luz a "grande catedral" com a possibilidade de receber 120 mil assistentes (passa a ser o maior estádio da Europa e o 3º maior de Mundo).

Em 2003, 49 anos depois da inauguração, foi demolido.

João Simões gostou muito de ter desenhado o "seu" Estádio. Pela primeira vez utilizara betão pré-esforçado. À semelhança da generosidade demonstrada pelo conjunto da massa associativa, também ele ofereceu o seu trabalho ao Clube, tal como o tinha feito enquanto jogador de futebol (3). Outros tempos...

Francisco George
Março de 2013



Não ficaria por aqui a sua contribuição ao seu Clube uma vez que como o Dr. Francisco George refere, estaria também envolvido na primeira fase da construção do 3º anel.

(http://i58.tinypic.com/mwbbzr.jpg)
1960. Apresentação ao presidente da CML França Borges, da maquete para a construção do terceiro anel. Fonte: AML

O arquitecto João Simões deixou muitas outras e prestigiadas obras. E fui ver algumas:


Prémio Prémio Valmor de 1949,
originalmente projectado para a Companhia de Seguros Sagres,
Rua da Artilharia Um:
(http://i58.tinypic.com/35lyjhe.jpg)
Fonte: AML
hoje:
(http://2.bp.blogspot.com/_CPuwioWaTJg/SypKVGWZfpI/AAAAAAAAAOw/sCN4QJ40AgQ/s640/simoesart1105valmor49.jpg)


Prémio Municipal de Arquitectura de 1945
Praça Duque de Saldanha
(http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/x-arqweb/ContentDisplay.aspx?ID=9521e57984420001e240&Pos=1&Tipo=PCD&Thb=0)
Fonte: AML

Rua do Ouro, esquina com a Rua da Conceição, Lisboa
(https://c2.staticflickr.com/4/3715/11711506245_6222820fb3_b.jpg)
Fonte: AML

Centro Regional Vida Popular (arq. Veloso Reis e João Simões),
a partir de 1948 Museu de Arte Popular (parte da Exposição do Mundo Português de 1940):
(http://lh3.googleusercontent.com/-YaWt-kCaY2U/VVca3OaUS6I/AAAAAAABihY/VUKOc_tp-ns/Exposi%2525C3%2525A7%2525C3%2525A3o%252520do%252520Mundo%252520Portugues%2525201940.4_thumb%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800)
Obras de restauro financiadas pela Fundação Oriente:]http://www.museudooriente.pt/214/edificio.htm#.Vew4ZhFViko (http://www.museudooriente.pt/214/edificio.htm#.Vew4ZhFViko%5B/size)

Plano de Urbanização da Praça do Marquês de Pombal:
(http://lh4.ggpht.com/-bI27YNzPilI/UJOLGmpq7NI/AAAAAAAAmlA/g0InrpdllDI/Praa-Marqus-de-Pombal.12_thumb1.jpg?imgmax=800)
Fonte: Restos de Colecção


Plano de Urbanização do Cartaxo:
(http://lh5.ggpht.com/-bwR8uXuTOqw/UuoUuJC6l3I/AAAAAAABI1A/4cs-jdkVbds/Mercado-do-Cartaxo.5_thumb.jpg?imgmax=800)
Fonte: Restos de Colecção

Moradia:
(https://c2.staticflickr.com/6/5493/11711907234_9b4933aaf7_b.jpg)
Fonte: Biblioteca de Arte da FC Gulbenkian.
Outras aqui: https://www.flickr.com/photos/biblarte/11711901114/in/photostream/ (https://www.flickr.com/photos/biblarte/11711901114/in/photostream/)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: kangaroo em 06 de Setembro de 2015, 17:17
(http://s4.postimg.org/4rtr003yj/20150906_165202.jpg)Encontrei no museu do brinquedo em ponte de lima.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Setembro de 2015, 22:18
Interessante. Só craques.
No FCP ainda estava Paula, um defesa que depois ainda jogou duas épocas no Benfica. De 1966/67 a 1967/68 ainda jogou uma meia dúzia de jogos na primeira equipa. A competição era implacável.

(http://c4.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/Bd712114f/17120450_KmB6D.jpeg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 09 de Setembro de 2015, 14:28
RedVC, perdoa-me a pergunta extemporânea, mas já leste os primeiros estatutos do clube?

Queria saber se inicialmente eram admitidas mulheres como associadas, pois no Barcelona, por exemplo, a sua entrada foi proibida durante vários anos. Já no Sporting não foi esse o caso:

Spoiler
ARTIGO 1.º
Sporting Club de Portugal é o título d'uma associação composta d'individuos d'ambos os sexos de boa sociedade e conducta irreprehensivel.
[fechar]
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Setembro de 2015, 21:37
Citação de: Theroux em 09 de Setembro de 2015, 14:28
RedVC, perdoa-me a pergunta extemporânea, mas já leste os primeiros estatutos do clube?

Queria saber se inicialmente eram admitidas mulheres como associadas, pois no Barcelona, por exemplo, a sua entrada foi proibida durante vários anos. Já no Sporting não foi esse o caso:

Spoiler
ARTIGO 1.º
Sporting Club de Portugal é o título d'uma associação composta d'individuos d'ambos os sexos de boa sociedade e conducta irreprehensivel.
[fechar]


Penso, não tenho a certeza, que no Sport Lisboa não deverão ter existido estatutos escritos. Era um clube de futebolistas, geralmente gente jovem. O que interessava era jogar. Provavelmente Gourlade era o único que registava factos e realizava as contas. Mas o que é certo é que na lista de sócios do Sport Lisboa usada para a fusão de 1908 não constava nenhum sócio feminino.

Os primeiros estatutos deverão ser pois os do Grupo Sport Benfica. O GSB era um clube muito organizado e com certeza que ainda deverão sobreviver esses estatutos. Existem livros de actas e existem listas de sócios. Agora, o GSB para além do atletismo tinha o ciclismo como actividade primordial. E nessa actividades estavam presentes Senhoras. Se eram sócias ou não ainda estará por esclarecer. Tentarei saber.

(http://i60.tinypic.com/125kwv8.png)
Agosto 1908.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Setembro de 2015, 20:35
-64-
O tribunal dos conspiradores.

Dezembro de 1911, sala de audiências do Tribunal do Convento das Trinas.
O Dr. Alberto Lima toma a palavra em pleno exercício da sua actividade profissional:

(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=43401EEDA42FACE2A861B883749B49FE&r=0&ww=1000&wh=600)
Fonte: AML


Nesse julgamento o Dr. Alberto Lima é advogado de defesa de um dos cerca de quarenta réus arrolados num célebre julgamento que decorreu entre Dezembro de 1911 e Maio de 1912. Foram julgados partidários da monarquia Portuguesa que segundo a acusação conspiravam para derrubar o sistema republicano recém-instaurado. A memória da revolução de 1910 estava ainda fresca e a possibilidade de uma contra-revolução liderada por Henrique Paiva Couceiro era bastante real.

O Dr. Alberto Carlos Lima foi um prestigiado advogado Lisboeta. Foi igualmente uma das maiores figuras das primeiras décadas de vida do nosso clube. Segundo o sítio oficial do nosso Clube, Alberto Lima foi o sétimo Presidente do Sport Lisboa e Benfica. Assumiu esse cargo em três mandatos compreendidos por dois períodos: de 09/07/1911 até 31/03/1912 de 05/12/1912 até 29/08/1915. Esses mandatos estiveram ligados à conquista do primeiro tri-campeonato regional de Lisboa, a mais importante competição da altura.

(http://www.slbenfica.pt/Portals/0/Images/Presidentes/Presidente8_Dr.Alberto%20Lima.jpg)

O Dr. Alberto Lima foi um presidente activo e prestigiado. Esse facto aliás explica a sua participação na comitiva da AFL que em Julho de 1913 levou uma equipa de futebol ao Brasil, liderada desportivamente pelo Capitão Cosme Damião, para efectuar jogos contra equipas Cariocas e Paulistas (e que tratamos nos nº. 46 e 47). Nada de estranho pois para além das qualidades humanas e profissionais do Dr. Alberto Lima, o SLB contribuía com o maior número de jogadores. Tinha uma cuidada educação e uma grande cultura. A sua presença contribuiu para dar consistência social e cultural à comitiva que tinha outras figuras destacadas da sociedade Portuguesa mais ligada ao desporto tais como Eduardo Luiz Pinto Basto, Mário Duarte, Duarte Rodrigues, entre outros.

(http://i59.tinypic.com/2hxc774.jpg)
Programa social da delegação da AFL no Rio de Janeiro. visita ao clube Gymnastico.

Foi também durante os seus mandatos que o Benfica lançou o primeiro jornal de clube no país "O Sport Lisboa" de que foi o primeiro director.

(http://i57.tinypic.com/214dv74.png)
Fonte: http://aminhachama.blogspot.pt/2013/08/mistica-o-que-e-isso.html (http://aminhachama.blogspot.pt/2013/08/mistica-o-que-e-isso.html)

(http://i58.tinypic.com/16rybo.png)
Alberto Lima entre um conjunto de figuras Benfiquistas notáveis que constituíram a primeira equipa do jornal "O Sport Lisboa". Fonte: Arquivo Norberto Araújo

As suas palavras foram sempre prestigiadas e as suas contribuições foram sempre influentes e estimadas no clube.
(http://i61.tinypic.com/b9b1wh.jpg)
Três figuras notáveis das primeiras duas décadas do Sport Lisboa e Benfica.
Alberto Lima de pé, à esquerda. À direita, Cosme Damião. Sentado Bento Mântua.

Mas, voltando à fotografia inicial, o julgamento dos conspiradores decorreu no Convento das Trinas do Rato, também conhecido por Convento das Trinas do Mocambo:

(http://4.bp.blogspot.com/-Yn6HRG4uYk8/VdQmci2lfSI/AAAAAAAABAc/qWj8TI4Nf48/s1600/Convento%2Bdas%2BTrinas%2Bdo%2BRato%252C%2Bfachada%2Bprincipal.jpg)
Convento das Trinas do Rato, fachada principal, Largo do Rato, [c. 1900]. Autor: Alberto Carlos Lima, in AML. Fonte: http://lisboadeantigamente.blogspot.pt/2015/08/convento-das-trinas-do-rato-convento.html (http://lisboadeantigamente.blogspot.pt/2015/08/convento-das-trinas-do-rato-convento.html)

Fundado em 1633, o convento teve mais tarde como principais mecenas e responsáveis pela conclusão das obras, Manuel Correia de Lacerda e Luís Gomes de Sá e Meneses. Este último tinha por alcunha "O Rato", o que aliás deu nome ao recolhimento e ao actual largo. O convento foi edificado para a Ordem Hospitalar da Santíssima Trindade do Resgate dos Cativos, tendo sofrido pouco com o terramoto de 1755. Foi mandado extinguir por Decreto de 6 de Outubro de 1864, em virtude de não existir o número legal e canónico de religiosas, sendo habitado apenas, por quatro professas tendo a última falecido em 1878. Depois disso o edifício seria ocupado pelas Franciscanas que depois seriam expulsas após a revolução de 1910. Foi depois usado como tribunal e por diversas outras instituições públicas entre as quais o Arquivo Central de Identificação e Estatística Criminal (Arquivo de Identificação). A partir de 1969 passou a ser a sede do Instituto Hidrográfico.

(http://2.bp.blogspot.com/-Ei1XyMf576c/Vd37xCzhjaI/AAAAAAAAAlw/cbKCNpZDCnU/s1600/Convento%2Bdas%2BTrinas%2Bde%2BMocambo.jpeg)
Fonte: http://genalg.blogspot.pt/ (http://genalg.blogspot.pt/)

O julgamento destes revoltosos monárquicos decorreu entre Dezembro de 1911 a Maio de 1912, depois das prisões políticas ao longo do ano de 1911. Esta aliás não seria a única revolta, nem sequer o único motivo para as múltiplas revoltas que eclodiram até à instauração da Ditadura ou Estado Novo em 1928. Como se vê por esta extensa lista: http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/revoltas/i_republica._quadro_das_revoltas.htm

Neste julgamento e conforme descrito em a "Guerra religiosa na I República" de Maria Lúcia de Brito Moura, o Tribunal das Trinas era palco de aceso confronto com os militares Republicanos radicais e numerosos populares a tentarem pressionar os juízes, jurados e testemunhas para obterem condenações. Algumas revistas da época deram numerosos detalhes, o que atesta a relevância desse julgamento. Apresento apenas fragmentos dessas reportagens:

(http://i62.tinypic.com/2lux3k5.png)
Revista Brasil Portugal, nº 310, Dezembro de 1911.

(http://i57.tinypic.com/vz7e5c.png)
Ilustração Portuguesa nº 304, Dezembro de 1911.

E ali está o Dr. Alberto Lima, mencionado na última página. Nesse julgamento Alberto Lima defendeu Aníbal Cândido Pedro, mancebo com apenas 18 anos de idade, natural de Chaves e acusado de aliciamento de gente para as hostes de Paiva Couceiro, líder da revolta. Com as suas alegações o Dr. Alberto lima conseguiu uma condenação que presumo, terá sido relativamente leve e que ascendeu a 20 meses de prisão e 200 réis diários pelo mesmo tempo. Aliás, numa demonstração de tolerância talvez nem sempre comum a esse tempo, o tribunal decretaria 42 absolvições e apenas três penas leves, entre as quais como vimos a do constituinte do Dr. Alberto Lima.

(http://digitarq.dgarq.gov.pt/Controls/vaultimage/?id=97A08670BA83DE997BEF2B196D7D7693&r=0&ww=1000&wh=600)
O réu Aníbal Candido Pedro, constituinte do Dr. Alberto Lima. Fonte: AML.

Por fim não conheço muitos detalhes mas penso que o líder da revolta, Henrique Paiva Couceiro, emérito militar, continuou a manter actividades a partir da Galiza onde se refugiou em 1911. Liderou ou inspirou incursões monárquicas contra a Primeira República Portuguesa em 1911, 1912 e 1919. Detalhes sobre a sua vida aventurosa, aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Mitchell_de_Paiva_Couceiro (https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Mitchell_de_Paiva_Couceiro). Findo esse breve período as conspirações monárquicas calaram-se tendo o descontentamento ficado restrito a pequenos grupos. A Republica tinha vindo para ficar. Outras fracturas, de diversa natureza, viriam depois a atormentar a sociedade Portuguesa. Outros tempos de agitação política estavam para chegar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Eddie_ em 23 de Setembro de 2015, 16:19
Sempre um prazer, RedVC!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Setembro de 2015, 20:06
Muito obrigado Eddie_  O0

É um prazer partilhado. Pesquisar e depois escrever estes textos dá-me um grande prazer.
E claro depois de partilhar saber que outros Benfiquistas gostam é uma grande recompensa.

Nada no Benfica tem sentido se não for partilhado. Por isso o meu agradecimento estende-se a todos os que tem manifestado que gostam de ler estes pedaços da grande História do Sport Lisboa e Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Setembro de 2015, 08:59
-65-
Festa de gerações.

3 de Julho de 1944. Festa à Benfica! Festa de gerações.

(http://2.bp.blogspot.com/-VSgiZyxs_vk/VgKmr79ZUYI/AAAAAAAAaRw/dZ-XMx41mWE/s1600/banq.png)
Fonte: Em Defesa do Benfica

Faço hoje algumas notas a propósito de uma fotografia fabulosa publicada por Alberto Miguéns e de um extraordinário artigo a ela alusivo. O artigo da autoria de António Ribeiro dos Reis foi publicado nesse dia no Diário de Lisboa:

(http://i61.tinypic.com/uv3us.png)
(http://i62.tinypic.com/e9y9s1.png)
Fonte: Diário de Lisboa, 3 de Julho de 1944
 
Realizada no Espelho d'Água, obra dos arquitectos: António Maria Veloso Reis Camelo e João Simões (um antigo jogador Glorioso de que falamos no nº. 62), a festa teve um enorme simbolismo. Festa em Belém, berço do Sport Lisboa e Benfica. Esse espaço tinha sido bastante transformado por via da Exposição do Mundo Português alguns anos antes. Mas era a Belém onde tudo começou. E com muitos dos homens que moldaram os alicerces do nosso Clube.

(http://lh3.googleusercontent.com/-q_PHRahH9XM/VVca00wcDqI/AAAAAAABihI/xSDQVAn3H5k/Espelho%252520d%252527%2525C3%252581gua.12_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800)

Publicidade em 24 d Julho de 1943
(http://lh3.googleusercontent.com/-oVa62nFpk3g/VJxAYeI4XBI/AAAAAAABbuo/56zpbz-nP7E/s1600/24-07-1943%25255B5%25255D.jpg)
Fonte: restosdecoleccao.blogspot.com


Foi uma celebração do Benfiquismo passado, presente e futuro. Foi também, digo eu, uma certa reconciliação com algum passado menos feliz. Como em qualquer família, alguns incidentes e abandonos tingiram de cores mais carregadas partes da nossa História. Mas não afectaram o essencial. A noção de que muitos contribuíram com o melhor do seu esforço para a grandeza do colectivo.

A três anos da morte de Cosme Damião, nesse jantar foi possível reunir um conjunto absolutamente notável de antigos jogadores responsáveis pelas primeiras conquistas do Benfica. Merecem ser salientados: Cosme Damião, Félix Bermudes, Leopoldo Mocho, António Meireles, Virgílio Paula, Francisco Belas, Mário Monteiro, Aires Martins, Jorge Rosa Rodrigues, Carlos Homem de Figueiredo, José Domingos Fernandes, entre outros. Alguns já tinham partido e certamente foram evocados: Manuel Gourlade (nesse mesmo ano), Álvaro Gaspar (1915), Carlos Sobral (1926), José e António Rosa Rodrigues (1924 e 1938), Artur José Pereira (1943). E tantos outros. Mortos e vivos, todos da fina flor das primeiras equipas do nosso clube. A "velha guarda" como lhe chamou Ribeiro dos Reis.

E acrescentou Ribeiro dos Reis que com a Festa se pretendia "celebrar o Passado, o Presente e o Futuro da colectividade. Reúnem-se no mesmo abraço de saudação os jogadores de "ontem", os jogadores de "hoje" e os que hão-de ser os jogadores de "amanhã"."

Juntava-se assim à mesma mesa a "velha guarda", os vencedores da Taça de Portugal e do Campeonato Nacional de Juniores da época de 1943-1944. Festa de gerações. Festa à Benfica! O artigo merece ser lido com cuidado por qualquer Benfiquista.

E mesmo que no Benfica o colectivo se sobreponha sempre ao individual, Ribeiro dos Reis ainda assim salientou alguns nomes que simbolizavam a excelência das gerações passadas. Da geração que precedeu a Grande Guerra de 1914 o reconhecimento justo de Félix Bermudes e Cosme Damião. Da geração campeã nacional nesse ano: Francisco Albino. Nada mais justo.

Mas como disse, mais importante que as notas, o texto de Ribeiro dos Reis é merecedor de leitura.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Outubro de 2015, 21:38
-66-
Memórias francesas.

Sexta feira, 10 de Agosto de 1979. Sochaux, Estádio Auguste Bonal

Sochaux FC vs. Paris Saint Germain
(http://www.paris-canalhistorique.com/wp-content/uploads/2014/07/alves.png)
João Alves, alguns minutos antes da fatídica lesão. Ao lado o árbitro Jean-Marie Meeus.

Cerca dos 53 minutos de jogo João Alves é gravemente lesionado depois de sofrer uma agressão de Genghini. Nesse momento de dor deu-se um ponto de inflexão decisivo na carreira de João Alves. Depois de alguns longos e penosos meses de recuperação estaria no seu horizonte o regresso a casa.

O diagnóstico não poderia ser mais cruel: fractura do tornozelo com distensão do ligamento. Uma lesão horrível, um minuto dramático da vida do grande jogador.

No fim do jogo, o inenarrável árbitro Sr. Meeus, declarou: "Alves lesionou-se sozinho". Mas o vice presidente do PSG Charles Talard viria a por as coisas no devido sítio, pronunciando palavras duras: "Foi o futebol que foi assassinado esta  noite!".

Ainda na ressaca, Eric Renaut, o colega de Alves resumiu o estado de espírito da equipa após o drama: "A derrota a perda de Alves vão-nos custar entre dez e quinze mil espectadores para o nosso próximo jogo no Parque dos Príncipes.". Eric sabia o que estava a dizer. A desmobilização da comunidade Portuguesa teria graves custos para o PSG. Foi a desolação para os parisienses, pela perda competitiva, pela perda financeira, especialmente porque se percebia que o PSG não viria a rentabilizar o investimento de três milhões de Francos, o valor total da transferência.

Para Alves viriam duas operações ao tornozelo, e um afastamento dos relvados durante cinco longos meses.

Adaptado de: http://www.paris-canalhistorique.com/10081979-sochaux-psg/ (http://www.paris-canalhistorique.com/10081979-sochaux-psg/)

(http://img.photobucket.com/albums/v209/nettwerk/benfica/jalves.jpg)

João António Ferreira Resende Alves
nasceu em Albergaria-a-Velha, Albergaria-a-Velha, em 5 de Dezembro de 1952.

Memórias Francesas de um grande jogador. Um Glorioso jogador em terras de França:

PARIS SAINT GERMAIN 1979-1980:
(http://u.jimdo.com/www400/o/s907f1745e63d8903/img/i7fd972768ffbeffa/1391446233/std/image.jpg)

(http://s.psg.fr/psg/image/article/illustration/m/211/42054.jpg)
Plantel de 1979-1980. Entre os colegas de equipa de João Alves nota-se a presença de duas cara conhecidas que depois se tornaram treinadores: o Brasileiro Abel Braga e o Francês Luiz Fernandez.


(http://1.bp.blogspot.com/-8yUDZq3QgM4/UHwbkU8bzFI/AAAAAAAAPdo/acw_B6JKe2I/s1600/PARIS+SG+1979-80.JPG)
Equipa do jogo uma semana antes do jogo fatídico: PSG - Marseille 2-1, 3 de Agosto de 1979

(https://maillotspsg.files.wordpress.com/2013/01/joao-alves-bathenay-psg-1979-80.jpg?w=900)

(http://1.bp.blogspot.com/-lKDGenvKqGo/UHwW3umOhfI/AAAAAAAAPdI/yWL_fHPZaaI/s1600/JOAO+ALVES+-+PARIS+SG+1979-80.JPG)

(http://2.bp.blogspot.com/-mfVYJC2LKrg/UHwW9IfJDHI/AAAAAAAAPdY/glsDvJbfZVM/s560/JOAO+ALVES+-+PSG+1979.JPG)

(http://3.bp.blogspot.com/-Hm6nNTFPhjY/UHwW6gQdfDI/AAAAAAAAPdQ/lk_2W-0hTOU/s400/JOAO+ALVES+-+PSG+1979-80.JPG)


Retrato de João Alves enquanto jogador do PSG:
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PatBiry3JjI (https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PatBiry3JjI)

Fora das quatro linhas Alves teve também reconhecimento e visibilidade como atesta a sua participação no programa Palmarès 80, difundido em 16 de Janeiro de 1980:

(http://1.bp.blogspot.com/-IxDsXW1rZco/VN_aNqsgcAI/AAAAAAAAOAU/dE2i3WIONnU/s1600/Joao%2BAlves.jpg)
http://tele70france.blogspot.pt/2015/02/palmares-80-emission-du-16-janvier-1980.html (http://tele70france.blogspot.pt/2015/02/palmares-80-emission-du-16-janvier-1980.html)

Mas por fim, em meados desse ano chegaria o desejado regresso à sua casa:

(http://i.imgur.com/aZ1cKi7.png)

Por fim com o manto sagrado:

(http://4.bp.blogspot.com/-AUAQnU9B-OU/UHwW0xkmWeI/AAAAAAAAPdA/6fp_XntJDvM/s1600/JOAO+ALVES+-+BENFICA+1978.JPG)
Com o manto sagrado. Assim como deveria ter sido sempre.

O regresso de João Alves ao Sport Lisboa e Benfica deu que falar. O nosso Clube terá pago cerca de um milhão e meio de francos para além de um chorudo ordenado. O assunto chegou a ser discutido no Parlamento Português.

De novo no Benfica para três épocas de elevado nível, liderando o melhor meio campo que alguma vez vi jogar ao vivo: João Alves, Shéu, Carlos MAnuel, José Luís, Diamantino e Chalana. Depois ainda viria Stromberg.

(http://expresso.sapo.pt/users/1939/193958/luvas-68a4.jpg)
No derbi eterno. Imagem de jogo, um momento que parece uma pintura

João Alves foi um ídolo da minha juventude. Um jogador que tive o prazer de ainda ver ao vivo, com o perfume do seu futebol.

Pena é que muitos Benfiquistas não tenham tido essa sorte. Pena é que tenha jogado tão pouco com a nossa camisola. Porque para mim deveria ter jogado pelo menos 15 anos.

Craque!

nota adicional:
Encontrei uma entrevista de João Alves ao jornal Le Parisien datado de 28 de Dezembro de 2003.
Entre outras afirmações percebe-se que João Alves entende que Genghini não teve intenção na lesão que lhe causou. Alves ressalta (e no meu entender estranha) que o árbitro nem sequer apitou.
Alves terá sido contactado e contratado pouco tempo depois de uma magnífica prestação na final torneio de Paris com a camisola do Benfica. Vitória contra o Estrela Vermelha de Belgrado por 4-0.
Acrescenta que gostou muito de jogar no clube Parisiense e que foi o destino que não quis que ele pudesse brilhar mais. Guarda no coração o melhor dessas memórias Francesas. Em particular o jogo de estreia no Parc des Princes em que venceram o OM por 2-1 e em que realizou uma grande exibição.

Aqui:
http://www.leparisien.fr/sports/joao-alves-j-ai-une-cicatrice-au-coeur-28-12-2003-2004643027.php#xtref=https%3A%2F%2Fwww.google.pt%2F (http://www.leparisien.fr/sports/joao-alves-j-ai-une-cicatrice-au-coeur-28-12-2003-2004643027.php#xtref=https%3A%2F%2Fwww.google.pt%2F)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 09 de Outubro de 2015, 22:02
vi jogar o j. alves ao vivo muitas vezes,era magnifico,do nivel de aimar ou valdo.
fica um amargo de boca,saber que podia ter dado muito mais ao nosso benfica,uma pena.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Outubro de 2015, 22:20
Citação de: fudim flan em 09 de Outubro de 2015, 22:02
vi jogar o j. alves ao vivo muitas vezes,era magnifico,do nivel de aimar ou valdo.
fica um amargo de boca,saber que podia ter dado muito mais ao nosso benfica,uma pena.

Sim fudim flan. Nós os dois temos essa sorte. Era de facto um gosto tremendo ver o seu jogo. Em Espanha ao serviço do Salamanca foi considerado o melhor jogador estrangeiro. E lá jogavam alguns dos melhores jogadores mundiais... Curioso como o seu coração era Benfiquista. Ele que teve como avô um grande jogador, o primeiro luvas pretas. Carlos Alves. Tanto quanto sei Carlos Alves foi jogador por longos anos do Carcavelinhos, fez alguns jogos pelo SCP numa digressão ao Brasil (onde começaram a jogar com aquela camisola listada), uma época no FCP e penso que ainda no Académico do Porto. Não me consta que Carlos Alves fosse Benfiquista. Talvez fosse influência do seu pai. Quem sabe...

(https://delagoabayworld.files.wordpress.com/2011/09/sfa01_sfa008001982_x-equipa-de-futebol-olimpica-de-portugal-amsterdao-1928.jpg)
Selecção Nacional de 1928. Carlos Alves é inconfundível.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Outubro de 2015, 01:26
-67-
Cosme e o inventor do Fla-Flu.

Vamos hoje partir de uma fotografia retratando dois homens, dois jogadores posando para o fotógrafo antes de um jogo em que se viriam a defrontar.

(http://i61.tinypic.com/2rcuc86.png)
Alberto Borgerth e Cosme Damião,
Fonte: Globo Sportivo


Para o universo Benfiquista a identificação do homem à direita é imediata: Cosme Damião!

Mas atravessando o oceano, e parando na Gávea, a principal sede do Clube de Regatas do Flamengo, a resposta pronta passa para o homem da esquerda: Alberto Borgerth!

O homem no seu contexto.

Mas de facto, esta fotografia tirada durante a digressão da equipa da AFL ao Rio de Janeiro em 1913 juntou dois homens de grande notoriedade no seu tempo e no seu espaço. Dois homens que são símbolos do clube onde ganharam notoriedade: Clube de Regatas Flamengo e Sport Lisboa e Benfica.

De Cosme Damião, nunca é demais salientar que merece o reconhecimento e a eterna gratidão de todos os Benfiquistas. Mas para Alberto Borgerth a situação é um pouco diferente dependendo se estamos a falar de Flamengo ou Fluminense. E na verdade como veremos, estamos a falar do inventor do Fla-Flu.

Alberto Borgerth nasceu em 3 de dezembro de 1892, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. E... começou a remar pelo Flamengo em 1906, ao mesmo tempo em que jogava futebol pelo Rio Futebol Clube, uma espécie de delegação juvenil do Fluminense (fonte: http://www.torcidaflamengo.com.br/news.asp?nID=33039 (http://www.torcidaflamengo.com.br/news.asp?nID=33039)).

A cisão

Em Novembro de 1911, Borgerth já era capitão da primeira categoria de futebol do Fluminense, tendo-se sagrado campeão Carioca na época finda. Mas, no final desse ano, na sequência de uma cisão interna grave, Borgerth deixou o clube tricolor para ir fundar o departamento de futebol do Flamengo. A cisão deveu-se à formação de uma comissão técnica no clube tricolor. Ou seja foi uma dissidência entre atletas e dirigentes. Nada menos do que nove jogadores deixaram o Fluminense e partiram para formar uma equipa competitiva no Flamengo, clube que até então se dedicava... ao remo: Alberto Borgerth, Armando de Almeida (Gallo), Emmanuel Augusto Nery, Ernesto Amarante (Zalacain), Gustavo Adolpho de Carvalho, Lawrence Andrews, Orlando Sampaio de Mattos (Bahiano), Othon de Figueiredo Baena e Píndaro de Carvalho Rodrigues (fonte: wikipedia). Para trás ficava Oswaldo Gomes que viria a tornar-se figura relevante do clube tricolor.

Quando se dá a dissidência não se pode dizer que a maioria dos jogadores que saíram estivesse apenas identificado com o Fluminense. Na verdade muitos eram remadores do Flamengo. Pela manhã remadores rubro-negros, pela tarde futebolistas tricolores...

Borgerth terá liderado a reunião entre os atletas tendo estes decidido propor ao clube rubro-negro a criação de uma secção terrestre ou seja uma secção de futebol. A proposta foi aceite e assim a secção de futebol viria a ser oficialmente criada em 4 de Dezembro de 1911.

Em boa verdade antes disso já tinham existido algumas experiências do Flamengo no futebol. Pelo que percebi o primeiro jogo de futebol no Flamengo, de carácter amigável, realizou-se no dia 25 de Outubro de 1903 no Estádio do Paissandü Atlético Clube. O Flamengo defronta e perde para o Botafogo por 5-1. Mas até aos acontecimentos acima descritos o futebol rubro-negro era algo episódico.

As rivalidades Cariocas

Assim, e até 1912, pode-se dizer que o Flamengo e o Fluminense não colidiam. Uma estranha situação tendo em conta a rivalidade dos nossos dias. Rivalidade de décadas.

O Flamengo foi fundado em 1895 para a prática do remo enquanto o Fluminense foi criado em 1902 para a prática do futebol. A rivalidade do Clube de Regatas Flamengo estava centrada no Clube de Regatas Vasco da Gama, fundado em 1898 por Portugueses e Luso descendentes. Aliás, a este propósito diga-se que a entrada do Vasco no futebol viria justamente a acontecer após a visita em 1913, ao Rio de Janeiro, da selecção de jogadores da A. F. Lisboa. A semente de Cosme e companheiros.

(https://cidadesportiva.files.wordpress.com/2011/06/flamengo-5.jpg)
Regata na Praia do Flamengo, em frente à sede do Clube, década de 1920


Dessa forma, no futebol e até 1912, as rivalidades futebolísticas Cariocas estavam centradas no Botafogo e no Fluminense. Estes dois clubes mantinham acesas disputas, que algumas vezes acabavam em bofetões dentro do campo e suspensões fora dele...
O Botafogo que, diga-se, receberia em 1913 o nosso Luís Vieira, tornando-se este o primeiro estrangeiro da história do Glorioso do Rio de Janeiro. A semente de Cosme e companheiros.

(http://i60.tinypic.com/2mzdrvb.jpg)
Fluminense, Campeão Carioca 1911,
Em cima: Píndaro, Baena e Nery;
Ao meio Orlando, Lawrence, Amarante e Galo;
Em baixo: Oswaldo Gomes, Alberto Borgerth, Gustavo e Calverth.

(http://i57.tinypic.com/o77j9u.jpg)
Flamengo, Outubro 1912,
De pé: Píndaro, Gilberto, Gallo, Baena, Nery e Coriolano;
Sentados: Baiano, Arnaldo, Amarante, Gustavinho e Alberto Borgerth.


(https://cidadesportiva.files.wordpress.com/2011/06/flamengo-7.jpg?w=450&h=337)
Campo onde o Flamengo fazia os seus treinos de futebol no final de 1911.
Fonte: http://www.rioquepassou.com.br/2005/12/20/gloria-e-centro-15-de-novembro-de-1911/ (http://www.rioquepassou.com.br/2005/12/20/gloria-e-centro-15-de-novembro-de-1911/)

Tudo isto soa familiar? Apenas familiar. O contexto e muitos detalhes são diferentes do que se passou entre o Sport Lisboa e Benfica e o SCP.

Nesse ano de 1912, os nove jogadores que saíram do clube tricolor, campeão de 1911, fizeram-no não por razões de estatuto social ou de falta de condições de trabalho ou ainda de dinheiro mas sim por discordâncias associativas insanáveis.

E de facto as coisas não foram simples. Nunca são simples.

Ao liderar o processo, Alberto Borgerth tornou-se o inventor do Fla-Flu, esse dérbi assombroso foi definido de forma suprema nas palavras de Nélson Rodrigues, jornalista, escritor e autor de teatro brasileiro:

O Fla-Flu não tem começo.
O Fla-Flu não tem fim.
O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada.
E então, as multidões despertaram.

in "Jornal de resenhas: seis anos, de abril de 1995 a abril de 2001" - página 1465


E o primeiro Fla-Flu acabaria por disputar-se somente alguns meses depois, no dia 7 de julho de 1912, no antigo Estádio do Fluminense na Rua Guanabara. Ao contrário do que se passou entre os clubes Lisboetas, aqui o clube que recebeu os dissidentes, apesar de favorito, acabou por perder o jogo. Venceu o Fluminense por 3-2. Mas rapidamente o Flamengo viria a tornar-se uma equipa vencedora, tendo-se sagrado bicampeã carioca em 1914 e 1915.

(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2010/09/fla-flu.jpg)

Ou seja, quando em Julho de 1913 Cosme tira a fotografia com Borgerth já este estava completamente envolvido na secção e na equipa de futebol do Flamengo.

O jogo que opôs Cosme e Borgerth disputou-se no dia 14 de Julho de 1913. A equipa Portuguesa jogou contra uma selecção Brasileira, num dos primeiros jogos disputados por uma selecção Brasileira contra uma equipa estrangeira.

(http://i60.tinypic.com/30kbkp5.png)
A equipa Brasileira. Fonte: Globo Sportivo.

(http://i61.tinypic.com/zmyrzt.png)
Equipa Portuguesa e aspecto do campo e do jogo.
Na verdade percebe-se que esta fotografia é do jogo contra o Botafogo (por sinal ganho pelos Portugueses).
Fonte: Globo Sportivo.


A equipa Portuguesa jogou com Augusto Paiva Simões, Carlos Homem Figueiredo, Henrique Costa; Carlos Sobral, Cosme Damião, Artur José Pereira; António Stromp, José Domingos Fernandes, Luís Vieira,Álvaro Gaspar e João Bentes.

A equipa Brasileira jogou com: Marcos, Pindaro, Nery; Mendes, Amarante; Gallo; Bartholomeu, Oswaldo, Babiano, Borgerth e Ernani. Quase todos jogadores do Flamengo, dissidentes do Fluminense.

E para tudo encaixar, seria Alberto Borgerth que marcaria o golo da vitória dos Brasileiros...

Epílogo

Em 1915, Borgerth formou-se em medicina e abandonou o futebol para exercer a profissão. Continuou no entanto ligado ao futebol tendo inclusivamente operado alguns jogadores de futebol entre os quais se destacou o famoso Domingos da Guia. Teve também responsabilidades directivas, representando o Brasil em Encontros Directivos internacionais. Teve também acção política tendo chegado inclusivamente a ser Secretário de Saúde do então Distrito Federal do Rio de Janeiro.

(http://i60.tinypic.com/ztpg0.png)
Alberto Borgerth, de óculos. Delegado Brasileiro numa reunião em Montevideu em Fevereiro de 1942.
Fonte: Esporte Ilustrado.

Alberto Borgerth morreu em 25 de novembro de 1958, ou seja ainda viu o Brasil ganhar o campeonato do mundo na Suécia no Verão de 1958. Teve essa suprema felicidade. O Flamengo contribuíu com quatro jogadores: Zagallo, Moacir, Joel e Dida enquanto o Fluminense com apenas um: Castilho. A força do Campeão Mundial estava nos clubes Paulistas Santos e São Paulo e nos clubes Cariocas Botafogo e Vasco da Gama.

Sete anos mais novo, Borgerth morreu onze anos depois de Cosme Damião. Não sei que palavras trocaram nesse distante dia de 14 de Julho de 1913, mas seguramente foi um encontro de dois homens de carácter e que respiravam futebol. Um encontro breve mas seguramente com significado para dois homens que deixariam marca no futebol dos seus países. Os seus clubes são, serão sempre, credores de gratidão para com eles.

(http://i61.tinypic.com/hvt65f.png)
Alberto Borgerth é Clube de Regatas Flamengo e Cosme Damiao é Sport Lisboa e Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Outubro de 2015, 14:26
Para aqueles que tiverem curiosidade aqui fica um magnífico e premiado documentário sobre o grande clássico Carioca:


https://www.youtube.com/watch?v=G9rWMBkoSCA (https://www.youtube.com/watch?v=G9rWMBkoSCA)

Segundo as palavras imortais de Nélson Rodrigues,  jornalista, escritor e autor de teatro brasileiro:


O Fla-Flu não tem começo.
O Fla-Flu não tem fim.
O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada.
E então, as multidões despertaram.


citado em "Jornal de resenhas: seis anos, de abril de 1995 a abril de 2001" - página 1465
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 10 de Outubro de 2015, 14:50
Citação de: RedVC em 09 de Outubro de 2015, 22:20
Citação de: fudim flan em 09 de Outubro de 2015, 22:02
vi jogar o j. alves ao vivo muitas vezes,era magnifico,do nivel de aimar ou valdo.
fica um amargo de boca,saber que podia ter dado muito mais ao nosso benfica,uma pena.

Sim fudim flan. Nós os dois temos essa sorte. Era de facto um gosto tremendo ver o seu jogo. Em Espanha ao serviço do Salamanca foi considerado o melhor jogador estrangeiro. E lá jogavam alguns dos melhores jogadores mundiais... Curioso como o seu coração era Benfiquista. Ele que teve como avô um grande jogador, o primeiro luvas pretas. Carlos Alves. Tanto quanto sei Carlos Alves foi jogador por longos anos do Carcavelinhos, fez alguns jogos pelo SCP numa digressão ao Brasil (onde começaram a jogar com aquela camisola listada), uma época no FCP e penso que ainda no Académico do Porto. Não me consta que Carlos Alves fosse Benfiquista. Talvez fosse influência do seu pai. Quem sabe...

(https://delagoabayworld.files.wordpress.com/2011/09/sfa01_sfa008001982_x-equipa-de-futebol-olimpica-de-portugal-amsterdao-1928.jpg)
Selecção Nacional de 1928. Carlos Alves é inconfundível.
o meu avõ viu jogar carlos alves,e me contou que era um grande jogador.
o nosso j.alves era um predestinado,que pena a sua carreira...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: mandrake em 11 de Outubro de 2015, 13:25
Citação de: RedVC em 09 de Outubro de 2015, 21:38
-66-
Memórias francesas.

Sexta feira, 10 de Agosto de 1979. Sochaux, Estádio Auguste Bonal

Sochaux FC vs. Paris Saint Germain
(http://www.paris-canalhistorique.com/wp-content/uploads/2014/07/alves.png)
João Alves, alguns minutos antes da fatídica lesão. Ao lado o árbitro Jean-Marie Meeus.

Cerca dos 53 minutos de jogo João Alves é gravemente lesionado depois de sofrer uma agressão de Genghini. Nesse momento de dor deu-se um ponto de inflexão decisivo na carreira de João Alves. Depois de alguns longos e penosos meses de recuperação estaria no seu horizonte o regresso a casa.

O diagnóstico não poderia ser mais cruel: fractura do tornozelo com distensão do ligamento. Uma lesão horrível, um minuto dramático da vida do grande jogador.

No fim do jogo, o inenarrável árbitro Sr. Meeus, declarou: "Alves lesionou-se sozinho". Mas o vice presidente do PSG Charles Talard viria a por as coisas no devido sítio, pronunciando palavras duras: "Foi o futebol que foi assassinado esta  noite!".

Ainda na ressaca, Eric Renaut, o colega de Alves resumiu o estado de espírito da equipa após o drama: "A derrota a perda de Alves vão-nos custar entre dez e quinze mil espectadores para o nosso próximo jogo no Parque dos Príncipes.". Eric sabia o que estava a dizer. A desmobilização da comunidade Portuguesa teria graves custos para o PSG. Foi a desolação para os parisienses, pela perda competitiva, pela perda financeira, especialmente porque se percebia que o PSG não viria a rentabilizar o investimento de três milhões de Francos, o valor total da transferência.

Para Alves viriam duas operações ao tornozelo, e um afastamento dos relvados durante cinco longos meses.

Adaptado de: http://www.paris-canalhistorique.com/10081979-sochaux-psg/ (http://www.paris-canalhistorique.com/10081979-sochaux-psg/)

(http://img.photobucket.com/albums/v209/nettwerk/benfica/jalves.jpg)

João António Ferreira Resende Alves
nasceu em Albergaria-a-Velha, Albergaria-a-Velha, em 5 de Dezembro de 1952.

Memórias Francesas de um grande jogador. Um Glorioso jogador em terras de França:

PARIS SAINT GERMAIN 1979-1980:
(http://u.jimdo.com/www400/o/s907f1745e63d8903/img/i7fd972768ffbeffa/1391446233/std/image.jpg)

(http://s.psg.fr/psg/image/article/illustration/m/211/42054.jpg)
Plantel de 1979-1980. Entre os colegas de equipa de João Alves nota-se a presença de duas cara conhecidas que depois se tornaram treinadores: o Brasileiro Abel Braga e o Francês Luiz Fernandez.


(http://1.bp.blogspot.com/-8yUDZq3QgM4/UHwbkU8bzFI/AAAAAAAAPdo/acw_B6JKe2I/s1600/PARIS+SG+1979-80.JPG)
Equipa do jogo uma semana antes do jogo fatídico: PSG - Marseille 2-1, 3 de Agosto de 1979

(https://maillotspsg.files.wordpress.com/2013/01/joao-alves-bathenay-psg-1979-80.jpg?w=900)

(http://1.bp.blogspot.com/-lKDGenvKqGo/UHwW3umOhfI/AAAAAAAAPdI/yWL_fHPZaaI/s1600/JOAO+ALVES+-+PARIS+SG+1979-80.JPG)

(http://2.bp.blogspot.com/-mfVYJC2LKrg/UHwW9IfJDHI/AAAAAAAAPdY/glsDvJbfZVM/s560/JOAO+ALVES+-+PSG+1979.JPG)

(http://3.bp.blogspot.com/-Hm6nNTFPhjY/UHwW6gQdfDI/AAAAAAAAPdQ/lk_2W-0hTOU/s400/JOAO+ALVES+-+PSG+1979-80.JPG)


Retrato de João Alves enquanto jogador do PSG:
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PatBiry3JjI (https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=PatBiry3JjI)

Fora das quatro linhas Alves teve também reconhecimento e visibilidade como atesta a sua participação no programa Palmarès 80, difundido em 16 de Janeiro de 1980:

(http://1.bp.blogspot.com/-IxDsXW1rZco/VN_aNqsgcAI/AAAAAAAAOAU/dE2i3WIONnU/s1600/Joao%2BAlves.jpg)
http://tele70france.blogspot.pt/2015/02/palmares-80-emission-du-16-janvier-1980.html (http://tele70france.blogspot.pt/2015/02/palmares-80-emission-du-16-janvier-1980.html)

Mas por fim, em meados desse ano chegaria o desejado regresso à sua casa:

(http://i.imgur.com/aZ1cKi7.png)

Por fim com o manto sagrado:

(http://4.bp.blogspot.com/-AUAQnU9B-OU/UHwW0xkmWeI/AAAAAAAAPdA/6fp_XntJDvM/s1600/JOAO+ALVES+-+BENFICA+1978.JPG)
Com o manto sagrado. Assim como deveria ter sido sempre.

O regresso de João Alves ao Sport Lisboa e Benfica deu que falar. O nosso Clube terá pago cerca de um milhão e meio de francos para além de um chorudo ordenado. O assunto chegou a ser discutido no Parlamento Português.

De novo no Benfica para três épocas de elevado nível, liderando o melhor meio campo que alguma vez vi jogar ao vivo: João Alves, Shéu, Carlos MAnuel, José Luís, Diamantino e Chalana. Depois ainda viria Stromberg.

(http://expresso.sapo.pt/users/1939/193958/luvas-68a4.jpg)
No derbi eterno. Imagem de jogo, um momento que parece uma pintura

João Alves foi um ídolo da minha juventude. Um jogador que tive o prazer de ainda ver ao vivo, com o perfume do seu futebol.

Pena é que muitos Benfiquistas não tenham tido essa sorte. Pena é que tenha jogado tão pouco com a nossa camisola. Porque para mim deveria ter jogado pelo menos 15 anos.

Craque!


Brutal, este equipamento do PSG de 1979-80!!! Os equipamentos da Le Coq Sportif e o seu material desportivo durante a década de 80 é uma das boas memórias!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 14 de Outubro de 2015, 15:16
(http://i59.tinypic.com/ao846t.jpg)

João Alves num Benfica-Nacional de Montevideo (Uruguai) em 1978.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 14 de Outubro de 2015, 15:58
Citação de: zappendrix em 14 de Outubro de 2015, 15:16
(http://i59.tinypic.com/ao846t.jpg)

João Alves num Benfica-Nacional de Montevideo (Uruguai) em 1978.
vi esse jogo na luz,acabou tudo á batatada.
o redes do nacional era o rodolfo rodriguez,que mais tarde jogou na lagartagem.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Outubro de 2015, 16:41
Foi uma macacada. Ao que parece que até do público vieram "reforços".

(http://i60.tinypic.com/10qar9t.png)
(http://i58.tinypic.com/33zeiky.png)

Fonte: Diário de Lisboa, 17 Agosto 1978.

Felizmente portaram-se bem melhor no dia 25 de Outubro de 2003.

Reparem quem foi o árbitro...

(https://cld.pt/dl/download/f84fd8ed-0ac6-4d6b-9c26-0bb53508d558/393.jpg)

(http://www.maisfutebol.iol.pt/multimedia/oratvi/multimedia/imagem/id/13444346/1024)
Fonte: Mais Futebol

(http://2.bp.blogspot.com/-IqEuPsLLeK8/UUXPPoWLH0I/AAAAAAAAIGM/c09_KlGMZ2Y/s1600/benfica+2003-2004.jpg)
Fonte: Tomás Paulo


Estádio da Luz, Lisboa
Lotação: 65 400 espectadores
Árbitro: Pedro Proença

BENFICA
Moreira, Armando, Argel, Hélder, Ricardo Rocha, Petit, Tiago, Simão, Geovanni, Nuno Gomes e Sokota.

Treinador
José António Camacho

NACIONAL DE MONTEVIDEU
Bava, Benoit, Machado, Curbelo, Scotti, Eguren, Coelho, Fernandes, Albin, Ferreira e Mello

Treinador
Daniel Carreño

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Outubro de 2015, 10:21
-68-
Desforra Inglesa em tempo de Monarquia.

13 de Março de 1910. Jogo entre o Sport Lisboa e Benfica e o Carcavelos Football Club.
A equipa do Sport Lisboa e Benfica alinha orgulhosamente no Campo da Feiteira, Benfica. Assistência calculada em cerca de 5000 pessoas. Um espanto para a época.
Este foi o jogo da desforra dos Ingleses.

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)
Fonte: AML. Equipa do Sport Lisboa e Benfica. 13 de Março de 1910, Quinta da Feiteira em Benfica. Em pé: António Costa, Henrique Costa, Jorge Rosa Rodrigues, Cosme Damião, Carlos Homem de Figueiredo e Artur José Pereira. Em baixo: Florindo Serras, Luís Vieira, Germano Vasconcellos, António Meireles e Virgílio Paula.

Esta fabulosa fotografia que faz parte do acervo do AML é da autoria do grande fotógrafo  Joshua Benoliel.

Nela estão para além dos onze grandes jogadores Benfiquistas alguns detalhes interessantes.

Dentro do campo

Vamos começar pelas equipas. A nossa equipa foi capitaneada por Cosme Damião que nos surge sorridente com o seu cachecol branco e com a bola de jogo. Muito provavelmente alinhou na seguinte disposição táctica.

(http://i60.tinypic.com/2n198xc.png)

Relativamente ao jogo de Janeiro notavam-se três alterações com a mudança de guarda-redes (Alfredo Machado por Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos Catataus) e de dois jogadores de campo (Leopoldo Mocho por Carlos Homem de Figueiredo e Josué Correia por Florindo Serras).

O Carcavellos FC terá convocado a sua máxima força, alinhando com Durrant; Mellis e Peils; Harvey, Large e Lees; Law, Dodje, Harris, Strang e Perkins.

O jogo foi arbitrado pelo Inglês Charles Ettur, que nessa altura estava ligado ao Gilman Sports Club mas que esteve também ligado aos primeiros anos do SCP. E Charles Ettur estaria ligado ao conturbado final de jogo. Uma das primeiras invasões de campo do futebol Português.

Como se disse, este foi também o dia da desforra Inglesa porque dois meses antes, no dia 23 de Janeiro, e no mesmo palco tinha-se jogado o jogo do título de 1909/10! Nesse dia o Benfica ganhou por 1-0 (golo de Artur José Pereira). Essa vitória de Janeiro simbolizou a entrada do futebol Português numa nova era. O Sport Lisboa e Benfica deixava para trás o tempo do domínio (quase) total dos Ingleses no futebol Português e conquistava o título. O único clube Português a quebrar a hegemonia do Carcavellos FC. O único no tempo da Monarquia.

Mas os Ingleses ainda teriam tempo para uma última grande vitória, para a desforra de Março. Em pleno Campo da Feiteira e nesse ambiente efervescente, os Ingleses venceram por 3-1. Estava feita a desforra. Mas não foi fácil. Nem pacífico.

Ao intervalo o resultado marcava uma igualdade a um golo tendo o nosso tento sido apontado por Germano de Vasconcellos. Na segunda parte os Ingleses impuseram o seu jogo e apesar de não exercerem domínio apreciável foram mais eficazes. A vitória ficou selada pela polémica validação do terceiro golo Inglês, validado pelo Sr. Charles Ettur. Essa decisão não foi bem aceite, facto que motivou uma invasão de campo. Já nesses dias a paixão era vivida ao extremo. E o ambiente de hostilidade aos Ingleses anda não estava desvanecido. Contas antigas vindas de um mapa cor-de-rosa.

Fora do campo

Mas para além do lado desportivo, esta fotografia traz-nos outros detalhes que interessa fazer notar.

E assim vamos olhar para fora do campo, para três aspectos: bandeiras, edifícios e pessoas.

(http://i58.tinypic.com/3142sl3.png)


As bandeiras.

(http://i61.tinypic.com/mwppo6.png)

Ali, desfraldadas ao vento, distinguem-se a Gloriosa bandeira vermelha do Sport Lisboa e Benfica, a Bandeira Nacional Monárquica (faltavam ainda 7 meses para a instauração da Republica) e a bandeira Red Ensign or "Red Duster" usada desde o início do século 17 pela Royal Navy:

(http://i60.tinypic.com/2bxkdf.png)

As Vilas.

(http://i61.tinypic.com/34eauiv.png)

Nesta fotografia de Janeiro de 1910 está apenas visível a Vila Ana. A Vila Ventura seria construída nesse mesmo ano. Essas duas casas são representativas do que se chamava as casas do Brasileiro, erigidas no final do século XIX e princípio do século XX em Benfica. A Vila Ana data de 1890 e a Vila Ventura por volta de 1910. Ou seja a fotografia Vila Ventura ainda não estava construída. Alguma informação aqui do excelente blogue retalhosdebemfica:

http://4.bp.blogspot.com/_vyPcxm-fW6Y/S63UJJPUZGI/AAAAAAAAIyU/e8UM6otuE68/s1600/DN.JPG (http://4.bp.blogspot.com/_vyPcxm-fW6Y/S63UJJPUZGI/AAAAAAAAIyU/e8UM6otuE68/s1600/DN.JPG)

E para ressaltar esse aspecto, atente-se nesta fotografia (mais uma da autoria de Joshua Benoliel) tirada cerca de um ano depois, no mesmo local, a propósito do jogo em que se defrontaram uma selecção da AFL e a equipa francesa do Stade Bordelais:

(http://i61.tinypic.com/20zwo6f.png)
Equipa da AFL, Campo da Feiteira, 21 de Maio de 1911. Cosme Damião (SLB), Merick Barley (CIF), Eduardo Luís Pinto Basto (CIF), Henrique Costa (SLB), Artur José Pereira (SLB), William Sissener (CIF), António Stromp (SCP), Francisco Stromp (SCP), António Rosa Rodrigues (SCP e fundador do SL), Carlos Sobral (CIF), e João Bentes (SCP). Note-se como a Vila Ventura, com fachada branca já estava de pé, bem ao lado da Vila Ana. No lado esquerda vê-se também a casa alemã da família Lobo Antunes.


Sobre este garboso Campo da Feiteira, Alberto Miguéns dá-nos como sempre excelente informação, aqui no seu texto "Onze anos a brilhar":
http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/10/onze-anos-brilhar.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/10/onze-anos-brilhar.html)

Este campo tem para mim um fascínio muito grande. Era um local muito bonito e o facto de lá se disputarem jogos internacionais demonstra que era o melhor do seu tempo. Pena é que tenha durado tão pouco tempo. Sacrificado à voraz expansão urbanística dessa zona.

Neste ângulo que Benoliel nos deixou, não se identifica a casa Alemã da família Lobo Antunes mas a mesma pode ser vista na última fotografia deste texto. PAra mim essa casa foi o primeiro "camarote" da História do Benfica. Só podia mesmo ajudar a produzir gente de qualidade e Benfiquistas.  :cool2:


Dois ilustres filhos de Belém

(http://i59.tinypic.com/j7ax4g.png)

O último detalhe de fora do campo tem a ver com duas identificações. Duas pessoas da numerosa assistência – estimada em cerca de 5000 pessoas. E note-se como existe grande heterogeneidade de roupas e estilos na assistência. Era já um dos aspectos mais fascinantes que o futebol conserva: a atracção de todas as classes sociais que em comunhão partilham o sentimento de apoio ao seu Clube.

Quem agora se identifica são dois ilustres filhos de Belém. Dois ilustres Benfiquistas que compareceram demonstrando bem a ligação que mantiveram ao clube mesmo após a fusão e não obstante a necessidade de deslocação para Benfica. É certo que não posso dar essas identificações como seguras mas que acho-as bastante prováveis. É a minha opinião.

Assim, de chapéu de coco podemos identificar Inácio José Franco, Conde do Restelo, um dos proprietários da Farmácia Franco e sócio protector do nosso clube. Ao seu lado direito está outra figura ilustre: Manuel Gourlade, o funcionário da Farmácia Franco. A primeira águia, que nesse tempo ainda mantinha ligação ao Clube ao contrário, tanto quanto sei, do seu colega Daniel Santos Brito.

No campo estava também presente (pelo menos) outro fotógrafo: Sena Cardoso, do jornal Tiro e Sport que nos deixou mais registos desse dia, entre as quais esta fotografia:

(http://i59.tinypic.com/8yzy2h.png)
Fonte: Sena Cardoso, publicada pág. 123 da História do SLB 1904-1954, de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva.

Considerando o detalhe anterior, morfologia e proximidade com o Conde do Restelo (cuja identificação é mais segura) penso que o homem com a boina posicionado ao lado da baliza do nosso guarda-redes é Manuel Gourlade. A primeira águia, sempre atenta e a dar instruções a um dos seus estimados Catataus. Longe iam os dias do pátio da Farmácia Franco.

E por isso foi com certeza um dia empolgante para ambos. Seis-sete anos separavam esse dia dos dias em que ainda se "futebolava" no pátio da Farmácia Franco. De um pequeno e íntimo espaço para esse garboso campo da Quinta da Feiteira. Um jogo com milhares de pessoas a assistir.

Foi também um dia com final turbulento pois as crónicas registam uma invasão de campo por discordância acerca de polémica validação do golo da vitória Inglesa. Foi um dia de grandes emoções. Vividos também por estes dois grandes pioneiros, duas grandes Saudades do Sport Lisboa e Benfica.

Que grande fotografia, mais uma, nos deixou Joshua Benoliel!
O reconhecimento a um homem que nos deixou um legado fabuloso que nos encanta e ensina do que foi a sociedade Portuguesa nos mais diversos aspectos. Os anos fascinantes que mediaram entre o final da Monarquia e os primeiros anos vertiginosos da Republica.

(http://i57.tinypic.com/2ewmpua.png)
(Lisboa 13 de Janeiro de 1873
Lisboa 3 de Fevereiro de 1932)


Aqui se pode ver um video fascinante que ilustra a paixão que este fotógrafo teve de Lisboa e das suas gentes.

https://vimeo.com/86189415 (https://vimeo.com/86189415)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 18 de Outubro de 2015, 10:44
Adoro esse tipo de fotos, por momentos parece que viajámos no tempo.

É um caso em que a tecnologia ao longo de um século não acrescentou praticamente nada, em termos de qualidade.

_________________________________

Pegando nesse texto sobre uma fotografia deixo aqui esta, de 8/9/34, que tinha guardada...

(http://i.imgur.com/N1FVWOD.jpg)
Spoiler
As equipas infantis de atletismo do Belenenses, Benfica e Internacional. [Identificadas no álbum:] Maria Alice Correia Santos; Alda Correia Lopes; Arminda do Rosário Mota; Maria Vicenta Remus; Babete Miranda; Maria Palmira Riba Tâmega; Kika Riba Tâmega; May Norton; Margarida Abreu; Maria Alice Gonçalves; Doris Meunier; Dida Perkins; June Meunier; Maria Luísa Gabriela de Oliveira; Maria José do Rosário Mota; Maria de Lurdes Rio Simões; Clotilde Cartaxo; Alice Nunes da Silva; Judite Pereira; Florinda da Conceição Oliveira; Maria de Lurdes Sousa Barnabé; Ida Bonaparte Figueira; Deolinda Luísa Chupelo.
[fechar]

...e desafio a partilhar fotos ainda mais antigas de equipas femininas do Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Outubro de 2015, 16:47
Citação de: Theroux em 18 de Outubro de 2015, 10:44
Adoro esse tipo de fotos, por momentos parece que viajámos no tempo.

É um caso em que a tecnologia ao longo de um século não acrescentou praticamente nada, em termos de qualidade.

_________________________________

Pegando nesse texto sobre uma fotografia deixo aqui esta, de 8/9/34, que tinha guardada...

(http://i.imgur.com/N1FVWOD.jpg)
Spoiler
As equipas infantis de atletismo do Belenenses, Benfica e Internacional. [Identificadas no álbum:] Maria Alice Correia Santos; Alda Correia Lopes; Arminda do Rosário Mota; Maria Vicenta Remus; Babete Miranda; Maria Palmira Riba Tâmega; Kika Riba Tâmega; May Norton; Margarida Abreu; Maria Alice Gonçalves; Doris Meunier; Dida Perkins; June Meunier; Maria Luísa Gabriela de Oliveira; Maria José do Rosário Mota; Maria de Lurdes Rio Simões; Clotilde Cartaxo; Alice Nunes da Silva; Judite Pereira; Florinda da Conceição Oliveira; Maria de Lurdes Sousa Barnabé; Ida Bonaparte Figueira; Deolinda Luísa Chupelo.
[fechar]

...e desafio a partilhar fotos ainda mais antigas de equipas femininas do Benfica.

Será difícil pois essa foi a primeira equipa feminina de basquetebol do Benfica. Aqui está outra penso de dois anos depois mas basicamente com as mesmas atletas.

(http://2.bp.blogspot.com/-dAeq9WKsa0A/TrbiDps42YI/AAAAAAAAAt4/JsaXNe_0bfQ/s1600/BSQF.jpg)

Alberto Miguéns fala aqui de três períodos, num total de 16 épocas, entre 1934/1937 (3), 1960/1968 (8) e 1970/1975 (5).

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/10/bolas-frias-bolas-quentes.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/10/bolas-frias-bolas-quentes.html)

O reinício da modalidade deu-se em 2011/2012.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 18 de Outubro de 2015, 17:20
Era para colocar essa foto mas como é posterior acabei por não incluir. Também existe lá esta, que penso já ter colocado em outro tópico:

(http://3.bp.blogspot.com/-MuyBs4tGHE8/VcuZQ9xlFLI/AAAAAAAAZE8/aYU9rl_zSts/s1600/EsfBAS%2B1937.38%2B223%2B-%2BC%25C3%25B3pia.jpg) 37/38

Mas a foto que coloquei é da equipa de atletismo (de formação), só que uns anos mais tarde as atletas acabaram por praticar ambos os desportos. É explicado pelo Alberto Miguéns aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/08/atletismo-110-sem-macula.html

Em 10 de Junho de 1937 o Benfica estreou-se em competição com uma equipa de senhoras que treinavam Atletismo desde o ano anterior. Essa equipa era o plantel de Basquetebol que prolongava a sua capacidade desportiva para lá dessa modalidade, aproveitando o Atletismo para treino físico do Basquetebol.

Só uma nota, a equipa sénior foi recuperada em 10/11, embora a actividade oficial na formação já se tivesse iniciado uns anos antes.

Estou totalmente fora desse período da história do clube mas acredito que tenha existido algum tipo de actividade feminina anterior a 1934, portanto se alguém tropeçar em fotos mais antigas ou referências a atletas femininas, está à vontade para partilhar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Outubro de 2015, 18:13
-69-
As manas Bermudes, Gloriosas a pedalar.

1924, uma fotografia histórica: as duas filhas de Félix Bermudes, Cesina e Clara Bermudes, respectivamente. Equipadas à SLB!

(https://cld.pt/dl/download/10005f43-366f-4306-91c6-d29f9c68708a/155.JPG)
(Créditos: Çula, que a colocou aqui no fórum)

Ambas participaram em provas de ciclismo. Cesina ganhou essa I Volta a Lisboa de 1924:

(https://scontent-mad1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xta1/v/t1.0-9/12088121_515591635288898_2037325778775722708_n.jpg?oh=e0b3892a3f346408de1b82729d828454&oe=568EC639)

Segundo a Federação Portuguesa de Ciclismo (documento oficial):

As mulheres aderiram ao ciclismo praticamente desde o aparecimento da
bicicleta, mas só na segunda década do século XX surgiram em Portugal as
primeiras praticantes que passaram dos tradicionais passeios à competição.
As corridas femininas surgiram a partir das irmãs Cesina e Clara Bermudes,
filhas do escritor e dirigente do SL Benfica, Félix Bermudes. Na primeira Volta a
Lisboa, em 1924, o triunfo coube a Cesina que suplantou as duas únicas
adversárias, a irmã Clara e Estela de Oliveira.

No ano seguinte, Cesina Bermudes venceu novamente a Volta a Lisboa, mas
dessa vez teve pela frente uma adversária de vulto, a jovem setubalense
Oceana Zarco, que, com a camisola do Vitória de Setúbal, ofereceu forte
oposição e veio a dominar a modalidade nos três anos seguintes, vencendo a
3ª edição da Volta a Lisboa, a I Volta ao Porto e a I Volta a Setúbal, para
abandonar a competição aos 18 anos.


Fonte: http://www.uvp-fpc.pt/ficheirossite/17112011074730.pdf (http://www.uvp-fpc.pt/ficheirossite/17112011074730.pdf)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 18 de Outubro de 2015, 18:32
Desconhecia totalmente que tínhamos história no ciclismo feminino, obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Outubro de 2015, 19:21
Tentarei reunir mais informação.

Sim e no ciclismo masculino o nosso primeiro atleta, ainda no tempo do Sport Lisboa, foi Fortunato Monteiro Levy, por volta de 1906.

(http://i61.tinypic.com/nq43li.png)

Pensei em tempos ter uma fotografia dele em cima de uma bicicleta mas não encontro. Posso estar enganado.

Mas se alguém tiver seria excelente ver aquele Glorioso Cabo-Verdino a representar o nosso clube em ciclismo. Terá sido a nossa segunda modalidade. E aliás era uma das modalidades de eleição do Grupo Sport Benfica de 1906 até 1908, data da fusão.

E quanto ao ecletismo no SLB, Félix Bermudes, o pai de Cesina e Clara, terá participado em provas de atletismo pelo Sport Lisboa também por volta de 1906.

Depois de Fortunato tivemos Germano de Vasconcellos, o flecha vermelha, que no Grupo Sport Benfica nos prestigiou desde 1907, em ciclismo e também em atletismo.

Mais informação, aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/eclectismo-sem-macula.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/eclectismo-sem-macula.html).

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Outubro de 2015, 00:20
Mais uma imagem espectacular do Campo Grande e arredores.

(http://4.bp.blogspot.com/-7Y4gLn7QL-I/VikBTmDK9lI/AAAAAAAAbPI/3_3IllQT3Fg/s1600/Lumiar.png)


Publicada por Alberto Miguéns, aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/10/derbi-de-lisboa-422.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/10/derbi-de-lisboa-422.html)



Citação de: RedVC em 25 de Junho de 2015, 20:52
-56-
Revisitando o Campo Grande.

Lembram-se?
 
(http://i61.tinypic.com/29axr1j.png)


Hoje vamos olhar para uma nova fotografia pertencente ao acervo do AML. E é notável, apesar dos danos infligidos pelo tempo e pelo bolor. Dá-nos detalhes que nos revelam um pouco mais do que era o nosso complexo desportivo no Campo Grande. Ora vejam:

(http://i61.tinypic.com/35dajom.jpg)
Fonte: AML


Bonita, não é?

Mais de seis décadas depois e com material gráfico escasso, a esmagadora maioria dos Benfiquistas não tem um conhecimento mínimo sobre o que era o nosso complexo desportivo no Campo Grande. E no entanto, apesar da modéstia que exibia era também um monumento à obra, persistência e paixão Benfiquista!

Em 23 de Junho de 1940 o Sport Lisboa e Benfica fazia o seu último jogo no Estádio das Amoreiras. Fomos escorraçados. Era um rude golpe no mais popular clube Português. As Amoreiras representavam a casa própria, a primeira que o Benfica tinha tido capacidade de erigir. Começou devido ao sonho e diligência de Cosme Damião. E foi sua última obra. Foi a concretização do seu sonho e do sonho de tantos e tantos dos primeiros Benfiquistas. Mais informação aqui:
http://www.slbenfica.pt/pt-pt/estadio/estadiosanteriores/estadiodasamoreiras.aspx (http://www.slbenfica.pt/pt-pt/estadio/estadiosanteriores/estadiodasamoreiras.aspx)

Inaugurado em 1925, o campo das Amoreiras foi usado apenas durante 15 anos aquele que era um Estádio feito para durar décadas e décadas. Fomos escorraçados de lá por um Estado intransigente e déspota, que não nos pagou sequer o que lá investimos. O Benfica teve que encontrar uma nova casa à pressa e a única solução viável foi ocuparmos um campo que o SCP tinha abandonado pouco tempo antes. Por falta de condições... Imagine-se ficar com um campo que durante mais de duas décadas foi a casa do SCP... Pior ainda, era ficarmos porta com porta com o rival.

E aquilo que poderia ter sido desalento e uma regressão perigosa foi afinal tornado em orgulho e um renascer do nosso clube. Obra feita, com contribuição e fundos colectivos como só os Benfiquistas conseguem. O Campo Grande foi remodelado, expandido e alindado em escasso tempo. E que espanto, quando foi inaugurado em 5 de Outubro de 1941 era ainda melhor do que o Estádio do Lumiar! E foi a nossa casa até 1954, data da inauguração do Estádio da Luz.

E assim, explicado o contexto, vamos olhar e tentar decifrar esta imagem. Para isso tive a decisiva ajuda de Alberto Miguéns  :bow2:. Então vamos lá:

___________________________________________________________________
(http://i60.tinypic.com/90nga9.png)

1 – Estádio do Campo Grande, campo principal.
Ao contrário do que pensava, o Campo Grande já era conhecido por "estância de madeiras" desde o tempo em que era ocupado pelo SCP. O Campo Grande tinha um terreno pelado com bancadas de madeira e nota-se também que tinha uma rede no topo das bancadas.
De acordo com Alberto Miguéns, os sócios do Benfica ocupavam três bancadas (de madeira) com uma capacidade de cerca de 10 mil lugares. Existiam ainda mais 2 mil reservados para venda de bilhetes a não sócios. Havia ainda um peão (de pedra) para o público que formava um talude que permitia instalar bancadas para assistir às actividades que decorriam no campo anexo. Ao que parece para além do que em baixo se fala existiria ainda uma carreira de tiro.

2. Campo anexo ou Campo Grande-A
Usado para o Andebol de 11, Râguebi, Hóquei em Campo e Futebol/Formação.

3. Court ténis
Não se vê aqui mas pode ver-se na fotografia inicial; mas por trás da Churrasqueira existia ainda o nosso campo de basquetebol. Tinha uma qualidade inferior e não tinha bancadas, tendo por isso servido basicamente para treinos.

4. Portão principal
Não se vê na fotografia mas penso que era por aqui.

5. Portão secundário
Confrontava para o Estádio de Alvalade...

6., 7., 8. Edifícios de apoio
Parecem pelo menos três. Eventualmente quatro. Um deles servia como balneário, outro era para o guarda do campo. Nele se guardavam os apetrechos para cuidar do piso e engalanar o campo para poder jogar.

Aqui vê-se melhor:

(http://www.zerozero.pt/img/estadios/010/52010_med_campo_grande.jpg)


9. Bancadas do campo anexo
Uma solução engenhosa. Dá ideia que existiam espaços interiores por baixo dessas bancadas.

10. Pista de cinza
Inaugurada no final de 1946. Tinha seis pistas.

11. Estádio de Alvalade
Inaugurado em 1956. A fotografia foi portanto tirada nessa data ou pouco depois.

12. Alameda das Linhas de Torres
Uma artéria que ganhou ainda maior importância a partir destes anos em que se edificaram os dois Estádios. Na década de 50 novo facto relevante com a instalação da RTP nas suas cercanias.

13. Sanatório Popular de Lisboa
também designado Sanatório de D. Carlos I. Em 1975 foi rebaptizado Hospital Pulido Valente.
___________________________________________________________________


Detalhe a detalhe, a descoberta gradual de fotografias do Campo Grande permite-nos ter outra compreensão e orgulho relativamente ao que os nossos antecessores foram capazes de fazer em tão difíceis circunstâncias. Gostaria que o mesmo acontecesse com as Amoreiras e com os campos ainda mais antigos. Quem sabe o que anda por aí...

E assim o que nos diz a aventura do Campo Grande? Diz-nos que o Benfica nunca se rendeu. E que apesar de andar de campo em campo, a gastar recursos em casa dos outros, sempre se reergueu para cumprir o seu destino: ser o maior de Portugal. Diz-nos que fomos solidários, inventivos, generosos e apaixonados. E soubemos sempre honrar a memória dos nossos fundadores e antecessores.

Ressoam sempre as palavras do maior de todos nós: Houve, desde logo, a certeza de que, pela união, nos podíamos tornar mais fortes.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: M1904 em 23 de Outubro de 2015, 11:28
Foi nesse campo os 12-2 ao fcp.  :flagglorioso: :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Outubro de 2015, 00:01
-70-
O dia da dúzia!

7 de Fevereiro de 1943, Estádio do Campo Grande.
Disputava-se a 5ª jornada do Campeonato Nacional.
Esse foi o dia em que o FCP levou uma dúzia:

(http://www.dn.pt/storage/DN/2015/3/ng4172499.jpg)
1943 - Jogo entre o Benfica e o FC Porto no Campo Grande. Alfredo Valadas festeja o terceiro golo do Benfica, marcado por Julinho (legenda original). Fonte: Arquivo DN

(http://i61.tinypic.com/b7z0n4.png)
Fonte: DL, 7 de Fevereiro de 1943

Servem ambas as fotografias para ilustrar um jogo especial. Um jogo louco, vertiginoso, inesquecível. A pobre equipa do FCP veio do Porto a Lisboa e no Glorioso Campo Grande acabou por sofrer uma das maiores humilhações da sua história. Nesse dia os portistas sofreram não 1, não 2, 3 ou 4, nem 7, muito menos 9, nem sequer 10, nem mesmo 11. Foram 12! 12 golos! Como o nosso amigo M1904 nos fez lembrar.

Eram tempos de Guerra na Europa, e de facto, nesse dia os nossos Gloriosos avançados foram verdadeiros caças Spitfires, autênticos bombardeiros Whirlwind a bombardear o couraçado azul. Com 12 tiros certeiros levaram o couraçado azul ao fundo. Sem honra nem glória, os azuis regressaram destroçados à cidade Invicta.

Mas para sabermos um pouco mais vamos aproveitar a crónica do Diário de Lisboa desse mesmo dia:

(http://i62.tinypic.com/2gvn6zk.png) (http://i57.tinypic.com/29ni5q0.png)

Como se lê, a nossa Gloriosa equipa alinhou com:

(http://i58.tinypic.com/8x4fpg.png)

Para a história ficou o aspecto mais interessante:

(http://i62.tinypic.com/2cdk8lx.png)

Ah e foram ainda anulados dois golos a Manuel da Costa. Vá lá, foram só 12 e não 14.

Não se pense que o Futebol Clube do Porto tinha uma equipa fraca. Nas suas fileiras constavam e jogaram jogadores de grande categoria como Pinga e Araújo.
Da leitura da crónica ficou claro que a defesa dos portistas era o seu ponto fraco. Nesse dia foi o descalabro. Para agravar Nunes ainda foi expulso depois de uma carga violenta sobre Manuel da Costa. Mas nessa altura o placar já marcava 9-1. Ainda longe do resultado final.

Que grande cabazada!


Depois desse jogo a classificação ficou assim orientada:

(http://i62.tinypic.com/scfel5.png)

Ou seja à quarta jornada o Benfica tinha 15 golos marcados, registo bastante interessante. Mas no quinto jogo  do campeonatoo Glorioso marcaria quase outros tantos elevando o score para 27. E note-se também que o FCP saiu do Campo Grande com 20 golos sofridos. Nesse dia 7 de Fevereiro sofreu 12 quando até aí tinha sofrido 8. Ou seja, de uma média de 2 golos sofridos por jogo passou para 4. Assim se mostra como a estatística nos prega partidas.

No final do campeonato o campeão seria o Sport Lisboa e Benfica:

(http://i57.tinypic.com/kdr9m8.png)

Um ponto mais que o SCP e 2 que o CFB. Campeonato rijo, mesmo muito rijo.

O FCP ficaria com uma lamentável média de 3.1 golos sofridos e de apenas 2.2 marcados por jogo. Este desempenho lamentável fica ainda mais a nú quando se atenta numa espantosa diferença de -16 golos. Um desastre traduzido no 7º lugar final.

O Benfica veio a atingir uma média de 4.1 golos marcados e 2.1 sofridos. Uma diferença de +36 golos. Espantoso foi também o score de "os Belenenses". Marcou mais 4 golos que o Benfica e sofreu menos 18 atingindo uma espantosa diferença de +58 golos. Marcava-se muito golo nessa época mas as médias mostram que o resultado verificado naquele dia no Campo Grande foi de facto algo de especial.

Na segunda volta o Benfica acabaria o serviço ao ganhar novamente ao FCP por 4-2 em pleno Campo da Constituição. Disputava-se a 14ª jornada no dia 11 de Abril de 1943.

A esses Gloriosos jogadores e treinador é devida a homenagem e memória de todos os Benfiquistas. Para sempre:

(http://4.bp.blogspot.com/-VzB1tAqaqFc/Tno04G6JXPI/AAAAAAAAAe4/ZpvjHgixQMM/s1600/CN+1942-43.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica. A gloriosa equipa campeã nacional em 1942/43, que obteve a primeira vitória, por 4-2, para o Campeonato Nacional, no Campo da Constituição, Estádio do FC Porto. Alinhados de pé: Francisco Ferreira, Joaquim Teixeira, Janos Biri (treinador),Albino (capitão), Valadas, César Ferreira, Manuel Costa (2-1 e 3-1, aos 60' e 63'; e 4-2, aos 85') e Martins; Agachados: Nelo, Julinho (1-0, aos 8'), Gaspar Pinto e Alcobia.

Para compor ainda mais a excelente época, o Benfica ainda viria a vencer a Taça de Portugal depois de derrotar na final o Vitória de Setúbal por 5-1. Uma época em cheio sobre a liderança de Janos Biri. Fica aqui uma homenagem a esse grande treinador e uma dedicação ao Benfica. Um nome por vezes esquecido da nossa Gloriosa História.

(https://cld.pt/dl/download/506e47e5-397f-4e11-a9ab-303c93579f36/565.jpg)
JÁNOS BIRI, Húngaro, (21/07/1901 - 29/03/1983)

(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/it/5/56/Janos_Biri.jpg)



E terminamos como termina o artigo do DL: 

assim acabou este encontro do qual está tudo dito.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Outubro de 2015, 21:25
-71-
O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I).

Lisboa, 4 de Dezembro de 1935. Uma comitiva de militares da Força Aérea Portuguesa apresenta cumprimentos de despedida ao General Óscar de Fragoso Carmona, Chefe de Estado.

(http://i63.tinypic.com/f20h8h.png)
Apresentação de cumprimentos de despedida dos aviadores que participaram no Cruzeiro Aéreo às Colónias ao Chefe de Estado General Óscar de Fragoso Carmona. Da esquerda para a direita: Tenente Manuel Gouveia, Capitão Amado da Cunha, Capitão Fernando Tártaro, Major Pinho Correia, Brigadeiro Silveira e Castro, General Óscar de Fragoso Carmona, Coronel Cifka Duarte, Coronel Ribeiro da Fonseca, Major Pinheiro da Cunha, Capitão Oliveira Viegas, Capitão Baltasar, Tenente Humberto da Cruz, Capitão José Bentes Pimenta, Capitão Moreira Cardoso.
Fonte: digitarq.

Seis dias mais tarde alguns desses militares integraram uma outra comitiva que apresentou cumprimentos de despedida ao Coronel Abílio Passos e Sousa, Ministro da Guerra do 9.º governo da ditadura presidido por Oliveira Salazar.

(http://i68.tinypic.com/i5uexz.png)
10 Dezembro de 1935, uma comitiva de militares que se prepara para fazer o Cruzeiro Aéreo às colónias apresenta cumprimentos de despedida ao ao ministro da Guerra Coronel Abílio Passos e Sousa.
Fonte: Digitarq.

As duas recepções oficiais estavam ligadas à eminente partida de uma esquadrilha para uma importante missão: o "Cruzeiro Aéreo às Colónias". Planeava-se uma missão de voo muito longa (mais de 30.000 Km) que atravessaria pelo ar as colónias Portuguesas (exceptuando Macau e as possessões na Índia) e que teria o carácter inovador de também sobrevoar a África Equatorial Francesa [1].

Uma missão ambiciosa, desafiante quer em termos técnicos quer humanos. Uma missão também com um notório carácter político. As duas recepções, concedidas pelo mais alto dignitário do Estado Português e pelo ministro da tutela provam a importância que o Antigo Regime deu a esse projecto:

(http://i64.tinypic.com/2vlo6li.png)
O plano do Cruzeiro Aérea às Colónias. Fonte: Gazeta dos Caminhos de Ferro.

A esquadrilha que concretizou esse "Cruzeiro Aéreo às Colónias" era composta por três patrulhas cada qual com três aviões [2]. Os nove aeroplanos todos mono-motores, compreendiam um Junker e oito Vickers Jupiters:

Junker

"Monteiro Torres" (502) Coronel Cifka Duarte, Tenente-Coronel Ribeiro da Fonseca, mecânico Abílio Santos;

Vickers Jupiters

"Falcão" (201) Capitão Oliveira Viegas, mecânico Deniz.
"Albatroz" (202) Tenente Humberto da Cruz, mecânico Ramos
"Ibis" (203) Capitão José Bentes Pimenta, mecânico Aníbal;
"Chaimite" (206) Major Pinheiro Correia, Capitão Fernando Tártaro;
"Milhafre" (207) Tenente Manuel Gouveia, mecânico Simões;
"Peneireiro" (208) Capitão Joaquim Almeida Baltazar, mecânico Gomes;
"Mongua" (209) Major Pinho da Cunha, Capitão Amado da Cunha;
"Água" (210) Capitão Moreira Cardoso, mecânico Monteiro.


(https://delagoabayworld.files.wordpress.com/2012/03/cruzeiro-ac3a9reo-c3a0s-colc3b3nias.jpg)
O Ibis, avião pilotado pelo Capitão José Bentes Pimenta acompanhado do Sargento-mecânico Aníbal.
Fonte: digitarq.


O Benfiquista voador

Entre os pilotos aviadores que integravam essas patrulhas estava um certo Capitão José Bentes Pimenta.

José Pimenta? Hoje talvez esse nome não nos diga nada mas nesses tempos este homem era tão-somente um nome prestigiado do universo Benfiquista. Era um dos nossos! Um homem que sete anos antes tinha terminado uma longa e prestigiada carreira de futebolista no Sport Lisboa e Benfica.

José Pimenta era um dos Gloriosos homens de Cosme Damião. Alguém que o acompanhou na terceira das quatro fases (da forma como eu vejo) que Cosme Damião cumpriu no nosso clube.

http://serbenfiquista.com/jogador/jos%C3%A9-pimenta (http://serbenfiquista.com/jogador/jos%C3%A9-pimenta)



(http://i68.tinypic.com/wi2hoi.png)
José Bentes Pimenta (27/05/1901 - 18/05/1968)


(http://i64.tinypic.com/2ymsxue.png)
A Gloriosa equipa de 1926-1927 alinhada antes de um jogo contra o SCP. De pé, da esquerda para a direita: Ralph Bailão, João Ferreira, José Simões, António Jacinto (gr), Jorge Tavares, José Bentes Pimenta, Vítor Hugo Tavares. Agachados: Raúl Figueiredo "Tamanqueiro", Luís Costa, Eugénio Salvador e Mário de Carvalho.
José Bentes Pimenta, já veterano, jogaria apenas mais uma época.

José Pimenta jogou de 1918/19 até 1927/28 na primeira categoria do Sport Lisboa e Benfica. Jogou 10 épocas a defesa e jogou muito bem pelo que sabemos. Em 1925 chegou mesmo a capitanear a nossa equipa. Ficaria apenas por mais duas épocas depois da saída de Cosme Damião, o homem que o lançou e que com ele contou durante épocas a fio.

Talvez a saída de Cosme também tenha motivado o abandono de José. Talvez a veterania se tenha imposto pois apesar de ter menos de 30 anos, a vida de desportista e o desgaste físico associado era diferente nesses tempos. É possível ainda que o fizesse por razões profissionais. E como veremos a sua vida profissional foi bem preenchida.

Mais tarde, no início da década de 40, quando já tinha a patente de Major, José Bentes Pimenta viria a ter um papel como dirigente do nosso Clube. Esteve integrado como suplente nas Direcções eleitas em Setembro de 1941, Agosto de 1942 e Setembro de 1943, todas presididas pelo Dr. Augusto da Fonseca Júnior. Numa delas e no seguimento de um conflito com entidades governativas, José Bentes Pimenta veio a assumir funções efectivas durante alguns meses mostrando uma vez mais o seu Benfiquismo. Era uma figura prestigiada e no contexto difícil em que ele e os seus colegas de Direcção foram confrontados, mostrou amplamente esse seu Benfiquismo. Era um dos nossos!

Com menos de 30 anos José Pimenta já levava alguns anos de vida militar. Tinha tirado o brevet em Julho de 1928, pouco depois de abandonar o futebol. Em Dezembro de 1934 participou na comissão de recepção ao Capitão Humberto da Cruz que aos comandos do seu avião "Dully" e com o mecânico Lobato fez nesse ano o raide Lisboa – Macau. Um grande feito para a altura. Nessa homenagem também lá esteve o "nosso" Capitão José Pimenta. Seriam depois companheiros no Cruzeiro Aéreo às Colónias.

(http://i67.tinypic.com/1691fyt.png)
1934-12-11, a comissão de recepção ao Capitão Humberto da Cruz. Da esquerda para a direita: Capitão Maia Loureiro, Capitão José Pimenta (1); Professor Cruz Filipe, Dr. José Pontes, Joaquim Roque da Fonseca, José Saldanha, Carlos Bleck e Mário Reis.
Fonte: Digitarq"


No ano seguinte aparece publicitada a sua participação e vitória no 2º Rali Aéreo Nacional. Já aí fazia parelha com o Sargento-mecânico Aníbal. Seria o seu companheiro de missão no Cruzeiro Aéreo às Colónias.

(http://i66.tinypic.com/wlpx7l.png)
A - O Capitão José Pimenta (1) e o sargento-mecânico Aníbal (2) posando em frente ao avião com que venceram o 2º Rali Aéreo Nacional em 6 deJunho de 1935. B – Os aviadores que tomaram parte no Rali. C – A pista da Amadora onde se realizou o Rali.
Fonte: Digitarq"


Disputado em 1935 no Campo de Aviação da Amadora, criado pelo "Grupo de Esquadrilhas da Aviação da Republica (GEAR) em 1919 junto ao campo de futebol dos "Recreios Desportivos da Amadora" (por sua vez fundado em 1912). Esse campo funcionaria até cerca de 1938, altura em que as actividades aeronáuticas foram deslocalizadas para Tancos [3]. Mais detalhes sobre esse primeiro "aeroporto":



(http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/seguir-implantacao-da-republica-5-de.html%5B/url)

(http://lh3.googleusercontent.com/-81e5FRiVECM/TsTY7mPwqoI/AAAAAAAAN7o/tqIUdfhTMTk/s1600/Aerodromo-da-Amadora.9.jpg)
(http://lh6.ggpht.com/_IYJi-lhses0/Tb_BIpVYNsI/AAAAAAAAG-M/hXueqyAsUfY/1928%20Campo%20de%20Avia%C3%A7%C3%A3o%20da%20Amadora_thumb.jpg?imgmax=800)
Campo de Aviação da Amadora. fonte: restosdecoleccao.blogspot.pt.

As décadas de 20 e 30 foram a idade do ouro do pioneirismo aéreo nacional. Depois da Travessia do Atlântico Sul em 1922 por Gago Coutinho e Sacadura Cabral teve continuidade com diversos raides aéreos aproveitando a situação geográfica das nossas Colónias. Era também e essencialmente uma questão política, uma oportunidade para prestigiar o nosso regime perante as outras nações Europeias.

Nesses tempos muitos militares morreram aos comandos de aeronaves. Nomes ilustres como Sacadura Cabral. Plácido Abreu, Monteiro Torres, António Lobato, Emílio Carvalho, Jorge Gorgulho, entre outros. José Bentes Pimenta teve mais sorte. Sobreviveu.

Enquanto Coronel, José recebeu duas condecorações como Comendador (18/10/1945) e Grande Oficial (19/01/1955) da Ordem Militar de Avis. Uma longa e preenchida vida com actuação em diversos campos da sociedade. Terá falecido em 1968 embora a referência que encontrei não seja muito sólida.

Mas voltando ao Cruzeiro Aéreo às Colónias, curiosamente aquando dos preparativos para essa missão, um jornal espanhol avançou com a curiosa notícia que os clubes desportivos de Lisboa estariam na disposição de financiar o combustível e os lubrificantes.

Curioso, tendo em conta as crónicas dificuldades económicas por que passavam... Atente-se que o jornal nomeava especificamente o aviador José Pimenta, "antíguo jogador de futebol del Clube Benfica".

(http://i65.tinypic.com/2ypjhjc.png)
Fonte; Jornal "La Libertad"

Muito mais há a contar acerca desse aventuroso Cruzeiro Aéreo às Colónias. No próximo artigo faremos um sumário. Com um outro (e interessante) ponto de ligação ao Glorioso.

Fontes:
[1] - Fonte: http://voandoemmozambique.blogspot.pt/2006/09/16-incio-da-aviao-em-moambique.html (http://voandoemmozambique.blogspot.pt/2006/09/16-incio-da-aviao-em-moambique.html)
[2] - Fonte: Gazeta dos Caminhos de Ferro 1152
[3] - http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/seguir-implantacao-da-republica-5-de.html (http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/seguir-implantacao-da-republica-5-de.html)

(continua)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 31 de Outubro de 2015, 01:02
Adenda: encontrei uma referência suplementar a José Pimenta. Um episódio que poderia ter representado o fim da sua vida. Um episódio que é a referência mais antiga da sua vida militar ligada à força Aérea Portuguesa. Um acidente num avião de treino.

Uma fotografia do estado impressionante dos destroços desse avião:

(http://i66.tinypic.com/10ndxy9.png)

Na manhã de 8 de Janeiro de 1929, o Tenente (ainda era) José Bentes Pimenta ia a acompanhar o seu colega Tenente Arantes Pedroso num biplano de treino "Avro 3". Momentos antes tinha comentado com esse seu colega como é que eles conseguiam voar nesse "estojo"...

Acabou por entrar e pilotar esse "estojo". Cerca da 10h40, pouco depois de descolar, o avião despenha-se de uma altura de 50 metros. A asa direita tocou primeiro em terra e ao quebrar-se levou o avião a dar um salto e bater com o motor no solo partindo-se também a hélice. O aparelho ficou empinado e o motor dobrado para trás.

Quem olha para os destroços não consegue perceber como foi possível os dois aviadores salvarem-se. Na verdade felizmente os pilotos foram cuspidos aquando do embate do motor. José Pimenta ficou a cerca de 5 metros dos destroços com uma grande ferida na cabeça. Arantes Pedroso ficou a 2 metros e com um ferimento ligeiro.

Transportado para Santa Marta o tenente José Pimenta mostrou ter uma ferida contusa no maxilar e no malar direito para além de uma comoção cerebral. Estavam livres de perigo.

As declarações dos pilotos foram conclusivas o motor teve uma avaria a 50 metros de altura e parou. Tentaram regressar mas o aparelho tombou sobre a direita. E ficaram consciente de que: A nossa sorte foi termos sido atirados para fora do avião. De outra forma estaríamos com os ossos num feixe...

A notícia do DL ainda nos avança que José Pimenta era um dos "azes do Sport Lisboa e Bemfica" e que tirou o brevet sete meses antes ou seja por volta de Julho de 1928. No final da sua última época de águia ao peito.

José teve sorte naquele dia. Sorte que lhe permitiu fazer o Cruzeiro Aéreo às Colónias, sorte de ter uma vida longa e oportunidade de ainda vir a servir o Benfica.

(http://i63.tinypic.com/33linhh.png)




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Novembro de 2015, 11:32
-72-
O Cruzeiro Aéreo às Colónias (II).

Os preparativos da missão

A rota escolhida para o Cruzeiro Aéreo às Colónias compreendia cerca de 15.000 Km: divididas em 3 etapas finalizando em Bolama, Luanda e Lourenço Marques. Passaria por Lisboa - Guiné - Lago Tchad - Leopoldeville - Luanda - Elizabethville - Tete - Beira e Lourenço Marques.

(http://i63.tinypic.com/103adsj.png)
A - Alguns dos pilotos aviadores estudam o percurso que pretendiam cumprir. Identificam-se da esquerda para a direita: Capitão Henrique Cardoso, Capitão Fernando Tártaro, Capitão Baltazar, Capitão Oliveira Viegas, Capitão José Pimenta (1) e Tenente Humberto da Cruz.
B - José Pimenta, aqui num outro grupo de preparação da missão. Identificam-se da esquerda para a direita: Capitão Joaquim Baltazar, Tenente Félix da Costa, Coronel Cifka Duarte (chefe de missão), Tenente-Coronel Ribeiro da Fonseca, Capitão José Pimenta (1) e Tenente Humberto da Cruz. Fonte: Digitarq.



Os preparativos decorreram no Campo de Aviação da Amadora até ao dia 14 de Dezembro de 1935. Envolveu planificação das etapas de voo, coordenação entre autoridades políticas e militares assim como o cumprimento de verificações técnicas aos aviões.


(http://i64.tinypic.com/2hx85xv.png)
Campo de Aviação da Amadora. Diversos aspectos dos preparativos para o Cruzeiro Aéreo às Colónias. Na fotografia da direita em baixo identifica-se o Almirante Gago Coutinho. Fonte: digitarq.

Marcada para o dia 12 de Dezembro, a partida da esquadrilha de nove aviões militares sob o comando do coronel Cifka Duarte, acabou por acontecer apenas no dia 14 de Dezembro. Na despedida, entre a assistência estava o almirante Gago Coutinho, figura cuja presença era incontornável nesses diversos episódios do nosso pioneirismo da aviação militar.

A primeira etapa ligou Lisboa até Bolama (Guiné Bissau) num total de cerca de 3875 Km. Fez-se sem incidentes de maior sendo cumprida no dia 19 de Dezembro. Em Bolama a esquadrilha foi recebida em festa.

No dia 23 de Dezembro reiniciou-se a missão mas nesse mesmo dia a comitiva perde o seu primeiro avião. Numa aterragem de emergência em Tambacunda (Senegal Francês), o Junker 502 tripulado pelo Tenente-Coronel Ribeiro da Fonseca acabou por ficar incapacitado. Os seus três tripulantes distribuíram-se por outros aviões, tendo o Coronel Cifka Duarte, chefe da missão, passado para o avião do nosso Capitão José Bentes Pimenta [4]. Este foi um claro sinal da confiança técnica e pessoal que José Pimenta tinha do seu superior hierárquico.


(http://i66.tinypic.com/25jieio.png)
O Junker perdido. Com a perda do "Monteiro Torres", a esquadrilha ficava reduzida a oito aeroplanos. Fonte: digitarq.

O Natal foi passado em Bamako (Mali) e o ano Novo (1936) em Fort Lamy, actual N'Djamena (capital do Chade). Nevoeiros, chuvas, vento e turbulência tornaram complicada a concretização dessa segunda etapa.

A chegada a Luanda, destino final da 2ª etapa, deu-se no dia 9 de Janeiro de 1936 tendo os aviadores sido recebidos por milhares de pessoas. A teceira etapa iniciou-se com a partida para Benguela e depois Nova Lisboa. Seguir-se-ia Elizabethville (actual Lubumbashi, República Democrática do Congo) onde chegaram no dia 21 de Janeiro.

Aí, o muito azarado Tenente-Coronel Ribeiro da Fonseca foi atacado pelas febres sendo obrigado a regressar por comboio ao Lobito e mais tarde por paquete a Lisboa [6]. Depois de uma passagem por Broken Hill na Rodésia (actual Kabwe, Zimbabwe) chegariam a Tete (Angola) no dia 24 de Janeiro e por fim a a cidade da Beira (Moçambique) no dia 25.

E foi na cidade da Beira, capital da província de Sofala, que se deu um evento que uma vez mais liga esta viagem ao Sport Lisboa e Benfica, mais propriamente ao Sport Lisboa e Beira. De facto, apesar de ter ideia de que dede 1928 existia já o aeródromo Pais Ramos na cidade da Beira, os oito aviões aterraram no Campo de Futebol do Sport Lisboa e Beira [7].

(https://delagoabayworld.files.wordpress.com/2012/03/1c2ba-avic3a3o-a-aterrar-na-beira.jpg?w=850&h=574)
Manhã de Sábado 25 de Janeiro de 1936. Cerca das 10:45 horas o primeiro de oito aviões do "Cruzeiro Aéreo às Colónias" aterra no campo de futebol do Sport Lisboa e Beira vindos da cidade de Tete. Em terra, com os seus capacetes coloniais, os beirenses de então acenavam. Fonte: delagoabayworld.wordpress.com

Aí estacionaram, fizeram as verificações técnicas e interagiram com uma população que lhes prestou uma recepção entusiástica.

(http://i63.tinypic.com/2nrgfas.png)
1936-01-25, Cidade da Beira, Os aviões em terra no campo do Sport Lisboa e Beira. Fonte delagoabayworld.wordpress.com.


No coração do Sport Lisboa e Beira.

O Sport Lisboa e Beira era uma filial do Benfica, a primeira fundada fora da metrópole. Fundado em 8 de Dezembro de 1916 na cidade da Beira (capital da província de Sofala), o Sport Lisboa e Beira foi a primeira filial do nosso clube em Moçambique. Ao que julgo saber, o Sport Lisboa e Beira foi a oitava filial do Sport Lisboa e Benfica, a primeira fundada fora da metrópole. Em 1936 esta colectividade dispunha de um parque desportivo amplo e de grande qualidade. O local adequado para uma aterragem em segurança


(http://i64.tinypic.com/wtc395.png)
Parque desportivo do Sport Lisboa e Beira em 1932. Quatro campos de ténis, um campo de futebol e uma sede impressionante. Fonte: Digitarq.


(http://i65.tinypic.com/jud1ki.png)
Outros aspectos do parque desportivo do Sport Lisboa e Beira em 1932. A - Portão de entrada e bilheteira no Parque Desportivo do Sport Lisboa e Beira. B – Campos de ténis. C – Cinema e auditório. D – Bar. Fonte: Digitarq.


É referido na legenda original da fotografia que o Sport Lisboa e Beira foi a primeira agremiação desportiva em Moçambique, fundada em 1912 para a prática do futebol. Presumo que existe imprecisão na data de fundação mas fica a ideia de ter sido uma instituição fundada ainda na década de 10. O clube viria a ser condecorado com o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo por serviços prestados à causa da educação física.

De entre as diversas infraestruturas o clube tinha uma excelente e funcional sede que servia quer para eventos seus quer para utilização das autoridades.


(http://i66.tinypic.com/2metgsx.png)
Três etapas de evolução da sede do Sport Lisboa e Beira; datas entre décadas de 20 e 30. Fonte: Digitarq


O clube teve algumas figuras prestigiadas pelo dinamismo que dedicaram ao clube e pela obra feita. O seu expoente foi Carlos Alberto Faria a quem foi concedida a medalha de 1ª classe. Foi concedida durante a Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica em 4 de Fevereiro de 1923, com a justificação de ter desenvolvido acção de propaganda no Sport Lisboa e Beira. Este Benfiquista Moçambicano foi o primeiro Águia de Ouro!

Não conheço nenhuma fotografia deste homem mas talvez esteja nesta fotografia notável:


(http://i68.tinypic.com/2mnjbr6.png)
Evento público na sede do Sport Lisboa e Beira. Data incerta. Algures entre 1935 e 1942. Fonte: digitarq

Reparem no emblema do clube. Remete-nos claramente para o Sport Lisboa. Sem a roda da bicicleta. Glorioso!

Ou então nesta em que o Governador da Província assina o livro de Honra para visitantes.

(http://i68.tinypic.com/357q4wn.png)
Governador da Província assina o livro de Honra para visitantes do Sport Lisboa e Beira. Carlos Alberto Faria será talvez o Benfiquista por trás da cadeira. Fonte: digitarq.

Percebe-se que o futebol tinha um lugar de destaque nas actividades deste clube.


(http://i68.tinypic.com/34eouww.png)
A equipa da primeira categoria de futebol do Sport Lisboa e Beira em 1924. Penso que Carlos Alberto Faria é o primeiro em pé à esquerda. Fonte: Gazeta das Colónias.

No próximo artigo fechar-se-à o círculo quanto ao relato deste feito da aviação militar Portuguesa. Um feito que também teve traços marcantes do universo Benfiquista.


(continua)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 01 de Novembro de 2015, 19:28
Trabalho fantástico, RedVC.

Obrigado por partilhar-lo connosco.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Novembro de 2015, 19:58
Obrigado Gottschalk  O0

Há uma grande dose de prazer pessoal em fazer esta investigação.
No final o prazer é maior por resgatar pessoas e histórias (quase) esquecidas do universo Benfiquista.
E mais ainda por ver que existe um núcleo pequeno de eleição de Benfiquistas que aprecia saber mais da nossa Gloriosa História.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Novembro de 2015, 20:04
Índice

-1- Uma proposta de identificação. (p.1)
-2- Uma identificação errada. (p.1)
-3- Um jogo de beneficência. (p.1)
-4- Os mestres Ingleses na Feiteira. (p.1)
-5- Rostos familiares. (p.2)
-6- À porta da Farmácia Franco.  O0 (p.2)
-7- Sonho de uma noite de Verão. (p.2)
-8- A última alegria do Chacha.  O0 (p.2)
-9- Recuando no tempo. (p.2)
-10- Catataus e Co. (p.3)
-11- Uma homenagem em terras africanas.  O0 (p.3)
-12- Uma taça e dois pioneiros (I). (p.3)
-13- Uma taça e dois pioneiros (II). (p.3)
-14- As camisolas de Júlio Cosme Damião. (p.3)
-15- Futebol e touros. (p.4)
-16- Um regresso feliz. (p.4)
-17- Nos areais de Belém. (p.4)
-18- Uma imagem rara. (p.4)
-19- Um Stromp à Benfica. (p.4)
-20- O António das Caldeiradas.  O0 (p.4)
-21- O terceiro homem.  O0 (p.5)
-22- Os primeiros troféus (parte I): o Restaurante Bacalhau.  O0 (p.5)
-23- Um Ilustre nos primórdios do futebol sadino. (p.5)
-24- Os Condes do Restelo. (p.5)
-25- Resistência: sugestão e mistério. (p.5)
-26- Araújo: uma carreira que ficou por fazer. (p.6)
-27- A primeira Águia.  O0 (p.6)
-28- Amor à camisola. (p.6)
-29- Amor ao clube! (à falta de camisola...). (p.6)
-30- Prémios aos campeões. (p.6)
-31- O primeiro guardião. (p.7)
-32- Glorioso por um dia.  O0 (p.7)
-33- Eusébio às riscas. (p.8)
-34- Dois dias de festa. (p.8)
-35- Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia.  O0 (p.8)
-36- 111 anos depois: a (possível) iconografia dos fundadores. (p.8)
-37- Três gigantes, três caminhos separados. (p.8)
-38- Um ancião curioso.  O0 (p.9)
-39- Um banquete de notáveis. (p.9)
-40- Cosme, o presidente. (p.10)
-41- Um militar futebolista. (p.10)
-42- Duas despedidas e um alegre convívio. (p.10)
-43- Um jogo infeliz, uma pista extraordinária.  O0 (p.11)
-44- Homenagem a um grande artista. (p.11)
-45- Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral.  O0 (p.12)
-46- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte I)  O0 (p.12)
-47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte II)  O0 (p.13)
-48- A última ceia. (p.13)
-49- A noite da Cruz Vermelha. (p.13)
-50- Ascenção e queda do Pantufas. (p.13)
-51- Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras.  O0 (p.13)
-52- Uma escala africana, um desafio histórico.  O0 (p.14)
-53- Dois entre doze. (p.14)
-54- Dois sadinos, duas Saudades. (p.14)
-55- Dois Casapianos num barco sadino. (p.14)
-56- Revisitando o Campo Grande. (p.14)
-57- A vida Paulista de Bella Guttman. (p.14)
-58- Um encontro Americano.  O0 (p.14)
-59- Alguém tinha de pagar!  O0 (p.15)
-60- Belém, a Benfiquista.  O0 (p.16)
-61- Um certo pátio.  O0 (p.17)
-62- 13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro. (p.19)
-63- O arquitecto da Catedral. (p.19)
-64- O tribunal dos conspiradores.  O0 (p.20)
-65- Festa de gerações. (p.20)
-66- Memórias Francesas. (p.20)
-67- Cosme e o inventor do Fla-Flu.  O0 (p.20)
-68- Desforra Inglesa em tempo de Monarquia. (p.21)
-69- As manas Bermudes, Gloriosas a pedalar. (p.21)
-70- O dia da dúzia! (p.21)
-71- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I).  O0 (p.21)
-72- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (II).  O0 (p.21)
-73- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (III).  O0 (p.22)
-74- A Taça Amadora (parte I): Os Recreios Desportivos da Amadora (p.22)
-75- A Taça Amadora (parte II): O grande jogo.  (p.22)
-76- Huelva 1910, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-77- Extinções e fusões, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-78- O casal virtuoso.  O0 (p.23)
-79- Da vida de Cosme (parte I). (p.23)
-80- Da vida de Cosme (parte II). (p.23)
-81- Gloriosos mesa-tenistas no Brasil. (p.23)
-82- Eterno Bermudes. (p.24)
-83- O poço dos nossos adversários. (p.24)
-84- Ora festeje lá outra vez! (p.24)
-85- Gloriosas compras na pátria do futebol.  O0 (p.24)
-86- Um inesperado Glorioso. (p. 25)
-87- As Terras das Salésias. (p. 25)
-88- "O Benfica saúda o Porto"  O0 (p. 25)
-89- Outros Carnavais (p. 25)
-90- Construtor de Catedrais  O0 (p. 25)
-91- Pantera Negra em noite madrilena (p. 26)
-92- Da Catumbela a Freamunde (p. 26)
-93 - 112 anos de Paixão! (p. 26)
-94- O sósia. (parte I)  (p. 26)
-95- O sósia. (parte II)  (p. 26)
-96- L'étude fait l'avenir (parte I)  O0 (p.27)
-97- L'étude fait l'avenir (parte I) (p.27)
-98- Um fresco em prosa: o António das Caldeiradas revisitado.  O0 (p.27)
-99- A Pharmácia Franco (I) – As duas primeiras gerações.  O0 (p.28)
-100- A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa O0 (p.28)
-101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. (p.29)
-102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém.  (p.29)
-103- Os primeiros troféus (parte III) – a Taça "Olímpica".  (p.29)
-104- Miramons de Portugal.  (p.29)
-105- Águias na Guerra (parte I)  O0 (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II)  O0 (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III)  O0 (p.30)
-108- Olhos de fogo, coração de Belém  O0 (p.30)
-109- Em homenagem a Guilherme Pinto Basto. (p.30)
-110- Acidente no Cartaxo (parte I) (p.31)
-111- Acidente no Cartaxo (parte II) (p.31)
-112- Unidos na dor. (p.31)
-113- Um hóquista feliz. (p.31)
-114- Primus inter pares. (p.32)
-115- A "Corrida da Marathona". (p.32)
-116- "Memórias de Viena". (p.32)
-118- Taça Charles Miller '55 (parte I): O torneio e o seu tempo. O0 (p.32)
-119- Taça Charles Miller '55 (parte II): A comitiva Benfiquista. O0 (p.32)
-120- Taça Charles Miller '55 (parte III): Esses loucos dias cariocas. O0 (p.32)
-121- Taça Charles Miller '55 (parte IV): Entre treinos e feijoadas. O0 (p.32)
-122- Taça Charles Miller '55 (parte V): Mengo, Mengão; Azarão!    O0 (p.33)
-123- Taça Charles Miller '55 (parte VI): Escaramuças Uruguaias!    O0 (p.33)
-124- Taça Charles Miller '55 (parte VII): Doces Palmeiras.    O0 (p.33)
-125- Taça Charles Miller '55 (parte VIII): America amarga. O0 (p.33)
-126- Taça Charles Miller '55 (parte IX): O "caseiro" Alemão. O0 (p.33)
-127- Taça Charles Miller '55 (parte X): Gente boa que se vai! O0 (p.33)
-128- Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis. O0 (p.33)
-129- O "caramujo" do futebol (parte I). (p.34)
-130- O "caramujo" do futebol (parte II). (p.34)
-131- Mobilis in mobile. O0 (p.35)
-131- O trepidante Costa. (p.36)
-133- Catedral O0 (p.36)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 02 de Novembro de 2015, 00:08
Red, já pensaste escrever um livro com estas pesquisas? Acho que seria algo obrigatório para a biblioteca de qualquer bom benfiquista que se preze e goste de saber destas histórias do Sport Lisboa e Benfica, tão pouco conhecidas no seu geral  :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Novembro de 2015, 08:56
Citação de: Rodolfo Dias em 02 de Novembro de 2015, 00:08
Red, já pensaste escrever um livro com estas pesquisas? Acho que seria algo obrigatório para a biblioteca de qualquer bom benfiquista que se preze e goste de saber destas histórias do Sport Lisboa e Benfica, tão pouco conhecidas no seu geral  :)

Obrigado Rodolfo  O0

Potencialmente a ideia é boa. As histórias teriam de ser reescritas e teria que existir investigação complementar com fontes adicionais. Poderia dar um livro interessante.

Mas a resposta é não. Não há mercado. Basta ver o número de pessoas que lê estes textos. Basta ver isso pelo número de "likes". Anteontem coloquei uma fotografia no tópico do Mourinho que leva mais "likes" do que meia dúzia destes artigos e alguns dão muito trabalho a investigar e escrever. É assim...

A maior parte dos membros do fórum nem faz ideia que estes tópicos existem. O que interessa é a espuma dos dias. Não que eu não goste do Benfica actual que felizmente nos tem dado alegrias e genericamente tem correspondido ao que nós queremos, . Mas acredito que a compreensão do presente do Clube nunca pode ficar alheada do passado. Não pode ser desconhecedora. Não pode ser desligada. E é isto que eu acho pena. Acho que muitos Benfiquistas não fazem ideia - ideia integral e estruturada - do que é o Benfica. Não conhecem. Não procuram. Não querem saber. E é pena pois nem tiram partido de tudo o que o Benfica lhes pode dar. O orgulho de uma grande vitória não se limita a esse jogo/competição. Completa-se, sublima-se pelo enquadramento que tem na grandiosa história e palmarés do Sport Lisboa e Benfica. E isso me envaidece.

Não se trata de gostar de história. Trata-se de gostar do Benfica. De todos, um.

Hoje faz 130 anos que nasceu Cosme Damião. Qualquer Benfiquista deveria ler a magníifica entrevista - a maior que alguma vez concedeu - do Pai do Benfiquismo. Aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/cosme-damiao-130.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/cosme-damiao-130.html)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 02 de Novembro de 2015, 10:55
Citação de: RedVC em 02 de Novembro de 2015, 08:56
Mas a resposta é não. Não há mercado. Basta ver o número de pessoas que lê estes textos. Basta ver isso pelo número de "likes". Anteontem coloquei uma fotografia no tópico do Mourinho que leva mais "likes" do que meia dúzia destes artigos e alguns dão muito trabalho a investigar e escrever. É assim...

A maior parte dos membros do fórum nem faz ideia que estes tópicos existem. O que interessa é a espuma dos dias. Não que eu não goste do Benfica actual que felizmente nos tem dado alegrias e genericamente tem correspondido ao que nós queremos, . Mas acredito que a compreensão do presente do Clube nunca pode ficar alheada do passado. Não pode ser desconhecedora. Não pode ser desligada. E é isto que eu acho pena. Acho que muitos Benfiquistas não fazem ideia - ideia integral e estruturada - do que é o Benfica. Não conhecem. Não procuram. Não querem saber. E é pena pois nem tiram partido de tudo o que o Benfica lhes pode dar. O orgulho de uma grande vitória não se limita a esse jogo/competição. Completa-se, sublima-se pelo enquadramento que tem na grandiosa história e palmarés do Sport Lisboa e Benfica. E isso me envaidece.

Não se trata de gostar de história. Trata-se de gostar do Benfica. De todos, um.

Compreendo perfeitamente o que queres dizer. Numa dimensão um pouco mais pequena (visto não frequentar a área actual do fórum), tenho reparado nisso mesmo, no meu projecto no Twitter (o SLBVintage) e no feedback que as diferentes publicações vão tendo. Os tweets que geram mais actividade são aqueles onde se recordam grandes vitórias sobre os rivais, ou imagens das bancadas cheias da Luz ou com as claques, ao passo que o recordar antigas figuras do clube acaba por não ter muita atenção. Por isso às vezes desmotivo um bocado e acabo por reduzir aquilo à condição de "enunciador de efemérides" ou mesmo de não colocar nada.

Acho que este era um assunto que dava um belo debate, mas para não prolongar o offtopic e distrair do teu excelente trabalho, fico por aqui no tema  :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 02 de Novembro de 2015, 11:05
Vinha aqui mesmo sugerir isso mesmo.

Um libro,nem que fase para publicar online.

Está aqui um trabalho soberbo.

Obrigado RedVC!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 02 de Novembro de 2015, 11:12
Citação de: Rodolfo Dias em 02 de Novembro de 2015, 10:55
Citação de: RedVC em 02 de Novembro de 2015, 08:56
Mas a resposta é não. Não há mercado. Basta ver o número de pessoas que lê estes textos. Basta ver isso pelo número de "likes". Anteontem coloquei uma fotografia no tópico do Mourinho que leva mais "likes" do que meia dúzia destes artigos e alguns dão muito trabalho a investigar e escrever. É assim...

A maior parte dos membros do fórum nem faz ideia que estes tópicos existem. O que interessa é a espuma dos dias. Não que eu não goste do Benfica actual que felizmente nos tem dado alegrias e genericamente tem correspondido ao que nós queremos, . Mas acredito que a compreensão do presente do Clube nunca pode ficar alheada do passado. Não pode ser desconhecedora. Não pode ser desligada. E é isto que eu acho pena. Acho que muitos Benfiquistas não fazem ideia - ideia integral e estruturada - do que é o Benfica. Não conhecem. Não procuram. Não querem saber. E é pena pois nem tiram partido de tudo o que o Benfica lhes pode dar. O orgulho de uma grande vitória não se limita a esse jogo/competição. Completa-se, sublima-se pelo enquadramento que tem na grandiosa história e palmarés do Sport Lisboa e Benfica. E isso me envaidece.

Não se trata de gostar de história. Trata-se de gostar do Benfica. De todos, um.

Compreendo perfeitamente o que queres dizer. Numa dimensão um pouco mais pequena (visto não frequentar a área actual do fórum), tenho reparado nisso mesmo, no meu projecto no Twitter (o SLBVintage) e no feedback que as diferentes publicações vão tendo. Os tweets que geram mais actividade são aqueles onde se recordam grandes vitórias sobre os rivais, ou imagens das bancadas cheias da Luz ou com as claques, ao passo que o recordar antigas figuras do clube acaba por não ter muita atenção. Por isso às vezes desmotivo um bocado e acabo por reduzir aquilo à condição de "enunciador de efemérides" ou mesmo de não colocar nada.

Acho que este era um assunto que dava um belo debate, mas para não prolongar o offtopic e distrair do teu excelente trabalho, fico por aqui no tema  :)
A conta SBVintage do twitter é tua?

Epah é antástica!Parabéns pelo Projecto!A melhor que encontrei até agora nas Redes Sociais, no género.

Pena não a fazeres também no Facebook... ;)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Novembro de 2015, 21:36
-73-
O Cruzeiro Aéreo às Colónias (III).

A chegada

Concluímos hoje esta saga. Tínhamos deixado os nossos aviadores na cidade da Beira onde mantiveram um caloroso convívio com populares nas belas instalações da nossa filial.

Da cidade da Beira a esquadrilha partiu para Inhambane (Moçambique) para depois finalmente aterrar em Lourenço Marques, capital de Moçambique. Às 10h00 da manhã do dia 29 de Janeiro de 1936 cumpria-se a aventura destes bravos pioneiros da nossa aviação [5].

(http://i65.tinypic.com/xawjo1.png)


(http://photos1.blogger.com/x/blogger/5570/434/1600/418469/3.jpg)
Chegada dos aviões a Lourenço Marques. Identificam-se Engº Teixeira Pinto (presidente da Câmara Municipal); Coronel Cifka Duarte (chefe da missão) e Coronel Verdades de Miranda (presidente da Comissão Organizadora da recepção aos aviadores). Fonte: Voando em Moçambique.

Para trás ficaram quase 15.000 Km em etapas que variaram entre 350 e 950 Km.

(http://i67.tinypic.com/6z0e8p.png)
Fonte: Gazeta dos caminhos de ferro.

(http://i68.tinypic.com/23vciah.png)
Fonte: Gazeta dos caminhos de ferro.

O regresso

A prevista viagem de volta apenas seria cumprida por 3 aeroplanos. De Lourenço Marques apenas levantariam voo os aviões 209, 208 e 210 pilotados respectivamente pelo Major Pinho da Cunha e pelos Capitães Joaquim Baltazar e Moreira Cardoso e os mecânicos Simões, Ramos e Dinis.


Os restantes aviadores e mecânicos entre os quais o "nosso" Capitão José Pimenta regressariam por meio naval. A saúde das tripulações e o estado dos respectivos aviões não permitiam outra alternativa. Para trás ficaram por mais alguns dias os Capitães Fernando Tártaro e Humberto Cruz que regressariam no Paquete Colonial. No porão estavam devidamente desmontados e encaixotados os cinco aviões impossibilitados de fazer o voo de regresso.

(http://1.bp.blogspot.com/-844w-6nwv0U/U4NGhlp8hRI/AAAAAAAAOqU/Gf_HT6oWbd4/s1600/32.jpg)
Chegada do Colonial a Lisboa (não necessariamente na viagem que trouxe os aviadores e mecânicos). Fonte blogue Retalhos de Bemfica.

Existe um belo filme na cinemateca que captou a chegada ao Campo da Amadora desses três aviões no dia 8 de Abril de 1936. Entre a multidão que os recebeu estavam os ministros da Guerra e Marinha assim como o incontornável Almirante Gago Coutinho. Estava também o nosso Capitão José Bentes Pimenta. Percebe-se que fumava... Ali esteve ele ao lado dos seus superiores.

Estava também presente o grande jornalista Fernando Pessa. Faltavam ainda três para o início da II Guerra Mundial. Nesses 6 anos de conflito global, Fernando Pessa ganhou uma muito merecida celebridade nacional. A voz da liberdade vinda das ondas de rádio emitidas pela BBC.


(http://i67.tinypic.com/28k21dt.png)
6 capturas de ecrã do filme "CHEGADA DA VIAGEM AÉREA LISBOA-LOURENÇO MARQUES-LISBOA" da Cinemateca Portuguesa. Realizador: Artur Costa de Macedo (SPN - Secretariado da Propaganda Nacional). A - Chegada e B - aterragem de avião. C - Capitão Pimenta ao lado do Coronel Cifka Duarte e demais representantes do Estado e Instituições Militares. D - Populares e companheiros de armas a rodear os aviadores. E - Populares e Militares entre os quais, inconfundível, identificamos o jornalista Fernando Pessa. F - E assim termina... Fonte: 
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=3151&type=Video

Fontes:
[1] - Fonte: http://voandoemmozambique.blogspot.pt/2006/09/16-incio-da-aviao-em-moambique.html
[2] - Fonte: Gazeta dos Caminhos de Ferro 1152
[3] - http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/11/seguir-implantacao-da-republica-5-de.html
[4] - Gazeta dos Caminhos de Ferro, 1153.
[5] - Gazeta dos Caminhos de Ferro, 1155.
[6] - Gazeta dos Caminhos de Ferro, 1156.
[7] - https://delagoabayworld.wordpress.com/2012/03/16/o-primeiro-aviao-a-aterrar-na-cidade-da-beira-25-de-janeiro-de1936/
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: pcssousa em 05 de Novembro de 2015, 10:22
Citação de: RedVC em 02 de Novembro de 2015, 08:56
Citação de: Rodolfo Dias em 02 de Novembro de 2015, 00:08
Red, já pensaste escrever um livro com estas pesquisas? Acho que seria algo obrigatório para a biblioteca de qualquer bom benfiquista que se preze e goste de saber destas histórias do Sport Lisboa e Benfica, tão pouco conhecidas no seu geral  :)

Obrigado Rodolfo  O0

Potencialmente a ideia é boa. As histórias teriam de ser reescritas e teria que existir investigação complementar com fontes adicionais. Poderia dar um livro interessante.

Mas a resposta é não. Não há mercado. Basta ver o número de pessoas que lê estes textos. Basta ver isso pelo número de "likes". Anteontem coloquei uma fotografia no tópico do Mourinho que leva mais "likes" do que meia dúzia destes artigos e alguns dão muito trabalho a investigar e escrever. É assim...

A maior parte dos membros do fórum nem faz ideia que estes tópicos existem. O que interessa é a espuma dos dias. Não que eu não goste do Benfica actual que felizmente nos tem dado alegrias e genericamente tem correspondido ao que nós queremos, . Mas acredito que a compreensão do presente do Clube nunca pode ficar alheada do passado. Não pode ser desconhecedora. Não pode ser desligada. E é isto que eu acho pena. Acho que muitos Benfiquistas não fazem ideia - ideia integral e estruturada - do que é o Benfica. Não conhecem. Não procuram. Não querem saber. E é pena pois nem tiram partido de tudo o que o Benfica lhes pode dar. O orgulho de uma grande vitória não se limita a esse jogo/competição. Completa-se, sublima-se pelo enquadramento que tem na grandiosa história e palmarés do Sport Lisboa e Benfica. E isso me envaidece.

Não se trata de gostar de história. Trata-se de gostar do Benfica. De todos, um.

Hoje faz 130 anos que nasceu Cosme Damião. Qualquer Benfiquista deveria ler a magníifica entrevista - a maior que alguma vez concedeu - do Pai do Benfiquismo. Aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/cosme-damiao-130.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/cosme-damiao-130.html)

Da minha parte, considera que dei um like a cada um dos teus posts.
Devido a um bug qualquer não consigo dar likes, e não sou o único. Se essa situação raramente me incomoda, neste caso aborrece-me, precisamente porque devias receber bem mais crédito pelo teu magnífico trabalho.
Creio que para teres maior visibilidade, e o devido reconhecimento, os teus posts deveriam em simultâneo ser lançados em forma de artigo aqui no site.

Para mim és um dos melhores users do fórum, sem qualquer sombra de dúvida, e serás por mim referido no tópico dos Oscares do serbenfiquista.
Sei que o teu objectivo não é o reconhecimento pessoal, mas esse permitiria um maior reconhecimento e divulgação dos teus textos e é isso que eu gostaria que houvesse.


Cumprimentos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Novembro de 2015, 19:48
Muito obrigado por essas palavras e pelo reconhecimento deste trabalho. Ainda para mais porque reconheço a excelência dos teus conhecimentos e da contribuição que dás aqui no fórum.

De facto, não é de todo o reconhecimento que procuro. Falei nos "likes" apenas como um indicador que tenho (para além do nº de leituras) para saber quem está interessado no que escrevo. O que vou aqui publicando corresponde a uma necessidade pessoal de conhecer mais sobre o nosso clube mas também de partilhar o que vou descobrindo. Ser Benfiquista para mim também é isso. Acho que todos os que contribuem dando o seu tempo livre para enriquecer este fórum percebem o que quero dizer.

Saudações Benfiquistas.

Citação de: pcssousa
link=topic=53816.msg1081834296#msg1081834296 date=1446718974

Citação de: RedVC em 02 de Novembro de 2015, 08:56
Citação de: Rodolfo Dias em 02 de Novembro de 2015, 00:08
Red, já pensaste escrever um livro com estas pesquisas? Acho que seria algo obrigatório para a biblioteca de qualquer bom benfiquista que se preze e goste de saber destas histórias do Sport Lisboa e Benfica, tão pouco conhecidas no seu geral  :)

Obrigado Rodolfo  O0

Potencialmente a ideia é boa. As histórias teriam de ser reescritas e teria que existir investigação complementar com fontes adicionais. Poderia dar um livro interessante.

Mas a resposta é não. Não há mercado. Basta ver o número de pessoas que lê estes textos. Basta ver isso pelo número de "likes". Anteontem coloquei uma fotografia no tópico do Mourinho que leva mais "likes" do que meia dúzia destes artigos e alguns dão muito trabalho a investigar e escrever. É assim...

A maior parte dos membros do fórum nem faz ideia que estes tópicos existem. O que interessa é a espuma dos dias. Não que eu não goste do Benfica actual que felizmente nos tem dado alegrias e genericamente tem correspondido ao que nós queremos, . Mas acredito que a compreensão do presente do Clube nunca pode ficar alheada do passado. Não pode ser desconhecedora. Não pode ser desligada. E é isto que eu acho pena. Acho que muitos Benfiquistas não fazem ideia - ideia integral e estruturada - do que é o Benfica. Não conhecem. Não procuram. Não querem saber. E é pena pois nem tiram partido de tudo o que o Benfica lhes pode dar. O orgulho de uma grande vitória não se limita a esse jogo/competição. Completa-se, sublima-se pelo enquadramento que tem na grandiosa história e palmarés do Sport Lisboa e Benfica. E isso me envaidece.

Não se trata de gostar de história. Trata-se de gostar do Benfica. De todos, um.

Hoje faz 130 anos que nasceu Cosme Damião. Qualquer Benfiquista deveria ler a magníifica entrevista - a maior que alguma vez concedeu - do Pai do Benfiquismo. Aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/cosme-damiao-130.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/cosme-damiao-130.html)

Da minha parte, considera que dei um like a cada um dos teus posts.
Devido a um bug qualquer não consigo dar likes, e não sou o único. Se essa situação raramente me incomoda, neste caso aborrece-me, precisamente porque devias receber bem mais crédito pelo teu magnífico trabalho.
Creio que para teres maior visibilidade, e o devido reconhecimento, os teus posts deveriam em simultâneo ser lançados em forma de artigo aqui no site.

Para mim és um dos melhores users do fórum, sem qualquer sombra de dúvida, e serás por mim referido no tópico dos Oscares do serbenfiquista.
Sei que o teu objectivo não é o reconhecimento pessoal, mas esse permitiria um maior reconhecimento e divulgação dos teus textos e é isso que eu gostaria que houvesse.


Cumprimentos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 06 de Novembro de 2015, 00:01
Subscrevo por completo as palavras do Sousa.

Não tenho vindo muito ao nosso Fórum, mas quando venho, este é um dos locais de passagem quase obrigatória.

E se não dou like em todos o que vejo, leio-os a todos e não deixo quando posso, de deixar uma palavra de muito obrigado, por difundires e de nos ensinares e transmitires História e Estórias tão bonitas e singulares, do nosso Sport Lisboa e Benfica.

Onrigado uma vez mais a ti  atodo o pessoal que aqui coloca na Secção 'Memórias', material tão rico e importante do nosso Benfica.

Um autêntico Museu Virtual do nosso Clube.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Dezembro de 2015, 18:30
-74-
A Taça Amadora (parte I): Os Recreios Desportivos da Amadora

Amadora, Domingo, 14 de Maio de 1916.
Dia de inauguração do campo de futebol dos Recreios da Amadora.

(http://i64.tinypic.com/2pq2irt.png)
Domingo, 14 de Maio de 1916. Campo da Amadora. Dia de derby, Benfica – Sporting. Dia de festa.
Fotografia de Joshua Benoliel. Fonte: AML

Em disputa a Taça Amadora. Em campo defrontavam-se o Sport Lisboa e Benfica e o seu rival, o Sporting Clube de Portugal. O Benfica ostentava já 4 títulos de Campeão Regional de Lisboa sendo o detentor do título dessa época de 1915/1916. Ao invés, em 10 anos de vida o seu adversário registava apenas o título de 1914/1915. Apesar de terem sensivelmente a mesma idade e origens que se cruzavam em múltiplas pessoas e locais, os dois clubes exibiam já existiam diferenças pronunciadas. Diferenças que explicavam uma crescente rivalidade.

O jogo decorreu num campo novinho em folha situado ali num espaço adjacente ao que a partir de 1919 seria usado como o campo de aviação de onde partiriam a maior parte dos pioneiros da aviação Portuguesa para os seus diversos e prestigiosos raides às colónias do Ultramar.

Ao redor do campo via-se uma assistência numerosa. Para lá chegar essa multidão teve de se distribuir em comboios que foram propositadamente escalados para esse fim. E foram poucos para as necessidades uma vez se viu de tudo, desde pessoas a entrar pelas janelas até pessoas equilibradas sobre as bombas e sobre os estribos. Nem os "camions automóveis" formados de propósito satisfizeram a enorme procura. Nunca antes visto na pequena estação da Amadora...

(http://i68.tinypic.com/ekkeix.png)
A estação de comboios da Amadora no início do século XX. Fonte: http://amadorasaloia.blogspot.pt/


Os Recreios Desportivos da Amadora
(http://i66.tinypic.com/v2xqhe.png)
A menina Leonor Santos Mattos dá o pontapé de saída. Ao seu lado estariam provavelmente (identificação difícil) os nossos Francisco Pereira (usando a velha e gloriosa camisola de flanela) e Manuel Veloso.
Fonte: Ilustração Portugueza.

Nesse jogo, o pontapé de saída foi dado pela menina Leonor dos Santos Mattos. Era filha de José dos Santos Mattos um grande industrial da zona e um dos proprietários da "Fábrica de Espartilhos a Vapor Santos Mattos & Cª.", fundada em 1892 na Porcalhota, futura vila da Amadora. 

(http://i68.tinypic.com/25zp4dc.png)
"Fábrica de Espartilhos a Vapor Santos Mattos & Cª."

Em 1911, a fábrica chegou a empregar cerca de 200 operários e produzia cerca de 75.000 espartilhos por ano (fonte: http://www.oeirascomhistoria.pt/a-moda-dos-espartilhos-2/)

(http://i64.tinypic.com/2rqn5fn.png)
Exterior e interior da Fábrica dos espartilhos Santos Mattos e Co. Fonte: http://amadorasaloia.blogspot.pt/

Esta firma teve uma expansão importante e no seu modelo de negócio fazia também venda directa, tendo para isso uma prestigiada loja na Rua do Ouro.

(http://i68.tinypic.com/2ypgj2b.png)
A loja da Casa dos Espartilhos ornamentada para o IV Congresso Internacional de Turismo (entre 12 e 20 de Maio de 1911). Fotografia de Joshua Benoliel. Fonte: AML.

(http://www.bestnetleiloes.com/media/lots/18257/16991_a.jpg)
Fonte: Bestnetleiloes.com


Os Recreios da Amadora

O empresário industrial José dos Santos Mattos tinha, juntamente com o seu sócio António Rodrigues Correia, uma visão alargada da acção social que a sua empresa deveria assumir no espaço e na sociedade onde se inseria. Os dois pertenceram à Liga de Melhoramentos da Amadora, organização cívica criada em 1909 sob a iniciativa do jornal "O Século" para promover a "Festa da Árvore" em diversas localidades do nosso País. Em 13 de Abril 1913 a realização dessa festa levou inclusivamente à visita do Presidente da Republica Manuel de Arriaga.

(http://i68.tinypic.com/200el2h.png)
A festa da Árvore em 13/04/1913. Visita do Presidente da Republica Manuel de Arriaga.
Fonte: TVAmadora

(http://i67.tinypic.com/2eldu9u.png)
Festa da Árvore na Amadora. Fonte: Ilustração Portuguesa.


(http://i66.tinypic.com/idud95.png)
Comissão Executiva da Liga dos Melhoramentos da Amadora em 18 de Janeiro de 1913. Entre eles os empresários José Santos Mattos e António Rodrigues Correia. Os dois foram promotores e financiadores dos Recreios da Amadora. Fonte: CM Amadora.


Traduzindo a sua visão em obra feita, os dois empresários industriais estiveram também na base da fundação dos Recreios Desportivos da Amadora em 14 de Abril de 1912. O parque desportivo foi desde logo dotado de um campo de ténis e de um ringue de patinagem com piso de cimento.

(http://i66.tinypic.com/2w7oku0.png)
Parque desportivo dos Recreios da Amadora, Ringue de patinagem. Fonte: Restos de Colecção

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Conforme nos recordou Alberto Miguéns (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/11/obrigado-querido-benfica.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/11/obrigado-querido-benfica.html)), os Recreios Desportivos da Amadora tinham em 1916 uma equipa de hóquei em patins que disputou dois jogos contra os Desportos de Benfica, um em Benfica e o outro na Amadora. Em ambos os casos a equipa de Benfica venceria (2-0 em Benfica e 3-1 na Amadora). Pouco tempo depois, em 17 Setembro de 1916 os Desportos de Benfica foram integrados no SLB. Outro ponto de ligação do nosso clube com a Amadora.
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Em Agosto de 1914 foi inaugurado o edifício central que ainda hoje é um espaço cultural que produz e difunde eventos culturais. Uma obra notável e à qual a Amadora sempre será devedora do merecido reconhecimento.

(http://i67.tinypic.com/10yq71x.png)Edifício central dos Recreios Desportivos da Amadora no passado remoto e recente. Fonte: Restos de Colecção.

Para os interessados aqui fica a possibilidade de verem um excelente documentário da TV Amadora.

https://www.youtube.com/watch?v=okNejg96wts (https://www.youtube.com/watch?v=okNejg96wts)


O Campo de Futebol da Amadora

A inauguração do campo de futebol em Maio de 1916 foi um importante marco no complexo desportivo que se estava a criar. Tinha condições bastante boas para a época. No campo notavam-se alguns detalhes curiosos tais como uma vedação completa á volta do campo, a existência de uma pequena bancada central. No dia da inauguração entre a enchente notava-se a presença de alguns automóveis, carroças ou até cavalos que serviam para que alguns dos assistentes terem uma melhor visão do campo. Privilégios dos mais endinheirados. Tempos diferentes com detalhes pitorescos.

A inauguração deste terreno foi também mais uma interessante opção para o nosso Clube que por via do abandono do Campo de Sete Rios no ano seguinte, passou a ter de andar de casa às costa entre as Laranjeiras e o campo de Palhavã. O problema deste campo era a distância. Problema muito agudo nesse tempo em que as deslocações não eram nada comparáveis às de hoje. Apesar disso ainda jogaríamos algumas (poucas) vezes neste terreno para o Campeonato Regional. Estava ainda longe a aventura das Amoreiras.


(continua)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2015, 00:32
-75-
A Taça Amadora (parte II): o grande jogo.

Iniciado por volta das 16h20, o jogo contou com a presença do Presidente da Republica Dr. Bernardino Machado e o Embaixador de Inglaterra. O árbitro foi o Madrileno Ezequiel Montero, jogador prestigiado do Racing de Madrid.

(http://i67.tinypic.com/2rhbteh.png)
Ezequiel Montero o árbitro Madrileno e Bernardino Machado Presidente da República Portuguesa.

As duas equipas contaram com jogadores ilustres. Do lado do Benfica, treinado por Cosme Damião que tinha deixado de jogar no ano anterior, estavam escalados novos e velhos talentos. Novos como Cândido de Oliveira (interior esquerdo) e Artur Augusto (extremo direito). Ambos viriam a integrar a primeira selecção nacional em 1921., época em que já não vestiam o manto sagrado 

(http://i64.tinypic.com/6zyhc9.png)
A Gloriosa equipa de 14 de Maio de 1916.


Cândido de Oliveira (http://serbenfiquista.com/jogador/c%C3%A2ndido-de-oliveira), vindo do Casa Pia viria a ser uma figura gigante do futebol nacional até à sua morte em plena actividade profissional quando se encontrava a cobrir como jornalista o Mundial da Suécia 1958. Foi futebolista, intelectual, ideólogo, fundador do Casa Pia Atlético Clube, seleccionador nacional, jornalista, fundador do jornal A Bola. Foi lastimável que tenha optado por abandonar o Benfica para se aventurar na criação do Clube da sua Casa mãe. Isto claro de um ponto de vista Benfiquista... Ele que até era Benfiquista de coração nunca mais pode voltar – como era aliás o seu desejo. Foi treinador de tantos e tão prestigiosos clubes (incluindo o Flamengo do Rio de Janeiro) mas nunca lhe permitiram o regresso. Nesse dia, o "Chumbaca" jogou a médio esquerdo mas por vezes também jogava a avançado.

Quanto a Artur Augusto (http://serbenfiquista.com/jogador/artur-augusto), ele e o seu irmão Alberto merecem por si só um artigo num destes dias. Veio do CIF juntamente com Carlos Sobral. Depois de 7 anos na nossa primeira equipa, Artur teve de uma curta passagem de dois anos pelo FCP (os tempos eram outros). Mas foi e será sempre uma Saudade do Benfica. E para provar isso regressaria da cidade Invicta para voltar a jogar com o manto sagrado durante mais três anos. Finalizou a sua carreira no modesto mas ilustre Carcavelinhos. Nota-se que saiu do Benfica no Verão de 1926 justamente quando Cosme também saiu depois de perder as eleições. Talvez não tenha sido apenas coincidência.


(http://i63.tinypic.com/a2rno.png)

Fonte: Arquivo Gráfico


Mas nesse jogo o Benfica jogou essencialmente com veteranos. Jogadores que tinham tido importância decisiva nos títulos obtidos desde 1910 data em que o nosso Clube destronou o Carcavellos FC. Entre eles destacavam-se os homens da linha defensiva, homens ainda dos tempos das Salésias e que eram os homens de maior confiança de Cosme Damião, tanto mais depois dele deixar de jogar no ano anterior: Henrique Costa (http://serbenfiquista.com/jogador/henrique-costa) como defesa à direita, Leopoldo Mocho (http://serbenfiquista.com/jogador/leopoldo-mocho) como defesa à direita e um pouco mais à frente a médio direito Carlos Homem de Figueiredo (http://serbenfiquista.com/jogador/carlos-homem-de-figueiredo)).

Depois, no miolo meio campo esteve o antigo campeão de natação Carlos Sobral (http://serbenfiquista.com/jogador/carlos-sobral). Sobral depois de muitos anos no CIF passou brevemente pelo SCP para finalmente assentar com a águia ao peito. Da figura notável e trágica de Carlos Sobral, o "herói derradeiro", já por aqui se falou (nº 45, Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral.).

A interior esquerdo jogou Francisco Pereira "o pobrezinho" (http://serbenfiquista.com/jogador/francisco-pereira), irmão do desertor Artur José Pereira. Em 1914, Francisco ainda chegou a pensar seguir as passadas do irmão e sair para os viscondes mas acabou por reconsiderar e ficar no Benfica. Francisco Pereira cumpriu 2 anos de campanha no corpo expedicionário enviado para combater em Moçambique, na região do Niassa. Desconheço em que data exactamente fez essa campanha. É possível que estivesse de partida para África.

Na extrema-esquerda tínhamos Alberto Rio (http://serbenfiquista.com/jogador/alberto-rio), futebolista talentoso e homem de grande nervo. Alberto Rio estava a entrar no auge das suas capacidades e um par de anos depois estaria no centro de mais um episódio na rivalidade SLB-SCP. Incompatibilizado com o nosso Clube desertou de forma sorrateira para o SCP. Lá nunca foi bem aceite nem mais voltou a ser o mesmo jogador. Seria um dos primeiros homens do CFB onde voltaria a atingir um bom nível e a integrar a primeira selecção nacional.

Estava também Manuel Veloso (http://serbenfiquista.com/jogador/manuel-veloso) que actuou a avançado-centro neste jogo. Manuel Veloso jogou ainda várias épocas no nosso Clube. Nunca foi um jogador de excepção mas atingiu bom nível. Filho de Belém, seria mais um dos companheiros de A.J. Pereira que em 1919 iniciaram a aventura do C. F. "os Belenenses".

E de facto, nada menos do que seis destes jogadores (H. Costa, C. Sobral, A.J. Pereira, F. Pereira, A. Rio e M. Veloso) acrescidos de A.J: Pereira viriam a estar na base fundadora dessa aventura Belenense. Corações de Belém em camisolas vermelhas e verdes...

Por fim, na nossa equipa estavam também dois homens, duas dedicações de uma vida inteira ao nosso Clube: o guarda-redes José Picoto (http://serbenfiquista.com/jogador/jos%C3%A9-picoto) e o interior direito Herculano João Santos (http://serbenfiquista.com/jogador/herculano). Picoto teve uma carreira desportiva discreta mas viria a ser dirigente do nosso clube. Já Herculano (mais e boa informação aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html)) é um daqueles nomes incontornáveis na História inicial do nosso clube. Dois Gloriosos.

(http://1.bp.blogspot.com/-lcEXIkCMPhw/VGEOvO0JXEI/AAAAAAAASXo/khlfcvweAfk/s1600/Sem%2BT%C3%ADtulo.png)
Fonte: Em Defesa do Benfica


Do lado dos verdes, os irmãos Catatau já pouco jogavam. Nesses tempo os irmãos Stromp assumiam em pleno a liderança da equipa. Em particular, Francisco, pela sua capacidade e personalidade ia vincando a sua liderança. Era um homem com um temperamento forte. Um bom futebolista também embora nesse jogo tenha abusado do jogo violento. Infelizmente para ele e para o SCP, o seu irmão António estava a fazer os últimos jogos pelo SCP, os último jogos da sua vida. Começava a manifestar-se a terrível doença que poucos anos depois ceifou a sua vida. Um acontecimento trágico que depois seria repetido com o próprio Francisco. A mesma doença, um fim diferente mas igualmente trágico. Os dois são figuras lendárias do futebol Português. Juntamente com José de Alvalade, igualmente desaparecido de forma precoce foram três figuras de grande importância das primeiras décadas do SCP.

Nesse jogo os Stromps estavam acompanhados pelos três homens que tinham desertado do nosso clube no ano anterior: Artur José Pereira, Boaventura Silva e Augusto Paiva Simões. Em particular A. J. Pereira, deu aos verdes uma capacidade consistência e capacidade competitiva que nunca tinham tido nos primeiros dez anos após a fundação. Dez anos de humilhações e pior ainda de desistências a meio da competição, frequentemente alegando futilidades. Da primeira vez mesmo roubando 8 jogadores ao Benfica foram travados pelo Carcavellos FC. As vitórias só chegaram com a força bruta do dinheiro e só à segunda tentativa...

Na equipa verde ao lado do já consagrado defesa Amadeu Cruz começava a despontar Jorge Vieira, um nome que viriam a ser importante no SCP e na selecção nacional. Dos restantes com excepção do Inglês Armour já em final de carreira, não há nada de relevante a dizer. Bateram bem e tiveram o mérito de formar uma equipa que naquele dia foi mais consistente do que a nossa equipa.

O jogo decorreu num ambiente já de grande rivalidade clubística. Da inveja verde até algumas quezílias internas no Benfica, a rivalidade crescia num terreno fértil deixado pelo gradual esvaziamento da capacidade competitiva do CIF. Finalmente, com o eclipse do clube dos Pinto Basto os "viscondes" conseguiam arranjar forma$ de conseguirem ter alguma rivalidade connosco. Os "viscondes" como várias outras vezes viria a acontecer no futuro atraíram jogadores e treinadores ganhadores no Benfica. Antes como agora.

Apesar do campeonato dessa época ter sido conquistado por Cosme e seus pares, nesse dia os verdes conseguiriam vencer o Benfica. Vitória por 2-1 e a Taça Amadora foi para o SCP. Os golos foram todos marcados na primeira parte, o primeiro foi para a nossa equipa, marcado por Herculano Santos mas depois a falta de pernas acabou por fazer diferença. A nossa equipa estava a começar a dar sinais de veterania. Os golos de Armour e Perdigão concretizaram a reviravolta.

Pelas crónicas percebe-se que o jogo foi geralmente duro. A equipa do SCP usou de processos considerados pouco desportivos com particular distinção para a violência de Perdigão e Francisco Stromp. Alegaram alguns dos nossos jogadores que o árbitro espanhol permitiu um jogo violento.

Globalmente, o SCP terá jogado mais e melhor. Mereceu a vitória. Artur José Pereira, do lado do SCP foi salientado pelo bom jogo. Apesar de ter falhado uma grande penalidade ele era bem o factor decisivo. Formado no Benfica dava vantagem ao seu novo clube e por lá ficaria mais uns três anos antes de iniciar a grande aventura Belenense.


Os ecos do jogo


No final os dois empresários Amadorenses ofereceram um Copo d'água às duas equipas, árbitros e imprensa. Entre os presentes papel de destaque para o Dr. José Pontes, jornalista e uma das figuras mais importantes do dirigismo desportivo do princípio do Séc. XX. Esteve também Ávila de Mello, jornalista e dirigente do nosso clube, que mais tarde chegaria a Presidente do SLB, tendo sido um dos homens que depôs Cosme Damião em 1926. Do lado do SCP falou o presidente Daniel Queiroz dos Santos. Um nome conhecido no nosso Clube. Nada menos que um dos integrantes da nossa primeira equipa que em 1 de Janeiro de 1905 venceu por 1-0 o Campo de Ourique... Um dos que desertaram em Maio de 1907.

Depois falaria Cosme Damião que dirigindo-se aos jogadores do Benfica recomendou que continuassem a trabalhar e a ser "amigos do Sport porque nele vivia a esperança de que a derrota d'um dia podia ser o indício de victórias a obter". Este discurso tocou fundo os nosso jogadores que não estavam habituados a perder. De tal forma que decidiram oferecer ao Clube as miniaturas da Taça da Amadora que lhes tinham sido entregues. Em particular Cândido de Oliveira e Francisco Pereira tomaram a palavra para pedir a desforra de forma emotiva. Apesar de ser um hábito nesse tempo, essa desforra não foi aceite pelo capitão do SCP, Francisco Stromp que alegando condicionantes do calendário desportivo remeteria o próximo jogo para um compromisso oficial. E assim seria.


Identificações

Por fim, como nesse tempo a distribuição dos jogadores era algo rígida, é pois relativamente fácil fazer a identificação no campo. Penso que muito porvavelmente estas identificações estarão correctas.

(http://i68.tinypic.com/28iq0pl.jpg)

Nota-se a presença de dois árbitros de campo e dois de baliza, facto comum para a época. Cheguei a pensar que os árbitros de baliza seriam os treinadores mas na verdade depois de umas perguntas fiquei com a indicação de que seriam mesmo árbitros de baliza.

Regista-se ainda para o detalhe de que quase de certeza os irmãos Pereira, dois filhos de Belém, jogaram um contra o outro na zona central do campo. Papéis importantes nas respectivas equipas. Irmãos e nesse dia rivais. Terá sido uma experiência interessante para ambos.

Foi um dia de festa e que serviu para os nossos jogadores na refrega perceber que havia que lutar mais e melhor. Havia que cerrar os dentes e fileiras para dar a resposta cabal àquela derrota. E assim seria. Nos dois anos seguintes o nosso Clube apesar de alguns reveses voltaria a vencer o Campeonato Regional de Lisboa. Arrasadores! Gloriosos e arrasadores!

É possível que um dia destes volte a este jogo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2015, 20:22
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Huelva 1910, pequeno manual para verdes I's

(http://3.bp.blogspot.com/-AHMow5Rjlbg/TojDwwlbYnI/AAAAAAAAAfs/GoXna4_ERug/s1600/Cosme+Dami%25C3%25A3o2.jpg)
Equipa Portuguesa, representante de uma Selecção de Lisboa, 27 de Agosto de 1910.
Fonte: Em Defesa do Benfica

Imagem já conhecida. Huelva, 1910 encontro de futebol amigável entre uma selecção de Huelva e uma Selecção de Lisboa.

Alberto Miguéns já explicou de forma objectiva e rigorosa o contexto e os detalhes deste jogo. Fica claro que a alegação de que Cosme Damião jogou uma vez no SCP é falsa. A única coisa que é rigorosa é que por conveniência foi necessário usar os equipamentos Stromp. Não se estranhe pois na época era relativamente comum.

Em 3 de Outubro 2011 : http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/10/ser-ou-nao-ser-eis-questao.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/10/ser-ou-nao-ser-eis-questao.html)

E em 18 Agosto 2015: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/08/cosme-damiao-no-sporting-olhe-que-nao.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/08/cosme-damiao-no-sporting-olhe-que-nao.html)

Assim, para além das fontes que foram indicadas por esse grande Benfiquista nesses artigos, deixo aqui mais duas fontes contemporâneas que me parecem esclarecedoras.

Uma do lado Português:

(http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/TiroeSport/1910/N453/N453_master/JPG/TiroeSportN453_0014_branca_t0.jpg)
Fonte: Tiro e Sport nº 453, pág 14 de 30 Setembro 1910.

Como se pode ler apenas se fala em grupo Portuguez e grupo Hespanhol. Não falam uma vez que seja em Benfica, Sporting, ou Sport União Belenense (os três clubes representados). Só "grupo Portuguez".

Outra do lado espanhol:

(http://i63.tinypic.com/33ac7s9.png) (http://i64.tinypic.com/2005qjd.png)
Fonte: La Correspondencia de Espana de 28 Agosto 1910.

Como se pode ler apenas se fala em Asociacíon de Lisboa.

E para facilitar, aqui ficam aqui as identificações:

(http://i64.tinypic.com/sxncyv.png)

Assim, resumindo:

Selecção de Lisboa

Sporting Clube de Portugal - Augusto Freitas, António Couto, António Stromp, Francisco Stromp, António Rosa Rodrigues e João Bentes.

Sport Lisboa e Benfica - Cosme Damião, Henrique Costa, António Costa e Luís Vieira.

Sport União Belenense - Francisco Belas

Os citados Francisco Santos (SCP), Carlos Sobral (CIF) e Eduardo Luís Pinto Basto (CIF) acabaram por não alinhar.

E já agora não inventem. Nessa época (1909/1910) o campeão da mais importante competição Nacional, ou seja o Campeonato Regional de Lisboa foi o CIF, Clube Internacional de Futebol. Na época seguinte (1910/1911) o campeão foi o Sport Lisboa e Benfica. O primeiro título  conquistado pelo SCP foi em 1914/1915 ou seja 8-9 anos depois da fundação do clube.

Assim fica aqui um pequeno manual gráfico para que qualquer Benfiquista possa mostrar aos verdes I's.

Por verdes I's entendem-se sapos Ignorantes ou Imbecis que persistam em imaginar um Cosme Damião que "jogou no SCP".

Serve este manual para que esses verdes I´s possam acabar de vez com as suas tretas históricas sejam elas resultantes de ignorância preguiçosa ou de má-fé idiota.

Fique claro que entendo que no SCP existe gente lúcida, séria e intelectualmente honesta. Os Ignorantes preguiçosos têm eventualmente cura. Já Idiotas de má-fé, enfim o problema é deles. Se vão passar a vida nisto então pouco mais há a fazer. Mas pelo menos levam com a verdade histórica em cima.

Aqui o trabalho está facilitado. E com bonecos fica mais fácil.

Boas leituras.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 09 de Dezembro de 2015, 15:48
Curioso como os sportinguistas pretendem utilizar essa falácia de o Cosme Damião ter jogado uma vez pelo Sporting para o menorizar ou ridicularizar perante os benfiquistas.

Todos os factos e provas desmentem claramente isso, mas quero realçar que mesmo que isso fosse verdade, da minha parte só iria aumentar ainda mais a estima e o respeito que sinto por um dos nossos principais fundadores. Se mesmo após tudo aquilo que o Sporting fez ao Benfica, uma das nossas principais figuras tivesse aceite jogar um amigável por eles, na minha opinião isso só teria demonstrado ainda mais a sua classe e forma de estar na vida, bem como enaltecer os valores, princípios e forma de estar no desporto com os quais o Benfica foi criado.

Mais um tiro ao lado do execrável revisionismo lagarto.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Dezembro de 2015, 23:43
Sim, tudo serve para glorificar o seu verdadeiro clube: o Anti-Benfica.
É triste ser-se movido pela inveja, pelo despeito e pela mágua.
Lagartixas. Alguns são leões mas a maioria é como diz o presidente do Marítimo, são lagartixas que nunca chegam a jacarés- Mas pensam que sim.
A maior parte são ignorantes dos factos que vou a seguir contar mas na verdade há razões recuadas para estes episódios.

Assim aproveito para salientar aqui mais alguns detalhes históricos que os verdes I's desconhecem.

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Extinções e fusões, pequeno manual para verdes I's

Algures pela década de 60 Cândido Rosa Rodrigues fez declarações polémicas que nunca bateram certo com qualquer outro depoimento. Segundo ele o Sport Lisboa foi extinto quando os 8 desertores saíram para o SCP. Segundo CRR, foi um elemento despeitado que decidiu manter o clube sem autoridade para o fazer. Falava claro de Cosme Damião. E segundo CRR, Cosme te-lo-à feito por não ter sido admitido no clube verde e elitista onde pretendia jogar. Imagine-se. Continuando a história disse depois que Cosme foi ter com o Grupo Sport Benfica para formar um "outro" clube. Vale o que vale.

E valerá muito? É preciso respeitar um fundador mas na realidade existem factos que demonstram o contrário. Se não vejamos:

Em Maio de 1907 saíram 8 jogadores para o SCP. Os restantes ficaram durante algum tempo desmobilizados mas depois deu-se um movimento entusiástico liderado por Cosme Damião, Félix Bermudes e Marcolino Bragança. Outros houve como Luís Viera, João Persónio, etc, etc. Alguns partiram de forma breve mas assim que se aperceberam da resistência voltaram rapidamente. Assim o clube continuou a ter dezenas de sócios-jogadores como aliás se viu depois na lista da fusão em que o Sport Lisboa indicou cerca de 54 membros.

A resistência foi igualmente liderada por Manuel Gourlade e apadrinhada pelo Conde do Restelo e pelo seu irmão. Um deles não me lembro qual continuou a ser sócio. Gourlade, a primeira águia, fundador e a principal figura do clube nos 4-5 primeiros anos liderou aliás uma subscrição pública que permitiu salvar o clube. Note-se a principal figura do clube. O homem que terá tido a ideia de juntar os Catataus aos Casapianos da Associação do Bem. Não era um qualquer despeitado. Era Manuel Gourlade.

Depois, sabe-se que o clube Sport Lisboa foi inscrito para disputar o campeonato Regional de Lisboa de 1907/1908. Foi inscrito pelo Professor Silvestre da Silva, Casapiano e integrante (ao lado de Cândido Rosa Rodrigues) da primeira equipa oficial do Sport Lisboa. Foi aliás Silvestre da Silva o homem que marcou o primeiro golo da nossa história em 1 de Janeiro de 1905 como Alberto Miguéns provou.

(http://i64.tinypic.com/1zva5jt.png)
António Rosa Rodrigues, Silvestre da Silva, Cândido Rosa Rodrigues e José Rosa Rodigues

Silvestre da Silva inscreveu o clube como Sport Lisboa. Não foi com outro nome qualquer. Foi aceite a inscrição e o clube competiu com esse nome jogando contra o Sporting. Ou seja não foi extinto coisíssima nenhuma.

Aliás tanto quanto sei embora sem o rigor que a consulta de documentos originais me poderia dar - os Rosa Rodrigues continuaram a ser sócios do Sport Lisboa durante algum tempo mesmo depois de saírem para o SCP. Ao que sei o irmão mais velho, José ficou no nosso clube até 1909 e o mais novo Jorge ainda jogou nas nossa equipas como guarda-redes até 1912. Não está mal... Cinco anos depois da "extinção"... Lá se foi o argumento.

Depois em Setembro de 1908 deu-se a fusão entre o SL e o GSB. E ironia das ironias de que Cândido Rosa Rodrigues já não se devia lembrar: em 1909 o seu irmão António Rosa Rodrigues, jogador do SCP decidiu jogar duas partidas do campeonato pelo Sport Lisboa e Benfica! Ao que julgo ARR não jogava muito pois estava tapado por António Stromp, mais novo e em melhor forma. ARR voltou pois a jogar com o manto sagrado, uma contra o CIF e outra contra o Gilman. E usou a sua velha e gloriosa camisola vermelha. Não está mau, pois não...

(http://2.bp.blogspot.com/-ucbIIxkK3II/U0RFVzAGHfI/AAAAAAAANJs/P9z4JU9BeH4/s1600/HslbI+126.jpg)
Sport Lisboa e Benfica, 1909.
António Rosa Rodrigues é o primeiro sentado a contar da esquerda.

Repare-se como ARR é o único que usa a velha e gloriosa camisola de flanela vermelha. A camisola do Sport Lisboa, o clube que tal como o Grupo Sport Benfica se passou a chamar Sport Lisboa e Benfica. Chama-se a isso uma fusão. Não se chama fundação. E explica-se com bonecos para verdes I's.

(http://i57.tinypic.com/mvm068.png)

Em remate: nada do que disse quer colocar em causa a grande figura que foi CRR. Merece ser lembrado com carinho pelos Benfiquistas. Nunca se renega um pai mesmo que os caminhos se separem num dado momento. CRR e os restantes Rosa Rodrigues resolveram assumir-se elitistas e deixaram o clube que ajudaram a criar. Ficou-lhes a amargura de que o clube não terá sido o que eles queriam. E queriam tanto que gostariam que tivesse terminado. Não terminou. Felizmente outros acreditaram e lutaram e souberam dar-lhe consistência. Nem sempre os filhos se tornam o que os pais pretendem. E a beleza da coisa é que muitas vezes os pais são suplantados pelos filhos. E ainda bem que assim é.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Dezembro de 2015, 14:45
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Um casal virtuoso.

Lisboa, fotografia de final de curso de Medicina de 1902.

(http://i64.tinypic.com/309leg2.jpg)
Finalistas do curso de Medicina de Lisboa, 1902.
A Dr.ª Carolina Beatriz Ângelo e o Dr. Januário Barreto estão sentados ao centro. Fonte: RTP.

É a única fotografia que conheço em que se vê lado a lado o casal Dr. Januário Barreto e Dr.ª Carolina Beatriz Ângelo. Um casal virtuoso.

Januário e Carolina foram marido e mulher, primos e colegas de curso de Medicina de 1902. Foram também dois seres superiores, dois humanistas, dois republicanos.
Foram duas figuras notáveis que brilharam de forma fugaz mas intensa. Foi curta demais a sua viagem neste mundo. Pouco o tempo em que mostraram a sua inteligência, o seu voluntarismo, o seu sentido de justiça e gosto em ajudar os outros. O que fizeram no curto tempo da sua existência deixa antever que poderiam ter deixado uma marca de maior destaque na sociedade Portuguesa.

Hoje falaremos de Januário Gonçalves Barreto Duarte. Do Casapiano, do presidente do Sport Lisboa e Benfica, mas também do sócio e membro do conselho fiscal do Sporting Clube de Portugal. Foi tudo isso com a nobreza de carácter de um espírito superior, dado apenas às virtudes do companheirismo e da sã convivência entre os homens de boa vontade.

(http://i63.tinypic.com/2ik31hi.png)
Januário Gonçalves Barreto Duarte
Aldeia do Souto, Covilhã 1 de Abril de 1877 – Lisboa 3 de Outubro de 1911

Órfão aos oito anos, o menino Januário ingressou na Real Casa Pia de Lisboa menos de um ano depois, em 30 de Junho de 1886 (fonte: Em Defesa do Benfica).

Januário, o Casapiano

A importância de Januário Barreto na difusão do futebol em Portugal é grande. Diz-se que foi ele juntamente com o seu colega Casapiano Bruno do Carmo que, como alunos externos da Casa Pia, foram os entusiastas introdutores desse desporto junto dos seus companheiros. E foi um rastilho. O futebol foi entusiasticamente adoptado numa Instituição que levava já décadas de cultura e prática desportiva efectiva. Um oásis no país.

Tiveram também a sorte de ter como provedor da Casa Pia, Francisco Simões Margiochi (1848-1904), um homem de visão que encomendou uma bola de futebol a uma casa comercial em Inglaterra. A bola, objecto raro e muito desejado nesses anos do pioneirismo do futebol Português. A geração de estudantes Casapianos que ficou conhecida por geração Margiochi foi a mais célebre e brilhante, com diversos homens, intelectuais e artistas a escreverem a ouro etapas da vida social, desportiva e artística de Portugal entre várias décadas que se seguiriam ao final dos seus cursos.


(http://i64.tinypic.com/2llbk1g.png)
Bruno do Carmo (azul) e Januário Barreto (vermelho), os introdutores do futebol na Real Casa Pia. Fonte: http://www.casapia-ac.pt/Casa_Pia_Implantao.pdf (http://www.casapia-ac.pt/Casa_Pia_Implantao.pdf).



(http://i66.tinypic.com/34j2aa1.png)
Francisco Simões Marghiochi (Lisboa, 22 de Dezembro de 1848 — Lisboa, 6 de Outubro de 1904). Par do reino, presidente da Câmara Municipal de Lisboa e provedor da Casa Pia de Lisboa; Provedor da Real Casa Pia de 1889 a 1894

Foi notável a geração Marghiochi. Muitos fizeram cursos superiores, médicos, veterinários, militares, escultores, pintores, cinzeladores, professores da Casa Pia, de Liceu e da escola primária. Notável! De desafortunados da vida, orfãos, estes jovens cresceram em corpo e mente, prestigiaram a grande Instituição que os acolheu e prestigiaram o País. Cresceram na vida pelo mérito, pelo seu esforço e pela força da sua generosidade, irmandade e partilha. E deixaram obra.

E assim, em 1893 no pátio Páteo das Malvas no Colégio de Pina Manique em Belém, Margiochi ou alguém em seu nome (os relatos não são unânimes) entregou a Januário e a Bruno a famosa bola que serviu para aumentar o entusiasmo Casapiano pelo novo desporto. Essa bola foi mandada vir de Londres e paga pelo próprio Francisco Simões Margiochi.

(http://i64.tinypic.com/16hwk7.png)
Casapianos em exercícios físicos. Pátio do Colégio Pina Manique, Belém. Fonte: AML

Quem sabe? Quem sabe se essa famosa bola é a que aparece nas fotografias de duas das famosas equipas do GCP, Grupo Casa Pia. Esta é pelo menos a minha hipótese e não GCP, Ginásio Clube Português (que teria emprestado a bola) como já li.


(http://i66.tinypic.com/3494h3l.png)
Duas das lendárias equipas da Real Casa Pia de Lisboa do final do Século XIX.
A - João Pedro, Emílio de Carvalho (SL-SCP), Silvestre da Silva (SL), António Couto (SL-SCP) e Raúl Carapinha; Sentados nas cadeiras: João Lourenço, Pedro Guedes (cap.; SL) e Januário Barreto; Sentados no chão: João Cambraia, Daniel Queiroz dos Santos (SL-SCP) e Bruno do Carmo.
B - - de pé, da esquerda para a direita: João Cambraia, António Couto (SL-SCP), Emílio de Carvalho (SL-SCP), Raúl Carapinha, Silvestre da Silva (SL), Januário Barreto; Francisco dos Santos (SL-Lázio-SCP), José Netto (SL-SCP); Sentados: João Pedro, Pedro Guedes (SL), Bruno do Carmo;


Nota-se que no segundo plano existem árvores no espaço – que presume-se – era usado para os treinos. Existem relatos que dizem que muitas vezes e como auto didactas quanto aos treinos, os Casapianos usavam as árvores como "adversários" para treinar os passes e fintas e aprimorar o jogo de equipa.

Depois de sair da casa mãe, Januário continuou ligado ao futebol enquanto dirigente. Bruno do Carmo chegou à patente de Coronel e nunca mais voltou a estar ligado ao futebol. Ao contrário por exemplo do Coronel José da Cruz Viegas.

Nessas equipas Casapianas, para além de Francisco dos Santos com passagem elogiada pela Lazio de Roma, talvez os mais talentosos destas equipas fossem António do Couto, Pedro Guedes e Emílio de Carvalho, uma vez que integraram um misto de Portugueses e Ingleses que derrotou os mestres Ingleses do Carcavellos. Facto inédito e de grande repercussão nessa época. Mas um ano mais tarde viria a glória suprema.

Com uma equipa somente de Portugueses, disputou-se no dia 22 de Janeiro de 1898, um épico desafio na Quinta Nova em Carcavelos. Apesar de disputado no Inverno, o jogo decorreu num tempo agradável embora com uma assistência reduzida.

Não existe nenhuma fotografia mas existe um belo relato assinado por Valentim Machado publicado no Tiro Civil de 1 de Fevereiro 1898.


(http://i64.tinypic.com/jpzpr5.png)
Excerto da notícia da vitória da equipa da Real Casa Pia contra o Carcavellos FC em 1898. Fonte: Tiro Civil, Hemeroteca de Lisboa.

E segundo ele os Portugueses alinharam da seguinte forma:

(http://i64.tinypic.com/axgqag.png)
A equipa da Real Casa Pia que derrotou os Ingleses em do Carcavellos FC em Janeiro de 1898. Fonte: Tiro Civil, Hemeroteca de Lisboa.

Nesse jogo o guarda-redes foi Silvestre da Silva e não Pedro Guedes, que sete anos depois, em Janeiro de 1905, veio a ser o guarda-redes da nossa primeira equipa oficial. Pedro Guedes jogou a defesa à direita e Januário Barreto defesa à esquerda.

Considerando esta equipa de 1898 e os jogadores retratados nas fotografias em cima, quatro não estão presentes: Tavares, A. Torres, David da Fonseca e João Persónio. Conhecemos apenas o rosto dos dois últimos de quem já aqui falamos pois integraram algumas das nossa primeiras equipas entre 1905 e 1910.

Mas o grande destaque desse dia foram aos resistentes e talentosos médios António do Couto, Emílio de Carvalho e Daniel Queiroz dos Santos. No final venceram os Casapianos por 2-0. E como se relata na crónica de Valentim Machado: "ecoam palmas, bonets voam pelos ares e com razão porque é um grupo completamente portuguez... Viva! Tres vezes "Viva" pelos valentes rapazes que em tão poucos annos tanto conseguiram".

A actuação de Barreto foi dada como indecisa, cingindo-se mais a tarefas defensivas. Não era o mais talentoso da sua equipa mas era um dos mais entusiastas.

Apenas nove anos depois uma equipa Portuguesa voltaria a derrotar os mestres Ingleses: o Sport Lisboa com as gloriosas camisolas de flanela vermelha. E nesse tempo o presidente do nosso clube era... Januário Barreto! O primeiro presidente eleito do nosso Clube.

A Associação do Bem

Da importância da Associação do Bem já se falou. Fundada em 1903 por antigos alunos da Casa Pia, dedicava-se a ajudar os Casapianos mais desfavorecidos, a promover a Cultura Portuguesa e os ideiais Casapianos.  Também promovia a prática desportiva era uma importante motivação para a reunião destes antigos estudantes Casapianos.

(http://dubleudansmesnuages.com/wp-content/uploads/2008/07/grupo-academico-futebol-casa-pia.jpg)
Estreia da equipa da Casa Pia de Lisboa, no jogo com o Grupo Académico de Futebol.  Em pé da esquerda para a direita: escultor Francisco dos Santos, professor João Pedro, cinzelador Emilio de Carvalho, pintor Pedro Guedes, escultor José Neto, professor Silvestre da Silva, Dr. Januário Barreto, Dr. Estanislau Nogueira, Dr. António da Cunha Belém, Dr. António Simões Alves, engenheiro Craveiro Lopes, engenheiro Assunção, João Lourenco Marques, ?, pintor Falcão Trigoso e arquitecto António Couto; Ao meio: Ernesto  Camacho; Sentados: Aragão e Brito, Mascará, Dr. Joao Simões Alves, coronel Bruno do Carmo, Tavares da Silva, Dr. Mário Costa, Kebe e coronel José Ferreira da Silva. Fonte: http://dubleudansmesnuages.com/?cat=60 (http://dubleudansmesnuages.com/?cat=60)


A nostalgia dos tempos antigos e a paixão mantida intacta pelo futebol fê-los regressar aos areais de Belém para praticar o futebol. Lá conheceram Manuel Gourlade que como múltiplas fontes referem foi o elemento de ligação entre os Casapianos e o grupo dos Catataus. O resto é História Gloriosa.

A fundação do Sport Lisboa em 28 de Fevereiro de 1904 teve vários Casapianos, curiosamente os menos conhecidos. Como disse Hélder Tavares (responsável pelo museu da Casa Pia) num V&P, os mais destacados Casapianos ou por modéstia ou por estatuto social, ou pela idade, ou simplesmente para deixar os mais novos trabalhar, acabaram por não assinar. No entanto eles estiveram lá, dando consistência quer aos valores, quer à filosofia desportiva. Estiveram lá também como futebolistas, dando competência desportiva e transmitindo a sua experiência e saber futebolístico nos jogos (ao que parece não treinavam). Prova disso foi a presença de diversos na primeira equipa oficial: Pedro Guedes, Silvestre da Silva, António do Couto, Emílio de Carvalho. Estes competentes veteranos aliados aos mais novos tais como José da Cruz Viegas, Fortunato Levy e os três Rosa Rodrigues resultaram em vitórias e a conquista de um rápido estatuto e grande popularidade. As bases do nosso clube radicam nesses valores, nesses tempos, nestes homens.

Januário, o Presidente

Januário era um desses homens que não obstante já não jogar continuava presente e continuava entusiasta das virtudes do futebol.

E por isso foi o primeiro presidente eleito da história do nosso clube. Foi um presidente importante e de quem se relata no site oficial do SLB:

3º Presidente
Dr. Januário Barreto, 12/18/1906 – 13/09/1908
(http://www.slbenfica.pt/Portals/0/Images/Presidentes/Presidente2_Dr.%20Janu%C3%A1rio%20Barreto.jpg)

Figura de prestígio à procura de soluções
Em 1906, o Sport Lisboa alcançara posição de destaque, sendo considerado pela imprensa como o melhor grupo de futebolistas portugueses. Mas faltavam infra-estruturas. Aquando da eleição da primeira Direcção, em 22 de Novembro de 1906, permaneceram os três membros da Comissão Administrativa, sendo eleito presidente Januário Barreto – figura grata no desporto, prestigiado conhecedor das regras do futebol, árbitro e médico. Durante a sua gerência, o Clube conquistou os dois primeiros troféus, no Torneio Inter-Clubes do Internacional (CIF), em 2.ª e 3.ª categorias.

Januário, o dirigente

Até à fundação da Associação de Futebol de Lisboa em 3 Outubro de 1910, a regulamentação e a organização do futebol era uma missão muito complicada. A primeira organização criada para esse fim foi presidida pelo Tenente da Armada Portuguesa Joaquim Costa tendo este sido secretariado por José de Alvalade, fundador do SCP. A segunda viria a ser presidida pelo Dr. Januário Barreto que foi secretariado por Eduardo Luiz Pinto Basto. Esta organização designou-se Liga Portugueza de Foot-Ball (LPF). Foi fundada em 17 de Setembro de 1908 e extinta em Setembro de 1910. Às portas da Republica.

A LPF pretendia promover e organizar o futebol ao nível nacional. Pretendia-se a criação de uma Liga Norte e uma Liga Sul. Infelizmente as resistências e os recursos eram escassos e a sua acção generosa mas muito limitada acabou por resultar na organização de dois campeonatos regionais de Lisboa em 1908/1909 e 1909/1910. Não obstante a inteligência e o labor da sua Direcção e seu presidente, o Dr. Januário Barreto a Liga Portugueza de Foot-Ball viria a ter uma curta e atribulada vida. Era muito difícil dada a total ausência de estruturas e recursos. O facciosismo desportivo e as rivalidades pessoais e colectivas revelaram-se igualmente problemáticos.

Ainda assim ficaram experiências instrutivas para os dirigentes que viriam a seguir. As duas Ligas anteriores à AFL assentaram as bases da organização, revelaram os problemas e as virtudes de um desporto que viria depois a ser dirigido pela Associação de Futebol de Lisboa. A importância desta associação foi enorme tanto mais que se deve notar que apenas em 31 de Março de 1914 foi fundada a União Portuguesa de Futebol (UPF). A UFP foi primeiro organismo que regulou o futebol português ao nível nacional. Em 28 de maio de 1926 a UFP passaria a chamar-se Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Até hoje.

Para a história ficam os fundadores da Associação de futebol de Lisboa: Tenente da Armada Carlos Villar, Raúl Nunes, Pedro Del-Negro, José Netto, Félix Bermudes e Cosme Damião. Três dos últimos jogaram no Sport Lisboa. Os dois últimos são das maiores figuras da história do nosso clube.

(http://3.bp.blogspot.com/-NMUuF_GTui0/VkKr6AtCS0I/AAAAAAAAbr8/E1F1-yP2H7k/s1600/TeS.png)
Fonte: Em Defesa do Benfica.

Nestes nomes notava-se uma ausência ilustre: o notável e nesse tempo já saudoso Dr. Januário Barreto.

Januário, segundo o site do SCP viria a ser um dos dirigentes que decidiram ingressar no SCP em Fevereiro de 1909. Em 4 de Janeiro de 1910 tornou-se no primeiro Presidente do Conselho Fiscal do clube fundado por José de Alvalade e que integrava como relator, António Couto o seu companheiro Casapiano. No fundo Barreto tal como Queiroz dos Santos, Francisco dos Santos, Emílio de Carvalho e José da Cruz Viegas, veio a seguir António do Couto na sua aventura verde. A amizade entre estes homens era sincera e forte e assim se explica esta aventura verde colectiva. Valia mais a Amizade num tempo em que as rivalidades ainda não existiam (na verdade eram mais com o CIF), em que a precariedade das condições e a vida efémera dos clubes e das pessoas tornavam estas decisões de mudança muito diferentes dos dias de hoje. Até me atrevo de forma facciosa com certeza, a dizer que Januário teria valores que nos dias de hoje só o levariam a sentir-se bem no Sport Lisboa e Benfica.

E foi realmente efémera a sua experiência verde. Apenas 4 meses depois de entrar nesse clube, Januário faleceu a 23 de Junho de 1910. A sua morte provocou uma grande consternação junto dos seus amigos e dos mais diversos agentes do desporto Português. Januário foi substituído nesse cargo directivo do SCP por José da Cruz Viegas. O mesmo homem que 6-7 anos antes definiu as nossas cores. Tudo se cruzou nesse tempo. Foi o tempo de grandes figuras, homens de grande voluntarismo e personalidade que criaram as bases do que hoje vivemos no futebol Português.

Januário, o médico ilustre

Januário revelou-se um excelente aluno tendo ingressado no curso de Medicina da Universidade de Lisboa. Nesse curso teve como colega a primeira mulher a formar-se em Medicina em Portugal, a sua prima Carolina Beatriz Ângelo. Ali tiveram ali como eminentes professores tais como Ricardo Jorge, Alfredo da Costa, Miguel Bombarda e Curry Cabral (fonte: http://capeiaarraiana.pt/tag/januario-barreto/).

Ao que sei Januário terá sido um médico prestigiado e de carácter generoso. E muito provavelmente veio a ser essa sua vontade de partilha, de dedicar algum do seu tempo aos outros, aos mais necessitados, que o viria a vitimar. Adoeceu (eventualmente de tuberculose) e viria a falecer. Na flor da vida. Um fim brutal para um homem que muito tinha a dar a este País. Só os bons morrem jovens. Nem sempre é assim mas neste caso certamente foi.

Paz e honra à memória do Dr. Januário Gonçalves Barreto Duarte.

(http://c10.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/N2f01cba9/16527101_Fjktd.jpeg)
Homenagem a Januário Barreto na aldeia do Souto. Fonte: http://cavaca.blogs.sapo.pt/2014/01/?page=2 (http://cavaca.blogs.sapo.pt/2014/01/?page=2)


(http://i63.tinypic.com/i5vqdl.png)
Carolina Beatriz Ângelo
S. Vicente, Guarda 16 de Abril de 1878 – Lisboa 3 de Outubro de 1911

Frequentou o Liceu na sua terra natal da Guarda. Veio depois a ingressar nas Escolas Politécnica e Médico-Cirúrgica em Lisboa, onde concluiu o curso de Medicina em 1902.

Nesse mesmo ano, casou-se com Januário Barreto. Tornou-se a primeira médica portuguesa a operar no Hospital de São José, dedicando-se mais tarde à especialidade de ginecologia.

Activista dos direitos femininos, sufragista, foi uma destacada militante da Liga Republicana das Mulheres.

Para melhor perceber a importância social e política da Drª Carolina Beatriz Ângelo sugiro a leitura deste excelente artigo do Alberto Miguéns:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/03/o-benfiquismo-e-d-carolina-beatriz.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/03/o-benfiquismo-e-d-carolina-beatriz.html)

E também aqui: http://run.unl.pt/bitstream/10362/4003/1/textoCBA.pdf (http://run.unl.pt/bitstream/10362/4003/1/textoCBA.pdf)

E ainda: http://www.igualdade.gov.pt/images/stories/documentos/documentacao/publicacoes/carolina%20beatriz%20angelo.pdf (http://www.igualdade.gov.pt/images/stories/documentos/documentacao/publicacoes/carolina%20beatriz%20angelo.pdf)

Como os artigos deixam ver, existe muito a saber em relação à Drª Carolina Beatriz Ângelo. Infelizmente também morreu muito nova. No dia 3 de Outubro de 1911, morreu de miocardite, aos 33 anos, ao regressar à sua residência da Rua António Pedro S.D., após uma reunião política de "senhoras feministas" (fonte: http://medicosportugueses.blogs.sapo.pt/6263.html (http://medicosportugueses.blogs.sapo.pt/6263.html)).

O casal deixou uma filha de oito anos chamada Maria Emília Ângelo Barreto (1903-1981) que viria a ser professora e secretária do Liceu Nacional Infanta D. Maria em Coimbra.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 13 de Dezembro de 2015, 15:43
Muito bom. Obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Dezembro de 2015, 19:02
Citação de: Benfiquista_ em 13 de Dezembro de 2015, 15:43
Muito bom. Obrigado.

Obrigado!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:06
Eu é que agradeço :)

Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Dezembro de 2015, 19:36
Citação de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:06
Eu é que agradeço :)

Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..


Algumas destas história deram trabalho a pesquisar e cruzar fontes. Mas guardar para mim não faz sentido. Claro que qualquer Benfiquista pode guardar e divulgar. Essa é a ideia. O material é público e para todos os Benfiquistas.

Na verdade um dos moderadores propôs-me em tempos que o tópico estivesse aqui para ser lido por Benfiquistas e não Benfiquistas.

Eu não detenho quaisquer direitos sobre estas imagens embora algumas tenham sido trabalhadas para salientar determinados aspectos.

Com a indicação das fontes a ideia é nunca apropriar-me mas antes valorizar esse material que encontrei em livre acesso na net. Uma fotografia sem legendagem e contextualização não tem valor, ou quando muito tem apenas valor estético.

Eu tenho ideia que todas as imagens estão disponíveis mas se faltar algum talvez ainda tenha por aqui arquivada.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:40
O que aqui está deu imenso trabalho, imagino.

Seria uma pena perder-se com o tempo.

Actualmente eu é que não tenho muito disponibilidade, porque se não faria isso.

Muita qualidade. Ao teu nível apenas o Alberto Miguéns.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Dezembro de 2015, 19:50
Ninguém está ao nível de Alberto Miguéns. Temos uma sorte danada em que seja o Benfica e não um dos outros clubes a ter um homem com tantos conhecimentos e vontade de divulgar.

E existem outras pessoas com bons conhecimentos que não publicam ou fazem-no de forma .

Hoje em dia encontram-se muitos recursos online. Mas o segredo não é encontrar. O segredo é perceber. e relacionar. Tudo isso dá trabalho.

Há muita coisa e coisa boa por sinal que ainda não está em regime de livre acesso. Temos a hemeroteca e o digitarq que têm material mas poderiam ter mais. Há material que ainda não foi colocado online. Acredito que a informação deveria ser livre. Seria muito bom que aqueles que querem conhecer mais e divulgar tivessem acesso ao acervo de outros jornais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 23:30
Sem dúvida, que a Cultura deveria ser Livre e Aberta a todos e não apenas a quem pode...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Dezembro de 2015, 00:20
Só uma precisão

Quando dizia "guardar para mim" queria dizer não partilhar. Ou seja não faz sentido para mim investigar e não partilhar.

É claro que tenho um backup de segurança. Nem poderia ser de outra forma. Por isso "no worries".

Há algumas coisa que eu me deparo e que não publico. Razões:
1) não tenho informação suficiente;
2) não acho que seja interessante;
3) aguarda melhor ocasião;
4) porque assim acordei com outras pessoas.
5) porque não há mais tempo.

Esta última é mesmo verdade apesar da "produção" dos últimos meses
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 15 de Dezembro de 2015, 10:35
Acredito !) Continua com o projecto!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 15 de Dezembro de 2015, 21:41
Citação de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:06
Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..
Confesso que comecei a fazer isso mesmo...  :ashamed:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 15 de Dezembro de 2015, 21:52
Citação de: Rodolfo Dias em 15 de Dezembro de 2015, 21:41
Citação de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:06
Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..
Confesso que comecei a fazer isso mesmo...  :ashamed:
Há aí material muito bom mesmo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Dezembro de 2015, 22:40
-79-
Da vida de Cosme (parte I)

E assim terminará o ano. Prioridade às imagens.
Fragmentos visuais da vida de Cosme Damião. O maior de todos nós.

(http://i65.tinypic.com/oaywk5.png)
(http://i68.tinypic.com/11jybkz.png)
(http://i67.tinypic.com/69q5nc.png)
(http://i65.tinypic.com/11j84nm.png)
(http://i68.tinypic.com/2dhsakx.png)
(http://i63.tinypic.com/2hp4uo1.png)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Dezembro de 2015, 19:50
-80-
Da vida de Cosme (parte II)


(http://i63.tinypic.com/20t2heh.png)
(http://i67.tinypic.com/2a0mdyw.png)
(http://i65.tinypic.com/4jp450.png)
(http://i65.tinypic.com/2wc0egk.png)
(http://i68.tinypic.com/2ij3jf8.png)
(http://i68.tinypic.com/242tlyx.png)
(http://i67.tinypic.com/seomjq.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Janeiro de 2016, 13:45
-81-
Gloriosos mesa-tenistas no Brasil.

Dia 19 de Dezembro 1956, Rio de Janeiro, restaurante do Clube de Regatas Vasco da Gama.

(http://i63.tinypic.com/11mdb3d.png)
Restaurante do Club de Regatas Vasco da Gama. 19/12/1956. Arthur Braga Pires, presidente do clube carioca confraterniza com o Benfiquista Rui Castro Cadillon.

Almoço de gala em que uma comitiva Benfiquista da modalidade de ténis de mesa foi homenageada pela direcção do Club de Regatas Vasco da Gama, o clube o mais querido da comunidade Portuguesa no Rio de Janeiro. Na fotografia vê-se em primeiro plano o Sr. Rui Castro Cadillon, chefe da delegação Benfiquista a confraternizar com o presidente do popular clube carioca, Sr. Arthur Braga Pires.

Cumpriram-se no passado dia 4 de Dezembro 50 anos que a comitiva Benfiquista partiu de Lisboa para chegar ao Aeroporto Internacional do Galeão, Rio de Janeiro, no dia 5 Dezembro 1956. A chegada ao Brasil fez-se com cerca de 20 horas de atraso relativamente ao previsto.

A comitiva integrava os seguintes quatro membros: Chefe Rui de Castro Cadillon (Feira, 18-02-1920); Fernando de Oliveira Ramos (Lisboa, 12/11/1921); Francisco Barreiros Campas (Lisboa, 11/06/1921) e Manoel da Silva Carvalho (Porto, 10/10/1926). Ou seja os nossos atletas contavam entre 30 e 35 anos. Estariam pois em plena posse das suas capacidades competitivas.

(http://i65.tinypic.com/14kgyah.png)   
Da esquerda para a direita: Rui de Castro Cadillon (chefe da comitiva); Fernando de Oliveira Ramos; Francisco Barreiros Campas e Manoel da Silva Carvalho Os quatro integrantes da Gloriosa comitiva da digressão do ténis de mesa ao Brasil em Dezembro de 1956.

No Rio de Janeiro os quatro Benfiquistas ficaram hospedados na sede Naútica do Clube de Regatas Vasco da Gama.

(http://i66.tinypic.com/2133rqu.png)
Fichas de emigração (temporária) ao Brasil dos quatro integrantes da Gloriosa comitiva da digressão de 1956. As fichas tem alguns elementos biográficos dos membros da comitiva. Aspecto curioso é que todos têm como morada a Rua do Jardim do Regedor nº 9, Lisboa, local onde funcionava a secretaria do nosso Clube.

No plano da digressão estavam inicialmente previstos sete jogos, três no Rio de Janeiro, três em São Paulo e um em Belo Horizonte.


Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro os nossos mesa-tenistas participaram no Torneio Internacional de Ténis de Mesa, promovido pela FMTM (Federação Metropolitana de Ténis de Mesa). Os restantes participantes eram os clubes Brasileiros: CR Flamengo, Tijuca TC e CR Vasco da Gama. Os jogos nocturnos (a partir da 20h00) foram todos realizados no pavilhão do Tijuca T.C: dia 5 de Dezembro contra o Flamengo, dia 6 contra o Tijuca, dia 7 contra o Vasco da Gama.

(http://i65.tinypic.com/2eyyx00.png)
Os três jogos contra os clubes Cariocas disputados em 5, 6 e 7 de Dezembro de 1956. Fonte: Diário de Lisboa.

O primeiro embate contra o Flamengo foi muito condicionado pelo atraso de 20 horas registado na chegada da nossa comitiva ao Rio de Janeiro. Com pouco tempo de recuperação a nossa equipa acabou por ser derrotada por 3-5. Os jornais Brasileiros não deixaram de fazer notar a fadiga dos Benfiquistas mas salientaram a simpatia dos nossos atletas em querer adiar o encontro pelo respeito que lhes merecia os seus anfitriões. Uma atitude de grande carácter e respeito para com o público. À Benfica!

No dia seguinte, dia 6 de Dezembro, os nossos atletas disputaram o segundo embate desta vez contra o Tijuca FC. E vencemos por 5-3 (ver em baixo o detalhe dos jogos). O embate decorreu num ambiente simpático e agradável no ginásio da Tijuca. O público aplaudiu de forma igual tanto os Benfiquistas como os seus atletas. Os resultados mostraram equilíbrio e competitividade:

Ivan Assunção (Tijuca) 2-0 Francisco Campas  (21x17; 21x13)
Carlos Alberto (Tijuca) 2-0 Manuel Carvalho  (21x14; 21x19)
Thex Silva (Tijuca) 0-2 Oliveira Ramos  (7x21; 13x21)
Carlos Alberto (Tijuca) 2-0 Francisco Campas  (21x11; 21x18)
Ivan Assunção (Tijuca) 1-2 Oliveira Ramos  (?x21; 18x21; 13-21)
Thex Silva (Tijuca) 0-2 Manuel Carvalho (17x21; 12-21)
Carlos Alberto (Tijuca) 1-2 Oliveira Ramos  (21x14; 15x21; 20-22)
Thex Silva (Tijuca) 1-2 Fancisco Campas  (15x21; 15-21)



Algumas horas antes, na tarde desse mesmo dia 6 de Dezembro, a nossa comitiva visitou a Prefeitura do Rio de Janeiro. Nessa recepção a nossa equipa teve a oportunidade de oferecer o emblema de ouro do nosso Clube ao Prefeito do Rio de Janeiro, o Sr. Francisco Negrão de Lima.

A comitiva Benfiquista foi também recebida nas instalações do Clube Ginástico Português. Uma recepção sentimental e quase inevitável tendo em conta a importância desta colectividade para a comunidade Lusa no Rio de Janeiro. Aspecto curioso, tratava-se da mesma instituição que 43 anos antes tinha recebido Cosme Damião e seus companheiros durante a famosa digressão da AFL ao Rio de Janeiro.

No dia seguinte terceiro embate, contra o Vasco da Gama, e nova vitória por 5-4. Mais uma demonstração da qualidade da nossa equipa.

Por fim, pela excelente prestação desportiva e pela simpatia que rodeou a presença dos nossos atletas no Rio de Janeiro foi ainda acordada a realização de um quarto embate contra um combinado dos três opositores anteriores. E numa clara demonstração de superioridade, os nossos atletas venceram por 5-2 demonstrando grande superioridade técnica tal como foi salientado pelo jornal Diário da Noite na sua edição de 10 de Dezembro de 1956.


(http://i68.tinypic.com/24b54ih.png)
Vitória da equipa de ténis de mesa do SLB contra um combinado Carioca. Fonte: Diário da Noite na sua edição de 10 de Dezembro de 1956


Oliveira Ramos, figura em destaque

Não por acaso o jornal carioca Diário da Noite na sua edição de 14 de Dezembro de 1956 fez um artigo com este nosso (quase crónico) campeão e digno capitão de equipa. E aqui temos alguns elementos biográficos deste imortal Benfiquista. O Basquetebol foi a sua primeira paixão desportiva mas a necessidade de usar óculos obrigou-o ao abandono da modalidade. É possível por isso que ainda tenha jogado no velho campo de Basquetebol nas Amoreira. Iniciou-se depois no pingue-pongue em 1935 com 14 anos e jogando um anos nas terceiras categorias do Benfica passando depois para a primeira categoria. Oliveira Ramos era também um grande adepto de futebol não perdendo um jogo da nossa equipa. Entrevistado no intervalo de um jogo entre o Vasco da Gama e o América, Oliveira Ramos mostrava-se admirado com a grandeza do Maracanã. No Brasil era (é) tudo em escala grande!


(http://i65.tinypic.com/nobo82.png)
Fonte: Diário da Noite, 14 de Dezembro de 1956

Fernando de Oliveira Ramos foi uma grande figura do nosso ténis de mesa.

(http://i65.tinypic.com/339nibd.png)
Fernando de Oliveira Ramos (1921-2011). Fonte: Lusa e Diário da Noite.

Tal como os seus colegas Manuel de Carvalho e Francisco Campas (notavelmente evocado por Alberto Miguéns: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/12/faleceu-um-benfiquista.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/12/faleceu-um-benfiquista.html) e http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/12/so-o-tempo-derrotou-o-campas.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/12/so-o-tempo-derrotou-o-campas.html))


(http://i66.tinypic.com/2dvkgwl.png)
A Gloriosa equipa que fez a digressão ao Brasil em 1956. Da esquerda para a direita: Manuel de Carvalho, Francisco Campas e Oliveira Ramos.

Repare-se o nosso brilhante palmarés nesta modalidade e quando ele foi maioritariamente conquistado: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/06/obrigado-querido-benfica_10.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/06/obrigado-querido-benfica_10.html).


São Paulo

Mas voltando à digressão Brasileira, viriam depois os três embates na cidade de São Paulo contra o Atlético Fazenda Estadual, a Associação Atlética de Santa Helena e por fim o Unidos Clube. Pelos resultados terão sido jogos com maior exigência competitiva dos que os disputados contra os cariocas. Derrotas nos embates contra o Atlético Fazenda Estadual (1-5) e o Unidos Clube (1-5) e vitória contra a Associação Atlética de Santa Helena (5-0). Pelos resultados percebe-se que Oliveira Ramos terá estado em melhor nível do que os seus colegas pois foi o único a marcar vitórias em dois jogos nos embates em que fomos derrotados.

(http://i66.tinypic.com/9s6s1k.png)
Os três jogos contra os clubes Paulistas disputados em 12, 13 e 14 de Dezembro de 1956. Fonte: Diário de Lisboa.


Belo Horizonte
Em Belo Horizonte a nossa equipa disputaria o seu último embate vencendo, a 16 Dezembro 1956, o Mugiaé por 5-0. Mais uma grande demonstração técnica da nossa equipa.

(http://i66.tinypic.com/25utym9.png)
O único jogo disputado em Belo Horizonte contra o Mugiaé em 15 de Dezembro de 1956. Fonte: Tribuna de Imprensa.


Homenagens e despedidas

De regresso ao Rio de Janeiro e perto da despedida às terras Brasileiras, a nossa delegação foi alvo da homenagem de diversas personalidades e instituições. No dia 17 de Dezembro, o Conselho Nacional de Desportos (CND) do Brasil homenageou a nossa delegação recebeu das mãos do Deputado Federal Sr. Geraldo Starling Soares, presidente do CND, ex-presidente da Federação Carioca de Futebol e futuro Ministro do Tribunal Superior do Trabalho do Brasil.


(http://i64.tinypic.com/2zrzzm9.png)
Homenagem da CND à nossa delegação em 17 de Dezembro de 1956. Fonte: Diário de Noticias (RJ, 18/12/1956).

Viriam por fim as homenagens no dia 19 Dezembro, véspera do regresso. Antes do jantar com que começamos este artigo, a nossa comitiva foi ainda homenageada na embaixada na rua da Real Grandeza com um Porto de Honra patrocinado pelo embaixador de Portugal no Brasil, António Faria no Rio de Janeiro.

No regresso a nossa comitiva deve ter guardado grata memória por estas duas semanas de digressão Brasileira. Foi como se nota pelos registos uma notável e prestigiosa digressão. A qualidade técnica e a postura cívica e amistosa da nossa delegação prestigiaram de forma notável o nome do nosso clube e do nosso País. O Benfica é um Clube grande em todo lado do mundo e no Brasil sabem bem isso. Sabem-no desde o tempo de Cosme Damião e companheiros. Em 1956, Rui de Castro Cadillon, Francisco Campas, Fernando Oliveira Ramos e Manuel Carvalho souberam prestigiar os seus notáveis antecessores. À Benfica!

Infelizmente todos estes Benfiquistas já partiram mas é preciso que os Benfiquistas NUNCA SE ESQUEÇAM destes que foram GRANDES.

Infelizmente na fase final da sua vida o Clube não prestigiou estes Homens como devia. Foi uma vergonha. E se esse facto não pode ser reparado pelo menos nós aqui podemos lembrar e agradecer a sua memória e tanto que deram ao nosso Clube.

Obrigado Rui de Castro Cadillon.
Obrigado Fernando Oliveira Ramos.
Obrigado Francisco José Barreiros Campas.
Obrigado Manuel da Silva Carvalho.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 02 de Janeiro de 2016, 00:43
Que trabalhão, RedVC!

:bow2:

Obrigado por partilhares estas histórias e enriqueceres o fórum com estes conteúdos absolutamente preciosos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Janeiro de 2016, 00:48
Citação de: Gottschalk em 02 de Janeiro de 2016, 00:43
Que trabalhão, RedVC!

:bow2:

Obrigado por partilhares estas histórias e enriqueceres o fórum com estes conteúdos absolutamente preciosos.

Obrigado  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Janeiro de 2016, 13:45
-82-
Eterno Bermudes.

Cumprem-se hoje 56 anos desde a morte de Félix Redondo Adães Bermudes.

Nasceu na cidade do Porto, freguesia de Santo Ildefonso, no dia 4 de Julho de 1874. Mas seria em Lisboa que viria a deixar a sua marca em Portugal e no melhor clube do mundo. Um clube que ele não fundou mas que desde cedo aderiu logo no ano de 1904 quando contava 30 anos de idade. Um clube que, quatro anos depois, Félix ajudaria a sobreviver, ultrapassando os dias mais delicados da sua história, hoje centenária.

Eterno Bermudes. Eterno Sport Lisboa e Benfica.
(http://i65.tinypic.com/16hq7mx.png)
 


Muito oportunamente e com toda a justiça, Alberto Miguéns irá publicar uma trilogia de artigos celebrando a figura inigualável de Félix Bermudes. A estrutura e os conteúdos que essa série nos vai dar foram já definidos por aquele ilustre Benfiquista. Serão acredito eu materiais absolutamente a não perder pela sua excelência e pela ampla visão que nos darão sobre a multifacetada e brilhante contribuição que este homem deu ao Sport Lisboa e Benfica e às Artes em Portugal:
http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/01/felix-bermudes-um-benfiquista-inaudito.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/01/felix-bermudes-um-benfiquista-inaudito.html)

Hoje, faz-se aqui uma simples evocação usando material de uma homenagem em vida feita a essa grande figura do desporto e das artes teatrais e dos direitos de autor. Uma pequena nota adicional demonstrativa do reconhecimento que lhe foi dado pelos seus amigos, pares do desporto, das artes e dos direito de autor.


(http://i67.tinypic.com/255v1p4.png)
Solar do Porto Velho, 5 de Julho de 1954. Homenagem a Félix Bermudes.

Dia 5 de Julho de 1954. Solar do Porto Velho, instalado no Palácio do Ludovice, Bairro Alto. Figuras de destaque da sociedade Portuguesa reuniram-se para prestar homenagem a Félix Bermudes. Nesse ano Félix Bermudes completava 80 anos. Viveria ainda mais cinco anos. Apenas mais cinco anos mas onde continuaria a trabalhar com o entusiasmo e força que os Bermudes sempre mostraram.

Félix Bermudes levava nessa altura vinte e seis anos como presidente do Conselho Director da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses (S. E. C. T. P.) e, vinte, como o vice-presidente da Federação Internacional de Homens de Letras.

A comissão organizadora era presidida por Luís de Oliveira Guimarães e integrava a actriz Amélia Rey Colaço, o poeta José Galhardo, e o actor João Villaret.

Nessa homenagem já não esteve presente o seu irmão falecido seis anos antes. o prestigiado Arquitecto Arnaldo Adães Bermudes (Porto, 1 de Outubro de 1864 — Sintra, 18 de Fevereiro de 1948) foi um dos expoentes máximos do movimento da Arte Nova em Portugal: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arnaldo_Redondo_Ad%C3%A3es_Bermudes (https://pt.wikipedia.org/wiki/Arnaldo_Redondo_Ad%C3%A3es_Bermudes)

(http://1.bp.blogspot.com/-5v6PwIk0SGw/UYBHqNUEXeI/AAAAAAAAIuk/cYeDjhcTuH8/s1600/ad%25C3%25A3esBermudes.jpg)
Arnaldo Redondo Adães Bermudes, irmão de Félix Redondo Adães Bermudes

A homenagem a Félix Bermudes começou com o emotivo discurso de Luís de Oliveira Guimarães.

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Luís de Oliveira Guimarães discursa em nome da Comissão de Organização da Homenagem a Félix Bermudes.

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Félix Bermudes recebendo um abraço de Olegário Mariano, poeta e embaixador do Brasil.


Seguir-se-ia a famosa actriz Amélia Rey Colaço que recitou um soneto do Dr. José Galhardo escrito de propósito para o homenageado. Falou depois Luís Galhardo, em nome dos funcionários da S. E. C. T. P.. Depois o extraordinário actor João Villaret recitou a excelente tradução de Félix Bermudes da famosa poesia «If», de Rudyard Kipling. Por fim Raul de Oliveira, director do Mundo Desportivo, evocaria o legado desportivo do homenageado.

Desportista completo, praticou futebol, tiro, equitação, ténis, ciclismo, remo, natação, entre outros. Nas suas próprias palavras, Félix praticou "todas as modalidades. Acentuadamente algumas.". E foi campeão em futebol, tiro, esgrima e atletismo. Apenas...

(http://i63.tinypic.com/2hz70nq.png)
Tiro, Esgrima, Hipismo, Ciclismo, Atletismo, Futebol. Eterno Bermudes.


Esta homenagem foi publicada num livro que tem disponível uma cópia digital de acesso livre: https://archive.org/stream/homenagemflixb00berm#page/26/mode/2up (https://archive.org/stream/homenagemflixb00berm#page/26/mode/2up)

Nele se pode ler este excerto:

Homenagem Félix Bermudes

Sociedade de escritores e compositores teatrais Portuguesa

Félix Bermudes fez, agora, oitenta anos. E, de tal modo este homem é obra sua, que dir-se-ia ser o seu aniversário decisão exclusiva da sua vontade... É um forte, que sempre respeitou os fracos; um vencedor, que nunca desdenhou os vencidos.

Foi — que o torna excepcional — um homem na sua integralidade. Dispôs até hoje de duas saúdes: a do corpo e a do espírito, de ambas nunca deixando de cuidar com meticulosidade.

E delas tirou um rendimento de que se deve orgulhar, pois de cada uma extraiu notoriedade.

Fisicamente, para o público, foi um grande desportista. Proezas suas: ganhou campeonatos de atletismo, de tiro, de esgrima e de futebol. Foi, com êxito, participante nos Jogos Olímpicos de Antuérpia (1920) [nota: na verdade não há registo de Félix Bermudes ter efectivamente participado nos jogos de 1920] e de Paris (1924), onde alcançou o 4° lugar na grande prova de Mestres Atiradores Internacionais à pistola, a 50 metros. Não se confinou num único desporto: tratou por tu a ginástica, o hipismo, o remo, o ciclismo, o alpinismo e o ténis.

Teatralmente, para o público, ocupou os palcos de todas as salas de espectáculos do País, durante dezenas de anos. No Teatro, como no Desporto, Félix Bermudes foi o mesmo homem; quer dizer, foi igualmente campeão...

Escreveu em colaboração, ou apenas com a sua assinatura, ora criando, ora adaptando, 105 peças de teatro.

Como não foi desportista de uma única modalidade, não foi, teatralmente, o autor encerrado na fronteira de um único género. A revista, a opereta, a farsa, a comédia e a mágica saíram dos bicos da sua pena em quantidade — e em qualidade. Pode dizer-se que, em regra, não escrevia peças — escrevia êxitos. Das revistas ficaram, entre outras, legendárias, pelo mérito e pelo êxito, «Sol e Sombra», «De Capote e Lenço», «Novo Mundo», «Torre de Babel» e «Lua Nova» ; das operetas, «O João Ratão», «J. P. C.» e «Pérola Negra» são modelares; das comédias, «O Conde Barão », «O Amigo de Peniche», «O Leão da Estrela», «A Bicha de Rabiar» e «Arroz Doce» viveram longa e intensamente. Transportados para o cinema «O João Ratão» e «O Leão da Estrela» figuram entre os melhores filmes portugueses. Numa noite, peças suas ocupavam os palcos de cinco teatros de Lisboa. Quer o desportista, quer o autor dramático, foram, com brilho, persistentes na criação de regras de convivência e de organismos de cooperação.

O desportista elaborou os estatutos da Associação de Futebol de Lisboa e fundou o Sport Lisboa e Benfica, ainda hoje, no género, a colectividade mais popular; o escritor teatral fundou e dirigiu agremiações da especialidade e, há 26 anos, preside aos destinos da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, e, há 20 anos, exerce o cargo, alto e honroso, de vice-presidente de Federações Internacionais de Sociedades de Autores e Homens de Letras.

É um homem que chegou, muito tarde, à velhice. Explica-se porquê: ganhava campeonatos aos 50 anos!

Até nos desaires foi vencedor: o «João Ratão», freneticamente pateado no coro de abertura, por culpa do encenador, teve 1.000 representações; a revista «Zig-Zag», apupada, mortalmente, na primeira sessão, ressuscitava na segunda, para acabar longeva!

A sua obra de escritor inclui, publicados, volumes de versos e de novelas, bem como ensaios de filosofia política e de filosofia espiritual, que marcaram pelo desassombro e pela serenidade austera. Compôs e traduziu vários poemas de conduta moral, entre os quais os «Versos Doirados dos Pitagóricos».

Mas o seu livro mais empolgante é «O Homem Condenado a ser Deus», em que desenrola um vasto e atraente sistema filosófico a demonstrar que, através de inúmeras quedas e incontáveis erros, o homem conserva intacta a centelha divina, a semente de divindade, que herdou do seu Criador. Ao cabo da longa jornada da evolução, cada ser humano, conquistada a perfeição como unidade de consciência, tornar-se-á um deus, na infância, mas à imagem e semelhança de seu Pai.

Félix Bermudes, que desmente, em actos e palavras a sua certidão de idade, se escrevesse um livro de recordações poderia, à imitação de um seu colega espanhol, intitulá-lo: «Memórias dos meus primeiros 80 anos»!...



No livro estão listadas as numerosas e famosas individualidades que tomaram parte neste acto de homenagem, ou a ele se associaram por carta ou telegrama:

Prof. Dr. Caeiro da Mata (Jurista, Reitor da Universidade de Lisboa); Dr. Olegário Mariano (poeta e Embaixador do Brasil); Dr. Augusto de Castro (advogado, jornalista, diplomata e político); Aníbal David (representante da Presidência da Câmara Municipal de Lisboa); Prof. Dr. Ferreira da Costa (político Brasileiro); António Eça de Queirós (filho do Escritor, político); Tenente-Coronel José Raposo Pessoa e esposa; Dr. Ivo Cruz (compositor musical); Prof. Dr. Henrique de Vilhena (médico, professor universitário, académico, escritor); Dr. Fernando de Paiva, representando o S. N. I.; Coronel Óscar de Freitas; Comandante Galeão Roma; Coronel Lobo da Costa; Ferreira de Castro (escritor); Prof. Dr. Ricardo Jorge (médico); Dr. Luís Cunha Gonçalves (político, deputado); Drs. Ramada Curto (advogado, escritor e político português) e José Galhardo (compositor musical); João Bastos (co-autor com Félix Bermudes e Ernesto Rodrigues de numerosas peças teatrais e de revista); Rui Coelho (compositor musical); Frederico de Freitas (compositor musical) e esposa; Carlos Selvagem (militar, jornalista, escritor, autor dramaturgo e historiador); Ascensão Barbosa (autor teatral); João Nobre (compositor musical); Aníbal Nazaré (compositor musical); Francisco Lage (dramaturgo); Venceslau Pinto (compositor musical); Dr. José Pontes (dirigente desportivo); Prof. Dr. Délio Nobre Santos (docente da Universidade de Lisboa) e esposa; Angel Tejada (político, legislador); Lopo Lauer (compositor musical); Palmira Bastos (actriz); Amélia Rey Colaço (actriz); Joaquim Leitão (escritor e jornalista); Manuel Fragoso (farmacêutico); Pavia de Magalhães (violinista, compositor musical); Virgínia Vitorino /dramaturga); Manuela de Azevedo (jornalista e escritora portuguesa); Fernanda de Castro (escritora); Dr. Álvaro de Lacerda e Melo (político, ex-ministro Agricultura); Fernando Fragoso (Cineasta); Carlos Leal (actor); Fernando Ávila (escritor); Senhora e Filha de Luís Galhardo; Dr.ª Maria Guilhermina Mota Carmo (Historiadora, Docente); Capitão Maia Loureiro; Alberto Barbosa (dramaturgo); Dr. Domingos Mascarenhas (escritor); Roberto Nobre (cineasta e pinto); Arnaldo Leite (dramaturgo); Artur Inês (jornalista); Vasco Santana (actor); Reis de Carvalho (pintor, desenhista e professor brasileiro); Teresa Gomes (actriz); Maria Lalande (actriz); Coronel Eduardo Libório; Armando Stichini Villela (arquitecto); Laura Alves (actriz); Adelina Campos (actriz); Mário Salvador; Major Ribeiro da Costa (ex-futebolista e ex-presidente do SL Benfica); Conde de Almarjão; Eduarda Lapa (pintora); Laura Chaves (escritora); Delfina Vitorino; Luís de Freitas Branco (compositor musical); Dr. Alberto Xavier (Docente Direito); Ruy d'Orey Lacerda e Melo; Laura Galhardo; Luís Schwalbach (Escritor, dramaturgo e jornalista); Amadeu do Vale (compositor musical); Assis Pacheco (médico); Lúcia Mariani; Alice Ogando (escritora); Arquitecto Jorge Bermudes (sobrinho de Félix e filho de Adães Bermudes); Armando Ferreira; António Palma; José Gamboa; Joly Braga Santos (compositor musical); Eng.° João de Figueiredo; Costa Mota; Cristiano Lima; Fernando Santos; Dr. João de Barros ; Frederico Valério (compositor musical); José Barahona (Cineasta), Dr. Norberto Lopes (jornalista e escritor); João Pereira da Rosa (jornalista, Director de "O Século"); João Ramos; Dr. F. Cunha Leão (escritor); Dr. Fernando Teixeira; Dr. José Duarte de Figueiredo (político); Augusto de Lima Mayer; Dr. Júdice da Costa; António Lopes Ribeiro (cineasta); Dr. Manuel L. Rodrigues; Francisco Ribeiro; Érico Braga (actor); Valentim de Carvalho (editor discográfico); Brito Chaves; António Duarte Montez (actor); Vasco Morgado (empresário teatral); Dr. José Lebre (Docente Direito); Robles Monteiro (actor); António Maria Pereira (advogado); Dr. Vasconcelos Carvalho; Max Azancot; Alexandre de Almeida; Carapinha; Frederico Burnay (banqueiro); Mário de Oliveira (jornalista e autor da História do SLB 1904-1954); Santos Carvalho; Silva Tavares (poeta); Álvaro Santos; João Ramos Filho; Álvaro de Andrade (jornalista e homem do teatro); Mário Barros; Cardoso Santos; Coronel Pessoa; Francisco Fialho; João Santos; Amadeu Monteiro; António Silva (actor); M. R. Soares Silva; Fernando de Carvalho; Laura Carvalho; Alma Flora (actriz); Saiu de Carvalho; Carlos Lopes; António Cruz; Horta; Stélio Gil (compositor musical); João Moura; José de Figueiredo; Pedro Cabral; Júlio Carvalho; Avelar Costa; Arnaldo Gomes.
Fizeram-se representar, além da Imprensa de Lisboa e Porto, entre outras, as seguintes colectividades: Sport Lisboa e Benfica, Lisboa Ginásio Clube, Sociedade de Tiro n°. 2, e Cooperativa dos Automobilistas Portugueses.

Ausentes mas com cartas enviadas e lidas durante a homenagem: Júlio Dantas (escritor e primeiro presidente do S. E. C. T. P.).

Também compareceram representantes de numerosas instituições internacionais tendo de outras sido recebidas missivas de homenagem, admiração e afecto, demonstrando relações pessoais de grande amizade e reconhecimento:

•   François Hepp (Chefe da Divisão do Direito de Autor da UNESCO)
•   René Jouglet (Secretário Geral da Confederação Internationale des Sociétés d'Auteurs et Compositeurs)
•   L. Boosey (Presidente da The Performing right Society, Ltd)
•   Marcel Poot (Presidente Société Belge des Auteurs, Compositeurs et Éditeurs «SABAM»)
•   Paulo Barbosa (Presidente da União Brasileira de Compositores)
•   Adolf Streuli (Société Suisse des Auteurs et Editeurs «SUISA»)
•   Philippe Pares (Le Président Société Pour L'Administration du Droit de Reproduction Mécanique des Auteurs, Compositeurs et Editeurs)
•   Rodolfo Mendiolea (Presidente Sociedad de Autores y Compositores de México)
•   Bénigme Mentha (Sociedad Argentina de autores y Compositores de Musica "SADAIC")
•   José Maria Contursi (Director Honorário de Bureau Internacional de Berne)
•   Charles Méré (Roder Ferdinand ilustre autor dramático. Presidente da Sociedade dos Autores Dramáticos da França)
•   Ilustre Autor Dramático, Presidente honorário da Sociedade dos Autores  Compositores Dramáticos da França e da Confederação Internacional das Sociedades de Autores Georges Auric (Presidente da Société des Auteurs, Compsiteurs et Éditeurs de Musique)
•   Luís Fernández Ardavin (Presidente da Sociedad General de autores de Espanha)
•   Marcel Henrion (Jurista Francês, consultor jurídico da Confederação e membro da comissão de legislação Francesa)
•   Valério de Sanctis (jurista do direito intelectual, delegado plenipotenciário da Itália às Conferências Diplomáticas do direito de autor)
•   Emiel Hullebroeck (Presidente Honorário da «SABAM»)
•   Marcel Boutet (Presidente da Association littéraire et artistique Internationale, fundada por Víctor Hugo)
•   J. Van Nus (Advogado, Director das Sociedades Holandesas BUMA e STEMRA)
Muitas outras individualidades associaram-se telegraficamente à homenagem estiveram Fernandez Ardavin, Moreno Torraba, Calvo Sotelo, Joracy Camargo, Wiessing, Jon Leips, Aldo de Beneditti, Osvaldo Santiago, Mandillo Saviotti. E ainda: Pondu (Madrid) e Acum Admon.



Eterno Bermudes. Glória Benfiquista, Glória das artes. Homem vertical. À Benfica!
(http://i67.tinypic.com/2me94co.png)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Janeiro de 2016, 20:10
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O poço dos nossos adversários.

Campo das Amoreiras, 26 de Abril de 1936.
Alinhada para a fotografia fica imortalizada uma grande equipa Benfiquista onde pontificavam alguns dos mais brilhantes jogadores de sempre do Glorioso. Estava prestes a disputar-se o jogo contra o Sporting. Jogo decisivo na caminhada para o título.

(http://i65.tinypic.com/2vsotbb.png)
Da esquerda para a direita: Cândido Tavares (1935-1938), Rogério de Sousa (1932-1940), Gustavo Teixeira (1931-1940), Francisco Gatinho (1930-1937), Gaspar Pinto (1934-1947), Francisco Albino (1933-1945). Em baixo: Domingos Lopes (1933-1939), Luís Xavier (1931-1939), Vítor Silva (1927-1937), Carlos Torres (1932-1937) e Alfredo Valadas (1934-1945). Ver também: http://serbenfiquista.com/team/19351936-seniores-futebol/sl-benfica-0 (http://serbenfiquista.com/team/19351936-seniores-futebol/sl-benfica-0)

Disponibilizada pelo Senhor Xávi, neto da grande Glória e Saudade Benfiquista Luís Xavier, no seu pequeno mas excelente blogue http://osvermelhos.blogspot.pt/ (http://osvermelhos.blogspot.pt/) em que partilha memórias da sua infância, génese do seu Benfiquismo. É autor de outros blogues de grande qualidade. Um agradecimento pela partilha dessas bonitas memórias. Está lá também uma outra fotografia mais tardia e da qual terei também o prazer falar no próximo texto.

(http://www.madridista.hu/web/hirkepek/honlapelemek/edzok/4.jpg)

A nossa equipa era liderada por Lippo Hertzka (19 Novembro 1904 – 14 Março 1951) que uns anos antes tinha sido treinador do Real Madrid, Real Sociedad, Sevilha, entre outros.

Iniciamos o campeonato em 12 de Janeiro de 1936 com uma vitória sensacional contra o Vitória de Setúbal em casa por 5-3. Sem contarmos com Alfredo Valadas, extremo esquerdo que teria uma grande importância no resto do campeonato, conseguimos impor a nossa lei. A perder por 1-0, golo de Francisco Rodrigues, nosso futuro goleador, conseguiríamos reagir empatando por Luís Xavier. Mas antes do final da 1ª parte nova vantagem vitoriana com golo de João Cruz. No arranque da 2ª parte empatamos por Domingos Lopes e passaríamos para a frente com golo de Guedes Gonçalves que jogava no lugar de Valadas. E seria o pequeno GG que marcaria o 4º golo para por fim Vítor Silva selar a nossa vitória. O sadino Rendas faria ainda o terceiro para o Setúbal. Alucinante.

Mas na semana seguinte formos às Salésias perder com o Belenenses por 1-3 em que o golo de Carlos Torres foi insuficiente para parar o poderio belenense. Nesse jogo o Benfica não pode contar com três habituais titulares: Luís Xavier, Domingos Lopes e Alfredo Valadas.

Esta derrota foi complicada de digerir pois logo a seguir teríamos uma deslocação complicada ao Porto. Ali no Campo do Ameal, mostramos carácter, empatando com o FCP por 2-2. Começamos bem com dois golos um de Luís Xavier e outro de Vítor Silva mas não conseguimos vencer pois no final da primeira parte contra a corrente do jogo o FCP lá conseguiu empatar o jogo. E assim se manteria o marcador até final da partida.

Nova deslocação desta vez a Coimbra onde no Campo de Santa Cruz conseguiríamos uma folgada vitória por 6-2 num jogo em que Valadas marcou 4 golos sendo os restantes da autoria de Domingos Lopes e de Rogério Sousa.

(http://i67.tinypic.com/jf97ar.png)
Jogo no Campo de Santa Cruz conta a Associação Académica de Coimbra.

E para acabar essa série terrível fomos jogar ao Campo Grande, nessa altura ainda ocupado pelos viscondes ganhar por 4-2. Dois golos a fechar a primeira parte deram uma vantagem que seria selada no final do jogo. Jogo que teve várias escaramuças. Uma vitória espectacular no campo do adversário até à altura líder do campeonato. Vitória selada com a veia goleadora de Valadas que marcou mais dois golos tendo os restantes sido marcados por Vítor Silva e por um autogolo leonino. Com esta vitória a liderança do campeonato passou do SCP para o Vitória de Setúbal.

A nossa linha atacante estava endiabrada e a vítima seguinte foi o Boavista que levou 8-2 nas Amoreiras num jogo disputado em difíceis condições atmosféricas. Dois golos marcados pelo inevitável Valadas, dois por Luís Xavier e Carlos Torres, um de Vítor Silva e outro de Rogério de Sousa. Na jornada seguinte recebemos o Carcavelinhos e ganhamos por 2-1, concretizando uma reviravolta no marcador depois de termos estado a perder. Marcaram Alberto Cardoso e Vítor Silva. Com este jogo terminava a primeira volta estando o Benfica e o SCP empatados na liderança da classificação.

Na jornada seguinte, a começar a segunda volta, fizemos uma deslocação difícil a cidade do Sado para empatar a três bolas com o Vitória de Setúbal. Luís Xavier, Torres e um autogolo sadino não chegaram para vencer no velho campo dos Arcos. Nessa jornada dar-se-ia um exótico FCP 10 – SCP 1. Não me enganei, foram mesmo dez a um! Um jogo em que o SCP ficou sem o seu guarda redes (o nosso antigo jogador Dyson) e que como se vê pelos números os verdes foram absolutamente massacrados.

No jogo seguinte recepção ao Belenenses com um resultado raro para esse tempo 0-0. Nessa época o Belenenses revelou-se um adversário difícil. Apesar disso continuávamos à frente com um avanço de um ponto para o SCP e dois para o FCP. Felizmente a veia goleadora regressaria à equipa na jornada seguinte quando recebemos e despachamos o FCP por 5-1. Dois golos de Vítor Silva e de Carlos Torres e um de Luís Xavier. Ao intervalo já vencíamos por 4-0. Mas as oscilações continuavam pois na jornada seguinte fomos à Tapadinha jogar com o Carcavelinhos onde não fomos além de um novo empate a zero. Dominamos amplamente e o Carcavelinhos respondeu com dureza e a intensidade de jogo próprias dos alcantarenses. Este empate fez com que passássemos a partilhar a liderança do campeonato com o FCP. Uma decepção, pois aproximava-se um jogo decisivo com o SCP.

E assim na jornada seguinte, num jogo de nervos recebemos e vencemos a Académica. Logo no início do jogo uma grande contrariedade. Uma lesão traumática impediu que o nosso guarda-redes Cândido Tavares continuasse em campo. Não havendo lugar a substituições a baliza foi ocupada por Vítor Silva! Logo no início do jogo o nosso maior goleador foi para a baliza! Mas mesmo em inferioridade numérica a nossa equipa foi para a frente e com tenacidade e garra conseguiu no final ganhar o jogo por 3-1, fruto de dois golos de Carlos Torres e um de Valadas. Seguir-se ia o jogo do título. Na recepção ao Sporting a espada estava sobre a cabeça das duas equipas e do FCP que estava à espreita. Se vencêssemos seria-mos campeões.

(http://i68.tinypic.com/n3q3bt.png)

E seria Valadas o homem decisivo do dérbi! Valadas só à sua conta esmagou o SCP no nosso campo das Amoreiras ao marcar um hat-trick a Azevedo! Valadas, o mesmo homem que que anos antes tinha sido desprezado no clube dos viscondes, tornou-se nosso jogador e aplicou uma dose aos verdes que selou a nossa conquista do campeonato. Não admira que se tornasse Benfiquista de coração.

Já com o título no bolso fomos na jornada seguinte ao Porto, para no estádio do Lima empatarmos a duas bolas com o Boavista. Carlos Torres de penalti e Luís Xavier marcaram para a nossa equipa. Mas tudo estava garantido já desde a semana passada.

(http://i66.tinypic.com/11j856f.png)

Honra e glória aos nossos campeões! Foram 14 jogos, com 8 vitórias, 5 empates e 1 derrota, 46/23 em golos. À Benfica!

E já agora uma versão com menor resolução mas colorida da fotografia com que começamos o texto.

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Glória e honra aos campeões e atletas que integraram o plantel: Cândido Tavares, Gustavo, Gatinho, Albino, Gaspar Pinto, Luís Xavier, Valadas, Domingos Lopes, Rogério de Sousa, Vítor Silva, Carlos Torres, Fernando Cardoso, Raúl Baptista, Pedro da Conceição, Francisco Costa, Amaro, Guedes Gonçalves, Paduco e Manuel de Oliveira.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Janeiro de 2016, 20:26
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Ora festeje lá outra vez!

(http://i67.tinypic.com/2iuqft1.png)
Alguns campeões de 1936/1937. Da esquerda para a direita (a condirmar): Valadas, António Vieira, Luís Xavier, Barbosa, Fernando Cardoso, Gaspar Pinto, NN, Espírito Santo, Guedes Carvalho, Albino e Cândido Tavares.

Não querendo fazer do relato das conquistas dos nossos campeonatos a norma deste tópico, a existência de uma notável fotografia leva-me a fazer o mesmo para a conquista do campeonato de 1936/1937. Penso, ainda não tenho ainda a certeza, que se trata de uma fotografia dos festejos dessa época.

O início dessa época seria desde logo assinalado pela tristeza do abandono de Vítor Silva. Ainda relativamente novo uma lesão que hoje em dia seria facilmente resolvida pela medicina desportiva acabou por forçar o fim da sua carreira desportiva. Mas no Benfica a perda de um grande jogador significa o aparecimento de outro. Saiu Vítor Silva entrou Guilherme Espírito Santo. Assim a 13 de Setembro Vítor Silva teve a merecida festa de homenagem num festival de futebol e atletismo no Campo das Amoreiras (ver nº -53- "Dois entre doze").

(http://2.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/TTjB6BJhMqI/AAAAAAAAFUg/XTUKusWIhzk/s1600/VS009.jpg)
Fonte: Vedeta ou Marreta
(http://2.bp.blogspot.com/-4hdgHK4UPpg/TqzZwq4ay8I/AAAAAAAAApI/tjDkeYWiZRI/s640/SLB.jpg)
Um ídolo que chegava. Guilherme Espirito Santo um goleador que marcaria uma época. Brilhante sucessor do não menos brilhante Vítor Silva. Fonte: Em Defesa Do Benfica

A perda de Vítor Silva tornava moderada a expectativa de um eventual sucesso na Liga que se iniciava. E começamos bem com uma vitória no Campo dos Arcos sobre o Vitória de Setúbal por 2-1. Nesse jogo Alcobia alinhou no lugar de Albino e mostrou algumas dificuldades. A perder por 0-1, Valadas assistiria Espírito Santo para o empate quase ao findar da primeira parte. E seria já na segunda parte que o novato Espírito Santo selou a nossa vitória uma vez mais depois de um remate de Valadas.

Seguir-se-ia uma recepção ao Carcavelinhos que resultou num robusto 5-1. Já com Albino na equipa, seria Espírito Santo a abrir o marcador tendo depois Rogério de Sousa marcado dois golos, Luís Xavier e Valadas um cada. Curiosamente que as críticas sobre a falta de um avançado centro continuavam. A memória de Vítor Silva ainda estava fresca e Espírito Santo ainda estava a ambientar-se à equipa. Antes como agora é preciso ter paciência...

Mas mais robusto ainda seria a vitória na semana seguinte por 10-2 sobre o Leixões. Num Campo das Amoreiras alagado seria curiosamente a equipa matosinhense a adaptar-se melhor na primeira meia hora. Depois o Benfica impôs-se e faria cair uma enxurrada de golos sobre os matosinhenses. Rogério de Sousa só à sua conta marcou cinco golos (dois de grande penalidade), Valadas marcou três, Luís Xavier e Albino um cada.

Com tanta veia goleadora a vítima seguinte foi o SCP. Uma sensacional vitória no Campo Grande, campo dos verdes. Na estância de madeiras, nosso futuro estádio, marcou inicialmente Espírito Santo e logo no minuto seguinte Rogério de Sousa. Valadas faria depois o terceiro golo Benfiquista colocando o score em 3-0. Reagiria o SCP com um golo de Mourão antes de terminar a 1ª parte. Mas na segunda parte continuaria a pressão Benfiquista que foi ainda selada com mais um golo de Rogério de Sousa a selar um triunfo indiscutível.

Na jornada seguinte entramos mal em Coimbra sofrendo um golo da Académica mas depois viria a reviravolta com um golo de Domingos Lopes e outro de Rogério de Sousa ainda antes do final do primeiro tempo. Na segunda parte manter-se-ia inalterado o marcador.

Na semana seguinte tivemos casa cheia nas Amoreiras para ver a vitória por 2-0 frente ao Belenenses. Golos de Espírito Santo e Rogério de Sousa ainda no primeiro tempo.

Só que logo a seguir veio a deslocação ao campo da Constituição no Porto em que sofremos uma derrota por 1-2 contra o FCP. Marcamos primeiro por Espírito Santo mas depois os portistas conseguiram a reviravolta. O Benfica mostrou no entanto personalidade tendo atacado com persistência. Apesar da derrota continuamos a liderar a classificação geral.

De volta às Amoreiras no início da segunda volta esmagamos o Vitória de Setúbal por 8-1. Três golos do inevitável Rogério de Sousa, dois de Espírito Santo, um de Albino, Valadas e de Domingos Lopes. Depois viria uma deslocação à Tapadinha para uma nova vitória por 3-1. Dominamos amplamente mas só na segunda parte se veriam os golos. Marcou primeiro o Carcavelinhos mas depois veio a reviravolta com golos de Luís Xavier e Espírito Santos por duas vezes.

A vítima seguinte foi o Leixões que levou seis em pleno estádio do Mar. Augusto Amaro passou a ser o guarda redes ganhando o lugar ao habitual titular Cândido Tavares. A nossa poderosa linha atacante marcou mais seis golos. Foram autores os do costume, Rogério de Sousa por três vezes, Espírito Santo por duas e Valadas por uma.

E claro, a seguir viria mais um despacho em grande estilo. Mão cheia ao SCP! Ganhamos por 5-1 na nossa recepção aos verdes. Os golos vieram todos na segunda parte. Marcaram Espírito Santo por duas vezes, Rogério de Sousa, Luís Xavier e Alfredo Valadas. Depois desta jornada seria o Belenenses a ascender à segunda posição com a nossa equipa destacada na liderança.

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Fonte: Em Defesa do Benfica.

Na jornada seguinte fomos a Coimbra e derrotamos a Académica por 3-1. Começaram melhor os estudantes que marcaram primeiro. Empataria ainda no primeiro tempo Espírito Santo. Na segunda parte Valadas e por fim Espírito Santo dariam a vitória às nossas cores. Jogo difícil mas importante pois o Belenenses não desarmou vencendo o seu jogo contra o FCP. Tínhamos três pontos de avanço e faltavam duas jornadas. Mas na jornada seguinte teríamos justamente uma deslocação a Belém.

E correu mal. Ante cerca de 20.000 pessoas o Benfica foi derrotado nas Salésias por 1-0. O jogo foi correcto tendo antes do seu início sido efectuada a cerimónia de inauguração do relvado das Salésias, o primeiro em Portugal.

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As equipas e Direcções do Sport Lisboa e Benfica (esquerda) e Clube de Futebol "os Belenenses" alinhadas antes do início do jogo. Manuel da Conceição Afonso intervém num discurso, homenageando o clube de Belém liderado por Francisco Mega.

O presidente do Benfica Manuel da Conceição Afonso ofereceu uma águia em estojo ao presidente do CFB, Francisco Mega. Deveria ser sempre assim. Os dois clubes deveriam ter melhor relação pois partilham o mesmo berço. é pena que tradicionalmente o CFB tenha melhor relação com o FCP do que com o seu irmão de berço.

No campo, apesar de um jogo equilibrado, o CFB acabou por estar melhor pois concretizou uma oportunidade. Isto apesar do golo apontado por Varela Marques ter resultado de uma grande penalidade discutível. Apesar disso o Belenenses ganhou com justiça, relançando o campeonato. No final apenas um ponto separava as duas equipas. Continuávamos à frente mas na última jornada tudo se decidia frente o FCP. Felizmente que o jogo era no campo das Amoreiras.

E se havia que vencer assim aconteceu. E já agora sem deixar dúvidas. Foi servida meia dúzia de golos sem resposta. Acabamos o campeonato a dar 6-0 ao FCP! Dois auto golos portistas a abrir e fechar o marcador e pelo meio mais quatro golos, um de cada um dos nossos goleadores de serviço: Rogério de Sousa, Espírito Santo, Valadas e Luís Xavier. À Benfica!


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No final do jogo houve lugar a invasão pacífica de campo embora a GNR não se tenha apercebido disso (onde é que eu já ouvi isto?). Houve carga policial e  por isso algum sururu. Mas os ânimos acabaram por serenar.

A Taça de Campeão Nacional seria entregue pelo presidente da FPF, Dr. Cruz Filipe no Estádio das Salésias no Domingo seguinte, dia dia 9 de Maio de 1937. Nesse dia jogou-se um Lisboa 2 – Porto 1 onde jogaram os nossos jogadores: Gustavo, Gaspar Pinto, Albino e Valadas.


(http://i62.tinypic.com/2hrlfrr.jpg)
O Dr. Cruz Filipe entrega a Taça de Campeão Nacional ao Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Manuel da Conceição Afonso. De óculos, está também presente o Dr. Virgílio Paula, médico de profissão, ligado ao CF Belenenses e à AFL mas que foi nosso jogador no tempo de Cosme Damião.

Honra e glória aos nossos campeões! Foram 14 jogos, com 12 vitórias e duas derrotas, 57/13 em golos. À Benfica!

(http://i67.tinypic.com/soobpk.png)
Os Campeões de 1936/1937, fotografia tirada em 9 de Maio de 1937. Em cima, esquerda para a direita: Guilherme Espírito Santo (1936-1950), Luís Xavier (1931-1939), Rogério de Sousa (1932-1940), Alcobia (1936-1945), Gustavo Teixeira (1931-1940) e Cândido Tavares (1935-1938). Em baixo: Domingos Lopes (1933-1939), António Vieira (1936-1940), Gaspar Pinto (1934-1947) (com a Taça), Alfredo Valadas (1934-1945) (com a bola), Francisco Albino (1933-1945) e João Correia (1930-1938).
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 19 de Janeiro de 2016, 01:17
Apenas um breve apontamento do que foi a cerimónia de entrega do troféu da Liga, no intervalo do Lisboa-Porto:

(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/slb/recortes/370509-slb.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Janeiro de 2016, 09:16
Citação de: Rodolfo Dias em 19 de Janeiro de 2016, 01:17
Apenas um breve apontamento do que foi a cerimónia de entrega do troféu da Liga, no intervalo do Lisboa-Porto:

(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/slb/recortes/370509-slb.png)


Obrigado Rodolfo. Nesse tempo a relação etre os dois clubes era - aparentemente . muito boa. O Benfica ofertou uma águia em estojo aquando da inauguração do relvado das Salésias. Não admira estavam dois presidentes notáveis de cada lado. Manuel da Conceição Afonso, extraordinário presidente do Benfica - um dos melhores da noss História e Francisco Mega, presidente do Beleneneses. Tirado dos site oficiais dos dois clubes:


(http://www.slbenfica.pt/Portals/0/Images/Presidentes/Presidente14_Manuel%20da%20Conceic%C3%A3o%20Afonso.jpg)

(http://www.osbelenenses.com/home/wp-content/uploads/2014/07/mega.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 21 de Janeiro de 2016, 19:16
Sempre em grande forma, RedVC. É um gosto ler o teu tópico.

Quando puderes actualiza o índice na 1ª página, por favor. Às tantas perco-me no que li e no que ainda não li.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Janeiro de 2016, 20:08
Citação de: Lorne Malvo em 21 de Janeiro de 2016, 19:16
Sempre em grande forma, RedVC. É um gosto ler o teu tópico.

Quando puderes actualiza o índice na 1ª página, por favor. Às tantas perco-me no que li e no que ainda não li.

Obrigado Lorne  O0

Está actualizado. Estava actualizado na página 22.

Gostava que tivesse ligações mas não consigo perceber como definir o link para cada post.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 21 de Janeiro de 2016, 21:54
Citação de: RedVC em 21 de Janeiro de 2016, 20:08
Citação de: Lorne Malvo em 21 de Janeiro de 2016, 19:16
Sempre em grande forma, RedVC. É um gosto ler o teu tópico.

Quando puderes actualiza o índice na 1ª página, por favor. Às tantas perco-me no que li e no que ainda não li.

Obrigado Lorne  O0

Está actualizado. Estava actualizado na página 22.

Gostava que tivesse ligações mas não consigo perceber como definir o link para cada post.

Sem dúvida que com ligações directas aos textos na 1ª página ia ser muito útil, mas como percebo pouco disto não te posso ajudar nesse aspecto.

Mas expõe a tua questão aqui:

http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=2847.6585
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Janeiro de 2016, 10:36
-85-
Gloriosas compras na pátria do futebol.

Belém, 9/03/1907. Manuel Gourlade procura concluir uma encomenda à casa Frank Sugg Ltd. com sede na cidade de Liverpool, Inglaterra. Gourlade, tesoureiro do Clube, tinha iniciado a transacção em Fevereiro de 1907 e para garantir a conclusão do processo declara no documento ter enviado o "resto em estampilhas fiscais".

(http://i68.tinypic.com/25tapt3.png)
Fonte: Museu Cosme Damião

Entre Fevereiro e Março de 1907, o Sport Lisboa encomendava seis bolas e uma bomba para as insuflar. Tratava-se de uma compra fundamental para a actividade do Clube. O total da encomenda ascendia a 3.56 libras (se não estou em erro), despesa pesada para cofres modestos.

Nessa época as bolas eram um objecto caro e com grande desgaste (atendendo aos terrenos). Existe aliás um documento datado de Março de 1904 que atesta um pagamento de sessenta Reis a um sapateiro por coser uma bola. Por outro lado há notícia de uma bola mandada fazer, presumivelmente em Belém, que não sendo de material adequado inchava com a água da chuva até atingir proporções desadequadas para a prática do futebol. Assim, as encomendas a Inglaterra eram inevitáveis para o nosso Clube.

(http://i62.tinypic.com/or4fgl.png)
Manuel Gourlade, fundador e tesoureiro do Sport Lisboa (1904-1908). Fonte: AML

E a propósito desta transacção comercial vou hoje abordar de forma breve alguns aspectos interessantes do que já era a indústria do desporto na pátria do futebol no início do século XX. Comecemos pela Frank Sugg Ltd. Não tenho uma imagem da loja de Liverpool onde Gourlade encomendou as seis bolas e a bomba mas podemos ter uma ideia desse local a partir de um esboço que fazia parte de um folheto promocional.

(http://i68.tinypic.com/142dn5x.png)

A Frank Sugg Ltd. era uma prestigiada casa comercial de artigos de desporto que tinha um catálogo importante. O negócio do futebol tinha já um volume importante e levava décadas de evolução na velha Albion.

(https://kjellhanssen.files.wordpress.com/2015/11/frank-sugg-1900-1901.jpg?w=1000&h=499&crop=1)
(https://kjellhanssen.files.wordpress.com/2015/11/frank-sugg-1892-1893.jpg?w=567&h=597&crop=1)
(https://kjellhanssen.files.wordpress.com/2015/11/frank-sugg-1899-1900.jpg?w=389&h=594&crop=1)
Fonte: http://playupliverpool.com/ (http://playupliverpool.com/)


A empresa tinha sido fundada por dois irmãos, dois eméritos jogadores de cricket e futebol: Walter e Frank Sugg.

(http://i63.tinypic.com/2rw88lc.png)
Os irmãos Walter 21 Maio 1860, Ilkeston, Derbyshire - 21 Maio 1933, Dore, Yorkshire e
Frank Howe Sugg (Ilkeston, Derbyshire, 11 Janeiro 1862 - Waterloo, Liverpool, Lancashire, 29 Maio, 1933) e Walter Sugg (Ilkeston, Derbyshire, 21 May 1860 – Dore, Yorkshire, 21 May 1933)


Dos dois, Frank foi talvez o mais destacado. Foi um futebolista e um jogador de cricket de primeira classe. No futebol jogou no Sheffield Wednesday, Derby County (1884-85), Burnley (1884-88), Everton (1888) e Bolton Wanderers. Foi aliás capitão de equipa nos três primeiros clubes desta lista. Frank Sugg para além de jogar num dos clubes de Liverpool (Everton FC), também terá sido amigo do Liverpool FC sendo muito provavelmente o fornecedor de camisolas nos primeiros 10-20 da sua existência (fonte: http://playupliverpool.com/1905/09/09/frank-suggs-shop-on-fire/ (http://playupliverpool.com/1905/09/09/frank-suggs-shop-on-fire/)). Sinais de que era também um empresário inteligente...

(http://i68.tinypic.com/30wuiag.jpg)
Frank Sugg, futebolista.


De notar que esses clubes eram alguns dos colossos do futebol Inglês dessa época. Senão, atente-se neste parágrafo da wikipedia referente à formação da Football League em 1888.

********************************************************************
The first meeting was held at Anderton's Hotel in London on 23 March 1888 on the eve of the FA Cup Final.[11] The Football League was formally created and named in Manchester at a further meeting on 17 April at the Royal Hotel.[11] The name "Association Football Union" was proposed by McGregor but this was felt too close to "Rugby Football Union". Instead, "The Football League" was proposed by Major William Sudell, representing Preston, and quickly agreed upon.[8] Although the Royal Hotel is long gone, the site is marked with a commemorative red plaque on The Royal Buildings in Market Street. The first season of the Football League began a few months later on 8 September with 12 member clubs from the Midlands and North of England: Accrington, Aston Villa, Blackburn Rovers, Bolton Wanderers, Burnley, Derby County, Everton, Notts County, Preston North End, Stoke (renamed Stoke City in 1926),[12] West Bromwich Albion and Wolverhampton Wanderers.
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Football_League (https://en.wikipedia.org/wiki/The_Football_League)
********************************************************************

Walter Sugg, irmão mais velho de Frank, foi igualmente um bom jogador de cricket. Em 1888, justamente no ano de fundação da Football League, os dois irmãos tiveram visão empresarial e abriram uma loja de artigos desportivos na cidade de Liverpool, na 32 Lord Street, com saída para a 10 North Street.

(http://i.telegraph.co.uk/multimedia/archive/02184/22-John-St-1908_2184539k.jpg)
Lord Street, cerca de 1908. Fonte: http://www.liverpool-city-group.com/


Durante 12 anos, de 1894 a 1905, os dois irmãos publicaram um periódico anual de referência o Sugg's Cricket Annual. Mas para além do cricket, a propósito de um interessante folheto promocional percebe-se que o negócio abrangia a venda de material desportivo para muitas mais modalidades. E assim, em 1914 o negócio tinha-se expandido de forma a tornarem-se líderes de mercado contando com mais algumas lojas em Leeds, Sheffield e Cardiff.

(http://i67.tinypic.com/1zfiete.png)
Folheto promocional das lojas Sugg.

Mais tarde, aparentemente por divergências comerciais, os dois irmãos seguiriam caminhos diferentes e negócios separados. Walter terá querido diversificar enquanto Frank queria permanecer apenas no material desportivo. Walter sediou a HBB Sugg Ltd. em Sheffield enquanto Frank sediou a Frank Sugg Ltd. em Liverpool. Na década de 20 os ventos mudaram mas a Sugg, já sem a gestão da família Sugg, manter-se-ia em operação até ser definitivamente encerrada em 2002. Fecharam 11 lojas e perderam o emprego 118 pessoas.

(http://i68.tinypic.com/jfkr48.png)
As lojas Sugg em Lincolnshire, Sheffield e Nottingham.

A propósito desta actividade comercial, atentemos em algumas curiosidades que nos permitem perceber como o negócio do futebol na Inglaterra do início do século XX já justificava uma imprensa dedicada e florescente.

(http://pbs.twimg.com/media/CGaE1xXW8AEUKvW.jpg)

Justificava igualmente a produção industrial de bolas e de outros produtos comerciais para a prática do futebol. Os Ingleses inventaram o futebol mas também a indústria, a publicidade e imprensa associadas ao futebol. Fica aqui uma imagem de uma fábrica onde em 1905 eram produzidas bolas de futebol à escala industrial:

(http://i66.tinypic.com/14v33om.png)

e as respectivas redondinhas:
 
(http://i63.tinypic.com/dxfj1s.jpg)
Imagem de uma típica bola de futebol na primeira década do Séc. XX. Á esquerda a bola carregada por Cosme Damião num jogo na Quinta da Feiteira em 1910.

E para concluir como começamos, um outro exemplo de como o nosso Sport Lisboa tinha já activos contactos e transacções com lojas da pátria de futebol. Em 26/10/1904, Gourlade manifestava estranheza pela demora de satisfação de uma encomenda feita à casa Gamage em Holborn Street, Londres:

(http://i63.tinypic.com/316xf68.jpg)
Telegrama enviado por Manuel Gourlade, Rua de Belém 147 (morada da Farmácia Franco) aos armazéns Gamage de Londres estranhando a demora na satisfação da encomenda do Sport Lisboa. Fonte: Sport Lisboa e Benfica.

(https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/23/29/ce/2329ceb2be90406558cce925cc0bb4e9.jpg)
(https://oldbike.files.wordpress.com/2010/06/1897_gamages.jpg)
Armazéns Gamage, na Holborn Street, Londres.

(http://i65.tinypic.com/2psndiu.png)
Catálogos dos armazéns Gamage, Holborn Street, Londres. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/26/Association_Football_and_How_to_Play_It_(1908)_by_John_Cameron.djvu/page93-2248px-Association_Football_and_How_to_Play_It_(1908)_by_John_Cameron.djvu.jpg (https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/26/Association_Football_and_How_to_Play_It_(1908)_by_John_Cameron.djvu/page93-2248px-Association_Football_and_How_to_Play_It_(1908)_by_John_Cameron.djvu.jpg)

(http://i65.tinypic.com/2z5j1o0.jpg)
Catálogo de futebol dos armazéns Gamages, princípio do séc. XX
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 26 de Janeiro de 2016, 14:16
Sabes se a nota de encomenda das seis bolas que mostras logo no início do post está na posse do Benfica?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Janeiro de 2016, 14:21
Citação de: Lorne Malvo em 26 de Janeiro de 2016, 14:16
Sabes se a nota de encomenda das seis bolas que mostras logo no início do post está na posse do Benfica?

Museu Cosme Damião  :cool2:

(http://i66.tinypic.com/nlamuh.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Janeiro de 2016, 14:22
Esqueci-me é claro de colocar a fonte. Por vezes passa-me. Bem notado Lorne  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 28 de Janeiro de 2016, 19:10
Redvc, obrigado por partilhares essas histórias todas conosco. Grande fonte de informacao e um belo trabalho.
Excelente!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Janeiro de 2016, 21:15
Citação de: alfredo em 28 de Janeiro de 2016, 19:10
Redvc, obrigado por partilhares essas histórias todas conosco. Grande fonte de informacao e um belo trabalho.
Excelente!

Obrigado alfredo! O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Janeiro de 2016, 15:49
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Um inesperado Glorioso.

Na edição de 25 de Setembro de 1917 o prestigiado periódico madrileno "El Heraldo Deportivo" numa das suas secções regulares "Cronicas Portuguesas", assinado por Manuel Nogareda, fazia a evocação de Arthur dos Santos, um prestigiado professor e promotor do desporto em Portugal.

(http://i68.tinypic.com/iqap9l.png)
Fonte: El Heraldo Deportivo (Madrid). 25 Setembro 1917.


E nessa muito justa evocação, veio um detalhe que desconhecia: Arthur dos Santos foi um formador também no Sport Lisboa e Benfica!

(http://i65.tinypic.com/4q33vs.png)
Fonte: El Heraldo Deportivo (Madrid). 25 Setembro 1917.


A propósito desta colaboração com o Glorioso, porque o desporto em Portugal não é só o Benfica e porque o Benfica não é só desporto mas também Cultura, vamos aproveitar para falar de Arthur dos Santos. Falaremos da sua acção, principalmente no Ginásio Clube Português.


(http://i65.tinypic.com/2i9nzt2.png)
Arthur dos Santos (1874-1959)

Da sua tentativa para cultivar o gosto pelo jogo do pau, de que foi iniciador o saudoso Pedro Augusto, um excêntrico do seu tempo, alguma coisa fructificou também e a Escola Académica conta hoje no número dos seus professores Arthur dos Santos, discípulo directo de Pedro Augusto e seu sucessor no Real Gymnasio." "Ilustração Portugueza" Nº98 p727 – 18 de Setembro de 1905. Fonte: https://onjogodopau.wordpress.com/tag/artur-dos-santos/


Arthur dos Santos é hoje um nome hoje quase esquecido mas na sua época foi um homem prestigiado e um verdadeiro pioneiro do desporto em Portugal. A sua acção de pedagogo do desporto decorreu como não poderia deixar de ter acontecido nessa Instituição de enorme importância que é o Ginásio Clube Português.

Nascido um ano antes da fundação do Ginásio Clube Português, Arthur dos Santos foi uma das maiores figuras daquela prestigiada instituição. Não tendo eu conhecimentos suficientes nem sendo o local para fazer uma pequena história dessa magnífica Instituição, ainda assim ficam alguns elementos.


Ginásio Clube Português (GCP)

O Ginásio Clube Português (GCP) é uma Instituição de grande mérito para a implementação de hábitos de prática de desporto.

Como consta do Artigo 1º do Capítulo I: O GINÁSIO CLUBE PORTUGUÊS (G.C.P.) é um Clube com grandes tradições no campo da ginástica portuguesa, pioneiro de diversas modalidades desportivas, distingu-se no campo do pleno amadorismo, rege-se pelos mais altos valores éticos do desporto, contribui para uma correcta formação da juventude e desempenha um papel notável no desenvolvimento desportivos do País.

Como se percebe, ao longo dos 140 anos da sua existência, o GCP promoveu e continua a promover os mais altos valores do desporto e da sã convivência entre os desportistas. O registo histórico de vários episódios da sua enorme contribuição pode ser visto aqui: http://www.gcp.pt/gcp/historia-e-patrimonio/momentos-historicos/1870-1879 (http://www.gcp.pt/gcp/historia-e-patrimonio/momentos-historicos/1870-1879)


(http://i68.tinypic.com/23m1u9e.png)
Ginásio Clube Português, passado. Fonte: digitarq

(http://i66.tinypic.com/67pf77.png)
Ginásio Clube Português, presente. Fonte: http://www.gcp.pt/media/galeria-de-fotos-e-videos (http://www.gcp.pt/media/galeria-de-fotos-e-videos)


O Ginásio Clube Português (http://www.gcp.pt/ (http://www.gcp.pt/)) foi fundado em 18 de Março de 1875. Como aliás é detalhado no site oficial: "1875 - Fundação por Luiz Maria Monteiro da Costa, do Ginásio Clube Português, num pequeno palacete na Carreirinha do Socorro em Lisboa.

(http://i68.tinypic.com/sqh0et.png)
Luiz Maria Monteiro da Costa. O grande mentor da fundação do Ginásio Clube Portuguez. Fonte: Tiro Civil.

O grupo inicial era composto por 24 amigos de Luís Monteiro, todos amadores, rapazes amantes dos exercícios de força e dos perigos da ginástica acrobática."

(http://i84.photobucket.com/albums/k39/nop57751/Jose%20Luis%20Monteiro/JLMRealGinasioPT1883.jpg)

A instituição é detentora dos seguintes troféus e condecorações (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gin%C3%A1sio_Clube_Portugu%C3%AAs (https://pt.wikipedia.org/wiki/Gin%C3%A1sio_Clube_Portugu%C3%AAs)):

- Taça Fearnley
- Taça Olímpica
- Colar de Honra ao Mérito Desportivo
- Colar de Valor, Mérito e Bons Serviços da Federação de Ginástica de Portugal
- Comendador da Ordem Militar de Cristo (27 de Outubro de 1934)
- Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública (20 de Maio de 1935)
- Comendador da Ordem de Benemerência (27 de Março de 1945)
- Medalha de Honra de Mérito Desportivo
- Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa
- Medalha de Ouro da Federação Portuguesa Col. Cultura e Recreio
- Membro-Honorário da Ordem do Infante D. Henrique (3 de Julho de 1975)
- Sócio de Mérito da Federação de Ginástica de Portugal


Os Homens

Vem de longe a tradição do GCP ter homens prestigiados e comprometidos com a prática do desporto, bem formada, bem dirigida, dinâmica e saudável. Já se falou do fundador, mas muitos outros homens em gerações sucessivas, deram contribuição decisiva e renovaram a instituição mantendo as bases e valores.


(http://i66.tinypic.com/dorimr.png)
Real Gimnásio Clube Portuguez. "Direcção e sócios que tomaram parte no último sarau". Arthur dos Santos é o primeiro da esquerda em pé. Fonte: Tiro e Sport, nº 329, 30 Abril 1906.


Arthur dos Santos fez parte de uma terceira ou quarta geração do GCP. Uma geração de grande qualidade onde se incluíram outros professores prestigiados como Walter Awata (natação e ginástica), César de Mello (luta greco-romana, futebol e esgrima), Pedro Del Negro (esgrima e futebol), Manuel da Silveira (halterofilismo), António Martins (esgrima) e muitos, muitos outros.

Muitos foram ainda pupilos de Luís Maria de Lima da Costa Monteiro o dinâmico e notável fundador do Ginásio Clube Português. Como disse Homero Serpa esses homens ajudaram o GCP a compor um sólido e competente corpo docente. Com essa base o GCP assumiu a vocação de um sólido e prestigiado instituto de educação física.

O Ginásio clube Português foi juntamente com o Clube Lisbonense um dos pioneiros da prática do futebol organizado em Portugal. A primeira apresentação formal de um jogo de futebol terá acontecido em 1891. Nessa última décade do Século  XIX de entre os diversos grupos que praticavam o football destacavam-se três, o Carcavellos, o Lisbonense e o GCP. ficaram célebres os jogos disputados na Quinta Nova em Carcavellos e nos terrenos do Campo Pequeno. O GCP foi portanto um dos introdutores do futebol em Portugal, interessando pouco a discussão de quem foi efectivamente o primeiro.

(http://3.bp.blogspot.com/-AAshEWHfWMQ/Vjya1PWQpuI/AAAAAAAAfw0/U4PkBjceq2A/s1600/Campo%2BPequeno.jpg)

No entanto e mesmo havendo predisposição para a prática do futebol, a modalidade acabou por não vingar no GCP por falta de um campo adequado. E assim tão naturalmente como começou o futebol extinguiu-se no GCP. Fiel aos princípios de desporto amador e formativo, o GCP floresceu na sua nobre, dedicada e persistente acção da promoção do desporto em Portugal, dedicando-se a muitas outras modalidades.

Arthur dos Santos foi essencialmente um desportista e um pedagogo. Foi uma dessas "formiguinhas" competentes e dedicadas que formou e motivou gerações de jovens e adultos para passo a passo ajudar a implementar no nosso país hábitos de actividade física e desportiva. Um país que estava indolente, amorfo e atrasado em dezenas de anos relativamente aos países Europeus mais avançados. Com excepção de pequenos núcleos como a Casa Pia, era de todo desconhecido benefício da prática da actividade física.

Apenas as classes mais altas compreendiam e praticavam algumas modalidades.
Também eram aquelas que tinham mais tempo disponível e dinheiro para os equipamentos necessários para essa prática. Ainda assim a Lisboa conservadora e puritana olhava com desconfiança para essas modernices e estrangeirices.

Havia que fazer uma revolução de mentalidades e sensibilizar a juventude para um outro modo de vida. E o Ginásio Clube Português trouxe essa revolução. Lentamente nas escolas, liceus e Clubes, pela sua acção ajudou a mudar esse quadro.

Aqui vemos Arthur dos Santos com uma classe de estudantes do Liceu Passos Manuel


(http://i64.tinypic.com/2iuvukx.png)
Equipa do liceu Passos Manuel durante um campeonato escolar disputado no velódromo de Palhavã em 15 de Julho de 1909. A equipa vencedora com o professor Arthur dos Santos, treinador na luta de tração. Fotografia Joshua Benoliel. Fonte: AML.


O Jogo do Pau

(http://i66.tinypic.com/2ykaof8.png)
Caricatura de Arthur dos Santos.
Fonte: Tiro Civil nº 251 de 15 de Janeiro de 1903

O Jogo do Pau foi uma das maiores contribuições de Arthur dos Santos, tendo sido sucessor da Pedro Augusto na instrução dessa modalidade no Ginásio Clube Português. Como se diz no site da Federação Nacional do Jogo do Pau Português / Esgrima Lusitana : A "Esgrima Lusitana" ou "O Jogo do Pau" é uma esgrima portuguesa que se desenvolveu devido a necessidades reais de combate e auto-defesa".


(http://i66.tinypic.com/ivek4o.png)
Os alunos do professor Arthur dos Santos no Ginásio Clube (circa 1910). Fonte: http://jogodopau.tumblr.com/post/32190526919/os-alunos-do-professor-artur-dos-santos-no-gin%C3%A1sio

Nessa época o Jogo do Pau praticado nas cidades tinha um sistema de graduações:
Iniciado: laço;
Grau médio: lenço;
Avançado: gravata;
Mestre: casaco e direito a se sentar ao centro.

Desde cedo que a prática do Jogo do Pau ganhou adeptos e praticantes tendo aliás sido dados saraus para o público. E não apenas em Lisboa.

(http://i67.tinypic.com/35c3oup.png)
1- Anúncio de Sarau do Real Ginásio Clube Português no Coliseu de Lisboa. 2- O Jogo do Pau numa exibição feita por discípulos de Arthur dos Santos em Abril de 1906 em Vila Franca de Xira. Fonte: http://jogodopau.tumblr.com/post/39785939365/in%C3%ADcio-do-jogo-do-pau-no-gin%C3%A1sio-clube-portugu%C3%AAs

Sempre com a preocupação da formação e de sessões de divulgação

(http://i65.tinypic.com/axnsjc.png)
Grupo de esgrima de pau da Escola Académica, orientado pelo mestre Arthur dos Santos. "Tiro e Sport": 1- "Sports Atléticos no Velodromo de Lisboa" -15 de Julho de 1909; 2- "A festa da Escola Académica em favor das victimas do terramoto do Ribatejo" -20 de Junho de 1909; 3- "Festa escolar académica" -15 de Junho de 1907. Fonte: https://onjogodopau.wordpress.com/tag/artur-dos-santos/

(https://onjogodopau.files.wordpress.com/2013/03/tumblr_mk09n1gmfu1r4tjm5o5_12801.jpg?w=1000&h=&crop=1)
O jogo do pau ou esgrima Portuguesa nos dias de hoje. Fonte: onjogodopau.wordpress.com

A contribuição do Professor Arthur dos Santos demonstra como o nosso Clube desde muito cedo se preocupou em promover a prática do desporto, o eclectismo e a formação de atletas e homens. Os nossos dirigentes cedo viram no Clube a necessidade e vontade de ter um papel social, formativo e pedagógico.

E assente nessa prática e na sua Portugalidade, o Benfica tornou-se cada vez mais popular, mais socialmente comprometido, mais associado ao desenvolvimento harmonioso da nossa sociedade e aos valores da sã convivência entre os homens. E em meu entender, é isso devidamente mesclado com a ambição, com os valores estabelecidos pelos fundadores e pelos pioneiros dos primeiros anos que torna o nosso Clube tão especial e tão querido de milhões de pessoas pelo mundo. Sendo um símbolo da Portugalidade o Benfica é reconhecido e admirado em todo o mundo.  

Para os adeptos, ainda e sempre, a possibilidade de ter no Clube do seu coração um local para que os seus filhos possam praticar desporto é um dos pilares do Clube. Porque o Sport Lisboa e Benfica não é só futebol. O nosso Clube é ecletismo, é desporto nas suas vertentes competitivas e formativas. É um Ideal. É um orgulho para todos nós.

Pessoas como Arthur dos Santos trouxeram com o seu saber e dedicação pequenas mas importantes contribuições para o Ideal.

(http://i66.tinypic.com/s60ety.png)
Última fotografia que conheço do Professor Arthur dos Santos (segundo a contar da esquerda) visitando uma exposição em meados da década de 30. Ali na frente com um papel na mão está Vasco Rosa Ribeiro que foi Presidente do Sport Lisboa e Benfica em três mandatos, de 1933 a 1935 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=44552.0 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=44552.0)). Vasco Rosa Ribeiro foi também presidente do Ateneu Comercial de Lisboa,Fonte: Digitarq.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Fevereiro de 2016, 00:11
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As Terras das Salésias.

A ideia de falar nas Salésias surgiu depois de ver esta fotografia:

(http://www.abola.pt/img/fotos/ABOLA2015/FOTOSDR/PORTUGAL/salesias.jpg)
Campo das Salésias, Janeiro 2016. Fonte: jornal "A Bola".


Já por aqui falamos muitas vezes desse lugar mítico: as Salésias. Berço do Sport Lisboa, berço do Futebol Português.

As Salésias do Sport Lisboa:
Terras do Desembargador (1903-1908)

No final do Século XIX, numerosos jovens das famílias mais endinheiradas de Lisboa deixaram de ter um local de eleição para a prática do futebol. Com a construção da Praça de Touros do Campo Pequeno perdiam-se dois (precários) campos de futebol. Esses terrenos tinham sido intensamente usados durante alguns anos depois da introdução do futebol em Portugal (dito de forma simplista...) por Guilherme Pinto Basto, por volta de 1888. Algures por 1892 a situação mudava e havia que encontrar alternativas.

(http://1.bp.blogspot.com/-WUCE48Z-s0w/UmoJI-69XDI/AAAAAAAAKgo/2kPnMtInEvs/s1600/Campo+Pequeno.jpg)
Campo Pequeno, 1892. Os últimos dos pioneiros do futebol nas cercanias do Campo Pequeno. Já depois da construção da Praça de touros. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Nessa época o jogo era ainda essencialmente praticado por miúdos das classes mais altas da sociedade Lisboeta. Mas isso iria mudar justamente com a mudança progressiva do vórtice do incipiente futebol Português para a zona de Belém.

Ora, para lá dos vastos areais de Belém, nas cercanias de onde hoje é o Centro Cultural de Belém, as Salésias tinham vantagens para a prática do futebol. Era um terrenos vasto e relativamente plano mas que tinha o grande problema de ser um local público frequentemente utilizado pelos militares para treinos de cavalaria e exercícios militares.

(http://i66.tinypic.com/98u61v.jpg)
Belém por volta dos anos 20. Esquerda: vista aérea mostrando os vastos descampados e areais de Belém. Direita: treinos de cavalaria nas Terras do Desembargador às Salésias. Fonte: AML.

Mas, enquanto foi possível, por ali começaram a acontecer intensas e competitivas futeboladas, que foram evoluíndo para treinos mais ou menos organizados. As Terras do Desembargador às Salésias foi o local em que o nosso clube elegeu para os seus treinos - mais de 20 - durante o anos de 1904.

(http://1.bp.blogspot.com/-Wwn-sUn22sQ/UmoApXfCQMI/AAAAAAAAKf0/k3M3d2AlNOY/s1600/17.+Treino+nas+Sal%C3%A9sias.jpg)
Treino (?) entre jogadores do Sport Lisboa e Casa Pia (?). Futeboladas nas Salésias ou melhor as Terras do Desembargador às Salésias! Fonte: Em Defesa do Benfica.

E por ali se jogaram os primeiros jogos de futebol à séria!

(http://4.bp.blogspot.com/-rQkTnzvruIo/VgB4Jj0q8YI/AAAAAAAABgc/03xERDJoWP8/s1600/Sal%25C3%25A9sias.jpg)
Fase de jogo entre o Sport Lisboa e o Clube Internacional de Futebol disputado nos terrenos das Terras do Desembargador às Salésias. Provavelmente datada de 1907. Vê-se José da Cruz Viegas e lá ao fundo Emílio de Carvalho. Lá ao fundo a Igreja da Memória na Ajuda. Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa

(http://4.bp.blogspot.com/-0v_ptENUBLc/VOUAhd7qO0I/AAAAAAAAUfI/YhGdaauu-h0/s1600/SEGUNDA%2BCATEGORIA.png)
A única fotografia conhecida de uma equipa do Sport Lisboa alinhada nos terrenos das Terras do Desembargador às Salésias. Entre outros, vestido de branco estava o Glorioso Manuel Gourlade. Lá ao fundo o Palácio Nacional da Ajuda. Fonte: Arquivo Municipal de Lisboa


Na verdade o campo das Salésias usado pelo Sport Lisboa não era situado no mesmo local em que depois o CFB construiu o seu campo, que mais tarde passou a chamar Estádio José Manuel Soares Soares em homenagem ao malogrado Pepe.

As nossa Salésias situam-se num local próximo mas distinto.

As Salésias do Clube de Futebol "os Belenenses":
Estádio das Salésias, depois Estádio José Manuel Soares (1928-1955)

Quando foi fundado em 1919, o CFB teve um campo de recurso, o Campo do Pau do Fio. Assim se chamava porque junto à linha divisória do terreno de jogo estava colocado... um poste telegráfico. Uma situação ridícula só possível de acontecer nessa época. Era o que havia...


(http://1.bp.blogspot.com/-hy1O5os6-ro/VBIqZ7DZqAI/AAAAAAABgPU/rERocbDq-hc/s1600/A%2B01.jpg)
(http://1.bp.blogspot.com/-tr84yDtrq-k/Ucn73UhkCyI/AAAAAAAAIoQ/Oa-g8KCTJ_A/s1600/Campo+do+Pau+do+Fio.jpg)
Campo do Pau do Fio, situado na Rua Vieira Portuense. Foi o 1º campo do CFB.

Depois, o CFB que nasceu modestamente acabou por beneficiar de ter filhos de Belém que eram seus sócios e eram influentes quer nas esferas políticas quer nas militares. Homens como Francisco Reis Gonçalves, Virgílio Paula e João Luís de Moura (figura importante do início do antigo regime que chegou a ser governador civil de Lisboa). O CFB conseguia assim algo que o Sport Lisboa tinha tão duramente tentado fazer duas décadas antes. Algo que, porque fracassado, acabou por levar o Clube a sair da zona de Belém e ir procurar soluções para... Benfica.

Movidas influências o novo clube conseguiu autorização para concretizar uma velha aspiração dos filhos de Belém, ou seja que lhe fosse permitido instalar-se num terreno descampado perto do mítico lugar das Terras do Desembargador.

Nascia assim o Estádio das Salésias

(http://www.osbelenenses.com/home/wp-content/uploads/2014/06/salesias.jpg)
(http://www.zerozero.pt/img/geral/299164_med_.jpg.jpg)


O Estádio das Salésias foi inaugurado no dia 29 de Janeiro de 1928, num encontro com o Carcavelinhos para o campeonato de Lisboa.

Mais tarde, em 21 de Junho de 1931, foram inauguradas bancadas em cimento armado.

As Salésias eram o Estádio Nacional daquele tempo, pois o Estádio era dotado de um ervado que os outros clubes não tinham. Ali jogava a Selecção Nacional e ali se jogavam os jogos mais importantes. Ali se jogou a 25 de Junho de 1939 primeira final da Taça de Portugal (vencida pela Académica de Coimbra sobre o Sport Lisboa e Benfica). Ali decorriam todas as provas oficiais da Associação de Atletismo de Lisboa. Nesse tempo apenas o Estádio do Lima (Porto) tinha também um ervado).

(https://lh4.googleusercontent.com/-mvX7YLwWyXE/TYuRqiCeG9I/AAAAAAAAJBA/8RRGNdtkh1Q/s640/Bel%25C3%25A9m-Ben..-1.jpg)
Enchente no Estádio das Salésias. Belenenses x Benfica. Reconhecem-se Rogério "Pipi", Feliciano, Miguel Di Pace, Rosário e lá ao fundo Matateu.

Mas em Maio de 1946, depois de se sagrar campeão de Portugal (único título de campeão dos azuis do Restelo) e depois de um pedido do CFB para fazer obras de beneficiação os azuis foram surpreendidos. A Câmara Municipal de Lisboa notificou o Belenenses de que só poderia dispor das instalações desportivas das Salésias por mais seis anos, findos os quais teria de abandoná-las! Uma bomba nas Salésias.

A construção do novo Estádio do CFB tornou-se pois uma imposição. Mas uma vez mais a vitalidade e as influências do Restelo responderam para erigir um novo e muito belo projecto, a construção do Estádio do Restelo.

(http://photos1.blogger.com/blogger/7381/1317/1600/tomas_cfb.jpg)
O Almirante Américo Tomaz e Francisco Reis Gonçalves. dois eméritos sócios do Clube de Futebol "os Belenenses. O primeiro foi Presidente da República e o segundo foi décadas antes fundador do... Sport Lisboa.

Mas mesmo antes da mudança para o novo estádio, as Salésias testemunhariam ainda um dos episódios mais dramáticos da vida do CFB.

(http://2.bp.blogspot.com/_4Hk34uI16RE/SYI0d3WObvI/AAAAAAAABp4/NDvrhZya1gM/s400/Belenenses+-+Sporting+-+1954-55.jpg)
Fonte: ultrasfuriaazul1984.blogspot.com


Finalmente no ano seguinte, o bonito Estádio do Restelo seria inaugurado com pompa e circunstância a 23 de Setembro de 1956.

(http://4.bp.blogspot.com/_f0gNcV3US7g/Ss5TiW5yAFI/AAAAAAAAGkk/dgR3SVK2NpU/s640/Colagens.jpg)
Inauguração do Estádio do Restelo em 23 de setembro de 1956. Fonte: Belenenses ilustrado.

Ironicamente, o Estádio do Restelo apesar da sua beleza e grandiosidade acabou por coincidir com o início do declínio Belenense. Talvez porque o projecto foi megalómano e as dívidas foram danosas para o futuro do clube; talvez porque se perdeu a ligação à parte mais popular de Belém; talvez porque em termos sociais a zona de Belém estagnou; talvez porque o SCP e o SLB iam crescendo cada vez mais em sócios e pujança financeira; talvez até... por questões místicas. Talvez por tudo isso. Com alguns lampejos de grandeza o CFB nunca mais teve o carisma e grandeza dos anos 30 e 40.

A hipótese mais mística é aliás muito curiosa. Acaba por se harmonizar bem com a tradição e lenda das Salésias. As Salésias eram de facto um lugar místico e talvez o abandono significasse a perda do grande Belenenses. Para os mais sensíveis a essas questões talvez tenha sido isso mesmo que aconteceu. Talvez o actual regresso às Salésias seja uma espécie de regresso às origens. Talvez seja apenas nostalgia da grandeza perdida. Talvez seja algo mais.

Por tudo isso as Salésias representam um lugar de enorme carga para os azuis e para o futebol Português. ali ao lado foi o berço do Sport Lisboa, depois Sport Lisboa e Benfica. Ali ao lado foi o berço do Clube de Futebol "os Belenenses". Ali ao lado foi o berço do Casa Pia Atlético Clube. Tantos e tão importantes foram os factos históricos relevantes para o futebol e para o desporto Português.

Agora temos esta boa notícia:

(https://pbs.twimg.com/media/CZ6wMbXXEAEHoy1.png) (http://www.osbelenenses.com/home/wp-content/uploads/2016/01/salesias_26jan_site.jpg)
Fonte: Clube de Futebol "os Belenenses"

Obras nas Salésias decorrem a bom ritmo.

O projeto de requalificação do Campo das Salésias, o primeiro campo de futebol em Portugal, que tinha sido expropriado ao Belenenses em 1956, é uma das bandeiras do mandato do presidente do clube Patrick Morais de Carvalho. Um mês depois de afirmar ao nosso jornal que as obras estariam concluídas no primeiro trimestre de 2016, o Belenenses publicou imagens nas redes sociais onde é possível ver que a requalificação decorre a bom ritmo.

«A requalificação das Salésias era uma velha aspiração de todos os belenenses, por todo o peso histórico deste campo. Parecia uma missão impossível, mas, contra tudo e todos, é agora uma realidade», dissera Patrick a A BOLA, a 22 de Dezembro de 2015, apontando o primeiro trimestre de 2016 como data para a conclusão das obras, cenário que é cada vez mais uma certeza.

Na fotografia publicada no facebook do clube da Cruz de Cristo, é possível ver que o recinto que irá servir para jogos/treinos das camadas jovens dos azuis do Restelo já tem um tapete de relva.
[/color]

Fonte: http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=595783 (http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=595783)

Depois de anos nisto:

(http://photos.wikimapia.org/p/00/00/43/16/08_big.jpg)
(http://www.osbelenenses.com/home/wp-content/uploads/2014/12/salesias_15dez_1.jpg)
(http://p3.publico.pt/sites/default/files/4_2013/00jmf--Campo-das-Salesias1-14052014.jpg)


São boas notícias. As Salésias vão deixar de ser um baldio, um desmazelo ultrajante às grandes memórias que lhe estão associadas, uma vergonha a céu aberto. Poderiam ter sido tornadas numa zona de evocação mas não. Talvez esta tenha sido a melhor solução. Em honra ao Glorioso passado as Salésias voltarão a ser um local de futebol, um lugar vivo com jovens a correr e a aprender a jogar futebol, a aprender a ser melhores pessoas. 

Parabéns ao CFB e à Camara de Lisboa (se estiver certo em pensar que a edilidade permitiu que o processo do CFB pudesse avançar)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2016, 14:52
Bem, mais uma para o pequeno mas ilustre clube de leitores dos textos deste tópico.



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"O Benfica saúda o Porto"

Dia 28 de Maio de 1952. Cidade do Porto.
Um avião cruza os céus da cidade invicta. Em terra, milhares de pessoas poder ler:

"O BENFICA SAUDA O PORTO".

(http://i66.tinypic.com/2rra0lx.jpg)
Uma imagem inesquecível. O avião cruza os ares do Porto. "O Benfica saúda o Porto". Quem iria aos comandos. Talvez o nosso José Bentes Pimenta? Fonte: Centro Português de Fotografia.


Outros tempos.
Nesse dia, o Futebol Clube do Porto inaugurava o seu "Estádio do Futebol Clube do Porto" que popularmente ficou para sempre conhecido por Estádio das Antas.
     

(http://i65.tinypic.com/20r49vm.jpg)
Dois cartazes alusivo à Inauguração do Estádio do Futebol Clube do Porto em 28 de Maio de 1952.


(http://i64.tinypic.com/21n1dap.jpg)
Bilhete da inauguração do Estádio das Antas. 80 escudos!



(http://i64.tinypic.com/2ytsi9h.jpg)
Estádio das Antas, inaugurado em 28 de Maio de 1952. Ainda se decorriam as obras nos acessos ao Estádio. Fonte: tribunaldasantas.com

Futebol Clube do Porto, clube fundado em 2 de Agosto de 1906 por José Monteiro da Costa (12 de Outubro de 1881 / 30 de Janeiro de 1911):

(http://2.bp.blogspot.com/-_zuh8bMiZnc/UkZ-4DV-mtI/AAAAAAAAO94/jk0jbpmzevc/s1600/Jose+Monteiro+da+Costa.jpg)
Fonte: Papoila Satitante
(http://i67.tinypic.com/2ed3y4g.jpg)
 

O FCP inaugurava o seu novo Estádio dando assim por finda uma odisseia que tinha passado por dois campos próprios (Campo da Rainha e Campo da Constituição) e a utilização de dois campos de outros clubes (Campo do Ameal, propriedade do Club Sport Progresso e o Estádio do Lima, propriedade do Académico FC) quando para jogos mais importantes necessitava de um campo melhor e com mais capacidade.

(http://i63.tinypic.com/2u7prht.jpg)
Os campos utilizados pelo FCP antes da inauguração do Estádio das Antas. Campo da Rainha (1913-1917); Campo da Constituição (1913-1917); Campo do Ameal (propriedade do Club Sport Progresso); Estádio do Lima (propriedade do Académico FC).

O Estádio foi inaugurado no mesmo dia em que a Ditadura Portuguesa, implantada em 28 de Maio de 1926, fazia 26 anos. Uma escolha de data certamente do agrado dos líderes políticos da época.


(http://i63.tinypic.com/2d0kvuh.jpg)
Dia de inauguração do Estádio das Antas, aspecto do exterior e interior do Estádio do lado da bancada coberta. Fonte: reflexaoportista.pt

No final da cerimónia de abertura e antes do grande jogo, o General Craveiro Lopes, Presidente da República de Portugal, desceu da tribuna VIP à pista para apor no estandarte, a Medalha de Mérito Desportivo. Depois passou a revista à guarda de honra formada por um batalhão de milícias da Mocidade Portuguesa.
 

(http://i66.tinypic.com/28nz4k.jpg)
Da tribuna VIP ao relvado, o General Craveiro Lopes condecorou o Futebol Clube do Porto com a Medalha de Mérito Desportivo.

Como era norma desses tempos, nas inaugurações de Estádios e nos aniversários dos clubes, as colectividades convidadas faziam-se representar com comitivas de atletas e dirigentes vestidas a rigor. Assim, em ambiente festivo, as comitivas desfilaram exibindo as suas cores e emblemas em sinal de cortesia ao clube anfitrião.


(http://i65.tinypic.com/2crkl8w.jpg)
Alinhamento das comitivas após o desfile.


O Sport Lisboa e Benfica fez-se representar com uma numerosa comitiva com atletas muitas modalidades.


(http://i67.tinypic.com/24diqf4.jpg)
Aspecto do alinhamento das comitivas. A nossa, bem numerosa, aparece em primeiro plano. Fonte: Centro Português de Fotografia.

Mas o convite do FCP ao Benfica pretendia que o nosso Clube não apenas se fizesse representar mas que levasse a sua equipa de honra para o primeiro jogo do novo Estádio.

A retribuição do nosso Clube fez-se com a cortesia e elegância que as boas relações existentes na altura entre os dois assim exigiam.

Depois do desfile da nossa comitiva e da amistosa saudação aérea, a nossa equipa de honra do futebol entrou no terreno de jogo à maneira Brasileira, com os jogadores a transportar uma bandeira do Futebol Clube do Porto.


(http://i68.tinypic.com/33y6qgj.jpg)
Aspecto da entrada da nossa equipa em campo para o grande jogo FCP 2 x SL Benfica 8. À frente o Capitão Francisco Ferreira. Atrás 6 jogadores do Benfica transportam a bandeira do FCP. Fonte: Centro Português de Fotografia.


(http://i65.tinypic.com/2ed77mo.jpg)
Diversos aspectos da inauguração do Estádio das Antas em 28 de Maio de 1952. O Avião com a saudação do SLB ao anfitrião; o alinhamento das comitivas; a entrada do FCP no terreno de jogo; um aspecto durante o FCP 2 x SLB 8. Fonte: Centro Português de Fotografia.

E depois viria o grande jogo.


(http://i66.tinypic.com/jpgb4k.jpg)
O Glorioso plantel que obteve uma inesquecível vitória por 8-2 sobre o FCP, na inauguração do Estádio das Antas.
De pé, esquerda para a direita: Bastos, Félix, Moreira, Artur Santos, Julinho, Francisco Ferreira, Cândido Tavares (tr.), Jacinto e Braúlio. Agachados: Fernandes, Corona, Rogério, a Taça!, José Águas, Arsénio, Rosário e Manero.

A nossa equipa alinhou com :

(http://i64.tinypic.com/1zxm92h.jpg)
A Gloriosa equipa que obteve uma inesquecível vitória por 8-2 sobre o FCP, na inauguração do Estádio das Antas.

Apesar de termos levado mais quatro jogadores (Braúlio, Jacinto, Manero e Julinho) não houve substituições. Marcaram pelo Sport Lisboa e Benfica: Arsénio (4 golos), José Águas (3 golos) e Rogério. Pelo FCP marcou Vital por 2 vezes. Para a história ficou Arsénio, marcador do primeiro golo de sempre no Estádio das Antas.

(http://2.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/Rq1A5s6U7CI/AAAAAAAAA54/inqi00tjZJc/s400/Sport+Lisboa+e+Benfica+-+1950-51+-+4+(Vencedores+Ta%C3%A7a+de+Portugal).jpg)
O mesmo onze aquando da conquista da Taça de portugal no ano anterior



A crónica do DL é clara em elogiar o bom jogo da equipa do Benfica e a falta de capacidade física e a balburdia organizativa revelada pela equipa do FCP. Nesses dias de inauguração a festa é frequentemente incompatível com a concentração e a boa capacidade competitiva de quem recebe. Foi assim dois anos depois no nosso próprio Estádio com o mesmo FCP. Mas na sua festa o FCP caprichou pela negativa.


(http://i63.tinypic.com/w02gia.jpg)
Três momentos inesquecíveis da entrega da Taça aos Benfiquistas. O General Craveiro Lopes alinhado abraça depois o grande capitão Benfiquista Francisco Ferreira. Depois os inesquecíveis Moreira e Arsénio levantam com dificuldade a enorme Taça sobre o olhar de Fernandes. Fonte: revista Plateia e Jornal "O Benfica".

A nossa equipa contava com grande nomes mas que já estavam em fim de carreira. Em 2-3 anos deixariam de jogar para se tornarem para sempre Saudades do nosso Clube: Francisco Ferreira, Julinho e Moreira, retiraram-se do futebol; Félix seria afastado da equipa e Rogério abandonaria por não querer abraçar o profissionalismo imposto após a chegada de Otto Glória.

De entre todos, estou certo que os mais emocionados terão sido Francisco Ferreira e Julinho. Tinham ambos contas passadas com o FCP. Francisco Ferreira, o popular Chico, capitão de equipa, homem de rija têmpera e grande Glória do SLB. De 1935 até 1938 usou as cores do FCP. Depois por falta de critério e estupidez dos dirigentes portistas, Francisco Ferreira discriminado no clube azul decidiu sair para o Benfica. E de águia ao peito, de 1938 a 1952 cobriu-se de glória. Nas Amoreiras primeiro e no Campo Grande, Chico fez-se Benfiquista. Pertenceu de forma notável a uma linhagem distinta de grandes capitães do Benfica. Uma carreira cheia de dias de glória e com o trágico incidente do Torino quase no seu final. Naquele dia 29 de Maio de 1952, no final do jogo, na cabina, diz-se que Francisco Ferreira anunciou que esse tinha sido o seu último jogo de águia ao peito. Os companheiros e dirigentes, inconformados conseguiram demove-lo. Mas fatalmente a Biologia acaba por se impor e assim Chico já não chegaria a jogar no novo Estádio da Luz, inaugurado no dia 1 de Dezembro de 1954. Ficou para sempre a Saudade de um capitão de fibra e talento que em boa hora se vestiu com a mais nobre de todas as camisolas.

Tal como ele, Julinho, o grande avançado centro veio da cidade do Porto, mas neste caso do Académico FC ou Académico do Porto, se quiserem. Antes de se tornar Benfiquista, os portistas bem tentaram a sua contratação. Julinho foi fiel à palavra dada e preferiu o grande Clube de Lisboa. Até o seu patrão portista lhe fez a vida negra. Mas Julinho era mesmo homem de palavra. E no Campo Grande deu alegrias múltiplas ao Benfiquistas. Foi um digno sucessor de Guilherme Espírito Santo. Goleador prodigioso, homem de enorme fibra, pertenceu a uma notável genealogia de goleadores. Nesse dia de 28 de Maio de 1952 Julinho, já veterano não chegou a jogar. Mas esteve presente e viveu essa enorme jornada no seio da equipa. Merecida recompensa para tão distinto jogador. Lá dentro já estava o seu sucessor, José Águas, o mais fino, elegante e letal dos avançados Benfiquistas. Alinhados depois da conquista da Taça, Águas posou bem à frente de Julinho.

O grande Águas tinha no seu lado esquerdo a enorme Taça entre ele e o grande Pipi. No seu lado direito estava o assombroso Arsénio, primeiro marcador de um golo nas Antas. Tanta Glória, tanta Saudade!

(http://i63.tinypic.com/21bkhmc.jpg)
A enorme Taça conquistada naquele dia 28 de Maio de 1952, agora exposta no Museu Cosme Damião.

(http://i68.tinypic.com/21mf5lc.jpg)
A edição do Jornal "O Benfica" do dia 31 de Maio de 1952. Uma capa à altura da vitória alcançada. Repare-se no cartaz no nariz do comboio "O Benfica saúda a laboriosa cidade Invicta".

Não há muito material disponível mas ainda assim um pequenos filme está disponível para visualização no youtube. Por azar o filme não tem imagens do jogo. Problemas com as câmaras certamente.

https://www.youtube.com/watch?v=6u3Em92BMeI (https://www.youtube.com/watch?v=6u3Em92BMeI)

Quem sabe se um dia deste não aparecerá um filme e fotografias de melhor qualidade daquele dia. Um dia de festa azul em que as Águias voaram alto.

Alto nos céus da cidade do Porto.

(http://i65.tinypic.com/vzahxh.jpg)




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 07 de Fevereiro de 2016, 01:34
Bom timing para o texto, a preparar já a recepção ao FCP. Era agradável espetar-lhes 8 novamente, mas já fico contente com 2 ou 3.  :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Fevereiro de 2016, 10:43
Obrigado Lorne  O0

Esta vitória de 1952 vale por ela só. Bem gostava de ter belas imagens a cores para podermos evocar este grande dia como ele merecia.

Mas sim esperemos que seja venhamos a ter uma grande vitória na próxima 6ª feira. Estamos francamente melhor mas isso em 90 minutos pode não valer de nada. Este campeonato está a ser uma boa disputa. Boa para que daqui a muitos anos alguém ande por aí a decifrar imagens a propósito de Jonas, Gaitán e Co.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2016, 09:30
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Outros Carnavais

1934, Avenida da Liberdade, Lisboa

Em dia de Carnaval desfilam os corsos carnavalescos pela Avenida. Desfilam diversas colectividades e agremiações: Casa Pia Atlético Clube, Futebol Clube Barreirense, Clube Atlético Campo de Ourique e Sport Lisboa e Benfica!

O cineasta Manuel Luíz Vieira (1885-1952) capta em filme esses momentos de folia. No nosso corso, entre os Gloriosos foliões aparece-nos na vanguarda um grupo de ciclistas com as bicicletas engalanadas. É pena não termos a cor para ver a exuberância do desfile. O filme é a preto e branco mas não esconde que o corso Benfiquista levou às ruas de Lisboa um enorme contingente de sócios e atletas cheio de vitalidade, alegria, festividade, enfim resumindo tudo, de Benfiquismo. Alguns desses ciclistas têm uma Águia ao peito. Orgulhosamente ao peito como era usual no equipamento dos nossos ciclistas daquele tempo. Aqui, de todas as idades, os nossos foliões ciclistas desfilavam com as suas bicicletas engalanadas. Em todos um sorriso de folia e a satisfação de fazer parte do corso do nosso Clube. Festa popular! Carnaval à Benfica!

Mais atrás um carro alegórico trazia mais alguns Gloriosos foliões. O carro estava decorado com Águias em sucessão que dão a ideia de um movimento ascensional. A Águia que voa!

Com a Águia no topo. Nos céus de Lisboa. De Lisboa para o Mundo.

(http://i68.tinypic.com/2zzi1kx.png)


Viva o Sport Lisboa e Benfica!


Foi assim o Carnaval de 1934. Aqui, em 2016, passados 82 Carnavais saúdam-se todos os Benfiquistas desse e de outros Carnavais.

Para quem quiser ver o filme todo:

http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=4931&type=Video (http://http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=4931&type=Video)

Realizado por Manuel Luiz Vieira (1885-1952)

(http://www.cinemateca.pt/getattachment/0d79f83a-4e9b-4a47-8a85-4e04e5775250/Manuel-Luis-Vieira-(1).aspx?maxSideSize=515)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Trezeguet em 10 de Fevereiro de 2016, 09:55
(http://i.imgur.com/Nc9okMA.jpg)

TDP de 81, 3 golos do Nené e 3 assistências de Shéu Han
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 10 de Fevereiro de 2016, 11:39
Que glorioso trabalho que vai para aqui. É delicioso ler estas "estórias" da nossa história e como bons benfiquistas, cruzam-se sem qualquer incómodo episódios de outros clubes.

Gosto muito de passar por aqui. Respira-se o Benfica no que mais puro há do benfiquismo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Fevereiro de 2016, 19:52
Citação de: Trezeguet em 10 de Fevereiro de 2016, 09:55
(http://i.imgur.com/Nc9okMA.jpg)

TDP de 81, 3 golos do Nené e 3 assistências de Shéu Han

Aaaah! Eu estive lá! Era criança. O meu Pai comprou-me uma pequena bandeira vermelha com o símbolo do Benfica bem no centro. Era de um tecido acetinado e tinha um pau de uma madeira leve, de forma quadrangular. Mesmo para criança. Como eu lamento não ter guardado essa bandeira até hoje. Aquando de um dos golos alguém ao meu lado tirou-me a bandeira tal era a alegria. Lembro-me de ter ficado com medo de não me devolverem. Mas não. Lá voltei eu para casa cheio de orgulho com a minha bandeira!

Desses tempos (talvez um pouco antes) lembro-me de ainda de um outro jogo no Estádio Nacional em que Portugal jogou contra a Noruega. Eu estava no peão por trás da baliza de Bento (acho que era o guarda-redes da selecção nesses dia). O golo foi marcado pelo Russo. Lembro-me de quando cheguei a casa e vi na televisão fiquei admirado pois foi um golo marcado muito mais longe do que me pareceu no campo. Outra coisa que me espantava era a mata onde se fazia os piqueniques e quando íamos para o Estádio subitamente passava-se da mata para as bancadas brancas. Num desses jogos também da polícia a cavalo.

Vou ver se há alguma coisa no youtube.

Doces, doces, doces memórias.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Fevereiro de 2016, 19:59
SL Benfica 3 FC Porto 1:

https://www.youtube.com/watch?v=r6mIjfm1RWk (https://www.youtube.com/watch?v=r6mIjfm1RWk)


Portugal 3 Noruega 1

https://www.youtube.com/watch?v=6W5SaNuhf-w (https://www.youtube.com/watch?v=6W5SaNuhf-w)

http://www.transfermarkt.pt/portugal_noruega/index/spielbericht/2258562 (http://www.transfermarkt.pt/portugal_noruega/index/spielbericht/2258562)

Só fixei o golo do Russo! Mas Néné esteve lá. Letal nos golos bem ao seu estilo. E com os calções branquinhos!

(http://2.bp.blogspot.com/-Ohe21mhQF9I/TV5hvTunRMI/AAAAAAAAEYI/oLVIKs9e5UY/s1600/Pt-Noruega_Estadio+Nacional+1979%25282%2529.jpg)

Guarda-redes:   Manuel Bento †

Defesa:   Artur Correia, Carlos Simőes, Humberto Coelho, Alfredo Murça

Médio:   António Frasco, Rudolfo Reis

Avançados:   José Alberto Costa, Fernando Gomes, Reinaldo, Tamagnini Nené

Treinador:    Mário Wilson


0:1, Georg Hammer, Noruega (10')
1:1, Artur Correia, Portugal (37')
2:1, Tamagnini Nené, Portugal (59')
3:1, Tamagnini Nené, Portugal (71')

(http://2.bp.blogspot.com/-WWH9lOqQ4l8/TepjQliL50I/AAAAAAAAHDA/sGW4X5fbLKg/s1600/anos70-Futebol-0014.jpg)

Não fazia ideia que tinha visto o Reinaldo a jogar ao vivo!  :cool2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 10 de Fevereiro de 2016, 21:05
Citação de: RedVC em 10 de Fevereiro de 2016, 19:52
Citação de: Trezeguet em 10 de Fevereiro de 2016, 09:55
(http://i.imgur.com/Nc9okMA.jpg)

TDP de 81, 3 golos do Nené e 3 assistências de Shéu Han

Aaaah! Eu estive lá! Era criança. O meu Pai comprou-me uma pequena bandeira vermelha com o símbolo do Benfica bem no centro. Era de um tecido acetinado e tinha um pau de uma madeira leve, de forma quadrangular. Mesmo para criança. Como eu lamento não ter guardado essa bandeira até hoje. Aquando de um dos golos alguém ao meu lado tirou-me a bandeira tal era a alegria. Lembro-me de ter ficado com medo de não me devolverem. Mas não. Lá voltei eu para casa cheio de orgulho com a minha bandeira!

Desses tempos (talvez um pouco antes) lembro-me de ainda de um outro jogo no Estádio Nacional em que Portugal jogou contra a Noruega. Eu estava no peão por trás da baliza de Bento (acho que era o guarda-redes da selecção nesses dia). O golo foi marcado pelo Russo. Lembro-me de quando cheguei a casa e vi na televisão fiquei admirado pois foi um golo marcado muito mais longe do que me pareceu no campo. Outra coisa que me espantava era a mata onde se fazia os piqueniques e quando íamos para o Estádio subitamente passava-se da mata para as bancadas brancas. Num desses jogos também da polícia a cavalo.

Vou ver se há alguma coisa no youtube.

Doces, doces, doces memórias.
tambem vi esse jogo no estádio,o sheu deu um autentico festival,anulou o frasco e parecia um polvo.
tres quartos do estadio eram de adeptos do benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 11 de Fevereiro de 2016, 10:11
Citação de: RedVC em 10 de Fevereiro de 2016, 19:59
SL Benfica 3 FC Porto 1:

https://www.youtube.com/watch?v=r6mIjfm1RWk (https://www.youtube.com/watch?v=r6mIjfm1RWk)


Portugal 3 Noruega 1

https://www.youtube.com/watch?v=6W5SaNuhf-w (https://www.youtube.com/watch?v=6W5SaNuhf-w)

http://www.transfermarkt.pt/portugal_noruega/index/spielbericht/2258562 (http://www.transfermarkt.pt/portugal_noruega/index/spielbericht/2258562)

Só fixei o golo do Russo! Mas Néné esteve lá. Letal nos golos bem ao seu estilo. E com os calções branquinhos!

(http://2.bp.blogspot.com/-Ohe21mhQF9I/TV5hvTunRMI/AAAAAAAAEYI/oLVIKs9e5UY/s1600/Pt-Noruega_Estadio+Nacional+1979%25282%2529.jpg)

Guarda-redes:   Manuel Bento †

Defesa:   Artur Correia, Carlos Simőes, Humberto Coelho, Alfredo Murça

Médio:   António Frasco, Rudolfo Reis

Avançados:   José Alberto Costa, Fernando Gomes, Reinaldo, Tamagnini Nené

Treinador:    Mário Wilson

Suplentes:
Fidalgo, Alberto, Laranjeira, Pietra e Jordão.


0:1, Georg Hammer, Noruega (10')
1:1, Artur Correia, Portugal (37')
2:1, Tamagnini Nené, Portugal (59')
3:1, Tamagnini Nené, Portugal (71')

(http://2.bp.blogspot.com/-WWH9lOqQ4l8/TepjQliL50I/AAAAAAAAHDA/sGW4X5fbLKg/s1600/anos70-Futebol-0014.jpg)

Não fazia ideia que tinha visto o Reinaldo a jogar ao vivo!  :cool2:

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Fevereiro de 2016, 15:17
-90-
Construtor de Catedrais

Hoje vamos fazer uma viagem longa. Vamos começar com uma Catedral. Literalmente.
A Catedral de Maputo, Sé da Arquidiocese de Maputo.


(http://i64.tinypic.com/2wm1bnp.png)
A Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Conceição em Lourenço Marques no seu aspecto actual e nos anos 50, poucos anos depois da sua inauguração.

É oficialmente designada como Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Conceição. A sua primeira pedra foi colocada em 29 de Agosto de 1936 e a sua conclusão e consagração ocorreu em 14 de Agosto de 1944, numa cerimónia celebrada pelo Cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa.

(http://i66.tinypic.com/2wh4c1t.png)
Notícia e imagens da cerimónia religiosa de consagração da Catedral de Lourenço Marques em 14 de Agosto de 1944. Em 4 de Julho durante as cerimónias de inauguração Marcial ainda esteve presente. Desconheço se Marcial nessa data ainda estava vivo e se esteve presente nessa cerimónia. Fonte: Artigo do Diário de Lisboa, 15 Agosto 1944, página 5 e fotografias de Madalena Barros (cortesia de José Manuel Dias).


Bela, airosa, a catedral é um edifício emblemático da cidade antiga capital Moçambicana de Lourenço Marques, actual Maputo. Está localizada na antiga Praça dos Paços do Concelho de Lourenço Marques, actual Praça da Independência. O edifício é um belo exemplo de Art Deco tendo uma altura interior de 16 m, e uma torre com 61 m de altura. A sua nave tem um comprimento de 66 metros e uma largura de 16 metros. Das suas notáveis características diz-se no sítio do Património de Influência Portuguesa (HPIP) da Fundação Calouste Gulbenkian:

O desenho desta igreja de planta basilical foi regido pela vontade de expressão formal dos seus elementos construtivos em betão armado: pilares e vigas salientes, lajes de cobertura em betão, cortiça e argamassa de cimento, paredes exteriores em blocos de betão com juntas aparentes. A expressividade estrutural, assim como o desenho e colocação axial do seu campanário, inspiram-se na Igreja de Notre Dame du Raincy, em Paris (1921-1923), de Auguste Perret, enquanto a cobertura abobadada remete para o anteprojeto da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa (1934-1938), de Pardal Monteiro. É um edifício marcante, de desenho entre o estilo art déco e um certo gosto monumentalizante, e contém obras dos artistas plásticos Francisco Franco, António Lino, Simões de Almeida, Leopoldo de Almeida e António Maia Ribeiro. (fonte: http://www.hpip.org/def/pt/AcercaDoHPIP/ApresentacaodoPortal (http://www.hpip.org/def/pt/AcercaDoHPIP/ApresentacaodoPortal))


(http://i68.tinypic.com/2qd4dqg.png)

Uma bela obra que foi construída segundo o projecto e a liderança do engenheiro Marcial Simões de Freitas e Costa.
(Lisboa 29/07/1891 - ? ?/?/1944)

(http://i63.tinypic.com/fw6a9c.png)

E é isso que nos interessa. Este é o "nosso" Marcial Freitas e Costa, extremo direito de uma das primeiras e das mais notáveis equipas da nossa história.

(http://i68.tinypic.com/11iiyyq.png)
Pequeno trecho de um livro que alude ao processo de construção da Catedral de Lourenço Marques a partir de uma memória descritiva deixada pelo próprio Marcial Freitas e Costa. Fonte: Google livros.


Marcial Freitas e Costa foi jogador de futebol, militar, e como se verá engenheiro ligado aos caminhos-de-ferro e a projectos diversos na cidade de Lourenço Marques. Era um homem culto, pragmático mas acima de tudo para o universo Benfiquista é de salientar que se tratou de um valoroso pioneiro da nossa Gloriosa história.


Nascimento e juventude

Marcial nasceu em Lisboa em 29 de Julho de 1891. Era filho de Luís Teodoro de Freitas e Costa e de Maria da Glória Simões de Freitas e Costa. O seu pai era médico, natural da cidade da Praia, Cabo Verde e filho de um farmacêutico daquela bonita cidade cabo-verdina. A sua mãe era natural do lugar do Carvalho no concelho de Penacova. Marcial, o irmão e os Pais moravam em Lisboa, na Calçada de São Francisco. Mais tarde a família mudou-se para a zona de Belém, possivelmente para uma casa na Rua da Junqueira.

(http://i68.tinypic.com/2qnbgx3.png)
Calçada de São Francisco, Lisboa. Fonte: AML

O jovem Marcial estudou no antigo Liceu Passos Manuel também designado por Liceu do Carmo pois na altura estava provisoriamente localizado no Largo do Carmo no antigo Palácio de Valadares. Apenas em 1911 se instalaria no actual edifício. Talvez por isso Marcial tenha tido Arthur dos Santos (de quem já aqui falámos) entre os seus professores. Sabemos também que cedo revelou apetência pelo futebol, dividindo-se entre a sua actividade futebolística no Sport Lisboa e no Liceu. Sabemos que participou no Campeonato Escolar de 1908/1909 como defesa à direita (ver foto em baixo).

(http://i63.tinypic.com/2e4m59z.png)
Antigo Liceu Passos Manuel quando ainda no Carmo. Foi este o Liceu frequentado por Marcial. Criado em 1836 por decreto do Ministro do Reino, Passos Manuel, o então Liceu Nacional de Lisboa passou por sete locais da cidade. Apenas em 1911 passaria para o actual local. Fonte: AML.


Jogador do Glorioso

Marcial fez parte da Gloriosa equipa do Sport Lisboa em 1906/07. Terá sido dos pioneiros nos treinos das Salésias mas não esteve entre os alinhados para o primeiro jogo em Janeiro de 1905. Seria ainda demasiado jovem. Aliás quando integrou a 1ª categoria do futebol do nosso Clube teria cerca de 16 anos. Tanto quanto se sabe jogou a extremo direito à frente do médio direito Fortunato Levy. Tal como este e como os irmãos Catataus, Marcial era um dos jovens, mesclando com a sua juventude a veterania dos Casapianos Couto, Carvalho, entre outros. Essa precocidade assentava certamente em que Marcial era bem constituído fisicamente e obviamente tinha de ter talento futebolístico para chegar à 1ª categoria. Nesse tempo as exigências a satisfazer por um jovem jogador eram muitas para ocupar um lugar na primeira categoria em vez de um veterano.

No tempo em que Marcial envergou o manto sagrado o número de jogos por época era pequeno. Para além disso os registos sobre os jogos de futebol eram escassos e por vezes não incluíam sequer uma ficha de jogo. Aconteciam vários jogos amigáveis que nem sequer eram registados. Sabe-se que Marcial foi titular da primeira categoria em 8 jogos de 1906/07. Não se pense que é pouco. Ser titular da 1ª categoria ao lado de nomes gigantes do meio futebolístico da época, veteranos de outros tempos indica bem qual era a sua valia futebolística. Por exemplo homens como Leopoldo Mocho, Félix Bermudes e Luís Vieira apenas jogavam na 2ª categoria. Cosme Damião e Marcolino Bragança apenas muito esporadicamente eram chamados por Manuel Gourlade à primeira categoria.

Pelo que nos diz Alberto Miguéns, Manuel Gourlade era metódico e organizado quando dirigia as equipas do nosso Clube. Chamava os melhores e para posições bem definidas. O Sport Lisboa tinha um óptimo conjunto de futebolistas Portugueses e por isso tinha capacidade para seleccionar os melhores. Marcial era um dos melhores.

A partir de 1907 verifica-se no entanto uma abrupta ausência de Marcial das nossas equipas. Apesar dessa ausência coincidir com a deserção de oito jogadores da nossa primeira categoria para o SCP, Marcial não foi um deles. Terá com certeza optado pela sua vida académica e profissional. Mas o interesse pelo futebol continuou presente e a sua ligação ao nosso Clube também, como a fotografia em baixo atesta. Voltaria a usar o manto sagrado alguns anos mais tarde mas já em categorias inferiores.

(http://i66.tinypic.com/5061xu.png)
Equipa do Sport Lisboa em 1906/07; Equipa Liceu Passos Manuel de 1908/1909 e 2ª categoria do Sport Lisboa e Benfica em 1910/11. Marcial está assinalado.
Fonte: AML, Tiro e Sport e Em Defesa do Benfica, respectivamente.

Para além disso sabe-se que Marcial fazia parte da lista de 54 sócios indicados pelo Sport Lisboa aquando da fusão com o Grupo Sport Benfica. Continuou assim comprometido com o Clube nessa sua nova etapa quando passou a chamar-se Sport Lisboa e Benfica.

(http://i63.tinypic.com/2j68p6b.png)
Lista dos 54 sócios do Sport Lisboa e Benfica que tinham transitado do Sport Lisboa em 1908. Marcial está indicado com o nº 255 e (presumo) seu irmão Joel (que presumo ser um erro devendo referir-se a Armel Freitas e Costa) tinha o nº 259. Fonte: CDI


Militar no Corpo Expedicionário Português

Em 1917, Marcial viria a integrar o Corpo Expedicionário Português à I Guerra Mundial. Como Alferes Engenheiro, embarcou no cais de Santa Apolónia para França em 26 de Maio de 1917. Regressou a Lisboa 4 de Agosto de 1919 por via terrestre. A data do regresso sugere a possibilidade de ter sido feito prisioneiro ou então de ter trabalhado na logística de apoio à guerra. Sabemos ainda que em Março de 1918 atingiu a patente de Tenente e que recebeu um Louvor pela sua competência e dedicação na sua missão junto da secção motorizada (automóvel) que esteve destacada junto do Corpo Britânico.

Talvez por isso ou também por isso, recebeu a condecoração do Grau de Oficial da Ordem de Avis em 30 de julho de 1928 sendo o Decreto de Concessão publicado no DG n.º 241, de 18 de outubro de 1928 (fonte: http://arquivo.presidencia.pt/details?id=133309&ht=marcial%20freitas%20costa (http://arquivo.presidencia.pt/details?id=133309&ht=marcial%20freitas%20costa)).

(http://i64.tinypic.com/2m66c9g.png)
Ficha de Marcial Freitas e Costa no Corpo Expedicionário Português. Pela sua ficha no CEP confirma-se que Marcial teve um irmão chamado Armel que nesse tempo morava na Rua dos Navegantes em Lisboa.  Fonte: Arquivo Histórico do Exército.


(http://i66.tinypic.com/2eauec4.png)
Aspecto do embarque de tropas Portuguesas em Santa Apolónia com destino a França. Fonte: AML.


Engenheiro em África

Não encontrei para já temos muita informação sobre a sua actividade como Engenheiro-chefe nos Serviços dos caminhos-de-ferro de Moçambique. Mas percebe-se que terá essa companhia tinha uma grande relevância no fluxo de pessoas, matérias primas e mercadorias na nossa ex-colónia de Moçambique.

(http://i64.tinypic.com/xqmkox.png)
Indicação de que Marcial Freitas e Costa foi Engenheiro-chefe da Empresa dos Portos, Caminhos-de-ferro e Transportes da Colónia de Moçambique.
Fonte: Gazeta dos Caminhos de Ferro nº 1348, de 16 de Fevereiro de 1943.

(http://www.malhanga.com/mapas/imagens/1940.CFM.jpg)
Estação terminal dos caminhos-de-ferro de Lourenço Marques na década de 40. fonte: revista Life.


(http://i67.tinypic.com/333fuhj.png)
Diversas imagens dos serviços de caminhos-de-ferro de Moçambique. Fonte: Restos de Colecção.


Desportivo Ferroviário de Lourenço Marques

Há claros sinais que Marcial Freitas e Costa manteve ao longo da sua vida o interesse no desporto. Clara demonstração disso é que foi responsável pelo projecto do primeiro campo de jogos do Desportivo Ferroviário de Lourenço Marques. Esse foi talvez o primeiro campo de futebol digno desse nome em Moçambique.

O clube foi fundado em 1924 com o nome de Clube Desportivo Ferroviário. Foi fundado por trabalhadores dos caminhos-de-ferro a partir da sua base ou seja não por vontade ou intervenção do topo da companhia. Apenas em 1931 a Administração Ferroviária reconheceu o mérito da colectividade e delegou no clube a tarefa de contribuir para a educação física e a promoção do desporto entre os seus funcionários.

(Fonte: http://bigslam.pt/destaques/clube-ferroviario-de-mocambique-sede-o-maior-clube-de-mocambique-comemora-hoje-o-seu-91o-aniversario/ (http://bigslam.pt/destaques/clube-ferroviario-de-mocambique-sede-o-maior-clube-de-mocambique-comemora-hoje-o-seu-91o-aniversario/) a partir de um artigo escrito por Marcelo Mosse)

Mais tarde o clube alterou o nome para Clube Ferroviário de Lourenço Marques para finalmente em 1976, após a independência, passar a designar-se Clube Ferroviário de Maputo, nome que ainda conserva.

O clube tem um bom palmarés contando com 5 títulos nacionais (1982, 1989, 1996, 1997 e 1998) e 2 vitórias da Taça de Moçambique (1998 e 1992). Nas competições africanas o Ferroviário se distinguiu pois em 1993, comandado por Mário Coluna, fez uma óptima carreira na Taça das Taças Africanas.

Não admira pois esta homenagem dos "Ferroviários" aquando da morte do nosso "monstro sagrado"

(http://www.abola.pt/img/fotos/ABOLA2015/MOCAMBIQUE/futebol/FerroviarioMaputo/FerroviarioM11.JPG)
Fonte: jornal "A Bola"


Actualmente, o clube tem dois campos de jogos, sendo o maior é o Estádio da Machava com capacidade para 45.000 espectadores. Esse estádio originalmente chamado estádio Salazar, foi inaugurado em 1968 num jogo Brasil 2 Portugal 0, mas nem Pelé nem Eusébio alinharam nessa partida.


(http://i68.tinypic.com/wrypso.png)
Inauguração do Estádio Salazar em 30 Junho de 1968.

Mas o clube dispõe ainda, em partilha com o Ferroviário das Mahotas, de um campo mais modesto na baixa da cidade de Maputo, com capacidade para 5.000 pessoas. É esse o campo de que falávamos. Foi inaugurado em 1933 e recebeu o nome do seu principal Engenheiro: Campo Engenheiro Marcial de Freitas e Costa.

Mais um sinal do significativo legado deixado por este Glorioso. E que legado? Sabemos que para além do projecto para desse campo, Marcial foi também dirigente do clube. Deixou marca!

(http://i63.tinypic.com/2akz9g.png)
O emblema do Desportivo Ferroviário de Lourenço Marques. A - A sede construída em 1944, ano em que Marcial morreu. B – Campo Engenheiro Freitas e Costa. Não sabemos se Marcial esteve envolvido no projecto da sede mas sabemos que o projecto do Campo é seu. Fonte: http://housesofmaputo.blogspot.pt/ (http://housesofmaputo.blogspot.pt/)


É curioso notar alguma semelhança entre a bancada desse campo e... a bancada do nosso Campo das Amoreiras, construído em 1926. Estilo da época ou mais do que coincidência?

(http://i64.tinypic.com/de61zr.png)
Estádio das Amoreiras e Campo Engenheiro Freitas e Costa.


Epílogo

Como vimos no início, Marcial foi o autor da Catedral de Lourenço Marques. E colaborou nesse projecto de forma pro-bono ou seja trabalhou como um profissional qualificado e competente, de forma voluntária mas sem ser pago pelo serviço prestado. Uma actividade exercida em acréscimo à sua actividade profissional normal. Com a elevação e generosidade própria dos grandes homens e dos nossos Gloriosos pioneiros.

Marcial morreu em 1944 com apenas 53 anos de idade. Uma morte precoce e que ocorreu justamente no ano em que a Catedral de Lourenço Marques foi finalizada e consagrada a Nossa Senhora da Conceição.

Apesar de doente Marcial ainda assistiu á inauguração da Catedral em 4 de Julho de 1944.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/146383779167.jpg)
Referência bibliográfica que confirma a presença de Marcial durante a cerimónia de inauguração da Catedral de Lourenço Marques em 4 de Julho de 1944.

Não se sabe se Marcial regressou algumas vezes à Metrópole ou se continuou a manter contactos com o seu Sport Lisboa e Benfica. Mas é possível que sim. Muito do sentimento forte que ainda hoje se guarda nas nossas ex-colónias para com o Glorioso deve-se à acção pioneira de homens como Marcial. Se as circunstâncias de vida o levaram para longe ainda assim como se viu Marcial mostrou sempre o valor e a fibra que definem os pioneiros do nosso Clube. Marcial é pois um nome grande do nosso Clube e do nosso futebol.

Também vimos que Marcial jogou lado a lado com grandes nomes das primeiras equipas do nosso futebol. Nomes como Gourlade, os manos Rosa Rodrigues, António do Couto, Mora, David da Fonseca e o Álvaro Gaspar, o imortal Chacha. Esteve ao lado dos grandes porque foi grande. Foi um pioneiro fiel e que nunca desertou do nosso Clube. Jogou humildemente nas nossas segundas categorias quando as pernas ou as tarefas profissionais assim o obrigaram. Isso certamente porque o seu amor ao clube era maior do que a importância que dava à sua individualidade. Apenas a partida para longe da metrópole o terá afastado do nosso Clube. Do Clube dele.

(http://i63.tinypic.com/fw6a9c.png)

Marcial teve uma vida curta mas rica e frutuosa. Deixou-nos um legado importante e em espaços geográficos distintos.

Merece a memória e o reconhecimento dos Benfiquistas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 14 de Fevereiro de 2016, 10:41
Citação de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2016, 14:52
Bem, mais uma para o pequeno mas ilustre clube de leitores dos textos deste tópico.



-88-
"O Benfica saúda o Porto"

Dia 28 de Maio de 1952. Cidade do Porto.
Um avião cruza os céus da cidade invicta. Em terra, milhares de pessoas poder ler:

"O BENFICA SAUDA O PORTO".

(http://i66.tinypic.com/2rra0lx.jpg)
Uma imagem inesquecível. O avião cruza os ares do Porto. "O Benfica saúda o Porto". Quem iria aos comandos. Talvez o nosso José Bentes Pimenta? Fonte: Centro Português de Fotografia.


Outros tempos.
Nesse dia, o Futebol Clube do Porto inaugurava o seu "Estádio do Futebol Clube do Porto" que popularmente ficou para sempre conhecido por Estádio das Antas.
     

(http://i65.tinypic.com/20r49vm.jpg)
Dois cartazes alusivo à Inauguração do Estádio do Futebol Clube do Porto em 28 de Maio de 1952.


(http://i64.tinypic.com/21n1dap.jpg)
Bilhete da inauguração do Estádio das Antas. 80 escudos!



(http://i64.tinypic.com/2ytsi9h.jpg)
Estádio das Antas, inaugurado em 28 de Maio de 1952. Ainda se decorriam as obras nos acessos ao Estádio. Fonte: tribunaldasantas.com

Futebol Clube do Porto, clube fundado em 2 de Agosto de 1906 por José Monteiro da Costa (12 de Outubro de 1881 / 30 de Janeiro de 1911):

(http://2.bp.blogspot.com/-_zuh8bMiZnc/UkZ-4DV-mtI/AAAAAAAAO94/jk0jbpmzevc/s1600/Jose+Monteiro+da+Costa.jpg)
Fonte: Papoila Satitante
(http://i67.tinypic.com/2ed3y4g.jpg)
 

O FCP inaugurava o seu novo Estádio dando assim por finda uma odisseia que tinha passado por dois campos próprios (Campo da Rainha e Campo da Constituição) e a utilização de dois campos de outros clubes (Campo do Ameal, propriedade do Club Sport Progresso e o Estádio do Lima, propriedade do Académico FC) quando para jogos mais importantes necessitava de um campo melhor e com mais capacidade.

(http://i63.tinypic.com/2u7prht.jpg)
Os campos utilizados pelo FCP antes da inauguração do Estádio das Antas. Campo da Rainha (1913-1917); Campo da Constituição (1913-1917); Campo do Ameal (propriedade do Club Sport Progresso); Estádio do Lima (propriedade do Académico FC).

O Estádio foi inaugurado no mesmo dia em que a Ditadura Portuguesa, implantada em 28 de Maio de 1926, fazia 26 anos. Uma escolha de data certamente do agrado dos líderes políticos da época.


(http://i63.tinypic.com/2d0kvuh.jpg)
Dia de inauguração do Estádio das Antas, aspecto do exterior e interior do Estádio do lado da bancada coberta. Fonte: reflexaoportista.pt

No final da cerimónia de abertura e antes do grande jogo, o General Craveiro Lopes, Presidente da República de Portugal, desceu da tribuna VIP à pista para apor no estandarte, a Medalha de Mérito Desportivo. Depois passou a revista à guarda de honra formada por um batalhão de milícias da Mocidade Portuguesa.
 

(http://i66.tinypic.com/28nz4k.jpg)
Da tribuna VIP ao relvado, o General Craveiro Lopes condecorou o Futebol Clube do Porto com a Medalha de Mérito Desportivo.

Como era norma desses tempos, nas inaugurações de Estádios e nos aniversários dos clubes, as colectividades convidadas faziam-se representar com comitivas de atletas e dirigentes vestidas a rigor. Assim, em ambiente festivo, as comitivas desfilaram exibindo as suas cores e emblemas em sinal de cortesia ao clube anfitrião.


(http://i65.tinypic.com/2crkl8w.jpg)
Alinhamento das comitivas após o desfile.


O Sport Lisboa e Benfica fez-se representar com uma numerosa comitiva com atletas muitas modalidades.


(http://i67.tinypic.com/24diqf4.jpg)
Aspecto do alinhamento das comitivas. A nossa, bem numerosa, aparece em primeiro plano. Fonte: Centro Português de Fotografia.

Mas o convite do FCP ao Benfica pretendia que o nosso Clube não apenas se fizesse representar mas que levasse a sua equipa de honra para o primeiro jogo do novo Estádio.

A retribuição do nosso Clube fez-se com a cortesia e elegância que as boas relações existentes na altura entre os dois assim exigiam.

Depois do desfile da nossa comitiva e da amistosa saudação aérea, a nossa equipa de honra do futebol entrou no terreno de jogo à maneira Brasileira, com os jogadores a transportar uma bandeira do Futebol Clube do Porto.


(http://i68.tinypic.com/33y6qgj.jpg)
Aspecto da entrada da nossa equipa em campo para o grande jogo FCP 2 x SL Benfica 8. À frente o Capitão Francisco Ferreira. Atrás 6 jogadores do Benfica transportam a bandeira do FCP. Fonte: Centro Português de Fotografia.


(http://i65.tinypic.com/2ed77mo.jpg)
Diversos aspectos da inauguração do Estádio das Antas em 28 de Maio de 1952. O Avião com a saudação do SLB ao anfitrião; o alinhamento das comitivas; a entrada do FCP no terreno de jogo; um aspecto durante o FCP 2 x SLB 8. Fonte: Centro Português de Fotografia.

E depois viria o grande jogo.


(http://i66.tinypic.com/jpgb4k.jpg)
O Glorioso plantel que obteve uma inesquecível vitória por 8-2 sobre o FCP, na inauguração do Estádio das Antas.
De pé, esquerda para a direita: Bastos, Félix, Moreira, Artur Santos, Julinho, Francisco Ferreira, Cândido Tavares (tr.), Jacinto e Braúlio. Agachados: Fernandes, Corona, Rogério, a Taça!, José Águas, Arsénio, Rosário e Manero.

A nossa equipa alinhou com :

(http://i64.tinypic.com/1zxm92h.jpg)
A Gloriosa equipa que obteve uma inesquecível vitória por 8-2 sobre o FCP, na inauguração do Estádio das Antas.

Apesar de termos levado mais quatro jogadores (Braúlio, Jacinto, Manero e Julinho) não houve substituições. Marcaram pelo Sport Lisboa e Benfica: Arsénio (4 golos), José Águas (3 golos) e Rogério. Pelo FCP marcou Vital por 2 vezes. Para a história ficou Arsénio, marcador do primeiro golo de sempre no Estádio das Antas.

(http://2.bp.blogspot.com/_4nTdjjwwT3U/Rq1A5s6U7CI/AAAAAAAAA54/inqi00tjZJc/s400/Sport+Lisboa+e+Benfica+-+1950-51+-+4+(Vencedores+Ta%C3%A7a+de+Portugal).jpg)
O mesmo onze aquando da conquista da Taça de portugal no ano anterior



A crónica do DL é clara em elogiar o bom jogo da equipa do Benfica e a falta de capacidade física e a balburdia organizativa revelada pela equipa do FCP. Nesses dias de inauguração a festa é frequentemente incompatível com a concentração e a boa capacidade competitiva de quem recebe. Foi assim dois anos depois no nosso próprio Estádio com o mesmo FCP. Mas na sua festa o FCP caprichou pela negativa.


(http://i63.tinypic.com/w02gia.jpg)
Três momentos inesquecíveis da entrega da Taça aos Benfiquistas. O General Craveiro Lopes alinhado abraça depois o grande capitão Benfiquista Francisco Ferreira. Depois os inesquecíveis Moreira e Arsénio levantam com dificuldade a enorme Taça sobre o olhar de Fernandes. Fonte: revista Plateia e Jornal "O Benfica".

A nossa equipa contava com grande nomes mas que já estavam em fim de carreira. Em 2-3 anos deixariam de jogar para se tornarem para sempre Saudades do nosso Clube: Francisco Ferreira, Julinho e Moreira, retiraram-se do futebol; Félix seria afastado da equipa e Rogério abandonaria por não querer abraçar o profissionalismo imposto após a chegada de Otto Glória.

De entre todos, estou certo que os mais emocionados terão sido Francisco Ferreira e Julinho. Tinham ambos contas passadas com o FCP. Francisco Ferreira, o popular Chico, capitão de equipa, homem de rija têmpera e grande Glória do SLB. De 1935 até 1938 usou as cores do FCP. Depois por falta de critério e estupidez dos dirigentes portistas, Francisco Ferreira discriminado no clube azul decidiu sair para o Benfica. E de águia ao peito, de 1938 a 1952 cobriu-se de glória. Nas Amoreiras primeiro e no Campo Grande, Chico fez-se Benfiquista. Pertenceu de forma notável a uma linhagem distinta de grandes capitães do Benfica. Uma carreira cheia de dias de glória e com o trágico incidente do Torino quase no seu final. Naquele dia 29 de Maio de 1952, no final do jogo, na cabina, diz-se que Francisco Ferreira anunciou que esse tinha sido o seu último jogo de águia ao peito. Os companheiros e dirigentes, inconformados conseguiram demove-lo. Mas fatalmente a Biologia acaba por se impor e assim Chico já não chegaria a jogar no novo Estádio da Luz, inaugurado no dia 1 de Dezembro de 1954. Ficou para sempre a Saudade de um capitão de fibra e talento que em boa hora se vestiu com a mais nobre de todas as camisolas.

Tal como ele, Julinho, o grande avançado centro veio da cidade do Porto, mas neste caso do Académico FC ou Académico do Porto, se quiserem. Antes de se tornar Benfiquista, os portistas bem tentaram a sua contratação. Julinho foi fiel à palavra dada e preferiu o grande Clube de Lisboa. Até o seu patrão portista lhe fez a vida negra. Mas Julinho era mesmo homem de palavra. E no Campo Grande deu alegrias múltiplas ao Benfiquistas. Foi um digno sucessor de Guilherme Espírito Santo. Goleador prodigioso, homem de enorme fibra, pertenceu a uma notável genealogia de goleadores. Nesse dia de 28 de Maio de 1952 Julinho, já veterano não chegou a jogar. Mas esteve presente e viveu essa enorme jornada no seio da equipa. Merecida recompensa para tão distinto jogador. Lá dentro já estava o seu sucessor, José Águas, o mais fino, elegante e letal dos avançados Benfiquistas. Alinhados depois da conquista da Taça, Águas posou bem à frente de Julinho.

O grande Águas tinha no seu lado esquerdo a enorme Taça entre ele e o grande Pipi. No seu lado direito estava o assombroso Arsénio, primeiro marcador de um golo nas Antas. Tanta Glória, tanta Saudade!

(http://i63.tinypic.com/21bkhmc.jpg)
A enorme Taça conquistada naquele dia 28 de Maio de 1952, agora exposta no Museu Cosme Damião.

(http://i68.tinypic.com/21mf5lc.jpg)
A edição do Jornal "O Benfica" do dia 31 de Maio de 1952. Uma capa à altura da vitória alcançada. Repare-se no cartaz no nariz do comboio "O Benfica saúda a laboriosa cidade Invicta".

Não há muito material disponível mas ainda assim um pequenos filme está disponível para visualização no youtube. Por azar o filme não tem imagens do jogo. Problemas com as câmaras certamente.

https://www.youtube.com/watch?v=6u3Em92BMeI (https://www.youtube.com/watch?v=6u3Em92BMeI)

Quem sabe se um dia deste não aparecerá um filme e fotografias de melhor qualidade daquele dia. Um dia de festa azul em que as Águias voaram alto.

Alto nos céus da cidade do Porto.

(http://i65.tinypic.com/vzahxh.jpg)






Grande história...
Também um jogo com um sabor especial.
1. Ter ganho ao fcp nesse dia (só existe uma única possibilidade de ganhar o jogo de inauguracao)
2. Salvo erro essa taca so existe uma vez e sempre faz lembrar ponto 1.
3. De facto uma taca impressionante.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Fevereiro de 2016, 11:13
Sim, alfredo. Mesmo sem filme disponível percebe-se pelos relatos que foi uma grande vitória.

A taça é impressionante. Obviamente feita para estar na sala de taças do FCP.
A fotografia que coloquei foi tirada por mim no nosso Museu.
A base é de granito e deve pesar algumas dezenas de Kg. Se reparares Moreira e Arsénio estão com muita dificuldade em levanta-la. E eles não eram meninos de copo de leite.  :coolsmiley:

Moreira então - nas palavra de Pipi - era um tipo duro e com uma personalidade bem vincada. Deve ter adorado levantar a taça.  :cool2:

É certo que dois anos depois os fecepes levaram uma taça que também deveria esta no nosso museu.

(http://i63.tinypic.com/w6xqa.jpg)

ainda assim os 8-2 devem doer um pouco mais. Até fizeram desaparecer as imagens do jogo. Ai como dói.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Fevereiro de 2016, 15:11
-91-
Pantera Negra em noite madrilena.


14 Dezembro de 1972, Madrid, Estádio Santiago Bernabéu.

(http://i68.tinypic.com/29lmgaq.jpg)
Bene, Santillana, Eusébio, Dobrin e Gento.

Foi o dia do jogo de celebração das bodas de prata do Estádio Santiago Bernabéu e simultaneamente jogo de homenagem a Francisco Gento. O Real Madrid apresenta uma linha avançada de respeito. Ao centro está uma velha aspiração dos Madrilenos: Eusébio!

Eusébio, o Pantera Negra que 10 anos antes foi decisivo para retirar a sexta Taça dos Clube Campeões Europeus aos merengues. Neste jogo o Pantera Negra alinhou com a mítica camisola merengue.


(http://i63.tinypic.com/35mpopi.png)
Eusébio em noite madrilena.


Vestido de branco, na noite madrilena, Eusébio participou com a grandeza e classe de sempre num jogo de homenagem a um antigo e valoroso adversário: Francisco Gento.

Isto porque para além do seu génio futebolístico Eusébio teve sempre uma característica inigualável no mundo do futebol, soube cultivar o respeito e a amizade dos adversários. Semeou classe, talento e amizade. Foi um homem simples, de sentimentos simples e generosos. Temido pelos adversários no campo mas estimado pelos mesmos fora de campo. Grandeza. Génio. Classe. Um imortal.

Eusébio não foi diferente no caso da homenagem a Gento. Estava já numa fase avançada da sua carreira. Era já o tempo de Jimmy Hagan mas Eusébio continuava a ter uma importância decisiva e prestígio imenso por essa Europa do futebol. Estou certo que Eusébio terá tido particular honra e orgulho em jogar por uma vez com aquela camisola branca. Curiosamente partilha ainda hoje com Gento uma interessante distinção: são os máximos goleadores do prestigiado torneio Ramon Carranza. Ambos com 8 golos.


(http://i66.tinypic.com/nxjips.jpg)
Remón (guarda-redes madrileno), Eusébio e Francisco Gento. Um Benfiquista entre madrilenos.


Nesse dia o Real Madrid realizou uma segunda homenagem a Gento, uma vez que sete anos antes já tinha feito uma outra uma, num jogo contra os Argentinos do River Plate, a antiga equipa do seu companheiro Alfredo Di Stefano.

(http://i63.tinypic.com/2zhoy79.png)
O cartaz promocional da homenagem a Francisco Gento.


(http://i67.tinypic.com/2ue6ws9.png)
Francisco Gento, o homenageado.


(http://i66.tinypic.com/sxncxt.png)
Bilhete da primeira festa de despedida de Francisco Gento em 1965


Francisco Gento foi um dos maiores jogadores da história do Real Madrid. Um símbolo do Madrilismo. Pequeno, buliçoso e genial extremo esquerdo. À imagem do nosso António Simões. Talento sónico, talento puro. Elemento decisivo do período mais dourado da história do colosso Espanhol. Foi também o capitão Madrileno que cumprimentou o nosso grande José Águas naquela noite inesquecível de 2 de Maio de 1962.

(http://i65.tinypic.com/jzi4jb.png)
José Águas e Francisco Gento. Uma imagem para a eternidade dos dois Clubes. Amsterdão, 2 de Maio de 1962. Cumprimento entre dois grandes capitães. Seguir-se-ia um dos jogos mais Gloriosos da nossa história
.

Mas, como se disse, nessa noite madrilena de 1972, o Real Madrid não apenas fazia a festa de despedida de Gento. Nesse dia os madrilenos celebravam também as bodas de prata do seu Estádio Santiago Bernabéu. E para celebrar convidaram um velho e ilustre conhecido, o Clube de Futebol "Os Belenenses".

Real Madrid 2 – Clube de Futebol "Os Belenenses 1

Arbitro: António Camacho
Golos: 1-0 Gento 15´; 2-0 Pirri 19´; 2-1 Quaresma 79'

Real Madrid: García Remón (Junquera 45´); José Luis (Touriño 45´), Benito (Andrés 45´), Verdugo; Pirri (Grosso 45´), Zoco; Bene, Eusébio, Santillana (Velázquez 46´, depois Aguilar 61´), Dobrin, Gento (Dzajic 27´).

"Os Belenenses": Mourinho, Murça, Jorge Calado, Freitas, João Cardoso, Godinho, Quinito, Quaresma, Laurindo, Luís Carlos, González (Ernesto 69´).

(http://i68.tinypic.com/35lrj39.jpg)
A equipa do Real Madrid que disputou o jogo de 14 Dezembro 1972. Em pé, esquerda para direita: García Remón, José Luís, Benito, Verdugo, Pirri, Zoco. Em baixo: Bene, Santillana, Eusébio, Dobrin e Gento.


(http://i68.tinypic.com/2z68g8x.jpg)
A equipa do Belenenses que disputou o jogo de 14 Dezembro 1972. Em pé, esquerda para direita: Murça, Freitas, Mourinho Félix, João Cardoso, Jorge Calado e Quaresma. Em baixo: Laurindo, Quinito, Luís Carlos, Godinho e Gonzalez.


(http://i68.tinypic.com/2utknky.png)
Luís Carlos conduz a bola. Lá ao fundo Eusébio observa.


(http://i68.tinypic.com/2gxislj.png)
Ecos na imprensa. Diário de Lisboa e Jornal "A Bola".


O Belenenses era um velho conhecido dos Madrilenos. Foi o adversário escolhido para nesse mesmo dia, mas 25 anos antes, ser o convidado de honra para o jogo de inauguração do Estádio Santiago Bernabéu. Nesse tempo o grande clube de Belém tinha sido dois anos antes campeão nacional. E com certeza mereceu uma honra que ainda hoje os azuis do Restelo muito merecidamente evocam.

(http://i67.tinypic.com/k1802e.png)
Cartaz de promoção e ecos do jogo de inauguração do Santiago Bernabeu em 14 de Dezembro de 1947


(http://i63.tinypic.com/289epmb.png)
Dia da inauguração do Estádio Bernabéu, 14 de Dezembro de 1947. As duas equipas alinhadas antes do jogo.


Curiosidades dessa partida de 1972:

Na equipa do CFB alinhou o guarda-redes Mourinho Félix, pai do "Special One". Era um guarda-redes já com uma carreira longa, com grande prestígio e que por via disso teve um merecido reconhecimento com a sua convocação para a brilhante selecção Portuguesa. Foi nessa selecção que teve a sua primeira e única internacionalização. Uma selecção que nas palavras de Carlos Pinhão, o genial jornalista de "A Bola", deu banhos de bola no Mundialito de 1972 no Brasil.


(http://i67.tinypic.com/167peg8.png)
Mourinho Félix, guarda-redes do CFB.


(http://i68.tinypic.com/vyw5th.jpg)
Selecção nacional Portuguesa 1972. Plantel que participou no Mundialito no Brasil, 1972. Félix Mourinho, está na terceira fila, segundo a contar da direita com camisola amarela. Está entre Peres Bandeira e Humberto Coelho.


No defesa do CFB alinhou também Jorge Calado, nosso antigo jogador. No Benfica foi médio e defesa desde a época de 1962 até 1971. Ou seja no ano anterior era ainda nosso jogador e companheiro de Eusébio.


(http://i.imgur.com/I4o9MeK.png)
Jorge Calado com o manto sagrado.


Na equipa do Real Madrid alinharam para além do nosso Eusébio outros três jogadores que não integravam aos quadros do Real Madrid (elementos biográficos resumidos, Fontes: Wikipedia):

(http://i68.tinypic.com/14mwg78.png)
Dobrin, Bene e Džajic. Companheiros de eusébio por um dia.


Nicolae Dobrin, Roménia (1947 - 2007). Conhecido como o Ganso pelo seu estilo elegante sobre o terreno. Rivaliza ainda hoje com Hagi pelo estatuto de melhor jogador Romeno de todos os tempos. Centrocampista com capacidade de resolução de jogos pelo seu talento. Jogou no modesto FC Arges, conseguindo-o levar a dois títulos nacionais. O Real Madrid ofereceu por ele 2 milhões de Euros, à época uma fortuna. O regime comunista recusou. E pela Roménia ficou "desperdiçando" o seu talento num campeonato menor. Morreu em 2007 após longa batalha contra o cancro.

Férenc Bene, Hungria (1944 - 2006). Avançado com grande intensidade de jogo. Jogador do Ujpest Dozsa. Integrou uma ótima selecção Húngara que disputou o mundial de Inglaterra no grupo de Portugal e Brasil. Fazia um excelente trio de ataque com Flórián Albert e János Farkas. O convite a Bene terá também sido não apenas o reconhecimento ao seu talento mas também a uma escola de futebol da qual o Real beneficiou muito, ou não tivesse sido Púskas, antigo companheiro de Gento, um dos maiores, se não mesmo o maior jogador Húngaro de sempre.

Dragan Džajic, Juguslávia/Sérvia, (1946 - ). Um dos melhores jogadores da antiga Jugoslávia/Sérvia. Ponta-esquerda. Ou seja jogava na posição de Gento. Durante quase toda a sua carreira no Estrela Vermelha de Belgrado. Foi cinco vezes campeão Jugoslavo e marcou 287 golos em 590 jogos. De 1975 à 1977, viria ainda a jogar nos Franceses do Bastia. Tal como a Dobrin e Eusébio, o Real Madrid bem teria gostado de ter Džajic nas suas fileiras. Mas nesse tempo era bem mais difícil do que hoje é contratar um Galáctico. Pelé, sobre ele, disse que se tratava de um "milagre dos Bálcãs", um verdadeiro mago, lamentando que não fosse brasileiro. Pela Selecção Jugoslava, Džajic marcou 23 golos em 85 aparições e esteve presente na Mundial de 1974, e nos campeonatos da Europa 1968 e 1976.


Foi pois uma grande noite de futebol em que o Real Madrid celebrou o seu Estádio e homenageou o seu capitão, mas viu também cumprido o sonho de ver aquele jogador excepcional vestido de branco no Santiago Bernabéu. Pena foi que ao seu lado não tenha estado o grande ídolo de Eusébio: Alfredo Di Stefano!

(http://i68.tinypic.com/fxw5cj.png)
O troféu mais desejado e merecido para Eusébio. Com aquela camisola ficou simbolizada a passagem do testemunho entre os dois monstros Gloriosos da história do Futebol.
Eusébio guardou religiosamente aquela sua preciosidade.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 22 de Fevereiro de 2016, 15:15
É muito estranho ver Eusébio equipar sem o vermelho do Benfica ou de Portugal.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Fevereiro de 2016, 19:33
Citação de: Lorne Malvo em 22 de Fevereiro de 2016, 15:15
É muito estranho ver Eusébio equipar sem o vermelho do Benfica ou de Portugal.

É verdade mas Eusébio troca-nos sempre as voltas.

(http://i65.tinypic.com/33jtlqe.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 22 de Fevereiro de 2016, 20:19
Citação de: RedVC em 22 de Fevereiro de 2016, 19:33
Citação de: Lorne Malvo em 22 de Fevereiro de 2016, 15:15
É muito estranho ver Eusébio equipar sem o vermelho do Benfica ou de Portugal.

É verdade mas Eusébio troca-nos sempre as voltas.

(http://i65.tinypic.com/33jtlqe.png)

A 3ª da linha de cima é esta:

(http://coimbrajornal.com/v2/wp-content/uploads/2013/12/web-V%C3%ADtor-e-Eus%C3%A9bio.jpg)

Final da Taça de 69, com um histórico da Académica, Vítor Campos. Toda a gente gostava de Eusébio, não conheço nenhum jogador tão unânime em termos de simpatia e humildade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Fevereiro de 2016, 20:40
Teria sido interessante ver Vítor Campos de águia ao peito.

Outros - dos poucos - avançados que faltou ver de águia ao peito:

Demétrio Patalino (tinha simpatia pelo Benfica)

(http://4.bp.blogspot.com/-I1aB3pJ6VYI/VblbAjJoI4I/AAAAAAAADhU/-mWl0pGCKR8/s1600/599%2B-%2BPatalino.jpg)

Fernando Cabrita (tinha simpatia pelo Benfica)

(http://4.bp.blogspot.com/-Fv5LTt802Yw/UNmEgX1UdcI/AAAAAAAABrU/g3oY5PG97zU/s1600/311+-+Fernando+Cabrita.jpg)

Matateu (foi Glorioso durante uma horas num dia 1 de Abril...)

(http://3.bp.blogspot.com/_f0gNcV3US7g/TGCMNUe7ZeI/AAAAAAAAIYk/cp1KLzcxTH4/s400/matateu.jpg)

Jacinto João (JJ)

(http://0.fotos.web.sapo.io/i/B96136d59/17832015_urZ1M.jpeg)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Fevereiro de 2016, 15:46
-92-
Da Catumbela a Freamunde.

Hoje começamos com uma fotografia onde estão três Gloriosos mas vamos falar essencialmente de um deles. Vamos falar de um jogador franzino mas com uma dimensão futebolística gigante. Um dos Bicampeões Europeus. O grande Santana!


(http://i63.tinypic.com/vovl0p.png)
Freamunde, 11 de Junho de 1972. A equipa do Sport Clube de Freamunde posa para a posteridade. Salientam-se três Gloriosos. Entre eles o seu jogador treinador, Santana! Fonte: http://freamundense.blogspot.pt

Freamunde 11 de Junho de 1972. Um dia que serviu de homenagem a Santana, um grandes jogadores da história do Sport Lisboa e Benfica. No final falaremos também de um outro episódio importante que ocorreu nesse mesmo dia. Um lamentável incidente que marcou a carreira de um quarto jogador Glorioso. Mas lá iremos.

Para este artigo aproveitei conteúdos de um belo artigo do Sr. Rogério Silva no blogue sobre uma passagem discreta mas prestigiosa do Glorioso em Freamunde. Fica aqui o reconhecimento e os devidos créditos: http://freamundense.blogspot.pt/2012/10/freamunde-benfica-de-1972.html (http://freamundense.blogspot.pt/2012/10/freamunde-benfica-de-1972.html) . Baseia-se num artigo original de Joaquim Pinto - Gazeta de Paços de Ferreira

Esta terá sido a primeira vez que o Glorioso jogou em Freamunde. A Direcção do Sport Clube de Freamunde tinha convidado o Sport Lisboa e Benfica para participar numa homenagem ao seu jogador-treinador, Joaquim Santana Silva Guimarães. Santana, ele mesmo, o nosso Glorioso Bicampeão Europeu. E é nele que para já vamos centrar atenções.

Santana
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Joaquim Santana Silva Guimarães
(22 Março 1936 – 24 Abril 1989)

Natural da cidade do Lobito, Moçambique, Santana fez no entanto a sua formação no Sport Clube da Catumbela.

O Sport Clube da Catumbela foi fundado em 1931. Foi campeão provincial de Angola por 2 vezes, 1945 e 1958.

A Catumbela e o Lobito são ambas cidades do Distrito de Benguela.

(http://i68.tinypic.com/2dwhpxd.png)
As cidades do Lobito e da Catumbela

(http://i68.tinypic.com/2s60o48.png)
O emblema do Sport Clube da Catumbela.
Fonte: http://futeboldeangola.blogspot.pt/ (http://futeboldeangola.blogspot.pt/)

O jovem Santana chegou com 18 anos ao nosso Clube. Corria o ano de 1954/1955, ou seja chegou na primeira época de Otto Glória no Benfica. Nas duas primeiras épocas jogou na equipa júnior do Benfica, categoria onde foi campeão nacional. A partir de 1956/57 viria a integrar o plantel principal. E logo numa época de grande êxito Benfiquista. O Benfica sagrou-se Campeão Nacional, foi vencedor da Taça de Portugal e finalista da Taça Latina, perdida para o Real Madrid em pleno Estádio Santiago Bernabéu. Nessa época de estreia, o jovem Santana jogaria apenas por uma vez.

(http://cdn1.ionline.pt/media//2015/5/12/459369.jpg?type=XL)
Otto Glória foi um treinador importante na história do Benfica e na carreira de Santana.

Treinado por Otto Glória, Santana estreou-se na 6ª jornada, dia 21 de Outubro de 1956. Estreou-se no Estádio da Luz num jogo frente ao Caldas Sport Clube. Vitória difícil por 1-0 com golo de Francisco Palmeiro aos 38'. Na segunda parte o Benfica jogaria com 10 por lesão do mesmo Palmeiro. Santana teve algum destaque e quase marcou.


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Ecos do jogo Benfica 1 – Caldas 0. Estádio da Luz, 21 Outubro 1956. Fonte: DL.
Seria esse o jogo de estreia de Santana. Mas também seria o único nessa época. A concorrência era grande e ainda teria que ganhar o seu espaço.

Jogador de físico franzino (1,72 m, e cerca de 68 kg) foi talvez por isso que teve dificuldades em se impor. Santana era um jogador hábil, virtuoso, elegante no seu fino recorte técnico e subtil inteligência. Um craque. Apesar disso a sua postura em campo valeu-lhe a jocosa alcunha de "molengão de Catumbela"

Na revolução que operou, Otto Glória implantou no Benfica um jogo técnico mas que não dispensava uma forte componente física. A combinação dessas virtudes distinguia a nossa equipa em Portugal que já de si era recheada de grandes talentos. Sem surpresa vieram os títulos.

Na época seguinte Santana jogaria mais, jogaria por 13 vezes, cerca de metade dos jogos do campeonato nacional da altura. Marcou três golos, curiosamente todos contra o Oriental numa vitória por 7-0 no dia 22 de Setembro de 1957 no Estádio da Luz. Globalmente 1957/58 foi uma época fraca para Santana e para o Benfica. Terceiro lugar atrás de SCP que foi 1º e o FCP que foi 2º com os mesmos pontos do SCP. Estreia breve e pouco destacada nas competições europeias contra o Sevilha (Santana não jogou).


(http://i67.tinypic.com/30bh27q.png)
Ecos do jogo Benfica 7 – Oriental 0. Estádio da Luz, 22 Setembro 1957. Fonte: DL.

Na época seguinte Santana faria apenas quatro jogos na Taça de Portugal e zero no campeonato. Um eclipse quase total. O Benfica perdia o campeonato na linha de chegada. Foi também a época do episódio Calabote em que ainda hoje o FCP mistifica descaradamente, com a sua habitual má-fé e gosto pela adulteração da verdade histórica.

Para Santana a época cingiu-se à Taça de Portugal. Mas ainda assim marcaria por uma vez em cada um dos jogos da meia-final contra o SCP em Alvalade e na Luz. Na Luz, o seu golo valeu a classificação para a final onde o Benfica ganharia a Taça. Ganhou ao FCP com um golo de Cavém aos 15 segundos de jogo.

https://www.youtube.com/watch?v=6cMnMGbPAB8 (https://www.youtube.com/watch?v=6cMnMGbPAB8)
19 de Junho 1959, Estádio Nacional, Jamor. Final da Taça de Portugal. Sport Lisboa e Benfica 1-0 FC Porto. Santana na primeira linha.

Campeão

Se calhar nos dias de hoje Santana seria dispensado mas felizmente os tempos eram diferentes. Ficou e ainda bem que ficou. Nada parecia indicar que viria a assumir algum tipo de preponderância na primeira equipa. Mas assim foi. Santana explodiu para a Glória em 1959/60 e por lá se manteve até 1962/63. Cerca de 81 jogos, 36 golos (fonte: Vedeta ou Marreta).

Santana esteve no melhor na época mais Gloriosa da nossa história. A sua qualidade de jogo e influência na equipa foi decisiva para a nossa Glória Europeia. Santana esteve presente em muitas tardes e noites de Glória mas com certeza naquela noite de 31 de Maio de 1961, no Estádio Wankdorf na mítica final de Berna, Santana terá tido a noite da sua vida.

(http://i65.tinypic.com/2u5c5zt.png)
Berna, Guttman prepara a grande final. Santana na linha da frente.

(http://i63.tinypic.com/23iz9cz.png)
Berna, 31 de Maio de 1961. O onze da vida de Santana.

https://www.youtube.com/watch?v=JPxovQusOQs (https://www.youtube.com/watch?v=JPxovQusOQs)

(http://i63.tinypic.com/zipobt.png)
Berna, noite de 31 de Maio de 1961. Noite de Campeões. Santana saboreia o topo da sua carreira.

A partir de 1964/65 a influência caiu. Nessa época jogou apenas uma vez no campeonato nacional e logo para marcar 5 golos no dia 2 de Maio de 1965 quando ganhamos na Luz ao Seixal por 11-3!

(http://i66.tinypic.com/j79qft.png)
Ecos dos jogos Benfica 11 – Seixal 3. Santana marcou cinco golos! Fonte: DL.

Santana ficou no plantel até 1967/68 jogando pouco, muito pouco. O seu último jogo foi em 24 de Março de 1968, na Luz contra a Sanjoanense. Sobre orientação de Otto Glória, o Benfica venceu por 2-1. O seu último golo foi marcado dois anos antes a 30 de Outubro de 1966, em Ovar numa vitória robusta de 6 – 0. Santana marcou o 1-0 aos 41'.

(http://i67.tinypic.com/1zptb8h.png)
Ecos dos jogos em que Santana foi pela última vez titular e em que marcou pela última vez com a águia ao peito. Fonte: DL.

A Festa

Mas voltemos à festa de homenagem a Santana. E nada melhor do que citar parte do belo artigo do Sr. Rogério Silva:

A ilustre comitiva foi recebida às portas de Seroa, dirigiu-se para Frazão onde o simpatizante encarnado, Manuel Coelho de Sousa, lhe prestou uma calorosa recepção, com foguetes e tudo. Até uma rosca de pão-de-ló foi distribuída a cada um dos atletas.

Chegados ao "Carvalhal", a abarrotar, Simões, de braço ao peito, com blocos de ingresso nas mãos, ajudava o seu ex-companheiro de tantas tardes e noites de glória.
O Benfica apresentou-se com o melhor que possuía no plantel, à excepção dos internacionais que haviam sido convocados para o Mundialito, no Brasil. Mesmo assim, no "onze", muitos craques. Foram estes os protagonistas do encontro.


O jogo decorreu sob arbitragem de Américo Borges. As  equipas alinharam da seguinte forma:

S. C. Freamunde: Miguel (Agostinho "Rita"), Ribeiro, Fernando Viana, Rolando (jogador do F. C. Porto), Albino (Faria); Jacinto (Leixões 1957/58-1961/62; Benfica 1962/63-1970/71; F. C. Porto 1971/72) e Justino (Martinho); Couto, Santana. Iaúca (Benfica 1962/63 – 1967/68; depois Lourosa) e Ernesto.

S. L. Benfica: Fonseca, Malta da Silva, Rui Rodrigues, Zeca e Franque; Barros (Fausto), João Alves e Vítor Martins; Eurico Caires, Carlos Pereira e Diamantino.
Venceu o Benfica por 1-0, com golo de Carlos Pereira (ou segundo outra fonte de Eurico Caires).

(http://i67.tinypic.com/2ljqrfa.png)
A equipa do S.C. Freamunde em Junho 1972. Em cima, esquerda para a direita: Miguel, Ribeiro, Fernando Viana, Jacinto (ex-Benfica), Albino, Fernando Ribeiro (director), Abílio Gomes (director), António Alves (director), Rui Magalhães (director) e Abílio Freire (director).
Em baixo, esquerda para a direita: Rolando (jogador do FC Porto 1964/65 - 1974/75), Justino, Santana (Benfica 1956/57 – 1966/67), Couto, Ernesto, Jaime Gomes (director), Fernando Moreira (director) e Iaúca (Belenenses 1957/58 - 1962/63; Benfica 1963/64 - 1967/68; Salgueiros e Lourosa)


(http://i66.tinypic.com/3tnw1.png)
A equipa do S.L. Benfica em Junho 1972. Penso ser a equipa deste jogo. Em cima, esquerda para a direita: ?, Malta da Silva, Barros, ?, Rui Rodrigues, Vítor Martins, Zeca. Em baixo: Eurico Caires, Franque, Diamantino, Carlos Pereira, João Alves e Fonseca.


(http://i67.tinypic.com/2cglcwj.png)
Momento da entrega da Taça "António Silva Alves". Reconhecem-se o capitão Malta da Silva, Rui Rodrigues e Franque. Mais longe Diamantino, Fonseca e Vítor Martins. Fonte: http://freamundense.blogspot.pt (http://freamundense.blogspot.pt)


No final da contenda, depois de Malta da Silva ter recebido das mãos do Vice-Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, a Taça "António Silva Alves", todos os intervenientes, amigos e convidados, reuniram-se na "Quinta do Monte" onde, num ambiente acalorado, lhes foi servido um esmerado copo d'água.

Uma festa bonita, e amplamente merecida, Santana terá apenas tido a mágoa de o Benfica não ter comparecido com a sua melhor equipa uma vez que os melhores daquele tempo já estavam concentrados na selecção o Mundialito no Brasil.

Santana manter-se-ia no Benfica até 1967/68. Depois seguir-se-ia o Salgueiros e o Freamunde. Ao serviço do Benfica, Santana conquistou sete campeonatos e duas Taças de Portugal, registando 225 jogos e 93 golos. Um registo impressionante tanto mais valoroso quanto obtido essencialmente na época mais valorosa da nossa história em que a nossa equipa de futebol era uma máquina de talento e golos.

Santana teve depois do Benfica passagens pelo Salgueiros, Freamunde e finalizou a carreira de treinador na Régua. Com apenas 53 anos de idade foi o primeiro dos jogadores Campeões Europeus a partir do nosso convívio. Paz e Honra à sua saudosa memória. Honra ao homem e ao jogador que tanto deu de si ao nosso Clube.

(http://i64.tinypic.com/14sfhpx.png)
Obituário de Joaquim Santana Silva Guimarães. Fonte: DL, 24 de Abril 1989.


Alves e Simões.

Como atrás se viu, naquele dia 11 de Junho de 1972, nota-se ainda que o Benfica actuou com um miolo de meio campo de luxo. Um miolo que estava em formação. Ao habilidoso e já em via de consagração Vítor Martins juntava-se o jovem e promissor João Alves. E é sobre Alves que se reporta o segundo episódio.

Tratou-se de um triste incidente entre dois homens de temperamento forte: o jovem João Alves e o consagrado António Simões. Aconteceu nesse mesmo jogo de homenagem a Santana.

Depois de uma época em que jogou emprestado no Varzim, o jovem João Alves regressava ao Benfica sob indicação de Jimmy Hagan. A sua qualidade tinha ficado patente numa época passada na equipa poveira depois de ter brilhado nas nossas camadas juniores ao lado de homens como Shéu e António Fidalgo, entre outros. Nesse jogo de Freamunde, sem que se saiba a razão, talvez fortuita, João Alves terá tido uma discussão azeda com António Simões que também estava presente para homenagear o antigo companheiro. Ao que parece a conversa azeda resvalou para as luvas que como sabemos uma homenagem que João Alves fez ao longo da sua carreira em memória do seu avô, o grande jogador Carlos Alves.

A influência de Simões no Clube ditou que o Benfica tivesse sido forçado a vender João Alves. Assim a troco de 600 contos o "luvas pretas" abandonava o Benfica. Ao que parece a mesma verba que o Benfica tinha despendido para que Alves não fosse incorporado e mobilizado para o Ultramar. Apenas o seu Benfiquismo e muito dinheiro fariam que mais tarde voltasse. Perdeu-se talvez uma evolução mais consistente e uma permanência maior do "luvas pretas" nos nossos plantéis.

(http://i63.tinypic.com/5plms0.png)
João Alves e António Simões

Um episódio infeliz num dia de festa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2016, 00:34
- 93 -
112 anos de Paixão

(http://i65.tinypic.com/1z33v9i.png)

24 fundadores, 20 rostos, 1 Clube.

Tantos segredos estes 20 rostos encerram. Os outros 4 são em si um segredo.

Mas o Clube que eles criaram é real.

Sport Lisboa e Benfica, a nossa paixão.

Obrigado a estes 24 homens e a todos os que antes e depois consolidaram o Ideal.

O Clube vive e viverá!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Semper Fidelis em 28 de Fevereiro de 2016, 01:18
PARABÉNS, MEU AMOR!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Março de 2016, 12:33
-94-
O sósia. (parte I)

26 de Fevereiro 1911. Campo do Lumiar, terreno do SCP. Um conjunto de jogadores posa para a câmara de Arnaldo Garcês Pereira, ficando registado para sempre um momento de grande confraternização desportiva.

(http://i63.tinypic.com/flzec3.png)


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Arnaldo Garcês Pereira foi um grande fotógrafo, um autodidacta que tal como Joshua Benoliel, esteve alguns anos mais tarde na frente de batalha acompanhando o Corpo Expedicionário Português na I Guerra Mundial. PAra mais e interessante informação ver:
https://fasciniodafotografia.wordpress.com/2016/03/12/arnaldo-garcez-um-reporter-fotografico-na-1a-grande-guerra-2000/
(http://i66.tinypic.com/2s9c49k.png)
___________________________________________________________________


Nesta fotografia estão 22 homens e uma criança. Na fotografia tem sido identificada a presença de Cosme Damião a confraternizar com os seus companheiros Casapianos após um jogo de futebol. Segundo essa interpretação Cosme seria o homem de maior destaque na fotografia, apresentando o seu característico bigode e envergando uma estranha camisola listada, talvez parte do equipamento de uma equipa Casapiana da época.

Em boa verdade, nunca me senti confortável com esta identificação mas não tinha dados para questionar. Agora, depois de alguma investigação e análises comparativas com fotografias de época posso dizer que a verdade histórica é outra e bastante diferente.

E podemos começar a percebê-la quando atentamos ao que foi publicado no nº 38 do jornal Os Sports Ilustrados, publicado no dia 4 de Março de 1911.

(http://i66.tinypic.com/jv0ln6.png)
Os Sports Ilustrados nº 38 de 4 Março 1911.Fonte: Hemeroteca de Lisboa.

(http://i66.tinypic.com/rh4lj8.png)
As duas equipas que disputaram uma partida no Campo do Lumiar em 26 de Fevereiro 1911. Fonte: Os Sports Ilustrados.


O jornal dava honras de primeira página à realização de um jogo entre um "grupo mixto contra um "team" d'um clube de foot=ball", jogo disputado no dia 26 de Fevereiro de 1911. Cumpriram-se agora pouco mais de 105 anos desde esse dia. O Grupo "mixto" é inequivocamente a mesma equipa da fotografia com que começamos este texto. O outro grupo é o SCP com o seu equipamento de calção branco e camisola bipartida em verde e branco. O equipamento "Stromp".

As identificações

Comecemos pela fotografia mais fácil, ou seja aquela que é relativa ao SCP. A fotografia captou a poderosa linha avançada dos sportinguistas. Cinco grandes pioneiros do futebol Português. Entre eles dois fundadores do... Sport Lisboa. Dois dos quatro irmãos Rosa Rodrigues, os célebres Catataus.

(http://i64.tinypic.com/2hnp1qt.png)
A linha avançada do Sporting Clube de Portugal em 1911. De pé, da esquerda para a direita: António Rosa Rodrigues, Francisco Stromp, Cândido Rosa Rodrigues. Sentados: António Stromp e João Bentes.


Nesse jogo o SCP jogou contra o tal grupo "mixto" constituído por uma selecção de jogadores do Sport Clube Império e do Clube Internacional de Futebol.

Na fotografia relativa ao grupo "mixto" está o árbitro de jogo, o escultor e antigo Casapiano Francisco Santos. Antigo jogador do Sport Lisboa, da Lazio de Roma e do SCP. Da figura de Francisco Santos já por aqui falamos no "nº 51 - Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras" (p.13).

Estão também dois outros elementos ligados ao SCP, Daniel Queiroz dos Santos e Augusto Santiago Barjona de Freitas. O primeiro foi um dos desertores do Sport Lisboa que saiu para o SCP em 1907. Daniel chegaria a capitão-geral e depois em Novembro de 1914 a presidente do SCP. O segundo começou no Campo de Ourique, integrou depois o Cruz Negra para finalmente ingressar no SCP. Em 1911 tinha acabado de sair do SCP para passar a jogar no Clube Sport Império. Saiu do SCP depois de num jogo contra o Benfica ter agredido jogadores adversários porque lhe tinham marcado golos. Em sites afectos ao SCP diz-se que abandonou por se ter lesionado nesse jogo contra o Benfica. Siga o charme...

Estão igualmente presentes dois jogadores ligados ao CIF. Augusto Sabbo e Carlos Sobral, o "herói derradeiro".

(http://i63.tinypic.com/256ealy.png)
Augusto Sabbo (esquerda) e Carlos Sobral (direita). Dois jogadores do CIF.
Sabbo seria mais tarde treinador do SCP e Sobral seria jogador do SLB.

Sabbo era um homem culto, um engenheiro formado na Alemanha. Foi jogador de futebol do CIF, o clube dos irmãos Pinto Basto e de Carlos Villar. Penso que actuava em posições mais recuadas tendo defrontado com frequência o nosso Clube. Ficaram célebres algumas dores de cabeça que o nosso Álvaro Gaspar lhe pregou. Com o fim da sua carreira de jogador Sabbo tornou-se treinador tendo chegado a treinar o SCP no início da década de 20 e com bons resultados. Terá aparentemente sido o primeiro treinador remunerado em Portugal. No SCP conquistaria o 1º Campeonato de Portugal (prova equivalente ao que é hoje a Taça de Portugal), sendo que na altura o SCP disputava por época esse campeonato e o campeonato regional de Lisboa.

Por sua vez Carlos Sobral estava prestes a iniciar uma única época no SCP como jogador de futebol. Não se terá adaptado pois no ano seguinte regressaria e por três épocas ao CIF. Finalmente em 1915-1916 viria a juntar-se ao Sport Lisboa e Benfica na época em que Cosme se retirava dos campos de futebol. No Benfica permaneceu por quatro épocas, período em que foi campeão e no qual chegou a capitão de equipa apesar de existirem outros jogadores mais antigos. Cosme confiava nele. Era um atleta completo, nadador campeão e futebolista talentoso. Era também um homem respeitado e de carácter forte. Acabaria por sair do nosso clube em 1918 para ajudar a fundar o CFB onde chegou a capitão geral por indicação de uma outra nossa antiga Glória, o dedicado Henrique Costa. Da figura trágica de Carlos Sobral já por aqui se falou no nº 45 "Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral." (pág. 12).


(http://i63.tinypic.com/2nhp4w5.png)
Grupo misto que disputou um jogo de futebol contra o SCP em 26 de Fevereiro de 1911. Identificam-se diversos célebres pioneiros do futebol Português. Salientam-se o árbitro Francisco Santos (à civil), e o putativo Cosme Damião (salientado a vermelho).

A missão de identificar os homens da fotografia inicial é difícil mas felizmente o jornal ajuda-nos ao dar-nos a constituição das duas equipas, embora para o "mixto" só apareçam 10 nomes.

(http://i67.tinypic.com/np2ts2.png)
A constituição das duas equipas. O nome de Cosme Damião não consta do misto. Onde estaria Cosme?
Fonte: Sports Ilustrados nº 38, de 4 de Março 1911.

A composição do grupo "mixto" confirma a presença de Sabbo e de Sobral. Ao invés Cosme Damião não consta da linha apresentada no jornal. E realmente o que faria Cosme num jogo daqueles? Estaria completamente deslocalizado sem que nenhum dos seus companheiros do Sport Lisboa e Benfica estivesse presente. Apenas os seus antigos companheiros Couto, Santos e os dois Catataus. Por isso seria ele?

Por outro lado a análise da composição do "mixto" indica-nos que a maioria dos seus jogadores era oriunda do Sport Clube Império. Este jogo parecia pois mais um convívio entre SCP, SCI e CIF. Não faz sentido algum pensar que Cosme Damião esteve naquele jogo.

Mas ainda assim poderia ele ser o 11º homem cujo nome não consta no jornal? Será possível identificar todos os homens da fotografia? Quem seria o homem parecido com Cosme que tem um grande destaque na fotografia? Seria mesmo Cosme Damião ou outro homem?

(http://i67.tinypic.com/28ix1m8.png)
Cosme ou um sósia? Quem seria?.

Este putativo Cosme Damião apresenta um detalhe desconcertante: a sua altura. Percebe-se que a sua altura não é compatível com a de Cosme. Este homem é bem mais baixo do que o 1,77 m que consta do bilhete de identidade de Cosme Damião. Mais um elemento que indica que estamos em presença não de Cosme Damião mas sim de um sósia.

(http://i67.tinypic.com/2d7buds.png)
Equipa do Sport Lisboa de 1908. Esta foi a equipa que venceu pela primeira vez o SCP. A fotografia é apresentada na orientação correcta ao contrário da forma recorrente (e erradamente) em que é apresentada (repare-se no detalhe do lado do bolso). De pé, esquerda para a direita: Henrique Costa, Luís Vieira, João Persónio, Cosme Damião (do alto dos seu 1,77 m), Leopoldo Mocho, Artur José Pereira e o árbitro Gastão Pinto Basto (CIF, depois SCP). Sentados, esquerda para a direita: António Costa, Eduardo Corga, David da Fonseca, António Meireles e Carlos França.

(http://i63.tinypic.com/xpuce1.png)
Bilhete de Identidade de Cosme Damião. A sua altura é claramente indicada = 1.77 m.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Março de 2016, 14:35
-95-
O sósia (parte II).


O desfazer do equívoco

Para procurar respostas teremos de olhar para mais fotografias de equipas da época. Em particular olhar para fotografias de época desse e de outros clubes dessa época para progredirmos nas identificações. E comecemos por uma particularmente esclarecedora. Uma fotografia tirada depois de um jogo no ano anterior entre o SCP e o SCI.

(http://i68.tinypic.com/fc1ttw.png)
As primeiras categorias do Sport Club Imperio e Sport Club Portugal". Fonte Os Sports Illustrados #23, 19 de Novembro de 1910.

E assim se percebe que o putativo Cosme também esteve presente. Percebe-se também que esse homem se chamava Travassos Lopes, e que era o capitão do Sport Clube Império.

Joaquim Quintino Travassos Lopes, nascido em 1885 em Castro Verde. Estudou no  Real Instituto de Lisboa e foi um entusiasmado jogador do Foot-ball Cruz Negra, clube de existência efémera, cerca de 1905 até 1907. Por lá passaram pelo menos dois jogadores que vieram a destacar-se mais tarde no Benfica, Henrique Costa e Artur José Pereira. Mas as suas figuras centrais eram outras. Entre elas estava Travassos Lopes.

(http://i65.tinypic.com/zjazib.png)
Duas imagens, duas equipas do Foot-ball Cruz Negra. Data desconhecidas, algures entre 1905 e 1907. Para além de Travassos Lopes e Augusto de Freitas está presente David da Fonseca, um imortal Benfiquista que esteve no Cruz Negra de forma passageira depois das convulsões de 190/1908. Voltaria ao SLB para ser um dos marcadores da primeira vitória do nosso clube sobre o SCP. Fonte: AML.

A extinção do Cruz Negra acabou por beneficiar mais o SCP e o Clube Sport Império uma vez que as suas figuras maior para lá foram. E seria no SCI que Travassos Lopes chegaria a ser uma das figuras preponderantes do futebol Português daquela época.

E assim podemos voltar à primeira fotografia para mais identificações. Apesar de não estar completa já é possível fazer uma identificação conclusiva para a maior parte desses homens.

(http://i64.tinypic.com/jjmys3.png)
Proposta de identificação para o grupo de jogadores que participaram no SCP vs "Mixto" de em 26 de Fevereiro 1911 no Campo do Lumiar.

Do lado do SCP estão presentes alguns dos seus jogadores nucleares tais como António Rosa Rodrigues (Neco), os dois irmãos Stromp, Joaquim Bentes, Alberto de Oliveira, António Neves Vital e Daniel Queiroz dos Santos (já retirado). Está por fim Gastão Pinto Basto que nesse jogo foi o guarda-redes do SCP. Membro de uma família prestigiada a quem o futebol Português muito deve. Foi jogador de campo do CIF e depois seria por algum tempo guarda-redes do SCP. Existem alguns outros que permanecem não identificados entro os quais teremos os jogadores menos conhecidos da equipa do SCP: Joaquim Alves Júnior e Costa.

Do lado do Sport Clube Império podem também identificar-se algumas figuras chave tal como Borja Santos e Daniel Freitas. Está também Charles Ettur, um Inglês que integrou os quadros dos Campo de Ourique, do Gilman, do SCP e do Império.

Mas o facto mais relevante é que a análise das fotografias dessa época do Clube Sport Império mostra a presença recorrente de um sósia de Cosme Damião. O seu nome era Joaquim Quirino Travassos Lopes. E é dele que interessa falar.

E assim se vê que o jogador nº 1 não se tratava de Cosme Damião mas sim de Travassos Lopes.

(http://i67.tinypic.com/153p9ad.png)
Travassos Lopes (FCN, CSI, ILC, CSM); Cosme Damião (SLB)
Sósias com percurso bem diferente.


(http://i67.tinypic.com/saz2qf.png)
Uma curiosa fotografia em que aparecem Travassos Lopes e Cosme Damião enquanto opositores. Infelizmente a qualidade é fraca. Jogo disputado em 25 de Dezembro de 1913, frente ao SC Império, no seu campo de Palhavã, para uma competição criada pelo inexistente SC Império, emblema fundador da AFL, o troféu "Taça Portugal". Fonte e legenda (parcial): Em Defesa do Benfica.



Travassos Lopes, um Alentejano na ilha da Madeira

Alguns anos depois Travassos Lopes foi viver para a ilha da Madeira (fonte: http://geneall.net/pt/forum/12160/travassos-lopes-da-madeira/ (http://geneall.net/pt/forum/12160/travassos-lopes-da-madeira/)).

Também aí revelou a sua faceta de activo promotor dos valores e virtudes do desporto. A provar isso tornou-se de 1922 a 1927 o 6º presidente do Clube Sport Marítimo, clube fundado em 1910. Seria depois reeleito para um novo mandato de 1928 a 1929 

(http://i64.tinypic.com/2mrfxcn.png)
Duas imagens de Travassos Lopes como presidente do CS Marítimo. Fotografia da esquerda: Dirigentes do Club Sport Marítimo., Funchal, 1922. Sentados: Abel Romão Gonçalves, Joaquim Quintino Travassos Lopes e Álvaro dos Reis Gomes; de pé: Manuel de Sousa, António Gomes e Amaro Magno Ferreira. Fonte: Colecção Club Sport Marítimo (http://www.arquipelagos.pt/). Funchal, ilha da Madeira. Fotografia da direita: Travassos Lopes com uma selecção de nadadores de Lisboa 1924. Fonte: Wikimedia.

Essa presidência foi muito bem-sucedida pois o Club Sport Marítimo cresceu em organização e número de sócios e viria a vencer o Campeonato de Portugal de 1925/1926. Venceu na final o CFB por 2-0 num jogo disputado no dia 6 de Junho de 1926 no Campo do Ameal, Porto. Isto depois de ter esmagado o FCP por 7-1 na meia-final de 23 de Maio de 1926 num jogo disputado na casa do Sporting, no Campo Grande, em Lisboa.

(http://i68.tinypic.com/fypr3l.jpg)
Evocação do único título nacional conquistado pelo Clube Sport Marítimo.

Já na década de 30, Travassos Lopes viria a receber uma condecoração para o grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência, por proposta do Ministro do Interior, Albino dos Reis, em 9 de Junho de 1933. Publicado no DG n.º 233, de 5 de Outubro de 1936. (fonte: http://arquivo.presidencia.pt/details?id=125041 (http://arquivo.presidencia.pt/details?id=125041)). Joaquim Quintino Travassos Lopes viria a falecer no Funchal no dia 13-02-1960.



E assim podemos quase completar as identificações na fotografia do "mixto"

(http://i68.tinypic.com/2j5j248.png)
A equipa do "mito" que disputou o jogo de 26 de Fevereiro 1911 contra o SCP. Falta identificar alguns jogadores do CSI: Álvaro Cruz, Pestana e Miranda.

E ficam algumas imagens do jogo:

(http://i67.tinypic.com/w06zd1.png)
Algumas imagens do jogo publicadas em "Os Sports Ilustrados" nº 38 de 4 de Março de 1911.

Nesse tempo a estrutura organizativa das associações e dos campeonatos era muito rudimentar. Poucos clubes, poucos jogos oficiais e pouca organização. Combinavam-se muitos jogos particulares e era frequente ver jogadores alinharem na mesma época desportiva (se assim lhe chamarmos) por mais de uma equipa.
Para além da grande mobilidade de alguns atletas entre várias equipas numa só época, tanto quanto julgo saber estes jogos mistos serviam de base à selecção de jogadores para representar a recém-fundada Associação de Futebol de Lisboa. Essas equipas jogavam ocasionalmente contra outras equipas da "província" ou contra equipas estrangeiras convidadas. Serviam assim para definir jogadores e para dar alguma consistência de conjunto.


Os equipamentos

Por fim algumas curiosidades relativamente aos três equipamentos apresentados na fotografia. Três? Sim, mas vamos por partes.

O SCP envergava o seu equipamento Stromp importado de Inglaterra. Esse equipamento estreado em 1907 foi tanto quanto sei o segundo da história dos sportinguistas pois o primeiro equipamento era completamente branco. O equipamento listado seria apenas adoptado pelo futebol apenas em 1928 na digressão que fez ao Brasil. Ou seja apareceu quando o SCP já tinha 22 anos de idade.

Por sua vez o "mixto" envergava um equipamento listado. Um não... dois!

De facto, o equipamento usado pela maioria era – tudo me leva a crer - o equipamento do Sport Clube Império. Fundado em 11 de Novembro de 1908 (fonte: Em defesa do Benfica), o Sport Grupo Império recebeu jogadores do Futebol Grupo de Campo de Ourique e do Football Cruz Negra (que se extinguiu). Apesar de pequeno foi sempre um clube dinâmico e que teve diversas iniciativas desportivas entre as quais se incluiram algumas competições. Por dificuldades diversas o SCI seria mais tarde rebaptizado de Império Lisboa Clube quando por volta de 1917 se fundiu com o Lisboa Football Club (que equipava com camisola bipartida branca e azul). Uma fusão que, ao que julgo saber, foi uma tentativa de sobrevivência tal como a que foi decidida em 1908 pelo Sport Lisboa e pelo Grupo Sport Benfica para formar o Sport Lisboa e Benfica.

(http://i66.tinypic.com/29nj711.png)
Evolução do Sport Clube Império, depois Império Lisboa Clube (fusão do CSI com o Lisboa Futebol Clube) até Clube Desportivo Palhavã. Apenas o emblema do ILC está confirmado. Retirado do site zerozero.


O SC Império apesar de ter tido curta vida apresentou diversos equipamentos mas o mais paradigmático foi justamente o equipamento de que estamos a falar. Camisola listada de amarelo e preto e calção branco. Um equipamento com uma camisola similar à que é envergada actualmente pelo Fenerbahce. Um equipamento invulgar ainda nos dias de hoje.

(http://i65.tinypic.com/b7x6yh.png)
Evolução do equipamento do Sport Clube Império para o Império Lisboa Clube. Emblema deste último clube.

E um detalhe surpreendente. O velho equipamento amarelo e preto do Sport Clube Império acabaria por ser o primeiro equipamento alternativo do... Sport Lisboa e Benfica.

De facto como nos conta Alberto Miguéns: "É bom recordar que o SC Império inaugurou depois, em 29 de Outubro de 1911, um bom campo em Palhavã. Foi neste campo que o Benfica, em 12 de Janeiro de 1924 se deparou com o insólito. O adversário dessa tarde, AC Sparta de Praga equipava "À Benfica"! Sem equipamentos alternativos houve que puxar os que estavam "mais à mão". Os do clube da casa. E assim os "vermelhos" jogaram às riscas verticais, pretas e amarelas. Ao que consta, houve "lágrimas no canto do olho" em quem presenciava de fora esse jogo "esquisito"!". Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/04/o-triunfo-de-alvaro-gaspar.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/04/o-triunfo-de-alvaro-gaspar.html).  Um jogo infeliz para as nossas cores mas de factos os Checos eram uma equipa demasiado poderosa para as nossas capacidades de então.

(http://i65.tinypic.com/p4web.png)
Ecos do SL Benfica 0 - AC Sparta 6. Repare-se no detalhe sobre os equipamentos das duas equipas. Fonte: Diário de Lisboa, 12 Janeiro 1924, página 1.

(http://4.bp.blogspot.com/-tYaG8zHjZhE/Uit85nKekKI/AAAAAAAAKH8/eyEu2DC3Kbw/s400/2_2.jpg)
Única fotografia que conheço do jogo do SLB com o AC Sparta em 12 de Janeiro de 1924. O guarda-redes Chiquinho atira-se aos pés de um Checoslovaco. Não se percebe mas o Benfica alinhou vestido à Império. Fonte: Em Defesa do Benfica.

(http://i67.tinypic.com/s3km6b.jpg)
Uma imagem de 1911 mas que nos dá uma ideia das combinações de cores daquele jogo de 1924.
Em 2 de Novembro de 1913, no campo de Palhavã, Robert Matos (SC Império) e Alberto Rio (Benfica).



Voltando ao jogo de Fevereiro de 1911 foi ainda usado um segundo equipamento listado e por isso difícil de distinguir numa fotografia a preto e branco. Mas se atentarmos em Augusto Szabo (lenço na cabeça) e Carlos Sobral, justamente os dois jogadores do CIF envergaram a camisola do seu clube (listas brancas e pretas) e não a do Império (amarelas e pretas). Para além disso atente-se na cor e forma da gola. Bem sei que por vezes as equipa usavam diferentes versões das camisolas mas não me parece que seja o caso. Isso percebe-se quando atentamos a que são apenas os jogadores do CIF a exibir a camisola diferente.

(http://i66.tinypic.com/4fwffk.png)
Detalhe da tonalidade das listas e da gola que diferenciam a camisola do CIF para a do SCI.


Assim para além do putativo Cosme Damião que ficou desmentido outros detalhes permitiram diversas identificações. Quem diria que uma fotografia teria tanto para dizer...

E estou certo que muito mais ficou por contar.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 16 de Março de 2016, 14:14
"Mistério" engraçado, não conhecia essa história.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Março de 2016, 18:28
Citação de: Lorne Malvo em 16 de Março de 2016, 14:14
"Mistério" engraçado, não conhecia essa história.

Obrigado Lorne  O0

Na verdade essa fotografia aparece em diversos livros com a legenda errada.

O mesmo se passa com esta

(http://2.bp.blogspot.com/-tIzptqz8VAA/UmoC3GGomcI/AAAAAAAAKgI/aW3TwK_BMxs/s1600/Equipa+RCPL.jpg)

Dizem que o terceiro de pé a contar da direita é Cosme. Acho que não é. É Travassos Lopes outra vez. O seu colega de equipa Daniel Freitas é um dos que está sentado em baixo. É o Sport Clube Império e não é uma equipa da Casa Pia.

Neste caso até o livro dos 100 anos da AFL vai atrás do erro (página 61).

(http://www.leyaonline.com/fotos/produtos/350_9789722043373_100_anos_de_futebol.jpg)

Alguém semeou e os outros andam a replicar. Isto claro apenas por confusão. É muito fácil fazer trocas e sei que também as faço mas neste caso estou convencido do que digo.

A Cosme só o que é de Cosme.

ps: já agora o árbitro dessa fotografia é António Rosa Rodrigues, um dos 24 fundadores do Sport Lisboa.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 16 de Março de 2016, 18:37
No fundo és uma espécie de CSI Benfica.  :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Março de 2016, 21:02
Citação de: Lorne Malvo em 16 de Março de 2016, 18:37
No fundo és uma espécie de CSI Benfica.  :)

Credo... Mas é engraçado já houve um outro Benfiquista que me disse que devia arranjar emprego no FBI ou na CIA.  :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Março de 2016, 16:28
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L'étude fait l'avenir (parte I)

(http://i65.tinypic.com/fa8ugm.png)

L'étude fait l'avenir.

O estudo faz o futuro



Era esse o lema da Escola Académica.

Vamos hoje aflorar sem aprofundar muito alguns aspectos desta prestigiada instituição de ensino privado. Fundada em 1847, a Escola Académica esteve activa até 1976, ano da sua extinção. Foram quase 130 de vida de uma acção formativa prestigiada.

Mas, como de costume, o nosso ponto de partida vai ser uma fotografia. Uma fotografia que nos mostra uma aula de esgrima no exterior em que dois alunos fazem uma demonstração. A aula era leccionada pelo Professor Câmara Leme e os restantes 34 alunos observavam atentamente.


(http://i64.tinypic.com/34fo75c.png)
Aula de esgrima do Professor Câmara Leme. Escola Académica, Setembro de 1903.
Fonte: Tiro Civil, nº 267, de 15 de Setembro 1903.

Os dois estudantes exibem-se perante a câmara numa atitude de grande beleza estética. Seriam com certeza os mais destacados dessa classe, exibindo o seu virtuosismo aos colegas e repórteres.

Agora, se olharmos mais em detalhe para a fotografia vemos que o aluno que se apresta para fazer touché é um nosso conhecido. Trata-se de Fortunato Monteiro Levy, o glorioso Cabo-verdiano que fez parte da primeira equipa do Sport Lisboa no dia 1 de Janeiro de 1905 (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/01/um-minuto-de-silencio.html)). Dele também já por aqui falamos num outro texto (-42- Duas despedidas e um alegre convívio. p.10)


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Fortunato Monteiro Levy exibindo os seus dotes de esgrimista sobre o olhar atento do Professor Câmara Leme e dos restantes colegas da Escola Académica. Fonte: Tiro Civil, nº 267, de 15 de Setembro 1903.


Fortunato Levy, um desportista completo

Algures entre o final de Agosto e princípio de Setembro de 1903, Fortunato Monteiro Levy frequentava a Escola Académica para fazer o curso de Administração Comercial.

Fortunato terá nascido (ou pelo menos sido registado) na cidade da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde  em 21/04/1888. Assim, na data da fotografia, Fortunato teria pouco mais de 15 anos de idade. Algo notável tendo em conta o desenvolvimento morfológico que já aparentava. A Genética ajudava-o pois logo desde essa idade Fortunato revelou-se um atleta notável e completo.

Na Escola Académica, a Educação Física era uma componente complementar ao plano curricular mas, conforme se percebe, assumia grande importância para o desenvolvimento completo e harmonioso pretendido pelas diversas Direcções dessa instituição. Não por acaso um segundo lema instituído na Escola Académica era "mens sana in corpore sano" ou seja "mente sã em corpo são".

Assim não admira que a Escola Académica tivesse investido na contratação de professores de Educação Física prestigiados do meio desportivo nacional. E pelo que se observa, Fortunato Levy aproveitava bem demonstrando na esgrima mais uma faceta da sua versátil e enorme aptidão para desportista. Se notarem tanto nesta fotografia como na que em abaixo se apresenta, Fortunato exibia orgulhosamente uma medalha ao peito, mostrando que cedo se destacou como desportista completo. E de facto, na sua curta permanência na metrópole, são-lhe conhecidas actividades desportivas de competição como futebolista e ciclista. Provavelmente ter-se-á ainda interessado por outras modalidades.


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Aula do Jogo do Pau do Professor Arthur dos Santos. Escola Académica, Setembro de 1903. Fonte: Tiro Civil, nº 267, de 15 de Setembro 1903.


Para além das aulas de esgrima leccionadas pelo Professor Câmara Leme, Fortunato também frequentou as aulas de jogo do pau ou Esgrima Portuguesa. Essas aulas eram leccionadas pelo Professor Arthur dos Santos, um prestigiado pedagogo da Educação Física em Portugal, formador e elemento de destaque no Real Ginásio Clube Português e mais tarde do Sport Lisboa e Benfica. Da figura e obra de Arthur Santos já por aqui já falamos (nº 86, "Um inesperado Glorioso" p. 25).

Nessa época, como veremos no próximo texto a publicar, a Escola Académica estava situada no centro de Lisboa. Por isso está ainda por estabelecer como se fez a ligação entre Fortunato e o Sport Lisboa. Quem e em que circunstâncias terá levado a que no ano seguinte Fortunato Levy se deslocasse para a zona de Belém para treinar e jogar o futebol. Como terá chegado ao Sport Lisboa, clube fundado bem longe, na zona de Belém?

Sabemos que Fortunato não esteve entre os 24 homens que oficializaram a fundação do nosso Clube. Provavelmente já terá estado entre os entusiastas que se reuniam para as  futeboladas nas Salésias em 1903, ou seja meses antes da própria fundação do Sport Lisboa. Certo é que com um pouco mais de 16 anos, compareceu em 10 dos 24 treinos do Sport Lisboa organizados por Manuel Gourlade e Daniel Santos Brito desde 28 de Fevereiro de 1904, dia da fundação do Clube, até ao dia 1 de Janeiro de 1905 (data do primeiro encontro oficial contra o Campo de Ourique (fonte: Alberto Miguéns).

Sabemos agora que Fortunato esteve na metrópole pelo menos 4 anos. Entre os 15 e os 19 anos. Uma passagem breve pela metrópole. Em Abril de 1907 regressou à cidade da Praia, à sua ilha de Santiago em Cabo-Verde. Esteve em Lisboa apenas durante uma pequena janela da sua longa vida. Uma passagem que foi decisiva para a sua futura vida profissional e social. Adquiriu conhecimentos e valores decisivos para o seu sucesso na sua terra natal.

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Fortunato Levy desenhado por Manuel Mora, seu companheiro de equipa. Desenho de Abril de 1907 feito a propósito da despedida de ambos do Sport Lisboa. Fortunato regressava a Cabo Verde, Mora emigrava para a Argentina. Começava a a grande sangria do Sport Lisboa. Chegava ao fim o tempo dos Catataus.

E teve ainda a oportunidade maravilhosa de ter jogado na primeira equipa do nosso Clube. Ele que morreu em 1969 teve oportunidade para à distância ver o Benfica atingir a glória e a dimensão planetária. Que orgulho deve ter tido! Ver Africanos como ele serem as figuras maiores do Sport Lisboa e Benfica. Eusébio, Coluna, Costa Pereira, Águas, Iaúca, Santana. Que orgulho deve ter tido!

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Fortunato, o Glorioso.
A par de Marcolino foi o primeiro Africano da história do Sport Lisboa e Benfica

Por Santiago e restantes ilhas de Cabo Verde Fortunato terá dado bom uso ao que aprendeu na Escola Académica na casa comercial fundada pelo seu pai.

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Quatro imagens da ilha de Santiago no princípio do século XX.

Por lá se dedicou aos negócios familiares tendo também atingindo posição de destaque em associações comerciais e na vida social Cabo-Verdiana.

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Três excertos de jornais Cabo-verdianos que nos dão uma ideia do prestígio social e económico de Fortunato Levy. (A) anúncio necrológico no jornal "O Arquipélago" nº 386 de 01 Jan 1970; (B) anúncio da casa comercial "Levy & Irmãos" no jornal "O Caboverdiano de Abril 1918; (C) lista dos órgãos dirigentes da associação ou clube "Associação Comercial e Agrícola" 3 de Novembro 1918. Fortunato foi eleito Secretário da Assembleia Geral. Fonte para (B) e (C): http://www.barrosbrito.com/7976.html (http://www.barrosbrito.com/7976.html).


Fortunato terá assim feito os seus estudos liceais a Escola Académica frequentando o Curso Comercial. Nota-se a completa oferta pedagógica desses cursos com aulas não apenas das disciplinas curriculares básicas mas também de "Caligrafia", "Dactilografia", "Estenografia", "Escrita comercial", "Cálculo e operações comerciais", "Matérias-primas e espécies comerciais" e "Legislação comercial". Tudo conhecimentos leccionados e testados em aulas teóricas e práticas e por um prestigiado corpo docente. Uma formação valiosa para a sua futura vida profissional.


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Aspecto de uma aula de preparação para actividade profissional num Escritório Comercial. Curso instituído em 1895. Fonte: Tiro Civil.


Note-se ainda o destaque dado no anúncio à importância da Educação Física: "Sem aumento de despeza e sendo incluídos nas anuidades, tem os alunos da escola cursos de gymnastica sueca e aplicada, patinagem, esgrima de florete, espada e pau e de bengala, volteio equestre e equitação, carreira de tiro e dansa"...

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Curso Comercial da Escola Académica em Outubro de 1910. Fonte: Restos de Colecção.


Não custa imaginar que a excelente aptidão desportiva de Fortunato foi amplamente estimulada e desenvolvida pela diversificada oferta de diferentes modalidades desportivas como complemento necessário ao sadio e harmonioso desenvolvimento pessoal e espírito de grupo nos cursos da Escola Académica.

O próximo texto será sobre a Escola Académica. Talvez tenha poucas ligações ao Benfica mas será um texto complementar a este. O destaque é merecido pois foi uma Instituição centenária, hoje quase esquecida, e que teve à sua frente pessoas de grande qualidade.

Ao longo de 13 décadas, entre os milhares de alunos que formou a Escola Académica terá com certeza terá despertado muitas vocações desportivas. É possível que não lhe venha a fazer justiça mas pelo menos ficará a evocação.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Março de 2016, 19:25
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L'étude fait l'avenir (parte II)

A Escola Académica foi uma instituição privada de ensino fundada em 1847 por António Florêncio dos Santos. Seria no entanto o seu filho o Dr. Jayme Mauperrin dos Santos que viria a dirigir a Escola durante muitos anos e como veremos a assumir uma posição de relevo na sociedade e no meio desportivo nacional.

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António Florêncio Santos (pai; fundador da Escola Académica e seu primeiro Director, de 1847 a 1891) e Jayme Adolpho Mauperrin Santos (filho; Director da Escola Académica de 1891-1913).

A Escola Académica foi pioneira em Portugal no conceito de reunir numa única escola todos os diferentes níveis e tipos de ensino antes da entrada na Universidade. Assim, na Escola Académica era leccionada a instrução infantil, a instrução primária, o curso geral dos liceus (secundário), o curso Comercial e a admissão às Faculdades.

Originalmente, escola aceitava apenas alunos do sexo masculino mas mais tarde viria a aceitar alunos do sexo feminino. Como vimos os seus cursos eram bastante diversificados e para todos os níveis de escolaridade pré-Universitários.

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Cartazes publicitários da Escola Académica em diversos tempos. Fonte: Restos de Colecção.


À semelhança do Colégio Militar, a Escola Académica cedo se preocupou em proporcionar a disciplina de Educação Física para todos os seus alunos. Para isso contou quase sempre com instalações adequadas e que ofereciam condições para a prática diversificada de modalidades como futebol, ginástica, patinagem, esgrima de florete, espada e pau, equitação e tiro. Provavelmente terão existido outras.

Ao todo foram seis edifícios:

(http://i67.tinypic.com/2d1pdsi.png)
Os seis edifícios onde funcionou a Escola Académica ao longo da sua história. Fonte das imagens: http://193.137.22.223/pt/patrimonio-educativo/museu-virtual/exposicoes/escola-academica-de-lisboa-1847-1977/ (http://193.137.22.223/pt/patrimonio-educativo/museu-virtual/exposicoes/escola-academica-de-lisboa-1847-1977/)

Talvez o mais emblemático desses edifícios tenha sido o situado na Calçada do Duque na baixa Lisboeta. Nessas instalações, em Abril de 1904, a Escola Académica passou a contar com um soberbo pavilhão para a época, inaugurado num clima festivo com a presença dos infantes Dom Luís Filipe e Dom Manuel (futuro rei de Portugal).

(http://i66.tinypic.com/hssug7.jpg)
Festa de inauguração do pavilhão da Escola Académica em 1904.

Em particular nota-se que nas extremidades do pavilhão tinham sido colocado em destaque a inscrição de dois lemas fundamentais para esta Escola. L' étude fait l' avenir e "Mens sana in corpore sano.


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Dois aspectos do pavilhão da Escola Académica inaugurado em 1904. Fonte: AML.

E no ano seguinte surgiu uma reportagem no periódico Tiro Civil que nos dá uma imagem gráfica do que era a experiência pedagógica vasta, dinâmica e complementar que era proporcionada pela Escola Académica aos seus alunos.

(http://i68.tinypic.com/25gw7wj.png)
Diversas valências, instalações e actividades pedagógicas proporcionadas pela Escola Académica em 1905.
Fonte: Tiro e Sport.


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Corpo Docente Julho 1905. Ao meio está sentado o Director, Dr. Jayme Mauperrin dos Santos. Fonte: Tiro e Sport.

Há também nota de que a Escola contou com um campo de futebol que na altura foi utilizado também para alguns jogos com carácter competitivo como demonstrado pelo registo fotográfico de um jogo que presumo opôs o Futebol Cruz Negra e o Gilman FC.

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Uma bela imagem dos primórdios do nosso futebol. Legenda original: "Jogo de futebol na cerca da Escola Académica". Ter-se-ao enfrentado as equipas do Gilman FC (camisola branca e calção escuro de cor desconhecida) e o Football Cruz Negra (calção e camisola escuro, cores desconhecidas). Fonte: AML.


A Escola Académica aliás acabou por participar no Campeonato Escolar de futebol ao lado de equipas de prestigiadas instituições de ensino como o Colégio Militar, a Casa Pia, o Liceu Camões, entre outros. Envergando a sua característica camisola de listas finas, presumo negras.

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A Escola Académica promoveu diversos eventos festivos em que as actividades desportivas eram exibidas como demonstração do espírito de grupo e da vitalidade da instituição.


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Capa do nº 2 do periódico "Os Sports Ilustrados" de 18 de Junho 1910. Festa na Escola Académica com a presença do Rei D. Manuel II. Destaques dados a diversas classes de desporto e ao Director da Escola, o Dr. Mauperrin Santos. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.

Infelizmente as instalações modelares da Calçada do Duque estavam demasiado bem localizadas no centro de Lisboa. O barulho crescente do fluxo de comboios tornou-se um problema insanável pois a escola estava situada bem ao lado da estação do Rossio. Gradualmente o aumento da poluição sonora e atmosférica tornou impossível a permanência nesse local. Assim em 1926 a Escola acabou por se transferir para uma zona mais calma da cidade. O edifício da Calçada do Duque foi vendido à CP, empresa que tanto quanto sei ainda hoje é proprietária do espaço.


Dr. Jayme Adolpho Mauperrin Santos (1857-1913)

Filho do fundador, o Jayme Adolpho Mauperrin Santos nasceu quando a Escola Académica já tinha 10 anos de existência.

Foi Bacharel em Filosofia e Medicina pela Universidade de Coimbra. Foi igualmente lente do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa e médico dos Hospitais Civis (Fonte: http://forumolimpico.org/mauperrin-santos-jaime). Tirou uma especialização em hidroterapia em Paris. Era um grande pedagogo que acabou por se tornar numa figura pública nacional.

Sucedeu, por morte de seu pai (um antigo Casapiano) como director da Escola, tendo mantido esse cargo de 1891 até 1913 (21 anos), ano da sua morte. Acabaria por ter uma permanência na Direcção da Escola por um período bem mais curto do que o de seu pai (44 anos, 1847 até 1891) mas foi no entanto o grande responsável pela maior ampliação e desenvolvimento que a instituição sofreu. Note-se que era o Director da Escola no tempo em que Fortunato Levy por lá andou.

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Dr. Jayme Adolpho de Mauperrin Santos trabalhando no seu gabinete nas instalações da Calçada do Duque. Fonte: Tiro Civil.

Entusiasta do Desporto, o Dr. Mauperrin Santos foi também fundador e dirigente de várias associações desportivas. Foi igualmente um dos grandes promotores do desenvolvimento do incipiente desporto nacional do início do século XX.

A confirmar essa ideia, note-se que foi um dos principais mentores e organizadores dos Jogos Olímpicos Nacionais, evento que teve 4 edições de 1910 a 1913. Aliás, foi sua a proposta, de tornar democrática a eleição do primeiro Comité Olímpico Nacional que ocorreu em 30 de Abril de 1912, no âmbito de uma assembleia de clubes e de jornalistas desportivos.

Sensatamente, a sua sugestão foi adoptada e assim credibilizou-se essa eleição uma vez que foi feita por durante as reuniões preparatórias dos Jogos Olímpicos Nacionais. Participaram delegados de clubes, jornalistas e ainda os directores da Sociedade Promotora da Educação Física Nacional e da Liga Sportiva de Trabalhos Eclécticos (ambas fundadas em 1909), as duas entidades que organizaram os Jogos Olímpicos Nacionais.

De forma natural o Dr. Jayme Adolpho Mauperrin Santos foi eleito o primeiro presidente do Comité Olímpico de Portugal. Foi por isso o responsável máximo da primeira participação de Portugal nos Jogos Olímpicos. A comitiva veio a integrar 6 atletas, entre os quais o malogrado Francisco Lázaro.

Infelizmente assumiu esse cargo por pouco tempo uma vez que faleceu no ano seguinte. Mas a semente da sua obra e a força do seu pensamento permaneceram como referência.

Embora sem outra ligação conhecida ao Sport Lisboa é certo que a sua influência e a longa obra formativa da sua instituição terá influenciado com grande probabilidade alguns outros dos nossos Gloriosos jogadores.

Fica por isso a evocação da sua figura e um agradecimento pela sua obra.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 22 de Março de 2016, 01:02
Interessante, mas fica uma coisa importante por responder: por que encerrou a escola?

Falência? Falta de alunos? Prejudicada por conotações com a ditadura?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Março de 2016, 09:46
Citação de: Lorne Malvo em 22 de Março de 2016, 01:02
Interessante, mas fica uma coisa importante por responder: por que encerrou a escola?

Falência? Falta de alunos? Prejudicada por conotações com a ditadura?

É uma boa questão Lorne.

É certo que fechou. Nesses anos houve muita turbulência e as escolas privadas sofreram muitas convulsões. Houve uma acção metódica para unificar o sistema de ensino e terminar com a divisão entre os Liceus e as Escolas Técnicas.

O Ministério da Educação tinha aliás diversos projecto-piloto para mudar radicalmente o sistema de ensino. Até projectos extremos como erradicar livros e substitui-los por fichas técnicas que viriam do próprio Ministério.

Independentemente das convicções políticas há que referir que se desmantelou instituições de valor do nosso País e se perdeu a capacidade de formar quadros técnicos de importância fundamental para o nosso País.

O Ensino Técnico foi pois progressivamente desmantelado por motivações políticas. Desconheço detalhes sobre a Escola Académica. é natural que fosse conotada com a ditadura mas o facto de andar a mudar de instalações poderá também indiciar algumas fragilidades internas.

Sei também que inclusivamente não existe noção de onde estão os arquivos da Escola Académica. Uma situação gravíssima e que reflecte a bandalheira reinante.

http://geneall.net/pt/forum/164133/escola-academica-lisboa/ (http://geneall.net/pt/forum/164133/escola-academica-lisboa/)

É possível que tenha sido uma combinação de factores em que o declínio da Escola tenha coincidido com as convulsões sociais e políticas. Foi lamentável este desaparecimento e ainda mais o facto de se desconhecer o paradeiro dos arquivos. Muitos milhares de alunos por lá passaram e alguns dos grandes estadistas e figuras públicas deste País.

Num futuro próximo se souber mais colocarei aqui.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 00:39
Artigo importante, de Alberto Miguéns, acerca da História do Benfica e de um Projecto seu, pelos vistos que a actual Direção não deu o devido valor.

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/03/para-os-benfiquistas.html
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Março de 2016, 01:22
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 00:39
Artigo importante, de Alberto Miguéns, acerca da História do Benfica e de um Projecto seu, pelos vistos que a actual Direção não deu o devido valor.

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/03/para-os-benfiquistas.html

Acho importante que os Benfiquistas possam ir ao blogue e não apenas deixar uma nota de apreço mas também de apoio!

Espero que a Direcção pense no Benfica e nos Benfiquistas e acarinhe este projecto. Alberto Miguéns está à altura de fazer uma obra magnífica para a divulgação simples, rigorosa e com bom gosto da incomparável História do nosso Clube.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 25 de Março de 2016, 02:08
O ideal era que fosse uma encomenda do clube, para tirar o máximo proveito do espólio do Museu e ser posteriormente traduzida para inglês. Seja como for o clube e os benfiquistas vão sempre ficar a ganhar.

Já agora, tão importante quanto a publicação da história (oficial ou não) seria a disponibilização gradual das publicações oficiais do clube, algo que teria custos residuais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 16:38
É importante, que quem tenha material e até tenha maior acesso à Direcção, que tente fazer com que Alberto Miguéis, em vez de o desvalorizarem e até hostilizar em, o valorizassem.

Pelos vistos o Vitórias e Património, tem imensa erros e ninguém avisou e ninguém ligou.

Só para dar um exemplo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 16:40
Mais, é de um grande Benfiquismo e altruísmo, disponibilizar,como aqui se faz também, o seu trabalho para todos nós, Benfiquistas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Março de 2016, 17:24
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 16:40
Mais, é de um grande Benfiquismo e altruísmo, disponibilizar,como aqui se faz também, o seu trabalho para todos nós, Benfiquistas.

Não tanto altruísmo mas com certeza Benfiquismo. Como disseste Benfiquista_  O0

Falando por mim, há uma dose de satisfação pessoal enorme por saber mais sobre a nossa História e - por arrasto - a história do nosso País. Mas essa satisfação não seria nada se não colocasse aqui o que vou sabendo. Mal ou bem pelo menos estimula a conversa e saímos todos a saber um pouco mais e - espero eu - a reconhecer melhor os que engrandeceram o nosso Clube.

E realmente ter as coisas num computador, numa pasta ou numa caixa de sapatos isoladas, a ganhar pó... Guardar até que alguém já na nossa ausência se lembre de deitar para o lixo. Isso é lamentável.

O Benfica é partilha. Alguns são capazes pela persistência e pelo estudo fazer um pouco mais na recolha e divulgação. Alberto Miguéns é o Benfiquista superlativo nesse aspecto. As amostras daquilo que esperemos venha a ser a obra a produzir num futuro próximo, mostram bem da qualidade e rigor que inevitavelmente mostrará a grandeza do nosso Clube.

A partilha é fundamental. O conhecimento correcto do nosso passado dará cada vez mais sentido às vitórias do presente. Tornará mais emocionado o apoio às nossas equipas onde quer que elas joguem, dentro dos condicionalismos que a nossa vida e carteira nos criarem.

Somos no presente e nos que é visível um Clube enorme mas isso é a ponta do icebergue. O resto que é muito maior está escondido na nossa História. Que ela venha à tona com todas as pequenas contribuições que possamos dar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 17:28
Completamente de acordo.Benfiquismo é também  partilha.É aliás isso, acima de tudo.

Toda a gente deveria ter acesso gratuito à nossa História, de uma maneira ou outra.

O que tu e muitos fazem aqui.

O que o Alberto faz, o João Tomaz, Arrobas, etc, fazem não tem preço.

Eu pessoalmente tenho imensos jornais antigos do Clube que gostava de partilhar, mas como já falei algures por aqui, não tenho meios nem técnica para os digitalizar.

Mas hei-de conseguir.

E vou compartilhar, quando conseguir
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 25 de Março de 2016, 19:52
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 17:28
Completamente de acordo.Benfiquismo é também  partilha.É aliás isso, acima de tudo.

Toda a gente deveria ter acesso gratuito à nossa História, de uma maneira ou outra.

O que tu e muitos fazem aqui.

O que o Alberto faz, o João Tomaz, Arrobas, etc, fazem não tem preço.

Eu pessoalmente tenho imensos jornais antigos do Clube que gostava de partilhar, mas como já fale algures por aqui, não tenho meios nem técnica para os digitalizar.

Mas hei-de conseguir.

E vou compartilhar, quando conseguir


Se tiveres acesso a um smartphone com uma câmara decente já dá (ou a uma impressora com scanner), só não é tão rápido quando utilizar um scanner profissional.

Isso até era um projecto muito interessante para fazer no fórum, digitalizar e disponibilizar num só ficheiro os documentos que os users têm em casa a apanhar pó.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Março de 2016, 21:00
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Um fresco em prosa: o António das Caldeiradas revisitado.

Uma pequena pérola. Acabei de encontrar um artigo de jornal que é um verdadeiro fresco sobre o interior de um dos locais chave onde se deu a génese do nosso Clube.

Com este pretexto vamos hoje revisitar a casa de pasto o "António das Caldeiradas", casa famosa no termo de Belém, entre o final do século XIX e o princípio do século XX.

Em Novembro de 2014, já por falei aqui nessa casa de pasto (ver o nº -20- O António das Caldeiradas, pág 4).

A sua importância residiu em ser um ponto de encontro e convívio para os rapazes que vieram a fundar o Sport Lisboa em 28 de Fevereiro de 1904. Os mais endinheirados tiveram com certeza oportunidade para saborear os petiscos do mar que essa casa servia. E da camaradagem terá surgido com certeza uma identificação crescente entre eles, numa fase em que estavam a iniciar a grande aventura da criação de um Grupo.

(http://i68.tinypic.com/szwxo9.png)
Gourlade e alguns dos outros Gloriosos pioneiros do Sport Lisboa de 1904-1906.
Fotografia tirada nas terras do Desembargador às Salésias.

É preciso perceber que a Belém desses tempos era uma Vila pacata, algo afastado de Lisboa não tanto pela distância física mas mais pelos primitivos meios de transporte colectivo existentes assim como pelo reduzido urbanismo desses dias. A distância é uma medida relativa na escala dos homens.

Belém era um local populoso, com elevada natalidade, um local popular de gente simples e de trabalho. Mas era também um local onde viviam algumas famílias endinheiradas como os Rosa Rodrigues, como os Empis, os Burnay, entre outros.

Por Belém também se vivia, desde o final do século XIX, uma enorme efervescência futebolística. Para lá tinha sido transferida desde que os campos situados nos terrenos do Campo Pequeno deixaram de ser opção pela construção da Praça de touros e pelo crescente urbanismo dessa zona. Essa transição marcou a popularização do futebol, anteriormente um desporto de gente fina.

(http://i68.tinypic.com/vg4w8n.png)
Localização do António das Caldeiradas e de outros locais chave para a fundação e primeiros anos do nosso Clube: os terrenos da CP perto de onde hoje fica o CCB, o Café do Gonçalves e a Farmácia Franco.
Fonte: Em Defesa do Benfica.


Vamos hoje usar um pequeno mas belo artigo de jornal de Tito Martins, um jornalista de renome da primeira metade do século XX.

José Augusto Tito Gonçalves Martins (Lisboa, 1868-1946) iniciou a sua carreira de jornalista no jornal "Interesse Publico". Tinha então 18 anos e nunca mais parou. Passou pelo "Imparcial", de Tomás Ribeiro; o "Correio Nacional", do Padre Matos; o "Diário Popular", de Mariano de Carvalho; a "Semana de Lisboa", de Alberto Braga (supl. do "Jornal do Commercio"); O "Século", de Silva Graça; "A Capital", de Manuel Guimarães; e também pela "Luta", "República", "Rebate", "Notícias da Tarde", "O Povo", etc. Assinava muitas vezes como "João Verdades", n' "O Micróbio" redactor literário adoptou o pseudónimo "Titan". Dedicar-se-á também ao teatro, estreando-se como autor, em Novembro de 1889, com a revista "Farroncas do Zé. Também publicou algumas dezenas de livros com crónicas, contos, novelas e romances. Fonte: hemeroteca digital de Lisboa

(http://i67.tinypic.com/14cegbq.png)
Fonte: Ilustração Portugueza, nº 803 de 9 de Julho de 1921

Tito Martins foi muito provavelmente correspondente do jornal carioca Correio da Manhã, pois foi aí que o artigo foi publicado, na edição de 28 de Janeiro de 1911. O artigo, esse foi escrito em Lisboa no dia 8 Janeiro 1911.

E vamos justamente à principal peça deste texto. Um artigo publicado sobre o nome Chronica de Lisboa no jornal "Correio da Manhã" em 28 de Janeiro de 1911:


(http://i67.tinypic.com/iyfpep.png)
Artigo publicado por Tito Martins no jornal "Correio da Manhã", no Rio de Janeiro em 28 de Janeiro de 1911.


Pelo seu interesse vou transcrever a parte dessa "Chronica de Lisboa" que se refere ao António das Caldeiradas. Vou fazê-lo actualizando apenas a grafia da época para a tornar a leitura mais fluída.


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(...) Acaba de falecer o popular António das Caldeiradas feliz proprietário de uma casa de pasto de faina universal... dentro de uns arrabaldes de Lisboa, isto é, no termo de Belém, nos bons tempos em que ir até lá assumia importância de realizar uma verdadeira jornada... de cinco quilómetros.

Pela casa do António das Caldeiradas passaram portanto pelo menos duas gerações de estúrdios atraídos pelo justificado renome da petisqueira que veio a celebrizar o seu autor, ou, antes, manipulador exímio.

E não era julgar-se que o estabelecimento correspondia, em suas proporções e conforto a tal renome... Pelo contrário, modesto, como a mais modesta hospedaria de aldeia, cujo aspecto, por sinal, conservou integral até hoje, era - e é - constituído pelos baixos, onde se encontra instalada a taberna, e pelo sobrado, sede do restaurante que de pouco mais consta que de uma pequena sala onde 20 pessoas a custo abancarão.

Pelas paredes, oleografias baratas, um espelho pouco mais caro, e pingentes de papel de cores, recortado, destinados a atrair as moscas que, por sinal, ou zombavam do ingénuo estratagema do proprietário, ou foram sempre por lá em abundância tal que dava para encher os pingentes e perseguir os fregueses com o seu eterno zumbido e impertinente contacto.

Da última vez que lá estivemos - dois anos haverá - já sob o ponto de estabelecimento da moda o António das Caldeiradas se encontrava na mais manifesta decadência, o que não quer dizer que as caldeiradas e o peixe frito não continuassem a honrar a justificada fama dos melhores tempos e a ausência de guardanapos não continuassem também a atestar as tradições da casa.

As mesas eram as mesmas de sempre, do mesmo pinho, ladeadas pelas mesmas cadeias de "pao à toa", como costumava chamar um agrónomo que conhecemos no Pará, a todas as árvores cuja classificação excedia os seus conhecimentos botânicos... E o próprio António das Caldeiradas, aparte os anos e os cabelos brancos perdurava também imutável pois tendo apenas há 6 meses resolvido deixar de ser o que fora até então, ou seja, trespassar a casa, custou-lhe, talvez, isso a morte com 74 anos de idade e cerca de 40 de fabricante... do apelido como diria Eduardo Garrido se estivesse escrevendo por nós. (...)

Lisboa, 8 de Janeiro de 1911.

Tito de Morais

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Na ausência de uma fotografia do interior da casa de pasto, este texto é absolutamente notável. É um fresco que nos descreve o interior dessa rústica mas popular casa de pasto.  É um artigo em discurso directo. Um testemunho pessoal de alguém que frequentou a casa e que lá foi por diversas vezes e em diferentes tempos. Um artigo curto mas bastante rico em detalhes, só lhe faltando mesmo uma fotografia. Com ele ficamos conhecedores de diversos detalhes que até agora desconhecidos (pelo menos para mim):


● O estabelecimento consistia numa taberna nos baixos do prédio e num restaurante no piso superior.

● A sala de refeição, apenas uma, tinha uma capacidade para não mais de 20 pessoas.

● A sala tinha uma decoração modesta que se manteve por décadas. Essa não era uma preocupação do dono.

● O serviço não primava quer pela elegância quer pela limpeza. Era rústico, bem rústico.


Depois sabemos da excelência da comida. Mas isso já se sabia uma vez que um nome maior das artes Portuguesas, Rafael Bordalo Pinheiro, foi decisivo para a imortalizar no seu traço genuíno e inconfundível – publicado no periódico humorístico "O António Maria" de Julho de 1883.


(http://i65.tinypic.com/ml1tl3.png)
Montagem com o desenho publicado por Rafael Bordalo Pinheiro no periódico humorístico "António Maria" em 19 de Julho 1883, pág. 230. O famoso autor está também representado de forma irreverente (bem apropriada para este contecto) no canto superior esquerdo.
Fonte: Hemeroteca de Lisboa


Uma bela homenagem de alguém tão bom conhecedor e que tanto gostava dos prazeres da boa mesa como o genial criador do Zé Povinho.

E aliás a esse propósito atentemos numa passagem esclarecedora de um outro artigo assinado por João Pinheiro Chagas em louvor a Rafael Bordalo Pinheiro (com quem colaboraria mais tarde no periódico "A Paródia"), publicado no jornal carioca "O Paiz" no longíquo dia de 20 de Fevereiro de 1885. O artigo foi feito a propósito do último número de "O António Maria" quando na altura se pensava que tinha chegado ao fim. Na verdade publicar-se-ia uma segunda série entre 1891 e 1898. "O António Maria" foi editado e dirigido pelo genial Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Atente-se à última linha para perceber a fama que Rafael Bordalo Pinheiro deu ao "António das Caldeiradas".

(http://i63.tinypic.com/27yicj.png)
Excerto de um artigo entitulado o "António Maria" da autoria de Pinheiro Chagas, publicado no Rio de Janeiro no jornal "O Paiz" no longíquo dia de 20 de Fevereiro de 1885. Fonte: BND.


Segundo Raúl Valente o António da Barbuda seria originário da Galiza (http://www.raulvalente.pt/historia/das-casas-de-pasto-a-alta-cozinha/ (http://www.raulvalente.pt/historia/das-casas-de-pasto-a-alta-cozinha/)). Nos seus tempos áureos o António da Barbuda recebia na sua casa de pasto uma elite feita de fidalgos e figuras da intelectualidade como o poeta Bulhão Pato, o escritor Fialho de Almeida, Júlio César  Machado, o já referido artista Rafael Bordalo Pinheiro e até o escritor e crítico francês Charles Yriarte.

Escritos de outros escritores desse tempo igualmente frequentadores da casa de pasto,  são igualmente elucidativos:

«Um pouco mais à frente, na Rua Vieira Portuense, a antiga rua do Cais, temos essa ala de prédios que «serão alindados para se integrarem, em 1940, na área da Exposição do Mundo Português», «São casas do tempo em que o rio lhes beijava os pés dourados de areia.» (in «Peregrinações em Lisboa», Norberto de Araújo, vol. IX)

ou ainda,

Aí ficava o «caldeirista-mor da rigolade alfacinha, António de Belém, perto dos Arcos», verdadeiro «génio do refogado», tão gabado por Fialho de Almeida, em especial «nas suas relações sociais e aperitivas com o peixe era tão alto, que o crítico francês Charles Yriarte, jantando ali uma vez comigo, prometeu mandar-lhe de Paris o diploma de sócio do Instituto.» (in «Os Gatos», Fialho de Almeida, vol.4, 1889-1894]

Até a tradição oral de Belém aludia à fama desses tempos e deste estabelecimento conforme nos refere António Filipe Rato na sua tese de mestrado. O autor ouviu da boca de uma anciã, nascida em 1913 uma letra de uma canção da sua juventude que falava da fama das feiras de Belém:

Linda feira de Belém
Lembrança que eu acarinho
Como tu me fazes falta
Ainda me lembro bem.

Do café do Machadinho
Com um tostão
(Que era então um dinheirão)
Fazia-se um figurão
E sempre o diabo a quatro

Eram cafés, cervejas e capilés
E sobrava muita vez
Maçaroca p'ro teatro

A feira era tão linda
Que até lá iam escritores
Das peças mais consagradas
Vi Marcelino Mesquita
Ramada e outros escritores
E [ o ] António das Caldeiradas

Ai meus amigos
Naqueles tempos antigos
Até os pobres mendigos
Ali se sentiam bem

Eram cervejas e capilés
Queijadas e água-pés
E o café só custava um vintém

Desta feira o que me resta
É [ sic ] as saudades que eu tinha
E já lá vai tanto ano

Ia a gente p'ra festa
Ou no carro do Jacinto
Ou no carro americano.


(Fonte: AF Rato (2009) "Marcelino Mesquita, aspectos da sua vida e memória pública")


(http://i68.tinypic.com/34owsvt.png)
Uma rara imagem da Rua onde estava o António das Caldeiradas em 1883. Note-se o bulício da feira, cavalos, negociantes, cavalheiros, senhoritas com sombrinhas e crianças brincando. Bem condizente com as prosas e versos que acima se apresentam. Fonte: AHM.


Mas voltando ao artigo de Tito Martins, apesar de o artigo não esclarecer o nome completo daquele que era conhecido por António da "Barbuda" podemos retirar algumas notas a propósito dessa figura:

● Faleceu por volta da primeira semana de Janeiro de 1911 com a idade de 74 anos, logo terá nascido por volta de 1837.

● Terá trabalhado naquela casa durante cerca de 40 anos, até seis meses antes da sua morte.

E na verdade há outra indicação de que a casa de pasto já estaria aberta em 1870 quando o António da Barbuda ainda era trintão. Esse detalhe é-nos revelado pelo Sr. João Reboredo da Gazeta das Caldas (fonte: http://www.gazetacaldas.com/24865/caldeiradas/ ) quando nos refere que a maravilhosa caldeirada já era bem apreciada e conhecida nessa data.

Ainda segundo o dito artigo terá sido esse longínquo reconhecimento da excelência gastronómica que levou o escritor Júlio César Machado a introduzir uma receita de caldeirada na sua participação no afamado livro "O Cozinheiro dos Cozinheiros", editado em Lisboa por editado por Paul Plantier e cuja primeira edição data de 1870.


(http://i65.tinypic.com/9u2k8z.png)
Receita assinada pelo escritor Júlio César Machado (também na figura) que com toda a probabilidade era um frequentador de "O António das Caldeiradas". Página 684 de "O cozinheiro dos cozinheiros" editado por Paul Plantier.


O livro "O Cozinheiro dos Cozinheiros" é uma monumental compilação de cerca de 1500 receitas com a colaboração de escritores nacionais e internacionais de enorme prestígio nessa época tais como Fialho de Almeida, Gomes de Amorim, Brito Aranha, Luciano
Cordeiro, Rafael Bordalo Pinheiro, Eduardo Coelho, Cândido de Figueiredo, Henrique Lopes de Mendonça, Ramalho Ortigão, Bulhão Pato, Teixeira de Vasconcelos, o visconde de Benalcanfôr, o conde de Arnoso, o conde de Monsaraz, entre outros.

A estes nomes há ainda que acrescer justamente o escritor Júlio César Machado. Este aliás publicou em 1876 juntamente com Rafael Bordalo Pinheiro, um álbum de caricaturas "Phrases e anexins da lingua portuguesa" que é uma colectânea de provérbios. Ou seja todas as evidências apontam para que estes dois grandes homens das artes de Portugal eram dois bons garfos frequentadores de "O António das Caldeiradas". Não custa por isso admitir que Bordalo Pinheiro fizesse parte de um núcleo de homens das letras e dar artes (os tais estúrdios) frequentadores e apreciadores da famosa casa de pasto.

(http://i67.tinypic.com/1497a6t.png)
Uma edição de "O cozinheiro dos cozinheiros" editado por Paul Plantier. A primeira edição data de 1870.

Mas na verdade em 1903 e 1904, quando os rapazes que viriam a fundar e/ou a fazer parte dos treinos e das primeiras equipas do Sport Lisboa, por ali andavam, já o António das Caldeiradas estava em decadência. Depois de décadas de serviço e tendo atravessado mutações físicas e sociais daquela zona, aproximava-se o fim. O António da Barbuda retirava-se em meados de 1907 e morreria logo no princípio de 1908. Chegava ao fim uma das mais afamadas casas de pasto de sempre. Mas a sua fama ficou na pena e no traço dos mais notáveis dos seus frequentadores.

Para nós Benfiquistas fica o conhecimento acrescido de um ponto de encontro e convívio de grande importância para o nascimento do nosso Clube.

De Belém para o Mundo.

(http://i67.tinypic.com/2py110y.png)
A famosa Casa de pasto O António das Caldeiradas na Rua Vieira Portuense, termo de Belém. Fotografia do início do século XX, época da fundação do nosso Clube. Fonte: AML.


(http://i68.tinypic.com/fmmbki.png)
Doca de Pedrouços. Seria por ali que o António das Caldeiras viria chegar alguma da sua matéria-prima. Fonte: AML.

(http://i67.tinypic.com/2j1pfl3.png)
Uma brincadeira gráfica em homenagem ao António da Barbuda e ao seu "O António das Caldeiradas".
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 26 de Março de 2016, 00:26
Citação de: Theroux em 25 de Março de 2016, 19:52
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 17:28
Completamente de acordo.Benfiquismo é também  partilha.É aliás isso, acima de tudo.

Toda a gente deveria ter acesso gratuito à nossa História, de uma maneira ou outra.

O que tu e muitos fazem aqui.

O que o Alberto faz, o João Tomaz, Arrobas, etc, fazem não tem preço.

Eu pessoalmente tenho imensos jornais antigos do Clube que gostava de partilhar, mas como já fale algures por aqui, não tenho meios nem técnica para os digitalizar.

Mas hei-de conseguir.

E vou compartilhar, quando conseguir


Se tiveres acesso a um smartphone com uma câmara decente já dá (ou a uma impressora com scanner), só não é tão rápido quando utilizar um scanner profissional.

Isso até era um projecto muito interessante para fazer no fórum, digitalizar e disponibilizar num só ficheiro os documentos que os users têm em casa a apanhar pó.
Tenho Android.Já experimentei algumas!as aplicações de scanner, mais indicadas para este tipo de coisas, mas não me saíram bem as coisas.

Scanner até tenho, embira o pc estreja a dar o berro...depoois o problema é ter receio de estragar os jornais.

Tenho material do anos 70, 80, 90 e recuando, até dos anos 60.

São uns 500 jornais mais ou menos.

Já andei a pesquisar por pessoas que são profissionais na área e o preço é muito elevado(acima dos 1000 euros...)

Terei de ter imensa paciência e ser página a página. Depois terei sendo sacaneado ou com câmara pelo Android, tratadas as imagens.

Ando a tentar engendrar um plano, mas tem que ser com calma e meios,que não tenho infelizmente.

Fico triste porque mesmo que tenha cuidados m manter os jornais em segurança e não a apanhar pó, humidade, etc, existe sempre a erosão do tempo.

Pedi recentemente conselhos/ajuda à Fundação Benfica, através dos conhecimentos do nosso Museu Cosme Damião.

Expliquei a situação, que tinha material histórico do Clube e não tinha meios para tratar, mas não obtive qualquer feedback...

Sem querer entrar por outros caminhos, a Fundação Benfica também deveria tomar em consciência esas situações e não apenas as mais usuais, como dar a conhecer os jogadores a um menino z etc, que tem a sua importância, mas isto também têm, dentro das duas situações em si.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 26 de Março de 2016, 01:15
Citação de: Benfiquista_ em 26 de Março de 2016, 00:26
Citação de: Theroux em 25 de Março de 2016, 19:52
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 17:28
Completamente de acordo.Benfiquismo é também  partilha.É aliás isso, acima de tudo.

Toda a gente deveria ter acesso gratuito à nossa História, de uma maneira ou outra.

O que tu e muitos fazem aqui.

O que o Alberto faz, o João Tomaz, Arrobas, etc, fazem não tem preço.

Eu pessoalmente tenho imensos jornais antigos do Clube que gostava de partilhar, mas como já fale algures por aqui, não tenho meios nem técnica para os digitalizar.

Mas hei-de conseguir.

E vou compartilhar, quando conseguir


Se tiveres acesso a um smartphone com uma câmara decente já dá (ou a uma impressora com scanner), só não é tão rápido quando utilizar um scanner profissional.

Isso até era um projecto muito interessante para fazer no fórum, digitalizar e disponibilizar num só ficheiro os documentos que os users têm em casa a apanhar pó.
Tenho Android.Já experimentei algumas!as aplicações de scanner, mais indicadas para este tipo de coisas, mas não me saíram bem as coisas.

Scanner até tenho, embira o pc estreja a dar o berro...depoois o problema é ter receio de estragar os jornais.

Tenho material do anos 70, 80, 90 e recuando, até dos anos 60.

São uns 500 jornais mais ou menos.

Já andei a pesquisar por pessoas que são profissionais na área e o preço é muito elevado(acima dos 1000 euros...)

Terei de ter imensa paciência e ser página a página. Depois terei sendo sacaneado ou com câmara pelo Android, tratadas as imagens.

Ando a tentar engendrar um plano, mas tem que ser com calma e meios,que não tenho infelizmente.

Depois de falares nos jornais experimentei com uma página para ver como ficava (a luz não era a ideal): http://i.imgur.com/bqZim1d.jpg Sendo que é de borla acho que está aceitável. Repetir isto umas 25.000 vezes é que é uma tarefa hercúlea...

O truque é fixar o telemóvel e ter um aparelho deste género http://tinyurl.com/hk782nx para que depois seja só uma questão de ir virando as folhas e clicando.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 26 de Março de 2016, 01:50
Citação de: Theroux em 26 de Março de 2016, 01:15
Citação de: Benfiquista_ em 26 de Março de 2016, 00:26
Citação de: Theroux em 25 de Março de 2016, 19:52
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 17:28
Completamente de acordo.Benfiquismo é também  partilha.É aliás isso, acima de tudo.

Toda a gente deveria ter acesso gratuito à nossa História, de uma maneira ou outra.

O que tu e muitos fazem aqui.

O que o Alberto faz, o João Tomaz, Arrobas, etc, fazem não tem preço.

Eu pessoalmente tenho imensos jornais antigos do Clube que gostava de partilhar, mas como já fale algures por aqui, não tenho meios nem técnica para os digitalizar.

Mas hei-de conseguir.

E vou compartilhar, quando conseguir


Se tiveres acesso a um smartphone com uma câmara decente já dá (ou a uma impressora com scanner), só não é tão rápido quando utilizar um scanner profissional.

Isso até era um projecto muito interessante para fazer no fórum, digitalizar e disponibilizar num só ficheiro os documentos que os users têm em casa a apanhar pó.
Tenho Android.Já experimentei algumas!as aplicações de scanner, mais indicadas para este tipo de coisas, mas não me saíram bem as coisas.

Scanner até tenho, embira o pc estreja a dar o berro...depoois o problema é ter receio de estragar os jornais.

Tenho material do anos 70, 80, 90 e recuando, até dos anos 60.

São uns 500 jornais mais ou menos.

Já andei a pesquisar por pessoas que são profissionais na área e o preço é muito elevado(acima dos 1000 euros...)

Terei de ter imensa paciência e ser página a página. Depois terei sendo sacaneado ou com câmara pelo Android, tratadas as imagens.

Ando a tentar engendrar um plano, mas tem que ser com calma e meios,que não tenho infelizmente.

Depois de falares nos jornais experimentei com uma página para ver como ficava (a luz não era a ideal): http://i.imgur.com/bqZim1d.jpg Sendo que é de borla acho que está aceitável. Repetir isto umas 25.000 vezes é que é uma tarefa hercúlea...

O truque é fixar o telemóvel e ter um aparelho deste género http://tinyurl.com/hk782nx para que depois seja só uma questão de ir virando as folhas e clicando.
Mesmo assim ficou com uma qualidade aceitável.

Teria de fazer isso, atendendo também à luz solar do dia, ou se de noite com luz de casa...flash, etrc.

Sou um autêntico zero à esquerda nisso...

Esse aparelho parece bom, para tornar o processo mais simples.

Mas sim, terei de ter imensa paciência e repetir imensas vezes até fica bom.E tentar não "tremer a mão"....
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 26 de Março de 2016, 02:10
Citação de: Benfiquista_ em 26 de Março de 2016, 01:50
Citação de: Theroux em 26 de Março de 2016, 01:15
Citação de: Benfiquista_ em 26 de Março de 2016, 00:26
Citação de: Theroux em 25 de Março de 2016, 19:52
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 17:28
Completamente de acordo.Benfiquismo é também  partilha.É aliás isso, acima de tudo.

Toda a gente deveria ter acesso gratuito à nossa História, de uma maneira ou outra.

O que tu e muitos fazem aqui.

O que o Alberto faz, o João Tomaz, Arrobas, etc, fazem não tem preço.

Eu pessoalmente tenho imensos jornais antigos do Clube que gostava de partilhar, mas como já fale algures por aqui, não tenho meios nem técnica para os digitalizar.

Mas hei-de conseguir.

E vou compartilhar, quando conseguir


Se tiveres acesso a um smartphone com uma câmara decente já dá (ou a uma impressora com scanner), só não é tão rápido quando utilizar um scanner profissional.

Isso até era um projecto muito interessante para fazer no fórum, digitalizar e disponibilizar num só ficheiro os documentos que os users têm em casa a apanhar pó.
Tenho Android.Já experimentei algumas!as aplicações de scanner, mais indicadas para este tipo de coisas, mas não me saíram bem as coisas.

Scanner até tenho, embira o pc estreja a dar o berro...depoois o problema é ter receio de estragar os jornais.

Tenho material do anos 70, 80, 90 e recuando, até dos anos 60.

São uns 500 jornais mais ou menos.

Já andei a pesquisar por pessoas que são profissionais na área e o preço é muito elevado(acima dos 1000 euros...)

Terei de ter imensa paciência e ser página a página. Depois terei sendo sacaneado ou com câmara pelo Android, tratadas as imagens.

Ando a tentar engendrar um plano, mas tem que ser com calma e meios,que não tenho infelizmente.

Depois de falares nos jornais experimentei com uma página para ver como ficava (a luz não era a ideal): http://i.imgur.com/bqZim1d.jpg Sendo que é de borla acho que está aceitável. Repetir isto umas 25.000 vezes é que é uma tarefa hercúlea...

O truque é fixar o telemóvel e ter um aparelho deste género http://tinyurl.com/hk782nx para que depois seja só uma questão de ir virando as folhas e clicando.
Mesmo assim ficou com uma qualidade aceitável.

Teria de fazer isso, atendendo também à luz solar do dia, ou se de noite com luz de casa...flash, etrc.

Sou um autêntico zero à esquerda nisso...

Esse aparelho parece bom, para tornar o processo mais simples.

Mas sim, terei de ter imensa paciência e repetir imensas vezes até fica bom.E tentar não "tremer a mão"....

Teria de ser com o botão remoto e um suporte destes, para estar sempre bem focado:
Spoiler
http://www.ebay.com/itm/Black-Long-Arm-Lazy-Phone-Car-Flexible-Holder-Cradle-Stand-for-Smartphone-5s-6-/351246304043?hash=item51c7e9432b:g:FC8AAOSwuMFUgXE0

http://www.ebay.com/itm/CamStand-Mini-The-Perfect-Desktop-Smartphone-Stand-/222019064943?hash=item33b15e146f:g:yJgAAOSwzgRWuU1d

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[fechar]
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 26 de Março de 2016, 02:43
Exactamente.

É mesmo isso, porque se não fica tudo tremido.

Irei continuar em "testes" até encontrar uma solução viável.

Obrigado pelas dicas ;)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Abril de 2016, 23:39
-99-
A Pharmácia Franco (I) – As duas primeiras gerações.

Continuando a nossa visita aos lugares emblemáticos da génese do Sport Lisboa, é hoje tempo para voltar a falar da Farmácia Franco e dos seus proprietários, a família Franco.

Assim, neste artigo e no próximo (que será o nº 100!) saberemos mais sobre as figuras e alguns aspectos interessantes desta família e da sua ligação ao nascimento do nosso Clube. No nº 100 teremos ainda uma novidade. Uma grande novidade à medida da mensagem centenária. Mas lá iremos.

Por ser merecido gostaria de salientar o mérito de uma pequena mas excelente referência bibliográfica: 

Lopes, João Claúdio Awouters, "Pedro Augusto Franco, 1º Conde do Restelo, e a sua Fábrica de vinho medicinal no Dafundo", in I Encontro de Historia Local do Concelho de Oeiras, CMO, 1993, pp 57 a 60.

Para além do mérito do trabalho deste autor gostaria ainda de agradecer à gentil disponibilização do artigo por parte da Biblioteca Municipal da Câmara de Oeiras. Uma instituição onde certamente o dinheiro dos contribuintes é bem empregue.


Gostaria ainda de agradecer à Senhora Ana Falcão Centeno, uma descendente do Conde do Restelo que forneceu elementos preciosos para adicionar e para corrigir alguns detalhes. Uma Benfiquista como nós que mostrou a generosidade e entusiasmo dos seus ilustres antepassados.


A família Franco

Comecemos então por falar da família Franco que foi propriedade de três gerações de farmacêuticos. No texto de hoje falaremos apenas das duas primeiras gerações.

(http://i66.tinypic.com/ddzx9k.png)

Ignácio José Franco (1797-1864). Natural da freguesia de Turcifal, Torres Vedras. Não sabemos se Ignácio terá sido o primeiro farmacêutico da família mas o que é certo é que iniciou uma linha de três gerações totalizando pelo menos quatro farmacêuticos.

Filho de Eustáquio da Silva (29/07/1742) natural de Mossafaneira, Sº Miguel da Ventoza, Torres Vedras e Dª. Catarina Franco dos Milagres, filha de José Franco natural de Carvalhaes e de Dª. Bernarda Francisca natural do Sobral.

Ignácio casou em 23/09/1821 com Dª Candida Rosa d'Abreu (21/03/1800) filha de Agostinho José d'Abreu e de Dª. Anna Maria do Rosário. Para além de Pedro terá tido mais filhos mas que não terão tido descendência.

Nesse mesmo ano de 1821 Ignácio estabeleceu-se em Belém por volta de 1821, sendo por isso essa a data de fundação da Farmácia Franco. Ignácio era conhecido pelas boas gentes de Belém, seus clientes, por "Ignácio dos unguentos". Um nome popular pitoresco  e que mostrava talvez que a ele já era reconhecido o espírito inventivo e de iniciativa que os seus descendentes vieram a revelar. É interessante que o seu filho Pedro viria a frequentar a Casa Pia de Lisboa, presumo como aluno externo. Escolha essa que como se verá teve bons resultados no percurso Académico e profissional do seu filho. Por outro lado essa opção, talvez evidente pela proximidade e excelência da aprendizagem dada na Real Casa Pia pode sugerir também que a família Franco nessa altura ainda não dispunha dos meios de fortuna que mais tarde veio a ter.

Pedro Augusto Franco, 1.º Conde do Restelo (1833-1902). Era filho de Ignácio José Franco e de sua esposa Dª. Cândida Rosa de Abreu. Nasceu provavelmente em Belém embora tenha sido baptizado em Lisboa. Nasceu quando o seu pai tinha 36 anos de idade. Foi aluno da Casa Pia até aos 16 anos vindo depois a frequentar a Escola Politécnica. Seguiu-se a Escola de Farmácia tendo concluído o curso de Farmacêutico em 1853 ou seja com 20 anos de idade. Cursou depois a Escola Farmacêutica de Lisboa. Depois de formado fundou uma farmácia em Pedrouços mas acabaria por se associar ao seu pai para desenvolver a farmácia de Belém.

Pedro Augusto Franco para lá de farmacêutico foi um homem muito rico, com visão comercial e empresarial tendo tido igualmente uma grande relevância política e social. Cedo se filiou Partido Progressista tendo sido eleito deputado pela primeira vez em 1868, representando os círculos políticos de Oeiras e de Belém. Tomou assento na Câmara dos Pares do Reino em 1885, 1887 e 1890 como representante de Lisboa. Foi também eleito vereador e presidente da Câmara Municipal de Belém, sucedendo ao Historiador Alexandre Herculano. Desempenhou o cargo durante sucessivos mandatos até à extinção do Concelho de Belém (e integração no Concelho de Lisboa) em 1885. Gozava de grande popularidade junto dos seus munícipes de Belém, gente simples que por vezes lhe chamava o "Franco do xarope".

Mais tarde, de 1894 a 1897 e de 1899 a 1901 viria a ser vereador e Presidente da Câmara de Municipal de Lisboa. Pedro Augusto Franco foi igualmente figura influente no sector económico Português tendo sido presidente da Caixa Geral de Depósitos de 1881 a 1892. Depois dessa data e até à sua morte em 1902, ainda se manteria ligado a esta instituição como membro de órgãos directivos. Durante os anos de presidência da Câmara de Belém a Farmácia Franco acabou inevitavelmente por se tornar um dos locais políticos chave da Vila. A elite política por ali andou e por ali manteve contactos com o presidente. Foram anos em que o futuro Conde do Restelo solidificou a sua posição social. Lidou com estadistas como o Duque de Saldanha, Fontes Pereira de Melo, José Luciano de Castro (Partido Progressista) e Hintze Ribeiro (Partido Regenerador).

(http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/x-arqweb/ContentDisplay.aspx?ID=9523e07c82490001e240&Pos=1&Tipo=PCD&Thb=0)
Câmara dos Deputados, 1895


Como resultado da sua acção política e social, Pedro Augusto Franco veio a ser nomeado Par do Reino e Conselheiro do Rei (presumo quer de D. Luís I quer de D. Carlos I). Recebeu muitas condecorações tendo em 16 de Fevereiro de 1877, por decreto de D. Luís I, sido agraciado com o título nobiliárquico de "Conde do Restello em duas vidas". E assim seria, pois à sua morte o seu filho mais velho seria o 2º e último Conde do Restelo. Um detalhe curioso foi que pouco antes de ser efectivamente agraciado com o título nobiliárquico a notícia correu segundo a qual o título a conceder seria o de "Conde da Praia do Restello".

Como é costume no nosso País, logo se levantaram vozes contra esse título não tanto por um farmacêutico ser feito nobre mas antes porque o título a conceder iria evocar a praia de onde tinham partido os navegadores para a descoberta da Índia. Heresia! Isto apesar de lhe reconhecerem a honradez de carácter, o mérito pessoal e o cuidado e assistência que prestava aos pobres. A polémica foi tão ácida que até a escritora e poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho chegou a escrever que mais valia que o governo também consentisse a Pedro Augusto Franco poder embrulhar os seus medicamentos em... folhas de "Os Lusíadas"!

Estranhamente a coisa acalmou quando Pedro Augusto Franco foi nomeado "Conde do Restello". Sem Praia, somente "Restello". Lusitanas confusões... Mas factual é que Pedro Augusto Franco ainda viria, num tempo seguinte, a receber mais e merecidas honrarias da parte do Rei D. Carlos I. Exemplo disso foi a atribuição da Grã-Cruz da Ordem de Nª Sra. da Conceição de Vila Viçosa em 25 de Setembro 1900.

Pedro Augusto Franco morreu no final de Abril de 1902, tendo deixado a farmácia Franco aos seus dois filhos, ambos farmacêuticos de profissão. À data da sua morte foi recebido pela família bilhetes, cartas e telegramas de pêsames de figuras como a Rainha-mãe Dª Maria Pia, o Rei D. Carlos, Hintze Ribeiro (na altura presidente do Conselho de ministros). Foram também aprovados votos de pesar na Câmara dos Pares e na Câmara Municipal de Lisboa.

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Notícia da morte de Pedro Augusto Franco, 1º Conde do Restelo. Semanário Tiro Civil, 1 Maio 1902. Fonte: AML


Da sua família há ainda a referir que teve ainda mais um filho e quatro filhas: Valentim (16/07/1866 a 22/09/1867); Cândida Theodora (16/10/1867); Maria Victória (20/12/1868); Maria Theodora (21/04/1870) e Catharina Bárbara (?). Foi casado por duas vezes, a primeira em 1 Janeiro de 1863 com Dª. Maria Theodora Pinto Franco (13/07/1847-30/09/1873), filha de Valentim Duarte da Cruz Pinto e Dª. Maria Vitória Pinto e a segunda com Dª. Teresa Bastos (21/11/1859), filha de José Luís Alves Bastos e de Dª. Maria de Oliveira (Viscondessa de Carriche). A sua primeira mulher faleceu ao fim de 10 anos de casamento deixando orfãos Ignácio José com 9 anos, Pedro Augusto com 8 anos de idade e pelo menos duas filhas que teriam 3-4 anos de idade. Um drama familiar que se repetiu em muitas famílias daquela época.


(http://i63.tinypic.com/241qfd1.png)
Jazigo da família de Pedro Augusto Franco no cemitério da Ajuda. Fonte AML


(http://i66.tinypic.com/144h1v.png)
Detalhe do jazigo da família de Pedro Augusto Franco, encimado com o símbolo da Ordem dos Farmacêuticos. Fonte: AML



A Farmácia Franco nas duas primeiras gerações.

Como já se disse a Farmácia Franco foi fundada em 1821 por Ignácio José Franco. A sua primeira localização terá sido no nº 123, um prédio mais para o lado do Mosteiro dos Jerónimos. E por ali ficou durante 15 anos conforme nos diz José Dias Sanches na sua obra "Belém e arredores através dos tempos". Assim, 3 anos após o nascimento de seu filho Pedro, Ignácio mudava a localização da Farmácia para o local onde viria a ganhar o seu prestígio nacional e internacional. O local onde entraria na História do Sport Lisboa e Benfica.


(https://books.google.pt/books?id=1v9WAAAAMAAJ&hl=pt-PT&pg=PA201&img=1&pgis=1&dq=Franco&sig=ACfU3U3ChuPOBtrVFwi5LjiGfHKvSOfG8A&edge=0)
Excerto da página 201 do livro "Belém e arredores através dos tempos", de José Dias Sanches,
Livraria Universal Editora, 1940. Fonte: Google livros.

E assim tomando em conta o (diferente) sistema de numeração de portas que estava em vigor em 1910, em 1897 e presumivelmente também estava em vigor em 1836, podemos especular sobre qual foi a primeira localização da Farmácia Franco.

(http://i66.tinypic.com/s4ruax.png)
Rua Direita de Belém, 1910 aquando das comemorações do centenário do nascimento de Alexandre Herculano, 1º presidente da Câmara de Belém. Fonte: AML.


Mas se a Farmácia Franco foi fundada por Ignácio José Franco seria no entanto o seu filho a dar-lhe um impulso decisivo. Com o seu labor, gestão e capacidade de inovar e vender, Pedro Augusto Franco viria a tornar a Farmácia Franco numa das mais prestigiadas farmácias de Lisboa.

Na história da farmácia Portuguesa, Pedro Augusto Franco é considerado como um dos pioneiros da nossa moderna indústria farmacêutica. Terá formulado e lançado no mercado nacional especialidades farmacêuticas com grande sucesso comercial em Portugal e que mais tarde tiveram receptividade e reconhecimento internacional.

Entre as suas especialidades contam-se alguns nomes exóticos tais como o "Xarope peitoral de James" e a "Farinha peitoral ferruginosa":

(http://i65.tinypic.com/5luctx.png)

Até o imortal Eça de Queiroz faz uma alusão ao famoso Xarope peitoral de James na sua obra "A ilustre Casa de Ramires! Essa alusão faz-se num diálogo passado no Rossio em que Castanheiro Patriotinheiro dizia para Gonçalo Mendes Ramires:

(http://i63.tinypic.com/2zfjpdv.png)

Esta alusão é sugestiva quanto à difusão e popularidade do xarope.

No entanto terá sido o Vinho nutritivo de carne a especialidade com maior sucesso comercial da Pharmácia Franco uma vez que, que como dizia o rótulo, "um cálix d'este vinho representa um bom bife"... Este produto gozava de um privilégio real com decreto em 29 de Agosto 1893 e era considerado na altura como um medicamento para combater a debilidade geral e inacção dos órgãos. Auxiliaria assim maleitas tais como digestões tardias, dispepsia, cardialgia, gastrodinia. Era igualmente útil como agente revigorante geral para o corpo em particular para pessoas de estrutura frágil. A publicidade deste produto falava ainda que mais de cem médicos poderiam atestar da sua utilidade...

(http://i64.tinypic.com/bi3za9.png)

(http://i67.tinypic.com/jj60x5.png)
Fonte: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1900,


O "Vinho nutritivo de carne" chegou a ser produzido em larga escala na sua fábrica situada no Dafundo.


(http://i65.tinypic.com/2m6sx3q.jpg)
Localização da Farmácia Franco em Belém e da fábrica de especialidades farmacêuticas situada no Dafundo.. Fonte: Google Earth.


(http://i67.tinypic.com/25rdpo8.png)
Antes e depois de uma recente recuperação do antigo edifício da fábrica de especialidades farmacêuticas da Farmácia Franco situado no Dafundo.

E esse é justamente um aspecto que não é muito conhecido do modelo de negócio da Pharmacia Franco. Por trás da farmácia, a família do Conde do Restello montou um negócio muito bem estruturado e assente quer na inovação, leia-se desenvolvimento de produtos medicinais próprios, quer numa capacidade de produção adequada.

No negócio estava igualmente contemplado o aspecto da publicidade. Investia-se na divulgação dos produtos, investia-se na obtenção e divulgação de pareceres positivos de médicos para com os produtos da farmácia. E essa aposta dava com certeza retorno muito positivo. Essa publicidade chegou em força ainda no século XIX a jornais Brasileiros onde uma série de representantes venderam os produtos mais famosos em farmácias e drogarias. Visão, inovação, produção de qualidade e escala, publicitação, definição de parceiros e mercados-alvo e rede de revendedores. Estava lá tudo para estabelecer um negócio ambicioso e bem-sucedido.

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Alguns dos diversos exemplos de publicidade em jornais nacionais e Brasileiros.

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Recorte de jornal brasileiro de 1878 referindo referente ao Xarope peitoral James. Indicações biográficas do Conde do Restello e depósitos para venda em Portugal, Espanha (Madrid), Brasil (Pará, Maranhão, Pernambuco, Recife, Bahia e Rio de Janeiro), Inglaterra (Londres), França (Paris) e Bélgica (Lachen). Um produto globalizado em 1878!


A inovação e a qualidade desses produtos seriam reconhecidas não apenas com as vendas nacionais mas também pelas vendas no Brasil, Espanha, França e Inglaterra. Os produtos para o mercado britânico eram expedidos com os rótulos em Inglês.

A preocupação com a qualidade e credibilidade dos produtos era notória como se pode ver neste detalhe do Xarope peitoral James. Ali se via que no produto eram incluído um impresso com pareceres das autoridades e de médicos reconhecendo as virtudes do produto. Os invólucros estavam também assinados pelo próprio Conde do Restello.

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Detalhe do rótulo do Xarope peitoral James. Fonte: Jornal Espada do Norte, 29 Dezembro 1892.

O prestígio crescia dentro e fora de portas também assente na atribuição de prémios nos mais reputados certames de exposição mundial tais como as exposições Universais de Paris 1889 e Antuérpia 1894, Exposição Internacional de Higiéne em Londres 1904 e da Societé Scientifique Européenne de Paris.

(http://i66.tinypic.com/au74pg.png)
Medalhas de ouro, diplomas de prémio e cartaz promocional das Exposições Universais de Paris, 1889 e de Antuérpia (Anvers) de 1894. Ali, a Farmácia Franco ganhou medalhas similares às apresentadas.

(continua)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Abril de 2016, 12:54
-100-
A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa

Continuando com o tema da Farmácia Franco, vamos falar da terceira geração de farmacêuticos da família Franco,  isto é dos dois filhos masculinos do primeiro Conde do Restelo. É neste tempo, iniciado depois da morte do 1º Conde do Restello em 1902, que ocorrem os acontecimentos que levaram à fundação do Sport Lisboa e Benfica.


Ignácio José Franco (1864-1931). Natural de Belém. Era filho de Pedro Augusto Franco e de sua primeira mulher Maria Theodora Pinto Franco. Homónimo de seu avô paterno, teve ao que sei dois irmãos, Pedro Augusto e Valemtim (terá morrido em ciança) e ainda quatro irmãs (acima referidas). Sendo o primogénito, Ignácio viria a ser o 2º Conde do Restelo.

Casou em 9 de Julho 1892, com Dª. Felismina Dulce Ferreira de Carvalho, filha de Joaquim José Ferreira de Carvalho e de Dª. Leonor da Luz Ferreira de Carvalho. Teve duas filhas, a primogénita Dª. Maria Leonor Ferreira Franco (29-04-1893 a 4-10-1918) que casou com José P. R. Costa Barros e a segunda Dª. Maria Felismina Ferreira Franco (3-08-1895 a 14-11-1973) que casou com Manuel da Costa de Oliveira Falcão e que teve ampla descendência. Ou seja em vida, Ignácio chorou a morte da sua filha mais velha que tinha apenas 25 anos de idade. A fatalidade que lhe tinha privado a sua mãe quando tinha 9 anos de idade levava-lhe também a filha quanto ele tinha 54 anos de idade.

Ignácio foi farmacêutico formado pela Universidade de Coimbra mantendo por isso a tradição do seu pai e avô paterno.

O 2º Conde do Restelo era também um melómano e instrumentista amador, tendo sido sócio fundador da Sociedade de Concertos e Escola de Música. Era igualmente um sportsman, à maneira da época. Foi fundador da UACP, União dos Atiradores Civis Portugueses e durante alguns anos membro do respectivo Conselho Gerente. Era igualmente um apaixonado pela náutica e pela caça.

(http://arquivomunicipal2.cm-lisboa.pt/x-arqweb/ContentDisplay.aspx?ID=952be17f824d0001e240&Pos=1&Tipo=PCD&Thb=0)
Carreira de tiro de Pedrouços frequentada por muitos anos pelo 2º Conde do Restelo. Fonte: AML.

O 2º Conde do Restelo foi um homem prestigiado nos meios políticos tendo sido deputado da Nação em 9 legislaturas. Foi igualmente, à semelhança de seu pai, vereador da Câmara de Lisboa.

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Ignácio José Franco, 2º Conde do Restello em destaque junto do elenco que administrou a Câmara de Lisboa em 1907. Esse elenco foi liderado por Teodoro Ferreira Pinto Basto (barbas brancas). Fontes: Tiro Civil 255. e AML.

O 2º Conde do Restelo viria a ser uma das vítimas das convulsões geradas nos primeiros tempos após a instauração da Republica. Em finais de 1911, em pleno turbilhão revolucionário Republicano, na sua casa de campo em Santo Tirso, Ignácio José Franco foi preso sobre a acusação de ser um activista monárquico. Seria libertado pouco depois por falta de provas.

Existe aqui um hiato de 20 anos da sua vida entre o pós-revolução de 1911 e a data da sua morte em 1931.

Em 1931, quando o 2º Conde do Restelo faleceu, o Sport Lisboa e Benfica já era uma realidade distante do Clube que ele acarinhou nos primeiros dias. Mas foi uma figura importante nos primeiros e mais delicados anos de existência do nosso Clube. Ignácio José Franco e seu irmão proporcionaram-nos não apenas algum e precioso dinheiro mas também intervieram nos órgãos sociais, conferindo-lhes respeitabilidade e prestígio.

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Duas figuras ilustres (rectângulo vermelho) entre os cerca de 8000 espectadores do jogo SL Benfica – Carcavellos FC disputado em Março de 1910 no Campo da Feiteira. De chapéu de coco podemos identificar Ignácio José Franco, Conde do Restelo, um dos proprietários da Farmácia Franco e sócio protector do nosso clube. Ao seu lado direito está Manuel Gourlade, a nossa primeira Águia, que ainda era na altura funcionário da Farmácia Franco.


Pedro Augusto Franco (1865-1960). Segundo filho de Pedro Augusto Franco e Maria Theodora Pinto Franco. Nasceu em Belém no dia em que o seu pai completou 31 anos e dois dias depois da morte de seu avô paterno. Homónimo de seu pai, era 14 meses mais novo do que o seu irmão Ignácio. A sua mãe viria a falecer quando tinha apenas 8 anos idade, tendo o seu irmão 9 anos de idade. Uma realidade dura que explica o segundo casamento de seu pai.

Frequentou o Colégio de Belém onde foi colega do jovem Carlos Viegas Gago Coutinho, futuro Almirante. Nesse Colégio leccionava-se o ensino primário e o Liceu. Era um Colégio que tinha regime de internato (desconheço se em exclusivo). Aos Domingos os alunos iam à missa no Mosteiro dos Jerónimos (Fonte: Padre Ruella Pombo; Cinzas de Lisboa, 1953 3ª série, pp 190-191).

Pedro Augusto Franco foi depois farmacêutico - à semelhança de seu avô paterno, pai e irmão - formando-se na Escola Médica da Cidade do Porto. Em 1902, após a morte de seu pai passou a ser juntamente com o seu irmão, co-proprietário da Farmácia Franco. Assim em Fevereiro de 1904, data em que o nosso Clube foi fundado já os dois irmãos eram plenos proprietários da Pharmácia Franco.

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Uma bonita homenagem de Ignácio José Franco e Pedro Augusto Franco ao seu Pai, Pedro Augusto Franco sénior, 1º Conde do Restelo. Documento gentilmente cedido pela Senhora Ana Franco Centeno, descendente dos Condes do Restelo.


Existem elementos que me permitem afirmar que pelo menos em Agosto de 1891 Pedro Augusto Franco Júnior fez parte da Comissão de negócios da Câmara Municipal de Lisboa. Tratou-se de uma comissão administrativa que, presidida pelo Conde Ottolini, geriu a Câmara Municipal de Lisboa de 1891 a 1893 inclusive.

Pedro Augusto Franco júnior teve uma vida longa, tendo falecido no Estoril no ano de 1960 com 95 anos de idade. Ao longo da sua vida acompanhou muitas mudanças políticas, económicas, sociais e desportivas em Portugal. Nesse último aspecto, quando faleceu o Sport Lisboa e Benfica já tinha sido campeão latino dez anos antes e estava a um ano e meio de se tornar Campeão Europeu pela primeira vez na sua História. Infelizmente não encontrei ainda uma fotografia de Pedro Augusto Franco. Essa fotografia seria importante para completar o mosaico de retratos da Farmácia Franco aquando da fundação do Sport Lisboa.


(http://i65.tinypic.com/ic1efb.png)
Títulos obrigacionistas de 1901-1902 de Pedro Augusto Franco e dos seus dois filhos Ignácio José e Pedro Augusto à Sociedade Pharmaceutica Lusitana. As obrigações eram reembolsáveis ao par por sorteio anual que era realizado em Dezembro de cada ano e eram associadas a um juro de 5%. Foram ulteriormente inutilizadas pelo secretário Francisco de Carvalho. Todas as Obrigações estão assinadas pelo presidente José Bento Coelho de Jesus, pelo primeiro-secretário Francisco de Carvalho e pelo tesoureiro Francisco Alves Barata.
Fonte: CDF.


O Sport Lisboa

A importância da Farmácia Franco foi decisiva para a fundação e primeiros meses de vida do Sport Lisboa.

Foi ali, naquela casa comercial com quase 100 anos de existência, que foi assinada documento do Acto de fundação do nosso Clube. Pela mão de Cosme Damião, a lista contou com 23 nomes. Cosme Damião fez a Acta mas não assinou.


(http://i67.tinypic.com/dgqrm.png)
Documento do Acto de fundação do Sport Lisboa assina do na Farmácia Franco em Belém no dia 28 de Fevereiro de 1904. Fonte: História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954 de Mário Fernando de Oliveira, Carlos Rebelo da Silva.


O 2º Conde do Restello foi juntamente com o Dr. António de Azevedo Meireles, sócio benemérito ou protector do Sport Lisboa. Mais tarde presidiu ao conselho fiscal mesmo depois da fusão entre Sport Lisboa e Grupo de Sport Benfica.

Os dois irmãos Franco viam com bonomia a actividade daquele grupo de jovens entusiastas do futebol que no pátio da Farmácia ia "futebolando" mesmo à custa de uns vidros partidos (para mais detalhes ver o texto "-61- Um certo pátio" na página 17 deste tópico).

(http://i65.tinypic.com/2cncjuf.png)
Um curioso detalhe das grades que os irmãos Franco mandaram instalar nas janelas do pátio da Farmácia Franco para evitar as quebras de vidros provocadas pelas "futeboladas" de Catataus e Co.
Fonte: História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954 de Mário Fernando de Oliveira, Carlos Rebelo da Silva.


E assim prosseguiram as "futeboladas" nesse pátio mítico embora à medida que foram chegando novos entusiastas os treinos começaram a tornar-se cada vez mais sérios e também cada vez mais limitados pela falta de espaço. Assim os treinos foram depois transferidos para os areais de Belém, para os terrenos da CP perto da zona donde hoje está o CCB, também para a zona onde hoje está o planetário e para as Terras do Desembargador às Salésias. Zonas onde se dava pleno curso à paixão pela prática do futebol. Foi aí que se deu a popularização do futebol. Eram também treinos precários pois os terrenos eram públicos ou propriedade privada (CP num caso e exército no outro). O verdadeiro tempo das balizas e dos trapos às costas.

Manuel Gourlade e Daniel Santos Brito, naturais respectivamente da Ajuda e de Belém, eram nessa época os dois diligentes funcionários da Farmácia Franco. A sua acção foi determinante para a sobrevivência e para o rumo do Sport Lisboa. Metódicos, empenhados, entusiastas, resistentes. Ambos foram membros integrantes das duas primeiras direcções lideradas respectivamente por José Rosa Rodrigues e por Januário Barreto. Manuel Gourlade foi tesoureiro e Daniel Santos Brito foi secretário.

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Convocatória de Manuel Gourlade para um jogo da primeira categoria do Sport Lisboa em Abril de 1905. Usou para isso o papel timbrado da Pharmacia Franco. A demonstração de que a Farmácia Franco era o coração da actividade directiva e técnica do nosso Clube.


A Farmácia Franco foi como se percebe o centro, o coração do nascimento do nosso Clube. É por isso com emoção que oiço no Estádio o cântico "Nascido na Farmácia Franco" a evocar esse lugar mítico e que merece o carinho especial de todos os Benfiquistas.

(http://c10.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/B77049ea7/13532634_aemJC.jpeg)
Aspecto da evocação da Farmácia Franco perto do nosso Estádio. Mais um bonito exemplo de como os Benfiquistas conhecem a sua história e são reconhecidos aos seus antecessores. Fonte: blogue "magalhaes-sad-slb".


Na Farmácia Franco trabalhava também o médico António Azevedo de Meirelles, outro entusiasta embora não praticante, do futebol.

(http://i62.tinypic.com/2rmlc01.png)
Quatro da cinco grandes figuras da Farmácia Franco nos anos em que foi fundado o Sport Lisboa. Da frente para trás: Ignácio José Franco (2º conde do Restelo), António de Azevedo Meireles (médico), Daniel Santos Brito e Manuel Gourlade (ambos funcionários da Farmácia). Não está representado porque não conheço infelizmente qualquer fotografia de Pedro Augusto Franco.


Uma sensacional novidade

Até agora as duas fotografias conhecidas do tempo em que o estabelecimento comercial ainda se chamava Pharmacia Franco eram estas:

(http://i65.tinypic.com/29kw1uh.png)
Fotografias já conhecidas do interior e exterior da Farmácia Franco. Fonte: AML.

Desconheço a data da fotografia do interior da Farmácia. A fotografia do exterior foi captada pelo grande Joshua Benoliel e está datada como sendo de 1916. Nessa altura a Farmácia estava quase a fazer 100 anos pois foi fundada em 1821, mas como já vimos num outro prédio da mesma Rua. É uma fotografia notável que capta  o momento de desfile de tropas que iriam embarcar para França para participar na I Guerra Mundial. Na fotografia aparece Daniel Santos Brito com bata branca e provavelmente quer clientes quer outros membros da Farmácia. É possível que Pedro Augusto Franco esteja por ali. Seria um dos homens mais velhos? Muito provavelmente!

E assim se compreende o valor da novidade que agora apresento:

Uma fotografia do interior da Farmácia Franco cerca de 1905!

(http://i64.tinypic.com/1yqv83.png)


Este era o aspecto do interior da Farmácia nos anos em que nasceu o nosso Clube. Provavelmente foi nesta ampla sala que foi assinado o documento do acto de fundação do Sport Lisboa.

Não sei ao certo qual a orientação relativamente à parte da frente e das traseiras da Farmácia (a que dava para o pátio). Nota-se no entanto que a Farmácia tinha bastante luz exterior. É possível que tivesse portas tanto para o lado da frente (Rua Direita de Belém) como para o lado traseiro (pátio interior).

Com a fotografia podemos perceber que a Farmácia Franco tinha uma estrutura interior interessante com quatro arcos interiores, que delimitavam quatro zonas, cada uma iluminada com um candeeiro interior inseridos em tectos trabalhados. 

Nota-se também a existência de dois balcões-expositor com um tampo que parece feito em pedra. Parece existir ainda um outro expositor interior que está tapado. Em cima dos expositores centrais estão vários vasos de botica, tal como era tradicional nessa época.

Nas paredes laterais vêm-se outros móveis-expositor envidraçados com madeira com elementos decorativos profusamente trabalhados. Nas paredes da Farmácia vêm-se quadros e provavelmente diplomas dos farmacêuticos da casa.

Ao fundo estão pelo menos duas secretárias, sendo uma delas muito similar – quiçá a mesma – da que vamos na famosa fotografia que já se conhecia. Talvez tenha sido mesmo a secretária onde terá sido assinado o documento do acto de fundação do Sport Lisboa no dia 28 de Fevereiro de 1904. Uma fotografia que na ausência de outra que retrate os 24 fundadores e quiçá outros que estiveram presentes e que não assinaram, nos permite imaginar o que foi esse Glorioso dia da fundação do nosso querido Clube.

Uma fotografia muito especial que me apraz apresentar no nº 100 deste projecto. Apesar de ter alguns textos preparados e outros em preparação este projecto de textos mais elaborados fará agora uma pausa com prazo indefinido. Talvez curto, talvez longo. O futuro o dirá.

A todos muito obrigado pela simpatia dos comentários e pela paciência com que leram estes longos textos.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 11 de Abril de 2016, 18:45
Muito obrigado, Red.

Nunca é demais agradecer o teu contributo para conhecermos melhor a nossa Gloriosa História.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 15 de Abril de 2016, 15:28
Dos artigos "extra-Benfica" estes dois foram os mais interessantes que li. Fantástico.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Abril de 2016, 15:38
Citação de: Lorne Malvo em 15 de Abril de 2016, 15:28
Dos artigos "extra-Benfica" estes dois foram os mais interessantes que li. Fantástico.

Obrogado Lorne.  O0

Estava a melhorar um pouco ambos os artigos. O que está aqui é informação que existe mas está muito (ou melhor muitíssimo ) dispersa. Serviu para por em ordem o que era a Farmácia Franco e saber mais sobre uma das famílias que esteve por trás da fundação e dos primeiros anos do nosso Clube.

Estou feliz por partilhar uma vez que o que agora aqui fica publicado representa um contribuição efectiva para a História do nosso Clube. Sem Farmácia Franco não teria existido o Benfica. A informação que consta dois artigos é vital para se perceber o que foi o local e o contexto da fundação.

Fico contente por fazermos parte de uma pequena minoria que percebe e aprecia a importância destes tempos e destas pessoas.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lorne Malvo em 15 de Abril de 2016, 15:47
Citação de: RedVC em 15 de Abril de 2016, 15:38
Citação de: Lorne Malvo em 15 de Abril de 2016, 15:28
Dos artigos "extra-Benfica" estes dois foram os mais interessantes que li. Fantástico.

Obrogado Lorne.  O0

Estava a melhorar um pouco ambos os artigos. O que está aqui é informação que existe mas está muito (ou melhor muitíssimo ) dispersa. Serviu para por em ordem o que era a Farmácia Franco e saber mais sobre uma das famílias que esteve por trás da fundação e dos primeiros anos do nosso Clube.

Estou feliz por partilhar uma vez que o que agora aqui fica publicado representa um contribuição efectiva para a História do nosso Clube. Sem Farmácia Franco não teria existido o Benfica. A informação que consta dois artigos é vital para se perceber o que foi o local e o contexto da fundação.

Fico contente por fazermos parte de uma pequena minoria que percebe e aprecia a importância destes tempos e destas pessoas.

Sem dúvida que nunca é de mais realçar o papel da Farmácia na história do Benfica.

E quando este conhecimento é enriquecido com pormenores deliciosos como o "Ignácio dos unguentos" ou o "Vinho nutritivo de carne", melhor ainda. :)

Não gostei é de ler que vais parar este projecto por tempo indeterminado. Espero que seja uma pausa mesmo muito breve, porque esta rubrica é das melhores deste fórum, não tenhas dúvidas disso.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Abril de 2016, 16:06
Citação de: Lorne Malvo em 15 de Abril de 2016, 15:47
Citação de: RedVC em 15 de Abril de 2016, 15:38
Citação de: Lorne Malvo em 15 de Abril de 2016, 15:28
Dos artigos "extra-Benfica" estes dois foram os mais interessantes que li. Fantástico.

Obrogado Lorne.  O0

Estava a melhorar um pouco ambos os artigos. O que está aqui é informação que existe mas está muito (ou melhor muitíssimo ) dispersa. Serviu para por em ordem o que era a Farmácia Franco e saber mais sobre uma das famílias que esteve por trás da fundação e dos primeiros anos do nosso Clube.

Estou feliz por partilhar uma vez que o que agora aqui fica publicado representa um contribuição efectiva para a História do nosso Clube. Sem Farmácia Franco não teria existido o Benfica. A informação que consta dois artigos é vital para se perceber o que foi o local e o contexto da fundação.

Fico contente por fazermos parte de uma pequena minoria que percebe e aprecia a importância destes tempos e destas pessoas.

Sem dúvida que nunca é de mais realçar o papel da Farmácia na história do Benfica.

E quando este conhecimento é enriquecido com pormenores deliciosos como o "Ignácio dos unguentos" ou o "Vinho nutritivo de carne", melhor ainda. :)

Não gostei é de ler que vais parar este projecto por tempo indeterminado. Espero que seja uma pausa mesmo muito breve, porque esta rubrica é das melhores deste fórum, não tenhas dúvidas disso.

Obrigado Lorne.

Tenho actividades profissionais que me vão roubar tempo nos próximos 2-3 meses. Embora este tópico seja um passatempo é natural que não tenha tempo para fazer textos uma vez que está cada vez mais longos e exigem cada vez mais pesquisa.

Há um texto preparado que vai ter também algum impacto mas não é o tempo adequado para ser publicado. Há mais uma meia dúzia iniciados mas que não tive e presumo não vou ter tempo para continuar. Por isso fica apenas a indicação para os que gostam de passar por aqui.

Mas este tópico é de todos e nada mais me dará felicidade do que ver outro pessoal a colocar aqui material. Se for uma fotografia que não saibam interpretar juntamente com uma pergunta já será excelente. Afinal quando iniciei o tópico era mesmo para isso. Depois é que "compliquei a coisa".






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 23 de Abril de 2016, 23:36
Juvenis, 1969.

(https://scontent-mad1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xtp1/t31.0-8/12983958_1060919453947458_2516038732078462601_o.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Abril de 2016, 01:24
Citação de: Gottschalk em 23 de Abril de 2016, 23:36
Juvenis, 1969.

(https://scontent-mad1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xtp1/t31.0-8/12983958_1060919453947458_2516038732078462601_o.jpg)

Fabuloso Gotts. Obrigado pela partilha!

Treinador Artur Santos.

Os restantes é muito difícil. Em 1969 Humberto Coelho já estava a jogar nos seniores. O meu pai ainda o viu jogar nos juniores. Para já não consigo identificar outros mas terei de olhar melhor e procurar a lista desta equipa. Se houver...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 24 de Abril de 2016, 01:38
Citação de: Benfiquista_ em 25 de Março de 2016, 17:28
Completamente de acordo.Benfiquismo é também  partilha.É aliás isso, acima de tudo.

Toda a gente deveria ter acesso gratuito à nossa História, de uma maneira ou outra.

O que tu e muitos fazem aqui.

O que o Alberto faz, o João Tomaz, Arrobas, etc, fazem não tem preço.

Eu pessoalmente tenho imensos jornais antigos do Clube que gostava de partilhar, mas como já falei algures por aqui, não tenho meios nem técnica para os digitalizar.

Mas hei-de conseguir.

E vou compartilhar, quando conseguir
Tenta saber de alguma Biblioteca Municipal perto de ti que tenha um scanner grande, não sei...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Abril de 2016, 10:22
Citação de: Gottschalk em 23 de Abril de 2016, 23:36
Juvenis, 1969.

(https://scontent-mad1-1.xx.fbcdn.net/hphotos-xtp1/t31.0-8/12983958_1060919453947458_2516038732078462601_o.jpg)

Torneio Internacional Juniores Croix, 1973

http://www.rsssf.com/tabless/stcroix-u19.html (http://www.rsssf.com/tabless/stcroix-u19.html)

(http://www.map-france.com/town-map/59/59163/administrative-france-map-departements-Croix.jpg)


(http://i66.tinypic.com/1qo6dk.png)

Chegamos às meias finais. Terá ganho o Anderlecht.

Não consigo identificar nenhum jogador. José Rachão fazia parte da equipa. As equipas dos dois anos seguintes teriam jogadores mais bem sucedidos como Shéu, João Alves, Jordão, António Bastos Lopes, Fidalgo, Franque, Sarmento, etc.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 29 de Abril de 2016, 23:56
(http://i.imgur.com/SSzCwh3.jpg)

Imagem por decifrar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Abril de 2016, 10:18
Citação de: Theroux em 29 de Abril de 2016, 23:56
(http://i.imgur.com/SSzCwh3.jpg)

Imagem por decifrar.

Bela imagem. Obrigado pela partilha.

Não sei decifrar convenientemente mas há alguns pontos a referir.

Ainda assim alguns elementos para melhor perceber a fotografia

Jogo rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira

O Benfica já parece jogar com a camisola vermelha e calças brancas. Isto significa que já não jogou com o equipamentos do Desportos Benfica (todo branco). A absorção dos Desportos de Benfica, em 17/09/1916.

Estreia do hóquei no nosso Clube em  3 de Junho de 1917.

O equipamento do adversário parece ser tricolor. Aliás existe uma bandeira tricolor. A outra bandeira talvez seja a nossa.



Do blogue EDB de Alberto Miguéns:

(http://2.bp.blogspot.com/-HVZRH-w3O5c/VgdPFY1iLnI/AAAAAAAAaWc/dnieFyg1AZg/s1600/HP.png)
Equipa em 1917. Ainda com os equipamentos herdados do "Desportos de Benfica", embora Ilídio Vaquinhas Nogueira (guarda-redes) já jogasse de Glorioso Emblema ao peito. Em 1921, Cosme Damião exigiu camisola vermelha embora continuassem a jogar de calças brancas. Durante um ano. Em 1922 já se jogava de calções, embora pelos...joelhos. Foi difícil reduzir o tecido nas pernas!

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/hoquei-em-patins-honrem-os-ases-que-nos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/hoquei-em-patins-honrem-os-ases-que-nos.html)


Outra fotografia do blogue de Alberto Miguens:

(http://4.bp.blogspot.com/-Xuvc_BvvyBI/T7HIcYMkt6I/AAAAAAAABwA/ZYxByXIJOTM/s1600/Rinque+1922+HslbI+429.jpg)
O rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira, local do 1.º SLB vs Paço de Arcos Hockey Club

Diz ainda Alberto Miguéns: "18 de Julho de 1939, quando para a 6.ª jornada do Campeonato de Lisboa, no rinque da nossa Sede na Avenida Gomes Pereira, ao vencermos, por 5-0, a equipa do famoso clube de hóquei em patins da linha."

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/vai-jogar-o-clube-mais-antigo-do-mundo.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/vai-jogar-o-clube-mais-antigo-do-mundo.html)


Eu diria que o jogo deve ser de 1921-1922.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Abril de 2016, 13:38
Ainda do que se extrai do que Alberto Miguéns nos diz, é bastante provável que a fotografia tenha registado um jogo entre o Sport Lisboa e Benfica e o Recreios da Amadora.

Já falei aqui em tempos dessa excelente colectividade (nº 22 - A Taça da Amadora") mas na altura não encontrei as cores, o símbolo e a bandeira. Não ficaria admirado se confirmassem a teoria.

(http://photos1.blogger.com/blogger/4487/618/1600/patins.jpg)


Resta dizer que nesses tempos tanto quanto sei os três grandes clubes do hóquei seriam o Recreios da Amadora, o Desportos de Benfica (que em 1917 deixou de ser filial e  foi absorvido pelo Sport Lisboa e Benfica) e o Hockey Clube de Portugal.

(https://rinkhockeynews.files.wordpress.com/2013/11/desportos-de-benfica-1914.png?w=240&h=300)
Emblema do Desportos de Benfica

Fonte: https://rinkhockeynews.wordpress.com/ (https://rinkhockeynews.wordpress.com/)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Maio de 2016, 16:59
-101-
As Gloriosas fazendas d'Alcântara.

A "Casa do Povo d'Alcântara".

Uma gravura que fazia parte de um cartaz publicitário do início do século XX.

(http://i64.tinypic.com/b8ofg9.png)
Detalhe (esquerda) de um cartaz publicitário (direita) da Casa do Povo d'Alcântara. O cartaz é de algures do princípio do século. Foram estas as oficinas de Alfaiataria que forneceram as 12 primeiras camisolas do nosso Clube. Fonte: Museu Cosme Damião.

No dia 18 Fevereiro de 1905 foi a esta a casa comercial que Manuel Gourlade pagou 12 mil reis. Tinha passado menos de um ano depois da fundação do Sport Lisboa, e nesse dia o então tesoureiro do Clube, pagava assim a compra de 12 camisolas de flanela vermelha.

Essas foram as 12 primeiras camisolas cuja existência está oficialmente registada no nosso Clube (documento nº 40). A factura ainda existe e tem um merecido lugar de destaque no acervo do nosso Museu.


(http://i67.tinypic.com/x43r0h.png)
Factura da Casa do Povo d'Alcântara datada de 18 de Fevereiro de 1905. Factura relativa ao fornecimento pelas oficinas de Alfaiataria de 12 camisolas de flanela. Fonte: Em Defesa do Benfica.


(http://i67.tinypic.com/33benhy.png)
Réplica da primeira camisola oficial do nosso Clube. Fonte: Loja online do SLB.



A Casa do Povo d'Alcântara

(http://i67.tinypic.com/2mcspqo.png)

Como se percebe pelo cartaz publicitário, a Casa do Povo d'Alcântara tinha como proprietário o Sr. João de Oliveira Miguéns, figura destacada entre os Republicanos daquela época, que morreu em Janeiro de 1907. Assim se explica que pouco depois da implantação da Republica, julgou por bem a CML atribuir o seu nome a uma Rua adjacente à sua antiga propriedade.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463298470675.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa

A este propósito diz-nos o sítio da internet Toponímia de Lisboa acerca de João Oliveira Miguens:

Em Junho de 1913, quase três anos após a implantação da República, a Câmara Municipal de Lisboa perpetuou na memória da cidade João de Oliveira Miguéns, conhecido republicano e comerciante de Alcântara.

Foi pelo Edital de 6 de junho de 1913 determinado «que a antiga rua Cascaes passe a denominar-se rua de João d' Oliveira Miguéns», com início na Avenida 24 de Julho e fim na Rua Prior do Crato, sita então nas Freguesias dos Prazeres e de Alcântara. Quatro anos mais tarde, por edital municipal de 25/05/1917, foi desanexada da Rua João de Oliveira Miguéns a parte compreendida entre a Rua Fradesso da Silveira e a margem do Tejo ficando com a antiga denominação de Rua Cascais.

João de Oliveira Miguéns (1867-07.01.1907) era o proprietário da Casa do Povo d'Alcântara, na antiga Rua do Livramento (hoje Rua Prior do Crato), ocupando os nºs 137, 139, 141 e 143, uma loja virada sobretudo para os tecidos e roupas. Refira-se que os fregueses dos Armazéns da Casa do Povo d'Alcântara também recebiam pratos-brinde executados pela Fábrica de Louça de Alcântara (fundada em 1885). Após a morte de João de Oliveira Miguéns em Janeiro de 1907, sobre o edifício dos Armazéns foi construída a sede do Atlético Clube de Portugal, da autoria de Guilherme Francisco Baracho.
Oliveira Miguéns pertenceu ao directório do Partido Republicano Português, foi Grão-Mestre da Maçonaria e, em 1902, por ocasião do Convénio, organizou uma tentativa de levantamento armado em Alcântara.

João de Oliveira Miguéns recebeu uma cerimónia de homenagem um ano após o seu falecimento, no dia 7 de Janeiro de 1908, na Sociedade Promotora de Instrução (depois, de Educação Popular), então sediada no nº 6 da Rua de Alcântara, na qual discursaram Inácio da Conceição Estrela, Fernão Boto Machado, Fernão Pires, Joaquim Ferreira da Silva, Joaquim Ribeiro Moita e Arnaldo de Carvalho. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres junto de um monumento erguido por subscrição pública e com o seguinte epitáfio: «Ao Livre Pensador, Sincero Democrata e Honrado Cidadão João d'Oliveira Miguéns, os seus amigos, correlegionários e admiradores. 1909».


Fonte: https://toponimialisboa.wordpress.com/2015/01/30/joao-de-oliveira-miguens-o-republicano-comerciante-de-alcantara (https://toponimialisboa.wordpress.com/2015/01/30/joao-de-oliveira-miguens-o-republicano-comerciante-de-alcantara)/


(http://i65.tinypic.com/28ursn.jpg)
Prato-brinde para os Clientes da Casa do Povo d'Alcântara. Ao lado está o selo estampado e gravado no verso do prato. Era a marca da porcelana da produzida pela Fábrica de Loiça de Alcântara (1885-1936) situada ali bem ao lado. Na produção das suas peças era utilizado o barro de Leiria bem como materiais ingleses. A loiça era estampada ou pintada à mão, sendo a sua maior produção a loiça de uso comum. Fonte: http://mercadoantigo.weebly.com/alcantara.html (http://mercadoantigo.weebly.com/alcantara.html)


(http://i66.tinypic.com/2zgvogg.png)
Edifício do Atlético Clube de Portugal/Antigos Armazéns da Casa do Povo de Alcântara. Aspecto da zona já em 1940. Fica hoje entre a Rua Prior do Crato (antiga Rua do Livramento), 135-137; Rua João de Oliveira Miguéns (antiga Rua Cascaes), 76-84. "O projecto realizado (1906), procurou reabilitar e renovar a área industrial em que se ia implantar e onde se tinha acabado de construir um outro exemplar significativo da 'arquitectura do ferro' - o mercado de Alcântara (1904)". Fonte: CML.


(http://i68.tinypic.com/2cdzrkh.png)
Cupão de desconto da Casa do Povo d'Alcântara de 1962. Nota-se que o prédio já é o que actualmente existe, sede do Atlético Clube de Portugal.



As camisolas e as cores

As 24 camisolas terão sido pagas pelos 24 fundadores o nosso Clube, ou seja cada um terá financiado meia camisola, presumindo-se pagando a quantia de 500 Reis (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/08/benfica-e-arte-feliz-escolha-das-cores.html). As camisolas eram consideradas propriedade do Clube sendo fornecidas aos jogadores aquando dos jogos (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/02/se-as-fotografias-falassem.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/02/se-as-fotografias-falassem.html)).

Dessa forma, nos dias em que jogavam sucessivamente a primeira e segunda categoria, as camisolas tinham de ser partilhadas e por isso entregues já bem suadas aos jogadores que jogavam depois. Tempos de amor à camisola... suada.


(http://i66.tinypic.com/1z3b6s6.png)
A equipa da 3ª ou (eventualmente 2ª) categoria do Sport Lisboa, algures entre 1905-1907. Fotografia tirada nas terras do Desembargador às Salésias. Com grande probabilidade estão aqui 10 das 12 camisolas de flanela vermelha compradas à Casa do Povo d'Alcântara. Imagem colorida artificialmente. Fonte: AML.


Felizmente quem quiser pode estar perto e ver uma dessas 12 camisolas originais. Uma dessas míticas camisolas está exposta no nosso Museu, na zona dedicada a Cosme Damião. Por lá nos é dito que foi envergada por aquele Glorioso fundador.


(http://i68.tinypic.com/286y595.png)
Uma das relíquias supremas do nosso Clube. O manto sagrado de Cosme Damião. Uma das 12 camisolas originais compradas em 1905.


Na verdade tendo em conta a prática de partilha acima descrita, não foi bem assim. Para além de Cosme Damião, a dita camisola de flanela vermelha terá com certeza sido envergada por outros jogadores do Glorioso.

(http://i67.tinypic.com/21l7rif.jpg)


A combinação de cores vermelha e branca foi definida desde o início por proposta de José da Cruz Viegas. Não sendo um dos 24 fundadores, foi – tanto quanto a sua vida de militar lhe veio a permitir – um dos mais decisivos desses primeiros dias. Para além das cores terá sido também por sua proposta que se evitou que o Clube se viesse a chamar "Grupo Futebol Lisbonense" com a alegação que a sigla GFL poderia ser interpretada como Guarda Fiscal de Lisboa...


(http://i63.tinypic.com/14icqqs.png)
José da Cruz Viegas, ele mesmo envergando um dos doze mantos sagrados originais. Fotografia registada depois de um jogo em 1907 contra o CIF. Fonte: AML.


José da Cruz Viegas foi um grande defesa, geralmente jogando do lado direito ao lado ou de Emílio de Carvalho ou de Henrique Costa. Sendo militar, a sua vida profissional acabou por o impedir de jogar por diversas vezes sendo pelo menos numa dessas ocasiões – no torneio Viúva Senna disputado em 1906 - substituído por Cosme Damião, então jogador da segunda categoria.

Não tendo sido um fundador, a relevância de José da Cruz Viegas é em meu entender a demonstração da existência de um núcleo de homens determinantes para o nascimento do Sport Lisboa. Uma demonstração de que o Clube foi fundado pela acção e inspiração de mais do que um conjunto de 24 homens. De facto, os Casapianos mais velhos, António Couto, Daniel Queiroz dos Santos, Januário Barreto, Emílio de Carvalho, Silvestre da Silva, Francisco dos Santos, José Neto, David da Fonseca, entre outros, não fizeram parte dos 24 fundadores mas já por lá andariam nos primeiros dias do Clube. Muitos deles foram titulares do primeiro jogo oficial e foram ainda as principais figuras da nossa equipa 1ª categoria durante os 3 primeiros anos, de 1904 a 1907.

O vermelho e o branco foram propostos por representarem a alegria, o colorido e a vivacidade como base do entusiasmo na luta em desporto (ver o excelente texto de Alberto Miguéns: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/08/benfica-e-arte-feliz-escolha-das-cores.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/08/benfica-e-arte-feliz-escolha-das-cores.html)). Luta leal, luta ardorosa, luta dentro dos campos no respeito pelas regras e pelo adversário. Luta ganhadora. Luta à Benfica! E assim nos conservámos fiéis a esse ideal ao longo destes 112 anos de vida do Glorioso.


O primeiro equipamento?

Voltando à data de aquisição das 12 camisolas, percebe-se que ao olhar para 18 de Fevereiro de 1905 se existe um hiato de cerca de um ano, ou seja entre Fevereiro de 1904 e Fevereiro de 1905. Que equipamento terá sido usado?

Pelos registos de Gourlade sabe-se que durante os primeiros 12 meses o nosso Clube fez 24 treinos. Provavelmente não terão sido usados equipamentos formais. Mas já nada se sabe relativamente ao que se passou no primeiro jogo oficial da nossa história, disputado contra o Campo de Ourique em Janeiro de 1905 (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/01/um-minuto-de-silencio.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/01/um-minuto-de-silencio.html)). Qual terá sido o equipamento usado naquele primeiro dia de Janeiro de 1905? Provavelmente nunca se saberá a resposta definitiva mas ainda assim talvez existam pistas.

De facto, Daniel dos Santos Brito, funcionário da Farmácia Franco terá falado num equipamento com quadrados vermelhos e brancos. Algumas interpretações recentes acerca dessa afirmação foram no sentido de propor que esse equipamento inicial seria um pouco à maneira do Boavista mas com vermelho e branco. Uma camisola de "Boavista vermelho e branco"...


(http://i65.tinypic.com/2l9rw2f.png)
Terá sido este o primeiro equipamento do Sport Lisboa em 1904? Pouco provável... Fonte: Vitórias e Património.


Esta proposta apresentada num dos episódios do Vitórias e Património, tem desde logo um detalhe absurdo que é a colocação do emblema mais recente do nosso Clube. Depois parece-me que pensar que o equipamento tinha estes quadradinhos é uma outra suposição absurda, uma proposta pouco reflectida.

Sujeito a opinião mais informada, parece-me que é desde logo absurda uma vez que a estampagem por questões técnicas não era algo corrente nessa época em equipamentos desportivos. Também por isso a tradição da época era de equipamentos com quadrados grandes, conforme alguns clubes Ingleses da época. Aliás a escolha da equipa da AFL deveu-se justamente à influência de Guilherme Pinto Basto que fez a sua formação em Inglaterra. e não esquecer que essa equipa estava carregada de jogadores Ingleses. Existem vários sítios da internet com essa informação sobre os "jerseys" do futebol em tempos "Vitorianos": http://www.historicalkits.co.uk/Articles/Olde_Curiosity_Shoppe.htm (http://www.historicalkits.co.uk/Articles/Olde_Curiosity_Shoppe.htm)



(http://i63.tinypic.com/2rysi08.png)
Alguns exemplos de equipamentos dos primórdios do futebol em Inglaterra. Note-se o equipamento aos quadrados vermelho e branco.


Em nenhum caso me parece que tenha existido algo parecido com um Boavista do século XIX. Até o Boavista começou a usar os quadrados pequenos a partir 29 de Janeiro de 1933. Pensar neste tipo de equipamento em 1904 é absurdo. Não havia precedentes históricos. Como se fosse Portugal a inovar nesse aspecto mesmo que os equipamentos tivessem sido feitos em Portugal e não importados de Inglaterra.

E de facto se atentarmos, esses equipamentos aos quadrados a terem existido poderão ter sido similares aos equipamentos usados pela primeira selecção de Lisboa liderada por Guilherme Pinto Basto e pelos irmãos Vilar (Carlos e Joaquim). Em 1894 essa equipa venceu uma selecção de jogadores da cidade do Porto. Conforme nos diz Manuel de Sousa no seu magnífico livro "As origens do Futebol" na página 179, esta equipa de 1894 envergou camisolas "escarlate com grandes quadrados brancos".


Assim este modelo parece-me bem mais credível para o que terá sido o primeiro manto sagrado:


(https://s14.postimg.org/7ms3z95qp/1_camisola.png)




(http://i64.tinypic.com/wjfdao.jpg)
"As origens do futebol" de Manuel Sousa. Um belo livro que merece um merecido destaque. Edição Oro Faber. 2004. In-8.º de 270-IV págs. Encadernação editorial em tecido. Profusamente ilustrado.


Seria essa a cor das camisolas da fotografia em baixo apresentada e muito provavelmente o modelo que terá sido escolhido para o primeiro equipamento do Sport Lisboa. Se há que especular sobre as afirmações de Daniel Santos Brito então que se faça levando em conta o contexto e a moda da altura. Sem outro testemunho mais concreto ou uma documentação fotográfica esta ideia parece-me muito mais razoável.


(http://i66.tinypic.com/2zjfat0.jpg)
Equipa de Lisboa que disputou em 1894 um jogo contra uma equipa do Porto. Comandada por Guilherme Pinto Basto (com a bola), considerado o introdutor do futebol em Portugal (1888). Está presente Carlos Villar, outro pioneiro relevante. Vê-se também a Taça que foi oferecida ao vencedor pelo Rei D. Carlos I e que foi justamente conquistada após a vitória desta equipa lisboeta sobre a equipa da cidade do Porto. Fonte: AFL.


A evolução dos modelos

No nosso Clube, já depois da fusão e correndo a época de 1909-1910 deu-se a introdução de uma nova camisola. Vermelha como sempre o foi desde 1905. Esta camisola era feita de algodão e tinha um modelo diferente, apresentando uma gola com atilhos. Réplicas das duas camisolas podem ser admiradas e adquiridas na loja do nosso Clube.


(http://i63.tinypic.com/fcnvvs.png)
Os dois primeiros mantos sagrados. O primeiro modelo (esquerda), de flanela, foi utilizado entre 1905 e 1909. O segundo modelo (direita), de algodão,  foi com pequenas diferenças de estilo, usado entre 1909 e 1928. Fonte: loja online do Sport Lisboa e Benfica.


O contraste entre os dois modelos torna mais interessante e evidente o regresso fugaz de António Rosa Rodrigues, um dos 24 fundadores de 1904 ao nosso Clube. Depois da sua partida juntamente com mais sete companheiros para o SCP no decurso da crise de Maio de 1907, apenas dois jogadores regressariam para volta a envergar o manto sagrado.

O primeiro foi o grande Henrique Costa que durante mais de uma década foi o primeiro grande defesa da nossa História. O segundo foi justamente António Rosa Rodrigues, um dos irmãos Catatau, conhecido por "Neco". E como se vê o "Neco" conservava a sua camisola de flanela vermelha. E utilizou-a mostrando claramente que para ele o Sport Lisboa e Benfica e o Sport Lisboa eram o mesmo Clube. O Clube que ele tinha ajudado a fundar e que tinha abandonado em Maio de 1907. Apesar dos regressos terem sido fugazes (dois jogos em 1909-1910, contra o CIF em 21 de Novembro de 1909 e contra o Gilman em 27 Março de 1910) tiveram uma importância simbólica muito grande.


(http://i66.tinypic.com/2r7t287.png)
António Rosa Rodrigues (1º modelo) um dos 24 fundadores do Sport Lisboa evoluindo perto de Carlos Homem de Figueiredo (2º modelo). Jogo disputado no campo de Alcântara contra o CIF em 21 de Novembro de 1909. Vitória do SLB por 2-0 golos de Cosme Damião e do... "Neco"! Fonte: Benfica TV.


Mas o contraste entre esses modelos ficou evidenciado por outras situações ao longo de mais anos. Isso deveu-se em parte à escassez de recursos dos clubes Portugueses nessa época, escassez essa que se acentuaria com as convulsões políticas e económicas e mais tarde com o deflagrar da I Guerra Mundial. Tempos difíceis.

Para além disso deve salientar-se que em alguns casos essas camisolas mais antigas eram também orgulhosamente envergadas por jogadores da velha guarda. Conferiam estatuto. Em alguns casos eram envergadas por jogadores que, não admitiam sequer usar as mais novas tais como o Glorioso David da Fonseca a quem não se conhece outro manto sagrado apesar de ter jogado num tempo em que já se usava o segundo modelo. David foi um dos que saiu em 1907 mas não para o SCP. Saiu para o Cruz Negra durante um anos regressando ao Clube logo que percebeu que o nosso Clube sobrevivia à grande crise de 1907. E voltou para encarnar por mais alguns anos um dos primeiros exemplos da grande de mística Benfiquista revelando literalmente um inultrapassável amor à camisola.


(http://i66.tinypic.com/t8p079.jpg)
Alguns dos resistentes que utilizaram do modelo mais antigo da nossa Gloriosa camisola para lá de 1909-1910 (época de transição).


Por isso quando envergarem o vosso manto sagrado orgulhem-se da cor vermelha e da águia ao peito. Lembrem-se de quem definiu as cores e o símbolo. Lembrem-se de que muito antes de vocês outros usaram o seu manto com enorme paixão. Por vezes em tempos difíceis mas sempre com paixão e sempre assente num Ideal definido em 28 de Fevereiro de 1904. Os pioneiros do primeiro manto sagrado. Honra à sua memória.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 04 de Maio de 2016, 09:10
Citação de: RedVC em 12 de Julho de 2014, 16:36
-4-
Os mestres Ingleses na Feiteira

1910, Campo da Feiteira, Benfica

Sport Lisboa e Benfica vs Carcavellos SC

Imagens disponíveis não sei se são relativas ao jogo do campeonato de 1910 ganho pelo Benfica  ou se do segundo, um particular, ganho em desforra pelo Carcavelos SC. Resolução fracota a partir de imagens da Torre do Tombo (com marca de água):

Spoiler
(http://i62.tinypic.com/166amvc.png)
Fonte: Digitarq
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Em duas fotografias distingue-se a figura inconfundível de Cosme Damião.

Capturas de imagens do periódico Ilustração Portugueza:
Spoiler
(http://i57.tinypic.com/20h92mo.png)
(http://i61.tinypic.com/wgq3i0.png)
(http://i61.tinypic.com/zlerl4.png)
(http://i57.tinypic.com/24l8vuf.png)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa
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nota-se uma maior participação de diversos jogadores mais avançados do Benfica, e por isso presumo em atitude ofensiva (está um Inglês encostado a um poste). Está um outro Inglês de calções pretos, presumo ser o guarda-redes. O tamanho do Inglês mais à esquerda era mesmo de impor respeito.


Em qualquer dos casos penso tratarem-se de fotografias tiradas pelo grande fotógrafo Joshua Benoliel:

http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765 (http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765)
Fonte: Fórum Ser Benfiquista

Na assistência notam-se pessoas sentadas no chão, notam-se chapéus de chuva (jogo em Janeiro). O detalhe de pessoas a assistir na varanda da vivenda é delicioso. O primeiro camarote VIP num campo em que... não havia bancadas. O árbitro o Sr. Charles Etur parece estar com um chapéu branco.

Por último, da leitura do texto da Ilustração Portugueza, percebe-se que Jorge Rosa Rodrigues, o quarto e último dos Catataus a sair para o SCP, era um temperamental. A minha interpretação é que desagradado com a decisão do árbitro decidiu abandonar o seu lugar de guarda-redes, o que provavelmente quer dizer o campo. Naquele tempo a especialização do lugar de guarda-redes não era uma norma e por isso deverá ter sido substituido nesse lugar por um dos colegas.

Ai Catatau, Catatau...
Spoiler
(http://i57.tinypic.com/x3xw9d.png)
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(http://i.imgur.com/YRc4eY6.png)

Numa época em que os ingleses eram os "mestres" do futebol, o Sport Lisboa e Benfica conseguiu impor-se com uma equipa exclusivamente portuguesa. Esta imagem equestre, oferecida por Bernardino Costa em 1911, representa a vitória sobre os ingleses do Carcavellos Club e pode ser vista na área 1 - Ontem e Hoje.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Maio de 2016, 09:54
Citação de: Theroux em 04 de Maio de 2016, 09:10
Citação de: RedVC em 12 de Julho de 2014, 16:36
-4-
Os mestres Ingleses na Feiteira

1910, Campo da Feiteira, Benfica

Sport Lisboa e Benfica vs Carcavellos SC

Imagens disponíveis não sei se são relativas ao jogo do campeonato de 1910 ganho pelo Benfica  ou se do segundo, um particular, ganho em desforra pelo Carcavelos SC. Resolução fracota a partir de imagens da Torre do Tombo (com marca de água):

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(http://i62.tinypic.com/166amvc.png)
Fonte: Digitarq
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Em duas fotografias distingue-se a figura inconfundível de Cosme Damião.

Capturas de imagens do periódico Ilustração Portugueza:
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(http://i57.tinypic.com/20h92mo.png)
(http://i61.tinypic.com/wgq3i0.png)
(http://i61.tinypic.com/zlerl4.png)
(http://i57.tinypic.com/24l8vuf.png)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa
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nota-se uma maior participação de diversos jogadores mais avançados do Benfica, e por isso presumo em atitude ofensiva (está um Inglês encostado a um poste). Está um outro Inglês de calções pretos, presumo ser o guarda-redes. O tamanho do Inglês mais à esquerda era mesmo de impor respeito.


Em qualquer dos casos penso tratarem-se de fotografias tiradas pelo grande fotógrafo Joshua Benoliel:

http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765 (http://serbenfiquista.com/forum/memorias/as-melhores-fotografias-da-historia-do-benfica/msg1078236765/#msg1078236765)
Fonte: Fórum Ser Benfiquista

Na assistência notam-se pessoas sentadas no chão, notam-se chapéus de chuva (jogo em Janeiro). O detalhe de pessoas a assistir na varanda da vivenda é delicioso. O primeiro camarote VIP num campo em que... não havia bancadas. O árbitro o Sr. Charles Etur parece estar com um chapéu branco.

Por último, da leitura do texto da Ilustração Portugueza, percebe-se que Jorge Rosa Rodrigues, o quarto e último dos Catataus a sair para o SCP, era um temperamental. A minha interpretação é que desagradado com a decisão do árbitro decidiu abandonar o seu lugar de guarda-redes, o que provavelmente quer dizer o campo. Naquele tempo a especialização do lugar de guarda-redes não era uma norma e por isso deverá ter sido substituido nesse lugar por um dos colegas.

Ai Catatau, Catatau...
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(http://i57.tinypic.com/x3xw9d.png)
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(http://i.imgur.com/YRc4eY6.png)

Numa época em que os ingleses eram os "mestres" do futebol, o Sport Lisboa e Benfica conseguiu impor-se com uma equipa exclusivamente portuguesa. Esta imagem equestre, oferecida por Bernardino Costa em 1911, representa a vitória sobre os ingleses do Carcavellos Club e pode ser vista na área 1 - Ontem e Hoje.

o Troféu Bernardino Costa. Pai do Tótinhas. É um dos textos que comecei e tentarei acabar um dia destes. Quando era pequeno este era considerado o primeiro troféu da história do Benfica. O museu fez um belo trabalho de recuperação da peça.

(http://images-00.delcampe-static.net/img_large/auction/000/314/331/311_001.jpg)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ginkgo em 08 de Maio de 2016, 20:00
Não é uma imagem do Benfica, mas não podemos ignorar esta data histórica dos 71 anos do final da 2ª Guerra Mundial

(do blog entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/)


(https://2.bp.blogspot.com/-tmZbC6BguLI/Vy8Yt6BmF7I/AAAAAAAAw9I/IEtyzZJYkI8RA4DwqV_C4Ds13GV7nV3nQCLcB/s1600/8%2BDAY%2BAnoucement%2B2.jpg)

Como é sabido, também se festejou em Portugal. Multidões saíram à rua com bandeiras dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e do Benfica. Estas últimas substituíam as da União Soviética – um dos vencedores da guerra na Europa –, obviamente proibidas... Em Almada, depois dos patrões ingleses de algumas fábricas de Cacilhas darem 1/2 dia feriado, também houve desfile com as bandeiras dos vencedores e um pau sem nada.

(https://2.bp.blogspot.com/-R24w4ssUj-o/Vy8Y5cnOJyI/AAAAAAAAw9M/_XmPqvdgi0osITYrQhjxd1sKz48NTfKiACLcB/s1600/fim%2Bguerra.jpg)

http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Maio de 2016, 23:47
Bela evocação. O Sport Lisboa e Benfica sempre foi um farol de liberdade em Portugal. Mais do que a cor da bandeira soviética
acho que também o facto de ser um Clube com uma tradição democrática em Portugal desde a sua fundação.

Por muito que tentem emporcar com as suas manhas, ódios, invejas e provocações, o que é um facto é que o Benfica teve sempre em tempos de Monarquia, da Republica, do Estado Novo e na Democracia de Abril, o Sport Lisboa e Benfica teve sempre a mesma tradição. A Direcção e os restantes corpos sociais foram sempre eleitos em votação democrática dos sócios.

Apenas a primeira Direcção em 28 de Fevereiro de 1904, Direcção foi nomeada por 24 sócios. Tantos quantos os que existiam.


Benfica é liberdade.

(http://2.bp.blogspot.com/-kCyESPCe1NI/U1qbReQpVZI/AAAAAAAANg8/4NW3do0dRVk/s1600/0001_M-eusebio+cravos.jpg)
Fonte: AML


É vermelho essencialmente mas também é branco, verde, azul, amarelo e preto.

(http://2.bp.blogspot.com/-Q7x0vOidLHU/TlaF_r4mipI/AAAAAAAAG74/n6IsnxhorDA/s1600/Blog-079+%25282%2529.jpg)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Maio de 2016, 21:24
-102-
Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém.

O Bronze Bernardino Costa em frente ao Mosteiro dos Jerónimos:

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463168590271.jpg)
O bronze Bernardino Costa exposto em frente do Mosteiro dos Jerónimos, bem perto do local de onde terá sido oferecido ao Clube.


Esta peça foi durante muito tempo considerado o primeiro troféu conquistado pelo nosso clube. Hoje sabe-se que a verdade histórica é outra. Mas lá iremos.

É uma bela peça, aliás uma das mais bonitas e de maior valor simbólico que consta do acervo do nosso Museu. Uma peça que tem um enorme significado histórico e que por isso mesmo foi alvo de um cuidado trabalho de restauro que não apenas a rejuvenesceu como também a terá salvaguardado de uma degradação crescente provocada por um restauro anterior bastante infeliz. Essa intervenção foi ilustrada no Vitórias e Património dedicado ao Centro de Preservação e Catalogação do acervo do nosso Museu.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463169086422.jpg)
Diferentes etapas do excelente restauro do Bronze Bernardino Costa. Trabalho feito pelo Departamento de Restauro do nosso Museu. Trabalho feito com metodologia científica, qualificado e rigoroso. Um exemplo para todos os outros clubes. Fonte: Benfica TV; capturas de ecrã de episódio do Vitórias e Património.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463169131186.jpg)
O bronze Bernardino Costa restaurado. Resultado final extraordinário! Fonte: Museu Cosme Damião.

Não sei ao certo que figura representará, que cavaleiro de que civilização mas a peça lembra-me a estátua equestre de Vercingetórix, herói Gaulês do tempo da ocupação Romana.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/146316924352.jpg)
Estátua equestre de Vercingetórix na Place de Jaude de Clermont-Ferrand. Fonte: http://uk.france.fr/en/discover/clermont-ferrand


Os primeiros troféus

Já por aqui se disse que o troféu Bernardino Costa foi durante décadas considerado o primeiro da nossa história existente no acervo do Clube. No entanto o esforço de catalogação dos últimos anos permitiu corrigir esta ideia. A verdade histórica é outra.

Sabe-se agora que os primeiros troféus terão sido, com grande probabilidade, duas estatuetas conquistadas pelas nossas segundas e terceiras categorias nos campeonatos regionais de Lisboa de 1907. Mais detalhes em: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/06/honraram-o-manto-sagrado.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/06/honraram-o-manto-sagrado.html).


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463169293952.jpg)
As equipas de futebol da 2ª e 3ª categoria que conquistaram os nossos dois primeiros troféus em 1907. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Os dois bronzes foram oferecidos pelo Clube Internacional de Futebol (CIF), o clube dos irmãos Pinto Basto. Os Pinto Basto foram os grandes pioneiros do Futebol Português. Duas gerações de homens que principalmente entre 1888 e 1914 desenvolveram um trabalho de promoção do futebol (e não só) em Portugal. O desporto Português muito deve a esses homens ilustres. Deviam ser lembrados mais vezes.

Infelizmente esses dois primeiros troféus estão perdidos.

Lamentavelmente os dois bronzes terão sido colocados numa loja de penhores por um funcionário do clube ao tentar acudir a uma crise financeira ou então segundo outra versão foram simplesmente roubados. Infelizmente nunca mais apareceram.

Derretidos? Perdidos? Estarão anonimamente a ornamentar alguma prateleira numa casa Lisboeta? Mistério. Deles resta apenas uma fotografia, a única percepção que podemos ter de como eram esses dois objectos de arte (troféus-estatueta).


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170202932.jpg)
Restaurante Bacalhau Julho 1910. Os 44 convivas rodeiam os seis primeiros troféus conquistados pelo Sport Lisboa e Benfica. Esta imagem é o que nos resta dos dois bronzes perdidos. Ali se podem ver os dois bronzes desaparecidos, conquistados em 1907 pelas equipas da segunda e da terceira categoria de futebol. Lá estão imortalizados ao lado de Félix Bermudes e Cosme Damião. Fonte: Tiro e Sport: Ao lado apresenta-se também o troféu Viúva Senna conquistado pelo Lisbon Cricket Club em 1905. Troféu de bronze similar aos nossos.


Os Costa de Belém

Conforme nos disse Alberto Miguéns (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/04/a-titularidade-de-alvaro-gaspar.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/04/a-titularidade-de-alvaro-gaspar.html)), o bronze foi prometido pelo sócio Bernardino Costa para incentivar a equipa a ganhar um difícil jogo em Carcavelos contra os Ingleses do Carcabellos Club também conhecidos por Ingleses do Cabo submarino.

E assim foi! A equipa correspondeu vencendo o Carcavellos Club por 1-0 no dia 19 de Fevereiro de 1911 entrando esta magnífica peça no acervo do Clube.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170274391.jpg)
Recortes da reportagem do grande jogo de 19 de Fevereiro de 1911. Fonte: Sports Ilustrados, nº 36 de 25 de Fevereiro de 1911.


Esta foi a terceira vitória conseguida pelo nosso clube sobre o Carcavellos Clube. Nenhum outro Clube conseguiu este feito. Aliás nenhum outra equipa ou clube depois de 1897 conseguiu sequer uma vitória contra o Carcavellos Club! Nem o CIF, nem o SCP, muito menos o Império, o Cruz Negra ou o S.U. Belenense. Nenhum.

O máximo que conseguiram foi um empate e já na fase de decadência dos Ingleses. Uma decadência provocada pelo retorno a Inglaterra dos homens para integrarem o esforço militar na I Guerra Mundial em terras de França. O único Clube que o conseguiu e logo por três vezes foi o Sport Lisboa e Benfica!


Antes de 1911 as duas vitórias anteriores foram igualmente muito importantes. A primeira (2-1) foi obtida num jogo também disputado em Carcavelos em Fevereiro de 1907. Nesse ano o nosso Clube ainda se chamava Sport Lisboa e a equipa que jogou ainda tinha os homens que desertaram em Maio desse ano para o SCP. A segunda vitória (1-0) foi obtida num jogo disputado em Janeiro de 1910 no nosso campo da Quinta da Feiteira. Uma vitória decisiva para a conquista do campeonato regional desse ano, o primeiro da nossa história.

Os Costa de Belém

Mas em 1911, a terceira vitória traria uma duradoura demonstração do já existente fervor Benfiquista. A oferta de um troféu por António Bernardino Costa. Com esse gesto Bernardino Costa, natural e morador em Belém entrou para sempre na História do SLB. Ao que se sabe, em antecipação ao grande jogo, Bernardino Costa terá prometido oferecer essa peça de bronze ao Clube caso a equipa de futebol conseguisse vencer o grande jogo.

E assim foi. Após a vitória Bernardino Costa converteu num troféu uma peça que inicialmente era um produto de venda exposto na montra da sua loja de bricabraque.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170357937.jpg)
Bernardino Costa, o homem que ofereceu ao Benfica um dos seus primeiros troféus. Fonte: Benfica TV.


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Bricabraque é uma expressão aportuguesada do francês bric-à-brac, por vezes também escrito brique-a-braque ou apenas brique. Refere-se a colecções de diversos tipos de velhos objectos de artesanato ou arte, tais como antiguidades, bijuterias, móveis, vestuários, entre outros. O termo designa também os estabelecimentos em que esses produtos são comercializados. Fonte: wikipedia (adaptado). Essa moda terá começado em França ainda no século XIX, uma vez que se encontram referências na obra de Victor Hugo e particularmente Balzac na personagem Pons criada no romance "Le Cousin Pons". Podemos também encontrar referências a essa moda de coleccionar bricabraque por exemplo nos Maias, a imortal obra de Eça de Queiroz, uma vez que as personagens Carlos da Maia e o Inglês Craft eram coleccionador de bricabraque. E realmente copiando o modelo Francês também em Portugal existia esse tipo de coleccionismo em algum do Portugal Lisboeta.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170419988.jpg)
Não sabemos ao certo como seria nem se localizava a loja de Bernardino Costa mas esta loja de bricabraque em Nantucket (Massachussets, EUA), cerca de 1880, poderá dar algumas pistas.

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Não há muita informação acerca de António Bernardino Costa mas sabe-se que foi um comerciante natural e morador na vila de Belém. Para além da loja de bricabraque terá também sido proprietário de uma taberna igualmente na vila de Belém.

À data de nascimento dos seus filhos, Bernardino e a mulher moravam na Rua Direita em Pedrouços, não muito longe da Rua Direita de Belém, local onde se situava a famosa Farmácia Franco.


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Dois aspectos da Rua Direita de Pedrouços em 1938. Longe iam os tempos de Bernardino Costa mas a zona não terá mudado assim tanto. Fonte: AML.


Bernardino Costa teve um outro detalhe notável para o universo Benfiquista. Foi pai de António Costa, o popular Tótinhas, um dos jogadores mais destacados desses tempos pioneiros.

Para além do Tótinhas, teve pelo menos mais quatro filhas, Mariana, Beatriz, Ester e Glória, todas nascidas no bairro de Belém. O Tótinhas nascido em 18 de Julho de 1889 foi provavelmente o único rapaz da família.

Por um feliz acaso, nesse dia de 19 de Fevereiro de 1911 foi o Tótinhas que marcou o golo da vitória! Ou seja o filho marcou o golo e o pai ofereceu o troféu!

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170551544.jpg)
Fotografia colorida da equipa que venceu o Carcavellos em 19 de Fevereiro de 1918. Em destaque está António Costa, autor do único golo do desafio conforme se lê no excerto da notícia do Sports Ilustrados. De pé da esquerda para direita: Luís Vieira, Henrique Costa, Alfredo Machado, Francisco Belas, Cosme Damião e Artur José Pereira. Sentados da esquerda para a direita: Germano Vasconcellos, António Costa, José Domingos Fernandes, Carlos Homem de Figueiredo e Virgílio Paula. Fonte: Em Defesa do Benfica. Fotografia colorida a partir de um original de Virgílio Paula.


O Tótinhas jogou geralmente a médio ou a avançado. Foi também um dos poucos jogadores que esteve nos areais de Belém, nas terras das Salésias, na Quinta da Feiteira, Palhavã, Laranjeiras e muito provavelmente ainda no campo de Sete Rios. Jogou na primeira categoria de 1907/1908 até 1913/1914 sendo que em 1911/1912 jogou na segunda categoria.

Terá sido aliás um dos jovens que integrou os treinos do Sport Lisboa nos terrenos das Salésias e nos areais de Belém. Sabemos isso pelo testemunho de Daniel Santos Brito funcionário da Farmácia Franco, conforme atesta um artigo publicado no jornal Echos de Belém. Quem sabe, talvez ainda tenha mesmo chegado a trocar umas bolas no famoso pátio da Farmácia Franco...


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170596639.jpg)
Excerto de entrevista a Daniel Santos Brito. Fonte: Em Defesa do Benfica.


O primeiro registo fotográfico que conheço de António Costa mostra-o por volta de 1905-1907 integrado numa equipa de futebol da 2ª ou 3ª categoria do Sport Lisboa. Uma fotografia preciosa pois é a única que captou uma equipa do Glorioso alinhada no campo das Salésias. O Tótinhas estava lá. Ele foi um dos pioneiros das Salésias. Uma honra que poucos tiveram.

Pela disposição dos jogadores percebe-se que actuou como extremo direito, posição em aliás evoluiu com frequência, isto embora nesses tempos a polivalência fosse uma característica comum aos jogadores. Era frequente haver falta de jogadores e às vezes nem a posição de guarda-redes estava salvaguardada pela especialização. Jogava quem estava disponível.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170713522.jpg)
António Costa (em destaque) integrado numa equipa da 2ª ou 3ª categoria do Sport Lisboa. Sentados no primeiro plano, esquerda para a direita: António Costa, António Alves (?), Luís Rodrigues, Eduardo Corga e António Meireles. No 2º plano: Carlos Monteiro, Mário Monteiro e Luís Vieira. No terceiro plano: Henrique Teixeira, Manuel Gourlade e Leopoldo Mocho. Fonte: AML.


Essa equipa das Salésias tinha jogadores de enorme relevância nesses tempos pioneiros. Para começar três fundadores do Clube: Manuel Gourlade, Eduardo Corga e Henrique Teixeira! Depois outros sete que provavelmente só não foram fundadores por razões circunstanciais, uma vez que foram nomeados por Daniel Santos Brito como estando nos treinos pré-fundação: Leopoldo Mocho, Luís Vieira, Mário Monteiro, Carlos Monteiro, Luís Rodrigues, António Alves e António Meireles. Tudo gente ilustre, tudo gente que chegou a jogar na primeira categoria.

Entre eles e para além de Manuel Gourlade, alguns assumiram um papel de grande destaque no nosso futebol nos anos seguintes:

Henrique Teixeira tinha uma menor disponibilidade dado ser militar mas ainda assim jogou ocasionalmente na 1ª categoria até 1911;
Eduardo Corga viria a marcar o primeiro golo da nossa história ao SCP e jogou na 1ª categoria até 1909;
António Meireles irmão do fundador Abílio Meireles fez parte de selecções iniciais de jogadores de Lisboa e jogou na 1ª categoria até 1911;
Leopoldo Mocho foi talvez o melhor defensor Português da primeira década do Séc. XX e cuja contribuição só não foi maior por ter sido deslocado pelos Correios (de que era funcionário) para Arronches. Jogou na 1ª categoria até 1917!
Luís Vieira, avançado, goleador e o segundo jogador Português a jogar numa equipa Brasileira (Botafogo do Rio de Janeiro). Deste último falaremos um dia mais em detalhe. Jogou na 1ª categoria até 1919!

Para além do campo da Quinta Nova em Carcavelos o Tótinhas também brilhou na Quinta Feiteira. Na Feiteira sagrou-se pela primeira vez campeão de Lisboa ao lado de Cosme Damião e restantes companheiros num encontro decisivo contra os Ingleses do Carcavellos Club. Nesse dia vencemos pela segunda vez os Ingleses conquistando o Campeonato Regional. Nesse dia o Benfica ganhava o jogo, e assim o único título regional Lisboa conquistado por uma equipa Portuguesa durante a Monarquia. Com esse triunfo iniciava-se uma década de hegemonia do Sport Lisboa e Benfica.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463170813654.jpg)
António Costa (em destaque) com o manto sagrado, alinhado na Quinta da Feiteira antes de um jogo com o Carcavellos Club em Março de 1910. Nesse dia o nosso Clube não seria tão feliz como foi dois meses antes. De pé, esquerda para a direita: António Costa, Henrique Costa, Jorge Rosa Rodrigues "catatau", Cosme Damião, Carlos Homem de Figueiredo, Artur José Pereira. Sentados: Florindo Serras, Luís Vieira, Germano Vasconcellos Júnior, António Meirelles, Virgílio Paula. Fonte: AML.


(http://s32.postimg.org/lfm6hovd1/image.jpg)
Três imagens de jogo e um destaque (Tótinhas em plena atitude atacante) do jogo de dia 23 de Março de 1910. Nesse dia perante milhares de pessoas na Quinta da Feiteira SLB perdia o jogo de desforra contra o Carcavellos Club. Mas dois meses antes o Benfica tinha ganho o jogo mais importante e com isso assumido vantagem decisiva para o título regional que efectivamente viria a conquistar. Na primeira fotografia vê-se António Costa e Cosme Damião a disputar a bola aos Ingleses. Na segunda fotografia aparece-nos António Costa a defender vigorosamente a sua baliza de uma investida Inglesa. Fonte: Torre do Tombo; originais de Joshua Benoliel.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Maio de 2016, 11:10
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Os primeiros troféus (parte III) – a Taça "Olímpica".

Vamos hoje falar do mais antigo troféu existente na Sala das Taças do Benfica.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220001847.jpg)
Este sim, este é o troféu de posse definitiva mais antigo existente no clube. Fonte: Museu Cosme Damião.


É uma Taça ou jarra em bronze que tem hoje o devido destaque no Museu Cosme Damião. Uma bela taça conquistada após uma vitória do Sport Lisboa e Benfica sobre o Sport União Belenense por 2-1.


Antes do Jogo

Conforme nos diz uma notícia do Sports Ilustrados nº 3 de 25 de Maio de 1910, este jogo deveria ter sido parte de um torneio de futebol integrado nos Jogos Olímpicos Nacionais de 1910. Promovido pela Liga Sportiva dos Trabalhos Athléticos, era um evento a repetir por mais duas vezes até ao ano dos Jogos de Estocolmo 1912.

No entanto o torneio acabou por ficar restrito a... um jogo entre o SLB e o Sport União Belenense (SUB). As razões? As do costume: intriga, má-língua, inveja, maledicência. Antes como agora. O costume.

Campeão regional no ano anterior, sucedendo pela primeira vez ao Carcavellos Club, o Sport Lisboa e Benfica era já nesse tempo o alvo de todas as invejas e intrigas. Cosme Damião tinha sido encarregue pela organização dos JON-1910 de convidar os clubes para o torneio de futebol. Infelizmente todos, à excepção do SUB, se recusaram a participar. Uma vergonha.

O jornal Sports Ilustrados comentando a recusa usou os termos "intriga" e "politiquice". Notava também que até a tradicional e enorme rivalidade entre as colectividades náuticas tinha sido ultrapassada em nome do interesse nacional de forma a todos participarem em eventos prestigiosos como a Taça Lisboa e outras regatas que na altura se realizaram.

No futebol nem pensar. Com esse clima lamentava-se o jornal estava mesmo excluída a hipótese de formar um seleccionado para jogar contra a Espanha. E realmente só três anos depois uma equipa da AFL iria ao Brasil naquilo que para mim foi a primeira selecção nacional de futebol. E só 11 anos depois uma selecção Portuguesa já formalmente constituída jogaria pela primeira vez em Espanha liderada por Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis. Uma vergonha.

"Façam sport puro senhores, e não nos obriguem a assistir a scenas tão lamentáveis" escrevia o repórter Gil Muana, reclamando para si a maior imparcialidade e manifestando o desencanto de ver tão tacanhos comportamentos. Coitado mal sabia ele o que andaria por este país futebolístico 106 anos depois.


O Jogo

O jogo foi disputado no dia 19 de Maio de 1910 no nosso campo da Quinta da Feiteira. A nossa equipa alinhou com um misto entre jogadores da primeira categoria e da segunda categoria.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220038674.jpg)
Duas imagens do jogo. Fonte: Sports Ilustrados nº 3, 25 Junho 1910. Na primeira imagem, lá ao fundo entre os postes, vestido de branco e com chapéu para proteger a moleirina está muito provavelmente Félix Bermudes. Guarda redes de improviso!


O pontapé de saída foi dado já depois das 5 da tarde. A nossa equipa foi capitaneada por Cosme Damião que no ano anterior tinha ascendido ao estatuto de Capitão-Geral. Um cargo algo parecido com o de treinador.Com a mudança do Clube de Belém para Benfica o protagonismo de Gourlade foi declinando tendo Felix Bermudes e principalmente Cosme tomado as rédeas do futebol no Clube.

E assim desde esse tempo e até 1916 Cosme Damião seria capitão-geral e jogador de campo. Depois e até 1926 Cosme seria o protagonismo supremo do Clube. Um homem de talento e paixão mas que actuava não apenas por impulso mas na concretização lógica, coerente de uma visão ambiciosa e sustentada que tinha para o Clube. A visão de um Benfica à escala nacional estava lá. A Lusofonia, a ambição, a organização interna e o modelo de expansão com delegações regionais estava lá. Isso e a exigência e competência desportiva explicam muito da adesão popular e do sucesso global que o nosso Clube teve junto das massas populares. O Benfica foi o maior Clube Português desde o tempo da monarquia. E assim foi até aos dias de hoje.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220073335.jpg)
Os dois capitães de equipa. Francisco Belas (Sport União Belenense) e Cosme Damião (Sport Lisboa e Benfica). Fonte: Sports Ilustrados nº 3, 25 Junho 1910.


Mas voltando ao tema do início, do nosso lado o facto mais notório foi a doença de última hora do habitual titular (presumo Alfredo Machado), facto infeliz que nos obrigou a encontrar uma solução de recurso para a baliza. Espantosamente quem apareceu entre os postes foi... Félix Bermudes!

Assim, um dos mais prestigiados sócios do Clube, que nesse tempo já só fazia algumas aparições esporádicas em equipas de futebol da 3ª categoria, acabou por ter de ocupar a posição mais sensível no campo. Félix Bermudes uns 2-3 anos antes tinha realmente evoluído na 1ª categoria mas como extremo direito... Ainda assim o Benfiquismo e a necessidade da equipa falaram mais alto, impondo essa inesperada contribuição.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220204716.jpg)
A equipa do SLB que disputou e venceu a Taça de futebol dos Jogos Olímpicos Nacionais de 1910.


António Marques e Carlos Costa foram os homens que juntamente com Félix Bermudes que jogaram mesmo sendo menos habituais na primeira equipa. Tinham participação ocasional mas não eram habituais nesse 1º escalão. Alberto Rio também era da 2ª categoria mas estava prestes a iniciar cerca de 8 anos de grande qualidade como extremo esquerdo de águia ao peito. Um jogador de enorme talento que viria a estar no centro de uma enorme confusão que o levaria do SLB ao SCP e depois ao CFB. Pequeno mas buliçoso, pequeno mas conflituoso.

Do outro lado, do lado do Sport União Belenense (SUB), aparecia como Capitão-geral um jogador que pelo seu talento rapidamente se elevaria passando um par de anos depois a envergar o nosso manto sagrado. Francisco Belas, pois é dele que estamos a falar seria nesse jogo Capitão geral e médio ao centro do SUB. No Benfica viria a destacar-se como defesa ao lado de Henrique Costa e atrás de Cosme Damião. Estava ainda presente um futuro Benfiquista (e depois Sportinguista) chamado Francisco Viegas, um bom extremo-direito. Com boa probabilidade todos esses jogadores vestidos de azul seriam filhos de Belém. Era um clube pequeno mas que deixou uma imagem nostálgica. Muito do que o Belenenses depois veio a concretizar nos seus primeiros anos de vida terá sido um revivalismo dos tempos do SUB. Vários nomes foram chave nesse processo. Um deles tinha passado por lá poucos anos antes e estava nesse dia vestido de vermelho. Um homem de talento tão grande como a polémica que causava por onde passava: Artur José Pereira!

E de facto, desde a partida do Sport Lisboa para Benfica dois anos antes, o Sport União Belenense passou a ser o clube com maior ligação a Belém. Mas sê-lo-ia apenas por mais um par de anos, não resistindo ao poderio dos mais fortes.

Voltando ao jogo, o árbitro acabaria por ser um homem já prestigiado, militar de carreira que viria a ser uns anos mais tarde presidente do Sport Lisboa e Benfica, José Maria Moreira Salles.


(http://4gp.me/ba3s/1463220306763.jpg)
José Maria Moreira Salles, 1910. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca Lisboa.


Apesar da ligação ao nosso Clube era um homem prestigiado e respeitado por ambos os lados. E de facto foi salientado pelo jornal Sports Ilustrados que teve uma prestação primorosa, manifestando uma "verdadeira compreensão dos seus deveres como refere, chamou os jogadores, antes do pontapé inicial e aconselhou-os, em breves mas enérgicas palavras, a fazerem um jogo correcto, sem violências escusadas, advertindo-os que seria muito severo, castigando o jogador que se excedesse, quando d'isso não há necessidade". Segundo o jornal a prestação do árbitro foi perfeita.

O Benfica deu o pontapé de saída e jogou contra o sol na primeira parte. Aliás, nessa primeira parte a nota dominante seria o calor que se fez sentir. Se repararem nas duas imagens do jogo ao lado da baliza estão dois homens com um deles a usar uma sombrinha para se proteger do sol. Eu desconfio que eles eram duas figuras ilustres do Benfica. Uma delas um certo farmacêutico e a outra um diligente empregado numa farmácia...

Mas joltando ao jogo, sob o olhar de uma assistência numerosa e apesar de se ter visto um jogo bastante dividido, a primeira parte terminaria sem qualquer golo.

Só que na segunda parte e logo no início, Artur José Pereira acabaria por marcar ao seu antigo clube. AJ Pereira antigo jogador do SUB, o seu clube do coração antes da aventura do CFB. O SUB era o clube que representava a sua terra, o seu bairrismo puro e dedicado. O clube onde se terá iniciado no futebol (havendo ainda a hipótese de também ter jogado no Ajudense). Artur José Pereira, foi talvez a maior estrela do futebol até ao aparecimento de Vítor Silva, outro Glorioso no final da década de 20. Nesse jogo AJ Pereira jogou fora do seu lugar habitual de médio esquerdo. Jogou a avançado centro, disso se ressentindo a sua prestação. Ainda assim o primeiro golo da partida teria a sua chancela.

Depois viria o inevitável. Félix Bermudes sem rotina (e provavelmente talento) para o lugar de guarda-redes acabaria por sofrer um golo depois de uma saída dos postes extemporânea. O golo terá sido marcado provavelmente por Salvador Ângelo (o jornal fala do forward outsider esquerdo do SUB).

Com um empate no marcador, o Benfica insistiu e acabou por marcar o golo da vitória pelo inevitável Cosme Damião.

É assim a Cosme Damião que devemos o golo da vitória que nos deu a Taça mais antiga do nosso museu.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220338126.jpg)
Cosme Damião (1885-1947), o maior de todos os Benfiquistas. Fonte: EDB.


Terminava assim o jogo com a nossa vitória! As festividades sido depois animadas com o brio dado pela música da Banda da Euterpe de Benfica.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220363457.jpg)
A Banda da Euterpe de Benfica em 1911. Foi esta banda que abrilhantou a festa desportiva. Fonte: http://riodasmacas.blogspot.pt/2007/11/propsito-de-bandas-filarmnicas.html (http://riodasmacas.blogspot.pt/2007/11/propsito-de-bandas-filarmnicas.html)


No final o nosso Clube receberia a Taça que poucos meses depois seria exibida orgulhosamente no lendário almoço do Restaurante Bacalhau ao lado dos bronzes e de três outras taças correspondentes a vitórias nos torneios de futebol regional.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220404706.jpg)
Restaurante Bacalhau Julho 1910. Os 44 convivas rodeiam os seis primeiros troféus conquistados pelo Sport Lisboa e Benfica. Esta imagem foi obtida menos de dois meses depois da conquista da Taça dos JON-1910. Ali se podem ver também os dois bronzes desaparecidos, conquistados em 1907 pelas equipas da segunda e da terceira categoria de futebol. Lá estão imortalizados ao lado de Félix Bermudes e Cosme Damião. Fonte: Tiro e Sport.



Os Jogos Olímpicos Nacionais em 1910

Algumas palavras breves sobre este evento. Foi promovido pela Sociedade Portuguesa de Educação Física, que no fundo antecederia o Comité Olímpico Português. Visava a promoção do desporto nacional e provavelmente teria já em mente a eventual preparação de atletas de várias modalidades para os Jogos Olímpicos de Estocolmo 1912.

Conforme noticiava o jornal O Século:

Teve eco na imprensa a reunião da comissão executiva responsável pela organização dos primeiros Jogos Olímpicos nacionais, a decorrer no mês de Junho de 1910.

A referida reunião teve lugar nas salas do Centro Nacional de Esgrima e contou com a presença dos tenentes Câmara Lema, Tavares Portugal e Silva Lopes.

Resolveu-se "disputar os Jogos Olímpicos em três sessões no dia 24, juntamente com a corrida pedestre de resistência, e nos dias 25 e 26. Foi também marcado o dia para a realização da primeira conferência de propaganda. Escolheu-se o sábado 29 (...)" de Maio.

"O êxito do certame está garantido. Ao concurso devem assistir milhares de pessoas ávidas de espectáculos emotivos e de aspectos vistosos e artísticos."
Fonte: O Século nº 10 208, 17 de Maio de 1910, p. 2.


O primeiro evento aconteceria ainda durante o reinado de D. Manuel II que aliás pelo que me apercebi terá apreciado o evento.

Os dois eventos seguintes já decorreriam em tempos pós instauração da República. E de facto seria o voluntarismo republicano que levaria o país a participar nos jogos de Estocolmo 1912. Uma participação trágica.

Com se vê pelas fotografias integrou muitas e diversas modalidades


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220483750.jpg)
Algumas imagens dos Jogos Olímpicos Nacionais em 1910 disputados em Palhavã. Ao centro a página onde foram retiradas as fotografias. Fonte: Sports Ilustrados nº4 de 2 Julho 1910. Hemeroteca de Lisboa.


A Liga Sportiva dos Trabalhos Athléticos foi encarregue da organização. Disputados na antiga pista de Palhavã nesse ano de 1910 estiveram envolvidos um total de 78 atletas representando 9 clubes, entre eles o nosso. Os jornais reportarão a ideia de que salvo rara excepções a maior parte dos atletas denotava evidente falta de treino. Denotava também comportamentos incompatíveis com a prática desportiva como fumo, ingestão exagerada de água. Desconhecimento e desleixo associado a um amadorismo puro e bastante improvisado.

Atletismo, 100 metros, 800 metros, lançamento do peso, luta de tracção, corrida barreiras, salto em altura, entre outras. Algumas figuras em destaque, o nosso Germano Vasconcelos (SLB mas a representar... o GCP), José, António e Francisco Stromp (todos do SCP), Travassos Lopes (CSI), Kruss Gomes (CIF), Alfredo Camecelha (SLB mas representou... o SCP), Francisco Padinha (SCP ou Real Clube Naval), Mathias de Carvalho (SCP). Tempos diferentes com a ténue linha no que diz respeito à representação clubística.


Houve também festas populares associadas ao evento. Uma festarola desportiva. Corrida de peixeiros, corrida de vendedores de jornais, corrida de burros, corrida de bicccletas. Uma animação bem popular.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463220522939.jpg)
Fonte: Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº 226. 20 Junho 1910.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Maio de 2016, 10:35
-104-
Miramons de Portugal

Cyrillo Miramon

(http://m.uploadedit.com/ba3s/146390886177.jpg)
Fonte: Tiro Civil, nº 230; 1 Março 1902. Hemeroteca de Lisboa.


Começamos hoje por dar um rosto a um nome conhecido apenas por alguns Benfiquistas mais atentos.

A Cyrillo Miramon está associada uma pequena curiosidade futebolística: a possibilidade de ter sido o primeiro jogador estrangeiro do Benfica, algures na primeira década do século XX.

Apesar disso não ser verdade não deixa no entanto de ser interessante falar nele. Vamos aproveitar para também falar - ainda que brevemente - do seu filho Luís Miramon. Dois Benfiquistas hoje quase esquecidos mas de dedicada contribuição ao Benfica e ao desporto Português.


A família Miramon

Em primeiro lugar interessa desfazer a fábula de ter sido o primeiro estrangeiro a jogar pelo Benfica.

Conforme nos disse em tempos Alberto Miguéns no seu blogue,
(...)quando uma vez Cosme Damião foi questionado acerca desse "assunto", terá respondido que Miramon era tão português como alguém que nascesse na Mouraria. Ao que consta Cyrillo nasceu em Portugal filho de pai francês (não sei se a mãe era portuguesa ou de outra nacionalidade).

Cyrillo pertenceu a uma família de comerciantes que terá vindo de França para Portugal algures por volta de 1860 ou seja ainda no século XIX. Os Miramon terão vindo para Portugal cerca de 20 anos antes do nascimento do Cyrillo Benfiquista.

Podemos também obter mais informação concordante a partir da referência na wikipedia, a Luís Miramon, seu filho:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Luis_miramon_27mar%C3%A7o1966.jpg (https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Luis_miramon_27mar%C3%A7o1966.jpg)

(...) A empresa C.MIRAMON existe desde 1860, foi passando de geração em geração e, em 1956 mudou de nome para ÓPTICA MIRAMON LDA., com sede na Rua da Prata 269-271 em Lisboa, local onde trabalhou até 2002, ano em que vendeu as suas cotas. A Óptica foi um negócio de família desde 1860, quando seus antepassados vieram de França e se instalaram na Baixa de Lisboa, passando os conhecimentos de Óptica Ocular aos descendentes. A loja Óptica Miramon localiza-se hoje no mesmo local de há 51 anos tendo-se modernizado, continua a laborar atendendo a satisfação dos clientes.


A publicidade em jornais da época permite obter mais alguns elementos. Por ela ficamos a saber que a Casa Miramon esteve inicialmente localizada na Rua do Arsenal nº 124, 1º andar

 
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463908913739.jpg)
Rua do Arsenal, a primeira localização da loja Miramon. Fonte: Hemeroteca Lisboa e AML.


Em 1903 a Casa Miramon já estava situada na Praça Dom Pedro ou seja no Rossio, uma localização bem central. Nota curiosa que talvez não seja coincidência é que nesse mesmo local em 1912 também o Sport Lisboa e Benfica tinha ali instalado a sua sede (nº 30, 2º esquerdo) no prédio depois ocupado pelo Hotel Metrópole. Desde essa época e por longos anos a sede do SLB esteve situada bem no coração de Lisboa, ali porta com porta com a Casa Miramon.
 

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463908936427.jpg)
Praça Dom Pedro IV, vulgo Rocio no princípio do século XX, a segunda localização da Casa Miramon. Fonte: BND e AML.

Atentando na publicidade pode perceber-se que o negócio dos Miramon se centrava não apenas em produtos ópticos mas também em equipamentos científicos de precisão para médicos e engenheiros. Incluía igualmente equipamentos de segurança e de telecomunicações cuja instalação estava coberta para todo o país. Facto notável atendendo à realidade nacional dessa época.

Esse facto explica a ligação do pai (ou avô) de Cyrillo à Sociedade Portuguesa de Geografia. O pai (ou avô) de Cyrillo tinha o mesmo nome sendo mencionado no Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia de 1904 como falecido em Abril de 1903. Era sócio da instituição desde 2 de Maio de 1885.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463908967354.jpg)
Fonte: Boletim Sociedade Portuguesa de Geographia, 1904.


A Casa Miramon foi uma casa comercial prestigiada sendo ainda hoje possível encontrar referências a objectos daquela que apresentam a sua última localização, na Rua da Prata 269-271, antes de ter sido vendida a uma cadeia internacional de ópticas.
 

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909001158.jpg)
Dois exemplos de produtos ópticos e científicos vendidos pela Casa Miramon, Rua da Prata, 269-271. Par de binóculos e lorinhão em metal e bússola em caixa de madeira.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909027734.jpg)
Rua da Prata no princípio do século XX. Terceira e última localização da Casa Miramon. Fonte: AML.


Cyrillo, o futebolista

Cyrillo Miramon foi um desportista com contribuições activas antes e depois da fundação do Benfica. Distinguiu-se como praticante de ciclismo, motociclismo, atletismo e futebol. Viria ainda a ser dirigente do Sport Lisboa e Benfica.

Cyrillo Miramon envergou o manto sagrado como jogador de futebol da primeira categoria. Apenas por uma única vez na na época de 1910/1911. Jogou na sua posição de guarda-redes em apenas um jogo. Foram apenas 90 minutos mas os suficientes para o fixar para sempre na lista dos que envergaram a camisola na 1ª categoria do Glorioso.

Nesse tempo os titulares mais frequentes da baliza do Benfica eram Alfredo Machado e Paiva Simões, com aparições esporádicas de Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos irmãos Catataus, na altura titular da equipa da 2ª categoria. Mário Monteiro assegurava a 3ª categoria enquanto que Cyrillo era o titular da 4ª categoria. A sua contribuição futebolística foi essencialmente feita nas categorias inferiores e sempre como guarda-redes.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909094545.jpg)
Os guarda-redes do Sport Lisboa e Benfica na época de 1910/1911.


Conforme nos disse Alberto Miguéns, http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html), Cyrillo fez parte da 4ª categoria em 1911/1912.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909126370.jpg)
Plantel inscrito na 4ª categoria do SLB em 1910/1911. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Esse plantel tinha um misto de jogadores muito jovens com jogadores prestigiados e veteranos que procuravam dar conhecimento técnico e transmitir a mística do Clube. Entre os jogadores veteranos estava Félix Bermudes que evoluía nessa equipa em posições mais centrais. Félix Bermudes que juntamente com Cosme Damião foi um dos homens-chave da fusão do Sport Lisboa com o Grupo Sport Benfica em Setembro de 1908.

A sua presença era uma garantia do interesse e seriedade competitiva com que o Clube encarava aquela categoria. Era também um elemento para passar a mística e o saber futebolístico da velha para a nova geração.

Mas ainda assim era uma tarefa difícil em alguns casos manter a consistência da equipa. Como nos disse Alberto Miguéns, por inconstância própria da idade ou por via da sua vida pessoal e profissional, alguns desses jovens por vezes não apareciam para os jogos desfalcando a equipa ao ponto de por vezes ter de se apresentar com menos de 11 elementos.


Cyrillo, o dirigente

Cyrillo foi também dirigente do Benfica. Na fotografia apresentada em baixo podemos vê-lo integrado numa comitiva de dirigentes que foi assistir à grande vitória do SLB conquistada sobre o Carcavellos Clube na sua própria casa no dia 19 de Fevereiro de 1911 (ver texto "102 - Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém."). Cyrillo esteve lá.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909162328.jpg)
Fotografia publicada na "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Fonte: CDI


Cyrillo, o pioneiro da velocipedia

Um aspecto interessante é que a primeira referência desportiva a Cyrillo liga-o não ao futebol mas ao ciclismo. Cyrillo destacou-se primeiro como um dos pioneiros do ciclismo em Portugal. Esteve ligado a demonstrações velocipédicas em eventos à porta fechada, saraus desportivos, que na altura fizeram furor no provinciano Portugal desportivo.
Em 1 de Março de 1902 temos a notícia da participação de Cyrillo Miramon em eventos de velocipedia. Recebeu nessa ocasião um diploma de honra por parte da União Velocipédica Portugueza.
 

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909190954.jpg)
José Carlos Xavier da Silva Júnior e Cyrillo Miramon. O dois companheiros das actividades velocipédicas. Tiro Civil nº 230. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909217296.jpg)
Ecos de um evento promovido pelo Real Clube Velocipédico de Portugal onde participu Cyrillo Miramon com o seu companheiro de modalidade, José Carlos Xavier da Silva Júnior. Percebe-se a variedade de números que praticavam sobre as bicicletas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Ou seja os dois amigos tinham para lá da paixão pela velocipedia também o desejo e acção de divulgar a modalidade mesmo através de demonstrações em que habilidades e malabarismos faziam as delícias dos espectadores.

Mas em 28 de Outubro de 1903 Xavier da Silva Júnior morria inesperadamente de uma apendicite. Terá sido um duro golpe para Cyrillo que nesse mesmo ano já tinha perdido o seu pai.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909245869.jpg)
Notícia da morte de Carlos Xavier da Silva Júnior. Fonte: Tiro Civil, nº 270 de 1 Novembro de 1903. Hemeroteca de Lisboa


Mais tarde Cyrillo Miramon estaria envolvido em mais actividades velocipédicas, embora agora como cronometrista.

(http://4gp.me/ba3s/146390928285.jpg)
Actividade de Cyrillo Miramon como cronometrista nas festas do Sport Lisboa e Benfica. Erradamente e ao contrário do que oficialmente o Clube sempre considerou, o repórter do jornal "Tiro Civil" fala no 4º aniversário quando deveria estar a falar no 6º aniversário. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


E de facto Cyrillo tinha uma participação activa na vida do Clube:


(http://m.uploadedit.com/ba3s/146390938386.jpg)
Fotografia de festa do 6º aniversário do Clube na Quinta de Feiteira em 1910. Cyrillo Miramon esteve presente nessas actividades desportivas e festivas integradas no evento. Penso ser ele que ali está com o chapéu e ao lado de Luís Vieira. Fonte: Ilustração Portuguesa, hemeroteca de Lisboa.


Foi pois um homem activo durante os primeiros e decisivos anos da vida do nosso Clube.
Desconheço por enquanto a data da morte deste glorioso pioneiro do Sport Lisboa e Benfica. Paz à sua alma. Honra á sua memória!


Luis Miramon

Para finalizar uma alusão breve mas merecida à longa dedicação Benfiquista de Luís Miramon, filho de Cyrillo. Luís Miramon foi uma grande figura do râguebi do Sport Lisboa e Benfica.

Conforme podemos ler na wikipedia,
(https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Luis_miramon_27mar%C3%A7o1966.jpg)

Luís Miramon foi um dos pioneiros do Rugby em Portugal, tendo-se distinguido sempre com as cores do Benfica, exceptuando um intervalo de três anos, em que jogou no CIF, voltando ao seu clube de sempre, o Benfica, onde conquistou vários títulos.

Foi várias vezes Internacional e ainda foi Seleccionador Nacional (...) além de árbitro e treinador. Foi também Presidente do Congresso da Federação Portuguesa de Rugby (actual Assembleia Geral) de 1968 a 1974. (...)

Foi igualmente um praticante e dirigente das Lutas Amadoras, estando registadas diversas contribuições e reconhecimentos públicos à sua acção como dirigente da FPLA, Federação Portuguesa de Lutas Amadoras:
1962  – Presidente da FPLA
1967 – Medalha de Bons Serviços Desportivos
1982 – Homenageado do Ano FPLA
1985 – Sócio de Mérito da FPLA


(fonte: http://www.fplutasamadoras.pt/galeria_presidentes.php?cor=azul&item=10&area=44&menu=46 (http://www.fplutasamadoras.pt/galeria_presidentes.php?cor=azul&item=10&area=44&menu=46))

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909478283.jpg)
Luís Miramon, seleccionador Nacional de râguebi (1º lado direito em pé), 27 Março 1966


A fibra deste homem fica patente neste testemunho:

https://maodemestre.wordpress.com/2010/03/18/portugal-os-202-jogos/ (https://maodemestre.wordpress.com/2010/03/18/portugal-os-202-jogos/)

De todos os que estão na fotografia, não posso deixar de referir três:
O mais antigo deles é Luis Miramon, e tenho que lembrar certa vez em que Miramon arbitrava um jogo no campo principal do Universitário de Lisboa, e alguém da bancada o mimoseou com um sonoro " filho da p..!".
Miramon parou o jogo, dirigiu-se à bancada e disse da pista de atletismo:
"O senhor que me insultou, faça o favor de chegar cá abaixo!"
Ninguém teve a coragem de se apresentar, mas até ao final do jogo não se tornou a ouvir um pio daquela bancada!



O Sport Lisboa e Benfica é o Clube Português que há mais tempo pratica ininterruptamente esta modalidade. Desde Outubro de 1924 os XV do SLB praticam este jogo sendo o nosso Clube o terceiro mais titulado com o Campeonato Nacional (9 títulos de Campeão) atrás dos tradicionais CDUL (19) e Direito (11).


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909518372.jpg)
1924, a primeira equipa de râguebi do Sport Lisboa e Benfica. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Luís Miramon deu ao Sport Lisboa e Benfica o melhor do seu saber e foi um homem de grande dedicação e competência. Conforme se pode perceber pelo excerto de entrevista que em baixo se apresenta, Luís Miramon, enquanto treinador tinha ideias bem definidas quanto à disciplina e condição física como elementos fundamentais para o sucesso das suas equipas.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463909585546.jpg)
Entrevista a Luís Miramon, treinador de râguebi do Sport Lisboa e Benfica em 1968. Fonte: Revista "Maul Rugby".

Luís Miramon faleceu em 8 de Fevereiro de 2007 com 89 anos. Paz à sua alma. Honra à sua memória!

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1463911042744.jpg)
Luís Miramon enquanto treinador de râguebi do Sport Lisboa e Benfica em 1968. Fonte: Revista "Maul Rugby".

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: marte1904 em 22 de Maio de 2016, 14:40
Não é uma imagem do passado, mas é uma boa imagem para decifrar
(https://scontent.flis1-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/13265884_1195430057142263_9127232582329523393_n.jpg?oh=5710db1abee683b0617b3157552ff65d&oe=57A14BA1)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Maio de 2016, 16:35
Citação de: marte1904 em 22 de Maio de 2016, 14:40
Não é uma imagem do passado, mas é uma boa imagem para decifrar
(https://scontent.flis1-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/13265884_1195430057142263_9127232582329523393_n.jpg?oh=5710db1abee683b0617b3157552ff65d&oe=57A14BA1)

Foi ontem logo é uma imagem do passado.

(https://cdn-az.allevents.in/banners/a3ca97da4d07abfc60dc18fe8d6e7f77)

Só identifico alguns dos nossos.

Em cima; x1, x2, Vitor Paneira, João Manuel Pinto, Rui Águas, António Bastos Lopes, x3, Paulo Santos, x5, x6

Em baixo: x7, x8, x9, Chiquinho, x10, x11, x12, Veloso, Chalana, x13, x15

Alguém ajuda?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 23 de Maio de 2016, 00:34
Vasco da Gama - Benfica, creio.

(https://scontent-cdg2-1.xx.fbcdn.net/v/t1.0-9/13230307_1724325564519103_4980737063137777298_n.jpg?oh=e331a7061886056a5d3f46a4845231ca&oe=57E0F71D)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Maio de 2016, 08:40
Citação de: Gottschalk em 23 de Maio de 2016, 00:34
Vasco da Gama - Benfica, creio.

(https://scontent-cdg2-1.xx.fbcdn.net/v/t1.0-9/13230307_1724325564519103_4980737063137777298_n.jpg?oh=e331a7061886056a5d3f46a4845231ca&oe=57E0F71D)

Sim.

Vê-se Carlos Manuel, António Bastos Lopes e Reinaldo (no chão).

Há mais fotografias.

(http://3.fotos.web.sapo.io/i/B1a138bb7/17823793_7BvV5.jpeg)

Fonte: http://redpass.blogs.sapo.pt/taca-de-portugal-em-sines-1981-813323 (http://redpass.blogs.sapo.pt/taca-de-portugal-em-sines-1981-813323)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: SuperGlorioso em 23 de Maio de 2016, 08:41
Essa foto contra o Vasco está porreira! Campo pelado, jogo de taça no Municipal de Sines! Ainda nem era nascido.. ?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Maio de 2016, 15:58
Créditos ao Sr Miguel Soares Lopes que partilhou a imagem

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1068343493255067&set=p.1068343493255067&type=3&theater (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1068343493255067&set=p.1068343493255067&type=3&theater)

"Deixo aqui uma foto de 1962, em caso do meu avô, quando o Benfica foi campeão. Houve matança de porco e muita festa."

(https://scontent-mrs1-1.xx.fbcdn.net/v/t1.0-9/13221570_1068343493255067_154227097509508053_n.jpg?oh=ead3afda0b4ca9a1453c4bc41cd04a73&oe=57C8E13D)

Alguém quer legendar o que for possível legendar?


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Junho de 2016, 17:49
-105-
Águias na Guerra (parte I)

Meados de 1916, há 100 anos atrás forças militares do Corpo Expedicionário Português desfilavam na Rua de Belém a caminho do cais de Santa Apolónia.

(http://i65.tinypic.com/ngbwix.jpg)
As forças militares do CEP desfilam à frente da Farmácia Franco na Rua de Belém. Ali à porta vê-se Daniel Santos Brito (usando bata branca) acompanhado de mais alguns homens, quiçá os donos ou quiçá alguns clientes dessa mítica Farmácia. Créditos da fotografia: "Histoire en couleurs"; coloridas por Frédéric Duriez, França, a partir e um original de Joshua Benoliel.


Ali, nesse desfile em frente à Farmácia Franco, deu-se um cruzamento notável entre a história de Portugal e a história do Sport Lisboa e Benfica (ver mais no nº 6 – "À porta da Farmácia Franco").

Portugal agitava-se iniciando a sua triste e dramática participação na I Guerra Mundial. Cerca de 3 anos que marcariam a história do nosso País com sangue e lágrimas.

A Grande Guerra chegava a Portugal 19 meses depois de começar. A Guerra mudaria a vida de milhares de Portugueses. Alguns deles tiveram, antes e depois ligação directa ao Sport Lisboa e Benfica. Neste e no próximo texto falaremos do conflito e de alguns desses Benfiquistas.

A declaração de Guerra

No dia 9 de Março de 1916, quarta-feira de cinzas, o Barão Friedrich Von Rosen, embaixador imperial da Alemanha em Lisboa, entregou uma nota oficial a Augusto Soares, Ministro Português dos Negócios Estrangeiros do Governo Português. Era a Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal.

(http://i67.tinypic.com/2hn9zbs.jpg)
O Barão Friedrich Von Rosen, embaixador imperial da Alemanha em Lisboa depois de apresentar a Declaração de Guerra da Alemanha a Portugal. Fonte: Ilustração Portuguesa (Hemeroteca de Lisboa).


O conflito estava já a ter impactos sociais e económicos devastadores na Europa. Seguia-se Portugal.

______________________________________________________________
Quinta-feira, 9 de Março de 1916

Declaração de guerra por parte da Alemanha

A Alemanha declara guerra a Portugal. Seguiu-se, pouco depois, o corte de relações diplomáticas com a Áustria-Hungria. A resposta da Alemanha prende-se com a requisição que havia sido feita dos vapores surtos em portos nacionais. Antes desta situação, já se haviam verificado numerosos recontros e combates no teatro de guerra africano entre Portugal e a Alemanha, que, no entanto, não haviam motivado o corte de relações diplomáticas e/ou declaração de guerra. O representante da Alemanha entrega a declaração de guerra ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Soares. Na declaração de guerra, o Governo Imperial explicita as suas razões, salientando que desde o início do conflito Portugal apoiara os inimigos do Império Alemão, "por actos contrários à neutralidade". Um dos exemplos dados era a passagem de tropas inglesas através de Moçambique, do mesmo modo que as expedições enviadas para África eram consideradas como hostis à Alemanha. Acrescentava ainda que "A imprensa e o parlamento durante toda a existência da guerra entregaram-se a grosseiros insultos contra o povo alemão sob uma protecção mais ou menos notória do Governo Português." O Governo alemão "(...) numa indulgente deferência para com a difícil situação de Portugal, evitou até tirar sérias consequências da atitude do Governo Português." De facto, em diversas ocasiões, Portugal tratara a Alemanha com uma inusitada dureza. Mas com a apreensão dos navios alemães, "O Governo Imperial vê-se forçado a tirar as necessárias consequências do procedimento do Governo Português. Considera-se de hoje em diante como estando em estado de guerra com o Governo Português."

Fonte: Fundação Mário Soares..
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(https://largodoscorreios.files.wordpress.com/2016/03/09-5-portugal-e-a-grande-guerra4.jpg)
Caricatura da época. Fonte: Largo dos Correios

Portugal agitado: o CEP

A grande guerra de 1914-1918 foi um conflito funesto pelas vítimas que provocou e pelas feridas económicas, sociais, territoriais, políticas e militares que abriu. Em resposta à declaração de Guerra, Portugal começou a mobilizar homens para iniciar o treino e seguir para a frente de combate.

Interessa dizer que na Grande Guerra de 1914-1918, Portugal combateu na frente Europeia e na frente Africana. Seria aliás em África e na defesa das nossas Colónias que se daria a maior mortandade nas nossas tropas. A guerra em África ainda hoje está mal descrita e o assunto continua bastante doloroso e delicado. A guerra na Europa está mais registada e melhor divulgada. E é sobre esta que vamos falar.

Portugal agitava-se com a mobilização. Nesses dias agitados Joshua Benoliel captou alguns momentos inesquecíveis como os da despedida das tropas em movimento para o cais de Santa Apolónia.


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Talvez a imagem mais tocante com que Benoliel imortalizou a partida de tropas do CEP para a Flandres. A despedida entre militares e famílias antes do embarque. Muitos não regressaram. Fonte: Liga dos Combatentes, imagem colorida por Henrique Mart a partir de um original de Joshua Benoliel.

A maior parte do corpo de homens e do material mobilizado para a guerra ficou conhecido como Corpo Expedicionário Português (CEP).

O CEP foi a principal força militar que Portugal, durante a 1ª Guerra Mundial, enviou para França, com a finalidade de, através da sua participação activa no esforço de guerra contra a Alemanha que também ameaçava os seus territórios ultramarinos, conseguir apoios dos seus aliados e evitar a perda daqueles territórios. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_Expedicion%C3%A1rio_Portugu%C3%AAs (https://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_Expedicion%C3%A1rio_Portugu%C3%AAs))

(http://i63.tinypic.com/vovpll.jpg)


Por terras estrangeiras

Na França e na Flandres a vida dos militares Portugueses foi muito dura. Para alguns terminou mesmo resgatada por balas, bombas e gases tóxicos do inimigo. Mal preparados, mal equipados, numa guerra que não era a deles, os Portugueses tiveram vida dura. Na frente de combate sofreu-se bastante com a escassez de material, muitas vezes obsoleto e desigual perante o inimigo. Sofreu-se ainda mais com as sucessivas faltas de rendição (que estavam previstas e prometidas) e consequentemente o prolongamento do sacrifício.

No dia 9 de Abril de 1918 veio a mais funesta das batalhas. Tentando inverter a tendência de guerra, os Alemães tentaram provocar uma brecha nas linhas aliadas investindo no ponto que julgaram mais fraco. Escolheram o sector Português. O ataque brutal deu-se na zona de Ypres, num local que ficaria eternizado pela funesta batalha que ali se desenrolou: La Lys.

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Cemitério Militar Português de Richebourg l'Avoué. Um cemitério militar exclusivamente português, com 1.831 mortos, dos quais 238 são desconhecidos. Fonte: http://www.remembrancetrails-northernfrance.com/ (http://www.remembrancetrails-northernfrance.com/)


Morreram centenas de militares Portugueses. O número de mortos ainda hoje não está claro. Terá sido o nosso maior desastre militar depois de Alcácer Quibir em 1580. Cerca de 15.000 homens comandados pelo General Gomes da Costa sofreram a investida de oito divisões do 6º. Exército Alemão. Lutando contra 55.000 homens na ofensiva "Georgette".

Entre os mortos esteve o Tenente Joaquim Vidal Pinheiro, jogador do FCP e que liderava uma bateria de artilharia. Terá caído – não vi confirmação - vítima da horrorosa, indigna e brutal guerra química. Transportado para o Hospital por lá viria a sucumbir. Era irmão de Alexandre Vidal Pinheiro, o homem que construiu e deu nome ao campo que o Sport Comércio e Salgueiros usou durante muitas décadas.

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Tenente Joaquim Vidal Pinheiro, morto em La Lys no dia 9 de Abril de 1918.




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Assim acabam as Guerras. A loucura bruta, desvairada de alguns é a morte cruel de muitos. Duas imagens de dor. Um militar Português morto em La Lys e familiares ou amigos junto a uma campa de um combatente Português. Dois que não voltaram. Fonte: AHM.


Uma guerra ilustrada

Nunca até essa altura, uma guerra foi tão ilustrada e mediática. Em jeito de homenagem a todos os homens que lutaram nesse conflito e principalmente aos que não voltaram ficam aqui diversos registos coloridos de Portugueses nesse conflito disponibilizados pelo Arquivo Histórico Militar, Liga dos Combatentes, entre outros. Também aqui se pode ver muita documentação fotográfica colorida: http://greatwarincolour.tumblr.com/ . Ficam aqui os devidos créditos e agradecimento pela sua disponibilização.

As fotografias foram admiravelmente coloridas apresentando um grande realismo. São registos de enorme significado histórico. Presumo na sua maioria terão sido captados pelo fotógrafo Arnaldo Garcêz que acompanhou o CEP. Neles ficaram fixados diversos aspectos da histórica trágica e heróica dos nossos homens no CEP. De Lisboa à Flandres, lutando em nome da Pátria.


(http://i68.tinypic.com/ndk36s.jpg)
(http://i65.tinypic.com/4j756r.jpg)
(http://i66.tinypic.com/zsvk87.jpg)
(http://i68.tinypic.com/vomkk1.jpg)
(http://i67.tinypic.com/n2bs51.jpg)
(http://i68.tinypic.com/jg33wo.jpg)
(http://i65.tinypic.com/2po71oj.jpg)
       


Arnaldo Garcêz


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Arnaldo Garcêz, fotógrafo junto do CEP.


Arnaldo Garcêz foi um fotógrafo autodidacta que numa fase inicial da sua carreira esteve ligado ao Sport Lisboa e Benfica.

Em 1913 fez parte do conjunto de jornalistas que formaram a primeira redacção do jornal Sport Lisboa, fundado em 1913. E seria essa Redacção a homenagear Arnaldo Garcêz no dia 15 de Novembro de 1913. Desse jantar falamos no nº 39 "Um banquete de notáveis.

De entre os 13 convivas pelo menos três estiveram presentes no CEP cerca de três anos depois deste jantar: Arnaldo Garcêz, Luís Carlos Faria Leal e José Carlos Moreira Sales. O primeiro como fotógrafo e os restantes como militares. Mas lá iremos.

(http://i68.tinypic.com/2v0292g.jpg)


Sobre Arnaldo Garcêz (1885-1964) disse o Público: "...foi o único repórter fotográfico contratado pelo Exército para registar a actividade do Corpo Expedicionário Português na Frente Ocidental. O ofício da sua integração nas operações do CEP especifica que devia ser o Estado-Maior do Campo "a indicar" quais as imagens captadas. O legado visual de Garcêz mostra, no entanto, que a sua acção na frente de combate foi muito além deste espartilho". (Fonte: https://www.publico.pt/multimedia/fotogaleria/i-grande-guerra-337440#/8)

Assegurou o Serviço Fotográfico do Exército entre 1916 e 1921 por convite do ministro Norton de Matos. Decretado o Armistício, Arnaldo Garcêz fotografou os batalhões nacionais que integraram as festas da comemoração da Vitória Aliada em Paris, Londres e Bruxelas, em Julho de 1919. Regressado a Portugal, documentou por fim as cerimónias fúnebres dos Soldados Desconhecidos da Europa e África, que tiveram lugar em Lisboa e no mosteiro da Batalha, a 9 e 10 Abril de 1921. Abandonou a reportagem fotográfica em 1923. Fonte: http://www.portugal1914.org/ (http://www.portugal1914.org/)

(http://i63.tinypic.com/30m6e54.jpg)

1917,
•   Natural de Santarém;
• Alferes graduado (equiparado);
• 17 Fevereiro, embarque;
• 20 Dezembro, licença de campanha por 53 dias;

1918,
• 12 Fevereiro, apresentação no seu posto;
• 5 Setembro, apresentação na delegação Portuguesa em Paris;
• 6 a 9 Outubro, baixa ao hospital;
1919,
• 24 Julho, colocado na Comissão Portuguesa das sepulturas de guerra como fotógrafo;
1920,
• Fevereiro, integrou missão da delegação em Paris.


No próximo texto falaremos de mais 14 Benfiquistas que participaram activamente neste conflito.

(http://i67.tinypic.com/2rrowuv.jpg)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: M1904 em 03 de Junho de 2016, 18:03
Mt bom!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Junho de 2016, 20:49
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Águias na Guerra (parte II)

Benfiquistas na Grande Guerra

(http://i67.tinypic.com/2rrowuv.jpg)

O texto anterior fechou falando de Arnaldo Garcez, o notável fotógrafo que participou no CEP. Agora é tempo para falarmos de outros 14 integrantes do CEP com ligação ao Sport Lisboa e Benfica. Para alguns a descrição será sumária dada a ausência de detalhes disponíveis.

Os 15 homens foram:

(http://i63.tinypic.com/2ngd4dt.jpg)
15 Benfiquistas que integraram o Corpo Expedicionário Português.

Usando os seus registos militares vamos fazer uma descrição sumária do seu percurso no CEP.

José da Cruz Viegas,

Capitão de Infantaria, um homem de quem já aqui destacamos por diversas vezes por ter sido figura chave na definição do nosso emblema e cores. O Capitão José da Cruz Viegas esteve em Neuve-Chapelle, não muito longe de Ypres no fatídico dia 9 de Abril. Sobreviveu embora tenha sido feito prisioneiro pelos Alemães. Foi transferido para a Alemanha, em Breesen, no campo de prisioneiros de Friedrichesfeld. Esse campo era destinado para oficiais. De lá apenas seria libertado no final da guerra. Regressou à Pátria em Dezembro de 1918 por via terrestre. Prosseguiu depois a sua carreira militar tendo chegado ao posto de Major. Nesses anos foi um homem importante para a realização de encontros de futebol internacional entre selecções militares de Lisboa e Madrid. Faleceu em Lisboa em 5 de Fevereiro de 1957. Com 76 anos morria o velho guerreiro, quase 40 anos depois de ter embarcado para a Guerra.

(http://i63.tinypic.com/2s1keu1.jpg)
O Capitão José da Cruz Viegas feito prisioneiro no decurso da batalha de La Lys. Fonte: Ilustração Portuguesa; Hemeroteca de Lisboa.

(http://i68.tinypic.com/2cn70cn.jpg)
1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Capitão do Exército Português;
•   27 Maio, embarcou para França;
•   Junho, louvado por "zelo, inteligência e competência";
•   10 Agosto a 1 Setembro, baixou ao hospital;
•   15 Outubro a 20 de Novembro, baixou ao hospital;
•   Novembro, 30 dias de licença para convalescer.

1918,
•   Janeiro, 30 dias de licença para convalescer;
•   8 Março, regressou a França para assumir funções de 2º comandante do Batalhão;
•   9 Abril, desaparecido em combate, dado como prisioneiro;
•   22 Dezembro, apresentou-se depois de libertado. Seguiu para Portugal por via terrestre;
•   28 Dezembro, chegou a Portugal;
•   Declarado com tempo de serviço desde 27 de Maio até 19 Dezembro 1917 e depois de 1 Março de 1918 até 28 de Dezembro de 1918.



Luís Carlos Faria Leal,

nome grande, verdadeiramente grande da vida do nosso Clube. Homem do tempo do Grupo Sport Benfica tendo sido presidente de 18/11/1906 a 15/09/1907. Foi o organizador dos Torneios Atléticos em Benfica. De acordo com a informação oficial foi "Ecléctico, empreendedor e organizado". Teve um papel importante no processo de fusão com o Sport Lisboa. tendo ficado como o sócio n.º 4. Em 1909 seria eleito "Sócio Benemérito".

Membro de uma família de militares ele próprio era um militar prestigiado. Em 1911 e 1912 era Alferes de Artilharia no Norte de Angola, em missão junto de seu pai, o General de Brigada José Heliodoro Corte-Real de Faria Leal. Voltaria a Portugal tendo em 1913 estado ligado à fundação do jornal Sport Lisboa em 1913 juntamente com Cosme Damião, entre outros notáveis Benfiquistas.

Em 1915 regressou novamente a Angola interrompendo a sua actividade no clube.  Integrou então o Corpo Expedicionário do Exército Português ao Sul de Angola. Depois viria a sua participação no CEP. Quando embarcou para França, tinha a patente de Tenente miliciano de artilharia. Longe iam os tempos do Grupo Sport Benfica.

Homem solidário e de convicções fortes e coerentes, não terá ficado mais ligado ao nosso Clube por problemas políticos que teve durante o regime de Salazar. Em 1954 desfilou como sócio nº. 1 na inauguração do nosso Estádio da Luz.

Fonte: http://arlindo-correia.com/100810.html (http://arlindo-correia.com/100810.html)

(http://i64.tinypic.com/2csb4vp.jpg)
1915,
•   Natural de Luanda, Angola;
•   Tenente miliciano de artilharia
•   Comissão no Sul de Angola;
•   Louvado pelo "cumprimento activo e muito dedicado do serviço";

1917,
•   15 Maio, embarcou para França;
•   21 a 31 Dezembro, baixou ao Hospital;

1918,
•   17 Fevereiro a 10 Abril, licença de campanha;
•   23 Junho 1917 a 15 Fevereiro 1918, completou 239 dias na frente de combate.



José Carlos Moreira Sales,

presidente do Sport Lisboa e Benfica, exercendo mandato de 31/03/1912 a 05/12/1912. De acordo com a informação oficial: "É durante este mandato que o Benfica inaugura a sua primeira sede no Rossio, tornando-se assim mais acessível aos sócios pela sua centralidade."

Cinco anos depois da sua presidência José Carlos Moreira Sales embarcava para a Guerra como Capitão médico miliciano.

(http://i67.tinypic.com/fm2a13.jpg)
1917,
•   Natural de Turcifal de Baixo, Lourinhã;
•   Capitão médico miliciano; antigo aluno do Colégio Militar;
•   8 Agosto, embarcou, via marítima;

1918,
•   27 Março, 40 dias de licença campanha;
•   29 Junho, 60 dias licença para se tratar;
•   30 Agosto, 20 dias licença para se tratar;
•   13 Outubro, apresentou-se na Delegação Portuguesa em Paris;
•   18 Outubro, foi colocado na Estação Hendaya;

1919,
•   31 Agosto, regressou a Portugal, via terrestre;
•   13 Setembro, 10 dias de licença;



José Antunes dos Santos Júnior,

presidente do Sport Lisboa e Benfica de 29/08/1915 - 15/07/1916. De acordo com a informação oficial "Durante a sua presidência, o Benfica alcança o título de campeão de Lisboa, novamente nas três categorias, dois anos após o último título.".

Dois anos depois do seu mandato o Capitão médico miliciano José Antunes dos Santos Júnior embarcava para a Guerra. No dia do seu embarque o fim da Guerra tinha sido oficializado há três dias. Mas havia muito para um médico fazer na frente de combate.

(http://i67.tinypic.com/qqd642.jpg)
1918,
•   Natural de Ponta Delgada;
•   Capitão médico miliciano;
•   14 Novembro, embarcou para França;

1919,
•   29 Março, desembarcou em Lisboa, via terrestre;
•   Tempo de serviço de 14 Novembro 1918 a 29 Março de 1919.



Júlio Ribeiro da Costa,
 
(http://i63.tinypic.com/334q988.jpg)

Jogador e mais tarde presidente do Sport Lisboa e Benfica. Terá cumprido uma missão militar em Angola. Não consegui consultar o seu processo mas terá chegado à patente de Capitão. Figura muito prestigiada, exerceu mandato de 31/07/1938 a 01/08/1939. Segundo a informação oficial "Enquanto presidente da Direcção foi um grande orador, demonstrando sempre uma incansável lealdade pelo Clube, sabendo defender os seus interesses até ao limite das suas forças." Teve uma vida longa, tendo em 1986 chegado a ser o sócio nº. 1 e, em 1991, Águia de Ouro.


Herculano Santos,

(http://i68.tinypic.com/156pzdg.jpg)

Natural de Belém, Lisboa, jogador e mais tarde dirigente do Sport Lisboa e Benfica. Para muitos detalhes da sua vida fica aqui a referência ao excelente trabalho que Alberto Miguéns fez sobre ele: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html). Participou no CEP com a patente de Segundo Sargento.

• Natural de Belém, Lisboa;
• 2º Sargento da 8ª Companhia do CAP
• Casado com Henriqueta dos Santos Carmo
• Morador Rua do meio à Ajuda

1917,
• Embarcou em 2 de Agosto
• Desembarcou em França em 29 de Agosto
• Embarcou para Inglaterra em 11 de Setembro tendo desembarcado em 12 de Setembro. Este período marcou presumivelmente a sua formação em Artilharia, uma das  especialidades mais exigentes desses tempos de guerra.

1918,
• Embarcou para França em 3 de Março de 1918 tendo desembarcado no dia 4.
• Atendendo às datas, terá estado presente na brutal batalha de La Lys.
Há ainda registo de ter estado em diversas localidades (caligrafia de difícil interpretação...):
   • 8 de Março, Haut-Vent (Valónia)
   • 4 de Abril, Calone (?)
   • 13 de Abril, Altiu (?)
   • 1 de Maio, Woenx-les-mimes (?)
   • 25 de Outubro, Phalemfonne (?)
   • 28 de Outubro, Capoche (?)


1919,
• Embarcou a pé para Portugal em 17 de Março tendo desembarcado em Lisboa em 26 de Março de 1919


Marcial Freitas e Costa,

jogador do Sport Lisboa e Benfica de quem já aqui falamos (90 – "Construtor de Catedrais"). Quando embarcou para a Guerra já tinha passado mais de uma década desde a estreia de Marcial com o manto sagrado.

(http://i68.tinypic.com/6iy3hh.jpg)
1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes Engenheiro do Exército Português;
•   26 Maio, embarcou em Lisboa para a Flandres;
•   13 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918
•   7 Janeiro, Licença de campanha por 53 dias;
•   9 Fevereiro, foi promovido a Tenente;
•   Louvado pela "forma como comandou a secção automóvel de tiro destacada para o sector Inglês, de Abril a Dezembro, revelando notáveis qualidades de competência e dedicação";

1919
•   4 Agosto, desembarcou em Lisboa.


Álvaro Vivaldo,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Filho de um alferes de administração militar e neto de um General de Brigada. Foi um jogador dedicado no SLB. Fez carreira quase sempre nas categorias inferiores porque jogava na posição de Cosme Damião. Deu consistência e qualidade a essas equipas e quando necessário foi chamado por Cosme à primeira equipa.

(http://i63.tinypic.com/4rojk5.jpg)
1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes miliciano de artilharia;
•   8 Agosto, embarcou para França (Brest), via marítima;
•   3 Outubro, seguiu para a linha da frente onde recebeu instrução;
•   15 Outubro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   31 Março, desembarcou em Lisboa.


Virgílio Paula,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Médico de profissão, filho de um farmacêutico. Jogou no Restelo FC antes de ser nosso jogador de 1909 a 1913. Afastar-se-ia depois para surgir como um elemento de um grupo restrito que deu consistência organizativa ao Clube de Futebol "os Belenenses" quando este foi fundado. Mais tarde seria presidente da comissão nacional de árbitros substituindo em Cosme Damião quando este morreu em 1947. Foi igualmente presidente da AFL. Faleceu em Junho de 1951.

(http://i68.tinypic.com/2ryggb9.jpg)

1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes médico;
•   17 Julho, embarcou;
•   24 Setembro, foi promovido a Tenente;

1918,
•   10 Janeiro, 48 dias de licença de campanha;
•   3 a 4 Maio, teve baixa médica;
•   6 Maio, julgado incapaz para todo o serviço;
•   18 Maio, desembarcou;
•   28 Julho, louvado por "ordem e dedicação", mostrando "coragem e sangue frio"; praticou actos médicos e transportou feridos em maca apesar de sujeito a intenso bombardeamento;
•   Dezembro, recebeu a 2ª classe da Cruz de Guerra;



Fausto Peres,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. De naturalidade Goesa, era irmão de Rogério Peres outro homem que jogou nas nossas camadas infantis e depois na primeira categoria, onde se destacou. Fausto, que seria mais novo, teve uma carreira de 1916 a 1923 como jogador da nossa primeira categoria. Penso que era defesa-médio.

(http://i63.tinypic.com/20fx4hw.jpg)
1917,
•   Natural de Nova Goa, Pangim;
•   Soldado, serviço telegrafista sem fios;
•   26 Maio, embarcou para França;

1918,
•   9 Setembro, embarcou no Gil Eannes para Portugal;
•   15 Setembro, desembarcou em Lisboa.



Virgílio Valente,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Foi também jogador do CIF. Era defesa tendo feito alguns jogos nas categorias inferiores e muito poucos na primeira categoria.

(http://i63.tinypic.com/2cxulgj.jpg)
1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes de administração militar - tesoureiro;
•   21 Março, embarcou para França;
•   17 Outubro, 20 dias de licença de campanha;

1918,
•   11 Maio, recebe 30 dias de licença
•   2 a 3 Julho, baixou ao Hospital;
•   4 Julho, recebeu 90 dias de licença de campanha;
•   15 Agosto, embarcou para Lisboa;
•   20 Agosto, compareceu a uma Junta Hospitalar em Lisboa; recebeu 30 dias de licença para se tratar;
•   16 Outubro, recebeu 20 dias de licença para se tratar de doença agravada pela campanha (bronquite crónica, anemia e suspeita de bacilo pulmonar;
•   22 Novembro, passou à disponibilidade;
•   Tempo de serviço: 21 de Março 1917 até 14 de Agosto de 1918;

1919,
•   11 Janeiro, promovido a Tenente.


Cabeça Ramos,

atleta do Sport Lisboa e Benfica. Natural de Évora veio a distinguir-se no SLB no atletismo, nomeadamente no salto à vara modalidade em que foi recordista nacional entre 1912 e 1927. Veio a ser uma das grandes figuras do comércio e indústria na cidade de Évora.

(http://i65.tinypic.com/9as7r7.jpg)
1917,
•   Natural de Évora
•   Alferes subalterno de bateria
•   8 Setembro, embarcou via terrestre;
•   12 Setembro, desembarcou em França
•   20 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   2 Março, desembarcou no Havre;
•   5 Abril, Punido com 5 dias de prisão disciplinar; por não cumprir prontamente uma ordem dada directa e verbalmente pelo comandante do grupo e também por se pretender manifestar colectivamente contra a prisão de outro oficial que haveria cometido uma infracção grave de indisciplina..."
•   7 Abril, foi transferido para outro grupo;
•   23 Agosto, punido por 3 dias de prisão disciplinar; punido por "fazer críticas que desacreditam o exército e os seus superiores".

1919,
•   Janeiro, "louvado por competência, dedicação em todos os serviços que foi encarregado por ordem do Comando Geral";
•   12 Fevereiro, embarcou para Portugal.



De Romualdo Bogalho (Segundo Sargento Miliciano) e Francisco Pereira (soldado), ambos jogadores do Sport Lisboa e Benfica, não encontrei os processos militares.

(http://i63.tinypic.com/2itfmgi.jpg)

Ambos foram jogadores com destaque na primeira categoria e ambos viria a sair para ajudar a fundar o CFB. Francisco Pereira que era irmão de Artur José Pereira, foi destacado para a guerra em África.


Muitas mais histórias terão ficado por contar. De muitos outros homens. Talvez num outro dia, num outro tempo, quando elementos novos surgirem.

Pelo que sei nenhum destes ou dos outros homens ligados ao SLB morreu ao serviço da Pátria neste terrível conflito. Todos voltaram mas provavelmente com marcas que perduraram até ao fim das suas vidas. Milhares de outros Portugueses não tiveram essa sorte. Estiveram entre os milhões de homens que tombaram neste conflito. Paz à sua Alma. Honra à sua memória. Porque esquecer é o maior insulto que lhes podemos fazer.


Futebol em tempo de guerra

(http://pbs.twimg.com/media/Bp70YqxCUAE3Ndq.jpg)
Fonte: scoopnest.com

É conhecida a imagem de Herculano João dos Santos integrado numa equipa de futebol durante o período em que esteve na Flandres. Na imagem estão também Cabeça Ramos e António Soares (de quem não consegui mais informação).


(http://i68.tinypic.com/2yyqv11.jpg)
Herculano e Cabeça Ramos futebolistas durante o seu tempo-militar em França. Fonte: Em Defesa do Benfica.


De facto, o futebol fez parte das actividades lúdicas e de convívio entre alguns dos nossos militares. Existem aliás dois outros registos fotográficos também de Arnaldo Garcêz. Duas fotografias sombrias do futebol em tempo de guerra.

o Marechal de Campo Douglas Haig, um dos Comandantes supremos das forças Inglesas terá dito que não compreendia como é que alguns dos seus homens nos seus tempos de folga preferiam andar a correr atrás de uma bola. Estava um pouco ao lado dos seus homens.

Mas o que é certo é que o futebol era já um fenómeno de massas em Inglaterra e ia pelo mesmo caminho na maior parte dos países Europeus. Também os Portugueses praticaram futebol nesse tempos. Uma vez mais Arnaldo Garcêz nos deixou testemunho disso.

(http://i67.tinypic.com/256beqf.jpg)
Futebol em tempo de Guerra. Fonte: AHM


As nossas tropas tiveram ainda outras actividades desportivas como corridas, ocasiões em que alguns confraternizaram com Ingleses. Na gíria da época os Ingleses eram "tommies" e os alemães eram "boches".

Quem sabe quantos e quais dos nossos Gloriosos tiveram oportunidade de dar o gosto ao pé em terras de França? Talvez um dia venhamos a saber. E falar disso por aqui.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Junho de 2016, 08:56
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Águias na Guerra (parte III)

Por fim, e como nem sempre se podem ter identificações conclusivas, fica uma identificação discutível mas com alguma base de probabilidade.
Durante essas actividades lúdicas entre as operações, militares Portugueses e Ingleses conviveram em actividades desportivas. Existe um registo disso:

(http://i64.tinypic.com/dxhatt.jpg)
Militares Portugueses e Ingleses em ambiente de convívio desportivo em tempos de guerra. Original de Arnaldo Garcêz. Colorido por Henrique Mart.


É apenas uma suposição mas atentem:

(http://i66.tinypic.com/zmkwmh.jpg)

Será?

Talvez um dia o possamos saber ou talvez nunca.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: cernache1 em 04 de Junho de 2016, 09:06
Citação de: RedVC em 03 de Junho de 2016, 20:49
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Águias na Guerra (parte II)

Benfiquistas na Grande Guerra

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464972541364.jpg)

O texto anterior fechou falando de Arnaldo Garcez, o notável fotógrafo que participou no CEP. Agora é tempo para falarmos de outros 14 integrantes do CEP com ligação ao Sport Lisboa e Benfica. Para alguns a descrição será sumária dada a ausência de detalhes disponíveis.

Os 15 homens foram:

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982689131.jpg)
15 Benfiquistas que integraram o Corpo Expedicionário Português.

Usando os seus registos militares vamos fazer uma descrição sumária do seu percurso no CEP.

José da Cruz Viegas,

Capitão de Infantaria, um homem de quem já aqui destacamos por diversas vezes por ter sido figura chave na definição do nosso emblema e cores. O Capitão José da Cruz Viegas esteve em La Lys no fatídico dia 9 de Abril. Sobreviveu embora tenha sido feito prisioneiro pelos Alemães. Foi transferido para a Alemanha, em Breesen, no campo de prisioneiros de Friedrichesfeld. Esse campo era destinado para oficiais. De lá apenas seria libertado no final da guerra. Regressou à Pátria em Dezembro de 1918 por via terrestre. Prosseguiu depois a sua carreira militar tendo chegado ao posto de Major. Nesses anos foi um homem importante para a realização de encontros de futebol internacional entre selecções militares de Lisboa e Madrid. Faleceu em Lisboa em 5 de Fevereiro de 1957.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982732809.jpg)
O Capitão José da Cruz Viegas feito prisioneiro no decurso da batalha de La Lys. Fonte: Ilustração Portuguesa; Hemeroteca de Lisboa.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982779517.jpg)
1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Capitão do Exército Português;
•   27 Maio, embarcou para França;
•   Junho, louvado por "zelo, inteligência e competência";
•   10 Agosto a 1 Setembro, baixou ao hospital;
•   15 Outubro a 20 de Novembro, baixou ao hospital;
•   Novembro, 30 dias de licença para convalescer.

1918,
•   Janeiro, 30 dias de licença para convalescer;
•   8 Março, regressou a França para assumir funções de 2º comandante do Batalhão;
•   9 Abril, desaparecido em combate, dado como prisioneiro;
•   22 Dezembro, apresentou-se depois de libertado. Seguiu para Portugal por via terrestre;
•   28 Dezembro, chegou a Portugal;
•   Declarado com tempo de serviço desde 27 de Maio até 19 Dezembro 1917 e depois de 1 Março de 1918 até 28 de Dezembro de 1918.



Luís Carlos Faria Leal,

nome grande, verdadeiramente grande da via do nosso Clube. Militar prestigiado, homem do tempo do Grupo Sport Benfica, tendo sido presidente de 18/11/1906 a 15/09/1907. De acordo com a informação oficial foi "Eclético, empreendedor e organizado". Teve um papel importante no processo de fusão com o Sport Lisboa. Foi eleito "Sócio Benemérito" (1909).

Não terá ficado mais ligado ao nosso Clube por alguns problemas que teve durante o regime de Salazar. Foi igualmente um homem ligado à fundação do jornal Sport Lisboa em 1913 juntamente com Cosme Damião, entre outros notáveis Benfiquistas. Em 1954 desfilou como sócio nº 1 na inauguração do nosso Estádio da Luz.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982823159.jpg)
1915,
•   Natural de Luanda, Angola;
•   Tenente miliciano de artilharia
•   Comissão no Sul de Angola;
•   Louvado pelo "cumprimento activo e muito dedicado do serviço";

1917,
•   15 Maio, embarcou para França;
•   21 a 31 Dezembro, baixou ao Hospital;

1918,
•   17 Fevereiro a 10 Abril, licença de campanha;
•   23 Junho 1917 a 15 Fevereiro 1918, completou 239 dias na frente de combate.



José Carlos Moreira Sales,

presidente do Sport Lisboa e Benfica, exercendo mandato de 31/03/1912 a 05/12/1912. De acordo com a informação oficial: "É durante este mandato que o Benfica inaugura a sua primeira sede no Rossio, tornando-se assim mais acessível aos sócios pela sua centralidade."

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982852357.jpg)
1917,
•   Natural de Turcifal de Baixo, Lourinhã;
•   Capitão médico miliciano; antigo aluno do Colégio Militar;
•   8 Agosto, embarcou, via marítima;

1918,
•   27 Março, 40 dias de licença campanha;
•   29 Junho, 60 dias licença para se tratar;
•   30 Agosto, 20 dias licença para se tratar;
•   13 Outubro, apresentou-se na Delegação Portuguesa em Paris;
•   18 Outubro, foi colocado na Estação Hendaya;

1919,
•   31 Agosto, regressou a Portugal, via terrestre;
•   13 Setembro, 10 dias de licença;



José Antunes dos Santos Júnior,

presidente do Sport Lisboa e Benfica de 29/08/1915 - 15/07/1916. De acordo com a informação oficial "Durante a sua presidência, o Benfica alcança o título de campeão de Lisboa, novamente nas três categorias, dois anos após o último título.".

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982907993.jpg)
1918,
•   Natural de Ponta Delgada;
•   Capitão médico miliciano;
•   14 Novembro, embarcou para França;

1919,
•   29 Março, desembarcou em Lisboa, via terrestre;
•   Tempo de serviço de 14 Novembro 1918 a 29 Março de 1919.



Júlio Ribeiro da Costa,
 
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982939332.jpg)

Jogador e mais tarde presidente do Sport Lisboa e Benfica. Terá cumprido uma missão militar em Angola. Não consegui consultar o seu processo mas terá chegado à patente de Capitão. Figura muito prestigiada, exerceu mandato de 31/07/1938 a 01/08/1939. Segundo a informação oficial "Enquanto presidente da Direcção foi um grande orador, demonstrando sempre uma incansável lealdade pelo Clube, sabendo defender os seus interesses até ao limite das suas forças." Teve uma vida longa, tendo em 1986 chegado a ser o sócio nº. 1 e, em 1991, Águia de Ouro.


Herculano Santos,

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464982974377.jpg)

Natural de Belém, Lisboa, jogador e mais tarde dirigente do Sport Lisboa e Benfica. O processo de Herculano não está disponível mas sabe-se teve a patente de Segundo Sargento. Deixo no entanto a referência ao excelente trabalho que Alberto Miguéns fez sobre ele: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/11/herculano-joao-dos-santos.html)


Marcial Freitas e Costa,

jogador do Sport Lisboa e Benfica de quem já aqui falamos (9x – "Construtor de Catedrais").

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983001146.jpg)
1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes Engenheiro do Exército Português;
•   26 Maio, embarcou em Lisboa para a Flandres;
•   13 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918
•   7 Janeiro, Licença de campanha por 53 dias;
•   9 Fevereiro, foi promovido a Tenente;
•   Louvado pela "forma como comandou a secção automóvel de tiro destacada para o sector Inglês, de Abril a Dezembro, revelando notáveis qualidades de competência e dedicação";

1919
•   4 Agosto, desembarcou em Lisboa.


Álvaro Vivaldo,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Filho de um alferes de administração militar e neto de um General de Brigada. Foi um jogador dedicado no SLB. Fez carreira quase sempre nas categorias inferiores porque jogava na posição de Cosme Damião. Deu consistência e qualidade a essas equipas e quando necessário foi chamado por Cosme à primeira equipa.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983031934.jpg)
1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes miliciano de artilharia;
•   8 Agosto, embarcou para França (Brest), via marítima;
•   3 Outubro, seguiu para a linha da frente onde recebeu instrução;
•   15 Outubro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   31 Março, desembarcou em Lisboa.


Virgílio Paula,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Médico de profissão, filho de um farmacêutico. Jogou no Restelo FC antes de ser nosso jogador de 1909 a 1913. Afastar-se-ia depois para surgir como um elemento de um grupo restrito que deu consistência organizativa ao Clube de Futebol "os Belenenses" quando este foi fundado. Mais tarde seria presidente da comissão nacional de árbitros substituindo em Cosme Damião quando este morreu em 1947. Foi igualmente presidente da AFL. Faleceu em Junho de 1951.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983064434.jpg)
1917,
•   Natural de Belém, Lisboa;
•   Alferes médico;
•   17 Julho, embarcou;
•   24 Setembro, foi promovido a Tenente;

1918,
•   10 Janeiro, 48 dias de licença de campanha;
•   3 a 4 Maio, teve baixa médica;
•   6 Maio, julgado incapaz para todo o serviço;
•   18 Maio, desembarcou;
•   28 Julho, louvado por "ordem e dedicação", mostrando "coragem e sangue frio"; praticou actos médicos e transportou feridos em maca apesar de sujeito a intenso bombeardamento;
•   Dezembro, recebeu a 2ª classe da Cruz de Guerra;



Fausto Peres,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. De naturalidade Goesa, era irmão de Rogério Peres outro homem que jogou nas nossas camadas infantis e depois na primeira categoria, onde se destacou. Fausto, que seria mais novo, teve uma carreira de 1916 a 1923 como jogador da nossa primeira categoria. Penso que era defesa-médio.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983094201.jpg)
1917,
•   Natural de Nova Goa, Pangim;
•   Soldado, serviço telegrafista sem fios;
•   26 Maio, embarcou para França;

1918,
•   9 Setembro, embarcou no Gil Eannes para Portugal;
•   15 Setembro, desembarcou em Lisboa.



Virgílio Valente,

jogador do Sport Lisboa e Benfica. Foi também jogador do CIF. Era defesa tendo feito alguns jogos nas categorias inferiores e muito poucos na primeira categoria.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983119278.jpg)
1917,
•   Natural de Lisboa;
•   Alferes de administração militar - tesoureiro;
•   21 Março, embarcou para França;
•   17 Outubro, 20 dias de licença de campanha;

1918,
•   11 Maio, recebe 30 dias de licença
•   2 a 3 Julho, baixou ao Hospital;
•   4 Julho, recebeu 90 dias de licença de campanha;
•   15 Agosto, embarcou para Lisboa;
•   20 Agosto, compareceu a uma Junta Hospitalar em Lisboa; recebeu 30 dias de licença para se tratar;
•   16 Outubro, recebeu 20 dias de licença para se tratar de doença agravada pela campanha (bronquite crónica, anemia e suspeita de bacilo pulmonar;
•   22 Novembro, passou à disponibilidade;
•   Tempo de serviço: 21 de Março 1917 até 14 de Agosto de 1918;

1919,
•   11 Janeiro, promovido a Tenente.


Cabeça Ramos,

atleta do Sport Lisboa e Benfica. Natural de Évora veio a distinguir-se no SLB no atletismo, nomeadamente no salto à vara modalidade em que foi recordista nacional entre 1912 e 1927. Veio a ser uma das grandes figuras do comércio e indústria na cidade de Évora.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983217777.jpg)
1917,
•   Natural de Évora
•   Alferes subalterno de bateria
•   8 Setembro, embarcou via terrestre;
•   12 Setembro, desembarcou em França
•   20 Setembro, foi colocado no seu posto;

1918,
•   2 Março, desembarcou no Havre;
•   5 Abril, Punido com 5 dias de prisão disciplinar; por não cumprir prontamente uma ordem dada directa e verbalmente pelo comandante do grupo e também por se pretender manifestar colectivamente contra a prisão de outro oficial que haveria cometido uma infracção grave de indisciplina..."
•   7 Abril, foi transferido para outro grupo;
•   23 Agosto, punido por 3 dias de prisão disciplinar; punido por "fazer críticas que desacreditam o exército e os seus superiores".

1919,
•   Janeiro, "louvado por competência, dedicação em todos os serviços que foi encarregado por ordem do Comando Geral";
•   12 Fevereiro, embarcou para Portugal.



De Romualdo Bogalho (Segundo Sargento Miliciano) e Francisco Pereira (soldado), ambos jogadores do Sport Lisboa e Benfica, não encontrei os processos militares.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464985212154.jpg)

Ambos foram jogadores com destaque na primeira categoria e ambos viria a sair para ajudar a fundar o CFB. Francisco Pereira que era irmão de Artur José Pereira, foi destacado para a guerra em África.


Muitas mais histórias terão ficado por contar. De muitos outros homens. Talvez num outro dia, num outro tempo, quando elementos novos surgirem.

Pelo que sei nenhum destes ou dos outros homens ligados ao SLB morreu ao serviço da Pátria neste terrível conflito. Todos voltaram mas provavelmente com marcas que perduraram até ao fim das suas vidas. Milhares de outros Portugueses não tiveram essa sorte. Estiveram entre os milhões de homens que tombaram neste conflito. Paz à sua Alma. Honra à sua memória. Porque esquecer é o maior insulto que lhes podemos fazer.


Futebol em tempo de guerra

É conhecida a imagem de Herculano João dos Santos integrado numa equipa de futebol durante o período em que esteve na Flandres. Na imagem estão também Cabeça Ramos e António Soares (de quem não consegui mais informação).


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983254281.jpg)
Herculano e Cabeça Ramos futebolistas durante o seu tempo-militar em França. Fonte: Em Defesa do Benfica.


De facto, o futebol fez parte das actividades lúdicas e de convívio entre alguns dos nossos militares. Existem aliás dois outros registos fotográficos também de Arnaldo Garcês. Duas fotografias sombrias do futebol em tempo de guerra.

o Marechal de Campo Douglas Haig, um dos Comandantes supremos das forças Inglesas terá dito que não compreendia como é que alguns dos seus homens nos seus tempos de folga preferiam andar a correr atrás de uma bola. Estava um pouco ao lado dos seus homens.

Mas o que é certo é que o futebol era já um fenómeno de massas em Inglaterra e ia pelo mesmo caminho na maior parte dos países Europeus. Também os Portugueses praticaram futebol nesse tempos. Uma vez mais Arnaldo Garcez nos deixou testemunho disso.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1464983289880.jpg)
Futebol em tempo de Guerra. Fonte: AHM


As nossas tropas tiveram ainda outras actividades desportivas como corridas, ocasiões em que alguns confraternizaram com Ingleses. Na gíria da época os Ingleses eram "tommies" e os alemães eram "boches".

Quem sabe quantos e quais dos nossos Gloriosos tiveram oportunidade de dar o gosto ao pé em terras de França? Talvez um dia venhamos a saber. E falar disso por aqui.




Trabalho maravilhoso camarada. Grato.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Junho de 2016, 09:17
Obrigado cernache1 e M1904 O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Junho de 2016, 15:11
Citação de: RedVC em 30 de Abril de 2016, 10:18
Citação de: Theroux em 29 de Abril de 2016, 23:56
(http://i.imgur.com/SSzCwh3.jpg)

Imagem por decifrar.

Bela imagem. Obrigado pela partilha.

Não sei decifrar convenientemente mas há alguns pontos a referir.

Ainda assim alguns elementos para melhor perceber a fotografia

Jogo rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira

O Benfica já parece jogar com a camisola vermelha e calças brancas. Isto significa que já não jogou com o equipamentos do Desportos Benfica (todo branco). A absorção dos Desportos de Benfica, em 17/09/1916.

Estreia do hóquei no nosso Clube em  3 de Junho de 1917.

O equipamento do adversário parece ser tricolor. Aliás existe uma bandeira tricolor. A outra bandeira talvez seja a nossa.



Do blogue EDB de Alberto Miguéns:

(http://2.bp.blogspot.com/-HVZRH-w3O5c/VgdPFY1iLnI/AAAAAAAAaWc/dnieFyg1AZg/s1600/HP.png)
Equipa em 1917. Ainda com os equipamentos herdados do "Desportos de Benfica", embora Ilídio Vaquinhas Nogueira (guarda-redes) já jogasse de Glorioso Emblema ao peito. Em 1921, Cosme Damião exigiu camisola vermelha embora continuassem a jogar de calças brancas. Durante um ano. Em 1922 já se jogava de calções, embora pelos...joelhos. Foi difícil reduzir o tecido nas pernas!

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/hoquei-em-patins-honrem-os-ases-que-nos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/hoquei-em-patins-honrem-os-ases-que-nos.html)


Outra fotografia do blogue de Alberto Miguens:

(http://4.bp.blogspot.com/-Xuvc_BvvyBI/T7HIcYMkt6I/AAAAAAAABwA/ZYxByXIJOTM/s1600/Rinque+1922+HslbI+429.jpg)
O rinque da Sede na Avenida Gomes Pereira, local do 1.º SLB vs Paço de Arcos Hockey Club

Diz ainda Alberto Miguéns: "18 de Julho de 1939, quando para a 6.ª jornada do Campeonato de Lisboa, no rinque da nossa Sede na Avenida Gomes Pereira, ao vencermos, por 5-0, a equipa do famoso clube de hóquei em patins da linha."

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/vai-jogar-o-clube-mais-antigo-do-mundo.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/vai-jogar-o-clube-mais-antigo-do-mundo.html)


Eu diria que o jogo deve ser de 1921-1922.


Estava a olhar para outro aspecto do nosso hóquei em patins e voltei a olhar para a fotografia.

(https://rinkhockeynews.files.wordpress.com/2013/11/desportos-de-benfica-1914.png?w=240&h=300) (http://m.uploadedit.com/ba3s/1465740065794.jpg)


Parece-me agora que uma das bandeiras tinha ainda o símbolo dos Desportos de Benfica. É pois anterior à junção do Desportos de Benfica ao Sport Lisboa e Benfica.

Assim a fotografia poderá ainda ser anterior a 17/09/1916. Tendo em conta que o processo deixou algumas marcas não me parece que fosse normal que o símbolo do Desportos de Benfica ainda estivesse hasteado após a junção. Assim, repetindo, a fotografia será muito provavelmente anterior a Setembro de 1916.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 16 de Junho de 2016, 18:30
Grande trabalho de pesquisa que vai para aqui! E que gozo deve dar!

Muitos parabéns.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Junho de 2016, 00:00
Obrigado  O0

Sim Ned Kelly, dá muito trabalho e muito gozo também.

Adaptando "vergonhosamente" a mais famosa frase de Cosme Damião eu diria

"a ideia da partilha seguiu-se ao prazer da pesquisa"

Eu bem devia dedicar mais tempo a outras coisas mas estas decifragens dão mesmo muito gozo.

Já tenho mais umas histórias escritas. Lá para o fim de semana vai aparecer mais uma. Para Benfiquistas e para pastéis.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Junho de 2016, 21:16
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Olhos de fogo, coração de Belém

No artigo nº 35, intitulado: "Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia" foi apresentada uma proposta para decifrar uma fotografia de grande significado histórico para o Universo Benfiquista.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466193320514.jpg)
Sport Lisboa nas Salésias. Lá atrás vê-se a silhueta do Palácio da Ajuda. Fonte: AML. Autor desconhecido (provavelmente Alexandre Cunha).


Trata-se da única fotografia conhecida de uma equipa completa do Sport Lisboa alinhada no campo das Terras do Desembargador às Salésias. Como se disse na altura, essa fotografia é uma preciosidade histórica do nosso Clube e até hoje foi o caso que mais prazer me deu a decifrar.

A decifragem apesar de sólida ainda não está completa mas trouxe já elementos novos ao período inicial da história do nosso Clube. Corresponde a um período fundamental para a definição das bases de um dos maiores clubes do mundo.

Mas há uma outra fotografia interessante desse mesmo fotógrafo (provavelmente Alexandre Cunha) que interessa apresentar e decifrar. Foi também tirada nas Terras do Desembargador às Salésias como se percebe por no horizonte estar a inconfundível silhueta da Igreja da Memória da paróquia da Ajuda. Tenho aliás a forte convicção que as duas fotografias foram tiradas no mesmo dia, imortalizando as duas equipas que muito provavelmente se defrontaram naquele dia nas terras do Desembargador às Salésias.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/146619342115.jpg)
Sport União Belenense nas terras do Desembargador às Salésias. Lá atrás vê-se a silhueta da Igreja da Memória na Ajuda e um pouco do Palácio Nacional da Ajuda. Fonte: AML. Autor desconhecido (provavelmente Alexandre Cunha).


Esta segunda fotografia é esteticamente muito bela. Mais clara do que a do Sport Lisboa pois o fotógrafo optou por outro ângulo, decisão que favoreceu o resultado final. Os rostos dos jogadores estão perfeitamente definidos; feições claras e juvenis. Aliás, era uma equipa mais juvenil do que a nossa. Uma equipa, vestida de branco com mangas e golas de cor desconhecida, talvez azuis, talvez pretas. Essa equipa que certamente terá defrontado Gourlade e seus pares, era a segunda ou a terceira categoria do Sport União Belenense.

A identificação desta equipa do SUB fez-se por comparação com fotografias publicadas nessa época no periódico Tiro e Sport.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466193459628.jpg)
Sport União Belenense em 1909. Equipamento branco igual à da fotografia das Salésias. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Em anos mais avançados da sua curta existência, o Sport União Belenense apresentava-se com camisola azul e calção branco mas, no princípio como se prova pelas duas fotografias anteriores, este grupo apresentava-se com um equipamento branco. Detalhe ainda mais interessante uma vez que esse equipamento era em tudo semelhante ao de um outro clube da mesma zona: o Ajudense Foot-ball Clube. Os dois clubes ainda coexistiram no tempo, facto que torna curiosa a compatibilidade de equipamentos sabendo-se que nesse tempo não era frequente a existência de equipamentos alternativos.

Depois do (Belém) Foot-ball Clube, talvez o grupo mais antigo dessa zona e que esteve na génese do Sport Lisboa, outros dois representantes do genuíno entusiasmo popular pelo futebol em Belém apareceram e tiveram algum destaque: o Ajudense F.C. e o Sport União Belenense.

Dessa época há também alusões a um Vasco da Gama Foot-ball Clube e a um Restelo Foot-ball Clube. Este último em particular terá sido fundado por, entre outros, Virgílio Lopes Paula, que foi nosso jogador de 1908 a 1913. Virgílio Paula, médico de profissão, viria ainda a ser dirigente do CFB, da AFL e do Conselho Nacional de Árbitros. Depois ainda se formariam outros clubes tal como o Bom Sucesso F.C. (fundado em 1913) e provavelmente terão existido outros clubes igualmente efémeros como o Pedrouços FC.

Apesar deste quadro de exuberância clubística, resulta claro que nessa década os grupos de Belém que tiveram maior destaque social e competitivo foram o nosso Sport Lisboa e este Sport União Belenense (SUB). O SUB teve no entanto uma existência breve. Desconheço a data definitiva mas penso que depois de 1913 já não existe registo público de actividades. Extinguiu-se. Mas, como se veria em 1918-1919 com a fundação do Clube de Futebol "os Belenenses" (CFB), o Sport União Belenense deixou sementes e nostalgia. O espírito do SUB teve provavelmente influência na fundação do CFB.
 

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466193509875.jpg)
Sport União Belenense em 1910. Nesse ano o Clube já se apresentava equipamento com camisola azul e calções brancos.
Fonte: Tiro e Sport.


Identificações

Ao olhar para esta nova fotografia verifica-se que esta segunda (ou terceira) categoria do SUB integrava onze jovens jogadores, alguns deles aliás percebe-se que eram mesmo bastante jovens. Entre eles podemos facilmente reconhecer dois que pouco depois – embora em tempos distintos - viriam a transitar para a primeira categoria do Sport Lisboa e Benfica e por lá atingiram grande notoriedade nacional:


Francisco Belas e... Artur José Pereira


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466193552238.jpg)
Os muito juvenis Francisco Belas e Artur José Pereira ainda nos seus tempos do Sport União Belenense. Mais tarde foram duas glórias do Sport Lisboa e Benfica. Fonte AML.


Exacto. A presença do grande AJ Pereira é o maior ponto de interesse desta fotografia! AJ Pereira foi o maior e, como disse João Malheiro, "foi o maior e por isso só poderia ser do Benfica"! O mesmo AJ Pereira que se cobriria de glória no Sport Lisboa e Benfica, mas que em 1914 desertaria para o SCP e que em 1919 seria o principal mentor e um dos fundadores do Clube de Futebol "os Belenenses". Ainda hoje e presumo que assim se manterá para sempre, AJ Pereira é juntamente com Pepe, a principal referência desportiva do Clube Futebol "Os Belenenses".

Nascido em Belém, no dia 15 de Outubro de 1888 e sendo a fotografia datada entre 1905-1907, esta fotografia é, tanto quanto sei, aquela que nos apresenta retratado o mais jovem AJ Pereira. Teria entre 17 a 19 anos de idade.

Curiosamente nesta fotografia AJ Pereira aparece-nos como médio à esquerda, posição que aliás ocuparia no Sport Lisboa ao lado de Cosme Damião. O facto é interessante pois existe a ideia que AJ Pereira só veio a jogar na posição mais á esquerda por via da primazia que Cosme para a posição mais central, mais prestigiada e influente. Afinal, talvez a posição original de AJ Pereira talvez fosse mesmo a de médio à esquerda.

Pensando nestas duas fotografias das Salésias levanta-se uma outra hipótese não apenas curiosa mas bastante credível. Nesse dia AJ Pereira terá jogado contra Manuel Gourlade que como vimos anteriormente jogou a guarda-redes. Talvez até AJ Pereira lhe tenha marcado algum golo... Muito provavelmente destacou-se logo pela qualidade do seu futebol. Era um predestinado.

Sabendo-se que nesses primeiros anos Manuel Gourlade tinha funções equivalentes à de treinador de equipa e sabendo-se que era metódico e observador, é possível que tenha sido Manuel Gourlade e não Cosme Damião o homem que recrutou AJ Pereira para o Sport Lisboa. Sabe-se lá...

Segundo é voz corrente AJ Pereira jogou no Futebol Cruz Negra antes de seguir para o Sport Lisboa. Talvez. Mas certo é que não há qualquer fotografia conhecida de AJ Pereira com a camisola do FCN.

De qualquer forma essa aventura a ter acontecido durou muito pouco tempo. O FCN era uma curiosa equipa formada por cisões acontecidas no Campo de Ourique. O clube durou muito pouco tempo. É possível que se AJ Pereira efectivamente ainda jogou com a Cruz negra apenas o terá feito ter em alguns poucos jogos. Aliás nesse tempo era comum os jogadores irem circulando por diversos clubes. Nem sequer havia campeonatos organizados. Os jogos combinados e aconteciam com os jogadores disponíveis.

O que parece mais razoável é que AJ Pereira estaria nessa fase precoce da sua actividade futebolística mais consistentemente ligado ao Clube da sua terra do que ao FCN. Por outro lado em 1907 o Sport Lisboa era ainda um Clube com sede em Belém. E por lá se manteria até à altura da fusão em Setembro de 1908, período a partir do qual se mudou para Benfica, passando a ter como terreno de jogo permanente o Campo da Quinta da Feiteira. AJ Pereira ter-se-à estreado no Sport Lisboa ainda em 1907 ou seja ainda antes da fusão.

Estreou-se ainda quando o nosso Clube se chamava Sport Lisboa. Não terá visto com grande simpatia essa fusão mas lá seguiu para a Glória que conquistaria na Feiteira. Em Benfica, vestido de vermelho.


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Olhos de fogo, coração de Belém!


Olhando para o jovem AJ Pereira percebe-se que aqueles olhos não enganavam. Havia fogo no seu olhar. Havia fome de bola, fome de glória, rebeldia. Estava destinado a ser uma estrela, a primeira do futebol Português. Estava destinado à polémica, a fomentar o ardor da paixão clubística. Mas para isso teve que e fazer a conjugação perfeita: AJ Pereira, Cosme Damião e o Sport Lisboa e Benfica. Os grandes atraem os grandes. E assim se cumpriu.

AJ Pereira seria recrutado para o Sport Lisboa ainda em 1907. Por lá se fez estrela, fruto do seu talento e da enorme adesão popular que o clube rubro já tinha. Por lá se envolveria em múltiplas polémicas até à polémica final que ditou a sua saída sem honra e sem glória do Sport Lisboa e Benfica.


Polémicas

Para além do seu talento como futebolista, o temperamento de AJ Pereira foi sempre a sua outra grande vantagem mas também o seu grande problema. Consciente da superioridade do seu talento técnico e do seu jogo virtuoso de perfeito ambidextro, Artur não se mostrava disponível para treinar como os outros. Só que, pelos seus princípios e concepções de jogo, Cosme não poderia aceitar isso. Para Cosme, o Clube estava acima de qualquer homem.

No início aliás, Cosme até terá visto em AJ Pereira um seu sucessor para a liderança da equipa em campo. Artur tinha conhecimentos e carisma para assumir esse papel. Infelizmente o mesmo Cosme cedo também se terá percebido que isso não seria viável. O temperamento conflituoso do jovem belenense não permitia isso. De castigo em castigo, AJ Pereira lá se ia desculpando e pela autoridade e respeito natural que tinha a Cosme, as coisas lá se iam compondo. Com a mudança do Sport Lisboa para Benfica uma insatisfação crescente instalou-se no coração de AJ Pereira.


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Talvez a equipa mais brilhante da década de 1910-1920. Artur José Pereira, sentado *a direita em 2º plano, envergando o manto sagrado ao lado de Cosme Damião. Cosme com a bola de jogo nas mãos evidencia a sua atitude de serena liderança. Apesar do respeito existente entre os dois homens os problemas foram permanentes e ditaram a saída conflituosa de AJP.


A força bruta dos Viscondes

Até que, em 1914, surgiu o dinheiro de Alvalade. Situação curiosa. Serve para medir a incongruência e o oportunismo do clube do Lumiar. Vem de longe e assim se mantém.

Concretizando: uns anos antes, dirigentes do SCP a pretexto da "impulsividade" de AJ Pereira no campo alegaram que os Benfiquistas não eram dignos de frequentar as suas instalações. Em boa verdade os tumultos tiveram responsabilidade em ambos os lados mas isso nada contou para a argumentação leonina. Em particular a AJ Pereira imputavam um comportamento em campo que diziam ser violento e anti-desportivo. Um comportamento que instigava a arruaça das assistências.

Criou-se então um nunca visto ruído mediático chegando essa gente ao desplante de exigir que o SLB fosse proibido de competir. E para a "tramóia" se tornar mais viável, ainda colocaram o pobre do SUB no mesmo saco. Na canalhice dos seus argumentos a lógica era que os dois clubes deveriam ser riscados das competições! Ah, se antes como agora essa gente pudesse fazer isso...


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Artur José Pereira com a camisola Stromp. É o quarto a contar da esquerda em terceiro plano. Pelo SCP ficaria por 4 temporadas até iniciar a aventura do CF "os Belenenses". Nota-se ainda a presença de António Rosa Rodrigues, fundador do Sport Lisboa. É o segundo, sentado a contar da esquerda.


Bem, antes como agora, a tempestade passou e o Benfica impôs-se. Uns anos depois esse mesmo jogador "anti-desportivo" já poderia transferir-se para o Lumiar... E o pé descalço acabava por passar à frente dos meninos de boas famílias passando a ter prioridade no uso da banheira de água quente e a isso juntava um salário gordo para a época. Ironias do futebol... É assim, passam os anos mas as verdes invejas, as conveniências de ocasião, as deserções pagas a preço de ouro vão continuando a acontecer.


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De águia ou de leão ao peito AJ Pereira encheu-se de glória mas no fundo a sua maior aspiração desportiva foi sempre a de voltar jogar num clube que em seu entender representasse a sua terra, a sua gente.


Sonho de uma noite de verão

E assim, numa noite de verão, em 23 de Setembro de 1919, quando já era veterano para o futebol, propôs essa ideia a um pequeno grupo reunido à volta de um banco da Praça Alexandre Albuquerque em Belém. Esse banco está ainda hoje identificado no jardim de Belém. O berço do CFB.

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Estava lançada a semente do CFB. AJ Pereira cumpria enfim o seu desejo mais profundo e deixava a sua marca maior no futebol Português. Foi Benfiquista, foi Sportinguista mas foi acima de tudo um grande Belenense. E assim merece ser recordado.

Para lá das polémicas, AJ Pereira foi por muitos anos unanimemente considerado o melhor jogador de sempre do futebol Português. Arrumadas as botas foi depois um treinador ganhador no seu Belenenses. Descobriu e formou jogadores; treinou, foi mentor e até massagista das equipas do seu CFB. Foi tudo menos dirigente pois não tinha nem feitio nem formação para isso.


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Artur José Pereira, à esquerda observa atentamente os seus jogadores. Treinador, mentor, formador, massagista; foi tudo no seu CFB. Fonte Belenenses Ilustrado.

   
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Três aspectos de Artur José Pereira no CFB, jogador, massagista e treinador. Um líder nato. Fonte: Belenenses Ilustrado.


Muito por via do seu labor, desde o tempo do campo do Pau do Fio até ao Estádio das Salésias, o CFB assumiu por inteiro o seu papel de grande do futebol Português.


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Cândido de Oliveira e Artur José Pereira durante o tempo em que o primeiro treinou o CFB. Dois ex-Benfiquistas que foram grandes no futebol Português. Afastaram-se do Benfica mas foi a semente Benfiquista e a filosofia de Cosme que lhes definiu a matriz competitiva ganhadora.


Durante anos foi uma das principais figuras do futebol Português, envolvido em polémicas e estando na base de títulos para o seu CFB. Com ele, mais do que com outro homem, o CFB se fez grande.

A sua preponderância na vida do CFB era tal que não admira vê-lo aqui durante a celebração dos 20 anos do clube do qual ele foi o principal fundador.

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Salésias, Setembro de 1939 nas comemorações dos 20 anos do CFB. Artur José Pereira ladeia o veterano Joaquim de Almeida que empunha a bandeira do Clube. O Estádio rebaptizado de Estádio José Manuel Soares tinha sido beneficiado para ter 21.000 lugares e foi o primeiro com um relvado permanente em Portugal. Fonte: Restos de Colecção.


Foi trágica e precoce, muito precoce a perda de AJ Pereira para o CFB. E de facto, em 1945, dois anos antes de Cosme, AJ Pereira morreu. Morria o pai do CFB, morria uma grande figura do futebol Português.

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Ecos da morte AJ Pereira num jornal Brasileiro. Eles não se esqueceram de que AJ Pereira tinha por lá passado 30 anos antes! Fonte: Jornal dos Sports 7/09/1943.


Nesse mesmo ano iniciava-se uma época desportiva que viria a resultar na conquista do único campeonato de futebol do CFB. AJ Pereira já não viu essa glória do CFB. Nem viu igualmente a construção e inauguração do Estádio do Restelo. Uma estranha ironia essa pois a partir dessa inauguração o CFB - apesar de alguns fogachos – o CFB nunca mais atingiria patamares antes alcançados. A partir daí foi só descer. A perda das Salésia marcou talvez a perda do verdadeiro CFB. Nunca mais foi o mesmo.


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Inauguração do Estádio do Restelo, 23 de Setembro de 1956, data do 37º aniversário do clube. Empunhando o estandarte do clube esteve um Pereira. Artur José tinha morrido 9 anos antes. Se fosse vivo certamente teria sido Artur a empunhar a bandeira. Assim, foi o seu irmão Francisco, outra velha glória Benfiquista e Belenense a merecer a honra desse acto.


A fotografia do mais jovem AJ Pereira é uma nova e interessante peça da história da primeira grande estrela do futebol Português. Temos agora a mais nova e a mais velha fotografia de Artur José Pereira. Entre elas AJ Pereira percorreu um trajecto tumultuoso cheio de polémicas e grandezas efémeras como só o futebol pode dar.

Nascido a 15 de Outubro de 1888, faleceu de tuberculose em 6 de Setembro de 1943. Tinha apenas 55 anos. Filme da vida, filme de imagens de um homem para recordar: Paz e honra à sua alma.

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Artur José Pereira
(Belém, 15/10/1888 – Belém, 6/09/1943)


Apêndice: outras identificações

Em apêndice, por serem merecidas ficam aqui as outras possíveis identificações para esta equipa do Sport União Belenense. Em dois casos não foi possível fazer identificações, noutros três subsistem dúvidas mas em 6 deles a identificação é conclusiva. Aqui ficam os nomes destes pioneiros hoje esquecidos.

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Junho de 2016, 18:49
-109-
Em homenagem a Guilherme Pinto Basto

18 de Junho de 1950. Estádio Nacional. Passam hoje 66 anos.

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Guilherme Pinto Basto entrega a Taça Latina a Rogério Lantres de Carvalho.


Nesse dia, com 86 anos de idade, Guilherme Ferreira Pinto Basto, entregava com emoção a Taça Latina ao Glorioso Rogério Lantres de Carvalho. Ali se encontravam o mais virtuoso jogador daquela década com o primeiro de todos os pioneiros do futebol Português. E é sobre este ilustre pioneiro do futebol Português que o texto de hoje se desenvolverá. Uma pequena evocação de homenagem ao homem e à família que introduziu o futebol em Portugal.


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A Gloriosa equipa que conquistou a Taça Latina em 18 de Junho de 1950. Em cima da esquerda para a direita: Moreira, Félix, Fernandes, Contreiras, José da Costa, Jacinto e Batos. Em baixo: Corona, Arsénio, Julinho, Rogério Pipi e Rosário.



Nesse dia luminoso para o SLB e para o futebol Português, estou certo que também o mais velho e prestigiado dos pioneiros do futebol Português foi Benfiquista. O Sport Lisboa e Benfica terá dado a Guilherme Pinto Basto uma das maiores emoções da sua longa vida desportista. assim, cerca de 62 anos após o dia em que terá acontecido o primeiro desafio de futebol em solo Lusitano e exclusivamente com Portugueses, o velho e ilustre desportista Português entregava a Taça Latina a Rogério Pipi.


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Guilherme Ferreira Pinto Basto
(* Lisboa, Santa Catarina, 01.02.1864 † 26.07.1957)

Não sei o que Guilherme Pinto Basto terá dito a Pipi quando lhe entregou aquela linda Taça mas com certeza que a sua voz e palavras terão reflectido uma grande emoção. Ele sabia bem avaliar a importância daquela conquista. Ele que era um dos pais da introdução do futebol em Portugal.

Seis décadas depois do seu nascimento, o futebol Português conquistava por fim a primeira vitória numa competição internacional. O Sport Lisboa e Benfica, o mais popular, mais democrático e mais querido Clube Português conquistava por fim o reconhecimento e a glória Europeia.

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O primeiro desafio público de futebol disputado em Portugal continental. O primeiro desafio público de futebol disputado em Portugal continental. Este desafio histórico disputou-se num domingo em Outubro de 1888, em Cascais, no Campo da Parada, num terreno adjacente ao Clube da Parada. Entre o grupo de praticantes participaram entre outros, diversos irmãos Pinto Basto, João Bregaro, o conselheiro Aires de Ornelas, Francisco Alte, Hugo O'Neil, o Visconde de Asseca, o Marquês de Borba, o Conde de S. Lourenço e Francisco Figueira. Fonte: Digitarq.


Não podendo, pela falta de conhecimentos e pela falta de material fazer uma biografia sintética competente ainda assim posso colocar aqui uma série de elementos que demonstram a grandeza e importância da contribuição deste homem ilustre, membro de uma família ilustre que tanto deu ao futebol Português. A família Pinto Basto teve diversos membros cuja contribuição para o desporto Português deverá sempre ser salientada.


Uma família bem relacionada

A família Pinto Basto era uma família rica e aristocrata tendo alguns dos seus membros assumido grande destaque social, comercial e político na sociedade Portuguesa do século XIX e princípio do século XX. Privaram com a família Real Portuguesa em múltiplos eventos políticos, festivos e desportivos.

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Junho 1899, Guilherme Pinto Basto ao centro com uma raquete ao ombro. Sentado à sua frente está o Rei D. Carlos I igualmente com uma raquete. O Rei era ele mesmo um "Sportsman". Fonte: Revista Brasil-Portugal nº. 10.


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Uma outra fotografia mais tardia com Guilherme Pinto Basto ao lado de D. Luís Filipe e do Inglês Gare. O lawn-tennis sempre como denominador comum. Fonte: AML.


Com essa proximidade, percebe-se que um dos dias mais dramáticos de Guilherme Pinto Basto terá sido o dia 1 de Fevereiro de 1908. Por ter nascido em 1 de Fevereiro de 1864, nesse dia trágico de 1908, Guilherme completava 44 anos de idade. Por volta da cinco da tarde estava no Terreiro do Paço para receber a família real que voltava de Vila Viçosa. Poucos minutos depois da recepção no cais de desembarque, viria a assistir horrorizado ao regicídio. O seu testemunho desse dia foi mais um dos que integrou o dossier de investigação criminal ao regicídio.

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1 de Fevereiro de 1908. Desembarque da família Real no Cais das Colunas. Faltavam poucos momentos para o regicídio. Guilherme Pinto Basto esteve lá. Fonte: ocaisdamemoria.com.


A matriz Inglesa

Vários membros de pelo menos duas gerações de Pinto Basto estudaram em Inglaterra e de lá, atentos ao fenómeno social que por já tinha grande dimensão, trouxeram para Portugal continental as primeiras bolas de futebol. Dizem alguns relatos que a primeira bola que terá chegado a Portugal continental trazida por Guilherme Pinto Basto nem sequer terá chegado a servir para o seu fim original. Terá ficado preservada numa vitrina não tendo por isso levado pontapés com mais ou menos talento nem sequer motivado nenhum grito de "goal!" 

Assim se compreende que a matriz cultural dessas gerações de membros da família Pinto Basto era Inglesa. Estudaram em colégios Ingleses e identificavam-se com o espírito de uma educação e vivência virada para a vida ao ar livre e para a prática de desportos de associação (colectivos). Esse facto reflectiu-se também na proximidade com a comunidade Inglesa em Lisboa e a sua integração frequente em actividades desportivas e sociais com essa comunidade.

A primeira geração dos quais os mais destacados foram Guilherme Pinto Basto, Eduardo Luís Pinto Basto e Frederico Pinto Basto, promoveu alguns dos jogos de futebol mais famosos desse tempo e dos quais – para alguns - nos chegaram registos fotográficos. Jogos no mítico espaço do Campo Grande ainda antes da construção da Praça de touros.

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Fonte Tiro Civil. Hemeroteca de Lisboa.

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Jogo entre Portugueses (foto) e Ingleses em 22 Janeiro de 1889. Jogo disputado no Campo Pequeno, Lisboa. Identificam-se alguns membros da família Pinto Basto entre diversos outros pioneiros do futebol Português. Fotografia tirada num local de grande significado para o futebol Português. Fonte: digitarq


Guilherme Pinto Basto esteve aliás por trás da realização do primeiro desafio Lisboa – Porto em 1894, jogo patrocinado pelo Rei D. Carlos I que ofertou a taça.
 
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Equipa de Lisboa que disputou em 1894 um jogo contra uma equipa do Porto. Comandada por Guilherme Pinto Basto (com a bola), considerado o introdutor do futebol em Portugal (1888). Está presente Carlos Villar (sentado à direita), outro pioneiro relevante. Vê-se também a Taça que foi oferecida ao vencedor pelo Rei D. Carlos I e que foi justamente conquistada após a vitória desta equipa lisboeta sobre a equipa da cidade do Porto. Fonte: AFL.

Não sendo aqui nem o tempo nem o espaço para falar deste importante desafio fica aqui um recorte da época

(http://2.bp.blogspot.com/-1vMfGUtx3aU/Tl6sRj9io9I/AAAAAAAAUMc/N0FN3AAaeb4/s1600/PortoLisboaCronica1%255B1%255D.gif)
Fonte: http://realfamiliaportuguesa.blogspot.pt/


Uma longa e frutuosa contribuição ao Desporto em Portugal

Um outro facto notável e pouco conhecido é que a família Pinto Basto terá nesses anos finais do século XIX distribuído diversas bolas de futebol entre as forças militares da Marinha e do Exército Português. Nesses dias as bolas eram objectos raros e caros (importadas de Inglaterra). Isso diz bem do papel de promotores activos da prática desportiva entre a juventude Lisboeta da altura. Um papel activo de introdução e promoção do futebol que rapidamente se popularizou e expandiu a todo o Portugal.


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Marinheiros a praticar futebol nos areais de Belém. Muito provavelmente aquela bola foi ofertada pela família Pinto Basto. Fonte: AML.


Aliás, duas outras contribuições mostram bem como esta família foi generosa e importante para a prática do desporto em Portugal. Em 1912, a viagem de barco da comitiva Portuguesa aos jogos Olímpicos de Estocolmo foi financiada pela família Pinto Basto. O mesmo se repetiria em Julho de 1913 em que uma comitiva de jogadores de futebol da Associação de Futebol de Lisboa se deslocou ao Brasil para jogar contra equipas Brasileiras. Nessa comitiva esteve integrado Eduardo Luís Pinto Basto, guarda redes e chefe da comitiva.
 

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A comitiva olímpica (1912, Estocolmo) e de futebol (Brasil, 1913). Em ambos os casos as viagens foram financiadas pela família Pinto Basto. Fonte: digitarq.


Reconhecendo todas essas contribuições em 1938, celebrando os 50 anos do futebol em Portugal vários membros da primeira geração da família Pinto Basto foram homenageados numa festa grandiosa que decorreu no Estádio das Salésias, propriedade do Clube de Futebol "os Belenenses". Festa bem merecida.


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Capa da revista Stadium nº 351 de 2 de Novembro de 1938.


Nesse dia de homenagem, Guilherme Pinto Basto terá dito sobre o futebol no seu tempo: "era uma brincadeira, jogava-se apenas entre pessoas que mantinham uma relação de amizade e de cortesia. Tínhamos todos condições e educação aproximadas. Não havia propriamente luta. O futebol era um divertimento próprio da idade. Não se falava nem se sonhava em futebol de campeonato, e menos ainda, de profissionalismo. Era tudo diferente...". Fonte: http://www.cascais.pt/livro/cascais-aqui-nasceu-o-futebol-em-portugal-18881928 (http://www.cascais.pt/livro/cascais-aqui-nasceu-o-futebol-em-portugal-18881928)


Juntamente com membros da família Villar e outros pioneiros, a segunda geração de membros da família Pinto Basto veio a fundar em 1902 o FC Swifts, imediato precursor para que em 1905, fosse fundado o Club Internacional de Futebol. Nessa altura terá sido pensada a hipótese de ressuscitar o Foot-ball Club Lisbonense mas essa hipótese acabou por cair. Estas datas não são totalmente pacíficas e não será este o tempo e espaço para se falar nisso.


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As duas gerações da família Pinto Basto que se dedicaram ao futebol. Existiram outros mas estes homens foram os mais destacados. A segunda geração fundou o CIF, Clube Internacional de Futebol, fundado em 1905.


Seria aliás no decurso de dois jogos disputados em finais de 1903 nas terras do Desembargador contra o grupo dos Pinto Basto (futuro CIF) que a rapaziada do Football Club e da Associação do Bem - isto dito de forma extremamente simplista - terá provavelmente tido a ideia de fundar um Clube.

Conforme nos disse Cosme Damião: "a ideia do Clube veio depois do prazer da vitória"

E assim se pode dizer que o grupo dos Pinto Basto esteve intimamente ligado à fundação do Sport Lisboa, mais tarde Sport Lisboa e Benfica.

E assim se cumpriu. Uns meses mais tarde nascia em 28 de Fevereiro de 1904 o Sport Lisboa, que quatro anos mais tarde se uniria com o Grupo Sport Benfica para se passar a chamar Sport Lisboa e Benfica.

Tendo estado na fundação do primeiro rival do Sport Lisboa e Benfica, e tendo sido os principais introdutores e promotores do futebol em Portugal, os Benfiquistas deverão por isso mesmo respeitar muito e admirar a obra da família Pinto Basto e da família Villar na constituição do Clube Internacional de Futebol, o CIF.

Esta rivalidade SLB vs CIF foi uma das primeiras do nosso futebol e sendo intensa foi bem mais saudável do que a que se seguiu. O CIF regeu-se sempre por princípios nobres e de promoção e prática do futebol no seu espírito amador mais puro. Por opção própria o clube rejeitou o profissionalismo cada vez mais voraz que os anos 20 do século XX trouxeram ao futebol Português. O CIF é hoje um clube pequeno mas que respeita as suas nobres tradições, continuando a promover a actividade desportiva amadora no seu parque desportivo em Monsanto, Lisboa.


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A primeira rivalidade clubística Lisboeta: Sport Lisboa e CIF. Os jogadores de ambas as equipas posam juntos depois de um jogo ardorosamente disputado. Foram estas as cores dos primeiros dérbis Lisboetas. Fonte: AML.


Durante a sua vida Guilherme Pinto Basto foi um empresário bem-sucedido. Juntamente com outros membros da família desenvolveram uma empresa da família, a E. Pinto Basto & Cª Lda. Foi também sócio gerente da fábrica de porcelanas da Vista Alegre, empresa que aliás tinha sido fundada em 1824 pelo seu avô, José Ferreira Pinto Basto.

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Reconhecendo a enorme contribuição pública para o nosso País, Guilherme seria distinguido com diversas condecorações tendo sido nomeado Comendador da Ordem de Cristo em Portugal, Cavaleiro da Legião de Honra de França, e Comendador da Real Ordem do Danebor da Dinamarca.

Ao longo da sua longa e prestigiada vida Guilherme Pinto Basto manteve diversas ligações ao futebol Português e ao desporto Português. Fez parte da primeira Direcção co Comité Olímpico:
Presidente de Honra: Conde de Penha Garcia
Presidente: Dr. Jayme Mauperrin Santos
Vice-presidentes: Dr. António de Lencastre, Charles Bleck e Manuel Egreja.
Secretário-geral: Dr. José Pontes
Secretários: Aníbal Pinheiro, Armando Machado e Duarte Rodrigues
Membros: Álvaro de Lacerda, Dr. António Osório, Daniel Queiroz dos Santos, Fernando
Correia, Guilherme Pinto Basto, D. Manuel da Cunha e Menezes, Pedro del Negro, Dr. Pinto de Miranda e o Dr. Sá e Oliveira.


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Fonte: Joao Marreiros - "I Congresso Olimpico Nacional.


Foi também uma figura frequentemente ligada à Associação de Futebol de Lisboa. Foi sempre uma figura ouvida, respeitada e de quem se teve sempre uma contribuição digna e respeitosa.


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5 de Junho de 1938. Entrega de prémios de "melhor espírito desportivo" da Associação de Futebol de Lisboa a diversos desportistas. Reconhecem-se os Benfiquistas Manuel da Conceição Afonso e Guilherme Espírito Santos. Guilherme Espírito Santo está em cima à direita. Fonte: digitarq.


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Guilherme Pinto Basto e sua família já numa fase avançada da sua vida. Distinguem-se também de entre os seus numerosos ilhos, Fernando e Eduardo Luís, os homens decisivos da 2ª geração de desportistas da família. Desconheço a data e a fonte da fotografia.


Guilherme Ferreira Pinto Basto faleceu em Lisboa a 26 de Julho de 1957 com a idade de 93 anos. Paz e honra à sua memória.

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: M1904 em 21 de Junho de 2016, 12:26
Mais uma vez vou ter que repetir, excelente trabalho!   O0

Curioso o Team de Lisbonense usar o branco e vermelho segundo a noticia do jornal (quando as cores da cidade são o preto e branco usados desde a idade média). Sempre tive essa duvida, pois já vi referenciado que tinham usado o preto e branco.

Erradamente e propositadamente há quem tente passar esse jogo (entre uma seleção de Lisboa e uma do Porto) como um jogo do FCP contra Lisboa/Club Lisbonense, até para justificar a tal fundação de 1893... estórias dentro da história.

O Porto era constituído por jogadores do Ocriket Clube do Porto e do Velo Clube do Porto, e Lisboa por Carcavelos, Club Lisbonense e Cruz-Quebrada. A taça encontra-se no Museu do CIF, pois ficou na mão de Pinto Basto do Club Lisbonense, a raiz ou uma das raízes do CIF.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fake Blood em 21 de Junho de 2016, 12:37
Este Mike arranjou uma foto da Farmácia Franco colorida, epá hands down  :bow2: :bow2: :bow2: :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Junho de 2016, 13:41
Citação de: M1904 em 21 de Junho de 2016, 12:26
Mais uma vez vou ter que repetir, excelente trabalho!   O0

Curioso o Team de Lisbonense usar o branco e vermelho segundo a noticia do jornal (quando as cores da cidade são o preto e branco usados desde a idade média). Sempre tive essa duvida, pois já vi referenciado que tinham usado o preto e branco.

Erradamente e propositadamente há quem tente passar esse jogo (entre uma seleção de Lisboa e uma do Porto) como um jogo do FCP contra Lisboa/Club Lisbonense, até para justificar a tal fundação de 1893... estórias dentro da história.

O Porto era constituído por jogadores do Ocriket Clube do Porto e do Velo Clube do Porto, e Lisboa por Carcavelos, Club Lisbonense e Cruz-Quebrada. A taça encontra-se no Museu do CIF, pois ficou na mão de Pinto Basto do Club Lisbonense, a raiz ou uma das raízes do CIF.

Obrigado M1904  O0

A satisfação da partilha equivale à satisfação quando vejo que existe um pequeno grupo de pessoas que aprecia estas pesquisas.

É de facto interessante a escolha das cores. Terá sido intencional ou fortuita? A presença de Ingleses terá influenciado? Simples acaso? Seria o equipamento de outro grupo? Não sabemos.

Aparentemente os três primeiros grupos a praticar o futebol na região de Lisboa terão sido o Foot-Ball Club Lisbonense também designado Club Lisbonense, o Ginásio Clube Português e o Carcavellos Club (tenho ideia que numa primeira fase o seu nome era ligeiramente diferente). Ao que sei jogavam essencialmente no Campo Pequeno e na Quinta Nova em Carcavellos.

Teria de verificar mas tenho ideia forte que as cores destes "teams" era outras que não esta camisola esquartelada vermelha e branca. Por isso o mistério continua.

Ao que parece por volta de 1890 já existiam numerosos grupos a praticar o futebol. Terá existido um primeiro surto de grande exuberância futebolística em Lisboa. Depois com os problemas sociais e económicos e com a questão do ultimatum Inglês o futebol tornou-se mal visto. Isto para além da sociedade ver mal que os jovens andassem a correr uns atrás de outros de cuecas...

É pena o CIF não ter ou não partilhar devidamente o material e conhecimento que têm (terão?) desse período pioneiro. Talvez subsista material por explorar no lado dos descendentes da família Pinto Basto e família Villar.

Seria no principio de 1903 e 1904 que se daria um novo impulso. O Sport Lisboa foi parte fundamental desse novo impulso. Poucos sobreviveram. Nós sobrevivemos por causa de termos gente com cabeça e coragem que não teve medo de prosseguir. Gente que definiu os valores do Clube, as cores e o símbolo. Gente que praticou o futebol nas mais difíceis condições. A mística e a adesão popular vieram cedo. Tudo isso explica que tenhamos sobrevivido. Como naquele filme se dizia "O princípio é um tempo muito delicado". E foi mas sobrevivemos.

Ainda haverá coisas para revelar? Talvez. Vamos em busca. Com o tempo mais virá.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 23 de Junho de 2016, 14:52
Isto merecia um livro!

Não estou a brincar, se até o Ricardo "Júlio" Serrado escreve um livro a mandar pontapés na memória de grandes Homens, uma prosa desta com bases sólidas, bem escrita e documentada era bem mais merecedora de ter outro suporte mais eterno. Sem desprimor para o fórum, que é um excelente lugar de partilha e divulgação.

Só te posso agradecer por partilhares com todos estas investigações que dão enorme prazer a ler e a descobrir. A identificação das pessoas nas fotos e, antes disso, descobrir este material e com tão boa qualidade para mim estão no top destes posts!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Junho de 2016, 20:58
Citação de: Ned Kelly em 23 de Junho de 2016, 14:52
Isto merecia um livro!

Não estou a brincar, se até o Ricardo "Júlio" Serrado escreve um livro a mandar pontapés na memória de grandes Homens, uma prosa desta com bases sólidas, bem escrita e documentada era bem mais merecedora de ter outro suporte mais eterno. Sem desprimor para o fórum, que é um excelente lugar de partilha e divulgação.

Só te posso agradecer por partilhares com todos estas investigações que dão enorme prazer a ler e a descobrir. A identificação das pessoas nas fotos e, antes disso, descobrir este material e com tão boa qualidade para mim estão no top destes posts!


Bem... Ned antes de tudo muito obrigado pelas tuas palavras. Fico muito feliz por apreciares.

Eu estou consciente que face à oferta que está por aí editado existem algumas oportunidades para se publicar algum deste material. Teria de ser reescrito para melhorar a qualidade e para me certificar de alguns (penso que poucos) detalhes. Mas existem algumas fragilidades.

A primeira é o mercado.
Não sei se o mercado do livro em Portugal que está ligado ao desporto permite sustentar este tipo de livro. Mesmo aqui o pessoal que lê este e outro material do passado é uma minoria. Nada de mal disso, cada um tem os seus gostos e encontra a sua forma de amar e partilhar o seu sentimento de Ser Benfiquista.

A segunda é a natureza desse eventual livro.
Passaria sempre por incluir uma profusão de fotografias uma vez que o conceito assenta em imagens. Acho que não ficaria barato. Parte do que eu faço em meu modesto entender é valorizar fotografias que estão disponíveis na net. A larga maioria delas não está devidamente legendada, por vezes com ausência completa de legenda, outras vezes com legenda incompleta, outras com legenda completamente errada. No final (acredito eu) ganham todos.

O propósito não é comercial. Longe disso. É apenas de partilhar com outros Benfiquistas. A grandeza do nosso Clube assenta no seu passado e no seu presente. Gosto de pensar que o sentimento de unidade e de amor pelo Clube - penso eu - sai reforçado com este material.

Não tenho dúvida que para lá do sentimento se olharmos para os factos de forma racional percebemos que de longe e de forma consistente o SL Benfica é o maior Clube de Portugal. Mas como recentemente se viu com as rábulas que vieram na comunicação social é preciso estar atento e provar isso. Os aldrabões com outras cores são mais do que muitos.

Temos hoje uma rara oportunidade que os que nos precederam não tinham. O material na internet está disponível para pesquisa. É fundamental aceder a esse material. É fundamental relacionar. É necessário trocar opiniões. É decisivo ser sério e assentar as "decifragens" em material inquestionável e respeitar as fontes. E quando digo respeitar passa tanto por as confirmar como desmentir as fontes. Sempre com evidências. Sempre com fontes devidamente creditadas. Sem protagonismos ou vaidades e muito menos de forma preguiçosa e com mentiras repetidas. Não sou historiador profissional apenas me desenrasco mas percebo o que é o rigor e a seriedade. Se na minha vida profissional eu tivesse a "seriedade" e o "rigor" que estão na base de algumas coisas como as que eu já vi publicadas então já teria de ter mudado de profissão.

Eu gostaria que mais Benfiquistas lessem este e outro material. Gostaria que outros fizessem trabalho similar ou melhor. Felizmente aqui no SB há gente de qualidade que trabalha nisso. Quando consultamos diversos tópicos percebemos que há muito outro pessoal que investiga outros assuntos investindo muito do seu tempo livre para fazer levantamento de resultados desportivos, gravar, editar e partilhar vídeos, localizar fotografias recentes e passadas, etc. Há pessoal aqui que eu aprecio por isso e por partilhar o seu trabalho.

O Benfica é o maior por causa da sua massa associativa e dos seus simpatizantes. Cada um deve fazer a sua parte, no estádio, nos pavilhões, em sua casa, onde quer que seja.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 24 de Junho de 2016, 12:28
Concordo com o que escreves, mas nem me passou pela cabeça que o livro tivesse intuito comercial. Era mais um meio de dar a conhecer a mais gente, quiçá até com a chancela do Benfica (embora aqui também duvide da exequibilidade de tal, pois infelizmente o Benfica põe a chancela de produto oficial a muita porcaria escrita, mas vendável e provavelmente veria um projecto assim com pouco potencial comercial).

De facto, o público alvo de tal obra seria sempre reduzido, o que é pena. Porque eu acho que falta muito conhecimento de Benfica aos benfiquistas e se é certo que a internet democratizou o acesso a material que doutra forma seria menos acessível, também acentuou o facilitismo de se ficar pelas primeiras impressões, pelas análises superficiais. E é nessa água pantanosa que o trinca bolotas navega, com a história do campeonato de Portugal, por exemplo.

Eu no passado gastei (investi) muitos dias de férias e sábados fechado em bibliotecas, a historiar o desporto nacional, com os resultados de todas as modalidaes, em âmbito nacional e regional. Na altura também cheguei à conclusão que a tradução daquele material em livro, aí com o intuito de me financiar para fazer ainda mais investigação e dedicar-me uns anos a colocar rigor em muita informação dispersa e por vezes nebulosa (porque chega a nós via jornais, com erros, imprecisões ou nem chega, pois há lacunas), seria completamente inviável. Por isso quando olho para o que o Miguéns faz, tiro-lhe o chapéu porque ele dedicou-se ao Benfica como um hobby devorador de tempo e tem um detalhe e rigor que estão completamente desajustados dos dias que correm. E olho para o que tu trazes aqui e vejo o mesmo rigor, a mesma procura incessante por validar informação, por questionar e para no final, partilhar isto tudo e contribuir para construir a nossa História. E tenho pena se ficar só por aqui.

E sim, felizmente o nosso fórum tem muita gente ainda assim a colectar informação sobre o clube e que o faz com voluntarismo e seriedade.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Junho de 2016, 13:53
Repara Ned, o livro é um suporte alternativo. Fabricar um livro tem custos e isso obviamente terá de ser medido em função desses custos e do lucro potencial. Não acredito em outro cenário. Não conheço bem o mercado de editores livreiros em Portugal mas duvido que considerassem que um produto como este fosse economicamente viável. 

Quanto à possibilidade de ser o Clube a interessar-se por isso, acho realisticamente que isso nunca aconteceria. Não há sensibilidade para isso. Nem sequer o parecem ter para a fascinante possibilidade da história do Clube por Alberto Miguéns. Por exemplo um livro que me entusiasmou ao início foi o "Amor à camisola". Fiquei decepcionado. O critério de escolha dos jogadores representados pelas fotografias foi absurdo. A qualidade das fotografias foi baixa. O que isso quer dizer? Falta de cuidado. Algum desconhecimento. E esbarramos sempre aí. Desconhecimento. Superficialidade como muito bem mencionaste.

Falaste igualmente de Alberto Miguéns que para mim é uma figura superlativa do Clube pelos anos que leva, por aquilo que dá ao universo Benfiquista e pela sua personalidade. Ele próprio tem experiências negativas inclusivamente no sector livreiro. Algumas dessas experiências têm vindo a ser reveladas por ele. E algumas vieram de onde menos se poderia esperar.

Não tendo um livro temos este recurso fabuloso que é o fórum. Estou muito contente com esta opção. Embora não descarte um blogue no futuro este fórum é um local privilegiado para este material. Neste fórum por trás daquilo que algum pessoal considera adquirido (como se ele resultasse do ar que respiramos ou da água que bebemos) há o trabalho incansável de outros Benfiquistas como nós. Já foram aos sites da concorrência? Mas algum dia se comparam com o que o SB nos proporciona? O SB é mais uma das medidas da excelência do SL Benfica e dos Benfiquistas. Por isso o que nós investigamos, formatamos, e partilhamos está bem aqui. É fácil para quem quiser guardar esta e outra informação, coloca-la numa "word" e gerar um pdf. Os que quiseram podem inclusivamente imprimir. Veja-se a obra sobre a História do Benfica que Alberto Miguéns já começou a fazer e partilhar. Notável.

O SL Benfica é uma paixão de menino que nos acompanhará até ao túmulo. Ser Benfiquista não é nenhum sentimento alucinado, vingativo, invejoso ou rancoroso. Quem é Benfiquista percebe a paixão sentida por outros Benfiquistas. Amamos o nosso Clube, as suas cores, símbolos e os valores que ele defende. Somos parte do processo tal como eram os que nos precederam.

Os Benfiquistas são todos diferentes e mostram essas diferenças na manifestação do seu apoio ao Clube. Mas uma coisa é comum: o amor ao Clube. O Clube está acima de todos, o Clube é consensual e eterno. Os homens pela sua própria natureza, são transitórios. E é assim, assente nessa ideia central e na paixão que não se explica mas que se sente que se entendem as longas horas roubadas à família que passamos numa biblioteca ou em frente a um computador.

Em resumo, não estou muito preocupado com o formato. É claro que gostaria de ver um livro mas a vaidade pessoal se é que a tenho satisfaz-se totalmente quando vejo este material a ser lido por pessoas como tu. Quando vejo outros a fazer trabalho similar como tu. Imagino o que deve ser fazer levantamento exaustivo dos resultados do Clube. Acho que não tinha coragem. Como nós houve no passado muitos que nos precederam (infelizmente só a partir da década de 20). Como nós muitos outros virão no futuro. Em formas mais ou menos criativas mas sempre com a mesma paixão.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Junho de 2016, 21:26
-110-
Acidente no Cartaxo (parte I)

5 de Novembro De 1933, Hospital de Santa Cruz no Cartaxo. Uma imagem de dor e tristeza.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466798998857.jpg)
5 Novembro 1933. Vítimas de um acidente no Cartaxo. Fonte: digitarq.


Sete homens todos de semblante carregado. Um deles visivelmente ferido. A legenda original da fotografia indica que estes homens (ou alguns deles; não está especificado) foram vítimas de um acidente ocorrido no Cartaxo em 5-11-1933. Não são dados outros detalhes. Nesta fotografia estão identificados: Jorge Tavares, Mário Pinha Torres, Vítor Hugo Tavares (ferido), Ernesto de Figueiredo, Manuel Serzedelo Fernandes, Carlos Torres.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799067625.jpg)
Hospital de Santa Cruz no Cartaxo na década de 30. Fonte: delcampe.


Víctor Hugo estava visivelmente ferido. Os restantes aparentemente terão ido dar apoio. Do acidente não sei muito mais. Terei de encontrar uma fonte da época mas não está a ser fácil.

Mas vamos aproveitar a oportunidade para falar de alguns destes Benfiquistas. Isto porque para lá do drama deste episódio, o aspecto positivo é que esta fotografia fixou para sempre a imagem de diversos jogadores do Glorioso na década de 20 e 30.

Olhando, decifrando, podemos perceber que na primeira linha da imagem estão de facto presentes pelo menos quatro futebolistas do Glorioso da década de 20 e 30: Jorge Tavares, Víctor Hugo Tavares, Manuel Serzedelo Fernandes e Carlos Torres. Os restantes poderão também ter estado ligados ao Sport Lisboa e Benfica.

Vamos por partes. Para começar vamos falar dos irmãos Tavares.

Víctor Hugo Tavares
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799108507.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/v%C3%ADtor-hugo-2 (http://serbenfiquista.com/jogador/v%C3%ADtor-hugo-2)


Víctor Hugo Tavares foi centrocampista, jogador raçudo, tendo chegado a internacional pela Selecção militar. Jogou 10 épocas (1921/22 - 1930/31) de águia ao peito tendo chegado ao posto de capitão de equipa. Estreou-se no Benfica a 15 de Janeiro de 1922 num jogo do Campeonato de Lisboa contra o Império Lisboa Clube que acabou numa derrota por 1-2. A nossa equipa era na altura treinada por Cosme Damião e assim continuaria por mais quatro anos.

Ao que dizem as crónicas, a derrota nesse primeiro jogo foi talvez devida ao cansaço da equipa Benfica que se terá ressentido de uma deslocação a Sevilha, deslocação que aliás não foi muito bem-sucedida. Talvez por isso, e pela escassez de opções para esse jogo, Cosme foi buscar Carlos Homem de Figueiredo, um dos seus antigos companheiros. Nesse jogo Carlos Homem de Figueiredo jogou na defesa ao lado de José Bentes Pimenta, o ilustre Tenente aviador de quem aqui já falamos (ver 71-73 – "O Cruzeiro Aéreo às Colónias"). É caso para dizer que Víctor Hugo teve ilustres padrinhos no dia da sua estreia com o manto sagrado.

Apesar de não estar indicado na lista oficial de internacionais da FPF (http://www.maisfutebol.iol.pt/geral/selecao/lista-completa-dos-internacionais-portugueses (http://www.maisfutebol.iol.pt/geral/selecao/lista-completa-dos-internacionais-portugueses)), Víctor Hugo Tavares disputou alguns Lisboa – Madrid em categorias militares.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466800136464.jpg)
16 de Março de 1928. Selecção militar Portuguesa de partida na Estação do Rossio. Identificam-se diversos jogadores do Benfica: Víctor Hugo Tavares, Tamanqueiro e Vítor Silva. Fonte: digitarq.


(http://4gp.me/ba3s/1466799239998.jpg)
7 de Janeiro de 1926, jogo de preparação para a Selecção Nacional contra um misto dejogadores de diversos clubes. Identificam-se diversos jogadores do Benfica jogando quer na selecção (camisola uniforme) quer no misto de jogadores (camisola listada) reunido para o jogo-treino. Víctor Hugo Tavares jogou nesta última equipa. Fonte: digitarq.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799357750.jpg)
Víctor Hugo eleva-se no ar com estilo, defendendo a sua baliza. Ao seu lado José Simões. Jogo disputado no campo das Amoreiras em meados de 1927 contra o Carcavelinhos. Fonte: Boletim oficial do Sport Lisboa e Benfica; Hemeroteca de Lisboa.


No termo da temporada de 1926-1927, com toda a sua competência técnica, António Ribeiro dos Reis, fez um balanço da época. Das características e prestações de Victor Hugo disse aquele grande Benfiquista:

"Tipo de médio trabalhador, accrocheur, que defende o seu campo palmo a palmo, nunca desistindo de incomodar os adversários. Joga muito em força, despendendo generosamente a sua energia. Dribbling pouco fácil e por isso mesmo fatigante. Excelente lançamentos de bola em jogo, quasi nunca convenientemente aproveitados pelos homens da frente. Muito perigoso na marcação dos castigos, pelo seu forte shoot. Foi um dos melhores sustentáculos durante toda a época".

O último jogo de Victor Hugo com o manto sagrado terá sido no dia 23 de Novembro de 1930. Jogo para o Campeonato de Lisboa em que o SL Benfica recebeu e empatou com o União Lisboa (1-1). Era treinado pelo Inglês Arthur John. Nesse jogo de despedida Víctor Hugo jogou à frente do seu irmão Jorge, um antigo e prestigiado avançado que entretanto com o avançar da idade e a chegada de Vítor Silva, já tinha recuado para defesa central. Víctor Hugo Tavares jogou também ao lado de Eugénio Salvador que mais tarde faria longa e brilhante carreira no teatro de revista.

Uma última e muito destacada contribuição de Vítor Hugo. Em 1943 foi um dos Benfiquistas que fundou o Sport Lisboa e Saudade. Um entre outros Benfiquistas ilustres tais como Vítor Silva, Amaro e Gustavo Teixeira.


Jorge Tavares
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799483123.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/jorge-tavares (http://serbenfiquista.com/jogador/jorge-tavares)


O irmão de Víctor Hugo foi um prestigiado avançado com um remate fácil e forte. Jogou 11 épocas (1923/24 - 1933/34) de águia ao peito. Tal como o irmão foi ainda treinado por Cosme Damião, estreando-se no dia 19 de Outubro de 1924 numa derrota contra o Belenenses por 1-2, jogo disputado no Stadium do Lumiar, campo do SCP.

Chegou a internacional A, tendo feito parte da selecção olímpica que brilhou nos Jogos de Olímpicos de Amesterdão em 1928. Apesar disso acabou por não se estrear em jogo uma vez que à sua frente estavam nomes como Pepe, Vítor Silva e Martins, entre outros.

Nesse tempo Jorge Tavares estava tapado por grandes jogadores que marcaram uma época. Seria internacional A pelo menos por 3 vezes embora tenha estado presente como suplente em bastantes mais jogos. Distinguiu-se primeiro como avançado centro. Seria depois acometido de uma grave doença que lhe comprometeu seriamente a época de 1926-1927.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799535810.jpg)
Equipa Nacional no final da década de 20. Jorge Tavares (gabardina) foi suplente. Estiveram presentes mais cinco Benfiquistas. Destaque também para os grandes Pepe e Carlos Alves, avô de João Alves e o primeiro "luvas pretas". Fonte: digitarq


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799654324.jpg)
Outra imagem de Jorge Tavares agora como titular num jogo em 1929 contra a Espanha. Fonte: digitarq.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799739785.jpg)
Uma imagem de uma selecção militar de 1928, alinhada antes de um jogo treino nas Amoreiras contra o Benfica. Essa equipa nacional integrou dois jogadores Benfiquistas, Jorge Tavares e o Tamanqueiro. Saliência também para Roquete e Carlos Alves. Ali ao lado, sentado no chão um jogador Benfiquista (oponente do treino) observa. Quem seria? Fonte: digitarq.


De Jorge Tavares e ainda sobre a temporada de 1926-1927 disse Ribeiro dos Reis:

"Gravemente doente no início da época perdeu grande parte d'aquelas qualidades que na época transacta o tinham imposto de forma indiscutível. Pacientemente e com uma regularidade por nenhum outro excedido; seguiu todos os treinos semanais à medida que foi melhorando nas exibições fornecidas. Atravessou toda a época com pouca ou nenhuma chance a atirar ao "goal". Sendo avançado centro a equipa, em condições excepcionais, portanto para ser o scorer do grupo não conseguiu marcar "goals" durante todo o campeonato de Lisboa. Reabilitou-se depois no campeonato de Portugal. As exibições fornecidas contra o Carcavelinhos e Belenenses reconduziram ao posto de avanço centro do team nacional. Duro, batalhador, boa corrida, shoot fácil com qualquer dos pés. Novo ainda, tem condições para se impor sobretudo desde que se poupe mais e leve uma vida mais regrada.

E seria no final dessa época que chegaria o genial Vítor Silva, o primeiro jogador por quem o SL Benfica pagou uma (choruda) verba para uma transferência. Com essa chegada tudo mudou no futebol do Benfica e inevitavelmente Jorge Tavares acabou por recuar no terreno de jogo, tendo em muitos desafios tido óptimas prestações como distribuidor de jogo.


Jorge Tavares fez o seu último jogo no Sport Lisboa e Benfica num encontro em 26 de Junho de 1932 num dia em que perdemos no Porto contra o FCP por 0-3. Nesse jogo Jorge Tavares jogou já a defesa central uma vez que apesar de ter perdido a vitalidade dos primeiros anos mantinha ainda apreciável qualidade técnica. Nesse jogo de despedida era treinado por António Ribeiro dos Reis. Na crónica desse jogo, o jornal Diário de Lisboa deixa claro que Jorge Tavares apesar da derrota foi um dos melhores da equipa Benfiquista.


Manuel Serzedelo
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799834135.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/manuel-serzedelo (http://serbenfiquista.com/jogador/manuel-serzedelo)

Manuel Serzedelo foi um guarda-redes que jogou apenas 1 época na primeira categoria (1934/35). Participou em 3 jogos no Campeonato de Lisboa e apenas em 1 jogo no Campeonato Nacional. Esse jogo de despedida (da 1º categoria) foi disputado no dia 20 Janeiro de 1935 no campo das Amoreiras contra o Vitória de Setúbal. Ganhamos por 3-1. Serzedelo nessa altura era treinado por Vítor Gonçalves que foi o primeiro treinador Campeão Nacional do nosso Clube. Marcaram Alfredo Valadas por duas vezes e ainda Carlos Torres.

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466801059884.jpg)
Ecos do jogo de 20 de Janeiro de 1935 em que Serzedelo defendeu as nossas cores. Fonte: DL.


Carlos Torres
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799871521.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/carlos-torres

Carlos Torres jogou durante 5 épocas com a águia ao peito (1932/33 - 1936/37). Nascido em Torres Novas, no dia 4 de Janeiro de 1908 estreou-se com 24 anos de idade e saiu do Clube ainda antes dos 30 anos. Tio de José Torres, o nosso bom gigante. Foi um bom avançado, goleador, que se terá estreado na equipa principal no Estádio das Amoreiras no dia 29 de Outubro de 1933 para o Campeonato de Lisboa. Jogou a médio centro e pelas crónicas não foi brilhante nem a sua prestação nem a da equipa. No Domingo seguinte, dia 5 de Novembro de 1933 faria o segundo jogo e aí sim á evoluiu como avançado centro uma vez que Rogério de Sousa tinha sido expulso no jogo contra o União de Lisboa. Nesse dia vencemos o Carcavelinhos por 2-1. Estivemos a perder mas um golo de Eugénio Salvador e outro de Carlos Torres viriam a dar-nos a vitória. O Benfica na altura era treinado por António Ribeiro dos Reis.
 

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799905822.jpg)
Ecos do primeiro e do segundo jogo do Campeonato de Lisboa de 1933/1934. Fonte: Diário de Lisboa.


Curiosamente o jogo processou-se na mesma altura do acidente do Cartaxo. Pouco antes corria alguma polémica sobre Carlos Torres, uma vez que a AF Santarém tinha levantado dúvidas sobre a situação burocrática de Carlos Torres e a legitimidade de poder jogar na categoria principal do SLB.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799928556.jpg)
Fonte: Diário de Lisboa, 5 de Novembro de 1933.


Depois viriam mais de 100 jogos e uma trintena de golos. Fez o seu último jogo em 6 de Junho de 1937 num jogo em que recebemos no Estádio das Amoreiras o CF Marítimo e vencemos por 3-0, golos de Valadas, Espírito Santos e Luís Xavier. Nesse jogo de despedida a nossa equipa era orientada pelo Húngaro Lippo Hertzka, um treinador de sucesso mas com um temperamento algo complicado.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466799951628.jpg)
Imagem de jogo entre o SLB e o Boavista FC em 1936. Carlos Torres em acção.


Graças ao CD Torres Noves e a uma mensagem colocada neste fórum pelo nosso companheiro de fórum fyure podemos saber mais sobre este homem,

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Nasceu em Torres Novas, na Travessa da Hortelosa, freguesia de Salvador, em 4 de Janeiro de 1908, filho de João Barril e Maria da Conceição Cipriano, irmão de Francisco Torres e Carmina Torres. Aprendeu a profissão de sapateiro e foi militar na Escola Prática de Cavalaria, então sediada na nossa terra.

Foi atleta de quase todos os clubes de futebol que existiram em Torres Novas nas duas primeiras décadas do século XX, mas o seu clube de eleição foi o Torres Novas Futebol Clube, fundado em 1925 e que, passados vinte anos, teve continuidade no Clube Desportivo de Torres Novas. Entre 1926 e 1933 foi a grande vedeta da equipa, tendo alinhado em quase todos os grandes clubes do distrito, como reforço, nos desafios de benemerência ou de exibição, tão vulgares naquela época. Marcava presença obrigatória nas selecções do distrito, que naquele tempo tinha regular actividade.

De 1933 a 1937 representou com mérito o Sport Lisboa e Benfica, numa altura em que abundavam as vedetas no clube lisboeta. A sua ida para Lisboa implicou de imediato, como parte do contrato de transferência, uma vinda do Benfica ao Almonda Parque, em partida que venceu sobre o Torres Novas FC por 5-1, com 3 golos de Carlos Torres.

No SL Benfica jogou quatro épocas, marcando 34 golos em cerca de 60 jogos. Fez o primeiro jogo contra o Belenenses em 25 de Fevereiro de 1934, marcando um dos golos da vitória do Benfica por 2-1. Alinhou pela última vez nos encarnados de Lisboa em 6 de Junho de 1937, contra o Marítimo, jogando sempre no velho campo das Amoreiras. Em Lisboa, ao serviço do Benfica, conquistou um título da primeira Liga e um campeonato de Portugal. Foram seus treinadores Ribeiro dos Reis e Lipo Hertzka.

Pouco depois, em 1939, volta à sua terra, onde se mantém como proprietário de uma carro de aluguer na praça de Torres Novas, com a particularidade de o automóvel ser todo vermelho, "à Benfica", como é bom de ver e, naquele tempo, também à Torres Novas.

Entretanto em Torres Novas, e por falta de campo de jogos, o futebol ia parando. Nesse ano de 1939 há ainda notícia de alguns jogos do Torres Novas, que tinha parado em 1934 a sua participação em competições oficiais. Continuava a haver, pois, jogadores e bons, que eram sondados por clubes vizinhos. Não surpreende, por isso, a inclusão de atletas torrejanos em vários clubes da região, principalmente no União de Tomar e no Atlético Alcanenense, onde Carlos Torres foi jogador-treinador até voltar ao Torres Novas.

Na época de 1944/45 ainda serviu o Alcanenense, mas em Abril desse ano já estava a alinhar na equipa que fez ressurgir o Torres Novas, acompanhando Francisco Tavares na direcção técnica. De resto, no jogo de Abril de 1945, que marcou a segunda vida do Torres Novas, todos os jogadores que alinhavam noutros clubes não quiseram deixar de estar presentes.

Carlos Torres vai ser, portanto, o primeiro treinador do Torres Novas pós-1945, ao mesmo tempo que alinhava como jogador e, com algumas alternâncias, mantém-se até 1952. Chegou a jogar tendo como companheiro Manuel Soeiro, categorizado atleta do Sporting Clube de Portugal que um dia arribou às terras do Almonda. Quer Carlos Torres quer Manuel Soeiro já não eram propriamente jovens.



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No próximo texto falaremos de uma outra fotografia tirada neste mesmo dia no Hospital de Santa Cruz. Uma fotografia que nos trará uma figura em particular que nos vai levar ao universo do ciclismo Benfiquista.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Junho de 2016, 10:16
-111-
Acidente no Cartaxo (parte II)

Continuando com o acidente do Cartaxo.

Ainda no hospital de Santa Cruz, foram tiradas mais duas fotografias. A primeira traz-nos três outras figuras Benfiquistas.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932040739.jpg)
Luís Augusto Lopes, outra vítima do acidente do Cartaxo de Novembro de 1933, auxiliado por Fernando Assis, Artur Pinto, Ernesto de Figueiredo e Manuel Serzedelo Fernandes. Fonte: digitarq.


Nela podemos identificar mais novamente Ernesto Figueiredo (dirigente?) e Manuel Serzedelo Fernandes mas também mais três outros homens e uma enfermeira. Para dois desses homens consegui encontrar alguma informação. Um futebolista e um homem ligado ao ciclismo. Vamos por partes.

O jogador de futebol era o menos conhecido

Fernando Assis
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932120542.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/assis (http://serbenfiquista.com/jogador/assis)

De Fernando Assis apesar de se ter estreado com as nossas cores em 1928/29 numa das categorias inferiores, existe apenas o registo de ter jogado num jogo da primeira categoria. Jogo contra o CPAC, Casa Pia Atlético Clube, disputado no dia 16 de Novembro de 1930, no campo das Amoreiras. O jogo acabou com um empate a uma bola por via de um golo tardio de Mário de Carvalho. O SL Benfica era treinado pelo Inglês Arthur John.

Fernando Assis jogaria ainda 4 jogos na equipa principal tendo feito a sua última aparição em 1935/35 quando Vítor Gonçalves era o treinador. Pelo meio completou 3 épocas na 2ª categoria. Jogador que não deixou um currículo muito extenso na primeira categoria mas provavelmente terá tido outras actividades – eventualmente modalidades no nosso Clube.


Por fim identifica-se ainda um nome importante dos primórdios do nosso ciclismo:

Luís Augusto Lopes
(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932159315.jpg)


Luís Augusto Lopes foi um dos homens fortes dos primeiros anos do ciclismo do nosso Clube. Não sendo este ainda o momento para falar da apaixonante década de 30 do nosso ciclismo e das suas figuras, fica aqui uma primeira alusão.

Luís Augusto Lopes foi um treinador, eventualmente também dirigente, do ciclismo do Sport Lisboa e Benfica. Para além de fotografias em acção nas estradas ao lado dos seus ciclistas, Luís Augusto Lopes aparece-nos num outro registo fotográfico em que se homenageia uma grande figura do ciclismo do SLB: José Maria Nicolau.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932208305.jpg)
Sessão de homenagem a José Maria Nicolau. Proposta de identificação de algumas das figuras representadas. Vê-se o grande ciclista ao centro. Identificam-se para além do Presidente da Direcção Vasco Ribeiro, entre outros também Luís Augusto Lopes. Fonte: digitarq.


José Maria Nicolau é um dos Imortais do nosso Clube. Um nome cuja importância nunca é demais ressaltar. Muita da popularidade adquiria a nível nacional pelo nosso Clube veio das lendárias Voltas a Portugal conquistadas por José Maria Nicolau. E a lenda de Nicolau e das camisolas vermelhas a sulcarem as estradas nacionais começou justamente com a vitória de Nicolau na 2ª volta a Portugal em ciclismo em 1931. Essa Gloriosa equipa pelo que sei era orientada por Luís Augusto Lopes.


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Luís Augusto Lopes, treinador da equipa de ciclismo do Sport Lisboa e Benfica que em 1931 participou na 2ª volta a Portugal em bicicleta. Identificam-se ainda José Maria Nicolau (vencedor da prova) e o muito prestigiado Gil Moreira, ciclista e historiador desta modalidade. A equipa do SL Benfica ganhou também a classificação por equipas. Fonte: Museu Cosme Damião.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932339278.jpg)
Uma curiosa imagem de Agosto de 1934 aquando da 5ª volta a Portugal em bicicleta. Luís Augusto Lopes fornece pêras ao seu ciclista, o grande José Maria Nicolau. Pela sua indumentária percebe-se que Luís Augusto Lopes acompanhava as provas de motocicleta. Nesse ano seria obtida uma nova vitória individual de Nicolau e colectiva do SLB. Fonte: digitarq.



(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932371105.jpg)
Luís Augusto Lopes ajudando o nosso ciclista César Luís a envergar a camisola amarela na 5ª Volta a Portugal em bicicleta em 1934. A prova seria conquistada por José Maria Nicolau. Fonte: Digitarq.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932411486.jpg)
Outro aspecto da volta em 1934. Porto de honra servido no dia 22 de Agosto, nas instalações do Lusitano de Évora. Vê-se Luís Augusto Lopes usando os seus tradicionais óculos. José Maria Nicolau está no lado direito. Fonte: digitarq.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932487309.jpg)
Uma fabulosa imagem de Luís Augusto Lopes, de águia ao peito (e na boina!) ao lado do seu ciclista, o Glorioso Francisco dos Santos Duarte, 2º classificado do Porto – Lisboa em 1933. Nesse ano a prova seria ganha por João Francisco do CF "os Belenenses". Fonte: digitarq.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932526161.jpg)
Outro aspecto da volta em 1934. A equipa do Benfica a recuperar as suas bicicletas após a etapa na Covilhã. Luís Augusto Lopes ao centro com uma camisa escura. Provavelmente vermelha! Fonte: CPF.


Num outro tempo voltaremos com certeza a falar de outras grandes figuras e eventos do ciclismo do Sport Lisboa e Benfica na década de 30.

Como disse anteriormente, das consequências deste acidente foi ainda captada uma terceira fotografia. Nela aparece-nos deitado numa maca um homem identificado como José Luís Tavares.


(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466932559232.jpg)
José Luís Tavares, outra vítima do acidente no Cartaxo, deitado numa maca. Fonte: Digitarq.


Não sei de quem efectivamente se tratava mas o apelido Tavares remete-nos para os manos Tavares, os imortais Victor Hugo e Jorge Tavares. Seria um familiar? Talvez um dia possamos vir saber.

Por fim, e fechando o texto de hoje, deve-se dizer que tudo aponta para que os restantes homens identificados nas fotografias mas para os quais não encontrei dados biográficos fossem igualmente do SLB e possivelmente ligados ao ciclismo. É possível que apareçam e que voltemos a estas imagens um dia destes.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Julho de 2016, 10:13
-112-
Unidos na dor.

Dia 28 de Outubro de 1931. Rua Direita de Belém.

(http://i63.tinypic.com/33w1h5t.jpg)
A impressionante e comovente coluna do Sport Lisboa e Benfica chega à Rua Direita de Belém. Fonte: TT-Digitarq.


A impressionante e comovente coluna do Sport Lisboa e Benfica chega à Rua Direita de Belém. Centenas de sócios acompanham a sua Direcção e muitos dos seus futebolistas. Em profundo respeito desfilam para prestar uma sentida homenagem ao homem e à figura trágica, para sempre jovem, de José Manoel Soares. O popular Pepe tinha morrido quatro dias antes num estúpido acidente cujas causas permanecem oficialmente não esclarecidas.


(http://i68.tinypic.com/15ga3c0.jpg)
Fonte: Diário de Lisboa, 28-10-1931.

O SL Benfica desfilava no local onde nasceu. Desfilava para prestar homenagem a uma das maiores figuras do Clube de Futebol "os Belenenses". Nesse dia de dor colectiva esquecia-se o corte de relações entre os dois Clubes. Os dois filhos dilectos de Belém estavam unidos na dor.


(http://i68.tinypic.com/302bcxw.jpg)
Fonte: Revista "Ilustração"; hemeroteca de Lisboa.


Como nos dizia o DL, cerca de um milhar de telegramas foi recebido pelo CFB. De todos os pontos desportivos do país, de muitos clubes do estrangeiro, de Paris, Roma, Milão, Madrid, Rio de Janeiro. Cerca de 4000 pedidos de representação para jornalistas e outras instituições.


(http://i66.tinypic.com/2q853zk.jpg)
(http://i64.tinypic.com/16m55cn.jpg)
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O nº 17 da Rua do Embaixador em Belém. Curiosamente na mesma Rua nasceram e/ou viveram duas outras figuras maiores do CFB (de quem já por aqui falamos): Artur José Pereira e Francisco Reis Gonçalves. Este último foi também fundador do Sport Lisboa em 28-02-1904. Fonte: Arquivo Vítor Gomes.


O funeral teve a presença de cerca de 30 mil pessoas. Nunca se tinha visto nada igual no desporto Português.


(http://i65.tinypic.com/fkziq0.jpg)
Fonte: Diário de Lisboa, 28-10-1931.


O futebolista

Quando faleceu Pepe tinha apenas 23 anos de idade. Apesar de tão novo Pepe era já uma figura maior do futebol Português, pelo que fez no seu clube, na Selecção Nacional. Na memória ficou em particular a sua prestação na Gloriosa selecção Olímpica de 1928. Nessa linha de ataque destacaram-se em especial Pepe e o nosso Vítor Silva.


(http://i65.tinypic.com/5b8fog.jpg)
A selecção Olímpica que disputou o torneio de futebol em Amsterdão 1928. Fonte: AML.


Treinado por Cândido de Oliveira, um nosso antigo jogador, nessa selecção Pepe tinha diversos colegas que jogavam no Benfica, os titulares Raul Tamanqueiro, Vítor Silva e os suplentes Aníbal José e Jorge Tavares. A par do nosso Vítor Silva, Pepe foi um dos mais destacados ao marcar dois golos frente ao Chile.

Vítor Silva recém-chegado ao nosso Clube era já um dos mais destacados. E em 1931, três anos depois da aventura olímpica na Holanda, era um dos mais comovidos com a perda do amigo de Belém.

Olhando para a fotografia podemos identifica-lo bem destacado à frente da delegação rubra (número 1). É possível ainda propor a identificação de mais Gloriosos.


(http://i64.tinypic.com/e0iih2.jpg)
Por agora as únicas identificações possíveis: 1 – Vítor Silva (futebolista); 2 – Manuel da Conceição Afonso (presidente); 3 -  Herculano Santos (ex-futebolista); 4 - Vítor Gonçalves (ex-futebolista); 5 - José Simões (ex-futebolista). Fonte: AML.


A maioria dos homens da primeira linha seria com elevada probabilidade membros da Direcção liderada por Manuel da Conceição Afonso. Para a maior parte deles resta-nos apenas o nome. Quase esquecidos da memória colectiva ainda assim se deve ressaltar dois detalhes, primeiro a sua generosa contribuição para que o nosso Clube seja o que é nos dia de hoje e segundo o seu gesto naquele dia em que em uníssono com os sócios anónimos representaram tão dignamente o nosso Clube.

A eles tanto anos depois me junto nesta evocação. Paz e honra à memória de José Manuel Soares, o eternamente jovem Pepe.

(http://i66.tinypic.com/1112zxg.jpg)
Fonte: FPF.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Julho de 2016, 10:16
Índice

-1- Uma proposta de identificação. (p.1)
-2- Uma identificação errada. (p.1)
-3- Um jogo de beneficência. (p.1)
-4- Os mestres Ingleses na Feiteira. (p.1)
-5- Rostos familiares. (p.2)
-6- À porta da Farmácia Franco.  O0 (p.2)
-7- Sonho de uma noite de Verão. (p.2)
-8- A última alegria do Chacha.  O0 (p.2)
-9- Recuando no tempo. (p.2)
-10- Catataus e Co. (p.3)
-11- Uma homenagem em terras africanas.  O0 (p.3)
-12- Uma taça e dois pioneiros (I). (p.3)
-13- Uma taça e dois pioneiros (II). (p.3)
-14- As camisolas de Júlio Cosme Damião. (p.3)
-15- Futebol e touros. (p.4)
-16- Um regresso feliz. (p.4)
-17- Nos areais de Belém. (p.4)
-18- Uma imagem rara. (p.4)
-19- Um Stromp à Benfica. (p.4)
-20- O António das Caldeiradas.  O0 (p.4)
-21- O terceiro homem.  O0 (p.5)
-22- Os primeiros troféus (parte I): o Restaurante Bacalhau.  O0 (p.5)
-23- Um Ilustre nos primórdios do futebol sadino. (p.5)
-24- Os Condes do Restelo. (p.5)
-25- Resistência: sugestão e mistério. (p.5)
-26- Araújo: uma carreira que ficou por fazer. (p.6)
-27- A primeira Águia.  O0 (p.6)
-28- Amor à camisola. (p.6)
-29- Amor ao clube! (à falta de camisola...). (p.6)
-30- Prémios aos campeões. (p.6)
-31- O primeiro guardião. (p.7)
-32- Glorioso por um dia.  O0 (p.7)
-33- Eusébio às riscas. (p.8)
-34- Dois dias de festa. (p.8)
-35- Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia.  O0 (p.8)
-36- 111 anos depois: a (possível) iconografia dos fundadores. (p.8)
-37- Três gigantes, três caminhos separados. (p.8)
-38- Um ancião curioso.  O0 (p.9)
-39- Um banquete de notáveis. (p.9)
-40- Cosme, o presidente. (p.10)
-41- Um militar futebolista. (p.10)
-42- Duas despedidas e um alegre convívio. (p.10)
-43- Um jogo infeliz, uma pista extraordinária.  O0 (p.11)
-44- Homenagem a um grande artista. (p.11)
-45- Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral.  O0 (p.12)
-46- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte I)  O0 (p.12)
-47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte II)  O0 (p.13)
-48- A última ceia. (p.13)
-49- A noite da Cruz Vermelha. (p.13)
-50- Ascenção e queda do Pantufas. (p.13)
-51- Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras.  O0 (p.13)
-52- Uma escala africana, um desafio histórico.  O0 (p.14)
-53- Dois entre doze. (p.14)
-54- Dois sadinos, duas Saudades. (p.14)
-55- Dois Casapianos num barco sadino. (p.14)
-56- Revisitando o Campo Grande. (p.14)
-57- A vida Paulista de Bella Guttman. (p.14)
-58- Um encontro Americano.  O0 (p.14)
-59- Alguém tinha de pagar!  O0 (p.15)
-60- Belém, a Benfiquista.  O0 (p.16)
-61- Um certo pátio.  O0 (p.17)
-62- 13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro. (p.19)
-63- O arquitecto da Catedral. (p.19)
-64- O tribunal dos conspiradores.  O0 (p.20)
-65- Festa de gerações. (p.20)
-66- Memórias Francesas. (p.20)
-67- Cosme e o inventor do Fla-Flu.  O0 (p.20)
-68- Desforra Inglesa em tempo de Monarquia. (p.21)
-69- As manas Bermudes, Gloriosas a pedalar. (p.21)
-70- O dia da dúzia! (p.21)
-71- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I).  O0 (p.21)
-72- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (II).  O0 (p.21)
-73- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (III).  O0 (p.22)
-74- A Taça Amadora (parte I): Os Recreios Desportivos da Amadora (p.22)
-75- A Taça Amadora (parte II): O grande jogo.  (p.22)
-76- Huelva 1910, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-77- Extinções e fusões, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-78- O casal virtuoso.  O0 (p.23)
-79- Da vida de Cosme (parte I). (p.23)
-80- Da vida de Cosme (parte II). (p.23)
-81- Gloriosos mesa-tenistas no Brasil. (p.23)
-82- Eterno Bermudes. (p.24)
-83- O poço dos nossos adversários. (p.24)
-84- Ora festeje lá outra vez! (p.24)
-85- Gloriosas compras na pátria do futebol.  O0 (p.24)
-86- Um inesperado Glorioso. (p. 25)
-87- As Terras das Salésias. (p. 25)
-88- "O Benfica saúda o Porto"  O0 (p. 25)
-89- Outros Carnavais (p. 25)
-90- Construtor de Catedrais  O0 (p. 25)
-91- Pantera Negra em noite madrilena (p. 26)
-92- Da Catumbela a Freamunde (p. 26)
-93 - 112 anos de Paixão! (p. 26)
-94- O sósia. (parte I)  (p. 26)
-95- O sósia. (parte II)  (p. 26)
-96- L'étude fait l'avenir (parte I)  O0 (p.27)
-97- L'étude fait l'avenir (parte I) (p.27)
-98- Um fresco em prosa: o António das Caldeiradas revisitado.  O0 (p.27)
-99- A Pharmácia Franco (I) – As duas primeiras gerações.  O0 (p.28)
-100- A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa O0 (p.28)
-101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. (p.29)
-102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém.  (p.29)
-103- Os primeiros troféus (parte III) – a Taça "Olímpica".  (p.29)
-104- Miramons de Portugal.  (p.29)
-105- Águias na Guerra (parte I)  O0 (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II)  O0 (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III)  O0 (p.30)
-108- Olhos de fogo, coração de Belém  O0 (p.30)
-109- Em homenagem a Guilherme Pinto Basto. (p.30)
-110- Acidente no Cartaxo (parte I). (p.31)
-111- Acidente no Cartaxo (parte II). (p.31)
-112- Unidos na dor. (p.31)
-113- Um hóquista feliz. (p.31)
-114- Primus inter pares. (p.32)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 09 de Julho de 2016, 19:29
Belas histórias e imagens.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Julho de 2016, 10:35
-113-
Um hóquista feliz

22 de Julho de 1933. Um casamento elegante. Gente distinta, vestidos finos, militares fardados, noivos e convidados felizes.

(http://i66.tinypic.com/5bdac1.jpg)
Fonte: Digitar-TT.

Casamento de Delfina Hood Santos com José Prazeres. E é aqui que se percebe que devemos atentar no noivo.

(http://i66.tinypic.com/k12bs2.png)

José Prazeres, nesse dia noivo, foi uma figura prestigiada do Sport Lisboa e Benfica. Uma dedicação longa e ilustre. Uma figura hoje quase esquecida mas de grande contribuição para os primeiros anos de diversas modalidades amadoras do Sport Lisboa e Benfica.

Foi um dedicado praticante de futebol, hóquei em patins, hóquei em campo e atletismo do Benfica. Se no futebol não terá passado da terceira categoria, nas restantes modalidades já foi diferente. Vamos pois recorda-las em crescendo, isto relativamente ao sucesso desportivo que obteve.

Sem dados quantitativos, serão as diversas imagens a mostrar essa generosa e competente contribuição para o Sport Lisboa e Benfica e – como veremos – para Portugal.


Atletismo, a dedicação
 
(http://i65.tinypic.com/308h5xd.jpg)
A equipa de estafetas 5x80m e a vitória de José Prazeres na corrida de 80m no Campeonato Regional do Sul. Fonte: Jornal do Sport Lisboa e Benfica; hemeroteca de Lisboa.


Hóquei em campo, vitorioso

(http://i63.tinypic.com/2i0qbyt.jpg)

Nesta Gloriosa equipa de hóquei em campo fica ilustrado como por vezes alguns atletas praticavam diversas modalidades, acumulando actividades de treino e jogo na mesma semana para diversas modalidades. Viviam o Clube de forma plena. Assim não admira que vários homens que integraram as equipas do hóquei em campo fossem ao mesmo tempo futebolistas, regra geral de equipas das categorias inferiores do futebol. Por vezes estavam ainda no activo futebolístico como Germano Campos ou Jorge Teixeira, outras vezes eram antigos futebolistas já retirados como Ilídio Nogueira, Mário Montalvão ou José Picoto. Ilídio Nogueira foi aliás também um emérito pioneiro do hóquei em patins no nosso Clube. Foi esse igualmente o caso de José Prazeres.


Hóquei em patins, a glória

E de facto José Prazeres para além de praticar atletismo e hóquei em campo, veio também a distinguir-se no hóquei em patins. Seria aliás nesta modalidade que atingiria a maior notoriedade nacional e internacional.


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Uma Gloriosa equipa de hóquei em patins do Sport Lisboa e Benfica. Da esquerda para a direita: Germano de Magalhães, José Prazeres, António Adão, Leonel Costa, Fernando Amaral Adrião, José Costa de Sousa. Fonte: Em Defesa do Benfica.


(http://i65.tinypic.com/2198as1.jpg)
Outra equipa de hóquei em patins do SLB em 1933: Leonel Costa; António Adão, Silvério Gouveia, Germano Magalhães e José Prazeres. Fonte: Em Defesa do Benfica.


(http://i66.tinypic.com/2w5sy1c.jpg)
José Prazeres, António Adão e Leonel Costa, três hoquistas Gloriosos no recinto da Gomes Pereira em 1936. Fonte: digitarq-TT.


(http://i65.tinypic.com/2gsle20.jpg)
Outra bela imagem do recinto da Gomes Pereira em 1936. Atente-se no piso molhado... Américo Rombert (árbitro), Olivério Serpa, Fernando Amaral Adrião, Jorge Evaristo, Vítor Lemos (treinador). Em baixo: Germano de Magalhães, José Prazeres, António Adão e Leonel Costa. Fonte: digitarq-TT.


Pela sua qualidade enquanto hóquista, desde cedo José Prazeres representou a Selecção Nacional de hóquei em patins como jogador. Nessa década de 30 a equipa era treinada por Vítor Lemos. Portugal não era ainda uma das potências no hóquei internacional mas já tinha excelentes equipas. Nesses anos era ainda a Inglaterra que conquistava os títulos mundiais e europeus.


(http://i66.tinypic.com/28sws3c.jpg)
A selecção que participou no primeiro Campeonato Europeu em 1930. Ali estão, em cima da esquerda para a direita: ?, António Adão, Germano de Magalhães, Sidónio Serpa, José Prazeres, Leonel Costa, Vítor Lemos (treinador). Em baixo, Fernando Amaral Adrião (gr). Fonte: Delcampe.



(http://i66.tinypic.com/28bwm5g.jpg)
Selecção nacional de hóquei em patins de 1936. Da esquerda para a direita: Vítor Lemos (treinador), António Adão, Leonel Costa, Germano Magalhães, Jorge Evaristo, Olivério Serpa, Fernando Amaral Adrião, José Prazeres, Américo Rombert (árbitro). Fonte: digitarq-TT.



(http://i68.tinypic.com/fx3yxe.jpg)
Selecção nacional Portuguesa de 1937. Da esquerda para a direita: Vítor Lemos (treinador), António Adão, Olivério Serpa, Leonel Costa. Em baixo; Sidónio Serpa, Fernando Amaral Adrião e José Prazeres. Fonte: rinkhockeynews.wordpress.com.



(http://i65.tinypic.com/qxuq01.jpg)
Recepção à equipa nacional de hóquei em patins que obteve o 3º lugar no campeonato da Europa disputado em Antuérpia de 1938. Nesse tempo a Inglaterra dominava as competições internacionais. José Prazeres está assinalado. Fonte: digitarq-TT.


Na década seguinte chegariam as vitórias já com José Prazeres ao leme da equipa nacional. Numa equipa dominada por jogadores do Paço de Arcos, em 1947, a equipa nacional de Portugal conquistava o 3º Campeonato do Mundo e simultaneamente o 13º Campeonato Europeu. José Prazeres e seus rapazes entravam na história do hóquei Português como vencedores de um torneio mundial.


(http://i66.tinypic.com/2a77o15.jpg)
1947, Pavilhão dos Desportos em Lisboa. As equipas disputaram o Campeonato do Mundo alinhadas. José Prazeres está assinalado. Fonte: http://museuvirtualdodesportoportugues.blogspot.pt/2012_12_01_archive.html (http://museuvirtualdodesportoportugues.blogspot.pt/2012_12_01_archive.html)

(http://i65.tinypic.com/8yvvw0.jpg)


(http://i68.tinypic.com/i4ilhz.jpg)
A alegria da vitória. Não há como a primeira. Esta foi a selecção nacional que conquistou o 1º título Mundial de Hóquei em patins em 1947. Em cima: Sidónio Serpa, Jesus Correia, Cipriano, Olivério Serpa e Álvaro Lopes, Em baixo: Correia dos Santos abraçado a José Prazeres. Fonte: wikipedia.

(http://i66.tinypic.com/25ugxmw.jpg)


Viriam depois mais três títulos de seguida: Montreux 1948, Lisboa 1949 e Milão 1950. Um saboroso e inédito tetra conquistado pelo hóquei nacional no campeonato do Mundo.

(http://i65.tinypic.com/2eatd10.jpg)
Fonte: http://acribeiro.blogs.sapo.pt/62267.html (http://acribeiro.blogs.sapo.pt/62267.html)


Uma breve história dos campeonatos do mundo pode ser lida aqui: http://mundial2015.hoqueipt.com/article.aspx?id=684 (http://mundial2015.hoqueipt.com/article.aspx?id=684)


Em 1951 o título foi jogado e perdido na cidade de Barcelona contra a Espanha. Acabou aí a carreira de treinador nacional de José Prazeres. No ano seguinte a equipa já seria orientada por Sidónio Serpa.


(http://i68.tinypic.com/34447z6.jpg)
A última selecção nacional orientada por José Prazeres em 1951. Equipa portuguesa, vice-campeã. Em cima: José Prazeres (treinador), Sidónio Serpa, Emídio Pinto, Edgar Soares; em baixo: Jesus Correia, António Raio e Correia dos Santos.



(http://i63.tinypic.com/az9jjd.jpg)
Os Campeonatos do Mundo em que José Prazeres esteve envolvido. Como treinador foi tetracampeão Mundial. Uma Glória de sempre do nosso hóquei. Fonte: Fernando de Castro. "Campeonatos do Mundo de hóquei em patins, subsídios para a sua história".



Desconheço outros detalhes da vida de José Prazeres. Ainda estou a aprender. Fica aqui o convite para que outros contribuam caso saibam.

Deste material resulta uma evocação de um homem, de um grande Benfiquista cuja contribuição variada, competente e vitoriosa deu muito ao nosso clube e ao nosso País. Um obrigado ao imortal José Prazeres.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 10 de Julho de 2016, 15:03
Aprendo imenso com este tópico sobre uma parte da História do Benfica que nunca pensei vir a aprender. É sensacional o trabalho de pesquisa e todas estas fotos interessantíssimas.

Um bem-haja!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Julho de 2016, 15:32
Citação de: Bakero em 10 de Julho de 2016, 15:03
Aprendo imenso com este tópico sobre uma parte da História do Benfica que nunca pensei vir a aprender. É sensacional o trabalho de pesquisa e todas estas fotos interessantíssimas.

Um bem-haja!  O0


Obrigado Bakero. Fico feliz por gostares  O0

Com toda a sinceridade, também eu.

O que quero dizer é que muita desta informação é para mim perfeitamente desconhecida até pesquisar.

O processo é simples. Surge uma pista e sigo por aí. Muitas vezes é uma fotografia estranha outras vezes uma notícia sobre uma figura ou acontecimento do SL Benfica. Depois é ir buscar as fontes e cruzar informação. Cada caso tem uma história. Por exemplo nos textos 99 e 100 sobre Farmácia Franco tinha um conhecimento rudimentar que tinha existido dois Condes e que só o segundo teria sido importante para o SL. E o resto foi totalmente novo.

O SL Benfica é muito grande e 112 anos dão muita matéria prima. Tenho uma dezena de histórias na incubadora e ideias para mais. Algumas exigiriam tempo e mais material de fontes que ainda não disponho. Quando as fontes aumentarem - estou à espera de algumas coisas novas - então mais há-de vir.
 
No fundo a coisa resume-se a esta ideia. Não há informação e textos destes? Faz-se.

O melhor disto tudo? Duas coisas. O prazer da pesquisa e o prazer da partilha.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 11 de Julho de 2016, 10:46
Tópico fantástico :)

Obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 12 de Julho de 2016, 17:28
Quanto mais leio aqui sobre estas figuras da nossa História, mais amo o Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Julho de 2016, 00:29
Obrigado pelas palavras simpáticas.  O0

Alberto Miguéns publicou uma bela e oportuna evocação do hóquei em patins Português e da contribuição decisiva e ganhadora dada pelo SL Benfica.

A não perder. Aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/07/quando-portugal-foi-o-benfica.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/07/quando-portugal-foi-o-benfica.html)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 13 de Julho de 2016, 12:35
Citação de: Ned Kelly em 12 de Julho de 2016, 17:28
Quanto mais leio aqui sobre estas figuras da nossa História, mais amo o Benfica!

Isso mesmo :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Julho de 2016, 13:57
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Primus inter pares


Primus inter pares, uma expressão cuja tradução simples nos dirá "primeiro entre iguais". No texto de hoje usamos essa expressão não por uma questão de maior notabilidade mas antes por precedência histórica. Usaremos a expressão para falar de um glorioso pioneiro do atletismo. Glorioso? Gloriosíssimo!

Mas na verdade para parte do texto de hoje poderia ainda usar uma outra expressão latina célebre no meio desportivo: Citius, Altius, Fortius, a expressão latina usada como lema olímpico e cuja tradução imediata é "mais rápido, mais alto, mais forte". Uma expressão que nos remete para o ecletismo, para os desportos para lá do futebol. E é sobre os primórdios das outras modalidades que não o futebol no nosso Clube que também se falará.

Mas vamos por partes. Falemos primeiro do Glorioso pioneiro do atletismo.

Dia 2 de Dezembro de 1906. Velódromo de Palhavã, Lisboa. Concurso de Sports Atléticos. Duas fotografias, dois ângulos diferentes para um mesmo evento. Um evento com um grande significado histórica para o nosso Clube.


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Linha de partida onde se observam 9 dos 13 atletas concorrentes à prova de resistência. Fonte: Revista Brasil-Portugal. Hemeroteca digital de Lisboa.


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A mesma situação mas do ângulo oposto. Fonte: Ilustração Portuguesa. Hemeroteca digital de Lisboa.


Alinhados para iniciar a corrida da resistência de 1800 metros que era designada por prova de resistência estavam os 13 atletas concorrentes, a saber: Cooper e Ryal (Carcavellos Club), Franco de Araújo, Pinto Basto, Rembado e Ryder (CIF), Motta Veiga e R. Futscher (F. Cruz Negra), Arnaldo Silva, César de Mello e José Duarte (Real Ginásio Clube), Borges Pinto (Velo Clube de Lisboa) e... Félix Bermudes do Sport Lisboa.

E é esse o detalhe notável a salientar, Félix Bermudes foi o primeiro homem que representou o Sport Lisboa em atletismo.


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Primus inter pares. Félix Bermudes, o primeiro dos Gloriosos praticantes de atletismo. Fonte Hemeroteca digital de Lisboa



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O Sport Lisboa


Fundado em 28 de Fevereiro de 1904 na Rua Direita de Belém numa célebre Farmácia que tivemos oportunidade de estudar bem (ver textos 99 e 100, página 31). O Sport Lisboa foi fundado para praticar o futebol. As restantes modalidades vieram depois fruto do interesse e aptidões particulares de alguns dos seus sócios.

E de facto como se constata das listas de atletas que participaram nas restantes provas, nesse dia o Sport Lisboa foi apenas representado por um atleta. O eclectismo estava longe de ser uma característica do nosso Clube nos seus dois-três primeiros anos.

E realmente tanto quanto é do meu conhecimento no caso do Sport Lisboa de Fevereiro de 1904 até Setembro de 1908, as modalidades terão ficado restritas a Félix Bermudes com o atletismo (e ciclismo?). Pouco depois Fortunato Levy concorreu em provas urbanas de ciclismo. Essa experiência seria breve uma vez que logo em Maio de 1907 Fortunato regressou a Cabo Verde e nunca mais terá voltado à metrópole.


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Sport Lisboa, fundado na Farmácia Franco em Belém no dia 28 de Fevereiro de 1904.


Apenas mais tarde em 1908 já depois da fusão com o Grupo Sport Benfica e como recentemente tão bem documentou AlbertoMiguéns (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/07/acto-1-obrigado-felix-bermudes.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/07/acto-1-obrigado-felix-bermudes.html)) mais tarde ainda, em 1916 com a junção do Desportos de Benfica, o nosso Clube viria a garantir a expansão da sua prática desportiva para outras modalidades e o aumento da implantação social do Clube. E que expansão! Seríamos aliás pioneiros em algumas modalidades.


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O Grupo Sport Bemfica

O Grupo de Sport Bemfica, como na época era designado, foi fundado no dia 26 de Julho de 1906. Foi fundado numa freguesia arrabalde de Lisboa por uma certa burguesia assente no comércio. Praticava diversas modalidades com treinos essencialmente ao fim de semana pois havia que labutar a semana inteira.


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Grupo Sport Bemfica, fundado em Benfica no dia 26 de Julho de 1906.


O Clube dispunha de algo precioso para esse tempo. Tinha um amplo e funcional terreno para as mais diversas práticas desportivas. Tinha a famosa e formosa Quinta da Feiteira. Entre as suas modalidades destacavam-se o atletismo e o ciclismo.

O ciclismo tinha uma enorme importância que ficou expressa no emblema do GSB. A sua grande popularidade devia-se a não ser somente uma modalidade competitiva mas também de convívio social por via do cicloturismo bem reportado nessa época para diversas colectividades.

As provas atléticas com carácter festivo que eram organizadas pelo GSB mostravam bem a importância das duas modalidades na vida do Clube. Era um Clube virado essencialmente para a convivência social e por isso nesse tempo o carácter recreativo sobrepunha-se aos aspectos competitivos.



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Quatro aspectos de modalidades que caracterizavam o eclectismo do Grupo Sport Benfica na Quinta da Feiteira em Agosto de 1907. Ciclismo, lançamento do peso, luta de tracção e a mais pitoresca corrida de sacos. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.



Ainda assim existiu uma crescente actividade competitiva e dessa forma nesses anos juvenis do nosso Clube, acabaram por se salientaram com as nossas cores uma série de atletas, alguns dos quais com alguma notoriedade outros cuja história rapidamente esqueceu.

A lista que em baixo se apresenta é basicamente um apanhado não pretensioso de vários atletas que praticaram o atletismo e o ciclismo nos primeiros anos do Sport Lisboa e do Grupo Sport Benfica (regra geral entre 1906 e 1911). Não é uma lista que se pretende exaustiva e não pretende listar de forma rigorosa todos os atletas e as modalidades que praticaram mas é um apanhado á medida que fui lendo algumas fontes. Alguns deles nem terão competido em provas fora do ambiente do GSB. A realidade terá sido muito mais alargada mas ainda assim não deixa de ser uma tabela curiosa. Alias, nesses primeiros anos (e assim foi mais algumas décadas) era norma os atletas praticarem diversas modalidades.


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Compilação (não exaustiva) de atletas que competiram no nosso Clube em diversas modalidades desportivas que não o futebol entre 1906 e 1914. Salientado com o símbolo * estão os atletas que também jogaram na equipa da 1ª categoria do futebol.


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Galeria ilustre de alguns dos pioneiros de outras modalidades que não o futebol.
Legenda para cima: A – Félix Bermudes; B - Fortunato Levy; C – George Ribeiro; D – Germano Vasconcellos; E – Augusto Jorge; F – António Fernandes; G – Carlos Marques; h – Alfredo Camecelha; I – Moisés Benoliel; J – Raúl de Macedo; K – Alberto de Albuquerque; L – Luís Gatto;
Legenda para baixo: M – Augusto Cabeça Ramos; N – Victor Jardim; O – Florindo Serras; P – Francisco Lázaro; Q – Augusto Fernandes;  R – Francisco Rocha; S – Josué Correia; T – Carlos Sobral; U – José Stromp; V – Cosme Damião. Fontes: diversas; Hemeroteca de Lisboa.


Em 1910, dois anos depois da fusão, numa célebre festa desportiva na Quinta da Feiteira, o Clube mostrava como os seus futebolistas praticavam outros desportos. Uma demonstração também que essas modalidades estavam não apenas dentro das actividades lúdicas mas também do interesse competitivo do Clube.

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Festa desportiva na Quinta da Feiteira por ocasião do 6º aniversário do nosso Clube. Neste dia muitos dos futebolistas da 1ª categoria mostraram as suas qualidades em diversas provas de atletismo.

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Corrida de obstáculos na Quinta da Feiteira em Fevereiro de 1910. Germano de Vasconcelos (vestido à GSB) contra Henrique Costa (vestido à SL). Fonte: Digitarq-TT.


Mais tarde por volta de 1914-1915 o ingresso de Carlos Sobral no nosso Clube viria também a adicionar a natação e o pólo aquático à lista de modalidades. Em 1916-1917 a integração dos Desportos de Benfica trouxe o hóquei em patins e a patinagem artística. Viria ainda o hóquei em campo do qual aliás Cosme Damião chegou a ser praticante. Muitas outras modalidades se seguiriam.


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Félix Bermudes e o desporto

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O grande Félix Bermudes foi como vimos o primeiro de todos os atletas Benfiquistas. Um homem notável que praticava de forma emérita o futebol, hipismo, esgrima, ciclismo, distinguiu-se também por ter sido o nosso pioneiro do atletismo. Primus inter pares.

Aliás atestando bem o seu carácter pioneiro, o atletismo (ou no caso particular o pedestrianismo nome dado à corrida em espaço urbano) era uma modalidade desportiva que Félix já praticava há longos anos. Tão longos anos que mesmo recuando ao final do século XIX, ao ano de 1895, já podemos encontrar notícia de uma participação de Félix Bermudes numa corrida urbana.


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Ecos de uma corrida (pedestrianismo) nas ruas da cidade de Lisboa em 1895. Félix Bermudes tinha 21 anos de idade. Faltavam ainda uma década para começar a sua aventura junto do Sport Lisboa. Fonte: Diário Ilustrado. Hemeroteca Digital de Lisboa.


Ganhou como não podia deixar de acontecer! Representava o Ginásio Clube Português. Estávamos ainda a nove, nove anos da fundação do Sport Lisboa mas Félix Bermudes já mexia. Com 21 anos eles já exibia a sua qualidade desportiva e adquiria o estatuto de campeão. Um estatuto que conquistaria no futebol, na esgrima e no tiro.

Para lá das suas virtudes intelectuais traduzidas em diversa obras nos campos do teatro, da poesia e da teosofia, Félix Bermudes foi um homem completo. Às virtudes da exercitação do cérebro juntava as virtudes da exercitação do corpo. A importância que o desporto teve na sua vida foi aliás reconhecida por ele num artigo publicado 16 anos após a sua morte.


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Fonte: Revista "Vida Mundial", 1976. Hemeroteca digital de Lisboa.


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O evento

Nesse dia Félix Bermudes participou ainda nas provas do salto em comprimento, 100 metros e 300 metros obstáculos.


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Félix Bermudes à direita a cortar a meta. Com a sua faixa (seria vermelha?). Fonte: Ilustração Portuguesa.


No seu tronco exibia uma faixa. De que cor seria? Vermelha quase de certeza!


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Excertos alusivos às provas do Concurso de Sports Atléticos (2 de Dezembro de 1906) em que participou Félix Bermudes. Fonte: Ilustração Portuguesa; Hemeroteca digital de Lisboa.


Para além dessas provas, naquele dia desportivo, foram disputadas no velódromo de Palhavã mais algumas animadas provas desportivas.


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Sports Athléticos em Palhavã. Dia 2 de Dezembro de 1906. Fonte: Brasil-Portugal. Hemeroteca digital de Lisboa.


O evento foi promovido por um grupo de senhoras de alta sociedade visando fins de beneficência. Cada uma das diversas provas atribuiu um prémio para os vencedores dados por figuras públicas destacadas do Portugal monárquico.


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O comité organizador do evento de Sports Athléticos em Palhavã. Dia 2 de Dezembro de 1906. Fonte: Ilustração Portuguesa. Hemeroteca digital de Lisboa.


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Tribuna real durante o evento de Sports Athléticos em Palhavã. Dia 2 de Dezembro de 1906. Fonte: Ilustração Portuguesa. Hemeroteca digital de Lisboa.

 
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Provas de ciclismo e corrida de sacos durante o evento de Sports Athléticos em Palhavã. Dia 2 de Dezembro de 1906. Fonte: Ilustração Portuguesa. Hemeroteca digital de Lisboa.


As fotografias que dispomos mostram que para além da estreia do Glorioso no atletismo, o evento de Palhavã distinguiu-se também pelo entusiasmo e por uma acesa competição. Uma época de juvenilidade do nosso Clube e em que o desporto era ainda essencialmente praticado pelas elites.

Voltaremos ao atletismo e ao Grupo Sport Benfica um dia destes.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Julho de 2016, 09:25
Citação de: RedVC em 21 de Junho de 2016, 13:41
Citação de: M1904 em 21 de Junho de 2016, 12:26
Mais uma vez vou ter que repetir, excelente trabalho!   O0

Curioso o Team de Lisbonense usar o branco e vermelho segundo a noticia do jornal (quando as cores da cidade são o preto e branco usados desde a idade média). Sempre tive essa duvida, pois já vi referenciado que tinham usado o preto e branco.

Erradamente e propositadamente há quem tente passar esse jogo (entre uma seleção de Lisboa e uma do Porto) como um jogo do FCP contra Lisboa/Club Lisbonense, até para justificar a tal fundação de 1893... estórias dentro da história.

O Porto era constituído por jogadores do Ocriket Clube do Porto e do Velo Clube do Porto, e Lisboa por Carcavelos, Club Lisbonense e Cruz-Quebrada. A taça encontra-se no Museu do CIF, pois ficou na mão de Pinto Basto do Club Lisbonense, a raiz ou uma das raízes do CIF.

Obrigado M1904  O0

A satisfação da partilha equivale à satisfação quando vejo que existe um pequeno grupo de pessoas que aprecia estas pesquisas.

É de facto interessante a escolha das cores. Terá sido intencional ou fortuita? A presença de Ingleses terá influenciado? Simples acaso? Seria o equipamento de outro grupo? Não sabemos.

Aparentemente os três primeiros grupos a praticar o futebol na região de Lisboa terão sido o Foot-Ball Club Lisbonense também designado Club Lisbonense, o Ginásio Clube Português e o Carcavellos Club (tenho ideia que numa primeira fase o seu nome era ligeiramente diferente). Ao que sei jogavam essencialmente no Campo Pequeno e na Quinta Nova em Carcavellos.

Teria de verificar mas tenho ideia forte que as cores destes "teams" era outras que não esta camisola esquartelada vermelha e branca. Por isso o mistério continua.

Ao que parece por volta de 1890 já existiam numerosos grupos a praticar o futebol. Terá existido um primeiro surto de grande exuberância futebolística em Lisboa. Depois com os problemas sociais e económicos e com a questão do ultimatum Inglês o futebol tornou-se mal visto. Isto para além da sociedade ver mal que os jovens andassem a correr uns atrás de outros de cuecas...

É pena o CIF não ter ou não partilhar devidamente o material e conhecimento que têm (terão?) desse período pioneiro. Talvez subsista material por explorar no lado dos descendentes da família Pinto Basto e família Villar.

Seria no principio de 1903 e 1904 que se daria um novo impulso. O Sport Lisboa foi parte fundamental desse novo impulso. Poucos sobreviveram. Nós sobrevivemos por causa de termos gente com cabeça e coragem que não teve medo de prosseguir. Gente que definiu os valores do Clube, as cores e o símbolo. Gente que praticou o futebol nas mais difíceis condições. A mística e a adesão popular vieram cedo. Tudo isso explica que tenhamos sobrevivido. Como naquele filme se dizia "O princípio é um tempo muito delicado". E foi mas sobrevivemos.

Ainda haverá coisas para revelar? Talvez. Vamos em busca. Com o tempo mais virá.


Estava a ler a História do Desporto em Portugal de Homero Serpa e lá claramente se refere que o equipamento do Foot-Ball Club Lisbonense foi numa fase mais tardia camisola encarnada  branca, calções brancos e meias pretas.

Familiar, não?

(http://m.uploadedit.com/ba3s/1466271780811.jpg)

Aquele era o equipamento do Lisbonense. Provavelmente um equipamento muito similar foi também o primeiro equipamento do Sport Lisboa. Atente-se no detalhe da meia preta. O Sport Lisboa também tinha meia preta mesmo já quando a camisola foi a Gloriosa camisola vermelha de tão grandes tradições como dizia Homero Serpa.

(http://i66.tinypic.com/1z3b6s6.png)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Julho de 2016, 21:24
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A "Corrida da Marathona".

Manhã de 20 de Outubro de 1907. Cruz Quebrada, região ocidental da linha costeira de Lisboa Lisboa. Manhã de ressaca depois do mau tempo que tinha fustigado a cidade na noite anterior. Cerca das 9h45, nove atletas perfilam-se na linha de partida. Em breve seria dado o tiro de partida para a "Corrida da Marathona" organizada pelo jornal semanário Tiro e Sport.

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Imagem publicada pelo Tiro e Sport com os nove concorrentes alinhados na linha de partida na Cruz Quebrada. Atente-se na diferença de calçado dos Portugueses para os Ingleses do Carcavellos... Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Na verdade se atentarmos no jornais, o trajecto dessa corrida de 1907 previa um percurso da Cruz Quebrada até Cascais, perfazendo no total a distância de 17 Km. Longe, bem longe da distância dos 42.195 Km da maratona. Apesar disso a corrida teve diversos detalhes notáveis, desde os atletas concorrentes, passando pelos promotores, pelo júri e até alguns assistentes.


Os atletas

Os nove concorrentes representaram 3 clubes. A saber, pelo Grupo Sport Bemfica participaram Augusto Jorge, António Fernandes e Carlos Marques, pelo Carcavellos Club, A. Lowe, K.R. Thompson e AS Cooper e pelo Football Cruz Negra, Joaquim Vital, António Vital e Travassos Lopes.

Só aqui nesta lista vários detalhes interessantes. A presença do Carcavellos a competir numa modalidade que não o futebol ou o ténis. A presença do efémero mas importante Football Cruz Negra, que resultou de uma cisão no Campo de Ourique e cuja extinção viria a beneficiar o SCP e principalmente o Império.

E depois o nosso Grupo Sport Bemfica, pelo qual alinharam três notáveis do pedestrianismo (atletismo) desse tempo. Não tiveram a notoriedade de Félix Bermudes ou de Franciso Lázaro (nosso atleta em 1911) mas foram dos primeiros e, como veremos, honraram a camisola. Aliás atente-se justamente na sua camisola uma vez que do meu conhecimento esta é a mais antiga representação fotográfica do emblema do GSB.



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O grupo de 3 atletas do Grupo Sport Benfica que no dia 20 de Outubro de 1907 competiu e conquistou a Corrida da Marathona. Nas camisolas estava ilustrado o emblema do Clube (à direita). Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Já em tempos Alberto Miguéns publicou num número do Benfica Ilustrado um cartão do GSB datado justamente de Outubro de 1907 mas esta fotografia é a primeira que eu conheço onde se percebe o símbolo do GSB. Pena é que a fotografia não tenha uma resolução superior.


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Cartão de sócio do Grupo Sport Bemfica datado de Outubro de 1907. Fonte: Alberto Miguéns in Benfica Ilustrado.


A corrida

Após os aguaceiros caídos antes da corrida as estradas (que na época eram bastante diferentes das actuais...) proporcionavam pisos em mau estado colocando dificuldades aos concorrentes. A passagem dos concorrentes pela diversas povoações, Paço de Arcos, Oeiras, Parede, S. João do Estoril e por fim Cascais motivaram alguma adesão popular. Em algumas dessas povoações os corredores foram mesmo recebidos (!) por comissões locais constituídas por elegantes senhoras e cavalheiros que os felicitavam e incentivavam.


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Diversos aspectos dos atletas, organização e assistência durante o trajecto entre a Cruz Quebrada e Cascais percorrido pelos 9 atletas da Corrida da Marathona disputada no dia 20 de Outubro de 1907. Fonte Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.



O juri e outros ilustres

A chegada a Cascais trouxe um toque especial à corrida. Os corredores foram recebidos na linha de meta pelo ilustre júri constituído por notáveis pioneiros do desporto Português, em particular do... futebol: Guilherme Pinto Basto, Eduardo Romero, Carlos Villar e Joaquim Costa.


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O Rei Dom Carlos, o Infante D. Afonso, e elementos do júri assim como o troféu da "Corrida da marathona". Fonte Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Do primeiro, um dos introdutores do futebol em Portugal já aqui falamos no texto (109; "Em homenagem a Guilherme Pinto Basto", pág. 30). O segundo participou na primeira demonstração pública de futebol num Domingo de Outubro de 1888 justamente na vila de Cascais. Por sua vez Carlos Villar e Joaquim Costa, ambos da Marinha Portuguesa, foram dos promotores mais activos e divulgadores mais eficazes das regras e das virtudes do futebol. Carlos Villar foi à semelhança de Guilherme Pinto Basto um dos jogadores do primeiro Lisboa vs Porto disputado na cidade Invicta em 1894. Foi ainda um fundadores do CIF em 1905.


Mas as figuras notáveis da sociedade Portuguesa desse tempo não ficaram por aqui. A corrida teve ainda a suprema distinção de contar com a presença do rei D. Carlos e do seu irmão, o infante D. Afonso. Este último tinha ainda o pitoresco de ser popularmente conhecido por "Arreda", pois era um pé de chumbo a conduzir automóveis, repetindo com frequência o grito de "Arreda! Arreda!" para que os atónitos transeuntes se afastassem. Livra!!! Claro que atrás do rei e do infante esteve uma boa parte da corte dessa época.


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Foto nº 6, o elemento do júri, Guilherme Pinto Basto lendo os resultados ao rei D. Carlos e ao infante D. Afonso. Foto nº 7, o Rei e seu irmão à chegada dos corredores em Cascais, felicitando o comandante Joaquim Costa pela organização do evento. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Os vencedores

Cumprida a distância, a vitória coube ao nosso atleta Carlos Marques. O Grupo Sport Benfica contra as expectativas iniciais batia em toda a linha os atletas Ingleses do Carcavellos. Um motivo de prestígio para o nosso Clube.


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Carlos Marques atleta do Grupo Sport Benfica, o grande vencedor da "Corrida da marathona". Fonte Tiro e Sport; hemeroteca de Lisboa.


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Os atletas António Fernandes (2), A. S. Cooper (6) e Travassos Lopes (9) que viriam a ser 2º, 3º e 4º classificados, respectivamente.


Carlos Marques (3) cumpriu a distância em 1 hora e 10 minutos. Em segundo lugar chegou outro dos nossos homens, António Fernandes (2) que cumpriu a distância em 1h14. Apenas em 3º lugar embora somente com mais 5 segundos que o 2º classificado chegou A.S. Cooper (6), o melhor dos Ingleses. Travassos Lopes (9) que inicialmente liderou a corrida teve uma significativa quebra e apenas chegaria em 4º lugar. Augusto Marques (1) o nosso terceiro homem acabou por chegar em 5º lugar fazendo com que o nosso Clube também ganhasse por equipas.


A tabela final ficou assim ordenada:

               1º - Carlos Marques (GSB; 3) 1h10
               2º - António Fernandes (GSB; 2) 1h14
               3º - A. S. Cooper (CC; 6) 1h14m05
               4º -  Travassos Lopes (FCN; 9) 1h15
               5º - Augusto Jorge (GSB; 1)1h16
               6º - K. Thompson (CC; 4)
               7º -H. Lowe (CC; 5) 1h21
               8º -Joaquim Vital (FCN; 7) 1h26
               9º - António Vital (FCN; 8) 1h26


Dessa forma o grande vencedor colectivo foi o GSB com 8 pontos, depois o CC com 16 e no último lugar o FCN com 21. Limpamos a competição! Para rei ver!


O troféu

E de facto foi das mãos do rei D. Carlos que os nosso atletas receberam o belo troféu de bronze doado pelo Conde dos Olivais e Penha Longa. O Benfica pode assim orgulhar-se de que recebeu troféus não apenas de presidentes da Républica de Portugal mas também do penúltimo rei de Portugal.

E como disse o jornal nessa ocasião Dom Carlos teve "palavras de louvor e incitamento aos briosos rapazes" que venceram a prova "aproveitando a selecta assistência a ocasião para saudar entusiasticamente os vencedores do GSB!". Foi um grande dia. Um dia mesmo à Benfica!


O troféu da corrida da maratona, baptizado com o apropriado nome de "Au But!" que neste contexto significa "À meta!


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O troféu de bronze da "Corrida da marathona". Oferecido pelo Conde dos Olivais e da Penha Longa chamava-se troféu "Au but!" que neste caso significa "À meta!". Fonte Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Este valioso troféu não consta no entanto do acervo do museu Cosme Damião. Encontramos a explicação no facto de no dia 3 de Maio de 1908, numa nova edição da "Corrida da Marathona" (desta vez já na distância de 24 Km), o mesmo troféu foi entregue ao Velo Clube de Lisboa. O troféu era assim atribuído de forma não definitiva ficando na posse temporária do clube vencedor da competição. Por onde andará hoje essa bela peça de bronze?

Os atletas receberam ainda medalhas comemorativas do seu feito desportivo. Neste dia é certo que o GSB teve a vantagem de não contar com a concorrência do Velo Club de Lisboa, grupo com corredores fortes entre os quais o campeão Francisco Lázaro. Aliás Lázaro viria a correr no nosso Clube em 1911 quando já nos designávamos por SLB.
Escolhi para este texto a corrida de 20 de Outubro mas o que é facto é que uma outra "Corrida da Marathona", igualmente promovida pelo Tiro e Sport se desenrolou em 3 de Maio de 1908 sendo que nesse dia Lázaro e a sua equipa levaram a melhor. Nesse dia Augusto Jorge foi substituído por... José Stromp (alguns detalhes no texto 19 – "Um Stromp â Benfica", pág. 4).


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As medalhas oferecidas aos vencedores pelo Tiro e Sport no dia 3 de Maio de 1908. Medalhas similares foram recebidas por Carlos Marques e pelos restantes atletas do GSB no dia 20 de Outubro de 1908. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Assim se demonstra que pelo menos desde o último trimestre de 1907 o GSB já tinha actividades desportivas de competição. Para lá das actividades de recreio que envolviam o ciclismo e atletismo nas mais diversas modalidades popularizadas na época, um pequeno conjunto dos seus atletas já competia e como vimos com bons resultados. Particular destaque foi assumido por Carlos Marques e por António Fernandes. Atletas campeões à Benfica!


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Uma imagem da linha de partida da Corrida da Marathona de 3 Maio de 1908. Os atletas do GSB tinham os dorsais 1, 2 e 3. Curiosamente o vencedor do ano passado Carlos Marques usou o dorsal nº 2. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 23 de Julho de 2016, 08:31
Obrigado RedVC ;)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Agosto de 2016, 15:25
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Memórias de Viena

Viena, 1964.


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Áustria de Viena, 1964. José Águas, agachado, é o primeiro à esquerda. Fonte: Jean Hardt.


Uma imagem rara. O Gloriosíssimo José Águas, goleador Benfiquista a envergar a camisola do Austria Wien.

Uma imagem infeliz. Mas quase nos engana. Quase parece aquela que foi a sua camisola do coração.

Não sendo uma fotografia a cores percebe-se que seria com toda a probabilidade uma camisola de cor roxa, a cor dominante do Austria Wien.


O Adeus

Fechado o ciclo da Luz, em 1963-1964, José águas fez uma época no Áustria de Viena. Um ano de escasso registo. Como se fosse pecado. Pecado depois de abandonar a camisola vermelha, no que foi uma fusão perfeita para o mais elegante jogador da nossa história.

O texto de hoje pretende dar um vislumbre fotográfico de parte dessa aventura Austríaca. Memórias de Viena.

Mas antes de fazermos essas viagens, deitemos um olhar sobre o último dia de Águas no SL Benfica.


Ponto prévio: considero que José Águas pertence à mais fina flor da Alma Benfiquista. Este é um dos homens que pelo seu talento e dedicação se elevou ao mais alto, ao melhor do que o nosso Clube alguma vez produziu. Águas reuniu tudo, a classe, a garra, a qualidade, o desportivismo, a alegria, o golo!


Carregados de glória, de gratidão mas também de tristeza os Benfiquistas organizaram uma festa de despedida no dia 5 de Setembro de 1963.


(http://i64.tinypic.com/207rj2p.jpg)

(http://i67.tinypic.com/2rz83r6.jpg)
Estádio da Luz, 5 de Setembro de 1963. Festa de despedida de José Águas. Fonte: DL, Fundação Mário Soares.


No Estádio do Sport Lisboa e Benfica, jogadores Benfiquistas e Portistas alinham para dizer adeus a José Águas.


(http://i65.tinypic.com/209plkw.jpg)
Guarda de honra de jogadores do Benfica e do FCP. Fonte: Helena Águas.


(http://i67.tinypic.com/2qle9er.jpg)
Alinhado pela última vez com a camisola vermelha. Fonte: Helena Águas.


(http://i65.tinypic.com/msjhau.jpg)
Com os filhos, Helena, Cristina e Rui. O pequeno Rui sorria. Um dia tal como o Pai comandaria o nosso ataque rumo a uma final Europeia. Fonte: Helena Águas.


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Aos 15 minutos do jogo, deu-se a mais simbólica passagem de testemunho entre avançados centro do Glorioso: José Águas entrega a sua camisola e dá o seu lugar na equipa a José Torres. O bom gigante seria um digno sucessor. Quanta fortuna teve o Benfica em ter estes dois homens nas suas fileiras. Fonte: Helena Águas.


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A emoção veio forte quando Ângelo lhe entregou uma prenda do resto do plantel. Os gigantes também choram.


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Jantar de homenagem a José Águas. O cumprimento do presidentes Fezas Vital. Ali por trás conseguem ver-se as duas Taças dos Clubes Campeões Europeus que ele ajudou a conquistar. Fonte: Helena Águas.


Um grande homem. Um jogador inesquecível. José Águas foi o avançado mais deslumbrante, elegante, correcto mas também letal da nossa história. Só mesmo este homem poderia estar na imagem mais bela da nossa história, em Berna a levantar aquela Taça. Nunca noutra parte da nossa história se resumiu a nobreza, o anseio, a luta, a garra, a vitória Benfiquista numa só imagem. Uma vitória que recompensou tantos que o precederam e que orgulha tantos que lhe sucederam. Por isso e por tudo o que nos deu amamos José Águas e nunca o esqueceremos.

Não admira que num Benfica Ilustrado se tenha dito que José...

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Para sempre!


Memórias de Viena

E depois veio Viena...

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Fonte: Delcampe.


Em 1963 depois de sair do SL Benfica abriu-se um novo embora curto episódio da vida do futebolista José Águas. Um episódio na distante e fria Áustria. Capital Europeia da grande música, cidade de grande requinte.



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Estatísticas de José Águas no Áustria de Viena. Participação em 20 jogos, 9 deles oficiais. Conseguiu um total de 8 golos, sendo 2 deles obtidos em jogos oficiais. Longe dos números de outras épocas. Fonte: Austria-Archiv.


E do conjunto de jogos onde se participou se percebe que foi no Estádio Ernst Happel que José Águas jogou o seu último jogo da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Jogou os 90 minutos no jogo da 2ª mão da primeira ronda pré-eliminatória, ajudando a sua equipa a vencer por 1-0. Na primeira mão tinham perdido na Polónia por igual resultado num jogo em que Águas não participou. O jogo de desempate disputou-se uma semana depois, novamente no Ernst Happel mas mesmo assim o Austria Wien perderia por 2-1 e seria eliminado. José águas não jogou esse jogo de desempate.

http://www.uefa.com/uefachampionsleague/season=1963/clubs/club=50063/matches/index.html]http://www.uefa.com/uefachampionsleague/season=1963/clubs/club=50063/matches/index.html

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Também no campeonato não viriam grandes alegrias pois o Áustria Wien ficaria em 2º lugar atrás do campeão Rapid Wien, que conquistou mais 6 pontos. Aqui encontramos listados os 20 jogos em que José Águas deu a sua contribuição ao clube austríaco:

http://www.austria-archiv.at/spieler.php?Spieler_ID=315&Saison_Display=53 (http://www.austria-archiv.at/spieler.php?Spieler_ID=315&Saison_Display=53)


Ou seja foi uma época desportiva fraca. No dia 20 de Junho de 1964 disputou o seu último jogo contra o Admira Energie. A sua equipa ganhou mas Águas não marcou qualquer golo. E terminou aí.

Não sei se José Águas foi ou não feliz em Viena. É difícil que tenha sido. Terá sido uma mudança muito brusca, apesar deste período austríaco ter sido apenas um breve episódio da sua vida. Seria sempre difícil ter sido feliz quando para trás tinha deixado tantas recordações bonitas, a família, os lugares, as memórias, os dias felizes do Benfica. O coração de José Águas estaria certamente em parte em Lisboa e em parte no Lobito. Em Viena apenas uma curta passagem, uma conclusão digna de uma grande carreira .

Estão disponíveis imagens que captaram alguns desses dias de Viena. Ao vê-las é preciso deixar um sincero agradecimento à sua filha, Helena Águas. A disponibilização destas fotografias, assim como o livro (que tive o prazer de comprar) que ela escreveu sobre o seu Pai são uma generosa e sentimental dádiva a todos Benfiquistas. São parte da história deslumbrante do seu Glorioso Pai.

Aqui ficam, memórias de Viena:


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Em trânsito. Fonte: Helena Águas.


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À chegada a Viena. Fonte: Helena Águas.



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Um momento de descontracção culinária com Jacaré, o seu colega de equipa e amigo Brasileiro. Fonte: Helena Águas.


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Águas, Jacaré e um outro companheiro a serem examinados por um médico – presumo do Austria Wien. Fonte: Helena Águas.


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À mesa num momento de descontracção entre os dois bons amigos. Fonte: Helena Águas.


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Com os filhos, Cristina, Rui e Helena Águas. Fonte: Helena Águas.



E numa homenagem final, deixo aqui a mais bela prosa que alguma vez li sobre José Águas. Deixo as palavras escritas de António Lobo Antunes. Um texto à altura do talento do escritor que o redigiu e que é também uma expressão sincera, profunda e sentimental de um homem que se recorda que enquanto menino teve a fortuna de ver José Águas a espalhar classe nos relvados. Quantos de nós não gostariam de ter tido esse privilégio?



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O senhor Águas

Nunca admirei tanto um atleta como admirei José Águas. Para quê, portanto, ir ao futebol se ele já não se encontra no estádio?
Há mais de trinta anos que não assisto a um jogo de futebol. Não conheço os estádios novos, vejo, às vezes, um bocadinho na televisão. Mas entre os dez e os vinte anos não falhava um jogo do Benfica. E não falhei enquanto Águas jogou. Claro que não era apenas Águas: era Costa Pereira, Germano, Ângelo, Simões, Eusébio, Cavém, o grande Mário Esteves Coluna que Otto Glória considerava o melhor jogador português, outros mais artistas que jogadores, como José Augusto, por exemplo, a todos estou grato pela beleza e a alegria que me deram, porém nunca admirei tanto um atleta como admirei José Águas.

Para quê, portanto, ir ao futebol se ele já não se encontra no estádio? Era a elegância, a inteligência, a integridade, o talento, e ao pensar em escrever o meu desejo era ser o Águas da literatura. Vi Pelé, Didi, Nilton Santos, Puskas, Di Stefano, Santamaria, tantos outros génios, no tempo em que o futebol não era ainda uma indústria nem os jogadores funcionários competentes, comandados por esse horror a que chamam técnicos: era pura criação, uma actividade eufórica, uma magia cinzelada, uma nascente de prazer, uma inspiração, um entusiasmo. Águas foi tudo isso e, muito novo, ganhou o respeito dos colegas, dos adversários, dos jornalistas da época, que os havia de grande qualidade, Carlos Pinhão, Carlos Miranda, Aurélio Márcio, Homero Serpa, tantos outros. Não jogava futebol: criava futebol, respirava futebol, inventava futebol, e teria sido um privilégio para mim conhecê-lo. Não para falar com ele, para o ouvir. A sua beleza física invulgar distinguia-o de todos os outros, a forma de se mover em campo era única, a autoridade sobre os companheiros natural e humilde. Os miúdos que iam comigo à bola chamavam-lhe senhor Águas, sem sonharem que era desse modo que Simões e Eusébio o tratavam, como tratavam Coluna. Senhor Águas, senhor Coluna. Reconhecíamo-lo, do alto do terceiro anel, no estádio de então, onde, de tão longe, os jogadores minúsculos, pelo modo de correr, se deslocar no campo, passar, rematar, reconhecíamo-lo pelos seus golpes de cabeça, inimitáveis, pelo sentido da ocupação do espaço, pela simplificada geometria do seu futebol. Não tinha a garra de Ângelo ou Cavém, a força de Coluna, o gigantesco talento de Eusébio, o poder do drible de Simões, a velocidade de José Augusto: era uma espécie de rei sereno e eficaz, um aristocrata perfeito. Até a andar os olhos ficavam presos nele, na harmonia dos gestos, no modo de ajeitar bola, e eu, criança de dez anos ou adolescente de quinze, pensava tenho de trabalhar mais esta página, ainda não chego aos calcanhares de José Águas. Escrever como ele jogava, com a mesma subtileza e a mesma eficácia. Escrever como a equipa do Benfica, umas vezes à Ângelo, outras à Germano, outras à Coluna, e finalizar à Águas. Nunca deve ter ouvido falar em mim nem podia adivinhar que um garoto qualquer o tomava não apenas como mestre de futebol mas como mestre de escrita. Só, mais tarde, certos saxofonistas de jazz, Bird, Coltrane, Webster, Coleman, Hodges, alguns mais, tiveram, sobre o meu trabalho, influência semelhante. Mas Águas foi o meu primeiro e indisputado professor: escreve como ele joga, meu estúpido, aprende a escrever como ele jogava. Como morava em Benfica via-o, às vezes, no autocarro do clube e ficava, pasmado de admiração, a fitá-lo. Isto lembra-me o meu irmão Nuno chegando a casa de dedo no ar

- Toquei no Eusébio, toquei no Eusébio

como provavelmente, eu o faria, porque na infância e na adolescência o futebol era, para além de uma aprendizagem do mundo, um prazer infinito. A cor dos equipamentos
(o meu amigo Artur Semedo:

- Não sou um homem às riscas, sou homem de uma cor só)

a entrada em campo, o hino, tudo isto me exaltava e fazia feliz. E as vitórias, comemoradas em Benfica com bebedeiras eufóricas. Uma das minhas glórias secretas, confesso-o agora, consiste em ter visto a fotografia do meu pai no balneário do hóquei em patins do Benfica, de ele ter estado no Campeonato da Europa de 1936, em Estugarda, com vinte ou vinte e um anos, e de brincarmos com uma caixa de lata cheia de medalhas, a que o meu pai não dava importância alguma e eu considerava inestimáveis. Há pouco, a minha mãe

- O que faço eu a isto?

exibindo-me uma espécie de troféu ou de placas num estojo, que alguns anos antes de morrer a Federação de Patinagem lhe entregou, juntamente com outras antigas glórias, e que me recordo de o meu pai, que não saía, ir receber com satisfação secreta. Mas, claro, eu era só filho do Lobo Antunes, não era filho do Águas, e ainda sei medir as distâncias.

Portanto, o que vou eu fazer a um campo de futebol se ele já não joga? Seguir os funcionários competentes de um negócio? Assistir ao bailado dos técnicos? Ver a fantasia substituída pela sofreguidão, a ambição pela avidez, o amor ao clube pela violência idiota? Claro que continuo a querer que o Benfica ganhe. Claro que sou, como em tudo o resto, parcial, sectário, por vezes sem bom senso algum. Mas há séculos que não sofro com as derrotas e, sobretudo, não choro lágrimas sinceras com elas: estou-me nas tintas.

Contudo voltaria a trotar, radiante, para assistir à entrada em campo de Costa Pereira, Mário João, Germano, Ângelo, Cavém, Cruz, José Augusto, Eusébio, Águas, Coluna e Simões, a agradecer-lhes o facto de me terem, durante anos e anos, colorido a existência. E talvez no fim do jogo, postado junto ao autocarro, quando os jogadores saíssem do balneário, o senhor Águas me apertasse a mão.



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Fonte: Revista Visão
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: faneca_slb4ever em 04 de Agosto de 2016, 09:36
É brutal ler isso :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Agosto de 2016, 20:51
-118-
Taça Charles Miller '55 (parte I): O torneio e o seu tempo.

A Taça Charles Miller na sala de troféus do SC Corinthians,

(http://i68.tinypic.com/33dio8w.jpg)A Taça Charles Miller disputada em 1955 no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Fonte: todopoderosotimao.com


Esta taça foi disputada entre Junho e Julho de 1955 num torneio que decorreu no Rio de Janeiro e em São Paulo, Brasil. Entre os seis participantes do torneio esteve o Sport Lisboa e Benfica. Apesar de não termos vencido esta competição o nosso Clube tem no seu Museu uma réplica oferecida pela CBD dado o brilhantismo atingido pela nossa equipa durante o torneio.

A fotografia do troféu será o ponto de partida para em onze textos se evocar a inesquecível participação do Sport Lisboa e Benfica nesse Torneio Charles Miller:

•   -118- O torneio e o seu tempo.
•   -119- A comitiva Benfiquista.
•   -120- Esses loucos dias cariocas.
•   -121- Entre treinos e feijoadas.
•   -122- Mengo, Mengão; Azarão!   
•   -123- Escaramuças Uruguaias!
•   -124- Doces Palmeiras.
•   -125- America amarga.
•   -126- O "caseiro" Alemão.
•   -127- Gente boa que se vai!
•   -128- O regresso dos heróis.


Como se demonstrará, esse torneio trouxe grande prestígio ao Sport Lisboa e Benfica no Brasil. Cinco anos antes, o SLB tinha feito uma grande digressão pela África lusófona aumentando significativamente a paixão e a adesão do nosso Clube nessas paragens.

Agora chegava a vez do país irmão, o maior espaço da Lusofonia. Era o tempo certo depois da feliz contratação do carioca Otto Glória. Entre 19 de Junho e 10 de Julho a comunidade Lusa no Brasil e os próprios Brasileiros tiveram a ocasião de perceber a grande dimensão social e desportiva do Sport Lisboa e Benfica.

Ao talento e competitividade exibida pela nossa equipa nos relvados Brasileiros somou-se a simpatia e a classe da nossa comitiva fora deles. A digressão de 1955 foi um marco inesquecível para a universalidade do Benfiquismo! Serão desses dias de intenso brilho Benfiquista que falaremos nos próximos textos.


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A Taça Charles Miller de 1955

A Taça Charles Miller foi uma competição de futebol organizada pela Federação Paulista de Futebol, tendo sido disputada desde 1954 até 1958. Foi realizada em substituição da "II Copa Rivadácia" cuja organização a CBD não conseguiu concretizar. Assim, patrocinada sob os auspícios do Conselho Técnico da CBD, a edição de 1955, disputada entre 19 de Junho e 10 de Julho, foi a única que teve um formato internacional. Nesse ano, o torneio contou com a presença do Sport Lisboa e Benfica, campeão de Portugal e do Clube Atlético Peñarol, campeão do Uruguai.

Os dois convidados internacionais não foram escolhidos por acaso. O Sport Lisboa e Benfica chegou ao Brasil prestigiado por ter sido campeão de Portugal nesse ano e por ter ganho a Taça Latina cinco anos antes. Era igualmente reconhecido como o Clube mais popular de Portugal. Aliás, como veremos, o SL Benfica confirmou-se como um Clube que atraía massas, cativando a preferência da comunidade Lusa no Rio de Janeiro e de São Paulo. Ao que parece o SL Benfica terá recebido 85 mil escudos por cada partida do torneio. Essas verbas, interessantes para a época, acabaram por ser o dinheiro mais bem gasto pelos organizadores. A participação do SLB foi um óptimo negócio para a CBD, uma vez que a nossa equipa teve um grande desempenho desportivo, encheu os estádios e com isso salvou financeiramente o torneio.

Já o Clube Atlético Peñarol, campeão Uruguaio no ano anterior, foi uma escolha com um significado muito particular. Cinco anos antes, o Uruguai derrotou o Brasil (1-2) na final do Campeonato do Mundo de 1950. Nesse dia 16 de Julho de 1950, em pleno Maracanã, o Uruguai infligiu a mais traumática derrota desportiva do Brasil de sempre. O "Maracanazzo" provavelmente suplantou em dramatismo a recente e humilhante derrota Brasileira na meia-final do Mundial 2014 contra a Alemanha (1-7). Foi uma tragédia nacional.


https://www.youtube.com/watch?v=GsIAbswXwlY (https://www.youtube.com/watch?v=GsIAbswXwlY)


O Peñarol representava um futebol imensamente prestigiado pelos títulos olímpicos de 1924 e os títulos de campeão mundial de 1930 e 1950. As realidades futebolísticas Sul-Americanas daquele tempo eram diferentes. Nesse ano de 1955 o Brasil nunca tinha sido campeão mundial e ao invés o Uruguai tinha dois títulos mundiais. Faltavam ainda três anos para o mundial da Suécia e Pelé ainda nem sequer tinha aparecido no Santos. E assim se entende melhor a importância da participação do Peñarol na Taça Charles Miller '55.

Inicialmente a CBD terá tentado organizar um torneio octagonal integrando o Honvéd (Hungria) e uma outra equipa Europeia – falando-se na Fiorentina (Itália), Newcastle ou Chelsea (Inglaterra), entre outras. Terão sido questões de verbas que inviabilizaram que Puskas, Kocsis, Czibor e restantes companheiros acabassem por não entrar neste torneio. Assim a competição no seu formato final envolveu seis equipas que jogaram todas entre si.


Os cinco jogos do Benfica ficaram assim calendarizados:

(http://i67.tinypic.com/rvy4g5.jpg)


Ou seja o Benfica defrontaria os clubes cariocas e o Peñarol na cidade do Rio de Janeiro e deslocar-se-ia a São Paulo para defrontar os clubes Paulistas. Ainda se terá levantado a hipótese de o Benfica jogar no Maracanã contra o Corinthians mas o facto de o encontro ser decisivo para o desfecho do torneio acabou por fazer com que o Corinthians não saísse da sua cidade e do seu estádio.


Quem foi Charles Miller?

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Segundo a ideia mais consensual entre os especialistas, Charles Miller foi o introdutor do futebol no Brasil por volta de 1894. Também por essa altura Charles Miller terá também introduzido o râguebi no Brasil. A seguir resume-se um conjunto de factos retirados do museudosesportes.blogspot.com.br.

Charles Miller nasceu em São Paulo no dia 24 de Novembro de 1874. Nascido no seio de uma família abastada era filho de pai Escocês e mãe Brasileira mas de origem Inglesa. Aos 10 anos, após concluir a sua formação escolar primária, Charles foi estudar em Inglaterra onde numa escola pública em Hampshire completou a sua educação. Por lá estudou durante 10 anos e por lá também aprendeu a praticar diversos desportos, entre os quais futebol, cricket, ténis e râguebi. Em 18 de Fevereiro de 1894, quando regressou ao Brasil diz-se que trouxe na bagagem duas bolas usadas, um par de chuteiras, um livro com as regras do futebol, uma bomba de encher bolas e uniformes usados. Estaria decidido implantar a prática desse desporto no Brasil.

"Os primeiros jogos tiveram lugar na Chácara Dulley, no bairro do Bom Retiro. Outras partidas foram disputadas na Várzea do Carmo, em terrenos da municipalidade. O primeiro jogo foi disputado entre o The Team do Gás, integrado por empregados daquela Companhia e o The S.P. Railway Team formado por funcionários dessa ferrovia. Isso aconteceu no dia 15 de abril de 1895. A primeira tarefa dos atletas ao chegarem ao campo foi enxotar do mesmo os animais da Cia. de Viação Paulista que pastavam. Logo depois foi iniciado o jogo que transcorreu interessante, sendo que alguns jogadores utilizavam calças por falta de uniforme adequado. Venceu a equipe do S.P. Railway, por 4x2. Charles Miller estava entre os vencedores. Quando terminou o jogo, havia o compromisso para se promover um segundo encontro."
Fonte: museudosesportes.blogspot.com.br

Charles Miller jogaria futebol no São Paulo Athletic Clube até 1910 e depois disso viria ainda a ser árbitro. Foi funcionário da Mala Real Inglesa (Royal Mail Line ; uma das principais companhias britânicas de navegação). Com setenta e nove anos de idade, morreu no dia 30 de Junho de 1953. Não admira que a CBD logo em 1954 o tenha querido homenagear com a instituição de uma Taça com o seu nome.


https://www.youtube.com/watch?v=gRtDPCNhqRE (https://www.youtube.com/watch?v=gRtDPCNhqRE)

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Charles Miller numa fase mais avançada da sua vida. Fonte: TV Globo.


É interessante estabelecer comparações com o que se pensa ter acontecido em Portugal. A data de 1894 significa que a introdução do futebol em Portugal continental precedeu o Brasil em cerca de seis anos. Se pensarmos no evento de 1875 na Madeira por acção do Inglês Charles Hilton então a diferença aumenta para dezanove anos. Em ambos os casos foram estudantes em Inglaterra que ao regressar ao país de origem trouxeram a ideia e meios para promover a prática do futebol. No caso de Portugal foram os irmãos Guilherme, Eduardo Luís e Frederico Pinto Basto e no caso do Brasil foi Charles Miller.

Durante o século seguinte o Brasil tornou-se um dos países mais apaixonados na prática do desporto-rei. O Brasil atingiu uma posição cimeira em vários períodos do século XX. É actualmente penta campeão mundial tendo dado ao mundo jogadores que foram expoentes máximos do virtuosismo e da beleza do futebol: Friedenreich, Leónidas, Pelé, Coutinho, Garrincha, Vává, Didi, Tostão, Gérson, Rivelino, Jairzinho, Zico, Ronaldo e Ronaldinho. No Brasil nasceriam ainda Clubes de grandeza ímpar no futebol mundial: Vasco da Gama, Botafogo, America, Fluminense e Flamengo no Rio de Janeiro; Santos, Corinthians, São Paulo, Palmeiras em São Paulo; Grémio e Internacional em Portoalegre; Cruzeiro e Atlético Mineiro em Minas Gerais; entre tantos e tantos outros. Do Brasil viriam ainda para o futebol Benfiquista nomes que estão inscritos a ouro nos melhores de sempre: Ricardo Gomes, Mozer, Valdo, Izaías, Luisão, Júlio César e Jonas. E tudo começou num certo Charles Miller.


As equipas do torneio

Dadas as peculiaridades históricas e a grande dimensão territorial do país, o Brasil tem uma história única e complexa no que concerne às competições de futebol à escala nacional. Até ao final da década de 50 os clubes competiam essencialmente nos campeonatos estaduais, sendo os jogos entre clubes de diversos estados considerados particulares, o que não queria dizer que tinham menos importância. Não existindo organização, existiu sempre qualidade e competição acesa. De 1933 a 1966 existiu um campeonato Rio-São Paulo, competição algo irregular e que apenas estabilizou na década de 50. Apenas em 1959 foi criado um torneio nacional, a Taça Brasil que resultou de um alargamento do torneio Rio-São Paulo. Em 1967, o Torneio Rio-São Paulo foi expandido para incluir equipes de outros estados, designado como Torneio Roberto Gomes Pedrosa, e popularmente conhecido por "Robertão". Essa terá sido a primeira competição Brasileira à escala nacional.

Outro facto interessante é a precocidade dos contactos internacionais entre equipas Brasileiras e Europeias, isto apesar das condicionantes geográficas. Como já aqui falamos um desses primeiros contactos envolveu a visita de uma equipa da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) ao Brasil durante o mês de Julho de 1913. Essa equipa, que pode ser considerada como uma selecção de Portugal, era capitaneada e orientada tecnicamente pelo nosso Cosme Damião (ver os textos 46-47). Facto fundamental é que oito dos dezasseis jogadores dessa comitiva eram Benfiquistas. Essa equipa da AFL disputou jogos no Rio de Janeiro e em São Paulo. Já nessa altura a equipa portuguesa não se ficou pela componente desportiva assumindo também uma agenda carregada com compromissos sociais. Depois disso e até 1955 diversos Clubes Brasileiros vieram em digressão a Portugal, com particular destaque para a digressão do Vasco da Gama a Portugal em 1931 (ver texto 43).

Do que atrás se referiu poder-se-á concluir que o melhor futebol Brasileiro se jogava essencialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. O futebol Paulista era considerado mais técnico enquanto o do Rio de Janeiro era mais competitivo e viril. Existiam muitos Clubes com equipas forte com grande nível competitivo mas não existia um campeonato Brasileiro à escala nacional.

Assim se compreendem os critérios estabelecidos pela CBD para o grande torneio de 1955. Foram convidados o campeão e vice-campeão de 1954 dos Campeonatos Carioca (Flamengo e America, respectivamente) e Paulista (Corinthians e Palmeiras, respectivamente). A estes clubes juntaram-se o Sport Lisboa e Benfica, campeão português de 1954-1955, e o CA Peñarol, campeão uruguaio de 1954. Dos seis clubes participantes apenas dois (Flamengo e Peñarol) apresentam uma data de fundação anterior à do Sport Lisboa e Benfica.

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O futebol Benfiquista em 1954-1955

A digressão do SLB ao Brasil em 1955 ocorreu numa época de profunda transformação do nosso Clube. O Clube celebrava os seus 50 anos e logo com a inauguração do Estádio da Luz.


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A equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica que defrontou o FCP (1-3) no dia 1 de Dezembro de 1954, dia da inauguração do Estádio da Luz. De pé, da esquerda para a direita: Angelino Fontes, Costa Pereira, Jacinto, Ângelo, Naldo, Caiado, Artur, Bastos, Otto Glória. Em baixo: Palmeiro, Coluna, Águas, Calado, Du Fialho.

Futebolisticamente, a época de 1954-1955 foi uma das mais decisivas de sempre da história do SLB. O nosso Clube estava há quatro anos sem ganhar o campeonato, vendo o SCP conquistar um até aí inédito tetra-campeonato. Apesar de reconhecidamente contarmos com excelentes praticantes não conseguíamos traduzir essa qualidade em títulos. Havia também que renovar a equipa e aliviar uma folha salarial pesada. O presidente Joaquim Ferreira Bogalho e os seus companheiros de Direcção decidiram operar uma completa revolução no futebol do Clube. A medida nuclear para essa revolução foi a contratação de Otto Glória, um treinador Brasileiro que tinha orientado os clubes cariocas CR Vasco da Gama, o America FC e o Olaria.

Otto Glória foi o primeiro Brasileiro a orientar a nossa equipa de futebol. Foi uma escolha feliz pois o Brasileiro trouxe uma verdadeira revolução ao futebol Benfiquista com a sua sagacidade e competência técnica mas também com um conjunto de inovações que mudaram para sempre o futebol Português. Numa década, assente nas suas inovações e num conjunto inigualável de jogadores, o Benfica ascenderia ao topo da Europa.

Com Otto vieram regras duras, mais disciplina, maior capacidade atlética e maior velocidade de jogo. Otto trouxe também inovações tácticas e aumentou a concentração e o rigor competitivo da equipa. Foi criado um lar do jogador onde moravam a tempo inteiro os solteiros e a tempo parcial os casados (geralmente de 5ª feira até 2ª feira de manhã). Esse local permitia o desenvolvimento de um espírito de grupo e o aumento da concentração individual e colectiva antes dos jogos. Foi também criado um bem equipado departamento médico capaz de responder às exigências do Benfica.

Igualmente decisiva foi a mudança de paradigma imposta no profissionalismo no futebol do Clube. Não mais eram permitidas interferências de dirigentes (presidente incluído) no trabalho técnico e em particular no balneário. Não mais foram toleradas outras actividades profissionais dos jogadores da primeira equipa. Por esses e outros motivos, considerando o início de época anterior, abandonaram o Clube 7 jogadores com um passado de grande notoriedade (Rogério Pipi, Mário Rui, Julinho, Moreira, Fernandes, Rosário e Félix) e 6 jogadores com aparecimento esporádico na equipa titular (António Manuel, Neves Pires, José Batista "Bicho", Gonzaga, Júlio, José Henrique Vaz). Muitos desses jogadores estavam em fase final da carreira. Alguns tinham profissões paralelas onde auferiam proventos importantes especialmente se pensarmos que nesse tempo os rendimentos do futebol não garantiam o futuro dos futebolistas e das suas famílias. Foi esse justamente o caso de Rogério Lantres de Carvalho. O popular "Pipi" optou por abandonar o Clube e privilegiar a sua vida como vendedor de automóveis onde conseguia bons proventos. Prosseguiu assim a sua actividade futebolística amadora no Oriental durante mais alguns anos onde mostrou a sua classe. Com todas essas saídas, o Benfica partia para uma nova época aparentemente bastante enfraquecido. Puro engano.


(http://i65.tinypic.com/219aog5.jpg)Rogério Pipi no Oriental saudando Bastos e Jacinto, seus antigos colegas. Fonte: Delcampe.


No início da época 1954-1955 a Direcção Benfiquista garantiu a contratação de jogadores pouco conhecidos dos sócios. Felizmente dois deles, os jovens jogadores Moçambicanos Alberto da Costa Pereira e Mário Esteves Coluna viriam a revelar-se decisivos não apenas nessa época mas também durante a década seguinte.


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Algumas das contratações do futebol do SLB, época de 1954-1955. Entre jogadores que passaram quase anónimos pelo Clube estavam os imortais moçambicanos Costa Pereira e Coluna. Fonte: Em Defesa do Benfica.


No final dessa época dura e competitiva, o Sport Lisboa e Benfica celebrava o seu 8º título de campeão nacional de futebol, o primeiro no Estádio da Luz. Ainda assim tudo podia ter sido diferente uma vez que esse título foi conquistado no limite e com alguma fortuna num dia de dramáticas decisões. Tudo se passou na tarde de 24 de Abril de 1955. No Estádio da Luz vivia-se um ambiente deprimido apesar do SLB ir vencendo o Atlético por conclusivos 3-0. Os olhos estavam no relvado da Luz mas os ouvidos estavam no relato da rádio que iam contando o que se passava no Estádio das Salésias. Por lá, o CF Belenenses ia vencendo o SCP por 2-1, resultado que fazia dos azuis de Belém campeões nacionais.


(http://i66.tinypic.com/15rmixl.jpg)Momento decisivo. A 4 minutos do fim golo de Martins, empate para o SCP e título para o SL Benfica. Fonte: Diário de Lisboa; Fundação Mário Soares.


Mas a 4 minutos do fim desse jogo, um golo de Martins deu o empate ao SCP! Ironia do destino, esse golo do SCP fazia a Luz explodir de alegria! Esse golo do SCP dava o título de campeão nacional ao SLB. Esse golo levou a Luz à festa do seu primeiro título! ´Nunca um golo do SCP foi tão doce para o SLB e nunca um golo do SCP foi tão amargo para o CFB. O Diário de Lisboa na sua edição de 25 de Abril de 1955 resumia o que tinha sido a época e o mérito da equipa do Sport Lisboa e Benfica.


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Fonte: Diário de Lisboa 25 Abril 1955; Fundação Mário Soares.


(http://i64.tinypic.com/34sqtqt.jpg)
Sport Lisboa e Benfica, campeão nacional de 1954-1955. De pé, esquerda para a direita: Angelino Fonte, Bastos, Jacinto (cap.), Pegado, Naldo, Ângelo, Caiado, Alfredo, Artur, Costa Pereira. Agachados: Calado, Arsénio, Palmeiro, Azevedo, Águas, Coluna, Salvador, Du fialho e Zézinho. Fonte: Delcampe.


No próximo texto falar-se-á com detalhe da comitiva Benfiquista ao torneio Charles Miller de 1955.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 25 de Agosto de 2016, 18:47
Fantástico esse campeonato, ganho mesmo no photo-finish!  :D

Já do lado oposto, teremos 77/78, o tal invicto mas que mesmo assim perdemos por diferença de golos para o porto; o 85/86 com aquela estúpida derrota com os lagartos na Luz na penúltima jornada; e claro, 12/13  :disgust:

Haverá mais campeonatos ganhos ou perdidos in extremis pelo Benfica?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Agosto de 2016, 19:51
Citação de: Bakero em 25 de Agosto de 2016, 18:47
Fantástico esse campeonato, ganho mesmo no photo-finish!  :D

Já do lado oposto, teremos 77/78, o tal invicto mas que mesmo assim perdemos por diferença de golos para o porto; o 85/86 com aquela estúpida derrota com os lagartos na Luz na penúltima jornada; e claro, 12/13  :disgust:

Haverá mais campeonatos ganhos ou perdidos in extremis pelo Benfica?

Como referes tivemos essas infelicidades. Mas há outra ainda mais antiga.

Em 1947/48 perdemos um campeonato para o SCP por disputa de confrontos directos. Por 1 golo. Foi o célebre campeonato do pirolito. Era treinador o Húngaro Lipo Hertzka.

Foi um campeonato inacreditável pois tínhamos ganho por 3-1 no campo do Lumiar (SCP) na primeira volta e depois estragamos tudo quando eles foram ao Campo Grande (nosso) ganhar por 4-1.

O SCP era treinado por Cândido de Oliveira, um génio do nosso futebol. Grande futebolista, grande treinador, grande pensador. Co-fundador do jornal "A Bola". Uma personalidade fascinante que foi selecionador nacional, treinador do SCP, do FCP, do CFB, da ACA, do Flamengo do Rio de Janeiro, etc.

Mas Cândido Oliveira nunca foi treinador do Sport Lisboa e Benfica. O seu grande amigo António Ribeiro dos Reis, e muitos outros notáveis Benfiquistas nunca permitiram que isso acontecesse. No princípio da década de 20 Cândido abandonou o SLB para fundar o Casa Pia Atlético Clube. Levou com ele a maior parte da equipa (campeã nesse ano). Logo ele que era o homem em quem Cosme confiava para lhe suceder como o grande organizador, o grande pensador do Clube.

E nesse tempo quem saia do Benfica a mal nunca mais voltava.

E Cândido de Oliveira nunca escondeu que o seu coração era...  Benfiquista! De um lado e de outro, todos homens de fibra. Verticais até ao fim. Mas foi de cortar o coração.


(actualizado...)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Agosto de 2016, 20:03
-119-
Taça Charles Miller '55 (parte II): A comitiva Benfiquista.

(http://i67.tinypic.com/dysjsg.jpg)


E assim foi num clima de euforia associativa que o Sport Lisboa e Benfica embarcou para o Brasil na noite do dia 14 de Junho de 1955 para disputar a Taça Charles Miller. Com as vacinas e passaportes em ordem, os 17 Gloriosos jogadores, 2 treinadores, 4 dirigentes e 1 árbitro foram:

(http://i64.tinypic.com/slpmp3.jpg)


Lista dos 17 jogadores que integraram a comitiva Benfiquista para a digressão Sul-Americana. Ordenação por antiguidade.

(http://i64.tinypic.com/10zom5z.jpg)
Nota: valores sujeitos a confirmação por terem sido retirados do Almanaque do Benfica (pouco fiável)


Ou seja um grupo com uma média de idades de 26 anos, mesclando jogadores jovens e quatro trintões.

Na baliza tínhamos Costa Pereira e Bastos, dois enormes guarda-redes alternaram a titularidade nos anos seguintes. Nesse ano o recém-chegado Costa Pereira tinha ganho vantagem e era o titular absoluto.

A defesa era comandada pela serenidade do capitão de equipa Jacinto, que com os seus 34 anos era o mais veterano da equipa. Ao seu lado jogava Artur Santos que se destacava pelas suas capacidades atléticas e eficácia.

O meio campo era comandado pelo trintão Fernando Caiado, mas Mário Coluna com apenas 20 anos de idade começava a impor-se logo na sua primeira época de águia ao peito. Nos anos seguintes Coluna tornar-se-ia o mais extraordinário centrocampista da história do SLB.

No ataque destacava-se José Águas, um outro Africano e seguramente o mais elegante avançado de sempre no nosso Clube. Letal. Estávamos a apenas seis anos da primeira glória Europeia Benfiquista e a nossa equipa já integrava cinco futuros campeões europeus: Costa Pereira, Artur Santos, Ângelo, Mário Coluna e José Águas.

Para além das capacidades atléticas desses jogadores deve notar-se que existiam personalidades muito diferentes naquela equipa. Para além do seu talento futebolístico, a personalidade dos jogadores chave da equipa foi um elemento fundamental para o sucesso que viria. Otto Glória estava a lançar não apenas as bases do sucesso dessa equipa mas também as bases dos sucessos das equipas que vieram na década seguinte. É por isso pitoresco ver como num jornal Brasileiro vieram retratadas as curiosas personalidades de alguns dos jogadores da comitiva.


(http://i65.tinypic.com/2rqerdj.jpg)
Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Listando o que esse jornal Brasileiro publicou, deliciem-se com a diversidade do nosso grupo:

•   Costa Pereira "a alegre cigarra, rei dos "penalties" e do público feminino de Lisboa";
•   Caiado "a formiga no duro, trabalhadora e económica";
•   Ângelo "o neurasténico (mania das doenças) e piadista";
•   Águas "a criança grande, social, brincalhão e doce de coco do público feminino";
•   Palmeiro "o irrequieto bem-humorado";
•   Zézinho, leitor compulsivo de clássicos (Guerra Junqueiros, Eça de Queiroz, etc);
•   Alfredo "o três pés, dono de uma adega";
•   Arsénio "a enciclopédia ambulante que sabe tudo e guarda tudo";
•   Jacinto "o calmo industrial de cortiça";
•   Coluna "o caçula taciturno que falando o mínimo faz o máximo";
•   Artur "o meio advogado, presidente da Caixa dos defensores dos colegas".


Curiosamente, apesar da mudança do futebol Benfiquista para o profissionalismo, imposta por Otto no princípio dessa época, os jornais Brasileiros deram a entender que os jogadores mantinham outras actividades que lhe davam bons rendimentos. Esses "empregos" eram


(http://i67.tinypic.com/9qiwj8.jpg)
Fonte: Diário da Noite.


•   Costa Pereira - telegrafista de aviação;
•   Bastos - desenhista;
•   Jacinto - dono de indústria de cortiça;
•   Artur Santos – dono de mercearia;
•   Monteiro - radiotécnico;
•   Caiado - desenhista da camara municipal de Lisboa;
•   Alfredo - dono de restaurante;
•   Ângelo - industrial de calçado;
•   Calado - caixa de banco em unidade bancária do presidente Bogalho;
•   Pegado - tradutor público de Inglês e Francês;
•   Coluna - estudante;
•   Palmeiro - estudante;
•   Salvador – estudante;
•   Arsénio - empregado de escritório;
•   Vieirinha - dono de mercearia;
•   José Águas – estudante.


Os que não foram

Ficaram de fora da digressão pelo menos 5 elementos do plantel de 1954-1955. Desses, dois tiveram grande destaque no campeonato nacional dessa época, Naldo (defesa) e Du Fialho (avançado). Este último tinha contraído uma fractura numa perna num jogo contra o CFB. Havia também Garrido, outro avançado igualmente lesionado com uma fractura num braço. A perda desses dois avançados reduziu o poder de fogo da nossa equipa levando Otto Glória a integrar Vieirinha, um jogador importante noutras épocas mas que nesse tempo já era reservista e estava de saída do Clube. Azevedo e Mendes, outros dois promissores avançados, acabaram por também não ser integrados na comitiva apesar de Azevedo ter tido participação positiva no campeonato dessa época.


(http://i67.tinypic.com/20fsta8.jpg)

No final da época, a nossa equipa receberia o reforço de 5 novos jogadores mas nenhum integrou a digressão ao Brasil. Desses, apenas Cavém vindo do Sporting da Covilhã se revelou mais tarde um indiscutível. Cavém foi aliás um dos melhores jogadores da história do SLB, tendo tido um papel chave nos sucessos do final dessa década de 50 e da Gloriosa década de 60.

(http://i63.tinypic.com/8xow0z.jpg)

(http://i68.tinypic.com/2h5isg5.jpg)




É curioso ainda notar que à semelhança do que se passou em diversas digressões de outras equipas de futebol Portuguesas ao Brasil, alguns jornais falaram que o SLB poderia levar jogadores de outros clubes para fortalecer alguns sectores da equipa. No passado o SCP em 1928 tinha levado Roquete (Casa Pia) e Carlos Alves (Atlético do Porto), o Vitória de Setúbal em 1929 levou esses mesmos dois jogadores e ainda Gustavo (Casa Pia) e Tamanqueiro (Olhanense) e novamente o SCP em 1951 levou Ben David (Atlético) e Vieirinha (Estoril).

Em concreto especulou-se que o Benfica poderia levar Matateu, o extraordinário avançado do CF "os Belenenses". Do ponto de vista histórico teria sido curioso ver Matateu a jogar pelo SLB tanto mais que o nosso grupo estava enfraquecido nas suas opções atacantes. Mas o SL Benfica é um Clube diferente e assim essa possibilidade – se é que alguma vez existiu - foi desmentida pelos nossos dirigentes. Ao invés, Ribeiro dos Reis salientaria com orgulho de que o nosso Clube só iria levar ao Brasil jogadores de futebol que pertencessem aos seus quadros. Matateu ficaria em Lisboa para ajudar o CFB a vencer o CR Vasco da Gama que nessa altura estava em digressão em Portugal.

A comitiva Benfiquista integrou também o treinador Otto Glória e o massagista/adjunto Adelino Fontes. Estavam igualmente presentes 4 dirigentes do Clube, a saber, Joaquim Ferreira Bogalho (presidente), Manuel Abril Júnior (tesoureiro), José Ricardo Domingues Júnior (director), Agostinho Paula (director). Ou seja o nosso Clube estava representado ao mais alto nível. A duração da digressão e o volume e a importância social dos locais e instituições a visitar eram grandes e exigentes, justificando esse forte peso institucional e executivo.

Joaquim Ferreira Bogalho, foi o maior presidente da História do SLB. Foi Águia de Ouro em 1938 ou seja 14 anos antes de assumir a presidência do Clube. Foi presidente do SLB de 15/03/1952 a 30/03/1957. Nesses cinco anos concretizou a construção do Estádio da Luz, o grande objectivo que propôs para os seus mandatos. As obras iniciadas em 14 de Junho de 1953, decorreram de tal forma que no ano seguinte, a 1 de Dezembro de 1954, o belo Estádio foi inaugurado. Quando abriram as portas, o Estádio estava integralmente pago. Mas Bogalho não foi apenas o homem do Estádio, foi também o homem que lançou as bases do profissionalismo e que instalou uma estrutura competente que começou a detectar e a contratar os melhores jogadores Portugueses, em particular nas colónias Portuguesas do Ultramar. Não querendo ser injusto com outros presidentes, foi sobre a presidência de Bogalho que o SLB se agigantou e deu tradução desportiva à primazia na preferência popular que existia já desde o nosso nascimento. Foi na sua presidência que se lançaram as bases para a glória dos anos 60 que nos distanciou definitivamente dos nossos opositores.

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Joaquim Ferreira Bogalho cedendo à emoção do momento. Reconhecem-se Gastao Silva e Paulino Gomes Júnior. No dia 1 de Dezembro de 1954 o Sport Lisboa e Benfica inaugurava o mais belo Estádio que alguma vez existiu. Fruto da comunhão e entusiasmo dos Benfiquistas foi em Ferreira Bogalho que se personificou o melhor de todos.
De todos Um.


Por fim dado o carácter multinacional do torneio e satisfazendo um pedido da CBD à FPF, com a nossa comitiva viajou ainda o árbitro José Santos Marques que integrou um corpo de árbitros com brasileiros, um uruguaio e um alemão.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 26 de Agosto de 2016, 16:28
Obrigado por estes textos!

Se o Benfica se tornou no gigante que se tornou, realmente muito se deveu ao trabalho de sapa destas pessoas, que o fizeram por companheirismo e por amor ao clube. Foram eles que puseram o Benfica na rota de se tornar no maior clube Português e um grande da Europa.  :bow2:

Ps: Águas: "doce de coco do público feminino"  ;D

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Agosto de 2016, 20:32
Citação de: Bakero em 26 de Agosto de 2016, 16:28
Obrigado por estes textos!

Se o Benfica se tornou no gigante que se tornou, realmente muito se deveu ao trabalho de sapa destas pessoas, que o fizeram por companheirismo e por amor ao clube. Foram eles que puseram o Benfica na rota de se tornar no maior clube Português e um grande da Europa.  :bow2:

Ps: Águas: "doce de coco do público feminino"  ;D


Obrigado Bakero.

:cool2:

Há várias descrições deliciosas. A de Costa Pereira é também hilariante: "a alegre cigarra, rei dos "penalties" e do público feminino de Lisboa".

A imprensa do Brasil era muito agressiva, bastante avançada para a época. E claro, alguns tentaram explorar a novidade de terem aquela rapaziada alegre e simpática.

Os nossos rapazes eram profissionais e portaram-se de forma digna. Mas claro tinham direito a se divertir nas horas livres. E meninas à volta de rapaziada de futebol era coisa não muito rara no Brasil da década de 50.

Aliás a esse propósito aconselho o texto "Entre treinos e feijoadas". Fica aqui um cheirinho de parte do programa social mais leve da nossa rapaziada.

(http://i68.tinypic.com/1grbwh.png)

Mas houve também um  programa social sério e exaustivo.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Agosto de 2016, 21:00
-120-
Taça Charles Miller '55 (parte III): Esses loucos dias cariocas.

(http://i67.tinypic.com/2niwxi.jpg)


A chegada ao Rio de Janeiro


(http://i67.tinypic.com/2i1e3i8.jpg)
1 - A comitiva Benfiquista a descer para terra Brasileira. O presidente Ferreira Bogalho e o dirigente Manuel Abril à frente. 2 – A comitiva chega à zona de desembarque do aeroporto. À frente reconhecem-se J. R. Domingues Júnior, Artur Santos, Bastos e o capitão Jacinto. 3 – A primeira fotografia de grupo em terras brasileiras. Reconhecem-se entre outros, no primeiro plano: Monteiro. Coluna, Arsénio Alfredo, Palmeiro e Ângelo. Atrás de pé, Bastos, Salvador, Artur Santos, Angelino Fontes, Calado. 4 – José Águas sempre simpático exibindo a sua muito viajada mala. 5 – O batalhão de fotógrafos alinhados para captar as fotografias do grupo Benfiquista. 6 - O zeloso e muito "xingado" funcionário do aeroporto do Galeão. O homem de nome Telmo apareceu em diversos jornais. "Xingado" por todos mas "famoso" por um dia. Fonte: Última Hora e A Noite; Hemeroteca Brasileira.


A comitiva do Sport Lisboa e Benfica chegou ao aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro ao começo da noite do dia 15 de Junho de 1955 embora a hora de chegada estivesse inicialmente prevista para as 15h30. Felizmente o atraso não se deveu a nada de grave.

Como se percebe pelas fotografias da ocasião, a comitiva chegou bem e animada. Um verdadeiro batalhão de fotógrafos esperava os Benfiquistas e registou essas imagens históricas. Isto apesar desses numerosos fotógrafos terem a sua acção dificultada por ridículas limitações colocadas por um excessivamente zeloso funcionário do aeroporto. O clima chegou a aquecer com os fotógrafos a depositar todas as suas câmaras no chão em sinal de protesto. A situação lá foi desbloqueada quando um superior deu nas orelhas ao referido funcionário. Os jornais no dia seguinte não calaram a sua indignação. Seria o primeiro episódio de uma série de rábulas.

A comitiva Benfiquista foi afectuosamente recebida por um largo conjunto de grandes personalidades do desporto Brasileiro e em particular do futebol carioca. Entre essas personalidades estiveram Sylvio Pacheco (presidente da CBD), Gilberto Cardoso (presidente do Flamengo), Alves de Miranda (presidente do conselho técnico da CBD), outros membros da CBD, do Flamengo e do Vasco da Gama e ainda um representante da municipalidade do Rio de Janeiro que ofereceu o apoio a prefeitura do Rio de Janeiro durante a estadia dos Benfiquistas. Em destaque estiveram diversos homens ligados ao Vasco da Gama, clube com origem ligada à comunidade Portuguesa daquela bela cidade.


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Momentos de socialização da comitiva Benfiquista no Hotel Riviera. 7 – Otto Glória e o presidente Ferreira Bogalho revelando boa disposição ao lado de um Haylton Machado anfitrião Brasileiro. 8 – Otto Glória em alegre convívio com Medrado Dias, homem ligado ao Vasco da Gama (CONFIRMAR). 9 – Otto Glória ao lado do presidente Bogalho, Artur Santos e Salvador. 10 – José Águas a telefonar provavelmente para a sua noiva (com quem casaria daí a apenas dois meses). Bastos e Vieirinha pareciam estar alegremente a "cuscar" a conversa. Fonte: Última Hora e Arquivo Público do Estado de São Paulo.


Uma tragédia que passou perto

No dia seguinte ao emotivo e cansativo dia da chegada ao Rio de Janeiro, chegaria uma notícia dramática. O avião da Panair, Lockheed Constellation 049-46-21, que tinha trazido a nossa comitiva, tinha-se despenhado perto de Assunção, capital do Paraguai. Dos 24 ocupantes do avião salvaram-se apenas 8, incluindo apenas 3 dos 10 tripulantes. Esse drama humano provocou uma grande comoção na nossa comitiva. Estava fresca ainda a memória do trágico acidente do AC Torino apenas cinco anos antes. A vida continuava mas um drama desses nunca mais se esquece.


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Fonte: Jornal A noite de 16 de Junho de 1955; Hemeroteca Brasileira e http://www.planecrashinfo.com/1955/1955-27.htm


A troca de hotéis

Inicialmente a comitiva foi conduzida ao Hotel Riviera, tal como orientado pela CBD (Confederação dos Desportos Brasileiros). Lá chegados a comitiva Benfiquista não apreciou as condições encontradas, tendo Otto Glória pedido a António Calçada, dirigente do Vasco da Gama, que providenciasse a mudança de Hotel. A ideia que passou para as revistas foi de que o Hotel Riviera passava por obras e por isso não estaria adequado para uma equipa como a do Benfica. Paralelamente correu também a ideia que Otto não pretendia que os atletas estivessem expostos ao intenso movimento que por lá se fazia incluindo as muitas bonitas mulheres que por lá cirandavam. Otto era um carioca e por isso sabia muito bem o que estava ou não adequado para a sua equipa.

Assim, a comitiva viria a transferir-se para o belo Hotel Luxor, localizado perto da famosa praia de Copacabana. O hotel Luxor seria talvez mais calmo mas convenhamos que ao lado daquela praia a questão das mulheres bonitas não terá sido resolvida. Mas se Otto ficou satisfeito decerto que os jogadores ficaram ainda mais.


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Momentos movimentados no Hotel Riviera. 11 –Otto Glória olha apreensivo para a muito povoada sala de jantar do Hotel Riviera. Ao seu lado Bastos, Coluna enquanto Vieirinha olha curioso para a câmara do repórter. 12 –  "Seu Otto" já a dizer das boas a quem podia alterar a situação. Estava em curso a mudança de Hotel. Fonte: Última Hora e A Noite; Hemeroteca Brasileira.


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O Benfica já instalado no Hotel Luxor. Coluna, Alfredo e Jacinto aproveitavam o conforto de um espaço com a praia de Copacabana.


O irmão Vasco e o primo Botafogo

Ao longo da competição os jornais Brasileiros salientaram o apoio prestado aos Portugueses nos Estádios por parte de muitos Brasileiros. Em particular foi notado o apoio especial sempre prestado pela torcida do Vasco da Gama. Para além disso, respondendo a uma solicitação da CBD, o Vasco da Gama colocou as suas instalações desportivas de São Januário à disposição do SLB. Com essa gentileza o Vasco da Gama honrava assim as suas origens Portuguesas e correspondia as boas relações que os dois clubes mantinham desde os tempos em que o Vasco da Gama se deslocou a Lisboa no já distante ano de 1931 (ver texto 43 - "Um jogo infeliz, uma pista extraordinária").


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Cumprimento no Hotel Riviera entre Ferreira Bogalho presidente do Sport Lisboa e Benfica e Abelard França figura grata do Vasco da Gama e presidente da Federação Metropolitana de Futebol. Um momento institucional entre dois Clubes que eram e continuam a ser as duas maiores bandeiras desportivas da Lusofonia. Fonte: Diário da Noite; Hemeroteca Brasileira.

Deu-se aliás a curiosa situação de que no dia seguinte à chegada da nossa comitiva ao Rio de Janeiro, o Vasco da Gama chegava a Lisboa para efectuar jogos contra equipas Portuguesas. O SL Benfica recebeu formal e calorosamente a comitiva do Vasco da Gama. Em digna representação do presidente Ferreira Bogalho, os membros dos Orgãos Sociais António Ribeiro dos Reis e Justino Pinheiro Machado chefiaram a comissão de recepção aos vascaínos. Na ocasião foi feita uma visita ao novo Estádio seguida de um banquete com cerca de 300 convidados no restaurante de Montes Claros.

Ribeiro dos Reis durante o brinde lembrou os 50 anos do SLB, destacando a os tempos de euforia que se viviam no Clube depois da inauguração do Estádio, coroados depois com as conquistas do campeonato e da Taça. Falou depois Justino Pinheiro Machado agradecendo o hospitaleiro e carinhoso acolhimento dos vascaínos aos Benfiquistas em digressão no Rio de Janeiro. Findo o toque do hino do Benfica os Benfiquistas acabaram gritando "Vas-co! Vas-co!" com os Brasileiros a retribuir com "Ben-fica! Ben-fica!".

O banquete finalizou com o presidente do Vasco da Gama, Artur Pires, que se confessou emocionado mas não admirado com a recepção. Artur Pires confessou-se ele próprio um simpatizante do SLB por influência de amigos Portugueses no Rio de Janeiro. O SLB concedeu o título de sócio honorário a vários elementos ligados à Direcção do clube cruzmaltino, a saber, António Soares Calçada, Artur Fonseca Soares, Ciro Aranha, José Amaral Osório, António Rodrigues Tavares, Jaime Soares Alves e João da Silva. As ligações entre os dois clubes estavam mais fortes do que nunca.


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Excerto de notícia de 1 de Julho de 1955 relativo ao jantar de homenagem oferecido pelo SLB à comitiva do Vasco da Gama em digressão em Lisboa. Excerto da visita de cortesia da Direcção do Vasco da Gama à sala de troféus do SLB no dia 11 de Julho de 1955. Fonte: DL; Fundação Mário Soares.


Mas as boas relações institucionais estendiam-se a outros clubes cariocas tais como o Botafogo, clube que curiosamente tinha ligações antigas ao universo Benfiquista (Luís Vieira em 1913-1915 e Rogério Pipi em 1947-1948). Todas essas boas relações foram traduzidas no plano social durante a digressão de 1955.


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Fonte: Diário da Noite; Hemeroteca Brasileira.


As ambições Benfiquistas

À chegada ao aeroporto do Galeão, o presidente Ferreira Bogalho fez declarações efusivas e elogiosas para com o povo Brasileiro. Declarou não ter ilusões quanto à sorte da sua equipa no torneio dado o nível superior do futebol Brasileiro. Salientou no entanto que o Benfica manteria sempre uma atitude desportiva e competitiva no torneio.
Falando em seu nome e no dos restantes jogadores, o nosso capitão Fernando Caiado mostrou-se emocionado pela participação no torneio e ainda esperançado numa boa prestação durante a competição.


(http://i63.tinypic.com/2r7au0g.jpg)
Fonte: Diário da Noite, 16 Junho 1955.


Por sua vez Otto Glória, que foi efusivamente saudado pelos seus patrícios, não escondia a saudades que tinha do seu país. O treinador salientou as dificuldades que a sua equipa iria encontrar e que pretendia que os seus jogadores aprendessem com a experiência. Em declarações prestadas aos jornais, Otto era muito claro:

"Não conto com o título, apenas espero que os torcedores Brasileiros tenham uma boa impressão do actual futebol Português. As esperanças aqui não são maiores ou menores do que quando assumi a direcção técnica do Benfica (...) No Brasil volto a contar com a mesma atitude dos meus comandados para apresentar uma campanha digna do prestígio conseguido pela nossa equipe."

Apesar disso, Otto não deixou de acrescentar que o SL Benfica tinha aspirações a ganhar jogos. Otto disse que o Benfica tinha uma equipa organizada e com jogadores de qualidade, como aliás os Brasileiros tiveram oportunidade de constatar. Essa equipa, maioritariamente constituída por jogadores jovens, estava em boa forma e por isso esperava fazer boa figura no torneio.


(http://i65.tinypic.com/21biq37.jpg)
Fonte: Jornal Correio da Manhã; Hemeroteca Brasileira.


Como nos viam os Brasileiros

Foram precisos 51 anos para que o Sport Lisboa e Benfica se deslocasse em digressão ao Brasil. Os jornais Brasileiros souberam transmitir o empolgamento da comunidade Portuguesa com a vinda do Glorioso ao Brasil. Esses jornais informaram que o Benfica era o Clube mais popular do futebol Português e que os ventos de modernidade nesse futebol estavam associados ao seu compatriota Otto Glória. O destaque mediático foi portanto muito grande fazendo que o SL Benfica tenha sido muito bem vendido para o potencial público desse torneio. Felizmente, como veremos, o Benfica correspondeu a essas expectativas.


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Alguns dos títulos dos jornais a propósito da eminente chegada dos Benfiquistas. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Agosto de 2016, 12:28
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Taça Charles Miller '55 (parte IV): Entre treinos e feijoadas.

(http://i67.tinypic.com/2w3xtug.jpg)


Dia 22 de Junho de 1955, Rio de Janeiro, campo do Bangú.


(http://i68.tinypic.com/2a680gp.jpg)
Treino em 22 de Junho de 1955 no Estádio do Bangú. As duas equipas posam sorridentes para a posteridade. Fonte: Helena Águas.


A imagem acima apresentada captou um momento de alegre convívio entre jogadores do Bangú e do SL Benfica. Foi captada antes de um treino bem disputado. Três dias antes o Benfica já tinha jogado o seu primeiro jogo do torneio contra o CR Flamengo (ver próximo texto) e nesse dia treinava-se para quatro dias depois enfrentar o Peñarol.

O treino foi competitivo tendo os titulares enfrentado um misto de reservas Benfiquistas e de jogadores do Bangú recrutados para completar um quadro de 22 jogadores.


Zizinho e o Bangú

Entre os jogadores do Bangú destacava-se Zizinho, jogador da célebre selecção Brasileira que perdeu a final do mundial de futebol de 1950 em pleno Maracanã. Nascido em Niterói em 14/09/1921, Zizinho, de seu nome completo Tomás Soares da Silva, contava já com 34 anos embora tivesse ainda alguns anos pela frente na sua bela carreira. Iniciou-se no Carioca de Niterói passando depois pelo Byron, para depois iniciar a sua carreira à escala nacional onde passou por Flamengo (1939-1950), Bangu (1950-1957), São Paulo (1957-1958) e Audax Italiano no Chile (1961-1962).


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À esquerda: Zizinho, um dos imortais da selecção Brasileira. À direita: Poy, Zizinho e Bela Guttman, campeões Paulistas pelo São Paulo Futebol Clube em 1957!  Fonte: http://spfcnoticias.com/


Principais títulos e distinções individuais de Zizinho:

•   3 Campeonatos Carioca (1942, 1943 e 1944) pelo Flamengo.
•   1 Campeonato Sul-Americano (1949) pelo Brasil.
•   Melhor Jogador da Copa do Mundo da FIFA: 1950
•   Eleito para o All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA: 1950
•   1 Campeonato Paulista (1957) pelo São Paulo
•   4º Maior Jogador Brasileiro do Século XX pela IFFHS: 1999
•   10º Maior Jogador Sul-Americano do Século XX pela IFFHS: 1999
•   Eleito o 79º Melhor Jogador do Século XX pela revista Placar: 1999
•   Eleito o 83º Melhor Jogador da História das Copas pela revista Placar: 2006
•   Eleito para o Time dos Sonhos do Flamengo pela revista Placar: 2006
•   Eleito um dos 1000 Maiores Esportistas do Século XX pelo jornal Sunday Times


Algumas frases célebres (retiradas da sua página na wikipedia, https://pt.wikipedia.org/wiki/Zizinho (https://pt.wikipedia.org/wiki/Zizinho)):


•   "Bastava os alto-falantes do Maracanã anunciarem o nome de Zizinho para saber quem seria o vencedor da partida." (Nélson Rodrigues)

•   "Seu futebol faz recordar o Mestre Leonardo da Vinci pintando alguma obra rara." (Giordano Fattori, jornalista do Gazzeta dello Sport, sobre Zizinho)

•   "Eu lia Zizinho, todo domingo, no Maracanã." (Armando Nogueira - jornalista e escritor)

•   "As 'mocinhas' de hoje deviam jogar no nosso tempo." (Zizinho, craque dos anos 50, sobre a reclamação da violência pelos jogadores da década de 70)

•   "Ponta ou tem que ser muito bom ou só serve para não deixar a bola sair para lateral." (Zizinho, ex-craque da Seleção Brasileira)

•   "A bola tem vida própria. Ela gosta de ser bem tratada." (Zizinho, ex-craque da Seleção Brasileira)

•   "Eu não conseguia dormir à noite. Eu sonhava que aquilo era um pesadelo e não tinha acontecido." (Zizinho, ex-craque da Seleção Brasileira, sobre a derrota na final da Copa de 50)

•   "Quando eu era garoto, procurava imitar dois jogadores: o Dondinho, meu pai, e o Zizinho. Quando comecei a minha carreira no Santos, o Zizinho estava encerrando a dele no São Paulo. E encerrando em grande estilo. Ele foi campeão e considerado o melhor jogador do Campeonato Paulista de 1957. Zizinho era um jogador completo. Atuava na meia, no ataque, marcava bem, era um ótimo cabeceador, driblava como poucos, sabia armar. Além de tudo, não tinha medo de cara feia. Jogava duro quando preciso." (Pelé, sobre Zizinho, seu ídolo quando criança).

•   "Esse era o Mestre" – (Pelé, resumindo Zizinho, seu ídolo quando criança)


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Pelé e Zizinho, dois génios do futebol Brasileiro. Fonte: reliquiasdofutebol.



Nesse dia, todos os jogadores Benfiquistas quiseram tirar uma fotografia com Zizinho.

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Aspectos do treino no campo do Bangú no dia 22 de Junho de 1955; 1 – Zizinho e José Águas posam para a posteridade. Nesse dia foram vários os atletas Benfiquistas que quiseram tirar uma fotografia com tão famoso atleta; 2 – Costa Pereira, em tratamentos e a falar com Zizinho. 3 – Coluna e Caiado a darem uma mão a Zizinho. 4 – José Ricardo Domingues Júnior e Otto Glória entre diversos elementos do Bangú. 5 - Otto Glória a dar indicações aos seus homens. Fontes: Helena Águas e Arquivo Publico de São Paulo.



Os treinos


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Fonte: Gazeta de Notícias; Hemeroteca Brasileira.

Fundado em 17 de abril de 1904, o Bangú Atlético Clube manteve-se na sombra dos 4 gigantes do Rio de Janeiro (CR Botafogo, CF Flamengo, Fluminense e CR Vasco da Gama). Manteve no entanto um lugar próprio e relevante no desporto do Rio de Janeiro. Ainda hoje disputa com América FC o lugar de 5º maior clube do Rio de Janeiro. Curiosamente, ambos os clubes partilham as mesmas cores com o nosso Clube.

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Nesse dia de 22 de Junho, o Bangú abriu-nos as suas instalações do Estádio Proletário em Moça Bonita e recebeu-nos com dignidade e grande afectuosidade. O que se seguiu foi uma jornada inesquecível de confraternização. A simpatia deste pequeno mas historicamente importante clube carioca, fez-se sentir com o gentil acompanhamento de Guilherme da Silveira Filho, o presidente do Bangú. Depois do treino, a comitiva Benfiquista foi conduzida à Vila Hípica para uma suculenta feijoada à Brasileira. Foi grande a animação dos convivas.

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À noite a comitiva Benfiquista juntamente com o Peñarol, foi ver o espectáculo "Não Vou no Golpe" no Teatro João Caetano.



Treinando e socializando

No Rio de Janeiro os treinos Benfiquistas realizaram-se também no Maracanã e em São Januário (local de treino do CR Vasco da Gama). Alguns desses treinos para além de assegurarem a ambientação dos nossos jogadores ao clima Brasileiro e darem preparo físico e táctico, foram também uma ocasião para a apresentação mediática da nossa equipa à curiosa e muito activa comunicação social Brasileira. A digressão Benfiquista tinha também objectivos de representação social do nosso País. Assim listam-se alguns dos eventos mais destacados:

•   17 Junho reconhecimento ao Maracanã e treino nocturno em São Januário. Foram treinadas essencialmente as componentes de preparação física individual;

•   18 Junho os Benfiquistas treinaram no Maracanã, numa sessão interdita ao público. A escolha da hora foi também peculiar pois os trabalhos iniciaram-se cerca das 11 da manhã, altura em que o sol já brilhava forte. Os Benfiquistas não gostaram do relvado do Maracanã, salientando em particular a dureza e secura do piso;
Um aspecto curioso desses treinos foi ver os jogadores do SL Benfica a envergarem uma camisola com faixa diagonal vermelha um pouco ao jeito do River Plate da Argentina.


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6 – Entrada da equipa do Benfica no relvado do Maracanã. 7 – Otto Glória liderando o treino. 8 – Artur e Caiado a avaliar o estado da relva. A dureza e secura do piso não foram do agrado da equipa. 9 – Prelecção de Otto Glória. 10 – A linha avançada do SLB. 11 – Coluna e Pegado a equipar-se nos balneários do Maracanã. Fonte: Arquivo Público São Paulo.


•   23 Junho, pela manhã a comitiva Benfiquista terá visitado o Corcovado. Infelizmente parece não haver imagens da visita a esse local místico e de espectacular beleza natural;

•   23 Junho, pela tarde a equipa visitou o Palácio da Guanabara onde foram recebidos pelo prefeito do Distrito Federal e da Câmara Municipal;

•   25 Junho, um dos pontos altos da agenda social, a comitiva do Benfica visitaria o presidente da Republica do Brasil J. Café que na altura habitava no Palácio do Catete no Rio de Janeiro. Brasília era ainda um projecto em construção;


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A recepção concedida pelo Presidente da Republica do Brasil à comitiva Benfiquista. Fonte: Jornal da Noite; Hemeroteca Brasileira.


Ao Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil, foi ofertada o diploma de sócio honorário conforme aprovado em Assembleia Geral em 4 de Junho de 1955. Na ocasião o presidente Ferreira Bogalho fez um pequeno mas sentido discurso.
E a agenda prosseguiu nos dias seguintes:

•   1 Julho, comitiva recebida e homenageada pela Federação Metropolitana de Football de São Paulo;

•   2 Julho, comitiva recebida e homenageada no Palácio de Alumínio pela Confederação Brasileira de Boxe;

•   6 Julho, visita a uma usina da Companhia Siderúgica Nacional Brasileira na cidade de Volta Redonda com almoço no Hotel Bela Vista. Estiveram a acompanhar a comitiva Benfiquista alguns elementos da Direcção do Vasco da Gama. Os Benfiquistas visitaram depois o ginásio e a piscina daquela cidade.


As deslocações também foram um factor de desgaste. De 28 Junho até ao dia 3 de Julho o Benfica esteve em São Paulo para jogo contra o Palmeira. Voltaria ao Rio de Janeiro para jogar contra o America mas para o último jogo contra o Corinthians seria forçado a viajar novamente para São Paulo. Pelo meio ainda múltiplas homenagens e visitas a instituições de emigrantes Portugueses Foram dias loucos e mesmo para os conceitos da época, essa agenda foi pouco recomendável para uma equipa de alta competição.


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Algumas manifestações do enorme entusiasmo da comunidade Portuguesa no Brasil.

Tantos foram esses eventos que o jogador Francisco Calado, sem papas na língua, declarou a jornalistas Brasileiros: "Os dirigentes terão que concluir um dia que a eles cabe a responsabilidade de cumprir o programa social de uma delegação. Estamos esgotados. Chega de homenagens Se perdermos como no domingo então somos nós os criticados e não eles".

Com essas declarações Francisco Calado mostrava a sua forte personalidade. Não admira que na década seguinte tivesse sido dirigente do Clube.

Mas o próprio Otto Glória admitiu, quando questionado: "Não podemos deixar de atender certos convites, Se isto acontecesse, isto é, se voltarmos a Portugal sem que participássemos de certas festividades, poderíamos até ser alvos de críticas das mais justas".

Agora, pelas fotografias existentes nem tudo parece ter sido cansativo. Alguma desse convívio deu com certeza bastante prazer aos nossos jogadores. Não fazendo alusão aos mexericos (que os houve e muitos...) publicados em certas revistas Brasileiras, finalizo o texto de hoje com uma selecção que ilustra muito bem outra vertente da socialização.


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Fonte: Arquivo Público de São Paulo.


No próximo texto será enfim tempo para tratar do futebol jogado no campo. Em breve iria começar o grande torneio Charles Miller 1955.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Agosto de 2016, 20:31
-122-
Taça Charles Miller '55 (parte V): Mengo, Mengão; Azarão!

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E eis que chegou o dia da estreia: 19 de Junho de 1955, Rio de Janeiro, Estádio do Maracanã.


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O colossal Maracanã nos anos 50. Capacidade para 200 mil pessoas. O SLB jogou lá pela primeira vez no dia 19 de Junho de 1955. Brilhou mas não conseguiu vencer. Uma semana depois chegaria a primeira vitória.

O Benfica estreava-se no torneio e no Maracanã num jogo contra o CR Flamengo. Com cerca de 150 mil pessoas nas bancadas, o Flamengo venceria o jogo por 1-0:

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Antes do jogo começar e em ambiente fraterno e caloroso, o Sport Lisboa e Benfica foi homenageado pela comunidade Lusa que compareceu em peso. Quase todas as entidades que congregavam portugueses no Rio de Janeiro aderiram a um vasto e organizado programa de homenagens executado nos momentos que antecederam o jogo. Foi um verdadeiro desfile de homenagens envolvendo faixas honoríficas, troféus de oferta, moças bonitas, muito brilho e sorrisos. Homenagens similares ocorreram nos outros jogos do torneio.


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1 – Fernando Caiado, capitão de equipa homenageado pela comunidade Portuguesa; 2 – Imposição de faixa de campeão de Portugal a José Águas e Francisco Palmeiro; 3 – Outro ângulo da imposição de faixa a José Águas e a Artur Santos; 4 – Duas jovens moças entregando à equipa do SLB a bonita taça oferecida pelo periódico "Mundo Português". Hoje está exposta no Museu Cosme Damião; 5 – A equipa do Sport Lisboa e Benfica que defrontou o CR Flamengo no dia 19 de Junho de 1955. Os nossos jogadores envergavam as faixas oferecidas pela comunidade Lusa homenageando o título de campeão nacional de 1954-1955.


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Fonte: Hemeroteca Brasileira.


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Exposta no Museu Cosme Damião, a Taça oferecida pelo periódico "Mundo Português" no dia 19 de Junho de 1955 em pleno Estádio do Maracanã (ver fotografia 4).


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Dois aspectos das homenagens da comunidade Lusa no Rio de Janeiro à nossa equipa.


Finalmente depois de todas as homenagens iniciou-se o grande jogo.

O Flamengo apresentava-se com uma equipa muito forte, particularmente na sua linha ofensiva onde se destacavam Índio, Evaristo e Esquerdinha. No meio campo pontuava Rubens um jogador de selecção Brasileira dotado de enormes recursos técnicos.


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6 – Fernando Caiado cumprimenta Dequinha, capitão do CR Flamengo; 7 – A equipa do SL Benfica entra pela primeira vez no Maracanã trazendo a bandeira Brasileira; 8 – A equipa do CR Flamengo homenageia o SL Benfica com uma bandeira de Portugal; 9 – Coluna num abraço fraternal a Rubens; 10 – Conversa entre guarda-redes e goleiro. Costa Pereira e Ari trocam impressões e cumprimentos; 11 – Fase de jogo com um ataque conduzido por Coluna; 12 – Mais um ataque do SL Benfica à baliza dos cariocas; 13 – Coluna recebendo assistência médica nos balneários; 14 - Um aspecto impressionante da massa humana que abandona o grandioso Maracanã. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.


No seu ambiente e amplamente motivados, os cariocas entraram melhor e logo após o apito do árbitro exerceram pressão intensa sobre um Benfica nervoso. A nossa equipa parecia aturdida com o ambiente esmagador e assim logo no segundo minuto Evaristo marcou aquele que viria a ser o único golo da partida. Costa Pereira não esteve isento de culpas nesse golo.


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Três ângulos diferentes que registaram o golo que decidiu a partida. Flamengo 1 Benfica 0. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Temeu-se o pior. Mas, ao contrário desses primeiros momentos, a equipa do Benfica manteve-se coesa e reagiu de imediato exibindo a nobreza e a raça dos seus jogadores. Jogando com calma e solidez defensiva, cedo se percebeu que a equipa do Benfica não iria derrocar perante a adversidade inicial mas antes iria discutir rijamente o jogo.

E assim foi. Com uma defesa organizada e dotada de jogadores rápidos a equipa Benfiquista praticou bom futebol, equilibrou territorialmente o jogo e jogou com método e decisão. A partir daí as ocasiões mais flagrantes para alteração do resultado pertenceram ao SLB. Esse belo desempenho conjugado com as rivalidades cariocas (com uma grande representação de adeptos do Vasco da Gama) e com a comunidade Lusa levou o Benfica a ter grande apoio nas bancadas. Os Brasileiros sempre apreciaram equipas que jogam bom futebol.

De entre os nossos jogadores, os maiores destaques foram para Costa Pereira e para Coluna. A exibição do nosso guarda-redes teve grande brilho com esplêndidas defesas e um estilo único a sair dos postes. Essa postura era desconhecida para os cariocas. Foi uma sensação!

Também Coluna, com o seu estilo de jogo desconcertante fazendo uma perfeita aliança entre técnica e força, destacou-se de tal forma que foi desde logo equiparado a Didi, o célebre jogador do Fluminense e da selecção Brasileira.

Foi ainda notada a boa prestação de Artur, jogador atlético e ainda de Caiado a municiar os avançados. Arsénio foi notado na construção de jogo ofensivo apesar de ter sido ineficaz na conclusão.


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Ecos da imprensa Brasileira acerca do grande desempenho dos Benfiquistas contra o Flamengo. De salientar em baixo a saliência a Costa Pereira que como se lê na legenda: "O guarda-redes Costa Pereira brilhou intensamente aparecendo como a melhor figura do cotejo internacional. Aqui o vemos impedindo uma carga de Henrique". Fonte: Diversos periódicos Brasileiros; Hemeroteca Brasileira.


Também foi notada a fraca inspiração de José Águas mas Otto Glória daria a explicação: Águas apresentou-se a jogo com dois focos dentários, facto que naturalmente lhe afectou o rendimento. Nada de grave e que foi prontamente tratado.


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José Águas num tratamento dentário no Brasil (Otto Glória confirmou a situação depois do jogo do Flamengo, conforme a notícia anexa). Lá atrás Arsénio e Vieirinha, os seus colegas do ataque Benfiquista. Estaria a dar apoio ou terão sido os clientes seguintes? Fonte: Helena Águas e Hemeroteca Brasileira.

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Como curiosidade, Evaristo, o marcador do golo da vitória do Flamengo, viria a jogar anos mais tarde no FC Barcelona. Em 31 de Maio de 1961 esteve em Berna. Nesse dia Evaristo perdeu e viu o SL Benfica sagrar-se Campeão Europeu. Para Costa Pereira, Artur, Ângelo, Águas e Coluna estava vingada a derrota de 1955. E com juros!

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Setembro de 2016, 20:18
-123-
Taça Charles Miller '55 (parte VI): Escaramuças Uruguaias!

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Dia 26 de Junho de 1955, Estádio do Maracanã; Rio de Janeiro.
Segunda jornada do torneio Charles Miller de 1955. O Sport Lisboa e Benfica jogava contra o AE Peñarol.

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Perante uma assistência calculada em 150 mil espectadores o SL Benfica conquista a sua primeira vitória:

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Foi um jogo de luta, de raça, de vibração. O Benfica dominou e venceu pelo seu melhor jogo e maior coração. Na primeira parte os nossos jogadores irritaram-se com frequência por causa das entradas violentas dos uruguaios. Nada de estranhar dada a violência deliberada, praticada de forma estratégica pelos Sul-americanos. O nosso meio campo tinha gente de fibra, raçuda como Ângelo, Palmeiro e Caiado, que começou a irritar-se com aquelas escaramuças Uruguaias.

O papel do árbitro foi difícil apesar de advertir constantemente os uruguaios. Otto Glória sabedor do estilo de jogo dos uruguaios teve de alertar os seus jogadores para evitarem responder às provocações e à violência tolerada pelo árbitro. Nessa primeira parte o SLB, e em particular Ângelo e Palmeiro responderam na mesma moeda. Felizmente o primeiro tempo acabou sem incidentes irreparáveis mas também sem golos. Coluna foi o melhor com dois bons remates a por o guarda-redes uruguaio à prova.



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1 - Otto Glória no balneário junto dos seus jogadores. 2 – Os capitães Davoine e Caiado cumprimentam-se. 3 – Aspecto de um ataque do SL Benfica à baliza Uruguaia. 4 - Otto Glória no banco a orientar a equipa. Fonte: Arquivo Público de São Paulo e Hemeroteca Brasileira.


Na segunda parte as alterações tácticas feitas por Otto Glória assim como os ajustes na atitude competitiva da equipa levaram-nos à vitória. O Benfica passou a praticar um futebol rápido, dinâmico, positivo e criativo. Bola rasteira com passes certos e infiltrações constantes deram cabo do juízo aos uruguaios. A troca de Caiado por Salvador melhorou o jogo da equipa em particular de Coluna. José Águas viria a rematar à trave mas seria Coluna aos 30 minutos do segundo tempo a fazer um golo soberbo, indefensável. Apenas cinco minutos depois, Águas matava o jogo marcando o segundo golo a passe de Coluna. O Maracanã aplaudiu de pé!



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5 – Lance aéreo duramente disputado entre Águas e dois uruguaios. Salvador observa. 6 – José Águas remata para fazer o segundo golo. Estava ganho o jogo! 7-8 – Dois ângulos diferentes das celebrações do 2º golo Benfiquista. 9 – Final do jogo. Artur e Alfredo felicitam Águas!


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Ilustração gráfica dos dois golos Benfiquistas. Fonte: Esporte Ilustrado; Hemeroteca Brasileira.


No balneário do Benfica a alegria era enorme sendo Otto Glória particularmente vitoriado. Era uma vitória marcante, a primeira em terreno Sul-Americano e perante o entusiasmo e apoio apaixonado de milhares de Portugueses e Brasileiros. Não foi por isso um exagero quando o presidente Ferreira Bogalho declarou:

"Vi com os olhos rasos de água muitos Brasileiros gritarem: Benfica! Benfica! quando dos nossos golos! Os nossos rapazes foram magníficos, dominando em absoluto esta grande equipa de campeões do mundo que é o Peñarol. Não podemos ignorar que a nossa vitória foi árdua, por vezes dura e ríspida, e que a não devemos somente à qualidade dos nossos jogadores mas ao público Brasileiro que nos aclamava."



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10 – Festejos entre o pessoal da defesa. O Benfica vencia pela primeira vez no Maracanã. 11 - Nos balneários o embaixador de Portugal no Brasil António de Faria (de laço) felicita o presidente Ferreira Bogalho e Mário Coluna. 12 – O grande José Águas a cuidar do visual. Águas foi o "doce de coco" das meninas Brasileiras. Fonte: Arquivo Público de São Paulo.


De negativo apenas a saída de Salvador por lesão. Costa Pereira, Artur Santos, Ângelo e Caiado foram considerados os mais destacados na componente defensiva, enquanto Salvador e José Águas destacaram-se no sector ofensivo. Acima de todos esteve Mário Coluna com um golo e uma assistência. O monstro sagrado começava a mostrar-se ao mundo. Não admira o interesse que diversos clubes cariocas manifestaram na sua contratação. Naturalmente, Ferreira Bogalho não esteve pelos ajustes. José Ricardo Domingues Júnior foi claro ao dizer que vender Coluna provocaria uma revolução no Clube!

O prestígio do Benfica subiu às nuvens entre os emigrantes Portugueses e também entre os Brasileiros uma vez que vencer os Uruguaios não era reconhecidamente tarefa fácil. No dia seguinte os jornais Brasileiros deram amplo eco dessa enorme vitória.



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Ecos na imprensa da vitória do SL Benfica contra o Peñarol. Fonte: Diversos; Hemeroteca Brasileira.


A ilustrar o estado de espírito dos uruguaios no final do jogo basta dizer que nenhum jornalista Brasileiro teve sequer a coragem de colocar qualquer questão ao treinador Obdúlio Varela. Apenas se sabe que quando um empregado do vestuário do Maracanã lhe perguntou se precisava de qualquer coisa, Varela terá mesmo respondido:
"Precisava de arsénico para os meus jogadores!"
.

Varela era o antigo capitão da selecção Uruguaia que se sagrou campeã do Mundo em 1950 derrotando o Brasil em pleno Maracanã. Nesse dia o "Jornal da noite" descreveu Obdúlio como um "animal na jaula"... O homem estava tão danado que no jogo seguinte regressaria episodicamente aos campos de futebol. De nada valeu, a grande equipa do America FC venceria os Uruguaios por conclusivos 4-1.

Mas naquele dia teve de lidar. Só deu Benfica!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Setembro de 2016, 15:09
-124-
Taça Charles Miller '55 (parte VII): Doces Palmeiras.

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São Paulo, tarde do dia 29 de Junho de 1955. Estádio do Pacaembú.

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Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido por Estádio do Pacaembu em 1955. Localizado na praça Charles Miller, no final da avenida Pacaembu, foi inaugurado em 1940. Tem capacidade para 40 mil espectadores, Foi a casa do SC Corinthians até 2014. Fonte: UOL Esporte.


Terceira jornada do torneio Charles Miller. O SL Benfica entra no Estádio do Pacaembú para disputar um contra a SE Palmeiras.

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O SE Palmeiras é o clube da predilecção da enorme comunidade de origem italiana em São Paulo. O clube é também chamado pelos seus adeptos como Verdão, Porco ou Palestra.

O SL Benfica ganhou esse seu primeiro jogo no Pacaembú por 2-1. Foi a segunda vitória no torneio.

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O Benfica dominou o jogo de princípio ao fim do jogo apesar do Palmeiras ter melhorado no segundo tempo depois de duas substituições. Marcou primeiro o Benfica aos 18 minutos por intermédio de Águas depois de uma excelente assistência de Arsénio (embora outras crónicas tenham indicado Zézinho). Aliás esse foi um dia de inspiração de Arsénio que fez várias outras excelentes assistências para os seus companheiros.

O empate do Palmeiras viria a ser obtido no início da segunda parte. Nesse período o Palmeiras cresceu na sua produção e aparentou que iria tomar conta da partida. No entanto o Benfica voltou a impor o seu bom jogo e apenas dez minutos depois Coluna assistiu Francisco Palmeiro que atirou a contar. Até final o Benfica acentuou progressivamente o seu domínio tendo criado mais oportunidades para dilatar o marcador mas isso acabaria por não acontecer.


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1 – Os capitães de equipa cumprimentam-se antes do início da partida. 2 – José Águas marca o primeiro golo da tarde.3 – Costa Pereira corajosamente frusta mais um ataque dos Paulistas. 4 – O guarda-redes do Palmeiras tenta boquear mais um ataque Benfiquista conduzido por José Águas. 5 – Uma outra investida de José Águas às redes do Palmeiras. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Vitória justa do Benfica que tornou a nossa equipa uma séria competidora à vitória final. Tudo dependeria do jogo contra o America. O Benfica estaria de volta ao Rio de Janeiro para jogar apenas 4 dias depois. Como se viu o tempo de recuperação (agravado pela viagem São Paulo-Rio de Janeiro) seria curto perante a bela equipa do America.


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Ecos da vitória do SL Benfica no Pacaembú contra o AS Palmeiras. Fontes: Hemeroteca Brasileira.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Setembro de 2016, 15:20
-125-
Taça Charles Miller '55 (parte VIII): America amarga.

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Rio de Janeiro, dia 3 de Julho de 1955. O Benfica estava de volta ao Maracanã para defrontar o America FC. O terceiro jogo do Benfica no Maracanã trouxe-nos a segunda derrota no torneio.

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Antes do desafio os jornais Brasileiros pretendiam passar a ideia de que os Benfiquistas estavam convencidos da sua superioridade. Não era verdade, nem sequer Otto deixaria que isso acontecesse. Otto tinha aliás sido treinador do America e sabia da valia dos alvi-rubros. Por outro lado a nossa equipa, cuja composição pouco variou durante todo o torneio, tinha jogado apenas 4 dias antes e por isso tinha acumulado ao cansaço uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro. Apesar de se apresentar moralizada com as duas vitórias anteriores, a equipa Benfiquista estava consciente da qualidade do adversário. Os jornais começavam também a passar a ideia de que o Benfica podia conquistar o torneio. E de facto, dada a prestação do Corinthians até essa altura parecia claro que o vencedor deste jogo disputaria com os Paulistas a vitória final no torneio.

Sobre um calor tropical, o America venceu com mérito por 4-2 apesar de ao intervalo se registar um empate a uma bola. Foi um jogo disputado com ardor, sendo durante muito tempo incerto quanto ao resultado final. Nos primeiros 20 minutos da partida o Benfica dominou praticando um jogo alegre, veloz, ágil e agressivo. Passado esse período inicial o America foi mais rápido e mais homogéneo, assumindo o controlo da partida. Marcou primeiro o America mas Águas empatou aos 40 minutos.

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Depois do reinício, dois deslizes de Costa Pereira decidiram o jogo. José Águas ainda faria o 2-3 mas Leónidas depois de uma partida em ardorosa luta com Artur Santos, acabaria por selar o triunfo dos cariocas ao marcar o quarto golo.


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1 – Os capitães Cácá (America) e Caiado a cumprimentarem-se. 2 – A Miss Brasil Emília Correa de Lima que deu o pontapé de saída posa para as fotografias entre Cácá e José Águas. Ao lado está o árbitro uruguaio Washington Rodrigues. 3 – José Águas observa o guarda-redes Pompeia a agarrar a bola. 4 – Artur e Jacinto em acção perante o ataque carioca. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.



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5 – Caiado e José Águas no balneário em atitude de claro desapontamento pelo resultado final. 6 – Alfredo, o nosso "três pés" a ser observado pelo massagista Angelino Fontes. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.


Foi um dia negro para os dois guarda-redes. Costa Pereira que estava a ser um dos destaques da nossa equipa deu alguns frangos que comprometeram a equipa. Curiosamente uns anos depois Costa Pereira considerava que o maior frango da sua carreira não foi o aquele contra o Inter de Milão mas sim um desses golos sofridos contra o America.

Mas Costa Pereira não fez por menos. Segundo declarou a razão desse seu desastre ter-se-à devido a ter sido... envenenado. Transcrevendo:

Não me conseguia lembrar de nada dessa partida até ver o filme feito desse jogo. Recordo que antes da partida um sujeito me deu um cigarro que eu fumei. Como disse, além de não ter tomado conhecimento do jogo, após a partida dormi 14 horas seguidas. Devo ter sido narcotizado por aquele cigarro.


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As bombásticas declarações de Costa Pereira. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Foi igualmente um jogo fraco de Coluna que tinha estado tão bem até aí. O cansaço começava a impor leis. Do nosso lado os melhores terão sido Artur Santos e Fernando Caiado.

Do outro lado Pompeia, o guarda-redes do America, também sofreu dois frangos. A diferença esteve no bom futebol e na rapidez dos cariocas. Leónidas esteve em particular destaque no comando do ataque. Mas o America não era só um conjunto de excelentes jogadores. Os cariocas tinham uma bela equipa, vencendo com todo o merecimento. O próprio presidente Joaquim Ferreira Bogalho foi claro dizendo que o America tinha sido a melhor equipa com quem o Benfica tinha jogado. O presidente destacou a técnica e rapidez dos cariocas.



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Diversos ecos da vitória do America sobre o Benfica. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Findo esse jogo restava ao Benfica jogar contra o Corinthians. Infelizmente também nesse jogo circunstâncias extra-futebol viriam a determinar o desfecho final do desafio e do torneio.

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Setembro de 2016, 15:52
-126-
Taça Charles Miller '55 (parte IX): O "caseiro" Alemão.

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Dia 10 de Julho de 1955. Novamente em São Paulo e no Pacaembú, O SL Benfica defrontou o Corinthians. Venceu o Corinthians num jogo emotivo, discutido ardorosamente pelas duas equipas e com uma decisão polémica do árbitro que influenciou o resultado final.

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Na última jornada do torneio Charles Miller o Benfica já não tinha possibilidade de vencer a competição. No entanto para lá do prestígio, a peleja interessava também ao America pois uma vitória dos Benfiquistas faria com que os cariocas vencessem a competição. Os jornais brasileiros salientaram o bom jogo de ambas as partes atribuindo a vitória do Corinthians à maior experiência dos Paulistas mas também à influência do árbitro alemão.

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Otto Glória fez alinhar Calado a extremo esquerdo numa tentativa (bem-sucedida) de anular a forte ala direita dos paulistas. Jogando numa espécie de 4-2-4, o Benfica começou melhor o jogo, evidenciando boa organização defensiva e atrevimento no ataque. Aos 30 minutos de jogo uma iniciativa de Palmeiro resulta num centro para a área ao qual correspondeu José Águas com um cabeceamento sensacional. Golo do Benfica!

O Corinthians reagiu a esta vantagem inicial dos portugueses com uma intensa pressão sobre o Benfica e sobre o árbitro. Voavam garrafas sobre o relvado. E logo oito minutos depois do nosso golo o árbitro apita para uma suposta falta de Ângelo. Decisão inacreditável. Apenas a emotividade do jogo e a pressão sobre o árbitro explicam a marcação daquela grande penalidade a favor dos paulistas. Uma vergonha tal que até os jornais Paulistas a consideraram discutível. O "caseiro" alemão manipulava o resultado e relançava o jogo. Na cobrança, Claúdio que até aí tinha sido perfeitamente anulado pela defensiva Benfiquista, conseguiu empatar a partida.

A partir daí o jogo cresceu em virilidade com alguns excessos de parte a parte. Das bancadas continuavam os arremessos de objectos para o relvado. O Benfica não se deixou abater e continuou a fazer um jogo rápido e perigoso para as redes dos paulistas onde o guarda-redes Gilmar mostrava a sua enorme qualidade. A exibição de Gilmar foi apontada como fundamental para que o Corinthians não sofresse mais golos Benfiquistas. Três anos depois Gilmar seria o titular da selecção Brasileira que se sagraria campeã mundial de futebol na Suécia. À sua frente estiveram homens como Didi, Vává, Pelé e Garrincha, entre outros. Gilmar foi um dos maiores, senão o maior guarda-redes Brasileiro de todos os tempos.


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Gilmar, primeiro no Corinthians, depois no Santos de Pelé, foi talvez o maior goleiro da história do Brasil. Brilhou a grande altura contra o SL Benfica. Nesta fotografia posa ao lado do defesa Bellini, e do técnico Vicente Feola com a taça Jules Rimet ganha na final contra a Suécia em 1958. Fonte: www.futebolglobal.com.br


No segundo tempo o Corinthians dominou a partida, jogando de forma enérgica mas também nervosa e sem grande confiança. Um novo golo do Benfica significaria a derrota do Corinthians no torneio. Nas bancadas continuavam manifestações de desagrado com arremesso de todo o tipo de projécteis sendo necessário por vezes interromper a partida para que as autoridades actuassem convenientemente. E quando já se pensava que o marcador não seria mais alterado, a apenas 4 minutos do fim o árbitro alemão marcou um livre perto da área do Benfica por falta de Zézinho. Na cobrança Claúdio marca e a bola batendo na trave, resvalou e sofrendo um efeito caprichoso acaba por trair Costa Pereira.

Até final o Benfica lançou-se num ataque cerrado e durante esse ataque quase conseguiu o empate. Zézinho enviou uma bola à trave da baliza de Gilmar e na recarga chutou para as nuvens. Não era o dia do Benfica. O Corinthians lá ganhava o torneio, com mérito com certeza mas também com uma inestimável ajuda do "caseiro" Alemão.


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Imagens do SL Benfica contra o Corinthians. 1 – As equipas alinhadas antes do início do jogo. 2 – Gilmar sofre o primeiro golo após espectacular cabeceamento de José Águas. 3 – A grande penalidade assinalada pelo "caseiro" alemão é convertida por Claúdio. 4 – A bola sofrendo um efeito caprichoso aninha-se nas redes de Costa Pereira. Claúdio faia o seu segundo golo a dava a vitória aos Paulistas. 5 – José Águas investe de forma corajosa contra Gilmar. O guardião Brasileiro foi decisivo para a vitória dos Paulistas. 6 – Costa Pereia em bom nível domina o espaço aéreo. 7 – Ângelo de cabeça quente avança para o "caseiro" alemão mas é refreado por Costa Pereira. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


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Ecos do jogo Corinthians 2 – Benfica 1; disputado no dia 10 de Julho de 1955 no Pacaembú. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Do lado do Benfica uma vez mais Artur Santos exibiu-se a grande nível. Costa Pereira regressou às grandes exibições. Caiado, Calado, Águas e Coluna igualmente muito bem.
Sendo Brasileiro, Otto Glória sentiu-se mais à vontade para no calor da derrota e sem papas na língua fazer afirmações corrosivas para com a organização e a arbitragem desse último jogo. Para Otto o jogo com o Corinthians foi o único jogo anormal no torneio. Disse com clareza que até parecia que o torneio (leia-se a vitória) tinha sido encomendado pelo Corinthians. Segundo Otto nada no regulamento dizia que o Corinthians deveria jogar sempre em casa. O Brasileiro defendeu que jogo deveria ter sido disputado no Maracanã e não na casa do Corinthians.

Mas Otto também não se esqueceu de comentar a actuação do alemão Horst, apontando-o como um dos factores de desequilíbrio da contenda. Nada de admirar pois o juiz alemão já antes tinha arbitrado o jogo entre o Corinthians e o Peñarol tendo estes sido claramente prejudicados quando a dois minutos do fim lhes foi anulado um golo limpo que lhes daria a vitória. Na altura a CBD advertiu o árbitro mas estranhamente voltou-o a nomear para mais um jogo do Corinthians e logo o jogo decisivo do torneio. E claro, aconteceu o que era de prever. Foi um final infeliz ainda mais agravado com conflitos nas bancadas entre adeptos corinthianos e adeptos portugueses.

Otto terá solicitado à Direcção Benfiquista que fizesse um enérgico protesto mas ao que parece a reclamação não terá acontecido. Ao invés o presidente Ferreira Bogalho sempre elegante para com os seus anfitriões fez declarações suaves relativizando os conflitos assim como os incidentes de jogo que os provocaram.

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Otto falou ainda do clima da tensão nervosa e mesmo de alguma hostilidade uma vez que o Benfica quando entrou em campo foi recebido com... pedras. Literalmente com pedras.
Aproveitando ainda para fazer um balanço Otto, falou nas vantagens da participação no torneio para a sua equipa. Salientou que o Benfica ganhou experiência, malícia, técnica individual e colectiva mais apurada. Até aquele último jogo com o Corinthians no final pôde ser encarada como experiência.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Setembro de 2016, 10:48
-127-
Taça Charles Miller '55 (parte X): Gente boa que se vai!

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Fazendo contas

Terminado o torneio, a classificação final ficou assim definida:

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Os melhores marcadores do torneio foram Washington (America) e o nosso José Águas, ambos com 4 golos marcados. Laércio (Palmeiras) e Borghini (Peñarol) foram os guarda-redes com mais golos sofridos com 13 e 12 golos, respectivamente, seguidos de Costa Pereira com 8 golos sofridos.

Outro aspecto interessante foi a rentabilidade do torneio. Somando as receitas dos jogos do Glorioso, esses valores perfizeram cerca de dois terços (66%) do valor total encaixado pela CBD! Todo esse dinheiro representou mais do dobro do obtido nos jogos de qualquer um dos cinco restantes opositores. O SL Benfica salvou financeiramente o evento.

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Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Destaques Benfiquistas

Dos 17 jogadores que integraram a comitiva Otto Glória usou apenas 13. Assim, Bastos, Monteiro, Pegado e Vieirinha não chegaram a estrear-se em qualquer dos 5 jogos do torneio. Otto definiu 10 jogadores que foram sempre titulares. Na ausência de Du Fialho, titular durante a época, Otto manifestou algumas dúvidas para o lugar de extremo direito Otto. A opção prioritária pareceu Zézinho mas este revelou alguns problemas físicos que levaram ao uso de Salvador ou Calado (este último tinha sido quase sempre titular durante o campeonato Português). Igualmente por razões físicas, Arsénio foi uma vez substituído. Estes números deixam claro que Otto tinha ideias bem definidas e apenas por razões de força maior fez alterações no onze que considerava titular. A única excepção teria sido Du Fialho, caso tivesse ido ao Brasil, uma vez que tinha sido titular frequente durante aquela época.


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Pelas crónicas, todos os jogadores que entraram em campo tiveram excelente prestação. Alguns foram no entanto mais destacados pela imprensa Brasileira. Aqui fica em homenagem, composições de diversos artigos de jornais Brasileiros que destacaram os imortais Costa Pereira, Mário Coluna, Arsénio Duarte e José Águas:



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Tempo de despedidas

A comitiva Benfiquista despediu-se da imprensa carioca oferecendo-lhe um cocktail no Hotel Luxor. No evento, o presidente Ferrreira Bogalho agradeceu a forma criteriosa e simpática como a delegação Benfiquista foi sempre tratada. Acrescentou que regressava encantado e que os pequenos incidentes verificados no jogo com o Corinthians foram uma coisa natural de competição. Por fim, falando sobre Otto Glória, Bogalho declarou que em Lisboa se combatia o treinador Brasileiro como forma de atingir o Benfica. Esta afirmação foi feita a propósito de supostas declarações polémicas que Otto teria feito sobre o desporto Português. Antes como agora o Benfica sempre teve uma forte imprensa negra. Bogalho declarou que o desporto em Portugal era nessa altura era controlado por um ministro e que este advertira o Benfica em face das supostas declarações polémicas de Otto Glória. Assim, Bogalho pediu a melhor colaboração da imprensa Brasileira para que Otto pudesse continuar a sua meritória obra no Sport Lisboa e Benfica.

Mais tarde houve ainda lugar a um jantar de homenagem do Departamento de Imprensa Esportiva (DIE) Brasileiro à Imprensa Desportiva de Portugal. O presidente Benfiquista que também participou no evento ofereceu na ocasião uma flâmula ao director geral do DIE.


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Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Não foi por isso estranho ver os jornais Brasileiros a darem eco a sentimentos de amizade, agradecimento e saudade para com a comitiva Benfiquista. Conforme um jornal publicou: "GENTE BOA QUE SE VAI":


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Fonte: Diário de Notícias; Hemeroteca Brasileira.

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Fonte: Diário de Notícias; Hemeroteca Brasileira.

Em dupla despedida estava Otto Glória, à família e aos profissionais do meio. Otto era uma figura prestigiada, de grande riqueza humana e cultural; um homem de fácil e agradável socialização. Era no entanto um treinador exigente, irascível por vezes, mas que compreendia os jogadores e sabia como os motivar. Foi um inovador que trouxe a modernidade ao futebol do Sport Lisboa e Benfica. Aqui o vemos no momento do regresso a Portugal, a receber o mais saboroso de todos os beijos. Gente boa que partiu, gente boa que ficou.


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Fonte: Última Hora; Hemeroteca Brasileira.


O Benfica seguiu para Caracas onde participou num torneio quadrangular com o La Salle, Valência (Espanha) e o São Paulo (Espanha). Mas dessas histórias já não cabe aqui falar.

No próximo texto finalizarei esta série falando do regresso dos heróis a Portugal.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 12 de Setembro de 2016, 16:50
A salvar bilheteiras desde sempre, mesmo no Brasil!

Obrigado por (mais) esta crónica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Setembro de 2016, 19:51
Citação de: Ned Kelly em 12 de Setembro de 2016, 16:50
A salvar bilheteiras desde sempre, mesmo no Brasil!

Obrigado por (mais) esta crónica.

Nem mais. Obrigado Ned!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Setembro de 2016, 21:01
-128-
Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis.


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Lisboa, 10 de Agosto de 1955. Do aeroporto até à Rua do Jardim do Regedor. Imagens de intensa alegria e comunhão entre adeptos e a comitiva Benfiquista regressada da América do Sul:


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Duas imagens do autocarro do Clube ladeado por entusiasmados Benfiquistas com o detalhe extraordinário de vermos 6 fotógrafos sentados no tejadilho do autocarro. Loucura no regresso dos heróis!. Fonte: Helena Águas.


Terminada a aventura Sul-americana foi tempo da comitiva Benfiquista regressar a casa. E que regresso foi!

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Fonte: Museu Cosme Damião.


Nesse dia 10 de Agosto de 1955 a comitiva chegou a Lisboa depois de uma longa digressão por terras Brasileiras e Venezuelanas. A comitiva Benfiquista chegava cansada mas com intenso orgulho pelas suas notáveis prestações desportivas complementadas por uma agenda social que em muito prestigiaram o nome do Sport Lisboa e Benfica e Portugal.

O aeroporto de Lisboa estava abarrotado de pessoas à espera da comitiva. Depois milhares de pessoas distribuíram-se pelo trajecto até à sede na Rua do Jardim do Regedor. A comitiva fez o seguinte percurso: Aeroporto de Lisboa, Bairro de Alvalade, Avenida da Republica, Praça Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade e por fim Praça dos Restauradores até à Rua Jardim do Regedor. O cortejo durou cerca de três horas a chegar à nossa sede, observando-se pelo caminho as mais variadas manifestações de apreço e clubismo. Um belo ensaio para seis anos depois quando apenas uma Taça (e outra no ano seguinte) trariam tanta felicidade aos Benfiquistas.

Na sede estavam os membros dos órgãos sociais e outras grandes figuras Benfiquistas que integraram a comissão de boas vindas que formalizou a recepção á comitiva: Ribeiro dos Reis, Justino Pinheiro Machado, José Magalhães Godinho, entre outros. Presentes também representantes da FPF, da AFL, e de vários clubes desde o Oriental até ao SCP.
Já no Estádio, a equipa desfilou e posou para as fotografias exibindo orgulhosamente todos os troféus ganhos na longa, cansativa mas também altamente prestigiante e rentável digressão Sul-Americana!


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De volta ao Estádio da Luz, a comitiva Benfiquista exibiu orgulhosamente os troféus conquistados na digressão ao Brasil e Venezuela. A réplica da Taça Charles Miller está assinalada em ambas as fotografias. Em cima reconhecem-se, de pé, Angelino Fontes, Vieirinha, Bastos, Monteiro, Calado, Coluna, Alfredo, Otto Glória, Artur, Pegado, Caiado, Costa Pereira. Em baixo: Jacinto, Zézinho, Palmeiro, Arsénio, Águas, Salvador e Ângelo. Fonte: Em Defesa do Benfica e Helena Águas.


Os Benfiquistas viviam dias excitantes. Com um novo Estádio, um título nacional e uma equipa renovada e com talentos emergentes, tudo era alegria. O futebol Benfiquista encarava o futuro com uma organização moderna, estruturada, coesa e eficiente. Estava em curso a transformação do velho Sport Lisboa e Benfica na máquina fortíssima que se sagraria Bicampeã Europeia. Estava em curso a projecção do SL Benfica e do País à escala planetária; algo nunca antes visto! Cruzando culturas, credos, raças, perspectivas e estilos de vida, a todo o lado chegou o Sport Lisboa e Benfica. Na linguagem universal do futebol, a nossa equipa exibiu desportivismo, talento, educação e respeito pelas diferenças exibidos na expressão da sua lusitanidade.


Voou alto a nossa Águia!

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Voou alto nesses inesquecíveis dias Brasileiros!

E Pluribus unum



Uma nota final

Este conjunto de onze textos foi, por opção consciente, uma longa série com muito material que nunca vi apresentado ou analisado em qualquer outro lado. Reunir, analisar e estruturar esse material levou muito tempo e deu muito trabalho. Sabia que não haveria muito retorno. Assim foi.

Talvez não valesse a pena fazer esta série se não desse tanto gozo pessoal a fazer. Se não desse prazer em os partilhar com o pequeno número de membros deste fórum que têm a capacidade e inteligência de ir para lá da espuma dos dias. A esses Benfiquista que leram, que conseguem desfrutar de forma completa o que é verdadeiramente o Sport Lisboa e Benfica, deixo um bem-haja e um sincero obrigado.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 17 de Setembro de 2016, 22:48
Da minha parte agradeço imenso este trabalho. Já conhecia a história desta digressão, mas não com este pormenor que tu aqui trouxeste.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 18 de Setembro de 2016, 05:13
Da parte que me toca, também muito te agradeço.  :bow2:

Estou a conhecer partes da História do Benfica da qual tinha (e tenho) um conhecimento muito limitado. E esta é uma parte muito importante, porque foram os anos da criação do monstro que é hoje o  :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Setembro de 2016, 08:54
Obrigado Ned e Bakero.  O0
É uma satisfação fazer e partilhar.
A curiosidade em saber é grande. O que se descobre é surpreendente.
Por vezes tenho pena em ver que alguns Benfiquistas parecem limitar o seu conhecimento da história do Benfica a duas taças dos campeões, e mais uma dúzia e meia de grandes jogadores da nossa história. É pena. A aprendizagem do passado do Glorioso surpreende-nos, orgulha-nos, prestigia o nosso nosso Clube, e dá dimensões maiores, bastante maiores ao nosso Benfiquismo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 18 de Setembro de 2016, 10:15
Sem dúvida! Principalmente porque a História do Benfica é, como dizes, inacreditavelmente rica! Arrisco-me mesmo a dizer que até 1994 só mesmo o Real Madrid ultrapassará o nível de Historial do Benfica.

São literalmente mil e uma aventuras encapsuladas num só clube. Uma lenda autêntica (e mesmo pós-94 passámos pela enorme crise mas já temos novamente muito por contar).

E nesse aspecto, concordo que também me faz confusão o pouco interesse dos benfiquistas, quando são adeptos de um clube tão notável. Dá ideia que no final da década de 90, início de 2000 colaram-se muito ao passado, devido à ausência de alegrias no presente mas actualmente o interesse é mínimo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Setembro de 2016, 10:43
É verdade.

A década de 60 foi brilhante e seria de esperar um sentimento nostálgico. É bem Português.

As décadas de 70 e 80 poderiam (e deviam) ter-nos dado um título Europeu. Teria sido amplamente justo. Casos houve em que apenas o acaso do destino não trouxe a taça para a Luz.

Na década de 60 as finais contra os milaneses em que em ambos os casos tínhamos melhor equipa. A final de Londres com o Manchester em que Eusébio no último minuto deveria ter arrumado o jogo. Fatalidades.

Nas eliminatórias contra o Ajax na década de 70. Caso tivéssemos passado estou convencido que teríamos sido campeões europeus. Ainda com Eusébio mas já com Néné, Jordão, Vitor Baptista, etc. Fatalidades.

Na década de 80 a meia final com o Carl Zeiss... depois o Anderlecht, depois a final de penalties com o PSV... Derrotas fortuitas. Fatalidades.

De 1994 a 2004 tivemos um período negro. Apitos dourados e culpas internas.

Mais recentemente a desgraçada final com o Sevilha e até com o Chelsea.

Todos esses insucessos reforçaram o fatalismo. Mas não há razões para isso. O que é mais curioso é que para mim se deve combater o fatalismo com a demonstração do brilhantismo do passado.

Estou perfeitamente envolvido e acompanho o sucesso do tempo presente. Acho que estamos a viver um tempo ameaçador em termos sociais, financeiros, éticos. O SL Benfica não escapa a isso. Ainda assim é um tempo de sucessos. Voltamos a ganhar um tri. Fomos a finais europeias. É preciso ter consciência disso. E viver plenamente estes tempos.

Não há razões para fatalismos. Novamente o fatalismo combate-se com a demonstração do brilhantismo do passado, com todas as fases que o Clube passou. Combate-se com a demonstração que o SL Benfica foi e é muito mais do que a década de 60. Com a demonstração do brilhantismo dos nossos antepassados face a tantas (e bem maiores) adversidades desses tempos.

Durante 50 anos sobrevivemos sem campo, sem balneários, sem condições mínimas para assegurar a sobrevivência. Sobrevivemos a deserções. Sobrevivemos a ataques dos mesmos clubes de sempre, à força bruta do dinheiro, à prepotência. à ditadura. Contra regimes, contra adversidades, o SL Benfica sobreviveu sempre. Com a nobreza e inteligência das suas maiores figuras mas acima de tudo com a espantosa nobreza e generosidade do adepto anónimo. Até os estrangeiros que por cá passaram perceberam isso. Até eles se deixaram enfeitiçar. Não se pode matar o SL Benfica porque o Clube é Portugal. O SLB tem na sua base a essência de Portugal. Não podem nem nunca o poderão matar.

Por exemplo falemos no homem  da estátua. No cidadão do mundo. No sobrevivente do holocausto. No homem que viu tudo e experimentou tudo no mundo do futebol nas suas andanças de décadas. Cidadão do mundo habituado a ver de tudo. Na Europa de Leste, nos Balcãs, em Itália, na América do Norte, na América do Sul, no Porto, por todo o lado por onde ele passou ele viu e experimentou tudo. Ainda assim depois de por aqui passar ele deixou estas palavras:


"Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que Importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno... Por terra... Por mar... Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa... Grande... Incomparável... Extraordinária... massa associativa!"


(http://trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2013/05/Bela-Guttmann-duas-ta%C3%A7as-europeias.jpg)


Não são estas palavras bem mais significativas que uma maldição inventada e estúpida? Uma pseudo-maldição que ele próprio negou.

Ele viu de tudo mas no final ficou Benfiquista.

É disso que falo. O fatalismo e a fatalidade combatem-se com o conhecimento do passado Que só nos enobrece, que só nos orgulha. Que só nos diferencia e eleva aos mais altos desígnios. E Pluribus Unum.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Outubro de 2016, 16:53
-129-
O "caramujo" do futebol (parte I).

Clube de Regatas Vasco da Gama, plantel de 1949, Campeão Carioca.


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Vasco da Gama, plantel de 1949. Designado por Expresso da vitória e liderado por Flávio Costa foi campeão carioca invicto. Salientam-se dois futuros Benfiquistas: Oto Glória (Otaviano Glória, assistente técnico) e Mão de Pilão (Aureliano Rodrigues, assistente de massagista). Salienta-se também o lendário massagista Mário Américo. Em primeiro plano, o sexto a contar da esquerda está também destacado o mítico Heleno Freitas, um antigo grande craque do Botafogo onde foi colega de Rogério Pipi.


Esse grande plantel era comandado por Flávio Costa, futuro treinador da selecção do Brasil que perderia a final do campeonato do mundo de 1950 no dramático Maracanazzo. Mas para nós Benfiquistas o maior interesse está em identificar na fotografia dois homens que alguns anos depois se tornariam figuras importantes do futebol do Sport Lisboa e Benfica da década de 50.

O primeiro é Otto Glória, nesse tempo adjunto de Flávio Costa. Com a saída de Flávio Costa para a Selecção Brasileira, Otto, antigo praticante e treinador de basquetebol, viria a assumir o cargo de treinador principal do futebol do CR Vasco da Gama. Cinco anos depois, após passagens pelo America FC e Olaria AC, Otto viria para o SLB para se tornar um dos mais importantes treinadores da nossa história. Um ganhador, pensador, inovador, um revolucionário que deixou escola e sementes para o Benfica bicampeão Europeu.

O segundo, menos conhecido dos Benfiquistas, era um dos dois massagistas negros do Vasco da Gama. Neste texto falaremos de ambos, o primeiro chamado Mário Américo e o segundo Aurelino Ferreira Rodrigues mais conhecido no mundo do futebol como Mão de Pilão. E será justamente em Mão de Pilão que vamos estar mais interessados, uma vez que foi durante 5-6 anos foi um competente e dedicado funcionário do futebol do Sport Lisboa e Benfica. Quando chegou a Portugal Mão de Pilão tinha já uma curiosa história de vida. O texto de hoje dará um resumo dessa história.


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Aurelino Ferreira Rodrigues, o "Mão de Pilão".


O boxeur que veio da Bahia


Aurelino Ferreira Rodrigues nasceu em 1925 na Baixa do Sapateiro em São Salvador da Baía. Na sua terra natal, Aurelino começou a trabalhar como estivador, um trabalho duro que lhe trazia magros proventos. Por ser forte e ter ambição de subir na vida, Aurelino iniciou paralelamente uma actividade como boxeur onde rapidamente atingiu notoriedade local. Confirmado por ele, Aurelino viria a ganhar a alcunha de Mão de Pilão por via da potência do seu soco.


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Mão de Pilão o boxeur Bahiano. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


A Bahia tornou-se rapidamente pequena para a sua ambição e assim veio para o Rio de Janeiro... a pé. Como ele dizia: "A pé minha gente!". E assim, juntamente com dois amigos fez-se à estrada para ir para a grande cidade do Rio de Janeiro em busca de uma terra de oportunidades. Logo no início desse percurso desentendeu-se com os amigos e prosseguiu sozinho parando nas fazendas que foi encontrando no caminho, onde trabalhou, dormiu e comeu.

Chegado ao Rio de Janeiro, Aurelino integrou-se como boxeur na Academia de boxe do Madureira (pequeno clube carioca que ainda hoje existe). Em 1946 passou a ser boxeur no Clube de Regatas Vasco da Gama onde passou a conviver com outro antigo boxeur do Madureira, o mineiro Mário Américo. Este homem mudaria a vida de Aurelino.

No Vasco, continuaria a revelar-se um boxeur bem-sucedido, tendo contado que chegou a ter uma série de 15 vitórias consecutivas com 15 KO logo no primeiro assalto. Contava aliás várias histórias entre as quais uma vez em que com um tremendo murro tinha fracturado os cinco dedos dessa mão. No boxe acumulou uma série de títulos e medalhas: Campeão de Novos, Campeão de Novíssimos, Campeão Carioca, Campeão Brasileiro, Campeão Sul-Americano por equipas. Aurelino chegou igualmente a disputar torneios pré-olímpicos.

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Aurelino Rodrigues (Mão de Pilão), campeão Brasileiro de boxe na categoria de Meios-médios. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Os caramujos do futebol

Mas a vida dos ringues é curta. Em 1948, abandonou os ringues, e aceitou a sugestão do seu amigo Mário Américo, massagista do CR Vasco da Gama, para aprender a arte das massagens. Os dois antigos boxeurs e companheiros de clube tornaram-se assim os dois caramujos do futebol, os homens das massagens do futebol no Vasco da Gama. Mestre a aprendiz, em tempos felizes no clube dos Portugueses do Rio de Janeiro.


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"Os caramujos do futebol". Fonte: Diário da Noite; Hemeroteca Brasileira.


Caramujo, cornetinha ou burrié é um molusco gastrópode aquático com a concha em espiral. Na gíria do futebol carioca dos anos 50 por vezes esse nome era usado para aludir aos dois prestigiados massagistas do Clube de Regatas Vasco da Gama.
Mão de Pilão foi aluno e assistente de massagista titular Mário Américo. Ambos estiveram ligados ao título carioca do Vasco da Gama em 1949.


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À esquerda, os dois caramujos em acção no balneário do Vasco da Gama. Mão de Pilão lá atrás e Mário Américo à frente em sessões de recuperação muscular de jogadores Vascaínos. À direita o médico (Dr. Giffni) e o enfermeiro (Quincas) do Vasco da Gama. O departamento médico era um organizado e eficaz e serviu de modelo para a reformulação que Otto impôs no nosso Clube a partir de 1954. Fonte: Esporte Ilustrado; Hemeroteca Brasileira.


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O comando técnico do futebol do Vasco da Gama no final da década de 40. Uma equipa organizada e vencedora. Da esquerda para a direita: Mão de Pilão (massagista adjunto), Otto Glória (treinador adjunto), Flávio Costa (treinador principal), Dr. Amílcar Giffoni (médico) e Mário Américo (massagista titular). Os dois caramujos do futebol Vascaíno em grande destaque. Fonte: Hemeroteca Brasileira.


Integrado na estrutura do Vasco da Gama, Mão de Pilão teve oportunidade de ir em digressão a numerosos países na Europa e na América do Norte.

Ironicamente, o grande salto de carreira de Mão de Pilão envolveria a saída do seu amigo e mestre do Vasco da Gama. Com mais de 10 anos de casa, Mário Américo sairia de forma polémica e precipitada do Vasco da Gama para a Portuguesa dos Desportos. Rapidamente se arrependeria mas também rapidamente o seu destino acabou por ser a selecção Brasileira. No Vasco, os dirigentes tiveram o sangue frio e a sensatez de promover Mão de Pilão a massagista titular do clube. O trabalho ficou muito bem entregue.


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Mário Américo

Pela curiosidade e por ser merecido, aqui fica a evocação de Mário Américo, mestre de Mão de Pilão, figura lendária do futebol Brasileiro. Nascido em e falecido em São Paulo em 9 de Abril de 1990, este mineiro foi talvez o mais famoso massagista da história do futebol brasileiro.


(http://i65.tinypic.com/2jd408p.jpg)
Mário Américo trabalhando com Pelé e Garrincha em 1958. Fonte: associacaoportuguesadesportos.


Carinhosamente tratado pelos seus jogadores como "vaca preta", era pelo que se diz virtuoso nas artes das massagens mas também nas mais exóticas artes do vodu e do samba (estranha combinação, huh...).

Mário Américo passou por um pequeno número de clubes tendo o Vasco sido o mais importante, mas a imortalidade chegou por ter sido massagista da Selecção Brasileira em Sete Mundiais! Iniciou-se no Mundial do Brasil 1950 e fechou a sua inestimável contribuição no Mundial da Alemanha 1974! Tal como Pelé, Mário Américo foi um dos poucos, a sagrar-se tricampeão mundial de futebol e goza hoje de um estatuto de lenda do futebol no Brasil. Sobre a fabulosa carreira de Mário Américo, de antigo boxeur até se tornar o lendário massagista ao serviço de diversos clubes e em particular da selecção Brasileira, encontram-se aqui alguns elementos:

http://associacaoportuguesadesportos.blogspot.pt/2011/01/mario-americo.html (http://associacaoportuguesadesportos.blogspot.pt/2011/01/mario-americo.html)

https://tardesdepacaembu.wordpress.com/tag/massagista-mario-americo/ (https://tardesdepacaembu.wordpress.com/tag/massagista-mario-americo/)

http://ftt-futeboldetodosostempos.blogspot.pt/2011/03/o-craque-disse-e-eu-anotei-mario.html (http://ftt-futeboldetodosostempos.blogspot.pt/2011/03/o-craque-disse-e-eu-anotei-mario.html)


Curiosamente numa entrevista no início da década de 60, Mário Américo deu a entender que recebeu uma proposta de Portugal mas que a rejeitou sugerindo que em seu lugar fosse Mão de Pilão. Não custa supor que o convite terá sido do Sport Lisboa e Benfica.


(http://i65.tinypic.com/294rzew.jpg)
Fonte: Revista do Esporte nº 266. Hemeroteca Brasileira


E assim se percebe a importância da contratação de Mão de Pilão pelo Benfica. No final de 1955, por via de Mão de Pilão, alguns dos notáveis conhecimentos e técnicas de recuperação muscular de Mário Américo chegariam a Portugal e ao Sport Lisboa e Benfica. As voltas que o mundo dá.


(http://i64.tinypic.com/2v0fhox.jpg)
Adeus Vasco, olá Benfica!. Dia 13 de Dezembro de 1955. Aurelino Ferreira, o filho e esposa embarcaram no navio "Vera Cruz" para Lisboa onde chegaram cerca de 10 dias depois. Fonte: Diário da Noite; Hemeroteca Brasileira.


(https://jorgelcruz.files.wordpress.com/2012/06/17.jpg)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 05 de Outubro de 2016, 18:42
Grande trabalho RedVC (e muito trabalho deve ter dado).
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Outubro de 2016, 19:59
-131-
O "caramujo" do futebol (parte II).

No Benfica


(http://i68.tinypic.com/2v0btpw.jpg)
Mão de Pilão nos seus tempos do novíssimo Estádio da Luz. Abraçado por Bastos, vê-se também Ângelo Martins. Os jogadores sempre foram os melhores amigos do grande massagista Baiano. Fonte: Em Defesa do Benfica.


A contratação de Mão de Pilão pelo Benfica terá tido contornos interessantes uma vez que para além do Benfica falou-se também no interesse do FCP logo em Julho de 1955, ou seja pouco depois da vinda do Vasco da Gama a Portugal (onde jogou com o SCP, CFB, ACA e FCP).

Falou-se primeiro num eventual interesse do Benfica primeiro em Mário Américo mas (confirmado pelo próprio) acabou por indicar o seu pupilo aos Benfiquistas. E assim foi, o Benfica avançou para a contratação de Mão de Pilão. E em boa hora o fez dada a reconhecida competência do Baiano e a necessidade de modernizar o Departamento Médico, tornando-o compatível e ajustado às necessidades importas pela profissionalização no novo futebol Benfiquista. Otto tinha razão e Ferreira Bogalho não poupou nos esforços para dar essas condições ao Brasileiro.

A disputa com o FCP é fácil de compreender. Tanto o SL Benfica como o FC Porto eram treinados por Brasileiros, Otto Glória no SLB e Yustrich no FCP. Ambos conheciam o valor do massagista Baiano, ambos sentiam as carências internas do seu Clube nessa área e dessa forma quão valiosa seria contribuição que poderia trazer aos seus Clubes. Ao que parece Otto terá sido o primeiro a fazer um convite. A resposta terá demorado apesar de Mão de Pilão estar interessado na mudança. Durante a espera, em Setembro desse ano falou-se igualmente (aventado pelos jornais) no interesse do Benfica em Bento, massagista do Botafogo. Bluff ou real, o que se tornou certo foi apenas o interesses

Finalmente em Dezembro de 1955 seria o SL Benfica a garantir a contratação de Mão de Pilão. Não conheço os contornos exactos da contratação mas não custa imaginar que a amizade entre Otto e Mão de Pilão terá sido fundamental na transferência.

(http://i67.tinypic.com/2zs2wbk.jpg)
Fontes: Diário da Noite; Hemeroteca Brasileira.


As condições financeiras oferecidas pelo nosso Clube foram igualmente decisivas. Quando veio para Portugal Mão de Pilão passou a ser um profissional muito bem pago. Recebeu 200 mil cruzeiros (na época ao que parece seriam por volta de 30 contos) em luvas iniciais e no seu primeiro contrato auferiu um vencimento mensal de 12 mil cruzeiros acrescidos de renda de casa, comida e até passagens de ida e volta para matar saudades no Brasil. Tudo integralmente pago pelo Benfica. Como comentaria Mário Américo, enquanto Mão de Pilão conduzia um Cadillac, ele continuava a ser um simples proletário... No Brasil como ele próprio dizia, era um massagista de salário mínimo simplesmente conhecido por "Mão de Pilão". Em Portugal era bem pago e reconhecido. Mas na verdade Mário Américo era reconhecido e também tinha proventos interessantes.


Reencontro em Portugal

Os dois "caramujos" tiveram oportunidade de se rever e de voltar a trabalhar juntos. Talvez a última vez. A oportunidade surgiu logo em Abril de 1956 quando a Selecção Brasileira veio a Lisboa para disputar um desafio amigável com a Selecção Portuguesa. Esse Escrete Canarinho era novamente orientado pelo seu velho "patrão" Flávio Costa, o treinador do funesto Mundial de 1950.

Flávio Costa não ficaria muito tempo, pois também nessa época o Escrete Canarinho devorava treinadores. Flávio era o velho patrão dos dois caramujos, treinador dos velhos e gloriosos tempos do Vasco da Gama. O grande futebol Brasileiro num pequeno mundo...


(http://i63.tinypic.com/2hs7ork.jpg)
Equipa Nacional do Brasil que disputou em 8-04-1956, um desafio particular no Estádio Nacional contra a Selecção Portuguesa (venceu o Brasil 1 - 0). Em pé: Djalma Santos, De Sordi, Nilton Santos, Gilmar, Zózimo e Roberto Balangero. Agachados: Mário Américo (Massagista), Sabará, Valter, Gino, Didi, Canhoteiro e Mão de Pilão (assistente de massagista). Fonte: www.museudosesportes.blogspot.com.br


https://www.youtube.com/watch?v=-5_3K33vkYc (https://www.youtube.com/watch?v=-5_3K33vkYc)
Breve resumo do Portugal 0 – Brasil 1 de 8 de Abril de 1956, disputado no Estádio Nacional.

Ao falar de Mão de Pilão no SL Benfica, falamos de um grande profissional que veio do Brasil e que deixou conhecimentos, saudades e amizades. Em jeito de homenagem fica uma galeria de imagens da sua passagem pelo Glorioso. Reconhecido como um prodigioso profissional, era no dizer dos jogadores Benfiquistas que com ele lidaram, um profissional extraordinário e que fazia a diferença na recuperação de lesões.


Galeria de Mão de Pilão no SLB


(http://i66.tinypic.com/nq68td.jpg)
A equipa do SL Benfica que venceu a Taça de Portugal 1956-1957. Em cima, da esquerda para a direita: Jacinto, Pegado, Zézinho, Serra, Otto Glória, José Ricardo Domingues Júnior, Ângelo. Em baixo: Mão de Pilão (massagista), Palmeiro, Coluna, Águas, Salvador, Cavém e Ramos (massagista).


(http://i65.tinypic.com/1zcdbwj.jpg)
No final da primeira era de Otto Glória no SL Benfica... O plantel do SL Benfica que venceu o campeonato nacional de 1958-1959. Em cima, da esquerda para a direita: Caiado, Naldo, Calado, Domingues Júnior, Otto Glória, Ramos (massagista), Pegado, Alfredo, Artur, Ângelo, Bastos e Mão de Pilão (massagista). Em baixo: Isidro, Palmeiro, Chipenda, Zézinho, Águas (e Helena Águas, sua filha), Salvador, Cavém, Santana e Jacinto. Fonte: Delcampe.


(http://i63.tinypic.com/350kjlh.jpg)
Equipa vencedora da Taça de Portugal de 1958/1959. Otto estava de saída e foi Valdiviezo a assegurar o comando técnico nesse dia. Em cima, da esquerda para a direita: Costa Pereira, Neto, Alfredo, Mário João, Serra, Valdiviezo, Artur Santos, Bastos. Em baixo: Ramos (massagista), Palmeiro, Coluna, Águas, Santan, Cavém e Mão de Pilão (massagista).

(http://i63.tinypic.com/2h5us11.jpg)
Outro ângulo. Era o final da primeira era de Otto Glória no SL Benfica. Otto Glória estava de saída cedendo o seu lugar a Bela Guttman. Valdiviezo assegurava a transição. Mão de Pilão, o amigo e sócio de Otto, ficaria mais uma época no nosso Clube.


(http://i64.tinypic.com/2mn3w4l.jpg)
O plantel do Sport Lisboa e Benfica que venceu o campeonato nacional em 1959-1960. Mão de Pilão (massagista), Barroca, Zézinho, Mário João, Alfredo, Cruz, ?, Guttman, Neto, Saraiva, Artur, Costa Pereira, Azevedo, Palmeiro, Ângelo, José Augusto, Mendes, Torres, Coluna, José Águas, Santana, Cavém. Mão de Pilão estava no final da sua aventura como massagista do Glorioso. Fonte: Em Defesa do Benfica.


(http://i64.tinypic.com/iwj40y.jpg)
Talvez a última fotografia de Mão de Pilão no Benfica. Já na era Guttman! A equipa do Sport Lisboa e Benfica que venceu o campeonato nacional de 1959-1960. Em cima: Barroca, Serra, Neto, Cruz, Guttman (treinador), Mário João, Artur, Costa Pereira. Em baixo: José Augusto, Santana, José Águas, Coluna, Cavém e Mão de Pilão (massagista). Já estava quase tudo pronto para conquistar a Glória Europeia!


Durante os anos que nos serviu, Mão de Pilão foi um elemento importante não apenas pela sua competência profissional mas também pela boa disposição que criava no seio da equipa. Como lembrava Francisco Palmeiro a propósito da estreia do SL Benfica nas competições Europeias em 1957 contra o Sevilha: "A viagem serviu para descontrair. Havia um massagista brasileiro, com alcunha de Mão de Pilão, que contava anedotas. «Além disso o Otto Glória preparava-nos muito bem psicologicamente. Estávamos preparados para tudo."


(http://i67.tinypic.com/k00g75.jpg)
Mão de Pilão sentado ao lado de Zézinho, sorria ao apreciar os trepidantes "ritmos de africanos" de Costa Pereira e de um outro "folião". Quem seria? Talvez Calado, talvez Pegado, dois gloriosos conhecidos como bons folgazões. Fonte: Ídolos do Desporto.


Para além do Benfica

Ao mesmo tempo que trabalhava no Benfica, Mão de Pilão decidiu-se a abrir um ginásio ou uma academia em Lisboa. Esse estabelecimento contando com massagens, sauna, era considerado o mais moderno da península ibérica e estava situado na Avenida Duque de Ávila perto do Hotel Príncipe, que ainda hoje existe. Destinado quer a homens quer a mulheres, nesse salão onde era conhecido como Sr. Rodrigues, aplicou os seus conhecimentos e extraordinárias faculdades. Mais do que um massagista, Mão de Pilão foi um fisioterapeuta com apreciável intervenção na recuperação muscular de muitas pessoas. Ganhou bom dinheiro e esse reconhecimento acabou por o reter durante anos no nosso País.


(http://i63.tinypic.com/29awpb6.jpg)
Cruzamento da Avenida Duque de Ávila com a Avenida da Republica na década de 60. Fonte: AML.


Pelo menos nessa primeira fase Mão de Pilão tinha Otto Glória como sócio mostrando uma vez mais a ligação de amizade e confiança entre os dois homens. Certo é que o sucesso foi tanto que pouco depois os proventos ganhos nesse estabelecimento superavam largamente o que ganhava no SL Benfica. Com esse sucesso e com a progressiva falta de tempo, era chegada a oportunidade de novamente mudar de vida.
Medida do seu sucesso é que Mão de Pilão alguns anos depois declarava que a sua mulher em Portugal já tinha ganho cerca de 20 quilos. Mas ele próprio uns anos mais tarde foi descrito já como sendo um imponente homem de cerca de 100 quilos. "Que vida boa Seu Aurelino, heh!"

E assim ao fim de quatro Gloriosos anos, em 1960, Mão de Pilão decidiu abandonar o nosso Clube para se dedicar a tempo inteiro ao seu negócio. Decisão tomada num tempo curioso. Na época seguinte o SL Benfica sobre o comando de Bela Guttman viria a sagrar-se campeão Europeu em Berna. No ano seguinte seria bicampeão Europeu em Amsterdão.

É possível que ainda continuasse a dar algum apoio em casos pontuais ao Benfica mas o que é facto é que Mão de Pilão já não foi bicampeão. Deixou uma imagem de profissional competente e transmitiu conhecimentos técnicos que seguramente foram bem aproveitados no balneário do SL Benfica. No local onde se fabricaram os bicampeões Europeu!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Outubro de 2016, 20:07
Citação de: Theroux em 05 de Outubro de 2016, 18:42
Grande trabalho RedVC (e muito trabalho deve ter dado).

Muito obrigado Theroux.  O0

Sim! Muito trabalho mas também muito prazer. Espero que mais e melhor ainda possa vir. O Benfica é um mundo de surpresas. Do prazer do Estádio para as surpresas dos arquivos, vou conseguindo ir desfrutando do melhor desses dois mundos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 05 de Outubro de 2016, 20:23
Citação de: RedVC em 05 de Outubro de 2016, 20:07
Citação de: Theroux em 05 de Outubro de 2016, 18:42
Grande trabalho RedVC (e muito trabalho deve ter dado).

Muito obrigado Theroux.  O0

Sim! Muito trabalho mas também muito prazer. Espero que mais e melhor ainda possa vir. O Benfica é um mundo de surpresas. Do prazer do Estádio para as surpresas dos arquivos, vou conseguindo ir desfrutando do melhor desses dois mundos.

Seria possível escrever um livro dedicado exclusivamente às viagens ao estrangeiro no século XX. Recentemente fiquei a saber que a equipa até já esteve nos Camarões, mais um destino bastante improvável.

Será que no blog Em Defesa do Benfica existe uma lista com todos os países visitados? Devem ser umas dezenas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Outubro de 2016, 20:28
Citação de: Theroux em 05 de Outubro de 2016, 20:23
Citação de: RedVC em 05 de Outubro de 2016, 20:07
Citação de: Theroux em 05 de Outubro de 2016, 18:42
Grande trabalho RedVC (e muito trabalho deve ter dado).

Muito obrigado Theroux.  O0

Sim! Muito trabalho mas também muito prazer. Espero que mais e melhor ainda possa vir. O Benfica é um mundo de surpresas. Do prazer do Estádio para as surpresas dos arquivos, vou conseguindo ir desfrutando do melhor desses dois mundos.

Seria possível escrever um livro dedicado exclusivamente às viagens ao estrangeiro no século XX. Recentemente fiquei a saber que a equipa até já esteve nos Camarões, mais um destino bastante improvável.

Será que no blog Em Defesa do Benfica existe uma lista com todos os países visitados? Devem ser umas dezenas.

É possível. Ainda recentemente Alberto Miguéns falou da fabulosa viagem a África em 1950. Custou-nos o campeonato seguinte mas trouxemos José Águas connosco...

Eu muitas vezes consulto o livro de Afonso de Melo

(https://images.portoeditora.pt/getresourcesservlet/image?EBbDj3QnkSUjgBOkfaUbsI8xBp%2F033q5Xpv56y8baM6POSeSuj3VVCeLJmXJX%2Bdx&width=250)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Outubro de 2016, 16:34
Ritmos latinos na Holanda de 1962

(http://i64.tinypic.com/hvdixv.png)

Senhoras e Senhores Benfiquistas, apresento-vos

Willy Schobben e a sua música Benfica


(https://encrypted-tbn2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQZqugG7TmHZ3VVmUOVGr_PmaccgGXNIbmmqrn-FCfTnpGMtN9vdg)


e para quem quiser ouvir  :cheerleaders:  :slb2:  :dance:  :D


http://www.kboing.com.br/willy-schobben/1-6324260/ (http://www.kboing.com.br/willy-schobben/1-6324260/)


ps: Coluna não aprova esta música.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420)) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola

(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)

Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado

(http://i57.tinypic.com/2i9glxj.png)

E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:


(http://i63.tinypic.com/qryoh4.jpg)

Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.


(http://i66.tinypic.com/2i8y6uv.jpg)



Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)


Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.

(http://3.bp.blogspot.com/-h6SOgcIs3_w/U16ITqKuAGI/AAAAAAAANoE/FfCVWmy1hpE/s1600/V+1-0+1911.jpg)


Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 14:36
Bom, e parece-me que, com as tuas ideias e as fotos que incluis (e os originais, não as reedições posteriores) acabas por responder à minha pergunta.  O0
E agora eis que me surgiu mais uma dúvida: quando é que surgiu o primeiro alternativo? A primeira foto que encontrei do Benfica em trajes alternativos foi em 1948, no livro "Equipamentos com História" (onde também se fala que "jogou, por vezes, com camisola branca debruada a vermelho e calções vermelhos"), mas custa-me a crer que tenha sido só nessa altura...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 14:48
O primeiro equipamento alternativo do SL Benfica foi...


(http://2.bp.blogspot.com/-R_9M6xJ6B0Y/VaJ3JhBQkcI/AAAAAAAAYMk/EB_MLG2Rj5o/s1600/Equipamento.jpg)

o que está à esquerda!

Os detalhes foram contados por Alberto Miguéns e envolveram um jogo na década de 30 (talvez 1934) penso que contra o Sparta de Praga. Como os Checos jogavam com as nossas cores teve que se improvisar.  O que havia disponível era o equipamento do SC Império. Amarelo e negro. Às riscas!!!

Vou ver se encontro o artigo de A. Miguéns.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 14:50
Está aqui uma mensagem deixada por o nosso companheiro Eagle Heart:


Citação de: Eagle Heart em 26 de Junho de 2016, 23:46
Citação de: SLB-Marco em 26 de Junho de 2016, 19:09
Citação de: Mjolnir em 26 de Junho de 2016, 19:07
O primeiro alternativo do Benfica tinha meias vermelhas... No principal elas eram pretas. Portanto aceito e gosto de alternativos brancos (como o deste ano) e pretos, outras cores já nem por isso.
O0

Exato, era isso que estava a dizer.

Claro que, como a maioria, prefiro o alternativo branquinho, mas o preto também não me incomoda, já que não é alheio à longa história do Benfica.

A meu ver acho que o equipamento preto, talvez seja parvoíce minha, mas se repararem na bancada da maior e mais numerosa claque do Benfica, a cor preta esta em maior numero.
E quando o Benfica lança uma peça de roupa em que o preto está presente, porque acaba se ser a cor que eles mais gostam de usar. Inclusive em lugar de terem bandeiras ou estandartes só com vermelho e branco, existem alguns com preto e a meu ver a Adidas então cria os preto por isso.

Em relação ao 1º equipamento de sempre fica aqui uma historia engraçada que demonstra que o 1º não foi branco:

" O velho equipamento amarelo e preto do Sport Clube Império acabaria por ser o primeiro equipamento alternativo do... Sport Lisboa e Benfica.

De facto como nos conta Alberto Miguéns: "É bom recordar que o SC Império inaugurou depois, em 29 de Outubro de 1911, um bom campo em Palhavã. Foi neste campo que o Benfica, em 12 de Janeiro de 1924 se deparou com o insólito. O adversário dessa tarde, AC Sparta de Praga equipava "À Benfica"! Sem equipamentos alternativos houve que puxar os que estavam "mais à mão". Os do clube da casa. E assim os "vermelhos" jogaram às riscas verticais, pretas e amarelas. Ao que consta, houve "lágrimas no canto do olho" em quem presenciava de fora esse jogo "esquisito"!". Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/04/o-triunfo-de-alvaro-gaspar.html.  Um jogo infeliz para as nossas cores mas de factos os Checos eram uma equipa demasiado poderosa para as nossas capacidades de então.


Ecos do SL Benfica 0 - AC Sparta 6. Repare-se no detalhe sobre os equipamentos das duas equipas. Fonte: Diário de Lisboa, 12 Janeiro 1924, página 1.

Única fotografia que conheço do jogo do SLB com o AC Sparta em 12 de Janeiro de 1924. O guarda-redes Chiquinho atira-se aos pés de um Checoslovaco. Não se percebe mas o Benfica alinhou vestido à Império. Fonte: Em Defesa do Benfica."

(http://i65.tinypic.com/p4web.png)(http://2.bp.blogspot.com/-R_9M6xJ6B0Y/VaJ3JhBQkcI/AAAAAAAAYMk/EB_MLG2Rj5o/s1600/Equipamento.jpg)



«Os "vermelhos" como eram conhecidos até aos anos 30 não estavam (pela primeira vez de vermelho!) em campo. É que enquanto estavam a "equipar-se" os benfiquistas aperceberam-se que ia haver confusão porque o adversário vinha todo de vermelho. Só o branco dos calções não chegava para diferenciarem-se duas equipas de onze jogadores. Como não havia "alternativos" a "alternativa" foi pedir as camisolas que os futebolistas do clube proprietário do campo (SC Império) utilizavam. E assim foi. O resultado foi o "menos interessante", pois o "Glorioso" perdeu por... 0-6! Interessante foi o que um repórter da época escreveu num jornal num dos dias seguintes ao encontro (cito de memória): «Um espectador benfiquista da velha guarda quando viu os "seus" vestidos sem ser de vermelho não conseguiu deixar escapar umas lágrimas pelo rosto abaixo!»
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 14:57
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 14:36
Bom, e parece-me que, com as tuas ideias e as fotos que incluis (e os originais, não as reedições posteriores) acabas por responder à minha pergunta.  O0
E agora eis que me surgiu mais uma dúvida: quando é que surgiu o primeiro alternativo? A primeira foto que encontrei do Benfica em trajes alternativos foi em 1948, no livro "Equipamentos com História" (onde também se fala que "jogou, por vezes, com camisola branca debruada a vermelho e calções vermelhos"), mas custa-me a crer que tenha sido só nessa altura...

Miguéns fala também desse jogo aqui


http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2013/07/30-thls-antes-pelo-contrario.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2013/07/30-thls-antes-pelo-contrario.html)


Citando:

Em 12 de Janeiro de 1924 ocorreu o "impensável"! No campo de Palhavã (inaugurado em 29 de Outubro de 1911 com um SLB vs SC Império, com vitória "vermelha" por 2-1) o Benfica foi convidado para defrontar a "fabulosa equipa" do AC Sparta de Praga, da capital da Checoslováquia em digressão por Portugal. Para espanto dos muitos espectadores presentes enquanto o AC Sparta entrava equipado de... vermelho o seu adversário (SL Benfica) equipava de calções brancos mas camisola às riscas verticais amarelo-dourado e pretas.


Os "vermelhos" como eram conhecidos até aos anos 30 não estavam (pela primeira vez de vermelho!) em campo. É que enquanto estavam a "equipar-se" os benfiquistas aperceberam-se que ia haver confusão porque o adversário vinha todo de vermelho. Só o branco dos calções não chegava para diferenciarem-se duas equipas de onze jogadores. Como não havia "alternativos" a "alternativa" foi pedir as camisolas que os futebolistas do clube proprietário do campo (SC Império) utilizavam. E assim foi. O resultado foi o "menos interessante", pois o "Glorioso" perdeu por... 0-6! Interessante foi o que um repórter da época escreveu num jornal num dos dias seguintes ao encontro (cito de memória): «Um espectador benfiquista da velha guarda quando viu os "seus" vestidos sem ser de vermelho não conseguiu deixar escapar umas lágrimas pelo rosto abaixo!» NOTA DO EDB: Ainda hoje quanto se trata de alternativo que não seja "o branco" há sempre "mosquitos por cordas"!



(http://1.bp.blogspot.com/-A-5H2YQrj9g/Ue3OL1vLGfI/AAAAAAAAJpI/U6UkWFq6XAc/s640/IMG_0010.jpg)

Uma imagem (a única que conheço), da autoria do fotógrafo Norberto Dinis, no "célebre" jogo do "Glorioso" frente ao AC Sparta (a equipa de vermelho), em 12 de Janeiro de 1924 no campo do SC mpério, em Palhavã. Na imagem, perante a acção de um checo, o guarda-redes Francisco Vieira (Chiquinho) na "especialidade" (o mergulho) que o tornou famoso, o melhor do seu tempo e internacional por Portugal, em três jogos consecutivos, entre 1923 e 1925, no tempo em que a selecção nacional fazia um jogo por ano! Ao longe, sem possibilidade de identificação está um futebolista Benfiquista "à Império": calção branco e camisola às riscas verticais (ao centro uma preta ladeada de duas amareladas-torradas-douradas). Mal se percebem! Ainda bem! Acrescento eu! Fotografia digitalizada da página 484 da colossal obra de dois Benfiquistas, Mário de Oliveira e Rebelo da Silva "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 14:59
Que eu saiba foi a única vez que jogamos com riscas. Livra!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 17:06
Bom, comecemos por partes:
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.
Descobri hoje este tópico (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=58817.0), que parece ter aquilo que referes - só falta mesmo as cores como as que colocaste naquela versão (kudos, btw!)

Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 14:48
O primeiro equipamento alternativo do SL Benfica foi...


(http://2.bp.blogspot.com/-R_9M6xJ6B0Y/VaJ3JhBQkcI/AAAAAAAAYMk/EB_MLG2Rj5o/s1600/Equipamento.jpg)

o que está à esquerda!

Os detalhes foram contados por Alberto Miguéns e envolveram um jogo na década de 30 (talvez 1934) penso que contra o Sparta de Praga. Como os Checos jogavam com as nossas cores teve que se improvisar.  O que havia disponível era o equipamento do SC Império. Amarelo e negro. Às riscas!!!

Vou ver se encontro o artigo de A. Miguéns.
De facto sempre que cá venho aprendo mais qualquer coisa, e hoje não foi excepção. A história de como o Benfica, o anfitrião, teve de jogar com os equipamentos do dono do campo é só mais um reflexo de como se desenrolava o futebol nessa longínqua era, amador e cheio de "fair-play".  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 17:07
[Mensagem em duplicado - apagar, sff]
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Outubro de 2016, 16:40
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 17:06
Bom, comecemos por partes:
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.
Descobri hoje este tópico (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=58817.0), que parece ter aquilo que referes - só falta mesmo as cores como as que colocaste naquela versão (kudos, btw!)

Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 14:48
O primeiro equipamento alternativo do SL Benfica foi...


(http://2.bp.blogspot.com/-R_9M6xJ6B0Y/VaJ3JhBQkcI/AAAAAAAAYMk/EB_MLG2Rj5o/s1600/Equipamento.jpg)

o que está à esquerda!

Os detalhes foram contados por Alberto Miguéns e envolveram um jogo na década de 30 (talvez 1934) penso que contra o Sparta de Praga. Como os Checos jogavam com as nossas cores teve que se improvisar.  O que havia disponível era o equipamento do SC Império. Amarelo e negro. Às riscas!!!

Vou ver se encontro o artigo de A. Miguéns.
De facto sempre que cá venho aprendo mais qualquer coisa, e hoje não foi excepção. A história de como o Benfica, o anfitrião, teve de jogar com os equipamentos do dono do campo é só mais um reflexo de como se desenrolava o futebol nessa longínqua era, amador e cheio de "fair-play".  O0

Fair-play Rodolfo? Por vezes sim mas infelizmente não era a norma.

As coisas foram relativamente civilizadas até 1908-1909. A primeira verdadeira rivalidade do nosso futebol foi o SLB vs CIF. Os jogos eram intensos mas essencialmente as disputas eram dentro do campo. Do lado do CIF tínhamos homens como os irmãos Pinto Basto e Carlos Villar. Gente elevada que estava no desporto pelo desporto. O Benfica tinha também gente da estatura de Cosme Damião e Félix Bermudes.

Com o aparecimento do SCP e com o eclipse competitivo (por opção própria) do CIF tudo mudou.

Talvez antes tenham acontecido problemas mas seguramente no campeonato de 1910/1911 aconteceram factos graves que marcaram para sempre o clima entre os dois eternos rivais.

Nesse ano o campeonato foi quente e o campeão foi o CIF. No dia 18 de Junho de 1911 (se não estou em erro) o Benfica foi jogar ao campo do SCP (Sítio das Mouras) num jogo que não definia nada (o Benfica seria 2º e o SCP 3º). Apesar disso o clima foi explosivo e quando Eduardo Luís Pinto Basto, árbitro do CIF valida o golo de empate do SLB, deu-se uma enorme contestação do público. Invasão de campo e jogo interrompido primeiro e terminado depois.

A Liga Portuguesa de Futebol (entidade que pretendia reger o futebol) marcou um novo jogo mas o SCP apesar de jogar em casa não compareceu alegando que os jogadores do SLB não eram dignos de comparecer nas suas instalações. Alegavam que tinha havido agressão ao seu guarda-redes e que só isso tinha originado o golo de empate no jogo interrompido. Também nos jornal O Século um colunista com pseudónimo "Má fama" (que ao que parece seria irmão de um jogador verde) escreveu diversas adjectivações degradantes ao SLB. A resposta de Félix Bermudes e Cosme Damião fez notar que o nível desse senhor era igual ao dos "faquistas" que interromperam o jogo.

Ou seja fazendo um resumo, aconteceu:

● um jogo interrompido por invasão de campo nas instalações do SCP

● um jogo interrompido com gente verde com navalhas na mão

● uma campanha orquestrada num jornal contra o SLB

● uma recusa dos verdes em aceitar decisões da autoridade que superintendia o futebol

● uma série de acusações contaminadas com o tradicional sentimento de superioridade social e moral dos verdes em relação ao SLB.

Será que isto soa familiar? Há 105 anos atrás.

Note-se que no SLB não havia anjos. No SLB houve também excessos e inclusivamente há uma fotografia que denota uma agressão a um árbitro no decurso de um jogo contra o CIF (eventualmente nesse mesmo ano). Ainda assim o histórico do SCP nos primeiros anos foi de recorrentes desistências, episódios anti-desportivos e adjectivações baixas. Apenas em 1914/1915 e depois de diversos jogadores roubados ao SLB o SCP conseguiria o primeiro título.

Não, ainda antes desses tempos (1934) já havia muita coisa negativa. Em 1910/1911 já o palco estava montado. Os palhaços renovam-se mas a conversa é sempre a mesma. Já não há viscondes de Alvalade mas ainda há muito banqueiro a sustentar essa gente.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 11 de Outubro de 2016, 21:39
RedVC, duas curiosidades saídas de uma conversa que estava a ter há pouco com um amigo, e tu és capaz de saber:

Como começou a alcunha de "lampião"? A ideia que eu tenho é que surgirá do Benfica ter sido o primeiro clube a ter iluminação artificial na península ibérica e os rivais (principalmente os do Sporting, claro) começaram a chamar os benfiquistas de lampiões. Confirma-se? Ou terá a ver com o Estádio da "Luz"?

E a expressão "glorioso" associada ao Benfica, tens ideia quando terá começado a ser utilizada?

Ps: E já agora mais uma lol. Há um pequena tradição no Benfica que eu sempre adorei, porque foi das primeiras coisas que me fascinou em criança quando ia ao antigo estádio da Luz: ver a equipa do Benfica a fazer a famosa vénia aos adeptos ao majestoso 3º anel (que infelizmente foi interrompida durante uns anos - finais de 90/início de 2000 parece-me - até que explicaram isso ao Simão e ele reactivou essa tradição que ainda hoje é cumprida). Tens ideia também qual foi a primeira equipa do Benfica a começar isso de fazer a vénia?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Outubro de 2016, 22:04
Citação de: Bakero em 11 de Outubro de 2016, 21:39
RedVC, duas curiosidades saídas de uma conversa que estava a ter há pouco com um amigo, e tu és capaz de saber:

Como começou a alcunha de "lampião"? A ideia que eu tenho é que surgirá do Benfica ter sido o primeiro clube a ter iluminação artificial na península ibérica e os rivais (principalmente os do Sporting, claro) começaram a chamar os benfiquistas de lampiões. Confirma-se? Ou terá a ver com o Estádio da "Luz"?

E a expressão "glorioso" associada ao Benfica, tens ideia quando terá começado a ser utilizada?

Ps: E já agora mais uma lol. Há um pequena tradição no Benfica que eu sempre adorei, porque foi das primeiras coisas que me fascinou em criança quando ia ao antigo estádio da Luz: ver a equipa do Benfica a fazer a famosa vénia aos adeptos ao majestoso 3º anel (que infelizmente foi interrompida durante uns anos - finais de 90/início de 2000 parece-me - até que explicaram isso ao Simão e ele reactivou essa tradição que ainda hoje é cumprida). Tens ideia também qual foi a primeira equipa do Benfica a começar isso de fazer a vénia?


Não sou assim tão sabedor mas posso apresentar o que sei. Vamos por partes:

Vénia:

(https://4.bp.blogspot.com/-o6eysgQZ_sQ/V6TCcdX4TAI/AAAAAAAAl0c/AiimL-d-SwQihUavB3vRC64XY3g-0kcwgCLcB/s1600/VENIA.png)

remonta ao pós-digressão a Osaka 1970. Alberto Miguéns explica isso muito bem:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/08/a-venia.html?m=1 (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/08/a-venia.html?m=1)

(https://1.bp.blogspot.com/-7UfzsHIq1bU/V6Rvt6pIxlI/AAAAAAAAlzI/laPESYCXC5gziiCWOgllEnt5qfMecMBYgCLcB/s1600/01.PNG)


Lampião
Diz-se que terá sido por volta de 1954 aquando da inauguração do Estádio. Nesse tempo grande parte das ruas de Lisboa ainda era iluminada com lampiões a azeite. E assim os sapos que estavam habituados a ver-nos com um estádio fraco quando olhavam para aquele lindo Estádio tentavam provocar-nos dizendo que a Luz só brilharia enquanto houvesse azeite...


Glorioso
Não sei exactamente quando mas penso ser mesmo dos primórdios. Aliás num V&P Alberto Miguéns falava que o termo usado era Gloriosíssimo. Isto a propósito das vitórias contra os Ingleses do Carcavellos Club (em particular a de 1910). Tanto quanto sei exceptuando as equipas de Casapianos de 1892 e 1893 (muitos dos quais foram depois jogadores da nossa primeira categoria) só o nosso Clube ganhou aos mestres Ingleses (pelo menos 3 vezes). O SCP e o CIF o melhor que conseguiram foram uns (um ou dois) empates!

Se souber alguma coisa que corrija estas ideias depois coloco aqui.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 11 de Outubro de 2016, 22:23
Obrigado pelas tuas respostas. Fui ler o artigo do Miguéns e jesus, estou apaixonado por esta foto:

(https://2.bp.blogspot.com/-VkuMKQJRtIs/V6PTIWq-caI/AAAAAAAAly4/sffUM2K7S-Eq5E3vlSBM14gRhtNLmy3uwCLcB/s640/venia.jpg)

Isto é tão Benfica!  :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Outubro de 2016, 23:20
Citação de: Bakero em 11 de Outubro de 2016, 22:23
Obrigado pelas tuas respostas. Fui ler o artigo do Miguéns e jesus, estou apaixonado por esta foto:

(https://2.bp.blogspot.com/-VkuMKQJRtIs/V6PTIWq-caI/AAAAAAAAly4/sffUM2K7S-Eq5E3vlSBM14gRhtNLmy3uwCLcB/s640/venia.jpg)

Isto é tão Benfica!  :bow2:


Sim é verdade. Sempre o reconhecimento à grande força do Benfica! O adepto!


Há uma outra versão e se calhar mais perto da verdade histórica para o nome "lampião".

A fonte é também Alberto Miguéns que apurou isto junto de Benfiquistas antigos:

os sapos chamariam-nos lampiões dado que nos funerais antigos quem ia à frente levava dois círios (velas enormes) a arder. Acontece que os círios teriam um invólucro avermelhado e popularmente eram conhecidos por lampiões...

Sacanas dos sapos!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 12 de Outubro de 2016, 10:17
(http://i63.tinypic.com/29cp4eg.jpg)

Borges Coutinho, António Fidalgo e Jaime Graça, em 1972, a embarcarem no aeroporto para mais uma eliminatória da Taça dos Campeões Europeus do Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 20 de Outubro de 2016, 10:54
(http://i68.tinypic.com/2hxugyb.jpg)

António Fidalgo com Alberto e Gomes. Ao fundo, Nené e Rodolfo.

Porto-BENFICA, 1978.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Dandy em 20 de Outubro de 2016, 13:13





   "zappendrix":

   Sabes que existem fotografias onde não consta o António Fidalgo?

    :amigo:



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 21 de Outubro de 2016, 12:32
Citação de: Dandy em 20 de Outubro de 2016, 13:13

:) O homem merece ser referenciado! Teve de competir na baliza do Benfica com o Bento e o José Henrique!



   "zappendrix":

   Sabes que existem fotografias onde não consta o António Fidalgo?

    :amigo:




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 21 de Outubro de 2016, 12:33
Citação de: Dandy em 20 de Outubro de 2016, 13:13





   "zappendrix":

   Sabes que existem fotografias onde não consta o António Fidalgo?

    :amigo:

:) O homem merece ser referenciado! Teve de competir na baliza do Benfica com o Bento e o José Henrique!  :amigo:



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Outubro de 2016, 12:40
Citação de: zappendrix em 21 de Outubro de 2016, 12:33
Citação de: Dandy em 20 de Outubro de 2016, 13:13





   "zappendrix":

   Sabes que existem fotografias onde não consta o António Fidalgo?

    :amigo:

:) O homem merece ser referenciado! Teve de competir na baliza do Benfica com o Bento e o José Henrique!  :amigo:




zappahendrix,
apesar de tudo há algum elemento nessa fotografias que tenha algum tipo de dificuldade de interpretação?
Talvez existam tópicos mais adequados para colocar essas fotografias. Que aliás agradeço porque nem conhecia. Este tópico talvez seja mais adequado para fotografias que sejam de difícil interpretação. Ainda hoje devo colocar por aqui uma mensagem que talvez demonstre bem a natureza do que estou a dizer.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Outubro de 2016, 20:31
-131-
Mobilis in mobile

1918, Doca do Bom Sucesso, Belém.

Na torre do submersível NRP Golfinho, 9 militares da Marinha de Guerra Portuguesa posam para o grande fotógrafo Joshua Benoliel (https://pt-pt.facebook.com/joshuabenoliel/ (https://pt-pt.facebook.com/joshuabenoliel/)). Entre esses bravos pioneiros da divisão de submersíveis da Armada Portuguesa nota-se que um envergava uma farda branca:

(http://i66.tinypic.com/2cekc55.jpg)
O NRP Golfinho fundeado na doca do Bom Sucesso em Belém. Na ponte estão nove homens.
Fonte: AML; fotografia de Joshua Benoliel.


É justamente nesse homem que hoje centraremos as nossas atenções. Um homem natural de Belém e alguém de quem já por aqui falamos, mas que nunca nos cessa de surpreender, de tão rica foi a sua vida.


(http://i68.tinypic.com/2b1vde.jpg)
Francisco dos Reis Gonçalves,
fundador do Sport Lisboa e pioneiro da Divisão de submersíveis da Marinha de Guerra Portuguesa.
Fonte: AML e Arquivo da Marinha Portuguesa.


Francisco dos Reis Gonçalves foi um Oficial Engenheiro Maquinista Naval com especialização em submersíveis. Mas para nós Benfiquista, a sua imortalidade ficou garantida por ter sido um dos 24 homens que fundou o nosso Clube no dia 28 de Fevereiro de 1904 na Farmácia Franco em Belém. Francisco foi um dos 24 Primeiros!


A aventura dos submersíveis em Portugal

Não há submersível como o primeiro...

Encomendado ainda em 1907, durante o reinado de D. Carlos I, o NRP Espadarte foi construído nos estaleiros La Spezia em Itália, tendo sido o primeiro vaso de guerra submersível da Marinha de Guerra Portuguesa. Nesses tempos pioneiros, Francisco dos Reis Gonçalves fez parte de um pequeno grupo de bravos marinheiros que adquiriu formação especializada e fez as primeiras experiências no estuário do Tejo e na costa Portuguesa.


(http://i67.tinypic.com/2nreds5.jpg)
O famoso "NPR Espadarte", o primeiro submersível da Marinha Portuguesa retratado no dia (festivo) 5 de Agosto de 1913. Estaria Reis Gonçalves a bordo do navio?


Produzido nos estaleiros da Fiat em San Giorgio, La Spezia, localidade perto de Turim, o NRP Espadarte foi lançado ao mar em 10 de Maio de 1912. Na sua viagem inaugural, partiu de La Spezia a 22 de Maio de 1913 tendo chegado a Lisboa a 5 de Agosto, data em que foi incorporado na Armada de Guerra Portuguesa. A Cinemateca Portuguesa tem algumas imagens extraordinárias do NRP Espadarte:

(http://i63.tinypic.com/f591ec.jpg)
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=10331&type=Video (http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=10331&type=Video)


O sucesso das primeiras experiências na costa Portuguesa levou o Governo Português, no final de 1915, a encomendar aos mesmos estaleiros Italianos, três novas unidades, um pouco mais modernas. A Marinha de Guerra Portuguesa tornava-se uma das primeiras do Mundo a constituir uma frota de submarinos.


(http://i68.tinypic.com/30iia2u.jpg)
Fonte: Ilustração Portuguesa.


Os três novos submersíveis NRP Foca, NRP Golfinho e NRP Hidra, designados em Portugal como submersíveis da classe "Foca", foram finalmente lançados à água em Dezembro 1917. Ficaram portanto operacionais ainda em tempo de Guerra tendo desempenhado missões enquadradas no esforço de Guerra contra a Alemanha. Durante esse conflito, Portugal contribuiu para a aplicação de restrições comerciais e de segurança ao inimigo Alemão, efectuando um bloqueio naval de superfície. Entre essas missões estiveram o patrulhamento de costa e de alto-mar e escoltas de transporte de tropas e de mercadorias para África ou para a Europa. Os quatro submersíveis foram uma peça importante para esse esforço de guerra. Até ao final da guerra, a base operacional da Esquadrilha ficou instalada na Doca do Bom Sucesso em Belém. Francisco dos Reis Gonçalves, um filho de Belém, esteve também envolvido nessa aventura marítima.


Esses quatro submersíveis apesar de hoje serem considerados primitivos tinham uma grande fiabilidade e estavam muito bem adaptados para essas missões costeiras. Navios idênticos foram usados na Grande Guerra obviamente pela marinha Italiana mas também pelas Marinha de Guerra de Portugal, Brasil, Espanha, Suécia e Rússia. Eram máquinas de 45m, totalmente manuais, dotadas de TSF embora com limitações tremendas relativamente às características básicas dos modernos submersíveis.


(http://i68.tinypic.com/ztumo9.jpg)
Perfil dos NRP Espadarte e do NRP Foca, dois dos primeiros quatro submersíveis da Marinha de Guerra Portuguesa. Tabela com as características técnicas básicas dos quatro vasos de guerra que constituíram a primeiras frota de Guerra submarina Portuguesa. Fonte: blogue Momentos de História; http://www.momentosdehistoria.com/001-grande_guerra/001-01-marinha/001-01-05-marinha_guerra/001-01-05-04-submarinos.html (http://www.momentosdehistoria.com/001-grande_guerra/001-01-marinha/001-01-05-marinha_guerra/001-01-05-04-submarinos.html).


E foi neste quadro de guerra que se deu a atribulada chegada dos três novos submersíveis a Portugal. Sobre as ordens do Comandante Joaquim de Almeida Henriques, três tripulações nas quais se incluía Francisco dos Reis Gonçalves, viveram uma aventurosa e arriscada viagem inaugural. Mas para Reis Gonçalves, esta missão começou umas semanas antes, uma vez que esteve em La Spezia como agente nomeado pela Marinha de Guerra Portuguesa para a fiscalização da construção dos referidos vasos de guerra.

E assim em 15 de Dezembro de 1917, escoltados pelo navio de salvamento NRP Patrão Lopes, os três novos submersíveis largaram do porto de La Spezia e cruzaram o Mediterrâneo em direcção a Lisboa.

(http://i63.tinypic.com/28a1bbb.png)
O NRP Patrão Lopes. Fonte: Momentos de História.


A atribulada viagem fez-se em 8 etapas que decorreram em condições climatéricas muito difíceis e em pleno conflito mundial. O perigo de recontros com submarinos inimigos era real e aliás durante a viagem, a frota Portuguesa terá testemunhado o afundamento de diversos navios aliados por parte dos U-boot, os formidáveis submersíveis Alemães. Felizmente, após a longa viagem, a frota Portuguesa viria a ter apenas como maiores contratempos algumas avarias que foram entretanto reparadas em alguns portos que visitaram entre essas etapas. Finalmente, depois dessas peripécias, a frota chegou a Lisboa em 10 de Fevereiro de 1918, entrando ao serviço efectivo da Marinha Portuguesa.


(http://i67.tinypic.com/2ag5btt.jpg)
Os três submersíveis da classe "Foca", NPR Hidra, NPR Golfinho e NPR Foca fundeados no estuário do Tejo, perto da sua base na Doca do Bom Sucesso em Belém. Fotografia provavelmente de 1918. Fonte: AML.


Como nos refere o Senhor Carlos Alves Lopes no blogue Momentos de História (http://www.momentosdehistoria.com/001-grande_guerra/001-01-marinha/001-01-05-marinha_guerra/001-01-05-04-submarinos.html (http://www.momentosdehistoria.com/001-grande_guerra/001-01-marinha/001-01-05-marinha_guerra/001-01-05-04-submarinos.html)): "A operacionalidade da 1ª Esquadrilha foi notável, houve um esforço humano e material que levou à utilização do NRP Espadarte até ao limite da sua capacidade mecânica, em Agosto de 1918, e à constante utilização das restantes três unidades até ao final do conflito."

Os comandos da 1ª Esquadrilha de Submarinos foram assim distribuídos: NRP Golfinho, Capitão-tenente Joaquim Almeida Henriques; NRP Foca 1º Tenente Adalberto da Silva Machado; NRP Hidra, 1º Tenente Fernando Augusto Branco e finalmente NRP Espadarte, 2º Tenente Fernando Alves de Sousa. Em cada navio, estes homens lideravam um corpo de 2 outros oficiais e de 18 marinheiros. Os nove homens registados na ponte do Golfinho eram parte do corpo de oficiais pioneiros desse ramo da Armada de Guerra de Portugal, tendo por isso tido a honra de serem imortalizados por Joshua Benoliel. 


(http://i65.tinypic.com/jha0x3.jpg)
Os quatro comandantes dos submersíveis Portugueses em 1918. Fonte: Arquivo da Marinha Portuguesa.


Pelo registo militar, o Engenheiro Maquinista Francisco dos Reis Gonçalves, com a patente de 2º (depois 1º) Tenente, terá prestado serviços em pelo menos três desses quatro vasos de guerra. Era um dos três oficiais dos submersíveis em que prestou missões. Sabe-se que a sua instrução foi feita no NRP Espadarte (concluída em 1915), tendo depois prestado missões no NRP Foca (cerca de 5 anos, de 1917 a 1922) e finalmente no NRP Golfinho (alguns meses em 1922). Desconheço se chegou a servir no NRP Hidra. Durante os 5-6 anos seguintes, Francisco dos Reis Gonçalves fez parte da divisão de Submersíveis da Marinha Portuguesa.

(http://i66.tinypic.com/t9y6c4.jpg)
Parte do Livro de registo da vida militar de Francisco Reis Gonçalves. Fonte: Arquivo da Marinha Portuguesa.


Numa verdadeira viagem ao passado, temos hoje a felicidade de poder ver um filme onde os serviços da Armada Portuguesa registaram esses magníficos submersíveis:

https://youtu.be/AT5XP3-SNwo (https://youtu.be/AT5XP3-SNwo)
Os NRP Espadarte, NRP Hidra, NRP Golfinho e NRPFoca a navegar no Tejo

Interessa-nos em particular o submersível NRP Foca (o que tem um "F"" branco) onde Francisco Reis Gonçalves prestou a maior parte do seu serviço militar em submersíveis.

(http://i65.tinypic.com/a2vjsz.jpg)
1 - O submersível NRP Espadarte na doca Bom Sucesso com o Mosteiro dos Jerónimos como painel de fundo; 2- A casa de torpedos do NRP Hidra; 3 – Compartimento do periscópio do NRP-Hidra; 4 – o NRP Hidra navegando à superfície com parte da sua tripulação a observa um hidroavião. Fonte: http://osrikinhus.blogspot.pt/ (http://osrikinhus.blogspot.pt/).


Uma vida militar intensa

Mais haveria para dizer, mas para não ser maçudo e para dar o máximo de informação, fica aqui uma detalhada (mas não completa) cronologia da sua intensa vida militar:

Angola, 1909; Belém 1910;

   • 1909, cumpriu missão na Estação Naval de Angola;

   • 1910, Janeiro, regressou a Portugal continental;

   • 1910, teve licença superior para casar com Elvira da Conceiçao Ferreira de Almeida;

   • 1910, Setembro recebeu guia para uma missão na Canhoneira Limpopo;


Majoria general, adjunto, Belém, 1911-1913;

   • 1911, Julho, recebeu guias para o cruzador Vasco da Gama e depois para o cruzador S. Rafael;

   • 1911, Novembro regressou ao "Vasco da Gama";

   • 1912, destacado na canhoneira "Diu" em missão na Estação Naval de Moçambique;


Moçambique e Divisão das Construções Navais, Belém, 1913-1914;

   • 1913, início do ano, regresso a Moçambique;

   • 1913, destacado para o navio Almirante Reis antigo D. Carlos I;

   • 1914, Janeiro, guia para o formidável cruzador Adamastor;

   • 1915, fez instrução em navegação submarina, cumprindo 21 missões de imersão no submergível Espadarte;

   • 1915, a 24 de Novembro completou a instrução sendo declarado "Especializado em navegação submarina";


Direcção Geral da Marinha, 1916;

   • 1916, Março, missão oficial incumbida de fiscalizar em Turim a construção dos três submersíveis;

   • 1916, Março, destacado para o submergível Espadarte;

   • 1916, a 25 de Novembro é promovido a 2º Tenente Maquinista;


Belém e Estaleiros La Spezia, Itália (onde foram construídos os 3 submersíveis da classe "Foca"), 1917;

   • 1917-1928, instrutor na esquadrilha de submersíveis;

   • 1917-1922, cumpriu missões no submergível "Foca" de 20-10-1917 a 31-01-1922;

   • 1918, a 29 de Julho é promovido a 1º Tenente Engenheiro Maquinista;

   • 1919, nomeado para permanência em zonas de Guerra;

   • 1922, cumpriu missões no submergível "Golfinho", de 31-01-1922 até 1-05-1922;


Estação de Terra de Submersíveis, Belém, 1922-1923;

   • 1923, Maio cessa a sua missão na Estação de Terra de Submersíveis;

   • 1923, assumiu o comando interino da esquadra de submersíveis. Revelou proficiência e dedicação que levaram ao bem-sucedido trabalho de reparação dos motores do Golfinho (daí o seu destacamento por 4 meses para essa unidade de guerra). Esta distinção deve ter tido a ver com uma explosão que ocorreu no dito vaso de guerra;

Recebeu diversas medalhas de prata de comportamento exemplar e bons serviços. Foi também louvado por diversas vezes por aptidão e valor militar. Nessas honrarias militares foi destacado não só a sua valorosa participação nas missões de patrulhamento da costa Portuguesa em tempo de Guerra mas também daquela viagem dos submersíveis que no Inverno de 1917, fizeram a rota de Itália (dos estaleiros de La Spezia onde foram construídos) para Belém.


   • 1923, a 5 de Outubro recebeu o grau de oficial da Ordem de Avis;

   • 1925, a 3 de Setembro cessou a sua participação na esquadrilha de submersíveis da classe Foca: Golfinho e Hidra; o primeiro em missões no Sul e o segundo no Norte da costa de Portugal. Nesses longos períodos fora da base foi-lhe reconhecido grande responsabilidade e competência. O seu comportamento, zelo e esforço foi louvado por diversos outros oficiais;

   • 1931-1932, missão naval em Génova, Itália;

   • 1932, medalha de prata de Filantropia e caridade pela sua acção no Instituto de Socorros a Náufragos;
   
   • 1932, missão no contratorpedeiro Tâmega;

   • 1932, instrutor de motores na Brigada de Mecânicos;

   • 1936, missão a bordo do aviso de 1ª classe Afonso de Albuquerque e do contra-torpedeiro Dão. Recebeu um louvor do comandante do Afonso de Albuquerque pela sua acção como chefe do Serviço de Máquinas;

   • 1936, medalha militar de ouro da classe de comportamento exemplar;

   • 1938-1940, instrutor na Escola da Marinha na disciplina de Geradores e Máquinas a vapor;

   • 1939, 1 Fevereiro, promovido a 2º Capitão Tenente Engenheiro Maquinista Naval,

   • 1940, a 21 de Dezembro passou para a Reserva da Armada com efeitos de 30-12-1939;
   
   • 1944, nomeado para Conselho de Promoções de Oficiais da Armada;

   • 1946, 24 Abril, promovido ao posto de Capitão-de-fragata Engenheiro Maquinista Naval;

   • 1946, pedido licença para se ausentar em Inglaterra;

   • 1946, no final desse ano atingiu o limite de idade;

   • 1955, faleceu em Lisboa no dia 27-08-1955.



Ficam ainda alguns registos fotográficos dos navios por onde Francisco dos Reis Gonçalves fez a sua brilhante e corajosa vida profissional militar.


(http://i64.tinypic.com/sxj3bo.jpg)
Alguns dos diversos navios da Marinha Portuguesa por onde Francisco dos Reis Gonçalves prestou missões. Fonte: http://osrikinhus.blogspot.pt/ (http://osrikinhus.blogspot.pt/).



(http://i63.tinypic.com/2dm5or9.jpg)
Outros dos diversos navios da Marinha Portuguesa por onde Francisco dos Reis Gonçalves prestou missões. Fonte: http://osrikinhus.blogspot.pt/ (http://osrikinhus.blogspot.pt/).



Mobilis in mobile.

Em tudo o que atrás se disse, se mostrou que Francisco dos Reis Gonçalves, Engenheiro Maquinista Naval com especialização em submersíveis, foi um homem de notáveis realizações. Foi um pioneiro em diversos sectores. Pioneiro do Glorioso, pioneiro no fundamental e prestigiante esforço de guerra submarina Portuguesa, na qual foi um elemento corajoso e competente.

Foi um filho de Belém e assim se compreende que tendo o nosso Clube perdido a ligação ao bairro de Belém, Francisco se tenha progressivamente desligado do SLB. Talvez não seja muito conhecido mas nos primeiros anos após a fusão SL-GSB, Francisco liderou uma delegação do SLB no bairro de Belém. Essa sede estava sediada na hoje desaparecida Praça Vasco da Gama, bem perto do Mosteiro dos Jerónimos. Essa praça já não existe, tendo sido arrasada aquando da Exposição do Mundo Português em 1940. Nessa nova estruturação do Clube, idealizado por Cosme Damião, o SLB pretendia ser um Clube sediado no centro de Lisboa com sedes em Benfica e em Belém, os dois berços do nosso Clube.

Mas o bairrismo das gentes de Belém falou mais alto. A filial do Sport Lisboa e Benfica definhou e acabou por ser fechada. Iam longe os tempos das Salésias e tinha sido perdida a identificação com o Clube. Francisco Reis Gonçalves desligou-se mas voltaria ao dirigismo no futebol na década seguinte quando ajudou a concretizar o sonho de Artur José Pereira, em se fundar um novo grande clube em Belém. Assim nasceu o Clube de Futebol "os Belenenses".

Francisco foi juntamente com outros antigos Benfiquistas Virgílio Paula e Luís Vieira, um dos homens de e com prestígio em Belém, que deram solidez estrutural ao novo Clube. Se a componente desportiva inicial foi dada por futebolistas em fim de carreira como Artur José Pereira, Henrique Santos, Francisco Pereira, Romualdo Bogalho, Aníbal Santos, Manuel Veloso, Carlos Sobral, Alberto Rio entre outros, a componente institucional e burocrática foi assegurada por outros homens entre os quais se destacou Reis Gonçalves.

E essa foi a contribuição final de Francisco no futebol nacional. Logo após da fundação do CFB, Francisco assumiu a presidência da Junta Directiva entretanto formada. Seria depois Presidente da Direcção entre 1920 e 1922 e manteve-se sempre como figura influente do clube de Belém. Mais tarde foi ainda Presidente da Assembleia-Geral do CFB (entre 1934 e 1948 e entre 1950 e 1955) tendo finalizado a sua participação no dirigismo do futebol nacional quando assumiu a presidência da Associação de Futebol de Lisboa - AFL (entre 1924 e 1926).


(http://visite-besign.com/AFL100/images/foto_hist/13.jpg)
Reunião dos presidentes da AFL em 1951. Francisco dos Reis Gonçalves é o último sentado à direita.


(https://s18.postimg.org/ry0afxart/image.jpg)
Fonte: DL, 28 Agosto 1955

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 21 de Outubro de 2016, 22:04
Ver videos de 1913 é de deixar uma pessoa  :o :o :o

Obrigado por mais uma interessantíssima leitura  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Outubro de 2016, 22:29
Obrigado Bakero  O0

Estes cruzamentos entre o SLB e a História de Portugal são interessantes. Aprendemos duplamente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: paalexg em 22 de Outubro de 2016, 18:53
Citação de: RedVC em 11 de Outubro de 2016, 23:20
Citação de: Bakero em 11 de Outubro de 2016, 22:23
Obrigado pelas tuas respostas. Fui ler o artigo do Miguéns e jesus, estou apaixonado por esta foto:

(https://2.bp.blogspot.com/-VkuMKQJRtIs/V6PTIWq-caI/AAAAAAAAly4/sffUM2K7S-Eq5E3vlSBM14gRhtNLmy3uwCLcB/s640/venia.jpg)

Isto é tão Benfica!  :bow2:


Sim é verdade. Sempre o reconhecimento à grande força do Benfica! O adepto!


Há uma outra versão e se calhar mais perto da verdade histórica para o nome "lampião".

A fonte é também Alberto Miguéns que apurou isto junto de Benfiquistas antigos:

os sapos chamariam-nos lampiões dado que nos funerais antigos quem ia à frente levava dois círios (velas enormes) a arder. Acontece que os círios teriam um invólucro avermelhado e popularmente eram conhecidos por lampiões...

Sacanas dos sapos!
Foi essa a versão que eu sempre ouvi (e a que vem no Vitórias & Património sobre a rivalidade Benfica-SCP).

Que os benfiquistas eram de tão baixa condição que, durante os funerais, levavam os lampiões.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Novembro de 2016, 14:40
-132-
O trepidante Costa

Aproveitando um belo texto de Mafalda Esturrenho no jornal "O Benfica", volto a salientar esta fotografia:

(http://i67.tinypic.com/k00g75.jpg)

Com a presença do massagista Brasileiro Mão de Pilão (ver os números 129 e 130) e do seu colega Zézinho, a fotografia foi captada no Estádio da Luz no dia 14 de Abril de 1957. O grande dia da comemoração do campeonato de 1957.

(http://i66.tinypic.com/20kqct0.jpg)
Os campeões nacionais de 1956-1957. Nota-se que José Águas ampara nas mãos a sua filha pequenina, Helena.


Curiosamente fazia-me impressão a ausência de Costa Pereira nesta fotografia de grupo da festa do Campeonato de 1956-1957. Mas, olhando para as estatísticas dessa época percebe-se a razão. Costa Pereira não foi Campeão Nacional nessa época. Ou seja não jogou nenhuma partida do Campeonato.

De facto, depois de ter sido titular absoluto nas suas duas primeira épocas no Benfica (1954-1955 e 1955-1956), nas duas épocas seguintes (1956-1957 e 1957-1958), Alberto da Costa Pereira foi relegado para o banco de suplentes. Otto Glória tinha dado a titularidade a Bastos que cumpriu com brilhantismo. O Benfica tinha dois óptimos guarda-redes. Assim, nessa época de 1956-1957 Costa Pereira terá feito 4 jogos na Taça de Portugal e um na Taça Latina. Não sendo Campeão Nacional não apareceu na fotografia de grupo envergando a respectiva faixa. Não obstante, Costa Pereira não deixou de manifestar a sua alegria, assim se compreendendo que estivesse em trajos "civis".

Mas Alberto da Costa Pereira era uma figura por si só. Para além de um dos maiores guarda-redes de futebol da nossa história, era um homem com outros talentos desportivos (basquetebol e atletismo). Atleta completo e rapaz com uma atitude bem característica da juventude nativa da África colonial Portuguesa, um perfil bem distinto da juventude reprimida da metrópole.

Costa Pereira era igualmente - como se vê - um jovem dado aos trepidantes ritmos Afro-Brasileiros! Para ilustrar, nada melhor que ler o texto em baixo, com os devidos créditos:


"Adeptos, atletas, técnicos e dirigentes juntaram-se para festejar 'à Benfica' o nono título de campeão nacional.

'Raramente se terá visto em Portugal uma festa tão extraordinária como a que no passado domingo se realizou na Luz'. Assim iniciava, o jornal O Benfica, o relato das festividades que, a 14 de Abril de 1957, a Comissão Central organizou para comemorar mais um título conquistado pelo futebol benfiquista: o de campeão nacional.

Embora tivesse como primordial pretexto a consagração da equipa, com a entrega simbólica das faixas de campeões, a 'bela tarde primaveril' contou com cinco horas de animação non stop. 'Festa rija, bonita, colorida, «à Benfica»', 'onde apenas se respirou o perfume estonteante e delicioso de uma vitória do campeonato'.

Cedo começou a '«romaria» das gentes encarnadas para a Luz'. 'Por todos os lados se viam, agitadas pelo vento ou pelos frenéticos aplausos, bandeiras do Benfica'. Foram milhares de adeptos que quiseram confraternizar com os seus ídolos.

Do programa constaram inúmeras actuações. Entre elas, números de ginástica, entregas de troféus, números musicais e até um jogo de futebol, entre a primeira categoria e a equipa de aspirantes, em que a 'gentil filhinha de José Ricardo Domingues' (presidente da secção de futebol) 'com todo o estilo possível' deu o pontapé de saída. Porém, um dos momentos altos de tarde foi, sem dúvida, o protagonizado por Costa Pereira.

Após um conjunto de números musicais 'no qual tomarem parte os conhecidos artistas Luís Piçarra, Tristão da Silva e Frutuoso França', guarda-redes 'encarnado' deu o seu show. No centro do relvado, acompanhado pelos brasileiros Irmãos Guarás, 'fez a sua estreia - e muito bem! - com artista de variedades', noticiou o Diário de Lisboa.

A actuação, a que não ficou alheia a objectiva de Roland Oliveira, proporcionou aos benfiquistas ali presentes, um 'momento folclórico de pura inspiração brasileira' e revelou um artista de grande talento e excelente sentido de humor. O insólito e pitoresco episódio captado na fotografia, em que Costa Pereira cantou e sambou, alcançou tal êxito entre os presentes que, no final, os colegas de equipa o ergueram em ombros perante uma entusiástica ovação do público..."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica



(http://i63.tinypic.com/j58ih3.jpg)

(http://i67.tinypic.com/35aiu68.jpg)

(http://i65.tinypic.com/1pxo3k.jpg)

Fonte: DL, 15 Abril 1957



Os "Irmãos Guarás"

(https://vinil45rpm.files.wordpress.com/2015/06/digitalizar0027.jpg)

https://youtu.be/S18nWqS8jq0 (https://youtu.be/S18nWqS8jq0)

Trio vocal e instrumental criado em meados da década de 1940 pelos irmãos Juca no acordeom, Pimentinha no violão e Toninho no pandeiro. Em 1945, o trio gravou pela Continental os sambas "Advinhação" e "Palhaço apaixonado", ambos de Príncipe Pretinho. Seguiram-se apresentações em programas de Rádio e apresentações pelos estados do sudeste. Fonte: http://dicionariompb.com.br/trio-guaras (http://dicionariompb.com.br/trio-guaras)



Deixo por fim, em imagens, uma homenagem a este grande desportista em três pilares que o distinguiram durante a sua longa e Gloriosa carreira de Águia ao peito: dedicação, dor e glória


(http://i68.tinypic.com/5lqbug.jpg)

(http://i66.tinypic.com/258mfc9.jpg)

(http://i63.tinypic.com/2a01el3.jpg)


Obrigado Alberto da Costa Pereira!






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 26 de Novembro de 2016, 13:14
(http://i.imgur.com/Jk3BcOE.png)

Será que existem fotografias do segundo autocarro da equipa?

O primeiro é sobejamente conhecido, mas nunca vi o segundo.

EDIT: Estão todos no Em Defesa do Benfica: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/09/sob-o-signo-das-primeiras-vezes-v.html
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2016, 14:08
Citação de: Theroux em 26 de Novembro de 2016, 13:14
(http://i.imgur.com/Jk3BcOE.png)

Será que existem fotografias do segundo autocarro da equipa?

O primeiro é sobejamente conhecido, mas nunca vi o segundo.

EDIT: Estão todos no Em Defesa do Benfica: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/09/sob-o-signo-das-primeiras-vezes-v.html


Há sim Senhor

(http://i64.tinypic.com/xqmfd0.jpg)

Captura de ecran de imagens de um treino captadas em 1965 (salvo o erro) por uma equipa de filmagens Francesa.

Aqui em movimento!

http://footage.framepool.com/mov/820-590-247.mp4 (http://footage.framepool.com/mov/820-590-247.mp4)


http://footage.framepool.com/en/shot/820590247-estoril-team-bus-training-camp-benfica-lissabon (http://footage.framepool.com/en/shot/820590247-estoril-team-bus-training-camp-benfica-lissabon)


E aqui Germano e companhia a saírem do autocarro

http://footage.framepool.com/mov/706-149-650.mp4 (http://footage.framepool.com/mov/706-149-650.mp4)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2016, 19:57

Não é bem decifrando mas quis colocar aqui.
Guardo no coração o privilégio de lá ter ido muitas vezes.
Uma extensa e carinhosa evocação da nossa querida

133 -
Catedral

(http://i67.tinypic.com/4vpxxj.jpg)
(http://i63.tinypic.com/rrldus.jpg)
(http://i67.tinypic.com/300sgo5.jpg)
(http://i66.tinypic.com/kb3qs0.jpg)
(http://i65.tinypic.com/o88bab.jpg)
(http://i67.tinypic.com/anio2x.jpg)
(http://i65.tinypic.com/2w5pqhj.jpg)
(http://i66.tinypic.com/2qnz1qs.jpg)
(http://i67.tinypic.com/2nao1w9.jpg)
(http://i67.tinypic.com/141jrjd.jpg)
(http://i64.tinypic.com/a09d6s.jpg)
(http://i67.tinypic.com/28bac1g.jpg)
(http://i65.tinypic.com/260v886.jpg)
(http://i64.tinypic.com/hu4tfr.jpg)
(http://i63.tinypic.com/71pv8z.jpg)
(http://i65.tinypic.com/wuijrm.jpg)
(http://i63.tinypic.com/3347xn5.jpg)
(http://i64.tinypic.com/2lbdgma.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:15
Consegues meter no imgur para ter tudo junto?

Obrigado O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Dezembro de 2016, 17:30
Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:15
Consegues meter no imgur para ter tudo junto?

Obrigado O0

Caro, desculpa a ignorância mas o imgur não é só para hospedagem grátis de imagens?
Dá também para processar as imagens e fundi-las?
Eu uso o tinypic uma vez que ao longo dos anos não falha, as imagens não desaparecem.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:33
Citação de: RedVC em 06 de Dezembro de 2016, 17:30
Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:15
Consegues meter no imgur para ter tudo junto?

Obrigado O0

Caro, desculpa a ignorância mas o imgur não é só para hospedagem grátis de imagens?
Dá também para processar as imagens e fundi-las?
Eu uso o tinypic uma vez que ao longo dos anos não falha, as imagens não desaparecem.
Sim, mas era para ver as imagens como se fosse um álbum.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Dezembro de 2016, 17:45
Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:33
Citação de: RedVC em 06 de Dezembro de 2016, 17:30
Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:15
Consegues meter no imgur para ter tudo junto?

Obrigado O0

Caro, desculpa a ignorância mas o imgur não é só para hospedagem grátis de imagens?
Dá também para processar as imagens e fundi-las?
Eu uso o tinypic uma vez que ao longo dos anos não falha, as imagens não desaparecem.
Sim, mas era para ver as imagens como se fosse um álbum.

OK, daqui a bocado faço o upload  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Dezembro de 2016, 18:47
http://imgur.com/a/m2DzQ (http://imgur.com/a/m2DzQ)

Há alguma forma de os thumbnails ficarem aqui visíveis?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2016, 09:48
Índice

-1- Uma proposta de identificação. (p.1)
-2- Uma identificação errada. (p.1)
-3- Um jogo de beneficência. (p.1)
-4- Os mestres Ingleses na Feiteira. (p.1)
-5- Rostos familiares. (p.2)
-6- À porta da Farmácia Franco.  O0 (p.2)
-7- Sonho de uma noite de Verão. (p.2)
-8- A última alegria do Chacha.  O0 (p.2)
-9- Recuando no tempo. (p.2)
-10- Catataus e Co. (p.3)
-11- Uma homenagem em terras africanas.  O0 (p.3)
-12- Uma taça e dois pioneiros (I). (p.3)
-13- Uma taça e dois pioneiros (II). (p.3)
-14- As camisolas de Júlio Cosme Damião. (p.3)
-15- Futebol e touros. (p.4)
-16- Um regresso feliz. (p.4)
-17- Nos areais de Belém. (p.4)
-18- Uma imagem rara. (p.4)
-19- Um Stromp à Benfica. (p.4)
-20- O António das Caldeiradas.  O0 (p.4)
-21- O terceiro homem.  O0 (p.5)
-22- Os primeiros troféus (parte I): o Restaurante Bacalhau.  O0 (p.5)
-23- Um Ilustre nos primórdios do futebol sadino. (p.5)
-24- Os Condes do Restelo. (p.5)
-25- Resistência: sugestão e mistério. (p.5)
-26- Araújo: uma carreira que ficou por fazer. (p.6)
-27- A primeira Águia.  O0 (p.6)
-28- Amor à camisola. (p.6)
-29- Amor ao clube! (à falta de camisola...). (p.6)
-30- Prémios aos campeões. (p.6)
-31- O primeiro guardião. (p.7)
-32- Glorioso por um dia.  O0 (p.7)
-33- Eusébio às riscas. (p.8)
-34- Dois dias de festa. (p.8)
-35- Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia.  O0 (p.8)
-36- 111 anos depois: a (possível) iconografia dos fundadores. (p.8)
-37- Três gigantes, três caminhos separados. (p.8)
-38- Um ancião curioso.  O0 (p.9)
-39- Um banquete de notáveis. (p.9)
-40- Cosme, o presidente. (p.10)
-41- Um militar futebolista. (p.10)
-42- Duas despedidas e um alegre convívio. (p.10)
-43- Um jogo infeliz, uma pista extraordinária.  O0 (p.11)
-44- Homenagem a um grande artista. (p.11)
-45- Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral.  O0 (p.12)
-46- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte I)  O0 (p.12)
-47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte II)  O0 (p.13)
-48- A última ceia. (p.13)
-49- A noite da Cruz Vermelha. (p.13)
-50- Ascenção e queda do Pantufas. (p.13)
-51- Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras.  O0 (p.13)
-52- Uma escala africana, um desafio histórico.  O0 (p.14)
-53- Dois entre doze. (p.14)
-54- Dois sadinos, duas Saudades. (p.14)
-55- Dois Casapianos num barco sadino. (p.14)
-56- Revisitando o Campo Grande. (p.14)
-57- A vida Paulista de Bella Guttman. (p.14)
-58- Um encontro Americano.  O0 (p.14)
-59- Alguém tinha de pagar!  O0 (p.15)
-60- Belém, a Benfiquista.  O0 (p.16)
-61- Um certo pátio.  O0 (p.17)
-62- 13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro. (p.19)
-63- O arquitecto da Catedral. (p.19)
-64- O tribunal dos conspiradores.  O0 (p.20)
-65- Festa de gerações. (p.20)
-66- Memórias Francesas. (p.20)
-67- Cosme e o inventor do Fla-Flu.  O0 (p.20)
-68- Desforra Inglesa em tempo de Monarquia. (p.21)
-69- As manas Bermudes, Gloriosas a pedalar. (p.21)
-70- O dia da dúzia! (p.21)
-71- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I).  O0 (p.21)
-72- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (II).  O0 (p.21)
-73- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (III).  O0 (p.22)
-74- A Taça Amadora (parte I): Os Recreios Desportivos da Amadora (p.22)
-75- A Taça Amadora (parte II): O grande jogo.  (p.22)
-76- Huelva 1910, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-77- Extinções e fusões, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-78- O casal virtuoso.  O0 (p.23)
-79- Da vida de Cosme (parte I). (p.23)
-80- Da vida de Cosme (parte II). (p.23)
-81- Gloriosos mesa-tenistas no Brasil. (p.23)
-82- Eterno Bermudes. (p.24)
-83- O poço dos nossos adversários. (p.24)
-84- Ora festeje lá outra vez! (p.24)
-85- Gloriosas compras na pátria do futebol.  O0 (p.24)
-86- Um inesperado Glorioso. (p. 25)
-87- As Terras das Salésias. (p. 25)
-88- "O Benfica saúda o Porto"  O0 (p. 25)
-89- Outros Carnavais (p. 25)
-90- Construtor de Catedrais  O0 (p. 25)
-91- Pantera Negra em noite madrilena (p. 26)
-92- Da Catumbela a Freamunde (p. 26)
-93 - 112 anos de Paixão! (p. 26)
-94- O sósia. (parte I)  (p. 26)
-95- O sósia. (parte II)  (p. 26)
-96- L'étude fait l'avenir (parte I)  O0 (p.27)
-97- L'étude fait l'avenir (parte I) (p.27)
-98- Um fresco em prosa: o António das Caldeiradas revisitado.  O0 (p.27)
-99- A Pharmácia Franco (I) – As duas primeiras gerações.  O0 (p.28)
-100- A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa O0 (p.28)
-101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. (p.29)
-102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém.  (p.29)
-103- Os primeiros troféus (parte III) – a Taça "Olímpica".  (p.29)
-104- Miramons de Portugal.  (p.29)
-105- Águias na Guerra (parte I)  O0 (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II)  O0 (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III)  O0 (p.30)
-108- Olhos de fogo, coração de Belém  O0 (p.30)
-109- Em homenagem a Guilherme Pinto Basto. (p.30)
-110- Acidente no Cartaxo (parte I) (p.31)
-111- Acidente no Cartaxo (parte II) (p.31)
-112- Unidos na dor. (p.31)
-113- Um hóquista feliz. (p.31)
-114- Primus inter pares. (p.32)
-115- A "Corrida da Marathona". (p.32)
-116- "Memórias de Viena". (p.32)
-118- Taça Charles Miller '55 (parte I): O torneio e o seu tempo. O0 (p.32)
-119- Taça Charles Miller '55 (parte II): A comitiva Benfiquista. O0 (p.32)
-120- Taça Charles Miller '55 (parte III): Esses loucos dias cariocas. O0 (p.32)
-121- Taça Charles Miller '55 (parte IV): Entre treinos e feijoadas. O0 (p.32)
-122- Taça Charles Miller '55 (parte V): Mengo, Mengão; Azarão!    O0 (p.33)
-123- Taça Charles Miller '55 (parte VI): Escaramuças Uruguaias!    O0 (p.33)
-124- Taça Charles Miller '55 (parte VII): Doces Palmeiras.    O0 (p.33)
-125- Taça Charles Miller '55 (parte VIII): America amarga. O0 (p.33)
-126- Taça Charles Miller '55 (parte IX): O "caseiro" Alemão. O0 (p.33)
-127- Taça Charles Miller '55 (parte X): Gente boa que se vai! O0 (p.33)
-128- Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis. O0 (p.33)
-129- O "caramujo" do futebol (parte I). (p.34)
-130- O "caramujo" do futebol (parte II). (p.34)
-131- Mobilis in mobile. O0 (p.35)
-132- O trepidante Costa. (p.36)
-133- Catedral O0 (p.36)
-134- Os botes da Ericeira O0 (p.36)
-135- O "Café Gelo" (p.36)
-136- Uma equipa infantil (p.37)
-137- Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro O0 (p.37)
-138- Gloriosa Magyarország (parte II): János Biri, uma aposta feliz! (p.37)
-139- O outro Živković (p.38)
-140- Um avô especial (p. 38)
-141- Os 24 Primeiros O0 O0 (p. 38)
-142- Este árbitro é um Artista! (p. 39)
-143- Sport Lisboa, Bemfica 1923 (p. 39)
-144- A Taça Ruy da Cunha (p. 40)
-145- Gourlades da linha. O0 (p. 40)
-146- Para lá da Lenda O0 (p. 40)
-147- Capitães Latinos (Parte I) (p. 41)
-148- Capitães Latinos (Parte II) (p. 41)
-149- De Como a Milão (p. 42)
-150- Mântuas de Belém (p. 42)
-151- Festival taurino do SLB (p. 42)
-152- O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante (p. 42)
-153- A batalha de Madrid (p. 43)
-154- A Rotunda da Vitória O0 (p. 43)
-155- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte I) (p. 43)
-156- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte II) (p. 43)
-157- Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver" O0 (p. 44)
-158- Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra. (p. 44)
-159- Loio e o fim do Feitiço (p. 44)
-160- A semente da Farmácia Franco O0 (p. 44)
-161- O primeiro Luís F. Vieira O0 (p. 44)
-162- De Guilherme para Guilherme (p. 45)
-163- Um princípio com regras (parte I)  (p. 45)
-164- Um princípio com regras (parte II)  (p. 45)
-165- A lenda de Nicolau I  (p. 45)
-166- Para lá de Nicolau  (p. 45)
-167- Pelas estradas de Sintra  (p. 45)
-168- Braga à Benfica (parte I) -  o princípio é um tempo delicado O0 (p. 45)
-169- Braga à Benfica (parte II) – De fusões e omissões O0 (p. 46)
-170- Rebelde com causas O0 (p. 46)
-171- O Sonho, o Homem, a Obra O0 (p. 46)
-172- Até sempre Alfredo Valadas! (p. 46)
-174- O Olímpico Bermudes (parte I) – Gloriosos tiros O0 (p. 46)
-175- O Olímpico Bermudes (parte II) – Fora de Paris, dentro dos Jogos O0 (p. 46)
-176- O Olímpico Bermudes (parte III) – Muitos tiros, poucos pontos O0 (p. 46)
-177- Tamancos de oiro (parte I) – por terras do Sul O0 (p. 46)
-178- Tamancos de oiro (parte II) – as quinas da glória O0 (p. 46)
-179- Tamancos de oiro (parte III) – o Glorioso Tamanqueiro O0 (p. 46)
-180- Tamancos de oiro (parte IV) – do Sado ao Rio. O0 (p. 47)
-181- Tamancos de oiro (parte V) – o Benfica não esquece os seus! O0 (p. 47)
-182- Amesterdão 1928 (parte I) – a varanda dos heróis O0 (p. 47)
-183- Amesterdão 1928 (parte II) – o evento e os eleitos O0 (p. 47)
-184- Amesterdão 1928 (parte III) – um Chili saboroso (p. 47)
-185- Amesterdão 1928 (parte IV) – e todas as esperanças foram permitidas (p. 47)
-186- Amesterdão 1928 (parte V) – morrer sim, mas de pé... (p. 47)
-187- Amesterdão 1928 (parte VI) – emoções à Holandesa O0 (p. 47)
-188- Caçador de leões O0 (p. 48)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 11 de Dezembro de 2016, 07:54
Este tópico vale ouro! Existe muito material e documentação do Benfica a partir dos anos 60 até aos dias de hoje por essa net e livros fora, mas para trás é quase nulo.

Muito tenho aprendido aqui sobre os anos de base que transformaram um clube "pequeno" num clube gigante  :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Dezembro de 2016, 08:46
Citação de: Bakero em 11 de Dezembro de 2016, 07:54
Este tópico vale ouro! Existe muito material e documentação do Benfica a partir dos anos 60 até aos dias de hoje por essa net e livros fora, mas para trás é quase nulo.

Muito tenho aprendido aqui sobre os anos de base que transformaram um clube "pequeno" num clube gigante  :bow2:

Obrigado Bakero  O0

Ao olhar para este índice admiro-me com a diversidade de material. Começou de forma pouco definida e acabou por me ir surpreendendo com a riqueza do que fui descobrindo.

Não estou inactivo mas decidi não colocar material durante algum tempo. Há diversas histórias quase terminadas mas estou a dar prioridade à pesquisa. A seu tempo haverá coisas bastante interessantes.

A secção das memórias no SB é fascinante. Pela quantidade e pela qualidade. Temos aqui pessoal com excelente capacidade de pesquisa, trabalho e organização. E ainda mais importante, com vontade de partilhar. À Benfica! Pessoal com aptidão para o vídeo, fotografia, criação de imagens, pesquisa. Dá para perder horas nesta secção. O que temos para aqui dá para um mini Museu Cosme Damião. O pessoal do Museu poderá ficar bem servido vindo aqui pesquisar. E aliás, eu estou convencido que o fazem.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Dezembro de 2016, 18:18
-134-
Os botes da Ericeira

Tarde do dia 5 de Outubro de 1910. Cerca das 15h00 na Praia dos pescadores na Ericeira. Um fotógrafo capta uma imagem extraordinária de um momento dramático da História de Portugal.


(http://i64.tinypic.com/imphc8.jpg)
Praia dos pescadores na Ericeira. "El-Rei conservou-se sempre de pé dentro da barca até fora do porto" (in José Jacob Bensabat, A Verdade dos Factos). Nota-se a presença de numerosos populares que segundo as crónicas assistiram em silêncio aos acontecimentos. Fotografia original de José Maria da Silva. Fonte: AML


A fuga desesperada

Cinco dias depois, esta e outras fotografias foram publicadas de forma exclusiva na revista Ilustração Portuguesa (nº 242, 10 de Novembro de 1910). Os editores deram destaque a esta fotografia em particular, associando-lhe uma legenda que não obstante factual nem por isso deixou de transmitir a importância e o dramatismo do episódio:

"No dia 5 de Outubro, horas depois da proclamação da Republica, o Rei Dom Manuel com sua mãe, sua avó e a comitiva embarcou na praia da Ericeira com destino ao "Yacht" "Amélia" onde o aguardava seu tio D. Affonso. O Rei deposto, na popa do barco que o conduzia, olhava só o mar como receoso de encontrar núm adeus à Terra, essa enorme muralha que barra o fundo do quadro e que parecia sapara-lo para sempre do resto do Paiz. Ali terminou o seu reinado. Ali começou o seu exílio e uma pobre barca de pescadores foi o derradeiro bergantim do último Rei de Portugal. (cliché do Sr. José Maria Silva, reprodução inteiramente reservada)."



(http://i67.tinypic.com/wi8whc.jpg)
Uma composição de Cecil King recriando a partida dos dois botes da Praia dos pescadores na Ericeira de encontro ao iate Amélia fundeado ao largo. O último Rei de Portugal partia para o exílio. Fonte: Ilustração Portuguesa, nº 246 de 7 de Novembro de 1910.


Naquela praia da Ericeira deu-se um dos episódios de maior rotura da história de Portugal. Naquele dia terminavam os cerca de setecentos e sessenta e sete anos da Monarquia Portuguesa. Ali, por meio daqueles dois botes concretizava-se a fuga do último Rei constitucional de Portugal. O jovem Rei Dom Manuell II, de apenas 20 anos de idade e rodeado dos seus últimos fiéis, concretizava uma desesperada fuga à revolução iniciada horas antes numa cidade de Lisboa em profunda convulsão.


(http://i67.tinypic.com/2whf13b.jpg)
Recriação da etapa final da fuga da Família Real : embarque na praia da Ericeira na tarde de 5 de Outubro de 1910. Autor: José Henriques Moreira, [1910]. Fonte: Biblioteca Nacional (http://purl.pt/22468/2/e-142-r_JPG/e-142-r_JPG_t24-C-R0150/e-142-r_0001_t24-C-R0150.jpg (http://purl.pt/22468/2/e-142-r_JPG/e-142-r_JPG_t24-C-R0150/e-142-r_0001_t24-C-R0150.jpg)).


A fuga permitiu poupar o Rei à humilhação da prisão ou até ao assassinato e garantir a sua partida para o exílio. Apesar do Rei pretender dirigir-se ao Porto para tentar encontrar fieis à sua causa, foi demovido pela sua mãe e avó e convencido a rumar a Gibraltar. Aí viria a embarcar num barco Inglês, seguindo para Inglaterra onde viveu até à sua morte, que ocorreria cerca de duas décadas mais tarde.

Nessa praia da Ericeira deu-se um adeus amargo à Pátria. Um adeus cheio de mágoas, lembrando os mortos nas ruas de Lisboa e os militares e populações em profundo sobressalto. O regresso a Portugal só ocorreria depois da sua morte quando, em 1932, os seus restos mortais foram depositados num túmulo do panteão real em São Vicente de Fora. E ali descansam ao lado dos túmulos de seu Pai e irmão, assassinados no terreiro de Paço no já longínquo dia de 1 de Fevereiro de 1908.

Uma família desfeita, um país em convulsão. Nesse clima de desolação e descontrolo emocional, o Rei e os seus últimos fiéis esperaram impotentes que findassem os vagarosos preparativos dos pescadores dos dois botes contratados para os levarem até ao iate Amélia, que esperava ao largo daquela praia. Esses dois botes do exílio chamavam-se "Bonfim" e "Navegador". Eram manobrados por simples pescadores daquela localidade que por via desse episódio acabaram por ver os seus nomes guardados para a posteridade.


(http://i64.tinypic.com/24zerm1.jpg)
Os sete pescadores que operaram o bote "Bonfim" (matrícula F.60.E.43). Direita para a esquerda, Arraes: João Carriço; remadores: José Ramalho, António Maria Pachita, José Sardo, Jeronymo Carramona, Basílio Casado Júnior e António Marques. Foram estes os homens que transportaram o Rei Dom Manuel II para o iate Real Amélia. Fotografia original de José Maria da Silva. Fonte: Ilustração Portuguesa nº 244 de 24 de Outubro de 1910.


(http://i67.tinypic.com/2hgfpcw.jpg)
Os sete pescadores que operaram o bote "Navegador" (matrícula F.60.E.10c). Direita para a esquerda, Arraes: José Maria; remadores: José Valladão, Albino Sardo, José Soares, Miguel dos Santos, António Gonçalves e José da Silva Carramona. Fora estes os homens que transportaram a Rainha Dona Amélia e sua sogra, a Rainha Dona Maria Pia para o iate Real Amélia. Fotografia original de José Maria da Silva. Fonte: Ilustração Portuguesa nº 244 de de 24 de Outubro de 1910.


(http://i67.tinypic.com/mkaxix.png)
O iate Real Amélia.


Durante esse dilacerante adeus, o Rei Dom Manuel II, manteve-se de pé, hirto no bote "Bonfim" durante a curta viagem para embarcar no iate "Amélia". Momentos depois o bote "Navegador" faria o segundo trajecto entre a praia e o iate, transportando entre outros, a Rainha Dona Amélia e a Rainha Dona Maria Pia (respectivamente mãe e avó paterna do Rei).


(http://i67.tinypic.com/2ur1klx.jpg)
Os dois botes que transportaram a comitiva Real assegurando o embarque da comitiva real no iate "Amélia".


Segundo os relatos da época, ainda as barcas não tinham atracado ao iate "Amélia", quando irrompeu pela vila da Ericeira, vindo do lado de Sintra, um automóvel com revolucionários civis, armados de carabinas e munidos de bombas, que se propunham atirar para a praia caso tivessem chegado a tempo de ver o embarque (Fonte: http://realfamiliaportuguesa.blogspot.pt/2011/09/foi-nesta-praia.html (http://realfamiliaportuguesa.blogspot.pt/2011/09/foi-nesta-praia.html)). Esse atraso terá evitado uma tragédia ainda maior.

(http://4.bp.blogspot.com/-1mcI-Z8Cs9I/TnzpHxW4VmI/AAAAAAAAUVM/lRKBOAg4eNI/s1600/ericeiramonarquiarepublicaplaca%255B1%255D.jpg)


O cruzamento da História

Mas como noutros casos, a grande História de Portugal cruza-se frequentemente com episódios da História Benfiquista. Caso para dizer: o Mundo pequeno, o Benfica é enorme.

Também neste caso existiu um detalhe curioso que liga este dramático episódio da História de Portugal ao universo Benfiquista. Para decifrar esse insuspeito detalhe vamos concentrar-nos naqueles dois botes. E vamos atentar a uma pista improvável, vinda de um jornal Brasileiro editado no dia 11 de Março de 1911, ou seja cerca de cinco meses depois do embarque da Ericeira.


(http://i67.tinypic.com/73jy80.jpg)
Fragmento de artigo sobre política Portuguesa publicado no dia 11 de Março de 1911 no jornal Brasileiro "O Paiz". Fonte: Hemeroteca Brasileira.


A confirmação desta ligação está na revista Ocidente de 30 de Outubro de 1910


(http://i66.tinypic.com/2efhn5x.png)
Fonte: Ocidente nº 1146 de 30 Out 1910.


E assim ficamos a saber que os botes "Bonfim" e o "Navegador" eram propriedade do empresário de pescas Cândido Rodrigues, um nome ilustre da História inicial do nosso Clube.

Cândido Rodrigues era tão-somente o pai de três dos 24 fundadores do Sport Lisboa, os três irmãos Rosa Rodrigues: José, Cândido e António.


(http://i68.tinypic.com/2433p4x.jpg)
Os três irmãos Rosa Rodrigues. Os famosos irmãos Catatau. Três dos 24 fundadores do Sport Lisboa.


A empresa de Cândido Rodrigues tinha concessões de pescas e interesses nas costas da Figueira da Foz (Buarcos), da Nazaré, da Ericeira, de Sesimbra e de Setúbal (in História do SLB 1904-1954 de Mário Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, edição de autor).


(http://i66.tinypic.com/dylus5.jpg)
Postal datado de 1924 captando a "chegada das barcas do Catatau". Era alusiva a um dos irmãos Catataus, talvez ainda ao Pai Catatau (Cândido Rodrigues) falecido em 1912 ou ao seu filho mais velho, José Rosa Rodrigues, falecido em 30 de Abril de 1924.


Da leitura do artigo do jornal Brasileiro percebe-se que por oferta de Cândido Rodrigues, os dois botes constaram do acervo do Museu da Revolução. Foi o segundo museu de iniciativa da edilidade alfacinha e teve por objectivo a preservação da memória da revolução do 5 de Outubro. Proposto em sessão da CML em 30 Novembro de 1910, foi à época, designado de "museu revolucionário da Camara". Instalado no Convento do Quelhas em Lisboa, o Museu da Revolução foi inaugurado em 29 de Dezembro de 1910, abrindo ao público em 1 de Fevereiro de 1911. Constava de 5 salas: sala da marinha, sala do exército, sala dos documentos, sala do povo e sala do Buiça e Costa.


(http://i68.tinypic.com/15yurd.jpg)
O Museu da Revolução. As armas dos dois regicidas. Fonte: Ilustração Portuguesa Nº 255, 9 de Janeiro de 1911.


(http://i64.tinypic.com/oh603n.jpg)
As cinco salas do Museu da Revolução. Fonte: Revista Ocidente, 10 de Janeiro de 1911.


Esse Museu viria no entanto a ter uma curta existência pois logo a 21 de Outubro de 1913 foi assaltado e destruído aparentemente por um movimento revolucionário monárquico. Mais uma das numerosas convulsões pós-revolucionárias daquela época. Nesse turbilhão destruidor quase todo o recheio desapareceu sem deixar rasto, incluindo as armas e as roupas dos dois regicidas... Segundo a Revista ABC nº 134 de 1923, restou apenas no pátio o barco em que tinha embarcado a família real para o exílio... Provavelmente seria o Bonfim. Estranha ironia. Esse barco terá sobrevivido até aos dias de hoje? Parece pouco provável.

Detalhes esquecidos da História. O Mundo é pequeno, o Benfica é enorme!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Dezembro de 2016, 21:29


(http://i66.tinypic.com/21o24ye.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Janeiro de 2017, 18:14
-135-
O "Café Gelo"

O "Café do Gelo", algures na primeira década do século XX:

(http://i67.tinypic.com/4vjlag.jpg)
Fotografia do Café do Gelo, Rossio nº 64 algures na primeira década do século XX. Localizado no Rossio, entre uma perfumaria e um Papelaria/Tipografia, era nesse tempo bastante utilizado como local de encontro. Fonte: AML.


Situado no Rossio (ou Rocio como antigamente se escrevia), o "Café do Gelo" foi um espaço comercial e de convívio que, atravessando décadas turbulentas, acumulou uma história rica e tormentosa. Desde os dias finais da Monarquia Portuguesa até às crises estudantis dos anos 60 do século XX muitos foram os episódios e muitas as figuras de maior e menor estatura intelectual que coloriram aquele espaço localizado em pleno coração de Lisboa.

Mas para nós Benfiquistas este "Café do Gelo" apresenta outros motivos de interesse. Vamos assim viajar até ao distante dia 12 de Março de 1905, um dia em que o "Café do Gelo" foi usado como local de encontro por um grupo de jogadores e Manuel Gourlade, então Capitão Geral (figura que podemos definir como o treinador da época) do Sport Lisboa. Desse local a nossa comitiva deslocou-se depois em carro eléctrico até ao Lumiar. chegados ao Campo da Charneca, o Sport Lisboa com as suas Gloriosas flanelas vermelhas compradas no mês anterior (ver -101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. p.29) defrontou e venceu o competente Grupo do Gilman Football Club, proprietário do terreno de jogo. Se não foi o primeiro então terá sido seguramente um dos primeiros jogos em que o nosso Clube ganhou uma partida de futebol fora de casa.

Para esse jogo, Manuel Gourlade tentou garantir a presença dos 11 jogadores seleccionados. Nos três primeiros anos do nosso Clube quase todos foram crónicos titulares da primeira categoria. Essa equipa era uma mescla de jogadores jovens e ambiciosos provenientes do Grupo dos Catataus com os prestigiados e já algo veteranos ex-Casapianos / antigos membros da Associação do Bem. Uma equipa talentosa que envergando aquelas camisolas berrantes foi grandemente responsável pela popularidade de que o Sport Lisboa desfrutou logo desde o princípio da sua Gloriosa História. E Manuel Gourlade fez essa convocatória pelo menos por duas vias.

A primeira, cerca de três dias antes do jogo, foi feita através de um "documento interno", manuscrito (pela sua mão) em papel timbrado da Pharmacia e Drogaria Franco, Filhos - Conde do Restelo & Cª.


(http://i66.tinypic.com/65pylt.jpg)
Documento manuscrito por Manuel Gourlade datado de 9-03-1905, convocando os seus jogadores para o jogo contra o Gilman Football Club a disputar três dias depois. Para isso usou um papel timbrado da Farmácia Franco, local onde trabalhava e que funcionou como a primeira sede do nosso Clube sob o assentimento dos seus donos. Fonte: Museu Cosme Damião e http://nemvaleapenadizermaisnada.blogs.sapo.pt/748458.html (http://nemvaleapenadizermaisnada.blogs.sapo.pt/748458.html)

Como se pode ler no referido documento, Gourlade redigiu desta forma a convocatória:

***********************************************************************************************
Grupo Sport Lisboa
9-3-905 às 6h.t.
Caro amigo.
Domingo 12 corte. (corrente) match com Gilman Football Club no Campo da Charneca (Lumiar).
Deves estar antes das 10h.m. no Café Gelo - ponto de reunião nossos jogadores.
Escusas de vir a Belém, pois tudo que estiver nosso quarto vae dentro de 1 mala grande para Lisbôa.
Não faltes! Sê pontual.
Traze calção branco e meia alta.
Lê Século ou Notícias de 10 ou 11 do corrente secção de Sport pelo nosso Captain.
(Emilio pede-te que não faltes, pois podes ter que entrar em match)»
***********************************************************************************************



Felizmente este precioso documento sobreviveu aos quase 112 anos que entretanto passaram. Podemos orgulhosamente encontra-lo exposto logo à entrada no nosso Museu Cosme Damião!


(http://i67.tinypic.com/11ufegx.jpg)
Manuscrita por Manuel Gourlade, a Gloriosa convocatória está hoje exposta no Museu Cosme Damião.


Mas o previdente Gourlade assegurar-se-ia que existiria ainda uma segunda convocatória, por via indirecta através de um discreto artigo publicado no Diário Ilustrado, um jornal de grande circulação nessa época:


(http://i68.tinypic.com/kchld.jpg)
Uma das primeiras convocatórias do nosso Clube. Manuel Gourlade procurava garantir a presença dos nosso 11 jogadores para o jogo contra o Gilman Football Club. Fonte: Diário Ilustrado 11-03-1905.


Curiosamente em ambos os casos Gourlade utiliza apenas o termo "Café Gelo", omitindo o "de". Uma simplificação que provavelmente seria comum na época e que talvez explique porque muitos anos depois, já na década de 50, os donos daquele estabelecimento tenham optado por deixar cair o "de"...

Nota-se assim que apenas 1 anos e 13 dias depois da fundação do nosso Clube, Gourlade fazia uso dos meios de divulgação comuns a esses tempos pioneiros. A dispersão das moradas dos jogadores pela cidade de Lisboa e arredores devia exigir essa capacidade de convocatória. Sem telefones generalizados, e muito menos correios electrónicos ou facebook, havia que passar a informação e garantir a mobilização. Manuel Gourlade procurava garantir a presença à hora de jogo de pelo menos 11 jogadores, desiderato por vezes problemático para qualquer Clube desse tempo. Assim, as convocatórias eram feitas por anúncios pagos em jornais de circulação de forma a garantir que aqueles que moravam longe de Belém sabiam ou não se esqueciam do compromisso para com o Clube.


(http://i63.tinypic.com/1smfd4.jpg)
Um outro exemplo do uso de um anúncio em jornal para Manuel Gourlade comunicar com os seus jogadores. Convocatória feita 1 semana depois o jogo vitorioso contra o Gilman FC. Gourlade não dispensava ninguém do treino nas Salésias! Rigor e exigência em 1905! Fonte: Diário Ilustrado 18-03-1905.


O Rocio era um local de encontro óbvio uma vez que estava situado em pleno coração de Lisboa. Era fácil lá chegar e por lá era fácil apanhar um meio de transporte conveniente para o campo do adversário (neste caso o Lumiar). Como hoje, nesse tempo o Rocio pululava de actividade e frenesim citadino mas havia diferenças... Oh se havia!


(http://i67.tinypic.com/huj5kx.jpg)
O Rocio, algures por volta de 1909. O "Café do Gelo" por pouco não aparece mas estava localizado logo ali do lado esquerdo. Notam-se dois carros eléctricos a circular. Eram carros abertos permitindo que os passageiros entrassem e saíssem mesmo em pleno andamento. Terá sido num carro destes que a nossa comitiva se fez transportar para o Lumiar. Nota-se também o curioso aspecto de ainda existirem carros de tracção animal. Fonte: AML.


O Jogo

Como se pode constatar pela crónica do jogo, Manuel Gourlade foi bem-sucedido em reunir o seu grupo de (pelo menos) onze jogadores seleccionados. Teve ainda particular cuidado na convocatória de Emílio de Carvalho, um elemento importante pela qualidade e experiência que dava ao grupo. Naquele tempo Emílio, cinzelador de profissão, já tinha recuado no terreno e jogava preferencialmente como defesa à esquerda na famosa (e por muito tempo adoptada) táctica da pirâmide (2:3:5).


(http://i64.tinypic.com/2nhjor7.jpg)
Breve crónica do jogo Gilman Sport Club 0 – Sport Lisboa 2. Fonte: Diário Ilustrado 11-03-1905


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A equipa do Sport Lisboa que alinhou no jogo Gilman FC 0 – Sport Lisboa 2. Golos de Couto e António Rosa Rodrigues (Catatau). Fonte: Diário Ilustrado 11-03-1905.


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A equipa do Sport Lisboa que em 1906 defrontou o Lisbon Cricket Club para o torneio Viúva Senna. É praticamente a equipa que defrontou o Gilman FC no ano anterior. A esquerda para a direita, em cima: António Couto, Albano dos Santos Emílio de Carvalho, Manuel Mora, Cosme Damião, Fortunato Levy. Em baixo: Carlos França, António Rosa Rodrigues, Daniel Queiroz dos Santos, Cândido Rodrigues e Silvestre da Silva. Destes não jogaram contra o Gilman Cosme Damião (que aqui substituiu José da Cruz Viegas) e Daniel Queiroz dos Santos (substituído por Duarte). O árbitro neste jogo foi o inglês John Armour. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


E claro os nossos onze bravos convocados venceriam o jogo por 2-0 com golos de António Rosa Rodrigues e António Couto! Venceram não obstante jogarem em terreno adversário (Charneca do Lumiar). Não sei ao certo mas este jogo terá sido provavelmente a nossa primeira vitória fora do Campo das Salésias (o "nosso" sem ser "nosso" campo de jogos).


O Café Gelo

Como vimos, o Café Gelo foi usado como local de encontro da nossa equipa. Este mítico Café tem associado um conjunto de histórias e lendas que resultam da sua longevidade, das inúmeras figuras que por lá passaram e dos acontecimentos históricos que por ali se deram ou prepararam. O Café era um ponto de encontro para as mais diversificadas pessoas algumas das quais - como adiante veremos – ligadas a episódios dramáticos da História de Portugal.


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Registos fotográficos de diversas épocas da longa história do Café Gelo desde o século XIX até aos nossos dias. O estabelecimento chegou a ser extinto para dar lugar a uma hamburgueria. Depois e á no tempo actual, voltou a abrir com a mesma designação embora já tenha pouco a ver com o espaço antigo. Diversas fontes.


A respeito dessa fama que vem de longe, atente-se ao que nos diz Hernâni de Lemos Figueiredo do Café Gelo:

"O Gelo", como o Café Gelo era usualmente conhecido por todos, teve sempre uma grande tradição revolucionária e reviralhista, a sua sala traseira era o local de encontro de republicanos, maçons, socialistas, anarquistas e carbonários. Aquilino Ribeiro chamou-lhe a sede informal da ala radical da carbonária e da maçonaria e um centro conspirativo por excelência, segundo este escritor o atentado no Terreiro do Paço foi urdido naquelas quatro paredes. Seria daqui que terão saído em 1 de Fevereiro de 1908, Alfredo Costa e Manuel Buiça para o Terreiro do Paço para cometerem o regicídio. Fonte: https://saladainquietacao.files.wordpress.com/2012/02/republica-final-individual.pdf (https://saladainquietacao.files.wordpress.com/2012/02/republica-final-individual.pdf)

E podemos acrescentar outros detalhes através de algumas linhas de um belo artigo publicado no DN, da autoria de Joana Emídio Marques, http://150anos.dn.pt/2014/10/04/cafe-gelo-uma-historia-de-oposicionismo/ (http://150anos.dn.pt/2014/10/04/cafe-gelo-uma-historia-de-oposicionismo/)

A história do século XX português passa por este café, com quase 150 anos, que antes de ter o melhor pastel de nata da cidade, foi uma verdadeira "toca" de oposicionistas e poetas

No dia 2 de Fevereiro de 1908, pouco antes das 17.00, Manuel Buiça e Alfredo Costa saíram do café Gelo com as carabinas escondidas debaixo dos sobretudos e dirigiram-se para a praça do Comércio. Pouco depois das 17.00 mataram o Rei D. Carlos e o seu filho D. Luis Filipe. E só por isto o Gelo já tem garantida a eternidade do seu excêntrico nome na História de Portugal. Mas mais do que o local onde, na Lisboa do fim do século XIX e início do século XX, se reuniam os oposicionistas à monarquia, maçons, carbonários, anarquistas, este foi o primeiro estabelecimento comercial na cidade a ter... gelo.

Não se sabe exactamente o ano em que abriu portas, ali nos números 64 e 65 da praça do Rossio, sob o nome de Botequim Gonzaga, mas sabe-se que foi em meados do século XIX e que pouco depois foi transformado no Café Freitas. À entrada do século XX ganhou o nome de Café do Gelo.

Nos anos 20 e 30 foi lugar de passagem de intelectuais e poetas como Fernando Pessoa ou Raul Leal. Nos anos 50 veio a primeira grande remodelação e a portas envidraçadas que davam para ver o exterior e uma clientela feita de empregados do comércio e jovens com pouco dinheiro. Passou a chamar-se apenas Café Gelo.

Quando em 2001, Fernando Jorge Gomes Ferreira da empresa Januário Mateus & Batista, (também proprietários dos centenários Café Nicola e Café Luso), comprou o espaço da hamburgaria Abracadabra, pouco sabia de toda esta história. "Soube do passado do café durante as negociações da compra do espaço. Fiquei tão impressionado que quis devolver essa história à cidade e resolvi, ali mesmo, recuperar o nome", contou ao DN. E foi assim que, em 2003, o Gelo reabriu como pastelaria, mas com um mural ilustrado onde se conta o regicídio e as fotos de alguns poetas que voltariam a colocar o café na História.
(...)

Segundo o editor Luiz Pacheco: "Na clientela do Café Gelo, nos anos 50-60, não teria homogeneidade etária, coexistiam tipos dos 8 aos 80, do José Carlos González, caco infantil, ao Raul Leal, do Orpheu, caquético total. Escassa identidade ideológica, dos fascistas à Goulart Nogueira aos anarcas como o Forte, o Henrique Tavares, o Saldanha da Gama. Prostitutas, bêbados e maricas. Maluquinhos como o António Gancho. Nenhuma programação estética. Dali não saiu revista, doutrina, escola que se aproveitasse. Então?! Havia, isso sim, um espaço de convívio em liberdade plena, feroz e mútua crítica, nenhuma contemplação pelo arrivismo..."



O Gilman Football Club

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Uma equipa do Gilman Football Club de 1909. Pouco antes do Clube ter terminado pelo menos com essa designação. Não dispomos de qualquer identificação.


O Gilman FC foi o nosso adversário naquele dia 12 de Março de 1905. Fundado pelo proprietário (à época) da Fábrica de Loiça de Sacavém, o Inglês James Gilman (1854 – 1921), este curioso clube foi o precursor do Sport Grupo Sacavenense (este fundado em 19 de Março de 1910). James Gilman foi inicialmente guarda-livros da fábrica fundada em 1850 pelo Barão de Howorth de Sacavém. A partir de 1893, por morte do Barão, Gilman passou a administrador da fábrica numa sociedade em comandita com a viúva do barão de Sacavém, tornando-se a partir de 1909 o seu único administrador.


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Esquerda: James Gilman e José de Sousa, respectivamente o dono e o primeiro chefe fabril português da fábrica de loiças de Sacavém. Fonte: Ilustração Portuguesa, número 346, de 7 de Outubro de 1912. Direita: Recorte de artigo sobre a fábrica de louça de Sacavém publicado no Diário Ilustrado de 17-01-1898.


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Aspectos de actividades de convívio social de trabalhadores da fábrica onde o Inglês James Gilman se integrava. Na fotografia de baixo vê-se ao centro James Gilman (chapéu) e José Sousa (boné). Fonte: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/james+gilman e Ilustração Portuguesa, número 346, de 7 de Outubro de 1912.

James Gilman veio a revelar-se um administrador competente, apostando em aumentar as exportações para o mercado inglês. Introduziu igualmente importantes inovações tecnológicas visando melhorar a produção de cerâmicas da sua fábrica, destacando-se em 1912 a aquisição de um forno-túnel no qual terá sido utilizado pela primeira vez o betão armado em Portugal. Mas já antes, em 1898 a fábrica movimentava mais de 400 operários.

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Fonte: http://www.loicadesacavem.pt/real-fabrica-de-sacavem-gilman-cta/ (http://fonte:%20http://www.loicadesacavem.pt/real-fabrica-de-sacavem-gilman-cta/)


Mas James Gilman tinha também uma perspectiva social da sua fábrica tendo promovido e participado em convívios e também criado um clube de futebol. Assim, o Gilman FC surgiu para permitir que alguns dos seus operários pudessem praticar uma modalidade de crescente implantação e popularidade no Portugal do início do século XX). Gilman viria ainda a ceder alguns terrenos da fábrica para que fosse instalado o corpo de Bombeiros Voluntários de Sacavém. Esse facto explica que ainda hoje a Avenida onde se situa o quartel dos Bombeiros tenha o seu nome. James Gilman veio a falecer em 1921, com a idade de 67 anos. Foi substituído pelo seu filho Raul Gilman, que formou uma parceria com Herbert Gilbert, outro Inglês. Extensos detalhes sobre a História da Fábrica de Louças de Sacavém podem ser encontrados em diversas ligações de grande interesse:

http://www.loicadesacavem.pt/real-fabrica-de-sacavem-gilman-cta/ (http://www.loicadesacavem.pt/real-fabrica-de-sacavem-gilman-cta/)
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/07/fabrica-de-loica-sacavem.html (http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/07/fabrica-de-loica-sacavem.html)
http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/mem%C3%B3rias+de+clive+gilbert (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/mem%C3%B3rias+de+clive+gilbert)
http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/james+gilman (http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/james+gilman)
https://desenvolturasedesacatos.blogspot.pt/2014/02/fabrica-de-loica-de-sacavem-fabrica-de.html (https://desenvolturasedesacatos.blogspot.pt/2014/02/fabrica-de-loica-de-sacavem-fabrica-de.html)




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 05 de Janeiro de 2017, 14:52
Que prazer enorme vir aqui ler estas "estórias" da nossa História!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 05 de Janeiro de 2017, 16:46
Até há 6 meses atrás trabalhei no Rossio e tomava o pequeno-almoço no Café Gelo todos os dias. Sabia que o local tem uma grande importância histórica, mas não fazia ideia que também a História do Benfica passou por lá.

Fantástico como sempre  :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Janeiro de 2017, 17:52
Caros Ned Kelly e Bakero, muito obrigado pelos vossos comentários  O0
Para onde quer que nos viremos há sempre uma surpresa ligada ao SLB.
Esperemos que neste novo ano apareçam mais surpresas :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 06 de Janeiro de 2017, 15:21
Em 2017 queria digitalizar a história do Benfica de 1954, pois do que já li tem referências bastante interessantes e material dos primeiros 50 anos que dificilmente encontramos noutro lugar assim organizado. É a modos que uma resolução de ano novo, pois ando a adiar isto há bastante tempo e o material vai-se deteriorando.

Para já vou-me deliciando aqui e a ler o Alberto no seus blog, à espera que a nova benfiquista lá de casa me dê um pouco de descanso  :buck2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Janeiro de 2017, 18:11
Citação de: Ned Kelly em 06 de Janeiro de 2017, 15:21
Em 2017 queria digitalizar a história do Benfica de 1954, pois do que já li tem referências bastante interessantes e material dos primeiros 50 anos que dificilmente encontramos noutro lugar assim organizado. É a modos que uma resolução de ano novo, pois ando a adiar isto há bastante tempo e o material vai-se deteriorando.

Para já vou-me deliciando aqui e a ler o Alberto no seus blog, à espera que a nova benfiquista lá de casa me dê um pouco de descanso  :buck2:

Ned, essa é a obra! Quase infalível tal o cuidado que Mário Fernando Oliveira e Carlos Rebelo da Silva colocaram nela.

É a referência que devemos considerar pois tiveram a rara oportunidade de entrevistar dois fundadores: Cosme Damião e Daniel Santos Brito. Obtiveram também informações e material raro e precioso de Cândido Rodrigues (outro fundador) e José da Cruz Viegas (homem que definiu as nossas cores e equipamentos). Pelo menos estes mas com certeza terão sido mais.

Usaram os arquivos do Clube obtendo informações privilegiadas. Foram cuidadosos e verificaram fontes. E mais importante e surpreendente é que foi uma obra de autor ou seja custeada do bolso deles!!

O Sport Lisboa e Benfica estaria bem se disponibilizasse cópias digitais dessa obra (mesmo que fosse com marca de água) ou ainda melhor se lançassem uma versão relativamente económica. Se calhar os iluminados do "marquetingue" ficariam surpreendidos com o sucesso da iniciativa.

Como isso não acontece vamos deliciando-nos com o material que Alberto Miguéns disponibiliza pois ele tem uma cópia e gosta de partilhar fragmentos que acompanham os seus excelentes textos. Outra referência da História do Benfica.

E parabéns! Parabéns e boa sorte com essa pequena Benfiquista. Boa sorte e desfruta bastante pois (mesmo que por vezes não pareça) esse é o melhor tempo dela e dos papás  :cool2:


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Janeiro de 2017, 20:36
-136-
Uma equipa infantil

Há papéis que nos revelam pedaços de vida, fragmentos de carreiras, curiosidades, muitas vezes sem uma interpretação imediata. É o caso de um curioso documento oficial emitido pelo Sport Lisboa e Benfica, em 3 de Julho 1925, para ser enviado ao Comité Olímpico Português.

(http://i66.tinypic.com/30jh4sg.jpg)
Documento enviado pelo SLB ao COP em 3-07-1925. Nota-se a identificação da sede na Rua da Rosa e do Campo de jogos na Avenida Gomes Pereira em Benfica. Fonte: Arquivo do Comité Olímpico de Portugal.


Assinado por José Colmeiro, vice-secretário da Direcção do Benfica de 1925, o documento foi recebido dois dias depois dando a conhecer ao Comité Olímpico de Portugal o nome de 13 jogadores da equipa infantil de futebol do SLB que iria defrontar o SCP. Foram eles, pela ordem inscrita no documento:

                              •   Fernando Adrião
                              •   Fernando Assis
                              •   Jorge Carvalho
                              •   Manuel Carreira
                              •   Germano da Costa Campos
                              •   Hipólito Silva
                              •   José Carlos
                              •   Alberto Ferreira
                              •   José Prazeres
                              •   Salvador Dias
                              •   Eugénio Salvador
                              •   José de Mattos
                              •   José Tavares


Nessa época, por equipa infantil entendia-se uma equipa de jogadores até 21 anos. Seria talvez uma lista de jogadores que três anos depois poderiam potencialmente vir a integrar a equipa Olímpica de futebol nos Jogos Olímpicos de Amesterdão de 1928. Como se sabe, Portugal viria a apresentar uma equipa notável nesses Jogos (incluindo os Benfiquistas Vítor Silva e Jorge Tavares e o ex-Benfiquista Raúl "Tamanqueiro").

Na verdade nenhum dos elementos desta equipa infantil chegaria a futebolista internacional mas ainda assim olhar para esta lista permite perceber a presença de algumas figuras Benfiquistas interessantes.

A esta distância e pela falta de elementos, torna-se inviável detalhar a contribuição que cada um destes jovens Benfiquistas deu ao nosso Clube ao longo da sua vida desportiva. Podemos no entanto usar a lista para reunir elementos biográficos que nos permita perceber dois aspectos fundamentais do Benfiquismo: 1) Eclectismo e 2) Amor ao Clube, traduzidos numa longa e multifacetada dedicação.

Não dispomos de uma fotografia dessa equipa infantil mas temos uma outra que apesar de ser de uma equipa de hóquei em campo, alinhada no Estádio das Amoreiras, permite identificar cinco desses jogadores.


(http://i63.tinypic.com/kbotg0.jpg)
Os jogadores da equipa juvenil de futebol de 1925 estão assinalados. Fonte: biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.


Alguns dos elementos dessa equipa infantil terão tido presença discreta no nosso Clube. Outros deram inicialmente uma importante contribuição ao nosso hóquei em campo, modalidade que se iniciou no Clube por volta de 1923. Como veremos, apenas dois conseguiriam ter uma presença significativa que na 1ª categoria: Eugénio Salvador e Germano Campos.

No resto deste texto vamos aproveitar os elementos disponíveis para salientar aspectos curiosos de alguns desses rapazes, do seu Amor e da sua dedicação ao Clube.


José Prazeres
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Homem injustamente esquecido do nosso Clube pois foi um dedicado praticante de hóquei em campo, futebol, atletismo e principalmente hóquei em patins (HP). Foi campeão em todas essas modalidades. Foi o treinador da equipa que venceu pela primeira vez o Campeonato do Mundo de HP em Lisboa 1947. Esse título seria revalidado em Montreaux 1948, Lisboa 1949 e Milão 1950, tornando Portugal o primeiro tetracampeão da modalidade. Nunca antes visto! Do grande José Prazeres já por aqui falámos anteriormente (ver texto nº 113 Um hoquista feliz).


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A – Equipa de HP na década de 20; José Prazeres (amarelo) e Fernando Adrião (azul) estão assinalados. B - Equipa de estafetas 5x80m do SLB de 1927; Eugénio Salvador (vermelho) e José Prazeres estão assinalados. C - Equipa de futebol da primeira categoria de 1929; Eugénio Salvador e Fernando Adrião estão assinalados. D - Equipa de Portugal, campeã do Mundo de HP em 1947. José Prazeres era o treinador. Fonte: Em Defesa do Benfica; Jornal do SLB; hemeroteca de Lisboa; Delcampe.


Eugénio Salvador
(http://i67.tinypic.com/14vr4tz.jpg)
http://serbenfiquista.com/jogador/eug%C3%A9nio-salvador

Eugénio Salvador Marques da Silva nasceu em Lisboa no dia 31 de Março de 1908 e faleceu na mesma cidade no primeiro dia de Janeiro de 1992. Uma longa e produtiva vida de 84 anos ligada ao desporto e as artes de palco. As novas gerações não se lembrarão de uma coisa ou de outra. As velhas gerações provavelmente só se lembrarão da sua vida ligada ao teatro de revista.

Filho do cenógrafo e empresário teatral Luís Salvador Marques da Silva (Lisboa, Santa Justa, 6 de Janeiro de 1876 - 13 de Abril de 1949) e de sua mulher Eugénia Maria Dias (Lisboa, 18 de Agosto de 1874 - Lisboa, 4 de Janeiro de 1955). Era irmão do pintor Luís Salvador Jr. (Mestre Luís Salvador Marques da Silva, Jr.) e neto do grande proprietário e dramaturgo João Salvador Marques da Silva e de sua mulher Antónia Cândida Reynaud e Silva. Fonte: wikipedia.

Figura inesquecível do nosso teatro, dedicando a sua vida essencialmente à comédia. Foi aluno do Conservatório Nacional, tendo no âmbito do curso participado em 1926 numa peça chamada "O Regedor" em cena no Teatro Nacional D. Maria II. No entanto a sua estreia em palcos profissionais ocorreu em 1928 no Teatro Maria Vitória, actuando na revista "O Grão-de-bico". Durante a sua vida artística participou em mais de uma centena de revistas à Portuguesa onde foi tudo: bailarino, actor, coreógrafo, autor, encenador e empresário (1942 a 1961, Teatro Maria Vitória). A sua vida artística começou ainda antes da década de 30 e durou até ao final da década de 80. Foi um dos mais notáveis actores do seu tempo, muito querido do público, tendo participado em digressões ao Brasil e Ultramar.


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Algumas das numerosas revistas à Portuguesa onde Eugénio Salvador espalhou o seu talento, alegrando a vida dos que tiveram a sorte de o ver actuar.


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A – A - Eugénio Salvador (boné) com Herman José e Henrique Santana num número da revista " O Bombo da Festa", 1976, no Teatro Maria Vitória. B – Com Victor Espadinha, Ivone Silva e a escultural Odete Antunes numa outra revista. C - Eugénio Salvador com Laura Alves numa cena de "Sonhar é fácil". D – com a lindíssima Milú no filme "Vidas sem rumo" de Manoel Guimarães (1956). Fonte: Revista Imagem, nº 2, de Fevereiro de 1954. Estreado em Setembro de 1956, o filme esteve apenas 3 semanas em cartaz no Teatro da Trindade.


Para além dessas inúmeras revistas trabalhou em cinema e televisão, geralmente assumindo papéis secundários, excepto no filme "Um Marido Solteiro" onde foi protagonista. Ao longo da sua carreira artística contracenou com grandes nomes como Chaby Pinheiro, Beatriz Costa, António Silva, Milú, João Villaret, Henrique Viana, Ivone Silva, Vasco Morgado, Tony de Matos, Vítor Mendes, Henrique Santana, Delfina Cruz, Simone de Oliveira, Florbela Queiroz, Fernando Mendes, entre muitos, muitos outros. A sua popularidade explica que o seu nome tenha, muito justamente, sido imortalizado numa rua de Lisboa:
http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.pt/2014/07/ruas-de-lisboa-com-nomes-de-actrizes-e_26.html (http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.pt/2014/07/ruas-de-lisboa-com-nomes-de-actrizes-e_26.html)


https://www.youtube.com/watch?v=McXOk3hP8i0 (https://www.youtube.com/watch?v=McXOk3hP8i0)
Um registo de valor histórico. Ivone Silva, Eugénio Salvador e Herman José num quadro da revista.


No desporto, foi um caso de dedicação ao nosso Clube não apenas no futebol, modalidade em que se distinguiu chegando ao topo e sagrando-se campeão, mas também no atletismo onde competiu em provas de velocidade. Entende-se assim que tenha sido um rápido extremo esquerdo. Dos 12 Benfiquistas dessa equipa juvenil foi aliás aquele que teve mais sucesso leia-se mais larga participação na 1ª categoria do nosso futebol (102 jogos em 8 temporadas). Jogou ao lado de grandes nomes do nosso futebol tais como Jesus Crespo, Vítor Silva, Tamanqueiro, António Pinho, entre outros. O seu trajecto sénior começou quando Cosme Damião saiu da Direcção técnica do futebol do Clube. Eugénio Salvador foi essencialmente treinado por Ribeiro dos Reis, aliás seu treinador no primeiro e último jogo da sua carreira na primeira categoria. Foi também treinado pelo Inglês Arthur John e por Vítor Gonçalves.

Salvador jogou durante épocas difíceis para o nosso Clube pois as nossas equipas de futebol tentavam recuperar competitividade perdida para os nossos oponentes depois de o Clube ter durante anos optado por privilegiar os investimentos nas infra-estruturas. Mesmo assim sagrou-se campeão de Lisboa em 1929-1930.


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Eugénio Salvador fez uma carreira marcante no nosso futebol como extremo esquerdo. A - Equipa de 1933-1933, no estádio das Amoreiras. Em cima, esquerda para a direita: Júlio Silva, João Correia, Gustavo Teixeira, Augusto Amaro, João Oliveira e Pedro Silva; Em baixo: Domingos Lopes, Luís Xavier, Vítor Silva, Carlos Torres e Eugénio Salvador; B – Equipa de 1932-1933, esquerda para a direita: Pedro da Conceição, Vítor Silva, Dinis, Rogério Sousa, Eugénio Salvador, Luís Xavier, João Correia, Manoel Oliveira. Em baixo: Albino, João Oliveira, Gatinho. Fonte: Em Defesa do Benfica.



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A – Em cima: Eusébio, Amália, Eugénio Salvador e João Santos, presidente da Direcção do SLB (1987-1992) em 1988 na festa dos 80 anos de vida de Eugénio Salvador. João Santos oferecia um livro ao Glorioso actor. B - Parque Mayer no início dos anos 30. C - Teatro Maria Vitória nos anos 40; dois locais onde Eugénio Salvador fez a sua vida de actor. Fonte: AML.


Germano Campos
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Germano Augusto Mourão da Costa Campos, nasceu numa das ilhas de Goa, Pangim, a 30 de Setembro de 1907. Tinha excelentes aptidões para a prática do desporto. Foi um grande hoquista em campo, tendo igualmente feito uma carreira interessante embora peculiar no futebol, onde atingiu a 1ª categoria logo em 1926/1927 e fez o último jogo em 1936/1937. Pelo meio teve no entanto dois hiatos (duas épocas e três épocas) para provavelmente se dedicar ao hóquei em campo. No total efectuou 52 jogos como futebolista da 1ª categoria jogando (primeiro) a avançado quer (mais tarde) a médio.

Foi no entanto no hóquei em campo que atingiu maior notoriedade sendo considerado como um atleta muito talentoso embora por vezes algo individualista.
Germano Campos é bisavô de João Magalhães nosso atleta de voleibol e pai dos nossos antigos voleibolistas José Magalhães e de uma das nossas "Marias", a mítica equipa de voleibol feminino que conquistou Campeonatos nacionais de Voleibol sucessivos entre a época 1966-1967 e 1974-1975. Germano Campos foi uma figura prestigiada no nosso Clube tendo chegado a Águia de Ouro!


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A – Equipa de 1935; Em cima da esquerda para a direita: Pedro Conceição, Manoel de Oliveira, Pedro Silva, João Correia, Cardoso, Rogério de Sousa, Germano Campos. Em baixo: Pinho, Luís Xavier, João Oliveira, Dinis e Octávio Policarpo. B – Germano Campos num dérbi de 1935. C - Em cima da esquerda para a direita: Albino, Manuel Oliveira, Rogério Sousa, Alberto Cardoso, Guedes Gonçalves, Germano Campos, Vítor Silva e João Oliveira. Em baixo: Augusto Dinis, João Correia, Luiz Xavier e Emídio Pinho. Fonte: Em Defesa do Benfica.



Fernando Adrião
(http://i65.tinypic.com/20ku9nn.jpg)

Fernando Pinto Adrião (1908-?) notabilizou-se nas nossas equipas de HP entre 1922 e 1933. Em 1933 transitou para o Clube Futebol Benfica onde permaneceu de 1933 a 1943. Integrou a primeira Direcção do Clube Futebol Benfica, o popular FóFó, como vogal da Direcção Fonte: http://futebolinformacao.com/page/12/ (//http://) e
http://rinkhockey.net/search/player.php?Name=Adriao&FirstName=Fernando+Pinto (http://rinkhockey.net/search/player.php?Name=Adriao&FirstName=Fernando+Pinto)


(http://i65.tinypic.com/16laas6.jpg)
A - Equipa nacional que em 1930 participou pela primeira vez no Campeonato da Europa de HP. Fernando Adrião (vermelho) e José Prazeres (amarelo) estão assinalados. B – Equipa do Clube de Futebol Benfica de 1934, assinalados: Adrião (azul) Manuel Carreira (verde) e Salvador (presumo Salvador Dias; rosa); C - Partida de Fernando Adrião de partida para Moçambique em 1943; D – Ringue "Fernando Pinto Adrião" de patinagem do CFB, anos 60. E – Fernando Adrião, ainda jogador já em Lourenço Marques. F – Como treinador de uma equipa juvenil do GDLM. à esquerda está o filho Fernando que viria a tornar-se um hóquista genial. Fontes: Delcampe; http://futebolinformacao.com/page/12/; Artur Goulart, AML;  https://delagoabay.wordpress.com/category/hoquei-mocambique/fernando-adriao/; http://www.francisco-velasco.com/2011/05/a-velha-guarda/


Adrião foi internacional ao integrar a Selecção Nacional que participou pela primeira vez no Campeonato da Europa de HP. Facto curioso é que essa representação nacional foi entregue ao Sport Lisboa e Benfica! A formação-base dessa equipa era Fernando Pinto Adrião, António da Câmara Adão, Germano de Magalhães, José Prazeres e Leonel Costa. Sempre José Prazeres.

Em Abril de 1943 Fernando Pinto Adrião emigrou para Moçambique. Por lá fundou a secção de HP do Grupo Desportivo de Lourenço Marques onde ainda jogaria, tendo depois assumido o cargo de treinador. Foi pai do genial hoquista Fernando Amaral Adrião (1939-2006) que se sagraria múltiplas vezes campeão europeu e mundial mas que apenas por uma vez jogou no SLB, (por convite no dia da festa de homenagem a Cruzeiro, um dos nossos maiores hóquistas de sempre).

No futebol, Fernando Pinto Adrião ainda jogaria na primeira equipa do SLB actuando como guarda-redes na época de 1927/28, fazendo ao todo 6 jogos. Estreou-se no nosso Estádio das Amoreiras num dérbi contra o Sporting em que perdemos por 2-3. Segundo as crónicas Adrião revelou vontade apesar de ter alguma inexperiência.

O Benfica vivia o drama de substituir o excelente guarda-redes internacional Chiquinho. Fernando Adrião foi um dos testados nessa época tais como Jaime, Picoto e Dyson mas acabaria por ser ultrapassado no lugar por este último. Artur Dyson era um guarda-redes instável que acabaria por ficar no nosso Clube por pouco tempo acabando por preferir transferir-se para o SCP, onde chegaria a internacional.

Quando se estreou, Adrião era treinado pelo Inglês Arthur John, tendo actuado atrás de nomes como António Pinho, Ralph Bailão, Aníbal José. Mário de Carvalho e Vítor Silva, entre outros. Seria pois nos escalões inferiores que teria algum destaque como guarda-redes de futebol no entanto o seu futuro estaria mesmo no HP e no FóFó.


Hipólito Silva
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Nascido em Lisboa a 30 de Dezembro de 1907, tenho pouca informação de Hipólito como atleta. A sua maior contribuição para o Clube parece ter sido em hóquei em campo durante a década de 20. Há também informação que Hipólito jogou HP em 1934 e 1937 contribuindo para um título regional (1934). Em 1927 sabe-se também que fez 1 jogo na 3ª e 1 jogo na 4ª categoria de futebol.


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Duas imagens da presença de Hipólito Silva nas nossas equipas de HP na década de 20. Fonte: Revista Ilustração e Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

Mais tarde já na década de 30 seria dirigente de modalidades. Já a década de 50 foi um dos dirigentes do Clube integrado na comitiva que foi ao Brasil em 1957, facto que demonstra o prestígio e as valorosas contribuições que nos deu.

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Hipólito Silva, em 1955, já um prestigiado dirigente do Clube.



Manuel Carreira            Salvador Dias            Fernando Assis
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Pouca informação. Fica o registo fotográfico que comprova terem sido dedicados praticantes de HP, os dois primeiros também no Clube Futebol Benfica.

De Manoel Carreira uma rara fotografia de uma equipa da 2ª categoria mostra-nos que também jogou futebol ao lado de Fernando Adrião e Eugénio Salvador. Mais tarde jogaria HP no FóFó.



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Equipa da 2ª categoria do SLB em Setembro de 1929. Fernando Adrião, Eugénio Salvador e Manoel Carreira estão assinalados. Fonte: Delcampe.


De Fernando Assis (http://serbenfiquista.com/jogador/assis (http://serbenfiquista.com/jogador/assis)) repete-se aqui o que em tempos se disse noutro texto deste tópico (ver 111- Acidente no Cartaxo (parte II) – Glorioso ciclismo). Assis estreou-se no futebol em 1928/29 em categorias inferiores. Existe apenas o registo de ter jogado num jogo da primeira categoria contra o CPAC, Casa Pia Atlético Clube. Esse jogo foi disputado no dia 16 de Novembro de 1930, ni campo das Amoreiras.  O jogo acabou com um empate a uma bola por via de um golo tardio de Mário de Carvalho. A nossa equipa era treinada pelo Inglês Arthur John.

Fernando Assis jogaria ainda mais 4 jogos na equipa principal, tendo feito a sua última aparição em 1935/35 quando Vítor Gonçalves já era o nosso treinador. Pelo meio completou 3 épocas na 2ª categoria. Jogador que não deixou um currículo futebolístico muito extenso na primeira categoria mas provavelmente terá contribuído para outras modalidades no nosso Clube.


Alberto Ferreira                  Jorge V. Carvalho
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De estes dois homens apenas disponho de um registo fotográfico mostrando a sua presença em equipas de hóquei em patins. Sem detalhes.

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Equipa de HP do SLB do início da década de 20. Estão assinalados José Prazeres, Alberto Ferreira e Fernando Valente. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
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Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro


As árvores avaliam-se pelos seus frutos. A importância de um País avalia-se pelas obras dos seus filhos. No futebol alguns países vão para além do seu tamanho físico tornando-se gigantes ao longo dos mais de 100 anos do futebol. A Hungria, a Magyarország, é justamente um desses casos notáveis, tendo dado ao futebol mundial muitos jogadores e treinadores que fizeram evoluir o futebol em termos tácticos e técnicos e espalharam o perfume do seu futebol pelo mundo fora. O Glorioso sempre esteve atento e por isso alguns deles por cá estiveram escrevendo algumas das mais belas páginas do futebol Benfiquista.

Vamos hoje partir de uma fotografia com quase 93 anos para identificar dois desses filhos, figuras imortais, nobres e prestigiadas do futebol Benfiquista. Vamos reconhece-los numa famosa selecção da Hungria que participou nos jogos Olímpicos de Paris em 1924.


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A famosa equipa nacional da Hungria que participou na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924. Da esquerda para a direita: Fogl, Opata, Hirzer, Jeny, Eisenhoffer, Béla Guttmann, Mándi, Obitz, Braun, Orth e Kiss. Em baixo János Biri.


Falamos do guarda-redes János Biri e do médio centro Béla Guttmann, dois dos melhores treinadores de sempre do SLB. Ambos foram titulares nos dois jogos dessa aventura olímpica. Dois outros jogadores, Jeny e Orth, também estiveram ligados ao futebol Português mas não ao SLB.

Hoje centraremos atenção em Béla Guttman, o melhor treinador da História do SLB.


Béla Guttmann
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(Budapeste, 27-01-1899 - Viena, 28-08-1981)


Húngaro de nascimento, cidadão do mundo pelas circunstâncias e por opção, Béla Guttmann chegou ao nosso Clube em 1959. Vinha com uma já longa história de vida, tendo trabalhado em muitos países e diversas culturas desportivas. Chegou envolto em polémica ao voltar as costas aos FCP, onde se sagrou campeão nacional, para trabalhar no grande Benfica. Guttmann sabia que era a única equipa em Portugal com potencial para a glória europeia.

Era já um nome conhecido e prestigiado do futebol internacional, que pela sua personalidade peculiar nunca se tinha fixado num país, partindo geralmente após um período máximo de 2 anos de permanência. Nas duas finais Europeias defrontou colossos europeus com alguns dos mais afamados jogadores Húngaros de sempre (Kubala, Czibor e Bószik no FC Barcelona, Púskas no Real Madrid), todos estrelas de primeira grandeza do futebol Mundial, todos conhecendo e/ou tendo trabalhado no passado com o nosso mago.

Mas Guttmann conhecia-os melhor ainda e por isso estava em vantagem. E usou bem esse conhecimento, assim como a sua sageza futebolística e experiência de vida para, com a genialidade dos jogadores Benfiquistas, escrever as duas mais belas páginas da nossa História. Ao ganhar finais contra colossos Europeus, fez realidade do sonho, tornando-nos os maiores na Europa. Liderou uma equipa que se tornou a lenda europeia e mundial. Com ele fomos mais alto, com ele fomos mais do que nunca Benfica!


Béla Guttmann nasceu em Budapeste, em Janeiro do último ano do século XIX. Filho de uma família de origem judia, teve uma precoce educação musical, incluindo a dança, dada pelos seus pais Abraham Guttman e Ester Szánto, bailarinos de profissão. Assim se compreende que em algumas circunstâncias e lugares que percorreu na sua vida, a dança tenha servido de actividade profissional de recurso, permitindo-lhe por o pão na mesa em tempos difíceis. Mas o desporto e a prática desportiva do futebol mereceram-lhe precoce interesse e prioridade.

 
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Elementos pessoais de Béla Guttmann. Em cima: registo de nascimento. Em baixo: mala de viagem de Béla Guttmann e duas fichas de emigração temporária no Brasil. Na mala vê-se uma etiqueta do Hotel Batalha no Porto e do Hotel Eden em Spietz, local onde o SLB estagiou antes da grande vitória de Berna em 1961.


Guttman, o jogador
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Definido como um jogador combativo, generoso e inteligente, Béla Guttmann foi um médio organizador de jogo, com carreira feita na Hungria, Áustria e Estados Unidos. Iniciou-se no modesto Törevkés SC onde permaneceu de 1917 a 1919, transferindo-se depois para o famoso MTK de Budapeste, que à época, com o Ferencváros, dominava o futebol Húngaro. Por lá permaneceu duas temporadas e, apesar de tapado por jogadores mais velhos e prestigiados, foi campeão Húngaro. Na segunda época, alterações políticas levaram ao agravamento do clima de anti-semitismo, forçando Guttmann a emigrar para a vizinha Áustria.

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Törevkés SC. Guttman é o sexto, de pé a contar da esquerda. Fonte: http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251 (http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251)


Em Viena, integrou de 1922 a 1924, os quadros do SC Hakoah, clube fundado em 1909. Nesse tempo, o Hakoah era um dos quatro principais clubes do futebol austríaco (todos da capital): Rapid (1899), First (1894), Austria (1911; na altura chamado Wiener Amateur). Tanto o Áustria como o Hakoah tinham grande influência cultural e financeira da comunidade judaica, embora Hakoah (palavra que significa Força) fosse considerado o clube dos judeus pobres, sendo mais activo e tendo maior adesão popular. Nessa época, o futebol austríaco e húngaro eram dos mais avançados da Europa, dispondo de boa organização e bastante dinheiro, com excelentes jogadores e grandes treinadores incluindo génios como o escocês Jimmy Hogan (1882-1974) e o austríaco Hugo Meisl (1881-1937).

No auge desse período austríaco, Guttman seria convocado para integrar a forte selecção Húngara de futebol que participou em Paris, 1924. Depois de uma vitória inicial robusta por 5-0 contra a Polónia, veio uma desastrosa derrota por 0-3 contra o Egipto. Os jogadores foram muito criticados mas muitas atenuantes foram apontadas para explicar o fiasco desportivo, desde uma deficiente alimentação a uma péssima planificação e acompanhamento dos dirigentes (que ao que parece era tantos quantos os jogadores...). O jogo contra o Egipto seria o último de Guttmann na selecção húngara. No total, Guttmann jogaria apenas 4 vezes com a camisola nacional, algo frequente dado o número exíguo de jogos entre selecções nesse tempo.

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Fonte: http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela (http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela)


O Hakoah estava também interessado em apresentar-se fora da Áustria, tendo-se deslocado em 1923 a Inglaterra onde jogou e venceu o West Ham United, naquela que foi a primeira derrota de um clube inglês no seu terreno contra uma equipa estrangeira. Em 1925, o Hakoah venceria pela primeira e única vez o campeonato austríaco, num ano inesquecível que culminou com uma bem-sucedida digressão aos EUA. Vivia-se um período breve mas de grande exuberância financeira e desportiva do futebol na América.


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Cartaz promocional do Hakoah Wien para a sua digressão aos EUA em 1926.


A admiração de Guttmann por Nova Iorque e pela América levou-o ainda em 1926 a aceitar uma das propostas que recebeu em NY. Iniciou assim uma nova etapa de vida de seis anos em que jogou em cinco clubes nova-iorquinos. Em 1930 o Hakoah All Stars faria mesmo uma digressão pelo Brasil, Argentina e Uruguai, altura em que Guttman terá tido primeiro contacto com o futebol Sul-Americano. Mas em 1932, o futebol Americano entrou num declínio fatal. Tempo para uma nova mudança, levando Guttman a regressar ao Hakoah, para jogar a sua última época.


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Guttman, capitão de equipa no Hakoah All Stars durante a digressão na América do Sul em 1930.


Como jogador, Guttmann teve um trajecto feito de muitas e diversas experiências. Sempre em movimento, opção que repetiria enquanto treinador. Trabalhou com treinadores famosos, verdadeiros pioneiros que tiveram parte activa na evolução táctica e técnica do futebol. Disputou campeonatos competitivos e talvez ainda mais interessante acumulou uma experiência de vida que lhe permitiu compreender como poucos os homens, os tempos e as particularidades de um jogo de futebol. A essas virtudes juntou a sua forte personalidade e a coerência dos seus critérios. Faltava conseguir treinar equipas com recursos que lhe permitissem chegar à glória. Levaria tempo e seria um caminho de pedras. Um caminho que o traria ao SL Benfica, Clube onde atingiu o zénite das suas capacidades e obteve as suas maiores glórias individuais.


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Quatro das equipas onde Guttmann jogou.

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O trajecto do jogador Bélla Guttmann. Fonte: wikipedia


Guttman, o treinador
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Foi no Hakoah Wien que Guttmann iniciou a sua carreira de treinador. Dois anos depois começaria uma longa e intensa vida de globetrotter que o levaria a pelo menos doze países na Europa e na América do Sul. A primeira paragem foi o FC Twente (então Enschede), contrato que conseguiu por intercessão do grande Hugo Meisl. Nessas experiências começaram a manifestar-se traços de que raramente Guttman abdicou: discutir detalhadamente e com dureza os diversos aspectos dos seus contratos, ficar não mais de dois anos num clube e exigir autonomia e dignidade de trabalho aos dirigentes dos clubes. Tudo tarefas complicadas dado que os treinadores tinham pouca relevância e por isso capacidade reivindicativa. Mandavam os dirigentes.

Depois dessa aventura holandesa, Guttmann regressou ao Hakoah para dois anos depois retornar novamente ao seu país natal para treinar o Újpest, onde foi campeão Húngaro e onde ganhou a Taça Mitropa, o primeiro grande torneio entre clubes europeus, equivalente à Taça Latina, disputado desde 1927 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitropa_Cup).

Mas, no final dessa época desportiva, rebentou a segunda guerra mundial. Guttman interrompeu a sua actividade desportiva e provavelmente passou à clandestinidade para poder sobreviver, escapando às perseguições nazis. Pouco se sabe desse período. Terá sido preso? Terá estado num campo de concentração? Guttmann nunca falou. Não sabemos como ele sobreviveu mas, ao que li, pelo menos um irmão e um primo de Guttmann morreram num campo de concentração nazi. Mais uma etapa dura de vida, mais sofrimento causada pelo horror que certo comportamento humano consegue causar aos seus semelhantes. Guttmann sobreviveu.

Finda a guerra, Guttman voltou a treinar na Hungria desta vez no Vasas de Budapeste. Seguiu-se um ano na Roménia, o regresso ao Ujpest e depois uma importante experiência no Kipest, onde foi substituir o pai de Púskas no comando técnico da equipa. Aliás o plantel integrava o já então famoso Púskas. E seria um conflito de personalidades em que Púskas acabaria por causar a saída de Guttmann apesar do plantel permitir pensar em grandes conquistas. Uma vez mais o carácter de Guttmann impunha-se às conveniências de circunstância e aos vedetismos. Sempre coerente na dignidade que exigia para as suas funções.

Em 1949-1950 foi contratado pelo Padova treinando finalmente em Itália. Por lá conseguiu algum destaque mas incompatibilizou-se com dirigentes que interferiram no seu trabalho. Exigia respeito e independência. Demitiu-se e foi-se embora. Na época seguinte o Triestina e depois em 1953, uma breve experiência na Argentina e outra em Chipre.

Mas o seu prestígio em Itália permanecia intocável, tendo ainda neste ano sido contratado pelo poderoso AC Milan. Nos rossoneros orientou grandes craques como o italiano Schiaffino e os suecos Nordhal, Gren e Liedholm. Apesar dos vedetismos, ganhou o respeito da equipa e os excelentes resultados obtidos nas 15 primeiras jornadas, valeram-lhe a liderança do campeonato. Viria depois alguma instabilidade e conflitos com a Direcção do clube. Como sempre Guttmann não pactuou e demitiu-se. Mas a equipa estava lançada, e sendo depois dirigida por Puricelli, veio a sagrar-se campeã de Itália. Na hora da conquista vários foram os jogadores que não se esqueceram de Guttmann.

Outra das notáveis paragens foi a oportunidade de Guttman treinar no Brasil em 1957, a grande equipa do Hónved que por ali andava em digressão. Na verdade era mais uma fuga de que uma digressão de uma equipa que contava com os grandes Koczis, Puskas e Czibor. Os Húngaros estavam no Brasil a convite do Flamengo mas recusavam voltar à sua pátria pois ali viviam-se dias negros de revolução comunista.


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Guttmann com Kócsis e Púskas. Três génios do futebol Húngaro.


Aproveitando essa estadia, Guttmann recebeu um convite do São Paulo FC. Aceitou e foi campeão Paulista treinando craques como Zizinho. Por lá os métodos, a personalidade e as inovações tácticas de Guttmann deixaram marcas, sendo claro que influenciaram a evolução e competitividade do futebol Brasileiro que no ano seguinte se sagraria campeão mundial na Suécia.


(http://www.fourfourtwo.hu/admin/ckfinder/userfiles/images/Zizinho_guttmann_puskas.jpg)
Uma fotografia extraordinária de três génios do futebol. Zizinho, Guttmann e Púskas em São Paulo, 1957. Fonte: fourfourtwo.hu

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Fonte: Revista Cruzeiro, 1958


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Os Clubes mais importantes da longa carreira de Béla Guttmann.


Viria depois o convite do FCP, que aceite levou Guttmann a acrescentar Portugal à lista de países onde trabalhou. Por lá foi campeão depois de uma acesa compita com o SLB. Astuto, na hora do balanço, Guttmann percebeu que o futuro estava no SLB, clube que dispunha de excelentes jogadores, e de meios para lhe poder dar outros voos. Era o SLB que ele queria treinar. E assim foi. E assim se fez História.


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Momentos de glória no SLB.


Depois do SLB seria convidado pelo Penarol de Montevideo para mais uma aventura Sul-Americana. Dois anos antes tinha disputado com os Uruguaios uma Taça Intercontinental, conhecendo por isso o ambiente. E uma vez mais Guttman foi campeão, juntando o título Uruguaio ao seu currículo. Mas uma vez mais não ficou muito tempo regressando para treinar o Austria Wien.


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Juan Alberto Schiaffino, um dos melhores jogadores Uruguaios de sempre com Béla Guttman.


Nunca regresses a um local onde já foste feliz. Assim foi com Guttman.

Diz-se que em 1965, aquando do seu regresso, Guttman chegou ao Estádio da Luz, olhou para os bólides dos jogadores por lá parqueados e logo disse que o seu regresso tinha sido um erro. O mago percebeu logo que a força motriz de ambição e de conquista não existia mais na Luz. Eram tempos diferentes, os jogadores aburguesaram-se, o clube estava diferente. Mas até Guttmann estava diferente.

A época foi má, o título foi perdido para o SCP, esfumando-se o tetra. Fomos também estrondosamente eliminados da Taça dos Clubes Campeões Europeus por um jovem e ambicioso Manchester United. Na hora da saída, Guttmann queixou-se amargamente. Era o fim da ligação Guttmann com o SLB. O fim que selava uma era que na verdade tinha terminado em 1962, logo após a partida do feiticeiro.


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As declarações amargas de Guttmann na hora da partida. Fonte: Jornal "A Bola".


Guttmann ainda treinaria na Suiça, Grécia e Áustria, mas viria a finalizar a carreira no FCP. Sempre sem resultados dignos de menção. E assim fechou a sua extraordinária carreira. Sem a glória de outros tempos mas sempre com a mesma dignidade e sempre fiel aos seus princípios.


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O trajecto do treinador Béla Guttmann. Fonte: wikipedia


Eu gostar do Benfica!

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Guttmann foi um gigante da vida e do futebol. Foi e com razão muitas vezes acusado de pensar primeiro na sua carteira. Como não? Como não o fazer quando esteve exposto ao anti-semitismo, às agruras da guerra, às leviandades e à maldade dos homens, à inconstância das personalidades, à falta de critérios dos dirigentes dos clube, aos caprichos dos jogadores, à pressão dos adeptos, enfim às agruras da vida. Como não o fazer se a vida é um local duro em que somos todos cavaleiros na tempestade?

Guttmann foi um guerreiro, um sobrevivente, um gigante. Mas teve e mostrou ter coração. Mostrou-o aqueles que lhe deram a sua paixão e reconhecimento. Aqueles que lhe deram os dias mais felizes da sua longa vida do futebol. Deu-o aos adeptos Benfiquistas. Deu-o de forma intemporal, aos Benfiquistas passados, presentes e futuros. E deu-o de tal forma que é difícil conter as lágrimas ao recordar os seus tempos como Benfiquista. E assim não poderia fechar este texto sem ir buscar algumas das palavras sábias, de Amor, gratidão e reconhecimento que proferiu sobre o Sport Lisboa e Benfica, sobre os Benfiquistas e sobre a mística Benfiquista:


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"Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno... Por terra... Por mar... Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa... Grande... Incomparável... Extraordinária... massa associativa!"

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Obrigado Míster. Estará sempre nos nossos corações.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Janeiro de 2017, 20:41
O nosso Museu publicou uma digitalização de melhor qualidade da convocatória escrita por Manuel Gourlade para o encontro no Café Gelo.


(https://scontent.flis5-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/16105854_713208262193900_7762736429045152774_n.jpg?oh=9ac539b4482cbbfc3efc30cd477eee30&oe=5900E7CD)


No Dia da Escrita à Mão, recordamos uma convocatória de treino que terá sido redigida por Manuel Gourlade, a 9 de março de 1905. O ponto de encontro dos jogadores seria o histórico café Gelo, no Rossio, para preparar o jogo frente ao Gilman FC. Podem saber mais e descobrir outros documentos históricos do Clube na área 1 - Ontem e hoje. #MuseuBenfica #SLBenfica
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Fevereiro de 2017, 20:22
-138-
Gloriosa Magyarország (parte II): János Biri, uma aposta feliz!

Voltamos hoje a olhar para a selecção da Hungria que participou nos jogos Olímpicos de Paris em 1924 mas desta vez para nos concentrarmos no seu guarda-redes, o (futuro Glorioso) János Biri.

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A famosa equipa nacional da Hungria que participou na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924. Em cima, da esquerda para a direita: Fogl, Opata, Hirzer, Jeny, Eisenhoffer, Béla Guttmann, Mándi, Obitz, Braun, Orth e Kiss (treinador). Sentado em baixo János Biri.

Dito pelo nosso imortal Ângelo Martins: "a maioria dos Benfiquistas desconhecem o trajecto desportivo deste homem extraordinário quer como treinador quer como pessoa".

Depois destas palavras o que se poderá ainda dizer de melhor e mais justo? Talvez apenas tentar reunir e sumarizar alguns detalhes da vida desse homem bom, de um vencedor, de uma aposta feliz que o nosso Clube fez num homem vindo da longínqua Hungria, mesmo que então tivesse ainda poucos anos de Portugal e pouca experiência como treinador. Mas Biri provou saber muito de futebol. Soube também perceber e amar o nosso País e soube acima de tudo, amar o Sport Lisboa e Benfica, clube que lhe deu as maiores glórias e alegrias profissionais e provavelmente muitas alegrias pessoais.

János Biri
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Nascido em Budapeste em 21 de Julho de 1901, János Biri viria a fazer uma interessante carreira como guarda-redes na Hungria, Itália, França e Portugal. Iniciou-se em 1920 no Kispesti Atlétikai Club, também conhecido por KAC.


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O percurso do guarda-redes János Biri em clubes Húngaros.

O KAC foi fundado pouco tempo antes, em 1909 na pequena vila de Kispest ("defesa da pátria"), localidade próxima de Budapeste. Não obstante a sua origem modesta, o KAC viria a sofrer transformações significativas nas décadas de 40 e 50, alterando do seu nome passando a ser conhecido como Budapesti Honvéd SE, o famoso Honvéd. Nesse tempo o Honvéd viria a atingir dimensão internacional, contando nos seus quadros com prestigiadas figuras do futebol mundial tais como Púskas, Kocsis, Czibor e Bószik, todos membros daquela que foi uma das melhores equipas do mundo no início da década de 50.

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Fonte: wikipedia, acedido em Janeiro 2017.


No entanto em 1923 a 1925, nesse tempo de Biri, o KAC era ainda um clube pequeno da periferia de Budapeste. Apesar disso, Biri foi contratado em 1925 pelo Calcio Padova, clube onde jogou por duas épocas, tendo a sua equipa obtido um 4º e um 7º lugar na competitiva liga Italiana. É provável que para esse contrato muito tenha contribuído o facto de Biri ser titular da selecção Olímpica da Hungria que competiu em Paris 1924.


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János Biri em 1925 ainda no KAC pouco antes de partir para Itália. Ao seu lado guarda-redes dos outros dois grandes clubes de Budapeste, Kropacsek (MTK) e Kutrucz (Vasas). Fonte: Darabanth

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Duas equipas da Associazione Calcio Padova de 1925 onde facilmente se identifica o guarda-redes János Biri. Fonte: Polesine Sport.


Em termos absolutos, Biri apenas terá feito 5 jogos pela selecção, algo normal dado o exíguo número de jogos internacionais da época. Entre 1923 e 1925, Biri participou em 4 jogos, incluindo os dois da olimpíada, o último dos quais foi uma goleada sofrida contra a selecção sueca. Apenas em 1928 Biri voltaria a integrar a selecção do seu país num jogo de fraca memória, em que sofreram uma goleada humilhante contra a vizinha e rival Áustria. Nesse jogo Biri entrou quando o resultado já era desfavorável por 1-3 mas não conseguiu evitar que a Hungria sofresse mais dois golos. Uma despedida infeliz.


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A carreira internacional de János Biri na selecção da Hungria


Depois da experiência italiana, Biri regressaria a Budapeste mas agora para jogar no famoso MTK, que na altura era conhecido como Hungária. Jogou pouco. Talvez até o maior privilégio desses tempos tenha sido o facto de, na primeira época de MTK, por lá ter ser treinado por um dos maiores treinadores da história do futebol, o escocês Jimmy Hogan. Hogan fez parte de um conjunto restrito de inovadores que revolucionaram tacticamente o futebol mundial na primeira metade do século XX. Um grupo onde são também incluídos o austríaco Hugo Meisl e o inglês Herbert Chapman.


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Herbert Chapman, Hugo Meisl e Jimmy Hogan, os três magos do futebol nas primeiras décadas do século XX.


A influência de Hogan na criação e evolução da famosa escola do Danúbio (futebol Húngaro e Austríaco) seria tal que, em 1953, seria chamado de traidor pelos ingleses quando a famosa selecção Húngara de Puskas e companhia foi a Wembley esmagar a Inglaterra por 6-3. Mas esse jogo foi mais do que uma derrota, aliás a primeira derrota de sempre da Inglaterra em sua casa, foi o fim do mito da invencibilidade inglesa em casa e também o fim do mito da superioridade dos mestres ingleses que vinha desde o tempo em que os Ingleses inventaram e fizeram evoluir o futebol. Foi o fim de uma era. Nesse jogo, que alguns apelidaram o "jogo do século", ficou evidente que os ensinamentos e o modelo de jogo implementado por Hogan, feito de passes curtos e trocas de bola rápidas feitas por jogadores dotados de grande tecnicismo e mobilidade, foram a base da genialidade e sucesso que os Húngaros obtiveram nas décadas de 40 e 50.

Biri fazia parte dessa escola, tendo bebido directamente dos conhecimentos de Hogan aquando desses tempos de MTK. Passaria mais tarde por equipas de pequena dimensão com pouco sucesso. Em 1930 emigrou para França tendo jogado 3 anos, no Amiens SC, ano em que foi introduzido o profissionalismo nesse clube francês. E seria integrado numa comitiva do Amiens SC que, em digressão por Portugal, Biri se encantou pelo Porto e se decidiu por lá ficar. Na altura ligou-se ao Boavista FC, integrando por três anos o plantel de um clube então modesto e que jogava na segunda divisão. Curiosamente, no Boavista Biri foi ocupar o lugar de Soares dos Reis que saiu para o FCP. Mais tarde Soares dos Reis seria orientado por... Biri.


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Duas imagens relativas ao Boavista FC em 1935-1936 Na equipa em cima, Biri é o último, ao fundo, no lado direito. Em baixo é o 5º a contar da esquerda. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Ora, esse ano de 1933 foi um ano de grandes mudanças internas no Boavista FC, clube fundado 30 anos antes (1-08-1903) por ingleses e portugueses, moradores no bairro da Boavista. Pouco tempo depois, o Boavista estrearia um novo equipamento com calções negros e camisola xadrez, importado de uma equipa francesa observada pelo presidente da altura, Artur Oliveira Valença (fonte: https://www.publico.pt/noticias/jornal/no-principio-eram-os-boavista-footballers-158226 (https://www.publico.pt/noticias/jornal/no-principio-eram-os-boavista-footballers-158226)). Subsiste ainda por identificar essa equipa mas há outra possibilidade que é o SC Roches Noites, equipa marroquina que nessa época tinha um equipamento axadrezado.

Curiosamente ainda no Boavista e quase no fim da sua carreira o guarda-redes João Biri (pois naturalizou-se Português) defrontou o SLB:


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Crónicas do jogo SL Benfica 1 – Boavista FC 1. Fonte: Esquerda DL 3-05-1936 e direita Jornal "Os Sports" de 4-05-1936 in Em Defesa do Benfica.


Uns meses mais tarde Biri terminava a carreira de jogador e iniciava no Porto a sua prestigiada carreira de treinador. Passaria por diversos clubes mas seria no SLB que atingiria a Glória.


Em Portugal

Como atrás se disse, János Biri terminou a carreira no Boavista FC em 1935-1936. E logo no final dessa época, em 23 Agosto de 1936 Biri foi convidado para ser treinador do FCP, apesar de aparentemente não ter experiência de treinador. Muito provavelmente o prestígio do futebol húngaro, e provavelmente os seus traços de personalidade fizeram que Biri merecesse a confiança dos dirigentes portistas. E Biri respondeu, introduzindo inovações nos treinos, impondo disciplina, e apostando no aprimoramento técnico dos jogadores. No entanto, Biri não completaria a época tendo sido demitido em Fevereiro de 1937.


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A equipa do FCP em 1937-1938 que foi orientada por János Biri até Fevereiro de 1938. Nota-se a presença de um muito jovem Francisco Ferreira (2º de pé a contar da direita). Para ambos a glória só chegaria de Águia ao peito.


Transitou depois para o vizinho Académico do Porto, clube onde ficou duas épocas. Finalmente em 1939 chegaria o seu prémio maior, aceitou o convite do Clube que lhe mudaria a vida e do qual ele deu o melhor do seu saber, e do seu coração.


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János Biri, de jogador a treinador.


No Sport Lisboa e Benfica
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http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=44563.0 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=44563.0)


Contratado para o Benfica pelo presidente Augusto da Fonseca Júnior, János Biri iniciou funções de treinador em 1 de Agosto de 1939 e ficaria até 2 Julho 1947. Quase oito anos que começaram com uma aposta de risco atendendo a que o seu currículo era ainda escasso. Biri revelou-se metódico, atento aos detalhes, gostando de ensaiar jogadas, repetindo-as até à exaustão, criando o que Toni mais tarde chamaria de "automatismos".

Na sua primeira época (1939-1940) Biri ajudou-nos a conquistar o Regional de Lisboa e a Taça de Portugal (a primeira do nosso historial). Na sua segunda época (1940-1941) não conseguiu conquistar qualquer título mas ainda assim a Direcção manteve-lhe a confiança. Depois (1941-1942) o SLB venceria o campeonato nacional não obstante o prolongado afastamento, por doença, de Espírito Santo. Na época seguinte (1942-1943) o SLB passou a contar com dois craques, Rogério e Julinho que aumentando a qualidade da equipa, ajudaram à conquista da dobradinha.

De entre as numerosas vitórias de Biri no Benfica, uma ter-lhe-á sido bastante especial, pelos números e pelo oponente. Assim foi na 5ª Jornada do campeonato, a 7 de Fevereiro de 1943, em que o SL Benfica cilindrou o FC Porto por 12-2 naquela que foi a maior cabazada alguma vez verificada entre os dois clubes. Uma derrota histórica imposta ao clube que o tinha despedido sete anos antes. O jogo foi disputado no Campo Grande e mais detalhes podem ser lidos no texto -70- O dia da dúzia! (p.21). Nota curiosa, nesse dia o treinador dos portistas era Lippo Hertzka, um nome grande do SLB mas que no FCP nada faria de registo. Ou melhor, até fez, pois fez o FCP sofreu a sua maior cabazada de sempre.


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Imagens diversas equipas slb com biri

Na época seguinte (1943-1944) e já com a integração de Arsénio, o SLB conquistou a Taça de Portugal. Depois (1944-1945) viria mais um campeonato, o 6º da nossa História. Mas na época seguinte (1945-1946), ficaríamos novamente em branco, iniciando-se um período vitorioso do SCP que aproveitaria para nivelar o seu palmarés com o nosso. E foi já nesse período de desencanto que a meio da época seguinte, em Fevereiro de 1947, a Direcção do SLB decidiu afastar Biri do comando técnico do nosso futebol.

Feliz ou infeliz, essa decisão coincidiria com perdas sucessivas de campeonatos para o eterno rival. Ao que se diz a decisão foi tomada depois de um desentendimento entre Biri e Ferreira Bogalho. Em face desses acontecimentos o presidente Tamagnini Barbosa tomou a decisão de afastar o treinador.

Ironicamente, a dispensa de János Biri foi acompanhada pela contratação do seu compatriota Lippo Hertzka. O regresso de Hertzka ao nosso Clube ficou à distância de um golo para ser feliz, pois perderíamos esse campeonato pela diferença de um único golo, o campeonato do pirolito. Teria sido diferente com János Biri?

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No balanço dos oito anos sob o comando técnico de Biri, o SLB celebrou 3 títulos de campeão nacional (1941/42, 1942/43 e 1944/45), três Taças de Portugal (1939-1940; 1942-1943 e 1943-1944) e um campeonato de Lisboa (1939-1940). Este palmarés torna Biri ainda hoje um dos treinadores mais vencedores da nossa história.

Depois do SLB, Biri enveredou um trajecto longo de cerca de 20 anos em que treinou por diversos clubes. Estaria em numerosos clubes, alguns bastante prestigiados como o Vitória de Setúbal onde em 1954 foi a uma final da Taça de Portugal perdida para o SCP. Este também entre outros, no Vitória de Guimarães e na Académica de Coimbra.


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János Biri, na época 1958-1959 aquando da sua passagem pela Académica de Coimbra.


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Para lá do SLB. Alguns dos clubes Portugueses por onde János Biri também treinou.


Regressaria por fim em 1971 para as funções de treinador no sector de formação e olheiro. Manteria esse tipo de funções durante mais de uma década, contribuindo de forma meritória com o seu saber e dedicação e sempre com a educação que o caracterizou. Ângelo Martins, igualmente um nome importante no sector da nossa formação, salientaria depois a importância que o imenso saber e extraordinária educação desse Senhor do futebol tiveram para a formação de jovens valores no SLB durante a década de 70.

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Dando plena expressão ao seu amor pelo SLB, János Biri participaria também em actividades do nosso Sport Lisboa e Saudade. Ali o vimos ao lado de grandes nomes do Universo Benfiquista a celebrar a recordação dos bons velhos tempos.


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Sport Lisboa e Saudade, em cima: António Adão, Alfredo Valadas, János Biri, Francisco Ferreira, Vítor Silva, Jacinto Marques, Guia Costa, Rogério de Sousa. Em baixo: Mário Rui, Luís Xavier, Francisco Albino e Artur Santos.

Faleceu em 2 de Abril de 1983. Faleceu quando estava ao serviço do SLB. Paz à sua Alma. Honra e Glória à evocação do grande János Biri.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 05 de Fevereiro de 2017, 14:29
8 anos! É o treinador do futebol do Benfica com mais longevidade no cargo na nossa História certo?

Obrigado por mais este bocadinho de História  :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Fevereiro de 2017, 15:03
Citação de: Bakero em 05 de Fevereiro de 2017, 14:29
8 anos! É o treinador do futebol do Benfica com mais longevidade no cargo na nossa História certo?

Obrigado por mais este bocadinho de História  :)

Obrigado Bakero!  O0

Não será o treinador de maior longevidade porque o primeiro é Cosme Damião. Cosme liderou o nosso Clube durante cerca de 17 anos, desde 1909 até 1926. Isto se considerarmos que assumiu funções equivalentes a de um treinador pois era designado como Capitão geral, o que equivalia a treinador, chefe do departamento de futebol, secretário técnico, etc. Basicamente era quase tudo e a ele devemos quase tudo.

Mas Biri foi um treinador de grande longevidade e grande sucesso já quando o futebol do SLB era semi-profissional.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Fevereiro de 2017, 15:28
Conforme (muito) bem lembrado pelo Rodolfo no SLB vintage, neste dia em 1942 foi dia de dúzia. Dia de cabazada ao fecepe!

(http://www.dn.pt/storage/DN/2015/3/ng4172499.jpg) (http://2.bp.blogspot.com/-JyNUyVPAFD4/UPGC8HOnoNI/AAAAAAAAH7Q/h0PyvdmRp0w/s1600/benfica-+porto.jpg)

(http://i62.tinypic.com/2gvn6zk.png)

relembrar o texto -70- O dia da dúzia! (p.21)

aqui: http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.300 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.300)

Um dia em que János Biri levou a nossa Gloriosa equipa até ao maior esmagamento que há memória entre SLB e fecepe
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Joaquim Ferreira Bogalho em 09 de Fevereiro de 2017, 14:49
RedVC, que trabalho fantástico...dar os parabéns e agradecer imenso todos os conteúdos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2017, 17:24
Citação de: Joaquim Ferreira Bogalho em 09 de Fevereiro de 2017, 14:49
RedVC, que trabalho fantástico...dar os parabéns e agradecer imenso todos os conteúdos.

Caro, agradeço as palavras simpáticas, tanto mais que vêm de um membro deste fórum que também sabe partilhar. Obrigado O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro


As árvores avaliam-se pelos seus frutos. A importância de um País avalia-se pelas obras dos seus filhos. No futebol alguns países vão para além do seu tamanho físico tornando-se gigantes ao longo dos mais de 100 anos do futebol. A Hungria, a Magyarország, é justamente um desses casos notáveis, tendo dado ao futebol mundial muitos jogadores e treinadores que fizeram evoluir o futebol em termos tácticos e técnicos e espalharam o perfume do seu futebol pelo mundo fora. O Glorioso sempre esteve atento e por isso alguns deles por cá estiveram escrevendo algumas das mais belas páginas do futebol Benfiquista.

Vamos hoje partir de uma fotografia com quase 93 anos para identificar dois desses filhos, figuras imortais, nobres e prestigiadas do futebol Benfiquista. Vamos reconhece-los numa famosa selecção da Hungria que participou nos jogos Olímpicos de Paris em 1924.


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A famosa equipa nacional da Hungria que participou na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924. Da esquerda para a direita: Fogl, Opata, Hirzer, Jeny, Eisenhoffer, Béla Guttmann, Mándi, Obitz, Braun, Orth e Kiss. Em baixo János Biri.


Falamos do guarda-redes János Biri e do médio centro Béla Guttmann, dois dos melhores treinadores de sempre do SLB. Ambos foram titulares nos dois jogos dessa aventura olímpica. Dois outros jogadores, Jeny e Orth, também estiveram ligados ao futebol Português mas não ao SLB.

Hoje centraremos atenção em Béla Guttman, o melhor treinador da História do SLB.


Béla Guttmann
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(Budapeste, 27-01-1899 - Viena, 28-08-1981)


Húngaro de nascimento, cidadão do mundo pelas circunstâncias e por opção, Béla Guttmann chegou ao nosso Clube em 1959. Vinha com uma já longa história de vida, tendo trabalhado em muitos países e diversas culturas desportivas. Chegou envolto em polémica ao voltar as costas aos FCP, onde se sagrou campeão nacional, para trabalhar no grande Benfica. Guttmann sabia que era a única equipa em Portugal com potencial para a glória europeia.

Era já um nome conhecido e prestigiado do futebol internacional, que pela sua personalidade peculiar nunca se tinha fixado num país, partindo geralmente após um período máximo de 2 anos de permanência. Nas duas finais Europeias defrontou colossos europeus com alguns dos mais afamados jogadores Húngaros de sempre (Kubala, Czibor e Bószik no FC Barcelona, Púskas no Real Madrid), todos estrelas de primeira grandeza do futebol Mundial, todos conhecendo e/ou tendo trabalhado no passado com o nosso mago.

Mas Guttmann conhecia-os melhor ainda e por isso estava em vantagem. E usou bem esse conhecimento, assim como a sua sageza futebolística e experiência de vida para, com a genialidade dos jogadores Benfiquistas, escrever as duas mais belas páginas da nossa História. Ao ganhar finais contra colossos Europeus, fez realidade do sonho, tornando-nos os maiores na Europa. Liderou uma equipa que se tornou a lenda europeia e mundial. Com ele fomos mais alto, com ele fomos mais do que nunca Benfica!


Béla Guttmann nasceu em Budapeste, em Janeiro do último ano do século XIX. Filho de uma família de origem judia, teve uma precoce educação musical, incluindo a dança, dada pelos seus pais Abraham Guttman e Ester Szánto, bailarinos de profissão. Assim se compreende que em algumas circunstâncias e lugares que percorreu na sua vida, a dança tenha servido de actividade profissional de recurso, permitindo-lhe por o pão na mesa em tempos difíceis. Mas o desporto e a prática desportiva do futebol mereceram-lhe precoce interesse e prioridade.

 
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Elementos pessoais de Béla Guttmann. Em cima: registo de nascimento. Em baixo: mala de viagem de Béla Guttmann e duas fichas de emigração temporária no Brasil. Na mala vê-se uma etiqueta do Hotel Batalha no Porto e do Hotel Eden em Spietz, local onde o SLB estagiou antes da grande vitória de Berna em 1961.


Guttman, o jogador
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Definido como um jogador combativo, generoso e inteligente, Béla Guttmann foi um médio organizador de jogo, com carreira feita na Hungria, Áustria e Estados Unidos. Iniciou-se no modesto Törevkés SC onde permaneceu de 1917 a 1919, transferindo-se depois para o famoso MTK de Budapeste, que à época, com o Ferencváros, dominava o futebol Húngaro. Por lá permaneceu duas temporadas e, apesar de tapado por jogadores mais velhos e prestigiados, foi campeão Húngaro. Na segunda época, alterações políticas levaram ao agravamento do clima de anti-semitismo, forçando Guttmann a emigrar para a vizinha Áustria.

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Törevkés SC. Guttman é o sexto, de pé a contar da esquerda. Fonte: http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251 (http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251)


Em Viena, integrou de 1922 a 1924, os quadros do SC Hakoah, clube fundado em 1909. Nesse tempo, o Hakoah era um dos quatro principais clubes do futebol austríaco (todos da capital): Rapid (1899), First (1894), Austria (1911; na altura chamado Wiener Amateur). Tanto o Áustria como o Hakoah tinham grande influência cultural e financeira da comunidade judaica, embora Hakoah (palavra que significa Força) fosse considerado o clube dos judeus pobres, sendo mais activo e tendo maior adesão popular. Nessa época, o futebol austríaco e húngaro eram dos mais avançados da Europa, dispondo de boa organização e bastante dinheiro, com excelentes jogadores e grandes treinadores incluindo génios como o escocês Jimmy Hogan (1882-1974) e o austríaco Hugo Meisl (1881-1937).

No auge desse período austríaco, Guttman seria convocado para integrar a forte selecção Húngara de futebol que participou em Paris, 1924. Depois de uma vitória inicial robusta por 5-0 contra a Polónia, veio uma desastrosa derrota por 0-3 contra o Egipto. Os jogadores foram muito criticados mas muitas atenuantes foram apontadas para explicar o fiasco desportivo, desde uma deficiente alimentação a uma péssima planificação e acompanhamento dos dirigentes (que ao que parece era tantos quantos os jogadores...). O jogo contra o Egipto seria o último de Guttmann na selecção húngara. No total, Guttmann jogaria apenas 4 vezes com a camisola nacional, algo frequente dado o número exíguo de jogos entre selecções nesse tempo.

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Fonte: http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela (http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela)


O Hakoah estava também interessado em apresentar-se fora da Áustria, tendo-se deslocado em 1923 a Inglaterra onde jogou e venceu o West Ham United, naquela que foi a primeira derrota de um clube inglês no seu terreno contra uma equipa estrangeira. Em 1925, o Hakoah venceria pela primeira e única vez o campeonato austríaco, num ano inesquecível que culminou com uma bem-sucedida digressão aos EUA. Vivia-se um período breve mas de grande exuberância financeira e desportiva do futebol na América.


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Cartaz promocional do Hakoah Wien para a sua digressão aos EUA em 1926.


A admiração de Guttmann por Nova Iorque e pela América levou-o ainda em 1926 a aceitar uma das propostas que recebeu em NY. Iniciou assim uma nova etapa de vida de seis anos em que jogou em cinco clubes nova-iorquinos. Em 1930 o Hakoah All Stars faria mesmo uma digressão pelo Brasil, Argentina e Uruguai, altura em que Guttman terá tido primeiro contacto com o futebol Sul-Americano. Mas em 1932, o futebol Americano entrou num declínio fatal. Tempo para uma nova mudança, levando Guttman a regressar ao Hakoah, para jogar a sua última época.


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Guttman, capitão de equipa no Hakoah All Stars durante a digressão na América do Sul em 1930.


Como jogador, Guttmann teve um trajecto feito de muitas e diversas experiências. Sempre em movimento, opção que repetiria enquanto treinador. Trabalhou com treinadores famosos, verdadeiros pioneiros que tiveram parte activa na evolução táctica e técnica do futebol. Disputou campeonatos competitivos e talvez ainda mais interessante acumulou uma experiência de vida que lhe permitiu compreender como poucos os homens, os tempos e as particularidades de um jogo de futebol. A essas virtudes juntou a sua forte personalidade e a coerência dos seus critérios. Faltava conseguir treinar equipas com recursos que lhe permitissem chegar à glória. Levaria tempo e seria um caminho de pedras. Um caminho que o traria ao SL Benfica, Clube onde atingiu o zénite das suas capacidades e obteve as suas maiores glórias individuais.


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Quatro das equipas onde Guttmann jogou.

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O trajecto do jogador Bélla Guttmann. Fonte: wikipedia


Guttman, o treinador
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Foi no Hakoah Wien que Guttmann iniciou a sua carreira de treinador. Dois anos depois começaria uma longa e intensa vida de globetrotter que o levaria a pelo menos doze países na Europa e na América do Sul. A primeira paragem foi o FC Twente (então Enschede), contrato que conseguiu por intercessão do grande Hugo Meisl. Nessas experiências começaram a manifestar-se traços de que raramente Guttman abdicou: discutir detalhadamente e com dureza os diversos aspectos dos seus contratos, ficar não mais de dois anos num clube e exigir autonomia e dignidade de trabalho aos dirigentes dos clubes. Tudo tarefas complicadas dado que os treinadores tinham pouca relevância e por isso capacidade reivindicativa. Mandavam os dirigentes.

Depois dessa aventura holandesa, Guttmann regressou ao Hakoah para dois anos depois retornar novamente ao seu país natal para treinar o Újpest, onde foi campeão Húngaro e onde ganhou a Taça Mitropa, o primeiro grande torneio entre clubes europeus, equivalente à Taça Latina, disputado desde 1927 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitropa_Cup).

Mas, no final dessa época desportiva, rebentou a segunda guerra mundial. Guttman interrompeu a sua actividade desportiva e provavelmente passou à clandestinidade para poder sobreviver, escapando às perseguições nazis. Pouco se sabe desse período. Terá sido preso? Terá estado num campo de concentração? Guttmann nunca falou. Não sabemos como ele sobreviveu mas, ao que li, pelo menos um irmão e um primo de Guttmann morreram num campo de concentração nazi. Mais uma etapa dura de vida, mais sofrimento causada pelo horror que certo comportamento humano consegue causar aos seus semelhantes. Guttmann sobreviveu.

Finda a guerra, Guttman voltou a treinar na Hungria desta vez no Vasas de Budapeste. Seguiu-se um ano na Roménia, o regresso ao Ujpest e depois uma importante experiência no Kipest, onde foi substituir o pai de Púskas no comando técnico da equipa. Aliás o plantel integrava o já então famoso Púskas. E seria um conflito de personalidades em que Púskas acabaria por causar a saída de Guttmann apesar do plantel permitir pensar em grandes conquistas. Uma vez mais o carácter de Guttmann impunha-se às conveniências de circunstância e aos vedetismos. Sempre coerente na dignidade que exigia para as suas funções.

Em 1949-1950 foi contratado pelo Padova treinando finalmente em Itália. Por lá conseguiu algum destaque mas incompatibilizou-se com dirigentes que interferiram no seu trabalho. Exigia respeito e independência. Demitiu-se e foi-se embora. Na época seguinte o Triestina e depois em 1953, uma breve experiência na Argentina e outra em Chipre.

Mas o seu prestígio em Itália permanecia intocável, tendo ainda neste ano sido contratado pelo poderoso AC Milan. Nos rossoneros orientou grandes craques como o italiano Schiaffino e os suecos Nordhal, Gren e Liedholm. Apesar dos vedetismos, ganhou o respeito da equipa e os excelentes resultados obtidos nas 15 primeiras jornadas, valeram-lhe a liderança do campeonato. Viria depois alguma instabilidade e conflitos com a Direcção do clube. Como sempre Guttmann não pactuou e demitiu-se. Mas a equipa estava lançada, e sendo depois dirigida por Puricelli, veio a sagrar-se campeã de Itália. Na hora da conquista vários foram os jogadores que não se esqueceram de Guttmann.

Outra das notáveis paragens foi a oportunidade de Guttman treinar no Brasil em 1957, a grande equipa do Hónved que por ali andava em digressão. Na verdade era mais uma fuga de que uma digressão de uma equipa que contava com os grandes Koczis, Puskas e Czibor. Os Húngaros estavam no Brasil a convite do Flamengo mas recusavam voltar à sua pátria pois ali viviam-se dias negros de revolução comunista.


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Guttmann com Kócsis e Púskas. Três génios do futebol Húngaro.


Aproveitando essa estadia, Guttmann recebeu um convite do São Paulo FC. Aceitou e foi campeão Paulista treinando craques como Zizinho. Por lá os métodos, a personalidade e as inovações tácticas de Guttmann deixaram marcas, sendo claro que influenciaram a evolução e competitividade do futebol Brasileiro que no ano seguinte se sagraria campeão mundial na Suécia.


(http://www.fourfourtwo.hu/admin/ckfinder/userfiles/images/Zizinho_guttmann_puskas.jpg)
Uma fotografia extraordinária de três génios do futebol. Zizinho, Guttmann e Púskas em São Paulo, 1957. Fonte: fourfourtwo.hu

(http://i65.tinypic.com/2lsjywk.jpg)
Fonte: Revista Cruzeiro, 1958


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Os Clubes mais importantes da longa carreira de Béla Guttmann.


Viria depois o convite do FCP, que aceite levou Guttmann a acrescentar Portugal à lista de países onde trabalhou. Por lá foi campeão depois de uma acesa compita com o SLB. Astuto, na hora do balanço, Guttmann percebeu que o futuro estava no SLB, clube que dispunha de excelentes jogadores, e de meios para lhe poder dar outros voos. Era o SLB que ele queria treinar. E assim foi. E assim se fez História.


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Momentos de glória no SLB.


Depois do SLB seria convidado pelo Penarol de Montevideo para mais uma aventura Sul-Americana. Dois anos antes tinha disputado com os Uruguaios uma Taça Intercontinental, conhecendo por isso o ambiente. E uma vez mais Guttman foi campeão, juntando o título Uruguaio ao seu currículo. Mas uma vez mais não ficou muito tempo regressando para treinar o Austria Wien.


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Juan Alberto Schiaffino, um dos melhores jogadores Uruguaios de sempre com Béla Guttman.


Nunca regresses a um local onde já foste feliz. Assim foi com Guttman.

Diz-se que em 1965, aquando do seu regresso, Guttman chegou ao Estádio da Luz, olhou para os bólides dos jogadores por lá parqueados e logo disse que o seu regresso tinha sido um erro. O mago percebeu logo que a força motriz de ambição e de conquista não existia mais na Luz. Eram tempos diferentes, os jogadores aburguesaram-se, o clube estava diferente. Mas até Guttmann estava diferente.

A época foi má, o título foi perdido para o SCP, esfumando-se o tetra. Fomos também estrondosamente eliminados da Taça dos Clubes Campeões Europeus por um jovem e ambicioso Manchester United. Na hora da saída, Guttmann queixou-se amargamente. Era o fim da ligação Guttmann com o SLB. O fim que selava uma era que na verdade tinha terminado em 1962, logo após a partida do feiticeiro.


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As declarações amargas de Guttmann na hora da partida. Fonte: Jornal "A Bola".


Guttmann ainda treinaria na Suiça, Grécia e Áustria, mas viria a finalizar a carreira no FCP. Sempre sem resultados dignos de menção. E assim fechou a sua extraordinária carreira. Sem a glória de outros tempos mas sempre com a mesma dignidade e sempre fiel aos seus princípios.


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O trajecto do treinador Béla Guttmann. Fonte: wikipedia


Eu gostar do Benfica!

(http://i65.tinypic.com/r0cbok.jpg)


Guttmann foi um gigante da vida e do futebol. Foi e com razão muitas vezes acusado de pensar primeiro na sua carteira. Como não? Como não o fazer quando esteve exposto ao anti-semitismo, às agruras da guerra, às leviandades e à maldade dos homens, à inconstância das personalidades, à falta de critérios dos dirigentes dos clube, aos caprichos dos jogadores, à pressão dos adeptos, enfim às agruras da vida. Como não o fazer se a vida é um local duro em que somos todos cavaleiros na tempestade?

Guttmann foi um guerreiro, um sobrevivente, um gigante. Mas teve e mostrou ter coração. Mostrou-o aqueles que lhe deram a sua paixão e reconhecimento. Aqueles que lhe deram os dias mais felizes da sua longa vida do futebol. Deu-o aos adeptos Benfiquistas. Deu-o de forma intemporal, aos Benfiquistas passados, presentes e futuros. E deu-o de tal forma que é difícil conter as lágrimas ao recordar os seus tempos como Benfiquista. E assim não poderia fechar este texto sem ir buscar algumas das palavras sábias, de Amor, gratidão e reconhecimento que proferiu sobre o Sport Lisboa e Benfica, sobre os Benfiquistas e sobre a mística Benfiquista:


(http://i67.tinypic.com/iw0spk.jpg)

"Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno... Por terra... Por mar... Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa... Grande... Incomparável... Extraordinária... massa associativa!"

(http://i64.tinypic.com/315lqtw.jpg)

Obrigado Míster. Estará sempre nos nossos corações.




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420)) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola

(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)

Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado

(http://i57.tinypic.com/2i9glxj.png)

E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:


(http://i63.tinypic.com/qryoh4.jpg)

Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.


(http://i66.tinypic.com/2i8y6uv.jpg)



Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)


Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.

(http://3.bp.blogspot.com/-h6SOgcIs3_w/U16ITqKuAGI/AAAAAAAANoE/FfCVWmy1hpE/s1600/V+1-0+1911.jpg)


Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro


As árvores avaliam-se pelos seus frutos. A importância de um País avalia-se pelas obras dos seus filhos. No futebol alguns países vão para além do seu tamanho físico tornando-se gigantes ao longo dos mais de 100 anos do futebol. A Hungria, a Magyarország, é justamente um desses casos notáveis, tendo dado ao futebol mundial muitos jogadores e treinadores que fizeram evoluir o futebol em termos tácticos e técnicos e espalharam o perfume do seu futebol pelo mundo fora. O Glorioso sempre esteve atento e por isso alguns deles por cá estiveram escrevendo algumas das mais belas páginas do futebol Benfiquista.

Vamos hoje partir de uma fotografia com quase 93 anos para identificar dois desses filhos, figuras imortais, nobres e prestigiadas do futebol Benfiquista. Vamos reconhece-los numa famosa selecção da Hungria que participou nos jogos Olímpicos de Paris em 1924.


(http://i68.tinypic.com/im2nax.jpg)
A famosa equipa nacional da Hungria que participou na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924. Da esquerda para a direita: Fogl, Opata, Hirzer, Jeny, Eisenhoffer, Béla Guttmann, Mándi, Obitz, Braun, Orth e Kiss. Em baixo János Biri.


Falamos do guarda-redes János Biri e do médio centro Béla Guttmann, dois dos melhores treinadores de sempre do SLB. Ambos foram titulares nos dois jogos dessa aventura olímpica. Dois outros jogadores, Jeny e Orth, também estiveram ligados ao futebol Português mas não ao SLB.

Hoje centraremos atenção em Béla Guttman, o melhor treinador da História do SLB.


Béla Guttmann
(http://i63.tinypic.com/2dhvczk.jpg)
(Budapeste, 27-01-1899 - Viena, 28-08-1981)


Húngaro de nascimento, cidadão do mundo pelas circunstâncias e por opção, Béla Guttmann chegou ao nosso Clube em 1959. Vinha com uma já longa história de vida, tendo trabalhado em muitos países e diversas culturas desportivas. Chegou envolto em polémica ao voltar as costas aos FCP, onde se sagrou campeão nacional, para trabalhar no grande Benfica. Guttmann sabia que era a única equipa em Portugal com potencial para a glória europeia.

Era já um nome conhecido e prestigiado do futebol internacional, que pela sua personalidade peculiar nunca se tinha fixado num país, partindo geralmente após um período máximo de 2 anos de permanência. Nas duas finais Europeias defrontou colossos europeus com alguns dos mais afamados jogadores Húngaros de sempre (Kubala, Czibor e Bószik no FC Barcelona, Púskas no Real Madrid), todos estrelas de primeira grandeza do futebol Mundial, todos conhecendo e/ou tendo trabalhado no passado com o nosso mago.

Mas Guttmann conhecia-os melhor ainda e por isso estava em vantagem. E usou bem esse conhecimento, assim como a sua sageza futebolística e experiência de vida para, com a genialidade dos jogadores Benfiquistas, escrever as duas mais belas páginas da nossa História. Ao ganhar finais contra colossos Europeus, fez realidade do sonho, tornando-nos os maiores na Europa. Liderou uma equipa que se tornou a lenda europeia e mundial. Com ele fomos mais alto, com ele fomos mais do que nunca Benfica!


Béla Guttmann nasceu em Budapeste, em Janeiro do último ano do século XIX. Filho de uma família de origem judia, teve uma precoce educação musical, incluindo a dança, dada pelos seus pais Abraham Guttman e Ester Szánto, bailarinos de profissão. Assim se compreende que em algumas circunstâncias e lugares que percorreu na sua vida, a dança tenha servido de actividade profissional de recurso, permitindo-lhe por o pão na mesa em tempos difíceis. Mas o desporto e a prática desportiva do futebol mereceram-lhe precoce interesse e prioridade.

 
(http://i65.tinypic.com/ve0dg.jpg)
(http://i66.tinypic.com/96yjv5.jpg)
Elementos pessoais de Béla Guttmann. Em cima: registo de nascimento. Em baixo: mala de viagem de Béla Guttmann e duas fichas de emigração temporária no Brasil. Na mala vê-se uma etiqueta do Hotel Batalha no Porto e do Hotel Eden em Spietz, local onde o SLB estagiou antes da grande vitória de Berna em 1961.


Guttman, o jogador
(http://i65.tinypic.com/2lxzatw.jpg)

Definido como um jogador combativo, generoso e inteligente, Béla Guttmann foi um médio organizador de jogo, com carreira feita na Hungria, Áustria e Estados Unidos. Iniciou-se no modesto Törevkés SC onde permaneceu de 1917 a 1919, transferindo-se depois para o famoso MTK de Budapeste, que à época, com o Ferencváros, dominava o futebol Húngaro. Por lá permaneceu duas temporadas e, apesar de tapado por jogadores mais velhos e prestigiados, foi campeão Húngaro. Na segunda época, alterações políticas levaram ao agravamento do clima de anti-semitismo, forçando Guttmann a emigrar para a vizinha Áustria.

(http://www.nemzetisport.hu/data/nsoblog/benfica/files/2014/11/2072765_1_l.jpg)
Törevkés SC. Guttman é o sexto, de pé a contar da esquerda. Fonte: http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251 (http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251)


Em Viena, integrou de 1922 a 1924, os quadros do SC Hakoah, clube fundado em 1909. Nesse tempo, o Hakoah era um dos quatro principais clubes do futebol austríaco (todos da capital): Rapid (1899), First (1894), Austria (1911; na altura chamado Wiener Amateur). Tanto o Áustria como o Hakoah tinham grande influência cultural e financeira da comunidade judaica, embora Hakoah (palavra que significa Força) fosse considerado o clube dos judeus pobres, sendo mais activo e tendo maior adesão popular. Nessa época, o futebol austríaco e húngaro eram dos mais avançados da Europa, dispondo de boa organização e bastante dinheiro, com excelentes jogadores e grandes treinadores incluindo génios como o escocês Jimmy Hogan (1882-1974) e o austríaco Hugo Meisl (1881-1937).

No auge desse período austríaco, Guttman seria convocado para integrar a forte selecção Húngara de futebol que participou em Paris, 1924. Depois de uma vitória inicial robusta por 5-0 contra a Polónia, veio uma desastrosa derrota por 0-3 contra o Egipto. Os jogadores foram muito criticados mas muitas atenuantes foram apontadas para explicar o fiasco desportivo, desde uma deficiente alimentação a uma péssima planificação e acompanhamento dos dirigentes (que ao que parece era tantos quantos os jogadores...). O jogo contra o Egipto seria o último de Guttmann na selecção húngara. No total, Guttmann jogaria apenas 4 vezes com a camisola nacional, algo frequente dado o número exíguo de jogos entre selecções nesse tempo.

(http://i68.tinypic.com/26201tl.jpg)
Fonte: http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela (http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela)


O Hakoah estava também interessado em apresentar-se fora da Áustria, tendo-se deslocado em 1923 a Inglaterra onde jogou e venceu o West Ham United, naquela que foi a primeira derrota de um clube inglês no seu terreno contra uma equipa estrangeira. Em 1925, o Hakoah venceria pela primeira e única vez o campeonato austríaco, num ano inesquecível que culminou com uma bem-sucedida digressão aos EUA. Vivia-se um período breve mas de grande exuberância financeira e desportiva do futebol na América.


(http://i65.tinypic.com/2n7gmk7.jpg)
Cartaz promocional do Hakoah Wien para a sua digressão aos EUA em 1926.


A admiração de Guttmann por Nova Iorque e pela América levou-o ainda em 1926 a aceitar uma das propostas que recebeu em NY. Iniciou assim uma nova etapa de vida de seis anos em que jogou em cinco clubes nova-iorquinos. Em 1930 o Hakoah All Stars faria mesmo uma digressão pelo Brasil, Argentina e Uruguai, altura em que Guttman terá tido primeiro contacto com o futebol Sul-Americano. Mas em 1932, o futebol Americano entrou num declínio fatal. Tempo para uma nova mudança, levando Guttman a regressar ao Hakoah, para jogar a sua última época.


(http://i64.tinypic.com/ws1sf5.jpg)
Guttman, capitão de equipa no Hakoah All Stars durante a digressão na América do Sul em 1930.


Como jogador, Guttmann teve um trajecto feito de muitas e diversas experiências. Sempre em movimento, opção que repetiria enquanto treinador. Trabalhou com treinadores famosos, verdadeiros pioneiros que tiveram parte activa na evolução táctica e técnica do futebol. Disputou campeonatos competitivos e talvez ainda mais interessante acumulou uma experiência de vida que lhe permitiu compreender como poucos os homens, os tempos e as particularidades de um jogo de futebol. A essas virtudes juntou a sua forte personalidade e a coerência dos seus critérios. Faltava conseguir treinar equipas com recursos que lhe permitissem chegar à glória. Levaria tempo e seria um caminho de pedras. Um caminho que o traria ao SL Benfica, Clube onde atingiu o zénite das suas capacidades e obteve as suas maiores glórias individuais.


(http://i65.tinypic.com/2mwdlhi.jpg)
Quatro das equipas onde Guttmann jogou.

(http://i64.tinypic.com/rleryp.jpg)
O trajecto do jogador Bélla Guttmann. Fonte: wikipedia


Guttman, o treinador
(http://i66.tinypic.com/29o1njs.jpg)


Foi no Hakoah Wien que Guttmann iniciou a sua carreira de treinador. Dois anos depois começaria uma longa e intensa vida de globetrotter que o levaria a pelo menos doze países na Europa e na América do Sul. A primeira paragem foi o FC Twente (então Enschede), contrato que conseguiu por intercessão do grande Hugo Meisl. Nessas experiências começaram a manifestar-se traços de que raramente Guttman abdicou: discutir detalhadamente e com dureza os diversos aspectos dos seus contratos, ficar não mais de dois anos num clube e exigir autonomia e dignidade de trabalho aos dirigentes dos clubes. Tudo tarefas complicadas dado que os treinadores tinham pouca relevância e por isso capacidade reivindicativa. Mandavam os dirigentes.

Depois dessa aventura holandesa, Guttmann regressou ao Hakoah para dois anos depois retornar novamente ao seu país natal para treinar o Újpest, onde foi campeão Húngaro e onde ganhou a Taça Mitropa, o primeiro grande torneio entre clubes europeus, equivalente à Taça Latina, disputado desde 1927 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitropa_Cup).

Mas, no final dessa época desportiva, rebentou a segunda guerra mundial. Guttman interrompeu a sua actividade desportiva e provavelmente passou à clandestinidade para poder sobreviver, escapando às perseguições nazis. Pouco se sabe desse período. Terá sido preso? Terá estado num campo de concentração? Guttmann nunca falou. Não sabemos como ele sobreviveu mas, ao que li, pelo menos um irmão e um primo de Guttmann morreram num campo de concentração nazi. Mais uma etapa dura de vida, mais sofrimento causada pelo horror que certo comportamento humano consegue causar aos seus semelhantes. Guttmann sobreviveu.

Finda a guerra, Guttman voltou a treinar na Hungria desta vez no Vasas de Budapeste. Seguiu-se um ano na Roménia, o regresso ao Ujpest e depois uma importante experiência no Kipest, onde foi substituir o pai de Púskas no comando técnico da equipa. Aliás o plantel integrava o já então famoso Púskas. E seria um conflito de personalidades em que Púskas acabaria por causar a saída de Guttmann apesar do plantel permitir pensar em grandes conquistas. Uma vez mais o carácter de Guttmann impunha-se às conveniências de circunstância e aos vedetismos. Sempre coerente na dignidade que exigia para as suas funções.

Em 1949-1950 foi contratado pelo Padova treinando finalmente em Itália. Por lá conseguiu algum destaque mas incompatibilizou-se com dirigentes que interferiram no seu trabalho. Exigia respeito e independência. Demitiu-se e foi-se embora. Na época seguinte o Triestina e depois em 1953, uma breve experiência na Argentina e outra em Chipre.

Mas o seu prestígio em Itália permanecia intocável, tendo ainda neste ano sido contratado pelo poderoso AC Milan. Nos rossoneros orientou grandes craques como o italiano Schiaffino e os suecos Nordhal, Gren e Liedholm. Apesar dos vedetismos, ganhou o respeito da equipa e os excelentes resultados obtidos nas 15 primeiras jornadas, valeram-lhe a liderança do campeonato. Viria depois alguma instabilidade e conflitos com a Direcção do clube. Como sempre Guttmann não pactuou e demitiu-se. Mas a equipa estava lançada, e sendo depois dirigida por Puricelli, veio a sagrar-se campeã de Itália. Na hora da conquista vários foram os jogadores que não se esqueceram de Guttmann.

Outra das notáveis paragens foi a oportunidade de Guttman treinar no Brasil em 1957, a grande equipa do Hónved que por ali andava em digressão. Na verdade era mais uma fuga de que uma digressão de uma equipa que contava com os grandes Koczis, Puskas e Czibor. Os Húngaros estavam no Brasil a convite do Flamengo mas recusavam voltar à sua pátria pois ali viviam-se dias negros de revolução comunista.


(http://i68.tinypic.com/1zh1zdk.jpg)
Guttmann com Kócsis e Púskas. Três génios do futebol Húngaro.


Aproveitando essa estadia, Guttmann recebeu um convite do São Paulo FC. Aceitou e foi campeão Paulista treinando craques como Zizinho. Por lá os métodos, a personalidade e as inovações tácticas de Guttmann deixaram marcas, sendo claro que influenciaram a evolução e competitividade do futebol Brasileiro que no ano seguinte se sagraria campeão mundial na Suécia.


(http://www.fourfourtwo.hu/admin/ckfinder/userfiles/images/Zizinho_guttmann_puskas.jpg)
Uma fotografia extraordinária de três génios do futebol. Zizinho, Guttmann e Púskas em São Paulo, 1957. Fonte: fourfourtwo.hu

(http://i65.tinypic.com/2lsjywk.jpg)
Fonte: Revista Cruzeiro, 1958


(http://i64.tinypic.com/j90oq1.jpg)
Os Clubes mais importantes da longa carreira de Béla Guttmann.


Viria depois o convite do FCP, que aceite levou Guttmann a acrescentar Portugal à lista de países onde trabalhou. Por lá foi campeão depois de uma acesa compita com o SLB. Astuto, na hora do balanço, Guttmann percebeu que o futuro estava no SLB, clube que dispunha de excelentes jogadores, e de meios para lhe poder dar outros voos. Era o SLB que ele queria treinar. E assim foi. E assim se fez História.


(http://i65.tinypic.com/28iqpo7.jpg)
Momentos de glória no SLB.


Depois do SLB seria convidado pelo Penarol de Montevideo para mais uma aventura Sul-Americana. Dois anos antes tinha disputado com os Uruguaios uma Taça Intercontinental, conhecendo por isso o ambiente. E uma vez mais Guttman foi campeão, juntando o título Uruguaio ao seu currículo. Mas uma vez mais não ficou muito tempo regressando para treinar o Austria Wien.


(http://campeondelsiglo.com/web/wp-content/uploads/SchiaffinoGuttmann-536x330.jpg)
Juan Alberto Schiaffino, um dos melhores jogadores Uruguaios de sempre com Béla Guttman.


Nunca regresses a um local onde já foste feliz. Assim foi com Guttman.

Diz-se que em 1965, aquando do seu regresso, Guttman chegou ao Estádio da Luz, olhou para os bólides dos jogadores por lá parqueados e logo disse que o seu regresso tinha sido um erro. O mago percebeu logo que a força motriz de ambição e de conquista não existia mais na Luz. Eram tempos diferentes, os jogadores aburguesaram-se, o clube estava diferente. Mas até Guttmann estava diferente.

A época foi má, o título foi perdido para o SCP, esfumando-se o tetra. Fomos também estrondosamente eliminados da Taça dos Clubes Campeões Europeus por um jovem e ambicioso Manchester United. Na hora da saída, Guttmann queixou-se amargamente. Era o fim da ligação Guttmann com o SLB. O fim que selava uma era que na verdade tinha terminado em 1962, logo após a partida do feiticeiro.


(http://i68.tinypic.com/bgbw9j.jpg)
As declarações amargas de Guttmann na hora da partida. Fonte: Jornal "A Bola".


Guttmann ainda treinaria na Suiça, Grécia e Áustria, mas viria a finalizar a carreira no FCP. Sempre sem resultados dignos de menção. E assim fechou a sua extraordinária carreira. Sem a glória de outros tempos mas sempre com a mesma dignidade e sempre fiel aos seus princípios.


(http://i65.tinypic.com/30hn9dg.jpg)
O trajecto do treinador Béla Guttmann. Fonte: wikipedia


Eu gostar do Benfica!

(http://i65.tinypic.com/r0cbok.jpg)


Guttmann foi um gigante da vida e do futebol. Foi e com razão muitas vezes acusado de pensar primeiro na sua carteira. Como não? Como não o fazer quando esteve exposto ao anti-semitismo, às agruras da guerra, às leviandades e à maldade dos homens, à inconstância das personalidades, à falta de critérios dos dirigentes dos clube, aos caprichos dos jogadores, à pressão dos adeptos, enfim às agruras da vida. Como não o fazer se a vida é um local duro em que somos todos cavaleiros na tempestade?

Guttmann foi um guerreiro, um sobrevivente, um gigante. Mas teve e mostrou ter coração. Mostrou-o aqueles que lhe deram a sua paixão e reconhecimento. Aqueles que lhe deram os dias mais felizes da sua longa vida do futebol. Deu-o aos adeptos Benfiquistas. Deu-o de forma intemporal, aos Benfiquistas passados, presentes e futuros. E deu-o de tal forma que é difícil conter as lágrimas ao recordar os seus tempos como Benfiquista. E assim não poderia fechar este texto sem ir buscar algumas das palavras sábias, de Amor, gratidão e reconhecimento que proferiu sobre o Sport Lisboa e Benfica, sobre os Benfiquistas e sobre a mística Benfiquista:


(http://i67.tinypic.com/iw0spk.jpg)

"Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno... Por terra... Por mar... Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa... Grande... Incomparável... Extraordinária... massa associativa!"

(http://i64.tinypic.com/315lqtw.jpg)

Obrigado Míster. Estará sempre nos nossos corações.




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro


As árvores avaliam-se pelos seus frutos. A importância de um País avalia-se pelas obras dos seus filhos. No futebol alguns países vão para além do seu tamanho físico tornando-se gigantes ao longo dos mais de 100 anos do futebol. A Hungria, a Magyarország, é justamente um desses casos notáveis, tendo dado ao futebol mundial muitos jogadores e treinadores que fizeram evoluir o futebol em termos tácticos e técnicos e espalharam o perfume do seu futebol pelo mundo fora. O Glorioso sempre esteve atento e por isso alguns deles por cá estiveram escrevendo algumas das mais belas páginas do futebol Benfiquista.

Vamos hoje partir de uma fotografia com quase 93 anos para identificar dois desses filhos, figuras imortais, nobres e prestigiadas do futebol Benfiquista. Vamos reconhece-los numa famosa selecção da Hungria que participou nos jogos Olímpicos de Paris em 1924.


(http://i68.tinypic.com/im2nax.jpg)
A famosa equipa nacional da Hungria que participou na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924. Da esquerda para a direita: Fogl, Opata, Hirzer, Jeny, Eisenhoffer, Béla Guttmann, Mándi, Obitz, Braun, Orth e Kiss. Em baixo János Biri.


Falamos do guarda-redes János Biri e do médio centro Béla Guttmann, dois dos melhores treinadores de sempre do SLB. Ambos foram titulares nos dois jogos dessa aventura olímpica. Dois outros jogadores, Jeny e Orth, também estiveram ligados ao futebol Português mas não ao SLB.

Hoje centraremos atenção em Béla Guttman, o melhor treinador da História do SLB.


Béla Guttmann
(http://i63.tinypic.com/2dhvczk.jpg)
(Budapeste, 27-01-1899 - Viena, 28-08-1981)


Húngaro de nascimento, cidadão do mundo pelas circunstâncias e por opção, Béla Guttmann chegou ao nosso Clube em 1959. Vinha com uma já longa história de vida, tendo trabalhado em muitos países e diversas culturas desportivas. Chegou envolto em polémica ao voltar as costas aos FCP, onde se sagrou campeão nacional, para trabalhar no grande Benfica. Guttmann sabia que era a única equipa em Portugal com potencial para a glória europeia.

Era já um nome conhecido e prestigiado do futebol internacional, que pela sua personalidade peculiar nunca se tinha fixado num país, partindo geralmente após um período máximo de 2 anos de permanência. Nas duas finais Europeias defrontou colossos europeus com alguns dos mais afamados jogadores Húngaros de sempre (Kubala, Czibor e Bószik no FC Barcelona, Púskas no Real Madrid), todos estrelas de primeira grandeza do futebol Mundial, todos conhecendo e/ou tendo trabalhado no passado com o nosso mago.

Mas Guttmann conhecia-os melhor ainda e por isso estava em vantagem. E usou bem esse conhecimento, assim como a sua sageza futebolística e experiência de vida para, com a genialidade dos jogadores Benfiquistas, escrever as duas mais belas páginas da nossa História. Ao ganhar finais contra colossos Europeus, fez realidade do sonho, tornando-nos os maiores na Europa. Liderou uma equipa que se tornou a lenda europeia e mundial. Com ele fomos mais alto, com ele fomos mais do que nunca Benfica!


Béla Guttmann nasceu em Budapeste, em Janeiro do último ano do século XIX. Filho de uma família de origem judia, teve uma precoce educação musical, incluindo a dança, dada pelos seus pais Abraham Guttman e Ester Szánto, bailarinos de profissão. Assim se compreende que em algumas circunstâncias e lugares que percorreu na sua vida, a dança tenha servido de actividade profissional de recurso, permitindo-lhe por o pão na mesa em tempos difíceis. Mas o desporto e a prática desportiva do futebol mereceram-lhe precoce interesse e prioridade.

 
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Elementos pessoais de Béla Guttmann. Em cima: registo de nascimento. Em baixo: mala de viagem de Béla Guttmann e duas fichas de emigração temporária no Brasil. Na mala vê-se uma etiqueta do Hotel Batalha no Porto e do Hotel Eden em Spietz, local onde o SLB estagiou antes da grande vitória de Berna em 1961.


Guttman, o jogador
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Definido como um jogador combativo, generoso e inteligente, Béla Guttmann foi um médio organizador de jogo, com carreira feita na Hungria, Áustria e Estados Unidos. Iniciou-se no modesto Törevkés SC onde permaneceu de 1917 a 1919, transferindo-se depois para o famoso MTK de Budapeste, que à época, com o Ferencváros, dominava o futebol Húngaro. Por lá permaneceu duas temporadas e, apesar de tapado por jogadores mais velhos e prestigiados, foi campeão Húngaro. Na segunda época, alterações políticas levaram ao agravamento do clima de anti-semitismo, forçando Guttmann a emigrar para a vizinha Áustria.

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Törevkés SC. Guttman é o sexto, de pé a contar da esquerda. Fonte: http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251 (http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251)


Em Viena, integrou de 1922 a 1924, os quadros do SC Hakoah, clube fundado em 1909. Nesse tempo, o Hakoah era um dos quatro principais clubes do futebol austríaco (todos da capital): Rapid (1899), First (1894), Austria (1911; na altura chamado Wiener Amateur). Tanto o Áustria como o Hakoah tinham grande influência cultural e financeira da comunidade judaica, embora Hakoah (palavra que significa Força) fosse considerado o clube dos judeus pobres, sendo mais activo e tendo maior adesão popular. Nessa época, o futebol austríaco e húngaro eram dos mais avançados da Europa, dispondo de boa organização e bastante dinheiro, com excelentes jogadores e grandes treinadores incluindo génios como o escocês Jimmy Hogan (1882-1974) e o austríaco Hugo Meisl (1881-1937).

No auge desse período austríaco, Guttman seria convocado para integrar a forte selecção Húngara de futebol que participou em Paris, 1924. Depois de uma vitória inicial robusta por 5-0 contra a Polónia, veio uma desastrosa derrota por 0-3 contra o Egipto. Os jogadores foram muito criticados mas muitas atenuantes foram apontadas para explicar o fiasco desportivo, desde uma deficiente alimentação a uma péssima planificação e acompanhamento dos dirigentes (que ao que parece era tantos quantos os jogadores...). O jogo contra o Egipto seria o último de Guttmann na selecção húngara. No total, Guttmann jogaria apenas 4 vezes com a camisola nacional, algo frequente dado o número exíguo de jogos entre selecções nesse tempo.

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Fonte: http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela (http://www.magyarvalogatott.hu/jatekosok/guttmann-bela)


O Hakoah estava também interessado em apresentar-se fora da Áustria, tendo-se deslocado em 1923 a Inglaterra onde jogou e venceu o West Ham United, naquela que foi a primeira derrota de um clube inglês no seu terreno contra uma equipa estrangeira. Em 1925, o Hakoah venceria pela primeira e única vez o campeonato austríaco, num ano inesquecível que culminou com uma bem-sucedida digressão aos EUA. Vivia-se um período breve mas de grande exuberância financeira e desportiva do futebol na América.


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Cartaz promocional do Hakoah Wien para a sua digressão aos EUA em 1926.


A admiração de Guttmann por Nova Iorque e pela América levou-o ainda em 1926 a aceitar uma das propostas que recebeu em NY. Iniciou assim uma nova etapa de vida de seis anos em que jogou em cinco clubes nova-iorquinos. Em 1930 o Hakoah All Stars faria mesmo uma digressão pelo Brasil, Argentina e Uruguai, altura em que Guttman terá tido primeiro contacto com o futebol Sul-Americano. Mas em 1932, o futebol Americano entrou num declínio fatal. Tempo para uma nova mudança, levando Guttman a regressar ao Hakoah, para jogar a sua última época.


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Guttman, capitão de equipa no Hakoah All Stars durante a digressão na América do Sul em 1930.


Como jogador, Guttmann teve um trajecto feito de muitas e diversas experiências. Sempre em movimento, opção que repetiria enquanto treinador. Trabalhou com treinadores famosos, verdadeiros pioneiros que tiveram parte activa na evolução táctica e técnica do futebol. Disputou campeonatos competitivos e talvez ainda mais interessante acumulou uma experiência de vida que lhe permitiu compreender como poucos os homens, os tempos e as particularidades de um jogo de futebol. A essas virtudes juntou a sua forte personalidade e a coerência dos seus critérios. Faltava conseguir treinar equipas com recursos que lhe permitissem chegar à glória. Levaria tempo e seria um caminho de pedras. Um caminho que o traria ao SL Benfica, Clube onde atingiu o zénite das suas capacidades e obteve as suas maiores glórias individuais.


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Quatro das equipas onde Guttmann jogou.

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O trajecto do jogador Bélla Guttmann. Fonte: wikipedia


Guttman, o treinador
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Foi no Hakoah Wien que Guttmann iniciou a sua carreira de treinador. Dois anos depois começaria uma longa e intensa vida de globetrotter que o levaria a pelo menos doze países na Europa e na América do Sul. A primeira paragem foi o FC Twente (então Enschede), contrato que conseguiu por intercessão do grande Hugo Meisl. Nessas experiências começaram a manifestar-se traços de que raramente Guttman abdicou: discutir detalhadamente e com dureza os diversos aspectos dos seus contratos, ficar não mais de dois anos num clube e exigir autonomia e dignidade de trabalho aos dirigentes dos clubes. Tudo tarefas complicadas dado que os treinadores tinham pouca relevância e por isso capacidade reivindicativa. Mandavam os dirigentes.

Depois dessa aventura holandesa, Guttmann regressou ao Hakoah para dois anos depois retornar novamente ao seu país natal para treinar o Újpest, onde foi campeão Húngaro e onde ganhou a Taça Mitropa, o primeiro grande torneio entre clubes europeus, equivalente à Taça Latina, disputado desde 1927 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitropa_Cup).

Mas, no final dessa época desportiva, rebentou a segunda guerra mundial. Guttman interrompeu a sua actividade desportiva e provavelmente passou à clandestinidade para poder sobreviver, escapando às perseguições nazis. Pouco se sabe desse período. Terá sido preso? Terá estado num campo de concentração? Guttmann nunca falou. Não sabemos como ele sobreviveu mas, ao que li, pelo menos um irmão e um primo de Guttmann morreram num campo de concentração nazi. Mais uma etapa dura de vida, mais sofrimento causada pelo horror que certo comportamento humano consegue causar aos seus semelhantes. Guttmann sobreviveu.

Finda a guerra, Guttman voltou a treinar na Hungria desta vez no Vasas de Budapeste. Seguiu-se um ano na Roménia, o regresso ao Ujpest e depois uma importante experiência no Kipest, onde foi substituir o pai de Púskas no comando técnico da equipa. Aliás o plantel integrava o já então famoso Púskas. E seria um conflito de personalidades em que Púskas acabaria por causar a saída de Guttmann apesar do plantel permitir pensar em grandes conquistas. Uma vez mais o carácter de Guttmann impunha-se às conveniências de circunstância e aos vedetismos. Sempre coerente na dignidade que exigia para as suas funções.

Em 1949-1950 foi contratado pelo Padova treinando finalmente em Itália. Por lá conseguiu algum destaque mas incompatibilizou-se com dirigentes que interferiram no seu trabalho. Exigia respeito e independência. Demitiu-se e foi-se embora. Na época seguinte o Triestina e depois em 1953, uma breve experiência na Argentina e outra em Chipre.

Mas o seu prestígio em Itália permanecia intocável, tendo ainda neste ano sido contratado pelo poderoso AC Milan. Nos rossoneros orientou grandes craques como o italiano Schiaffino e os suecos Nordhal, Gren e Liedholm. Apesar dos vedetismos, ganhou o respeito da equipa e os excelentes resultados obtidos nas 15 primeiras jornadas, valeram-lhe a liderança do campeonato. Viria depois alguma instabilidade e conflitos com a Direcção do clube. Como sempre Guttmann não pactuou e demitiu-se. Mas a equipa estava lançada, e sendo depois dirigida por Puricelli, veio a sagrar-se campeã de Itália. Na hora da conquista vários foram os jogadores que não se esqueceram de Guttmann.

Outra das notáveis paragens foi a oportunidade de Guttman treinar no Brasil em 1957, a grande equipa do Hónved que por ali andava em digressão. Na verdade era mais uma fuga de que uma digressão de uma equipa que contava com os grandes Koczis, Puskas e Czibor. Os Húngaros estavam no Brasil a convite do Flamengo mas recusavam voltar à sua pátria pois ali viviam-se dias negros de revolução comunista.


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Guttmann com Kócsis e Púskas. Três génios do futebol Húngaro.


Aproveitando essa estadia, Guttmann recebeu um convite do São Paulo FC. Aceitou e foi campeão Paulista treinando craques como Zizinho. Por lá os métodos, a personalidade e as inovações tácticas de Guttmann deixaram marcas, sendo claro que influenciaram a evolução e competitividade do futebol Brasileiro que no ano seguinte se sagraria campeão mundial na Suécia.


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Uma fotografia extraordinária de três génios do futebol. Zizinho, Guttmann e Púskas em São Paulo, 1957. Fonte: fourfourtwo.hu

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Fonte: Revista Cruzeiro, 1958


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Os Clubes mais importantes da longa carreira de Béla Guttmann.


Viria depois o convite do FCP, que aceite levou Guttmann a acrescentar Portugal à lista de países onde trabalhou. Por lá foi campeão depois de uma acesa compita com o SLB. Astuto, na hora do balanço, Guttmann percebeu que o futuro estava no SLB, clube que dispunha de excelentes jogadores, e de meios para lhe poder dar outros voos. Era o SLB que ele queria treinar. E assim foi. E assim se fez História.


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Momentos de glória no SLB.


Depois do SLB seria convidado pelo Penarol de Montevideo para mais uma aventura Sul-Americana. Dois anos antes tinha disputado com os Uruguaios uma Taça Intercontinental, conhecendo por isso o ambiente. E uma vez mais Guttman foi campeão, juntando o título Uruguaio ao seu currículo. Mas uma vez mais não ficou muito tempo regressando para treinar o Austria Wien.


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Juan Alberto Schiaffino, um dos melhores jogadores Uruguaios de sempre com Béla Guttman.


Nunca regresses a um local onde já foste feliz. Assim foi com Guttman.

Diz-se que em 1965, aquando do seu regresso, Guttman chegou ao Estádio da Luz, olhou para os bólides dos jogadores por lá parqueados e logo disse que o seu regresso tinha sido um erro. O mago percebeu logo que a força motriz de ambição e de conquista não existia mais na Luz. Eram tempos diferentes, os jogadores aburguesaram-se, o clube estava diferente. Mas até Guttmann estava diferente.

A época foi má, o título foi perdido para o SCP, esfumando-se o tetra. Fomos também estrondosamente eliminados da Taça dos Clubes Campeões Europeus por um jovem e ambicioso Manchester United. Na hora da saída, Guttmann queixou-se amargamente. Era o fim da ligação Guttmann com o SLB. O fim que selava uma era que na verdade tinha terminado em 1962, logo após a partida do feiticeiro.


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As declarações amargas de Guttmann na hora da partida. Fonte: Jornal "A Bola".


Guttmann ainda treinaria na Suiça, Grécia e Áustria, mas viria a finalizar a carreira no FCP. Sempre sem resultados dignos de menção. E assim fechou a sua extraordinária carreira. Sem a glória de outros tempos mas sempre com a mesma dignidade e sempre fiel aos seus princípios.


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O trajecto do treinador Béla Guttmann. Fonte: wikipedia


Eu gostar do Benfica!

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Guttmann foi um gigante da vida e do futebol. Foi e com razão muitas vezes acusado de pensar primeiro na sua carteira. Como não? Como não o fazer quando esteve exposto ao anti-semitismo, às agruras da guerra, às leviandades e à maldade dos homens, à inconstância das personalidades, à falta de critérios dos dirigentes dos clube, aos caprichos dos jogadores, à pressão dos adeptos, enfim às agruras da vida. Como não o fazer se a vida é um local duro em que somos todos cavaleiros na tempestade?

Guttmann foi um guerreiro, um sobrevivente, um gigante. Mas teve e mostrou ter coração. Mostrou-o aqueles que lhe deram a sua paixão e reconhecimento. Aqueles que lhe deram os dias mais felizes da sua longa vida do futebol. Deu-o aos adeptos Benfiquistas. Deu-o de forma intemporal, aos Benfiquistas passados, presentes e futuros. E deu-o de tal forma que é difícil conter as lágrimas ao recordar os seus tempos como Benfiquista. E assim não poderia fechar este texto sem ir buscar algumas das palavras sábias, de Amor, gratidão e reconhecimento que proferiu sobre o Sport Lisboa e Benfica, sobre os Benfiquistas e sobre a mística Benfiquista:


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"Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno... Por terra... Por mar... Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa... Grande... Incomparável... Extraordinária... massa associativa!"

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Obrigado Míster. Estará sempre nos nossos corações.




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420)) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola

(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)

Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado

(http://i57.tinypic.com/2i9glxj.png)

E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:


(http://i63.tinypic.com/qryoh4.jpg)

Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.


(http://i66.tinypic.com/2i8y6uv.jpg)



Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)


Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.

(http://3.bp.blogspot.com/-h6SOgcIs3_w/U16ITqKuAGI/AAAAAAAANoE/FfCVWmy1hpE/s1600/V+1-0+1911.jpg)


Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:41
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro
...




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim


Fantástico. Parabéns. Não está à venda mas ainda deve valer uns cobres. Do ponto de vista simbólico é de enorme valor.   :slb2:

Quando fiz o texto de Guttmann apercebi-me que existe/existiram objectos em sites de leilão que alegadamente eram de Guttmann. Teve uma vida aventurosa. Não deixou descendentes directos (que eu saiba) mas com certeza que alguém ficou com o espólio.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:45
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420)) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola

(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)

Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado

(http://i57.tinypic.com/2i9glxj.png)

E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:


(http://i63.tinypic.com/qryoh4.jpg)

Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.


(http://i66.tinypic.com/2i8y6uv.jpg)



Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)


Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.

(http://3.bp.blogspot.com/-h6SOgcIs3_w/U16ITqKuAGI/AAAAAAAANoE/FfCVWmy1hpE/s1600/V+1-0+1911.jpg)


Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:47
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:41
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro
...




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim


Fantástico. Parabéns. Não está à venda mas ainda deve valer uns cobres. Do ponto de vista simbólico é de enorme valor.   :slb2:

Quando fiz o texto de Guttmann apercebi-me que existe/existiram objectos em sites de leilão que alegadamente eram de Guttmann. Teve uma vida aventurosa. Não deixou descendentes directos (que eu saiba) mas com certeza que alguém ficou com o espólio.

Sim, foi no leilao em que foram vendido os bens dele que comprei alguns objetos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 19:17
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:47
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:41
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro
...




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim


Fantástico. Parabéns. Não está à venda mas ainda deve valer uns cobres. Do ponto de vista simbólico é de enorme valor.   :slb2:

Quando fiz o texto de Guttmann apercebi-me que existe/existiram objectos em sites de leilão que alegadamente eram de Guttmann. Teve uma vida aventurosa. Não deixou descendentes directos (que eu saiba) mas com certeza que alguém ficou com o espólio.

Sim, foi no leilao em que foram vendido os bens dele que comprei alguns objetos.

O que eu vi e coloquei aí uma imagem foi uma mala de viagem dele com vários autocolantes de hoteis por onde passou incluindo o de Spietz onde estagiamos antes da final de Berna.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 19:19
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:45
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420)) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola

(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)

Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado

(http://i57.tinypic.com/2i9glxj.png)

E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:


(http://i63.tinypic.com/qryoh4.jpg)

Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.


(http://i66.tinypic.com/2i8y6uv.jpg)



Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)


Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.

(http://3.bp.blogspot.com/-h6SOgcIs3_w/U16ITqKuAGI/AAAAAAAANoE/FfCVWmy1hpE/s1600/V+1-0+1911.jpg)


Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.

O que fará sentido é averiguar junto dos antigos jogadores ou família da existência dessas camisolas. Tem havido doações e presumo que outras acontecerão. O Museu deverá receber, preservar e honrar essas doações.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 19:29
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 19:19
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:45
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420)) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola

(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)

Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado

(http://i57.tinypic.com/2i9glxj.png)

E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:


(http://i63.tinypic.com/qryoh4.jpg)

Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.


(http://i66.tinypic.com/2i8y6uv.jpg)



Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)


Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.

(http://3.bp.blogspot.com/-h6SOgcIs3_w/U16ITqKuAGI/AAAAAAAANoE/FfCVWmy1hpE/s1600/V+1-0+1911.jpg)


Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.

O que fará sentido é averiguar junto dos antigos jogadores ou família da existência dessas camisolas. Tem havido doações e presumo que outras acontecerão. O Museu deverá receber, preservar e honrar essas doações.

Sim, fazem isso. Mas têm tanta coisa que nem o museu chega para mostrar tudo. Nos arquivos existem mais de 300mil objetos guardados
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 22:41
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 19:29
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 19:19
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:45
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05pri.png)

Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?
(http://www.portugalferroviario.net/ohnoffris/avulso/sl05prialt.png)

(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420)) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola

(http://4.bp.blogspot.com/-3zRKkWkwvkc/UfCPp6lLrcI/AAAAAAAAJro/rwHIwhATu7g/s1600/01.+1910.jpg)

Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado

(http://i57.tinypic.com/2i9glxj.png)

E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:


(http://i63.tinypic.com/qryoh4.jpg)

Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.


(http://i66.tinypic.com/2i8y6uv.jpg)



Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:

(http://i58.tinypic.com/2i7aadg.jpg)


Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.

(http://3.bp.blogspot.com/-h6SOgcIs3_w/U16ITqKuAGI/AAAAAAAANoE/FfCVWmy1hpE/s1600/V+1-0+1911.jpg)


Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.

O que fará sentido é averiguar junto dos antigos jogadores ou família da existência dessas camisolas. Tem havido doações e presumo que outras acontecerão. O Museu deverá receber, preservar e honrar essas doações.

Sim, fazem isso. Mas têm tanta coisa que nem o museu chega para mostrar tudo. Nos arquivos existem mais de 300mil objetos guardados

Há quem diga que algumas das maiores descobertas da Ciência estavam guardadas em gavetas de Museus. Espero que exista capacidade de não apenas catalogar e preservar mas também de perceber e enquadrar o objecto. Não deve ser fácil pois por exemplo na temática deste tópico (fotografias) há muito para perceber e enquadrar. Não é fácil mas dá gozo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Fevereiro de 2017, 20:31
-139-
O outro Živković

(http://i64.tinypic.com/vq0cwk.jpg)
À esquerda Zvonko Živković com o manto sagrado no dia 3 de setembro de 1986 aquando da sua apresentação no Estádio da Luz num jogo contra o CF Belenenses. Fonte: Arquivo Lusa. À direita Zvonko Živković no Partizan Belgrado. Fonte: http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2012/11/foto-arhiva-zvonko-zivkovic.html


Nesta temporada os Benfiquistas estão a descobrir o grande futebol do jogador Sérvio Andrija Živković. A contratação desta grande promessa do futebol Sérvio trouxe ao Glorioso um jogador de enorme talento cuja qualidade permite antever que num futuro próximo se torne um nome grande do nosso futebol.

Mas não é a primeira vez que esse apelido consta dos nomes do plantel principal de futebol do Glorioso. De facto há cerca de 30 anos o Sport Lisboa e Benfica teve um outro jogador centrocampista Sérvio (na altura ainda Jugoslavo) com o apelido Živković. De seu nome completo, Zvonko Živković, foi um dos nossos primeiros jogadores estrangeiros tendo chegado a chancela de qualidade de um futebol que já nos tinha dado o grande Zoran Filipovic. Nada de admirar pois o futebol Jugoslavo sempre deu grandes nomes ao futebol Mundial, tanto que os conhecedores profundos do futebol saberão recordar nomes como Dragan Džajić, Safet Susic, Dragan Stojkovic, e mais tarde, depois da pulverização do país, os fabulosos Pedrag Mijatovic, Dejan Savicevic, Zvonimir Boban, Robert Prosinecki, Davor Suker, etc, etc.

Assim se compreende que na década de 80, alguns anos depois de quebrado o impedimento estatutário Benfiquista que impedia a inscrição de jogadores estrangeiros, tenha existido vontade por parte de uma Direcção Benfiquista liderada por Fernando Martins, em se contratar um promissor jogador jugoslavo de nome Zvonko Živković.


Um carreira desigual

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Carreira de Zvonko Živković. Desconheço se os dados são correctos ou não. Fonte: www.foradejogo.net (http://www.foradejogo.net)


Nascido em Belgrado em 31-10-1959, Zvonko Živković chegou ao SL Benfica já com 27 anos de idade. Provavelmente tal como o seu compatriota (igualmente Jugoslavo embora da região do actual Montenegro) Zoran Filipovic, também Zvonko terá apenas recebido autorização para emigrar numa fase já mais avançada da sua carreira. E Zvonko chegaria ao SLB depois de cumprir 9 épocas ao serviço do FK Partizan, um dos dois grandes clubes de Belgrado (o outro é o Estrela Vermelha), clube onde se estreou nos seniores na época de 1977-1978. Antes tinha iniciado a sua carreira no FK Galenika (agora FK Zemun) por volta de 1973.


Dias de glória

Zvonko viveu os seus melhores anos de futebolista FK Partizan, ajudando o clube a conquistar dois títulos de Campeão Jugoslavo (1977-1978 e 1982-1983; https://pt.wikipedia.org/wiki/Campeonato_Iugoslavo_de_Futebol (https://pt.wikipedia.org/wiki/Campeonato_Iugoslavo_de_Futebol)). Nesse tempo, o campeonato era bastante competitivo integrando grandes clubes como o Estrela Vermelha, o Dínamo de Zagreb e Hajduk Split, entre outros.


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O emblema do Fudbalski Klub Partizan (para nós o Partizan de Belgrado), fundado em 4 de Outubro de 1945.


Zvonko brilharia igualmente em alguns dos jogos Europeus mais memoráveis da história do seu Clube, como por exemplo aquando da sensacional revirada contra os Ingleses do Queen's Park Ranger na Taça UEFA da edição de 1984-1985. Nessa eliminatória o Partizan venceria em Belgrado os Ingleses por um rotundo 4-0; resultado suficiente para virar a derrota da primeira mão em que os alvi-negros tinham sido derrotados por 2-6. Nesse dia 7-11-1984, Zvonko Živković marcaria o 4º e decisivo golo. Foi a loucura em Belgrado tal como atestam as fotografias e vídeos. Este jogo entrou para a história da UEFA como uma das mais sensacionais reviravoltas de uma eliminatória a duas mãos.


https://youtu.be/FgCtoldl-IM (https://youtu.be/FgCtoldl-IM)
Dia 25-10-1984, jogo da 1ª mão dos 1/16 de final da Taça UEFA de 1984/85:  QPR 6 – Partizan 2


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Momento decisivo do jogo da 2ª mão dos 1/16 de final da Taça UEFA de 1984/85. O cabeceamento de Zvonko Živković resultou no 4º golo da sua equipa. Partizan 4 - QPR 0! Fonte http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2011/10/partizan-queens-park-rangers-4-0.html


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A festa dos adeptos Partizanis abraçados a Zvonko Živković depois do golo decisivo. Fonte http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2011/10/partizan-queens-park-rangers-4-0.html


https://youtu.be/6m4ylzGmRUc (https://youtu.be/6m4ylzGmRUc)
O vídeo do golo decisivo de Zvonko Živković.


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A equipa do FK Partizan de Belgrado de 1983-1984. Zvonko Živković é o segundo a contar de baixo na fila à esquerda. Fonte http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2011/10/partizan-queens-park-rangers-4-0.html (http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2011/10/partizan-queens-park-rangers-4-0.html)


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Zvonko Živković na capa da revista "Tempo". Fonte: http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2012/11/foto-arhiva-zvonko-zivkovic.html


Na selecção Jugoslava

Apesar de à época a selecção Jugoslava estar recheada com bons executantes, Živković integrou os 22 seleccionados Jugoslavos para o Mundial de Espanha 1982, tendo-lhe sido atribuído o número 10 que, apesar de ser número craque nem por isso lhe permitiu sair do banco nesse torneio. A Jugoslávia tinha-se qualificado para esse Mundial num grupo em que ficou à frente da Itália que se sagraria campeã desse torneio. Assim se percebe que essa selecção estava dotada de jogadores de elevada craveira tais como Ivan Gudelj, Zlatko Vujović, Safet Sušić, Ivica Surjak, entre outros.


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Os 22 selecionados da selecção Jugoslava para o Mundial de Espanha 1982. Fonte: http://www.planetworldcup.com/CUPS/1982/squad_yug82.html (http://www.planetworldcup.com/CUPS/1982/squad_yug82.html)


Mais tarde, Zvonko não seria seleccionado para a equipa Jugoslava que participou no Euro 1984 em França apesar do seu nome constar dos seleccionáveis. Ao longo da sua carreira na equipa nacional, Zvonko Živković disputou um total de cinco jogos e marcou dois golos. O primeiro desses golos foi apontado em 15-12-1982, num jogo de qualificação para o Campeonato da Europa contra o País de Gales, (4-4) e o segundo em 29-01-1985, num jogo amigável contra a China (1-1). Mais tarde já depois de encerrar a sua carreira foi treinador das camadas jovens de diversos clubes e também das selecções jovens do seu país.


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Listado nos convocáveis para a selecção da Jugoslávia que disputaria o Europeu 1984 em França, Zvonko acabaria por não integrar o lote final. Nota: o nome do jogador está mas escrito. Fonte: Caderneta do Campeonato da Europa 84 (Disvenda).


No Sport Lisboa e Benfica

E assim, o SLB contratava para a época de 1985-1986 um jogador já com algum prestígio e com uma certa maturidade. Caberia a Mortimore trabalhar com este jovem introspectivo e que tinha a sua primeira experiência profissional fora do seu País.


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Plantel do SLB para a época de 1985-1986. Zvonko Živković está ao lado de Eusébio na terceira fila.


Mas tudo seria difícil para o Jugoslavo, a começar pela enorme categoria da equipa de futebol do SLB, dotada de jogadores com enorme talento e forte personalidade. E assim se percebe que nessa primeira experiência fora da Jugoslávia para além de implicar um inevitável choque cultural, o jovem Sérvio não tenha conseguido impor-se em termos futebolísticos, não deixando particular impressão. Ao que parece apenas terá mantido uma relação melhor com Veloso, situação que não foi suficiente para a sua adaptação. Para além disso, John Mortimore tinha muito por onde escolher e apesar de tentar puxar por ele, o Sérvio nunca correspondeu, acabando por ficar para segundo plano nas escolhas do treinador.

No balanço de final dessa época, Zvonko participou em 14 jogos (3 completos) tendo somado pouco mais de 600 minutos. Estreou-se num jogo na Luz em 5-08-1986 contra o Southampton FC (vitória 2-0) e último jogo na Luz em 24-05-1987 contra o SCP (vitória 2-0). Muito fraco. Assim no final da temporada não espantou a sua dispensa. Fim da linha. Ainda assim saiu como Campeão Nacional. Nada mau.


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Um dos três jogos do SLB em que Zvonko Živković actuou a titular. Dia 5-10-1986, vitória sobre o VSC (1-0). Fonte: Diário de Lisboa 6-10-1986.


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Suplente de Diamantino em Chaves. Mais uma vitória (2-1). Fonte: Diário de Lisboa, 20-10-1986.


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A notícia da saída de Zvonko Živković do SLB. Fonte: Diário de Lisboa de 28-09-1987.


Depois do SLB seguir-se-ia uma experiência mais bem-sucedida mas igualmente fugaz no Fortuna de Dusseldorf na Segunda Divisão B Alemã onde na época de 1986-1987 jogaria por 20 vezes marcando 4 golos. Logo depois optaria por mudar-se para o futebol Francês ao integrar por três épocas o Dijon que então militava na segunda divisão Francesa. No Dijon Zvonko jogaria bastante, marcando golos e provavelmente conseguindo algum do destaque que o tinha levado a tentar o estrangeiro. Mas a idade (e eventualmente alguma lesão) não perdoa e em 1991 encerraria a sua carreira com apenas 32 anos de idade.

A passagem apagada pelo nosso Clube deste Sérvio acabou por ser mais um dos casos de jogadores estrangeiros que foram apostas falhadas nesses primeiros anos de abertura a não portugueses nos planteis Benfiquistas. Nem o destaque nos campeonatos do país de origem ou mesmo já com carreira internacional correspondeu a uma boa aposta dos nossos dirigentes. Não é só de agora...´


Um apelido para o futuro


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30 anos separam estas fotografias. O mesmo apelido mas espera-se que carreira muito diferentes com o manto sagrado! Fontes das fotografias, esquerda Crno-bela nostalgija e direita StarSport.


Também originário do Partizan de Belgrado, mas ao contrário de Zvonko, o actualmente nosso jogador Andrija Živković parece não suscitar dúvidas que vamos ter homem! Ao seu talento e garra certamente corresponderão títulos individuais e colectivos. Aprenderá o peso da camisola e a força da Mística. Será feliz e trará a felicidade. Certamente que tal como eu todos os outros Benfiquistas desejam muita sorte e glória a este rapaz Sérvio!


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Andrija Živković. Fonte: Eu Visto de Vermelho e Branco


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Fevereiro de 2017, 19:42
-140-
Um avô especial.


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Carlos Alves
(Lisboa, 10-10-1903 — Lisboa, 12-11-1970)


O Neto

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O grande João Alves com a camisola que melhor lhe assentou. Diversos tempos da carreira Benfiquista de um génio do futebol Nacional.



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Página da Revista Onze com três grandes Glórias do Sport Lisboa e Benfica. Dispensa apresentações.


João António Ferreira Resende Alves nascido em Albergaria-a-Velha em 5-12-1952, o nosso João Alves, foi um dos jogadores de futebol mais talentosos que tive o prazer de ver jogar com o manto sagrado.

A passagem de João Alves pelo Sport Lisboa Benfica soube a pouco. Foi uma daquelas ironias da história Benfiquista, a infelicidade de termos visto um homem que, apesar de ser um grande Benfiquista, não pôde dar ao seu Clube do coração tudo aquilo que gostaria de ter dado. Um homem que chegou a recusar o Real Madrid para cumprir o sonho de ser campeão nacional com a camisola do seu coração.

É claro que nisto há sempre uma forma mais positiva de ver as coisas. Se formos por aí há então que salientar o privilégio que foi ver o génio do seu futebol vestido com o manto sagrado. Com uma carreira de júnior que já lhe augurava um grande futuro, o jovem João Alves viria a ser alvo de uma futilidade conflituosa com um prestigiado jogador Benfiquista. Esse conflito levou alguns dirigentes da altura a cometer mais um dos numerosos disparates que levaram para outras paragens alguns jogadores jovens de grande talento e que poderiam ter-se tornado essenciais para o futuro do Glorioso. Em alguns casos a perda foi definitiva, noutros como o de João Alves ainda foi possível minorar o disparate. O trajecto de João Alves está detalhadamente descrito aqui: http://gloriasdopassado.blogspot.pt/2008/08/joo-alves.html (http://gloriasdopassado.blogspot.pt/2008/08/joo-alves.html)



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Uma das mais fabulosas equipas de júniores de sempre do SLB. Dirigido pelo grande Ângelo Martins, João Alves era o génio do meio campo tendo ao seu lado Shéu.


Por vezes penso o que seria sido se tivesse feito a carreira integralmente no Benfica. Era um talento único. Nunca me esqueço da sensacional partida que fez no Estádio Olímpico de Roma quando lá ganhamos por 2-1. No dia anterior Alves, algo irritado com provocações jornalísticas, tinha desmentido o boato de que teria dito que iria ensinar Falcão, o craque Brasileiro e jogador Romano, a "jogar à bola". Certo é que no dia seguinte Alves deu mesmo um banho de bola a toda a equipa Romana, incluindo Falcão, Prohaska, Conti e Ancellotti. Inesquecível.



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A fabulosa, inesquecível equipa de 1982-1983 que venceu a AS Roma em pleno Estádio Olímpico de Roma (2-1). Em cima, da direita para a esquerda: Néné, Álvaro, Humberto, Filipovic, Bastos Lopes e Bento. Em baixo: Shéu, Pietra, Alves, Chalana e Carlos Manuel. Fabulosa.


Um avô especial


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Carlos Alves uma Glória do futebol Nacional.


Mas antes de João Alves, o futebol nacional teve um outro primeiro "luvas pretas", o seu avô Carlos Alves. Carlos Alves foi um jogador de talento mas que nunca jogou no Benfica. Fez a maior parte da carreira no histórico Carcavelinhos, um clube popular que esteve na génese do popular Atlético Clube de Portugal.


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Alguns cromos de Carlos Alves.

A lenda das luvas pretas começou por uma história bem recordada pelo próprio neto:

Com esse meu avô, um dos grandes futebolistas da sua geração, com presença assídua na selecção, célebre por ter chegado aos quartos-de-final dos Jogos Olímpicos28, em Amesterdão. Ele, na altura, jogava no Carcavelinhos quando foi jogar com o Benfica. Momentos antes, uma menina aproximou-se dele e pediu-lhe que jogasse com as suas luvas pretas. Ele, que era defesa, explicou-lhe que não poderia satisfazer o seu pedido, pois o futebol e o jogo em questão eram assuntos demasiado sérios para estas brincadeiras. A menina calou-se mas não desistiu. Ao intervalo, com o Benfica em vantagem, o meu avô descobriu dentro dos bolsos dos seus calções o pequeno par de luvas pretas que ela ali colocara sem autorização. O meu avô calçou então as luvas e começou a segunda parte. E não é que o Carcavelinhos deu a volta e ganhou jogo? A partir daí, o meu avô jogou sempre com as luvas. Fonte: http://observador.pt/especiais/joao-alves-o-pedroto-estava-muuuuito-a-frente/ (http://observador.pt/especiais/joao-alves-o-pedroto-estava-muuuuito-a-frente/)



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Vem de longe o interesse dos media pela história das luvas pretas. Revista "Azes", ano desconhecido.

A história aliás é consistente com a versão contada pelo próprio Carlos Alves, conforme nos refere Rui Manuel Tovar, que transcreve uma descrição publicada no jornal "A Bola" na edição de 15 de Novembro de 1950;

"Era do Carcavelinhos e antes de um jogo com o Benfica, uma menina aproximou-se e pediu-me que jogasse com as suas luvas pretas calçadas. Disse-lhe que não, que o jogo em questão era assunto demasiado sério para estas brincadeiras. A menina calou-se mas não desistiu. Ao intervalo, com o Benfica em vantagem, descobri dentro dos bolsos dos meus calções o pequeno par de luvas pretas que ela ali colocara sem autorização. Calcei-as para a segunda parte e... ganhei. Nunca mais as tirei." Fonte: https://ionline.sapo.pt/419825 (https://ionline.sapo.pt/419825)


Essa tradição das luvas pretas seria passada para o seu neto, João Alves.


O Carcavelinhos Foot-ball Club


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O Emblema do Carcavelinhos Futebol Clube numa camisola da época.


Fundado em 1912, o Carcavelinhos Football Clube (CFC), foi um pequeno mas muito aguerrido clube com uma forte adesão popular na zona de Alcântara. Segundo o sítio oficial do seu sucessor, o Atlético Clube de Portugal, o CFC era um clube que tinha a sua base de adeptos assente na comunidade de operários. Dadas as suas cores (uma espécie de grená) e dada a sua postura aguerrida, o clube chegou a ser conhecido por Sparta de Alcântara.

Carlos Alves esteve ligado ao maior momento de glória do CFC, no qual o pequeno clube ganhou a imortalidade ao fazer tombar os gigantes de Lisboa para ganhar o Campeonato de Portugal de 1927-1928, competição que antecedeu a actual Taça de Portugal. A campanha começou com a vitória sobre o Beira-Mar FC (3-0), depois o SC Salgueiros (8-1) nos quartos-de-final. Depois viria o grande feito de derrotar o SL Benfica (3-0) nas meias-finais no Estádio das Amoreiras! E a saga terminaria na final disputada no terreno do SCP, com uma brilhante vitória sobre o Sporting CP (3-1) com dois golos de José Domingues e um de Manuel Rodrigues contra apenas um do sportinguista Abrantes Mendes. Nesse jogo o CFC alinhou com Gabriel Santos (gr); Carlos Alves e Abreu (defesas); Artur Pereira, Daniel Vicente e Carlos Rodrigues (médios); Manuel Abrantes, Armando Silva, Carlos Canuto, José Domingues e Manuel Rodrigues (avançados). Carlos Canuto era jogador-treinador. Uma carreira memorável do popular Sparta de Alcântara!



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Carlos Alves na final do Campeonato de Portugal em 1928 em que os Alcantarense venceram o favorito SCP por 3-1. À direita a famosa equipa do Carcavelinhos que venceu o Campeonato de Portugal.



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O famoso campo da Tapadinha, palco onde o Carcavelinhos FC disputou muitos e aguerridos jogos. Fonte: Atlético Clube de Portugal (http://www.atleticocp.pt/site/futebol/a-saga-epica-do-carcavelinhos/ (http://www.atleticocp.pt/site/futebol/a-saga-epica-do-carcavelinhos/)).




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Equipa do Carcavelinhos FC em 1927 alinhada no seu campo de Alcântara antes de um jogo contra o SCP. Carlos Alves usando as suas luvas pretas é o primeiro à esquerda. Fonte: Cinemateca Portuguesa. O filme pode ser visualizado aqui: http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=6166&type=Video (http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=6166&type=Video)



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Carlos Alves em disputa de bola contra o nosso Vítor Silva durante um Carcavelinhos FC – SL Benfica.


O CFC terá até chegado a ter uma publicação periódica, um mensário, oficial que infelizmente não está disponível na BNP.

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O CFC manter-se-ia em competição, tendo sido sempre um clube complicado de defrontar, até 18 de Setembro de 1942, data em que se fundiu com o União Foot-Ball Lisboa (fundado em 3-03-1910), clube da zona de Santo Amaro, para fundar o Atlético Futebol Clube.

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Em 1931-1932, Carlos Alves decidiu mudar-se para a cidade do Porto para jogar no Académico Futebol Clube aí ficando até 1934-1935, tendo depois finalizado a carreira com uma época no FCP em 1935-1936. Nesse ano foi acometido por uma grave doença pulmonar. Durante dois anos Carlos Alves lutou pela vida num sanatório, de onde felizmente saiu recuperado.


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Uma imagem rara ou impossível nos dias de hoje, jogadores do SL Benfica em confraternização com os do FC Porto num jogo disputado em 1935. Da esquerda para a direita: Vítor Silva, ? (fcp), Valdemar Mota (fcp), Carlos Torres, Avelino Ferreira (fcp), Gustavo Teixeira, Carlos Alves (fcp). Em baixo: Luís Xavier, Rogério de Sousa, ? (fcp).


Carlos Alves vestiu também episodicamente a camisola do Sporting e do Vitória de Setúbal nas digressões que estes dois clubes fizeram ao Brasil no final da década de 20. Nesse tempo em nome do "supremo interesse nacional" era comum que certos clubes se reforçassem para jogos internacionais com craques de outros clubes. O SLB apenas fez isso em alguns jogos internacionais mas disputados em Portugal. Que eu saiba isso nunca aconteceu fora de Portugal.


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Equipa do SCP que defrontou o Fluminense na digressão ao Brasil em 1928. Carlos Alves vestiu a camisola do SCP apenas nesta digressão. Foi aliás a primeira vez que a camisola de listas verdes e brancas foi usada pelo SCP. Fonte: hemeroteca Brasileira.


Finda a sua carreira como jogador, Carlos Alves fez ainda carreira como treinador iniciando-se no Farense, com grande sucesso diga-se não atingindo a I Divisão apenas por questões estatutárias. Mais tarde retirar-se-ia para Albergaria-a-Velha onde permaneceu até à data da sua morte, orientando ainda o Alba.


Na Selecção Nacional

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Carlos Alves destacou-se também na Selecção Nacional tendo sido internacional por 18 vezes. Integrou a famosa equipa dos Jogos Olímpicos de Amesterdão de 1928. Essa equipa contava com jogadores extraordinários como Vítor Silva, Pepe, Raul Tamanqueiro, Jorge Vieira, António Roquete, Valdemar Mota, Jorge Tavares, Aníbal José e... Carlos Alves, entre outros. Essa equipa foi talvez a melhor selecção nacional antes dos Magriços de 1966. Em Amesterdão 1928, a campanha de Portugal foi excelente, tendo sido alcançados os quartos-de-final, onde inesperadamente (depois das excelentes exibições em jogos anteriores) fomos eliminados pela equipa nacional do Egipto. Carlos Alves esteve em excelente plano, tendo comandando a defesa nacional ao lado do Sportinguista Jorge Viera.

Apresento de seguida uma série de belas fotografias que ilustram o destaque que Carlos Alves teve na Selecção Nacional. Peço desculpa por em vários casos não ter guardado a fonte original da fotografia e por isso não a apresentar.


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Carlos Alves ao lado de Raul Tamanqueiro (Olhanense e Benfica) na Selecção Nacional de Portugal a oferecer flores a um adversário.



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Uma bela imagem do final do jogo em que Portugal venceu a Jugoslávia por 2-1 no torneio Olímpico de futebol dos Jogos de Amsterdão 1928. Carlos Alves e as suas luvas pretas em primeiro plano.



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Entrada em campo da equipa Olímpica de 1928. Desconheço qual o jogo. Carlos Alves é o jogador mais à direita.



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Carlos Alves em disputa da bola num jogo contra o Egipto durante os Jogos Olímpicos de Amsterdão 1928.


Carlos Alves acabou por nunca envergar a camisola da Águia. Apenas o seu neto João se viria a transformar num Príncipe do futebol Benfiquista. E não exagero pois quem viu jogar João Alves não esquece a sua classe apesar das tão escassas 4 épocas em que usou a Águia ao peito. Certamente que teve a vontade de fazer uma carreira Benfiquista ainda mais brilhante. Assim o destino não permitiu. Por esse motivo e por tudo o que estes dois homens fizeram fica aqui o meu agradecimento e a minha homenagem como anónimo Benfiquista.



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As diversas camisolas da brilhante carreira de Carlos Alves


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2017, 08:52
-141-
Os 24 Primeiros.

Dia 28 de Fevereiro de 1904. Uma certa Farmácia em Belém.

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O interior da Farmácia Franco em Belém, 1904. Um dos locais-chave onde nasceu o nosso Clube.

Cumprem-se hoje 113 anos desde o dia em que se concretizou o Acto Fundador do Sport Lisboa!

Foi hoje publicada no blogue Em Defesa do Benfica do grande Benfiquista Alberto Miguéns, um texto intitulado "Com Quantos Anos de Idade Se Pode Fundar Um Clube Glorioso?".

Nesse texto, que assino em co-autoria com Alberto Miguéns, estão contribuições inéditas e – acredito - valiosas para a História inicial do Sport Lisboa e Benfica.

O texto sumariza alguma da informação obtida em investigações sobre os 24 fundadores do nosso querido Clube. Com esse trabalho conseguimos aumentar e estruturar melhor o conhecimento de quem foram esses 24 homens. Os 24 Primeiros! Como se refere numa passagem do texto, "Desde 1904 até hoje, o Clube tinha uma lista de fundadores com 24 nomes de pessoas. A partir de 2017, através de uma pesquisa usando fontes documentais (em registos paroquiais, hemerotecas, bibliotecas e diverso conhecimento disperso incluindo contactar familiares e conhecidos de alguns deles) o SLB pode dizer que tem para o Futuro uma lista de 24 pessoas com nomes."

A pesquisa permitiu revelar, para a maioria desses homens, as datas e locais de nascimento, nomes completos, datas e locais de falecimento, nomes de familiares directos e algum do seu contexto familiar e socioeconómico. Pela primeira vez.

Este novo conhecimento trouxe algumas surpresas, revelou ligações, corrigiu alguns nomes, esclareceu algumas dúvidas e acima de tudo permitiu erradicar algumas mistificações sobre a origem do nosso Clube. Há mais ainda por revelar mas espera-se que esta informação estimule os descendentes dos 24 Primeiros a vir a público revelar mais dados sobre os seus familiares.

Estes 24 homens merecem toda a consideração e carinho por parte de todos os Benfiquistas. Do seu sonho e da sua acção resultou o Sport Lisboa e Benfica. Resultou o nosso querido Clube, resultou uma parte bonita da nossa vida, uma instituição que tem enchido de alegria e de orgulho os milhões de Benfiquistas que ao longo destes 113 anos viveram e participaram intensamente nesta História tão bonita.

Só nós sentimos assim!

Desde 1954, data em que foi publicada a obra de referência "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954", de Mário Fernando Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, que existe o conhecimento da lista que nos informou os nomes desses 24 homens. Mas para a maioria pouco mais se sabia do que o nome. No entanto, a obra permanece como a referência mais rica, mais fiável e por isso a mais notável sobre esses tempos e sobre os primeiros 50 anos da nossa História. A sua leitura dá-nos a conhecer factos e pessoas decisivos para a definição do nosso Clube, da sua grandeza, dos seus Ideais e da razão da sua popularidade. As pesquisas que agora se apresentam permitem adicionar novos e enriquecedores elementos a essa obra de referência.

Nenhum Benfiquista poderá realmente perceber o seu Clube se não tiver noções mínimas do passado. Conhecer o passado mais remoto do nosso Clube permite entender melhor o presente e dá pistas para o futuro. Expande o nosso orgulho. Ter esse conhecimento é em si mesmo Ser Benfiquista!

Sem querer, por agora, retirar e desenvolver aqui detalhes desse texto, convido-vos a ler o texto "Com Quantos Anos de Idade Se Pode Fundar Um Clube Glorioso?". Aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html)


Ficam aqui os seus Gloriosos nomes


Abílio Maria de Jesus Meireles

Amadeu d'Almeida Rocha

António Rosa Rodrigues

António Severino Alves

Cândido Rosa Rodrigues

Carlos d'Oliveira França

Cosme Damião

Daniel Santos Brito

Eduardo Afra Jorge da Costa

Eduardo Gomes Corga

Francisco Calisto

Francisco Reis Gonçalves

Henrique Augusto Teixeira

João Ignácio Gomes

João Virgílio Goulão

Joaquim José Linhares d'Almeida

Joaquim Peters d'Almeida

Joaquim Ribeiro

Jorge Augusto de Souza

José Rosa Rodrigues

Manoel d'Oliveira França

Manuel Gourlade

Raúl Júlio Empis

Virgílio Augusto Ferreira da Cunha



Viva o Sport Lisboa e Benfica!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: pauliter em 28 de Fevereiro de 2017, 09:50
Obrigado, muito obrigado por este "bocadinho" de Benfica. Em dia de aniversario, um regresso ao passado fez-me amar ainda mais este clube, este simbolo e esta cor.

Obrigado RedVC, muito sentido obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2017, 12:11
Citação de: pauliter em 28 de Fevereiro de 2017, 09:50
Obrigado, muito obrigado por este "bocadinho" de Benfica. Em dia de aniversario, um regresso ao passado fez-me amar ainda mais este clube, este simbolo e esta cor.

Obrigado RedVC, muito sentido obrigado.

Obrigado pauliter  O0

Ser Benfiquista é um orgulho e um privilégio! É nunca estar só. É partilhar a cor, o símbolo, as memórias do estádio, dos jogos, dos homens que nos engrandeceram. É ir buscar com calor todas as recordações em que associamos o Clube à nossa vida pessoal. É ser feliz!

Hoje é um dia especial em que faz sentido honrar os Ases que nos engrandeceram. E logo que seja um dia para mais vitórias nos campos e nos pavilhões!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 01 de Março de 2017, 21:01
Fantástico! É incrível como o nosso clube tão grande começou de um modo tão simples...pensar que nada disto existiria, que nem sequer estaríamos todos aqui a falar uns com os outros, que eu ontem não teria estado no Estoril, senão tem havido essa reunião inaugural. Se esses 24 imortais não tivessem lutado tanto para levar o clube avante. É mindblowing!

E muito obrigado pelo vosso trabalho de pesquisa! Eu desde adolescente sempre fui um apaixonado pela História do Benfica, mas centrava-me mais na História do clube que se misturava com a minha (nascido em 83).

Progressivamente a minha curiosidade começou a estender para a gloriosa década de 70 e a inigualável década de 60, mas este tópico tem-me feito perceber que também houve muito e interessantíssimo Benfica nos seus primeiros 50 anos.

Um bem-haja!  :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Março de 2017, 21:30
Citação de: Bakero em 01 de Março de 2017, 21:01
Fantástico! É incrível como o nosso clube tão grande começou de um modo tão simples...pensar que nada disto existiria, que nem sequer estaríamos todos aqui a falar uns com os outros, que eu ontem não teria estado no Estoril, senão tem havido essa reunião inaugural. Se esses 24 imortais não tivessem lutado tanto para levar o clube avante. É mindblowing!

E muito obrigado pelo vosso trabalho de pesquisa! Eu desde adolescente sempre fui um apaixonado pela História do Benfica, mas centrava-me mais na História do clube que se misturava com a minha (nascido em 83).

Progressivamente a minha curiosidade começou a estender para a gloriosa década de 70 e a inigualável década de 60, mas este tópico tem-me feito perceber que também houve muito e interessantíssimo Benfica nos seus primeiros 50 anos.

Um bem-haja!  :slb2:

Muito obrigado Bakero.  O0

Como disse Homero Serpa: "Era assim, pouca burocracia e muita acção".

Nos primeiros tempos o nosso Clube era um clube de miúdos! Não sendo uma novidade ainda assim é a primeira vez que se pode quantificar isso. Falta esclarecer alguns casos mais difíceis. Mesmo muito difíceis...

Estes dados dizem-nos mais coisas. Num futuro próximo trarei aqui algumas reflexões para o pequeno e Glorioso grupo de membros deste fórum que frequenta regularmente este tópico.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: poiudivino em 02 de Março de 2017, 02:45
Quem aprecia o Carnaval, já deve ter ouvido a música do Jorge Ben em que um tal de Fio Maravilha marca um golaço:

Tabelou, driblou dois zagueiros
Deu um toque driblou o goleiro
Só não entrou com bola e tudo
Porque teve humildade em gol


A letra, percebi hoje, foi imortalizada num jogo contra...o Benfica.

https://www.youtube.com/watch?v=MZQ9iLaHs6g

Apenas um facto que desconhecia. Será que há imagens desse jogo?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Março de 2017, 20:02
Citação de: poiudivino em 02 de Março de 2017, 02:45
Quem aprecia o Carnaval, já deve ter ouvido a música do Jorge Ben em que um tal de Fio Maravilha marca um golaço:

Tabelou, driblou dois zagueiros
Deu um toque driblou o goleiro
Só não entrou com bola e tudo
Porque teve humildade em gol


A letra, percebi hoje, foi imortalizada num jogo contra...o Benfica.

https://www.youtube.com/watch?v=MZQ9iLaHs6g

Apenas um facto que desconhecia. Será que há imagens desse jogo?

Não parece haver muita coisa

(http://scontent.cdninstagram.com/t51.2885-15/s480x480/e15/11252578_1590370191243130_1580258372_n.jpg?ig_cache_key=OTg1MTUyNTk5MzQ5Njc3ODE1.2)

Artur, Messias, José Henrique e Fio Maravilha.


(https://tardesdepacaembu.files.wordpress.com/2012/11/imagem1201.png?w=529&h=389)

(https://i2.wp.com/www.mundorubronegro.com/wp-content/uploads/2016/12/t1.png?resize=300%2C162)


Que cromo do catano...

(http://www.iol.pt/multimedia/oratvi/multimedia/imagem/id/57faaaa90cf25d916ffd59c3/)

João Batista de Sales, o Fio Maravilha (Conselheiro Pena, 19 de janeiro de 1945)


https://www.youtube.com/watch?v=5vSkHkoF3kU (https://www.youtube.com/watch?v=5vSkHkoF3kU)


A versão do Barão Vermelho é boa

https://www.youtube.com/watch?v=Am9FBbZ-LA0 (https://www.youtube.com/watch?v=Am9FBbZ-LA0)

Caso para dizer: música boa, jogo mau.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: poiudivino em 03 de Março de 2017, 03:59
Fantástico. Sabe-se o resultado do jogo? Era um torneio ou um amigável?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Março de 2017, 08:14
Citação de: poiudivino em 03 de Março de 2017, 03:59
Fantástico. Sabe-se o resultado do jogo? Era um torneio ou um amigável?

Particular. Citando:

...Torneio Internacional de Verão, que surgiu o mito envolvendo seu nome. Foi na segunda etapa da partida contra o Sport Lisboa e Benfica, quando o placar ainda apontava um entediante 0x0.

O jogo estava difícil e a torcida em coro pedia pela entrada de Fio. O técnico Mário Jorge Lobo Zagallo atendeu ao pedido da massa e colocou o jogador em campo.

Aos 33 minutos, Fio se transformou no lendário "Fio Maravilha" ao fazer o golaço que deu a vitória ao Rubro Negro por 1×0... Tabelou, driblou dois zagueiros, deu um toque, driblou o goleiro. Só não entrou com bola e tudo porque teve humildade e gol...


Fonte: https://tardesdepacaembu.wordpress.com/tag/fio-maravilha/ (https://tardesdepacaembu.wordpress.com/tag/fio-maravilha/)

e http://www.maisfutebol.iol.pt/rubrica/maracana/anatomia-de-um-golo-fio-maravilha-flamengo-benfica-1972 (http://www.maisfutebol.iol.pt/rubrica/maracana/anatomia-de-um-golo-fio-maravilha-flamengo-benfica-1972)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Março de 2017, 20:37
-142-
Este árbitro é um Artista!

Não, não vou falar de árbitros manhosos. Disso já temos de sobra nos dias de hoje..

Hoje vamos partir de uma fotografia tirada no Rio de Janeiro no muito distante dia 5 de Dezembro de 1915.

(http://i64.tinypic.com/15840ad.jpg)
Parc Royal Foot-ball Club, Dezembro de 1915. Fonte: Revista "O Malho".


Trata-se da segunda categoria do Parc Royal Foot-ball Club, um clube carioca que teve curta vida. Na fotografia estão 13 homens, 8 deles de pé. E é no homem que está de pé mais à esquerda que nos vamos concentrar. Usando um casaco por cima do equipamento, reconhece-se Manuel Móra, o primeiro guarda-redes em jogos oficiais da nossa História.

Associando a fotografia a uma notícia de jornal que a ela se refere percebemos que Móra foi também árbitro de futebol, nomeado pelo seu clube de então, o Parc Royal FC. Mas vamos por etapas.


(http://i66.tinypic.com/1zzm254.jpg)
Manuel Móra, 1º guarda-redes em jogos oficiais da História do SLB

Não obstante já aqui termos falado de Manuel Móra (ver textos: -42- Duas despedidas e um alegre convívio. p.10 e -44- Homenagem a um grande artista. p.11 e ainda -58- Um encontro Americano. p.14) vamos aproveitar a fotografia para o voltar a elogiar, pela sua ligação ao desporto – que como vemos manteve no Brasil – e pela sua reconhecida genialidade enquanto desenhista.


(http://i67.tinypic.com/2ls8sb7.jpg)
Manuel Móra o árbitro nomeado pelo Parc-Royal Football Club


Parc Royal Foot-Ball Club

Agremiação fundada em 3 de Agosto de 1914, por funcionários do Armazéns Parc Royal, este Parc Royal FC manteve esse nome até 27 de Fevereiro de 1917, data em que com o fim da relação com a casa comercial mãe, se tornou o Progresso Football Club.


(http://i67.tinypic.com/693t5k.jpg)
A evolução do Parc Royal Foot-ball Club (1914-1917) para Progresso Football Club (1917-1925). Fonte: http://cacellain.com.br/blog/?p=66964 (http://cacellain.com.br/blog/?p=66964)


(http://i65.tinypic.com/a3dr8j.jpg)
As duas primeiras categorias do Parc Royal Football Club em 1915.


Parc Royal, um gigante carioca

A Parc Royal, apesar de ter um nome Francês, foi fundada em 1873 por um Português chamado Francisco Vianna. França era o paradigma da moda, do luxo, do "chic" e assim esse nome era perfeitamente apelativo e adequado aos gostos da época. Seria no entanto um outro Português chamado Vasco Ramalho Ortigão e seu filho José Duarte, descendentes do escritor Português Ramalho Ortigão, que lhe dariam a glória comercial, fazendo dela uma empresa muito lucrativa e influente na moda carioca. O brilho destes estabelecimentos manteve-se durante boa parte da primeira metade do século XX, tendo sido uma das principais cadeias de lojas do Rio de Janeiro e de São Paulo.


(http://i68.tinypic.com/15s3dhv.jpg)


Há ainda que dizer que os donos do Parc Royal não se restringiam apenas à actividade comercial. Ao invés, mostraram-se interessados e participantes no movimento associativo na sociedade carioca, em colectividades musicais e em associações culturais Portuguesas. O desporto foi mais uma das vertentes privilegiadas e foi nesse quadro que se deu o patrocínio ao Parc Royal FC, isto apesar da iniciativa da fundação do clube ter sido de alguns dos seus trabalhadores.

Manuel Móra terá começado a colaborar com os Armazéns Parc Royal por volta de 1914, ou seja no mesmo ano em que o Clube foi fundado. Por lá e por cerca de umas duas décadas, Móra foi o Director Artístico, o criativo publicitário ou seja foi um membro respeitado, estimado pelo seu patrão, a quem acompanhou em diversas viagens de trabalho à Europa. É natural que durante as escalas marítimas dessas viagens à Europa, Móra tenha regressado ainda que de forma breve à sua cidade de Lisboa.

A ligação profissional de Móra aos Armazéns Parc Royal, o seu passado como desportista na Europa e o seu estatuto de importante funcionário da empresa, justificam que o seu novo clube o tenha indicado como árbitro. Nesse tempo, essas nomeações (também em Portugal) eram normais pois os clubes tinham de indicar à Associação que pertenciam o nome de um dos seus prestigiados sócios, alguém que fosse idóneo, conhecedor do jogo e respeitado pelos adversários.


Um genial publicista

Muita dos originais da produção artística de Móra para o Parc Royal foram perdidos num pavoroso incêndio que consumiu a Casa Mãe da década de 40. Ainda assim sobreviveram alguns desenhos em cor e bastantes mais a preto e branco que foram publicados como publicidade em periódicos da época. Pela sua beleza, seleccionei alguns deles para apresentação.


(http://i63.tinypic.com/2j3fu60.jpg)
Algumas variações da assinatura artística de Manuel Móra


(http://i68.tinypic.com/15mbndt.jpg)

(http://i66.tinypic.com/3029r9l.jpg)

(http://i67.tinypic.com/ftk8jt.jpg)
Alguns dos magníficos trabalhos a cores que Manuel Móra produziu para o Parc Royal.


(http://i66.tinypic.com/2vun4zs.jpg)
Publicidade para a secção infantil dos Armazéns da Parc Royal.

Segundo o próprio Móra os seus primeiros desenhos para o Parc Royal foram considerados pouco interessantes do ponto de vista comercial. Esse caminho foi feito pelo artista mas que depois não deixou de dar um cunho pessoal ao seu trabalho e a elevar substancialmente os padrões de qualidade desse meio.

E assim esse discípulo dos grandes artistas Portugueses, Jorge Colaço e Roque Gameiro, tornou-se num mestre da publicidade elegante no Rio de Janeiro e um artista amplamente reconhecido e requisitado. Nada mau para um homem que envergando uma flanela vermelha conseguiu vencer pelo seu esforço e talento num meio tão competitivo e urbano como era o Brasil e em particular a efervescente e boémia cidade do Rio de Janeiro.


(http://i67.tinypic.com/ogl99s.jpg)
Os dois mestres Portugueses de Manuel Móra: Roque Gameiro (à esquerda) e Jorge Colaço (à direita)


Para lá do Parc Royal


(http://i64.tinypic.com/r0o4fd.jpg)

Ele tem bem o sentido do colorido, um colorido onde se sente a vida tumultuar intensamente. E diante de seus lábios, quasi sempre uma phrase que, em sua simplicidade, diz tudo: "só falta falar!"
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasileira.


Manuel Móra subiu a pulso, tornando-se gradualmente conhecido e estimado no meio artístico carioca. Ganhou depois de forma progressiva e merecida, uma grande visibilidade e reconhecimento noutras cidades e regiões do Brasil. Como qualquer artista teve também a felicidade de apresentar os seus trabalhos em várias exposições.


(http://i64.tinypic.com/2nvwcr4.jpg)
Exposição Móra na Câmara dos Delegados do Comércio no Rio de Janeiro em 1928. Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasileira.


(http://i68.tinypic.com/t89m5y.jpg)
Fonte: Revista da Semana, 1928 e Beira-Mar, 1929.


(http://i65.tinypic.com/zivaj8.jpg)
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasileira.


Outro aspecto relevante da obra de Móra foi a sua exuberante produção para capas de revista de cinema, moda e actualidades. As revistas geralmente pagavam mal aos seus artistas mas no caso de Móra ao que parece não houve motivos para grande queixa. Para além disso era trabalho com visibilidade no meio. Ao que parece para Móra a colaboração de trabalho com revistas começou ainda em Portugal, depois em 1907 em Buenos Aires, Argentina, o seu primeiro pouso da sua emigração. Mas seria finalmente no Brasil a partir de 1910 que atingiria particular brilhantismo nessa actividade que os Brasileiros designavam como "colorista de capas".


(http://i67.tinypic.com/e7gorr.jpg)
Capas de revistas da autoria de Manuel Móra. A primeira em cima, à esquerda é a capa do primeiro número da revista Cruzeiro é considerada um ícone desse período da moda e da estética feminina no Brasil.


Muito mais existe para contar da sua longa e frutuosa vida. Assim sendo, ainda que Manoel Móra seja um "cliente" habitual deste tópico, não posso nem quero evitar que num futuro próximo este grande e simpático homem volte aqui a merecer mais algumas linhas de evocação e homenagem.

   
(http://i64.tinypic.com/23iz33r.jpg)
Obituário (Diário de Notícias, 8-04-1956), última fotografia e última local onde morou (a linda Ilha do Governador) Manuel Móra (1884-1956).


(http://i59.tinypic.com/9bm06w.png)
Paz à sua Alma.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 06 de Março de 2017, 22:00
RedVC, deixa-me interromper momentaneamente a tua (excelente) programação  :), para te fazer mais uma pergunta que talvez saibas responder.

Porque é que o Sporting participou na 1ª edição da Taça dos Campeões Europeus em 55/56 e não o Benfica, que foi o Campeão em 54/55?

Este fim-de-semana tive com o meu querido avô, que fez 91 anos e no meio das nossas longas conversas sobre futebol, ele contou-me que foi a UEFA que escolheu os representantes de cada país para a primeira edição, e que o Sporting foi escolhido devido ao seu prestígio (cinco violinos e tal...). Mas o meu avô é muito sportinguista e não sei se é de confiar no que ele diz eheh.

Foi a UEFA que escolheu ou foi a FPF? E se foi a FPF, porque indicou o Sporting e não o Benfica, que era o campeão em título?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 06 de Março de 2017, 22:23
Vou abrir um parênteses no melhor tópico desta secção apenas para partilhar uma fonte audiovisual nova com muitos motivos de interesse: https://arquivos.rtp.pt/ Alguns destaques:

Provavelmente os melhores 4 minutos da história da RTP: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/1962-sport-lisboa-e-benfica/

Basket com um ambiente incrível em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/basquetebol-f-c-porto-vs-s-l-benfica/

Fialho Gouveia a jogar futsal na Luz em 1974: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/futebol-e-hoquei-no-pavilhao-da-luz/

Grande reportagem sobre a Luz em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-estadio-da-luz/
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Março de 2017, 23:00
Citação de: Theroux em 06 de Março de 2017, 22:23
Vou abrir um parênteses no melhor tópico desta secção apenas para partilhar uma fonte audiovisual nova com muitos motivos de interesse: https://arquivos.rtp.pt/ Alguns destaques:

Provavelmente os melhores 4 minutos da história da RTP: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/1962-sport-lisboa-e-benfica/

Basket com um ambiente incrível em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/basquetebol-f-c-porto-vs-s-l-benfica/

Fialho Gouveia a jogar futsal na Luz em 1974: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/futebol-e-hoquei-no-pavilhao-da-luz/

Grande reportagem sobre a Luz em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-estadio-da-luz/

Excelente nota Theroux. Vi no telejornal na RTP e estou desde então a ver. A ver e a deliciar-me

Aqui pessoal

https://arquivos.rtp.pt/?advanced=1&s=Benfica (https://arquivos.rtp.pt/?advanced=1&s=Benfica)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Março de 2017, 23:29
Citação de: Bakero em 06 de Março de 2017, 22:00
RedVC, deixa-me interromper momentaneamente a tua (excelente) programação  :), para te fazer mais uma pergunta que talvez saibas responder.

Porque é que o Sporting participou na 1ª edição da Taça dos Campeões Europeus em 55/56 e não o Benfica, que foi o Campeão em 54/55?

Este fim-de-semana tive com o meu querido avô, que fez 91 anos e no meio das nossas longas conversas sobre futebol, ele contou-me que foi a UEFA que escolheu os representantes de cada país para a primeira edição, e que o Sporting foi escolhido devido ao seu prestígio (cinco violinos e tal...). Mas o meu avô é muito sportinguista e não sei se é de confiar no que ele diz eheh.

Foi a UEFA que escolheu ou foi a FPF? E se foi a FPF, porque indicou o Sporting e não o Benfica, que era o campeão em título?


Pois... Bakero, pois. É que nós eramos o Clube do antigo regime mas os outros é que recebiam os benefícios. Uns têm a fama e outros o proveito.


Genericamente sobre a primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus dizia Alberto Miguéns:

O "caso" da primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus
A competição mais aberrante que se fez, tendo em conta o nome que lhe foi dado: uma competição para campeões! Mas esta a UEFA considera-a válida e equipara-a à Liga dos Campeões quando dos 16 participantes (outros tantos recusaram por temerem o fracasso financeiro e custos desportivos com reflexo nos respectivos campeonatos) apenas sete, ou seja, 44 por cento, eram campeões nacionais. Até um sexto classificado (da Suíça) participou e para fazer "conta certa (16 clubes) convidaram um clube duma liga regional alemã, do Sarre, que nem o apuramento conseguiu para a fase final do campeonato alemão. Uma edição organizada pelo jornal L'Équipe devido à FIFA não ter autorizado a UEFA a envolver-se com competições europeias para clubes disputadas durante a temporada temendo que isso fizesse abortar o plano para que foi criada a UEFA em 1954: A organização de um campeonato europeu de selecções intervalado a cada dois anos com o Campeonato do Mundo da FIFA. Há quem diga que esta primeira edição "oficial" só não é renegada pela UEFA porque teme retirar um troféu ao Real Madrid CF. É que não só a competição não foi organizada pela UEFA, como foi "colocada em execução contra as indicações da FIFA" que temia que os adeptos dessem mais importância a esta competição que ao Europeu de Cubes, cuja primeira edição estava prevista para o final da temporada de 1959/60. Nos últimos tempos tem-se assistido a uma mudança de narrativa da UEFA no sentido de mostrar que até consentiu a competição. Ora face ao que foi publicado na Imprensa da época e aos clubes participantes isso não faz qualquer sentido. Mais vale ficarem caladinhos!


fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2017/02/quatrocentos-jogos-na-europa.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2017/02/quatrocentos-jogos-na-europa.html) (os negritos são meus)

E mais um pouco de história da competição:

http://www.campeoesdofutebol.com.br/hist_liga_campeoes.html (http://www.campeoesdofutebol.com.br/hist_liga_campeoes.html)


De onde retirei

O primeiro torneio

A competição idealizada pelo L'Equipe, iniciada em setembro de 1955, não obrigava a que os participantes fossem campeões nacionais, funcionava sim por convites aos clubes que geravam maior interesse junto aos torcedores tanto que das 16 equipes, apenas RSC Anderlecht, AGF Arhus, Djurgardens IF FF, Milan AC, Real Madrid CF, Stade de Reims e SC Rot-Weiss Essen eram campeões nacionais. Sporting Lisboa, Partizan Belgrado, MTK Budabest, Servette, Hibernian, Gwardia, Rapid Wien, PSV Eindhoven e Saarbrucken foram as convidadas. Nenhum representante inglês participou da primeira edição; a equipe do Wolverhampton Wanderers FC recusou o convite por se achar a melhor equipe européia da época após jogos amistosos com vitória sobre ao Honvéd e ao Spartak Moscou.


Assim sendo e salvo o erro, os Sapos terão sido convidados pelo jornal L'Equipe. A UEFA tinha sido fundada em 1954 e esteve um pouco ultrapassada por esta organização. Diz-se também que o jornal pediu à FPF que indicasse o campeão só que a FPF julgou por bem indicar o SCP (por sinal o terceiro classificado da época anterior). Se isto não era ser beneficiado... é certo que na década anterior os sapos tinham conquistado mais títulos mas o SLB já emergia como a força dominante. Na década seguinte essa tendência seria esmagadora.

E assim, curiosamente, seriam os sapos a receber no Estádio Nacional o Partizan de Belgrado no jogo inaugural da competição (empate 3-3):
http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=261859 (http://www.zerozero.pt/jogo.php?id=261859)

é claro que os sapos foram eliminados. Aliás poucas vezes fizeram alguma coisa de jeito na Taça dos Clubes Campões Europeus. Só em 1982/83 ou seja 27 anos depois conseguiria chegar aos quartos de final. Ou seja em 13 participações não passaram da segunda eliminatória (e neste caso só por 3 vezes)... Caiam sempre na 1 ou 2ª eliminatória. Lá lá lá lá, maior potência, lá lá lá...

********************************************************

em adenda:

O director do "L''Équipe", Gabriel Hanot, apresentou a ideia à UEFA numa carta em Dezembro de 1954 mas esta recusou, argumentando que estava mais preocupada com um campeonato de selecções, já existente na América do Sul desde 1916.
Gabriel Hanot insistiu na ideia e a UEFA deu-lhe então carta branca para planificar o que quisesse. Foi aí que o "L''Équipe" tomou as rédeas da Taça dos Campeões Europeus, com jogos na quarta-feira à noite. A UEFA só foi tida e achada no primeiro congresso, em Viena, a 2 de Março de 1955. A ideia do "L''Équipe" para a edição inaugural da Taça dos Campeões era reunir os melhores clubes da Europa, que não necessariamente os campeões (Anderlecht, Aarhus, Djurgardens, Milan, Real Madrid, Stade de Reims e Rot-Weiss Essen), mas sim aqueles que arrastavam mais pessoas ao estádio nos respectivos países (Partizan, MTK Budapest, Servette, Hibernian, Gwardia, Rapid Viena, PSV Eindhoven e Saarbrücken).

Foquemo-nos agora em Portugal, o 16º país convidado para a Taça dos Campeões. O Benfica foi o campeão nacional em Abril de 1955, num título decidido aos 86 minutos da última jornada por um golo de João Martins, do Sporting. Ao Belenenses (2-2), que só perdeu esse campeonato por diferença de golos. O "L''Équipe", com a bênção da UEFA, convidou então o Sporting, e não o Benfica. Por força do passado, e não apenas do presente.


fonte: http://leaodaestrela.blogspot.pt/2010/09/campeoes-europeus-primeiro-jogo-foi-ha.html (http://leaodaestrela.blogspot.pt/2010/09/campeoes-europeus-primeiro-jogo-foi-ha.html)

O L'Equipe não fazia a mínima sobre quem era o Clube mais popular em Portugal. Provavelmente nem sabiam quem era o campeão.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 07 de Março de 2017, 10:24
Obrigado pela tua resposta  O0. Mais uma vez se prova que ao Benfica nada foi oferecido, tudo foi conquistado.

Quanto ao arquivo online da RTP, é uma ideia fantástica apesar de por enquanto ainda estar um acervo muito reduzido.

Mas de acordo com uma reportagem que já vi com o director da RTP o plano é acrescentar 2000 vídeos cada mês e consoante os gostos do público, expressos no número de visualizações. Esperemos que os videos do Benfica sejam bastante vistos, para que essa área do site vá crescendo.

E vou analisar a possibilidade de comprar conteúdos, porque pelos vistos desde que seja para consumo privado, o custo não é tão elevado como tinha informação...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Março de 2017, 21:14
Já agora aproveito para ir um pouco mais atrás para ilustrar como o nosso Clube é sempre invejado, sujeito a mentiras sempre para o desfavorecer e reduzir ao máximo a importância e mérito das suas vitórias.

Não era estranha esta iniciativa do L'Equipe. Grande jornal que esteve por trás também da Taça Latina. Mas não só:

(http://2.bp.blogspot.com/-pDEE2piUxVo/Td43mFbiw2I/AAAAAAAAAPI/jNsOCggIp6w/s640/Untitled-4.jpg)

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/05/ainda-e-sempre-taca-latina.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2011/05/ainda-e-sempre-taca-latina.html)

No caso da Taça Latina, idealizada talvez para arranjar uma correspondente à muito injustamente esquecida Taça Mitropa, ela foi efectivamente iniciativa do L'Equipe mas apadrinhada pela FIFA. Isso foi demonstrado por Alberto Miguéns

(https://1.bp.blogspot.com/-a-yc-JfD95U/V9G7XlqkBwI/AAAAAAAAUk0/hA-3PDaIAqwdz-9gk7mLpVspxaQ1Nh1OACLcB/s1600/tacalatina22.jpg)


fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/09/no-dia-em-que-passei-por-jules-rimet.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/09/no-dia-em-que-passei-por-jules-rimet.html)

e principalmente

(https://3.bp.blogspot.com/-IeJpPESoD6w/V9Gov_-yozI/AAAAAAAAm4o/1bRGMKPK34YWPfkY0tuqPHbZp6B2vdMkACLcB/s1600/TL5.png)


É importante que se saiba o que se falou e decidiu na época e não o que a matilha dragarta ladra de acordo com a conveniência. A Taça Latina devia ser reconhecida como competição oficial sem dar hipótese aos latidos dos chico espertos invejosos. Mas enfim a caravana passa...


ps: tenho dois texto quase engatilhados (de entre uma dúzia...) para publicar sobre duas das oito edições da Taça Latina. Tenho de ver se acabo isso...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Março de 2017, 11:02
-143-
Sport de Lisboa, Bemfica 1923.

Dia 3 de Maio de 1923. Campo de Bemfica, nas traseiras da Fábrica Simões e Avenida Gomes Pereira em Benfica.


(http://i65.tinypic.com/15pk32g.jpg)
Fonte: Ilustração Portuguesa.


Um grupo de jornalistas desportivos, quase todos já entradotes em termos de idade, posam para a câmara envergando equipamento desportivo. No total, vemos 18 homens preparados para dar uns toques na bola. Sete deles, presumivelmente os que não tinham camisola branca, formavam um grupo "mixto", querendo isto dizer ligados a diversos jornais da época. De equipamento branco temos 11 homens, presumivelmente membros do jornal Sport Lisboa, fundado 10 anos antes, no dia 24 de Agosto de 1913.


O "Campo de Bemfica"


(http://i68.tinypic.com/11uiah4.jpg)
Duas fotografias com vistas aérea e terrestre sobre o espaço onde se situou o Campo de Benfica e uma fotografia durante um SLB vs SCP no final da década de 10. Fonte: Bic Laranja e Ilustração Portuguesa.


Localizado na Quinta de Marrocos, nas traseiras da sede na Av. Gomes Pereira e da enorme Fábrica Simões, este campo foi utilizado pelo nosso Clube durante cerca de uma década, a partir de 17-09-1916. Foi neste campo que no dia 10-09-1919 ocorreu o primeiro jogo nocturno de que há notícia em Portugal.


(http://i67.tinypic.com/264mcme.jpg)
Fonte: Museu Cosme Damião.


Curiosamente este jogo entre jornalistas ocorreu já depois de ter sido jogado o último jogo oficial do SLB neste campo, em 11 de Março de 1923 num jogo contra o Império FC. O campo continuaria a ter alguma utilização para treinos e actividades de outras modalidades até 1926.


(http://i64.tinypic.com/5mkehe.jpg)
Notícia da realização de dois a disputar no Campo de Benfica. Viriam a ser os últimos disputados últimos jogos oficiais desse campo situado nas traseiras da Avenida Gomes Pereira onde o nosso Clube tinha a sua bela sede. Fonte: DL, 10-03-1923.


As Figuras


(http://i67.tinypic.com/2zr2scx.jpg)
Identificação de seis elementos da equipa do jornal Sport Lisboa que defrontaram uma equipa "mixto" de outros jornais em 3-05-1923 no Campo de Benfica. Cosme Damião (38 anos), Félix Bermudes (47 anos), Norberto de Araújo (34 anos),Vítor Gonçalves (27 anos), Ribeiro dos Reis (27 anos) e Florindo Serras (33 anos). Fonte: Ilustração Portuguesa.


Entre os 17 jogadores registados na fotografia é possível reconhecer pelo menos seis Gloriosos. Em boa verdade a maior parte eram já ex-jogadores, mas todos foram pioneiros relevantes do nosso Clube.

Dispensam-se aqui grandes palavras sobre Félix Bermudes (1874-1960) e Cosme Damião (1885-1947) por serem amplamente tratados neste tópico. Foram em meu entender duas das cinco maiores figuras do nosso Clube falando de dirigentes. Foram dois homens de excepção que transcenderam pelo mérito da sua obra e do seu pensamento, a sua dimensão física mortal para se tornarem para sempre duas lendas do nosso Clube. Mas depois temos várias outras figuras de grande relevo no nosso Clube. Vamos por partes.



(http://i66.tinypic.com/2nq8c42.jpg)

(http://i67.tinypic.com/2gvk8xj.jpg)


Vamos então concentrar-nos nas restantes figuras Benfiquistas que para já foram identificadas na fotografia da qual partimos para este texto.


(http://i65.tinypic.com/9frti9.jpg)

Nascido em Lisboa a 18-07-1896, António Ribeiro dos Reis foi uma figura de primeira grandeza do nosso Clube. À semelhança de Cosme Damião, também Ribeiro dos Reis não quis nunca ser presidente tendo no entanto sido decisivo para a evolução do SLB.

Retirando elementos do seu obituário publicado no Diário de Lisboa, deixo aqui uma série de elementos biográficos que atestam o brilhantismo deste grande Benfiquista. Iniciou-se na Casa Pia onde cedo mostrou grande aptidão para a actividade desportiva. O futebol começou aí tendo depois transitado para o Liceu da Lapa e mais tarde para a Escola do Exército.

Em 1913 estreou-se oficialmente com a camisola do SLB, tendo sido, até à sua morte, quase tudo no nosso Clube. Foi jogador, treinador, capitão-geral, presidente da mesa da Assembleia Geral, dirigente desportivo. Não terá sido presidente apenas porque a sua vida militar (era Oficial da administração militar) não o devia permitir.


(http://i67.tinypic.com/kpai1.jpg)
Folheto de divulgação do jantar de homenagem de um grupo de consórcios do SLB a Ribeiro dos Reis realizado no Restaurante Garret no dia 2-08-1925. Ao centro e à direita imagens reveladoras do papel de formador e divulgador das regras e teoria de jogo de futebol que Ribeiro dos Reis assumiu ao longo da sua vida. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Muito justamente, Ribeiro dos Reis foi eleito Águia de Ouro em 1933, reconhecendo-se assim o papel importante que sempre assumiu na actividade desportiva e nas tendências, equilíbrios e consensos (ou não) do nosso Clube.

Teve um papel determinante em 1926 na rotura que era necessária para dar novo incremento na vitalidade do Clube que tinha vindo a perder competitividade no futebol depois de anos a apostar na criação das infra-estruturas no parque de Jogos das Amoreiras. A rotura implicou a saída dolorosa de Cosme Damião e Bento Mântua mas foi uma etapa decisiva para o SLB voltar a ser um Clube vencedor, adaptando-se aos novos tempos do (implícito) profissionalismo.

Foi justamente em 1923, data deste jogo, que Ribeiro dos Reis pendurou as botas. A sua carreira de jogador foi campeão pelo Benfica tendo também sido internacional A, jogando aliás o primeiro Portugal - Espanha em 1921. Foi também praticante de atletismo, destacando-se como corredor de velocidade. Foi também seleccionador nacional em 1926, 1934 e 1943. Foi secretário-geral da FPF e presidente do Conselho Técnico, membro da Comissão Central de Árbitros e de múltiplas comissões de revisão dos regulamentos da FPF.

Juntamente com o seu amigo de sempre, Cândido de Oliveira (ver texto -37- Três gigantes, três caminhos separados. p.8) fundou o jornal A Bola e colaborou com muitos outros jornais e revistas desportivas.


(http://i65.tinypic.com/112bi9u.jpg)
Amigos de uma vida, Ribeiro dos Reis (2) e Cândido de Oliveira (3). Juntamente com Ricardo Ornelas foram fundadores do jornal "A Bola". Fonte: BN. Direita, Ribeiro dos Reis enquanto seleccionador nacional. Fonte: Eco dos Sports.


Faleceu em 3 de Dezembro de 1961 tendo sido sepultado no cemitério dos Prazeres.


(http://i67.tinypic.com/345xwk1.jpg)


Norberto Moreira de Araújo nasceu a 21 de Março de 1889, em Lisboa. Entrou como aprendiz na Imprensa Nacional (1904), mas a sua apetência para as Letras fez com que passasse a frequentar o Curso Superior. Integrou logo em 1913 a equipa de colaboradores do "Sport Lisboa" onde logo mostrou a sua qualidade.

Em 1916, ingressou na redacção do jornal "O Mundo", mudando-se, passado um ano, para "A Manhã", de que chegou a ser co-proprietário, iniciando, portanto, uma carreira fulgurante na imprensa, continuada noutros periódicos. A par da actividade como jornalista, Norberto de Araújo manteve, intermitentemente, a sua actividade literária, em 31 volumes publicados, que se repartiram pelos mais diversos campos, desde os livros técnicos sobre artes gráficas, até ao teatro e à poesia...

O Olisipógrafo que legendou Lisboa.

Para além de jornalista, poeta e novelista, Norberto de Araújo foi também um estudioso da História de Lisboa. "Ligeiramente corcovado, de olhos azuis luminosos, mãos frementes, imaginação torrencial, autêntico poeta enamorado da alma de Lisboa", nas palavras amigas de Pastor de Macedo, embrenhava-se por entre ruas e becos, atento a cada pormenor, quer se tratasse de um edifício notável, um bairro, um pátio, um chafariz, um arco ou uma simples porta, e engrandecia cada descrição com episódios de vida quotidiana, que apaixonavam o "dileto leitor". Ao estilo de uma escrita sempre coloquial, noticiosa e de leitura fácil, que cultivou ao longo de uma intensa carreira jornalística, juntou, Norberto, um profundo conhecimento da sua cidade, que percorria de forma incansável.
  Fontes: https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/ e http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/NorbertodeAraujo/NorbertodeAraujo.pdf (https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/%20e%20http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/NorbertodeAraujo/NorbertodeAraujo.pdf)


Conforme é referido pelos seus descendentes "Em finais de 1908, após a fusão do Sport Lisboa com o Grupo Sport Benfica, dando lugar ao Sport Lisboa e Benfica, Norberto de Araújo torna-se sócio do Clube. Cosme Damião um dos dirigentes do Clube fá-lo secretário responsável pelas notícias, tendo ainda colaborado na organização e realização de várias provas desportivas."... Fonte: https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/cronologia/ (https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/cronologia/)


"Colaborou desde a sua fundação em 1913 no jornal do Sport Lisboa e Benfica – o semanário «Sport Lisboa» – desempenhando várias funções e acabando por ser redactor, cargo em que se manteve até 24 de Dezembro de 1914." Fonte: https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/cronologia/
No banquete que acima apresentamos a fotografia que decorreu no Restaurante Club em 22 de Agosto de 1914 e onde participaram também 4 presidentes do SLB, Cosme Damião e dois jogadores célebres do Clube, Norberto de Araújo, escreveu os seguintes versos:


Não bebo há mais de 3 anos,
de vinho qualquer porção.
Mas hoje juro que faço excepção,
E se o faço digo e juro
É só por vossa atenção.
Muito custa nesta vida
A ter um bom coração


(http://i66.tinypic.com/2w6rpmu.jpg)


Velha Glória do futebol mas também do hóquei em campo do SLB. Foi à semelhança de Cândido de Oliveira e António Ribeiro dos Reis, um antigo casapiano que ganhou fama como nosso futebolista. Desde 1916 a 1927 apresentou-se geralmente como médio centro.

Era um jogador atlético e versátil que chegou a capitão de equipa em 1919. Ainda enquanto jogador foi eleito pela primeira vez em 1920 como dirigente do nosso Clube. Chegou a ser secretário do Conselho Fiscal e foi muito respeitado no nosso Clube. Despediu-se dos campos em 1927, tendo cumprido cerca de 200 jogos na nossa 1º categoria do futebol.

Em 1934 anui ao convite de Ribeiro dos Reis e passou a treinar a nossa equipa principal de futebol. Nessa época apesar de não terem ocorrido conquistas relevantes, Ribeiro dos Reis que à altura era o nosso Capitão Geral do SLB, renovou a vontade de que Victor Gonçalves continuasse no cargo. Os dois conscientes da evolução do futebol introduziram alterações tácticas no modelo de jogo da nossa equipa, alterando o sistema de pirâmide, e fazendo-o evoluir para o novo sistema WM, pouco tempo antes idealizado e implementado com bastante sucesso em Inglaterra por Herbert Chapman.

E seria Victor Gonçalves o primeiro treinador Português a conquistar o título de Campeão da I Liga. O primeiro e por diversas décadas, o único treinador Português campeão. Cederia o seu lugar ao húngaro Lippo Hertzka que conquistaria os dois títulos seguintes dando pela primeira vez um tricampeonato ao nosso Clube.


(http://i63.tinypic.com/2i6gh2a.jpg)
Em cima: Victor Gonçalves ladeado por Ribeiro dos Reis (à sua direita) e Cosme Damião (à sua esquerda). Em baixo: Victor Gonçalves (assinalado) posando com os seus colegas de equipa. De pé, da esquerda para a direita: Fausto Peres, Chiquinho e José Bentes Pimenta. Agachados, Bastinhos, Victor Gonçalves e Fernando de Jesus. Sentados: Morais, José Simões, Ribeiro dos Reis, Jesus Crespo e Alberto Augusto. Fonte: Museu Cosme Damião e Em Defesa do Benfica.


(http://i64.tinypic.com/rstzqq.jpg)

Florindo Dias Serras nasceu em Abrantes no ano de 1890. Ingressou depois na Casa Pia onde certamente terá iniciado a sua actividade desportiva e fez amigos que foram decisivos no seu desenvolvimento pessoal e profissional.

No SLB jogou futebol na primeira categoria e praticou atletismo ainda no tempo do Glorioso campo da Feiteira. Extremo direito, jogou de 1909 a 1914, cumprindo cinco épocas de Águia ao peito embora uma na 2ª categoria. Como se viu integrou os primeiros repórteres do Sport Lisboa aquando da sua fundação em 1913.

Mais tarde – presumo na década de 30 – emigrou para Brazzaville (capital e maior cidade da actual República do Congo). Por lá viria a falecer em 1952, embora ainda tenha tido a felicidade de ver o SLB visitar e fazer um jogo em Brazzaville em 1950. Essa visita terá certamente sido muito emocional para ele, pela recuperação da ligação a Portugal e em particular ao SLB


(http://i68.tinypic.com/xe3i4j.jpg)
Dois aspectos da vida desportiva de Florindo Serras no SLB no Campo da Feiteira entre 1908 e 1910. Fonte: AML e BTV


O Sport Lisboa


(http://i66.tinypic.com/wbwga1.jpg)
A primeira edição do Sport Lisboa em 24 de Agosto de 1913.


O Sport Lisboa foi fundado em 24 de Agosto 1913. Contou desde logo com homens superiores, excelentes profissionais, muitos deles foram figuras determinantes do nosso Clube, antes e depois da junção de 1908 entre Sport Lisboa e o Grupo Sport Benfica.

Existe aliás uma fotografia do espólio do grande Norberto de Araújo que nos mostra a redacção e os administradores do jornal e da qual já por qui se falou (ver texto -39- Um banquete de notáveis. p.9)


(http://i68.tinypic.com/5knj9y.jpg)
Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/derbi-dos-jornais.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/derbi-dos-jornais.html)


Divulgava informação sobre as actividades, resultados e figuras do nosso Clube mas também outra informação desportiva. No entanto, logo em Março de 1915, as restrições financeiras obrigaram o jornal a juntar-se ao "Jornal do Sport" criando-se assim o "O Sport de Lisboa". Esse jornal manter-se-ia até Maio de 1932, tendo aliás sobrevivido ao difícil período em que decorreu a I Guerra Mundial.

Mais e melhores detalhes poderão ser encontrados aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/derbi-dos-jornais.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/11/derbi-dos-jornais.html)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Rodolfo Dias em 12 de Março de 2017, 13:30
Falas aí em algo que eu queria perguntar. Fala-se de o último jogo no Campo de Benfica ter sido em 11 de Março de 1923, algo que também é mencionado no site do Benfica (e algo que eu também tenho tomado como verdadeiro). Todavia, no Almanaque do Benfica (pelo menos a versão que tenho, a do Centenário) esse jogo é mencionado como tendo sido disputado no Campo da Palhavã, propriedade do Império. E infelizmente o Diário de Lisboa não permite fazer a prova dos nove a esse respeito. Qual das versões é a correcta?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Março de 2017, 16:13
Bem Rodolfo, a minha interpretação é que o jogo foi em Benfica. Isso inferido da notícia do Diário de Lisboa. Talvez a notícia seja um pouco dúbia mas ainda assim entendo que jogaram primeiro o SCP vs CIF seguindo-se depois o desafio SLB vs Império. Mas poderei ver outras fontes. Para já o que está disponível parece apontar para Benfica.

Incrivelmente a Ilustração Portuguesa descreve as incidências do jogo mas não diz onde foi?!?

(http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1923/N891/N891_master/JPG/N891_0003_branca_t0.jpg)

Para além disso até se pode interpretar que o SLB vs Império foi antes do CIF vs SCP.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 15 de Março de 2017, 14:15
Citação de: RedVC em 06 de Março de 2017, 23:00
Citação de: Theroux em 06 de Março de 2017, 22:23
Vou abrir um parênteses no melhor tópico desta secção apenas para partilhar uma fonte audiovisual nova com muitos motivos de interesse: https://arquivos.rtp.pt/ Alguns destaques:

Provavelmente os melhores 4 minutos da história da RTP: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/1962-sport-lisboa-e-benfica/

Basket com um ambiente incrível em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/basquetebol-f-c-porto-vs-s-l-benfica/

Fialho Gouveia a jogar futsal na Luz em 1974: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/futebol-e-hoquei-no-pavilhao-da-luz/

Grande reportagem sobre a Luz em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-estadio-da-luz/

Excelente nota Theroux. Vi no telejornal na RTP e estou desde então a ver. A ver e a deliciar-me

Aqui pessoal

https://arquivos.rtp.pt/?advanced=1&s=Benfica (https://arquivos.rtp.pt/?advanced=1&s=Benfica)

Cito esta mensagem por falar do arquivo da RTP.

Finalmente a RTP começou a colocar no arquivo online mais conteúdos e até final de 2017 vai aumentar o número de conteúdos disponibilizados. É de saudar, já que a RTP Memória insiste em repetir jogos e, curiosamente, se fossemos a fazer a classificação dos campeonatos pelos jogos que dão então estaríamos sempre entre o 6º e o 10º...

Mas este ponto é positivo e, para além do Benfica, existem documentários e programas antigos de grande qualidade.

Quanto ao recanto do RedVC, que grande prazer que é sempre vir cá ler estas pérolas! Obrigado, companheiro.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Março de 2017, 22:10
Citação de: Ned Kelly em 15 de Março de 2017, 14:15
Citação de: RedVC em 06 de Março de 2017, 23:00
Citação de: Theroux em 06 de Março de 2017, 22:23
Vou abrir um parênteses no melhor tópico desta secção apenas para partilhar uma fonte audiovisual nova com muitos motivos de interesse: https://arquivos.rtp.pt/ Alguns destaques:

Provavelmente os melhores 4 minutos da história da RTP: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/1962-sport-lisboa-e-benfica/

Basket com um ambiente incrível em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/basquetebol-f-c-porto-vs-s-l-benfica/

Fialho Gouveia a jogar futsal na Luz em 1974: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/futebol-e-hoquei-no-pavilhao-da-luz/

Grande reportagem sobre a Luz em 1972: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-estadio-da-luz/

Excelente nota Theroux. Vi no telejornal na RTP e estou desde então a ver. A ver e a deliciar-me

Aqui pessoal

https://arquivos.rtp.pt/?advanced=1&s=Benfica (https://arquivos.rtp.pt/?advanced=1&s=Benfica)

Cito esta mensagem por falar do arquivo da RTP.

Finalmente a RTP começou a colocar no arquivo online mais conteúdos e até final de 2017 vai aumentar o número de conteúdos disponibilizados. É de saudar, já que a RTP Memória insiste em repetir jogos e, curiosamente, se fossemos a fazer a classificação dos campeonatos pelos jogos que dão então estaríamos sempre entre o 6º e o 10º...

Mas este ponto é positivo e, para além do Benfica, existem documentários e programas antigos de grande qualidade.

Quanto ao recanto do RedVC, que grande prazer que é sempre vir cá ler estas pérolas! Obrigado, companheiro.

Obrigado Ned  O0
As vossas palavras são sempre muito importantes para mim. Fico muito feliz que vocês apreciem estes pedaços da maravilhosa história do SLB.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Março de 2017, 22:34
-144-
A Taça Ruy da Cunha.

Dia 15 de Março de 1913, a equipa da primeira categoria de futebol do Sport Lisboa e Benfica alinha para a eternidade.



(http://i65.tinypic.com/m83d6t.jpg)
Equipa que disputou a final da Taça Ruy da Cunha contra o SC Império. De pé e da esquerda para a direita temos os avançados, Florindo Serras, Álvaro Gaspar, Luís Viera, José Domingos Fernandes e Alberto Rio. Sentados temos os médios, Carlos Homem de Figueiredo, Cosme Damião e Artur José Pereira. Em baixo temos os defesas e guarda-redes, Henrique Costa, Augusto Paiva Simões e Francisco Belas. Na meia-final contra o Lisboa FC, jogou Francisco Cal em vez de Francisco Belas. Fonte: História do SLB 1904-1954 de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Fonte: Almanac "O Mundo" publicado em 1914.


Cumprem-se hoje 104 anos!

Quase perdida, quase anónima, esta bela fotografia mostra-nos uma das equipas de eleição do Sport Lisboa e Benfica. Recua à primeira década do século XX, ao ano de 1913.

E lá estão eles, exibindo as suas grandes bigodaças e olhares determinados! Uma fotografia esquecida de uma das mais brilhantes equipas lideradas por Cosme Damião, o maior de todos os Benfiquistas. Nesta equipa Cosme assumia o papel de médio centro, função de coordenador e distribuidor de jogo. Dentro e fora de campo.

Mas Cosme estava bem acompanhado, por:

o seguro guarda-redes Paiva Simões,
o sereno e seguro defesa Henrique Costa,
o potente defesa Francisco Belas,
o craque Artur José Pereira, o maior jogador Português até aparecer Vítor Silva,
o versátil defesa-médio Carlos Homem de Figueiredo,
o rápido extremo direito Florindo Serras de quem aqui falamos no texto anterior.
o talentoso e malogrado Álvaro Gaspar, também conhecido por Chacha,
o goleador Luís Viera (do meu conhecimento o 3º Português a jogar no estrangeiro)
o forte interior esquerdo José Domingos Fernandes,
o irrequieto extremo esquerdo Alberto Rio,

Uma equipa recheada de talento e de fortes personalidades. Uma equipa à Benfica!

Para além de recordarmos visualmente esses jogadores, revelando uma fotografia esquecida no tempo, vamos falar da conquista da taça Ruy da Cunha no distante ano de 1913.


A Taça Ruy da Cunha

Em Março de 1913, o Jornal "O Mundo" instituiu um torneio de futebol a disputar na sua semana desportiva entre alguns dos melhores clubes Lisboetas.


(http://i66.tinypic.com/34oa5qe.jpg)
A Taça Ruy da Cunha conquistada em 15 de Março de 1913. Fonte: Museu Cosme Damião.


A taça teve o nome – presumo que por homenagem - de Ruy Alves da Cunha, um nome prestigiado de um dos mais nobres e antigos clubes portugueses, o Real Ginásio Clube (ver texto -86- Um inesperado Glorioso. pág. 25). Nesse ano, aliás dois dias depois o Ginásio Clube Português completava 38 anos.


(http://i68.tinypic.com/6z8ohs.jpg)
O ginasta Ruy Alves da Cunha, figura de grande destaque no Real Ginásio Clube. Fonte: Tiro Civil; Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


(http://i65.tinypic.com/2m83adh.jpg)
Fonte: Sports Illustrados; Hemeroteca de Lisboa.


O Jornal "O Mundo" foi fundado em 1889. Tinha uma orientação Republicana e por isso na sua primeira década de existência contribuiu activamente para a causa Republicana e a queda da Monarquia. Em 1913 já se vivia no novo sistema e assim o Jornal adquiriu ainda maior influência.


(http://i66.tinypic.com/qn2n3n.jpg)
Redação do jornal "O Mundo" situado na Rua de São Roque. Fonte: AML.



Os Jogos

Os jogos foram todos disputados no Campo do Lumiar. As meias-finais foram disputadas em 10 de Março tendo o SLB ganho ao Lisboa FC por concludentes 6-0! Na outra meia final o CIF – Clube Internacional de Futebol foi surpreendentemente eliminado pelo Sport Clube Império ao perder por 1-0.

À época o CIF era o grande rival desportivo do SLB embora já nessa altura o nosso Clube fosse claramente mais popular. O SCP pouco contava pois apesar de seis anos ter aliciado oito jogadores e alguns dirigentes do Sport Lisboa - quase provocando a extinção do nosso Clube - tinha já voltado à sua original mediocridade competitiva. E foram justamente o CIF e o SCP que abriram esta competição numa pré-eliminatória vencida pelo CIF por 2-1.

Pobres viscondes que sete anos depois da sua fundação e apesar da força bruta do dinheiro continuavam a não ganhar nada. Bola! A incapacidade de recrutar e desenvolver talentos fez com que no ano seguinte tivessem de voltar a usar a força bruta do dinheiro para conseguirem ter alguma competitividade. E onde foram buscar qualidade? Ao Sport Lisboa e Benfica roubando de uma assentada Artur José Pereira (médio e melhor jogador nacional da altura), Paiva Simões (guarda-redes) e Boaventura Silva (médio). Foi assim em 1907, em 1914, e por aí adiante.

Assim, na final disputada em dia 15 de Março de 1913, defrontamos o SC Imperio por 2-1, resultado feito após prolongamento. O Sport Lisboa e Benfica conquistava a Taça Ruy Alves da Cunha. Apesar do jogo ter sido decidido em prolongamento, as crónicas da época falam num jogo de sentido único. Um jogo em que a nossa equipa atacou de forma intensa com o SC Império a defender e a contra-atacar como podia. Apesar de se baterem de forma valorosa, os amarelo e negros perderiam para os vermelhos. No final ganhou a melhor equipa.

Apesar de não dispor de uma fotografia do jogo de Março fica aqui uma imagem de um outro jogo entre o SL Benfica e o SC Império disputado no dia 25 de Dezembro de 1913.

(http://i67.tinypic.com/saz2qf.png)

E esta aqui colorida é relativa a um jogo no campo de Palhavã, no dia 2 de Novembro de 1913, em que o Benfiquista Alberto Rio se escapa a Robert Matos do SC Império. Robert Matos também viria a jogar com a camisola vermelha.


(http://2.bp.blogspot.com/-49czqL-kAXM/Ue2-zEGMg1I/AAAAAAAAJoQ/91KRwoih5R4/s1600/SCI+vs+SLB.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica.


(http://i64.tinypic.com/29cnd3t.jpg)
Os emblemas dos cinco Clubes que disputaram a Taça Ruy da Cunha: Sport Lisboa e Bemfica, Império Sport Club, Lisboa Football Club, Clube Internacional de Futebol e Sporting Club de Portugal. Não conheço o emblema do Império Sport Clube e por isso apresento o emblema do Império Lisboa Clube, designação que o Clube tomou depois da junção do Império Sport Clube com o Lisboa Football Club.


Resumindo os resultados da competição, temos:

(http://i63.tinypic.com/2chakur.jpg)
Resultados da competição de futebol da Semana Desportiva de "O Mundo".


O evento

O evento que decorreu no Campo do Lumiar contou com a ilustre presença do Presidente da Republica, o Dr. Manuel de Arriaga.


(http://i63.tinypic.com/2edt4rc.jpg)
Tribuna de honra da Semana Desportiva de "O Mundo" disputada em Março de 1913. Distinguem-se o presidente da Republica Manuel de Arriaga (barba branca) e o presidente do Conselho Afonso Costa. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


A ilustrar a diversidade e vitalidade do evento desportivo ficaram várias imagens.


(http://i66.tinypic.com/s3g51s.jpg)
Desfile dos atletas que participaram na Semana Desportiva de "O Mundo". Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


E algumas das diversas modalidades disputadas no evento:


(http://i64.tinypic.com/2cohmww.jpg)
Diversos aspectos da Semana Desportiva de "O Mundo" disputada de 9 a 16 de Março de 1913 no Lumiar. Em cima à esquerda – Manuel António Teixeira, vencedor da competição de motocicletas. Em cima à direita – desfile dos atletas do SCP. Em baixo- Competição de luta greco-romana. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Para a história deixo ainda o nome dos vencedores das diversas modalidades

(http://i66.tinypic.com/1fy5vn.jpg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Março de 2017, 20:34
-145-
Gourlades da linha.

Este vai ser um artigo longo. Daqueles pouco populares mas dos quais me orgulho particularmente. Daqueles artigos que têm informação que contribui de forma efectiva para um conhecimento mais profundo e mais estruturado de algumas figuras do SLB. Para lá da espuma dos dias. Hoje falaremos do universo familiar à volta de uma das figuras históricas maiores do nosso Clube.

Para aqueles que tiverem coragem: aqui vamos!

Igreja de Santo António do Estoril, antigo Convento dos recoletos de São Francisco

(http://i68.tinypic.com/1zc204n.jpg)

Numa nota prévia e estritamente pessoal, devo dizer que associo a esta Igreja algumas memórias de adolescência. Assim, foi com alguma satisfação que recentemente soube que este espaço está também ligado à família Gourlade. O Mundo é pequeno, o Benfica é enorme...


(http://i63.tinypic.com/11awv28.jpg)
Apontamentos para a História da Villa e Concelho de Cascaes. Obra de Pedro Lourenço de Seixas Borges Barruncho. Typographia Universal, Lisboa. Obra editada em 1873 ou seja um ano depois do nascimento de Manuel Gourlade.


Ou seja, por este texto percebe-se que este espaço foi propriedade de Manuel Joaquim Jorge. Sucede que este homem foi um dos bisavôs de Manuel Gourlade. PAra além disso Manuel Joaquim Jorge foi um grande negociante da cidade de Lisboa sendo considerado no seu tempo um homem abastado. A reflectir a sua importância social basta dizer que entre os convidados presentes no seu casamento com Maria Severina Paula de Almeida Laroche, celebrado na Ajuda em 1752, estava tão-somente, entre outras figuras de Estado, Sebastião José Carvalho e Melo, ou seja o Marques de Pombal.

Mais tarde a propriedade foi herdada pela sua neta Anna Thereza Jorge Gourlade, filha de Bernardo Augusto Gourlade Júnior e de Thereza Polycarpa Jorge, avôs paternos de Manuel Gourlade. Assim, em 1873, quando Manuel Gourlade tinha 1 ano de idade, esta propriedade pertencia a uma sua tia paterna. É bastante provável que durante a sua meninice, Manuel Gourlade tenha frequentado este espaço no Estoril.

O universo familiar paterno de Manuel Gourlade era aliás vasto, compreendendo os descendentes do casal Bernardo Augusto Gourlade (1799-1882) e Thereza Polycarpa Jorge Gourlade (1799-?). Este casal, unido pelo matrimónio na Igreja da Memória na Ajuda no dia 9-04-1821, teve pelo menos 8 filhos:


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O universo familiar paterno de Manuel Gourlade. António Maria Gourlade foi o pai de Manuel Gourlade.

Ou seja, Manuel Gourlade, filho de António Maria Gourlade, teve pelo menos 4 tios e 3 tias paternas.


A Igreja de Santo António do Estoril


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Vários tempos do Convento de São Francisco e Igreja de Santo António do Estoril. Fonte: Câmara Municipal de Cascais e Delcampe.


Nas proximidades do Convento dos Salesianos, junto à Av. Marginal, ergue-se a Igreja Matriz de Santo António do Estoril. A sua construção, com data de 1527, foi no entanto levada a cabo sobre uma pequena Ermita dedicada a S. Roque. Já a zona do adro e cruzeiro foram erigidos sobre uma pequena capela dedicada a Santo António, a qual havia sido encomendada por Leonor Fernandes, proprietária da área circundante de nome Casal do Estoril. Esta igreja sofreu ao longo dos tempos grandes destruições e recuperações, sendo de mencionar a reconstrução após o terramoto de 1755, em que ficou quase totalmente destruída. Posteriormente, em 1927, voltou a ser alvo de infortúnio, após demolidor incêndio. Felizmente salvaram-se os azulejos pombalinos que foram restaurados e repostos segundo configuração original. O projecto de reconstrução foi da autoria do Arquitecto Tertuliano Marques, enquanto que a execução dos frescos ficou a cargo de Carlos Bouvalot, tendo sido respeitadas as suas características, segundo a informação disponível de épocas anteriores. Fonte:  http://jf-cascaisestoril.pt/patrimonio (http://jf-cascaisestoril.pt/patrimonio)

Uma nota curiosa é que este Arquitecto Tertuliano (Lacerda) Marques (sublinhado) foi um dos miúdos que participou em alguns dos treinos do Sport Lisboa nas Terras do Desembargador às Salésias nos anos de 1904-1905. O Mundo é pequeno, o Benfica é enorme.


Da família Gourlade


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Genealogia resumida da família de Manuel Gourlade.


A família Gourlade terá vindo para Portugal ainda no século XVIII, sendo originária de França. A consciência familiar desse facto explica que dois séculos mais tarde Manuel Gourlade se apresentasse por vezes nos treinos em Belém com uma faixa a tiracolo com as três cores da bandeira Francesa. Temos essa pitoresca descrição na entrevista que Cosme Damião deu ao jornal "A Bola" em 1945.


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Excerto da entrevista ao jornal "A Bola" dada por Cosme Damião em 1945. Fonte: Em Defesa do Benfica.


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Manuel Gourlade destacado numa equipa talvez da segunda categoria do Sport Lisboa, alinhada nas Terras do Desembargador às Salésias antes de 1910. Lá atrás nota-se a silhueta do Palácio Nacional da Ajuda. Do outro lado, virada bem de frente para Manuel Gourlade (guarda-redes, vestido de branco) estava a Igreja da Memória à Ajuda onde ele foi baptizado no dia 31 de Outubro de 1872. Fonte: AML.


Também Daniel dos Santos Brito, seu colega, amigo e igualmente fundador do Sport Lisboa, nos recordou a figura e as acções inesquecíveis de Gourlade.


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Fonte: Ecos de Belém


De Manuel Gourlade (1872-1944) relembro que em tempos foi localizado o respectivo registo paroquial de baptismo (ver texto -27- A primeira Águia. pág.6), divulgando-se assim pela primeira vez as datas do seu nascimento e óbito. As datas querem-se rigorosas porque respeitam a memória dos homens e porque adicionam elementos para a melhor compreensão do seu tempo e acção. No caso de Gourlade sabia-se que tinha morrido em Campolide no Asilo D'Espie Miranda, mas não se sabia exactamente quando.

Sabia-se igualmente que seria membro de uma família abastada e que terá tido uma educação privilegiada no Colégio Nobre de Carvalho, um dos mais prestigiados estabelecimentos de ensino privado daquele tempo (Fonte: Almanaque do Benfica). Os dados que agora se reúnem confirmam essa ideia.

E assim, partindo dessa Igreja de Santo António, falaremos de forma resumida, dos Gourlades, da sua genealogia e de alguma da sua notoriedade social. No final – espero - perceberemos um pouco melhor quem era Manuel Gourlade; o homem no seu contexto familiar.


Da história da família Gourlade


Recuando no tempo, sabemos que a família Gourlade foi nobilitada por D. Maria I na pessoa de Ângelo Diogo Gourlade - feito Cavaleiro Fidalgo da Casa Real (Torre do Tombo, Registo geral de Mercês, D. Maria I, Lv. 10, Fl. 130; Fonte: http://geneall.net/pt/forum/120406/familia-gourlade/ (http://geneall.net/pt/forum/120406/familia-gourlade/)). Sabemos também que em 1788 este Ângelo Diogo Gourlade já vivia por Alcolena, ou seja na zona do Bairro do Restelo (fonte: Almanach para o ano 1788, Academia Real das Sciencias).

Mais tarde, o seu filho Bernardo João da Matta Gourlade foi militar de carreira tendo estado ao serviço logo no início do século XIX. Muito provavelmente ainda terá combatido contra os exércitos invasores... Franceses!


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Dois excertos de livros que demonstram a carreira militarem de Bernardo João da Mata Gourlade, bisavô de Manuel Gourlade. Fonte: Colecção oficial de legislação portuguesa de 1866 - Página 308. Compilação das Ordens do dia: do Quartel general do Exercito Portuguez na Campanha de 1813. Google books


Já no conturbado período que se seguiu, em plenas guerras entre liberais e absolutistas, e para lá da sua vida de militar – uma vez mais presumo – entre as tropas liberais, Bernardo Augusto da Matta Gourlade veio a ter uma intervenção social com tendências progressistas e democráticas. De facto, o seu nome consta na lista dos subscritores da Constituição Política da Monarquia Portuguesa, aprovada em 23 de Setembro de 1822. Deve notar-se que essa Constituição de 1822 foi a primeira lei fundamental portuguesa, sendo o mais antigo texto constitucional português e, tecnicamente, um dos mais bem elaborados. Marcou uma tentativa de pôr fim ao absolutismo e inaugurar em Portugal uma monarquia constitucional. (Joaquim de Carvalho e wikipedia).


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Constituição de 1822. Bernardo João da Mata Gourlade, bisavô de Manuel Gourlade foi um dos seus subscritores. Fonte: Google Books


Ao longo de dois séculos a família Gourlade teve diversos membros que tiveram quer cargos militares quer cargos de funcionários públicos (em particular amanuenses ou seja copistas de textos ou documentos escritos à mão). Os Gourlade tinham alguma relevância social e como vimos, pelo menos alguns dos seus ramos eram nobilitados e tinham posses, sendo por vezes mencionados nas colunas sociais dos jornais da época.


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Notícias das colunas sociais relativas à família Gourlade. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


E faziam notícia dos seus óbitos nesses mesmos jornais, hábito geralmente endereçado a classes socialmente mais favorecidas.


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Alguns exemplos de obituários da família Gourlade que saíram em jornais da época. Nota-se um nome frequente: Manuel Joaquim Gourlade, que era tio-paterno e também padrinho de baptismo do "nosso" Manuel Gourlade. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Dos espaços em que viveu Manuel Gourlade

Manuel Gourlade era filho de António Maria Gourlade e da Dona Ana Maria da Glória Gourlade. Os seus pais casaram em 8-12-1869. Manuel Gourlade terá sido o seu único filho, nascido em casa, na Rua da Paz nº 118, rua do Bairro e freguesia da Ajuda. Nasceu pelas 11h00 do dia 25-10-1872 e foi baptizado na Igreja da Memória à Ajuda, em 31-10-1872, ou seja apenas seis dias depois de ter nascido! O seu pai casou já quarentão, sendo que a sua mãe era viúva de um tal José Paulino.


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Igreja da Memória à Ajuda. Fonte: AML.


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Localização e aspectos antigos e actuais da Rua da Paz à Ajuda, onde numa dessas casas nasceu Manuel Gourlade. Fonte: AML


A Ajuda era um bairro popular e populoso, tendo sido nesse espaços que o jovem Gourlade cresceu e se fez homem.


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Alguns dos locais na Ajuda frequentados por Manuel Gourlade durante a sua vida.


Seria depois na Rua de Belém que Gourlade faria grande parte do seu percurso profissional como contabilista da Pharmacia Franco. Mais tarde seria ainda intérprete no Porto de Lisboa, aproveitando o facto, raro na época, de dominar pelo menos as línguas Francesa e Inglesa.


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Exemplo da contabilidade feita por Manuel Gourlade nos primeiros anos do nosso Clube. Fonte: SB.


Ainda sabemos pouco dos últimos anos de vida de Manuel Gourlade. Recentemente, Alberto Miguéns deu-nos a conhecer um período particularmente triste, talvez pela década de 20, em que a decadência pessoal e profissional de Manuel Gourlade quase o levou a cometer suicídio. Seria um anjo, na forma de Daniel Santos Brito, seu antigo colega da Farmácia Franco, que o salvaria de um momento de fraqueza, dessa tentação de terminar a vida junto a uma margem do Rio Tejo. Solidão, esquecimento, desilusões? Não o sabemos.

Ainda assim não seria um acontecimento inédito na família Gourlade pois sabe-se que pelo menos o seu primo Pedro Augusto Guimarães Gourlade cometeu suicídio em 1910. No caso de Manuel Gourlade sabemos que Daniel Santos Brito evitou esse desenlace trágico em condições quase fortuitas. E foram as mãos amigas de Daniel Santos Brito que o conduziram à Quinta da Mineira, ao Asilo D'Espie Miranda, em Campolide. Foi ali, com uma vista que dominava o vale de Alcântara onde tantas futeboladas tinham sido feitas, que Manuel Gourlade, a Primeira Águia, espírito generoso e voluntarista, pioneiro imortal do SLB, viveu os seus últimos dias neste Mundo.

 
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Dois tempos de evolução da Quinta da Mineira onde ainda hoje se situa o Asilo D'Espie Miranda. O último ninho da Primeira Águia. Fonte: AML.


Como terão sido esses dias na Quinta da Mineira? Terão sido entre 10 a 20 anos. Muito tempo do qual sabemos pouco ou nada. Sabemos que terá recebido visitas de Daniel Santos Brito, que felizmente teve uma vida longa. Caso tenha recebido informações do exterior então Gourlade terá tido a satisfação de saber do crescimento imenso que teve aquele pequeno Clube que ele ajudou a nascer e a quem deu tanta dedicação, saber, esforço e muitas das suas economias pessoais. Certamente uma satisfação no ocaso da sua vida. Talvez um dia seja possível saber mais. O caminho faz-se caminhando e no caso de Gourlade temos vindo a fazer um caminho interessante.

Este texto é mais uma dessas minhas tentativas e mais uma das minhas homenagens pessoais a um homem a quem o Sport Lisboa e Benfica tanto deve.


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Manuel Gourlade (1872-1944)

Paz à sua Alma

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 21 de Março de 2017, 19:42
É uma figura muito interessante. Curiosa a forma como Cosme Damião descreve Goularde, devia ser cá uma personagem  ;D

Nos últimos anos tem-se afunilado muito a fundação do Benfica na figura de Cosme Damião...por um lado, será justo por tudo o que Cosme representou para o Benfica, mas por outro, não estará a ser injusto para todos os outros que ajudaram a fundar o clube? Não será mais correcto afirmar que o Benfica foi fundado por um grupo de 24 pessoas e não por uma pessoa só?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Março de 2017, 19:57
Certamente. Não se pode transigir nesse facto histórico. O acto fundador do nosso Clube ocorreu em 28-02-1904. Temos uma lista manuscrita por Cosme com 23 nomes. São 24 fundadores.

Mas para lá desse acto fundador houve um processo, uma evolução que movimentou muitos mais nomes. Alguns desses homens que não estiveram na Farmácia Franco no último dia de Fevereiro de 1904 terão sido bastante importantes. Estamos provavelmente a falar de algumas dezenas de homens cujos nomes a história mais correntemente divulgada não guardou. Um dia falarei de alguns deles. José da Cruz Viegas foi talvez um dos mais importantes. Foi o homem que definiu as cores e provavelmente foi decisivo para o nome inicial do nosso Clube. Dele já por aqui se falou. De outros um dia destes haverá oportunidade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RED_1904 em 23 de Março de 2017, 17:06
Citação de: RedVC em 21 de Março de 2017, 19:57
Certamente. Não se pode transigir nesse facto histórico. O acto fundador do nosso Clube ocorreu em 28-02-1904. Temos uma lista manuscrita por Cosme com 23 nomes. São 24 fundadores.

Mas para lá desse acto fundador houve um processo, uma evolução que movimentou muitos mais nomes. Alguns desses homens que não estiveram na Farmácia Franco no último dia de Fevereiro de 1904 terão sido bastante importantes. Estamos provavelmente a falar de algumas dezenas de homens cujos nomes a história mais correntemente divulgada não guardou. Um dia falarei de alguns deles. José da Cruz Viegas foi talvez um dos mais importantes. Foi o homem que definiu as cores e provavelmente foi decisivo para o nome inicial do nosso Clube. Dele já por aqui se falou. De outros um dia destes haverá oportunidade.

Outro caso é Félix Bermudes.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Março de 2017, 19:13
Citação de: RED_1904 em 23 de Março de 2017, 17:06
Citação de: RedVC em 21 de Março de 2017, 19:57
Certamente. Não se pode transigir nesse facto histórico. O acto fundador do nosso Clube ocorreu em 28-02-1904. Temos uma lista manuscrita por Cosme com 23 nomes. São 24 fundadores.

Mas para lá desse acto fundador houve um processo, uma evolução que movimentou muitos mais nomes. Alguns desses homens que não estiveram na Farmácia Franco no último dia de Fevereiro de 1904 terão sido bastante importantes. Estamos provavelmente a falar de algumas dezenas de homens cujos nomes a história mais correntemente divulgada não guardou. Um dia falarei de alguns deles. José da Cruz Viegas foi talvez um dos mais importantes. Foi o homem que definiu as cores e provavelmente foi decisivo para o nome inicial do nosso Clube. Dele já por aqui se falou. De outros um dia destes haverá oportunidade.

Outro caso é Félix Bermudes.

Certamente.

Na minha avaliação existem três homens que coloco acima de todos os outros pela relevante contribuição - enquanto dirigentes (leia-se pensadores e executores) - que deram no período mais crítico do nosso Clube. Como se diz num filme famoso "O princípio é um tempo delicado".

Foram eles, por ordem cronológica: Manuel Gourlade, Cosme Damião e Félix Bermudes. Eu coloco-os acima de todos tal como coloco três futebolistas acima de todos os outros que vestiram a nossa camisola nos 113 anos da nossa brilhante História: Coluna, Eusébio e Chalana.

É uma opinião pessoal mas estou seguro da sua justeza.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 24 de Março de 2017, 18:54
No Chalana discordamos. Eu gostava que tivesse sido, mas ou tínhamos o Chalana ou o 3º anel concluído e esse hiato dele no Benfica tirou-lhe essa preponderância, porque quando regressou nunca voltou a ser o Chalana de antigamente.

Para mim esse terceiro é o Nené.

Quanto ao facto de estarmos actualmente a centrar os méritos da fundação num único Homem, têm ambos razão. Felizmente a nossa História é colectiva e diversa, com muitas pessoas importantes. Esse "culto da personalidade" actual - inclusivé o cântico diz "Fundado por Cosme Damião" -  é minimizar a nossa História e esse aspecto colectivo que nos distancia, por exemplo, do clube do avôzinho. Mas estou como o Miguéns, o Cosme é o pai do benfiquismo e devemos-lhe imenso quando quase desaparecíamos do mapa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Março de 2017, 19:36
Citação de: Ned Kelly em 24 de Março de 2017, 18:54
No Chalana discordamos. Eu gostava que tivesse sido, mas ou tínhamos o Chalana ou o 3º anel concluído e esse hiato dele no Benfica tirou-lhe essa preponderância, porque quando regressou nunca voltou a ser o Chalana de antigamente.

Para mim esse terceiro é o Nené.

Quanto ao facto de estarmos actualmente a centrar os méritos da fundação num único Homem, têm ambos razão. Felizmente a nossa História é colectiva e diversa, com muitas pessoas importantes. Esse "culto da personalidade" actual - inclusivé o cântico diz "Fundado por Cosme Damião" -  é minimizar a nossa História e esse aspecto colectivo que nos distancia, por exemplo, do clube do avôzinho. Mas estou como o Miguéns, o Cosme é o pai do benfiquismo e devemos-lhe imenso quando quase desaparecíamos do mapa.

Que seja Néné que está muito bem escolhido. Eu vi jogar os dois e a minha preferência ia para o génio puro de Chalana. É claro que eu adorava Néné que para mim já era entradote e que me ria quando ouvia as bocas que lhe davam na bancada. Mas no fundo todos o adoravam. Néné é um colosso. E ao que sei uma das melhores pessoas que se pode conhecer.

Aliás eu não posso deixar de sentir uma sorte descomunal por ter visto jogar esta equipa Bento, Veloso(Pietra), Bastos Lopes, Humberto, Álvaro, Carlos Manuel, Shéu, Alves, Chalana (Diamantino), Néné, Filipovic (Manniche). Uma constelação. Uma benção. Saudades imensas.

Quanto a Cosme, concordo por inteiro. E só para revelar sentido de oportunidade daqui a uns minutos vou colocar aqui um belo naco. Vou falar sobre o jovem Cosme e a sua família. Vai ter material interessante. Vai-se chamar "Para lá da Lenda". Estou a polir.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Março de 2017, 20:51
-146-
Cosme, para lá da Lenda.

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Cosme Damião.

Um dos 24 fundadores do nosso Clube.
A figura superlativa do nosso Clube no período 1907-1926.


Hoje vamos para lá da Lenda. Vamos falar do contexto familiar do jovem Cosme Damião. Do pouco que se sabe e expor o que os documentos nos permitem saber como uma tragédia familiar moldou a vida de Cosme Damião.



Da tragédia se faz Luz


Uma hora da manhã do dia onze de Junho de 1895. Na sua casa da Travessa do Prior, freguesia de São João Baptista do Lumiar, morria Cosme Damião, filho de Cosme Damião, casado com Rosa Marques e pai de cinco filhos. Na dor e na tragédia familiar desabava o mundo da pobre viúva e dos seus cinco filhos.


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Registo Paroquial de óbito de Cosme Damião (pai). Faleceu em 11 de Junho de 1895.


Com apenas 32 anos Cosme (pai) morria na flor da idade. Morreu de uma pneumonia, doença que ceifava muitas vidas naqueles tempos duros, de fraca nutrição e de escassa e precária assistência médica.

Cosme (pai) era carroceiro de profissão, natural do Lumiar tal como o seu pai, Cosme Damião (avô), ferrador de profissão. Como era comum nesse tempo, as mulheres da família eram domésticas. Eram famílias modestas e cujos parcos recursos dependiam do ganha-pão do chefe de família. A morte do chefe de família foi uma terrível sentença para a viúva e para os seis filhos.


(http://i66.tinypic.com/1589jj6.jpg)
A família de Cosme Damião.


Contrariamente ao que se pensava, Cosme não era o filho mais velho do casal Cosme e Rosa Maria. A filha mais velha do casal era uma menina chamada Rosa e só depois vinha Cosme, 1 ano mais novo. Ou seja, a primeira filha do casal recebeu o nome da mãe e o primeiro filho do casal recebeu o nome do pai. Mas existiam mais três filhos.

Quando o seu pai faleceu, Rosa tinha feito 11 anos no mês anterior, Cosme tinha quase 10 anos, Joaquim tinha 6 anos, Maria tinha quase 3 anos e Jesuína, a mais nova tinha apenas 4 meses. Maria, nascida em 1887 tinha falecido logo no ano seguinte.

A mãe Rosa, incapaz de sustentar os seus seis filhos, viu-se forçada a tomar decisões. Terá optado por destinar a filha mais velha às tarefas domésticas e à ajuda na criação dos irmãos mais novos, algo comum nesses tempos. Já no caso de Cosme, a sua mãe tentou que ingressasse como órfão na Real Casa Pia. Era a melhor opção não só para aliviar as finanças de casa como também para permitir que tivesse uma educação que lhe possibilitasse ter um futuro melhor. Sendo analfabeta, Rosa Maria Marques pediu ao Padre da sua paróquia para que este lhe fizesse um requerimento ao Provedor da Casa Pia. Com essa decisão Rosa mudou para sempre o mundo do seu filho Cosme, da sua família e bem vistas as coisas mudou também o nosso mundo.


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Pedido de Rosa Maria Marques para o ingresso de seu filho Cosme Damião na Real Casa Pia. Documento formulado pelo pároco do Lumiar e datado de 30-04-1896.


Não sabemos que tipo de ajudas teve Rosa Maria Marques para daí em diante criar os restantes quatro filhos. Não sabemos sequer se os conseguiu criar a todos junto de si. Terá Joaquim Damião também ingressado na Casa Pia? Também não sabemos com que periodicidade o jovem Cosme pôde sair da Casa Pia para visitar a sua mãe e os seus irmãos.

Na Casa Pia, o menino Cosme fez-se homem, concluiu o Curso Comercial tornando-se por via disso um funcionário superior na administração da Casa de Palmela. Mas mais importante, sabemos que Cosme Damião (filho), graças às virtudes da forte componente desportiva da educação proporcionada pela Casa Pia, tornou-se um desportista nobre, disciplinado, generoso, formador e inovador. Tornou-se o nosso Cosme. O maior de todos nós.


(http://i68.tinypic.com/aa1hc.jpg)
Genealogia resumida da família de Cosme Damião.


A origem do nome Cosme

Cosme Damião (filho), filho de Cosme Damião (pai), filho de Cosme Damião (avô), filho de Raimundo Fernandes Gonçalves e de Mariana Thereza!

Hummmm, de onde terá vindo o nome Cosme e apelido Damião? Do nada?! Como é possível que em 1803, quando o avô de Cosme nasceu, não tenha recebido o apelido de seu pai ou de sua mãe?!


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Certidão de baptismo de Cosme (avô).
Nascido em 27-09-1803, baptizado em 22-10-1803 na Igreja de São João Baptista do Lumiar.


Na verdade nas certidões mais antigas o avô de Cosme aparece-nos como Cosme Damião Fernandes. Mas o apelido acabou por cair tornando-se apenas Cosme Damião. E assim seria para o avô, para o filho e para neto. Uma linha masculina de três homens todos chamados Cosme Damião!


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As assinaturas de Cosme Damião (pai) e Cosme Damião (avô) lada a lado no registo de casamento do primeiro em 15 de Maio de 1881.


(http://i66.tinypic.com/oa4ykx.jpg)
Certidão de baptismo de Cosme (pai).
Nascido em 27-09-1862, baptizado em 24-02-1863 na Igreja de São João Baptista do Lumiar.


(http://i66.tinypic.com/x4291y.jpg)
Certidão de baptismo de Cosme (filho).
Nascido em 2-11-1885, baptizado em 27-12-1803 na Igreja de São João Baptista do Lumiar.


Mas porquê Cosme Damião?

A resposta está no registo de baptismo de Cosme Damião (avô). Olhemos então para a sua data de nascimento: 27 de Setembro de 1803. Cosme Damião, filho de Raimundo Fernandes (que também aparece como Raimundo Fernando e Raimundo Fernanddo Gonçalves) nasceu no dia 27 de Setembro de 1803.

Ora para as religiões Afro-Brasileiras o dia 27 de Setembro é considerado Dia de São Cosme e Damião! Curiosamente a religião Católica considera o dia anterior, ou seja 26 de Setembro como o Dia de São Cosme e Damião. A data de nascimento de Cosme (avô) é a origem dos nomes de uma linhagem de três homens. Assim, é aos pais de Cosme Damião (avô) (Raimundo Fernandes Gonçalves ou à sua esposa Mariana Thereza,) ou ao seu padrinho (Manuel Pereira da Costa) que devemos o nome Cosme Damião! O nosso Cosme Damião, fundador do Sport Lisboa e Benfica poderia ter sido um Manuel Fernandes desta vida...



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Tabela dos dias dos Santos publicada na Revista da Semana em 1910. Fonte: BND



Iconografia e história dos mártires Cosme e Damião


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Alguma da muito diversificada iconografia dos mártires da Igreja Cosme e Damião. Fonte: Google.


Mais sobre a iconografia dos Santos Cosme e Damião pode ser encontrada aqui: http://deniseludwig.blogspot.pt/2013/09/pinturas-dos-santos-cosme-e-damiao.html (http://deniseludwig.blogspot.pt/2013/09/pinturas-dos-santos-cosme-e-damiao.html)


(http://i63.tinypic.com/2zfk1l0.jpg)


Segundo a tradição Católica, Cosme e Damião eram irmãos gémeos, nascidos na Egeia (agora Ayas, no Golfo do İskenderun, actual Turquia). Eram filhos de um nobre pagão que faleceu quando os filhos ainda eram crianças. Cosme e Damião e os seus outros três irmãos (Antino, Leôncio, Euprépio), foram todos sido criados na fé Cristã pela sua mãe Teodora. Os seus verdadeiros nomes terão sido Acta e Passio.

Os gémeos Cosme e Damião eram médicos que curavam os doentes não apenas com o seu saber médico mas também através dos milagres que advinham da sua Fé e das suas orações. A tradição refere também que tratavam de igual forma os animais. A sua santidade é atribuída não apenas ao facto de curarem os doentes mas também de exercerem os seus actos médicos sem cobrar dinheiro por isso.

Durante as implacáveis perseguições aos Católicos no reinado do imperador romano Diocleciano, o prefeito Lísias mandou prender os gémeos Cosme e Damião. Apesar de lhes ter sido exigida a retractação, os gémeos recusaram. E continuaram a recusar mesmo sobre tortura. Diz a tradição que nenhum ferimento lhes foi imposto apesar das torturas impostas por água, fogo, ar. Mesmo na cruz onde foram colocados para morrer, mantiveram-se incorruptos. A morte viria apenas por decapitação por espada no dia 27 Setembro, provavelmente entre os anos de 287 e 303. Juntamente com os gémeos foram também martirizados os seus três restantes irmãos.


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"São Cosme e Damião crucificados e apedrejados". Um extraordinário quadro (Têmpera sobre madeira, 38x46 cm) de Fra Angélico (1438-1440). Alte Pinakothek, Munique, Alemanha.


Pouco depois, os restos mortais dos mártires enterrados na cidade de Ciro, na Síria começaram a ser associados a curas milagrosas. Dois séculos depois, a cura uma doença perigosa do imperador Justiniano I (527-565) foi atribuída à sua intercessão. O culto cresceu.

Cosme e Damião são considerados os patronos dos médicos, cirurgiões e farmacêuticos, sendo por vezes representados por emblemas médicos. No Portugal do século XIX, estes dois mártires eram ainda os padroeiros de confrarias médicas, sendo que para conseguir o título de Doutor em Coimbra, era necessário pagar emolumentos à Irmandade de S. Cosme. A tradição também lhe atribuiu a prática de distribuírem doces às crianças, tradição que se mantém nos nossos dias em algumas localidades Afro-Americanas. Fonte: Wikipedia


Existem diversas orações a estes Santos. Como esta, por exemplo:

São Cosme e São Damião, que por amor a Deus e ao próximo vos dedicastes à cura do corpo e da alma de vossos semelhantes, abençoai os médicos e farmacêuticos, medicai o meu corpo na doença e fortalecei a minha alma contra a superstição e todas as práticas do mal.

Que vossa inocência e simplicidade acompanhem e protejam todas as nossas crianças.

Que a alegria da consciência tranquila, que sempre vos acompanhou, repouse também em meu coração.

Que a vossa protecção, São Cosme e São Damião, conserve meu coração simples e sincero, para que sirvam também para mim as palavras de Jesus: "Deixai vir a mim os pequeninos, pois deles é o Reino dos Céus".

São Cosme e São Damião, rogai por nós.

Ou então estes bonitos versos que são cantados ao ritmo dolente de violão por crianças por moças e rapazes em determinadas regiões do Brasil, que de porta vão pedir oferendas em nome dos Santos

(http://i65.tinypic.com/dxiezb.png)



A Igreja de São João Baptista do Lumiar

Não estaria completo este texto sem que se falasse de alguns locais do Lumiar onde o pequeno Cosme viveu os seus primeiros 10 anos de vida.

Em primeiro lugar Igreja de São João Baptista do Lumiar, o templo onde foram baptizados os três Cosme Damião. Instituída no século XIII, esta Igreja foi não apenas local de culto mas também local central das vivências das gentes dessa paróquia. Desde local de reunião até feira de gado, de tudo um pouco se passou no adro da Igreja.


(http://i66.tinypic.com/156bz3n.jpg)

E numa nota pessoal não posso deixar de notar que quase sempre que me dirijo para o nosso Estádio passo por esta Igreja.



Cronologia da Igreja (parcial)

● 1266 - criação da freguesia do Lumiar;

● 1276 - instituição da Igreja Paroquial de São João Baptista e São Mateus pelo Bispo de Lisboa, D. Mateus (1259-1282), à qual foram anexados os lugares vizinhos de Telheiras, Ameixoeira e Charneca; a primitiva igreja do Lumiar (de uma só nave e com invocação de São João Baptista e do Apóstolo São Mateus), foi edificada em terreno da propriedade que D. Afonso III possuía nesta zona;

● 1283 - criação de uma feira de gado no Largo da Igreja de São João Baptista do Lumiar que passou a coincidir com a data da celebração religiosa dedicada a Santa Brígida; ...

● 1885 - com uma nova reforma administrativa a freguesia de São João Baptista foi incorporada na cidade de Lisboa;

● 1932 - o dia 7 Fevereiro - incêndio causador de significativos estragos no monumento, incluindo um valioso revestimento azulejar quinhentista e o guarda-vento; na reedificação, orientada pelo arquitecto Tertuliano Marques, foram aproveitadas as estruturas não danificadas e reutilizados alguns materiais; ...

● 1997 - classificação do Conjunto do Paço do Lumiar.


A cronologia completa (bastante mais longa) desta Igreja pode ser lida aqui: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5063 (http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5063)


Depois, algumas imagens a Travessa do Alqueidão e do Prior, locais onde morou a família de Cosme.
 
(http://i66.tinypic.com/ru61bo.jpg)


E pronto.
Siga a lenda.

(http://i67.tinypic.com/zoeznl.jpg)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 27 de Março de 2017, 17:08
Eh pá, muito bom mesmo!

"O nosso Cosme Damião, fundador do Sport Lisboa e Benfica poderia ter sido um Manuel Fernandes desta vida... " Ah ah ah. Sim, podería ter sido, tinha tudo para correr mal na vida e acabou por lhe correr bem. Até no clube que ajudou a fundar, refundar, crescer e difundir.

Agora que está explicada cabalmente a origem do nome Cosme Damião, falta explicar porque deu o Benfica tempo de antena a quem nos chamou o nosso Cosme de... Júlio.  :confused:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Março de 2017, 20:54
Citação de: Ned Kelly em 27 de Março de 2017, 17:08
Eh pá, muito bom mesmo!

"O nosso Cosme Damião, fundador do Sport Lisboa e Benfica poderia ter sido um Manuel Fernandes desta vida... " Ah ah ah. Sim, podería ter sido, tinha tudo para correr mal na vida e acabou por lhe correr bem. Até no clube que ajudou a fundar, refundar, crescer e difundir.

Agora que está explicada cabalmente a origem do nome Cosme Damião, falta explicar porque deu o Benfica tempo de antena a quem nos chamou o nosso Cosme de... Júlio.  :confused:


Muito bem lembrado Ned  O0


Se a minha profissão fosse ser historiador,
Se tivesse tido a honra de trabalhar no Sport Lisboa e Benfica,
Se tivesse inventado um nome sem qualquer suporte documental,
Se nunca tivesse explicado porque o fiz,
Se nunca tivesse assumido porque o fiz,
Se nunca tivesse pedido desculpa pelo que fiz,
Se nunca tivesse pedido desculpa por desrespeitar a memória de Cosme Damião,

Eu morria de vergonha.

Mas isso sou eu,
Biólogo de profissão,
Homem de Ciência habituado a provar o que digo,
Profissional habituado à revisão crítica dos meus pares,
Benfiquista de nascença e de coração.

Isso sou eu. Os outros que reflictam no que fizeram e no que são.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 31 de Março de 2017, 09:57
alguem me arranja fotos de jogos ou da equipa em equipamentos brancos que foram tirados entre 1955 e 1965, sff? RedVc ou Rodolfo?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Theroux em 31 de Março de 2017, 12:39
https://www.youtube.com/watch?v=v98DuwVw7vs&feature=youtu.be&t=2921

Ele chama-se Nené Leung.

(http://i64.tinypic.com/67jpm8.png)
2014
Spoiler
http://www.smh.com.au/world/hong-kong-protesters-weary-but-defiant-as-ultimatum-passes-without-incident-20141006-10qzi5.html
[fechar]

Diz que hoje tem 30 anos, mas o Nené esteve com o Benfica em Hong Kong em 1970, portanto o Sr. Leung teria 10 anos. Coloco aqui caso alguém tenha conhecimento de mais viagens a Hong Kong.

Mas qual é a probabilidade de existir mais que um "Nene Leung"?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 31 de Março de 2017, 20:51
Citação de: alfredo em 31 de Março de 2017, 09:57
alguem me arranja fotos de jogos ou da equipa em equipamentos brancos que foram tirados entre 1955 e 1965, sff? RedVc ou Rodolfo?

Tenho pouca coisa e algumas até pode nem ser desse período. Aqui fica:

(http://i66.tinypic.com/4khag4.png)

(http://i64.tinypic.com/23roi7c.jpg)

(http://i67.tinypic.com/mhvkub.jpg)

(http://i66.tinypic.com/rm5fzc.jpg)

(http://i64.tinypic.com/1zoupuw.jpg)





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RED_1904 em 31 de Março de 2017, 21:27
(http://4.bp.blogspot.com/_UpFEwsCEPnE/Sws-2-27yuI/AAAAAAAAAEI/X9-YVqfxbSc/s1600/SLB1968.jpg)

(http://media.gettyimages.com/photos/sport-football-pic-29th-may-1968-european-cup-final-at-wembley-4-v-picture-id78955619)

(https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/f8/f1/45/f8f1453c6774e4be7bf01063ec6f2d89.jpg)

(http://i4.manchestereveningnews.co.uk/incoming/article7187089.ece/ALTERNATES/s810/GL377789.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 31 de Março de 2017, 23:36
Citação de: RedVC em 31 de Março de 2017, 20:51
Citação de: alfredo em 31 de Março de 2017, 09:57
alguem me arranja fotos de jogos ou da equipa em equipamentos brancos que foram tirados entre 1955 e 1965, sff? RedVc ou Rodolfo?

Tenho pouca coisa e algumas até pode nem ser desse período. Aqui fica:

(http://i66.tinypic.com/4khag4.png)

(http://i64.tinypic.com/23roi7c.jpg)

(http://i67.tinypic.com/mhvkub.jpg)

(http://i66.tinypic.com/rm5fzc.jpg)

(http://i64.tinypic.com/1zoupuw.jpg)







Obrigado redvc.
A primeira é de 1962/63, as duas seguintes dos fins dos anos 50 e as outras duas à volta de 1967.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Abril de 2017, 16:40
-147-
Capitães Latinos (Parte I)


(http://i63.tinypic.com/24xqpw7.jpg)
Um dia para a História do SLB. Capitães Latinos: Jacinto Marques e Jean Swiatek, capitaãs do Sport Lisboa e Benfica e do Girondins des Bordeaux. Fonte: http://scapulaire.com/365/wp-content/uploads/2013/03/Swiatek-Coupe-latine-Benfica.jpg (http://scapulaire.com/365/wp-content/uploads/2013/03/Swiatek-Coupe-latine-Benfica.jpg)


Sobre o olhar do árbitro Italiano Bertoglio, os capitães Jacinto Marques (SLB) e Jean Swiatek (Girondins de Bordeaux) cumprimentam-se antecedendo um intenso jogo. Em disputa estava a Taça Latina de 1950. Seria preciso não uma mas duas finais. Uma longa, intensa e nobre luta, sob o maravilhoso palco do Estádio Nacional. Com os prolongamentos, atingiram-se uns espantosos e quase desumanos 226 minutos para se encontrar um vencedor. Venceria o Sport Lisboa e Benfica! Desde esse tempo o SLB passou a ser o único Clube Português a vencer a Taça Latina.


(http://i65.tinypic.com/t4z408.jpg)
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(http://i68.tinypic.com/21j0z0w.jpg)


Tudo esteve por um fio em ambos os jogos. No primeiro jogo muitos espectadores já tinham saído do Estádio tendo de regressar depois de a 10 segundos do fim o pequeno Arsénio ter marcado o golo que empatava o encontro. O pequeno grande Arsénio, filho do Barreiro e conhecido pelos seus colegas como uma enciclopédia ambulante, marcou o golo mais importante da sua carreira. Tudo se decidiria no prolongamento.

Mas o prolongamento regulamentar não trouxe mais mudanças de marcador. Nessa época não estavam previstos os pontapés da marca de grande penalidade e por isso decidiu-se continuar até à marcação de um golo. Um golo dourado. Um golo de morte. Quem o marcaria?

E assim se jogou até ao minuto 146 do jogo em que o imortal Julinho na sequência de um canto marcou um golo pouco ortodoxo. De certa forma os jogadores de ambas as equipas acabaram por receber o apito final com um profundo suspiro de alívio. Vários jogadores colapsam um após o outro no relvado verde do Estádio Nacional. Por exemplo, Corona foi levado desmaiado para só acordar nos balneários debaixo do chuveiro. Jacinto Marques jogou uma boa parte do segundo jogo com um punho partido. O cansaço era geral mas a felicidade foi só para os Benfiquistas. Para os Franceses foi a desilusão e resignação.

Ambas as equipas mereciam aquela taça mas ela seria do Benfica. Num Estádio de linhas belas, clássicas, onde o jogo foi nobre e o esforço quase desumano, vencia o Benfica mas honra foi devida aos combatentes de ambos os lados. Glória aos vencedores. Respeito aos vencidos! Diria Ted Smith, o treinador Inglês do Benfica "Em 20 anos de carreira nunca vi semelhante jogo!"

Lembrando outro ângulo desta grande vitória vamos falar dos dois capitães que comandaram as equipas nestes dois jogos, mas não só. Falaremos ainda do capitão que não pode jogar e do capitão que se "arranjou" para receber a bela Taça da qual só existe um exemplar em Portugal e que pode ser admirado no Museu Cosme Damião:


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A mais desejada. A Taça Latina de 1950. Fonte: Museu Cosme Damião.


O capitão ausente
 
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Francisco Ferreira (1919-1986).
O grande capitão do SLB mas que não jogou qualquer dos dois jogos da grande final da Taça Latina de 1950.


Foi uma infelicidade pessoal mas Francisco Ferreira não participou em qualquer dos 3 jogos da competição. O grande capitão do Sport Lisboa e Benfica nessa época não era Jacinto Marques mas sim Francisco Ferreira. O grande Chico Ferreira podia ter sido o capitão que recebeu a Taça Latina mas Francisco Ferreira assim o não quis. Pelo bem da equipa. Lesionado no primeiro jogo, o grande capitão Benfiquista estava aparentemente recuperado. Teria sido ele a receber a Taça tal tantas e tantas vezes o fez.

   
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Francisco Ferreira a receber a Taça de Portugal de 1949 das mãos do General Craveiro Lopes, presidente da Republica de Portugal. Erguendo a Taça ao céu para o público Benfiquista, o popular Chico Ferreira ganhava mais um plano para a imortalidade. No dia da Taça Latina o destino foi-lhe cruel. Não foi ele a receber a bela Taça.


Mas antes do jogo Chico Ferreira falou com Ted Smith e com a nobreza de personalidade dos grandes homens, o capitão pôs os interesses da equipa acima dos seus. Sentindo que fisicamente não estava na melhor da sua forma e que por isso não poderia dar à equipa o que ela precisava, abdicou dolorosamente. Qual teria sido o desfecho do jogo se Francisco Ferreira tivesse tomado outra decisão para o segundo jogo? Teríamos perdido o jogo? Nunca o saberemos.

Francisco Ferreira gozava de um enorme prestígio entre os Benfiquistas, ganho em longas e generosas batalhas de Águia ao peito. E esse prestígio explica que uns dias antes tenha viajado para a Corunha com o dirigente Francisco Retorta para espiar a SS Lazio que jogou nessa cidade contra o Atlético Madrid na preparação para a Taça Latina. As suas impressões apareceram no Diário de Lisboa no dia seguinte. Outros tempos...


(http://i65.tinypic.com/6ih7b4.jpg)
Fonte: Diário de Lisboa 6-06-1950.


Nos dias dos jogos, Francisco Ferreira esteve ali ao lado dos companheiros, ali bem ao lado na linha final e dentro do relvado durante o período de intervalo que antecedeu o prolongamento no jogo decisivo. Com palavras de ânimo e de conquista. Dando expressão à nobreza do seu carácter e à ambição do seu Benfiquismo. Um capitão à Benfica!

 
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Dois tempos que ilustram a ansiedade e companheirismo do Capitão Chico Ferreira junto dos seus colegas. Na linha final e ao lado de Arsénio que recupera forças para enfrentar o prolongamento no segundo jogo. Fonte: Cinemateca Portuguesa.


Francisco Ferreira nasceu em Guimarães a 23 de Agosto de 1919 mas cedo a sua família foi viver para o Porto. O seu pai era guarda do campo da Constituição e por isso o jovem Francisco Ferreira começou a jogar futebol nas camadas jovens do FCP. Ascendeu aos seniores e logo em 1936-1937, na época de estreia, sagrou-se campeão nacional. Francisco Ferreira cotou-se como a grande revelação da equipa, com participação em 13 dos 14 jogos dessa época. Mas, infelizmente para ele a esse destaque não correspondeu o reconhecimento salarial. Era parte da prata da casa e por isso quando pediu aumento de salário compatível com a sua importância recebeu apenas desprezo por parte dos dirigentes portistas. Desiludido, decidiu aceitar o convite do SLB. Quando os dirigentes portistas se aperceberam ainda tentaram acenar com dinheiro mas Francisco Ferreira só tinha uma palavra e essa tinha sido dada ao SL Benfica.

A sua contratação teve aliás parecenças com a que décadas mais tarde definiria a contratação de Eusébio. No caso de Francisco Ferreira, o homem chave foi o grande Benfiquista Ilídio Nogueira, antiga glória do hóquei em patins e hóquei em campo do nosso Clube. O processo foi tão complicado que obrigou mesmo esconder Francisco Ferreira numa Quinta em Valadares durante alguns dias. O SL Benfica acabaria por ter de pagar uma soma enorme (cerca de 13.500 escudo) para a época mas essa contratação valeria muito mais do que isso. Foi certamente uma das contratações mais felizes da nossa história. Ganhou-se um grande jogador e um grande Benfiquista.
Para Francisco Ferreira, essa mudança significou também a imortalidade no futebol Português. Ao longo das 14 épocas de Águia ao peito transformou-se numa referência do Benfiquismo.

Estreou-se como Capitão de equipa no dia 25-12-1939 num jogo particular frente ao Vitória de Guimarães. No entanto, apenas em 1-01-1945, num jogo particular contra o SC Vila Real, passaria a ser regularmente o Capitão da nossa primeira equipa. Teve a honra de suceder a Francisco Albino. Foi também Capitão da equipa nacional Portuguesa por 13 vezes. E foi um Capitão de excelência, capitão de carácter, pela sua qualidade quer como jogador quer como Homem.

Foi uma figura inesquecível e imensamente popular do nosso Clube tal como se demonstrou na digressão que o Clube fez a África em 1950. As multidões que vitoriaram a nossa comitiva gritavam SLB, SLB! e Chico Ferreira, Chico Ferreira! Nesse tempo era a imagem do Benfiquismo!

Esquerdino, embora não fosse dotado de uma grande técnica, tinha no entanto um notável sentido posicional e de organização de jogo. Disputava cada bola com ardor e lealdade, jogando quer no centro quer na faixa lateral esquerda. E fazia-o sempre, sempre com uma voz de comando arrebatadora, cheia de autoridade vinda do carácter e do exemplo! Assim era o nosso Chico Ferreira!

   
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As revistas sempre deram grande destaque ao jogador e ao homem. Francisco Ferreira foi um ídolo do futebol Nacional.


Angústias foram poucas. A maior foi o fatídico episódio de Superga em Maio de 1949, tornar-se-ia um drama permanente nas recordações de Francisco Ferreira. No dia seguinte à tragédia, lavado em lágrimas, ofereceu a totalidade da receita da sua festa de homenagem às famílias enlutadas. A angústia viveria consigo para sempre e seguramente levou-a para o túmulo. Ninguém merecia mas muito menos merecia o nobre e generoso Francisco Ferreira.

 
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Festa de homenagem a Francisco Ferreira em 3-05-1949.


Coberto de glória e com o carinho e respeito da nação Benfiquista, Francisco Ferreira teve enfim a merecida festa de despedida em 7 de Setembro de 1952. Nessa festa onde até compareceu Jules Rimet, presidente da FIFA, viveram-se momentos de emoção. Para trás ficavam 14 épocas de SLB, entre 1938/39 e 1951/52, em que conquistou quatro Campeonatos Nacionais, seis Taças de Portugal e um Campeonato de Lisboa. Faleceu em Lisboa no dia 14-12-1986. Nesse dia partiu um dos maiores capitães da História do SL Benfica.

   
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António Ribeiro dos Reis lendo um texto de homenagem na festa de despedida do grande Chico Ferreira. Um dia de grandes emoções. Fonte: Museu Cosme Damião



(continua)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Abril de 2017, 00:20
-148-
Capitães Latinos (Parte II)


Prosseguindo, vamos falar de 3 outros grandes capitães presentes nos dois grandes jogos.


O capitão tranquilo
 
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Jacinto do Carmo Marques (1921 - 2000).
O nosso capitão nas duas finais da Taça Latina de 1950.
http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=41882.0 (http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=41882.0)


Jacinto do Carmo Marques. Nascido na Cova da Piedade em 1-11-1921, foi um excelente defesa, jogando com serenidade e eficácia. Jogou no Piedense, Aldegalense e Carcavelinhos, transferindo-se depois em 1943 para o SLB. As duas primeiras épocas foram discretas pois tinha à sua frente jogadores de elevada craveira e com estatuto dentro do Clube. Mas Jacinto soube esperar e o Clube também soube ser paciente. Um luxo que hoje em dia é cada vez mais raro...

Na sua longa carreira de Águia ao peito, Jacinto somou 14 épocas, de 1943-1944 a 1957-1958, não marcou nenhum golo mas evitou muitos, porque era para isso que era pago. Para além da Taça Latina de 1950, ajudou a vencer 4 Campeonatos Nacionais e 6 Taças de Portugal. Jogou a última meia hora da finalíssima dessa Taça Latina com um pulso partido. Terá sido por causa disso que deixou a honra de receber a Taça para Rogério Pipi? Pelas descrições de Rogério isso terá mais sido devido ao acaso fruto da precipitação do momento.


(http://i64.tinypic.com/29zwt3m.jpg)
Jacinto Marques no intervalo antes do prolongamento do segundo jogo, descansa e é assistido pelo corpo médico.



(http://abload.de/img/169ahnypsc.gif) (http://abload.de/img/16996mqosu.gif)
Jacinto como capitão a cumprimentar árbitros e adversários e depois receber a Taça de Portugal num jogo de uma final da Taça de Porgugal disputada contra o Sporting da Covilhã em 1957.


Fora de campo, Jacinto Marques era igualmente um homem discreto, calmo, ponderado e previdente. Ainda jogador tinha já uma unidade de transformação de cortiça. Tanto quanto sei essa empresa, a Jacinto do Carmo Marques Lda (Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas) ainda existe (é localizável usando o Google Earth).


(http://i65.tinypic.com/2e4w5kx.jpg)
Fonte: Museu Cosme Damião


Jacinto teve uma muito merecida festa de despedida no dia 1-09-1957 numa partida contra o SC Braga e com vitória do Benfica por 5-4. Levado aos ombros pelos companheiros despediu-se em glória e com o sentimento de dever cumprido.

 
(http://i67.tinypic.com/2itrbjp.jpg)
No dia da sua festa de despedida, Jacinto foi carregado em ombros pelos seus dois guarda-redes Bastos e Costa Pereira. Nada mais justo.


O capitão Francês

(http://i65.tinypic.com/2lsgsxy.jpg)
Jean Swiatek (1921 - )
http://www.football-the-story.com/articles/france?page=4 (http://www.football-the-story.com/articles/france?page=4)


Foram dois jogos duros para ambos os lados mas é certo que para os Girondinos o desfecho final tornou cruel o balanço de todo aquele esforço. Os Girondinos tiveram em todos os jogos um comportamento competitivo e leal durante toda a competição. Nas meias-finais, mesmo ficando privados do seu eficaz extremo-esquerdo holandês De Harder, tendo por isso de jogar um quarto de hora com apenas dez jogadores contra o campeão espanhol Atlético de Madrid. No final do tempo regulamentar venceriam por 4-2. Para os Franceses seguir-se-ia um jogo duro contra a equipa da casa. Mas nem os Franceses sabiam quão duro seria...

Treinada por um antigo guarda-redes de seu nome Andrew Gerard, a equipa girondina tinha dentro de campo um verdadeiro líder, Jean Swiatek, um imponente defesa que era também o capitão de equipa.

Nascido em 11-12-1921 em Dusnik, Polónia, Jean Swiatek emigrou com os pais para a França com apenas com 4 anos de idade. Este Franco-Polaco ingressou nos Girondins de Bordeaux em 1943, num período que coincidiu com a formação de uma equipa profissional neste clube e que viria a ascender à divisão principal do futebol Francês. Nos seus 10 anos de Clube, Swiatek conquistaria um campeonato de França em 1949-1950 depois de acesa disputa com o Lille. Foi justamente este campeonato conquistado que possibilitou que os Girondinos participassem na disputa da edição da Taça Latina de 1950. Dada a sua reconhecida classe e autoridade natural foi à volta de Jean Swiatek que a equipa girondina foi montada.

 
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A classe e imponência de Jean Swiatek não passaram despercebidas. Fonte: DL. Na fotografia em baixo Swiatek protege o seu guarda-redes de uma investida de Corona. Fonte: Cinemateca Portuguesa.


Entre os restantes jogadores Bordeleses a grande estrela era o marroquino M'Barek. Destaque também para Garriga, Merignac, Kargu e Mustapha, o calmo e perspicaz René Gallice, e para jogadores mais técnicos como André Doye, o Holandês Bertus De Harder, Camille Libar, assim como para o rápido extremo Persillon.


(http://i68.tinypic.com/19b6me.jpg)
A classe e imponência de Jean Swiatek num registo do primeiro jogo.


A lealdade e correcção de Swiatek ficaram bem expressas nas suas declarações no final da partida.

(http://i64.tinypic.com/2gwavzp.jpg)


Muitas décadas depois, o já idoso Swiatek declarou que essa era uma das suas maiores mágoas como jogador:

"Recordo-me sempre da final da Taça Latina contra o Benfica em Lisboa em 1950. Era capitão de equipa. Faltava apenas um minuto para jogar e vencíamos por 3-2. Num lance, gritei para o meu companheiro de equipa chutar a bola para fora. Infelizmente perdeu a bola e um Português marcou igualando o jogo. Tivemos de disputar um novo jogo e dessa vez perdemos." E Jean Swiatek prosseguiu, explicando melhor esse vazio, sorrindo com ironia: "Ainda me lembro quando, perto no final desse primeiro jogo eu já pensava onde teria de ir para receber e levantar a Taça...." Fonte: http://www.aqui.fr/societes/jean-swiatek-ancien-girondin-et-doyen-des-internationaux-francais-de-football-fete-ses-88-ans,2632.html


Mas como todos os presentes constataram, a equipa Girondina foi muito correcta dentro e fora de campo, aproveitando para dentro da sua agenda social homenagear os mortos na Grande Guerra. Tinham passado quase 40 anos depois do fim do primeiro conflito. E a memória da Guerra estava ainda fresca pois apenas cinco anos antes tinha terminado a brutal segunda guerra mundial. O futebol recuperava e os Franceses sabiam ser reconhecidos a um povo amigo que derramou sangue em terras de França.

(http://i63.tinypic.com/mtqxr6.jpg)




E...
o Capitão que se "arranjou"
 
(http://i68.tinypic.com/6ye9w8.jpg)
Rogério Lantres de Carvalho (1922- ).
O homem que ergueu a Taça Latina de 1950.


Segundo a lógica deveria ter sido Jacinto Marques a receber a Taça Latina. No entanto, entre a confusão do momento ou por qualquer outro motivo, acabou por ser Rogério Pipi que a recebeu das mãos do General Óscar Carmona, presidente da Republica. Como disse Rogério: "Com a invasão do campo, todos perdemos a cabeça. Empurraram-me, fui indo no meio da multidão, quando dei por mim estava na tribuna à frente do senhor Presidente da Republica e naquela confusão ele só conseguiu atirar-me o troféu para as mãos..." Fonte: jornal "Público".

Por estar com uma idade avançada e adoentado ou por estar algo incomodado com a confusão, o presidente Óscar Carmona, sócio do Sporting Clube de Portugal, terá querido despachar-se na missão de entregar o belo troféu ao nosso improvisado capitão. Ainda assim estranhamente (embora com certeza que exista) nunca vi uma fotografia de Rogério ao lado de Óscar Carmona a entregar a Taça.

Antes, temos a famosa fotografia em que nos aparece Guilherme Pinto Basto, um dos pioneiros do futebol em Portugal, a entregar a Taça ao nosso Pipi. Estou certo que ambos os homens partilharam uma grande emoção. Seria o momento mais alto do futebol Português até à conquista das duas Taças dos Clubes Campeões Europeus na década seguinte.

 
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Dois momentos, duas imagens para a História do Sport Lisboa e Benfica e do futebol Português.


(http://i65.tinypic.com/33xj9zn.jpg)
Uma outra imagem de Rogério a receber a ofertas do Ministro da Educação, Dr. Pires de Lima. Lá em cima na tribuna identifica-se uma velha Glória do SLB, o grande Vítor Gonçalves, antigo jogador e o primeiro treinador Português a conquistar um Campeonato Nacional ao serviço do SLB.


Rogério Lantres de Carvalho nasceu em Lisboa, há 94 anos, em 7 de Dezembro de 1922. É uma figura de imenso prestígio no nosso Clube. A sua notável carreira Benfiquista foi resumida de forma magistral por Alberto Miguéns, aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/12/o-nosso-rogerio-faz-90-anos.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/12/o-nosso-rogerio-faz-90-anos.html)

Facto raro, nesses dois jogos Pipi não marcou. E digo raro porque foi naquele mesmo Estádio Nacional que Rogério rubricou exibições portentosas e marcou inúmeros golos, conquistando diversas Taças de Portugal. Nesses dias embora não marcando lutou e ajudou muito os seus colegas a fazerem os golos que nos deram a Taça.


(http://i66.tinypic.com/n39c0k.jpg)
Rogério em êxtase a celebrar o golo decisivo marcado por Julinho. Caído por terra um Francês resigna-se com a perda do troféu.


Com a chegada de Otto Glória em 1954 e as profundas mudanças no nosso futebol com a introdução do profissionalismo Rogério decidiu sair do SLB. Saiu pelo seu próprio pé por não querer ser profissional. A sua actividade profissional como vendedor de automóveis era bem mais rentável e por outro lado sentia igualmente já ter dado muito ao Clube.

E assim em ambiente caloroso e festivo, no dia 5 de Setembro de 1954 Rogério Pipi teve a sua festa de despedida do SLB. A sua grandeza como pessoa ficou demonstrada quando aceitou que a sua festa coincidisse com a despedida Feliciano, uma das Torres do CF "os Belenenses", um forte mas sempre leal adversário. Foi uma festa bonita e um dia de grande celebração do futebol Português.

 
(http://i63.tinypic.com/1tq3h5.jpg)
Bilhete da festa de despedida de Rogério Pipi (que nobremente aceitou fazê-la conjuntamente com Feliciano, o grande jogador Belenense. Os dois jogadores cumprimentam-se com o sportinguista Travassos entre eles. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Ecos na imprensa

(http://i68.tinypic.com/amdx1j.jpg)
Fontes: Jornal o Benfica de 21-06-1950 e jornal Mundo Deportivo, 19-06-1950.

(https://1.bp.blogspot.com/-iPYMJjAnuLs/V2bse57Hy_I/AAAAAAAAYPE/dQZFqtklFx4A-Fm0l_L6Tk_cqmSuNlGgwCLcB/s1600/dn%2B19-6-50.JPG)

Fontes: Jornal "A Bola".


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 03 de Abril de 2017, 12:13
obrigado redvc por teres dado importância a um promenor que poucos dao conta ou pagam atencao. ter tido praticamente três captiaes num jogo só, nao acontece todos os dias.
esses homens dizem me algo e ja li sobre eles, mas esse tempo está tao distante, que mal os meus pais se lembram deles. mas assim parece que voltam a ser vivos... vivos nas nossas memórias.
obrigado também por nao teres esquecido o capitao adversário que comandou uma equipa equivalente que nem teria merecido perder.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 03 de Abril de 2017, 12:17
Citação de: Bakero em 01 de Março de 2017, 21:01
Fantástico! É incrível como o nosso clube tão grande começou de um modo tão simples...pensar que nada disto existiria, que nem sequer estaríamos todos aqui a falar uns com os outros, que eu ontem não teria estado no Estoril, senão tem havido essa reunião inaugural. Se esses 24 imortais não tivessem lutado tanto para levar o clube avante. É mindblowing!

E muito obrigado pelo vosso trabalho de pesquisa! Eu desde adolescente sempre fui um apaixonado pela História do Benfica, mas centrava-me mais na História do clube que se misturava com a minha (nascido em 83).

Progressivamente a minha curiosidade começou a estender para a gloriosa década de 70 e a inigualável década de 60, mas este tópico tem-me feito perceber que também houve muito e interessantíssimo Benfica nos seus primeiros 50 anos.

Um bem-haja!  :slb2:

faco as tuas palavras as minhas!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 03 de Abril de 2017, 14:22
Citação de: RedVC em 17 de Setembro de 2016, 21:01
-128-
Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis.


(http://i65.tinypic.com/29olgky.jpg)


Lisboa, 10 de Agosto de 1955. Do aeroporto até à Rua do Jardim do Regedor. Imagens de intensa alegria e comunhão entre adeptos e a comitiva Benfiquista regressada da América do Sul:


(http://i63.tinypic.com/33ou04g.jpg)
Duas imagens do autocarro do Clube ladeado por entusiasmados Benfiquistas com o detalhe extraordinário de vermos 6 fotógrafos sentados no tejadilho do autocarro. Loucura no regresso dos heróis!. Fonte: Helena Águas.


Terminada a aventura Sul-americana foi tempo da comitiva Benfiquista regressar a casa. E que regresso foi!

(http://i68.tinypic.com/35i7ozn.jpg)
Fonte: Museu Cosme Damião.


Nesse dia 10 de Agosto de 1955 a comitiva chegou a Lisboa depois de uma longa digressão por terras Brasileiras e Venezuelanas. A comitiva Benfiquista chegava cansada mas com intenso orgulho pelas suas notáveis prestações desportivas complementadas por uma agenda social que em muito prestigiaram o nome do Sport Lisboa e Benfica e Portugal.

O aeroporto de Lisboa estava abarrotado de pessoas à espera da comitiva. Depois milhares de pessoas distribuíram-se pelo trajecto até à sede na Rua do Jardim do Regedor. A comitiva fez o seguinte percurso: Aeroporto de Lisboa, Bairro de Alvalade, Avenida da Republica, Praça Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade e por fim Praça dos Restauradores até à Rua Jardim do Regedor. O cortejo durou cerca de três horas a chegar à nossa sede, observando-se pelo caminho as mais variadas manifestações de apreço e clubismo. Um belo ensaio para seis anos depois quando apenas uma Taça (e outra no ano seguinte) trariam tanta felicidade aos Benfiquistas.

Na sede estavam os membros dos órgãos sociais e outras grandes figuras Benfiquistas que integraram a comissão de boas vindas que formalizou a recepção á comitiva: Ribeiro dos Reis, Justino Pinheiro Machado, José Magalhães Godinho, entre outros. Presentes também representantes da FPF, da AFL, e de vários clubes desde o Oriental até ao SCP.
Já no Estádio, a equipa desfilou e posou para as fotografias exibindo orgulhosamente todos os troféus ganhos na longa, cansativa mas também altamente prestigiante e rentável digressão Sul-Americana!


(http://i68.tinypic.com/i5zleb.jpg)
De volta ao Estádio da Luz, a comitiva Benfiquista exibiu orgulhosamente os troféus conquistados na digressão ao Brasil e Venezuela. A réplica da Taça Charles Miller está assinalada em ambas as fotografias. Em cima reconhecem-se, de pé, Angelino Fontes, Vieirinha, Bastos, Monteiro, Calado, Coluna, Alfredo, Otto Glória, Artur, Pegado, Caiado, Costa Pereira. Em baixo: Jacinto, Zézinho, Palmeiro, Arsénio, Águas, Salvador e Ângelo. Fonte: Em Defesa do Benfica e Helena Águas.


Os Benfiquistas viviam dias excitantes. Com um novo Estádio, um título nacional e uma equipa renovada e com talentos emergentes, tudo era alegria. O futebol Benfiquista encarava o futuro com uma organização moderna, estruturada, coesa e eficiente. Estava em curso a transformação do velho Sport Lisboa e Benfica na máquina fortíssima que se sagraria Bicampeã Europeia. Estava em curso a projecção do SL Benfica e do País à escala planetária; algo nunca antes visto! Cruzando culturas, credos, raças, perspectivas e estilos de vida, a todo o lado chegou o Sport Lisboa e Benfica. Na linguagem universal do futebol, a nossa equipa exibiu desportivismo, talento, educação e respeito pelas diferenças exibidos na expressão da sua lusitanidade.


Voou alto a nossa Águia!

(http://i68.tinypic.com/2w5ud95.jpg)

Voou alto nesses inesquecíveis dias Brasileiros!

E Pluribus unum



Uma nota final

Este conjunto de onze textos foi, por opção consciente, uma longa série com muito material que nunca vi apresentado ou analisado em qualquer outro lado. Reunir, analisar e estruturar esse material levou muito tempo e deu muito trabalho. Sabia que não haveria muito retorno. Assim foi.

Talvez não valesse a pena fazer esta série se não desse tanto gozo pessoal a fazer. Se não desse prazer em os partilhar com o pequeno número de membros deste fórum que têm a capacidade e inteligência de ir para lá da espuma dos dias. A esses Benfiquista que leram, que conseguem desfrutar de forma completa o que é verdadeiramente o Sport Lisboa e Benfica, deixo um bem-haja e um sincero obrigado.




onde descobres estas informacoes? já há muito tempo queria saber mais sobre essa, quase mítica, digressao ao brasil. li algo breve sobre ela, mas longe do que tu aqui apresentaste. como disseste certo: material que nao viste analisado noutro lado...
um grande: OBRIGADO (e eu sempre escrevo em letra minúscula. ;-) uma bela obra!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Cuccittini em 03 de Abril de 2017, 19:21
Isto é claramente um refresco de ananás.

(http://4.bp.blogspot.com/-NN-bLi_IjkQ/T9dzBwrr-PI/AAAAAAAAC78/CFb4cLY0ArI/s1600/Refresco%2Bde%2Banan%2525C3%2525A1s%2Be%2Bhortel%2525C3%2525A33.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Abril de 2017, 21:45
Citação de: alfredo em 03 de Abril de 2017, 14:22
Citação de: RedVC em 17 de Setembro de 2016, 21:01
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Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis.


(http://i65.tinypic.com/29olgky.jpg)


Lisboa, 10 de Agosto de 1955. Do aeroporto até à Rua do Jardim do Regedor. Imagens de intensa alegria e comunhão entre adeptos e a comitiva Benfiquista regressada da América do Sul:


(http://i63.tinypic.com/33ou04g.jpg)
Duas imagens do autocarro do Clube ladeado por entusiasmados Benfiquistas com o detalhe extraordinário de vermos 6 fotógrafos sentados no tejadilho do autocarro. Loucura no regresso dos heróis!. Fonte: Helena Águas.


Terminada a aventura Sul-americana foi tempo da comitiva Benfiquista regressar a casa. E que regresso foi!

(http://i68.tinypic.com/35i7ozn.jpg)
Fonte: Museu Cosme Damião.


Nesse dia 10 de Agosto de 1955 a comitiva chegou a Lisboa depois de uma longa digressão por terras Brasileiras e Venezuelanas. A comitiva Benfiquista chegava cansada mas com intenso orgulho pelas suas notáveis prestações desportivas complementadas por uma agenda social que em muito prestigiaram o nome do Sport Lisboa e Benfica e Portugal.

O aeroporto de Lisboa estava abarrotado de pessoas à espera da comitiva. Depois milhares de pessoas distribuíram-se pelo trajecto até à sede na Rua do Jardim do Regedor. A comitiva fez o seguinte percurso: Aeroporto de Lisboa, Bairro de Alvalade, Avenida da Republica, Praça Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade e por fim Praça dos Restauradores até à Rua Jardim do Regedor. O cortejo durou cerca de três horas a chegar à nossa sede, observando-se pelo caminho as mais variadas manifestações de apreço e clubismo. Um belo ensaio para seis anos depois quando apenas uma Taça (e outra no ano seguinte) trariam tanta felicidade aos Benfiquistas.

Na sede estavam os membros dos órgãos sociais e outras grandes figuras Benfiquistas que integraram a comissão de boas vindas que formalizou a recepção á comitiva: Ribeiro dos Reis, Justino Pinheiro Machado, José Magalhães Godinho, entre outros. Presentes também representantes da FPF, da AFL, e de vários clubes desde o Oriental até ao SCP.
Já no Estádio, a equipa desfilou e posou para as fotografias exibindo orgulhosamente todos os troféus ganhos na longa, cansativa mas também altamente prestigiante e rentável digressão Sul-Americana!


(http://i68.tinypic.com/i5zleb.jpg)
De volta ao Estádio da Luz, a comitiva Benfiquista exibiu orgulhosamente os troféus conquistados na digressão ao Brasil e Venezuela. A réplica da Taça Charles Miller está assinalada em ambas as fotografias. Em cima reconhecem-se, de pé, Angelino Fontes, Vieirinha, Bastos, Monteiro, Calado, Coluna, Alfredo, Otto Glória, Artur, Pegado, Caiado, Costa Pereira. Em baixo: Jacinto, Zézinho, Palmeiro, Arsénio, Águas, Salvador e Ângelo. Fonte: Em Defesa do Benfica e Helena Águas.


Os Benfiquistas viviam dias excitantes. Com um novo Estádio, um título nacional e uma equipa renovada e com talentos emergentes, tudo era alegria. O futebol Benfiquista encarava o futuro com uma organização moderna, estruturada, coesa e eficiente. Estava em curso a transformação do velho Sport Lisboa e Benfica na máquina fortíssima que se sagraria Bicampeã Europeia. Estava em curso a projecção do SL Benfica e do País à escala planetária; algo nunca antes visto! Cruzando culturas, credos, raças, perspectivas e estilos de vida, a todo o lado chegou o Sport Lisboa e Benfica. Na linguagem universal do futebol, a nossa equipa exibiu desportivismo, talento, educação e respeito pelas diferenças exibidos na expressão da sua lusitanidade.


Voou alto a nossa Águia!

(http://i68.tinypic.com/2w5ud95.jpg)

Voou alto nesses inesquecíveis dias Brasileiros!

E Pluribus unum



Uma nota final

Este conjunto de onze textos foi, por opção consciente, uma longa série com muito material que nunca vi apresentado ou analisado em qualquer outro lado. Reunir, analisar e estruturar esse material levou muito tempo e deu muito trabalho. Sabia que não haveria muito retorno. Assim foi.

Talvez não valesse a pena fazer esta série se não desse tanto gozo pessoal a fazer. Se não desse prazer em os partilhar com o pequeno número de membros deste fórum que têm a capacidade e inteligência de ir para lá da espuma dos dias. A esses Benfiquista que leram, que conseguem desfrutar de forma completa o que é verdadeiramente o Sport Lisboa e Benfica, deixo um bem-haja e um sincero obrigado.




onde descobres estas informacoes? já há muito tempo queria saber mais sobre essa, quase mítica, digressao ao brasil. li algo breve sobre ela, mas longe do que tu aqui apresentaste. como disseste certo: material que nao viste analisado noutro lado...
um grande: OBRIGADO (e eu sempre escrevo em letra minúscula. ;-) uma bela obra!

Obrigado alfredo!  O0
Nos meus tempos livres faço pesquisas em arquivos online de Portugal, Brasil, Espanha, etc. É uma terapia, um passatempo. Gosto de História e do SLB. Porque não juntar os dois. Acabo por aprender um pouco de tudo, Geografia, Sociologia, Filosofia, Política, Religião, etc. A partilha é uma parte do prazer. Há também a descoberta, a selecção de informação, o cruzamento de fonte, e a pesquisa dedicada aos detalhes. Os detalhes são o diabo mas dão um prazer danado descobrir. Neste últimos três anos consegui desenterrar coisas que nem imaginava que existia. E sim, tens razão, esta é uma forma de trazer de novo alguns destes homens à consciência colectiva dos Benfiquistas. Fazer-lhe honra e justiça.

Honrai hoje os ases do passado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Dandy em 05 de Abril de 2017, 19:58





   Palavras para quê? ...

   Enorme Victor João Carocha!

   "Víctor" ou "Victor"? :)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Abril de 2017, 20:51
Citação de: Dandy em 05 de Abril de 2017, 19:58





   Palavras para quê? ...

   Enorme Victor João Carocha!

   "Víctor" ou "Victor"? :)


Obrigado Dandy  O0
um dos fieis aqui e também alguém que cumpre bem esse lema, homenageando em permanência um homem grande e bom.

Mike era um enorme atleta do basquetebol do SLB. Saudades daqueles cumprimentos antes do início dos jogos. Saudades de um dos atletas mais correctos e generosos que já vi jogar. Saudades daquela sua atitude cheia de garra dentro do campo. Um dos nossos Ases do passado.

ps: sim, "Victor"  :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 07 de Abril de 2017, 00:08
Sempre fomos um clube de raça! Nunca tivemos conquistas fáceis. Jogámos com os melhores de cada tempo e por isso apanhámos as épocas áureas de cada um dos outros grandes campeões. E tornámo-nos admirados também por causa disso.

A Taça Latina não podería ser diferente. Foi até cair para o lado. Aquela imagem do Rogério mais a do Zé Águas a levantar a Taça dos Campeões são as maiores fotos da história do Benfica. Fazem chorar de tanta mística!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Abril de 2017, 12:06
-149-
De Como a Milão

Lago de Como, Julho de 1956.

Quatro membros de uma comitiva Benfiquista posam numa embarcação no Lago de Como. Atrás deles, um cenário deslumbrante.


(http://i68.tinypic.com/2yvl2jr.jpg)
Lago de Como, Julho 1956. Uma bela imagem de confraternização com José Águas, Mão de Pilão, José Ricardo Domingues Júnior (director do SLB) e Ângelo Martins. De costa está outro jogador Benfiquista. José Ricardo Domingues tem na mão uma máquina fotográfica. Para mais tarde recordar. Fonte: Helena Águas.


Na fotografia identificamos quatro dos membros da comitiva Benfiquista que foi a Milão disputar a Taça Latina de 1956: José Águas (avançado), Ângelo Martins (defesa), José Ricardo Domingues Júnior (dirigente) e Mão de Pilão ou Aurelino Gomes (massagista Brasileiro ao serviço do SLB; ver textos 129 e 130 - O "caramujo" do futebol; p.34).

(http://i68.tinypic.com/29fvaer.jpg)


Os locais da aventura

Os quatro homens posaram para a câmara registando-se para sempre um momento de lazer e convívio no Lago de Como.


(http://i68.tinypic.com/ejwmcw.jpg)
(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3b/Lecco_e_il_suo_lago.JPG/660px-Lecco_e_il_suo_lago.JPG)

(http://lalarebelo.com/wp-content/uploads/2016/03/lago-di-como-italia-onde-fica-mapa.jpg)
http://lalarebelo.com/lagodicomo/ (http://lalarebelo.com/lagodicomo/)

O lago de Como é o terceiro maior lago da Itália. Formado nos vales resultantes da descongelação de glaciares, é um dos lagos mais profundos da Europa, atingindo em alguns pontos os 414 metros de profundidade. O lago proporciona uma das vistas mais bonitas da deslumbrante (e rica) região da Lombardia. O cenário é absolutamente deslumbrante: um lago cristalino com muitos tons de azul, rodeado por montanhas e florestas, que abriga dezenas de pequenas cidades, vilas históricas, igrejas centenárias, castelos medievais e casas multicoloridas. A beleza das flores e a infinidade de cores das suas encostas é indescritível. Fonte: http://www.oguiademilao.com/o-lago-de-como/ (http://www.oguiademilao.com/o-lago-de-como/)

Foi perto destas maravilhosas paisagens que a brava comitiva Benfiquista se preparou para a disputa da Taça Latina de 1956.


Os quatro jogos da competição foram disputados no Arena Civica, apesar de existir o magnífico SanSiro / Giuseppe Meazza e do FC Internazionale e o AC Milan serem co-proprietários desse estádio desde 1947. Inaugurado no distante ano de 1807 e nos dias de hoje oficialmente designado por Estádio Gianni Brera, a Arena Civica ainda existe, sendo também conhecida como "Arena Napoleónica". É um estádio polivalente com arquitectura neoclássica, capacidade para um máximo de 30.000 espectadores. Foi até à década de 50, maioritariamente utilizado pelo FC Internazionale. Hoje em dia tem uma utilização reduzida, mantendo-se no entanto utilizado em eventos desportivos (atletismo, râguebi e futebol) e culturais.


(http://i68.tinypic.com/2u76a7r.jpg)
Fonte: http://dss1992.npage.de/raritaeten-italien-a-m.html



A meia-final

Liderada por Otto Glória, a comitiva partiu para aquilo que se esperava serem dois jogos muito competitivos. O primeiro seria a meia-final contra o AC Milan, o segundo dependeria dos resultados. Era a segunda vez que o SL Benfica participava na competição mas desta vez como vice-campeão, depois da renúncia do campeão FC Porto. Curiosamente também o nosso primeiro oponente foi vice-campeão pois ficou atrás do campeão Fiorentina.


(http://i65.tinypic.com/rvde7m.jpg)
De pé, esquerda para a direita: Bastos, Fernando Caiado, Jacinto, Alfredo, Artur Santos, Ângelo. Em baixo: Garrido, Coluna, José Águas, Salvador e Cávem. Fonte: DL

 
(http://i65.tinypic.com/svieeb.jpg)
Bilhete do jogo de dia 27 Junho de 1956 em que a equipa do AC Milan defrontou a do SL Benfica para a meia-final da Taça Latina de 1956. Fonte: http://www.magliarossonera.it/.

 
(http://i63.tinypic.com/npgrcp.jpg)
À direita: os capitães de equipa Niels Liedholm (ACM) e Fernando Caiado (SLB) trocam cumprimentos e galhardetes antes do início da partida. À esquerda:fase de Jogo com uma investida atacante dos Milaneses. Fonte: http://www.magliarossonera.it/.


Jogando em sua casa, o AC Milan soube procurar a fortuna ganhando-nos por conclusivos 4-2. Segundo Tavares da Silva a competição não mereceu grande entusiasmo em Itália. O mesmo jornalista salientou ainda as fracas condições to terreno de jogo e iluminação.


(http://i67.tinypic.com/f9dxtu.jpg)


O SL Benfica bateu-se bem mas foi pouco feliz e pouco proficiente na concretização das oportunidades que soube criar em particular na segunda parte. No final os 4-2 a favor dos Milaneses foram definidos pelos golos de Mariani, Schiaffino (2) e Bagnoli. Do lado do Benfica marcaram Coluna e Caiado.


(http://i63.tinypic.com/f50pyv.jpg)
Cronica do jogo publicada no DL de 3-06-1956.

(http://i64.tinypic.com/2rojlsh.jpg)
Diário de Lisboa, 4 Julho 1956


Um (longo) jogo que nada teve de consolação

No dia 3 de Julho viria o jogo para a atribuição do 3º e 4º lugar da Taça Latina de 1956. O oponente era o Olympique GC Nice de França, curiosamente outra equipa com as cores "rossoneras` dirigida pelo Argentino Carniglia. O Nice tinha perdido a sua meia-final por 0-2 contra o Athletic de Bilbao, campeão de Espanha.

Num terreno transformado num batatal depois de uma noite de chuva torrencial, o "desafio de consolação" foi disputado por duas equipas que nunca revelaram qualquer desalento por disputarem o terceiro lugar. Nas bancadas encontravam-se no início de jogo apenas cerca de 300 pessoas, mas que viriam a ser privilegiadas por assistir um jogo emocionante com dois prolongamentos, muita luta e o talento possível naquelas condições. O jogo foi movimentado mas não rendeu qualquer golo na primeira parte. Na segunda parte o Benfica aumentou ritmo e impôs algum domínio territorial mas o marcador em nada se alterou até ao apito final para o tempo regulamentar. Viriam os prolongamentos.


(http://i66.tinypic.com/huh7w0.jpg)


Quando aos 12 minutos da primeira parte do prolongamento o Nice marca o seu golo tudo parecia perdido para o Benfica. Mas a nossa equipa reagiu "à campeão" intensificando o domínio de jogo e perseguindo com crença teimosa o empate que nunca mais chegava. E o golo chegaria a apenas a quatro minutos do fim quando Cavém marcou um golo de belo efeito a passe de Isidro. Seria necessário um segundo prolongamento. Parecia sina que o Benfica tivesse que disputar jogos intermináveis na compita da Taça Latina!

O segundo prolongamento teria mais duas partes de 15 minutos mas foi jogado em sistema de "golo da morte" ou "golo dourado" consoante as perspectivas. Quem o marcaria? Só mesmo o imortal José Águas poderia resolver! E foi mesmo José Águas, a fina flor dos nossos avançados, que marcou aos 132 minutos de jogo o golo da nossa vitória. Exultaram os nossos jogadores! O SL Benfica joga sempre para ganhar seja qual for o jogo seja qual for a competição!

Esse triunfo de acordo com os jornais até devia ter surgido bem antes correspondendo à clara superioridade dos Benfiquistas, num êxito classificado com incontestável, brilhante e mais do que justificado. Apenas a infelicidade com postes à mistura impediu uma vitória no tempo regulamentar.


(http://i67.tinypic.com/kegk9h.jpg)
Diário de Lisboa, 4 Julho 1956.


(http://i68.tinypic.com/1z53fq8.jpg)
Mundo Deportivo 4 Julho 1956.


(http://i67.tinypic.com/b4f0ww.jpg)
Corriere dello Sport



Fantasmas do passado


(http://i68.tinypic.com/zmnw5i.jpg)
Fonte: DL, 30 Jun 1956.

(http://i63.tinypic.com/2a7v6f5.jpg)
Ferruccio Mazzola e Sandro Mazzola exibindo a fotografia de Valentino, o seu mítico pai. Fonte: Quatro tratti


Num gesto de profundo significado e sentimento, a comitiva do SL Benfica seria visitada pelos dois filhos de Valentino Mazzola, falecido sete anos antes no trágico acidente de Superga. A visita do Benfica aquela localidade foi uma das diversas homenagens que o nosso Clube soube sempre fazer, num profundo respeito à ligação que para sempre ficou entre os dois Clubes. Não tenho fotografia desses eventos mas fica aqui o registo de tão profundo e comovedor gesto. Sandro Mazzola seria em 1965 depois integrante do FC Internazionale de Milan que nos venceria naquela malfadada final de Milão, em plena casa dos nossos adversários. Uma das maiores vergonhas da (triste) história da UEFA.



A grande final


(http://i65.tinypic.com/juffon.jpg)
Glória aos campeões. A equipa do AC Milan que conquistou a Taça Latina de 1956. De pé, esquerda para a direita: Schiaffino, Maldini, Liedholm (cap.), Zagatti, Mariani. Em baixo: Fassetta, Buffon, Bagnoli, Radice, Dal Monte, Frignani. Fonte: Wikipedia.

   
(http://i68.tinypic.com/xomexe.jpg)
O Sueco Nils Liedholm, o capitão rossonero recebe a Taça Lataina. Ao centro, a bela Taça que está orgulhosamente exposta no museu do AC Milan. À esquerda, o Director Desportivo Toni Busini a levantar o troféu.


Na final o AC Milan defrontou e venceu o Athletic Bilbao por 3-1, tornando-se assim bicampeão da Taça Latina a par do FC Barcelona. Durante as oito edições da prova, o AC Milan foi a única equipa Italiana que teve a honra de conquistar a Taça Latina. No ano seguinte o Real Madrid conquistaria também o seu segundo troféu. Em 1958 não haveria mais a Taça Latina. Era chegado o tempo de atenção plena para a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Estávamos apenas a três anos da Glória Benfiquista.



Balanço de uma competição de prestígio


Predecessor da Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Taça Latina é hoje orgulhosamente mencionada nos seus sites por todos os seis Clubes Vencedores:

https://www.fcbarcelona.cat/futbol/fitxa/palmares-futbol (https://www.fcbarcelona.cat/futbol/fitxa/palmares-futbol)
http://www.realmadrid.com/sobre-el-real-madrid/palmares/futbol (http://www.realmadrid.com/sobre-el-real-madrid/palmares/futbol)
http://www.slbenfica.pt/pt-pt/futebol/palmares.aspx (http://www.slbenfica.pt/pt-pt/futebol/palmares.aspx)
https://www.acmilan.com/en/club/history (https://www.acmilan.com/en/club/history)
http://stade-de-reims.com/le-club/histoire/ (http://stade-de-reims.com/le-club/histoire/)


Dando como boa a informação da wikipedia aqui deixo resumos das 8 edições da Taça Latina:

(http://i64.tinypic.com/eg4k0.jpg)

As oito edições e os cinco campeões da Taça Latina. Barcelona FC, Real Madrid FC e AC Milan com duas vitórias, Stade de Reims e SL Benfica com uma vitória. Fonte: Wikipedia

E o palmarés na prova dos 17 Clubes que participaram nessas oito edições da competição:


(http://i63.tinypic.com/256ek5z.jpg)


Nota: O CFB participou em 1955 não por ter sido Campeão Nacional mas porque o SL Benfica decidiu abdicar dessa presença em desfavor da digressão que fez ao Brasil para participara na Taça Charles Miller de 1955 (ver textos 117 a 128). Apenas 5 Clubes venceram a competição, dois Espanhóis: Real Madrid FC (2) e FC Barcelona (2), um Francês: Stade de Reims (1), um Italiano: AC Milan (2) e um Português: o Sport Lisboa e Benfica (1).

Com estes números não admira que os nossos adversários façam tudo para desprestigiar uma competição com esta importância. Dois deles nunca passaram da cepa torta, o outro nem sequer teve coragem para se meter em competição. É assim, quem tem unhas toca guitarra. Neste caso garras... de Águia!


(http://i64.tinypic.com/2igdhud.jpg)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Dandy em 08 de Abril de 2017, 14:28





   É um Prazer viajar de Carocha pela História do Benfica.

   E já que se falou de UEFA, referir que, em matéria de finais "IMPORTANTES", o palmarés do nosso Maior anda mais ou menos (em função da oficialidade/oficiosidade das competições) assim:



   7 finais da TCCE/UCL

   3 finais da Taça UEFA/Europa League

   2 finais da Taça Latina

   2 finais UEFA Futsal Cup

   1 final da Taça das Taças de futsal

   1 final da UEFA Youth League



   ORGULHO!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Abril de 2017, 11:23
-150-
Mântuas de Belém

Janeiro de 1908, cemitério do Alto de São João, Lisboa. Uma carreta transporta o corpo do dramaturgo D. João da Câmara.


(http://i65.tinypic.com/2ko47b.jpg)
Diversos aspectos do funeral de Dom João da Câmara em Janeiro de 1908. Cemitério dos Prazeres, o caixão saíndo da sua morada na Rua da Junqueira e a carreta a caminho do cemitério. Fonte: AML.


De origens nobres (descendente de João Gonçalves Zarco, um dos descobridores da Madeira e Porto Santo), Dom João da Câmara (1852-1908), nado e criado na Rua da Junqueira ali bem ao lado da Gloriosa Belém, foi um dramaturgo importante para a renovação do teatro Português no início do século XX. Por ser uma figura querida e por ser ainda relativamente novo, a sua morte foi muito sentida por parte dos seus amigos e a comunidade Lisboeta das Artes. No seu funeral compareceram diversos amigos de elite das letras lisboetas e claro, diversos outros dramaturgos. E é num desses colegas que iremos concentrar atenções.

De facto, ali num segundo plano, à entrada no cemitério estava um homem discreto, amigo do falecido, colega de profissão, que viria a ter anos mais tarde um importante papel na evolução do Sport Lisboa e Benfica. Ali, numa segunda fila, podemos escrutinar a presença de Bento Mântua, futuro presidente do SLB, que durante nove anos foi companheiro fiel de Cosme Damião nas lides directivas do Sport Lisboa e Benfica.


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Entre os vários homens que acompanharam Dom João da Câmara à sua última morada, encontravam-se figuras destacadas do Teatro e da cultura em Portugal no início do século XX: o escritor e médico Júlio Dantas (1876-1962), o escritor e dramaturgo André Brun (1881-1926) e, mais discreto, o dramaturgo Bento Mântua (1878-1932). Fonte: AML.


Filho de Belém com raízes Angolanas


Bento Mântua nasceu em Belém no dia 6-09-1878. Filho natural de Alfredo Cortez Mântua, natural de São Julião do Tojal, Vila Franca de Xira, e de Balbina de Jesus Lima, natural de Luanda, Angola. Era neto paterno de Bento Joaquim Cortez Mântua e de Maria Natalina Cortez Mântua. Bento teve pelo menos um irmão mais novo chamado Alfredo, que nasceu em Luanda em 12-11-1880, embora tenha sido baptizado em Santa Maria de Belém tal como Bento, o seu irmão mais velho. Nessa época os seus pais eram moradores em Luanda embora, pelo que se percebe, o seu pai faria questão de baptizar os filhos sempre na Igreja de Santa Maria de Belém. Alfredo viria a ser um músico com algum destaque no panorama cultural Português naquele princípio do século XX.


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Alfredo Mântua (Luanda, 1880 - ?). Músico e irmão de Bento Mântua.


O homem de Finanças

Para lá das suas actividades como jornalista, dramaturgo, dirigente desportivo, sabemos que em 1911 Bento Joaquim Cortez Mântua era funcionário superior do Ministério das Finanças (ou Fazenda Pública), tendo-lhe sido atribuída uma promoção de 2º oficial da Direcção Geral da Fazenda Pública, para 1º oficial da referida Direcção Geral.


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Fonte: excertos de Notícias e acta de uma sessão do Parlamento Português (27 e 28 Janeiro 1921) que atestam que Bento Mântua foi um fincionário superior do Ministério das Finanças antes da implantação do Estado Novo. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e BND.


Em 1925 viria a ter um processo disciplinar do qual desconheço os motivos e o resultado. Esse ano de 1925 e principalmente o ano seguinte onde perderia as eleições no SLB, terão sido dois dos anos mais complicados da vida de Bento Mântua. Infelizmente, Bento não viveria muitos anos mais.

Apesar desta faceta de oficial contabilista, seria nas Artes de palco e no dirigismo desportivo que Bento atingiria a sua fama. E não tenhamos dúvidas que essas aptidões profissionais terão sido bastante úteis para o SLB... Antes como agora sempre o SLB enfrentando uma dívida gigantesca.


O dramaturgo


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Entre os seus pares. Bento Mântua acompanhado de outros escritores teatrais entre os quais Félix Bermudes, um outro presidente e figura superlativa do SLB. Assim encontramos, de pé, da esquerda para a direita: Félix Bermudes, Barbosa Júnior, André Brun, Bento Mântua e João Bastos. Sentados, Acácio de Paiva, Ernesto Rodrigues, Eduardo Garrido, Xavier Marques e Xavier da Silva. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca de Lisboa.


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Diversas fotografias e menções ao dramaturgo Bento Mântua. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca de Lisboa.


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Alguns anúncios de peças de teatro levadas à cena em Portugal e no Brasil por companhias Portuguesas em digressão. Nota-se à direita que Bento Mântua constava da lista de autores representados pela famosa companhia Rey Colaço e Robles Monteiro. Fonte: BND.


Não tendo um descritivo de toda a sua obra na dramaturgia, ainda assim pude socorrer-me da listagem de documentos manuscritos depositados na Torre do Tombo, que ilustra alguma da produção de Bento Mântua:


● "DAQUI A TRINTA ANOS", Peça em um acto
● "QUEM ME DERA VER", Diálogo em verso
● "A MORTE", Peça em um acto
● "O MUDO", Episódio dramático
● "MÁ SINA", Peça em um acto
● "FURTAR", Peça em um acto
● "QUANDO MANDA O CORAÇÃO", Peça em um acto
● "UM HOMEM", Diálogo em prosa
● "QUANDO MANDA O CORAÇÃO...", Episódio em um acto
● "MINHA LINDA BENFEITORA", Peça em um acto
● "O FADO", Drama em um acto


Talvez a sua peça mais conhecida – com representações em Portugal e no Brasil - tenha sido "O Fado", inspirada no célebre quadro de José Malhoa com o mesmo título.

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Notícia de 21-10-1935. Fonte: BND.


Contrariamente ao que muita gente pensa não existem uma mas duas versões de 'O Fado'. José Malhoa pintou-as em 1909 e 1910.


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Aspecto da exposição simultânea dos dois quadros de Malhoa expostos em 2001 na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa.. Fonte: DN.


Estes quadros são célebres não apenas pela maravilhosa pintura, técnica e perspectiva, do seu autor mas também porque Malhoa conseguiu captar de forma genial o clima de amor, ciúme, intriga, violência, marialvismo, fadista, marginalidade, enfim dos extremos de comportamento típico de uma certa Lisboa.

Conforme nos disse António Pedro Pereira no seu excelente artigo do DN:

A história desta obra de Malhoa é uma síntese da história de Portugal dos últimos cem anos. Socioculturalmente e, com algum exagero, até politicamente, está lá o País cuspido e escarrado. Podia ser um livro. Mas não é ainda um livro - é verdade que Lourenço Pereira Coutinho, historiador e escritor, escreveu em 2005 uma obra sobre o artista em que falava abundantemente desta obra de faces múltiplas. Tal como não é um filme (mas esteve no primeiro filme mudo português, realizado em 1923) ou uma peça de teatro, embora tenha sido explorado dramaturgicamente em peças do tempo da I República. Mas é um fado: o Fado Malhoa que José Galhardo escreveu para Amália celebrizar, e no qual a fadista canta sobre "o mais português dos quadros a óleo", um dos versos de Galhardo (musicados por Francisco Valério e cantado pela primeira vez pela diva em 1947).

O quadro é isto, mas, objectivamente, é também uma história de intrigas, facadas, violência conjugal, opiniões reais, populares, especializadas e, factualmente, cerca de uma dezena e meia de estudos de José Malhoa e duas telas. Autênticas. Duas faces de uma mesma obra que raras pessoas conseguiram ver juntas.

Há um punhado de anos, apareceu esta primeira versão do quadro que retrata Amâncio, afamado marginal (ou "fadista", então sinónimo) da Mouraria a quem chamavam "pintor" (e por isso, no bairro, chamavam a Malhoa o "pintor fino"), e Adelaide, mulher de má vida, conhecida por Adelaide da Facada (exibia no rosto uma cicatriz desenhada a navalha). E começaram os comentários desdenhosos, as desconfianças, as invejas. Exames periciais resolveram as dúvidas: não havia só um original, mas dois. A riqueza desta obra emblemática do mestre Malhoa também se mede em quantidade: duas versões, vários estudos.

...
Artigo integral em http://www.dn.pt/artes/artes-plasticas/interior/amp/um-encontro-de-irmas-que-demorou-um-seculo-1602380.html (http://www.dn.pt/artes/artes-plasticas/interior/amp/um-encontro-de-irmas-que-demorou-um-seculo-1602380.html)


O quadro "O Fado" esteve aliás também na origem do primeiro filme sonoro Português, realizado por Leitão de Barros e que por si só tem também uma história rocambolesca envolvendo, desfalques e prisões, com acção em Lisboa e Paris. Fiquemos por aqui...


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Aspectos de "A Severa", o primeiro filme sonoro realizado em Portugal. Fonte: http://cinemaportugues.com.pt e Restos de Colecção.


Tudo isto para nos permitir perceber em particular a temática  relevância histórica e artística dessa obra de Malhoa e como Bento Mântua a soube explorar, levando-o ao sucesso em palcos de Portugal e Brasil.


Mas voltemos ao nosso foco, deixando claro que para além desta obra muitas outras peças de Bento Mântua foram igualmente levadas ao palco não apenas em Portugal mas também no Brasil.


O presidente

Não nos vamos estender muito por aqui uma vez que é conhecido o seu papel como presidente do SLB. Ainda assim fica aqui o texto oficial sobre a sua figura e a sua presidência exposto no Museu Cosme Damião.


(http://i64.tinypic.com/2usvsqp.jpg)
Fonte: Museu Cosme Damião.


Bento Mântua, o homem tinha também alguns aspectos interessantes na sua vida particular como por exemplo ser um fumador compulsivo. E usava argumentos que hoje são de todo politicamente incorrectos. Outros tempos...


(http://i66.tinypic.com/2afxz6q.jpg)
Fonte: BND


Que o tabaco é o companheiro do sonho e do devaneio, dulcificador de amarguras e amigo misterioso que a dor procura? Ou que o tabaco é uma esfinge que atrai e assassina, monstro centrípeto e voraz que se deve temer e odiar. Credo...




O fim e a memória

Bento Mântua faleceu na freguesia dos Anjos em Lisboa em 20-12-1932, com 54 anos de idade. Conforme nos diz o seu obituário publicado no DL, Bento Mântua era à data do falecimento, jornalista de "O Século". Era considerado um homem bom, generoso e de talento. Apesar da sua forte personalidade, traduzida no seu envolvimento em causas nobres foi um dedicado e notável Benfiquista, de alguma forma apagando-se ao lado do refulgente Cosme Damião, a alma e coração do Clube durante quase 20 anos. Bento foi um companheiro fiel de Cosme Damião, percebendo a excelência da liderança – efectiva – com que Cosme fazia evoluir o Clube, respeitando os Ideias e dando sempre o melhor exemplo.


(http://i64.tinypic.com/6ien3l.jpg)


Da vida que passa,

a Bento Mântua ficou associado a recordação de ter tido um importante papel como presidente do Glorioso e também de ter sido um dramaturgo importante nesse princípio do século XX. Paz à sua Alma. Glória e agradecimento à sua acção como presidente do Glorioso Sport Lisboa e Benfica.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 14 de Abril de 2017, 15:11
@redvc: victor, no teu belo resumo sobre a taca latina de 56, está lá um pequeno erro. A foto em que o presidente do acm levanta a taca, nao se trata da taca latina. É parecida, mas nao é a mesma das duas fotos ao lado.
um abraco
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Abril de 2017, 15:32
Citação de: alfredo em 14 de Abril de 2017, 15:11
@redvc: victor, no teu belo resumo sobre a taca latina de 56, está lá um pequeno erro. A foto em que o presidente do acm levanta a taca, nao se trata da taca latina. É parecida, mas nao é a mesma das duas fotos ao lado.
um abraco

Muito bem observado alfredo.  O0

Erros propagados em sites como wikipedia (normal) e do Athletic Bilbao (finalista vencido) dando como origem o magliarossonera

https://memoriasdelfutbolvasco.wordpress.com/2015/02/18/carmelo-cedrun-y-la-primera-aventura-italiana-del-athletic-la-copa-latina-1956/

(https://memoriasdelfutbolvasco.files.wordpress.com/2015/02/1956-copa-latina-presidente-milan.png)


E eu nem notei...

A verdadeira é esta aqui levantada pelo Director Desportivo Toni Busini

(http://www.magliarossonera.it/img195556/uff14_1956.jpg)
fonte: http://www.magliarossonera.it/img195556/immuff/5556_lat2.html

(http://www.magliarossonera.it/img195556/alb25_1956.jpg)

Há que corrigir! Obrigado!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 14 de Abril de 2017, 16:59
A foto do rizzoli é com a taca de campeao italiano em 56/57. Foi esse o modelo nos anos 50.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ilian em 14 de Abril de 2017, 22:24
RedVC, obrigado por este teu trabalho de dar a conhecer algumas das pessoas que, no decurso da vida do clube, foram dando muito de si, contribuindo para tornar o Benfica no emblema glorioso que é hoje. É um trabalho de extraordinário mérito e que nos enriquece a todos, adeptos benfiquistas e não só.

É com muito orgulho que encontrei nos teus posts, familiares e homens com quem tive a honra de conviver, mas que, infelizmente, já cá não estão para contar em pessoa aqueles momentos (e outros tantos) que mencionas nos teus posts.

Por todo o teu trabalho, um grande obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Abril de 2017, 22:57
Citação de: Ilian em 14 de Abril de 2017, 22:24
RedVC, obrigado por este teu trabalho de dar a conhecer algumas das pessoas que, no decurso da vida do clube, foram dando muito de si, contribuindo para tornar o Benfica no emblema glorioso que é hoje. É um trabalho de extraordinário mérito e que nos enriquece a todos, adeptos benfiquistas e não só.

É com muito orgulho que encontrei nos teus posts, familiares e homens com quem tive a honra de conviver, mas que, infelizmente, já cá não estão para contar em pessoa aqueles momentos (e outros tantos) que mencionas nos teus posts.

Por todo o teu trabalho, um grande obrigado.

Obrigado Ilian. As tuas palavras são uma grande recompensa para mim pois um dos objectivos primordiais destes textos é voltar a dar destaque merecido a grandes homens, grandes desportistas que encheram de orgulho os Benfiquistas do passado. Nomes inesquecíveis, homens de coragem e talento. É uma grande satisfação pessoal poder fazê-lo.

No decurso da pesquisa para muitos desses textos descubro factos novos para mim que adicionam outras dimensões a homens que eu pensava já conhecer bem. E quando termino esses textos fico ainda mais orgulhoso e mais satisfeito por o meu Pai me ter feito Benfiquista.

Gostaria que aparecessem mais pessoas a colocar aqui material e levantar dúvidas pois elas podem levar a mais e melhor conhecimento sobre o Glorioso passado do nosso querido Clube. Os recursos actualmente disponíveis para a pesquisa são bons mas - assim espero - no futuro ainda serão melhores. Existe no entanto outro factor igualmente importante que é a partilha do conhecimento. Essa é também uma componente essencial do Benfiquismo.

Nenhum Benfiquista poderá ter o prazer e orgulho máximo do seu Clube se não conhecer esse passado tão rico, tão brilhante, tão fascinante.

Uma vez mais um sincero obrigado por essas palavras.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Dandy em 21 de Abril de 2017, 17:59




   Actualização:


   Em matéria de finais "IMPORTANTES", da UEFA, o palmarés do nosso Benfica anda mais ou menos (em função da oficialidade/oficiosidade das competições) assim:



   7 finais da TCCE/UCL

   3 finais da Taça UEFA/Europa League

   2 finais da Taça Latina

   2 finais da UEFA Futsal Cup

   2 finais da UEFA Youth LEague

   1 final da Taça das Taças de futsal



   ORGULHO!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Abril de 2017, 21:40
Citação de: Dandy em 21 de Abril de 2017, 17:59




   Actualização:


   Em matéria de finais "IMPORTANTES", da UEFA, o palmarés do nosso Benfica anda mais ou menos (em função da oficialidade/oficiosidade das competições) assim:



   7 finais da TCCE/UCL

   3 finais da Taça UEFA/Europa League

   2 finais da Taça Latina

   2 finais da UEFA Futsal Cup

   2 finais da UEFA Youth LEague

   1 final da Taça das Taças de futsal



   ORGULHO!


Caro Dandy, próxima actualização em breve?  :coolsmiley:  :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Abril de 2017, 16:12
-151-
Festival taurino do SLB

Dia 26 de Outubro de 1952. Praça de touros do Campo Pequeno.

(http://i67.tinypic.com/2qlwf0h.jpg)
Fonte: Arquivo de Helena Águas.


Vestidos a rigor para suportar um frio intenso e uma chuva miudinha que ia caindo, sete jogadores Benfiquistas e o seu treinador assistem a um festival taurino.

Reconhecem-se, da esquerda para a direita, José Bastos, Cândido Tavares, José Águas, Jacinto Marques, José Mascarenhas, Joaquim Fernandes, António Clemente e José da Costa. Uns mais conhecidos do que outros. Não desenvolvendo detalhes biográficos ficam aqui alguns dados da carreira Benfiquista de cada um destes jogadores:

(http://i65.tinypic.com/2du9y0j.jpg)

Em 1952 o SLB estava em plena aventura da construção do seu Estádio e por isso fazia-se uso de toda a criatividade e todo o Benfiquismo dos seus adeptos para se conseguir recolher fundos. Essa aventura era liderada pelo presidente Joaquim Ferreira Bogalho e tornou-se uma das mais belas páginas da História do Glorioso.


(http://i68.tinypic.com/334kb2f.jpg)
(http://i67.tinypic.com/jtkmmh.jpg)
Aspectos do interior e exterior do pavilhão da Feira Popular de Lisboa onde se fez a exposição de angariação de fundos para a construção do Estádio da Luz, em 1953. Ali esteve o famoso gigantesco mealheiro que ao ser aberto revelou as muitas e generosas ofertas de sócios e simpatizantes do SLB.


O festival taurino do SLB
   
Numa nota pessoal prévia gostaria de deixar claro que não sendo adepto de touradas (antes pelo contrário), entendo que este destaque a um festival taurino do SLB resulta de ter percebido o contexto social e cultural desses tempos, muito diferentes dos actuais. Nessa altura o gosto pelas touradas estava mais generalizado pela população Portuguesa e era um espectáculo ao qual, como é visível na fotografia, os jogadores assistiam sem problemas. Decerto que isso não aconteceria nos dias de hoje, muito menos no âmbito de actividades promovidas pelo nosso Clube. Eram mesmo outros tempos.


(http://i65.tinypic.com/vhcbjs.jpg)
(http://i63.tinypic.com/2u5uoex.jpg)
(http://i64.tinypic.com/6fxdee.jpg)
Aspectos do cartaz e de um ferro usados no festival taurino de 1952, expostos no Museu Cosme Damião.


O festival taurino foi mais uma das iniciativas para a arrecadação de fundos para a construção do Estádio. Conforme nos é desenvolvido pelo Sr. Alberto Franco (http://afestamaisculta.blogspot.pt/2010_04_01_archive.html (http://afestamaisculta.blogspot.pt/2010_04_01_archive.html)):


"Do cartel constavam os cavaleiros João Núncio, José Rosa Rodrigues e Francisco Sepúlveda, os diestros Manuel dos Santos, António dos Santos, Joaquim Marques e Francisco Mendes, e os forcados amadores de Lisboa. À última hora, juntou-se-lhes o matador espanhol Manolo González, que se disponibilizou para lidar um dos novilhos cedidos por Cláudio Moura.

A gerência do Campo Pequeno, na pessoa de José Ricardo Domingues Júnior, filho do empresário, tudo fez «para o bom êxito da iniciativa.» Só o tempo não ajudou. «Toda a manhã de domingo choveu a bom chover, chuva miudinha que irritava e entristecia, e que pôs o chão da arena em 'papa'.» A praça não encheu, mas mesmo assim o clube arrecadou uma receita líquida de 150 contos."


Ainda no dito artigo remata-se de forma magistral:

"O facto mais marcante da corrida foi a saída pela Porta Grande dos forcados de Lisboa, em condições muito especiais. Segundo o antigo forcado Carlos Patrício Álvares (Chaubet), no seu livro «Pega de Caras», Manuel dos Santos terá incitado os forcados a pegarem a rês que acabara de tourear. «Estes, satisfeitos por poderem mostrar que pegavam sem dificuldade o que entre nós se toureia a pé, imediatamente acederam.» A pega foi concretizada e muito aplaudida, mas o director de corrida não esteve pelos ajustes e ordenou que o pegador fosse detido. «Evidentemente, bem à grupo de Lisboa da época – se vai um vão todos – lá saiu o grupo todo pela Porta Grande, escoltados pela polícia.» Os forcados foram libertados a tempo de poderem comparecer no jantar oferecido pelo Benfica, na Adega Mesquita. Nuno Salvação Barreto, esse, ficou sob custódia, mas enviou um telegrama aos seus rapazes: «A lei não me deixa comparecer, mas o vosso cabo está convosco. Viva o Benfica»."


Nota-se que o gerente comercial da Praça de touros do Campo Pequeno, José Ricardo Domingues Júnior, era à época um dinâmico e generoso Benfiquista que teve importantes funções no departamento de futebol do SLB. Aliás falamos nele no recente texto "-148 - De Como a Milão", a propósito da participação na Taça Latina de 1956.
 
(http://i68.tinypic.com/4i0ppi.jpg)


O Diário de Lisboa do dia seguinte dá mais detalhes sobre o festival taurino:


(http://i63.tinypic.com/xbe5h3.jpg)
Parte da reportagem do festival taurino publicada no Diário de Lisboa em 27-10-1952.


Ganadaria Rosa Rodrigues

Talvez o ponto mais interessante desse cartel tenha sido a presença do cavaleiro José Rosa Rodrigues. Soa familiar? Pois... era mesmo um membro da família dos Catataus. Era filho de Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos quatro irmãos Rosa Rodrigues, os famosos Catataus.


(http://i63.tinypic.com/dlhier.jpg)
Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos irmãos Catatau e o único que não foi fundador pois era demasiado jovem em Fevereiro de 1904.


(http://i65.tinypic.com/nvp8nm.jpg)
Duas imagens da carreira futebolística de Jorge Rosa Rodrigues no SLB. Á esquerda numa equipa juvenil do SLB na Quinta da Feiteira, provavelmente por 1908-1909 e depois à direita, ao lado de Cosme Damião, antes de um jogo contra o Carcavelos Club em 1910. Nota-se que Jorge Rosa Rodrigues usava luvas, algo que tanto quanto sei não era normal nessa época. O facto de ser de uma família com bons recursos ajuda com certeza a perceber essa curiosidade. Fonte: AML.


Ora foi justamente Jorge Rosa Rodrigues que, casando em 1913 no Concelho da Chamusca, terra para onde foi viver, fundou em 1927 a prestigiada ganadaria "Rosa Rodrigues".


(http://i68.tinypic.com/1978xt.jpg)
Alguns dados da ganadaria Rosa Rodrigues como constam do seu sítio oficial.


Em 1965, já com 67 anos de idade passaria a ganadaria para o nome do seu filho, o cavaleiro José Rosa Rodrigues. Jorge Rosa Rodrigues viveria ainda mais seis anos, falecendo em 14-11-1971 com 79 anos de idade. Dos seus irmãos apenas Cândido estava vivo pois José tinha falecido no já longínquo anos de 1924 e António tinha falecido em 1953.

José Rosa Rodrigues tomou alternativa como cavaleiro tauromáquico em 26-07-1944, tendo sido padrinho o prestigiado cavaleiro João Branco Núncio. Nesse dia, o jovem José Rosa Rodrigues destacou-se num cartel que incluía também o ainda jovem (e mais tarde célebre) toureiro Manuel dos Santos. Como cavaleiro tauromáquico José Rosa Rodrigues conquistou também bastante notoriedade no meio taurino nas décadas de 40 e 50. Ao que julguei perceber foi introdutor das corridas de touros nas Filipinas tendo também toureado noutras zonas do globo. 

 
(http://i68.tinypic.com/21kxul5.jpg)
À esquerda notícia da alternativa de José Rosa Rodrigues, Fonte: DL 27-07-1944. À direita José Rosa Rodrigues esteve envolvido num cartel histórico ao lado do seu mestre João Branco Núncio e do trágico Manolete (talvez o maior toureiro de todos os tempos) que morreria 1 mês depois em Linares, Espanha.


(http://i67.tinypic.com/dqr91f.jpg)
Notícia do DL que informa dos triunfos do cavaleiro José Rosa Rodrigues em Manila, Filipinas.
https://s-media-cache-https://s-media-cache-(http://ak0.pinimg.com/736x/8b/24/ad/8b24ad965da129f407d58a4bb461fb8b.jpg)
Cartaz de uma das corridas de touros em Manila onde esteve envolvido José Rosa Rodrigues.


Curiosamente não obstante as cores verdes e as ligações ao clube de Alvalade, o Engenheiro e cavaleiro José Rosa Rodrigues, quando em 1955 recebeu em sua casa na Chamusca dirigentes do Vasco da Gama então em digressão pelo nosso país, lembrou a ligação da sua família ao Sport Lisboa e Benfica


(http://i66.tinypic.com/2ykevqt.jpg)
Fonte: Jornal dos Sports. BND.

Por muito que se negue o vínculo dos Rosa Rodrigues ao Sport Lisboa e Benfica é e será sempre umbilical.

Mundo pequeno, Benfica enorme!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Dandy em 22 de Abril de 2017, 19:20





   Família Catatau, na pessoa de um certo João, para sempre ligada à publicação de livros dedicados ao ensino do código da estrada em Portugal.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Abril de 2017, 19:48
E grande amigo do Zé Colmeia

(http://i1072.photobucket.com/albums/w370/shopmaquinadotempo/5_zpsgp0ixpuw.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Maio de 2017, 14:55
-152-
O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante.

Benfica, 1 de Dezembro de 1954.


(http://i65.tinypic.com/ojl6if.jpg)
O arquitecto João Simões e a sua equipa desfilando na inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Com emoção e sentimento do dever cumprido, terminava nesse dia a grande Aventura da construção do Estádio da Luz! Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.

 
(http://i66.tinypic.com/2yoad8h.jpg)
Excerto do artigo do DL em 2-12-1954. À esquerda a medalha comemorativa do grande dia.


Foi um dia inolvidável para o Benfiquismo. Com o sentimento do dever bem cumprido, centenas de homens que ajudaram a construir a Catedral Benfiquista, desfilaram envergando orgulhosamente na sua lapela a medalha que assinalava esse grande dia.

Com esse majestoso desfile inaugurava-se o Estádio e terminava a aventura da sua construção... inicial. Um Estádio que levou 50 anos a concretizar depois de muitas mudanças e lágrimas. No passado tinham ficado para trás as Terras do Desembargador, Quinta da Feiteira, Sete Rios, Gomes Pereira, Amoreiras e Campo Grande. Agora era tempo de estabilizar, de investir no futebol e sonhar com conquistas futuras. E para isso não seria preciso esperar sequer uma década.

Nos 50 anos seguintes, esse maravilhoso Estádio do Sport Lisboa e Benfica, carinhosamente eternizado como Estádio da Luz, passou a ser a Casa do Benfica e dos Benfiquistas. Seria também um local de lendas, de vivências e de conquistas inesquecíveis. Um local temido por tantos e tantos adversários valorosos que ali jogaram e que tantas vezes dali saíram derrotados. Com honra e com respeito.
 

(http://i68.tinypic.com/jsixe1.jpg)
(http://i67.tinypic.com/15s65ap.jpg)
(http://i68.tinypic.com/5vn8z8.jpg)
(http://i66.tinypic.com/fjovbm.jpg)
Algumas imagens do desfile e das cerimónias do dia da inauguração do grandioso Estádio da Luz. Fonte: Arquivo RTP.


João Simões, o desportista
(http://i66.tinypic.com/2z4agzm.jpg)
João Simões com o manto sagrado. Data e local desconhecido.
Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



Nesse dia 1 de Dezembro de 1954, aniversário da reconquista da independência Nacional, tudo começou. À frente da sua equipa, o Arquitecto João Simões (13-06-1908 a 24-11-1993) desfilou com emoção e com o sentimento do dever cumprido. Ele e a sua equipa foram os primeiros responsáveis pelo projecto e pela verificação da construção do Estádio. Quanto trabalho, quanta paixão, quanta dedicação estavam ali representadas naquele majestoso Estádio? eles mais do que ninguém sabiam a resposta.

Voltamos hoje a falar deste grande homem e figura Benfiquista (ver texto 63 – Arquitecto da Catedral; http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.msg1081393617#msg1081393617) e da nossa antiga e muito querida Catedral. Olhando para fotografias que ficaram por mostrar da sua vida enquanto desportista e da sua vida profissional aquando da aventura da construção da nossa Catedral. Não sendo uma evocação do seu trajecto profissional pois esse é muito rico e diversificado e do qual falamos na primeira parte. Falaremos hoje essencialmente do grande dia da inauguração. Desse dia mais brilhante em que João Simões e a sua equipa tiveram o justo reconhecimento das dezenas de milhares de Benfiquistas que ali foram para celebrar aquele marco da sua vida associativa.

João Simões foi um homem de trabalho e talento, que combinando essas virtudes pessoais com a sua paixão pelo Sport Lisboa e Benfica nos deixou um legado impressionante. Nada de estranhar num homem que na sua juventude foi um dedicado atleta Benfiquista, tendo contribuído de forma modesta mas empenhada em diversas modalidades do nosso Clube. Ali, exposto aos Ideiais do Benfiquismo, moldou para sempre a sua paixão pelo nosso Clube.

Apesar de não ter feito uma carreira destacada no nosso futebol, o jovem Benfiquista João Simões chegou a fazer 3 jogos na nossa equipa principal nas épocas de 1928/29 a 1930/31. Ao que sei terão sido jogos particulares mas ainda assim jogou pelo menos um jogo contra o Sporting e outro contra o Belenenses, ambos vitoriosos para as nossas cores.


(http://i67.tinypic.com/343sppu.jpg)
Campo das Amoreiras, algures na década de 20. João Simões (assinalado) numa equipa de categorias inferiores. Infelizmente é uma equipa da qual consigo apenas consigo identificar um outro jogador, Dinis (primeiro de pé, à esquerda). Em baixo, perto da bola está talvez o pequeno e irrequieto Eugénio Salvador. Data e local desconhecido. Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



João Simões, o arquitecto

Com as suas belas maquetas o arquitecto João Simões apresentou à Direcção Benfiquista a sua visão do Estádio.


(http://i64.tinypic.com/2lwap2d.jpg)
O Arquitecto João Simões de indicador estendido, apresenta a alguns dirigentes do SLB o seu projecto para a futura Catedral na forma de uma maqueta. Estava prestes a terminar a Estância de madeiras. O maior Clube Português ganhava enfim uma casa condigna.


Facto notório da primeira versão da maqueta do Estádio da Luz é que o projecto inicialmente contemplava dois anéis e uma bancada em terceiro anel com pala. Um projecto ao jeito da época e que apesar de causar boa impressão não prometia ainda o aspecto esmagador que o futuro terceiro anel viria a ter.


(http://i67.tinypic.com/jzzi9v.jpg)
(http://i67.tinypic.com/2d855pf.jpg)
A maquete da primeira fase do futuro Estádio do Sport Lisboa e Benfica, para sempre conhecido como o Estádio da Luz. O mais belo e querido de todos os Estádios. Fonte: Museu Cosme Damião.



A construção do Estádio

Durante os primeiros seis anos a primeira versão do nosso novo Estádio veio apenas a exibir dois anéis. Construído no espaço da antiga Quinta do Montalegre e erigido pela firma Alves Ribeiro, o nosso Estádio foi um esforço colectivo impressionante dos Benfiquistas. Quando foi inaugurado a 1 de Dezembro de 1954, o Estádio tinha apenas dois anéis.


(http://i67.tinypic.com/2nsygjm.jpg)
De Junho de 1953 a Dezembro de 1954. A aventura da construção do Estádio da Luz. Fonte: Retalhos de Benfica e Restos de Colecção.


(http://i67.tinypic.com/s0wuwo.jpg)
Fonte: DL, Junho de 1953.


(http://i65.tinypic.com/xmj1ia.jpg)
O Arquitecto João Simões com os desenhos do projecto, membros da sua equipa e membros da Direcção liderada por Joaquim Ferreira Bogalho (de mãos nos bolsos à direita). Distinguem-se entre outros, José Ricardo Domingues Júnior, João Simões, ?, Manuel Abril e o presidente Joaquim Ferreira Bogalho.


Participar na aventura da planificação e construção do Estádio foi um privilégio que o Arquitecto João Simões procurou activamente desde que soube da decisão da Direcção do SLB em construir um novo Estádio. Aliás ao que parece nem seria ele o arquitecto que inicialmente indicado para liderar o projecto. Mas foi ele, com o seu Benfiquismo voluntarista, que acabou por assumir esse papel. Foi também um privilégio que mereceu inteiramente pelas suas qualidades pessoais e profissionais. O Estádio seria o orgulho dos Benfiquistas pelo projecto e pela concretização, fruto da vontade, paixão e solidariedade dos Benfiquistas.

No dia da inauguração Joaquim Ferreira Bogalho, o grande presidente do SL Benfica deixou claro que o Estádio estava integralmente pago. Chave na mão, as portas abriam-se para os sonhos que em breve seriam tarde e noites de Glória. Títulos nacionais e europeus. Dias inesquecíveis. Joaquim Ferreira Bogalho, a sua equipa Directiva e todos os Benfiquistas que contribuíram tinham conseguido o milagre. O Estádio era o orgulho de todos os Benfiquistas!


(http://i67.tinypic.com/2s9c9qh.jpg)
A grande Direcção presidida por Joaquim Ferreira Bogalho. Homens imortais para a História do Benfiquismo.


(http://i66.tinypic.com/4fva4p.jpg)
Fonte: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.


Belo, alvo, simples, funcional. O novo Estádio traduzia finalmente a grandeza de um Clube que com 50 anos de vida tinha desde sempre a preferência maioritária da população Portuguesa na metrópole e nas colónias. Um Estádio finalmente condigno com o estatuto do Clube mais popular de Portugal. Um Estádio que dava finalmente condições para estabilizar o Clube, para que as equipas de futebol trabalhassem e que nos traria as maiores alegrias e algumas das melhores páginas da História do SLB.


A evolução do projecto

Mas os projectos evoluem em função das necessidades. A realidade dos números impõe-se a partir das necessidades trazidas pelos novos tempos. Com a melhoria das condições e com a Glória Europeia, cedo se percebeu que o SLB precisava de aumentar a capacidade do Estádio para níveis nunca antes vistos no nosso país. Aliás os estudos iniciais apontavam essa evolução.

(http://i68.tinypic.com/2vllgs2.jpg)
O projecto de construção do terceiro anel. Este era o sonho a mais longo prazo. Um complexo desportivo onde já se projectava o fecho do terceiro anel e a construção de um Estádio para as modalidades.


E por isso estiveram bem os nossos dirigentes quando permitiram que em lugar da bancada com pala inicialmente prevista, viesse antes a nascer o imponente, majestoso, terceiro anel. Era uma etapa intermédia para o fecho do terceiro anel, que na verdade teria de esperar mais de 20 anos para ser concretizado.

Ainda assim aquela nova bancada veio a ser rapidamente rentabilizada tendo ficado desde sempre associado à grandeza do Clube e às enormes façanhas desportivas do Clube. Em especial ficou na memória a intensidade da paizão que ali se vivia e manifestava nas grandes noites Europeias.


(http://i68.tinypic.com/i6ku49.jpg)
Imagem impressionante de um jogo disputado durante a primeira fase da construção do terceiro anel. José Águas prepara-se para marcar mais um golo.


(http://i63.tinypic.com/2epsxh2.jpg)
O terceiro anel foi durante décadas uma visão aterradora para tantos adversários durante mais de 30 anos de Glória Benfiquista.


Para aqueles que tiveram o privilégio de ainda ir ao terceiro anel sem que estivesse concretizado o fecho ficaram as imagens da imponência mas também da linha do horizonte que à frente daquele majestoso anel nos dava a imagem das zonas envolventes de Benfica e Carnide, bastante diferentes da paisagem que hoje contemplamos quando nos acercamos do novo Estádio.

(http://i68.tinypic.com/2s6ouv7.jpg)


Serviu este texto não como lamento do que se perdeu mas antes de evocação da beleza do que existiu, assim como do mérito e do labor de quem o construiu. Um texto de alegria. Alegria em particular ao evocar a acção de um homem de excepção como foi o Arquitecto João Simões. Um homem de trabalho, generoso, Benfiquista de coração. Serviu também este texto para evocar com alegria os tempos magníficos vividos naquele Estádio, jornadas de lenda e de memória inesquecível, perene e alegre. E de todos os que por lá passaram. Todos o que por lá viveram a alegria de ser Portugueses, desportistas e Benfiquistas. Com orgulho muito seu.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Maio de 2017, 15:35
Fabulosa epopeia a da construçao da nossa antiga Catedral.Ferreira Bogalho e seus pares merecem por direito próprio pertencer á galeria de imortais do Benfica.De cada vez que vejo imagens da antiga Luz é como me espetassem uma faca no coraçao. :cry2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Maio de 2017, 16:50
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Maio de 2017, 15:35
Fabulosa epopeia a da construçao da nossa antiga Catedral.Ferreira Bogalho e seus pares merecem por direito próprio pertencer á galeria de imortais do Benfica.De cada vez que vejo imagens da antiga Luz é como me espetassem uma faca no coraçao. :cry2:

Sim Alexandre. Compreendo. Mas ainda assim eu continuo a tentar ver acima de tudo... alegria. Saudade com alegria! Tanto quanto é possível. A beleza e o sentimento de profundo respeito por um local que ajudou a moldar a personalidade de muitos. Porque nunca se deve esquecer que nestes tempos de truculência e de activa promoção da ignorância, feita de forma deliberada para controlar e vender tudo aquilo que se possa imaginar, neste tempos é preciso ter memória. É preciso ter valores. É preciso hoje lembrar e honrar os Ases do passado. Aqueles que desbravaram o caminho. Aqueles que nos ensinaram o Benfiquismo. É preciso lembrar um local que foi o baluarte desses homens e desses valores. Especialmente porque muitos milhares de Benfiquistas não tiveram a sorte, o privilégio de ter pisado aquelas bancadas. Tu e eu tivemos esse privilégio e por isso devemos estar gratos e ter alegria.

Ser Benfiquista é ter memória. É ser alegre e devotado aos valores maiores do desportivismo, da lusitanidade, do respeito pelos consórcios e pelos adversários. Paixão pelo Clube. Respeito e memória. Alegria! Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Maio de 2017, 18:18
Concordo.Acho que é a saudade a falar mais alto,pois no fundo fomos uns privilegiados em termos tido a oportunidade de frequentar a antiga catedral.Fosse no futebol,mas também no saudoso pavilhao,onde assisti a momentos inesqueciveis do nosso hoquei e do basket.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 03 de Maio de 2017, 07:56
Fantásticas fotos e fantástico texto sobre a eterna Catedral.

A epopeia de construção da antiga Luz deve ser a história mais bonita de toda a História do Benfica...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: lPhoenix em 03 de Maio de 2017, 15:54
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Maio de 2017, 18:18
Concordo.Acho que é a saudade a falar mais alto,pois no fundo fomos uns privilegiados em termos tido a oportunidade de frequentar a antiga catedral.Fosse no futebol,mas também no saudoso pavilhao,onde assisti a momentos inesqueciveis do nosso hoquei e do basket.

Tivemos o privilégio de viver o futebol quando a paixão pelo jogo se sobrepunha a tudo. O tal amor à camisola... os sacríficios pela causa maior... o encanto pelos artistas da bola. Tudo tão maravilhosamente genuíno, vibrante e apaixonante. As lágrimas de tristeza na derrota, a esperança renovada, a felicidade da vitória, tudo tão restricto ao que se passava dentro das 4 linhas.

Hoje muito do que se fala é rasteiro e enquadrável numa folha de cálculo.

Enfim, muita saudade desse tempo, mas também tenho muita fé no futuro do Benfica, apesar desta fase suja orientada pelo dinheiro, a alma do clube continua intacta e brilha nos olhos de quem conhece e se orgulha da sua História. Estes nunca deixarão morrer o Sport Lisboa e Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: joao12soares em 04 de Maio de 2017, 21:46
Citação de: RedVC em 01 de Maio de 2017, 14:55
-152-
O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante.

Benfica, 1 de Dezembro de 1954.


(http://i65.tinypic.com/ojl6if.jpg)
O arquitecto João Simões e a sua equipa desfilando na inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Com emoção e sentimento do dever cumprido, terminava nesse dia a grande Aventura da construção do Estádio da Luz! Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.

 
(http://i66.tinypic.com/2yoad8h.jpg)
Excerto do artigo do DL em 2-12-1954. À esquerda a medalha comemorativa do grande dia.


Foi um dia inolvidável para o Benfiquismo. Com o sentimento do dever bem cumprido, centenas de homens que ajudaram a construir a Catedral Benfiquista, desfilaram envergando orgulhosamente na sua lapela a medalha que assinalava esse grande dia.

Com esse majestoso desfile inaugurava-se o Estádio e terminava a aventura da sua construção... inicial. Um Estádio que levou 50 anos a concretizar depois de muitas mudanças e lágrimas. No passado tinham ficado para trás as Terras do Desembargador, Quinta da Feiteira, Sete Rios, Gomes Pereira, Amoreiras e Campo Grande. Agora era tempo de estabilizar, de investir no futebol e sonhar com conquistas futuras. E para isso não seria preciso esperar sequer uma década.

Nos 50 anos seguintes, esse maravilhoso Estádio do Sport Lisboa e Benfica, carinhosamente eternizado como Estádio da Luz, passou a ser a Casa do Benfica e dos Benfiquistas. Seria também um local de lendas, de vivências e de conquistas inesquecíveis. Um local temido por tantos e tantos adversários valorosos que ali jogaram e que tantas vezes dali saíram derrotados. Com honra e com respeito.
 

(http://i68.tinypic.com/jsixe1.jpg)
(http://i67.tinypic.com/15s65ap.jpg)
(http://i68.tinypic.com/5vn8z8.jpg)
(http://i66.tinypic.com/fjovbm.jpg)
Algumas imagens do desfile e das cerimónias do dia da inauguração do grandioso Estádio da Luz. Fonte: Arquivo RTP.


João Simões, o desportista
(http://i66.tinypic.com/2z4agzm.jpg)
João Simões com o manto sagrado. Data e local desconhecido.
Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



Nesse dia 1 de Dezembro de 1954, aniversário da reconquista da independência Nacional, tudo começou. À frente da sua equipa, o Arquitecto João Simões (13-06-1908 a 24-11-1993) desfilou com emoção e com o sentimento do dever cumprido. Ele e a sua equipa foram os primeiros responsáveis pelo projecto e pela verificação da construção do Estádio. Quanto trabalho, quanta paixão, quanta dedicação estavam ali representadas naquele majestoso Estádio? eles mais do que ninguém sabiam a resposta.

Voltamos hoje a falar deste grande homem e figura Benfiquista (ver texto 63 – Arquitecto da Catedral; http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.msg1081393617#msg1081393617) e da nossa antiga e muito querida Catedral. Olhando para fotografias que ficaram por mostrar da sua vida enquanto desportista e da sua vida profissional aquando da aventura da construção da nossa Catedral. Não sendo uma evocação do seu trajecto profissional pois esse é muito rico e diversificado e do qual falamos na primeira parte. Falaremos hoje essencialmente do grande dia da inauguração. Desse dia mais brilhante em que João Simões e a sua equipa tiveram o justo reconhecimento das dezenas de milhares de Benfiquistas que ali foram para celebrar aquele marco da sua vida associativa.

João Simões foi um homem de trabalho e talento, que combinando essas virtudes pessoais com a sua paixão pelo Sport Lisboa e Benfica nos deixou um legado impressionante. Nada de estranhar num homem que na sua juventude foi um dedicado atleta Benfiquista, tendo contribuído de forma modesta mas empenhada em diversas modalidades do nosso Clube. Ali, exposto aos Ideiais do Benfiquismo, moldou para sempre a sua paixão pelo nosso Clube.

Apesar de não ter feito uma carreira destacada no nosso futebol, o jovem Benfiquista João Simões chegou a fazer 3 jogos na nossa equipa principal nas épocas de 1928/29 a 1930/31. Ao que sei terão sido jogos particulares mas ainda assim jogou pelo menos um jogo contra o Sporting e outro contra o Belenenses, ambos vitoriosos para as nossas cores.


(http://i67.tinypic.com/343sppu.jpg)
Campo das Amoreiras, algures na década de 20. João Simões (assinalado) numa equipa de categorias inferiores. Infelizmente é uma equipa da qual consigo apenas consigo identificar um outro jogador, Dinis (primeiro de pé, à esquerda). Em baixo, perto da bola está talvez o pequeno e irrequieto Eugénio Salvador. Data e local desconhecido. Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



João Simões, o arquitecto

Com as suas belas maquetas o arquitecto João Simões apresentou à Direcção Benfiquista a sua visão do Estádio.


(http://i64.tinypic.com/2lwap2d.jpg)
O Arquitecto João Simões de indicador estendido, apresenta a alguns dirigentes do SLB o seu projecto para a futura Catedral na forma de uma maqueta. Estava prestes a terminar a Estância de madeiras. O maior Clube Português ganhava enfim uma casa condigna.


Facto notório da primeira versão da maqueta do Estádio da Luz é que o projecto inicialmente contemplava dois anéis e uma bancada em terceiro anel com pala. Um projecto ao jeito da época e que apesar de causar boa impressão não prometia ainda o aspecto esmagador que o futuro terceiro anel viria a ter.


(http://i67.tinypic.com/jzzi9v.jpg)
(http://i67.tinypic.com/2d855pf.jpg)
A maquete da primeira fase do futuro Estádio do Sport Lisboa e Benfica, para sempre conhecido como o Estádio da Luz. O mais belo e querido de todos os Estádios. Fonte: Museu Cosme Damião.



A construção do Estádio

Durante os primeiros seis anos a primeira versão do nosso novo Estádio veio apenas a exibir dois anéis. Construído no espaço da antiga Quinta do Montalegre e erigido pela firma Alves Ribeiro, o nosso Estádio foi um esforço colectivo impressionante dos Benfiquistas. Quando foi inaugurado a 1 de Dezembro de 1954, o Estádio tinha apenas dois anéis.


(http://i67.tinypic.com/2nsygjm.jpg)
De Junho de 1953 a Dezembro de 1954. A aventura da construção do Estádio da Luz. Fonte: Retalhos de Benfica e Restos de Colecção.


(http://i67.tinypic.com/s0wuwo.jpg)
Fonte: DL, Junho de 1953.


(http://i65.tinypic.com/xmj1ia.jpg)
O Arquitecto João Simões com os desenhos do projecto, membros da sua equipa e membros da Direcção liderada por Joaquim Ferreira Bogalho (de mãos nos bolsos à direita). Distinguem-se entre outros, José Ricardo Domingues Júnior, João Simões, ?, Manuel Abril e o presidente Joaquim Ferreira Bogalho.


Participar na aventura da planificação e construção do Estádio foi um privilégio que o Arquitecto João Simões procurou activamente desde que soube da decisão da Direcção do SLB em construir um novo Estádio. Aliás ao que parece nem seria ele o arquitecto que inicialmente indicado para liderar o projecto. Mas foi ele, com o seu Benfiquismo voluntarista, que acabou por assumir esse papel. Foi também um privilégio que mereceu inteiramente pelas suas qualidades pessoais e profissionais. O Estádio seria o orgulho dos Benfiquistas pelo projecto e pela concretização, fruto da vontade, paixão e solidariedade dos Benfiquistas.

No dia da inauguração Joaquim Ferreira Bogalho, o grande presidente do SL Benfica deixou claro que o Estádio estava integralmente pago. Chave na mão, as portas abriam-se para os sonhos que em breve seriam tarde e noites de Glória. Títulos nacionais e europeus. Dias inesquecíveis. Joaquim Ferreira Bogalho, a sua equipa Directiva e todos os Benfiquistas que contribuíram tinham conseguido o milagre. O Estádio era o orgulho de todos os Benfiquistas!


(http://i67.tinypic.com/2s9c9qh.jpg)
A grande Direcção presidida por Joaquim Ferreira Bogalho. Homens imortais para a História do Benfiquismo.


(http://i66.tinypic.com/4fva4p.jpg)
Fonte: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.


Belo, alvo, simples, funcional. O novo Estádio traduzia finalmente a grandeza de um Clube que com 50 anos de vida tinha desde sempre a preferência maioritária da população Portuguesa na metrópole e nas colónias. Um Estádio finalmente condigno com o estatuto do Clube mais popular de Portugal. Um Estádio que dava finalmente condições para estabilizar o Clube, para que as equipas de futebol trabalhassem e que nos traria as maiores alegrias e algumas das melhores páginas da História do SLB.


A evolução do projecto

Mas os projectos evoluem em função das necessidades. A realidade dos números impõe-se a partir das necessidades trazidas pelos novos tempos. Com a melhoria das condições e com a Glória Europeia, cedo se percebeu que o SLB precisava de aumentar a capacidade do Estádio para níveis nunca antes vistos no nosso país. Aliás os estudos iniciais apontavam essa evolução.

(http://i68.tinypic.com/2vllgs2.jpg)
O projecto de construção do terceiro anel. Este era o sonho a mais longo prazo. Um complexo desportivo onde já se projectava o fecho do terceiro anel e a construção de um Estádio para as modalidades.


E por isso estiveram bem os nossos dirigentes quando permitiram que em lugar da bancada com pala inicialmente prevista, viesse antes a nascer o imponente, majestoso, terceiro anel. Era uma etapa intermédia para o fecho do terceiro anel, que na verdade teria de esperar mais de 20 anos para ser concretizado.

Ainda assim aquela nova bancada veio a ser rapidamente rentabilizada tendo ficado desde sempre associado à grandeza do Clube e às enormes façanhas desportivas do Clube. Em especial ficou na memória a intensidade da paizão que ali se vivia e manifestava nas grandes noites Europeias.


(http://i68.tinypic.com/i6ku49.jpg)
Imagem impressionante de um jogo disputado durante a primeira fase da construção do terceiro anel. José Águas prepara-se para marcar mais um golo.


(http://i63.tinypic.com/2epsxh2.jpg)
O terceiro anel foi durante décadas uma visão aterradora para tantos adversários durante mais de 30 anos de Glória Benfiquista.


Para aqueles que tiveram o privilégio de ainda ir ao terceiro anel sem que estivesse concretizado o fecho ficaram as imagens da imponência mas também da linha do horizonte que à frente daquele majestoso anel nos dava a imagem das zonas envolventes de Benfica e Carnide, bastante diferentes da paisagem que hoje contemplamos quando nos acercamos do novo Estádio.

(http://i68.tinypic.com/2s6ouv7.jpg)


Serviu este texto não como lamento do que se perdeu mas antes de evocação da beleza do que existiu, assim como do mérito e do labor de quem o construiu. Um texto de alegria. Alegria em particular ao evocar a acção de um homem de excepção como foi o Arquitecto João Simões. Um homem de trabalho, generoso, Benfiquista de coração. Serviu também este texto para evocar com alegria os tempos magníficos vividos naquele Estádio, jornadas de lenda e de memória inesquecível, perene e alegre. E de todos os que por lá passaram. Todos o que por lá viveram a alegria de ser Portugueses, desportistas e Benfiquistas. Com orgulho muito seu.





:bow2: :bow2: :bow2:

Usei essa última foto para capa da minha página do FB, espero que não leves a mal ter "roubado" a foto.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Maio de 2017, 22:04
Citação de: joao12soares em 04 de Maio de 2017, 21:46
Citação de: RedVC em 01 de Maio de 2017, 14:55
-152-
O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante.

Benfica, 1 de Dezembro de 1954.


(http://i65.tinypic.com/ojl6if.jpg)
O arquitecto João Simões e a sua equipa desfilando na inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Com emoção e sentimento do dever cumprido, terminava nesse dia a grande Aventura da construção do Estádio da Luz! Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.

 
...


:bow2: :bow2: :bow2:

Usei essa última foto para capa da minha página do FB, espero que não leves a mal ter "roubado" a foto.

Presumo que a fotografia em questão é essa em cima.
Essa fotografia foi cedida gentilmente pelo Doutor Francisco George genro do saudoso Arquitecto João Simões. Gentilmente e sem qualquer restrição. Para mim ou para quem a quiser usar.

Tal como o seu sogro, o Doutor Francisco George é um homem de grande qualidade humana e (digo eu) de grande qualidade profissional.

Obrigado pelas tuas palavras   O0  :slb2:

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Maio de 2017, 22:06
-153-
A batalha de Madrid

Junho de 1957, o plantel Benfiquista prepara-se para fazer um treino de adaptação ao relvado do mítico Estádio Santiago Bernabéu.


(http://i63.tinypic.com/2l8bw47.jpg)
Fonte: Arquivo de Helena Águas


Atrás da equipa Benfiquista estavam as imponentes bancadas de um estádio mítico já carregado de histórias mas que onde nos 10 anos seguintes se veriam algumas das páginas mais belas da História do Real Madrid e do futebol Mundial.


Um Estádio mítico

Inaugurado em 14-12-1947 com o nome de Estádio de Chamartín. No entanto a partir de 4-01-1955, depois de se concluírem grandes obras de remodelação, uma Assembleia Geral de Sócios Compromissários do Real Madrid, decidiu alterar o nome de Chamartin para Santiago Bernabéu. Com essa alteração pretenderam homenagear talvez a maior figura de sempre do Real Madrid. Santiago Bernabéu foi o principal artífice da construção do estádio, um antigo avançado dos primórdios do clube Madrilista, tendo sido presidente do clube durante 35 anos, desde 1943 a 1978, data da sua morte. Por ele passaram as decisões que contribuíram para tornar o Real Madrid no colosso, conhecido, admirado e temido em todo o mundo.


(http://i65.tinypic.com/15g6lo0.jpg)
De Chamartin a Santiago Bernabéu, as sete idades de um estádio mítico. A fotografia no topo à direita mostra-nos o estádio em 1957. Fonte: estadiosdeespana.com.


(http://i65.tinypic.com/2q05093.jpg)
A recepção da Direcção Madrilena à nossa comitiva. Santiago Bernabéu em pose de discurso. Ao lado o presidente Benfiquista Joaquim Ferreira Bogalho. De costas distinguem-se três dos nossos jogadores, Francisco Calado, Mário Coluna e José Águas. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Como se vê foi logo desde o início um Estádio grandioso, com uma capacidade para 75.145 espectadores (27.645 com assentos e 47.500 de pé). O estádio Santiago Bernabéu foi o palco para a disputa da final da Taça Latina de 1957, por sinal a última vez que esta competição seria disputada.


Sport Lisboa e Benfica, Real Madrid CF, AC Milan e AS Saint-Étienne preparavam-se para disputar aquela que viria a ser a última edição da Taça Latina. E essa edição decorreria já depois da conquista da segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus pelo Real Madrid. Estava em curso o reinado europeu de 5 anos da fabulosa equipa do Real Madrid de Di Stéfano, Kopa, Gento, depois Púskas e tantos outros. Mas essa Taça Latina conquistada pela cor branca ainda assim teria muitas nuances em vermelho. Lá iremos.

O sorteio ditou emparelhamentos que permitiam à nossa equipa ter esperanças em disputar mais uma final. Assim o Real Madrid disputaria a meia-final contra o AC Milan, (vencedor da edição do ano anterior, como aliás vimos no texto 150 - De Como a Milão) enquanto as Águias disputariam o acesso à final contra os Franceses do Saint-Étienne.


Os preparativos

O SLB chegou à capital Espanhola na noite de terça-feira, dia 15-06-1957, ou seja cerca de 4 dias antes do primeiro jogo. A Direcção optou por uma fatigante viagem usando o autocarro do Clube, facto no entanto que deve ter originado uma jornada de grande convívio para a comitiva ou outra coisa não seria de esperar quando se juntavam pelo menos três dos homens da comitiva: o médico Dr. Sousa Pinho, o massagista Mão de Pilão e Costa Pereira. Gente sempre bem disposta e que contagiava os restantes.


(http://i67.tinypic.com/oade75.jpg)
A notícia da partida da comitiva do SLB para Madrid. Viagem por autocarro. DL, 15-06-1957


(http://i63.tinypic.com/1z4isme.jpg)
A mesma fotografia do início deste texto mas agora legendada com a identificação de 15 dos 17 jogadores que viajaram para Madrid. Estão apenas 15 jogadores, faltando Palmeiro Antunes e Artur Santos.


Chegados a Madrid, a equipa faria o tal treino de adaptação ao relvado, ficando alarmada com o estado do terreno, algo mal tratado pelo treino que o seu opositor Francês tinha acabado de fazer. Alguma apreensão também por causa do arraial que existia à volta do treino pois nas bancadas a assistir estavam tão-somente os planteis do Saint-Étienne, Real Madrid e AC Milan. Ou seja todos os potenciais adversários estavam ali pachorrentamente a ver os Benfiquistas a treinar!

Passadas as reservas ou medos iniciais, a equipa Benfiquista, liderada por Otto Glória, decidiu fazer um treino à séria, de tal forma que surpreendidos com a velocidade imposta pelos nossos jogadores durante essa sessão, os nossos adversários ficaram impressionados. Impressionados e alertados... Havia que contar com aquela equipa Benfiquista!


A meia-final

(http://i64.tinypic.com/i3iamv.jpg)

Com uma assistência calculada em cerca de 100 mil espectadores, o Benfica venceu justamente embora sem especial brilho. Ainda assim no final a meia-final foi ultrapassada, o objectivo atingido. Neste jogo e na ausência de Fernando Caiado, seria Francisco Calado a ser nomeado capitão de equipa.

O jogo foi lento no princípio, com a defesa dos Franceses a carregar nos avançados Benfiquistas. José Águas sofreu uma carga no período inicial e Cavém já na segunda parte teria também que contar. Aqueles Franceses sabiam bem a quem dar pancada. Da nossa parte também houve resposta, sendo Zézinho aquele que segundo as crónicas mais deu despacho aos Franceses, ou melhor a Rijvers, o avançado Holandês do Saint Étienne. Amor com amor se paga.


(http://i65.tinypic.com/e16kvk.jpg)
O Capitão Francisco Calado e o capitão de equipa do Saint-Étienne nos cumprimentos iniciais. Fonte: DL


Neste jogo, há a apontar a boa exibição de Costa Pereira, comandando uma defesa Benfiquista que jogou com muita concentração e acerto nas marcações. Lá na frente, Águas e companheiros rematavam pouco. Levando a sua missão a sério, Calado pautava o jogo Benfiquista, e seria ele que num centro com uma trajectória inesperada conseguiu desfeitear o guarda-redes Francês. Logo aos 16 minutos de jogo o Benfica atingia o resultado final da partida. Viria depois um golo anulado a Palmeiro e mais picardias.

O jogo no entanto continuou lento com o público a dar conta do seu desagrado com... palmas de tango. Original, convenhamos. Em particular a equipa Benfiquista passou a contar com o desfavor do público, sentindo provavelmente que este seria o opositor do Real Madrid.


(http://i66.tinypic.com/2lxdlkw.jpg)
Jogo contra o Saint-Étienne. Salvador em disputa da bola em pleno Santiago Bernabéu.


A segunda parte traria mais do mesmo, sendo no entanto de notar a carga de um defensor Francês que praticamente inutilizou Cavém para o resto do jogo. Apesar da hostilidade do público, ainda assim Mário Coluna foi uma notável excepção pois a sua classe era tal que o público passou a dispensar-lhe aplausos reconhecendo a sua qualidade. Até ao fim do jogo apenas foi digna de nota uma escandalosa grande penalidade cometida sobre José Águas e que o árbitro espanhol decidiu ignorar. No final do jogo houve muita alegria do lado Benfiquista com o apuramento para mais uma final da Taça Latina.

Uma nota final e curiosa sobre este jogo foi que a ele assistiu a grande fadista Amália Rodrigues que nessa altura se encontrava na capital Espanhola. Apesar da sua predilecção Belenense, Amália terá certamente torcido pelas nossas cores.


(http://i67.tinypic.com/5djp8l.jpg)
Fonte: DL 18-06-1957


Na outra meia-final deu-se um verdadeiro esmagamento do AC Milan. Por 5-1, o Real Madrid apurou-se para a final, impondo a sua classe e o factor casa. Com essa exibição e por disputaram a final no seu Estádio, era notório e justificado o favoritismo dos Espanhóis. Havia aliás muito boa gente que esperava uma vitória arrasadora dos madrilistas sobre os campeões Portugueses. Mas o SLB, como noutros momentos da sua História, soube dar resposta. O jogo teria muita história para contar mas essa não seria certamente a lista dos golos da equipa da casa...



A batalha final

E chegou o grande dia. 23 de Junho de 1957. Ambiente escaldante no Santiago Bernabéu com mais de 100 mil espectadores. O ambiente era perfeitamente hostil às nossas cores. O Real Madrid tinha oportunidade de chegar à segunda vitória na Taça Latina. Muita pressão sobre os nossos jogadores perante a ameaça de serem esmagados pela valorosa equipa Madrilista.



(http://i63.tinypic.com/241un7l.jpg)
A Gloriosa equipa que defrontou em 23-06-1957, o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu para a final da Taça Latina 1957.  Em cima, da esquerda para a direita: Bastos, Zézinho, Serra, Alfredo, Calado, Ângelo. Em baixo: Palmeiro, Coluna, José Águas, Fernando Caiado e Cavém. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Do lado do SLB, Otto Glória optou por entregar a baliza Benfiquista a Bastos deixando Costa Pereira no banco. O capitão Fernando Caiado estava de regresso para liderar a equipa na importante final. De resto a mesma equipa da meia-final uma vez que tanto Águas como Cavém conseguiram ultrapassar os toques sofridos no duro confronto com os Franceses.


(http://i67.tinypic.com/55l75l.jpg)
Os capitães de equipa em cumprimentos antes do início do desfio. Munoz do lado Madrilista e Fernando Caiado do lado dos Benfiquistas. Fonte DL 24-06-1956.


(http://i66.tinypic.com/xm6h40.jpg)
À esquerda, os dois homens decisivos do jogo: Di Stefano que foi marcador do único golo da partida e Zézinho que foi expulso injustamente. Em cima e à direita José Basto agarra a bola protegido por Serra. Em baixo, A entrada da equipa Benfiquista no Santiago Bernabéu. Quase 100 mil vozes gritavam contra a nossa equipa. Fonte: DL 24-06-1956.


Às 18 horas daquele dia o árbitro Francês Lequesme apitou para o início do jogo. E seria justamente este árbitro o principal (e infeliz) factor de decisão da partida. Medroso ou tendencioso, o árbitro Francês expulsou Zézinho, oito minutos depois do Real Madrid marcar o seu golo, fazendo com que o SLB jogasse 32 minutos em inferioridade numérica.


(http://i67.tinypic.com/104m4vq.jpg)


O Benfica começou com personalidade e até podia ter marcado primeiro por intermédio de José Aguas, jogador que não se encontrava no melhor da sua forma. Logo de seguida mais uma oportunidade, agora de Cavém. Depois começaria a pressão dos madrilista que passaram a semear oportunidades na área Benfiquista. A crónica de Luís Alves no DL aponta que os Benfiquistas se revelaram nessa primeira parte superiores em termos tácticos e físicos.

Mas logo no início da segunda parte tudo mudaria com dois incidentes de jogo. Primeiro foi o génio de Di Stefano a fazer a diferença no jogo e na competição. Aos 50 minutos de jogo, com um remate seco, o genial jogador Argentino, naturalizado Espanhol, selava o marcador nesse dia.


Depois viria a bárbara expulsão (sic). Expulsão porque Zézinho agarrou a camisola de um adversário. Primeira falta e expulsão. Incompreensível, inaceitável, injusta expulsão. Vergonhosa. A saída de Zézinho fragilizou tanto a defesa como o ataque Benfiquista, tal a generosidade e influência do valoroso jogador na nossa equipa. Zézinho terá talvez pago as escaramuças que manteve com os jogadores do Saint Etienne na meia-final. Talvez o árbitro Francês tenha querido ajustar contas. Apitando "a torto e a direito" em desfavor da nossa equipa, este árbitro revelou-se influente para o resto do jogo. Fraco ou mal-intencionado deixou marca injusta no desfecho do jogo.


(http://i66.tinypic.com/v65gmu.jpg)
Fonte: DL, 24-06-1957


Apesar de já ter visto imagens em movimento desse jogo, não encontrei no youtube um resumo. Ainda assim fica aqui um filme da vitória do Real Madrid sobre a AC Fiorentina (2-0), vitória que deu aos merengues a sua segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus. O filme mostra bem o que era o ambiente do Santiago Bernabéu.

http://www.dailymotion.com/video/xya8h0_1957-real-madrid-cf-acf-fiorentina_sport (http://www.dailymotion.com/video/xya8h0_1957-real-madrid-cf-acf-fiorentina_sport)


No final ganhava a equipa mais credenciada, a equipa da casa. Este título completou a Tripla Corona ou seja o Real Madrid nessa época conquistou a Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Taça Latina e o Campeonato Nacional de Espanha. Terminava a Taça Latina mas para o Real Madrid a saga das Taças dos Campeões ainda ia na segunda da primeira série de cinco conquistas.


(http://i66.tinypic.com/2rwwy1z.jpg)


O Benfica no entanto deixou uma imagem impressiva da sua raça como equipa e da sua qualidade de jogo. O Benfica perdia a final sofrendo apenas um golo, aliás o único que sofreu na competição. Um golo sofrido aos pés de um génio do futebol. Esse mesmo que cinco anos depois seria procurado pelo menino Eusébio e que com ele trocaria de camisolas. Alfredo Di Stéfano, a estrela cintilante do Real Madrid sorriu nesse dia. Mas Di Stefano era um Senhor, e as suas declarações que talvez hoje fossem inaceitáveis deixaram a entender o que ele pensou do que se passou no terreno de jogo.


(http://i66.tinypic.com/2qibej5.jpg)
Algumas declarações depois do jogo. Fonte: DL, 24-06-1957


(http://i65.tinypic.com/2a4tu2h.jpg)
Resultados e classificação final da Taça Latina de 1956. Fonte: DL 24-06-1956.


(http://i68.tinypic.com/ehf9lz.jpg)
As duas Taças Latinas expostas no Museu do Real Madrid. À direita a conquistada ao Stade de Reims em 26-06-1955 e à direita contra Sport Lisboa e Benfica em 23-06- 1957. Fonte: Defesacentral.com. A fotografia do galhardete foi tirada pelo nosso colega de fórum poiudivino.


Mas as contas não estavam fechadas. Existiriam mais contas para ser feitas daí a cerca de 5 anos. Para Costa Pereira, Serra, Ângelo, Águas, Coluna e Cavém aquele jogo de Madrid certamente passou a ter outro gosto depois da grande aventura de Amesterdão em Maio de 1962. Para se chegar ao topo tem de se subir degraus. E assim foi. E assim será. Assim esperam todos os Benfiquistas. Com o passado se aprende e se sonha com o futuro. Sonhar à Benfica!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 07 de Maio de 2017, 10:13
Citação de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2015, 00:38
-33-
Eusébio às riscas

Stoke-on-Trent, Inglaterra, 12 de Dezembro de 1973:

(https://pbs.twimg.com/media/B6O_J3JCYAEHGW0.jpg)

De facto assim foi. Jogo de despedida de Gordon Banks, o grande guarda-redes Inglês.

Jogo contra o Manchester United. Eusébio joga com a camisola do Stoke City. Derrota do Stoke City por 2-1. Quem marca o golo do Stoke? Isso.

(http://www.stokesentinel.co.uk/images/localworld/ugc-images/276370/Article/images/20404013/5682218-large.jpg)


Testemunho de Banks:
Eusébio era um grande, grande jogador. Fiquei extremamente triste ao saber da sua morte.
Quando enfrentamos Portugal na semi-final de 1966, Alf Ramsey fez questão em alertar-nos para a sua qualidade. Eusébio era um daqueles jogadores capaz de fazer coisas notáveis com aquela bola pesada, coisas só ao alcance de poucos.
Naquele dia ele marcou-me de penalti o primeiro golo que concedi no Mundial - enganou-me, enviou-me para o lado errado.


(http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2014/01/05/article-2534038-1A6E2AB700000578-216_634x479.jpg)

Era um cavalheiro. No final desse jogo apertámos as mãos e ele desejou-nos o melhor... Fiquei muito honrado em ele ter participado no meu jogo de despedida. Era uma grande pessoa.

E de facto assim foi. Mais uma oportunidade para conviverem e apertarem as mãos. E já não vinha longe também a despedida de Eusébio.

(http://www.collectsoccer.com/acatalog/GordonBanksTestimonial-L.jpg)

(http://i.guim.co.uk/static/w-620/h--/q-95/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2014/9/20/1411209454220/6e780c22-b9ed-4848-b147-7a4d6f3c202b-680x1020.jpeg)

(http://i2.mirror.co.uk/incoming/article2990268.ece/alternates/s615/Gordon-Banks-goalkeeper-for-England-with-Eusebio-in-1973.jpg)

Fonte:http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F  (http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F)


Gordon Banks foi um fantástico guarda-redes do Chesterfield, Leicester City, Stoke City e da selecção Inglesa. Finalizou a sua actividade depois de um acidente de automóvel que lhe afectou a visão do olho direito. Um caso muito triste à semelhança do craque Brasileiro Tostão, e do nosso excelente defesa Vicente.

A sua defesa no mundial de 1970 após um remate de cabeça de Pelé é ainda hoje considerada a melhor da história do futebol.

(http://extra.globo.com/esporte/418537-fe8-93f/w976h550/12_01_ghg_70banks.jpg)

A qualidade não é boa mas três meses antes Gordon Banks esteve no jogo da festa de homenagem a Eusébio em  26 de Setembro de 1973. O dia em que Hagan bateu com a porta. Mas isso é outra história.

(http://terceirotempo.bol.uol.com.br/imagens/54/84/arq_35484.jpg)
(http://images-01.delcampe-static.net/img_large/auction/000/222/330/166_003.jpg?v=2)

Dois gigantes que se respeitaram e que se habituaram a apertar as mãos. Mereceram ambos a homenagem recíproca. Os grandes atraem os grandes.

<br />(https://thumb.ibb.co/kkpQJ5/20170507_111014.jpg) (https://ibb.co/kkpQJ5)<br />

Aqui a medalha que os jogadores receberam pela participacao no jogo da homenagem ao "king". No avesso está gravado a data.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 07 de Maio de 2017, 10:27
Citação de: RedVC em 06 de Maio de 2017, 22:06
-153-
A batalha de Madrid

Junho de 1957, o plantel Benfiquista prepara-se para fazer um treino de adaptação ao relvado do mítico Estádio Santiago Bernabéu.


(http://i63.tinypic.com/2l8bw47.jpg)
Fonte: Arquivo de Helena Águas


Atrás da equipa Benfiquista estavam as imponentes bancadas de um estádio mítico já carregado de histórias mas que onde nos 10 anos seguintes se veriam algumas das páginas mais belas da História do Real Madrid e do futebol Mundial.


Um Estádio mítico

Inaugurado em 14-12-1947 com o nome de Estádio de Chamartín. No entanto a partir de 4-01-1955, depois de se concluírem grandes obras de remodelação, uma Assembleia Geral de Sócios Compromissários do Real Madrid, decidiu alterar o nome de Chamartin para Santiago Bernabéu. Com essa alteração pretenderam homenagear talvez a maior figura de sempre do Real Madrid. Santiago Bernabéu foi o principal artífice da construção do estádio, um antigo avançado dos primórdios do clube Madrilista, tendo sido presidente do clube durante 35 anos, desde 1943 a 1978, data da sua morte. Por ele passaram as decisões que contribuíram para tornar o Real Madrid no colosso, conhecido, admirado e temido em todo o mundo.


(http://i65.tinypic.com/15g6lo0.jpg)
De Chamartin a Santiago Bernabéu, as sete idades de um estádio mítico. A fotografia no topo à direita mostra-nos o estádio em 1957. Fonte: estadiosdeespana.com.


(http://i65.tinypic.com/2q05093.jpg)
A recepção da Direcção Madrilena à nossa comitiva. Santiago Bernabéu em pose de discurso. Ao lado o presidente Benfiquista Joaquim Ferreira Bogalho. De costas distinguem-se três dos nossos jogadores, Francisco Calado, Mário Coluna e José Águas. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Como se vê foi logo desde o início um Estádio grandioso, com uma capacidade para 75.145 espectadores (27.645 com assentos e 47.500 de pé). O estádio Santiago Bernabéu foi o palco para a disputa da final da Taça Latina de 1957, por sinal a última vez que esta competição seria disputada.


Sport Lisboa e Benfica, Real Madrid CF, AC Milan e AS Saint-Étienne preparavam-se para disputar aquela que viria a ser a última edição da Taça Latina. E essa edição decorreria já depois da conquista da segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus pelo Real Madrid. Estava em curso o reinado europeu de 5 anos da fabulosa equipa do Real Madrid de Di Stéfano, Kopa, Gento, depois Púskas e tantos outros. Mas essa Taça Latina conquistada pela cor branca ainda assim teria muitas nuances em vermelho. Lá iremos.

O sorteio ditou emparelhamentos que permitiam à nossa equipa ter esperanças em disputar mais uma final. Assim o Real Madrid disputaria a meia-final contra o AC Milan, (vencedor da edição do ano anterior, como aliás vimos no texto 150 - De Como a Milão) enquanto as Águias disputariam o acesso à final contra os Franceses do Saint-Étienne.


Os preparativos

O SLB chegou à capital Espanhola na noite de terça-feira, dia 15-06-1957, ou seja cerca de 4 dias antes do primeiro jogo. A Direcção optou por uma fatigante viagem usando o autocarro do Clube, facto no entanto que deve ter originado uma jornada de grande convívio para a comitiva ou outra coisa não seria de esperar quando se juntavam pelo menos três dos homens da comitiva: o médico Dr. Sousa Pinho, o massagista Mão de Pilão e Costa Pereira. Gente sempre bem disposta e que contagiava os restantes.


(http://i67.tinypic.com/oade75.jpg)
A notícia da partida da comitiva do SLB para Madrid. Viagem por autocarro. DL, 15-06-1957


(http://i63.tinypic.com/1z4isme.jpg)
A mesma fotografia do início deste texto mas agora legendada com a identificação de 15 dos 17 jogadores que viajaram para Madrid. Estão apenas 15 jogadores, faltando Palmeiro Antunes e Artur Santos.


Chegados a Madrid, a equipa faria o tal treino de adaptação ao relvado, ficando alarmada com o estado do terreno, algo mal tratado pelo treino que o seu opositor Francês tinha acabado de fazer. Alguma apreensão também por causa do arraial que existia à volta do treino pois nas bancadas a assistir estavam tão-somente os planteis do Saint-Étienne, Real Madrid e AC Milan. Ou seja todos os potenciais adversários estavam ali pachorrentamente a ver os Benfiquistas a treinar!

Passadas as reservas ou medos iniciais, a equipa Benfiquista, liderada por Otto Glória, decidiu fazer um treino à séria, de tal forma que surpreendidos com a velocidade imposta pelos nossos jogadores durante essa sessão, os nossos adversários ficaram impressionados. Impressionados e alertados... Havia que contar com aquela equipa Benfiquista!


A meia-final

(http://i64.tinypic.com/i3iamv.jpg)

Com uma assistência calculada em cerca de 100 mil espectadores, o Benfica venceu justamente embora sem especial brilho. Ainda assim no final a meia-final foi ultrapassada, o objectivo atingido. Neste jogo e na ausência de Fernando Caiado, seria Francisco Calado a ser nomeado capitão de equipa.

O jogo foi lento no princípio, com a defesa dos Franceses a carregar nos avançados Benfiquistas. José Águas sofreu uma carga no período inicial e Cavém já na segunda parte teria também que contar. Aqueles Franceses sabiam bem a quem dar pancada. Da nossa parte também houve resposta, sendo Zézinho aquele que segundo as crónicas mais deu despacho aos Franceses, ou melhor a Rijvers, o avançado Holandês do Saint Étienne. Amor com amor se paga.


(http://i65.tinypic.com/e16kvk.jpg)
O Capitão Francisco Calado e o capitão de equipa do Saint-Étienne nos cumprimentos iniciais. Fonte: DL


Neste jogo, há a apontar a boa exibição de Costa Pereira, comandando uma defesa Benfiquista que jogou com muita concentração e acerto nas marcações. Lá na frente, Águas e companheiros rematavam pouco. Levando a sua missão a sério, Calado pautava o jogo Benfiquista, e seria ele que num centro com uma trajectória inesperada conseguiu desfeitear o guarda-redes Francês. Logo aos 16 minutos de jogo o Benfica atingia o resultado final da partida. Viria depois um golo anulado a Palmeiro e mais picardias.

O jogo no entanto continuou lento com o público a dar conta do seu desagrado com... palmas de tango. Original, convenhamos. Em particular a equipa Benfiquista passou a contar com o desfavor do público, sentindo provavelmente que este seria o opositor do Real Madrid.


(http://i66.tinypic.com/2lxdlkw.jpg)
Jogo contra o Saint-Étienne. Salvador em disputa da bola em pleno Santiago Bernabéu.


A segunda parte traria mais do mesmo, sendo no entanto de notar a carga de um defensor Francês que praticamente inutilizou Cavém para o resto do jogo. Apesar da hostilidade do público, ainda assim Mário Coluna foi uma notável excepção pois a sua classe era tal que o público passou a dispensar-lhe aplausos reconhecendo a sua qualidade. Até ao fim do jogo apenas foi digna de nota uma escandalosa grande penalidade cometida sobre José Águas e que o árbitro espanhol decidiu ignorar. No final do jogo houve muita alegria do lado Benfiquista com o apuramento para mais uma final da Taça Latina.

Uma nota final e curiosa sobre este jogo foi que a ele assistiu a grande fadista Amália Rodrigues que nessa altura se encontrava na capital Espanhola. Apesar da sua predilecção Belenense, Amália terá certamente torcido pelas nossas cores.


(http://i67.tinypic.com/5djp8l.jpg)
Fonte: DL 18-06-1957


Na outra meia-final deu-se um verdadeiro esmagamento do AC Milan. Por 5-1, o Real Madrid apurou-se para a final, impondo a sua classe e o factor casa. Com essa exibição e por disputaram a final no seu Estádio, era notório e justificado o favoritismo dos Espanhóis. Havia aliás muito boa gente que esperava uma vitória arrasadora dos madrilistas sobre os campeões Portugueses. Mas o SLB, como noutros momentos da sua História, soube dar resposta. O jogo teria muita história para contar mas essa não seria certamente a lista dos golos da equipa da casa...



A batalha final

E chegou o grande dia. 23 de Junho de 1957. Ambiente escaldante no Santiago Bernabéu com mais de 100 mil espectadores. O ambiente era perfeitamente hostil às nossas cores. O Real Madrid tinha oportunidade de chegar à segunda vitória na Taça Latina. Muita pressão sobre os nossos jogadores perante a ameaça de serem esmagados pela valorosa equipa Madrilista.



(http://i63.tinypic.com/241un7l.jpg)
A Gloriosa equipa que defrontou em 23-06-1957, o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu para a final da Taça Latina 1957.  Em cima, da esquerda para a direita: Bastos, Zézinho, Serra, Alfredo, Calado, Ângelo. Em baixo: Palmeiro, Coluna, José Águas, Fernando Caiado e Cavém. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Do lado do SLB, Otto Glória optou por entregar a baliza Benfiquista a Bastos deixando Costa Pereira no banco. O capitão Fernando Caiado estava de regresso para liderar a equipa na importante final. De resto a mesma equipa da meia-final uma vez que tanto Águas como Cavém conseguiram ultrapassar os toques sofridos no duro confronto com os Franceses.


(http://i67.tinypic.com/55l75l.jpg)
Os capitães de equipa em cumprimentos antes do início do desfio. Munoz do lado Madrilista e Fernando Caiado do lado dos Benfiquistas. Fonte DL 24-06-1956.


(http://i66.tinypic.com/xm6h40.jpg)
À esquerda, os dois homens decisivos do jogo: Di Stefano que foi marcador do único golo da partida e Zézinho que foi expulso injustamente. Em cima e à direita José Basto agarra a bola protegido por Serra. Em baixo, A entrada da equipa Benfiquista no Santiago Bernabéu. Quase 100 mil vozes gritavam contra a nossa equipa. Fonte: DL 24-06-1956.


Às 18 horas daquele dia o árbitro Francês Lequesme apitou para o início do jogo. E seria justamente este árbitro o principal (e infeliz) factor de decisão da partida. Medroso ou tendencioso, o árbitro Francês expulsou Zézinho, oito minutos depois do Real Madrid marcar o seu golo, fazendo com que o SLB jogasse 32 minutos em inferioridade numérica.


(http://i67.tinypic.com/104m4vq.jpg)


O Benfica começou com personalidade e até podia ter marcado primeiro por intermédio de José Aguas, jogador que não se encontrava no melhor da sua forma. Logo de seguida mais uma oportunidade, agora de Cavém. Depois começaria a pressão dos madrilista que passaram a semear oportunidades na área Benfiquista. A crónica de Luís Alves no DL aponta que os Benfiquistas se revelaram nessa primeira parte superiores em termos tácticos e físicos.

Mas logo no início da segunda parte tudo mudaria com dois incidentes de jogo. Primeiro foi o génio de Di Stefano a fazer a diferença no jogo e na competição. Aos 50 minutos de jogo, com um remate seco, o genial jogador Argentino, naturalizado Espanhol, selava o marcador nesse dia.


Depois viria a bárbara expulsão (sic). Expulsão porque Zézinho agarrou a camisola de um adversário. Primeira falta e expulsão. Incompreensível, inaceitável, injusta expulsão. Vergonhosa. A saída de Zézinho fragilizou tanto a defesa como o ataque Benfiquista, tal a generosidade e influência do valoroso jogador na nossa equipa. Zézinho terá talvez pago as escaramuças que manteve com os jogadores do Saint Etienne na meia-final. Talvez o árbitro Francês tenha querido ajustar contas. Apitando "a torto e a direito" em desfavor da nossa equipa, este árbitro revelou-se influente para o resto do jogo. Fraco ou mal-intencionado deixou marca injusta no desfecho do jogo.


(http://i66.tinypic.com/v65gmu.jpg)
Fonte: DL, 24-06-1957


Apesar de já ter visto imagens em movimento desse jogo, não encontrei no youtube um resumo. Ainda assim fica aqui um filme da vitória do Real Madrid sobre a AC Fiorentina (2-0), vitória que deu aos merengues a sua segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus. O filme mostra bem o que era o ambiente do Santiago Bernabéu.

http://www.dailymotion.com/video/xya8h0_1957-real-madrid-cf-acf-fiorentina_sport (http://www.dailymotion.com/video/xya8h0_1957-real-madrid-cf-acf-fiorentina_sport)


No final ganhava a equipa mais credenciada, a equipa da casa. Este título completou a Tripla Corona ou seja o Real Madrid nessa época conquistou a Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Taça Latina e o Campeonato Nacional de Espanha. Terminava a Taça Latina mas para o Real Madrid a saga das Taças dos Campeões ainda ia na segunda da primeira série de cinco conquistas.


(http://i66.tinypic.com/2rwwy1z.jpg)


O Benfica no entanto deixou uma imagem impressiva da sua raça como equipa e da sua qualidade de jogo. O Benfica perdia a final sofrendo apenas um golo, aliás o único que sofreu na competição. Um golo sofrido aos pés de um génio do futebol. Esse mesmo que cinco anos depois seria procurado pelo menino Eusébio e que com ele trocaria de camisolas. Alfredo Di Stéfano, a estrela cintilante do Real Madrid sorriu nesse dia. Mas Di Stefano era um Senhor, e as suas declarações que talvez hoje fossem inaceitáveis deixaram a entender o que ele pensou do que se passou no terreno de jogo.


(http://i66.tinypic.com/2qibej5.jpg)
Algumas declarações depois do jogo. Fonte: DL, 24-06-1957


(http://i65.tinypic.com/2a4tu2h.jpg)
Resultados e classificação final da Taça Latina de 1956. Fonte: DL 24-06-1956.


(http://i68.tinypic.com/ehf9lz.jpg)
As duas Taças Latinas expostas no Museu do Real Madrid. À direita a conquistada ao Stade de Reims em 26-06-1955 e à direita contra Sport Lisboa e Benfica em 23-06- 1957. Fonte: Defesacentral.com. A fotografia do galhardete foi tirada pelo nosso colega de fórum poiudivino.


Mas as contas não estavam fechadas. Existiriam mais contas para ser feitas daí a cerca de 5 anos. Para Costa Pereira, Serra, Ângelo, Águas, Coluna e Cavém aquele jogo de Madrid certamente passou a ter outro gosto depois da grande aventura de Amesterdão em Maio de 1962. Para se chegar ao topo tem de se subir degraus. E assim foi. E assim será. Assim esperam todos os Benfiquistas. Com o passado se aprende e se sonha com o futuro. Sonhar à Benfica!



Mais um grande resumo Vitor. Obrigado
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Maio de 2017, 14:26
Obrigado Alfredo  O0  :slb2:
É um prazer perceber que alguns destes textos são apreciados por outros Benfiquistas.
Agradeço também as palavras simpáticas que outros membros deste fórum por aqui têm deixado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Maio de 2017, 15:19
Decifrando imagens do presente.

Fui hoje ao Panteão. Apenas dois túmulos tinham flores.

(http://i65.tinypic.com/s5cpvl.png)

(http://i63.tinypic.com/24bsvbd.png)

Amor do Povo. Amor eterno a estas duas figuras sagradas do Portugal Bom.

(http://i67.tinypic.com/213lrev.jpg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 07 de Maio de 2017, 18:04
Eu tenho algures o vídeo dessa final entre o Benfica e o Real Madrid, mas agora não estou a encontrar  :ashamed:.

Se achar isso, partilho aqui neste maravilhoso tópico. Gostei imenso de ler mais essa aventura do Benfica, na Taça Latina  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Maio de 2017, 19:04
Citação de: Bakero em 07 de Maio de 2017, 18:04
Eu tenho algures o vídeo dessa final entre o Benfica e o Real Madrid, mas agora não estou a encontrar  :ashamed:.

Se achar isso, partilho aqui neste maravilhoso tópico. Gostei imenso de ler mais essa aventura do Benfica, na Taça Latina  O0

Obrigado Bakero  O0  :slb2:

Se acabares por encontrar o video será ótimo se conseguires colocar aqui nem que seja umas capturas de ecrã. Acho que poderão dar uma ajuda a se compreender o ambiente intenso, a pressão que foi feita sobre a nossa equipa.

Ao fazer evocação destas finais perdidas da Taça Latina não estou a celebrar derrotas mas antes a dar justa lembrança a jogos em que a nossa equipa mostrou raça e prestigiou o nosso Clube. desgraçadamente perdemos várias finais em condições adversas por jogar em casa (cidade ou pais) dos nossos opositores. E mesmo assim com raça vendemos cara a derrota. Em Milão 1956, em Madrid 1957, em Milão 1965, em Londres 1968. Contra isto só contra-balançamos a vitória de 1950. Trágico.

Nunca consegui ver os vídeos integrais as derrotas de 1963, 1965 e 1968. Nunca os verei. Mas confesso que se um dia aparecer o video integral (nem deve existir) de Milão 1956 e Madrid 1957, então gostarei de ver. É preciso lembrar sempre que a Taça Latina era uma competição com prestígio. Ganhamos uma final e perdemos duas. 
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Maio de 2017, 23:20
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A Rotunda da Vitória

Maio de 1934. Lisboa, Rotunda do Marquês de Pombal.


(http://i65.tinypic.com/263auyd.jpg)
Fonte: AML


Não, não é a preparação da Praça Marquês de Pombal para mais um festejo de um título do SLB. Antes, é uma imagem tirada perto do dia 13 de Maio de 1934, altura em que se ultimavam os detalhes para o dia da inauguração do Monumento ao Marquês de Pombal.

O monumento foi inaugurado a 13 de Maio de 1934; cumprem-se hoje 83 anos!

Hoje vamos falar deste local de festas para o nosso Clube. De forma simples e breve falaremos da sua história e dos três homens que assinaram o projecto vencedor. E como veremos todos eles tiveram uma ligação ao Sport Lisboa e Benfica.


A história do projecto

A primeira pedra deste monumento foi lançada em 1917 ou seja dezassete anos antes a inauguração! Bem à Portuguesa... Foi lançada mais concretamente no dia 12 de Agosto de 1917, num dia ensolarado em que o presidente Bernardino Machado e sua comitiva se deslocaram ao local.

Mas tudo começou bem antes. De facto, já em 1882 se iniciou uma subscrição pública para obter fundos para a construção de um monumento ao Marquês de Pombal. O projecto já previa a construção do monumento no topo norte da Avenida da Liberdade, final do antigo "Passeio Público" pombalino. O local escolhido era a "Rotunda" situada no antigo "Vale do Pereiro", assim se chamava ao local.

O projecto ficou parado provavelmente por falta de fundos e/ou por falta de oportunidade política. Mas esse já era um local importante para a vida Lisboeta. Foi aí, por exemplo, que 1910, logo após a revolução republicana do 5 de Outubro de 1910, que se fizeram parte das exéquias ao Dr. Miguel Bombarda e ao Almirante Cândido dos Reis, os dois mortos mais célebres da revolução triunfante.


(http://i65.tinypic.com/6tfoqx.jpg)
Em cima, à esquerda: 1888, Vale do Pereiro durante uma Feira pecuária. À direita: 1917-08-12, lançamento da primeira pedra do monumento ao Marquês de Pombal. Em baixo à esquerda: 1917-08-12, visita às obras de Bernardino Machado, Presidente da República. À direita: 1917-08-12, aspecto geral da assistência que viu serem formalmente iniciados os trabalhos de construção do monumento ao Marquês de Pombal. Fonte AML e Restos de Colecção.

Mas poderia ter sido bastante diferente. Os mais notáveis arquitectos e escultores do nosso País concorreram e as propostas foram de elevada qualidade. O projecto vencedor apresentava na estatuária evocações de diversas etapas da vida do grande estadista: esmagamento da revolta contra a ordem vigente, renascença da indústria e comércio, reedificação de Lisboa, expulsão dos Jesuítas, diversos  colaboradores da obra do estadista. Por este projecto os seus autores receberam 3 mil escudos e a honra de verem o seu projecto edificado. Lentamente mas lá foram vendo...

No entanto, olhando para o registo dos projectos que não venceram, percebe-se que também havia qualidade e é curioso notar como o monumento poderia ter sido algo diferente.


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Os quatro projectos premiados do concurso Monumento ao Marquês de Pombal. 1º prémio, arquitecto Arnaldo Redondo Adães Bermudes e António Couto Abreu, escultor Francisco dos Santos; 2º prémio, arquitecto Marques da Silva, escultor Alves de Sousa; 3º prémio, arquitecto Ferreira da Costa, escultor Paula de Campos; 4º prémio, arquitecto Edmundo Tavares, escultor Maximiano Alves


Lentamente, por fim o projecto lá avançou, mas foram preciso os tais 17 anos e uma mudança de regime para que enfim fosse inaugurado com grande pompa e cerimónia.

(http://i67.tinypic.com/25gfj8l.jpg)
Diversos aspectos da construção do pedestal e da estátua. Fonte: Restos de Colecção.

(http://i63.tinypic.com/10pynvn.jpg)
Aspectos da construção da estatuária do monumento. A estátua do Marquês, a estátua Lisboa, os motivos diversos da obra pomabalina, a estátua Minerva. Fonte: digitarq-TT


(http://i67.tinypic.com/xmmlhz.jpg)
O grande dia. A primeira enchente. Inauguração do Monumento ao Marquês de Pombal em 13-05-1934. Fonte: AML.


(http://i67.tinypic.com/2lbz69h.jpg)
1934-05-13, inauguração do monumento ao Marquês de Pombal. Presentes, entre outros, o influente Ministro Duarte Pacheco, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Alberto da Costa Gomes e o General Vieira da Rocha. Fonte: AML.


(http://i65.tinypic.com/51y7oj.jpg)
Ecos da inauguração do monumento. Fonte: Restos de Colecção.


Os autores

Tal como nos aparece na Revista Ilustração Portuguesa, foram três os autores do projecto vencedor. Dois arquitectos e um escultor. Dois deles são figuras familiares ao universo Benfiquista pois foram dois dos jogadores das nossas primeiras equipas. O arquitecto António Couto Abreu e o escultor Francisco dos Santos. O terceiro era o irmão mais velho de Félix Redondo Adães Bermudes, em minha opinião um dos três homens mais importantes da história do Sport Lisboa e Benfica.


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Os três autores do Monumento ao Marquês de PombalFonte: Hemeroteca de Lisboa.

(http://i64.tinypic.com/bear6e.jpg)
1927-05-13, comissão do monumento ao Marquês de Pombal. Reconhecem-se os três autores do projecto. Fonte: TT-digitarq.

(http://i64.tinypic.com/j9c09d.jpg)
1928-05-13, visita do Marechal Carmona (à civil) ás obras. Faltavam ainda cinco anos para a inauguração. Reconhecem-se os três autores do projecto. Fonte: TT-digitarq.



Arnaldo Redondo Adães Bermudes,
assim era o seu nome completo. Nasceu no Porto em 1-10-1864, sendo por isso 10 anos mais velho do que o seu irmão Félix Bermudes. Orfão de pai e mãe terá sido criado por tios. A família era originária da Galiza mas estabelecida no Porto ainda antes do nascimento de Arnaldo.

Foi um notável arquitecto e professor. Era conhecido no meio artístico como Adães Bermudes, tendo-se destacado no movimento da Arte Nova, tão influente na arquitectura e correntes artísticas da primeira metade do século XX. Recebeu numerosas distinções e prémios pelas suas obras. Formado em arquitectura pela Academia Portuense de Belas Artes e pela École des Beaux-Arts de Paris, tendo sido professor da Escola de Belas-Artes de Lisboa.

Foi funcionário e dirigente do Ministério do Reino e depois do Ministério do Comércio e Comunicações. Ao contrário do seu irmão, interessou-se por política tendo sido um eminente Republicano e membro da Maçonaria. Chegou a ser senador e presidente interino da Câmara Municipal de Lisboa. Foi deputado da nação tendo intervindo em acesos debates principalmente em assuntos das obras públicas e da Educação.

E foi justamente na Educação que deixou uma obra notável ao conceber algumas das obras mais icónicas da arquitectura escolar em Portugal. Essa obra foi de tal importância que o seu nome identifica uma tipologia de escolas do antigo ensino primário que é familiar aos nossos pais e avós. Para além do monumento ao Marquês de Pombal concebeu várias outras obras de referência como a Escola Central de Coimbra, o Instituto Superior de Agronomia na Tapada da Ajuda, a Escola Normal Primária de Lisboa, o Hotel Batalha em Coimbra. Tanto quanto sei não manifestou interesse pelo desporto.

Faleceu em Paiões, Sintra no dia 18-02-1948 com a idade de 84 anos. Paiões foi justamente a terra onde nasceu Francisco dos Santos, seu companheiro neste projecto do Monumento ao Marquês de Pombal. É um nome lembrado no seu meio. Tem uma Rua com o seu nome em Marvila. Mais informações, aqui: https://www.infopedia.pt/$adaes-bermudes (https://www.infopedia.pt/$adaes-bermudes)


(http://i65.tinypic.com/2a5ycnd.jpg)
Em cima, à esquerda no dia 1929-03-21, festa de homenagem a Columbano Bordalo Pinheiro onde estiveram António do Couto e Arnaldo Adães Bermudes. À Direita, a notícia na Ilustração Portuguesa do prémio Valmor de 1909 que premiou Arnaldo Adães Bermudes. Note-se as impressionantes parecenças físicas com o seu irmão Félix. Em baixo, à esquerda, no dia 1934-03-16, comissão de escolha da maquete para o monumento ao Dr. António José de Almeida. Ma vez mais António Couto e Adães Bermudes juntos. À direita, aspecto do alçado principal da Escola Adães Bermudes. Uma tipologia que se repetiu por todas as regiões de Portugal.


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Plano da Escola primária de Albergaria a Velha. Documento de 1900, desenhado e assinado por Arnaldo Redondo Adães Bermudes. Fonte: http://www.prof2000.pt/users/HJCO/Aderav/Patrimonios/Patrim10_079.htm


Francisco dos Santos,
era o génio criativo da equipa. Nasceu em Paiões, Rio de Mouro, Sintra em 22 de Outubro de 1878. Orfão, entrou para a Casa Pia, revelando-se um notável estudante e desportista. Pelo seu mérito, conseguiu uma bolsa de estudo para estudar em ateliers de Paris (Raoul Verlét) e Roma.

Bom de bola, jogador da famosa equipa do Casa Pia que terá sido a primeira equipa Portuguesa a vencer os mestres ingleses do Carcavellos Club. Terá sido o primeiro jogador Português a jogar no estrangeiro, mais concretamente na Lazio de Roma em 1907-1908, equipa que chegou a capitanear em reconhecimento das suas qualidades humanas e futebolísticas. Francisco dos Santos jogou na nossa primeira categoria em 1905 ou 1906, mas infelizmente não temos qualquer imagem dele envergando o manto sagrado.

Foi ele quem esculpiu a estatuária do monumento ao Marquês de Pombal, uma obra-prima que não conseguiu concluir, pois foi surpreendido pela morte em 27 de Junho de 1930. Foram os também notáveis escultores José Simões de Almeida (sobrinho) e Leopoldo Neves de Almeida a concluir essa obra. Deixou muitas obras magníficas, algumas estão espalhadas por Lisboa e que são com certeza familiares a muitos de nós. Provavelmente não sonhamos é que foram esculpidas por um antigo jogador do SLB. Sobre ele já por aqui falamos: ver -51- Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras. (p.13)


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Em cima à esquerda, Francisco dos Santos no seu atelier. Ao meio enquanto estudante em Paris (nº 4) e em baixo à esquerda na equipa da Lazio de Roma em 1907.


(http://i59.tinypic.com/15s0jya.jpg)
Francisco dos Santos a dar o último retoque na estátua do Marquês de Pombal


António Couto Abreu,
nasceu em Barcarena, freguesia de Oeiras, em 08-04-1874. Orfão com apenas 9 anos de idade entrou para a Casa Pia e foi um membro destacado da famosa geração Margiochi, tão cravejada de génios artísticos, pedagogos e de homens da Ciência. Frequentou a Casa Pia de frequentou de 05-12-1883 a 01-05-1897, foi o aluno nº 1455.

Interessado no desporto integrou as famosas equipas de futebol da Casa Pia, sendo sempre médio ao centro, a mais importante posição da equipa, e uma posição que manteria nos tempos do Sport Lisboa. Fez parte da Associação do Bem, tal como Francisco dos Santos, Silvestre da Silva, Januário Barreto, Emílio de Carvalho e Pedro Guedes, entre outros, nomes grandes da nossa História inicial.

Foi um notável estudante e viria a formar-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1899. Formou-se com distinção tendo obtido Vinte Valores, uma Medalha de Prata e 30$000, valor considerável para a época.

Trabalhou com alguns dos principais arquitectos da sua época, nomeadamente Ventura Terra, com quem trabalhou na Assembleia da República e Adães Bermudes no monumento ao Marquês de Pombal. Fez uma carreira notável. Em 1900, foi Arquitecto tirocinante dos estudos de remodelação do edifício das Cortes, servindo sob a direcção do Arquitecto Ventura Terra, autor desse projecto. Em Março de 1910 foi nomeado Arquitecto de 3ª Classe para o quadro das Obras Públicas. Nove anos depois ascendeu a Arquitecto de 2ª Classe e, em 1934, Arquitecto de 1ª Classe, servindo, em 1942, nesta categoria, na restauração da Sé Patriarcal de Lisboa, para onde foi nomeado em 1911.

Recebeu em 1907, o Prémio Valmor, pela melhor habitação particular construída, nesse ano, em Lisboa. Essa casa era o Palacete Empis, família a que pertencia Raul Empis, um dos 24 fundadores do Sport Lisboa. Para além do monumento ao Marquês de Pombal, Couto foi autor do Pavilhão Português na Exposição Universal de S. Francisco (Panamá-Pacífico) de 1914, do Monumento Equestre a Joaquim Mouzinho de Albuquerque (colaboração com o Escultor Simões de Almeida (Sobrinho)), inaugurado em Lourenço Marques (Moçambique), em 29-12-1940. Nome influente no meio artístico nacional, foi um destacado membro de Direcções da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa (SNBA). (fonte: https://ruascomhistoria.wordpress.com/2015/11/11/antonio-do-couto-arquitecto-foi-um-dos-autores-da-estatua-do-marques-de-pombal-lisboa-7/ (https://ruascomhistoria.wordpress.com/2015/11/11/antonio-do-couto-arquitecto-foi-um-dos-autores-da-estatua-do-marques-de-pombal-lisboa-7/))


(http://i68.tinypic.com/261d93r.jpg)
Em cima, António do Couto entre Casapianos. Em baixo já idoso, junto de diversos artistas, antigos companheiros casapianos entre os quais se destacavam Francisco dos Santos, Pedro Guedes e José Netto. Todos em algum momento da sua vida ligados ao Sport Lisboa e Benfica. Em baixo, à direita, António do Couto em 1934 integrado na Direcção da Sociedade Portuguesa de Belas Artes. Fonte: AML

Não tendo sido um fundador do Sport Lisboa, António Couto acabou por integrar as primeiras equipas tendo sido um dos mais destacados jogadores. Fez assim parte do contingente de jogadores já perto dos 30 anos, prestigiados já no incipiente meio futebolístico nacional, e que deram a consistência, experiência e o espírito ganhador à equipa e ao Clube. Era médio centro, jogador de grande qualidade e resistência física. Era um líder absoluto em campo, tendo jogado até bastante tarde.

No entanto, como nos relatou Cosme Damião, o seu estatuto social terá levado a abandonar o Sport Lisboa em Maio de 1907 tendo aceitado o convite de José de Alvalade e passado para os quadros do ambicioso mas inconsequente em termos desportivos, Sporting Clube de Portugal. Aspirava a outro estatuto social e o SCP parecia dar-lhe acesso a esses círculos.

E por lá permaneceu durante décadas tendo chegado a sócio nº 1. Terá sido ele o homem que influenciou outros a fazer essa mudança. Terá sido ele que motivou Francisco dos Santos e outros antigos companheiros a também ingressar no SCP quando regressou de Roma. Estava escrito que nunca mais voltariam ao Sport Lisboa, á na sua versão Sport Lisboa e Benfica. Mais tarde na década de 30 foi vice-presidente do Casa Pia Atlético Clube, durante a presidência de Cosme Damião. Caminhos cruzados de dois casapianos.


(http://i67.tinypic.com/2qsmr1j.jpg)
Em cima António Couto na nossa primeira equipa envergando o manto sagrado. Em baixo integrado numa das equipas casapianas ao lado de diversos outros nomes grandes entre os quais Francisco dos Santos. Em baixo à direita, enquanto vice-presiente do Casa Paia atlético Clube, durante a presidência de Cosme Damião.

Foram estes três homens os construtores de uma das Praças mais famosas do nosso País. Local que num passado recente se tornou um dos salões de festas populares aquando das conquistas do Sport Lisboa e Benfica. Perto do Rossio, local onde tradicionalmente se celebravam os nossos títulos e local onde estava a nossa sede no Jardim do Regedor. Mas como não ficar impressionado com esse mar de gente no Marquês de Pombal? Esse mar vermelho? Esses milhares de pessoas de coração em alegria e gritando a plenos pulmões pelo seu Clube, pelo nosso Clube, pelo Glorioso SLB!!! Com alegria, com paixão! À Benfica!


(https://3.bp.blogspot.com/-aUrYSNQ05I8/WReGG5OdixI/AAAAAAAAsnc/3VtWmmXN7rULQ39f14MxeXok6EtmUEKBgCLcB/s640/C_vUHR9W0AIZ75N.jpg)
(https://pbs.twimg.com/media/C_vHg12XUAANcJ-.jpg)
(http://www.jornalacores9.net/wp-content/uploads/2016/05/benfica-marques.jpg)
Fonte: EDB


BENFICA, BENFICA, BENFICA
DÁ-ME O 37!!!!!!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Maio de 2017, 23:49
"A Bola diamante" faz uma alusão a esta temática

O título é um mimo

O TETRA DO BENFICA NA ESTÁTUA DE DOIS JOGADORES DO SPORTING*

* ANTES DE SEREM SEDUZIDOS POR JOSÉ DE ALVALADE TINHAM SIDO DO SPORT LISBOA QUE AINDA NÃO ERA SLB



http://www.abola.pt/diamante/ (http://www.abola.pt/diamante/)

para quem quiser gastar dinheiro com um jornal que já foi grande.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Maio de 2017, 21:51
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De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte I)


(https://s2.postimg.org/83qmdpn7d/A01.jpg)
Os fabulosos irmãos Augusto. Fotografia de uma comitiva do SLB que jogou em Madrid em 1919. Artur à esquerda e Alberto à direita. Na fotografia de grupo vêm-se ao centro Cosme Damião muito bem-disposto e Cândido de Oliveira sentado com os braços cruzados.


Dois irmãos, ambos grandes jogadores, ambos de espírito insatisfeito e carácter turbulento. Mudaram de clube, mudaram de cidade e no caso de um deles até mudou de continente. Apesar disso ficaram para sempre ligados ao universo Benfiquista.

Neste e no próximo texto falaremos dos fabulosos irmãos Augusto, fazendo-lhe uma sincera homenagem. Falaremos de Artur e de Alberto e de algumas das suas aventuras futebolísticas. Porque mais não sabemos...


Benfica, a rural e pacata Benfica

Os dois manos Augusto nasceram em... Benfica! Na altura arredores de Lisboa, localidade pacata, com uma ruralidade ainda muito marcada e onde alguma da burguesia Lisboeta tinha casas de campo.

Artur Augusto era o mais velho. Nasceu na Travessa da Cruz da Era em Benfica no dia 18 de Outubro de 1896. Foi baptizado em 1 de Março de 1897 na Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica.

Alberto João Augusto nasceu dois anos depois, no dia 1 de Agosto de 1898. Seria baptizado em 10 de Abril de 1899 na dita igreja de Nossa Srª do Amparo e pelo mesmo padre. Eram filhos naturais (designação da época para filhos de pais solteiros) de António Augusto Júnior, carpinteiro e de Amélia Maria Rocha. Netos paternos de António Augusto e de Maria Roza (também chamada de Maria do Amparo) e maternos de Manoel da Rocha e Maria d'Assumpção Rocha.

 
(https://s22.postimg.org/6jikikjz5/A02.jpg)
O exterior e interior da igreja de Nossa Senhora do Amparo em Benfica. A igreja onde os irmãos Artur e Alberto foram baptizados. Os seus pais moravam em terrenos situados nas traseiras desta Igreja. Fonte: AML.


Os pais dos manos Augusto eram naturais e baptizados em Benfica, moradores "atrás" da dita Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica. Com toda a probabilidade os dois irmãos terão crescido nessa primitiva e tranquila localidade de Benfica. Foi esse o seu berço e o seu local da meninice.

Ali, perto estava situada a mítica Quinta da Feiteira, local onde tivemos um belo campo de futebol entre 1907 e 1910. Numa nota pessoal devo dizer que é talvez depois do antigo Estádio da Luz, o campo de futebol que mais me encanta. Como gostaria de ver mais e mais fotografias.

Com grande probabilidade os manos Augustos fizeram parte da horda de miúdos que viam a gente grande jogar futebol ali na Quinta da Feiteira. Um desfile de craques da bola, hoje nomes míticos, que por ali escreveram as primeiras paginas do futebol Português. De Manuel Gourlade a Cosme Damião, de Félix Bermudes aos Catataus, de Couto aos Pinto Basto, de Henrique Costa a Carlos França, de Artur José Pereira a Marcolino Bragança, tantos foram os pioneiros que por ali jogaram lançando as bases do encanto popular para com o futebol em Portugal.

Por aquele campo, antes e depois dos jogos da gente grande, os Augusto e muitos amigos terão certamente dado uns pontapés na bola e gritado "goal". Uma inspiração para as suas vidas que viriam a centrar-se no futebol.


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Três aspectos da zona da Quinta da Feiteira e a zona envolvente da Igreja da Nossa Srª do Amparo. Foi por ali que os irmãos Augusto nasceram e cresceram. Por ali viram muitos craques jogar em jogos que os terão inspirado para um vida centrada no futebol.


(https://s23.postimg.org/x9kmca9uz/A04.jpg)
Equipa suplementar (juvenil) do Sport Lisboa e Benfica, alinhada depois de um jogo com o Sport União Belenense, na Quinta da Feiteira (ver -29- Amor ao clube! (à falta de camisola...). p.6). Os jovens Benfiquistas estão assinalados com números vermelhos. Fonte: AML.


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Artur Augusto terá começado a sua carreira no futebol competitivo no CIF, Clube Internacional de Futebol. Ao certo, sabemos que o seu nome consta pela primeira vez de uma lista da 1ª categoria do CIF para o campeonato do ano de 1914-1915. Nesse tempo o CIF começava a perder competitividade, depois de abandono da maior parte dos seus estrangeiros, em particular dos Ingleses, recrutados para a Grande Guerra.


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Arthur Augusto na primeira categoria do CIF em 1914. Na lista estão também outros homens que viriam a jogar de Águia ao peito: Carlos Sobral, Luiz Gato, Carlos Guimarães e João Stock. Fonte: Em Defesa do Benfica.


A entrada no SLB foi o grande momento da carreira de Artur. No SLB cumpriria 9 (6+3) épocas. Pelo meio, 2 temporadas no FC Porto e uma breve passagem pelo Carcavelinhos aquando do regresso a Lisboa. Fez ainda algumas aparições noutras equipas tais como por exemplo os Leões de Santarém (em 1920 aquando da final da Taça Agostinho Costa frente à Académica de Coimbra). Mas como se percebe pelos números, foi a camisola do SL Benfica aquele que ele envergou por mais tempo. E seria ao nosso Clube que Artur voltaria para finalizar a sua longa e preenchida carreira. Apesar das suas andanças pelo norte do país, tanto ele como o seu irmão, foram indubitavelmente dois Benfiquistas.


(https://s17.postimg.org/u1qwayw2n/A07.jpg)
A carreira futebolística de Artur Augusto e as suas conquistas de Águia ao peito (salientados os 4 títulos de Campeão Regional de Lisboa (CL)). Fonte: zero-zero.


Artur era um avançado que evoluía pelo lado direito. Jogador intenso, com muito talento, técnica e visão de jogo. Jogou ao lado de outros grandes jogadores e gradualmente foi desenvolvendo uma polivalência que terá feito a felicidade os seus treinadores. Estreou-se no Benfica na época de 1915-1916, onde segundo nos fez notar Alberto Miguéns, fez o primeiro jogo a 27 de Junho de 1915. Tinha apenas 19 anos de idade, facto que atesta da sua precoce qualidade futebolística. Nesses tempos Cosme Damião fez um conjunto de experiências para avaliar da necessidade de não se retirar da competições e assim jogar ainda mais essa época; o que acabaria por acontecer.

Juntamente com o extraordinário Carlos Sobral, também proveniente do CIF, Artur Augusto foi uma das grandes novidades Benfiquistas para a nova época. Esses dois belos jogadores juntavam-se ao jovem casapiano Cândido de Oliveira para serem as três peças iniciais de uma renovação da equipa que Cosme via como inevitável.

Com essas aquisições, a nossa (excelente) equipa-tipo no Campeonato de Lisboa dessa época foi assim constituída: Stock (guarda-redes), Henrique Costa e Leopoldo Mocho (defesas), Carlos Homem de Figueiredo, Cosme Damião e Cândido de Oliveira (médios), Herculano Santos, Artur Augusto, Francisco Pereira, Carlos Sobral, e Alberto Rio.

Essa época marcou também o fim de carreira como jogador de Cosme Damião. Assim se vê que Artur Augusto por uma época ainda jogou ao lado de Cosme Damião, um privilégio que com certeza o terá marcado.

No final dessa primeira época de Águia ao peito, Artur Augusto e os companheiros conquistaram de forma categórica o Campeonato Regional de Lisboa, arrebatando o título ao SCP, inesperado vencedor no ano passado.

A hegemonia ficaria comprovada com a conquista de mais dois campeonatos regionais, perfazendo assim a conquista do segundo tricampeonato do SLB. Seis títulos em sete anos. Em particular o campeonato de 1917-1918 foi marcante para Artur Augusto pois passou a jogar na mesma equipa com o seu irmão Alberto. Os dois manos Augustos eram terríveis dentro do campo sendo carinhosamente apelidados de "Batatinhas" pelos adeptos Benfiquistas.


(https://s11.postimg.org/mkcji34f7/A08.jpg)
A equipa de 1915-1916, primeira época de Artur Augusto no SLB. Da esquerda para a direita: árbitro (de fato), Herculano dos Santos, Manuel Veloso, Cândido de Oliveira, Carlos Sobral, Artur Augusto, Francisco Pereira, Henrique Costa (cap.), José Picoto, Silvestre Rosmaninho, Alberto Rio e Leopoldo Mocho. Nota-se a ausência de Cosme. Estavam em curso as experiências para o pós-Cosme Damião.

(http://i66.tinypic.com/2mot8w0.jpg)


Mas depois de seis temporadas em que conquistou quatro campeonatos regionais pelo SL Benfica, Artur tomou duas decisões surpreendentes, a primeira sair do Benfica e a segunda ingressar no FC Porto. Apesar de à época não existir qualquer rivalidade entre as duas colectividades foram decisões surpreendentes uma vez que levavam a uma mudança de cidade e ao abandono do mais popular e vencedor Clube de Lisboa, região onde o futebol nacional estava mais evoluído. Que factores terão influenciado essa decisão?

Apesar de não sabemos a resposta podemos especular que o factor mais importante tenha sido dinheiro uma vez que o SLB não pagava aos seus jogadores. Jogava-se pelo amor à camisola. Mas seria só isso? Nessa temporada de 1920-1921, o nosso Clube perdeu o campeonato regional de Lisboa para o Clube Atlético Casa Pia (CPAC). Uma derrota amarga pois do outro lado estavam muito antigos companheiros que decidiram abandonar o SL Benfica no ano anterior para fundar o CPAC. Terá essa derrota deixado marcas em Artur Augusto? Terá deixado marcas na relação entre Artur e Cosme Damião, o seu treinador e antigo companheiro de equipa? Marcas entre Artur e os seus companheiros? Certo é que decidiu sair para o FC Porto onde jogaria durante dois anos, de 1921 a 1923.


(https://s22.postimg.org/rexi7yf75/A10.jpg)
Uma mudança surpreendente no ano de 1921, Artur Augusto de vermelho e Águia ao peito passou a vestir a camisola azul e branca durante dois anos. Mais tarde retornaria à casa mãe.


Pelo FCP, orientado pelo Belga Adolphe Cassaigne, Artur Augusto tornar-se-ia figura destacada da conquista do Campeonato de Portugal de 1921-1922. Essa prova, antecessora da Taça de Portugal, foi o primeiro troféu a nível nacional disputado no nosso País, tendo sido conquistada numa finalíssima contra o SCP. Ganhou também dois campeonatos regionais do Porto, prova que apesar de alguma oposição do Boavista e do Leixões era amplamente dominada pelos portistas.

No campo, ao que parece Artur terá sido colocado numa posição mais recuada, com uma missão defensiva mas também de coordenação dos movimentos colectivos da equipa. Algo que também aconteceu quando regressou ao SLB.


(http://i65.tinypic.com/2vdf9c1.jpg)
Equipa do FCP em 1921-1922. Artur Augusto está salientado. Fonte: Caderno A Bola.


As conquistas no FCP viriam a ser as últimas da carreira de Artur Augusto. Depois de duas épocas no clube nortenho, Artur regressaria a Lisboa para ingressar ainda que brevemente no Carcavelinhos FC, o aguerrido clube da zona de Alcântara e um dos dois precursores do Atlético Clube de Portugal.

Mas o apelo Benfiquista falaria mais alto. Cosme acabou por aceitar o regresso. E assim logo depois, o veterano de muitas guerras Benfiquistas, voltava ao seu SLB. Apesar de ter apenas 27 anos, Artur já aparentava alguma veterania embora mantivesse intactas as suas virtudes técnicas.


(https://s12.postimg.org/cnvsdb27x/A12.jpg)
Equipa (penso) de 1924-1925, já depois do regresso de Artur Augusto ao SLB. Nota-se bem a veterania de Artur apesar de ainda não ter 30 anos de idade.


Durante os três anos dessa sua segunda permanência no nosso clube, Artur estava já numa fase descendente da carreira, e embora crescentemente limitado por uma doença dos olhos, foi muito útil à equipa, transmitindo a sua experiência e saber aos companheiros mais novos. Cosme Damião era o treinador do SLB e teria razões para manter a confiança nas capacidades de Artur enquadradas nas suas concepções no futebol dentro e fora de campo.

Mas os tempos mudavam rapidamente. A visão de Cosme de um futebol totalmente amador e romântico, de amor à camisola e que se recusava a pagar por transferências de jogadores, estava já desfasada da realidade. O Clube estava rapidamente a perder competitividade e campeonatos, embora mantivesse a adesão popular. Corríamos por isso riscos de nos tornarmos num novo CIF, definhar e morrer competitivamente. Havia que mudar.

Ao invés, clubes como o SCP, o CFB e até o CPAC, mostravam-se cada vez mais competitivos e ganhadores. O dinheiro circulava, contratavam-se jogadores, o amadorismo era muitas vezes apenas formal.

Para o SLB era mesmo tempo de mudar apesar de Cosme e dos que o rodeavam não estarem prontos para aceitar isso. Perdendo campeonatos e cada vez mais atolados nas dívidas contraídas para a construção do complexo desportivo das Amoreiras, o SLB tinha de assumir roturas dolorosas.

Em 1926 depois de umas atribuladas eleições, Cosme apesar de eleito presidente, renunciava e saía do Clube. Juntamente com Cosme saíram outros homens, incluindo Artur Augusto. Com 30 anos mas provavelmente já debilitado pela doença que o mataria, Artur Augusto passou a ser uma Saudade do nosso Clube. Para sempre.


Na Selecção Nacional
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Os manos Augusto estiveram também num momento chave do futebol em Portugal. Ambos integraram a primeira selecção nacional de Portugal. Esse primeiro jogo da nossa selecção foi disputado a 18 de Dezembro de 1921 contra a Selecção de Espanha, em Madrid, no Estádio Martinez Campos, propriedade do Atlético de Madrid. Ali, os manos Augusto entraram em campo ao lado de outros nomes imortais como Cândido de Oliveira, Ribeiro dos Reis, Vítor Gonçalves e Jorge Vieira, entre outros!

No final uma derrota por 1-3 mas a satisfação de terem conseguido fazer um jogo bem disputado. Satisfação particular também para Alberto Augusto por ter marcado o golo Português. Um golo marcado ao lendário guarda-redes espanhol Zamora!


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A primeira selecção nacional de Portugal que em Dezembro de 1921 alinhou em Madrid e perdeu contra a Espanha (1-3). Da esquerda para a direita: Jorge Vieira (SCP), JM Gralha (CPAC), António Lopes (CPAC), António Pinho (CPAC), Ribeiro dos Reis (SLB), Raúl Nunes (secretário-geral União Portuguesa de Futebol), Cândido de Oliveira (CPAC), Artur Augusto (FCP), Vítor Gonçalves (SLB), J. Francisco (SCP), C. Guimarães (CIF) e Alberto Augusto (SLB).


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O destaque da jogada de Alberto Augusto que viria a gerar o primeiro golo de sempre da Selecção Nacional de futebol. Marcado por Alberto Augusto e sofrido pelo lendário Zamora. Fonte: BND.


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Ficha do primeiro jogo da selecção nacional de futebol de Portugal. Estavam três jogadores do nosso Clube e quatro outros antigos atletas do SL Benfica: Carlos Guimarães António Pinho, Cândido de Oliveira e... Artur Augusto. Fonte: Restos de Colecção


Este facto relevante da história do futebol Benfiquista e Português é também lembrado no nosso Museu Cosme Damião

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Para Artur Augusto esse jogo de Madrid acabou por ser o único com a camisola das quinas. E é curioso que apesar de ter feito a maior parte da sua carreira no SLB, chegaria a internacional quando estava no FCP. Aliás, a esse propósito não deixa de ser irónico que os portistas lembram muitas vezes que Artur Augusto foi o seu primeiro internacional Português mas esquecem-se muitas vezes de lembrar de onde veio e para onde regressou. Veio do Benfica e voltou para o Benfica!

Ao invés, Alberto Augusto totalizaria 4 jogos pela selecção nacional, o último dos quais em 24-01-1926, num jogo contra a Checoslováquia (empate 1-1), disputado no Porto, no hoje desaparecido campo do Ameal. Nessa altura Alberto já era jogador do Sporting Clube de Braga.


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Fonte: DL, 25-01-1926.


Nesse tempo a selecção fazia poucos jogos, facto que explica um número tão reduzido de internacionalizações. Mas a Alberto ninguém nunca tirará a honra de ter sido o primeiro marcador oficial de um golo com a selecção das quinas. E será dele que falaremos no próximo texto.


Uma festa antes do Adeus.

Artur Augusto faleceu em 24 de Março de 1935. Tinha apenas 39 anos de idade.

Tenho ideia de ter falecido na sua Benfica natal. Cerca de 13 meses antes vestira pela última vez a camisola do Sport Lisboa e Benfica. Nessas festas de Fevereiro de 1934 em que no Estádio das Amoreiras se celebraram os 30 anos do Clube (ver texto -34- Dois dias de festa. p.8).


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Artur Augusto (nº 5), já doente, alinhou num desafio entre veteranos Benfiquistas, durante as festas dos 30 anos do SLB. Fonte: digitarq-TT.


Ali, ao lado de Artur Augusto (5) estiveram outros velhos companheiros dos quais destaco Herculano Santos (nº 27), António Pinho (24), Vítor Gonçalves (4) e Jesus Crespo (1). Provavelmente, nesse jogo, Artur Augusto terá vestido pela última vez o manto sagrado. Orgulhosamente vestiu a sua camisola mais querida, pela última vez!

Paz à sua alma.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Junho de 2017, 12:02
-156-
De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte II)

Alberto João Augusto.

Dele há muito que contar. Como veremos, Alberto teve uma vida aventurosa, nómada, com episódios conflituosos dentro e fora do campo. De Benfica a Guimarães, terra onde faleceu, muitas aventuras, trabalhos e conquistas. Um percurso de vida que foi também de São Paulo ao Rio de Janeiro, do Porto a Braga, de Vizela a Guimarães. Muitos campos onde Alberto exibiu a sua excelente qualidade futebolística e vincou a sua forte personalidade.

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Ao que parece Alberto Augusto iniciou a sua actividade no Grupo Futebol Benfica e nos Recreios Desportivos da Amadora (desconheço por que ordem). Em 1916-1917, quando contava cerca de 18 anos de idade, Alberto ingressou no SL Benfica onde o seu irmão Artur jogava regularmente na nossa primeira equipa. Como era hábito nesses tempos, estreou-se nas categorias inferiores mas, sinal evidente da sua qualidade e maturidade futebolística precoce, estreou-se pela 1ª categoria logo na época seguinte.


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Diversas equipas do SLB onde actuaram os irmãos Alberto e Artur Augusto.


Jogador irrequieto, dotado de grande domínio de bola e de boa capacidade goleadora, Alberto era também conhecido por ter uma personalidade competitiva forte e impulsiva. E isso ficou logo vincado no seu jogo de estreia, disputado no dia 27 de Janeiro de 1918 contra o... SCP. Nesse jogo, Alberto Augusto foi expulso juntamente com o sportinguista Boaventura Silva, um desertor que três anos antes tinha trocado o SLB pelo SCP. O Benfica acabaria por ganhar o jogo por 2-1 mas o jovem Alberto mostrou logo toda a sua fibra.

Alberto passou a jogar de forma regular na primeira categoria conquistando progressivamente a titularidade ao lado do irmão. Os dois irmãos tinham a simpatia do público sendo chamados de "os Batatinhas".

Durante os sete anos que esteve de Águia ao peito, Alberto conquistou dois títulos de Campeão de Lisboa e fez várias digressões a Espanha, tendo numa delas e por necessidade, chegado a actuar a guarda-redes! A sua identificação com o Benfica era forte e o seu futebol muito apreciado, traduzido em alguns golos importantes. Tudo apontava para que permanecesse no Clube durante o resto da carreira.


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Equipa do SL Benfica e do Real Madrid CF, em Madrid, no campo do Racing, em 25 de Junho de 1922. Alberto Augusto está assinalado. Fonte: EDB.


Mas em 1924, terá decidido enveredar por uma carreira profissional. Segundo algumas alegações que li, mas que ainda não encontrei documentadas, Alberto terá aceitado um convite do Vitória de Setúbal para fazer uma digressão ao Brasil. Nessa montra acabou por receber convites, deixando um bom cartel das suas capacidades. Não é muito fácil seguir o seu rasto mas eventualmente terá andado pelo Brasil durante dois anos (1926-1928). Jogou primeiro na cidade de São Paulo na Portuguesa Santista e depois no America do Rio de Janeiro (America sem acento!)

A primeira referência que encontrei da presença de Alberto Augusto no Brasil foi a da sua estreia pela Associação Atlética Portuguesa Santista (AAPS) no Domingo dia 14 de Agosto de 1927.


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Duas notícias que reportam as estreias de Alberto Augusto na Portuguesa Santista (Agosto 1927) e America-RJ em Março de 1928. Na primeira destas notícias nota-se uma gralha ao chamarem-lhe Carlos Augusto. Fonte: BND


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Último jogo de Alberto Augusto na Portugueza Santista e primeiro no America-RJ. Fotne: BND.


Carinhosamente apelidada como a 'Briosa', ou mais vulgarmente conhecida por Portuguesa Paulista, essa agremiação que ainda hoje existe, foi fundada no dia 20 de Novembro de 1917. O seu Estádio, chamado Estádio Ulrico Mursa, foi inaugurado em 5 de Dezembro de 1920, tendo por isso sido o palco onde Alberto Augusto jogou. Foi em tempos rival do Santos FC mas os tempos modernos são difíceis para os dois emblemas.

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A Portuguesa Santista (Associação Atlética Portuguesa Santista, clube de São Paulo). Vizinha do grande Santos FC. Fonte: cacellain.com.br. Foto antiga do Estádio Ulrico Mursa, casa da Portuguesa Santista. Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0171t.htm


Ao serviço desta equipa paulista, no princípio de Março de 1928, Alberto Augusto fez um jogo interestadual contra o America FC, também conhecido pelo America do Rio de Janeiro (America-RJ). Talvez tenha sido nesse jogo que recebeu um convite para se mudar para o Rio de Janeiro.


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O America Football Club, clube histórico do Rio de Janeiro, cujo Estádio está situado perto do gigante Maracanã. Fonte: cacellain.com.br


Fundado em 18-09-1904 na zona da Tijuca, durante décadas o America-RJ disputou com o Bangú, o título de 5º grande do futebol carioca. Mas nessa década de 20, o America-RJ estava ao nível dos 4 grandes, Vasco da Gama, Botafogo, Fluminense e Flamengo, tendo-se aliás sagrado campeão estadual em 1913, 1916, 1922, 1928, 1931, 1935 e 1960. Ou seja Alberto Augusto jogou num grande clube carioca da década de 20 e 30, brilhando uma vez mais vestido com camisola vermelha e calção branco. Aliás como à frente se verá, Alberto Augusto era bem identificado com a cor vermelha. Sabem qual era a sua alcunha no Rio de Janeiro? "o Bemfica"!!


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Uma imagem extraordinário do Estádio de Campos Salles, casa do America FC durante um jogo em 1928. Ficamos com uma ideia do ambiente onde Alberto Augusto jogou. Note-se a assistência empoleirada no morro. Fonte: BND.


Jogatanas, mulheres e navalhadas

Mas fora do campo Alberto Augusto teria também muito que contar na sua vida Brasileira. Rio de Janeiro, mulheres bonitas, calor e sangue quente... tudo o que é preciso para as coisas descambarem. No princípio de Março de 1928, numa cena extrema de ciúmes, Alberto terá perdido a cabeça e resolvido questões de saias à navalhada.


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Fonte: BND


Apesar de todos este alarido, ou Alberto não chegou mesmo a embarcar de regresso a Portugal ou então regressou bem depressa ao Rio de Janeiro pois em Julho desse ano há notícia da sua presença no Rio de Janeiro aquando de um treino efectuado durante a estadia do SCP no Rio de Janeiro. Os sportinguistas jogaram contra o Fluminense (derrota por 1-4) e contra o Vasco da Gama (empate 1-1).

Alberto nunca terá jogado oficialmente de verde e branco ao contrário de alguns jogadores convidados pelos sportinguistas para reforçarem a sua equipa nessa digressão: o luvas-pretas Carlos Alves (Carcavelinhos), António Roquete (Casa Pia AC), e Gustavo (Casa Pia AC, mais tarde nosso jogador). Foi aliás nessa digressão que as camisolas listadas de verde e branco, usadas pelo râguebi do SCP, foram estreadas pelo futebol. Até hoje.


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Notícia de treino da equipa do SCP em 13 Julho de 1928 no Rio de Janeiro. Alberto Augusto, indicado como jogador do America-RJ, alinhou nesse treino pela equipa B. Note-se a presença de Roquete e Gustavo (futuro jogador do SLB), ambos jogadores do Casa Pia e de alguns jogadores do Vitória de Setúbal. Fonte: BND.


Quer na Portuguesa Santista quer no America-RJ, Alberto Augusto jogou quer a médio quer a defesa, sendo-lhe reconhecidas excelentes capacidades atléticas e técnicas. Segundo o que se diz, aquando do seu regresso a Portugal, os dirigentes do clube Brasileiro onde estava (presumivelmente o America-RJ) tentaram de tudo para que permanecesse. Munidos de um livro de cheques em branco tentaram até no próprio barco que Alberto ficasse por lá e não fizesse a travessia de regresso. Debalde...


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Fonte: BND.



De regresso a Portugal

Em 1928, Alberto Augusto decide regressar a Portugal, radicando-se no Minho e tendo a partir daí feito um interessante e longo trajecto, do qual se apresenta um resumo. Muitos outros detalhes poderão ser lidos no excelente artigo do Sr. Alberto de Castro Abreu, aqui: http://gloriasdopassado.blogspot.pt/2008/06/alberto-augusto.html (http://gloriasdopassado.blogspot.pt/2008/06/alberto-augusto.html)

A primeira paragem foi o Sporting Clube de Braga, clube onde jogou em dois períodos distintos (de 1925-1926, depois de 1932 a 1934) e onde se tornou o primeiro jogador remunerado da história do Clube, tendo conquistado dois campeonatos distritais. A sua última (quarta) internacionalização aconteceu quando já era jogador do SCB. Seguir-se-iam o FC Salgueiros (1927-1928), o Comercial de Braga (1934-1935) e finalmente Vitória Sport Clube (1935 a 1937). E foi no clube vitoriano que Alberto Augusto fechou a sua carreira como jogador quando já tinha 39 anos de idade. No Vitória de Guimarães mostrou o seu lado ecléctico, praticando outros desportos em particular o atletismo.


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Uma predominância de camisolas vermelhas. Fotos de diversas camisolas que Alberto Augusto envergou depois dos seus tempos do Benfica. Em cima, Alberto Augusto nas suas passagens pelo SLB e SCB, em baixo no SC Salgueiros e Vitória SC. Fontes: Restos de Colecção, Cromo dos Cromos, Glórias do Passado, entre outras.


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Duas das equipas onde Alberto Augusto jogou futebol durante a década de 30: em cima o SCB e em baixo o VSC. Fontes: Glórias do Passado.


No final da época de 1936-1937, dois anos depois da morte do seu irmão Artur, Alberto terminou a sua longa e prestigiada carreira de jogador. Começava o Alberto Augusto treinador.


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A carreira futebolística de Alberto Augusto (aceitável apesar de ter alguns erros) e as suas conquistas de Águia ao peito (salientados os 2 títulos de Campeão Regional de Lisboa (CL)). Fonte: zero-zero.



Alberto Augusto, o treinador

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Alberto Augusto foi um jogador-treinado desde os seus tempos do Sport Comércio e Salgueiros. Teve uma longa carreira de treinador em que orientou numerosos clubes, principalmente na região do Minho. Conhece-se actividade nos seguintes clubes: Vitória SC, SC Braga, Académico do Porto, AD Fafe, GD Aves, Gil Vicente FC, FC Vizela, FC Porto, Oriental de Lisboa, SL Faro e SC Torreense.

Dotado de grandes conhecimentos do futebol era disciplinado e criterioso, tendo obtido algum sucesso.

Foi no entanto no VSC onde teve mais glórias como treinador, conquistando numerosas provas regionais, tornando-se por isso uma figura importante e querida das gentes vitorianas, (Fonte: http://www.digitaldevizela.com/2009/08/treinador-alberto-augusto-recordado.html). O seu labor e saber ajudaram à transformação do clube vimaranenses que progressivamente se apresentou mais competitivos. Por lá chegou a treinar todas as categorias de futebol.

E seria com Alberto Augusto ao leme do VSC que em 1942 o clube subiria pela primeira vez à 1ª Divisão, entrando para sempre para a história do clube vitoriano. Ficou ligado à primeira participação do Vitoria SC no Campeonato Nacional da 1ª Divisão no ano de 1942. A culminar essa excelente época, o VSC disputaria pela primeira vez a final da Taça de Portugal, tendo eliminando o SCP nesse trajecto. Na final o VSC foi derrotado (0-2) pelo então poderoso CF Belenenses no Campo do Lumiar no dia 12-07-1942. Na época seguinte (1942-1943) ficou também a memória (negra para nós) de um jogo para o campeonato nacional em que em Guimarães, o VSC impôs ao SLB uma derrota por 5-1. Alberto ficaria em Guimarães até 1944-1945.

Mais tarde ingressou no FCP em Julho de 1949, tornando-se o primeiro treinador Português efectivo da história dos azuis e brancos. Aí permaneceu até 28 de Novembro de 1949, depois de uma carreira modesta e sem títulos a assinalar. Talvez o facto mais notável desse período tenha sido quando liderou uma comitiva do FCP que fez uma digressão a Angola, 1 ano antes da nossa (ainda mais longa) digressão.


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Campo da Constituição, 1949. A comitiva do FCP apresentando os troféus conquistados na digressão em Angola. Alberto Augusto é o segundo a contar da esquerda.


Faleceu na freguesia de São Paio em Guimarães no dia 20 de Janeiro de 1973. Tinha 75 anos de idade. Paz à sua Alma.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Junho de 2017, 23:41
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Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver".

Neuve-Chapelle, França, 9 de Abril de 1918.


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Fonte: https://rossellapiccinno.com/2014/05/17/histoire-du-christ-des-tranchees-en-images-darchive/


Neuve-Chapelle, localidade Francesa, perto de Lille, a cerca de 32 km a sul de Ypres.

De 1915 a 1918 esta região foi palco de combates brutais entre Alemães e tropas aliadas. Neuve-Chapelle quase desapareceu do mapa. Em Abril de 1918, o pouco que restava das batalhas anteriores foi por fim devastado quando os Alemães investiram pelo lado dos Portugueses que por ali estavam instalados desde Fevereiro desse ano. Os Alemães perceberam que esse era o ponto mais fraco da linha de trincheiras da defesa Aliada e investiram brutalmente dilacerando as nossas linhas. A primeira linha defensiva Portuguesa simplesmente desapareceu a segunda linha foi duramente atingida. Centenas, talvez milhares de combatentes Portugueses caíram para não mais se erguerem. Centenas, talvez milhares, de combatentes Portugueses foram feitos prisioneiros e levados para campos de concentração na Alemanha.


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Neuve-Chapelle e a região, onde se instalou o CEP.


Ali, nos campos de Neuve-Chapelle juncados de cadáveres, de destroços materiais, de cheiros pestilentos, de miséria humana, dor extrema, morte; ali, alvo, de braços e pernas mutiladas, o "Cristo das trincheiras" era o que restava de um cruzeiro com uma imagem do Cristo Redentor na Cruz.

Os Portugueses que não tinham sido mortos ou feitos prisioneiros, retiraram para linhas mais atrasadas, levando consigo esta imagem destroçada de Cristo. Esta imagem acompanhou-os nas semanas que se seguiram. Àqueles homens mal equipados, amargurados pelas perdas, feridos e abandonados pelas elites políticas, não restava mais do que a fé Cristã, a esperança da sobrevivência e de um futuro feito de dias de Paz e de retorno às suas casas e famílias. O Cristo das trincheiras simbolizava essa fé.


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Em cima à esquerda a zona de Neuve-Chapelle onde se situava o cruzeiro com a imagem que viria a ser o "Cristo das trincheiras". À direita uma imagem já depois das primeiras devastações de 1915. Em baixo, soldados Portugueses junto ao cruzeiro em dois momentos, antes e depois da mutilação da imagem após mais bombardeamentos. A fotografia e baixo à direita é de Arnaldo Garcez. Fonte: Portugal1914.org e https://rossellapiccinno.com/2 (https://rossellapiccinno.com/2)


Nesse mesmo dia de 9 de Abril de 1918, a História da Guerra cruzou-se novamente com a História do SLB quando, em Neuve-Chapelle, José da Cruz Viegas foi feito prisioneiro pelos Alemães. Tinham passado apenas seis dias depois da brutal batalha de La Lys onde milhares de Portugueses tombaram para sempre. José da Cruz Viegas foi um dos que sobreviveu mas passaria mais 8 meses de duras provações antes do regresso a Portugal.

Desses dias de triste viver em campos de concentração Alemães José da Cruz Viegas deixou-nos um registo escrito. Um testemunho impressivo, impressionante. Falaremos hoje desses dias tristes mas falaremos também dos dias felizes de Belém e de Carcavelos. Dessas duas dimensões, militar e desportista teremos um conhecimento maior desta figura de importância decisiva nos primeiros anos da História do nosso Clube.


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Militar, cidadão e futebolista do Glorioso. Três facetas da vida de José da Cruz Viegas (Belém 6-08-1881, Lisboa 5-02-1957).



O desportista

A José da Cruz Viegas devemos as cores vermelha e branca no nosso equipamento principal. Desde 1904 que o SLB mantém intocáveis essas cores. Tudo assente na convicção de que a cor vermelha para lá da alegria era também uma cor que ficava na retina nos adversários e nos assistentes.

A José da Cruz Viegas devemos também que o Clube não se tenha inicialmente chamado Grupo de Foot-ball Lisbonense. O seu argumento foi que as siglas GFL podiam ser associadas a Guarda Fiscal de Lisboa.

A José da Cruz Viegas devemos ter contribuído para competitividade e espírito ganhador do nosso Clube. Essa foi uma virtude revelada logo nos primeiros anos do nosso Clube. José da Cruz Viegas foi de 1904 a 1907 o mais frequente titular a defesa direito da nossa equipa principal, lugar que ao que parece desempenhava com qualidade e critério.

   
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Três imagens de José da Cruz Viegas em acção em jogos opondo o Sport Lisboa e o Clube Internacional de Futebol. As duas primeiras fotografias foram tiradas no campo da Cruz Quebrada e a terceira nas Terras do Desembargador às Salésias em Belém. Fonte: AML.


A José da Cruz Viegas devemos também a fotografia mais antiga de uma equipa de futebol do Sport Lisboa. A célebre fotografia captada pelo fotógrafo Nazaré Chagas, foi publicada na História do SLB 1904-1954, justamente por ter sido gentilmente cedida aos autores por José da Cruz Viegas. Uma fotografia que muitas vezes revemos no Estádio...


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José Cruz Viegas teve o raro privilégio de ter sido simultaneamente um membro do Football Club, a equipa de miúdos de Belém liderada pelos manos Catatau e também de ter sido um aluno externo casapiano (estudou financiado pelo legado de Luz Soriano).

Muito provavelmente apenas por acaso não foi fundador do Sport Lisboa porque no dia 28 de Fevereiro de 1904 estaria ocupado pelos seus afazeres (militares) profissionais. Muito teria ele para nos contar mas infelizmente não existe ou pelo menos não lhe conheço uma única entrevista.


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Mas ele esteve lá, como um dos rapazes mais activos antes e depois da fundação, contribuindo para a definição do Ideal, das cores dos equipamentos, do Emblema, do nome, da estruturação e da actividade desportiva inicial do nosso Clube. Militar de carreira, cedo a sua contribuição futebolística para o Sport Lisboa se tornou esparsa. Seria substituído por Henrique Costa, outro grande jogador de Belém.

Em Maio de 1907 com outros sete companheiros cedeu à tentação de se mudar para o recém-fundado e endinheirado SCP. Eram jovens e tinham a ilusão de aumentar o seu estatuto social e de ter o usufruto de condições e luxos raros na época tais como balneário e equipamento desportivo.

O Sport Lisboa, passado o encanto dos primeiros dias não dispunha de meios nem condições para corresponder às aspirações de jovens que aspiravam ter outro estatuto social. O futebol era muitas vezes socialmente reprovado e frequentemente incompreendido. O ricaço e ambicioso SCP representava outra realidade. O acesso a chás dançantes e bailes com meninas de alta sociedade foi o chamariz definitivo.


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Uma das primeiras equipas realmente competitivas do SCP. Estão ali oito ex-jogadores do SLB. Apenas Henrique Costa regressaria ao SLB. José da Cruz Viegas jogaria muito pouco tempo, passando depois a ser dirigente do clube.


No SCP terá jogado pouco uma vez mais por via das suas tarefas profissionais. Depois do futebol foi o segundo Presidente do Conselho Fiscal do Sporting Clube de Portugal, substituindo o falecido Dr. Januário Barreto (este último foi o primeiro presidente eleito do Sport Lisboa...). José da Cruz Viegas faria um segundo mandato tendo mais tarde integrado a segunda Direcção de Caetano Pereira, durante a Gerência 1912/13.

Anos mais tarde, depois de se retirar do futebol de competição, e já dedicado à sua carreira militar, José da Cruz Viegas mantinha o seu prestígio no meio desportivo, aparecendo entre a assistência em alguns eventos de maior importância.


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Dezembro de 1912, jogo no Campo de Palhavã, disputado pelo SLB e o Racing Club de France. José da Cruz Viegas com o seu uniforme militar de gala esteve sentado ao lado do Dr. Alberto Lima, presidente do SLB e do Embaixador de França em Lisboa mais as respectivas Senhoras. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca de Lisboa.


Militar


Mas, como dissemos, hoje vamos falar de um tempo dramático da sua vida. Um tempo em que integrado no CEP – Corpo Expedicionário Português, sentiu a fragilidade da vida e experimentou a crueldade humana.


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Portugal entrou oficialmente na Guerra em Março de 1916. Sendo militar no activo, iniciava-se um tempo diferente para o (então) Capitão José da Cruz Viegas. Pertencia à 3ª Companhia do Regimento de Infantaria 1 que tinha como lema Ubi Gloria Omne Periculum Dulce cuja tradução poderá ser Onde há Glória todo o Perigo é Doce. Esse Regimento seria duramente atingido no conflito.


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Regimento de Infantaria 1 retratado em 1910. Com grande probabilidade José da Cruz Viegas estará ali retratado. Fonte: Arquivo Histórico Militar


José da Cruz Viegas embarcou em Lisboa em 27 de Maio de 1917. Logo em Junho foi louvado por "zelo, inteligência e competência". Entre 10 de Agosto a 1 de Setembro de 1917 baixou ao hospital. Numa forte indicação de ter combatido na linha da frente, em 15 de Outubro a 20 de Novembro voltou a baixar ao hospital, sendo que em Novembro lhe foram dados 30 dias de licença para convalescer. Em Janeiro de 1918 voltaria a ter 30 dias de licença para convalescer;

Regressou a França a 8 Março, assumindo funções de 2º comandante do Batalhão. Um mês depois, a 9 Abril foi dado como desaparecido em combate, mais tarde verificando-se ter sido feito prisioneiro.

Depois de libertado pelos Alemães, apresentou-se em 22 Dezembro tendo-lhe sido dadas ordens para seguir para Portugal por via terrestre. Chegou a Portugal no dia 28 Dezembro. Terminava aí a Guerra para aquele bravo militar.


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Prisioneiro de guerra


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A notícia na Ilustração Portuguesa da prisão do Capitão José da Cruz Viegas no dia 9 de Abril de 1918. Fonte: Biblioteca Nacional.


Como atrás se disse, José da Cruz Viegas foi feito prisioneiro em Neuve-Chapelle pelos Alemães no dia 9 de Abril de 1918. Deixou-nos um registo escrito desses dias tristes e duros. Um testemunho impressivo, impressionante.

A utilização desse testemunho neste texto obriga a dar os devidos créditos ao excelente trabalho de investigação individual da Drª Maria José Monteiro de Oliveira, que sobre a orientação da Professora Doutora Maria Fernanda Rollo, produziu uma tese de Mestrado em História Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa. Esse trabalho chamado "Deste triste viver: Memórias dos prisioneiros de guerra Portugueses na primeira guerra mundial" tem um conjunto criterioso e excelente de testemunhos de combatentes que honraram a Pátria num conflito cruel e mortífero. O testemunho do então Capitão José da Cruz Viegas, ficou documentado no Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros (AHDMNE), Lisboa; 3º Piso, Arm. 7, Maço 181, vol. I.

O testemunho do então Tenente José da Cruz Viegas foi um dos escolhidos pela Drª Maria José. Como veremos foi uma escolha acertada que ilustra bem a crueldade desses dias. Na tese fica também ilustrado o espírito de luta, a insatisfação, a esperança, a acção e a coragem reveladas por muitos dos bravos homens do CEP. Essas foram sempre a marca do nosso Povo, e também do grande Clube que ele ajudou a fundar: o Sport Lisboa e Benfica.

Fica por isso aqui expresso um obrigado à Drª Maria José Monteiro de Oliveira e os parabéns pelo seu excelente trabalho académico que pode e deve ser lido aqui: https://run.unl.pt/bitstream/10362/7324/1/CORPOTESE.pdf (https://run.unl.pt/bitstream/10362/7324/1/CORPOTESE.pdf)

Para não tornar o texto ainda mais longo não falarei muito do contexto histórico sugiro a leitura dos três textos publicados anteriormente nesta temática: -105-, -106-  e -107- Águias na Guerra (parte I, II e III) (p.30).


O testemunho pessoal


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O capitão de Infantaria 1 José da Cruz Viegas, foi capturado em Neuve-Chapelle a 9 de Abril de 1918.


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A Batalha de Neuve Chapelle em Março de 1915. Fonte: static.artuk.org


Tinha 37 anos. Durante dois dias caminhou, juntamente com outros prisioneiros portugueses, em direcção a Lille. Nada comeu, nem a escolta deixava que os habitantes das populações que atravessou lhe estendessem um bocado de pão.

A primeira refeição, no dia 11, foi uma "sopa salgada com carne de cavalo em mau estado". Serviu, pelo menos, para recuperar alguma energia. José Viegas não chegou a entrar na fortaleza de Lille, por onde passaram muitos expedicionários antes de serem transferidos para os campos de internamento. Na estação ferroviária da cidade, embarcou num comboio rumo a Rastatt – para uma viagem de três dias, cada grupo de 20 oficiais tinha direito a "um pão negro e um balde de marmelada de quatro quilos".

Já no campo de Rastatt, a alimentação era "deficientíssima" – nunca comeu tanta beterraba como quando esteve preso na Alemanha. Às vezes, boiava na sopa "peixe podre" que alguns prisioneiros, desesperados, engoliam. Muitos foram parar à enfermaria com "enterite".

Depois, ainda teve de passar pelo "vexame" do depilatório: "No banho estava um soldado prisioneiro russo com um caldeiro cheio de um líquido cáustico esverdeado, cuja base devia ser arsénico, e que pintava toda a parte cabeluda do corpo dos oficiais, aplicando-nos um forte depilatório." O objectivo, segundo os alemães, era evitar a propagação de parasitas, mas José Viegas não acreditava nisso, considerando que os guardas queriam apenas humilhar os presos.



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Prisioneiros Portugueses no campo de concentração Alemão. Fonte: Bundesarchiv


O capitão permaneceu pouco tempo em Rastatt. Transferiram-no para Uchter Moor, onde a água era imprópria para consumo. José Viegas apercebeu-se disso mesmo quando a sua camisa branca saiu amarela do tanque de lavagem das roupas. Mas a sua passagem por Uchter Moor foi breve, pois aguardava-o mais um campo de oficiais: Breesen.

Aqui, as barracas possuíam vários quartos e em cada um deles dormiam quatro prisioneiros. As "retretes tinham um sistema de fossa a descoberto que era despejada para uma carroça por meio de bomba de ar comprimido". E os resíduos eram vazados junto às vedações do campo, pelo que os presos respiravam um ar "pestilento".



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Batalha de La Lys, Abril 1918. Prisioneiro de Guerra Português examinado por um oficial Alemão em no campo de concentração de Fourmies.


Breesen pôs à prova a capacidade de resistência de José Viegas. Pouco tempo depois de ali ter chegado, o capitão de infantaria não aguentou mais as "humilhações" e as "privações". E fugiu. Ainda conseguiu saltar as vedações e vaguear um ou dois dias, mas os alemães, no seu encalço, depressa o recapturaram.

O castigo foi a dobrar: durante cinco dias encarceram-no numa cela, juntamente com presos de "delito comum", na prisão da cidade de Lübeck; e quando regressou a Breesen esteve 17 dias em "regime celular" (primeiro num compartimento exíguo sem qualquer luz e depois numa pequena divisão com uma janela).



(https://s17.postimg.org/crtnjjo1b/image.jpg)
Esperando pelo rancho.



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"O Glorioso somno" gravura de Menezes Ferreira.


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Uma enfermeira no Cemitério Militar Português de Neuve-Chapelle, Março de 1919. Fonte: portal La Grande Guerre.


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Os que sobreviveram. Repatriamento por mar de antigos prisioneiros de guerra Portugueses. Muitos outros regressaram por via terrestre entre Dezembro de 1918 e Janeiro de 1919. Fonte: Ilustração Portugueza, Edição semanal do jornal O SÉCULO, II Série, n.º 676, 3 de Fevereiro de 1919


José da Cruz Viegas sobreviveu. Regressou a Portugal por via terrestre e tornou-se uma figura prestigiada no Exército Português chegando à patente de Major. No entanto nunca esqueceu o seu lado de desportista. E de facto durante vários anos esteve ligado a jogos de futebol entre militares Portugueses e Espanhóis como por exemplo Lisboa vs Madrid (e vice versa).

Não se pense que eram jogos de interesse menor. Antes pelo contrário pois para além da enorme popularidade do futebol nos depois países também por se realizarem numa era de exacerbados nacionalismos e regimes ditatoriais.

Mas disso se falará num outro dia. E muito haverá para contar.


Epílogo

A memória do "Cristo das trincheiras" perdurou.

Em 1958, 40 anos depois do fim da Guerra, o governo Português pediu ao Estado Francês que lhe fosse oferecido o mítico Cristo. Este pedido foi gentilmente anuído e a imagem veio para Portugal ficando, desde 8 de Abril de 1958, exposta na "Sala do Capítulo" do Mosteiro da Batalha, por cima dos túmulos de dois "Soldados Desconhecidos e da "Chama da Pátria".

Uma sentida e justa homenagem a tantos heróis desconhecidos que deram a vida em nome da Pátria. Honra aos militares e à Instituição militar.


(https://s10.postimg.org/z6ega0sgp/image.jpg)
(http://www.360portugal.com/Distritos.QTVR/Leiria.VR/Patrimonio/Batalha/360WebPanos/SalaCapitulo.jpg)
Túmulo do Soldado Desconhecido. Mosteiro da Batalha, sala do Capítulo. Fonte: https://portugalglorioso.blogspot.pt (https://portugalglorioso.blogspot.pt/2014/03/o-cristo-das-trincheiras.html)
http://www.360portugal.com (http://www.360portugal.com)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 12 de Junho de 2017, 08:39
comovente! obrigado por nos proporcionares com uma vista diferente da vida que era entao.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Junho de 2017, 08:59
Citação de: alfredo em 12 de Junho de 2017, 08:39
comovente! obrigado por nos proporcionares com uma vista diferente da vida que era entao.

Obrigado alfredo.
A memória e a gratidão são dois sentimentos nobres que o indivíduo e a sociedade devem ter. Nessas bases se assenta quer um País quer um Clube mais justo. A construção do futuro deve sempre assentar no conhecimento, na ambição, na justiça, na fraternidade mas também nesses outros dois sentimentos. Fico feliz porque acho que no SLB os últimos anos têm trazido uma considerável progressão na nossa consciência colectiva também assente na memória e gratidão aos nossos Ases do passado. Esta é mais uma peça, mais uma contribuição.
Abraço
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: adepto645 em 14 de Junho de 2017, 14:14
Citação de: RedVC em 12 de Junho de 2017, 08:59
Citação de: alfredo em 12 de Junho de 2017, 08:39
comovente! obrigado por nos proporcionares com uma vista diferente da vida que era entao.

Obrigado alfredo.
A memória e a gratidão são dois sentimentos nobres que o indivíduo e a sociedade devem ter. Nessas bases se assenta quer um País quer um Clube mais justo. A construção do futuro deve sempre assentar no conhecimento, na ambição, na justiça, na fraternidade mas também nesses outros dois sentimentos. Fico feliz porque acho que no SLB os últimos anos têm trazido uma considerável progressão na nossa consciência colectiva também assente na memória e gratidão aos nossos Ases do passado. Esta é mais uma peça, mais uma contribuição.
Abraço

Descobri este tópico hoje. E por este andar, não vou conseguir trabalhar. 
Isto é "apenas" fenomenal.
Agradecer e muitoooo ao RedVC por este fantástico trabalho e disposição para partilhar todas estas histórias e acontecimentos do Benfica.
Sem querer abusar da tua generosidade, ficaria deveras feliz se pudesses continuar com estes pedaços de cultura benfiquista.

Um muito obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Junho de 2017, 21:15
Citação de: adepto645 em 14 de Junho de 2017, 14:14
Citação de: RedVC em 12 de Junho de 2017, 08:59
Citação de: alfredo em 12 de Junho de 2017, 08:39
comovente! obrigado por nos proporcionares com uma vista diferente da vida que era entao.

Obrigado alfredo.
A memória e a gratidão são dois sentimentos nobres que o indivíduo e a sociedade devem ter. Nessas bases se assenta quer um País quer um Clube mais justo. A construção do futuro deve sempre assentar no conhecimento, na ambição, na justiça, na fraternidade mas também nesses outros dois sentimentos. Fico feliz porque acho que no SLB os últimos anos têm trazido uma considerável progressão na nossa consciência colectiva também assente na memória e gratidão aos nossos Ases do passado. Esta é mais uma peça, mais uma contribuição.
Abraço

Descobri este tópico hoje. E por este andar, não vou conseguir trabalhar. 
Isto é "apenas" fenomenal.
Agradecer e muitoooo ao RedVC por este fantástico trabalho e disposição para partilhar todas estas histórias e acontecimentos do Benfica.
Sem querer abusar da tua generosidade, ficaria deveras feliz se pudesses continuar com estes pedaços de cultura benfiquista.

Um muito obrigado!

Muito obrigado pelas tuas palavras adepto645  O0

Hoje em dia já me é difícil parar. Tempo? Vai-se arranjando pois também tenho uma vida profissional embora às vezes não pareça...

Vou em 157 textos e daqui a pouco publico outro. Isto é algo que nunca imaginei quando coloquei o primeiro (por sinal bem simples). Vou descobrindo, aprendendo e partilhando. Nota-se bem que nos primeiros textos sabia muito menos do que hoje vou sabendo. Mas o SLB é um mundo bem maior do que imaginamos. Há dimensões, pessoas, cruzamentos, ligações e surpresas em cada canto. Há 113 anos de História e muito para descobrir. Quanto mais conheço mais suspeito que existe. E há várias coisas que ambiciono e que ainda não consegui.

Tenho para aí uma vintena de histórias imaginadas e uma outra dezena já iniciada. Por vezes não publico porque falta um ou outro elemento crítico que sei que existe mas que não está disponível na net e eu não tenho disponibilidade para ir a bibliotecas e de tempo para as procurar.

Partilhar é fundamental pois Ser Benfiquista para além de ser um orgulho é também um privilégio e uma responsabilidade. Cada um pode contribuir para o Clube. Eu tenho gosto por fazer isto, outros têm outras capacidades e interesses. É claro que faço isto por satisfação pessoal mas também para que outros possam descobrir mais motivos de orgulho e satisfação em Ser Benfiquistas.

Passado, presente e futuro. O SLB é tudo isso. Os homens passam, o Clube é eterno.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Junho de 2017, 22:09
-158-
Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra.

Estação do Rossio, 19 de Julho de 1930.

(https://s23.postimg.org/nll3j8et7/image.jpg)
Fonte: digitarq-TT


Um grupo de militares e de antigos combatentes fazem uma recepção de boas-vindas ao Tenente-Coronel Fred W. Abbot, presidente da FIDAC.


(https://s18.postimg.org/4i5qujmpl/image.jpg)
Fonte: DL 19-07-1930.


Entre os dignitários que receberam este antigo combatente da Primeira Guerra Mundial encontrava-se o Capitão Júlio Ribeiro da Costa, um grande Benfiquista que oito anos depois assumiria a presidência do nosso Clube.


(https://s24.postimg.org/59c2ovecl/image.jpg)
Ostentando as insígnias a sua patente, o Capitão Júlio Ribeiro da Costa esteve presente na recepção.


Três dias depois o presidente da FIDAC foi apresentar cumprimentos ao General José Vicente de Freitas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Júlio Ribeiro da Costa (nº 1) esteve também presente desta vez trajando à civil.


(https://s9.postimg.org/mf17crq73/image.jpg)
O presidente da FIDAC cumprimentando o presidente da CML. Identificam-se: 1 – Capitão Júlio Ribeiro da Costa; 2 - Dr. F. Caiola; 3 – Com. Sousa Lopes; 4 – General José Vicente de Freitas (presidente CML); 5 – Tem-Cor Fred W. Abbot (presidente FIDAC); 6 – Mad. Shirley Pereira; 7 – Major A. Feio; 8 – Cor. M. Ferreira; 9; 10 - Com F. Lopes; 11 - Dr. J. Kopke; 12 – A. Prostes da Fonseca. Fonte: digitarq-TT.


A FIDAC, ou Federação Inter Aliada de Antigos Combatentes, foi uma organização internacional de combatentes veteranos das forças Aliadas formada na ressaca da Primeira Guerra Mundial. Incluía a Legião Britânica, a Legião Americana, e organizações de veteranos de diversos outros países como Polónia, Bélgica, Jugoslávia, Itália, Roménia, Portugal, entre outros.

Fundada em 1920, a FIDAC pretendia discutir os problemas dos veteranos, consciencializando as sociedades e governos para ajudá-los na sua reintegração, promovendo cuidados de saúde e reabilitação para os ajudar. Pretendia também contribuir para a Paz entre os países e inclusivamente garantia bolsas de estudo a estudantes. A FIDAC organizava regularmente desde 1923 diversos congressos e esta visita visava justamente preparar um congresso que dois anos mais tarde decorreu em Lisboa.


(https://s30.postimg.org/k1wjk44o1/image.jpg)
Cerimónia pública realizada no dia 4-09-1932 no Terreiro do Paço com a participação dos antigos combatentes Portugueses no congresso da FIDAC. Fonte: digitarq-TT.


Mas serve este episódio para falarmos de Júlio Ribeiro da Costa, uma das grandes figuras do Sport Lisboa e Benfica nas décadas de 20 e de 30. Um Homem nobre e uma dedicação de uma vida ao nosso Clube.


(https://s11.postimg.org/cmxkghhoj/image.jpg)
Júlio Ribeiro da Costa
(Condeixa-a-Nova, 30-12-1895 - Lisboa, 21-09-1992)


Nasceu na freguesia de Condeixa-a-Nova, concelho de Coimbra, às 2h30 da manhã do dia 30-12-1895. Filho de Ernesto Ribeiro da Costa, negociante e de Maria da Conceição Rodrigues Casa Nova, governanta de casa e natural de Coimbra. Os seus pais casaram em Santos-o-Velho em Lisboa, estando aí radicados. Assim, o pequeno Júlio cresceu na cidade de Lisboa.

Ter-se-à iniciado para o futebol no Liceu Pedro Nunes, tendo depois entrado para as categorias inferiores do SLB. O seu registo como sócio informa que a sua admissão no Clube ocorreu em 9-11-1912, ou seja quando tinha 17 anos de idade.


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O Liceu Pedro Nunes por volta de 1911. Por aqui o jovem Júlio Ribeiro da Costa terá começado a dar os primeiros pontapés na bola. Fonte: AML.

No SLB percorreu todas as categorias do futebol. Foi um jogador que ocupava espaços defensivos e teve uma carreira essencialmente nas categorias inferiores. Terá jogado apenas 3 desafios na primeira categoria em 1914/15 e 1916/17. Em 1915-1916 jogou na 2.ª categoria, indício que a competitividade era forte e de que Cosme Damião, o Capitão-Geral tinha muita possibilidade de escolha.


(https://s14.postimg.org/kv008g0hd/image.jpg)
A terceira e 4ª categoria do Clube em 1914-1915. Apesar de ter feito um jogo pontual na 1ª categoria, Júlio Ribeiro da Costa servia o Clube com galhardia e amor ao Clube onde Cosme Damião, o seu Capitão Geral determinava., Assim o fez durante toda a sua vida.


(https://s29.postimg.org/853165k2f/image.jpg)
A equipa da 2ª categoria de 1914-1915 do SLB. Júlio Ribeiro da Costa está assinalado. Sentado à sua frente está Ribeiro dos Reis. Fonte: Em Defesa do Benfica.


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Equipa do SLB posando com uma equipa Inglesa com quem disputou um jogo de beneficência em 18-10-1914. Descubram Cosme Damião! Fonte Em Defesa do Benfica.


Entre 1916 e 1921 voltou a Coimbra agora para estudar na Universidade. Aí também praticou futebol na Associação Académica de Coimbra muito por acção do seu antigo companheiro Augusto da Fonseca Júnior que, como ele, viria a ser presidente do Sport Lisboa e Benfica. Em Março 1920 chegou mesmo a enfrentar o SLB (vitória do nosso Clube por 8-1).

Ao que nos diz Alberto Miguéns, Júlio Ribeiro da Costa terá tido divergências com um seu colega nos estudos em Coimbra. Esse colega chamava-se António de Oliveira Salazar e essas divergências explicam que a futura carreira militar de Júlio Ribeiro da Costa tenha sido sempre limitada na progresso. Salazar ter-lhe-á dito "De capitão não passarás". Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/10/nem-um-quanto-mais-dois-presidentes-so.html


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Alusão à passagem de Júlio Ribeiro da costa por Coimbra e pala AAC, Fonte: Rua Larga (10-01-1959).


Em 1921 já depois de regressar a Lisboa, Júlio reforçou a sua ligação ao Clube onde as suas qualidades profissionais e pessoais eram reconhecidas por Cosme Damião e pelo presidente Bento Mântua. Ocupou assim cargos em estreita ligação com a equipa de futebol principal do Clube.


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O plantel do SLB que fez a digressão à Madeira em Abril de 1022. Júlio Ribeiro da Costa está à esquerda de Cosme Damião. Fonte: Museu Cosme Damião.


Ao longo da sua vida associativa foi ocupando os mais diversos cargos no Clube tais como segundo-secretário da Assembleia Geral, vogal da Direcção, suplente da Direcção, vice-presidente da Direcção, membro da Comissão de Iniciativas e Propaganda, da Comissão de Ginástica, da Comissão de Honra do Novo Parque de Jogos, da Comissão de Concessão de Distinções Honoríficas, entre outras. Em 1930-31 foi eleito presidente de Assembleia Geral da Associação de Hóquei em Patins.

Júlio Ribeiro da Costa viria mais tarde a ser vice-presidente da Assembleia Geral do SLB, cargo que desempenhou entre 1935 e 1938. Em 1938 viria finalmente a ser eleito presidente do Sport Lisboa e Benfica. Eleito porque o nosso Clube sempre foi um Clube que fez da Democracia o processo de eleição dos seus corpos dirigente. Bem distinto daqueles que sempre quiseram ser nossos rivais. Júlio Ribeiro da Costa converteu-se assim no 16º presidente da História do nosso Clube, com mandato exercido entre 31/07/1938 a 01/08/1939.


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A notícia do DL referente à Assembleia Geral onde Júlio Ribeiro da Costa foi eleito presidente do SLB.


Como se diz na sua biografia no sítio oficial do Clube, no seu mandato iniciaram-se as modalidades do bilhar (1938) e do voleibol (1939). Era um homem combativo cuja defesa do Clube fazia com dotes oratórios apreciáveis. Nesses mandatos enfrentou polémicas com oponentes no meio desportivo nacional, tendo também a oposição de importantes figuras do regime político. Entre esses conflitos destacou-se as polémicas desportivas com o FCP na época 1938-1939, onde teve uma posição de coragem e defesa intransigente do Clube.

Certo é que essas polémicas acrescidas das convicções políticas fizeram que Júlio Ribeiro da Costa, um republicano e maçon durante toda a sua vida, não se recandidatasse ao cargo de presidente do Sport Lisboa e Benfica. Terão sido esses os motivos pessoais que o levaram a não se candidatar a mais mandatos. O Clube acima de qualquer homem.

Depois da presidência, viria ainda a assumir outros cargos no clube tais como a presidência da Assembleia Geral. Nesse cargo esteve aliás associado a um dos marcos mais importantes da História do Clube quando a 6 de Maio de 1940 se decidiu em Assembleia Geral a passagem das Amoreiras para o Campo Grande. O Clube tinha sido expropriado pelo Estado do seu complexo desportivo das Amoreiras e na emergência optou-se por ocupar um campo abandonado uns anos antes pelo SCP, o "campo 28 de Maio" que passaria a chamar-se "Estádio do Sport Lisboa e Benfica", mais conhecido por "Estádio do Campo Grande" ou até a "Estância de madeiras".

Foi também Editor do nosso jornal em 1942, cujo Director foi o grande Senhor e Benfiquista que foi o Dr. José de Magalhães Godinho


(https://i0.wp.com/hugogil.pt/wp-content/uploads/2016/03/1942.jpg)
Fonte: http://hugogil.pt/


Outro acontecimento marcante onde esteve envolvido é-nos relatado pelo DN: "Ficou para sempre ligado à suspensão dos corpos gerentes em 1944, devido a um golo invalidado ao clube no desafio contra o Belenenses, apontado por Rogério, e que nos daria o empate. Na altura era secretário-geral da Direcção, tendo sido castigado pela Federação Portuguesa de Futebol. Face à flagrante injustiça, que teria algo de político pelo meio, à excepção do tesoureiro, Dr. Vicente de Melo, toda a Direcção se solidarizou com ele, acabando todos os seus membros por serem punidos com três meses de suspensão." Fonte: http://www.dn.pt/dossiers/desporto/benfica/os-presidentes/interior/capitao-julio-ribeiro-da-costa-1004352.html (http://www.dn.pt/dossiers/desporto/benfica/os-presidentes/interior/capitao-julio-ribeiro-da-costa-1004352.html)


Todas estas contribuições foram sendo reconhecidas pelo Clube. E assim muito justamente a 10 de Abril de 1962, a Assembleia Geral distinguiu-o com o galardão de "Águia de Prata". Em 1986, chegaria a sócio n.º 1 tendo sido agraciado com o anel de platina. Em 1991 a Assembleia Geral do Clube conferiu-lhe por fim a maior distinção do Clube com a atribuição da Águia de Ouro. Nada mais justo.


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A linha de sucessão dos sócios nº 1 do Sport Lisboa e Benfica. Júlio Ribeiro da Costa foi o quinto da linha. Fonte: Museu Cosme Damião.


Quando aos 94 anos de idade era o sócio nº 1, o sócio nº 2 era um seu amigo de longa data, companheiro de equipas do SLB ainda na década de 10, o Senhor Rogério Jonet.



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Os dois homens foram muito justamente reconhecidos pelo Clube durante a presidência de João Santos.


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Cerimónia de atribuição dos anéis de platina a Rogério Jonet (sócio nº 2) e Júlio Ribeiro da Costa (sócio nº1) em 28 de Fevereiro de 1988. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Também ao nível do Estado Português as suas meritórias contribuições no plano desportivo, militar, social e político foram reconhecidas quando a 19 de Maio de 1984 foi feito Oficial da Ordem da Liberdade pelo presidente Ramalho Eanes, outro militar.
Faleceu em 21-09-1992 na freguesia de Alcântara. Tinha 97 anos de idade.

Quão notável foi esta vida. Nasceu no século XIX, viu a queda da monarquia, participou a I Guerra Mundial (em África), viu a emergência do Estado Novo, a II Guerra Mundial, as bombas atómicas, a construção e queda do muro de Berlim e da cortina de aço, a Guerra Colonial, o 25 de Abril, a entrada na CE. E no plano desportivo, não participou na fundação do SL (muito novo) mas viu o crescimento do SLB, jogou com Cosme Damião, colaborou com grandes Benfiquistas servindo o Clube, foi presidente do SLB, viu e celebrou as conquistas das Taça Latina e as duas Taças dos Campeões, viu e falou com Álvaro Gaspar, Ribeiro dos Reis, Vítor Silva, Espírito Santo, Francisco Ferreira, Rogério, Águas, Coluna, Eusébio, Néné, Bento, Chalana, e tantos, tantos outros. Viu, sentiu e participou na conquista da glória planetária do SLB. Gloriosos 97 anos tão cheios de vida, garra, resistência, raça, enfim de Benfiquismo.

De tudo o que atrás se expôs fica registado que Júlio Ribeiro da Costa foi um Homem de qualidades extraordinárias. Um Benfiquista que amou e prestigiou intensamente o seu Clube.

Está sepultado no Talhão dos Combatentes do Cemitério do Alto de São João

(http://ultramar.terraweb.biz/03Memoriais/Lisboa/Lisboa_Talhao/DSC00086.JPG)
Fonte: http://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Lisboa_Talhao_AltoSaoJoao.htm (http://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Lisboa_Talhao_AltoSaoJoao.htm)


Paz e Honra à sua memória. Que descanse em Paz nesse quarto anel onde brilham para sempre as luzes dos Ases do Passado.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Junho de 2017, 23:58
-159-
Loio e o fim do Feitiço


(https://s9.postimg.org/dtnaov933/image.jpg)
Fonte: BND


No passado como no presente os novos jogadores chegam ao nosso Clube carregados de promessas e ilusões. Certos das suas capacidades e prometendo fazer figura alguns acabam por nunca cumprir as expectativas. No fracasso defraudam as suas expectativas, as expectativas dos treinadores e as dos adeptos. Não é fácil vencer no maior Clube Português.

Alguns, como é o caso de que hoje falaremos, chegam mesmo a enganar o olho clínico de mestres do futebol. Para além do homem, que nos merece total respeito, falaremos hoje de um jogador que é simultaneamente uma curiosidade histórica e que exemplifica que para um jogador triunfar no SL Benfica é preciso não apenas ter virtudes técnicas e físicas mas também ter outras qualidades reunidas, alguma sorte, e acima de tudo muito garra.

Falaremos também do seu tempo e da conturbada época desportiva em que ele jogou de Águia ao peito. A época do fim do feitiço.


Loio, emigrante e campeão juvenil Carioca

Rui Loio da Costa, filho de Joaquim Loio da Costa e Maria da Conceição nasceu na vila de Nelas e, com a idade de dois anos, emigrou com os pais e um irmão para o Brasil onde viria a nascer uma irmã. No Brasil radicaram-se em Bento Ribeiro, bairro do Rio de Janeiro, local onde o seu pai explorou um bar. Depois do pai falecer, Loio assumiu o negócio da família interrompendo os estudos (pretendia ser médico)

Mas também havia o futebol na sua vida. Em 1963, Loio integrou inicialmente as escolas do America-RJ. No ano seguinte transferiu-se para o CR Flamengo muito por influência do pai que era adepto dos rubro-negros. Fez assim a sua formação nos juvenisdo CR Flamengo em 1964 e 1965, tendo sido campeão carioca de juvenis em 1965.


(https://s23.postimg.org/69o0cy8e3/image.jpg)
Em cima, da esquerda para a direita: Marrinho, Ivan, Gilson, Itamar, Derci e Rui Português (Loio). Em baixo: Clair, Juarez, João Daniel, César Maluco e Rodrigues. Fontes: Revista do Esporte nº 342 – Setembro de 1965. www.tardesdepacaembu


Conhecido como Rui ou Rui Português, Loio era um defesa polivalente podendo desempenhar funções de lateral direito, defesa (zagueiro) central e lateral esquerdo.


(https://s3.postimg.org/gjmai2pqr/image.jpg)
Assim foi definido o jovem Rui Loio ou Rui Português nos seus tempos de juvenil do CR Flamengo. Fonte; BND


Surgiu então o empresário José da Gama, já habituado a trazer craques Brasileiros para a Europa (foram por exemplo os casos de Didi para o Real Madrid, Evaristo para o Barcelona e Altafini para o Inter, entre outros). José da Gama viu ali uma oportunidade e mediou a transferência de Loio do CR Flamengo para o SL Benfica.

Depois de um processo que envolveu alguma polémica, o jovem Português e o empresário aproveitaram-se de um descuido burocrático do Flamengo para ficar com o passe do jogador livre, podendo por isso negocia-lo para qualquer outro clube. José Gama olhou para o mais alto que podia quando propôs o jogador ao SL Benfica, na altura a melhor equipa Europeia com quatro finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus disputadas nos últimos cinco anos.



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Notícia da Revista do Esporte que anuncia a contratação de Loio pelo SLB. Fonte: BND.


Fiel às suas tradições de só contar com jogadores Portugueses o SL Benfica viu nesse negócio uma boa oportunidade de negócio ao contratar este Português formado num prestigiado Clube carioca. Faltava o parecer técnico positivo. E esse acabou por vir do mais credenciado treinador da nossa História. Foi Béla Guttmann, o feiticeiro Húngaro que estava de regresso ao SL Benfica, que avalizou positivamente esta contratação .



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"O homem é bom. Podem contratar". Fonte: Revista do Esporte; BND


Loio chegou a Lisboa em 28-09-1965, tendo treinado no Estádio da Luz durante umas duas semana, período findo o qual e com o parecer positivo de Guttmann, os dirigentes do SLB avançaram para a contratação. O seu passe custou 300 mil escudos ao SL Benfica, uma verba já considerável para a época, sendo 100 mil para o jogador. O contrato foi rubricado por 1 ano, tendo o salário mensal sido estabelecido em 4 mil escudos. Ou seja Loio chegou com algum estatuto para o maior Clube Português com o título de ser júnior do Flamengo e avalizado por Guttmann. No Clube foi recebido de braços aberto sendo desde logo alcunhado de Loio Brasileiro de Nelas.


No SL Benfica

O céu parecia o limite para o jovem Loio que desde logo colocava a chegada à Selecção Nacional como a próxima meta. Para o jovem Loio havia agora que justificar essas ambições no seio do plantel mais competitivo da História do Glorioso.


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Loio já com o manto sagrado dando conta das suas expectativas. Fonte: Revista do Esporte; BND


No SLB vivia-se um tempo paradoxal de grandeza mas também de apreensão. Depois de nos últimos três anos a nossa equipa de futebol ter sofrido duas derrotas em finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Direcção do Clube reconhecia que havia que ter outra capacidade na sua orientação técnica. O SL Benfica continuava a ter a melhor equipa europeia mas era preciso recuperar a estrela vencedora, voltando a ter uma mais-valia técnica, táctica e mental no banco. A solução foi voltar a contar com o mago Húngaro, o feiticeiro que nos tinha levado ao bicampeonato Europeu.


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De novo juntos, Eusébio, o genial pantera-negra e Béla Guttmann, o feiticeiro, cidadão do Mundo e carismático treinador. De novo juntos mas tudo era diferente.


E assim em 1965-1966, época antecedendo o Mundial de Inglaterra, o SLB estava a apostar forte na renovação do título de campeão nacional para finalmente conquistar o tetracampeonato mas acima de tudo em voltar a triunfar na Taça dos Clubes Campeões Europeus. A solução foi a mais simples e a mais óbvia, e também aquela que mais entusiasmou os Benfiquistas: o regresso de Béla Guttmann!

Para convencer Béla Guttmann seria certamente necessário muito dinheiro e também leva-lo a ir contra um princípio orientador da sua vida como treinador de futebol: nunca ficar num Clube por mais de dois anos e se possível sair sempre quando estava por cima. O dinheiro apareceu e isso juntamente com a atracção pela mística e natureza ganhadora do SLB acabaram por convencer o feiticeiro Húngaro a regressar ao local onde foi feliz. Guttmann no entanto subestimou as diferenças no SLB. O Clube e os jogadores tinham mudado. Provavelmente também Guttmann já não seria o mesmo.

Infelizmente como se viria a ver foi uma época frustrante. Em ano de Mundial o SL Benfica perdia mais uma oportunidade de chegar ao tetracampeonato. Ao contrário de todas as expectativas, com derrotas inesperadas, essa época terminava carregada de conflitos entre jogadores e técnico, e com a parda do título nacional para um SCP liderado por... Otto Glória.

Uma derrota, diga-se, apesar do campeonato ter estado à nossa mercê. Depois de um mau início de campeonato com uma derrota na Luz contra o SCP por 2-4, o SLB iria na segunda volta ganhar a Alvalade por 2-0. Mas uma derrota em Guimarães colocar-nos-ia atrás dos verdes por apenas um ponto, distância que persistiu até final.

E se no ataque Eusébio seria o melhor marcador do campeonato com 25 golos, a par de Figueiredo do SCP, terá sido na defesa que se acumularam as razões maiores do fracasso. Na baliza Costa Pereira estava em final de carreira, tanto que acabaria por não ir ao Mundial de Inglaterra. Os seus suplentes Melo e Nascimento - e jogaram os dois - não convenceram.

Na defesa, Cavém, Cruz e Augusto Silva foram os laterais que cumpriram com a qualidade que lhes era reconhecida. O problema maior esteve no centro da defesa. Apesar de Raúl Machado e Germano terem sido os titulares mais frequentes, notava-se já um desgaste principalmente em Germano. Ainda com a sua enorme classe a veterania e o final de carreira aproximavam-se. Os seus suplentes eram Calado e Jacinto, que apesar do seu valor jogaram pouco, nunca estabilizarando a equipa.  Loio e Severino, as outras alternativas simplesmente não jogaram.


https://youtu.be/Bh-va6aU8Mw (https://youtu.be/Bh-va6aU8Mw)
Derrota por 2-4 na Luz no jogo da primeira volta.


https://www.youtube.com/watch?v=eRWoX-KtBaM (https://www.youtube.com/watch?v=eRWoX-KtBaM)
Segundo golo (Torres) da vitória por 2-0 em Alvalade no jogo da segunda volta


Na Europa depois de uma eliminatória desafogada contra o Dudelange e de um aperto tremendo contra o Levski de Sófia, veio uma eliminatória tremenda contra o Manchester United. Em Inglaterra o SLB começou bem marcando um golo por José Augusto (nesse dia jogando com o número 10) mas depois de encaixar 3 golos acabou apenas por reduzir para 2-3. Tudo em aberto para o jogo na Luz.


https://www.youtube.com/watch?v=GwfpfHeK6Tc (https://www.youtube.com/watch?v=GwfpfHeK6Tc)
Jogo da primeira volta com a derrota em Old Trafford por 2-3


Só que na Luz viria uma impensável derrota por 1-5. Correu tudo mal com um inacreditável score de 0-3 ao intervalo. Nada se salvou nesse dia e tanta coisa mudou.

Apesar de em 1968 o SLB ainda ter chegado a uma final em Wembley justamente contra este Manchester United, e de até ter estado quase a vencer, os observadores com maior clarividência futebolística perceberam que algo mudou para sempre. Caia a aura de invencibilidade de Guttmann e surgia também a ideia de que o SLB após 4-5 anos deixava de ser a melhor equipa Europeia. Ainda viria um segundo fôlego no final da década de 60 mas começava inexoravelmente o fim da grande equipa dos anos 60.


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https://www.youtube.com/watch?v=ZkIcYWE9xlc (https://www.youtube.com/watch?v=ZkIcYWE9xlc)
O jogo do desastre contra o Manchester United na Luz. Derrota por 1-5. George Best marca mais um golo a Costa Pereira. Nesse dia, Coluna, Augusto Silva e Germano foram impotentes para parar o genial galês.


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Uma das equipas do SL Benfica escalada por Béla Guttmann no princípio de 1966. Muita qualidade individual mas que não evitou tempos difíceis. De pé, da esquerda para a direita: José Augusto, Germano. Cruz, Raúl. Cavém e Melo. Em baixo: Augusto Silva, Nélson, Torres, Coluna e Simões.



O jogo

https://serbenfiquista.com/jogador/rui-loio (https://serbenfiquista.com/jogador/rui-loio)


Rui Loio chegou assim ao SLB numa época de turbilhão. Talvez aí se tenha começado a explicar o seu trajecto de fracasso. Talvez num outro tempo tivesse jogado mais e sido mais feliz. A competitividade no plantel era tremenda. Como defesa central tinha como competidores directos no plantel, os já citados Germano, Raúl, Jacinto, Severino e Humberto Fernandes. Como lateral esquerdo tinha a concorrência de Cruz e até caso fosse necessário de Cavém. O Benfica tinha um plantel vasto para responder às exigências das apostas nacionais e estrangeiras.

O único jogo oficial de Loio pelo SLB seria para a Taça de Portugal e viria a proporcionar uma vitória amarga pois representou a perda de mais uma competição nesta época. O adversário era o SC Braga que parecia acessível apesar de uma inacreditável derrota na primeira mão por 1-4 num jogo em que não contamos com Eusébio (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19651966/taca-de-portugal/1966-04-09/sc-braga-4-x-1-sl-benfica (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19651966/taca-de-portugal/1966-04-09/sc-braga-4-x-1-sl-benfica)). Um desfecho incrível pois as duas equipas enfrentaram-se também na Taça de Portugal, no ano anterior, tendo na altura o SLB vencido com um agregado de 13-1 (vitória em Braga por 4-1 e depois na Luz por 9-0)!


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Excertos da crónica do jogo SCB 4 -SLB 1 disputado em 10-04-1966. Fonte: DL de 11-04-1966


Assim, mesmo com uma derrota impensável na primeira mão acreditava-se que na segunda mão e com o regresso do pantera-negra a reviravolta era possível. Infelizmente nesse Domingo dia 17-04-1966, no Estádio da Luz, na segunda mão dos quartos-de-final da Taça de Portugal, o SL Benfica venceu o SC Braga por apenas 3-1 (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19651966/taca-de-portugal/1966-04-16/sl-benfica-3-x-1-sc-braga).

Foi uma vitória de Pirro. Frustrante e inexplicável eliminação. Certo é que esse SC Braga onde pontificava o excelente Perrinchon viria a chegar à final da Taça de Portugal onde venceu o Vitória de Setúbal por 1-0 com golo do dito jogador Argentino. Essa eliminação não era apenas mais uma tremenda desilusão para os adeptos mas também mais uma frente de tensão e conflito no interior do nosso Clube. Havia que mudar.

As crónicas desse jogo da Luz indicam que foi um jogo de nervos em que apesar de tudo terá sido possível que o SLB tivesse chegado à vitória por números que lhe dessem o apuramento. Contando com Eusébio, algo que não aconteceu na primeira mão, o SLB foi marcando.

Loio começou mal o jogo, mostrou-se nervoso e foi de um erro seu que se originou o golo Bracarense, que alargava a vantagem dos forasteiros para 5-1. Mesmo assim ainda havia tempo e apesar do jogo mais em força e esforço do que em talento e classe, o SLB marcou dois golos na primeira parte com a chancela de Eusébio. Mesmo com a expulsão de Jacinto depois de ter perdido a cabeça de forma desnecessária, a vinte minutos do final da partida quando Torres marcou o 3-1 acreditou-se que o Benfica conseguiria a reviravolta. Estranhamente e até ao fim do jogo o SCB jogou calmamente e o SLB continuou nervoso. Neste cenário o marcador não sofreu alterações e a derrota e a eliminação concretizaram-se.


 
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Excertos (editados de diversas páginas) da crónica de Dinis Machado. A fotografia de Loio dá o destaque à sua participação no jogo. Fonte: DL de 18-04-1966.


No final ficou ainda mais exposta a má forma da equipa Benfiquista. A expulsão de Jacinto, a incapacidade física da maior parte dos jogadores e uma certa anarquia táctica explicaram o insucesso. Nem Eusébio apesar dos dois golos que marcou, nos valeu nesse dia.

Nesse final de época os estilhaços já eram muitos e assim pouco depois a Direcção do Clube fez o impensável ao despedir Béla Guttmann. Infelizmente o treinador não poupou nas palavras na hora da despedida.



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Fonte: A Bola 5-05-1966


Infelizmente também o treinador teve resposta de diversos jogadores que não compreenderam nem aceitaram estas críticas segundo eles feitas de forma cínica e injusta por parte de Guttmann.

Foi triste a despedida do treinador de maior sucesso do SLB. Estou certo que algum tempo depois todos os envolvidos lamentaram as declarações feitas no calor das emoções. Acusações duras e impensáveis no SLB.

Felizmente o tempo fez emergir a doçura dos dias bons e atenuou estes tempos mais difíceis. E logo a Guttmann que tinha por lema não ficar muito tempo nem voltar aonde tinha sido feliz.


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Fonte: DL 5-05-1966.


Na época seguinte o SLB optava pelo regresso de Fernando Riera, decisão que originou mais um regresso que trouxe situações complicadas. Mas, para Loio a aventura no SLB tinha chegado ao fim.


Epílogo

O que terá acontecido a Loio depois do SLB? Tentei procurar mas encontrei apenas a informação num jornal Brasileiro de que o seu empresário tentou coloca-lo num Clube Francês e mais tarde no CF "os Belenenses". Se assim foi não tenho elementos que o confirmem.

Seja como for durante o tempo em que foi nosso jogador Rui Loio terá com certeza dado o seu melhor. Azar ou simplesmente incapacidade para singrar num Clube com tantas exigências e a viver uma época de equívocos e tensões, talvez simplesmente não tenha havido o bom senso de lhe dar mais tempo e oportunidades.

Mas estou certo que anos depois, passadas as amarguras das derrotas e dos jogos que não jogou estou certo que Loio terá guardado recordações boas para o resto da sua vida. Ninguém alguma vez lhe tirou as glórias de ter vestido o manto sagrado e treinado com alguns dos melhores jogadores que o nosso Clube e País tiveram o privilégio de ter.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Julho de 2017, 15:03
-160-
A semente da Farmácia Franco


O texto de hoje é uma recordação e homenagem à memória a um homem esquecido.
É também um primeiro tempo para começar a por em ordem algumas mistificações que se enraizaram na mente de alguns divulgadores que se consideram especialistas mas que denotam falta de estudo e falta de modéstia. A Gloriosa História obriga-nos e irá obrigar-nos sempre a muito estudo e a relacionar factos, cruzar pessoas e acontecimentos. Dá trabalho...

O problema desses "especialistas" é que vão reproduzindo incorrecções (alguns até inventam novas) enganando os que os ouvem, todos os que os lêem os seus textos. Infelizmente a fundação do Sport Lisboa tem sido alvo de muito disparate e falta de estudo e de reflexão.

A figura de que vamos falar dá muito para falar e reflectir. Vamos falar de um jovem, de uma família prestigiada, natural de Belém. Uma figura esquecida mas que como se verá merece amplamente esta evocação.


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Fonte: Tiro Civil 15 Julho de 1899


José Honorato de Mendonça Júnior.

Um rosto juvenil pois na altura dessa fotografia, José Honorato teria aproximadamente 16 anos.

Nascido em Belém em 27 de Setembro de 1883, José Honorato nasceu no seio de uma prestigiada família de militares. Assim, no período de em 1093-1904, nos meses decisivos para a fundação do nosso Clube, este rapaz tinha cerca de 20 anos. José Honorato foi um dos frequentadores habituais da Gloriosa Farmácia Franco. Ele esteve lá. Ele participou. Antes e depois do dia 28-02-1904.

Dito pela boca de Daniel dos Santos Brito, este Mendonça fez parte dos treinos pioneiros de 1903-1905 e é minha convicção que apenas por acaso não fez parte do núcleo de fundadores do nosso Clube. Dele falaram Mário de Oliveira e Rebelo da Silva na sua obra de referência História do SLB 1904-1954:


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Fonte: História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954 de Mário Oliveira e Rebelo da Silva. Edição de autores.


Elucidativo. Trata-se pois de alguém decisivo para o entusiasmo que mediou o antes e o imediatamente depois da fundação do Sport Lisboa. Alguém que foi activo e apenas por uma ironia da História não ficou imortalizado como merecia.


Mas quem era José Honorato Mendonça?


A família Honorato de Mendonça

Como atrás e disse, José Honorato Mendonça Júnior nasceu em 27-09-1883, em Belém. Filho do General José Honorato Mendonça (1844 - 1923) e de Maria Guilhermina Nunes (1855-1926), era neto do General Honorato Zuzarte José de Mendonça (1817-1885), um prestigiado ajudante de campo do Rei D. Luis e mais tarde do Rei D. Carlos. O seu pai, o general José Honorato de Mendonça foi também ajudante de campo honorário do Rei D. Carlos e mais tarde de D. Manuel II (fonte:  http://mossamedes-do-antigamente.blogspot.pt/2010/07/mocamedenses-ilustres-honorato-jose.html).


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O avô paterno e o pai de José Honorato de Mendonça Júnior.


A sua mãe, Maria Guilhermina da Silva Nunes (1855-1926), era proprietária da herdade do Monte da Barca em Coruche, http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=193305 (http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=193305). José Jr. Teve mais cinco irmãos, ao que sei todos nascidos em Belém. José Honorato de Mendonça Júnior era o quinto filho. Algumas outras ligações interessantes para membros desta família:

http://ciclosdotempo.blogspot.pt/2013/12/pinto-da-franca-zuzarte-de-mendonca-e.html (http://ciclosdotempo.blogspot.pt/2013/12/pinto-da-franca-zuzarte-de-mendonca-e.html)

http://geneall.net/pt/forum/114912/familia-zuzarte-de-mendonca/ (http://geneall.net/pt/forum/114912/familia-zuzarte-de-mendonca/)

http://mossamedes-do-antigamente.blogspot.pt/2010/07/mocamedenses-ilustres-honorato-jose.html (http://mossamedes-do-antigamente.blogspot.pt/2010/07/mocamedenses-ilustres-honorato-jose.html)


De "boas famílias", e guarda-livros de profissão, José Honorato veio a casar em 17-02-1908 com Maria Antonieta Duff Burnay, natural de Alcântara. Nesse casamento estiveram quer membros da família da noiva, os Burnay, quer alguns dos homens chave da Farmácia Franco, desde os donos Ignácio José Franco (2º Conde do Restelo) e o seu irmão Pedro Augusto Franco Júnior, ambos farmacêuticos, até ao médico da Casa Real e também funcionário da Farmácia Franco, o Doutor António de Azevedo Meirelles. Estiveram também familiares de fundadores do Sport Lisboa, tais como os Severinos Alves e familiares da família Franco como os Carrilho Garcia. Relações de parentesco e amizade explicam as presenças ilustres nesse casamento.


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Casamento de José Honorato de Mendonça Júnior em Fevereiro de 1908. Fonte: digitarq-TT


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Sobre a fundação do Sport Lisboa

Meus caros amigos Benfiquistas:

quando alguns "especialistas da nossa praça vos falarem que o Sport Lisboe e Benfica foi fundado por pobres miúdos de pés descalços, RIAM-SE na cara deles.

Para o grande público que não estuda é perfeitamente admissível mas para especialistas que têm por dever estudar e verificar o que dizem é algo que deixou de ser aceitável. Existem dados que devidamente verificados e ponderados permitem perceber que não foi assim.

O Sport Lisboa e Benfica teve tal como hoje desde o início gente de todas as classes sociais, bolsas e níveis de escolaridade. O Sport Lisboa e Benfica teve desde sempre lugar para todos os homens de boa vontade, amantes do desporto e da sã convivência e do respeito pelos seus adversários.

O Sport Lisboa e Benfica foi fundado por miúdos de Belém e por alguns miúdos antigos alunos casapianos. O único trintão era Manuel Gourlade e a esmagadora maioria tinha menos de 23 anos. A componente maioritária era constituída por miúdos moradores na Rua de Belém e na Rua da Junqueira. Muitos deles pertenciam a famílias da média e alta burguesia.

Entre os fundadores havia de tudo inclusivamente gente ligada a famílias com apelidos como Burnay, Empis, Severino Alves, Francos, Mendonça. Havia famílias que tinham banqueiros, empresários, industriais, conselheiros, altos funcionários da casa real, médicos e militares mas também pilotos marítimos, vaqueiros, pedreiros, carpinteiros, carroceiros e pequenos comerciantes. Havia de tudo. Todos se entenderam, todos irmanaram em prol de um Ideal. Em prol de um grande Clube que nasceu em Belém e para o Mundo.

O nosso Clube foi depois enriquecido do ponto de vista desportivo e organizativo com diversas camadas de casapianos, operários e técnicos do Arsenal da Marinha e todo o tipo de de cidadãos que se converteram em sócios, quer praticantes de desporto quer simpatizantes.

Clube de pés descalços? RIAM-SE na cara dos especialistas/ignorantes que vos disserem isso.

O Clube tinha pouco recursos porque foi fundado por miúdos que apesar de tudo não tinham a bolsa dos pais. Não tinham um avô que dava rios de dinheiro a um neto birrento e conflituoso. Mas tinha miúdos-homens de valor que não desistiam perante as dificuldades. Aqueles que desistiam foram para o... clube do neto e do avô, ali para os lados do Lumiar.



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Mas voltando a um desses Gloriosos miúdos, voltando a José Honorato, deve-se dizer que este jovem era também um homem activo na sociedade dessa vila de Belém, antigo concelho do distrito de Lisboa. Assim se compreende que em 1910 nos apareça num grupo de cidadãos envolvidos nas festividades por ocasião das comemorações do centenário de nascimento do grande Historiador Alexandre Herculano (que foi o 1º presidente da CM Belém e um ilustríssimo Português com direito a ter o seu túmulo nos Jerónimos).


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Fonte: AML.


Identificam-se ainda alguns homens relevantes desse tempo como o ditador João Franco (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Franco (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Franco)) e o famoso Bulhão Pato (sim... o das ameijoas; https://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_Ant%C3%B3nio_de_Bulh%C3%A3o_Pato (https://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_Ant%C3%B3nio_de_Bulh%C3%A3o_Pato)). Estarão lá outros homens relevantes mas agora não será tempo para mais identificações.


O Grupo Pátria

Outro dos aspectos curiosos da curta vida de José Honorato foi a sua paixão pelo Tiro Deportivo. Começou a praticar essa modalidade no Colégio Arriaga.


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Fonte: Tiro Civil.


(http://3.bp.blogspot.com/-m_mSQl0v-4E/Ue7Ax372cUI/AAAAAAAAJPo/3iCEYzbIZVM/s1600/3-B094334.jpg)
Palácio do Marques da Ribeira à Junqueira onde funcionou o Colégio Arriaga. Fonte: ruasdelisboacomhistria.blogspot.pt.

(http://lh4.ggpht.com/-TwKKkWGKmCs/Uf_AVivm0II/AAAAAAAA-kI/MPdjAFMum2U/s1600/1887%252520Collegio%252520Arriaga%25255B9%25255D.jpg)
Fonte: Restos de Colecção.



Note-se que o Colégio Arriaga, situado na Rua da Junqueira onde moraram diversos pioneiros e fundadores do nosso Clube, tinha uma componente desportiva onde também se incluiu o futebol. Ao que sei defrontou o Sport Lisboa em alguns jogos e com certeza teve elementos que "abasteceram" as nossas equipas em treinos e em jogos.

José Honorato viria depois a continuar a sua bem sucedida carreira de praticante dessa modalidade integrado num dos mais prestigiados grupos da época, o Grupo Pátria. Nesse grupo estavam tão somente nomes ligados aos primeiros anos do nosso Clube, e entre eles muito provavelmente o nosso fundador António Severino Alves.


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José Honorato de Mendonça integrando o Grupo Pátria na modalidade de Tiro Desportivo ao lado do nosso fundador António Severino Alves. Fonte: Tiro e Sport nº 279.


Em 1928, mais de uma década depois da sua morte, o sector do Tiro Desportivo lembrava José Honorato com a instituição de uma competição com atribuição de uma Taça com o seu nome.


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Fonte: O Tiro Nacional, nº 303



Os tempos de Glorioso

A consciência da importância da figura de José Honorato leva-me a um dos mistérios que subsiste por explicar. Quem seria o homem vestido de branco que aparentemente arbitrava o jogo (treino?) entre membros Sport Lisboa e Casapianos nas Terras do Desembargador, algures em 1904 ou 1905? Uma das primeiras e mais famosas fotografias captadas durante um jogo do Sport Lisboa. Até hoje tinha uma teoria, agora tenho duas possibilidades.



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O médico António de Azevedo Meireles ou José Honorato Mendonça Júnior? Podemos admitir qualquer um. Dois homens respeitados e dois apaixonados pelo jovem jogo de foot-ball association.


José Honorato e presumo alguns dos seus irmãos, era um entusiasta do futebol e do nosso Clube. E de facto, uns anos mais tarde aparece descrito numa das páginas mais brilhantes do jovem Clube, quando vencemos uma vez mais os mestres Ingleses do Carcavellos Club, desta vez na nossa casa, na Quinta da Feiteira em 23-01-1910. A reportagem de 24-01-1910, publicada no Diário Ilustrado, dá uns detalhes interessantes antes do jogo:


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Fonte: BND


O jornal noticiava que entre a assistência estavam;

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Ou seja tínhamos, entre outros:

- as três principais figuras da Farmácia Franco (2º Conde do Restelo, seu irmão e o Dr. Azevedo Meireles).

- O Dr. Januário Barreto, antigo casapiano e primeiro presidente eleito no Sport Lisboa.

- Ernesto Rodrigues (sportinguista...) amigo de infância e parceiro de lides teatrais de Félix Bermudes.

- Alfredo Silva devia ser o industrial da CUF (Lisboa, 30 de junho de 1871 — Sintra, 22 de agosto de 1942)

- José da Cruz Viegas, o homem que definiu as cores e o nome inicial do nosso Clube.

- Pedro Del Negro um dos pioneiros mais ilustres e que liderava o Campo de Ourique Foot-ball Club.

- membros de prestigiadas famílias de pioneiros ingleses no futebol Português.

E claro a família Mendonça  onde deveria com certeza estar José Honorato e alguns dos seus irmãos.

Um conjunto de personalidades ilustres dos primeiros dias de Belém e que acompanharam o nosso Clube para Benfica. Se Sport Lisboa para Sport Lisboa e Benfica. Para mais detalhes ver Texto "4- Os mestres Ingleses na Feiteira (página 1)".
E aliás, se olharmos para um outro jogo sensacional, que se disputou entre as mesmas equipas dois meses depois, podemos distinguir aspectos interessantes na assistência:



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Algumas identificações do dia do grande jogo de Março de 1910 contra o Carcavellos Club. Mais de 8000 pessoa na Quinta da Feiteira. O 2º Conde do Restelo e Manuel Gourlade estavam entre a assistência. Provavelmente ali ao lado terá estado José Honorato de Mendonça. Fonte: AML.


Nesse jogo juntaram-se ao redor desse mítico campo de Benfica cerca de 8000 pessoas para assistir a um Sport Lisboa e Benfica contra os mestres Ingleses do Carcavellos Club. Mais detalhes desse jogo podem ser lidos no texto "-68- Desforra Inglesa em tempo de Monarquia. (p.21)".

Nesse dia perdemos o jogo mas nem por isso deixou de ser uma manifestação de vitalidade e popularidade do maior Clube Português. Fomos desde o início o Clube com mais adesão popular. O mais querido, o mais acarinhado.



Um adeus precoce

José Honorato Mendonça Júnior teve uma vida breve. Faleceu em 24-02-1914 em Monte da Barca, concelho de Coruche, numa das propriedades da sua família (materna). José Honorato faleceu apenas com 31 anos, afogado durante umas inundações do rio Tejo.


(https://i.postimg.cc/pLwYDYDn/13.jpg)
Fonte: rgpsousa.blogspot.pt/

(https://i.postimg.cc/3J6gTCfb/14.jpg)
Fonte: Google Maps


Honra à sua memória.

Que descanse em Paz.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Julho de 2017, 00:15
-161-
O primeiro Luís F. Vieira


Baía da Guanabara, Rio de Janeiro, princípio do seculo XX. Uma paisagem de sonho.

(https://s1.postimg.org/yg7076den/image.jpg)
Fonte: Brasiliana Fotográfica.



Foi nesta cidade então ainda mais maravilhosa do que hoje, que durante três anos, Luís Viera, um dos nossos grandes pioneiros, viveu e jogou futebol. Foi em boa verdade o primeiro Luís F. Viera da história do Benfica.



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Luís Francisco Vieira, jogador do CR Botafogo (1914-1917). O primeiro Luís F. Vieira da nossa História... Fonte: BND.


É de Luís Francisco Vieira, e também da sua aventura carioca que hoje iremos hoje falar. Iniciei este texto há muitos meses e embora não esteja ainda na forma e com os conteúdos como gostava ainda assim tem conteúdos que julgo interessante partilhar.



A Gloriosa Belém, forja de campeões

Nascido entre os anos 1887 e 1888, algures no triângulo Alcântara – Belém – Ajuda, Luís Francisco Viera cresceu nessa zona de bairros populosos e onde o futebol Português teve alguns dos seus episódios pioneiros mais importantes e fascinantes.

Em 1903, nos meses que antecederam a fundação do nosso Clube, com apenas 15 anos, Luís Vieira ainda não tinha estatuto embora já tivesse muito futebol nas pernas. Algumas décadas mais tarde, citando de memória, Daniel Santos Brito, um dos fundadores do nosso Clube, reconheceu Luís Viera como um dos homens (ou melhor dizendo miúdos) que andaram pelos areais de Belém nas primeiras trocas de bola do mítico Belém Foot-ball Club, o primeiro clube dos irmãos Rosa Rodrigues.

Em 1904, já depois da fundação do Sport Lisboa, Viera continuou a aparecer nos treinos e a participar nos jogos das categorias inferiores do Sport Lisboa. Apesar dos seus méritos futebolísticos era ainda muito novo e estava longe de ter o estatuto dos que preenchiam a primeira e a segunda categoria. Por isso integrou a terceira categoria do Sport Lisboa entre 1905 e 1907, uma equipa que reunia nomes fundamentais da nossa fundação e da nossa História: Gourlade, Meireles, Corga, Costa, Monteiro, Teixeira, Mocho, entre outros.

Felizmente existe uma fotografia em que o muito jovem Viera nos aparece, com o manto sagrado nesses tempos onde tudo começou. Nessa fotografia, que tive o enorme prazer de tentar decifrar, ficou imortalizada uma equipa da 3ª categoria do Sport Lisboa. É a única fotografia conhecida de uma equipa do Sport Lisboa alinhada nas míticas terras do Desembargador às Salésias, local seminal, local onde começamos esta Gloriosa caminhada que já perfaz mais de 113 anos.


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A terceira categoria do Sport Lisboa algures no tempo entre 1905 e 1907, alinhado nas Terras do Desembargador às Salésias. Na baliza estava o grande Manuel Gourlade. Luís Vieira aparece-nos como médio à esquerda embora nesse tempo decaísse preferencialmente pela direita. Fonte: AML.


Interessa dizer que nessa equipa estavam, em boa verdade, vários dos homens fundamentais para garantir o futuro da nossa primeira equipa na década seguinte. Homens que liderados por Cosme Damião (que nessa altura liderava o meio campo da 2ª categoria) nos levaram à conquista de muitos campeonatos e a sensacionais digressões por Espanha e Brasil. Luís Vieira foi um dos mais importantes.

A progressão futebolística de Luís Viera acompanhou a aventura de junção do Sport Lisboa com o Grupo Sport Benfica, a mudança para a Quinta da Feiteira em Benfica e depois com a casa às costas, para uma multiplicidade de outros terrenos de jogo. Luís Vieira foi ganhando nome e melhorando o seu desempenho. Foi ganhando estatuto e títulos. Muitos títulos.


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Luís Viera ao centro com a bola numa das famosas equipas do Sport Lisboa e Benfica que conquistou campeonatos seguidos e a adesão e carinho popular maioritário. Tempos de lenda com Luís Viera no centro do nosso ataque. De pé, esquerda para a direita, Henrique Costa, Cosme Damião, Alfredo Machado, Carlos Homem de Figueiredo, Artur José Pereira. Sentados, Germano Vasconcelos, António Costa, Luís Vieira, J. Domingos Fernandes e Virgílio Paula. Falta Francisco Belas. Fonte: EDB.


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Luís Viera como avançado-centro a massacrar a defesa do SCP. Cosme Damião lá atrás. Carrega Benfica! Fonte: EDB.


Também integrado nas nossas equipas, Luís Vieira participou em diversas digressões à Galiza, ao País Basco, a Madrid e à Catalunha. As nossas equipas deixaram sempre uma excelente impressão.


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Fonte: EDB.



A aventura Brasileira

A titularidade indiscutível de Luís Viera no campeão SL Benfica acabou por tornar natural a sua inclusão na convocatória para a Missão Sportiva e Cultura Portugueza ao Brasil (ver textos 46 e 47, páginas 12 e 13, respectivamente).


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Os oito Benfiquistas da convocatória de 16 jogadores que integraram a Missão Cultural e Sportiva da AFL que foi ao Brasil em Julho-Agosto de 1914. Fonte: História do SLB 1904-1954 de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Edição de autor.



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A comitiva Portuguesa à chegada ao Rio de Janeiro em Julho de 1914.


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O Estádio do CR Botafogo, um aspecto do jogo e a formação da AFL que 1914 disputou o jogo contra o Botafogo (vitória 1-0). De pé, Carlos Homem de Figueiredo, Eduardo Luiz Pinto Basto, Henrique Costa. A meio: José Domingos Fernandes, Cosme Damião, Boaventura Belo. Sentados: António Stromp, Arthur José Pereira, Luís Vieira (assinalado), Francisco Stromp e João Bentes. Fonte: BND.


A equipa Portuguesa teve uma intensa digressão quer no aspecto desportivo quer no aspecto social em terras do Rio de Janeiro e de São Paulo. Viera exibiu-se com grande destaque na equipa Portuguesa e assim acabou por receber convites de diversos clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nessa altura os colossos do futebol eram o Botafogo, o Fluminense e o America. Em São Paulo reinavam o Paulistano (antecessor do Sõa Paulo FC) e o Mackenzie.



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Os cinco grandes Clubes do Rio de Janeiro do princípio do século XX. Nessa altura apenas Botafogo, Fluminense e America tinham equipas de futebol. Os outros dois, Flamengo e Vasco da Gama eram ainda e apenas gigantes dos desportos náuticos. Fonte: Tico Tico,BND.


Vieira optou por ficar e por jogar no CR Botafogo, o primeiro Clube que manifestou o interesse na sua contratação. Curiosamente já nessa época o Clube de Regatas Botafogo era como hoje ainda é, carinhosamente apelidado pelos seus adeptos como o... GLORIOSO! Era mesmo ali que devia jogar Luís Viera. E foi ali que 23 anos mais tarde também jogou o grande Rogério Pipi!


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Notícia da permanência de Luís Vieira no Brasil. As saudades já apertavam... Fonte: Em Defesa do Benfica.


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Trinta e quatro anos depois quando se colocou a hipótese de uma digressão do SLB ao Brasil e em Rogério Pipi, um jornal Brasileiro lembrou aos seus leitores a presença de Luís Viera. Esqueceram-se de José Bello... Fonte: BND.


De facto Luís Viera, não foi o primeiro futebolista a jogar no Brasil. Tanto quanto é do meu conhecimento foi o segundo no Brasil e o terceiro a jogar num Clube estrangeiro.


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A entrada de Luís Vieira no Botafogo ficou marcada por polémica desde cedo, pois logo em Setembro de 1914, depois de uma vitória do Botafogo sobre o rival Fluminense por 1-0, surgiram duvidas quanto à sua inscrição: Luíz Vieira ou Luíz Pereira? Rivalidades cariocas!

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A polémico e o grande jogo do Botafogo 1 – Fluminense 0, um dos primeiros senão mesmo o primeiro jogo de Luís Vieira com a camisola do Botafogo. Fonte: Acervo Botafogo e BND.


Mas tudo lá se resolveu e Luís Vieira fez a sua carreira de 3 anos no clube carioca. E pelos jornais e pelos registos fotográficos percebe-se que até jogou bastante.


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Exemplos de notícias de jogos do CR Botafogo onde aparece nomeado Luiz Vieira. Fonte: BND.


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Diversas fotografias do Português e Benfiquista Luís Vieira integrado nas equipas do CR Botafogo, sempre um dos mais importantes Clube cariocas. Fonte: BND.


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Diversos aspectos do complexo desportivo do Botafogo cerca de 1914. Por ali andou e jogo o nosso Luís Vieira. Fonte: Acervo Botafogo.


Nesse tempo o Clube carioca vivia um grande momento pois tinha no ano anterior, em 1913, inaugurado a sua sede e Estádio na General Severiano.


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Algumas das maravilhosas paisagens cariocas de que Luís Viera desfrutou. Fonte: BND.


Apesar da atracção da vida tropical, das mulheres bonitas e das paisagens maravilhosas que desfrutava, no princípio de 1917, Luís Viera estava carregado de saudades e assim decidiu regressar a casa e ao seu SLB. Cosme recebeu-o de braços abertos e Luís ainda jogou mais dois anos apesar da equipa já não contar com muito dos seus antigos companheiros. Agora era o tempo de Cândido de Oliveira, Ribeiro dos Reis, Carlos Sobral, Jesus Crespo, entre tantos outros.



Luís F. Vieira, o Belenense


Terminada a carreira de futebolista Luís Viera afastou-se gradualmente do SLB. Foi sempre um filho de Belém e assim em nostalgia dos tempos áureos da sua juventude, foi um dos que cedo se juntou à volta do sonho de Artur José Pereira quando em 1919 se fundou o CFB. Luís Viera envolveu-se na vida associativa e dirigente do novo Clube, tendo entre 1922 e 1924 sido o terceiro homem a assumir a presidência da Direcção do CFB. Sucedeu  a Reis Gonçalves que vinte anos antes tinha ajudado a fundar... o Sport Lisboa!

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Lista dos presidentes do CFB. Fonte: Belenenses Ilustrado


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Retrato de Luís Vieira, presidente da Direcção do CFB. Foi presidente durante 1 mandato de 1922 a 1924. Infelizmente parece que o CFB só tem esta fotografia horrível para homenagear um seu presidente. Fonte: site oficial do CFB: http://www.osbelenenses.com/clube/lista-de-presidentes/ (http://www.osbelenenses.com/clube/lista-de-presidentes/)



Mas em boa verdade o CFB teve outras grandes figuras do desporto e da vida social e militar entre os seus presidentes. Senão vejamos, entre muitos outros:

• Francisco Reis Gonçalves (1920/1922),
oficial da Marinha, liderou uma Junta Directiva logo após a fundação do CFB, tornar-se-ia o 2º presidente do Clube. Mais importante vinte anos anos antes foi um dos 24 fundadores do nosso Clube.

• João Luís de Moura (1925/1931),
na sua época foi um muito importante militar e governante do nosso país. Homem ligado ao movimento desportivo e associativo de Portugal. 

• Francisco Mega (1935/1938, 1939/1941, 1950/1954),
um importante dirigente desportivo em Portugal no seu tempo

• Américo Thomaz (1944),
almirante e futuro presidente da República.

• Acácio Rosa (1949),
filho de João Rosa, outro presidente do CFB e um dos mais importantes presidentes e sócios da história do CFB


Curiosamente algumas décadas mais tarde Luís Vieira fazia declarações como sendo um Benfiquista. Uma situação interessante e que merecerá um dia – caso os elementos disponíveis permitam – uma nova reflexão.


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Glorioso Luís Viera, para sempre Glorioso. Foi um dos mais importantes e eficazes avançados da nossa História. Um jogador-pioneiro de importância fulcral nas primeiras duas décadas deste grande Clube que é o Sport Lisboa e Benfica.

Paz à sua alma. Honra à sua memória.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: JJ SLB em 23 de Julho de 2017, 00:29
Este tópico é realmente Imortal! Obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Julho de 2017, 13:35
Citação de: JJ SLB em 23 de Julho de 2017, 00:29
Este tópico é realmente Imortal! Obrigado!

Muito obrigado pelas palavras simpáticas  O0

Feito para honrar o SL Benfica, para os Benfiquistas, pela paixão que nos une.  :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 24 de Julho de 2017, 15:45
Citação de: JJ SLB em 23 de Julho de 2017, 00:29
Este tópico é realmente Imortal! Obrigado!
bem, mesmo andando sempre em cima, acho que merece mesmo ser um tópico imóvel.
aos moderadores: podem equacionar este tópico para que se torne imóvel. já pelo trabalho e esforco posto aqui acho que merece, quanto mais pelas informacoes incluídas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: tcondeco em 27 de Julho de 2017, 00:06
excelente!!!!! Obrigado pelo trabalho!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Julho de 2017, 21:27
-162-
De Guilherme para Guilherme

5 de Junho de 1938, sede da Associação de Futebol de Lisboa.

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Fonte: CPF


A Taça de Honra para o concurso do melhor espírito desportivo é exposta antes de se iniciar uma cerimónia de entrega de prémios.

Esta taça, ofertada por Guilherme Pinto Basto, destinava-se a premiar o futebolista que em 1938 revelasse o melhor espírito desportivo.

Guilherme Pinto Basto foi um dos introdutores do futebol em Portugal no final do século XIX. Foi um homem notável que cultivou a sã prática desportiva ao longo da sua vida, mantendo uma discreta mas prestigiada, digna e pedagógica presença no mundo do desporto. Dele já por aqui falamos no texto "109 - Em homenagem a Guilherme Pinto Basto", página 30.


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Guilherme Ferreira Pinto Basto (1/02/1864 - 26/07/1957),
um nome fundamental na História do futebol em Portugal.


O troféu acabou por ser atribuído a um outro Guilherme: Guilherme Espírito Santo. Foi pois de Guilherme para Guilherme.

A atribuição desse prémio foi um reconhecimento justo a um jovem (18-19 anos) excelente atleta Benfiquista logo após dois anos de se ter estrado de Águia ao peito. E Guilherme Espírito Santo viria a provar ser merecedor dessa e de outras distinções ao longo da sua carreira. Foi um dos mais talentosos e correctos desportistas Portugueses de sempre.


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Guilherme Santana Graça do Espírito Santo (30/10/1919 - 25/11/2012),
um nome Glorioso na História do Sport Lisboa e Benfica.


Assim, nesse dia 5 de Junho de 1938, nas instalações da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) e com a presença de algumas figuras notáveis do nosso futebol, decorreu a cerimónia formal de entrega dos prémios.


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Acto celebrado em 1938-06-05: mesa que presidiu à sessão para entrega de prémios do concurso do "Melhor Espírito desportivo". Presentes: João Varela Gomes, Carlos Queiroga Tavares (dirigente do SCP), Adolfo Mourão (atleta do SCP), Melo e Castro, Augusto Domingues (Peseta) (jogador do Boavista e depois da Académica de Coimbra), Manuel da Conceição Afonso (presidente do SLB com a Taça de Honra nas mãos), Guilherme Espírito Santo. Em cima presidindo à mesa estavam o Dr. Virgílio Lopes Paula, (antigo atleta do SLB e antigo presidente da AFL), Gustavo de Matos Sequeira (jornalista, político e escritor Olissipógrafo português) e Guilherme Pinto Basto. Fonte: TT-digitarq.


Guilherme Espírito Santo foi uma figura muito querida no nosso Clube desde o primeiro dia. Foi também estimado por adversários, conciliando sempre as suas maravilhosas aptidões físicas para o desporto com um desportivismo, educação e respeito para com todos os participantes no espectáculo desportivo. Foi um notável atleta de futebol, o salto em altura entre outros desportos. A sua personalidade tranquila, positiva e gentil deixaram marca indelével no nosso desporto.

Demonstrando todo o carinho que os Benfiquistas tinham por ele, temos aqui justamente um curioso folheto que um grupo de Benfiquistas produziu nesse ano de 1938 ao concurso, apelando à votação no nosso atleta.


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Guilherme Santana Graça do Espírito Santo
(30/10/1919 - 25/11/2012)

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Descendente de São-tomenses, nascido em Lisboa em Outubro de 1919, seria levado por sua mãe aos 8 anos para se radicar em Lourenço Marques. E foi na capital angolana, que GES fez a sua formação, entrando para as escolas de futebol do Sport Luanda e Benfica. As suas aptidões foram reconhecidas pois foi contratado para o SLB para substituir o seu grande ídolo, Vitor Silva que se retirou por incapacidade física para a competição desportiva.

E tudo começou apenas dois anos antes quando Guilherme se estreou de Águia ao peito com apenas 16 anos. Foi num jogo particular disputado no campo dos Arcos em Setúbal, onde a 20 de Setembro de 1936, o SLB defrontou o Vitória de Setúbal. A nossa equipa venceu por 5-2 e Guilherme estreou-se, entrando na segunda parte, também a marcar ao apontar o nosso último golo quando estavam decorridos 85 minutos de jogo. Marcou na sequência de um golpe de cabeça depois de um centro de Valadas. Era treinado o Glorioso Victor Gonçalves, uma antiga Glória que como treinador conquistou o primeiro Campeonato Nacional para o SLB.


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Excertos da crónica do jogo Vitória de Setúbal contra o SL Benfica em 20-09-1936. O jogo foi marcado pela estreia de Guilherme Espírito Santo. Fonte: DL 20-09-1936.


Não farei aqui alusão à brilhante carreira de Águia ao peito, à sua contribuição para a Selecção Nacional ou outros aspectos da sua carreira desportiva. Essas informações podem ser lidas em diversos textos produzidos por Alberto Miguéns; começando por aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/10/guilherme-espirito-santo-97.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/10/guilherme-espirito-santo-97.html)


Um dia inesquecível

Mas, voltando a esse fantástico dia 5 de Junho de 1938, para lá de receber a prestigiosa Taça e prémio, Guilherme Espírito Santo tinha mais um motivo de enorme satisfação. Nesse mesmo dia, tinha feito um hat-trick ao FC Porto, contribuindo para uma vitória que vergou os portistas no Estádio das Amoreiras por uns esclarecedores 7-0. Sim, isso mesmo, SETE-A-ZERO!


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Fonte: DL 5-06-1938


A crónica do DL é rica em detalhes, dando-nos um colorido relato dessa estrondosa vitória. Foram 3 golos de Guilherme Espírito Santo, 2 de Luís Xavier, 1 de Valadas e 1 de Domingos Lopes. Arrasador. Nota-se também que no lado do FCP alinhou um jovem interior esquerdo chamado Francisco Ferreira. Um jovem que faria carreira notável de Águia ao peito, tornando-se num dos maiores capitães da História do SLB.


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Fonte: DL 5-06-1938


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Campo das Amoreiras, 5 de Junho de 1938. Um dos três golos de Guilherme Espírito Santo na cabazada de 7-0 ao FCP. Fonte: Em Defesa do Benfica


Nesse dia, Soares dos Reis, o guarda-redes dos azuis e brancos (visível na foto que se apresenta em cima), encaixou sete golos. Mas, infelizmente para ele, esse arrombamento vermelho esteve longe de ser o único. De facto, pouco mais de um ano depois, no dia 18-06-1939, Soares dos Reis encaixou mais seis golos! Nesse dia o SLB "remontou" de 1-6 para 6-0 e dessa forma eliminou o FCP da Taça de Portugal. Foi demais para os portistas que abandonaram o campo antes dos 90 minutos. Sabe-se lá quantos mais seriam... E factor comum a ambos os jogos era a presença de Guilherme Espírito Santo no centro do nosso ataque!

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Fonte: DL 18-06-1939


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Fonte: DL 18-06-1939


Curioso pois numa época em que os jogadores faziam uma carreira inteira num único Clube, o que é certo é que relativamente ao ano anterior só três jogadores permaneciam na equipa Benfiquistas: Gustavo, Valadas e... Guilherme Espírito Santo! Nesse dia Guilherme Espírito Santo marcou mais dois golos aos portistas!

 
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Campo das Amoreiras, 18 de Junho de 1939. Duas imagens de entre as impiedosas investidas do SLB sobre a baliza do FCP. Foram seis a zero apesar do FCP ter abandonado o campo aos Na imagem da esquerda identificam-se Guilherme Espírito Santo e Feliciano Barbosa a saltarem com os defesas portistas.


Outro facto interessante é que nesse jogo dos 7-0, Nunes (FCP) foi expulso (assim como o nosso Alcobia). É curioso notar que Nunes tinha mesmo pontaria para se salientar nos desastres azuis pois foi igualmente expulso no dia 7 de Fevereiro de 1943, quando no Estádio do Campo Grande, o SLB aplicou 12-2 ao FCP. DOZE-A-DOIS!

Nesse dia o infeliz guarda-redes portista foi Luís de Mota, um antigo Salgueirista. Desse jogo já se fez um texto (-70- O dia da dúzia!; pág. 21). No centro do ataque Benfiquista estava Julinho, o inesquecível goleador portuense Benfiquista. Nesse ano de 1943, Guilherme Espírito Santo enfrentava uma doença que o afastou por 3-4 anos do desporto. Foi mais uma batalha que ele conseguiu vencer mas a partir daí nada seria como dantes.

E para fechar deixo aqui umas linhas que o Glorioso Augusto Amaro escreveu sobre Guilherme Espírito Santo. Augusto Amaro um grande guarda-redes, campeão pelo SLB e que ainda jogou ao lado de Guilherme Espírito Santo.

(https://s3.postimg.org/lrsfwb303/image.jpg)Fonte: Benfica Ilustrado

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Alinhando nas Amoreiras, Amaro a defender as balizas, Guilherme Espírito Santo no centro do nosso ataque. Imortais!


O respeito e a admiração pelo Benfiquista ficam bem patentes neste artigo publicado num Benfica Ilustrado. Augusto Amaro destacou a personalidade serena, tímida e afável de GES. Amaro destacou o carinho que rapidamente GES mereceu de companheiros, adeptos e adversários. Destacou igualmente que a entrada de Guilherme Espírito Santo na equipa Benfiquista significou também uma alteração substancial do tipo de jogo, passando a desenvolver-se um jogo mais rápido mais rectilíneo, mais agradável. Enquanto a presença de Vítor Silva motivava um futebol de passes curtos, a presença de Espírito Santo levou a mais velocidade, mais fluidez, mais dinamismo. Apenas a doença pararia este predestinado para o futebol e para o atletismo. Mas o desporto foi uma presença constante na vida de Guilherme que com 85 anos ainda praticava ténis! Campeão até ao fim!

Anos mais tarde, vi e ouvi eu, num jantar em que estavam sentados lado a lado Guilherme Espírito Santo, Eusébio e Mário Coluna, quando um jornalista se acercou do pantera-negra este respondeu: não falo, primeiro falam os mais velhos.


(https://s4.postimg.org/p9yo9p4rx/14c.jpg)
Fonte: A Minha Chama

Com isto queria dizer Eusébio, "Velhos" no sentido carinhoso e respeitoso. "Velho" no sentido de perceber e defender as hierarquias. "Velho" no sentido do pleno carinho de lembrar o respeito devido a um homem bom, a um atleta excepcional, a um Benfiquista de excepção. Tudo isso era Eusébio, tudo isso era Mário Coluna, tudo isso era Guilherme Espírito Santo. Mas este, como mais velho merecia a precedência. E o Senhor Eusébio e o Senhor Mário Coluna sabiam isso. Respeitavam isso. Acarinhavam isso. Benfiquismo, pois então!




Para sempre de Águia ao peito!
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Paz à sua alma. Honra à sua memória.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: marcopicos em 31 de Julho de 2017, 08:16
Tópico soberbo!
Que prazer poder apreciar este trabalho do RedVC.

Muito obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 31 de Julho de 2017, 08:35
Citação de: marcopicos em 31 de Julho de 2017, 08:16
Tópico soberbo!
Que prazer poder apreciar este trabalho do RedVC.

Muito obrigado!

Obrigado Marco e obrigado a todos os outros que têm comentado!  O0
Pelo Benfica, sempre!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 09 de Agosto de 2017, 16:19
Estava com saudades de ler estes pedaços de investigação sobre os Ases que nos honraram o passado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Agosto de 2017, 15:18
Citação de: Ned Kelly em 09 de Agosto de 2017, 16:19
Estava com saudades de ler estes pedaços de investigação sobre os Ases que nos honraram o passado!


Obrigado Ned  O0
E eu com saudades de colocar mais umas coisas. Daqui a umas horas há mais.  :cool2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Agosto de 2017, 22:20
-163-
Um princípio com regras (parte I)


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Em 1911, no primeiro ano depois da implantação da Republica em Portugal, o prestigiado Gymnasio Club Português (ver texto "- 86 - Um inesperado Glorioso") tinha uma nova Direcção. O Clube tinha já comemorado 35 anos de idade repletos de dificuldades e atribulações mas também de glórias desportivas e de uma obra única no panorama do nosso desporto. Inicialmente dedicado à ginástica artística e de aparelhos, o RGCP promovia saraus desportivos que ficaram celebres tendo até Ramalho Ortigão imortalizado esses eventos nas suas "Farpas".

Vieram depois desportos ao ar livre, como o Atletismo, o Remo, entre outros e depois inevitavelmente o Futebol que apesar de existir nunca teve uma expressão prevalecente sobre as outras modalidades; antes pelo contrário. Mas apesar da multiplicidade de actividades e modalidades, ao fim desses 35 anos notava-se um certo declínio, algum sectarismo e mesmo um certo isolamento deste Clube relativamente aos restantes.

Percebia-se então que era preciso inovar para que o Clube sobrevivesse. A nova Direcção que apesar de tudo contava com uma situação financeira menos complicada do que no passado, propunha-se sanar conflitos internos assim como promover uma nova dinâmica associativa.

Com apenas 29 anos de idade, Duarte José Duarte fazia parte dessa Direcção presidida por Gomes de Abreu, tendo sido nomeado secretário da secção de Sports Athléticos (ou seja do Atletismo). Mas para nós Benfiquistas o interesse em Duarte José Duarte reside no que ele fez alguns anos antes em prol do nosso Clube. Duarte foi também um dos nossos Gloriosos pioneiros e, como veremos, a sua acção nos primeiros anos do nosso Clube foi discreta mas importante.


O tempo de Belém

Duarte José Duarte nasceu em Belém no dia 8-02-1882. Nasce no seio de uma família numerosa cujo ramo paterno estava há muito radicado em Belém. Era um dos (pelo menos) cinco filhos do casal Anselmo José Duarte e Maria José da Conceição. Era o filho do meio, tendo por irmãos: Germano (como o avô paterno, 1878), Susana (1879), Pedro (1886) e Lúcia (1889). A família morava na Rua Domingos Tendeiro, ali bem perto do Convento dos Jerónimos e da Rua Direita de Belém onde moravam os irmãos Catatau. Era quase inevitável que fosse contaminado pelo fascínio do futebol.



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Rua Domingos Tendeiro, já nos anos 60. Fonte: AML

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Em 1904, aquando da fundação do Sport Lisboa, Duarte tinha apenas 22 anos sendo ligeiramente mais velho que os irmãos Catatau. Apesar de, por algum capricho do destino, acabasse por não constar da lista dos 24 fundadores do nosso Clube, Duarte fazia parte do grupo de miúdos que integraram o Foot-Ball Club, também conhecido como Belém Foot-Ball Club ou ainda por grupo dos Catataus. Esse grupo de miúdos moradores em Belém constituiu a componente maioritária e liderante do Sport Lisboa.

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Duarte José Duarte no Belém Foot-Ball Club. Destes 11 jogadores apenas ele, José da Cruz Viegas e Armando Macedo não foram fundadores do Sport Lisboa.


Olhando para aquela mítica fotografia, aliás a única que se conhece do (Belém) Foot Ball Club, lá podemos ver Duarte José Duarte posando na posição de extremo direito. Ao seu lado estão Neco e Candinho, dois dos quatro irmãos Catataus. Depois, fechando a linha avançada, temos Raúl Empis e Armando Macedo. Lá atrás, compondo o meio campo, temos Afra, Carlos França e Daniel Santos Brito. Ainda mais recuados estão José da Cruz Viegas, José Rosa Rodrigues (o mais velho dos Catataus e que no ano seguinte seria o nosso primeiro presidente) e por fim Manuel Gourlade. Com semelhante companhia Duarte ganhou a imortalidade naquela fotografia, naquele instante precioso.

Depois da fundação do Sport Lisboa e durante a primeira metade de 1904, Duarte participou num total de 12 dos 24 treinos. A esses treinos compareciam apenas os mais novos de forma a apurar as suas capacidades individuais e o seu conhecimento colectivo. Os mais velhos não se treinavam pois o estatuto garantia o lugar na equipa. Essas situações hoje incompreensíveis explicavam-se por serem esses outros tempos, em que não existiam componentes tácticas e em que existia um desconhecimento generalizado sobre a importância da preparação física específica. Muitas vezes esse preparo físico dependia de cada atleta e das suas próprias convicções e rotinas.

Na segunda metade do ano de 1904 Duarte compareceu em 4 dos 5 treinos realizados. Apesar de muito provavelmente já trabalhar, era um dos que tinha presença regular nos treinos apesar dos horários madrugadores e da insuficiente rede de transportes da época (Belém ficava ainda mais na periferia de Lisboa do que hoje).


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Registo manuscrito descrevendo o segundo treino do Grupo Sport Lisboa. Realizado apenas cerca de 15 dias depois da fundação do nosso Clube, compareceram 12 jogadores. Duarte era o único que não foi um fundador formal do Sport Lisboa. Fonte: História do SLB 1904-1954.


O ano de 1905 foi marcado pela disputa dos primeiros jogos do nosso Clube. Duarte continuou a ser uma presença regular e entusiasta nos treinos e sabemos que participou em diversos jogos da nossa primeira categoria. Um desses jogos, que foi já aqui mencionado (ver texto "– 135 – O Café do Gelo"), disputou-se em 1905 no campo da Charneca tendo oposto o Gilman FC, proprietário do terreno e o nosso Sport Lisboa. Relativamente à constituição da equipa da primeira fotografia conhecida do nosso Clube, percebe-se que Duarte substituiu José Rosa Rodrigues, o mais velho dos Catataus e o nosso primeiro presidente.

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Breve crónica do jogo Gilman Sport Club 0 – Sport Lisboa 2. O jogo foi disputado em 10-03-1905 com a vitória do Sport Lisboa por 2-0, com golos de António Rosa Rodrigues e António Couto (grande penalidade). Fonte: Diário Ilustrado 11-03-1905. Na equipa do Sport Lisboa, Duarte terá jogado como interior esquerdo.


Tal como o seu pai, Duarte era telegrafista. E, ao que parece, nesse tempo exercia essa função junto dos Ingleses do Cabo Submarino, provavelmente na Quinta Nova ou Quinta dos Ingleses, situada em Carcavelos. Ora, nesses anos estar em Belém e em Carcavelos era como estar no tempo e nos espaços onde se desenrolaram episódios fundamentais e onde estiveram os homens chave para a implantação e popularização do futebol em Portugal.


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Duarte telegrafista, recordado por Daniel dos Santos Brito entre tantos outros nomes. O irmão de Duarte era com grande probabilidade Germano José Duarte, o seu mano mais velho. Fonte: Em Defesa do Benfica.



As regras do futebol

Duarte esteve no local e junto das pessoas que lhe permitiram cumprir uma missão de grande importância para os Gloriosos pioneiros do nosso Clube. No decurso de mais uma iniciativa de Manuel Gourlade, Duarte recebeu a incumbência de mediar a contratação de um serviço tradução de Inglês para Português das regras oficiais de futebol propositadamente mandadas vir de Inglaterra.


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Recordando a importância de Manuel Gourlade, seu antigo colega na Farmácia Franco, o nosso fundador Daniel Santos Brito (na fotografia) lembrava o episódio da tradução das regras oficiais do futebol por um funcionário do Cabo Submarino. Foi Duarte José Duarte que mediou essa iniciativa. Fonte: História do SLB 1904-1954.


À distância percebe-se que essa iniciativa de Gourlade foi acertada pois nessa época embora o futebol constituísse um crescente um fascínio para as massas populares, as suas regras ainda não estavam solidamente divulgadas mesmo entre os seus praticantes. Era preciso formar e para isso era preciso estar informado. Manuel Gourlade sabia disso e por essa razão, mesmo falando e escrevendo em Inglês, preferiu contratar o serviço a um homem cuja língua nativa era o Inglês. A escolha recaiu num Inglês chamado Cotter. Rigor e método por trás de um Clube Campeão. Antes como agora.


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(continua)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Agosto de 2017, 22:21
-164-
Um princípio com regras (parte II)


Sobre a evolução do futebol

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Iconografia da época relativa ao primeiro jogo internacional entre a Inglaterra (branco) e a Escócia (azul) disputado em 30-11-1872. Fonte: Scottish Sport History.



Existem teorias muito diversas acerca das origens do futebol., Algumas são bastante imaginativas, recuando muitos séculos e referindo geografias inesperadas. Entre os países candidatos temos a China, Egipto, Japão, Grécia, México, Itália, Inglaterra, França, entre muito outros (ver: http://www.timetoast.com/timelines/the-history-of-soccer-32006602-abc1-43ea-bf9e-08aefc464497 (http://www.timetoast.com/timelines/the-history-of-soccer-32006602-abc1-43ea-bf9e-08aefc464497)). Mas o jogo, mais do que pontapear um esférico de forma mais ou menos ordenada, pressupõe a existência de regras com vertentes técnicas e disciplinares. Ao longo da sua história, o futebol evoluiu muito, sofrendo mutações para o tornar uma modalidade desportiva mais atraente, mais fluida e digamos até, mais civilizada.

Parece acertado referir que a Inglaterra é a pátria do futebol. Foi ali que o futebol nasceu, floresceu e evoluiu, ganhando contornos de jogo organizado, com crescente popularidade e profissionalismo. No final do século XIX quando em Portugal apenas se tinham desenrolado uma mão cheia de jogos / ensaios, já dezenas de milhares de Ingleses se comprimiam em estádios, celebrando o grande jogo. Os Ingleses legaram a este planeta não apenas o mais importante jogo como também a mais importante indústria ligada ao desporto.

Mas o caminho dos Ingleses foi também longo e nem sempre linear. Em meados do século XIX, os diversos colégios Ingleses que praticavam o jogo tinham as suas próprias regras. Alguns eram protagonistas na introdução de inovações mas faziam-no de forma descoordenada e descomprometida para com os outros Colégios. Jogos entre colégios diferentes obrigavam por isso a que muitas vezes os capitães de equipa tivessem que acordar antecipadamente quais as regras para o prélio. Em alguns casos as diferenças do Foot-Ball Association para o Râguebi eram difíceis de definir pois eram permitidos alguns primores como por exemplo que os jogadores pontapeassem ou placassem os adversários. E convenhamos, depois de tanta evolução, nos dias de hoje é sabido que certos clubes e certos jogadores ainda se sentem confortáveis nesse tipo de jogo...

Entre as classes populares o jogo era ainda mais desorganizado, mais violento, geralmente sem um número definido de jogadores e incentivando as tais práticas de jogo viril ou mesmo violento. O futebol era jogado em campos improvisados, com obstáculos diversos, em ruas, largos, terreiros. Por vezes o objectivo primordial era tão-somente ter a posse da bola, custasse o que custasse. Hordas de pessoas, irrompendo por ruas em desordens, forçavam por vezes a intervenção das autoridades. E aliás, o tamanho e a natureza das bolas eram diversificados. Em resumo, a indisciplina era a regra e isso tornava muito difícil garantir ou até mesmo prever a evolução do jogo.


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Freemason's Tavern, 1863. Gravura do século XIX do mítico lugar onde os Ingleses consideram ter sido instituídas as primeiras regras do futebol moderno. Fonte: The Saleroom


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"Meeting 24th November. 1863 Freemasons Tavern...". Fonte: https://freemasonsmatches.wordpress.com/about/



Assim, procurando a evolução e uniformização do jogo, mesmo que a custo de algumas dissidências, em 26-10-1863 deu-se uma célebre reunião na Freemason's Tavern, na qual representantes de 11 clubes da zona de Londres acordaram entre si as primeiras regras do que iria a ser o futebol moderno. Ali também se estandardizaram o tamanho e o peso das bolas de futebol. Na prática, essas regras, ainda que tendo o aspecto curioso de não fazer menção a árbitros (surgiriam apenas na década seguinte), constituíram o ponto de partida para o futebol moderno e permitiram estabelecer de forma definitiva caminhos diferentes para o Futebol e para o Râguebi.

Depois dessa reunião deram-se mais - pelo que percebi - mais quatro reuniões, dadas a falta de unanimidade em alguns aspectos tais como permitir pontapear os adversários. foram 11 os Clubes e Colégios representado nas 5 reuniões: Green (Barnes), WO-War Office Club, The Crusaders, Forest of Leytonstone, No Names Chut of Lilburd, Crystal Palace, Blackheat, Nensigton Scholl, Persival House, Surbiton, Blackheat Proprietory Scholl e Charterhouse (fonte: Homero Serpa, História do Desporto em Portugal).



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Um muito esclarecedor quadro que resume as principais datas e distinções entre regras do Futebol e do Râguebi. Fonte: Wikipedia.



Ainda assim, o primeiro livro conhecido contendo regras para a prática de Foot-Ball Association data de 1859 e pertenceu ao clube de futebol mais antigo do mundo, o Sheffield Foot-Ball Club. Entre outras curiosidades, esse primeiro livro falava de jogos com a duração de duas horas e envolvendo 40 jogadores! Aos jogadores era permitido até agarrar a bola com as mãos desde que esta quando reposta em jogo ainda não tivesse tocado no solo ou tivesse sido lançada da linha lateral. Mas fiquemos por aqui para não ser fastidiosos com os detalhes. Existem muitos e bons sítios na internet com essa informação para os interessados.


https://youtu.be/dyb_s2tRNsE (https://youtu.be/dyb_s2tRNsE)

O livro mais antigo das regras do futebol, datado de 1859. Fonte: http://www.sheffieldfc.com/history

Anos mais tarde a Football Association publicou as regras num pequeno livro colocado à venda por 1 Shilling (xelim). As reuniões da Freemason's Tavern frutificaram e permitiram a evolução e difusão do jogo em Inglaterra e para o Mundo.


Em Portugal


Em Portugal, tanto quanto é do meu conhecimento e como nos refere Homero Serpa na sua excepcional História do Desporto em Portugal, a primeira tradução das regras oficiais de futebol foi feita por Carlos Xafredo e Ricardo Oakley, dois sócios do Real Gymnasio Club Português (RGCP) por volta de 1889-1892. Celebrando em 2017, a bonita idade de 142 anos, o Ginásio Clube Português, para além de ser a mais antiga agremiação desportiva do País, pode ainda orgulhar-se de ter sido muito provavelmente o primeiro Clube a praticar o futebol em Portugal.

Existem de facto referências a actividades futebolísticas do Real Gymnásio Clube Português em 1892 no mítico campo das Salésias em Belém. Mais de uma década antes da fundação do nosso Clube, e quatro anos depois das primeiras actividades futebolísticas promovidas pelos irmãos Pinto Basto, o RGCP praticava já o jogo.


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Artigo de jornal referindo as actividades futebolísticas do RGCP nas Salésias durante o ano de 1892, Fonte: Tiro Civil, nº 120, 15-08-1897


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Equipa de futebol do Gymnasio Clube Português. Foto pulicada nos Sports Ilustrados m 1910.



Existem outras opiniões que associam esse feito ao Club Lisbonense (o primeiro Clube formado especificamente para a prática do futebol e ligado à primeira geração dos irmãos Pinto Basto e a Carlos Vilar, entre outros) mas a questão para além de não estar resolvida, no fundo tem pouco interesse pois ambos os Clubes, um extinto outro ainda hoje cheio de vitalidade, são credores do respeito e admiração dos desportistas Portugueses.


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Excertos de um artigo referindo o papel fundamental do Real Gymnasio Club Português e do Club Lisbonense nos primeiros anos do Futebol em Português. Fonte: DL 19-06-1944


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Algures em 1892, o Club Lisbonenses dos irmãos Pinto Basto e Villar (camisola escura)e os Ingleses Carcavellos (camisola branca com lista) Club posam em conjunto na mítica escadaria da Quinta Nova em Carcavelos,. Fonte: TT-digitarq


Mas, voltando ao RGCP, os sócios que tomaram essa iniciativa, forneceram esses livros com as regras do futebol de forma gratuita a todos os grupos que nesse tempo disputavam um campeonato (sim, para quem não sabe existiram campeonatos organizados de Foot Ball Association antes de 1900!).


Desconheço quantas outras traduções das regras oficiais foram feitas depois dessa primeira iniciativa, mas tanto o Real Gymnasio Club Português e o Club Lisbonense terão tido com certeza outras acções, assumindo um papel fundamental na divulgação das regras de futebol entre os praticantes. O Foot-Ball Association era um desporto das elites e isso facilitava a divulgação entre os interessados.

Em 1897 o jornal Tiro Civil iniciou a divulgação do que era o futebol, com uma série de artigos semanais com explicações básicas e por vezes muito gráficas feitas por Valentim Machado, um dos maiores divulgadores da nova modalidade desportiva.


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Excertos de um artigo de divulgação do Foot-Ball Association escrito por Valentim Machado. Fonte: Tiro Civil nº 117, de 1-07-1897.


Mas durante o período de 1897 até 1903 o futebol estagnou e assim no florescimento que se fez a partir de 1903 permaneciam muitas dúvidas sobre a natureza do jogo e das suas regras, como se constata pelos nºs 272 e 273 (de Dezembro de 1903) do jornal Tiro Civil que supostamente apresentavam as regras de Foot-Ball. Após a sua leitura atenta constata-se que afinal eram regras do... Râguebi... Ou seja 40 anos após os Ingleses terem feito a distinção entre as duas modalidades, em Portugal ainda existiam confusões.


(https://s23.postimg.org/unu285umz/image.jpg)Excertos de um artigo sobre as regras de Foot-Ball Association que afinal era do Râguebi. Fonte: O Tiro Civil nº 273 de 15 Dezembro de 1903.

Em 1906 ou seja 2 anos depois da fundação do nosso Clube, o jornal Tiro e Sport, sucessor daquele Tiro Civil, publicava regras do Foot-Ball traduzidas por Carlos Augusto Villar. Este era o homem certo para o fazer por se tratar de um dos mais ilustres pioneiros do futebol em Portugal, ligado ao Club Lisbonense, ao FC Swifts e ao CIF.


(https://s24.postimg.org/tp7ous1p1/image.jpg)Regras de Foot-Ball Association traduzidas por Carlos Villar. Fonte: Tiro e Sport nº 337, 338 e 339 de 1 a 30 de Setembro de 1906. Jornal Tiro e Sport. Hemeroteca de Lisboa.


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A divulgação cuidava também de apresentar grafismos para tornar a transmissão da mensagem mais eficaz. O fora-de-jogo já era uma lei especialmente problemática. Nesse tempo requeria pelo três adversários atrás da linha da bola. Fonte: Jornal Tiro e Sport. Hemeroteca de Lisboa.


Aproveitando essa tradução, a prestigiada Casa Senna passou a editar essas regras em livro e a coloca-las à venda pelo preço de 100 Reis. Divulgação era ainda e sempre a palavra-chave e através do Tiro e Sport, a referida casa comercial cumpriu denodadamente esse objectivo. O desporto Português deve muito à Casa Senna.



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Dois dos exemplos de publicações da Casa Senna para divukgar as leis do futebol. Fonte: Jornal Tiro e Sport. Hemeroteca de Lisboa.


Esta cronologia embora seguramente incompleta mostra como foi acertada a decisão que Manuel Gourlade tomou em 1904 de mandar traduzir as leis de futebol. No nosso Clube os detalhes e a seriedade perante o jogo, os adversários e a competição foram sempre elementos que mereceram a devida atenção. O Sport Lisboa e Benfica nasceu para vencer, conhecendo e respeitando o jogo e os adversários, sobre um Ideal que pretende levar o Clube aos mais altos desígnios. Apesar de pequena, a participação de Duarte José Duarte neste processo foi importante num tempo em que todos os detalhes eram muito importantes pois semearam a colheita de vitórias que veio depois.

Da vida de Duarte José Duarte daí em diante pouco sei mas não custa a crer que tenha sempre continuado interessado no fenómeno desportivo e associativo e que tenha tido outras intervenções de mérito.

Duarte José Duarte faleceu em Rio de Mouro, Sintra no dia 5 de Março de 1961. Contava 79 anos de idade. Faleceu alguns dias antes de defrontarmos o Aarhus na Dinamarca durante a caminhada para a conquista da nossa primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus pelo Sport Lisboa e Benfica. Estou certo que essa conquista teria sido algo que ele teria gostado de ver como pioneiro do nosso Clube. Ao longo da sua vida Duarte teve no entanto oportunidade de ver a solidificação crescente do Sport Lisboa e Benfica como a força desportiva dominante do futebol Português.

Duarte José Duarte foi um dos muitos casos de homens discretos cuja contribuição, mesmo que isolada num tempo e espaço particular, muito contribuiu para que desde o início o Sport Lisboa e Benfica fosse o Clube mais popular, o mais querido Clube Português.

Paz à sua alma, honra à sua memória.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 15 de Agosto de 2017, 08:06
vitor... onde vais descobrir isso tudo? mas que grande obra. espero que um dia haverá todos os teus trabalhos como livro ou num lugar que dá respeito a teu trabalho. obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Agosto de 2017, 13:30
Citação de: alfredo em 15 de Agosto de 2017, 08:06
vitor... onde vais descobrir isso tudo? mas que grande obra. espero que um dia haverá todos os teus trabalhos como livro ou num lugar que dá respeito a teu trabalho. obrigado!

Alfredo, a resposta está em ti. O que te leva a ter a colecção fantástica que tens? A dedicar horas e horas na busca desse material? É o mesmo que se passa comigo. É a paixão ilimitada por este Clube. Está em nós, milhões de homens, mulheres e crianças. A resposta estava ontem na bancada de Chaves. A resposta fez-se explosão de alegria e alívio quando ganhamos o jogo nos instantes finais. É o Benfica. Somos nós. Os Benfiquistas.

Muito obrigado pelas tuas palavras. E um abraço!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 15 de Agosto de 2017, 13:33
Citação de: RedVC em 15 de Agosto de 2017, 13:30
Citação de: alfredo em 15 de Agosto de 2017, 08:06
vitor... onde vais descobrir isso tudo? mas que grande obra. espero que um dia haverá todos os teus trabalhos como livro ou num lugar que dá respeito a teu trabalho. obrigado!

Alfredo, a resposta está em ti. O que te leva a ter a colecção fantástica que tens? A dedicar horas e horas na busca desse material? É o mesmo que se passa comigo. É a paixão ilimitada por este Clube. Está em nós, milhões de homens, mulheres e crianças. A resposta estava ontem na bancada de Chaves. A resposta fez-se explosão de alegria e alívio quando ganhamos o jogo nos instantes finais. É o Benfica. Somos nós. Os Benfiquistas.

Muito obrigado pelas tuas palavras. E um abraço!  O0

touché...  ::)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Agosto de 2017, 17:33
-165-
A lenda de Nicolau I

Lisboa, Praça dos Restauradores, Domingo, dia 9-10-1932


(https://s22.postimg.org/xg4h1zw75/image.jpg)
Fonte: TT-digitarq


Partida dos ciclistas para o 3º Lisboa – Coimbra. Entre eles estava o grande José Maria Nicolau, que alinhava para conquistar mais uma das suas numerosas vitórias.


(https://s27.postimg.org/ky4sj1fmr/image.jpg)
Fonte: TT-digitarq


Mais do que fazer balanço de carreira, no texto de hoje ilustraremos uma das muitas Gloriosas vitórias de José Maria Nicolau, figura maior em popularidade do ciclismo do Sport Lisboa e Benfica. A lenda fez-se com vitórias épicas como esta.


Felizmente existe a possibilidade de ilustrar uma boa parte dessa prova pelo magnífico repositório da Torre do Tombo.


A partida

Numa iniciativa do jornal Coimbrão "Voz Desportiva", a partida foi dada na Praça dos Restauradores pelas 8h10. Compareceram oito corredores, sendo três do Sport Lisboa e Benfica: José Maria Nicolau, Carlos Domingos Leal e Dias Maia. Os restantes eram 2 do SCP: Prudêncio Carneiro e João Gomes II, 2 de Montemor: Marques Bom e Joaquim Darwin, e um do Anadia: Rosmaninho.


(https://s27.postimg.org/ozjg0uysj/image.jpg)
Fonte: TT-digitarq



(https://s21.postimg.org/qr48ccw7r/image.jpg)
Fonte: DL 9-10-1932


A corrida inicia-se com João Gomes II, ciclista do SCP, em correria louca ganhando a dianteira mas como quase sempre no SCP o que começa bem acaba por acabar mal pois à passagem pelo Campo Grande já Nicolau fazia impor a sua classe e autoridade de campeão.

Na Venda do Pinheiro, Dias Maia chega-se a Nicolau fazendo uma dupla Benfiquista no comando da prova. O sportinguista Prudêncio e o Montemorense Darwin tentam acompanhar o ritmo dos Benfiquistas enquanto Carlos Domingos Leal vem um pouco mais atrás. Mas passando a Malveira e depois no Carrascal, Nicolau arranca irresistível. Ninguém mais o conseguirá acompanhar. A lenda uma vez mais se impunha.



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Nicolau já disparado na frente da corrida. Fonte: TT-digitarq.



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Outra imagem de Nicolau disparado na frente da corrida, percorrendo os campos ao seu ritmo poderoso. Fonte: TT-digitarq.



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Dias Maia na perseguição a Nicolau. Fonte: TT-digitarq.



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Carro guia da corrida do 3º Lisboa Coimbra. Fonte: TT-digitarq.


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À passagem de Torres Vedras, Carlos Domingos Leal, bem posicionado atrás de Nicolau. Ao fundo vê-se a Igreja e o Convento da Graça. Fonte: TT-digitarq.




À chegada

Nicolau fez a sua entrada triunfal em Coimbra cerca das 15h50. Chegou à grande cidade estudantil para ser aclamado por numerosos populares que se acotovelavam junto da linha de chegada. A camisola vermelha no torso do poderoso ciclista impunha o seu fascínio. Foram sete horas quarenta e dois minutos e quatro segundos. Com esse tempo Nicolau batia o recorde pessoal em mais de uma hora e dois minutos, tempo que tinha efectuado dois anos antes.


(https://s28.postimg.org/l1yfiwgkd/10b.jpg)
(https://s11.postimg.org/6ba2shwkj/image.jpg)
Fonte: DL 9-10-1932


O nosso Carlos Domingos Leal fez segundo lugar chegando cerca de 13 minutos depois!

Em terceiro chegaria Rosmaninho, o homem do Anadia, que gastou mais 30 minutos que Nicolau.

Em quarto chegaria o nosso Dias Maia que tinha sofrido uma quebra de ritmo, pagando a tentativa de acompanhar Nicolau. Dias Maia chegou com um atraso de 45 minutos para Nicolau.

Dos outros não reza a história, á excepção do Sportinguista Prudêncio que à saída de Pombal sofreu uma queda e teve de desistir.



(https://s3.postimg.org/lqhobaklf/image.jpg)
Chegada de José Maria Nicolau a Coimbra. Mais uma vitória para o campeão Benfiquista!. Fonte: TT-digitarq.




(https://s22.postimg.org/4no5okjk1/image.jpg%3Cbr%20/%3Ehttps://s22.postimg.org/wzbbakz01/image.jpg)
Cerimónia de atribuição dos prémios. Fonte: TT-digitarq



(https://s22.postimg.org/wzbbakz01/image.jpg)
A Taça de "O Século" disputada no 3º Lisboa Coimbra. Fonte: TT-digitarq




Glória e Honra ao grande, ao Imortal
José Maria Nicolau

(https://s17.postimg.org/a1dxwm2gv/image.jpg)

Fonte: Museu Cosme Damião




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Agosto de 2017, 14:09
-166-
Para lá de Nicolau

José Maria Nicolau é o nome mais popular da História do ciclismo do Sport Lisboa e Benfica. Apesar de uma carreira curta, as suas vitórias, o seu carisma e popularidade fazem dele um campeão que deixou um impacto impressivo na difusão e solidificação do Benfiquismo no nosso País. O texto anterior foi apenas um dos numerosos exemplos em que a sua classe, carisma e competitividade levaram os populares a tanto amar a modalidade, o ciclista e o Clube.

Mas no nosso Glorioso ciclismo existem muitos outros nomes para lá de Nicolau. Vamos hoje falar, ainda que brevemente, de dois deles. Vamos falar de Alfredo Luís Piedade e de Abílio Gil Moreira.


Alfredo Luís Piedade
(https://s4.postimg.org/6eakgsnt9/image.jpg)
Fonte: Museu do SLB


Nome imortal do Ciclismo nacional e do nosso Clube. Atleta, técnico, dirigente, foi uma figura que recebeu em vida o reconhecimento sentimental e institucional por parte dos nossos adeptos e do nosso Clube.

Alfredo Luís Piedade ingressou no SLB em 1911, liderando a nossa secção velocipédica durante três décadas. Era um especialista em distâncias curtas tendo-se distinguido em provas como a subida da Calçada da Glória, uma rampa que liga a Baixa de Lisboa (Praça dos Restauradores) ao Bairro Alto (Jardim de São Pedro de Alcântara). O percurso tem cerca de 265 metros de comprimento e apresenta um declive médio superior a 17%. Em 1926, Alfredo Luís Piedade cumpriu esse percurso em apenas 55s. Uma marca verdadeiramente extraordinária. Alfredo venceria a prova por três vezes.


(https://s4.postimg.org/h2ebfmxsd/image.jpg)

Os ciclistas concorrentes da Subida da Calçada da Glória em 1926. Alfredo Luís Piedade (destaque) é o primeiro à direita. Fonte: http://cyclingmemories.blogspot.pt/ (http://cyclingmemories.blogspot.pt/) e Cinemateca Portuguesa (ver: http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2527&type=Video (http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2527&type=Video))


Alfredo Luís Piedade venceria muitas corridas durante a sua carreira, deixando uma marca de campeão associada à camisola vermelha do nosso Clube:

•   1913 - 1º Subida da Calçada da Glória, Lisboa (1min 10seg)
•   1920 - 1º Taça de Lisboa, Lisboa
•   1923 - 1º Volta a Lisboa, GP de Lisboa, Lisboa
•   1924 - 1º Subida da Calçada da Glória, Lisboa (1min 05seg)
•   1926 - 1º Subida da Calçada da Glória, Lisboa (55seg)



(https://s4.postimg.org/va404aah9/image.jpg)

Fonte: wikipedia

(https://s4.postimg.org/j9ik3k32l/image.jpg)


Em Maio de 1926, participou no famoso raide ciclista entre Paris e Lisboa, iniciativa que encheu de orgulho o Ciclismo Benfiquista e que seria exemplo para outros eventos similares ulteriores. O percurso foi iniciado com outros dois outros companheiros Benfiquistas, Francisco dos Santos Almeida e João dos Santos Borges. Apenas este último por doença não conseguiu completar uma ligação que ficou célebre na época e que foi festejada de forma épica pelos Benfiquistas.

•   1ª etapa - Paris - Tours (227 km)
•   2ª etapa - Tours -  Bordeaux (360 km)
•   3ª etapa - Bordeaux - Mont-Marsan (114 km) - João Borges começou a sentir-se doente
•   4ª etapa - Mont-Marsan - S. Sebastian (157 km)
•   5ª etapa - S. Sebastien - Pancorvo (173 km) - etapa dura de passagem pelos Pirinéus.
•   6ª etapa - Pancorvo - Ciudad Rodrigo (168 km) - João Borges doente é forçado a não partir.
•   7ª etapa - Fornos de Algodres - Leiria
•   8ª etapa - Leiria - Lisboa

Perto de Lisboa e à passagem por Loures, João Borges já restabelecido voltou a reunir-se aos seus colegas. A entrada em Lisboa foi feita de forma triunfal tendo os ciclistas sido conduzidos até aos Restauradores e depois foram levados até à sede da UVP - União Velocipédica Portuguesa. No total os ciclistas percorreram cerca de 1800 km.



(https://s4.postimg.org/a309g9xu5/image.jpg)

À esquerda Francisco Almeida e Alfredo L. Piedade recebidos em triunfo em Lisboa no dia 11-05-1926. À direita já na varanda da UVP, os ciclistas já acompanhados de João Borges recebem mais homenagens do público. Da esquerda para a direita: Francisco Almeida, Alfredo L. Piedade e João Borges. Fonte: Museu Cosme Damião.


O Sport Lisboa e Benfica tinha uma excelente equipa de ciclismo que continuava a tradição dos pioneiros que logo nos primeiros anos começaram a colorir com as suas camisolas as estradas de Lisboa primeiro e de Portugal depois.

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Fonte: Museu do Sport Lisboa e Benfica


Nos anos 30 distinguia-se como dirigente e treinador, desenvolvendo essas actividades com o seu inexcedível Benfiquismo mas de forma completamente amadora. A circunstância de ser desenhador de profissão permitiu-lhe desenvolver quadros de bicicleta desenhados e construídos à medida dos ciclistas (tomando em conta o comprimento dos braços, altura das pernas e largura de ombros, por exemplo), facto que em muito beneficiou a modalidade. Como treinador do Benfica, com actividade entre 1928 e 1948, conduzindo à conquista de três vitórias individuais e cinco colectivas na Volta a Portugal. Um palmarés verdadeiramente Glorioso.



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Gil Moreira



Podemos olhar para Gil Moreira como um intelectual., um historiador, um sábio do ciclismo Benfiquista e Nacional. Para este segmento do texto vou socorrer-me de muitos elementos de um excelente artigo do Jornal de Alcobaça datado de 30-06-2007, assim como de material disponibilizado em rede pelo seu filho.

Abílio Gil Moreira, de seu nome completo, nasceu em 13-07-1907 em Rebolaria, Concelho da Batalha, Distrito de Leiria. Viveu depois em Caxias onde se terá iniciado no ciclismo. Foi um excelente e destacado ciclista ligado ao Sport Lisboa e Benfica de 1929 a 1936. Ao longo da sua vida foi quase tudo no ciclismo: atleta, técnico, jornalista, dirigente, historiador, divulgador. O contributo de Gil Moreira para o ciclismo Benfiquista e Português sente-se ainda hoje e será sempre incontornável para os que vierem algum dia debruçar-se sobre o ciclismo em Portugal.

Gil Moreira foi o autor do livro "ABC do ciclismo".


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Gil Moreira não tendo atingido o brilho desportivo do José Maria Nicolau, representou o SLB desde 1929 até 1936. Foi um excelente velocista e sprinter. Entre as suas vitórias contam-se:

•   Segundo Circuito de Lisboa em 1932
•   Volta a Lisboa em 1932
•   Volta a Portugal em Miniatura em 1932
•   Circuito dos Campeões em 1933 e 1934
•   Taça Inválidos do Comércio em 1933
•   Prova de Pista Estádio Lumiar em 1933
•   Grande Prémio Vila Moreira
•   Prova Alcanena-Alcobaça


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1931, raide ciclista ao Norte de Portugal de 3 ciclistas do SL Benfica entre os quais Gil Moreira. Entre as massas populares, a festa do povo, os ciclistas Benfiquistas tiveram recepção entusiástica na chegada à Praça dos Restauradores. Assim também se fez a difusão do Benfiquismo e da magia das camisolas vermelhas. Fonte: TT-digitarq.



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Fonte: Em Defesa do Benfica


Em 1932 teve também oportunidade de fazer uma digressão pelo Brasil, viagem do qual temos um registo fotográfico:


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Fonte: Digitarq-TT


Recebeu prémios e distinções várias durante a sua carreira. A popularidade do ciclismo estava então no auge, carreando também aumento considerável de popularidade para o Benfica e para o Sporting.


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Nos salões, na festa da União Velocipédica Portuguesa (UVP) em 17-12-1937. Três ciclistas do SL estão entre os premiados 2 – Gil Moreira; 3 – Carlos Domingos Leal; 4 – Antunes Perna. Fonte: digitarq-TT.



Segundo o que se diz, Gil Moreira seria o pupilo dilecto de Alfredo Luís Piedade e curiosamente do ponto de vista associativo o momento que o imortalizou foi de forma similar a Alfredo Luís Piedade, o extraordinário raide Lisboa - Paris - Lisboa concluído em 7-04-1931, no qual Gil Moreira, César Luís e Carlos Domingos Leal, percorreram o trajecto chegando em Glória aos seus destinos. 


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Partida das Amoreiras, no dia 29-03-1934, os três ciclistas partiram para o raide Lisboa – Paris – Lisboa. Fonte: Colecção Abílio Gil Moreira.



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A equipa do Sport Lisboa e Benfica ao chegar a Paris durante o raide Lisboa Paris – Lisboa em Abril de 1934-. Note-se a presença de Alfredo Luís Piedade na motorizada e de Alfredo Trindade, o valoroso ciclista que correu no SCP e que nessa altura estava a estagiar num Clube Francês fazendo questão de receber os valorosos compatriotas. Fonte: Colecção Abílio Gil Moreira.


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Esta grande aventura foi admiravelmente descrita por Alberto Miguéns no seu blogue: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/11/onde-e-que-esta-placa.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/11/onde-e-que-esta-placa.html)
O evento serviu também para homenagear os antigos combatentes e em particular os mortos Portugueses na Grande Guerra.

Concluída a carreira de ciclista, Gil Moreira foi depois um jornalista e um dedicado e sabedor divulgador da modalidade tendo colaborado com diversos jornais como "Os Sports",. "Mundo Desportivo", "Diário de Notícias", "Stadium", "Diário de Lisboa", "Diário Popular", "O Debate". Cobriu provas em Portugal, Espanha e França (tour de France).


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Fonte:  Jornal de Alcobaça datado de 30-06-2007.


Em 1939 adoece gravemente, realizando-se um Festival em sua Homenagem no Estádio do Lumiar, a 4 de Agosto de 1940.

Foi depois Director da Iluminante, que ficou para a história do ciclismo como a primeira equipa profissional em Portugal. Treinou depois várias equipas de ciclismo, com destaque para o Águias de Alpiarça (fonte: http://cyclingmemories.blogspot.pt/2014/12/abilio-gil-moreira.html (http://cyclingmemories.blogspot.pt/2014/12/abilio-gil-moreira.html)).

Criada em 1942, por iniciativa de Amadeu Seabra, Administrador da firma de artigos eléctricos com o mesmo nome (A Iluminante), sediada na Avenida Almirante Reis, 4 a 6, pertença da família Viúva Lamego, contrata os melhores ciclistas da época, bem como o melhor treinador, Alfredo Luiz Piedade, rodeando-se de um staff técnico superior, de que fazia igualmente parte Abílio Gil Moreira, com carros de apoio e assistência mecânica e fabricando uma bicicleta de marca "Flecha", aproveitando-se do fecho da secção de ciclismo do Sport Lisboa e Benfica nos finais de 1941.

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Fonte: https://www.facebook.com/pg/desportivoailuminante/about/ (https://www.facebook.com/pg/desportivoailuminante/about/)

Foi também seleccionador nacional de ciclismo estando envolvido na selecção e orientação técnica de ciclistas que participaram nos Campeonatos de Mundo. Radicou-se em Alcobaça onde juntamente com Mário Bandeira fundou a empresa SIBAL que se dedicou à importação e comércio de bicicletas e acessórios.

Gil Moreira faleceu em Alcobaça no dia 21-04-1988. Gil Moreira merece ser lembrado pela sua contribuição ao SLB e ao Ciclismo Português. É com certeza merecedor de um agradecimento sentido de todos os Benfiquistas.

Fechando o texto de hoje, expresso o desejo que nunca se esqueça o contributo fenomenal, essencial que esta modalidade e estes dois grandes Homens deram para o Benfiquismo. Para lá do grande José Maria Nicolau.


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Paz à sua alma, honra à sua memória.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Agosto de 2017, 11:10
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Pelas estradas de Sintra


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Fonte: Tiro e Sport nº 355


Publicado no jornal Tiro e Sport nº 355 de 31 de Maio de 1907, este desenho original de Cândido Silva foi criado a propósito de um bilhete comemorativo do 1º Passeio Velocipédico Inter-Clubes realizado em Sintra no dia 12-05-1907.

O passeio teve a sua partida em Lisboa, na Praça do Marquês de Pombal, local que nessa altura ainda não tinha o grande monumento que agora visitamos todos os anos para celebrar os nossos títulos.

Nesse Domingo, pelas 6h30, a comitiva velocipédica passou pela pacata localidade de Bemfica, onde se integraram mais alguns participantes. À chegada a Sintra, 152 ciclistas integravam o pelotão, número impressionante para a época e que demonstra a popularidade da modalidade e a vitalidade dos Clubes participantes. Nesse tempo, apesar das bicicletas serem um objecto muito caro, o ciclismo era já um dos desportos mais populares de Portugal, atraindo em particular uma certa burguesia endinheirada e ansiosa de convívio e da pratica desportiva ao ar livre. Não raro, os passeios acabavam em grandes jantaradas, facto que não devia assustar muita gente.

Para além desse desenho, o mesmo jornal Tiro e Sport já tinha publicado no seu número anterior algumas fotografias desse passeio. Infelizmente as fotografias não estão legendadas de forma a identificarem os convivas.

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Alguns dos 152 ciclistas que participaram no convívio inter-Clubes em 12-05-1907 com partida em Lisboa, no Marquês de Pombal e chegada a Sintra. Tiro e Sport nº 354.


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Alguns aspectos do convívio velocipédico inter-Clubes disputado em 12-05-1907, com partida no Marquês de Pombal e chegada a Sintra. Fonte: Tiro e Sport nº 355.



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Fonte: Tiro e Sport nº 355.



Os emblemas

Mas existem outros e mais importantes detalhes no bilhete, nomeadamente os emblemas de cinco entidades desportivas que na época estavam associados à velocipedia. Vamos olhar para eles.

No final do século XIX, depois dos pioneiros Clube Velocipédico de Portugal e (uma vez mais) do Ginásio Clube Português, surgiram uma multiplicidade de clubes dedicados a actividades velocipédicas quer de competição quer de lazer. Entre eles estava o famoso Velo Clube de Lisboa fundado em 1894.


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O Velo Clube de Lisboa, emblema e imagem de um dos numerosos passeios velocipédicos que esta colectividade promoveu, tendo igualmente contribuído para as competições velocipédicas nos primeiros anos da modalidade no nosso País.


O Velo Clube de Lisboa distinguiu-se essencialmente no ciclismo mas teve também uma valorosa equipa de corrida na qual se destacou Francisco Lázaro. Lázaro por lá correu até 1910, transferindo-se depois para o Sport Lisboa e Bemfica e mais tarde para o Lisboa Sporting Clube. Quando faleceu em Estocolmo, Lázaro pertencia a este último Clube.

Mas outro ponto interessante é que na tal equipa do Velo Clube de Lisboa, para lá do malogrado Lázaro, encontramos também um atleta chamado José de Brito, que ao que tudo indica seria o mesmo homem que foi uma das principais figuras do... Grupo Sport de Bemfica antes da junção de 1908!


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Equipa de corrida do Velo Clube de Lisboa onde estavam Francisco Lázaro e José de Brito.

 
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Uma imagem da Marathona Real, competição de 1908 que partiu da vila de Cascais. Alinharam 4 clubes entre os quais o nosso Grupo Sport de Bemfica e o Velo Clube de Lisboa onde estavam Lázaro e José de Brito. Fonte: Tiro e Sport nº 383 de Maio de 1908. Ver também Das actividades de atletismo e em particular de corrida já por aqui falamos (ver texto " – 19 - "Um Stromp à Benfica" Pág 4.").



Depois temos emblemas de dois outros Clubes. Olhemos brevemente para eles.


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Ateneu Comercial de Lisboa

O Ateneu Comercial de Lisboa foi fundado por um grupo de empregados do comércio em 10 de Junho de 1880, ano em que se celebrava o tricentenário da morte do poeta Luís de Camões. A primeira sede situava-se na Rua do Arco do Bandeira, e contava desde o início com 600 sócios, que pagavam 200 réis por mês, tendo à sua disposição uma pequena biblioteca e acesso a aulas das mais diversificadas disciplinas do conhecimento e de desporto.

A instituição foi sempre fragilizada por muitas quezílias políticas e pessoais, tendo por via disso sofrido grande redução do número de sócios. Era ainda assim uma instituição com muita actividade formativa e que por isso precisava de um espaço com muitas salas de aula, razões que motivaram que em 1895 se tenha instalado no palácio do conde de Burnay na Rua de Santo Antão. Desenvolvia intensas actividades formativas no campo dos cursos profissionais e desportivos (dança, canto, esgrima, entre outras).

O Ateneu Comercial procurava garantir aos seus sócios, actividades festivas, acesso à cultura nomeadamente a literatura (editando as suas próprias publicações). Exerceu também actividade de influência política para a defesa dos interesses dos seus associados (descanso semanal, protecção no desemprego e na doença, criação da Bolsa de Trabalho, entre outros). A qualidade dos seus cursos levou a que, em 1933, os diplomas passados por esta instituição tivessem o mesmo valor que os das escolas oficiais. Pelos serviços que prestava à comunidade tinha já sido considerada instituição de utilidade pública em 1926. (fonte: Infopédia).


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Aspecto de um animado baile no ACL. Biblioteca e Palácio de Burnay à Rua das Portas de Santo Antão. Desfile de atletas do Ateneu Comercial de Lisboa por altura da campanha para a construção do Estádio Nacional. Fonte: TT-digitarq.



Entre as principais figuras da história do Ateneu Comercial de Lisboa encontramos dois homens que também estiveram ligados ao Sport Lisboa e Benfica: Vasco Rosa Ribeiro e Francisco da Silva Gama. O primeiro foi o15º Presidente da nossa História e ao que sei o segundo foi membro da sua Direcção. Uma ligação que veio dos tempos do Ateneu Comercial de Lisboa.


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Acto de posse dos corpos gerentes do Ateneu Comercial de Lisboa em 1937. Estão salientados dois homens que também pertenceram aos órgãos sociais do SLB, Francisco da Silva Gama e Vasco Rosa Ribeiro. Este último foi presidente da Direcção do nosso Clube, eleito para o cargo em 20 de Agosto de 1933 e em 4 de Setembro de 1934, exercendo as funções até 1936. Fonte: TT-digitarq.


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Dia 18 de Outubro de 1935, acto de posse da Direcção do Sport Lisboa e Benfica presidida pelo Dr. Augusto da Fonseca. A Direcção cessante era a do Dr. Vasco Rosa Ribeiro. Fonte: digitarq-TT.



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Fonte: Sítio oficial do Sport Lisboa e Benfica.




Do Racing Club de Portugal com excepção de menção a alguns passeios velocipédicos, pouco ou nada encontrei. Terá de ficar para outra oportunidade.



União Velocipédica de Portugal (U.V.P.)

Fundada em 14-12-1899, a União Velocipédica de Portugal é hoje conhecida por... Federação Portuguesa de Ciclismo! Aliás ainda hoje se apresenta como U.V.P./F.P.C.

A U.V.P foi fundada depois de um desafio ou sugestão que o Rei D. Carlos fez a uma série de ciclistas. O Rei percebeu a crescente popularidade das actividades velocipédicas na sociedade Portuguesa, em que a bicicleta era encarada com um objecto de prestígio e distinção social.

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Notícia da criação e dos estatutos e emblema da U.V.P. Fonte: Tiro e Sport, nº 176 e nº 228.


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Detalhe de um cartão de identidade da UVP. Fonte: Rodas de Viriato.


Diz-se também que a U.V.P. foi fundada na sequência de um conflito entre José Bento Pessoa e a Federação de Ciclismo Espanhola, ao que parece por este ter sido injustamente multado ao realizar uma prova sem inscrição prévia na dita Federação. Na altura ainda não existia uma Federação Portuguesa e assim as actividades de competição velocipédica em território Português estavam vinculadas à entidade Espanhola. José Bento Pessoa era um dos heróis fundadores do ciclismo Português e seguramente a maior figura da modalidade antes de José Maria Nicolau e assim esse castigo gerou enorme revolta nos meios velocipédicos Portugueses.

A U.V.P. manteve a sua designação passando depois a partir de 1944, num processo com alguns contornos políticos (extradesportivos), a designar-se por Federação Portuguesa de Ciclismo. Ainda assim ainda hoje é frequente aparecer a sigla U.V.P./F.P.C.


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Passado e presente nos símbolos da U.V.P./F.P.C.


E por fim o mais interessante dos emblemas, o do Grupo Sport de Bemfica!


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Até agora o mais antigo emblema do Grupo Sport de Bemfica que eu conhecia provinha de um cartão de sócio datado de Outubro de 1907:


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Recibo de pagamento de quota de sócio do Grupo Sport de Bemfica datado de Outubro de 1907. Note-se que José Brito era o tesoureiro. Fonte: Alberto Miguéns in Benfica Ilustrado.



Assim sendo, este cartão de Maio de 1907 passa a ser a mais antiga representação do emblema do Grupo Sport de Benfica.

Lá está a bola que aparentemente se parece com uma bola de râguebi. Seria?

Lá estão as siglas do Clube, GSB = Grupo Sport de Bemfica.

Lá está a roda de bicicleta, idêntica às dos outros 3 clubes que participaram no evento.

Lá está o escudo.

E por fim o que não está? O que afinal continua a ser o maior mistério deste emblema?

Pois não estão as cores! Que cores teriam o emblema? Mistério!

De que cor seriam as listas das camisolas do GSB? Mistério!


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Lançamento do peso em 1907 na Quinta da Feiteira. De que cor seriam as lista das camisolas dos atletas do GSB?. Fonte: Tiro e Sport.



E Cosme com a camisola listada. Listas brancas e?

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Cosme Damião às riscas. Fonte: Tiro e Sport



Também está para lá das minhas capacidades identificar os sócios do Grupo Sport de Bemfica que participaram no evento velocipédico com que iniciamos este texto. Gostaria de poder fazê-lo pois ainda sabemos muito pouco sobre o Grupo Sport Bemfica.



Breves notas desportivas sobre o Grupo Sport de Bemfica

Como já algumas vezes por aqui se mencionou, os desportos atléticos (em particular corrida) e de ciclismo eram as modalidades desportivas mais fortes no GSB. O Clube utilizava em regime de arrendamento o belo terreno da Quinta da Feiteira onde podia praticar essas modalidades em muito boas condições e conforto. Das actividades de atletismo e em particular de corrida já por aqui falamos (ver texto " – 115 - "A Corrida da Marathona".").


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Henrique Costa e Germano Vasconcellos numa prova de corrida com barreiras na Quinta da Feiteira em 1907. A junção dos Clubes ainda estava para acontecer. Fonte: TT-digitarq.




O futebol antes da junção com o Sport Lisboa em Setembro de 1908 foi sempre perfeitamente residual e até marginalizado pelas populações à volta da Quinta da Feiteira, Ainda assim teve alguma actividade acrescida aquando da crise de 1907 do Sport Lisboa. Nesse tempo de indefinição alguns membros do Grupo Sport Lisboa, entre os quais se incluíram Cosme Damião, Luís Vieira, João Carvalho Persónio e Marcolino Bragança vestiram a camisola de listas do GSB.


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Um dos poucos vestígios da componente futebolista do Grupo Sport Bemfica. Uma rara fotografia de uma equipa de futebol. Cosme ao meio, acompanhado de 10 outros jogadores entre os quais Marcolino Bragança, Luís Vieira e João Persónio. Fonte História do SLB 1904-1954 de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Edição de autor.



O ciclismo e actividades de cicloturismo eram juntamente com o atletismo, as modalidades mais privilegiadas no Grupo Sport de Bemfica. Infelizmente existe ainda um grande desconhecimento, fruto da escassez de informação acerca desses anos, das suas figuras e actividades. Ao que sei existe material para esse estudo mas infelizmente o mesmo não está ainda disponível.

Mais tarde, depois da junção de 1908, o Sport Lisboa e Benfica manteria interesse na modalidade de ciclismo, iniciando-se aí uma galeria de grandes conquistas e de grandes figuras, entre os quais estarão para sempre: Alberto de Albuquerque, Alfredo Luís Piedade, José Maria Nicolau, Gil Moreira, Dias Maia, César Luís, Francisco Valada, Fernando Mendes, Américo Silva, entre tantos outros.


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Depois de Levy e Bermudes, e já depois da junção entre Sport Lisboa e Grupo Sport de Bemfica, Alberto Albuquerque destacou-se como uma das primeiras grandes figuras do nosso Ciclismo. Fonte: Sports Ilustrados. Hemeroteca de Lisboa.



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Já depois da junção, corridas de bicicletas em Bemfica em 24-07-1910. Lá atrás a "casa alemã" da família Lobo Antunes. Fonte: Tiro e Sport.



Tudo isto a partir de um bilhete que apesar a sua beleza não resolveu mas antes adensou alguns mistérios. Conseguiremos algum dia desvendar o mistério das cores das listas do GSB? Esperemos que sim.


E assim termina o texto de hoje. Depois disto sinto-me como um verdadeiro José Maria Nicolau: cansado mas feliz por ter concluído uma longa corrida pelo Glorioso! O Benfica é um mundo de descobertas e de Gloriosas histórias!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Schuldiner em 27 de Agosto de 2017, 12:19
Este tópico devia estar pinned, e as Memórias devia estar pinned dentro do Geral.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Setembro de 2017, 21:08
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Braga à Benfica (parte I) -  o princípio é um tempo delicado

10 de Outubro de 1915, campo das Golladas, Braga.


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O primeiro team do Sport Lisboa – Braga, Outubro de 1915, campo das Golladas em Braga. Fonte: Ilustração Católica.


A primeira equipa do Sport Lisboa – Braga posa para a objectiva de um fotógrafo. Este Sport Lisboa – Braga também conhecido por Sport Lisboa e Braga era uma filial do Sport Lisboa e Benfica, fundada na cidade dos Arcebispos nesse mesmo ano de 1915. Foi fundado pelo nosso Glorioso pioneiro Germano Vasconcelos Júnior em circunstâncias que mais à frente serão descritas.

Mas nesse dia de Outubro, o novo Clube apresentava a sua equipa principal de futebol numa festa promovida pelo Foot Ball Club de Braga, o mais antigo Clube da cidade de Braga. O FBCB equipava-se com camisola com listas verticais brancas e azuis e calção branco, ou seja com as cores da cidade de Braga.

Já o SL-B, como se poderia esperar, equipava com camisola vermelha e calção branco. Essas camisolas tinham aliás um formato idêntico às usadas nesse tempo pela Casa Mãe.


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As duas equipas de futebol, uma vestida de azul e branco (FBCB) e outra de vermelho e branco (SL-B) e o jury das provas que no mês de Outubro de 1915 participaram nas festas desportivas promovidas pelo Foot Ball Club de Braga. Fonte: Ilustração Católica.


Como em tempos nos disse Alberto Miguéns, o Sport Lisboa – Braga foi fundado depois de Germano de Vasconcelos Júnior ter ido trabalhar para uma dependência dos CTT (antigos Correios, Telégrafos e Telefones de Portugal) na cidade de Braga. E foi fundado não obstante já por lá existir uma filial do SLB que se chamava Estrela Football Club. Esse Estrela FC terá sido fundado no ano anterior, em 1-11-1914, por empregados gráficos, grupo que naquela época em Braga era numeroso e constituído por gente nova (fonte: http://futebolsaudade-victor.blogspot.pt/ (http://futebolsaudade-victor.blogspot.pt/)).

Mas, chegado a Braga, Germano Vasconcelos cedo reconheceu que esse Estrela FC tinha pouco a ver com o SLB. No seu entender, as actividades, equipamentos e valores desse clube eram pouco Benfiquistas. Desconheço quais as cores das listas verticais do equipamento do Estrela FC mas presumo que seriam vermelhas em fundo branco pois o Braga FBC usava listas verticais azuis em fundo branco.


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Uma equipa de futebol do Estrela Foot Ball Club, a primeira filial do Sport Lisboa e Benfica em Braga. Fonte: IC.


Assim não admira que Germano Vasconcelos tenha tomado a iniciativa de fundar um outro clube que fosse uma verdadeira filial do SLB. Logo ele que foi um companheiro próximo de Cosme Damião e de quem gozava de muita confiança, recebendo-o de braços abertos aquando dos seus regressos a Lisboa, permitindo-lhe que voltasse a integrar a nossa equipa em jogos e posições decisivas na equipa.

Germano era um dos depositários da Mística, alguém que tinha bem presente o vibrante Ideal do Sport Lisboa e Benfica. À semelhança de outros antigos companheiros de equipa, Germano transmitiu esse Ideal a outros locais, a outras pessoas e a outras equipas do nosso País. A esse respeito disse-nos Alberto Miguéns sobre o SL-B:

Com os mesmos princípios do SLB: vermelho e branco, coexistência e igualdade entre todos os associados/futebolistas para escolher os melhores e eleições democráticas, universais e livres dos dirigentes. Esta "pedrada no charco" na sociedade local e entre as colectividades bracarenses possibilitou atrair futebolistas de todos os níveis sociais permitindo fazer do SL Braga o clube de futebol melhor sucedido na cidade.


Germano de Vasconcelos

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Germano de Vasconcellos Júnior, de seu nome completo, nasceu no Lumiar em 28-01-1891. Dá-se assim a curiosidade de, durante os seus quatro primeiros anos de vida, ter sido vizinho do jovem Cosme Damião, também ele natural (1885) da paróquia de São João Baptista do Lumiar.

O jovem Germano viria depois a ser um emérito praticante de futebol, ciclismo e atletismo primeiro do Grupo Sport de Bemfica e, depois da junção, do Sport Lisboa e Benfica (ver texto "-62- 13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro" e ver também o artigo de Alberto Miguéns: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/eclectismo-sem-macula.html?m=0 (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/eclectismo-sem-macula.html?m=0)). Germano obteve grande notoriedade em todas essas modalidades sendo aliás conhecido nos meios do ciclismo como o "Flecha Vermelha".


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Atletismo, Ciclismo e Futebol. As muitas faces de um desportista nato. Germano Vasconcelos, o "Flecha Vermelha", deu muito do seu talento e espírito de campeão ao SLB.


Germano foi aliás um raro caso de um dos poucos atletas provenientes do Grupo Sport Benfica a entrar na equipa da 1ª categoria de futebol do SLB. No futebol pontificavam essencialmente atletas vindos de Belém, vindos do Sport Lisboa. Nesse tempo, a ascensão à primeira categoria implicava um duro caminho pelas camadas inferiores e só possível mostrando mérito e justeza para chegar à categoria de honra. Assim, só em 1910, Germano convenceu Cosme Damião a integra-lo na nossa equipa da 1ª categoria de futebol. Germano vestiu de forma regular o manto sagrado de 1910/11 a 1912/13, em diversas posições embora mais como avançado e como... guarda-redes! Em todas elas ajudando o Clube a dominar totalmente as competições que disputou nesse período!


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Um dos companheiros de Cosme Damião. Depositário da Mística. Germano esteve na Feiteira nos tempos em que se forjou o Sport Lisboa e Benfica.



Com a sua mudança de Lisboa pra Braga poderia ter arrefecido aí o interesse pela prática desportiva. Ao invés, Germano levou os ideais e as cores do seu querido SLB para a cidade dos Arcebispos, mudando para sempre a paisagem desportiva daquela cidade. Quando em 1915 fundou o SL-B, Germano de Vasconcelos contava com apenas 24 anos de idade. Deu muito ao SLB e deu muito à cidade de Braga.



O Sport Lisboa - Braga


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Apesar de muito provavelmente ter sido fundado na primeira metade do ano de 1915, o SL-B desde logo atraiu numerosos sócios e simpatizantes. Assente em ideias e numa organização interna por via da acção de Germano de Vasconcelos, através da organização de festas populares e desportivas, o novo clube ganhou desde cedo uma grande relevância na actividade desportiva e social. Da cidade de Braga


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Princípios de Setembro de 1915, uma das primeiras festas desportivas do Sport Lisboa – Braga. Note-se o detalhe magnífico do emblema alusivo ao Sport Lisboa – Braga, em tudo idêntico ao que nessa época era usado pelo Sport Lisboa e Benfica! Fonte: http://cochinilha.blogspot.pt/search/label/sport (http://cochinilha.blogspot.pt/search/label/sport)


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Memórias do SL-B, clube fundado por Germano de Vasconcelos durante as festas desportivas, a prática de salto à vara. O eclectismo da casa Mãe em Lisboa contagiava o novo Clube Bracarense. Percebe-se ainda a presença de atletas de outros Clubes. Fonte: Ilustração Católica.

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Memórias do SL-B durante as festas desportivas de 1915, uma demonstração da vitalidade do novo Clube. Desconheço quem é o homem equipado à SLB mas não parece ser Germano Vasconcelos. Destaque ainda para as letras SLB bordadas no bolso. Fonte: Ilustração Católica.


No entanto nesse tempo pré-Grande Guerra, Braga era uma cidade cheia de entusiasmo pela prática desportiva e do futebol em particular. A cidade tinha já visto nascer muitos clubes tais como Foot-Ball Club de Braga, Estrela Foot-Ball Club, Foot Ball União do Minho, Equipa de Sargentos de Infantaria, Minho Sport Club, Sport Lisboa e Braga, Comércio Sport Club, Braga Sport Club, Club da Juventude Católica, Vencedor Sport Club, Liberdade Foot Ball Club (Liberdade da Rua da Cónega?), entre outros. Também perto, em Barcelos e Guimarães existia muita, muita actividade mas fiquemos por aqui.

A convivência entre os Clube era outro detalhe pois ao que parece que funcionava em certa medida uma vez que o Campo das Goladas, o primeiro feito de raiz para a prática do futebol, foi inaugurado em 1-05-1915 e servia a três Clubes: Foot-Ball Club Braga, Minho Sport Clube e o Sport Lisboa – Braga.


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Fonte: Alfarrábio de Braga.


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Fotografia do Arquivo da Casa Aliança de Braga. Presumo que seria o Campo das Golladas. Desconheço também quem eram as equipas oponentes do jogo retratado. Fonte: http://cochinilha.blogspot.pt/ (http://cochinilha.blogspot.pt/)


Assim, bem antes do Sporting Clube de Braga, muita história desportiva se desenrolou na cidade de Braga. Haveria por isso muito que descobrir e que contar

No próximo texto falarei do que percebi da história do Sporting Clube de Braga. Nesse texto se perceberá a decisiva influência que Gloriosos pioneiros Benfiquistas tiveram nos primórdios da história do grande clube Bracarense.



(continua)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Setembro de 2017, 21:34
-169-
Braga à Benfica (parte II) – De fusões e omissões


Azul e Vermelho: a fusão falada


Em 1917, apenas dois anos depois da fundação do Sport Lisboa – Braga, deram-se conversações para um processo de fusão com o Foot Ball Club Braga. O mais antigo pretendia fundir-se com o mais bem-sucedido clube de Braga.


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Fonte: Alfarrábios de Braga


Os planos do Clube que resultaria da fusão eram grandiosos, prevendo a prática de numerosas modalidades


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Fonte: Alfarrábios de Braga


As conversas ter-se-ão iniciado em 1917 mas ao que parece terão ficado por aí. Será que se concretizou alguma coisa? Aparentemente não pois o SL-B continuou a existir com esse nome até 1919. Agradeço a quem saiba que nos possa dar mais e melhor informação.


Verde e Vermelho: a fusão concretizada

Mas no que concerne a fusões de Clubes em Braga, algo muito diferente viria a acontecer em 1921. Algo que tornaria um Clube verde num Clube vermelho. Um "amadurecimento" do SCB... Uma vez mais seria Germano Vasconcelos a ter protagonismo fazer prevalecer o brilhantismo das suas vontades. Mas vamos por partes.

Um pouco à semelhança com o que se passa com o FCP, existe uma teoria de que a verdadeira data de fundação do SCB terá sido 1914 e não o ano de 1921 (actualmente assumido oficialmente) ou numa perspectiva que me parece mais correcta o ano de 1919.

Essa teoria baseia-se num recorte de jornal referindo a constituição de uma Direcção de um Clube com esse nome. Ora, como nos disse Alberto Miguéns, esse primeiro SCB teve vida efémera por volta de Setembro de 1914, sem registo de jogos ou outras actividades. E, facto relevante, entre os fundadores desse primeiro SCB (1914), nenhum aparece na lista dos fundadores do segundo SCB (1919). E repare-se que ao que percebi esses homens viveram durante muito tempo depois da fundação do segundo SCB sem nunca se terem associado a essa nova colectividade. Não há nenhum po(n)(r)to de ligação para lá da coincidência de nomes. Soa familiar? Pois é...
Como diz o outro papagaio: "investigue-se"...

Em 1919, foi sim fundado o actual Sporting Club de Braga. Nesse tempo inicial, o SCB vestia-se, à semelhança do Sporting CP de Lisboa, com um equipamento bipartido verde e branco (hoje conhecido por "Stromp"). Ao que parece o primeiro emblema do SCB contaria também com um Leão, mas em boa verdade nunca vi semelhante emblema. Então o que explica o vermelho e branco que actualmente o SCB usa? A resposta é Germano Vasconcelos e o que foi acordado no processo de fusão entre o SCB e o SL-B. Isso mesmo. Braga à Benfica!


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Fonte: Superbraga a partir de uma fonte original do jornal Echos do Minho. O site Bibóbraga.sugere 23-11-1919.


Fazendo a história curta, o processo de fusão deverá ter sido negociado durante algum tempo mas aparentemente só concretizado em 1921. Pelo menos é essa a data que consta do acto de escritura pública dos estatutos do clube no Governo Civil da cidade de Braga. Considerar 1921 como a fundação é a mesma coisa que considerar que uma pessoa nasceu no dia em que foi registada. Acontece que foi dois anos antes...

Ora, em 1921 o SCB já levaria dois anos de actividade, mas continuava a não ter quer a adesão popular quer o sucesso desportivo e associativo que os seus fundadores pretendiam. E assim, se compreende que os dirigentes do SCB tivessem estabelecido negociações para uma fusão com o Clube mais bem-sucedido da cidade. As negociações estabeleceram-se tendo Germano de Vasconcelos como principal interlocutor do lado do SL-B, e visavam entre outros objectivos, integrar os futebolistas do SL-B para permitir a reorganização e o reforço competitivo do SCB.


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O que hoje se publicita no sítio oficial do SCB.


Mesmo entre os adeptos do SCB a questão está longe de ser consensual. E se olharmos para a linha do tmepo encontramos esses tempos em que a questão era colocada noutros termos e com outros critérios. Como nos diz o site Bibóbraga:

Porém, ao longo das décadas os órgãos sociais do clube admitiram o nascimento do clube em anos anteriores: 1919 ou 1920. Tais factos estão comprovados em artigos produzidos pelo clube, como por exemplo as revistas comemorativas de 1934, 35 e 36; ou os objectos alusivos às comemorações do cinquentenário no ano de 1970.


E tudo isto apesar do que nos indica um documento oficial do Clube, assinado pelo 1º Secretário da Direcção do Clube, enviado em 1926 ao Comité Olímpico Português, que refere explicitamente a data de fundação como sendo de 1919.



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Fonte: Arquivo COP


Tudo isto torna absolutamente ridícula a negação ou ignorância que a actual Direcção do Clube Bracarense tem em relação à sua história e aos seus antecessores.


Facto relevante: uma das exigências de Germano Vasconcelos durante as negociações terá sido a mudança das cores do clube. Germano impôs que se mudasse do verde e branco para o vermelho e branco.

Terá sido também acordada a alteração do emblema com a substituição do símbolo do Leão pelo escudo da cidade de Braga mas uma vez mais uma vez mais nunca vi esse emblema com o leão.

Assim se percebe que com a mudança das cores do Clube temos que desde 1921 até 1945, o Sporting Clube de Braga passou a jogar com camisolas vermelhas à Sport Lisboa e Benfica!


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O primeiro emblema do Sporting Clube de Braga era verde e branco. Depois de 1921, após a fusão com o Sport Lisboa - Braga, o emblema passou a ter as cores vermelho e branco. Mais tarde em data que desconheço, foi adaptado o escudo da cidade de Braga alterando as cores de azul para vermelho e branco.


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Fonte: Superbraga


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Fonte: Superbraga.



A costela Benfiquista


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Fonte: BibóBraga.


Reconhecendo a influência Benfiquista... Para lá de Germano Vasconcelos, também Alberto Augusto (outro dos nossos antigos jogadores de quem já por aqui falamos) jogou no SCB em dois períodos distintos. Provavelmente terá ido para Braga por influência de Germano de Vasconcelos que - presumo - nessa altura seria treinador (e jogador?) dos Bracarenses. Alberto Augusto terá sido o primeiro jogador profissional, com remuneração mensal regular do SCB. E lá o vemos com camisolas que certamente seria vermelha como a do seu Benfica.


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Alberto Augusto com as cores do SCB. Fonte: Glórias do Passado.



Os seus nomes encabeçam a lista dos treinadores de futebol que serviram o SCB. Se não estou em erro, Germano e Alberto foram os primeiros treinadores de futebol da história do Sporting Clube de Braga.


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Fonte: http://cochinilha.blogspot.pt/


É pois ridículo que hoje se ignore ou se tente omitir a determinante influência Benfiquista nos primórdios do Sporting Clube de Braga. Só a ignorância e a má-fé podem justificar isso.



Germano, o dirigente

Concluídas as negociações foi nesse ano de 1921 que entraram os estatutos do SCB no Governo Civil de Braga. Desconheço a composição da primeira Direcção do SCB mas sei que a segunda que tomou posse no ano seguinte tinha Germano de Vasconcelos como vogal da Direcção. No entanto, o seu nome não consta da Comissão Organizadora de 1921 que assina os estatutos do Clube.


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Primeiros estatutos do SCB. Fonte: Superbraga.


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Termo de posse da Direcção do Sporting Clube de Braga em 4-12-1922. Esta Direcção foi a segunda do SCB, ou seja a que se seguiu à da Fundação do SCB em 19 de Janeiro de 1921. Entre os Vogais da Direcção contava-se Germano de Vasconcellos. Fonte: Alfarrábios de Braga.



Ao que parece terá estado também acordada uma mudança do nome do Clube após essa fusão mas isso acabou por não acontecer e mesmo com as turbulências e cisões no caminho, Germano de Vasconcelos acabou por aparentemente transigir nesse aspecto. Se deixou cair o nome, o nosso Germano foi inflexível no emblema e nas cores do SCB.

No ano seguinte, para lá das funções que tinha assumido como vogal da Direcção do SCB, Germano de Vasconcelos tornou-se o primeiro presidente da Associação de Futebol de Braga, que tomou posse no dia 7-12-1922 (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_de_Futebol_de_Braga (https://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_de_Futebol_de_Braga)). Este facto atesta plenamente a importância daa figura de Germano de Vasconcelos para o futebol Bracarense na década de 20.


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Acta nº 1 manuscrita e assinatura dos membros da primeira Direcção da Associação e Futebol de Braga. No topo está a assinatura do primeiro presidente da AFB: Germano Vasconcelos, insigne Benfiquista. Fonte: Associação de Futebol de Braga.



Mensagem para levar para casa:

Quando olharem para as actuais camisolas do actual equipamento principal do Sporting Clube de Braga percebam que o formato à Arsenal de Londres foi adoptado em 1945. No início, por volta de 1919, o SCB terá equipado à SCP. Depois por volta de 1921 e até 1944, o SCB equipou à Benfica. Quando virem esse vermelho e branco lembrem-se de que essas cores se devem ao Glorioso Germano de Vasconcelos.

A influência dos valores e da cultura Benfiquista no início da história do SCB é um facto histórico indesmentível. Devia ser motivo de lembrança e orgulho para os adeptos do SCB. Os dirigentes passam mas a história não se apaga. Estou certo que um dia o clube bracarense terá dirigentes que farão a devida justiça à verdadeira história do SCB e ao papel determinante de Benfiquistas como Germano Vasconcelos.



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Sporting Clube de Braga, 1943.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Setembro de 2017, 21:33
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Rebelde com causas


Dia 21 de Julho de 1913, Governo Civil de Lisboa. Um jovem revolucionário sai das instalações da Polícia depois de ser interrogado.


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Esse jovem tinha sido um dos presos pela Guarda-Nacional Republicana na sequência de tumultos violentos verificados na noite anterior em Lisboa. Os incidentes envolveram tiros e bombas, tendo provocado mortes e feridos entre as forças da ordem e entre civis.

O jovem chamava-se Manuel da Conceição Afonso, de origem humilde era um operário linotipista, tipógrafo e um activo anarco-sindicalista. Não obstante essa juventude activamente revolucionária, Manuel da Conceição Afonso viria quase duas décadas mais tarde a ser um dos mais importantes Presidentes da História do Sport Lisboa e Benfica. Muito caminho haveria ainda trilhar. De uma juventude revolucionária até uma maturidade mais pacata com obra feita no Glorioso. Rebelde, sempre, mas com causas.

 
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Governo Civil, exterior e pátio interior (calabouços). Fonte: AML.


Mas o que terá acontecido nesse episódio violento? Qual o contexto sócio-político que explica esses acontecimentos?

Em 1913, Portugal vivia um turbulento período político social e económico. Tinham passado apenas três anos depois do dia 5 de Outubro de 1910. O jovem regime Republicano tentava estabilizar as novas instituições e o quadro socioeconómico do País. Tarefa hercúlea porque partia de um processo revolucionário traumático que levou à queda da Monarquia com derramamento de sangue. Tarefa hercúlea também porque a conflitualidade entre múltiplas facções revolucionárias rivais era extrema e complexa. A situação política e a economia nacional degradavam-se de forma acelerada e com isso a contestação popular subia de tom.

A acrescer a isto, existia também um clima de grande intolerância religiosa, facto que, num País de profunda base Católica, provocava clivagens ainda mais profundas. Essas clivagens estariam na base das muitas e abruptas mudanças sociais e políticas da década seguinte.

Ódios, extremismos, acções violentas urbanas, anos turbulentos de constante intolerância e violência verbal e física. Todas essas convulsões explicam que uma década e meia mais tarde tenha acontecido uma contra-revolução que instaurou uma ditadura em Portugal. Foi uma período de muitos idealismos e poucos brandos costumes,

Nas ruas de Lisboa era frequentes os tumultos revolucionários, num constante fervilhar revolucionário entre grupos rivais. Não havia uma semana em os jornais não noticiassem pelo menos um rebentamento de um engenho explosivo, um tiroteio. Operários, estudantes, jovens idealistas eram muitas vezes os instrumentos desses movimentos revolucionários. Manuel da Conceição Afonso foi um desses jovens. Estavam longe os tempos dos mandatos na Presidência do Sport Lisboa e Benfica...


O local e os acontecimentos


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Fonte: Ilustração Portuguesa.


Na madrugada de 20 de Julho de 1913, no Largo de Santa Marinha, perto do Castelo de São Jorge em Lisboa, dois guardas-republicanos aproximaram-se de um automóvel com as luzes apagadas, estacionado em frente a um tapume de um prédio em obras. Os guardas pediram a identificação aos três ocupantes mas no seguimento dessa acção depararam-se com um cesto com bombas de dinamite no interior do carro.

Os guardas deram imediatamente ordem de detenção aos ocupantes mas quando se dispunham a conduzir os detidos à esquadra, irromperam outros homens vindos de trás do tapume do prédio em obras, que logo começaram a disparar. Os guardas ripostaram gerando-se um tiroteio que terminou quando os revolucionários arremessaram duas bombas sobre os guardas. A explosão de uma dessas bombas decepou a cabeça de um dos guardas e feriu o outro. Este segundo guarda morreria mais tarde já no Hospital da Estrela para onde foi transportado. Estava dado o rastilho para mais tumultos.

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O automóvel que transportava as bombas dos revolucionários.


Ao que parece a intenção dos revolucionários seria vigiar diversos quartéis da cidade de Lisboa no sentido de furtar armamento e explosivos para os seus planos futuros. Em resposta aos tumultos, a polícia apareceu em força, varrendo quem encontrou e fazendo cerca de duas centenas de detenções.

Os detidos foram levados primeiro para a esquadra do Rato e depois para o Governo Civil de Lisboa, para serem sujeitos a interrogatório. Segundo os jornais entre os detidos estavam "rapazes bem trajados e conhecidos pelas suas ideias avançadas". Entre lojistas, carvoeiros, serralheiros e tipógrafos, estava o nosso Manuel da Conceição Afonso, um jovem anarco-sindicalista que começava a destacar-se pela forte ideologia, pelas iniciativas revolucionárias e pela capacidade oratória e mobilizadora. Um líder.


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Algumas das numerosas detenções no âmbito do movimento revolucionário de Julho de 1913. Fonte: Ilustração Católica.


Nis dias seguintes a GNR faria buscas por diversas casas encontrando dezenas de bombas que foram levadas para o Arsenal da Marinha. Alguns populares tomaram a iniciativa de entregar bombas que guardavam. Sucederam-se as denúncias indicando locais onde se encontrava material explosivo. Entre buscas e detenções, os cidadãos de Lisboa e arredores viveram horas de grande sobressalto.


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Populares em frente à Serralharia do revolucionário Narciso dos Santos. Fonte: Ilustração Portuguesa.


No seguimento dos interrogatórios uma parte dos detidos foi transferida do Governo Civil de Lisboa para a casa de reclusão no Castelo de São Jorge. No decurso dos interrogatórios muitos presos foram identificados como agitadores e sindicalistas com doutrinas anarquistas, activamente envolvidos em comícios e em actividades políticas nos meses anteriores. Entre eles estava Manuel da Conceição Afonso.


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Manuel da Conceição Afonso, identificado como um dos ocupantes do automóvel e sujeitado a interrogatórios. Fonte: A Capital, 20-06-1913.



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Manuel da Conceição Afonso, identificado como um dos ocupantes do automóvel, transferido para o Castelo de São Jorge. Fonte: Jornal A Capital.



Os jornais sugeriram que os agitadores terão procurado iniciar um golpe de Estado através da agitação política, da subversão social e da luta armada. Mas também aqui a confusão estava instalada pois apesar de alguns jornais falarem acertadamente de actividades revolucionárias anarco-sindicalistas, outros falaram de revolucionários com convicções monárquicas que queriam reverter o processo de instauração da Republica em Portugal. Provavelmente acontecia tudo ao mesmo tempo, numa sucessão vertiginosa de acontecimentos e num fervor revolucionário que sujeitava a capital do Império a uma violência que hoje se torna difícil acreditar.


O que veio depois


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Fonte: A Capital, 28-08-1913.


Sem para já ter encontrado detalhes sobre o que em concreto aconteceu a Manuel da Conceição Afonso, percebe-se pelos jornais que, para a maioria dos presos, o processo não terá dado em nada. Sem esses elementos de prova precisos e com limitações legais, a maior parte deles terá sido julgado como... vadios, dada a sua presença na via pública aquando dos acontecimentos. "Rigores da lei" comentava o jornal A Capital...

Que consequência terá tido este episódio na vida do jovem Manuel da Conceição Afonso?

Esteve preso mas não terá sido por muito tempo pois mesmo com a limitação da informação, há evidências de que em Março de 1914, prosseguia a sua actividade anarco-sindicalista. Nesse tempo, Manuel esteve na fundação e na liderança da União Operária Nacional, a primeira organização, de âmbito nacional, dos trabalhadores portugueses, criada num congresso em Tomar. Nessa data Manuel da Conceição Afonso tinha apenas 24 anos de idade. Sobre ele, Alberto Miguéns dá-nos interessantes factos biográficos; aqui:
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2012/06/verdades-inconvenientes-3-em-5_22.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2012/06/verdades-inconvenientes-3-em-5_22.html) e também aqui:
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2012/06/hoje-ontem-ja-ganhei-o-dia.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2012/06/hoje-ontem-ja-ganhei-o-dia.html)


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Boletim da União Operária Nacional de 1917. Manuel da Conceição Afonso foi fundador, Administrador e Secretário geral interino dessa organização. Fonte: Portal Anarquista.


E depois o que terá acontecido para que se desse a transição do jovem revolucionário para o homem maduro, ponderado e dialogante que na década de 30? Um homem que durante os seus mandatos na Presidência do SLB, reuniu e negociou com altas figuras de Estado, representantes de um regime ditatorial?

Certo é que Manuel da Conceição Afonso nunca se transformou num simpatizante do antigo regime. Certo é que manteve sempre uma atitude combativa pelas suas ideias, algo que com certeza muito beneficiou a vida associativa do nosso Clube. Olhando para o antes e o depois, percebe-se que a sua evolução como pessoa e cidadão o levou a deixar a militância política activa da sua juventude.

Manuel da Conceição Afonso foi enquanto Benfiquista e dirigente do Clube, mais um (longe de ser o único) dos que contribuíram para que o nosso Clube fosse sempre uma Instituição isenta de tendências ou de activismos políticos ou religiosos. Uma vida interna associativa sem discriminações ou perseguições, um espaço de liberdade, onde os dirigentes foram sempre eleitos democraticamente em voto secreto. Tudo isto ao mesmo tempo que SCP e FCP escolhiam os seus dirigentes por nomeação, entre uma elite que frequentemente era feita de homens com ligações fortes e concretas ao Antigo Regime.

No SLB podemos orgulhar-nos de ter homens da cepa de Manuel da Conceição Afonso, João Tamagnini Barbosa, Júlio Ribeiro da Costa, Augusto da Fonseca Júnior, Duarte Borges Coutinho, todos homens que nunca gozaram da simpatia do Antigo Regime. Antes como hoje, o Sport Lisboa e Benfica esteve e estará sempre pelo desporto, pelo Clube e pelos seus sócios. De Todos, Um.

De tudo o que se disse se percebe que esses tempos pós instauração da Republica foram tempos perigosos, tempos de cólera nos quais Manuel da Conceição Afonso participou e aos conseguiu sobreviver. No seu processo de amadurecimento, talvez tenha progressivamente dado mais atenção ao espírito de um editorial de um jornal diário da altura dos acontecimentos relatados no início deste texto.


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Jornal A Capital. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


É quase inevitável que seu trajecto de vida MCA se tenha desiludido com a hipocrisia dos homens e das suas convicções políticas. É inevitável que tenha sido intimidado pela brutalidade das autoridades da Polícia políticas. Será que em algum ponto sentiu que as suas ardentes doutrinas da juventude serviram mais os interesses e as conveniências de outros homens? Será que desistiu das suas lutas? Intimidado? Desiludido? Com a maturidade terá Manuel da Conceição Afonso atenuado as suas convicções. Ter-se-á resignado com o facto adquirido de viver num regime ditatorial? Tudo questões para as quais não tenho respostas.

Certo é que no início da década de 30, Manuel da Conceição Afonso assumiu pela primeira vez a presidência do SLB. Em 20 Agosto de 1933, tornou-se Águia de Ouro em reconhecimento dos seus consórcios, tornando-se progressivamente pela sua inteligência, dinamismo, combatividade e capacidade de fazer obra, uma das maiores figuras de sempre do nosso Clube.

Manuel da Conceição Afonso foi um homem fascinante, um Benfiquista indefectível, Águia de Ouro com apenas 43 anos de idade e ainda com ainda mais três décadas de vida pela frente. No nosso Clube, enfrentou e contribuiu para resolver situações delicadas mostrando sempre grandes dotes oratórios e um labor incansável. Foi um Presidente que recordamos e saudamos.


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Perfil de presidente. Fonte: sítio oficial do SLB.


Manuel da Conceição Afonso faleceu a 23 de Maio de 1966, no Hospital de Santa Maria em Lisboa. O notícia do seu obito no DL resume a sua vida e a importância da sua contribuição para o SLB e para o desporto Português.

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Fonte: DL 24-05-1966.


   

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Paz à sua Alma; honra à sua memória.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Setembro de 2017, 12:06
-171-
O Sonho, o Homem, a Obra


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Este poderia ter sido o parque de jogos e o Estádio do Sport Lisboa e Benfica construído no início da década de 50 do século XX. Mas não foi.

Este foi o primeiro esboço do plano idealizado para o parque de jogos que poderia ter sido construído na freguesia de Alvalade e não de Carnide/Benfica.

Em 1945, o Engenheiro Mário Pires Ventura, na altura sócio há 20 anos e antigo atleta do Clube, tinha delineado um esboço de projecto para aquilo que se pretendia ser o novo parque desportivo do Sport Lisboa e Benfica.

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Era Presidente do nosso Clube o grande Félix Bermudes, homem-chave do processo de resistência à extinção do Sport Lisboa em 1907 e da junção com o Grupo Sport Bemfica em 1908.

Em 1945, os tempos eram bem diferentes mas o maior problema do Clube era o mesmo de sempre. O Sport Lisboa e Benfica crescia de forma vertiginosa mas não era proprietário de um parque desportivo condigno para as suas actividades e para a sua massa associativa.

Numa entrevista da época, o presidente admitia que semanalmente recebiam 100 novas inscrições de sócio. O campo de jogos no Campo Grande, a velhinha estância de madeiras, apresentava crescentes problemas de manutenção e dispunha de uma capacidade manifestamente insuficiente para o número de sócios que pretendiam assistir aos jogos.


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A necessidade de um novo parque de jogos e de um estádio com maior capacidade impunha-se. A tesouraria dava algum conforto mas ainda assim era necessário ultrapassar o problema de sempre do nosso Clube nos seus primeiros 50 anos: era preciso um terreno.

Ora, nesse tempo o nosso Clube vivia um clima interno de grande emotividade e verbalização apaixonada acerca das opções da Direcção, em particular quanto à escolha do local e a definição do projecto para o novo parque desportivo.

Por outro lado, esse mandato coincidiu com a compra da Sede na Avenida Gomes Pereira e dos terrenos adjacentes, em Benfica. Vários outros Clubes encontravam-se em activa fase de construção de novos parques de jogo, passando a dispor de melhores condições para os seus atletas. No futebol, o número de campos relvados começava a aumentar enquanto que o Benfica ainda jogava no velho pelado do Campo Grande. Era demasiado insuportável para o orgulho dos associados do maior Clube Português.


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Duas imagens similares da mesma época, à esquerda um SLB-SCP disputado no Campo Grande e à direita um CFB-SLB disputado nas Salésias. As maiores diferenças? O pelado do Campo Grande versus o relvado das Salésias e as bancadas sem cobertura do Campo Grande versus as bancadas cobertas das Salésias!



O primeiro projecto apresentado pela Direcção de Félix Bermudes previa que o novo parque desportivo se localizasse perto da então Avenida, hoje Rua Alferes Malheiro e do local onde foi erigido o LNEC, em terrenos contíguos ao Hospital Júlio de Matos.


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O anteprojecto do novo parque desportivo do Sport Lisboa e Benfica entregue na CML em 1945. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Essa localização tinha sido sugerida pela Câmara Municipal de Lisboa aquando de uma reunião onde também foram definidas as localizações dos novos parques desportivos do SCP e do CIF (ambos na zona do Campo Grande). A Direcção de Félix Bermudes aceitou a sugestão da CML e levou-a à consideração dos sócios.


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



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Félix Bermudes, presidente do SLB, expondo as suas razões numa Assembleia Geral do SLB em 1945. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Só que internamente, no nosso Clube, levantaram-se várias vozes contra as propostas do Presidente em particular contra a localização. O argumento mais forte era o de que o SLB ficaria seriamente condicionado caso no futuro pretendesse ampliar o parque desportivo. Era, no dizer dos mais corrosivos, "andar de cavalo para burro". Entre esses contestatários destacaram-se Manuel da Conceição Afonso e Joaquim Ferreira Bogalho, dois prestigiados sócios e Águias de Ouro. Todo esse contexto e esses acontecimentos foram maravilhosamente descritos por Alberto Miguéns, aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/07/acto-4-segunda-presidencia-de-felix.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/07/acto-4-segunda-presidencia-de-felix.html)


Mas, atentemos em alguns detalhes desse primeiro esboço:

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O plano previa um Estádio com terreno relvado e capacidade até 45.000 lugares, incluindo um peão com lugares sentados. À volta do relvado (100 x 70 m) estaria uma pista de atletismo e circundando a pista um velódromo. Para além disto estava prevista uma vedação, numa configuração que fazia com que os sócios ficassem bastante afastados do terreno de jogo.

Depois, estava também prevista a construção de um pelado (100 x 64 m) para treinos de futebol e hóquei em campo, uma piscina, um ringue de patinagem, um campo de voleibol com lotação para 2.000 espectadores, um campo de basquetebol, campos de treino para aquelas modalidades, um court de ténis com lotação para 2.000 pessoas e vários outros campos de ténis para treino e aluguer, e nos extremos do parque desportivo uma carreira de tiro (modalidade popular no nosso Clube nessa altura), com alvos a 50, 100 e 300 metros.

Quando comparamos o anteprojecto de 1945 que foi entregue na CML e o que foi idealizado pelo Arquitecto João Simões e que viria a ser concretizado em 1954 (pelo menos em grande parte):


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Fonte: Restos de Colecção.


Quão diferentes... É claro que devemos ressalvar que o primeiro projecto se tratava apenas de um esboço primário do Engenheiro Pires Ventura. Ainda assim ainda havia muito que evoluir para se chegar a um projecto nivelado com o que veio efectivamente a ser edificado na Quinta de Marrocos, ali na freguesia de Carnide e ao lado da freguesia de Benfica.

Estávamos a menos de 10 anos da conclusão dos trabalhos do novo Estádio e no entanto tanto ainda havia para discutir e para reformular...

Como sabemos, este primeiro projecto acabaria por nunca ser concretizado. A localização prevista foi rejeitada numa renhida mas leal discussão interna em que o papel de alguns sócios mais relevantes foi determinante. As opções e propostas de Félix Bermudes foram rejeitadas nas urnas. Foram rejeitadas democraticamente, como sempre foi apanágio do nosso Clube mesmo em tempos de Ditadura. Os sócios recusaram maioritariamente e pela primeira vez na História do Clube um presidente que se sujeitou a votos não foi reeleito. E ironia do destino, isso tinha de acontecer logo com Félix Bermudes...

No dia 19 de Janeiro de 1946, os sócios votantes optaram por eleger Manuel da Conceição Afonso para presidente da Direcção e João Tamagnini Barbosa para presidente da Mesa da Assembleia Geral. Os sócios são sempre soberanos.



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A notícia da Assembleia Geral do SLB que se desenrolou no dia 19-01-1946. Nos detalhes apresentados estão discriminados elementos da lista oficial (vermelho) e da lista oposicionista (laranja). Fonte: DL.



Como em outras ocasiões de ruptura, a polémica instalou-se. Chegou a haver tentativas de impugnar a Assembleia Geral, aludindo os subscritores da moção, que tinha existido um clima de desordem e de coacções de diversa natureza. As coisa acabariam por acalmar.


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Fonte: DL, 26-01-1946.



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Fonte: DL, 28-01-1946.


O desfecho eleitoral e a rejeição da maioria dos sócios votantes desgostaram profundamente Félix Bermudes. O velho e ilustre Benfiquista chegou a pensar abandonar o Clube. Felizmente a sua reconhecida racionalidade, temperada com o seu enorme Amor ao Clube, fariam com que acabasse por não concretizar essa sua emotiva e radical reacção. Felizmente, a partir de Maio de 1953, Félix Bermudes passou a integrar a Comissão de Honra para a Construção do Estádio tendo depois desfilado na inauguração do Estádio naquele brilhante dia 1 de Dezembro de 1954.


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Félix Bermudes e Ribeiro dos Reis na frente do pelotão de velhas glórias e gloriosos pioneiros que desfilaram felizes e orgulhosos no dia da grande inauguração do Estádio da Luz. Esquecidas as divergências, prevaleceu a alegria de que o Clube passava finalmente a ser proprietário de um parque de jogos condigno com a sua Gloriosa história. Identificam-se também Leopoldo Mocho e José Netto. Fonte: jornal A Bola.


Nesse dia também desfilou António Ribeiro dos Reis, outro dos derrotados dessa noite eleitoral. No entanto Ribeiro dos Reis em 1954 já era novamente presidente da Mesa da Assembleia Geral do SLB, ao lado do presidente Ferreira Bogalho. O Benfica unia-se, depois de tantas cisões, em torno de um projecto mais importante que qualquer homem. Foi sempre assim o SLB. O poder é dos sócios e a sua vontade maioritária é sempre soberana. O Clube é mais importante que qualquer homem.


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Em face daquela eleição de Janeiro de 1946, seriam Manuel da Conceição Afonso e João Tamagnini Barbosa que iriam negociar com o Governo de Portugal a localização definitiva do novo parque desportivo. Descartada a primeira localização sugerida pela CML, a Direcção virou-se para o Governo de Portugal.

E foi nesse contexto que se deu a célebre reunião com o ministro Augusto Cancella de Abreu. Este último, igualmente um grande Benfiquista, era também um homem que via mais longe. Todos eles viram o SLB para lá daquele tempo. Viam o futuro e trabalharam para que ele fosse realidade. Essa reunião foi decisiva para que o SLB tivesse enfim os terrenos e o espaço adequados para construir o seu novo parque desportivo. Nas palavras do ministro, o Benfica era de Benfica e era para Benfica que devia regressar. E assim foi.


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Gabinete de Augusto Cancella de Abreu, ministro das Obras Pública do Governo de Portugal. À direita, usando da palavra está Manuel da Conceição Afonso, presidente da Direcção do S.L. Benfica. Ao seu lado João Tamagnini Barbosa, presidente da Mesa da Assembleia Geral. Os dois homens, que ocupavam então os lugares mais importantes do SLB, intercediam pelo futuro do Clube. Fonte: Em Defesa do Benfica.



O Sonho, o Homem, a Obra

Seria o presidente Ferreira Bogalho o Homem que concretizaria o Sonho. Em Julho de 1953, a equipa do presidente Joaquim Ferreira Bogalho colocaria a nação Benfiquista em movimento para concretizar o projecto idealizado pelo arquitecto João Simões. 




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Um Sonho feito realidade após 50 anos de casa às costas.

Uma Obra concretizada com o esforço e o trabalho de milhares de Benfiquistas.

A mais bela e participada de todas as aventuras Benfiquistas.

Joaquim Ferreira Bogalho e o Arquitecto João Simões lideraram a Obra, mobilizando os Benfiquistas para que a Obra fosse realidade.

A sua memória merece-nos o maior carinho, o maior agradecimento.

Lá, no quarto anel, com tantos outros Ases do Passado, os dois sorriem, confiantes, para o nosso presente e para o nosso futuro.

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Setembro de 2017, 21:39
-172-
Até sempre Alfredo Valadas!

Dia 1 de Dezembro de 1944, estádio do Campo Grande em Lisboa.

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O adeus do Campeão. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Em ambiente emotivo, os sócios do SLB e convidados especiais diziam adeus a uma das lendas do futebol Benfiquista. Foi uma festa bonita organizada para dizer adeus ao jogador Alfredo Valadas, um extremo esquerdo de enorme valor, um homem vertical que fez carreira durante dez épocas no futebol Benfiquista, ao ponto de se tornar numa das referências incontornáveis da Mística e do Amor à camisola.

Os jornais fizeram a divulgação do evento e deram destaque à despedida de um popular e prolífico avançado do futebol Português de então. Um desportista correcto e um homem que fez um trajecto interessante, começando no SCP e terminando como uma figura Benfiquista. Um dos nossos.


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Notícia do Diário de Lisboa de 2-12-1944.


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Emoções a rodos. O presidente interino do SLB, Costa e Sousa, abraça Alfredo Valadas. Era o tempo das emoções depois de um sentido discurso de despedida e agradecimento. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Nesse dia Valadas recebeu o apreço, o agradecimento e o carinho dos seus dirigentes, amigos, companheiros de equipa, sócios, simpatizantes do nosso Clube e até de antigos adversários.

Entre os dirigentes, discursaram para fazer o elogio de Alfredo Valadas, o Dr. Bento Rocha (presidente FPF), o Dr. Ayala Boto (inspector da Direcção Geral dos Desportos). Pelo nosso Clube discursou António Ribeiro dos Reis que deixou para sempre uma expressão marcante: o "tiro à esquerda" de Valadas.


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Parte do elogio de Ribeiro dos Reis a Alfredo Valadas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



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Joaquim Ferreira Bogalho, Victor Silva e Luís Xavier fizeram questão de estar presentes. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Mas para além de antigos e actuais companheiros, a sua festa de despedida teve também a ilustre participação de adversários que integraram uma equipa mista que enfrentou num jogo de futebol uma equipa com os melhores jogadores do nosso Clube. Foi esse o caso de Montez e Francisco Ferreira (V. Setúbal), José Lopes, Gregório, Armindo e Francisco Lopes (Atlético), Carlos Pereira e Palma Soeiro (CUF) e Azevedo, Soeiro e Peyroteo (Sporting).

E assim, de forma inesperada e impensável nos dias de hoje, esses adversários envergaram o equipamento branco, alternativo do SLB, sendo por isso possível ver entre outros, Peyroteo a envergar o manto sagrado!


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Peyroteo, envergando uma camisola do Sport Lisboa e Benfica!
Uma imagem surpreendente que só a festa de despedida a Alfredo Valadas tornou possível. Nesse dia Alfredo Valadas aproveitou também para promover as pazes entre Peyroteo e Gaspar Pinto, adversários que andavam desavindos. Valadas era um atleta valoroso, pacificador, sempre respeitando colegas e adversários. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Na lógica de algum sportinguista de hoje, essa imagem poderia ser interpretada como uma prova de uma predilecção escondida do grande jogador sportinguista. No Benfica isso não se faz. Nesse dia, de forma nobre e em homenagem a um valoroso adversário, o grande avançado sportinguista envergou o manto sagrado durante 90 minutos. Tempos mais saudáveis em que os adversários não eram inimigos.

Findos 40 minutos da primeira parte, Alfredo Valadas foi substituído (presumo que por Rogério Pipi). Recebeu então uma estrondosa ovação que muito o comoveu. Ficava encerrada uma magnífica carreira, que honrou as cores do Glorioso e o futebol Português. Inesquecível.


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Dois instantâneos da festa desportiva e das emoções do dia da despedida de Alfredo Valadas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Uma carreira (quase) sempre a subir


Alentejano de nascimento, Alfredo Valadas nasceu em Minas de São Domingos, freguesia de Corte do Pinto, concelho de Mértola, distrito de Beja.

Valadas deu os seus primeiros passos no Luso Sporting Clube de Beja, clube fundado em 16-06-1916 depois de uma cisão do Águia Foot Ball Club. Em 8-09-1947, o Luso Sporting Clube de Beja juntar-se-ia ao União Sporting Clube e ao Pax-Júlia Atlético Clube para formar o Clube Desportivo de Beja. Ainda assim, os Estatutos do Clube Desportivo de Beja, consideram que a "data da fundação do Clube é 16-06-1916, por ser esta a data da fundação do Luso Sporting Clube, de que o C. D. Beja, como no Artº. 1º se diz é a continuação" (fonte: wikipedia).

   
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Valadas com a camisola do Luso Sporting Clube de Beja. Fonte: Glórias do Passado.


Na sua meninice, Valadas era Sportinguista. Depois, por via do destaque que conseguiu dar ao seu futebol nas três épocas que esteve no Luso Sporting Clube Beja, Valadas conseguiu ingressar no SCP em 1931-1932. Nessa altura os Leões eram treinados por Arthur John e Valadas entrou muito bem na equipa, onde esteve apenas duas épocas. Inicialmente evoluiu como interior esquerdo tendo inclusivamente marcado ao Glorioso.

 
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Valadas de verde e branco e a marcar ao SLB no dia 26-03-1933.


Valadas teve sempre um jogo feito de potência, de entusiasmo pela disputa dos lances e concretizado com o seu portentoso remate. Era um excelente finalizador. O destaque no SCP fez com que logo na sua temporada de estreia chegasse a internacional A por Portugal, num jogo frente à Jugoslávia, no Lumiar em 3-05-1932, onde aliás marcou (vitória de Portugal por 3-2).


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Valadas, ajoelhado, segundo a contar da esquerda, entre os seleccionados para uma selecção de Portugal de 1937, dirigida por Mestre Cândido de Oliveira.


Manteria o rendimento na segunda época passando a ser utilizado como extremo esquerdo. Em duas épocas de verde e branco marcou 24 golos num total de 38 jogos, números de enorme destaque e que mereceram dos dirigentes de leonino a promessa de reconhecimento salarial condigno.

Infelizmente para o SCP, os dirigentes na altura não cumpriram as promessas de lhe assegurar estabilidade financeira e o reconhecimento devido pelo destaque e produção que conseguiu nessas duas épocas de SCP. Em litígio com os dirigentes, Valadas, homem vertical, preferiu passar uma época sem jogar do que continuar num Clube com dirigentes sem palavra. Como diria mais tarde:  "Desde o início, os dirigentes prometeram-me um emprego e não cumpriram; aborreci-me e voltei à terra, onde estive um ano sem jogar para ficar livre".

E assim ficou criada a oportunidade para Valadas mudar de Clube. Os dirigentes do Benfica não hesitaram, fazendo com que Valadas passasse a vestir de vermelho, mudando para o Clube da sua vida. E de facto, como anos mais tarde Carlos Manuel nos disse, é possível mudar de Clube quando se entra muito novo e se faz todo um trajecto de aprendizagem como jogador e como homem num Clube com uma Mística inigualável, uma massa associativa que faz a diferença e acarinha aqueles que honram o manto sagrado.

Valadas ao longo dos seus dez anos de Águia ao peito, fez-se Benfiquista por via da paixão, do carinho, das tardes de Glória que viveu nas Amoreiras e no Campo Grande. Valadas viveu 10 anos de Mística, de inigualável paixão pelo Clube. E inevitavelmente fez-se Benfiquista. Tornou-se um dos nossos, construindo progressivamente uma carreira de 10 anos de Águia ao peito, recheada de golos, de títulos e de carinho por parte dos adeptos Benfiquistas.

Foram muitos os momentos inesquecíveis de Alfredo Valadas mas de entre esses destacam-se os históricos 12-2 que em Fevereiro de 1944 foram servidos ao FCP. Nesse dia Valadas ajudou a dinamitar os Portistas marcando dois golos, um deles o golo inaugural!


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O dia da dúzia. Na vitória estrondosa sobre o FCP por doze a dois, Valadas apontou dois golos e serviu muitos mais para os seus companheiros! Soares dos Reis teve o pior dia da sua carreira. Nunca o FCP sofreu uma derrota tão esmagadora. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Como capitão Valadas recebeu a Taça de Portugal de 1939-1940 depois de um jogo disputado no Campo do Lumiar contra o CFB. Valada marcaria um golo! Ficha de jogo, aqui: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19391940/taca-de-portugal/1940-07-06/sl-benfica-3-x-1-belenenses (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19391940/taca-de-portugal/1940-07-06/sl-benfica-3-x-1-belenenses)


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Alfredo Valadas recebendo a Taça de Portugal de 1939-1940 das mãos de Cruz Filipe, presidente da  FPF. Atrás dele está Brito. Ao lado deste estão César Ferreira, Francisco Rodrigues e Manuel Jordão. Estes três últimos têm aos pés aquilo que parece uma garrafinha de tinto para beber à noite. Para comemorar a vitória pois então!!!


Depois também a Taça de Portugal de 1943-1944, trajecto em que teve a oportunidade de enfrentar em dois jogos o seu Luso de Beja. Em ambos os jogos teve oportunidade de marcar e com que emoção o deve ter feito...

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-22/luso-beja-1-x-4-sl-benfica (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-22/luso-beja-1-x-4-sl-benfica)

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-15/sl-benfica-4-x-1-luso-beja (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-15/sl-benfica-4-x-1-luso-beja)


O trajecto seria concluído com mais um triunfo, seria a terceira Taça de Portugal para Valadas mas já não jogou o jogo da final contra o Estoril (vitória por 8-0). Aproximava-se o fim da sua carreira e o seu lugar estava bem entregue ao grande Rogério Pipi.


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A vitória na Taça de Portugal de 1943-1944. Valadas está à paisana ao lado de János Biri. Aproximava-se o final da carreira e ia já assumindo funções de adjunto do treinador Húngaro.


Muitas conquistas, muita alegria, muita camaradagem fizeram parte de um percurso notável para o qual Valadas muito trabalhou e muito sentiu o que era o SLB. Ele próprio se tornou parte do SLB.


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Alfredo Valadas (primeiro à esquerda), junto dos companheiros, nos balneários a celebrar mais um título de Campeão pelo Benfica! Fonte: O Poço dos nossos Adversários.


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Uma imagem mais recuada. A conquista do campeonato de 1935-1936. Alfredo Valadas (primeiro à direita) no Estádio da Amoreiras integrado numa das mais brilhantes equipas da nossa História. Fonte: O Poço dos nossos Adversários.


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Uma famosa linha avançada Benfiquista, algumas décadas mais tarde. Glórias do Benfica onde estava Alfredo Valadas. Fonte: Em Defesa do Benfica.


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Já na década de 60 e para sempre ligado ao SL Benfica, Alfredo Valadas (de pé, segundo à esquerda com fato azul) foi um ilustre membro do Sport Lisboa e Saudade.


Nesse dia da despedida, Alfredo Valadas deve ter revisto tudo e tido a recompensa por tanta dedicação. E em profunda emoção, com o carinho de família, amigos, todos os Benfiquistas, Valadas sentiu todas as emoções. A noite em sua casa terá sentido que entrava na lenda; nesta lenda de que se faz continuamente o Sport Lisboa e Benfica.


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Entre amigos e família, até sempre Alfredo Valadas! Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Era chegado o tempo para iniciar uma carreira de treinador. Trabalhou inicialmente nas camadas jovens dos SLB e foi também treinador adjunto de János Biri. Mestre Valadas, como depois foi carinhosamente conhecido, fez uma carreira longa onde teve alguns momentos altos interessantes, tais como os vividos no Vitória Sport Club (Guimarães) e mais tarde no Sport Comércio e Salgueiros, entre outros.


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Mestre Valadas no VSC. Chegou a conseguir um excelente 6º lugar no Campeonato de 1948-1949. Fonte: Glórias do Passado.


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Alfredo Valadas faleceu em 1994, com 82 anos de idade.

Paz à sua alma. Honra à sua memória.

Obrigado Alfredo Valadas.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Outubro de 2017, 08:50
-174-
O Olímpico Bermudes (parte I) – Gloriosos tiros


Palácio de Belém, Lisboa, princípio de Junho de 1924:

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A equipa Portuguesa de Tiro concorrente aos Jogos Olímpicos de Paris 1924.


Os nove membros da comitiva Portuguesa da modalidade Olímpica de Tiro visitam o presidente da Republica Portuguesa, Dr. António José de Almeida. Aproximava-se a data da sua partida para França, para participarem nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924.

Entre esses nove atiradores olímpicos estava o Benfiquista Félix Redondo Adães Bermudes. Já com 50 anos de idade, Félix preparava-se para a mais marcante experiência desportiva da sua longa vida de desportista.


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À falta da legenda original fica aqui uma proposta de identificação equipa de Tiro Desportivo concorrente aos Jogos Olímpicos de Paris 1924. As idades indicadas são as que constam dos registos Olímpicos.


Para lá do futebol, Félix Bermudes praticou muitas outras modalidades desportivas durante a sua longa carreira de desportista. Nas suas palavras foi "apenas campeão em Futebol, Atletismo, Esgrima e Tiro". Dividia a sua actividade desportista entre o Sport Lisboa e Benfica e o Lisboa Ginásio Clube onde também foi destacado sócio e dirigente.

Apesar desses destaques vitoriosos, terá sido em 1924 e na modalidade de Tiro que atingiu o zénite como desportista. Em 1924, foi seleccionado e participou nos Jogos Olímpicos de Paris. É desse evento e dessa participação que iremos falar em três textos algo longos mas acredito bastante informativos.


O atirador Félix Bermudes

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Na carreira de Tiro de Pedrouços na modalidade de tiro com espingarda. Félix Bermudes foi um destacado praticante de Tiro. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Antes de mais, há que dizer que Félix Bermudes foi seleccionado pelo mérito desportivo que revelou nas provas de selecção de atiradores Olímpicos Portugueses, feitas especificamente para esse evento de Paris. Essas provas tiveram âmbito nacional e logo o seu desempenho colocou-o na elite dos atiradores nacionais. Convém no entanto referir que nessa data Félix Bermudes já anteriormente tinha dado excelente conta das suas capacidades, com participações e resultados de grande mérito em diversas provas nacionais de Tiro.


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XVIII Concurso Nacional de Tiro, disputado em Cascais em Setembro de 1917. Entre os vencedores, Félix Bermudes segura orgulhoso a Taça de campeão desse importante torneio. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca de Lisboa.


É antigo o interesse e a prática da modalidade de Tiro no Sport Lisboa e Benfica. Esse facto explica-se pela prática iniciada por alguns pioneiros destacados do nosso Clube. Já por aqui falei de José Honorato Mendonça Júnior e do Grupo Pátria, atiradores destacados dos tempos mais recuados do nosso Clube (ver texto "-160- A semente da Farmácia Franco").

Nesses tempos pioneiros e durante as décadas seguintes, o local-chave para a prática de Tiro em Lisboa foi a carreira de 600 metros em Pedrouços. Um dos frequentadores habituais desse local foi o 2º Conde do Restelo, um homem cuja importância para o nascimento e sobrevivência do nosso Clube nunca é por demais relembrar.


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A carreira de tiro de Pedrouços, local frequentado por ilustres pioneiros do SLB. Fonte: AML.


Mas, no nosso Clube, o interesse pela modalidade continuaria pelas décadas seguintes. Percebe-se que Félix Bermudes terá tido uma influência acentuadamente positiva na manutenção e popularidade da modalidade no nosso Clube.



Gloriosos tiros


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Durante várias décadas, o nosso parque desportivo na Avenida Gomes Pereira em Benfica, contou com uma carreira de Tiro. Foi nesse equipamento do nosso Clube que se realizaram sessões de treino e – presumo – de competição.


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Dia 29-04-1938, o presidente Manuel da Conceição Afonso discursa na inauguração do Torneio Armando Murta disputado na carreira de Tiro da nossa Sede na Av. Gomes Pereira em Benfica. Fonte: TT-digitarq.


O primeiro plano para a construção do novo parque desportivo edificado na década de 50 do século XX também contemplava a construção de uma carreira de Tiro. Esse facto sugere que, no Sport Lisboa e Benfica, a modalidade se manteve popular e acarinhada durante décadas.


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Prémios de prova de Tiro organizada pelo Sport Lisboa e Benfica em Março de 1938. Note-se o detalhe da salva de prata cinzelada oferecida pelo nosso Clube. Fonte: TT-digitarq.



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Sessão inaugural da prova de Tiro Armando Murta, organizada pelo Sport Lisboa e Benfica em Março de 1938. Uma modalidade com grande popularidade no nosso Clube. Fonte: TT-digitarq.


Nos próximos dois textos falaremos da experiência olímpica de Félix Bermudes. A sua participação na grande aventura dos Jogos Olímpicos de Paris, 1924.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Outubro de 2017, 20:10
-175-
O Olímpico Bermudes (parte II) – Fora de Paris, dentro dos Jogos


Os Jogos Olímpicos de Paris, 1924


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Os cartazes oficiais, o logótipo oficial para o evento do Comité Olímpico Francês e a medalha-tipo dos VII Jogos Olímpicos da era moderna, disputados em Paris em 1924.


A VIII edição dos Jogos Olímpicos de Verão realizou-se entre 4 de Maio e 27 de Julho de 1924. Paris foi a cidade que recebeu a atribuição dos Jogos, que tiveram a participação de 3.089 atletas em representação de 44 países, num total de 17 modalidades e 126 provas distintas.

Estes foram os segundos Jogos Olímpicos depois do final da I Guerra Mundial, abrindo-se com eles uma nova era, uma vez que pela primeira vez os bilhetes eram vendidos antecipadamente. Foi também em Paris que o lema Olímpico apareceu pela primeira vez: "Citius, Altius, Fortius", ou "mais rápido, mais alto, mais forte". As figuras mais mediáticas do evento seriam o Finlandês Paavo Nurmi com cinco medalhas de ouro e o Americano Johnny Weissmuller (natação) com três, e quee em breve se tornaria o mais famoso Tarzan do cinema.

Quase todo o material gráfico que se apresenta neste e no próximo texto provém do livro oficial dos Jogos.

A maioria das modalidades dos Jogos foi disputada na região de Paris mas as provas de Tiro que nos interessam foram disputadas nas instalações da Sociedade de Tiro de Reims dentro do Parc des Sports e num campo de experiências militar (Infantaria) localizado em Camp de Châlons, perto de Mourmelon.


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Paris, Reims e Mourmelon, locais dos JO de Paris, 1924, Fonte: Google Maps.


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O Comité Olímpico de Portugal (COP) enviou um total de 30 atletas aos Jogos de Paris, 1924. Os atletas disputaram provas em 8 modalidades, a saber, Atletismo, Boxe, Esgrima, Hipismo, Natação, Remo, Tiro e Vela.


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O desfile da Comitiva Portuguesa na cerimónia de abertura dos Jogos de Paris, 1924. O porta-bandeira foi o atirador Olímpico António Martins. Fonte: http://www.aaop.pt/ (http://www.aaop.pt/)


O facto mais notável desta participação foi que se conquistou a primeira medalha olímpica de sempre para Portugal. Foi uma medalha de bronze conquistada na modalidade de equitação, prova de saltos por equipas.


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A equipa Olímpica de Hipismo que conquistou a primeira medalha olímpica (bronze) para Portugal. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


A modalidade de Tiro levou uma comitiva relativamente grande (9 atiradores) tendo as provas decorrido de 21 a 29 de Junho, em Camp de Châlons. Antes e durante as competições, os Portugueses viveram uma experiência olímpica agitada. Nestes textos tentar-se-á fazer uma síntese lúdica e informativa dos mesmos, embora nos viremos sempre mais para a figura de Félix Bermudes.



As provas nacionais de selecção


A participação Olímpica na modalidade de Tiro foi iniciada pelo COP ao encarregar a Federação Nacional de Tiro Português (FNTP) de promover provas de selecção. Pretendeu-se seleccionar uma equipa com os melhores a nível nacional. Para o efeito foram estipulados mínimos olímpicos e foram enviadas circulares a todas as carreiras de Tiro do País. Estas deveriam definir delegações regionais que participassem nos treinos finais de selecção em Lisboa. No entanto, a adesão de concorrentes da então chamada Província não foi muito grande pois os treinos de selecção intermédios foram marcados para Lisboa, implicando isso que os concorrentes civis tivessem de custear do seu bolso a deslocação e a estadia na capital.

Isso talvez explique muita da polémica que envolveu o processo de selecção, com alegações de que existiram "desigualdades de circunstâncias". Os críticos insistiram que a selecção feita pela FNTP acabou por ser uma selecção dos melhores... de Lisboa! Ainda assim as listas de treinos de selecção incluíram pelo menos atiradores de Bragança, Coimbra, Figueira da Foz, Guarda, Leiria, Porto e Viseu.


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Para as selecções finais, a FNTP definiu um elaborado regulamento de treinos, treinos e torneios que, desde Janeiro até Junho, data da partida para França, servissem de eficazes provas para a selecção dos melhores nas modalidades de espingarda e pistola. Nessa fase os seleccionados constavam de 15 atiradores para provas de espingarda e 12 para provas de pistola.

Os reportes desse tempo salientaram Félix Bermudes, cujos méritos competitivos foram reconhecidos apesar de nem sempre conseguir cumprir com regularidade os treinos estipulados.


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Maio de 1924, reporte da Comissão Técnica da FPNT relativo às provas de selecção da equipa olímpica de Tiro para os Jogos de Paris, 1924. Fonte Arquivo COP.


A conclusão das provas finais permitiu definir a equipa nacional, que foi comunicada em ofício da FNTP ao COP em Maio de 1924:


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Maio de 1924, proposta da FPNT ao COP para a lista de inscrições de atiradores nacionais aos Jogos de Paris 1924. Fonte Arquivo COP.


Como se constata, Félix Bermudes foi seleccionado para disputar provas de equipa de arma livre (no caso, carabina a 400, 600 e 800m) e provas individuais de carabina a 50 m. Como veremos adiante, acabou por não ser exactamente assim.

Alguns dos membros da equipa tais como António Martins, António Andrea Ferreira, Dário Cannas e Francisco Montez tinham já experiência Olímpica, pois competiram em Antuérpia, 1920. Pelo que li, apenas Félix Bermudes e Anísio Soares nunca tinham representado o país em provas internacionais. Novato aos 50 anos...

Outro facto interessante é que nessa equipa olímpica de Tiro estavam pelo menos cinco sócios do mais antigo Clube dedicado à prática dessa modalidade, o Grupo Pátria, fundado em 3-09-1893: António Martins, Francisco Mendonça, António Montez, Francisco Real e Félix Bermudes. O antigo Grupo Pátria chama-se actualmente Sociedade de Tiro nº 2 de Lisboa, com sede em... Benfica!


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Actual emblema do Grupo Pátria. http://www.st2.pt/ (http://xn--actual%20emblema%20do%20grupo%20ptria-jbd.%20http://www.st2.pt/)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Outubro de 2017, 11:19
-176-
O Olímpico Bermudes (parte III) – Muitos tiros, poucos pontos

Reims e Châlons


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Entrada principal do Parc des Sports em Reims



A partir dos relatórios do chefe da comitiva e do atirador civil Dário Cannas, dispomos de alguns detalhes acerca da viagem (Lisboa-Paris-Reims-Châlons), do alojamento e da competição em que participou a comitiva Portuguesa:

● Restrições económicas obrigaram os atiradores portugueses a viajar em tempos distintos. Chegaram primeiro os atiradores Mendonça (chefe da missão), Real e Martins, que resolveram diversos problemas burocráticos. Mais perto do início da competição chegariam os restantes, incluindo Félix Bermudes.

● Os alojamentos foram diferenciados. Em Reims o hotel (Grand Hòtel du Lion d'Or) foi considerado excelente embora a comida fosse uma "tragédia" pois era pouca mas cara... Nas palavras deles "O hotel levava os Francos "às cabazadas";


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Grand Hòtel du Lion d'Or, o Hotel em que a comitiva Portuguesa se hospedou em Reims.


● Já em Châlons, o alojamento olímpico foi bem mais modesto, sendo as camaratas consideradas pouco adequadas para acolher atiradores olímpicos.

● A nossa comitiva ficou muito favoravelmente agradada quanto às infra-estruturas da competição, testemunhando também uma muito boa organização dos Jogos.


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A – entrada do local das competições de Tiro dos Camp de Châlons; B – entrada do edifício da organização olímpica local; C – vestiários de competição; D – corredor de circulação exterior das carreiras de tiro.



● Os treinos de adaptação da comitiva Portuguesa foram muito afectados pela falta de armas e munições, retidas nas fronteiras de Espanha e França. Um extravio de uma mala reduziu muito o material disponível, faltando acessórios necessários para a participação nas provas de armas livres.


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A – Comissários técnicos do Comité Olímpico Francês em Reims; B- quadro exterior de afixação dos resultados; C – quadro interior para afixação dos resultados; D – zona de circulação interna nas carreiras de Tiro.



● Inicialmente houve falta de pontualidade em algumas provas. Um dos argumentos da organização do Jogos foi (e sem comentários...): "que ainda não tinham chegado os pretos encarregados do difícil papel de marcadores e graffiers".

● A equipa Portuguesa acamaradou mais com as equipas Espanholas e Argentinas.

● O desequilíbrio de meios era enorme. Algumas das armas da equipa portuguesa estariam melhor em Museus. Face a essas limitações a motivação dos atiradores Portugueses era a de tentar apenas não fazer má figura.

● As provas de tiro de velocidade à pistola evidenciaram a falta de treino e preparação dos Portugueses.

● Nas provas da espingarda os Portugueses queixaram-se de que "não tinham uma única arma aceitável". As limitações impostas pelo material usado foram maiores do que as inerentes à qualidade individual dos nossos atiradores. Existiram também sérias limitações de munições.

● Nas provas de pistola não existiram limitações apenas porque a equipa Americana gentilmente ofertou à equipa Portuguesa alguns milhares de cartuchos.

● Como elemento muito positivo, durante a competição de Reims, os atiradores nacionais constataram a presença entusiástica de muitos seus compatriotas. Cerca de 5000 operários portugueses a trabalhar, contribuindo significativamente para a construção das instalações olímpicas para a modalidade de tiro. Para os nossos atiradores foi comovente ver a genuína alegria desses emigrantes Portugueses ao ver a bandeira com as quinas hasteada no local que ajudaram a construir. É de sempre o nobre sentimento Português de Saudade da Pátria.


Resultados


A equipa Portuguesa foi bem acolhida apesar de se perceber que existiam diversas condicionantes materiais e humanas para que pudesse ter resultados de monta quando começasse a competição olímpica. E, infelizmente, assim seria.

Na competição olímpica foram disputadas 4 provas distintas de Tiro, envolvendo 20 nações:

● Carabina a 50 m, Individual (55 atiradores, 19 países);

● Tiro arma livre a 600 m, Individual (73 atiradores, 19 países).

● Pistola automática ou revólver a 25 m, Individual, (55 atiradores, 17 países);

● Tiro arma livre a 400, 600 e 800 m, Equipas, (88 atiradores, 18 países);


Tabelando os resultados para mais fácil compreensão:


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Verifica-se que a participação de Félix Bermudes não teve nenhum destaque especial. Participou apenas na prova por equipas de tiro com carabina a 400, 600 e 800 m. Estando inicialmente seleccionado para a prova individual de arma livre, a explicação para a sua ausência na lista de competidores poderá ter ficado a dever-se a uma limitação do número de atiradores por país e/ou por qualquer decisão interna da equipa.

Essa possibilidade deriva tanto mais quanto se percebe que antes das provas olímpicas realizou-se um torneio internacional onde Félix Bermudes chegou a receber uma menção honrosa pelo virtuosismo como atirador. Alguma coisa terá acontecido.


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Telegrama de 21-06-1924 de Francisco Mendonça, comunicando ao COP em Portugal de prémios de "virtuosidate" em pistola a Félix Bermudes. Fonte: Arquivo COP.



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Excertos dos relatório oficiais do COP, escrito por F. Mendonça (chefe de missão) relativo ao torneio pré-olímpico de Tiro em Paris 1924. Fonte: Arquivo COP.



Nessa competição pré-olímpica, Portugal até conseguiu um honroso 9º lugar entre 17 nações. Félix Bermudes contribuiu como o terceiro melhor entre os cinco atiradores Portugueses em competição. Prometia ser interessante a nossa participação olímpica.

Antes do balanço final dessa competição de Tiro e para tornar menos maçudo este texto acabo com uma série de imagens montadas a partir do que foi publicado no Livro Oficial dos Jogos Olímpicos de Paris, 1924.


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Competição de carabina a 50 m. A – interior da carreira de tiro; B- vista superior; C – corte transversal; D – vista interior.



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Competição de arma livre a grandes distâncias. A - alvos para as provas de carabina: à esquerda alvo para tiro de armas livres, à direita alvo para tiro a 50 m; B- grupo de marcadores e graffiers da prova por equipas; C – momento das provas de competição de tiro de arma livre; D - momento da prova de tiro a longa distância, de arma livre por equipas; E – conjunto de alvos usados na prova de tiro de arma livre a 800 m; F - Desenho da carreira de tiro para grandes distâncias (400, 600 e 800 m).



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Competição de pistola. A – alvos-silhueta para a prova de tiro com pistola; B – carreira de tiro para as provas com pistola; C - detalhe do alvo-silhueta para as provas de pistola; D – zona interior dos alvos.



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Diplomas Olímpicos, nem todos os podem ganhar... A - diploma Olímpico de Paris, 1924. Existe uma referência de que Félix Bermudes terá tido um diploma olímpico, mas na verdade não confirmei essa alegação. Talvez fosse um certificado de presença. B - local de exposição dos prémios do evento Olímpico de Tiro.



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António Augusto da Silva Martins

Entre os Portugueses, companheiros de armas de Félix Bermudes, merece-nos particular destaque o Dr. António Augusto da Silva Martins, médico-cirugião, antigo militar do CEP.

Foi o melhor de todos os atiradores Portugueses em Paris 1924. Pertencia também ao antigo Grupo Pátria, tendo competido nos Jogos de Antuérpia 1920 e Amesterdão 1928.
Foi um notável desportista, campeão de atletismo com a camisola do CIF.

Em 1928, ano em que se classificou em 1º lugar no Campeonato do Mundo com espingarda de guerra , foi o único ano em que o tiro não foi incluído nos Jogos Olímpicos ! ( por desacordo do COI com a  Federação Internacional. ?). Equivale isto a dizer que se essa especialidade tivesse sido incluída, Portugal teria sido representado por um Campeão do Mundo.

Morreria tragicamente em Outubro de 1930, vítima de um funesto acidente durante uma sessão de treinos na carreira de Tiro em Pedrouços. Tinha apenas 38 anos de idade.
Deixou mulher e três (3) filhos (2 rapazes, depois Médicos Cirurgiões e uma filha, depois Enfermeira e Psicóloga). Um desse filhos é o Professor Doutor António Gentil Martins, igualmente atirador olímpico em Roma, 1960. Ler mais em: http://www.dn.pt/desporto/interior/gentil-martins-escreve-sobre-o-pai-o-atleta-portugues-mais-completo-de-todos-os-tempos-5318841.html (http://www.dn.pt/desporto/interior/gentil-martins-escreve-sobre-o-pai-o-atleta-portugues-mais-completo-de-todos-os-tempos-5318841.html).


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Fonte e imagens: TT-digitarq e http://www.aaop.pt/en/category/25-antonio-augusto-da-silva-martins.html (http://www.aaop.pt/en/category/25-antonio-augusto-da-silva-martins.html)


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Balanço da competição


● Os atiradores Portugueses consideraram que os resultados da competição olímpica foram melhores do que o esperado.

● Os atiradores Portugueses salientaram as enormes diferenças de qualidade entre as (excelentes) carreiras de tiro da competição Olímpica e as existentes em Portugal, que, sendo militares, impunham sérias limitações à prática de treinos diários.

● Os atiradores da comitiva Portuguesa manifestaram o desejo que no futuro pudessem ser dados meios que lhes dessem mais hipóteses competitivas.



Epílogo

Pelos factos agora descritos, presumo que para Félix Bermudes, esta experiência olímpica de Paris 1924 terá sido um momento decisivo na sua história de vida pessoal. De Félix Bermudes não temos, ou pelo menos não conheço, testemunhos detalhados em voz própria, sobre a sua vida ecléctica e campeão de desportista. É pena, pois tão brilhante personalidade do desporto e das Artes em Portugal, teria tido todo um mundo de recordações para nos contar.

Em jeito e balanço a estes três últimos textos, fico satisfeito com o resultado final, com aquilo que passei a saber sobre esta modalidade e sobre este evento. Mais uma homenagem que pretendi fazer a este grande homem, a este grande Benfiquista.


Para sempre
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Outubro de 2017, 21:07
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Tamancos de oiro (parte I) – por terras do Sul

Dia 7 de Janeiro de 1926. Campo Grande, Stadium de Lisboa.


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Raúl Soares de Figueiredo
(Setúbal 21-01-1902 – Lisboa 2-12-1941)



Duas equipas de futebol alinhadas, perfazendo um total de 22 jogadores, posam para uma fotografia. Entre eles destaca-se um jogador que mostrava algumas das maiores virtudes da sua carreira: alegria, irreverência e companheirismo. Hoje desconhecido para a maior parte dos Benfiquistas, esse homem chamava-se Raúl Soares de Figueiredo, mas para sempre ficou conhecido como o "Tamanqueiro".

"Tamanqueiro", aquele que faz e/ou vende tamancos; alusão à profissão do seu Pai. Mas esse filho nunca jogou de tamancos.


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Tamanqueiros, profissão antiga, hoje em extinção. Fonte: http://etnografiaefolclore.blogspot.pt/ (http://etnografiaefolclore.blogspot.pt/)



O Tamanqueiro morreu cedo. Morreu no já longínquo ano de 1941, com apenas 39 anos de idade. Morreu vítima de uma doença cancerosa galopante, culminando de forma trágica uma vida intensa, irrequieta, buliçosa, lutadora, enfrentando quase sempre grandes dificuldades económicas. Mas para lá do drama que foi o seu final de vida, ficou a recordação de um jogador único que viveu períodos brilhantes, cheios de grande futebol, alguns dos quais passados de águia ao peito.

Quando parti para abordar esta figura curiosa da nossa História tinha pouco mais de um punhado de fotos e escasso conhecimento. Pretendia fazer um texto. Facto após facto, documento após documento, de fotografia em fotografia, a figura do Tamanqueiro e a riqueza da sua vida de desportista forçou a dilatação deste trabalho para cinco textos!

Neles tentarei descrever alguns dos principais momentos da vida curta mas intensa do Tamanqueiro. E que o leitor não se deixe enganar, pois apesar de na aparência serem textos longos, não lhe darão toda a riqueza da vida do Tamanqueiro. Antes, atestarão a dimensão da ignorância do autor que mesmo cometendo erros (dos quais se desculpa, por antecipação), pretende prestar uma homenagem sincera a um homem e um jogador que merece ser conhecido e lembrado pelos Benfiquistas.


Os cinco textos serão:

•   Tamancos de oiro (parte I) – por terras do Sul

•   Tamancos de oiro (parte II) – as quinas da glória

•   Tamancos de oiro (parte III) – o Glorioso Tamanqueiro

•   Tamancos de oiro (parte IV) – do Sado ao Rio.

•   Tamancos de oiro (parte V) – o Benfica não esquece os seus!




Um jogador diferente

Foi um dos mais reputados jogadores Portugueses da década de vinte. Em 1926, data em que foi captada a fotografia com que começamos o texto, o Tamanqueiro tinha já um nome prestigiado no futebol Português. No ano anterior tinha conquistado a titularidade na Selecção Nacional, apesar de ainda jogar num pequeno clube, longe, bem longe de Lisboa e do Porto. A ascensão do Tamanqueiro foi conquistada com o mérito do seu futebol, da força, da garra, do talento.

Voltando à fotografia com que começamos este primeiro texto, há que referir que foi captada antes de um jogo-treino de uma selecção de Lisboa contra uma equipa mista formada por jogadores de vários clubes. Alguns dias depois essa selecção iria disputar um jogo contra uma selecção do Porto. Grande parte deles eram titulares da Selecção Nacional Portuguesa.

As referências no jornal indicam que a base da equipa mista seria do Carcavelinhos FC, e de facto lá está Carlos Alves, o seu jogador mais famoso, o primeiro luvas-pretas, avô de João Alves. No entanto nota-se que os equipamentos que usaram pareciam mais semelhantes aos do Império Lisboa Clube ou até mesmo (preto e branco...) aos do Olhanense. Tinha também a curiosidade de apresentar pelo menos três Benfiquistas: Manuel Arsénio (guarda-redes), Vítor Hugo (médio) e Artur Travaços (médio).


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Dia 7-01-1926, Campo Grande, Stadium de Lisboa. Treino da Selecção de Lisboa contra uma equipa formada por um misto de jogadores de diversos clubes. Fonte: TT-digitarq.



Uma carreira buliçosa


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As cores e emblemas de alguns dos principais clubes nacionais onde o Tamanqueiro fez a sua carreira. O SC Olhanense foi o clube onde permaneceu mais tempo. Nota: foi adicionado um emblema ao cromo original do VFC (não tinha) e do adaptou-se um outro cromo para produzir o do SCO.



Durante quase duas décadas, o Tamanqueiro, espalhou classe e alegria nos campos de futebol. Foi um jogador virtuoso, um jogador de equipa, de carácter forte e generoso. Fora de campo foi um homem que teve sempre dificuldades em estruturar a sua vida. Um espírito irrequieto dado à boémia e a alguns prazeres da vida. Fumar... um desses prazeres; outros havia que também não o ajudaram a harmonizar a sua vida privada e muito menos a sua vida de desportista. Excessos.

Hoje teria tudo para ser mais uma das estrelas que vemos com a vida exposta e explorada pelos media. Esse "estrelato" efémero, hoje tão comum, que paga bem mas que castra a autenticidade, que rouba a privacidade e que por vezes destrói carreiras e vidas. No seu modo e no seu tempo, salvaguardadas as distâncias, também o Tamanqueiro viria a ser vítima de si próprio, nunca estabilizando, nunca tirando total partido do talento com que nasceu. Quem sabe o que nos teria dado se tivesse estabilizado mais anos no Benfica? Em grande parte, esses excessos ajudam a perceber essa carreira errante, nómada, cheia de altos e baixos. A estrada dos excessos nem sempre leva ao palácio da sabedoria... Mas lá chegaremos.


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Um trajecto de constante nomadismo desportivo. No SL Benfica o Tamanqueiro esteve durante três temporadas.


Raúl Soares de Figueiredo nasceu no princípio de 1902, segundo alguns autores em Setúbal, segundo outros na freguesia de Campo de Ourique, Lisboa. À falta de comprovativo oficial, tomo como válidos documentos do Comité Olímpico Português que indicam que terá nascido em Setúbal no dia 21 de Janeiro de 1902.

O jovem Tamanqueiro cedo mostrou muita da paixão pelo futebol, quando, ao que se diz, com apenas 10 anos de idade formou um "clube" a que deu o nome de Tamanqueirense Foot-Ball Club...

Já um pouco mais a sério, o jovem Tamanqueiro terá começado nos escalões de formação do Vitória Futebol Clube, passando depois brevemente pelos do Sporting CP e do Carcavelinhos FC. A carreira sénior, essa parece tê-la começado no União Avenida Futebol, um outro clube de Setúbal, que presumo esteja extinto.



Olhão, a mais querida


A ascensão ao topo do futebol Português começaria quando em 1922 se transferiu para o Algarve, para o Sporting Clube Olhanense. O SCO, fundado em 27-04-1912, tinha como presidente Cândido Ventura, um homem que sonhou fazer do seu clube o campeão do Algarve. Sabedor das entusiasmantes capacidades do Tamanqueiro, não descansou enquanto não conseguiu a sua contratação. Mas talvez nem ele soubesse o quão acertada foi essa contratação.



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A - Cândido Ventura, presidente do SCO na década de 20. B - Estádio Padinha (imagem de 2003), onde o Tamanqueiro teve muitas tardes de glória. Fonte: Olhanense.net.


E assim, no dia 16 de agosto de 1922, com pouco mais de 20 anos de idade, o Tamanqueiro fez a sua estreia pelo emblema de Olhão, num jogo frente ao Lusitano de Vila Real de Santo António, a contar para a Taça Nossa Senhora dos Mártires, de Castro Marim (fonte: http://museuvirtualdofutebol.blogspot.pt (http://museuvirtualdofutebol.blogspot.pt)).


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Raúl "Tamanqueiro" em duas equipas da sua primeira temporada no SC Olhanense (1922-1923). A fotografia de baixo foi tirada num jogo disputado em Sevilha, Espanha. Fonte: Olhanense.net (por sinal, uma excelente base de dados).



Nessa época de 1922-1923, o SCO foi finalista vencido da Taça Algarve, não participando depois no Campeonato do Algarve, por via de um protesto vindo dessa polémica final (contra o SC Farense). Mas na época seguinte tudo seria diferente. Em 1923-1924, o SC Olhanense jogando um futebol entusiasmante, arrasador para os adversários, conquistou a Taça do Algarve e o Campeonato do Algarve, ou seja venceu tudo o que havia para vencer no Algarve.

Mas mais se seguiria.De forma ainda mais surpreendente, o SC Olhanense sagrou-se depois vencedor do Campeonato de Portugal, a competição mais importante a nível nacional e a antecessora da actual Taça de Portugal. Na arrebatadora final desse ano, em pleno Stadium de Lisboa, o SC Olhanense derrotou o FCP por conclusivos 4-2. Marcaram pelos Algarvios, Delfim, Gralho, Belo e... Raúl Tamanqueiro. Um feito extraordinário para a época!


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Notícia da conquista do Campeonato de Portugal de 1923-1924 pelo Sporting Clube Olhanense. Amplo destaque dado ao Tamanqueiro, na altura médio-centro dos rubro-negros. Fonte: DL 9-06-1924, DL, CasaComum.org.



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As felicitações do jornal O Algarve (sediado em Faro...) pela conquista do Campeonato Nacional de 1923-1923 pelo SC Olhanense. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.

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Vencedor do Campeonato de Portugal! Um ano de glória para Raúl "Tamanqueiro" e seus companheiros. Aí vemos o "Tamanqueiro" assinalado na equipa vencedora do campeonato de Portugal de 1923-1924. A Taça apresentada é a do Carcavelinhos FC (de 1927-1928) e logo similar à do SCO. Obrigado a AM e RD pela contribuição. Em cima, à esquerda, a receber a Taça de vencedor de Campeão Regional do Algarve. Fonte: Olhanense.net.



Este feito só não foi repetido na época seguinte porque chegando à final, o SCO foi derrotado pelo SCP na meia-final no Stadium do Lumiar, por 0-1. O jogo teve um final de particular dramatismo quando, aos 90 minutos de jogo, o árbitro madeirense Mário Simões assinalou uma grande penalidade muito polémica. Apesar dos veementes protestos dos algarvios, o SCP lá marcou o seu golo e lá passou à final. Zanga entre sportings. Não foi bonito de ver... De nada valaria aos verde-brancos pois perderiam a final para o FCP por 1-2 num jogo disputado em Viana do Castelo. Nem sempre compensa...

Mas voltando à grande vitória Olhanense de 1923-1924, no final desse célebre jogo, Manuel Teixeira Gomes, presidente da República de Portugal, fez questão de cumprimentar e entregar as medalhas de Campeão de Portugal aos vencedores. Ao que se diz teve palavras especiais para com o Tamanqueiro. Anos mais tarde, já no exílio, o mesmo Manuel Teixeira Gomes, um Algarvio, natural de Vila Nova de Portimão, deixaria impressivas memórias sobre o Tamanqueiro, quando foi citado por Norberto Lopes em O Exilado de Bougie (fonte: http://www.monarquicos.com/forum/viewtopic.php?t=1135&sid=6 (http://www.monarquicos.com/forum/viewtopic.php?t=1135&sid=6)):


(https://s1.postimg.org/7vwarr3min/1_11.jpg)



Tamanqueiro no campo e... na lota!


Nesse tempo o profissionalismo estava interdito aos jogadores de futebol. Ainda assim, vivia-se um clima de enganos uma vez que alguns clubes faziam pagamentos escondidos aos jogadores. Como alguns anos mais tarde disse o imortal Albino, os jogadores recebiam uns "temperos". Não eram no entanto suficientes para os jogadores sustentarem as suas famílias e assim, a maioria tinha de manter uma outra actividade remunerada.

Estando em Olhão, o sadino Tamanqueiro ganhava a vida como vendedor de peixe nas ruas de Vila. Uma actividade que provavelmente já lhe era familiar na sua terra natal. Há ainda alusões de que poderá ter trabalhado na indústria conserveira de Olhão. Dessa imagem dura mas poética de um Tamanqueiro a circular pelas ruas de Olhão na sua labuta diária de compra e venda de peixe, nos conta ainda um pouco mais o Doutor R. Kumar na sua tese de 2014 "A pureza perdida do desporto: futebol no Estado Novo":

Em Olhão, em tempos de um semi-profissionalismo encoberto, "criou amizades. Como conhecia o negócio do peixe, viu que esta praça era bastante comercial e lhe dava margem para ganhar mais dinheiro. Ficou, e no Cais de Olhão, descalço e de calças arregaçadas comprava e vendia cabazes de sardinhas"


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Olhão antiga, imagens que foram familiares ao Tamanqueiro. Fonte: http://www.olhao.web.pt e http://obatestacas.blogspot.pt (http://www.olhao.web.pt%20e%20http://obatestacas.blogspot.pt)



Na sua primeira passagem por Olhão, o Tamanqueiro terá deixado muitos afectos no campo e na lota. Afectos onde jogou futebol e onde ganhou duramente a vida. Não tinha tido, nunca teve depois, uma vida particularmente organizada. Ganhava o pão a duras-penas mas com um sorriso nos lábios. O mesmo sorriso que exibia no campo, com a força e atitude que fizeram dele um jogador inigualável na sua época, reconhecido e querido por companheiros e adversários.

Na sua primeira passagem por Olhão, o Tamanqueiro jogou quatro temporadas, o suficiente para se tornar-se no maior jogador da história do SC Olhanense. Elevou-se a essa glória tremenda mas efémera pela sua indesmentível classe, pela quantidade e qualidade de jogo, pelo companheirismo e pela capacidade de motivar os colegas. Era uma estrela num tempo em que as estrelas tinham pouco proveito material. Que pena que hoje esteja tão esquecido!

Nessas quatro épocas, o SCO, jogando já no mítico pelado do Estádio Padinha, conquistou um Campeonato de Portugal (1923-1924), dois campeonatos regionais do Algarve (1923/24 e 1924/25) e duas Taças do Algarve (1923/24 e 1924/25).

Mais tarde, deixadas para trás tardes de glórias nacionais e internacionais, o Tamanqueiro regressaria a Olhão para por lá cumprir uma segunda passagem. Com algumas intermitências, diga-se, pois entre 1928 a 1932, a espaços, ainda jogou como jogador-treinador em Espanha, no Recreativo de Huelva. Ao que parece mostrou ainda muito do fulgor dos primeiros anos; e sempre a mesma personalidade.


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Dia 29-03-1930, visita de uma comitiva do SC Olhanense ao jornal O Século. Fonte: TT-digitarq.



Em 1929, o Recreativo de Huelva apesar de ser um dos clubes mais antigo de Espanha (fundado em 1889) estava na terceira divisão Espanhola. Ainda assim terá sido uma boa oportunidade de carreira para o Tamanqueiro, mesmo que com diversas intermitências.


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A inconfundível pose do Tamanqueiro também nos seus tempos de Huelva. Fonte: http://www.vivamirecre.com (http://www.vivamirecre.com)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Outubro de 2017, 10:40
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Tamancos de oiro (parte II) – as quinas da glória

Dia 17 de Maio de 1925. Selecção nacional de futebol de Portugal alinhada antes do início de mais um jogo.


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Dia 17 de Maio de 1925, dia de estreia do Tamanqueiro na Selecção Nacional de Portugal. Derrota contra a Espanha (0-2).



Em 1925, o "Tamanqueiro" foi convocado pela primeira vez para a Selecção Nacional Portuguesa de futebol. A convocatória foi assinada pelo António Ribeiro dos Reis, o seleccionador nacional dessa altura. Não obstante a novidade da chamada, a exigente crítica jornalística dessa época aplaudiu a escolha do Tamanqueiro, não poupando nos adjectivos elogiosos para com o jogador:


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A avaliação de Raúl "Tamanqueiro" feita por um crítico do jornal "Os Sports". Uma colecção impressionante de adjectivos. Fonte: Ephemera.




Esse jogo foi disputado no Stadium do Lumiar contra a forte selecção de Espanha. Jogando ao lado de Delfim, um dos seus colegas do SCO, o Tamanqueiro estreou-se, brilhando entre os craques já com nome feito. Essa selecção, contava que com dois Benfiquistas Mário de Carvalho (AV) e o popular Chiquinho (GR), apesar dos bons valores não evitou a derrota perante os Espanhóis (0-2). Esse foi o terceiro embate da história da nossa selecção contra a Espanha e foi também a terceira derrota.


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Recortes da reportagem do jogo Portugal 0 - Espanha 2 disputado em Lisboa no 17-05-1925. Foi o dia da estreia do Tamanqueiro. Fonte: DL, CasaComum.org.



Não obstante ter acontecido mais uma derrota da nossa selecção, a exibição do Tamanqueiro agradou muito. Com a excelência desse desempenho e com a constância das suas belas exibições ao serviço do SCO, o Tamanqueiro pegaria de estaca na selecção. Formou durante vários anos uma famosa linha de meio-campo com os dois Belenenses Augusto Silva e César Matos. Em 1928, seria justamente esse o meio campo que jogaria de forma brilhante nos Jogos Olímpicos de Amesterdão. Quando foi convocado para essa competição olímpica, a primeira grande competição internacional em que o futebol Português participou, o Tamanqueiro brilhava já com o manto sagrado.



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O famoso meio-campo Português da Olimpíada de Amesterdão, 1928. Fonte: TT-digitarq


Ao serviço da Selecção Nacional, o Tamanqueiro faria vários jogos fora de Portugal, facto que deu consistência e experiência à equipa nacional e seria de grande importância para a brilhante participação nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928.


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Uma imagem do França 1 – Portugal 1 de Abril de 1928 disputado em Paris. Destaque visual para o Tamanqueiro. Fonte: Gallica.



Nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928, o SL Benfica teve três atletas de futebol: Jorge Tavares, Vítor Silva e o Tamanqueiro. Finda a competição olímpica, um outro jogador dessa equipa, Aníbal José ingressaria no Benfica vindo do Vitória de Setúbal. Jorge Tavares e Aníbal José acabaram por não jogar, tapados que estavam por diversos outros excelentes jogadores.


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Para o nosso futebol, os Jogos de Amesterdão, 1928, foi um daqueles momentos raros em que um grupo especial de excelentes jogadores pôde ser reunido numa única equipa consistente, coesa e bem orientada. Eram quase todos os melhores da sua geração, os quais, sentindo a responsabilidade de representar um País que vivia um momento de particular nacionalismo, souberam unir-se para jogar bom futebol e prestigiar o País. Foi bonito.

A selecção preparou-se bem, com vários jogos particulares contra opositores de grande qualidade: Espanha. França, Itália e Argentina. Houve planificação e matéria-prima de qualidade. Houve também um treinador de excepção, um homem superior chamado Cândido de Oliveira. Perto dele e com funções de orientação e coordenação mais geral estiveram ainda homens de grande gabarito como Ribeiro dos Reis e Ricardo Ornelas, seus colegas casapianos, e ainda Salazar Carreira, um homem do desporto mas muito bem relacionado com as esferas políticas da altura.


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A célebre Selecção Nacional de futebol Olímpico que representou Portugal nos Jogos de Amesterdão, 1928. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Em Amesterdão, Vítor Silva e o Tamanqueiro foram titulares nos três jogos que a nossa selecção disputou. Cotaram-se entre os mais destacados elementos da equipa. E que equipa era aquela... Por lá estiveram jogadores como o sportinguista Jorge Vieira, os belenenses Augusto Silva e Pepe, o alcantarense Carlos Alves, o casapiano Roquete, entre outros.

Ainda assim e mesmo entre tantos craques, o futebol entusiasmante e as habilidades do Tamanqueiro não passaram despercebidas aos críticos mais exigentes do Torneio.


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Três décadas antes de descobrir José Augusto e a mística Benfiquista, já Gabriel Hanot, o célebre jornalista do L'Equipe tinha elogiado um outro valoroso Benfiquista: o Tamanqueiro, com certeza! Fonte: BND.



De 1925 até 1930, até ao último jogo internacional da sua carreira, o "Tamanqueiro" somou 17 internacionalizações. Este número, no contexto dessa década, até foi bastante apreciável atendendo à escassez de jogos internacionais. Ao todo, foram 6 vitórias 4 empates e 7 derrotas. Entre elas particular destaque para as vitórias dos Jogos olímpicos de Amesterdão e a vitória de 1925 contra a Itália, um jogo que marcou a primeira vitória de sempre da nossa Selecção.


(https://s1.postimg.org/4291tsk8b3/2_09.jpg)
As 17 internacionalizações do Tamanqueiro.


É ainda possível ver imagens em movimento do jogo em que Portugal defrontou a Espanha no dia 8 de Janeiro de 1928. Empate a 2-2. Filmagens do Tamanqueiro e colegas de equipa:

https://www.youtube.com/watch?v=INYeLBu5Yjc (https://www.youtube.com/watch?v=INYeLBu5Yjc)


(https://s1.postimg.org/8pk7mu3xpr/2_10.jpg)
Imagens de algumas das 17 internacionalizações do Tamanqueiro entre 1925 e 1930.


A sua última internacionalização chegaria no dia 23 de Fevereiro de 1930. Vencemos a França (2-0) num jogo disputado no Porto. E, facto relevante, o Tamanqueiro cumpriu essa última internacionalização usando a braçadeira de capitão de equipa. Uma honra bem merecida.


(https://s1.postimg.org/5dvk2qdlxb/2_11.jpg)
Equipa Nacional que defrontou a França em 1930. Foi o último jogo internacional do Tamanqueiro. Ali o vemos co o galhardete que ofertou à Selecção Francesa.



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Porto, 23 de Fevereiro de 1930, a última internacionalização do Tamanqueiro, que troca cumprimentos e galhardetes com o capitão Francês. Note-se o detalhe delicioso de dois jogadores Franceses enternecidos com um cabrito levado para o campo. Apesar do pequeno cabrito ser adoptado pelos Franceses como a sua mascote, de nada lhes valeu pois perderam e bem, com dois golos de Pepe! Fonte: Gallica.



(https://s1.postimg.org/11wqv78v3z/2_13.jpg)
Fonte: DL 24-01-1930. DL, CasaComum.org



(https://s1.postimg.org/8jntfudvyn/2_14.jpg)
As quinas da Glória para quem nunca jogou de tamancos!
Raúl Soares Figueiredo
(Setúbal 21-01-1902 – Lisboa 2-12-1941)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 19 de Outubro de 2017, 21:12
RedVC, já que este teu maravilhoso tópico se chama "Decifrando imagens do passado", consegues-me contextualizar esta foto?

(https://thumb.ibb.co/fcxeMR/4154_ALVALADEPORTRASCAMPOGRANDE.jpg) (https://ibb.co/fcxeMR)

O que me faz confusão é o seguinte. Isto é o Estádio do Campo Grande, certo? O Benfica jogou nele até 1954, altura em que saiu para nossa querida antiga Catedral, certo?

Mas o Estádio de Alvalade não foi construído e inaugurado em 1956? Como é que há esta imagem dos 2 campos em simultâneo e o Benfica ainda a jogar no Campo Grande?

Ou esta foto será pré (ou inclusivé) 1954 e o que vemos lá atrás é Alvalade, mas ainda a ser construído?

Saudações Benfiquistas!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Outubro de 2017, 21:57
Citação de: Bakero em 19 de Outubro de 2017, 21:12
RedVC, já que este teu maravilhoso tópico se chama "Decifrando imagens do passado", consegues-me contextualizar esta foto?

(https://thumb.ibb.co/fcxeMR/4154_ALVALADEPORTRASCAMPOGRANDE.jpg) (https://ibb.co/fcxeMR)

O que me faz confusão é o seguinte. Isto é o Estádio do Campo Grande, certo? O Benfica jogou nele até 1954, altura em que saiu para nossa querida antiga Catedral, certo?

Mas o Estádio de Alvalade não foi construído e inaugurado em 1956? Como é que há esta imagem dos 2 campos em simultâneo e o Benfica ainda a jogar no Campo Grande?

Ou esta foto será pré (ou inclusivé) 1954 e o que vemos lá atrás é Alvalade, mas ainda a ser construído?

Saudações Benfiquistas!


Bakero, a nossa equipa principal jogou de facto no Campo Grande até 1954. Mas a equipa de juniores e a de reservas jogaram por lá até 1971, data em que abandonamos definitivamente as instalações que ainda por lá estavam.

Chamo a atenção para a informação deste site:

http://bairrodaquintadacalcada.blogspot.pt/2012/11/a-bola-e-redonda-e-os-estadios-quase.html (http://bairrodaquintadacalcada.blogspot.pt/2012/11/a-bola-e-redonda-e-os-estadios-quase.html)

e esta;

http://bairrodaquintadacalcada.blogspot.pt/2012/11/apanhando-bolas-no-cif-do-campo-grande.html (http://bairrodaquintadacalcada.blogspot.pt/2012/11/apanhando-bolas-no-cif-do-campo-grande.html)


E para não dizeres que fui preguiçoso aqui fica um bónus. Acho que explica bem  :)


(https://s1.postimg.org/4yu6szs7sf/Campo_Grande_esquema.png)


Ainda assim mais informação:

SCP
Sei que ocuparam o Campo Grande a partir de 1 de Abril de 1917 vindos do Sítio das Mouras, o seu primeiro campo de jogos. Esse estádio do Campo Grande era muito diferente do que o que nós tivemos, mas curiosamente já era conhecido como Estância de Madeiras. Foi ocupado durante cerca de 20 anos mas como estava muito degradado decidiram avançar para a construção do Stadium do Lumiar. Este foi inaugurado em 30 de Abril de 1937 e depois muito renovado em 1947, servindo até 1 de Janeiro de 1955. O Estádio de Alvalade foi inaugurado em 10 de Junho de 1956.


CIF
não sei muito bem mas terão ido para o Campo Grande na década de 40 e por lá ficaram até 1969. Nessa altura mudaram-se para Monsanto onde ainda desenvolvem actividades. Um dos Clubes com a História mais prestigiada de Portugal e que muita gente não conhece.


Saudações Benfiquistas!  :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 19 de Outubro de 2017, 22:33
Muito obrigado! É fascinante como os 2 rivais ainda hoje têm os estádios tão pertos um do outro, mas durante algum tempo estiveram mesmo literalmente colados um ao outro.

Achas que essa foto será então de alguma equipa de juniores ou reservas do Benfica?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Outubro de 2017, 22:38
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Tamancos de oiro (parte III) – o Glorioso Tamanqueiro


(https://s1.postimg.org/6j9q9xnqfj/3_01.jpg)
Raúl Soares Tamanqueiro, jogador do SLB em 1926-1927 e 1927-1928.


Foram apenas duas as temporadas em que o Tamanqueiro jogou pelo SLB. Foram apenas 3 anos, de 1926 a 1928, e que não coincidiram com a conquista de títulos. Ainda assim a contribuição do Tamanqueiro foi importante pois aconteceu num contexto crítico para o nosso Clube, ajudando a consolidar um novo modelo desportivo. Mas lá iremos.

Em 1926 o SL Benfica vivia um clima interno muito complicado, com clivagens internas e dívidas pesadas. Longe dos títulos, percebia-se que o Clube tinha entrado numa perda competitiva preocupante. A equipa de honra estava envelhecida e o Clube - por decisão própria - não competia com outros pela contratação de novos jogadores.

De facto, particularmente entre 1924 e 1926, vários jogadores nucleares retiraram-se por veterania reduzindo muito a categoria no nosso plantel principal de futebol. No final da época de 1924-25, saíram, entre outros: José Picoto e Caldas (GR), Fernando Jesus (M) e Ribeiro dos Reis (A). No final de 1925-26 saíram, entre outros: Chiquinho (GR), Artur Augusto (D) e Hugo Leitão (A). Para além disso, em 1926-1927, outros jogadores importantes da equipa aproximavam-se do final de carreira: Vítor Gonçalves (M), Mário Montalvão (M) e Pimenta (D). Ou seja todos os sectores estavam fragilizados, todos careciam de renovação e reforço.


(https://s1.postimg.org/7j2l19mphr/3_02.jpg)
Uma equipa de 1924-1925. Ribeiro dos Reis e Fernando de Jesus abandonaram em 24-25, Chiquinho, Artur Augusto e Hugo Leitão (25-26). Pimenta, Vitor Gonçalves pouco depois.


Antes como agora, manda o bom senso, que os que saem sejam compensados com os que entram. A solução estava em recrutar elementos que pudessem colmatar as saídas, se possível acrescentando qualidade à equipa. Havia que investir mas Cosme recusava gastar dinheiro em contratações. Para Cosme a essência do desporto estava no Amor à camisola, na dedicação ao Clube e isso não se pagava.


(https://s1.postimg.org/1pxmrz8or3/3_03.jpg)
Cosme Damião na década de 20. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Mas infelizmente os tempos tinham mudado. Esse modelo que provou ser vencedor na década de 10, já não se adaptava à evolução da sociedade e do futebol no Portugal da década de 20. O dinheiro circulava no futebol e se o SLB virava costas ao presente e futuro, os outros Clubes adaptavam-se, ultrapassando-nos na capacidade de atrair os melhores valores do futebol Português.

Ainda no tempo de Cosme Damião, a saída dos três guarda-redes foi razoavelmente compensada com a vinda de Jacinto e Gato. Mais o primeiro diga-se, mas ainda assim nenhum fez carreira longa no SLB, nem chegou sequer perto da popularidade e da categoria do guarda-redes internacional Chiquinho.

Na defesa, a entrada de Bailão, ainda em 1925-1926 e de Mário Rodrigues em 1926-1927, trouxe mais qualidade e consistência a um sector que contava ainda com Pimenta e Luís Costa. No ataque as perdas foram compensadas com os recrutamentos de Germano Campos e Américo Antunes, entre outros. Apesar de serem bons atletas, nenhum tinha qualidade superior. Seria preciso esperar mais alguns anos até aparecer o jovem Victor Silva. O meio campo? Bem, digamos que este sector foi o menos compensado. Havia que investir. E muito.

Em Agosto de 1926 uma nova direcção, liderada por Alfredo Ávila de Melo, foi eleita e trouxe grandes mudanças ao Clube. As obras nas Amoreiras foram interrompidas, os pesados encargos da dívida aos Bancos foram sendo pagos, ao mesmo tempo que se começou a investir de forma diferente no futebol. Tarefa gigantesca, antes como hoje. Finalmente o SL Benfica reconhecia que para manter a competitividade havia que pagar pela contratação dos melhores jogadores. Amor e uma cabana? Sim, mas desde que as contas da cabana estejam pagas!

O cargo de de Capitão-Geral era fundamental na estrutura do SLB desse tempo. De 1909 até 1926 essa tarefa foi exclusiva de Cosme Damião Cosme mas este, em desacordo, afastou-se por vontade própria. Tinha chegado o tempo de António Ribeiro dos Reis.

Antigo casapiano, militar de formação e grande conhecedor do futebol, António Ribeiro dos Reis foi quase tudo no futebol Português. Foi um competente jogador de futebol (avançado do SL Benfica), treinador (Carcavelinhos, SL Benfica, Selecção Nacional), dirigente do SL Benfica e ainda jornalista. Foi um homem que mudou o nosso futebol, lançando as bases para os sucessos da década seguinte.


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Ávila de Melo e Ribeiro dos Reis, numa recepção em 1927, na AFL, à selecção de futebol de França. Fonte: TT.



Ribeiro dos Reis, apreciador das qualidades futebolísticas do Tamanqueiro e estava consciente que este traria mais classe, mais capacidade física e melhor qualidade técnica ao jogo da nossa equipa. E assim em Outubro de 1926 o Tamanqueiro foi contratado ao SC Olhanense. A interessante história desta contratação permanece ainda por explicar.


1926-1927 - Uma época irregular


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As notícias e as especulações acerca da abertura da época de 1926-1927. E lá estava a confirmação do ingresso do Tamanqueiro no SL Benfica. Fonte: DL, CasaComum.org


Nesse tempo, a época de futebol tinha apenas duas competições oficiais: os campeonatos regionais e depois o Campeonato de Portugal. Em Lisboa, o campeonato regional era disputado entre 8 equipas, a duas voltas num total de 14 jornadas. Já o Campeonato de Portugal era disputado em sistema de eliminatórias ou seja foi a prova que antecedeu a actual Taça de Portugal (veja-se como os troféus são iguais). Era a única prova nacional mas nos primeiros anos admitia apenas os campeões regionais de algumas regiões.

O Tamanqueiro estreou-se oficialmente pelo SL Benfica no dia 17 de Outubro de 1926. Nesse dia fomos derrotados por 1-3 pelo Belenenses, campeão regional do ano anterior. A nossa equipa revelou falta de entrosamento, nada de estranhar pois apresentamos três reforços, dois deles no meio campo. O Tamanqueiro actuou no centro do meio campo, João Silva (Fayta), outro reforço vindo do Portugal FC actuou à direita e Vítor Hugo actuou à esquerda. Estes foram os três centro-campistas que mais actuaram nessa época. No final da época, Artur Travaços assumiu a titularidade a médio direito, saindo Fayta e derivando o Tamanqueiro para o centro. Seria esse o meio-campo da época seguinte.


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A equipa do SLB de 17 de Outubro de 1926. Estreia oficial do Tamanqueiro pelo SL Benfica. Os reforços que alinharam nesse jogo estão indicados.


Mas na jornada seguinte, jogando nas Amoreiras, vencemos o SCP (2-1), resultado lisonjeiro para os verde-brancos. Vitor Gonçalves fez um dos seus poucos jogos na época, passando o Tamanqueiro para médio à direita. E foi logo neste seu primeiro dérbi que o Tamanqueiro inaugurou o marcador da partida marcando o seu primeiro golo com o manto sagrado!

Mas infelizmente o resto do campeonato seria muito irregular, com algumas derrotas decepcionantes e jogos tumultuosos. Foram duros os primeiros tempos nas Amoreiras. Houve até um célebre jogo nas Amoreiras contra o Carcavelinhos em que o árbitro marcou uma grande penalidade a nosso favor perto do fim do jogo para logo de seguida apitar para o final do jogo! O árbitro apitou para o fim da partida sem deixar marcar a penalidade que ele próprio assinalou! Incrível mas foi o que aconteceu.


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Imagens de dois jogos acidentados que resultaram em duas derrotas nas Amoreiras: contra o Carcavelinhos (1-2) e contra o Vitória de Setúbal (0-2). Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



No final conseguimos apenas um horrível 5º lugar no Campeonato Regional de Lisboa vencido pelo Vitória de Setúbal, um justo campeão. Ainda assim em alguma crítica passou a ideia de que o SLB merecia ter ficado numa posição mais acima da tabela.


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Fonte: DL


Curiosamente no balanço das 4 categorias ficou claro que a 1ª categoria do SLB foi entre as quatro, aquela que teve pior desempenho.


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Campeões de 1926-1927: Vitória de Setúbal (1ª categoria), Benfica (2ª), Belenenses (3ª) e Carcavelinhos (4ª). Fonte: DL.


No Campeonato de Portugal de 1926-1927 começamos bem mas depois fomos infelizes. Nos oitavos-de-final ganhamos fora ao SC Braga (4-3) e nos quartos-de-final vencemos de forma arrasadora o Carcavelinhos (5-0).


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Fonte: DL e Hemeroteca de Lisboa


Seríamos eliminados nas meias-finais pelo CFB (0-2, após prolongamento). Foi um jogo intenso, de grande luta em que apesar de superiores nos 90 minutos regulamentares não conseguimos marcar. No prolongamento a maior capacidade física do Belenenses fez a diferença. O Belenenses viria a desforrar-se do Campeonato Regional ao bater o Vitória de Setúbal por 3-0.

De um ponto de vista individual pode dizer-se que nessa primeira época o Tamanqueiro chegou, viu e venceu. Foi titular absoluto, formando a base da nossa equipa, juntamente com Bailão, Vítor Hugo, José Simões e Jorge Tavares. Marcou dois golos e trouxe qualidade e intensidade à equipa. O sector do meio-campo deixou de ser uma preocupação para Ribeiro dos Reis. A base da equipa para o próximo ano estava formada e nesse xadrez o Tamanqueiro era peça chave.


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À direita, a avaliação que Ribeiro dos Reis fez do Tamanqueiro em meados de 1927. Fonte: Boletim Oficial do SLB nº 2 de 1927.



1927-1928 - Uma época de "quases"

Para a nova época foram feitos mais investimentos. Entraram na primeira equipa excelentes jogadores como Eugénio Salvador, Emiliano Sampaio e Guedes Gonçalves. Já em plena época Victor Silva seria contratado ao Hóquei Clube de Portugal. Ou seja, o reforço do ataque foi a prioritário. Esses 4 avançados – em particular o último – revelaram-se excelentes reforços.


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A linha ofensiva do SLB para 1927-1928.


A época foi dramática embora francamente melhor do que a anterior. Foi a temporada dos "quases" tanto no Regional de Lisboa como no Campeonato de Portugal. O anterior campeão de Lisboa, o Vitória de Setúbal, passou nesta temporada a competir no campeonato regional de Setúbal, dando lugar ao Bom Sucesso que se revelou a equipa mais fraca do campeonato.

A nova equipa tinha Eugénio Salvador e Mário de Carvalho como titulares. Ambos eram extremos rápidos e habilidosos que em muito auxiliavam o avançado centro Jorge Tavares. O Tamanqueiro fixou-se no centro do meio campo, Vítor Hugo à esquerda e João Domingos à direita.

Começamos bem esse regional, com uma robusta vitória sobre o União de Lisboa (4-0) mas na segunda jornada baqueamos na Tapadinha frente ao SCP por 0-3.


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Equipa do SL Benfica que perdeu no dia 23 de Outubro de 1927 contra o SCP (0-3). Jogo disputado no Campo da Tapadinha.



Na parte final do campeonato íamos em segundo lugar mesmo atrás do SCP. Entre as muita vitórias que conseguimos teve particular destaque para o triunfo (1-0) nas Amoreiras sobre o líder SCP. Nesse dia mostramos ampla e constante superioridade, pecando o resultado por escasso. O nosso guarda-redes Jacinto foi o melhor juntamente com o Tamanqueiro. Ainda assim os leões continuaram primeiros. Mas a duas jornadas do fim assumimos a liderança depois de dois tropeções dos verde-e-brancos. Tudo parecia bem encaminhado, pois faltavam apenas dois jogos, com o Belenenses e Casa Pia. Faltavam duas vitórias.

Mas tudo se perdeu ao empatarmos com o Belenenses na penúltima jornada. Vitor Hugo não jogou por lesão, obrigando o Tamanqueiro a desgastar-se em múltiplas posições. E lá se foi a vantagem. Os dois rivais de Lisboa chegavam ao fim das 14 jornadas empatados a 34 pontos. Seria necessário disputar uma finalíssima.


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Foi-se a vantagem mas diga-se que de forma polémica pois os leões deveriam ter um ponto menos na classificação. É que, na secretaria, os leões conseguiram transformar um seu empate com o Bom Sucesso registado aquando da segunda (!) jornada do campeonato numa vitória administrativa. Sem essa jogada da secretaria o Benfica teria sido campeão.

E assim no dia 8 de Abril de 1928, o SCP acabou por conquistar o título mercê de uma vitória concludente por 3-0. Quais as razões desse desnível? Simples, o nosso meio-campo jogou sem os seus dois homens-chave Vítor Hugo e o Tamanqueiro, ambos lesionados. Com essas duas ausências não tivemos hipóteses pois revelamos uma desorganização completa nesse sector.


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No Campeonato de Portugal começamos com uma falta de comparência do Ginásio Figueirense para depois nos oitavos-de-final derrotarmos em Fafe a AD Fafe por 6-1. Nos quartos-de-final vencemos o União de Lisboa (4-3) num jogo duro em que estivemos muito tempo a perder e em que Mário de Carvalho fez um hat-trick. Nesse jogo a equipa já pode contar com o Tamanqueiro e com um muito jovem Vítor Silva. Mas na meia-final perderíamos (1-3) de forma surpreendente contra a outra equipa de Alcântara, o aguerrido Carcavelinhos.


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Duas estrelas do futebol Português. Carlos Alves (Carcavelinhos FC) com as suas luvas pretas e o Glorioso Vitor Silva.


O campeão e a grande surpresa desta competição seria mesmo este popular clube de Alcântara, vencendo com inteiro mérito na final o SCP por concludentes 3-0.


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O campo da Tapadinha, o emblema e a famosa equipa do Carcavelinhos FC, campeã de Portugal em 1927-1928. Fonte: http://www.atleticocp.pt/



Uma dupla que soube a pouco


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Tamanqueiro e Vítor Silva em 1928. Dois grandes jogadores que coincidiram durante muito pouco tempo no SLB. Fonte: TT


No final da década de 20 o investimento sustentado no nosso futebol permitiu um gradual aumento da qualidade técnica da nossa equipa e assim uma inversão do declínio competitivo. A contratação de Vítor Silva foi muito importante. Contratado em finais de 1927 ao Hóquei Clube de Portugal por 15 contos, à altura uma fortuna. Revelou-se um excelente investimento, dada a classe e o rendimento que o jogador veio a ter com o manto sagrado.

Curiosamente, Vítor Silva seria convocado para a selecção nacional olímpica ainda antes de ser titular no SL Benfica. No SL Benfica as exigências sempre foram enormes e Victor Silva ainda necessitaria de algumas semanas para se firmar como titular absoluto. Depois, Victor Silva marcaria uma era, tornando-se o melhor marcador e um dos jogadores mais populares de sempre do nosso Clube.

Infelizmente para o SL Benfica, foram poucos os jogos em que o Tamanqueiro e Victor Silva jogaram juntos. Talvez o mais famoso desses jogos tenha sido o primeiro de Vítor Silva com o manto sagrado. Nesse dia 1 de Janeiro de 1928, nas Amoreiras, o SL Benfica derrotou o FC Porto por conclusivos 4 – 1. Os dois destacaram-se, tendo aliás Vítor Silva marcado o terceiro golo a passe do... Tamanqueiro. Foi pena para o Benfica que não tenha sido possível mantê-los na mesma equipa por mais algum tempo.


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Excerto de uma reportagem de um dos poucos jogos em que o Tamanqueiro e Vítor Silva jogaram juntos no SL Benfica. Fonte: DL 2-01-1928.


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Os Gloriosos Tamanqueiro e Vítor Silva com os seus casacos de lã Benfiquistas. No Benfica e na selecção jogaram algumas vezes juntos. Fonte: TT



Adeus, Glorioso.


No final da época de 1927-1928, já depois do regresso da grande Selecção Olímpica de Amesterdão 1928, o Tamanqueiro acordou a sua saída do SL Benfica. Como explicar que o Tamanqueiro tenha querido sair do Glorioso? Um caso de inadaptação e nostalgia?

É possível que a sua adaptação a Lisboa não tenha sido a melhor. Não lhe terá sido fácil adaptar-se a um meio crescentemente cosmopolita como era a Lisboa dos anos 20. Um meio que talvez lhe fosse menos carinhoso e familiar. É possível que sentisse nostalgia dos tempos da vida simples de Olhão. É possível também que determinadas tentações da grande cidade tenham cobrado o seu preço...

Em Lisboa o Tamanqueiro teve também actividade profissional como proprietário/condutor de um táxi. O Benfica ofereceu-lhe a possibilidade de explorar um alvará mas ao que parece não teria muito jeito para esse negócio. Aparentemente também continuou a comprar e vender peixe e há ainda notícia num jornal de que terá sido pintor – presumo de construção civil.

Não era, nunca foi uma pessoa muito organizada na sua vida pessoal e profissional. Para lá do seu reconhecido carácter irrequieto e compelido a mudar frequentemente de local, é possível que algo faltasse na sua vida. Talvez a sua importância na equipa Benfiquista estivesse a decrescer – embora os números pareçam indicar o contrário. Talvez tenha tido inadaptação ao Clube. Talvez tudo isso em conjunto explique que tenha querido regressar a locais onde tinha sido mais feliz.


(https://s1.postimg.org/7c0n3nhbm7/3_20.jpg)
O Tamanqueiro, aliás Raúl Figueiredo, a trabalhar como mecânico do seu Taxi.



No SL Benfica, Raúl Tamanqueiro esteve apenas duas temporadas, fazendo 52 jogos, de 1926 a 1928. Números ainda assim modestos relativamente o que poderia e deveria ter feito com o manto sagrado. Poderia ter sido um dos grandes do nosso Clube.

Ainda assim, o brilho desse seu tempo Benfiquista não se apagou. O Tamanqueiro chegou ao Benfica já como internacional Português. De Olhão veio e – por vontade própria – a Olhão regressou.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Outubro de 2017, 22:42
Citação de: Bakero em 19 de Outubro de 2017, 22:33
Muito obrigado! É fascinante como os 2 rivais ainda hoje têm os estádios tão pertos um do outro, mas durante algum tempo estiveram mesmo literalmente colados um ao outro.

Achas que essa foto será então de alguma equipa de juniores ou reservas do Benfica?

Penso que será um jogo de reservas. Jogo entre o SL Benfica e o Casa Pia AC. Não consigo identificar o jogador do SLB.

Os seniores também treinavam por lá:


(https://s1.postimg.org/1rdyah4jvj/image.jpg)
O Glorioso Artur Santos a treinar no Campo Grande.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Outubro de 2017, 23:52
Citação de: RedVC em 19 de Outubro de 2017, 22:42
Citação de: Bakero em 19 de Outubro de 2017, 22:33
Muito obrigado! É fascinante como os 2 rivais ainda hoje têm os estádios tão pertos um do outro, mas durante algum tempo estiveram mesmo literalmente colados um ao outro.

Achas que essa foto será então de alguma equipa de juniores ou reservas do Benfica?

Penso que será um jogo de reservas. Jogo entre o SL Benfica e o Casa Pia AC. Não consigo identificar o jogador do SLB.

Os seniores também treinavam por lá:


(https://s1.postimg.org/1rdyah4jvj/image.jpg)
O Glorioso Artur Santos a treinar no Campo Grande.


É claro que hoje não seria possível semelhante vizinhança.

(https://s1.postimg.org/8r7g515w27/brunao.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 20 de Outubro de 2017, 11:28
Ahah realmente seria impossível  ;D.

Mas o que me fica é isto: 50 anos depois o clube que andava com a casa às costas tem o dobro dos campeonatos do clube que sempre teve todas as condições e mordomias.

É fascinante como o Benfica se tornou no maior clube Português e não o Sporting, quando pela lógica seria o contrário...

Ps: É por isso que gosto de ler os teus textos, porque se hoje o Benfica é o maior clube Português, muito se deve também ao "trabalho de sapa" que foi feito nos primeiros 50 anos do clube e que de tão pouco se sabe hoje em dia... O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Outubro de 2017, 12:35
É isso Bakero.  O0

O sentimento de Ser Benfiquista para ser completo não se pode resumir ao Presente. Perguntas fundamentais que qualquer Benfiquista deve fazer para perceber o seu Clube: 

Como foi possível? Quem e como? O que nos distinguiu?
Quais as figuras centrais da nossa História?
Quem e o quê se perdeu pelo caminho e porquê?
Quais os detalhes mais curiosos de alguns grandes momentos da nossa História?
Quais os cruzamentos onde uma decisão e uma pessoa poderiam ter mudado tudo?

As respostas a essas perguntas ajudam a perceber os tempos actuais. E foram elas que estiveram na base do Decifrando.

Os nossos fundadores e pioneiros estabeleceram símbolo, cores e um Ideal. Acredito que os Benfiquistas se sentem atraídos pelo Clube pela grandeza desses elementos mesmo que não tenham deles plena compreensão da génese e dos detalhes que lhes estão associados.

O nosso passado mostra que mesmo em em tempos em que não fomos tão vitoriosos, ainda assim a nossa massa adepta continuou a crescer e a sentir o Clube, estando plenamente convicta de que o nosso destino é o de vencer. Assente no símbolo, cores e no Ideal, é essa massa adepta, generosa, exigente, calorosa que nos distingue. Foi ela é que tornou possível que nos primeiros 50 anos mesmo com a casa às costa e escorraçados pelo antigo regime a que tanto nos querem colar, ainda assim fomos grandes. Depois, assim que tivemos o Estádio da Luz e pudemos colocar os recursos só na parte desportiva, então podemos partir para o Mundo. Somos o Clube mais Português e isso percebe-se quando vamos ao estrangeiro.

Os primeiros anos do nosso Clube estavam e estão ainda muito esquecidos pela generalidade dos Benfiquistas. A informação disponível era escassa. Muitos não a conhecem. Não é fácil procura-la e é complicado interpreta-la. Eu sentia a falta de respostas e como sou teimoso, tenho aprendido como obter informação. Esforço-me por cruzar informação, por reflectir sobre ela e levantar questões. Depois tem sido aproveitar as virtudes deste fórum para partilhar com outros Benfiquistas.

O Decifrando é pois um produto de insatisfação permanente em perceber o Sport Lisboa e Benfica. É uma das contribuições possíveis que poderia dar a outros Benfiquistas. Corresponde ao que sei e posso fazer. Cada um de nós faz o que pode de acordo com os seus gostos, capacidades ou tempo disponível. Tal como tu tens feito com o memoriagloriosa e como muitos outros que por aqui andam.

Não pensei inicialmente que seria o maior contribuinte deste tópico. Talvez o tenha feito evoluir para um nível excessivamente aprofundado e talvez por isso algumas pessoas inibem-se de contribuir. Mas eu sempre disse e reafirmo que a ideia era ter aqui um espaço de partilha de imagens que nos permitissem fazer perguntas e interpretações sobre figuras e episódios da nossa História. Um bom exemplo foi a fotografia que partilhaste e para a qual ainda tentarei perceber mais alguma coisa.

É bom partilhar este sentimento de Ser Benfiquista!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Outubro de 2017, 16:44
-180-
Tamancos de oiro (parte IV) – do Sado ao Rio.



(https://s1.postimg.org/7b3dyu6tcf/4_01.jpg)
A comitiva do Vitória de Setúbal já a bordo do paquete "Ceylan" que a transportou até ao Brasil. As identificações (minhas) são na sua maioria conclusivas. Nota-se a presença de Gustavo e de Luís Xavier que mais tarde foram grandes jogadores do SL Benfica. No topo está uma imagem do "Ceylan", paquete pertencente à Compagnie des Chargeurs Réunis. Fonte: AML.



Em 1929, depois de se desvincular do Benfica, o Tamanqueiro foi alternando entre jogar meia época no SC Olhanense e outra meia nos espanhóis do Recreativo de Huelva (Espanha). Eram regiões onde se sentiria bem.


Mas em meados de 1929 aceitou um convite do Vitória de Setúbal para fazer uma longa digressão pelo Brasil, que passaria pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, entre outras cidades. Apesar dos sadinos terem nessa altura uma equipa aguerrida e competitiva, a Direcção do Vitória tratou de assegurar alguns reforços exclusivamente para essa digressão.

O sadino Tamanqueiro foi um dos contactados e claro está, para um espírito irrequieto como o Tamanqueiro, o convite terá sido irresistível. Afinal era o maior clube da sua terra e o clube onde tinha feito parte da sua formação. E assim, de Julho a Outubro de 1929, o Tamanqueiro viajou pelo Brasil integrado numa comitiva sadina. Juntamente com a comitiva viajaram também, entre outros, Cândido de Oliveira (que chegou até a arbitrar com classe um dos jogos dos sadinos) e o famoso aquarelista Português Alberto de Souza (1880-1961).



(https://s1.postimg.org/4qhu3pb0hr/4_02.jpg)
A lista da comitiva Sadina que partiu em digressão ao Brasil de 1929. Fonte: BND


Para além do Tamanqueiro, os outros jogadores que não pertenciam aos quadros do Vitória foram Carlos Alves (Carcavelinhos), Roquete (Casa Pia), Gustavo (Casa Pia, depois SL Benfica), Liberto Santos (União Lisboa). Estes reforços só para digressões eram comuns nessa época uma vez que os jogos no estrangeiro eram encarados como representações de Portugal. Apenas o SL Benfica – tanto quanto é do meu conhecimento – nunca teve semelhante prática.

O treinador dos Sadinos era o Arthur John (1898-1972), um Inglês que cumpria a sexta temporada nos sadinos, tendo por lá conquistado dois campeonatos de Lisboa e dois campeonatos de Setúbal. A sua contribuição para o futebol sadino terá sido decisiva embora muito tenha beneficiado da existência de ótimos jogadores, naturais da cidade do Sado.

Finda essa digressão de 1929, Arthur John mudou-se para Lisboa para se tornar o primeiro treinador estrangeiro do SL Benfica. O sucesso seria imediato, conquistando para o nosso Clube os Campeonatos de Portugal de 1929-1930 e de 1930-1931. Arthur John é assim responsável por termos quebrado um longo período de ausência de conquista de títulos nacionais. Curiosamente Arthur John já não contou com o precioso concurso do Tamanqueiro que entretanto tinha regressado a Olhão.

Estranhamente, ao fim de duas temporadas vencedoras, o bicampeão Arthur John trocaria o Benfica pelo SCP... Uma vez mais a força bruta do dinheiro verde? O que e certo é que apesar de treinar os verde-brancos entre 1931 e 1933, nessas duas temporadas o SCP nada conquistou. Outro treinador que mudou de cavalo para burro, saindo sem honra nem glória...

Assim, em acréscimo a Cândido de Oliveira que na fotografia nos aparece de costas, identificam-se nessa comitiva sadina mais quatro homens que, em algum tempo da sua vida, estiveram ligados ao SL Benfica:


(https://s1.postimg.org/5brhq0dtpr/4_03.jpg)
Benfiquistas passados e futuros na comitiva sadina de 1929


Essa digressão sadina é por si só uma história interessante e atribulada, por via de um agudo litígio contratual. O conflito extremou-se ao ponto da CBD proibir os sadinos de fazerem mais jogos em território Brasileiro. Os sadinos ainda jogaram em São Paulo, depois em Rio de Janeiro e finalmente em Minas Gerais mas quando chegaram ao Recife já estariam impedido de jogar pelas autoridades desportivas Brasileiras. 

Na ressaca, também a FPF suspenderia o clube e os jogadores durante algum tempo. Infelizmente o VFC terá sido vítima de empresários e de conflitos entre entidades desportivas Paulistas.

Também do ponto de vista desportivo as coisas não correram bem. Dos oito jogos referenciados, os sadinos perderam 5 e empataram 3. Mas, não sendo este o tempo ou o espaço para desenvolver esses aspectos (tarefa para os adeptos sadinos), ainda assim aqui ficam mais algumas imagens parcialmente legendadas.


(https://s1.postimg.org/55qk12yc4v/4_04.jpg)
A equipa do Vitória FC que foi derrotada por 0-4 por uma Selecção Paulista em 8-09-1929. Fonte: BND.


Já do ponto de vista social as coisas aparentemente correram muito bem.


(https://s1.postimg.org/36udar6z2n/4_05.jpg)
Instantâneos da agenda desportiva e social em que a comitiva sadina quando esteve em São Paulo. Em cima, instantâneos de um jogo contra uma selecção de São Paulo (empate). Em baixo, imagem de uma visita da comitiva sadina ao Consulado Português em São Paulo. O Tamanqueiro esteve sempre na linha da frente. Fonte: BND.



Como seria de prever, os espertos dos Brasileiros imediatamente identificaram que, entre a comitiva sadina, o Tamanqueiro era o alvo mais interessante para as suas reportagens. E esses repórteres não se inibiam em horas nem em locais para fazer o seu trabalho...


(https://s1.postimg.org/7xcdnbwyi7/4_06.jpg)O Tamanqueiro acordado por uns atrevidos jornalistas Brasileiros. A entrevista aconteceu mesmo na sua cama e não faltou a fotografia! Fonte: BND.


(https://s1.postimg.org/33nir7lh7j/4_07.jpg)
Um pouco mais tarde e já com trajos mais apropriados. Fonte: BND.


(https://s1.postimg.org/18npcr1mbz/4_08.jpg)
O Tamanqueiro não passou despercebido aos Brasileiros. Fonte: BND.



Do Sado ao Rio, passando por São Paulo e Belo Horizonte para encalhar no Recife... E falta ainda saber como os jogadores terão aproveitado as belezas naturais do Brasil. Que digressão dos diabos...




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 31 de Outubro de 2017, 10:41
Citação de: RedVC em 21 de Setembro de 2017, 21:39
-172-
Até sempre Alfredo Valadas!

Dia 1 de Dezembro de 1944, estádio do Campo Grande em Lisboa.

(https://s26.postimg.org/6gr2cp255/image.jpg)
O adeus do Campeão. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Em ambiente emotivo, os sócios do SLB e convidados especiais diziam adeus a uma das lendas do futebol Benfiquista. Foi uma festa bonita organizada para dizer adeus ao jogador Alfredo Valadas, um extremo esquerdo de enorme valor, um homem vertical que fez carreira durante dez épocas no futebol Benfiquista, ao ponto de se tornar numa das referências incontornáveis da Mística e do Amor à camisola.

Os jornais fizeram a divulgação do evento e deram destaque à despedida de um popular e prolífico avançado do futebol Português de então. Um desportista correcto e um homem que fez um trajecto interessante, começando no SCP e terminando como uma figura Benfiquista. Um dos nossos.


(https://s26.postimg.org/aeec23oyh/image.jpg)
Notícia do Diário de Lisboa de 2-12-1944.


(https://s26.postimg.org/r4pprfndl/image.jpg)

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Emoções a rodos. O presidente interino do SLB, Costa e Sousa, abraça Alfredo Valadas. Era o tempo das emoções depois de um sentido discurso de despedida e agradecimento. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Nesse dia Valadas recebeu o apreço, o agradecimento e o carinho dos seus dirigentes, amigos, companheiros de equipa, sócios, simpatizantes do nosso Clube e até de antigos adversários.

Entre os dirigentes, discursaram para fazer o elogio de Alfredo Valadas, o Dr. Bento Rocha (presidente FPF), o Dr. Ayala Boto (inspector da Direcção Geral dos Desportos). Pelo nosso Clube discursou António Ribeiro dos Reis que deixou para sempre uma expressão marcante: o "tiro à esquerda" de Valadas.


(https://s26.postimg.org/gx76f115l/image.jpg)
Parte do elogio de Ribeiro dos Reis a Alfredo Valadas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



(https://s26.postimg.org/tpvaeycrd/image.jpg)
Joaquim Ferreira Bogalho, Victor Silva e Luís Xavier fizeram questão de estar presentes. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Mas para além de antigos e actuais companheiros, a sua festa de despedida teve também a ilustre participação de adversários que integraram uma equipa mista que enfrentou num jogo de futebol uma equipa com os melhores jogadores do nosso Clube. Foi esse o caso de Montez e Francisco Ferreira (V. Setúbal), José Lopes, Gregório, Armindo e Francisco Lopes (Atlético), Carlos Pereira e Palma Soeiro (CUF) e Azevedo, Soeiro e Peyroteo (Sporting).

E assim, de forma inesperada e impensável nos dias de hoje, esses adversários envergaram o equipamento branco, alternativo do SLB, sendo por isso possível ver entre outros, Peyroteo a envergar o manto sagrado!


(https://s26.postimg.org/61kdxf5ll/image.jpg)
Peyroteo, envergando uma camisola do Sport Lisboa e Benfica!
Uma imagem surpreendente que só a festa de despedida a Alfredo Valadas tornou possível. Nesse dia Alfredo Valadas aproveitou também para promover as pazes entre Peyroteo e Gaspar Pinto, adversários que andavam desavindos. Valadas era um atleta valoroso, pacificador, sempre respeitando colegas e adversários. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Na lógica de algum sportinguista de hoje, essa imagem poderia ser interpretada como uma prova de uma predilecção escondida do grande jogador sportinguista. No Benfica isso não se faz. Nesse dia, de forma nobre e em homenagem a um valoroso adversário, o grande avançado sportinguista envergou o manto sagrado durante 90 minutos. Tempos mais saudáveis em que os adversários não eram inimigos.

Findos 40 minutos da primeira parte, Alfredo Valadas foi substituído (presumo que por Rogério Pipi). Recebeu então uma estrondosa ovação que muito o comoveu. Ficava encerrada uma magnífica carreira, que honrou as cores do Glorioso e o futebol Português. Inesquecível.


(https://s26.postimg.org/xepks6c61/image.jpg)
Dois instantâneos da festa desportiva e das emoções do dia da despedida de Alfredo Valadas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Uma carreira (quase) sempre a subir


Alentejano de nascimento, Alfredo Valadas nasceu em Minas de São Domingos, freguesia de Corte do Pinto, concelho de Mértola, distrito de Beja.

Valadas deu os seus primeiros passos no Luso Sporting Clube de Beja, clube fundado em 16-06-1916 depois de uma cisão do Águia Foot Ball Club. Em 8-09-1947, o Luso Sporting Clube de Beja juntar-se-ia ao União Sporting Clube e ao Pax-Júlia Atlético Clube para formar o Clube Desportivo de Beja. Ainda assim, os Estatutos do Clube Desportivo de Beja, consideram que a "data da fundação do Clube é 16-06-1916, por ser esta a data da fundação do Luso Sporting Clube, de que o C. D. Beja, como no Artº. 1º se diz é a continuação" (fonte: wikipedia).

   
(https://s26.postimg.org/wdpc31v6h/image.jpg)
Valadas com a camisola do Luso Sporting Clube de Beja. Fonte: Glórias do Passado.


Na sua meninice, Valadas era Sportinguista. Depois, por via do destaque que conseguiu dar ao seu futebol nas três épocas que esteve no Luso Sporting Clube Beja, Valadas conseguiu ingressar no SCP em 1931-1932. Nessa altura os Leões eram treinados por Arthur John e Valadas entrou muito bem na equipa, onde esteve apenas duas épocas. Inicialmente evoluiu como interior esquerdo tendo inclusivamente marcado ao Glorioso.

 
(https://s26.postimg.org/oar5rqal5/image.jpg)
Valadas de verde e branco e a marcar ao SLB no dia 26-03-1933.


Valadas teve sempre um jogo feito de potência, de entusiasmo pela disputa dos lances e concretizado com o seu portentoso remate. Era um excelente finalizador. O destaque no SCP fez com que logo na sua temporada de estreia chegasse a internacional A por Portugal, num jogo frente à Jugoslávia, no Lumiar em 3-05-1932, onde aliás marcou (vitória de Portugal por 3-2).


(https://s26.postimg.org/whj5jb0nt/image.jpg)
Valadas, ajoelhado, segundo a contar da esquerda, entre os seleccionados para uma selecção de Portugal de 1937, dirigida por Mestre Cândido de Oliveira.


Manteria o rendimento na segunda época passando a ser utilizado como extremo esquerdo. Em duas épocas de verde e branco marcou 24 golos num total de 38 jogos, números de enorme destaque e que mereceram dos dirigentes de leonino a promessa de reconhecimento salarial condigno.

Infelizmente para o SCP, os dirigentes na altura não cumpriram as promessas de lhe assegurar estabilidade financeira e o reconhecimento devido pelo destaque e produção que conseguiu nessas duas épocas de SCP. Em litígio com os dirigentes, Valadas, homem vertical, preferiu passar uma época sem jogar do que continuar num Clube com dirigentes sem palavra. Como diria mais tarde:  "Desde o início, os dirigentes prometeram-me um emprego e não cumpriram; aborreci-me e voltei à terra, onde estive um ano sem jogar para ficar livre".

E assim ficou criada a oportunidade para Valadas mudar de Clube. Os dirigentes do Benfica não hesitaram, fazendo com que Valadas passasse a vestir de vermelho, mudando para o Clube da sua vida. E de facto, como anos mais tarde Carlos Manuel nos disse, é possível mudar de Clube quando se entra muito novo e se faz todo um trajecto de aprendizagem como jogador e como homem num Clube com uma Mística inigualável, uma massa associativa que faz a diferença e acarinha aqueles que honram o manto sagrado.

Valadas ao longo dos seus dez anos de Águia ao peito, fez-se Benfiquista por via da paixão, do carinho, das tardes de Glória que viveu nas Amoreiras e no Campo Grande. Valadas viveu 10 anos de Mística, de inigualável paixão pelo Clube. E inevitavelmente fez-se Benfiquista. Tornou-se um dos nossos, construindo progressivamente uma carreira de 10 anos de Águia ao peito, recheada de golos, de títulos e de carinho por parte dos adeptos Benfiquistas.

Foram muitos os momentos inesquecíveis de Alfredo Valadas mas de entre esses destacam-se os históricos 12-2 que em Fevereiro de 1944 foram servidos ao FCP. Nesse dia Valadas ajudou a dinamitar os Portistas marcando dois golos, um deles o golo inaugural!


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O dia da dúzia. Na vitória estrondosa sobre o FCP por doze a dois, Valadas apontou dois golos e serviu muitos mais para os seus companheiros! Soares dos Reis teve o pior dia da sua carreira. Nunca o FCP sofreu uma derrota tão esmagadora. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Como capitão Valadas recebeu a Taça de Portugal de 1939-1940 depois de um jogo disputado no Campo do Lumiar contra o CFB. Valada marcaria um golo! Ficha de jogo, aqui: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19391940/taca-de-portugal/1940-07-06/sl-benfica-3-x-1-belenenses (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19391940/taca-de-portugal/1940-07-06/sl-benfica-3-x-1-belenenses)


(https://s26.postimg.org/tr9tm43yx/image.jpg)
Alfredo Valadas recebendo a Taça de Portugal de 1939-1940 das mãos de Cruz Filipe, presidente da  FPF. Atrás dele está Brito. Ao lado deste estão César Ferreira, Francisco Rodrigues e Manuel Jordão. Estes três últimos têm aos pés aquilo que parece uma garrafinha de tinto para beber à noite. Para comemorar a vitória pois então!!!


Depois também a Taça de Portugal de 1943-1944, trajecto em que teve a oportunidade de enfrentar em dois jogos o seu Luso de Beja. Em ambos os jogos teve oportunidade de marcar e com que emoção o deve ter feito...

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-22/luso-beja-1-x-4-sl-benfica (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-22/luso-beja-1-x-4-sl-benfica)

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-15/sl-benfica-4-x-1-luso-beja (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19431944/taca-de-portugal/1944-04-15/sl-benfica-4-x-1-luso-beja)


O trajecto seria concluído com mais um triunfo, seria a terceira Taça de Portugal para Valadas mas já não jogou o jogo da final contra o Estoril (vitória por 8-0). Aproximava-se o fim da sua carreira e o seu lugar estava bem entregue ao grande Rogério Pipi.


(https://s26.postimg.org/laewoxont/image.jpg)
A vitória na Taça de Portugal de 1943-1944. Valadas está à paisana ao lado de János Biri. Aproximava-se o final da carreira e ia já assumindo funções de adjunto do treinador Húngaro.


Muitas conquistas, muita alegria, muita camaradagem fizeram parte de um percurso notável para o qual Valadas muito trabalhou e muito sentiu o que era o SLB. Ele próprio se tornou parte do SLB.


(https://s26.postimg.org/vn17b0i6x/image.jpg)
Alfredo Valadas (primeiro à esquerda), junto dos companheiros, nos balneários a celebrar mais um título de Campeão pelo Benfica! Fonte: O Poço dos nossos Adversários.


(https://s26.postimg.org/8mujyokd5/image.jpg)
Uma imagem mais recuada. A conquista do campeonato de 1935-1936. Alfredo Valadas (primeiro à direita) no Estádio da Amoreiras integrado numa das mais brilhantes equipas da nossa História. Fonte: O Poço dos nossos Adversários.


(https://s26.postimg.org/rggcvoil5/image.jpg)
Uma famosa linha avançada Benfiquista, algumas décadas mais tarde. Glórias do Benfica onde estava Alfredo Valadas. Fonte: Em Defesa do Benfica.


(https://s26.postimg.org/pd5xo0is9/image.jpg)
Já na década de 60 e para sempre ligado ao SL Benfica, Alfredo Valadas (de pé, segundo à esquerda com fato azul) foi um ilustre membro do Sport Lisboa e Saudade.


Nesse dia da despedida, Alfredo Valadas deve ter revisto tudo e tido a recompensa por tanta dedicação. E em profunda emoção, com o carinho de família, amigos, todos os Benfiquistas, Valadas sentiu todas as emoções. A noite em sua casa terá sentido que entrava na lenda; nesta lenda de que se faz continuamente o Sport Lisboa e Benfica.


(https://s26.postimg.org/l6l38oj6h/image.jpg)
Entre amigos e família, até sempre Alfredo Valadas! Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Era chegado o tempo para iniciar uma carreira de treinador. Trabalhou inicialmente nas camadas jovens dos SLB e foi também treinador adjunto de János Biri. Mestre Valadas, como depois foi carinhosamente conhecido, fez uma carreira longa onde teve alguns momentos altos interessantes, tais como os vividos no Vitória Sport Club (Guimarães) e mais tarde no Sport Comércio e Salgueiros, entre outros.


(https://s26.postimg.org/n0xxqf66x/image.jpg)
Mestre Valadas no VSC. Chegou a conseguir um excelente 6º lugar no Campeonato de 1948-1949. Fonte: Glórias do Passado.


(https://s26.postimg.org/it7qveu55/image.jpg)

Alfredo Valadas faleceu em 1994, com 82 anos de idade.

Paz à sua alma. Honra à sua memória.

Obrigado Alfredo Valadas.





bravo Victor. mais uma vez, e como sempre, uma história muito bem contada. acho que nao existem muitos resumos desta qualidade e principalmente de um tempo em que mal se sabia como preservar a história para o futuro. gracas a pessoas como ti, que juntam muitas pecas do puzzle para reconstruir o passado, a história do clube cada vez se torna um pouco mais completa.

p.s. a foto da seleccao foi do jogo contra a espanha em vigo a 28 de novembro 1937.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 31 de Outubro de 2017, 13:10
Obrigado alfredo!  O0

É uma satisfação quando vejo que alguém expressa o seu agrado por estes textos. E ainda mais quando é de alguém a quem reconheço um Benfiquismo activo e generoso.

E sim, eu conheço essa fotografia dos Balaídos na Corunha. Há mais uma ou outra desse jogo. Ao que sei a FIFA não o reconhece oficialmente pois foi um particular organizado por uma Espanha Franquista em guerra.

Abraço!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Novembro de 2017, 14:37
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Tamancos de oiro (parte V) – O Benfica não esquece os seus!


(https://s1.postimg.org/3e7ga6u40f/5_01.jpg)


Foi duro o final de vida desportiva do Tamanqueiro. Um itinerário que passou pelo Porto, por Braga e Coimbra.

Em 1932, o Tamanqueiro começava a sentir o inevitável declínio imposto pela Biologia. Os jogos dentro do campo e o grande jogo da vida cobraram cedo o seu alto preço. Longe do fulgor de outros tempos, ainda assim o Tamanqueiro insistiu em jogar por mais alguns anos. Jogou ainda no Académico do Porto (onde terá encontrado Carlos Alves), no Sporting de Braga (onde também terá sido treinador e terá encontrado Alberto Augusto), União de Coimbra e Recreio Desportivo de Braga.


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Tamanqueiro no SC Braga em 1935-1936. Ao lado de Alberto Augusto, outro antigo Benfiquista. Aproximava-se o fim. Fonte: Glórias do passado.



E depois veio a doença, fatal, cruel. Aquela que não escolhe idades.

Com apenas 39 anos, Raul Figueiredo adoecia e sucumbia no Hospital de São José em Lisboa. Desaparecia Raul, o homem, marido e pai de família. Desaparecia também o jogador, o Tamanqueiro, a alegria dos campos de futebol.

Sozinho, com certeza amargurado com o destino da mulher e dos seus filhos menores, Raul Figueiredo expirou no Hospital de São José em Lisboa, vencido pela doença. Apesar de a família morar na Rua Tomás da Anunciação, perto do cemitério dos Prazeres, Raul Figueiredo foi enterrado no cemitério de Benfica.


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Um dilacerante obituário. Longe dos seus tempos de Tamanqueiro, Raúl Figueiredo Soares terminou amargamente os seus dias neste Mundo. Expirou numa cama de Hospital. Um bravo que partiu quase anonimamente. Fonte: DL, CasaComum.org.


Desconheço exactamente em que altura aconteceu, mas em 1947 a Srª. Josefina Amélia dos Santos, a esposa do Tamanqueiro era funcionária do Sport Lisboa e Benfica. Provavelmente o Benfica esteve atento e tratou de garantir que a família tivesse alguns meios de subsistência para esses tempo tão difíceis. Os filhos do Tamanqueiro deram entrada na Casa Pia, casa-mãe, berço acolhedor de tantos e tantos órfãos deste país. Tal como Ribeiro dos Reis, como Cosme Damião, como tantos outros, os valores e o carinho da Casa Pia, valeram aos órfãos do Tamanqueiro e os ajudaram a fazer-se homens, cidadãos e desportistas.



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Raúl Figueiredo e a esposa, a Srª. Josefina Amélia dos Santos, ainda nos dias felizes.


E foi justamente em Abril de 1947, quase seis anos após a morte do Tamanqueiro, que o SL Benfica deu uma nova prova de que não esquece os seus. António Ribeiro dos Reis esteve presente, em representação do nosso Clube. Nesse dia, o SL Benfica disse presente, custeando os custos da transladação e instalação dos restos mortais do Tamanqueiro num jazigo camarário do cemitério de Benfica.

Cerca de 22 anos depois de o ter convocado pela primeira vez para a selecção nacional, Ribeiro dos Reis mostrava uma vez mais que não se esquecia do homem e do jogador que tanto o tinha impressionado. Que existam sempre homens como António Ribeiro dos Reis e Alberto Miguéns (ver: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2017/09/estreia-do-chacha.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2017/09/estreia-do-chacha.html)) para nos fazerem lembrar que entre os valores mais altos do Sport Lisboa e Benfica está o não esquecimento dos que nos defenderam, dos que nos levaram mais alto.

Hoje, os restos mortais do grande Tamanqueiro descansam para a eternidade em Benfica, no mesmo cemitério onde estão os imortais Álvaro Gaspar e Francisco Lázaro, que tal como ele tiveram um dia a honra e o privilégio de envergar a camisola rubra.


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Dia de 1947. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Coberto com a bandeira do Sport Lisboa e Benfica, com rosas vermelhas e brancas sobre o seu caixão, os restos do Tamanqueiro foram depositados enfim num jazigo para o descanso eterno. Ao lado de uma pequena e comovida assistência, com a dor da perda sempre presente, a mulher e os filhos do Tamanqueiro, acompanharam-no em mais uma viagem, a última. É assim o Sport Lisboa e Benfica. Ou melhor devia ser sempre assim. Assim os seus dirigentes fizessem sempre como fez o grande António Ribeiro dos Reis.

Olhando para a fotografia, se repararem, percebe-se que um dos filhos do Tamanqueiro envergava a farda da Casa Pia. Na ausência do marido e Pai, os filhos do Tamanqueiro deram entrada na Casa Pia onde foram educados. A Casa Pia, sempre carinhosa, sempre receptiva a receber os mais necessitados, valeu nesse tempo aos órfãos de Raul Figueiredo. Como antes tinha acontecido a Cosme Damião, a Ribeiro dos Reis, a tantos e tantos outros miúdos, os filhos do Tamanqueiro cresceram sobre o manto protector da Casa Pia, por lá se fizeram homens, formados para a vida.

Ao lado, amparando e confortando a sua mãe, com apenas 17 anos de idade, estava o filho mais velho do Tamanqueiro. Raul Figueiredo era o seu nome, tal como o seu pai. Raul António Leandro Figueiredo, de seu nome completo e nascido em Olhão em 1930. E tal como o pai veio a ser um futebolista. Tinha um talento diferente, pois era tecnicamente menos virtuoso e mais atlético. Tornou-se um grande defesa-central, fez uma destacada carreira ao serviço do clube da cruz de Cristo, jogando ao lado de, entre outros, Vicente e Matateu. Fez ainda parte da equipa belenense que inaugurou o Estádio do Restelo em 1956 e chegou a internacional por Portugal. Ao que sei foi esse o primeiro caso em que pai e filho chegaram a internacionais pela selecção Portuguesa de futebol. Mais tarde Raul emigraria para os Estados Unidos da América.



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O filho do Tamanqueiro ao lado de Vicente e de Matateu na excelente equipa do CFB que inaugurou o Estádio do Restelo em 23-09-1956.


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Ficha de emigração preenchida no Rio de Janeiro, Brasil, de Raul Figueiredo, o filho de Raul "Tamanqueiro".


Curiosamente, nas palavras do próprio Raul Figueiredo, filho, a primeira hipótese que teve de ingressar um clube profissional foi... o SL Benfica. A sua mãe era funcionária do Clube e por isso ele frequentava as nossas instalações. Treinou e agradou. Havia interesse de parte a parte mas por ser demasiado jovem não foi logo possível a assinatura de um contrato de profissional. Havia que esperar. No ano seguinte, Raul e a família mudaram de residência para a zona de Belém e isso acabou por leva-lo para longe do Benfica e para perto do CF "os Belenenses". Por um acaso do destino, os Benfiquistas tiveram de esperar por José Águas e pelo seu filho Rui Águas, para ver enfim pai e filho envergarem o manto sagrado. O destino quer sempre com mais força.


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Uma entrevista ao muito jovem filho do Tamanqueiro. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


O irmão de Raul, o filho mais novo do Tamanqueiro visitou recentemente o nosso Museu, lembrando histórias de seu Pai e exibindo orgulhosamente a sua preferência clubística ao lado de um amigo com a camisola do SC Olhanense.


(https://scontent.flis5-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/21369397_841612676020124_678921964884676095_n.jpg?oh=731f1510d7da6947c34ef5893ad12260&oe=5A67C8E1)


E que melhor forma de concluir este último texto sobre o Tamanqueiro do que ver e ouvir o seu filho Raul a falar do Pai?

https://www.youtube.com/watch?v=IcnGzEZAalM&feature=youtu.be&t=208 (https://www.youtube.com/watch?v=IcnGzEZAalM&feature=youtu.be&t=208)


Obrigado. Até sempre Tamanqueiro!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Novembro de 2017, 14:18
-182-
Amesterdão 1928 (parte I) – a varanda dos heróis

Dia 10 de Junho de 1928. Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa.


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Dia 10 de Junho de 1928, Câmara Municipal de Lisboa. Recepção à comitiva de futebol olímpica em Amesterdão 1928. Fonte: TT.



Nesse dia o presidente da edilidade Lisboeta, José Vicente de Freitas promoveu uma recepção e uma sessão de homenagem e agradecimento à comitiva do futebol olímpico que competiu de forma brilhante nos Jogos de Amesterdão 1928.

Esta é uma fotografia importante para a história do futebol Português pois nela encontramos muitas das figuras mais prestigiadas do futebol da década de 20, num momento único de celebração.

Ainda assim identificar pelo menos alguns destes homens não é tarefa fácil, pois muito tempo passou, esvaindo-se da memória colectiva nacional a fama efémera de que desfrutaram. Vamos então tentar fazer justiça a alguns desses homens tentando dar nomes aos seus rostos, num exercício que nos dará pistas sobre quão notável era essa galeria e qual a importância desse evento.


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Dando nome a alguns dos rostos de alguns dos homens responsáveis por uma página brilhante do futebol Português.



Para lá desse registo fotográfico, outros igualmente interessantes foram obtidos quando a comitiva assomou à mais famosa varanda da CML, aquela mesmo onde 18 anos antes, no dia 5 de Outubro de 1910 foi proclamada a Republica em Portugal. Nos últimos anos, para nós Benfiquista, a mesma varanda tornou-se com saborosa frequência, um dos palcos das celebrações Benfiquistas.


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Aclamação popular dos atletas de futebol olímpico na CML. Fonte: TT e Bib. Arte Gulbenkian.


E se notarmos o detalhe de uma dessas fotografias podemos fazer mais algumas identificações, umas esperadas e outras verdadeiramente inesperadas. Ora vejam lá:


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Uma varanda recheada de notáveis do futebol Português. Fonte: TT.



Pois é... Para lá dos jogadores que eram muito justamente vitoriados pela multidão, também ali se identificam dois dos 24 fundadores do Sport Lisboa:

Francisco Reis Gonçalves, na altura presidente da AFL e figura grada do Clube de Futebol "os Belenenses" (presidente em 1921 a 1922) e

Cosme Damião, pai do Benfiquismo, figura-maior da nossa História. Cosme Damião terá chegado a colaborar na AFL e no COP e dessa forma percebe-se melhor a sua presença naquela varanda.

Esses dois homens representam muito para o Benfiquismo e foram talvez os mais resilientes pois mesmo passados cerca de 24 anos depois da célebre reunião da Farmácia Franco, ali estavam eles ainda na primeira linha do futebol Português.


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Duas figuras incontornáveis do futebol Português na primeira metade do século XX.



Nos próximos textos analisaremos mais fotografias, salientaremos o Benfiquistas e aproveitaremos para falar na inesquecível aventura do futebol olímpico em 1928. Será uma série muito gráfica e que não ficará apenas pelo que se passou dentro do campo.


A série terá um total de seis textos, a saber:

● -182- Amesterdão 1928 (parte I) – a varanda dos heróis

● -183- Amesterdão 1928 (parte II) – o evento e os eleitos

● -184- Amesterdão 1928 (parte III) – um Chili saboroso

● -185- Amesterdão 1928 (parte IV) – e todas as esperanças foram permitidas

● -186- Amesterdão 1928 (parte V) – morrer sim, mas de pé...

● -187- Amesterdão 1928 (parte VI) – emoções à Holandesa



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: diego040675 em 05 de Novembro de 2017, 14:23
Aqui neste tópico respira-se BENFICA
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Novembro de 2017, 20:55
-183-
Amesterdão 1928 (parte II) – o evento e os eleitos

Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928


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Cartazes oficiais e medalha-tipo dos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928.



Os Jogos de Amesterdão decorreram na Holanda de 17 de Maio a 12 de Agosto de 1928. Realizados na Paz relativa estabelecida entre duas guerras mundiais, os Jogos beneficiaram de um clima mais desanuviado e propício ao ideal olímpico. Pela primeira vez, foi usado o protocolo oficial que ainda hoje vigora em que a comitiva da Grécia abre o desfile na Cerimónia de Abertura, cabendo ao país organizador – no caso a Holanda - a honra de fechar o desfile. Também pela primeira vez, a "Chama Olímpica" flamejou no topo de um Estádio Olímpico durante todo o tempo em que decorreu o evento.


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Aspecto da cerimónia de abertura dos jogos olímpicos de Amesterdão, 1928.



Participaram nos Jogos um total de 2 883 atletas, representando 46 países. Foram disputadas 109 provas e pela primeira vez, as mulheres participaram em provas de atletismo e ginástica. Esta participação maior das mulheres terá estado ligada ao afastamento de Pierre de Coubertin da presidência do Comité Olímpico Internacional. Tempos de mudança.

Pela primeira vez na História do olimpismo, o Estádio Olímpico apresentou uma pista de 400 metros com raias marcadas no chão.A figura mais mediática dos Jogos foi novamente o americano John Weissmuller, o futuro e mais famoso dos Tarzans das telas do cinema. Weissmuller venceria novamente as provas de Natação dos 100 e 400 metros.

Os Jogos tiveram ainda alguns problemas de financiamento, desde logo com a inexistência de uma aldeia olímpica, facto que obrigou a que o alojamento dos atletas e restantes elementos das comitivas fosse feito em em escolas, quartéis e navios transatlânticos ancorados no porto da cidade. Em Amesterdão iniciou-se também uma ligação comercial duradoura entre o olimpismo e a Coca Cola, companhia americana fabricante de refrigerantes, fundada em 1886


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Algumas imagens relativas à presença da Coca-Cola company nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, uma relação comercial que dura até aos dias de hoje. Fonte: The Coca-Cola Company.


O Comité Olímpico Português enviou 32 atletas aos Jogos de Amesterdão, naquela que foi a maior participação Portuguesa até então, isto sabendo que Estocolmo 1912 foram os primeiros Jogos em que participamos. Provavelmente o interesse acrescido nesse evento resultou da vontade das novas autoridades políticas nacionais dar visibilidade ao País de forma a consolidar o regime autoritário que se tinha implantado dois anos antes.


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A comitiva Portuguesa desfilando na Cerimónia de abertura de Amesterdão 1920. Fonte: COP.



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Selo olímpico de Portugal nos Jogos Olímpicos de Amesterdão 1928. Fonte: TT.



A grande novidade foi mesmo a inédita aposta na participação de uma selecção de futebol nesses Jogos. Para essa aposta terá pesado significativamente a constatação de que o País dispunha finalmente de um conjunto de excelentes jogadores que davam algumas garantias de uma participação honrosa. Assim seria.

Para o nosso País, o resultado mais significativo desses Jogos foi uma medalha de bronze, a segunda da nossa história olímpica, que foi conquistada na modalidade de Esgrima, na prova de Espada e Florete. A esgrima Portuguesa que tnha ficado em 4º lugar em Paris, 1920 e Antuérpia 1924, chegava enfim à medalha. Foi a época de ouro da esgrima Portuguesa. A equipa medalhada era constituída por Paulo d' Eça Leal, Mário de Noronha (futuro dirigente do SLB), Jorge Paiva, Frederico Paredes, João Sasseti e Henrique da Silveira.


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Os "6 mosqueteiros" de Amesterdão. A equipa olímpica Portuguesa de esgrima, medalhada em Amesterdão, 1928. Mário de Noronha é o primeiro a contar da direita. Fonte: COP.



O futebol olímpico de 1928


O torneio olímpico de futebol dos Jogos de Amesterdão 1928 envolveu 16 equipas e foi jogado num sistema de eliminatórias. O primeiro jogo da competição ou seja o primeiro dos 1/16 de final foi justamente o Portugal – Chile disputado no dia 27 de Maio de 1928.


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Um momento histórico a diversos níveis. A entrada da Selecção Nacional no Estádio Olímpico de Amesterdão para iniciar a competição olímpica dos Jogos de Amesterdão 1928. Os Benfiquistas estão assinalado a vermelho.



Foram essas as duas selecões que inauguraram não apenas o torneio olímpico de futebol mas também o magnífico Estádio Olímpico de Amesterdão, onde 34 anos depois, Águas, Coluna, Eusébio e restantes companheiros nos deram uma das maiores vitórias da Gloriosa História ao conquistar a nossa segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus.


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Vista aérea do imponente Estádio olimpico de Amesterdão durante a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928.

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Passados 34 anos, seria no Estádio Olímpico de Amesterdão que se viveria uma das mais belas páginas da História do Sport Lisboa e Benfica.



Os eleitos


A comitiva olímpica portuguesa de futebol integrou 18 atletas e 4 dirigentes.


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Os eleitos. Cândido de Oliveira escolheu e teve ao seu dispôr uma notável galeria de jogadores. Note-se a saliência visual dada a Roquete. Assim se percebe como é efémera a glória no futebol...



Destes últimos, 2 eram dirigentes federativos: António Ribeiro dos Reis e Salazar Carreira e 2 eram directores técnicos, Cândido de Oliveira (selecionador) e Ricardo Ornellas (adjunto).


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Os quatro dirigentes técnicos e federativos que integraram a comitiva do futebol olímpico de 1928. Todos eles com obra publicada e dos quais se exemplifica um título publicado. Fonte: TT.



Em 1928, Portugal teve a felicidade de ter Cândido de Oliveira como seleccionador nacional. Era um homem de superior cultura, avançado para o futebol do seu tempo pelos seus profundos e sólidos conhecimentos. É no entanto altamente provável que Cândido Oliveira tenha escutado de forma atenta as opiniões sensatas e sabedoras de Ricardo Ornellas e António Ribeiro dos Reis, seus antigos colegas casapianos. Qualquer um destes dois homens chegou também a desempenhar o cargo de seleccionador nacional. Estes três homens foram do melhor que tivemos no futebol em Portugal. Sobre Ribeiro dos Reis poderão ser encontradas mais considerações no texto

Ricardo Ornellas é um outro nome ilustre mas esquecido do nosso desporto. Formado na Casa Pia foi depois empregado de escritório, jornalista desportivo ("Diário Popular", onde chegou a chefe de redacção e "A Bola", onde assinou com o pseudónimo de Renato de Castro), treinador de futebol (Casa Pia AC) e seleccionador nacional. Foi autor de diversos livros sobre futebol. Em 1966, um ano antes de falecer foi distinguido pelo Governo de Portugal com a medalha de Bons Serviços Desportivos. Na comitiva olímpica de 1928 desempenhou o cargo de adjunto de Cândido de Oliveira embora nas listas de inscrição apareça como jogador.

José Salazar Carreira foi prestigiado sportinguista e figura essencialmente ligada ao atletismo. Foi também um homem muito bem relacionado com as elites políticas do antigo regime. Salazar Carreira desempenhou diversos cargos tais como a Presidência do Sporting Clube de Portugal (1925-1927), da Associação de Lisboa de Atletismo, da Associação de Lisboa de Râguebi, da Federação Portuguesa de Atletismo, da Federação Portuguesa de Futebol (1930-1931) e da Confederação de Desportos. Foi igualmente um destacado membro do Comité Olímpico Português. Se há clube que teve presença e influência privilegiada nas altas esferas políticas e desportivas na época foi o SCP. A figura de Salazar Carreira é o exemplo mais destacado desse poder e privilégio.

Ora, a tarefa de escolher os integrantes da equipa nacional nunca foi fácil ou consensual. Exige quer mérito técnico e físico individual, quer critérios de espírito de equipa, disciplina, adaptação ao modelo de jogo do treinador nacional, quer ainda complementaridade de talentos para compor um colectivo coeso e ganhador. Para além disso e naquele tempo não era particularmente diferente, é necessário tanto quanto possível, garantir representação equilibrada das principais cores clubísticas.

A lista foi evoluindo consoante esses critério, estando patente no arquivo do COP que para lá do grupo de 18, outros jogadores estiveram nas cogitações de Cândido de Oliveira.


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Listas provisórias dactilografadas e manuscritas (pelo punho de António Ribeiro dos Reis) dos escolhidos para a Selecção Nacional que participou na modalidade de futebol dos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928. Fonte: Arquivo COP.



Entre os 18 jogadores do grupo final, o CF "os Belenenses" foi o clube mais representado com 4 jogadores, seguidos do SL Benfica, do Sporting CP, e do Vitória FC todos com 3. Estes quatro clubes eram as forças dominantes desse momento. Depois, Boavista FC, Carcavelinhos FC, Casa Pia AC, FC Porto e União FL contribuíram com 1 jogador. Como se vê os Clubes de Lisboa forneceram 13 dos 18 jogadores, número elucidativo em como o futebol Lisboeta era o mais competitivo e o que tinha os melhores valores individuais nessa época.


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Os "cromos" dos 18 selecionados.



Entre esses 18 jogadores destaque particular para os três Benfiquistas: Vítor Silva e José Gonçalves (Ava) e o Tamanqueiro (Med) e ainda para um futuro Benfiquista: Aníbal José.


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Os Gloriosos olímpicos de 1928.



Jorge Tavares, avançado-centro, era o mais antigo no SLB, onde ascendeu à equipa principal em 1923-1924. Depois, com a chegada de Vítor Silva ao nosso clube, justamente no início de 1928, Jorge Tavares passou progressivamente a jogar cada vez menos. Em 1928 Jorge Tavares estava recuperado de uma doença que o afectou algum tempo antes. Ainda assim, não chegou a jogar em Amesterdão, não saind da sombra de Pepe e Vítor Silva, dois génios do futebol Português.

Vítor Silva foi um avançado sobre-dotado, um dos maiores avançados da nossa História e que foi também uma figura imensamente popular no nosso Clube e no futebol nacional. Estreou-se no SLB em Janeiro de 1928 e na selecção nacional um pouco antes. Em Amesterdão, Vítor Silva foi uma das estrelas maiores da equipa e o seu melhor marcador com 3 golos.

Já o Tamanqueiro foi outro dos que brilhou intensamente, recebendo muitos elogios dos jornalistas presentes, entre os quais se destacou o famosos Gabriel Hanot. No SLB, o Tamanqueiro brilhou com o manto sagrado entre 1926 a 1928, tendo depois regressado ao SC Olhanense no final deste evento olímpíco.

Destaque igualmente para Aníbal José (Med) que nesse final de época de 1927-1928 ainda militava no Vitória FC mas que estava a poucos meses de passar a envergar o manto sagrado. Este excelente e fogoso jogador sadino, contratado para colmatar a saída do Tamanqueiro, brilharia com o manto sagrado de 1928 até 1932. Em Amesterdão não jogou pois estava tapado por três jogadores que consitutuíam um meio-campo sólido e muito rotinado.


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Reconstituição do passaporte olímpico de Anibal José João, ainda com a caimisola do Vitória FC. Fonte: Arquivo COP.



Em contra-ponto, na lista final dos 18 jogadores, não estavam alguns dos nomes mais prestigiados do futebol nacional dessa época. Entre essas ausências, talvez a mais notória tenha sido a do casapiano António Pinho, um defesa brilhante que durante alguns anos fez dupla na equipa nacional com o capitão sportinguista Jorge Vieira. António Pinho era um nome prestigiado no futebol nacional e um dos que em 1921 liderados por Cândido de Oliveira, abandonaram o SLB para fundar o Casa Pia AC. Curiosamente, talvez por isso ou também por isso, António Pinho voltaria ao SLB justamente no início da época 1928-1929... Ou seja abandonou o CPAC pouco tempo depois de Cândido de Oliveira ter optado por não o incluir na lista final dos olímpicos Portugueses.

Depois, podemos ainda lembrar outros jogadores ausentes, alguns dos quais estiveram nos planos iniciais de Cândido de Oliveira. Jogadores como Martinho de Oliveira e Serra Moura (Sporting CP), José Rodrigues (CF Marítimo), Raúl Jorge (FC Barreirense), Francisco Silva "Caramelo" (Vitória FC).



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Seis jogadores que foram ausências notadas na lista dos selecionados para a equipa olímpica de 1928.


Entre os Benfiquistas que não foram selecionados, percebe-se que os Jogos de 1928 vieram já numa fase de final da carreira de prestigiados jogadores como Jesus Crespo, Vítor Gonçalves, José Simões, Mário de Carvalho e José Bentes Pimenta. Outros como Vítor Hugo ou Ralf Bailão também não foram escolhidos por Cândido de Oliveira, presumivelmente apenas por questões técnicas uma vez que nessa época eram figuras de primeiro plano na equipa Benfiquista.



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Alguns dos melhores jogadores Benfiquistas que não foram selecionados para Amesterdão, 1928.


Fechadas as escolhas, tratadas as burocracias, passaportes, bilhetes, reservas de hotel, inscrições, era chegado o tempo da partida. A opção foi fazer a viagem de comboio numa longa jornada ferroviária Europa fora que, partindo da estação do Rossio os levou para terras Holandesas. A viagem fez-se em duas etapas, primeiro Lisboa – Paris e depois Paris – Amesterdão. A selecçao pernoitou ainda em Paris antes da segunda etapa . Estava em curso a primeira grande aventura do futebol Português nos Jogos Olímpicos.


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Dia 21-05-1928, dia de despedida dos jogadores da selecção nacional de futebol que partiram no comboio para participar nos Jogos de Amesterdão, 1928. Fonte: TT.



Não temos muitos detalhes sobre o que aconteceu na longa viagem mas ao que parece desde as primeiras horas instalou-se um clima de grande camaradagem nas carruagens. Boa disposição, alegria e guitarradas! É logo no início deu-se um episódio pitoresco pois Carlos Alves tinha levado a sua guitarra e um dos acompanhantes da equipa era o Capitão Sousa Martinho, por sinal um bom guitarrista. E para melhorar, Ribeiro dos Reis compôs logo ali, de improviso, uma série de quadras. As primeiras horas da viagem forma assim passadas ao som de guitarradas à Portuguesa com os versos de Ribeiro dos Reis a ecoar nas carruagens. Festa tuga, com certeza. Os versos seriam mais tarde publicados na revista Ilustração, e por isso aqui se podem reproduzir - com vénia - numa montagem alusiva ao pitoresco episódio.


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Carlos Alves com a sua guitarra Portuguesa, Ribeiro dos Reis autor das quadras e o Cap. Cousa Martinho o guitarrista de serviço,  animaram a comitiva Portuguesa nas primeiras horas da longa viagem de comboio Lisboa – Amesterdão. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e TT.



De notar que Ribeiro dos Reis falava nos seus versos nos nomes de 11 dos 18 selecionados, deixando claro quais eram os titulares da equipa. Outros tempos.
Chegados a Amesterdão a comitiva teve a desilusão de constatar que o Hotel Holanda, reservado pelo COP tinha quartos que se assemelhavam mais a albergues de 4 paredes onde tinham sido acumuladas camas para acolher grupos de 3 ou 4 jogadores. Aliás nem todos cabiam nesse Hotel tendo 4 deles que se alojar num outro. Inacreditável... Nem armários nem gavetas nem prateleiras, uma situação incompatível com alta competição.

Ao que parece tudo se deveu à incúria de quem tinha reservado o hotel sem ter o prévio cuidado de verificar as condições que seriam oferecidas à comitiva Portuguesa. Como homens dignos que eram, os dirigentes até reservaram o pior quarto para eles nas águas-furtadas... Havia que resolver a situação! Ao fim de dois dias e após sucessivas reclamações, enfim lá apareceram os móveis e lá foram descongestionados os quartos. Estava tudo pronto para a grande competição.


Que comecem os Jogos!




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Novembro de 2017, 23:05
-184-
Amesterdão 1928 (parte III) – um Chili saboroso


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A equipa titular contra o Chile.



Foi este o onze titular Português no torneio olímpico de futebol dos Jogos de Amesterdão, 1928. E seria nos restantes jogos com excepção do jogo contra a Jugoslávia em que jogou João dos Santos no lugar de Armando Martins, que estava tocado.



Um princípio de sonho


O sorteio ditou que iniciaríamos a competição defrontando nos 1/16 de final a aguerrida selecção do Chile. O Chili como então se dizia, tinha atletas baixos mas com aparente melhor robustez do que os nossos homens. Havia desconhecimento da valia do adversário e havia também o nervosismo próprio da inexperiência e do novidade de tudo o que rodeava a nossa comitiva.

Alguns jornais deram eco de como foi a manhã desse dia de estreia. No hotel, a comitiva Portuguesa ia lutando como podia contra os nervos de estreia. Num quarto ouvia-se o som da guitarra e alguém que trauteava um fado. Era o Tamanqueiro que cantando aliviava os o que lhe ia na alma.

Aliás, o Tamanqueiro, uma personagem única onde quer e com quem estivesse, era o centro das atenções.


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As palavras de Cândido de Oliveira sobre o Tamanqueiro antes e durante o jogo contra o Chile. Fonte: DL-CasaComum.



Nos quartos ao lado falava-se para enganar os nervos mas sem tocar no jogo. O almoço foi cedo. Pouco depois começaram depois a surgir os poucos Portugueses que tinha ido para apoiar: Dois setubalenses Teixeira e Luz, os benfiquistas Francisco Silveira e Artur Aires, os sportinguistas capitão Sousa Martinho, Caleya Ribeiro, Mário Madeira, Leiria Pinto e Gonçalves Madeira. Nervos, esperança, expectativa...Tudo era novo e desafiante. Mais guitarradas, mais conversas. O Capitão Sousa Martinho mudou-se então para o piano e começou a tocar... Cantou-se em coro as estrofes do hino nacional. Repetiu-se o canto já dentro do autocarro. Estava tão perto a hora desse primeiro jogo.


Enfim no estádio!


Chegados aos balneários foi tempo para vestir a camisola das quinas. A nossa equipa vestiu uma camisola vermelha, calção azul-ferrete, meias negras com canhão listrado de verde e branco. Era hora de entrar em campo e saudar a assistência. Enfim o jogo!


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E assim no dia 27 de Maio de 1928 o Estádio Olímpico de Amesterdão deu-se a estreia do nosso País numa competição olímpica de futebol. Sob arbitragem do egípcio Mohammed e defrontando os chilenos que se apresentavam com camisola azul clara e calção branco, a nossa selecção jogou contra o vento na primeira parte.

O jogo começaria mal pois logo aos 3 minutos de jogo os chilenos marcaram um golo depois de um pontapé a 20 metros da baliza. Um golpe duro mas a nossa equipa continuou a jogar com bastante ardor. Mas aos 14 minutos os Chilenos voltaram a marcar na sequência de um centro vindo do lado direito a que se seguiu mais um remate de fora de área.

A piorar tudo, aos 33 minutos o nosso interior esquerdo, o sadino Armando Martins, caiu no relvado gritando com dores após carga a pés juntos sobre o seu joelho direito. Foi retirado em braços perante os aplausos da assistência. Naquele tempo não eram permitidas substituições e por isso passamos a jogar 10 contra 11 e com um marcador que indicava 0-2. Logo a seguir Roquete salvou o que poderia ter sido o 0-3. Desanimo? Derrotismo? Baixar de braços? Nada disso!


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Dia 27 de Maio de 1928. Portugal defrontou e venceu o Chile por conclusivos 4-2.


Dez minutos depois de sair, Armando Martins conseguiu regressar ao relvado entre os aplausos da assistência. Os cerca de 2.300 espectadores estavam maioritariamente com a nossa Selecção. E foi aí nessas contrariedade que emergiu a raça da nossa equipa, com o espírito guerreiro do Tamanqueiro a inspirar outro cenário. Aos 38 minutos um centro do sportinguista José Manuel Martins foi correspondido por Vítor Silva, o magnífico avançado Benfiquista, que fez o primeiro golo Português. GOLO! Todo o Estádio aplaude. Havia esperança!

Pouco mais de um minuto depois e aproveitando a desconcentração dos Chilenos, a nossa selecção fez o segundo golo quando José Manuel Martins arrancou novo centro que foi aproveitado pelo lendário belenense Pepe. GOLO! Incrível! Sensacional! Ainda antes do final da primeira parte a nossa selecção chegava ao empate!


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A superioridade Portuguesa acentuaria-se durante a segunda parte, ficando finalmente expressa com mais dois golos. Pepe fez o seu segundo golo da tarde aos 60 minutos e o último da autoria do portista Valdemar Mota foi apontado aos 63 minutos depois de uma jogada individual. Sentindo-se derrotados os sul-americanos passaram a abusar do jogo duro até ao final do jogo mas de nada lhes serviria.

Segundo as crónicas a nossa equipa distinguiu-se pela raça e pela precisão de passe. Para lá dos dois golos de Pepe, o grande destaque da equipa foi mesmo o Tamanqueiro que motivou com a sua raça e talento toda a da nossa equipa. Vítor Silva esteve menos bem mas ainda assim marcou um golo crítico que iniciou a recuperação.


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A avaliação de Cândido de Oliveira sobre o desempenho dos dois Benfiquistas. Fonte: DL-CasaComum.


Cândido de Oliveira confessou que a nossa equipa esteve à beira do abismo mas que soube reagir a tempo, jogando bem mas também jogando "à doida, de olhos fechados - em direcção ao golo do Chile". Com inteiro merecimento a equipa Portuguesa seguia assim para os oitavos-de-final onde iria defrontar a aguerrida selecção da Jugoslávia.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Novembro de 2017, 20:28
-185-
Amesterdão 1928 (parte IV) – e todas as esperanças foram permitidas


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Um dia de felicidade! A equipa técnica e a rapaziada a abraçar Augusto Silva, o herói da tarde!



Apenas dois dias depois, a 29 de Maio, a nossa selecção defrontou a selecção da Jugoslávia, representante de um futebol sempre feito de força e virtuosismo técnico. O jogo foi disputado no Oude Stadion (Estádio Velho), oficialmente conhecido como Het Nederlandsch Sportpark. Com cerca de 1200 pessoas a assistir a nossa equipa alinhou com a mesma equipa à excepção de Armando Martins que tocado foi substituído por João dos Santos, um outro sadino.



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A equipa que defrontou e venceu a Jugoslávia (2-1).



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Os dois estádios da competição olímpica. O Estádio Olímpico de Amesterdão e logo ao lado o Estádio Velho onde Portugal defrontou a Jugoslávia no dia 29 de Maio de 1928. Fonte: wikipedia.



(https://s8.postimg.org/fl810dnsl/4.04.jpg)
Um aspecto mais aproximado do Het Nederlandsch Sportpark onde Portugal defrontou a Jugoslávia. Fonte: architectureofthegames.net



Entramos bem em jogo e após alguma insistência inauguramos o marcador aos 24 minutos, quando o belenense Augusto Silva lançou Pepe que serviu excelentemente Vítor Silva. Este não se fez rogado e inaugurou o marcador este para Portugal. GOLO!

Era o segundo golo na competição do nosso inesquecível avançado. Mas os Jugoslavos não esmoreceram e conseguiram empatar 14 minutos com um belo remate de longe. No final da primeira parte o resultado registava um empate a 1 golo e tudo estava em aberto.


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Vítor Siva, um avançado sobre-dotado que nos primeiros anos usou frequentemente uma boina. Seria o melhor marcador Português nesta competição. Olímpica. Fonte: TT.



(https://s8.postimg.org/vjgqqnux1/4.06.jpg)
Diversos aspectos de antes, durante e depois do jogo Portugal 2 – Jugoslávia 1.



https://youtu.be/vX7TwKP_ZnM (https://youtu.be/vX7TwKP_ZnM)
Video do Portugal 2 – Jugoslávia 1.



Na segunda parte destaque inicial para ambos os guarda-redes que evitaram esforçadamente diversos golos. O público dividiu-se no apoio, os lances perigosos sucediam-se, o jogo estava bom. Um golo seria decisivo para definir o vencedor. E foi nesse cenário que a nossa equipa começou a evidenciar preocupantes sinais de fadiga.

Nesse tipo de jogos um talento individual pode resolver o impasse e nesse dia esse papel coube ao talentoso belenense Augusto Silva, o médio centro da nossa selecção. A dois minutos do fim, Augusto Silva arrancou em força, forçou o caminho, driblou, até que conseguiu desferir um remate fantástico a um canto da baliza Jugoslava. Um grande GOLO!


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Carregando sobre a baliza jugoslava.



Faltavam dois minutos. Ribeiro dos Reis corria como doido na bancada, dando indicações sobre o tempo que restava. Frenesim. Nervos. Gritos dentro e fora de campo. E depois de um sofrimento interminável lá veio o apito final. Explosão de alegria em pleno relvado! Festa à Portuguesa!

Portugal estava nos quartos-de-final. Dois jogos, duas vitórias, um belo futebol e duas belas exibições muito elogiadas pela crítica. Um registo magnífico para uma selecção então desconhecida, estreante em grandes competições internacionais e que tinha apenas poucas dezenas de jogos nos sete curtos anos do seu historial. Em toda a comitiva sentia-se uma enorme satisfação de ter prestigiado o País e também a ilusão do que ainda estava para vir.

A equipa Portuguesa defrontaria nos quartos-de-final a selecção do Egito.

E todas as esperanças foram permitidas.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Novembro de 2017, 10:14
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Amesterdão 1928 (parte V) – morrer sim, mas de pé...


Lisboa, dia 4 de Junho de 1928. Uma multidão aglomera-se junto a uma sucursal do jornal O Século.



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A multidão aglomerada junto do jornal "O Século" sedenta de informação do andamento dos jogos de futebol. Fonte: TT.



Esta foi uma imagem que se repetiu em todos os jogos que Portugal disputou no torneio olímpico de Amesterdão 1928. Os populares buscavam avidamente informação actualizada sobre o andamento do Portugal – Egipto, jogo dos quartos-de-final da referida competição. À falta de televisão ou rádio, para os mais impacientes a única possibilidade de ter informação actualizada e credível era através da afixação de notícias nas portas dos edíficios onde funcionavam das redacções dos maiores jornais da época ("O Século" e o "Diário de Notícias") ou das suas sucursais mais importantes.

O entusiasmo popular foi crescendo à medida que iam surgindo os resultados positivos. Vivia-se uma inédita e inusitada esperança nas capacidades da nossa Selecção. O fervor nacionalista promovido pelo regime mais ajudou à identificação com a equipa nacional. Da Holanda vinham relatos de uma equipa Portuguesa lutadora e talentosa que honrava as quinas que tinham ao peito. O orgulho nacional estava no máximo.



O jogo da (des)ilusão


Fomos eliminados. Foi uma desilusão tremenda em Amesterdão e em Portugal. Desilusão e revolta, diga-se. Mas lá iremos.

Nesse dia 4 de Julho a nossa selecção regressou ao Estádio Olímpico de Amesterdão para defrontar o Egipto. O jogo não correu bem. Sofremos dois golos, marcamos dois golos mas acabamos por perder o jogo. Dito de outra forma tivemos pouca sorte e um mau árbitro. À superioridade técnica da nossa equipa os Egípcios contrapuseram com uma equipa mais rápida e que fechou muito bem os caminhos para a sua baliza. Os Egípcios tinham também a vantagem de ter maior experiência em competição olímpica uma vez que 4 anos antes tinham competido em Antuérpia 1920, onde aliás bateram a favorita Hungria (equipa onde jogavam Béla Gutmann e János Biri...) por 3-0.


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Dia 4 de Julho de 1928, Portugal 1 – Egipto 2. Os capitães das equipas de Portugal e do Egipto e a equipa de arbitragem. O árbitro italiano foi o grande protagonista do jogo que eliminou Portugal.



Nesse dia Cândido de Oliveira voltou a contar com Armando Martins e assim pode voltar fazer alinhar a sua equipa titular. Durante o jogo, apesar de generosos no esforço, os Portugueses não esconderam o cansaço acumulado das duas partidas anteriores. Cândido de Oliveira apresentou praticamente sempre o mesmo 11 e o conceito de gestão de esforço era então muito diferente...

Portugal alinhou com o seu equipamento para aquela competição com camisola vermelha, calção azul-ferrete, meias negras com canhão listrado de verde e branco. A Selecção Egípcia alinhou com camisola verde-claro, calção branco


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O onze que defrontou os Egípcios no Estádio Olímpico de Amsterdão no dia 4-07-1928.



A equipa Portuguesa sofreu o primeiro golo dos egípcios aos 20 minutos, na primeira verdadeira jogada de perigo dos Egípcios. Foi um lance infeliz do guarda-redes Roquete que optou não por agarrar mas por rechaçar uma bola para o pior sítio possível. Roquete voltaria a falhar no segundo golo dos Egípcios já aos 4 minutos da segunda parte depois de uma saída extemporânea. Mais tarde, com a elegância que o caracterizava, Cândido de Oliveira admitiria que nesse dia Roquete tinha comprometido a equipa. O reparo foi justo mas infelizmente para Cândido de Oliveira, o lado negro de António Roquete não se manifestaria só dentro de campo nesse dia mas também fora do campo alguns anos mais tarde. Mas desse triste aspecto não nos cumpre desenvolver aqui.



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Dia 4 de Julho de 1928, Portugal 1 – Egipto 2. Foi um dia negro para António Roquete.


A perder por 0-2 não restava outra alternativa à nossa equipa senão carregar ainda mais sobre os africanos. Rematamos muito, investimos com ardor e generosidade até que a pressão sobre os Egípcios se tornou asfixiante. Alugava-se meio campo mas golos... nem vê-los!


https://youtu.be/e4H5XZL4Zk4 (https://youtu.be/e4H5XZL4Zk4)
Vídeo do jogo Portugal 1 – Egito 2, disputado no dia 4 de Julho de 1928.


Por fim, Vítor Silva fez um remate que o guarda-redes egípcio defendeu já dentro da baliza. Só que o Egípcio foi fino e mesmo acoçado por Pepe e Vítor Silva que tentavam confirmar o tento, arremessou a bola para fora. Espantosamente, apesar do Senhor Vuyk, o fiscal de linha holândes ter assinalado o golo e o público ter celebrado o lance, o árbitro italiano decidiu nada apontar. Um escândalo.


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O guarda-redes Egípcio e o árbitro italiano foram os principais protagonistas do resultado final.



Essa decisão sentenciou o resultado mas mesmo assim e até final do jogo, Vítor Silva conseguiria ainda marcar o nosso golo de honra depois de uma espetacular jogada individual em que driblou todos os adversários que lhe apareceram à frente. Um belo lance do nosso jogador que nem aquele árbitro conseguiu anular.

A partida chegou ao final mas era indesmentível o peso negativo que aquela decisão tinha sobre o resultado final. O fiscal de linha Vuyk chegou ao ponto de discutir com o árbitro acerca da decisão no lance que definiu o jogo mas de nada valeu. O mal estava feito e o resultado selou uma injustiça. Morremos, mas de pé.


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Fonte: DL-CasaComum



Igualmente inútil foi o protesto que mais tarde foi formalizado pela comitiva Portuguesa perante tal arbitragem. O COI julgou-o imprecedente, validando a passagem dos Egípcios à meia-final.

(https://s8.postimg.org/erexi3bzp/5.07.jpg)
Fonte: DL-CasaComum



Como depois se viu, a equipa Egípcia gastou todos os cartuchos no jogo contra Portugal uma vez que na meia-final foi esmagada pela Argentina por 6-0. Para os 3º e 4º lugares os africanos seriam depois massacrados por 11-3 pela Itália. A selecção do Sr. Mauro acabou por ter um docinho no jogo de atribuição dos 3º e 4º lugares.

No desafio da final os Argentinos seriam impotentes (1-2) para travar o Uruguai que assim renovou o seu título olímpico que tinha sido conquistado em Paris, 1924. Na avalizada opinião de Cândido de Oliveira, os Uruguaios foram indiscutivelmente a melhor equipa do torneio mostrando uma técnica e uma coordenação como equipa bastante superior às restantes.


(https://s8.postimg.org/k43rvuphx/5.08.jpg)
Quadro dos resultados do torneio olímpico a partir dos oitavos-de-final do torneio de futebol em Amesterdão, 1928. Portugal jogou ainda um jogo de pré-eliminatória (1/16) contra o Chile (4-2). Fonte wikipedia.



Curiosamente tanto e selecção olímpica do Uruguai como a da Argentina tinham passado por Lisboa em trânsito para Amesterdão. No caso da selecção Argentina houve até um jogo contra a nossa selecção que acabou num nulo 0-0.


(https://s8.postimg.org/wiqjw9oqt/5.09.jpg)
A equipa do Uruguai, campeã olímpica em Amesterdão 1928, quando passou em trânsito por Lisboa. Fonte: TT.



(https://s8.postimg.org/5xo10q1t1/5.10.jpg)
A equipa Argentina, vice-campeã olímpica em Amesterdão 1928, quando passou em trânsito por Lisboa. Fonte: TT.




Balanço final

Em resumo, a nossa selecção registou duas vitórias e uma derrota com 7 golos marcados e 5 sofridos. Vítor Silva com 3 golos foi o nosso melhor marcador na competição, sagrando-se assim o melhor marcador da nossa equipa. Segundo o site Sports.reference, Vítor Silva foi o mais jovem atleta Português desses jogos com 19 anos e 97 dias.
Como nota saliente ficaram os muitos elogios da imprensa e o carinho e reconhecimento por parte dos adeptos Portugueses.


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Fonte: DL-CasaCoum


Individualmente houve diversos destaques, embora a coesão da equipa tenha sido o aspecto mais salientado.


(https://s8.postimg.org/icat16qs5/5.12.jpg)
Os destaques (com saliência particular para os Benfiquistas) da nossa selecção. Fonte: DL-CasaComum.



(https://s8.postimg.org/me1jhirl1/5.13.jpg)
Quadro final da participação Portuguesa no torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: WHERO em 21 de Novembro de 2017, 12:10
Por contingências várias, à Terça-feira sobra-me sempre parte desta precoce hora de almoço. E à Terça-feira, religiosamente, cá venho eu a este tópico reler mais uma história, ou duas, ou três, em páginas aleatórias. E mesmo quando já parece impossível fico sempre, sempre, um pouco mais benfiquista.

Obrigado RedVC. Este tópico é ouro e se nunca for transformado em livro será uma gigante perda para o universo benfiquista e para o país no geral, pois tantas vezes a história desta instituição representa também momentos marcantes do último século em Portugal. Obrigado por nos proporcionares estes momentos.

:bandeira1: :bandeira2: :bandeira1: :bandeira2: :bandeira1:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Novembro de 2017, 13:08
Citação de: WHERO em 21 de Novembro de 2017, 12:10
Por contingências várias, à Terça-feira sobra-me sempre parte desta precoce hora de almoço. E à Terça-feira, religiosamente, cá venho eu a este tópico reler mais uma história, ou duas, ou três, em páginas aleatórias. E mesmo quando já parece impossível fico sempre, sempre, um pouco mais benfiquista.

Obrigado RedVC. Este tópico é ouro e se nunca for transformado em livro será uma gigante perda para o universo benfiquista e para o país no geral, pois tantas vezes a história desta instituição representa também momentos marcantes do último século em portugal. Obrigado por nos proporcionares estes momentos.

:bandeira1: :bandeira2: :bandeira1: :bandeira2: :bandeira1:


Obrigado Whero  O0
O Decifrando traz-me três grandes recompensas que se complementam de forma maravilhosa: o conhecimento, a partilha e o Benfiquismo.

O reconhecimento dos outros Benfiquistas tem um valor inestimável para mim e é uma larga recompensa para as horas que invisto na investigação.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Novembro de 2017, 19:34
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Amesterdão 1928 (parte VI) – emoções à Holandesa

Dia 10 de Junho de 1928. Estação do Rossio, Lisboa. Foi o dia do regresso dos heróis de Amesterdão.



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Fechamos esta série, voltando ao ponto de partida. A chegada da comitiva Portuguesa a Lisboa foi apoteótica. Foram banhos de multidões em festa, que espalhadas pelo percurso entre o Rossio e os Paços do Concelho, aclamando e forma entusiástica os futebolistas e restante comitiva.


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O regresso apoteótico dos heróis de Amesterdão. Multidões vitoriaram os heróis de Amesterdão.


A participação do futebol Português em Amesterdão foi um enorme sucesso desportivos, social e teve aproveitamento político. À sua chegada os jogadores foram submersos pelo carinho popular. Portugal vivia um tempo marcado pelo isolamento, pelo provincianismo e em que qualquer feito internacional tinha um profundo impacto sobre a vida nacional. Esses raros feitos era também aproveitados por um regime interessado em construir uma ideia musculada de nação e de nacionalismo.


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Antes como agora, o inevitável aproveitamento político. Interessa pouco identificar os militares e políticos. Honra ao s jogadores. Fonte: TT-digitarq.



Nesse dia as ruas de Lisboa encheram-se de gente e transbordaram de entusiasmo popular. Imagens apenas comparáveis às das celebrações dos feitos de pioneiros da nossa aviação: Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Sarmento de Beires, Brito Pais, entre outros.



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Ecos de imprensa sobre a chegada dos futebolistas que competiram em nos Jogos Olímpicos de Amesterdão. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Mas entre essa enorme massa humana que quase submergiu os heróis de Amesterdão, ainda assim ali no meio da festa foi possível ver alguns episódios de carinho familiar. Um deles foi particularmente bonito, senão atentem:


(https://s7.postimg.org/8dtijxzff/6.05.jpg)
A emoção do regresso. O beijo mais esperado. Fonte: TT.



Para ver há que olhar com cuidado para a fotografia. Ali, bem no meio da multidão, viu-se um dos jogadores a receber o beijo mais terno, o beijo de sua Mãe. E, ao contrário do que as legendas de alguns periódicos da época referiam, esse filho não foi César de Matos do Belenenses mas antes Carlos Alves, o primeiro luvas-pretas e jogador do Carcavelinhos FC. Dito de outra forma, aquela Senhora a beijar o seu filho era a bisavó paterna de João Alves, o nosso imortal luvas-pretas.



Tuguices...


(https://s7.postimg.org/ddqyrbkbf/6.07.jpg)
Meninas "órfãs" no Estádio... Fonte: delcampe



E há que terminar com boa disposição. Afinal foi uma aventura em terras estrangeiras. Não é de agora. Onde há rapaziada Portuguesa ligada ao futebol não faltam histórias pitorescas, muitas delas com saias à mistura. Apesar de um pouco baralhados pela inexistência de vida nocturna e pelos horários das Holandesas que se deitavam cedinho, os nossos rapazes lá foram encontrando fontes de diversão.

Na Holanda, muito do que se passou em Amesterdão terá ficado em Amesterdão. Muito... mas não tudo. Alguma coisa lá se foi sabendo pelos relatos de um repórter do DL que ouviu muitas bazófias as risotas e viu algumas das escapadelas da rapaziada. Alguns deles lá se foram confessando ou se acusando mutuamente de algumas aventuras Holandesas... Leiam, sorriam e já agora perguntem o que fariam se também lá tivessem estado...



(https://s7.postimg.org/ha4anm2tn/6.07b.jpg)

(https://s7.postimg.org/71bthh9jf/6.07c.jpg)

(https://s7.postimg.org/fv2pyymbv/6.08.jpg)

(https://s7.postimg.org/9u511x2aj/6.09.jpg)

(https://s7.postimg.org/82c27162z/6.10.jpg)



Moral da história: aquilo foi mesmo uma balbúrdia de saias a esvoaçar e nada do que foi dito depois fez atenuar a cara feia de António Ribeiro dos Reis que lá foi dizendo:


(https://s7.postimg.org/k47g18zwr/6.11.jpg)


Mas depois nada mais se soube, nada aconteceu...

Há que dizer que no fundo os próprios dirigentes terão compreendido a excepcionalidade desses dias Holandeses uma vez que também eles apreciaram alguns aspectos lúdicos e turísticos da bela região de Volendam.


(https://s7.postimg.org/wwvk0rj3v/6.12.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Durante essas visitas, Ribeiro dos Reis e Salazar Carreira exibiram sorridentes os barretes tradicionais dos velhos pescadores de Volendam, comprados e usados para entrar no espírito da bela terra Holandesa.

Mas nem tudo foi diversão pois, como ficou provado em fotografia, os dois dirigentes também mostraram trabalho ao participarem no congresso da FIFA que decorreu na capital Holandesa aproveitando a presença de representantes das diversas federações.


(https://s7.postimg.org/bzzbw5q8r/6.13.jpg)
Dois aspectos da reunião e convívio dos delegados das diversas Federações de futebol representadas num Congresso organizado pela FIFA em Amesterdão, 1928. Do lado Português participaram Ribeiro dos Reis e Salazar Carreira. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Caso para dizer que houve tempo para tudo. Bom futebol, longas viagens, belas guitarradas, versos espirituosos e fados sentidos. Depois, mais futebol, muitas alegrias, algumas tristezas, diversas zangas e alegrias, muitos namoricos e escapadelas à Portuguesa. Foi uma comitiva à Portuguesa, com certeza!




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 23 de Novembro de 2017, 20:18
A unica palavra que tenho que dizer em relaçao ao user RedVC,é obrigado.O trabalho de pesquisa feito neste tópico merecem todo o agradecimento possivel. O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Novembro de 2017, 22:51
Citação de: Alexandre1976 em 23 de Novembro de 2017, 20:18
A unica palavra que tenho que dizer em relaçao ao user RedVC,é obrigado.O trabalho de pesquisa feito neste tópico merecem todo o agradecimento possivel. O0

Obrigado Alexandre!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2017, 10:12
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Caçador de leões

1924, Moçambique, distrito de Chemba, extremo Norte da actual Província de Sofala.


(https://s18.postimg.org/oyk58hiqx/image.jpg)
Final de uma caçada ao leão em Chemba, Moçambique. Legenda original: Pose de grupo com o que parece ser uma leoa, após a sua caçada em Chemba, 1924. Para além dos residentes locais, vêem-se ao centro a então jovem Ester Maria Portugal Deveza (Mãe do Luis Deveza), junto da sua Mãe Gerthy Tomás da Costa Portugal (Avó do Luis) e à sua direita Ermelinda Tomás da Costa Sobral, prima de Gerthy e mulher do famoso caçador Carlos Sobral, que foi quem tirou a fotografia. A jovem Ester viria a ser a primeira Mulher aviadora em Moçambique. Ver: https://delagoabayworld.wordpress.com/2017/09/26/uma-cacada-em-chemba-e-o-cacador-carlos-sobral-1924/ (https://delagoabayworld.wordpress.com/2017/09/26/uma-cacada-em-chemba-e-o-cacador-carlos-sobral-1924/)



Esta fotografia que retrata o final de uma caçada a um leão foi publicada no magnífico blogue delagoabay, a quem foi cedida pelo Sr Luis Deveza. Mas para nós Benfiquistas, o maior interesse está não à frente mas atrás da câmara que captou a imagem. O homem que fotografou esta imagem foi o próprio caçador do leão, o grande campeão Carlos Burnay da Cruz Sobral.


(https://s18.postimg.org/41nx3tsft/image.jpg)
Carlos Burnay da Cruz Sobral (1891-1926). Fonte Hemeroteca de Lisboa




(https://s18.postimg.org/m4gzv2j5l/image.jpg)
Carlos Sobral posando com um dos 12 leões abatidos antes do fatídico número 13. Nota-se a arma e o cigarro na mão direita.



(https://s18.postimg.org/9pu7us9nt/image.jpg)
Aspecto de um leão abatido e transportado por indígenas. Fonte: TT-digitarq



É verdade que, nos dias de hoje, estas fotografias de caça chocam-nos e embaraçam-nos mas é preciso compreender o tempo e o contexto em que aconteceram. É certo que os relatos dessas batidas muitas vezes referem que eram importantes para controlar o número de leões que aterrorizavam algumas populações nativas mas não sejamos ingénuos, deixando de perceber que a principal motivação dos caçadores centrava-se na vaidade pessoal e no acto de poder e "prestígio pessoal" que provinha de se caçar um leão.


A tragédia


Neste dia 26 de Novembro de 2017 cumprem-se 91 anos que este homem notável faleceu no Hospital de Caia em Moçambique.

No dia 26 de Novembro de 1926, Carlos Sobral falecia vítima dos terríveis ferimentos recebidos dias antes na caçada do seu 13º leão. Morreram ambos depois de uma luta implacável corpo a corpo. O leão morreu ali no local da caçada mas os ferimentos que infligiu a Sobral seriam igualmente terríveis e fatais.

Homem matou o leão, leão matou o homem.

(https://s18.postimg.org/h5thglzy1/image.jpg)


Vítima das garras e dentes desse 13º leão, Carlos Sobral foi transportado para o Hospital de Caia em estado crítico. Os médicos foram no entanto impotentes para evitar o desenlace fatal. Com Carlos Sobral morria um mundo de recordações de um tempo em que o desporto foi mais limpo, mais saudável, mais generoso, completo e formativo.


(https://s18.postimg.org/uzhu5ppzd/image.jpg)
Hospital dos europeus de Caia, 1907. Não deveria ser muito diferente quando em 1926 Carlos Sobral ali sucumbiu. Fonte: TT-digitarq



(https://s18.postimg.org/gt23ahmu1/image.jpg)
Caia é um distrito da província de Sofala, em Moçambique, com sede na vila de Caia. Fonte: TT-digitarq.




Nos grandes espaços de Moçambique


Quando terminou a sua carreira desportiva e decidiu emigrar para Moçambique em busca de desafios profissionais compatíveis com as suas ambições e estatuto familiar, Carlos Sobral passou a integrar os altos quadro da famosa Companhia de Moçambique. E foi nesses espaços que a atracção pela caça grossa lhe entrou no sangue e o levou a múltiplas batidas aos leões.

Conforme nos disse o Sr. António Botelho de Melo, no seu magnífico blogue Delagoabay, a Companhia de Moçambique era uma das companhias majestáticas que operavam na então colónia portuguesa e cuja sede administrativa era na Beira.

Ver texto: https://delagoabayworld.wordpress.com/2017/09/26/uma-cacada-em-chemba-e-o-cacador-carlos-sobral-1924/ (https://delagoabayworld.wordpress.com/2017/09/26/uma-cacada-em-chemba-e-o-cacador-carlos-sobral-1924/)


A Companhia de Moçambique SARL, foi formada em 1888 por Paiva de Andrade, administrando extensas concessões na zona central de Moçambique, de Sofala até Manique. De 1891 até 1941, cumpriu cerca de 50 anos de ambiciosa, pujante e diversificada actividade de negócio. Tinha múltiplos direitos e privilégios exclusivos na exploração das mais diversas áreas de actividade de negócio, desde o sector agrícola até ao sector postal e ferroviário. Tinha inclusivamente o direito de cobrar impostos e taxas diversas, mantendo em contrapartida a obrigação de assegurar serviços públicos e transportes ferroviários às populações e ao restante sector económico, pagando para isso uma taxa ao governo de Portugal.







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Companhia de Moçambique, uma poderosa instituição que participou em exposições internacionais para divulgar as suas actividades e pujança económica.

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Aspectos de uma exposição da Companhia de Moçambique em Antuérpia, 1930.



Desconheço detalhes sobre a sua carreira como profissional desta poderosa companhia mas presumo que nesse percurso sofreu alguns dissabores frutos do seu carácter vertical. Em Portugal e em Moçambique Carlos Burnay da Cruz Sobral deixou impressivas recordações aos que o conheceram. Aliás ficam na nossa memória as impressivas linhas que sobre ele escreveu o notável escritor Joaquim Paço de Arcos, que com ele privou na sua juventude:


É preciso conhecer certos territórios de África e a eterna dependência em que o português ali vive do Estado ou das grandes companhias, alheado por completo das qualidades de iniciativa que fazem dele no Brasil um elemento tão útil, é preciso conhecer aqueles meios de parasitagem e de covardia, para admirar em todo o seu valor a serena confiança com que Carlos Sobral, por ser português de "antes quebrar que torcer", trocava uma cómoda e rendosa situação pela tão mais humilde e ingrata profissão de pequeno agricultor", afirmava, na introdução, este jovem escritor que iria ser sempre assim, aristocrata pelo espírito e inconformado com o espectáculo da decadência do País e de certos valores.


Joaquim Paço de Arcos faria de Carlos Sobral o protagonista do seu romance "Herói Derradeiro"


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Herói derradeiro, obra do escritor Joaquim Paço de Arcos da qual Carlos Sobral foi protagonista.




Desportista ecléctico e campeão


Nascido, provavelmente no dia 2-11-1887, em Lisboa ou eventualmente no Porto, Carlos Burnay da Cruz Sobral era filho de Carlos Maria de Barros e Vasconcelos da Cruz Sobral e de Cecília Eugénia Burnay. Nasceu no seio de uma família privilegiada e bem posicionadas na sociedade de então, tendo recebido uma educação esmerada que incluiu o gosto pela prática desportiva.


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Carlos Burnay e alguns dos seus famíliares mais próximos. Fonte: Geneall




E cedo essas suas magníficas capacidades atléticas se manifestaram nas mais diversas modalidades desportivas, com destaque para a natação, remo e mais tarde o futebol.


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Carlos Sobral, destacado por Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Fonte: Em Defesa do Benfica.



Foi durante bastantes anos um notável atleta náutico do Clube Naval de Lisboa e de futebol do Clube Internacional de Futebol, o popular CIF. Foi campeão de natação e de remo. Rapidamente passou a ser um dos mais prestigiados nomes do desporto nacional.


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Carlos Sobral integrado numa equipa do CIF que jogou na Corunha em 1912. Fonte: AML.



Da sua notável carreira desportiva já dele aqui falamos no texto "45- Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral."  (ver na página 12), salientando que se destacou também com o manto sagrado. Carlos Sobral já tinha uma carreira extensa no futebol 2 épocas no GS Cruz Quebrada, 8 no CIF e uma no SCP, quando em 27 de Junho de 1915 se estreou pelo Sport Lisboa e Benfica num jogo contra os Espanhois do RCD Espanhol. Cosme Damião preparava a sua sucessão no centro do meio-campo.


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[color=maroonEm 1915-1916, Carlos Sobral ainda jogou no Glorioso ao lado de Cosme Damião. Fonte: Em Defesa do Benfica, retirado de História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva, edição de autor.[/color]



Apenas no Sport Lisboa e Benfica Carlos Sobral viria enfim a ser campeão de futebol. E logo conquistando o primeiro tricampeonato da nossa História.


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Carlos Sobral integrado numa das Gloriosas equipas de 1916 a 1919. Alto e forte, posando entre Cândido de Oliveira e Artur Augusto, Carlos Sobral foi um talentoso médio centro que comandou a nossa equipa de honra logo após a retirada dos campos de Cosme Damião.



No SLB seria ainda o introdutor da modalidade de polo aquático, competindo igualmente como nadador. O seu ecletismo e categoria competitiva valorizaram o nosso Clube, dando-nos as primeiras vitórias nessas modalidades.


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No Clube Naval e depois no SLB, Carlos Burnay da Cruz Sobral, um notável desportista que se distinguiu em diversas modalidades, em particular a natação. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



No futebol apesar de ter chegado poucos meses antes, foi nomeado capitão da nossa equipa de honra de 1916 até 1918. Somou um total de 61 jogos, somando 41 vitória e 7 empates, sendo decisivo para a conquista do nosso primeiro tricampeonato regional (1915-1918). Fonte: Alberto Miguéns in Revista do Benfica, 2002.

Infelizmente no final deste período de ouro, Carlos Sobral juntamente com os jogadores nascidos e moradores em Belém, incompatibilizaram-se com a Direcção do nosso Clube depois de uma punição disciplinar a Alberto Rio. O conflito revelou-se insanável estando esse grupo dissidente, sobre a liderança do então sportinguista Artur José Pereira, na base da fundação do CF "os Belenenses".

Mas independentemente deste desfecho infeliz, Carlos Sobral revelou-se sempre um atleta de grande classe, que prestigiou o manto sagrado com o seu esforço e talento. Teve igualmente um papel importante no eclectismo do nosso Clube.


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Pontapé de saída para o jogo SLB-SCP disputado para a atribuição da Taça Amadora em 1916, A menina Santos Matos, filha do industrial com o mesmo nome deu o pontapé de saída. Carlos Sobral observa ao lado de Herculano e Veloso. Fonte: Em Defesa do Benfica, retirado de História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva, edição de autor.


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O estilo lutador e talentoso de Carlos Sobral enquanto jogador de futebol do Glorioso. Fonte: Em Defesa do Benfica, retirado de História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" de Mário de Oliveira e Rebelo da Silva, edição de autor.



Neste funesto aniversário, aqui fica mais uma evocação e homenagem ao grande desportista Carlos Burnay da Cruz Sobral. Que descanse em Paz. Honra à sua memória







Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Dezembro de 2017, 12:18
A todo o pessoal que gosta de parar aqui para ler um bocadinho

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 31 de Dezembro de 2017, 11:21
-189-
O Professor providencial


Dia 31 de Dezembro de 2017. Cumprem-se hoje 141 anos que nasceu Silvestre José da Silva, um ilustre casapiano que veio a ficar para sempre ligado à História do Sport Lisboa e Benfica.


Silvestre José da Silva,

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Silvestre José da Silva (Lisboa, 31 de Dezembro 1876 – 13 de Junho 1952)


Falar de Silvestre Silva é fazer justiça a um homem a quem talvez ainda não tenha sido dado destaque merecido. Um homem que marcou o primeiro golo de um jogo formal em que o nosso Clube, na manhã do primeiro de dia de Janeiro de 1905 defrontou e venceu o Sport Club de Campo de Ourique, jogo que falaremos amanhã.

Nesse dia, o capitão de equipa era um outro casapiano, António Couto, mas o que e certo é que no jogo seguinte – talvez por homenagem dos companheiros – Silvestre Silva assumiu a honra de ser capitão de equipa. Esse jogo, disputado em 22 de Janeiro de 1905 seria menos feliz pois perderíamos por 1-0 contra o forte grupo do Clube Internacional de Futebol, liderado pelos irmãos Pinto Basto. Com o manto sagrado, Silvestre da Silva disputaria 9 jogos (de que existam registos) com 6 vitórias e 3 derrotas.


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Silvestre Silva, capitão de equipa do Sport Lisboa em 1905, carrega a bola de jogo.



Nesse ano de 1905, Silvestre Silva tinha apenas 29 anos de idade mas à luz da época e das condicionantes que o futebol de então tinha, era já um veterano do futebol. Em breve essa veterania mas também os crescentes encargos profissionais na Casa Pia levariam este grande desportista a retirar-se do futebol e a dar lugar a uma nova geração, liderada por Cosme Damião, que traria a glória e a expansão do nosso Clube durante as duas primeiras décadas da nossa História.

Mas como veremos, este nobre e prestigiado casapiano merece ser recordado não apenas por ter marcado aquele golo tão importante – o primeiro de muitos – mas também pot ter sido jogador do Glorioso entre 1904-1906 e ainda por um outro facto que mais à frente falaremos.


Os primóridios casapianos


Silvestre da Silva nasceu em Lisboa no dia 31 de Dezembro de 1876. Por volta dos 8 anos de idade deu entrada na Casa Pia, presumivelmente por ter ficado órfão tendo por lá recebido a esmerada e completa formação para a vida.

A Casa Pia primava pela qualidade da educação mas também por incluir uma rara e excelente formação desportiva. Foram esses anos do princípio da década de 1890-1899 que integrou como destacado membro, as famosas equipas escolares de futebol da Real Casa Pia que em 1896 e 1897 venceram os (quase) imbatíveis Ingleses do Carcavellos Club.

Foi companheiro de outros nomes míticos tais como António Couto, Emílio Carvalho, Francisco dos Santos, Pedro Guedes, Januário Barreto e Bruno do Carmo entre tantos outros nomes célebres do pioneirismo do futebol em Portugal. Curiosamente Silvestre Silva assumia por vezes o lugar de guarda-redes dessas equipas casapianas, alternando com o capitão (de então) Pedro Guedes. Curiosamente no dia 1 de Janeiro de 1905, na nossa primeira equipa, Silvestre Silva seria avançado e Pedro Guedes... guarda-redes!


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Equipas da Casa Pia de 1896 e 1897. Quatro destes jogadores estiveram na primeira equipa do Sport Lisboa no dia 1 de Janeiro de 1905. Emílio de Carvalho, António Couto e Pedro Guedes (todos a amarelo) e Silvestre da Silva (a vermelho). Está também o Dr. Januário Barreto (azul), que mais tarde seria o primeiro presidente eleito do nosso Clube.


A influência que muitos destes homens teriam na implantação precoce mas definitiva de um espírito leal mas ganhador no nosso Clube foi absolutamente determinante. A camada casapiana foi um dos elementos fundamentais no nascimento e popularidade do nosso Clube. Todos estes nomes pertenciam ao famoso Grupo Margiochi, o célebre Director da Casa Pia que nesse tempo contribuiu decisivamente para a prática e popularidade do futebol na Casa Pia (ver texto -78- Um casal virtuoso, pág. 23).


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Grupo Margiochi. Silvestre Silva salientado a vermelho, Januário Barreto e Bruno do Carmo (militar) a azul, Pedro Guedes, António Couto, José Netto e Emílio de Carvalho (da esquerda para a direita) a amarelo



De forma visionária mas também carinhosa, foi o Director Margiochi o homem que custeou do seu bolso a importação de uma bola de futebol de Inglaterra e que a entregou de forma formal aos alunos Januário Barreto e Bruno do Carmo. Essa mítica bola de futebol serviu para os jovens casapianos darem as primeiras cheias no pátio das Malvas, ali em Belém, terra-mãe do futebol em Portugal. Foi o princípio de tudo. Silvestre Silva estava lá.


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Pátio das Malvas. Os alunos da Casa Pia em exercícios físicos. Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Mais tarde, funda a sua formação como aluno casapiano, Silvestre Silva integrou a efémera mas essencial Associação do Bem, que em 1903 tentou reactivar o associativismo casapiano de antigos alunos agora crescentemente integrados no mercado de trabalho, na sociedade e nas artes em Portugal.


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Estreia da equipa da Associação do Bem num jogo com o Grupo Académico de Futebol.  Em pé da esquerda para a direita: escultor Francisco dos Santos, professor João Pedro, cinzelador Emilio de Carvalho, pintor Pedro Guedes, escultor José Neto, professor Silvestre da Silva (vermelho), Dr. Januário Barreto (azul), Dr. Estanislau Nogueira, Dr. António da Cunha Belém, Dr. António Simões Alves, engenheiro Craveiro Lopes, engenheiro Assunção, João Lourenco Marques, ?, pintor Falcão Trigoso e arquitecto António Couto; Ao meio: Ernesto  Camacho; Sentados: Aragão e Brito, Mascará, Dr. Joao Simões Alves, coronel Bruno do Carmo, Tavares da Silva, Dr. Mário Costa, Kebe e coronel José Ferreira da Silva. Fonte: http://dubleudansmesnuages.com/?cat=60 (http://dubleudansmesnuages.com/?cat=60)



Esse grupo Marghiochi deu ao nosso País um conjunto excepcional de valores nas mais diversas áreas da nossa sociedade. Que imensidão de nomes, factos e eventos teriam Silvestre da Silva e os seus companheiros para nos reportar? Memórias de ouro que infelizmente se terão perdido pois aparentemente nenhum jornalista desse tempo teve a clarividência de as procurar e registar...


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Um conjunto de grandes talentos no desporto e nas áreas profissionais onde deixaram obra. Todos eles passaram pelo nosso Clube.


Terminada a sua formação como aluno da Real Casa Pia, pelas suas virtudes como formador veio a ser professor da Casa Pia. Ao longo de pelo menos 4 décadas, desenvolveu uma carreira notável, e essa sua continuada acão de docente levou-o a atingir o prestigiado cargo de vice-director da Casa Pia, com nomeação efectivada em 25 de Julho de 1929. Ensinou milhares de alunos que orfãos tal como ele procuraram carinho, educação e formação para a profissão e para a vida, numa das mais prestigiadas e emérita instituições de Portugal.


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Diversos aspectos da multifacetada e muito completa formação casapiana. Estes espaços foram familiares a muitos dos nossos pioneiros Benfiquistas. Fonte: TT-digitarq


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Corpo docente da Real Casa Pia em 1907. Ali se encontravam Pedro Guedes e Silvestre da Silva


A amizade entre casapianos era conhecida e ficava patente nos encontros entre antigos alunos, frequentemente nos claustros dos Jerónimos onde tinham aprendido e socializado nos tempos de meninice.


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Grupo de antigos alunos da Casa Pia fotografados nos claustros dos Jerónimos em 1903. Nota-se que António do Couto tem na mão um retrato. Em minha opinião tratava-se de Francisco dos Santos, escultor, seu antigo colega e amigo de toda a vida (seria com ele co-autor da estátua do Marquês de Pombal na Rotunda com o mesmo nome). Ali estão também Silvestre da Silva, Emílio de Carvalho e Januário Barreto.


Mas de tudo o que se disse, de alguma forma um pequeno-grande-enorme gesto imortalizou Silvestre da Silva. Mas para nós Benfiquistas esteve ligado a um acto que está quase esquecido mas cuja importância foi capital para a sobrevivência do Clube à grande sangria de Maio de 1907.

Foi Silvestre da Silva o homem que apareceu como delegado do Sport Lisboa para formalizar a inscrição do nosso Clube no campeonato de 1907-1908.


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A notícia do Tiro e Sport nº 367 de 30 de Novembro de 1907, noticiando que o Sport Lisboa se apresentava para competir. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Esse acto foi um verdadeiro atestado de sobrevivência e de resistência do Clube após o ataque do clube de José de Alvalade. No momento em que todos os nossos adversários de então nos davam por mortos e extintos, a Sport Lisboa resistia. Silvestre da Silva, ao lado de Cosme Damião, Félix Bermudes, Marcolino Bragança, Luis Vieira, João Persónio e mais alguns heróis, resistiam, diziam não. E ficou célebre o grito desse tempo:


O CLUBE VIVE... E VIVERÁ!


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Silvestre da Silva destacado entre os 11 jogadores que o Sport Lisboa apresentou no torneio Viúva Sena disputado em 1906.



Silvestre da Silva faleceu em Lisboa no dia 13 de Junho de 1952, com a idade de 75 anos.


Paz à sua Alma, honra à sua memória de Silvestre da Silva
e de todos estes Gloriosos pioneiros casapianos que tanto deram ao nosso Clube!




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Janeiro de 2018, 09:25
-190-
A manhã mais radiosa

Dia 1 de Janeiro de 1905. Terras do Desembargador às Salésias, Belém.



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Terras do Desembargador às Salésias, Belém. Um treino do Sport Lisboa contra um colectivo da Casa Pia. Foi neste espaço que a nossa equipa se estreou em jogos contra clubes adversários.



Cumprem-se hoje 113 anos dessa manhã em que o Sport Lisboa defrontou uma equipa de futebol de um outro Clube.


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A notícia do primeiro jogo do Sport Lisboa. Dia 1 de Janeiro de 1905. Fonte: Em Defesa do Benfica.



Essa primeira Gloriosa equipa, os primeiros entre todos os que haveriam e haverão de jogar com o manto sagrado foram:


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A primeira de todas as Gloriosas equipas. No dia 1 de Janeiro de 1905 venceu o Campo de Ourique por 1-0.



Foram estes os nossos onze primeiros jogadores de futebol no primeiro jogo (que saibamos) que não se pode classificar como um treino. Liderados por Manuel Gourlade, ficam uma vez mais aqui os seus rostos e nomes para que sejam sempre lembrados.


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Os primeiros onze jogadores e o primeiro dos treinadores de futebol do Sport Lisboa e Benfica.



Nesse dia, o nosso oponente foi o prestigiado Grupo de Campo de Ourique, então capitaneado por Pedro Del-Negro. Poucos tempo depois seria numa dissidência deste grupo que sairiam jogadores que formaram o efémero mas igualmente famoso Foot-Ball Cruz Negra.


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Um misto de ogadores que integrava pelo menos alguns jogadores do grupo do Sport Club Campo de Ourique, alinhado num dos numerosos areais de Belém. Desconheço por completo quem eram estes 11 jogadores. Fonte: TT-digitarq.



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Uma da últimas equipas de futebol do SCCO, em 1910, alinhada na Quinta da Feiteira, naquela que terá sido uma das últimas equipas de futebol deste clube, hoje extinto. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



O Clube Campo de Ourique alinhava com camisola branca com lista diagonal vermelha e calção branco, ao jeito do que ainda hoje usam os Argentinos do River Plate. Curiosamente nos seus primórdios também o Leixões terá alinhado com este equipamento.

Até à chegada do Sport Lisboa, o Campo de Ourique era o Clube de futebol mais forte que alinhava essencialmente (mas não exclusivamente) com jogadores Portugueses. Por ali jogaram alguns dos mais notáveis pioneiros de futebol Português entre os quais Manuel Mora, mais tarde um famoso aquarelista e ilustrador que fez notável carreira no Brasil (ver texto: ). Com grande probabilidade foi Manuel Mora que defendeu a baliza do GCO nas Salésias, nesse distante primeiro dia do ano de 1905.


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Fonte: Em Defesa do Benfica



Outros dos nomes mais conhecidos desse tempo que integrou as equipas do CO foi Albano dos Santos, um dos mais itenerantes jogadores Portugueses do seu tempo. Jogou no Campo de Ourique, Sport Lisboa, Sporting Clube de Portugal, Império Football Club, entre outros. Foi igualmente um notável remador do Clube Naval de Lisboa, vencedor de inúmeras Taças.



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Albano dos Santos e Manuel Mora com o manto sagrado.



De uma forma ou outra já por aqui se falou de todos estes 12 homens, mas apesar de esta equipa integrar quatro fundadores do nosso clube, a saber, Raúl Empis, os dois irmãos Rosa Rodrigues e Carlos França, nela estava cinco ex-casapianos a quem temos feito alguma justiça lembrando seu nome a a respectiva obra profissional, social e artística. Ainda ontem por aqui se falou em Silvestre da Silva. Honra e glória a estes pioneiros que com o manto sagrado lançaram as bases para o maior Clube Português, honrado e respeitado por esse mundo fora.


ver mais detalhes em: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/se-as-fotografias-falassem.html?m=0 (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2015/02/se-as-fotografias-falassem.html?m=0)


Viva o Sport Lisboa e Benfica!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Janeiro de 2018, 09:33
-191-
Asilado mas não exilado

Asilo D'Espie Miranda, Campolide, dia 10 de Outubro de 1932.


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Sessão solene de descerramento de uma lápide no Asilo D'Espie Miranda. Fonte: TT-digitarq.



Cerimónia de descerramento de uma lápide de homenagem a Pedro Gomes da Silva, um dos instituidores do Asilo D'Espie Miranda, situado na antiga Quinta da Mineira, Campolide. Na sessão solene comparecem figuras públicas, algumas das quais ligadas àquela obra social.

Ditava a placa "Ao Benemérito Pedro Gomes da Silva, homenagem dos velhinhos do Asilo D'Espie Miranda..."

Na assistência para além de funcionárias que ali prestavam serviço, estavam também alguns dos idosos ali internados. Apesar de não dispor de uma legenda detalhada da fotografia, ainda assim reconhece-se um rosto inconfundível: Manuel Gourlade, um dos fundadores do Sport Lisboa, em Belém no dia 28 de Fevereiro de 1904.


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Manuel Gourlade sempre na linha da frente de actos públicos, neste caso no descerramento de uma lápide no Asilo D'Espie Miranda. Fonte: TT-digitarq.



Já tínhamos anteriormente notado a presença de Manuel Gourlade em eventos públicos de homenagem aos instituidores do asilo, seis anos antes (ver texto: -38- Um ancião curioso. pág.9)


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Estas identificações sugerem que Manuel Gourlade manteve um espírito activo e a vontade de socializar mesmo num meio espacialmente restrito como era o asilo D'Espie Miranda.


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O Asilo D'Espie Miranda na década de 20, no tempo em que Manuel Gourlade deu entrada na instituição.



(https://s13.postimg.org/r91fpo59z/image.jpg)
Dois tempos na evolução do Asilo D'Espie Miranda, pela década de 20 até à década de 30. Fonte: TT-digitarq



Neste dia 1 de Janeiro de 2018, em que se cumprem 74 anos depois da morte de Manuel Gourlade, aqui deixo uma sentida homenagem a um dos 24 fundadores do Sport Lisboa e Benfica e sem dúvida o maior entusiasta e promotor das actividades desportivas e organizativas do nosso Clube nos seus primeiros anos de vida.

Relembrando o que Mário de Oliveira e rebelo da Silva publicaram em 1954 a partir dos depoimentos de dois outros fundadores: Daniel Santos Bruto e Cosme Damião:


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Paz à sua Alma. Honra à sua memória!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Mufete em 03 de Janeiro de 2018, 17:33
Excelente, RedVC.
Impagável!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Janeiro de 2018, 17:55
Citação de: Mufete em 03 de Janeiro de 2018, 17:33
Excelente, RedVC.
Impagável!

Muito obrigado Mufete  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 03 de Janeiro de 2018, 18:15
És um grande Historiador do nosso Querido, Sport Lisboa e Benfica! :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Janeiro de 2018, 18:17
-192-
Poeira do tempo: Francisco Calejo

Domingo, dia 16 de Abril de 1911, Campo das Mouras, terreno de jogo do Sporting CP.


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Uma equipa do Glorioso, posa confiante poucos minutos antes de mais um jogo que oporia o Sporting Clube de Portugal contra o Sport Lisboa e Benfica. Vemos ali 11 jogadores do Glorioso, todos nomes notáveis desse tempo, estando entre eles o grande Cosme Damião que segurando a bola de jogo capitaneava a equipa.


De pé, em segundo plano, podemos observar um popular com uma atitude cúmplice para com a equipa. Não, não se tratava de uma versão do "emplastro" no início do século XX. Esse homem exibindo uma grande bigodaça, e que mostrava a típica alegria e entusiasmo que sempre o caracterizou, foi um dos mais entusiastas e generosos Benfiquistas dos primeiros anos do nosso Clube. Chamava-se Francisco Luiz da Silva Calejo e é dele que hoje vamos falar.


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Hoje esquecida, a figura de Francisco Luís da Silva Calejo exemplifica muito bem a importância que o amor ao Clube de cidadãos mais ou menos anónimos, teve na construção do maior Clube Português.



Calejo, o transmontano de boa cepa


Francisco Calejo nasceu em Mogadouro, uma linda vila do concelho com o mesmo nome, localizada no Nordeste de Portugal, no distrito de Bragança e fazendo fronteira com Espanha ao longo do rio Douro.


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Fonte: wikipedia e http://freguesiademogadouro.com




Com alguns dias de vida, Francisco Calejo foi baptizado na Igreja Matriz no dia 17 de Junho de 1876.


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Baptizado em 17 de Junho de 1874, Francisco Calejo terá nascido alguns dias antes na bela cidade de Mogadouro. Fonte: Arquivo Distrital de Bragança



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Dia de feira em Mogadouro, cerca de 1920. Ali ao fundo vê-se a Igreja onde Calejo foi baptizado. Esta terá sido uma imagem familiar na meninice de Francisco Calejo, ali nascido algumas décadas antes. Fonte: blogue monumentos desaparecidos.



Calejo, o agente político


Francisco Calejo viveu as movimentações para a instauração da Republica em Portugal. Aparentemente terá sido um republicano convicto e com uma activa contribuição social (e desconfio que também política). Uma demonstração disso foi a sua participação numa iniciativa de homenagem a Trindade Coelho, escritor e magistrado ilustre.

Tal como Francisco Calejo, José Francisco Trindade Coelho, era um filho de Mogadouro. O imortal escritor de entre outras obras, "Os meus amores", nasceu em Mogadouro no dia 18 de Junho de 1861, tendo falecido em Lisboa no dia 9 de Agosto de 1908. Em sua homenagem, e entre outras iniciativas, Calejo foi solidário com o descerramento de uma lápide junto da sepultura do escritor no cemitério dos Prazeres no dia 13 de Maio de 1911.

Ao longo da sua vida, Calejo teve outras actividades que o tornaram uma figura conhecida nos meios políticos da época. Mas esse não é o nosso foco.



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Fonte: "A Revolução Portuguesa" de Armando Ribeiro e CC-Fundação Mário Soares.



De facto, para nós Benfiquistas, são as suas contribuições ao Sport Lisboa e Benfica e ao desporto Português que nos interessam. A sua valiosa contribuição ao nosso Clube ocorreu essencialmente nas décadas de 10 e 20. Desconhecendo mais episódios – que os deve haver em grande quantidade – recordam-se aqui três onde a sua generosidade e voluntarismo ficaram bem expressas.



Calejo, o solucionador


Em 1913, ocorreu a primeira grande aventura internacional do futebol Português. Entre Julho e Agosto, uma selecção dos melhores jogadores Lisboetas representou a Associação de Futebol de Lisboa numa digressão ao Brasil, tendo sido efectuados jogos nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Essa equipa era então uma verdadeira selecção nacional pois nesse tempo a força maior do nosso futebol estava na capital. Sport Lisboa e Benfica, clube Internacional de Futebol e Sporting Clube de Portugal eram as potências desportivas de então e foram esses os Clubes que cederam atletas para a equipa Portuguesa.

A equipa Lisboeta foi liderada em termos financeiros e organizativos por Eduardo Luís Pinto Basto (CIF) e desportivamente por Cosme Damião (SLB). O plantel seleccionado integrava 8 jogadores do SLB, 5 do SCP e 3 do CIF. Dessa digressão por aqui falamos nos textos -46 e 47, "A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913" p.12 e 13).


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Os 16 jogadores seleccionados para a digressão da AFL no Brasil em Julho-Agosto de 1913.



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A equipa Lisboeta que em Agosto de 1913 disputou um dos jogos no Rio de Janeiro. Fonte: BND.




Ora, no decurso dessa digressão seriam conquistados cinco valiosos troféus, que infelizmente no regresso da comitiva viriam a ser confiscadas pelos serviços alfandegários nacionais. Uma situação bem à Portuguesa.


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Alguns dos impressionantes Troféus conquistados no Brasil na digressão de Julho-Agosto de 1913. Fonte: albertohelder.blogspot.pt (http://albertohelder.blogspot.pt)



Ao que parece as autoridades alfandegárias decidiram que os troféus estariam sujeitos ao pagamento de direitos aduaneiros enquanto que os dirigentes desportivos consideraram absurda essa exigência uma vez que a digressão tinha tido um carácter desportivo e de propaganda de Portugal.

O conflito arrastou-se e, sem solução por longos meses, só viria a ser resolvido, graças aos conhecimentos e bons ofícios de Francisco Calejo, em 1915 quando foi finalmente foi emitido um despacho favorável pelo então chefe do governo, Afonso Costa. Ler mais em: http://albertohelder.blogspot.pt/2013/06/associacao-de-futebol-de-lisboa-o.html (http://albertohelder.blogspot.pt/2013/06/associacao-de-futebol-de-lisboa-o.html)



Calejo, o solidário



Foi um dos episódios mais trágicos de sempre da vida do nosso Clube.

Em Setembro de 1915, Álvaro Gaspar, o popular Chacha sucumbia com apenas 23 anos. Na flor da vida, o Chacha morria vítima de tuberculose pulmonar. Poucos meses antes e no auge das suas capacidades futebolísticas, a doença apareceu de forma rápida e brutal, levando o infeliz jogador em apenas alguns meses. Nesse tempo essa doença terrível matou muita gente no nosso País. Ricos e pobres morriam com uma doença que geralmente não tinha cura e que levava ao definhamento implacável de quem dela padecia.

No auge da doença do Chacha, Francisco Calejo foi um dos Benfiquistas que contribuiu de forma generosa e comovida para tantar levar o nosso infeliz jogador para uma uma região balnear em que estivesse exposto ao ar seco da praia para abrandar o avanço inexorável da doença. Essa generosa ajuda foi aliás referida no obituário de Álvaro Gaspar, publicado no jornal "A Capital":


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Fonte: Em defesa do Benfica



Os amigos do Chacha - e eram muitos - tentaram fazer o que podiam para evitar este trágico desfecho. Um fos mais activos foi Francisco Calejo que esteve envolvido na angariação de fundos que permitissem apoiar essa ida para um região do litoral. Numa dessas iniciativas, em 5 de Maio de 1915, foi organizado um jogo de futebol em solidariedade para com o Chacha.

O jogo que renderia uns muito generosos 401$05 provenientes de cerca de 1500 bilhetes vendidos (fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/09/a-derradeira-gloria-de-alvaro-gaspar.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/09/a-derradeira-gloria-de-alvaro-gaspar.html)) foi uma das páginas mais comoventes desses tempos precoces do futebol em Portugal.


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Uma imagem comovente. No dia 5 de Maio de 1915, no nosso campo de Sete Rios, o Glorioso Álvaro Gaspar dava o último pontapé da sua vida. Fonte: Em Defesa do Benfica.



Tempos que já lá vão... Com grandes homens, solidários, a prestar o apoio possível a uma grande e muito querida figura do futebol Português.


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Alguns detalhes e homens que participaram no evento de apoio a Álvaro Gaspar durante a sua doença. Domingos Pinto e Francisco Calejo estiveram na linha da frente nessa organização de solidariedade com o nosso infortunado jogador. Fonte dos diversos elementos desta composição: Em Defesa do Benfica e https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/ (https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/)




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Fonte: Em Defesa do Benfica.




Calejo, o madrileno


Francisco Calejo gozava também de grande prestígio em... Espanha. Presumo que esse prestígio deveria ser reflexo da sua actividade profissional que ao que julgo saber estaria ligada ao sector alfandegário. As virtudes de Calejo como homem e sportsman foram inlcusivamente exaltadas no Heraldo de Madrid, jornal de grande circulação na capital Espanhola.

   
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O elogio a Francisco Calejo num jornal desportivo de Madrid. Fonte: Air Libre, Hemeroteca Digital, BNE



E assim não espanta que ele estivesse incluído numa comitiva Benfiquista que fez uma digressão a Madrid deixando o traço indelével da qualidade do nosso futebol (e que talvez um dia aqui venha a ser descrita).



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A comitiva Benfiquista que fez uma digressão em Espanha no final de 1919. Francisco Calejo integrado como dirigente, posa ao lado de Cosme Damião. Fonte: Heraldo Deportivo (Madrid) no dia 25 de Outubro de 1919




Esta fotografia saiu no Heraldo Deportivo (Madrid) no dia 25 de Outubro de 1919. Nela estão 12 jogadores, Francisco Calejo e a seu lado Cosme Damião, antigo jogador, treinador, ideólogo, estratega, executor. Cosme Damião, a imagem e a Alma do Sport Lisboa e Benfica. Francisco Calejo tinha portanto relevância no seio do futebol do nosso Clube e os seus conhecimentos, o seu prestígio e auxílio terão certamente sido muito importantes para o sucesso desportivo e social dessa digressão.


Na sua vida profissional foi funcionário de uma empresa ligada à gestão do Real Coliseu dos Desportos, então situado na rua da Palma. Esse facto liga-o a um outro grande Benfiquista, o Dr. Alberto Lima, presidente do Clube em e de quem aqui falamos (ver texto -64- O tribunal dos conspiradores. pág. 20) e que foi também destacado funcionário da empresa ligada à gestão desse espaço recreativo e de espectáculos, tão relevante para o final do século XIX e princípio do século XX.


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O Real Coliseu de Lisboa, situado na Rua da Palma.Fonte: Restos de Colecção.



Francisco Calejo foi também funcionário da multinacional Singer, originalmente uma empresa de manufactura de máquinas de costura, e que foi fundada nos Estados Unidos em 1851. Mais tarde a Singer tornou-se a primeira empresa americana de larga escala no sector de aparelhos domésticos. A Singer terá iniciado operação comercial em Portugal cerca de 1874.


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Calejo foi também funcionário da multinacional Singer. Fonte: Restos de Colecção



Nas décadas 30 e 40, já com idade avançada, Francisco Calejo teria menos visibilidade na vida do nosso Clube, mas ainda assim pelo seu obituário do DL, saibamos que manteve presença e prestígio no meio Benfiquista. Faleceu em Sintra no dia 2 de Dezembro de 1942, com apenas 66 anos de idade. Curiosamente faleceu na mesma vila onde cinco anos depois o seu amigo (e ao que sei ainda familiar) Cosme Damião faleceria. Dois generosos e muito saudosos Benfiquistas faleceram numa das mais belas vilas de Portugal.



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Fonte: DL




Paz à sua Alma. Honra à sua memória.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Janeiro de 2018, 09:24

Faleceu ontem um grande Benfiquista
Foi grande entre os maiores dirigentes do Benfica.
Foi um homem fundamental para o grande Benfica Europeu.
Colaborador notável de alguns dos maiores presidentes da História do
Sport Lisboa e Benfica.

Ver mais em http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2018/01/gastao-silva-no-quarto-anel.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2018/01/gastao-silva-no-quarto-anel.html)



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O dia 5 de Janeiro cada vez mais é um dia muito triste para o Benfiquismo,

Paz à sua Alma. Honra à sua memória.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Janeiro de 2018, 20:22
-193-
As filiais perdidas

Estádio do Campo Grande, Lisboa, Domingo, tarde do dia 13 de Janeiro de 1946.


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SL Benfica, Campo Grande 13 de Janeiro de 1946. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Trajando com equipamento alternativo, a equipa principal de futebol do Sport Lisboa e Benfica, campeã nacional em título, alinhou para a fotografia. Estava prestes a disputar um jogo contra o Sport Lisboa e Elvas, colectividade que era então a nossa filial nº 6, fundada em 1925.


Um jogo histórico


Neste dia 13 de Janeiro de 1946, o Sport Lisboa Elvas deslocava-se a casa do SL Benfica. Foi um jogo histórico pois era a estreia dos Elvenses no Campo Grande. Antes do início do jogo, as duas Direcções confraternizaram no meio do terreno, trocado prendas e palavras de amizade. Viviam-se tempos bem mais saudáveis do que os dias que correm. A Direcção Benfiquista que era então presidida por Félix Bermudes, estava em final de mandato. Aproximavam-se as históricas eleições que elegeriam Manuel da Conceição Afonso e que mudariam muito o futuro do nosso Clube.


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Dia 13-01-1946, dirigentes do SLB e SL Elvas trocando prendas. Félix Bermudes liderava a nossa Direcção. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Os jogadores das duas equipas que tinham entrado em campo intercalados, eram os principais artistas do dia. Foi um bom dia para os espectadores pois viriam a presenciar um jogo movimentado e com muitos golos.


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A constituição das equipas. Fonte: DL


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Ficha e reportagem de jogo. Fonte: A Bola



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A disposição táctica inicial da equipa do SL Benfica no dia 13-01-1946.



O SL Benfica venceu nesse dia por uns conclusivos 5-2 mas na verdade o jogo foi bem mais difícil do que os números sugerem. Apesar da justiça do triunfo, os Elvenses mostraram algumas das virtudes do seu futebol, ou seja uma atitude aguerrida e audaz, não se coibindo de atacar a baliza Benfiquista. Do nosso lado marcaram Jordão (2), Moreira e Rogério (2). Pelo lado Elvense marcaram Patalino e Machado.


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Os Elvenses mostraram raça e um futebol aguerrido. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Na nossa equipa destacou-se a talentosa frente de ataque com Espírito Santo e Arsénio pela direita e com Manuel Jordão e Rogério pela esquerda. Como avançado centro, o nosso treinador János Biri utilizou nesse dia José Rosa da Luz, conhecido no SLB por "Luz", um jogador alto e possante.

Existe divergência nas fontes sobre se terá ou sido ele o marcador do nosso primeiro golo nesta partida embora na maioria se diga que terá sido Jordão (que se assim foi marcou dois golos nesse jogo) em vez de Luz. Não obstante, no decurso do jogo, János Biri viria a ordenar a troca de posição no terreno entre Luz e Espírito Santo, com este último a assumir o seu velho posto de avançado-centro. Esta decisão revelar-se-ia certeira pois ao intervalo registava-se um empate a um golo.



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Ao contrário da legenda da Stadium que referia ter sido Rogério o avançado Benfiquista captado nesta fotografia, quem nos aparece é José Rosa da Luz. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


José Rosa da Luz, nascido em Portimão no ano de 1920, iniciou carreira com 5 temporadas no Sporting Glória ou Morte Portimonense (curioso nome...) mas terá chegado ao SL Benfica em 1945, vindo do SC Farense. Uma curiosidade é que diversas fontes da época falam de João da Luz em vez de José da Luz, no entanto as fontes Algarvias que consultei falam sempre de José da Luz, o mais velho de uma família com diversos futebolistas com nome no futebol Algarvio.

A época 1945-1946 foi ingrata para José da Luz e para o SL Benfica. Iniciou-se com o Campeonato Regional de Lisboa, disputado entre Setembro e Dezembro de 1945 num total de 10 jornadas. Luz jogou apenas as três finais talvez por impossibilidade de Espírito Santo que era o titular. Nessas jornadas finais Luz marcou golos decisivos nas nossas vitórias sobre o GED Estoril Praia e o CF Belenenses. Jogou a avançado centro, geralmente com Arsénio do seu lado direito e com Joaquim Teixeira (o "Semilhas") ou Jordão do lado esquerdo. E assim José da Luz terá conquistado a titularidade para o início do Campeonato nacional que decorreu de Dezembro de 1945 a Maio de 1946.

O SL Benfica, campeão nacional da época anterior, iniciou mal essa defesa do título, registando 4 empates nas primeiras 4 jornadas. Luz marcou logo na primeira jornada no difícil empate que registamos com o Vitória de Setúbal. A equipa não vencia e Luz apesar de vir com a embalagem do Campeonato Regional não terá correspondido às expectativas e/ou terá tido dificuldade em competir com Espírito Santo e com Julinho. E justamente esta partida da 6ª jornada, disputada a 13 de Janeiro com o SL Elvas terá sido a sua última como titular.

Para esse jogo contra os elvense, sem Mário Rui, o seu habitual titular no flanco direito, o treinador János Biri colocou lá Espírito Santo aproveitando a sua polivalência e qualidade ofensiva. Mas, como se disse, na segunda parte acabou por trocar Luz com Espírito Santo e com bons resultados.

Assim, Luz jogou apenas nas primeiras 6 jornadas do campeonato, fixando-se depois Guilherme Espírito Santo nesse seu lugar, lugar que manteve mesmo com o regresso de Julinho no final de Fevereiro. Luz passou a ter mais dificuldades e assim não espantou a sua dispensa no final da temporada. Apesar de tudo, no SL Benfica terá disputado 13 jogos e apontando 5 golos.

Na temporada seguinte Luz ingressaria por 1 ano no Vitória de Guimarães regressando depois à sua cidade-natal de Portimão para cumprir 8 temporadas no SC Portimonense. Por lá, José Rosa Luz era também conhecido por "Sota".




Uma glória nunca mais repetida


O desfecho deste jogo importante pois o campeonato de 1945-1946 foi intensamente disputado entre o SLB, SCP e o CFB. No final seria o CFB a sagrar-se campeão. Os azuis das Salésias tinham reconquistado a liderança ao SLB a 4 jornada do fim quando venceram nas Salésias por 1-0.


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Fonte: DL


Depois foi lutar até ao limite das forças sendo que na última jornada o CFB foi a Elvas para disputar o último jogo do campeonato, jogo que se antevia via a ser muito duro e dramático. E assim foi, com o Sport Lisboa e Elvas a chegar primeiro ao golo para depois e a muito custo os Belenenses acabarem por dar a volta ao marcador. Esse título de campeão nacional há muito que era esperado para os azuis das Salésias mas o que não se poderia prever é que viria a ser caso único e irrepetível.


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A festa azul em Elvas, celebrando a conquista do campeonato de 1945-1946 pelo CFB. Fonte: Hemroteca de Lisboa e http://www.osbelenenses.com (http://www.osbelenenses.com)



Elvas, cidade de futebol


Como atrás se disse, em 1945-1946, o SL Elvas cumpria a sua época de estreia na 1ª divisão. O Clube pertencia a uma cidade da raia alentejana que apesar de muito antiga tinha apenas uns 29 mil habitantes. Mas Elvas era uma cidade activa no desporto, existindo ainda o Sporting Clube Elvense (uma filial do SCP fundada em 1924 a partir do Glória Elvense) e o Clube de Futebol "Os Elvenses" (filial do CFB, fundada a partir do Estrêla FC). Hoje em dia apenas esta última colectividade ainda existe.


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Sport Lisboa e Elvas, 1945-1946. A estreia de Elvenses na 1ª divisão. Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Esta densidade clubística e as exigências da divisão maior, explicam que o SL Elvas tenha agravado seriamente os seus problemas financeiros. Nesses apertos, os Elvenses terão ainda tentado obter apoio financeiro junto do SLB mas o nosso Clube, de forma coerente ao que fazia com todas as suas filiais, recusou prontamente essa ajuda. Aliás, o SLB nem sequer estava em condições para o fazer uma vez que tinha assumido pesados encargos (compra da Sede da Av. Gomes Pereira em Benfica) e no horizonte já se antevia a construção do novo Estádio (ver texto 171- O Sonho, o Homem, a Obra, pág. 46).

Curiosamente, o Sporting Clube de Elvas, então a filial nº 16 do SCP também estava em dificuldades económicas e também não teve auxílio do SCP. Nesse cenário e apesar da rivalidade clubística, falou mais alto o desencanto vindo das recusas das casas-mãe. E assim as duas colectividades tomaram a inédita decisão de se auto-extinguirem para fundarem um novo clube. Não foi uma fusão. Foram duas auto-extinções seguidas da fundação de um novo clube: "O Elvas" Clube Alentejano dos Desportos, fundado a 15 de Agosto de 1947.


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Uma rivalidade que se extinguiu para sempre em Elvas. No dia em 15-08-1947, o Sporting Clube Elvense e o Sport Lisboa e Elvas extinguiram-se para fundar o "O Elvas Clube Alentejano de Deportos. Jogadores representados: Jacinto Candeias (SCE) e Mário Massano (SLE e ECAD).



Assim sendo, na época de 1947-1948, "O Elvas" CAD, ocupou o lugar do SL Elvas na 1ª divisão. E assim, os Elvenses passaram a envergar o seu novo equipamento azul e amarelo pelos campos de futebol nacional.

E assim, Domingos Patalino, o melhor jogador Elvense de sempre, mudou as cores com que semanalmente espalhava a qualidade do seu futebol ofensivo pelos campos nacionais.


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Patalino e a mudança das cores Elvenses.



Domingos Carrilho Demétrio, conhecido por "Patalino", jogou em todos os clubes Elvenses (ver: https://largodoscorreios.wordpress.com/2013/08/24/patalino-uma-gloria-elvense/ (https://largodoscorreios.wordpress.com/2013/08/24/patalino-uma-gloria-elvense/)). Foi um avançado habilidoso, elegante e concretizador que por opção própria nunca aceitou transferir-se para um grande. Ao que parece SCP, CFB e SLB tentaram sem sucesso essa transferência. Também o Real Madrid e o Atlético de Madrid fizeram propostas mas apenas para ouvir a mesma recusa de sempre.

Patalino era muito arreigado à sua terra e não se deixou fascinar por promessas de grandeza. Os tempos eram outros, o dinheiro que circulava pelo futebol era bem menos e talvez isso explique que alguns craques como Patalino ou Ben David (Atlético CP) acabassem por não se transferir para um grande. Com inteira justiça, o actual campo de "O Elvas" é chamado "Campo Domingos Carrilho Demétrio" ou mais popularmente "Campo Patalino".


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Fonte: http://www.fpf.pt/pt/Jogadores/Jogador/playerId/701883 (http://www.fpf.pt/pt/Jogadores/Jogador/playerId/701883)



Ironicamente, em 1947-1948 ou seja logo na primeira época da sua existência, o novo clube Elvense teve um papel decisivo na atribuição do título de campeão. A duas jornadas do fim "O Elvas" veio Campo Grande vencer-nos por 2-1 (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19471948/campeonato-nacional/1948-05-08/sl-benfica-1-x-2-o-elvas (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19471948/campeonato-nacional/1948-05-08/sl-benfica-1-x-2-o-elvas)). Patalino foi terrível nesse dia, marcando os dois golos dos Elvenses. Foi talvez a maior vitória de sempre dos Elvenses e uma das mais amargas que sofremos em nossa casa pois evitou que tirássemos partido da derrota do SCP em Setúbal nessa mesma jornada. Essa jornada sentenciou o desfecho do campeonato. Caprichos do futebol...


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Uma derrota amarga e decisiva para o SL Benfica, um dia de glória para os Elvenses. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Na década de 40, os Elvenses viram o Sport Lisboa e Elvas participar em dois campeonatos nacionais (1945 a 1947 conquistando um 9 e um 10º lugar) e depois "O Elvas" participar em 3 campeonatos (1948-1950; conquistando um 8º, 9º e um 13º lugar). Apenas na década de 80 "O Elvas" participaria e por duas vezes, no campeonato da 1ª divisão, ficando sempre em lugares de descida.

Infelizmente na actualidade o grande clube Elvense vive dias de crise, estando a disputar o campeonato da 1ª divisão distrital da Associação de Futebol de Portalegre. No entanto a importância histórica das colectividades Elvenses no futebol nacional é inegável, em particular daquela que foi a nossa filiar nº 6, o Sport Lisboa e Elvas. A filial perdida.


Ao terminar este texto, fica já lançado o próximo. Os acontecimentos desse dia 13 de Janeiro de 1946 proporcionaram outros motivos de interesse. Assim iremos deixar o foco nos craques Benfiquistas, nos nossos oponentes ou até no jogo e passar a concentrar atenções num homem que assistiu ao desafio. Um único homem mas que tinha a curiosa alcunha de "Bombardeiro Marroquino".




nota final:  Queria deixar o agradecimento aos Benfiquistas MD e AM por me fornecerem elementos preciosos que permitiram corrigir alguns dados da primeira versão deste texto. Benfiquistas gentis e de insuperável rigor no que toca ao nosso Glorioso. Obrigado!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Janeiro de 2018, 21:02
-194-
O bombardeiro Marroquino

Estádio do Campo Grande, Lisboa, Domingo, tarde do dia 13 de Janeiro de 1946.


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Voltamos agora à mesma fotografia mas focando o nosso interesse no homem que vestido de forma elegante posou com os nossos craques. Chamava-se Marcel Cerdan, era Francês e era também tão-somente um dos maiores e mais populares boxeurs de sempre a nível mundial. Cerdan será sempre um nome mítico da história do Boxe.

Nesse dia, Marcel Cerdan foi homenageado pelo SL Benfica, tendo aliás sido ele a dar o pontapé de saída para a segunda parte. E até nos deu sorte pois nessa altura estávamos empatados 1-1 para no final do jogo vencermos por 5-2!


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Fonte: DL



Ora, Cerdan estava em Portugal para fazer um combate contra o boxeur campeão Agostinho Guedes (1917-1996; http://boxrec.com/en/boxer/10243. O Francês venceria esse combate em menos de 3 minutos. Ao que parece quando em 1951 o campeão Português se retirou, apenas tinha sido derrotado por KO apenas em um combate, justamente este que disputou contra Marcel Cerdan no Pavilhão dos Recreios em Lisboa...


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Agostinho Guedes, o campeão nacional de boxe foi derrotado por Cerdan em menos de 3 minutos. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Mas Cerdan era igualmente um apreciador do futebol, tendo aliás em 1941 e 1942 praticado a modalidade num clube da sua cidade, o Union Sportive Marocaine também conhecido por USM Casablanca. Nesses anos futebolísticos, Cerdan teve a companhia do muito-em-breve famoso Larbi Ben Barek (1916-1992), também conhecido por "pérola negra". Bem-Barek brilharia mais tarde no Atlético de Madrid, tendo aliás disputado a Taça Latina de 1950, que como sabemos o SL Benfica viria a conquistar.


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Cerdan integrado numa selecção de Marrocos que em 1940 jogou contra uma selecção B de França. Fonte: mangin2marrakech.canalblog.com. À direita Cerdan a dar uns toques na bola. Fonte: www.marcelcerdan.com



Assim nada mais natural que, na sua visita ao nosso País, Cerdan visitasse o clube campeão mais popular de Portugal. Nesse dia, o campeão Francês, sempre sorridente, aproveitou para posar entre campeões. Foi um encontro de campeões.
Para o resto deste texto vamos aproveitar este curioso encontro de campeões para falar de curta mas intensa vida de Marcel Cerdan. E, como veremos, falaremos ainda de uma outra figura maior da Cultura Francesa, que também se viria a cruzar de forma indirecta com o Glorioso.



O "bombardeiro marroquino"


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Marcel Cerdan (1916-1949; boxrec.com/en/boxer/9033. Fonte: www.marcelcerdan.com



Marcel Cerdan foi um campeão francês de boxe a quem ao longo da sua vida desportiva foram dadas diversas alcunhas tais como o "homem das mãos de argila" ou (talvez a mais célebre) o "bombardeiro Marroquino" ou na sua língua nativa "Le Bombardier Marocain". Curioso nome este pois era "Marroquino" apesar de ter nascido em Sidi Bel Abbès, na então Argélia Francesa...


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A cidade de Sidi Bel Abbès (Argélia).


Marcel nasceu em 22 de Julho de 1916, em pleno curso da I Guerra Mundial. Filho de pais Espanhóis, recebeu o nome de Marcellin Cerdan. Em 1922, quando tinha 6 anos, a família mudou-se para Casablanca, cidade Marroquina então sob administração Francesa.
O pequeno Marcel iniciaria a prática do boxe aos 8 anos mas apenas em 1934, aos 18 anos, faria o seu primeiro combate em Meknes (Marrocos). Com esse combate iniciou uma série de meia centena de vitórias, perdendo pela primeira vez contra o Inglês Craster, mas apenas por via de uma polémica desqualificação decidida por um árbitro.

Em vez de se deixar abater, Cerdan continuou a competir conquistando o título Francês de pesos médios. Apesar de a sua modalidade ter sido muito afectada pela II Guerra Mundial, já em 1944, Cerdan conquistaria o título Europeu da categoria de pesos médios ao vencer em Roma o Italiano Saviello Turiello, num duro combate com 15 rounds.
Em 1948, conquistaria mesmo o título mundial de pesos médios, num combate contra o Americano Tony Zale. Esse famoso combate foi disputado a 21 de Setembro, no Roosevelt Stadium em Jersey, NJ, EUA.



https://www.youtube.com/watch?v=DH6SlkpFAOM (https://www.youtube.com/watch?v=DH6SlkpFAOM)

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Tony Zale vs Marcel Cerdan. Fonte: Marcel Cerdan - Triumph & Tragedy. Youtube



O seu último combate seria justamente na defesa deste título. Uma vez mais voaria para a América mas desta vez para a cidade de Detroit, para combater contra o famoso Italo-Americano Jake LaMotta. Os apreciadores da modalidade ou os cinéfilos reconhecerão em LaMotta o boxeur que mais tarde viria a inspirar Martin Scorcese a realizar a sua obra-prima "O Touro Enraivecido" (Raging Bull, 1980). Nesse filme Robert De Niro viria a ter um dos mais extraordinários papéis da sua carreira.


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Raging Bull a obra-prima de Scorcese e DeNiro.


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Cerdan, ainda com esperança na vitória sobre LaMotta. Fonte: L'Express.


Num combate que lhe foi infeliz, Cerdan perderia o título após 10 duros rounds. Logo no início, Cerdan apanhado desprevenido com uma fortíssima investida do Americano, indo ao tapete logo nesse 1º round. Na queda Cerdan deslocou um ombro, limitação essa que viria a tornar-se fatal para o desfecho do combate. Nesse dia, apesar de mostrar a sua combatividade e resistência, Cerdan não mais pode evitar o desfecho vitorioso para o mítico Jack LaMotta. Foram combates deste tipo que explicam o mediatismo que ainda hoje esta modalidade tem a nível planetário, embora lhe esteja associada muito mais teatralidade...


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Momento decisivo: Cerdan foi ao tapete deslocando o ombro.



https://www.youtube.com/watch?v=Onb-p3YsQk8 (https://www.youtube.com/watch?v=Onb-p3YsQk8)
Jake LaMotta vs Marcel Cerdan.


Ao longo da sua magnífica carreira, Cerdan viria a registar 111 vitórias (65 por knockout) e apenas 4 derrotas. Cerdan. Foi um campeão talentoso e resistente e, para muitos especialistas na modalidade, o melhor boxeur Europeu de sempre. Como ponto negativo, talvez o facto de fora dos ringues manter um estilo de vida boémio que em nada o terá ajudado. Essa sociabilidade no entanto ajudou a fazer dele um ídolo de primeira grandeza em França e percebe-se que ele apreciava essa popularidade. Foi uma estrela.


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Cerdan, a celebridade. Fonte: www.marcelcerdan.com



Ainda nesse ano intenso de 1948, aquando de uma estada nos EUA, Marcel Cerdan (casado e com 3 filhos) conheceu e manteve um célebre romance com a cantora Francesa Edith Piaf. O romance duraria até ao fim da sua vida, ou seja – tragicamente – por pouco mais de 1 ano. Ao que se diz esse foi o grande amor de vida da célebre cantora Francesa, que em sua memória gravaria a célebre Hymne à l'amour.


https://www.youtube.com/watch?v=QvHph2zrMrA (https://www.youtube.com/watch?v=QvHph2zrMrA)


Aliás, a instabilidade emocional provocada pela perda do companheiro e pelas dores de reumatismo que padecia terão levado Piaf a uma crescente dependência de morfinóides, de álcool e à progressiva adopção de atitudes intempestivas. Dessa famosa, breve mas intensa relação entre Piaf e Cerdan existem muitas fotografias que atestam uma vez mais o gosto que o campeão Francês tinha pelos prazeres da vida social.


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Com Piaf num momento de descontracção. Fonte: marcelcerdan.com



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Com Piaf e Joe Louis, outra lenda do boxe. Fonte: marcelcerdan.com


Outra nota curiosa sobre a célebre Piaf, é que ela foi amiga do nosso Glorioso Luís Piçarra, o imortal cantor do nosso hino Ser Benfiquista. Mas a história dessa fotografia é outra e aliás desconheço-a.


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Piçarra e Piaf. Fonte: portugal-mundo.blogspot.pt



Mas voltando a Cerdan, há que admitir que o Francês ganhou tudo na vida. Ganhou a glória desportiva, ganhou o dinheiro, o amor, a popularidade. O seu destino era vencer mas o mesmo destino tirar-lhe-ia tudo, em poucos segundos. O ano de 1949 seria o último da sua curta mas intensa vida.

Como vimos Cerdan passou por Portugal em 1946 onde se cruzou com o Glorioso. Tragicamente, Portugal ficaria também ligado à sua morte. A 27 de Outubro de 1949, Cerdan estava em trânsito para os EUA onde iria encontrar-se com Piaf e completar o treino. Voando num avião da Air France, Cerdan juntamente com mais 47 pessoas morreria na sequência de um trágico acidente após o aparelho ter chocado contra o Pico da Vara em São Miguel, Açores.


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Alguns momentos antes do embarque fatal. A célebre violinista Ginette Neveu foi outra das vítimas mortais. Fonte: p8.storage.canalblog.com



Cerdan estava a preparar-se para um combate de desforra com Jack LaMotta, que tinha sido contratualizado para Dezembro desse ano em Nova Iorque. Ironicamente, nesse tempo Cerdan já falava na sua retirada dos ringues... A morte chegou primeiro.


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Fonte: DL



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O choque da morte e o funeral de Cerdan. Fonte: Youtube


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O Pico da Vara, local onde Cerdan e mais 47 pessoas encontraram a morte.


Para além de Marcel Cerdan e de Ginette Neveu (famosa violinista), morreram também Kay Kamen (diretor da Walt Disney) e o pintor francês Bernard Boutet de Monvel.


Dois anos mais tarde a revista Flama publicou aquele que terá sido o último autógrafo de Marcel Cerdan. Nele revelava a confiança de recuperar o título de campeão mundial. Já não houve tempo.


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O último autógrafo de Marcel Cerdan. Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Este acidente ocorreu 5 meses depois da tragédia de Superga que vitimou a comitiva do AC Torino de regresso de uma amigável contra o SL Benfica. É fácil entender a comoção que a sociedade Portuguesa viveu mais este mais acidente, num ano negro para o transporte aéreo. E uns meses depois o Benfica partia para África... Felizmente a Gloriosa digressão correu sem incidentes e abriria portas para um futuro radioso.


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Fonte: DL

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A comitiva Benfiquista antes de partir para a digressão em África em 1950. Fonte: cinept.ubi.pt/



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Janeiro de 2018, 21:24
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Só nós sentimos assim!


Noite de 3 de Maio de 1946.
Um banquete de Benfiquistas na Pastelaria Marques, ao Chiado.


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Pastelaria Marques, Chiado, 3 de Maio de 1946.



A Pastelaria Marques foi um prestigiado estabelecimento comercial que teve portas abertas entre 1903 e 1978 no nº 70 a 72 da Rua Garrett, ao Chiado Era desde a década de 30 um local habitual para os convívios festivos Benfiquistas.


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Pastelaria Marques situada na Rua Garret, ao Chiado, década de 30. Fonte: TT-Joshua Benoliel.



O banquete foi promovido pelo Jornal "O Benfica", nomeadamente pelo seu Director Carlos Rebelo da Silva. Esta iniciativa fechava um ciclo de comemorações por altura do 42 aniversário do Glorioso. Oito anos depois Carlos Rebelo da Silva juntamente com Mário de Oliveira publicaria, em fascículos, aquela que é a obra de referência acerca dos primeiros 50 anos da História do Sport Lisboa e Benfica. Dois grandes Benfiquistas a quem o Clube muito deve.


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Carlos Rebelo da Silva e Mário de Oliveira, autores da grandiosa obr "História do Sport Lisboa 1904-1954".



Rebelo da Silva conseguiu reunir um conjunto notável de Benfiquistas nesse banquete, conforme nos referem alguns ecos na imprensa. O nosso Clube vivia um momento interno conturbado. Vivia-se a ressaca das eleições de Janeiro desse ano que tinham agudizado a polémica acerca da construção do novo parque de jogos do Clube.

A urgência dessa construção era consensual pois era imposta pelo crescimento vertiginoso do número de associados e das necessidades das dezenas de modalidades activas no Clube. No entanto, existiam opiniões divergentes sobre o local de edificação e sobre as opções do projecto no que diz respeito às infra-estruturas a contemplar. Manuel da Conceição Afonso e a sua Direcção recém-eleita tinham um pesado encargo sobre os seus ombros.


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Fonte: DL


Na mesa de Honra, ladeado pelo Brigadeiro Tamagninini Barbosa (Presidente da Assembleia Geral) e por Manuel da Conceição Afonso (Presidente da Direcção) esteve Cosme Damião, um dos 24 fundadores do Clube. Cada vez mais uma figura reverencial, nesse tempo Cosme tinha uma visão mais afastada mas lúcida sobre o Clube. Tinham passado duas décadas das dolorosas clivagens de 1926 que levaram ao seu afastamento provisório. Ele, melhor que ninguém, percebia esses novos tempos de indefinição e da necessidade premente de voltar a unir a nação Benfiquista.


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Algumas das figuras sentadas na Mesa de Honra do Banquete de 3 de Maio de 1946.



Nessa noite estiveram presentes várias dezenas de convivas, sendo que na mesa de honra se sentaram:

António Ribeiro dos Reis (1896-1961; Águia de Ouro; jornalista, militar, antigo jogador SLB/Presidente da Mesa da Assembleia Geral)

● (por confirmar) António Maria Pereira (Presidente do Conselho Fiscal)

Tamagnini Barbosa (1883-1948; militar, Presidente da Mesa da Assembleia Geral, futuro Presidente da Direcção)

Cosme Damião (1885-1947; Águia de Ouro; fundador, antigo jogador SLB/treinador/Presidente da Mesa da Assembleia Geral)

Manuel da Conceição Afonso (1890-1966; Águia de Ouro, operário linotipista, sindicalista, Presidente da Direcção)

Luís Carlos Faria Leal (sócio nº 2, Águia de Ouro; antigo Presidente da Direcção)


Alguns destes fizeram uso da palavra assumindo a responsabilidade do seu passado e presente no Clube e percebendo a importância das suas palavras como orientação ou conselho para os dias decisivos que se estavam a viver no Clube.


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Dois sócios ilustres a discursar: Tamagnini Barbosa (Presidente da Mesa da Assembleia Geral) e Cosme Damião.



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Dois sócios ilustres a discursar: António Sobral Jr (sócio nº 1) e Manuel da Conceição Afonso (Presidente da Direcção).


Estiveram também outros associados relevantes:

● António dos Santos Sobral Júnior (sócio nº 1, antigo dirigente e atleta)

● Carlos Rebelo da Silva (jornalista, Director do jornal "O Benfica", futuro co-autor da "História do SLB 1904-1954")

● Mário de Oliveira (jornalista, futuro co-autor da "História do SLB 1904-1954")



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Mas não se julgue que o banquete tenha sido fechado à presença de não-Benfiquistas. O SL Benfica sempre foi uma instituição aberta para a sociedade, assente numa democracia interna e respeitando o Ideal definido pelos fundadores. Assim, entre os convivas, foram também convidados alguns homens notáveis ligados ao futebol Português e cujo carácter e obra mereceram sempre o respeito dos organizadores do banquete;


Cândido de Oliveira (1896-1958; antigo jogador SLB, jornalista, pedagogo, treinador que foi do CPAC, CFB, SCP, FCP ACA e CR Flamengo)

Raúl de Oliveira (Director de "Os Sports", mentor da Volta a Portugal em Bicicleta)

Tavares da Silva (1903-1958; jornalista, treinador e antigo seleccionador nacional de futebol)


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Três figuras do primeiro meio século do futebol em Portugal que estiveram presente no banquete de 1946



Certamente que os discursos, o convívio e as conversas dessa noite andaram à volta da Mística Benfiquista. Muito sentimento, muitas recordações emocionadas de um passado Glorioso, muita discussão sobre a actualidade do Clube. Em todos também, e como é timbre do Glorioso, sempre a convicção do futuro luminoso que o Clube estava a construir.

E assim foi. Assente no labor e visão de alguns Benfiquistas de excepção e com o esforço e entusiasmo de milhões de Benfiquistas, o final da década de 40 e princípio da década de 50 foi um tempo de respeito pelo legado do passado e de sementeira para o futuro.


Nessa noite uma ausência se fez notar: Félix Bermudes, uma das figuras maiores de sempre do Clube, presidente cessante no início desse ano. O grande Benfiquista estava desgostoso com os novos dirigentes e com o novo rumo que tinha sido dado ao Clube.


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Félix Bermudes terá até ponderado em desligar-se do Clube mas felizmente reconsiderou. As feridas causadas pelas eleições realizadas no princípio desse ano foram profundas e levariam alguns anos a sarar mas no dia da inauguração do Estádio da Luz, em 1 de Dezembro de 1954, ele lá esteve a desfilar no segundo Estádio que foi propriedade integral do Clube. Certamente que terá desfilado orgulhoso pela sua contribuição ao Clube que ele tanto amava e ao qual deu o melhor de si.

Talvez por isso, mais do que nunca, Cosme Damião sentiu necessidade em intervir nessa noite. As palavras de Cosme foram certamente escutadas. Ao que sei terão sido aliás as últimas palavras que proferiu perante uma tão vasta audiência Benfiquista. Cosme Damião partiria deste mundo em meados do ano seguinte. No espaço de uma década, infelizmente outras das grandes figuras presentes neste convívio também nos deixariam rumo ao 4º anel.


Estávamos em 1946. Nos 25 anos seguintes o SLB viveria momentos inolvidáveis:


•   O SL Benfica estava a 4 anos depois a conquistar a Taça Latina,

•   O SL Benfica estava a 4 anos de fazer uma fabulosa digressão a África, onde contrataria o imortal José Águas e onde difundiu e cimentou o Benfiquismo.


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•   O SL Benfica estava a 8 anos de inaugurar a Catedral da Luz, o mais lindo e mítico Estádio que alguma vez existiu.

•   O SL Benfica estava a 14 anos de inaugurar o mítico 3º anel na Catedral da Luz, o mais lindo e mítico Estádio que alguma vez existiu.


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•   O SL Benfica estava a 8 anos de contratar Otto Glória, o treinador que revolucionaria por completo o futebol Benfiquista e nacional.

•   O SL Benfica estava a 9 anos de fazer uma prestigiante digressão ao Brasil e Venezuela, que aumentou a dimensão e visibilidade internacional do Clube e o lançaria para os trilhos da Glória que tanto nos honraram nas décadas de 60 e 70.


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•   O SL Benfica estava a 7 anos de se estrear nas competições Europeias.

•   O SL Benfica estava a 13 anos de contratar Béla Guttmann, o treinador que de forma sagaz e conhecedora, iria potenciar a estrutura criada por Otto Glória e aproveitar o talento de uma geração fabulosa de jogadores para os levar às maiores vitórias da nossa História.


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•   O SL Benfica estava a 15 e 16 anos de conquistar as duas Taças dos Clubes Campeões Europeus.


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•   O SL Benfica estava a 17 anos de vencer o troféu Ramon Carranza, um dos mais prestigiados troféus de torneios Europeus, símbolo da grandeza Europeia definitivamente cimentada.

•   O SL Benfica estava a 24 anos de fazer uma prestigiosa digressão ao Japão, símbolo do pico do prestígio e dimensão universal do nosso Clube.


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E tantos, tantos mais, factos, pessoas, eventos e conquistas.

Mas um Clube grande também se faz de momentos de tristeza. Nesses momentos se revela a fibra do Clube e o carácter dos Homens que o dirigem. Momentos de profunda tristeza ou mesmo tragédia individual e colectiva também fazem parte da nossa História. Saber recuperar o ânimo e honrar os mortos sempre foi apanágio do nosso Clube.


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Infelizmente, como atrás se disse, muitos dos mais distintos convivas de 3 de Maio de 1946 não veriam ver parte ou até mesmo todas estas etapas:


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No 4º anel. Paz à sua Alma.



Nessa noite de 3 de Maio de 1946, todos os Benfiquistas presentes carregaram a Mística Benfiquista, um sentimento que muitos anos mais tarde o saudoso Mário Wilson resumiu de forma tão sublime:


Só nós Sentimos assim!



https://www.youtube.com/watch?v=77JmyKNWmEU (https://www.youtube.com/watch?v=77JmyKNWmEU)



Neste sublime testamento que Mário Wilson nos deixou, estou certo nele se reveriam todos os imortais Benfiquistas de que neste texto se falou. Eles, que que tão maravilhosamente ajudaram a construir o mais querido, o mais brilhante, o Sport Lisboa e Benfica.


E é fácil encontrar muitos mais exemplos de Benfiquistas que sentiram e exprimiram o que é a Mística do Sport Lisboa e Benfica


https://www.youtube.com/watch?v=hdEiPXi2yfc (https://www.youtube.com/watch?v=hdEiPXi2yfc)


https://www.youtube.com/watch?v=UlqJvJHUrkI (https://www.youtube.com/watch?v=UlqJvJHUrkI)


https://www.youtube.com/watch?v=y0XP3NpOJ9M (https://www.youtube.com/watch?v=y0XP3NpOJ9M)




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Janeiro de 2018, 22:01
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No comments!

Dia 19 de Fevereiro de 1944. Estádio de Wembley, Londres.


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Estádio de Wembley, dia 19 de Fevereiro de 1944. O Rei Jorge VI de Inglaterra cumprimenta os jogadores da Selecção Inglesa de futebol. Fonte: raggyspelk.co.uk


Em pleno tempo de guerra o futebol mostrava a sua importância. Nesse dia o Rei Jorge V de Inglaterra cumprimentava os jogadores das selecções de Inglaterra e Escócia, que se aprestavam para iniciar uma partida de futebol. Essa partida, embora hoje não seja reconhecida oficialmente pela FIFA, é parte da História da Selecção Nacional daqueles dois países.

Entre os seleccionados Ingleses estava um jogador com 26 anos de idade que pertencia aos quadros do Sheffield United. Chamava-se James Hagan mas era conhecido no meio futebolístico por Jimmy Hagan. Era um homem reservado e duro que mais tarde se tornaria célebre como treinador de futebol. No seu tempo, Hagan foi também um conceituado jogador internacional de futebol.

A fotografia com que iniciamos este texto capta o exacto momento em que o Rei Jorge V cumprimenta Jimmy Hagan.


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James Hagan jogou por 17 vezes na Selecção Nacional de futebol da Inglaterra. Fonte: sheffieldhistory.co.uk



Cumpriram-se no passado Domingo, 100 anos sobre o nascimento de Jimmy Hagan, um treinador Inglês que deixou marcas profundas na História do Sport Lisboa e Benfica. Foi um homem de futebol singular, muito reservado mas nem por isso menos controverso.

Como treinador e como manager, Hagan conheceu um sucesso extraordinário quando treinou o Sport Lisboa e Benfica, o maior Clube de Portugal e um dos maiores da Europa. Mas Hagan tinha também uma severa abordagem disciplinar nas suas equipas e por isso teve vários episódios conflituosos nos diversos clubes por onde passou. Nesse aspecto, o SL Benfica seria apenas mais um. Em tudo o resto a sua carreira no Glorioso foi quase sempre um trajecto ganhador verdadeiramente extraordinário.


Vamos hoje à boleia dessa fotografia inicial, que representa um dos picos da carreira de Hagan enquanto jogador profissional de futebol, os anos que viveu antes de se tornar um dos mais vitoriosos e marcantes treinadores do futebol do Sport Lisboa e Benfica.

Em homenagem a Hagan, publica-se aqui uma fusão de textos biográficos, coligidos a partir de algumas fontes da net. A fonte principal é o sítio do seu irmão Colin Hagan, ao qual aliás aconselho vivamente uma visita:

http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html (http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html)

outras fontes usadas:

http://www.independent.co.uk/news/obituaries/obituary-jimmy-hagan-1148385.html (http://www.independent.co.uk/news/obituaries/obituary-jimmy-hagan-1148385.html)

http://www.derbytelegraph.co.uk/sport/football/football-news/the-player-derby-county-slip-377993 (http://www.derbytelegraph.co.uk/sport/football/football-news/the-player-derby-county-slip-377993)



Os primórdios


Hagan nasceu em Washington, County Durham, no dia 21 de Janeiro de 1918. Nasceu no Nordeste de Inglaterra no seio de uma família Católica. Era também oriundo de uma família de futebol pois o seu pai Alf Hagan jogou num período pós Primeira Guerra Mundial no Newcastle United FC ("Magpies", fundado em 1892), no Cardiff City Football Club ("Bluebirds", fundado em 1899) e no Tranmere Rovers Football Club ("Rovers", fundado em 1884).


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Washington, County Durham, a terra natal de James Hagan, ali nascido a 21 de Janeiro de 1918. Fonte: wikipedia.



Pelos relatos de seu irmão Colin, o pai de Jimmy era também um homem de convicções fortes, tendo aliás retirado o seu filho da St. Joseph's School, uma escola Católica depois de um desentendimento com um Padre. Esse conflito terá aliás sido selado quando Alfie Chapman mimoseou o referido padre com um murro...


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Alfie Hagan, pai de Jimmy Hagan. Fonte: http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html


Nesses anos iniciais, o jovem Jimmy estudaria e jogaria futebol em mais três escolas: a Usworth Colliery School, a Durham County Boys e a England Schoolboys. O jovem Jimmy mostrou desde logo uma forte personalidade e nomeadamente dois dos traços mais transversais aos seus 80 anos de vida: um grande amor pelo jogo de futebol e um carácter ferozmente independente. Ao que parece terá até desistido de uma das suas escola secundárias, "apenas" porque o futebol não era praticado por lá.


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O jovem Jimmy Hagan segurando a bola numa equipa da Durham County Schools. Fonte: durhamcountyschoolsfa.org.uk



Outro aspecto sintomático é que apesar de viver numa região onde se tornaria mais lógico a ingresso nas escolas de futebol do Newcastle FC ou do Sunderland AFC ("Black Cats", fundado em 1879), os dois colossos locais, Jimmy optou por ingressar aos 14 anos de idade nas camadas amadoras do Liverpool FC ("Reds", fundado em 1892).

Na cidade do Mersey, Jimmy jogaria apenas 3 ou 4 meses nos "Reds", regressando depois a casa. Justificou-se dizendo ao seu pai de uma forma simples mas afirmativa: "fui para Liverpool para jogar futebol e não para trabalhar num depósito de madeira"... A questão é que nesses dias aos aprendizes de futebol era atribuído um emprego durante o dia e pelo que se viu, o trabalho reservado ao jovem Hagan foi do seu inteiro desagrado.

Mas Jimmy não era de desistir e assim pouco depois, em Maio de 1933, assinou pelo Derby County FC ("Rams", fundado em 1884). Fez a sua estreia pelos "Rams" com apenas 16 anos de idade e por lá se tornou, em 1935, um jogador profissional. Ao que parece num dos seus 31 jogos pelo Derby County terá jogado no Roker Park perante uma assistência estimada em 76.000 pessoas.


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O muito jovem Jimmy Hagan envergando a camisola do Derby County FC. Fonte: derbytelegraph



Nos 31 jogos que fez pelo Derby County, Jimmy Hagan terá marcado uns 7 golos, revelando um grande virtuosismo técnico, segundo algumas fontes mostrando por vezes uma habilidade quase mágica. Esse facto demonstra que apesar de ser um produto da escola Inglesa, Jimmy era um homem de futebol sensível ao virtuosismo técnico, uma característica mais latina e algo com que viria a trabalhar com fartura nos seus Gloriosos anos do Estádio da Luz.

Não obstante o bom percurso nos Rams, Jimmy viria depois a incompatibilizar-se com George Jobey, o manager do Clube e por via disso, em Novembro de 1938 seria transferido para o Sheffield United FC ("Blades", fundado em 1889). Teddy Davidson, na altura o manager do Sheffield, mostrou grande interesse nessa contratação mas, não obstante o conflito que tinha com o jogador, Jobey jogou duro nas negociações. O acordo seria fechado apenas por 2.925 libras, valor apreciável para a época.

Em Bramall Lane, jogando pelos "Blades", a carreira de Hagan conheceu um grande crescimento, mostrando-se na sua posição de interior como um jogador com distribuição de jogo fluente, excelente controlo de bola e posicionamento táctico astuto. Em Sheffield permaneceria 20 anos, de 1938 a 1958, ano em que se retirou como jogador de futebol.


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Jimmy Hagan fez grande parte da sua carreira no Sheffield United, chegando a capitão de equipa.



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Fonte: Premier Football Cards



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Hagan teve honras de primeira página no número de Fevereiro de 1954 do Charles Buchan's Football Monthly.



Jimmy Hagan era o craque da equipa, assumindo uma tal preponderância que causou algum desconforto nos seus companheiros. Ficou aliás célebre uma brincadeira de um fotógrafo que fez uma montagem dessa equipa do Sheffield United com 11 jogadores com cabeças de Jimmy Hagan. Infelizmente não encontrei uma cópia.


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Fonte: s24su.com/fórum/Sheffield



No total, Jimmy Hagan terá feito 361 jogos e 117 golos pelo Sheffield United. Colectivamente a maior conquista foi um campeonato da 2ª divisão Inglesa na época de 1952-1953. Fez uma longa carreira de 20 anos como jogador do United embora apenas 14 épocas tenham sido efectivas uma vez que perdeu 6 épocas por via da Segunda Guerra Mundial.


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A equipa campeã de 1952-1953. Hagan é segundo jogador sentado, a partir da direita.



Os anos da guerra


A Segunda Guerra Mundial ceifou a vida de muitos futebolistas e devastou muitas carreiras de futebol, e naturalmente afectou também a de Hagan. Integrou o exército Britânico e combateu os nazis em França. Sobreviveu.

Ainda assim, seria neste período que Hagan se tornou internacional pelo seu país, isto apesar de os 16 jogos para o qual foi seleccionado não serem hoje reconhecidos pela FIFA, uma vez que se trataram de jogos disputados em tempo de guerra.

Ainda assim, o historial da FIFA regista que Hagan foi internacional por uma vez por Inglaterra, num jogo disputado em Janeiro de 1948, pouco depois do fim da guerra, quando a sua selecção defrontou a Dinamarca em Copenhaga (empate 0-0).

No entanto, apesar do que o que a FIFA nos diz, a verdade histórica é outra. Nesses 16 jogos internacionais não-oficiais, Hagan apresentou-se com a camisola de Inglaterra de forma brilhante ao lado de estrelas como Stanley Matthews, Tommy Lawton e Raich Carter. É desse tempo a fotografia do início deste texto tal como as que abaixo se apresentam.


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Hagan cumprimentando figuras célebres com a camisola da Selecção. Fonte: derbytelegraph.co.uk e Getty Images



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A equipa nacional Inglesa que defrontou o País de Gales em utubro de 1941. De pé, esquerda para a direita: Harry Goslin, Joe Bacuzzi, George Marks, Denis Compton, Stan Cullis. Sentados: Stanley Matthews, Jimmy Hagen, Eddie Hapgood, Don Welsh and Joe Mercer. Fonte: spartacus-educational.com


No período pós-guerra, Hagan permaneceu fiel ao Sheffield United mesmo quando o seu clube aceitou uma proposta de transferência para os rivais do Sheffield Wednesday ("Owls", fundado em 1867). Falou-se de 32.500 libras, o que na altura seria um recorde Britânico. Contra a vontade do seu Clube, Hagan recusou, continuando a jogar pelo United sendo que, curiosamente, o Wednesday desceria à segunda divisão logo na época seguinte.

Logo após abandonar o Sheffield United, Jimmy Hagan juntou-se brevemente a 15 jogadores do Blackpool ("Seasiders, fundado em 1887) para fazer uma digressão pela Austrália. Por lá marcou 21 golos em 15 partidas. E assim terminou a carreira de futebolista.


Um treinador implacável


Terminados os seus dias de jogador, Hagan iniciou a sua carreira no Peterborough United FC ("Posh", fundado em 1934) onde treinou de 1958 até 1962. Foi uma passagem bem-sucedida, culminada com a conquista do 4th Division Championship logo na primeira época em que aquele modesto clube jogou numa liga nacional Inglesa. A sua equipa registou o incrível número de 134 golos só nessa temporada, um recorde que permanece. Apesar de na época seguinte ter consolidado os "Posh" na terceira Liga, ainda assim um amargo conflito com os jogadores faria com que Hagan fosse demitido em Outubro de 1962. Não seria caso único na sua carreira...


(https://s9.postimg.org/5ybb72evz/image.jpg)
Fonte: theposhtrust.co.uk e srsn.co.uk



De 1963 a 1967, Hagan treinou o West Bromwich Albion ("Baggies", fundado em 1878), clube que militava na primeira Liga inglesa. O maior feito deste período foi conseguido em 1966 quando Hagan levou os Baggies à conquista da Football League Cup. Foi uma final a duas mãos vencida (resultado agregado de 5-3) contra o West Ham United FC ("Hammers", fundado em 1895) que contava nas suas fileiras com três craques da selecção Inglesa: Moore, Peters e Hurst.

Mas o futebol são altos e baixos... Na época seguinte disputaria também a final, desta vez num jogo único em Wembley contra o Queens Park Rangers ("Hoops", fundado em 1882), clube na altura numa divisão inferior. Apesar de ao intervalo estarem a ganhar por 2-0, os Baggies seriam derrotados por 2-3. Acabaria ali o percurso de Hagan nos Baggies.

Foi também nos Baggies que Hagan teve mais um episódio revelador da sua fibra enquanto treinador. No dia 1 de Janeiro de 1964, Jimmy Hagan enfrentou uma greve de 21 jogadores da categoria principal. Estes protestavam para com a exigência do treinador de terem de se treinar com calções num dia particularmente frio. Hagan foi inflexível, e enfrentando a greve, foi ele mesmo com os seus 46 anos de calções treinar para o meio do campo. Ali mesmo perante os sócios a dar o exemplo.


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O incrível dia em que Hagan treinou sozinho em calções. Os jogadores em greve ficaram a ver o treinador. Fonte (https://www.birminghammail.co.uk/sport/football/football-news/nostalgic-pictures-day-west-bromwich-343386)



Esse conflito terá no entanto sido apenas mais um pois os jogadores queixavam-se de que os métodos de treino de Hagan eram aborrecidos e a postura do treinador era áspera e inacessível. A perda da final de 1967 acabaria por ser uma justificação conveniente que a Direcção dos Baggies usou para demitir um treinador em conflito com o seu plantel.


No Glorioso


Não sendo o foco do texto de hoje, não poderia fechar sem mencionar brevemente a importância da passagem de Hagan pelo Glorioso.

Deposi dos Baggies, Hagan só voltaria a treinar em Março de 1970, desta vez em Portugal, quando aceitou um convite do Glorioso Sport Lisboa e Benfica feito pelo grande Presidente Duarte Borges Coutinho. Falou-se na altura que a primeira escolha do Dr. Borges Coutinho terá sido Alf Ramsey o treinador campeão do mundo pela Inglaterra em 1966.

A escolha de Hagan parecia assim uma escolha secundária, quiçá uma medida desesperada de um presidente depois de uma recusa no mesmo mercado. Hagan no entanto revelar-se-ia uma escolha certeira, um golpe de inspiração. De facto, o duro Inglês conseguiria finalmente disciplinar e renovar uma equipa que ainda tinha grandes jogadores mas à qual eram reconhecidos sérios problemas de disciplina e alguma veterania. Essa fibra disciplinadora terá sido um dos factores decisivo que levaram o Dr. Borges Coutinho a contratar este duro Inglês.

A equipa foi disciplinada, renovada, e significativamente melhorada na sua capacidade física e atlética. Os títulos vieram depois. Três campeonatos conquistados de forma espantosa. Uma extraordinária digressão pelo Japão e muitos outros jogos célebres fariam ainda parte da lenda.

Nesse percurso, Hagan aplicou uma vez mais os seus duríssimos métodos de treino e disciplina. Apesar das vitórias o desgaste foi-se acumulando explicando que uma vez mais fosse um pequeno episódio disciplinar a levar à saída de Hagan. Um episódio triste que talvez tenha evitado que o primeiro tetra da nossa história tivesse ocorrido na década de 70.


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Uma sessão de treinos de Jimy Hagan no Estádio da Luz. Alguns jogadores são identificáveis.



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Um dos mais célebres planteis. Os invencíveis de 1972. Fonte: Museu Cosme Damião.



Depois do SL Benfica viria um período de 2 anos a treinar no Kuwait e depois o regresso a Portugal onde treinaria Sporting CP (1976-77), Boavista FC (1978-79), Vitória Setúbal (1979–80), CF Belenenses (1980–81) e GD Estoril Praia (1981–82). Teve sucesso no Boavista onde venceu a Taça de Portugal de 1978-79 e no GD Estoril Praia onde subiu à 1ª divisão.

Findo a experiência no Estoril, Jimmy Hagan decidiu retirar-se com a idade de 64 anos.

Apesar da abrupta rotura, ficou sempre no nosso Clube um enorme respeito pela figura deste Inglês, duro, autoritário exigente mas também e acima de tudo campeão. Não admira que o nosso Rei Eusébio tenha generosamente participado em alguns eventos evocativos do grande treinador Inglês.


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Eusébio num evento de homenagem a Jimmy Hagan.


James Hagan morreria em Sheffield no dia 26 de Fevereiro de 1998, com a idade de 80 anos.

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Até sempre Mister!
Paz à sua Alma. Honra à sua memória!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Fevereiro de 2018, 14:40
-197-
Félix e os Leões da Estrela


Dia 6 de Março de 1934, Rua de São Julião, Lisboa


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A multidão que assistiu ao descerramento de uma lápide evocativa de Chaby Pinheiro. Rua de São Julião, 6 de Março 1934. Fonte: AML



Cerimónia de descerramento de uma lápide evocativa do actor Chaby Pinheiro no nº 53, em cujo terceiro andar o actor nasceu 60 anos antes. Tinham passado apenas 4 meses da sua morte e funeral.


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O elogio feito pelo presidente da CML Tenente-Coronel Linhares de Lima durante a cerimónia de descerramento de uma lápide evocativa de Chaby Pinheiro. Fonte: TT


Os mais atentos, em particular os Benfiquistas, notarão que entre a multidão estava presente Félix Bermudes, o prestigiado autor teatral e antigo (e futuro) presidente do Sport Lisboa e Benfica.


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A presença notada de Félix Bermudes entre a multidão presente na Rua de São Julião no dia 6 de Março 1934. Fonte: AML



Pesaroso, Félix Bermudes prestava homenagem a um dos actores que melhor honrou algumas das suas peças de teatro.


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Félix Bermudes foi um dos oradores na cerimónia de homenagem a Chaby. Fonte: DL


A morte do actor Chaby Pinheiro comoveu o meio artístico nacional e os milhares de populares que reconheciam o seu talento. Chaby terá falecido vítima de uma congestão cerebral ocorrida num quadro de complicações da diabetes, doença de que padecia havia longos anos. Sofrendo cada vez mais de uma obesidade mórbida e perto de chegar aos 60 anos, o actor viu agudizar os seus problemas de saúde. Perto do fim ainda terá procurado os bons ares campestres do Algueirão mas infelizmente terá também mantido hábitos alimentares despropositados, o que terá abreviado o desfecho.


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Chaby fotografado no seu leito de morte. Fonte: TT



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Notícias do falecimento de Chaby Pinheiro. O seu corpo foi carregado por colegas e autores teatrais. Fonte; DL



Chaby, "Sic Transit Gloria Mundi"


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António Augusto de Chaby Pinheiro nasceu em Lisboa no dia 12 de Janeiro de 1873 e faleceu no Algueirão em 6 de Dezembro de 1933. Filho do artista dramático Fortunato Pinheiro, tinha ao que parece ascendência Franco-Suíça. Frequentou sem terminar um curso superior de Letras, passando depois a exercer as funções de Aspirante dos Correios e Telégrafos.

Iniciou profissionalmente a sua carreira artística em 1896 numa peça chamada "O Tio Milhões" e logo no Teatro Nacional D. Maria II, integrando a prestigiada companhia teatral Rosas & Brasão, por onde permaneceu durante 12 anos. Integrou depois a companhia da actriz Lucinda Simões e mais tarde fundou a sua companhia juntamente com a actriz Aura Abranches.

Foi também empresário teatral, tendo levado a sua companhia a digressões não apenas pelo país (ilhas incluídas) mas também em longas digressões em diversas cidades do Brasil e Argentina. Na sua carreira veio a participar em mais de 60 espectáculos como actor, celebrando muitos triunfos e aplausos.


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Em 1913, Chaby e a sua companhia teatral no cais do porto de Lisboa, prestes a embarcar para uma digressão pela América Latina. Fonte: TT


Chaby trabalhava em geral apenas seis meses durante cada ano, reservando depois tempo para viagens pela Europa onde aumentava a sua cultura literária e artística. Falava diversas línguas e gostava de manter conversas vivas em tertúlias que não raras vezes passavam por bons repastos e petiscos. Foi portanto um homem de grande inteligência e cultura, tendo privado com algumas das grandes figuras da Cultura e das Artes em Portugal tais como Fialho de Almeida, Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro, Júlio Dantas, Pinheiro Chagas, entre outros.


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Chaby entre alguns dos gigantes da Cultura do seu tempo. Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Apesar do homem e do actor estarem hoje quase esquecidos, o nome Chaby Pinheiro faz parte da Toponímia de Almada, Amadora; Barreiro (Lavradio), Cascais (São Domingos de Rana), Lisboa (Avenidas Novas); Matosinhos (Senhora da Hora); Montijo (Alhos Vedros); Odivelas (Ramada); Oeiras (Linda-a-Velha); Seixal (Corroios); Sintra (Algueirão-Mem Martins). Fonte: "O Grande Livro dos Portugueses", (Círculo de Leitores).

Ao longo da sua carreira, Chaby fez bom uso do seu porte físico para desempenhar papéis cómicos marcantes. A sua enorme figura e popularidade lembram o grande actor Vasco Santana mas ou porque não foi tão dotado e/ou porque não teve a imortalidade dada pelo Cinema, Chaby não ficou tão popularmente recordado como o genial Vasquinho. De facto, apesar das dezenas e dezenas de peças teatrais onde exibiu a sua arte, Chaby apenas deixou a sua contribuição num pequeno número de filmes mudos. Curioso porque o último filme que Chaby terá visto foi justamente "A Canção de Lisboa" onde Vasco Santana atingiu a imortalidade. O Museu do Fado tem no seu acervo registos com a voz de Chaby Pinheiro: poemas, monólogos e até canções. Hoje pouco mais são de que uma curiosidade histórica. Sic Transit Gloria Mundi.


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"Sic Transit Gloria Mundi". "Toda Glória Do Mundo É Transitória".
Hoje esquecido, Chaby Pinheiro foi no seu tempo um actor muito estimado. Fonte: DL e Museu do fado (http://arquivosonoro.museudofado.pt/)



Entre as suas peças teatrais salientaram-se algumas escritas pela "Parceria", o trio de escritores teatrais onde se integrou Félix Bermudes. Uma das peças mais notáveis da Parceria foi a famosa "O Leão da Estrela" (1925) que mais tarde (1947) veio a ser transposto para o cinema. E foi justamente Chaby Pinheiro o primeiro actor a representar a hilariante figura do Sr. Anastácio Silva, fanático do Sporting Clube de Portugal.


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Chaby na peça teatral "O Leão da Estrela" (1925) escrita por Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos



Mas Chaby já não viveria o suficiente para ser escolhido para o elenco do filme "O Leão da Estrela". O filme foi estreado em 1947 ou seja 14 anos depois da sua morte. O papel de Anastácio Silva, papel principal do filme, viria a ser atribuído ao genial (e ao que sei sportinguista...) António Silva. Ficou também muito bem entregue.


(https://s13.postimg.org/gwo3kycrr/image.jpg)
António Silva numa hilariante cena do filme "O Leão da Estrela" (1947), com argumento de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos


https://www.youtube.com/watch?v=XHu5IhTolhs (https://www.youtube.com/watch?v=XHu5IhTolhs)



Um facto que nunca entendi muito bem foi como é que o "nosso" Félix Bermudes, um dos autores do argumento do "Leão da Estrela", não quis antes escrever a "Águia da Estrela"? Seria aliás bem mais ao gosto popular (o SLB sempre foi o Clube mais popular) e hoje teríamos algumas belas imagens de um jogo do Glorioso no final da década de 40. Mas não, no filme acabamos a ver duas equipas às riscas...


(https://s13.postimg.org/hyya3ly6v/image.jpg)
Uma imagem do "Leão da Estrela" captada no início do jogo FCP-SCP.



https://youtu.be/ThxFFOw8moc?t=2675 (https://youtu.be/ThxFFOw8moc?t=2675)



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A este propósito uma nota de rodapé oportuna. Estarão lembrados de uma infeliz participaçao do Sr. Dr. Rui Moreira, actual presidente da CM Porto, como comentador desportivo. Estou certo que ele teria curiosidade em ver a imagem acima apresentada, retirada do filme "O Leão da Estrela"

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Fonte: Em Defesa do Benfica


Aparentemente o Sr. Dr. não terá visto muitos filmes Portugueses e este em particular. É que ali se vê uma equipa do "seu FCP" a praticar com o braço bem estendido, aquilo que porfiou em mostrar que os "outros" faziam... Aquilo com que colou o SL Benfica a algo que o Clube nunca foi e que tem a maior autoridade moral comparativamente aos seus rivais. Digamos apenas que lhe faltou um pouco de cultura cinéfila.


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A Parceria


Mas voltando ao foco deste texto, podemos sempre especular que a escolha do "Leão da Estrela" e não da "Águia da Estrela" terá estado na natureza da Parceria. Terá sido muito provavelmente por influência de Ernesto Rodrigues, o amigo de infância de Félix Bermudes e membro da parceria da famosa Parceria a três (os dois juntamente com João Bastos).


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A famosa Parceria, os três autores teatrais responsáveis pela escrita de algumas da mais notáveis e diversas peças de teatro na primeira metade do século XX.



Sucede que Ernesto Rodrigues era Sportinguista e que para além de seu colega profissional era também seu amigo de infância e companheiro de carteira de escola. Sabemos deste último facto quer pela boca de Félix Bermudes quer também por uma prova que revelo aqui, pela primeira vez


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Ernesto Rodrigues e Félix Bermudes, amigos durante toda a vida foram também colegas na Escola Primária (Porto) e como aqui se vê mais tarde na prestigiada Escola Académica (Lisboa) no ano lectivo de 1886-1887. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e MNT



O Teatro Nacional da primeira metade do século XX teve grandes e ilustres nomes da cultura Portuguesa. Entre eles esteve Félix Bermudes, um dos mais insignes Benfiquistas, pioneiro praticante dos mais diversos desportos no nosso País, presidente do SLB e um dos mais distintos praticantes e mentores do Ideal Benfiquista.


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Félix Bermudes, um Benfiquista inaudito! Fonte: Delcampe e Em Defesa do Benfica



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 06 de Fevereiro de 2018, 15:52
Que figurinha realmente a do Rui Moreira... :bah2:

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2018, 19:26
Citação de: Bakero em 06 de Fevereiro de 2018, 15:52
Que figurinha realmente a do Rui Moreira... :bah2:


O homem só se teria lembrado se o filme fosse "O Andrade da Afurada", "O Pinto da Madalena" ou "O Teles da noite".
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2018, 22:24
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Aquela traidora de franja

Dia 5 de Agosto de 1938, Cova da Piedade.
Partida 1ª etapa da VII Volta a Portugal em bicicleta.

 
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Beatriz Costa com JM Nicolau (SLB) e A. Trindade (SCP) no dia 5-08-1938 na partida para a VII Volta a Portugal em Bicicleta.


Nesse dia Beatriz Costa posou sorridente ao lado de José Maria Nicolau (SLB) e Alfredo Trindade (SCP), os dois ciclistas com maior popularidade no Portugal dos anos 30 e 40. Os dois integravam um pelotão com 48 ciclistas, sendo que 29 estavam divididos por 6 equipas (SLB, SCP, CFB, CACO e CUF) e 19 eram "não-agrupados". A numeração dos concorrentes foi do nº 1 ao nº 49 pois ninguém quis ser o corredor nº 13...

A prova teve um total de 15 etapas, começando na Cova da Piedade e terminando em Lisboa. A Volta regressava ao fim de dois anos de interrupção causados por uma conjuntura de guerra (Espanha) e por desavenças entre Clubes, Jornais e a Federação (UVP).

Para lá dos sorrisos do dia, Nicolau, Trindade e Beatriz Costa iriam em breve ter grandes mudanças nas suas vidas. Beatriz Costa partiria no ano seguinte para uma longa e triunfante estadia de 10 anos no Brasil.


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O sinal de partida para a 1ª Etapa da VII Volta a Portugal foi dado por Beatriz Costa. Fonte: DL e T


Já no caso dos ciclistas, nesse mesmo dia ambos anunciaram publicamente e com alguma tristeza, o abandono próximo das competições ciclistas. Rivais na estrada, amigos na vida, com esse anúncio simultâneo Nicolau e Trindade decretaram o fim de uma era empolgante do ciclismo nacional.


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O abandono dos campeões. Fonte: DL


À partida da prova, ambos os ciclistas apresentavam-se com dois triunfos cada (José Mª Nicolau em 1931 e 1934 e Alfredo Trindade em 1932 e 1933). Essas vitórias foram obtidas em quatro provas verdadeiramente empolgantes e com eco a nível nacional. Esta prova poderia ser o desempate mas afinal a prestação dos dois seria modesta e pouco afortunada. A vitória final pertenceu a José Albuquerque (CA Campo Ourique). Nem os sportinguistas nem os Benfiquistas se ficaram a rir.

Mas, à boleia destas fotografias iniciais, vamos hoje falar não de ciclismo mas antes da grande Beatriz Costa.


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Nasceu Beatriz da Conceição no dia 14-12-1907 no lugar da Charneca do Milharado, Mafra e morreu em Lisboa a 15-04-1996. Para sua felicidade e nosso deleite, Beatriz viria a preencher esses 88 anos de vida com muito Teatro e algum Cinema. A sua vida foi repleta de talento, garra, irreverência e alegria. Em troca mereceu o carinho e admiração do público, sentimentos que persistem apesar de já ter partido há mais de duas décadas.


Nos palcos


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Uma galeria de personagens marcantes interpretados por Beatriz Costa na Revista à Portuguesa. Desenho de Amarelhe. Fonte: MNT



Beatriz iniciou-se em 1923 - tinha apenas 16 anos - como corista numa reposição da revista "Chá e Torradas", em exibição no Éden-Teatro. O seu talento e alegria foram logo notados e no ano seguinte conseguiu por via disso um pequeno papel na revista "Résvés". Um pouco depois seria incluída numa digressão ao Brasil com a companhia do Teatro Avenida. Por lá ganhou prestígio como actriz e nos anos seguintes foi trabalhando em Portugal e no Brasil, essencialmente no Teatro de Revista.

Em 1927 adoptou o seu inconfundível visual "à la Louise Brooks" (actriz Americana), tornando-se para sempre a menina da franja, ou naquela tirada imortal do Vasquinho, "aquela traidora de franja". A lista de revistas é longa e brilhante sendo que para quem queira saber mais aconselha-se este sítio: http://www.historiasdecinema.com/2015/07/beatriz-costa/


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No palco com Eugénio Salvador, Humberto Madeira e um burro (!) na famosa revista "Arre Burro" (1936): Fonte: MNT e Museu do Fado.


De 1939 a 1949 fixou-se no Brasil, tendo esse período sido - segundo Beatriz Costa - os melhores anos da sua vida. Os Brasileiros dispensaram-lhe sempre um grande carinho e os seus triunfos artísticos foram imensos. Por lá representou, cantou e encantou em Casinos, Teatros, Night-Clubs e na Rádio. Chegou mesmo a formar uma companhia com o actor cómico Hispano-Brasileiro Oscarito que mais tarde se dissolveria.


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Ecos do enorme sucesso de Beatriz Costa no Brasil. Fonte: Hemeroteca Lx


A 18 de Fevereiro de 1947 casou no México com o Edmundo Gregorian, um poeta, escritor e escultor Arménio. O casal viajou pelo mundo depois de Beatriz decidir fazer uma pausa na sua carreira. Nessas viagens Beatriz conheceu algumas das grandes estrelas da época no Cinema, Música e Artes plásticas tais como Salvador Dali, Pablo Picasso, Sophia Loren, Greta Garbo ou Edith Piaf.

Mas infelizmente a felicidade cobra o seu preço e dois anos depois veio o divórcio. Era chegado o tempo do regresso a Portugal.


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No Rio de Janeiro com o marido o Arménio Edmundo Gregorian. Fonte: BND


Quando regressou a Portugal voltou ainda com algum êxito às revistas mas 10 anos depois fecharia a sua carreira em 1960 na revista "Está Bonita a Brincadeira". Daí em diante e apesar de repetidos convites de Vasco Morgado, recusou sempre voltar aos palcos. Terá achado que se fechou um ciclo e que a Revista desses novos tempos era diferente.

Apesar de afastada dos palcos, Beatriz Costa nunca foi esquecida. Continuou a participar em eventos, publicou dois irreverentes livros de memórias e participou em alguns programas de televisão para os quais foi convidada. durante os seus últimos 30 anos de vida tornou-se uma figura inconfundível do Hotel Tivoli, ocupando o quarto 600, onde viria a falecer em 15-04-1996.


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O mesmo sorriso e franja separados por várias décadas.


https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-beatriz-costa/#sthash.yA7mB6Bk.dpbs (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-beatriz-costa/#sthash.yA7mB6Bk.dpbs)

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/morte-de-beatriz-costa/ (https://arquivos.rtp.pt/conteudos/morte-de-beatriz-costa/)

Fonte: Arquivo RTP



Nas telas


Beatriz Costa estreou-se no Cinema em 1926, representando um pequeno papel num filme mudo de Rino Lupo chamado "O Diabo em Lisboa". Desse filme restam apenas algumas fotografias. No total terá participado em apenas 7 filmes, sendo que destes apenas 3 foram sonoros mas de um destes – o Trevo de 4 Folhas – apenas subsiste um fragmento (http://www.cinept.ubi.pt/pt/pessoa/2143690207/Beatriz+Costa (http://www.cinept.ubi.pt/pt/pessoa/2143690207/Beatriz+Costa)).

O grande sucesso viria em 1933 com o filme "A Canção de Lisboa" de Cotinelli Telmo, o primeiro filme sonoro em Portugal.

A Canção de Lisboa
https://www.youtube.com/watch?v=OY8osoU3yRA (https://www.youtube.com/watch?v=OY8osoU3yRA)

Em 1939, pouco antes de partir para o Brasil, estrearia o filme "A Aldeia da Roupa Branca" de Chianca de Garcia, também um grande sucesso de bilheteira.

A Aldeia da Roupa Branca
https://www.youtube.com/watch?v=ZUewYF8KD8E (https://www.youtube.com/watch?v=ZUewYF8KD8E)

Estes dois filmes dão-nos uma ideia da excelência da sua Arte de representação.


(https://s14.postimg.org/pjxyf0izl/image.jpg)
Quatro dos filmes onde Beatriz Costa contracenou. Fonte: cine.ubi.pt


Nos discos


Fruto do seu talento teatral e cinematográfico, o arquivo sonoro do Museu do Fado tem no seu acervo algumas peças sonoras gravadas de Beatriz Costa.


(https://s14.postimg.org/63d8s3awh/image.jpg)
Marchas, revista e filmes, a voz de Beatriz Costa preservada em disco. Fonte: http://arquivosonoro.museudofado.pt/#


Para lá das notáveis canções das Revistas à Portuguesa, ficaram famosas as marchas, em particular a de Benfica de 1935, da qual Beatriz Costa e Vasco Santana foram padrinhos. Como seria de esperar Benfica ganhou o concurso das marchas populares desse ano. A voz de Beatriz deixou-nos algumas das mais belas marchas de sempre.




https://www.youtube.com/watch?v=oLMRsbQRj0A (https://www.youtube.com/watch?v=oLMRsbQRj0A)
Beatriz Costa 78 RPM Record - Marcha de Bemfica #1 e Grande Marcha De Lisboa


MARCHA DE BENFICA (1935)
(Letra de Norberto de Araújo; Música de Raúl Ferrão)


"Eh raparigas / Isto agora é andarmos p'ra frente / Saltam cantigas aos molhos / Um riso nos olhos / E coração quente.

Cá vai Benfica / E quem fica não vai com certeza / Ser alegre é que é preciso / Pois quem tem o riso /Tem sempre beleza.

(Refrão)

Olha a marcha de Benfica / Qual saloia cantadeira / Que entra na festa contente /

Ai, ninguém fica sem cantar / a vida inteira / A linda marcha da nossa gente.

Hája alegria / Alegria é um bem que se abraça / Um desejo uma quimera / Por isso se espera / A marcha que passa.

Cá vai Benfica / Toda alegre e contente p'ra dançar / Há sempre um sorriso suspenso / Um tesouro imenso / Que nos vem da herança.



(https://s14.postimg.org/omrj63a1d/10_B.jpg)
A Marcha de Benfica em 1935. Fonte: TT



O carinho Benfiquista!


E terminamos em beleza com a demonstração que Beatriz Costa tinha uma predilecção Benfiquista. A fonte é algo inesperada mas por isso mesmo insuspeita: um folheto da AFP, Associação de Futebol do Porto!



(https://s14.postimg.org/4obo3fuep/image.jpg)
"Que diabo fará a Beatriz aqui no "meio da bola"? Nestas imagens ela surge-nos toda garrida e alegre, no filme "A Aldeia da Roupa Branca". Pois a gravura tem cabimento: é para lhe recordar que vem aí o "Benfica" o seu grupo querido, aquele "onze" que actua com uma "vida" gémea da sua.



Para sempre fresca, irreverente, talentosa, genial e... Benfiquista!
Paz à sua Alma, honra à sua memória!


No próximo texto falaremos do imortal e Glorioso Vasco Santana.
Chamar-se-á: Vasco, Vasquinho, Vascão!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Montez em 10 de Fevereiro de 2018, 16:53
Este tópico é ouro puro.

Fico largos minutos a olhar para tudo o que é pormenor nas fotos e imagens, tento me imaginar num passado que nunca conheci, nem pouco mais ou menos. É fascinante toda a classe e pureza desse tempo.

O Benfica é tão bonito que tenho pena de ter nascido 90 anos mais tarde.

Obrigado, RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Fevereiro de 2018, 17:16
Citação de: Montez em 10 de Fevereiro de 2018, 16:53
Este tópico é ouro puro.

Fico largos minutos a olhar para tudo o que é pormenor nas fotos e imagens, tento me imaginar num passado que nunca conheci, nem pouco mais ou menos. É fascinante toda a classe e pureza desse tempo.

O Benfica é tão bonito que tenho pena de ter nascido 90 anos mais tarde.

Obrigado, RedVC.


Muito obrigado Montez!  O0

A satisfação da investigação, da montagem e da partilha destes textos e imagens é uma motivação constante.

O SL Benfica reinventa-se, renova-se, engrandece-se mas nunca esquece a grandeza e valores do seu passado Glorioso. Conhecer esse passado faz-nos perceber quem somos e o que devemos querer para o futuro do nosso Clube. Pelo Benfica, sempre!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Fevereiro de 2018, 10:26
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Vasco, Vasquinho, Vascão (parte I)

Vasco Sant' anna,
sócio nº 417 do Sport Lisboa e Bemfica no dia 1 de Janeiro de 1926!


(https://s18.postimg.org/vurv126q1/image.jpg)
Cartão de sócio do SLB de Vasco Sant' anna. Cartão de 1-01-1926, assinado por Bento Mântua (presidente) e José Colmeiro (secretário). Fonte: Trindade e Vieira. Fotobiografia de Vasco Santana



Esta imagem fala por si quanto ao carinho que Vasco Santana tinha pelo nosso Clube.

Mas o que significaria ser o sócio nº 417 do SL e Benfica em 1926? Muito!

Senão vejamos: em 1923, ou seja três anos antes, numa entrevista concedida ao Diário de Notícias por ocasião da construção das Amoreiras, Bento Mântua, presidente do SLB, revelava que o nosso Clube tinha cerca de 4.303 sócios.

Ser o sócio nº 417 em 1926 era sinónimo de muita antiguidade. É possível que Vasco Santana tenha entrado para associado ainda na década anterior.


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Entrevista de Bento Mântua, presidente do SLB ao DN, em 1923. Entrevista transcrita num jornal Brasileiro. Fonte: BND


Para lá de ser Benfiquense (nascido em Benfica), Vasco Santana era Benfiquista embora sem clubismos fanáticos. Vasco era um homem de bem com a vida, um artista e com certeza um homem consciente e sensível à sua imagem pública. Esses factos ajudam a perceber que pela década de 30 também fosse associado de diversas outras colectividades desportivas e culturais Lisboetas, entre as quais o Sporting CP e o Atlético CP, pelo menos.

Vasco Santana, apesar de um físico que não o ajudava, era um homem interessado no desporto e no futebol, tendo estado envolvido em alguns eventos lúdico-desportivos juntando actores e autores teatrais. Nesses eventos era também figura frequente o Glorioso Félix Bermudes.


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Dia 9 de Abril de 1924, Estádio do Lumiar. Uma festa desportiva organizada pelas Associações de Trabalhadores de Teatro e dos Toureiros Portugueses. Constou de futebol e outras actividades. Estiveram presentes entre outros: Vasco Sant'Anna (26 anos de idade) e Félix Bermudes (50 anos). Fonte: DL



Assim, vamos hoje falar de aspectos da vida e obra do imortal Vasco Santana, alguns dos quais se cruzaram com o SL e Benfica. Ele foi um ilustre Benfiquense e Benfiquista que ficou no coração dos Portugueses.


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Vasco Santana foi um talento nato, um homem que se entregou à sua Arte, ao público e aos amigos. Era um "monumento de espírito e de bonomia" como referia um artigo publicado na década de 40. Um actor amado pelo público.


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa



A família


Vasco António Rodrigues Sant' Anna nasceu em Benfica, na Rua Direita nº 185, às 6 horas da tarde do dia 28 de Janeiro de 1898.


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Registo paroquial de baptismo de Vasco Sant'Anna. Baptismo datado de 14-03-1898. Fonte: TT



Vasco nasceu no seio de uma família ligada ao Teatro. O seu pai, Henrique Augusto Sant'Ana (1873-1950) foi um escritor, ensaiador e cenógrafo, enquanto Luís Galhardo (1874-1929), seu tio materno, foi um importante empresário teatral e fundador do Parque Mayer na década de 20. A sua mãe, Maria Filomena Rodrigues Sant'Ana (1875-1957) era brasileira, natural de Pernambuco.


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Alguns das familiares mais importantes na infância de Vasco Santana. Fonte: CEP e TT e O Observador (http://observador.pt/especiais/vasco-santana-bem-amado-mulherengo-intemporal/)



Benfica era nesse tempo um espaço rural embora habitado e frequentado por uma classe burguesa emergente.


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Cercanias de Benfica, princípio do século XX. Fonte: AML



Por várias vezes o Brasil se cruzaria com a vida profissional e privada de Vasco. Arminda Martins, a sua primeira mulher era Brasileira. Vasco fez diversas digressões bem-sucedidas no Brasil, um País que lhe devia ser bastante querido e familiar.

Mais do que o actor que todos conhecemos e que muitas vezes deu corpo ao Português médio, esperto, vivaço generoso e bem-disposto, Vasco António Rodrigues Santana - o homem por trás da tela e dos palcos - foi também um homem inteligente, culto e de fina educação. Viria a casar por três vezes e teria três filhos, o último de uma relação com Ivone Fernandes.


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As mulheres da vida de Vasco Santana.
1 - Arminda Martins (1921-1925; esposa e mãe de Henrique Santana) Fonte: O Observador.
2 - Aldina de Sousa (1925-1930; esposa e mãe de José Manuel. Fonte: lisboanoguiness.blogs.sapo.pt.
3 - Mirita Casimiro (1941-1946; esposa). Fonte: https://www.spautores.pt/assets_live/12601/vasco_santana_paineis_.pdf
4 - Ivone Fernandes (1946-1958; mãe de João). Fonte: Hemeroteca de Lx




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Vasco e os seus três filhos. respectivamente, João, José Manuel e Henrique. Fonte: O Observador



Na sua juventude, Vasco foi um bon-vivant, apreciador da noite, da boémia, das mulheres bonitas e dos prazeres da mesa. Extraordinariamente afável e encantador, Vasco era conhecido por cumular de gentilezas as actrizes com quem trabalhava. Apesar do seu físico, era também conhecido por estar sempre pronto para galantear o belo sexo. E como dizia Mª Helena Matos, "atirava-se de cabeça!"

É certo que tinha alguns momentos de irascibilidade mas quase sempre mostrou o seu bom coração. Usava todas as suas virtudes de conhecimento e carácter para, com um humor brilhante, tornar-se o centro das atenções.


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Vasco e as mulheres. Fonte: O Observador.



(continua)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2018, 19:39
-200-
Vasco, Vasquinho, Vascão (parte II)


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Nos palcos


O jovem Vasco mostrou inclinação para as artes, em particular para Arquitectura. Em 1915, concluídos os estudos secundários no Liceu Passos Manuel, entrou para a Escola Superior de Belas Artes para estudar Pintura. Gostava de Teatro mas nesse tempo não pensaria fazer carreira por lá.

Só que o mundo dos palcos era parte do seu ambiente familiar, podendo assistir a numerosas representações de grandes actores e peças teatrais ligadas ao seu tio Luís Galhardo. Isso e a boa capacidade de memorizar alguns papéis levaram-no quase acidentalmente ao Teatro.

A história que se conta é que um dos actores da revista "O Beijo" (1917), em cena no teatro Avenida, ficou doente e teve de ser apressadamente substituído. Ainda que relutante, Vasco acabou por aceitar um pedido do seu tio Luís Galhardo e na noite do dia 25 de Agosto de 1917 subiu ao palco. O seu desempenho agradou, mudando-lhe definitivamente o centro da vida para os palcos do Teatro e para as telas de Cinema.

Assim se entende que em Outubro de 1917, com 19 anos de idade o jovem Vasco tivesse passado a frequentar o Conservatório de Lisboa para aprender "Artes de Representar".


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Duas etapas da carreira de Vasco Santana no teatro. 1917, estudante no Conservatório e 1925 já profissional. Fonte: CEP



No final desse ano, Vasco assumiu o pleno profissionalismo, actuando na revista "Áz d'Ouros" que estava em cena no Éden-Teatro. Ainda em tempo de guerra, Portugal via despontar um actor que se tornaria um génio na representação da Revista à Portuguesa, opereta e comédia.


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Referências em jornais à Revista "O Beijo" onde Vasco Santana se estreou ainda como amador e "Az D'Ouros" a primeira em que actuou como profissional. Fonte: Hemeroteca Lx.



Mas o talento nato não chega para fazer um grande actor. Vasco teve de suar muito, trilhar anos e anos de palco, refinar a sua Arte. Fez digressões dentro e fora de Portugal, tornou-se conhecido e admirado. A primeira etapa passou em 1918 por integrar a companhia Satanela-Amarante, com a qual faria, em 1920, a primeira de várias digressões ao Brasil. Em 1921 casa com Arminda Martins, nascendo o filho Henrique no ano seguinte.

Depois e durante 14 anos, Vasco integrou a companhia de operetas de Armando de Vasconcelos, que então ocupava o Teatro S. Luiz. Em 1924 divorcia-se da sua primeira mulher, iniciando uma relação com a sua colega Aldina de Sousa, com quem formaria uma famosa dupla no final da década de 20. Em 1925 e 1929 faz novas e bem-sucedidas digressões ao Brasil.


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Em 1930. Vasco e a sua esposa Aldina de Sousa em dois tempos de um espectáculo em benefício da colónia balnear "O Século". Fonte: TT



Em 1926 estreou-se como autor de revista e opereta, lançando-se numa carreira de mais três décadas como (também) autor teatral (Fonte: Dicionário do Cinema Português 1895-1961 de J. Leitão Ramos). É também neste ano que nasce o filho José Manuel. Mas em 1930 começariam os tempos difíceis. Nesse ano Vasco sofre um duro golpe com a morte súbita de Aldina de Sousa, vítima de uma septicemia.

Em 1933 tem um ano de particular sucesso quer no palco quer nas telas. Com "A Canção de Lisboa", Vasco torna-se querido no País inteiro. Em 1935 sofre um novo golpe com a morte do seu pai, no momento que Vasco definiria como o maior desgosto da sua vida. Nesse ano nasce no entanto o seu filho João, fruto de uma ligação com a actriz Ivone Fernandes, que com ele tinha contracenado em "A Canção de Lisboa".

Voltaria a casar em 1941, desta vez com Mirita Casimiro, outra grande estrela dos palcos e com quem partilharia os palcos com bastante sucesso. Cinco anos depois, esse casamento terminaria com um divórcio pouco amigável e acusações mútuas.


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Teatro Apolo, 1946, o ano em que terminou uma parceria na vida e no Teatro. Fonte: Restos de Colecção


A produção artística de Vasco não se restringiria aos palcos. Nas décadas de 30, 40 e 50 faria uma produtiva associação com Francisco Barbosa (1891-1960), José Galhardo (1905-1967) e Amadeu do Vale (1898-1963). Esta parceria sucederia em termos de sucesso à prestigiada Parceria de Ernesto Rodrigues, João Bastos e Félix Bermudes, activa na década de 20.


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Um prestigiado actor, figura maior dos palcos na primeira metade do século XX. Fonte: BND



Aliás, por diversas vezes o caminho de Vasco se cruzaria com o de Félix Bermudes. Um desses memoráveis cruzamentos foi a hilariante peça "O Conde Barão", levada à cena em 1946 no Teatro Variedades e na qual Vasco partilharia o palco com, entre outros, o seu filho Henrique, Ribeirinho e o grande Benfiquista Artur Semedo.


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Peça "O Conde Barão", original de Félix Bermudes e restante Parceria, levada a palco em 1946 pela Companhia de Vasco Santana. De notar também a presença do Benfiquista Artur Semedo. Fonte: MNT



E assim se compreende melhor a imagem que em baixo se apresenta:


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Com a dedicatória, "Ao nosso muito ilustre camarada e querido amigo FÉLIX BERMUDES",



A amizade com o Glorioso Félix Bermudes teria diversos tempos e episódios, incluindo a derradeira etapa da vida de Vasco Santana. Vasco seria também Director da Sociedade de Autores e Compositores Teatrais Portugueses, presidida por Félix Bermudes.

Em 4 décadas de trabalho intenso foram dezenas as Revistas à Portuguesa onde Vasco Santana exibiu o seu talento e onde sublimou a relação com o público. Germana Tânger, uma actriz e mais tarde professora do Conservatório, que com ele contracenou, dizia muitos anos depois que era frequente Vasco Santana entrar em palco e, ainda antes de dizer coisa alguma, as audiências começarem a rir-se de forma descontrolada. Vasco era maior do que as suas personagens. Vasco personificava a alegria, a bonomia, a comédia contagiante.


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Em cima: "Arre Burro", uma das mais famosas das dezenas de Revistas à Portuguesa onde Vasco Santana exibiu o seu talento. Em baixo: chegada da Companhia de Comédias Vasco Santana ao Funchal, Madeira em 1953. Ao centro vê-se Vasco e a sua Mãe. Fonte: MNT




Nas telas


Genialidade.

Vasco Santana teve o seu talento para sempre preservado nas telas, com absoluta genialidade quer em papéis marcantes como o "Vasquinho da Anatomia" quer em papéis secundários na trama do filme.

Vasco Santana fez a sua estreia no Cinema em 1919, fazendo um papel num pequeno filme mudo que era projectado no palco da revista/opereta "Mademoiselle Ecran". Nesse filme, protagonizado pelos consagrados Estevão Amarante e Luísa Satanela, Vasco Santana interpretava um bêbado que se metia em sarilhos na via pública. O filme, que fazia uma curiosa fusão entre os dois mundos da representação, está infelizmente dado como perdido http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/3821/Mademoiselle+%C3%89cran

Nas telas, Vasco Santana viria a ser argumentista, actor, locutor, adaptador, letrista e planificador. Actuou numa vintena de filmes (http://www.cinept.ubi.pt/pt/pessoa/2143688659/Vasco+Santana), alguns dos quais obras-primas só possíveis num tempo de feliz conjugação de grandes actores, realizadores, argumentistas, novidades técnicas (cinema sonoro) e uma entusiástica adesão do público. Era um tempo de poucos recursos mas muita criatividade, entusiasmo e trabalho, virtudes que resultaram em obras-primas cinematográficas que serão sempre frescas e admiradas pelas gerações que hão-de vir.

O Teatro foi a paixão de Vasco, o que lhe permitiu moldar e refinar a sua Arte de representação mas foi com o Cinema que ganhou a imortalidade.


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Quatro dos filmes onde Vasco contracenou. Fonte: cine.ubi.pt



https://youtu.be/OY8osoU3yRA (https://youtu.be/OY8osoU3yRA)

https://www.youtube.com/watch?v=KqzCaY7yGeQ (https://www.youtube.com/watch?v=KqzCaY7yGeQ)

https://www.youtube.com/watch?v=6LdRrjaPU10 (https://www.youtube.com/watch?v=6LdRrjaPU10)



Nos discos


Fruto do seu talento teatral e cinematográfico, o arquivo sonoro do Museu do Fado tem no seu acervo algumas peças sonoras gravadas que preservaram o grande brilhantismo e versatilidade de Vasco Santana. Lá se podem encontrar canções, monólogos, poesia e até Fado.


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Fonte: Museu do fado (http://arquivosonoro.museudofado.pt/)



Fado?!

Vasco nem tinha voz para isso mas mesmo assim como o disse um dia a grande Amália Rodrigues, foi ele que cantou o "Fado do Estudante" como nunca mais ninguém conseguiu cantar.

Popularidade!

Com certeza! E muita! Recorda-se em particular a sua participação no hilariante programa de Rádio "Lélé e Zequinha" que em 1947 e 1948 encantou o Portugal. Quando puderem, ouçam que vale a pena! Conta-se que até Salazar gostaria de ouvir aquelas rábulas conjugais pois um um dia, ao se encontrar Vasco Santana, ter-lhe-á chamado... Zéquinha!
O seu talento era aliás reconhecido de forma transversal na sociedade Portuguesa, tendo em 1946, sido condecorado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.

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https://www.youtube.com/watch?v=n2NOKPczaBo (https://www.youtube.com/watch?v=n2NOKPczaBo)


No pequeno ecrã


Quando 4 de Setembro de 1956, a RTP iniciou as suas emissões regulares, era de esperar que Vasco Santana viesse também a brilhar nesse novo palco. Infelizmente o tempo de vida que lhe restava era curto mas ainda assim participou na peça "Três Rapazes e uma Rapariga", onde ao lado do filho Henrique, de João Perry e Raul Solnado, mostrou que também sabia actuar num registo dramático. Participou também nas séries humorísticas "Televizinhos", "A Loja da Esquina" e a "A Anedota da Semana".


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Na RTP: À esquerda: Vasco e Henrique Santana na peça "Três Rapazes e uma Rapariga". À direita: na série "A anedota da semana". Fonte: Museu RTP




O Fim


Ou a perda das grilhetas postas por um corpo envelhecido e doente. Vasco faleceu na manhã do dia 13 de Junho de 1958.


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Fonte: DL, 14-06-1958.



Faleceu dois dias depois de uma delicada operação ao fígado, gravemente afectado por uma cirrose hepática, consequência de uma vida de excessos. Dias antes tinham circulado rumores da sua morte, entretanto desmentida. Desta vez era infelizmente verdade.

Segundo o seu filho João, a degradação física foi também acelerada pela digressão que Vasco tinha feito em África no ano de 1954. No ano anterior tinha morrido a sua Mãe. Existem testemunhos que descrevem Vasco como um homem triste nos anos finais da sua vida. Com 60 anos, terminava uma vida rica e produtiva. O País perdia um dos seus filhos mais queridos. Ficou a memória, perdura o mito.


Segundo algumas fontes, Vasco morreu na sua Casa na Rua Barata Salgueiro em Lisboa, segundo outras Vasco estaria na sua casa da Serra da Amoreira, Ramada, no famoso Casal Saloio que felizmente ainda hoje existe. Vasco gostava muito de passar uma boa parte dos seus verões nessa casa, em plena região saloia, zona que era então essencialmente rural, longe ainda de ser desvirtuada por um crescente urbanismo.


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O Casal Saloio, situado na Serra da Amoreira, freguesia da Ramada, Odivelas. A casa foi desenhada pelo próprio Vasco Santana.



Vasco Santana morreu com apenas 60 anos, num dia de Santo António. Como depois diria o seu filho Henrique, o pai Vasco teria achado esse o dia mais apropriado para partir deste mundo, devoto como era do mais popular dos Santos Portugueses.

Pouco depois de expirar, o seu corpo imóvel esteve rodeado pela sua família na casa da Casa na Rua Barata Salgueiro, Lisboa. Ao lado do seu leito de morte também estiveram Samwel Dinis, antigo actor e presidente do Sindicato dos Artistas Teatrais e o "nosso" Félix Bermudes, autor teatral e presidente da Sociedade de Autores e Compositores Teatrais. Dois anos depois, seria Félix a despedir-se desta vida terrena, para ocupar para sempre um lugar no ilustre 4º anel.


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Félix Bermudes (e não Rodrigues como por lapso se indica) esteve perto do leito de morte de Vasco Santana. Fonte: DL



O funeral de Vasco Santana foi uma impressionante manifestação de carinho popular. Nesse dia, incrédulos com a perda, acorreram ao funeral não apenas familiares e amigos mas também milhares de populares. Desaparecia uma figura maior da Cultura em Portugal. Foi um período fatídico pois apenas 10 dias depois morreria também Cândido de Oliveira, outra figura de enorme prestígio no nosso País.

Apesar da dor, o funeral de Vasco foi uma manifestação ruidosa de carinho, feita por um mar de gente. As pessoas falavam, choravam, aplaudiam, não esquecendo a alegria que o talento inesgotável de Vasco Santana tinha trazido à sua vida. Vasco, Vasquinho, Vascão teria gostado.


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O funeral de Vasco Santana. DL em 14-06-1958. Fonte: AML



A constante redescoberta pelas novas gerações da figura e obra de Vasco Santana assegura-lhe um merecido destaque na memória e no carinho do povo Português. Poucos como ele se libertaram da poeira do tempo, da injustiça do esquecimento. Intuitivo, comunicativo, hilariante, pelas personagens maravilhosas que representou e pelo brilhantismo da sua actuação, legou-nos a perfeita figura do Bom Português, bonacheirão, sensível, esperto e vivaço. Ele figura em todos nós. Ele viverá nos nossos corações.


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Fontes para a composição: MNT, ML e BND



Paz à sua Alma, honra à sua memória. 



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Fevereiro de 2018, 20:16
-201-
Um ano de goleadas


Campo Grande, Lisboa, dia 8 de Abril de 1945.


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Os Campeões Nacionais de 1944-1945 alinhado no Estádio do Campo Grande. Fonte: Delcampe.



A equipa principal de futebol do Sport Lisboa e Benfica alinha num Estádio em festa para celebrar o sexto título de Campeão Nacional de futebol em Portugal. O nosso futebol era já virtual campeão nacional desde há uma semana quando a nossa equipa foi ao Porto vencer o SC Salgueiros por 6-0!

Mas antes da festa havia ainda que disputar o último jogo desse campeonato de 1944-1945. O adversário era o Victória Sport Clube de Guimarães, que como tantos outros, seria varrido com uma goleada, desta vez por 5-0. Foi mesmo dia de festa completa!


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Francisco Ferreira a ser entrevistado para a Emissora Nacional (Rádio). Fonte: Hemeroteca de Lisboa.


Ali ao lado dos jogadores e treinadores estava toda uma colectividade em festa e muita alegria nas bancadas. Uma parada de honra do pessoal das bicicletas, vestidos a rigor com as camisolas berrantes que tanto encantaram milhões pelas estradas do nosso País.


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A parada de honra dos ciclistas. Um dia de grande festa Benfiquista. Fonte: Delcampe



E foi um título merecido depois de na temporada anterior o SCP ter impedido o nosso tri-campeonato. A nossa equipa apresentou-se com apenas uma aquisição de monta, o médio Francisco Moreira, que como veremos teria grande importância para dar mais músculo e categoria à nossa equipa. De resto a mesma ambição e beneficiando da orientação sabedora do Húngaro János Biri.


Ao todo, 24 jogadores sagraram-se campeões nacionais


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Os 24 campeões nacionais de 1944-1945, orientados pelo treinador Húngaro János Biri.


O plantel tinha ainda mais 3 jogadores que foram utilizados por János Biri mas apenas no Campeonato Regional de Lisboa, prova em que nos classificamos em 2º lugar após um jogo decisivo perdido pela diferença mínima para o Sporting CP.


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Os três jogadores apenas utilizados no Campeonato Regional de Lisboa de 1944-1945.



Mas no campeonato nacional tudo foi diferente pois assumimos a liderança isolada logo na terceira jornada para nunca mais a largar ou partilhar. Foram goleadas atrás de goleadas e em 18 jogos sofremos dois desaires e concedemos três empates. Inicialmente o nosso maior oponente foi o CF "os Belenenses", depois na recta final o Sporting CP conseguiria chegar o 2º lugar.


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Fonte: DL



De resto, fomos somando grandes exibições e assistindo às mudanças dos nossos rivais nos lugares secundários. Mesmo nos jogos em que perdemos (derrota no Estádio do Lima perante o FCP por 3-4 e no Campo Grande perante o CFB por 1-2), a crítica reportou a injustiça desses desfechos. Nada que nos incomodasse grandemente tal foi a produção ofensiva e tal era a superioridade que se ia manifestando.


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Os números dos dois campeonatos disputados na época de 1944-1945


Tínhamos uma equipa de grande talento e recheada de jogadores com qualidades técnicas e humanas fora do vulgar.


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Algumas das capas com que a revista Stadium distinguiu, ao longo da sua carreira, alguns dos melhores jogadores da equipa de 1944-1945.



Quinteto de diabos


Aqueles eram mesmo tempos diferentes para o futebol. Tempos em que se dava o privilégio ao futebol ofensivo e se revelavam grandes avançados. Dos 79 golos marcados pela nossa equipa (média de 4.4 golos/jogo!) apenas 4 (incluindo 2 autogolos) não foram marcados por avançados!

Essa produção não espanta quando se percebe quem foram os avançados mais vezes titulares: Guilherme Espírito Santo (14 épocas, 285 jogos), Arsénio (12 épocas, 446 jogos), Julinho (11 épocas, 269 jogos), Joaquim Teixeira (7 épocas, 208 jogos) e Rogério (12 épocas, 422 jogos). Uma elite. Um quinteto de diabos! Em produção ofensiva - golos - este quinteto não ficaria a dever nada aos violinos sportinguistas.


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Os cinco diabos vermelhos.



O grande destaque do sector ofensivo no Campeonato Regional de 1944-1945 foi para o Açoreano Joaquim Teixeira (alcunhado "Semilhas" e "Gasogéneo"). Já no Campeonato Nacional, Rogério Pipi foi o mais goleador, havendo no entanto a salientar que quer Julinho quer Arsénio tiveram condicionantes físicas que os levaram a perder alguns jogos.

Igualmente notável foi a extraordinária época do regressado Guilherme Espírito Santo, finalmente em pleno após duas temporadas e meia (1941 a 1943) em que esteve impedido de jogar por uma grave doença. Era um atleta fenomenal, muito veloz, com uma impulsão invulgar e capacidade goleadora extraordinária. No futebol jogou quer descaído para a direita quer a avançado centro. E quando foi preciso, num Sporting – Benfica jogado no Lumiar no dia 19-01-1941, chegou a jogar a guarda-redes, depois de Martins se ter lesionado! Durante uma hora sofreu apenas um golo e o Benfica venceu por 2-1!

Quase sempre marcava, quase sempre dava a marcar e era uma arma poderosa para mudanças tácticas no nosso ataque tal era a sua versatilidade na frente de ataque. É dele um recorde quase insuperável no nosso Clube: 9 golos num só desafio de futebol (contra o Casa Pia AC no dia 5-12-1937)! Juntando a essas qualidades era também um Homem de um cavalheirismo e de uma correcção irrepreensível. Uma Glória e um Orgulho do nosso Clube.


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Para sempre Benfiquista.



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Guilherme Espírito Santo a marcar um golo ao Vitória de Guimarães no dia da grande festa do Campo Grande. Fonte: Delcampe


Resta ainda a referir dois avançados de excelente e decisiva produção como extremos-direitos em pequenos períodos da época. O primeiro foi Manuel da Costa (4 épocas, 86 jogos), um bom extremo direito muito influente no princípio da época. Acabaria no entanto por desaparecer da equipa ao que pude saber por desacordo de verbas. Saiu para o Atlético CP onde ainda brilhou mas já sem o destaque que teve nos tempos do Campo Grande.

O segundo foi Mário Rui (7 épocas, 85 jogos) que vindo das camadas jovens, deu uma grande contribuição para a equipa no final da época.  A sua entrada na equipa principal deveu-se à lesão de Julinho. Jogava a extremo direito tendo por isso obrigado a rearranjos tácticos com Espírito Santo a assumir o centro do ataque. Seria Mário Rui o homem que entraria no quinteto de diabos quando no final da época seguinte o Açoreano Joaquim Teixeira saiu do Clube num litígio insensato com o treinador, do qual ele mais tarde se penitenciaria.



Os três "Xicos"


No meio campo tivemos quase sempre os três Xicos! Três homens com uma história Benfiquista impressionante: Albino "o tempero" (13 épocas, 462 jogos), Moreira "o Pai Natal" (10 épocas, 371 jogos) e "Xico" Ferreira (14 épocas, 523 jogos).

Xico Albino à direita, Xico Moreira ao meio e Xico Ferreira à esquerda. Três portentos físicos, três enormes corações Benfiquistas. Arrasadores a defender eram muitas vezes os primeiros municiadores dos nossos poderosos atacantes. Um meio campo também muito experiente pois nessa temporada Albino apresentava-se com 32 anos, Moreira com 29 anos e Francisco Ferreira com 25 anos.


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Os três Gloriosos Chicos.


Apesar dos seus 32 anos, Francisco Albino abandonaria o futebol pouco mais de 1 mês depois do final dessa mesma temporada. Nesse tempo, com terrenos pesados, medicina desportiva incipiente e regimes de alimentação e preparo físico primitivos, chegar aos 30 era uma condicionante séria para um futebolista. Poucos prolongavam muito mais a sua carreira ao mais alto nível. Aliás, foram limitações físicas que explicaram que Albino tivesse falhado alguns jogos desse campeonato. Quando jogou esteve quase sempre ao seu nível, arrebentando com os seus adversários! No impedimento de Albino jogou quase sempre João Silva.

Já Francisco Moreira foi um caso especial pois como atrás se disse chegou ao nosso Clube justamente nessa temporada de 1944-1945. Veio do FC Barreirense para o SL Benfica com... 29 anos. Contra todas as probabilidades, jogaria ao mais alto nível até aos 39 anos, cumprindo 10 magníficas temporadas de Águia ao peito. Seria aliás Campeão Latino em 1950 e faria a digressão a África logo de seguida!

Por fim Francisco Ferreira, que recrutado ao FC Porto 6 anos antes, estava a meio da sua carreira Benfiquista. Com uma fibra e uma personalidade lendárias, foi um ídolo querido por todos Benfiquistas e um dos capitães míticos do SLB!



Lá atrás


A defesa foi talvez o sector que mais terá preocupado János Biri durante essa temporada. Havia carências de qualidade uma vez que apenas Gaspar Pinto (12 épocas, 394 jogos) com a sua raça e qualidade dava inteiras garantias. Gaspar já estava a entrar na recta final da sua carreira Benfiquista mas garantiu a liderança e a raça necessária para um sector vital para qualquer equipa campeã. Felizmente Gaspar foi um dos totalistas no Campeonato Nacional, isto depois de ter falhado quase todo o Campeonato Regional.


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A defesa titular no campeonato nacional de 1944-1945.



Naquele tempo jogava-se na táctica de pirâmide (2:3:5) ou seja com apenas dois defesas de raiz. Assim, restava saber quem seria o companheiro de Gaspar Pinto. A escolha de Biri foi quase sempre César Ferreira no Regional e Cerqueira no Nacional. Ambos tinham algumas irregularidades mas eram bons jogadores e garantiram solidez, isto mesmo aceitando que em quase todos os jogos as equipas sofriam golos...

Para maior eficácia, faltou talvez um defesa com a qualidade de Félix Antunes. Curiosamente Félix até já fazia parte dos nossos quadros, vindo da CUF, mas era ainda muito jovem e inexperiente. Biri até o utilizaria por uma vez... a avançado!


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Equipa mais vezes titular no Campeonato Nacional de 1944-1945. A amarelo os jogadores que não foram titulares no Regional desse ano.



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Equipa mais vezes titular no Campeonato Regional de Lisboa de 1944-1945. A amarelo os jogadores que não foram titulares no Nacional desse ano.



Nota-se também que János Biri teve de gerir a posição de guarda-redes. Martins era um histórico, um guarda-redes de categoria mas cuja idade já pesava no rendimento. Ao invés, Mário Rosa era um jovem vindo dos juniores mas apesar das qualidades, nem sempre revelava o traquejo necessário para garantir estabilidade e eficácia. No final dos campeonatos, verifica-se que jogaram sensivelmente o mesmo número de jogos e sofreram sensivelmente o mesmo número de golos. Martins jogou mais no Regional, Rosa mais no Nacional.


As goleadas!


Mas como atrás se disse, essa foi uma época de grandes goleadas. Para finalizar, fica aqui o registo de vitórias importantes desta temporada, incluindo algumas derrotas que infligimos aos nossos rivais, com destaque para os 7-2 ao FCP e os 4-1 ao SCP. Vitórias à Benfica!

 

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 24 de Fevereiro de 2018, 17:29
Grande topico.Obrigado RedVC
:drunk:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2018, 00:16
-202-
CXIV anos


Obrigado!


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Março de 2018, 11:07
-203-
Os primeiros da Luz

Dia 16 de Janeiro de 1955, Estádio da Luz. GOLO DO BENFICA!


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Fonte: Jornal "O Benfica"


Seis semanas depois da sua inauguração, o Estádio da Luz recebia enfim o seu primeiro jogo oficial. Começava a lenda do mais belo Estádio que já existiu.
E, logo aos dois minutos de jogo: GOLO do Benfica!

É deste e de mais outros dois golos especiais que vamos falar hoje. Os três primeiros golos celebrados na nossa antiga Catedral. Os primeiros de todos os que vieram depois.



O primeiro "oficial"


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Curiosamente o avançado Benfiquista não aparece na fotografia... A fotografia publicada no jornal "O Benfica" na década de 80 evocando o primeiro golo oficial no Estádio da Luz.



Nesse dia 16 de Janeiro de 1955, o SL Benfica disputava pela primeira vez no seu novo Estádio um jogo a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Para trás tinha ficado o parque de jogos do Campo Grande (embora o campo continuasse a ser usado em jogos das camadas juniores e reservas até o princípio da década de 70).

O Benfica apresentou-se na Luz vindo de uma derrota em Setúbal por 0-1 mas até então a carreira da nossa equipa tinha sido boa, iniciando um aceso despique com o SCP e o CFB que duraria até à última jornada. Para este jogo, a nossa equipa apresentava-se sem algumas das suas maiores figuras tais como Arsénio, Palmeiro e Salvador.


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Disposição táctica da nossa equipa no SL Benfica 4 – VSC 0 de 16-01-1955.



Nesse dia, o nosso opositor era o Vitória SC, de Guimarães, que se apresentava com uma equipa competitiva onde estavam incluídos dois nossos antigos e valorosos atletas: Cerqueira e José da Costa (este Campeão Latino em 1950).


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Vitória Sport Clube de Guimarães, 1954-1955. José da Costa e Cerqueira estão de pé, 2º e 3º, respectivamente a contar da direita.



No final do jogo vencemos por conclusivos 4-0. O primeiro golo surgiu logo aos 2 minutos de jogo marcado de cabeça por Azevedo depois de uma bela combinação com o extremo esquerdo Fialho.

Manuel Viera Nunes Azevedo era nesse tempo um poderoso avançado-centro de 21 anos. Nascido na cidade de Aveiro em 30 de Maio de 1933, tinha vindo do Beira-Mar para o Benfica na temporada anterior. Jogaria de Águia ao peito até à temporada de 1957-1958, cumprindo um total de 5 épocas e 35 jogos. Prosseguiria depois a sua carreira justamente no Vitória SC, de Guimarães (ver: https://gloriasdopassado.blogspot.pt/2009/10/azevedo.html).


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Manuel Azevedo, aquando da sua recente visita ao Museu Cosme Damião. Nota-se que falaram desse célebre golo.


Para além do golo de Azevedo, nesse jogo marcariam depois José Águas por duas vezes, a primeira aos 22 minutos de jogo num passe vindo da meia direita de Francisco Calado e a segunda aos 58 minutos de jogo depois de um passe de Mário Coluna. Por fim, aos 63 minutos de jogo, Francisco Calado encerrava o marcador na sequência de um livre directo superiormente executado. Com este resultado o Benfica ganhou novamente a liderança do campeonato.


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Fonte: DL



A revolução de 1954-1955


Liderado por Otto Glória, o futebol principal do SL Benfica avançaria em bom estilo no campeonato de 1954-1955. A chegada de Otto trouxe profissionalismo, inovações tácticas, um regulamento duro dentro e fora de campo e toda uma nova organização de treino e concentração competitiva.

Vindo de um futebol que nesse tempo estava muito à frente na metodologia do treino, Otto Glória revolucionou o futebol Benfiquista e nacional.


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Otto Glória no Campo Grande impondo os seus métodos de treino e a sua visão do futebol profissional. Uma revolução no futebol Benfiquista.



E de facto, o futebol Brasileiro da década de 50 apresentava uma profusão de profissionais, jogadores, operacionais competentes e treinadores de grande qualidade. Otto fazia parte desse notável fermento, que elevou o nível do futebol Brasileiro em quantidade e qualidade e que esteve na base das conquistas das duas décadas seguintes.

No Brasil percebia-se que não bastava ter grandes atletas mas que também era fundamental dotar as equipas de uma orientação técnica competente, de um conjunto de infra-estruturas e de impor regras duras nos comportamentos dentro e fora de campo.

O Brasil, que sempre foi um exportador de jogadores e treinadores, deu também contributos ao futebol Português, quando diversos treinadores e jogadores vieram para Portugal. Otto foi aquele que mais sucesso teve, mudando para sempre o futebol Benfiquista e Nacional. Esteve bem Ferreira Bogalho quando decidiu contrata-lo. Seria pela acção de Otto que o Sport Lisboa e Benfica implementou o profissionalismo no seu futebol e que se deu o impulso decisivo para a mítica década de 60.


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Otto Glória acariciando a relva do que seria a casa dos Benfiquistas durante quase 50 anos. Ali teria algumas das maiores alegrias da sua carreira. Fonte: BND



Nessa época de 1954-1955, na estreia de Otto Glória, seríamos campeões com alguma sorte mas com inteiro mérito. Foi um tempo de sementeira em que se começou a construir um plantel excelente, crescentemente recheado com craques vindos das colónias ultramarinas. Houve também dores de crescimento, com a perda precoce de alguns dos nomes maiores da nossa equipa na década anterior, tais como Rogério Pipi e Félix Antunes.


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Sport Lisboa e Benfica, campeão nacional 1954-1955.




O primeiro "particular"


Ironicamente o primeiro golo marcado por um Benfiquista no recém-inaugurado Estádio da Luz, foi apontado por Jacinto Marques... mas na própria baliza. Logo depois seria o seu colega de equipa Francisco Palmeiro que marcaria o primeiro golo Benfiquista mas – como convém - na baliza do adversário.


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O golo de Palmeiro. Fonte: DL



Jacinto e Palmeiro marcaram nesse dia em que perdemos frente ao FCP (1-3). Foi uma derrota chata mas que apenas atenuou um pouco a grande cabazada de 8-2 que demos aos portistas dois anos antes aquando da inauguração das Antas (ver texto: -88- "O Benfica saúda o Porto" (p. 25)) .


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A equipa do SLB que alinhou no jogo inaugural do Estádio da Luz, no dia 1-12-1954. Fonte: DL



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Jogo inaugural do Estádio da Luz. SLB 1 – FCP 3. Fonte: DL


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Dois aspectos do jogo inaugural do Estádio da Luz no dia 1-12-1954. Fonte: DL


Francisco Luís Palmeiro Rodrigues nasceu em Arronches em 16 de Outubro de 1932 tendo falecido recentemente em 22 de Janeiro de 2017. Iniciou-se no Atlético Clube de Arronches, filial do Atlético CP. Ingressou no nosso Clube em 1953-1954 tendo-se estreado pelas reservas em 25 de Dezembro de 1953.


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Palmeiro cumpriu depois 8 épocas e 178 jogos pelo Glorioso. Jogador irrequieto e habilidoso atingiu grande destaque. Teve depois alguma infelicidade aquando da chegada de Béla Guttmann pois pelo que se conta terá sido por uma lesão sua que o Húngaro, em apuros, "inventou" a colocação de José Augusto a extremo direito (que tinha vindo do FC Barreirense como avançado-centro). Poderia perfeitamente ter feito parte do plantel que se consagrou bicampeão Europeu mas talvez porque Guttmann gostava de trabalhar com planteis pequenos, o talentoso extremo acabou por ser dispensado, tendo ido jogar para o Atlético CP.




O primeiro "celebrado"


Por fim, um golo que pouca gente recorda... Um golo Benfiquista que parece ter sido o primeiro a ser celebrado no Estádio da Luz. Um golo marcado ainda o Estádio ainda não estava inaugurado ainda o Estádio estava em construção!


Como nos conta Helena Águas, no seu belo livro "José Águas, o meu Pai herói" (leitura recomendada, ver amostra: http://pdf.leya.com/2012/Jan/jose_aguas_o_meu_pai_heroi_avjb.pdf), durante a construção do novo parque de jogos, o entusiasmo dos sócios era tão grande que em todos os fins-de-semana havia romarias e convívios para essa zona. Era finalmente um parque compatível com a grandeza do Clube! A construção do Estádio foi um processo colaborativo com múltiplas demonstrações de generosidade e voluntarismo dos sócios. Apesar de ser uma zona rural, limítrofe à cidade e com acessos muito complicados, presença de Benfiquistas era uma constante.


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Fonte: Helena Águas, "José Águas, o meu Pai herói". Editora LeYa.



E assim, no dia 10 de Outubro de 1953, aquando de um CUF vs Sport Lisboa e Benfica, disputado no Campo Alfredo da Silva, no Barreiro (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19541955/campeonato-nacional/1954-10-10/cuf-0-x-1-sl-benfica), os sócios e simpatizantes presentes na zona das obras, celebraram ruidosamente um golo marcado por José Águas. Faltavam ainda uns 14 meses para a grande inauguração!


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A equipa que venceu o jogo no Barreiro contra a CUF no dia 10-10-1954.



O golo chegou-lhes através do relato da Rádio tendo sido muito celebrado pois deu-nos a vitória e a liderança no campeonato. O golo foi também muito festejado no Barreiro, por adeptos locais e pelos cerca de 400 adeptos que o Benfica terá levado nesse dia ao Campo de Santa Bárbara.

Foi uma vitória bastante difícil pois a CUF, que fazia a primeira temporada na 1ª divisão, contava com uma valorosa equipa com muita força física. Costa Pereira defendeu uma grande penalidade e Artur Santos foram com José Águas talvez os mais importantes para o desfecho final.


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Ecos da vitória Benfiquista. Fonte: DL



Otto Glória diria no final que foi uma partida bem disputada com muita energia apesar de alguns jogadores da nossa equipa terem jogado com condicionantes físicas. Um deles foi justamente José Águas que ainda assim fez o golo. Do lado da CUF alegou-se que o golo teria sido irregular.

Anos mais tarde Águas descreveria o golo: "Na sequência de um canto marcado na esquerda por Salvador, cabeceei no vértice da área, no lado oposto e a bola entrou no mesmo cantinho da baliza! Parecia um remate com o pé... Alguns jogadores da CUF, muito pela socapa disseram-me: "Bom golo!".


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Uma composição gráfica evocativa do golo de Águas no Campo de Santa Bárbara no Barreiro em 10-10-1954.



José Pinto de Carvalho Santos Águas, nasceu em Luanda no dia 9 de Novembro de 1930 e faleceu em Lisboa no dia 10 de Dezembro de 2000. José Águas foi contratado durante a digressão do nossos Clube a África depois de num célebre jogo em que defrontamos o Lusitano do Lobito, ter marcador dois golos ao Glorioso pelas cores do Lobito. Não houve dúvidas para o treinador Ted Smith e para os dirigentes do Benfica: aquele era um elemento a contratar para desde logo integrar a nossa equipa.

José Águas viria depois a cumprir 14 épocas e 514 jogos, sempre de forma brilhante, deixando um rasto de classe e cavalheirismo. José Águas, fina-flor Benfiquista, foi o mais elegante e letal dos avançados Benfiquistas de sempre. Um orgulho eterno para o nosso Clube. Para sempre nosso! Para sempre Glorioso!


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Festejados com a emoção e alegria de todos os outros golos Benfiquistas que vieram depois na antiga Catedral, estes três primeiros golos foram precursores da grandeza que tanto distinguiu o mais lindo Estádio que alguma vez existiu. Os primeiros de muitos! Dos GOLOS À BENFICA!


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A Catedral em construção. Fonte: Restos de Colecção




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:10
-204-
Pesadelos de Berna

Dia 31 de maio de 1961, Estádio de Wankdorf, Berna.

Final do jogo que consagrou o Sport Lisboa e Benfica como Campeão Europeu de Clubes. A mais brilhante e mais longa de todas as noites Benfiquistas.


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Czibor (com a camisola 10 de Mário Coluna) e Kubala, ambos vestidos com o manto sagrado, acercaram-se de José Águas para tocar a Taça que não conseguiram arrebatar. As marcas são da fonte original (site de leilão online).


José Águas tinha acabado de posar para a mais bela fotografia da História do Sport Lisboa e Benfica. Logo depois, com uma postura desportiva superior, digna de verdadeiros campeões, diversos jogadores do FC Barcelona acercaram-se para felicitar novos Campeões Europeus de Clubes. Entre eles, vestindo a camisola do Glorioso, estava Lázsló (ou Ladislav) Kubala, um génio do futebol.


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As duas camisolas que Kubala envergou em Berna.



O menino de ouro do FC Barcelona


Habilidoso, driblador e goleador, Kubala foi um jogador de excepcionais recursos. Foi também um homem com uma vida aventurosa num tempo conturbado, pleno de glórias mas também de desilusões. Com ascendências Checa e Polaca, Kubala nasceu em Budapeste a 10-06-1927. Iniciou a sua carreira no Ganz e depois chegou ao mítico Ferencváros, onde se destacou. Depois de vários episódios conturbados, em 1949 exilou-se definitivamente da Hungria tendo procurado jogar na Liga Italiana, isto apesar da FIFA ter-lhe interditado a participação em jogos oficiais.

Assinou depois contrato com o Barça em 1950 e para lá se mudou juntamente com o seu sogro, o treinador checoslovaco Ferdinand Daučík. Ficaria no FCB desde 1950 até 1961, saindo aos 34 anos de idade e deixando para trás uma carreira ímpar no clube blaugrana. Amante dos prazeres da vida, parte da lenda que rodeou a vida de Kubala fez-se também com muitas histórias fora dos campos. Excessos de uma criança grande, tolerados por ter sido um futebolista extraordinário.


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Daučík e Kubala


Na Catalunha, Kubala é um mito, considerado como um dos melhores jogadores da História do FCB, a par de Johan Crujiff, Ronaldinho Gaúcho e Leonel Messi. Com 131 golos, Kubala é ainda hoje o 3º maior goleador da história do FCB. No total conquistou 4 Ligas Espanholas, 5 Taças de Espanha e 2 Taças das Cidades com Feira (1955-58 e 1958-60). Tem por isso lugar especial na longa e ilustre galeria das estrelas que vestiram de azulgrana.


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Uma galeria ilustre.



E se hoje Messi é - com justiça - considerado o maior de sempre dos blaugrana, nem por isso Kubala está esquecido pois à sua figura ficou associada o arranque da emancipação e glória do futebol blaugrana, caracterizada por um futebol de posse de bola e um jogo ofensivo e criativo. Como nos refere o jornal Mundodeportivo:


Cruyff y Ronaldinho fueron grandes, cada uno a su manera. Los dos cambiaron una dinámica del club: Johan, primero como jugador con la fugaz Liga del 74 y después como entrenador iniciando la mejor etapa de la historia del club. Ronnie, sacando al equipo de la miseria deportiva y devolviendo la sonrisa al fútbol blaugrana. Pero Kubala siempre fue, y sigue siendo, la leyenda, el mito. Una leyenda en blanco en negro agigantada porque casi todo lo que sabemos de él es lo que nos han contado quienes le vieron sentar cátedra. Fue el futbolista que dio dimensión internacional al equipo que sería Barça de les Cinc Copes. Es, en la memoria colectiva barcelonista, el mito de los mitos. (Fonte: http://www.mundodeportivo.com/futbol/fc-barcelona/20170611/423309489907/kubala-barca.html)


E se, sem surpresas, Leo Messi também um dia assim será homenageado, de toda essa ilustre galeria de jogadores, apenas Kubala tem estátua erigida no Camp Nou, presidindo à esplanada do Estádio.


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Lázsló Kubala, glória do FC Barcelona cuja memória é evocada numa estátua em Camp Nou. Fonte: FCB


Os grandes atraem os grandes. Inevitavelmente, como se falará neste e no próximo texto, a vida de Kubala cruzou-se em diversos momentos com a História do SLB. Neste texto falaremos da final de Berna de 1961; a mais importante da vida de Kubala mas também aquela que nos deu a segunda glória europeia da nossa História.


Os mágicos magiares


A acentuada evolução do futebol Mundial ocorrida nas décadas de 40 e 50, foi em grande medida determinada pelo futebol Húngaro. Um dos episódios mais dramáticos dessa evolução deu-se quando em 1953, a Selecção de Inglaterra foi vergada em Wembley (3-6) ao talento técnico e à superioridade e sagacidade táctica da fabulosa selecção Húngara de 1953 e 1954.


https://www.youtube.com/watch?v=JS_-7AfUdcA (https://www.youtube.com/watch?v=JS_-7AfUdcA)
Londres, 1953, Inglaterra 3 – Hungria 6


O jogo de desforra, disputado em Budapeste apenas confirmaria ainda de forma mais crua esse tremendo atraso dos Ingleses.


https://www.youtube.com/watch?v=rklUY4NgE74&t=53s (https://www.youtube.com/watch?v=rklUY4NgE74&t=53s)

https://www.youtube.com/watch?v=1c2TCc_cWR8 (https://www.youtube.com/watch?v=1c2TCc_cWR8)
Budapeste, 1954, Hungria 7 – Inglaterra 1


Essa selecção muitas vezes apelidada de "os mágicos magiares" foi o produto de excelência dos tempos de sementeira do grande futebol Austro-Húngaro, feito por treinadores ímpares como Hugo Meisl (Austríaco) e Jimmy Hogan (Escocês). Foram esses os mestres de, entre outros, Guttmann, Sébes, Orth, Hertzka, Biri, Czeiler, Baroti e... Kubala.

Sim, terminados os seus dias como jogador, também Kubala assumiu o banco tendo treinado diversas equipas com destaque para a Selecção de Espanha (1969-1980) e o seu FCB (1980-1982).


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Uma galeria de alguns dos maiores treinadores do futebol Austro-Húngaro.



Ironicamente, a revolução Húngara, a invasão soviética e a diáspora de jogadores e técnicos que depois sobreveio, contribuíram decisivamente para o desenvolvimento do futebol Mundial. Em Espanha não se pode falar da identidade do FC Barcelona e do Real Madrid FC sem se falar da influência dos seus grandes jogadores Húngaros. O Brasil sofreu igualmente a influência dos novos métodos de treino e das inovações tácticas trazidas pelos Húngaros, aquando da digressão Sul-Americana dos ex-jogadores do Honvéd em 1956-57 e depois com o impacto do trabalho de Béla Guttmann no São Paulo, onde foi campeão em 1957.

Em Portugal, os ensinamentos dos treinadores Húngaros foram decisivos para definir a identidade do nosso futebol. Os Portugueses adoraram o estilo técnico e o futebol ofensivo e bonito que foi sempre a imagem de marca dos Húngaros. Desde a década de 20, os clubes Portugueses apostaram em excelentes treinadores Húngaros e claro, neles se incluiu o Sport Lisboa e Benfica, campeão nacional múltiplas vezes beneficiando do saber de homens como Lipót Hertzka, János Biri, Béla Guttmann, Lajos Czeiler e Lajos Baroti. Até Pal Csernai por cá venceu uma Taça de Portugal...


Os Húngaros do FC Barcelona


Na equipa que connosco disputou a empolgante final de Berna em 1961, o FCB contava com três Húngaros geniais: Sándor Kocsis (1929-1979), Zóltan Czíbor (1929-1997) e Lázsló Kubala (1927-2002). Embora em tempos distintos, todos tinham chegado ao FCB na sequência das trágicas convulsões políticas na Hungria pós-guerra. Foram eventos trágicos para milhões de cidadãos Húngaros e para a História do Futebol.


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Os três Húngaros no plantel do FC Barcelona de 1960-1961. Fonte: adtradebt.hu



Em 1949, temendo o regime comunista, Kubala foi um dos primeiros jogadores Húngaros a fugir definitivamente para o ocidente, tentando jogar na Liga Italiana. Mas Kubala tinha já um episódio anterior de fuga do seu País quando ainda era uma jovem esperança do futebol magiar (jogou primeiro no Ganz e depois no grande Ferencvários TC).

De facto, em 1946, quando contava 19 anos, Kubala viveu dois acontecimentos marcantes na sua vida: a morte do pai e a convocação para o serviço militar. Decidiu exilar-se na vizinha Checoslováquia, em Bratislava, a cidade-natal de sua mãe. Por lá, assinou e destacou-se como jogador do Slovan Bratislava. Foi seleccionado e disputou 6 partidas (e 4 golos) pela Selecção Checoslovaca. Foi também lá que conheceu a sua futura esposa, filha de Ferdinand Daučík, o treinador do Slovan. Mas curiosamente,

Em 1949, temendo o regime comunista, Kubala seria um dos primeiros jogadores Húngaros a fugir definitivamente para o ocidente. Apesar de impedido pela FIFA de jogar jogos oficiais, Kubala organizou, com outros jogadores de Leste, uma equipa chamada Hungaria que fez uma digressão sensacional por Espanha, onde derrotaram o Barça o Real Madrid e a selecção Espanhola. Esse desempenho – em particular o de Kubala - levou a uma disputa entre o FCB e o RMCF pelos seus serviços. Kubala optou pelos Catalães.

Com essas escolhas de vida, Kubala faria apenas 3 jogos pela Selecção Húngara (0 golos), perdendo a hipótese de jogar com craques como Puskas, Kocsis, Czibor, Hidegkuti, entre outros. É mais do que lícito pensar que, num ambiente político favorável, Kubala teria encaixado como uma luva nessa selecção. Mais tarde Kubala conseguiria a nacionalidade Espanhola e jogou 19 vezes pela Roja (11 golos), tornando-se um dos poucos jogadores a vestir a camisola de 3 selecções distintas ou até 4 pois também jogou pela selecção da Catalunha...

A História lembrará para sempre os nomes desses craques Húngaros mas essa maravilhosa selecção perderia em condições dramáticas a final do Campeonato do Mundo de 1954 para a Alemanha. Essa final, disputada no dia 4 de Julho de 1954, no Estádio Wankdorf em Berna, começou com dois golos de rajada dos Húngaros. Depois inexplicavelmente, a Alemanha virou o resultado e arrebatou o título. Essa derrota passou a ser a maior tragédia de sempre do futebol magiar.


https://www.youtube.com/watch?v=fFNC0wwMbKo (https://www.youtube.com/watch?v=fFNC0wwMbKo)
A grande final do Campeonato do Mundo de 1954 disputada em Berna, 1954



Essa maravilhosa selecção Húngara não mais teria outra oportunidade pois em Novembro de 1956 deu-se a invasão soviética. A maioria desses jogadores que estava em Bilbao, a disputar uma eliminatória da Taça dos Campeões Europeus, decidiu não regressar, dispersando-se por diversos clubes e países Europeus. Foi assim que Kocsis e Czibor chegaram a Barcelona.


De volta a Wankdorf


Nessa última noite de Maio de 1961, Kócsis e Czíbor envergavam a camisola blaugrana, mas reviveram o pesadelo de Wankdorf de 1954. Uma vez mais integravam uma equipa ultra-favorita, formada por grandes jogadores, mas que perdeu contra uma equipa modesta mas muito mais coesa, mais solidária, mais praticante de um jogo colectivo e eficaz. O Benfica mostrou tudo isso, espantando a Europa. O Benfica procurou a sorte que teve nesse dia, revelou a classe que um ano mais tarde o levaria à revalidação do título em Amesterdão.


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Wankdorf, o Estádio santuário da Glória Benfiquista e local dos pesadelos Catalães e Húngaros.


Concluída a final de 1961, todos os jogadores do FCB estavam estupefactos, incrédulos, mostrando desalento e vergonha. Foram os postes quadrados, as decisões do árbitro, o guarda-redes Ramallets, a má sorte, tudo isso foi usado para justificar aquela que doravante passou a ser conhecida como a "Desgraça de Berna".


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O desalento azul-grená não impediu o desportivismo. Kubala (à direita) mostrando no rosto todo o dramatismo da derrota.



Ao que se diz, já nos balneários blaugrana, Kocsis terá rompido em choro convulsivo, maldizendo os postes enquanto Czíbor se terá encerrado num mutismo profundo e doloroso. Para eles e para Kubala, restava apenas a resignação para com a derrota e o reavivar do pesadelo de Wankdorf, nessa noite vestido com camisolas vermelhas berrantes.

Mais tarde e mais serenos, os três Húngaros mostraram a grandeza de carácter própria de grandes desportistas e campeões. Entrevistados pelo grande jornalista Carlos Pinhão, um dos ilustres do tempo em que o jornal A Bola era uma referência de qualidade e de grande Jornalismo, falaram do seu estado de espírito. Carlos Pinhão abordou-os no preciso momento em que trocavam impressões com o seu antigo treinador nacional Húngaro Gusztáv Sébes que se deslocou de propósito a Berna para ver a final. Todos, à sua maneira, revelaram grande desportivismo, lamentando a derrota e o paralelismo com 1954, mas também salientando a justeza da vitória Benfiquista.


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Ecos de Berna, 1961. Fonte: A Bola


(https://s10.postimg.org/xmpb0rdt5/image.jpg)
Ecos de Berna, 1961. Fonte: A Bola



Depois dessa última noite de Maio de 1961, poucos Húngaros deixaram de associar os seus pesadelos aquele Estádio de Wankdorf. Um deles chamou-se Béla Guttmann, o feiticeiro Húngaro que soube compreender a Alma Benfiquista, que nos trouxe a sua sabedoria futebolística, a atitude certa, e que com isso nos levou à Glória Europeia. Mas essa é outra História. Gloriosa!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: NoneOfUsWillSeeHeaven em 09 de Março de 2018, 22:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2018, 22:01
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Dia 19 de Fevereiro de 1944. Estádio de Wembley, Londres.


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Estádio de Wembley, dia 19 de Fevereiro de 1944. O Rei Jorge V de Inglaterra cumprimenta os jogadores da Selecção Inglesa de futebol. Fonte: raggyspelk.co.uk


Em pleno tempo de guerra o futebol mostrava a sua importância. Nesse dia o Rei Jorge V de Inglaterra cumprimentava os jogadores das selecções de Inglaterra e Escócia, que se aprestavam para iniciar uma partida de futebol. Essa partida, embora hoje não seja reconhecida oficialmente pela FIFA, é parte da História da Selecção Nacional daqueles dois países.

Entre os seleccionados Ingleses estava um jogador com 26 anos de idade que pertencia aos quadros do Sheffield United. Chamava-se James Hagan mas era conhecido no meio futebolístico por Jimmy Hagan. Era um homem reservado e duro que mais tarde se tornaria célebre como treinador de futebol. No seu tempo, Hagan foi também um conceituado jogador internacional de futebol.

A fotografia com que iniciamos este texto capta o exacto momento em que o Rei Jorge V cumprimenta Jimmy Hagan.


(https://s9.postimg.org/5ybb6qu7z/image.jpg)
James Hagan jogou por 17 vezes na Selecção Nacional de futebol da Inglaterra. Fonte: sheffieldhistory.co.uk



Cumpriram-se no passado Domingo, 100 anos sobre o nascimento de Jimmy Hagan, um treinador Inglês que deixou marcas profundas na História do Sport Lisboa e Benfica. Foi um homem de futebol singular, muito reservado mas nem por isso menos controverso.

Como treinador e como manager, Hagan conheceu um sucesso extraordinário quando treinou o Sport Lisboa e Benfica, o maior Clube de Portugal e um dos maiores da Europa. Mas Hagan tinha também uma severa abordagem disciplinar nas suas equipas e por isso teve vários episódios conflituosos nos diversos clubes por onde passou. Nesse aspecto, o SL Benfica seria apenas mais um. Em tudo o resto a sua carreira no Glorioso foi quase sempre um trajecto ganhador verdadeiramente extraordinário.


Vamos hoje à boleia dessa fotografia inicial, que representa um dos picos da carreira de Hagan enquanto jogador profissional de futebol, os anos que viveu antes de se tornar um dos mais vitoriosos e marcantes treinadores do futebol do Sport Lisboa e Benfica.

Em homenagem a Hagan, publica-se aqui uma fusão de textos biográficos, coligidos a partir de algumas fontes da net. A fonte principal é o sítio do seu irmão Colin Hagan, ao qual aliás aconselho vivamente uma visita:

http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html (http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html)

outras fontes usadas:

http://www.independent.co.uk/news/obituaries/obituary-jimmy-hagan-1148385.html (http://www.independent.co.uk/news/obituaries/obituary-jimmy-hagan-1148385.html)

http://www.derbytelegraph.co.uk/sport/football/football-news/the-player-derby-county-slip-377993 (http://www.derbytelegraph.co.uk/sport/football/football-news/the-player-derby-county-slip-377993)



Os primórdios


Hagan nasceu em Washington, County Durham, no dia 21 de Janeiro de 1918. Nasceu no Nordeste de Inglaterra no seio de uma família Católica. Era também oriundo de uma família de futebol pois o seu pai Alf Hagan jogou num período pós Primeira Guerra Mundial no Newcastle United FC ("Magpies", fundado em 1892), no Cardiff City Football Club ("Bluebirds", fundado em 1899) e no Tranmere Rovers Football Club ("Rovers", fundado em 1884).


(https://s9.postimg.org/sn0i6ctm7/image.jpg)
Washington, County Durham, a terra natal de James Hagan, ali nascido a 21 de Janeiro de 1918. Fonte: wikipedia.



Pelos relatos de seu irmão Colin, o pai de Jimmy era também um homem de convicções fortes, tendo aliás retirado o seu filho da St. Joseph's School, uma escola Católica depois de um desentendimento com um Padre. Esse conflito terá aliás sido selado quando Alfie Chapman mimoseou o referido padre com um murro...


(https://s9.postimg.org/jf89pop4v/image.jpg)
Alfie Hagan, pai de Jimmy Hagan. Fonte: http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html


Nesses anos iniciais, o jovem Jimmy estudaria e jogaria futebol em mais três escolas: a Usworth Colliery School, a Durham County Boys e a England Schoolboys. O jovem Jimmy mostrou desde logo uma forte personalidade e nomeadamente dois dos traços mais transversais aos seus 80 anos de vida: um grande amor pelo jogo de futebol e um carácter ferozmente independente. Ao que parece terá até desistido de uma das suas escola secundárias, "apenas" porque o futebol não era praticado por lá.


(https://s17.postimg.org/9ziyhe0sf/04_B.jpg)
O jovem Jimmy Hagan segurando a bola numa equipa da Durham County Schools. Fonte: durhamcountyschoolsfa.org.uk



Outro aspecto sintomático é que apesar de viver numa região onde se tornaria mais lógico a ingresso nas escolas de futebol do Newcastle FC ou do Sunderland AFC ("Black Cats", fundado em 1879), os dois colossos locais, Jimmy optou por ingressar aos 14 anos de idade nas camadas amadoras do Liverpool FC ("Reds", fundado em 1892).

Na cidade do Mersey, Jimmy jogaria apenas 3 ou 4 meses nos "Reds", regressando depois a casa. Justificou-se dizendo ao seu pai de uma forma simples mas afirmativa: "fui para Liverpool para jogar futebol e não para trabalhar num depósito de madeira"... A questão é que nesses dias aos aprendizes de futebol era atribuído um emprego durante o dia e pelo que se viu, o trabalho reservado ao jovem Hagan foi do seu inteiro desagrado.

Mas Jimmy não era de desistir e assim pouco depois, em Maio de 1933, assinou pelo Derby County FC ("Rams", fundado em 1884). Fez a sua estreia pelos "Rams" com apenas 16 anos de idade e por lá se tornou, em 1935, um jogador profissional. Ao que parece num dos seus 31 jogos pelo Derby County terá jogado no Roker Park perante uma assistência estimada em 76.000 pessoas.


(https://s9.postimg.org/a7g19057z/image.jpg)
O muito jovem Jimmy Hagan envergando a camisola do Derby County FC. Fonte: derbytelegraph



Nos 31 jogos que fez pelo Derby County, Jimmy Hagan terá marcado uns 7 golos, revelando um grande virtuosismo técnico, segundo algumas fontes mostrando por vezes uma habilidade quase mágica. Esse facto demonstra que apesar de ser um produto da escola Inglesa, Jimmy era um homem de futebol sensível ao virtuosismo técnico, uma característica mais latina e algo com que viria a trabalhar com fartura nos seus Gloriosos anos do Estádio da Luz.

Não obstante o bom percurso nos Rams, Jimmy viria depois a incompatibilizar-se com George Jobey, o manager do Clube e por via disso, em Novembro de 1938 seria transferido para o Sheffield United FC ("Blades", fundado em 1889). Teddy Davidson, na altura o manager do Sheffield, mostrou grande interesse nessa contratação mas, não obstante o conflito que tinha com o jogador, Jobey jogou duro nas negociações. O acordo seria fechado apenas por 2.925 libras, valor apreciável para a época.

Em Bramall Lane, jogando pelos "Blades", a carreira de Hagan conheceu um grande crescimento, mostrando-se na sua posição de interior como um jogador com distribuição de jogo fluente, excelente controlo de bola e posicionamento táctico astuto. Em Sheffield permaneceria 20 anos, de 1938 a 1958, ano em que se retirou como jogador de futebol.


(https://s9.postimg.org/wjdu2ez73/image.jpg)
Jimmy Hagan fez grande parte da sua carreira no Sheffield United, chegando a capitão de equipa.



(https://s9.postimg.org/hanwopq3z/image.jpg)
Fonte: Premier Football Cards



(https://s9.postimg.org/6b2pd529r/image.jpg)
Hagan teve honras de primeira página no número de Fevereiro de 1954 do Charles Buchan's Football Monthly.



Jimmy Hagan era o craque da equipa, assumindo uma tal preponderância que causou algum desconforto nos seus companheiros. Ficou aliás célebre uma brincadeira de um fotógrafo que fez uma montagem dessa equipa do Sheffield United com 11 jogadores com cabeças de Jimmy Hagan. Infelizmente não encontrei uma cópia.


(https://s9.postimg.org/oqn6ajvtr/image.jpg)
Fonte: s24su.com/fórum/Sheffield



No total, Jimmy Hagan terá feito 361 jogos e 117 golos pelo Sheffield United. Colectivamente a maior conquista foi um campeonato da 2ª divisão Inglesa na época de 1952-1953. Fez uma longa carreira de 20 anos como jogador do United embora apenas 14 épocas tenham sido efectivas uma vez que perdeu 6 épocas por via da Segunda Guerra Mundial.


(https://s9.postimg.org/5ljx0tz67/image.jpg)
A equipa campeã de 1952-1953. Hagan é segundo jogador sentado, a partir da direita.



Os anos da guerra


A Segunda Guerra Mundial ceifou a vida de muitos futebolistas e devastou muitas carreiras de futebol, e naturalmente afectou também a de Hagan. Integrou o exército Britânico e combateu os nazis em França. Sobreviveu.

Ainda assim, seria neste período que Hagan se tornou internacional pelo seu país, isto apesar de os 16 jogos para o qual foi seleccionado não serem hoje reconhecidos pela FIFA, uma vez que se trataram de jogos disputados em tempo de guerra.

Ainda assim, o historial da FIFA regista que Hagan foi internacional por uma vez por Inglaterra, num jogo disputado em Janeiro de 1948, pouco depois do fim da guerra, quando a sua selecção defrontou a Dinamarca em Copenhaga (empate 0-0).

No entanto, apesar do que o que a FIFA nos diz, a verdade histórica é outra. Nesses 16 jogos internacionais não-oficiais, Hagan apresentou-se com a camisola de Inglaterra de forma brilhante ao lado de estrelas como Stanley Matthews, Tommy Lawton e Raich Carter. É desse tempo a fotografia do início deste texto tal como as que abaixo se apresentam.


(https://s9.postimg.org/m9bf3cosv/image.jpg)
Hagan cumprimentando figuras célebres com a camisola da Selecção. Fonte: derbytelegraph.co.uk e Getty Images



(https://s17.postimg.org/pma7uw4bj/11_B.jpg)
A equipa nacional Inglesa que defrontou o País de Gales em utubro de 1941. De pé, esquerda para a direita: Harry Goslin, Joe Bacuzzi, George Marks, Denis Compton, Stan Cullis. Sentados: Stanley Matthews, Jimmy Hagen, Eddie Hapgood, Don Welsh and Joe Mercer. Fonte: spartacus-educational.com


No período pós-guerra, Hagan permaneceu fiel ao Sheffield United mesmo quando o seu clube aceitou uma proposta de transferência para os rivais do Sheffield Wednesday ("Owls", fundado em 1867). Falou-se de 32.500 libras, o que na altura seria um recorde Britânico. Contra a vontade do seu Clube, Hagan recusou, continuando a jogar pelo United sendo que, curiosamente, o Wednesday desceria à segunda divisão logo na época seguinte.

Logo após abandonar o Sheffield United, Jimmy Hagan juntou-se brevemente a 15 jogadores do Blackpool ("Seasiders, fundado em 1887) para fazer uma digressão pela Austrália. Por lá marcou 21 golos em 15 partidas. E assim terminou a carreira de futebolista.


Um treinador implacável


Terminados os seus dias de jogador, Hagan iniciou a sua carreira no Peterborough United FC ("Posh", fundado em 1934) onde treinou de 1958 até 1962. Foi uma passagem bem-sucedida, culminada com a conquista do 4th Division Championship logo na primeira época em que aquele modesto clube jogou numa liga nacional Inglesa. A sua equipa registou o incrível número de 134 golos só nessa temporada, um recorde que permanece. Apesar de na época seguinte ter consolidado os "Posh" na terceira Liga, ainda assim um amargo conflito com os jogadores faria com que Hagan fosse demitido em Outubro de 1962. Não seria caso único na sua carreira...


(https://s9.postimg.org/5ybb72evz/image.jpg)
Fonte: theposhtrust.co.uk e srsn.co.uk



De 1963 a 1967, Hagan treinou o West Bromwich Albion ("Baggies", fundado em 1878), clube que militava na primeira Liga inglesa. O maior feito deste período foi conseguido em 1966 quando Hagan levou os Baggies à conquista da Football League Cup. Foi uma final a duas mãos vencida (resultado agregado de 5-3) contra o West Ham United FC ("Hammers", fundado em 1895) que contava nas suas fileiras com três craques da selecção Inglesa: Moore, Peters e Hurst.

Mas o futebol são altos e baixos... Na época seguinte disputaria também a final, desta vez num jogo único em Wembley contra o Queens Park Rangers ("Hoops", fundado em 1882), clube na altura numa divisão inferior. Apesar de ao intervalo estarem a ganhar por 2-0, os Baggies seriam derrotados por 2-3. Acabaria ali o percurso de Hagan nos Baggies.

Foi também nos Baggies que Hagan teve mais um episódio revelador da sua fibra enquanto treinador. No dia 1 de Janeiro de 1964, Jimmy Hagan enfrentou uma greve de 21 jogadores da categoria principal. Estes protestavam para com a exigência do treinador de terem de se treinar com calções num dia particularmente frio. Hagan foi inflexível, e enfrentando a greve, foi ele mesmo com os seus 46 anos de calções treinar para o meio do campo. Ali mesmo perante os sócios a dar o exemplo.


(https://s9.postimg.org/5ybb744m7/image.jpg)
O incrível dia em que Hagan treinou sozinho em calções. Os jogadores em greve ficaram a ver o treinador. Fonte (https://www.birminghammail.co.uk/sport/football/football-news/nostalgic-pictures-day-west-bromwich-343386)



Esse conflito terá no entanto sido apenas mais um pois os jogadores queixavam-se de que os métodos de treino de Hagan eram aborrecidos e a postura do treinador era áspera e inacessível. A perda da final de 1967 acabaria por ser uma justificação conveniente que a Direcção dos Baggies usou para demitir um treinador em conflito com o seu plantel.


No Glorioso


Não sendo o foco do texto de hoje, não poderia fechar sem mencionar brevemente a importância da passagem de Hagan pelo Glorioso.

Deposi dos Baggies, Hagan só voltaria a treinar em Março de 1970, desta vez em Portugal, quando aceitou um convite do Glorioso Sport Lisboa e Benfica feito pelo grande Presidente Duarte Borges Coutinho. Falou-se na altura que a primeira escolha do Dr. Borges Coutinho terá sido Alf Ramsey o treinador campeão do mundo pela Inglaterra em 1966.

A escolha de Hagan parecia assim uma escolha secundária, quiçá uma medida desesperada de um presidente depois de uma recusa no mesmo mercado. Hagan no entanto revelar-se-ia uma escolha certeira, um golpe de inspiração. De facto, o duro Inglês conseguiria finalmente disciplinar e renovar uma equipa que ainda tinha grandes jogadores mas à qual eram reconhecidos sérios problemas de disciplina e alguma veterania. Essa fibra disciplinadora terá sido um dos factores decisivo que levaram o Dr. Borges Coutinho a contratar este duro Inglês.

A equipa foi disciplinada, renovada, e significativamente melhorada na sua capacidade física e atlética. Os títulos vieram depois. Três campeonatos conquistados de forma espantosa. Uma extraordinária digressão pelo Japão e muitos outros jogos célebres fariam ainda parte da lenda.

Nesse percurso, Hagan aplicou uma vez mais os seus duríssimos métodos de treino e disciplina. Apesar das vitórias o desgaste foi-se acumulando explicando que uma vez mais fosse um pequeno episódio disciplinar a levar à saída de Hagan. Um episódio triste que talvez tenha evitado que o primeiro tetra da nossa história tivesse ocorrido na década de 70.


(https://s9.postimg.org/tcjaj21z3/image.jpg)
Uma sessão de treinos de Jimy Hagan no Estádio da Luz. Alguns jogadores são identificáveis.



(https://s9.postimg.org/khig8k81r/image.jpg)
Um dos mais célebres planteis. Os invencíveis de 1972. Fonte: Museu Cosme Damião.



Depois do SL Benfica viria um período de 2 anos a treinar no Kuwait e depois o regresso a Portugal onde treinaria Sporting CP (1976-77), Boavista FC (1978-79), Vitória Setúbal (1979–80), CF Belenenses (1980–81) e GD Estoril Praia (1981–82). Teve sucesso no Boavista onde venceu a Taça de Portugal de 1978-79 e no GD Estoril Praia onde subiu à 1ª divisão.

Findo a experiência no Estoril, Jimmy Hagan decidiu retirar-se com a idade de 64 anos.

Apesar da abrupta rotura, ficou sempre no nosso Clube um enorme respeito pela figura deste Inglês, duro, autoritário exigente mas também e acima de tudo campeão. Não admira que o nosso Rei Eusébio tenha generosamente participado em alguns eventos evocativos do grande treinador Inglês.


(https://s9.postimg.org/u222vh7of/image.jpg)
Eusébio num evento de homenagem a Jimmy Hagan.


James Hagan morreria em Sheffield no dia 26 de Fevereiro de 1998, com a idade de 80 anos.

(https://s9.postimg.org/yny73u0xb/image.jpg)

Até sempre Mister!
Paz à sua Alma. Honra à sua memória!

Na primeira imagem é o Rei Jorge VI :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:35
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Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.


(https://s10.postimg.org/k8gti6tvd/image.jpg)
Fonte: Mundodeportivo (http://www.mundodeportivo.com/futbol/fc-barcelona/20161211/412527420926/vintage-kubala-accidente-torino-suerga.html)


Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.


(https://s10.postimg.org/cshjwfggp/image.jpg)
A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.


(https://s10.postimg.org/fzc3g2gc9/image.jpg)
Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...


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Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.


(https://s10.postimg.org/8jctubxsp/image.jpg)
O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.



(https://s10.postimg.org/j66mzs8ix/image.jpg)
A equipa do AC Torino



(https://s10.postimg.org/ex1wxmczd/image.jpg)
A equipa do SLB



(https://s10.postimg.org/kl87oj4h5/image.jpg)
Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.



(https://s10.postimg.org/h1m9yqowp/image.jpg)
Antes e depois da fatídica viagem.



https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU (https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU)


Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.


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Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:37
Citação de: NoneOfUsWillSeeHeaven em 09 de Março de 2018, 22:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2018, 22:01
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Dia 19 de Fevereiro de 1944. Estádio de Wembley, Londres.


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Estádio de Wembley, dia 19 de Fevereiro de 1944. O Rei Jorge V de Inglaterra cumprimenta os jogadores da Selecção Inglesa de futebol. Fonte: raggyspelk.co.uk


Em pleno tempo de guerra o futebol mostrava a sua importância. Nesse dia o Rei Jorge V de Inglaterra cumprimentava os jogadores das selecções de Inglaterra e Escócia, que se aprestavam para iniciar uma partida de futebol. Essa partida, embora hoje não seja reconhecida oficialmente pela FIFA, é parte da História da Selecção Nacional daqueles dois países.

Entre os seleccionados Ingleses estava um jogador com 26 anos de idade que pertencia aos quadros do Sheffield United. Chamava-se James Hagan mas era conhecido no meio futebolístico por Jimmy Hagan. Era um homem reservado e duro que mais tarde se tornaria célebre como treinador de futebol. No seu tempo, Hagan foi também um conceituado jogador internacional de futebol.

A fotografia com que iniciamos este texto capta o exacto momento em que o Rei Jorge V cumprimenta Jimmy Hagan.


(https://s9.postimg.org/5ybb6qu7z/image.jpg)
James Hagan jogou por 17 vezes na Selecção Nacional de futebol da Inglaterra. Fonte: sheffieldhistory.co.uk



Cumpriram-se no passado Domingo, 100 anos sobre o nascimento de Jimmy Hagan, um treinador Inglês que deixou marcas profundas na História do Sport Lisboa e Benfica. Foi um homem de futebol singular, muito reservado mas nem por isso menos controverso.

Como treinador e como manager, Hagan conheceu um sucesso extraordinário quando treinou o Sport Lisboa e Benfica, o maior Clube de Portugal e um dos maiores da Europa. Mas Hagan tinha também uma severa abordagem disciplinar nas suas equipas e por isso teve vários episódios conflituosos nos diversos clubes por onde passou. Nesse aspecto, o SL Benfica seria apenas mais um. Em tudo o resto a sua carreira no Glorioso foi quase sempre um trajecto ganhador verdadeiramente extraordinário.


Vamos hoje à boleia dessa fotografia inicial, que representa um dos picos da carreira de Hagan enquanto jogador profissional de futebol, os anos que viveu antes de se tornar um dos mais vitoriosos e marcantes treinadores do futebol do Sport Lisboa e Benfica.

Em homenagem a Hagan, publica-se aqui uma fusão de textos biográficos, coligidos a partir de algumas fontes da net. A fonte principal é o sítio do seu irmão Colin Hagan, ao qual aliás aconselho vivamente uma visita:

http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html (http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html)

outras fontes usadas:

http://www.independent.co.uk/news/obituaries/obituary-jimmy-hagan-1148385.html (http://www.independent.co.uk/news/obituaries/obituary-jimmy-hagan-1148385.html)

http://www.derbytelegraph.co.uk/sport/football/football-news/the-player-derby-county-slip-377993 (http://www.derbytelegraph.co.uk/sport/football/football-news/the-player-derby-county-slip-377993)



Os primórdios


Hagan nasceu em Washington, County Durham, no dia 21 de Janeiro de 1918. Nasceu no Nordeste de Inglaterra no seio de uma família Católica. Era também oriundo de uma família de futebol pois o seu pai Alf Hagan jogou num período pós Primeira Guerra Mundial no Newcastle United FC ("Magpies", fundado em 1892), no Cardiff City Football Club ("Bluebirds", fundado em 1899) e no Tranmere Rovers Football Club ("Rovers", fundado em 1884).


(https://s9.postimg.org/sn0i6ctm7/image.jpg)
Washington, County Durham, a terra natal de James Hagan, ali nascido a 21 de Janeiro de 1918. Fonte: wikipedia.



Pelos relatos de seu irmão Colin, o pai de Jimmy era também um homem de convicções fortes, tendo aliás retirado o seu filho da St. Joseph's School, uma escola Católica depois de um desentendimento com um Padre. Esse conflito terá aliás sido selado quando Alfie Chapman mimoseou o referido padre com um murro...


(https://s9.postimg.org/jf89pop4v/image.jpg)
Alfie Hagan, pai de Jimmy Hagan. Fonte: http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html


Nesses anos iniciais, o jovem Jimmy estudaria e jogaria futebol em mais três escolas: a Usworth Colliery School, a Durham County Boys e a England Schoolboys. O jovem Jimmy mostrou desde logo uma forte personalidade e nomeadamente dois dos traços mais transversais aos seus 80 anos de vida: um grande amor pelo jogo de futebol e um carácter ferozmente independente. Ao que parece terá até desistido de uma das suas escola secundárias, "apenas" porque o futebol não era praticado por lá.


(https://s17.postimg.org/9ziyhe0sf/04_B.jpg)
O jovem Jimmy Hagan segurando a bola numa equipa da Durham County Schools. Fonte: durhamcountyschoolsfa.org.uk



Outro aspecto sintomático é que apesar de viver numa região onde se tornaria mais lógico a ingresso nas escolas de futebol do Newcastle FC ou do Sunderland AFC ("Black Cats", fundado em 1879), os dois colossos locais, Jimmy optou por ingressar aos 14 anos de idade nas camadas amadoras do Liverpool FC ("Reds", fundado em 1892).

Na cidade do Mersey, Jimmy jogaria apenas 3 ou 4 meses nos "Reds", regressando depois a casa. Justificou-se dizendo ao seu pai de uma forma simples mas afirmativa: "fui para Liverpool para jogar futebol e não para trabalhar num depósito de madeira"... A questão é que nesses dias aos aprendizes de futebol era atribuído um emprego durante o dia e pelo que se viu, o trabalho reservado ao jovem Hagan foi do seu inteiro desagrado.

Mas Jimmy não era de desistir e assim pouco depois, em Maio de 1933, assinou pelo Derby County FC ("Rams", fundado em 1884). Fez a sua estreia pelos "Rams" com apenas 16 anos de idade e por lá se tornou, em 1935, um jogador profissional. Ao que parece num dos seus 31 jogos pelo Derby County terá jogado no Roker Park perante uma assistência estimada em 76.000 pessoas.


(https://s9.postimg.org/a7g19057z/image.jpg)
O muito jovem Jimmy Hagan envergando a camisola do Derby County FC. Fonte: derbytelegraph



Nos 31 jogos que fez pelo Derby County, Jimmy Hagan terá marcado uns 7 golos, revelando um grande virtuosismo técnico, segundo algumas fontes mostrando por vezes uma habilidade quase mágica. Esse facto demonstra que apesar de ser um produto da escola Inglesa, Jimmy era um homem de futebol sensível ao virtuosismo técnico, uma característica mais latina e algo com que viria a trabalhar com fartura nos seus Gloriosos anos do Estádio da Luz.

Não obstante o bom percurso nos Rams, Jimmy viria depois a incompatibilizar-se com George Jobey, o manager do Clube e por via disso, em Novembro de 1938 seria transferido para o Sheffield United FC ("Blades", fundado em 1889). Teddy Davidson, na altura o manager do Sheffield, mostrou grande interesse nessa contratação mas, não obstante o conflito que tinha com o jogador, Jobey jogou duro nas negociações. O acordo seria fechado apenas por 2.925 libras, valor apreciável para a época.

Em Bramall Lane, jogando pelos "Blades", a carreira de Hagan conheceu um grande crescimento, mostrando-se na sua posição de interior como um jogador com distribuição de jogo fluente, excelente controlo de bola e posicionamento táctico astuto. Em Sheffield permaneceria 20 anos, de 1938 a 1958, ano em que se retirou como jogador de futebol.


(https://s9.postimg.org/wjdu2ez73/image.jpg)
Jimmy Hagan fez grande parte da sua carreira no Sheffield United, chegando a capitão de equipa.



(https://s9.postimg.org/hanwopq3z/image.jpg)
Fonte: Premier Football Cards



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Hagan teve honras de primeira página no número de Fevereiro de 1954 do Charles Buchan's Football Monthly.



Jimmy Hagan era o craque da equipa, assumindo uma tal preponderância que causou algum desconforto nos seus companheiros. Ficou aliás célebre uma brincadeira de um fotógrafo que fez uma montagem dessa equipa do Sheffield United com 11 jogadores com cabeças de Jimmy Hagan. Infelizmente não encontrei uma cópia.


(https://s9.postimg.org/oqn6ajvtr/image.jpg)
Fonte: s24su.com/fórum/Sheffield



No total, Jimmy Hagan terá feito 361 jogos e 117 golos pelo Sheffield United. Colectivamente a maior conquista foi um campeonato da 2ª divisão Inglesa na época de 1952-1953. Fez uma longa carreira de 20 anos como jogador do United embora apenas 14 épocas tenham sido efectivas uma vez que perdeu 6 épocas por via da Segunda Guerra Mundial.


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A equipa campeã de 1952-1953. Hagan é segundo jogador sentado, a partir da direita.



Os anos da guerra


A Segunda Guerra Mundial ceifou a vida de muitos futebolistas e devastou muitas carreiras de futebol, e naturalmente afectou também a de Hagan. Integrou o exército Britânico e combateu os nazis em França. Sobreviveu.

Ainda assim, seria neste período que Hagan se tornou internacional pelo seu país, isto apesar de os 16 jogos para o qual foi seleccionado não serem hoje reconhecidos pela FIFA, uma vez que se trataram de jogos disputados em tempo de guerra.

Ainda assim, o historial da FIFA regista que Hagan foi internacional por uma vez por Inglaterra, num jogo disputado em Janeiro de 1948, pouco depois do fim da guerra, quando a sua selecção defrontou a Dinamarca em Copenhaga (empate 0-0).

No entanto, apesar do que o que a FIFA nos diz, a verdade histórica é outra. Nesses 16 jogos internacionais não-oficiais, Hagan apresentou-se com a camisola de Inglaterra de forma brilhante ao lado de estrelas como Stanley Matthews, Tommy Lawton e Raich Carter. É desse tempo a fotografia do início deste texto tal como as que abaixo se apresentam.


(https://s9.postimg.org/m9bf3cosv/image.jpg)
Hagan cumprimentando figuras célebres com a camisola da Selecção. Fonte: derbytelegraph.co.uk e Getty Images



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A equipa nacional Inglesa que defrontou o País de Gales em utubro de 1941. De pé, esquerda para a direita: Harry Goslin, Joe Bacuzzi, George Marks, Denis Compton, Stan Cullis. Sentados: Stanley Matthews, Jimmy Hagen, Eddie Hapgood, Don Welsh and Joe Mercer. Fonte: spartacus-educational.com


No período pós-guerra, Hagan permaneceu fiel ao Sheffield United mesmo quando o seu clube aceitou uma proposta de transferência para os rivais do Sheffield Wednesday ("Owls", fundado em 1867). Falou-se de 32.500 libras, o que na altura seria um recorde Britânico. Contra a vontade do seu Clube, Hagan recusou, continuando a jogar pelo United sendo que, curiosamente, o Wednesday desceria à segunda divisão logo na época seguinte.

Logo após abandonar o Sheffield United, Jimmy Hagan juntou-se brevemente a 15 jogadores do Blackpool ("Seasiders, fundado em 1887) para fazer uma digressão pela Austrália. Por lá marcou 21 golos em 15 partidas. E assim terminou a carreira de futebolista.


Um treinador implacável


Terminados os seus dias de jogador, Hagan iniciou a sua carreira no Peterborough United FC ("Posh", fundado em 1934) onde treinou de 1958 até 1962. Foi uma passagem bem-sucedida, culminada com a conquista do 4th Division Championship logo na primeira época em que aquele modesto clube jogou numa liga nacional Inglesa. A sua equipa registou o incrível número de 134 golos só nessa temporada, um recorde que permanece. Apesar de na época seguinte ter consolidado os "Posh" na terceira Liga, ainda assim um amargo conflito com os jogadores faria com que Hagan fosse demitido em Outubro de 1962. Não seria caso único na sua carreira...


(https://s9.postimg.org/5ybb72evz/image.jpg)
Fonte: theposhtrust.co.uk e srsn.co.uk



De 1963 a 1967, Hagan treinou o West Bromwich Albion ("Baggies", fundado em 1878), clube que militava na primeira Liga inglesa. O maior feito deste período foi conseguido em 1966 quando Hagan levou os Baggies à conquista da Football League Cup. Foi uma final a duas mãos vencida (resultado agregado de 5-3) contra o West Ham United FC ("Hammers", fundado em 1895) que contava nas suas fileiras com três craques da selecção Inglesa: Moore, Peters e Hurst.

Mas o futebol são altos e baixos... Na época seguinte disputaria também a final, desta vez num jogo único em Wembley contra o Queens Park Rangers ("Hoops", fundado em 1882), clube na altura numa divisão inferior. Apesar de ao intervalo estarem a ganhar por 2-0, os Baggies seriam derrotados por 2-3. Acabaria ali o percurso de Hagan nos Baggies.

Foi também nos Baggies que Hagan teve mais um episódio revelador da sua fibra enquanto treinador. No dia 1 de Janeiro de 1964, Jimmy Hagan enfrentou uma greve de 21 jogadores da categoria principal. Estes protestavam para com a exigência do treinador de terem de se treinar com calções num dia particularmente frio. Hagan foi inflexível, e enfrentando a greve, foi ele mesmo com os seus 46 anos de calções treinar para o meio do campo. Ali mesmo perante os sócios a dar o exemplo.


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O incrível dia em que Hagan treinou sozinho em calções. Os jogadores em greve ficaram a ver o treinador. Fonte (https://www.birminghammail.co.uk/sport/football/football-news/nostalgic-pictures-day-west-bromwich-343386)



Esse conflito terá no entanto sido apenas mais um pois os jogadores queixavam-se de que os métodos de treino de Hagan eram aborrecidos e a postura do treinador era áspera e inacessível. A perda da final de 1967 acabaria por ser uma justificação conveniente que a Direcção dos Baggies usou para demitir um treinador em conflito com o seu plantel.


No Glorioso


Não sendo o foco do texto de hoje, não poderia fechar sem mencionar brevemente a importância da passagem de Hagan pelo Glorioso.

Deposi dos Baggies, Hagan só voltaria a treinar em Março de 1970, desta vez em Portugal, quando aceitou um convite do Glorioso Sport Lisboa e Benfica feito pelo grande Presidente Duarte Borges Coutinho. Falou-se na altura que a primeira escolha do Dr. Borges Coutinho terá sido Alf Ramsey o treinador campeão do mundo pela Inglaterra em 1966.

A escolha de Hagan parecia assim uma escolha secundária, quiçá uma medida desesperada de um presidente depois de uma recusa no mesmo mercado. Hagan no entanto revelar-se-ia uma escolha certeira, um golpe de inspiração. De facto, o duro Inglês conseguiria finalmente disciplinar e renovar uma equipa que ainda tinha grandes jogadores mas à qual eram reconhecidos sérios problemas de disciplina e alguma veterania. Essa fibra disciplinadora terá sido um dos factores decisivo que levaram o Dr. Borges Coutinho a contratar este duro Inglês.

A equipa foi disciplinada, renovada, e significativamente melhorada na sua capacidade física e atlética. Os títulos vieram depois. Três campeonatos conquistados de forma espantosa. Uma extraordinária digressão pelo Japão e muitos outros jogos célebres fariam ainda parte da lenda.

Nesse percurso, Hagan aplicou uma vez mais os seus duríssimos métodos de treino e disciplina. Apesar das vitórias o desgaste foi-se acumulando explicando que uma vez mais fosse um pequeno episódio disciplinar a levar à saída de Hagan. Um episódio triste que talvez tenha evitado que o primeiro tetra da nossa história tivesse ocorrido na década de 70.


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Uma sessão de treinos de Jimy Hagan no Estádio da Luz. Alguns jogadores são identificáveis.



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Um dos mais célebres planteis. Os invencíveis de 1972. Fonte: Museu Cosme Damião.



Depois do SL Benfica viria um período de 2 anos a treinar no Kuwait e depois o regresso a Portugal onde treinaria Sporting CP (1976-77), Boavista FC (1978-79), Vitória Setúbal (1979–80), CF Belenenses (1980–81) e GD Estoril Praia (1981–82). Teve sucesso no Boavista onde venceu a Taça de Portugal de 1978-79 e no GD Estoril Praia onde subiu à 1ª divisão.

Findo a experiência no Estoril, Jimmy Hagan decidiu retirar-se com a idade de 64 anos.

Apesar da abrupta rotura, ficou sempre no nosso Clube um enorme respeito pela figura deste Inglês, duro, autoritário exigente mas também e acima de tudo campeão. Não admira que o nosso Rei Eusébio tenha generosamente participado em alguns eventos evocativos do grande treinador Inglês.


(https://s9.postimg.org/u222vh7of/image.jpg)
Eusébio num evento de homenagem a Jimmy Hagan.


James Hagan morreria em Sheffield no dia 26 de Fevereiro de 1998, com a idade de 80 anos.

(https://s9.postimg.org/yny73u0xb/image.jpg)

Até sempre Mister!
Paz à sua Alma. Honra à sua memória!

Na primeira imagem é o Rei Jorge VI :)

Certíssimo!  O Rei Jorge V faleceu em 1936. Há que corrigir.

Obrigado  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 14 de Março de 2018, 12:56
Aqui há uns tempos o meu querido avô de 92 anos contou-me que foi a esse jogo (apesar de ser sportinguista, mas queria ver ao vivo essa fantástica equipa do Torino) e durante algum tempo andou com o bilhete do jogo no casaco.

Até que um dia no café tirou o bilhete para fora e alguém o abordou a dizer que fazia colecção desse tipo de coisas e o meu avô ofereceu-lhe o bilhete. Quanto não valeria uma coisa dessas hoje em dia?  :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: VitorPaneira7 em 14 de Março de 2018, 13:47
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:35
-205-
Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.


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Fonte: Mundodeportivo (http://www.mundodeportivo.com/futbol/fc-barcelona/20161211/412527420926/vintage-kubala-accidente-torino-suerga.html)


Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.


(https://s10.postimg.org/cshjwfggp/image.jpg)
A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.


(https://s10.postimg.org/fzc3g2gc9/image.jpg)
Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...


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Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.


(https://s10.postimg.org/8jctubxsp/image.jpg)
O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.



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A equipa do AC Torino



(https://s10.postimg.org/ex1wxmczd/image.jpg)
A equipa do SLB



(https://s10.postimg.org/kl87oj4h5/image.jpg)
Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.



(https://s10.postimg.org/h1m9yqowp/image.jpg)
Antes e depois da fatídica viagem.



https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU (https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU)


Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.


(https://s10.postimg.org/yrnyjun2x/image.jpg)
Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB



Desde que soube do desastre de Superga, via o livro 50 anos da Bola lá para 1994-1995,  e a história do Grande Torino que é dos clubes que mais simpatizo e gostaria de ver triunfar novamente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 14 de Março de 2018, 18:48
Um dos melhores tòpicos do Ser Benfiquista. Autentico manual indispensável para quem quer conhecer toda a  nossa historia.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Março de 2018, 01:06
É um enorme prazer ler os vossos comentários, Bakero, VitorPaneira7 e Alexandre1976  pois reconheço em vocês o interesse contínuo em conhecer, comentar e divulgar tudo o que distingue a Gloriosa História do nosso querido Clube. Obrigado! O0

E caro Bakero, quanto valeria o bilhete?
Não faço ideia do valor de mercado deve ter em conta a conservação e a raridade que parece não ser muita

(http://list.lisimg.com/image/5234719/700full.jpg)

(http://4.bp.blogspot.com/-mTjGU0vvQL0/TcEsQtoBo6I/AAAAAAAAAEk/n_nwGIG0prs/s1600/DSC03446.JPG)


Mas isso é acessório. O valor maior seria sempre o valor sentimental.
O teu Avô soube reconhecer a importância do evento embora claro ninguém pudesse imaginar quão importante ele viria a ser.

E claro, o valor que o bilhete teria para ti seria que ele simbolizaria o desprendimento e generosidade do teu Avô. Mais, apetece dizer que hoje em dia já poucos Sportiguistas existirão com todas essas qualidades e desportivismo. Eu sei que eles existem mas encontra-los é que é mais difícil...

ps: espero lá para o final da semana publicar mais um texto que segue a linha destes dois últimos. Está a crescer a olhos vistos, vai tocar em aspectos trágicos, dentro e fora de campo mas, no final vincará como sempre a nobreza e a dimensão maior do nosso querido Clube.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Bakero em 15 de Março de 2018, 10:14
O meu avô é um Sportinguista com S grande sim, como já há poucos.

É um prazer ouvi-lo falar dos cinco Violinos, da rivalidade que já havia entre o Benfica e o Sporting nos anos 40 e 50, etc.

Adora contar-me a história da Taça do Século que supostamente seria para o Benfica e acabou das duas vezes por ir parar ao Sporting. Já me contou isso tanta vez, mas faz como se fosse a primeira e eu oiço como se fosse a primeira ;)

E já me disse mais que uma vez que se houve clube protegido no Estado Novo foi o Sporting e não o Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 15 de Março de 2018, 11:01
O teu avô merece todo o respeito da nossa parte.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 16 de Março de 2018, 00:53
Citação de: Bakero em 15 de Março de 2018, 10:14
O meu avô é um Sportinguista com S grande sim, como já há poucos.

É um prazer ouvi-lo falar dos cinco Violinos, da rivalidade que já havia entre o Benfica e o Sporting nos anos 40 e 50, etc.

Adora contar-me a história da Taça do Século que supostamente seria para o Benfica e acabou das duas vezes por ir parar ao Sporting. Já me contou isso tanta vez, mas faz como se fosse a primeira e eu oiço como se fosse a primeira ;)

E já me disse mais que uma vez que se houve clube protegido no Estado Novo foi o Sporting e não o Benfica.

Eu não tenho problema com esse tipo de rivalidades e de sportinguistas. Havia mais honra e respeito. O que sucede nos dias de hoje nada tem a ver com os tempos do teu avô.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 16 de Março de 2018, 02:50
Eu proprio sendo filho de um Sportinguista,sempre vi no meu velho um respeito pelo Benfica. Outros tempos em que a rivalidade era só isso mesmo,rivalidade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 16 de Março de 2018, 18:50
Nessa equipa mitica do Torino a grande estrela era Valentino Mazzola,pai de Sandro Mazzola que foi uma grande figura do Inter ,onde também jogavam estrelas como Facchetti,Jair ou Suarez e que nos ganharam uma Taça dos Campeões.Em relação a essa equipa do Benfica que venceu o Torino em 1949,Rogério,Arsénio,Espirito Santo,Felix e o grande capitão F.Ferreira são legendas do nosso Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Março de 2018, 21:22
-206-
Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956


(https://s13.postimg.org/8nt3annqf/image.jpg)
A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)


(https://s13.postimg.org/f1i6e00d3/image.jpg)
Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.


(https://s13.postimg.org/y6lfnshlz/image.jpg)
Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.


(https://s13.postimg.org/z8vm6dq5j/image.jpg)
Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.


(https://s13.postimg.org/g3scwnls7/image.jpg)
Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.


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Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.


(https://s13.postimg.org/ggjr31ttz/image.jpg)
Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.


(https://s13.postimg.org/h62jfgzjb/image.jpg)
Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola

(https://s13.postimg.org/z8vm6pxyv/image.jpg)


Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).



(https://s13.postimg.org/9q39trbuv/image.jpg)
O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol)).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.


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Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.


(https://s13.postimg.org/t97v2r7xz/image.jpg)

(https://s13.postimg.org/pcuj6u7jr/image.jpg)



Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.


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Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.


(https://s13.postimg.org/clgd0h2yf/image.jpg)
As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.


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Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.



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Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola

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Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.


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Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.


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O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 17 de Março de 2018, 12:07
Citação de: RedVC em 16 de Março de 2018, 21:22
-206-
Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956


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A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)


(https://s13.postimg.org/f1i6e00d3/image.jpg)
Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.


(https://s13.postimg.org/y6lfnshlz/image.jpg)
Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.


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Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.


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Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.


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Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.


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Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.


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Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola

(https://s13.postimg.org/z8vm6pxyv/image.jpg)


Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).



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O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol)).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.


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Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.


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Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.


(https://s13.postimg.org/bj66hw9uf/image.jpg)
Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.


(https://s13.postimg.org/clgd0h2yf/image.jpg)
As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.


(https://s13.postimg.org/5i8hkxxjr/image.jpg)
Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.



(https://s13.postimg.org/qf4ppog5z/image.jpg)
Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola

(https://s13.postimg.org/hldt80g6f/image.jpg)


Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.


(https://s13.postimg.org/u00l8ekk7/image.jpg)
Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.


(https://s13.postimg.org/obuahj3d3/image.jpg)
O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.







Honra, respeito e glória ao Torino. Que tenham mais sucesso nas terras transalpinas do que somente ser uma equipa do meio da tabela da série A. E já agora subir mais uns degraus nas competições da UEFA.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 17 de Março de 2018, 14:36
Também tenho grande apreço pelo Torino.Embora a squadra que mais gosto em Itália seja o Inter(por causa do tridente alemao Matthaus,Brehme e Klinsmann),tambem sigo com atençao o percurso de Napoles e Roma.O desprezo total é para a Juve,uma especie de porcos á escala italiana.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 17 de Março de 2018, 20:43
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:35
-205-
Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.


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Fonte: Mundodeportivo (http://www.mundodeportivo.com/futbol/fc-barcelona/20161211/412527420926/vintage-kubala-accidente-torino-suerga.html)


Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.


(https://s10.postimg.org/cshjwfggp/image.jpg)
A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.


(https://s10.postimg.org/fzc3g2gc9/image.jpg)
Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...


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Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.


(https://s10.postimg.org/8jctubxsp/image.jpg)
O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.



(https://s10.postimg.org/j66mzs8ix/image.jpg)
A equipa do AC Torino



(https://s10.postimg.org/ex1wxmczd/image.jpg)
A equipa do SLB



(https://s10.postimg.org/kl87oj4h5/image.jpg)
Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.



(https://s10.postimg.org/h1m9yqowp/image.jpg)
Antes e depois da fatídica viagem.



https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU (https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU)


Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.


(https://s10.postimg.org/yrnyjun2x/image.jpg)
Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB




essas nossas camisolas...  :smitten: quanto nao daria por uma delas para ter na minha colecao...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 17 de Março de 2018, 21:05
Citação de: RedVC em 16 de Março de 2018, 21:22
-206-
Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956


(https://s13.postimg.org/8nt3annqf/image.jpg)
A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)


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Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.


(https://s13.postimg.org/y6lfnshlz/image.jpg)
Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.


(https://s13.postimg.org/z8vm6dq5j/image.jpg)
Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.


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Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.


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Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.


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Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.


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Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola

(https://s13.postimg.org/z8vm6pxyv/image.jpg)


Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).



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O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol)).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.


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Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.


(https://s13.postimg.org/t97v2r7xz/image.jpg)

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Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.


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Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.


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As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.


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Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.



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Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola

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Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.


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Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.


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O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.






se pudesse dar meia duzia de likes, faria-o. que história comovente e excelentemente contada. nao acabou pela história dos irmaos mazzola, mas também a final de 65 e promenores que desconhecia (nao sabia que era para ser disputada em roma), e a história trágica desse clube simpático, que sempre ficará ligado à nossa.
já repeti muitas vezes, mas a qualidade dos teus resumos pelomenos merece um tópico imóvel. eu até penso que valia a pena imprimir e fazer um livro.
enorme respeito pelo teu trabalho, victor. :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Março de 2018, 21:50
Citação de: alfredo em 17 de Março de 2018, 20:43
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:35
-205-
Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.


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Fonte: Mundodeportivo (http://www.mundodeportivo.com/futbol/fc-barcelona/20161211/412527420926/vintage-kubala-accidente-torino-suerga.html)


Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.


(https://s10.postimg.org/cshjwfggp/image.jpg)
A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.


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Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...


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Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.


(https://s10.postimg.org/8jctubxsp/image.jpg)
O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.



(https://s10.postimg.org/j66mzs8ix/image.jpg)
A equipa do AC Torino



(https://s10.postimg.org/ex1wxmczd/image.jpg)
A equipa do SLB



(https://s10.postimg.org/kl87oj4h5/image.jpg)
Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.



(https://s10.postimg.org/h1m9yqowp/image.jpg)
Antes e depois da fatídica viagem.



https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU (https://www.youtube.com/watch?v=_baxkVCl0mU)


Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.


(https://s10.postimg.org/yrnyjun2x/image.jpg)
Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB




essas nossas camisolas...  :smitten: quanto nao daria por uma delas...


Ah, pois! Aquilo era para olhar para ela todos os dias  :cool2:

O nosso Clube devia ter feito como as grandes casas de Vinho do Porto fazem com algumas garrafas de cada ano de colheita. Todos os anos guardava uma meia dúzia de camisolas para armazenar. Para que as gerações vindouras pudessem ter o privilégio de vê-las, autênticas, lindas, Gloriosas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Março de 2018, 21:53
Citação de: alfredo em 17 de Março de 2018, 21:05
Citação de: RedVC em 16 de Março de 2018, 21:22
-206-
Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956


(https://s13.postimg.org/8nt3annqf/image.jpg)
A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)


(https://s13.postimg.org/f1i6e00d3/image.jpg)
Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.


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Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.


(https://s13.postimg.org/z8vm6dq5j/image.jpg)
Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.


(https://s13.postimg.org/g3scwnls7/image.jpg)
Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.


(https://s13.postimg.org/wrjuzb8vr/image.jpg)
Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.


(https://s13.postimg.org/ggjr31ttz/image.jpg)
Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.


(https://s13.postimg.org/h62jfgzjb/image.jpg)
Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola

(https://s13.postimg.org/z8vm6pxyv/image.jpg)


Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).



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O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol)).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.


(https://s13.postimg.org/6kio31dnr/10_B.jpg)
Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.


(https://s13.postimg.org/t97v2r7xz/image.jpg)

(https://s13.postimg.org/pcuj6u7jr/image.jpg)



Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.


(https://s13.postimg.org/bj66hw9uf/image.jpg)
Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.


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As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.


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Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.



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Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola

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Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.


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Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.


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O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.






se pudesse dar meia duzia de likes, faria-o. que história comovente e excelentemente contada. nao acabou pela história dos irmaos mazzola, mas também a final de 65 e promenores que desconhecia (nao sabia que era para ser disputada em roma), e a história trágica desse clube simpático, que sempre ficará ligado à nossa.
já repeti muitas vezes, mas a qualidade dos teus resumos pelomenos merece um tópico imóvel. eu até penso que valia a pena imprimir e fazer um livro.
enorme respeito pelo teu trabalho, victor. :bow2:

Caramba Alfredo... Um abraço e muito obrigado pelas tuas palavras!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 20 de Março de 2018, 09:50
Obrigado por mais esta pérola sobre o Torino. Curiosamente se o meu pai fosse vivo teria também 92 anos, como o avô do Bakero. Também era do Sporting e também esteve nesse jogo. Aliás, aprendi muito do que sei do Benfica com ele, nomeadamente sobre estas figuras desse tempo, como o Chico Ferreira (e o Peyroteo), e sobretudo sobre a mística do Benfica. Parece paradoxal, mas a rivalidade era só isso: rivalidade.

Também por ele, quando fomos à final com o Sevilha fui lá deixar uma bandeira do Benfica em Superga, assinada por toda a turma que foi comigo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Março de 2018, 16:51
-207-
Uma referência elaborada

Uma nota breve a propósito de uma dúvida que vi recentemente no blogue Memória Gloriosa.

Questionava-se acerca desta fotografia que agora é muito conhecida.


(https://s9.postimg.org/3p024evvz/image.jpg)


Na altura em que publiquei um texto onde a mostrava  ("-100- A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa, p.28)" não me ocorreu identificar a fonte completa original. Bom... antes tarde do que nunca.

Acontece que a dita imagem foi publicada pela primeira vez numa revista científica de 1905. No kidding...

Encontrei-a depois de uma pesquisa na internet na página 28da seguinte revista:

(https://s9.postimg.org/lf1qphrhb/image.jpg)
Página de rosto e a página 28 onde foi publicada a imagem da Farmácia Franco captada muito provavelmente ainda em 1904.


E assim podem pela primeira vez ler a legenda integral e já agora a tradução conforme a pude fazer


(https://s9.postimg.org/jahdohxlb/image.jpg)


"Uma fabulosa farmácia portuguesa. - A "Farmácia Franco" de Lisboa é uma da mais famosas lojas de boticário em Portugal. Foi estabelecida em 1826 pelo Senhor Ignácio José Franco, e à data da sua morte passou para o seu filho, o primeiro Conde do Restelo, que mais tarde se associou com os seus dois filhos, um deles o segundo Conde do Restelo, e o outro Pedro Augusto Franco. Este último é o actual co-proprietário. Esta casa produz diversas muito conhecidas especialidades farmacêuticas; e já conquistou cinco medalhas de ouro e uma de prata em diversas exibições Europeias, sem mencionar o Grande Prémio garantido na Exibição de Londres deste ano (nota: 1905). Como pode ser visto a partir da gravura, a farmácia é muito bela, e para além disso tem o interesse de representar uma tipologia mais próxima da Espanhola, sendo por isso bastante diferente do que estamos acostumados nos Estados Unidos.



Assim, em jeito de referência bibliográfica aqui fica a referência completa


The Bulletin of Pharmacy. 1905. Vol XIX - January to December. pp. 28. R. G. Swift, Medical Publisher. Detroit. USA.


Foi esta a Farmácia onde os nossos fundadores e todos os outros que contribuíram para a formação do nosso Clube se reuniram.


Curiosidades sobre um local que nos dias de hoje deveria ser bastante mais do que a simpática Pensão Residencial Setubalense ou uma dependência de um banco... Mas enfim, isso são outras histórias!


(https://s9.postimg.org/qdp944igf/image.jpg)
Que lindo que ali ficaria uma loja do Sport Lisboa e Benfica... Fonte: Trivago.









Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: andrenet em 24 de Março de 2018, 12:22
(https://scontent.flis5-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/29511217_1365183836960174_9006642957271674919_n.jpg?_nc_cat=0&_nc_eui2=v1%3AAeEsLmaMH0i5JuwMZqaXVlH-VPrK6cJlFoKYOLULmUH8hK2b_aBpovgZ6tW9EoMWpD6jr_Ac_Jr9WUTUiRgZLHrLz49Gfdt1zQwGvSYbxZlT8w&oh=8312a60b6a87d73dbc085461ab3394d1&oe=5B71F26C)

Manniche, ?, Carlos Manuel, Shéu... Quem é o 2º na foto?
De onde a tirei diza que é o Frederico.
Porém, o Frederico saiu para o Boavista em 83/84, época em que o Manniche chegou ao Benfica. Não chegaram a jogar juntos...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Março de 2018, 13:12
Citação de: andrenet em 24 de Março de 2018, 12:22
(https://scontent.flis5-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/29511217_1365183836960174_9006642957271674919_n.jpg?_nc_cat=0&_nc_eui2=v1%3AAeEsLmaMH0i5JuwMZqaXVlH-VPrK6cJlFoKYOLULmUH8hK2b_aBpovgZ6tW9EoMWpD6jr_Ac_Jr9WUTUiRgZLHrLz49Gfdt1zQwGvSYbxZlT8w&oh=8312a60b6a87d73dbc085461ab3394d1&oe=5B71F26C)

Manniche, ?, Carlos Manuel, Shéu... Quem é o 2º na foto?
De onde a tirei diza que é o Frederico.
Porém, o Frederico saiu para o Boavista em 83/84, época em que o Manniche chegou ao Benfica. Não chegaram a jogar juntos...


Oliveira!

(https://serbenfiquista.com/sites/default/files/styles/large/public/oliveirayrqlg.jpg?itok=Agw8Yn1p)


https://serbenfiquista.com/forum/de-aguia-ao-peito/oliveira/ (https://serbenfiquista.com/forum/de-aguia-ao-peito/oliveira/)

bom jogador que Eriksson usou para substituir Humberto Coelho que se lesionou de forma irremediável.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Abril de 2018, 09:25
-208-
Laranja vintage


Domingo, dia 5 de Abril de 1936. Enschede, Holanda.


(https://s31.postimg.org/tskleqbt7/image.jpg)
"A equipa campeã do Sportclub Enschede". Foto da equipa de futebol de 1935-1936. Fonte: www.gahetna.nl



Nesse dia a equipa de futebol do Sportclub Enschede (SCE) que equipava com camisolas negras e calções brancos, sagrou-se campeã regional do Distrito Leste da Holanda. O treinador desta equipa era um Húngaro de 37 anos chamado Béla Guttmann.

Béla Guttmann estava a iniciar a sua carreira internacional de treinador. Poucos anos antes tinha iniciado a sua carreia ao aceitar o cargo de jogador-treinador do Hakoah de Viena, o clube onde mais se destacou enquanto jogador. Em meados de 1935 Guttmann aceitou o convite dos Holandeses e assumiu a direcção técnica do SC Enschede.


(https://s31.postimg.org/jv9kloz2j/image.jpg)
Béla Guttmann com 37 anos, numa fotografia publicada em 1936 num jornal Holandês. Fonte: https://www.delpher.nl



(https://s31.postimg.org/o4eao0unv/image.jpg)
A notícia integral do dia em que o SC Enschede se tornou campeão regional. Fonte: https://www.delpher.nl



Os dirigentes do SCE concretizaram a contratação de Béla Guttman depois de uma sugestão que lhes foi feita pelo grande treinador e mestre do Futebol Austríaco Hugo Meisl. Até essa altura os Holandeses tinham uma experiência bem-sucedida com treinadores Ingleses mas nesse ano decidiram experimentar uma outra escolar e daí o contacto que estabeleceram com Hugo Meisl.

Guttmann trataria de aproveitar bem essa oportunidade mas ficaria apenas mais uma época na Holanda. Começava aí a seguir a uma regra de ouro, uma opção que tornaria quase uma constante na sua carreira: não permanecer mais do que duas temporadas no mesmo clube. O Benfica seria uma excepção ditada pelo coração mas também pela razão.


A Holanda futebolística nos anos 30


Localizada no leste da Holanda, a 4 km da fronteira com a Alemanha, a cidade de Enschede tem hoje cerca de 160 mil habitantes. Em 1936 a cidade tinha dois pequenos clubes de futebol, o SC Enschede (com as cores preto e branco) e o SV De Enschedese Boys (com as cores verde e branco).


(https://s31.postimg.org/nevibqu57/image.jpg)
Enschede, antiga e actual. A cidade está localizada no leste da Holanda perto da fronteira Alemã. Fonte: wikipedia e Delcampe.



Fundado em 1 de Junho de 1910, o Sportclub Enschede formou-se a partir da união de dois clubes Hercules (1898) e Phenix (1903). Os dois clubes decidiram formar um novo clube que pudesse a ter ambições nacionais e que pudesse competir com os grandes clubes do oeste do país (Ajax a Feijenoord, entre outros). Seria Bernard Vos, então o então presidente do SCE, que instituiria o lema do Clube: "Alcançar mais não é uma questão de ser capaz, mas uma questão de querer".

Em 1926, o SC Enschede conseguiu o seu único título nacional Holandês e logo de forma invicta. Nesse tempo, o modelo competitivo Holandês previa a disputa de 5 ligas regionais, cujos campeões depois competiam entre eles para definir o campeão nacional. No entanto e até 1954, época em que foi instituído o profissionalismo no futebol Holandês, o SC Enschede conquistou apenas três títulos de campeão regional da zona Leste: 1932, 1936 e 1943.

O título regional de 1936 foi justamente o conquistado por Béla Guttmann enquanto treinador do SCE. A competição nacional desse ano seria disputada pelo Feijenoord, FC Groningern, SC Enschede, Ajax e NAC. Seria o Feijenoord a sagrar-se campeão nacional da Holanda 1935-1936.


(https://s31.postimg.org/xoxxb0763/image.jpg)
Os Clubes Holandeses competidores da fase final de atribuição do título de Campeão Nacional de Futebol na Holanda em 1935-1936.



Em 1965, o SC Enschede estava fragilizado por dívidas e por isso viu-se forçado pelo seu Município a aceitar uma fusão com os rivais do SV De Enschedese Boys. Da união dos dois clubes formou-se o FC Twente (cor vermelha). Ainda assim, parte do SCE conseguiu resistir e assegurar a continuidade do clube, mantendo as mesmas cores e símbolos e competindo ainda hoje nas ligas amadoras de futebol da Holanda. O FC Twente veio a vingar como clube profissional à escala nacional e conseguiu mesmo ser campeão Holandês em 2009-2010, numa época em que Luís Suárez foi o melhor goleador do campeonato usando a camisola do Ajax...


(https://s31.postimg.org/cfab066az/image.jpg)
Fonte wikipedia e http://www.sportclubenschede.nl/




Um documento único


Um aspecto interessante desta aventura Holandesa de Béla Guttman é que existe um filme onde podemos ver uma parte significativa dessa temporada de 1935-1936. O registo deverá ter sido feito por elementos do próprio SC Enschede pois regista vários jogos no seu campo. Mais importante ainda é que no filme podemos identificar Béla Guttmann em pelo menos dois momentos. Se alguém perceber Holandês pode sempre complementar...


https://www.youtube.com/watch?v=UU-0ZqvbwJU (https://www.youtube.com/watch?v=UU-0ZqvbwJU)
Fonte: youtube


E para os que não quiserem ver o filme, ficam aqui capturas de imagem de alguns momentos interessantes.

A primeira parte do filme refere-se à conquista do título regional do distrito Leste da Holanda, captando o jogo decisivo desse campeonato que foi o dérbi da cidade entre o SC Enschede e o SV De Enschedese Boys.


(https://s31.postimg.org/k80ys6757/image.jpg)


(https://s31.postimg.org/sdj0qcq97/image.jpg)


Depois, no filme fora também registados alguns dos jogos da competição à escala nacional que, como atrás se disse, seria vencida pelo Feijenoord de Roterdão.


(https://s31.postimg.org/w9wcmdljf/image.jpg)


(https://s31.postimg.org/vx4yg7qez/image.jpg)



O Futebol segundo Guttmann


Para nós Benfiquistas, a Holanda futebolística dos anos 30 parece um universo que embora pitoresca parece distante e com pouco interesse. No entanto, há nele alguns detalhes curiosos para se entender melhor o trajecto de Béla Guttmann. É sabido que Guttman esteve exposto a muitas e bem diversas realidades futebolísticas e sociais durante a sua carreira. Ao longo dessas décadas, dirigiu e enfrentou clubes grandes e pequenos em realidades competitivas diversas na América do Norte, América Latina, Europa Central e Europa Latina, experiências que enriqueceram como homem e como profissional.

A Holanda, mesmo sendo uma etapa breve, foi a primeira e por isso importante para que Guttmann começasse desde logo a definir-se como um treinador ganhador, capaz de passar as suas ideias aos jogadores, tornando-os mais competitivos e ganhadores.

E Guttmann não falhou. Nesse campeonato regional deixou impressa a imagem de ganhador, orientando uma equipa concentrada, com vertigem ofensiva e posse de bola orientada para um jogo rectilíneo para a baliza. A obsessão pela busca do remate e da procura uma concretização eficaz foi algo que impôs às suas equipas. E os números das suas equipas são elucidativos acerca dessa obsessão. Mais tarde, o Benfica bicampeão europeu seria a sua criação mais perfeita mas antes disso houve décadas de caminhos de pedras em que refinou a sua visão e os seus métodos.

Lendo alguma imprensa Holandesa da época, confirma-se que os métodos e personalidade de Guttmann eram já muito do que conhecemos, e que os mesmos foram entendidos e admirados pelos adeptos.


(https://s31.postimg.org/wzf4yrwdn/image.jpg)
Fonte: www.gahetna.nl



● O segredo do Sportclub Enschede para a conquista do campeonato foi a sua grande unidade e força de vontade colectiva.

● Apesar de um começo extremamente assustador, após algumas partidas a equipe do SCE conseguiu superar esse atraso inicial com uma vontade de ferro, através da perseverança até o limite.

● A nomeação do Sr. Guttmann, sem dúvida, contribuiu muito para o sucesso desta temporada. O novo treinador entregou-se à sua tarefa com coração e alma e fez todo o possível para conseguir algo para o SCE.

● Pedimos então ao treinador do Sportclub, que nos explicasse porque a extraordinária produtividade ofensiva do SCE. A resposta foi que como treinador fez todo o possível para dar a aprender as técnicas e habilidades de remate. Ele prestou especial atenção à necessidade de rematar com os dois pés. Rematar assim que houver possibilidade para isso.

● Obtivemos ainda uma explicação detalhada sobre o melhor método de jogo. No passado, de acordo com Guttmann, as pessoas prestaram muita atenção ao futebol bom e gracioso mas na verdade o objectivo final do jogo de futebol é fazer golos. Por isso toda a atenção se deve concentrar nesse aspecto.

● Basta olhar para a equipa do SCE, que apesar de não jogar um jogo de combinação muito sofisticado de passes curtos, ainda assim encontra sempre o caminho mais rápido para a baliza. O futebol moderno exige velocidade. O SCE tem alas excelentes e um trio habilidoso de ataque. O objectivo da equipa terá de ser sempre ultrapassar a defesa do adversário, usando pra isso um jogo rápido e incisivo. Da direita para a esquerda, em frente à baliza, a ideia é rematar. Veja-se os números de golos obtidos para perceber isso.

● Graças à sua influência sobre os jogadores, o treinador Guttmann conseguiu incitá-los ao maior entusiasmo...

● Com 38 anos de idade, o actual treinador de Enschede é um homem muito activo e que possui uma grande capacidade de persuasão. Não é de admirar que ele conseguisse influenciar os jogadores de uma maneira tão admirável.

● Guttman foi de opinião que a conquista do campeonato foi alcançada pela grande homogeneidade na equipe e no espírito proeminente. Todos se deram por inteiro, os jogadores interagiram uns com os outros como amigos. Os mais velhos exerceram uma boa influência sobre os jogadores mais jovens. Todos foram inspirados pela vontade de vencer.


E depois vejam como continua o artigo:

● O lema da equipa do SCE é sempre "Um para todos e todos para o nosso clube", e o Sr. Guttmann decidiu cuidar dele...


Curioso, não é?

Guttmann estava destinado a treinar o Glorioso.

A Mística... Ao longo da sua carreira, Guttmann treinou e enfrentou diversos Clubes com adeptos fervorosos e com filosofia ganhadora mas ficaria genuinamente impressionado pela Mística que veio encontrar no nosso Clube. Vindo de fora, Guttman soube perceber e aproveitar de forma magistral essa Mística e a qualidade da equipa.

Curiosamente Guttmann chegou a Portugal para orientar o FCP, mas desde logo percebeu o potencial do Benfica. Na sua cabeça deve ter desde logo percebido onde estaria o cavalo ganhador.

De facto, quando chegou a Portugal para treinar o FCP, Guttmann deu nota de que conhecia a equipa do Benfica, a quem reconhecia qualidade. No ano anterior, altura em que treinava o São Paulo FC, Guttmann tinha visto o Benfica jogar no Brasil. Chegando a Portugal, percebeu o potencial daqueles jogadores e do Clube. Não admira que tenha prontamente aceitado o convite que recebeu – ao que parece da boca de Gastão Silva - no Verão de 1959 quando estava de regresso a Viena. Para trás tinha ficado o FCP, agora era o tempo do Benfica.

E foi no nosso Clube que Guttmann se elevou como nunca se tinha elevado. Foi aqui que percebeu melhor a Mística única do Benfica. Única no Mundo, incomparável, baseada no amor incondicional dos seus sócios. Assim éramos, assim somos.

Ao mesmo tempo, Guttmann percebeu a diferença entre os sócios e os dirigentes. Nesses tempos era ainda muito diferente a percepção e a importância que os adeptos e principalmente os dirigentes davam à acção dos treinadores. Essa aliás foi uma das lutas constantes, transversais a toda a carreira de Béla Guttmann. Ele teria de lutar constantemente e por vezes de forma dura - mesmo até ao ponto da rotura - pelo reconhecimento da dignidade e do valor dos treinadores como agentes fundamentais do futebol.

Outra batalha pessoal foi a luta pela devida remuneração da sua actividade, algo que ele aprendeu a não transigir desde o tempo traumático em que viveu e trabalhou nos EUA, onde conheceu as agruras trazidas pelo crash bolsista de 1929. Nessa dia negro, Guttmann perdeu tudo e viu colegas e amigos voltarem-lhe as costas. "Tudo tens, tudo vales; nada tens, nada vales". Guttmann conhecia muito bem a fragilidade da glória, efémera pela sua natureza, ditada pela natureza humana e a volatilidade dos sócios e dirigentes.

Quando Béla Guttmann chegou a Lisboa, o nosso Clube sabia que contratava treinador ganhador com grandes conhecimentos de futebol e também um homem notável de vivências extraordinárias. No entanto, talvez ninguém terá tido consciência que ali estava o homem que iria mudar para sempre a História do nosso Clube. Tempos de lenda, irrepetíveis, de grandes conquistas e carinhosas memórias. Guttmann merece o carinho eterno e a memória de todos os Benfiquistas.


(https://s31.postimg.org/vlni32cff/image.jpg)


Como todos os Clubes e homens grandes, também à volta do Benfica e de Guttman se gerou a inveja e o despeito. Ainda hoje esse ruído invejoso persiste, algo com que não podemos nem devemos colaborar. Esqueçam. Não colaborem nisso. Existirão sempre anti-Benfiquistas ou Benfiquistos que procurarão explorar pseudo-maldições apenas com o objectivo de atacar o clube que odeiam e invejam.



Béla Guttmann amava o Benfica.


Muitos anos depois de sair do Benfica, já radicado em Viena onde viria a falecer, um jornalista Português foi encontra-lo com um emblema de diamantes do Benfica na sua lapela. Guttmann disse que o usava sempre, que guardava o nosso Clube no coração com carinho e reconhecimento. E se não há amores imaculados, as espinhas que ele sentiu no percurso que fez no Glorioso nunca ensombraram o seu carinho e agradecimento ao Clube que mais alto soube levar os seus ensinamentos e que foi parte fundamental da sua lenda.

Hoje e sempre, Béla Guttmann será lembrado como um dos grandes da História do Futebol e o seu nome estará sempre ligado ao nome Glorioso do Sport Lisboa e Benfica. E isso nos envaidece.


(https://s31.postimg.org/g066j5323/image.jpg)


Obrigado Mister!









Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Abril de 2018, 12:00
Figura lendária do Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 01 de Abril de 2018, 17:42
a faixa que o sr. guttman tem posta na ultima foto, é a do meu avatar...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Abril de 2018, 10:57
-209-
Magaga, Holandês Voador e Calções Limpinhos.


Dia 31 de Outubro de 1973. Estádio Camp Nou, Barcelona.

Dois génios do Futebol posam para uma foto histórica.


(https://s7.postimg.org/kpuwigvu3/image.jpg)

De um lado Eusébio, celebrizado como o Pantera Negra mas também conhecido por Magagaga (em landim, o "supersónico") no início da sua carreira.

Do outro, Johan Cruijff, alcunhado de El Flaco, O Magrinho ou ainda de Holandês Voador (a minha preferida). Dois jogadores geniais, dois supersónicos do futebol.

Envergando uma camisola laranja com um símbolo alusivo ao nosso planeta, nesse dia Eusébio e Cruijff integraram uma selecção da Europa que disputou um jogo contra uma Selecção da América do Sul. O jogo fez parte das celebrações do 1º Dia Mundial do Futebol, evento de beneficência promovido pela FIFA.

A FIFA planeava que esta fosse a primeira de muitas edições mas a iniciativa viria a ter pouco sucesso e acabou abandonada. Integravam o Comité de honra e organizador, entre outros: o inglês Stanley Rouss (presidente da FIFA), o ditador espanhol Francisco Franco e o futuro rei de Espanha, Juan Carlos. O Comité integrava ainda muitas personalidades Catalãs da época.

Para este jogo, a FIFA nomeou Lázló Kubala para o cargo de seleccionador da equipa da Europa. Kubala, um outro génio do futebol, estava já retirado sendo nessa altura seleccionador nacional da Espanha (ver -204- Pesadelos de Berna). Como seleccionadores da equipa da América do Sul a FIFA nomeou o Brasileiro Mário Zagalo e o Argentino Omar Sivori, outros dois antigos grandes jogadores, e que eram nessa altura seleccionadores nacionais do Brasil e Argentina, respectivamente.


(https://s7.postimg.org/7lpc5ugnv/image.jpg)
Fonte: Delcampe e La Vanguardia



(https://s7.postimg.org/k0c466fvv/image.jpg)
Boletim oficial do FC Barcelona de Outubro de 1973 publicado já depois do evento realizado



Como depois se tornou hábito neste tipo de eventos, a organização procurou garantir a presença de algumas das grandes estrelas da época e jogadores jovens promissores. Procurou também garantir a presença do maior número possível de países tentando não comprometer o interesse do público. Infelizmente, pelo que rezam as crónicas, apenas cerca de 25.000 pessoas compareceram, facto que face ao gigantismo do Camp Nou tornou algo desolador o espectáculo.


A equipa da Europa


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A Selecção da Europa que integrou Eusébio e Néné. Entre Eusébio e Keita estava o Húngaro Bene que nesta foto se encontra tapado.



As maiores figuras do evento foram notoriamente Eusébio e Cruijff, estrelas de primeira grandeza desse tempo. Eusébio estava já numa fase madura da sua prestigiada carreira, enquanto o Holandês estava lançado para uma carreira notável que duraria mais alguns anos no FC Barcelona e na Selecção da Holanda. Cruijff gozava já de um estatuto que lhe garantiu ser nomeado capitão da equipa Europeia. Curiosamente três dias antes o Holandês tinha-se estreado com a camisola blaugrana. E logo com dois golos.


https://www.youtube.com/watch?v=1ihcYZMC1pw (https://www.youtube.com/watch?v=1ihcYZMC1pw)


Na equipa da Europa destaque ainda para as presenças do italiano Fachetti, do inglês Bobby Moore, dos espanhóis Asensi, Pirri, do Áustriaco Jara e do francês Keita que mais tarde veio a jogar no SCP embora já estivesse numa fase descendente. Chegou ainda a estar prevista a participação do Inglês Bobby Moore viu-se impedido porque os aeroportos de Londres estavam fechados. Já no caso do italiano Sandro Mazzola, dos Alemães Netzer, Beckenbauer e Gerd Muller, todos terão optado por não aparecer.

Destaque igualmente para a presença do nosso Nené que era uma estrela em ascensão no futebol Europeu e que na altura jogava no Benfica a extremo direito. Nené viria a substituir Eusébio, jogando toda a 2ª parte.


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Nené na Selecção da Europa em 1973



A equipa da América do Sul


Na Selecção da América do Sul, vestida de branco, destaque para o peruano Cubillas que veio a jogar no FCP, para o Chileno Sotil que jogava no FC Barcelona e para os Brasileiros Paulo César e Rivelino.


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A selecção da América do Sul que contou com os craques Rivelino, Paulo César, Sotil e Cubillas.



Arbitrado pelo italiano Angonese, o jogo foi transmitido pela TVE para Espanha e para diversos outros países entre os quais Portugal, por via da RTP1.


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Fonte: DL



O jogo foi agradável em particular na sua 1ª parte. Um resumo do jogo pode ser visto no youtube:


https://youtu.be/B4CHtrAWI6E (https://youtu.be/B4CHtrAWI6E)



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Colagem de títulos. Fonte: La Vanguardia



O jogo começou em bom ritmo e animou ainda mais depois do primeiro golo marcado pelo Chileno Hugo Sotil após uma bela jogada à linha do Brasileiro Paulo César. Depois a partida seria no geral agradável, jogada em ritmo brando e recheada de bons momentos. Marcaram-se um total de 8 golos, registando-se no final um empate a 4 golos, resultado que premiou o pouco público que acorreu nessa noite ao Camp Nou.

O grande destaque da noite acabaria por ser o segundo golo da partida, marcado por Eusébio depois de um cruzamento magistral do capitão Johan Cruijff. Destaque pelos interveniente e também pela sua espectacularidade pois Eusébio correspondeu com um magnífico salto de peixe e uma cabeçada fulgurante levando a bola a anichar-se no fundo da baliza do Argentino Santoro. Golo de Eusébio a centro de Cruijff! Um golo de homenagem ao Futebol, eles que foram dos seus mais ilustres praticantes de sempre!


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Quatro momentos do golo de Eusébio, marcado a corresponder a um centro de Johan Cruijff.



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Outros ângulos do grande golo de Eusébio.



Foram oito golos todos diferentes e todos de belo efeito. Uma bonita homenagem ao futebol. Uma prenda para os poucos espectadores que se deslocaram para ver este jogo.


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Os oito golos da partida.



Foi um jogo agradável principalmente na primeira parte, antes de se iniciarem as substituições. No final, como alguém tinha de vencer, a partida terminaria com a marcação de pontapés da marca de grande penalidade. A equipa da América foi mais eficaz, concretizando 3 penalidades (Borja, Morena e Caszely) contra apenas 2 da equipa da Europa (Odermath e Fachetti).

Já nas zonas dos croquetes, foram muitas as manifestações de regozijo pelo evento e pelo jogo por parte das diversas grandes figuras presentes como Stanley Rouss, presidente da FIFA e o ex-jogador e génio do futebol, Ferenc Púskas,


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Ecos da partida. Fonte: Mundo desportivo.


Já Eusébio e Cruijff, como dizia o Mundo Deportivo, pareciam inseparáveis no convívio pós-jogo.


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A Pantera Magaga e o Holandês Voador. Montagem de recortes. Fonte: Mundo Deportivo




Nené: elegante, letal... e com os calções limpinhos


Nené jogou durante a segunda parte, período em que o jogo decresceu de qualidade e interesse. Também não foi muito feliz quando no final falhou umas das grandes penalidades. Mas naquela noite Nené terá guardado a satisfação de participar numa festa prestigiante em que conviveu com muitos craques.

Nené, por opção própria nunca quis jogar fora do Benfica. Foram 20 anos de excelente carreira, sempre de Águia ao peito e de muito trabalho, talento, dedicação e amor ao Benfica. Ao que parece Nené chegou a receber um convite do Real Madrid mas recusou argumentando que depois de conseguir o mais difícil não ia trocar a titularidade do Benfica por nada. E se essa decisão lhe terá custado mais visibilidade europeia e provavelmente mais dinheiro, também é certo que sem isso talvez nunca se viesse a tornar um dos mais distintos e notáveis jogadores de toda a História do Sport Lisboa e Benfica.


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Tamagnini Manuel Gomes Baptista Nené nasceu em Leça da Palmeira em 20 de Novembro de 1949. Filho de Tamagnini, um antigo jogador do Lusitano de Vila Real de Santo António, a família radicou-se na Beira, Moçambique ainda nos tenros anos de Tamagnini filho. Por lá se iniciou no futebol tendo-se destacado nas camadas juvenis do Ferroviário da Beira.


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Os primeiros passos do futebolista Nené. Na quipá do Benfica Nené é o segundo em baixo a contar da direita.



Primo direito de Cavém, terá sido esse parentesco o elemento chave que o levou ao Clube do seu coração. Por indicação do primo aos dirigentes Benfiquista Nené foi mandado vir da Beira para treinar no Benfica. Chegou à Luz em 1967, e apesar dos tenros 17 anos, à volta do seu nome existiam expectativas elevadas depois das exibições que tinha protagonizado na Beira. Os dirigentes moçambicanos quiseram dificultar a transferência mas um lapso burocrático acabou por os tramar e facilitar a vida a Nené.

Nos seus primeiros tempos na Luz, Nené foi orientado por Ângelo Martins, um dedicado e competente formador de grandes craques da década de 70. Nené jogou dois anos nas camadas jovens, ao lado de outros jogadores promissores como por exemplo Humberto Coelho, obtendo sempre grande destaque.

A entrada na equipa principal foi o passo seguinte, natural e bem-sucedido. Fernando Cabrita, Fernando Riera e Otto Glória, todos apostaram nele embora ainda a espaços pois a competição era muita e boa. Seria no entanto com o duro Inglês Jimmy Hagan que Nené obteve a plena explosão e reconhecimento do seu futebol vertiginoso e com grande técnica. Hagan colocou-o na extrema-direita dando-lhe a titularidade na sua máquina de futebol.


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Alguns dos mais deslumbrantes planteis Benfiquistas em que Nené esteve integrado. Nené foi orientado por alguns dos mais bem-sucedidos treinadores da nossa História.



Nessa sua primeira etapa de profissional na Luz havia convicção de que estava encontrado o sucessor de José Augusto. Infelizmente para o Benfica aquele sector ofensivo de sonho com Nené, Vitor Baptista, Eusébio, Artur Jorge, Jordão e Simões duraria poucos anos. Rapidamente as necessidades da equipa forçariam a passagem de Nené para o centro do ataque Benfiquista.

E aí viu-se um outro Nené. Bastas vezes foi incompreendido, muitas vezes assobiado. Não ia ao choque, não era dado a correrias, não suava a camisola e pasme-se, acabava sempre os jogos com os calções limpinhos! Haja paciência... Nené mais tarde declararia

"Se não os sujava era porque achava que não era preciso. Mas muito mais injusto que isso foi a ideia que se criou de que era um jogador pouco lutador."


Pois eu ainda vi Nené jogar. Eu vi e adorava a sua inteligência, fineza, a sua classe, a sua capacidade goleadora quase infalível.


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E Nené raramente falhava. Nos momentos mais difíceis o que era natural acontecer era mais tarde ou mais cedo ouvir naqueles relatos: "Golo do Benfica! Golo de Nené!"
Calções limpos? Sempre! Golos? Quase sempre! Nené era sinónimo de golos e de inteligência, de saber onde e quando colocar o melhor do seu saber e esforço. Classe. De todos os que depois se seguiram talvez o estilo de Jonas seja o que mais se aproxime do que mostrou o nosso querido Assassino Silencioso ou Sr. Calções Limpinhos. Do grande Tamagninin Nené. Classe.


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O Clube e os seus adeptos souberam retribuir com carinho o que Nené sempre fez por merecer. Nené é uma lenda do nosso Clube.


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Obrigado Campeão! Bem-haja sempre o grande Tamagnini Nené!



Durante 7 temporadas de 1968-1969 até 1974-1975, Eusébio e Nené foram colegas de equipa, contribuindo com o brilho do seu futebol para uma galáxia de extraordinários futebolísticos que tantos e tantos títulos deram ao nosso Clube. Foi um privilégio para aqueles que viram e um lamento para os que partiram cedo demais ou como é o meu caso, para aqueles que chegaram depois.


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Pantera Magaga e o Sr. Calções Limpinhos. Duas lendas do Benfica.


Eusébio sempre foi respeitado e admirado pelos seus colegas e adversários no campo. Principalmente os adversários que durante e após as suas carreiras sempre votaram profunda amizade ao cavalheiro do Futebol que foi o nosso Eusébio. Cruijff não foi excepção, antes pelo contrário.

Hoje temos dezenas de fotos de convívio com os seus pares ou seja com os maiores jogadores do Futebol de sempre. Foram muitas as ocasiões em que Eusébio e Cruijff conviveram alegres, ainda na força da vida e na partilha do passado e presente, dando-nos o melhor exemplo do que deve ser o futebol dentro e fora do campo.

De um ponto de vista puramente desportivo, esquecendo o mundo dos dinheiros, contratações e rivalidades tão infestante do Futebol, que lindo teria sido se pudéssemos ter visto mais jogos com Cruijff e Eusébio na mesma equipa. Foram dois jogadores que deslumbraram todos os que amam o futebol dentro das 4 linhas, aquele que apenas contempla o futebol jogado com bola. Foram inesquecíveis.

Sem raiva mas com prazer, com arte e sem rancor, com desportivismo e sem vigarice, com paixão pelo jogo e sem ódio pelo adversário. Esses dois jogadores de tão diferentes origens familiares e contextos sociais, foram jogadores da mais fina flor que o futebol alguma vez viu. Foram homens que se estimaram dentro e fora dos campos, em diversas ocasiões, sempre com a amizade, respeito e admiração mútua. Como grandes campeões, como grandes homens.

Partiram demasiado cedo. Deixaram a dor profunda de todos os que os amaram. Todos os que não os esquecem. Deixaram a mensagem que perdura, que anima, que deu o exemplo e o orgulho a todos os que amam o desporto e o futebol. Porque dos rancorosos e invejosos não rezará a história.


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Entre os seus pares.


Viva Nené, viva Johan Cruijff, viva Eusébio da Silva Ferreira, viva o Futebol!



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O Sr. Calções Limpinhos, o Holandês Voador e a Pantera Magaga. Uma colagem gráfica de três lendas do futebol usando a cor dos campeões.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 07 de Abril de 2018, 11:14
Citação de: RedVC em 01 de Abril de 2018, 09:25
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Laranja vintage


Domingo, dia 5 de Abril de 1936. Enschede, Holanda.


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"A equipa campeã do Sportclub Enschede". Foto da equipa de futebol de 1935-1936. Fonte: www.gahetna.nl



Nesse dia a equipa de futebol do Sportclub Enschede (SCE) que equipava com camisolas negras e calções brancos, sagrou-se campeã regional do Distrito Leste da Holanda. O treinador desta equipa era um Húngaro de 37 anos chamado Béla Guttmann.

Béla Guttmann estava a iniciar a sua carreira internacional de treinador. Poucos anos antes tinha iniciado a sua carreia ao aceitar o cargo de jogador-treinador do Hakoah de Viena, o clube onde mais se destacou enquanto jogador. Em meados de 1935 Guttmann aceitou o convite dos Holandeses e assumiu a direcção técnica do SC Enschede.


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Béla Guttmann com 37 anos, numa fotografia publicada em 1936 num jornal Holandês. Fonte: https://www.delpher.nl



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A notícia integral do dia em que o SC Enschede se tornou campeão regional. Fonte: https://www.delpher.nl



Os dirigentes do SCE concretizaram a contratação de Béla Guttman depois de uma sugestão que lhes foi feita pelo grande treinador e mestre do Futebol Austríaco Hugo Meisl. Até essa altura os Holandeses tinham uma experiência bem-sucedida com treinadores Ingleses mas nesse ano decidiram experimentar uma outra escolar e daí o contacto que estabeleceram com Hugo Meisl.

Guttmann trataria de aproveitar bem essa oportunidade mas ficaria apenas mais uma época na Holanda. Começava aí a seguir a uma regra de ouro, uma opção que tornaria quase uma constante na sua carreira: não permanecer mais do que duas temporadas no mesmo clube. O Benfica seria uma excepção ditada pelo coração mas também pela razão.


A Holanda futebolística nos anos 30


Localizada no leste da Holanda, a 4 km da fronteira com a Alemanha, a cidade de Enschede tem hoje cerca de 160 mil habitantes. Em 1936 a cidade tinha dois pequenos clubes de futebol, o SC Enschede (com as cores preto e branco) e o SV De Enschedese Boys (com as cores verde e branco).


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Enschede, antiga e actual. A cidade está localizada no leste da Holanda perto da fronteira Alemã. Fonte: wikipedia e Delcampe.



Fundado em 1 de Junho de 1910, o Sportclub Enschede formou-se a partir da união de dois clubes Hercules (1898) e Phenix (1903). Os dois clubes decidiram formar um novo clube que pudesse a ter ambições nacionais e que pudesse competir com os grandes clubes do oeste do país (Ajax a Feijenoord, entre outros). Seria Bernard Vos, então o então presidente do SCE, que instituiria o lema do Clube: "Alcançar mais não é uma questão de ser capaz, mas uma questão de querer".

Em 1926, o SC Enschede conseguiu o seu único título nacional Holandês e logo de forma invicta. Nesse tempo, o modelo competitivo Holandês previa a disputa de 5 ligas regionais, cujos campeões depois competiam entre eles para definir o campeão nacional. No entanto e até 1954, época em que foi instituído o profissionalismo no futebol Holandês, o SC Enschede conquistou apenas três títulos de campeão regional da zona Leste: 1932, 1936 e 1943.

O título regional de 1936 foi justamente o conquistado por Béla Guttmann enquanto treinador do SCE. A competição nacional desse ano seria disputada pelo Feijenoord, FC Groningern, SC Enschede, Ajax e NAC. Seria o Feijenoord a sagrar-se campeão nacional da Holanda 1935-1936.


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Os Clubes Holandeses competidores da fase final de atribuição do título de Campeão Nacional de Futebol na Holanda em 1935-1936.



Em 1965, o SC Enschede estava fragilizado por dívidas e por isso viu-se forçado pelo seu Município a aceitar uma fusão com os rivais do SV De Enschedese Boys. Da união dos dois clubes formou-se o FC Twente (cor vermelha). Ainda assim, parte do SCE conseguiu resistir e assegurar a continuidade do clube, mantendo as mesmas cores e símbolos e competindo ainda hoje nas ligas amadoras de futebol da Holanda. O FC Twente veio a vingar como clube profissional à escala nacional e conseguiu mesmo ser campeão Holandês em 2009-2010, numa época em que Luís Suárez foi o melhor goleador do campeonato usando a camisola do Ajax...


(https://s31.postimg.org/cfab066az/image.jpg)
Fonte wikipedia e http://www.sportclubenschede.nl/




Um documento único


Um aspecto interessante desta aventura Holandesa de Béla Guttman é que existe um filme onde podemos ver uma parte significativa dessa temporada de 1935-1936. O registo deverá ter sido feito por elementos do próprio SC Enschede pois regista vários jogos no seu campo. Mais importante ainda é que no filme podemos identificar Béla Guttmann em pelo menos dois momentos. Se alguém perceber Holandês pode sempre complementar...


https://www.youtube.com/watch?v=UU-0ZqvbwJU (https://www.youtube.com/watch?v=UU-0ZqvbwJU)
Fonte: youtube


E para os que não quiserem ver o filme, ficam aqui capturas de imagem de alguns momentos interessantes.

A primeira parte do filme refere-se à conquista do título regional do distrito Leste da Holanda, captando o jogo decisivo desse campeonato que foi o dérbi da cidade entre o SC Enschede e o SV De Enschedese Boys.


(https://s31.postimg.org/k80ys6757/image.jpg)


(https://s31.postimg.org/sdj0qcq97/image.jpg)


Depois, no filme fora também registados alguns dos jogos da competição à escala nacional que, como atrás se disse, seria vencida pelo Feijenoord de Roterdão.


(https://s31.postimg.org/w9wcmdljf/image.jpg)


(https://s31.postimg.org/vx4yg7qez/image.jpg)



O Futebol segundo Guttmann


Para nós Benfiquistas, a Holanda futebolística dos anos 30 parece um universo que embora pitoresca parece distante e com pouco interesse. No entanto, há nele alguns detalhes curiosos para se entender melhor o trajecto de Béla Guttmann. É sabido que Guttman esteve exposto a muitas e bem diversas realidades futebolísticas e sociais durante a sua carreira. Ao longo dessas décadas, dirigiu e enfrentou clubes grandes e pequenos em realidades competitivas diversas na América do Norte, América Latina, Europa Central e Europa Latina, experiências que enriqueceram como homem e como profissional.

A Holanda, mesmo sendo uma etapa breve, foi a primeira e por isso importante para que Guttmann começasse desde logo a definir-se como um treinador ganhador, capaz de passar as suas ideias aos jogadores, tornando-os mais competitivos e ganhadores.

E Guttmann não falhou. Nesse campeonato regional deixou impressa a imagem de ganhador, orientando uma equipa concentrada, com vertigem ofensiva e posse de bola orientada para um jogo rectilíneo para a baliza. A obsessão pela busca do remate e da procura uma concretização eficaz foi algo que impôs às suas equipas. E os números das suas equipas são elucidativos acerca dessa obsessão. Mais tarde, o Benfica bicampeão europeu seria a sua criação mais perfeita mas antes disso houve décadas de caminhos de pedras em que refinou a sua visão e os seus métodos.

Lendo alguma imprensa Holandesa da época, confirma-se que os métodos e personalidade de Guttmann eram já muito do que conhecemos, e que os mesmos foram entendidos e admirados pelos adeptos.


(https://s31.postimg.org/wzf4yrwdn/image.jpg)
Fonte: www.gahetna.nl



● O segredo do Sportclub Enschede para a conquista do campeonato foi a sua grande unidade e força de vontade colectiva.

● Apesar de um começo extremamente assustador, após algumas partidas a equipe do SCE conseguiu superar esse atraso inicial com uma vontade de ferro, através da perseverança até o limite.

● A nomeação do Sr. Guttmann, sem dúvida, contribuiu muito para o sucesso desta temporada. O novo treinador entregou-se à sua tarefa com coração e alma e fez todo o possível para conseguir algo para o SCE.

● Pedimos então ao treinador do Sportclub, que nos explicasse porque a extraordinária produtividade ofensiva do SCE. A resposta foi que como treinador fez todo o possível para dar a aprender as técnicas e habilidades de remate. Ele prestou especial atenção à necessidade de rematar com os dois pés. Rematar assim que houver possibilidade para isso.

● Obtivemos ainda uma explicação detalhada sobre o melhor método de jogo. No passado, de acordo com Guttmann, as pessoas prestaram muita atenção ao futebol bom e gracioso mas na verdade o objectivo final do jogo de futebol é fazer golos. Por isso toda a atenção se deve concentrar nesse aspecto.

● Basta olhar para a equipa do SCE, que apesar de não jogar um jogo de combinação muito sofisticado de passes curtos, ainda assim encontra sempre o caminho mais rápido para a baliza. O futebol moderno exige velocidade. O SCE tem alas excelentes e um trio habilidoso de ataque. O objectivo da equipa terá de ser sempre ultrapassar a defesa do adversário, usando pra isso um jogo rápido e incisivo. Da direita para a esquerda, em frente à baliza, a ideia é rematar. Veja-se os números de golos obtidos para perceber isso.

● Graças à sua influência sobre os jogadores, o treinador Guttmann conseguiu incitá-los ao maior entusiasmo...

● Com 38 anos de idade, o actual treinador de Enschede é um homem muito activo e que possui uma grande capacidade de persuasão. Não é de admirar que ele conseguisse influenciar os jogadores de uma maneira tão admirável.

● Guttman foi de opinião que a conquista do campeonato foi alcançada pela grande homogeneidade na equipe e no espírito proeminente. Todos se deram por inteiro, os jogadores interagiram uns com os outros como amigos. Os mais velhos exerceram uma boa influência sobre os jogadores mais jovens. Todos foram inspirados pela vontade de vencer.


E depois vejam como continua o artigo:

● O lema da equipa do SCE é sempre "Um para todos e todos para o nosso clube", e o Sr. Guttmann decidiu cuidar dele...


Curioso, não é?

Guttmann estava destinado a treinar o Glorioso.

A Mística... Ao longo da sua carreira, Guttmann treinou e enfrentou diversos Clubes com adeptos fervorosos e com filosofia ganhadora mas ficaria genuinamente impressionado pela Mística que veio encontrar no nosso Clube. Vindo de fora, Guttman soube perceber e aproveitar de forma magistral essa Mística e a qualidade da equipa.

Curiosamente Guttmann chegou a Portugal para orientar o FCP, mas desde logo percebeu o potencial do Benfica. Na sua cabeça deve ter desde logo percebido onde estaria o cavalo ganhador.

De facto, quando chegou a Portugal para treinar o FCP, Guttmann deu nota de que conhecia a equipa do Benfica, a quem reconhecia qualidade. No ano anterior, altura em que treinava o São Paulo FC, Guttmann tinha visto o Benfica jogar no Brasil. Chegando a Portugal, percebeu o potencial daqueles jogadores e do Clube. Não admira que tenha prontamente aceitado o convite que recebeu – ao que parece da boca de Gastão Silva - no Verão de 1959 quando estava de regresso a Viena. Para trás tinha ficado o FCP, agora era o tempo do Benfica.

E foi no nosso Clube que Guttmann se elevou como nunca se tinha elevado. Foi aqui que percebeu melhor a Mística única do Benfica. Única no Mundo, incomparável, baseada no amor incondicional dos seus sócios. Assim éramos, assim somos.

Ao mesmo tempo, Guttmann percebeu a diferença entre os sócios e os dirigentes. Nesses tempos era ainda muito diferente a percepção e a importância que os adeptos e principalmente os dirigentes davam à acção dos treinadores. Essa aliás foi uma das lutas constantes, transversais a toda a carreira de Béla Guttmann. Ele teria de lutar constantemente e por vezes de forma dura - mesmo até ao ponto da rotura - pelo reconhecimento da dignidade e do valor dos treinadores como agentes fundamentais do futebol.

Outra batalha pessoal foi a luta pela devida remuneração da sua actividade, algo que ele aprendeu a não transigir desde o tempo traumático em que viveu e trabalhou nos EUA, onde conheceu as agruras trazidas pelo crash bolsista de 1929. Nessa dia negro, Guttmann perdeu tudo e viu colegas e amigos voltarem-lhe as costas. "Tudo tens, tudo vales; nada tens, nada vales". Guttmann conhecia muito bem a fragilidade da glória, efémera pela sua natureza, ditada pela natureza humana e a volatilidade dos sócios e dirigentes.

Quando Béla Guttmann chegou a Lisboa, o nosso Clube sabia que contratava treinador ganhador com grandes conhecimentos de futebol e também um homem notável de vivências extraordinárias. No entanto, talvez ninguém terá tido consciência que ali estava o homem que iria mudar para sempre a História do nosso Clube. Tempos de lenda, irrepetíveis, de grandes conquistas e carinhosas memórias. Guttmann merece o carinho eterno e a memória de todos os Benfiquistas.


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Como todos os Clubes e homens grandes, também à volta do Benfica e de Guttman se gerou a inveja e o despeito. Ainda hoje esse ruído invejoso persiste, algo com que não podemos nem devemos colaborar. Esqueçam. Não colaborem nisso. Existirão sempre anti-Benfiquistas ou Benfiquistos que procurarão explorar pseudo-maldições apenas com o objectivo de atacar o clube que odeiam e invejam.



Béla Guttmann amava o Benfica.


Muitos anos depois de sair do Benfica, já radicado em Viena onde viria a falecer, um jornalista Português foi encontra-lo com um emblema de diamantes do Benfica na sua lapela. Guttmann disse que o usava sempre, que guardava o nosso Clube no coração com carinho e reconhecimento. E se não há amores imaculados, as espinhas que ele sentiu no percurso que fez no Glorioso nunca ensombraram o seu carinho e agradecimento ao Clube que mais alto soube levar os seus ensinamentos e que foi parte fundamental da sua lenda.

Hoje e sempre, Béla Guttmann será lembrado como um dos grandes da História do Futebol e o seu nome estará sempre ligado ao nome Glorioso do Sport Lisboa e Benfica. E isso nos envaidece.


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Obrigado Mister!

Fosse eu presidente do Benfica em 1962, eu aceitava o pedido de aumento do salário...quem sabe se não tínhamos pelo menos ficado com mais dois títulos europeus em 1963 e em 1965. Não me acredito que o aumento fosse assim tão péssimo para o clube, que com mais conquistas iria de certeza encher mais os cofres do Benfica. Enfim, o que poderia ter sido...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Abril de 2018, 11:31
Citação de: Petrov_Carmovich em 07 de Abril de 2018, 11:14
Citação de: RedVC em 01 de Abril de 2018, 09:25
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Laranja vintage


Domingo, dia 5 de Abril de 1936. Enschede, Holanda.


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"A equipa campeã do Sportclub Enschede". Foto da equipa de futebol de 1935-1936. Fonte: www.gahetna.nl



Nesse dia a equipa de futebol do Sportclub Enschede (SCE) que equipava com camisolas negras e calções brancos, sagrou-se campeã regional do Distrito Leste da Holanda. O treinador desta equipa era um Húngaro de 37 anos chamado Béla Guttmann.

Béla Guttmann estava a iniciar a sua carreira internacional de treinador. Poucos anos antes tinha iniciado a sua carreia ao aceitar o cargo de jogador-treinador do Hakoah de Viena, o clube onde mais se destacou enquanto jogador. Em meados de 1935 Guttmann aceitou o convite dos Holandeses e assumiu a direcção técnica do SC Enschede.


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Béla Guttmann com 37 anos, numa fotografia publicada em 1936 num jornal Holandês. Fonte: https://www.delpher.nl



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A notícia integral do dia em que o SC Enschede se tornou campeão regional. Fonte: https://www.delpher.nl



Os dirigentes do SCE concretizaram a contratação de Béla Guttman depois de uma sugestão que lhes foi feita pelo grande treinador e mestre do Futebol Austríaco Hugo Meisl. Até essa altura os Holandeses tinham uma experiência bem-sucedida com treinadores Ingleses mas nesse ano decidiram experimentar uma outra escolar e daí o contacto que estabeleceram com Hugo Meisl.

Guttmann trataria de aproveitar bem essa oportunidade mas ficaria apenas mais uma época na Holanda. Começava aí a seguir a uma regra de ouro, uma opção que tornaria quase uma constante na sua carreira: não permanecer mais do que duas temporadas no mesmo clube. O Benfica seria uma excepção ditada pelo coração mas também pela razão.


A Holanda futebolística nos anos 30


Localizada no leste da Holanda, a 4 km da fronteira com a Alemanha, a cidade de Enschede tem hoje cerca de 160 mil habitantes. Em 1936 a cidade tinha dois pequenos clubes de futebol, o SC Enschede (com as cores preto e branco) e o SV De Enschedese Boys (com as cores verde e branco).


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Enschede, antiga e actual. A cidade está localizada no leste da Holanda perto da fronteira Alemã. Fonte: wikipedia e Delcampe.



Fundado em 1 de Junho de 1910, o Sportclub Enschede formou-se a partir da união de dois clubes Hercules (1898) e Phenix (1903). Os dois clubes decidiram formar um novo clube que pudesse a ter ambições nacionais e que pudesse competir com os grandes clubes do oeste do país (Ajax a Feijenoord, entre outros). Seria Bernard Vos, então o então presidente do SCE, que instituiria o lema do Clube: "Alcançar mais não é uma questão de ser capaz, mas uma questão de querer".

Em 1926, o SC Enschede conseguiu o seu único título nacional Holandês e logo de forma invicta. Nesse tempo, o modelo competitivo Holandês previa a disputa de 5 ligas regionais, cujos campeões depois competiam entre eles para definir o campeão nacional. No entanto e até 1954, época em que foi instituído o profissionalismo no futebol Holandês, o SC Enschede conquistou apenas três títulos de campeão regional da zona Leste: 1932, 1936 e 1943.

O título regional de 1936 foi justamente o conquistado por Béla Guttmann enquanto treinador do SCE. A competição nacional desse ano seria disputada pelo Feijenoord, FC Groningern, SC Enschede, Ajax e NAC. Seria o Feijenoord a sagrar-se campeão nacional da Holanda 1935-1936.


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Os Clubes Holandeses competidores da fase final de atribuição do título de Campeão Nacional de Futebol na Holanda em 1935-1936.



Em 1965, o SC Enschede estava fragilizado por dívidas e por isso viu-se forçado pelo seu Município a aceitar uma fusão com os rivais do SV De Enschedese Boys. Da união dos dois clubes formou-se o FC Twente (cor vermelha). Ainda assim, parte do SCE conseguiu resistir e assegurar a continuidade do clube, mantendo as mesmas cores e símbolos e competindo ainda hoje nas ligas amadoras de futebol da Holanda. O FC Twente veio a vingar como clube profissional à escala nacional e conseguiu mesmo ser campeão Holandês em 2009-2010, numa época em que Luís Suárez foi o melhor goleador do campeonato usando a camisola do Ajax...


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Fonte wikipedia e http://www.sportclubenschede.nl/




Um documento único


Um aspecto interessante desta aventura Holandesa de Béla Guttman é que existe um filme onde podemos ver uma parte significativa dessa temporada de 1935-1936. O registo deverá ter sido feito por elementos do próprio SC Enschede pois regista vários jogos no seu campo. Mais importante ainda é que no filme podemos identificar Béla Guttmann em pelo menos dois momentos. Se alguém perceber Holandês pode sempre complementar...


https://www.youtube.com/watch?v=UU-0ZqvbwJU (https://www.youtube.com/watch?v=UU-0ZqvbwJU)
Fonte: youtube


E para os que não quiserem ver o filme, ficam aqui capturas de imagem de alguns momentos interessantes.

A primeira parte do filme refere-se à conquista do título regional do distrito Leste da Holanda, captando o jogo decisivo desse campeonato que foi o dérbi da cidade entre o SC Enschede e o SV De Enschedese Boys.


(https://s31.postimg.org/k80ys6757/image.jpg)


(https://s31.postimg.org/sdj0qcq97/image.jpg)


Depois, no filme fora também registados alguns dos jogos da competição à escala nacional que, como atrás se disse, seria vencida pelo Feijenoord de Roterdão.


(https://s31.postimg.org/w9wcmdljf/image.jpg)


(https://s31.postimg.org/vx4yg7qez/image.jpg)



O Futebol segundo Guttmann


Para nós Benfiquistas, a Holanda futebolística dos anos 30 parece um universo que embora pitoresca parece distante e com pouco interesse. No entanto, há nele alguns detalhes curiosos para se entender melhor o trajecto de Béla Guttmann. É sabido que Guttman esteve exposto a muitas e bem diversas realidades futebolísticas e sociais durante a sua carreira. Ao longo dessas décadas, dirigiu e enfrentou clubes grandes e pequenos em realidades competitivas diversas na América do Norte, América Latina, Europa Central e Europa Latina, experiências que enriqueceram como homem e como profissional.

A Holanda, mesmo sendo uma etapa breve, foi a primeira e por isso importante para que Guttmann começasse desde logo a definir-se como um treinador ganhador, capaz de passar as suas ideias aos jogadores, tornando-os mais competitivos e ganhadores.

E Guttmann não falhou. Nesse campeonato regional deixou impressa a imagem de ganhador, orientando uma equipa concentrada, com vertigem ofensiva e posse de bola orientada para um jogo rectilíneo para a baliza. A obsessão pela busca do remate e da procura uma concretização eficaz foi algo que impôs às suas equipas. E os números das suas equipas são elucidativos acerca dessa obsessão. Mais tarde, o Benfica bicampeão europeu seria a sua criação mais perfeita mas antes disso houve décadas de caminhos de pedras em que refinou a sua visão e os seus métodos.

Lendo alguma imprensa Holandesa da época, confirma-se que os métodos e personalidade de Guttmann eram já muito do que conhecemos, e que os mesmos foram entendidos e admirados pelos adeptos.


(https://s31.postimg.org/wzf4yrwdn/image.jpg)
Fonte: www.gahetna.nl



● O segredo do Sportclub Enschede para a conquista do campeonato foi a sua grande unidade e força de vontade colectiva.

● Apesar de um começo extremamente assustador, após algumas partidas a equipe do SCE conseguiu superar esse atraso inicial com uma vontade de ferro, através da perseverança até o limite.

● A nomeação do Sr. Guttmann, sem dúvida, contribuiu muito para o sucesso desta temporada. O novo treinador entregou-se à sua tarefa com coração e alma e fez todo o possível para conseguir algo para o SCE.

● Pedimos então ao treinador do Sportclub, que nos explicasse porque a extraordinária produtividade ofensiva do SCE. A resposta foi que como treinador fez todo o possível para dar a aprender as técnicas e habilidades de remate. Ele prestou especial atenção à necessidade de rematar com os dois pés. Rematar assim que houver possibilidade para isso.

● Obtivemos ainda uma explicação detalhada sobre o melhor método de jogo. No passado, de acordo com Guttmann, as pessoas prestaram muita atenção ao futebol bom e gracioso mas na verdade o objectivo final do jogo de futebol é fazer golos. Por isso toda a atenção se deve concentrar nesse aspecto.

● Basta olhar para a equipa do SCE, que apesar de não jogar um jogo de combinação muito sofisticado de passes curtos, ainda assim encontra sempre o caminho mais rápido para a baliza. O futebol moderno exige velocidade. O SCE tem alas excelentes e um trio habilidoso de ataque. O objectivo da equipa terá de ser sempre ultrapassar a defesa do adversário, usando pra isso um jogo rápido e incisivo. Da direita para a esquerda, em frente à baliza, a ideia é rematar. Veja-se os números de golos obtidos para perceber isso.

● Graças à sua influência sobre os jogadores, o treinador Guttmann conseguiu incitá-los ao maior entusiasmo...

● Com 38 anos de idade, o actual treinador de Enschede é um homem muito activo e que possui uma grande capacidade de persuasão. Não é de admirar que ele conseguisse influenciar os jogadores de uma maneira tão admirável.

● Guttman foi de opinião que a conquista do campeonato foi alcançada pela grande homogeneidade na equipe e no espírito proeminente. Todos se deram por inteiro, os jogadores interagiram uns com os outros como amigos. Os mais velhos exerceram uma boa influência sobre os jogadores mais jovens. Todos foram inspirados pela vontade de vencer.


E depois vejam como continua o artigo:

● O lema da equipa do SCE é sempre "Um para todos e todos para o nosso clube", e o Sr. Guttmann decidiu cuidar dele...


Curioso, não é?

Guttmann estava destinado a treinar o Glorioso.

A Mística... Ao longo da sua carreira, Guttmann treinou e enfrentou diversos Clubes com adeptos fervorosos e com filosofia ganhadora mas ficaria genuinamente impressionado pela Mística que veio encontrar no nosso Clube. Vindo de fora, Guttman soube perceber e aproveitar de forma magistral essa Mística e a qualidade da equipa.

Curiosamente Guttmann chegou a Portugal para orientar o FCP, mas desde logo percebeu o potencial do Benfica. Na sua cabeça deve ter desde logo percebido onde estaria o cavalo ganhador.

De facto, quando chegou a Portugal para treinar o FCP, Guttmann deu nota de que conhecia a equipa do Benfica, a quem reconhecia qualidade. No ano anterior, altura em que treinava o São Paulo FC, Guttmann tinha visto o Benfica jogar no Brasil. Chegando a Portugal, percebeu o potencial daqueles jogadores e do Clube. Não admira que tenha prontamente aceitado o convite que recebeu – ao que parece da boca de Gastão Silva - no Verão de 1959 quando estava de regresso a Viena. Para trás tinha ficado o FCP, agora era o tempo do Benfica.

E foi no nosso Clube que Guttmann se elevou como nunca se tinha elevado. Foi aqui que percebeu melhor a Mística única do Benfica. Única no Mundo, incomparável, baseada no amor incondicional dos seus sócios. Assim éramos, assim somos.

Ao mesmo tempo, Guttmann percebeu a diferença entre os sócios e os dirigentes. Nesses tempos era ainda muito diferente a percepção e a importância que os adeptos e principalmente os dirigentes davam à acção dos treinadores. Essa aliás foi uma das lutas constantes, transversais a toda a carreira de Béla Guttmann. Ele teria de lutar constantemente e por vezes de forma dura - mesmo até ao ponto da rotura - pelo reconhecimento da dignidade e do valor dos treinadores como agentes fundamentais do futebol.

Outra batalha pessoal foi a luta pela devida remuneração da sua actividade, algo que ele aprendeu a não transigir desde o tempo traumático em que viveu e trabalhou nos EUA, onde conheceu as agruras trazidas pelo crash bolsista de 1929. Nessa dia negro, Guttmann perdeu tudo e viu colegas e amigos voltarem-lhe as costas. "Tudo tens, tudo vales; nada tens, nada vales". Guttmann conhecia muito bem a fragilidade da glória, efémera pela sua natureza, ditada pela natureza humana e a volatilidade dos sócios e dirigentes.

Quando Béla Guttmann chegou a Lisboa, o nosso Clube sabia que contratava treinador ganhador com grandes conhecimentos de futebol e também um homem notável de vivências extraordinárias. No entanto, talvez ninguém terá tido consciência que ali estava o homem que iria mudar para sempre a História do nosso Clube. Tempos de lenda, irrepetíveis, de grandes conquistas e carinhosas memórias. Guttmann merece o carinho eterno e a memória de todos os Benfiquistas.


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Como todos os Clubes e homens grandes, também à volta do Benfica e de Guttman se gerou a inveja e o despeito. Ainda hoje esse ruído invejoso persiste, algo com que não podemos nem devemos colaborar. Esqueçam. Não colaborem nisso. Existirão sempre anti-Benfiquistas ou Benfiquistos que procurarão explorar pseudo-maldições apenas com o objectivo de atacar o clube que odeiam e invejam.



Béla Guttmann amava o Benfica.


Muitos anos depois de sair do Benfica, já radicado em Viena onde viria a falecer, um jornalista Português foi encontra-lo com um emblema de diamantes do Benfica na sua lapela. Guttmann disse que o usava sempre, que guardava o nosso Clube no coração com carinho e reconhecimento. E se não há amores imaculados, as espinhas que ele sentiu no percurso que fez no Glorioso nunca ensombraram o seu carinho e agradecimento ao Clube que mais alto soube levar os seus ensinamentos e que foi parte fundamental da sua lenda.

Hoje e sempre, Béla Guttmann será lembrado como um dos grandes da História do Futebol e o seu nome estará sempre ligado ao nome Glorioso do Sport Lisboa e Benfica. E isso nos envaidece.


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Obrigado Mister!

Fosse eu presidente do Benfica em 1962, eu aceitava o pedido de aumento do salário...quem sabe se não tínhamos pelo menos ficado com mais dois títulos europeus em 1963 e em 1965. Não me acredito que o aumento fosse assim tão péssimo para o clube, que com mais conquistas iria de certeza encher mais os cofres do Benfica. Enfim, o que poderia ter sido...

É verdade. Béla Guttmann ficou desgostoso com alguns dirigentes nomeadamente uma atitude lamentável de lhe cobrarem a ida da esposa de Guttmann a Amesterdão (se não estou em erro). Não conhecendo detalhes parece-me uma situação que deixa cicatrizes.

Depois, havia a ideia de Guttmann de sair dos clubes sempre quando estava por cima, geralmente depois de dois anos. Para além disso Guttmann foi ganhar uma pequena fortuna para o Penarol que tinha uma grande equipa e aliás era campeão Sul Americano e vencedor da Taça Intercontinental. Guttmann foi bastante feli no Penarol embora tenha perdido para o Santos a Taça dos Libertadores de 1963.

Houve várias hipóteses para a substituição de Guttmann. À luz do que hoje sabemos Fernando Riera foi uma decisão infeliz. é certo que o Benfica jogou um futebol bonito mas ainda assim desprovido de um atrevimento vital para a conquista das grandes competições. O saber futebolístico, o calo da vida, a capacidade de gerir homens foram também outros pontos a desfavor de Riera. encostou Germano e não soube preparar a equipa para o embate com o Milão em Wembley onde devíamos ter sido tri-campeões Europeus. Com Guttmann estou certo que teríamos sido tri-campeões.

Foi pena que a escola Húngara não tenha sido mantida. Falou-se em Gusztáv Szebes, antigo selecionador da Hungria que era um homem á altura de Guttmann. Falouu-se em Giyorgy Orth, outro grande treinador e antigo companheiro de Guttmann. Foi pena

Mais tarde veio Elek Schwarz que perdeu a Taça na final de Milão em 1965 mas que até aí fez uma bela campanha. Foi um erro te-lo mandado embora e feito regressar Guttmann. A química era outra e Guttmann deveria ter sido preservado. Schwarz era um óptimo treinador e conhecia a equipa. Teríamos sido tetracampeões nacionais e provavelmente teríamos sido mais eficazes na Europa. A equipa estava a envelhecer e nunca se pode voltar atrás no passado.

Foi pena. Todos terão feito o seu melhor mas - e isto vale para os dias de hoje - não se pode nem se deve voltar ao passado. O Benfica tem de se fazer de renovação quando for mesmo necessário mudar.

Mesmo assim Guttmann e é nesse sentido que recupero partes da sua história profissional e pessoal, fica para sempre como o nome maior entre os treinadores da nossa História.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Abril de 2018, 13:59
100 Anos


9 de Abril de 1918 - 9 de Abril de 2018

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Cumprem-se hoje 100 anos desde a data em que se deu a Batalha de La Lys.

Nessa batalha morreram milhares de bravos rapazes Portugueses enviados para combater numa terra estranha e num conflito que não lhes dizia respeito e que não lhes foi explicado.


Nessa batalha estiveram alguns dos nossos bravos pioneiros. Homens que honraram o manto sagrado.


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Nesse e noutros dos funestos eventos desse período negro da Humanidade estiveram nomes ilustres do Benfiquismo.

Neste tópico tive já a honra de evocar os seus nomes e de dar os detalhes possíveis para homenagear os seus sacrifícios pela Pátria Amada.


-105- Águias na Guerra (parte I) (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II) (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III) (p.30)
-157- Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver" (p. 44)
-158- Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra. (p. 44)


(https://s17.postimg.org/3retcw5f3/B01.jpg)


Espero ainda no futuro voltar a evoca-los.


Não querendo nunca glorificar a Guerra, não querendo nunca centrar-me na indignidade dos que para lá os enviaram, o que interessa hoje é evocar os seus nomes.


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Paz, Honra e Glória à memória destes grandes Homens. Que nunca sejam esquecidos!


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E Pluribus Unum



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Abril de 2018, 13:12
-210-
Glorioso preto e branco

Esgar de dor e satisfação. Explosão da Mística. Golo!



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Eusébio e Simões, 1969, fotografados por Eduardo Gageiro. Fonte: http://www.eduardogageiro.com/ (http://www.eduardogageiro.com/)



Expressões sublimes, misto de dor e satisfação dos Gloriosos Eusébio e Simões captadas por um génio do preto e branco: Eduardo Gageiro.

É de Eduardo Gageiro, mestre da fotografia, bom Português, que hoje falaremos, fazendo notar que tal como os Gloriosos Roland de Oliveira e Nuno Ferrari, também ele expressou a sua Arte num acervo maravilhoso que retratou o tempo em que o Sport Lisboa e Benfica brilhou com um fulgor nunca visto. Mas lá iremos.


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O Mestre. Foto de Rui Gageiro


Eduardo Gageiro nasceu em Sacavém no dia 16 de Fevereiro de 1935. E foi ali ao lado, na fábrica de loiças de Sacavém que teve o seu primeiro emprego, mas em breve a fotografia o reclamaria.

Ali, cirandando como paquete da fábrica, conviveu com artistas e artesãos, falando e aprendendo, enquanto trabalhava para ajudar a família. E foi ali, aos operários e as estruturas e divisões da fábrica que começou a fotografar aos 12 anos, usando uma Kodak Baby, máquina de plástico emprestada por um tio. E logo nesse ano o pequeno Eduardo teria uma fotografia sua publicada na primeira página no Diário de Notícias.


(https://s18.postimg.cc/64g0ynofd/image.jpg)
Fonte: Rapaz de Sacavém, fotógrafo do Mundo. Edição Camâra Mucicipal de Loures. http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf (http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf)



Mas o caminho seria longo. Melhor do que ninguém, Eduardo Gageiro saberia captar as emoções de um povo, das gentes que labutavam pela sobrevivência, das suas dores, alegrias, religiosidades e misticismos. Portugal a preto e branco.


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A sua primeira máquina à séria seria comprada quando tinha 15 anos na loja do Sr. Rego e de uma outra lenda da Fotografia, Amadeu Ferrari, pai do Glorioso Nuno Ferrari. Os grandes atraem os grandes. Fica aqui uma ligação com uma bela entrevista sobre esses tempos e os que viriam depois. Leiam que vale a pena: http://expresso.sapo.pt/cultura/2017-07-29-Eduardo-Gageiro-So-nao-vou--com-a-maquina-para-o-caixao#gs.cTUaY_c (http://expresso.sapo.pt/cultura/2017-07-29-Eduardo-Gageiro-So-nao-vou--com-a-maquina-para-o-caixao#gs.cTUaY_c)


Eduardo Gageiro iniciou a sua carreira de repórter fotográfico em 1957 no extinto Diário Ilustrado. Seguir-se-iam outras revistas relevantes da época tais como O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine. Até ao 25 de Abril de 1974 registaria trabalhos fotográficos inesquecíveis, mas nesse sublime dia maior, dia em que a Liberdade saiu às ruas num amanhecer que ele e outros tão bem registaram; nesse dia Eduardo elevou-se à condição de imortal da Fotografia.


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Cirandando entre militares e populares, fotografou muito e bem. Deixou-nos registos icónicos da maior mudança política e social da nossa História. Deu luz ao preto e branco, seguramente cores perfeitas para captar as cores da Liberdade.

Gentes, Artes, Revoluções, Personalidades, tudo mereceu a sua atenção, da sua Arte, do seu Saber. As três colagens que apresento foram feitas com fotos encontradas na internet, catalogadas como da autoria de Eduardo Gageiro. A sua colocação aqui tem apenas o propósito de ilustrar a minha admiração pelo grande fotógrafo. A sua colocação aqui não tem mais do que o interesse pela exaltação do génio, pelo agradecimento ao profissional e homem.


(https://s18.postimg.cc/fdi78dcmh/image.jpg)


https://youtu.be/8qLUPdtHl74 (https://youtu.be/8qLUPdtHl74)



Mais tarde, Gageiro tornar-se-ia fotógrafo da Companhia Nacional de Bailado e da Presidência da República. Nos últimos anos venceu a luta contra uma doença terrível, revelando uma vez mais a tenacidade e a força interior que sempre o caracterizou por trás das camaras.

Não deixem de visitar o seu sítio oficial: http://www.eduardogageiro.com/ (http://www.eduardogageiro.com/)



Benfica em modo Gageiro


Como atrás se disse, também no desporto, mesmo sendo uma área onde não se especializou, Eduardo Gageiro nos apresenta um acervo tremendo. Ficou célebre o seu trabalho nos dramáticos Jogos Olímpicos de Munique quando acompanhou o dramático desencadear de um mortífero ataque terrorista. Gageiro registaria o momento decisivo em que chegou o autocarro com os israelitas e os palestinianos. Os momentos antes da grande tragédia com o embarque nos helicópteros.Na época esse registo não chegou a revista internacionais por um acaso do destino as suas fotografias são hoje essenciais para contar essa história.


(https://s18.postimg.cc/53fs96ch5/image.jpg)
O dramático embarque dos reféns Israelitas. A tragédia em curso. Fonte: Rapaz de Sacavém, fotógrafo do Mundo. Edição Camâra Mucicipal de Loures. http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf (http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf)



Mas curiosamente o seu primeiro trabalho internacional seria justamente no desporto. Eduardo Gageiro estreou-se em 1962, na cidade de Amesterdão, numa noite luminosa de Maio. Eduardo Gageiro esteve lá, fotografando o seu Clube do coração, registando algumas das mais belas fotografias do Sport Lisboa e Benfica, bicampeão Europeu


(https://s18.postimg.cc/7krjgh6o9/image.jpg)
A gloriosa noite vermelha de Amesterdão captada pela câmara de Eduardo Gageiro. Fonte: Rapaz de Sacavém, fotógrafo do Mundo. Edição Camâra Mucicipal de Loures. http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf (http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf)




Três anos depois, Eduardo Gageiro fotografou um outro célebre embate entre os dois colossos ibéricos, uma vez mais com a vitória a cair para o lado Benfiquista.



(https://s18.postimg.cc/c6nnovpnd/image.jpg)
A grande noite de 24 de Fevereiro de 1965. O Estádio da Luz via uma vitória esmagadora do SLB sobre o Real Madrid por 5 golos. Dois deles assinados por Eusébio. Fonte: Largo dos Correios.


https://www.youtube.com/watch?v=SOg2l64KNtg (https://www.youtube.com/watch?v=SOg2l64KNtg)


E depois a 2ª mão dessa inesquecível eliminatória


(https://s18.postimg.cc/fdi78l2eh/image.jpg)
A famosa noite de Chamartin em de 17 Março de 1965 em que o Real Madrid apens ganhou por 2-1 não conseguindo reverter a copiosa derrota de 1-5 que sofreu no Estádio da Luz. Fonte: Largo dos Correios.



https://www.youtube.com/watch?v=bg9y3eUNfpI (https://www.youtube.com/watch?v=bg9y3eUNfpI)



Ao longo da sua vida Gageiro registou ainda outras fotografias célebres com figuras do Benfica. Em particular Eusébio, como as maravilhosas fotos do dia do seu casamento com Flora. Fica aqui uma homenagem sentida e um agradecimento carinhoso ao enorme Eduardo Gageiro por tudo o que nos tem dado a ver e a sentir com os seus inigualáveis registos a preto e branco.


(https://s18.postimg.cc/5syklqnd5/image.jpg)


Obrigado Mestre. Vida (ainda) mais longa e Saúde.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 15 de Abril de 2018, 10:34
Victor. mais umas reportagens muito boas. grande trabalho. Especialmente a sobre Rui Gageiro, que deu para conhecer mais uma pessoa que merece mais mediatismo.

se me permitires, gostava de corrigir um pequeno erro no resumo 209. günther netzer é alemao, nao holandês.
um forte abraco
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Abril de 2018, 11:14
Citação de: alfredo em 15 de Abril de 2018, 10:34
Victor. mais umas reportagens muito boas. grande trabalho. Especialmente a sobre Rui Gageiro, que deu para conhecer mais uma pessoa que merece mais mediatismo.

se me permitires, gostava de corrigir um pequeno erro no resumo 209. günther netzer é alemao, nao holandês.
um forte abraco

Obrigado Alfredo  O0

As vitórias de 1961 e 1962 estão mal exploradas em termos de espólio fotográfico. Há muita coisa que não foi publicada ou que o foi na altura e não mais apareceu. É pena.

Netzer, claro. Até foi do Mönchengladbach para o Real por essa altura. Vou corrigir esse ponto.  Obrigado.

Abraço!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Maio de 2018, 19:38
-211-
Cruzamentos para Amesterdão I – os protagonistas


Um Holandês e dois Húngaros. Três figuras da História do Futebol.


(http://i63.tinypic.com/21k9x5l.jpg)


Três homens do futebol.


Estes três homens cruzaram-se por diversas vezes durante as respectivas carreiras mas tanto quanto sei apenas na noite de 2 de Maio de 1962 se reuniram num mesmo desafio de futebol. Nessa noite o Sport Lisboa e Benfica viria a sagrar-se bicampeão Europeu. Mas lá iremos.

Béla Guttmann, o nosso feiticeiro. Húngaro de nascimento, cidadão do Mundo por escolha e pelas circunstâncias da vida, Guttmann foi o homem que sublimou a Alma Benfiquista. Foi Guttmann que melhor tirou partido do nosso clube e das suas gentes, que com o seu saber nos levou à Glória Europeia. Lenda. Saudade. Carinho.

Férenc Puskás, o outro Húngaro, foi um dos maiores jogadores da História do Futebol. Puskás era um velho conhecido de Guttmann, e com quem manteve em alguns períodos uma relação profissional muito próxima recheada de extremos.

Leo Horn, um Holandês com uma vida interessante e que arbitrou alguns dos jogos mais importantes do Futebol nas décadas de 50 e 60. Horn era um velho conhecido dos dois Húngaros.

Não encontrei infelizmente nenhuma fotografia em que os três apareçam em simultâneo mas ainda assim a ideia do texto de hoje e do próximo, é falar de alguns dos episódios interessantes em que pelo menos dois deles se cruzaram. E como não poderia deixar de ser num fórum Benfiquista, culminaremos o próximo texto falando da grande final de Amesterdão, nessa mítica noite de 2 de Maio de 1962.



Leo Horn, o mata-gatos Holandês


(http://i66.tinypic.com/29xyyhi.jpg)
Leopold Sylvain Horn (Sittard, Holanda, 29-08-1916 - Amstelveen, Holanda, 16-09-1995)



Leopold Silvine Horn ou Leo Horn como ficou conhecido, nasceu em 29-08-1916 em Sittard, Holanda. Terceiro de quatro filhos, o seu pai era comerciante em gado. Em 1928, a família Horn mudou-se para Amsterdão, meio mais cosmopolita e onde Horn sentiu menos os estigmas da sua ascendência judaica.

Leo Horn foi um árbitro prestigiado e um homem com uma vida invulgar, um sobrevivente de um tempo cruel. Holandês de nacionalidade, Horn tinha, tal como Béla Guttmann, ascendência judaica e por isso viria a sofrer duramente nos anos de ocupação nazi, período em que o seu irmão mais velho morreria num campo de concentração. Nesses anos Horn passou à clandestinidade e fez parte da resistência Holandesa, tendo sido conhecido pela alcunha de Dr. Van Dongen.

Findos esses anos de duras lutas pela sobrevivência, Horn regressou à vida civil, acumulando uma actividade profissional de empresário no comércio de têxteis com a arbitragem. Mas Horn foi também uma figura curiosa, excêntrica por vezes e que por circunstâncias assaz curiosas, acabou na parte final da sua carreira de árbitro por ser conhecido pela exótica alcunha de Kattenmepper, ou "Mata-gatos"... Essa curiosa história e muitas outras podem ser lidas em: http://www.maisfutebol.iol.pt/soldados-desconhecidos/rubrica/arbitro-talisma-heroi-da-resistencia-a-historia-do-mata-gatos (http://www.maisfutebol.iol.pt/soldados-desconhecidos/rubrica/arbitro-talisma-heroi-da-resistencia-a-historia-do-mata-gatos) e também https://beyondthelastman.com/2017/05/19/resistance-fighter-referee-the-life-times-of-leo-horn-part-2/ (https://beyondthelastman.com/2017/05/19/resistance-fighter-referee-the-life-times-of-leo-horn-part-2/)


(http://i63.tinypic.com/icij6a.jpg)
Fonte: Jac de Nijs / Anefo - Nationaal Archief Fotocollectie Anefo in wikipedia



Vaidoso, autoritário, expansivo, Horn tinha também vertentes bem-humoradas. A sua personalidade tinha no entanto traços dominantes que lhe permitiram destacar-se na arbitragem do futebol de alto nível, conduzindo-se sempre de forma exemplar, rigorosa e afirmativa. Ficaram célebres as suas vigorosas gesticulações quando tinha de impor as suas decisões por cima dos protestos dos jogadores. Usava e físico e a atitude!


(http://i65.tinypic.com/n1wivr.jpg)
Um inesperado disco em que Leo Horn participou mostrando o seu lado mais bem humorado. Lado A - Vamos fazê-los cheirar um "poopie". Lado B – Estás a fazê-lo outra vez.



O primeiro cruzamento entre Horn e Guttmann provavelmente terá ocorrido algures nos anos de 1935 e 1937 quando o Húngaro teve a sua primeira experiência profissional como treinador fora da Austria e da Hungria (ver o texto -208 – Laranja Vintage, pág. 51).

Nesses anos, o jovem Horn (19-21 anos) terá com certeza acompanhado o emocionante campeonato Holandês de 1935-1936 em que o SC Enschede treinado por Guttmann se bateu com galhardia contra os gigantes Ajax e Fejienoord.


(http://i63.tinypic.com/2i8tyir.jpg)
HORN X GUTTMANN - Béla Guttman no SC Enchede 1935-1936. O jovem Horn terá provavelmente assistido a jogos onde a equipa de Guttman competiu para esse campeonato. Fonte: youtube


Como árbitro, Leo Horn iniciou a sua actividade em 1938. Depois, de 1951 a 1966, Horn veio a ostentar as insígnias FIFA, tendo arbitrado duas finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, a primeira em 1957 em Madrid na final em que o Real Madrid venceu a Fiorentina (2-0) e a segunda em 1962 em Amesterdão na final em que o SL Benfica venceu o Real Madrid (5-3).

Horn arbitrou também jogos entre selecções e partidas do Campeonato do Mundo do Chile em 1962. Arbitrou até uma final da Taça Libertadores em Agosto de 1962 em Buenos Aires onde se defrontaram Santos e Penarol. Terminou a sua carreira internacional depois de conflitos com a FIFA que evitaram a sua participação no Mundial de Inglaterra. Ao todo, Horn terá apitado mais de 1500 partidas na Holanda e cerca de 133 partidas internacionais. Fonte: http://worldreferee.com/site/copy.php?linkID=2523&linkType=referee&contextType=stats (http://worldreferee.com/site/copy.php?linkID=2523&linkType=referee&contextType=stats)



(http://i64.tinypic.com/1110d47.jpg)
Alguns momentos marcantes do árbitro FIFA, Leo Horn.



(http://i67.tinypic.com/i1fytg.jpg)
Uma biografia de Leo Horn dando honras de 1ª página à sua participação no "Jogo do Século".



Mas talvez o seu momento mais alto tenha sido quando arbitrou o chamado "Jogo do Século", um amigável entre as selecções de Inglaterra e da Hungria, disputado no dia 25 de novembro de 1953 no antigo e mítico Estádio de Wembley. Nesse dia, Horn ter-se-á cruzado pela primeira vez com Férenc Puskás.


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HORN X PUSKÁS - O Jogo do Século em Wembley no dia 25-11-1953. Arbitrado por Leo Horn, vitória da Hungria por 6-3.



https://www.youtube.com/watch?v=C15lz3U8f_s (https://www.youtube.com/watch?v=C15lz3U8f_s)
Inglaterra 3 – Hungria 6, com relatos da época



Este foi um jogo-chave da História do Futebol em que a Hungria foi a Wembley estraçalhar a Inglaterra por 6-3 (ver: https://www.transfermarkt.com/spielbericht/index/spielbericht/1181783 (https://www.transfermarkt.com/spielbericht/index/spielbericht/1181783)). O jogo marcou o princípio de uma nova era do Futebol Mundial, destruindo para sempre o que restava do mito da superioridade do futebol Inglês.


Para isso, o sagaz técnico Húngaro, Gusztav Szebes fez recuar os seus extremos (Czibor e Budai) e o avançado centro (Hidegkuti), convertendo os seus interiores (Kocsis e Puskás) nos verdadeiros avançados. Essa variante táctica (MM) e o virtuosismo de toda aquela linha ofensiva Húngara dinamitaram por completo o tradicional sistema Inglês (WM). Uns meses mais tarde a humilhação seria completada quando os Ingleses foram a Budapeste para serem arrasados por 7-1.

A nomeação de Horn reflectiu o grande prestígio e a isenção de que este gozava, atendendo ao nacionalismo e ao embate entre blocos políticos rivais que estava inerente a essa partida. Horn falaria pouco deste jogo mas revelou que tinha levado a preparação tão a sério que perdeu 7 kilos nas semanas anteriores para se apresentar na melhor condição física possível. Revelou ainda que em seu entender Psukás era o melhor jogador do Mundo.

Como nota final, pouco tempo antes de Leo Horn encerrar a sua carreira de árbitro internacional ainda teria oportunidade de arbitrar o jogo-chave entre Portugal e a Checoslováquia em 1965, disputado nas Antas e que selaria a qualificação da nossa selecção para o Mundial da Inglaterra. Uma carreira magnífica em que se cruzou de forma feliz com Portugal e com o Benfica!


https://youtu.be/8Zo_TsLQYyQ (https://youtu.be/8Zo_TsLQYyQ)



Puskás, o major galopante


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Férenc Puskás nasceu em Budapeste no dia 2 de Abril de 1927. Iniciou-se com 16 anos no Kispest, na altura um pequeno clube da periferia de Budapeste mas que depois da II Guerra Mundial se tornou o clube do regime passando a chamar-se Honvéd...

Fazendo parceria com o seu amigo Boszik, Férenc Puskás conquistou 5 campeonatos Húngaros (1949, 1950, 1952, 1954, 1955) ao serviço dos rubro-negros, marcando muitos golos. Nesses anos, com o seu prodigioso pé esquerdo, incrível habilidade e tremendo controlo de bola, Puskás, estabeleceu um sólido estatuto de estrela maior do prodigioso e técnico futebol Húngaro. Havia muitos e bons jogadores e muitos treinadores Húngaros estavam entre os mais evoluídos e competentes a nível mundial.

Antes dos anos de glória, Férenc Puskás foi ainda treinado por Béla Guttmann no Hónved de 1948-1949, anos que provavelmente marcaram o primeiro cruzamento profissional entre os dois Húngaros. Mas Guttmann, que tinha substituído o pai de Puskás, acabaria por sair de forma conflituosa do clube quando em seu entender Puskás desafiou a sua autoridade dentro de campo. Só alguns anos mais tarde os dois homens fariam as pazes.

Puskás estreou-se na selecção magiar no ano de 1945, equipa onde gradualmente confluiu uma notável constelação de jogadores tais como Czibor, Kocsis, Boszik, Hidegkuti, entre outros. Pelo carácter e pelo rendimento, Puskás era a estrela da companhia. Entre 1950 e 1956, os Mágicos Magiares registaram 43 vitórias, 7 empates e apenas 1 derrota.

Infelizmente para os Mágico Húngaros, todas essas vitórias apenas trouxeram a conquista da medalha de ouro da modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Helsínquia de 1952. Desgraçadamente, a única derrota dos Mágicos Magiares foi justamente a trágica derrota de Wankdorf, em que os Húngaros perderam o Campeonato do Mundo de 1954 frente à Alemanha...


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O mais infeliz jogo da carreira de Puskás. Contra toda a lógica a Hungria saiu derrotada na final do Campeonato do Mundo de 1954.



O fim dessas fabulosas equipas da Selecção Húngara e do Honvéd ficaria selado de forma dramática quando os exércitos soviéticos invadiram a Hungria em 1956. Puskás e os seus companheiros estavam em Espanha e a maioria optou por não regressar, mesmo assumindo anos de errância e nomadismo desportivo e até de castigos impostos pela FIFA.

O ano de 1956 foi assim de grandes indefinições, mas Puskás e muitos dos seus companheiros optaram acertadamente por manter actividade partindo para uma digressão pela América do Sul onde defrontaram adversários de topo a troco de bons "cachets". Para os orientar, Puskás lembrou-se então do seu antigo treinador que estava livre e aceitou prontamente orientar esse excelente grupo de jogadores. Guttmann tinha grande atracção pelo futebol Sul-americano onde aliás tinha estado duas década antes, enquanto jogador do Hakoah Wien. Esta oportunidade permitiu ainda que Guttmann e Puskás ensaiassem algumas inovações tácticas.



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PUSKÁS  X GUTTMANN - Janeiro de 1957, jogo entre a antiga equipa do Honvéd treinada por Béla Guttmann defrontou o CR Flamengo. Mais tarde Guttmann ficaria no Brasil onde treinou o São Paulo FC onde pontificava o grande Zizinho.



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As principais figuras da antiga equipa do Honvéd que no exílio fez uma digressão pela América do Sul. Foi a oportunidade perfeita para Guttmann e Puskás voltarem a trabalhar juntos.


Apesar de castigos impostos pela FIFA depois de queixas da Federação Húngara, os agora jogadores apátridas conseguiram gradualmente ultrapassar os castigos e ver reconhecidas as suas qualidades futebolísticas, integrando-se por fim em grandes equipas Europeias. foi esse o caso de Kocsis e Czibor que ingressaram no FC Barcelona e Puskás que seria recrutado pelo Real Madrid depois de namorado pela Internazionale de Milan. Foi assim que os primeiros defrontaram o Benfica em 1961 e Puskás em 1962. Felizmente para nós nenhum deles veio a ser feliz.


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HORN X PUSKÁS X GUTTMANN - Puskás, um hat-trick não chegou para ganhar a Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1962...



Puskás em particular foi bastante infeliz pois nessa noite de 2 de Maio de 1962, de nada valeram os seus três golos pois o Real Madrid não conseguiu travar o Glorioso Benfica de Coluna, Águas, Eusébio e Costa Pereira, entre outros. Nesse dia Puskás voltou a cruzar-se com Guttmann ms seria o velho feiticeiro a sorrir. Apenas um Húngaro passaria a ter boas recordações do Estádio de Wankdorf. Nunca é demais falar desta noite e por isso será convenientemente ilustrada no próximo texto.

Para lá de Wankdorf, os números de Puskás com a camisola merengue são impressionantes, tendo atingido 512 golos em 528 jogos e conquistado 5 campeonatos de Espanha e 3 Taças dos Clubes Campeões Europeus. Impressionante. No Real Madrid, Puskás, Di Stefano formaram uma dupla extraordinária, mítica, inesquecível.


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Nos anos finais da sua vida, Puskás sofreu da doença de Alzheimer, mas veio a falecer na sua cidade de Budapeste no dia 17 de novembro de 2006, em consequência de problemas respiratórios e cardiovasculares.

Ferenc Puskás foi um génio do futebol. Os seus 86 golos em jogos internacionais pela selecção Húngara são ainda hoje um número assombroso. É com todo o merecimento que o prémio para o melhor golo do ano atribuído pela FIFA tem o seu nome.


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Puskás, um génio do futebol, recebendo a estima dos seus pares: Eusébio, Di Stefano e Pelé.



Paz à sua Alma, honra à sua memória.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Maio de 2018, 20:02
Cumprem-se hoje 56 anos  :slb2:


-212-
Cruzamentos para Amesterdão II – a grande final


Dia 2 de Maio de 1962. Estádio Olímpico de Amesterdão. Finalmente o dia em que Guttmann, Puskás e Horn se cruzaram todos num mesmo campo de futebol. Cada um de seu lado. Cada um ao melhor nível. E no final ganhou o Sport Lisboa e Benfica!



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Leo Horn comanda a operação de sorteio do meio-campo juntamente com os dois capitães, José Águas pelo Benfica e Paco Gento pelo Real Madrid.



Francisco "Paco" Gento, capitão do poderoso e mítico Real Madrid e José Águas, capitão do Glorioso Benfica, cumprimentam-se. Ladeiam os árbitros da partida sendo Leo Horn o árbitro principal. Procede-se ao sorteio do meio-campo para cada equipa. Preparava-se a mais bela final de sempre da história da UEFA. Oito golos! Oito! Um grande jogo de futebol atacante. E uma vitória à Benfica!

Nos ombros dos dois grandes capitães estava o peso de todo um mundo de esperanças e ambições que os seus adeptos depositavam nessa partida. E o Benfica, diga-se, entrava a ganhar mesmo antes do jogo começar. Minutos antes o árbitro tinha reunido os dois capitães no balneário e feito um primeiro sorteio por lançamento de moeda ao ar. Era o tempo de definir que equipa iria jogar com o equipamento principal. Coisas da UEFA, que achou que a teledifusão do jogo a preto e branco tornaria confusa a distinção entre as duas equipas... Saiu a sorte ao Benfica. O Glorioso jogaria com o seu equipamento principal, obrigando o Real Madrid a vestir de lilás, o equipamento alternativo desse dia.


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A final da consagração


Em ano de Mundial, o Sport Lisboa e Benfica apresentava-se em Amesterdão como Campeão Europeu. O nosso Clube estava repleto de ambição embora consciente de que em teórica inferioridade perante um antigo heptacampeão Europeu recheado de jogadores fabulosos. Tudo parecia apontar para que os merengues reconquistassem o ceptro europeu. Puro engano, como se veria.


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Os hinos. Os nervos. A ambição. Tudo então era possível.

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Muitos de nós, Benfiquistas, conhecemos bem as incidências do jogo. Não vou falar delas de forma exaustiva mas antes ilustrar diversos aspectos com fotografias decifradas que nos aquecem a Alma. As fotografias decifradas falam por si e a sua apresentação neste formato tem apenas o propósito de relembrar o brilho incomparável desses dias de Glória. Deleitem-se!


(http://i67.tinypic.com/oqeszo.jpg)



As equipas



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(http://i64.tinypic.com/2lbglyf.jpg)




O jogo!


https://youtu.be/FoUO91rLz7Q (https://youtu.be/FoUO91rLz7Q)


https://youtu.be/MondTrac_PQ (https://youtu.be/MondTrac_PQ)
Versão vocalizada por Artur Agostinho


(http://i68.tinypic.com/12667gh.jpg)


(http://i68.tinypic.com/2us94wm.jpg)


(http://i64.tinypic.com/21l0lxh.jpg)

 

Apesar da vitória indiscutível da equipa Benfiquista, Horn teve ainda de decidir um lance difícil com forte contestação dos Espanhóis. Mais tarde Horn faria um comentário bem revelador da sua personalidade:

"Sabe aquele qual foi para mim o momento mais trágico dessa partida? Foi quando o marcador indicava 4-3 para os Portugueses e Di Stefano ficou frente a frente com o guarda-redes Português. Di Stefano tinha ali uma ótima oportunidade para empatar a partida, mas rematou à figura do guarda-redes. Naquele momento, Di Stefano perdeu para si e para os seus dez companheiros de equipa, todas as hipóteses de vencer.

De repente, vejo-o à minha frente, vejo-o [Di Stefano] a enfrentar três portugueses. Se eles o tivessem derrubado eu teria marcado uma grande-penalidade mas os Portugueses não fizeram qualquer falta. Logo depois, os espanhóis atacaram-me de todos os lados. Puskas estava a quarenta metros, mas mesmo assim correu para mim e começou a gritar em alemão. Eles ali até poderiam matar-me, mas nunca lhes daria a grande-penalidade".




Os Golos!



(http://i65.tinypic.com/2vuasgp.jpg)

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A Festa!



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(http://i63.tinypic.com/2r5fdlg.jpg)






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HONRA E GLÓRIA AOS BICAMPEÕES EUROPEUS!

VIVA, VIVA O SPORT LISBOA E BENFICA





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 03 de Maio de 2018, 23:07
A Hungria foi a primeira grande equipa moderna do futebol.Gyula Grosics,Jozef Boszik,Sandor Kocksis,Nandor Hidegkuti,Zoltan Czibor e o genial Ferenck Puskas mostraram ao mundo o futebol moderno que foi o precursor do futebol total da laranja mecanica de Cruyff 20 anos mais tarde.Coluna,Germano,Eusebio e Jose Aguas jorravam classe por todos os poros.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Maio de 2018, 23:59
Citação de: Alexandre1976 em 03 de Maio de 2018, 23:07
A Hungria foi a primeira grande equipa moderna do futebol.Gyula Grosics,Jozef Boszik,Sandor Kocksis,Nandor Hidegkuti,Zoltan Czibor e o genial Ferenck Puskas mostraram ao mundo o futebol moderno que foi o precursor do futebol total da laranja mecanica de Cruyff 20 anos mais tarde.Coluna,Germano,Eusebio e Jose Aguas jorravam classe por todos os poros.

É verdade. E ainda falta a essa lista Lázslo Kubala que muito cedo se auto-exilou e que teria certamente ocupado a direita do ataque da selecção no lugar de Budai II. Seria: Kubala, Boszik, Kocsis, Hidegkuti, Puskás e Czibor. Aterrador.

Tenho nos últimos meses ficado mais conhecedor acerca do futebol Húngaro. É uma história fascinante de altos e baixos sendo que de 1949 a 1956 foram indiscutivelmente os melhores do Mundo. Foi a política e a guerra que destruíram aquela selecção e provavelmente cercearam as hipóteses de evolução. Isto apesar de ainda terem estado presentes com no Mundial de 66 com uma boa equipa que aliás, connosco, eliminou o Brasil de Pelé.

Deviam ter sido campeões do Mundo em 1954 mas talvez o futebol tenha mesmo de ser assim. Talvez o futebol tenha de ter essas infelicidades, essas vítimas perfeitas. Brasil em 1950, Hungria em 1954, Portugal em 1966, Holanda em 1974 e em 1978, Brasil em 1982...

O Futebol Húngaro é uma das maiores influências do Futebol Português. Foram muitos e muito bons os treinadores que contribuíram para a evolução da modalidade no nosso país. No SLB foram tremendamente influentes e vitoriosas as contribuições Hertzka, Biri, Guttmann, Baroti. O SLB não seria o mesmo sem eles. E poderiam ter sido mais. Foi pena que Orth e principalmente Szebes não tenham também chegado a treinar o SLB.

Mas a linhagem do Futebol Austro-Húngaro foi ainda mais ilustre e decisiva para a evolução do Futebol Mundial. Hugo Meisl (Austriaco) e Jimmy Hogan (Escocês mas que trabalhou na Austria) foram os grandes semeadores, os que estiveram por trás de muito do que veio depois. Foram muitos e muito bons os treinadores e jogadores que se formaram naquele caldo de futebol. A Hungria de 1949-1956 foi um produto de grandes jogadores com um modelo táctico e métodos de trabalho inovadores. Deram muito ao Futebol e claro deram muito ao SLB.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Maio de 2018, 12:43
Também houve o Mestre Josef Szabo que fez carreira no Porto e no Sporting.E também Lajos Czeizler que nos treinou em 1963-64.Essa selecçao hungara juntamente com a Holanda de Michels foram as duas equipas que mais revolucionaram tacticamente o futebol e foram as duas vitimas da R.F.A. quando parecia que a consagraçao mundial estava a um curto espaço.E tambem foram vitimas especialmente Puskas e Cruyff de durissimas e violentas marcaçoes individuais de dois autenticos caça canelas,Liebrich em 1954 e Vogts em 1974.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Maio de 2018, 12:45
A escola de treinadores do Leste Europeu estagnou muito nos ultimos anos,mas ofereçeram ao futebol grandes tecnicos onde destaco o romeno Kovacs e o ucraniano Lobanovsky.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 04 de Maio de 2018, 15:00
Citação de: Alexandre1976 em 04 de Maio de 2018, 12:43
Também houve o Mestre Josef Szabo que fez carreira no Porto e no Sporting.E também Lajos Czeizler que nos treinou em 1963-64.Essa selecçao hungara juntamente com a Holanda de Michels foram as duas equipas que mais revolucionaram tacticamente o futebol e foram as duas vitimas da R.F.A. quando parecia que a consagraçao mundial estava a um curto espaço.E tambem foram vitimas especialmente Puskas e Cruyff de durissimas e violentas marcaçoes individuais de dois autenticos caça canelas,Liebrich em 1954 e Vogts em 1974.
não esquecer a itália de 1982 de enzo bearzot,onde revolucionou a defesa e mostrou ao mundo o cinismo das equipas italianas,onde o milan uns anos mais tarde foi o seu apogeu.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Maio de 2018, 15:52
Concordo plenamente,e esse cinismo se calhar já vem mais de trás e nós bem o sofremos na pele com as derrotas nas finais da Taça dos Campeoes de 1963 contra o Milan de Rocco e em 1965 com o Inter de Herrera.Em 82 a Italia de Bearzot era magnifica a defender onde o Libero Scirea era a personificaçao da elegancia seguida mais tarde pelo magistral Baresi.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Maio de 2018, 17:41
Tenho ideia que o primeiro sistema ultra-defensivo foi o "Ferrolho" penso que idealizado por Karl Rappan e usado pela selecção Suiça nos mundiais de 1938 e depois 1954 e 1962. Praticamente só se preocupava com a defesa assumindo a superioridade do adversário. Previa marcações individuais apertadas aos adversários em particular aos extremos e depois entalar o avançado-centro opositor com uma dupla de defesas. Para ajudar à festa os médios quase só tinham preocupações de defender. Era um sistema desprezado pelos adversários pois nesse tempo privilegiava-se quase só os modelos ofensivos.

Só mais tarde viria o tristemente célebre "catenaccio", com Helenio Herrera entre outros. Parece que foi um italiano chamado Alfredo Foni que o "inventou" mas foi Herrera (que ainda passou pelo Belenenses) que o desenvolveu.  As ideias base eram as mesmas e o cinismo era ainda maior. Previa a figura de um libero para além de uma cortina defensiva densa. O problema é que aí o sistema era praticado por jogadores com muito mais categoria. Os italianos refinaram-no até à perfeição com muita disciplina e qualidade. Foi muito complicado combater esse sistema.

Talvez só o Futebol Total da Holanda e depois o frenesim ofensivo dos Ingleses na década de 70 é que combateram apropriadamente esse sistema ultra-defensivo. Mas de vez em quando ainda se vê uns catenaccios de algibeira.

O Milan era uma grande equipa. Era outro campeonato. Foi pena que não tivessemos uma equipa um pouco mais poderosa ofensivamente quando com eles jogamos a final de Viena.

Ah... e em relação a Bearzot, eu até gostei que a Itália ganhasse a final com os Alemães mas aquelas marcações individuais do Gentile foram crimes lesa-futebol. Era pancadaria e nao futebol. Um árbitro decente teria posto aquele animal na rua. Tal como (não) aconteceu com o facínora Nobby Stiles no Mundial de 1966. Foi uma vergonha o que lhe permitiram fazer a Eusébio. Os Brasileiros queixam-se do que Morais fez a Pelé (mas na verdade já o tinham lesionado nos jogos anteriores) mas ninguém dos nossos se queixou do animal Inglês. Aquilo era tudo menos um jogador de futebol.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 04 de Maio de 2018, 18:35
quem podia ser, se nao tu, Victor, nao esquecer o leo horn. um dos mais conhecidos e respeitados árbitros do seu tempo. o collina dos anos 50 e 60...
recentemente li algo sobre ele, mas agora nao me recordo onde foi. mesmo assim, o que escreveste, ja da uma boa ideia quem foi.
obrigado
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Maio de 2018, 19:27
Gentile ainda detem o record de faltas num só jogo e sobre um unico jogador.Fez 28 faltas sobre o melhor do mundo de sempre Diego Maradona.E esse Stiles tambem era um sarrafeiro do pior que já apareceu.Eusebio bem sofreu á conta desse lenhador.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Maio de 2018, 15:02
Citação de: alfredo em 04 de Maio de 2018, 18:35
quem podia ser, se nao tu, Victor, nao esquecer o leo horn. um dos mais conhecidos e respeitados árbitros do seu tempo. o collina dos anos 50 e 60...
recentemente li algo sobre ele, mas agora nao me recordo onde foi. mesmo assim, o que escreveste, ja da uma boa ideia quem foi.
obrigado

Obrigado eu Alfredo, pelas tuas palavras que são sempre de agrado e incentivo  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 05 de Maio de 2018, 18:45
Citação de: Alexandre1976 em 04 de Maio de 2018, 19:27
Gentile ainda detem o record de faltas num só jogo e sobre um unico jogador.Fez 28 faltas sobre o melhor do mundo de sempre Diego Maradona.E esse Stiles tambem era um sarrafeiro do pior que já apareceu.Eusebio bem sofreu á conta desse lenhador.
basta ver a face dele....
piadas à parte, essa dos dentes diz se que aconteceu durante um jogo em que "defendeu" as cores do clube. mas tb ha pessoal que diz que isso é uma lenda para suportar o estatuto dele...
o que é certo é que via e vê muito mal. teve que utilizar lentes fortes, o que nesses tempos de certeza nao era doce...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Maio de 2018, 21:17
-213-
Saraiva já é nome de Saudade


Dia 6 de Outubro de 1957, Estádio da Luz.



(http://i66.tinypic.com/2samlgn.jpg)



O Sport Lisboa e Benfica recebeu o Caldas Sport Clube num jogo a contar para a 5ª jornada do Campeonato Nacional de futebol da I Divisão de 1957-1958. Os campeões nacionais, orientados pelo Brasileiro Otto Glória, defendiam o título conquistado na época anterior, somando até essa altura 3 vitórias e 1 empate.


Apesar de esse jogo terminar com uma boa embora suada vitória por 5-1 ( ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19571958/campeonato-nacional/1957-10-05/sl-benfica-5-x-1-caldas (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19571958/campeonato-nacional/1957-10-05/sl-benfica-5-x-1-caldas) ) essa viria a ser uma época pouco feliz, culminando num 3º lugar. Já o Caldas SC conseguiria manter-se na primeira divisão ao classificar-se no 10º lugar entre 14 participantes.


Entre os titulares da nossa equipa pontificavam já 5 jogadores que viriam a sagrar-se bicampeões europeus. Faltavam ainda outros jogadores decisivos para essas conquistas Europeias mas mesmo assim já lá podíamos encontrar Costa Pereira, Ângelo, Coluna, Santana e José Águas.


Mas, integrando a equipa Caldense dessa tarde estava também um outro homem que viria a fazer parte desses magníficos planteis Benfiquistas. Esse jogador era um Transmontano de rija cepa de seu nome António da Cruz Pinto SARAIVA. Era o Glorioso SARAIVA que nos deixou ontem, partindo para o quarto anel onde tantos e tantos outros Benfiquistas ilustres nos olham. SARAIVA partiu para se tornar uma Saudade eterna do Sport Lisboa e Benfica. Não será esquecido.


(http://i68.tinypic.com/256emp4.jpg)


Para SARAIVA é possível que esse tenha sido o seu primeiro jogo oficial no Estádio da Luz, isto embora alguns anos antes tenha estado à experiência no SLB. Apenas em 1959-1960, com a vinda de Béla Guttman para o SLB, se abririam as portas do Estádio da Luz para SARAIVA. Em boa hora pois HONROU sempre o manto sagrado.


(http://i66.tinypic.com/jkzx8x.jpg)


Hoje não haverá muito mais texto. A primazia será para algumas imagens e algumas – poucas - legendas. A maioria dessas imagens será publicada por via da generosidade de Helena Águas, a ilustre filha do ilustre José Águas, aquele que sem reservas de admiração eu considero a mais fina-flor de todos os avançados centro da História do Sport Lisboa e Benfica. A Helena Águas nunca é demais deixar uma palavra de agradecimento pela sua generosidade, certamente herdada de seu pai.

José Águas foi colega de equipa do Glorioso SARAIVA durante os 4 anos que o bravo transmontano vestiu as cores do nosso Clube (1959/60 - 1962/63). Do seu Clube também, pois SARAIVA tinha no seu coração guardadas as cores do Sport Lisboa e Benfica, como tão bem nos lembrou "Viriato de Viseu" no blogue Em Defesa do Benfica:



«Assinei o meu contrato com o Benfica na Rua Jardim do Regedor, desci as escadas, festejei com um copo de três na taberna ao lado e fui até ao Rossio a gritar; SOU DO BENFICA! SOU DO BENFICA!»

Fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2018/05/saraiva-no-quarto-anel.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2018/05/saraiva-no-quarto-anel.html)


(http://i65.tinypic.com/sngu1s.jpg)


E assim, sem cronologias complicadas aqui ficam imagens legendadas, ilustrando algumas etapas do trajecto de SARAIVA no Glorioso.


(http://i66.tinypic.com/34fziq9.jpg)

Campeão Nacional 1959/60, 1960/61 e 1962/63
Vencedor Taça Portugal m 1961/62
[/color][/b]


(http://i65.tinypic.com/1zl7hpt.jpg)


(http://i65.tinypic.com/160pzl2.jpg)


(http://i66.tinypic.com/ml07jr.jpg)
Foi internacional B


(http://i63.tinypic.com/2dw6elu.jpg)

Campeão Europeu 1960/61



(http://i63.tinypic.com/15g0tl.jpg)


Integrante do plantel que se sagrou Campeão Europeu em 1961/62



(http://i64.tinypic.com/8vp4sw.jpg)

A Gloriosa equipa que venceu o Ujpest por 6-2 no dia 6-11-1960
( https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19601961/taca-dos-campeoes-europeus/1960-11-06/sl-benfica-6-x-2-ujpest-fc (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19601961/taca-dos-campeoes-europeus/1960-11-06/sl-benfica-6-x-2-ujpest-fc) )


(http://i63.tinypic.com/smwrcj.jpg)

Bom companheiro no Lar do Benfica


(http://i66.tinypic.com/m8k7z4.jpg)

Aplicado nos treinos. White Hart Lane, 1962.


(http://i63.tinypic.com/wmiidj.jpg)

Pelo Mundo a representar o Benfica

(http://i66.tinypic.com/303iwk9.jpg)

(http://i68.tinypic.com/2hr0t55.jpg)
Com outras cores. Sempre digno e cumpridor.




(http://i66.tinypic.com/2nbu64j.jpg)

(Peso da Régua, 3-05-1932 – Portimão, 7-05-2018)

Obrigado SARAIVA. Descansa em Paz Campeão.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: goscinny13 em 21 de Maio de 2018, 01:02
Muito bom
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Maio de 2018, 20:38
-214-
Doutor coragem


Começamos hoje com uma fotografia pouco conhecida e que encerra dois mistérios.


(https://s31.postimg.cc/l8w7dtyor/image.jpg)
Grupo Sport Bemfica, 1907. Fonte: História do SLB 1904-1954 de M. Oliveira e C. Rebelo da Silva.



Mas para falar nesses dois mistérios teremos de recuar uns meses para lembrar aquela que foi a primeira grande crise da História do nosso Clube.


Em Maio de 1907, o Sport Lisboa, clube de Belém, que recentemente tinha comemorado 3 anos de vida, estava confrontado com uma grave crise que ameaçava a sua própria existência.

Dotado de uma primeira equipa excelente, capaz de derrotar os Ingleses do Carcavellos Club, o Sport Lisboa via partir dois jogadores para o estrangeiro (Fortunato Levy para CAbo Verde e Manuel Mora para a Argentina) e 8 (oito) para o ambicioso e recém-formado Sporting Clube de Portugal.

Depois de três anos de grande sucesso, o jovem Clube via partir quase todos dos seus jogadores mais prestigiados. A situação instalada parecia um ponto de não retorno.


(https://s31.postimg.cc/icdrr8d2z/image.jpg)
Dos que partiram para o SCP (letras com sombra verde) falta apenas Henrique Costa, o único que voltaria um anos depois.



De facto, e apesar de poder contar com mais duas a três dezenas de outros jogadores, estas saídas constituíram um rude golpe no Clube. Nesse tempo era frequente ver desaparecer clubes que mesmo dotados de equipas competitivas entravam em colapso por via de cisões internas e saídas de jogadores influentes. Parecia ser este o cenário do Sport Lisboa, ainda mais agravado com a debandada adicional de outros jogadores para outros clubes tais como o FC Cruz Negra e... Grupo Sport Bemfica. Poucos acreditavam que as Gloriosas flanelas vermelhas voltasse a aparecer nos campos de futebol.

Neste limbo da sua existência, nestes dias em que a decisão de deixar cair o Clube teria significado o fim do Sport Lisboa e Benfica, as vontades pareceram esmorecer, as semanas passavam e o Clube não reanimava. Talvez tenha sido tempo para uma reflexão sobre o futuro colectivo e individual. Impunha-se uma resposta, um grito de revolta.

Ora, o núcleo mais promissor, mais voluntarioso desses jogadores continuou a praticar o futebol no airoso e vasto campo da Quinta da Feiteira, alugado nesse tempo ao Grupo Sport Bemfica, um pequeno Clube, erguido pelas vontades de uma média burguesia cada vez com mais tempo livre. O GSB estava então inserido numa zona essencialmente rural da periferia de Lisboa. Até então o Clube dedicava-se prática de ciclismo e de atletismo e tinha uma boa organização interna e uma vida associativa e social activa.


(http://i58.tinypic.com/jgief5.png)
Actividades do Grupo Sport Bemfica


Até à chegada desses jogadores vindos de Belém, o futebol era uma modalidade pouco praticada e até pouco bem vista pelas gentes de Bemfica. Mas seria nesse Campo da Feiteira e seus espaços adjacentes que se daria o grito de revolta que afirmaria a sobrevivência do nosso Clube. Nesse pequeno grupo destacavam-se as vontades e acções diligentes de 4 homens. É a eles mais do que ninguém que devemos o grito de revolta, que garantiu que hoje ainda exista o Sport Lisboa e Benfica!


(https://s31.postimg.cc/bpr3xrsqz/image.jpg)
"O Clube Vive e Viverá!"



Da convivência entre esse núcleo de resistência do Sport Lisboa e os sócios do Grupo Sport Benfica resultou a fusão que em Setembro de 1908 definiu uma nova organização e um novo nome para o Clube: Sport Lisboa e Benfica!

As duas colectividades reconheciam-se uma só. Juntavam esforços, talentos, vontades e actividades, mantendo o Ideal nobre e robusto do Sport Lisboa. Contavam com Homens de acção e convicção ao seu leme e isso faria toda a diferença daí em diante. O Clube vivia e viveria. O Clube tornar-se-ia ao longo das décadas seguintes um gigante mundial, reconhecido e amado por todos os cantos do Mundo. E Pluribus Unum.

E assim, legendando a fotografia com que se iniciou o texto, percebe-se melhor a importância desse núcleo de resistentes.


(https://s31.postimg.cc/q8y8za1cb/image.jpg)


Na fotografia vemos 11 homens envergando uma camisola com listas, a camisola do Grupo Sport Bemfica! Esta fotografia foi cedida por José Augusto de Brito, um importante dirigente e atleta do Grupo Sport Bemfica e de quem provavelmente aqui se falará um dia destes.

Mas falemos agora dos dois mistérios desta fotografia.


● Qual a cor das listas do equipamento do Grupo Sport Benfica?

● Quem seria o jogador não identificado (N.N) da fotografia?



Infelizmente, o mistério da cor das listas do equipamento do Grupo Sport Benfica subsiste. Seriam vermelhas e brancas? Azuis e brancas? Verdes e brancas? Pretas e brancas? Simplesmente não sabemos. Será que algum dia saberemos?


Já a identidade do único jogador não identificado (N.N. = não nomeado) na obra de Mário de Oliveira e de Rebelo da Silva parece ser menos complicada de desvendar. De facto, mesmo salientando que não tenho quaisquer pretensões de infalibilidade, ainda assim acredito poder avançar com uma hipótese muito credível:


Virgílio Paula (03/09/1890 - 09/06/1951).


A confirmar-se, esta identificação dará uma importância adicional à fotografia pois Virgílio Paula foi nessa e nas décadas seguintes, uma destacada figura do futebol Português. Virgílio Paula foi também um homem dos homens de confiança de Cosme Damião, fundamental para ultrapassar uma das fases mais delicadas da vida do nosso Clube


(https://s31.postimg.cc/49ruc8cu3/image.jpg)
Jogando de lunetas...


Na fotografia vemos um homem jovem que usava lunetas. Não era o único pois se atentarem bem também Marcolino Bragança o fazia. Seria de facto Virgílio Paula? Como termo de comparação atentemos numa imagem dele, captada em 1910 na Quinta da Feiteira aquando de um jogo contra o Clube Internacional de Futebol e atentemos ainda a uma descrição que dele fizeram Mário de Oliveira e Rebelo da Silva:


(https://s31.postimg.cc/pw6ut9yjv/image.jpg)
Jogando de lunetas...



Virgílio Marques Lopes de Paula (03/09/1890 - 09/06/1951) nasceu em Lisboa no início da última década do século XIX. Era filho de Augusto Lopes de Paula e de Bertolina da Conceição. Em 1919, cumpridas as suas obrigações militares, Virgílio casou com Alda Hortense Guimarães da Silva Granate, tendo tido 3 filhas: Maria Natália, Maria da Conceição e Maria Isabel. Esta última filha casaria com o grande Historiador e escritor António José Saraiva e foi mãe do jornalista e escritor José António Saraiva. António José Saraiva foi um gigante da Cultura portuguesa e irmão de outro nome grande da nossa Cultura, o Historiador José Hermano Saraiva. Gente ilustre que contribuiu muito para o nosso País.

Não conheço o percurso do jovem Virgílio até à sua entrada no nosso Clube, ocorrida logo após a crise de Maio de 1907, altura em que Cosme Damião procurava activamente novos jogadores/sócios para preencher os fragilizados quadros do nosso Clube.

Ora, sabe-se que Virgílio era um dos rapazes que praticava o futebol nos areais de Belém. Pela sua idade não fez parte da leva que fundou o Sport Lisboa mas na altura em por lá andou ainda era frequente a convivência e o treino conjunto com elementos pertencentes a diversos clubes.

Parece ter sido esse o caso do jovem Virgílio, então estudante de Medicina e apaixonado pelo futebol. Várias décadas depois, Virgílio descreveria no jornal Mundo Desportivo, esses tempos do efémero e pouco conhecido RESTELO FUTEBOL CLUBE.



(https://s31.postimg.cc/aapj9f9rv/image.jpg)
Fonte: Jornal Mundo desportivo de 31-10 1947.



(https://s31.postimg.cc/h2fybrj6j/image.jpg)
Os 5 homens que chegaram ao Sport Lisboa em 1907, vindos do Restelo Futebol Clube.



Nesse feliz recrutamento, Cosme passou a contar não apenas com vários elementos de valor para as nossas equipas de futebol mas também com um elemento que se revelou essencial para a melhoraria da organização interna do nosso Clube. Virgílio respondeu excelentemente ao desafio de Cosme Damião, revelando-se um elemento destacado ao suceder como tesoureiro a... Manuel Gourlade!

Até então, Gourlade era fundamental para organizar as finanças e burocracias do Sport Lisboa mas com a progressiva mudança do Clube de Belém para Benfica e com a degradação da sua vida pessoal e profissional, Gourlade começou a ter menor participação na vida interna do Clube. Era chegado o tempo de grandes mudanças. Para sobreviver e crescer, havia que mudar.

E aí entrou Virgílio Paula. Cosme atribuir-lhe-ia responsabilidades na organização e definição das listas de sócios do Clube. Virgílio correspondeu, diligenciado também para que alguns dos elementos que tinham abandonado o Clube pudessem regressar.



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Aquando da fusão entre o Sport Lisboa e Grupo Sport Benfica, Virgílio Lopes de Paula integrava os 54 sócios do Sport Lisboa que continuaram no SLB. Fonte: História do SLB 1904-1954 de M. Oliveira e C. Rebelo da Silva.



Com o manto sagrado


Como jogador, Virgílio Paula jogou 5 temporadas na nossa primeira categoria, desde a época de 1907-1908 até à época 1912-1913. Nesses 5 anos sagrou-se 2 vezes Campeão Regional de Lisboa (o mais importante título então, em disputa), nas épocas de 1911-1912 e 1912-1913. E foram só duas vezes porque o Campeonato só começou a ser disputado desde 1910-1911.

Conviveu com jogadores e figuras notáveis dos primórdios do nosso futebol tais como Cosme Damião, Félix Bermudes, Henrique Costa, Luís Viera, assim como os diversos presidentes e dirigentes que desempenharam mandatos nesses anos intensos e seminais.
Entre os grandes momentos em que participou destacam-se:


● grandes jogos contra os Ingleses do Carcavellos Club e Clube Internacional de Futebol, que arrastaram milhares de pessoas na assistência, algo de inusitado até essa época.



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Equipa do Sport Lisboa e Benfica alinhada no Campo da Feiteira. Nesse dia a vitória sorriria aos Ingleses. Colorida por RedVC. Fonte: AML



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Equipa do Sport Lisboa e Benfica que derrotou o Carcavellos Clube em 1911 em plena Quinta Nova, Carcavelos. Fonte: História do SLB 1904-1954 de M. Oliveira e C. Rebelo da Silva.



● a primeiras ida ao norte do País, onde defrontamos e vencemos de forma convincente o FCP.


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Equipa do Sport Lisboa e Benfica que disputou os dois primeiros jogos contra o FC Porto. Fonte: História do SLB 1904-1954 de M. Oliveira e C. Rebelo da Silva e blogue "Em Defesa do Benfica"



● a primeira digressão ao norte da Espanha, onde no dia 6-06-1912, obtivemos a primeira vitória Benfiquista fora do nosso País.


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Fonte: História do SLB 1904-1954 de M. Oliveira e C. Rebelo da Silva  e blogue "Em Defesa do Benfica".



No campo, Virgílio Paula actuou essencialmente a extremo esquerdo, tendo sucedido como habitual titular nessa posição ao fundador Carlos França e sido depois sucedido pelo também Belenense, Alberto Rio. Todos eles foram nomes prestigiados do nosso passado mais remoto.



O afastamento: a Guerra


Depois, passados os anos de jogador da nossa primeira equipa, é possível que o afastamento do Clube se tenha devido a três razões fundamentais.

Em primeiro lugar, deu-se uma progressiva perda de ligação do Clube para com a zona de Belém e Ajuda. Virgílio estava muito ligado a Belém (morava na Calçada do Galvão e por ali exercia actividade profissional).

Em segundo lugar, Virgílio Paula foi um muito competente e estimado médico e naturalmente que a sua actividade exigia muito do seu tempo e dedicação. Ainda hoje é possível encontrar na internet, testemunhos escritos muito sentidos, de quão carinhoso, competente e solidário foi Virgílio Paula nos cuidados médicos prestados a ricos e pobres. Virgílio foi médico da presidência da Republica mas ao mesmo tempo dava consultas – algumas das quais graciosamente – a populares que de outra forma só muito dificilmente ou de todo teriam acesso a esses cuidados.

Por fim, Virgílio Paula em breve prestaria valorosos serviços à Pátria como médico do exército na Grande Guerra. Virgílio esteve em França, na linha da frente. Esteve em La Lys onde revelou particular bravura e dedicação no cumprimento do dever. Foi condecorado. Foi um herói de guerra.

Como em tempos descrevi (ver texto "-106- Águias na Guerra – parte II, pág. 30") do seu processo no CEP – Contingente Expedicionário Português,


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Resumo do processo individual de Virgílio Paula no CEP. Fonte: Arquivo do Exército Português.



Ou seja, Virgílio Paula esteve presente na Batalha de La Lys no dia 9 de Abril de 1918. Nessa terrível batalha, debaixo de fogo inimigo intenso, mostrou uma excepcional bravura e zelo médico e humanitário para com os seus camaradas. A sua acção salvou diversos combatentes da morte. As marcas desse funesto dia seriam profundas também para ele, tendo-lhe sido dada baixa médica e pouco depois sido julgado incapaz para todo o serviço. Em 18 de Maio desembarcava finalmente em Lisboa para voltar à sua vida civil.



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Não tendo fotografias de Virgílio Paula no CEP, ficam aqui alguns aspectos de actividades de assistência médica no Exército Português que participou nesse grande conflito.




O afastamento: filho de Belém.


A ligação de Virgílio Paula a Belém era muito forte. Por ali morava, ali trabalhava e até a sua esposa tinha nascido na casa por cima da casa comercial dos pasteis de Belém. E, como outros, Virgílio terá sentido a falta de um clube que no seu entender representasse verdadeiramente as gentes de Belém e Ajuda.

Assim, terá sido com particular satisfação que em Setembro de 1919, Virgílio Paula acolheu a proposta de Artur José Pereira em fundar o Clube de Futebol "os Belenenses". Até então, o projecto era ainda um fruto do entusiasmo de jogadores e que por isso carecia de homens com capacidade para estruturarem e organizarem o Clube para o futuro. Artur José Pereira sabia bem quem deveria procurar.

E foi assim que, juntamente com Francisco Reis Gonçalves (antigo sócio e fundador do Sport Lisboa), Virgílio integrou um grupo restrito de homens que deu prestígio e consistência estrutural e organizativa ao Clube de Futebol "os Belenenses". E se, ao contrário de Reis Gonçalves, Virgílio Paula não chegou a presidir ao Clube da Cruz de Cristo, também é conhecido que ele teve sempre uma voz activa, respeitada e prestigiada no grande Clube Azul.

Também tal como Reis Gonçalves, Virgílio Paula assumiu cargos directivos e executivos na Federação Portuguesa de Futebol assim como sido presidente da Associação de Futebol de Lisboa. Chegou inclusivamente a ser Seleccionador Nacional de Futebol. O seu último cargo no dirigismo do futebol foi, ao que sei, o de presidente da comissão nacional de arbitragem de primeiro nível, cargo esse em que sucedeu a... Cosme Damião, depois da morte deste em Junho de 1947.


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Campo das Salésias, Junho de 1936. Cruz Filipe, presidente da FPF entrega o troféu de Campeão Nacional de Futebol de 1935-1936, a Manuel da Conceição Afonso, presidente do Sport Lisboa e Benfica. Virgílio Paula ao meio, observa o acto da entrega. Fonte: TT.



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Estádio do Riazor, Corunha, dia 6-05-1945. Virgílio Paula, Director da FPF, acompanhou a equipa nacional aquando de um jogo entre as Seleções de Espanha e Portugal (vitória da Espanha por 4-2). Fonte: Revista Stadium 128 ESP-PT Corunha.



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Lisboa, dia 5-06-1938. Virgílio Paula, director da FPF numa cerimónia de atribuição de prémios ao concurso do melhor espírito desportivo. Destaca-se também a presença de Manuel da Conceição Afonso (presidente do SLB), Guilherme Espírito Santo (atleta SLB) e o pioneiro do futebol em Portugal, Guilherme Pinto Basto.



Virgílio Lopes de Paula viria a falecer em Junho de 1951, com a idade de 61 anos.


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Fonte: DL e Belenenses Ilustrado.



Paz à sua Alma. Honra à sua Memória!




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Maio de 2018, 01:03
-215-
Berna 61' (parte I) - a noite da glória e dos "palos cuadrados"


Dia 30 de maio de 1961, Estádio de Wankdorf, Berna. Cumprem-se hoje 57 anos. Nesse dia foi captada a fotografia mais famosa da História do SL Benfica.



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José Águas a levantar a Taça que elevou o Sport Lisboa e Benfica à Glória Europeia. O grande Capitão nasceu para segurar aquela Taça.



Não há Taça como a primeira. Foi muito sofrida aquela primeira Taça. Foi muito saborosa. Espantou o Barça. Espantou a Europa. Nos braços de José Água começava a lenda do grande Benfica Europeu dos anos 60. A noite de Berna foi a mais brilhante e mais longa de todas as noites Benfiquistas.


Foi uma grande final. Esperava-se uma glorificação do FC Barcelona que na altura (e desde 1940) do regime Franquista se designava Club de Futbol Barcelona. Afinal o jogo viria a marcar a ascensão de um novo colosso europeu. Do branco passou-se para o vermelho. O azul-grená teria de esperar mais três décadas. Era chegado o tempo do Sport Lisboa e Benfica!


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A final seria arbitrada por um grande árbitro. Isento, certeiro, eficaz em todos os aspectos do jogo, foi notável o seu desempenho. O Suiço Dienst foi um nome grande da arbitragem mundial.


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Já a nossa equipa era uma perfeita desconhecida para a Europa do futebol. A única excepção era o nosso treinador, já então um nome antigo e prestigiado do futebol Europeu. Béla Guttmann conhecia muito bem o futebol e muitas das grandes estrelas do FCB. Ele mais do que ninguém espreitava a oportunidade, sabendo bem a correlação de forças que estaria no terreno nessa noite de Berna.

Não obstante, nesse final de tarde de Berna, tudo apontava para a confirmação do favoritismo dos Catalães. Estes chegavam como os vencedores antecipados, merecendo todas as atenções e favores da crítica pois tinham feito uma bela campanha eliminando o penta-campeão Europeu e eterno rival, Real Madrid e ainda, entre outros, o campeão Alemão, o Hamburger S-V. Pareciam favas contadas. Não foram.


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Como se disse, Béla Guttmann tinha a vantagem de conhecer o adversário, em particular os Húngaros, e também de ter preparado desde final de 1959 uma verdadeira máquina de futebol ofensivo. Poder físico, preparação mental, tudo era conjugado para que a equipa mantivesse a crença na vitória e a concentração no jogo. Podiam até sofrer 3 golos mas se marcassem 4 golos então tudo estaria bem. Foi esse o cunho inconfundível das suas equipas.

E depois, outra vantagem decisiva seria a notável presença dos adeptos Benfiquistas, que mesmo em desvantagem numérica, revelaram sempre a paixão que um dia mais tarde Béla Guttmann de forma tão sublime exaltaria. Que sortudos foram todos aqueles Benfiquistas!


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O idílio de Spiez


A Direcção do Benfica e o treinador Béla Guttman andaram bem ao levar o Benfica para um Hotel bem isolado, num cenário quase idílico. A cerca de 40 Km de Berna, ficaram no Hotel Eden, o mesmo Hotel onde a Mannschaft de 1954 tinha estagiado antes de cometer uma das grandes surpresas da História do Futebol ao derrotar a fabulosa Hungria na final do Campeonato do Mundo de 1954. Não terá sido inocente, Guttmann era um homem de superstições e o local era efectivamente idílico e ideal para a nossa equipa estagiar.


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Ali, em paisagens verdejantes, à beira de um lago e com toda a tranquilidade e conforto, os nossos bravos rapazes prepararam bem uma final que se revelaria dura, intensa, à medida de grandes Homens e grandes jogadores.


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A comitiva Benfiquista em Spietz, a conviver com algum do pessoal do Hotel Eden Spiez. O Hotel ainda existe e dá para perceber como foi uma boa escolha.



Breve resumo da grande final


E finalmente chegou o dia 30 de Maio de 1961. Perto das 19h00 locais, 18h00 em Portugal as duas equipas alinhavam no centro do terreno de jogo. Lá ao fundo estava a mítica torre com o relógio e o marcador. Dezenas de pessoas viram a final desse ângulo privilegiado.


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Final de tarde em Berna. Estádio Wankdorf.



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As duas equipas alinhadas. Ao fundo a mítica torre.



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Os dois capitães à frente dos sonhos dos seus companheiros e adeptos.




O Sport Lisboa e Benfica apresentava-se na sua máxima força pois apesar de Serra, lateral direito durante boa parte da época se ter lesionado, estava de volta Mário João, o titular do princípio da época. Naquele plantel todos eram importantes, todos podiam jogar.

De resto, apesar de desconhecidos fora de Portugal, só mesmo os Portugueses sabiam que ali estavam onze craques, jogadores do melhor que o nosso País alguma vez teve num campo de futebol. E assim se apresentou Béla Guttmann.



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Nessa última noite de Maio de 1961, o FCB apresentava-se com uma defesa remendada em que a ausência de Segarra se revelaria ruinosa. Os Catalães tinham no entanto um ataque impressionante com Kubala a lidar outros génios do futebol como os seus compatriotas Kócsis e Czibor e ainda Suarez (Espanhol) e Evaristo (Brasileiro).

No banco os azul-grená eram orientados por Orizaola, que tinha iniciado a época como adjunto mas por causa da instabilidade de resultados tinha sucedido ao Jugoslavo Brocic. Apesar de uma carreira longa, Orizaola nunca se veio a revelar um treinador de nível superior. Assim se compreende que, nesse dia, o SL Benfica tinha uma vantagem decisiva ao poder contar com a orientação sagaz e esclarecida do lendário feiticeiro Húngaro.


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A primeira parte da partida foi frenética em futebol e golos. A pressão inicial do Barcelona foi intensa e cheia de oportunidades de golo. Pressão intensa, mesmo empolgada, por parte do poderoso ataque Catalão. A defesa Benfiquista muito dificilmente ia aguentando o nulo mas aos 20 minutos não deu mais, quando o Húngaro Kocsis marcou de cabeça depois de um centro vinda da direita. Resultado perfeitamente justo até então.


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A agravar tudo isto, poucos minutos antes, Mário Coluna tinha sofrido uma forte pancada na sua cabeça e necessitado de assistência fora de campo. Reentrou após 4-5 minutos mas para jogar por instinto, sem a plena consciência do que estava a fazer. De tal forma que diria mais tarde não se recordar do que tinha feito durante toda a primeira parte! A recuperação de Coluna foi um momento decisivo do jogo. A sua entrada seria fundamental para liderar a recuperação Benfiquista e seria ele a marcar o golo decisivo!


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A lesão e a recuperação de Mário Coluna!




O jogo ia decorrendo sempre na mesma toada de ataque catalão mas gradualmente o Benfica começou a usar a sua bem oleada máquina ofensiva. Finalmente!


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E aconteceu! À meia hora, subitamente e perante a surpresa geral, o Benfica marca dois golos de rajada! O primeiro após cruzamento de Cavém a que Águas correspondeu de forma oportuna e o segundo com um auto-golo de Vergés depois de um passe longo de Neto e uma atrapalhação de Ramallets  (que aliás seria crucificado no final do jogo por muitos dos adeptos do Barça). A estupefacção era geral nos Catalães! A alegria era máxima nos Benfiquistas.


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Na segunda parte, o Benfica reentra com boa atitude e logo aos 10 minutos Coluna faz um golo monumental, ao aplicar um remate estrondoso numa bola vinda de um mau alívio da defesa Catalã. O nosso monstro sagrado marcou um dos mais espantosos golos de sempre das finais Europeias. Um monumento!



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Depois foi a mais longa meia hora do Benfiquismo. Um sufoco. Sofremos um ataque avassalador, uma carga brutal de talento e frenesim do futebol Catalão mas que apenas felizmente apenas lhes renderia um golo, aos 75 minutos através de um espectacular remate de Czibor.



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Até ao fim não mais os Catalães ultrapassariam a muralha Benfiquista feita de querer, de talento e de muita sorte. Apesar da eminente falência física, os nossos jogadores redobraram no seu esforço e entrega ao jogo. Ângelo fez uma marcação épica a Kubala, Mário João a Kubala, Cruz a Kocsis, Neto a Suarez e Germano a Evaristo. Foi um sufoco mas foi também uma longa e épica noite de futebol. O nosso ataque com dois golos de rajada abriu-nos o jogo e com o golo de Coluna, as portas desta conquista mas no final foi a defesa que nos garantiu a vitória.



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A carga da brigada Catalã esbarrou na muralha Benfiquista.



E nesse sufoco imposto pelos Catalães, seria Kubala a provocar o momento mais indescritível dessa final, aquele que melhor ilustrou esses momentos de sufoco. Naquela meia hora final de sufoco, em que se sucederam remates perigosos e um massacre à baliza Benfiquista, um dos remates de Kubala embateu primeiro no poste direito de Costa Pereira, resvalou sobre a linha final para por fim bater no poste esquerdo e acabar nas mãos do Glorioso guarda-redes.

"Malditos palos!", lamentaram os Catalães. Abençoados postes, exultaram os Benfiquistas. Diz-se até que na ressaca deste jogo, a FIFA decretaria a erradicação dos postes quadrangulares, mas em face de tudo o que aconteceu nesse dia, será que postes redondos teriam feito a diferença para o FCB? Creio que não.


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Momento indescritível: o remate de Kubala embate no poste direito da baliza de Costa Pereira. Fonte: Mundodeportivo


E finalmente, acabou o jogo. O apito do Suiço Dienst selava a maior Glória da História Benfiquista!

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(CONTINUA)








Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Maio de 2018, 22:11
-216-
Berna 61' (parte II) – glória aos vencedores, honra aos vencidos!


Final de jogo. A hora mais feliz. O capitão José Águas recebe a enfim a Taça. Era nossa!


(https://s33.postimg.cc/5lxaa31lb/B01.jpg)


Mas, no relvado, viviam-se também dramas pessoais e colectivos. Os jogadores do Barcelona amargurados, ainda assim revelaram a sua grandeza e desportivismo. Campeões a felicitar campeões, uma característica dos grandes. Sport Lisboa e Benfica e Fútbol Club Barcelona fazem parte da fina flor do futebol Mundial. A classe não se compra nem se finge. Tem-se!


(https://s33.postimg.cc/d1wjw49xr/B02.jpg)


Mas do lado do Benfica, a festa era rija. Estávamos no topo da Europa!


(https://s33.postimg.cc/ptaq2qmbj/B03.jpg)


(https://s33.postimg.cc/4xofqyne7/B04.jpg)


(https://s33.postimg.cc/cqf3izbdr/B05.jpg)
A aposta entre José Águas e Barroca


(https://s33.postimg.cc/t1f7fc5vz/B06.jpg)
E por curiosidade, lembremos algumas das afirmações que os nossos jogadores fizeram sobre essa noite.


(https://s33.postimg.cc/gzjtla4e7/B07.jpg)
Alguns ecos da imprensa internacional


(https://s33.postimg.cc/485nevhsf/B08.jpg)


(https://s33.postimg.cc/viqymwflb/B09.jpg)
Para sempre jovens! Para sempre Campeões
Obrigado!




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Junho de 2018, 00:54
Grande epopeia.Grandes nomes que marcaram para sempre a nossa mitica historia.Este tópico é fantastico.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Semper Fidelis em 01 de Junho de 2018, 19:15
simplesmente o melhor tópico do fórum!

:winner:

:bandeira1:  :slb2: :bandeira2:

:drunk:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Semper Fidelis em 01 de Junho de 2018, 19:29
faz hoje 20 anos do falecimento do árbitro suíço Dienst

(https://s33.postimg.cc/ov265k8v3/A04.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Junho de 2018, 21:44
Citação de: Semper Fidelis em 01 de Junho de 2018, 19:15
simplesmente o melhor tópico do fórum!

:winner:

:bandeira1:  :slb2: :bandeira2:

:drunk:


Muito obrigado Semper Fidelis  O0

E já agora, gosto muito desse avatar  :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 12 de Junho de 2018, 13:41
grande arrepio ler o teu resumo da primeira final.
oxa-la teremos a sorte e felicidade de festejaremos mais uma noite dessas, algum dia.
um forte abraco, Victor.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Junho de 2018, 13:48
Citação de: alfredo em 12 de Junho de 2018, 13:41
grande arrepio ler o teu resumo da primeira final.
oxa-la teremos a sorte e felicidade de festejaremos mais uma noite dessas, algum dia.
um forte abraco, Victor.

Caro Alfredo, que tenhamos a oportunidade de viver esse dia.

Será o dia mais inolvidável da minha vida Benfiquista. Parece cada vez mais distant€, mas o futebol nem sempre se acorrenta à lógica do dinheiro.

O meu Saudoso Pai teve essa felicidade por duas vezes. Eu próprio poderia perfeitamente ter sido feliz em Estugarda ou Viena. Espero ter uma vida longa que seja também de Benfiquismo feliz, honrado e vitorioso.

Um abraço!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 12 de Junho de 2018, 13:56
Citação de: RedVC em 12 de Junho de 2018, 13:48
Citação de: alfredo em 12 de Junho de 2018, 13:41
grande arrepio ler o teu resumo da primeira final.
oxa-la teremos a sorte e felicidade de festejaremos mais uma noite dessas, algum dia.
um forte abraco, Victor.

Caro Alfredo, que tenhamos a oportunidade de viver esse dia.

Será o dia mais inolvidável da minha vida Benfiquista. Parece cada vez mais distant€, mas o futebol nem sempre se acorrenta à lógica do dinheiro.

O meu Saudoso Pai teve essa felicidade por duas vezes. Eu próprio poderia perfeitamente ter sido feliz em Estugarda ou Viena. Espero ter uma vida longa que seja também de Benfiquismo feliz, honrado e vitorioso.

Um abraço!

para já: bem mereces!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Julho de 2018, 22:13
- NÚMERO ESPECIAL.



Esta mensagem é para o
lagarto plagiador
que usa material deste tópico
(FRASES INTEIRAS E IMAGENS)
e não tem a dignidade de dar O DEVIDO crédito.


(https://s33.postimg.cc/98vtrs29r/Copia_LAGARTO.jpg)


https://www.forumscp.com/index.php?topic=67912.80 (https://www.forumscp.com/index.php?topic=67912.80)



O PLAGIADOR LAGARTO ainda aceita elogios pelos seus "leitores" acerca de material que ele roubou. Faz de autor, investigador, criador e não passa de um filho da puta. Rouba FRASE INTEIRAS. MONTAGENS DE FOTOS, TÍTULOS sem CITAR.


O PLAGIADOR LAGARTO revela que NÃO É SPORTINGUISTA. O que eu li mostra apenas que é um merdas, um lagarto que rouba o trabalho dos outros. Usar, citando as fontes é um acto digno que enriquece os textos e engrandece todos. Usar sem citar, como foi o caso, é um acto de ROUBO.     


São aliás diversos os tópicos em o PLAGIADOR LAGARTO teve o descaramento de transcrever trechos inteiros dando-lhe uma forma tal que parece que foram escritos por ele.

Por exemplo, esta montagem levou-me largos minutos a fazer. Levou tempo a pesquisar, seleccionar e montar mas para o lagarto foi só usar SEM CITAR. Feito por um Benfiquista e roubado por um lagarto.


(https://i.imgur.com/PiT1Doo.jpg)



O "criativo e pesquisador" PLAGIADOR LAGARTO ainda se dá ao trabalho de apagar o que é de cor diferente da dele.


(https://i.imgur.com/HMrBlE0.jpg)


E claro, os seus "leitores" nem mostram inteligência de se questionar sobre as fontes.


Deixo aqui expresso o desejo que o PLAGIADOR LAGARTO continue por aqui a ler, a copiar, a roubar e a manipular o que os outros criam com O SEU TRABALHO, O SEU ESFORÇO, O SEU TEMPO, A SUA PAIXÃO, A SUA CRIATIVIDADE, A SUA PACIÊNCIA, A SUA PREOCUPAÇÃO EM NÃO REBAIXAR OS OUTROS CLUBES SÓ PARA ELEVAR O SEU!

ISTO AQUI É O BENFICA! Percebes?

Aqui cria-se, não se rouba, PERCEBES?

Aqui honra-se, não se emporcalha. PERCEBES?

Aqui respeita-se todas as cores desde que exista dignidade. PERCEBES?


Este Clube já existia quando vocês se "fundaram", começando por ir roubar jogadores aos outros. Está na massa do sangue de muitos de vocês, não é? 


Também para Sportinguistas e para Lagartos, o Decifrando cá continuará a dar material novo. Para lerem verdades históricas, com fontes originais, com menção honrosa de outros Clubes e suas figuras. Dar-vos-à material novo mesmo que alguns lagartos lhes façam aquilo em que são melhores: copiar, roubar e deturpar"


COPIA BEM PLAGIADOR LAGARTO, COPIA TUDO, TU ÉS BOM A COPIAR!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Sá das Violas30 em 16 de Julho de 2018, 23:48
Citação de: RedVC em 09 de Julho de 2018, 22:13
- NÚMERO ESPECIAL - Mensagem a um FILHO DA PUTA.



Esta mensagem é para o
lagarto, osga, sapo, betráquio, réptil, visconde falido, troglodita, plagiador rasca
que usa material deste tópico
(FRASES INTEIRAS E IMAGENS)
e não tem a dignidade de dar O DEVIDO crédito.


https://www.forumscp.com/index.php?topic=67912.80 (https://www.forumscp.com/index.php?topic=67912.80)



o merdas lagarto ainda aceita elogios pelos seus "leitores" acerca de material que ele roubou. Faz de autor, investigador, criador e não passa de um filho da puta. Rouba FRASE INTEIRAS. MONTAGENS DE FOTOS, TÍTULOS sem CITAR.


O MERDAS LAGARTO NÃO É SPORTINGUISTA. O que eu li mostra apenas que é um merdas, um lagarto que rouba o trabalho dos outros. Usar, citando é um acto digno. Usar sem citar é um acto de ROUBO. É uma vergonha.     


São diversos os tópicos em que ele teve o descaramento de transcrever trechos inteiros dando-lhe a forma de que tinham sido escritos por ele. Sem qualquer vergonha ou revelando um pingo de dignidade.

Por exemplo, esta montagem levou-me largos minutos a fazer. Levou tempo a pesquisar, seleccionar e montar mas para o lagarto foi só usar SEM CITAR. 


(https://i.imgur.com/PiT1Doo.jpg)



O "criativo e pesquisador" lagarto, filho de uma grande osga ainda se dá ao trabalho de apagar o que é de cor diferente da dele.


(https://i.imgur.com/HMrBlE0.jpg)


E claro, os seus "leitores" nem mostram inteligência de se questionar sobre as fontes.

Que o lagarto continue por aqui a ler, a copiar, a roubar e a manipular o que os outros criam com O SEU TRABALHO, O SEU ESFORÇO, O SEU TEMPO, A SUA PAIXÃO, A SUA CRIATIVIDADE, A SUA PACIÊNCIA, A SUA PREOCUPAÇÃO EM NÃO REBAIXAR OS OUTROS CLUBES SÓ PARA ELEVAR O SEU!

ISTO AQUI É O BENFICA! Percebes?

Aqui cria-se, não se rouba, PERCEBES? Aqui honra-se, não se emporcalha. PERCEBES?

Este Clube já existia quando vocês se "fundaram", começando por ir roubar jogadores aos outros. Está na vossa massa do sangue, não é? Começaram a roubar e é isso que vocês sabem fazer. Roubar sempre não é?


O Decifrando cá continuará a dar-vos material para aprenderem alguma coisa. Para lerem verdades históricas, com fontes originais, com menção honrosa de outros Clubes e suas figuras. Dar-vos-à material novo mesmo que depois lhes façam aquilo em que vocês são melhores: copiar, roubar e deturpar"


COPIA BEM LAGARTO, COPIA TUDO, TU ÉS BOM A COPIAR, FDP!




Passa a meter uma marca de água nas fotos... Assim pelo menos isso ele tem trabalho a roubar...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Julho de 2018, 23:59
Lamentavelmente terei de pensar seriamente em fazer isso.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 17 de Julho de 2018, 11:37
invadir o topico deles e deixar a tua mensagem para os outros lerem...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Julho de 2018, 20:31
Citação de: alfredo em 17 de Julho de 2018, 11:37
invadir o topico deles e deixar a tua mensagem para os outros lerem...

Ser membro "daquilo" mesmo para dizer verdades é algo que não farei. Não vale a pena argumentar com lagartos. Os lagartos não pensam. Vomitam. Com sportinguistas consegue falar-se mas com lagartos apenas arriscamos levar com o vomitado.

Passarei a ter outros cuidados com o material que interesse a lagartos armados em pesquisadores.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 02 de Agosto de 2018, 13:16
É a génese desse clube de merda,um total complexo de inferioridade,inveja e gosto por roubar o que seja nosso.Clube e gentalha execrável.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Agosto de 2018, 21:54
-217-
A semente que frutificou


Estádio da Luz, dia 1 de Dezembro de 1954.


(https://s15.postimg.cc/ysd4afnu3/image.jpg)
Saudades do Benfica a desfilar no novinho Estádio da Luz. O Glorioso dia 1 de Dezembro de 1954.



Encantados com o seu Estádio novinho em folha e esperançosos nas Glórias futuras que se anunciavam, um grupo de anciãos desfila perante o olhar e o aplauso dos milhares de Benfiquistas presentes. Olhar brilhante e coração cheio de felicidade, mais do que ninguém eles sabiam da importância da nossa querida Catedral.

À cabeça desse venerável pelotão, distinguiam-se entre outros, o antigo presidente Félix Bermudes, o sócio nº 1, Luís Carlos Faria Leal e o sócio nº2, Luís Gatto. Alguns do homens que tinham liderado os Gloriosos dias da fusão de 1908.

Distingue-se também um outro ancião, talvez o mais idoso entre eles. Chamava-se José Netto e foi um homem de grande importância para o futebol Português e uma das mais ilustres figuras da Arte Portuguesa do século XX. Mas lá iremos.

Nesse dia radioso de Inverno, na radiância do seu Benfiquismo, José Netto mostrou-se emocionado e consciente da importância e dignidade daquele momento. Tal como outros dos mais antigos, ele sabia que depois de décadas e décadas em que o Clube tinha andado com a casa às costas, chegava enfim o momento em que tínhamos uma casa própria a longo prazo.

Esperava-se que, ao contrário das Amoreiras, este Estádio novo fosse a casa de uma caminhada longa e Gloriosa. Tal como as Amoreiras, este Estádio novo era assente em pilares feitos da dedicação e amor de tantos e tantos pioneiros, muitos deles já falecidos. O Clube estabilizava enfim e dava aos seus atletas as condições para mostrar o seu talento e com os seus títulos acentuar o seu estatuto de maior Clube de Portugal. E assim foi.



(https://s15.postimg.cc/n394mimln/image.jpg)
José Netto, ali bem na vanguarda daquele Glorioso pelotão de Saudades Benfiquistas. Tantos e tantos que honraram a nossa História.



Resistente, com uma personalidade forjada nas agruras mas também na celebração da beleza da vida, José Netto foi casapiano na sua meninice. Nesses anos casapianos cedo se revelou um aplicado e talentoso estudante. E desde 1904 se tornaria um adepto insigne e fiel do nosso Clube.


É de Jorge Netto que vamos falar neste texto. Honra e Glória à sua memória!



(https://s15.postimg.cc/s1wn12l9n/image.jpg)
José Isidoro d'Oliveira Carvalho Netto
(Almada 02-06-1875 – Lisboa 10-01-1960)



José Isidoro d'Oliveira Carvalho Netto nasceu às 20h00 do dia 2de Junho de 1875, na Rua da Oliveira em Cacilhas, numa casa conhecida por "Casa do Gato". O pequeno José era filho de Isidoro de Oliveira Carvalho Neto, proprietário, natural de Almada e de Dona Júlia Amélia Freitas Netto, doméstica e natural da freguesia de Nossa Srª dos Anjos em Lisboa.

Nasceu no seio de uma família abastada mas quis o destino que na sua meninice a sua família entrasse em falência num processo de garantia para um banqueiro chamado Moura Borges. Esse terá sido o motivo que levou a que o pequeno José Netto tenha dado entrada na Real Casa Pia.

Pela Casa Pia teve uma educação esmerada, se fez homem e conviveu com outros ilustres pioneiros do futebol em Portugal. Tal como ele tendo muitos deles vindo também a destacar-se na sociedade e Cultura Portuguesa. Ironia da vida... Se não tivesse dado entrada na Casa Pia a sua vida teria sido radicalmente diferente e talvez nunca se tivesse tornado um ilustre pioneiro do futebol Português.


(https://s15.postimg.cc/k95z93uq3/image.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa e Delcampe


José Netto pertenceu à fabulosa geração Margiochi de quem já por aqui falamos (ver -189- O professor providencial (p. 48) e -154- A Rotunda da Vitória (p. 43), entre outros), integrando primeiro os lendários grupos da Casa Pia e depois o numeroso colectivo efémera Associação do Bem (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/01/associacao-do-bem.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/01/associacao-do-bem.html)).


(https://s15.postimg.cc/3y5vd25gb/image.jpg)
Alguns dos membros mais destacados do Grupo Margiochi. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Netto foi sempre um indubitável Casapiano, solidário e presente entre os outros que como ele foram carinhosamente acolhidos por essa grande Instituição Portuguesa.


(https://s15.postimg.cc/uj8e8ni4b/image.jpg)
Reunião de antigos Casapianos, provavelmente na década de 30. Ali se assinala a presença de outros dois ilustres casapianos, figuras maiores do futebol Português. Fonte: AML



José Netto, homem de Arte


Revelando desde cedo apurados dotes artísticos, o jovem José Netto frequentou a escola de Belas Artes de Lisboa. Concluiu o curso de Escultura com 20 valores e teve entre os seus professores nomes como Anatol Calmels e Jose Simões de Almeida (tio). entre os seus colegas de estudos esteve Simões de Almeida (sobrinho), que entre outras obras de relevo, esculpiu o primeiro busto da Republica Portuguesa.

Netto foi um artista prestigiado no seu tempo tendo algumas das suas obras sido premiadas com Medalhas de Bronze e Prata, em grandes exposições realizadas nos anos de 1895, 1896 e 1898. Ver mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Isidoro_d%27Oliveira_Carvalho_Netto (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Isidoro_d%27Oliveira_Carvalho_Netto)


De 1909 a 1911 José Netto foi bolseiro em Paris, apurando a sua Arte. Paris era o centro do Mundo Artístico e a Cultura Francesa era a matriz-referência da Cultura Portuguesa. Na Exposição Madrid de 1912, José Netto recebeu a comenda de Isabel a Católica. Quando regressou de Paris Netto era já uma figura prestigiada no meio artístico nacional.


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Entre os seus pares. José Netto entre alguns dos maiores artistas Portugueses reunidos num encontro de grandes figuras da Sociedade Nacional de Belas Artes. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Na década seguinte destacar-se-ia na Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, tendo também recebido uma medalha de Ouro na exposição do Centenário do Rio de Janeiro 1923. Este evento realizou-se no Rio de Janeiro entre 7 de Setembro de 1922 e 23 de Março de 1923. O evento teve no seu tempo uma grande amplitude e relevância cultural e social.


(https://s15.postimg.cc/fn9v191mj/image.jpg)
Fonte: BND e AML



Nesse mesmo evento o Pavilhão das Indústrias Portuguesas seria inaugurado no dia 21 de Maio de 1923 e desmontado em 1929 para voltar a atravessar o oceano! Em Lisboa, o belo edifício foi montado novamente para acolher a Grande Exposição industrial Portuguesa de 1932.

Em meados da década de 1940, o edifício passou a receber espectáculos desportivos, com a designação de... Pavilhão dos Desportos. Isso mesmo, é o mesmo pavilhão que ainda hoje podemos visitar no Parque Eduardo VII, em Lisboa! Em 1984 seria ainda rebaptizado com o nome de Carlos Lopes, o primeiro atleta português que alcançou uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos.

Para José Netto esta exposição ficou também marcada de forma amarga. No regresso do Brasil, o navio que transportava as obras que por lá expôs, naufragou na zona do Cabo da Roca, afundando para sempre uma parte brilhante da sua produção artística. Outros autores também por lá perderam peças brilhantes da sua produção tais como Columbano Bordalo Pinheiro (ao que me lembro pelo menos um famoso retrato de Eça de Queiroz jaz no fundo do mar).


Algumas das suas obras mais famosas podem nomear-se (fonte: wikipedia):

•   -"O Lançador do Disco", no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa;
•   -Busto de António Enes, em marmore, teatro D.Maria II, em Lisboa;
•   -Escultura decorativa da Assembleia da República, em Lisboa;
•   -Corpo central do Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, Lisboa;
•   -Cabeças de leão do banco Lisboa e Açores (depois Banco Totta e Açores) na Rua Áurea em Lisboa;
•   -Leões do espaço dos Passos Perdidos da Assembleia da República, Lisboa;
•   -Cariátide no Museu de Arte Contemporânea, Lisboa;
•   -Anjo da Guarda, em Beja,em mármore;
•   -Monumento de mármore a Costa Goldofim, em Lisboa e monumento do Dr. Miguel Bombarda e Almirante Cândido dos Reis, em Lisboa;
•   -Bustos de bronze de António Marques Pólvora, Dr.José Joaquim de Almeida, de mármore de Carlos de Moura, em madeira o busto da rainha Santa Isabel na capela da Casa Pia, em Lisboa;
•   -Medalhões de bronze Dr. Manuel Duarte e estatuário Francisco dos Santos
•   -Busto do arquitecto António do Couto.



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Alguma da produção artística de José Netto.



Também no desporto José Netto deixaria a sua marca artística. O desporto, o futebol e o Sport Lisboa e Benfica foram uma paixão de toda a sua vida. A semente Casapiana frutificou no desporto e nas Artes.


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Um interessante cruzamento entre as vertentes artísticas e desportistas de José Netto. A Taça de Honra da AFL foi desenhada por ele. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Durante uma boa parte da sua vida, José Netto seria Professor de Desenho na Escola Nacional e em vários colégios dependentes da Casa Pia de Lisboa. Entre os seus alunos contou-se o também notável escultor Leopoldo de Almeida (https://pt.wikipedia.org/wiki/Leopoldo_de_Almeida (https://pt.wikipedia.org/wiki/Leopoldo_de_Almeida)). Numa longa carreira de artista prestigiado, Netto nunca esqueceu as suas origens e os seus antigos companheiros, amigos de toda uma vida. A semente casapiana, de mérito desportivo, artístico, cultural e humanista frutificou, dando muito a Portugal e ao Sport Lisboa e Benfica.


(https://s15.postimg.cc/kafx2lh57/image.jpg)
José Netto entra antigos companheiros que se destacaram na Arte e na Arquitectura na primeira metade do século XX.




José Netto, o Benfiquista
(https://s15.postimg.cc/mrro9wyhn/11_B.jpg)



Remonta aos dias de Belém e aos lendários treinos nas terras do Desembargador às Salésias, os primeiros dias em que José Netto envergou a camisola do Glorioso. José Netto envergou algumas das 12 míticas camisolas de flanela compradas na Casa do Povo de Alcântara (ver -101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. p.29).

José Netto jogava essencialmente a defesa, tendo feito dupla nesse sector com nomes fundamentais dessas equipas casapianas tais como Emílio de Carvalho e Januário Barreto (mais tarde, respectivamente, futebolista e presidente da Direcção do Sport Lisboa).


(https://s15.postimg.cc/ht45vepjv/image.jpg)
À esquerda: uma equipa de futebol da Casa Pia de 1896 onde José Netto pontificou. À direita: um grupo de antigos alunos casapianos reunidos para uma futebolada numa das actividades promovidas pela efémera mas importante Associação do Bem.



José Netto não esteve entre os 24 fundadores do Sport Lisboa. Não esteve ele tal como não estiveram quase todos os seus antigos companheiros casapianos. Essa componente casapiana que reconhecidamente foi decisiva para a aceitação popular e o nosso precoce sucesso desportivo, entraria em força no Clube pouco tempo depois da fundação. Os casapianos trouxeram experiência e competitividade às equipas de futebol do Sport Lisboa mas também trouxeram consistência adicional ao Ideal do nosso Clube.

Em 1904, José Netto tinha já 29 anos de idade. Pela norma da época, Netto era já um veterano mas ainda assim terá mantido uma boa capacidade ou pelo menos a sua experiência terá sido muito valorizada. Note-se ainda que em caso de impedimento de algum dos jogadores da defesa, Netto chegou a fazer alguns jogos pela 1ª categoria.

Netto era um habitual da 2ª categoria, uma equipa que nessa época tinha tanto talento como inteligência pois era constituída por homens de talento artístico. Foi a famosa equipa dos "espertos", uma equipa que incluía diversos fundadores e duas das figuras mais importantes da História do nosso Clube: Félix Bermudes e Cosme Damião!



(https://s15.postimg.cc/ivece0l8r/image.jpg)
A Gloriosa segunda categoria do Sport Lisboa fotografada em 1905 ou 1906. A famosa equipa dos "espertos"! José Netto fazia parceria na defesa com José Rosa Rodrigues, fundador e primeiro presidente do nosso Clube.



A grande crise de Maio de 1907, despoletada pelo abandono da maior parte dos jogadores da nossa primeira categoria, seria um momento decisivo no nosso Clube. José Netto esteve entre os que ficaram, os que resistiram e continuaram a defender o nosso manto sagrado, envergando a Gloriosa camisola de flanela vermelha. Foi um tempo duro mas Glorioso do qual felizmente ficaram com alguns registos fotográficos.

Mas para sempre ficou a memória dessa equipa que em 1907 não teve receio em assumir a representação da 1ª categoria, tomando o lugar deixado vago por companheiros que optaram pelo caminho mais fácil e mais generosamente pago.
Em breve a idade e a emergência de novas gerações de grandes jogadores, faria com que José Netto arrumasse as botas e se dedicasse plenamente à sua vida artística e de docente.



(https://s15.postimg.cc/apwafwf0b/image.jpg)
A primeira categoria do Sport Lisboa depois da crise de Maio de 1907. Félix Bermudes (com a bola) a capitão e Cosme Damião como médio-centro. José Netto sempre como defesa à esquerda fazia dupla com o fundador Henrique Teixeira.




José Netto morreria no dia 10de Janeiro de 1960. Morreu apenas cinco dias depois da morte de outro grande Benfiquista, o Glorioso Félix Bermudes. Morreu em Benfica, onde tinha uma Quinta e onde terá residido de forma habitual. Benfiquista e Benfiquense até ao fim.

Bem significativas da ligação de José Netto ao nosso Clube, saliento aqui as palavras sentidas de José Netto nesse dia inolvidável de inauguração da nossa linda Catedral.
Através das décadas José Netto continuaria a ter uma presença discreta mas constante no nosso Clube. Indubitavelmente Benfiquista! Que bonito seria que algum jornalista tivesse em vida feito uma entrevista biográfica extensa a José Netto, onde também fosse abordada a sua vida desportiva e associativa. Quem sabe se essa entrevista existe e se um dia ainda irá aparecer. Esperemos que sim. Na falta dela relembremos algumas das frase que deixou nesse inolvidável dia de 1 de Dezembro de 1954.


(https://s15.postimg.cc/5r8s1fo2z/image.jpg)
Uma semente que frutificou. José Netto no dia 1 de Dezembro de 1954.



Seis anos depois José Netto deixou-nos.


(https://s15.postimg.cc/wp2p37j0r/image.jpg)
Dois obituários de José Netto, em 10 de Janeiro de 1960.


José Netto foi uma das sementes mais generosas e mais talentosas entre os Casapianos e Benfiquistas. Frutificou generosamente e soube sempre guardar o carinho imenso pelo nosso querido Clube.

Honra e Glória ao grande José Isidoro d'Oliveira Carvalho Netto.

(https://s15.postimg.cc/40pqzjtkr/image.jpg)




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 17 de Agosto de 2018, 16:57
A velha Catedral,feita com a vontade ferrea dos Benfiquistas personificada na figura do Grande Presidente Joaquim Ferreira Bogalho.Uma epopeia  que representa a massa da qual os Benfiquistas são feitos(superação,coragem e trabalho).
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 09:40
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 20:54
Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 09:40
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.



Bom, embora soubesse no fundo qual era a essência da resposta à diferença entre "lagarto" e sportinguista (e eu gostaria que houvesse no futebol português adeptos "istas" mais desportistas, com um espírito mais de fair-play de inspiração inglesa), estava curioso em saber a tua opinião.

A história do clube endinheirado que vai buscar recursos humanos a outros clubes, rivais, por assim dizer, faz-me lembrar um bocado o futebol atual muito caracterizado pelo poder do dinheiro e do capitalismo desportivo onde o clube com mais posses, vai buscar a um clube não tão rico mas com ótima capacidade formadora. É a regra geral, hoje em dia.

Depois, um grupo que se considere elite de alguma coisa, e que tenha bastantes posses normalmente dá para o torto. Não que eu seja contra a existência de pessoas ricas, ou defensoras do capitalismo, pois quando existem grupos sociais de pressão ("lobbies") e são criadas leis que se dispõem a diminuir desigualdades sociais a nível de uma nação, a existência de gente rica com aptidões para ajudar ao bem comum da grande maioria, até pode ser benéfica.

Quanto ao carácter das pessoas, seja alguém com virtudes que são uma constante na sua vida, um plagiador ou um nobre endinheirado com birras de menino, depende sempre das atitudes que queremos ter durante as nossas existências. Resta saber se as atitudes no final de contas, são benéficas ou prejudiciais para nós mesmos e para os outros. É sempre bom fazer introspeções pessoais acerca do que andamos aqui a fazer. Pelo menos todos nós deveríamos fazer isso várias vezes.

Eu, mesmo que pessoalmente não seja um poço de virtudes na vida real e aqui no fórum (todos nós temos críticos à nossas atitudes e até personalidades), prefiro evitar o confronto inútil e tentar chegar a consensos. Claro que se a situação for extrema, temos de engolir medos e enfrentar quem tivermos de enfrentar segundo o que nos foi ensinado de bons e maus exemplos e as experiências pessoais que tivemos, na esperança de que a situação seja bem resolvida e de forma tranquila. Mesmo que para isso tenhamos que cortar relações, semelhante a um blackout mediático...não para criar mais inimizades e guerras, mas para evitar violência verbal ou quiçá física se houver um frente-a-frente daqueles bem quentinhos.

Concluíndo, que já meti aqui um bruto testamento, fiquei totalmente esclarecido, RedVC. Obrigado pela resposta :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 21:56
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 20:54
Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 09:40
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.



Bom, embora soubesse no fundo qual era a essência da resposta à diferença entre "lagarto" e sportinguista (e eu gostaria que houvesse no futebol português adeptos "istas" mais desportistas, com um espírito mais de fair-play de inspiração inglesa), estava curioso em saber a tua opinião.

A história do clube endinheirado que vai buscar recursos humanos a outros clubes, rivais, por assim dizer, faz-me lembrar um bocado o futebol atual muito caracterizado pelo poder do dinheiro e do capitalismo desportivo onde o clube com mais posses, vai buscar a um clube não tão rico mas com ótima capacidade formadora. É a regra geral, hoje em dia.

Depois, um grupo que se considere elite de alguma coisa, e que tenha bastantes posses normalmente dá para o torto. Não que eu seja contra a existência de pessoas ricas, ou defensoras do capitalismo, pois quando existem grupos sociais de pressão ("lobbies") e são criadas leis que se dispõem a diminuir desigualdades sociais a nível de uma nação, a existência de gente rica com aptidões para ajudar ao bem comum da grande maioria, até pode ser benéfica.

Quanto ao carácter das pessoas, seja alguém com virtudes que são uma constante na sua vida, um plagiador ou um nobre endinheirado com birras de menino, depende sempre das atitudes que queremos ter durante as nossas existências. Resta saber se as atitudes no final de contas, são benéficas ou prejudiciais para nós mesmos e para os outros. É sempre bom fazer introspeções pessoais acerca do que andamos aqui a fazer. Pelo menos todos nós deveríamos fazer isso várias vezes.

Eu, mesmo que pessoalmente não seja um poço de virtudes na vida real e aqui no fórum (todos nós temos críticos à nossas atitudes e até personalidades), prefiro evitar o confronto inútil e tentar chegar a consensos. Claro que se a situação for extrema, temos de engolir medos e enfrentar quem tivermos de enfrentar segundo o que nos foi ensinado de bons e maus exemplos e as experiências pessoais que tivemos, na esperança de que a situação seja bem resolvida e de forma tranquila. Mesmo que para isso tenhamos que cortar relações, semelhante a um blackout mediático...não para criar mais inimizades e guerras, mas para evitar violência verbal ou quiçá física se houver um frente-a-frente daqueles bem quentinhos.

Concluíndo, que já meti aqui um bruto testamento, fiquei totalmente esclarecido, RedVC. Obrigado pela resposta :)

Tens uma ótima cabeça Petrov. Com boas vibrações e uma atitude positiva e construtiva neste fórum. É um prazer trocar ideias com membros como tu.  O0



Não querendo fazer outro testamento ficam aqui umas adições à História inicial do SCP para o caso de alguns dos leitores daqui terem curiosidade.

OU também para "picar" o lagarto plagiador quando aqui vier buscar mais material. Vai-se irritar com esta visão da história inicial do SCP escrita por um Indefectível Benfiquista. Temos pena.  :coolsmiley:



Em 1907, os Clubes Portugueses que praticavam preferencialmente o futebol estavam a definir-se. Não havia praticamente estrutura nem organização no futebol nacional. Nem sequer havia uma Associação de Futebol (uma proto AFL surgiu apenas em 1910).

O futebol era incipiente mas já havia rivalidades. Nesse tempo, os Ingleses estavam acima de tudo. A verdadeira rivalidade era entre o Sport Lisboa e o CIF. O aparecimento do SCP foi uma anomalia pois tinham condições impressionantes para a época. Estreavam uma bola nova em cada jogo (às vezes em cada parte) quando nós comprávamos uma em 2ª mão aos Ingleses. Tinham água quente, balneários, roupas limpas ao intervalo. Tinham tudo mas faltava o apoio e a competência e competitividade desportiva. Naturalmente que procuraram compra-la. Falharam durante alguns anos pois rapidamente os jogadores que nos vieram buscar entraram em declínio físico. Um deles - Henrique Costa - até voltou pois tinha real amor ao nosso Clube. E foi esse o factor distintivo. Tínhamos as massas, o amor à camisola que surgiu muito cedo e a vontade de resistir definiu o nosso ADN.

O que me surpreende foi que desde cedo e não obstante serem endinheirados, o SCP frustrado com os insucessos sucessivos nos jogos contra nós entrou numa espiral de contestação e de birras - como descrevi anteriormente. Em 1914 deram-nos um novo golpe ao contratar o nosso melhor jogador e o melhor (durante décadas) do futebol Português: Artur José Pereira. Foi chocante pois fizeram isso à socapa, atitude que causou escândalo pois alguns meses antes o SLB tinha recusado recrutar Jaime Cadete, jogador do SCP que se tinha vindo oferecer a nós. De forma leal informamos o SCP e não aceitamos o jogador. Em troca... Esse episódio definiu os dois Clubes e acirrou a rivalidade.

Mas curiosamente o SCP rapidamente entrou também em convulsões internas. Poucos sabem mas José Alvalade saiu do SCP e houve mesmo questões tristes (de que desconheço detalhes) relativas a um contrato de arrendamento para construção de um novo campo de jogos. José de Alvalade julgava-se dono do Clube. Ele aliás tinha pago as contas por isso... Só quando a oposição arranjou uma alternativa (Campo Grande) é que se livraram de José de Alvalade... E ele pelo que sei saiu de sócio. Infelizmente morreria muito cedo. Afastou-se em 1916 e morreu em 1918. Salvo o erro, penso que não era sócio quando faleceu. Era um Clube muito conflituoso nesse tempo. Ou seja eles andaram à porrada com rivais e logo depois entre eles. Soa familiar? É o Sporting...

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 22:14
Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 21:56
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 20:54
Citação de: RedVC em 18 de Agosto de 2018, 09:40
Citação de: Petrov_Carmovich em 18 de Agosto de 2018, 00:57
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2018, 20:45
Citação de: Ned Kelly em 17 de Agosto de 2018, 19:49
Já não vinha aqui (e ao fórum) há uns tempos. Estive a ler deliciado o material (para mim) novo. Não me canso de agradecer a tua paixão e dedicação. Eu sei o trabalho que dá pesquisar fontes, validar, enfim fazer trabalho, verdadeiro trabalho, de investigação.

Não deixa de ser paradoxal haver um lagarto a roubar daqui. Um clube que forma e atrai gente pequena, invejosa e mesquinha, com numerosas excepções claro, mas onde as referidas excepções são decerto silenciosas em oposição aos grunhos ruidosos que nos entram pelos olhos dentro diariamente na novela mexicana das eleições, destituição, Alcochete e afins.


Obrigado Ned!  O0

Este tópico é aberto e tenho muito gosto que Benfiquistas e não Benfiquistas leiam, gostem, critiquem e usem material que por aqui publico.

Como é fácil ver eu preocupo-me em indicar fontes e se não o faço em algum caso isolado é por ignorância da fonte original ou por esquecimento.

O mínimo que se pode exigir é que quem use pedaços de texto ou montagens de fotos faça referência a quem teve o trabalho e o talento (ou falta dele) par o fazer. Eu não teria nunca problema algum de indicar (se calhar até já o fiz) uma fonte original que fosse de um fórum verde ou azul.

Francamente passei-me um pouco. Peço desculpa a quem possa ter achado de mau gosto algumas palavras que usei. apesar de aligeirar um pouco a linguagem na minha mensagem "indignada" ainda assim não a retirei pois não sou hipócrita e há que passar a mensagem ao lagarto.

E essa é outra. Que fique bem claro que para mim há uma diferença entre lagarto e sportinguista. Conheço ambos os tipos e apenas tenho respeito pelos últimos.

O Decifrando continuará. Tenho sido um pouco preguiçoso mas ideias e material há ainda em quantidade e qualidade. Virão tempos em que o material abundará mais do que o que apareceu nos últimos 2 meses.



RedVC, não querendo esticar-me muito no assunto, visto que aqui é para mim o Museu Virtual do Ser Benfiquista, e só se deve falar do passado do Benfica, qual a diferença para ti entre um "lagarto" como aquele sujeito que copiou o trabalho todo e um sportinguista?



Essa pergunta é pertinente Petrov.


Antes de mais devo dizer que independentemente da questão lagarto / sportinguista há a questão de plagiador. Isso é uma questão moral. É uma questão de decência que é independente de qualquer preferência clubística. Como disse, esse tipo que sucede ser lagarto, para além de não ter a decência de citar a fonte original, usou pedaços enormes de texto e montagens de fotos, recebendo depois elogios como se fosse ele a fazer a pesquisa e a criar esses conteúdos. Vergonhoso.

Agora para responder à questão lagarto / sportinguista, vou justamente ao passado pois há razões que se prendem com a génese e a história inicial dos dois Clubes. Peço desculpa por me alongar mas o assunto é interessante.

O Sporting é um Clube que para mim nasceu torto. Nasceu de uma birra de José Alvalade para com alguns dos seus companheiros do Campo Grande FC. Nasceu sectário e endinheirado, entre uma elite que pretendia ter superioridade sobre tudo e todos. Era nesse tempo um Clube que tinha uma vintena de sócios que admitia ou vetava a entrada de novos sócios (com um arcaico sistema de voto com bolas pretas e bolas brancas) e que detinham todo o poder administrativo em círculo fechado.

Eram uma anedota do ponto de vista desportivo. Não tinham o interesse ou a adesão popular. Tinham por isso de recrutar atletas à base do dinheiro. Esvaziaram o  Império e o CIF (embora outro factor para a desgraça deste tenha sido a debandada dos Ingleses após o início doa I Guerra Mundial).

O Sport Lisboa escapou por pouco pois José de Alvalade investiu sobre nós levando-nos 8 jogadores e mais alguns sócios relevantes do SL para o SCP. Ficamos à beira do colapso mas resistimos por via da vontade férrea de Félix Bermudes, Manuel Gourlade, Cosme Damião, Marcolino Bragança. Luís Vieira, João Persónio e mais alguns. E resistimos essencialmente porque tínhamos a preferência popular maioritária. Resistimos porque tínhamos bases de recrutamento de novos jogadores (miúdos de Belém, de Benfica e antigos casapianos, entre outros) e porque tínhamos capacidade e gente que formava novos jogadores. Resistimos porque tinhamos e temos um Ideal. Gourlade foi um entusiasta associativo mesmo a duras expensas da sua própria situação financeira. Cosme Damião foi um inovador e organizador espantoso durante as duas décadas iniciais. Félix Bermudes apareceu em diversos tempos com o seu génio negocial fundamental nos momentos críticos do Clube, fazendo-o evoluir em moldes que garantiram a sua sustentabilidade. E depois deles vieram muitos outros que nos legaram o Clube que tmeos o privilégio de amar, fazer evoluir e legar cada vez mais Glorioso aos que hão-de vir.

Já no SCP, desde cedo a palavra era invejar o vizinho e recrutar o que fosse possível. E como todos sabemos há numerosos episódios ao longo da História - antigos e recentes - envolvendo jogadores e treinadores. O primeiro de todos foi em 1907, quando José Alvalade para além dos 8 supra-citados, chegou a inscrever gente do Sport Lisboa que já nem estava em Portugal (tal como Manuel Mora e Fortunato Levy!!!) ou que já nem praticava futebol como César de Melo... Ou seja a vontade era tornar grande o SCP à custa do esvaziamento dos outros clubes, usando a força bruta do dinheiro. Não se pretendia formar jogadores mas sim recrutar jogadores consagrados à custa dos outros Clubes.

Na primeira década da existência dos dois Clubes deram-se muitas situações tristes que hoje encontramos diariamente reproduzidas. Por exemplo, a maledicência dos jornais para com o nosso Clube. Sim, isso já era frequente nesse tempo mesmo que a imprensa tivesse moldes diferentes. Aliás eram práticas comuns mesmo à política. A adesão popular precoce de que o nosso Clube beneficiou desde cedo levantou invejas. Cosme Damião e Félix Bermudes desde cedo tiveram de responder a acusações baixas vindas de certos colunistas. Já o SCP - Clube - movia-se a queixas e protestos confrontado que era com insucessos desportivos. Está tudo documentado. Há casos célebres como agressões de um guarda-redes do SCP a jogadores do SLB apenas porque lhe marcaram golos, como uma falta de comparência do SCP no seu próprio terreno num jogo contra o SLB apenas porque não nos achavam "dignos" de frequentar as suas instalações, como o abandono desportivo de mais de um campeonato regional de futebol de 1ª categorias... Etc, etc. O lagartismo desenvolveu-se desce cedo. Nasceu da inveja e do sentimento de inferioridade desportiva e associativa.

Gradualmente, o País foi mudando na sua base social e como seria de esperar foi aparecendo uma crescente adesão popular do SCP. Quem não era do SLB tinha alternativas, entre elas o SCP. O princípio da década de 20 foi um tempo mais diverso, mais saudável em que existiam também forças desportivas poderosa do lado do Beleneneses, do Casa Pia e do Vitória de Setúbal, por exemplo. Nesses anos o SLB decresceu muto em força por via do enfraquecimento que sofreu após a formação do CFB e do Casa Pia AC e também por via de cisões internas e indefinições do nosso modelo de Clube.

Depois, com a emergência do novo regime e com as alterações sociais, desde o final da década de 20, o SCP cresceu, tornando-se uma força poderosa que disputou com o SLB, o FCP e com o CFB, a liderança do futebol Português. Infelizmente, o CFB definhou a partir da década de 50 num processo que para mim ainda está em curso e que acabará de forma triste.

Mas voltando ao SCP, em minha opinião há algo que se manteve sempre constante, transversal  a essas décadas, que é essa pseudo elite que do alto dessa pseudo superioridade moral, desportiva, social, que procurou sempre trancar a liderança do clube a sectores que não fossem desse círculo. Uma elite frequentemente conotada com o antigo regime. É indesmentível. Alberto Miguéns em tempos fez um notável trabalho comparativo entre o SLB e do SCP que dissecou presidentes com factos biográficos, mostrando as ligações para com  poder vigente desses períodos.

Ao invés do que acontecia no SCP, o SLB sempre teve eleições democráticas. No SCP os presidentes eram nomeados dentro dum círculo restrito. O Conselho Leonino ainda hoje existe e existirá pois mesmo que tenha sido tentado o seu esvaziamento por BdC. Estou convencido que o tentarão revigorar num futuro imediato. O SCP é um ninho de círculos elitistas.

Apesar dos recentes acontecimentos, essa pseudo superioridade moral, ética, elitista de certos meios do SCP para com os outros clubes está ainda viva. aliás é uma fraude histórica pois existem episódios suficientes na história deles que os deviam fazer pensar. Um deles envolveu até um presidente que entrou numa cabine dum árbitro com um revolver na mão...

Agora, eu conheço alguns Sportinguistas. Gente que tem dignidade na defesa do seu Clube. Gente que sabe discutir futebol. Gente que ama o seu Clube antes de odiar o adversário. Gente que embora não goste do SLB não fazem do anti-Benfica a sua atitude primária, destrutiva, obsessiva, prioritária. Esses são os lagartos. Não estou com isso a dizer que não existe gente do lado dos Benfiquistas que tem atitudes reprováveis perante Clubes rivais. Agora não conheço é Benfiquistas que antes da vitória do seu Clube coloquem o desejo da derrota dos adversários. Os Benfiquistas que eu conheço colocam acima de tudo o bem do seu Clube.

E assim e para mim. Eu nunca ponho nada à frente da vitória do Sport Lisboa e Benfica. Seja em que modalidade for. Amo o meu Clube antes de tudo. Porque conheço a sua História. Porque conheço a sua evolução nas dificuldade e na ambição. Porque conheço as suas figuras. Porque admiro como souberam lutar contra as dificuldades e desigualdades com que foram confrontados. Porque sempre emanaram da vontade popular. Porque foram a tradução democrática dessa vontade muito antes do País e dos outros Clubes saberem sequer o que era a democracia. Porque como Félix Bermudes escreveu, soube sempre conservar imaculado um Ideal sincero e puro.

Em resumo, os lagartos odeiam o SLB antes de amar o seu Clube. E nem tem problema de o declarar publicamente, expondo-se ao ridículo. Cresci a ouvir os dois tipos de adeptos do SPC e por isso consigo bem diferenciar os dois tipos.



Bom, embora soubesse no fundo qual era a essência da resposta à diferença entre "lagarto" e sportinguista (e eu gostaria que houvesse no futebol português adeptos "istas" mais desportistas, com um espírito mais de fair-play de inspiração inglesa), estava curioso em saber a tua opinião.

A história do clube endinheirado que vai buscar recursos humanos a outros clubes, rivais, por assim dizer, faz-me lembrar um bocado o futebol atual muito caracterizado pelo poder do dinheiro e do capitalismo desportivo onde o clube com mais posses, vai buscar a um clube não tão rico mas com ótima capacidade formadora. É a regra geral, hoje em dia.

Depois, um grupo que se considere elite de alguma coisa, e que tenha bastantes posses normalmente dá para o torto. Não que eu seja contra a existência de pessoas ricas, ou defensoras do capitalismo, pois quando existem grupos sociais de pressão ("lobbies") e são criadas leis que se dispõem a diminuir desigualdades sociais a nível de uma nação, a existência de gente rica com aptidões para ajudar ao bem comum da grande maioria, até pode ser benéfica.

Quanto ao carácter das pessoas, seja alguém com virtudes que são uma constante na sua vida, um plagiador ou um nobre endinheirado com birras de menino, depende sempre das atitudes que queremos ter durante as nossas existências. Resta saber se as atitudes no final de contas, são benéficas ou prejudiciais para nós mesmos e para os outros. É sempre bom fazer introspeções pessoais acerca do que andamos aqui a fazer. Pelo menos todos nós deveríamos fazer isso várias vezes.

Eu, mesmo que pessoalmente não seja um poço de virtudes na vida real e aqui no fórum (todos nós temos críticos à nossas atitudes e até personalidades), prefiro evitar o confronto inútil e tentar chegar a consensos. Claro que se a situação for extrema, temos de engolir medos e enfrentar quem tivermos de enfrentar segundo o que nos foi ensinado de bons e maus exemplos e as experiências pessoais que tivemos, na esperança de que a situação seja bem resolvida e de forma tranquila. Mesmo que para isso tenhamos que cortar relações, semelhante a um blackout mediático...não para criar mais inimizades e guerras, mas para evitar violência verbal ou quiçá física se houver um frente-a-frente daqueles bem quentinhos.

Concluíndo, que já meti aqui um bruto testamento, fiquei totalmente esclarecido, RedVC. Obrigado pela resposta :)

Tens uma ótima cabeça Petrov. Com boas vibrações e uma atitude positiva e construtiva neste fórum. É um prazer trocar ideias com membros como tu.  O0



Não querendo fazer outro testamento ficam aqui umas adições à História inicial do SCP para o caso de alguns dos leitores daqui terem curiosidade.

OU também para "picar" o lagarto plagiador quando aqui vier buscar mais material. Vai-se irritar com esta visão da história inicial do SCP escrita por um Indefectível Benfiquista. Temos pena.  :coolsmiley:



Em 1907, os Clubes Portugueses que praticavam preferencialmente o futebol estavam a definir-se. Não havia praticamente estrutura nem organização no futebol nacional. Nem sequer havia uma Associação de Futebol (uma proto AFL surgiu apenas em 1910).

O futebol era incipiente mas já havia rivalidades. Nesse tmepo, os Ingleses estavam acima de tudo. A verdadeira rivalidade era entre o Sport Lisboa e o CIF. O aparecimento do SCP foi uma anomalia pois tinham condições impressionantes para a época. Estreavam uma bola nova em cada jogo (às vezes em cada parte) quando nós comprávamos uma em 2ª mão aos Ingleses. Tinham água quente, balneários, roupas limpas ao intervalo. Tinham tudo mas faltava o apoio e a competência e competitividade desportiva. Naturalmente que procuraram compra-la. Falharam durante alguns anos pois rapidamente os jogadores que nos vieram buscar entraram em declínio físico. Um deles - Henrique Teixeira - até voltou pois tinha real amor ao nosso Clube. E foi esse o factor distintivo. Tínhamos as massas, o amor à camisola que surgiu muito cedo e a vontade de resistir definiu o nosso ADN.

O que me surpreende foi que desde cedo e não obstante serem endinheirados, o SCP frustrado com os insucessos sucessivos nos jogos contra nós entrou numa espiral de contestação e de birras - como descrevi anteriormente. Em 1914 deram-nos um novo golpe ao contratar o nosso melhor jogador e o melhor (durante décadas) do futebol Português: Artur José Pereira. Foi chocante pois fizeram isso à socapa, atitude que causou escândalo pois alguns meses antes o SLB tinha recusado recrutar Jaime Cadete, jogador do SCP que se tinha vindo oferecer a nós. De forma leal informamos o SCP e não aceitamos o jogador. Em troca... Esse episódio definiu os dois Clubes e acirrou a rivalidade.

Mas curiosamente o SCP rapidamente entrou também em convulsões internas. Poucos sabem mas José Alvalade saiu do SCP e houve mesmo questões tristes (de que desconheço detalhes) relativas a um contrato de arrendamento para construção de um novo campo de jogos. José de Alvalade julgava-se dono do Clube. Ele aliás tinha pago as contas por isso... Só quando a oposição arranjou uma alternativa (Campo Grande) é que se livraram de José de Alvalade... E ele pelo que sei saiu de sócio. Infelizmente morreria muito cedo. Afastou-se em 1916 e morreu em 1918. Salvo o erro, penso que não era sócio quando faleceu. Era um Clube muito conflituoso nesse tempo. Ou seja eles andaram à porrada com rivais e logo depois entre eles. Soa familiar? É o Sporting...



Obrigado pela parte que me toca, RedVC. :) Quando quiseres trocar ideias seja nos tópicos ou por mensagem privada, eu vou dando aqui um salto de tempos a tempos.

Quanto ao resto, não tenho grande coisa a comentar, exceto que apesar de haver personalidades que estiveram ligadas ao Sporting que admiro (casos de Carlos Lopes e Joaquim Agostinho), tenho pena que este clube esteja ligado a vários casos de gente com carácter duvidoso, incluído nos seus primórdios e na pessoa do seu principal fundador.

Se alguém ou algum grupo desportivo quer ser grande como os grandes da Europa (quiçá do Mundo), como afirmou o José de Alvalade (a quem tenho somente pena de ter falecido com a maldita gripe espanhola que matou milhões após a 1ª Guerra Mundial) tem sempre de começar por dentro de si mesmo(s). Alma. Espírito. Coração.  :smitten:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 21:07
-218-
Nas escadarias da Quinta Nova (parte I) – Uma fotografia histórica


Dia 4 de Maio de 1935. Escadaria da porta principal da Quinta Nova de Santo António em Carcavelos.


(https://s8.postimg.cc/7qawumbyd/image.jpg)
Fonte: Delcampe


Um grupo de jogadores e dirigentes que então integravam a Selecção Nacional de Futebol Portuguesa, posa para a fotografia nesse local de grande simbolismo para o Futebol Português.


(https://s8.postimg.cc/3txkyogp1/image.jpg)
A fachada principal da Quinta Nova ou Quinta de Santo António ou Quinta dos Ingleses em Carcavellos. Fonte: carcavelos.com



No dia seguinte a nossa Selecção jogaria mais uma partida importante contra a equipa Nacional de Espanha, selecção que até então nunca tínhamos derrotado. Cândido de Oliveira, então seleccionador nacional, para lá de um homem de grande cultura, era também um conhecedor profundo da História do Futebol Português. Cândido sabia bem da importância e do simbolismo daquelas escadarias.


Mas qual a razão de por ali estar a nossa equipa nacional de futebol?


O facto é que nessa década de 30 era frequente a FPF aceitar a hospitalidade dos Ingleses da Quinta Nova, para que a nossa Selecção por lá estagiasse nas fases finais de preparação para a disputa de importantes jogos internacionais. Acresce a dizer que essa era também a Quinta onde algumas décadas antes tinham acontecido alguns dos jogos mais importantes do início da Historia do Futebol Português. Um local carregado da mística do Futebol. Mas lá iremos.

Assim, não admira que mestre Cândido tenha pretendido posar ali, com os seus atletas, talvez para ganhar inspiração e forças para o embate do dia seguinte. Esse jogo, que foi disputado no Estádio do Lumiar (então utilizado pelo SCP), acabaria com um empolgante empate a 3 bolas, isto depois da equipa Portuguesa ter estado a perder por 0-3!



(https://s8.postimg.cc/5a93gm99h/image.jpg)
A equipa nacional Portuguesa que participou no IV Portugal - Espanha. Os jogadores Benfiquistas estão nomeados.



Nessa selecção estiveram presentes seis jogadores Benfiquistas sendo que quatro entraram em jogo, a saber: Gustavo Teixeira (capitão), Francisco Albino, Vítor Silva e Alfredo Valadas (que entrou como suplente, durante o jogo). Jogou também um antigo Benfiquista, o guarda-redes Dyson que nessa altura jogava á se tinha transferido para o SCP.

Mas agora atentemos em alguns detalhes da fotografia com que iniciamos este texto. Atentemos nos cinco homens sentados da primeira fila:


(https://s8.postimg.cc/ir61zitvp/image.jpg)


Da esquerda para a direita podemos reconhecer Gustavo Teixeira o nosso jogador e então capitão da equipa nacional Portuguesa, o Dr. Cruz Filipe (presidente da FPF), um anfitrião Inglês (que presumo ser o Major Montgomery, na altura Director da Eastern Telegraph Co), Mestre Cândido Oliveira (seleccionador nacional) e por fim o grande Artur José Pereira.

Desconheço os motivos da presença de Artur José Pereira (AJP) mas é possível que ele ajudasse Cândido de Oliveira na Direcção técnica da Selecção Nacional. Talvez tenha estado presente por conservar o prestígio dos seus tempos de jogador, isto apesar de já estar retirado das competições há mais de uma década.

Recordando, até à década de 50, Artur José Pereira foi considerado por muitos como o melhor jogador do Futebol Português. Pelos relatos que nos chegaram, tinha um explosivo com a bola nos pés, cheio de técnica e ao qual juntava um temperamento muito competitivo, muitas vezes conflituoso. Foi um futebolista que espantou todos pela classe e carisma com que jogou. O primeiro verdadeiro craque do futebol Português.

Ao longo da sua carreira envergou as camisolas do Sport União Belenense, FC Cruz Negra, Sport Lisboa e Benfica, Associação de Futebol de Lisboa, Sporting Clube de Portugal, Clube de Futebol "os Belenenses" e (de forma circunstancial) o Futebol Clube do Porto... Já por aqui falamos de algum do seu notável percurso futebolístico, com a revelação de uma rara e notável fotografia dos seus tempos de menino futebolista no extinto Sport União Belenense (ver –108- Olhos de fogo, coração de Belém)


(https://s8.postimg.cc/yperpoyed/image.jpg)
Artur José Pereira, (Belém, 15/10/1888 – Belém, 6/09/1943), um trajecto notável e controverso.


Apesar de nunca terem jogado juntos no SLB, a amizade entre estes dois homens era antiga e em breve teria um novo capítulo pois logo no ano seguinte, Cândido de Oliveira substituiu Artur José Pereira no comando técnico do Belenenses. Esta substituição ocorreria por via da grave doença, que aliás se tornaria fatal na década seguinte. Esse facto levou a que Mestre Cândido prescindisse do seu ordenado em favor de AJP! Cândido de Oliveira era um Homem superior.

Por opção própria muito cedo se tornaram dois ex-Benfiquistas. A sua saída do Sport Lisboa e Benfica seria definitiva. Nunca mais regressaram ou no caso de Cândido de Oliveira, nunca mais o deixaram regressar. Fora do Benfica, mantiveram o brilho da sua contribuição para o Futebol Português. Mas independentemente dos caminhos que percorreram foi no Ideal Benfiquista, na sua natureza ganhadora e nos conhecimentos desportivos de Cosme Damião que se formaram, que definiram a sua matriz formativa, competitiva e ganhadora. Para quem queira saber mais sobre eles, recomendo a leitura do texto -37- Três gigantes, três caminhos separados.


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Cândido de Oliveira e Artur José Pereira durante o tempo em que o primeiro treinou o CFB (1936-1938). Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Enquanto jogador do Sport Lisboa e Benfica, AJP terá tido as suas exibições mais memoráveis, em Portugal e em Espanha. No total cumpriu 7 anos com o manto sagrado, com intenso brilho mas também com frequentes sombras.

Alguma imaturidade e alguma soberba vinda da consciência da superioridade do seu futebol explicam que AJP tenha entrado muitas vezes em choque com Cosme Damião. Os dois eram as grandes figuras do futebol Benfiquista, os mais carismáticos e no entanto os que tinham as personalidades mais opostas.

Cosme Damião era simultaneamente colega de equipa e capitão geral (treinador) de AJP. Nessas funções Cosme mostrou-se sempre um desportista aprumado, metódico, exigente, justo e competente que punia com vigor a indisciplina e as atitudes irreflectidas, por vezes até malcriadas. Para Cosme o Clube esteve sempre acima de qualquer individualidade. Durante alguns anos AJP aceitou essa autoridade mas ao fim de alguns anos a relação começou a mudar.

A rotura definitiva chegaria em meados de 1914, depois da Direcção do SLB impor mais uma punição a AJP. Seguiu-se uma proposta tentadora do SCP e AJP mudou do vermelho para o verde. Saiu pela porta pequena; saiu como um traidor, numa deserção que foi um escândalo para os padrões da época.

Apesar desse triste corte, entre as memórias mais inesquecíveis do futebol Benfiquista desse período, destaca-se a estrondosa vitória do SLB sobre os sobre os Mestres Ingleses do Carcavellos Club. Uma vitória (1-0) no dia 18 de Fevereiro de 1911, em plena Quinta Nova (ver -102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém)!


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Aspectos da grande vitória SLB sobre o Carcavellos Club por 1-0 no dia 18 de Fevereiro de 1911.



No próximo texto falaremos com outro detalhe sobre estes Mestres Ingleses do Carcavellos Club e da Quinta Nova em Carcavelos. Mas antes há que os contextualizar na génese do Futebol em Portugal, recordando os pioneiros Portugueses.



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A Rua do Cabo submarino e a fachada principal da Quinta Nova em Carcavelos em postais da época. Fonte: carcavelos.com



Pioneiros Lusos do Futebol Português


Em Portugal, o futebol foi inicialmente um jogo praticado por miúdos das classes mais favorecidas. De facto, tanto em Lisboa como no Porto, a introdução e prática inicial do Futebol deveu-se à acção voluntarista de alguns miúdos com recursos e tempo livre para o fazer. Do que se conhece, o jogo foi trazido para Portugal por alguns desses miúdos que o tinha visto e praticado enquanto estudantes em Colégios Ingleses.


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Fonte: Torre do Tombo e AML



E assim, por volta de 1888, os manos Pinto Basto (Guilherme, Eduardo e Frederico), fascinados com a dimensão desportiva e económica que o futebol tinha nas ilhas Britânicas nesse final do século XIX, ao regressarem a Portugal, trouxeram e divulgaram o Jogo. E, detalhe muito importante, na sua bagagem trouxeram bolas de futebol, então um raro objecto mas fundamental para o Jogo. Pela sua acção e entusiasmo, as famílias Pinto Basto e Villar tiveram diversos membros a quem o Futebol Português muito deve.




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A Famílias Pinto Basto e Vilar deram-nos alguns dos mais ilustres pioneiros da génese do Futebol em Portugal. Fonte: AML



Nesses tempos iniciais, o Futebol era jocosamente apelidado pelos populares Portugueses como o "jogo do coice" ou o "jogo dos Ingleses. Havia uma conotação negativa sobre o Jogo que aliás era visto como malicioso para a saúde da juventude. E pior se tornou aquando do Ultimatum Inglês (ver: http://ensina.rtp.pt/artigo/ultimato-ingles/).

Inevitavelmente, o Futebol teria de aguardar uma nova explosão. Essa veio a ocorrer com uma nova geração de entusiastas, no princípio do século XX. Seria essa nova geração que estaria na base da popularização do Futebol, pela adopção do Jogo pelas classes menos favorecidas. Entre eles, os mais notáveis foram os estudantes Casapianos de Lisboa, muitos dos passaram a integrar o Sport Lisboa logo nos primeiros dias depois do Acto Fundador de 28 de Fevereiro de 1904.

Em termos associativos, os primeiros clubes Portugueses que praticaram o Jogo foram o Club Lisbonense (de que ainda hoje é herdeiro directo o CIF e que ainda tem futebol de formação e amador) e o Ginásio Club Português (ainda bem vivo embora sem a prática do futebol). Chegou a haver um campeonato que com algumas irregularidades de calendário, chegou a movimentar quase uma dezena de clubes ou Grupos como então se chamavam.

No princípio do século XX deu-se um novo renascimentos, formando-se e desfazendo-se muitos outros clubes, os mais notáveis dos quais foram o Campo Ourique FC, o Império FC, o Cruz Negra FC e principalmente o nosso Sport Lisboa. Este último, ainda radicado em Belém, resultou de uma notável associação entre miúdos de diversas classes sociais que residiam de Belém reforçada mais tarde por antigos estudantes casapianos, então já prestigiados praticantes de futebol e por operários do Arsenal da Marinha. Tinha nascido o Glorioso Sport Lisboa e Benfica!



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Fonte: AML



No próximo texto falaremos enfim da importância dos pioneiros Ingleses na génese e divulgação do Futebol em Portugal. Em particular falaremos no mais notável de todos os Clubes de Ingleses em Portugal: o Carcavellos Club. Falaremos também, ainda que brevemente, de alguns dos seus épicos confrontos com o Sport Lisboa e Benfica!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 21:43
-219-
Nas escadarias da Quinta Nova (parte II) – Os Mestres Ingleses de Carcavelos.


(https://s8.postimg.cc/4d79lfxet/B01.jpg)
Quatro das colectividades que foram total ou essencialmente constituídas por atletas Ingleses. O seu papel foi fundamental para a génese e difusão do Futebol em Portugal. Fonte: hemeroteca de Lisboa.



Ao mesmo tempo (se não antes...) dos Portugueses, diversos membros da comunidade Inglesa no Porto e em Lisboa deram também uma contribuição fundamental para a difusão do Futebol em Portugal. Eram geralmente empregados de empresas Inglesas com representação e actividade comercial em Portugal, que praticavam o Futebol entre outras das numerosas actividades sociais e desportivas promovidas pelos seus Clubes.


Na cidade do Porto o mais notável dos clubes Ingleses foi o Oporto Cricket Lawn-Tennis Club (fundado em 1855 mas que ainda hoje existe) inicialmente implantado na zona do Candal em Gaia e mais tarde sediado em Campo Alegre, ver: https://www.oportocricketclub.com/history.htm). Em outros Clubes Portuenses, tais como o Leixões Football Club e o Boavista Football Club, viria a ocorrer uma curiosa interacção entre Ingleses e Portugueses, em que os Britânicos tiveram um papel inicial importante para mais tarde se afastarem.


Em Lisboa foram relevantes o Lisbon Cricket Club (fundado por volta de 1873 e implantado na zona da Cruz Quebrada, pela comunidade Britânica ligada aos caminhos de ferro em Portugal) e o mais notável de todos, o Carcavellos Cricket and Football Club mais tarde apenas conhecido apenas por Carcavellos Club.

O Carcavellos Club estava sediado desde 1873 na Quinta Nova em Carcavellos e era a componente desportiva e social da Eastern Telegraph Company, a grande empresa Inglesa responsável pela instalação em Portugal de cabos submarinos de telecomunicação. Mas lá iremos.

À semelhança do Porto, existiram também Clubes com interessantes associações entre Portugueses e Ingleses. Entre esses salientaram-se o Gillman FC (na zona de Sacavém da fábrica de loiças Gillman), o Colonials (da Colonian Oil Co), o clube de Braço de Prata e claro o mais célebre dentre todos, o CIF- Clube Internacional de Futebol (onde pontificaram os irmãos Vilar, os Pinto Basto e os Barley, entre outros).



Lugares


(https://s8.postimg.cc/4d79llpqt/B02.jpg)
Fonte: CM Cascais, CM Sintra, Delcampe e AML



Falando da história conhecida - que está longe de ser a factualmente completa - existem lugares incontornáveis para o aparecimento e difusão inicial do futebol em Portugal. No final do século XIX, "futebolou-se" no

● Largo da Achada na Madeira,
● Jardim da Parada em Cascais,
● Quinta do Bonjardim em Belas,
● Campo Pequeno em zona onde seria construída a Praça de touros,
● Pátio das Malvas em Belém,
● Terras do Desembargador às Salésias também em Belém,
● Candal em Gaia
● Campo Alegre no Porto.

Muitos outros locais vieram depois a ser utilizados mas entre os primeiros e mais prestigiados há que salientar sempre a Quinta Nova em Carcavelos.


(https://s8.postimg.cc/vp2imjp85/B03.jpg)
Fonte: AML



A Quinta Nova ou Quinta de Santo António ou Quinta dos Ingleses é um local nem sempre devidamente lembrado, mesmo que seja consensual que ter sido um espaço incontornável para a génese do Futebol em Portugal. É notória a importância do papel dos Ingleses na divulgação e prestígio do Jogo no final do século XIX e princípio do século XX.



A Eastern Telegraph Company e o Carcavellos Club


Voltando à Eastern Telegraph Company, empresa responsável pela instalação de cabos submarinos de telecomunicações transatlânticos.


(https://s8.postimg.cc/i85k3wzjp/B04.jpg)
Fonte: http://atlantic-cable.com e ANACOM



O Cabo submarino é o meio de comunicação que suporta a maior parte dos gigantescos volumes das comunicações internacionais. No passado esses cabos eram feitos de fios de cobre (hoje são fios de vidro) rodeados de plástico e fios de aço. No seu interior circulavam electrões (hoje são fotões) que possibilitam a circulação instantânea de enormes volume de informação entre continentes (fonte: ANACOM ). A melhor analogia que podemos fazer da importância – que se mantém - dos cabos submarinos é que eles estão para o nosso planeta como o sistema nervoso está para o corpo humano.

Foram, são e serão, fundamentais para o nosso meio de vida, assente nas tecnologias da informação. A sua origem é bastante antiga e merece um pequeno resumo.

A instalação de cabos submarinos em diversas partes do mundo iniciou-se em meados do século XIX e teve uma contribuição fundamental por parte das empresas Britânicas. Essa instalação mereceu a prioridade política e financeira dos governos Ingleses dessa época, que acertadamente a julgaram decisiva para manter a coesão e pujança do Império Britânico e da Commonwealth. Foram essenciais para suportar o aumento inusitado de fluxos de pessoas e bens desse tempo.

Esse final do século XIX foi marcado por grandes transformações, por uma torrente de inovações tecnológicas que modelaram muito do que é o actual modelo de vida ocidental. O aumento do volume e da rapidez do fluxo de informação e a facilidade a que a ela acediam um número crescente de pessoas, gerou uma aproximação nunca antes vista de pessoas e culturas.

Em 1870, o governo português concedeu à Falmouth, Gibraltar and Telegraph Company a possbilidade de instalar um Cabo Submarino para transmissão de mensagens telegráficas entre Inglaterra, Portugal, Gibraltar e Malta. No decurso, seria em 1872 que os descendentes do Morgado da Alagoa venderiam a Quinta Nova de Santo António em Carcavelos, para a instalação da referida Companhia.

No entanto em Fevereiro de 1873, a dita companhia transferiria a concessão para a Eastern Telegraph Company (mais tarde Cable & Wireless) que prosseguiu as actividades. O Carcavellos Club era uma estrutura organizada e elitista que juntava os empregados da Eastern Telegraph Co e respectivas famílias em actividades sociais e desportivas nos seus tempos de lazer.


(https://s8.postimg.cc/m4ivzzs9x/B05.jpg)
Fonte: CM Cascais



A instalação dos Ingleses da zona de Carcavelos marcaria uma rotura profunda entre uma localidade pequena, rural e estagnada do passado para uma localidade dinâmica e crescentemente cosmopolita. Ainda nos dias de hoje, Carcavelos goza de uma prestigiada auréola turística e de veraneio. Apesar da Companhia do Cabo Submarino ter sido extinta em 1962, a Quinta Nova mantém-se como um espaço de forte e frutuosa ligação entre a comunidade Britânica e Portuguesa, uma vez que ali funciona a prestigiada Saint Julian's School.

Entre as diversas modalidades praticadas pelo Carcavellos Club destacaram-se o futebol, a corrida, o ténis, o cricket, o râguebi, o ciclismo e o golfe (na Ajuda). Estas modalidades eram praticadas de uma forma muito British, o que equivale a dizer que primavam pela disciplina, ecletismo e competitividade: eram esses os exemplos enquanto desportistas, dados por essa comunidade Britânica. O crescente (embora altamente seleccionado) contacto com comunidades Portuguesa foi decisivo para a divulgação e popularidade de hábitos desportivos, aproveitando os crescentes períodos de lazer que alguns Portugueses já iam tendo.


(https://s8.postimg.cc/fqtswssjp/B06.jpg)
Algumas das diversas modalidades desportivas praticadas na Quinta Nova. Fonte: Delcampe



As equipas de futebol do Carcavellos Club adquiriram rapidamente grande prestígio ao ponto de que as suas equipas participaram nos primeiros campeonatos regionais disputados em Lisboa, arrebatando os títulos. Note-se que então, à falta de uma competição nacional, esse Campeonato Regional era a mais importante competição de futebol de Portugal. Equipando primeiro de branco com uma lista azul e depois com camisola negra e calção branco, as equipas dos Mestres Ingleses de Carcavelos mostram-se um adversário temível, arrebatando à conta de goleadas sucessivas os primeiros títulos desportivos do Futebol em Lisboa!



(https://s8.postimg.cc/y7o7nkqhh/B07.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



O derby Luso-Inglès


Ficaram célebres os embates entre o Carcavellos Club e o Sport Lisboa. Durante quase uma década defrontamos as equipas de futebol dos Mestres Ingleses, somando um total de 27 jogos. Recomenda-se vivamente, a leitura do texto de Alberto Miguéns: Os Imprescindíveis em Carcavelos. Há Mais de 100 Anos, ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/os-imprescindiveis-em-carcavelos-ha.html.

Como se pode ler nesse trabalho, o SLB conseguiu vencer por 7 vezes... Nenhum outro Clube Português actual, venceu uma única vez os Mestres Ingleses do Carcavellos Club. Esse é um privilégio que só nós conquistamos.

No princípio a norma era sofrermos derrotas pesadas, algo que acontecia a todos os outros Clubes. E quando a maré virou, os Ingleses prudentemente retiraram-se das competições, percebendo que o seu tempo tinha terminado. Esse ano de 1914 marcou o fim de várias eras.

Para além disso, um facto notável é que 4 dessas 7 vitórias foram conseguidas em plena Quinta Nova: 1906/1907 (2-1), 1910/1911 (1-0), 1911/1912 (1-0) e 1913/1914 (3-0). As 3 restantes vitórias foram obtidas noutros campos: 1909/1910 na Feiteira (1-0), 1912/1913 em Palhavã (2-0) e 1913/1914 em Sete Rios (2-0).


E ilustrando alguns desses jogos memoráveis:


(https://s8.postimg.cc/im6w3s6v9/B08.jpg)
A primeira vitória sobre o Carcavellos Club e logo na Quinta Nova. Adaptado de Em Defesa do Benfica.




(https://s8.postimg.cc/kf9srkhlx/B09.jpg)
Uma das grandes vitórias do Benfica sobre o Carcavellos Club. Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



(https://s8.postimg.cc/a57dsd9qt/B10.jpg)
Uma derrota no dia em que a Feiteira bateu o recorde de assistência pois terão estado presentes cerca de 8 mil pessoas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e AML



O futebol praticado pelo Carcavellos Club era tipicamente Inglês, com passes largos, correrias e centros bem medidos. A disciplina, a preparação física, a organização táctica e a capacidade técnica dos seus futebolistas eram algumas das virtudes que acentuavam as diferenças e explicavam as recorrentes goleadas sofridas pelos Portugueses.

Assim, com os Mestres Ingleses aprendemos o Jogo de Futebol nas suas diversas vertentes, tácticas, técnicas, físicas e motivacionais. Deles admiramos a intensidade e eficácia do seu futebol. Eram – tanto quanto sei - funcionários da Eastern Telegraph Company sendo que alguns eram também antigos jogadores das Ligas Inglesas de Futebol. Esses jogadores manteriam certamente muitas das suas qualidades, moldadas em campeonatos competitivos do final do século XIX, alguns com assistências de dezenas de milhares de espectadores. Eram outros campeonatos...

O Carcavellos Club é uma lenda. É pena que os seus arquivos não estejam localizados e disponíveis. Se existirem estou certo que poderiam dar-nos mais entendimento e deleite acerca desse período fundamental do Futebol Português e do Futebol Benfiquista em particular.


Honra e Glória ao Carcavellos Club!
(https://s8.postimg.cc/fgmad3yed/B11.jpg)




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 24 de Agosto de 2018, 22:15
Spoiler
Citação de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 21:43
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Nas escadarias da Quinta Nova (parte II) – Os Mestres Ingleses de Carcavelos.


(https://s8.postimg.cc/4d79lfxet/B01.jpg)
Quatro das colectividades que foram total ou essencialmente constituídas por atletas Ingleses. O seu papel foi fundamental para a génese e difusão do Futebol em Portugal. Fonte: hemeroteca de Lisboa.



Ao mesmo tempo (se não antes...) dos Portugueses, diversos membros da comunidade Inglesa no Porto e em Lisboa deram também uma contribuição fundamental para a difusão do Futebol em Portugal. Eram geralmente empregados de empresas Inglesas com representação e actividade comercial em Portugal, que praticavam o Futebol entre outras das numerosas actividades sociais e desportivas promovidas pelos seus Clubes.


Na cidade do Porto o mais notável dos clubes Ingleses foi o Oporto Cricket Lawn-Tennis Club (fundado em 1855 mas que ainda hoje existe) inicialmente implantado na zona do Candal em Gaia e mais tarde sediado em Campo Alegre, ver: https://www.oportocricketclub.com/history.htm). Em outros Clubes Portuenses, tais como o Leixões Football Club e o Boavista Football Club, viria a ocorrer uma curiosa interacção entre Ingleses e Portugueses, em que os Britânicos tiveram um papel inicial importante para mais tarde se afastarem.


Em Lisboa foram relevantes o Lisbon Cricket Club (fundado por volta de 1873 e implantado na zona da Cruz Quebrada, pela comunidade Britânica ligada aos caminhos de ferro em Portugal) e o mais notável de todos, o Carcavellos Cricket and Football Club mais tarde apenas conhecido apenas por Carcavellos Club.

O Carcavellos Club estava sediado desde 1873 na Quinta Nova em Carcavellos e era a componente desportiva e social da Eastern Telegraph Company, a grande empresa Inglesa responsável pela instalação em Portugal de cabos submarinos de telecomunicação. Mas lá iremos.

À semelhança do Porto, existiram também Clubes com interessantes associações entre Portugueses e Ingleses. Entre esses salientaram-se o Gillman FC (na zona de Sacavém da fábrica de loiças Gillman), o Colonials (da Colonian Oil Co), o clube de Braço de Prata e claro o mais célebre dentre todos, o CIF- Clube Internacional de Futebol (onde pontificaram os irmãos Vilar, os Pinto Basto e os Barley, entre outros).



Lugares


(https://s8.postimg.cc/4d79llpqt/B02.jpg)
Fonte: CM Cascais, CM Sintra, Delcampe e AML



Falando da história conhecida - que está longe de ser a factualmente completa - existem lugares incontornáveis para o aparecimento e difusão inicial do futebol em Portugal. No final do século XIX, "futebolou-se" no

● Largo da Achada na Madeira,
● Jardim da Parada em Cascais,
● Quinta do Bonjardim em Belas,
● Campo Pequeno em zona onde seria construída a Praça de touros,
● Pátio das Malvas em Belém,
● Terras do Desembargador às Salésias também em Belém,
● Candal em Gaia
● Campo Alegre no Porto.

Muitos outros locais vieram depois a ser utilizados mas entre os primeiros e mais prestigiados há que salientar sempre a Quinta Nova em Carcavelos.


(https://s8.postimg.cc/vp2imjp85/B03.jpg)
Fonte: AML



A Quinta Nova ou Quinta de Santo António ou Quinta dos Ingleses é um local nem sempre devidamente lembrado, mesmo que seja consensual que ter sido um espaço incontornável para a génese do Futebol em Portugal. É notória a importância do papel dos Ingleses na divulgação e prestígio do Jogo no final do século XIX e princípio do século XX.



A Eastern Telegraph Company e o Carcavellos Club


Voltando à Eastern Telegraph Company, empresa responsável pela instalação de cabos submarinos de telecomunicações transatlânticos.


(https://s8.postimg.cc/i85k3wzjp/B04.jpg)
Fonte: http://atlantic-cable.com e ANACOM



O Cabo submarino é o meio de comunicação que suporta a maior parte dos gigantescos volumes das comunicações internacionais. No passado esses cabos eram feitos de fios de cobre (hoje são fios de vidro) rodeados de plástico e fios de aço. No seu interior circulavam electrões (hoje são fotões) que possibilitam a circulação instantânea de enormes volume de informação entre continentes (fonte: ANACOM ). A melhor analogia que podemos fazer da importância – que se mantém - dos cabos submarinos é que eles estão para o nosso planeta como o sistema nervoso está para o corpo humano.

Foram, são e serão, fundamentais para o nosso meio de vida, assente nas tecnologias da informação. A sua origem é bastante antiga e merece um pequeno resumo.

A instalação de cabos submarinos em diversas partes do mundo iniciou-se em meados do século XIX e teve uma contribuição fundamental por parte das empresas Britânicas. Essa instalação mereceu a prioridade política e financeira dos governos Ingleses dessa época, que acertadamente a julgaram decisiva para manter a coesão e pujança do Império Britânico e da Commonwealth. Foram essenciais para suportar o aumento inusitado de fluxos de pessoas e bens desse tempo.

Esse final do século XIX foi marcado por grandes transformações, por uma torrente de inovações tecnológicas que modelaram muito do que é o actual modelo de vida ocidental. O aumento do volume e da rapidez do fluxo de informação e a facilidade a que a ela acediam um número crescente de pessoas, gerou uma aproximação nunca antes vista de pessoas e culturas.

Em 1870, o governo português concedeu à Falmouth, Gibraltar and Telegraph Company a possbilidade de instalar um Cabo Submarino para transmissão de mensagens telegráficas entre Inglaterra, Portugal, Gibraltar e Malta. No decurso, seria em 1872 que os descendentes do Morgado da Alagoa venderiam a Quinta Nova de Santo António em Carcavelos, para a instalação da referida Companhia.

No entanto em Fevereiro de 1873, a dita companhia transferiria a concessão para a Eastern Telegraph Company (mais tarde Cable & Wireless) que prosseguiu as actividades. O Carcavellos Club era uma estrutura organizada e elitista que juntava os empregados da Eastern Telegraph Co e respectivas famílias em actividades sociais e desportivas nos seus tempos de lazer.


(https://s8.postimg.cc/m4ivzzs9x/B05.jpg)
Fonte: CM Cascais



A instalação dos Ingleses da zona de Carcavelos marcaria uma rotura profunda entre uma localidade pequena, rural e estagnada do passado para uma localidade dinâmica e crescentemente cosmopolita. Ainda nos dias de hoje, Carcavelos goza de uma prestigiada auréola turística e de veraneio. Apesar da Companhia do Cabo Submarino ter sido extinta em 1962, a Quinta Nova mantém-se como um espaço de forte e frutuosa ligação entre a comunidade Britânica e Portuguesa, uma vez que ali funciona a prestigiada Saint Julian's School.

Entre as diversas modalidades praticadas pelo Carcavellos Club destacaram-se o futebol, a corrida, o ténis, o cricket, o râguebi, o ciclismo e o golfe (na Ajuda). Estas modalidades eram praticadas de uma forma muito British, o que equivale a dizer que primavam pela disciplina, ecletismo e competitividade: eram esses os exemplos enquanto desportistas, dados por essa comunidade Britânica. O crescente (embora altamente seleccionado) contacto com comunidades Portuguesa foi decisivo para a divulgação e popularidade de hábitos desportivos, aproveitando os crescentes períodos de lazer que alguns Portugueses já iam tendo.


(https://s8.postimg.cc/fqtswssjp/B06.jpg)
Algumas das diversas modalidades desportivas praticadas na Quinta Nova. Fonte: Delcampe



As equipas de futebol do Carcavellos Club adquiriram rapidamente grande prestígio ao ponto de que as suas equipas participaram nos primeiros campeonatos regionais disputados em Lisboa, arrebatando os títulos. Note-se que então, à falta de uma competição nacional, esse Campeonato Regional era a mais importante competição de futebol de Portugal. Equipando primeiro de branco com uma lista azul e depois com camisola negra e calção branco, as equipas dos Mestres Ingleses de Carcavelos mostram-se um adversário temível, arrebatando à conta de goleadas sucessivas os primeiros títulos desportivos do Futebol em Lisboa!



(https://s8.postimg.cc/y7o7nkqhh/B07.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



O derby Luso-Inglès


Ficaram célebres os embates entre o Carcavellos Club e o Sport Lisboa. Durante quase uma década defrontamos as equipas de futebol dos Mestres Ingleses, somando um total de 27 jogos. Recomenda-se vivamente, a leitura do texto de Alberto Miguéns: Os Imprescindíveis em Carcavelos. Há Mais de 100 Anos, ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/os-imprescindiveis-em-carcavelos-ha.html.

Como se pode ler nesse trabalho, o SLB conseguiu vencer por 7 vezes... Nenhum outro Clube Português actual, venceu uma única vez os Mestres Ingleses do Carcavellos Club. Esse é um privilégio que só nós conquistamos.

No princípio a norma era sofrermos derrotas pesadas, algo que acontecia a todos os outros Clubes. E quando a maré virou, os Ingleses prudentemente retiraram-se das competições, percebendo que o seu tempo tinha terminado. Esse ano de 1914 marcou o fim de várias eras.

Para além disso, um facto notável é que 4 dessas 7 vitórias foram conseguidas em plena Quinta Nova: 1906/1907 (2-1), 1910/1911 (1-0), 1911/1912 (1-0) e 1913/1914 (3-0). As 3 restantes vitórias foram obtidas noutros campos: 1909/1910 na Feiteira (1-0), 1912/1913 em Palhavã (2-0) e 1913/1914 em Sete Rios (2-0).


E ilustrando alguns desses jogos memoráveis:


(https://s8.postimg.cc/im6w3s6v9/B08.jpg)
A primeira vitória sobre o Carcavellos Club e logo na Quinta Nova. Adaptado de Em Defesa do Benfica.




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Uma das grandes vitórias do Benfica sobre o Carcavellos Club. Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



(https://s8.postimg.cc/a57dsd9qt/B10.jpg)
Uma derrota no dia em que a Feiteira bateu o recorde de assistência pois terão estado presentes cerca de 8 mil pessoas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e AML



O futebol praticado pelo Carcavellos Club era tipicamente Inglês, com passes largos, correrias e centros bem medidos. A disciplina, a preparação física, a organização táctica e a capacidade técnica dos seus futebolistas eram algumas das virtudes que acentuavam as diferenças e explicavam as recorrentes goleadas sofridas pelos Portugueses.

Assim, com os Mestres Ingleses aprendemos o Jogo de Futebol nas suas diversas vertentes, tácticas, técnicas, físicas e motivacionais. Deles admiramos a intensidade e eficácia do seu futebol. Eram – tanto quanto sei - funcionários da Eastern Telegraph Company sendo que alguns eram também antigos jogadores das Ligas Inglesas de Futebol. Esses jogadores manteriam certamente muitas das suas qualidades, moldadas em campeonatos competitivos do final do século XIX, alguns com assistências de dezenas de milhares de espectadores. Eram outros campeonatos...

O Carcavellos Club é uma lenda. É pena que os seus arquivos não estejam localizados e disponíveis. Se existirem estou certo que poderiam dar-nos mais entendimento e deleite acerca desse período fundamental do Futebol Português e do Futebol Benfiquista em particular.


Honra e Glória ao Carcavellos Club!
(https://s8.postimg.cc/fgmad3yed/B11.jpg)





[fechar]

Só um pequeno aparte de cariz pessoal, RedVC. Fiquei muito contente por saber que a infelizmente já destruída Quinta da Feiteira (e já agora a Junta de Freguesia de Benfica, que foi a antiga sede do SLB) é perto do sítio onde resido atualmente, sendo que também fica perto da Vila Ana que ainda existe ao fim destes anos com a Vila Ventura (pelo menos parece que é desta que vão renovar a zona para habitação local):

(https://s8.postimg.cc/a57dsd9qt/B10.jpg)
Desculpa lá usar o link da imagem do teu tópico, mas estou a tentar mostrar aqui uma coisa.
(https://static.globalnoticias.pt/dn/image.aspx?brand=DN&type=generate&name=big&id=8958474&source=ng8953066.jpg&t=20171202001200)
(http://static.panoramio.com/photos/original/33982185.jpg)

Isto para um rapaz que nasceu em Peniche, é como tropeçar em tesouros da história de Lisboa  ^-^
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 22:30
Citação de: Petrov_Carmovich em 24 de Agosto de 2018, 22:15
Spoiler
Citação de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 21:43
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Nas escadarias da Quinta Nova (parte II) – Os Mestres Ingleses de Carcavelos.


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Quatro das colectividades que foram total ou essencialmente constituídas por atletas Ingleses. O seu papel foi fundamental para a génese e difusão do Futebol em Portugal. Fonte: hemeroteca de Lisboa.



Ao mesmo tempo (se não antes...) dos Portugueses, diversos membros da comunidade Inglesa no Porto e em Lisboa deram também uma contribuição fundamental para a difusão do Futebol em Portugal. Eram geralmente empregados de empresas Inglesas com representação e actividade comercial em Portugal, que praticavam o Futebol entre outras das numerosas actividades sociais e desportivas promovidas pelos seus Clubes.


Na cidade do Porto o mais notável dos clubes Ingleses foi o Oporto Cricket Lawn-Tennis Club (fundado em 1855 mas que ainda hoje existe) inicialmente implantado na zona do Candal em Gaia e mais tarde sediado em Campo Alegre, ver: https://www.oportocricketclub.com/history.htm). Em outros Clubes Portuenses, tais como o Leixões Football Club e o Boavista Football Club, viria a ocorrer uma curiosa interacção entre Ingleses e Portugueses, em que os Britânicos tiveram um papel inicial importante para mais tarde se afastarem.


Em Lisboa foram relevantes o Lisbon Cricket Club (fundado por volta de 1873 e implantado na zona da Cruz Quebrada, pela comunidade Britânica ligada aos caminhos de ferro em Portugal) e o mais notável de todos, o Carcavellos Cricket and Football Club mais tarde apenas conhecido apenas por Carcavellos Club.

O Carcavellos Club estava sediado desde 1873 na Quinta Nova em Carcavellos e era a componente desportiva e social da Eastern Telegraph Company, a grande empresa Inglesa responsável pela instalação em Portugal de cabos submarinos de telecomunicação. Mas lá iremos.

À semelhança do Porto, existiram também Clubes com interessantes associações entre Portugueses e Ingleses. Entre esses salientaram-se o Gillman FC (na zona de Sacavém da fábrica de loiças Gillman), o Colonials (da Colonian Oil Co), o clube de Braço de Prata e claro o mais célebre dentre todos, o CIF- Clube Internacional de Futebol (onde pontificaram os irmãos Vilar, os Pinto Basto e os Barley, entre outros).



Lugares


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Fonte: CM Cascais, CM Sintra, Delcampe e AML



Falando da história conhecida - que está longe de ser a factualmente completa - existem lugares incontornáveis para o aparecimento e difusão inicial do futebol em Portugal. No final do século XIX, "futebolou-se" no

● Largo da Achada na Madeira,
● Jardim da Parada em Cascais,
● Quinta do Bonjardim em Belas,
● Campo Pequeno em zona onde seria construída a Praça de touros,
● Pátio das Malvas em Belém,
● Terras do Desembargador às Salésias também em Belém,
● Candal em Gaia
● Campo Alegre no Porto.

Muitos outros locais vieram depois a ser utilizados mas entre os primeiros e mais prestigiados há que salientar sempre a Quinta Nova em Carcavelos.


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Fonte: AML



A Quinta Nova ou Quinta de Santo António ou Quinta dos Ingleses é um local nem sempre devidamente lembrado, mesmo que seja consensual que ter sido um espaço incontornável para a génese do Futebol em Portugal. É notória a importância do papel dos Ingleses na divulgação e prestígio do Jogo no final do século XIX e princípio do século XX.



A Eastern Telegraph Company e o Carcavellos Club


Voltando à Eastern Telegraph Company, empresa responsável pela instalação de cabos submarinos de telecomunicações transatlânticos.


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Fonte: http://atlantic-cable.com e ANACOM



O Cabo submarino é o meio de comunicação que suporta a maior parte dos gigantescos volumes das comunicações internacionais. No passado esses cabos eram feitos de fios de cobre (hoje são fios de vidro) rodeados de plástico e fios de aço. No seu interior circulavam electrões (hoje são fotões) que possibilitam a circulação instantânea de enormes volume de informação entre continentes (fonte: ANACOM ). A melhor analogia que podemos fazer da importância – que se mantém - dos cabos submarinos é que eles estão para o nosso planeta como o sistema nervoso está para o corpo humano.

Foram, são e serão, fundamentais para o nosso meio de vida, assente nas tecnologias da informação. A sua origem é bastante antiga e merece um pequeno resumo.

A instalação de cabos submarinos em diversas partes do mundo iniciou-se em meados do século XIX e teve uma contribuição fundamental por parte das empresas Britânicas. Essa instalação mereceu a prioridade política e financeira dos governos Ingleses dessa época, que acertadamente a julgaram decisiva para manter a coesão e pujança do Império Britânico e da Commonwealth. Foram essenciais para suportar o aumento inusitado de fluxos de pessoas e bens desse tempo.

Esse final do século XIX foi marcado por grandes transformações, por uma torrente de inovações tecnológicas que modelaram muito do que é o actual modelo de vida ocidental. O aumento do volume e da rapidez do fluxo de informação e a facilidade a que a ela acediam um número crescente de pessoas, gerou uma aproximação nunca antes vista de pessoas e culturas.

Em 1870, o governo português concedeu à Falmouth, Gibraltar and Telegraph Company a possbilidade de instalar um Cabo Submarino para transmissão de mensagens telegráficas entre Inglaterra, Portugal, Gibraltar e Malta. No decurso, seria em 1872 que os descendentes do Morgado da Alagoa venderiam a Quinta Nova de Santo António em Carcavelos, para a instalação da referida Companhia.

No entanto em Fevereiro de 1873, a dita companhia transferiria a concessão para a Eastern Telegraph Company (mais tarde Cable & Wireless) que prosseguiu as actividades. O Carcavellos Club era uma estrutura organizada e elitista que juntava os empregados da Eastern Telegraph Co e respectivas famílias em actividades sociais e desportivas nos seus tempos de lazer.


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Fonte: CM Cascais



A instalação dos Ingleses da zona de Carcavelos marcaria uma rotura profunda entre uma localidade pequena, rural e estagnada do passado para uma localidade dinâmica e crescentemente cosmopolita. Ainda nos dias de hoje, Carcavelos goza de uma prestigiada auréola turística e de veraneio. Apesar da Companhia do Cabo Submarino ter sido extinta em 1962, a Quinta Nova mantém-se como um espaço de forte e frutuosa ligação entre a comunidade Britânica e Portuguesa, uma vez que ali funciona a prestigiada Saint Julian's School.

Entre as diversas modalidades praticadas pelo Carcavellos Club destacaram-se o futebol, a corrida, o ténis, o cricket, o râguebi, o ciclismo e o golfe (na Ajuda). Estas modalidades eram praticadas de uma forma muito British, o que equivale a dizer que primavam pela disciplina, ecletismo e competitividade: eram esses os exemplos enquanto desportistas, dados por essa comunidade Britânica. O crescente (embora altamente seleccionado) contacto com comunidades Portuguesa foi decisivo para a divulgação e popularidade de hábitos desportivos, aproveitando os crescentes períodos de lazer que alguns Portugueses já iam tendo.


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Algumas das diversas modalidades desportivas praticadas na Quinta Nova. Fonte: Delcampe



As equipas de futebol do Carcavellos Club adquiriram rapidamente grande prestígio ao ponto de que as suas equipas participaram nos primeiros campeonatos regionais disputados em Lisboa, arrebatando os títulos. Note-se que então, à falta de uma competição nacional, esse Campeonato Regional era a mais importante competição de futebol de Portugal. Equipando primeiro de branco com uma lista azul e depois com camisola negra e calção branco, as equipas dos Mestres Ingleses de Carcavelos mostram-se um adversário temível, arrebatando à conta de goleadas sucessivas os primeiros títulos desportivos do Futebol em Lisboa!



(https://s8.postimg.cc/y7o7nkqhh/B07.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



O derby Luso-Inglès


Ficaram célebres os embates entre o Carcavellos Club e o Sport Lisboa. Durante quase uma década defrontamos as equipas de futebol dos Mestres Ingleses, somando um total de 27 jogos. Recomenda-se vivamente, a leitura do texto de Alberto Miguéns: Os Imprescindíveis em Carcavelos. Há Mais de 100 Anos, ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/os-imprescindiveis-em-carcavelos-ha.html.

Como se pode ler nesse trabalho, o SLB conseguiu vencer por 7 vezes... Nenhum outro Clube Português actual, venceu uma única vez os Mestres Ingleses do Carcavellos Club. Esse é um privilégio que só nós conquistamos.

No princípio a norma era sofrermos derrotas pesadas, algo que acontecia a todos os outros Clubes. E quando a maré virou, os Ingleses prudentemente retiraram-se das competições, percebendo que o seu tempo tinha terminado. Esse ano de 1914 marcou o fim de várias eras.

Para além disso, um facto notável é que 4 dessas 7 vitórias foram conseguidas em plena Quinta Nova: 1906/1907 (2-1), 1910/1911 (1-0), 1911/1912 (1-0) e 1913/1914 (3-0). As 3 restantes vitórias foram obtidas noutros campos: 1909/1910 na Feiteira (1-0), 1912/1913 em Palhavã (2-0) e 1913/1914 em Sete Rios (2-0).


E ilustrando alguns desses jogos memoráveis:


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A primeira vitória sobre o Carcavellos Club e logo na Quinta Nova. Adaptado de Em Defesa do Benfica.




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Uma das grandes vitórias do Benfica sobre o Carcavellos Club. Fonte: Em Defesa do Benfica, AML e Hemeroteca de Lisboa



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Uma derrota no dia em que a Feiteira bateu o recorde de assistência pois terão estado presentes cerca de 8 mil pessoas. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e AML



O futebol praticado pelo Carcavellos Club era tipicamente Inglês, com passes largos, correrias e centros bem medidos. A disciplina, a preparação física, a organização táctica e a capacidade técnica dos seus futebolistas eram algumas das virtudes que acentuavam as diferenças e explicavam as recorrentes goleadas sofridas pelos Portugueses.

Assim, com os Mestres Ingleses aprendemos o Jogo de Futebol nas suas diversas vertentes, tácticas, técnicas, físicas e motivacionais. Deles admiramos a intensidade e eficácia do seu futebol. Eram – tanto quanto sei - funcionários da Eastern Telegraph Company sendo que alguns eram também antigos jogadores das Ligas Inglesas de Futebol. Esses jogadores manteriam certamente muitas das suas qualidades, moldadas em campeonatos competitivos do final do século XIX, alguns com assistências de dezenas de milhares de espectadores. Eram outros campeonatos...

O Carcavellos Club é uma lenda. É pena que os seus arquivos não estejam localizados e disponíveis. Se existirem estou certo que poderiam dar-nos mais entendimento e deleite acerca desse período fundamental do Futebol Português e do Futebol Benfiquista em particular.


Honra e Glória ao Carcavellos Club!
(https://s8.postimg.cc/fgmad3yed/B11.jpg)





[fechar]

Só um pequeno aparte de cariz pessoal, RedVC. Fiquei muito contente por saber que a infelizmente já destruída Quinta da Feiteira (e já agora a Junta de Freguesia de Benfica, que foi a antiga sede do SLB) é perto do sítio onde resido atualmente, sendo que também fica perto da Vila Ana que ainda existe ao fim destes anos com a Vila Ventura (pelo menos parece que é desta que vão renovar a zona para habitação local):

(https://s8.postimg.cc/a57dsd9qt/B10.jpg)
Desculpa lá usar o link da imagem do teu tópico, mas estou a tentar mostrar aqui uma coisa.
(https://static.globalnoticias.pt/dn/image.aspx?brand=DN&type=generate&name=big&id=8958474&source=ng8953066.jpg&t=20171202001200)
(http://static.panoramio.com/photos/original/33982185.jpg)

Isto para um rapaz que nasceu em Peniche, é como tropeçar em tesouros da história de Lisboa  ^-^




Uma zona cheia de História Benfiquista. Gloriosa.  :cool2:


Renovação? Mas a renovação implica a demolição das duas casas?

Na verdade parecem umas ruínas. Ainda há pouco tempo vivia uma Senhora de idade numa delas.


(https://www.dn.pt/sociedade/interior/a-mulher-que-via-partir-os-vizinhos-8958474.html)


http://retalhosdebemfica.blogspot.com/2009/12/origem-da-vila-ana-e-da-vila-ventura.html (http://retalhosdebemfica.blogspot.com/2009/12/origem-da-vila-ana-e-da-vila-ventura.html)


A Vila Ana é a mais velha. foi construída em 1890 enquanto que a :huh: Vila Ventura estava em construção no início de 1910 aquando deste jogo

(http://1.bp.blogspot.com/_vyPcxm-fW6Y/Szt-9zA0wAI/AAAAAAAAH_8/KQgOPsbLqKU/s1600/A25353.jpg)

Uma nota interessante é que o general Spínola e o escritor Luiz Pacheco viveram na Vila Ana.


Uma nota pitoresca é que considero que a Quinta da Feiteira apesar de ter condições algo precárias tinha o primeiro "camarote" Benfiquista de sempre  :cool2:

Esse "camarote" era a varanda dos Lobo Antunes que tinham uma Quinta "Alemã" bem ali em frente. Os manos Lobo Antunes cresceram por ali. Eram quase todos Benfiquistas. E o pai deles chegou a ser nosso hoquista!

:slb2:

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 22:45
Pedindo a licença de Alberto Miguéns


(https://s33.postimg.cc/9nulkbxq7/1_A.png)

Imagem actual com referência ao antigo campo e vivendas em redor

(https://s33.postimg.cc/3zoatg8tb/image.jpg)

O camarote dos Lobo Antunes com assistência num jogo contra o Carcavellos Club (estão lá Senhoras com duas sombrinhas)


E depois a mais cómica baliza de sempre


(http://2.bp.blogspot.com/_vyPcxm-fW6Y/Szt-vkeCyFI/AAAAAAAAH_0/qsDptP8HwXU/s1600/A25352.jpg)


Aquela trave era TORTA!  :2funny:



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 24 de Agosto de 2018, 22:48
Por aquilo que me contaram e de um desenho de projeto que vi afixado à entrada das vilas, já arranjaram uma casinha nova para a senhora idosa, não sei aonde, e vão remodelar o espaço das vilas. Vão manter o aspeto original das habitações com umas alterações à volta e por trás para aquilo ficar mais bonito. :)

Já tinha ouvido falar dos Lobo Antunes viverem em Benfica, o General Spínola (ideologias à parte) e o Sr. Pacheco nunca tinha ouvido, mas fico contente por haver gente conhecida que aprecia esta zona de Lisboa.

Mas essa da Quinta ter um camarote é nova para mim. Bom suponho que fosse um luxo para aqueles tempos. :)

E por falar de hoquistas, podia falar do Sr. António Livramento que nos seus últimos anos de vida, gostava de ir ao restaurante "Também Quero" no Bairro das Pedralvas. Mas aí já não posso dizer nada, pois só apareci na zona em 2010, e o senhor já tinha partido para o Outro Lado.

Mas posso mostrar umas coisas que comprovam aquilo que digo...

https://www.fregues.pt/noticias/desporto/34-o-retiro-de-antonio-livramento.html

(https://b.zmtcdn.com/data/pictures/3/8204183/1a09998199b32826f994bf8283df23aa_featured_v2.jpg)

...e o Sr. Miguel Fernandes do referido restaurante...

(https://www.fregues.pt/media/files/42_miguel-fernandes-do-restaurante-tambem-quero.jpg)

...mas tu já devias saber isso, provavelmente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Agosto de 2018, 22:55
Citação de: Petrov_Carmovich em 24 de Agosto de 2018, 22:48
Por aquilo que me contaram e de um desenho de projeto que vi afixado à entrada das vilas, já arranjaram uma casinha nova para a senhora idosa, não sei aonde, e vão remodelar o espaço das vilas. Vão manter o aspeto original das habitações com umas alterações à volta e por trás para aquilo ficar mais bonito. :)

Já tinha ouvido falar dos Lobo Antunes viverem em Benfica, o General Spínola (ideologias à parte) e o Sr. Pacheco nunca tinha ouvido, mas fico contente por haver gente conhecida que aprecia esta zona de Lisboa.

Mas essa da Quinta ter um camarote é nova para mim. Bom suponho que fosse um luxo para aqueles tempos. :)

E por falar de hoquistas, podia falar do Sr. António Livramento que nos seus últimos anos de vida, gostava de ir ao restaurante "Também Quero" no Bairro das Pedralvas. Mas aí já não posso dizer nada, pois só apareci na zona em 2010, e o senhor já tinha partido para o Outro Lado.

Mas posso mostrar umas coisas que comprovam aquilo que digo...

https://www.fregues.pt/noticias/desporto/34-o-retiro-de-antonio-livramento.html

(https://b.zmtcdn.com/data/pictures/3/8204183/1a09998199b32826f994bf8283df23aa_featured_v2.jpg)

...e o Sr. Miguel Fernandes do referido restaurante...

(https://www.fregues.pt/media/files/42_miguel-fernandes-do-restaurante-tambem-quero.jpg)

...mas tu já devias saber isso, provavelmente.


O grande especialista em hóquei Benfiquista é Alberto Miguéns. Aliás em tudo...  :cool2:


Obrigado pelas fotos. Excelentes!


Não conhecia esses hábitos de Livramento mas ele foi para o SL Benfica vindo do Fófó. Tenho ideia que jogava futebol mas Torcato Ferreira resgatou-o para o hóquei.

Foi pena que só tenha ganho títulos Europeus quando foi para o SCP. Tivemos de esperar por gerações seguintes. Não é do meu tempo mas o meu Pai dizia que ele era mesmo um craque.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Setembro de 2018, 21:57
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Por terras Açorianas (parte I) – Um desafio no Relvão


Julho de 1914. Campo do Relvão, Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores.


(https://s22.postimg.cc/b20tcujxt/image.jpg)
Fonte: CEHR, Universidade Católica Portuguesa



Vinte e cinco homens, organizados em duas equipas de futebol, posam no Campo do Relvão, terreno usado por uma das equipas presentes, o Angra Sport Club, um clube fundado no ano anterior.


A outra equipa de futebol era constituída por marinheiros da guarnição do poderoso Cruzador NRP-Adamastor, que por essa altura estava ancorado ao largo da Ilha Terceira. O cruzador estava de regresso da costa Brasileira, onde esteve em missão oficial nos finais de 1913.


É sabido que não foram raras as partidas de futebol que nessa época opuseram equipas açorianas e equipas marinheiros de navios de guerra (por vezes Ingleses) ancorados ao largo das ilhas. O que é raro é aparecerem fotografias a testemunharem esses eventos. Daí o interesse das fotografias que serão apresentadas neste e no próximo texto. Mas haverá mais motivos de interesse.


(https://s22.postimg.cc/h2yia5brl/image.jpg)
A Ilha Terceira com Capital em Angra do Heroísmo tinha na altura cerca de 47-000 habitantes e dois concelhos, o de Angra e o da Praia na parte Leste da Ilha.




O mítico Campo do Relvão


Lendo sobre o Campo do Relvão, percebe-se era um campo muito peculiar, algo inclinado, embora dotado de um excelente enrelvado. Situado na vertente Leste do Monte Brasil, o campo entende-se desde as muralhas da Fortaleza de São João Baptista até à Baía de Angra do Heroísmo. É um local histórico que foi utilizado para manobras militares desde os tempos da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834) e para local de castigos e execuções por fuzilamento, aquando da Batalha do Pico do Seleiro, a 4 de Outubro de 1828.

Alheios a esse negro passado, desde o final do séc. XIX até ao ano de 1924, os pioneiros do futebol Açoriano usaram o Campo do Relvão para muitas das primeiros jogos disputados na formosa Ilha Terceira. Ora, foi justamente a partir de 1914, ano em que se disputou o jogo em que estamos interessados, que o Campo do Relvão passou a ser mais intensamente utilizado em treinos militares. Essa utilização militar deixava o campo impraticável para o futebol, situação similar à que aconteceu uns anos antes nas Salésias em Belém e que levou o nosso Clube a mudar-se para a Quinta da Feiteira em Benfica. Na ilha Terceira, somente depois de 1924 o cenário mudaria quando uma série de vontades permitiu a construção do parque de jogos municipal da cidade de Angra de Heroísmo.


Mas voltando ao jogo de 1914, duas fotografias adicionais ilustram-nos fases da partida e mostram de forma bem evidente o tal desnível do terreno de jogo no Campo do Relvão.


(https://s22.postimg.cc/jka9hiqk1/image.jpg)
Duas fases do jogo. Fonte: CEHR, Universidade Católica Portuguesa´



Talvez um olhar mais atento e algum poder de adivinhação permita diferenciar os jogadores das duas equipas mas confesso que nem tentei fazê-lo. Os equipamentos eram semelhantes, predominando a cor branca, sendo possível que o preto e branco esconda detalhes diferenciadores.

Nota-se também a presença de alguma assistência ao redor do campo. Sempre seria um dia diferente do habitual... E pouco mais se poderá extrair das fotografias. Há ainda uma quarta fotografia com um particular motivo de interesse mas antes falemos um pouco dos pioneiros do Futebol Terceirense.



(https://s22.postimg.cc/3nbhkaqap/image.jpg)
O famoso Campo do relvão é hoje o Parque Municipal do Relvão, local bastante aprazível. Fonte: http://www.cmah.pt



Os primórdios do Futebol Terceirense


Nota prévia: muito do que se vai dizer sobre os primórdios do futebol Terceirense teve uma fonte de excelência, o Senhor Carlos Enes e o seu apontamento "Penteando a memória": ver http://www.rtp.pt/acores/comunidades/penteando-a-memoria-22--carlos-enes_40796 (http://www.rtp.pt/acores/comunidades/penteando-a-memoria-22--carlos-enes_40796) e também http://www.rtp.pt/acores/comunidades/penteando-a-memoria-43---carlos-enes_41055 (http://www.rtp.pt/acores/comunidades/penteando-a-memoria-43---carlos-enes_41055)


Na Ilha Terceira, tal como aconteceu em Lisboa e no Porto, o Futebol terá sido introduzido por jovens das classes mais favorecidas que divulgaram e praticaram o Jogo nesse final do século XIX, quando regressaram dos seus estudos em Inglaterra. Sabemos aliás alguns dos seus nomes tais como Thomé de Castro (de quem falaremos mais à frente), Eduardo Abreu e José Narciso Parreira Coelho.

Desde esses dias e apesar das condições precárias, a carolice predominava e o futebol lá foi gradualmente enfeitiçando a juventude terceirense residente na cidade de Angra do Heroísmo. Mais tarde começou a ser praticado na Praia da Vitória, na parte leste da Ilha. Depois, nas décadas de 20 e 30, surgiriam também clubes nas freguesias de cariz mais rural tais como a Serreta, Lajes e Vila Nova, compondo o rico panorama do futebol Terceirense nessa primeira metade do século XX.

Assim nessa década de 1910-1920 há informação da existência dos seguintes clubes: Grupo Foot-Ball Angrense, Republicano Sport Club, Angra Sport Club, Recreio dos Artistas Sport Club, Unidos Sport Club, União Sportiva dos Empregados do Comércio.

Esse facto explica que em 1921, representantes de Clubes Açorianos da época e de pioneiros como Thomé de Castro, o Visconde de Agualva, Braga Paixão, João Baldaia do Rego, Jorge Forjaz, major Belo de Almeida e o capitão Borges de Alpoim, estivessem na base da fundação da "Liga da Educação Física de Angra do Heroísmo", organismo que precedeu a formação da Associação de Futebol de Angra de Heroísmo (1931).



Rivalidades Terceirenses


O Lusitânia SC (ou Sport Clube Lusitânia ou Lusitânia dos Açores) foi fundado em 1922, é considerado o Sporting da Ilha terceira. O Lusitânia SC é o mais antigo Clube Terceirense ainda em actividade e o mais vitorioso em títulos Terceirenses

O seu mais antigo e maior rival é o Sport Clube Angrense, fundado em finais de 1929. O SC Angrense é uma Delegação do Sport Lisboa e Benfica e claro a esmagadora maioria dos seus adeptos torcem pelo SLB enquanto os do Lusitânia SC torcem pelo SCP. As rivalidades Terceirenses são assim muito vivas, sentidas com a paixão das cores que bem conhecemos.

Para compor o cenário há ainda a referir o Sport Clube Praiense, um terceiro Clube que mantém acesa rivalidade com os outros dois. Ao contrário dos outros dois, o SC Praiense não é de Angra mas sim da Praia da Vitória, na parte Leste da Ilha Terceira.


(https://s22.postimg.cc/ea5aq13oh/image.jpg)



(https://s22.postimg.cc/o7gbj510h/image.jpg)
As cores da maior e mais antiga rivalidade Terceirense. Duas equipas dos anos 50 do SCA e do SCL.



Entre os jogadores que o SCA deu ao futebol Português destaca-se Pedro Pauleta. Foi pena que não tenha usado o manto sagrado durante a sua excelente carreira.


(https://s22.postimg.cc/ezo32kjpd/image.jpg)
Fonte: http://www.maisfutebol.iol.pt/caminhos-de-portugal/30-09-2014/angrense-a-ligacao-ao-benfica-o-favor-em-67-e-a-rivalidade-local



Já Eliseu, o outro nome maior do futebol Terceirense, foi contratado em 2002 pelo CF Belenenses ao Sport Club Marítimo de Angra do Heroísmo (de quem é aliás a filial nº 7). Como sabemos, Eliseu veio a brilhar com o manto sagrado desde 2014 até à época passada. Boa sorte Eliseu para o teu futuro e obrigado por tudo o que deste ao SLB!


(https://s22.postimg.cc/64n8s2xht/image.jpg)
Eliseu, um Açoriano de coração Benfiquista! Fonte: SAPO desporto



No próximo texto vamos olhar para a tal quarta fotografia do jogo de 1914 e vamos falar nos dois homens que lá estão representados. Um deles é um ilustre pioneiro do Sport Lisboa e Benfica. Será um texto de grande fôlego mas importante para reunir factos relativos à sua (notável) vida e aos primeiros anos da História do Glorioso.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Setembro de 2018, 22:20
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Por terras Açorianas (parte II) – Um Belenense entre Açorianos


Começamos este texto com a quarta fotografia do jogo de 1914 que no Campo do Relvão, na Ilha Terceira, opôs o Angra Sport Club a uma equipa formada por marinheiros do cruzador NRP-Adamastor.


(https://s22.postimg.cc/jbcor65xd/image.jpg)
Fonte: CEHR, Universidade Católica Portuguesa



Os dois homens que nos aparecem na fotografia foram sportsman ilustres dessa época. Um deles era Açoriano, o outro era natural de Belém, uma das terra-berço do nosso Clube.

O sportsman Açoriano era Thomé de Castro, cujo nome foi mencionado no texto anterior. Thomé de Castro foi um dos tais antigos estudantes Açorianos que ao regressar de Inglaterra divulgou o Jogo na Ilha Terceira. Esteve também ligado à fundação do Angra Sport Club (1913).

Em 1922, ou seja oito anos mais tarde, Thomé de Castro estaria ligado à fundação de outro clube, o Sport Club Lusitânia (ou Lusitânia Sport Clube ou Lusitânia dos Açores). Este clube formou-se da junção de vontades e consequente extinção do Angra Sport Club e do Recreio dos Artistas Sport Club, aos quais se juntaram 8 jogadores do União Sportiva dos Empregados do Comércio. Thomé de Castro terá tido um papel relevante nesse processo.


(https://s22.postimg.cc/42mrdfu9d/image.jpg)
Destaque a Francisco Reis Gonçalves, organizador do team do "Adamastor". Fonte: CEHR, Universidade Católica Portuguesa




Mas voltando à fotografia de 1914, a legenda original diz-nos que o segundo homem era o "captain do team" do Adamastor, o Guarda-Marinha Reis Gonçalves. Temos aqui portanto a única fotografia conhecida em que nos aparece Francisco Reis Gonçalves usando calções num campo de futebol.

Para os que não se lembram, Francisco dos Reis Gonçalves foi um dos 24 fundadores do Sport Lisboa. Ele foi um dos miúdos que na manhã de Domingo, dia 28-02-1904, se reuniram na Farmácia Franco em Belém para formalizar o Acto fundador do nosso Clube.



(https://s22.postimg.cc/w2quxqskx/11_A.jpg)
Excerto de uma carta de Francisco dos Reis Gonçalves ao jornalista Mário de Oliveira, em que se assumia como fundador do SLB. Fonte: História do SLB 1904-1954.



No dia em que o nosso Clube foi fundado, Reis Gonçalves tinha apenas 17 anos, 3 meses e 15 dias de idade. Reis Gonçalves era um dos mais novos entre os 24 fundadores do Sport Lisboa. Os 24 fundadores apresentavam uma média de idades de 20 anos, variando entre os 16 anos incompletos de Joaquim José Linhares d'Almeida e os 32 anos de Manuel Gourlade... Um Clube fundado por miúdos de famílias de todas as classes sociais, quase todos a residir em Belém, e que em comum tinham apenas a paixão do jogo e do associativismo. Notável!



(https://s22.postimg.cc/9qt24ej75/11_B.jpg)
Esquerda: simulação de um cartão de Associado do Clube de Francisco dos Reis Gonçalves. Centro: gráfico das idades dos 24 fundadores. Direita: documento do Acto Fundador do Sport Lisboa.





Um filho dilecto de Belém



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Francisco Reis Gonçalves (13-11-1886 – 25-08-1955)



Francisco nasceu em Belém, no dia 13-11-1886. Era filho de Francisco dos Reis Gonçalves e de Elvira Conceição Ferreira de Almeida. A família morava nessa altura na Rua do Embaixador nº 48. O pai era Beirão, natural de Idanha-a-Nova e negociante (desconheço de que ramo de negócio), a mãe era Lisboeta e doméstica. O casal viria a ter pelo menos mais 4 filhos: Joaquim, Belmira, Florinda e Maria.

Reis Gonçalves é uma figura mencionada de forma recorrente neste tópico, não apenas por ter sido um dos nossos 24 fundadores mas também por via da riqueza da sua vida profissional e das outras contribuições que deu ao Futebol Português.


Como e quando se terá dado a saída de Reis Gonçalves do nosso Clube? Na ausência de detalhes teremos de ir listando os factos conhecidos.


Em 1919 Reis Gonçalves já estava desligado do SLB pois esteve envolvido na fundação do CFB. Mas o que se terá passado desde 1904 até 1919? Há algumas pistas mas poucas certezas.

É sabido que diversos dos nossos Fundadores tiveram presença efémera no Sport Lisboa. É possível que alguns tenham estado de forma quase fortuita na Farmácia Franco pois daí em diante não aparecem não aparecem nos registos, nomeadamente nos treinos de futebol de 1904 e 1905. Reis Gonçalves não foi um desses casos pois esteve em alguns treinos apesar de não ter sido um dos mais regulares. E, como comprovou no resto da sua vida, Reis Gonçalves mostrou estar genuinamente interessado no desporto e na vida associativa na sua Belém natal.

Nesta procura, temos um problema adicional pois, de 1904 a 1908, o Sport Lisboa não primava pela organização. Não sobreviveram listas de sócios nem estatutos, lacunas que são bastante penalizadoras para o nosso conhecimento. Alguma informação sobre a vida interna do Clube pode ser extraída das facturas desse tempo mas é tudo conhecimento parcelar. O Sport Lisboa era um clube de sócios/jogadores cuja motivação maior era jogar futebol e não tanto constituir um clube bem estruturado.


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Um quota do Sport Lisboa, sócio nº 23 Cândido Rodrigues, presumivelmente o pai dos Catataus. Fonte: Em Defesa do Benfica.



Faltavam recursos, sobrava paixão pelo jogo. Jogava-se pelo amor à camisola em condições muito precárias. Insuficiências organizativas, carência de recursos e infra-estruturas e o aliciamento de José Alvalade explicam a grande crise de Maio de 1907. Sabemos no entanto que Reis Gonçalves não fez parte dos sócios/jogadores que saíram para o SCP.

Sujeito a surgir melhor informação, nesses primeiros anos Reis Gonçalves terá apenas jogado algumas vezes nas nossas equipas de futebol da 3ª categoria. Talvez não fosse particularmente dotado para o futebol ou então já não teria muito tempo disponível para o Clube por via dos seus afazeres profissionais na Marinha Portuguesa. Em contraste outros fundadores tiveram presença bem mais visível nas 1ªs e 2ªs categorias, a saber: Carlos França, Cosme Damião, Eduardo Corga, Henrique Teixeira, Raúl Empis, os manos José, Cândido e António Rosa Rodrigues e até Manuel Gourlade.

Em Setembro de 1908, o nome de Reis Gonçalves não constava da lista de 54 sócios do Sport Lisboa apresentada aquando da fusão com o Grupo Sport Bemfica. Curiosamente ou talvez não, dos 9 fundadores/jogadores atrás referidos apenas os manos Rosa Rodrigues e Raúl Empis não constavam da lista (tinham aceite o convite do SCP...) Percebe-se assim quantos e quais eram os fundadores que nesse tempo se mantinham mais activos no Clube.


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A lista dos 54 sócios do Sport Lisboa apresentada aquando da fusão de 1908. Dela constavam 4 fundadores: Manuel Gourlade, Carlos França, Eduardo Corga e Henrique Teixeira. Há ainda a considerar Cosme Damião (não mencionado pois já era sócio do Grupo Sport Benfica). Reis Gonçalves não constava da lista.



Ora se Reis Gonçalves não constava dessa lista de 1908 será que já estaria afastado do Clube? Será que não concordaria com o projecto de fusão com o Grupo Sport Bemfica? Não temos a resposta mas há factos interessantes a salientar.


O primeiro facto é que a fusão de Setembro de 1908 levou o Clube para a Quinta da Feiteira em Benfica, onde o Grupo Sport Bemfica já praticava Atletismo e Ciclismo. Tinham terminado os dias dos treinos e jogos nas Salésias. É razoável pensar que Reis Gonçalves não terá visto com bons olhos essa perda de ligação a Belém...



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Adeus Salésias e Olá Feiteira. O fim de uma era.



Mas ainda assim, mesmo depois dessa grande mudança de 1908, ainda nos aparecem referências à ligação de Reis Gonçalves ao nosso/seu Clube.

De facto, em 1911, quando o Clube também foi forçado a sair da Quinta da Feiteira, Cosme Damião e a Direcção do Clube decidiram alterar o modelo de organização do Clube. O plano era mais vasto e ambicioso mas simplifiquemos dizendo apenas que foi instituída uma sede principal na Baixa de Lisboa (em 1912) e duas sedes (designadas por "delegações"), uma em Benfica e outra em Belém. Ou seja equiparava-se Benfica (antiga sede) a Belém, os locais-berço do nosso Clube e onde existia maior número de sócios.

A delegação de Benfica foi inaugurada primeiro, a 16 de Fevereiro de 1913, com a presença do Presidente da Republica Manuel de Arriaga. Foi organizada principalmente por Alfredo Alexandre Luís da Silva (presidente da Direcção em 1910-1911) e funcionou durante alguns anos na Av. Gomes Pereira sob o nome de "Desportos de Benfica".

Já a sucursal de Belém foi inaugurada em 3 de Dezembro de 1913 e foi chefiada por... Francisco dos Reis Gonçalves. Ou seja, uma vez mais Reis Gonçalves respondeu de forma positiva, envolvendo-se numa iniciativa associativa na zona de Belém!

Sabemos pouco sobre o que foi essa delegação e quanto durou mas não terão sido muitos anos. Sabemos quem a chefiou e que funcionou na Praça Vasco da Gama, ali bem ao lado dos Jerónimos.


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Praça Vasco da Gama, local onde em finais de 1913 se situou a delegação em Belém do SLB. A Praça seria arrasada aquando das profundas mudanças trazidas pela Exposição do Mundo Português em 1940 mas nessa altura a filial do SLB já era uma vaga recordação. Fonte: AML



Com esse modelo inovador de organização, o objectivo de Cosme Damião e do Clube era manter tão estreita quanto possível a ligação às gentes dos dois locais-berço do nosso Clube. Pretendia-se também proporcionar melhores condições aos atletas locais num tempo em que as deslocações eram bem mais difíceis.

Era uma boa ideia mas infelizmente ao invés dos Desportos de Benfica, a delegação de Belém não vingou. É possível que as orgulhosas gentes de Belém não se tivessem revisto numa delegação. Com a mudança para Benfica, a ligação entre o Clube e as gentes de Belém tinha sido irremediavelmente perdida. É possível também que o encerramento da delegação de Belém tenha marcado o final da ligação de Reis Gonçalves ao nosso Clube. Não sabemos.



Do vermelho para o azul


Depois do seu tempo de SLB viria o tempo do CF "Os Belenenses", clube fundado em 1919. Reis Gonçalves tornar-se-ia uma figura relevante das quatro primeiras décadas do Clube de Futebol "os Belenenses". Era, juntamente com Virgílio Paula (outro dos nossos antigos atletas, ver -214- Doutor coragem, p. 53), uma figura muito respeitada em Belém, dando consistência organizativa ao projecto inicialmente idealizado por Artur Jorge Pereira.

Em 1919, Reis Gonçalves presidiu à Junta Directiva que funcionou como uma junta de instalação, lançando as bases do novo clube. Depois, cumpriria um mandato formal como Presidente da Direcção do CFB de 1920 a 1922. Mais tarde, entre 1934 e 1948 e entre 1950 e 1955, Reis Gonçalves foi também Presidente da Mesa da Assembleia Geral do CFB. Foram três décadas e meia de ligação efectiva ao CFB, sempre respeitado, sempre com poder de influência.


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Reis Gonçalves no 24º aniversário do CFB e retratado na galeria dos presidentes do CFB (retrato infelizmente num lamentável estado de conservação). Fonte: CFB e Hemeroteca de Lisboa.




Foi também presidente da Associação de Futebol de Lisboa (1924 a 1926) e participou em diversos fóruns de debate, influência e decisão do Futebol Português.


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Membro da AFL e da FPF. Fonte: Delcampe




Olhando para a sua linha de vida e para as múltiplas contribuições que deu ao desporto Português, percebe-se que Reis Gonçalves teve como traço comum, ser sempre fiel às suas origens, às suas gentes e ao apoio às suas instituições mais representativas. Era um filho de Belém e as suas decisões foram sempre coerentes com as suas origens.



Militar brilhante


Francisco dos Reis Gonçalves foi também um brilhante militar de carreira, oficial na Marinha Portuguesa. Teve formação e especialização em Engenharia Naval e esteve embarcado como oficial Engenheiro Maquinista Naval.


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Galeria de imagens de Francisco dos Reis Gonçalves no Arquivo da Marinha. Em baixo à esquerda a Imagem do submersível NRP-Espadarte. Em baixo à direita a imagem da ponte do NRP-Golfinho, outro submersível da Classe "Foca" ancorado na doca de Belém. Reis Gonçalves está assinalado. Fonte: AML e Arquivo da Marinha




Nos primeiros anos da sua carreira na Marinha Portuguesa, Reis Gonçalves esteve ligado aos primeiros submersíveis da Marinha de Guerra Portuguesa (ver -131- Mobilis in mobile, p.35). Esteve embarcado no primeiro submarino da nossa Marinha de Guerra (NRP-Espadarte) e acompanhou a construção e viagem inaugural dos outros dois submersíveis da classe "Foca", construídos em Itália: o NRP -Golfinho e o NRP -Hidra. A base dos submersíveis tinha doca situada na zona de Belém, ou seja Reis Gonçalves era militar às portas de casa...

Como Engenheiro Maquinista Naval, Reis Gonçalves cumpriria também serviço em navios de superfície e justamente um deles foi o NRP-Adamastor, o maior cruzador que a marinha naval portuguesa teve naquela época.

Construído nos estaleiros Fratelli Orlando, em Livorno, Itália, o NRP-Adamastor foi um dos navios que em 5 de Outubro de 1910, fundeou ao largo do Terreiro do Paço para assumir um papel importante na instauração da Republica. Nessa ocasião o NRP-Adamastor bombardeou o Palácio Real das Necessidades para dissuadir a resistência das forças monárquicas!

Ao longo do seu período de serviço (1897-1934) o NRP-Adamastor cumpriu também missões de soberania e diplomacia, visitando quase todos os territórios ultramarinos portugueses e vários países estrangeiros, tais como o Brasil ou o Japão. Em meados de 1914, quando parou na Ilha Terceira, o NRP -Adamastor tinha voltado recentemente de uma importante missão na costa Brasileira que visou prestigiar o novo regime Republicano.


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O NRP-Adamastor tinha uma guarnição inicial de 215 elementos: 16 oficiais, 36 sargentos e 163 praças. Apresenta-se um modelo, a figura da proa e o estandarte. Fonte: José Luís Leiria Pinto. 2010. CRUZADOR "ADAMASTOR".



Ao longo da sua carreira, Reis Gonçalves ganhou um grande prestígio nos meios navais militares, tendo recebido grande reconhecimento dos seus pares e das elites políticas da época.



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Com as elites políticas de então. À direita: Reis Gonçalves, enquanto representante do CFB, agraciado pelo Presidente Óscar Carmona. À esquerda: Reis Gonçalves agraciando o almirante Américo Thomaz com uma distinção honorífica do CFB. Thomaz foi um apaixonado adepto dos azuis do Restelo.




Reis Gonçalves faleceu no dia 25 de agosto de 1955. Já não viu a inauguração do Estádio do Restelo e já não viu o inexorável declínio que o seu Clube sofreu desde então e que persiste até aos dias de hoje. O seu funeral saiu da Igreja de S. João de Deus para o cemitério dos Prazeres, tendo nessa ocasião comparecido muitos dos seus antigos companheiros e amigos, entre eles o Almirante Américo Thomaz, então Ministro da Marinha.


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O funeral de Francisco dos Reis Gonçalves. Fonte: DL



A Francisco dos Reis Gonçalves, um dos Fundadores do Glorioso, é devido um enorme agradecimento e respeito por parte de todos os Benfiquistas.
Paz à sua Alma.


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 31 de Outubro de 2018, 13:39
foi isto que queria evitar quando iniciei a votacao para fazer este tópico um imóvel...
esteve perto de ir para a segunda página...
agora ja está melhor assim...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 02 de Novembro de 2018, 14:05
Victor, que tal? quando voltas a contar nos uma história interessante sobre o nosso benfica?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Novembro de 2018, 17:41
Citação de: alfredo em 02 de Novembro de 2018, 14:05
Victor, que tal? quando voltas a contar nos uma história interessante sobre o nosso benfica?

Olá Alfredo, estive fora e neste momento sobre-ocupado com actividade profissional e um outro hobbie que tenho. Como sempre digo - e é verdade - há uma dezena de histórias começadas mas até Dezembro talvez só apareça uma para completar uma trilogia Açoreana

Obrigado pelo interesse e apoio. O Decifrando estará sempre activo embora com intervalos variáveis entre artigos. O Glorioso enche-me a vida mas não me enche a carteira. Antes pelo contrário  :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2018, 20:07
-222-
De Lavos a Belém; da bola ao cinzel


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Capa integral (e detalhe) da revista ilustração Portuguesa, nº 14 da 2ª Série. Desenho notável da autoria do artista Garrido, mostra-nos a bela Taça Lisboa, uma refinada peça de arte que ainda hoje premeia os vencedores da principal regata de Lisboa. Uma bela mulher segura a Taça numa das mãos e lança o olhar sobre a costa ribeirinha de Alcântara e Belém, o palco da competição. Fonte: Hemeroteca de Lisboa



O tempo corre. Passaram já mais de 49 meses desde que por aqui publiquei dois textos acerca da Taça Lisboa e dos homens que a imaginaram: Pedro Guedes (autor do projecto artístico) e Emílio de Carvalho (executante) (ver 12 e 13, "Uma taça e dois pioneiros"; pág. 3).


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Emílio de Carvalho na sua oficina de trabalho a cinzelar a maravilhosa "Taça Lisboa". Pedro Guedes assinou o projecto artístico. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



A ideia para o texto de hoje é olhar para trás com renovado foco num desses homens; aquele que a cinzelou. Falaremos mais em detalhe de Emílio da Silva Carvalho, um Glorioso pioneiro que, depois de uma curta e intensa contribuição, abandonou o nosso Clube em Maio de 1907, integrando a primeira e mais dramática debandada de jogadores de futebol da História do nosso Clube.

Enquanto jogador, Emílio da Silva Carvalho foi um dos mais destacados defesas-à-esquerda dos primeiros dias do Sport Lisboa. Era dotado de boa presença física (apesar de progressivamente ir ganhando peso...) sendo por isso qualificado para essa posição.


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Emílio Carvalho foi presença constante entre as equipas do Sport Lisboa, de Janeiro 1905 a Maio de 1907.



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Emílio de Carvalho ao lado de Henrique Costa, numa acção defensiva durante um jogo entre Sport Lisboa e o CIF, Clube Internacional de Football, disputado na Quinta Nova em Carcavelos.


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Emílio de Carvalho, ao lado de José da Cruz Viegas, em plena acção defensiva num jogo do Sport Lisboa contra o CIF, disputado nas Salésias. Fonte: AML.



Pelas fichas de jogo que nos chegaram, percebe-se que Emílio esteve sempre entre as escolhas de Manuel Gourlade para a nossa primeira equipa. Emílio de Carvalho tinha um estatuto que provinha desde os tempos em que integrou as equipas casapianas de 1896-1897.


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A célebre convocatória de jogadores do Sport Lisboa Manuscrita por Manuel Gourlade em papel timbrado da Farmácia Franco, no dia 9-03-1905. Gourlade deu particular destaque à presença de Emílio de Carvalho.



Em Maio de 1907, Emílio foi um dos oito jogadores que desertaram para o rico e ambicioso Sporting CP, desencantados com a falta de condições oferecida pelo Sport Lisboa. José de Alvalade, então cheio de dinheiro e sedento de glória desportiva, recrutou jogadores de forma nunca antes vista. O SCP não formava jogadores, não tinha estrutura competitiva, nem paciência para a criar de baixo para cima. Estava sedento de glória e decidiu usar a força bruta do dinheiro.

A estratégia passava por ganhar rapidamente competência ganhadora no futebol e simultaneamente esvaziar desportivamente os clubes mais competitivos de Lisboa. Como naquele tempo os sócios eram quase todos jogadores, essa estratégia era uma séria ameaça à sobrevivência dos clubes com jogadores aliciados. Primeiro virou-se para o Football Cruz Negra que rapidamente se extinguiu. Depois virou-se para o Clube Internacional de Football, que resistiu mais alguns anos e que receberia uma machada ainda maior com o deflagrar da I Guerra Mundial.

Por fim veio o Sport Lisboa. O apetite pelos nossos atletas era tal que José de Alvalade chegou ao ponto de inscrever Manuel Mora e Fortunato Levy, jogadores que já nem estavam em Portugal.



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Os nossos oitos ex-jogadores que integraram a primeira equipa competitiva do SCP. Emílio exibe as suas luvas de guarda-redes. Apenas Henrique Costa regressaria.



Os primeiros tempos de Emílio no SCP foram curiosos. Exibindo um notório excesso de peso, Emílio apresentou-se à baliza, usando umas vistosas luvas. Presumo que a experiência não terá durado muito pois nas fotografias do ano seguinte já nos aparece com a camisola Stromp, diferenciada do guarda-redes. Terá talvez recuperado o peso ideal e também a sua posição como defesa-à-esquerda... Aparentemente terá jogado apenas até 1909, altura em que já se apresentava com 34 anos de idade.



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Emílio e alguns dos outros dos nossos ex-jogadores. Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Entre croquetes e chás dançantes, Emílio ingressou no SCP numa época em que jovem e ambicioso clube parecia ter chegado para fazer frente aos ingleses do Carcavellos Club. A realidade mostraria que estavam errados. A equipa contratada por José de Alvalade apresentava já uma acentuada veterania e rapidamente teria de ser renovada.



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Croquetes e chás dançantes, assim era o SCP fino e dinheirudo dos primeiros anos... Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Assim, terminado o campeonato de 1907-1908, em que o SCP foi 2º classificado atrás dos ingleses, até ao final da década de 10 as equipas sportinguistas foram quase sempre ultrapassadas pelas Benfiquistas. Sucederam-se casos e polémicas fúteis dentro e fora de campo.

O extremo do grotesco verde parecia ter sido atingido quando o SCP desistiu de um campeonato de Lisboa depois de uma birra dos seus dirigentes que contestaram um dérbi em que o guarda-redes leonino foi expulso por agredir os jogadores Benfiquistas que ousaram... marcar golos! Mas não... Numa outra ocasião, o SCP fez uma falta de comparência num dérbi agendado para... o próprio terreno dos sportinguistas! Foi um clube diferente logo de berço. Foi sim senhor.



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Emílio numa pose irreverente entre croquetes e outros desertores do Sport Lisboa. Muitos chás, algum cricket e muito poucas glórias no futebol...


Ora, todos estes elementos biográficos de Emílio sendo interessantes são no entanto já conhecidos. Mas, como atrás se disse, um dos propósitos do presente texto é divulgar alguns elementos biográficos inéditos de Emílio de Carvalho. E como veremos esses elementos cruzam-se de forma inesperada com outras figuras dos primórdios da História do Sport Lisboa e Benfica.



Um Carvalho nascido nos Carvalhais!


Emílio da Silva Carvalho nasceu em 25-05-1875 na aldeia de Carvalhais, freguesia de Lavos, concelho da Figueira da Foz. Era filho de Serafim Gonçalves Carvalho e Maria da Silva. O seu pai, como não poderia deixar de ser, era ferreiro de profissão. A sua mãe era doméstica e natural da freguesia do Paião, localidade também pertencente ao concelho de Lavos.

Carvalhais de Lavos é uma pequena e simpática aldeia, localizada nos arredores De Lavos, concelho da Figueira da Foz. É uma terra com alguma tradição na metalurgia do ferro, fruto da acção laboriosa de serralheiros, pregueiros e ferreiros. Tem também apetência pela promoção das artes, nomeadamente da música folclórica. Não admira pois que Emílio da Silva Carvalho, um dos seus filhos mais dilectos, tenha sido um notável transformador de metais com um apurado sentido artístico.



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Carvalhais de Lavos, terra natal de Emílio da Silva Carvalho. Uma terra de tradições na metalurgia e no folclore Português. Fonte: Google e blogue dos Carvalhais.



Os tempos Casapianos


Não sabemos ainda quando, como e porquê aconteceu a vinda do pequeno Emílio para a Casa Pia de Lisboa. Provavelmente terá ficado órfão muito cedo e é possível que entre 1880 e 1885 tenha sido feito um pedido para que entrasse como aluno (interno ou externo, não sabemos) na Casa Pia de Lisboa.

Na Casa Pia, Emílio receberia não apenas uma educação completa com vertentes morais, literárias, artísticas e físicas, mas acima de tudo aprenderia o ofício de cinzelador, ramo profissional em que se distinguiu. Na Casa Pia fez amizades para a vida, sendo parte integrante da notável geração Margiochi que teve alguns membros com notável contribuição para as Artes em Portugal. O futebol foi um elemento agregador, um meio de sedimentação de carácter e valores. Nesse contexto, Emílio viria a participar em equipas e eventos que lhe deram nome próprio nos primórdios do Futebol em Portugal.

Outro elemento biográfico inédito que agora se revela é o de que Emílio foi casado com Elvira Barreto, uma senhora nascida em 10-07-1878, na aldeia do Souto, Covilhã. Esta senhora era a irmã mais nova de Januário Barreto, distinto médico, nascido em 17-04-1877 e também ele antigo casapiano.

É um facto histórico, referenciado pelas gentes casapianas, que Januário Barreto foi o pioneiro entre os pioneiros e o mais entusiasta que introduziu o futebol na Casa Pia. A importância das diversas gerações casapianas no futebol Benfiquista é algo que um dia terá de ser falado mais em detalhe.



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Emílio de Carvalho e Januário Barreto entre os membros da famosa equipa casapiana de futebol, vencedora dos Ingleses do Carcavellos em 1896.



Mais importante ainda, o Dr. Januário Barreto foi o primeiro presidente eleito do Sport Lisboa. Essa eleição ocorreu em 22 de Novembro de 1906 e sucedeu a José Rosa Rodrigues, o mais velho dos manos Catataus. Integravam o seu elenco o próprio José Rosa Rodrigues e Manuel Gourlade, ambos como secretários da Direcção e ainda Daniel dos Santos Brito, como tesoureiro. Note-se que, tanto quanto sabemos, José Rosa Rodrigues terá sido nomeado pelos outros 23 fundadores para a presidência sem ter existido uma eleição formal.


Januário Barreto é por isso considerado o terceiro da linha cronológica dos presidentes nossa história, isto levando em conta as cronologias do Sport Lisboa e do Grupo Sport Bemfica. Mais tarde, tal como Emílio, Couto, entre outros, o Dr. Januário Barreto ingressaria no SCP onde viria a integrar o Conselho Fiscal até à data da sua precoce dramática morte, ocorrida em 23-06-1910. Era um homem de notáveis qualidade morais e desportivas, cuja falta foi muito sentida na organização e disciplina dos primeiros anos do Futebol em Portugal.



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Januário Barreto, distinto médico que foi – erradamente – considerado durante muito tempo o 1º presidente do Sport Lisboa.



Voltando a Emílio de Carvalho, ao que sei, deixou de ter visibilidade pública no final da década de 10 do século XX. Sabe-se que entre 1917 e 1920 integrou o Conselho Fiscal do SCP, o seu último cargo público conhecido. Depois terá dedicado o seu tempo ao seu ofício de cinzelador, havendo referências que foi comerciante, talvez das próprias peças que ia produzindo na sua oficina.


Emílio de Carvalho faleceu no dia 7-03-1947 com a idade de 71 anos. Morreu três meses antes de Cosme Damião, que era 10 anos mais novo. Emílio faleceu vítima de arteriosclerose na sua casa situada na Estrada de Benfica nº 680, 2º direito. Não terão sido fáceis os seus últimos anos.


Foi sepultado no cemitério de Benfica onde tem por companhia entre outros, nomes como os seus antigos companheiros José Netto, Francisco dos Santos e o atleta Francisco Lázaro. Paz à sua Alma.



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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Dezembro de 2018, 23:03
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Dos Sudetas às Amoreiras (parte I): o caminho para o Sado


Um jovem emigrante checoslovaco, chegado a Portugal no ano de 1926.


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Chamava-se Arthur Frank John e era professor de educação física, treinador e antigo árbitro de futebol. Uma combinação interessante para a época.

Arthur chegou a Setúbal no princípio da década de 20 para jogar e treinar a equipa principal de futebol do Vitória Futebol Clube (VFC). Em menos de uma década conquistaria diversos títulos de futebol dos campeonatos regionais de Lisboa e Setúbal pelo VFC e, mais importante do que tudo, um Campeonato de Portugal enquanto treinador do Sport Lisboa e Benfica.

Neste e num próximo texto, falar-se-à de aspectos relevantes da vida deste homem, percebendo que manteve durante toda a sua vida um espírito curioso e irrequieto, um olhar vivo, inteligente e inquisitivo. Entre outros factos da sua vida, Arthur John foi um homem que deixou marca no futebol Benfiquista.

Arthur John teve a honra de ser o primeiro em vários aspectos. Foi o primeiro treinador estrangeiro do nosso futebol. Foi também o primeiro treinador a conquistar um título a nível nacional para o Benfica. Este pioneirismo justifica desde logo estes textos. Ao longo das décadas que entretanto passaram, a poeira do tempo mascarou alguma da verdade histórica sobre ArthurJohn e por isso aproveitaremos também para desfazer alguns equívocos e inexactidões.



A escola de futebol da Europa Central


O futebol na Europa Central teve uma importância fundamental na evolução do futebol num tempo em que o poderio dos ingleses parecia inquestionável. Quem quer que consulte as publicações da época percebe o nível de intensidade e popularidade que este desporto teve particularmente em países como a Hungria, Checoslováquia, Áustria. Virtuosismo técnico, jogo colectivo e poderio atlético eram atributos reconhecidos às melhores equipas desses países.

Essa escola foi igualmente decisiva no desenvolvimento do futebol em Portugal essencialmente por via dos treinadores que por aqui trabalharam. A maior parte deles assumiu uma aculturação tal que adoptaram Portugal como nova pátria, radicando-se por cá para o resto das suas vidas.

Em particular, o SL Benfica pode apresentar uma galeria de notáveis treinadores Húngaros que trouxeram a experiência competitiva, inovações tácticas, preparação física, enfim todo um saber indispensável para fazer evoluir um futebol provinciano e atrasado.

Apesar da nossa Geografia setentrional não ajudar, nesse tempo o Futebol Português beneficiou da vinda a Lisboa de diversas notáveis equipas de futebol de Leste tais como o Ferencváros, o Sparta Prag, o Szombathelyi, o Nuzelsky, o SK Wienn, o First Wienn, etc. O futebol harmonioso, de passes curtos de grande precisão, praticado por atletas com boa capacidade física foi muito apreciado pelos Portugueses. Tornou-se o modelo adoptado pois ajustava-se também às características anatómicas-tipo dos Portugueses.

Compreende-se assim que o interesse por treinadores – em particular dos Húngaros – tenha crescido. Entre esses treinadores há a destacar os mais ganhadores: Lipót Hertzka, János Biri e Béla Guttmann; mas houve muitos mais.



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Uma galeria de treinadores nascidos na Europa Central e que foram campeões ao serviço do Sport Lisboa e Benfica.



Mas não foram só Húngaros. E aliás esses nem sequer foram os primeiros pois precedendo-os, há que referenciar o Checoslovaco Arthur John. Pois... erradamente ao que alguns ignorantes vão propagando, Arthur John não era inglês mas sim checoslovaco. Eventualmente até se pode dizer que era Austríaco de nascimento pois veio ao mundo numa zona que antes da I Guerra Mundial pertencia ao Império Austro-Húngaro. É essa a verdade histórica e é isso que os Benfiquistas devem saber. Os outros que digam o que quiserem.



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Título de residência de Arthur Francisco John em Portugal. Nacionalidade checoslovaca. Fonte: ADSTB.




Arthur John entrou no SLB na época de 1929-1930, um tempo turbulento para o nosso Clube, com grandes mudanças introduzidas por via de uma perda competitiva que já vinha do princípio da década. Essas mudanças ocorreram muito pela iniciativa, labor e dinamismo de diversos homens, entre os quais o mais destacado foi o de António Ribeiro dos Reis.

Ora nessa época de 1929-1930, Ribeiro dos Reis estava impedido de orientar o SLB por motivos profissionais. Houve que procurar uma solução externa e essa recaiu num treinador estrangeiro já adaptado ao nosso país e futebol e com um trajecto ganhador no Vitória Futebol Clube. Mas lá iremos.

A escolha de Arthur John revelou-se bem-sucedida, tendo contribuído para a conquista do primeiro título nacional e na progressiva eliminação de alguns vícios individuais e colectivos. Arthur John abriria caminho para que outros estrangeiros, ao longo das décadas seguintes, tivessem aceitação e sucesso.



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Arthur John e o plantel Benfiquista de 1929-1930. Fonte: Jornal do SLB



Arthur John chegou ao SLB na terceira década do nosso Futebol. Chegava depois de Manuel Gourlade (1904-1909), Cosme Damião (1909-1926) e Ribeiro dos Reis (1926-1929). Foi o quarto treinador do nosso futebol principal.

Com Arthur John rompeu-se a tradição do futebol Benfiquista estar exclusivamente entregue a Portugueses. Com ele começou uma nova marca identitária do nosso futebol, que, com algumas excepções, consistiu em usar futebolistas exclusivamente Portugueses orientados por um treinador estrangeiro. Arthur John tem a honra de ter sido o pioneiro.



No país dos Sudetas


Filho de Josef Anton John e de Maria Kindiger, o pequeno Arthur nasceu no dia 02-07-1898, na cidade de Most, num período em que os seus pais gozavam um pequeno período de férias.

A cidade de Most (em checo) ou Brüx (em alemão; nome derivado de Brücke que quer dizer ponte) é capital do distrito de Most. Está situada numa região antigamente conhecida por país dos Sudetas, uma região de cadeias montanhosas, posicionada na fronteira entre a antiga Boémia Central, hoje República Checa, a Polônia e a Alemanha. Hoje e depois de todas as mudanças provocadas por duas guerras mundiais, por uma guerra fria e pela queda de um muro, Most pertence à Republica Checa e à região administrativa de Ústí nad Labem.



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Most (ou Brüx), terra natal de Arthur John. Fonte: wikipedia.




O facto de a cidade ter um nome que, quer em Checo quer em Alemão, significar "Ponte", é algo que se explica pelo facto de naquela zona existirem inúmeros pântanos e, por via disso, desde o século X, por lá ter sido edificado um intrincado sistema de pontes.

Entre os filhos mais famosos desta cidade destacaram-se o engenheiro e inventor Nikola Tesla (1856-1943) e Joszef Masopust (1931-2015), um grande futebolista, bola de ouro em 1962.



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Dois naturais de Most: Nikola Tesla e Josef Masopust (ao lado de Eusébio).




Nota prévia e importante


Muito do que se vai apresentar no resto deste texto foi recolhido a partir de uma excelente entrevista que o grande jornalista Carlos Pinhão fez a Arthur John, em 1967, no jornal "A Bola".

Fica aqui não apenas o devido crédito mas também a carinhosa lembrança e a homenagem a um homem Bom, um jornalista Excepcional e um Benfiquista Verdadeiro; virtudes que combinam muito bem.



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Carlos Pinhão (4/05/1934 – 15/01/1993) entre três Saudades do Sport Lisboa e Benfica. Grande entre grandes. Fonte: Largo dos Correios.




O bichinho do futebol


Arthur John iniciou a sua carreira futebolística em 1914, com 16 anos de idade. Iniciou-se no DFC Prag (Deutscher Fußball Club Prag, fundado em 1896), clube fundado por judeus alemães, na sua maioria estudantes da Universidade Carolina de Praga. Curiosamente, comprovando a sua matriz germânica, o DFC Prag foi um dos fundadores da Federação Alemã de Futebol (Deutscher Fussball-Bund; DFB), tendo competido em competições na Alemanha, Áustria, Hungria e Checoslováquia, exemplificando como naquele tempo existia pouca distinção entre competições e nacionalidades, fruto talvez do carácter multinacional do antigo Império Austro-Húngaro.

A subida ao poder dos Nazis obrigaria à fusão do DFC Prag com o Deutsche Sportbrüder Prag (1940) e depois, com o fim da II Guerra Mundial, à extinção do clube (ver mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Deutscher_Fu%C3%9Fball_Club_Prag.



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Alguns dos clubes por onde Arthur John passou antes de chegar ao SLB.




A guerra, não a segunda mas a primeira guerra mundial terá forçado Arthur John a interromper a sua carreira desportiva durante alguns dos anos, pois segundo o seu próprio testemunho, terá combatido como piloto-aviador ao serviço do Império Austro-Húngaro.

Em campo, Arthur – que era de baixa estatura - jogava preferencialmente a interior esquerdo, embora qualquer lugar no ataque lhe servisse. Essa sua carreira de futebolista foi bem-sucedida tendo chegado ainda a representar por 3 vezes a selecção checoslovaca.

Arthur John foi portanto, quer como jogador quer depois como treinador, um produto da fabulosa Escola de futebol da Europa Central, que compreendia o futebol de muitos países dessa zona embora entre eles se tenham destacado particularmente o futebol Checoslovaco, Austríaco e Húngaro.

Entre as décadas de 20 e 50, a influência dos numerosos treinadores e jogadores dessa zona foi disseminada por toda a Europa (incluindo o nosso país) não apenas por meio de vitoriosas digressões de diversas equipas mas acima de tudo pela diáspora a que muitos desses homens foram forçados. Essas vagas sucessivas de emigrantes explicam-se pelos frequentes episódios de instabilidade política e social. Por ali o futebol cresceu lado a lado com a tragédia humana, leia-se, pessoas, famílias e povos.

Nessas décadas de 20 e 50, a organização do futebol na Europa Central era já bastante evoluída. Existia muita competição e eram frequentes os embates entre clubes e entre as selecções dos diferentes países. Nesse contexto, Arthur John defrontou diversos clubes Austríacos e Húngaros, tendo por exemplo jogado contra o Hakoah de Viena quando por lá jogava Béla Guttman.

Outro dos seus adversários foi György Orth, que tal como Gutmann veio a ser treinador do FCP (aliás Orth faleceu mesmo na cidade do Porto em Janeiro de 1962) embora o primeiro não tivesse tido a felicidade de treinar o Glorioso. Curiosamente, Arthur John apreciava bem mais as qualidades de Orth do que as de Guttmann. A este último, Arthur John atribuía mais o mérito de saber procurar e trabalhar com equipas dotadas de jogadores de maior classe.


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Três grandes treinadores, um Checo ladeado por dois Húngaros.



Ainda na sua relação com Guttmann, há ainda a referir uma história curiosa que Arthur John contava. Na sua a carreira desportiva Arthur John foi também árbitro de futebol. Ao que parece num dos jogos que arbitrou esteve uma partida em que numa das equipas estava o jogador Béla Guttmann. O jogo terá sido algo tenso, tendo John chegado mesmo a ameaçar que iria expulsar Guttmann porque este o incomodava com frequentes e ruidosas verbalizações... Guttmann não se calou e John não achou graça nenhuma. Quem diria que ambos ainda viriam a ser treinadores no distante Portugal e no Glorioso SLB...



De Paris a Setúbal


Arthur John foi um profissional do futebol que desde cedo revelou um raro ecletismo, pois reunia capacidades de preparador físico (era professor de educação), treinador de futebol e... massagista. Ao que parece, quando saiu do seu país em 1922, com a idade de 24 anos já acumulava o cargo de jogador com o de treinador de futebol.

Na sua diáspora pessoal, Arthur John passou primeiro pela Alemanha pelo FC 1900 Kaiserslautern e depois por Munique onde treinou o FC Theutonia Munchen, o qual fez subir da II para a I Divisão Alemã. Passou mais tarde por Espanha, Inglaterra e França. E foi em Paris que Arthur John foi recrutado para vir para o nosso país e para Setúbal em particular. No dia 18 de Dezembro de 1924 Arthur John chegava a Portugal e para jogar e treinar em Setúbal, no Vitória Futebol Clube.

O responsável por esse recrutamento foi Mariano Augusto Coelho (1879-?), um importante industrial sadino, ligado ao sector conserveiro. Mariano Coelho foi um dos fundadores do Clube sadino, tendo assumido o cargo de presidente da Direcção do VFC em diversos mandatos, nos anos 1923-1927; 1930-1932; 1936-1938; 1951-52. Até pelo número de mandatos se percebe a importância que este homem teve nos destinos dos sadinos.


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Inauguração do Campo dos Arcos em Setúbal em 1913 e Mariano Augusto Coelho, um dos homens importantes nesse projecto e o homem que trouxe Arthur John para Portugal.




A cidade de Setúbal tem a tradição de saber homenagear os seus filhos mais dilectos ligados ao futebol e associativismo sadino. Assim sendo, tal como com Jorge de Sousa (outra figura importante dos primórdios do clube sadino e fundador do Sport Lisboa em 28-02-1904) e bem recentemente com José Mourinho, Mariano Coelho tem o seu nome atribuído a uma Rua da cidade do Sado.

Tal como Jorge de Sousa, Mariano Coelho foi um dos homens de maior relevância para que o VFC tivesse conseguido edificar o Campo dos Arcos, inaugurado em 1913, o parque desportivo usado pelos sadinos até 1962, ano em que foi inaugurado o Estádio do Bonfim. Quem tiver interesse pode ver aqui ( https://arquivos.rtp.pt/conteudos/futebol-vitoria-de-setubal-vs-sport-lisboa-e-benfica/ ) um resumo de um VFC-SLB de 10-01-1960.

Foi nesse Campo dos Arcos que Arthur John trabalhou e refinou a excelente equipa do Vitória FC da década de 20, levando-a conquistar 2 títulos de Campeão de Lisboa (1923-1924 e 1926-1927; note-se que o VFC competia no Campeonato Regional de Lisboa até 1928) e a 2 títulos de Campeão Regional de Setúbal (1927-1928 e 1928-1929).



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Fonte: VIII exército



Quando entrou no VFC, Arthur John seria ainda treinador-jogador, tendo aliás deixado a memória de que até 1926 jogou ainda com a camisola do VFC ao lado grandes nomes do futebol sadino tais como Armando Martins, João Santos e o reforço de ocasião Raúl Tamanqueiro que nesse tempo era jogador do SLB.

No entanto, quer por causa das dificuldades em ler o jogo de forma mais ponderada e rigorosa quer pelo exemplo que dava quando falhava em campo, Arthur John admitia que era uma situação difícil de manter; ou se jogava ou se treinava.



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Duas imagens das etapas de Arthur John no VFC. À esquerda, Arthur John em 1925, ainda como jogador-treinador do VFC. À direita, em 1927, como treinador/massagista. Vê-se ainda Aníbal José que no ano seguinte ingressaria no SLB.




Quem ler os jornais daquela época percebe que o VFC tinha uma equipa que praticava bom futebol e que competia de igual para igual com as melhores equipas do Campeonato regional de Lisboa, SLB, SCP e CFB. De acordo com Arthur John, o facto de o VFC ter deixado de competir no Campeonato Regional de Lisboa para passar a competir no de Setúbal, criado em 1927-1928, foi nefasto para o Clube e para a cidade. Integrado na AF Setúbal e disputando o Campeonato Regional de Setúbal, o VFC acabou por definhar por falta de competição adequada.

Arthur John implementou um futebol técnico e dinâmico que se preocupava em ter uma boa preparação física e uma ocupação racional dos espaços, evitando deixar corredores para os adversários. Essa disposição levou-o – segundo disse – a na prática jogar num 3:3:4, ou seja fazer recuar um dos avançados, no caso João dos Santos, jogador criativo embora algo lento.

Mas para lá de João dos Santos, Arthur John teve também a fortuna de dispor de outros excelentes jogadores, alguns dos quais também chegaram a internacionais: Octávio Cambalacho, Aníbal José, Domingos das Neves, Armando Martins, Luís Xavier, entre outros. Apesar desses dias felizes à beira do Sado, Arthur John apenas conquistaria títulos nacionais no SLB.



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O treinador Arthur John com uma equipa do VFC e com a sua mala de massagista. Entre os jogadores está Luís Xavier que seria mais tarde uma Glória Benfiquista. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



A ligação de Arthur John ao VFC terminaria em 1929 não sem que antes tivesse orientado uma equipa sadina numa digressão no Brasil que deu brado por bons e maus motivos. Dessa digressão já por aqui se falou, num dos cinco textos feitos para recordar o Tamanqueiro (ver -180- Tamancos de oiro (parte IV) – do Sado ao Rio; pág. 47).



(https://i.postimg.cc/xCRSpLLJ/13.jpg)A comitiva do VFC antes da partida para a digressão ao Brasil em 1929. Fonte: AML.




Arthur John viveu mais de 4 décadas no nosso país, tendo sempre procurado aprimorar o seu domínio da língua Portuguesa, isto embora 3 meses após cá chegar já conseguisse escrever na nossa língua. Era um poliglota pois falava Checo, Português, Francês, Alemão e Inglês e compreendia o Italiano e o Espanhol. Casou em Portugal, aculturou-se mas como ele disse não precisou nunca de adquirir a nacionalidade Portuguesa para se sentir... Português.

Quando chegou a Portugal trazia já no seu currículo o Curso Superior de Comércio e isso permitiu-lhe trabalhar como chefe de repartição na Sociedade Geral, empresa no ramo da navegação mercante, fundada pelo grupo CUF (ver detalhes em http://restosdecoleccao.blogspot.com/2010/10/navios-da-sociedade-geral-sg.html). E foi dessa empresa que se aposentou no ano de 1966. Manteve sempre uma genica e capacidade de trabalho durante toda a sua vida, virtudes que o ajudaram também no mundo do Futebol.

Arthur John faleceu em Belém no dia 31-03-1972, com 74 anos de idade.


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Num próximo textos falar-se-á das duas temporadas em que Arthur John esteve ligado ao SLB. Há muito que contar e seleccionar. Poderá demorar tempo a montar esse texto mas valerá a pena.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Dezembro de 2018, 21:32

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 01 de Janeiro de 2019, 20:11
Citação de: RedVC em 21 de Dezembro de 2018, 21:32

(https://i.postimg.cc/658KYB2K/Festa-SLBFelizes-DIP.jpg)



Victor.
Desejo-te um excelente ano novo cheio de saúde e que o Benfica nos deia muitas alegrias.
Obrigado pelas histórias que nos contaste e que ajudam entender melhor a mistica do nosso amado clube.
Um forte abraço e....


(https://i.ibb.co/KVz2CYH/IMG-20181231-WA0007.jpg) (https://ibb.co/KVz2CYH)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Janeiro de 2019, 20:40
Citação de: alfredo em 01 de Janeiro de 2019, 20:11
Citação de: RedVC em 21 de Dezembro de 2018, 21:32

(https://i.postimg.cc/658KYB2K/Festa-SLBFelizes-DIP.jpg)



Victor.
Desejo-te um excelente ano novo cheio de saúde e que o Benfica nos deia muitas alegrias.
Obrigado pelas histórias que nos contaste e que ajudam entender melhor a mistica do nosso amado clube.
Um forte abraço e....


(https://i.ibb.co/KVz2CYH/IMG-20181231-WA0007.jpg) (https://ibb.co/KVz2CYH)

Obrigado Alfredo, que 2019 seja um grande ano para ti e para os teus.

Que 2019 seja um ano Glorioso em que voltemos a ter um SLB que nos orgulhe.

O tempo não é elástico e agora é tempo de investigar. Quando o Decifrando voltar haverá muitas e boas histórias para contar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Janeiro de 2019, 20:02
-224-
A ilustre Casa do Dr. Meireles


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Foi assim que nos foi apresentado o Dr. António de Azevedo Meireles, na "História do Sport Lisboa e Benfica: 1904-1954", a obra de referência da História do nosso Clube.

E de facto, o nome deste ilustre médico consta no topo da famosa lista de sócios do Sport Lisboa que foi apresentada aquando da junção com o Grupo Sport Benfica, em Setembro de 1908.



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A lista de 54 sócios apresentados pelo Sport Lisboa para o processo de junção com o Grupo Sport Benfica. Fonte: História do SLB 1904-1954.



Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, os autores da obra de referência da História do nosso Clube tiveram a felicidade de entrevistar diversos homens que participaram nesses tempos pioneiros. Infelizmente foi demasiado tarde para poderem falar com o Dr. António de Azevedo Meireles.

Se o tivessem conseguido teriam obtido uma visão complementar, mais madura, desses dias imediatamente antes e depois da fundação do nosso Clube. Como funcionário ilustre da Farmácia Franco e como entusiasta do futebol, o Dr. Meireles teria histórias, detalhes e visões muito próprias e valiosas.

Passados mais de 114 anos é difícil mas ainda se justifica procurar e descrever aqui, alguns factos menos conhecidos que nos ajudem a melhor compreender a fundação do nosso Clube. Começaremos por falar da ascendência familiar do Dr. Meireles, da sua formação académica e profissional e por fim o que sabemos dos dias em que contribuiu para a fundação e implantação do nosso Clube.



As origens Portuenses


António de Azevedo Meireles nasceu no seio de uma família brasonada da sociedade Portuense. Foi o sexto dos dez filhos da descendência do casal João Pinto de Azevedo Meireles (* 1819 † 1886) e Joana Maria Mavigné (*1828 † 1890).

  •   1 - Emília de Azevedo Mavigné (* ? † ?)
  •   2 - Maria da Conceição de Azevedo Mavigné (* 1852 † ?)
  •   3 - Isabel Maria de Azevedo Mavigné (* 1854 † ?)
  •   4 - João Pinto de Azevedo Meireles (* 1855 † ?)
  •   5 - Álvaro Pinto de Azevedo Meireles (*1856 † ?)
  •   6 - António de Azevedo Meireles (* 1858 † ?)
  •   7 - Artur de Azevedo Meireles (* 1859 † ?)
  •   8 - Hermínia de Azevedo Mavigné (* 1862 † 1892)
  •   9 - Joana Maria de Azevedo Mavigné (* 1866 † ?)
  •   10 - Maria Helena de Azevedo Meireles (* 1868 † ?)



O escritor portuense Mário Cláudio (por sinal adepto do FCP...) é outro dos descendentes desta família e relata-nos na sua obra "A Quinta das Virtudes", detalhes e histórias destas famílias brasonadas (ver: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/ensaio55.htm).


Fundada na segunda metade do séc. XVIII por José Pinto de Meireles, bisavô do Dr. Meireles, esta Quinta das Virtudes ainda hoje existe, estando localizada na Rua Azevedo de Albuquerque, bairro de Miragaia, Porto. Actualmente está lá sediada a Cooperativa Árvore (www.arvorecoop.pt/).


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A Quinta das Virtudes, espaço central da obra com o mesmo título do escritor Mário Claúdio.



Com a morte deste José Pinto de Meireles foi o seu filho João Pinto de Meireles, avô do Dr. Meireles, que passou a ser o titular da Quinta. João escolheria o seu destino pois ao se querer casar com uma sua criada, de seu nome Maria Teresa de Jesus Teixeira, acabou por ter de ceder a titularidade dessa Casa ao irmão Joaquim. Assim obrigava a questão da diferença de classes no Portugal do século XIX...

Ora, se o lado paterno do nosso Dr. António era portuense de gema, já a sua mãe ostentava o apelido Mavigné. Apelido Francês, diríamos nós, algo que é corroborado por fontes que ligam o apelido do avô materno do Dr. Meireles a uma antiga família da alta burguesia Francesa. Adicionalmente, os registos de baptismo do Dr. Meireles e dos seus irmãos, indicam-nos uma ascendência britânica para a sua avó materna (apelido O'Keef Bowman), sendo mencionadas as cidades de Bristol, Inglaterra e Dublin, Irlanda.

Convenhamos que esta ascendência materna britânica poderá explicar o gosto que o nosso Dr. Meireles revelou pelo Football Association. Revelou-o na Farmácia Franco, onde foi um ilustre funcionário durante vários anos, incluindo 1903 e 1904, os anos em que se fundou o nosso Clube.



A formação Académica


Em 1882, com apenas 24 anos de idade, o Dr. Meireles defendeu a sua tese de Licenciatura, elegendo um tema algo exótico para a época.


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A Tese de Licenciatura do Dr. António de Azevedo Meireles, defendida em 18-07-1882. Fonte Universidade do Porto




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Fonte: Dicionário Bibliográfico Português, 1911 e Hemeroteca de Lisboa.



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Corpo Catedrático e alunos da Escola Médico Cirúgica do Porto em 1880-1881. Com elevada probabilidade o Dr. Meireles estará ali no meio. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.




Os anos de Belém


O Dr. Meireles terá vindo para Lisboa pouco depois da sua defesa da tese, ou seja por volta de 1882. As virtudes e o sucesso profissional do Dr. Meireles cresceram de tal forma que logo depois se mudou para a capital onde veio a ser nomeado médico do Paço Real, acudindo em particular às crises da Rainha-Mãe Maria Pia (mulher do Rei Dom Luís) e da Rainha Dona Amélia (mulher do Rei Dom Carlos).



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Referência ao Dr. António de Azevedo Meireles como médico do Paço Real da Ajuda. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Se foi esta a razão para se fixar em Belém ou se já por ali andava está ainda por apurar mas ao que tudo indica terá prestado serviço médico na Farmácia Franco durante longos anos. Esse facto era normal pois nesse tempo as Farmácias prestavam mais serviços do que a simples comercialização de medicamentos e produtos para a saúde.

E é na Farmácia Franco, berço organizativo do nosso Clube, que concentraremos atenções até ao final deste texto.

Conforme se demonstrou num texto que co-publiquei com Alberto Miguéns (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html), o Sport Lisboa foi fundado por um grupo de 24 rapazes com uma média de idades de 20 anos.

Maioritariamente da zona de Belém, esses 24 rapazes tinham diversos tipos de afinidades, fossem parentescos, amizades, vizinhanças ou até actividades profissionais. Há muito ainda para se perceber acerca destes tempos. Quanto mais se sabe mais claro fica que a versão oficial, propagada ao longo dos anos, é apenas uma simplificação de uma realidade mais complexa e bem mais interessante.

Os 24 fundadores não foram os únicos relevantes para o processo de fundação. Teremos sempre que os considerar os autores materiais da fundação mas como nos disse Homero Serpa, alguns até poderão ter aparecido um pouco por acidente na reunião de 28-02-1904. E por outro lado, vários dos que ficaram fora da lista manuscrita por Cosme Damião foram bem mais relevantes nesses primeiros anos.

Falamos de homens como Félix Bermudes, José da Cruz Viegas, José Honorato Mendonça, Duarte José Duarte, Henrique Costa, os irmãos Lopes, Monteiro, Duarte e Serpa, entre outros. Falamos igualmente dos mais velhos, antigos casapianos, como Januário Barreto, António Couto, Emílio Carvalho, José Neto, Francisco dos Santos, Silvestre Silva, Pedro Guedes, David Fonseca, Daniel Queiroz dos Santos, João Persónio, entre outros.

Ao todo falamos de várias dezenas de outros homens que cedo se envolveram com o Clube, envergando orgulhosamente a camisola vermelha, ajudando a criar rapidamente uma mística inigualável. Essa mística seria um factor-chave para resistir a diversas crises, algumas das quais provocadas pela inveja e dinheiro alheio.



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Um treino do Sport Lisboa nas Terras do Desembargador às Salésias, algures entre 1904 ou 1905. Quem seriam? O único reconhecível é o jogador negro Marcolino Bragança. Quem seria aquele árbitro vestido de branco? Seria o Dr. Azevedo Meireles?




Mas, para lá dessa rapaziada que jogava à bola, houve também gente mais madura que os apoiava. Desde logo interessa salientar a Farmácia Franco, como o local central para o que aconteceu. Não foi apenas o local da reunião do acto fundador, mas também local onde funcionou a nossa primeira sede.

Tudo isto foi apenas possível pelo beneplácito dos então proprietários da Farmácia Franco, os farmacêuticos Ignácio José Franco (* 1864 † 1931) e o seu irmão Pedro Augusto Franco Júnior (* 1865 † 1960). A estes temos que acrescentar o Dr. Meireles, que por longos anos ali prestou serviço médico, dando consultas e prestando técnico especializado à Farmácia.



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A Farmácia Franco e alguns dos seus protagonistas no princípio do século XX.



Fundada por volta do ano de 1821, pelo avô dos dois irmãos Franco, a Farmácia colheu a sua fama essencialmente pela gestão dinâmica, inovadora e empreendedora de seu pai, Pedro Augusto Franco (* 1833 † 1902). Essa gestão envolveu investigação, desenvolvimento e comercialização de produtos próprios mas seguindo uma estratégia de internacionalização, com vendas em países europeus e no Brasil. Existe farta documentação que demonstra que nas duas últimas décadas do século XIX o Vinho Nutritivo de Carne" ("um cálice equivalia a um bom bife") e os "caldos peitorais" eram vendidos em diversos países e continentes.

À notoriedade empresarial, Pedro Augusto Franco acrescentou uma notoriedade social e política. Foi nomeado 1º Conde do Restelo título que depois transmitiria ao seu filho mais velho. Foi destacado político e antigo presidente da Câmara de Belém e (quando a primeira foi extinta) foi presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Viria até - imagine-se a ser o 3º presidente da Caixa Geral de Depósitos...



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ver: https://www.cgd.pt/Institucional/Patrimonio-Historico-CGD/Presidentes-Caixa/Pages/Pedro-Franco-Conselheiro-Rei.aspx




A intervenção política e social do 1º Conde do Restello foi muito satirizada pelo genial traço de Rafael Bordalo Pinheiro, algo que teremos de falar um dia destes. No entanto em 1903 já o velho Conde tinha falecido e por os seus dois filhos eram já os proprietários da Farmácia e quem lidou de perto com a rapaziada que fundou o nosso Clube.



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O 1º Conde do Restello e alguns dos seus produtos inovadores. Pedro Augusto Francos foi o pai dos proprietários da Farmácia Franco quando o Sport Lisboa foi fundado.




Todos estes elementos permitem que possamos assim compreender bem a importância empresarial, política e social desta Farmácia Franco...


Mais do que uma prestigiada casa de comércio, a Farmácia Franco foi durante décadas, um local relevante de socialização na pacata e campestre Belém do final do século XIX e princípio do século XX. Era um local de poder, um local de encontro, de discussão de ideias.

Em 1903, já com o balanço desportivo entusiástico dado pelo Football Club, liderado pelos manos Catatau, a Farmácia foi o ponto de encontre para toda aquela rapaziada de Belém, da Junqueira e da Ajuda. E aí há que destacar o papel de mobilização fulcral que também tiveram os fundadores Daniel Santos Brito e Manuel Gourlade, funcionários da Farmácia Franco.

Brito e Gourlade foram os homens que inicialmente assumiram as tarefas organizativas do Sport Lisboa. Por cima da farmácia morava a família Rosa Rodrigues, tendo o mais velho, José Rose Rodrigues, sido nomeado o primeiro presidente do Clube. E assim Pelo menos durante o ano seguinte a Farmácia Franco foi o berço organizativo do nosso Clube.



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A Farmácia Franco, berço organizativo do Sport Lisboa e Benfica.




Em 1903, os dois irmãos Franco e o Dr. Meireles, que eram da mesma faixa etária, já não tinham idade para futeboladas. Tinham no entanto espírito jovial e desportivo e por isso compreenderam e acarinharam a rapaziada mais nova, permitindo que treinassem no pátio da Farmácia e apoiando-os financeiramente, enquanto sócios protectores do Sport Lisboa.

É frequente haver a confusão entre o Dr. Meireles e António Meireles, jogador da 1ª categoria entre 1907 e 1911. É errado pois são dois homens distintos. António Meireles, o jogador nascido em 1888, era irmão de Abílio Meireles, um dos 24 fundadores. Nada a ver com o Dr. Meireles.

No caso do Dr. Meireles, para lá do apoio financeiro, a rapaziada beneficiava ainda do seu apoio médico para curar as mazelas sofridas durante os treinos e jogos. Ficou aliás tristemente célebre um episódio em que o nosso jogador António Couto fracturou uma perna durante um jogo em Carcavelos contra o CIF, em Março de 1907. O momento foi captado pela objectiva de Sena Cardoso, mostrando-nos a máscara de dor que o infortunado jogador tinha quando era transportado em maca por um conjunto de assistentes, entre eles o Dr. Meireles.


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Fonte: História do SLB 1904-1954.



O Dr. Meireles, fruto do seu entusiasmo, prestígio e capacidades de trabalho, contribuiu ainda como dirigente desportivo para a melhoria da organização do futebol em Lisboa. Assim, em 1908 foi eleito para presidir à Liga Portuguesa de Futebol, antecessora da Associação Regional de Lisboa, numa altura em que também ainda não existia a Federação Portuguesa de Futebol.



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Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Por motivos que desconheço, em 1909 o Dr. Meireles já não assumia esse cargo, tendo sido substituído pelo Dr. Januário Barreto, que anos antes tinha sido o primeiro presidente eleito da Historia do nosso Clube. Dessa Direcção constava ainda o Major Luís Carlos Faria Leal, ainda representando o Grupo Sport Benfica e que veio a ser uma das figura-chave na junção de 1908. O nosso Clube e as suas figuras cedo tiveram tiveram papel fundamental na implementação do futebol em Portugal.

A partir de 1908 não tenho mais informação sobre o Dr. Meireles. Em particular depois de 1910, depois da implantação da Republica, terá dado outro rumo á sua vida. Com 62 anos de idade era ainda um prestigiado médico Lisboeta mas também estava conotado com a sociedade monárquica. Terão sido tempos muito difíceis. Existem fontes que indiciam que ainda estaria vivo no ano de 1924, com 76 anos de idade. Espero que um dia apareçam mais informações que nos elucidem mais acerca da parte final da sua vida.



Honra e Glória ao Dr. António d' Azevedo Meireles



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Fevereiro de 2019, 20:46
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Lar do jogador, ninho de Campeões (parte I)


Abril de 1962, Quinta da Nossa Srª do Cabo ao cimo da Calçada do Tojal, Benfica.


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Empoleirados num antigo portão de ferro forjado, a miudagem grita para os seus ídolos, que olham divertidos na escadaria da entrada de uma casa.

Essa casa era o "Lar do jogador", a casa onde foram recebidos e viveram muitos jovens que se viriam a tornar campeões de futebol no Sport Lisboa e Benfica.

Ali em frente, sorridentes perante aquela "invasão" da miudagem, identificam-se os rostos de uma dezena de jogadores entre os mais notáveis campeões da nossa História.


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Os campeões observam, sorridentes, na escadaria.



É do Lar do Jogador, desse local mítico da História do Sport Lisboa e Benfica, que vamos hoje falar.


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A fachada traseira (esquerda) e a fachada principal (direita) do Lar do jogador. Nota-se o vigoroso portão de ferro forjado.


Inaugurado em 1 de Abril de 1954, o Lar do Jogador estava localizado nos terrenos da antiga Quinta da Nossa Senhora do Cabo, perto da antiga Quinta das Pedralvas, ao cimo da Calçada do Tojal e não muito longe do Cemitério de Benfica. Era nessa altura uma zona ainda com traços campestres mas que já estava em acelerado processo de urbanização.



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A zona envolvente ao Lar do jogador; a antiga Quinta das Pedralvas cada vez menos campestre. Fonte: AML


O Lar do jogador do Sport Lisboa e Benfica foi uma componente essencial da restruturação profunda imprimida ao futebol Benfiquista no início da década de 50. Por lá passaram diversas gerações de génios do nosso futebol. Foi um verdadeiro lar, um ninho de campeões.


O contexto


No final da temporada de 1953-1954 o SCP prestava-se para conquistar um tetra-campeonato, um feito até aí inédito no futebol Português. Depois da inolvidável conquista da Taça Latina em 1950, o SL Benfica registava a quarta temporada sem conquistar o Campeonato Nacional. Para além do futebol, o nosso Clube vivia também um clima algo conturbado por via das divergências relacionadas com a edificação do novo parque desportivo.

No futebol, o Inglês Ted Smith tinha saído do comando técnico do SLB em 1951-1952, sendo substituído até ao final da época pelo seu adjunto Cândido Tavares. Depois tivemos duas temporadas com situações precárias.

Em 1952-1953, foi contratado o argentino Alberto Zozaya mas que não se adaptou e a quem sucedeu um Conselho técnico formado por Ribeiro dos Reis e José Simões como teóricos e Alfredo Valadas como treinador de campo. Esta solução, que fez uso do saber de antigos craques Benfiquistas, manteve-se até ao fim da temporada.

Na época seguinte, de 1953-1954, o Conselho técnico manteve-se em funções mas em Dezembro foi contratado o argentino José Alberto Valdivielso, de quem falaremos mais à frente. Infelizmente e contrário das três temporadas anteriores, nesta temporada o SLB nem sequer conseguiu conquistar a Taça de Portugal. Havia a consciência de que era necessária lucidez e coragem para se mudar profundamente o estado das coisas.



Joaquim Ferreira Bogalho, o homem da mudança


Felizmente, ao leme do Sport Lisboa e Benfica estava Joaquim Ferreira Bogalho, um homem de excepção que teve inteligência de compreender o desafio e a coragem e o engenho de introduzir mudanças profundas e eficazes. Foi este o cenário em que se começou a construir a base das vitórias que rechearam as duas décadas seguintes da História do nosso Clube.


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Joaquim Ferreira Bogalho presidente do Sport Lisboa e Benfica de 15.03.1952 até 30.03.1957



Desde 1938, altura em que contava 39 anos de idade, Joaquim Ferreira Bogalho ostentava a Águia de ouro, a honra máxima do Sport Lisboa e Benfica. Recebeu-a em reconhecimento dos muitos e distintos serviços que prestou ao Clube nos mais diversos cargos enquanto membro de várias Direcções.

Sócio desde 1918, foi guarda-redes de categorias inferiores em 1926-1927 mas dois anos depois já integrava uma das Direcções do Clube. Ocupou diversos cargos tais como director, vice-presidente, secretário, membro de comissões festivas, delegado, mas foi a sua inestimável colaboração como tesoureiro que se tornou decisiva para a atribuição do galardão. Isto quando faltava mais de uma década para vir a ser Presidente do Clube.

Quando foi eleito para Presidente, Ferreira Bogalho conhecia de forma profunda o SL Benfica, as suas gentes, as suas aspirações, as necessidades e as finanças do Clube. Sabia do que a massa associativa era capaz.



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Joaquim Ferreira Bogalho, Águia de ouro em 1938.



Em 1952, com 53 anos de idade, Ferreira Bogalho tinha ainda pela frente os anos mais Gloriosos da sua vida Benfiquista. Os cinco anos de mandato que exerceria na presidência do Clube elevaram-no acima de todos os outros presidentes da nossa História. Joaquim Ferreira Bogalho foi e continua a ser o melhor presidente da História do SL Benfica. CINCO anos de presidência bastaram. Depois entendeu que era altura de dar lugar a outro, colocando o SL Benfica sempre acima de si próprio. Um Benfiquista excelso, um Homem superior.


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Joaquim Ferreira Bogalho foi o Homem do Estádio, mas não só...


Joaquim Ferreira Bogalho assumiu a presidência do nosso Clube em 15.03.1952 e exerceria o cargo até 30.03.1957, tendo sido substituído pelo Engº Maurício Vieira de Brito, que viria a revelar-se outro notável presidente. Durante aqueles 5 anos e falando de forma simplista, Ferreira Bogalho assumiria dois grandes desafios:



1) Construção do novo Estádio, deixando o Clube livre de quaisquer encargos de dívida para o seu futuro;


2) Restruturação completa do futebol do Clube, tornando-o novamente ganhador.




Assumir esses dois desafios em paralelo era uma tarefa gigantesca mas Ferreira Bogalho mostrou-se à altura das circunstâncias.

No futebol, Joaquim Ferreira Bogalho introduziu mudanças profundas, inteligentes e eficazes para alterar o estado das coisas. E, sem medo, fez com que chegasse o tempo do profissionalismo ao Futebol Benfiquista. Vejamos quais foram as medidas mais importantes:


● Contratação de Otto Glória

Foi uma escolha polémica tendo em conta a proveniência e o currículo do novo treinador. Otto Glória, que era carioca e neto de Portugueses, foi o primeiro treinador Brasileiro da história do Clube. Nesse tempo o futebol Sul-Americano era prestigiado e Brasil era considerado ser um país com um futebol mais avançado e competitivo do que o nosso.

A verba investida na contratação foi outra fonte de polémica: 12 contos mensais, uma pequena fortuna para a época. Ferreira Bogalho era tido como forreta mas este e outros exemplos mostraram que gastava com critério mas também gastava generosamente quando isso se justificava.


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Otto Glória, o homem que introduziu o profissionalismo no Futebol Benfiquista.


Otto Glória chegou a Portugal com uma ainda curta experiência enquanto treinador principal. Vinha do cargo de treinador do America Football Club, clube histórico do Rio de Janeiro mas de dimensão inferior aos 4 grandes daquela cidade. Esse tinha aliás sido o primeiro cargo que assumiu como treinador principal, depois de alguns anos em que foi adjunto do prestigiado Flávio Costa, no CR Vasco da Gama.

Ao que parece, terá sido uma excelente exibição que a equipa de futebol do America-RJ fez num jogo particular que disputou em Belém, contra o CFB, que terá convencido Ferreira Bogalho a avançar para a contratação de Otto.



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Jogo-treino entre o SLBenfica e o America-RJ. Em Julho de 1955 o Benfica disputou alguns jogos no Brasil. Otto Glória aproveitou para rever os seus antigo pupilos do America-RJ. Fonte: Helena Águas.


A aposta de risco revelar-se-ia certeira pois Otto trouxe ideias clarificadoras ao futebol Benfiquista e revelou-se um ganhador. Revelou-se também um disciplinador ao mesmo tempo que conquistava a estima dos jogadores. Era um homem culto, um carioca bom de papo e de trato mas que sabia ser duro quando achava ser altura disso. Nessa primeira passagem pelo nosso Clube, Otto dar-nos-ia 2 títulos de campeão nacional (1954-1955 e 1956-1957) e 3 Taças de Portugal (1954-1955, 1956-1957 e 1958-1959), tendo disputando arduamente os restantes títulos.

Otto trouxe ao nosso futebol, novos conceitos tácticos e movimentações no campo. Ficou célebre a diagonal, movimento em campo, pouco convencional até então, que Otto determinava para alguns dos jogadores, confundindo as defesas adversárias. O modelo de jogo do Benfica passou a ser mais defensivo e assente numa circulação de bola mais rendilhada, precisa e dinâmica. Previa um posicionamento mais disciplinado dos jogadores em campo e tirou proveito da capacidade técnica superior de muitos dos nossos jogadores tinham.

Logo no primeiro ano o SL Benfica faria a dobradinha e Otto foi levado em ombros depois de uma decisão dramática em compita com CF Belenenses e o Sporting CP. Muito do sucesso desse e dos anos seguintes explicou-se mais pelo que foi feito fora de campo pois Otto trouxe também metodologias bem estruturadas e rigorosas nas vertentes do treino, dos cuidados médicos preventivos e curativos, assim como regras bem definidas que condicionavam a vida particular e a alimentação dos atletas. Foi uma revolução.


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Otto Glória, o introdutor do profissionalismo no Futebol Benfiquista.


Nos anos seguintes, reconhecendo-lhe o mérito, a Direcção do Clube daria carta-branca a Otto, chegando este ao ponto de conseguir que a Direcção contratasse o extraordinário massagista brasileiro Mão de Pilão, que com ele já tinha trabalhado nos cariocas do Vasco da Gama, e de quem já aqui falamos (ver os dois textos O "caramujo" do futebol, pág 34).



● Profissionalização do futebol

O Sport Lisboa e Benfica foi o primeiro Clube Português a aderir ao profissionalismo no futebol. Foi um passo fundamental, estruturante, para o sucesso futuro do Clube. Foi também uma medida-choque face à tradição e às consequências menos agradáveis que acarretou num primeiro tempo.

Até aí a maioria dos jogadores acumulava as (modestas) remunerações do futebol com as auferidas em outras actividades profissionais que mantinham em paralelo. Otto Glória não transigiu e passou a exigir total dedicação dos atletas ao futebol.

A maioria dos atletas aceitou o desafio, mas outros houve que optaram por manter as suas carreiras fora do futebol, onde auferiam rendimentos mais elevados. O caso mais conhecido foi o de Rogério Pipi, na altura o jogador mais prestigiado do nosso futebol pois, embora em final de carreira, mantinha-se ainda como um jogador cheio de classe. Pipi, que conhecia Otto desde 1947, altura em que pertenceu aos quadros do Botafogo FR, optou por prosseguir a sua carreira no futebol ao serviço do Oriental, opção que lhe permitia continuar a exercer a sua rentável profissão de vendedor de automóveis.


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Rogério Pipi já com as cores do Oriental, saudando os seus antigos companheiros, Bastos e Jacinto.



● Prospecção

O nosso Clube alargou a base de prospecção e a precisão e acutilância na contratação de novos valores na metrópole mas também nas colónias. Foram descobertos e contratados jogadores determinantes para os sucessos dos anos vindouros.

A prospecção foi particularmente cuidada nas colónias, onde se passou a dar mais atenção ao extraordinário viveiro de novos valores que por ali aparecia, fruto do talento natural e do trabalho dos Clubes locais, muitos deles filiais dos grandes Clubes da metrópole. Essa medida que daria frutos imediatos pois logo nesse ano de 1954 seriam contratados Coluna, Costa Pereira e Naldo.


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As aquisições do SLB na temporada 1954-1955, a primeira de Otto Glória. Destaque para Costa Pereira e Coluna. O treinador que aparece na fotografia era o argentino Valdivielso...


A opção de contar com jogadores naturais das colónias não era nova no SL Benfica. Já antes o Clube tinha contado com a colaboração de, entre outros, homens como Fortunato Levy, Marcolino Bragança, Guilherme Espírito Santo, Melão e José Águas, mas nunca como a partir de 1954, os jogadores das colónias passaram a ter um peso tão acentuado no sucesso do futebol Benfiquista.


● Categorias jovens

Aumentou-se a aposta nas categorias jovens. Para a tarefa foi dado um papel relevante ao treinador Argentino Jose Alberto Valdivielso, antigo jogador (defesa) do Atlético de Madrid. Como atrás se disse, Valdivielso pertencia aos quadros do Clube desde Dezembro de 1953, tendo nessa altura sido contratado para o cargo de treinador principal.

Essa contratação era consequência directa do prestígio do futebol argentino, depois das exibições bem conseguidas de alguns clubes argentinos como o San Lorenzo de Almagro, o Boca Juniors e o Independiente que por cá andaram em digressão nessa altura.

Apesar do pouco tempo e pouco sucesso que teve a orientar os seniores, as capacidades de Valdivielso foram reconhecidas e aproveitadas. O argentino assumiu, ao longo dos anos seguintes, um papel relevante na formação dos atletas jovens do Clube. Curiosamente, aquando da transição de Otto Glória para Béla Guttmann, em Maio de 1959, Valdivielso seria novamente chamado para orientar a nossa equipa sénior que conquistou a Taça de Portugal.



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José Alberto Valdivielso, o treinador argentino que, a partir de 1954-1955, foi peça chave numa nova etapa de aposta nas camadas jovens do SLB. Fonte: Benfica Ilustrado.


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A equipa do SL Benfica vencedora da Taça de Portugal de 1958-1959. Já sem Otto Glória mas com a orientação do argentino Valdivielso.



● Regras de comportamento dentro e fora de campo

Otto Instituiu regras restritas de treino, de horários, de atitude nos treinos e na vida privada dos jogadores. Para ele era fundamental conseguir a total disponibilidade dos jogadores para atingirem uma excelente forma individual tanto física como mental. Pretendia também reforçar os laços colectivos de amizade entre os jogadores.

O Lar do jogador foi uma peça fundamental para se assegurar o foco e a coesão colectiva da equipa. Antes, os jogadores estavam dispersos por casas de amigos ou pensões. Antes, cada um fazia os seus horários, não havia contacto diário fora do campo, não havia camaradagem estreita, estavam todos dispersos e entregues a si próprios. O Lar foi decisivo para estabilizar e agregar os jogadores em torno da equipa.

Igualmente fulcral foi a posição de força que Otto tomou junto da Direcção para blindar o balneário à influência externa. Até então, no futebol Benfiquista, era norma que os dirigentes do Clube tivessem acesso ao balneário, tanto em dia de jogo como nos treinos. Com Otto tudo isso terminou e a proibição de acesso valia para todos, presidente incluído. Otto não permitiu qualquer interferência no seu trabalho. Assumia os riscos mas também determinava as regras.

De tudo isto se percebe que Ferreira Bogalho e Otto Glória eram dois homens inteligentes e de personalidade resoluta. O Brasileiro exercia a autoridade dada pelo Presidente. Otto percebendo bem o Futebol Português e fez as alterações e organizou o nosso futebol em moldes que edificaram as bases para os sucessos das décadas seguintes. Ferreira Bogalho e Otto Glória são dois nomes inesquecíveis do Futebol Benfiquista.



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Dois homens de excepção do Futebol Benfiquista.



Na segunda parte deste trabalho falaremos mais em detalhe sobre o Lar do Jogador. Teremos imagens e alguns testemunhos engraçados que atestam como o Lar foi uma peça fundamental na construção da espantosa máquina de futebol que o Sport Lisboa e Benfica criou nas décadas de 50 e 60.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Fevereiro de 2019, 15:32
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Lar do jogador, ninho de Campeões (parte II)


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O Lar do Jogador



Neste texto falaremos com algum detalhe do Lar do jogador pois não é fácil encontrar material. Teremos também oportunidade de falar de algumas histórias curiosas ilustrativas do ambiente que por lá se viveu.

Inaugurado em 01.04.1954, o Lar do Jogador estava localizado nos terrenos da antiga Quinta da Nossa Senhora do Cabo, perto da antiga zona da Quinta das Pedralvas, ao cimo da Calçada do Tojal e não muito longe do Cemitério de Benfica.

Para os jogadores solteiros o Lar não era uma opção pois eram obrigados a viver ali em permanência a troco de uma mensalidade de cerca de 500 escudos. Esta verba, segundo Ângelo Martins, era uma verdadeira pechincha, atendendo a todos os serviços e à alimentação de que beneficiavam na época.

Já para os casados havia permissão de permanecerem em casa de 2ª feira pelas 8h00 até à manhã de 5ª feira, dando entrada no Lar depois do treino matinal desse dia. Os restantes dias eram passados no Lar, como se fossem solteiros.

A casa foi adquirida pelo Clube e recuperada para se tornar simultaneamente um lar a tempo inteiro para os jogadores solteiros e um centro de estágio para toda a equipa nos dias próximos aos jogos disputados em Lisboa. Era uma casa antiga de dois pisos e vários anexos. Nas suas traseiras, a casa tinha também uma varanda ampla bastante apreciada nos dias luminosos e quentes.


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Um alegre convívio já nos anos 60.



Era uma casa bastante ensolarada e que dispunha de 9 quartos. Segundo o magnífico livro de Helena Águas "José Águas, o meu Pai herói", quando abriu portas o Lar tinha 23 residentes, sendo esta a sua distribuição pelos quartos:



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A distribuição de pessoas pelos 9 quartos quando o Lar do jogador foi inaugurado em 1.04.1954.



E daí em diante foram entrando e saindo jogadores à medida que os planteis iam sendo alterados mas o Lar manteve-se como um local fundamental para o nosso Futebol.



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A zona do descanso. À esquerda, Santana num Eusébio momento de descanso. Como se vê, este último fazia questão em ter um prático calendário.



Para além do portão de ferro forjado, a casa era rodeada de muros altos, tinha um pequeno lago no pátio de entrada e nas traseiras existia uma criação de galinhas. Por ali vivia também um cão chamado "Benfica" e um gato preto simpaticamente chamado de "Matateu", certamente em honra do grande e felino avançado do CF "os Belenenses". A admiração (bem merecida) por parte dos seus Gloriosos adversários...



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O "Matateu" fazia companhia ao cão da casa, o "Benfica", do qual infelizmente não encontrei uma fotografia.



Para o funcionamento do Lar, o Clube instituiu um conjunto de regras ou "mandamentos", que – atendendo à juventude da rapaziada – eram muitas vezes verdadeiras imposições.

No Lar geralmente trabalhavam a tempo inteiro 7 funcionários por equipamentos, 4 lavadeiras e 4 cozinheiros. As ementas eram definidas pelo Departamento de futebol e cuidadosamente preparadas e servidas em horário fixo.



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Cozinha e barbearia, dois dos serviços disponíveis no Lar do Jogador. À esquerda vemos 2 craques a tirar uns minutos para inspeccionarem a cozinha ... Já Coluna parecia atento a uma revista enquanto lhe cuidavam do visual.



Na sala de jantar, havia uma televisão (desde 1957) e – como se pode observar - estavam dispostos retratos de antigos craques do nosso futebol.



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A sala de jantar onde estavam expostos numerosos retratos de antigos grandes jogadores do Clube.



As ementas apesar de assegurarem comida e bebida saudável em quantidades julgadas adequadas pelos responsáveis nem sempre eram consensuais entre os jogadores, tanto mais que o menu não incluía bebidas mais agradáveis ao palato.

Assim se compreende que, quando a gula apertava e as oportunidades se reuniam, por vezes se dessem também alguns movimentos de mercadorias não registadas para dentro de portas. E, felizmente para os infractores que eram mais empreendedores, bem ali ao lado existiam algumas casas de comércio que com eles iam colaborando, numa estreita cumplicidade.

A esse propósito, há poucos anos, num dos episódios V&P, tivemos um delicioso testemunho do Sr. João Cordeiro que, ainda muito novo, era funcionário de uma mercearia e era também conhecido por alguns residentes do Lar como "o padeiro"... Era através dele que a rapaziada lá se ia abastecendo de umas cervejinhas e de alguns pitéus proibidos com que iam amenizavam as provações da dieta oficial.



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Contava o grande José Águas que numa noite esteve entre alguns convivas de uma patuscada que meteu uns borrachos (pombos) cozinhados e consumidos à socapa no Lar. O repasto foi convenientemente regado com umas garrafitas de tinto que no final da noite ficaram vazias. Infelizmente para os convivas, Ângelo Martins, o companheiro por eles encarregue de fazer "desaparecer" as garrafas, esqueceu-se da tarefa e assim acabaram por ser apanhados por Béla Guttman. O feiticeiro húngaro ficou piurço com a situação e pior ainda ficou quando soube que um dos envolvidos era Fernando Cruz, um dos seus atletas predilectos... De pouco valeu que José Águas e restantes tenham assumido a situação pois não se livraram de uma valente multa. Enfim, mesmo com castigos, histórias destas devem ter sido às dezenas.


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O regulamento do Lar instituía também os dias e as horas em que era permitida a ausência, estando obviamente expressamente proibida a ausência em período nocturno. Mas, inevitavelmente, com tanta juventude e irreverência havia também constante vontade em se procurar diversão fora de portas, com escapadelas feitas pela calada da noite, saltando os muros, procurando assegurar um igualmente discreto regresso antes da alvorada do dia seguinte...

A sala de jantar era também usada para convívios nos quais os jogos de cartas tinham papel de relevo.



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Sala de jantar, palco também de jogos de cartas, um dos passatempos predilectos.



António Simões contou recentemente uma história do princípio da sua carreira sénior, bem demonstrativa de como o estatuto funcionava também nestes momentos.


Já os conhecia do lar, mas a distância era grande, tanto que eles sentavam-se a jogar às cartas, Costa Pereira em parceria com o Águas e o Coluna com o Cávem, eu pedia para assistir e eles respondiam: "Podes sentar-te aqui, mas não falas". Fonte: Tribuna Expresso



Estatuto... Uma forma eficaz de fazer compreender e passar a Mística aos mais novos. O estatuto derivava da antiguidade e da notoriedade que se ganhava dentro de campo.

Os espaços campestres envolventes eram palco para convívios e existia também uma biblioteca onde era possível ler não apenas os jornais do dia como também livros clássicos.

De entre todos talvez Germano Figueiredo tenha sido o mais interessado dos que a frequentavam dada a sua conhecida avidez por livros fossem eles clássicos da literatura ou livros de filosofia, que aliás eram da sua particular predilecção. Em cada estágio o mais comum era ver Germano isolado, introvertido, tranquilo, absorto à volta de um livro, cultivando o seu mundo.



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Germano de Figueiredo, o Glorioso Alcantarense foi sempre um ávido leitor nos estágios. Homem culto, autodidacta.



Mas o mais frequente para ocupar os tempos livres era acontecer interacções, jogos e partidas entre todos aqueles jovens. E assim pelo Lar se construíram cumplicidades e amizades para a vida. Entre os momentos de concentração, tensão, rigor mas também de convívio e camaradagem, por lá se moldaram os maiores campeões da nossa História.



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Dois momentos de descontracção e amizade entre Cavém e Sebastião.



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Dois momentos de descontracção e amizade entre Azevedo e Mário Coluna.


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Momentos de descontracção no Lar do jogador. Leitura de livros, jornais e José Águas à caça de pardais.




E voltando à espantosa imagem com que começamos estes dois textos,


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Como não lembrar um testemunho que li há algum tempo.


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Quanto ao Lar do Benfica, não me esqueço das grades que tinha para evitar que os jogadores dessem o "salto" durante a noite. Essas grades estavam deformadas, abertas à força, pois os jogadores piravam-se mesmo e, não raramente, vinham até cá abaixo à Estada de Benfica onde passavam algum tempo no Penalty, que eu julgo ter sido propriedade do Cavém. Mesmo assim, talvez por vezes menos bem dormidos, não deixavam de ser campeões... ;-)

De facto, os jogadores que eram casados só eram "encarcerados" nas vésperas dos jogos, como era o caso do Coluna e do Pérides, que moravam na minha rua. Eram os nossos ídolos, principalmente dos putos que eram benfiquistas - os quais estavam em nítida maioria. Sempre simpático com a pequenada, por vezes o Coluna até dava uns toques com a malta. Comentador "João". Fonte: http://retalhosdebemfica.blogspot.com/2010/01/estrada-dos-salgados.html


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(https://i.postimg.cc/q793ydFh/B13.jpg)

Glorioso Benfica, de tantas histórias se faz a tua História!




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 04 de Fevereiro de 2019, 11:04
Escreve um livro, amigo. Este material é tão bom!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 04 de Fevereiro de 2019, 12:02
Victor... faz tao bem ler essas histórias. como de um que esteve assistir ao escrito...
obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Fevereiro de 2019, 16:02
Obrigado pelas vossa palavras, meus amigos Ned e alfredo  O0

Soube tão bem acabar o texto ontem de manhã e ao final da tarde assistir a toda aquela barrigada de futebol, Que dia, que dia!   :slb2:

Quanto ao livro, bem, eu até gostaria mas terão de estar reunidas condições que neste momento não existem.

Dentro de umas semanas haverá algo de giro para colocar aqui.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Fevereiro de 2019, 17:10
Extraordinario.A nossa história é riquíssima.Muito obrigado ao Red VC por todos os excertos da nossa épica historia que tem postado aqui no fórum.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Fevereiro de 2019, 12:02
Citação de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2015, 00:38
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Eusébio às riscas

Stoke-on-Trent, Inglaterra, 12 de Dezembro de 1973:

(https://pbs.twimg.com/media/B6O_J3JCYAEHGW0.jpg)

De facto assim foi. Jogo de despedida de Gordon Banks, o grande guarda-redes Inglês.

Jogo contra o Manchester United. Eusébio joga com a camisola do Stoke City. Derrota do Stoke City por 2-1. Quem marca o golo do Stoke? Isso.

(http://www.stokesentinel.co.uk/images/localworld/ugc-images/276370/Article/images/20404013/5682218-large.jpg)


Testemunho de Banks:
Eusébio era um grande, grande jogador. Fiquei extremamente triste ao saber da sua morte.
Quando enfrentamos Portugal na semi-final de 1966, Alf Ramsey fez questão em alertar-nos para a sua qualidade. Eusébio era um daqueles jogadores capaz de fazer coisas notáveis com aquela bola pesada, coisas só ao alcance de poucos.
Naquele dia ele marcou-me de penalti o primeiro golo que concedi no Mundial - enganou-me, enviou-me para o lado errado.


(http://i.dailymail.co.uk/i/pix/2014/01/05/article-2534038-1A6E2AB700000578-216_634x479.jpg)

Era um cavalheiro. No final desse jogo apertámos as mãos e ele desejou-nos o melhor... Fiquei muito honrado em ele ter participado no meu jogo de despedida. Era uma grande pessoa.

E de facto assim foi. Mais uma oportunidade para conviverem e apertarem as mãos. E já não vinha longe também a despedida de Eusébio.

(http://www.collectsoccer.com/acatalog/GordonBanksTestimonial-L.jpg)

(http://i.guim.co.uk/static/w-620/h--/q-95/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2014/9/20/1411209454220/6e780c22-b9ed-4848-b147-7a4d6f3c202b-680x1020.jpeg)

(http://i2.mirror.co.uk/incoming/article2990268.ece/alternates/s615/Gordon-Banks-goalkeeper-for-England-with-Eusebio-in-1973.jpg)

Fonte:http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F  (http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F)


Gordon Banks foi um fantástico guarda-redes do Chesterfield, Leicester City, Stoke City e da selecção Inglesa. Finalizou a sua actividade depois de um acidente de automóvel que lhe afectou a visão do olho direito. Um caso muito triste à semelhança do craque Brasileiro Tostão, e do nosso excelente defesa Vicente.

A sua defesa no mundial de 1970 após um remate de cabeça de Pelé é ainda hoje considerada a melhor da história do futebol.

(http://extra.globo.com/esporte/418537-fe8-93f/w976h550/12_01_ghg_70banks.jpg)

A qualidade não é boa mas três meses antes Gordon Banks esteve no jogo da festa de homenagem a Eusébio em  26 de Setembro de 1973. O dia em que Hagan bateu com a porta. Mas isso é outra história.

(http://terceirotempo.bol.uol.com.br/imagens/54/84/arq_35484.jpg)
(http://images-01.delcampe-static.net/img_large/auction/000/222/330/166_003.jpg?v=2)

Dois gigantes que se respeitaram e que se habituaram a apertar as mãos. Mereceram ambos a homenagem recíproca. Os grandes atraem os grandes.


Faleceu hoje um dos grandes


https://www.youtube.com/watch?v=DzcfppUKhb8 (https://www.youtube.com/watch?v=DzcfppUKhb8)


Paz à sua alma.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 13 de Fevereiro de 2019, 09:55
tb me lembrei que os dois tiveram uma boa amizade e respeito um pelo outro...
agora têm mais tempo para passar juntos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2019, 00:26
-227-
Neste ano 115

Celebramos a fundação do Sport Lisboa e Benfica.


(https://i.postimg.cc/mrpS6NFD/01.png)


Em evocação do momento primordial do nosso Clube foi hoje publicado no blogue de Alberto Miguéns "Em Defesa do Benfica" o texto


"115 Anos: O Percurso Biológico de 24 Idealistas".


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html)



Neste texto publica-se informação inédita que constitui um avanço efectivo e substancial para o conhecimento de quem foram os 24 homens que fundaram o nosso Clube.

O texto é antes de tudo uma homenagem a esses 24 homens.

Assenta num trabalho de pesquisa feito num esforço pessoal intenso mas muito estimulante. Deu-me igualmente o prazer e privilégio de voltar colaborar com Alberto Miguéns, o Benfiquista que é o mais profundo conhecedor e divulgador da História do Sport Lisboa e Benfica.

O texto, cuja leitura naturalmente aconselho, merece-me ainda mais algumas notas, salientando:


1 - a intensidade e dimensão das pesquisas.

Este texto assenta em dados factuais recolhidos a partir de documentos que foram obtidos - sem exagero – ao longo de muitos meses com a consulta sistemática de centenas de livros e milhares de páginas armazenadas em arquivos militares, civis e paroquiais.

Em muitos casos, na ausência de índices ou motores de busca adequados para uma consulta rápida desses antigos livros de registos, a pesquisa exigiu paciência, persistência, organização e rigor. Valeu bem a pena.



2 - o prazer dos momentos pós-descoberta.

Nos momentos seguintes à revelação de um dado biográfico de um fundador há uma satisfação solitária e indiscritível. Há a noção que se fez um resgate da memória de alguém que estava perdido para a consciência colectiva e essa é a melhor justiça que podemos fazer a quem nos legou um Clube que influencia tão grandemente a nossa vida.



3 - o valor da interacção com Alberto Miguéns.

A partilha de informação e ideias é fundamental, a interacção é um prazer, acrescenta mais do que a simples soma. Faz sentido. É parte essencial do Benfiquismo.



4 - o valor deste conhecimento.

Os resultados destas pesquisas acrescentam muito ao conhecimento que temos dos factos e dos protagonistas da História inicial do nosso Clube. Mais conhecedores, mais Benfiquistas.

Fazendo o balanço dos dois últimos anos há que dizer que progredimos muito no conhecimento sobre os 24 fundadores do nosso Clube.

Para quase todos os 24 fundadores, sabemos agora qual o seu nome próprio completo e quais as datas do seu nascimento e óbito (dos 48 eventos faltam-nos saber 6). Com essa informação podemos traçar uma linha de vida completa para 20 dos 24 fundadores.

Sabemos agora que a maioria teve oportunidade de ver o espantoso crescimento e as numerosas conquistas desportivas e institucionais do Clube que fundaram. Que orgulho não terão tido no engrandecimento deste Clube colossal!

Analisar detalhes da vida de cada um dos fundadores e relacionar toda essa informação com outras já disponíveis permite-nos desfazer algumas ideias erradas acerca da História inicial do nosso Clube. Ideias que foram semeadas e propagadas nos últimos anos.


Os dados biográficos dos 24 fundadores, agora revelados, validam inteiramente o que nos foi contado por Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, quando em 1954 publicaram a obra de referência da História do nosso Clube. Conseguimos agora acrescentar detalhes valiosos para uma compreensão mais completa, mais contextualizada dessa etapa inicial da História do nosso Clube.


(https://i.postimg.cc/W1Xmh68n/03.png)
História do Sport Lisboa e Benfica, 1904-1954. Edição de Autor, publicada em fascículos em 1954.


A maioria daqueles 24 homens que estavam esquecidos na poeira do tempo, viveu ou trabalhou naquela Belém pacata e rural do princípio do século XX. Entre eles havia uma grande diversidade de proveniências regionais e profissões paternas. Havia miúdos de famílias com vidas particularmente desafogadas e outras com mais dificuldades. O nosso clube nasceu como é hoje, num espaço de respeito e diversidade, num espaço de convergência de vontades, paixões, generosidades, talentos e capacidades. O único ponto comum era a paixão pelo desporto e o Ideal generoso e de superação e esse foi o combustível fundamental para a construção do maior e melhor Clube Português e um dos maiores do mundo.

Por trás da lista dos 24 fundadores podemos discernir múltiplos laços familiares, de vizinhança, escolares ou profissionais. Sabemos agora mais sobre esses múltiplos laços e sobre a sua importância na fundação do nosso Clube.

A partir de agora não há mais desculpas para que se continuem a propagar as historietas do "clube dos pés descalços" ou do "Júlio Cosme Damião". Basta!


Muitos dos fundadores permaneceram por Belém durante toda a sua vida, outros seguiram a sua vida longe daquela terra que é u dos berços do Futebol em Portugal. Alguns repousam para sempre no cemitério da Ajuda, outros no cemitério dos Prazeres, outros ainda Alto de São João. Está lá tudo bem explicado no texto "115 Anos: O Percurso Biológico de 24 Idealistas". Não deixem de ler.



https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html)


(https://i.postimg.cc/g2SRYcct/04.jpg)
Obrigado



5 - trabalho ainda por fazer

Para quem quer que se proponha, ainda há trabalho a fazer. Dois dos fundadores, Eduardo Afra Jorge da Costa e Joaquim Ribeiro são ainda mistérios por desvendar.

Apesar dos 115 anos de distância temporal ainda assim é notável o que agora se conseguiu revelar.

Acredito também que há ainda muitos detalhes biográficos por revelar para muitos dos 24 fundadores. Seria excelente que descendentes de alguns desses 24 fundadores pudessem aparecer e dar novas informações.

No Sport Lisboa e Benfica todos são importantes mas os 24 fundadores têm, compreensivelmente, um lugar especial.



A História do Sport Lisboa e Benfica é fascinante.

Todos os Benfiquistas deviam conhecer mais e melhor essa maravilhosa aventura agora já com 115 anos de caminho percorrido.

Viva, viva, viva o Sport Lisboa e Benfica!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: mMateus em 01 de Março de 2019, 09:33
"Porto, Rua de Santo Ildefonso, Nº 71.
Aqui nasceu a 4 de Julho de 1874, Félix Bermudes, o Pai da Cultura Benfiquista.

A primeira casa do SLB surgiu na "antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto" em 1950. Ademais, há uma Rua de Benfica a 2 km do Estádio do Dragão."


@hugomcmiv

(https://pbs.twimg.com/media/D0h9_0OWkAAXeCX.jpg)

(https://pbs.twimg.com/media/D0h-A4yWoAA0MjI.jpg)

(https://pbs.twimg.com/media/D0h-CKcWsAA07p-.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Março de 2019, 09:32
-228-
A Peste Branca


(https://i.postimg.cc/QCc03n4N/01.jpg)
Pela sua influência cultural, seus efeitos sobre a obra humana,
suas implicações históricas, sociais, económicas e políticas,
constitui modelo científico peculiar.
Modernamente continua causando as maiores devastações.
Seu valor epistemológico é imenso.
Misteriosa e ameaçadora permanece o paradigma dos temores das paixões
e dos conhecimentos humanos.

La Tuberculose. Jacques Chretien.



A última fotografia do Chacha


A última fotografia de Álvaro Gaspar, o imortal Chacha.



(https://i.postimg.cc/VsXR5pgm/02.jpg)
Fonte: «A Paixão do Povo» de F. Pinheiro e JN Coelho



Já por aqui se falou desta fotografia comovente (ver "-8- A última alegria do Chacha", pág.2). Foi captada no dia 13.01.1915, no campo de Sete Rios, aquando de um SL Benfica - Sporting CP.

Envolto nas suas roupas, protegendo-se daquele frio de Janeiro, Álvaro Gaspar, "o Chacha" estava gravemente doente. Esse seria o seu último ano de vida. Ainda assim esteve ao lado dos seus companheiros, mesmo que fora de campo, entre a assistência, impedido de poder jogar pela doença. Nesse dia o Chacha terá sido fotografado pela última vez num campo de futebol.

Menos de oito meses depois, no dia 3.09.1915, o Chacha estava morto.

Morreu na sua casa da Rua dos Jerónimos, 24, r/c, Belém. Tinha apenas 25 anos, morria na flor da idade, vítima de tuberculose pulmonar. Deixou mulher e dois filhos menores.

No seu leito de morte o Chacha pediu que abraçassem por ele o seu amigo e Capitão, Cosme Damião e que cobrissem o seu caixão com a bandeira do Sport Lisboa e Benfica. Assim se fez.

O seu funeral foi uma impressionante manifestação de pesar que juntou amigos, fossem eles companheiros ou adversários desportivos, num lamento colectivo pela perda. Entre os que puxaram a carreta fúnebre esteve o Dr. Alberto Lima, ilustre advogado e que na semana anterior tinha deixado a presidência do Sport Lisboa e Benfica.



(https://i.postimg.cc/Kj4xpBJ5/03.jpg)
Registo de óbito e túmulo de Álvaro José Gaspar




(https://i.postimg.cc/mg7RnbNK/04.jpg)
Três etapas da preservação e dignificação dos restos mortais de Álvaro Gaspar.




Os restos mortais do Chacha foram preservados e descansam hoje com toda a dignidade no cemitério da Ajuda. Foram preservados e dignificados graças à nobreza de carácter e Benfiquismo de António Ribeiro dos Reis e mais tarde da sua filha Margarida Ribeiro dos Reis e de Alberto Miguéns. Um Bem-haja a estes três grandes Benfiquistas.

A carinhosa recordação e o reconhecimento que Cosme Damião fazia ao génio futebolístico de Álvaro Gaspar ficariam também expressos na capa do único livro que publicou, intitulado "Apontamentos e Recortes sobre Football Association".



(https://i.postimg.cc/nhffByb2/05.jpg)
Fotografia original colorizada e capa do livro de 131 páginas da autoria de Cosme Damião, publicado em 1925. Tipografia "O Sport de Lisboa".



Muitos anos depois da sua morte, a memória do Chacha permanecia viva em todos os que o viram jogar. Recordavam a alegria, garra e virtuosismo com que ele enchia os campos por onde passou.



(https://i.postimg.cc/C5n9fNc9/06.jpg)
Em 1947, o nosso Clube prestou tocante homenagem a Álvaro Gaspar. Ribeiro da Reis liderou as cerimónias. Fonte: O Benfica Ilustrado e Stadium.




Objectivo


A evocação do Chacha levou-nos a abordar a terrível doença que o matou. No resto do texto centraremos atenções na tuberculose, falaremos sumariamente desta doença quer numa perspectiva histórica e social, mostrando como foi um terrível flagelo da sociedade Portuguesa. Terminaremos lembrando outras figuras destacadas do nosso Clube que também não resistiram à terrível Peste Branca.




A Peste Branca


Apelidada de "Peste branca" ou de "Tísica", a tuberculose é uma doença terrível que flagelou a humanidade desde épocas imemoriais. Permanece como uma das três doenças mais mortíferas a nível mundial, ao lado da malária e da SIDA, sendo que com esta última tem uma relação muito estreita.

Não obstante os notáveis avanços sanitários e médicos, a tuberculose continua a proliferar, sendo a principal causadora da morte de cerca de 3 milhões de pessoas por ano. Estima-se que actualmente existam cerca de 2 biliões de pessoas infectadas, número que equivale a um quarto da população humana mundial. A facilidade e agressividade do contágio e a crescente mobilidade populacional fazem com que nenhum país se possa considerar seguro (fonte: https://jpn.up.pt/2004/04/27/a-historia-da-tuberculose/).

Embora existam descrições de tuberculose desde o tempo do antigo Egipto, afectando até alguns altos sacerdotes e faraós, a doença só foi verdadeiramente descrita há apenas um século, quando no dia 24 de Março de 1882, o alemão Robert Koch descobriu o agente Mycobacterium tuberculosis, responsável pela doença. Por esse motivo este microorganismo é também vulgarmente conhecido pelo nome de "bacilo de Koch". Actualmente, o dia 24 de Março é assinalado como o Dia Mundial da Tuberculose.



(https://i.postimg.cc/T32Mtr15/07.jpg)
Robert Koch, o bacilo por ele descoberto e um esquema da progressão da doença.



A vacina, passo fundamental para a prevenção da doença, viria apenas a ser desenvolvida no século XX, quando em 1913, os Franceses Albert Calmette e Camile Guerin identificaram o microorganismo BCG (abreviatura de Bacilo de Calmette e Guerin), um agente capaz de resistir e prevenir a tuberculose.

Já quanto ao combate à doença instalada, o mundo teria de esperar pela década de 40, altura em que foi descoberta a estreptomicina. A partir de então tornou-se possível utilizar agentes antibacilares que, quando associados àquele antibiótico, permitem tratar e curar quase todos os casos. Este é um enorme avanço civilizacional proporcionado pela Ciência Médica, que nem sempre é devidamente lembrado.

A tuberculose flagela sociedades de forma transversal, afectando todas as classes sociais, não distinguindo entre ricos e pobres. Entre os milhões de pessoas que morreram vítimas da doença encontramos nomes célebres de reis, presidentes, músicos, filósofos, poetas, pintores, escritores, actores, etc. Talvez esse facto esteja ligado a que em tempos a doença foi conhecida como a "doença dos poetas" ou "doença do amor".



(https://i.postimg.cc/4N5jHmPf/08.jpg)
Algumas figuras célebres que morreram vítimas de tuberculose.



A falta da descrição adequada em épocas mais antigas e situações específicas inerentes à doença, não permite esclarecer todas as dúvidas mas existem fortes suspeitas de que a tuberculose terá também influenciado a morte de homens como Goethe, Descartes, Kant, Mozart, Beethoven, Rousseau, Balzac, entre outros.

Curiosamente, na ignorância da natureza real da doença, a tuberculose ainda gozou durante algum tempo de uma certa aura chique, um carácter de doença de artistas e intelectuais. A dura realidade e as competentes descrições médicas vieram a mostrar que a doença constituía um flagelo humano matando ricos e pobres e que exigia a vigorosa e persistente acção de combate por parte das autoridades.



(https://i.postimg.cc/GtjgD5k7/09.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Em Portugal


A quantificação, evolução e análise da incidência e mortalidade da tuberculose começou a ser feita em Portugal desde o final do século XIX. Nessa altura médicos ilustres como Sousa Martins e Ricardo Jorge estimavam que as mortes devidas a esta doença atingiam dezenas de milhares por ano.

Entre 1902 e 1933, o número de óbitos em Portugal causados pela tuberculose terá duplicado assinalando uma tendência contrária à verificada em muitos países europeus e EUA (Longo, 2015). A degradação das condições de vida, por via do difícil contexto socioeconómico, explicava muito dessa tendência que apenas começou a ser revertida de forma sustentada a partir da década de 50, com a generalização da BCG. Um novo surto apareceria nos anos 80 com o surgimento da SIDA.

Lisboa, capital do Império, com os seus bairros populares pobres e com intensos fluxos migratórios internos e externos, foi desde sempre fustigada por epidemias. O popular bairro de Belém era mais um exemplo dessa realidade e por isso não admira que a doença tivesse tido ali uma prevalência tão significativa e uma mortalidade tão dramática. Era uma ameaça social.

A luta contra a doença foi por isso uma preocupação das autoridades desde esses tempos recuados. Nos finais do século XIX foi ordenada a construção de hospitais na orla marítima, sanatórios e institutos que não apenas tratassem mas também estudassem a doença. Muito do esforço despendido foi direccionado para as crianças, grupo particularmente afectado.

Nesse aspecto deve ser salientado o papel da Rainha Dona Maria Amélia (esposa de Dom Carlos), da Assistência Nacional aos Tuberculosos criado em 1899, e mais tarde do Instituto de Assistência Nacional os Tuberculosos (IANT), criado em 1953.
Não vos vou maçar com mais detalhes, optando antes por ilustrar alguma dessa luta tenaz mas ainda assim frequentemente impotente para valer a centenas de milhares de Portugueses.



(https://i.postimg.cc/vZ4X8BSS/10.jpg)
Fonte: blogue Restos de Colecção.



(https://i.postimg.cc/ZnfF4tPS/11.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Actualmente a estratégia da luta contra a tuberculose assenta em 4 pilares:

1) detecção,
2) cura;
3) vacinação
4) tratamento da tuberculose latente.

Nenhum destes pilares pode ser descurado dado que o nível endémico é ainda muito alto, implicando um risco considerável.

A educação, o combate à falta de condições higiénicas e hospitalares, o rastreio, a formação dos técnicos e a adopção de novas terapias terá que ser mantido nessa luta tenaz e constante. Que assim se faça em prol de uma sociedade melhor, nunca esquecendo os milhões de vítimas, as famílias desfeitas, as sociedades devastadas.



Entre os Gloriosos


Em 1915, Álvaro José Gaspar terá sido o primeiro Benfiquista a falecer vítima de tuberculose, pelo menos o primeiro do qual eu que tenho conhecimento.

Em 1916 faleceu Eduardo Gomes Corga, um dos 24 fundadores do nosso Clube. Eduardo filho de um humilde funcionário da Casa Pia. Foi um dos homens que permaneceu no Clube, ajudando-o a resistir à grande deserção de Maio de 1907. Jogava a avançado e poucos anos antes de morrer ainda marcava golos com a nossa camisola, tendo aliás sido o primeiro Glorioso a marcar um golo ao Sporting CP.

Em 1930 morreu Álvaro Gomes Corga, também avançado como o seu irmão Eduardo, também defendeu a camisola do Glorioso nas Salésias e na Quinta da Feiteira. Em 1904 era ainda muito novo e talvez por isso não terá sido fundador do Glorioso.

Também em 1930 faleceu Carlos Alberto d' Oliveira França, outro dos 24 fundadores e um dos mais prestigiados jogadores da primeira década do nosso Clube. Fez parte das futeboladas de Belém logo desde o tempo do (Belém) Football Clube, liderado pelos irmãos Catataus. A família França morava perto da Farmácia Franco e incluía também Manuel França, o irmão mais velho que foi também um dos nossos 24 fundadores. E se Manuel França – por razões que ainda desconhecemos - cedo desapareceu da vida do nosso Clube, Carlos França foi um caso de rara dedicação ao nosso Clube, jogando não apenas na primeira categoria mas também - quando já veterano - nas categorias inferiores. Essa aparente humildade era na verdade a vontade de transmitir a Mística aos mais novos, mostrando que no SL Benfica se luta sempre pela vitória, em qualquer modalidade, em qualquer nível competitivo.

Em 1931 seria a vez de morrer António Bernardino Costa, o Tótinhas, outro jogador que vinha dos tempos das futeboladas nos terrenos das Salésias e mais tarde na Quinta da Feiteira. Extremo direito ou avançado em zonas mais interiores, foi ele que marcou o golo que nos deu um dos triunfos mais estrondosos da nossa primeira década, quando, em 19 de Fevereiro de 1911, derrotamos os Ingleses do Carcavellos Club na sua própria casa. De António Costa e do seu pai Bernardino Costa já por aqui falamos (ver -102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém. pág.29).

Em 1935 seria a vez de falecer Artur Augusto, talentoso e aguerrido extremo, natural de Benfica, terra onde também faleceu. De Artur Augusto e do seu mano Alberto, figuras de destaque da segunda década do nosso Futebol, já por aqui falamos (ver textos -155- e -156- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto parte I e II, pág. 44).

Por fim, em 1943, faleceu o grande Artur José Pereira, jogador tão carismático e virtuoso como conflituoso. Artur cobriu-se de glória no nosso Clube para depois protagonizar uma polémica transferência para o Sporting CP. Mais tarde seria o principal mentor e executor da fundação do CF "os Belenenses". No dizer de mestre Cândido de Oliveira, AJ Pereira foi o melhor futebolista dos primeiros 50 anos do futebol em Portugal. Dele já por aqui falamos em diversas oportunidades mas destacam-se os textos -37- Três gigantes, três caminhos separados, pág.8 e -108- Olhos de fogo, coração de Belém, pág.30.



(https://i.postimg.cc/4ynHvKcD/12.jpg)
Que descansem em Paz



Considerando a elevada incidência e gravidade da doença, não será de admirar que no futuro esta funesta lista venha a ser mais extensa.


Fecho a evocação desta Gloriosa galeria, lembrando as palavras cortantes do poeta Brasileiro Castro Alves, outra das vítimas da "Peste Branca":



(https://i.postimg.cc/qqfgKmk3/13.jpg)
Mãe morta e criança. Munch.



Eu sei que vou morrer... dentro do meu peito / um mal terrível me devora a vida. /
Triste Assaverus, que no fim da estrada / só tem por braços uma cruz erguida. /
Sou o cipreste qu'inda mesmo florido / Sombra da morte no ramal encerra! /
Vivo – que vaga entre o chão dos mortos, /
Morto – entre os vivos a vagar na Terra.




A tuberculose continua a ser um flagelo letal com disseminação global.
É um flagelo que parece nunca vir a poupar a nossa espécie.

Tenhamos no entanto esperança que os homens de Ciência persistam no seu labor e na sua criatividade para que cada vez mais a Humanidade possa ser protegida desta terrível Peste Branca.



Bibliografia
Longo C. 2015. Epidemias: Perspectiva de Portugal com principal enfoque em Lisboa e na peste branca (tuberculose)
Portuguese Studies Center. 2017. Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 03 de Março de 2019, 10:51
Citação de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2019, 00:26
-227-
Neste ano 115

Celebramos a fundação do Sport Lisboa e Benfica.


(https://i.postimg.cc/mrpS6NFD/01.png)


Em evocação do momento primordial do nosso Clube foi hoje publicado no blogue de Alberto Miguéns "Em Defesa do Benfica" o texto


"115 Anos: O Percurso Biológico de 24 Idealistas".


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html)



Neste texto publica-se informação inédita que constitui um avanço efectivo e substancial para o conhecimento de quem foram os 24 homens que fundaram o nosso Clube.

O texto é antes de tudo uma homenagem a esses 24 homens.

Assenta num trabalho de pesquisa feito num esforço pessoal intenso mas muito estimulante. Deu-me igualmente o prazer e privilégio de voltar colaborar com Alberto Miguéns, o Benfiquista que é o mais profundo conhecedor e divulgador da História do Sport Lisboa e Benfica.

O texto, cuja leitura naturalmente aconselho, merece-me ainda mais algumas notas, salientando:


1 - a intensidade e dimensão das pesquisas.

Este texto assenta em dados factuais recolhidos a partir de documentos que foram obtidos - sem exagero – ao longo de muitos meses com a consulta sistemática de centenas de livros e milhares de páginas armazenadas em arquivos militares, civis e paroquiais.

Em muitos casos, na ausência de índices ou motores de busca adequados para uma consulta rápida desses antigos livros de registos, a pesquisa exigiu paciência, persistência, organização e rigor. Valeu bem a pena.



2 - o prazer dos momentos pós-descoberta.

Nos momentos seguintes à revelação de um dado biográfico de um fundador há uma satisfação solitária e indiscritível. Há a noção que se fez um resgate da memória de alguém que estava perdido para a consciência colectiva e essa é a melhor justiça que podemos fazer a quem nos legou um Clube que influencia tão grandemente a nossa vida.



3 - o valor da interacção com Alberto Miguéns.

A partilha de informação e ideias é fundamental, a interacção é um prazer, acrescenta mais do que a simples soma. Faz sentido. É parte essencial do Benfiquismo.



4 - o valor deste conhecimento.

Os resultados destas pesquisas acrescentam muito ao conhecimento que temos dos factos e dos protagonistas da História inicial do nosso Clube. Mais conhecedores, mais Benfiquistas.

Fazendo o balanço dos dois últimos anos há que dizer que progredimos muito no conhecimento sobre os 24 fundadores do nosso Clube.

Para quase todos os 24 fundadores, sabemos agora qual o seu nome próprio completo e quais as datas do seu nascimento e óbito (dos 48 eventos faltam-nos saber 6). Com essa informação podemos traçar uma linha de vida completa para 20 dos 24 fundadores.

Sabemos agora que a maioria teve oportunidade de ver o espantoso crescimento e as numerosas conquistas desportivas e institucionais do Clube que fundaram. Que orgulho não terão tido no engrandecimento deste Clube colossal!

Analisar detalhes da vida de cada um dos fundadores e relacionar toda essa informação com outras já disponíveis permite-nos desfazer algumas ideias erradas acerca da História inicial do nosso Clube. Ideias que foram semeadas e propagadas nos últimos anos.


Os dados biográficos dos 24 fundadores, agora revelados, validam inteiramente o que nos foi contado por Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, quando em 1954 publicaram a obra de referência da História do nosso Clube. Conseguimos agora acrescentar detalhes valiosos para uma compreensão mais completa, mais contextualizada dessa etapa inicial da História do nosso Clube.


(https://i.postimg.cc/W1Xmh68n/03.png)
História do Sport Lisboa e Benfica, 1904-1954. Edição de Autor, publicada em fascículos em 1954.


A maioria daqueles 24 homens que estavam esquecidos na poeira do tempo, viveu ou trabalhou naquela Belém pacata e rural do princípio do século XX. Entre eles havia uma grande diversidade de proveniências regionais e profissões paternas. Havia miúdos de famílias com vidas particularmente desafogadas e outras com mais dificuldades. O nosso clube nasceu como é hoje, num espaço de respeito e diversidade, num espaço de convergência de vontades, paixões, generosidades, talentos e capacidades. O único ponto comum era a paixão pelo desporto e o Ideal generoso e de superação e esse foi o combustível fundamental para a construção do maior e melhor Clube Português e um dos maiores do mundo.

Por trás da lista dos 24 fundadores podemos discernir múltiplos laços familiares, de vizinhança, escolares ou profissionais. Sabemos agora mais sobre esses múltiplos laços e sobre a sua importância na fundação do nosso Clube.

A partir de agora não há mais desculpas para que se continuem a propagar as historietas do "clube dos pés descalços" ou do "Júlio Cosme Damião". Basta!


Muitos dos fundadores permaneceram por Belém durante toda a sua vida, outros seguiram a sua vida longe daquela terra que é u dos berços do Futebol em Portugal. Alguns repousam para sempre no cemitério da Ajuda, outros no cemitério dos Prazeres, outros ainda Alto de São João. Está lá tudo bem explicado no texto "115 Anos: O Percurso Biológico de 24 Idealistas". Não deixem de ler.



https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html)


(https://i.postimg.cc/g2SRYcct/04.jpg)
Obrigado



5 - trabalho ainda por fazer

Para quem quer que se proponha, ainda há trabalho a fazer. Dois dos fundadores, Eduardo Afra Jorge da Costa e Joaquim Ribeiro são ainda mistérios por desvendar.

Apesar dos 115 anos de distância temporal ainda assim é notável o que agora se conseguiu revelar.

Acredito também que há ainda muitos detalhes biográficos por revelar para muitos dos 24 fundadores. Seria excelente que descendentes de alguns desses 24 fundadores pudessem aparecer e dar novas informações.

No Sport Lisboa e Benfica todos são importantes mas os 24 fundadores têm, compreensivelmente, um lugar especial.



A História do Sport Lisboa e Benfica é fascinante.

Todos os Benfiquistas deviam conhecer mais e melhor essa maravilhosa aventura agora já com 115 anos de caminho percorrido.

Viva, viva, viva o Sport Lisboa e Benfica!





Victor... que grande trabalho... nem posso acreditar o trabalho que tiveste/s para juntar toda essa informacao. conseguistes juntar dados estatisticos, sobre os quais muitos têm uma ideia. gostei das gráficas em quais mostraste os acontecimentos que os fundadores assistiram juntos ao vivo. assim deu para entender melhor o contexto dos dados e acrescentaste um fio vermelho para cada um seguir melhor.
Alberto Miguens ja coneheciam muitos, e quem leu os teus posts neste tópico, tb sabia do teu talento e conhecimento sobre a história do benfica. mas agora temos dois grandes históriadores que levam tudo o que envolve o benfica a um novo patamar.
obrigado mais uma vez!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Março de 2019, 12:01
Citação de: alfredo em 03 de Março de 2019, 10:51
Citação de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2019, 00:26
-227-
Neste ano 115

Celebramos a fundação do Sport Lisboa e Benfica.


(https://i.postimg.cc/mrpS6NFD/01.png)


Em evocação do momento primordial do nosso Clube foi hoje publicado no blogue de Alberto Miguéns "Em Defesa do Benfica" o texto


"115 Anos: O Percurso Biológico de 24 Idealistas".


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html)



Neste texto publica-se informação inédita que constitui um avanço efectivo e substancial para o conhecimento de quem foram os 24 homens que fundaram o nosso Clube.

O texto é antes de tudo uma homenagem a esses 24 homens.

Assenta num trabalho de pesquisa feito num esforço pessoal intenso mas muito estimulante. Deu-me igualmente o prazer e privilégio de voltar colaborar com Alberto Miguéns, o Benfiquista que é o mais profundo conhecedor e divulgador da História do Sport Lisboa e Benfica.

O texto, cuja leitura naturalmente aconselho, merece-me ainda mais algumas notas, salientando:


1 - a intensidade e dimensão das pesquisas.

Este texto assenta em dados factuais recolhidos a partir de documentos que foram obtidos - sem exagero – ao longo de muitos meses com a consulta sistemática de centenas de livros e milhares de páginas armazenadas em arquivos militares, civis e paroquiais.

Em muitos casos, na ausência de índices ou motores de busca adequados para uma consulta rápida desses antigos livros de registos, a pesquisa exigiu paciência, persistência, organização e rigor. Valeu bem a pena.



2 - o prazer dos momentos pós-descoberta.

Nos momentos seguintes à revelação de um dado biográfico de um fundador há uma satisfação solitária e indiscritível. Há a noção que se fez um resgate da memória de alguém que estava perdido para a consciência colectiva e essa é a melhor justiça que podemos fazer a quem nos legou um Clube que influencia tão grandemente a nossa vida.



3 - o valor da interacção com Alberto Miguéns.

A partilha de informação e ideias é fundamental, a interacção é um prazer, acrescenta mais do que a simples soma. Faz sentido. É parte essencial do Benfiquismo.



4 - o valor deste conhecimento.

Os resultados destas pesquisas acrescentam muito ao conhecimento que temos dos factos e dos protagonistas da História inicial do nosso Clube. Mais conhecedores, mais Benfiquistas.

Fazendo o balanço dos dois últimos anos há que dizer que progredimos muito no conhecimento sobre os 24 fundadores do nosso Clube.

Para quase todos os 24 fundadores, sabemos agora qual o seu nome próprio completo e quais as datas do seu nascimento e óbito (dos 48 eventos faltam-nos saber 6). Com essa informação podemos traçar uma linha de vida completa para 20 dos 24 fundadores.

Sabemos agora que a maioria teve oportunidade de ver o espantoso crescimento e as numerosas conquistas desportivas e institucionais do Clube que fundaram. Que orgulho não terão tido no engrandecimento deste Clube colossal!

Analisar detalhes da vida de cada um dos fundadores e relacionar toda essa informação com outras já disponíveis permite-nos desfazer algumas ideias erradas acerca da História inicial do nosso Clube. Ideias que foram semeadas e propagadas nos últimos anos.


Os dados biográficos dos 24 fundadores, agora revelados, validam inteiramente o que nos foi contado por Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, quando em 1954 publicaram a obra de referência da História do nosso Clube. Conseguimos agora acrescentar detalhes valiosos para uma compreensão mais completa, mais contextualizada dessa etapa inicial da História do nosso Clube.


(https://i.postimg.cc/W1Xmh68n/03.png)
História do Sport Lisboa e Benfica, 1904-1954. Edição de Autor, publicada em fascículos em 1954.


A maioria daqueles 24 homens que estavam esquecidos na poeira do tempo, viveu ou trabalhou naquela Belém pacata e rural do princípio do século XX. Entre eles havia uma grande diversidade de proveniências regionais e profissões paternas. Havia miúdos de famílias com vidas particularmente desafogadas e outras com mais dificuldades. O nosso clube nasceu como é hoje, num espaço de respeito e diversidade, num espaço de convergência de vontades, paixões, generosidades, talentos e capacidades. O único ponto comum era a paixão pelo desporto e o Ideal generoso e de superação e esse foi o combustível fundamental para a construção do maior e melhor Clube Português e um dos maiores do mundo.

Por trás da lista dos 24 fundadores podemos discernir múltiplos laços familiares, de vizinhança, escolares ou profissionais. Sabemos agora mais sobre esses múltiplos laços e sobre a sua importância na fundação do nosso Clube.

A partir de agora não há mais desculpas para que se continuem a propagar as historietas do "clube dos pés descalços" ou do "Júlio Cosme Damião". Basta!


Muitos dos fundadores permaneceram por Belém durante toda a sua vida, outros seguiram a sua vida longe daquela terra que é u dos berços do Futebol em Portugal. Alguns repousam para sempre no cemitério da Ajuda, outros no cemitério dos Prazeres, outros ainda Alto de São João. Está lá tudo bem explicado no texto "115 Anos: O Percurso Biológico de 24 Idealistas". Não deixem de ler.



https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/02/115-anos-o-percurso-de-vida-para-24.html)


(https://i.postimg.cc/g2SRYcct/04.jpg)
Obrigado



5 - trabalho ainda por fazer

Para quem quer que se proponha, ainda há trabalho a fazer. Dois dos fundadores, Eduardo Afra Jorge da Costa e Joaquim Ribeiro são ainda mistérios por desvendar.

Apesar dos 115 anos de distância temporal ainda assim é notável o que agora se conseguiu revelar.

Acredito também que há ainda muitos detalhes biográficos por revelar para muitos dos 24 fundadores. Seria excelente que descendentes de alguns desses 24 fundadores pudessem aparecer e dar novas informações.

No Sport Lisboa e Benfica todos são importantes mas os 24 fundadores têm, compreensivelmente, um lugar especial.



A História do Sport Lisboa e Benfica é fascinante.

Todos os Benfiquistas deviam conhecer mais e melhor essa maravilhosa aventura agora já com 115 anos de caminho percorrido.

Viva, viva, viva o Sport Lisboa e Benfica!





Victor... que grande trabalho... nem posso acreditar o trabalho que tiveste/s para juntar toda essa informacao. conseguistes juntar informacao estatisitca com dados sobre os quais muitos têm uma ideia. por isso gostei imenso das gráficas em quais mostraste os acontecimentos que os fundadores assistiram juntos ao vivo.
Alberto Miguens ja coneheciam muito, e quem leu os teus posts neste tópico, tb sabia do teu talento e conhecimento sobre a história do benfica. mas agora temos dois grandes históriadores que levam tuo o que envolve o benfica a um novo patamar.
obrigado mais uma vez!


Obrigado Alfredo. Obrigado mesmo. Como o Alberto diz, o reconhecimento dos nossos pares Benfiquistas é a maior das recompensas.

Eu não exagerei nada. Ao longo de muitos meses fui guardando pedaços do meu tempo para ir buscar informação. O Decifrando teve de ficar um pouco para trás pois o tempo era curto e havia a vontade de homenagear devidamente aqueles 24 Homens nos 115 anos.

Não interessa só buscar o que os outros dizem. É preciso ir às fontes. É preciso relacionar. É preciso mostrar a verdade mesmo que possa contradizer o que está escrito. No caso do Benfica, este trabalho credibiliza definitivamente a acta, a famosa acta que tanto os nossos adversários e alguns antigos funcionários do Clube, procuraram denegrir.

Há informação que pode e deve vir a ser procurada e usada no futuro. A partilha é um convite para que outros possam fazer. Eu continuarei com as limitações que tenho a dar a minha contribuição para o Clube, no Estádio, nas rodas de amigos, atrás do telemóvel ou do computador.

Vivemos dias agitados, de altos e baixos, tanto pelo mal que tem feito ao nosso Clube como pelas vitórias nos últimos anos. Todos temos consciência da grandeza do Benfica, assente não numa estrutura ou numa figura iluminada mas sim da extraordinária, incomparável massa associativa do Benfica. E por isso temos a responsabilidade de contribuir para o Clube a forma que melhor pudermos.

Nem todos temos talento para jogar futebol, basquetebol, hóquei ou andebol; nem todos temos talento para orientar equipas, para dirigir secções e infraestruturas, para gerir as contas do Benfica, mas todos temos algo a acrescentar ao Benfica.

Eu não ganho nada com o Benfica, ou melhor dizendo eu ganho tudo menos dinheiro com o Benfica. Vem de berço e é de coração. As memórias que tenho e aquelas - dos outros - que procuro pesquisar são a minha contribuição. Todos temos um talento. Tu, por exemplo, sei que tens um talento diferente que talvez possa partilhar mais com o pessoal daqui, por exemplo com a tua magnífica colecção, com as tuas memórias. É do património individual, reunido para acrescentar ao colectivo, de que se faz a GRANDEZA do Clube.

Grandes, incomparáveis, apaixonados, extraordinários, somos milhões e tudo isso e mais ainda, simplesmente porque somos BENFICA!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Março de 2019, 17:28



Caros amigos, que tenham todos um

(https://i.postimg.cc/cCdrPrsh/Carnaval-de-1927-Colorized.png)

Carnaval 1927. Fonte AML
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 05 de Março de 2019, 19:34
Este tópico é assombroso!

Deveria estar nos Inamoviveis, junto com o da evolução dos nossos Equipamentos!

Obrigado por tudo, RedVC! :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Março de 2019, 13:27
Citação de: Benfiquista_ em 05 de Março de 2019, 19:34
Este tópico é assombroso!

Deveria estar nos Inamoviveis, junto com o da evolução dos nossos Equipamentos!

Obrigado por tudo, RedVC! :)


Obrigado Benfiquista_  O0

No SB há actualmente uma política - aliás extensível aos antigos jogadores do SLBenfica - de não fixar tópicos. Acredito que visa evitar conflitos vindo de pontos de vista diferentes e coerente coma tradição do nosso Clube em colocar o Clube acima de qualquer homem. A não colocação do Decifrando ou o tópico dos Mantos Sagrados como inamovível é uma decisão perfeitamente aceitável.

Se eu procurasse apenas protagonismo pessoal teria optado por outra plataforma de divulgação desta minha actividade -leia-se paixão - dos tempos livres. Não procuro. Aliás não ganho rigorosam€nt€ nada com o que coloco aqui no SB. Ou melhor ganho apenas a satisfação de partilhar a paixão, algo que é sublime na vida de qualquer pessoa. É por isso que cada mensagem de outros companheiros do fórum é importante. É uma partilha e isso vale muito. É a essência do Benfiquismo.

O foco aqui sempre foi criar um tópico que seja um ponto de partilha de questões e de respostas. Um local que engrandeça o clube e os Benfiquistas. Que fale da paixão pelo Clube usando como veículo uma imagem que nos lembre acontecimentos e pessoas inesquecíveis da História do Clube. De alguma forma tem-se tornado um tópico mais movido por mim quando eu esperava que fosse mais parecido com o das fotografias. Acho que o Rodolfo com o seu tópico dos Mantos Sagrados deve ter a mesma sensação.

Estamos quase a atingir os 100.000 leituras, número interessante, ainda assim mais baixo do que eu esperava após estes anos. Sinto que podia ser mais mas isso é talvez um reflexo destes textos serem muito longos e serem sobre História, duas características que não são muito apreciadas nos tempos que correm.

Obrigado a ti e a todos os que aqui usam algum do vosso tempo livre.

Pelo Benfica, sempre.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 06 de Março de 2019, 14:59
Entendo, mas és a Memória Viva aqui do nosso cantinho :)

E tempo aqui a ver a nossa História, nunca é tempo perdido.

É tempo ganho a todos os níveis!

Continua o teu inolvidável trabalho!

Abraço! :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Março de 2019, 20:28
-229-
Águias na guerra (parte VI): os manos Vivaldo


(https://i.postimg.cc/KcBz2Hx8/01.jpg)



Uma fotografia por legendar:


(https://i.postimg.cc/cJPxqQz3/02.jpg)
Fonte: AML



Vê-se um campo que muito provavelmente era o campo da Quinta da Feiteira, em Benfica.

Contam-se 21 homens, organizados em duas equipas de futebol. Pelos equipamentos a fotografia reporta-se à primeira década do século XX.

Nota-se a presença de um homem vestido de branco com um apito ao peito, certamente o árbitro.

Uma das equipas aparece-nos com equipamento liso de tonalidade clara. Alguns dos seus elementos envergavam uma curiosa gravata.

A outra equipa aparece-nos com uma camisola branca com listas de uma cor que não conseguimos definir. A maioria das camisolas tem gola, provavelmente também dessa cor indefinida, mas dois dos membros da equipa envergam um segundo formato, sem gola.
Não era incomum essa mistura de formatos nos primórdios do nosso futebol.

Concentrando atenções na equipa de camisolas listadas, é possível identificar alguns jogadores. É também possível identificar o árbitro da partida e um outro elemento que provavelmente era membro da equipa com camisola lisa. Essas identificações dão-nos pistas.


(https://i.postimg.cc/zvt2MktZ/03.jpg)



O árbitro era Daniel Augusto Queiroz dos Santos (1879-1948), ex-casapiano, antigo jogador do Sport Lisboa (1904-1907) e jogador do Sporting CP, clube para onde se transferiu em Maio de 1907. No Sporting CP mostrou-se um sportinguista de convicções e palavras fortes, belicoso e intratável nos media, tendo chegado ao cargo de presidente da Direcção (1914-1918). Dele havia bastante a dizer mas ficará para outro dia.

Por falar em SCP, identifica-se também Augusto Freitas, que antes de terminar a sua carreira de guarda-redes no clube leonino, passou ainda pelo FC Cruz Negra. Era um desportista bem conhecido do meio lisboeta tendo também praticado Pedestrianismo e Ciclismo. O seu abandono do Futebol deu brado quando, em Abril de 1911, no decurso de um Sporting CP – SL Benfica, decidiu agredir dois jogadores Benfiquistas apenas porque lhe tinham... marcado golos. Uma saída de estrondo...

Bem mais interessantes são as identificações feitas na equipa listada. Identificam-se três glórias Benfiquistas: Cosme Damião, Luís Vieira e Marcolino Bragança! A presença deste último, baliza-nos temporalmente a fotografia para o biénio 1907-1908, período após o qual o são-tomense regressou definitivamente a África, radicando-se em Angola.

Assim é provável – embora sem certezas – que estejamos perante uma raridade ou seja que se trate de uma fotografia que inclui uma equipa de futebol do Grupo Sport Benfica. A fotografia deve reportar ao período de indefinição que aconteceu entre a grande deserção de Maio de 1907 e o início da época seguinte, altura em que Silvestre da Silva, mandatado pelo Sport Lisboa, inscreveu o Clube para o Campeonato regional da época seguinte. O Sport Lisboa estava salvo.


Mas para lá desta hipótese e para a parte central deste texto, vamos concentrar atenções no elemento à paisana que nos aparece à esquerda, abraçado por Cosme Damião e envergando uma farda compatível com a de estudante no Colégio Militar. Trata-se de Álvaro Vivaldo, uma figura pouco conhecida dos primeiros anos do nosso Clube. Pouco conhecida mas bastante interessante.


(https://i.postimg.cc/Fs6nVDk0/04.jpg)



Propósito


Daqui em frente falaremos do que sabemos sobre a família Vivaldo, que teve dois dos seus membros entre os primeiros sócios e jogadores do Sport Lisboa e Benfica. Ora, um dos propósitos do "Decifrando..." é resgatar para a memória colectiva algumas antigas figuras do SLBenfica que tenham dado uma contribuição efectiva para o Benfiquismo, principalmente nos primeiros anos da vida do Clube. E, como se verá, a família Vivaldo tem muitos motivos de interesse.



A família


Álvaro Eugénio de Araújo Vivaldo nasceu em Belém no dia 16.03.1891. Em Belém nasceram também os seus dois irmãos, Alberto de Araújo Vivaldo (04.09.1888), que poderá ter morrido em criança, e Alfredo César de Araújo Vivaldo Júnior (14.10.1889). Álvaro e Alfredo Jr foram os Vivaldos que vieram a ser sócios e jogadores do Glorioso.

Eram todos filhos naturais de Alfredo César de Araújo Vivaldo (1859-1927), alferes (mais tarde Coronel) da administração militar, natural de Viana do Castelo e de Virgínia Amélia Martins de Azevedo, natural da freguesia da Pena, Lisboa.

Eram também netos paternos do General de Brigada Francisco José Maria de Vivaldo e Mendonça (1827-?), natural de Loulé. Ou seja os manos Vivaldo nasceram no seio de uma família de antigas e distintas tradições militares.

A itinerância militar é algo inerente à vida dos militares, em todos os tempos. Assim foi também com o General Vivaldo, que ao longo da sua carreira de militar passou pelas praças de Valença, Elvas e Monsanto até chegar à Praça de S. Julião da Barra, em Oeiras, vivendo na Rua da Junqueira, Belém; aí se fixando até à sua reforma, em 1885.

Já os pais dos manos Vivaldo, quando casaram, foram morar primeiro para a Rua de Pedrouços e depois para a Rua do Cais de Belém. Ou seja os manos Vivaldo cresceram na zona de Belém, num tempo e num espaço em que viveram as pessoas decisivas para a fundação do nosso Clube.



Antes do Glorioso


Os manos Vivaldo iniciaram-se no futebol no Restelo FC, uma pequena e pouco conhecida colectividade que então usava um terreno em Pedrouços, propriedade da Casa de Cadaval. Esse terreno era bem próximo do que foi usado para o primeiro treino do nosso Clube, uns anos antes, na manhã de 28.02.1904.

Paralelamente, Alfredo Jr. frequentava o Instituto Industrial de Lisboa, tendo participado num campeonato escolar de futebol no ano de 1908. Entre os seus colegas de equipa contavam-se alguns rapazes que seriam em breve figuras de primeira grandeza do futebol do SL Benfica. Carlos Homem de Figueiredo, Germano Vasconcelos e Leopoldo Mocho. Estavam ainda presentes mais dois homens que passaram pelas categorias inferiores tais como Gomes Cal e Júlio de Castro.



(https://i.postimg.cc/85s64B6r/05.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa



O Instituto Industrial e Comercial de Lisboa foi uma instituição de ensino técnico criada em 1869 por fusão do Instituto Industrial de Lisboa com a Escola de Comércio, resultando no alargamento do ensino técnico à economia e administração (fonte: wikipedia). Em 1911 a instituição foi dividida no IST - Instituto Superior Técnico e no Instituto Superior de Comércio (actual ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão).



No Glorioso


Os manos Vivaldo chegaram ao nosso Clube durante a ressaca da grande deserção de Maio de 1907. Nesse período fez-se a reconstrução das equipas das diversas categorias do Clube, liderada por Cosme Damião e seus pares. Os manos Vivaldo foram recrutados para o Sport Lisboa juntamente com 3 outros atletas do Restelo FC.


(https://i.postimg.cc/LhFgmc0z/06.jpg)
Os 5 elementos que foram recrutados pelo Sport Lisboa ao Restelo FC.



E assim, os manos Vivaldo já constam da lista de sócios que o Sport Lisboa apresentou aquando da junção com o Grupo Sport Benfica em Setembro de 1908.


(https://i.postimg.cc/kM61sLKw/07.jpg)


Álvaro e Alfredo Jr. destacaram-se enquanto jogadores das categorias inferiores do SLB.
Não sei ao certo em que posição jogava Alfredo Jr. mas Álvaro sabe-se que se distinguiu como médio ao centro. Ora, no modelo de pirâmide (2:3:5), então praticado, essa posição do terreno era fulcral pois o jogador que a fazia tinha a obrigação de municiar os 5 avançados mas também de apoiar uma defesa que contava apenas com 2 elementos. Nessa posição, aos bons dotes futebolísticos exigia-se também capacidade de liderança em campo.

Terá sido justamente por jogar nessa posição central, a mesma que Cosme Damião ocupava na 1ª categoria, que Álvaro apenas fez apenas 3 jogos pela equipa principal. Esses 3 jogos foram todos disputados na temporada de 1911-1912, época em que Álvaro ajudou à conquista do Campeonato Regional de Lisboa, a principal prova de então. A regularidade de Cosme Damião não deu muitas mais hipóteses a Álvaro.



(https://i.postimg.cc/FsbxnvRb/08.jpg)
Duas das equipas apresentadas pela 2ª categoria na época de 1911-1912. Seríamos campeões de Lisboa.



Assim, Álvaro destacou-se essencialmente nas equipas da 2ª categoria, que nesse tempo eram bastante fortes, conquistando muitos títulos. Nessas equipas estavam presentes elementos jovens com talento emergente, como Álvaro Gaspar e Alberto Rio, que em breve dariam cartas na categoria principal. Estavam também presentes veteranos prestigiados como David da Fonseca, António Bernardino Costa e Romualdo Bogalho, que aportavam não só uma enorme competitividade como, acima de tudo, transmitiam a mística do Clube aos mais novos.

Para Cosme e para o Clube, não havia distinção de maior ou menos importância entre as categorias. Todas eram importantes e em todas se exigia o máximo para obter a vitória. Um segundo lugar não era comemorado. Os manos Vivaldo foram parte importante dessa filosofia, dando a sua contribuição para cimentar o sucesso e a popularidade do nosso Clube.



Tragédia


No dia 01.12.1912, às 15h00, na sua casa da Rua de Pedrouços, faleceu Alfredo César de Araújo Vivaldo Júnior. Tinha apenas 31 anos de idade. Morreu na flor da idade, de causas que desconheço. Nesse tempo Alfredo Jr. era aluno da Escola do Exército, casado, ainda sem filhos. Foi sepultado no cemitério da Ajuda.


(https://i.postimg.cc/zXDL8Y7F/09.jpg)
Cemitério da Ajuda. fonte: AML




Vida militar


Netos de um General e filhos de um Coronel do Exército Português, compreende-se que tanto Álvaro como Alfredo também tenham enveredado pela vida militar. Alfredo Jr. morreu muito cedo mas Álvaro acabou por participar na I Guerra Mundial, integrando o CEP, Corpo Expedicionário Português.



(https://i.postimg.cc/02NNhd5t/10.jpg)
O quadro dos 16 Benfiquistas que participaram na I Guerra Mundial, na Europa e em África.



Como vemos, Álvaro Vivaldo foi mais um dos Benfiquistas que combateram na Grande Guerra. Felizmente, dos que eu conheço, todos regressaram.



(https://i.postimg.cc/C1mg4X8w/11.jpg)
Fonte: Exército Português



Facto relevante, três meses antes de embarcar para terras de França, Álvaro Vivaldo casou com Maria Olívia Basto Gavião, de apenas 16 anos de idade, natural de Lisboa, freguesia de Santa Justa. Notando uma grande diferença de idades, o casamento com uma menor foi celebrado poucas semanas antes de Álvaro Vivaldo embarcar para uma Guerra da qual não sabia se iria regressar. Basta lembrar que poucas semanas antes do casamento, milhares de soldados Portugueses tinham encontrado a morte nos campos de La Lys. Nesse contexto funesto, a possibilidade de Álvaro não regressar era muito real e terá condicionado muito as decisões do casal.

Álvaro participou no conflito como Alferes miliciano numa Bateria da Guarnição de Lisboa. Embarcou em Lisboa no dia 08.08.1918 tendo seguido por via marítima até Brest, França onde desembarcou no dia 13 do mesmo mês.


(https://i.postimg.cc/hjfBpM1x/12.jpg)
O processo individual do Alferes miliciano Álvaro Vivaldo.



Em 13 de Outubro já se encontrava na frente de batalha onde, a partir do dia 15 de Outubro, recebeu instrução militar suplementar. Concluiu o curso de sinaleiro no princípio do mês de Novembro.



(https://i.postimg.cc/8Pdqdqg9/13.jpg)
A angústia da despedida.



(https://i.postimg.cc/NjfP6F42/14.jpg)
Os nervos à chegada. Fonte: TT




A Grande Guerra terminaria poucos dias depois, no dia 11.11.1918, significando isto que Álvaro Vivaldo esteve cerca de 4 meses nos palcos activos do conflito.

Findas as hostilidades, ainda assim havia muito para fazer e Álvaro permaneceria por terras francesas até ao dia 28.03.1919, data em que finalmente embarcou de regresso a Portugal.

Nas décadas seguintes Álvaro Vivaldo tornou-se agente comercial embora desconheça de que sector de actividade.

No dia 19.06.1962, às 3h30 da manhã, na sua casa da Rua Miguel Contreiras, freguesia de Alvalade, Álvaro Vivaldo faleceu vítima de um cancro nos pulmões. Foi sepultado no cemitério do Alto de São João.

Álvaro Vivaldo faleceu 6-7 semanas depois do SL Benfica se ter sagrado Bicampeão Europeu em Amesterdão. Quem sabe se ainda terá tido consciência dessa grande vitória? Esperemos que sim.


Paz às Almas de Álvaro e Alfredo Vivaldo. Honra às suas memórias.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 21:36
Ando a tentar encontrar uns recortes que colocaste aqui, acerca de um jogo em dezembro de 1988, acerca de uma homenagem ao incêndio do Chiado.

Onde consigo encontrar, ou a data do jogo?

Foi em dezembro de 1988 ou janeiro de 1989.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Março de 2019, 22:38
Citação de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 21:36
Ando a tentar encontrar uns recortes que colocaste aqui, acerca de um jogo em dezembro de 1988, acerca de uma homenagem ao incêndio do Chiado.

Onde consigo encontrar, ou a data do jogo?

Foi em dezembro de 1988 ou janeiro de 1989.

Sinceramente, não me lembro.

Estive a ver e parece estar aqui

18 de Janeiro de 1989


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353)


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19)



Reportagem no dia seguinte

http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 22:59
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2019, 22:38
Citação de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 21:36
Ando a tentar encontrar uns recortes que colocaste aqui, acerca de um jogo em dezembro de 1988, acerca de uma homenagem ao incêndio do Chiado.

Onde consigo encontrar, ou a data do jogo?

Foi em dezembro de 1988 ou janeiro de 1989.

Sinceramente, não me lembro.

Estive a ver e parece estar aqui

18 de Janeiro de 1989


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353)


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19)



Reportagem no dia seguinte

http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19)


Era isto mesmo amigo.

Obrigado.

Só não estou a conseguir sacar as fotos no android...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Março de 2019, 23:10
Citação de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 22:59
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2019, 22:38
Citação de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 21:36
Ando a tentar encontrar uns recortes que colocaste aqui, acerca de um jogo em dezembro de 1988, acerca de uma homenagem ao incêndio do Chiado.

Onde consigo encontrar, ou a data do jogo?

Foi em dezembro de 1988 ou janeiro de 1989.

Sinceramente, não me lembro.

Estive a ver e parece estar aqui

18 de Janeiro de 1989


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353)


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19)



Reportagem no dia seguinte

http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19)


Era isto mesmo amigo.

Obrigado.

Só não estou a conseguir sacar as fotos no android...



(https://i.postimg.cc/8kWQvvXK/DL-18-01-1989-p01.png)

(https://i.postimg.cc/QdfRDJVt/DL-18-01-1989-p19.png)

(https://i.postimg.cc/W3qRXqN4/DL-19-01-1989-p19.png)





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Benfiquista_ em 10 de Março de 2019, 01:32
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2019, 23:10
Citação de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 22:59
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2019, 22:38
Citação de: Benfiquista_ em 09 de Março de 2019, 21:36
Ando a tentar encontrar uns recortes que colocaste aqui, acerca de um jogo em dezembro de 1988, acerca de uma homenagem ao incêndio do Chiado.

Onde consigo encontrar, ou a data do jogo?

Foi em dezembro de 1988 ou janeiro de 1989.

Sinceramente, não me lembro.

Estive a ver e parece estar aqui

18 de Janeiro de 1989


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353)


http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31353#!19)



Reportagem no dia seguinte

http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19 (http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06888.205.31354#!19)


Era isto mesmo amigo.

Obrigado.

Só não estou a conseguir sacar as fotos no android...



(https://i.postimg.cc/8kWQvvXK/DL-18-01-1989-p01.png)

(https://i.postimg.cc/QdfRDJVt/DL-18-01-1989-p19.png)

(https://i.postimg.cc/W3qRXqN4/DL-19-01-1989-p19.png)






Muito obrigado! ;)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Março de 2019, 20:26
-230-
A propósito de um filme (I): sobre os céus de Lisboa


Como num tríptico...


(https://i.postimg.cc/wvRYbDmF/01.jpg)
Estádio da Luz, dia 25.11.1962.



Começamos à boleia de um magnífico filme captado no Estádio da Luz dia 25 de Novembro de 1962





Este vídeo foi disponibilizado no canal Youtube "Portugal de antigamente": https://www.youtube.com/channel/UCvKdyyAoldM5OShekX3McFA/playlists (https://www.youtube.com/channel/UCvKdyyAoldM5OShekX3McFA/playlists)

Este canal é muito mais do que uma reunião de vídeos antigos. É uma janela extraordinária para o passado do nosso País, na diversidade, riqueza e beleza de um passado de várias épocas, regiões e temas. Quem quer que o tenha criado merece visitas prolongadas e o nosso maior agradecimento.

Em particular, este filme é uma absoluta raridade pois são escassos, irritantemente escassos, os vídeos disponíveis A CORES de jogos e jogadores do Glorioso dos anos 60. Vamos aproveitar para fazer umas identificações aquando da entrada em campo dos jogadores



(https://i.postimg.cc/MZ0FZsqV/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/TYCNgpyP/03.jpg)


E durante o jogo

(https://i.postimg.cc/vZKP2ktF/04.jpg)




O jogo captado neste vídeo foi disputado a contar para a 5ª jornada do Campeonato Nacional de Futebol da I Divisão da época de 1962-1963. Naquela tarde de 25 de Novembro de 1962, SL Benfica recebia e vencia a CUF por 3-1.


(https://i.postimg.cc/yNSLMjLJ/05.jpg)



Neste jogo, a nossa equipa, jogando de Sul para Norte na primeira parte, arrumou o assunto logo ao fim dos 15 minutos iniciais. Nesse período José Augusto marcou os 3 golos da partida, aos 2', 10' e 15'. O resto do jogo seria bem menos excitante.


(https://i.postimg.cc/90c1qhCT/06.jpg)
Fonte: DL




Esta vitória foi uma boa resposta à derrota sofrida na jornada anterior, em que fomos derrotados pelo FCP na nossa casa. Essa, aliás, seria a única derrota que registamos no Campeonato Nacional dessa temporada. Na segunda volta devolvemos a derrota ao FCP, vencendo-os nas Antas por 2-1. Já o SCP foi despachado na 1ª volta por 4-3 em nossa casa e na 2ª volta por 3-1 em Alvalade.

Durante o Campeonato só consentimos mais dois empates e assim conquistamos o título com 6 pontos de avanço para o FCP e com 10 para o SCP, numa altura em que a vitória valia 2 pontos.


(https://i.postimg.cc/vmJxKLKZ/07.jpg)
Fonte dos dados (com reservas...): "Almanaque do Benfica"




Uma temporada de contrastes


O Sport Lisboa e Benfica partia para a temporada de 1962-1963 ostentando o título de Bicampeão Europeu mas tinha perdido o Campeonato Nacional anterior para o Sporting CP. Para a reconquista, o SL Benfica reforçou o seu plantel apesar de ter perdido o defesa lateral direito Mário João que, por razões profissionais decidiu ingressar na CUF. Consciente na necessidade de reforçar o plantel, A Direcção contratou novos elementos de grande valor para todos os sectores do campo.


(https://i.postimg.cc/jSn625Pm/08.jpg)
As principais aquisições do plantel SLB 1962-1963. Falta ainda Jacinto.



Destas aquisições, os defesas Raul Machado, Jacinto e Humberto Fernandes foram os que mais jogaram na 1ª temporada, um facto que também foi facilitado pela lesão prolongada de Germano. Já no meio campo e no ataque, a competição era consideravelmente maior e por isso Pedras jogou pouco apesar da sua enorme qualidade.

Ainda assim, a aquisição de maior impacto na nossa equipa acabaria por surgir da equipa de reservas, pois seria nesta temporada que o grande José Torres começou a jogar com regularidade na 1ª equipa. Em 1962-1963, José Torres falharia apenas 5 dos 26 jogos do campeonato, sendo que um deles foi curiosamente este contra a CUF. O nosso imortal bom-gigante brilhou intensamente nesta temporada, conquistando o troféu de melhor marcador ao apontar 26 golos. Eusébio marcaria 23, embora o pantera negra tivesse sido o melhor marcador da equipa caso se considere todas as competições disputadas.


(https://i.postimg.cc/R0QHJnFs/09.jpg)
O inesquecível bom gigante.


O aspecto menos feliz dessa ascensão de José Torres foi o progressivo ocaso de José Águas, Já antes se dizia que Guttmann planeava essa alteração mas o rendimento e o carisma de Águas mantiveram-no como o nosso avançado centro até à final de Amesterdão. Nesta temporada de 1962-1963, José Águas veio a cumprir a sua última época de Águia ao peito. Ainda assim sempre que foi chamado, respondeu com golos.



Um treinador Latino


Mas a mudança mais relevante registada nesta época foi forçada pela recusa do treinador Béla Guttmann em renovar o seu contrato. Após 3 anos de Benfica, o Húngaro de nascimento mas autêntico cidadão do mundo, decidiu sair e regressar à América do Sul, assinando pelos uruguaios do Penarol.

Em sua substituição, a Direcção Benfiquista presidida pelo Dr. Fezas Vital, contratou o conceituado treinador Fernando Riera. O Chileno já antes tinha treinado em Portugal (CF "os Belenenses" de 1954-1957) onde de resto tinha deixado boa impressão mas foi depois de liderar por 5 anos a selecção chilena, que ganhou notoriedade internacional ao levar a selecção do seu país a um sensacional 3º lugar no Campeonato do Mundo de 1962.



(https://i.postimg.cc/JnF4s1bY/10.jpg)
Fernando Riera Bauzá tinha 42 anos quando chegou ao SL Benfica.



No SL Benfica, Fernando Riera formou uma equipa técnica de grande qualidade. Eram 3 Fernandos pois, para além do próprio Riera, tivemos a continuidade de Fernando Caiado (ex-adjunto de Guttmann) e o recrutamento de Fernando Cabrita. Um luxo.



(https://i.postimg.cc/Ls61f81m/11.jpg)
As carreiras de Fernando Riera enquanto jogador e treinador (fonte wikipedia) e os três Fernandos da equipa técnica do SLB em 1962-1963.


Suceder a Guttmann não era tarefa fácil mas Riera conseguiu manter o bom futebol, explorando bem o enorme potencial de um plantel superior aos nossos rivais de Portugal e da Europa. Infelizmente, nessa temporada, Riera falharia apenas nos detalhes que... fizeram toda a diferença! Perdemos o final da Taça com o SCP (0-2) e mais importante, a final Europeia contra o AC Milan. Nessa final, disputada no Estádio de Wembley na tarde do dia 22.05.1963, merecíamos melhor sorte, tal a diferença de classe – para melhor – da nossa equipa.



(https://i.postimg.cc/D0V0Cv8J/12.jpg)
A final mais fácil... perdida!



Riera deixou imagem de um conhecedor profundo de futebol mas tinha também um modelo de jogo mais romântico, pouco dado a marcações individuais, indispensáveis em certas condições e com certos adversários. A equipa atacava bem, explorando a classe individual dos seus executantes, apesar de exibir menos vertigem no ataque relativamente ao que tinha feito com Béla Guttmann. Nessa final de Wembley faltou ousadia, rigor e concentração competitiva. Faltou também sorte e um árbitro que punisse a brutalidade premeditada de alguns italianos.

Por outro lado, Riera mostrou-se também ser um homem de personalidade algo instável. Esse temperamento latino explica que as suas ligações ao nosso Clube terminassem de forma menos suave do que o que seria desejável. Ao longo da sua carreira ficou geralmente uma temporada nos Clubes que treinou. Tinha no entanto qualidade técnica indiscutível e uma personalidade cativante para a maioria dos seus jogadores.  É muito justamente considerado o melhor treinador de sempre do Chile.


(https://i.postimg.cc/MTTNSw3B/13.jpg)
Busto de homenagem inaugurado em 2016 na proximidade do Estádio Nacional, Santiago do Chile.



Fernando Riera deixou marca no SL Benfica. Podia e devia ter sido mais feliz. Passou, em voo rasante, ao lado de uma grandeza maior. Infelizmente essa grandeza permanece como um estatuto exclusivo de Béla Guttmann. Tenhamos fé que um dia isso venha a mudar.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Março de 2019, 23:05
-231-
Essa Beira Benfiquista... (parte I)



(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/22/TT_CMZ-AF-GT_E_2-1_11_9_-_Vista_parcial_da_cidade.jpg/800px-TT_CMZ-AF-GT_E_2-1_11_9_-_Vista_parcial_da_cidade.jpg)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Beira_in_the_1930s


(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/TT_CMZ-AF-GT_E_2-1_9_13_-_O_Clube_desportivo_Sport_Lisboa_e_Beira.jpg)



===///===


Nota prévia: Vivemos dias de profundo horror e angústia sobre tragédia humana provocada pela passagem do furacão Idai sobre diversas regiões de Moçambique (Sofala, Manique, Tete e Zambézia, as mais afectadas).

Esperemos que a ajuda internacional, aquela que está efectivamente capacitada em meios e volume para dar essa ajuda, consiga ainda salvar vidas e dar algum conforto material e emocional aos milhares de necessitados.

Neste e no próximo texto falaremos sobre ligações da antiga cidade da Beira, capital da província de Sofala, ao Sport Lisboa e Benfica. Para o texto de hoje recuaremos aos anos 20 e 30 do século XX. No próximo iremos para as décadas de 50 a 70.


===///===



Começamos com uma fotografia tirada no princípio da década de 30 no pavilhão sede do Sport Lisboa e Beira. Um dia que não podemos precisar mas que se nota ter sido de particular agitação associativa.



(https://i.postimg.cc/T25Mrpwb/I-01.jpg)
Interior do pavilhão central do Sport Lisboa e Beira num dia particularmente concorrido pela comunidade Portuguesa local. Vê-se o símbolo do Clube. Fonte: TT



A disseminação do Glorioso


A disseminação geográfica do Sport Lisboa e Benfica começou muito cedo. Deu-se mesmo no contexto agreste dos primeiros anos, marcados pela falta de um local para erigir um parque de jogos condigno. Fomos sendo escorraçados dos diversos locais que fomos alugando quer por via dos aumentos das rendas por parte dos senhorios (Feiteira, Sete Rios) quer por via das autoridades que "precisavam" dos terrenos para edificar estradas algumas das quais nem que fosse... 70 anos depois (Benfica e Amoreiras)!

Paradoxalmente, esse nomadismo forçado transformou-se numa das maiores forças do Clube. Cosme Damião e seus pares cedo perceberam que deixar representações nos antigos locais onde tivemos as sedes tinha a enorme vantagem de manter pólos de recrutamento de sócios e atletas. Foram os casos de Belém e Benfica, locais em que as antigas sedes foram convertidas em delegações quando, acertadamente, o Clube decidiu instituir a sede do Clube em plena baixa de Lisboa.

A disseminação do Clube para fora de Lisboa onde viria a tornar-se decisiva a acção de antigos sócios e atletas na disseminação dos valores do Clube, fez-se um pouco no espírito da diáspora casapiana. Leopoldo Mocho foi o primeiro, estando por trás da criação do Sport Lisboa e Évora em 8 de Julho de 1911. Seguir-se-ia Braga com Germano Vasconcelos, Coimbra com José Domingos Fernandes, e depois Figueira da Foz, Setúbal, Porto, Faro e por aí em diante.

A disseminação do Clube para fora de Portugal deu-se, por via da diáspora Portuguesa, para as então colónias ultramarinas. Assim, África assistiu à fundação de múltiplas delegações e filiais Benfiquistas. Em 1927, um boletim oficial do SLB listava já 3 delegações africanas entre as 31 com quem o clube pretendia manter ligações institucionais: Beira (Moçambique), Luanda e Benguela (Angola). Muitas outras vieram depois. Na década de 30 já existiam clubes com essas ligações também em Lourenço Marques (Moçambique) e Huambo e Bela Vista (Angola).



(https://i.postimg.cc/5Np3ymVS/I-02.jpg)
Fonte: Boletim oficial do SLB em 1927.



Para os interessados deixo aqui a ligação para aquele que considero o melhor texto sobre filiais do SLB: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/07/gloriosas-filiais-pioneirismo.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/07/gloriosas-filiais-pioneirismo.html)



Sport Lisboa e Beira


O Sport Beira e Benfica, fundado em 8 de Dezembro de 1916, foi o primeiro Clube organizado fora da metrópole que se constituiu como filial do Sport Lisboa e Benfica. Entre os locais era conhecido como o Esselbê... Só em 1918 chegaria a vez do Sport Lisboa e São Tomé, filial em São Tomé e Príncipe. Depois Luanda, Benguela, etc.

No tempo em que o SL Beira foi fundado já existiam na cidade da Beira actividades desportivas promovidas por colectividades, embora essencialmente com carácter lúdico e visando o convívio social. De facto, ainda no final do século XIX, concretamente em 1896, a pequena comunidade inglesa da Beira fundou o Beira Sports Club (mais tarde Beira Amateur Sports Club) que já praticava o cricket, o golfe e outros desportos, presumivelmente, futebol incluído. É possível que a elite Portuguesa fosse convidada para essas actividades (Eduardo Medeiros, 2013)



(https://i.postimg.cc/hP4Lk7dz/I-03.jpg)
Actividades desportivas e associativas do Beira Sports Club no ano de 1904. Fonte: TT



Como vimos, o Sport Lisboa e Beira foi fundado em 1916 e foi o primeiro Clube formado por colonos Portugueses da Beira. Só na década seguinte foram fundados o Clube Ferroviário da Beira (29 de Julho de 1924) e o Sporting Clube da Beira, filial do SCP (17 de Outubro de 1929). Existiram outros mas não se detalham.

Os fundadores do Sport Lisboa e Beira estavam interessados na prática desportiva e numa activa e saudável vida comunitária. A sua predilecção pelo SL Benfica, o mais popular dos Clubes da metrópole, motivou-os a adoptar as suas cores e emblema. Curiosamente optaram pela ausência da roda de bicicleta facto que parecia evocar os tempos mais recuados do Clube, os tempos de 1904 a 1908.



(https://i.postimg.cc/GmVvT7SG/I-04.jpg)
O símbolo do Sport Lisboa e Beira e as óbvias semelhanças com o do Sport Lisboa.



Curiosamente, o emblema e o nome do Clube terão sido pontos de discórdia que mais tarde levariam a algumas cisões no Clube. Aparentemente o desentendimento surgiu de que uns defendiam que o Clube se devia chamar Sport Lisboa e Beira e outros defendiam o nome de Sport Beira e Benfica. Estes últimos pretendiam também que a roda da bicicleta fosse incluída no emblema. Alguns dos dissidentes estiveram na formação do Atlético da Beira do qual pouco se sabe, enquanto que outros, mais tarde, fundariam o Sporting local...

A fundação do SL Beira resultou do entusiasmo mostrado por alguma dessa comunidade Portuguesa para com o jogo de futebol. Apesar de fundado por colonos portugueses, o SL Beira cedo teve grande apoio entre os residentes locais.

Desde cedo o Sport Lisboa e Beira teve sócios dedicados ao clube dando o melhor do seu dinamismo e capacidades. Um dos mais prestigiados foi o seu fundador Carlos Alberto Faria cuja acção meritória foi reconhecida pela casa mãe da metrópole quando lhe foi atribuída a medalha de 1ª classe durante a Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica em 4 de Fevereiro de 1923. Vale isto por dizer que este Benfiquista Moçambicano foi o primeiro Águia de Ouro do nosso Clube, decisão justificada pelo facto de Carlos Alberto Faria ter "desenvolvido acção de propaganda no Sport Lisboa e Beira".


(https://i.postimg.cc/15zFChkD/I-05.jpg)
Não disponho de qualquer fotografia de Carlos Alberto Faria mas encontrei esta referência de um álbum de 1924, doado ao SLB em 1956 pela sua viúva.



Um grandioso parque desportivo


Em 1932 o Sport Lisboa e Beira dispunha já de um parque desportivo amplo e de grande qualidade, com um airoso campo de futebol e campos anexos para a prática do ténis.



(https://i.postimg.cc/HsfLQqdY/I-06.jpg)
Parque desportivo do Sport Lisboa e Beira em 1932. Quatro campos de ténis, um campo de futebol e uma sede imponente. Fonte: Digitarq.



Numa primeira fase, o Clube tinha erigido um imponente pavilhão-sede de cimento, que estava situado entre os bairros do Maquino e do Esturro. Esse edifício, bem ao lado do campo de futebol, sofreria sucessivos melhoramentos, servindo quer para eventos do Clube quer para cerimónias mais formais das autoridades locais.


(https://i.postimg.cc/QNcD2F33/I-07.jpg)
Três etapas de evolução da sede do Sport Lisboa e Beira; datas entre décadas de 20 e 30.



O complexo desportivo foi gradualmente sendo melhorado e usado não apenas em actividades desportivas mas também em actividades culturais e sociais.



(https://i.postimg.cc/QdgcgNh4/I-08.jpg)
Outros aspectos do parque desportivo do Sport Lisboa e Beira em 1932. A - Portão de entrada e bilheteira no Parque Desportivo do Sport Lisboa e Beira. B – Campos de ténis. C – Cinema e auditório. D – Bar. Fonte: TT



Ao lado do parque de jogo estava situado o Aeródromo Pais Ramos, que dispunha de uma pista ampla onde em 1935 aterrou a célebre esquadrilha de nove aviões Portugueses que participou no Cruzeiro Aéreo às Colónias, evento de que já por aqui falamos (ver textos 71-73, páginas 21-22). Entre esses aviadores estava o capitão José Bentes Pimenta, antigo jogador do SLB.



(https://i.postimg.cc/C5sWzfhn/I-09.jpg)
O Ibis, avião pilotado pelo Capitão José Bentes Pimenta, antigo jogador do SLB. Fonte: delagoabayorld e TT



Actividades desportivas


O Sport Lisboa e Beira viria a ser condecorado pelo Estado Português com o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo por serviços prestados à causa da educação física, traduzidos numa multiplicidade de modalidades desportivas.

O futebol foi a modalidade que aglutinou as vontades iniciais dos fundadores do Sport Lisboa e Beira. Viriam depois modalidades como o ténis, o atletismo e o hóquei-em-campo. Há também registo de campeonatos de cricket, golfe, natação e até automobilismo, tudo ainda antes da II Guerra Mundial (Fonte: Eduardo Medeiros in Caderno de Estudos Africano 2013).



(https://i.postimg.cc/RZD26mBd/I-10.jpg)
A equipa da primeira categoria de futebol do Sport Lisboa e Beira em 1924. Semelhanças evidentes com o SL Benfica... Fonte: Gazeta das Colónias.



(https://i.postimg.cc/d3wfPt2s/I-11.jpg)
Futebol, hóquei em patins e ciclismo, três das modalidades praticadas no SL Beira da década de 40. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.




Bibliografia

Eduardo Medeiros. 2013. Etnia e raça no desporto beirense da época colonial. O caso dos "sino-moçambicanos". Caderno de Estudos Africanos.

Galeria de imagens da cidade da Beira na década de 30 do século XX - https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Beira_in_the_1930s

Galeria de imagens da cidade da Beira na década de 20 do século XX -
https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Beira_in_the_1920s



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Março de 2019, 09:48
-232-
Essa Beira Benfiquista... (parte II)



Finalizando a evocação da cidade da Beira, no texto de hoje falaremos de uma grande figura do SL Benfica que veio directamente daquela cidade. Falaremos ainda de dois jogos – em dois tempos distintos - que a equipa principal do Sport Lisboa e Benfica disputou naquela cidade Moçambicana.

O nosso Clube tem duas grandes figuras que vieram da Beira para a Luz. O primeiro foi o grande Tamagnini Nené de quem já por aqui se falou (ver texto-209- Magaga, Holandês Voador e Calções Limpinhos, pág. ).

O outro, de quem vamos agora falar, foi o grande She Han, que apesar de não ter nascido por lá, está profundamente ligado à cidade da Beira.



(https://i.postimg.cc/QCNXpzMh/II-01.jpg)
Fonte: http://wiki.cfadata.com



Low Sheu Han, de seu nome completo, nasceu no dia 3 de Agosto de 1953, em Inhassoro, sede do distrito do mesmo nome que é parte da província de Inhambane. Sheu era filho de mãe moçambicana, nascida em Inhambane e de pai chinês, nascido em Guangzhou, Cantão. O seu pai, que tinha o peculiar nome de Low Fuck Him, era negociante no sector da exportação de peixe.

Quando tinha 6 anos de idade, o pequeno Sheu foi mandado por seu pai para a cidade da Beira para ingressar num colégio. Na Beira, desde cedo, o pequeno Sheu mostrou predilecção pelo desporto e nunca esmoreceu nem quando aos 10 anos sofreu um acidente com um foguete e que lhe custou uma deficiência permanente na mão direita.

Chegou assim ao Sport Lisboa e Beira, praticando futebol nas suas camadas jovens, tendo inicialmente ocupado a posição de extremo direito. Perspicaz, o seu treinador de então, fê-lo recuar para uma posição de médio onde o jovem Sheu melhor pode demonstrar todo o seu virtuosismo técnico e visão de jogo. Seria ali que ele se fixaria para o resto da sua carreira.



(https://i.postimg.cc/CLXg15bF/II-02.jpg)
Entre os juniores do Sport Lisboa e Beira de 196x campeões da seu escalão.




Em Julho de 1970, o Diário de Lisboa noticiava a chegada de Sheu ao nosso Clube. O jornal acrescentava que o aval para a sua contratação tinha sido dado por José Augusto que andava em Moçambique a tratar da finalização das papeladas para a transferência de Néné.

Mas, em boa verdade, a primeira informação positiva sobre Sheu tinha chegado ao SLB vinda do tenente-coronel Manuel da Costa, um Benfiquista dedicado que o tinha visto jogar na Beira. Essa recomendação seria depois reforçada por Francisco Calado, jogador destacado das nossas equipas dos anos 50, que para além da qualidade futebolística ficou igualmente convencido que o miúdo precisava de... comer, para reforçar a sua massa muscular!

A transferência de Sheu para o SLB foi complicada. Em primeiro lugar o pai de Sheu mostrou-se renitente, só aceitando a vinda do miúdo para Lisboa depois de ouvir a promessa da boca do filho de que continuaria a estudar. Sheu cumpriria a promessa quando anos mais tarde terminou o curso de Mecânica e Desenho Industrial. Para além de bom aluno, era frequente ver Sheu com um livro debaixo do braço nos estágios da sua equipa.

Em Lisboa, Sheu foi viver para o Lar do Jogador do Benfica mas, por via de desentendimentos institucionais entre o SL Benfica e o SL Beira, ficou impedido durante alguns meses de se poder estrear em jogos oficiais dos juniores.

Nos juniores do SLB, Sheu foi primeiramente treinado por Mário Coluna e depois por Ângelo Martins. Sagrou-se campeão nacional, integrando equipas carregadas de futuros grandes futebolistas tais como João Alves, Jordão, Fidalgo e António Bastos Lopes, entre outros.



(https://i.postimg.cc/5yrZ6KYP/II-03.jpg)
Notícia da chegada de Sheu Han e uma das equipas juniores do SLB. Fontes: DL e SerBenfiquista.



Estreou-se na equipa sénior no dia 15 de Outubro de 1972, quando substituiu Toni num jogo disputado no Barreiro contra o FC Barreirense. Estreou-se jogando ao lado de Eusébio, Simões, Jaime Graça, enfim... com o melhor que alguma vez o SLB teve.

O SLB venceu por 3-0 e no final do jogo, em declarações à imprensa, o lacónico e sisudo Jimmy Hagan mostrou-se muito satisfeito com Sheu, augurando-lhe grande futuro.

Curiosamente, na noite anterior ao jogo, temendo que a convocatória para a equipa principal fosse uma brincadeira, Sheu terá feito a sua mala de forma discreta, transportando-a depois escondida para evitar ser gozado.


(https://i.postimg.cc/9XkSPS0b/II-04.jpg)
Fonte: DL



Depois, a sua carreira na equipa principal do SLB foi o que se viu... Ao todo, 17 temporadas na categoria principal, 646 jogos, cerca de 50.000 minutos em campo, 57 golos, 89 jogos como capitão de equipa, 24 internacionalizações A, 9 títulos de Campeão Nacional de Portugal, 6 Taças de Portugal, 2 Supertaças, 6 Taças de Honra da AFL. Números impressionantes de um futebolista cuja correcção, elegância e categoria técnica foram sempre reconhecidos por companheiros e adversários, dirigentes, treinadores e adeptos. Sheu é um daqueles homens que geram consenso.


(https://i.postimg.cc/RC39zwnP/II-05.jpg)



Sheu ocupava as zonas centrais mais recuadas do meio campo Benfiquista. Era um pêndulo, um jogador cerebral, rigoroso nos equilíbrios e nas marcações, cumprindo com excelência as tarefas defensivas. Mas, ao mesmo tempo, Sheu tinha também uma rara capacidade de servir os avançados com enorme classe. Néné foi um dos destinatários privilegiados daqueles passes de veludo, como ficou demonstrado na inesquecível final da Taça de Portugal de 1980-1981, em que Néné marcaria 3 golos, aproveitando de forma magistral 3 extraordinárias assistências de Sheu! Eu estive lá!


https://www.youtube.com/watch?v=r6mIjfm1RWk (https://www.youtube.com/watch?v=r6mIjfm1RWk)



Faltou a Sheu a consagração Europeia, que até esteve quase por acontecer por três vezes. A primeira foi na Taça das Taças de 1980-1981 (meia-final contra o Carl Zeiss Jena), a segunda na Taça UEFA de 1981-1982 (finais contra o Anderlecht) e a última na Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1987-1988 (final de Estugarda contra o PSV Eindhoven).

No dia 20 de Maio de 1989, num jogo contra o Boavista FC, Sheu Han, despediu-se em lágrimas do futebol e do SL Benfica. Perante um Estádio da Luz a prestar-lhe uma sincera e sentida homenagem, o campeão chorou. Companheiros antigos e actuais, dirigentes, adeptos, jornalistas, em uníssono, despediram-se homenageando um homem que sempre prestigiou o manto sagrado, que ele tão amou e tão bem soube respeitar.


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Terminado o futebol no campo, Sheu Han continuaria a ser uma figura de relevo no nosso Clube. Exerceu durante longos anos o cargo de secretário técnico, sempre com dedicação e competência. Direcção após Direcção, Sheu foi sendo reconduzido, mostrando sempre a mesma lealdade e competência. Sheu serviu sempre o Clube, nunca se serviu do Clube.

Essa lealdade e dedicação viriam uma vez mais a ser demonstradas quando aceitou o pedido do Clube para assumir de forma transitória o cargo de treinador da equipa principal, após a saída de Graeme Souness, em 1998-1999.

Acima de tudo, Sheu foi sempre um magnífico transmissor da Mística do Benfica. A Mística que nos foi legada por Gourlade, Damião e Bermudes e todos os que vieram depois. Os homens passam, o Benfica permanece. Glorioso.


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Em Julho de 2018, Shéu Han deixou por vontade própria o cargo de secretário técnico do Clube. Julgou chegada a hora de descansar e dar lugar a outros mais novos. E essa também é uma das facetas dos verdadeiros Benfiquistas.



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A homenagem do plantel Benfiquista no dia da despedida de Sheu Fonte: slbenfica.pt



Beira, 1950


O primeiro jogo que o SL Benfica disputou na cidade da Beira aconteceu aquando da deslocação do Sport Lisboa e Benfica a África no ano de 1950, pouco depois da conquista da Taça Latina. Essa digressão que se prolongou por mais de um mês, começou em Moçambique (5 jogos), passou pela África do Sul (1 jogo), prosseguiu em Angola (8 jogos) e terminou no Congo Belga (1 jogo).


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Os resultados da digressão do SLB em África no anos de 1950.


O jogo da Beira foi o segundo dos cinco disputados em Moçambique, facto que levantou dificuldades logísticas. Dessa forma, depois do jogo inaugural em Lourenço Marques (vitória por 6-1 sobre o Desportivo de LM), a nossa equipa voou para a Beira, dividida em 3 pequenos aviões, aterrando em segurança no Aeródromo Pais Ramos. Imagine-se o que deve ter sido aqueles voos quando 1 anos antes tinha acontecido a tragédia de Superga...

Felizmente correu tudo bem e assim, no dia 30 de Julho de 1950, a equipa principal do SL Benfica disputou um jogo contra a selecção da Beira, vencendo por esclarecedores 5-0. Logo de seguida o SLB regressaria a Lourenço Marques onde continuaria essa maravilhosa mas desgastante digressão.

Não encontrei imagens desse jogo na Beira mas aqui ficam imagens de parte da comitiva aquando do regresso a Portugal e de um dos jogos disputados em Lourenço Marques.


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Fonte: slbenfica.pt e Cinemateca Portuguesa




Beira, 1974


O segundo jogo que o SL Benfica disputou na cidade da Beira aconteceu aquando de uma digressão em Junho de 1974. Apesar da satisfação dos locais com a visita do Glorioso, vivia-se em Moçambique tal como na metrópole e nas restantes colónias, uma atmosfera de tensão por via das mudanças políticas então em curso.

De facto, dois meses antes tinha acontecido a revolução do 25 de Abril de 1974 mas a guerra em Moçambique só terminou oficialmente no dia 8 de Setembro desse ano e a independência de Moçambique só foi proclamada a 25 de Junho de 1975. Ou seja quando o SL Benfica jogou na Beira, vivia-se ainda em estado de guerra.

A nossa equipa era treinada por Fernando Cabrita, técnico que tinha assumido o comando depois da resignação de Jimmy Hagan no princípio da temporada. Essa época de 1973-1974 foi desastrosa pois apesar de um plantel de luxo, perdemos o campeonato, num ano em que a conquista teria significado um tetra. Apesar disso Fernando Cabrita manteve-se como treinador e passaria a adjunto nas e+pocas seguinte, primeiro com Pavic e depois com Mário Wilson como treinador principal.



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Jimmy Hagan e Fernando Cabrita, como teria sido se não tivesse havido troca?



Dias antes da partida para Moçambique, a nossa equipa tinha perdido a final da Taça de Portugal para o SCP, uma derrota por 1-2 após prolongamento, num jogo em que o árbitro César Correia de Coimbra nos sonegou uma grande penalidade que foi tão evidente que até o jornalista (e sportinguista) Neves de Sousa o admitiu na sua crónica. Foi um desfecho frustrante tanto mais que na meia-final tínhamos ido às Antas triunfar por 3-0...



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Fonte: Jornal "O Benfica"



https://www.youtube.com/watch?v=R4pfkVuW4JU (https://www.youtube.com/watch?v=R4pfkVuW4JU)
Uma final pouco feliz.



Logo depois soube-se que Eusébio não foi incluído na comitiva para África, decisão que envolveu alguma polémica entre os dirigentes do Clube. António Simões era o capitão de uma equipa que contava com grandes nomes mas que precisava urgentemente de ser renovada.

E assim lá se fez a digressão e assim, no dia 17 de Junho de 1974, a nossa equipa jogou na Beira contra uma Selecção local, triunfando facilmente por 6-1.


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Fonte: http://blogdabolaquadrada.blogspot.com


Curiosamente, tal era a excitação das gentes locais, os dirigentes da comitiva do Sport Lisboa e Benfica foram forçados a aceitar a exigência de que a equipa do Sport Beira e Benfica pudesse disputar... 10 minutos contra a equipa do SL Benfica! Nunca visto... uma partida de futebol com 10 minutos!

Nesse período "extra" o Benfica marcou dois golos, ambos por Jordão, que foram festejados pelos próprios jogadores do SL Beira! Benfiquismo nos dois lados do campo, pois então!


Estou certo que o Benfiquismo subsiste na cidade da Beira pois onde há Portugueses e Moçambicanos há sempre Benfriquistas.

E, por fim, perante tamanha tragédia que essa bela cidade sofreu nos últimos dias, espero que a Direcção do Sport Lisboa e Benfica esteja à altura dos pergaminhos do Clube.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Março de 2019, 22:36
Um belo texto de Alberto Miguéns, na mesma linha dos textos aqui publicados sobre a cidade da Beira.


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/03/benficambique.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/03/benficambique.html)


No texto Alberto Miguéns identifica um dos homens de uma fotografia aqui colocada como sendo


Carlos Alberto Faria, o 1º ÁGUIA DE OURO da História do Sport Lisboa e Benfica


(https://4.bp.blogspot.com/-V7IWlnQBxso/XJlVpO8Lb3I/AAAAAAAANE0/BGblbqIUcfAgWrnZtpXE9SfKVxVZ0zAiACLcBGAs/s1600/CAF%2B-%2BC%25C3%25B3pia.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 27 de Março de 2019, 03:42
Em todos os dicionários feitos em Portugal devia estar isto:

clas.se

ˈklas(ə)
nome feminino

1.
grupo de pessoas, animais ou coisas com atributos semelhantes

2.
categoria de funções da mesma natureza

3.
cargos de natureza idêntica

4.
aula

5.
os alunos de uma aula

6.
grupo de militares dados como prontos anualmente na Escola de Recrutas

7.
secção

8.
qualidade


9.
distinção;  requinte


10.
BIOLOGIA designação da categoria utilizada na classificação dos organismos e que consiste num agrupamento de ordens muito semelhantes

E depois da 8ª e 9ª definições aparecer esta fotografia no dicionário:
(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e0/Sh%C3%A9u_Han.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Março de 2019, 20:12
-233-
Um Príncipe do Fado


João Linhares Barbosa. Um vulto da nossa Cultura, o Príncipe dos letristas populares do Fado.



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João Linhares Barbosa (Ajuda, 15 Julho, 1893 – Ajuda, 19 Agosto, 1965). Fonte: Museu do Fado



Figura maior do Fado, foi popular e admirado em vida por aqueles que sabiam da sua importância para o Fado. Letrista prolífico e inspirado, João Linhares Barbosa deixou-nos uma obra poética estimada em mais de 3000 versos.



A família Linhares


João Linhares Barbosa nasceu no bairro da Ajuda, no dia 15.07.1893. Filho natural de João Barbosa e de Palmira da Conceição Linhares. Neto paterno de José Barbosa e Henriqueta Maria e materno de Joaquim Amaro Linhares e Delfina da Soledade.


Para nós, Benfiquistas, há também que saber que João Linhares de Barbosa era primo direito de Joaquim José Linhares de Almeida, um dos 24 fundadores do Sport Lisboa.



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Genealogia simplificada da família Linhares



Os dois homens eram primos direitos porque as suas mães eram irmãs. João Linhares Barbosa era filho de Palmira da Conceição Linhares enquanto Joaquim José Linhares de Almeida (ou José Linhares, como o conhecemos) era filho de Joaquina do Livramento Linhares. Eram ambos netos maternos de Joaquim Amaro Linhares e Delfina da Soledade, naturais de Belém e Alcântara, respectivamente.

No dia 28 de Fevereiro de 1904, quando o Sport Lisboa foi fundado, José Linhares tinha 16 anos incompletos, facto que fazia dele o mais jovem entre os fundadores do nosso Clube. José Linhares era 4 anos mais velho do que o primo João Linhares Barbosa. Dada a escassa diferença de idades e por morarem muito perto um do outro, os primos terão com grande probabilidade, convivido muito quando eram pequenos.

Apesar de viver na então populosa freguesia da Ajuda, nos primeiros anos do século XX, João Linhares Barbosa, morador na Travessa da Faustina (actual Travessa da Madressilva), vivia porta com porta relativamente a Manuel Gourlade, morador na Rua da Paz (actual Rua do Laranjal). É quase certo que se terão conhecido.



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Travessa da Faustina (actual Travessa da Madressilva) e Rua da Paz (actual Rua do Laranjal), duas artérias contíguas na freguesia da Ajuda. Fonte: AML



Tal como Gourlade, também João Linhares Barbosa teve uma ligação constante ao longo da sua vida ao Bairro da Ajuda e às suas gentes.



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Ruas do bairro da meninice de Gourlade e Linhares Barbosa celebradas nos versos deste último. Fonte: AML



Evoca-se muitas vezes a importância da zona de Belém mas a Ajuda foi também uma freguesia que nos deu homens e locais importantes na História inicial do nosso Clube. Parte da família Linhares nasceu, viveu e morreu naquela freguesia. Na Ajuda nasceu e viveu Manuel Gourlade. Na Ajuda, nos seus últimos anos, morou e faleceu o fundador Daniel Santos Brito.



O Príncipe dos letristas populares do Fado


A poesia do Fado é muito rica e diversificada. Ao longo dos mais de 100 anos da sua história conhecida, o Fado teve contribuições líricas voluntárias ou involuntárias, em vida ou póstumas, de versejadores de diversas eras e com os mais diversos graus de literacia e proveniências. Temos assim poetas cultos e populares autodidactas, romancistas clássicos e dramaturgos revisteiros a até temos trovadores medievais. Mesmo versos de Luís de Camões, poeta maior da língua portuguesa, já foram por diversas vezes cantados em fados.

A sofisticação e a qualidade lírica maior ou menor das letras do Fado surge da inspiração e do sentimento. É preciso ter nascido com veia poética mas também é preciso ter Fado, sentir o Fado, viver o Fado. João Linhares Barbosa tinha tudo isso.
Linhares Barbosa deixou-nos uma obra poética enorme da qual constam muitos dos mais famosos fados, cantados pelos melhores fadistas, conjugação que nos deixou momentos de expressão sublime da Alma Portuguesa:


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João Linhares Barbosa publicou pela primeira vez os seus versos no jornal "A Voz do Operário" em 1907, quando contava apenas 14 anos de idade (fonte: fadotradicional.wixsite.com). Tal como seu pai, Linhares Barbosa foi torneiro mecânico até aos 29 anos de idade, altura em que decidiu tornar-se jornalista, fundando o quinzenário "Guitarra de Portugal", no dia 15 de Julho de 1922.

O "Guitarra de Portugal" teve uma I série que durou 17 anos (1922-1939) em que João Linhares Barbosa para lá de proprietário era também editor. O jornal contava ainda com valiosos colaboradores como Domingos Serpa e Martinho d' Assunção (pai), Stuart de Carvalhais, Artur Inez, Antônio Amargo, entre outros.



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O 1º número da séria I do periódico "Guitarra de Portugal"
"Se aquilo que a gente sente / Cá dentro tivesse voz / Muita gente, toda a gente / Teria pena de nós" Augusto Gil.



No jornal, Linhares Barbosa publicava também poemas seus, alguns dos quais relacionados com as suas convicções políticas e sensibilidade social (afecto ao anarco-sindicalismo).

O jornal teve uma II série que durou apenas 3 anos (1945 a 1947), período em que João Linhares de Barbosa já não era o proprietário embora continuasse como colaborador. O jornal chegou a ter centenas de assinantes por todo o país e foi sempre um arauto especializado na divulgação, defesa e dignificação do Fado e das suas figuras. Foi também uma força cultural viva no bairro da Ajuda, organizando festas e soirées de fados bastante apreciados pela maioria dos populares daquele bairro.


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Fonte: efémera e Hemeroteca Lx



Linhares Barbosa era um autodidacta que não se limitou a escrever os seus versos, dos quais aliás dependia para o seu sustento. Ao longo da sua vida foi também um dedicado e eficaz defensor e divulgador da grandeza cultural do Fado, canção identitária, género de expressão ilustrativo de uma das facetas da Alma Portuguesa.

Foi ainda e durante vários anos, o Director Artístico do Salão Luso, situado nas antigas cavalariças do palácio de S. Roque no Bairro Alto, em Lisboa, onde actuaram Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro, Alberto Ribeiro, Berta Cardoso, Lucília do Carmo, e Hermínia Silva, Carlos Ramos, entre muitos outros (ver: http://restosdecoleccao.blogspot.com/2016/01/cafe-luso.html).



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Fonte: Restos de Colecção



Existe aliás um disco extraordinário da grande Amália, um entre os meus predilectos, com Fados gravados ao vivo naquele "Templo do Fado". Na faixa inicial, a entrada e as "queixas" de Amália são deliciosas.


Amália Rodrigues no Café Luso – Não tolero
Letra: Linhares Barbosa / Música: Armandinho / Fado Mayer
https://www.youtube.com/watch?v=vzUOo_O10qQ (https://www.youtube.com/watch?v=vzUOo_O10qQ)
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Ao longo da sua vida, Linhares Barbosa viveu intensamente os ambientes do Fado. Contribuiu activamente para a época dourado do Fado, relacionando-se, divulgando, promovendo e dignificando os Artistas, fossem eles cantores, instrumentistas ou escritores.


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Amália recebendo em sua casa o Fadista Carlos Ramos (de pé) e João Linhares de Barbosa. Fonte: http://recursos.bertrand.pt/recurso?id=9973442



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Martinho d'Assunção, Alberto Costa, Amália Rodrigues, Linhares Barbosa, Berta Cardoso e Francisco Carvalhinho Fonte: Museu do Fado


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Linhares Barbosa com Berta Cardoso e Alfredo Marceneiro na Adega "O Faia". Fonte: Museu do Fado



De carácter generoso e desprendido, não guardava, antes costumava dar os manuscritos dos seus originais aos amigos que lhos pediam. Em 1963 foi homenageado no Coliseu dos Recreios, tendo recebido o prémio da Imprensa para o "Melhor Poeta de Fado".



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Um artigo evocando as bodas de ouro de Linhares Barbosa enquanto letrista do Fado. Fonte: http://fadistascomoeusou.blogspot.com



No dia 21 de Agosto de 1965, na sua casa da Rua das Mercês, nº 131, Ajuda, João Linhares Barbosa morreu vítima de uma trombose cerebral. Tinha 72 anos de idade e era viúvo de Dª Sara Monteiro, falecida 2 anos antes. Deixou um filho. Foi sepultado no cemitério da Ajuda, onde repousa ao lado de muitos dos fundadores do nosso Clube.


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Em sua homenagem, o seu amigo e Poeta Carlos Conde escreveria um sentido poema que exprimia a dimensão da perda.



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E como não pensar no Sentido da Vida, nas próprias palavras de Linhares Barbosa...


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Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Em 1995, cumpridos 30 anos após a sua morte, a Câmara Municipal de Lisboa prestou-lhe uma justa homenagem dando o seu nome a uma rua no Bairro do Caramão da Ajuda.


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Fonte: Museu do Fado e toponimialisboa.wordpress.com



E que melhor forma de completarmos este texto do que dar palco aos dois mais virtuosos Artistas, que mais e melhor o homenagearam, cantando os seus versos.


Silêncio que se vai cantar o Fado.



Alfredo Marceneiro - É tão bom ser pequenino
Letra: Linhares Barbosa / Música: Alfredo Marceneiro
https://youtu.be/0DbUT5CaFxM (https://youtu.be/0DbUT5CaFxM)
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===///===


Amália Rodrigues - Os meus olhos são dois círios
Letra: Linhares Barbosa / Música: Fado Menor
https://www.youtube.com/watch?v=3mOk21SWQ1M (https://www.youtube.com/watch?v=3mOk21SWQ1M)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Abril de 2019, 16:46
-234-
Stuart e o Emblema


O mais belo e icónico de todos os emblemas


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Fonte: Em Defesa do Benfica (EDB)



Esta foi a mais bela versão de sempre do Emblema do Sport Lisboa e Benfica. Vigorou, em termos oficiais, de 1929 até 1962. Apresentava quase todos os elementos que actualmente e segundo os estatutos do nosso Clube - devem constar do Emblema oficial. Devem constar mas não constam, mas isso é outra história.

Esta versão modernizada do nosso Emblema foi desenhada por Stuart Carvalhais a pedido de Félix Bermudes, figura maior da História do nosso Clube. O pedido terá sido feito por volta de 1927, uma vez que os boletins oficiais do Clube já o apresentavam naquele ano. No entanto, ao que sei, a oficialização do Emblema foi feita em 1929, por ocasião do 25º aniversário do Clube.

Sendo ele próprio um criador artístico e durante décadas presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (da qual foi fundador), Félix Bermudes tinha grande sensibilidade estética e conhecimento do meio artístico nacional. Félix Bermudes tinha também uma grande preocupação com a simbologia, elemento definidor dos propósitos mais altos de uma instituição. Havia que escolher bem o homem para fazer essa modernização. Ora, em Lisboa e pelo menos desde a segunda metade do século XIX, abundavam grandes talentos na área do desenho, pintura e da caricatura.



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Stuart Carvalhais (Vila Real, 1887 — Lisboa, 1961)



A escolha de Félix Bermudes recaiu em Stuart Carvalhais, então com 42 anos de idade, que era um dos numerosos amigos que tinha no meio artista nacional. Como seria de esperar, os caminhos dos de Félix Bermudes e Stuart Carvalhais cruzar-se-iam diversas vezes ao longo das suas longas carreiras no meio artístico Lisboeta.


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Alguns dos múltiplos cruzamentos artísticos entre Félix Bermudes, autor teatral e Stuart Carvalhais artista do traço. Fonte: Matriznet e Citizengrave



Nessa época, Stuart era já um dos mais prestigiados e talentosos entre os desenhistas portugueses. Stuart iniciou-se no mundo artístico trabalhando na oficina de azulejos de Jorge Colaço. onde pode colaborar com muitas outros  artistas prestigiados. Depois, entre 1912 e 1914, Stuart viveu em Paris, trabalhado com grande sucesso em diversos periódicos Parisienses.

Com o deflagrar da Grande Guerra, Stuart trocou Montmartre por Alfama ou seja trocou uma vida financeiramente mais confortável que tinha em Paris por uma vida bem mais modesta na sua amada Lisboa. As guerras não eram para ele e como gostava da alegria, da luz e da vida boémia, Lisboa foi o destino escolhido.

E foi na capital alfacinha que Stuart viveu e onde durante meio século trabalhou intensamente, colaborando com numerosos títulos da imprensa diária e periódica. Trabalhou com nomes igualmente grandes da ilustração e caricatura portuguesas como Francisco Valença e Amarelhe, entre outros.

De traço rápido e criativo, Stuart ilustrou muitos livros de escritores, com lugar de destaque para "Fado" de José Régio e "A via sinuosa", romance de 1918 de Aquilino Ribeiro, que tinha sido seu companheiro nos tempos boémios e criativos de Paris. Muitos anos mais tarde, Aquilino definiria Stuart como "O grande e pobre Stuart". Os dois homens mantiveram contacto e amizade ao longo da vida, sendo companheiros de boémias e tertúlias literárias.



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Artigo sobre o romance "A via sinuosa" de Aquilino Ribeiro, ilustrado por Stuart Carvalhais. Fonte: Hemeroteca Lx



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Stuart no traço de seu colega Amarelhe (esquerda) e no seu próprio traço (direita). Fonte: Hemeroteca de Lx



Caricaturista, aguarelista, cenografista e ilustrador, era dotado de um talento técnico raro, de uma acutilante crítica social e de um humor fino, virtudes pouco apreciadas pelo poder e que por isso não raras vezes esbarraram contra o lápis azul da censura.

De carácter boémio mas conhecendo os tipos populares, as vidas sombrias, o lado escondido e brutal da vida Lisboeta, Stuart foi um ilustrador notável da vida que experienciou. Stuart foi um homem de personalidade fascinante, que cultivou a amizade e que teve um trajecto de vida interessantíssimo. Fez também algum trabalho de publicidade e esteve envolvido – infelizmente com pouco sucesso - em alguns negócios por via das suas ideias e dos amigos que sempre cultivou.



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Stuart Carvalhais em Junho de 1917, ao pé da sua barraca de fantoches Quim e Manecas na Festa da Flor de Lisboa. Fonte: TT



A sua natureza era desprendida de bens materiais, mostrando – à semelhança do seu pai - ter pouco jeito para negócios. Modesto quanto às suas enormes capacidades artísticas, Stuart terá exposto apenas por uma vez ao longo da sua vida, facto que não o ajudou a rentabilizar devidamente todo o seu imenso talento.

Ainda assim, Stuart Carvalhais deixou-nos uma obra extraordinária em quantidade e qualidade, sendo muito justamente considerado como um dos maiores artistas de sempre do nosso país.

Aos interessados, recomenda-se um artigo excepcional sobre a vida e personalidade artística de Stuart, aqui:


http://citizengrave.blogspot.com/2012/05/stuart-de-carvalhais-vida-sem-rede.html (http://citizengrave.blogspot.com/2012/05/stuart-de-carvalhais-vida-sem-rede.html)



Melhor ainda, recentemente ficou disponível o áudio de uma excelente entrevista que o grande jornalista Igrejas Caeiro fez a Stuart Carvalhais no dia 03-07-1958. Ali podemos ouvir o artista em voz própria, cerca de três anos antes de falecer.


https://www.youtube.com/watch?v=XhDHG5ozypI (https://www.youtube.com/watch?v=XhDHG5ozypI)



A esse propósito, é justo fazer aqui uma nota lateral sobre Igrejas Caeiro, um homem que reconhecia e estimava a excelência artística. Em meados da década de 50, teve a iniciativa de entrevistar homens destacados da Cultura Portuguesa. Foi uma iniciativa notável e providencial que resultou em cerca de 300 entrevista, muitas das quais são peças raras e valiosas para ouvir em voz própria, personalidades que em breve se extinguiriam da presença dos vivos.

Infelizmente, do seu vasto espólio apenas uma ínfima minoria das entrevistas está disponível para audição pública. Entre essas destacam-se as que foram feitas a Aquilino Ribeiro e ao próprio Félix Bermudes (esta última por via de uma cortesia inestimável de Alberto Miguéns).



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Igrejas Caeiro, um homem de notável que deu notáveis contribuições para a Cultura mas também para o desporto em Portugal. Fonte: SPA



Stuart Carvalhais faleceu no dia 2 de Março de 1961, no Hospital de Santa Maria, Lisboa, depois de alguns anos de sofrimento.


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No dia seguinte ao óbito, num longo elogio póstumo publicado no Diário de Lisboa, podiam ler-se palavras reveladoras da dimensão da personalidade e obra de Stuart


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Em sua homenagem, a Câmara Municipal de Lisboa deu o seu nome a uma rua da antiga freguesia de S. João de Deus, actual freguesia do Areeiro, perto do Jardim do Arco do Cego (ver: https://toponimialisboa.wordpress.com/2015/02/05/stuart-do-quim-e-manecas-numa-rua-do-arco-do-cego/). Existe também a Escola Secundária Stuart Carvalhais, situada a norte da freguesia de Massamá.



O Emblema


Não sabemos ao certo quem o criou nem quando foi criado o Emblema do Sport Lisboa. Não temos aliás nenhum emblema original quer a cores quer a preto e branco datado da primeira década do nosso Clube.

As cores principais do Clube, elemento fundamental do Emblema, foram segundo o que nos foi contado em 1954 por Mário de Carvalho e Rebelo da Silva da autoria de José da Cruz Viegas. Esta indicação merece todo o crédito pois os autores entrevistaram não somente o Major Cruz Viegas mas também outros homens chave desse tempo, incluindo diversos fundadores.

A escolha recaiu no vermelho e branco, cores que transmitiam a alegria e a vivacidade como base no entusiasmo na competição desportivo. Eram também cores distintivas quanto a tudo o resto que existia na época, e que ficavam na retina das assistências. Nessa escolha começou desde logo a superioridade precoce do nosso Clube.



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O impacto daquelas camisolas de flanela...



Já quanto ao Emblema sabemos menos mas tudo aponta para que os elementos principais do Emblema terão sido definidos logo na fase da fundação do Clube. Não foram escolhidos ao acaso, havendo notória cultura heráldica e percepção da importância que a simbologia tinha em apontar desde logo a ambição e o caminho de futuro para um Clube que aspirava aos mais altos desígnios.

As cores do escudo bipartido eram o vermelho e branco, eram naturalmente as mesmas escolhidas por José da Cruz Viegas. A Águia que encimava escudo é um elemento heráldico tradicional, símbolo de autoridade, força, vitória, orgulho, da elevação de propósitos e do espírito de iniciativa.

Com as suas asas abertas, olhando para o céu, aprestando-se para voar alto, a Águia agarra a divisa do Clube nas suas garras. Levantando voo, a Águia levará o lema do Clube aos mais altos desígnios, voando altaneira sobre os seus adversários. Desde então e até hoje.

Num antigo número de "O Benfica Ilustrado", Alberto Miguéns também nos contou que muito provavelmente terá sido Félix Bermudes o homem que escolheu ou sugestionou a divisa "E Pluribus Unum". A divisa é um elemento fundamental da identidade do nosso Clube, bem conhecido por todos os nossos consócios e simpatizantes. Com várias traduções consoante o gosto, é talvez na mais rigorosa versão traduzível por "Todos por um", tal como Félix Bermudes deixou escrito no Hino Oficial do Sport Lisboa e Benfica.


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Seja como for, a divisa é um elemento poderoso, que faz a apologia do espírito de união e de família que caracterizou o Clube desde os seus primeiros tempos. O Clube está acima de todos e todos estão pelo Clube. Todos por Um.

Desde que foi criado, algures por 1904, até 1928, o nosso Emblema conheceu diversas evoluções que resultaram das alterações das estéticas da época, das evoluções associativas (junção com o Grupo Sport Benfica em 13-09-1908) e até das conjunturas políticas (instauração da Republica em 5-10-1910).

Na evolução criada por Stuart Carvalhais foi escrupulosamente mantido o significado múltiplo e nobre do Emblema sendo que as principais melhorias se deram ao nível estético global e principalmente da postura e da elegância da Águia que se apresenta mais realista, temerária e altaneira. Nunca é demais reparar na modernidade, no salto de qualidade que o novo emblema trouxe. Aquela Águia é com certeza bem definidora da ambição e da nobreza do nosso Clube.



(https://i.postimg.cc/Z5QrLw0M/11.jpg)
Aspectos marcantes da evolução que Stuart Carvalhais trouxe ao Emblema do SLB.



Não conheço melhor nem mais completa reflexão sobre a temática associada ao nosso Emblema e por isso recomendo vivamente a leitura do artigo de Alberto Miguéns:


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/regresso-as-origens-com-modernidade.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/regresso-as-origens-com-modernidade.html)



(https://i.postimg.cc/Pr3ZtSb5/12.jpg)
A evolução dos emblemas do Sport Lisboa e Benfica mas mantendo o significado desde que foi instituído pelos nossos fundadores em 28 de Fevereiro de 1904. Fonte: EDB, Alberto Miguéns




(https://i.postimg.cc/KjckbTRT/13.jpg)
Glorioso SLB!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 07 de Abril de 2019, 00:01
Grande texto. A Águia a segurar o nosso lema e não pousada na roda.

Lindo demais. Viva o Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Semper Fidelis em 08 de Abril de 2019, 15:02
Spoiler
Citação de: RedVC em 08 de Março de 2019, 20:28
-229-
Águias na guerra (parte VI): os manos Vivaldo


(https://i.postimg.cc/KcBz2Hx8/01.jpg)



Uma fotografia por legendar:


(https://i.postimg.cc/cJPxqQz3/02.jpg)
Fonte: AML



Vê-se um campo que muito provavelmente era o campo da Quinta da Feiteira, em Benfica.

Contam-se 21 homens, organizados em duas equipas de futebol. Pelos equipamentos a fotografia reporta-se à primeira década do século XX.

Nota-se a presença de um homem vestido de branco com um apito ao peito, certamente o árbitro.

Uma das equipas aparece-nos com equipamento liso de tonalidade clara. Alguns dos seus elementos envergavam uma curiosa gravata.

A outra equipa aparece-nos com uma camisola branca com listas de uma cor que não conseguimos definir. A maioria das camisolas tem gola, provavelmente também dessa cor indefinida, mas dois dos membros da equipa envergam um segundo formato, sem gola.
Não era incomum essa mistura de formatos nos primórdios do nosso futebol.

Concentrando atenções na equipa de camisolas listadas, é possível identificar alguns jogadores. É também possível identificar o árbitro da partida e um outro elemento que provavelmente era membro da equipa com camisola lisa. Essas identificações dão-nos pistas.


(https://i.postimg.cc/zvt2MktZ/03.jpg)



O árbitro era Daniel Augusto Queiroz dos Santos (1879-1948), ex-casapiano, antigo jogador do Sport Lisboa (1904-1907) e jogador do Sporting CP, clube para onde se transferiu em Maio de 1907. No Sporting CP mostrou-se um sportinguista de convicções e palavras fortes, belicoso e intratável nos media, tendo chegado ao cargo de presidente da Direcção (1914-1918). Dele havia bastante a dizer mas ficará para outro dia.

Por falar em SCP, identifica-se também Augusto Freitas, que antes de terminar a sua carreira de guarda-redes no clube leonino, passou ainda pelo FC Cruz Negra. Era um desportista bem conhecido do meio lisboeta tendo também praticado Pedestrianismo e Ciclismo. O seu abandono do Futebol deu brado quando, em Abril de 1911, no decurso de um Sporting CP – SL Benfica, decidiu agredir dois jogadores Benfiquistas apenas porque lhe tinham... marcado golos. Uma saída de estrondo...

Bem mais interessantes são as identificações feitas na equipa listada. Identificam-se três glórias Benfiquistas: Cosme Damião, Luís Vieira e Marcolino Bragança! A presença deste último, baliza-nos temporalmente a fotografia para o biénio 1907-1908, período após o qual o são-tomense regressou definitivamente a África, radicando-se em Angola.

Assim é provável – embora sem certezas – que estejamos perante uma raridade ou seja que se trate de uma fotografia que inclui uma equipa de futebol do Grupo Sport Benfica. A fotografia deve reportar ao período de indefinição que aconteceu entre a grande deserção de Maio de 1907 e o início da época seguinte, altura em que Silvestre da Silva, mandatado pelo Sport Lisboa, inscreveu o Clube para o Campeonato regional da época seguinte. O Sport Lisboa estava salvo.


Mas para lá desta hipótese e para a parte central deste texto, vamos concentrar atenções no elemento à paisana que nos aparece à esquerda, abraçado por Cosme Damião e envergando uma farda compatível com a de estudante no Colégio Militar. Trata-se de Álvaro Vivaldo, uma figura pouco conhecida dos primeiros anos do nosso Clube. Pouco conhecida mas bastante interessante.


(https://i.postimg.cc/Fs6nVDk0/04.jpg)



Propósito


Daqui em frente falaremos do que sabemos sobre a família Vivaldo, que teve dois dos seus membros entre os primeiros sócios e jogadores do Sport Lisboa e Benfica. Ora, um dos propósitos do "Decifrando..." é resgatar para a memória colectiva algumas antigas figuras do SLBenfica que tenham dado uma contribuição efectiva para o Benfiquismo, principalmente nos primeiros anos da vida do Clube. E, como se verá, a família Vivaldo tem muitos motivos de interesse.



A família


Álvaro Eugénio de Araújo Vivaldo nasceu em Belém no dia 16.03.1891. Em Belém nasceram também os seus dois irmãos, Alberto de Araújo Vivaldo (04.09.1888), que poderá ter morrido em criança, e Alfredo César de Araújo Vivaldo Júnior (14.10.1889). Álvaro e Alfredo Jr foram os Vivaldos que vieram a ser sócios e jogadores do Glorioso.

Eram todos filhos naturais de Alfredo César de Araújo Vivaldo (1859-1927), alferes (mais tarde Coronel) da administração militar, natural de Viana do Castelo e de Virgínia Amélia Martins de Azevedo, natural da freguesia da Pena, Lisboa.

Eram também netos paternos do General de Brigada Francisco José Maria de Vivaldo e Mendonça (1827-?), natural de Loulé. Ou seja os manos Vivaldo nasceram no seio de uma família de antigas e distintas tradições militares.

A itinerância militar é algo inerente à vida dos militares, em todos os tempos. Assim foi também com o General Vivaldo, que ao longo da sua carreira de militar passou pelas praças de Valença, Elvas e Monsanto até chegar à Praça de S. Julião da Barra, em Oeiras, vivendo na Rua da Junqueira, Belém; aí se fixando até à sua reforma, em 1885.

Já os pais dos manos Vivaldo, quando casaram, foram morar primeiro para a Rua de Pedrouços e depois para a Rua do Cais de Belém. Ou seja os manos Vivaldo cresceram na zona de Belém, num tempo e num espaço em que viveram as pessoas decisivas para a fundação do nosso Clube.



Antes do Glorioso


Os manos Vivaldo iniciaram-se no futebol no Restelo FC, uma pequena e pouco conhecida colectividade que então usava um terreno em Pedrouços, propriedade da Casa de Cadaval. Esse terreno era bem próximo do que foi usado para o primeiro treino do nosso Clube, uns anos antes, na manhã de 28.02.1904.

Paralelamente, Alfredo Jr. frequentava o Instituto Industrial de Lisboa, tendo participado num campeonato escolar de futebol no ano de 1908. Entre os seus colegas de equipa contavam-se alguns rapazes que seriam em breve figuras de primeira grandeza do futebol do SL Benfica. Carlos Homem de Figueiredo, Germano Vasconcelos e Leopoldo Mocho. Estavam ainda presentes mais dois homens que passaram pelas categorias inferiores tais como Gomes Cal e Júlio de Castro.



(https://i.postimg.cc/85s64B6r/05.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa



O Instituto Industrial e Comercial de Lisboa foi uma instituição de ensino técnico criada em 1869 por fusão do Instituto Industrial de Lisboa com a Escola de Comércio, resultando no alargamento do ensino técnico à economia e administração (fonte: wikipedia). Em 1911 a instituição foi dividida no IST - Instituto Superior Técnico e no Instituto Superior de Comércio (actual ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão).



No Glorioso


Os manos Vivaldo chegaram ao nosso Clube durante a ressaca da grande deserção de Maio de 1907. Nesse período fez-se a reconstrução das equipas das diversas categorias do Clube, liderada por Cosme Damião e seus pares. Os manos Vivaldo foram recrutados para o Sport Lisboa juntamente com 3 outros atletas do Restelo FC.


(https://i.postimg.cc/LhFgmc0z/06.jpg)
Os 5 elementos que foram recrutados pelo Sport Lisboa ao Restelo FC.



E assim, os manos Vivaldo já constam da lista de sócios que o Sport Lisboa apresentou aquando da junção com o Grupo Sport Benfica em Setembro de 1908.


(https://i.postimg.cc/kM61sLKw/07.jpg)


Álvaro e Alfredo Jr. destacaram-se enquanto jogadores das categorias inferiores do SLB.
Não sei ao certo em que posição jogava Alfredo Jr. mas Álvaro sabe-se que se distinguiu como médio ao centro. Ora, no modelo de pirâmide (2:3:5), então praticado, essa posição do terreno era fulcral pois o jogador que a fazia tinha a obrigação de municiar os 5 avançados mas também de apoiar uma defesa que contava apenas com 2 elementos. Nessa posição, aos bons dotes futebolísticos exigia-se também capacidade de liderança em campo.

Terá sido justamente por jogar nessa posição central, a mesma que Cosme Damião ocupava na 1ª categoria, que Álvaro apenas fez apenas 3 jogos pela equipa principal. Esses 3 jogos foram todos disputados na temporada de 1911-1912, época em que Álvaro ajudou à conquista do Campeonato Regional de Lisboa, a principal prova de então. A regularidade de Cosme Damião não deu muitas mais hipóteses a Álvaro.



(https://i.postimg.cc/FsbxnvRb/08.jpg)
Duas das equipas apresentadas pela 2ª categoria na época de 1911-1912. Seríamos campeões de Lisboa.



Assim, Álvaro destacou-se essencialmente nas equipas da 2ª categoria, que nesse tempo eram bastante fortes, conquistando muitos títulos. Nessas equipas estavam presentes elementos jovens com talento emergente, como Álvaro Gaspar e Alberto Rio, que em breve dariam cartas na categoria principal. Estavam também presentes veteranos prestigiados como David da Fonseca, António Bernardino Costa e Romualdo Bogalho, que aportavam não só uma enorme competitividade como, acima de tudo, transmitiam a mística do Clube aos mais novos.

Para Cosme e para o Clube, não havia distinção de maior ou menos importância entre as categorias. Todas eram importantes e em todas se exigia o máximo para obter a vitória. Um segundo lugar não era comemorado. Os manos Vivaldo foram parte importante dessa filosofia, dando a sua contribuição para cimentar o sucesso e a popularidade do nosso Clube.



Tragédia


No dia 01.12.1912, às 15h00, na sua casa da Rua de Pedrouços, faleceu Alfredo César de Araújo Vivaldo Júnior. Tinha apenas 31 anos de idade. Morreu na flor da idade, de causas que desconheço. Nesse tempo Alfredo Jr. era aluno da Escola do Exército, casado, ainda sem filhos. Foi sepultado no cemitério da Ajuda.


(https://i.postimg.cc/zXDL8Y7F/09.jpg)
Cemitério da Ajuda. fonte: AML




Vida militar


Netos de um General e filhos de um Coronel do Exército Português, compreende-se que tanto Álvaro como Alfredo também tenham enveredado pela vida militar. Alfredo Jr. morreu muito cedo mas Álvaro acabou por participar na I Guerra Mundial, integrando o CEP, Corpo Expedicionário Português.



(https://i.postimg.cc/02NNhd5t/10.jpg)
O quadro dos 16 Benfiquistas que participaram na I Guerra Mundial, na Europa e em África.



Como vemos, Álvaro Vivaldo foi mais um dos Benfiquistas que combateram na Grande Guerra. Felizmente, dos que eu conheço, todos regressaram.



(https://i.postimg.cc/C1mg4X8w/11.jpg)
Fonte: Exército Português



Facto relevante, três meses antes de embarcar para terras de França, Álvaro Vivaldo casou com Maria Olívia Basto Gavião, de apenas 16 anos de idade, natural de Lisboa, freguesia de Santa Justa. Notando uma grande diferença de idades, o casamento com uma menor foi celebrado poucas semanas antes de Álvaro Vivaldo embarcar para uma Guerra da qual não sabia se iria regressar. Basta lembrar que poucas semanas antes do casamento, milhares de soldados Portugueses tinham encontrado a morte nos campos de La Lys. Nesse contexto funesto, a possibilidade de Álvaro não regressar era muito real e terá condicionado muito as decisões do casal.

Álvaro participou no conflito como Alferes miliciano numa Bateria da Guarnição de Lisboa. Embarcou em Lisboa no dia 08.08.1918 tendo seguido por via marítima até Brest, França onde desembarcou no dia 13 do mesmo mês.


(https://i.postimg.cc/hjfBpM1x/12.jpg)
O processo individual do Alferes miliciano Álvaro Vivaldo.



Em 13 de Outubro já se encontrava na frente de batalha onde, a partir do dia 15 de Outubro, recebeu instrução militar suplementar. Concluiu o curso de sinaleiro no princípio do mês de Novembro.



(https://i.postimg.cc/8Pdqdqg9/13.jpg)
A angústia da despedida.



(https://i.postimg.cc/NjfP6F42/14.jpg)
Os nervos à chegada. Fonte: TT




A Grande Guerra terminaria poucos dias depois, no dia 11.10.1918, significando isto que Álvaro Vivaldo esteve cerca de 3 meses nos palcos activos do conflito.

Findas as hostilidades, ainda assim havia muito para fazer e Álvaro permaneceria por terras francesas até ao dia 28.03.1919, data em que finalmente embarcou de regresso a Portugal.

Nas décadas seguintes Álvaro Vivaldo tornou-se agente comercial embora desconheça de que sector de actividade.

No dia 19.06.1962, às 3h30 da manhã, na sua casa da Rua Miguel Contreiras, freguesia de Alvalade, Álvaro Vivaldo faleceu vítima de um cancro nos pulmões. Foi sepultado no cemitério do Alto de São João.

Álvaro Vivaldo faleceu 6-7 semanas depois do SL Benfica se ter sagrado Bicampeão Europeu em Amesterdão. Quem sabe se ainda terá tido consciência dessa grande vitória? Esperemos que sim.


Paz às Almas de Álvaro e Alfredo Vivaldo. Honra às suas memórias.






[fechar]
muito interessante!

corrige só a parte "A Grande Guerra terminaria poucos dias depois, no dia 11.10.1918"

foi 11.11.1918

abraço
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Abril de 2019, 16:38
Citação de: Semper Fidelis em 08 de Abril de 2019, 15:02
Spoiler
Citação de: RedVC em 08 de Março de 2019, 20:28
-229-
Águias na guerra (parte VI): os manos Vivaldo


(https://i.postimg.cc/KcBz2Hx8/01.jpg)



Uma fotografia por legendar:


(https://i.postimg.cc/cJPxqQz3/02.jpg)
Fonte: AML



Vê-se um campo que muito provavelmente era o campo da Quinta da Feiteira, em Benfica.

Contam-se 21 homens, organizados em duas equipas de futebol. Pelos equipamentos a fotografia reporta-se à primeira década do século XX.

Nota-se a presença de um homem vestido de branco com um apito ao peito, certamente o árbitro.

Uma das equipas aparece-nos com equipamento liso de tonalidade clara. Alguns dos seus elementos envergavam uma curiosa gravata.

A outra equipa aparece-nos com uma camisola branca com listas de uma cor que não conseguimos definir. A maioria das camisolas tem gola, provavelmente também dessa cor indefinida, mas dois dos membros da equipa envergam um segundo formato, sem gola.
Não era incomum essa mistura de formatos nos primórdios do nosso futebol.

Concentrando atenções na equipa de camisolas listadas, é possível identificar alguns jogadores. É também possível identificar o árbitro da partida e um outro elemento que provavelmente era membro da equipa com camisola lisa. Essas identificações dão-nos pistas.


(https://i.postimg.cc/zvt2MktZ/03.jpg)



O árbitro era Daniel Augusto Queiroz dos Santos (1879-1948), ex-casapiano, antigo jogador do Sport Lisboa (1904-1907) e jogador do Sporting CP, clube para onde se transferiu em Maio de 1907. No Sporting CP mostrou-se um sportinguista de convicções e palavras fortes, belicoso e intratável nos media, tendo chegado ao cargo de presidente da Direcção (1914-1918). Dele havia bastante a dizer mas ficará para outro dia.

Por falar em SCP, identifica-se também Augusto Freitas, que antes de terminar a sua carreira de guarda-redes no clube leonino, passou ainda pelo FC Cruz Negra. Era um desportista bem conhecido do meio lisboeta tendo também praticado Pedestrianismo e Ciclismo. O seu abandono do Futebol deu brado quando, em Abril de 1911, no decurso de um Sporting CP – SL Benfica, decidiu agredir dois jogadores Benfiquistas apenas porque lhe tinham... marcado golos. Uma saída de estrondo...

Bem mais interessantes são as identificações feitas na equipa listada. Identificam-se três glórias Benfiquistas: Cosme Damião, Luís Vieira e Marcolino Bragança! A presença deste último, baliza-nos temporalmente a fotografia para o biénio 1907-1908, período após o qual o são-tomense regressou definitivamente a África, radicando-se em Angola.

Assim é provável – embora sem certezas – que estejamos perante uma raridade ou seja que se trate de uma fotografia que inclui uma equipa de futebol do Grupo Sport Benfica. A fotografia deve reportar ao período de indefinição que aconteceu entre a grande deserção de Maio de 1907 e o início da época seguinte, altura em que Silvestre da Silva, mandatado pelo Sport Lisboa, inscreveu o Clube para o Campeonato regional da época seguinte. O Sport Lisboa estava salvo.


Mas para lá desta hipótese e para a parte central deste texto, vamos concentrar atenções no elemento à paisana que nos aparece à esquerda, abraçado por Cosme Damião e envergando uma farda compatível com a de estudante no Colégio Militar. Trata-se de Álvaro Vivaldo, uma figura pouco conhecida dos primeiros anos do nosso Clube. Pouco conhecida mas bastante interessante.


(https://i.postimg.cc/Fs6nVDk0/04.jpg)



Propósito


Daqui em frente falaremos do que sabemos sobre a família Vivaldo, que teve dois dos seus membros entre os primeiros sócios e jogadores do Sport Lisboa e Benfica. Ora, um dos propósitos do "Decifrando..." é resgatar para a memória colectiva algumas antigas figuras do SLBenfica que tenham dado uma contribuição efectiva para o Benfiquismo, principalmente nos primeiros anos da vida do Clube. E, como se verá, a família Vivaldo tem muitos motivos de interesse.



A família


Álvaro Eugénio de Araújo Vivaldo nasceu em Belém no dia 16.03.1891. Em Belém nasceram também os seus dois irmãos, Alberto de Araújo Vivaldo (04.09.1888), que poderá ter morrido em criança, e Alfredo César de Araújo Vivaldo Júnior (14.10.1889). Álvaro e Alfredo Jr foram os Vivaldos que vieram a ser sócios e jogadores do Glorioso.

Eram todos filhos naturais de Alfredo César de Araújo Vivaldo (1859-1927), alferes (mais tarde Coronel) da administração militar, natural de Viana do Castelo e de Virgínia Amélia Martins de Azevedo, natural da freguesia da Pena, Lisboa.

Eram também netos paternos do General de Brigada Francisco José Maria de Vivaldo e Mendonça (1827-?), natural de Loulé. Ou seja os manos Vivaldo nasceram no seio de uma família de antigas e distintas tradições militares.

A itinerância militar é algo inerente à vida dos militares, em todos os tempos. Assim foi também com o General Vivaldo, que ao longo da sua carreira de militar passou pelas praças de Valença, Elvas e Monsanto até chegar à Praça de S. Julião da Barra, em Oeiras, vivendo na Rua da Junqueira, Belém; aí se fixando até à sua reforma, em 1885.

Já os pais dos manos Vivaldo, quando casaram, foram morar primeiro para a Rua de Pedrouços e depois para a Rua do Cais de Belém. Ou seja os manos Vivaldo cresceram na zona de Belém, num tempo e num espaço em que viveram as pessoas decisivas para a fundação do nosso Clube.



Antes do Glorioso


Os manos Vivaldo iniciaram-se no futebol no Restelo FC, uma pequena e pouco conhecida colectividade que então usava um terreno em Pedrouços, propriedade da Casa de Cadaval. Esse terreno era bem próximo do que foi usado para o primeiro treino do nosso Clube, uns anos antes, na manhã de 28.02.1904.

Paralelamente, Alfredo Jr. frequentava o Instituto Industrial de Lisboa, tendo participado num campeonato escolar de futebol no ano de 1908. Entre os seus colegas de equipa contavam-se alguns rapazes que seriam em breve figuras de primeira grandeza do futebol do SL Benfica. Carlos Homem de Figueiredo, Germano Vasconcelos e Leopoldo Mocho. Estavam ainda presentes mais dois homens que passaram pelas categorias inferiores tais como Gomes Cal e Júlio de Castro.



(https://i.postimg.cc/85s64B6r/05.jpg)
Fonte: Hemeroteca de Lisboa



O Instituto Industrial e Comercial de Lisboa foi uma instituição de ensino técnico criada em 1869 por fusão do Instituto Industrial de Lisboa com a Escola de Comércio, resultando no alargamento do ensino técnico à economia e administração (fonte: wikipedia). Em 1911 a instituição foi dividida no IST - Instituto Superior Técnico e no Instituto Superior de Comércio (actual ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão).



No Glorioso


Os manos Vivaldo chegaram ao nosso Clube durante a ressaca da grande deserção de Maio de 1907. Nesse período fez-se a reconstrução das equipas das diversas categorias do Clube, liderada por Cosme Damião e seus pares. Os manos Vivaldo foram recrutados para o Sport Lisboa juntamente com 3 outros atletas do Restelo FC.


(https://i.postimg.cc/LhFgmc0z/06.jpg)
Os 5 elementos que foram recrutados pelo Sport Lisboa ao Restelo FC.



E assim, os manos Vivaldo já constam da lista de sócios que o Sport Lisboa apresentou aquando da junção com o Grupo Sport Benfica em Setembro de 1908.


(https://i.postimg.cc/kM61sLKw/07.jpg)


Álvaro e Alfredo Jr. destacaram-se enquanto jogadores das categorias inferiores do SLB.
Não sei ao certo em que posição jogava Alfredo Jr. mas Álvaro sabe-se que se distinguiu como médio ao centro. Ora, no modelo de pirâmide (2:3:5), então praticado, essa posição do terreno era fulcral pois o jogador que a fazia tinha a obrigação de municiar os 5 avançados mas também de apoiar uma defesa que contava apenas com 2 elementos. Nessa posição, aos bons dotes futebolísticos exigia-se também capacidade de liderança em campo.

Terá sido justamente por jogar nessa posição central, a mesma que Cosme Damião ocupava na 1ª categoria, que Álvaro apenas fez apenas 3 jogos pela equipa principal. Esses 3 jogos foram todos disputados na temporada de 1911-1912, época em que Álvaro ajudou à conquista do Campeonato Regional de Lisboa, a principal prova de então. A regularidade de Cosme Damião não deu muitas mais hipóteses a Álvaro.



(https://i.postimg.cc/FsbxnvRb/08.jpg)
Duas das equipas apresentadas pela 2ª categoria na época de 1911-1912. Seríamos campeões de Lisboa.



Assim, Álvaro destacou-se essencialmente nas equipas da 2ª categoria, que nesse tempo eram bastante fortes, conquistando muitos títulos. Nessas equipas estavam presentes elementos jovens com talento emergente, como Álvaro Gaspar e Alberto Rio, que em breve dariam cartas na categoria principal. Estavam também presentes veteranos prestigiados como David da Fonseca, António Bernardino Costa e Romualdo Bogalho, que aportavam não só uma enorme competitividade como, acima de tudo, transmitiam a mística do Clube aos mais novos.

Para Cosme e para o Clube, não havia distinção de maior ou menos importância entre as categorias. Todas eram importantes e em todas se exigia o máximo para obter a vitória. Um segundo lugar não era comemorado. Os manos Vivaldo foram parte importante dessa filosofia, dando a sua contribuição para cimentar o sucesso e a popularidade do nosso Clube.



Tragédia


No dia 01.12.1912, às 15h00, na sua casa da Rua de Pedrouços, faleceu Alfredo César de Araújo Vivaldo Júnior. Tinha apenas 31 anos de idade. Morreu na flor da idade, de causas que desconheço. Nesse tempo Alfredo Jr. era aluno da Escola do Exército, casado, ainda sem filhos. Foi sepultado no cemitério da Ajuda.


(https://i.postimg.cc/zXDL8Y7F/09.jpg)
Cemitério da Ajuda. fonte: AML




Vida militar


Netos de um General e filhos de um Coronel do Exército Português, compreende-se que tanto Álvaro como Alfredo também tenham enveredado pela vida militar. Alfredo Jr. morreu muito cedo mas Álvaro acabou por participar na I Guerra Mundial, integrando o CEP, Corpo Expedicionário Português.



(https://i.postimg.cc/02NNhd5t/10.jpg)
O quadro dos 16 Benfiquistas que participaram na I Guerra Mundial, na Europa e em África.



Como vemos, Álvaro Vivaldo foi mais um dos Benfiquistas que combateram na Grande Guerra. Felizmente, dos que eu conheço, todos regressaram.



(https://i.postimg.cc/C1mg4X8w/11.jpg)
Fonte: Exército Português



Facto relevante, três meses antes de embarcar para terras de França, Álvaro Vivaldo casou com Maria Olívia Basto Gavião, de apenas 16 anos de idade, natural de Lisboa, freguesia de Santa Justa. Notando uma grande diferença de idades, o casamento com uma menor foi celebrado poucas semanas antes de Álvaro Vivaldo embarcar para uma Guerra da qual não sabia se iria regressar. Basta lembrar que poucas semanas antes do casamento, milhares de soldados Portugueses tinham encontrado a morte nos campos de La Lys. Nesse contexto funesto, a possibilidade de Álvaro não regressar era muito real e terá condicionado muito as decisões do casal.

Álvaro participou no conflito como Alferes miliciano numa Bateria da Guarnição de Lisboa. Embarcou em Lisboa no dia 08.08.1918 tendo seguido por via marítima até Brest, França onde desembarcou no dia 13 do mesmo mês.


(https://i.postimg.cc/hjfBpM1x/12.jpg)
O processo individual do Alferes miliciano Álvaro Vivaldo.



Em 13 de Outubro já se encontrava na frente de batalha onde, a partir do dia 15 de Outubro, recebeu instrução militar suplementar. Concluiu o curso de sinaleiro no princípio do mês de Novembro.



(https://i.postimg.cc/8Pdqdqg9/13.jpg)
A angústia da despedida.



(https://i.postimg.cc/NjfP6F42/14.jpg)
Os nervos à chegada. Fonte: TT




A Grande Guerra terminaria poucos dias depois, no dia 11.10.1918, significando isto que Álvaro Vivaldo esteve cerca de 3 meses nos palcos activos do conflito.

Findas as hostilidades, ainda assim havia muito para fazer e Álvaro permaneceria por terras francesas até ao dia 28.03.1919, data em que finalmente embarcou de regresso a Portugal.

Nas décadas seguintes Álvaro Vivaldo tornou-se agente comercial embora desconheça de que sector de actividade.

No dia 19.06.1962, às 3h30 da manhã, na sua casa da Rua Miguel Contreiras, freguesia de Alvalade, Álvaro Vivaldo faleceu vítima de um cancro nos pulmões. Foi sepultado no cemitério do Alto de São João.

Álvaro Vivaldo faleceu 6-7 semanas depois do SL Benfica se ter sagrado Bicampeão Europeu em Amesterdão. Quem sabe se ainda terá tido consciência dessa grande vitória? Esperemos que sim.


Paz às Almas de Álvaro e Alfredo Vivaldo. Honra às suas memórias.






[fechar]
muito interessante!

corrige só a parte "A Grande Guerra terminaria poucos dias depois, no dia 11.10.1918"

foi 11.11.1918

abraço


Olho de Águia! 
Corrigido! Obrigado  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Abril de 2019, 21:49
-235-
Manos à Benfica! (parte I) a primeira década

Porque o decifrando não deve ser só dum passado mais recuado...


(https://i.postimg.cc/D0DBjbqB/A-01.jpg)



No ano passado o Sport Lisboa e Benfica assinou um contrato de formação com o jovem Hugo Félix, irmão mais novo do nosso mais recente craque João Félix. Para lá das expectativas que felizmente se estão a cumprir – e de que maneira - com o mano João e para lá das esperanças que se venham ou não a cumprir com o mano Hugo, há o pormenor sempre curioso e simpático que é ver dois ou mais manos a vestir o manto sagrado. Os manos Félix são o mais recente caso.

Hoje tornou-se uma situação mais rara mas, como veremos, ao longo da nossa História há muitos outros casos de manos que deixaram marca com a Águia ao peito.

Vamos fazer uma viagem curiosa, falando de forma sintética de um número generoso de manos que jogaram com o manto sagrado. Como veremos os exemplos mais numerosos reportam mesmo aos primeiros dias do nosso Clube mas os casos que serão expostos são todos interessantes

Por esquecimento, ou por falta de informação não esgotaremos todos os casos mas será interessante recordar esses Manos à Benfica! Manos Gloriosos!



A primeira década


Os primeiros casos de manos que envergaram o manto sagrado são encontrados na lista dos 24 fundadores do Sport Lisboa. Desses, destacam-se logo os 3 manos Rosa Rodrigues: José, Cândido e António. A este junta-se Jorge, um quarto mano que em 1904 era demasiado novo para poder ser fundador.


(https://i.postimg.cc/1538MjtC/A-02.jpg)



Entre os 24 fundadores temos também os manos Manoel e Carlos d' Oliveira França. E se Carlos teve uma carreira longa e destacada nas diversas categoria onde jogou, já Manoel é um mistério que persiste, pois dele nem sequer temos uma fotografia, desconhecemos a data de morte e apenas conhecemos a data de nascimento. Existiu ainda um terceiro mano, Francisco d' Oliveira França que chegou à 1ª categoria em 1911.


(http://i66.tinypic.com/33072o4.jpg)



Temos também Eduardo Gomes Corga que tinha um irmão mais novo chamado Álvaro. Ambos foram membros com alguma relevância futebolística ate 1910.



(https://i.postimg.cc/YSKqcnrw/A-04.jpg)



Depois, temos o fundador Abílio Meireles, o mais velho de 4 irmãos, todos sócios do Clube. Que se saiba Abílio jogou apenas uma vez na 1ª categoria mas seria António o mano que mais se destacaria no futebol.



(https://i.postimg.cc/CLRFRTdg/A-05.jpg)



Fora da lista dos 24 fundadores muitos outros homens constituíram um conjunto alargado do qual emergiu qualidade que fez das nossas primeiras equipas casos precoces de sucesso e popularidade.



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As famosas equipas da 1ª categoria e da 2ª categoria de 1905 ("espertos"). Ali podemos identificar diversos manos e fundadores do Sport Lisboa.




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O primeiro dérbi da Quinta da Feiteira terminou com vitória do Sport Lisboa por 2-0, golos de David Fonseca e Cosme Damião. Lá estiveram diverso membros dos Meireles, Corga, França e Pereira.


E assim, nesses dias pós-fundação detectam-se outros manos nas listas de sócios-jogadores como os manos Lopes e os manos Duarte, dos quais temos pouca informação.

Há também os manos Monteiros e os manos Vivaldo. No caso dos manos Monteiro, Mário foi guarda-redes nas épocas de 1910-1911 e depois 1914-1915, já Carlos, apareceu fugazmente na equipa de honra de 1906-1907 mas era presença regular nas categorias inferiores.

Dos manos Álvaro e Alfredo Vivaldo já por aqui se falou extensamente (ver -229- Aguias na guerra (parte VI): os manos Vivaldo, pág. 57)



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Dos 3 manos Freitas e Costa, todos sócios do nosso Clube, apenas Marcial foi jogador destacado na primeira equipa. Marcial foi extremo-direito e por privilegiar os estudos passou depois a jogar nas categorias inferiores. Engenheiro destacado, emigrou para Moçambique onde ajudou a fundar o Clube Ferroviário de Lourenço Marques (ver -90- Construtor de Catedrais, p. 25)


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No próximo texto falaremos de mais manos à Benfica que usaram o manto sagrado nas décadas seguintes.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 13 de Abril de 2019, 13:59
Grande trabalho RedVC. :drunk:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Abril de 2019, 00:04
-236-
Manos à Benfica! (parte II) as décadas seguintes


Começamos com a fotografia da equipa do SLB que conquistou o título de campeão regional de Lisboa de 1913-1914. Foi o primeiro tricampeonato conquistado pelo SLB, feito que até então só os Ingleses do Carcavelos Club tinham conseguido.



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A 1ª categoria do SLB em 12 de Outubro de1913 antes de um jogo contra o SCP (vitória 4-0). Estiveram presentes os manos Pereira e Alberto Rio.



Esta era uma equipa de grande categoria, que, sob o comando de Cosme Damião, contava com jogadores de talento como por exemplo o infeliz Álvaro Gaspar, o extremo Alberto Rio e os manos Pereira, entre outros.

Nascidos em Belém, os manos Artur José Pereira e Francisco Pereira tiveram uma história de vida curiosa embora só ainda tenhamos falado por aqui do primeiro (ver -108- Olhos de fogo, coração de Belém p.30).

Artur José Pereira foi, na opinião de Mestre Cândido Oliveira, o melhor e mais carismático jogador dos primeiros 50 anos do futebol em Portugal. A sua deserção do SLB para o SCP foi talvez uma das mais turbulentas transferências de sempre e aumentou enormemente a rivalidade entre os dois Clubes.


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Em Belém nasceram os buliçosos manos Alberto e Joaquim Rio. O primeiro foi um excelente extremo esquerdo que ao fim de 11 anos de Águia ao peito decidiu também desertar para o SCP. Por lá teve carreira breve e discreta saindo ao fim de 1 ano para ser tornar um membro fulcral dos primórdios do CFB. Fez ainda parte da primeira selecção nacional em 1921.


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Igualmente de Belém e estudantes casapianos, tivemos os manos Gralha. Ambos saíram do SLB quando, em 1920, Cândido de Oliveira teve ideia de fundar o Casa Pia Atlético Clube. Cerca de uma vintena de jogadores acompanhou Cândido nessa dolorosa cisão, fazendo com que o viveiro casapiano se extinguisse para o SLB. Foi no CPAC que os manos Gralha tiveram maior destaque, chegando ambos à selecção portuguesa.


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Nascidos em Benfica, tivemos os manos Artur e Alberto Augusto de quem já por aqui falamos (ver -155- e -156- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto, p. 44). Tiveram um trajecto distinto, invulgar para o futebol desse tempo mas ainda assim ambos fizeram a maior parte da sua carreira de Águia ao peito. Alberto foi também o marcador do primeiro golo da história da selecção nacional, em Madrid no ano de 1921.


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Os manos Peres, com origem Goesa, foram um caso interessante que espero falar um dia destes. Rogério era um avançado que começou a jogar ainda no SLB tempo da Quinta da Feiteira. Foi um bom avançado que teve vários momentos marcantes como os dois golos que marcou ao SCP num dérbi de 1915. Já Fausto era um médio que cumpriu 6 épocas de Águia ao peito.


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Os manos José e António Bentes Pimenta tiveram alguma preponderância, particularmente o primeiro, nas nossas equipas da etapa final de Cosme Damião enquanto treinador. José Bentes Pimenta foi também piloto aviador e dele já por aqui falamos (ver -71 a 53- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (partes I a III) p.21),



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Dos dois manos Travaços, foi Artur aquele que mais se destacou, cumprindo 9 épocas como um médio valoroso. Já Aniceto era avançado e jogou na equipa de honra apenas por duas vezes.



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Os manos Jorge e Vítor Hugo Gonçalves Tavares tiveram longas e dedicadas carreiras ao serviço do SLB. Jorge era avançado-centro, goleador e chegou a internacional A. Vítor Hugo foi internacional pela selecção militar e pela selecção de Lisboa em jogos contra selecções espanholas. Vítor Hugo foi médio trabalhador bastante regular e com um remate forte. Deles já por aqui falamos (ver -110- Acidente no Cartaxo (parte I), p.31).



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Os manos Oliveira tiveram algum destaque nas equipas que conquistaram os dois primeiros títulos nacionais da nossa história. Eram alcunhados de "bananeiras", ao que parece porque tinham uma banca de fruta numa das praças da cidade de Lisboa.



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Depois temos os manos Silva. Terão sido dois ou três? Garantidamente Vítor Silva era irmão de Pedro Silva mas está ainda por confirmar que Júlio Silva fosse irmão deles.


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Vítor Silva é uma figura de primeira grandeza na História do SLB. Para além de ter sido um excepcional futebolista foi uma contratação excepcionalmente dispendiosa para a época uma vez que o nosso Clube pagou cerca de 15 contos, verba considerável para a época, paga ao Hóquei Clube de Portugal. Isto num Clube que apenas recentemente tinha alterado a sua orientação de não contratar jogadores.

Vítor Silva tinha apenas 18 anos mas felizmente, valeu cada tostão pago na transferência, revelando-se um grande jogador e um caso sério de popularidade. Infelizmente, aos 27 anos foi forçado a abandonar o futebol por via de uma lesão que hoje seria facilmente resolúvel. Dele já por aqui se falou (ver -53- Dois entre doze, p.14).

Assim, sujeito a confirmação – é possível que esta fotografia nos mostre os três manos na mesma equipa.



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Os manos Silva e um dos Oliveira, numa equipa dos anos 30




Temos ainda os manos Espírito Santo. Um deles era o Gloriosíssimo Guilherme Espírito Santo, um atleta notável quer na aptidão para o futebol ou para o salto m altura, especialidade em que foi recordista de Portugal por várias décadas, quer também pela sua inexcedível correcção e desportivismo.

O outro era Renato Espírito Santo, também ele praticante de atletismo mas que ainda fez um jogo na 1ª categoria de futebol na época de 1940-1941. De resto foi sempre jogador de categorias inferiores. De Guilherme Espírito Santo já por aqui falamos (ver -162- De Guilherme para Guilherme, p. 45)


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Nas décadas seguintes o número de casos de manos à Benfica foi bastante inferior, muito provavelmente porque a base de recrutamento do Clube se tornou cada vez maior.

Ainda assim todos nós podemos identificar dois casos notáveis na década de 80 como foram os manos José Luís e Jorge Silva e os manos António e Alberto Bastos Lopes, cuja categoria revelada em campo deixou saudade.


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Finalizando, como se disse no início do texto anterior, este levantamento não pretendeu ser exaustivo até porque a informação disponível tem grandes carências particularmente no que toca à informação sobre as categorias inferiores.

Ainda assim, esta foi uma boa oportunidade para lembrar, ainda que de forma sintética, alguns jogadores hoje pouco presentes na nossa memória colectiva mas que no seu tempo tiveram enorme contribuição e popularidade no nosso Clube.

Assim é a poeira do tempo. Hoje relevantes, amanhã esquecidos. Como serão lembrados tantos e tantos jogadores que hoje pensamos serem muito importantes? Creio que só os nossos filhos ou mais provavelmente os nossos netos é que poderão dar a resposta.

Tenhamos consciência que todos nós somos pequenos grãos dessa vasta poeira do tempo. Todos nós devemos estar conscientes de que o mais importante é o Clube. O Benfica renova-se, engrandece-se, assente nas contribuições generosas e apaixonadas daqueles que amam o Clube. Pelo Benfica, sempre!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 14 de Abril de 2019, 14:21
Mais um grande artigo, Red. Só uma correção: a primeira seleção nacional reuniu-se em 1921 e não em 1919.

E uma curiosidade: Alberto Basto Lopes foi treinador do GD Peniche em 2007/08 ajudando a trazer para a minha cidade natal o Campeonato Distrital de Leiria (e consequente subida à antiga 3ª Divisão Nacional) e também a Taça Distrital. Apreciava o estilo dele como treinador. Acho que está parado neste momento. Tudo de bom para ele.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Abril de 2019, 15:38
Citação de: Petrov_Carmovich em 14 de Abril de 2019, 14:21
Mais um grande artigo, Red. Só uma correção: a primeira seleção nacional reuniu-se em 1921 e não em 1919.

E uma curiosidade: Alberto Basto Lopes foi treinador do GD Peniche em 2007/08 ajudando a trazer para a minha cidade natal o Campeonato Distrital de Leiria (e consequente subida à antiga 3ª Divisão Nacional) e também a Taça Distrital. Apreciava o estilo dele como treinador. Acho que está parado neste momento. Tudo de bom para ele.

Sim, Petrov_Carmovich, obrigado pela correcção O0
Já não é a primeira vez que troco 1919 por 1921. A minha cabeça decidiu e deve estar à espera que a história se re-escreva... Enquanto espera há que ir editando para repor a verdade histórica.  :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Abril de 2019, 23:22

Manos à Benfica!

(https://i.imgur.com/mT3IEGm.gif)
Créditos para Messi87
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Abril de 2019, 21:09
-237-
Sexta-feira, avião 13 (parte I): o acidente


Barcarena, dia 27 de Março de 1925. Pelas 10h20 da manhã, o avião Breguet Br XIV-A2 com a matrícula nº 13, entrava em perda irremediável de altitude e despedaçava-se contra o solo, num terreno perto do cemitério de Barcarena.

No dia seguinte os jornais davam ampla cobertura a mais uma tragédia dos primeiros dias da aviação militar em Portugal.



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A manchete da edição de 28-03-1925 do jornal "O Século".



Os relatos indicavam que a bordo da aeronave se encontravam três homens, dois militares e um civil.

O piloto era o Tenente-aviador José Carlos Pissarra, de 26 anos de idade e natural de Setúbal.

Como convidado de última hora e sentado no lugar do observador, estava Mário Nunes da Graça, jornalista de "O Século". Tinha 27 anos de idade e era natural de Ílhavo.

O terceiro homem era o Tenente Luís Manuel Baptista Caldas. Com 25 anos de idade e natural de Lisboa, este militar era tão-somente Luís Caldas, guarda-redes do Sport Lisboa e Benfica até ao ano anterior.



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Os três ocupantes do Breguet 13



No texto de hoje falaremos dos locais e das circunstâncias deste acidente aéreo. Falaremos ainda dos dois primeiros homens e aproveitaremos também para lembrar alguns dos notáveis pioneiros da aviação Portuguesa.

No próximo texto falaremos com maior detalhe de Luís Caldas, o terceiro vitimado deste acidente o nosso antigo jogador.



O campo da Amadora


O Breguet Br XIV-A2 era um avião de fabrico Francês que foi escolhido para equipar o Grupo de Esquadrilhas de Aviação República (GEAR), criado em 5 de Fevereiro de 1918. Este modelo fazia pois parte das primeiras esquadrilhas militares Portuguesas

O GEAR estava sediado no campo da Amadora nos terrenos onde agora funciona a Academia Militar. Foi naquele aeródromo que se viveu a era de ouro do início da aviação Portuguesa. Só em 1938 o campo seria encerrado tendo todas as suas valências e material sido transferidas para Tancos.

Imagens em movimento espantosas reportando um certame de aviação em 1928 podem ser visualizadas na Cinemateca Digital, aqui: http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=4910&type=Video (http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=4910&type=Video)


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O GEAR e o campo da Amadora, local de onde descolou o Breguet 13 e onde operava o GEAR. Fonte: AML e TT



Para equipar o GEAR, foram numa primeira fase adquiridos em França 22 aviões biplanos SPAD s.VII-C1 e 16 aviões biplanos Breguet Br XIV A2 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Breguet_14).




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Os Breguet Br XIV A2 foram matriculados de 1 a 16 e usados para o cumprimento de missões de instrução e operacionais. Alguns deles ficaram ligados a viagens célebres como por exemplo o Breguet 2 (baptizado de "Cavaleiro Negro") usado na tentativa de ligação Amadora-Madeira por Sarmento de Beires e Brito Pais e o Breguet 15 (baptizado de "Santa Filomena") usado por Pinheiro Correia, Sérgio da Silva e Manuel António para fazer o raide Lisboa-Bolama (Guiné). Já o Breguet 13 ficou infelizmente célebre pelas piores razões.



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O Breguet 15 usado na viagem aérea Lisboa-Bolama (Guiné), entre 27-03-1925 e 2-04-1925. Ou seja partiu no dia em que o Breguet 13 se despenhou. Fonte: https://ex-ogma.blogspot.com/2009/03/avioes-da-am-breguet-br14-a2.html



Desde 1914 que existia oficialmente uma aviação militar constituída em Portugal, nos ramos Exército e Marinha, com a criação da Escola de Aviação Militar e Aviação Naval. Em 1925 a aviação civil era ainda e apenas motivo de discussão, embora já tivessem aparecido alguns – poucos – aviadores civis.

Assim, entre os bravos pioneiros da aviação Portuguesa encontramos militares célebres, alguns dos quais foram glorificados para conveniência política do antigo regime. Outros foram quase apagados da memória colectiva e ainda hoje são menos conhecidos embora na altura tivessem igual notoriedade. São exemplos desses heróis esquecidos os casos de Sarmento de Beires (de quem já por aqui falamos ver -58- Um encontro Americano p.14) e Sarmento Pimentel. Pagaram duro o preço de terem sido activos opositores do antigo regime. Mais tarde teríamos também o caso de Humberto Delgado.

As décadas de 20 e 30 foram períodos apaixonantes para a aviação em Portugal. Foram anos de grande risco e coragem pessoal dos pilotos e mecânicos mas que – nos casos dos raides mais longos – foram também muito prestigiantes para o nosso país, na altura tão necessitado de heróis contemporâneos.

Essa temeridade trouxe aos pioneiros muita notoriedade mas muitas vezes foi também paga com sangue. Foram muitos os momentos fatídicos como o acidente com que começamos este texto.


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Uma galeria de 24 dos muitos bravos pioneiros da aviação em Portugal. Alguns deles deram a vida pela Pátria.



Dois mortos


No dia do acidente fatal, no Campo da Amadora, o Tenente Pais Ramos fez uma primeira descolagem com o Breguet 13 para avaliar as condições atmosféricas. Pouco depois descolou o Breguet 15, pilotado por Pinheiro Correia que com os seus companheiros iniciava a travessia Lisboa- Guiné.

No voo fatal, o Tenente Pissarra pilotou o Breguet 13, levando-o a sobrevoar Lisboa a uma altitude de 800 metros. Chegaram a sobrevoar o Barreiro antes de iniciar as manobras de regresso à Amadora, numa manhã com visibilidade clara e excelentes condições atmosféricas. Sentado aos pés do jornalista Mário Graça, o Tenente Luís Caldas ia servindo de cicerone, identificando os locais que estavam a sobrevoar, para grande deleite do jornalista.

Cerca das 10h15, o avião sobrevoava Barcarena, quando iniciou as manobras para a aterragem no campo da Amadora, voando contra o vento, como então era norma. E foi nessas manobras de aproximação, que se deu a súbita perda de velocidade e o desenlace fatal.

No dia da tragédia foi inicialmente apontada como causa do acidente a possibilidade de ter ocorrido uma pane do motor do avião em pleno voo. De facto, a aeronave teve duas falhas de motor aquando da descolagem, incidentes que chegaram a colocar causa o voo. Apenas a insistência do Tenente Pissarra fez com que o voo fosse por diante.

Mais tarde foi revelado que na altura do acidente, a aeronave voaria a uma velocidade demasiado baixa tendo por isso ficado exposta a um súbito golpe de vento na asa levantada para a volta, o que a terá levado a encapotar e a entrar em perda irremediável. O avião precipitou-se até embater violentamente no solo em posição invertida.


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O Tenente-aviador José Carlos Pissarra teve morte imediata. O seu corpo ficou debaixo dos destroços, horrivelmente mutilado. O infeliz militar tinha tirado o seu brevet na Escola de Aeronáutica de Sintra e prestado serviço em Angola, sendo considerado um excelente piloto, muito ponderado e certeiro nas suas decisões. Foi sepultado no cemitério dos Prazeres. Deixou viúva e dois filhos menores.


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Recortes de jornal noticiando o acidente e da morte do Tenente Pissarra



O jornalista Mário Nunes da Graça, de apenas 26 anos de idade, ficou ferido com gravidade, apresentando uma fractura da base do crânio e pernas e braços partidos. Foi transportado para o Hospital de S. José, onde prontamente recebeu uma transfusão sanguínea. As notícias dos jornais nos dias seguintes eram contraditórias, ora indicando que o acidentado apresentava algumas melhoras, ora que se encontrava moribundo. Resistiu ainda alguns dias mas às primeiras horas do dia 2-04-1925 acabaria por falecer.



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Recortes de jornal noticiando a morte do jornalista Mário Graça



O pobre jornalista fez nesse dia o seu baptismo de voo por via do seu entusiasmo e da forma obstinada como disputou o lugar naquele voo fatal do Breguet 13 com pelo menos 3 outros colegas. Um desses colegas foi Sebastião Cardoso, jornalista do DN, que escreveria muitos anos mais tarde um belo texto relatando extensivamente em que circunstâncias foi Mário Graça e não ele a entrar no fatídico avião. Apropriadamente intitulou esse texto de "A morte disputada"...



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Fonte: http://ecosferaportuguesa.blogspot.com/2013/06/barcarena-1925-o-fim-do-jornalista.html


Um ano depois, na Igreja de S. Domingos em Lisboa, celebrou-se uma missa por alma dos dois mortos.



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Fonte: DL e TT



Mais tarde um grupo de jornalistas e militares fez uma romagem ao cemitério do Alto de S. João para homenagear o jornalista Mário Graça.



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Fonte: DL e TT


Nos dois eventos esteve presente o Tenente Luís Caldas. E é nele que vamos agora concentrar atenções.



O sobrevivente


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Mário Caldas em 1922



Entre os bravos pioneiros a aviação Portuguesa já conhecíamos um antigo futebolista do Sport Lisboa e Benfica, o Capitão-aviador José Bentes Pimenta, mas a esse podemos agora adicionar o Tenente Luís Caldas.

Por via do acidente, não sei se alguma vez Luís Caldas chegou a tirar o brevet mas o seu entusiasmo fez com que tivesse voado múltiplas vezes na companhia do Tenente-aviador Pissarra. Já anteriormente os dois homens tinham passado por situações de voo complicadas, entretanto resolvidas. Infelizmente, naquele dia 27 de Março de 1925 já não houve nada a fazer.

O Tenente Luís Caldas ficou gravemente ferido no acidente do Breguet 13. Quando deu entrada no Hospital de S. José, Caldas apresentava a perna direita partida e numerosas contusões no rosto e cabeça. Nas primeiras horas teve poucos momentos de inconsciência mas apresentou algumas melhoras.

É muitas vezes caprichoso o destino... Por pura sorte ou porque ocupava uma posição aparentemente mais resguardada, certo é que Luís Caldas foi o ocupante que menos sofreu com o impacto. O seu estado inspirou enormes cuidados e uma complicada operação à perna, mas a sua recuperação foi acontecendo.

Estava mentalmente muito afectado e nos primeiros dias desconhecia – embora desconfiasse – qual tinha sido o destino dos companheiros daquela sua fatídica viagem. A ligeira recuperação do seu estado clínico permitiu-lhe dar a sua primeira entrevista logo no dia 9 de Abril. Lembrava-se de tudo menos do acidente e dos momentos que se seguiram ao violento embate no solo.



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Fragmento da primeira entrevista dada por Luís Caldas depois do acidente



Apesar do acidente, Luís Caldas, Tenente de Infantaria, continuava a manifestar o desejo ardente de tirar o brevet e se tornar piloto-aviador. Tão grande era essa vontade que o Coronel Cifka Duarte, chefe do GEAR teve que lhe assegurar que seria admitido logo que recuperasse. Meses antes, Luís Caldas tinha sido submetido a uma intervenção cirúrgica ao nariz de forma a poder manter esperanças em integrar os corpos do GEAR. Tenacidade e espírito de sacrifício eram apanágio deste jovem militar. As mesmas virtudes que demonstrou enquanto jogador do Sport Lisboa e Benfica.


No próximo texto falaremos de Luís Caldas, enquanto guarda-redes do Gloriosos e aproveitaremos também para abordar duas fascinantes digressões do SLB nas quais ele teve oportunidade de participar.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Abril de 2019, 21:21
-238-
Sexta-feira, avião 13 (parte II): guardião para digressões



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Luís Caldas de Águia ao peito em 1922



Luís Caldas foi um dedicado guarda-redes que, como então era norma no nosso Clube, foi subindo na hierarquia do futebol pelo caminho das categorias inferiores.

Estreou-se na 1.ª categoria em 3 de Fevereiro de 1918, integrando uma equipa orientada por Cosme Damião e recheada de grandes jogadores (ver https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19171918/campeonato-de-lisboa/1918-02-03/imperio-lisboa-clube-1-x-2-sl).


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A equipa em que Luís Caldas se estreou na 1ª categoria do SLB



Luís Caldas disputou seu último jogo pela 1ª categoria do SLB em 21 de Setembro de 1924, uma partida particular de princípio de época em que defrontamos – facto ainda por confirmar –o Real Deportivo, clube espanhol que estava em digressão por Lisboa.

Nas épocas de 1918/19 e 1920/21, Luís Caldas baixou à 2.ª categoria, onde jogou em exclusivo. Na época 1923-1924, fez também jogos nessa categoria e em 1920-1921 nem sequer jogou, por motivos que desconheço, eventualmente por compromissos profissionais.

Assim, desde a sua estreia na 1ª categoria até ao último jogo, Caldas teve um trajecto irregular mas que se estendeu por 8 temporadas. Jogou pouco na 1ª categoria, cerca de uma vintena de jogos, dado que nesse tempo o Clube contava de outros guarda-redes de valor tais como Chiquinho, Clemente Guerra, Arsénio e Picoto.

Curiosamente, sendo pouco utilizado nas competições nacionais acabou por ser ele o guarda-redes de duas importantes digressões que o nosso futebol fez em 1922, à Madeira e a Espanha.



Madeira, Abril 1922


De 9 a 19 de Abril a equipa principal do Sport Lisboa e Benfica disputou 5 jogos particulares na ilha da Madeira. Foi uma jornada intensa, razoável do ponto de vista desportivo mas muito bem conseguida do ponto de vista social.



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A comitiva do Sport Lisboa e Benfica que participou na digressão à Madeira em 1922



Essa digressão à Madeira está muito bem descrita por Alberto Miguéns, aqui https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2011/12/glorioso-na-madeira-esta-se-bem.html



(https://i.postimg.cc/QMDrbj5x/B-04.jpg)
Uma das equipas apresentadas pelo SLB aquando da sua digressão à ilha da Madeira no ano de 1922. Fonte: EDB, Alberto Miguéns



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A comitiva do SLB fotografada com diversos anfitriões madeirenses. Fonte: EDB, Alberto Miguéns



Já em tempo de balanço, Vítor Gonçalves, o nosso excelente capitão de equipa, deu uma entrevista ao periódico ABC, onde descreveu as dificuldades de adaptação da equipa do SLB aos terrenos da Madeira. Salientava no entanto a grande competitividade e valor das equipas Madeirenses, em particular do Clube Sport Marítimo. Salientou igualmente a estima e fidalguia revelada pelos desportistas Madeirenses que os receberam.



(https://i.postimg.cc/MZnKXKmh/B-06.jpg)
Montagem de recortes da entrevista de Vítor Gonçalves que fez o balanço da digressão à Madeira em 1922. Fonte: Hemeroteca de Lx




Madrid, Junho 1922


A digressão a Madrid de finais de Junho de 1922 não era a primeira que o SLB fazia à capital Espanhola. Já antes, em Maio de 1913, em Janeiro de 1915 e em Outubro de 1919, as camisolas vermelhas tinham deixado grande cartel em Espanha. Nos jogos anteriores contra os merengues, o Benfica tinha conseguido duas derrotas (1-2 em 1913 e 1-4 em 1919) e duas vitórias retumbantes (5-0 em 1915 e 5-1 em 1919).

Nesta digressão os periódicos madrilistas notaram menor competitividade dos Benfiquistas, um decréscimo que se iria notar até ao final dessa década.



(https://i.postimg.cc/xdsnTWJf/B-07.jpg)
Em cima, recorte do jornal Madrid-Sport. À Em baixo, o campo do Velódromo de la Ciudad Lineal onde se disputou o Real Madrid – SL Benfica de 25-06-1922. Fonte: Hemeroteca de Espana e soccermaniak.com



Mas na verdade a digressão foi planeada como foi possível tendo em conta via o amadorismo, o tempo disponível e as condicionantes dos transportes da época. O Benfica chegou de comboio no próprio dia do primeiro jogo e disputou o segundo jogo logo no dia seguinte...

Perdemos o primeiro jogo (0-1) contra um Athlétic de Madrid reforçado com 3 jogadores do Racing de Madrid. Os jornalistas espanhóis acharam o jogo monótono e convenceram-se até que os Benfiquistas estiveram a resguardar energias para o jogo seguinte, contra o Real de Madrid.


(https://i.postimg.cc/nzgxqBGN/B-08.jpg)
A equipa do Real de Madrid de 1922-1923. Sete destes jogadores integraram a equipa que disputou um desafio contra o SLB em 25-06-1922



De facto, os merengues tinham uma equipa bastante mais forte, integrando na posição de interior direito um jogador já veterano mas que se viria a tornar seu presidente e sua lenda: Santiago Bernabéu...

O jogo foi bastante mais animado do que o disputado no dia anterior e, apesar de o Benfica ter marcado primeiro, o Real Madrid mostrou-se superior, acabando por vencer por 4-1. Dito isto, Luís Caldas acabou por ter o infeliz registo de sofrer 5 golos em dois jogos.



(https://i.postimg.cc/T1JkTX1Q/B-09.jpg)
Montagem de recortes relativos aos dois jogos disputados pelo SLB em Madrid nos dias 25 e 25 Junho. Fonte: Hemeroteca Espanola


Curiosamente, Luís Caldas acabou por ser integrado na digressão por via da indisponibilidade de Chiquinho que na altura era o titular das nossas balizas. Chiquinho esteve inicialmente escalado por Cosme Damião mas como não foi autorizado pelo seu patrão a deslocar-se a Madrid, acabou por dar o seu lugar a Luís Caldas.

E dessa forma lá o vemos ao lado de nomes grandes como Ribeiro dos Reis, Vítor Gonçalves, José Simões e José Bentes Pimenta (também ele aviador e de quem já por aqui falamos, ver -71 a 73- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I - III) p.21)



(https://i.postimg.cc/KzFBx3TS/B-10.jpg)
A equipa do SLB fotografada juntamente com a equipa do Athletic de Madrid durante a digressão a Madrid em Junho de 1922. Na foto falta o defesa (e também aviador) José Bentes Pimenta. Fonte: EDB, Alberto Miguéns



Infelizmente, não tenho mais informação sobre o trajecto pessoal de Luís Caldas nos anos que se seguiram ao acidente. Como se viu, Caldas foi o único sobrevivente, comparecendo um ano depois em actos celebrados em memória dos seus companheiros de infortúnio.

É possível que tenha ficado com acentuadas mazelas físicas e psicológicas daquele terrível acidente. Fica em aberto uma actualização deste texto se novos factos vieram ao meu conhecimento.


Paz e honra à memória do Glorioso Luís Caldas.






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Carminati em 20 de Abril de 2019, 21:38
Derby juvenil disputado onde?

(seja onde for mete medo...)

(http://i64.tinypic.com/10fsx3d.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: eagles_letchworth em 20 de Abril de 2019, 21:39
Citação de: Carminati em 20 de Abril de 2019, 21:38
Derby juvenil disputado onde?

(seja onde for mete medo...)

(http://i64.tinypic.com/10fsx3d.jpg)
São João de Brito
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Carminati em 20 de Abril de 2019, 21:43
Citação de: eagles_letchworth em 20 de Abril de 2019, 21:39
Citação de: Carminati em 20 de Abril de 2019, 21:38
Derby juvenil disputado onde?

(seja onde for mete medo...)

(http://i64.tinypic.com/10fsx3d.jpg)
São João de Brito

sério? Então é a mitica Musgueira City!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: eagles_letchworth em 20 de Abril de 2019, 21:55
Citação de: Carminati em 20 de Abril de 2019, 21:43
Citação de: eagles_letchworth em 20 de Abril de 2019, 21:39
Citação de: Carminati em 20 de Abril de 2019, 21:38
Derby juvenil disputado onde?

(seja onde for mete medo...)

(http://i64.tinypic.com/10fsx3d.jpg)
São João de Brito

sério? Então é a mitica Musgueira City!
Cheguei lá pela empresa la bem atrás... Acácio Alves Peralta, ficava no Bairro S.Joao de Brito.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Abril de 2019, 23:15
Nos anos 80 era normal haver pelo menos um dérbi "Benfica - Sporting" no meu Liceu (Dona Leonor no bairro de Alvalade).

Os melhores jogadores da escola distribuíam-se pelas duas equipas de acordo com a sua preferência. Tenho ideia de que um deles o "Bentinho" jogava no lado do Benfica. "Bentinho" = Paulo Bento.

Nenhum jogo do campeonato escolar se aproximava sequer do número de espectadores e da vibração com que se vivia aquela partida. Campo rodeado e os lançamentos de linha lateral tinham de ser feitos com pessoal a afastar-se e dar lugar ao jogador... Cada golo era celebrado com uma berraria descomunal.

Uma filmagem disto dava-nos hoje um tesourinho inestimável.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Abril de 2019, 09:22
-239-
Sem Rei nem Restelo (parte I): na doca do Bom Sucesso


Dia 23 de Outubro de 1911. Um contingente de presos políticos desembarca na doca do Bom Sucesso, em Belém.

Olhando para a objectiva do fotógrafo Joshua Benoliel, vemos um homem de olhar amargurado.


(https://i.postimg.cc/3rq14S6j/A-01.jpg)
Fonte: Hemeroteca Lx



Fotógrafo e fotografado, os dois homens eram velhos conhecidos (e talvez amigos). Benoliel sabia bem a relevância social do homem que então captava na sua objectiva. Tratava-se de alguém com grande estatuto no tempo em que vigorava a monarquia mas que agora se apresentava hesitante e frágil. Este encontro era bem diferente de todos os anteriores, sem a alegria dos convívios sociais elegantes ou do frenesim dos eventos desportivos...

O homem de olhar amargurado era Ignácio José Franco (1864-1931), 2º Conde do Restelo e um dos dois proprietários da Farmácia Franco nos dias que levaram à fundação do Sport Lisboa.

Com 47 anos de idade, na amargura da prisão e na indefinição do futuro, o 2º Conde do Restelo vivia alguns dos piores dias da sua vida. Longe pareciam os dias do seu protagonismo político.



(https://i.postimg.cc/JzL20YD6/A-02.jpg)
Ignácio José Franco, 2º Conde do Restelo, enquanto vereador, entre o executivo camarário da CM Lisboa de 1907. Fonte: AML



Acerca dos Condes do Restelo


O 2º Conde do Restelo era um homem cortês, com actividade social e política na sociedade monárquica. Tinha um espírito desportivo e era um entusiasta do futebol, características pessoais que em muito beneficiaram o nosso Clube nos seus primeiros e delicados anos, antes e pós-fundação.

Juntamente com o seu irmão Pedro Augusto Franco Jr. (1865-1960), o outro proprietário da Farmácia Franco, permitiu que nas suas instalações comerciais se reunisse um grupo de rapazes moradores em Belém e na Ajuda, todos com a paixão pelo futebol. Esses encontros foram parte importante do processo que resultou na fundação do Sport Lisboa, naquele domingo, dia 28 de Fevereiro de 1904.



(https://i.postimg.cc/bwpmpGW4/A-03.jpg)
O interior da Farmácia Franco, a primeira sede do Sport Lisboa, em 1904



Os dois irmãos permitiram com total bonomia e tolerância que alguns desses miúdos pudessem treinar no pátio interior da Farmácia Franco, mesmo sob os protestos dos moradores de alguns apartamentos em redor, que viam os vidros das suas janelas quebrados por algumas boladas mais incautas (ver -61- Um certo pátio, pág 17).



(https://i.postimg.cc/rwHRg31g/A-04.jpg)
A localização da Farmácia Franco e a única foto que conheço de uma das frentes do célebre pátio interior (foto de 1940...). Aquelas três portas estavam nas traseiras da Farmácia Franco


Os dois irmãos não se opuseram, antes apoiaram, que o Dr. António de Azevedo Meireles (1858-?), médico que prestava serviço na Farmácia Franco, desse também apoio clínico a algumas mazelas que os rapazes iam sofrendo (ver -224- A ilustre Casa do Dr. Meireles. pág. 55).

Os dois irmãos permitiram igualmente que dois dos seus funcionários, Daniel Santos Brito (balconista; 1883-1974) e Manuel Gourlade (secretário e contabilista; 1872-1944), integrassem o grupo fundador e a direcção do novo Clube, usando algumas partes da Farmácia Franco como se fossem, na prática, a primeira sede do nosso clube.



(https://i.postimg.cc/BQL0HzvJ/A-05.jpg)
A Farmácia Franco e suas principais figuras no ano de 1904



Por fim, Ignácio José Franco e o seu irmão proporcionaram ao nosso cCube não apenas algum precioso apoio financeiro como, pelo menos o primeiro, integraram alguns dos Orgãos Sociais. Ignácio José Franco foi sócio protector e presidiu ao Conselho Fiscal do Clube por alguns anos, mesmo depois da junção entre o Sport Lisboa e Grupo Sport Benfica, conferindo-lhes respeitabilidade e prestígio. O nosso Clube deve muito a estes dois irmãos Franco. Não disponho ainda de qualquer fotografia de Pedro Augusto Franco Jr., algo que muito lamento.




Um negócio de sucesso global


A Farmácia Franco foi estabelecida em Belém em 1821 pelo avô paterno dos dois irmãos. Nascido em Turcifal, Torres Vedras, ainda no século XVII, esse avô paterno chamava.se Ignácio José Franco (1797-1864) embora entre os populares de Belém tivesse sido mais conhecido por "Inácio dos unguentos". Ignácio - avô - morreu 11 dias antes de nascer o seu neto homónimo.

A primeira localização física da Farmácia Franco foi também na Rua Direita de Belém, mas num prédio distinto, (no número 123 da antiga numeração de Belém) daquele onde mais tarde se instalou e onde se celebrizou (números 139 a 149 da antiga numeração).


(https://i.postimg.cc/3RzHcjLs/A-06.jpg)
As duas localizações da Farmácia Franco ao longo de mais de um século de existência.



O pai dos dois irmãos chamava-se Pedro Augusto Franco (1833-1902) e foi o 1º Conde do Restelo, título nobiliárquico outorgado pelo Rei D. Luís em 16 de Fevereiro de 1877, por via dos serviços prestados ao país.

O 1º Conde do Restelo foi um homem de enorme sucesso empresarial e que manteve uma igualmente bem-sucedida embora muito polémica actividade política. Foi o 2º presidente da Câmara Municipal de Belém (o 1º tinha sido o historiador Alexandre Herculano) e foi mais tarde presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Figura polémica, foi muitas vezes caricaturado pela pena, lápis e pincel certeiro, virtuoso e mordaz de Rafael Bordalo Pinheiro. E assim surgiam expressões como "Regudo Franco", "Pastel de Belém" e "D. Xarope".



(https://i.postimg.cc/BZDWvK7v/A-07.jpg)
A figura do 1º conde do Restelo como cacique eleitoral de Belém, caricaturada por Rafael Bordalo Pinheiro. Fonte: Hemeroteca Lx



Pedro Augusto Franco, 1º Conde do Restelo é considerado como um dos pioneiros da nossa moderna indústria farmacêutica. Foi empreendedor e inovador, tendo formulado e lançado no mercado nacional e internacional especialidades farmacêuticas que tiveram grande sucesso comercial.

Os três produtos inovadores de maior sucesso comercial da Farmácia Franco foram inventados pelo 1º Conde do Restelo e disseminados por Portugal e por muitos outros países. A estratégia comercial passava por muita publicidade em periódicos, e era usada também em diversos países da Europa e da América do Sul. No seu tempo a Farmácia Franco foi o epicentro de um negócio de grande monta e com moldes internacionais.


(https://i.postimg.cc/h4Vwnqhz/A-08.jpg)
Os produtos de maior sucesso comercial da Farmácia Franco. Fonte: Museu da Farmácia



Mais detalhes biográficos destes quatro homens e da Farmácia Franco podem ser lidos nos textos -99 e 100- A Pharmácia Franco (partes I e II), pág 28.



(https://i.postimg.cc/pd9G1wgd/A-09.jpg)
As três gerações da família Franco que estiveram por trás do sucesso comercial da Farmácia Franco.



No próximo texto falaremos das contra-revoltas monárquicas de 1911 e 1912 e do destino do 2º Conde do Restelo.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Abril de 2019, 10:25
-240-
Sem Rei nem Restelo (parte II): a contra-revolta monárquica



Lisboa, Outubro de 1911. A caminhada de centenas de prisioneiros monárquicos entre Paço de Arcos e o Forte de Caxias. Entre eles ia provavelmente o 2º Conde do Restelo



(https://i.postimg.cc/5tw4vZQN/B-01.jpg)
Fonte: Hemeroteca Lx




Depois de uma retrospectiva sobre a família e a Farmácia Franco, vamos agora abordar de forma sintética alguns eventos da contra-revolta monárquica, movimento que levou à prisão do 2º Conde do Restelo.



Os levantamentos insurreccionais monárquicos


A revolução republicana de 5 de Outubro de 1910 pôs termo a quase 8 séculos de monarquia em Portugal. Triunfante, o regime republicano instalou-se rapidamente criando estruturas e alterações organizacionais profundas no país. Não obstante, existe hoje a ideia de que naquele dia a revolução triunfou contra todas as probabilidades, tendo em conta que em Lisboa, epicentro da revolução, a correlação inicial de forças bélicas era francamente vantajosa para os monárquicos.

Circunstâncias diversas, algumas fortuitas, erros de cálculo, falta de informação e divisionismo entre as facções monárquicas, terão ajudado ao sucesso republicano, isto apesar de se dever salientar a importância vital da tenacidade dos revoltosos barricados da rotunda do Marquês de Pombal. Depois de triunfar em Lisboa, a onda da revolução republicana alastraria a todo o País.


Mas há sempre um retorno da onda...


Quase um ano depois, na noite de 29 Setembro de 1911, iniciou-se um período conflituoso e bélico no norte de Portugal. Esses movimentos de inspiração monárquica consistiram numa contra-revolta militar ao mesmo tempo que se davam levantamentos insurreccionais monárquicos em diversas localidades, levados a cabo por sectores tradicionalistas de inspiração monárquica, civis e eclesiásticos.

O gatilho terá sido as notícias das movimentações de tropas monárquicas revoltosas, através de diversas localidades do Minho e em Trás-Os-Montes, após terem entrado em Portugal pela fronteira com a Galiza. À frente dessas tropas vinha o Capitão Henrique Mitchell da Paiva Couceiro que, com o seu Estado-maior, pretendia organizar um movimento político-militar crescente, capaz de derrubar o novo regime e restaurar a monarquia. Mas disso falaremos mais à frente.

Uma das localidades que se mostrou mais radical no apoio à contra-revolta monárquica terá sido Santo Tirso, terra com muitos entusiastas da monarquia e local onde o 2º Conde do Restelo tinha uma casa de família onde passava largas temporadas. A bandeira azul e branca da Monarquia chegou a ser arvorada em Santo Tirso mas – como sucedeu noutras localidades - as forças republicanas seriam rápidas a abafar a contra-revolta.


(https://i.postimg.cc/Pq4Gdh8Z/B-02.jpg)
Visita do Rei D. Manuel II a Santo Tirso, três anos antes, em 25-11-1908. Com grande probabilidade ali no meio esteve o 2º Conde do Restelo. Fonte: TT




De facto, a resposta das forças republicanas foi violenta, mobilizando tropas para as localidades revoltosas e fazendo centenas de detenções entre os populares e as elites locais, gente onde tinha permanecido forte o sentimento conservador e monárquico. Foram detidas personalidades militares, civis e eclesiásticas em Santo Tirso, Braga, Porto, Guimarães, Fafe, Paços de Ferreira, Paredes, Vila Nova de Gaia, Famalicão, Paredes. E foi em Santo Tirso que o 2º Conde do Restelo foi detido, sendo depois forçado a embarcar para Lisboa.


(https://i.postimg.cc/dV2p9v6X/B-03.jpg)
Fonte: BND




Os republicanos vigiaram as vias de comunicação terrestres incluindo linhas férreas e apreenderam grandes volumes de armamento e explosivos, guardados mesmo em locais de culto católico. Conhecem-se aliás casos de padres (como o Padre Nemésio dos Reis, pároco em Vila Pouca e Aguiar) que armazenavam material bélico nas suas próprias residências...


(https://i.postimg.cc/2jPCckd8/B-04.jpg)
Em cima, grupo de padres católicos detidos por alegadamente estarem envolvidos em movimentos insurreccionais monárquicos. Em baixo, algumas das armas apreendidas em locais de culto. Fonte: Hemeroteca Lx



Na vertigem da violência foram praticadas invasões e destruições de seminários e de outras edificações da Igreja. Foram cortadas linhas de telégrafo e desencadeados tumultos diversos. Muitos dos revoltosos presos nessas localidades nortenhas foram então transportados para Lisboa no cruzador Adamastor para serem julgados. Ali chegados, foram transferidos para diversas prisões de Lisboa, de acordo com o seu estatuto e com a lotação dos estabelecimentos prisionais. Estima-se que em determinada altura estivessem detidas mais de 600 pessoas.

Foi numa segunda leva de prisioneiros que o 2º Conde do Restelo acabou por desembarcar na doca do Bom Sucesso, em Belém. Estranha ironia para o 2º Conde do Restelo pois apesar de ser preso em Santo Tirso acabou por ser transferido e desembarcar perto do lugar que ele tinha nascido, onde tinha vivido a maior parte da sua vida e perto daquele que ostentava no título nobiliárquico, herdado de seu pai.

Os presos eram tão numerosos que alguns foram mesmo encarcerados no couraçado Vasco da Gama onde foram julgados. Outros foram conduzidos para o Forte do Alto do Duque, outros para o Forte de Caxias, outros ainda - os militares - para o Forte de S. Julião da Barra. Nesse caminho os revoltosos foram humilhados e apupados ruidosamente por populares Lisboetas, algo que terá tornado ainda mais dolorosa a experiência para homens como o 2º Conde do Restelo.



(https://i.postimg.cc/MGTkZN0F/B-05.jpg)
Fonte: Hemeroteca Lx




As incursões de Paiva Couceiro


Henrique Mitchell de Paiva Couceiro (Lisboa, 1861 – Lisboa, 1944) foi uma figura heróica mas também com laivos quixotescos. Militar, administrador colonial e político português que se notabilizou nas campanhas de ocupação colonial em Angola e Moçambique e como inspirador das chamadas incursões monárquicas contra a Primeira República Portuguesa em 1911, 1912 e 1919. A sua dedicação à causa monárquica e a sua proximidade aos princípios do Integralismo Lusitano, conduziram-no por diversas vezes ao exílio, antes e depois da instituição do regime do Estado Novo em Portugal (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Mitchell_de_Paiva_Couceiro).



(https://i.postimg.cc/YSJXcsdg/B-06.jpg)
Fonte: TT



Não obstante o voluntarismo dos defensores da causa monárquica, D. Manuel II, o último rei de Portugal, deposto e exilado em Inglaterra, teve sempre um outro pensamento, mostrando-se pouco ou nada entusiasmado em dar apoio a movimentos dos quais resultassem confrontos armados entre portugueses.

Ainda assim, surgiram boatos entre os republicanos que davam como certa a conivência entre o rei deposto e uma eventual invasão do País por tropas estrangeiras. D. Manuel II chegou até a ser considerado um traidor à pátria...



(https://i.postimg.cc/FHQc19XC/B-07.jpg)
D. Manuel II, o trajecto da 1ª incursão monárquica (1911) e o capitão Henrique Paiva Couceiro .



Assim, no dia 4 de Outubro de 1911, um contingente militar liderado por Paiva Couceiro entrou em Vinhais, vindo da Galiza, percorrendo um itinerário sinuoso através de diversos pontos de Trás-os-Montes, tomando depois a praça de Chaves. Contra eles foi enviado uma força de marinheiros de Lisboa que reforçou os regimentos republicanos já escalonados nessa zona. Três dias mais tarde, depois de um conflito armado sangrento, as milícias monárquicas foram derrotadas em Chaves, obrigando os sobreviventes a retirar para a Galiza.



(https://i.postimg.cc/DZwzTxmv/B-08.jpg)
Movimentações de tropas republicanas em resposta à 1ª incursão de Paiva Couceiro. Fonte: Hemeroteca Lx



Persistente, Paiva Couceiro comandaria uma 2ª incursão monárquica no princípio de Julho de 1912, mas as suas tropas, que chegaram a ter uns dois milhares de combatentes, foram novamente derrotadas em Chaves. Não encontrei fotografias de vítimas da 1ª incursão monárquica provavelmente porque Joshua Benoliel se coibiu de captar essas imagens, no entanto foram publicadas imagens da 2ª incursão que atestam quão mortíferos foram esses violentos recontros.


(https://i.postimg.cc/m2C1V6HJ/B-09.jpg)
Mortos e feridos abundaram dos violentos recontros de Chaves em 1912. Fonte: Hemeroteca Lx




Nessa mesma altura um tribunal do Porto julgou vários dos revoltosos de Outubro de 1911, condenando a maioria dos réus a penas de prisão ou degredo. Alguns desses julgamentos foram efectuados no Convento das Trinas em Lisboa e deles já aqui se mencionou o envolvimento do advogado Dr. Alberto Lima, futuro presidente do Sport Lisboa e Benfica (ver: -64- O tribunal dos conspiradores, pág. 20).

O próprio Paiva Couceiro foi condenado à revelia a uma pena de 6 anos de prisão ou 10 anos de degrado, pena considerada leve uma vez que tinham sido levadas em conta atenuantes por via dos serviços relevantes prestados à pátria ainda no tempo da monarquia.

Anos mais tarde, em 1919, e após o assassinato de Sidónio Pais, Paiva Couceiro organizou uma 3ª incursão dos monárquicos exilados. Desta vez optou por uma estratégia diferente, subvertendo instituições da parte do território português que ia do Minho à linha do Vouga. Em nome de D. Manuel II, Paiva Couceiro proclamou a chamada Monarquia do Norte, da qual foi o Presidente da Junta Governativa do Reino (equivalente a primeiro-ministro) (fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Mitchell_de_Paiva_Couceiro).

Nesse curto período (19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919) revogou toda a legislação republicana promulgada desde 5 de Outubro de 1910, restaurou a bandeira e o hino monárquicos e legislou intensa e de forma infrutífera.

No entanto esta Monarquia do Norte não obteria apoios fundamentais, tendo soçobrado rapidamente. Ironicamente, as aspirações de uma restauração monárquica seriam definitivamente extintas já no Estado Novo, por intermédio de um monárquico de coração (embora muitos defendam que assim se "mostrasse" apenas por conveniência política): Oliveira Salazar...


De tudo o que atrás se disse resulta que Portugal não foi sempre um país de brandos costumes. No século XIX o país tinha sofrido cruelmente a devastação material e humana causada por uma guerra civil (1828-1834) e agora no princípio do século XX (1910-1912) surgia de novo uma violência extrema entre Portugueses. Destes episódios fica claro que um certo Portugal precisa apenas de um certo rastilho para que a força bruta se instale nas ruas. É preciso ter memória destes tempos de grande violência. E prevenir.



Sem Rei nem Restelo: epílogo


Voltando ao 2º Conde do Restelo, a sua inocência foi dada como provada poucos dias depois da sua inusitada prisão. Foi libertado, assim como muitos outros presos e, pelo que sei, nunca chegou a ser presente a um tribunal de conspiradores. Estavam ultrapassados mas não esquecidos aqueles dias de profunda angústia e sofrimento.



(https://i.postimg.cc/cHRPFWd6/B-10.jpg)
Fonte: BND



Depois, de 1911 a 1931, ano da morte do 2º Conde do Restelo, passaram duas décadas das quais não tenho qualquer notícia dele ou do irmão.

Presumo que vivendo agora um contexto social, político e económico completamente diferente, o 2º Conde do Restelo e o seu irmão continuaram a dedicar-se ao negócio familiar. Deduzo que a exuberância financeira e comercial que a Farmácia revelava no tempo de seu pai se tenha gradualmente desvanecido. Viviam-se agora tempos diferentes em que outros actores, de outros países, impuseram novos produtos e estratégias comerciais na área farmacêutica.

Há também que considerar o facto de a Farmácia ter reduzido para metade a sua área comercial física e de se ter transformado em Laboratório Franco, provavelmente para diversificar a área de negócio. Desconheço em que data se extinguiu a Sociedade Farmacêutica Franco e Filhos, mas presumo que terá sido algures pela década de 50.


(https://i.postimg.cc/s2Rcwhx9/B-11.jpg)
Duas etapas do percurso da Farmácia, depois Laboratório Franco



Em todo o caso não deixa de ser interessante que não obstante tanta notoriedade comercial e política dos seus donos ao longo dos mais de 100 anos de actividade, a fama imorredoira da Farmácia Franco foi conseguida no ano de 1904, quando se deu a fundação daquele que rapidamente se tornou o mais popular, o mais vencedor e o maior Clube Português.



(https://i.postimg.cc/BbL8DmTS/B-12.jpg)
Nascido na Farmácia Franco, criado por 24 fundadores...



Ignácio José Franco faleceu na sua casa da Rua da Junqueira, à uma hora da manhã de quarta-feira, dia 29-07-1931. Tinha 67 anos de idade e faleceu vítima de uma congestão pulmonar fulminante. Com a sua morte extinguiu-se o título de Conde do Restelo.


(https://i.postimg.cc/Bb1Lrmw8/B-13.jpg)



Pedro Augusto Franco, seu irmão, teria uma vida mais longa, falecendo em S. Pedro do Estoril num Sábado, dia 30-01-1960. Tinha 95 anos de idade.


Paz às suas almas. Honra às suas memórias.






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: capelada em 27 de Abril de 2019, 13:00
Mais um excelente trabalho com cunho RedVC!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Abril de 2019, 13:03
Citação de: capelada em 27 de Abril de 2019, 13:00
Mais um excelente trabalho com cunho RedVC!

Muito obrigado, Capelada  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Abril de 2019, 23:56
O trepidante Costa

(https://scontent.flis5-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/58734088_1227135690801152_3459869600315867136_n.jpg?_nc_cat=103&_nc_ht=scontent.flis5-1.fna&oh=bcaed1dc48d9c948217562fc5ed89eaf&oe=5D76DA66)


Agora publicado no facebook do Museu, lembrei-me de um texto que escrevi em Novembro de 2016.


Costa Pereira, uma figura extraordinária da História do Sport Lisboa e Benfica!



Citação de: RedVC em 09 de Novembro de 2016, 14:40
-132-
O trepidante Costa

Aproveitando um belo texto de Mafalda Esturrenho no jornal "O Benfica", volto a salientar esta fotografia:

(http://i67.tinypic.com/k00g75.jpg)

Com a presença do massagista Brasileiro Mão de Pilão (ver os números 129 e 130) e do seu colega Zézinho, a fotografia foi captada no Estádio da Luz no dia 14 de Abril de 1957. O grande dia da comemoração do campeonato de 1957.

(http://i66.tinypic.com/20kqct0.jpg)
Os campeões nacionais de 1956-1957. Nota-se que José Águas ampara nas mãos a sua filha pequenina, Helena.


Curiosamente fazia-me impressão a ausência de Costa Pereira nesta fotografia de grupo da festa do Campeonato de 1956-1957. Mas, olhando para as estatísticas dessa época percebe-se a razão. Costa Pereira não foi Campeão Nacional nessa época. Ou seja não jogou nenhuma partida do Campeonato.

De facto, depois de ter sido titular absoluto nas suas duas primeira épocas no Benfica (1954-1955 e 1955-1956), nas duas épocas seguintes (1956-1957 e 1957-1958), Alberto da Costa Pereira foi relegado para o banco de suplentes. Otto Glória tinha dado a titularidade a Bastos que cumpriu com brilhantismo. O Benfica tinha dois óptimos guarda-redes. Assim, nessa época de 1956-1957 Costa Pereira terá feito 4 jogos na Taça de Portugal e um na Taça Latina. Não sendo Campeão Nacional não apareceu na fotografia de grupo envergando a respectiva faixa. Não obstante, Costa Pereira não deixou de manifestar a sua alegria, assim se compreendendo que estivesse em trajos "civis".

Mas Alberto da Costa Pereira era uma figura por si só. Para além de um dos maiores guarda-redes de futebol da nossa história, era um homem com outros talentos desportivos (basquetebol e atletismo). Atleta completo e rapaz com uma atitude bem característica da juventude nativa da África colonial Portuguesa, um perfil bem distinto da juventude reprimida da metrópole.

Costa Pereira era igualmente - como se vê - um jovem dado aos trepidantes ritmos Afro-Brasileiros! Para ilustrar, nada melhor que ler o texto em baixo, com os devidos créditos:


"Adeptos, atletas, técnicos e dirigentes juntaram-se para festejar 'à Benfica' o nono título de campeão nacional.

'Raramente se terá visto em Portugal uma festa tão extraordinária como a que no passado domingo se realizou na Luz'. Assim iniciava, o jornal O Benfica, o relato das festividades que, a 14 de Abril de 1957, a Comissão Central organizou para comemorar mais um título conquistado pelo futebol benfiquista: o de campeão nacional.

Embora tivesse como primordial pretexto a consagração da equipa, com a entrega simbólica das faixas de campeões, a 'bela tarde primaveril' contou com cinco horas de animação non stop. 'Festa rija, bonita, colorida, «à Benfica»', 'onde apenas se respirou o perfume estonteante e delicioso de uma vitória do campeonato'.

Cedo começou a '«romaria» das gentes encarnadas para a Luz'. 'Por todos os lados se viam, agitadas pelo vento ou pelos frenéticos aplausos, bandeiras do Benfica'. Foram milhares de adeptos que quiseram confraternizar com os seus ídolos.

Do programa constaram inúmeras actuações. Entre elas, números de ginástica, entregas de troféus, números musicais e até um jogo de futebol, entre a primeira categoria e a equipa de aspirantes, em que a 'gentil filhinha de José Ricardo Domingues' (presidente da secção de futebol) 'com todo o estilo possível' deu o pontapé de saída. Porém, um dos momentos altos de tarde foi, sem dúvida, o protagonizado por Costa Pereira.

Após um conjunto de números musicais 'no qual tomarem parte os conhecidos artistas Luís Piçarra, Tristão da Silva e Frutuoso França', guarda-redes 'encarnado' deu o seu show. No centro do relvado, acompanhado pelos brasileiros Irmãos Guarás, 'fez a sua estreia - e muito bem! - com artista de variedades', noticiou o Diário de Lisboa.

A actuação, a que não ficou alheia a objectiva de Roland Oliveira, proporcionou aos benfiquistas ali presentes, um 'momento folclórico de pura inspiração brasileira' e revelou um artista de grande talento e excelente sentido de humor. O insólito e pitoresco episódio captado na fotografia, em que Costa Pereira cantou e sambou, alcançou tal êxito entre os presentes que, no final, os colegas de equipa o ergueram em ombros perante uma entusiástica ovação do público..."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica



(http://i63.tinypic.com/j58ih3.jpg)

(http://i67.tinypic.com/35aiu68.jpg)

(http://i65.tinypic.com/1pxo3k.jpg)

Fonte: DL, 15 Abril 1957



Os "Irmãos Guarás"

(https://vinil45rpm.files.wordpress.com/2015/06/digitalizar0027.jpg)

https://youtu.be/S18nWqS8jq0 (https://youtu.be/S18nWqS8jq0)

Trio vocal e instrumental criado em meados da década de 1940 pelos irmãos Juca no acordeom, Pimentinha no violão e Toninho no pandeiro. Em 1945, o trio gravou pela Continental os sambas "Advinhação" e "Palhaço apaixonado", ambos de Príncipe Pretinho. Seguiram-se apresentações em programas de Rádio e apresentações pelos estados do sudeste. Fonte: http://dicionariompb.com.br/trio-guaras (http://dicionariompb.com.br/trio-guaras)



Deixo por fim, em imagens, uma homenagem a este grande desportista em três pilares que o distinguiram durante a sua longa e Gloriosa carreira de Águia ao peito: dedicação, dor e glória


(http://i68.tinypic.com/5lqbug.jpg)

(http://i66.tinypic.com/258mfc9.jpg)

(http://i63.tinypic.com/2a01el3.jpg)


Obrigado Alberto da Costa Pereira!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: WHERO em 08 de Maio de 2019, 15:00
Ler e reler. O meu refúgio nestas alturas de maior pressão em que só penso no Benfica mas quero evitar as barbaridades que se vão escrevendo sobre a espuma dos dias.

Mais uma vez, muito, muito, obrigado RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Maio de 2019, 19:50
Citação de: WHERO em 08 de Maio de 2019, 15:00
Ler e reler. O meu refúgio nestas alturas de maior pressão em que só penso no Benfica mas quero evitar as barbaridades que se vão escrevendo sobre a espuma dos dias.

Mais uma vez, muito, muito, obrigado RedVC.

Muito obrigado WHERO  O0

Nos próximos tempos aparecerão mais dois textos da série "Águias na Guerra" mas depois terei de fazer uma pausa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: WHERO em 09 de Maio de 2019, 09:08
Citação de: RedVC em 08 de Maio de 2019, 19:50
Citação de: WHERO em 08 de Maio de 2019, 15:00
Ler e reler. O meu refúgio nestas alturas de maior pressão em que só penso no Benfica mas quero evitar as barbaridades que se vão escrevendo sobre a espuma dos dias.

Mais uma vez, muito, muito, obrigado RedVC.

Muito obrigado WHERO  O0

Nos próximos tempos aparecerão mais dois textos da série "Águias na Guerra" mas depois terei de fazer uma pausa.

Boa série, essa. Apela ainda mais à emoção, apesar de felizmente não ter vivido esses tempos.
A vida não se esgota nisto, claro. Mas durante a pausa não falta material para muitos lerem pela primeira vez e outros relerem com redobrada atenção. Obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Carminati em 09 de Maio de 2019, 17:01
Citação de: RedVC em 20 de Abril de 2019, 23:15
Nos anos 80 era normal haver pelo menos um dérbi "Benfica - Sporting" no meu Liceu (Dona Leonor no bairro de Alvalade).

Os melhores jogadores da escola distribuíam-se pelas duas equipas de acordo com a sua preferência. Tenho ideia de que um deles o "Bentinho" jogava no lado do Benfica. "Bentinho" = Paulo Bento.

Nenhum jogo do campeonato escolar se aproximava sequer do número de espectadores e da vibração com que se vivia aquela partida. Campo rodeado e os lançamentos de linha lateral tinham de ser feitos com pessoal a afastar-se e dar lugar ao jogador... Cada golo era celebrado com uma berraria descomunal.

Uma filmagem disto dava-nos hoje um tesourinho inestimável.

Ser benfiquista em Alvalade nos anos 80 não devia ser facil, certo?

As claques deles nasceram todas aí nessa zona e nesses anos foram um verdadeiro fenómeno entre os jovens da classe media lisboeta.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Maio de 2019, 17:36
Citação de: Carminati em 09 de Maio de 2019, 17:01
Citação de: RedVC em 20 de Abril de 2019, 23:15
Nos anos 80 era normal haver pelo menos um dérbi "Benfica - Sporting" no meu Liceu (Dona Leonor no bairro de Alvalade).

Os melhores jogadores da escola distribuíam-se pelas duas equipas de acordo com a sua preferência. Tenho ideia de que um deles o "Bentinho" jogava no lado do Benfica. "Bentinho" = Paulo Bento.

Nenhum jogo do campeonato escolar se aproximava sequer do número de espectadores e da vibração com que se vivia aquela partida. Campo rodeado e os lançamentos de linha lateral tinham de ser feitos com pessoal a afastar-se e dar lugar ao jogador... Cada golo era celebrado com uma berraria descomunal.

Uma filmagem disto dava-nos hoje um tesourinho inestimável.

Ser benfiquista em Alvalade nos anos 80 não devia ser facil, certo?

As claques deles nasceram todas aí nessa zona e nesses anos foram um verdadeiro fenómeno entre os jovens da classe media lisboeta.


Como é sabido o Liceu Dona Leonor estava (e está - embora algo mudado...) no bairro de Alvalade, que está mais perto de Alvalade do que da Luz mas a diferença é pouca.

Nos anos 80 o bairro de Alvalade era então um bairro mais jovem e sim, havia muito sportinguista mas ainda assim não me lembro de haver desequilíbrio a favor do SCP. Ainda assim devo dizer que não passava a maior parte do tempo no bairro embora por via dos furos no horário, das minhas (algumas, não muitas) baldas e das faltas dos Profs (essas menos...) ainda passava algum tempo pelas ruas, em trânsito entre livrarias e casas de jogos. Era um ótimo Liceu situado num ótimo bairro. Bons tempos.

A maioria dos meus colegas, tanto quanto me lembro era Benfiquista. Havia rivalidade sim e claro havia bocas mas não passava disso. Só guardo contacto com dois deles que curiosamente ou não são meus companheiros de Estádio da Luz... Fiz o Liceu todo no Dona Leonor e lembro-me que vi vários desses "dérbis" ao longo de vários anos. Havia muita festa e muito frenesim apimentado pelas camisolas (nada combina melhor num campo de futebol do que o vermelho e branco contra o verde e branco). Não havia violência ou coisa que se parecesse. Aliás esses jogos nunca decorreriam sem a necessária autorização do Conselho Directivo do Liceu. Como disse, eram o remate do ano lectivo desportivo, depois de encontrado o campeão do campeonato interno escolar.

Os campeonatos de futebol eram bastante concorrido e lembro-me que regra geral eram adotados nomes de equipas estrangeiras. As que me ocorrem no momento são o "Hamburgo" e o "Stoke City".

Havia um ambiente muito desportivo. Lembro-me que os meus intervalos eram regra geral passados a praticar centros e fuzilar um desgraçado que ficava à baliza. Noutros anos houve a mania do básquete e também do vólei. Bons tempos.

Não conheço a história da Juve Leo ou dos Diabos vermelhos mas sim, nos anos 80 eram já uma força importante. Ainda assim tive poucas experiências más, lembro-me apenas que à saída do Estádio da Luz depois de um dérbi, houve pessoal da Juve Leo a bloquear e depois a "abanar" o autocarro onde estava. Lá esfriou tudo sem grandes consequências.

Uma coisa gira era o pessoal partilhar essas memórias também. Talvez alguém se lembre de abrir um tópico.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 09 de Maio de 2019, 19:52
Talvez um dia RedVC, talvez um dia...  :smokin:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Maio de 2019, 20:10
Citação de: Ned Kelly em 09 de Maio de 2019, 19:52
Talvez um dia RedVC, talvez um dia...  :smokin:

Já percebi que há por aí boas histórias.
E nisto, estou certo que muita malta viria para aqui desbobinar histórias.
Vamos esperar.  :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 09 de Maio de 2019, 22:08
Citação de: RedVC em 20 de Abril de 2019, 23:15
Nos anos 80 era normal haver pelo menos um dérbi "Benfica - Sporting" no meu Liceu (Dona Leonor no bairro de Alvalade).

Os melhores jogadores da escola distribuíam-se pelas duas equipas de acordo com a sua preferência. Tenho ideia de que um deles o "Bentinho" jogava no lado do Benfica. "Bentinho" = Paulo Bento.

Nenhum jogo do campeonato escolar se aproximava sequer do número de espectadores e da vibração com que se vivia aquela partida. Campo rodeado e os lançamentos de linha lateral tinham de ser feitos com pessoal a afastar-se e dar lugar ao jogador... Cada golo era celebrado com uma berraria descomunal.

Uma filmagem disto dava-nos hoje um tesourinho inestimável.
conheci o paulo bento na decada de 80,benfiquista ferrenho com lugar cativo no antigo estádio.ele andava sempre por alvalade,porque os pais tinham um restaurante numa tansversal da av. da igreja,esse mesmo restaurante,é hoje propriedade dos tios,tambem benfiquistas ferrenhos e está decorado com posters do paulo bento.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Maio de 2019, 23:24
Citação de: fudim flan em 09 de Maio de 2019, 22:08
Citação de: RedVC em 20 de Abril de 2019, 23:15
Nos anos 80 era normal haver pelo menos um dérbi "Benfica - Sporting" no meu Liceu (Dona Leonor no bairro de Alvalade).

Os melhores jogadores da escola distribuíam-se pelas duas equipas de acordo com a sua preferência. Tenho ideia de que um deles o "Bentinho" jogava no lado do Benfica. "Bentinho" = Paulo Bento.

Nenhum jogo do campeonato escolar se aproximava sequer do número de espectadores e da vibração com que se vivia aquela partida. Campo rodeado e os lançamentos de linha lateral tinham de ser feitos com pessoal a afastar-se e dar lugar ao jogador... Cada golo era celebrado com uma berraria descomunal.

Uma filmagem disto dava-nos hoje um tesourinho inestimável.
conheci o paulo bento na decada de 80,benfiquista ferrenho com lugar cativo no antigo estádio.ele andava sempre por alvalade,porque os pais tinham um restaurante numa tansversal da av. da igreja,esse mesmo restaurante,é hoje propriedade dos tios,tambem benfiquistas ferrenhos e está decorado com posters do paulo bento.

Exacto. Almocei lá algumas vezes. Penso que o primeiro Clube do Paulo Bento foi o Clube Atlético de Alvalade cuja localização foi durante alguns anos um mistério para mim.  Camisola com listas vermelhas e brancas se não estou em erro.

O "Bentinho" desses tempos da escola era um jogador destacado, de pequena estatura e de grande técnica. Jogava no "Hamburgo". Ainda me lembro dos nomes de alguns jogadores dessa equipa como por exemplo de um moço chamado Armando que tinha uns pés de ouro mas de quem nunca mais ouvi falar. Deve ter optado por uma carreira longe do futebol, imagino eu.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 10 de Maio de 2019, 13:54
Citação de: Ned Kelly em 09 de Maio de 2019, 19:52
Talvez um dia RedVC, talvez um dia...  :smokin:
faz favor!
gostava tb de ler algumas histórias que obviamente conheces...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: fudim flan em 10 de Maio de 2019, 15:33
Citação de: RedVC em 09 de Maio de 2019, 23:24
Citação de: fudim flan em 09 de Maio de 2019, 22:08
Citação de: RedVC em 20 de Abril de 2019, 23:15
Nos anos 80 era normal haver pelo menos um dérbi "Benfica - Sporting" no meu Liceu (Dona Leonor no bairro de Alvalade).

Os melhores jogadores da escola distribuíam-se pelas duas equipas de acordo com a sua preferência. Tenho ideia de que um deles o "Bentinho" jogava no lado do Benfica. "Bentinho" = Paulo Bento.

Nenhum jogo do campeonato escolar se aproximava sequer do número de espectadores e da vibração com que se vivia aquela partida. Campo rodeado e os lançamentos de linha lateral tinham de ser feitos com pessoal a afastar-se e dar lugar ao jogador... Cada golo era celebrado com uma berraria descomunal.

Uma filmagem disto dava-nos hoje um tesourinho inestimável.
conheci o paulo bento na decada de 80,benfiquista ferrenho com lugar cativo no antigo estádio.ele andava sempre por alvalade,porque os pais tinham um restaurante numa tansversal da av. da igreja,esse mesmo restaurante,é hoje propriedade dos tios,tambem benfiquistas ferrenhos e está decorado com posters do paulo bento.

Exacto. Almocei lá algumas vezes. Penso que o primeiro Clube do Paulo Bento foi o Clube Atlético de Alvalade cuja localização foi durante alguns anos um mistério para mim.  Camisola com listas vermelhas e brancas se não estou em erro.

O "Bentinho" desses tempos da escola era um jogador destacado, de pequena estatura e de grande técnica. Jogava no "Hamburgo". Ainda me lembro dos nomes de alguns jogadores dessa equipa como por exemplo de um moço chamado Armando que tinha uns pés de ouro mas de quem nunca mais ouvi falar. Deve ter optado por uma carreira longe do futebol, imagino eu.
tenho ideia que o campo do atl. de alvalade,era na av. do brasil,perto do relógio.campo esse comum ao arroios e á camara de lisboa club.o tasco dos tios do bento,frequento na altura dos caracóis.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Maio de 2019, 16:01
Citação de: fudim flan em 10 de Maio de 2019, 15:33
Citação de: RedVC em 09 de Maio de 2019, 23:24
Citação de: fudim flan em 09 de Maio de 2019, 22:08
Citação de: RedVC em 20 de Abril de 2019, 23:15
Nos anos 80 era normal haver pelo menos um dérbi "Benfica - Sporting" no meu Liceu (Dona Leonor no bairro de Alvalade).

Os melhores jogadores da escola distribuíam-se pelas duas equipas de acordo com a sua preferência. Tenho ideia de que um deles o "Bentinho" jogava no lado do Benfica. "Bentinho" = Paulo Bento.

Nenhum jogo do campeonato escolar se aproximava sequer do número de espectadores e da vibração com que se vivia aquela partida. Campo rodeado e os lançamentos de linha lateral tinham de ser feitos com pessoal a afastar-se e dar lugar ao jogador... Cada golo era celebrado com uma berraria descomunal.

Uma filmagem disto dava-nos hoje um tesourinho inestimável.
conheci o paulo bento na decada de 80,benfiquista ferrenho com lugar cativo no antigo estádio.ele andava sempre por alvalade,porque os pais tinham um restaurante numa tansversal da av. da igreja,esse mesmo restaurante,é hoje propriedade dos tios,tambem benfiquistas ferrenhos e está decorado com posters do paulo bento.

Exacto. Almocei lá algumas vezes. Penso que o primeiro Clube do Paulo Bento foi o Clube Atlético de Alvalade cuja localização foi durante alguns anos um mistério para mim.  Camisola com listas vermelhas e brancas se não estou em erro.

O "Bentinho" desses tempos da escola era um jogador destacado, de pequena estatura e de grande técnica. Jogava no "Hamburgo". Ainda me lembro dos nomes de alguns jogadores dessa equipa como por exemplo de um moço chamado Armando que tinha uns pés de ouro mas de quem nunca mais ouvi falar. Deve ter optado por uma carreira longe do futebol, imagino eu.
tenho ideia que o campo do atl. de alvalade,era na av. do brasil,perto do relógio.campo esse comum ao arroios e á camara de lisboa club.o tasco dos tios do bento,frequento na altura dos caracóis.


Campo de Futebol no Parque Desportivo Municipal de São João Brito

Foi recentemente recuperado pela CML. Em 2016 estava uma lástima.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Maio de 2019, 20:25
-241-
Aguias na guerra (parte VII): desenhando para a eternidade (I)


Lisboa, 20 de Novembro de 1931. Divulgação dos resultados do concurso para o projecto do cemitério militar Português, a edificar próximo de um antigo campo de batalha em Neuve-Chapelle, município de Richebourg, França.



(https://i.postimg.cc/jjX1qrMK/A-01.jpg)
Fonte: TT



Este foi o projecto ao qual foi atribuído o 2º prémio do júri, cujo autor foi o arquitecto Tertuliano Lacerda Marques.


(https://i.postimg.cc/TYh912M2/B-08.jpg)



Em Novembro de 1931 tinham já passado 13 anos desde o fim da I Guerra Mundial. No entanto estavam ainda abertas as feridas profundas causadas pelos milhares de mortos, militares e civis portugueses na Grande Guerra.

O concurso pretendia eleger um projecto para erigir um monumento que dignificasse um cemitério construído na década de 20 para militares portugueses mortos na I Guerra Mundial. Integrado na tipologia de cemitério-jardim, comum à época, o concurso reflectia a vontade dos meios militares, políticos e populares de lembrar e homenagear os mortos.



(https://i.postimg.cc/MGKCQTMX/A-02.jpg)
Artigo no DL do Coronel Pais Mamede a propósito do concurso.





20 milhões de mortos


Segundo o Centro Europeu Robert Schuman, a I Grande Guerra terá causado a morte a cerca de 20 milhões de pessoas. Mudou profundamente a Europa e o mundo e abriu feridas que, duas décadas depois, causariam um novo conflito ainda mais mortífero. Ora, desses 20 milhões de mortos, cerca de 9.7 milhões teriam condição militar, sendo que 5.7 milhões pertenceram ao lado dos Aliados (Inglaterra, França, EUA, Portugal, etc) e os restantes às potências centrais.



(https://i.postimg.cc/bNc4RLD7/A-03.jpg)
Geopolítica inicial da I Guerra Mundial



Muitas das mortes ter-se-ão ficado a dever a fome e às doenças resultantes das horríveis condições de higiene. A morte andou livre pelos campos de batalha...

A entrada de Portugal na Grande Guerra ter-se-á ficado a dever à pressão dos políticos do recém-criado e crescentemente desacreditado regime Republicano. Quer procurassem o reconhecimento de um regime que emergiu depois de um regicídio, quer procurassem assegurar a manutenção da posse das colónias ultramarinas, cobiçadas pelas potências do Eixo e pela própria Inglaterra, alguns dos nosso políticos forçaram literalmente o fim da nossa neutralidade e a entrada na Grande Guerra do lado dos Aliados.

Existem diversas estimativas para os mortos Portugueses na guerra europeia mas o dito Centro Robert Schuman aponta para 7.222 mortos militares e 13 civis (bombardeamentos do Funchal por submarinos Alemães em Dezembro de 1916 e 1917). Isto não falando também das estimativas para a frente Africana que indicam 52.000 mortos em Moçambique. Hoje, no entanto, o nosso foco são as baixas na frente Europeia.



(https://i.postimg.cc/52tg5Fgc/A-04.jpg)
Fonte: wikipedia



Ou seja, homenagem e reconhecimento pelos mortos da Grande Guerra, justificava-se pelo luto de milhares de famílias. A nação tinha uma necessidade imperiosa de os homenagear. E nestas coisas, ressalvando a nobreza, a honra e a bravura dos militares, sabe-se que os políticos, os mesmo que mandam os jovens militares para a matança, são sempre os primeiros a quererem usar esses mortos para se exibirem numa bonita cerimónia.



https://www.youtube.com/watch?v=01Q8b5NKDH0 (https://www.youtube.com/watch?v=01Q8b5NKDH0)
Uma homenagem aos bravos soldados da Grande Guerra, pelo grande Benfiquista Félix Bermudes e dos seus companheiros João Bastos e António Melo, num fado que na época foi cantado por Estevão Amarante mas aqui cantado por Fernando Farinha




(https://i.postimg.cc/Kv0rY820/A-05.jpg)
Fonte: remembrancetrails



(https://i.postimg.cc/ZYVy8sMR/A-06.jpg)
Duas imagens recente de uma homenagem feita ao mais alto nível em Richmond pelo Estado Português. Fonte: http://www.presidencia.pt



Curiosamente, como iniciamos este texto o que se percebe é que o projecto que foi edificado foi o que tinha conquistado o 2º lugar da apreciação do júri. Desconheço as razões mas convenhamos que a decisão acabou por ser sábia e de bom gosto.


(https://i.postimg.cc/9QVMsGSS/A-07.jpg)
Resultado final do concurso para o monumento de homenagem



Como dissemos, o autor do projecto que teve o 2º lugar mas que acabou por ser edificado foi Tertuliano Lacerda Marques, um ilustre arquitecto e que teve também ligação aos primórdios do nosso Clube. Nas memórias de Daniel Santos rito, o nome de Tertuliano é lembrado entre os nomes de Cosme Damião, Francisco dos Santos, António do Couto, José Netto. Gloriosos.



(https://i.postimg.cc/rFV3bsjj/A-08.jpg)
Das memórias de Daniel Santos Brito, fundador do Sport Lisboa. Fonte: EDB.




(https://i.postimg.cc/157CjHfR/A-09.jpg)
Das memórias de Daniel Santos Brito, fundador do Sport Lisboa: o local e alguns dos companheiros de Tertuliano Marques nos primeiros treinos do Sport Lisboa em 1903 e 1904



Como veremos na segunda parte deste texto, a obra profissional de Tertuliano Lacerda Marques foi notável e em muito honra o Sport Lisboa e Benfica que Tertuliano tenha sido um dos miúdos que participou nos primeiros treinos da História do nosso Clube, contribuindo para criar um clima, um entusiasmo, um Ideal que levou à fundação do maior Clube Português.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Maio de 2019, 21:24
-242-
Desenhando para a eternidade (II)


Finais de Maio de 1913, Jantar na Sociedade Nacional de Belas Artes


(https://i.postimg.cc/281MPb7p/B-01.jpg)
Fonte: Hemeroteca Lx



Ali à mesa esteve reunida muita da nata da Arquitectura e Arte do Portugal do início do século XX. Reconhecem-se, entre muitos outros, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro, o escultor Simões de Almeida, o aquarelista Roque Gameiro assim como o arquitecto Arnaldo Adães Bermudes, irmão do nosso Félix Bermudes.

Mais do interesse Benfiquista, podemos identificar muitas das nossas figuras primordiais, antigos casapianos que nessa época estavam cada vez mais prestigiados no meio da Bela Artes Nacionais. São esses os casos dos professores Pedro Guedes e Silvestre da Silva, os escultores Francisco dos Santos e José Netto e o arquitecto António Couto. Todos eles partilhavam um passado casapiano e como jogadores de futebol das nossas primeiras equipas.

E, ali bem ao centro, identifica-se também o arquitecto Tertuliano de Lacerda Marques, amigo e companheiro dos primeiros naqueles famosos treinos de futebol nas terras do Desembargador às Salésias e nos areais de Belém, entre a linha férrea e o palácio da praia da Casa de Cadaval. Tertuliano foi também um dos nossos pioneiros.



(https://i.postimg.cc/xTNpsr9n/B-02.jpg)
Tertuliano Lacerda Marques entre gigantes da Arquitectura e Arte do Portugal no início do século XX. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



De origens humildes, Tertuliano nasceu em 30.10.1882 na freguesia da Lapa, Lisboa. Filho de Luís Marques, pedreiro de profissão e natural de Carnaxide e de Maria José Ferreira Marques, natural do Cartaxo.

Tertuliano revelou virtudes artísticas precoces, tendo entrado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa onde foi um aluno diplomado e laureado. Iniciou depois a sua vida profissional como arquitecto, onde viria a ter uma longa e frutuosa carreira. O seu estilo inicial foi classificado como influenciado por um revivalismo arquitectónico embora depois tenha sido autor de trabalhos já na linha de influência da Arte Nova.

Do seu atelier saíram projectos que resultaram em edifícios icónicos como, entre outros, a reconstrução dos interiores do Teatro de São Luís (depois do incêndio de 1914), o Palácio da Cova da Moura (pelo qual recebeu o Prémio Valmor, 1921), da Sede do BNU – Banco Nacional Ultramarino, a reconstrução dos interiores da Igreja de Santo António, no Estoril (depois do incêndio de 1927), a reconstrução do carismático cinema Chiado Terrasse e o edifício do Rádio Clube Português (1934).



(https://i.postimg.cc/bJFLTgMZ/B-03.jpg)
Fonte: AML



Foi também um aguarelista interessante, com trabalhos apresentados em diversas exposições.


(https://i.postimg.cc/m24VSPpN/B-04.jpg)
Algumas obras de Tertuliano Marques enquanto aguarelista e desenhista.



Foi igualmente membro dos corpos directivos do Sindicato Nacional dos Arquitectos, em cuja qualidade integrou a Câmara Corporativa em 1935 e 1936 na 16ª Secção de Ciências, Letras e Artes; ver:
http://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/OsProcuradoresdaCamaraCorporativa%5Chtml/pdf/m/marques_tertuliano_de_lacerda.pdf (http://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/OsProcuradoresdaCamaraCorporativa%5Chtml/pdf/m/marques_tertuliano_de_lacerda.pdf)).



(https://i.postimg.cc/W3r6GVMH/B-05.jpg)
Membro da Direcção da Sociedade dos Arquitectos Portugueses em vários mandatos



Tertuliano casou em 15.01.1906 na Igreja da Nossa Srª da Lapa, com Maria Amália Pereira Lopes. Entre os seus padrinhos de casamento estava o também arquitecto e seu amigo, Arnaldo Adães Bermudes, irmão do nosso Félix Bermudes.


(https://i.postimg.cc/T3zKrDCT/B-06.jpg)
O arquitecto Arnaldo Redondo Adães Bermudes, irmão mais velho de Félix Bermudes e amigo de Tertuliano L. Marques.



Tertuliano era um homem de reconhecido bom humor, estimado pelos seus amigos e colegas e estando de bem com a vida. O talento e a intensidade com que vivia a sua vida profissional e particular torna ainda mais absurda a forma como faleceu, trucidado por um de comboio em São João do Estoril. Esse estúpido acidente deu-se nos primeiros minutos do dia 13.05.1942, tudo apontando para uma desatenção do arquitecto, quando regressava à estação de comboio para apanhar o transporte de regresso à sua casa na Lap. Foi sepultado no cemitério dos Prazeres.



(https://i.postimg.cc/Jzkn4hmv/B-07.jpg)
Fonte: DL



(https://i.postimg.cc/cJTNsqKP/B-08.jpg)
Retrato de Tertuliano Marques feito pelo Mestre José Malhoa.



Paz à sua Alma.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Maio de 2019, 21:15
Prémio Camóes 2019: Francisco Buarque de Hollanda


(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/14/Chico_Buarque_de_Holanda_1_%281970%29.tif/lossy-page1-800px-Chico_Buarque_de_Holanda_1_%281970%29.tif.jpg)


(https://i.pinimg.com/originals/30/d7/57/30d7571c36705bad2f9fe5ed75fe7c58.jpg)


Parabéns!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Petrov_Carmovich em 30 de Maio de 2019, 05:20
Citação de: RedVC em 21 de Maio de 2019, 21:15
Prémio Camóes 2019: Francisco Buarque de Hollanda

(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/14/Chico_Buarque_de_Holanda_1_%281970%29.tif/lossy-page1-800px-Chico_Buarque_de_Holanda_1_%281970%29.tif.jpg)

(https://i.pinimg.com/originals/30/d7/57/30d7571c36705bad2f9fe5ed75fe7c58.jpg)

Parabéns!





Foto obrigatória eheh..


(http://1.bp.blogspot.com/_jQ8dCowGtoc/TG-5IAuTFTI/AAAAAAAAAyI/CrbVFq2G95o/s1600/Mario+Clouna,+Chico+Buarque+e+Eusebio.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 30 de Maio de 2019, 11:24
Um fluminense com a camisola gloriosa!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Pacal em 30 de Maio de 2019, 13:41
Bom tópico. Parabéns.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Julho de 2019, 00:19
Com a licença dos autores,

um podcast extraordinário, de audição fundamental para qualquer Benfiquista.


A História Gloriosa - #1 A fundação e os primeiros anos | 1904-1914

https://www.benficaindependente.com/post/a-hist%C3%B3ria-gloriosa-1904-1914


(https://static.wixstatic.com/media/54e23f_ee749ed016574848814a9caa8f6c04a2~mv2.png/v1/fill/w_740,h_387,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01/54e23f_ee749ed016574848814a9caa8f6c04a2~mv2.webp)


Uma conversa repleta de palavras que criam imagens mentais do passado do nosso Clube, feita por três homens de puro e informado Benfiquismo. Notável.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: pica_foices em 08 de Julho de 2019, 17:21
Não sei se conhecem a biblioteca digital da cinemateca. Tem vário material antigo sobre o SLB, tipo isto

http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=3681&type=Video ...
(a partir dos 6m-7m tem imagens da final da Taça de 1955)


Pesquisando por Benfica tem-se muitos vídeos, fotos, imagens
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Outras-Paginas/Pesquisa.aspx?searchtext=benfica&searchmode=anyword ...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Julho de 2019, 22:16
Citação de: pica_foices em 08 de Julho de 2019, 17:21
Não sei se conhecem a biblioteca digital da cinemateca. Tem vário material antigo sobre o SLB, tipo isto

http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=3681&type=Video ...
(a partir dos 6m-7m tem imagens da final da Taça de 1955)


Pesquisando por Benfica tem-se muitos vídeos, fotos, imagens
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Outras-Paginas/Pesquisa.aspx?searchtext=benfica&searchmode=anyword ...


A Cinemateca tem no seu acervo imagens ou fotogramas isolados de um filme deteriorado (não sei ao certo) de um jogo Sport Lisboa e Benfica versus Sporting Clube de Portugal disputado em 1916. Infelizmente a informação é escassa.

Talvez os responsáveis do nosso Museu devessem mexer-se um pouco junto da Cinemateca mas infelizmente parece que não lêem muito este espaço. Em algumas vezes que fui ao Museu dei comigo a ranger os dentes...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 05 de Agosto de 2019, 09:25
Citação de: RedVC em 08 de Julho de 2019, 22:16
Citação de: pica_foices em 08 de Julho de 2019, 17:21
Não sei se conhecem a biblioteca digital da cinemateca. Tem vário material antigo sobre o SLB, tipo isto

http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=3681&type=Video ...
(a partir dos 6m-7m tem imagens da final da Taça de 1955)


Pesquisando por Benfica tem-se muitos vídeos, fotos, imagens
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Outras-Paginas/Pesquisa.aspx?searchtext=benfica&searchmode=anyword ...


A Cinemateca tem no seu acervo imagens ou fotogramas isolados de um filme deteriorado (não sei ao certo) de um jogo Sport Lisboa e Benfica versus Sporting Clube de Portugal disputado em 1916. Infelizmente a informação é escassa.

Talvez os responsáveis do nosso Museu devessem mexer-se um pouco junto da Cinemateca mas infelizmente parece que não lêem muito este espaço. Em algumas vezes que fui ao Museu dei comigo a ranger os dentes...

conheco lá alguem... vou passar a informacao...
obrigado Victor.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 13 de Agosto de 2019, 15:25
Citação de: alfredo em 05 de Agosto de 2019, 09:25
Citação de: RedVC em 08 de Julho de 2019, 22:16
Citação de: pica_foices em 08 de Julho de 2019, 17:21
Não sei se conhecem a biblioteca digital da cinemateca. Tem vário material antigo sobre o SLB, tipo isto

http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=3681&type=Video ...
(a partir dos 6m-7m tem imagens da final da Taça de 1955)


Pesquisando por Benfica tem-se muitos vídeos, fotos, imagens
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Outras-Paginas/Pesquisa.aspx?searchtext=benfica&searchmode=anyword ...


A Cinemateca tem no seu acervo imagens ou fotogramas isolados de um filme deteriorado (não sei ao certo) de um jogo Sport Lisboa e Benfica versus Sporting Clube de Portugal disputado em 1916. Infelizmente a informação é escassa.

Talvez os responsáveis do nosso Museu devessem mexer-se um pouco junto da Cinemateca mas infelizmente parece que não lêem muito este espaço. Em algumas vezes que fui ao Museu dei comigo a ranger os dentes...

conheco lá alguem... vou passar a informacao...
obrigado Victor.

Ja tinha havido contacos entre o benfica e a cinemateca. Mas nao se conseguiu um acordo por ideias diferentes quanto ao preco.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Agosto de 2019, 16:08
Citação de: alfredo em 13 de Agosto de 2019, 15:25
Citação de: alfredo em 05 de Agosto de 2019, 09:25
Citação de: RedVC em 08 de Julho de 2019, 22:16
Citação de: pica_foices em 08 de Julho de 2019, 17:21
Não sei se conhecem a biblioteca digital da cinemateca. Tem vário material antigo sobre o SLB, tipo isto

http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=3681&type=Video ...
(a partir dos 6m-7m tem imagens da final da Taça de 1955)


Pesquisando por Benfica tem-se muitos vídeos, fotos, imagens
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Outras-Paginas/Pesquisa.aspx?searchtext=benfica&searchmode=anyword ...


A Cinemateca tem no seu acervo imagens ou fotogramas isolados de um filme deteriorado (não sei ao certo) de um jogo Sport Lisboa e Benfica versus Sporting Clube de Portugal disputado em 1916. Infelizmente a informação é escassa.

Talvez os responsáveis do nosso Museu devessem mexer-se um pouco junto da Cinemateca mas infelizmente parece que não lêem muito este espaço. Em algumas vezes que fui ao Museu dei comigo a ranger os dentes...

conheco lá alguem... vou passar a informacao...
obrigado Victor.

Ja tinha havido contacos entre o benfica e a cinemateca. Mas nao se conseguiu um acordo por ideias diferentes quanto ao preco.


Obrigado pela informação Alfredo.
Fico satisfeito em ver que o Clube tem procurado averiguar o que existe.

Material desse período tem um enorme valor pois é absolutamente raro. Mesmo que esteja já reduzido a fotogramas isolados tem interesse. Se subsistirem excertos que permitam ver movimento então ainda melhor.

Em 1916 já Cosme Damião tinha deixado de jogar, já o Chacha tinha morrido, já Artur J Pereira estava nos lagartos, já não tínhamos o campo da Feiteira. Apesar disso o interesse é enorme pois por exemplo poderemos talvez ver gente como Cândido de Oliveira, Henrique Costa ou Herculano Santos a jogar com o manto sagrado.

Um protocolo entre o Museu e a Cinemateca com divulgação adequada dessa sinergias com as competências de restauro do Museu e do maravilhoso acervo da Cinemateca seria extraordinariamente benéfico para ambas as partes. Muito mais importante do que os cifrões está a Mística do Clube e a dignidade com que se deve respeitar ambas as instituições.

Resta apenas que ainda venha a existir uma esclarecida e inteligente postura em ambas as partes.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Mikaeil em 16 de Agosto de 2019, 17:15
@enlineadegol

En 1965, el @RealZaragoza logró su único Trofeo Ramón de Carranza.
Algunos detalles de un magnífico programa del torneo con Zaragoza,
@SLBenfica, @Flamengo y @RealBetis


El Zaragoza ganó en semifinales 3-0 al Flamengo y 3-2 en la final al Benfica de Eusébio.

(https://pbs.twimg.com/media/EB3q5KzWwAAMr4Z?format=jpg&name=4096x4096)

(https://pbs.twimg.com/media/EB3q6HfXUAEu5IS?format=jpg&name=4096x4096)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Agosto de 2019, 17:51
Citação de: Mikaeil em 16 de Agosto de 2019, 17:15
@enlineadegol

En 1965, el @RealZaragoza logró su único Trofeo Ramón de Carranza.
Algunos detalles de un magnífico programa del torneo con Zaragoza,
@SLBenfica, @Flamengo y @RealBetis


El Zaragoza ganó en semifinales 3-0 al Flamengo y 3-2 en la final al Benfica de Eusébio.

(https://pbs.twimg.com/media/EB3q5KzWwAAMr4Z?format=jpg&name=4096x4096)

(https://pbs.twimg.com/media/EB3q6HfXUAEu5IS?format=jpg&name=4096x4096)


Obrigado pela partilha. Apesar do vidro é sempre uma emoção estar ao pé daqueles dois troféus que estão no Museu. Bem perto das duas orelhudas.


(https://i.postimg.cc/J4N7yVVm/48384514.jpg)


(https://i.postimg.cc/JnNYNq1y/53851901.jpg)

(https://i.postimg.cc/y83PhPjV/57130170.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Agosto de 2019, 22:19
-243-
A importância de se filmar... Ernesto!

Ernesto de Albuquerque, um dos pioneiros do Cinema feito em Portugal.



(https://i.postimg.cc/fydp4c14/01.jpg)
Fonte: Cinemateca Portuguesa



A propósito da oportuna menção feita há algumas semanas atrás pelo pica-foices ( que aparenta ser o moderador que mais lê este tópico  :coolsmiley: ) sobre filmes existentes na Cinemateca Portuguesa, vamos hoje falar deste pioneiro do Cinema feito em Portugal.

Como veremos, Ernesto de Albuquerque deixou uma obra cinematográfica interessante e diversificada, tendo provavelmente captado pela primeira vez em filme, actividades desportivas de equipas e atletas do Sport Lisboa e Benfica.



Ernesto de Albuquerque, o cineasta


(https://i.postimg.cc/nVmPh1Sg/02.jpg)
Fonte: Cinemateca Portuguesa



Ernesto Januário Gualdino de Sousa Albuquerque e Cunha terá nascido em Lisboa, na Rua da Fé, no dia 19 de Setembro de 1883 e terá falecido no Rio de Janeiro, algures no verão de 1940.

No seu excelente Dicionário do Cinema Português 1895-1961, Jorge Leitão Ramos refere que Ernesto de Albuquerque começou a trabalhar no laboratório de fotografia do seu padrasto logo após concluir os seus estudos na Escola Nacional. Esse laboratório situava-se na Rua de Santa Justa, em pleno coração de Lisboa e terá sido por lá que Albuquerque adquiriu os conhecimentos técnicos basilares para as actividades profissionais que desempenhou durante o resto da sua vida.



(https://i.postimg.cc/g0rMFy6M/03.jpg)
Fonte: TT



A partir de 1908, Ernesto de Albuquerque tornou-se fotógrafo profissional e produtor cinematográfico, dispondo de um laboratório profissional. A extensa lista dos filmes em que participou entre os anos de 1908 e 1924, mostra-nos que desempenhou actividades diversas tais como operador de câmara, direcção de fotografia, montagem, produção e realização.



https://www.imdb.com/name/nm0017074/ (https://www.imdb.com/name/nm0017074/)

http://www.cinept.ubi.pt/pt/pessoa/2143688895/Ernesto+de+Albuquerque (http://www.cinept.ubi.pt/pt/pessoa/2143688895/Ernesto+de+Albuquerque)



(https://i.postimg.cc/nLs1wH6g/04.jpg)
Várias imagens onde nos aparece Ernesto de Albuquerque. Fonte: Cinemateca Portuguesa



Essa lista de filmes compreende filmes de temáticas diversificadas desde ficção até documentários e reportagens de actividades políticas, militares, vida social e desportiva. Os filmes que sobreviveram oferecem-nos imagens preciosas de um Portugal desaparecido.

Por exemplo, um dos seus primeiros filmes foi "A Cultura do Cacau (em S. Tomé)" (1909) onde se fez uma abordagem documental à temática colonial e em particular à cultura do cacau em São Tomé, um assunto que à época tinha notória relevância política e comercial. Existia uma colisão dos interesses britânicos e portugueses e não estava ainda longe o trauma nacional com a questão do Ultimatum Inglês...



(https://i.postimg.cc/yN9ZZkq1/05.jpg)
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2689&type=Video (http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2689&type=Video)



Entre os projectos mais curiosos em que participou destacam-se os primeiros filmes cómicos feitos em Portugal. Alguns desses filmes pretendiam ser réplicas nacionais do famoso Charlot. Neles contracenava Cardo, um sósia de Charlot, que era interpretado por um actor Argentino chamado Hector Quintanilla.



(https://i.postimg.cc/dQWLD87R/06.jpg)
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=7128&type=Video (http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=7128&type=Video)



Vieram depois algumas longas-metragens com adaptações de clássicos da Literatura e do Teatro Português.

Também, ao que parece, Ernesto de Albuquerque chegou a receber um convite do General Norton de Matos para se deslocar a França para filmar aspectos da participação do CEP na Grande Guerra. Este convite talvez tenha resultado da participação (provavelmente como operador de câmara) de Ernesto de Albuquerque num fime de longa metragem (cerca 90 minutos) que captou uma parada militar que decorreu em 22-06-1916 em Montalvo, Tancos. A versão distribuída seria mais curta (cerca de 30 minutos) e designada por "Exercícios de Infantaria, Cavalaria e Artilharia pela Divisão Militar de Tancos" (fonte: Piçarra, MC. 2018. "Irmãos de armas": o CEP no cinema de propaganda da Primeira Guerra Mundial).

Infelizmente, por causa da revolução Sidonista de 5 de Dezembro de 1917 ou por outra razão, tal não se veio a concretizar e assim, apesar de existirem as magníficas fotografias do fotógrafo (e sócio e atleta Benfiquista) Arnaldo Garcez, ficamos privados de registos cinematográficos extensos captando a participação Portuguesa na Guerra de 1914-1918.

Ernesto de Albuquerque colaborou ainda com o grande Stuart de Carvalhais (ver texto -234-Stuart e o Emblema, pág. 57), o homem que anos mais tarde - a pedido de Félix Bermudes - modernizou decisivamente o emblema do Sport Lisboa e Benfica.

Dessa colaboração resultou a adaptação ao grande ecrã das famosas aventuras de quadradinhos "Quim e o Manecas", considerada a primeira banda desenhada Portuguesa, e que à época eram publicadas por Stuart no semanário humorístico "O Século Cómico" (ver: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OSeculoComico/OSeculoComico.htm (http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OSeculoComico/OSeculoComico.htm)).

E assim, com realização de Ernesto de Albuquerque e argumento de Stuart de Carvalhais (que também contracenava como o como pai do Manecas), foram rodadas duas curtas-metragens: "O Quim e o Manecas (Short)" e "As Aventuras de Quim e o Manecas", de 1916 e 1923,. Infelizmente nem um fotograma desses filmes terá sobrevivido.



(https://i.postimg.cc/44BRgPKG/07.jpg)

Fonte: http://www.cinept.ubi.pt
http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/859/As+Aventuras+de+Quim+e+o+Manecas (http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/859/As+Aventuras+de+Quim+e+o+Manecas)
http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/1721/O+Quim+e+o+Manecas (http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/1721/O+Quim+e+o+Manecas)




Ernesto de Albuquerque e o SL Benfica


De 1916 a 1919, trabalhando para a Empresa Internacional de Cinematografia, Ernesto de Albuquerque captou diversos eventos desportivos de ténis, hipismo, automobilismo, boxe, patinagem e futebol.

Para nós Benfiquistas, existem algumas notas interessantes a salientar. Como veremos, é lícito supor que Ernesto de Albuquerque terá rodado filmes em que pela primeira vez terão sido captados alguns eventos desportivos do nosso Clube.


Um exemplo disso é o filme "Campeonato de Patinagem No Rink do Sport Lisboa e Benfica em 1917" (http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/993/Campeonato+de+Patinagem+No+Rink+do+Sport+Lisboa+e+Benfica (http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/993/Campeonato+de+Patinagem+No+Rink+do+Sport+Lisboa+e+Benfica))

Infelizmente, não dispomos sequer de alguns fotogramas desse filme mas muito provavelmente terão sido captadas actividades de patinagem - eventualmente lúdicas e/ou competitivas - no ringue da Avenida Gomes Pereira em Benfica. É sabido que no ano anterior se tinha dado a integração dos Desportos de Benfica no Sport Lisboa e Benfica e que nesses tempos esse ringue tinha múltiplas actividades de diversas modalidades centradas na patinagem.


(https://i.postimg.cc/k5dp8RVw/08.jpg)
Fotografias do ringue de patinagem de Benfica que nos dão uma ideia do que poderá ter sido captado no filme de Ernesto de Albuquerque sobre o campeonato de patinagem de 1917



Ainda de 1917, a Cinemateca Digital disponibiliza-nos um pequeno filme, realizado por Ernesto Albuquerque, chamado "Portugal Desportivo".

O filme captou actividades de uma festa desportiva na Amadora, que decorreu em 18-03-1917 e que visava homenagear os pioneiros da aviação Portuguesa (existia ali uma base de aviação militar que já por aqui falamos). Na festa decorreu sucessivamente um festival aéreo, uma largada de aeróstatos, uma prova de atletismo (corrida) e uma angariação de fundos para os feridos da guerra.

Na prova de atletismo (cross-country) inscreveram-se 160 atletas de 32 equipas, cada uma com 5 concorrentes. Participaram o Sport Lisboa e Benfica, Sacavenense, Nacional CF, C Internacional F, Lisboa FC, Recreios Desportivos da Amadora, Sporting CP, Ginasio FC, GS Nacional, Ginásio CP, AE Ferreira Borges, GF Benfica, G Escuteiros e Carcavelinhos FC.

Em termos formais o SL Benfica apresentou-se com duas equipas, cada uma com 5 atletas. Mas para lá de isso inscreveram-se outros atletas Benfiquistas havendo referência que poderão ter chegado aos 50... Na altura o atletismo estava já bastante implantado no nosso Clube, com a prática assegurada por bastantes atletas.

A primeira equipa Benfiquista veio a conquistar o primeiro lugar por equipas, arrebatando uma bela Taça (ver figura). Dela faziam parte atletas como Cecílio Costa, António Brás, Alberto Paula e Fernando Paula.

Da segunda equipa fazia parte nada mais nada menos do que o Glorioso Félix Bermudes, um dos homens da pré-fundação, atleta, ideólogo, futuro presidente, seguramente um dos três homens mais importantes da História do Sport Lisboa e Benfica.

Ora, Félix Bermudes é muito provavelmente o atleta que vemos chegar à meta no fotograma dos 5:35.


(https://i.postimg.cc/y6pMrTpb/09.jpg)
http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2699&type=Video (http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2699&type=Video)
http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8710/Portugal+Desportivo (http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/8710/Portugal+Desportivo)



É sabido que Félix Bermudes representou o nosso Clube, em competição, não apenas como futebolista mas também em atletismo, modalidade que aliás já praticava ainda o nosso Clube não tinha sido fundado. Apesar das imagens oferecidas pela Cinemateca Digital não serem totalmente conclusivas, estou bastante convencido que era mesmo ele. É o único excerto de filme que conheço de Félix Bermudes em plena actividade desportiva com o manto sagrado.


Mas seguramente o filme de Ernesto de Albuquerque que tem mais interesse para os Benfiquistas é o que foi filmado um ano antes, em 1916, quando captou imagens de um "Desafio de futebol entre o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting de Portugal" (http://www.cinept.ubi.pt/pt/filme/3715/Desafio+de+Futebol+Benfica-Sporting).

Apesar de não termos quaisquer fotogramas ou qualquer menção acerca da data precisa ou do campo em que foi disputado esse desafio de futebol, é muito provável que esse dérbi tenha sido disputado nesse ano de 1916. Exibir em 1916 um filme rodado no ano anterior seria algo que faria pouco sentido para corresponder ao interesse dos espectadores na actualidade desportiva.

Ainda assim, tentar descobrir a data precisa desse dérbi filmado é tanto mais difícil quando se percebe que o ano de 1916 foi um dos mais prolíficos em dérbis lisboetas. Foram seis dérbis! Seis! Por ser tardio, é razoável excluir o dérbi disputado no dia 30-12-1916 mas ainda assim restam-nos 5 dérbis...



(https://i.postimg.cc/MGP3LPP3/10.jpg)
Os 6 dérbis do ano de 1916.



Numa opinião pessoal, e considerando os 5 dérbis-candidatos, afigurasse-me que o mais provável é que o dérbi filmado deverá ter sido o que foi disputado no dia 14 de Maio de 1916, aquando da inauguração do campo de futebol dos Recreios da Amadora, no Domingo, (ver texto -74- e -75- A Taça Amadora (partes I e II): Os Recreios Desportivos da Amadora). Essa minha opinião justifica-se com um detalhe que foi captado numa extraordinária fotografia de Joshua Benoliel (1873-1932).



(https://i.postimg.cc/JhG5s1xK/11.jpg)
Será uma câmara de filmar? Ver a comparação mais em baixo... Fonte: AML



E que magnífico seria podermos ver imagens em movimento de Cosme Damião a jogar futebol com o manto sagrado! É sabido que Cosme Damião finalizou a sua carreira de jogador pouco antes dos meados de 1916 para se ocupar plenamente do seu cargo de Capitão Geral do Clube ou seja assumir funções de coordenação de todo o nosso futebol.

Assim sendo e dependendo desse dérbi ter sido filmado no primeiro trimestre de 1916 ou depois, então Cosme terá ou não sido filmado a jogar futebol. Se de facto o dérbi filmado foi o disputado no Campo da Amadora então só poderemos no máximo aspirar ver Cosme Damião entre a assistência ou na cerimónia que decorreu no final do jogo.


Mas, para além de Cosme, dever notar-se que muitos outros grandes jogadores integravam os planteis da nossa equipa de futebol principal nas temporadas de 1915-1916 e 1916-1917.


(https://i.postimg.cc/nrkDd5TC/12.jpg)
Os 23 jogadores Benfiquistas que integraram os plantéis de 1915-1916 e 1916-1917. A maioria senão todos disputou pelo menos um dos dérbis de 1916.



Existe pois um notório interesse em saber se este filme sobreviveu aos 103 anos que entretanto passaram uma vez que neste filme poderão estar alguns dos nossos mais Gloriosos Ases do passado. Do outro lado da barricada, há também o interesse de ter sido captado em filme o ex-Benfiquista, transitório Sportinguista e futuro Belenense, o grande (e desertor) Artur José Pereira.

E já agora, quem sabe se algum destes filmes rodados por Ernesto Albuquerque terá sido exibido no nosso Cine-Clube de Benfica, a sala de cinema que foi inaugurada nesse mesmo ano de 1916 na nossa sede na Avenida Gomes Pereira em Benfica? É interessante pensar que os nossos sócios poderão ter assistido a esses filmes no Cine-Clube de Benfica.



(https://i.postimg.cc/9FQRmLJY/13.jpg)
O Cine-Clube de Benfica nos finais da década de 70, localizado no nº17 da Av. Gomes Pereira, actual edifício da JF de Benfica. Fonte: TT




Um adeus Brasileiro


Em Abril de 1925, tal como fizeram muitos milhares de Portugueses de Norte a Sul de Portugal, Ernesto de Albuquerque emigrou para o Brasil. Ter-se-à radicado no Rio de Janeiro e por lá não se lhe conhecem actividades cinematográficas.

A informação disponível indica que Albuquerque manteve actividade como jornalista, fotógrafo e redactor. Colaborou em particular com a revista "Vida Doméstica", publicação inicialmente mensal, editada entre os anos de 1920 e 1962 no Rio de Janeiro e que era direccionada a um público feminino.



(https://i.postimg.cc/T2C14rfL/14.jpg)
Ernesto de Albuquerque num jantar da Revista Doméstica em Abril de 1928, revista onde chegou a redactor. Fonte: BND



E por terras Brasileiras terá permanecido até à data da sua morte, que pelas referências que encontrei terá ocorrido no Verão de 1940, altura em que deveria ter 67 anos de idade.



Epílogo


Como mencionei há alguns dias, seria muito interessante que a Cinemateca Portuguesa e o Museu Cosme Damião pudessem conversar para avaliar e recuperar o que resta destas obras. As questões de preço são absurdas uma vez que o interesse histórico deveria prevalecer. Pede-se um pouco de bom senso e muita boa vontade, se for esse o caso. A quem interessa manter os filmes ou o que resta deles a apanhar pó nas prateleiras? Absurdo.

Saber se estes filmes sobreviveram e em caso positivo, qual o seu estado de conservação é um aspecto fundamental. Talvez ainda existam fragmentos que ainda permitam ver movimento, talvez tenham sobrevivido alguns fotogramas isolados, talvez estejam perdidos para sempre. Esperemos que existam e que o bom senso e a boa vontade permitam que venham a ser vistos pelos Benfiquistas.

Se bem me lembro quando fui ao Museu o filme mais antigo que por lá se exibia era um filme dos Jogos Olímpicos de Estocolmo em 1912 em que aparecia o infeliz Francisco Lázaro, na altura já um antigo atleta do SLB. É certo que estes filmes são posteriores mas por outro lado são bem mais interessantes uma vez que registaram atletas e actividades do nosso Clube. Cabe a palavra aos responsáveis.





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Setembro de 2019, 14:01
-244-
Félix e os vultos (I): António Sérgio

Lisboa, Palácio das Galveias, dia 16 de Fevereiro de 1956.


(https://i.postimg.cc/vHyKmVJW/01.jpg)
Fonte: http://www.lopesmendonca.net/



Dois vultos da Cultura em Portugal convivem numa cerimónia que evocava os 100 anos do nascimento de um amigo comum: o escritor Henrique Lopes Mendonça (1856 - 1931).

Félix Bermudes (1874 - 1960) e António Sérgio (1883 - 1969) partilhavam ainda uma relação familiar pois um sobrinho de António Sérgio (que não teve filhos) estava casado com Clara Bermudes, uma das duas filhas de Félix Bermudes.



(https://i.postimg.cc/526S992B/02.jpg)
Félix Bermudes e as suas duas filhas Cesina (esquerda) e Clara (direita)



De Félix Bermudes, da sua fascinante personalidade e da superlativa contribuição que deu ao Sport Lisboa e Benfica, já por aqui falamos de forma extensa:



-69- As manas Bermudes, Gloriosas a pedalar. (p.21)

-82- Eterno Bermudes. (p.24)

-143- Sport Lisboa, Bemfica 1923 (p. 39)

-174- O Olímpico Bermudes (parte I) – Gloriosos tiros (p. 46)

-175- O Olímpico Bermudes (parte II) – Fora de Paris, dentro dos Jogos (p. 46)

-176- O Olímpico Bermudes (parte III) – Muitos tiros, poucos pontos (p. 46)

-197- Félix e os Leões da Estrela (p. 49)




Mas o Sport Lisboa e Benfica não está apenas restrito ao desporto, não integrando outras dimensões, igualmente ricas e complementares. Assim sendo decidi fazer uma pequena série de artigos, biografando brevemente algumas figuras da Cultura em Portugal que interagiram com o nosso Félix Bermudes.

Os textos mostrarão que Félix Bermudes não é apenas um imortal do Sport Lisboa e Benfica, mas também que foi influente e considerado nos meios Culturais de Portugal.

No presente texto falaremos de António Sérgio, figura maior da Cultura e Política Portuguesa, um intelectual e pedagogo cujo legado e influência ainda hoje se faz sentir.



António Sérgio
(1883 – 1969)


(https://i.postimg.cc/BnTQKHb4/03.jpg)
António Sérgio caricaturado por António



António Sérgio nasceu em Damão, Índia Portuguesa, no dia 3-09-1888. Nesse tempo, o seu pai era um respeitado oficial da Marinha Portuguesa que desempenhava o cargo de governador de Damão. Damão era ainda uma cidade integrante do Império Colonial Português havendo ainda a circunstância de que anos antes o avô de António Sérgio tinha sido governador-geral da Índia.

Ainda nesse ano de 1888, a família Sousa regressaria a Lisboa para mais tarde voltar a emigrar, desta vez para Angola e para o Congo, onde seu pai também assumiu funções de governador. Por terras Africanas permaneceriam até ao pequeno António ter cerca de 9 anos de idade, altura em que regressaram definitivamente à metrópole.

Concluída a instrução primária e seguindo uma tradição familiar (pai e avô paterno), António Sérgio entrou para o Colégio Militar para mais tarde ingressar na Escola Naval onde completou o curso de Marinha de Guerra. A sua vida parecia destinada à vida militar.



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António Sérgio no Colégio Militar e na Escola Naval  onde o podemos encontrar num momento desportivo, ao centro, de bigode. Fonte: sergio19.net



Apesar da carreira náutica lhe ter permitido viajar por todo o mundo, António Sérgio não se identificava com a componente militar da profissão. E assim, em finais de 1910, por alturas da instauração da Republica, António Sérgio renunciou definitivamente à sua condição de militar. Com pouco mais de 30 anos era chegado o tempo de seguir as suas verdadeiras vocações.



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António Sérgio Sousa (pai) e António Sérgio Sousa (filho), representantes de duas de pelo menos três gerações de oficiais da Marinha. Fonte: Marinha Portuguesa



Anos mais tarde, António Sérgio admitiu que essa decisão radical foi também motivada pelo desejo de contribuir para o combate nacional às dificuldades económicas e sociais trazidas pelas convulsões geradas com a instauração da Republica. A revolução de 5 de Outubro de 1910 despertou-lhe as suas verdadeiras vocações, traduzidas depois numa prestigiada ainda que conturbada carreira de filósofo, pedagogista e reformador social (tal como se auto-definiu).

Centrando atenções no progresso económico e moral do nosso país, António Sérgio foi um defensor coerente de um socialismo libertário ou cooperativista por oposição a um socialismo de Estado. Rejeitava o modelo do socialismo soviético, marxista-leninista e admirava antes as linhas políticas sociais-democratas adoptadas pelos países da Escandinávia.

Detentor de uma cultura humanista profunda e cultivadora, o pensamento e a acção pública de António Sérgio foram marcadamente voltados para a problemática da Educação. Foi ideólogo e figura central do movimento Seara Nova, cuja obra produziu profundas e marcantes influências sociais e políticas no resto do século XX. Como ele próprio dizia, a grandeza dos homens mede-se pelas consequências da sua acção e nos seus discípulos. Mede-se ao longo das décadas seguintes à sua morte. António Sérgio deixou obra e discípulos.




Tempos difíceis



António Sérgio teve ainda oportunidade de tentar implementar na prática algumas das suas ideias do cooperativismo como modelo de sociedade, ao fazer parte, como ministro da Educação, do Governo de Álvaro de Castro, em 1923.

Tudo mudaria em 28 de Maio de 1926 com a instauração da ditadura e o subsequente fim da I República. Foi forçado a exilar-se em Paris apenas regressando a Portugal em 1933. Desde essa altura e até ao fim da sua vida, António Sérgio viria a estar ligado a movimentos oposicionistas ao Estado Novo, opção que lhe custou ser preso pela PIDE em diversas ocasiões.



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Opositor, perseguido e preso pela PIDE. Fonte TT



O activismo político levou-o a ser presença destacada nas campanhas presidenciais de Norton de Matos (1948-1949) e depois de Humberto Delgado (1958). Nessas campanhas esteve ao lado de nomes relevantes de diversas sensibilidades da Política e Cultura Portuguesas tais como Aquilino Ribeiro, Rolão Preto, Cunha Leal, Jaime Cortesão, Azevedo Gomes, Cesina Bermudes (filha de Félix Bermudes), entre outros.



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Dois episódios da campanha presidencial de Humberto Delgado. Fonte: TT



António Sérgio faleceu em Lisboa, 24 de Janeiro de 1969. Viviam-se os tempos da primavera Marcelista, facto que permitiu que a sua morte tenha tido o merecido destaque da imprensa escrita em Portugal.



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A morte de um vulto. Fonte: DL



No remate de um excelente artigo, Raul Rego referia: "Desaparece com António Sérgio talvez o maior português do nosso tempo, um daqueles que contribuíram para que o País não seja, ao deixarem-no, o mesmo que o encontraram.".


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Uma homenagem já em tempos de Democracia.



É do nosso conhecimento que existe um outro cruzamento interessante de António Sérgio com duas figuras maiores, duas figuras primordiais da História do Sport Lisboa e Benfica mas essa curiosidade histórica fica guardada para outra - melhor – ocasião.

No próximo texto falaremos de Henrique Lopes Mendonça.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Setembro de 2019, 08:30
-245-
Félix e os vultos (II): Henrique Lopes de Mendonça


Dia 16 de Fevereiro de 1956, nº 120, rua do Diário de Notícias, Lisboa.


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Sessão pública de homenagem celebrando o centenário do nascimento de Henrique Lopes Mendonça, falecido 25 anos antes. Fonte:AML



Félix Bemudes discursa perante uma pequena multidão, assumindo não apenas o seu cargo de Presidente da Sociedade Portuguesa de Autores mas também o de amigo de longa data do homenageado.



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Fonte: DL



Esta sessão pública antecedeu a exposição no Palácio das Galveias, reportada na fotografia com que iniciamos o texto anterior.

E já agora voltemos a essa fotografia, centrando a atenção no quadro por trás de Félix Bermudes.



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Fonte: lopesmendonca.net



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A sala central da exposição do centenário do nascimento de Henrique Lopes Mendonça. Fonte: AML




Ali vislumbramos um excelente retrato de Henrique Lopes Mendonça, pintado várias décadas antes pelo seu cunhado, o pintor Columbano Bordalo Pinheiro. Tal como o seu irmão Rafael Bordalo Pinheiro, Columbano integra sem favor qualquer lista que se faça dos maiores artistas Portugueses de sempre.

O texto de hoje fará uma biografia sintética de Henrique Lopes Mendonça, o homem que entre muitas outras coisas, escreveu a letra de "A Portuguesa", o Hino Nacional de Portugal.



Henrique Lopes Mendonça
(1856 - 1931)

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Fonte: AML




Henrique Lopes de Mendonça nasceu em Lisboa a 12 de Fevereiro de 1856 e faleceu a 24 de Agosto de 1931.

Foi um destacado Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa na primeira parte da sua vida adulta. Mais tarde foi também professor de História na Escola de Belas Artes de Lisboa, arqueólogo; poeta; dramaturgo; romancista, bibliotecário da Escola Naval e membro das comissões oficiais dos centenários de Colombo e Vasco da Gama. Foram 75 anos de uma vida bem preenchida.

Mas, talvez o facto pelo qual é mais recordado é que Henrique Lopes de Mendonça é um dos autores de "A Portuguesa", o Hino Nacional de Portugal.


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Na ressaca do ultimato inglês de 1890, Henrique Lopes de Mendonça foi desafiado por Alfredo Keil (um Português de ascendência Alemã) a escrever os versos para uma música heróica que apelava ao orgulho e independência nacional.

O resultado seria "A Portuguesa", um hino que foi rapidamente adoptado pelos revolucionários republicanos e proibido pela monarquia Portuguesa. Apenas duas décadas depois, em 19 de Julho de 1911, após a implantação da República, esse hino seria adoptado como o Hino Nacional de Portugal.




Lopes Mendonça, o criador


Tal como Félix Bermudes, que ao longo de 4-5 décadas foi um destacado autor teatral, Henrique Lopes de Mendonça foi ao longo da sua vida, um autor. Foi historiador; arqueólogo; poeta; dramaturgo e romancista, com obra publicada e reconhecida pelos seus pares.

Assim, para lá dos laços de amizade, os dois autores partilharam sempre a preocupação pela defesa dos direitos de propriedade intelectual. Com naturalidade, os dois homens integraram o grupo que esteve por trás da formação da Sociedade Portuguesa de Autores (ver https://www.spautores.pt/spa/historico-spa).

Em 1911, juntamente com alguns outros autores teatrais, forma a Associação de Classe dos Autores Dramáticos Portugueses que infelizmente teve uma vida curta, não conseguindo reunir mais do que uns 50 associados.

Finalmente, em 1925 seria fundada a SECTP (Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses) com o objectivo de proceder à "... união dos escritores teatrais e compositores musicais portugueses para a defesa dos seus direitos e melhoria dos seus interesses...".

Entre os fundadores, para além de Félix Bermudes e Henrique Lopes de Mendonça, estiveram nomes como Mário Duarte, André Brun, João Bastos, Ernesto Rodrigues e os compositores Alves Coelho, Carlos Calderón e Luz Júnior.



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Fotografia colorida do grupo que em 22-01-1927, promoveu uma festa de homenagem a Júlio Dantas, presidente da SECTP. Fonte: TT.




Numa primeira fase, o escritor (e médico, político e diplomata) Júlio Dantas foi eleito para o cargo de Presidente da SECTP mas a partir de 1928 e até ao fim da sua vida (5 -01-1960), o cargo seria desempenhado por Félix Bermudes,

Ao longo de 3 décadas, Félix Bermudes foi o principal responsável pela legislação do sector e pela expansão da rede de correspondentes nacionais e parceiros internacionais da SECTP. Assim sendo, Félix Bermudes estava em posição privilegiada para valorizar a contribuição de Henrique Lopes de Mendonça para a defesa do direito autoral em Portugal.


No seu discurso de 1956, Félix Bermudes não se esqueceu de valorizar essa contribuição para o avanço das Artes em Portugal.


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Fonte: AML e DL



É assim, os grandes sabem reconhecer os grandes.



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Fonte: DL



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Setembro de 2019, 21:50
-246-
A debandada dos Gansos (parte I)


Paris, Vincennes, Estádio Pershing, dia 25 de Dezembro de 1920.


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A equipa do CPAC que alinhou em Paris no dia de Natal de 1920. Fonte: Gallica



Foi nesse dia de Natal de 1920 que uma equipa Portuguesa disputou pela primeira vez uma partida de futebol na capital Francesa. Essa equipa foi a 1ª categoria do Clube Atlético Casa Pia (CPAC) e participava no "Tournoi Internationale du Club Français", torneio que decorreu de 24 a 26 de Dezembro de 1920 e em que competiram também equipas de França, Espanha e Suíça.



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Capa da Revista Portuguesa "Football" que destacava a digressão casapiana a Paris no Natal de1920.



Os "gansos", como os casapianos eram carinhosamente chamados ficaram assim uma vez mais ligados à História do Futebol em Portugal.


Gansos?


Gansos? Sim, pois enquanto órfãos os miúdos que ingressavam na Casa Pia eram acolhidos na casa-mãe, e a ela recolhiam, rodeando-a como os pequenos gansos rodeiam a sua mãe, gentil, carinhosa e protectora.

Uma imagem bonita que é evocada numa das versões do emblema do CPAC, encimada por um ganso. Esse emblema foi desenhado por Pedro Guedes, pintor, ilustre casapiano e também o guarda-redes do 1º jogo registado do Sport Lisboa, disputado nas Salésias no dia 1 de Janeiro de 1905 (ver: -31- O primeiro guardião. pág.7).



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O emblema do CPAC desenhado por Pedro Guedes, ilustre pintor e desportista casapiano.



O Torneio


No seu primeiro jogo no torneio de Paris, o CPAC enfrentou o Cercle Athletic de Paris, a equipa anfitriã e que esse ano ostentava o título de Campeã de França. Venceram os franceses por 2-1 após um jogo bastante disputado que deixou os anfitriões bastante bem impressionados acerca das capacidades futebolísticas e da postura desportiva dos Portugueses. O golo casapiano foi marcado pelo inevitável Cândido de Oliveira, capitão de equipa e a força motriz da fundação e dos primeiros anos do CPAC.



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Fonte: Gallica



Foram muitos os elogios que na ocasião a imprensa francesa fez ao jogo veloz, dinâmico e artístico dos Portugueses. Segundo eles, os casapianos pecaram apenas pela capacidade de concretização.



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Os (muitos) elogios da imprensa francesa à equipa Portuguesa. Fonte: Gallica



No dia seguinte, os franceses do Cercle AP venceram o torneio ao derrotar o CA Vitry por uns rotundos 4-1. Em jogo a contar para a atribuição do 3º e do 4º lugar, o CPAC disputou e perdeu o jogo contra os espanhóis do FC Espanya por 1-3. Terá talvez pesado algum cansaço ou alguma inexperiência pois Cândido de Oliveira e António Pinho eram os únicos casapianos que tinham já experiência em jogos internacionais por terem integrado digressões que o SL Benfica fez em Espanha entre 1915 e 1919.



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Alguns aspectos do jogo FC Espanya vs CPAC que deu o 3º lugar aos espanhóis. Fonte: Gallica




O Estádio Pershing


Os jogos do Torneio foram disputados no Estádio Pershing, situado na zona de Vincennes em Paris. Inaugurado em Junho de 1919 e demolido na década de 60, o Estádio tinha inicialmente capacidade para 25.000 lugares e foi usado essencialmente para a prática do futebol, do râguebi e do atletismo.

Surpreendentemente, o Estádio foi desenhado e construído não por franceses mas pelos americanos da YMCA (Young Men's Christian Association), uma associação de origem inter-religiosa cristã protestante, fundada em Londres em 1844 por George Williams (1821-1905).

A YMCA tem actualmente sede em Genebra, na Suíça. Reúne mais de 15.000 associações de jovens locais, está presente em 120 países, e soma cerca de 65 milhões de membros que trabalham em muitos campos de actividade.


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Estádio de Pershing em 1919, durante a cerimónia de inauguração aquando dos Jogos Interaliados. Fonte: wikipedia



A construção do Estádio teve inicialmente como objectivo a sua utilização para os Jogos Interaliados 1919, prova desportiva aberta aos oficiais e praças das forças armadas dos exércitos Aliados que tinham combatido na I Guerra Mundial. Estes Jogos Interaliados procuraram preencher o vazio em que a guerra tinha deixado no movimento olímpico, com o cancelamento da VI Olimpíada prevista para 1916 em Berlim. A ideia dos Jogos foi adoptada pelo General JJ Pershing, Comandante do Exército Americano na Europa, tendo participado 18 países, entre eles Portugal.



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O General JJ Pershing e os Jogos Interaliados de 1918.


Depois desses Jogos e para além de diversos desafios disputados pela equipa nacional Francesa de futebol, o Estádio foi usado para jogos de râguebi do torneio das 5 nações e para diversos jogos do torneio olímpico de futebol dos Jogos de Paris de 1924. O Estádio esteve ainda ligado a um episódio pioneiro do desporto feminino internacional com a realização em 1922 dos primeiros Jogos Mundiais da Mulher que registaram assistências na ordem dos 20.000 espectadores.



A debandada dos gansos e a fundação do CPAC


Nesse torneio de 1920, a equipa casapiana exibiu-se em excelente nível, deixando não apenas um rasto da qualidade do seu futebol mas também o prestígio do seu exemplar desportivismo e da excelência das personalidades que constituíam a equipa. Entre todos destacava-se a liderança de Cândido de Oliveira, capitão de equipa e que embora ainda fosse jogador estava já num processo evolutivo que o levou a tornar-se uma das mais sabedoras e prestigiadas figuras de sempre do Futebol Português.

Cândido Plácido de Oliveira (1896-1958), foi uma personalidade invulgar, extraordinária do nosso futebol. Foi futebolista, jornalista, dirigente, treinador e pedagogo. Foi ele o homem que deu corpo à vontade de alguns casapianos em se fundar um Clube que reunisse os jovens futebolistas saídos da Casa Pia. Mas lá iremos.

Uma nota relevante daquela equipa casapiana é que a maioria (ou mesmo todos) dos seus jogadores tinha abandonado os quadros do Sport Lisboa e Benfica em meados desse ano.

Alguns deles, como o guarda-redes Clemente Guerra, o defesa António Pinho, o médio Cândido de Oliveira e o avançado Silvestre Rosmaninho, eram já jogadores regulares e destacados da 1ª categoria do SLB que tinha conquistado o Campeonato Regional de Lisboa (o campeonato mais competitivo e prestigiado então disputado em Portugal) de 1920.


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Duas equipas Benfiquistas do final da década de 10.



Os restantes ex-Benfiquistas (algumas dezenas) que debandaram para o CPAC integravam equipas das categorias inferiores do SLB, embora muitos deles provavelmente tinham capacidade para ainda ascender à 1ª categoria.

Cosme Damião, também um antigo Casapiano, exercia uma liderança sagaz, sabedora mas também muito exigente quer nos aspectos técnicos quer no comprometimento para com a equipa e a vitória. Cosme foi o pai da Mística e com ele não era fácil aos jovens jogadores chegar à 1ª categoria...

E assim, em 14 de Junho de 1920, 18 homens reuniram-se numa sala de sessões da Associação de Classe do Pessoal Superior dos Correios e Telégrafos na Rua Eugénio dos Santos, 159 – 2º andar, Lisboa, para assinarem o auto de fundação do CPAC (fonte: http://dubleudansmesnuages.com/?p=3064).



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O auto de fundação e o estandarte do CPAC. Fonte: dubleudansmesnuages.com



Entre esses 18 fundadores encontramos, para lá do inevitável Cândido de Oliveira e de António Pinho, homens como Ricardo Ornelas (jornalista e seleccionador nacional de futebol), Mário da Silva Marques (primeiro nadador olímpico Português, competindo em Paris, 1924) e David Ferreira (pai do futuro escritor e poeta David Mourão Ferreira).

Um aspecto fundamental da fundação do CPAC é que Cândido de Oliveira apesar de ter convencido algumas dezenas de companheiros casapianos a acompanharem-no para o novo Clube, não conseguiu convencer outros antigos companheiros. Entre esses homens que preferiram manter-se no SLB temos alguns dos que tiveram um papel fundamental nas décadas seguintes do Sport Lisboa e Benfica.



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Os casapianos mais destacados que saíram (para o CPAC) e que permaneceram (no SLB) depois da debandada dos gansos em 1920.



Uma década comprometida


Em abono da verdade, Cândido de Oliveira terá pensado na fundação do CPAC logo em 1919 mas decidiu adiar essa decisão durante 1 ano pelo facto do SLB estar a viver um período conturbado. Em 1919, para além da perda do título regional de Lisboa para o SCP, deu-se também a debandada de uma dezena de jogadores Benfiquistas para o recém-fundado CF "os Belenenses".

Só no final da época 1919-1920, depois do Benfica ter reconquistado o título regional de futebol, Cândido de Oliveira julgou estarem criadas as condições para avançar com o CPAC.

A debandada dos Gansos em 1920 teve consequências nefastas para o SLB, alterando significativamente o sucesso e o desenvolvimento do nosso Clube. Em grande medida perdeu-se o viveiro casapiano que abastecia abundantemente as diversas categorias do SLB. Custou-nos uma década desportiva pois apenas em 1929-1930 voltaríamos a conquistar um título de futebol na categoria principal.

Antes dessa debandada, Cosme terá pensado em Cândido de Oliveira como o homem mais capaz de o substituir e de guindar o SLB para novas etapas do seu desenvolvimento. Quis o destino que assim não fosse.

Sabe-se que Cândido de Oliveira discutiu a ideia da formação do CPAC com Cosme Damião mas este não se terá mostrado interessado, antecipando que essa fundação iria apenas enfraquecer o SLB. É provável que Cosme não tenha acreditado na sustentação a longo prazo do CPAC.

Cosme Damião não terá guardado rancores. A sua personalidade e o seu amor à Casa Pia terão evitado esses sentimentos. E isso mais se demonstrou quando Cosme Damião convidou a equipa do CPAC para o primeiro jogo oficial disputado no Campo das Amoreiras, o primeiro complexo desportivo propriedade do SLB.

E assim, no dia 13 de Dezembro de 1925, perante 15 mil espectadores, o CPAC venceu o SLB por 3-1.



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Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Para perceber a qualidade dos jogadores que debandaram em 1920 para o formar o CPAC basta dizer que logo em 1920-1921, o CPAC venceu invicto o Campeonato Regional de Lisboa e a Taça Associação. Nos anos imediatamente subsequentes as equipas casapianas manter-se-iam competitivas mas nunca mais tiveram o sucesso desportivo inicial.



O êxodo de Belém


Infelizmente para o CPAC, o sucesso desportivo do Clube ao mais alto nível foi imediato mas não duradouro. O CPAC participou apenas por uma vez no Campeonato Nacional, em 1938-1939, tendo ficado classificado no último lugar (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Divis%C3%A3o_de_1938%E2%80%9339) Ao CPAC faltava-lhe uma grande adesão popular e instalações desportivas adequadas.

Neste último caso, o CPAC teria ainda de percorrer um longo e difícil caminho até finalmente dispor do seu actual complexo desportivo. E, à semelhança do Sport Lisboa, o preço a pagar foi ter de abandonar Belém.



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Os complexos desportivos do CPAC: Restelo (1924-1940) e Pina Manique (1954-actual).



De 1920 até 1924 o CPAC jogou no Campo das Laranjeiras, propriedade do CIF. Em finais de 1924, com a presença de Manuel Teixeira Gomes, presidente da Republica, o CPAC inaugurou o Campo do Restelo (não confundir com o actual Estádio do CFB), projectado por António do Couto Abreu, antigo aluno casapiano.

Até 1940, o Campo do Restelo seria a casa do CPAC mas nesse ano todo o complexo desportivo foi demolido para libertar espaço para a grande "Exposição do Mundo Português".

Seguiram-se anos de nomadismo passados entre os campos das Salésias (treinos), FNAT em Belém, Cascalheira em Campolide, Santo Amaro, e Estrela da Amadora. Apenas em Agosto de 1954 o CPAC conseguiria inaugurar na zona de Monsanto o Estádio de Pina Manique. Apesar de estar longe da terra-mãe de Belém, o CAPC passou a dispor de infra-estruturas próprias e assim condições para continuar o seu meritório percurso.



(continua)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Setembro de 2019, 09:02
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A debandada dos Gansos (parte II)


Uma imagem inesperada: Cosme Damião, presidente do CPAC!


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Cosme Damião, presidente do CPAC em meados da década de 30. Fonte: Jornal "O Casapiano".



Não há muitos Benfiquistas que saibam mas Cosme Damião, um dos 24 fundadores do Sport Lisboa, o homem que nunca quis ser presidente do Sport Lisboa e Benfica foi presidente do CPAC de 1936 a 1938. Ao seu lado esteve o seu velho companheiro António do Couto Abre. Falou alto a camaradagem casapiana. Mas não terá sido só isso.



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Fotografia colorida de uma cerimónia pública festiva do CPAC no Campo do Restelo em 3 de Julho de 1936. Em destaque estão Cosme Damião (Presidente) e António do Couto Abreu (Vice-Presidente). Fonte: TT




O caminho para assumir a presidência do CPAC foi longo e passou por uma fase durante a qual Cosme Damião se desligou temporariamente, olhando com desencanto para o seu Sport Lisboa e Benfica e para o trajecto que o futebol português passou a trilhar desde a década de 20.

Nessa aventura presidencial, Cosme terá talvez pensado em concretizar no CPAC as suas ideias para o desporto, assentes num conceito puramente amador, algo que tinha sido para sempre comprometido no SLB depois das eleições de 1926. Infelizmente para Cosme, a sua visão também se mostraria inviável no CPAC face à evolução da sociedade e do desporto em Portugal.

Apesar da sua passagem pelo CPAC, Cosme foi sempre Benfiquista. Depois de quase duas décadas como Capitão Geral do Clube, teve um momento de desencanto que o levou a afastar-se dos destinos do Clube de 1926 até 1931.

Cosme regressaria ao dirigismo no nosso Clube 5 anos depois de ter saído, assumindo, de 1931 a 1935, a Presidência da Mesa da Assembleia Geral. Infelizmente esse cargo não se adequava muito às suas características pessoais e depois terá surgido o desafio para colaborar com o CPAC.

Cosme foi sempre uma figura prestigiada e uma presença habitual nos convívios e actos solenes do SLB. Até à sua morte, ocorrida em 12 de Junho de 1947, a sua palavra foi sempre ouvida e respeitada.



A vida num balanço


No desporto e na vida as amizades valem ouro. Infelizmente nem sempre os trajectos de vida são lineares, quer pelas escolhas que fazemos quer pelas circunstâncias que não controlamos. Os amores Clubísticos nem sempre são exclusivos e as amizades e os conflitos acumulados nem sempre são inquebrantáveis.

Das dezenas de gansos que acompanharam Cândido de Oliveira para o CPAC tenho ideia que apenas dois regressaram ao SLB. O primeiro foi o guarda-redes Clemente Guerra, que não obstante ser um dos 18 fundadores do CPAC, jogou por lá apenas duas temporadas tendo decidido regressar ao SLB na temporada de 1922-1923.

O outro foi António Pinho, também fundador do CPAC e o mais próximo de Cândido de Oliveira. Pinho foi um defesa de categoria, internacional A por 12 vezes num tempo em que a nossa selecção disputava pouco jogos. Em meados de 1928, após 8 temporadas no CPAC, Pinho cortou relações com Cândido de Oliveira e regressou ao SLB. Foi recebido de braços abertos, jogando ainda duas temporadas no SLB, finalizando a sua carreira. Em 1929-1930, a sua última época, ajudou o Benfica a conquistar um título em primeiras categorias, o primeiro a nível nacional.



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A equipa do Sport Lisboa e Benfica vencedora do Campeonato de Portugal em 1929-1930



Para Cândido de Oliveira o cenário seria outro. Até falecer, em 1958, e apesar de ser o mais sabedor e mais prestigiado dos treinadores Portugueses, nunca teve a possibilidade de voltar ao SLB. Durante a sua longa carreira no futebol, treinou o CPAC, a Selecção Nacional, o CFB, o FCP, o CR Flamengo (sim o do Rio de Janeiro!) e até o SCP, onde foi Campeão Nacional. Faltou-lhe treinar o maior Clube de Portugal, facto que - estou certo – muito terá lamentado.

Para essa porta se manter definitivamente fechada muito terão contribuído Cosme Damião e António Ribeiro dos Reis. Os dois ilustres Benfiquistas, apesar de serem amigos de Cândido durante toda a sua vida, foram inflexíveis na separação entre os sentimentos pessoais e os valores do Clube. A debandada dos Gansos em 1920 poderá ter sido perdoada mas nunca foi esquecida.



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Perto do fim, amizades duradouras... fora do campo!




Uma presença inesperada


E para acabar este texto, vamos dar um outro exemplo de amores-desamores e de trajectos clubísticos não lineares. Vamos regressar à fotografia com que iniciamos o texto anterior, ao Estádio Pershing naquele dia de Natal de 1920.


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Olhemos agora para o homem que posou à civil, ao lado dos jogadores Casapianos. Esse homem era Luís Francisco Vieira, um ilustre Benfiquista, pioneiro dos tempos das Salésias!


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Algumas das etapas do trajecto desportivo de Luís Francisco Vieira.



A presença de Luís Viera na comitiva casapiana é para mim inesperada, desconhecendo os motivos que o levaram a esta aventura. Em princípio, Luís Viera não foi casapiano pois quando tinha 10 anos de idade frequentou a Escola Académica, então uma prestigiada instituição de ensino privada (ver: -96- L'étude fait l'avenir - parte I e II, pág. 27). É possível que tenha sido convidado por ser um velho companheiro da zona de Belém e também um homem do futebol, respeitado e sabedor.

De Luís Vieira também já por aqui falamos, num texto que me deu um particular prazer publicar (ver: -161- O primeiro Luís F. Vieira, pág 44).

Entre 1904 e 1919, Luís Viera foi um excelente médio/avançado das equipas Benfiquistas. Jogou nas Salésias, na Feiteira, fez digressões a Espanha, jogou muitos jogos ao lado de Cosme Damião, Henrique Costa, Álvaro Gaspar, Félix Bermudes, etc, etc.

Em 1913 foi seleccionado integrar a equipa da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) que fez a lendária digressão ao Brasil (ver -46 e 47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 pág. 12 e 13). Durante essa digressão recebeu convites de vários clubes brasileiros e assim, encantado com a vida carioca, Luís Viera decidiu aceitar o convite do CR Botafogo.

De 1913 até 1916, Luís Viera permaneceu no Rio de Janeiro, tornando-se o terceiro jogador Português a jogar no estrangeiro. Quando regressou a Portugal, Luís Vieira regressou também ao SLB, envergando o manto sagrado por mais duas épocas.

Finda a carreira de futebolista, Luís Vieira parece ter-se desligado do SLB. Era um filho de Belém e isso ajuda a explicar que se tenha associado ao CF "os Belenenses", ajudando a solidificar esse clube fundado em 1919. Nesse ano inicial, quando o CFB formou a sua primeira equipa de futebol (maioritariamente com elementos vindos do SLB e do SCP) já Luís Vieira tinha abandonado os campos de futebol. Restava-lhe o caminho de dirigente desportivo...

E de facto, Luís Viera foi dirigente do CFB, tendo sido 2º Presidente da Direcção do Clube Belenense, cumprindo mandato entre 1922 e 1924. Ao longo do resto da sua vida foi um homem de negócios bem-sucedido, sempre reconhecido e respeitado no meio futebolístico nacional.

Não obstante este trajecto clubístico não linear, com ligações ao CPAC e ao CFB, Luís Vieira concedeu uma entrevista em 1969, em que olhou para trás, para a sua vida desportiva. Durante a entrevista Luís vieira assumiu-se taxativamente como Benfiquista. E, com a autoridade e o saber de quem lutou bravamente com a Águia ao peito, Luís Viera explicou como era sentido o Amor ao Clube nos seus tempos de jogador.



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Excertos de uma entrevista de Luís Vieira em 1969. Fonte: Hemeroteca de Lisboa




Luís Viera teve uma vida cheia e rica em futebol. Viveu os tempos da fundação, as Salésias, migrou para a Feiteira, jogou no Brasil, viveu os tempos da fundação do CPAC e do CFB, foi dirigente, viu o SLB inaugurar as Amoreiras, viu a sua demolição, o Campo Grande e a Luz. Viu jogar Vítor Silva, Rogério Pipi, Águas, Costa Pereira, Coluna, José Augusto e Eusébio, entre tantos outros. Viu a conquista de campeonatos e Taças, a Taça Latina, as Taças do Campeões Europeus, enfim a Glória Mundial do Sport Lisboa e Benfica. Tantas e tão Gloriosas foram essas figuras e conquistas.

Circunstâncias diversas terão determinado que o seu amor ao Glorioso nem sempre tenha sido linear. Ainda assim estou convencido que Luís Vieira estava a ser sincero quando assumiu que o SLB era o seu Clube do coração. Honra e glória à memória de Luís Vieira.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Mufete em 28 de Setembro de 2019, 10:26
Este tópico é um colírio nos tempos que correm...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Outubro de 2019, 22:55
-248-
Félix e os vultos (III): António Silva, cruzamentos na estrada da glória


Dia 5 de Fevereiro de 1935, Cais de Alcântara, Lisboa.

A bordo do paquete Raul Soares, um conjunto de pessoas apresenta cumprimentos de boas-vindas ao actor Brasileiro Procópio Ferreira.



(https://i.postimg.cc/0NDYjNqg/01.jpg)
Fonte: TT



Era a primeira vez que Procópio, conceituado actor, director de teatro e dramaturgo brasileiro visitava Lisboa, gerando expectativa e satisfação entre a comunidade teatral Lisboeta (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Proc%C3%B3pio_Ferreira). A visita mereceu destaque de 1ª página no DL



(https://i.postimg.cc/26j1Yjk7/02.jpg)
Fonte: DL



Há várias curiosidades ligadas quer a esse navio quer a muitas das pessoas presentes nesta fotografia mas vamos directos ao ponto de interesse deste texto. Vamos concentrar-nos na presença do glorioso Félix Bermudes e de um dos mais extraordinários e inesquecíveis dos actores Portugueses, o imensamente popular António Silva.

Nesta recepção, Félix Bermudes esteva presente não apenas na sua qualidade de autor teatral mas também na de presidente da SECTP (Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses), organismo que desde 1970 passou a designar-se SPA (Sociedade Portuguesa de Autores).

Já António Silva conhecia Procópio Ferreira desde os seus tempos de jovem actor, altura em que fez longas digressões pelo Brasil.



António Silva (1887-1971)

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O original e a caricatura pelo traço de "António"



António Maria Silva nasceu no dia 15 de Agosto de 1886, no palácio do Correio Velho, na Calçada do Combro em Lisboa. Nasceu no seio de uma família muito humilde e com grandes dificuldades financeiras. O pai era dourador de molduras mas o ofício rendia pouco e a escassez de recursos familiares obrigou o pequeno António a trabalhar desde cedo, primeiro como marçano (aprendiz de caixeiro), depois como empregado de retrosaria e mais tarde como caixeiro de drogaria. Com enorme força de vontade, persistiu nos estudos tendo conseguido concluir o Curso Geral do Comércio no antigo Colégio Calipolense.

Pelos seus 20 anos de idade já António Silva estava bem empregado com tudo a proporcionar-se para que viesse a ter uma carreira longa e proveitosa no comércio. Mas a precocidade também se revelou na paixão pelas artes cénicas e por todas as suas envolventes. Sempre que podia frequentava as caixas dos teatros, observando tudo, desde a montagem dos palcos e adereços até às representações. Tornou-se assim um frequentador habitual, compulsivo dos teatros da altura, Teatro Avenida, Dª Amélia, Dª Maria e por aí em diante.

Ao mesmo tempo começou a ensaiar peças num clube de amadores, destacando-se nas récitas onde recebeu o primeiro retorno carinhoso do público. Parecia traçado um novo destino mas o passo fundamental implicava tomar a arriscada decisão de abandonar uma carreira comercial previsível e bem remunerada em troca de uma vida artística errante e frequentemente mal paga.

Com a morte do pai e a necessidade de aumentar os rendimentos, procurou um segundo emprego fora do comércio. Surgiu-lhe assim a possibilidade de trabalhar em "fitas faladas" ou seja de fazer locução ao vivo (por trás do ecrã) de filmes mudos no Salão Ideal do Loreto, a sala de cinema mais antiga de Lisboa. As "fitas faladas" eram um artifício técnico usado antes do cinema sonoro ser inventado e de se generalizar.

António persistiu e finalmente em finais de 1910 começou a sua carreira como actor profissional participando numa peça de Leão Tolstoi chamada "O Novo Cristo". A peça foi levada aos palcos pela companhia Alves da Silva, então sediada no teatro da Rua dos Condes. A companhia chamava-o de forma irregular, e só ganhava quando participava mas passados apenas 3 meses foi convidado para uma digressão no Brasil.

Voltaria ao Brasil logo em 1913, agora com a companhia Alves de Sousa e por lá permaneceu até 1921. No Brasil coleccionou sucessos nos palcos e também se estreou como actor de cinema, participando em pelo menos três filmes mudos que, ao que sei, estão hoje considerados como perdidos. Em dois desses filmes fazia também parte do elenco uma actriz portuguesa chamada Josefina Silva, com quem veio a casar em 1920.



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Três fases dos 51 anos vida em conjuntos do casal Josefina e António Silva.



Em 1921, o casal Silva regressou a Portugal e António ingressou numa companhia de operetas no Porto, passando depois para a companhia Satanela-Amarante, onde permaneceu 10 anos. Ao longo das décadas seguintes integrou diversas companhias, percorreu o teatro ligeiro e o teatro de revista, actuando também em diversos registos dramáticos, exibindo o seu talento e consolidando uma carreira de enormes sucessos. O público apreciou sempre a sua capacidade de improviso, as suas desconcertantes expressões faciais e a mestria no uso do corpo e das mãos.

Foi um extraordinário actor cómico mas também um excelente actor dramático. Pelo seu talento, António Silva seria um actor excepcional em qualquer tempo mas também beneficiou de fazer parte de uma plêiade de actores que foi o melhor que alguma vez existiu em Portugal.

Em 1933 contracenou em "A Canção de Lisboa", a obra-prima de Cottinelli Telmo que foi o primeiro filme sonoro do Cinema Português. Actuou depois em quase todos os filmes excepcionais produzidos pela Tobis Portuguesa (https://restosdecoleccao.blogspot.com/2011/07/tobis-portuguesa.html), tais como As Pupilas do Senhor Reitor (1935), O Pátio das Cantigas (1942), O Costa do Castelo (1943), Amor de Perdição (1943), A Menina da Rádio (1944), A Vizinha do Lado (1945), Camões (1946), O Leão da Estrela (1947), Fado (1948), O Grande Elias (1950), Aqui Há Fantasmas (1964).

Olhando para essa galeria de filmes percebe-se que embora o Teatro lhe tenha assegurado o carinho do público do seu tempo, foi no Cinema que obteve a sua imortalidade artística. Nessas fitas intemporais retratou tipos e temáticas da época, deixando-nos para sempre actuações frescas, joviais, talentosas e delirantemente humorísticas. Inesquecíveis.


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Alguns dos cartazes dos filmes mais populares de António Silva. Algum drama, muita comédia, sempre a genialidade.




Cruzamentos


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Caricaturas de Zeco. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Félix Bermudes (1874-1960) era 12 anos mais velho do que António Silva (1886-1971) mas apesar da diferença de idades, os dois homens viveram longas vidas, coexistindo no meio artístico durante 4 ou 5 décadas.

Ao longo da sua vida, Félix Bermudes colaborou com diversos autores teatrais mas foi com Ernesto Rodrigues (1875-1926, https://repositorio.ul.pt/handle/10451/414) que se iniciou e com quem mais e melhor trabalhou. Os dois homens foram amigos de infância e colegas de escola. Foi aliás sob a insistência e sob o talento de Ernesto Rodrigues que Félix Bermudes se aventurou como autor teatral. Desde 1907 até à morte de Ernesto, os dois homens trabalharam sempre juntos, sempre proficuamente, deixando o seu talento em múltiplas peças teatrais que tiveram amplo reconhecimento do público, em Portugal e no Brasil.

A partir de 1912 juntou-se-lhes João Bastos (1883-1957; http://www.ilonabastos.webhs.pt/Jbastos.html), formando os três homens aquela que ficou conhecida como a "Parceria de Lisboa", autora de revistas, operetas, fantasias (mágicas, como eram então chamadas) e argumentos de enorme sucesso, tais como "O Leão da Estrela", "João Ratão", "Vida Nova", "O Conde Barão", "O Amigo de Peniche", "De Capote e Lenço", etc.



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A Parceria: Ernesto Rodrigues, João Bastos e Félix Bermudes. .Fonte: Hemeroteca de Lisboa.




É possível – não investiguei isso em detalhe - que António Silva tenha actuado em bastantes peças da Parceria, mas foi no Cinema que se deram os dois cruzamentos mais interessantes entre Félix Bermudes e António Silva. Vamos falar deles.



"João Ratão"


O primeiro desses cruzamentos aconteceu no filme "João Ratão", de 1940, argumento adaptado às grandes telas a partir de uma opereta com o mesmo nome, escrita pela Parceira.

A opereta original foi levada aos palcos no ano de 1920, no Teatro Avenida, pela companhia Satanela Duarte. Foi protagonizada por Estevam Amarante, uma das grandes estrelas da época do teatro de revista e operetas. Nesse elenco fizeram parte, entre outros, os recém-casados António Silva e Josefina Silva.

Em 1943, já depois do sucesso do filme, a mesma companhia repôs a peça nos palcos, no Teatro Avenida embora agora com alguns actores diferente, entre os quais Eunice Muñoz e Luis Piçarra. António Silva não constou do elenco.



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Os protagonistas de "João Ratão", peça levada à cena em 1920 no Teatro Avenida e de "João Ratão", filme de 1940, realizado por Jorge Brum do Canto



O filme "João Ratão", de 1940, foi realizado por Jorge Brum do Canto para a Tobis Portuguesa. Esta obra, uma comédia dramática, teve como protagonistas Óscar de Lemos, Maria Domingas e António Silva.



https://www.youtube.com/watch?v=lOE-LPiYV6c (https://www.youtube.com/watch?v=lOE-LPiYV6c)
"João Ratão" de 1940, realizado por Jorge Brum do Canto



A maior parte da acção do filme decorre numa aldeia do Vale do Vouga mas teve também uma secção de cerca de 20 minutos em que o protagonista João Ratão participa na campanha da Flandres na Primeira Guerra Mundial. Para lá das imagens de guerra encenadas em estúdio, o filme incluiu imagens reais retiradas de documentários da época sobre a I Guerra Mundial, uma ideia inovadora para a época, aumentando a intensidade dramática da obra.

Para as filmagens foram construídos nos estúdios da Tobis Portuguesa não apenas os cenários campestres mas também um abrigo subterrâneo, uma trincheira e até recriadas linhas inimigas alemãs. Félix Bermudes e João Bastos, os dois membros vivos da Parceria, visitaram os cenários durante as filmagens.



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João Bastos e Félix Bermudes visitam as filmagens de "João Ratão" (1940)




"O Leão da Estrela"


O segundo cruzamento cinematográfico entre Félix Bermudes e António Silva foi o filme "O Leão da Estrela", realizado em 1947 por Arthur Duarte para a Tobis Portuguesa. Os protagonistas foram António Silva, Milú e Maria Eugénia.

O filme, que marca talvez a mais notável das interpretações cinematográficas de António Silva, está repleto de peripécias humorísticas e românticas, sempre associadas a um desafio de futebol entre o FCP-SCP, disputado no Porto, no Estádio do Lima, então propriedade do Académico FC.

"O Leão da Estrela" foi inicialmente uma peça de teatro escrita pela Parceria e levada à cena em 1925 no Teatro Politeama pela companhia Chaby Pinheiro. A peça foi protagonizada pelo actor Chaby Pinheiro (ver: -197- Félix e os Leões da Estrela, pág. 49).



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Os protagonistas de "O Leão da Estrela", peça levada à cena em 1926 e de "O Leão da Estrela", filme de 1947, realizado por Arhur Duarte



Quando em meados da década de 40 se pensou em adaptar esta obra ao cinema, já o actor Chaby Pinheiro tinha falecido. A escolha do protagonista recaiu em António Silva, escolha óbvia e feliz pois o actor deu uma cor, jovialidade e genialidade incomparáveis à personagem.



https://www.youtube.com/watch?v=DhQW7ahKwvc (https://www.youtube.com/watch?v=DhQW7ahKwvc)
"O Leão da Estrela" de 1947, realizado por Arthur Duarte.



Sportinguista?!


Sempre tive alguma curiosidade pessoal em saber porque o insigne Benfiquista Félix Bermudes terá escolhido o universo leonino para o personagem central da obra... A explicação poderá encontrar-se quer no reconhecido desportivismo de Félix Bermudes, quer no facto de Ernesto Rodrigues ser um conhecido sportinguista.

Uma curiosidade da película é que no enredo o Sporting vence o desafio por 1-2 mas ao que parece as imagens (reais) terão sido captadas em dois jogos. Mas isso agora interessa pouco, são coisas para sportinguistas e portistas. O(s) jogo(s) foi(foram) disputado(s) no Porto, no Estádio do Lima, um dos primeiros campos relvados de Portugal e que era propriedade do Académico FC (https://pt.wikipedia.org/wiki/Acad%C3%A9mico_Futebol_Clube). E por lá as equipas alinharam...



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Uma curiosidade cénica da película "O Leão da Estrela", de 1940. Imagens reais de uma saudação comum à época e não encenada. Ao cuidado e em benefício da cultura geral do Sr. Rui Moreira.




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Erico Braga e António Silva



Uma consequência do filme é que desde então António Silva ficou conotado com o SCP. Não poderia ser de outra forma e até li algures que numa entrevista ao jornal I, Artur Agostinho terá testemunhado que António Silva era efectivamente sportinguista.

Ainda assim nada melhor do que ouvir da boca do actor. E assim numa entrevista concedida à Rádio, a Igrejas Caeiro, no programa "Perfil de um Artista", António Silva fez algumas curtas mas interessantes revelações quanto à sua relação com o futebol.

A primeira revelação é que António Silva jogou futebol na sua juventude. Jogou em Belém, no campo das Salésias, num pequeno clube chamado Football Clube de Portugal! Jogou a half-back direito.

Desconhecia por completo a existência deste clube que não deve ser confundido com o Portugal Football Club, um clube que existiu algumas décadas mais tarde numa zona próxima ao Campo-Grande e ao Lumiar.

Esse Football Clube de Portugal terá sido um dos muitos pequenos clubes formados nas zonas de Belém, Ajuda e Alcântara. Clubes como Football Club, Ajudense Football Club, Sport União Belenense, Arsenal Football Club, Vasco da Gama Football Club, entre outros, tiveram vida efémera mas ainda foi por lá que se iniciaram alguns dos mais notáveis jogadores do futebol dessa primeira década do século XX.



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António Silva durante um convívio futebolístico da companhia de teatro Satanela-Amarante



A outra afirmação curiosa é que António Silva disse taxativamente que não pertencia a nenhum Clube. Nenhum.


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Afirmações de António Silva durante a sua entrevista a Igrejas Caeiro em 1957


Dito pela boca dele, como podem comprovar no excerto áudio que aqui se apresenta:


https://sndup.net/2z6b (https://sndup.net/2z6b)
Excerto áudio da entrevista de António Silva a Igrejas Caeiro, algures em 1957. Fonte: aminharadio.com



Com isto não pretendo afirmar que António Silva não tivesse uma preferência clubística leonina. O que constato é que dito pela boca dele ficou claro que não pertencia a nenhum Clube. Dixit.



Estrada da glória


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Fonte: DL e RTP



António Maria da Silva faleceu no dia 3 de Março de 1971. Apenas 4 dias antes tinha gravado uma entrevista retrospectiva para o programa "Estrada da Glória" da RTP. No final, quase que adivinhando, António Silva despediu-se em lágrimas, agradecendo ao público todo o carinho e reconhecimento que tinha recebido ao longo da sua "estrada da glória".

Que descanse em Paz.







Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Novembro de 2019, 18:33
Atendendo a que nestes dias se fala muito do Clube de Regatas Flamengo e que as fotografias da página 20 já expiraram, decidi republicar este texto com algumas pequenas edições.




-67-
Cosme e o inventor do Fla-Flu.


Vamos hoje partir de uma fotografia retratando dois homens, dois jogadores posando para o fotógrafo antes de um jogo em que se viriam a defrontar.


(https://i.postimg.cc/7Y9kF3Kw/01.jpg)
Alberto Borgerth e Cosme Damião,
Fonte: Globo Sportivo



Para o universo Benfiquista a identificação do homem à direita é imediata: Cosme Damião!

Mas atravessando o oceano, e parando na Gávea, a principal sede do Clube de Regatas do Flamengo, a resposta pronta passa para o homem da esquerda: Alberto Borgerth!



O homem no seu contexto.


Esta fotografia tirada durante a digressão da equipa da AFL ao Rio de Janeiro em 1913 juntou dois homens de grande notoriedade no seu tempo e no seu espaço. Dois homens que são símbolos do clube onde ganharam notoriedade: Clube de Regatas Flamengo e Sport Lisboa e Benfica.


De Cosme Damião, nunca é demais salientar que merece o reconhecimento e a eterna gratidão de todos os Benfiquistas. Mas para Alberto Borgerth a situação é um pouco diferente dependendo se estamos a falar de Flamengo ou Fluminense. E na verdade como veremos, estamos a falar do inventor do Fla-Flu.


Alberto Borgerth nasceu em 3 de dezembro de 1892, no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. E... começou a remar pelo Flamengo em 1906, ao mesmo tempo em que jogava futebol pelo Rio Futebol Clube, uma espécie de delegação juvenil do Fluminense (fonte: http://www.torcidaflamengo.com.br/news.asp?nID=33039 (http://www.torcidaflamengo.com.br/news.asp?nID=33039)).



A cisão


Em Novembro de 1911, Borgerth já era capitão da primeira categoria de futebol do Fluminense, tendo-se sagrado campeão Carioca na época finda. Mas, no final desse ano, na sequência de uma cisão interna grave, Borgerth deixou o clube tricolor para ir fundar o departamento de futebol do Flamengo.

A cisão deveu-se à formação de uma comissão técnica no clube tricolor. Ou seja foi uma dissidência entre atletas e dirigentes. Nada menos do que nove jogadores deixaram o Fluminense e partiram para formar uma equipa competitiva no Flamengo, clube que até então se dedicava... ao remo: Alberto Borgerth, Armando de Almeida (Gallo), Emmanuel Augusto Nery, Ernesto Amarante (Zalacain), Gustavo Adolpho de Carvalho, Lawrence Andrews, Orlando Sampaio de Mattos (Bahiano), Othon de Figueiredo Baena e Píndaro de Carvalho Rodrigues (fonte: wikipedia). Para trás ficava Oswaldo Gomes que viria a tornar-se figura relevante do clube tricolor.

Quando se dá a dissidência não se pode dizer que a maioria dos jogadores que saíram estivesse apenas identificado com o Fluminense. Na verdade muitos eram remadores do Flamengo. Pela manhã remadores rubro-negros, pela tarde futebolistas tricolores...

Borgerth terá liderado a reunião entre os atletas tendo estes decidido propor ao clube rubro-negro a criação de uma secção terrestre ou seja uma secção de futebol. A proposta foi aceite e assim a secção de futebol viria a ser oficialmente criada em 4 de Dezembro de 1911.

Em boa verdade antes disso já tinham existido algumas experiências do Flamengo no futebol. Pelo que percebi o primeiro jogo de futebol no Flamengo, de carácter amigável, realizou-se no dia 25 de Outubro de 1903 no Estádio do Paissandü Atlético Clube. O Flamengo defronta e perde para o Botafogo por 5-1. Mas até aos acontecimentos acima descritos o futebol rubro-negro era algo episódico.



As rivalidades Cariocas


Assim, e até 1912, pode-se dizer que o Flamengo e o Fluminense não colidiam. Uma estranha situação tendo em conta a rivalidade dos nossos dias. Rivalidade de décadas.

O Flamengo foi fundado em 1895 para a prática do remo enquanto o Fluminense foi criado em 1902 para a prática do futebol. A rivalidade do Clube de Regatas Flamengo estava centrada no Clube de Regatas Vasco da Gama, fundado em 1898 por Portugueses e Luso descendentes. Aliás, a este propósito diga-se que a entrada do Vasco no futebol viria justamente a acontecer após a visita em 1913, ao Rio de Janeiro, da selecção de jogadores da A. F. Lisboa. A semente de Cosme e companheiros.

(https://cidadesportiva.files.wordpress.com/2011/06/flamengo-5.jpg)
Regata na Praia do Flamengo, em frente à sede do Clube, década de 1920


Dessa forma, no futebol e até 1912, as rivalidades futebolísticas Cariocas estavam centradas no Botafogo e no Fluminense. Estes dois clubes mantinham acesas disputas, que algumas vezes acabavam em bofetões dentro do campo e suspensões fora dele...
O Botafogo que, diga-se, receberia em 1913 o nosso Luís Vieira, tornando-se este o primeiro estrangeiro da história do Glorioso do Rio de Janeiro.


A semente de Cosme e companheiros.


(https://i.postimg.cc/Znrdb7Cf/03.jpg)
Fluminense, Campeão Carioca 1911,
Em cima: Píndaro, Baena e Nery;
Ao meio Orlando, Lawrence, Amarante e Galo;
Em baixo: Oswaldo Gomes, Alberto Borgerth, Gustavo e Calverth.


(https://i.postimg.cc/Y0fvKvsZ/04.jpg)
Flamengo, Outubro 1912,
De pé: Píndaro, Gilberto, Gallo, Baena, Nery e Coriolano;
Sentados: Baiano, Arnaldo, Amarante, Gustavinho e Alberto Borgerth.


(https://cidadesportiva.files.wordpress.com/2011/06/flamengo-7.jpg?w=450&h=337)
Campo onde o Flamengo fazia os seus treinos de futebol no final de 1911.
Fonte: http://www.rioquepassou.com.br/2005/12/20/gloria-e-centro-15-de-novembro-de-1911/ (http://www.rioquepassou.com.br/2005/12/20/gloria-e-centro-15-de-novembro-de-1911/)



Tudo isto soa familiar? Apenas familiar. O contexto e muitos detalhes são diferentes do que se passou entre o Sport Lisboa e Benfica e o SCP.


Nesse ano de 1912, os nove jogadores que saíram do clube tricolor, campeão de 1911, fizeram-no não por razões de estatuto social ou de falta de condições de trabalho ou ainda de dinheiro mas sim por discordâncias associativas insanáveis.

E de facto as coisas não foram simples. Nunca são simples.


Ao liderar o processo, Alberto Borgerth tornou-se o inventor do Fla-Flu, esse dérbi assombroso foi definido de forma suprema nas palavras de Nélson Rodrigues, jornalista, escritor e autor de teatro brasileiro:


O Fla-Flu não tem começo.
O Fla-Flu não tem fim.
O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada.
E então, as multidões despertaram.

in "Jornal de resenhas: seis anos, de abril de 1995 a abril de 2001" - página 1465



E o primeiro Fla-Flu acabaria por disputar-se somente alguns meses depois, no dia 7 de julho de 1912, no antigo Estádio do Fluminense na Rua Guanabara. Ao contrário do que se passou entre os clubes Lisboetas, aqui o clube que recebeu os dissidentes, apesar de favorito, acabou por perder o jogo. Venceu o Fluminense por 3-2. Mas rapidamente o Flamengo viria a tornar-se uma equipa vencedora, tendo-se sagrado bicampeã carioca em 1914 e 1915.


(https://historiadoesporte.files.wordpress.com/2010/09/fla-flu.jpg)


Ou seja, quando em Julho de 1913 Cosme tira a fotografia com Borgerth já este estava completamente envolvido na secção e na equipa de futebol do Flamengo.


O jogo que opôs Cosme e Borgerth disputou-se no dia 14 de Julho de 1913. A equipa Portuguesa jogou contra uma selecção Brasileira, num dos primeiros jogos disputados por uma selecção Brasileira contra uma equipa estrangeira.


(https://i.postimg.cc/Sx9wycrn/07.jpg)
A equipa Brasileira. Fonte: Globo Sportivo.


(https://i.postimg.cc/BvMNsvd8/08.jpg)
Equipa Portuguesa e aspecto do campo e do jogo.
Na verdade percebe-se que esta fotografia é do jogo contra o Botafogo (por sinal ganho pelos Portugueses).
Fonte: Globo Sportivo.



A equipa Portuguesa jogou com Augusto Paiva Simões, Carlos Homem Figueiredo, Henrique Costa; Carlos Sobral, Cosme Damião, Artur José Pereira; António Stromp, José Domingos Fernandes, Luís Vieira,Álvaro Gaspar e João Bentes.


A equipa Brasileira jogou com: Marcos, Pindaro, Nery; Mendes, Amarante; Gallo; Bartholomeu, Oswaldo, Babiano, Borgerth e Ernani. Quase todos jogadores do Flamengo, dissidentes do Fluminense.


E para tudo encaixar, seria Alberto Borgerth que marcaria o golo da vitória dos Brasileiros...



Epílogo


Em 1915, Borgerth formou-se em medicina e abandonou o futebol para exercer a profissão. Continuou no entanto ligado ao futebol tendo inclusivamente operado alguns jogadores de futebol entre os quais se destacou o famoso Domingos da Guia. Teve também responsabilidades directivas, representando o Brasil em Encontros Directivos internacionais. Teve também acção política tendo chegado inclusivamente a ser Secretário de Saúde do então Distrito Federal do Rio de Janeiro.


(https://i.postimg.cc/c1Qh4Xyy/09.jpg)
Alberto Borgerth, de óculos. Delegado Brasileiro numa reunião em Montevideu em Fevereiro de 1942.
Fonte: Esporte Ilustrado.


Alberto Borgerth morreu em 25 de novembro de 1958, ou seja ainda viu o Brasil ganhar o campeonato do mundo na Suécia no Verão de 1958. Teve essa suprema felicidade. O Flamengo contribuíu com quatro jogadores: Zagallo, Moacir, Joel e Dida enquanto o Fluminense com apenas um: Castilho. A força do Campeão Mundial estava nos clubes Paulistas Santos e São Paulo e nos clubes Cariocas Botafogo e Vasco da Gama.


Sete anos mais novo, Borgerth morreu onze anos depois de Cosme Damião. Não sei que palavras trocaram nesse distante dia de 14 de Julho de 1913, mas seguramente foi um encontro de dois homens de carácter e que respiravam futebol. Um encontro breve mas seguramente com significado para dois homens que deixariam marca no futebol dos seus países. Os seus clubes são, serão sempre, credores de gratidão para com eles.



(https://i.postimg.cc/Y0qv7rBS/10.jpg)
Alberto Borgerth é Clube de Regatas Flamengo e Cosme Damião é Sport Lisboa e Benfica!



(https://4.bp.blogspot.com/-6KKu1bcKQb8/WLIAC62MKiI/AAAAAAAAQrE/4mky5XItdKsx-LJcbLNM_uJW_Mshh_aBQCLcB/s640/fla-x-flu-flamengo-fluminense.jpg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Dezembro de 2019, 10:10
(https://i.postimg.cc/cL91V4vm/Festas2019.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 28 de Dezembro de 2019, 00:01
Obrigado pelos votos de Feliz Natal e que 2020 seja um grande anos para todos nós benfiquistas! E para ti em particular, que continues inspirado a dar-nos estes pedaços da nossa história que tanto prazer te devem dar a fazer e tanto nos dão a ler.

A propósito, a RTP Play tem um bom documentário sobre a filha do nosso Félix

https://www.rtp.pt/play/p5545/cesina-bermudes

Abraço,
Ned.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Dezembro de 2019, 22:04
Citação de: Ned Kelly em 28 de Dezembro de 2019, 00:01
Obrigado pelos votos de Feliz Natal e que 2020 seja um grande anos para todos nós benfiquistas! E para ti em particular, que continues inspirado a dar-nos estes pedaços da nossa história que tanto prazer te devem dar a fazer e tanto nos dão a ler.

A propósito, a RTP Play tem um bom documentário sobre a filha do nosso Félix

https://www.rtp.pt/play/p5545/cesina-bermudes

Abraço,
Ned.


Obrigado Ned, pelos votos e pela sugestão.  :cool2:

Um dia destes vou retomar as escritas neste tópico.

Já conhecia esse documentário. Vi-o quando foi transmitido na RTP2. É um documento excepcional pois para lá de nos dar ideia da excepcional dimensão humana e profissional da Drª Cesina Bermudes, mostra-nos alguns detalhes da sua vida familiar, com boa exposição de seu pai, Félix Bermudes.

É sabido que eu considero Félix Bermudes um dos três Benfiquistas que tiveram maior importância para o nascimento, crescimento e dimensão nacional do nosso querido Clube. Há aspectos que nunca foram falados e até não são do conhecimento público sobre a sua contribuição decisiva para o nosso Clube.

É sempre um prazer falar da personalidade e obra tanto de Félix como de Cesina Bermudes.


Um abraço Ned! Que tenhas um ano de 2020 excepcional do ponto de vista pessoal, familiar e Clubístico.   O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Dezembro de 2019, 00:42
-249-
A carreta do aviador


Lisboa, Rossio, domingo, dia 20 de Julho de 1913.  Uma comitiva fúnebre encaminha-se para a Igreja do Loreto.


(https://i.postimg.cc/0NgPZZ63/01.jpg)
Fonte: Hemeroteca Lx



Transportado por uma carreta dos bombeiros voluntários Lisbonenses e seguido por numerosas pessoas, o féretro estava coberto pela bandeira italiana.



(https://i.postimg.cc/T1HXbcMt/02.jpg)
Fonte: BND e Hemeroteca Lx




Erigida há mais de 500 anos, reconstruída em diversas ocasiões inclusive depois do terramoto de 1755, a Igreja de Nossa Senhora do Loreto, situada na Rua da Misericórdia,  foi sempre popularmente conhecida como "igreja dos italianos". E assim não se estranha saber que o morto era de nacionalidade italiana...


(https://maislisboa.fcsh.unl.pt/wp-content/uploads/sites/9/2016/12/igreja_loreto_2.jpg)
https://igrejaloreto.wixsite.com/lisboa/iglejalisboa (https://igrejaloreto.wixsite.com/lisboa/iglejalisboa)



Tratava-se do cortejo fúnebre do aviador italiano Giovanni Batista di Manio, vitimado por um acidente durante uma demonstração de aviação desportiva integrada nas Festas da cidade de Lisboa de 1913.

Naquele dia 13 de Junho de 1913, Manio fez uma ascensão bem-sucedida aos céus do Campo Grande. Já na descida, quando sobrevoava a Portela de Sacavém, o aparelho guinou subitamente. Apesar dos esforços do experimentado aviador, que por opção não estava preso no cabina de voo, a aeronave não mais foi controlada e, sem remédio, precipitou-se de forma violenta no solo.

Com apenas 39 anos, Manio tornava-se a primeira vítima da aviação em solo de Portugal.



(https://i.postimg.cc/mrGW7DJW/03.jpg)
O aviador Manio no seu aparelho e depois elevando-se nos céus de Lisboa. Minutos depois ocorreria o fatídico desastre. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca Lx




O corpo despedaçado do aviador foi transportado para o Instituto de Medicina Legal de Lisboa onde permaneceu durante uma semana, período em que decorreram os inquéritos oficiais.



(https://i.postimg.cc/1RYxJM2H/04.jpg)
O corpo despedaçado do aviador Manio e os destroços da sua aeronave. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca Lx




Os jornais Lisboetas publicaram extensas descrições do desfile fúnebre, ampliando o choque público causado pela tragédia.



(https://i.postimg.cc/d0FgLfZq/05.jpg)
Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca Lx




E é a partir de uma passagem dessas descrições jornalísticas que notamos um detalhe interessante.



(https://i.postimg.cc/QtxPqWqw/06.jpg)
Os dois ilustres Benfiquistas que representaram o nosso Clube nas exéquias do aviador Manio. Fonte: Hemeroteca Lx




É interessante ver como o Sport Lisboa e Benfica se fez representar ao mais alto nível por Cosme Damião, seu Capitão-geral e por Francisco Calejo, dedicado e activo sócio nas primeiras décadas do nosso Clube. De Francisco Calejo já por aqui falamos (ver: -192- Poeira do tempo: Francisco Calejo, pág. 48).

Para além do nosso Clube também o Ateneu Comercial de Lisboa e provavelmente outros clubes se fizeram representar. Ainda assim importa dizer que este impacto mediático explica-se não apenas pela comoção pública por via do drama humano, mas também porque a aviação era uma modalidade desportiva recente que gozava de um grande prestígio.

Os seus pilotos, verdadeiros pioneiros, eram dotados de uma coragem excepcional, desfrutavam da admiração do público que lhes reconhecia uma aura heróica ímpar. Concedi, diga-se, com todo o merecimento. No ano seguinte, com o deflagrar da I Guerra Mundial, viriam enormes melhorias técnicas à aviação. Os impiedosos combates  aéreos ampliariam essa aura heróica mas também trágica dos mais destacados ases.




A realidade Portuguesa


Nesse tempo, para lá da grandeza ultramarina, Portugal e em particular Lisboa era, à escala europeia, uma pequena e provinciana cidade. O nosso país mostrava-se carente de recursos financeiros, sociais e culturais. Proliferava a pobreza, o analfabetismo, as doenças e carências básicas de higiene pública. A esperança de vida rondava valores inferiores a 40 anos (ver: https://acervo.publico.pt/multimedia/infografia/a-vida-desde-1820). O acesso à cultura estava praticamente restrito às elites.


Cosme Damião e restantes companheiros com responsabilidades directivas tinham um entendimento completo do papel do Clube nessa sociedade. Entendia-se desde cedo que o nosso Clube podia e devia dar contribuições relevantes e multifacetadas não apenas para a formação e prática desportiva, mas também em vertentes cívicas e culturais.

Exemplos desses compromissos foram a introdução crescente de modalidades desportivas, a instituição de escalões de formação desportiva que para lá de cumprir o objectivo de recrutar e formar atletas para as categorias superiores, pretendiam ocupar a juventude e formar futuros cidadãos.

São igualmente exemplos as festas desportivas para todas as idades, os saraus culturais, a utilização de estruturas do Clube para reuniões associativas de outras entidades e até para a exibição de Cinema. Ficou famoso o Cinema do SLB que poucos anos mais tarde veio a funcionar na nossa sede da Avenida Gomes Pereira, em Benfica.



(https://i.postimg.cc/g2FTT7Dv/07.jpg)
Algumas das actividades culturais e formativas nas duas primeiras décadas do Sport Lisboa e Benfica. 1- Cinema SLB na Av. Gomes Pereira; 2- Récita para os sócios em 1919; 3- Cartão de membro do grupo de escuteiros no SLB; 4- Convite para baile de "cotillon" organizado pelo Clube.




Esse empenhado e persistente compromisso social e cívico, ajuda a perceber a representação oficial ao mais nível do nosso Clube nas exéquias do infortunado Manio.




Pioneiros da aviação


Em Portugal, o primeiro voo com um avião ocorreu a 27 de abril de 1910, quando o francês Julien Mamet descolou do Hipódromo de Belém, aos comandos de um Blériot XI. Quer isto dizer que esse primeiro voo ocorreu apenas três anos antes da morte de Manio.

É curioso que tal como aconteceu no futebol, Belém foi o local escolhido pelos pioneiros da aviação. Os vastos terrenos do hipódromo fizeram as vezes de aeródromos que ainda não existiam.

Em breve os Portugueses, e em particular os militares, adoptariam de forma entusiástica essa nova e fascinante modalidade. Abria-se um mundo de oportunidades e riscos para os mais sonhadores e temerários. Um artigo interessante sobre esses tempos pioneiros pode ser lido aqui: https://aeronauticaap.webnode.pt/historia%20da%20avia%C3%A7%C3%A3o%20portuguesa/ (https://aeronauticaap.webnode.pt/historia%20da%20avia%C3%A7%C3%A3o%20portuguesa/)



(https://i.postimg.cc/bvLVdwjT/08.jpg)
Primeiro voo com um avião no dia 27-04-1910 no aeródromo de Belém. Fonte: Hemeroteca Lx



Desde então, ao longo das décadas seguintes, são múltiplos os cruzamentos de pioneiros da aviação com a História do Sport Lisboa e Benfica. Algumas dessas são ligações directas tais como os casos dos nossos jogadores José Bentes Pimenta (ver: -71a 73- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I-III), pág. 21 e 22) e Luís Caldas (ver: -237 e 238- Sexta-feira, avião 13 (partes I e II, pág. 58), eles mesmos pilotos de aviação.



(https://i.postimg.cc/yWqv2JFV/09.jpg)
José Pimenta e Luís Caldas, futebolistas do Sport Lisboa e Benfica e pioneiros da aviação em Portugal.



Infelizmente, muitos dos pioneiros foram vitimados por causa das fragilidades estruturais e funcionais das aeronaves assim como pela primitiva evolução no conhecimento dos múltiplos aspectos ligados à pilotagem e à mecânica das aeronaves.

Era frequente verem-se nos jornais as actualizações das listas de vítimas da aeronáutica. O número de aeronaves que sobreviveu desses anos é assustadoramente escasso dada a quantidade de acidentes, muitos deles fatais.


(https://i.postimg.cc/bNkhrkV9/10.jpg)
Uma galeria de 24 dos muitos bravos pioneiros da aviação em Portugal. Alguns deles deram a vida pela Pátria.



Di Manio foi apenas o primeiro dos muitos pilotos e tripulantes que perderam a vida em solo Português. Poucos meses depois desta trágica morte, a sua família atenuou a perda com o nascimento de um filho do malogrado Manio. O pequeno recebeu o nome do pai, cresceu em Inglaterra e décadas mais tarde, Giovanni Batista "Jack" de Manio (1914 –1988) tornar-se-ia um famoso jornalista e apresentador de radio na prestigiada BBC.



(https://i.postimg.cc/43LCq5ns/11.jpg)
Sepultura do aviador Manio (1874-1913) no cemitério de St. Pancras em Londres e o seu filho Giovanni Batista ('Jack') de Manio (1914-1988) aos microfones da BBC. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca Lx e BBC archive



Paz à alma do aviador Manio e a de todos os gloriosos pioneiros da aviação em Portugal.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luis.live em 01 de Janeiro de 2020, 21:51
Incrivel o que se lê por aqui. excelente tópico...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Janeiro de 2020, 19:51
-250-
A propósito de um filme (II): em terras suecas


Norrköping, 31 de Outubro de 1962. Seis meses após a grande conquista de Amesterdão, uma equipa do Sport Lisboa e Benfica alinha para os fotógrafos.



(https://i.postimg.cc/3RQ5T8CV/01.jpg)
Fonte: filmarchivet.se



A equipa bicampeã europeia estava prestes a iniciar a primeira mão da primeira eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1962-1963. O opositor era a equipa do IFK Norrköping, campeã sueca em título. Partes deste desafio de futebol foram preservadas num extraordinário filme a cores. Neste e no próximo texto analisaremos alguns desses momentos.



Um documento inestimável


O FILMARKIVET.SE é um projecto conjunto entre o Svenska Filminstitutet e a Kungl Bibliotek (Biblioteca Nacional da Suécia). Pretende preservar e divulgar arquivos de imagem em movimento que mostrem a transformação da sociedade sueca durante o século XX. Entre os arquivos, referenciados às mais variadas temáticas, encontramos um raro filme a cores que nos mostra uma das etapas da epopeia europeia do SL Benfica na gloriosa década de 60.



(https://i.postimg.cc/0Q031pNK/02.jpg)


Ver: https://www.filmarkivet.se/movies/ifk-Norrköping-benfica/ (https://www.filmarkivet.se/movies/ifk-Norrk%C3%B6ping-benfica/)




Grosso modo, o filme tem a duração de cerca de 40 minutos e nele estão preservadas imagens de quatro tempos distintos, todos de importância histórica para o IFK Norrköping:


-1- jogo da conquista do título de campeão sueco de 1961-1962, em que o IFK Norrköping defrontou o Degerfors IF.

-2- jogo referente à 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1962-1963, em que os campeões suecos receberam os bicampeões europeus do SL Benfica.

-3- viagem e estadia dos campeões suecos em Lisboa por ocasião do jogo da 2ª mão da referida eliminatória.

-4- jogo, disputado no Estádio da Luz, para o campeonato Português entre o SL Benfica e a CUF do Barreiro.


No texto de hoje falaremos do tempo 1 e principalmente do tempo 2.

No próximo texto falaremos principalmente do tempo 3 e um pouco do tempo 4.
Ainda assim, os mais atentos a este tópico lembrar-se-ão que imagens do tempo 4 já por aqui foram apresentadas (ver texto -230- A propósito de um filme (I): sobre os céus de Lisboa).



IFK Norrköping


Fundado por um grupo de estudantes em 29-05-1897, o IFK Norrköping (www.ifkNorrköping.se), também conhecido como o "Guldköping" ("Compradores de ouro"), é um prestigiado clube sueco, que conta no seu palmarés com 13 títulos de campeão sueco, o último dos quais foi conquistado em 2015.

A Allsvenskan, o campeonato sueco de futebol, teve o seu início em 1924, levando já 94 edições uma vez que não foi interrompida mesmo nos anos da II Guerra Mundial. Em termos de títulos, o IFK Norrköping é o terceiro clube sueco mais bem-sucedido de sempre, apenas atrás do Malmö FF e do IFK Gotebörg.



(https://i.postimg.cc/0ySVqpW5/03.jpg)
Fonte: Wikipédia



No final dos anos 40, jogaram no "Guldköping" alguns dos mais famosos jogadores suecos de sempre como Gunnar Nordahl e Nils Liedholm, que na década seguinte brilharam a grande altura no AC Milan, onde chegaram a ser treinados por Béla Guttmann.

O futebol sueco era considerado atlético e competitivo embora as suas maiores figuras já estivessem retiradas após uma década de grande fulgor no futebol italiano. Não obstante, 4 anos antes a Suécia tinha organizado o Mundial de 1958, tendo a selecção sueca atingido o estatuto de vice-campeã mundial, perdendo o título mundial para o Brasil de Pelé, Didi, Vává e Gilmar, entre outros.

Em Outubro-Novembro de 1962, quando o IFK Norrköping se cruzou com o SL Benfica, os campeões suecos ostentavam 4 dos últimos 7 títulos do campeonato sueco. E nessa temporada voltariam a ser campeões da Allsvenskan...




(https://i.postimg.cc/fbT5S6Wy/04.jpg)

https://www.youtube.com/watch?v=_medtX6yaoo (https://www.youtube.com/watch?v=_medtX6yaoo)
Um curto filme sobre o plantel do IFK Norrköping em 1962




O título de 1961-1962 foi conquistado com uma vantagem de 2 pontos relativamente ao Djurgårdens IF. O último jogo da temporada, disputado contra o Degerfors IF (vermelho e branco) foi pois simultaneamente o jogo da conquista e da festa do título. Esse dia de festa foi captado na parte inicial do filme.



(https://i.postimg.cc/TYJrjC4D/05.jpg)
Fonte: FILMARKIVET.SE




Idrottspark, 31-10-1962,

IFK Norrköping 1 – SL Benfica 1


Foi enorme a excitação e a alteração das rotinas da cidade, provocada pela visita dos bicampeões europeus a Norrköping. Com o cortês consentimento do SLB, o jogo foi adiado por 4 dias uma vez que a data inicial indicada pela UEFA colidia com um jogo da selecção sueca, facto que impossibilitaria que o IFK pudesse utilizar 4 jogadores habitualmente titulares. Essa cortesia do SL Benfica foi muito bem vista pelos suecos. Outros tempos.

Apesar do favoritismo, a eliminatória não se afigurava fácil para os pupilos do Chileno Fernando Riera, o treinador Benfiquista que poucos meses antes tinha substituído o Húngaro Béla Guttmann. Ostentando o título de bicampeões europeus, a responsabilidade do SLB era cada vez maior. Felizmente, ao contrário do SCP que cairia logo na 1ª eliminatória aos pés dos escoceses do Dundeee United (1-0 e 1-4), o SLB faria nesse ano mais uma extraordinária campanha europeia.

A equipa do IFK Norrköping tinha já disputado uma pré-eliminatória onde eliminou os albaneses do Partizani (2-0 e 1-1). Os suecos, mesmo encarando o jogo com os bicampeões europeus com apreensão, não davam por perdida a eliminatória. O jogo da primeira mão afigurava-se muito complicado para o SLB.


(https://i.postimg.cc/q7V4kxp1/06.jpg)



Para lá de um novo treinador, o Benfica apresentava-se desfalcado de pedras basilares tais como Germano e José Águas, tendo sido substituídos por Humberto Fernandes e José Torres, respectivamente.



(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599136875.jpg)
A equipa do SLB que actuou em Norrköping.



Para além disso, apesar de ter reforçado o plantel, nesse princípio de época a equipa ainda não tinha apresentado uma produção de jogo sequer aproximada face o que se tinha visto na época anterior. Desses reforços apenas Raúl integrava com regularidade a equipa titular, estando grandes jogadores como Jacinto, Augusto Silva e Pedras, ainda à espera de uma oportunidade.


(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599188652.jpg)



Com a entrada em festa das equipas no terreno de jogo deram-se os tradicionais cumprimentos e troca de galhardetes entre os capitães de equipa.


(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599232125.jpg)



Ainda hoje o galhardete do SL Benfica ofertado por Mário Coluna é apresentado na sala de troféus do IFK Norrköping.


(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599745829.jpg)
Fonte: www.ifkNorrköping.se


O jogo iniciou-se com acções ofensivas repartidas mas logo aos 8 minutos o médio Björklund inaugurou o marcador com um remate fora da área. O entusiasmo sueco percorreu o estádio mas não afectou a equipa do SLB que desde logo se empertigou, aumentando o ritmo de jogo e obrigando o guardião sueco a algumas defesas complicadas. E assim, aos 31 minutos e na sequência de um canto, Eusébio fez um portentoso remate fora da área, repondo a igualdade.


(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599314442.jpg)
Eusébio também inesquecível em Norrköping



Eusébio pelo lado do Benfica e o avançado centro sueco Martinsson destacaram-se nos respectivos ataques mas o intervalo chegou sem mais alterações.


(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599354996.jpg)



A 2ª parte abriu com uma nova pressão ofensiva dos suecos, logo rebatida pelo Benfica com Torres a rematar à trave. Riera inovou ao ordenar a troca de posições entre José Augusto e Torres mas sem grande resultado. Eusébio continuou a ser o avançado mais perigoso. O Norrköping ainda marcaria um segundo golo mas foi prontamente anulado pelo árbitro. O Benfica acabou o jogo a pressionar mas o resultado manteve-se inalterado.



(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599400803.jpg)
José Torres em luta com Johanson (cap.) e Björklund



(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599427890.jpg)



Apesar de não vencer, a equipa do Benfica garantiu um resultado que mantinha tudo em aberto para a 2ª mão. A competitividade dos suecos tinha sido demonstrada mas na nossa equipa esperava-se que em Lisboa a eliminatória seria resolvida a nosso favor.



(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599475938.jpg)
Ecos do empate em Norrköping. Fonte: DL



A visita dos bicampeões europeus a Norrköping foi um enorme sucesso social para os locais. Segundo o DL, todo o comércio e indústrias da cidade fecharam depois de almoço (o jogo iniciou-se às 14h15 locais) para possibilitar que as pessoas acompanhassem o desafio. Os cerca de 34.000 lugares do estádio (conseguidos com a construção de bancadas extra apenas para este jogo) foram insuficientes para a satisfazer a procura.

Viram-se até aproveitamentos comerciais com várias montras decoradas com elementos alusivos ao jogo, para aumentar as vendas.



(http://m.uploadedit.com/bbtc/1578599520740.jpg)
Postal com publicidade (ver tradução) para venda de televisores aproveitando a visita do SLB a Norrköping. Fonte: eBay



O empate conseguido pelos suecos abria-lhes algumas esperanças para vencer a eliminatória mas para isso era necessário aguentar o inferno da Luz.


No próximo texto, aproveitando imagens desse jogo e dessa estadia, ilustraremos alguns dos momentos vividos pela comitiva sueca em Lisboa. Essas imagens são um verdadeiro fresco em movimento de uma Lisboa hoje parcialmente desaparecida. Uma Lisboa, ainda capital de um império, cheia de Luz e de um encanto ímpar






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 09 de Janeiro de 2020, 22:13
Bela história e belo filme!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Janeiro de 2020, 22:22
Citação de: Ned Kelly em 09 de Janeiro de 2020, 22:13
Bela história e belo filme!

Merece a pena ser visto!
Há pouca coisa de tão boa qualidade a CORES desse período.
Melhor só mesmo se algum dia aparecer um filme de Berna ou de Amesterdão a CORES.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 10 de Janeiro de 2020, 09:38
Citação de: RedVC em 09 de Janeiro de 2020, 22:22
Citação de: Ned Kelly em 09 de Janeiro de 2020, 22:13
Bela história e belo filme!

Merece a pena ser visto!
Há pouca coisa de tão boa qualidade a CORES desse período.
Melhor só mesmo se algum dia aparecer um filme de Berna ou de Amesterdão a CORES.

Eu passo a vida à procura destas pérolas nas cinematecas alheias. A nossa tem feito um bom trabalho de recuperação do seu espólio antigo. Espere que nunca lhe falte orçamento!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Janeiro de 2020, 09:32
Citação de: Ned Kelly em 10 de Janeiro de 2020, 09:38
Citação de: RedVC em 09 de Janeiro de 2020, 22:22
Citação de: Ned Kelly em 09 de Janeiro de 2020, 22:13
Bela história e belo filme!

Merece a pena ser visto!
Há pouca coisa de tão boa qualidade a CORES desse período.
Melhor só mesmo se algum dia aparecer um filme de Berna ou de Amesterdão a CORES.

Eu passo a vida à procura destas pérolas nas cinematecas alheias. A nossa tem feito um bom trabalho de recuperação do seu espólio antigo. Espere que nunca lhe falte orçamento!

Na semana passada vi e ouvi um responsável da Cinemateca a dizer que assinaram um protocolo com a RTP para a divulgação de jóias do património da Cinemateca.

Disse também que há muito mesmo muito material que está a ser ainda catalogado. Há imensa coisa julgada perdida mas há também caixas e caixas com material ainda por catalogar. Um trabalho fascinante segundo ele.

A etapa seguinte é preservar e claro para isso é preciso conhecer para estabelecer prioridades.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Janeiro de 2020, 09:44
-251-
A propósito de um filme (III): goleada em Lisboa


Lisboa, 22 de Novembro de 1962. Os bicampeões europeus entram no relvado do grandioso Estádio da Luz.



(https://i.postimg.cc/MTBJ5ktG/A01.jpg)
A entrada da equipa Benfiquista



Pouco antes a equipa sueca e a equipa de arbitragem liderada pelo Francês Tricot tinham também entrado em campo. Estava prestes a iniciar-se o jogo da 2ª mão da primeira eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1962-1963.



(https://i.postimg.cc/q7n1ZkfW/A02.jpg)
A entrada dos suecos e da equipa de arbitragem



Relativamente ao jogo disputado 3 semanas antes em Norrköping, Riera introduziu alterações na defesa, com as entradas de Jacinto e Germano e as saídas de Ângelo e Humberto Fernandes. No centro do ataque, José Águas rendeu Torres, alinhando assim os 5 avançados que tinham encantado a Europa naquela noite mágica de Amesterdão. Uma vez mais José Águas assumiu o cargo de capitão de equipa.



(https://i.postimg.cc/rpCSrz2y/A03.jpg)
Cumprimento entre capitães. 10$00 para os sócios... Fonte:/benficaticketscollection.blogspot.com/



Apesar do resultado da 1ª mão, havia alguma intranquilidade nos Benfiquistas por via da irregularidade mostrada pela equipa nas 4 jornadas então disputadas para o campeonato nacional. Na jornada antes desta noite europeia, o Benfica tinha sido derrotado em casa pelo FCP (1-2).

Riera era reconhecido por ter uma excelente capacidade técnica mas esses primeiros meses não foram marcados por boas exibições. Para lá de lesões havia também uma notória falta de forma de algumas pedras-chave como Águas e Coluna.



(https://i.postimg.cc/g2ywM5SN/A04.jpg)
A equipa Benfiquista



Jogando simples e em bom ritmo, a equipa do Benfica marcou logo no primeiro minuto por intermédio de Águas. Até ao fim da 1ª parte o marcador subiria até aos 4-0 depois de dois golos de Eusébio (17' e 35') e um de Coluna (21').

A eliminatória estava decidida e talvez por isso a equipa Benfiquista abrandou na 2ª parte, período em os suecos marcaram um gol por Björklund (que já tinha concretizado em Norrköping) ao minuto 62 para os suecos.

Eusébio fecharia a contagem do marcador aos 85 na sequência de um soberbo livre, lance que foi elogiado até pelo árbitro! Nessa noite, Eusébio mostrou novamente uma enorme mobilidade e faro pelo golo, rubricando o seu primeiro hat-trick pelo Benfica em jogos europeus de competições oficiais.



(https://i.postimg.cc/L63YDw0v/A05.jpg)
Ecos da vitória Benfiquista. Fonte: DL



A noite saldou-se por uma vitória robusta de 5-1 fazendo um resultado agregado de 6-2 que permitiu que o Benfica passasse à eliminatória seguinte onde viria a defrontar os checoslovacos do Dukla de Praga onde pontificava Josef Masopust.

As crónicas dessa noite europeia do Benfica reportam a superioridade Benfiquista embora a exibição tenha sido desigual nas duas partes e nem sempre satisfatória. Salientaram também a dureza praticada pelos suecos, o que motivou numerosas interrupções do jogo.
A inconstância exibicional da nossa equipa mereceu algum descontentamento do público Benfiquista, habituado a outro tipo de jogos e vitórias. A tradicional exigência Benfiquista!



O belo sol Lisboeta


Bem vistas as coisa, o melhor que os suecos levaram de Portugal foram os muitos momentos de turismo que disfrutaram debaixo do belo sol e paisagens de Lisboa. Sempre atenuou o resultado...

Como se referiu, o filme mostra-nos alguns desses momentos que nos transportam para uma Lisboa já desaparecida. Com carinho e alguma nostalgia, aqui ficam algumas capturas de ecrã.


(https://i.postimg.cc/L6KQLYrL/A07.jpg)



(https://i.postimg.cc/V6zLJkz8/A08.jpg)



(https://i.postimg.cc/gcXkrQWr/A09.jpg)



(https://i.postimg.cc/FsXmzKpn/A10.jpg)



(https://i.postimg.cc/0QSF1pT5/A11.jpg)



(https://i.postimg.cc/Z5gwYWFW/A12.jpg)



(https://i.postimg.cc/B6ND6y9m/A13.jpg)



(https://i.postimg.cc/Fz8YkXPV/A14.jpg)




Catedral desaparecida


Depois do jogo pelo menos parte da comitiva sueca permaneceu em Lisboa e três dias depois aproveitou para assistir ao Benfica – CUF a contar para a 5ª jornada do Campeonato Nacional de Portugal de 1962-1963.

Captaram imagens desse jogo (ver texto -230- A propósito de um filme (I): sobre os céus de Lisboa) e por isso não resisto a colocar aqui mais algumas imagens da nossa na Catedral desaparecida.



(https://i.postimg.cc/ry3sJcJS/A15.jpg)


(https://i.postimg.cc/ncqm9CJs/A16.jpg)


Saudades da Catedral!




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 09 de Fevereiro de 2020, 19:27
Um dos melhores tópicos deste fórum,sobretudo para aprofundar conhecimentos sobre a nossa história.O trabalho aqui feito sobretudo pelo user Red VC é simplesmente brilhante.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2020, 23:44
Citação de: Alexandre1976 em 09 de Fevereiro de 2020, 19:27
Um dos melhores tópicos deste fórum,sobretudo para aprofundar conhecimentos sobre a nossa história.O trabalho aqui feito sobretudo pelo user Red VC é simplesmente brilhante.


Muito obrigado Alexandre1976  O0

Pela minha parte o tópico agora está em tempo de pausa mas não a investigação. Nos próximos meses só deverão aparecer coisas circunstanciais.

O que tenho publicado neste tópico cobre assuntos muito diversificados mas que tenham alguma ligação com o nosso querido Clube.

O primeiro texto foi publicado em 8 de Novembro de 2013. Passaram 6 anos e 3 meses ou seja cerca de 324 semanas. Até agora 251 textos o que dá cerca de 40 por ano. Nada mau para quem apenas pretende partilhar a paixão pelo Clube.

Há 3 motivações fundamentais para este trabalho acumulado:

1- Honrar. Resgatar, salientar e respeitar a memória de figuras Benfiquistas que maioritariamente já cá não estão.


2- Curiosidade. Satisfazer a minha curiosidade acerca da História do nosso Clube e verificar se algumas coisas que nos "vendem" são verdadeiras ou não. Fico feliz por já por várias vezes ter ajudado a revelar algumas inverdades.


3- Partilhar. O Benfiquismo tem de incluir a partilha. A partilha traz satisfação e contribuiu para a preservação do conhecimento. Eleva o Benfiquismo.


Não são muitos os que lêem e contribuem para este tópico mas esses, estou certo que foram, são e serão contribuintes e difusores do Benfiquismo informado.

Todos por um.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 21 de Fevereiro de 2020, 11:21
Citação de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2020, 23:44
Citação de: Alexandre1976 em 09 de Fevereiro de 2020, 19:27
Um dos melhores tópicos deste fórum,sobretudo para aprofundar conhecimentos sobre a nossa história.O trabalho aqui feito sobretudo pelo user Red VC é simplesmente brilhante.


Muito obrigado Alexandre1976  O0

Pela minha parte o tópico agora está em tempo de pausa mas não a investigação. Nos próximos meses só deverão aparecer coisas circunstanciais.

O que tenho publicado neste tópico cobre assuntos muito diversificados mas que tenham alguma ligação com o nosso querido Clube.

O primeiro texto foi publicado em 8 de Novembro de 2013. Passaram 6 anos e 3 meses ou seja cerca de 324 semanas. Até agora 251 textos o que dá cerca de 40 por ano. Nada mau para quem apenas pretende partilhar a paixão pelo Clube.

Há 3 motivações fundamentais para este trabalho acumulado:

1- Honrar. Resgatar, salientar e respeitar a memória de figuras Benfiquistas que maioritariamente já cá não estão.


2- Curiosidade. Satisfazer a minha curiosidade acerca da História do nosso Clube e verificar se algumas coisas que nos "vendem" são verdadeiras ou não. Fico feliz por já por várias vezes ter ajudado a revelar algumas inverdades.


3- Partilhar. O Benfiquismo tem de incluir a partilha. A partilha traz satisfação e contribuiu para a preservação do conhecimento. Eleva o Benfiquismo.


Não são muitos os que lêem e contribuem para este tópico mas esses, estou certo que foram, são e serão contribuintes e difusores do Benfiquismo informado.

Todos por um.





Como sempre, Victor, grandes textos e maior trabalho aínda.
Por isso resta enaltecer os teus motivos nóbres e agradecer ao que conseguiste establecer aqui.
Tenho a certeza que, pouco a pouco, tal como aconteceu comigo, haverá pessoal a passar por aqui apenas por curiosidade, e encontrar um mundo de infromacao sobre o nosso benfica.
este tópico nao passa despercebido e qq dia será permiado ou recompensado.
um abraco
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Fevereiro de 2020, 14:58
Citação de: alfredo em 21 de Fevereiro de 2020, 11:21
Citação de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2020, 23:44
Citação de: Alexandre1976 em 09 de Fevereiro de 2020, 19:27
Um dos melhores tópicos deste fórum,sobretudo para aprofundar conhecimentos sobre a nossa história.O trabalho aqui feito sobretudo pelo user Red VC é simplesmente brilhante.


Muito obrigado Alexandre1976  O0

Pela minha parte o tópico agora está em tempo de pausa mas não a investigação. Nos próximos meses só deverão aparecer coisas circunstanciais.

O que tenho publicado neste tópico cobre assuntos muito diversificados mas que tenham alguma ligação com o nosso querido Clube.

O primeiro texto foi publicado em 8 de Novembro de 2013. Passaram 6 anos e 3 meses ou seja cerca de 324 semanas. Até agora 251 textos o que dá cerca de 40 por ano. Nada mau para quem apenas pretende partilhar a paixão pelo Clube.

Há 3 motivações fundamentais para este trabalho acumulado:

1- Honrar. Resgatar, salientar e respeitar a memória de figuras Benfiquistas que maioritariamente já cá não estão.


2- Curiosidade. Satisfazer a minha curiosidade acerca da História do nosso Clube e verificar se algumas coisas que nos "vendem" são verdadeiras ou não. Fico feliz por já por várias vezes ter ajudado a revelar algumas inverdades.


3- Partilhar. O Benfiquismo tem de incluir a partilha. A partilha traz satisfação e contribuiu para a preservação do conhecimento. Eleva o Benfiquismo.


Não são muitos os que lêem e contribuem para este tópico mas esses, estou certo que foram, são e serão contribuintes e difusores do Benfiquismo informado.

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Como sempre, Victor, grandes textos e maior trabalho aínda.
Por isso resta enaltecer os teus motivos nóbres e agradecer ao que conseguiste establecer aqui.
Tenho a certeza que, pouco a pouco, tal como aconteceu comigo, haverá pessoal a passar por aqui apenas por curiosidade, e encontrar um mundo de infromacao sobre o nosso benfica.
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Obrigado Alexandre  O0

Para a semana haverá uma pequena pérola da pesquisa.

Abraço!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 21 de Fevereiro de 2020, 17:29
Citação de: RedVC em 21 de Fevereiro de 2020, 14:58
Citação de: alfredo em 21 de Fevereiro de 2020, 11:21
Citação de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2020, 23:44
Citação de: Alexandre1976 em 09 de Fevereiro de 2020, 19:27
Um dos melhores tópicos deste fórum,sobretudo para aprofundar conhecimentos sobre a nossa história.O trabalho aqui feito sobretudo pelo user Red VC é simplesmente brilhante.


Muito obrigado Alexandre1976  O0

Pela minha parte o tópico agora está em tempo de pausa mas não a investigação. Nos próximos meses só deverão aparecer coisas circunstanciais.

O que tenho publicado neste tópico cobre assuntos muito diversificados mas que tenham alguma ligação com o nosso querido Clube.

O primeiro texto foi publicado em 8 de Novembro de 2013. Passaram 6 anos e 3 meses ou seja cerca de 324 semanas. Até agora 251 textos o que dá cerca de 40 por ano. Nada mau para quem apenas pretende partilhar a paixão pelo Clube.

Há 3 motivações fundamentais para este trabalho acumulado:

1- Honrar. Resgatar, salientar e respeitar a memória de figuras Benfiquistas que maioritariamente já cá não estão.


2- Curiosidade. Satisfazer a minha curiosidade acerca da História do nosso Clube e verificar se algumas coisas que nos "vendem" são verdadeiras ou não. Fico feliz por já por várias vezes ter ajudado a revelar algumas inverdades.


3- Partilhar. O Benfiquismo tem de incluir a partilha. A partilha traz satisfação e contribuiu para a preservação do conhecimento. Eleva o Benfiquismo.


Não são muitos os que lêem e contribuem para este tópico mas esses, estou certo que foram, são e serão contribuintes e difusores do Benfiquismo informado.

Todos por um.





Como sempre, Victor, grandes textos e maior trabalho aínda.
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Tenho a certeza que, pouco a pouco, tal como aconteceu comigo, haverá pessoal a passar por aqui apenas por curiosidade, e encontrar um mundo de infromacao sobre o nosso benfica.
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Abraço!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Fevereiro de 2020, 21:31
Citação de: alfredo em 21 de Fevereiro de 2020, 17:29
Citação de: RedVC em 21 de Fevereiro de 2020, 14:58
Citação de: alfredo em 21 de Fevereiro de 2020, 11:21
Citação de: RedVC em 09 de Fevereiro de 2020, 23:44
Citação de: Alexandre1976 em 09 de Fevereiro de 2020, 19:27
Um dos melhores tópicos deste fórum,sobretudo para aprofundar conhecimentos sobre a nossa história.O trabalho aqui feito sobretudo pelo user Red VC é simplesmente brilhante.


Muito obrigado Alexandre1976  O0

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O que tenho publicado neste tópico cobre assuntos muito diversificados mas que tenham alguma ligação com o nosso querido Clube.

O primeiro texto foi publicado em 8 de Novembro de 2013. Passaram 6 anos e 3 meses ou seja cerca de 324 semanas. Até agora 251 textos o que dá cerca de 40 por ano. Nada mau para quem apenas pretende partilhar a paixão pelo Clube.

Há 3 motivações fundamentais para este trabalho acumulado:

1- Honrar. Resgatar, salientar e respeitar a memória de figuras Benfiquistas que maioritariamente já cá não estão.


2- Curiosidade. Satisfazer a minha curiosidade acerca da História do nosso Clube e verificar se algumas coisas que nos "vendem" são verdadeiras ou não. Fico feliz por já por várias vezes ter ajudado a revelar algumas inverdades.


3- Partilhar. O Benfiquismo tem de incluir a partilha. A partilha traz satisfação e contribuiu para a preservação do conhecimento. Eleva o Benfiquismo.


Não são muitos os que lêem e contribuem para este tópico mas esses, estou certo que foram, são e serão contribuintes e difusores do Benfiquismo informado.

Todos por um.





Como sempre, Victor, grandes textos e maior trabalho aínda.
Por isso resta enaltecer os teus motivos nóbres e agradecer ao que conseguiste establecer aqui.
Tenho a certeza que, pouco a pouco, tal como aconteceu comigo, haverá pessoal a passar por aqui apenas por curiosidade, e encontrar um mundo de infromacao sobre o nosso benfica.
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um abraco

Obrigado Alexandre  alfredo O0

Para a semana haverá uma pequena pérola da pesquisa.

Abraço!


Alfredo, as minhas desculpas. É o que dá fazer uma mensagem rápida de agradecimento quando se está a trabalhar...

Um abraço Alfredo!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Mufete em 23 de Fevereiro de 2020, 18:45
O melhor tópico deste fórum e que traduz na totalidade o seu nome.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Fevereiro de 2020, 19:17
Citação de: Mufete em 23 de Fevereiro de 2020, 18:45
O melhor tópico deste fórum e que traduz na totalidade o seu nome.

Muito obrigado Mufete!  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2020, 08:54
-252-
116 anos de Paixão.


(https://1.bp.blogspot.com/-IjurSB_xN6E/XlheZAKZ0jI/AAAAAAAAV6k/uF500YBBdY4GpuoQiioV4XqmHPrCToRnQCLcBGAsYHQ/s1600/Fundadores_Ass.png)

(por favor seja consciente. Se usar esta imagem dê-lhe o crédito devido)


Cumprem-se hoje os 116 anos da Fundação do nosso Clube.

Lembrando e homenageando os nossos 24 fundadores foi publicado um texto no blogue de Alberto Miguéns:



https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/02/116-anos-com-assinatura.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/02/116-anos-com-assinatura.html)



Não deixe de ler este artigo que é uma bonita evocação e uma homenagem aos fundadores e aos valores do Clube.

Recorda-se o dia 1 de 116 anos de uma História que é um orgulho para todos os Benfiquistas.

Lembrar estes pioneiros, os criadores primeiros do melhor e maior Clube Português é algo que hoje faz mais sentido do que nunca.

Os homens passam, o Benfica é eterno.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 28 de Fevereiro de 2020, 19:48
Enorme orgulho e uma honra tremenda pertencer a esta familia criada por estes 24 Imortais Senhores. Um agradecimento eterno a todos eles.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Fevereiro de 2020, 21:39
-253-
Pioneiro, em terra e no mar! (parte I)


Frederico Guilherme Duff Burnay, o primeiro velejador olímpico nacional:



(https://i.postimg.cc/ZRtHBQc6/A01.jpg)
Fonte: jogos.centenariorepublica.pt



Vamos hoje falar de um homem que é recordado no meio desportivo Português como um prestigiado velejador do Clube Naval de Lisboa.

Frederico foi o primeiro velejador olímpico Português ao participar nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924, competiu a expensas próprias, na localidade de Meulan. Participou na classe de monótipos tendo conseguido um 8º lugar entre 17 concorrentes.



(https://i.postimg.cc/2y50rZGt/A02.jpg)
Imagens das competições náuticas em Paris, 1924, disputadas em Meulan. À esquerda a medalha de participação de Frederico Burnay.



(https://i.postimg.cc/vHJtSjJk/A03.jpg)
Classificação de Frederico Burnay em Paris, 1924




Quatro anos depois, competiu nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928, participando nas regatas disputadas na localidade de Zuidersee. Competiu na classe embarcações de seis metros, integrando a tripulação do Camélia" a par de Carlos Eduardo Bleck, Ernesto Mendonça, António Guedes Herédia e João Penha Lopes. Conseguiram o 12.º lugar entre 13 participantes.



(https://i.postimg.cc/rpQWcYH8/A04.jpg)
Uma imagem do "Camélia" participando na prova olímpica de Amesterdão, 1928. À esquerda a medalha de participação de Frederico Burnay.




(https://i.postimg.cc/HsX6Hd9d/A05.jpg)
A classificação de Frederico Burnay e seus pares em Amesterdão, 1928



Apesar de alguns erros biográficos grosseiros, a participação olímpica de Frederico GD Burnay pode ser consultada em linha (ver: https://web.archive.org/web/20141007041902/http://www.sports-reference.com/olympics/athletes/bu/frederico-burnay-1.html).

Anos mais tarde Frederico Burnay integrou o Comité Olímpico Português e teve funções destacadas na Federação Portuguesa de Vela (FPV).



(https://i.postimg.cc/MTgY2Fcn/A06.jpg)
Recepção a uma personalidade estrangeira na FPV em 22-01-1935



Frederico Burnay representou durante toda a sua vida desportiva o Clube Naval de Lisboa (CNL), uma prestigiada colectividade náutica, fundada em 1890. Entre os fundadores do CNL destacou-se Frederico José Burnay, seu pai, que na altura liderou uma Comissão que transformou o pré-existente "Rowing Club de Lisboa" no CNL.


(https://i.postimg.cc/GtrHyFVM/A08.jpg)
Sessão comemorativa dos 40 anos do Clube Naval de Lisboa onde Frederico GD Burnay, homenageando seu pai. Fonte: Hemeroteca Lx


Aliás diga-se que a forte tradição naval da família Burnay recua ainda mais ao tempo pois o avô de Frederico Burnay também competiu na sua juventude tendo conquistado algumas regatas. Três gerações de Fredericos.



(https://i.postimg.cc/BvVTHVBm/A07.jpg)
Três gerações da família Burnay. Fonte: http://remo-historia.blogspot.com





Ligações familiares e vizinhanças


Frederico Guilherme Duff Burnay nasceu em Lisboa, freguesia de Alcântara, na Rua da Junqueira nº 220, no dia 15-08-1888. Foi um dos nove filhos do casal Frederico José Guilherme Burnay e Virgínia Ffrench Duff, uma família da alta burguesia Lisboeta.



(https://i.postimg.cc/KjJv3dnz/A09.jpg)
Rua da Junqueira na década de 1880-1890. Ao fundo avista-se Belém. Fonte: AML



Foi na Rua da Junqueira que o jovem Frederico Burnay cresceu e conviveu com outros rapazes de quem era vizinho. Naquele princípio do século XX, Alcântara foi um dos palcos de uma notável proliferação do interesse da prática desportiva. Esse entusiasmo foi mostrado por uma juventude relativamente desocupada, pertencente às famílias mais endinheiradas, que privilegiou a prática das actividades náuticas, tão convidativas naquela ampla margem do Tejo.

A natação, improvisada no rio Tejo, sem que existisse sequer algo parecido com piscinas, era um desporto bem mais democrático e muito popular. Depois havia o futebol que começou praticado pelas classes mais altas mas rapidamente de democratizou.



(https://i.postimg.cc/SRNm4Dwp/A10.jpg)
A natação na doca de Alcântara no início do século XX. Imagens de grande beleza. Fonte: AML




Depois de alguns anos de letargia, o futebol reapareceu em força nessa primeira década do século XX. Muita da evolução do futebol Lisboeta então verificada, deu-se no triângulo das freguesias de Belém-Ajuda-Alcântara onde ainda existiam muitos terrenos ainda livres que convidavam à prática do futebol. Um dos locais privilegiados para essas futeboladas eram os terrenos onde hoje se situa a antiga FIL, actual Centro de Congressos de Lisboa.



(https://i.postimg.cc/1RCQ60kf/A11.jpg)
Na freguesia de Alcântara até à década de 30 existiram terrenos amplos que convidavam à prática do futebol.



Foi nesses espaços que o crescente interesse pela prática do futebol e a existência de muitos jovens, propiciou uma democratização da modalidade. Tornou-se acessível a miúdos de classes menos favorecidas e aumentou muito o interesse pela modalidade.

Frederico Burnay não foi alheio a esse interesse talvez também devido a ligações familiares que tinha com outros jovens entusiastas do futebol. Falaremos nisso no próximo texto mas desde logo se adianta que as pistas passam pelas ligações familiares que tinha com as famílias "Empis" e "Honorato Mendonça".

Antes de finalizar este texto, impõe-se mencionar uma outra ligação familiar dos Burnay. Não sendo especialista nem querendo aprofundar as complexas ramificações genealógicas da família Burnay (com origens Helvéticas), é sabido que Frederico Burnay era aparentado com Henry Burnay (1838-1909), o célebre Conde de Burnay.



(https://i.postimg.cc/3xp5Psdv/A12.jpg)
Fonte: Hemeroteca Lx



Henry Burnay foi um dos homens mais ricos de Portugal na transição do século XIX para o século XX. Empresário, industrial e banqueiro (até do Rei Dom Carlos, que o fez Conde) estabeleceu em 1875 a casa Henry Burnay & C.ª, ali desenvolvendo uma visão empresarial activa que aproveitava qualquer boa oportunidade de negócio nos mais diversos ramos de actividades financeiras e industriais.

A sua residência mais conhecida (e faustosa) é ainda hoje conhecida por "Palácio Burnay", sendo localizada justamente na Rua da Junqueira, freguesia de Alcântara, vizinha de Belém. Fruto do crescente poder social e financeiro, as ligações familiares dos Burnay foram-se ramificando ao longo das décadas, associando-se a outras famílias endinheiradas. Duas dessas famílias eram os "Empis" e os "Honorato Mendonça"...



(https://i.postimg.cc/1tmkV4MG/A13.jpg)
Vista da fachada e do lado Norte (traseira) do Palácio de Burnay na Rua da Junqueira. Fonte: AML



No próximo falaremos das ligações de Frederico Burnay aos primeiros anos do nosso Clube. Nesse contexto, serão mostradas ligações familiares interessantes e demonstrada a participação activa de Frederico nos primeiros treinos do Sport Lisboa.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Fevereiro de 2020, 21:53
-254-
Pioneiro, em terra e no mar! (parte II)


Os treinos nas Terras do Desembargador...


(https://i.postimg.cc/3r4kkw65/B01.jpg)
Treino de futebol nas Salésias. Sport Lisboa contra uma equipa de casapianos.



Neste texto falaremos da participação de Frederico Burnay nos primeiros treinos do Sport Lisboa, realizados em 1904, o ano da fundação. Aproveitaremos ainda para falar de alguns detalhes que são conhecidos acerca desses treinos.



Os treinos de 1904


Para lá do profundo interesse nos desportos náuticos, Frederico Burnay mostrou também interesse no futebol, modalidade que praticou na sua juventude. Sabemos isso porque o seu nome consta de alguns dos registos que Manuel Gourlade fez, de forma metódica, das presenças de jogadores nos 24 treinos efectuados durante o ano de 1904. O primeiro desses treinos decorreu no próprio dia da fundação, reunindo 10 dos 24 fundadores.



(https://i.postimg.cc/VkYsWs7N/B02.jpg)
Registos do 1º e 2º treino de futebol do Sport Lisboa em 1904. Boletins manuscritos por Manuel Gourlade. Fonte: SLB




Ora, o nosso Clube foi fundado no final de Fevereiro de 1904 por gente nova, leia-se com uma média de 20 anos de idade (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html). Seria assim de esperar que a grande maioria dos fundadores comparecesse aos treinos. E, de facto, assim aconteceu, uma vez que nessa lista dos 31 jogadores que compareceram aos treinos de 1904, encontramos 17 dos 24 fundadores:


                                       •   António Rosa Rodrigues, 24,
                                       •   José Rosa Rodrigues, 24,
                                       •   Manuel Gourlade, 24,
                                       •   Cândido Rosa Rodrigues, 23,
                                       •   Daniel dos Santos Brito, 21,
                                       •   Carlos Alberto de Oliveira França, 21
                                       •   Eduardo Afra Jorge da Costa, 20,
                                       •   Eduardo Gomes Corga, 17,
                                       •   Raul Júlio Empis, 17,
                                       •   Joaquim Ribeiro, 13,
                                       •   Henrique do Carmo Teixeira, 11,
                                       •   Abílio Maria de Jesus Meireles, 10,
                                       •   Joaquim Peters d'Almeida, 8,
                                       •   Joaquim José Linhares d'Almeida, 3,
                                       •   Amadeu d'Almeida Rocha, 1,
                                       •   António Severino Alves, 1,
                                       •   Francisco Reis Gonçalves, 1.


A presença de outros 13 jogadores demonstra que o núcleo inicial que também estava envolvido com o Clube, era maior do que os 24 que ficaram para a História.

É lícito assumir que esses 13 rapazes poderiam também ter sido fundadores e que somente razões circunstanciais terão levado a que nessa manhã de Domingo, dia 28-02-1904, não tivessem podido estar presentes na reunião da Farmácia Franco.

Para que conste, porque merecem ser lembrados, os seus nomes são:


                                       •   José da Cruz Viegas, 17,
                                       •   Duarte José Duarte, 12,
                                       •   José Dias, 11,
                                       •   Fortunato Levy, 10,
                                       •   Armando Macedo, 7,
                                       •   Mário Leite, 5,
                                       •   (Luís) Portugal, 5,
                                       •   Frederico Burnay, 5,
                                       •   Zoheger (ou eventualmente Zoheb), 2,
                                       •   Faísca, 2,
                                       •   Luís Ribeiro, 1,
                                       •   Romualdo (Bogalho), 1,
                                       •   Vasconcelos, 1.


Note-se que os que estão à cabeça desta segunda lista foram alguns dos que compareceram a maior número de treinos e que alguns fundadores compareceram a apenas 1 treino...  Há até o caso de José da Cruz Viegas, militar, que nem sempre tinha disponibilidade para estar presente mas que foi o homem que definiu as nossas cores: camisolas vermelhas, calções brancos e meias pretas.

E diria mais, mesmo que sabendo que foram 31 jogadores a comparecer aos treinos de 1904 ainda assim pelos testemunhos do fundador Daniel Santos Brito, sabemos que o número de envolvidos terá sido bem mais alargado. Não pecaremos por excesso ao assumir que o núcleo inicial alargado terá rondado as 6 ou 7 dezenas de rapazes. Essa relação terá um dia de ser feita.



(https://i.postimg.cc/KjFChj3k/B03.jpg)
A relação dos jovens que compareceram aos treinos do Sport Lisboa em 1904. Informação compilada e publicada em "História do SLB 1904-1954" a partir dos cartões originais manuscritos por Manuel Gourlade. A presença de Frederico Burnay está assinalada.



Estratégias


Um conceito importante a ser apreendido sobre estes treinos é que quem ia aos treinos era essencialmente a rapaziada mais nova, aqueles que moravam perto do local dos treinos e não tinham ainda grandes impedimentos profissionais ou académicos.

Os treinos realizavam-se geralmente na madrugada dos dias escolhidos, aproveitando a frescura da manhã e a maior disponibilidade dos jogadores, muitos deles ainda estudantes, outros empregados no comércio local.


Outro factor a ter em conta é na estratégia seguida pelo Clube nesse primeiro ano de existência, esteve previsto um crescimento racional e sustentado. Apesar do entusiasmo pelo jogo ser muito, a competição era encarada como coisa séria e fundamental para o sucesso do Clube. Não houve vontade de queimar etapas.

O primeiro jogo "a sério" foi disputado oito meses depois da fundação, no dia 1-01-1905, contra o Campo de Ourique. Os Ingleses vieram depois e só quando as nossas equipas mostraram qualidade para serem aceites na Quinta Nova de Carcavelos...

Assim, durante o ano de 1904, toda a actividade futebolística do Clube resumiu-se a treinos. Foi um tempo formativo em que não se enfrentou qualquer das equipas dos Clubes já estabelecidos. Seguiu-se uma estratégia de aprendizagem e reforço da coesão e conhecimentos técnicos do jogo e nesse âmbito há a salientar o papel de Manuel Gourlade, que traduziu as regras originais inglesas (que mandou adquirir em Inglaterra). Manuel Gourlade era tudo no Clube, tendo sido também o primeiro homem a orientar os treinos e a seleccionar os melhores para competição.

A importância de Gourlade tem de ser colocada a par de outros dois homens que também decisivos nesses tempos iniciais: Cosme Damião e Félix Bermudes. Estes três homens permanecem como os mais importantes da História do nosso Clube.

Nota-se também que na lista dos treinos não estão presentes os antigos estudantes casapianos, prestigiados jogadores, que viriam a constituir a base das equipas que disputaram os jogos de 1905 a 1907. Eram jogadores mais velhos, experientes e já prestigiados no meio futebolístico Lisboeta pois na década anterior tinham constituído uma equipa casapiana só com Portugueses que tinha conseguido o feito inédito de derrotar os mestres Ingleses do Carcavellos Club.

Esses antigos casapianos, embora não tendo sido fundadores, pelo seu saber e personalidade, rapidamente ocuparam lugar de destaque no futebol e na vida associativa do Sport Lisboa. Isto até meados de 1907, altura da primeira grande crise, em que a maioria saiu do nosso Clube.

Sucede que estes "veteranos" geralmente não treinavam com a rapaziada mais nova, quer por uma questão de "estatuto", quer por já terem vida profissional bem estabelecida, quer ainda por residirem longe das três freguesias onde decorriam os treinos. Nesse tempo não existiam a mobilidade nem a rede viária dos dias de hoje...

Foi também esse o caso de Cosme Damião que apesar de ser de uma geração mais nova, morava no centro de Lisboa e dava os seus primeiros passos como funcionário da Casa de Palmela, ligação profissional que manteve durante toda a sua vida.

Não obstante, a presença destes antigos casapianos foi fundamental pelo que representou de enriquecimento das competências técnicas, pela força do seu associativismo e valores e pelo prestígio conferido pela sua presença. Esteve bem Manuel Gourlade e outros fundadores quando convidaram António Couto, Silvestre da Silva, Januário Barreto, etc.



Os terrenos dos treinos


Apesar de ser apenas parcialmente correcto, se quisermos de alguma forma de simplificar a História inicial do nosso Clube, pode dizer que tudo começou com um pequeno núcleo de uma a duas dezenas de jovens praticantes do futebol no pátio da Farmácia Franco. Nesse prédio moravam os irmãos Rosa Rodrigues (Catatau) que tinham um objecto raro e precioso nessa época: uma bola de futebol.

Rapidamente, o entusiasmo desse núcleo contagiou algumas outras dezenas de miúdos, de todas as "classes sociais", moradores naquele triângulo Belém-Ajuda-Alcântara. Todos unidos pelo prazer do jogo.


(https://i.postimg.cc/66M8G7VY/B03B.jpg)
Um grupo de miúdos de Belém entusiastas do futebol. Entre eles está o fundador Cândido Rodrigues e José da Cruz Viegas (à civil). Muitos destes certamente terão "futebolado" no pátio da Farmácia Franco.




Este crescimento rapidamente tornou o pátio num local demasiado pequeno. Para além disso a rapaziada enfrentava a animosidade crescente da maioria dos moradores locais apesar do beneplácito dos donos da Farmácia.

Os jovens viram-se assim forçados a procurar terrenos livres ali perto, espaços amplos onde pudessem praticar o jogo. Encontraram esses espaços em terrenos próximos à praia de Belém entre a linha férrea e o Palácio Marialva (Duques de Loulé). Sabemos pela mão de Manuel Gourlade que foi esse o local do primeiro treino, no próprio dia da fundação do Clube.

Usaram também as Terras do Desembargador, às Salésias, local que apesar de já alguns anos ser usado por outros clubes / grupos, tinha o problema de ser um espaço público que muitas vezes usado pelos militares para treinos de cavalaria, situação que que danificava muito o terreno. Pior ainda, não tinha segurança sendo frequente alguns populares invadirem o terreno durante os jogos originando alguns acidentes.



(https://i.postimg.cc/SRNVGMzr/B04.jpg)
Do pátio da Farmácia Franco, passando pelos areais de Belém, até às Salésias. Os primeiros palcos do nosso Clube.




Não obstante essas condições precárias, foi naqueles terrenos que se reuniram as vontades, se moldaram os valores e os comportamentos, se estabeleceram as amizades e se avançou no conhecimento do jogo. Por ali se forjou a primeira versão do Sport Lisboa e Benfica. Foram muito importantes esses tempos.

Ao Benfica nunca nada foi dado. Não tivemos meninos mimados com avós milionários nem benesses das autoridades, isto embora alguns dos nossos jovens pioneiros fossem também de famílias endinheiradas. Desde cedo o nosso Clube foi uma reunião de vontades e talentos, unidos pelo prazer do Jogo. Com ambição e desportivismo.




As ligações familiares


Voltando a Federico Burnay, há que notar que compareceu a apenas 5 dos 24 treinos de 1904. Ao que sabemos esses treinos terão decorrido quer nos terrenos desocupados de Belém junto à linha férrea e ao Palácio de Marialva quer nas Terras do Desembargador às Salésias. O súbito afluxo de jogadores forçou a que fossem procurados esses terrenos amplos ultrapassando os tempos em que, no ano anterior, pouco mais de uma dezena de jovens comparecia no pátio da Farmácia Franco.

Parece provável que Frederico tenha sido sócio do Sport Lisboa nesses primeiros tempos. Infelizmente não parece ter sobrevivido sequer uma lista dos sócios do Sport Lisboa durante o período entre 1904 e 1906.

Certo é que em 1907, Frederico não constava da lista de sócios apresentada pelo Clube durante as conversações que levaram à junção com o Grupo Sport Benfica. Como vários outros casos, provavelmente a ligação de Frederico ao nosso Clube terá sido fugaz. Provavelmente nem sequer terá mantido qualquer ligação ao futebol, dedicando-se desde então à sua paixão náutica e ao Clube Naval de Lisboa.

Do que atrás se disse, deduz-se que para lá do interesse pelo jogo de futebol, a presença fugaz de Frederico Burnay nos treinos do primeiro ano da nossa História poderá ter-se devido a ter estado no local certo, no tempo certo e convivido com os amigos certos.

Essas ligações são típicas dos primórdios do futebol Lisboeta em que simples embora entusiásticas amizades e solidariedades determinaram a existência mais ou menos fugaz de grupos, alguns dos quais se vieram a constituir em Clubes. O grau de sobrevivência dos Clubes dependeu muito das compatibilidades de personalidades nesses círculos de ligações familiares, profissionais ou até de vizinhança. Dependeu da capacidade de organização e da geração de receitas, tão precárias e curtas eram essas fontes... Há ainda muito para perceber nesses (muitos e interessantes) círculos dentro da realidade vivida pelo Sport Lisboa.

No caso de Frederico, sabemos que em 1903 e 1904 morava ainda com os pais na Rua da Junqueira. Entre os seus amigos / familiares contavam-se dois jovens chamados Raúl Júlio Empis e José Honorato Mendonça.



(https://i.postimg.cc/Hk7z3Hjf/B05.jpg)
Frederico Burnay, Raul Empis (fundador do Sport Lisboa) e José Honorato Mendonça. Laços familiares, de vizinhança e de camaradagem.



Raul Júlio Empis, morava no Palácio de Burnay, tendo sido um dos 24 fundadores do Sport Lisboa. O seu pai, Ernest Empis, que era sócio e amigo de Henry Burnay tinha tido um primeiro casamento com uma Senhora da família Burnay. Esses laços familiares e de negócios explicam a convivência entre os dois jovens. Raul Empis era de uma família da alta burguesia Lisboeta, estudou no estrangeiro e cedo assumiu posições de administrador em diversas grandes empresas da época ligadas ao grupo Burnay. Raul Empis compareceu a 17 dos 24 treinos de 1904 e foi titular como avançado centro no nosso primeiro jogo, disputado em 1-01-1905, contra o Campo de Ourique.


A estes há a acrescentar José Honorato Mendonça que era primo, pelo seu lado materno, de Frederico Burnay. José Honorato Mendonça morava em Belém na Travessa do pátio das Vaccas, bem perto da Farmácia Franco. E ainda mais significativo para a ligação entre os dois rapazes é saber que, em finais de 1907, José Honorato Mendonça casou com Maria Antonieta Duff Burnay, irmã de Frederico Guilherme Duff Burnay.

Não tendo sido fundador por um qualquer acaso do destino, José Honorato Mendonça foi um dos mais entusiastas do Clube desses primeiros meses, actuando naquele vibrante contexto da Farmácia Franco. Colaborou de perto com José da Cruz Viegas, com Manuel Gourlade e Daniel Santos Brito. José não compareceu a nenhum dos treinos quer em 1904 quer em 1905 mas sabemos por Daniel dos Santos Brito que foi um dos jovens que futebolou no pátio traseiro da Farmácia Franco.

Da figura e curta vida de José Honorato Mendonça já por aqui falamos, prestando-lhe justa homenagem (ver: -160- A semente da Farmácia Franco, p. 44).


Em resumo: Frederico Guilherme Duff Burnay teve ligações estreitas com alguns dos fundadores do nosso Clube e de outros que apesar de importantes estão em grande medida perdidos para a memória colectiva Benfiquista.

Este tópico sempre tem procurado relembrar e homenagear os mais conhecidos e sempre que possível resgatar alguns dos esquecidos. Pela sua contribuição, todos são merecedores sempre da nossa memória e carinho. Assim foi, assim é, assim será.


Todos Juntos. Todos por Um.


(https://i.postimg.cc/RFCcrzVC/B06.jpg)
Frederico Guilherme Duff Burnay faleceu em Lisboa, freguesia de Arroios, no dia 10-02-1964. Descansa no cemitério dos Prazeres. Paz e honra à sua memória.






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luis.live em 10 de Março de 2020, 11:05
redVC , Cosme Damiao não está entre os 24 fundadores , certo? a teoria de que foi ele que escreveu o nome dos ilustres fundadores é treta , certo? quem escreveu foi o Manuel Goularde , certo?  Cosme Damião aparece depois da fundação do Sport Lisboa e tem sim , papel fundamental no Sport Lisboa quando recusa ir para o recem fundado Sporting e , mantém o Sport Lisboa e é ele o grande responsavel pela fusão com o grupo sport Benfica , certo ou estou enganado?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 10 de Março de 2020, 11:28
Na acta da fundação julgo que terà sido Cosme Damião que escreveu os nomes dos 23 fundadores. Mas o seu nome não està là.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Março de 2020, 09:21
Caros amigos, em resposta ao que questionam, fica aqui um texto escrito enquanto curo uma gripe... Espero que a informação seja esclarecedora.


-255-
Dissecando uma Acta


(https://i.postimg.cc/52nLNXTz/23.jpg)



A Acta do evento que fundou o Sport Lisboa e Benfica foi dada ao conhecimento público - como dezenas de outros documentos - em 1954, aquando da publicação, em fascículos, da magnífica "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954". Foi uma obra de autor (financiada pelo seu próprio bolso) de Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva.


Não sabemos de que acervo veio e onde está actualmente. Talvez constasse do acervo de Cosme Damião, talvez do acervo dos irmãos Rosa Rodrigues ou de Daniel dos Santos Brito.

É um documento simples, próprio de um Clube que não primava pela organização mas sim pelo voluntarismo e talento para jogar futebol.

No documento podemos extrair vários níveis de informação:

- foi manuscrita por uma só pessoa (inferido pela caligrafia)
- o local e a data em que foi redigida
- os nomes de 23 fundadores
- a constituição da primeira Direcção (presidente, secretário e tesoureiro)


Assim sendo, vamos por partes.


Caligrafia

Atente-se nesta comparação gráfica. À esquerda está um registo da inscrição de jogadores da 1ª categoria de 1908 manuscrita por Cosme Damião. À direita está a Acta:


(https://i.postimg.cc/G2ZhXKDR/Actas.jpg)


Acho que esta comparação é conclusiva. É a letra de Cosme Damião.

É inacreditável que se continue a repetir que Cosme Damião não tem nada a ver com a fundação. Só há uma solução contra isso que é divulgar a informação, a verdade.

O facto de Cosme Damião ter escrito a Acta não merece admiração pois ele foi sempre um homem organizado. É aliás relevante lembrar que 1 ano antes, em 1903, Cosme Damião teve um papel fundamental na estrutura organizativa da Direcção da Associação do Bem. A Associação do Bem tinha como foco desenvolver actividades de convívio, culturais e desportivas, reunindo antigos casapianos. Alguns deles era prestigiados no futebol Lisboeta. Se bem me lembro, Cosme foi secretário dessa Associação apesar de ser dos mais novos.

Em 1904, Cosme era ainda muito novo (19 anos) mas já tinha quer as qualificações profissionais quer a personalidade adequada para perceber e assumir a responsabilidade de efectuar registos.
´
Nesses primeiros meses de vida do Sport Lisboa, para além de Cosme Damião, também Manuel Gourlade e Daniel Santos Brito assumiram um papel na burocracia do Clube. Ambos tinham rotinas profissionais adequadas à função dado serem empregado da Farmácia Franco, uma verdadeira empresa que vendia os seus produtos quer em Portugal e quer fora de Portugal.

Apesar da escassez ou das perdas, sobreviveram alguns documentos da contabilidade do Sport Lisboa que tem a caligrafia de Daniel Santos Brito, de Manuel Gourlade e de José Rosa Rodrigues (1ª Direcção do Clube). Sabemos por isso que a caligrafia da Acta não é de nenhum deles.



Local e data

A data da Fundação aparece muito claramente no cabeçalho do documento.

Lá se refere que nessa mesma data foi feito o primeiro treino do Clube.

Essa afirmação é concordante com o registo feito por Manuel Gourlade, aqui sim com a caligrafia de Gourlade:


(https://i.postimg.cc/B6RssCJv/1-treino.jpg)



O local da reunião aparece escrito de forma encavalitada, como que adicionado. Parece óbvio que foi isso o que aconteceu.


(https://i.postimg.cc/c4dN0P0j/Local.jpg)



Note-se que aparece Farmácia Franco, Rua de Belém 147. Algures na década de 20 já vigorava uma nova numeração na referida Rua, facto que baliza no tempo essa adição.


Como Cosme mais tarde mencionou, o prazer pelo jogo antecedeu a formação do Clube. O documento terá sido rapidamente escrito e só mais tarde Cosme terá reparado que faltava precisar o local. Acho óbvio que a adição foi feita depois e isso poderá explicar o facto de Farmácia aparecer escrito sem "Ph", um detalhe que a "gente do contra" tentou sempre explorar.

Cosme Damião faleceu em 1947 ou seja 7 anos antes de Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva publicarem a sua obra.

No entanto, em 1945, Cosme foi longamente entrevistado por Mário de Oliveira e esse testemunho foi fundamental para a escrita desse capítulo inicial da obra destes dois autores. Do meu conhecimento, esta obra foi o primeiro registo jornalístico escrito que alguma vez foi publicado com detalhes da Fundação. Permanece como obra de referência e tudo o que tem sido investigado com base em documentação original da época tem confirmado os factos ali apresentados.




Os 23 nomes


Não sabemos também porque Cosme Damião decidiu não colocar o nome dele. É seguro dizer que o que sabemos dos seus traços de carácter mostra que Cosme era tudo menos vaidoso. Colocava o colectivo à frente do individual. Em minha opinião, não colocou o seu nome na Acta por modéstia ou eventualmente por esquecimento.

Não sabemos e essa pergunta aparentemente não lhe foi feita. E não foi feita se calhar porque nesse tempo não se questionavam as coisas como agora. Acreditava-se mais na palavra das pessoas. A palavra dos homens tinha valor. Selava questões. Triste tempos os que hoje vivemos em que as pessoas não tem palavra nem dignidade e por isso duvidam tanto uns dos outros...


Para além disso, para quem sabe alguma coisa desses tempos e desses homens - e desculpem a pouca modéstia - eu sei muito, é evidente que alguns dos nomes só estão na lista pelo simples facto de ela ter sido escrita no próprio dia da fundação!

O que quero dizer é que estão lá registados nomes de homens dos quais apenas existe registo fugaz de passagem no Clube. A sua presença nesse dia na Farmácia Franco é um episódio raro e fugaz, tendo em conta o que se seguiu depois. Constam da Acta mas rapidamente deixaram de fazer parte da vida do Clube, muito provavelmente porque na altura moravam ou trabalhavam na zona de Belém de forma transitória. Pouco depois foram para outras paragens levados pela vida familiar ou profissional ou até porque... morreram. São esses os casos de Amadeu Rocha, Manuel França, João Ignácio Gomes, entre outros.

O ponto essencial a reter é que esses homens de presença fugaz, rapidamente desapareceram da vida do Clube e logo entraram no esquecimento da memória colectiva. O facto dos seus nomes estarem na acta é um atestado da autenticidade do documento mas nem devíamos estar a falar de autenticidades de tão absurdo é.

Note-se também que, aquando da publicação da obra supra-citada, o Comandante (Marinha) Francisco Reis Gonçalves, um dos 24 fundadores, escreveu uma carta aos autores da obra, onde salienta que a lista tinha de facto algumas imprecisões mas de resto confirmava tudo o resto, inclusive o seu estatuto de fundador, facto do qual se orgulhava.

Com a investigação que eu fiz, e continuo a fazer, hoje julgo conseguir detalhar todas ou quase todas as imprecisões que Francisco Reis Gonçalves se referia. Por exemplo:


- "Jorge de Sousa" era na verdade Augusto Jorge de Sousa.
- "Jorge da Costa Afra" era na verdade Eduardo Afra Jorge da Costa,
- o próprio Francisco Reis Gonçalves aparece na lista só como "Francisco Reis".



Há ainda mais um par de outras imprecisões, leia-se abreviações de nomes, mas o essencial fica demonstrado. A acta tem imprecisões mas em nada belisca a sua autenticidade.

O que isto quer dizer é que quem escreveu a lista fez isso escrevendo os nomes que conhecia, os nomes com que os próprios provavelmente eram mais conhecidos entre os colegas. E é lícito pensar que Cosme Damião conhecia melhor alguns dos seus colegas fundadores do que outros.

Repare-se ainda no importante facto de que quando a obra de Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva foi publicada ainda estavam vivos os fundadores, a saber:


Abílio Meireles
Cândido Rosa Rodrigues
Daniel Santos Brito
Francisco Reis Gonçalves
Joaquim de Almeida
José Linhares
Raul Empis



(https://i.postimg.cc/mDxQK0Kp/Linha-de-vida-Fundadores.jpg)


e estavam igualmente vivos outros homens que não tendo sido fundadores, estiveram presentes antes e depois da fundação. Homens cuja acção nos primeiros meses do Clube foi fundamental, tais como José da Cruz Viegas e Félix Bermudes, entre outros.


Não se ouviu qualquer desmentido da parte de todos estes homens. Antes pelo contrário, muitos deles deram os seus testemunhos directos e documentos do seu acervo pessoal. O que sabemos veio da sua boca e das suas gavetas.

O único verdadeiro reparo que se ouviu foi dado por Cândido Rosa Rodrigues, não sobre factos associados à fundação mas sim sobre a grande crise de 1907.

O que Cândido Rosa Rodrigues lamentou - mesmo passadas 5 décadas - foi o facto de não se ter considerado que o Sport Lisboa foi extinto aquando da grande cisão de Maio de 1907.

Como devem estar lembrados nessa altura 8 jogadores do Sport Lisboa (Cândido Rosa Rodrigues incluído) e mais alguns outros sócios do nosso Clube, saíram para o SCP, aceitando o convite de José de Alvalade. É natural que os manos Rosa Rodrigues encarassem o Clube como seu mas o facto indesmentível é que foram eles a abandonar.

O que Cândido Rosa Rodrigues não referiu é que enquanto ele foi para o SCP, ficaram no Sport Lisboa pelo menos os seguintes seis fundadores: Abílio Meireles, Carlos França, Cosme Damião, Eduardo Corga, Henrique Teixeira e Manuel Gourlade.

Os fundadores que ficaram disseram presente nesses primeiros tempos do Clube em Benfica, ajudaram à subscrição que juntou dinheiro para salvar o Clube e muitos deles continuaram jogaram nas nossas equipas de futebol. Há fotografias que atestam isso. Há documentos escritos que atestam isso.

Depois de 1907, igualmente ficaram no Clube alguns sócios protectores dos tempos de Belém. Estes eram sócios de mérito que não jogavam mas que contribuíam financeiramente mais do que os sócios ordinários. Entre esses sócios podemos referir, entre outros, o médico António de Azevedo Meireles, ou Ignácio José Franco ou seja o 2º Conde do Restelo e um dos donos da Farmácia Franco). Há documentos que atestam isso.


Todos eles constavam da lista de sócios que o Sport Lisboa apresentou aquando da junção com o GSB, em Setembro de 1908. Muitos deles fizeram inclusivamente parte dos Orgãos Sociais desses tempos. Há documentos que atestam isso.


O que Cândido Rosa Rodrigues não referiu é que em 1907-1908, o Clube continuou a competir com o nome Sport Lisboa, com o emblema e com as camisolas vermelhas e calções brancos.


O que Cândido Rosa Rodrigues não referiu é que ele próprio continuou a ser sócio do Clube nesse período e que continuou a pagar quotas.


As opiniões de Cândido Rosa Rodrigues eram a sua verdade, as suas desilusões, o seu desgosto pelo trajecto posterior do Clube. O problema é que esbarram nos factos.


Para além disso todo o processo de junção foi negociado (e ficou registado em diversas actas, ainda hoje existente no acervo do Clube) pela parte do Sport Lisboa por Cosme Damião e por Félix Bermudes. Nesse processo ficou registado em acta que os dois Clubes se juntavam mantendo a sua individualidade, o Sport Lisboa com a autonomia da gestão e prática do futebol e o Grupo Sport Benfica com a gestão central do Clube e a prática de outros desportos.  Naturalmente, o tempo encarregou-se de ir diluindo essas atribuições distintas.


É por isso que se deve falar em junção e não em fusão. Conceitos distintos.


Mas já estou a sair do âmbito da questão inicial, voltemos ao foco deste texto.

O fundamental de tudo o que foi dito é saber-se que neste nosso Clube não há data inventadas. Não há fundadores martelados. Está tudo registado, fundamentado por documentos ou por testemunhos directos de vários homens que lá estiveram.



A primeira Direcção


Foi escolhido para presidente José Rosa Rodrigues, o mais velho dos manos Rosa Rodrigues, que moravam por cima da Farmácia Franco, que eram os donos da única bola existente nesse dia da fundação e que eram o núcleo do (Belém) Football Club, fundado em 1903 e que antecedeu o nosso Sport Lisboa, fundado em 1904.

Aliás as primeiras quotas em Abril de 1904 tinham ainda o cabeçalho Football Club.


(https://i.postimg.cc/pXBmnsY5/Quotas.jpg)


Isto mostra que existe/existiu mais informação, documentos e listas que hoje não estão disponíveis mas ainda assim o que está disponível é conclusivo ao que se aqui afirma.

Na Acta é indicado também que foram escolhidos para Secretário o fundador Daniel Santos Brito e para tesoureiro o fundador Manuel Gourlade que eram funcionários da Farmácia Franco com responsabilidade profissionais compatíveis com essas funções. Os donos da Farmácia eram sócios do Clube e eram entusiastas do futebol e por isso deram o seu beneplácito e financiamento ao novo Clube, deixando também que na Farmácia funcionasse provisoriamente a primeira sede do Clube.


Está tudo documentado.


Tudo o que tenho revelado e tenho muito mais do que aqui publico, é conclusivo quanto à veracidade do que sabemos da História inicial do nosso Clube. É um orgulho saber que nada foi aldrabado e que tudo pode ser provado.


O nosso Clube tem uma História transparente. Teve 24 fundadores mas muitos mais contribuíram para definir os Valores e outras traços distintivos definidores do Clube.

Muita coisa mudou mas o essencial permaneceu pois


https://www.youtube.com/watch?v=amBpCiD9ppM (https://www.youtube.com/watch?v=amBpCiD9ppM)



...Olhando altivo o seu passado pode ter fé no seu futuro pois conservou imaculado um Ideal sincero e puro...

...Honrai agora os ases que nos honraram o passado...





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luis.live em 15 de Março de 2020, 14:54
VIVA , VIVA O SPORT LISBOA E BENFICA...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 20 de Abril de 2020, 09:55
Muito bem, continua a ser um dos meus tópicos preferidos. Obrigado Victor.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Maio de 2020, 20:38
-256-
Entre regatas e futebóis


Alcântara, dia 2 de Abril de 1907.


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As equipas do Arsenal da Marinha e da canhoneira "Tejo". Fonte: delcampe



Duas equipas alinham para as máquinas fotográficas, antes de iniciarem uma partida de futebol.

O jogo de futebol que disputaram foi parte de um evento comemorativo da entrada de novos recrutas para a Marinha Portuguesa. As equipas do Arsenal da Marinha (camisola com uma âncora) e da canhoneira "Tejo" disputaram uma renhida partida de futebol da qual os primeiros saíram vencedores por 2-1.



(https://i.postimg.cc/KYbH3hg3/02.jpg)
Fonte: Hemeroteca Lx



Nos primeiros anos do século XX, o campo de futebol de Alcântara foi um importante terreno para a prática do futebol em Lisboa, tendo sido frequentemente utilizado pelo Clube Internacional de Futebol (CIF). Aliás, ao que parece, em finais de 1902, o direito da utilização desse campo gerou discussões e dissensões que estiveram na base da fundação do CIF.

Era um campo amplo, sem bancadas e com um terreno duro e abrasivo. Valia apenas pela localização e pela conveniência de utilização num tempo em que escasseavam locais com um mínimo de aptidão para a prática de futebol.



(https://i.postimg.cc/43XWNvrz/03.jpg)
Aspecto do jogo de 2-04-1907 e da assistência. Fonte: Delcampe



É justo referir o papel fundamental do CIF e de algumas das suas figuras-maiores na difusão da teoria e da prática do futebol no Exército e em particular na Marinha Portuguesa. Homens como Carlos Villar, o seu primeiro presidente, e Joaquim Vilar, que eram aliás oficiais da Marinha Portuguesa. Refira-se ainda que membros da família Pinto Basto, introdutores do futebol em Portugal e estreitamente ligados do CIF, terão doado bolas de futebol à Marinha Portuguesa, num tempo em que esse era um bem escasso e raro.



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Joaquim Costa e Carlos Villar, dois entusiastas da difusão do futebol na Marinha Portuguesa. Fonte: Marinha Portuguesa.



(https://i.postimg.cc/fRCrdg7H/05.jpg)
Junho de 1907. Fonte: Hemeroteca Lx



O Arsenal e a Canhoneira


O Arsenal da Marinha é uma antiga instituição Portuguesa, cujas origens podemos traçar ao século XV, ao chamado "Arsenal da Ribeira das Naus". Implantada a poente do Terreiro do Paço, era uma instituição devotada à construção naval e ao saber náutico, e que teve as suas infra-estruturas grandemente devastadas pelo terramoto de 1755.

A reconstrução e uma série de melhoramentos levaram ao aparecimento do "Arsenal da Marinha", instituição com notáveis capacidades de construção naval e fornecedora de todos os materiais para a actividade naval. Ver mais em: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2014/10/arsenal-da-marinha.html



(https://i.postimg.cc/pTwGxNxd/06.jpg)
Fonte: Restos de Colecção



Acompanhando as inovações tecnológicas da época, o Arsenal da Marinha passou a ter capacidades de construção de navios em aço no início do século XX. E assim, a canhoneira "Tejo", lançada ao mar em 1904 e mantida em serviço até 1927, foi uma das primeiras unidades militares navais desse tipo, que ali foram construídas (fonte: https://www.wikiwand.com/pt/NRP_Tejo_(contratorpedeiro)).



(https://i.postimg.cc/02dWgH48/07.jpg)
A canhoneira "Tejo" (1904-1927)



Para lá das alterações que mais tarde surgiriam nesta instituição, desde a construção das instalações no Alfeite (com as indemnizações de Alemanha por via da I Guerra Mundial) até ao aprazível local turístico que por lá hoje encontramos, deve reter-se a ideia de que em 1907 o Arsenal da Marinha era uma instituição militar de grande vitalidade, palco de múltiplos e relevantes eventos sociais e políticos.

Mas vamos voltar a olhar para a imagem da equipa do Arsenal da Marinha e vamos concentrar atenções no homem que trajava à civil. Façamos umas comparações.



(https://i.postimg.cc/nrKkJC0d/08.jpg)
Fonte: Delcampe e AML



Assim se identifica Albano dos Santos, na altura ainda futebolista do Sport Lisboa. Sairia para o SCP no mês seguinte.

Em 1907, Albano dos Santos era um funcionário relativamente novato do Arsenal da Marinha mas era já prestigiado como remador do Clube Naval de Lisboa (CNL) e futebolista do Sport Lisboa. Olhando para a sua postura na foto e considerando a sua notoriedade desportiva, percebe-se que nesse dia muito provavelmente Albano dos Santos estaria a orientar a equipa de futebol formada pelos seus colegas de trabalho.

Mas para nós Benfiquistas, o importante é reter que Albano dos Santos integrou o meio-campo das primeiras equipas de futebol da história do nosso Clube. Foi um dos pioneiros, um dos atletas que ajudou a que o Sport Lisboa, desde os seus primórdios, se apresentasse como um clube vencedor. Envergando a camisola rubra, Albano dos Santos integrou o nosso mais antigo plantel principal de futebol.



(https://i.postimg.cc/RVRRpJ3h/09.jpg)
A mais antiga equipa do Sport Lisboa, provavelmente captada em 1905. O original a preto e branco é da autoria do fotógrafo Nazareth Chagas e está guardado no acervo de José da Cruz Viegas. Albano dos Santos está entre Fortunato Levy e António do Couto, seus companheiros do meio-campo.



Albano, o náutico


No início do século XX, quando o futebol dava os seus primeiros passos em Portugal, já a prática dos desportos náuticos estava implantada há diversas gerações nas diversas freguesias ribeirinhas de Lisboa. Com propriedade, o Remo e a Vela podem ser consideradas as primeiras modalidades desportivas portuguesas, a base do desporto em Portugal. E tal como em muitos outras modalidades desportivas que vieram depois, nos seus primeiros anos o Remo e a Vela eram essencialmente praticadas pela juventude das classes sociais mais abastadas.

Para muitos desses desportistas, a prática dos desportos náuticos era a sua prioridade desportiva, particularmente nos meses do tempo quente. O futebol era um desporto para o Inverno, uma novidade, ainda quase só praticada por essas classes mais favorecidas. Foi esse também o caso de Albano dos Santos, que para lá de se notabilizar como futebolista foi essencialmente um campeão do remo, e mais tarde um prestigiado dirigente do CNL.



(https://i.postimg.cc/FFbg1kVp/10.jpg)
Albano dos Santos e a tripulação que integrou, vencedora da prestigiada Taça Lisboa no ano de 1909. Fonte: Hemeroteca Lx



Recentemente falou-se por aqui na importância do CNL e de alguns dos seus mais destacadas membros (ver -253- Pioneiro, em terra e no mar!). Fundado em 27 de Janeiro de 1892, sediado na zona de Alcântara, e actualmente com sedes em Cascais, Portimão, Lagos, Luanda, Funchal, Faro, Pedrouços, o CNL contou desde cedo com um enorme contingente de sócios e praticantes. Nas suas primitivas indumentárias, os timoneiros fardavam-se de branco e os remadores vestiam camisolas listadas horizontalmente de preto e vermelho.

E é com essa primitiva camisola do CNL, que podemos identificar três dos seus sócios com ligações ao nosso Clube: Albano dos Santos, Jaime Aldim e José Honorato Mendonça Jr.



(https://i.postimg.cc/wMHmpFtN/11.jpg)
Entre dezenas de membros do CNL, identificam-se Albano dos Santos, Jaime Aldim e José Honorato Mendonça Jr. Fonte: http://remo-historia.blogspot.coml



Numa imagem similar de um outro convívio entre desportistas náuticos, identifica-se Albano dos Santos e António do Couto.



(https://i.postimg.cc/K81M71Bd/12.jpg)
Entre dezenas de membros do CNL, identificam-se Albano dos Santos e António do Couto. Fonte: http://remo-historia.blogspot.com/



Albano dos Santos, Jaime Aldim, José Honorato de Mendonça Jr. e António do Couto, são quatro dos elementos que estiveram presentes nos míticos treinos de futebol de 1903-1904, no campo das Salésias. Foi nesse tempo e local que se criaram ligações e interesses comuns que levaram à fundação do Sport Lisboa, a primeira evolução do Sport Lisboa e Benfica.



Albano, o footballer


Apesar de evocadas várias décadas depois dos acontecimentos, pelo detalhe e riqueza das memórias de um dos nossos fundadores, Daniel Santos Brito, sabemos que Albano dos Santos participou nos famosos treinos das Salésias, entre os anos de 1903-1904.


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Recordações de Daniel Santos Brito, fundador do Sport Lisboa.



Lendo essas passagens percebe-se que o afluxo crescente de jogadores para os treinos de futebol nas Salésias se explica com a existência de diversos núcleos de amizades, ligações académicas e profissionais. Note-se no entanto que, bem antes de 1903-1904, período que marcou o início do nosso Clube, já há alguns anos se faziam treinos de futebol nas Salésias. Terão começado mesmo antes de 1900, provavelmente por volta de 1892-1893, altura em que após a construção da praça de touros, os terrenos do Campo Pequeno deixaram de estar disponíveis.

Em 1903-1904, vários grupos treinavam o futebol nas Salésias. Foi nesse ambiente de prática pré-competitiva do futebol que se estabeleceram as amizades e o espírito de grupo que foram essenciais para a génese do nosso Clube. Para lá do grupo Football Club, grupo belenense liderado pelos irmãos Catatau, compareceram nesses treinos diversos outros grupos de estudantes, de militares, de marinheiros e de desportistas náuticos.

Atentemos também a que nesses primeiros anos do século XX não existiam competições estruturadas nem sequer algum tipo de regularidade de jogos. Reinava o improviso e a inconstância própria do voluntarismo, situações que se traduziam na quase inexistência de clubes estáveis e organizados.

Era frequente ver-se os jogadores a circular por entre os diversos clubes, em função de oportunidades casuais e de amizades diversas. Praticava-se o jogo, pelo prazer e pela circunstância do momento. Não era estranho ver jogadores a integrar um determinado grupo numa semana e a defronta-lo na semana seguinte...

Terá sido também o caso de Albano dos Santos, do qual há notícia de integrar grupos mistos, clubes prestigiados como o SC Campo d'Ourique onde foi colega de Manuel Mora, mais tarde também nosso jogador e ainda de clubes com fugaz e obscura existência, tais como o Clube de Santos. Uma curiosidade histórica onde se identificam outros nomes já por aqui falados.



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Fonte: hemeroteca Lx



Quando chegou ao nosso Clube, Albano dos Santos era já um elemento prestigiado entre os futebolistas nacionais e assim, sem surpresas, Manuel Gourlade seleccionou-o para a nossa primeira categoria. Sabemos pouco sobre o seu estilo de jogo mas parece ter sido um centro-campista duro e voluntarioso, por vezes até demais...

Os seus parceiros de sector eram o virtuoso e atlético Fortunato Levy e o energético e organizador António do Couto. Albano dos Santos descaia mais pela esquerda, Fortunato Levy jogava mais pela direita, deixando a António do Couto a coordenação do jogo pelo meio, uma função fundamental no modelo táctico da época, o "2:3:5", também conhecido como a "pirâmide invertida".



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Albano dos Santos durante um Sport Lisboa versus Clube Internacional de Football, disputado nas Salésias em Janeiro de 1906. Fonte: AML.



Albano dos Santos manteve-se no Sport Lisboa durante 3 temporadas, de 1904-1905 até 1906-1907. Nesse período ficou registada a sua participação num total de 17 partidas de futebol. Não aprece muito mas é preciso atentar que por um lado nesse tempo disputavam-se poucos jogos e por outro, muito provavelmente alguns jogos nem terão sido registados.

De qualquer forma, Manuel Gourlade deu sempre a titularidade a Albano dos Santos, tendo este participado em jogos tão importantes como aquele que em 11 de Fevereiro de 1907 nos deu a glória de derrotar os até então invencíveis ingleses do Carcavellos Club. Nenhum outro Clube Português cometeu tal proeza.

Em Maio de 1907, Albano dos Santos esteve entre a vintena de atletas do Sport Lisboa que aceitaram o convite de José de Alvalade para se transferirem para o Sporting Clube de Portugal. Apesar do impacto inicial dessa enorme dissidência ter sido bastante substancial e negativo, a perda desses elementos levaria não à extinção mas antes a um novo e irresistível impulso de crescimento para o Sport Lisboa.

Durante algum tempo, os dissidentes terão apreciado o fausto dos chás dançantes e o conforto dos banhos quentes que o jovem, ambicioso e endinheirado SCP dispunha. Seria no entanto breve essa aventura leonina pois ao que sabemos depois de um campeonato de 1907-1908 em que o SCP se sagrou 2º classificado atrás dos ingleses do Carcavellos Club, o Clube leonino entraria num declínio de resultados pouco condizentes com as suas ambições.



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Primeira equipa do SCP em 1907-1908. Oito dissidentes do Sport Lisboa... Fonte: hemeroteca Lx



Ora, nesse tempo a veterania futebolística chegava mais cedo, e o estatuto social e uma vida profissional activa não eram os melhores atributos para os jogadores de futebol. Era pois, fácil prever que aquela equipa cheia de dissidentes do Sport Lisboa, não iria durar muito tempo. Albano dos Santos foi um dos que menos tempo permaneceu no SCP, cumprindo apenas durante duas temporadas, mudando-se depois para o Gilman FC em 1909-1910.


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No Gilman SC, 1909-1910



Viria por fim, o SC Império, clube onde ainda jogaria durante 4 temporadas e onde terá encerrado a carreira como futebolista.



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No SC Império. Esquerda: equipa do Império (riscas pretas e amarelas) alinhando com o árbitro Cândido Rosa Rodrigues (um dos 24 fundadores do Sport Lisboa). Direita: jogo disputado na Quinta da Feiteira entre o Sport Lisboa e Benfica e o Império. Fonte: hemeroteca Lx



Embora já estivesse nos seus anos de declínio como futebolista, Albano dos Santos continuou activo e prestigiado. Integrou selecções de jogadores que participaram em jogos de beneficência e também arbitrou desafios de futebol, incumbência apenas concedida a elementos de grande respeitabilidade e prestígio no futebol Lisboeta.



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Equipa mista de Portugueses que defrontou um misto de Ingleses no âmbito de um evento desportivo em favor das vítimas de graves inundações ocorridas pouco antes no Porto. Identificam-se os jogadores Benfiquistas e Albano dos Santos. Fonte: hemeroteca Lx


Não conheço detalhes do seu trajecto como dirigente do CNL mas sei que Albano dos Santos manteve o seu prestígio como membro e dirigente do CNL. Independentemente do seu trajecto futebolístico ter ficado marcado por aquela dissidência de Maio de 1907, esse não terá sido seguramente o momento mais importante da vida desportiva de Albano dos Santos.

O futebol terá sido uma paixão passageira mas o mar foi o amor de toda a sua vida.


Honra à memória de Albano dos Santos.


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Albano dos Santos, o vermelho ficou-lhe sempre bem.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Maio de 2020, 10:31
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As cores do dérbi (parte I): o Clube Internacional de Futebol


Dia 28 de Janeiro de 1906. Campo das Salésias, Belém.



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Campo das Salésias, Sport Lisboa e Internacional em pleno convívio. Colorido a partir de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML.



Dezassete jogadores de duas equipas de futebol e um árbitro alinham em conjunto para a objectiva do fotógrafo Eduardo Alexandre Cunha.

Dez jogadores envergam a camisola vermelha do Sport Lisboa e sete a camisola listada de preto e branco do Clube Internacional de Futebol, popularmente conhecido como o "Internacional".

Preto, branco e vermelho. Durante a primeira década da nossa História foram essas as cores do dérbi Lisboeta: Sport Lisboa x Internacional.



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As cores do primeiro dérbi Lisboeta.



O primeiro desafio entre os dois clubes foi disputado em 22 de Janeiro de 1905, tendo saído vencedor o Internacional por 1-0. Em termos absolutos e formais, esse jogo foi o segundo da nossa História depois da vitória por 1-0 obtida também no campo das Salésias contra o Sport Club de Campo d'Ourique, no dia 1 de Janeiro de 1905.

Não temos fotografias desse jogo de 1905 e na verdade as imagens captadas por Eduardo A. Cunha são as primeiras que tenho conhecimento de um jogo do Sport Lisboa. Uma preciosidade com valor histórico.

Fazendo jus ao seu nome, naquele dia de 28 de Janeiro de 1906, o Internacional apresentou-se com uma equipa com apenas 3 portugueses (os irmãos/primos Pinto Basto). De resto havia ainda 1 brasileiro e 7 ingleses.

Ao invés, o Sport Lisboa apresentou 11 jogadores portugueses, respeitando uma política interna do Clube que duraria até 1979.

Neste texto falaremos do antigo dérbi da cidade de Lisboa. Honrando esse nosso antigo rival, detalhando alguns aspectos da sua génese e das figuras-maiores da sua fundação.

No próximo texto detalharemos um pouco mais o jogo desse dia 28 de Janeiro de 1906.


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Campo das Salésias, a equipa do Internacional. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML.




Clube Internacional de Futebol, 1902
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Com as suas camisolas de listas verticais pretas e brancas, o Internacional exibia-se orgulhoso no campo das Salésias. Era um Clube que tinha nascido prestigiado pois foi fundado pela reunião de vontades de alguns dos mais destacados pioneiros do futebol em Portugal, com mais de uma década de actividade em prol da divulgação e prática da modalidade.

A data de fundação do Internacional, assumida pelos seus fundadores, é o dia 8 Dezembro de 1902. Não obstante, a designação de "Clube Internacional de Futebol" parece ter apenas surgido em finais de 1904.

Ao que se sabe, o Internacional foi fundado num contexto em que se discutia a eventual refundação do Football Club Lisbonense, um antigo e prestigiado Clube, então já inactivo.

O FC Lisbonense tinha sido fundado no já distante ano de 1889 pelos filhos do proprietário do Colégio Lisbonense, os 4 irmãos Villar (Afonso, Henrique, Carlos e Alexandre) juntamente com alguns alunos que estudavam naquele colégio elitista. Apesar de extinto, o FC Lisbonense guardava a honra de ter sido o primeiro clube português fundado exclusivamente para a prática do futebol e de sempre se ter batido de forma valorosa contra os ingleses do Carcavellos. Nos primeiros anos o FC Lisbonense chegou a ser superior aos Ingleses.


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Algumas das principais figuras da História inicial do Internacional



O desejo por trás dessa eventual refundação explica-se pelo facto de alguns dos futuros fundadores do Internacional terem estado ligados ao FC Lisbonense. Era grande a volatilidade de existência ou de composição dos grupos de futebol de então e o FC Lisbonense era já uma recordação. Ao invés, em anos mais recentes os fundadores do Internacional tinham estado ligados ao "Grupo dos Pinto Basto" e ao "Football Club Swifts". Curioso nome pois "swifts" pode ser traduzido quer como "andorinhões" ou como "velozes"... Apesar de não dispormos de muito elementos disponíveis sobre esse período, é razoável dizer que estes dois grupos estiveram para o CIF como o (Belém) Football Club esteve para o Sport Lisboa.

Já no início do ano de 1906, o Internacional era presidido por Carlos Villar, oficial da marinha e um dos fundadores do FC Lisbonense. Carlos Villar já não jogava mas continuava a ser um pedagogo dinâmico e empenhado, promotor da modalidade quer a nível associativo quer na divulgação das regras da modalidade.

Em campo, as equipas de futebol do Internacional eram lideradas pelos manos Pinto Basto, Eduardo e Fernando, ambos presentes no jogo de Janeiro de 1906. Com um misto de jogadores Portugueses, Ingleses e casualmente de outras nacionalidades, o Internacional era um Clube indubitavelmente elitista que, a par dos Ingleses do Carcavellos Club, tinha um prestígio inatacável. Prestigiado mas não popular...



Vitórias e prestígio


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O plantel do Internacional em 1909-1910, vice-campeão de Lisboa atrás do Sport Lisboa e Benfica. Modificado de original.



Até 1914, o Internacional apresentou sempre equipas muito competitivas no campeonato regional de Lisboa, então a competição mais importante da modalidade em Portugal.

Os ingleses do Carcavellos Club participaram apenas nos primeiros quatro campeonatos regionais, tendo vencido de forma convincente os três primeiros (de 1906-07 até 1908-09).

Mas em 1909-10, o último campeonato no tempo da monarquia tudo seria diferente. Com uma determinação e um apuro técnico nunca visto, o Sport Lisboa conseguia enfim derrotar os ingleses e sagrar-se campeão. Nenhum outro clube português conseguiu tal feito.

Na temporada seguinte, os ingleses retiraram-se definitivamente da competição, alegando "superioridade moral", conceito nunca explicado. Curiosamente nessa temporada seria o Internacional a sagrar-se campeão, arrebatando o primeiro campeonato disputado após a instauração da Republica.

Falando de vitórias, o Internacional tem também o mérito de ter sido o primeiro clube português a deslocar-se e a vencer um adversário fora de Portugal. O feito foi conseguido em 5 de Janeiro de 1907, quando se deslocaram a Madrid, para derrotar o Madrid Football Club (que apenas em 1920 passaria a ser "Real") por 2-0. Embora reforçado com alguns craques ingleses do Carcavellos Club, o Internacional utilizou uma maioria de elementos do seu plantel. A vitória foi muito celebrada pelos jornais da época. Com todo o merecimento.


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Reportagens acerca da vitória do Internacional em Madrid em Janeiro de 1907. Fonte: Hemeroteca Lx



Um aspecto importante que deve ser salientado é que o Internacional não era só futebol, dispondo também nos seus quadros de excelentes praticantes de ténis, cricket, atletismo e tiro. Atletas como Armando Cortesão e António Silva Martins participaram com boas prestações em Olimpíadas do início do século XX. Um Clube ecléctico, totalmente devotado ao desporto amador. Em 1914 o Internacional era uma grande e prestigiada colectividade do nosso desporto.



1914, o ano de todas as mudanças


Na temporada 1913-14, o Internacional apresentou uma equipa competitiva que disputou arduamente com o Benfica o campeonato regional. As duas equipas chegaram invictas ao penúltimo jogo, um dérbi que tudo iria decidir, em que o Internacional recebia o Benfica no seu terreno, o campo das Laranjeiras.



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Campo das Laranjeiras, 14-02.1914, o Benfica venceu o Internacional por 2-1 e conquistou de mais um campeonato regional



Venceu o Benfica por 2-1, resultado que deu o tricampeonato à equipa orientada por Cosme Damião. Um ano Glorioso para o nosso Clube que venceu o campeonato em todas as 4 categorias e que teve Álvaro Gaspar como o melhor jogador e marcador.

Infelizmente para o Internacional, esse seria o último campeonato em que lutou realmente para ser campeão.



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Campo das Laranjeiras, 14-02.1914, o Benfica venceu o Internacional por 2-1, conquistando o tricampeonato regional. Fonte: hemeroteca Lx



Apesar da rivalidade desportiva, o Benfica e o Internacional mantiveram um relacionamento respeitoso, isento de atritos semelhantes aos causados pelo SCP. Os dois clubes beneficiavam também de terem à sua frente dois homens de elevada craveira ética e moral, como eram Eduardo Luís Pinto Basto e Cosme Damião.



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Eduardo L. Pinto Basto e Cosme Damião, capitães-gerais do Internacional e do Benfica.



Esse relacionamento cordial e frutuoso ficou comprovado aquando da deslocação de uma selecção de jogadores da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) ao Brasil em Julho-Agosto de 1913. Nessa digressão, Eduardo Luís Pinto Basto integrou a comitiva como guarda-redes e director financeiro e Cosme Damião como médio-centro e Capitão-Geral, cargo equivalente ao de treinador (ver textos: 42 e 42 nas páginas 12 e 13).



Novas cores, o fim de uma era


No final do dia dessa grande final de 1914, ninguém poderia prever que, apenas alguns meses depois, se dariam dramáticas mudanças políticas e sociais na Europa. O impacto dessas mudanças seria profundo também no futebol Português e em particular no destino do Internacional.

De facto, no dia 28 de Julho de 1914 deflagrou a I Guerra Mundial. O conflito levou à imediata mobilização-geral dos britânicos e ao consequente êxodo de muitos Ingleses que residiam em Portugal. O Internacional sofreu desde logo uma sangria no seu quadro de futebolistas e o que acarretou um notório declínio competitivo da sua equipa principal de futebol.

Atento e oportunista, o SCP aproveitaria o momento para agudizar ainda mais a frágil situação do Internacional, recrutando alguns dos mais importantes jogadores branco-negros. É certo que o SCP existia desde 1906, mas até então nunca tinha conseguido sagrar-se campeão. Dentro de campo, até 1914, a verdadeira rivalidade no futebol lisboeta foi sempre entre o Benfica e o Internacional.

Não satisfeito, o SCP desferiu também um golpe no SLB, contratando três jogadores Benfiquistas entre os quais Artur José Pereira, o melhor jogador Português de então. Uma vez mais os leões extremavam a rivalidade fora de campo criando uma situação que lembrava a grande dissidência de Maio de 1907, quando decidiram rechear a sua equipa principal de futebol com 8 titulares do Sport Lisboa. A força bruta do dinheiro trazia o verde para os dérbis de Lisboa.



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As cores das maiores rivalidades desportivas entre 1906 e 1914



No calor da refrega, Cosme Damião nunca teve dúvidas proferindo uma afirmação que se tem revelado certeira ao longo das décadas que entretanto se passaram.



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Nunca esquecer nem nunca deixar inverter.



1920, o ano da rotura


Era óbvio que a crescente mercantilização no futebol Português colocava ao Internacional o desafio insolúvel de tentar compatibilizar esses novos tempos com a sua fidelidade ao ideal olímpico ou seja ao amadorismo e à elevação do desporto.

Em 1920, a Direcção do Internacional viu-se forçado a tomar uma decisão fundamental para o seu futuro: aceitar ou recusar qualquer tipo de semiamadorismo no seu futebol?

Estava em causa aceitar ou recusar o pagamento de despesas de deslocação, alimentação e equipamentos aos futebolistas. Decisão tomada e recusa assumida, os dirigentes do Internacional perceberam que tinha deixado de ser viável manter uma equipa no campeonato da I Divisão Regional e assim sem surpresa no final dessa temporada o Internacional desceu à II Divisão Regional.

Essa época de 1919-20 seria marcada pelos últimos dérbis entre Benfica e o Internacional.

No dia 11 de Janeiro de 1920, o Benfica deslocou-se ao terreno do Internacional para vencer por concludentes 3-0 com golos dos manos Artur Augusto (2) e Alberto Augusto.


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O dérbi Lisboeta Internacional 0–3 SLB, disputado em 11-01-1920. Na foto Artur Augusto, autor de 2 golos. Fonte: "Em Defesa do Benfica"



No mês seguinte, no dia 29 de Fevereiro de 1920, o Benfica recebeu e venceu o Internacional por uns arrasadores 12-1. Cosme Damião terá certamente lamentado mais do que festejado o resultado desse último dérbi. A rivalidade entre o Benfica e o Internacional foi sempre muito diferente da mantida com o SCP.

Para o Internacional o capítulo final da sua primeira era viria em 1923/24, quando já despromovido ao Campeonato de Promoção (terceiro escalão do futebol regional), decidiu desligar-se definitivamente das competições seniores de futebol (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/01/bom-ano-2020-com-dobradinha.html).



Poucos anos depois, nas eleições de 1926, seria a vez do Sport Lisboa e Benfica enfrentar um dilema similar. Cosme Damião, Bento Mântua e seus pares mantinham-se irredutíveis em recusar a contratação de futebolistas. A democracia interna do Clube funcionou e a maioria dos sócios votantes decidiu trilhar um caminho oposto. A decisão levou a um doloroso embora temporário afastamento de Cosme Damião. Se tivesse prevalecido a vontade de Cosme, muito provavelmente o SLB que conhecemos não existiria.



Ao serviço do desporto e pelo desporto


Desde 1923, o Internacional percorre o caminho que escolheu. Fiel às suas raízes, o Clube Internacional de Futebol ainda existe e apresenta-se confiante no seu futuro. Com as modalidades de ténis, futebol (formação), padel, futsal e karaté, o clube está hoje sediado no Caramão da Ajuda


http://www.cif.org.pt/ (http://www.cif.org.pt/)



No próximo texto falaremos sobre o jogo de 28 de Janeiro de 1906. Uma bela partida de futebol que felizmente ficou agradavelmente ilustrada.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 27 de Maio de 2020, 17:49
De vez em quando almoçava lá, no CIF. Sempre me deliciava com umas fotos antigas destas figuras que tu mencionas no teu belo texto. Agora já não vou lá tanto, porque o meu eixo escola-trabalho-casa mudou. (Agora mesmo não vou lá nunca...)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 31 de Maio de 2020, 11:58
-258-
As cores do dérbi (parte II): uma vitória portuguesa

De volta ao dia 28 de Janeiro de 1906. Campo das Salésias, Belém.



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A equipa do Sport Lisboa que venceu o Internacional no dia 28-01-1906. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML.



Os 11 jogadores da equipa do Sport Lisboa e o seu capitão-geral Manuel Gourlade, todos portugueses, posam com o árbitro da partida.

Com aquelas camisolas vermelhas, o Sport Lisboa marcava a diferença nos campos de futebol lisboeta naquela primeira década do século XX. Uma atracção e um dos factores que explicam a precoce popularidade do nosso Clube.



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As cores dos principais clubes de Lisboa em 1906.



Em 1906, passados dois anos desde a sua fundação, o Sport Lisboa tinha uma base de recrutamento de algumas dezenas de jogadores, um recurso valioso, pouco comum para a época e que lhe permitia apresentar excelentes equipas em primeiras, segundas e terceiras categorias. Homens fundamentais para o Clube em anos vindouros, tais como Cosme Damião e Félix Bermudes, entre outros, ainda jogavam na segunda categoria.

Nesses anos juvenis do futebol português são escassas as notícias sobre os jogos e ainda mais quando se tratavam das categorias inferiores. Há no entanto uma notícia curiosa do Tiro e Sport, prestigiada publicação da época, que fala num jogo renhido e polémico, disputado entre as equipa das segundas categorias do Internacional e do Sport Lisboa.

 
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Tiro e Sport, N.º 323, 31 Jan. 1906. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Não temos detalhes sobre a constituição das equipas mas do nosso lado a equipa não terá fugido muito à da foto que a seguir se apresenta



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A segunda categoria do Sport Lisboa em 1906. A equipa dos "espertos".



Mas o aspecto mais interessante é ler que o jogo se disputou no dia 21 de Janeiro 1906, ou seja uma semana antes do jogo de primeira categorias de que hoje vamos falar. Do palavreado tão característico da época percebe-se ainda que a partida foi renhida, com o Internacional a triunfar por 1-0 mas com acalorada discussão sobre o mérito da vitória. Uma boa demonstração de que a rivalidade estava instalada entre as duas colectividades.


***


Mas voltando ao jogo entre as primeira categorias, na nossa equipa principal pontificavam ainda alguns dos antigos e prestigiados futebolistas casapianos que não tendo sido fundadores, desde cedo chegaram ao Clube trazendo a sua qualidade técnica, compreensão do jogo e o prestígio acumulado por mais de uma década de actividade no futebol lisboeta.

Nesse dia 28 de Janeiro de 1906, Manuel Gourlade apostou numa equipa muito forte, misturando a experiência dos 4 antigos casapianos: Queirós Santos, David da Fonseca, António do Couto e Emílio de Carvalho, com a juventude de antigos elementos do Football Club: Cândido Rosa Rodrigues, Carlos França e José da Cruz Viegas; este último presente apesar de muito condicionado pela sua vida militar. Alinharam também Fortunato Levy e Marcial Freitas e Costa, dois jovens que compunham uma dinâmica ala direita. Havia por fim o guarda-rede Manuel Mora e o médio Albano dos Santos, dois valiosos futebolistas provenientes do SC Campo d'Ourique. Uma equipa que provou ser capaz de bater o Internacional.



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A equipa do Sport Lisboa



Nesse dia, o Internacional era um opositor formidável, cheio de prestígio e de... ingleses! Fazendo jus ao seu nome, o Internacional apresentou uma equipa com 3 portugueses (os irmãos/primos Pinto Basto), 1 brasileiro (José Luís Guerra) e 7 ingleses.

Gourlade e seus homens sabiam que o jogo era importante pois o Sport Lisboa entrava no seu segundo ano de competição efectiva, precisava de ganhar prestígio e sócios. Ainda e apenas com jogos particulares, na ausência de qualquer tipo de campeonato organizado, o Clube vencia jogos mostrando ter uma matriz vencedora. Ao Clube não bastava ter sido feliz na cuidadosa escolha do símbolo, lema e equipamentos, mas também interessava mostrar atitude competitiva em campo e ganhar a qualquer adversário por mais forte que fosse.

Nessa altura, o futebol lisboeta tinha como que uma hierarquia de equipas, definida em função dos resultados desse jogos particulares e do valor/prestígio dos seus elementos. Acima de todos estavam os ingleses do Carcavellos Club, que desde a extinção do FC Lisbonense se mostrava praticamente imbatível. Logo abaixo tínhamos a par, os ingleses do Lisbon Cricket Club e o Internacional. Depois havia o SC Campo d'Ourique, e um pouco mais tarde o FC Cruz Negra, este último formado a partir de uma dissidência dos primeiros. No final de 1906, o SCP era uma nulidade no futebol Lisboeta, não se atrevendo a desafiar os clubes mais fortes e apanhando goleadas do FC Cruz Negra.

Ora, como veremos, o Sport Lisboa muito rapidamente escalou essa hierarquia. Depois de um ano de divulgação do jogo e das suas regras, de treinos, para apuramento técnico e selecção dos melhores, era chegado o tempo para desafiar todas essas equipas. Entre 1905 e 1906 o nosso Clube venceu todos esses adversários supostamente mais fortes, exceptuando o Carcavellos Club com o qual começamos sofrendo uma goleadas. Em Fevereiro de 1907, no terceiro jogo contra os ingleses, também isso mudou quando fomos vence-los ao seu próprio terreno, apresentando uma equipa quase idêntica à deste dia 28-01-1906! Para um histórico com o Carcavellos Club ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/os-imprescindiveis-em-carcavelos-ha.html



O desafio


O Sport Lisboa era o clube mais importante de Belém, zona então bastante jovem e populosa, sedenta de futebol. Para lá de atrair a juventude da terra, o Clube beneficiava daquela componente casapiana que crescia e fazia grande parte da sua formação ali perto, no Mosteiro dos Jerónimos e nas suas cercanias. Apesar do campo das Salésias ser um local familiar às duas equipas, o Sport Lisboa jogava em casa e, como seria de esperar, o desafio atraiu uma numerosa assistência afecta a equipa das camisolas berrantes.



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Fotografia aérea da zona de Belém-Ajuda na década de 30 com localização do espaço onde ficava o antigo campo das Salésias, então já desactivado. Fonte: AML



O jogo decorreu em condições climáticas agradáveis, com o numeroso público a não se coibir de manifestar apoio ao Clube da terra. Essa nota foi aliás descrita na agenda de Cândido Rosa Rodrigues, fundador do Sport Lisboa e participante naquele jogo.



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Nota da agenda de Cândido Rosa Rodrigues relativa ao jogo de 28-01-1906.



O detalhe do numeroso público a rodear o campo, é aliás bem captado nas fotografias de Eduardo Alexandre Cunha. Percebe-se que havia gente de todas as idades.



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A linha defensiva do Sport Lisboa. Nota-se o numeroso público e identifica-se a Igreja da Memória na Ajuda. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML




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Mais detalhe. Cruz Viegas, o homem que definiu a escolha das cores vermelha e branca. Vê-se também um árbitro de linha e o numeroso público.



Infelizmente nem a agenda de Cândido Rosa Rodrigues nem a única reportagem disponível sobre o jogo detalham os marcadores dos golos do Sport Lisboa. Há no entanto indicação de que o Sport Lisboa praticou um jogo mais homogéneo, com melhor capacidade física, melhor ligação e maior acutilância. A descrição original é aliás deliciosa:

"O Grupo Sport Lisboa ganhou pela homogeneidade dos jogadores que, mais seguros do seu fôlego e mais scientes do seu jogo, avançavam vigorosamente sobre o campo dos seus adversários que prejudicavam a ofensiva para auxiliarem a defensiva"



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Reportagem do jogo na Revista "Serões". Fonte: Hemeroteca Lx


Ou seja dito de outra forma, o Sport Lisboa jogou tendencialmente em ataque continuado e o Internacional esteve na expectativa, tentando explorar o contra-ataque.

O repórter salientou ainda o bom desempenho do meio-campo do Sport Lisboa e particularmente a exibição de António do Couto, infatigável durante o jogo. Salientou ainda a boa combinação de jogo apresentada pelo ataque do Sport Lisboa, associando essa qualidade às virtudes do treino. Observação certeira.



(https://i.postimg.cc/fyhxJ3Cc/B11.jpg)
Couto lá ao fundo observando a refrega onde estavam 3 companheiros.



(https://i.postimg.cc/VLgjkkCt/B12.jpg)
Mais detalhe. Pressão vermelha!



Do lado do nosso opositor viu-se um jogo mais defensivo, menos combinado, o que ainda assim deu aso a que alguns jogadores se tenham destacado, tais como o guarda-redes Shaddock, o médio Scarlett e particularmente o avançado Fernando Pinto Basto, autor do golo do Internacional.



(https://i.postimg.cc/hGzxs838/B13.jpg)
Luta renhida a meio campo. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML



(https://i.postimg.cc/9Xt9LQ1k/B14.jpg)
Mais detalhe. Dois santos e o público do nosso lado...



(https://i.postimg.cc/xdzJMfct/B15.jpg)
Mais detalhe. Fortunato Levy, o primeiro jogador cabo-verdiano do nosso Clube. David da Fonseca jogava com uma espécie de punhos. Não se vêm pessoas nas varandas. Alguns espectadores improvisam lugares sentados...



Para a história e prestando a merecida homenagem, lembram-se aqui os 12 Gloriosos jogadores, apresentados em jeito de cromos. Os cromos que nunca tiveram...




(https://i.postimg.cc/pTQmcsQj/B16.jpg)
(https://i.postimg.cc/pL9pMWYR/B17.jpg)


Obrigado.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Julho de 2020, 16:08
Não é um texto mas é uma precisão


Imagem de ontem

(https://www.abola.pt//img/fotos/ABOLA2015/FOTOSDR/2020/tarj1.jpg)


Mesmo que solidário na "filosofia" ainda assim vou precisar ao pessoal que escreveu esta tarja aquilo que podendo parecer um pormenor é na verdade um pormaior.



Imagens de há mais de 100 anos

(https://i.postimg.cc/76HbQ6BY/HC.jpg)



Este Senhor chamava-se Henrique da Costa e em Maio de 1907 foi recrutado por José de Alvalade para passar a integrar os quadros do futebol do Sporting Clube de Portugal.

Henrique da Costa aceitou e assim desertou do Sport Lisboa, trocando a camisola vermelha pela camisola branca do SCP. Henrique da Costa pensou que o Sport Lisboa estava extinto e pretendendo continuar a jogar futebol aceitou uma oferta generosa a qual incluía balneários, banhos quentes, equipamentos limpos ao intervalo, bolas novas, etc. Luxos para a época.

Afinal estava enganado pois o Sport Lisboa não se extinguiu antes se renovou e fortaleceu, competindo de forma valorosa nessa temporada de 1907-1908.

Na época seguinte o Sport Lisboa juntou-se ao Grupo Sport Benfica passando em Setembro de 1908 a designar-se por Sport Lisboa e Benfica.

Nessa temporada de 1908-09, Henrique da Costa ao contrário dos restantes 7 desertores, voltou e envergar a camisola rubra.

Apesar dos luxos do Campo Grande, preferiu os improvisados balneários de Belém, a escassez de recursos de um Clube que tinha apenas para oferecer a riqueza da camaradagem, a ambição da conquista, o talento do jogo, a Mística que se fortalecia. Preferiu a camisola vermelha do Sport Lisboa.

Voltou ao seu Clube de coração. Durante 10 anos foi o mais fiel e valoroso dos companheiros de Cosme Damião. coração gentil, alma humilde, atleta de enorme valia. Talvez o melhor defesa Português entre 1904 e 1918.

Henrique da Costa
(https://i.postimg.cc/NjNHqRH2/HC.jpg)
1884-1953


Solidário no propósito ainda assim fica feita precisão e reposta a verdade histórica.






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 23 de Julho de 2020, 09:29
"Erro táctico de Henrique da Costa"

Mas, ao contrário do mais famoso erro táctico do futebol português, este foi corrigido a tempo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 09 de Setembro de 2020, 11:52
este tópico nao deve saír da primeira pagina...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Semper Fidelis em 09 de Setembro de 2020, 17:52
naquela altura o keeper era o Jack the ripper
e os defesas bebiam muita cerveja e eram chamados de bocks
os médios eram mais contidos na cervejola e só bebiam meio copo logo eram os half-bocks
;D

(https://i.postimg.cc/6q7Xbxc5/14.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: thekillerjp em 14 de Setembro de 2020, 00:21
Não sei se é tópico certo:

(https://i.ibb.co/GsLvL1t/Screenshot-20200914-001915-Chrome.jpg)

Mas sabem me dizer que jogo/evento foi este onde participou Eusébio e Cruyff?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 14 de Setembro de 2020, 00:23
 Acho que foi em 1973 ou 1974 no Dia Mundial do Futebol realizado no Camp Nou.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 14 de Setembro de 2020, 00:38
Para completar a informação a que se refere essa extraordinária foto. Jogo entre as Selecções da Europa e da América do Sul no dia 31 de Outubro de 1973 em Barcelona para o Primeiro Dia Mundial do Futebol. Empate 4-4. Eusébio marcou um golo. Nené tambem jogou pela selecção europeia que foi capitaneada por Johan Cruyff.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Setembro de 2020, 16:31
Citação de: thekillerjp em 14 de Setembro de 2020, 00:21
Não sei se é tópico certo:

(https://i.ibb.co/GsLvL1t/Screenshot-20200914-001915-Chrome.jpg)

Mas sabem me dizer que jogo/evento foi este onde participou Eusébio e Cruyff?



É certamente o tópico correcto. Para lá das sintéticas e rigorosas informações que foram dadas pelo nosso amigo Alexandre (como habitual), já por aqui se tinha publicado algo sobre o tema

Publicado em 07 de Abril de 2018. Como as fotos já não estão activas fui buscar o pacote todo e carreguei de novo.

Eusébio é realeza do futebol mundial. É o nosso Rei.





*****************************************************************



-209-
Magaga, Holandês Voador e Calções Limpinhos.


Dia 31 de Outubro de 1973. Estádio Camp Nou, Barcelona.

Dois génios do Futebol posam para uma foto histórica.


(https://i.postimg.cc/nL8R4bqz/01.jpg)

De um lado Eusébio, celebrizado como o Pantera Negra mas também conhecido por Magagaga (em landim, o "supersónico") no início da sua carreira.

Do outro, Johan Cruijff, alcunhado de El Flaco, O Magrinho ou ainda de Holandês Voador (a minha preferida).

Dois jogadores geniais, dois supersónicos do futebol.

Envergando uma camisola laranja com um símbolo alusivo ao nosso planeta, nesse dia Eusébio e Cruijff integraram uma selecção da Europa que disputou um jogo contra uma Selecção da América do Sul. O jogo fez parte das celebrações do 1º Dia Mundial do Futebol, evento de beneficência promovido pela FIFA.

A FIFA planeava que esta fosse a primeira de muitas edições mas a iniciativa viria a ter pouco sucesso e acabou abandonada. Integravam o Comité de honra e organizador, entre outros: o inglês Stanley Rouss (presidente da FIFA), o ditador espanhol Francisco Franco e o futuro rei de Espanha, Juan Carlos. O Comité integrava ainda muitas personalidades Catalãs da época.

Para este jogo, a FIFA nomeou Lázló Kubala para o cargo de seleccionador da equipa da Europa. Kubala, um outro génio do futebol, estava já retirado sendo nessa altura seleccionador nacional da Espanha (ver -204- Pesadelos de Berna). Como seleccionadores da equipa da América do Sul a FIFA nomeou o Brasileiro Mário Zagalo e o Argentino Omar Sivori, outros dois antigos grandes jogadores, e que eram nessa altura seleccionadores nacionais do Brasil e Argentina, respectivamente.


(https://i.postimg.cc/NfmpQC3v/02.jpg)
Fonte: Delcampe e La Vanguardia



(https://i.postimg.cc/k42vzTQZ/03.jpg)
Boletim oficial do FC Barcelona de Outubro de 1973 publicado já depois do evento realizado



Como depois se tornou hábito neste tipo de eventos, a organização procurou garantir a presença de algumas das grandes estrelas da época e jogadores jovens promissores. Procurou também garantir a presença do maior número possível de países tentando não comprometer o interesse do público. Infelizmente, pelo que rezam as crónicas, apenas cerca de 25.000 pessoas compareceram, facto que face ao gigantismo do Camp Nou tornou algo desolador o espectáculo.


A equipa da Europa


(https://i.postimg.cc/9fnGdy6B/04.jpg)
A Selecção da Europa que integrou Eusébio e Néné. Entre Eusébio e Keita estava o Húngaro Bene que nesta foto se encontra tapado.



As maiores figuras do evento foram notoriamente Eusébio e Cruijff, estrelas de primeira grandeza desse tempo. Eusébio estava já numa fase madura da sua prestigiada carreira, enquanto o Holandês estava lançado para uma carreira notável que duraria mais alguns anos no FC Barcelona e na Selecção da Holanda. Cruijff gozava já de um estatuto que lhe garantiu ser nomeado capitão da equipa Europeia. Curiosamente três dias antes o Holandês tinha-se estreado com a camisola blaugrana. E logo com dois golos.


https://www.youtube.com/watch?v=1ihcYZMC1pw (https://www.youtube.com/watch?v=1ihcYZMC1pw)


Na equipa da Europa destaque ainda para as presenças do italiano Fachetti, do inglês Bobby Moore, dos espanhóis Asensi, Pirri, do Áustriaco Jara e do francês Keita que mais tarde veio a jogar no SCP embora já estivesse numa fase descendente. Chegou ainda a estar prevista a participação do Inglês Bobby Moore viu-se impedido porque os aeroportos de Londres estavam fechados. Já no caso do italiano Sandro Mazzola, dos Alemães Netzer, Beckenbauer e Gerd Muller, todos terão optado por não aparecer.

Destaque igualmente para a presença do nosso Nené que era uma estrela em ascensão no futebol Europeu e que na altura jogava no Benfica a extremo direito. Nené viria a substituir Eusébio, jogando toda a 2ª parte.


(https://i.postimg.cc/XvmCG45H/05.jpg)
Nené na Selecção da Europa em 1973



A equipa da América do Sul


Na Selecção da América do Sul, vestida de branco, destaque para o peruano Cubillas que veio a jogar no FCP, para o Chileno Sotil que jogava no FC Barcelona e para os Brasileiros Paulo César e Rivelino.


(https://i.postimg.cc/mZNPRQm6/06.jpg)
A selecção da América do Sul que contou com os craques Rivelino, Paulo César, Sotil e Cubillas.



Arbitrado pelo italiano Angonese, o jogo foi transmitido pela TVE para Espanha e para diversos outros países entre os quais Portugal, por via da RTP1. Um "luxo" e uma raridade.


(https://i.postimg.cc/fTqTT5m5/07.jpg)
Fonte: DL



O jogo foi agradável em particular na sua 1ª parte. Um resumo do jogo pode ser visto no youtube:


https://youtu.be/B4CHtrAWI6E (https://youtu.be/B4CHtrAWI6E)



(https://i.postimg.cc/L5CR56Yh/08.jpg)
Colagem de títulos. Fonte: La Vanguardia



O jogo começou em bom ritmo e animou ainda mais depois do primeiro golo marcado pelo Chileno Hugo Sotil após uma bela jogada à linha do Brasileiro Paulo César. Depois a partida seria no geral agradável, jogada em ritmo brando e recheada de bons momentos. Marcaram-se um total de 8 golos, registando-se no final um empate a 4 golos, resultado que premiou o pouco público que acorreu nessa noite ao Camp Nou.

O grande destaque da noite acabaria por ser o segundo golo da partida, marcado por Eusébio depois de um cruzamento magistral do capitão Johan Cruijff. Destaque pelos interveniente e também pela sua espectacularidade pois Eusébio correspondeu com um magnífico salto de peixe e uma cabeçada fulgurante levando a bola a anichar-se no fundo da baliza do Argentino Santoro. Golo de Eusébio a centro de Cruijff! Um golo de homenagem ao Futebol, eles que foram dos seus mais ilustres praticantes de sempre!


(https://i.postimg.cc/J76Wb00z/09.jpg)
Quatro momentos do golo de Eusébio, marcado a corresponder a um centro de Johan Cruijff.



(https://i.postimg.cc/ncygkDJp/10.jpg)
Outros ângulos do grande golo de Eusébio.



Foram oito golos todos diferentes e todos de belo efeito. Uma bonita homenagem ao futebol. Uma prenda para os poucos espectadores que se deslocaram para ver este jogo.


(https://i.postimg.cc/7hpsmpjm/11.jpg)
Os oito golos da partida.



Foi um jogo agradável principalmente na primeira parte, antes de se iniciarem as substituições. No final, como alguém tinha de vencer, a partida terminaria com a marcação de pontapés da marca de grande penalidade. A equipa da América foi mais eficaz, concretizando 3 penalidades (Borja, Morena e Caszely) contra apenas 2 da equipa da Europa (Odermath e Fachetti).

Já nas zonas dos croquetes, foram muitas as manifestações de regozijo pelo evento e pelo jogo por parte das diversas grandes figuras presentes como Stanley Rouss, presidente da FIFA e o ex-jogador e génio do futebol, Ferenc Púskas,


(https://i.postimg.cc/Z5P7xsHx/12.jpg)
Ecos da partida. Fonte: Mundo desportivo.


Já Eusébio e Cruijff, como dizia o Mundo Deportivo, pareciam inseparáveis no convívio pós-jogo.


(https://i.postimg.cc/XY3SWCDx/13.jpg)
A Pantera Magaga e o Holandês Voador. Montagem de recortes. Fonte: Mundo Deportivo




Nené: elegante, letal... e com os calções limpinhos


Nené jogou durante a segunda parte, período em que o jogo decresceu de qualidade e interesse. Também não foi muito feliz quando no final falhou umas das grandes penalidades. Mas naquela noite Nené terá guardado a satisfação de participar numa festa prestigiante em que conviveu com muitos craques.

Nené, por opção própria nunca quis jogar fora do Benfica. Foram 20 anos de excelente carreira, sempre de Águia ao peito e de muito trabalho, talento, dedicação e amor ao Benfica. Ao que parece Nené chegou a receber um convite do Real Madrid mas recusou argumentando que depois de conseguir o mais difícil não ia trocar a titularidade do Benfica por nada. E se essa decisão lhe terá custado mais visibilidade europeia e provavelmente mais dinheiro, também é certo que sem isso talvez nunca se viesse a tornar um dos mais distintos e notáveis jogadores de toda a História do Sport Lisboa e Benfica.


(https://i.postimg.cc/kG8z3JQk/14.jpg)


Tamagnini Manuel Gomes Baptista Nené nasceu em Leça da Palmeira em 20 de Novembro de 1949. Filho de Tamagnini, um antigo jogador do Lusitano de Vila Real de Santo António, a família radicou-se na Beira, Moçambique ainda nos tenros anos de Tamagnini filho. Por lá se iniciou no futebol tendo-se destacado nas camadas juvenis do Ferroviário da Beira.


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Os primeiros passos do futebolista Nené. Na quipá do Benfica Nené é o segundo em baixo a contar da direita.



Primo direito de Cavém, terá sido esse parentesco o elemento chave que o levou ao Clube do seu coração. Por indicação do primo aos dirigentes Benfiquista Nené foi mandado vir da Beira para treinar no Benfica. Chegou à Luz em 1967, e apesar dos tenros 17 anos, à volta do seu nome existiam expectativas elevadas depois das exibições que tinha protagonizado na Beira. Os dirigentes moçambicanos quiseram dificultar a transferência mas um lapso burocrático acabou por os tramar e facilitar a vida a Nené.

Nos seus primeiros tempos na Luz, Nené foi orientado por Ângelo Martins, um dedicado e competente formador de grandes craques da década de 70. Nené jogou dois anos nas camadas jovens, ao lado de outros jogadores promissores como por exemplo Humberto Coelho, obtendo sempre grande destaque.

A entrada na equipa principal foi o passo seguinte, natural e bem-sucedido. Fernando Cabrita, Fernando Riera e Otto Glória, todos apostaram nele embora ainda a espaços pois a competição era muita e boa. Seria no entanto com o duro Inglês Jimmy Hagan que Nené obteve a plena explosão e reconhecimento do seu futebol vertiginoso e com grande técnica. Hagan colocou-o na extrema-direita dando-lhe a titularidade na sua máquina de futebol.


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Alguns dos mais deslumbrantes planteis Benfiquistas em que Nené esteve integrado. Nené foi orientado por alguns dos mais bem-sucedidos treinadores da nossa História.



Nessa sua primeira etapa de profissional na Luz havia convicção de que estava encontrado o sucessor de José Augusto. Infelizmente para o Benfica aquele sector ofensivo de sonho com Nené, Vitor Baptista, Eusébio, Artur Jorge, Jordão e Simões duraria poucos anos. Rapidamente as necessidades da equipa forçariam a passagem de Nené para o centro do ataque Benfiquista.

E aí viu-se um outro Nené. Bastas vezes foi incompreendido, muitas vezes assobiado. Não ia ao choque, não era dado a correrias, não suava a camisola e pasme-se, acabava sempre os jogos com os calções limpinhos! Haja paciência... Nené mais tarde declararia

"Se não os sujava era porque achava que não era preciso. Mas muito mais injusto que isso foi a ideia que se criou de que era um jogador pouco lutador."


Pois eu ainda vi Nené jogar. Eu vi e adorava a sua inteligência, fineza, a sua classe, a sua capacidade goleadora quase infalível.


(https://i.postimg.cc/D0gQbRnS/17.jpg)


E Nené raramente falhava. Nos momentos mais difíceis o que era natural acontecer era mais tarde ou mais cedo ouvir naqueles relatos: "Golo do Benfica! Golo de Nené!"
Calções limpos? Sempre! Golos? Quase sempre! Nené era sinónimo de golos e de inteligência, de saber onde e quando colocar o melhor do seu saber e esforço. Classe. De todos os que depois se seguiram talvez o estilo de Jonas seja o que mais se aproxime do que mostrou o nosso querido Assassino Silencioso ou Sr. Calções Limpinhos. Do grande Tamagninin Nené. Classe.


(https://i.postimg.cc/FsC35yRX/18.jpg)


O Clube e os seus adeptos souberam retribuir com carinho o que Nené sempre fez por merecer. Nené é uma lenda do nosso Clube.


(https://i.postimg.cc/HnhxKttS/19.jpg)
Obrigado Campeão! Bem-haja sempre o grande Tamagnini Nené!



Durante 7 temporadas de 1968-1969 até 1974-1975, Eusébio e Nené foram colegas de equipa, contribuindo com o brilho do seu futebol para uma galáxia de extraordinários futebolísticos que tantos e tantos títulos deram ao nosso Clube. Foi um privilégio para aqueles que viram e um lamento para os que partiram cedo demais ou como é o meu caso, para aqueles que chegaram depois.


(https://i.postimg.cc/3N7VhMtN/20.jpg)
Pantera Magaga e o Sr. Calções Limpinhos. Duas lendas do Benfica.


Eusébio sempre foi respeitado e admirado pelos seus colegas e adversários no campo. Principalmente os adversários que durante e após as suas carreiras sempre votaram profunda amizade ao cavalheiro do Futebol que foi o nosso Eusébio. Cruijff não foi excepção, antes pelo contrário.

Hoje temos dezenas de fotos de convívio com os seus pares ou seja com os maiores jogadores do Futebol de sempre. Foram muitas as ocasiões em que Eusébio e Cruijff conviveram alegres, ainda na força da vida e na partilha do passado e presente, dando-nos o melhor exemplo do que deve ser o futebol dentro e fora do campo.

De um ponto de vista puramente desportivo, esquecendo o mundo dos dinheiros, contratações e rivalidades tão infestante do Futebol, que lindo teria sido se pudéssemos ter visto mais jogos com Cruijff e Eusébio na mesma equipa. Foram dois jogadores que deslumbraram todos os que amam o futebol dentro das 4 linhas, aquele que apenas contempla o futebol jogado com bola. Foram inesquecíveis.

Sem raiva mas com prazer, com arte e sem rancor, com desportivismo e sem vigarice, com paixão pelo jogo e sem ódio pelo adversário. Esses dois jogadores de tão diferentes origens familiares e contextos sociais, foram jogadores da mais fina flor que o futebol alguma vez viu. Foram homens que se estimaram dentro e fora dos campos, em diversas ocasiões, sempre com a amizade, respeito e admiração mútua. Como grandes campeões, como grandes homens.

Partiram demasiado cedo. Deixaram a dor profunda de todos os que os amaram. Todos os que não os esquecem. Deixaram a mensagem que perdura, que anima, que deu o exemplo e o orgulho a todos os que amam o desporto e o futebol. Porque dos rancorosos e invejosos não rezará a história.


(https://i.postimg.cc/fL7qB2MN/21.jpg)
Entre os seus pares.


Viva Nené, viva Johan Cruijff, viva Eusébio da Silva Ferreira, viva o Futebol!



(https://i.postimg.cc/1RHYFjW0/22.jpg)
O Sr. Calções Limpinhos, o Holandês Voador e a Pantera Magaga. Uma colagem gráfica de três lendas do futebol usando a cor dos campeões.






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 16:57
Outra das alcunhas do Genial Johan Cruyff era "Pitágoras de chuteiras".
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 16:58
A dimensão do King Eusébio era qualquer coisa de transcendente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Setembro de 2020, 17:02
Citação de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 16:57
Outra das alcunhas do Genial Johan Cruyff era "Pitágoras de chuteiras".

:cool2: Não conhecia essa.

Pitágoras con botas?

Muito boa!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Setembro de 2020, 17:06
Citação de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 16:58
A dimensão do King Eusébio era qualquer coisa de transcendente.


Cada Benfiquista devia ter pelo uma experiência do tipo da que contam os seus antigos companheiros e dezenas de outros bem mais novos mas que viajaram com ele integrado numa comitiva Benfiquista. Era um reboliço no aeroporto sempre que se sabia que ia estar por ali o Pantera Negra.

Lembro-me de ouvir acerca de uma visita do Benfica à Grécia. Quando soube que estava ali uma comitiva do Benfica, um vendedor de souvenirs  quis começar a dar descontos pois Eusébio era o seu ídolo. Quando soube que Eusébio vinha mais atrás e quando o viu, o grego passou a querer dar os souvenirs... O pessoal lá foi tendo mais senso e lá lhe foi pagando o que trazia embora com grandes descontos  :2funny:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 18:56
Citação de: RedVC em 20 de Setembro de 2020, 17:02
Citação de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 16:57
Outra das alcunhas do Genial Johan Cruyff era "Pitágoras de chuteiras".

:cool2: Não conhecia essa.

Pitágoras con botas?

Muito boa!
Essa do Pitágoras de Chuteiras está descrita na primeira edição do livro do Freitas Lobo"Os Magos do Futebol".
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 19:02
Citação de: RedVC em 20 de Setembro de 2020, 17:06
Citação de: Alexandre1976 em 20 de Setembro de 2020, 16:58
A dimensão do King Eusébio era qualquer coisa de transcendente.


Cada Benfiquista devia ter pelo uma experiência do tipo da que contam os seus antigos companheiros e dezenas de outros bem mais novos mas que viajaram com ele integrado numa comitiva Benfiquista. Era um reboliço no aeroporto sempre que se sabia que ia estar por ali o Pantera Negra.

Lembro-me de ouvir acerca de uma visita do Benfica à Grécia. Quando soube que estava ali uma comitiva do Benfica, um vendedor de souvenirs  quis começar a dar descontos pois Eusébio era o seu ídolo. Quando soube que Eusébio vinha mais atrás e quando o viu, o grego passou a querer dar os souvenirs... O pessoal lá foi tendo mais senso e lá lhe foi pagando o que trazia embora com grandes descontos  :2funny:
Diz-se que no Reino Unido em vez de lhe pedirem o passaporte lhe pediam autografos.Lenda,Mito,Figura Incomparável.O unico Bola de Ouro Português a conseguir esse desiderato representando uma equipa nacional.E não ganha em 66 por causa da idiotice do correspondente português.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Semper Fidelis em 27 de Setembro de 2020, 18:01
Spoiler
Citação de: RedVC em 21 de Março de 2019, 23:05
-231-
Essa Beira Benfiquista... (parte I)



(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/22/TT_CMZ-AF-GT_E_2-1_11_9_-_Vista_parcial_da_cidade.jpg/800px-TT_CMZ-AF-GT_E_2-1_11_9_-_Vista_parcial_da_cidade.jpg)
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Beira_in_the_1930s


(https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/TT_CMZ-AF-GT_E_2-1_9_13_-_O_Clube_desportivo_Sport_Lisboa_e_Beira.jpg)



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Nota prévia: Vivemos dias de profundo horror e angústia sobre tragédia humana provocada pela passagem do furacão Idai sobre diversas regiões de Moçambique (Sofala, Manique, Tete e Zambézia, as mais afectadas).

Esperemos que a ajuda internacional, aquela que está efectivamente capacitada em meios e volume para dar essa ajuda, consiga ainda salvar vidas e dar algum conforto material e emocional aos milhares de necessitados.

Neste e no próximo texto falaremos sobre ligações da antiga cidade da Beira, capital da província de Sofala, ao Sport Lisboa e Benfica. Para o texto de hoje recuaremos aos anos 20 e 30 do século XX. No próximo iremos para as décadas de 50 a 70.


===///===



Começamos com uma fotografia tirada no princípio da década de 30 no pavilhão sede do Sport Lisboa e Beira. Um dia que não podemos precisar mas que se nota ter sido de particular agitação associativa.



(https://i.postimg.cc/T25Mrpwb/I-01.jpg)
Interior do pavilhão central do Sport Lisboa e Beira num dia particularmente concorrido pela comunidade Portuguesa local. Vê-se o símbolo do Clube. Fonte: TT



A disseminação do Glorioso


A disseminação geográfica do Sport Lisboa e Benfica começou muito cedo. Deu-se mesmo no contexto agreste dos primeiros anos, marcados pela falta de um local para erigir um parque de jogos condigno. Fomos sendo escorraçados dos diversos locais que fomos alugando quer por via dos aumentos das rendas por parte dos senhorios (Feiteira, Sete Rios) quer por via das autoridades que "precisavam" dos terrenos para edificar estradas algumas das quais nem que fosse... 70 anos depois (Benfica e Amoreiras)!

Paradoxalmente, esse nomadismo forçado transformou-se numa das maiores forças do Clube. Cosme Damião e seus pares cedo perceberam que deixar representações nos antigos locais onde tivemos as sedes tinha a enorme vantagem de manter pólos de recrutamento de sócios e atletas. Foram os casos de Belém e Benfica, locais em que as antigas sedes foram convertidas em delegações quando, acertadamente, o Clube decidiu instituir a sede do Clube em plena baixa de Lisboa.

A disseminação do Clube para fora de Lisboa onde viria a tornar-se decisiva a acção de antigos sócios e atletas na disseminação dos valores do Clube, fez-se um pouco no espírito da diáspora casapiana. Leopoldo Mocho foi o primeiro, estando por trás da criação do Sport Lisboa e Évora em 8 de Julho de 1911. Seguir-se-ia Braga com Germano Vasconcelos, Coimbra com José Domingos Fernandes, e depois Figueira da Foz, Setúbal, Porto, Faro e por aí em diante.

A disseminação do Clube para fora de Portugal deu-se, por via da diáspora Portuguesa, para as então colónias ultramarinas. Assim, África assistiu à fundação de múltiplas delegações e filiais Benfiquistas. Em 1927, um boletim oficial do SLB listava já 3 delegações africanas entre as 31 com quem o clube pretendia manter ligações institucionais: Beira (Moçambique), Luanda e Benguela (Angola). Muitas outras vieram depois. Na década de 30 já existiam clubes com essas ligações também em Lourenço Marques (Moçambique) e Huambo e Bela Vista (Angola).



(https://i.postimg.cc/5Np3ymVS/I-02.jpg)
Fonte: Boletim oficial do SLB em 1927.



Para os interessados deixo aqui a ligação para aquele que considero o melhor texto sobre filiais do SLB: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/07/gloriosas-filiais-pioneirismo.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/07/gloriosas-filiais-pioneirismo.html)



Sport Lisboa e Beira


O Sport Beira e Benfica, fundado em 8 de Dezembro de 1916, foi o primeiro Clube organizado fora da metrópole que se constituiu como filial do Sport Lisboa e Benfica. Entre os locais era conhecido como o Esselbê... Só em 1918 chegaria a vez do Sport Lisboa e São Tomé, filial em São Tomé e Príncipe. Depois Luanda, Benguela, etc.

No tempo em que o SL Beira foi fundado já existiam na cidade da Beira actividades desportivas promovidas por colectividades, embora essencialmente com carácter lúdico e visando o convívio social. De facto, ainda no final do século XIX, concretamente em 1896, a pequena comunidade inglesa da Beira fundou o Beira Sports Club (mais tarde Beira Amateur Sports Club) que já praticava o cricket, o golfe e outros desportos, presumivelmente, futebol incluído. É possível que a elite Portuguesa fosse convidada para essas actividades (Eduardo Medeiros, 2013)



(https://i.postimg.cc/hP4Lk7dz/I-03.jpg)
Actividades desportivas e associativas do Beira Sports Club no ano de 1904. Fonte: TT



Como vimos, o Sport Lisboa e Beira foi fundado em 1916 e foi o primeiro Clube formado por colonos Portugueses da Beira. Só na década seguinte foram fundados o Clube Ferroviário da Beira (29 de Julho de 1924) e o Sporting Clube da Beira, filial do SCP (17 de Outubro de 1929). Existiram outros mas não se detalham.

Os fundadores do Sport Lisboa e Beira estavam interessados na prática desportiva e numa activa e saudável vida comunitária. A sua predilecção pelo SL Benfica, o mais popular dos Clubes da metrópole, motivou-os a adoptar as suas cores e emblema. Curiosamente optaram pela ausência da roda de bicicleta facto que parecia evocar os tempos mais recuados do Clube, os tempos de 1904 a 1908.



(https://i.postimg.cc/GmVvT7SG/I-04.jpg)
O símbolo do Sport Lisboa e Beira e as óbvias semelhanças com o do Sport Lisboa.



Curiosamente, o emblema e o nome do Clube terão sido pontos de discórdia que mais tarde levariam a algumas cisões no Clube. Aparentemente o desentendimento surgiu de que uns defendiam que o Clube se devia chamar Sport Lisboa e Beira e outros defendiam o nome de Sport Beira e Benfica. Estes últimos pretendiam também que a roda da bicicleta fosse incluída no emblema. Alguns dos dissidentes estiveram na formação do Atlético da Beira do qual pouco se sabe, enquanto que outros, mais tarde, fundariam o Sporting local...

A fundação do SL Beira resultou do entusiasmo mostrado por alguma dessa comunidade Portuguesa para com o jogo de futebol. Apesar de fundado por colonos portugueses, o SL Beira cedo teve grande apoio entre os residentes locais.

Desde cedo o Sport Lisboa e Beira teve sócios dedicados ao clube dando o melhor do seu dinamismo e capacidades. Um dos mais prestigiados foi o seu fundador Carlos Alberto Faria cuja acção meritória foi reconhecida pela casa mãe da metrópole quando lhe foi atribuída a medalha de 1ª classe durante a Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica em 4 de Fevereiro de 1923. Vale isto por dizer que este Benfiquista Moçambicano foi o primeiro Águia de Ouro do nosso Clube, decisão justificada pelo facto de Carlos Alberto Faria ter "desenvolvido acção de propaganda no Sport Lisboa e Beira".


(https://i.postimg.cc/15zFChkD/I-05.jpg)
Não disponho de qualquer fotografia de Carlos Alberto Faria mas encontrei esta referência de um álbum de 1924, doado ao SLB em 1956 pela sua viúva.



Um grandioso parque desportivo


Em 1932 o Sport Lisboa e Beira dispunha já de um parque desportivo amplo e de grande qualidade, com um airoso campo de futebol e campos anexos para a prática do ténis.



(https://i.postimg.cc/HsfLQqdY/I-06.jpg)
Parque desportivo do Sport Lisboa e Beira em 1932. Quatro campos de ténis, um campo de futebol e uma sede imponente. Fonte: Digitarq.



Numa primeira fase, o Clube tinha erigido um imponente pavilhão-sede de cimento, que estava situado entre os bairros do Maquino e do Esturro. Esse edifício, bem ao lado do campo de futebol, sofreria sucessivos melhoramentos, servindo quer para eventos do Clube quer para cerimónias mais formais das autoridades locais.


(https://i.postimg.cc/QNcD2F33/I-07.jpg)
Três etapas de evolução da sede do Sport Lisboa e Beira; datas entre décadas de 20 e 30.



O complexo desportivo foi gradualmente sendo melhorado e usado não apenas em actividades desportivas mas também em actividades culturais e sociais.



(https://i.postimg.cc/QdgcgNh4/I-08.jpg)
Outros aspectos do parque desportivo do Sport Lisboa e Beira em 1932. A - Portão de entrada e bilheteira no Parque Desportivo do Sport Lisboa e Beira. B – Campos de ténis. C – Cinema e auditório. D – Bar. Fonte: TT



Ao lado do parque de jogo estava situado o Aeródromo Pais Ramos, que dispunha de uma pista ampla onde em 1935 aterrou a célebre esquadrilha de nove aviões Portugueses que participou no Cruzeiro Aéreo às Colónias, evento de que já por aqui falamos (ver textos 71-73, páginas 21-22). Entre esses aviadores estava o capitão José Bentes Pimenta, antigo jogador do SLB.



(https://i.postimg.cc/C5sWzfhn/I-09.jpg)
O Ibis, avião pilotado pelo Capitão José Bentes Pimenta, antigo jogador do SLB. Fonte: delagoabayorld e TT



Actividades desportivas


O Sport Lisboa e Beira viria a ser condecorado pelo Estado Português com o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo por serviços prestados à causa da educação física, traduzidos numa multiplicidade de modalidades desportivas.

O futebol foi a modalidade que aglutinou as vontades iniciais dos fundadores do Sport Lisboa e Beira. Viriam depois modalidades como o ténis, o atletismo e o hóquei-em-campo. Há também registo de campeonatos de cricket, golfe, natação e até automobilismo, tudo ainda antes da II Guerra Mundial (Fonte: Eduardo Medeiros in Caderno de Estudos Africano 2013).



(https://i.postimg.cc/RZD26mBd/I-10.jpg)
A equipa da primeira categoria de futebol do Sport Lisboa e Beira em 1924. Semelhanças evidentes com o SL Benfica... Fonte: Gazeta das Colónias.



(https://i.postimg.cc/d3wfPt2s/I-11.jpg)
Futebol, hóquei em patins e ciclismo, três das modalidades praticadas no SL Beira da década de 40. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.




Bibliografia

Eduardo Medeiros. 2013. Etnia e raça no desporto beirense da época colonial. O caso dos "sino-moçambicanos". Caderno de Estudos Africanos.

Galeria de imagens da cidade da Beira na década de 30 do século XX - https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Beira_in_the_1930s

Galeria de imagens da cidade da Beira na década de 20 do século XX -
https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Beira_in_the_1920s




[fechar]

minha cidade natal... :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Semper Fidelis em 27 de Setembro de 2020, 18:20
Citação de: RedVC em 14 de Setembro de 2019, 14:01
António Sérgio nasceu em Damão, Índia Portuguesa, no dia 3-09-1888. Nesse tempo, o seu pai era um respeitado oficial da Marinha Portuguesa que desempenhava o cargo de governador de Damão. Damão era ainda uma cidade integrante do Império Colonial Português havendo ainda a circunstância de que anos antes o avô de António Sérgio tinha sido governador-geral da Índia.

Ainda nesse ano de 1888, a família Sousa regressaria a Lisboa para mais tarde voltar a emigrar, desta vez para Angola e para o Congo, onde seu pai também assumiu funções de governador. Por terras Africanas permaneceriam até ao pequeno António ter cerca de 9 anos de idade, altura em que regressaram definitivamente à metrópole.

Concluída a instrução primária e seguindo uma tradição familiar (pai e avô paterno), António Sérgio entrou para o Colégio Militar para mais tarde ingressar na Escola Naval onde completou o curso de Marinha de Guerra. A sua vida parecia destinada à vida militar.


já que tenho olho de águia olha aí a data de nascimento do António Sérgio
é 3-09-1883

um abraço e continuação do teu excelente contributo
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: mMateus em 10 de Novembro de 2020, 14:07
(https://pbs.twimg.com/media/Emd5riJWMAAWl9W?format=jpg&name=large)

"Tropas portuguesas do C.E.P. desfilam na Rua da Junqueira em Belém, a caminho de Santa Apolónia para embarcarem com destino a Brest, França. (1917)

O Armisticío foi assinado em Compiègne à 11ªhora do 11º dia do 11º mês de 1918.

Na foto à direita, junto ao candeeiro, a Farmácia Franco, onde em 1904 tinha sido fundado o Sport Lisboa e Benfica. E onde mais de 100 anos depois está uma placa a assinalar o momento."

@BlogLeste
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Novembro de 2020, 22:44
Citação de: mMateus em 10 de Novembro de 2020, 14:07
(https://pbs.twimg.com/media/Emd5riJWMAAWl9W?format=jpg&name=large)

"Tropas portuguesas do C.E.P. desfilam na Rua da Junqueira em Belém, a caminho de Santa Apolónia para embarcarem com destino a Brest, França. (1917)

O Armisticío foi assinado em Compiègne à 11ªhora do 11º dia do 11º mês de 1918.

Na foto à direita, junto ao candeeiro, a Farmácia Franco, onde em 1904 tinha sido fundado o Sport Lisboa e Benfica. E onde mais de 100 anos depois está uma placa a assinalar o momento."

@BlogLeste





A Rua de Belém foi o epicentro do Sport Lisboa.

Não foi apenas a Rua onde se situava a Farmácia Franco. Metade dos 24 fundadores do Sport Lisboa nasceram e moravam ali.

Se pensarmos nos 4 que nasceram e moravam na Ajuda e na Rua da Junqueira então temos que para 16 (dois terços) dos fundadores essa Rua era um local de convergência - provavelmente diária.



(https://2.bp.blogspot.com/-0aWDvamF4GU/XARy3JpocII/AAAAAAAALvo/S9w6UW7ux_AdiuWTJ7IXHFvL6uDjS7prgCLcBGAs/s1600/0.png)

Locais de nascimento dos 24 fundadores do Sport Lisboa
fonte: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html (http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html)

Aliás, quer por motivos escolares, quer por camaradagem, quer até por motivos profissionais, todos para ali convergiram e não apenas no dia 28 de Fevereiro de 1904. É claro que a Farmácia Franco, fundada várias décadas antes, e propriedade de homens que gostavam do desporto e tinham influência política, era um local estabelecido de tertúlia e convívio.

Mas várias outras casas comerciais tiveram relevância no processo. Aquela Rua encerra ainda muitas explicações, muita compreensão complementar para os actores e as circunstâncias da nossa fundação.


Os militares gostavam de se exibir por ali, era um local populoso e popular que tinha também uma burguesia vistosa e uma importância religiosa óbvia. Um mundo onde se fundou um Clube para o Mundo.


(https://i.postimg.cc/7LyWN3Kc/0001-M-1918.jpg)

(https://i.postimg.cc/Ssg1qwmF/0001-M-2.jpg)
fonte: AML



Tenho para mim que o  nosso Clube há muito deveria ter feito um esforço para ter ali uma representação (para os mais mercantilistas, sim, poderia ser também uma loja, hum, hum, hum).

É estranho haver uma loja em Odivelas e não uma loja em Belém onde abundam turistas que ao mesmo tempo que devoram pasteis de nata, certamente o fariam ainda mais felizes a envergar uma camisola do Glorioso, comprada ali ao lado...

Há umas décadas penso que até o próprio local da Farmácia Franco esteve disponível para alugar/vender...


De Belém para o mundo

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Croissant em 18 de Novembro de 2020, 23:20
Grande tópico. Devia-se fazer uma Wiki com o conteúdo disto tudo!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Novembro de 2020, 09:37
Queria alertar TODOS os Benfiquistas que gostam e têm orgulho na História do Sport Lisboa e Benfica que existe agora disponível um recurso fabuloso para conhecer melhor essa Gloriosa Historia


Foi disponibilizada pelo Benfiquista Miguel Amaral a fabulosa

História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954


(https://1.bp.blogspot.com/-a54ZQvIRaSA/X7kOMjZfzNI/AAAAAAAAcc4/ogdC6z64OMQ_a_8OqIu7bO7d9RtIlW6lQCLcBGAsYHQ/s837/HSLB.png)


em formato pdf!
São 323 Mb de ficheiro, compreendendo 1222 páginas


A ligação para descarga está disponibilizada no blogue de Alberto Miguéns, a quem os Benfiquistas interessados igualmente estarão agradecidos.


Aqui:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/11/o-benfiquismo-e-assim.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/11/o-benfiquismo-e-assim.html)



Esse dia de partilha trouxe-nos um dos gestos mais bonitos, de maior Amor ao Clube que alguma vez vi.

Uma saudação de grande amizade aos Benfiquistas Miguel Amaral e Alberto Miguéns!

Viva o Sport Lisboa e Benfica!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 22 de Novembro de 2020, 12:07
Extraordinario.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 22 de Novembro de 2020, 22:52
Já baixei o ficheiro.Foram umas horas bem empregues a ver esta maravilhosa obra.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: pica_foices em 24 de Novembro de 2020, 12:34
Citação de: RedVC em 22 de Novembro de 2020, 09:37
Queria alertar TODOS os Benfiquistas que gostam e têm orgulho na História do Sport Lisboa e Benfica que existe agora disponível um recurso fabuloso para conhecer melhor essa Gloriosa Historia


Foi disponibilizada pelo Benfiquista Miguel Amaral a fabulosa

História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954


(https://1.bp.blogspot.com/-a54ZQvIRaSA/X7kOMjZfzNI/AAAAAAAAcc4/ogdC6z64OMQ_a_8OqIu7bO7d9RtIlW6lQCLcBGAsYHQ/s837/HSLB.png)


em formato pdf!
São 323 Mb de ficheiro, compreendendo 1222 páginas


A ligação para descarga está disponibilizada no blogue de Alberto Miguéns, a quem os Benfiquistas interessados igualmente estarão agradecidos.


Aqui:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/11/o-benfiquismo-e-assim.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/11/o-benfiquismo-e-assim.html)



Esse dia de partilha trouxe-nos um dos gestos mais bonitos, de maior Amor ao Clube que alguma vez vi.

Uma saudação de grande amizade aos Benfiquistas Miguel Amaral e Alberto Miguéns!

Viva o Sport Lisboa e Benfica!




obrigado pela sugestão :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 24 de Novembro de 2020, 18:08
E identificar todos os jogadores dessa foto?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 24 de Novembro de 2020, 18:16
Em cima:Mário Moinhos,Toni,VitorMartins,Artur Correia,Nelinho,Diamantino Costa e o Velho Capitão Mario Wilson.
Em baixo: Vitor Baptista,António Barros,Manuel Bento,Messias Timula,Eurico Gomes,José Domingos e José Henrique
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 24 de Novembro de 2020, 18:18
Infelizmente Artur Correia,Mário Wilson,Vitor Baptista,António Barros,Manuel Bento e Messias Timula já estão no quarto anel. :cry2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Novembro de 2020, 20:50
O Benfica mais cabeludo da História. Pilosidades geniais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 24 de Novembro de 2020, 21:58
Citação de: Alexandre1976 em 24 de Novembro de 2020, 18:16
Em cima:Mário Moinhos,Toni,VitorMartins,Artur Correia,Nelinho,Diamantino Costa e o Velho Capitão Mario Wilson.
Em baixo: Vitor Baptista,António Barros,Manuel Bento,Messias Timula,Eurico Gomes,José Domingos e José Henrique
Caro Alexandre, em baixo não é o Bento, mas o Vítor Moia. O Bento devia estar a tirar a foto! 🙂 Abraço!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 24 de Novembro de 2020, 22:13
Tens razão Zappendrix.O Moia acho que fez essa pre temporada e não sei se depois foi emprestado ou jogou a época toda nas reservas.Não existem registos dele em jogos oficiais dessa temporada.Veio para o Benfica depois de ter marcado 3 golos contra nós pelo Cova da Piedade numa elimintória da Taça de Portugal na época de 71-72 num jogo em que vencemos por 3-6(onde é que eu já vi este resultado?)Grande Abraço.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 24 de Novembro de 2020, 22:23
Calculo que tenhas reconhecido o Vitor Móia não só por ter sido jogador do Benfica mas tambem por ter jogado no clube da localidade que está no teu avatar. :)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: MitroGlicerina em 25 de Novembro de 2020, 11:11
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola
Quando não fazíamos coisas interessantes na Europa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Vieri em 25 de Novembro de 2020, 12:57
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola

Pérola mesmo.
O V. Baptista tinha uma pinta do caraças. Parecia uma estrela rock.
O Barros manda um cenário a la ZZ top de ir às lágrimas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Goldberg em 25 de Novembro de 2020, 13:01
Citação de: MitroGlicerina em 25 de Novembro de 2020, 11:11
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola
Quando não fazíamos coisas interessantes na Europa.
foi na pré epoca do ano em que fomos eliminados pelo bayern da taça dos campeões talvez.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 25 de Novembro de 2020, 13:25
Sim,época 75-76.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Novembro de 2020, 20:08
Citação de: Vieri em 25 de Novembro de 2020, 12:57
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola

Pérola mesmo.
O V. Baptista tinha uma pinta do caraças. Parecia uma estrela rock.
O Barros manda um cenário a la ZZ top de ir às lágrimas.


Alguém reparou nas socas do Zé Gato?  :2funny:

Na Águia na t-shirt do Ruço?  :2funny:

Na lata de refrigerante (Pepsi Cola?) a "refrigerar" o pau do Messias?  :2funny:

Na mota na t-shirt do Nelinho?  :2funny:

No chapéu que o Toni-43 tinha na mão?  :2funny:

A cara do Barros é basicamente pelo.  :2funny:

O look de Rei lagarto do "Maior"  :2funny:

E a cara de desconfiado do Capitão  :2funny:


Esta foto é um tratado, um fresco da malandrice genial que tínhamos naquela equipa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 26 de Novembro de 2020, 17:45
Sempre associei o Vitor Baptista ao Jim Morrison. Já vi que não sou o único.  :smokin:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Carminati em 27 de Novembro de 2020, 17:27
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola

Quantos barbeiros na falência durante esses anos?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 07 de Dezembro de 2020, 14:00
Citação de: RedVC em 25 de Novembro de 2020, 20:08
Citação de: Vieri em 25 de Novembro de 2020, 12:57
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola

Pérola mesmo.
O V. Baptista tinha uma pinta do caraças. Parecia uma estrela rock.
O Barros manda um cenário a la ZZ top de ir às lágrimas.


Alguém reparou nas socas do Zé Gato?  :2funny:

Na Águia na t-shirt do Ruço?  :2funny:

Na lata de refrigerante (Pepsi Cola?) a "refrigerar" o pau do Messias?  :2funny:

Na mota na t-shirt do Nelinho?  :2funny:

No chapéu que o Toni-43 tinha na mão?  :2funny:

A cara do Barros é basicamente pelo.  :2funny:

O look de Rei lagarto do "Maior"  :2funny:

E a cara de desconfiado do Capitão  :2funny:


Esta foto é um tratado, um fresco da malandrice genial que tínhamos naquela equipa.

parecem uns rock-superstars... quando vi pela primeira vez nem quiz acreditar...  ;D
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Dezembro de 2020, 20:16
Por falar de barbas, cabelos e roupas exóticas


(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_001.jpg?v=1)

(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_002.jpg?v=1)


Foto de António Capela, de Janeiro de 1974

De pé, esquerda para a direita: Vitor Baptista, Moinhos, Artur Correia, José Henrique, ?, António Bastos Lopes, Nelinho, José Pedro. Sentado: Humberto Coelho


Alguém identifica quem está entre José Henrique e António Bastos Lopes?

Será Artur Jorge?



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 08:39
Citação de: RedVC em 07 de Dezembro de 2020, 20:16
Por falar de barbas, cabelos e roupas exóticas


(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_001.jpg?v=1)

(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_002.jpg?v=1)


Foto de António Capela, de Janeiro de 1974

De pé, esquerda para a direita: Vitor Baptista, Moinhos, Artur Correia, José Henrique, ?, António Bastos Lopes, Nelinho, José Pedro. Sentado: Humberto Coelho


Alguém identifica quem está entre José Henrique e António Bastos Lopes?

Será Artur Jorge?





difícil, mas diria que nao é Artur Jorge

mas o que diz no avesso? partida para acores? nao houve jogo nos acores nesse tempo
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 09:18
Citação de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 08:39
Citação de: RedVC em 07 de Dezembro de 2020, 20:16
Por falar de barbas, cabelos e roupas exóticas


(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_001.jpg?v=1)

(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_002.jpg?v=1)


Foto de António Capela, de Janeiro de 1974

De pé, esquerda para a direita: Vitor Baptista, Moinhos, Artur Correia, José Henrique, ?, António Bastos Lopes, Nelinho, José Pedro. Sentado: Humberto Coelho


Alguém identifica quem está entre José Henrique e António Bastos Lopes?

Será Artur Jorge?





difícil, mas diria que nao é Artur Jorge

mas o que diz no avesso? partida para acores? nao houve jogo nos acores nesse tempo


Já me fizeram saber que se trata de Diamantino Costa, resposta que me parece certeira. Curioso que identifiquei José Pedro mas não Diamantino Costa, que era um craque, infelizmente pouco lembrado.

Partida para os Açores, sim. Provavelmente em escala para os EUA. Nessa altura a nossa equipa era muito requisitada, facto que muitas vezes levava a ajustes no Campeonato Nacional.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 09:44
Aqui está uma fotografia que ilustra Diamantino Costa!


(https://i.postimg.cc/nc3DJL1g/d043d304cb0db53ad1f8f5532c21aea6.png)


Diamantino Costa, Nené e Artur Correia carregam o troféu Ramon Carranza  1971.

Tempos felizes.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 11:49
Citação de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 09:18
Citação de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 08:39
Citação de: RedVC em 07 de Dezembro de 2020, 20:16
Por falar de barbas, cabelos e roupas exóticas


(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_001.jpg?v=1)

(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_002.jpg?v=1)


Foto de António Capela, de Janeiro de 1974

De pé, esquerda para a direita: Vitor Baptista, Moinhos, Artur Correia, José Henrique, ?, António Bastos Lopes, Nelinho, José Pedro. Sentado: Humberto Coelho


Alguém identifica quem está entre José Henrique e António Bastos Lopes?

Será Artur Jorge?





difícil, mas diria que nao é Artur Jorge

mas o que diz no avesso? partida para acores? nao houve jogo nos acores nesse tempo


Já me fizeram saber que se trata de Diamantino Costa, resposta que me parece certeira. Curioso que identifiquei José Pedro mas não Diamantino Costa, que era um craque, infelizmente pouco lembrado.

Partida para os Açores, sim. Provavelmente em escala para os EUA. Nessa altura a nossa equipa era muito requisitada, facto que muitas vezes levava a ajustes no Campeonato Nacional.

nao tivemos jogo nos eua em 73/74. estranho...
jogos amigáveis apenas houve uns dois na madeira, mas esses foram em fevreiro de 74.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 08 de Dezembro de 2020, 12:35
(https://pbs.twimg.com/media/EoSECWlXUAIRFvk?format=jpg&name=medium)

Em Agosto de 1981 o Benfica venceu pelo segundo ano consecutivo o "Toronto International Soccer Tournament" no Varsity Stadium.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 08 de Dezembro de 2020, 12:37
Citação de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 09:44
Aqui está uma fotografia que ilustra Diamantino Costa!


(https://i.postimg.cc/nc3DJL1g/d043d304cb0db53ad1f8f5532c21aea6.png)


Diamantino Costa, Nené e Artur Correia carregam o troféu Ramon Carranza  1971.

Tempos felizes.

não fazia ideia que o Benfica tinha vencido este troféu, organizado pelo Cadiz
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 13:16
Citação de: Baron_Davis em 08 de Dezembro de 2020, 12:37
Citação de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 09:44
Aqui está uma fotografia que ilustra Diamantino Costa!


(https://i.postimg.cc/nc3DJL1g/d043d304cb0db53ad1f8f5532c21aea6.png)


Diamantino Costa, Nené e Artur Correia carregam o troféu Ramon Carranza  1971.

Tempos felizes.

não fazia ideia que o Benfica tinha vencido este troféu, organizado pelo Cadiz


Duas vezes.

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/08/o-benfica-rei-de-cadis.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/08/grande-trofeu-grande-foi-o-benfica.html




1963

(https://cdn1.newsplex.pt/media/2019/7/25/fb/702671.jpg)


1971

(https://4.bp.blogspot.com/-lRzy7BNBmAs/WY-DdghI6KI/AAAAAAAAuO4/V7BppQEbJ0YDPDnwWVj0HeC4ytmyRUkzwCLcBGAs/s1600/digitalizar0002.jpg)




Os dois troféus que estão no Museu Cosme Damião, relativos ao IX e XVII edições


(https://i.postimg.cc/PJ8yVZjY/IX-e-XVII.jpg)



Na década de 90, este torneio de Verão entrou mais tarde numa certa decadência mas nas décadas de 60 a 80 tinha um prestígio enorme. Basta atentar no historial
de vencedores até 1972


(https://i.postimg.cc/N0JZW1Wz/quadro-de-honra-ramon.png)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 13:19
Citação de: Baron_Davis em 08 de Dezembro de 2020, 12:35
(https://pbs.twimg.com/media/EoSECWlXUAIRFvk?format=jpg&name=medium)

Em Agosto de 1981 o Benfica venceu pelo segundo ano consecutivo o "Toronto International Soccer Tournament" no Varsity Stadium.


Torneio de fecho de temporada. Essencialmente festas para emigrantes lusos.

Carlos Manuel disse que ganhavam sempre e que servia mais para fazer turismo e rechear um pouco mais os cofres da Luz.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 13:25
Citação de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 11:49
Citação de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 09:18
Citação de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 08:39
Citação de: RedVC em 07 de Dezembro de 2020, 20:16
Por falar de barbas, cabelos e roupas exóticas


(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_001.jpg?v=1)

(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_002.jpg?v=1)


Foto de António Capela, de Janeiro de 1974

De pé, esquerda para a direita: Vitor Baptista, Moinhos, Artur Correia, José Henrique, ?, António Bastos Lopes, Nelinho, José Pedro. Sentado: Humberto Coelho


Alguém identifica quem está entre José Henrique e António Bastos Lopes?

Será Artur Jorge?





difícil, mas diria que nao é Artur Jorge

mas o que diz no avesso? partida para acores? nao houve jogo nos acores nesse tempo


Já me fizeram saber que se trata de Diamantino Costa, resposta que me parece certeira. Curioso que identifiquei José Pedro mas não Diamantino Costa, que era um craque, infelizmente pouco lembrado.

Partida para os Açores, sim. Provavelmente em escala para os EUA. Nessa altura a nossa equipa era muito requisitada, facto que muitas vezes levava a ajustes no Campeonato Nacional.

nao tivemos jogo nos eua em 73/74. estranho...
jogos amigáveis apenas houve uns dois na madeira, mas esses foram em fevreiro de 74.


Em finais de 1973 4 de Fevereiro de 1974, o Benfica foi jogar ao Faial.

(https://3.bp.blogspot.com/-yQtQp3grhA0/W8e49gvScuI/AAAAAAAALqg/blzTCYE2iY0s89znDduqdGtmgrzRXYu2QCLcBGAs/s1600/fsc.png)
Legenda da fonte citada em baixo:

Em 1.º plano, da esq./dir.: José Macedo, Diamantino, Francisco José, Tony, Carlos Manuel, Néné, Manuel Luís "Chamarrita", António Simões, Jorge Menezes, Victor Baptista, Manuel Silveira, Nelinho, Alberto Gonçalves, Manuel Luís, Zé Pedro e Victor Martins

Em pé  pela mesma ordem: Carlos Santiago, Jorge Magina, Adolfo, Alexandre Simas, Mário Ismael, Barros, Lino, Eusébio, João Luís, Humberto Coelho, José Silveira, (Cap.) Artur, José António, Artur Jorge, Paulo Jorge, Malta da Silva, Tino Lima, Bento e J. Henrique



Fonte: http://fayalsport.blogspot.com/2018/10/os-verdes-da-alagoa-o-benfica-na-ilha.html (http://fayalsport.blogspot.com/2018/10/os-verdes-da-alagoa-o-benfica-na-ilha.html)



Pode ser a explicação. António Capela talvez revelado e datado a foto mais tarde.






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 13:35
muito bem, mesmo dizendo no texto que o jogo se disputou em fevreiro de 1974. mas bem, se calhar tb foi mal organizado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 13:45
Citação de: alfredo em 08 de Dezembro de 2020, 13:35
muito bem, mesmo dizendo no texto que o jogo se disputou em fevreiro de 1974. mas bem, se calhar tb foi mal organizado.

Infelizmente, o DL que está disponível na net tem um interrupção nesse período.
Poderia esclarecer a data precisa. Talvez alguém tenha hipótese de esclarecer mas estamos mais perto da verdade.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 15:21
O Benfica fez dois jogos nessa mini-digressão:

3.2.1974 - V 18-1 com selecção de Ponta Delgada
(Artur Jorge marcou 5 golos; Néné (3), H. Coelho (2), Eusébio (2), Victor Batista (2), José Pedro (2), Simões (1), e Nelinho (1)

4.2.1974 - V 13-1 com selecção da Horta
(Artur Jorge marcou 3 golos; Diamantino (2), H. Coelho (1), Eusébio (1), Victor Batista (1), José Pedro (1), Simões (1), Artur (1), Adolfo (1) e Vítor Martins (1)


Informação de Alberto Miguéns.


Ou seja, o Glorioso disputou 2 jogos, registando-se 31-2 em golos...

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: zappendrix em 08 de Dezembro de 2020, 15:51
Citação de: RedVC em 07 de Dezembro de 2020, 20:16
Por falar de barbas, cabelos e roupas exóticas


(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_001.jpg?v=1)

(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_002.jpg?v=1)


Foto de António Capela, de Janeiro de 1974

De pé, esquerda para a direita: Vitor Baptista, Moinhos, Artur Correia, José Henrique, ?, António Bastos Lopes, Nelinho, José Pedro. Sentado: Humberto Coelho


Alguém identifica quem está entre José Henrique e António Bastos Lopes?

Será Artur Jorge?




Fácil: Diamantino Costa. E não é o Bastos Lopes, é o Barros.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Dezembro de 2020, 16:35
Citação de: zappendrix em 08 de Dezembro de 2020, 15:51
Citação de: RedVC em 07 de Dezembro de 2020, 20:16
Por falar de barbas, cabelos e roupas exóticas


(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_001.jpg?v=1)

(https://delcampe-static.net/img_large/auction/000/961/177/397_002.jpg?v=1)


Foto de António Capela, de Janeiro de 1974

De pé, esquerda para a direita: Vitor Baptista, Moinhos, Artur Correia, José Henrique, ?, António Bastos Lopes, Nelinho, José Pedro. Sentado: Humberto Coelho


Alguém identifica quem está entre José Henrique e António Bastos Lopes?

Será Artur Jorge?




Fácil: Diamantino Costa. E não é o Bastos Lopes, é o Barros.


Verdade.  O0

Mais irreconhecível do que um Barros com pouca barba é um Barros sem barba.

Parece mesmo que só reconheço Barros quando se apresentava com uns 10-15 cm de barba  :coolsmiley:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Trezeguet em 06 de Janeiro de 2021, 09:17
(https://i.imgur.com/RLlwWfr.jpg)

Chegada a Lisboa do barco com 1500 adeptos do Feyenoord vindos de Roterdao para assistirem em 1963 a um jogo da Taça dos Campeões com o Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2021, 00:31
-259- Gloriosos 117!


Cumprem-se hoje 117 anos desde a fundação do Sport Lisboa


(https://1.bp.blogspot.com/-XjuRmsUafF4/YDpGMinm7MI/AAAAAAAAe0E/vnn7bZNXfwEKZoUyb6wDbZH_Dikz9-CUwCLcBGAsYHQ/s840/Eles%2Bque%2Bnos%2Bdesafiam.PNG)

Uma composição gráfica no interior da Farmácia Franco com 7 dos 24 fundadores. Da esquerda para a direita: António Rosa Rodrigues, José Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, Carlos França, Cosme Damião, Manuel Gourlade e Daniel dos Santos Brito.


Honra aos 24 fundadores!


Alberto Miguéns publicou hoje um artigo que homenageia estes 24 fundadores e que mostra a dispersão geográfica das suas origens familiares.


Artigo disponível em

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html)



Gloriosos 117 anos!
Um Clube ímpar que se distingue pelos seus adeptos.
Um Clube ímpar que resistiu a muito e resistirá ao que vier.
Será sempre a construção do Amor de seus adeptos.
Os homens passam, o Benfica é eterno.

Esta é um dia em que celebramos a fundação do nosso querido Clube.
Em que recordamos os 24 homens que sonharam e fizeram.
24 homens com origens familiares dispersas por Portugal.
Tão cedo ficou expressa a amplitude nacional do nosso Clube!
E até internacional!

De 1904, para sempre
Viva, Viva, o Sport Lisboa e Benfica.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 04:51
Citação de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2021, 00:31
-259- Gloriosos 117!


Cumprem-se hoje 117 anos desde a fundação do Sport Lisboa


(https://1.bp.blogspot.com/-XjuRmsUafF4/YDpGMinm7MI/AAAAAAAAe0E/vnn7bZNXfwEKZoUyb6wDbZH_Dikz9-CUwCLcBGAsYHQ/s840/Eles%2Bque%2Bnos%2Bdesafiam.PNG)

Uma composição gráfica no interior da Farmácia Franco com 7 dos 24 fundadores. Da esquerda para a direita: António Rosa Rodrigues, José Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, Carlos França, Cosme Damião, Manuel Gourlade e Daniel dos Santos Brito.


Honra aos 24 fundadores!


Alberto Miguéns publicou hoje um artigo que homenageia estes 24 fundadores e que mostra a dispersão geográfica das suas origens familiares.


Artigo disponível em

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html)



Gloriosos 117 anos!
Um Clube ímpar que se distingue pelos seus adeptos.
Um Clube ímpar que resistiu a muito e resistirá ao que vier.
Será sempre a construção do Amor de seus adeptos.
Os homens passam, o Benfica é eterno.

Esta é um dia em que celebramos a fundação do nosso querido Clube.
Em que recordamos os 24 homens que sonharam e fizeram.
24 homens com origens familiares dispersas por Portugal.
Tão cedo ficou expressa a amplitude nacional do nosso Clube!
E até internacional!

De 1904, para sempre
Viva, Viva, o Sport Lisboa e Benfica.

Boas, ja desde algum tempo que acompanho o teu trabalho igualmente com o Alberto.
Desde ja o meu muito obrigado.

Sabes-me dizer quando 'e que foi descoberto aquele mitico documento de 28-02-1904 com o nome dos fundadores. Ouvi dizer que foi algures na decada de 50, isso 'e verdade?, em que circustancias 'e que isso apareceu?

Obrigado.
P.S Peco desculpa pela falta de pontuacao, o meu teclado esta fdd
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 18:17
Citação de: Fake Blood em 27 de Outubro de 2014, 22:17
Então e este?
(http://img577.imageshack.us/img577/6788/cdamiao.jpg)
Simplesmente um casaco?

(http://ligammur.files.wordpress.com/2009/11/transfer3.png)
Ou equipamento de jogo?

Sabes me dizer qual foi a data deste jogo?
Está foto é aquela foto do primeiro derby Sport Lisboa vs Sporting?

Obrigado
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Março de 2021, 19:19
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 04:51
Citação de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2021, 00:31
-259- Gloriosos 117!


Cumprem-se hoje 117 anos desde a fundação do Sport Lisboa


(https://1.bp.blogspot.com/-XjuRmsUafF4/YDpGMinm7MI/AAAAAAAAe0E/vnn7bZNXfwEKZoUyb6wDbZH_Dikz9-CUwCLcBGAsYHQ/s840/Eles%2Bque%2Bnos%2Bdesafiam.PNG)

Uma composição gráfica no interior da Farmácia Franco com 7 dos 24 fundadores. Da esquerda para a direita: António Rosa Rodrigues, José Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, Carlos França, Cosme Damião, Manuel Gourlade e Daniel dos Santos Brito.


Honra aos 24 fundadores!


Alberto Miguéns publicou hoje um artigo que homenageia estes 24 fundadores e que mostra a dispersão geográfica das suas origens familiares.


Artigo disponível em

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html)



Gloriosos 117 anos!
Um Clube ímpar que se distingue pelos seus adeptos.
Um Clube ímpar que resistiu a muito e resistirá ao que vier.
Será sempre a construção do Amor de seus adeptos.
Os homens passam, o Benfica é eterno.

Esta é um dia em que celebramos a fundação do nosso querido Clube.
Em que recordamos os 24 homens que sonharam e fizeram.
24 homens com origens familiares dispersas por Portugal.
Tão cedo ficou expressa a amplitude nacional do nosso Clube!
E até internacional!

De 1904, para sempre
Viva, Viva, o Sport Lisboa e Benfica.

Boas, ja desde algum tempo que acompanho o teu trabalho igualmente com o Alberto.
Desde ja o meu muito obrigado.

Sabes-me dizer quando 'e que foi descoberto aquele mitico documento de 28-02-1904 com o nome dos fundadores. Ouvi dizer que foi algures na decada de 50, isso 'e verdade?, em que circustancias 'e que isso apareceu?

Obrigado.
P.S Peco desculpa pela falta de pontuacao, o meu teclado esta fdd


Sim, já lá vão alguns anos de trabalho de pesquisa e divulgação... Fico feliz que o tenhas vindo a acompanhar e a apreciar.


O documento que nos relata a fundação do Sport Lisboa é fascinante. Trata-se de uma Acta simples, própria de um tempo de muita acção e poucas formalidades. Regista a vontade de fundação de um novo Clube, num processo que decorreu na Farmácia Franco durante o dia 28 de Fevereiro de 1904, o último Domingo desse mês.


Em Março de 2020 tive a oportunidade publicar neste tópico, o texto "-255- Dissecando uma Acta", que responde a muitas questões sobre esse documento. Aqui:

https://serbenfiquista.com/forum/memorias/25/decifrando-imagens-do-passado/53816/930



Dito isto, vou dar uma resposta directa à tua questão e depois - por prazer - aproveitar para fazer mais algumas considerações. É o que eu sei acerca do assunto.


O documento foi dado ao conhecimento público, pela primeira vez, em 1954, aquando da publicação em fascículos de uma obra de autor: "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" por Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Esta é a obra de referência para conhecermos os primeiros 50 anos do nosso Clube. Foi a fonte secundária do documento.


Qual foi a fonte primária do documento? Não sabemos. Os autores não explicitaram esse detalhe.


Onde está o documento hoje? Não sabemos.


Em meu entender há duas hipóteses: 1) está perdido; 2) foi devolvido à fonte primária e por lá ainda poderá estar arquivado.


Quem poderão ser essas fontes primárias? Há várias hipóteses.


Falemos então dos interveniente no processo e das hipóteses mais prováveis.


O trabalho de pesquisa e de escrita da "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" foi essencialmente feito por Mário de Oliveira.


Na década de 50, Mário de Oliveira já levava muitos anos de carreira como repórter desportivo e desde cedo mostrou interesse na divulgação episódica da História do Benfica. Aquando das bodas de ouro do Clube e num tempo de celebração e de grande vitalidade do Clube (inauguração do Estádio da Luz), terá visto aí a oportunidade para fazer um trabalho de fundo de investigação e divulgação da História do Clube.


Excelente profissional e homem íntegro, era também alguém que conhecia bem muitos dos homens que tinham estado na primeira linha da fundação do Clube e que ainda estavam vivos.


Cosme Damião tinha morrido em 1947 mas Mário de Oliveira entrevistou-o longamente em 1945. Essa entrevista é uma fonte impressionante não apenas de factos mas também de memórias que percebia-se lhe eram muito caras. Percebe-se também que Cosme era daquelas pessoas que guarda detalhes e que mesmo doente, exultou por lembrar esses dias felizes. A entrevista devia ser conhecida por qualquer Benfiquista que se preze.


O acervo de Cosme Damião poderia ter sido a fonte primária? Sim, mas caso tenha sido, então entretanto ou o documento se extraviou ou então nem todo o seu acervo terá sido depois doado ao Clube, pois não consta do acervo do nosso Museu.


Mas, para além de Cosme, Mário de Oliveira teve também a oportunidade de entrevistar dois outros fundadores ainda vivos e que poderão perfeitamente ter sido a fonte primária do documento: Daniel Santos Brito e Cândido Rosa Rodrigues. Sabemos que o primeiro, em particular, foi uma fonte extraordinária de informação preciosa sobre os primeiros anos da História do Clube. Tanto um como o outro viveram até ao ano de 1974, ou seja viveram 20 anos para lá da data de publicação da obra.


Depois, há que mencionar que outros fundadores estavam ainda vivos mas não sabemos ao certo se Mário de Oliveira chegou a falar com eles. É possível uma vez que fez um esforço tremendo para conseguir fotografias de todos os 24 fundadores. Consegui fotografias de 20 dos 24, sendo que a maioria já tinha falecido. E atente-se ainda que naqueles tempos não era fácil localizar ou falar com quem não morava em Lisboa ou que estava fora do meio desportivo há longos anos.


Houve ainda outros homens que não sendo fundadores tiveram uma contribuição desportiva e associativa até bem mais relevante do que muitos dos fundadores no período entre 1903 e 1905. Falamos de José da Cruz Viegas e Félix Bermudes. Ambos tinha um arquivo pessoal e por isso poderá ter sido a fonte primária do documento. Por exemplo, a primeira fotografia de uma equipa de 11 jogadores do Sport Lisboa veio do arquivo de José da Cruz Viegas. O arquivo de Félix Bermudes não sei ao certo que fim levou mas poderá ter sido parcialmente destruído. País miserável o nosso em que algumas das nossas maiores preciosidades acabam no lixo.


Faço votos para que um dia possamos todos vir a ser agradavelmente surpreendidos pelo reaparecimento desse documento. Seria fantástico.


É tão bom falar do Benfica apenas pelo prazer do desporto e de honrar os Ases que nos honraram o passado. O Benfica é tão mais do que nós próprios alguma vez seremos.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Março de 2021, 19:23
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 18:17
Citação de: Fake Blood em 27 de Outubro de 2014, 22:17
Então e este?
(http://img577.imageshack.us/img577/6788/cdamiao.jpg)
Simplesmente um casaco?

(http://ligammur.files.wordpress.com/2009/11/transfer3.png)
Ou equipamento de jogo?

Sabes me dizer qual foi a data deste jogo?
Está foto é aquela foto do primeiro derby Sport Lisboa vs Sporting?

Obrigado


Se bem me lembro as perguntas originais do Fake Blood foram para mim.

Assim, com a licença dele, aproveito para responder.

A fotografia foi tirada antes de se iniciar este jogo:


https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19141915/campeonato-de-lisboa/1915-01-17/sl-benfica-3-x-0-sporting


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 21:25
Citação de: RedVC em 04 de Março de 2021, 19:19
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 04:51
Citação de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2021, 00:31
-259- Gloriosos 117!


Cumprem-se hoje 117 anos desde a fundação do Sport Lisboa


(https://1.bp.blogspot.com/-XjuRmsUafF4/YDpGMinm7MI/AAAAAAAAe0E/vnn7bZNXfwEKZoUyb6wDbZH_Dikz9-CUwCLcBGAsYHQ/s840/Eles%2Bque%2Bnos%2Bdesafiam.PNG)

Uma composição gráfica no interior da Farmácia Franco com 7 dos 24 fundadores. Da esquerda para a direita: António Rosa Rodrigues, José Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, Carlos França, Cosme Damião, Manuel Gourlade e Daniel dos Santos Brito.


Honra aos 24 fundadores!


Alberto Miguéns publicou hoje um artigo que homenageia estes 24 fundadores e que mostra a dispersão geográfica das suas origens familiares.


Artigo disponível em

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html)



Gloriosos 117 anos!
Um Clube ímpar que se distingue pelos seus adeptos.
Um Clube ímpar que resistiu a muito e resistirá ao que vier.
Será sempre a construção do Amor de seus adeptos.
Os homens passam, o Benfica é eterno.

Esta é um dia em que celebramos a fundação do nosso querido Clube.
Em que recordamos os 24 homens que sonharam e fizeram.
24 homens com origens familiares dispersas por Portugal.
Tão cedo ficou expressa a amplitude nacional do nosso Clube!
E até internacional!

De 1904, para sempre
Viva, Viva, o Sport Lisboa e Benfica.

Boas, ja desde algum tempo que acompanho o teu trabalho igualmente com o Alberto.
Desde ja o meu muito obrigado.

Sabes-me dizer quando 'e que foi descoberto aquele mitico documento de 28-02-1904 com o nome dos fundadores. Ouvi dizer que foi algures na decada de 50, isso 'e verdade?, em que circustancias 'e que isso apareceu?

Obrigado.
P.S Peco desculpa pela falta de pontuacao, o meu teclado esta fdd


Sim, já lá vão alguns anos de trabalho de pesquisa e divulgação... Fico feliz que o tenhas vindo a acompanhar e a apreciar.


O documento que nos relata a fundação do Sport Lisboa é fascinante. Trata-se de uma Acta simples, própria de um tempo de muita acção e poucas formalidades. Regista a vontade de fundação de um novo Clube, num processo que decorreu na Farmácia Franco durante o dia 28 de Fevereiro de 1904, o último Domingo desse mês.


Em Março de 2020 tive a oportunidade publicar neste tópico, o texto "-255- Dissecando uma Acta", que responde a muitas questões sobre esse documento. Aqui:

https://serbenfiquista.com/forum/memorias/25/decifrando-imagens-do-passado/53816/930



Dito isto, vou dar uma resposta directa à tua questão e depois - por prazer - aproveitar para fazer mais algumas considerações. É o que eu sei acerca do assunto.


O documento foi dado ao conhecimento público, pela primeira vez, em 1954, aquando da publicação em fascículos de uma obra de autor: "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" por Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Esta é a obra de referência para conhecermos os primeiros 50 anos do nosso Clube. Foi a fonte secundária do documento.


Qual foi a fonte primária do documento? Não sabemos. Os autores não explicitaram esse detalhe.


Onde está o documento hoje? Não sabemos.


Em meu entender há duas hipóteses: 1) está perdido; 2) foi devolvido à fonte primária e por lá ainda poderá estar arquivado.


Quem poderão ser essas fontes primárias? Há várias hipóteses.


Falemos então dos interveniente no processo e das hipóteses mais prováveis.


O trabalho de pesquisa e de escrita da "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" foi essencialmente feito por Mário de Oliveira.


Na década de 50, Mário de Oliveira já levava muitos anos de carreira como repórter desportivo e desde cedo mostrou interesse na divulgação episódica da História do Benfica. Aquando das bodas de ouro do Clube e num tempo de celebração e de grande vitalidade do Clube (inauguração do Estádio da Luz), terá visto aí a oportunidade para fazer um trabalho de fundo de investigação e divulgação da História do Clube.


Excelente profissional e homem íntegro, era também alguém que conhecia bem muitos dos homens que tinham estado na primeira linha da fundação do Clube e que ainda estavam vivos.


Cosme Damião tinha morrido em 1947 mas Mário de Oliveira entrevistou-o longamente em 1945. Essa entrevista é uma fonte impressionante não apenas de factos mas também de memórias que percebia-se lhe eram muito caras. Percebe-se também que Cosme era daquelas pessoas que guarda detalhes e que mesmo doente, exultou por lembrar esses dias felizes. A entrevista devia ser conhecida por qualquer Benfiquista que se preze.


O acervo de Cosme Damião poderia ter sido a fonte primária? Sim, mas caso tenha sido, então entretanto ou o documento se extraviou ou então nem todo o seu acervo terá sido depois doado ao Clube, pois não consta do acervo do nosso Museu.


Mas, para além de Cosme, Mário de Oliveira teve também a oportunidade de entrevistar dois outros fundadores ainda vivos e que poderão perfeitamente ter sido a fonte primária do documento: Daniel Santos Brito e Cândido Rosa Rodrigues. Sabemos que o primeiro, em particular, foi uma fonte extraordinária de informação preciosa sobre os primeiros anos da História do Clube. Tanto um como o outro viveram até ao ano de 1974, ou seja viveram 20 anos para lá da data de publicação da obra.


Depois, há que mencionar que outros fundadores estavam ainda vivos mas não sabemos ao certo se Mário de Oliveira chegou a falar com eles. É possível uma vez que fez um esforço tremendo para conseguir fotografias de todos os 24 fundadores. Consegui fotografias de 20 dos 24, sendo que a maioria já tinha falecido. E atente-se ainda que naqueles tempos não era fácil localizar ou falar com quem não morava em Lisboa ou que estava fora do meio desportivo há longos anos.


Houve ainda outros homens que não sendo fundadores tiveram uma contribuição desportiva e associativa até bem mais relevante do que muitos dos fundadores no período entre 1903 e 1905. Falamos de José da Cruz Viegas e Félix Bermudes. Ambos tinha um arquivo pessoal e por isso poderá ter sido a fonte primária do documento. Por exemplo, a primeira fotografia de uma equipa de 11 jogadores do Sport Lisboa veio do arquivo de José da Cruz Viegas. O arquivo de Félix Bermudes não sei ao certo que fim levou mas poderá ter sido parcialmente destruído. País miserável o nosso em que algumas das nossas maiores preciosidades acabam no lixo.


Faço votos para que um dia possamos todos vir a ser agradavelmente surpreendidos pelo reaparecimento desse documento. Seria fantástico.


É tão bom falar do Benfica apenas pelo prazer do desporto e de honrar os Ases que nos honraram o passado. O Benfica é tão mais do que nós próprios alguma vez seremos.

Antes de mais obrigado pela extensa e completa resposta.

Ainda em relação a esse documento tenho várias questões se me conseguisse responder. Não sei se é o tópico mais indicado, mas aqui vai.

Primeiro saber se o Benfica e historiadores ligamos ao clube continuam numa "caça" ao documento ou se a probabilidade de o encontrarem é quase nula.

Depois
Quando falou sobre as entrevistas de Cosme Damião (já tive a oportunidade de a ler) e do Daniel Brito, fez -me questionar alguns pontos.

Na entrevista de Cosme Damião ele faz referência que Dr. Januário Barreto foi o presidente do Sport Lisboa. Em que nessa mesma entrevista existia uma coluna a falar do Dr. Januário Barreto como o "1° Presidente".

Com alguma pesquisa no site "em defesa do Benfica" percebi o Dr. Januário foi o 1° Presidente da direcção em 1906 algures em novembro (AG) e que o José Rosa Rodrigues foi eleito como presidente de uma comissão administrativa juntamente com o Daniel Brito e o Manuel em 1904 Até aqui consigo perceber isto

O meu ponto é que na entrevista do Daniel Brito, quando ele fala dessa reunião na Farmácia  Franco a 28-02-1904, Daniel refere alguns nomes que estavam na reunião e que foram "convidados" a estar presente que não consta no Documento dos 24 fundadores.

Por exemplo um desses nomes que ele diz que esteve presente foi o Dr. Januário Barreto e ele não consta na lista dos 24 como também no blog "em defesa do Benfica" é referido que ele nao esteve presente na reunião.

O Ponto que quero chegar é, estou a confundir alhos com bugalhos e fiz uma salada de fruta na minha cabeça. Ou há aqui algum ponto que me está a faltar. ??

Não sei se me expliquei da melhor forma.

Muito obrigado
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 21:26
Citação de: RedVC em 04 de Março de 2021, 19:23
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 18:17
Citação de: Fake Blood em 27 de Outubro de 2014, 22:17
Então e este?
(http://img577.imageshack.us/img577/6788/cdamiao.jpg)
Simplesmente um casaco?

(http://ligammur.files.wordpress.com/2009/11/transfer3.png)
Ou equipamento de jogo?

Sabes me dizer qual foi a data deste jogo?
Está foto é aquela foto do primeiro derby Sport Lisboa vs Sporting?

Obrigado


Se bem me lembro as perguntas originais do Fake Blood foram para mim.

Assim, com a licença dele, aproveito para responder.

A fotografia foi tirada antes de se iniciar este jogo:


https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19141915/campeonato-de-lisboa/1915-01-17/sl-benfica-3-x-0-sporting

Obrigado.
Já agora, é possível encontrar esta foto a preto e branco ?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Março de 2021, 23:38
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 21:25
Citação de: RedVC em 04 de Março de 2021, 19:19
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 04:51
Citação de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2021, 00:31
-259- Gloriosos 117!


Cumprem-se hoje 117 anos desde a fundação do Sport Lisboa


(https://1.bp.blogspot.com/-XjuRmsUafF4/YDpGMinm7MI/AAAAAAAAe0E/vnn7bZNXfwEKZoUyb6wDbZH_Dikz9-CUwCLcBGAsYHQ/s840/Eles%2Bque%2Bnos%2Bdesafiam.PNG)

Uma composição gráfica no interior da Farmácia Franco com 7 dos 24 fundadores. Da esquerda para a direita: António Rosa Rodrigues, José Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, Carlos França, Cosme Damião, Manuel Gourlade e Daniel dos Santos Brito.


Honra aos 24 fundadores!


Alberto Miguéns publicou hoje um artigo que homenageia estes 24 fundadores e que mostra a dispersão geográfica das suas origens familiares.


Artigo disponível em

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2021/02/117.html)



Gloriosos 117 anos!
Um Clube ímpar que se distingue pelos seus adeptos.
Um Clube ímpar que resistiu a muito e resistirá ao que vier.
Será sempre a construção do Amor de seus adeptos.
Os homens passam, o Benfica é eterno.

Esta é um dia em que celebramos a fundação do nosso querido Clube.
Em que recordamos os 24 homens que sonharam e fizeram.
24 homens com origens familiares dispersas por Portugal.
Tão cedo ficou expressa a amplitude nacional do nosso Clube!
E até internacional!

De 1904, para sempre
Viva, Viva, o Sport Lisboa e Benfica.

Boas, ja desde algum tempo que acompanho o teu trabalho igualmente com o Alberto.
Desde ja o meu muito obrigado.

Sabes-me dizer quando 'e que foi descoberto aquele mitico documento de 28-02-1904 com o nome dos fundadores. Ouvi dizer que foi algures na decada de 50, isso 'e verdade?, em que circustancias 'e que isso apareceu?

Obrigado.
P.S Peco desculpa pela falta de pontuacao, o meu teclado esta fdd


Sim, já lá vão alguns anos de trabalho de pesquisa e divulgação... Fico feliz que o tenhas vindo a acompanhar e a apreciar.


O documento que nos relata a fundação do Sport Lisboa é fascinante. Trata-se de uma Acta simples, própria de um tempo de muita acção e poucas formalidades. Regista a vontade de fundação de um novo Clube, num processo que decorreu na Farmácia Franco durante o dia 28 de Fevereiro de 1904, o último Domingo desse mês.


Em Março de 2020 tive a oportunidade publicar neste tópico, o texto "-255- Dissecando uma Acta", que responde a muitas questões sobre esse documento. Aqui:

https://serbenfiquista.com/forum/memorias/25/decifrando-imagens-do-passado/53816/930



Dito isto, vou dar uma resposta directa à tua questão e depois - por prazer - aproveitar para fazer mais algumas considerações. É o que eu sei acerca do assunto.


O documento foi dado ao conhecimento público, pela primeira vez, em 1954, aquando da publicação em fascículos de uma obra de autor: "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" por Mário de Oliveira e Rebelo da Silva. Esta é a obra de referência para conhecermos os primeiros 50 anos do nosso Clube. Foi a fonte secundária do documento.


Qual foi a fonte primária do documento? Não sabemos. Os autores não explicitaram esse detalhe.


Onde está o documento hoje? Não sabemos.


Em meu entender há duas hipóteses: 1) está perdido; 2) foi devolvido à fonte primária e por lá ainda poderá estar arquivado.


Quem poderão ser essas fontes primárias? Há várias hipóteses.


Falemos então dos interveniente no processo e das hipóteses mais prováveis.


O trabalho de pesquisa e de escrita da "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" foi essencialmente feito por Mário de Oliveira.


Na década de 50, Mário de Oliveira já levava muitos anos de carreira como repórter desportivo e desde cedo mostrou interesse na divulgação episódica da História do Benfica. Aquando das bodas de ouro do Clube e num tempo de celebração e de grande vitalidade do Clube (inauguração do Estádio da Luz), terá visto aí a oportunidade para fazer um trabalho de fundo de investigação e divulgação da História do Clube.


Excelente profissional e homem íntegro, era também alguém que conhecia bem muitos dos homens que tinham estado na primeira linha da fundação do Clube e que ainda estavam vivos.


Cosme Damião tinha morrido em 1947 mas Mário de Oliveira entrevistou-o longamente em 1945. Essa entrevista é uma fonte impressionante não apenas de factos mas também de memórias que percebia-se lhe eram muito caras. Percebe-se também que Cosme era daquelas pessoas que guarda detalhes e que mesmo doente, exultou por lembrar esses dias felizes. A entrevista devia ser conhecida por qualquer Benfiquista que se preze.


O acervo de Cosme Damião poderia ter sido a fonte primária? Sim, mas caso tenha sido, então entretanto ou o documento se extraviou ou então nem todo o seu acervo terá sido depois doado ao Clube, pois não consta do acervo do nosso Museu.


Mas, para além de Cosme, Mário de Oliveira teve também a oportunidade de entrevistar dois outros fundadores ainda vivos e que poderão perfeitamente ter sido a fonte primária do documento: Daniel Santos Brito e Cândido Rosa Rodrigues. Sabemos que o primeiro, em particular, foi uma fonte extraordinária de informação preciosa sobre os primeiros anos da História do Clube. Tanto um como o outro viveram até ao ano de 1974, ou seja viveram 20 anos para lá da data de publicação da obra.


Depois, há que mencionar que outros fundadores estavam ainda vivos mas não sabemos ao certo se Mário de Oliveira chegou a falar com eles. É possível uma vez que fez um esforço tremendo para conseguir fotografias de todos os 24 fundadores. Consegui fotografias de 20 dos 24, sendo que a maioria já tinha falecido. E atente-se ainda que naqueles tempos não era fácil localizar ou falar com quem não morava em Lisboa ou que estava fora do meio desportivo há longos anos.


Houve ainda outros homens que não sendo fundadores tiveram uma contribuição desportiva e associativa até bem mais relevante do que muitos dos fundadores no período entre 1903 e 1905. Falamos de José da Cruz Viegas e Félix Bermudes. Ambos tinha um arquivo pessoal e por isso poderá ter sido a fonte primária do documento. Por exemplo, a primeira fotografia de uma equipa de 11 jogadores do Sport Lisboa veio do arquivo de José da Cruz Viegas. O arquivo de Félix Bermudes não sei ao certo que fim levou mas poderá ter sido parcialmente destruído. País miserável o nosso em que algumas das nossas maiores preciosidades acabam no lixo.


Faço votos para que um dia possamos todos vir a ser agradavelmente surpreendidos pelo reaparecimento desse documento. Seria fantástico.


É tão bom falar do Benfica apenas pelo prazer do desporto e de honrar os Ases que nos honraram o passado. O Benfica é tão mais do que nós próprios alguma vez seremos.

Antes de mais obrigado pela extensa e completa resposta.

Ainda em relação a esse documento tenho várias questões se me conseguisse responder. Não sei se é o tópico mais indicado, mas aqui vai.

Primeiro saber se o Benfica e historiadores ligamos ao clube continuam numa "caça" ao documento ou se a probabilidade de o encontrarem é quase nula.

Depois
Quando falou sobre as entrevistas de Cosme Damião (já tive a oportunidade de a ler) e do Daniel Brito, fez -me questionar alguns pontos.

Na entrevista de Cosme Damião ele faz referência que Dr. Januário Barreto foi o presidente do Sport Lisboa. Em que nessa mesma entrevista existia uma coluna a falar do Dr. Januário Barreto como o "1° Presidente".

Com alguma pesquisa no site "em defesa do Benfica" percebi o Dr. Januário foi o 1° Presidente da direcção em 1906 algures em novembro (AG) e que o José Rosa Rodrigues foi eleito como presidente de uma comissão administrativa juntamente com o Daniel Brito e o Manuel em 1904 Até aqui consigo perceber isto

O meu ponto é que na entrevista do Daniel Brito, quando ele fala dessa reunião na Farmácia  Franco a 28-02-1904, Daniel refere alguns nomes que estavam na reunião e que foram "convidados" a estar presente que não consta no Documento dos 24 fundadores.

Por exemplo um desses nomes que ele diz que esteve presente foi o Dr. Januário Barreto e ele não consta na lista dos 24 como também no blog "em defesa do Benfica" é referido que ele nao esteve presente na reunião.

O Ponto que quero chegar é, estou a confundir alhos com bugalhos e fiz uma salada de fruta na minha cabeça. Ou há aqui algum ponto que me está a faltar. ??

Não sei se me expliquei da melhor forma.

Muito obrigado


Bem, vamos lá deixar os meus "2 cents".



"Primeiro saber se o Benfica e historiadores ligamos ao clube continuam numa "caça" ao documento ou se a probabilidade de o encontrarem é quase nula."

Não te sei dizer. O Benfica tem uma equipa no Museu Cosme Damião mas ignoro se são activos ou passivos nessas questões. Nada tenho a ver com o nosso Museu, para lá do facto de já o ter visitado pelo menos quatro vezes. Acho no entanto que face a todas as novidades que reveladas nos últimos anos deveria haver uma outra curiosidade e actividade por parte de alguém do Museu. Registo e lamento isso.



Na entrevista de Cosme Damião ele faz referência que Dr. Januário Barreto foi o presidente do Sport Lisboa. Em que nessa mesma entrevista existia uma coluna a falar do Dr. Januário Barreto como o "1° Presidente".

Com alguma pesquisa no site "em defesa do Benfica" percebi o Dr. Januário foi o 1° Presidente da direcção em 1906 algures em novembro (AG) e que o José Rosa Rodrigues foi eleito como presidente de uma comissão administrativa juntamente com o Daniel Brito e o Manuel em 1904 Até aqui consigo perceber isto

O meu ponto é que na entrevista do Daniel Brito, quando ele fala dessa reunião na Farmácia  Franco a 28-02-1904, Daniel refere alguns nomes que estavam na reunião e que foram "convidados" a estar presente que não consta no Documento dos 24 fundadores.

Por exemplo um desses nomes que ele diz que esteve presente foi o Dr. Januário Barreto e ele não consta na lista dos 24 como também no blog "em defesa do Benfica" é referido que ele nao esteve presente na reunião.

O Ponto que quero chegar é, estou a confundir alhos com bugalhos e fiz uma salada de fruta na minha cabeça. Ou há aqui algum ponto que me está a faltar. ??"



Muito para falar...


Não me espanta nada essa menção aparentemente errada de Cosme Damião. As memórias não são infalíveis e tinham passado 41 anos. E até pode nem ser um erro!


Para aqueles que não sabem, Januário Barreto foi um homem marcante, uma personalidade fascinante que teria muito a dar ao futebol Português. Médico de profissão, intelectualmente superior, humanista, alma generosa e altruísta, foi o esposo da Drª Carolina Beatriz Ângelo. Um casal virtuoso de quem já por aqui falei.


A sua perda foi um grande desgosto para os meios casapianos, desportistas e médicos de Lisboa. Era casapiano como Cosme embora da geração anterior. Ilustre entre os seus pares casapianos, era respeitado por todos os clubes e por isso presidiu à Liga Portuguesa de Foot-ball, antecessora da FPF, direcção da qual cosme era vogal. E... foi o primeiro presidente ELEITO do Sport Lisboa. É mais do que natural que Cosme não tenha feito distinção pois na prática José Rosa Rodrigues foi eleito apenas entre os 24.


Um belo artigo de Alberto Miguéns sobre Januário Barreto

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/11/januario-barreto-113.html



Agora Januário Barreto terá estado presente ou não? Ao certo não sabemos. Eu estaria mais inclinado para pensar que ele não esteve mas na verdade nunca li um testemunho que seja taxativo a esclarecer isso. Januário Barreto era casado e morava e dava consultas no centro de Lisboa e nesse tempo não era assim tão fácil a deslocação a Belém.


Há aliás dois casos evidentes de ausência por via de impossibilidade de deslocação que são os já referidos José da Cruz Viegas (que definiu as cores do Clube) e Félix Bermudes.


Eu não me lembro dessa passagem da entrevista de Daniel Santos Brito. No entanto, não vejo nada de espantoso em que Januário Barreto tenha estado presente na Farmácia Franco nesses dia. A Farmácia Franco era um local de tertúlia casapiana pois o próprio Conde do Restelo foi aluno casapiano. Por outro lado a solidariedade casapiana era muito forte e o principal colégio casapiano estava sediado em Belém.


Sobre este assunto, já ouvi em tempos um testemunho de um homem altamente qualificado para estas questões, o Hélder Tavares, responsável pelo Museu da Casa Pia, emitir a opinião de que os casapianos mais prestigiados não terão sido alheios ao processo que levou à fundação do Clube mas que eventualmente preferiram não assinar. É possível que essa seja uma informação transmitida entre casapianos até hoje. Infelizmente, aparentemente não terão sobrevivido listas de sócios do Sport Lisboa anteriores a 1908.


Para compreender melhor essa eventual opção de Januário Barreto de não querer assinar há também que atentar que o futebol era muito diferente nessa primeira década do século XX. Era jogado em condições precárias e era essencialmente visto como coisa de rapaziadas. Em 1904, os casapianos prestigiados eram já homens na casa dos 30 anos, com posição social destacada, pouco compatível com rapaziadas. Jogavam ainda pelo prazer mas já encaravam essas situações com embaraço. E, como eu e o Alberto demonstramos pela primeira vez, o nosso Clube foi fundado por miúdos com uma média de idades de cerca de 20 anos de idade. Manuel Gourlade era o mais velho e nos registos dos treinos de 1904 e 1905 não há praticamente casapianos mas sim miúdos de Belém. Os casapianos não treinavam, só jogavam e na primeira equipa. A idade e o prestígio assim lhes permitia o privilégio.


E também o raciocínio tem de ser feito de forma diferente. Não se dava assim tanta importância à fundação se não vejam os casos de outros clubes. São aliás raros os Clubes que tenham informação precisa de quem foram os fundadores e das circunstâncias da sua fundação.

E ainda, naquele tempo os clubes ou grupos como lhes chamavam nasciam e morriam com grande rapidez. O Sport Lisboa se calhar estava destinado a ser um Foot-Ball Club ou um Ajudense FC ou um Vasco da Gama FC ou um Sport União Belenense, tudo clubes efémeros de Belém. Mas como sabemos assim não foi por via da junção com o Grupo Sport Benfica.


Se calhar não ajudo a desfazer algumas dúvidas mas e o que sei /ou que especulo.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Março de 2021, 23:40
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 21:26
Citação de: RedVC em 04 de Março de 2021, 19:23
Citação de: TrunksPT em 04 de Março de 2021, 18:17
Citação de: Fake Blood em 27 de Outubro de 2014, 22:17
Então e este?
(http://img577.imageshack.us/img577/6788/cdamiao.jpg)
Simplesmente um casaco?

(http://ligammur.files.wordpress.com/2009/11/transfer3.png)
Ou equipamento de jogo?

Sabes me dizer qual foi a data deste jogo?
Está foto é aquela foto do primeiro derby Sport Lisboa vs Sporting?

Obrigado


Se bem me lembro as perguntas originais do Fake Blood foram para mim.

Assim, com a licença dele, aproveito para responder.

A fotografia foi tirada antes de se iniciar este jogo:


https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19141915/campeonato-de-lisboa/1915-01-17/sl-benfica-3-x-0-sporting

Obrigado.
Já agora, é possível encontrar esta foto a preto e branco ?

Eu já vi essa fotografia a preto e branco. E não estou a falar de converter a colorida para preto e branco... Deve ter sido publicada no jornal do Clube o "Sport Lisboa" mas agora não a encontro nos meus arquivos. fica aqui o compromisso de postar aqui quando a encontrar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 11 de Junho de 2021, 12:17
tem que voltar para cima, mas ja agora, amigo, quando nos contarás a proxima história do nosso grande Benfica?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Junho de 2021, 19:11
Citação de: alfredo em 11 de Junho de 2021, 12:17
tem que voltar para cima, mas ja agora, amigo, quando nos contarás a proxima história do nosso grande Benfica?

Gostava, amigo alfredo, mas ultimamente o tempo livre tem sido usado para um projeto mais pessoal. O problema não é a falta de material para mas sim a falta de tempo para juntar material e dar enquadramento interessante.

No segundo semestre deste ano, com boa probabilidade voltaremos a ter aqui material.

Sempre pensei que por ser tão extenso, o repositório de texto estaria disponível para leitura mas, com desgosto, verifiquei que muitas ligações ficaram desatualizadas. Seria um trabalho ciclópico atualiza-las.

Obrigado pelo gosto com que sempre comentas e incentivas à continuação destas páginas de Benfiquismo!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 11 de Junho de 2021, 21:19
Citação de: RedVC em 11 de Junho de 2021, 19:11
Citação de: alfredo em 11 de Junho de 2021, 12:17
tem que voltar para cima, mas ja agora, amigo, quando nos contarás a proxima história do nosso grande Benfica?

Gostava, amigo alfredo, mas ultimamente o tempo livre tem sido usado para um projeto mais pessoal. O problema não é a falta de material para mas sim a falta de tempo para juntar material e dar enquadramento interessante.

No segundo semestre deste ano, com boa probabilidade voltaremos a ter aqui material.

Sempre pensei que por ser tão extenso, o repositório de texto estaria disponível para leitura mas, com desgosto, verifiquei que muitas ligações ficaram desatualizadas. Seria um trabalho ciclópico atualiza-las.

Obrigado pelo gosto com que sempre comentas e incentivas à continuação destas páginas de Benfiquismo!

sim, ja notei nos artigps mais antigos que desapareceram as imagens... uma pena.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 08:33
-260-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1905-1914

(https://i.postimg.cc/3R67PW0h/1905.jpg)
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(https://i.postimg.cc/fTP2mmnD/1906.jpg)
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(https://i.postimg.cc/fyrK7nPB/1906-1907.jpg)
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(https://i.postimg.cc/jdDvx2W9/1907-1908.jpg)
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(https://i.postimg.cc/fRXKdPff/1908-1909.jpg)
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(https://i.postimg.cc/HxS4H1Td/1909-1910.jpg)
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(https://i.postimg.cc/2yMQbdqt/1910-1911.jpg)
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(https://i.postimg.cc/1tzwv7wT/1911-1912.jpg)
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(https://i.postimg.cc/9MSRJmWR/1912-1913.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Xvj29b76/1913-1914.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 08:54
-261-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1915-1924

(https://i.postimg.cc/7ZhLQCLB/1914-1915.jpg)
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(https://i.postimg.cc/dtHsdq9G/1915-1916.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Qdvj40wt/1916-1917.jpg)
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(https://i.postimg.cc/CMJSTFX9/1917-1918.jpg)
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(https://i.postimg.cc/mrxGNh11/1918-1919.jpg)
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(https://i.postimg.cc/TYG0mxP2/1919-1920.jpg)
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(https://i.postimg.cc/KzB7kpSg/1920-1921.jpg)
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(https://i.postimg.cc/nzbBJKjV/1921-1922.jpg)
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(https://i.postimg.cc/pTJhMwMk/1922-1923.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Y0ySpknN/1923-1924.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 09:05
-262-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1925-1934

(https://i.postimg.cc/Vk3Pz5YL/1924-1925.jpg)
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(https://i.postimg.cc/8ckqZ6bw/1925-1926.jpg)
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(https://i.postimg.cc/RCXrNgMY/1926-1927.jpg)
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(https://i.postimg.cc/vBbjmVCM/1927-1928.jpg)
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(https://i.postimg.cc/NjktF4FC/1928-1929.jpg)
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(https://i.postimg.cc/bNYH4YbG/1929-1930.jpg)
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(https://i.postimg.cc/BQhc3Wcm/1930-1931.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Wz5rsrrd/1931-1932.jpg)
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(https://i.postimg.cc/HW6BY7T0/1932-1933.jpg)
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(https://i.postimg.cc/yYJX7QQB/1933-1934.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: JonSnow em 01 de Agosto de 2021, 09:23
Arrepia-me ver estas imagens, há mais Benfiquismo nelas do que em toda estrutura actual. Digo até que qualquer profissional que represente o Benfica deveria de antemão ser conhecedor da nossa história mais primordial, deveria entender e defender os valores que durante tanto tempo nos caracterizaram e nos tornavam tão únicos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 16:05
Fantástico trabalho Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 16:06
O Carlos Torres que está na ultima foto acho que era familiar do Bom Gigante.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 19:33
-263-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1935-1944


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(https://i.postimg.cc/ZRxZBxw5/1934-1935.jpg)
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(https://i.postimg.cc/tRwCsGwW/1935-1936.jpg)
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(https://i.postimg.cc/DzVKxMDz/1936-1937.jpg)
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(https://i.postimg.cc/SQZFBs53/1937-1938.jpg)
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(https://i.postimg.cc/9fHvdqRR/1938-1939.jpg)
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(https://i.postimg.cc/cHs2jycd/1939-1940.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Kcpw9W3y/1940-1941.jpg)
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(https://i.postimg.cc/YCYPCqnp/1941-1942.jpg)
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(https://i.postimg.cc/gj1MGf3X/1942-1943.jpg)
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(https://i.postimg.cc/x11Vz7Tp/1943-1944.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 19:35
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 16:06
O Carlos Torres que está na ultima foto acho que era familiar do Bom Gigante.

Creio que era tio paterno. Acho que já vi uma fotografia com eles os dois.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 19:55
-264-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1945-1954

(https://i.postimg.cc/h47KMHnX/1944-1945.jpg)
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(https://i.postimg.cc/XqhymWdh/1945-1946.jpg)
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(https://i.postimg.cc/0NfKxD77/1946-1947.jpg)
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(https://i.postimg.cc/sXxxr8jR/1947-1948.jpg)
__________________________________________________________
(https://i.postimg.cc/gJtb4HSq/1948-1949.jpg)
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(https://i.postimg.cc/y8hq2HpN/1949-1950.jpg)
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(https://i.postimg.cc/DzyLSxvx/1950-1951.jpg)
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(https://i.postimg.cc/MTgQrxyL/1951-1952.jpg)
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(https://i.postimg.cc/KcgL3kbh/1952-1953.jpg)
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(https://i.postimg.cc/R0D6N9b0/1953-1954.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 20:18
-265-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1955-1964

(https://i.postimg.cc/WzCckYcg/1954-1955.jpg)
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(https://i.postimg.cc/MGd4B3yH/1955-1956.jpg)
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(https://i.postimg.cc/GmrdJNsx/1956-1957.jpg)
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(https://i.postimg.cc/DwgFCgrk/1957-1958.jpg)
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(https://i.postimg.cc/432GGx2W/1958-1959.jpg)
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(https://i.postimg.cc/bJKjGFhb/1959-1960.jpg)
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(https://i.postimg.cc/fymQYjzP/1960-1961.jpg)
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(https://i.postimg.cc/3rvhM7XZ/1961-1962.jpg)
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(https://i.postimg.cc/VL9c6RHr/1962-1963.jpg)
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(https://i.postimg.cc/W3qBP6k4/1963-1964.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 21:15
Felix Antunes que segundo consta era um soberbo defesa central.Uma atitude irreflectida e a mão pesada do Grande Presidente Joaquim Ferreira Bogalho fizeram a carreira dele no Benfica terminar abruptamente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 21:53
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 21:15
Felix Antunes que segundo consta era um soberbo defesa central.Uma atitude irreflectida e a mão pesada do Grande Presidente Joaquim Ferreira Bogalho fizeram a carreira dele no Benfica terminar abruptamente.


Um tema sempre interessante de falar.

Ao que ouvi dizer, Félix Antunes, o "pantufas" era um craque. Foi o predecessor de Germano e de Humberto Coelho.


Esse episódio de indisciplina deu-se num balneário do Estádio do Vitória de Setúbal depois de uma derrota pesada do Benfica. Félix reagiu a algo que foi dito, perdeu a cabeça e terá atirado ao chão, pontpeando depois a sua camisola de jogo... Tudo isto com o Presidente Ferreira Bogalho a ver!

Bogalho não esteve com modas e imediatamente suspendeu o jogador. Mais tarde Félix foi suspenso por 3 anos, o que na prática significou o fim da sua carreira no Benfica.


(https://i.postimg.cc/zDd6tGPB/Captura-de-ecr-2021-08-01-212645.png)


Anos mais tarde, Rogério Pipi disse que era frequente os jogadores usarem as camisolas como toalhas para o chão do balneário... Félix era impulsivo e orgulhoso e por isso explodiu tendo tido azar do presidente estar presente nesse momento.


(https://i.postimg.cc/qBLhW98g/Felix-Rogerio-Cavaleiro-andante.jpg)

Mas há outras coisas que se disseram.

Ao que parece Félix estava também ressentido com um castigo prévio aplicado pela Direção do SLB depois de se saber de atritos e tensões vindas de um jogo... da Selecção Nacional. A ressaca de uma pesada derrota na Aústria... 9-1!


https://youtu.be/ZyD6DA-W2Hw (https://youtu.be/ZyD6DA-W2Hw)


Mas flava-se também de que havia uma questão geracional e de renovação do plantel. Félix era um dos peso pesados do plantel que estava pouco satisfeito com a vinda de Fernando Caiado para a Luz e muito menos com o salário que este auferia... Bogalho estava a mudar muita coisa no Benfica quer ao nível do plantel quer ao nível técnico. No ano seguinte chegaria Otto Glória.


(https://i.postimg.cc/KzcFTs4s/stadium.jpg)

Era um super-craque que merecia ter tido uma despedida bem mais condizente com a sua classe e o que deu ao Clube.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 22:02
Acho que posteriormente representou o Torreense.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 22:05
O proprio Rogério saiu no ano seguinte depois de ter recusado ser profissional em full time.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 23:14
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 22:02
Acho que posteriormente representou o Torreense.


Sim e teve logo uma lesão terrível que lhe terminou com a carreira.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Agosto de 2021, 23:12
-266-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1965-1974

(https://i.postimg.cc/FHrtxCV0/1964-1965.jpg)
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(https://i.postimg.cc/bvrK7GMJ/1965-1966.jpg)
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(https://i.postimg.cc/VsqHHB6g/1966-1967.jpg)
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(https://i.postimg.cc/nhgkLCrM/1967-1968.jpg)
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(https://i.postimg.cc/s2mpxYf8/1968-1969.jpg)
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(https://i.postimg.cc/kG0SzwwV/1969-1970.jpg)
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(https://i.postimg.cc/N0dHBQpv/1970-1971.jpg)
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(https://i.postimg.cc/RhH67K9v/1971-1972.jpg)
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(https://i.postimg.cc/dQLfyBkG/1972-1973.jpg)
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(https://i.postimg.cc/43W8K7X8/1973-1974.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 03 de Agosto de 2021, 16:13
Que planteis de qualidade e quantidade inacreditavel do inicio da década de 70.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Agosto de 2021, 19:11
-267-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1975-1984

(https://i.postimg.cc/8zjs8xjj/1974-1975.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Wz5pC7VG/1975-1976.jpg)
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(https://i.postimg.cc/FHMrMRMB/1976-1977.jpg)
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(https://i.postimg.cc/8czNRrvj/1977-1978.jpg)
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(https://i.postimg.cc/MGJwsLRk/1978-1979.jpg)
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(https://i.postimg.cc/XJQ0Y7P3/1979-1980.jpg)
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(https://i.postimg.cc/d3fPGNvx/1980-1981.jpg)
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(https://i.postimg.cc/MKhJTL9c/1981-1982.jpg)
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(https://i.postimg.cc/yNKqhZ4s/1982-1983.jpg)
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[i(https://i.postimg.cc/JnT9WYyz/1983-1984.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: administrador em 04 de Agosto de 2021, 13:44
Monumental trabalho RedVC !!

Dás-me autorização para usar as fotos nas páginas das equipas/épocas e onde conseguir na página individual de cada jogador?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Agosto de 2021, 16:53
Citação de: administrador em 04 de Agosto de 2021, 13:44
Monumental trabalho RedVC !!

Dás-me autorização para usar as fotos nas páginas das equipas/épocas e onde conseguir na página individual de cada jogador?


Obrigado.

Com certeza que podes usar. Acredito que para além da cor, a grande vantagem destas imagens é que se atribuem os nomes a esses Ases.

Curiosamente para as décadas mais recentes nem sempre encontrei imagens de tão boa resolução quanto seria expectável.

Fica também aqui um pedido a quem quiser contribuir com fotografias de melhor qualidade. Quase de certeza alguém terá uma melhor fotografia de um qualquer ano, para substituir uma que tenha encontrado. Mesmo que seja a preto e branco pode-se sempre colorir. Fiz isso para uma boa quantidade delas.

Para além disso, é quase impossível que não tenha feito algum erro de identificação por isso quem encontrar alguma incorrecção, por favor, faça-nos saber.

Logo que possível tentarei completar o que falta.

Benfica, sempre!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Agosto de 2021, 17:14
-268-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1985-1994

(https://i.postimg.cc/Dzb67pRf/1984-1985.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Qt8FfHgL/1985-1986.jpg)
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(https://i.postimg.cc/25my5VKq/1986-1987.jpg)
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(https://i.postimg.cc/4N9xb6C7/1987-1988.jpg)
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(https://i.postimg.cc/DZN71ZBP/1988-1989.jpg)
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(https://i.postimg.cc/7PC2dT8D/1989-1990.jpg)
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(https://i.postimg.cc/XvJJ5Tn3/1990-1991.jpg)
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(https://i.postimg.cc/fTCDvB2b/1991-1992.jpg)
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(https://i.postimg.cc/vZCj7nsB/1992-1993.jpg)
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(https://i.postimg.cc/SRQtQ7WZ/1993-1994.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Agosto de 2021, 17:51
RedVC,o senhor de bigode que não está identificado fazendo parte das equipas técnicas de 87-88 a 89-90 chama-se Manuel Jorge. Vi numa publicação que tenho aqui comigo.
Na foto da temporada de 79-80  o guarda redes que está na fila de cima é o Joaquim Mendes e não o Fidalgo.
E na foto de 81-82 o primeiro da fila de cima é o Jorge Martins.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Agosto de 2021, 18:02
Citação de: Alexandre1976 em 04 de Agosto de 2021, 17:51
RedVC,o senhor de bigode que não está identificado fazendo parte das equipas técnicas de 87-88 a 89-90 chama-se Manuel Jorge. Vi numa publicação que tenho aqui comigo.
Na foto da temporada de 79-80  o guarda redes que está na fila de cima é o Joaquim Mendes e não o Fidalgo.
E na foto de 81-82 o primeiro da fila de cima é o Jorge Martins.

Obrigado Alexandre.
Logo, se não estivermos todos de ressaca... farei essa correção da legenda.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Agosto de 2021, 18:39
 O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luckyluke em 04 de Agosto de 2021, 19:24
Muitos parabéns pelo excelente trabalho, RedVC! Serviço público de sabedoria e vivência de Benfica e benfiquismo.
Muitos parabéns!

Só uma adenda:
Na foto de 1973/74 não é o Vítor Martins, é o Ibrahim.

Glorioso abraço, RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Agosto de 2021, 20:50
Citação de: luckyluke em 04 de Agosto de 2021, 19:24
Muitos parabéns pelo excelente trabalho, RedVC! Serviço público de sabedoria e vivência de Benfica e benfiquismo.
Muitos parabéns!

Só uma adenda:
Na foto de 1973/74 não é o Vítor Martins, é o Ibrahim.

Glorioso abraço, RedVC.

Obrigado luckyluke, mais rápido do que a sombra!
Outro Glorioso abraço O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Agosto de 2021, 21:35
O guarda redes que está na fila de cima do plantel de 89-90 é o Dias Graça.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Red2802 em 04 de Agosto de 2021, 21:37
Citação de: luckyluke em 04 de Agosto de 2021, 19:24
Muitos parabéns pelo excelente trabalho, RedVC! Serviço público de sabedoria e vivência de Benfica e benfiquismo.
Muitos parabéns!

Só uma adenda:
Na foto de 1973/74 não é o Vítor Martins, é o Ibrahim.

Glorioso abraço, RedVC.

O Ibrahim conheci-o em Vila Praia de Âncora.

Tinha lá um restaurante. Já faleceu, infelizmente.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: pcssousa em 04 de Agosto de 2021, 22:54
Citação de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 19:35
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 16:06
O Carlos Torres que está na ultima foto acho que era familiar do Bom Gigante.

Creio que era tio paterno. Acho que já vi uma fotografia com eles os dois.

Era mesmo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: pcssousa em 04 de Agosto de 2021, 22:57
Ah, e grande trabalho, grande trabalho. Fantástico.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: JJ SLB em 04 de Agosto de 2021, 23:22
O trabalho do RedVC e este tópico são extraordinários!
Enriquecido também com o feedback/contribuições de outros users.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Agosto de 2021, 23:35
Citação de: pcssousa em 04 de Agosto de 2021, 22:54
Citação de: RedVC em 01 de Agosto de 2021, 19:35
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Agosto de 2021, 16:06
O Carlos Torres que está na ultima foto acho que era familiar do Bom Gigante.

Creio que era tio paterno. Acho que já vi uma fotografia com eles os dois.

Era mesmo.




Mário Coluna, Hilário, ?, Eusébio, Carlos Torres e José Torres.
Penso ser isto... mas não tenho a certeza!

(https://i.postimg.cc/PfDGyJNH/Captura-de-ecr-2021-08-04-233612.jpg)
Fonte: AML


Eventualmente era o pai e não o tio...

(https://i.postimg.cc/B6DhT8pw/Captura-de-ecr-2021-08-04-233909.jpg)


Segundo um artigo do Público, o pai Francisco também foi futebolista, no caso, no Carcavelinhos

https://www.publico.pt/2010/09/04/jornal/jose-torres-19382010-o-homem-sem-defeitos-20142537
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luckyluke em 05 de Agosto de 2021, 16:08
Citação de: RedVC em 04 de Agosto de 2021, 20:50
Citação de: luckyluke em 04 de Agosto de 2021, 19:24
Muitos parabéns pelo excelente trabalho, RedVC! Serviço público de sabedoria e vivência de Benfica e benfiquismo.
Muitos parabéns!

Só uma adenda:
Na foto de 1973/74 não é o Vítor Martins, é o Ibrahim.

Glorioso abraço, RedVC.

Obrigado luckyluke, mais rápido do que a sombra!
Outro Glorioso abraço O0
😉 Eu é que agradeço o teu benfiquismo e simpatia, glorioso abraço!  :amigo:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 06 de Agosto de 2021, 08:16
Citação de: JJ SLB em 04 de Agosto de 2021, 23:22
O trabalho do RedVC e este tópico são extraordinários!
Enriquecido também com o feedback/contribuições de outros users.
o trabalho que o RedVC veio desenvolvendo ao longo dos anos é tao importante e extenso que penso que pouca gente é capaz de conceber a dimensao. o que ele apresenta aqui vai além dos titulos desportivos e o que o clube alcancou. é muito mais um retrato das pessoas que fizeram deste clube o que é. o que aínda mais valoriza o seu trabalho é o facto que entrou tao fundo na matéria que ate conseguiu ganhar dados e informacoes das primeiras décadas do benfica.
por isso os benfiquistas nem lhe podem agradecer suficientemente pelo que aqui temos neste espaco.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Agosto de 2021, 15:38
Citação de: alfredo em 06 de Agosto de 2021, 08:16
Citação de: JJ SLB em 04 de Agosto de 2021, 23:22
O trabalho do RedVC e este tópico são extraordinários!
Enriquecido também com o feedback/contribuições de outros users.
o trabalho que o RedVC veio desenvolvendo ao longo dos anos é tao importante e extenso que penso que pouca gente é capaz de conceber a dimensao. o que ele apresenta aqui vai além dos titulos desportivos e o que o clube alcancou. é muito mais um retrato das pessoas que fizeram deste clube o que é. o que aínda mais valoriza o seu trabalho é o facto que entrou tao fundo na matéria que ate conseguiu ganhar dados e informacoes das primeiras décadas do benfica.
por isso os benfiquistas nem lhe podem agradecer suficientemente pelo que aqui temos neste espaco.

Alfredo, acabei de regressar de férias e ler estas palavras é verdadeiramente reconfortante. Obrigado!  Estamos todos unidos pelo amor ao Benfica e esse sentimento é um fogo que cada um de nós expressa da forma que sabe e sente.

Um grande abraço para ti, companheiro de leituras deste tópico desde sempre.

Pelo Benfica, sempre!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: JJ SLB em 14 de Agosto de 2021, 18:12
Citação de: RedVC em 14 de Agosto de 2021, 15:38
Citação de: alfredo em 06 de Agosto de 2021, 08:16
Citação de: JJ SLB em 04 de Agosto de 2021, 23:22
O trabalho do RedVC e este tópico são extraordinários!
Enriquecido também com o feedback/contribuições de outros users.
o trabalho que o RedVC veio desenvolvendo ao longo dos anos é tao importante e extenso que penso que pouca gente é capaz de conceber a dimensao. o que ele apresenta aqui vai além dos titulos desportivos e o que o clube alcancou. é muito mais um retrato das pessoas que fizeram deste clube o que é. o que aínda mais valoriza o seu trabalho é o facto que entrou tao fundo na matéria que ate conseguiu ganhar dados e informacoes das primeiras décadas do benfica.
por isso os benfiquistas nem lhe podem agradecer suficientemente pelo que aqui temos neste espaco.

Alfredo, acabei de regressar de férias e ler estas palavras é verdadeiramente reconfortante. Obrigado!  Estamos todos unidos pelo amor ao Benfica e esse sentimento é um fogo que cada um de nós expressa da forma que sabe e sente.

Um grande abraço para ti, companheiro de leituras deste tópico desde sempre.

Pelo Benfica, sempre!
Não respondi ao que o Alfredo escreveu por falta de tempo, "apenas" dei like (que em boa hora os responsáveis do fórum implementaram, lá vão os tempos do x2  :) /concordo/ etc....)
Aproveito agora para escrever: o que o Alfredo escreveu é a realidade, pouca gente é capaz de perceber a dimensão deste tópico.
Quando eu vejo as imagens e o que escreves (e outros users), não é apenas ver as imagens e ler os textos, é reviver.
No último exemplo, as imagens dos planteis ao longo dos anos, dei por mim, a tentar reviver cada época, jogos, recordações, à medida que avançava nas imagens. É uma vida que passa à nossa frente!
E percebemos ainda mais o que significa o Benfica e o que perdeu nos últimos anos/década(s). Espero ainda assistir ao renascimento dos valores e da força do Benfica... até lá, este tópico vale ouro.
Obrigado, RedVC  O0 (e ao oportuno post do Alfredo)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Agosto de 2021, 20:50
Citação de: JJ SLB em 14 de Agosto de 2021, 18:12
Citação de: RedVC em 14 de Agosto de 2021, 15:38
Citação de: alfredo em 06 de Agosto de 2021, 08:16
Citação de: JJ SLB em 04 de Agosto de 2021, 23:22
O trabalho do RedVC e este tópico são extraordinários!
Enriquecido também com o feedback/contribuições de outros users.
o trabalho que o RedVC veio desenvolvendo ao longo dos anos é tao importante e extenso que penso que pouca gente é capaz de conceber a dimensao. o que ele apresenta aqui vai além dos titulos desportivos e o que o clube alcancou. é muito mais um retrato das pessoas que fizeram deste clube o que é. o que aínda mais valoriza o seu trabalho é o facto que entrou tao fundo na matéria que ate conseguiu ganhar dados e informacoes das primeiras décadas do benfica.
por isso os benfiquistas nem lhe podem agradecer suficientemente pelo que aqui temos neste espaco.

Alfredo, acabei de regressar de férias e ler estas palavras é verdadeiramente reconfortante. Obrigado!  Estamos todos unidos pelo amor ao Benfica e esse sentimento é um fogo que cada um de nós expressa da forma que sabe e sente.

Um grande abraço para ti, companheiro de leituras deste tópico desde sempre.

Pelo Benfica, sempre!
Não respondi ao que o Alfredo escreveu por falta de tempo, "apenas" dei like (que em boa hora os responsáveis do fórum implementaram, lá vão os tempos do x2  :) /concordo/ etc....)
Aproveito agora para escrever: o que o Alfredo escreveu é a realidade, pouca gente é capaz de perceber a dimensão deste tópico.
Quando eu vejo as imagens e o que escreves (e outros users), não é apenas ver as imagens e ler os textos, é reviver.
No último exemplo, as imagens dos planteis ao longo dos anos, dei por mim, a tentar reviver cada época, jogos, recordações, à medida que avançava nas imagens. É uma vida que passa à nossa frente!
E percebemos ainda mais o que significa o Benfica e o que perdeu nos últimos anos/década(s). Espero ainda assistir ao renascimento dos valores e da força do Benfica... até lá, este tópico vale ouro.
Obrigado, RedVC  O0 (e ao oportuno post do Alfredo)


Obrigado, JJ SLB!  O0

Olhando para os 117 anos percebemos bem como transitório é este poder que nos governa e como a melhor garantia que temos para o futuro é nunca desistir da exigência de termos melhores atletas, melhores treinadores, melhores dirigentes, e por aí em diante. Nada é suficientemente bom para o Benfica. Mais, mais e sempre mais. Honrar os Ases que nos honraram o passado é a obsessão que deve ter cada e qualquer um que representa e suporta o Benfica!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jayson Tatum em 14 de Agosto de 2021, 22:59
Citação de: RedVC em 02 de Agosto de 2021, 23:12
-266-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1965-1974

(https://i.postimg.cc/FHrtxCV0/1964-1965.jpg)
__________________________________________________________
(https://i.postimg.cc/bvrK7GMJ/1965-1966.jpg)
__________________________________________________________
(https://i.postimg.cc/VsqHHB6g/1966-1967.jpg)
__________________________________________________________
(https://i.postimg.cc/nhgkLCrM/1967-1968.jpg)
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(https://i.postimg.cc/s2mpxYf8/1968-1969.jpg)
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(https://i.postimg.cc/kG0SzwwV/1969-1970.jpg)
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(https://i.postimg.cc/N0dHBQpv/1970-1971.jpg)
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(https://i.postimg.cc/RhH67K9v/1971-1972.jpg)
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(https://i.postimg.cc/dQLfyBkG/1972-1973.jpg)
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(https://i.postimg.cc/43W8K7X8/1973-1974.jpg)
__________________________________________________________

Obrigado! Incrível observar este trajecto de onde, a partir do Eusébio e do Mário Coluna, começam a surgir nomes como o do Humberto Coelho, Artur Jorge ou Raúl Águas, para citar alguns.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Agosto de 2021, 08:00
-269-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 1995-2004


(https://i.postimg.cc/MHWRh9yG/1994-1995.jpg)
__________________________________________________________
(https://i.postimg.cc/bwGbcD21/1995-1996.jpg)
__________________________________________________________
(https://i.postimg.cc/tJCZrYjZ/1996-1997.jpg)
__________________________________________________________
(https://i.postimg.cc/y8SJpMwP/1997-1998.jpg)
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(https://i.postimg.cc/YS6vM12L/1998-1999.jpg)
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(https://i.postimg.cc/brJrxWx1/1999-2000.jpg)
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(https://i.postimg.cc/C5Q1m77X/2000-2001.jpg)
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(https://i.postimg.cc/vH4DcRHs/2001-2002.jpg)
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(https://i.postimg.cc/xd31WngK/2002-2003.jpg)
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(https://i.postimg.cc/wMyHTp54/2003-2004.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Agosto de 2021, 19:38
-270-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 2005-2014

(https://i.postimg.cc/TP0nx3kr/2004-2005.jpg)
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(https://i.postimg.cc/WpGxn1Nn/2005-2006.jpg)
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(https://i.postimg.cc/dtS6Rby6/2006-2007.jpg)
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(https://i.postimg.cc/bvR2gn5P/2007-2008.jpg)
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(https://i.postimg.cc/mD5kpyNv/2008-2009.jpg)
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(https://i.postimg.cc/7LBSD7nV/2009-2010.jpg)
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(https://i.postimg.cc/vmm6PTw6/2010-2011.jpg)
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(https://i.postimg.cc/RV9hshcV/2012-2013.jpg)
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(https://i.postimg.cc/VLR63wR9/2013-2014.jpg)
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(https://i.postimg.cc/59mbt3Cb/2014-2015.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Agosto de 2021, 20:20
-271-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 2015-2020

(https://i.postimg.cc/N0KDLBfm/2015-2016.jpg)
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(https://i.postimg.cc/J0L5TX35/2017-2018.jpg)
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(https://i.postimg.cc/xT9PMK10/2018-2019.jpg)
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(https://i.postimg.cc/0QgYQS41/2019-2020.jpg)
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(https://i.postimg.cc/FRjjJRtd/2020-2021.jpg)
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Fica por agora concluído o desfile de alguns dos Ases que nos honraram o passado.

Quem puder, por favor, contribua para ir melhorando este memorial.

Fotos de melhor qualidade, correções às identificações, são todas bem vindas.

Pelo Benfica, sempre!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Agosto de 2021, 22:00
-272-
Mistérios do Football Club

Belém, 1903, uma equipa trajando de branco alinha para uma câmara fotográfica:


(https://i.postimg.cc/9fdvv3mW/01.jpg)



Apesar da sua fraca qualidade gráfica, trata-se de uma fotografia de valor inestimável para a História do Sport Lisboa e Benfica.

Nela estão presentes 7 dos 24 fundadores do nosso Clube. Reconhecendo esse facto, Mário de Oliveira e Rebelo da Silva publicaram esta fotografia na página 8 do primeiro fascículo da sua monumental obra, "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954", a fonte decisiva para sabermos detalhes da História inicial do nosso Clube.


O Football Clube, foi o grupo que em 1903 constituiu o embrião do Sport Lisboa, clube fundado em 28 de fevereiro de 1904. Foi um grupo organizado de rapazes que moravam em Belém e que se juntaram para a prática do futebol. Também conhecidos por Belém Football Club ou Grupo dos Catataus, teve existência efémera, competindo informalmente contra outros grupos que se iam formando e desfazendo pelas imediações.


Belém, no início do século XX.


Durante o ano de 1903, a populosa e buliçosa Belém tinha deixado já há alguns anos de ser sede de um concelho, mas continuava a ser uma vigorosa localidade e, em particular para o nosso interesse, um dos palcos lisboetas do recrudescimento no interesse do futebol em Lisboa.

Na transição do século XIX para o século XX, a prática da modalidade tinha sofrido uma acentuada redução depois da questão do "Ultimato Inglês" e da perda dos terrenos usáveis para a prática do futebol, perto do Campo Pequeno, por via da edificação da grande praça de touros.

Belém foi então um dos palcos do recrudescimento do interesse no futebol. Mais do que noutro local, ali ocorreu a democratização do futebol, deixando de ser um exclusivo da juventude das classes mais favorecidas. Em Belém, existia muita gente jovem e muitos terrenos livres aproveitáveis para improvisar campos de futebol. Numerosos grupos de jovens, de composição mais ou menos fluida, iam praticando e com isso propagando o interesse pela modalidade. Esses grupos tinham muitas vezes a sua base em amizades vindas de bairros, escolas ou grupos familiares, mas integravam também elementos mais velhos, alguns trintões da primeira geração de praticantes, ativos no século anterior.


(https://i.postimg.cc/1tMb3pV2/02.jpg)
Alguns locais e aspetos sociais da Belém, no início do século XX. Fonte: AML.


Há uma tradição – errada – de atribuir a fundação do nosso Clube a um conjunto de miúdos pobres, órfãos casapianos unidos pela camaradagem e pelo prazer de praticar o jogo. A história fantasiosa dos "pés descalços".

Sendo inegável, prestigiante e fundamental para a matriz dos primeiros anos do nosso Clube, a componente casapiana não foi ainda assim a base da fundação do Sport Lisboa.

Entre os nossos 24 fundadores, temos apenas dois, Cosme Damião e Augusto Jorge de Sousa, que sabemos terem sido alunos casapianos. Outros, como Abílio Meireles, Eduardo Corga e Henrique Teixeira, tinham familiares ligados à Casa Pia mas, tanto quanto se sabe, não integraram o internato casapiano.

Assim sendo, é na juventude de Belém, em boa parte abastada ou remediada, que encontramos a maioria dos 24 fundadores do Sport Lisboa. Uma boa parte deles estavam já no Football Club e foram descritos nas diversas camadas de jogadores que Daniel dos Santos Brito, um desses fundadores, mais tarde evocou.

Sabemos que o Football Club estava organizado pois embora aparentemente não tenham sobrevivido listas de sócios ou (eventuais) regulamentos, existiu quotização de sócios. Aliás nos primeiros meses do Sport Lisboa as quotas impressas do Football Club ainda foram usadas para conveniência do Sport Lisboa. Subsistiram também documentos oficiais em que ainda se fazia menção ao grupo antigo.


(https://i.postimg.cc/3NRV4dgR/03.jpg)
Em março de 1903, já depois da transição do Football Club para o Sport Lisboa, foi emitido a fatura da compra de uma bola usada aos ingleses do Lisbon Cricket Club. Assinado por José Rosa Rodrigues, o presidente do Sport Lisboa.



(https://i.postimg.cc/kM1krvmt/04.jpg)
Quotas do Belém Football Club e do Sport Lisboa. Assinadas por Daniel Santos Brito, secretário e Manuel Gourlade, tesoureiro. Foram cedidas na década de 60 por Cândido Rosa Rodrigues à Revista Flama.




Os homens


Apesar de no Football Club terem jogado mais elementos, vamos centrar atenções nos 11 rapazes presentes na fotografia, dando notas biográficas resumidas, sempre que possível para cada um deles.


José da Cruz Viegas tinha apenas 22 anos em 1903. Nasceu em Belém, mas era filho de algarvios de Olhão. Terá estudado na Casa Pia, financiado por uma bolsa de estudo. Foi militar de carreira, prisioneiro da I Guerra Mundial no campo de Bergen, tendo deixando relatos escritos impressivos dessa sua experiência. Manteve sempre interesse e atividade no futebol, promovendo alguns desafios de futebol entre seleções militares, iniciativa que ia colmatando à época, a inexistência de jogos internacionais. Apenas por um acaso do destino, José da Cruz Viegas não foi um dos fundadores do Sport Lisboa, mas isso não impediu que se tornasse um elemento decisivo nesses primeiros anos e em particular na definição das cores do Clube. É a ele que devemos o nosso "vermelho e branco"!


(https://i.postimg.cc/qMNWp6JD/05.jpg)


Foi do acervo pessoal de José da Cruz Viegas que vieram algumas raras e reveladoras fotografias desses anos pioneiros do futebol, entre as quais esta única fotografia do Football Club. Esse acervo foi fundamental para que Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva tenham escrito e ilustrado os primeiros capítulos da monumental obra "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".


Os irmãos Rosa Rodrigues, também conhecidos por irmãos Catatau, tinham raízes familiares em Almada e em Lisboa. Os manos lideraram quer o Football Club quer depois o Sport Lisboa, Em 1903, Cândido e António tinham respetivamente, 18 e 17 anos de idade. Na fotografia do Football Club aparecem-nos como avançados.

O seu irmão mais velho, José, tinha 19 anos de idade e apesar de não constar da fotografia, esteve também muito comprometido com os dois grupos. No ano seguinte, José Rosa Rodrigues tornar-se-ia no primeiro presidente do Sport Lisboa, tendo sido eleito pelos restantes 23 fundadores.

Os três irmãos Catatau eram, juntamente com mais uma irmã e um irmão mais novos, os filhos de Cândido Rodrigues, um abastado armador, empresário do sector pesqueiro, com concessões de pesca em diversos portos do centro e sul de Portugal.

Os Catataus eram os donos da bola e principais promotores das míticas futeboladas no pátio da Farmácia Franco, edifício aliás onde moravam à época, no apartamento do 1º direito. Em maio de 1907, Cândido e António decidiram desertar para o SCP, clube onde assumiram uma fugaz preponderância competitiva. Mais tarde, também José se juntaria aos manos no clube verde e branco.

Infelizmente, José e António teriam vidas curtas. Ao invés, Cândido viveria uma vida longa, tendo por algumas vezes defendido que o Sport Lisboa foi extinto em maio de 1907. Todos têm direito à sua verdade apesar de todas as evidências mostrarem o contrário...


(https://i.postimg.cc/D08pfRT4/06.jpg)


Daniel dos Santos Brito tinha 20 anos de idade em 1903. Com raízes familiares em Torres Vedras e Lisboa, foi por longos anos um dedicado funcionário da Farmácia Franco. Assumiu o cargo de secretário das primeiras Direções do nosso Clube. Na fotografia do Football Club aparece-nos como médio à esquerda. Teve uma vida longa tendo fornecido informações fundamentais para conhecermos mais sobre os anos pioneiros do nosso Clube.


(https://i.postimg.cc/2jKX9jQQ/07.jpg)



Manuel Gourlade, em 1903 tinha 31 anos de idade. Nascido numa família com origens francesas e com alguma visibilidade social, teve uma educação esmerada para a época, sendo, ao que tudo indica, fluente em inglês e francês. Contabilista na Farmácia Franco, foi o grande organizador e entusiasta quer do Football Club quer do Sport Lisboa, do qual foi fundador. Na fotografia do Football Club aparece-nos como defesa à esquerda mas existe uma outra em que nos aparece como guarda-redes.

Profundo conhecedor das regras do futebol, as quais mandou traduzir do original inglês, com participação também de Duarte José Duarte, Gourlade veio a assumir o que hoje poderíamos definir como as funções de treinador nos primeiros anos, até à mudança do Clube de Belém para Benfica. É uma das figuras maiores da nossa História.


(https://i.postimg.cc/vZWqmWph/08.jpg)


Depois temos três elementos dos quais não abundam informações: Duarte José Duarte, Armando Macedo e Eduardo Afra Jorge da Costa. Do primeiro sabemos que era telegrafista e que era natural e criado em Belém onde tinha irmãos. Dos restantes sabemos que jogaram em equipas das categorias secundárias do Sport Lisboa e basicamente mais nada. Esse desconhecimento é uma lacuna importante no nosso conhecimento tanto mais que o último foi também fundador do Sport Lisboa. Dois mistérios que persistem por desvendar.


(https://i.postimg.cc/Y9Sb8TjD/09.jpg)



Raul Júlio Empis, foi também ele um fundador do Sport Lisboa. Nasceu no dia 28 de fevereiro de 1887, ou seja, Raul Empis celebrou o seu 17º aniversário no dia da fundação do Sport Lisboa... Na fotografia do Football Club aparece-nos como avançado, lugar aliás onde jogou no primeiro jogo conhecido, disputado em 1-01-1905, opondo do nosso Clube contra um adversário organizado.

A família Empis tinha raízes Belgas, nomeadamente de Antuérpia e o seu pai era um abastado empresário, sócio em múltiplos negócios do poderoso banqueiro e empresário Henri Burnay, ao qual aliás estava ligado por laços familiares (foi casado com uma Senhora da família Burnay antes de casar com a mãe de Raul). Raul cresceu com os irmãos no Palácio Burnay situado na Rua da Junqueira. Era tudo menos um pé descalço...


(https://i.postimg.cc/ZRJM8BWj/ImagemRE.png)



Carlos França tinha 17 anos de idade em 1903. Os Oliveira França tinham raízes no Seixal e em Belém. Na fotografia do Football Club é muito provavelmente Carlos França que está presente como médio centro, uma vez que não existe evidência que Manoel França, o seu irmão dois anos mais velho, alguma vez tenha praticado futebol. No entanto nota-se a curiosidade de que a legenda original da fotografia apenas refere "França".

Ambos os irmãos França vieram a ser fundadores do Sport Lisboa, mas Manoel faleceu em 1908 tendo sido muito provavelmente o primeiro dos 24 fundadores a desaparecer. Carlos França foi um destacado membro das nossas equipas de futebol durante a primeira década da nossa História. Na fotografia do Football Club aparece-nos como médio centro, um lugar destacado na equipa, o que revela que lhe eram reconhecidas virtudes futebolísticas. No entanto, parece ter jogado mais vezes a extremo esquerdo. Na fase final da sua carreira desportiva jogou com frequência nas categorias inferiores onde transmitia a sua experiência e a Mística do Clube. Teve uma vida curta, falecendo em 1930 com apenas 44 anos de idade.


(https://i.postimg.cc/SRM57HvF/11.jpg)


Resta-nos falar de um homem que na fotografia nos aparece como guarda-redes. Segundo a legenda era identificado como Galeano. Quem seria?

Durante alguns anos, a minha interpretação foi que esse homem tinha parecenças fisionómicas acentuadas com... José Rosa Rodrigues! E de facto é sabido que José Rosa Rodrigues jogou algumas vezes a guarda-redes embora a sua polivalência também o levasse a jogar como avançado e defesa...


(https://i.postimg.cc/43xSFYS1/12.jpg)


Seria "Galeano" uma alcunha dada a José Rosa Rodrigues, o mais velho dos manos Catatau?

Apenas recentemente com a localização de um registo, passei a dispor de indícios que apontam que se se tratavam de dois homens distintos. De José Rosa Rodrigues falamos atrás, restava esclarecer quem foi "Galeano".


Os indícios que recolhi proveem de três fontes. Em primeiro lugar, através de um registo de casamento (https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=5931659 (https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=5931659)) revelou-se que em 28 de setembro de 1908, na Igreja paroquial de Santa Maria de Belém, casaram João Velasco Galiano e Augusta Carolina Ferreira de Matos. O noivo não esteve presente, nomeando um procurador para o representar. Segundo esse registo de casamento, João Velasco Galliano tinha na altura 30 anos de idade e era natural da cidade de Luanda, Angola, localidade onde provavelmente residia. João era filho ilegítimo de Euzébio Velasco Galliano e de Mariana João.

Esta família Galiano parece ter tido origem italiana e passagem pelo Brasil para depois se radicar em Angola. Euzébio seria muito provavelmente um jornalista que no final do século XIX foi também Diretor do jornal Angolense.

O segundo indício revelador veio de um Almanaque comercial em que nos aparece a informação de que João Velasco Galiano era farmacêutico e que em 1907 exercia atividade em Belém na morada onde estava situada a... Farmácia Franco!


(https://i.postimg.cc/mDc6B0Rz/13.jpg)
Almanaque Palhares, 1907, pág. 159.



O terceiro indício provém do Centro de Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos, em que num livro de sócios se confirma que João Velasco Galiano era sócio correspondente da Ordem, com atividade em Luanda. A sua entrada na Ordem foi proposta por António Manuel Augusto Mendes, que tudo indica era o "velhote" Mendes de quem falava Daniel Santos Brito, numa das suas memórias dos gloriosos dias das futeboladas no pátio da Farmácia Franco.


(https://i.postimg.cc/c1n5jyXP/14.jpg)
Fonte: Ordem dos Farmacêuticos.



A conclusão que retiro destes elementos é de que João Velasco Galiano foi quase de certeza o guarda-redes do Belém Football Club, imortalizado na fotografia com que iniciamos o texto. Estaria a cumprir um estágio de aprendizagem na prestigiada Farmácia Franco e terá sido contagiado pela febre do futebol. Esteve no local certo à hora certa. Não foi caso único, mas isso são coisas para falar num outro dia.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 19 de Agosto de 2021, 02:38
Que trabalho do caraças! Obrigado por mais esta pérola. O prazer que nos dás com estes detalhes da nossa História!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Agosto de 2021, 13:18
Obrigado Ned  O0

Muitas vezes começa por uma pista, uma observação que não bate certo. Depois é tentar desfiar o novelo e às vezes acaba-se com uma história que se integra noutra história maior e na qual temos parte. A História do Sport Lisboa e Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jayson Tatum em 21 de Agosto de 2021, 15:00
Obrigado RedVC. Isto é pré-história do nosso Clube!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Agosto de 2021, 09:02
-273-
Crónicas do Benfica e do Benfiquismo – parte I


 
(https://i.postimg.cc/152B74tr/A01.jpg)
Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva



Ao longo da sua Gloriosa História, o Sport Lisboa e Benfica teve a contribuição de extraordinários atletas, dirigentes, treinadores e colaboradores com as mais diversificadas competências. Alguns são reconhecidos por todos os Benfiquistas, geralmente jogadores, dos quais recordamos o talento e a dedicação dos seus contributos. Esses são os imortais, sempre presentes no carinho da nossa memória.

E, no entanto, quão desconhecedores somos de tantos outros homens e mulheres que deram igualmente significativas contribuições para o Benfiquismo.

Vamos hoje falar de dois Benfiquistas, hoje quase anónimos, mas que no seu tempo deram uma extraordinária contribuição para o Benfiquismo. Essa contribuição está imortalizada e é uma referência incontornável para todos os que amam o Sport Lisboa e Benfica e procuram ver para lá da espuma do tempo, da polémica do momento, da bola que entra ou bate na trave. É incontornável para todos os que procuram saber as raízes do Benfiquismo e a explicação da grandeza do Clube.

Falamos de dois jornalistas, de seu nome, Mário Fernando de Oliveira (1890-1969) e Carlos Rebelo da Silva (1898-1970). Falaremos dessa contribuição e daremos os elementos biográficos possíveis.



Uma obra monumental

Em 1954, aquando das "Bodas de Ouro" do nosso Clube, Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva foram autores e responsáveis pela publicação da monumental obra "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".

Tratou-se de uma edição de autor (elaborada e paga do seu próprio bolso) que originalmente foi publicada em fascículos. No seu todo, é uma História cronológica dos primeiros 50 anos do nosso Clube, que compreende um total de 1.156 páginas, divididas por dois volumes (I - 575 páginas; II - 581 páginas).


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Recibo de subscrição da publicação da obra em fascículos.



Na altura, foram também disponibilizadas capas duras que permitiram reunir os fascículos em dois grandes volumes. Quando aparecem e são leiloados bons exemplares desta obra, as licitações vencedoras chegam a atingir algumas centenas de euros.


(https://i.postimg.cc/1XLWFzVB/A04.jpg)


Aquando da publicação desta obra, Mário Fernando Oliveira era o sócio nº 85 e Carlos Rebelo da Silva era o sócio nº 148, o que dá desde logo uma ideia da sua dedicação ao Clube. Mas, melhor do que qualquer consideração sobre o seu Benfiquismo, atentemos aos propósitos doa autores aquando da publicação desta obra:


(https://i.postimg.cc/jqp0PqbB/A05.jpg)


O primeiro volume está dividido em 7 capítulos, cobrindo os primeiros 25 anos do Clube, desde a pré-fundação do Clube até ao ano de 1928, quando, terminada a liderança de Cosme Damião, o Sport Lisboa e Benfica trilhava novos rumos e desafios.


(https://i.postimg.cc/W4Wx3T8W/A06.jpg)



O segundo volume está dividido em outros 7 capítulos, cobrindo o período iniciado com as "Bodas de Prata", até aos excitantes tempos das "Bodas de Ouro" do Clube, que coincidiram com a construção e inauguração do Glorioso Estádio da Luz, lançando-se assim as bases para aparecer o grande Campeão Europeu de futebol da década de 60!


(https://i.postimg.cc/jdD2dSh9/A07.jpg)


Rica, meticulosa, rigorosa e profusamente ilustrada, esta obra permitiu descobrir e publicar algumas das mais relevantes fotografias e documentos da História do nosso Clube, vindos das fontes originais, localizadas quer em arquivos institucionais quer em acervos particulares, muitos deles até então inexplorados.

Caso não tivessem sido localizados e usados nesta obra, é possível que muitos desses inestimáveis documentos estivessem hoje ignorados ou até perdidos, quiçá descartados no lixo produzido pela incúria e ignorância. A publicação dessa informação foi fundamental para conhecer e destacar a grandeza do nosso Clube relativamente a todos os outros clubes nacionais.



(https://i.postimg.cc/2SzzLjdr/A08.jpg)
Algumas das separatas coloridas que integraram a "História do SLB 1904-1954".



Entre os autores, Mário Fernando de Oliveira foi o homem de campo que identificou e entrevistou algumas das figuras fundamentais da História do Clube. Foi também ele que reuniu e verificou a informação e que escreveu os textos. Aliás, já na sua atividade na revista "Stadium", Mário de Oliveira escreveu com alguma frequência artigos sobre eventos e figuras históricas do Clube, inclusive um especial de duas páginas celebrando os 40 anos do Clube (ver: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Stadium/1944/N84/N84_item1/P7.html). Tudo aponta que também tenha sido o ideólogo inicial desta obra, provavelmente pensando na aproximação das bodas de ouro do Clube.

É possível também que a ideia tenha germinado aquando da notável entrevista que Mário de Oliveira fez a Cosme Damião e que foi publicada no jornal "A Bola" na segunda-feira, 5 de março de 1945 (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/11/cosme-damiao-130.html). Cosme viveria apenas mais dois anos e o seu desaparecimento físico assim como a riqueza da informação deixada nessa entrevista, terão alertado Mário de Oliveira para a urgência de recolher e divulgar os testemunhos de outros pioneiros que ainda estavam vivos e contactáveis.

Infelizmente, não temos fotografias dessa entrevista a Cosme Damião, mas alguns anos mais tarde, quando Mário de Oliveira entrevistou Daniel dos Santos Brito, outro dos fundadores do nosso Clube, houve já o cuidado de registar esse momento e destacar a importância desse testemunho. Esse encontro histórico e a visita guiada aos locais emblemáticos de Belém, que deverão ter ocorrido em 1953, foram registados pela câmara fotográfica do filho de Carlos Rebelo da Silva.


(https://i.postimg.cc/mrKfjT9c/A09.jpg)
Fotografia captada pelo filho de Carlos Rebelo da Silva, publicada na página 5 do volume I da "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".



No próximo texto falaremos um pouco mais sobre os autores desta obra.
Cronistas do Benfica e do Benfiquismo.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 30 de Agosto de 2021, 08:50
Victor, so me apetece fazer isto:  :D
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Çula em 30 de Agosto de 2021, 19:07
Tenho essa colecção completa.
Comprei na feira da ladra há uns 5 anos em estado absolutamente novo.

Duas semanas depois encontrei a mesma colecção na feira do alfarrabista do Chiado, a quase metade do preço do que tinha lá em casa.

Comprei na mesma.  :-X
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Agosto de 2021, 22:16
Citação de: Çula em 30 de Agosto de 2021, 19:07
Tenho essa colecção completa.
Comprei na feira da ladra há uns 5 anos em estado absolutamente novo.

Duas semanas depois encontrei a mesma colecção na feira do alfarrabista do Chiado, a quase metade do preço do que tinha lá em casa.

Comprei na mesma.  :-X


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Setembro de 2021, 20:47
-274-
Crónicas do Benfica e do Benfiquismo – parte II


Dezembro de 1944, todos os presentes num jantar-convívio comemorativo do 2º ano da revista Stadium posam para uma câmara fotográfica. Entre esse ilustre grupo de jornalistas e figuras relevante do desporto português da altura, podemos reconhecer Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva.


(https://i.postimg.cc/DZRRgVtn/B01.jpg)
Carlos Rebelo da Silva (convidado, jornalista do DN) e Mário de Oliveira (colaborador) num jantar-convívio dos funcionários da revista Stadium em 1944. Fonte: Hemeroteca Lx.


Vamos hoje concluir a evocação destes dois grandes cronistas do Benfica e do Benfiquismo, mostrando quão ricas e diversificadas foram as suas carreiras profissionais.

Apresentaremos alguns elementos biográficos, mostrando alguns dos seus cruzamentos com episódios relevantes da História do Sport Lisboa e Benfica., demonstrando que, para lá de cronistas, foram por vezes contribuintes para a evolução do nosso Clube.



Para uma curta biografia de Mário Fernando de Oliveira (1890-1969)


(https://i.postimg.cc/QMtPZxDj/B02.jpg)
Duas caricaturas de Mário Fernando de Oliveira pelo traço do grande caricaturista Pargana, seu colega na revista Stadium.


Por ser devido, salienta-se que muita da informação biográfica que aqui se apresenta para Mário de Oliveira, foi recolhida de um artigo publicado pelo Sr. José Carlos Vilhena Mesquita (ver: https://promontoriodamemoria.blogspot.com/2018/01/mario-de-oliveira-um-jornalista-na.html).


Filho de uma lisboeta e de um sapateiro natural de Viseu, Mário Fernando de Oliveira nasceu no dia 26 de novembro de 1890, na Rua São João da Praça 24, 3º, freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa.


(https://i.postimg.cc/qM41dMcW/B03.jpg)
Rua São João da Praça, nº 24, Lisboa. Fotografia captada em julho de 1907. Fonte: Machado & Souza, AML


Estudou no antigo Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, onde concluiu o curso especial de telégrafos, formação que, em 1909, lhe permitiu ingressar nos C.T.T. como aspirante auxiliar. Dois anos depois foi destacado para Faro onde assumiu funções de chefia dos serviços de eletrotecnia dos C.T.T.-T.L.P..


Em paralelo, entre 1912 e 1916, e sempre revelando sempre um enorme dinamismo, Mário de Oliveira iniciou uma intensa atividade no jornalismo colaborando com a imprensa local algarvia e, como correspondente, com diversos títulos da imprensa da capital, para os quais enviava notícias locais cobrindo os mais diversos assuntos algarvios.


Por terras algarvias permaneceria até 1916, envolvendo-se em iniciativas de divulgação do desporto e em particular na formação e organização desportiva do futebol. Empenhou-se na oficialização estatutária de alguns clubes locais e na organização de torneios regionais assim como de instituições reguladoras da prática desportiva. Foi um dos proponentes iniciais da implementação de um torneio de futebol de âmbito nacional, tendo depois, como delegado da Associação de Futebol do Algarve, integrado a comissão organizadora do primeiro campeonato de Portugal. Essa competição viria a realizar-se pela primeira vez em 1921, tendo sido conquistada pelo Futebol Clube do Porto embora tivesse sido restrita a dois competidores (FCP e SCP), numa final a duas mãos (Porto e Lisboa) e uma finalíssima (Porto). Havia ainda muito caminho a fazer...


Em 1926, já em Lisboa, assumiu a chefia da respetiva circunscrição técnica dos C.T.T., tendo em 1935 sido promovido para o cargo de chefe dos serviços telefónicos. Altamente qualificado e classificado, Mário de Oliveira integrou também o Conselho Disciplinar dos C.T.T. tendo redigido um regulamento interno da instituição. Foi ainda diretor da Associação de Classe do Pessoal Maior dos Correios e Telégrafos e redator do «Boletim» que lhe serviu de órgão público. E foi já como chefe de serviços de 1.ª classe que se reformou do quadro de inspetores dos C.T.T.


No jornalismo lisboeta, colaborou como redator (e por vezes diretor), com um vasto número de periódicos, em particular de títulos desportivo: «O Sport» de Lisboa, (1916-1920 e depois diretor, 1921-1924); «A Pátria» (1924), «Os Sports» (1925-1931); «Correio Desportivo» (1926); «O Sport Ilustrado» (diretor, 1934); «Sprint» (1934); entre muitos outros.


Entre toda essa atividade jornalística, destaque particular para a sua colaboração com a revista "Stadium", onde foi autor de artigos de divulgação do pioneirismo desportivo em Portugal. Integrou também a primeira redação do jornal "A Bola", fundado a 29 de janeiro de 1945, um periódico que alterou o panorama da imprensa desportiva da época, que na altura era liderada pela a revista "Stadium" e que contava também com "os Sports", e "O Norte Desportivo".

Note-se aliás que a entrevista a Cosme Damião que salientamos no texto anterior, foi publicada em "A Bola" apenas um mês após a sua fundação. Por fim, colaborou também e quase até ao fim da sua vida, na secção desportiva do jornal «O Século», onde foi colega de Carlos Rebelo da Silva.


(https://2.bp.blogspot.com/-x1L1mNGt1o0/Vh97o21jmjI/AAAAAAAAa7A/uIyk6Awl5mY/s1600/Global.png)
Fonte: Em Defesa do Benfica



Como se ainda não bastasse, Mário de Oliveira assumiu importantes cargos diretivos nas Federações Portuguesas de Ciclismo e de Natação. Esteve ainda integrado na organização do I Congresso Nacional de Futebol, realizado em Lisboa no ano de 1938, em que se comemorou o 50.º aniversário da introdução do futebol em Portugal.


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Mário de Oliveira em 1946, discursando na Federação Portuguesa de Natação. Fonte: Hemeroteca Lx.



Mário de Oliveira casou aos 52 anos de idade com Zita Paula Gema dos Reis, uma viúva de 43 anos com ascendência familiar de Faro. Depois de uma vida incrivelmente rica e produtiva, faleceu em Lisboa, com 78 anos de idade no dia 25-05-1969, tendo ainda oportunidade de ver as conquistas europeias e o esplendor planetário atingido pelo seu Benfica.


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Notícia do funeral de Mário de Oliveira (fonte: DL) e última fotografia conhecida.[/color



Paz e Honra à memória de Mário Fernando de Oliveira.



Para uma curta biografia de Carlos Rebelo da Silva (1898-1970)


Infelizmente, para Carlos Rebelo da Silva disponho de menos elementos biográficos relativamente aos apresentados para Mário de Oliveira. Por ser devido, salienta-se que alguma dessa informação biográfica foi recolhida de artigos escritos pelo não menos notável cronista do Benfica e do Benfiquismo, que se chama Alberto Miguéns.

Carlos Rebelo da Silva terá nascido em 1898, mas ignoro ainda em que local. Teve um prestigiado embora por vezes atribulado, percurso profissional de várias décadas, ligado ao "mundo dos jornais". Entre outros periódicos, Carlos Rebelo da Silva foi redator desportivo em "O Século" e no "Diário de Notícias" mas é mais recordado pela sua longa atividade no jornal satírico "Os Ridículos".


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Homenagem do "Eco dos Sports" a figuras da imprensa Lisboeta na década de 30. Fonte: delcampe


O jornal satírico "Os Ridículos" (ver: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OsRidiculos/OsRidiculos.htm) foi fundado em 1895, mas ao longo da sua história teve várias séries e algumas descontinuidades. Entre 1933 e (pelo menos) 1953, Carlos Rebelo da Silva foi diretor, editor e proprietário deste periódico, tendo nesse período sido confrontado com uma forte censura prévia, tornando-se aliás um dos títulos de imprensa que mais problemas teve com a censura salazarista.


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"Os Ridículos" era um periódico que não poupava na sátira, tornando-se alvo constante do lápis azul. Fonte Matos e Braga, 2009.


Para lá do humor corrosivo com acutilante alcance político e social, "Os Ridículos" tinha um estilo único desde logo dado pelo traço inconfundível dos desenhos publicados na primeira página. Contava para isso com a colaboração literária de notáveis cronistas e de diversas gerações de desenhadores e caricaturistas de primeira água como Silva Monteiro, Natalino Melchiades, José Pargana, "Alonso", Américo, Stuart Carvalhais e Jorge Colaço.


Aliás, a publicação da "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" só foi possível porque Carlos Rebelo da Silva era proprietário da gráfica do jornal "Os Ridículos", onde os fascículos foram impressos. O objetivo dessa colaboração foi facilitar a burocracia, acesso à tipografia (Carlos Rebelo da Silva era proprietário) e, principalmente, diminuir os custos de uma publicação em fascículos, com distribuição mensal, assinaturas, venda de capas duras para encadernar em dois volumes, entre outras razões.

Carlos Rebelo da Silva entrou para sócio do Sport Lisboa e Benfica ainda na década de 20 tendo dado algumas importantes contribuições ao Clube. Em 1930, durante a primeira presidência de Manuel da Conceição Afonso, integrou a importante Comissão de Estatutos e Regulamentos onde teve como parceiro António Ribeiro dos Reis. Em 1954, Rebelo da Silva ostentava o cartão de sócio com o número 148!


Nessa longa dedicação ao Clube, inevitavelmente no seu percurso profissional, acabou por ter a oportunidade colaborar com o semanário "O Benfica0". Numa primeira fase, a partir de março de 1943 e durante dois anos, foi redator principal de "O Benfica", contribuindo de forma ativa para um período de franco progresso do jornal, traduzido num aumento de tiragem em cerca de 30%.

Ainda assim, em princípio de 1945, Rebelo da Silva acabaria por sair do cargo em aceso litígio com a Direção liderada por Félix Bermudes. Essa saída embora despoletada por incidente circunstancial ligado ao papel do editor do jornal, evoluiu de forma a que fossem acentuadas – em termos públicos - diferenças de visão relativamente à ação da Direção e da situação associativa do Clube. Viviam-se tempos conturbados na vida interna do Clube e Carlos Rebelo da Silva era apenas um dos muitos críticos da gestão do Clube, que reclamavam uma modernização de processos e das infraestruturas do Clube por estas não dignificarem nem acompanharem o crescimento associativo desses anos.


(https://i.postimg.cc/MZCvcv3r/B08.png)
Fonte: Hemeroteca Lx



Entre esses críticos estavam figuras que se revelaram fundamentais para o substancial progresso do Clube na década seguinte, tais como Ferreira Bogalho e Manuel da Conceição Afonso, entre outros. Discutia-se de forma acesa a localização, amplitude e expansibilidade futura do novo parque desportivo. Discutia-se também a organização do Clube, a gestão desportiva competitiva, etc. E assim, não obstante o seu prestígio, reconhecido como uma figura de primeira grandeza da História do Clube, Félix Bermudes perderia as eleições de 1947, saindo muito desgostoso do cargo, tanto que quase abandonou o Clube.

Felizmente acabou por imperar o bom senso. A vontade da maioria impôs-se e mesmo implicando dolorosas cisões, os eleitos pelos sócios colocaram o Clube acima de tudo e todos, trabalhando para o progresso seguro e constante do Clube. Antes como agora, essa mudança ou a continuidade terá de ser definida pelos sócios, assente na discussão interna e na votação livre e democrática. No seu tempo, Carlos Rebelo da Silva contribuiu ativamente para essa agitação e para esse enriquecimento do Clube. Antes como agora essa é uma das mais nobres contribuições que qualquer Benfiquista pode dar ao seu Clube...

Mais tarde, já no início do mandato da Direção de Mário Madeira., Carlos Rebelo da Silva voltaria ao jornal "O Benfica", sendo nomeado diretor, assumindo o cargo em 12-03-1949, e mantendo-se nessas funções durante 4 anos. Quando abandonou o cargo em 28-03-1953, deixou a sua assinatura num total de 212 edições!


(https://i.postimg.cc/dQ2KB3tf/B09.jpg)
Notícia da nomeação de Carlos Rebelo da Silva para diretor de "O Benfica".


Num belo artigo onde expõe a evolução do nosso jornal, Alberto Miguéns escreveu acerca da contribuição de Rebelo da Silva (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/11/sete-e-meio-ii-o-benfica-como-vanguarda.html):


"Com Rebelo da Silva surge a simplificação do nome - de Sport Lisboa e Benfica" para "O Benfica" - e a cor vermelha rubra garrida num cabeçalho simples, mas bem "esgalhado", À Benfica. A primeira (e decisiva) modernidade chegava ao nosso Semanário. Pela mão (cabeça) de um perito na bela arte de bem tipografar e dar leitura a mentes que dela necessitavam. Como do pão para a boca. Na edição que estreou 1950 duas inovações que se mantiveram até à actualidade, ainda que passando por alterações de modernização dessas duas ideias base fundidas numa: O Benfica a vermelho!"


Entre as históricas edições do jornal que Carlos Rebelo da Silva assinou, salientam-se duas, em que se relatavam a conquista da Taça Latina e a da partida para aquela maravilhosa digressão a África.


(https://i.postimg.cc/cJnzLkvz/B10.jpg)
Duas edições históricas do jornal "O Benfica, assinadas pelo diretor Carlos Rebelo da Silva.


Sempre ativo, Rebelo da Silva esteve também na comissão organizadora da grande homenagem Benfiquista ao capitão Francisco Ferreira, que viria a decorrer no dia 3 de Maio de 1949. Como todos sabemos, esse evento ficaria para sempre associado à tragédia de Superga.


(https://i.postimg.cc/tgWrj1fQ/B11.jpg)
Dois aspetos da homenagem a Francisco Ferreira e à equipa do Torino antes e depois da tragédia de Superga. Carlos Rebelo da Silva esteve envolvido nas homenagens. Fonte: Hemeroteca Lx.



Também no exercício da direção do jornal "O Benfica", Carlos Rebelo da Silva organizou um evento de homenagem aos sócios que cumpriam 25 anos de ligação ao Clube.


(https://i.postimg.cc/wTRLPCZn/B12.jpg)
Maio de 1949. Fonte: Hemeroteca Lx.



Mas a ação de Rebelo da Silva no nosso Clube foi bem mais alargada e por vezes com carácter inovador. Ainda em 1945, integrou uma Comissão de Iniciativa e Propaganda, altura em que esteve envolvido na criação e uma casa de repouso para atletas e eventualmente sócios do Sport Lisboa e Benfica

A iniciativa pretendia a construção de uma casa que fosse um prolongamento do Clube, localizada perto de Lisboa, mas em pleno campo. Essa casa estaria vocacionada para receber atletas, visando em particular estágios em vésperas de grandes provas. Ou seja, era uma proposta de um "Seixal" quase 60 anos antes de isso acontecer... Apesar de estarem previstos eventos desportivos e artísticos para angariar fundos, ao que soube, a ideia não se veio a concretizar. Apenas na década seguinte, em 31 de agosto de 1954, viria a ser inaugurado o Lar do jogador, projeto pensado por Otto Glória e o presidente Ferreira Bogalho e que se viria a revelar fundamental para a progressão do nosso futebol. Rebelo da Silva e seus companheiros de projeto, no seu vibrante voluntarismo Benfiquista, estavam à frente do seu tempo.


(https://i.postimg.cc/4y9QTyBH/B13.jpg)
Carlos Rebelo da Silva, um Benfiquista activo! Fonte: Hemeroteca Lx.


Carlos Rebelo da Silva terá falecido em 1970, mas ignoro ainda a data precisa. Não tendo mais elementos biográficos de Carlos Rebelo da Silva, fica aqui o compromisso de complementar a informação agora apresentada com factos relevantes que vier a encontrar.


Paz e Honra à memória de Carlos Rebelo da Silva!





Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 06 de Setembro de 2021, 10:07
(https://pbs.twimg.com/media/E-lw9EQWYAAbXpK?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Setembro de 2021, 13:15
Equipa da meia-final

(https://i.postimg.cc/0N2JV0bK/86577648-1.jpg)



1965

Participants:

Real Zaragoza (Spain)
SL Benfica (Portugal)
CR Flamengo (Brazil)
Real Betis (Spain)

Semifinals [Aug 28]
SL Benfica   2-1 Real Betis
  [1-0 Eusebio 51´, 2-0 Eusebio (p) 59´, 2-1 Ríos 83´]
SL Benfica:   Costa; Pereira, Cavern, Germano, Raúl, Ferreira, Pinto,
              José Augusto, Eusebio, Torres (pedras), Coluna, Simoes.
Real Betis:   Pérez-Estévez; Aparicio, Ríos, Grau, Quino, Montaner,
              Zacarizom, Rogelio, Ansola, Pallarés, Cruz.
Real Zaragoza   3-0 CR Flamengo
  [1-0 Marcelino 65´, 2-0 Enderiz 75´, 3-0 Marcelino 78´]
R. Zaragoza:  Yarza; Cortizo, Santamaría, Reija, Endériz, Violeta, Canario,
              Santos, Marcelino, Villa, Lapetra.
Flamengo:     Waldomiro; Murilho, Diato, Jayme, Jarvar (Walter), Paulo Enrique,
              Pedrinho (Samuel), Amaury, Silva, Evaristo, Fefeu.


Third place match [Aug 29]
CR Flamengo   3-0 Real Betis
  [1-0 Evaristo 11´, 2-0 Amaury, 3-0 Evaristo 85´]
CR Flamengo:  Waldimiro; Murinho (Jarbas), Lui Carlos, Jaime, Nelsinho,
              Paulo Henríquez, Amaury, Fefeu, Evaristo, Silva, Neves.
Real Betis:   P. Estévez; Aparicio, Ríos, Paquito, Quino, Montaner, Cruz,
              Pallarés (Landa), Ansola, Rogelio (Lasa), Zacarizo.


Final [Aug 29]
Real Zaragoza   3-2 SL Benfica
   [1-0 Violeta 4´, 1-1 Torres 11´, 2-1 Santos (p)69´,
    3-1 Villa 77´, 3-2 Eusebio 87´]
R. Zaragoza:  Yarza; Cortizo, Santamaría, Reija, Endériz, Violeta,
              Canario (Encontra), Santos, Marcelino, Villa, Pais.
SL Benfica:   Costa Pereira; Cavem, Germano, Cruz, Calado, Raúl,
              José Augusto, Colunna, Torres, Eusebio, Simoes.

Fonte: http://www.rsssf.com/tablesc/carranza.html#65 (http://www.rsssf.com/tablesc/carranza.html#65)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Çula em 06 de Setembro de 2021, 14:52
Tenho algures aqui por casa uma colecção de fotos relativas a este torneio (várias edições) e tenho quase a certeza que há lá material desta edição de 1965.

Vou ver se encontro e meto aqui algumas delas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: goscinny13 em 08 de Setembro de 2021, 01:42
Grandes pérolas
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Setembro de 2021, 22:03
-275-
Ases com mãos de oiro – parte I

Uma das mais reconhecidas fotografias da História do Sport Lisboa e Benfica:


(https://i.postimg.cc/52m7xvG9/01.jpg)


Os bicampeões europeus posam, eternamente jovens, a celebrar a glória que trouxeram ao maior Clube Português.

Seis décadas passadas, muitos Benfiquistas ainda serão capazes de reconhecer a maioria dos jogadores. Ao contrário, muito poucos serão capazes de reconhecer dois dos homens presentes nesta fotografia.

De pé, entre José Augusto e Germano está José de Sousa Pinho, médico.

Depois, entre Béla Guttmann e José Águas, está Hamilton Marques Pena, massagista.

Dois homens que serviram o Clube de forma dedicada e profissional e que merecem ser reconhecidos pelo seu próprio direito.

O objetivo deste, e dos próximos quatro textos, é usar fotografias do passado para recordar alguns médicos, enfermeiros e/ou massagistas que deram dedicadas e inestimáveis contribuições ao Sport Lisboa e Benfica.

Sem pretensões de ser exaustivo, porque estamos a falar de muitas décadas até porque faltam dados biográficos, e sabendo que muitos outros ficarão por lembrar, os que foram escolhidos serão evocados numa perspetiva de prestação de homenagem a todos os que deram o seu contributo ao Clube nesta área tão importante, apesar de muitas vezes invisível.

Assim se continuará a cumprir um dos objetivos deste tópico, que é ilustrar, divulgar e honrar a memória de Ases que nos honraram o passado.


José de Sousa Pinho
(Décadas 40-60)
(https://i.postimg.cc/ZRvxyyfd/02.jpg)


No seu tempo, o Dr. Pinho foi uma figura extraordinária, distinguindo-se não apenas pelo exercício das suas funções médicas, mas também pela sua grande sociabilidade.

Nasceu em Lisboa em agosto de 1917. Ficou órfão aos 4 meses de idade quando o seu pai foi assassinado durante o movimento revolucionário de 6 de dezembro de 1917. O seu pai era funcionário público, mas tinha funções adstritas ao Ministério da Guerra, e terá estado no local errado durante o movimento que depôs Bernardino Machado, um presidente eleito democraticamente e levou ao poder o major Sidónio Pais. Sidónio seria assassinado, um ano depois, a 14 de dezembro de 1918.

Não sei ao certo quando o Dr. José Pinho começou a colaborar com o Clube, nas tudo aponta para que tenha sido durante a década de 40, uma vez que já o encontramos em plenas funções, integrado na comitiva que fez a célebre digressão a África, no Verão de 1950, logo após a conquista da Taça Latina.


(https://i.postimg.cc/020dmvCc/03.jpg)
Fonte: Em Defesa do Benfica.


Nessa digressão, o Dr. Pinho foi um dos mais animados membros da comitiva, tendo testado não apenas a sua resistência física como também os seus conhecimentos. Nas crónicas publicadas no jornal "O Benfica", o Dr. Pinho foi diversas vezes descrito como um dos mais alegres e comunicativos elementos da comitiva. E muitas vezes aquele que revelava maior apetite...



(https://i.postimg.cc/mkGCzpzv/04.jpg)
Esquerda: excerto uma crónica publicada em "O Benfica" aquando da digressão de África em 1950. Fonte: Em Defesa do Benfica. Direita: aspeto de uma refeição da comitiva tomada em Luanda.


O preço do desgaste provocado por essa longa digressão seria pago na desastrosa temporada desportiva seguinte. Uma temporada que provavelmente foi também muito trabalhosa para a equipa médica do Benfica.

Ao que sei, o Dr. José Pinho não integrou a comitiva Benfiquista que participou na "Taça Charles Miller", disputada no Brasil em 1955, mas em 1957 integrou a comitiva que fez outra grande digressão sul-americana. Nessa, como em muitas outras ocasiões, o Sport Lisboa e Benfica deixou sempre uma imagem inesquecível de grandeza quer do ponto de vista desportivo quer do ponto de vista social.


(https://i.postimg.cc/J4MjRgWJ/05.jpg)
Uma comitiva Benfiquista em 1962.


Mas os momentos mais exaltantes do Dr. José Pinho foram vividos na Europa, e em particular em Berna e Amesterdão. O Dr. Pinho, tal como o seu dedicado assistente Hamilton Pena, esteve presente e ativo nas comitivas que por duas vezes conquistaram a Taça dos Clubes Campeões Europeus.


(https://i.postimg.cc/mkwzcLG9/06.jpg)
A equipa médica integrada na comitiva Benfiquista que estagiou em Spiez, antes da final de Berna.


Sentado no banco, teve a oportunidade de assistir a alguns dos jogos míticos da nossa História. Com que nervos terá assistido a esses jogos, assaltado pelo duplo sobressalto de ao mesmo tempo que via o seu Benfica a competir, ver os seus atletas sempre em risco de se lesionar.


(https://i.postimg.cc/cJnvRMS0/07.jpg)
Durante o jogo, o Dr. Pinho fumando ali ao lado de gigantes Benfiquistas!


Nos balneários e enfermarias, o cuidado meticuloso, o trabalho de equipa com os seus massagistas e enfermeiros. Em particular, trabalhou de perto com Hamilton Pena, de quem falaremos mais à frente neste texto.


(https://i.postimg.cc/hGTGzDLG/08.jpg)
Nas suas mãos e no seu saber estavam as esperanças de milhões!


Para a história daquelas duas finais europeias, ficou também o susto com o ataque cardíaco do presidente nos balneários de Berna e aquela curiosa imagem do Dr. Pinho a cuidar do ursinho "Benfica", que foi oferecido à comitiva Benfiquista pelo jardim Zoológico de Amesterdão. Uma oferta só possível naqueles tempos!


(https://i.postimg.cc/Hsns04wR/09.jpg)
Um susto em Berna e um momento de carinho em Amesterdão.


Foi um tempo de grandes e justas celebrações. Exaltante! À Benfica!



(https://i.postimg.cc/CxfhXh64/10.jpg)
Um dos eventos de festejo dos bicampeões europeus, em maio de 1962.


Desconheço a data da morte do Dr. José Pinho.

Uma vida cheia e que tocou milhões de outras vidas. Paz e honra à memória do Dr. José Pinho.



Hamilton Marques Pena
(Décadas 60-80)
(https://i.postimg.cc/cLDzRwc9/11.jpg)


Hamilton Marques Pena nasceu em 09-07-1927 em Lisboa, na freguesia do Socorro.

Desconheço outros elementos biográficos iniciais, mas sei que em 1952 já tinha a sua especialização de enfermeiro-massagista uma vez que chegou a ter ficha de inscrição individual no Comité Olímpico Português para participar como massagista, na XV Olimpíada de Helsínquia, em 1952. Infelizmente para ele, não terá chegado a participar nos Jogos.


(https://i.postimg.cc/P5rFMrg9/hp-h-ELSINQUIA.jpg)
Fonte: COP


Em 1956 esteve ao serviço da Federação Portuguesa de Futebol, dando apoio à seleção nacional B, inclusive em deslocações ao estrangeiro. Esteve algumas temporadas ao serviço do FC Barreirense, tendo a sua última época sido em 1959-1960.

Tudo indica que tenha sido recrutado pelo Benfica na época de 1960-1961, vindo para substituir Mão de Pilão, o notável massagista brasileiro que o presidente Ferreira Bogalho tinha ido buscar ao CR Vasco da Gama por sugestão de Otto Glória.

Hamilton fez assim uma entrada pela porta grande, ajudando o Benfica a sagrar-se bicampeão europeu nas duas temporadas seguintes e, como todos sabemos, falhando o título de tricampeão provavelmente por causa de uma porrada de Pivatelli em Coluna e de um fora de jogo escandaloso não marcado de Altafini... Nem Hamilton Pena conseguiu remediar aquela agressão não punida nem o árbitro quis ter olhos de ver para cumpri a lei do jogo...

Mas, Coluna foi sempre um alvo preferencial nessas finais. Em Berna pelo que se diz, depois de uma porrada na primeira parte, perdeu por completo a memória do que fez até ao intervalo.


(https://i.postimg.cc/Gt5RgVFN/12.jpg)
Hamilton Pena e o Dr. José Pinho apoiando Coluna durante a final de Berna, 1961


Com uma equipa recheada de tão grandes talentos e que mostravam tanta raça nos jogos, não é de estranhar que Hamilton Pena tivesse muito trabalho em particular no final dos jogos.


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Hamilton Pena tratando das mazelas sofrida por Eusébio, Costa Pereira, José Augusto e Torres.


Ao longo de mais de 3 décadas em que esteve ao serviço do Glorioso, Hamilton viveu muitos momentos inolvidáveis, alguns dramáticos, mas sempre com uma intensidade só possível pela dimensão planetária que o Benfica tinha nesses anos.


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Os festejos da i0nesquecível conquista do torneio Ramón de Carranza, em 1963.


Grandes figuras e momentos de sentida homenagem.


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Hamilton Pena testemunhando a condecoração de José Águas.


A qualidade do seu trabalho era amplamente reconhecida, sendo os seus serviços frequentemente requisitados pela FPF como por exemplo no Mundial de 1966, competição em que Eusébio foi o melhor marcador e claramente o melhor futebolista.


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A equipa médica da seleção nacional de futebol de Portugal que participou no Mundial de 1966.


Integrou um dos grupos mais fortes da História da equipa nacional de futebol.


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Foto de grupo da seleção nacional de futebol de Portugal que participou no Mundial de 1966.


Foram jogos inesquecíveis e com uma recompensa que ficou aquém do merecido.


(https://i.postimg.cc/fkn2bvDy/19.jpg)
Hamilton ao fundo observa o Rei no "seu" Mundial.


Em 1972, também esteve presente na inesquecível participação da seleção portuguesa na Taça Independência do Brasil, também conhecida como Minicopa ou Mundialito. Nada de admirar atendendo que o selecionador era o "nosso" José Augusto e a equipa nacional tinha 12 jogadores do Benfica. E só não foram 13 porque António Simões fraturou um braço pouco antes da partida da equipa para o Brasil! A nossa seleção perdeu apenas no último minuto da final contra o Brasil, bem menos desgastado do que os portugueses. Até à final foram "banhos de bola", como escreveu o grande jornalista Carlos Pinhão!


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A comitiva da seleção nacional que participou no Mundialito no Brasil em 1972.


Hamilton Pena trabalhou com muitos dos melhores treinadores da História do Benfica. Foi um desfile de grandes jogos, grandes vitórias, grandes profissionais, momentos inesquecíveis. Uma vida bem vivida, nos anos mais brilhantes da História do Sport Lisboa e Benfica!



(https://i.postimg.cc/HnXG3nLJ/21.jpg)
Momentos gloriosos


Foram tempos deslumbrantes em que aqueles homens deram novos mundo ao mundo do Benfica!


(https://i.postimg.cc/hPRRvLCV/22.jpg)
Glória aos Gloriosos!


Desconheço a data da sua morte.


Uma vida cheia e que tocou milhões de outras vidas. Paz e honra à memória de Hamilton Marques Pena.






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 11 de Setembro de 2021, 22:26
Li uma vez que o inigulavel José Águas referiu que numa das finais europeias desabafou com o Dr.Pinho por causa da abstinencia a que os jogadores eram obrigados.O saudoso médico disse ao Grande Capitão para tomar um brandy e um café.
Hamilton Pena foi um dos iconicos membros do nosso departamento médico.Muitos Benfiquistas poderão desconhecer mas pertence a uma linhagem de massagistas e enfermeiros onde pontificaram Mão de Pilão,Hamilton Pena,Palhinhas ,José Ramos ou Asteronimo Araujo. Homens que tambem ajudaram e muito a fazer o Grande e verdadeiro Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Setembro de 2021, 09:56
-276-
Ases com mãos de oiro – parte II

Continuando a nossa série de homenagem a profissionais médicos que auxiliaram o nosso Clube, vamos hoje voltar atrás. Bem lá pra trás, até ao primeiro deles todos.


António de Azevedo Meirelles
(Décadas 00-10)
(https://i.postimg.cc/DZtQqMK2/01.jpg)


Fonte: HSLB 1904-1954.


Médico ilustre, nasceu em 1858, no Porto, cidade onde estudou e se formou em medicina. Veio depois para Belém onde prestou serviço na Farmácia Franco, uma instituição que, no seu tempo, ia muito para lá da venda de medicamentos, sendo também um local de prestação de cuidados médicos de tertúlia e até de intriga política.

O prestígio granjeado pela sua ação e conhecimentos, levou o Dr. Meirelles ser nomeado médico da Casa Real Portuguesa. Ao mesmo tempo revelou-se também um pioneiro entusiasta do "football", mas que, por já ser quarentão nesses anos da fundação do Sport Lisboa, e por isso não podendo jogar futebol, ia contribuindo com o seu conhecimento e generosidade, dando inestimável apoio médico e financeiro aos nossos primeiros jogadores.

Para a História, ficou registado o dramático momento em que o nosso jogador António Couto partiu uma perna durante um jogo, no dia 03-03-1907. Couto em grande sofrimento, foi retirado de campo em maca para lhe serem prestados os primeiros socorros. Ao seu lado estava o dedicado Dr. Meirelles. Apesar da veterania, Couto iria recuperar e voltar a jogar futebol... no Sporting!

Em 1908, o Dr. Meireles era o sócio nº 1 do Sport Lisboa e com estatuto de sócio protetor, ou seja, com mais elevada quotização. Nesse ano, o seu nome encabeçaria uma lista dos 54 sócios que se juntaram ao Grupo Sport Benfica, mostrando que o bom doutor continuava comprometido com o Clube mesmo depois da mudança de Belém para Benfica.

Muito mais informação sobre o Dr. Meireles pode ser lida num texto publicado neste tópico em janeiro de 2019 (ver: -224- A ilustre Casa do Dr. Meireles; p. 55).


Paz e honra à memória do Dr. António de Azevedo Meirelles,


Dionísio Hipólito
(Décadas 20-40)
(https://i.postimg.cc/j5z2Fg7q/02.png)
 


Dionísio Hipólito nasceu no dia 30-08-1892, em Lisboa, na freguesia de Santa Catarina, numa casa na Rua do Vale, muito perto da Calçada do Combro. Também conhecido por Dionísio Júnior, uma vez que tinha o mesmo nome de seu pai, um militar de carreira, o pequeno Dionísio herdou o apelido Hipólito da sua mãe, uma senhora natural de Reguengo Grande, concelho da Lourinhã.

Aos 25 anos, já casado, Dionísio foi mobilizado para combater na I Guerra Mundial, tendo integrado o CEP com a patente de 2º sargento miliciano. Embarcou para França em finais de maio de 1917, tendo sido ferido em combate pela primeira vez, em julho de 1917.

Recuperado, voltaria à linha da frente, para no dia 9 de abril de 1918 ser gravemente ferido durante a mortífera batalha de La Lys. Sobreviveu, mas ficou com graves mazelas para a vida inteira.

Em julho desse ano foi evacuado por via terrestre para Portugal, tendo sido declarado inválido de guerra e desmobilizado em janeiro de 1919. Foi reformado por invalidez, com incapacidade de 30%, por sofrer de rigidez da articulação tíbio-társica esquerda com atrofia dos músculos da perna.

Não obstante essas limitações físicas, Dionísio exerceu o cargo de massagista durante as três décadas seguintes. Foi uma grande dedicação ao nosso Clube. Pelas suas mãos passaram centenas de atletas das mais diversas modalidades, tendo, no entanto, dado maior contribuição ao futebol e ao ciclismo, trabalhando em diversas voltas a Portugal em bicicleta.


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Equipa do SL Benfica que jogou no campo das Amoreiras com o FC Barcelona, no dia 27-03-1932.



No Benfica, para além das funções de massagista, Dionísio desempenhou também o cargo de Diretor de Campo das Amoreiras na temporada de 1929-1930, conforme consta do Relatório de Contas desse ano. É provável que a sua dedicação e competência tenha sido aproveitada em muitas outras funções, em benefício do Clube.


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Dionísio Hipólito. À esquerda, o lado de José Simões, antigo jogador e na altura diretor do Clube, aquando da digressão do SLB à Madeira em 1936. Em baixo: cargo desempenhado durante a temporada 1929-1930.



O prestígio acumulado no exercício destas funções, levou a que os seus serviços fossem requisitados também pela seleção nacional portuguesa, ainda na década de 30, num tempo em que esta foi orientada por mestre Cândido de Oliveira. Com a Seleção viajou para França, Itália, Suíça, Espanha e Alemanha, entre outros locais.


(https://i.postimg.cc/dQ6tZTRf/05.jpg)
Abril de 1938, na estação do Rossio a seleção portuguesa de partida para a Alemanha. Fonte: Hemeroteca Çx



Nas suas memórias, Peyroteo conta uma história curiosa que envolve Dionísio Hipólito. Em maio de 1938, a seleção portuguesa foi fazer a Milão contra a Suíça para o acesso ao Mundial desse ano. Acontece que no próprio dia de um jogo, Peyroteo e os Benfiquistas Espírito Santo e Dionísio Hipólito, saíram sorrateiramente do hotel para poderem visitar os bastidores do Scala de Milão.... Estavam conluiados com o selecionador Cândido de Oliveira, que por razões disciplinares não podia dar autorização direta embora ele próprio também tivesse vontade de ir... Ao que parece, na noite anterior, a maioria dos jogadores tinha vetado a ida a uma sessão de ópera e antes escolhido ir a uma sessão de cinema para ver um filme com uma "bomba sexy" americana! Não podia haver exceções, mas lá se arranjou uma saída clandestina do estágio! Devem ter sido mais do que muitas, as histórias desses tempos!


(https://i.postimg.cc/cHmZ3V33/06.jpg)
Dionísio Hipólito em vários momentos da sua passagem pela seleção nacional portuguesa de futebol.



Dionísio Hipólito faleceu subitamente em 14-08-1949, vítima de uma lesão cardíaca, aparentemente agravada pelo frio. Faleceu na sua vivenda situada em Algueirão Novo, Mem Martins, Sintra embora quando residia em Lisboa, ocupasse uma casa na Rua do Sol à Santa Catarina, muito perto da rua onde tinha nascido, 57 anos antes. Deixou viúva e dois filhos maiores de idade.


(https://i.postimg.cc/Wp5T1cTL/07.jpg)
Notícia do funeral de Dionísio Hipólito no DL do dia 16-08-1949.



Paz e honra à alma de Dionísio Hipólito.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 12 de Setembro de 2021, 19:14
Red VC
Muito obrigado por aqui colocares verdadeiras pérolas da nossa Gloriosa História.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 12 de Setembro de 2021, 19:18
Albino,Valadas,Gaspar Pinto,Vitor Silva,Gustavo Teixeira,Espirito Santo.Grandes atletas que vestiram o Manto Sagrado e que raramente são recordados ou mencionados.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Setembro de 2021, 19:27
Citação de: Alexandre1976 em 12 de Setembro de 2021, 19:18
Albino,Valadas,Gaspar Pinto,Vitor Silva,Gustavo Teixeira,Espirito Santo.Grandes atletas que vestiram o Manto Sagrado e que raramente são recordados ou mencionados.


Sim.

O esquecimento é ingratidão. O desconhecimento é desleixo.
Ambos... é falta de Benfiquismo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 13 de Setembro de 2021, 22:12
(https://pbs.twimg.com/media/E_LlShVWYAIEGk5?format=png&name=900x900)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ginkgo em 14 de Setembro de 2021, 11:53
Citação de: Baron_Davis em 13 de Setembro de 2021, 22:12
(https://pbs.twimg.com/media/E_LlShVWYAIEGk5?format=png&name=900x900)
Espectacular!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Far(away) em 14 de Setembro de 2021, 16:21
Muito obrigado RedVC pelo inestimável contributo para o conhecimento da história do nosso clube. Leio os teus textos com alegria e curiosidade. Um bem haja amigo e Deus te pague
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: ripas em 14 de Setembro de 2021, 17:23
Citação de: RedVC em 17 de Agosto de 2021, 22:00
-272-
Mistérios do Football Club

Belém, 1903, uma equipa trajando de branco alinha para uma câmara fotográfica:


(https://i.postimg.cc/9fdvv3mW/01.jpg)



Apesar da sua fraca qualidade gráfica, trata-se de uma fotografia de valor inestimável para a História do Sport Lisboa e Benfica.

Nela estão presentes 7 dos 24 fundadores do nosso Clube. Reconhecendo esse facto, Mário de Oliveira e Rebelo da Silva publicaram esta fotografia na página 8 do primeiro fascículo da sua monumental obra, "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954", a fonte decisiva para sabermos detalhes da História inicial do nosso Clube.


O Football Clube, foi o grupo que em 1903 constituiu o embrião do Sport Lisboa, clube fundado em 28 de fevereiro de 1904. Foi um grupo organizado de rapazes que moravam em Belém e que se juntaram para a prática do futebol. Também conhecidos por Belém Football Club ou Grupo dos Catataus, teve existência efémera, competindo informalmente contra outros grupos que se iam formando e desfazendo pelas imediações.


Belém, no início do século XX.


Durante o ano de 1903, a populosa e buliçosa Belém tinha deixado já há alguns anos de ser sede de um concelho, mas continuava a ser uma vigorosa localidade e, em particular para o nosso interesse, um dos palcos lisboetas do recrudescimento no interesse do futebol em Lisboa.

Na transição do século XIX para o século XX, a prática da modalidade tinha sofrido uma acentuada redução depois da questão do "Ultimato Inglês" e da perda dos terrenos usáveis para a prática do futebol, perto do Campo Pequeno, por via da edificação da grande praça de touros.

Belém foi então um dos palcos do recrudescimento do interesse no futebol. Mais do que noutro local, ali ocorreu a democratização do futebol, deixando de ser um exclusivo da juventude das classes mais favorecidas. Em Belém, existia muita gente jovem e muitos terrenos livres aproveitáveis para improvisar campos de futebol. Numerosos grupos de jovens, de composição mais ou menos fluida, iam praticando e com isso propagando o interesse pela modalidade. Esses grupos tinham muitas vezes a sua base em amizades vindas de bairros, escolas ou grupos familiares, mas integravam também elementos mais velhos, alguns trintões da primeira geração de praticantes, ativos no século anterior.


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Alguns locais e aspetos sociais da Belém, no início do século XX. Fonte: AML.


Há uma tradição – errada – de atribuir a fundação do nosso Clube a um conjunto de miúdos pobres, órfãos casapianos unidos pela camaradagem e pelo prazer de praticar o jogo. A história fantasiosa dos "pés descalços".

Sendo inegável, prestigiante e fundamental para a matriz dos primeiros anos do nosso Clube, a componente casapiana não foi ainda assim a base da fundação do Sport Lisboa.

Entre os nossos 24 fundadores, temos apenas dois, Cosme Damião e Augusto Jorge de Sousa, que sabemos terem sido alunos casapianos. Outros, como Abílio Meireles, Eduardo Corga e Henrique Teixeira, tinham familiares ligados à Casa Pia mas, tanto quanto se sabe, não integraram o internato casapiano.

Assim sendo, é na juventude de Belém, em boa parte abastada ou remediada, que encontramos a maioria dos 24 fundadores do Sport Lisboa. Uma boa parte deles estavam já no Football Club e foram descritos nas diversas camadas de jogadores que Daniel dos Santos Brito, um desses fundadores, mais tarde evocou.

Sabemos que o Football Club estava organizado pois embora aparentemente não tenham sobrevivido listas de sócios ou (eventuais) regulamentos, existiu quotização de sócios. Aliás nos primeiros meses do Sport Lisboa as quotas impressas do Football Club ainda foram usadas para conveniência do Sport Lisboa. Subsistiram também documentos oficiais em que ainda se fazia menção ao grupo antigo.


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Em março de 1903, já depois da transição do Football Club para o Sport Lisboa, foi emitido a fatura da compra de uma bola usada aos ingleses do Lisbon Cricket Club. Assinado por José Rosa Rodrigues, o presidente do Sport Lisboa.



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Quotas do Belém Football Club e do Sport Lisboa. Assinadas por Daniel Santos Brito, secretário e Manuel Gourlade, tesoureiro. Foram cedidas na década de 60 por Cândido Rosa Rodrigues à Revista Flama.




Os homens


Apesar de no Football Club terem jogado mais elementos, vamos centrar atenções nos 11 rapazes presentes na fotografia, dando notas biográficas resumidas, sempre que possível para cada um deles.


José da Cruz Viegas tinha apenas 22 anos em 1903. Nasceu em Belém, mas era filho de algarvios de Olhão. Terá estudado na Casa Pia, financiado por uma bolsa de estudo. Foi militar de carreira, prisioneiro da I Guerra Mundial no campo de Bergen, tendo deixando relatos escritos impressivos dessa sua experiência. Manteve sempre interesse e atividade no futebol, promovendo alguns desafios de futebol entre seleções militares, iniciativa que ia colmatando à época, a inexistência de jogos internacionais. Apenas por um acaso do destino, José da Cruz Viegas não foi um dos fundadores do Sport Lisboa, mas isso não impediu que se tornasse um elemento decisivo nesses primeiros anos e em particular na definição das cores do Clube. É a ele que devemos o nosso "vermelho e branco"!


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Foi do acervo pessoal de José da Cruz Viegas que vieram algumas raras e reveladoras fotografias desses anos pioneiros do futebol, entre as quais esta única fotografia do Football Club. Esse acervo foi fundamental para que Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva tenham escrito e ilustrado os primeiros capítulos da monumental obra "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".


Os irmãos Rosa Rodrigues, também conhecidos por irmãos Catatau, tinham raízes familiares em Almada e em Lisboa. Os manos lideraram quer o Football Club quer depois o Sport Lisboa, Em 1903, Cândido e António tinham respetivamente, 18 e 17 anos de idade. Na fotografia do Football Club aparecem-nos como avançados.

O seu irmão mais velho, José, tinha 19 anos de idade e apesar de não constar da fotografia, esteve também muito comprometido com os dois grupos. No ano seguinte, José Rosa Rodrigues tornar-se-ia no primeiro presidente do Sport Lisboa, tendo sido eleito pelos restantes 23 fundadores.

Os três irmãos Catatau eram, juntamente com mais uma irmã e um irmão mais novos, os filhos de Cândido Rodrigues, um abastado armador, empresário do sector pesqueiro, com concessões de pesca em diversos portos do centro e sul de Portugal.

Os Catataus eram os donos da bola e principais promotores das míticas futeboladas no pátio da Farmácia Franco, edifício aliás onde moravam à época, no apartamento do 1º direito. Em maio de 1907, Cândido e António decidiram desertar para o SCP, clube onde assumiram uma fugaz preponderância competitiva. Mais tarde, também José se juntaria aos manos no clube verde e branco.

Infelizmente, José e António teriam vidas curtas. Ao invés, Cândido viveria uma vida longa, tendo por algumas vezes defendido que o Sport Lisboa foi extinto em maio de 1907. Todos têm direito à sua verdade apesar de todas as evidências mostrarem o contrário...


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Daniel dos Santos Brito tinha 20 anos de idade em 1903. Com raízes familiares em Torres Vedras e Lisboa, foi por longos anos um dedicado funcionário da Farmácia Franco. Assumiu o cargo de secretário das primeiras Direções do nosso Clube. Na fotografia do Football Club aparece-nos como médio à esquerda. Teve uma vida longa tendo fornecido informações fundamentais para conhecermos mais sobre os anos pioneiros do nosso Clube.


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Manuel Gourlade, em 1903 tinha 31 anos de idade. Nascido numa família com origens francesas e com alguma visibilidade social, teve uma educação esmerada para a época, sendo, ao que tudo indica, fluente em inglês e francês. Contabilista na Farmácia Franco, foi o grande organizador e entusiasta quer do Football Club quer do Sport Lisboa, do qual foi fundador. Na fotografia do Football Club aparece-nos como defesa à esquerda mas existe uma outra em que nos aparece como guarda-redes.

Profundo conhecedor das regras do futebol, as quais mandou traduzir do original inglês, com participação também de Duarte José Duarte, Gourlade veio a assumir o que hoje poderíamos definir como as funções de treinador nos primeiros anos, até à mudança do Clube de Belém para Benfica. É uma das figuras maiores da nossa História.


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Depois temos três elementos dos quais não abundam informações: Duarte José Duarte, Armando Macedo e Eduardo Afra Jorge da Costa. Do primeiro sabemos que era telegrafista e que era natural e criado em Belém onde tinha irmãos. Dos restantes sabemos que jogaram em equipas das categorias secundárias do Sport Lisboa e basicamente mais nada. Esse desconhecimento é uma lacuna importante no nosso conhecimento tanto mais que o último foi também fundador do Sport Lisboa. Dois mistérios que persistem por desvendar.


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Raul Júlio Empis, foi também ele um fundador do Sport Lisboa. Nasceu no dia 28 de fevereiro de 1887, ou seja, Raul Empis celebrou o seu 17º aniversário no dia da fundação do Sport Lisboa... Na fotografia do Football Club aparece-nos como avançado, lugar aliás onde jogou no primeiro jogo conhecido, disputado em 1-01-1905, opondo do nosso Clube contra um adversário organizado.

A família Empis tinha raízes Belgas, nomeadamente de Antuérpia e o seu pai era um abastado empresário, sócio em múltiplos negócios do poderoso banqueiro e empresário Henri Burnay, ao qual aliás estava ligado por laços familiares (foi casado com uma Senhora da família Burnay antes de casar com a mãe de Raul). Raul cresceu com os irmãos no Palácio Burnay situado na Rua da Junqueira. Era tudo menos um pé descalço...


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Carlos França tinha 17 anos de idade em 1903. Os Oliveira França tinham raízes no Seixal e em Belém. Na fotografia do Football Club é muito provavelmente Carlos França que está presente como médio centro, uma vez que não existe evidência que Manoel França, o seu irmão dois anos mais velho, alguma vez tenha praticado futebol. No entanto nota-se a curiosidade de que a legenda original da fotografia apenas refere "França".

Ambos os irmãos França vieram a ser fundadores do Sport Lisboa, mas Manoel faleceu em 1908 tendo sido muito provavelmente o primeiro dos 24 fundadores a desaparecer. Carlos França foi um destacado membro das nossas equipas de futebol durante a primeira década da nossa História. Na fotografia do Football Club aparece-nos como médio centro, um lugar destacado na equipa, o que revela que lhe eram reconhecidas virtudes futebolísticas. No entanto, parece ter jogado mais vezes a extremo esquerdo. Na fase final da sua carreira desportiva jogou com frequência nas categorias inferiores onde transmitia a sua experiência e a Mística do Clube. Teve uma vida curta, falecendo em 1930 com apenas 44 anos de idade.


(https://i.postimg.cc/SRM57HvF/11.jpg)


Resta-nos falar de um homem que na fotografia nos aparece como guarda-redes. Segundo a legenda era identificado como Galeano. Quem seria?

Durante alguns anos, a minha interpretação foi que esse homem tinha parecenças fisionómicas acentuadas com... José Rosa Rodrigues! E de facto é sabido que José Rosa Rodrigues jogou algumas vezes a guarda-redes embora a sua polivalência também o levasse a jogar como avançado e defesa...


(https://i.postimg.cc/43xSFYS1/12.jpg)


Seria "Galeano" uma alcunha dada a José Rosa Rodrigues, o mais velho dos manos Catatau?

Apenas recentemente com a localização de um registo, passei a dispor de indícios que apontam que se se tratavam de dois homens distintos. De José Rosa Rodrigues falamos atrás, restava esclarecer quem foi "Galeano".


Os indícios que recolhi proveem de três fontes. Em primeiro lugar, através de um registo de casamento (https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=5931659 (https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=5931659)) revelou-se que em 28 de setembro de 1908, na Igreja paroquial de Santa Maria de Belém, casaram João Velasco Galiano e Augusta Carolina Ferreira de Matos. O noivo não esteve presente, nomeando um procurador para o representar. Segundo esse registo de casamento, João Velasco Galliano tinha na altura 30 anos de idade e era natural da cidade de Luanda, Angola, localidade onde provavelmente residia. João era filho ilegítimo de Euzébio Velasco Galliano e de Mariana João.

Esta família Galiano parece ter tido origem italiana e passagem pelo Brasil para depois se radicar em Angola. Euzébio seria muito provavelmente um jornalista que no final do século XIX foi também Diretor do jornal Angolense.

O segundo indício revelador veio de um Almanaque comercial em que nos aparece a informação de que João Velasco Galiano era farmacêutico e que em 1907 exercia atividade em Belém na morada onde estava situada a... Farmácia Franco!


(https://i.postimg.cc/mDc6B0Rz/13.jpg)
Almanaque Palhares, 1907, pág. 159.



O terceiro indício provém do Centro de Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos, em que num livro de sócios se confirma que João Velasco Galiano era sócio correspondente da Ordem, com atividade em Luanda. A sua entrada na Ordem foi proposta por António Manuel Augusto Mendes, que tudo indica era o "velhote" Mendes de quem falava Daniel Santos Brito, numa das suas memórias dos gloriosos dias das futeboladas no pátio da Farmácia Franco.


(https://i.postimg.cc/c1n5jyXP/14.jpg)
Fonte: Ordem dos Farmacêuticos.



A conclusão que retiro destes elementos é de que João Velasco Galiano foi quase de certeza o guarda-redes do Belém Football Club, imortalizado na fotografia com que iniciamos o texto. Estaria a cumprir um estágio de aprendizagem na prestigiada Farmácia Franco e terá sido contagiado pela febre do futebol. Esteve no local certo à hora certa. Não foi caso único, mas isso são coisas para falar num outro dia.





Muito bom. Obrigado .
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Harlem em 14 de Setembro de 2021, 17:26
Tópico maravilhoso!  :bow2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Setembro de 2021, 19:03
Obrigado a todos os que têm mostrado apreço por estes textos.

Temos a felicidade de que, quanto mais conhecemos a História do nosso Clube, mais o amamos e mais certeza temos da grandeza do seu futuro.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Setembro de 2021, 20:27
-277-
Ases com mãos de oiro – parte III


Continuando a nossa série de homenagem a profissionais médicos que auxiliaram o nosso Clube, vamos hoje falar de Arthur John, seguindo depois para Angelino Fontes e finalizaremos com uma evocação gráfica de Hugo Correia.



Arthur John
(Décadas 20-30)
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Arthur Frank John nasceu no dia 02-07-1898, na cidade de Most, nos sudetas, uma região da antiga Boémia, hoje parte da República Checa e da Alemanha. Figura curiosa embora relativamente fugaz no nosso Clube, Arthur John tinha a rara capacidade de reunir competências de professor de educação física, massagista e treinador de futebol, isto tudo para além de ter sido um antigo árbitro de futebol!

Chegou a Setúbal como emigrante, por volta de 1924, para jogar e treinar a equipa principal de futebol do Vitória FC. Em menos de uma década conquistou títulos de futebol dos campeonatos regionais de Lisboa e Setúbal pelo VFC. O seu trabalho foi notado e em 1926 prestou serviços como preparador físico à seleção nacional de Portugal.


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Seleção portuguesa de futebol que disputou um jogo de preparação contra a seleção francesa, em Toulouse, 18 abril de 1926.


Mas, naquilo que mais nos interessa, Arthur John foi recrutado para o Benfica e conquistaria um Campeonato de Portugal (a prova antecessora da atual Taça de Portugal) na temporada de 1929-1930. Foi o nosso primeiro título a nível nacional.

Nessa época, o capitão-geral do Clube, António Ribeiro dos Reis estava impedido de orientar o futebol principal SLB por motivos profissionais (militar de carreira). Houve que procurar uma solução externa e essa recaiu num treinador estrangeiro, mas que já estava adaptado ao nosso país e futebol. e que tinha um trajeto ganhador no Vitória Futebol Clube.

O regresso de Ribeiro dos Reis ao cargo de capitão-geral (gestão de todo o futebol do Clube) implicou a saída de Arthur John do cargo ligado ao futebol principal.

Ainda assim, a escolha de Arthur John por ser tão bem-sucedida, foi importante não apenas pela conquista do campeonato, mas também por contribuir para a progressiva eliminação de alguns vícios individuais e coletivos. Abriria também caminho para que outros estrangeiros, ao longo das décadas seguintes, tivessem aceitação e sucesso. Daí a alguns anos viria Lipót Hertzka, depois János Biri, todos do leste da Europa, zona onde se jogava um futebol evoluído e de grande recorte técnico.

No Benfica, Arthur John deu igualmente a sua contribuição profissional ao futebol juvenil e a outras modalidades do nosso Clube, em particular ao râguebi, onde aliás contactou com outro dos nossos pioneiros médicos: o futuro massagista Angelino Fontes.


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Fonte: HSLB 1904-1954


Em 1931, Arhur John saiu do Clube, dando seguimento à sua carreira em outros clubes da região de Lisboa. Homem de grande cultura, fez também atividade profissional como chefe de secção nos escritórios da CUF. Mais detalhes sobre Arthur John podem ser lidos neste tópico (ver: -223- Dos Sudetas às Amoreiras (parte I): o caminho para o Sado, pág. 55).


Paz e honra à memória de Arthur John.



Angelino Fontes
(Décadas 30-50)
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Angelino Fontes nasceu em Lisboa, no bairro da Estefânia, no dia 27-03-1907. Foi sócio de pequenos clubes do seu bairro como o Linhares e o Estefânia, mas desde cedo entrou para associado do Benfica pois em 1946 ostentava o número 162 no seu cartão de sócio.

Nos seus primeiros anos. Angelino foi companheiro de "futeboladas" de rapazes que mais tarde se distinguiriam no futebol lisboeta, entre eles Jaime Cadete, que veio a ser jogador do Sporting CP mudando depois para o SL Benfica em 1914. A rapaziada, maioritariamente sportinguista, reunia-se na tabacaria que era propriedade de Jorge Cadete, pai de Jaime Cadete, ambos toureiros e de quem aqui falamos há vários anos atrás (ver texto: -15- Futebol e touros, pág.4).

Angelino e os seus companheiros jogavam então no antigo campo de aviação de Lisboa, local onde está hoje situado o Hospital Júlio de Matos. Curiosamente esse era também o local para onde o Benfica esteve para construir o seu parque desportivo, mas que foi inviabilizado por via da insatisfação da maioria dos sócios, processo que nos acabaria por levar para... Benfica! Mas, facto é que Angelino Fontes parece não ter tido particular talento para o futebol, acabando por preferir o râguebi!

E de facto, foi atleta de râguebi do nosso Clube durante 12 anos, tendo no seu último ano trabalhado com Arhur John. Em 1931, findo o seu tempo de atleta, frequentou e disso tirou bom partido, um curso de massagista desportivo, lecionado por Dionísio Hipólito. Tirou disso bom proveito, distinguindo-se que este último o convidou para seu ajudante, continuando assim a servir o Clube. Alguns anos mais tarde, com as limitações e a passagem de Dionísio Hipólito para a seleção nacional, Angelino tornou-se massagista principal do nosso futebol, dando também apoio a outras modalidades.


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Manuel de Oliveira sai de campo amparado por Angelino Fontes e pelo guarda-redes suplante Francisco Costa. Jogo disputado no campo das Amoreiras, no dia 26-12-1933, e que acabou SL Benfica 1 -  First Vienna 1.



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Registos fotográficos da atividade de Angelino Fontes.



No campo e no balneário, foi sempre de uma dedicação inexcedível. Os seus serviços vieram também a ser requisitados pela Federação Portuguesa de Futebol e pela União Velocipédica de Portugal, tendo trabalhado em múltiplas voltas a Portugal em bicicleta. E percebe-se que seria pau para toda a obra, dando apoio às modalidades, inclusive ao "seu" râguebi.


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Dia 30-08-1934, Braga; durante a 5ª volta a Portugal em bicicleta, Luís Augusto Lopes (treinador) a distribuir peras a José Maria Nicolau. Ao meio identifica-se Angelino Fontes (massagista). Fonte: TT



(https://i.postimg.cc/1Rkd1r91/08.jpg)
Dia 23-08-1934, durante a 5ª volta a Portugal em bicicleta, José Maria Nicolau rodeado de Benfiquistas. Distinguem-se: Luís Augusto Lopes (treinador) e Angelino Fontes (massagista). Nicolau conquistaria a prova e a equipa do SL Benfica venceria a classificação por equipas. Fonte: TT


Angelino Fontes colaborou com o Clube durante mais de duas décadas, acorrendo a muitos jogos, passando por diversas experiências, algumas bem negativas, que chegaram até a envolver violência por parte de assistências hostis e agressivas.


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Joaquim Teixeira e Cavém, dois craques ajudados pelo massagista Angelino. Fonte: Hemeroteca Lx



Era também um homem plenamente consciente das virtudes e das limitações da sua profissão e a esse propósito atente-se nas suas palavras que salientam aspetos que na altura eram relativa novidade e que hoje, de tão relevantes, damos por adquiridos.


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Angelino Fontes entrevistado em 1946. Fonte: Hemeroteca Lx


Para lá dos numerosos títulos de campeão e da conquista da Taça Latina, talvez a experiência mais exaltante tenha sido quando integrou a comitiva Benfiquista que, em meados de 1955, liderada por Ferreira Bogalho e por Otto Glória, participou no célebre torneio de futebol "Taça Charles Miller". Aliás, dessa aventura tive já o prazer de falar de forma extensiva (ver os 11 textos: -118 a 128 - Taça Charles Miller '55 partes I a XI; pág.32 e 33).


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Angelino Fontes aquando da participação do Sport Lisboa e Benfica no Torneio Charles Miller, 1955. Fonte: APS-P



Angelino Fontes trabalhou depois lado a lado com Mão de Pilão", um extraordinário massagista brasileiro de quem falaremos no próximo texto e cuja vinda para Portugal trouxe novos conhecimentos para o nosso Clube. Angelino continuou a colaborar com o Clube pelo menos até à década de 60. Desconheço a data da sua morte.


Paz e honra à memória de Angelino Fontes.



Hugo Correia
(Décadas 40-50)
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Infelizmente, não disponho de elementos biográficos para Hugo Correia, mas as fotografias que aqui se publicam ilustram a sua passagem pelo Sport Lisboa e Benfica.

Destaque especial para a sua presença na comitiva que fez a célebre digressão a África, no Verão de 1950, logo após a conquista da Taça Latina. Falaremos mais dessa comitiva no próximo texto.


(https://i.postimg.cc/Y9w4wPym/13.jpg)
Campeões nacionais de 1949-1950


(https://i.postimg.cc/T1thg32r/14.jpg)
Preparando o prolongamento da final da Taça Latina.



(https://i.postimg.cc/2jG1P2dV/15.jpg)
Dois tempos em que Hugo Correia assistiu um infortunado José Águas.



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Hugo Correia assistindo José da Costa com a ajuda do ilustre massagista sportinguista, Manuel Marques. Solidariedade médica acima de tudo.



Paz e honra à memória de Hugo Correia.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Setembro de 2021, 20:55
-278-
Ases com mãos de oiro – parte IV


O texto de hoje começa com a lembrança de um brasileiro que passou pelo nosso Clube durante uns 5-6 anos, e que deixou marca impressiva do ponto de vista profissional e humano.



Aurelino Ferreira Rodrigues "Mão de Pilão"
(Década 50)
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Aurelino Ferreira Rodrigues, mais conhecido no mundo do futebol como "Mão de Pilão", foi uma figura exótica do nosso futebol, e de quem já por aqui falamos, de forma extensa (ver textos: -129 e 130- O "caramujo" do futebol. pág.34).

Nasceu em 1925, em São Salvador da Bahia, tendo feito uma carreira de boxeur, modalidade onde foi campeão sul-americano. A peculiar alcunha veio desses tempos de boxe.... Terminado o boxe, foi depois aluno e assistente do massagista Mário Américo, figura mítica do CR Vasco da Gama e da Seleção Brasileira de futebol (participou em 7 mundiais!).

Nesses tempos de CR Vasco da Gama, Mão de Pilão trabalhou de perto com Otto Glória que na altura era treinador adjunto de Flávio Costa, outro renomado treinador brasileiro, que chegou a treinar o FCP.


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Dois tempos da carreira brasileira de Mão de Pilão. i) Vasco da Gama, campeão carioca de 1949; ii) apoio à seleção brasileira que jogou um particular em Lisboa em 08-04-1956, vencendo por 1-0.


E seria Otto Glória, contratado no ano anterior, que influenciaria o presidente Ferreira Bogalho a contrata-lo para o Benfica, em finais de 1955. Ao que parece Mário Américo era a primeira escolha de Otto mas Mão de Pilão revelou-se igualmente uma escolha certeira.

Também o FCP terá mostrado interesse nesta contratação, a que não era alheio o clube nortenho ser treinado na altura por outro treinador brasileiro.

O objetivo da contratação de Mão de Pilão era melhorar a capacidade interna de diagnóstico médico e de tratamento de lesões, assim como da recuperação muscular dos atletas. Mão de Pilão trazia com ele o conhecimento prático mais avançado da época, obtido num meio futebolístico de que estava na vanguarda mundial da época.

No Benfica, Mão de Pilão aplicou os seus conhecimentos, trabalhando com o Dr. José Pinho e com os massagistas Angelino Fontes e José Ramos, com quem terá certamente partilhado numerosos conhecimentos.


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O plantel de 1955-1956, posa no Campo-Grande.



Os jogadores Benfiquistas da época referiam-se a Mão de Pilão com carinho e admiração, não apenas pelo bom ambiente que o brasileiro estimulava, mas acima de tudo pelas suas extraordinárias capacidades de diagnóstico e de recuperação de maleitas. Francisco Palmeiro a propósito da estreia do SL Benfica nas competições Europeias em 1957 contra o Sevilha, recordava: "A viagem serviu para descontrair. Havia um massagista brasileiro, com alcunha de Mão de Pilão, que contava anedotas". Outro jogador, Palmeiro Antunes, lembrava: "Mão de Pilão foi um dos maiores massagistas que até hoje passou por Portugal. Uma coisa fantástica. Era um Senhor a mexer nas pernas das pessoas. A recuperar lesões."


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Os dois últimos anos da passagem de Mão de Pilão pelo SLB.


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Bom convívio e trabalho intenso. Alguns dos momentos da passagem de Mão de Pilão pelo SLB,



Mão de Pilão não passava despercebido em lado nenhum e gozava de grande popularidade não apenas nas hostes benfiquistas, mas nos adversários. Por exemplo, nessa altura a Académica tinha um massagista, chamado Guilherme Luís que, por ter uma constituição física algo oposta à do corpulento "Mão de Pilão", passou a ser alcunhado pelos seus camaradas academistas por... "Mão de pilinha"!

Ao permanecer cerca de 6 anos ao serviço do Benfica, Mão de Pilão acompanhou grande parte da primeira passagem de Otto Glória pelo Clube e esteve ainda ao serviço do Clube no primeiro ano de Béla Guttmann no Benfica. Saiu depois, para abrir um ginásio comercial na zona das Avenidas Novas, em Lisboa, local onde aplicava o seu conhecimento para benefício do público em geral e onde auferia bom dinheiro.


Paz e honra à memória de Aurelino Ferreira Rodrigues, "Mão de Pilão"




José do Nascimento Ramos
(Décadas 50-80)
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José do Nascimento Ramos iniciou funções no Sport Lisboa e Benfica ainda no tempo do Campo Grande. Embora tenha concorrido a um lugar de enfermeiro, acabou por ser recrutado pelo nosso Clube para as funções de massagista. Seria com essa especialidade cumpriria uma carreira de 4 décadas ao serviço do Clube.


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O jovem enfermeiro-massagista Ramos integrado no plantel Benfiquista de 1955-1956.


Nesses anos na velhinha, mas renovada "estância de madeiras", Angelino Fontes era o massagista da primeira categoria enquanto que Ramos, ocupava maioritariamente o seu tempo nas equipas mais jovens do nosso futebol.

Mas a sua ação ia muito para lá do futebol, como quando Otto Glória esteve ligado ao basquetebol do Benfica, a seu convite, Ramos deu também uma ajuda, acumulando com as suas funções no futebol profissional.


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Quando Otto Glória deu uma ajuda ao basquetebol do Sport Lisboa e Benfica. Ramos andou por ali.



Ao longo das décadas trabalhou com muitos treinadores e atletas de eleição. Acompanhou as mutações quer nos planteis quer no próprio Departamento médico, trabalhando lado a lado com Angelino Fontes, Mão de Pilão, Hamilton Pena, João Palhinhas, entre outros.

Manteve-se ativo até 1979-1980, altura em que passou a exercer funções de coordenação e chefia dos massagistas, no departamento médico.


(https://i.postimg.cc/v8XtTKTd/09.jpg)

Alguns planteis onde Ramos deu o seu contributo para o sucesso de todos.


E, tal como outros nomes do passado, os serviços de Ramos foram requisitados pela FPF, tendo por 16 anos dado a sua contribuição às seleções juvenis de Portugal e algum apoio solicitado pela equipa sénior.



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Integrado na equipa técnica de Otto Glória na sua primeira passagem pela selecção nacional.


Foi uma longa e dedicada carreira, pois nos finais da década de 90 ainda prestava o seu contributo ao Clube.


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Paz e honra à memória de José do Nascimento Ramos!



Por fim, sem contar com elementos biográficos, fica a menção a duas figuras especiais no universo de enfermeiros-massagistas do Sport Lisboa e Benfica. As imagens falam por si, quanto à duração e profunda dedicação ao Clube destes dois grandes profissionais.



João Palhinhas
(Décadas 70-80)
(https://i.postimg.cc/QMrT0gCb/12.jpg)


Uma figura inconfundível que fazia jus ao seu nome. Tenho pouca informação dele, mas a sua longa e dedicada contribuição é a melhor demonstração da sua competência e carinho pelo Clube. Trabalhou com grandes treinadores e jogadores.


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Paz e honra à memória de João Palhinhas!
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Asterónimo Araújo
(Décadas 70-10)
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Nasceu no dia 7 de dezembro de 1933 em Lavrados, Ponte da Barca. Deu ao Sport Lisboa e Benfica cerca de 43 anos de serviço e de devoção. Asterónimo Araújo foi uma figura inesquecível pela sua competência e dedicação, mas também pela curiosa figura.

Apesar do físico imponente, entrava lesto em campo para auxiliar os seus meninos. Das suas mãos saia o alívio e o bem-estar dos atletas. É uma grande saudade para aqueles que se lembram de o ver.


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Faleceu em 15-11-2014, com 80 anos de idade. Ostentava o número de sócio 4095 e em 2012 recebera o emblema de 50 anos de filiação e dedicação.


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Paz e honra à memória de Asterónimo Araújo.

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: dfernandes em 18 de Setembro de 2021, 22:13
Tópico FABULOSO. Uma autêntica enciclopédia de benfiquismo!

Tudo o que aqui está merecia ser editado em livro.

Muito obrigado!!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 18 de Setembro de 2021, 23:14
Como já aqui frisei uma vez em conversa com o Red VC,o massagista Mão de Pilão era tambem um excelente praticante de boxe,tinha uma esquerda temivel.

Desse plantel de 55-56 cuja foto foi tirada na antiga Estancia de Madeiras estão em baixo Ângelo,???,Águas,Palmeiro,Coluna,Naldo e Zezinho.Ao meio Garrido ,Alfredo,Jacinto,Caiado,Artur e Calado. Em cima Salvador,???,Pegado,Bastos,Santana,Cavém e Serra.
Falta nessa foto o grande Alberto Costa Pereira.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 18 de Setembro de 2021, 23:24
O jogador que não consegui identificar não sei se é Daniel Chipenda.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Setembro de 2021, 00:40
Citação de: Alexandre1976 em 18 de Setembro de 2021, 23:14
Como já aqui frisei uma vez em conversa com o Red VC,o massagista Mão de Pilão era tambem um excelente praticante de boxe,tinha uma esquerda temivel.

Desse plantel de 55-56 cuja foto foi tirada na antiga Estancia de Madeiras estão em baixo Ângelo,???,Águas,Palmeiro,Coluna,Naldo e Zezinho.Ao meio Garrido ,Alfredo,Jacinto,Caiado,Artur e Calado. Em cima Isidro,Neto,Pegado,Bastos,Santana,Cavém e Serra.
Falta nessa foto o grande Alberto Costa Pereira.

Exato, Alexandre!
Para quem quiser a imagem sem legendas.
Pena é que não seja de melhor qualidade.
Era um plantel magnífico. A base dos bicampeões europeus.


(https://i.postimg.cc/43HrTSCz/Imagem1.png)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Setembro de 2021, 00:59
Citação de: dfernandes em 18 de Setembro de 2021, 22:13
Tópico FABULOSO. Uma autêntica enciclopédia de benfiquismo!

Tudo o que aqui está merecia ser editado em livro.

Muito obrigado!!

Muito obrigado, Daniel!

Os elogios vindos dos nossos pares Benfiquistas têm grande valor e significado. E mais ainda, vindos de membros que já dedicaram muito do seu tempo e esforço para divulgar e honrar os Ases do nosso passado. Ser Benfiquista!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Setembro de 2021, 01:06
Citação de: Alexandre1976 em 18 de Setembro de 2021, 23:14
Como já aqui frisei uma vez em conversa com o Red VC,o massagista Mão de Pilão era tambem um excelente praticante de boxe,tinha uma esquerda temivel.

Desse plantel de 55-56 cuja foto foi tirada na antiga Estancia de Madeiras estão em baixo Ângelo,???,Águas,Palmeiro,Coluna,Naldo e Zezinho.Ao meio Garrido ,Alfredo,Jacinto,Caiado,Artur e Calado. Em cima Isidro,Neto,Pegado,Bastos,Santana,Cavém e Serra.
Falta nessa foto o grande Alberto Costa Pereira.

Do tempo de boxeur

(https://i.postimg.cc/bvK0K68S/04.jpg)

Metia respeito...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Setembro de 2021, 20:34
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Ases com mãos de oiro – parte V

Vamos finalizar esta série de homenagem a profissionais médicos que auxiliaram o nosso Clube, falando em maior detalhe de dois médicos mais antigos e depois referindo sucintamente outros dois, mais recentes; todos eles grandes dedicações ao Clube.


Edmundo Lima Basto
(Décadas 60-80)
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O Professor Doutor Edmundo Lima Basto foi um prestigiado médico e professor universitário. Nasceu em Lisboa a 22-11-1911. Concluiu a sua formação médica em 1936 na Faculdade de Medicina de Lisboa, tendo depois feito o internato em Hospitais Civis de Lisboa.

Discípulo do Doutor Francisco Gentil, teve uma longa e prestigiada carreira ligada ao sector da Oncologia. Em 1937, foi nomeado assistente do Instituto Português de Oncologia. Complementou a sua formação-base, estagiando em serviços de oncologia de hospitais de referência em Londres, Manchester, Estocolmo e Chicago.

Em 1944, foi nomeado para assistente da cátedra de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Lisboa. Regressaria depois ao IPO como Chefe de Serviço, tendo depois ascendido a Diretor Clínico e a partir de 1962, tornou-se Presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Foi autor de técnicas operatórias, com especialização em cirurgia oncológica, tendo também sido um dos primeiros médicos a praticar a cirurgia cardíaca em Portugal. Autor de numerosos artigos científicos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, foi também um divulgador, colaborando com diversos títulos da imprensa nacional.

Embora não tenha exercido atos médicos ao serviço do Sport Lisboa e Benfica, o nome do Professor Lima Basto ficou indissociavelmente ligado à profunda reestruturação do departamento médico do Clube.

Benfiquista indefetível, Edmundo Lima Basto foi eleito presidente da Mesa da Assembleia Geral, integrando os Órgãos Sociais eleitos para o período correspondente à presidência de Adolfo Vieira de Brito. Sucedeu ao Engenheiro Augusto Cancella de Abreu que tinha ocupado o cargo durante 7 anos. Ao invés, o Professor Lima Basto cumpriria apenas um mandato, de 26-03-1964 a 07-05-1965, o tempo que os seus pesados afazeres profissionais lhe permitiram.


(https://i.postimg.cc/MZ3Kz444/02.jpg)
Em março de 1960, o Prof. Lima Basto participando numa homenagem ao Engº Maurício Vieira de Brito, presidente do Sport Lisboa e Benfica.



Em 1965, a reestruturação do departamento médico foi concretizada após solicitação do presidente António Catarino Duarte. Grosso modo, consistiu na criação equipa pluridisciplinar que incluiu um ortopedista (Dr. Azevedo Gomes), que assumiu também funções de diretor, um fisiatra (Dr. José Alberto Faria), um médico de Medicina interna (Dr. Ferreira de Almeida) e finalmente um especialista em cirurgia geral (Dr. Vieira da Fonseca). Este último veio a suceder ao Dr. Azevedo Gomes nas funções de diretor do departamento.


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O Centro Médico do Sport Lisboa e Benfica nos anos 70.


O seu nome passou a assim a estar associado ao Centro Médico do Clube, estando a sua memória evocada num busto à entrada das instalações.


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O Dr. Vieira a Fonseca junto de um busto de homenagem ao Professor Lima Basto. Fonte Benfica Ilustrado


Faleceu de forma súbita em Lisboa, em 11-02-1971. Deixou viúva e três filhos.


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Uma morte repentina. Fonte: DL



Paz e honra à memória do Professor Lima Basto.



Vieira da Fonseca
(Décadas 60-80)
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José Pedro Chaves Vieira da Fonseca nasceu em 16-04-1927, em Mocimboa da Praia, no norte de Moçambique. A família estava ali instalada por via do seu pai, médico, estar ali destacado. O jovem José Pedro regressaria à metrópole, com a sua mãe, para fazer os seus estudos em Lisboa, primeiro no Colégio Manuel Bernardes e depois, a partir de 1938, no Colégio Militar.

Naquela prestigiada instituição de educação, o jovem José Pedro revelou-se disciplinado, com elevado espírito de grupo e apreciador de atividades físicas, área em que beneficiou da orientação do professor Fernando Ferreira, um antigo atleta do SLB.


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O jovem José Pedro, estudante do Colégio Militar, aluno 44/1938. Fonte: revista "Zacatraz.



Benfiquista de berço, foi futebolista das camadas jovens do Benfica, jogando como defesa e tendo como colega de equipa Francisco Calado, e sendo orientado por János Biri. Chegou a ser selecionado para seleções da AFL para jogos inter-regionais.

No Benfica, praticou também atletismo, orientado uma vez mais por Fernando Ferreira, destacando-se no salto à vara, modalidade na qual se sagrou campeão nacional de juniores. Com a entrada na Faculdade de Medicina, saiu do SLB e passou a representar o CDUL.

Formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, tendo depois feito internato em diversos hospitais civis de Lisboa (São José, Desterro e Capuchos). Tinha ainda um consultório particular na Praça de Londres.

Entrou para associado do SLB em 1944, ou seja, com apenas 17 anos. Em 1959 foi convidado para ocupar o lugar de suplente da Direção presidida pelo Engenheiro Maurício Vieira de Brito.

A sua mobilização para Timor, levou-o a afastar da vida associativa, mas em compensação ocupou o cargo de presidente da Direção do Sport Dili e Benfica. E tão dedicado se mostrou que exercia também funções de treinador e alinhava como futebolista pelas reservas!

No regresso a Lisboa, por volta de 1964, foi convidado para um cargo no Departamento Médico que na altura estava em reestruturação coordenada pelo Professor Lima Basto. Virava-se uma página de um Departamento médico com parcos recursos, e com apenas dois médicos, o já aqui falado Dr. José Pinho e o Dr. Sousa Dias. Integrou então uma equipa pluridisciplinar sendo-lhe atribuídas funções na área da cirurgia geral. A união e o compromisso com o Clube desta equipa eram tais que prescindiram do seu primeiro salário para angariar uma verba que possibilitasse a aquisição de equipamentos para o Departamento.


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Fonte: Arquivo RTP



Em 1975, a convite do Dr. Borges Coutinho, o Dr. Vieira da Fonseca passou a chefiar o Departamento médico a partir de 1975 até a 1990, abandonando funções depois da final de Estugarda. Para trás ficaram muitos anos de dedicação, chefiando um departamento por onde passaram numerosos e dedicado profissionais que cumpriram com zelo dois requisitos exigentes para o cargo: ser médico e ser dedicado ao Clube.


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Fonte: Benfica Ilustrado.


Era também um apaixonado pela Ópera, sendo aliás um cantor amador que chegou a entrar em récitas, em diversas fases da sua vida. Tinha também o hábito curioso de, enquanto assistia aos jogos no banco de suplentes, apontar meticulosamente, com uma letra pequenina nos seus cadernos, detalhes sobre o jogo. Deixou muitos cadernos desses, repletos de notas metódicas e completas sobre os jogos a que assistiu.


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Jamor, 6 de junho de 1981. Um dia de grande felicidade, com a conquista da Taça de Portugal em



Durante as suas décadas de trabalho e atividade benfiquista, o Dr. Vieira da Fonseca viveu momentos de grande felicidade e prestígio, mas também situações desportivas dramáticas como aquela malfadada final em Milão em 1965 em que Costa Pereira teve de abandonar a baliza por lesão.


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Fonte: Benfica Ilustrado


Enfrentou também dramas humanos como foi o caso do acidente que vitimou Luciano e que ia vitimando outros entre os quais Malta da Silva, Carmo Pais e Eusébio. Foram também dramáticos os graves problemas de saúde que incapacitaram definitivamente Augusto Silva e Vítor Martins.


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Alguns dos dramas vividos de perto pelo Dr. Vieira da Fonseca, durante a sua carreira de médico no Benfica.



Em 1984, foi eleito sócio de mérito do Benfica.


Faleceu em 27-03-2013. Deixou viúva, dois filhos e 4 netos.


Paz e honra à memória do Dr. Vieira da Fonseca!
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Nota: as fontes principais da informação sobre o Dr. Vieira da Fonseca foram o Benfica Ilustrado de Dezembro de 1991 e o nº13 da revista Zacatraz (ver: https://issuu.com/aaacm/docs/revista_zacatraz_191_web)


Finaliza-se este texto com uma breve menção ao Dr. Amílcar Miranda e ao Dr. Bernardo Vasconcelos que a partir de 1990, passaram a alternar no acompanhamento à equipa principal de futebol, ao mesmo tempo que passou a haver uma maior independência de funcionamento dos recursos entre o futebol sénior e o futebol juvenil.

 
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Todos estes profissionais que referimos nesta série são credores do reconhecimento de todos os Benfiquistas. Através deles fica também o reconhecimento e a tantos outros profissionais médicos que por desconhecimento ou por falta de informação biográfica não foram aqui referidos. Todos serviram o Sport Lisboa e Benfica, com o melhor do seu saber e dedicação. Uma profissão nobre e difícil e cujo fruto é o bem estar de alguns para o deleite de muitos outros.

E Pluribus Unum







Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Setembro de 2021, 21:02
-280-
Nicolau, primeiro!


Estoril, dia 26 de setembro de 1931. Seis Benfiquistas posam para uma câmara fotográfica.


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Fonte: TT


Neste instantâneo não foi captado um sentimento de alegria, mas antes uma postura de dever cumprido. E, no entanto, envergando a camisola amarela, José Maria Nicolau tinha acabado de vencer a sua primeira volta a Portugal em bicicleta.

Ao lado de Nicolau estavam três companheiros de equipa e ainda Manuel da Conceição Afonso, presidente do Sport Lisboa e Benfica, e por fim Vítor Lemos, prestigiado delegado da Direção, notabilizado em colaborações nas secções de hóquei em patins e ciclismo (pelo menos essas) e que foi também membro do Comité Olímpico Português.

Alguns anos depois, Gil Moreira, companheiro de estrada de Nicolau enquanto nosso ciclista e também ilustre historiador e divulgador do Ciclismo, escreveu sobre esta conquista:

"Terminou esta segunda Volta com a vitória prevista e justa de José Maria Nicolau, pois não só suportou todas as «andanças» movidas por António Augusto de Carvalho e João Francisco, como também teve ainda de se sobrepor ao comportamento de Alfredo Trindade, infalivelmente a defender-se, para depois mover ataques de surpresa. De assinalar que Nicolau saiu vencedor em 7 das 19 tiradas da Volta." (Texto do livro "História do Ciclismo Português" de Gil Moreira)


Nascido em 1908 e natural do Cartaxo, aos 19 anos de idade, Nicolau veio para a zona de Lisboa para representar o do Grupo Sportivo de Carcavelos, cuja equipa de ciclismo integrou apenas durante 1 ano por não se adaptar e por sentir uma grande vontade em vestir a camisola vermelha. Desejo que vinha já dos tempos do Cartaxo. Nicolau transferiu-se no ano seguinte para o Benfica.

Em 1931, Nicolau levava já três anos de águia ao peito, tendo começado numa equipa e embora levasse já alguns triunfos, a volta de 1931 marcaria a sua grande arrancada para a glória e para a popularidade. E seria ao longo da primeira metade dessa fabulosa de 30, que Nicolau conquistaria os seus mais retumbantes triunfos, conquistando um prestígio pessoal do qual o nosso Clube colheu muitos frutos.


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O palmarés do grande José Maria Nicolau.



A volta de 1931


Organizada pelos jornais DN e "Os Sports", a II Volta a Portugal em bicicleta decorreu de 6 a 26 de setembro de 1931. Foi a segunda vez que a prova se disputou em Portugal, quatro anos depois da primeira edição!

À partida da volta de 1931, alinharam 8 corredores Benfiquistas, liderados pelo dedicado treinador Luís Augusto Lopes. Apenas dois desses ciclistas, Eduardo dos Santos e Artur Dias Maia, tinham estado presentes na I volta a Portugal, em 1927, embora apenas o primeiro tenha representado o Sport Lisboa e Benfica.


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A equipa Benfiquista à partida no meio dos populares.



A prova consistiu em 19 etapas, perfazendo um total de mais de 2000 km, cobrindo todo o país embora por vezes envolvesse estradas que convertiam a corrida num cross... levantando muitas dificuldades aos ciclistas.  Depois, as avarias mecânicas eram frequentes e causavam enormes perdas de tempo, muitas vezes irremediáveis.
José Maria Nicolau vestiu a camisola amarela logo na 1ª etapa (Cova da Piedade-Setúbal), mas perdê-la-ia logo na etapa seguinte, só a recuperando na 7ª etapa (Évora-Elvas). E ficou assim vestido até ao final, até ao dia 26 de Setembro, no Estoril.


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As 19 etapas, vencedores e camisola amarela, da II Volta a Portugal em bicicleta.



Nicolau venceu a competição com mais de 29 minutos de avanço para Alfredo Trindade, seu conterrâneo e amigo. Nessa altura, Trindade ainda representava a equipa do União Clube Rio de Janeiro, uma popular coletividade lisboeta. Nicolau tinha uma grande compleição física e uma enorme força física e resistência e embora tivesse também uma perceção tática da corrida, tinha em Alfredo Trindade um rival à altura nesse aspeto, virtude que para este último era decisiva dado ser de constituição franzina.


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De notar que o Benfica apresentou 9 ciclistas, sendo 5 na categoria "fortes" (um total de 26 concorrentes) e 4 na categoria "fracos" (9 concorrentes), enquanto que as restantes equipas apresentaram no máximo um total de 4 ciclistas.

E se Nicolau venceu a geral, o nosso ciclista José Joaquim Esteve venceu a categoria de "fracos". Também vencemos por equipas, tendo para isso contado decisivamente as prestações dos "fortes" Carlos Domingos Alves e de Artur Dias Maia. Foi barba, cabelo e unhas!


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A alegria da vitória!


Para trás ficaram muitas dificuldades e privações, que tornavam as provas verdadeiramente infernais, muito mais exigentes e duras do que o moderno ciclismo.

Assim, as peripécias foram diárias. Na 2ª etapa (Setúbal-Sines), Nicolau caiu, mas na etapa seguinte (Sines-Lagos), João Francisco, que levava a camisola amarela, viu a sua bicicleta partir-se.... Pouco depois, na etapa Faro-Beja, Nicolau envolveu-se numa queda ao choca com o seu colega Artur Dias Maia, quando se desviou bruscamente para não atropelar uma senhora idosa. Ambos ficaram bastante doridos, mas continuaram... à Benfica! E venceram no final!


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Campeão!



Em 1937, José Maria Nicolau foi distinguido com o galardão de sócio de mérito, tendo dois anos mais tarde recebido a Águia de prata, colocada na sua lapela pelo presidente Manuel da Conceição Afonso. Abandonava a prática da modalidade, mas deixava para sempre o seu nome associado ao Clube e algumas das marcas distintivas do Benfica: o amor à camisola, o desportivismo, a lealdade competitiva, a classe e a ambição de vencer.


(https://i.postimg.cc/KzgppWxf/08.jpg)
José Maria Nicolau, Águia de prata em 1939!


Os dirigentes do Benfica dessa época foram muito sagazes em fazer uma tão grande aposta no ciclismo pois esta modalidade revelou-se decisiva para expandir a implantação do Clube a nível nacional. O ciclismo passava à porta das pessoas, não exigia dinheiro para ser visto e dava o colorido às estradas e corpo às rivalidades. Aliás muita gente passou a saber que o Benfica vestia de vermelho por causa do ciclismo. Com o ciclismo, os dirigentes do Benfica dessa época deram notável seguimento aquela que foi a visão de ter um Clube com implantação nacional, visão essa que Cosme Damião tinha anunciado como objetivo, duas décadas antes.

Uma plena demonstração desta ideia é atentar a um ilustre Benfiquista, recentemente desaparecido.


(https://i.postimg.cc/6p5jxqBy/09.jpg)
Fontes: http://www.eduardolourenco.com/ (http://www.eduardolourenco.com/)
https://anabelamotaribeiro.pt/eduardo-lourenco-17837 (https://anabelamotaribeiro.pt/eduardo-lourenco-17837)


Viva o Benfica! Viva José Maria Nicolau!






Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 25 de Setembro de 2021, 02:23
Fantástico Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 25 de Setembro de 2021, 14:18
José Maria Nicolau é sem qualquer favor uma das maiores figuras da Nossa Gloriosa História.Á sua conta milhares de pessoas passaram a ser adeptas do Nosso Clube.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Setembro de 2021, 21:59
Citação de: Alexandre1976 em 25 de Setembro de 2021, 14:18
José Maria Nicolau é sem qualquer favor uma das maiores figuras da Nossa Gloriosa História.Á sua conta milhares de pessoas passaram a ser adeptas do Nosso Clube.

Ganhou duas voltas a Portugal em 1931 e 1934. Não ganhou em 1932 por azares de corrida mas demonstrou em condições normais ser superior a Alfredo Trindade. Teve poucos anos de glória a correr na estrada pois as condições de treino e competição eram muito duras.

MAS, tão importante como as vitórias e os recordes foi o prestígio, a visibilidade, a popularidade que deu ao Clube. Tinha uma figura magnética e atraia as multidões vestido com a camisola vermelha. Campeão de popularidade.

São múltiplos, os testemunhos deixados por pessoas da província que naqueles anos se tornaram Benfiquistas por causa de Nicolau!

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Setembro de 2021, 13:58
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Águias na Guerra (parte VIII): a corrida da Chama da Pátria.


Avenida da Liberdade, dia 9 de abril de 1938.

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José Maria Nicolau (ciclista) e José Martins (motociclista) prestando homenagem aos mortos da Grande Guerra. Fonte: TT


José Maria Nicolau, o mais velho e mais prestigiado de um grupo de uma trintena de ciclistas, alinha ao lado do Monumento aos Mortos da Grande Guerra.

Nesse dia celebrava-se a passagem dos 20 anos da funesta batalha de La Lys, homenageando os mortos que deram a vida pela Pátria. Em apenas quatro horas de batalha, que decorreu na madrugada e manhã de 9 de abril, as tropas portuguesas terão registado milhares de baixas, entre mortos (1 341), feridos (4 626), desaparecidos (1 932) e prisioneiros (7440) (fonte: https://www.infopedia.pt/$batalha-de-la-lys e https://portugalgrandeguerra.wordpress.com/batalhadelalys/).


Estando ainda vivos muitos milhares de militares que combateram nesse terrível evento, prestava-se assim sentida homenagem a esses bravos combatentes.


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Outras imagens do evento de homenagem aos mortos da Grande Guerra na Avenida da Liberdade, Lisboa.



Depois de uma romagem matinal ao talhão dos combatentes no cemitério do Alto de São João, a romaria dirigiu-se à Avenida da Liberdade, ao Monumento dos Mortos da Grande Guerra, ali depositando flores e instalando os fachos com a Chama da Pátria, prestando homenagem às vítimas do conflito.

Entre as celebrações previstas estavam incluídas uma corrida ciclista e outra motociclista, organizadas pelo jornal "O Século". A corrida a que chamaram "Corrida da Chama da Pátria!, teve como competidores uma trintena de ciclistas pertencentes às melhores equipas dessa época entre elas o Sport Lisboa e Benfica, o CF "os Belenenses", o Sporting CP, a CUF, etc.

Os ciclistas e os elementos de fiscalização e organização da corrida partiram depois em camionetas para a frente do mosteiro da Batalha, local onde esteve assinalado a partida de uma corrida para... Lisboa. No próprio dia... o que diz sobre a forma como se preparavam as corridas naqueles tempos!

A corrida seria vencida pelo sportinguista Filipe de Melo que fez equipa com Alfredo Trindade e Ildefonso Rodrigues.


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Aspetos da corrida velocipédica da Chama da Pátria de 1938. Fonte TT



Águias na Guerra

Entre os milhares de mortos portugueses na Grande Guerra, certamente que terão falecido muitos simpatizantes do Sport Lisboa e Benfica, mas dos mais conhecidos não tenho conhecimento de terem morrido. Todos ficaram com mazelas que os afetaram e muitas vezes incapacitaram permanentemente para o resto da vida. Alguns tiveram morte precoce, certamente associada a essa experiência traumática limite que foi aquela grande tragédia coletiva. Lições que ciclicamente são esquecidas e que levam de novos à emergência de nacionalismos criminosos e oportunistas.


Ao longo dos anos, neste espaço têm sido contadas histórias desse grande conflito na série ´"Aguias na Guerra"; ver:


-105- Águias na Guerra (parte I) (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II) (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III) (p.30)
-157- Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver" (p. 44)
-158- Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra. (p. 44)
-229- Águias na guerra (parte VI): os manos Vivaldo (p. 57)
-241-Aguias na guerra (parte VII): desenhando para a eternidade (I) (p.60)




A identificação de Benfiquistas na Grande Guerra tem sido um processo gradual que coincidiu com esses textos. Aproveita-se agora a oportunidade para listar todos os Benfiquistas que de alguma forma integraram o CEP ou noutros destacamentos militares que combateram na Grande Guerra.

Presta-se aqui, uma vez mais, a devida homenagem à memória destes homens assim como o agradecimento à sua contribuição para edificar a maior instituição desportiva portuguesa: o Sport Lisboa e Benfica!


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Outubro de 2021, 19:01
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Um ardina olímpico! (parte I): as dores olímpicas.

Berlim, Estádio Olímpico, domingo, 9 de agosto de 1936.

Um atleta português termina a prova da maratona olímpica em grande sofrimento, sendo imediatamente assistido.


(https://i.postimg.cc/fbQLjphp/A01.jpg)
Manuel Dias termina a prova da maratona em Berlim, 1936. Fonte: https:Youtube


Após duas horas e quarenta e nove minutos de corrida, Manuel Dias, atleta português, atleta Benfiquista, terminava a maratona olímpica. Uma parte do seu desempenho ficou imortalizada no filme "Olympia" de Leni Riefenstahl



https://www.youtube.com/watch?v=qthKw1zFnZ8&t=4s
fonte: youtube


Estas serão provavelmente as primeiras imagens em movimento de um atleta Benfiquista em plena competição olímpica. Salvaguardo a situação de Francisco Lázaro pois, quando este foi filmado nos jogos de Estocolmo e 1912, já era atleta do Velo Clube de Lisboa.

E, atendendo à dureza da prova, bem espelhada no sofrimento dos atletas a cruzar a meta, é bem possível que durante aquela maratona, a sombra da tragédia de Lázaro estivesse nas mentes de Manuel Dias e de todos os portugueses presentes na delegação.

Em diversos momentos, o filme oficial do evento foca o maratonista português, que na fase inicial da corrida chegou a comandar a corrida, juntamente com um argentino. Manteve depois um excelente desempenho, passando em quarto lugar a meio da prova. Nesse período, os relatos nos altifalantes do Estádio Olímpico referiam o seu nome.


https://www.youtube.com/watch?v=H3LOPhRq3Es&t=6168s


Esteticamente fascinante, o filme "Olympia" de Leni Riefenstahl dá alguns grandes planos de Manuel Dias que corria com o dorsal 559. E, no entanto, ao ver as imagens, uma outra pergunta me ocorre:

terá Manuel Dias usado a camisola vermelha do Benfica nessa maratona olímpica?


(https://i.postimg.cc/g01Y3yMM/A05B.jpg)
Terá Manuel Dias corrido a maratona olímpica com a camisola vermelha?


Não ficaria admirado! Não vejo nenhuma camisola com as argolas olímpicas ou o símbolo da missão portuguesa mas sim uma camisola em tudo similar à que Manuel Dias passou a envergar em 1932 até ao fim da sua carreira desportiva.

Nesse tempo, a camisola Benfiquista das modalidades por norma não ostentava o emblema. As imagens a preto e branco sugerem que Manuel Dias envergou a sua camisola Benfiquista!


(https://i.postimg.cc/W472m48q/A02.jpg)
Terá Manuel Dias corrido a maratona olímpica com a camisola vermelha?


A partir dos 25 km, atletas japoneses, ingleses e finlandeses ultrapassaram Manuel Dias, passando a dominar os primeiros lugares. Nesse período Manuel Dias viu-se traído pelo... calçado! Ao que parece começou a prova utilizando uns sapatos de ginástica, muito leves, que lhe foram oferecidos dias antes! Um erro crasso tanto mais que nem sequer os experimentara.... À passagem dos 30 km, já com os pés em sangue, teve de parar e pedir emprestadas umas botas a um escuteiro, e assim terminou o percurso (fonte: Record).

A maratona olímpica dos jogos de Berlim foi uma competição muito dura. Apesar das provações, Manuel terminou num honroso 17º lugar, numa competição em que se apresentaram 56 concorrentes à partida. Na mesma prova, participou ainda o maratonista português Jaime Mendes, que acabou por desistir.

Manuel Dias terminou a prova com o tempo de 2h48min49s, ficando a cerca de 19 minutos do 1.º classificado. E, merecidamente, foi elogiado internacionalmente por ter batido "o melhor americano, o melhor belga, o melhor dinamarquês, o melhor alemão, o melhor polaco e o melhor suíço", "deixando atrás de si campeões de fama mundial" (fonte: slbenfica.pt).


(https://i.postimg.cc/FHVRpGsK/A03.jpg)
Classificação final da maratona olímpica de 1936. Fonte: google


Nesse dia, a Manuel Dias faltou experiência competitiva e sentido tático, sobrando-lhe ingenuidade e incapacidade de dosear esforço. Noutras condições, com outra orientação, e sobretudo com outro calçado, Manuel Dias teria certamente tido um desempenho muito melhor e mais ajustado ao seu efetivo valor.

E, espante-se, essa maratona foi disputada 5 semanas depois de Manuel Dias ter disputado... outra maratona! Por incrível que pareça, nesse tempo foi considerado boa ideia fazer disputar uma prova de 42,165 km (Salésias-Estoril-Salésias) para selecionar 3 representantes nacionais para a maratona olímpica! Manuel Dias venceu essa prova, com 2h37min apesar de um incidente com um ciclista durante o trajeto. Venceu com mais 5 minutos de vantagem para Jaime Mendes.

Assim, aos 32 anos de idade, já numa fase madura da sua carreira atlética, Manuel Dias apresentava boas credenciais para uma participação olímpica prestigiante.


(https://i.postimg.cc/xTSnZHZN/A04.jpg)
Nas Salésias, o Benfiquista Manuel Dias vencia a maratona de preparação, disputada em 5-07-1936. Fonte: Hemeroteca Lx e DL



As olimpíadas do Terceiro Reich

Os jogos da XI Olimpíada da era moderna foram disputados em Berlim de 1 a 16 de agosto de 1936. Ocorreram 20 anos depois da primeira data prevista, ou seja 1916, data que ficou inviabilizada pelo decurso da I Guerra Mundial.

Muito para além de um acontecimento desportivo, os Jogos de 1936 foram também um massivo evento de propaganda da Alemanha nazi num contexto político-militar de plena guerra civil espanhola, antecâmara da II guerra mundial, que deflagraria 3 anos depois.


(https://i.postimg.cc/DZX3jydc/A05.jpg)
XI Jogos Olímpicos da era moderna, Berlim, 1936.


Estes foram também os jogos em que, pela primeira vez, existiu cobertura televisiva embora apenas num circuito fechado. As transmissões foram feitas apenas para 28 auditórios situados em Berlin, Leipzig e Potsdam, para além da aldeia olímpica. Estima-se que 150.000 pessoas tenham assistido a essas transmissões televisivas. A Alemanha tinha iniciado as primeiras transmissões televisivas regulares no ano anterior.



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O primeiro evento olímpico televisionado - XI Jogos Olímpicos da era moderna, Berlim, 1936. Fontes:
https://www.earlytelevision.org/olympics_1936.html
http://www.nostalgiatech.co.uk/Berlin%20Olympics.html
https://blogs.telosalliance.com/the-first-olympics-on-television




https://www.youtube.com/watch?v=3exBWIwrvsE&t=709s
Documentário inglês sobre as transmissões televisivas dos jogos de Berlin 1936, com imagens extraordinárias da aldeia olímpica. fonte: youtube


Em termos desportivos, a Alemanha dominou a competição, mas o maior mediatismo acabaria por recair no atleta americano Jesse Owens, não apenas pela excelência do seu desempenho atlético (4 medalhas de ouro), mas também pelo racismo implícito gerado nas autoridades políticas e desportivas alemãs.


https://youtu.be/ZfRIeCqdpRA
Jesse Owens em cor!





A delegação portuguesa


A delegação portuguesa teve 31 representantes no desfile inaugural, sendo porta-estandarte o esgrimista João Sassetti, medalha de bronze em Amesterdão, 1928.


(https://i.postimg.cc/tCrv6GFR/A08.jpg)
Emblema usado pela delegação portuguesa aos jogos olímpicos de 1936. Fonte: slbenfica.pt



O chefe da missão portuguesa foi o Dr. César de Mello, que fez parte da primeira equipa do Sport Lisboa em 1 de janeiro de 1905 (ver: -32- Glorioso por um dia. pág.7) e o chefe de equipa Vasco Ribeiro, que era também presidente do Sport Lisboa e Benfica (mandatos entre 1933-1936)!


(https://i.postimg.cc/R0wTXkJH/A09.jpg)
Membros do COP, em que se destacam César de Melo, chefe de missão e Vasco Ribeiro, chefe de equipa nos jogos olímpicos de 1936. Ambos ligações ao Benfica.


Nos jogos de 1936, a comitiva portuguesa viria a assegurar uma medalha de bronze, no último dia de uma prova de equitação por equipas (Prémio das Nações), através dos cavaleiros Luís Mena e Silva, Domingos de Sousa Coutinho e José Beltrão.


(https://i.postimg.cc/Y2dznf0b/A10.jpg)
Parte da delegação portuguesa foi recebida na embaixada portuguesa em Berlim. Manuel Dias está em cima, segundo a contar da esquerda. Fonte: slbenfica.pt



Entre os aspetos negativos, os atletas salientaram a falta de... vinho! E o bacalhau e o azeite lá tiveram que vir de Portugal por intervenção de... Manuel Dias! Transcrevendo um texto publicado no "JN História", nº3, maio 2016

"Como não há bela sem senão, os portugueses só lamentam a falta de vinho. Às refeições só servem água ou leite. Hão de convir, que não é das coisas mais agradáveis, acompanhar a carne guisada ou o bife com um copo de leite." A "bela" era a Aldeia Olímpica de Berlim, um "verdadeiro triunfo" nas palavras do enviado especial do Diário de Lisboa, quem deu igualmente conta dos lamentos portugueses pela falta de vinho às refeições. "Não lhes deixam beber vinho, mas deixam-nos admirar bailarinas quase nuas", acrescenta sobre a oferta de variedades disponível na aldeia olímpica. Não havia vinho, mas bacalhau não faltou, ainda que trazido desde Portugal por Manuel Dias, maratonista, e um dos 19 atletas entre os 22 e os 50 anos que compôs a comitiva portuguesa.


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Outubro de 2021, 19:43
-283-
Um ardina olímpico! (parte II): um percurso destemido.


Dia 24 de Abril de 1932, Avenida da Índia, Lisboa.
Uma equipa Benfiquista acabava de vencer a estafeta Cascais – Lisboa.

(https://i.postimg.cc/28nMS4pd/B01.jpg)
Equipa do Benfica, vencedora da Estafeta Cascais-Lisboa no dia 24-04-1932. Em baixo, Manuel Dias, João Miguel e Armando Silva, em cima, Armindo Farinha. Fonte: https://endurance1963.weebly.com/galerias.html


A Estafeta Cascais - Lisboa é a mais antiga e prestigiada corrida pedestre nacional por estafetas. A edição de 24 de abril de 1932, foi a primeira edição da prova embora por vezes seja considerada a edição zero pois teve a parte final do seu percurso anulada pelas autoridades.

Em 1934, o percurso cobriu cerca de 24 km, em 4 etapas depois do último percurso de 3 km das 5 etapas inicialmente previstas, ter sido anulado. Aparentemente havia um intenso trânsito entre a Avenida da Índia e a Praça do Comércio, onde estava instalada a meta, e as autoridades não tinham precavido essa situação! Na verdade a multidão estendeu-se ao longo de todo o percurso, sendo os corredores vitoriados por milhares de espetadores, que, nas bermas da estrada ou acompanhando a prova de carro ou bicicleta, complicaram a vida quer às autoridades quer aos próprios atletas!

À partida, na estação ferroviária de Cascais, apresentaram-se oito equipas, em representação de quatro clubes: três do Benfica, duas do Sporting CP e dos Vendedores de Jornais e uma da Probidade (patrocinada pela companhia de seguros do mesmo nome).

A equipa Benfiquista "A", que aliás era a favorita, ganhou a prova com 1h16min à frente da equipa do Sporting CP. Essa equipa vencedora era constituída por Armando Silva (A1, 1º percurso), João Miguel (A2, 2º), Armindo Farinha (A3, 3º) e Manuel Dias (A4, 4º).

Decisivo para a vitória desse dia, Manuel Dias, tinha sido a grande contratação no início desse ano, para o atletismo do Sport Lisboa e Benfica. Foi recrutado no ano anterior, depois de sair do Sporting CP, clube onde tinha estado 5 anos. Mas esse é apenas um dos detalhes da interessante vida de Manuel Dias...



Um percurso destemido


Manuel Dias foi uma grande figura do atletismo do Sport Lisboa e Benfica, Clube onde se notabilizou de 1932 a 1944. Hoje bastante esquecido, Manuel Dias foi, na sua época, um atleta que gozou de grande popularidade. Foi um digno sucessor de Francisco Lázaro.

Nasceu a 13-03-1904, em Lisboa, presumo que na zona da Picheleira. De origens populares, filho de um vendedor de jornais, ele próprio também viria a adotar a profissão de ardina. Como todos os ardinas, o pequeno Manuel recolhia os jornais no Bairro Alto, onde se situavam a maior parte das redações e gráficas dos principais jornais de então, e, transportando-os na sua sacola, partia em passo de corrida pela cidade fora, apregoando as manchetes e distribuindo os jornais pelos clientes. Treinava a trabalhar. Melhor treino não podia arranjar, nessa época!


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Os ardinas de Lisboa, uma presença pitoresca e socialmente relevante nas décadas de 20 e 30. Fonte: AML


Franzino, mas com uma estrutura rija, revelou muito cedo uma invulgar propensão para corridas de competição. Iniciou-se nas competições no Grupo Desportivo Vendedor de Jornais, ingressando depois no Vendedor de Jornais FC. Note-se que este clube tinha boa fonte de recrutamento e por vezes apresentava equipas de corrida que competiam de igual para igual com as formações do Benfica e do Sporting!


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Abril de 1927, grupo de sócios da Caixa de Solidariedade dos Vendedores de Jornais com a sua bandeira durante uma visita ao jornal O Século.


Por ser muito franzino nem sempre o jovem Manuel Dias era escolhido para correr, situação que considerou injusta e que o levou a, na companhia de alguns amigos, fundar o Sport Picheleira Atlético Clube. Esta modesta agremiação manteria atividade até 1944, altura em que se juntou ao Botafogo Futebol Clube, fundando-se assim o Vitória Clube de Lisboa, instituição que ainda hoje existe.

No Picheleira AC, Manuel Dias permaneceria até 1926, altura em que se desentendeu com alguns dirigentes, levando-o, em agosto de 1926, a aceitar uma proposta que lhe vinha sendo repetidamente feita pelo Sporting CP.


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Manuel Dias com a camisola listada, a competir num cross no final da década de 20.


Permaneceu no clube leonino durante 5 anos, conquistando diversos títulos nacionais e arrebatando alguns recordes nacionais, em diversas distâncias. No final da temporada de 1931, teve alguns desentendimentos no Sporting, que começaram com uma repreensão registada "por ter tomado parte numa prova contra as instruções dadas pela Direção", e que sofreria ainda maior agravo: "Suspensão até à 1ª Assembleia Geral por se ter negado a entregar a Taça Mário Duarte que ganhara na Anadia, representando o clube, e que só entregou por intermédio da polícia." (fonte: http://www.sportingcanal.com/?p=3176)

Despeitado com semelhante injustiça, Manuel Dias abandonou o clube leonino e aceitou logo uma proposta do Sport Lisboa e Benfica, embora só viesse a estrear-se de águia ao peito, em janeiro de 1932.



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Fonte: História do SLB 1904-1954


No Benfica continuou igual a ele próprio: alegre, franzino, rápido e campeão!


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Fonte: História do SLB 1904-1954


De 1932 até 1944, envergando a camisola vermelha, Manuel Dias obteve um verdadeiro desfile de vitórias que consolidaram a sua posição como o mais destacado e popular corredor da sua geração. Tornou-se um símbolo do Benfica, sendo profundamente admirado por colegas e adeptos da modalidade.


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Uma imensa popularidade no universo Benfiquista.


É impressionante atentar no seu palmarés:

● 28 títulos de campeão nacional (6x da maratona, 8x de corta-mato, 8x de 5.000m, 3x de 1.500m, 10.000m, estafetas 4x800m, e 4x1.500m)

● 19 títulos de Lisboa (7x de cross, 5x de 5.000m, 3x de 1.500m, 800m, 10.000m, estafetas 4x800m, e 4x1.500m)

● 10 recordes nacionais (maratona, 30Km, 5.000m, 2.000m, 3.000m obstáculos, 3.000m, milha, 4x800 m e 4x1500 m)


Em termos internacionais, para além dos jogos olímpicos de Berlim, Manuel Dias competiu também em Londres e Barcelona (num Barcelona vs. Lisboa), sempre dignificando o desporto nacional.

Em particular, Manuel Dias conseguiu um brilhante 2º lugar a Maratona da Coroação em Londres, regressando, orgulhoso, com uma taça. Esse evento desportivo, disputado no dia 12-05-1937, fez parte das comemorações da coroação do Rei Jorge VI, pai da futura Isabel II. Esse foi um dos raros eventos que "obrigaram" Salazar a viajar para o estrangeiro.


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Antes e depois da Maratona da Coroação. À esquerda, 21-05-1937, Manuel Dias com Raul Oliveira, diretor do jornal "Os Sports". À direita, 08-06-1937, no regresso de Londres, Manuel Dias segurando a taça que conquistou com o 2º lugar. Fonte: TT


https://www.youtube.com/watch?v=3Q_t1A5SMdI
A maratona da Coroação, Londres, 12-05-1937.



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Poster evocativo da vitória de Manuel Dias na maratona da coroação, Londres, maio de 1937. Fonte: TT


Em abril de 1944, a Stadium anunciava a retirada de Manuel Dias, dando-lhe o merecido destaque na sua primeira página.


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Capa colorida da revista Stadium que anunciou a retirado do campeão, Fonte: Hemeroteca Lx



As origens Benfiquistas do... Record!


Um detalhe curioso e pouco lembrado é que em 1949, Manuel Dias foi fundador do jornal Record!

E não foi o único Benfiquista pois os outros dois fundadores eram também Benfiquistas!

Fernando Ferreira, foi atleta e treinador de atletismo no Benfica.

José Monteiro Poças era o único jornalista entre os três fundadores, sendo também reconhecido adepto do Benfica (ver: https://www.record.pt/exclusivos-record/cinquentenario/detalhe/os-fundadores-monteiro-pocas-o-resistente)! Três fundadores, três adeptos do Benfica!


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Os três fundadores do jornal "Record". Três Benfiquistas!


Os detalhes ficam aqui transcritos a partir de um texto retirado do próprio jornal, em que deixei os factos históricos e retirei a propaganda autoelogiativa.

"Record foi fundado por iniciativa de um homem – Manuel Dias – vendedor de jornais e também atleta olímpico, com uma honrosa participação nos Jogos de 1936, em Berlim.

É uma história invulgar e curiosa. Já então ardina, com negócio de venda de jornais montado, Manuel Dias vê-se um dia contemplado com um prémio de 40 contos (200 euros) da Lotaria Nacional. Estávamos em 1949 e essa quantia era relativamente importante.

Foi Manuel Dias quem teve a ideia de fundar um jornal desportivo e foi ele quem financiou em grande parte a operação para a qual "arrastou" um jornalista de "A Bola", José Monteiro Poças, e um professor de Educação Física muito ligado ao desporto - e em particular ao atletismo - Fernando Ferreira.

A primeira edição do jornal, então semanário, apareceu na rua no dia 26 de novembro de 1949, tendo desde logo procurado - apesar da posição dominante do futebol nas suas colunas - dar cobertura às restantes modalidades desportivas.


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A primeira edição do jornal Record, em 26-11-1949


Desde 1949, sediado na Travessa dos Inglesinhos, é interessante perceber as origens de um jornal que é hoje dominado pela cor verde, com alguns laivos azuis e essencialmente – para ser elegante - pelo ativismo enviesado do seu produto comercial... Uma pouca vergonha quando se pensa na qualidade dos seus fundadores e em particular em José Monteiro Poças, o seu diretor durante diversas décadas e figura fundamental para a sobrevivência do título!


Para sempre Benfiquista!


Alegre, generoso, dedicado ao seu Clube, Manuel Dias continuou sempre associado ao Benfica, representando-o em diversas ocasiões festivas.


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Dia 10 de junho de 1944, representando o Sport Lisboa e Benfica e o Atletismo nacional na inauguração do Estádio Nacional. Fonte: Hemeroteca Lx



Em 1985, aquando das cerimónias festivas do fecho do terceiro anel da nossa Catedral, Manuel Dias ali se apresentou, provavelmente pela última vez, aos adeptos e sócios. Benfiquistas.


(https://i.postimg.cc/J7scxmPG/B14.jpg)
Ao lado de outros grandes campeões Benfiquistas, a maior parte atletas olímpicos. Da esquerda para a direita, de pé: António Leitão e Manuel Dias (atletismo), Oliveira Ramos (ténis de mesa), Alexandre Yokochi (natação) e Guilherme Espírito Santo (atletismo e futebol). Em baixo, João Campos (atletismo) Uma constelação Gloriosa! Fonte: Lusa


(https://i.postimg.cc/C588ghQ7/B15.jpg)
Até sempre, campeão! Fonte: Lusa



Nasceu humilde, começou como ardina, chegou a atleta olímpico, fundou um clube e fundou um jornal!

Passou por diversos clubes, mas foi no Sport Lisboa e Benfica que encontrou o amor clubístico e se tornou ídolo das massas!

Deixou obra e saudade.

Paz e honra à memória de Manuel Dias!

(https://i.postimg.cc/YCMW5wfN/B16.jpg)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 04 de Outubro de 2021, 20:31
Edição de autor, com o patrocínio da malta e um livro feito por um benfiquista para benfiquistas. Pensa nisso. Isto tem tanto mas tanto valor, é tão profundo, que se calhar a maioria das pessoas nem consegue perceber a verdadeira dimensão do que aqui publicas.

É um grande legado que aqui está. Saibamos valorizá-lo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Outubro de 2021, 21:52
Citação de: Ned Kelly em 04 de Outubro de 2021, 20:31
Edição de autor, com o patrocínio da malta e um livro feito por um benfiquista para benfiquistas. Pensa nisso. Isto tem tanto mas tanto valor, é tão profundo, que se calhar a maioria das pessoas nem consegue perceber a verdadeira dimensão do que aqui publicas.

É um grande legado que aqui está. Saibamos valorizá-lo.


Muito obrigado, Ned!  O0


Uma edição de autor não seria viável do ponto de vista financeiro tendo em conta os direitos de autor das fotografias.

Estes textos não têm qualquer interesse económico associado, daí ser viável o uso de tantas imagens.

Pretende-se:

- lembrar e honrar os Ases que nos honraram o passado

- reunir e transmitir informação tão rigorosa quanto possível sobre figuras e eventos da História do SLB

- valorizar as fotografias, dando-lhe o seu contexto e importância histórica.


E por último, a satisfação de um prazer pessoal que é descobrir e com isso deliciar-me com a grandeza do passado do nosso Clube.

Alguns textos são mesmo explorações no desconhecido. Estes dois sobre Manuel Dias são um bom exemplo. Há duas semanas só sabia que tinha existido e que tinha competido pelo SCP e pelo SLB.

Não sei quantas pessoas leem estes textos mas espero que se sintam como eu quando acabo de os escrever: mais conhecedoras e mais orgulhosas do Glorioso.


Assim, fica aqui um repositório de Benfiquismo para quem quiser ler.
Os textos cujas fotografias estiverem em baixo pode ser carregados de novo, assim alguém o peça.

Pelo Benfica, sempre!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Outubro de 2021, 21:59
Soberbo trabalho Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fundado1904 em 05 de Outubro de 2021, 13:15
Obrigatório passar neste tópico.

O banho de Benfiquismo que nos lava a alma não tem preço.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Outubro de 2021, 14:23
-283-
Rio de paixões (parte I).


Dia 9 abril de 1916, Campo de Sete Rios. Dia de dérbi lisboeta

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Nesta fotografia identifica-se Alberto Rio, extremo-esquerdo do Benfica, jogador rápido e virtuoso, a investir sobre a defesa contrária. Jorge Vieira, o defesa sportinguista, tenta o desarme. À esquerda vemos o Benfiquista Silvestre Rosmaninho e à direita, expectante, está o sportinguista Francisco Stromp. Lá atrás, provavelmente estaria o médio-esquerdo Benfiquista, Cândido de Oliveira.

Nesse dia 9 de abril, jogou-se um jogo de desforra, pedido pelo SCP, depois de no dia 2 de abril, o Benfica ter vencido o SCP por 3-2, com golos do extremo-direito Herculano Santos, do avançado Manuel Veloso e do extremo-esquerdo Alberto Rio (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19151916/amigavel/1916-04-02/sl-benfica-x-sporting-cp).


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Nesse dia 9 de abril, o Benfica voltou a vencer, desta vez por concludentes 3-0. Golos de Alberto Rio, Manuel Veloso e Francisco Pereira... o mano de Artur! (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19151916/amigavel/1916-04-09/sl-benfica-x-sporting-cp) ! Era a confirmação da superioridade Benfiquista que, até 1918, se traduziria na conquista de mais um tricampeonato.


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Lá tiveram de dar o braço a torcer... Fonte: Hemeroteca Lx



Em 1916, com o inexorável definhamento do CIF, vivia-se já um contexto de acesa rivalidade entre Benfica e Sporting. Dois anos antes, Artur José Pereira, jogador virtuoso dos quadros do Benfica e a grande estrela das primeiras décadas do futebol português, tinha desertado para o SCP, a troco de um bom salário e mordomias diversas. Depois disso os dois clubes tinham estabelecido um pacto de cavalheiros de forma a não contratar jogadores entre si, sem confirmar o desinteresse da outra parte. O Benfica respeitou sempre esse acordo...

Em termos desportivos, o Benfica era campeão regional, título arrebatado ao SCP depois de, em 1914-1915, nos terem impedido, pela primeira vez na nossa história, de conquistarmos um tetracampeonato!

Nesses primeiros dias de abril, o campeão Benfica venceu o Sporting por duas vezes, dando o aviso que continuava a ter acesa a chama da conquista e que a nova temporada continuaria a marcar a superioridade vermelha. Assim foi!



1916: procuram-se novas estrelas!

No início da temporada 1916-1917, o Benfica tinha o grande desafio de substituir Cosme Damião, que tinha deixado de jogar, passando em exclusivo para a coordenação de todo o futebol Benfiquista. Álvaro Gaspar tinha morrido no ano anterior e Artur José Pereira tinha desertado para o Sporting fazia já duas temporadas.

Quer isto dizer que o Benfica tinha perdido as suas três grandes estrelas do futebol. Novas estrelas estavam na forja e a mais cintilante, o preferido das massas adeptas, era o extremo-esquerdo, Alberto Rio!

Alberto Rio teve uma carreira longa, repleta de golos, de grandes exibições, mas, como veremos, também de polémicas e roturas. Era um jogador franzino, de baixa estatura, mas de fino recorte técnico, rápido e contumaz. Tinha golo, tinha talento e tinha nervo. Antes como agora, os adeptos dedicam o seu carinho a estes jogadores que contrastam dos restantes.

Assim, não admira que, num tempo, o jogo que se praticava era geralmente pouco técnico e muito violento, jogador adversário que magoasse Alberto Rio fosse alvo da fúria dos adeptos Benfiquistas. E, em alguns dias a contestação acabou mesmo em invasões de campo! Alberto Rio era idolatrado e protegido pelos Benfiquistas.


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Alberto Rio numa investida ao seu estilo num jogo contra o SC Império. Também visível na foto, reconhece-se Álvaro Gaspar. Os dois fizeram uma asa esquerda demolidora para os adversários. Fonte: História SLB 1904-1954.



Das praias de Belém, veio o Rio de paixões


Alberto Sousa Rio nasceu em Belém, na Rua das Freiras às Salésias, nº 45, no dia 9 de janeiro de 1892. Era filho de Eugénio de Sousa Rio, cordoeiro de profissão, também natural de Belém e de Palmira da Conceição, doméstica, natural de Benfica.

Era primo, pelo lado materno, de Francisco Belas, outro belenense que era 4 anos mais velho e que também pertenceu aos quadros do Benfica, entre 1910 e 1919. Alberto teve ainda um irmão, Joaquim, nascido em 20 de fevereiro de 1897 ou seja, 5 anos mais novo, e que também chegou a jogar em equipas juvenis e nas categorias inferiores do Benfica.

Foi na praia e nos descampados de Belém, que Alberto Rio teve os primeiros contactos com a bola, vendo jogar os categorizados pioneiros das primeiras equipas de futebol da nossa História.

Era um tempo de existência precária para múltiplos clubes, que se formavam e desfaziam, vergados às contas e à incapacidade de montar infraestruturas e equipas estáveis. Foram exemplo disso, o Sport Lisboa, o SU Belenense, o Sport de Belém, o Club Vasco da Gama, o Restelo FC, o FC Cruz Negra, e o Ajudense FC, etc.

Quando o Sport Lisboa foi fundado, em Belém, Alberto Rio tinha 12 anos, ou seja, era novo demais para estar envolvido nessa aventura. No entanto, terá sido testemunha desses tempos em que se deram os primeiros treinos nos descampados de Belém e da Ajuda.

Era o tempo em que a criançada emulava os ídolos da bola, pontapeando bolas de trapos, papeis velhos, o que quer que fosse que pudesse comportar-se como uma bola de futebol. Era o tempo de fugir de casa e de ir para trás das balizas dos ídolos, de esperar uma bola transviada e fugir com ela, evitando se possível levar uns taponas pela ousadia! Era o tempo de ficar com o vício entranhado no corpo de tal forma que duraria até ao fim das suas vidas. Era o tempo do futebol puro e apaixonado. Foram esses os tempos da infância de Alberto Rio.


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Os jogos e os treinos em Belém, no início do século XX, tinham sempre multidões a assistir. É perfeitamente visível a presença de crianças.


Para piorar, em casa, o pai Eugénio nem queria ouvir falar de futebol, mas pela insistência ou pela incapacidade de torcer o miúdo e ainda pela intervenção do primo Francisco Belas, o pequeno Alberto lá conseguiu que lhe comprassem umas botas de futebol e lhe dessem a autorização para que entrar no "team" infantil do Sport União Belenense (SUB).


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Equipa do Sport União Belenense, talvez de 1907. Clube efémero de Belém, onde se revelaram Francisco Belas e Artur José Pereira.


O SUB, que se vestia de azul, teria existência efémera apesar de ter alguns feitos desportivos nos campeonatos regionais. Os seus futebolistas mais destacados vieram a ser Francisco Belas, Artur José Pereira, Salvador Ângelo e Francisco Viegas. Todos eles vieram a integrar os quadros do Benfica.

Em 1907, Alberto Rio rondava os 15 anos e ainda estava na equipa juvenil do SUB mas por volta de 1909 acabaria por também se juntar aos quadros do Sport Lisboa e Benfica, atraído pela sua popularidade e crescente grandeza.


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Equipa da 1ª categoria do Benfica de 1912-1913, onde jogaram ao mesmo tempo os 4 futebolistas vindos do Sport União Belenense.


Curiosamente, a primeira ligação da família Rio ao nosso Clube, deu-se ainda nos tempos do Sport Lisboa, quando em janeiro de 1906, Manuel Gourlade emitiu uma fatura, atestando que o Clube tinha pago 900 reis a Eugénio do Rio, pela reparação de uma rede de baliza!


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Fonte: História SLB 1904-1954


Em 1909, quando Alberto Rio entrou para o Benfica, já tinham passado os tempos do Sport Lisboa, clube sediado em Belém, mas ainda assim mantinham-se intactas as ligações do clube vermelho ao universo belenense. Aliás, Belém continuava a ser o grande viveiro de novos jogadores para o Clube.



Uma estreia em grande!

Espantosamente, Alberto Rio faria a primeira partida pela 1ª categoria do Benfica logo no dia 28 de fevereiro de 1909, ou seja, num dia em que o Clube completava 5 anos e em que Alberto tinha pouco mais de 17 anos de idade. Nessa precoce estreia, que provavelmente apenas aconteceu por uma rara conjugação de circunstâncias, o Benfica defrontou justamente o SUB. Vencemos por concludentes 5-0 e com a marca distintiva de Alberto Rio ter marcado o último golo!

Apesar dessa ascensão meteórica à primeira equipa, nas suas três primeiras temporadas Benfiquistas, Alberto não se fixou como titular, tendo sido inscrito e disputado muitos jogos pelas categorias inferiores, em particular pela 2ª categoria. Viveu então tardes vitoriosas em que o perfume do seu futebol valeu golos e títulos, deixando claro que o seu destino era a primeira categoria.


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Alberto Rio na 2ª categoria do SLB. Fonte: História SLB 1904-1954



Aliás, é muito provável que a sua ascensão à primeira categoria não tenha sido mais rápida pelo facto de Cosme Damião dar muita importância à competitividade e aos títulos conquistados, em todas as categorias. De forma coerente, o Clube tinha um modelo desportivo em que mobilizava pontualmente alguns elementos da primeira equipa para as categorias inferiores assegurando a transmissão de experiência competitiva aos mais novos, e também a exemplificação do comportamento desportivo que era exigido aos atletas do Clube. Os veteranos Carlos França, Félix Bermudes, António Costa e David da Fonseca foram exemplos dessa transmissão da Mística!


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Fonte: História SLB 1904-1954



Vitórias, golos e títulos!

A partir de janeiro de 1913, Alberto Rio fixar-se-ia definitivamente na 1ª categoria, jogando ao lado de Cosme Damião, Álvaro Gaspar e Artur José Pereira, entre outros. Foi um tempo de grandes equipas e grandes vitórias.


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Os campeões regionais de Lisboa em 1913-1914. Alberto Rio, sentado na extrema esquerda, integrado numa das mais famosas equipas da História do Sport Lisboa e Benfica.


Na primeira categoria, ao longo das 10 temporadas em que jogou no Benfica, Alberto Rio foi titular em 6, disputando 121 jogos, marcando 78 golos e conquistando 7 títulos regionais de Lisboa, em futebol. Estes números, impressionantes para a época, são conclusivos acerca da qualidade e da importância da contribuição de Alberto Rio para os triunfos Benfiquistas.


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Em 1913, com 25 anos de idade, Alberto Rio já tinha algum destaque mediático, como um dos elementos da equipa do Benfica que venceu um misto inglês durante umas festas organizadas por José de Alvalade e o seu avô visconde... Fonte: Hemeroteca Lx



Em termos internacionais, Alberto Rio falhou a digressão de uma seleção de Lisboa ao Brasil, apesar de estar em esplêndida forma. Foi preterido por João Bentes do SCP..., talvez uma questão de estatuto, talvez pela impossibilidade de deixar o trabalho e ausentar-se do país. Não integrou também a digressão do Benfica a Bilbau e a Madrid, na transição entre 1914 e 1915, mas esteve presente nas digressões do Benfica pela Corunha em 1912 e por Madrid em 1913.


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Fotografia colorida a partir de original publicado em História SLB 1904-1954


O último jogo de Alberto Rio no Benfica, foi disputado no dia 3 de Fevereiro de 1918, uma vez mais contra o Império, numa vitória Benfiquista por 2-1, com golos de Manuel Veloso e Artur Augusto (https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19171918/campeonato-de-lisboa/1918-02-03/imperio-lisboa-clube-1-x-2-sl).


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Apesar de datada de 2 de novembro de 1913, a imagem colorida dá uma ideia do que terá sido o último jogo de Alberto Rio com a camisola vermelha. Pelo Império reconhece-se Robert de Matos, jogador que anos antes também passou pelos nossos quadros. Fonte: História do SLB 1904-1954 e Hemeroteca Lx



Em fevereiro de 1918, quando abandonou o Benfica, Alberto Rio era o melhor marcador de sempre do Clube, com 78 golos marcados. Somente 3 anos depois, Herculano Santos ultrapassaria esta marca.

No próximo texto falaremos dos litígios e das polémicas que rodearam a saída e o possível regresso de Alberto Rio ao Sport Lisboa e Benfica.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 10 de Outubro de 2021, 20:05
Estas aulas de Benfiquismo enchem a alma.
Obrigado enorme Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Outubro de 2021, 22:00
Citação de: Alexandre1976 em 10 de Outubro de 2021, 20:05
Estas aulas de Benfiquismo enchem a alma.
Obrigado enorme Red VC.

Muito obrigado, Alexandre  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Outubro de 2021, 22:21
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Rio de paixões (parte II)


Turbulência no Campo Grande

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As circunstâncias que levaram à saída de Alberto Rio do Benfica foram rocambolescas e nem tudo está esclarecido. Em fevereiro de 1918, após algum tempo de insatisfação pessoal por motivos não conhecidos, Alberto Rio faltou a um jogo da 1ª categoria. Deixou também de comparecer aos treinos e, apesar de questionado, não justificou as ausências.

Em coordenação com o Conselho Técnico do Clube, a Direção do Benfica, então liderada por Bento Mântua, esperou até ao dia 12 de junho de 1918, altura em que puniu o jogador com 6 meses de suspensão de atividade. Apesar do jogador continuar ausente, e das polémicas então verificadas, em outubro de 1918, o Benfica ainda procedeu à renovação da inscrição do jogador na Associação de Futebol de Lisboa.

Só que, para surpresa geral, no dia 2 de junho de 1918, em dia de jogo no Campo Grande, Alberto Rio aparece vestido com as cores do SCP num jogo em que os leões defrontavam o Sevilha FC. A surpresa e a reação do público acabaram por aconselhar a que o jogador não jogasse essa partida.

No dia 19 de junho, a comissão diretiva do SCP enviou à Direção do Benfica, um pedido de informação sobre a situação de Alberto Rio. Com este pedido, comprovava-se que os leões tinham tentado utilizar um jogador que ainda não tinha sido proposto para associado do SCP, um requisito indispensável para a época. E, muito menos, tinham verificado se o jogador estava efetivamente desligado do anterior clube....

A resposta da Direção do Benfica esclareceu que o jogador continuava a ser associado do Benfica embora estivesse suspenso de atividades desportivas. O SCP enviou então a incrível resposta de que, depois de analisar os estatutos do Benfica, considerava que esse castigo era extemporâneo e que não era aplicável ao dito jogador!


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Actores maiores das turbulências em torno de Alberto Rio


Interessa dizer que à época, dois anos passados desde a deserção de Artur José Pereira, vigorava um acordo de cavalheiros entre os dois clubes. Ambos se comprometiam a consultar o clube rival para evitar contratações de jogadores ainda com vínculo associativo à outra parte. Esse acordo tinha aliás sido respeitado pelo Benfica nesse mesmo ano, quando, em abril de 1918, o jogador sportinguista Jaime Gonçalves se ofereceu para ingressar no Benfica. Essa inscrição foi rejeitada pela Direção de Bento Mântua, depois de falar com a comissão administrativa do SCP.

Pouco tempo depois, no dia 7 de julho de 1918, Alberto Rio lá se estreou com as cores do Sporting, enfrentando o Império LC, na meia-final da "Taça mutilados de guerra"! Foi um escândalo! As bancadas do Campo Grande estavam ainda repletas de adeptos Benfiquistas, uma vez que ali mesmo tinha acabado de se disputar a primeira meia-final dessa competição, em que o Benfica venceu o Vitória de Setúbal (3-2)!

À visão de Alberto Rio com as cores do Sporting, respondeu o público com uma enorme contestação, pouco se importando com a presença do presidente da República, Sidónio Pais! Foi um daqueles momentos de esvaziamento de um ídolo das multidões. E, o facto é que, o jogador jogou pouco no SCP e nunca mais se mostrou ao nível que se tinha exibido no Benfica. Alberto Rio tinha 26 anos de idade.

A situação de Alberto Rio causou também enormes tensões internas no Sporting, com alguns dirigentes a revoltarem-se perante tão grosseiro desrespeito do pacto de cavalheiros que existia com o Benfica. E assim, no dia seguinte à estreia de Alberto Rio no SCP, dois diretores sportinguistas, Mário Pistachini e Manuel Cárabe, demitiram-se da comissão administrativa do clube, que então geria o clube, na sequência de uma crise diretiva que tinha levado à saída de José Alvalade. Pistachini, foi ainda mais longe, e por uma questão de honra pessoal, escreveu uma carta à Direção do Benfica, apresentando as suas desculpas.


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Carta de demissão do dirigente sportinguista Mário Pistachini, na sequência do caso Alberto Rio. Fonte: adaptado de História SLB 1904-1954



No final dessa temporada, apesar do SCP ter vencido o campeonato regional, Alberto Rio abandonou o SCP, percebendo que não tinha condições para permanecer no Campo Grande. Aparentemente, o seu ingresso no SCP ter-se-á ficado a dever a uma sugestão feita pelo seu amigo Artur José Pereira, mas nem este o terá convencido a ficar. Foi tão curta e tão apagada essa experiência sportinguista, que nem sequer encontrei uma fotografia de Alberto Rio com a camisola Stromp...



Turbulência em Belém

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Depois do SCP e sem destino definido, Alberto Rio esteve uma temporada sem jogar, treinando no Sport Clube Bom Sucesso, popular coletividade da zona de Belém. Ali aguardou uma oportunidade que chegaria apenas em agosto de 1919.

Em finais de 1918, Alberto Rio ter-se-á até mostrado disponível a regressar ao Benfica, mas essa intenção gerou polémica entre a massa associativa e não foram tomadas decisões. Ao mesmo tempo existiam conflitos internos entre Carlos Sobral, elemento preponderante de equipa de futebol e membro da Comissão Técnica do Clube (juntamente com Cosme Damião). Todas estas situações agudizavam tensões internas nunca resolvidas desde os tempos da mudança de Belém para Benfica.

Ora, os quadros de futebolistas tinham ainda diversos jogadores veteranos, naturais de Belém: Henrique Costa, Romualdo Bogalho, Francisco Pereira, Aníbal dos Santos e Manuel Veloso. Todos sentiam a nostalgia do passado e a crescente falta de identificação com os novos tempos, num Clube cada vez com maior dimensão e quase desligado de Belém. Todos estavam também contra as punições disciplinares de Alberto Rio e a favor da posição de Carlos Sobral. Crescia e aglutinava-se o descontentamento....

Mas as sementes de insatisfação belenense germinavam também no Campo Grande. Apesar de ser a estrela do SCP, também Artur José Pereira estava insatisfeito, sentindo cada vez mais premente a necessidade de sair para por fim fundar um clube na sua terra. Verdade ou fantasia, diz-se que o nascimento do CF "os Belenenses, foi decidido em finais de agosto de 1919, no jardim Afonso Albuquerque, num banco de pedra, que ainda hoje lá está identificado.


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Fonte: CFB


A esse propósito, Henrique Costa lembrou muitos anos depois, os eventos desse dia;

(...) O Artur era o defensor acérrimo da fundação de um grande grupo em Belém. Dois anos antes do aparecimento dos 'Belenenses' havia acabado o 'União Sport Belenense', pequeno agrupamento onde jogavam [jogaram], além do Artur, Francisco Belas, Amadeu Cruz e outros que não me recordo.

Porém, o Artur não desistia e, uma noite em fins de Agosto de 1919, num banco do jardim Afonso de Albuquerque aproveitou a presença de um numeroso grupo de amigos para debater a sua idéia de sempre. Estavam presentes Joaquim Dias, Júlio Teixeira Gomes e os futebolistas Francisco Pereira, Manuel Veloso, Romualdo Bogalho, Artur José Pereira e eu.

O seu pretexto que, aliás, veio a vingar era o de responder à atitude do Benfica que castigava Alberto Rio, formando um grupo que reunisse todos os jogadores do bairro espalhados pelos principais clubes da cidade.

Eu fui o único que se opôs à fundação do grupo, mas por unanimidade fui designado para me avistar com a Direcção do Benfica, fazendo-lhe sentir a mágoa provocada pela saída do Alberto Rio que no caso de não ser readmitido levaria os rapazes de Belém a constituírem um grupo de futebol. A Direcção do Benfica não fez caso e eu, a partir desse momento, emparceirei com os restantes." Fonte: blogue "Canto Azul ao Sul"


Pelo que atrás se disse, importa ressalvar a figura Henrique Costa, então capitão de equipa e talvez o mais notável defesa das primeiras duas décadas do nosso futebol. Em 1919, Henrique continuava a ser um leal companheiro de Cosme Damião, um veterano de muitas batalhas. Tinha um trajeto ilustre no nosso Clube, mesmo quando nos lembramos que, em maio de 1907, desertou para o SCP, pensando que o Sport Lisboa estava condenado à extinção. Um ano depois regressou, logo que se certificou que o Clube continuava vivo.

Durante os conflitos de 1918 e 1919, Henrique Costa tentou fazer pontes entre as duas partes, mas sem qualquer sucesso. Perante a cisão, acabou por falar mais alto o seu amor por Belém e decidiu abandonar o Sport Lisboa e Benfica e ajudar a fundar o CF "os Belenenses". E seria dele a proposta de adotar a cor azul para os equipamentos do FCB.

O abandono de Henrique Costa foi uma perda significativa, mas em nada faz desmerecer a nobre e inestimável contribuição que deu ao Sport Lisboa e Benfica.


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Quatro figuras chave na fundação do CF "os Belenenses"


A proposta de fundação do novo clube foi então apresentada a duas figuras ilustres de Belém, dirigentes respeitados do futebol lisboeta: Virgílio Paula e Francisco Reis Gonçalves. O primeiro foi jogador do Benfica entre 1908 e 1913. O segundo foi fundador do... Sport Lisboa! Ambos apoiaram a proposta e deram consistência ao projeto. O CFB nasceria em 23 de setembro de 1919.

Do Benfica, vieram: Henrique Costa, Carlos Sobral, Francisco Pereira, Romualdo Bogalho, Joaquim Rio, Francisco Belas, Aníbal dos Santos e Eduardo de Azevedo. Do Sporting veio: Artur José Pereira. De notar que outros elementos antigos do Benfica estiveram presentes quer na fundação quer nos órgãos sociais do clube nesses primeiros anos: António Bernardino Costa e Luís Vieira são dois exemplos desse envolvimento de membros dos tempos do Sport Lisboa.


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Os 28 fundadores do CFB


A estes juntou-se... Alberto Rio!


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A primeira equipa da história do CF "os Belenenses". Alinhou contra o Vitória FC no dia 30 de novembro de 1919. Dos 11 jogadores, 6 vieram do Benfica e 2 do Sporting. Todos esses 8 jogadores passaram pelos quadros do Benfica.


De zangas recentes e nostalgias persistentes, assim se fundou o CFB!

Os manos Rio puderam enfim jogar juntos.


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Os manos Rio.


Alberto Rio ainda conseguiu recuperar alguma da sua forma antiga, tendo sido selecionado por duas vezes para representar a seleção nacional portuguesa, no segundo e no terceiro jogos da história da FPF.


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Os dois jogos internacionais de Alberto Rio. Fonte: FPF



Antes, no primeiro jogo, o seu nome foi falado assim como o de Artur José Pereira, e uma vez mais com polémica, mas isso são outras histórias.


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Segunda edição do DL de 17-12-1923 sobre o segundo jogo da selecção nacional. De notar o destaque dado a Alberto Rio.



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Cumprimentos antes do Portugal – Espanha de 16-12-1923, vencido pelos espanhois por 2-0. Alberto Rio cumprimenta o capitão espanhol, Alcantara. Fonte DL


Jogou no CFB até à temporada 1925. Nas décadas seguintes tornou-se uma figura respeitável do clube do Restelo, sendo homenageado em diversas ocasiões. Em particular, depois de 1945, data da morte de Artur José PEreira, tornou-se na elemento ainda vivo, celebrado dos tempos da fundação do Clube.


(https://i.postimg.cc/xT5FJGhk/B09.jpg)Alberto Rio homenageado no Estádio do Restelo na década de 60. Fonte: Belenenses Ilustrado


Alberto de Sousa Rio faleceu em Belém, no dia 15 de dezembro de 1978. Tinha 86 anos de idade.

Joaquim de Sousa Rio veio a falecer no dia 11 de agosto de 1981. Tinha 84 anos de idade.

Paz à memória dos manos Alberto e Joaquim Rio.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luckyluke em 13 de Outubro de 2021, 10:10
(https://1.bp.blogspot.com/-h_UnWizds18/W3BgSpK4KMI/AAAAAAAAKto/3p6NpUQCzT0Vr8C1WwqQi20yyXm7dKnGwCEwYBhgL/s1600/4fedc664e97dde99f1e5554b82f6ac62.jpg)

Esta grande equipa do Benfica e com Mortimore a treinador que fez parte de do recorde da europa de 56 jogos consecutivos sem perder (entre 1976/77 e 1978/79), recorde que ainda hoje vigora em Portugal, foi na antepenúltima jornada  assaltada em Maio de 1978 em pleno dia nas Antas acabando por perder o tetra e o campeonato nacional sem derrotas e em igualdade de pontos com os corruptos que já na altura começavam com a podridão do futebol português sendo o Pinto da Costa o chefe de departamento de futebol.

Em cima da esquerda para a direita: Eurico-Nené-Bastos Lopes-Toni-José Luis e Fidalgo.
Em baixo pela mesma ordem: Chalana-Pietra-Humberto Coelho-Alberto e Shéu.

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2019/05/como-se-impediu-um-tetra-do-benfica-em.html
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 13 de Outubro de 2021, 12:33
O Pinto da Costa e o Pedroto...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 13 de Outubro de 2021, 17:10
O Bento não jogou nesse jogo porque tinha sido expulso em Setubal 2 jornadas antes. E tinhamos perdido durante a época 2 jogadores extraordinarios,Os 2 Vitores,o Martins e o Baptista.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Outubro de 2021, 21:11
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Um Príncipe e um Marquês

Tóquio, Japão, dia 29 de agosto de 1970


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Um momento excepcional da dimensão universal do Sport Lisboa e Benfica. (foto colorida a partir de original sportshows


Um príncipe do império do sol nascente!

Masahito, o príncipe Hitachi do Japão, segundo na linha de sucessão do trono imperial e a sua esposa, a princesa Hanako, descem ao relvado do Estádio de Osaka, para tirar uma fotografia com a equipa principal e futebol do Sport Lisboa e Benfica.

Este gesto de um membro da Casa Imperial do Japão foi encarado como uma distinção que o Japão desejou fazer a Portugal e no caso particular ao grande Benfica. Não foi por acaso ou capricho.

O nosso Clube chegava a Tóquio, simbolizando na vertente social a excelência da Alma Lusitana, e na vertente desportiva a excelência competitiva traduzida nas muitas vitórias conquistadas na década anterior.

Embora a década de 50 tenha marcado um significativo aumento das digressões ao estrangeiro do Sport Lisboa ao Benfica, foi na década de 60, com as conquistas europeias, que se deu a universalização do Benfica. Em sucessivas digressões, o nosso Clube adquiriu notoriedade planetária, sempre honrada pela distinção social e desportiva com que se apresentava.

Interessa também lembrar que as relações entre japoneses e portugueses são especiais pela sua antiguidade e pela sua natureza, distinta relativamente aos restantes ocidentais.

Os primeiros marinheiros das naus portuguesas, vindos de Macau, desembarcaram nas praias da ilha de Tanegashima em 1543, um tempo em que o Japão se encontrava relativamente isolado do mundo exterior.


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"Chegada de uma nau portuguesa". Biombo de Arte Nanbam, (1620-1640). Fonte: Google Arts & Culture



Portugal e o país do sol nascente

Portugal foi a primeira nação europeia a chegar e a estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o Japão. A sua chegada, aparentemente por caprichos de uma violenta tempestade, acabaria por originar um intercâmbio comercial e cultural inédito para os japoneses.

Acerca dos portugueses, para lá de alguns costumes e modos considerados bárbaros pela sua sofisticada cultura, os japoneses mostraram-se curiosos e ávidos de conhecimento. Foi também uma oportunidade de ganhar consciência da configuração do planeta, dos seus continentes, povos e oceanos.

Em 1606, Teppo Ki, na sua "Crónica da Espingarda", descrevia as impressões do chinês que atuou como intérprete entre o Senhor de Tanegashima e os primeiros portugueses a chegar ao Japão:

"Estes homens bárbaros do Sudeste são comerciantes. Compreendem até certo ponto a distinção entre superior e inferior, mas não sei se existe entre eles um sistema próprio de etiqueta. Bebem em copo sem o oferecerem aos outros; comem com os dedos, e não com pauzinhos como nós. Mostram os seus sentimentos sem nenhum rebuço. Não compreendem os caracteres escritos. São gente sem morada certa, que troca as coisas que possuem pelas que não têm, mas no fundo são gente que não faz mal".  Fonte: http://www.culturajaponesa.com.br/


Do lado dos portugueses, a imagem de civilidade em que, de modo implícito, os japoneses se reviam é posteriormente relatada pela Companhia de Jesus que salientaram a polidez no trato, a afabilidade, o respeito pelas precedências, o horror ao furto ou a frugalidade na alimentação... (fonte: Expresso)

A influência portuguesa no Japão estabeleceu-se em quatro grandes áreas: religiosa, política, cultural e económica. Os portugueses deram aos japoneses contacto inédito com produtos e técnicas até então desconhecidas. Influenciaram a dieta alimentar; as técnicas metalúrgicas, a construção naval e os meios de navegação. Levaram um novo tipo de farmacêutica e medicina, deram a conhecer novas línguas, como o português e o latim; transmitiram novas noções estéticas e diferentes estilos artísticos, roupas e armaduras ocidentais, a pintura a óleo, a matemática, a geografia, a engenharia, e a música. Deram também a conhecer o uso do relógio, do vidro, dos óculos, dos espelhos e da lã. (adaptado de https://www.vortexmag.net/a-influencia-portuguesa-na-cultura-do-japao/)

Igualmente importante é a introdução das armas de fogo e o uso da pólvora no arquipélago japonês, que terá ocorrido de modo espontâneo pelos primeiros mercadores portugueses. O senhor de Tanegashima terá comprado de imediato dois arcabuzes, sem discutir sequer o preço, para logo de seguida, ordenar a um dos seus vassalos o estudo do método de fabrico dos arcabuzes. O estudo foi bem-sucedido e a fama das armas de fogo espalhou-se de Kyushu a Kyoto (fonte: Expresso). Essa introdução terá permitido que o Japão se armasse e organizasse de forma a dissuadir o expansionismo do império asiático espanhol para o arquipélago nipónico, garantindo um destino bem diferente do das Filipinas.

Os fluxos comerciais geridos pelos portugueses no Japão prosperaram até cerca de 1641. Nessa altura os portugueses foram banidos e substituídos pelos holandeses, que não tinham quaisquer propósitos missionários cristãos. A fascinante e diversificada influência portuguesa no Japão ainda hoje é reconhecível.


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Os japoneses conhecem e valorizam o impacto e o significado histórico que Portugal teve na história do seu país.

Ora, em 1970, o Japão organizava a Exposição Mundial de Osaka, evento marcante para os nipónicos, e no qual os portugueses participaram com um pavilhão e com eventos culturais e desportivos. Deu-se plena importância à secular relação entre os dois povos organizando espetáculos por figuras relevantes da Cultura nacional tais como Amália Rodrigues, Carlos Paredes, Duo Ouro Negro e... num outro registo, o "Benfica de Eusébio"!


https://www.youtube.com/watch?v=wup7srQ2wRo (https://www.youtube.com/watch?v=wup7srQ2wRo)
A Expo Mundial de Osaka, 1970


O Benfica foi convidado no contexto dessa Expo 1970, mas também no âmbito do programa das celebrações do jubileu (50 anos) da "Associação de Futebol do Japão", ou seja, a federação japonesa de futebol. O convite e a forma como o Benfica foi recebido no Japão, mostraram bem a importância que o Sport Lisboa e Benfica mereceu das autoridades nipónicas. As expectativas ficaram bem expressas nos bilhetes.


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Bilhetes relativos aos dois jogos de Tóquio, onde se associavam símbolos nacionais e desportivos, identificando Benfica e Eusébio.



Um marquês... da Praia e Monforte!

Ao lado do príncipe Masahito, e comandando a comitiva Benfiquista, identifica-se o Dr. Duarte António Borges Coutinho. Não que no Benfica isso fizesse qualquer diferença e muito menos que o Dr. Borges Coutinho fizesse a mais alusão ao facto, mas na verdade era detentor do título nobiliárquico de 4º Marquês da Praia e de Monforte. Nobre, sim, mas de sangue vermelho, à Benfica!


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O 26º presidente da História do Sport Lisboa e Benfica.


O melhor texto que conheço sobre o Dr. Borges Coutinho, Águia de Ouro em 1973, é da autoria de Alberto Miguéns e pode e deve ser lido, aqui:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/04/muito-mais-que-um-presidente.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/04/muito-mais-que-um-presidente.html)


Uma longa digressão

A chegada da comitiva Benfiquista a Osaka aconteceu no dia 23 de agosto de 1970, embora tivessem saído de Portugal quase um mês antes. Aliás, saíram em 27 de julho de 1970, no dia em que morreu Salazar! Antes de chegar ao Japão, o Benfica iniciou a digressão em Luanda, passando depois por Lourenço Marques e, entrando na Ásia, esteve em Macau e Hong Kong.

Com escala na Ilha Formosa, os Benfiquistas chegaram finalmente a Osaka, num dia chuvoso, instalando-se em Kobe, onde a 25 de agosto disputaram o primeiro de três jogos contra a seleção do o Japão.


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Eusébio e Matine na chegada a Osaka.


Os dois restantes jogos foram disputados em Tóquio. Foram três vitórias, com um acumulado de 13-2, em golos (3-0; 4-1 e 6-1). A digressão depois seguiria para Seul, Coreia do Sul, tendo ali o Benfica disputado dois jogos contra duas seleções coreanas (vitória 5-0 e empate 1-1).



O plantel


Não são precisos muitos adjetivos, pois não?


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Parte da comitiva Benfiquista na digressão "Africa-Ásia" de agosto-setembro de 1970.


Há uma elevada probabilidade de a comitiva ter integrado mais alguns membros do apoio técnico e tenho dúvidas sobre quem efetivamente foi por parte da equipa médica.

Apesar da superlativa qualidade do plantel, a nova temporada era iniciada num contexto marcado pela desastrosa temporada anterior, por sinal a primeira em que o Dr. Borges Coutinho tinha preparado. E não se podia dizer que tivesse tomado más opções pois manteve Otto Glória, treinador campeão e tinha contratado Fonseca, Messias e principalmente Artur Jorge. Assim, nessa desastrosa temporada de 1969-1970, o Benfica apresentava-se com tricampeão e com o plantel reforçado, tudo apontando que fosse finalmente conquistado o tetracampeonato. Ao invés, tudo correu mal ou até extremamente mal.


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A catastrófica temporada de 1969-1970 foi a base com que o Dr. Borges Coutinho e Jimmy Hagan prepararam a temporada de 1970-1971...


O único consolo acabou por ser a conquista da Taça de Portugal, vencendo o Sporting CP por claros 3-1. Foi a confirmação da maior classe do nosso plantel, mas também a demonstração de que era necessária outra orientação e acima de tudo outra disciplina.

No balanço dessa temporada desastrosa, e com apenas um ano de presidência, o Dr. Borges Coutinho tinha a dura tarefa de preparar a época de 1970-1971. O desafio passava não apenas por rejuvenescer a equipa, mas também por disciplinar e rentabilizar o grande talento que ainda existia no plantel, isto apesar das saídas de jogadores marcantes como Coluna, José Augusto, Cruz, Humberto Fernandes e Abel. No sentido oposto, tinha sido feita apenas uma aquisição com algum impacto no plantel: Barros.... Ou seja, ficou claro que as mudanças não passavam por contratações.


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O plantel de 1970-1971.


E, para um homem educado na disciplina inglesa, a lógica ditou a entrada de um novo treinador, o duro e fleumático Jimmy Hagan. Assim, o segundo treinador britânico dava os primeiros passos ao leme do nosso futebol, tendo-se estreado num jogo em Luanda em que vencemos o Vitória FC por 2-1.


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Jimmy Hagan ladeado por José Augusto (adjunto) e Francisco Calado (chefe do departamento de futebol). (Fotografia colorida a partir de original Sportsphoto)


Hagan seria uma aposta ganha, mas teve um início muito mais complicado do que hoje as pessoas recordam. Foram as queixas dos jogadores por via dos inusitados treinos e do rigor disciplinar do inglês e foram também os resultados desportivos e o atraso pontual para o Sporting durante a primeira volta. No final seríamos campeões com classe, iniciando a conquista de mais um tricampeonato.


Eusébio 4 - Japão 1!


Voltando ao jogo de Tóquio, com uma assistência de cerca de 50.000 pessoas e com transmissão televisiva A CORES, o que significa que milhões de pessoas viram a partida, o Benfica alinhou de inicio com o seguinte onze:


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(Fotografia colorida a partir de original Sportsphoto). Jogariam ainda Barros, Vítor Martins, Praia e Raul Águas.


Ainda antes do jogo se iniciar foi captada uma outra imagem que mostra a comemoração entre as 3 equipas em campo. Uma celebração da amizade entre os povos, com a linguagem comum do futebol. Também um reconhecimento à excelência do Benfica e de Eusébio.


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As três equipas em confraternização. (Fotografia colorida a partir de original Sportsphoto)


E quanto ao jogo, sendo preciso lembrar que era um jogo de pré-temporada, temos a sorte de ter disponíveis quer um resumo quer o jogo integral. É só é pena que as imagens a cores não estejam disponíveis:


https://www.youtube.com/watch?v=ovn2OdlM7PY (https://www.youtube.com/watch?v=ovn2OdlM7PY)
Jogo completo


https://www.youtube.com/watch?v=VNZ2sqTe7KE (https://www.youtube.com/watch?v=VNZ2sqTe7KE)
Resumo do jogo


Uma vez mais Eusébio deu plena expressão à sua classe, reforçando a dimensão planetária do Benfica. Foram quatro golos, mas poderiam ter sido mais outros tantos, entre bolas ao poste e defesas apertadas do guarda-redes adversário. O quarto golo de Eusébio foi uma obra-prima e foi saudado por uma estrondosa ovação por parte do público nipónico.


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Eusébio na plena expressão das suas faculdades, arrasou no país do sol nascente!


Valha a verdade, foi mais um Eusébio 4 – Japão 1!


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Fonte: sportshow e DL



No jogo seguinte Eusébio marcaria mais dois golos, na vitória sobre a seleção japonesa por conclusivos 6-1.


Uma lenda!


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Eterno Eusébio, eterno Benfica!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 13 de Outubro de 2021, 22:20
RedVC,
Lenda do SB!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Outubro de 2021, 22:39
Citação de: Ned Kelly em 13 de Outubro de 2021, 22:20
RedVC,
Lenda do SB!

:ashamed:



Obrigado, Ned. O0

Este foi bem esgalhado e deu algum trabalho

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 14 de Outubro de 2021, 11:32
Foi desta digressão que trouxemos a vénia que a equipa fazia aos sócios na Luz.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 14 de Outubro de 2021, 12:02
(https://pbs.twimg.com/media/FBp6JdtWQAEzB5b?format=jpg&name=small)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Outubro de 2021, 19:09
Citação de: Baron_Davis em 14 de Outubro de 2021, 12:02
(https://pbs.twimg.com/media/FBp6JdtWQAEzB5b?format=jpg&name=small)

17 de Março de 1976. Estádio Olímpico de Munique. Dia de temporal de golos bávaros...

Benfica com uma grande equipa mas que deu de frente contra um colosso.

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19751976/taca-dos-campeoes-europeus/1976-03-17/bayern-munchen-5-x-1-sl


(https://i.postimg.cc/rmXLRkqW/13.png)


O meu falecido pai dizia que o Benfica quando jogava de branco a coisa corria para o torto. É claro que era enfatizar algumas experiências pontuais mas que lhe deixaram mossa como a final de Wembley, em 1968 e este jogo.

Eu, já me lembrava do fabuloso Roma 1-2 Benfica e por isso não ligava muito a esta suposição do meu pai. Depois fiqeui alérgico ao amarelo com que o Liverpool se apresentou alguns anos depois na Luz...

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Outubro de 2021, 19:13
Citação de: Ned Kelly em 14 de Outubro de 2021, 11:32
Foi desta digressão que trouxemos a vénia que a equipa fazia aos sócios na Luz.

Sim, penso que foi António Simões que lançou a ideia.

Para um miúdo que eu era, ver aquilo na década de 80 dava-me uma boa ideia do que era ter classe. Havia respeito pelos sócios, e receio pelo tribunal da Luz no 3º anel, como se dizia.

O meu Clube de infância tinha demasiada democracia. Mantinha a honrava a tradição, garantida em tempos bem mais exigentes e duros do que os que hoje vivemos. Foi assim que se fez gigante e é assim que tem de voltar a ser, para ser amado, para ter futuro e para continuar a honrar os Ases que lhe honraram o passado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 14 de Outubro de 2021, 23:16
Essa equipa que perdeu em 76 em Munique já estava algo enfraquecida em relação ao dream team do inicio da decada de 70.A revolução e a consequente perda do poder em recrutar em África grandes jogadores aliada á politica de vetar o ingresso de estrangeiros no nosso plantel também ajudou.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 14 de Outubro de 2021, 23:17
Tinhamos perdido no defeso de 75-76 um naipe de jogadores importantes,alguns já a entrar na veterania.Sairam Humberto,Jaime Graça,Adolfo,Artur Jorge,Simões e o King Eusébio.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Outubro de 2021, 13:15
Citação de: Alexandre1976 em 14 de Outubro de 2021, 23:17
Tinhamos perdido no defeso de 75-76 um naipe de jogadores importantes,alguns já a entrar na veterania.Sairam Humberto,Jaime Graça,Adolfo,Artur Jorge,Simões e o King Eusébio.

Sim, e depois Romão Martins tratou do resto...
Ter Romão Martins na Direção do Dr. Borges Coutinho foi um daqueles absurdos inexplicáveis.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luckyluke em 16 de Outubro de 2021, 13:16
Citação de: RedVC em 15 de Outubro de 2021, 13:15
Citação de: Alexandre1976 em 14 de Outubro de 2021, 23:17
Tinhamos perdido no defeso de 75-76 um naipe de jogadores importantes,alguns já a entrar na veterania.Sairam Humberto,Jaime Graça,Adolfo,Artur Jorge,Simões e o King Eusébio.

Sim, e depois Romão Martins tratou do resto...
Ter Romão Martins na Direção do Dr. Borges Coutinho foi um daqueles absurdos inexplicáveis.
O Romão Martins enfraqueceu-nos a equipa. Deixou antes ir Jordão e Artur Ruço, e depois o Eurico e o Fidalgo, todos para o Sporting para virem o veterano Laranjeira e o veterano Botelho...
O Romão Martins lesou o Benfica por incompetência e por ser um unhas de fome.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Outubro de 2021, 09:33
-286-
Militar e associativista (parte I) – revolução

Cacilhas, 2 de fevereiro de 1926:


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Movimento de 2 de fevereiro de 1926: em Almada, o Major Faria Leal em plenas operações à frente das tropas leais ao governo. Fonte: TT



O Major Luís Carlos de Faria Leal, avança decidido no comando das operações de tropas de Infantaria 16, forças militares leais ao governo democrático da República de Portugal. Enfrentava o movimento revolucionário que eclodiu no dia 2 de fevereiro de 1926.


*****


Norberto de Araújo (1889-1952), o grande jornalista, olisipógrafo e Benfiquista, escreveu por essa altura:

"As revoluções em Portugal, principiaram por ser revoluções, foram depois revoltas, depois insurreições, a seguir pronunciamentos logo movimentos, e acabaram em episódios.

Acabaram - não; continuarão.

Já o tenho descrito: - movimentos revolucionários são casos de sentimentalismo político. Boas intenções, desejos de redimir. Vencer ou não vencer, não importa. É uma manifestação de "lirismo político". Assim se compreende que os vencidos tenham quási orgulho em serem conduzidos aos presídios. Ensaiaram um poema."



Norberto de Araújo sabia do que escrevia, não apenas por ter sido testemunha da violência revolucionária que se desenrolava com alguma frequência na capital portuguesa, como por ter alguns dos seus amigos envolvidos nesses movimentos. Era o caso do Major Faria Leal, tal como veremos mais à frente.

O movimento revolucionário de 2 de fevereiro de 1926 não seria o único que Faria Leal enfrentaria na sua vida, mas ficaremos apenas com um breve resumo deste golpe. Será o ponto de partida para uma série de 4 textos em que se abordará a figura de
Luís Carlos de Faria Leal, distinto militar que foi o 1º presidente eleito da história do Grupo Sport Benfica e por inerência o 2º presidente da História do Sport Lisboa e Benfica.


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Luis Carlos de Faria Leal
(Luanda, 1888 - Lisboa, 1956)


No presente texto, falaremos brevemente da família e a vida militar e revolucionária de Luís Carlos de Faria Leal. Nos restantes 3 textos, demonstrar-se-á que Faria Leal foi uma das figuras maiores dos primeiros anos da vida do nosso Clube.



Faria Leal, militar situacionista


A revolta de 2 de fevereiro de 1926 também chamada de "revolução de Almada" foi conduzida por um grupo de revoltosos, muito heterogéneo, de diversos sectores radicais que pretendiam derrubar um governo democraticamente eleito, chefiado por António Maria da Silva (1872–1950). A revolta foi inspirada e comandada por José Augusto da Silva Martins Júnior, um construtor civil e pelo Dr. Almeida Lacerda, um militar.

Aproveitando a ausência da capital do primeiro ministro e do presidente da República, Bernardino Machado (1851-1944), as tropas revoltosas iniciaram o movimento armado na madrugada do dia 2, assaltando a Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas.

Depois de prenderem os oficiais e terem morto pelo menos um militar, o regimento insurgente saiu de Vendas Novas e dirigiu-se para o Seixal, comandado por sargentos revoltosos, levando uma bateria com 4 peças de artilharia e algum armamento ligeiro. No Seixal foram libertados e armados alguns presos políticos, aumentando assim o contingente revoltoso para cerca de 300 homens. O forte de Almada foi ocupado, tendo sido hasteada uma bandeira vermelha e cortadas as comunicações de Lisboa com a margem sul. Restava esperar.

No entanto, ao contrário das expectativas dos revoltosos, que teriam compromissos de que em Lisboa outras unidades militares pegariam em armas, a situação na capital permaneceu calma. Rapidamente, foram congregadas forças fiéis ao governo e assim uma coluna de tropas de Infantaria 16 e uma companhia de infantaria da GNR de Lisboa e Santarém dirigiram-se para Almada, tendo sido alvejados com artilharia e metralha quando atravessavam o Tejo.


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Fonte: TT e DL


Durante a noite, a situação alterou-se quando as tropas fiéis ao governo cercaram os revoltosos, tendo projetado um ataque pela 8-9 horas da manhã de 3 de fevereiro. Martins Júnior reuniu as suas tropas revoltosas na capela de um antigo convento no Alto de São Paulo, tendo solicitado aos jornalistas que convidassem (!) o major Faria Leal para se encontrar com ele e com o Dr. Lacerda de Almeida (chefe militar da revolta) para acertarem os termos de rendição. E seria este último a formalizar a rendição, evitando um banho de sangue.

As tropas fiéis avançaram, tomando posse das posições revoltosas e deram ordem de prisão às tropas sublevadas. Estes, esfaimados e desarmados, mas mantendo uma postura ordeira e digna, foram conduzidos para Porto Brandão, onde foram embarcados no navio de guerra "Pero Alenquer".


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Fonte: TT e DL



Faria Leal, militar revolucionário

Em Portugal, e em particular em Lisboa, a década de 20 foi frequentemente agitada por movimentos revolucionários, geralmente mais barulho e escaramuças urbanas, que levaram a rearranjos nos poderes civis e militares. No entanto, revoluções houve em que se contaram bastantes mortos e danos de monta em bens públicos e privados.

Republicanos, monárquicos, democráticos, sidonistas, reformistas. conservadores, radicais, naqueles tempos todo o tipo de fauna política pegava em armas. E assim, entre equilíbrios, conivências e conveniências, entre traições, deserções e dissuasões, se concretizaram muitos "complots".

Do lado do governo houve quem falasse que o golpe tinha sido mais um caso de sentimentalidade política, mas o que em breve ficaria demonstrado é que existiam enormes tensões na sociedade portuguesa. A república e a democracia estavam em regressão e completamente descredibilizadas em sectores influentes da sociedade civil e militar.

Três meses depois, a 28 de maio de 1926, eclodiu um golpe de Estado que no dia seguinte depôs o regime democrático e instituiu a ditadura militar que duraria 48 anos.
Faria Leal não esteve envolvido no golpe do 28 de maio, antes pelo contrário. No ano seguinte, em fevereiro de 1927, envolvido num golpe oposicionista que seria abortado pelas forças leais ao governo de Óscar Carmona. Faria Leal, nunca chegaria ao posto de general do exército português...



Os Faria Leal


Hesitei diversas vezes em escrever extensivamente sobre Luís Carlos de Faria Leal, isto apesar de ser um gigante dos primeiros 50 do Sport Lisboa e Benfica e de estar – muito injustamente – bastante esquecido. Quando morreu, em 15 de agosto de 1956, Faria Leal era o sócio nº 1 do Sport Lisboa e Benfica, mas esse estatuto estava longe de ser apenas honorífico. Faria Leal foi um dos atores principais em algumas das mais delicadas etapas iniciais da vida do nosso Clube.

Hesitei, também, porque a vida de Faria Leal foi tão repleta de acontecimentos e intervenções revolucionárias e associativas, que se torna difícil fazer uma sumarização eficaz. Para além disso, a complexidade desses acontecimentos é tal, que o que quer que se diga será sempre incompleto. Pede-se por isso alguma indulgência ao leitor....

Luís Carlos de Faria Leal nasceu em Luanda, Angola, por volta do ano de 1888. Era um dos seis filhos (Luís, Rosina, Mário, António, Nuno e Lucíla) de José Heliodoro Corte-Real de Faria Leal e de Ernestina Augusta de Faria Leal. O seu pai, natural de Nova Gôa (Pangim), Índia Portuguesa, foi um prestigiado general do Exército Português, que passou à situação de reforma em 1908 e cuja notável obra militar e social em Angola, colónia onde viria a falecer, tem merecido interesse de estudos académicos. O seu avô, António Justino de Faria Leal, foi oficial-médico da Marinha de Guerra Portuguesa.



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José Heliodoro Côrte-Real de Faria Leal (1862-1945). Fonte: IICT e "O Século"


Para lá da presença e da sua prolífica atividade em África, a família Faria Leal tinha também casa em Benfica, então um bairro periférico de Lisboa, pacato, ainda com fortes traços campesinos, mas também com belas quintas e casas de férias e de fins de semana, frequentadas por uma certa burguesia lisboeta, ávida de convívio social.

Seguindo a tradição familiar, Luís Carlos tornou-se militar, distinguindo-se como oficial de Artilharia em missões em Damba, Congo Português, no norte de Angola, entre 1911 e 1915. Combateu em França, na I Guerra Mundial, integrado no CEP, como tenente miliciano. Embarcou para França em 15 de maio de 1917 tendo aí cumprido 239 dias de campanha, incluindo um período de baixa médica entre 21 e 31 de dezembro de 1917.

Ainda em França, a 30 de março de 1918 foi promovido ao posto de capitão miliciano, sendo frequentemente elogiado pela sua capacidade e dedicação no cumprimento das tarefas que lhe tinham sido incumbidas.


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Ficha de Luís Carlos de Faria Leal no CEP. Fonte Exército Português


Recebeu numerosos louvores e medalhas, destacando-se a palma dourada de bons serviços e a medalha da Vitória. Em 1921, chegou a ocupar o cargo de governador civil de Santarém, mas fruto da volatilidade política, acabou por ficar no cargo apenas alguns meses.

Chegou ao posto de major, e, tal como outros membros da família, foi agraciado com diversas condecorações. Foi feito Cavaleiro da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo a 28 de junho de 1919, elevado a Oficial da mesma Ordem a 5 de fevereiro de 1922 e a Comendador a 15 de outubro de 1923. Daí em frente, a sua progressão seria inviabilizada pelo regime de Salazar. Não foi caso único.



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Ordens honoríficas atribuídas a membros da família Faria Leal. Fonte: https://www.ordens.presidencia.pt/


No próximo texto falaremos do papel de Faria Leal na fundação e gestão do Grupo Sport Benfica.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Outubro de 2021, 09:51
-287-
Militar e associativista (parte II) – a fundação e o labor

A primeira Direção eleita do Grupo Sport Benfica (GSB).


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A primeira direção eleita do GSB. Fonte: História do SLB 1904-1954



Eleitos em 12 de novembro de 1906, estes três jovens eram na altura e na ordem que são apresentados, os sócios nº 3, 2 e 1 do GSB. Faziam parte do núcleo fundador do GSB e tinham todos menos de 22 anos de idade (Faria Leal 18, Sobral Júnior 19 e José Augusto de Brito 22) No texto de hoje falaremos um pouco dos primeiros dias do GSB e do papel de Faria Leal nesses dois anos de labor associativo.

Para lá da sua condição militar e da sua recorrente insatisfação com os rumos que varriam a política portuguesa nas duas décadas após a instauração da República, o jovem Luís Carlos de Faria Leal tinha também interesse no desporto e no associativismo.

Assim se explica o seu envolvimento na fundação de um clube, juntamente com outras figuras da elite burguesa, financeira e política da sociedade Benfiquense (como então se dizia). A vontade de tempos livres em atividades desportivas num contexto de interação social foi a motivação que levou à fundação do GSB.



Fundação do Grupo Sport Benfica


O Grupo Sport Benfica foi fundado em 26 de julho de 1906. Da lista de fundadores constam 15 nomes, grande parte deles com pouco mais de 20 anos.

Visando a criação das bases administrativas e infraestruturais do novo Clube, formou-se uma Comissão Instaladora para a qual foram nomeados os três sócios fundadores que ocupavam o topo da lista, ou seja: nº 1, José Duarte (presidente); nº 2, António dos Santos Sobral Júnior (secretário) e nº 3, José Augusto de Brito (tesoureiro). Luís Carlos de Faria Leal, era então o socio nº4 e ficou de fora dessa Comissão de Instalação.


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Os 15 sócios fundadores do Grupo Sport Benfica.



Tal como no Sport Lisboa, fundado dois anos antes, o núcleo de fundadores do GSB era bastante jovem, e alguns membros tinham parentescos próximos entre si. Ainda assim, muito provavelmente esse grupo de fundadores do GSB tinha uma menor heterogeneidade social. Uma outra diferença assinalável, era o futebol ser uma modalidade pouco importante no GSB, sendo o clube mais direcionado para a prática do ciclismo e dos desportos atléticos, em particular o pedestrianismo. Abreviando, em termos de atitude desportiva, os dois clubes diferiam bastante, o Sport Lisboa era competitivo e o GSB era essencialmente recreativo.

O primeiro ano do GSB foi bastante tumultuoso, com o abandono de 9 dos 15 fundadores. No final de 1906, restavam 12 fundadores e no final de 1907, restavam 6. Em meados de 1908, aquando da junção com o Sport Lisboa, restavam 4 fundadores. Nessas saídas, aconteceu um pouco de tudo, desde expulsões, resignações, falta de pagamento de quotas ou motivos não conhecidos. Houve até um caso de um fundador, estudante de 18 anos, que faleceu dois dias depois de sair do Clube.



Um presidente com 18 anos!


A primeira saída de um fundador foi a de José Duarte, o sócio nº 1 e presidente da Comissão Instaladora! Ocorreu no decurso de uma crise, despoletada a 12 de agosto de 1906, ou seja, menos de dois meses após a fundação do Clube. Tudo começou quando José Duarte comprou uma cautela com o dinheiro do Clube, sem antes ter consultado os restantes sócios.... Em assembleia-geral, aquando da apresentação de contas, Faria Leal liderou a contestação ao presidente, classificando o ato como um abuso do poder.

Faria Leal teve o apoio de toda a assembleia-geral, incluindo do resto da Comissão Instaladora. O processo culminaria no dia 7 de outubro de 1906 com a demissão de José Duarte! E, como então era considerado adequado, Faria Leal foi consequente com as suas ações, assumindo a presidência do Comissão Instaladora.

Para avaliar o caráter de Luís Carlos de Faria Leal, atente-se nestas afirmações, feitas 46 anos depois daqueles eventos:


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Fonte: História SLB 1904-1954



Apesar das discórdias, a festa inaugural do Clube ocorreu em 2 de setembro de 1906, com um primeiro festival desportivo que incluiu provas de ciclismo e de pedestrianismo. O evento envolveu não apenas os sócios do Clube, mas também alguns dos comerciantes locais, e revelou-se importante para a admissão de novos sócios.

O crescimento do Clube foi então rápido. Em finais de 1906, tinham entrado mais umas duas dezenas sócios, em finais de 1907 tinham entrado mais umas seis dezenas (incluindo Cosme Damião) e até meados de 1908 entrou mais uma centena. A entrada de tantos novos sócios, particularmente aqueles vindos fora dos limites de Benfica, foi uma das grandes realizações do presidente Faria Leal e dos restantes membros da direção. Garantiu a sobrevivência e a expansão do Clube.


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O primeiro evento desportivo do GSB. Note-se a prevalência das palavras "Grupo Sport" relativamente a "Benfica".


Ainda em 1906, no dia 18 de novembro, Faria Leal foi confirmado no cargo de presidente do GSB, desta vez de uma direção legitimada pelas primeiras eleições no Clube. António dos Santos Sobral Júnior e José Augusto de Brito mantiveram os postos de secretário e tesoureiro da direção. Foram também eleitos os restantes Órgãos Sociais, que integraram mais alguns sócios fundadores.


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Os primeiros Órgãos Sociais eleitos do GSB, em 18-11-1906, para a 1ª presidência de Luís Carlos de Faria Leal



Nestes anos, não se coibindo de mostrar o seu voluntarismo associativo, Faria Leal fez parte de comités organizadores de torneios de desportos atléticos. Estes eventos tiveram grande participação e sucesso, sendo importantes para difundir a prática desportiva e fortalecer o espírito associativo em alguma sociedade lisboeta.


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Luís Carlos de Faria Leal na organização de uma prova de lançamento do peso. Evento talvez realizado no campo de Palhavã. Fonte: AML



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Evento desportivo organizado pelo GSB em 17 de julho de 1907, por ocasião do seu 1º aniversário. Fonte: Hemeroteca Lx



Em termos desportivos, o maior feito do GSB seria a vitória individual do seu atleta Carlos Marques e também a vitória por equipas na I Maratona nacional, disputada em 20 de outubro de 1907 e da qual já por aqui falamos (ver: -115- A "Corrida da Marathona". p.32).


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Fonte: Hemeroteca Lx



Infraestruturas

Os Faria Leal dariam outra relevante contribuição ao GSB, quando permitiram que o clube instalasse a sua primeira sede na cave da Vila Faria Leal, uma propriedade do pai José Heliodoro, situada na Avenida Gomes Pereira, em Benfica. Servia para guardar equipamentos do campo de jogos.


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Vila Faria Leal em cuja cave funcionou a primeira sede do GSB



Foi também durante a vigência da sua presidência, a 26 de maio de 1907, que o GSB tomou conta da Quinta da Feiteira embora já no ano anterior tivesse vindo a utiliza-lo por gentileza do proprietário. Era um terreno agrícola, na altura com um extenso faval, paralelo à Estrada de Benfica. Foi alugado ao clube pelo Comendador César José de Figueiredo, um destacado capitalista da época, que em setembro desse ano foi agraciado com o título de sócio de mérito do GSB.


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Bem ao lado da Igreja de Benfica, ficava o chalet do comendador César Figueiredo, proprietário da Quinta da Feiteira, que estava ali mais ao fundo, do lado esquerdo



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Recibo relativo ao aluguer da Quinta da Feiteira para o primeiro semestre e 1908 pelo comendador César Figueiredo. Recibo passado a Luís Carlos de Faria Leal, presidente do GSB.



Concluídas as obras de adaptação, o campo de jogos seria inaugurado no dia 14 de julho seguinte, tendo durante alguns anos sido considerado o melhor campo de futebol de Lisboa.

Dois anos depois, aquando da tentativa de renovação da renda, o GSB foi informado que o terreno estava destinado à construção urbana, só podendo ser alugado por um curto período de tempo. Não sendo solução de futuro e como a renda tinha sido progressivamente aumentada, impôs-se a necessidade de encontrar alternativas. A Feiteira seria utilizada pela última vez em 22 de maio de 1911.


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O campo de jogos e o terreno envolvente da Quinta da Feiteira, em Benfica.



O entusiasmo dos primeiros festivais desportivos disputados no campo da Feiteira ficou registado em fotografia, sendo evidente a participação de dezenas de atletas, cujos desempenhos foram monitorizados por júris, e observados por numerosos populares, num contraste de vestimentas e de atitudes bem característico dessa época.


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Os primeiros festivais de "Desportos Atléticos" do GSB foram realizados na Feiteira em 14, 23 e 28 de julho de 1907


O futebol era, nesses primeiros anos, uma modalidade de fraca expressão no GSB, mas seria justamente por causa da Feiteira, que tudo mudaria. A Feiteira dava condições para a prática do futebol e assim tornou-se um fator atrativo para futebolistas vindos de outros clubes desprovidos de campo, em particular do Sport Lisboa.

A Feiteira tornou-se então um espaço de convívio entre membros relevantes das duas coletividades e logo aí terá germinado a ideia de uma junção entre GSB e o Sport Lisboa, que seria concretizada em 13 de setembro de 1908.

Por ser vantajosa para as duas partes, a junção impôs-se ao fim de diversos meses de conhecimento e convívio entre sócios das duas instituições naquele espaço. Aliás, alguns sócios do Sport Lisboa como que anteciparam essa junção, fazendo-se sócios de GSB, como foi o caso de Cosme Damião que em 27 de outubro de 1907 se tornou o sócio nº 81 do clube de Benfica. Quando participou nas negociações para a junção, Cosme era sócio das duas coletividades.


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Cosme Damião, sócio do GSB a partir de 27 de outubro de 1907.



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Fonte: História SLB 1904-1954



Entretanto, Faria Leal tinha sido reeleito presidente da direção em 15 de setembro de 1907, tendo cumprido esse segundo mandato até 6 de junho de 1908, data antecipada por via da necessidade de ter novos Órgão Sociais que tomassem decisões fundamentais para o futuro do Clube. Já se antevia a necessidade de conduzir negociações para a junção com o Sport Lisboa.


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Órgãos Sociais do GSB, eleitos para 1908-1909, no 2º mandato presidencial de Luís Carlos de Faria Leal. Fonte: História SLB 1904-1954



Foi sucedido no cargo por João José Pires, um prestigiado comerciante local, minhoto de origem e de 48 anos de idade. Faria Leal permaneceu nos Órgão Sociais, mas agora como secretário da direção, passando Sobral Júnior para vice-secretário.


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Órgãos Sociais do GSB, eleitos para 1908-1909, com a presidência de João José Pires. Fonte: História SLB 1904-1954



Estava tudo pronto para o processo da junção. Será esse o tema do próximo texto.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Novembro de 2021, 19:11
-288-
Militar e associativista (parte III) – a junção

Livro de atas da direção do Grupo Sport Benfica (GSB). Ata, nº 94, que reporta os trabalhos e deliberações tomadas numa reunião que decorreu no dia 4 de setembro de 1908 na Travessa Visconde Sanches de Baena, nº4, 1º andar, em Benfica.


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A ata nº 94, onde ficou definido o processo de junção do GSB e do SL.


Esta ata descreve os termos acordados entre representantes do GSB e do Sport Lisboa (SL) para a junção das duas coletividades, passando a denominar-se Sport Lisboa e Benfica.


A junção

Desconhece-se quem lançou a ideia da junção entre o Sport Lisboa, clube fundado em Belém, e o Grupo Sport Benfica, clube fundado em Benfica. Talvez tenha sido uma ideia inicial de Cosme Damião, então sócio dos ambos os clubes, e por isso habilitado a avaliar as forças e fraquezas de cada coletividade. É razoável concluir que, mais do que lançada por um homem, a ideia ter-se-á imposto, de tão óbvia, pelo convívio e pela afinidade das ideias e dos sonhos dos sócios dos dois clubes.

O processo exigiu um grande envolvimento dos membros mais pensantes de cada Clube. No caso particular de Faria Leal, é possível que as intervenções que fez durante este processo tenham sido o contributo mais valioso que deu ao Clube. Ajudou a definir o Sport Lisboa e Benfica.


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Os principais negociadores do processo de junção do Grupo Sport Benfica e do Sport Lisboa.


Cerca de 36 anos depois, Cosme Damião lembrou numa entrevista, que a junção foi um processo relativamente simples que envolveu 3 reuniões; uma em cada clube e outra com sócios dos dois clubes.

Da reunião no Sport Lisboa sabemos pouco, uma vez que desse tempo sobreviveram pouco mais do que documentos de despesa. Se houve livro de atas, nunca apareceu. Cosme Damião referiu que essa reunião envolveu os cerca de 40 sócios que o Sport Lisboa tinha nessa altura. O que é certo é que as negociações seriam conduzidas por dois homens que não pertenciam à direção eleita dois anos antes, e presidida pelo Dr. Januário Barreto. Houve certamente delegação, embora se afigure possível que a desagregação provocada pela crise de maio de 1907 também tenha tido consequências nos Órgãos Sociais.

Da parte do GSB, tudo ficou registado em atas e essas constam do arquivo do Clube. Permitem perceber a evolução das discussões e os pontos fundamentais que exigiram compromissos. A primeira reunião decorreu em 2 de setembro de 1908 (ata nº 93), onde tiveram maior destaque as intervenções de António Freire Sobral, Alfredo Luís da Silva e de Luís Carlos de Faria Leal. Foi aprovado um projeto, com 9 pontos, a submeter à aprovação do Sport Lisboa.


O nome em questão

Dentro do GSB, não houve concordância quanto ao nome a adotar para o Clube depois da junção. Antes de explicar as propostas e a resolução da questão no âmbito da junção, há que dizer que, no GSB, a questão do nome da coletividade tinha sido relevante num passado recente. Sete meses antes, tinha havido mudança de nome!

Na verdade, o GSB apresentou-se nas negociações para a junção como sendo o "Sport Clube de Benfica", ou seja, em rigor devíamos estar a falar de SCB e não de GSB... Essa mudança de nome explica-se pela vaidade do clube ter passado a dispor de uma nova e faustosa sede, bem mobilada, situada na Travessa do Visconde Sanches de Baena nº 4, 1º, atual Travessa do Rio, uma transversal da Estrada de Benfica.

Essa propriedade foi doada ao GSB por alguns dos seus sócios, por via de uma bizarra sequência de eventos políticos. Os doadores eram simultaneamente sócios do Centro local do Partido Regenerador Liberal, que tinha entrado em desagregação após o regicídio de 1 de fevereiro de 1908. A doação terá sido uma solução de recurso no aperto revolucionário da altura... O pior é que a nova sede trouxe encargos que acabaram por tornar incomportável a manutenção daquele espaço no património do clube, mas foi ali que se deram as negociações para a junção dos dois clubes. O prédio ainda hoje existe.


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Sede do Grupo Sport Benfica em setembro de 1908


Voltando às negociações da junção, no GSB, Faria Leal, discordou de uma proposta inicial de designar a coletividade como o "Sport Clube de Lisboa". O argumento de Faria Leal pareceu imbatível, ao salientar que não se podia perder o valor inerente aos termos "Sport Lisboa" por um lado e "Sport Benfica" pelo outro. Valor esse conquistado em alguns anos de vitórias desportivas e pela popularidade dos clubes, principalmente do Sport Lisboa nos seus feitos futebolísticos.

Estava aqui a solução? Talvez, mas a proposta seguinte de Alfredo Luís da Silva, e que seria incluída no artigo 2º do projeto submetido ao Sport Lisboa, mencionava "Sport Clube de Lisboa e Benfica"! Ainda havia ajustes a fazer...


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Faria Leal e um excerto da ata nº 93 onde ficou registada a sua opinião quanto ao nome a adotar pelo Clube, após a junção.


Entra Félix Bermudes!

Dois dias depois, a 4 de setembro de 1908, realizou-se uma nova reunião nas instalações do GSB (ata nº 94), desta vez com a presença de Félix Bermudes e Cosme Damião, delegados do Sport Lisboa. E, como seria de esperar, o brilhantismo intelectual e sentido prático de Félix Bermudes foi determinante para resolver os artigos em que ainda não existia acordo. E fê-lo de tal forma que diversos sócios do GSB foram bom suporte para os seus pontos de vista.

Interessa dizer que Faria Leal e António dos Santos Sobral Júnior não foram os Benfiquenses mais entusiasmados com os pontos de vista trazidos pelo Sport Lisboa. Ao invés, Alfredo Luís da Silva, em particular, assim como António Marques e António Sobral Freire, foram bem mais sensíveis à argumentação de Félix Bermudes.

No artigo 2º, Félix Bermudes discordou do nome da coletividade proposto pelo GSB, mas deu rapidamente a solução final: "Sport Lisboa e Benfica"!


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Félix Bermudes, e o excerto da ata nº 94 onde ficou estabelecida a definição final do nome "Sport Lisboa e Benfica"!


E acrescentou que a equipa de futebol teria de ser a continuidade da equipa do Sport Lisboa, com tão gloriosas conquistas.

Félix Bermudes terá também discordado do artigo 7º, onde se propunha a adoção da insígnia do SCB com alteração apenas de uma letra da sigla. Não ficando registado em ata, existe, no entanto, uma tradição oral em que terá sido Faria Leal a dar a ideia que vingou, ou seja, de justapor os dois emblemas e adicionar a sigla SLB.

Por fim, no artigo 8.º, que definia as cores do equipamento, Félix Bermudes fez vingar a adoção das camisolas vermelhas e calção branco, cujo valor desportivo e popularidade eram indiscutíveis depois do feito – único para portugueses – de ter derrotado uma equipa de futebol dos ingleses do Carcavellos Club.


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Nome e cores do Clube. Os dois artigos que obrigaram a maior negociação entre o Grupo Sport Benfica e o Sport Lisboa.


As negociações foram encerradas com sucesso, estabelecendo-se que faltava a ratificação final do acordo, em assembleia-geral, a realizar em cada um dos clubes.


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Bases do projeto de junção, aprovado pelo Grupo Sport Benfica e pelo Sport Lisboa. De notar que o Grupo Sport Benfica se designava como "Sport Clube de Benfica".



A junção ficou concluída em 13 de setembro de 1908, num processo rápido e transparente. Existem indicadores que as assembleias-gerais se realizaram nesse mesmo dia, em ambos os Clube, cada uma dando aprovação ao projeto.

Como atrás se demonstrou, o processo ficou registado em ata de forma transparente. Logo aqui se notou o fator diferenciador de ter dirigentes competentes e de contar com a eficaz organização administrativa do GSB. O Museu Cosme Damião guarda esse livro de atas do GSB e faz a alguma divulgação de forma regular, como lhe compete.

De tudo o que atrás se disse é importante que os Benfiquistas percebam a importância da palavra "junção", uma vez que não foi uma fusão ou uma absorção. Foi essa a palavra explicitada de forma repetida nas atas. Traduz fielmente o propósito de juntar vontades e recursos materiais e humanos complementares, devidamente identificados pelas duas coletividades que, ainda assim, mantiveram a sua individualidade, garantindo dessa forma a continuidade da excelência nas suas atividades.

Uma demonstração da harmoniosa junção das duas coletividades, é atentar à composição dos órgãos sociais que foram eleitos cinco meses depois, no dia 26 de fevereiro de 1909. Identificam-se membros vindos de Belém e de Benfica. O presidente da direção continuou a ser o Benfiquense João José Pires, e integrava elementos de Benfica à exceção dos dois vogais vindos de Belém. A mesa da assembleia-geral foi integralmente composta por membros de Benfica, já o conselho fiscal era liderado pelo Conde do Restelo (proprietário da Farmácia Franco) e integrava Manuel Gourlade como relator, dois ilustres sócios protetores do Sport Lisboa, que continuavam comprometidos com o seu clube.


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Os Órgãos Sociais do SLB eleitos para o exercício de 1909-1910.


O Sport Lisboa contribuiu essencialmente com as suas equipas campeãs de futebol, envolvendo cerca de 70 futebolistas e alguns homens com conhecimentos técnicos sobre o jogo e com capacidade de formar novos jogadores. O Grupo Sport Benfica contribuiu com as suas infraestruturas, os seus atletas da velocipedia, e dos desportos atléticos, e acima de tudo com a sua organização administrativa assente em dirigentes de grande qualidade. Competências complementares que ajudaram a moldar o maior Clube de Portugal.

Esta junção de esforços deu considerável impulso ao desenvolvimento de um Clube ambicioso, que defende os valores do desportivismo e do associativismo, assente na igualdade de direitos e deveres dos sócios. De todos, um. De todos os sócios, sem elitismos ou nepotismos, se fez e tem de continuar a fazer-se o Sport Lisboa e Benfica!


Avante, pelo Benfica.

Depois do processo da junção, Faria Leal continuou a dar valiosos contributos ao Clube, tendo sido eleito para integrar os órgãos sociais da Liga Portuguesa de Football. Com apenas 21 anos de idade, terá sido o único dos dirigentes provenientes do GSB que desempenhou um cargo na precursora da FPF, órgão para o qual foi inicialmente indicado como presidente, o Dr. Azevedo Meyrelles (ver 224- A ilustre Casa do Dr. Meyrelles, pág. 55) mas sendo depois desempenhado pelo Dr. Januário Barreto (ver -78- O casal virtuoso, pág. 23). Ambos tinham distintas ligações ao Sport Lisboa.

De facto, nesses tempos iniciais da organização do futebol nacional, do lado do Sport Lisboa diversos dirigentes tiveram, nessa época, esse tipo de responsabilidades, provavelmente por serem mais conhecidos no meio futebolístico lisboeta. No lado do GSB, apenas tenho conhecimento de Faria Leal ter desempenhado esse tipo de cargos. De notar ainda, que em 1909, quando Faria Leal teve de abandonar o cargo, por se ausentar para Angola, foi muito elogiado pela sua retidão e sentido de justiça. A sua vaga foi preenchida por Cosme Damião, outro dirigente moral e eticamente irrepreensível.


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Entre 1908 e 1909, cinco homens ligados ao SLB, integraram os órgãos sociais da LPF. Fonte: Hemeroteca LX e Arquivo Norberto de Araújo


Ainda em 1909, Faria Leal foi eleito "Sócio Benemérito", tal como receberam o Dr. Azevedo Meyrelles, o comendador César José de Figueiredo (dono da Feiteira), o comandante Joaquim Costa (prestigiado dirigente de futebol) e João Carvalho Persónio (guarda-redes e instrutor das nossas equipas de futebol). Tudo gente que deixou obra no futebol de então.


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Notícia de maio de 1909. Fonte: Hemeroteca Lx


Em 1913, fez parte do núcleo que lançou o jornal "O Sport Lisboa", periódico que pretendia dar informação mais completa e acima de tudo credível, aos sócios e adeptos Benfiquistas. Para evocar esses tempos "jornalísticos" temos hoje uma fotografia notável que reúne Cosme Damião e mais 12 companheiros, dos quais 4 foram presidentes do Benfica.


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Fotografia captada em 15 de novembro de 1913, durante um banquete de homenagem ao fotojornalista Arnaldo Garcês Pereira.


A fotografia foi captada durante uma homenagem do jornal a um seu colaborador, o fotógrafo e Benfiquista, Arnaldo Garcês Pereira, também ali representado (mais detalhes podem ser lidos no texto -39- Um banquete de notáveis, pág. 9).

As contribuições de Faria Leal para o SLB tornaram-se cada vez mais intermitentes por via da sua condição militar. Como atrás se disse, participou em campanhas militares em África e combateu em França, na I Guerra Mundial. Em 1921, chegou a ser eleito para 1º secretário de uma das direções presididas por Bento Mântua, mas logo a seguir foi nomeado para o cargo de Governador Civil de Santarém, cargo público que desempenhou por muito pouco tempo por via da volatilidade política da época. Depois viriam os anos revolucionários e o ostracismo salazarista.

Mas, como veremos no próximo texto, ainda estava para vir um capítulo final, feliz no seu Benfica! O dia da Luz.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Novembro de 2021, 16:51
(https://scontent.flis6-1.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/255374799_2014619938719386_678204187379648508_n.png?_nc_cat=103&ccb=1-5&_nc_sid=973b4a&_nc_ohc=LFuc4ihVud0AX-cYYui&_nc_ht=scontent.flis6-1.fna&oh=5cc2fa4ab4b02ea706463968ad206c6f&oe=6192A577)

Oliveira Ramos, Francisco Campas e Manuel Carvalho, 20-07-1957.
Fotografia de Roland Oliveira.

Uma das mais extraordinárias equipas que tivemos na modalidade. Em todas as modalidades.


Já aqui tive a honra e o prazer de escrever sobre estes homens e a excelente e prestigiante digressão que fizeram ao Brasil em 1956. Honraram o Clube. Ver: -81- Gloriosas compras na pátria do futebol. (pág. 23)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Novembro de 2021, 20:29
-289-
Militar e associativista (parte IV) – o dia da Luz

Dia 1 de dezembro de 1954. Dia da inauguração do Estádio da Luz.


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Desfile dos ases que honraram o passado do Clube, desde 1904. À frente os sócios nº 1, 2 e 3.


O capítulo final da vida associativa de Faria Leal, foi o dia da inauguração do Estádio da Luz. Nesse dia 1 de dezembro de 1954, desfilou como sócio nº 1, uma vez que o seu velho companheiro António dos Santos Sobral Júnior tinha falecido no ano anterior. Desfilou ao lado dos sócios nº 2 e 3 e à frente de uma longa coluna de antigos jogadores das nossas equipas de futebol desde 1904.


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A primeira, alva, elegante, deslumbrante versão do Glorioso Estádio da Luz.


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O mais belo estádio alguma vez erigido



O Estádio do Sport Lisboa e Benfica, popularmente eternizado com o nome de Estádio da Lua, era o segundo Estádio edificado em terrenos próprios do Clube. Pela sua grandiosidade, funcionalidade e beleza, tornou-se um motivo de orgulho tal que compensou todas as dificuldades, todos os sofrimentos, toda a dedicação e amor prestado ao Clube por numerosos pioneiros.

Aqueles que sobreviveram para o ver edificado, tinham, naquele dia, os olhos a brilhar e as pernas e as mãos a tremer sobre um sol de inverno e sobre a alegria dos aplausos da multidão Benfiquista.

Os Benfiquistas são humildes e agradecidos. Reconhecem os seus e reconhecem todos os que fizeram bem ao Clube. Esse dia foi especial no reconhecimento aos Ases que nos honraram o passado.

As palavras de Faria Leal, nesse "Dia da Luz" são ainda hoje comoventes. E por tudo o que atrás se disse, no balanço de uma vida, terá sido naquela visão de bancadas repletas de alegria, que tudo lhe terá passado pela cabeça. Recordou os companheiros que partiram, as reuniões, os sonhos, as desilusões, as vitórias e conquistas. Tudo fazia sentido, tudo tinha valido a pena. Tudo era Benfica!


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Desfile do sócio nº 1 Luís Carlos de Faria Leal. Fonte: Em Defesa do Benfica


Faria Leal como muitos outros viveram anos de sangue, suor e lágrimas, mas apenas como muito poucos, viveu para ver essa obra monumental, a expressão máxima do associativismo Benfiquista! E de certa maneira, pelo seus olhos e coração, muitos outros que tinham já partido, foram também lembrados e reconhecidos. Aquele foi verdadeiramente o dia da Luz!


Capítulo final

Dois anos depois, Luís Carlos de Faria Leal deixou-nos, no dia 15 de agosto de 1956, com a idade de 68 anos.

Faleceu em Lisboa e foi sepultado no talhão dos antigos combatentes do cemitério do Alto de São João. Repousa ali, ao lado de muitos dos seus camaradas de armas, muitos deles Benfiquistas, alguns deles que até foram... presidentes do Sport Lisboa e Benfica.


(https://i.postimg.cc/t4HjWxBv/D03.jpg)
Obituário da Luís Carlos de Faria Leal. Fonte: DL e Em Defesa do Benfica


Sempre lembrado. Paz e honra à memória de Luís Carlos de Faria Leal.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Novembro de 2021, 23:12
-290-
Dirigente e atleta

Equipa de pedestrianismo do Velo Club de Lisboa, vencedora da prova da "corrida da marathona", disputada no dia 3 de maio de 1908.


(https://i.postimg.cc/6qYnb8d9/01.jpg)
Equipa do Grupo Velo Club de Lisboa em 1908.


Sentado, com o nº 4, sentado, identifica-se o malogrado Francisco Lázaro, atleta que morreu 2 anos depois desta fotografia, quando competia na maratona olímpica de Estocolmo. De pé, com o nº 6, identifica-se José de Mascarenhas e com o nº 5, identifica-se José de Brito.

Ora, neste texto não vamos focar atenções em Lázaro, mas sim em José de Brito. Este atleta tinha o nome completo de José Augusto de Brito, e era um dos 15 sócios-fundadores do Grupo Sport Benfica (GSB).

Em 26 de julho de 1906, no dia da fundação do GSB, José Augusto de Brito foi listado como o sócio nº 3 da nova coletividade, tendo no dia 7 de novembro desse mesmo ano, ascendido ao nº 2.


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Lista parcial dos 15 fundadores do Grupo Sport Benfica, fundado em 26 de julho de 1906.



Parentesco estreitos

José Augusto de Brito nasceu em 5 de setembro de 1884, na freguesia da Encarnação, embora a sua família morasse no rés-do-chão do nº 5 da Estrada do Poço do Chão (atual Rua da República da Bolívia), uma antiga Azinhaga, que constituía a principal via de comunicação de Benfica a Carnide.

José Augusto de Brito era filho de Elisa Valeriana de Brito, moça solteira, natural de Benfica. O seu avô materno era José Faustino de Brito, um condutor de obras de viação, empregado na Câmara municipal de Lisboa que estava radicado em Benfica embora fosse natural do Rio de Janeiro.

José Augusto de Brito era também primo direito, pela parte materna, de António dos Santos Sobral Júnior e de seu irmão José de Santos Sobral. De facto, as suas mães era irmãs, ambas filhas do acima referido José Faustino de Brito. Isto equivale a dizer que, aquando da fundação do GSB, o sócio fundador nº 3 era primo direito dos sócios fundadores nº 2 e nº 14.

Saliente-se que António dos Santos Sobral Júnior, a partir de 7 de novembro de1906, passou a ser o sócio nº 1 do nosso Clube, e assim permaneceria até à data da sua morte em novembro de 1953. Conforme falamos nos textos anteriores, nessa data seria Luís Carlos de Faria Leal a ascender ao estatuto de sócio nº 1.


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António dos Santos Sobral Jr, primo-direito de J.A. Brito e sócio nº 1 do SLB de 1906 até 1953, aqui ao lado de Albino na cerimónia de despedida deste último em 13-05-1945. Fonte: História SLB 1904-1954


Em termos profissionais, José Augusto de Brito, em 1907, quando tinha 23 anos de idade, era amanuense (escriturário-contabilista) na Caixa Geral de Depósitos, uma posição interessante para a época. Nessa altura morava na Rua de Santo Amaro 35, 2º esq., tendo casado em 1909 com Antónia Manuela d'Oliveira Lima.


De dirigente a atleta

Sempre como tesoureiro, José Augusto de Brito fez parte da Comissão Instaladora do GSB, nomeada no dia da fundação e fez parte da 1ª Direção eleita do Clube, em 18 de novembro de 1906.


(https://i.postimg.cc/qMq3MMs3/04.jpg)
A primeira direção eleita do GSB.
Nota-se a vestimenta ciclista de José Augusto de Brito, com algumas medalhas ao seu peito. Fonte: História do SLB 1904-1954


No entanto, para além destas funções de dirigente, o jovem José Augusto era um desportista empenhado dividindo o seu tempo entre o pedestrianismo e a velocipedia, modalidades que eram privilegiadas por vários outros sócios do GSB. Pelas fotografias percebe-se que José Augusto de Brito obteve algum sucesso desportivos na velocipedia, ostentando orgulhosamente diversas medalhas ganhas nas competições velocipédicas em que participou.


(https://i.postimg.cc/XvSG8fTf/05.jpg)
José Augusto de Brito, ciclista. Fonte: Hemeroteca Lx


(https://i.postimg.cc/xCgXnWq5/06.jpg)
Resultados de uma prova velocipédica onde participou José Augusto de Brito e mais alguns sócios do GSB. Fonte: Hemeroteca Lx


Como sócio destacado do GSB e no ambiente competitivo dos dias da Feiteira, José Augusto Brito competiu também em outras modalidades. na Feiteira, e até setembro de 1908, a maioria dos atletas usavam as camisolas listadas de branco e uma cor que ainda hoje não sabemos qual era.


(https://i.postimg.cc/y6QD54MY/07.jpg)
José Augusto de Brito à frente da equipa de luta de tração do GSB, durante um festival desportivo disputado em 1907, na Feiteira. Fonte: Hemeroteca Lx



Essa segunda cor é um mistério que subsiste, existindo duas versões de homens que viveram esses tempos. A primeira é do próprio José Augusto de Brito que falava em branco e azul-marinho e a segunda é de Luís Gato, sócio nº 5 do GSB, que falava em branco e vermelho. Talvez nunca tenhamos a resolução do mistério.


(https://i.postimg.cc/26j5c2TZ/08.jpg)
As cores das listas do equipamento do GSB, um mistério que perdura. Fotos coloridas a partir de original do AML


Ainda na Feiteira, sabe-se que José Augusto de Brito praticou também futebol, tendo sido nomeado capitão da terceira categoria do Clube em novembro de 1907. Infelizmente, sabemos muito pouco dessas equipas do GSB, para lá de que eram pouco competitivas e de que nem sempre gozavam da simpatia dos moradores mais pudicos que viviam nas imediações do campo da Feiteira. Havia, no entanto, a vontade de melhorar e a convivência com atletas vindos do Sport Lisboa, clube radicado em Belém, seria fundamental para o salto competitivo.

E de facto, quando Cosme Damião e companheiros do Sport Lisboa começaram a frequentar o terreno da Feiteira, a organização competitiva e o nível futebolístico subiram. Para isso não terá sido alheia a nomeação de João Persónio, antigo casapiano e guarda-redes do Sport Lisboa, como instrutor de futebol no GSB.


(https://i.postimg.cc/Dznf0B9M/09.jpg)
Os homens do Sport Lisboa comprometidos com o GSB nos tempos pré-junção.



Será aliás, dessa época, ou seja, de meados de 1907, que foi captada a fotografia original das versões coloridas que acima se apresentaram. Essa fotografia é uma das duas, de que tenho conhecimento, em que podemos ver uma equipa completa de futebol do GSB. Infelizmente, está fora das minhas capacidades a identificação da totalidade dos jogadores presentes, e a fotografia original não tem uma legenda original associada (ou pelo menos não é disponibilizada pelo AML...)

Percebe-se que se trata de um jogo amigável em que o árbitro foi Daniel Queirós dos Santos, antigo casapiano, antigo jogador do Sport Lisboa e muito provavelmente nessa data já sócio destacado do Sporting CP. Nota-se que apenas uma das equipas apresenta equipamentos padronizados, listados de branco e uma cor indeterminada. Desta fotografia já por aqui falamos, tendo concluído que pelas identificações inequívocas de Cosme Damião, Luís Vieira, Álvaro Vivaldo e muito provavelmente Marcolino Bragança, teria de ser uma equipa do GSB, muito provavelmente datada do segundo semestre de 1907.


(https://i.postimg.cc/qR7kXgMc/10.jpg)
Fonte: AML


É também possível que José Augusto de Brito e António dos Santos Sobral Júnior ali estivessem. No caso deste último temos o reporte que praticou futebol até ter sido afetado por uma grave lesão na zona do joelho, que o incapacitou definitivamente para a modalidade. Já no caso de José Augusto de Brito, não posso assumir certezas, mas posso salientar parecenças...


(https://i.postimg.cc/66g9nWsR/11.jpg)
Será?



Ausente na junção

Apesar de ser um sócio fundador do GSB e com funções executivas durante os dois primeiros anos da coletividade, José Augusto de Brito já não esteve nas negociações para a junção entre o GSB e o Sport Lisboa, em setembro de 1908.

Acontece que em 22 de abril de 1908, José Augusto de Brito pediu a sua demissão de sócio do GSB, de forma a poder prosseguir, sem conflitos de interesse, a sua atividade desportiva velocipédica e no pedestrianismo num outro clube, ou seja, o Velo Club de Lisboa. Talvez sentisse que nesse clube teria mais possibilidade de ter uma atividade competitiva nessas modalidades.

O Velo Club de Lisboa era uma associação desportiva fundada em 1 de novembro de 1894, sediada na Travessa de São Domingos, nº 39 - 1º, Lisboa, essencialmente direcionada para atividades de velocipedicas competitiva e lúdica, embora tivesse também uma secção ligada ao pedestrianismo.

No pedestrianismo, o seu maior destaque foram, sem dúvida, as prestações das suas equipas na "corrida da marathona". Essa competição, que se realizou em Lisboa de 1907 a 1910, era organizada pela revista "Tiro e Sport", o mais destacado periódico da divulgação e promoção do desporto nesse princípio do século.


(https://i.postimg.cc/0NkxPrmg/12.jpg)
Troféu "Au but", para a competição por equipas e trofeu "Victória!" atribuído ao vencedor individual da "corrida da marathona".


José Augusto de Brito participou apenas uma vez nessa competição, com a camisola do Velo Club de Lisboa.


(https://i.postimg.cc/G2N1FQfr/13.jpg)
A maratona nacional de 1908. Onde José Augusto de Brito competiu e onde o Grupo Sport Benfica, campeão em título, compareceu à partida. Fonte: Hemeroteca Lx.



Em 1910, o Velo Clube de Lisboa conquistaria definitivamente o troféu "Au but" depois de arrebatar a vitória por equipas por 3 vezes competitivas. O Grupo Sport Benfica (GSB) foi a única coletividade que também conquistou um triunfo na prova, conforme consta do histórico da "Corrida da marathona":


(https://i.postimg.cc/Dm3kDzFM/14.jpg)


Notas relevantes:

● José Augusto de Brito só participou na corrida de 1908, onde foi 5º classificado.

● A equipa do GSB apresentou-se em 1907 (vencedora) e 1908 (2º classificado). Depois da junção, o SLB não se apresentou à competição.

● O troféu "Au but", para vencedores por equipas foi conquistado definitivamente pelo Velo Clube de Lisboa em 1910.

● Francisco Lázaro só competiu nas provas de 1908 e 1910, que aliás venceu. Em 1911, competiu pelo Sport Lisboa e Benfica, tendo vencido muitas provas com a camisola vermelha. Nessa altura esta prova da "Corrida da marathona" já não se disputava. Em finais de 911, mudou-se para o Sporting Clube de Lisboa, clube que representava quando faleceu em na maratona olímpica de Estocolmo.


De regresso

Em fevereiro de 1911, José Augusto de Brito já estava de volta ao Clube, tendo integrado uma falange de dirigentes do Sport lisboa e Benfica que solenemente vestidos, assistiu à retumbante vitória da equipa principal de futebol sobre os mestres ingleses do Carcavellos Club.

Nenhum outro clube português em atividade se pode orgulhar desse feito, que aliás conseguimos por mais de uma vez. Estas vitórias sobre os ingleses podem hoje representar uma curiosidade histórica, mas na altura foram feitos consideráveis que para lá do feito desportivo deram também muita estima ao orgulho nacional.


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José Augusto de Brito (3º a contar da direita) entre a falange de dirigentes que se deslocaram a Carcavelos em 1911. Fonte: História SLB 1904-1954.



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A equipa do Sport Lisboa e Benfica que venceu em futebol a equipa do Carcavellos Club no dia 19-02-1911. Jogo no terreno dos ingleses, na Quinta Nova em Carcavelos. De pé, esquerda para a direita: Luís Vieira, Henrique Costa, Alfredo Machado, Francisco Belas, Cosme Damião (cap.) e Artur José Pereira. Em baixo: Germano de Vasconcelos, António Costa, José Domingos Fernandes, Carlos Homem de Figueiredo e Virgílio Paula.



Apesar do regresso, José Augusto de Brito não recuperou mais o seu antigo número de sócio. Se o tivesse feito e como o seu primo António dos Santos Sobral Júnior faleceu em 1953, ele teria sido sócio nº 1 do Sport Lisboa e Benfica durante 12 anos.

José Augusto de Brito faleceu em Carnaxide, no dia 10 de abril de 1965, embora mantivesse ainda residência na Estrada Poço do Chão, nº 31, r/c, Benfica, Lisboa.


Paz e honra à memória de José Augusto de Brito.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 21 de Novembro de 2021, 00:24
O teu trabalho na divulgação da nossa história aqui no forum é extraordinário.Muito obrigado Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Novembro de 2021, 09:05
Citação de: Alexandre1976 em 21 de Novembro de 2021, 00:24
O teu trabalho na divulgação da nossa história aqui no forum é extraordinário.Muito obrigado Red VC.

Obrigado, Alexandre  O0

Em breve passarei para uma série dedicada aos nossos presidentes. Um trabalho mais gráfico.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Novembro de 2021, 09:54
-291-
Presidentes do Sport Lisboa e Benfica

O Sport Lisboa e Benfica teve, até hoje, 34 homens que foram formalmente eleitos para presidir aos destinos do nosso Clube.

Nem sempre se encontra informação sobre esses homens, particularmente os mais antigos. O sítio oficial do nosso Clube tem alguma informação sumariada, que é factual e interessante porque saiu da pena de Alberto Miguéns, o melhor e mais rigoroso dos historiadores do nosso Clube.

Ainda assim, há alguma informação adicional que pode ser sistematizada de forma a relevar e homenagear esses 34 homens. Com tempo, pretende-se ir publicando essa informação. Pede-se indulgência por qualquer falha e agradece-se qualquer correção ou sugestão complementar. Pretende-se apenas dar uma contribuição honesta e reconhecida ao seu papel, maioritariamente positivo, destes homens na construção do maior Clube português.

Neste primeiro texto serão publicadas uma série de galerias tentando resumir os factos e contribuições mais importantes das suas vidas enquanto cidadãos e associados.



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Nos próximos textos será dada (muito gradualmente...) um enfoque visual a alguns episódios da vida e da contribuição associativa destes presidentes.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2021, 20:39
-292-
Presidente José Rosa Rodrigues



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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2021, 20:43
-293-
Presidente Januário Barreto


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: sardao em 26 de Novembro de 2021, 20:44
O melhor tópico do fórum. Obrigado RedVC, és o maior
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2021, 20:48
-294-
Presidente Luís Carlos de Faria Leal


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2021, 20:51
-295-
Presidente João José Pires



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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2021, 20:54
-296-
Presidente Alfredo Alexandre Luís da Silva


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2021, 20:58
Citação de: sardao em 26 de Novembro de 2021, 20:44
O melhor tópico do fórum. Obrigado RedVC, és o maior

Obrigado, Sardão  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Novembro de 2021, 21:05
-297-
Presidente António Nunes de Almeida Guimarães


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Novembro de 2021, 13:43
-298-
Presidente Alberto Lima


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Novembro de 2021, 15:34
-299-
Presidente José Eduardo Moreira Sales

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Novembro de 2021, 19:13
-300-
Presidente José Antunes dos Santos Júnior


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Novembro de 2021, 20:02
-301-
Presidente Félix Redondo Adães Bermudes


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 27 de Novembro de 2021, 20:13
Que soberbo trabalho Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Novembro de 2021, 23:53
Citação de: Alexandre1976 em 27 de Novembro de 2021, 20:13
Que soberbo trabalho Red VC.

Obrigado, Alexandre  O0

Dá prazer, muito trabalho mas é uma terapia para estes tempos.
Vai a meio. Amanhã devo colocar alguns mais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RED_1904 em 28 de Novembro de 2021, 00:37
RedVC, que trabalho inacreditável.

Muito, muito obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 00:40
Citação de: RED_1904 em 28 de Novembro de 2021, 00:37
RedVC, que trabalho inacreditável.

Muito, muito obrigado.

Obrigado, Red_1904  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 00:49
-302 -
Presidente Nuno Freire Temudo


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 09:27
-303-
Presidente Bento Joaquim Cortês Mântua


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 10:39
-304-
Presidente Alfredo Silveira Ávila de Melo


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 10:47
-305-
Presidente Manuel da Conceição Afonso


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 10:56
-306-
Presidente Vasco Rosa Ribeiro


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 20:03
-307-
Presidente Júlio Ribeiro da Costa


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Novembro de 2021, 20:35
-308-
Presidente Augusto da Fonseca Júnior


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 00:19
-309-
Presidente João Tamagnini de Sousa Barbosa



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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 00:26
-310-
Presidente Mário Lampreia de Gusmão Madeira


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 11:02
-311-
Presidente Joaquim Ferreira Bogalho


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Dezembro de 2021, 13:19
Que Presidente extraordinário. Um Mito da nossa gloriosa história.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 13:49
Citação de: Alexandre1976 em 04 de Dezembro de 2021, 13:19
Que Presidente extraordinário. Um Mito da nossa gloriosa história.


Verdade, Alexandre.

Ferreira Bogalho
Félix Bermudes
Maurício Vieira de Brito
Duarte Borges Coutinho
Manuel da Conceição Afonso

os indisputados 5 maiores presidentes da nossa História.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 19:42
-312-
Presidente Maurício Vieira de Brito


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2021, 11:27
-313-
Presidente António Carlos Freire do Amaral Cabral Metello Fezas Vital


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2021, 16:17
-314-
Presidente Adolfo Vieira de Brito


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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 05 de Dezembro de 2021, 17:27
O meu velho quando esteve na guerra colonial em Angola chegou a conhecer a zona onde a familia do Presidente Vieira de Brito tinha as roças de café.Eram hectares e mais hectares de perder de vista.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2021, 17:42
Citação de: Alexandre1976 em 05 de Dezembro de 2021, 17:27
O meu velho quando esteve na guerra colonial em Angola chegou a conhecer a zona onde a familia do Presidente Vieira de Brito tinha as roças de café.Eram hectares e mais hectares de perder de vista.

Os dois irmãos "Vieira de Brito" deram muito ao Clube. Benfiquistas excelsos e beneméritos.

Maurício conquistou-nos a glória europeia. Basicamente, a segunda vitória, em Amesterdão é também dele embora fosse o seu antigo secretário-geral, Fezas Vital, que liderasse. Vicissitudes dos tempos que se vivia...

Adolfo ficou à porta por duas vezes. Se houvesse justiça e decência no futebol, teríamos vencido a final de 1965. Vencido em Roma e não em Milão, num terreno seco e não encharcado. Em Wembley, em 1968 não vencemos porque Eusébio falha um remate, isolado, no final, num daqueles lances que marcava 8 ou 9 em 10...

Teríamos tido marca indelével dos irmãos "Vieira de Brito" na glória europeia. Assim, tivemos à mesma mas formalmente apenas por uma vez. Deveriam ter sido quatro!

Três textos de referência de Alberto Miguéns:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/07/mvb-reparar-uma-injustica.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/08/presidente-europa.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/04/o-inicio-do-inicio-da-conquista-da.html



Para além do que nos deram futebol, deixaram também a fundação "Artur Vieira de Brito" (pai dos manos) que ainda existe e tem uma obra social notável.

https://www.facebook.com/AdolfoVieiraBrito/

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 05 de Dezembro de 2021, 17:59
Mauricio Vieira de Brito que entre outras coisas foi buscar Guttmann ao Porto e conseguiu trazer Eusébio evitando que o King fosse para ao lado errado da história.
Uma vez o falecido Sr.Alfredo Farinha perguntou ao Eng.Mauricio Vieira de Brito se era verdade que ele enquanto foi presidente tinha colocado cerca de 12000 contos no Benfica.A resposta foi elucidativa" escreva isso para a minha mulher pensar que foram só 12000 contos".

Os irmãos Vieira de Brito pertencem por direito próprio e inequivoco á galeria de Miticos Presidentes da Nossa Gloriosa História.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Kyoto em 05 de Dezembro de 2021, 18:09
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 11:02
-311-
Presidente Joaquim Ferreira Bogalho


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(https://i.postimg.cc/HkPyzMQ4/16.jpg)
(https://i.postimg.cc/Y9QLtyTb/17.jpg)


mais um excelente trabalho.
obrigado pela partilha
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2021, 19:09
Citação de: Kyoto em 05 de Dezembro de 2021, 18:09
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 11:02
-311-
Presidente Joaquim Ferreira Bogalho


(https://i.postimg.cc/x8HwxLJk/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/B6BR9JZp/02.jpg)
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(https://i.postimg.cc/Y9QLtyTb/17.jpg)


mais um excelente trabalho.
obrigado pela partilha

Obrigado, Kyoto  O0

A ideia foi dar substância a uma lista de nomes.

Para alguns, a obra impõe-se e por muitos Benfiquistas reconhecem o nome mas para muitos outros o esquecimento é uma injustiça gritante. A sua obra, no seu tempo, foi tal que sem eles o Clube teria tomado outros rumos e seria certamente diferente, provavelmente para pior.

As imagens reunidas são o que consegui arranjar. Por vezes permitem um bom resumo do(s) mandato(s) mas outras vezes não, e isso é frustrante. Ainda assim, é mais fácil passar a mensagem com imagens do que com os textos longos que habitualmente publico por aqui. É uma forma diferente mas igualmente recompensadora.

Este trabalho é uma aprendizagem e uma terapia Benfiquista. Ajuda a compreender melhor o que este Clube é e a aguentar melhor os tempos difíceis que vivem. Torna evidente que o destino do Benfica será certamente bem melhor do que esta deriva que hoje nos atormenta.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2021, 19:21
Citação de: Alexandre1976 em 05 de Dezembro de 2021, 17:59
Mauricio Vieira de Brito que entre outras coisas foi buscar Guttmann ao Porto e conseguiu trazer Eusébio evitando que o King fosse para ao lado errado da história.
Uma vez o falecido Sr.Alfredo Farinha perguntou ao Eng.Mauricio Vieira de Brito se era verdade que ele enquanto foi presidente tinha colocado cerca de 12000 contos no Benfica.A resposta foi elucidativa" escreva isso para a minha mulher pensar que foram só 12000 contos".

Os irmãos Vieira de Brito pertencem por direito próprio e inequivoco á galeria de Miticos Presidentes da Nossa Gloriosa História.


Completamente de acordo!

Alberto Miguéns conta que Maurício Vieira de Brito bem depois de sair da presidência tinha muito dinheiro empatado no Clube. A Direção da altura tinha-se comprometido a pagar uma mensalidade de 50 contas (muito dinheiro para a altura) mas de vez em quando falhava-se o pagamento... Um telefonema aflito do tesoureiro para o Engª Maurício e este do outro lado dizia: "Pois é, vocês andam sempre apertados. Bem, considera-se que a essa mensalidade já está paga!"

Amor ao Clube! Não recebiam um tostão pelos cargos e ao contrário punham dinheiro no Clube que nem sempre era devolvido.

A única coisa que me consola é que pelo menos o meu pai viveu esses tempos. Ia ver os juniores jogar ao Campo Grande e ouvia as conversas dos sócios mais antigos. A exigência era outra. Ambição mas respeito para com o adversário. O respeito pelos dirigentes era outro mas esses também o sabiam merecer.

Respeitavam os valeres do Clube. Respeitavam o dinheiro do Clube e ao invés até pagavam para ser dirigentes.

Sei que esse tempo não volta mais mas também sei que não é este o tempo que eu quero ver mantido no Clube por muitos mais anos.

Como dizia Ferreira Bogalho,  futuro do Clube será o que os Benfiquistas quiserem. Foi dito num outro contexto mas na essência a mensagem aplica-se hoje e aplicar-se-à no futuro.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Diavolo Rosso em 05 de Dezembro de 2021, 19:43
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 11:02
-311-
Presidente Joaquim Ferreira Bogalho


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(https://i.postimg.cc/Y9QLtyTb/17.jpg)


Wow...

Não fazia ideia que o grande Ferreira Bogalho era meu conterrâneo :o
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2021, 21:11
Citação de: Diavolo Rosso em 05 de Dezembro de 2021, 19:43
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2021, 11:02
-311-
Presidente Joaquim Ferreira Bogalho


(https://i.postimg.cc/x8HwxLJk/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/B6BR9JZp/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/XvMPrrpx/03.jpg)
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(https://i.postimg.cc/8zCvL4rz/15.jpg)
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(https://i.postimg.cc/HkPyzMQ4/16.jpg)
(https://i.postimg.cc/Y9QLtyTb/17.jpg)


Wow...

Não fazia ideia que o grande Ferreira Bogalho era meu conterrâneo :o


(https://i.postimg.cc/wM70JySH/Detalhe-Registo-Obito.jpg)

nasceu no lugar do Chamiço
o pai era da freguesia da Benedita e a mãe da freguesia de Turquel.

:slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 07 de Dezembro de 2021, 12:58
Citação de: RedVC em 13 de Outubro de 2021, 22:39
Citação de: Ned Kelly em 13 de Outubro de 2021, 22:20
RedVC,
Lenda do SB!

:ashamed:



Obrigado, Ned. O0

Este foi bem esgalhado e deu algum trabalho


e foi um dos teus melhores. muito bom.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 07 de Dezembro de 2021, 13:14
Joaquim Ferreira Bogalho, o meu favorito. Obrigado RedVC!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 07 de Dezembro de 2021, 19:17
Citação de: alfredo em 07 de Dezembro de 2021, 12:58
Citação de: RedVC em 13 de Outubro de 2021, 22:39
Citação de: Ned Kelly em 13 de Outubro de 2021, 22:20
RedVC,
Lenda do SB!

:ashamed:



Obrigado, Ned. O0

Este foi bem esgalhado e deu algum trabalho


e foi um dos teus melhores. muito bom.


Citação de: Ned Kelly em 07 de Dezembro de 2021, 13:14
Joaquim Ferreira Bogalho, o meu favorito. Obrigado RedVC!



Obrigado Alfredo e Ned  O0

Ferreira Bogalho é um monumento Benfiquista. Um mito! Era um homem de carácter, duro, inflexível nos seus valores e no seu Benfiquismo incorruptível! Chegava a ser intratável no exercício do seu Benfiquismo! Não tenho dúvidas que o Benfica seria diferente se ele não tivesse sido figura ativa no Clube desde 1927, ano em que deixou de jogar e começou logo a assumir cargos de diretivos de responsabilidade.

A sua ação no saneamento das contas do Clube, arruinadas com a construção das Amoreiras, foi algo que resolveu um garrote que impedia o Clube de investir no futebol, dando assim vantagens aos nossos rivais. Foi por isso que recebeu a Águia de Ouro cerca de 14 anos antes de ser eleito presidente.

Fez parte de um conjunto de Benfiquistas que inviabilizaram a construção do novo parque desportivo do Clube em terrenos onde é hoje a Avenida do Brasil, local que tinha evidentes constrangimentos para a expansão territorial do Clube. Ou seja a Luz não teria sido construída. Ele, Manuel da Conceição Afonso e Tamagnini Barbosa, entre outros, foram fundamentais mesmo que tendo de afrontar outro gigante: Félix Bermudes...

E não esquecer que foi intratável a afrontar a Câmara de Lisboa quando queriam demolir o Campo Grande sem chegar a acordo com o Clube, dando justas condições e contrapartidas. Chegou a ameaçar que se colocaria à frente dos camartelos (bulldozers da altura)!

É por isso que no Benfica tem de haver paixão mas tolerância desde que se perceba que o Clube está acima dos interesses individuais em particular com negócios metidos pelo meio.

Nunca me canso de lembrar de uma distinção que Ferreira Bogalho fazia nesse tempo entre BENFIQUISTAS E BENFIQUISTOS, sendo que estes últimos eram aqueles que no entender de Ferreira Bogalho só queriam estar no Clube para se aproveitar das mordomias.

E depois de ser quase reverenciado no Clube, ao fim de 5 anos, um parque desportivo deslumbrante e bases competitivas nunca antes vistas, soube preparar a sucessão, percebendo que o Benfica precisava de outro presidente, com um perfil de mecenas. Que lição intemporal de Benfiquismo nos deu...

Foi um referencial de Benfiquismo. Deixou obra e deixou valores. Foi o maior.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Dezembro de 2021, 11:28
-315-
Presidente António Catarino Duarte


(https://i.postimg.cc/3RFzq8Zc/01.jpg)
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(https://i.postimg.cc/7Y6jByJK/02.jpg)
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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Dezembro de 2021, 11:31
-316-
Presidente José Ferreira Queimado


(https://i.postimg.cc/7Ykn61w0/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/dVQRRq70/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/Z5f8V13x/03.jpg)
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(https://i.postimg.cc/XN8pf99w/08.jpg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Dezembro de 2021, 11:39
-317-
Presidente Duarte António Borges Coutinho



(https://i.postimg.cc/ncNZBLS4/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/pV1bxFkR/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/3J0Q8Trd/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/pLNby6yk/04.jpg)
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(https://i.postimg.cc/yxw5gD6W/07.jpg)
(https://i.postimg.cc/sfQ3XSwj/08.jpg)
(https://i.postimg.cc/dDPsD7PV/09.jpg)
(https://i.postimg.cc/XY3WQP3q/10.jpg)
(https://i.postimg.cc/JhYW74XH/11.jpg)
(https://i.postimg.cc/rmd2DXGn/12.jpg)
(https://i.postimg.cc/3xZG5hmv/13.jpg)
(https://i.postimg.cc/tCdQZzPj/14.jpg)
(https://i.postimg.cc/jSsVzJQJ/15.jpg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 12 de Dezembro de 2021, 01:10
Que classe.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 12 de Dezembro de 2021, 09:21
Onde andam os Borges Coutinhos de hoje? Que dor de alma passar por estas biografias e ver no que nos tornámos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Harlem em 12 de Dezembro de 2021, 09:37
O trabalho que fazes neste tópico é formidável, autêntica enciclopédia do Benfica.
Que nunca se perca!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Dezembro de 2021, 23:57
Citação de: Ned Kelly em 12 de Dezembro de 2021, 09:21
Onde andam os Borges Coutinhos de hoje? Que dor de alma passar por estas biografias e ver no que nos tornámos.

Ned, a questão chave é mesmo essa. Provavelmente milhares de Benfiquistas não se dão conta ou então desvalorizam, mas esse é o maior problema do atual Benfiquismo. Estamos a colher o resultado da estratégia comercialista que desfigurou e desmobilizou o Benfiquismo. A liderança é decisiva.

Este tópico pretende contribuir para o maior conhecimento do Benfiquismo dos tempos passados. Como se originou e como foi sendo construído etapa a etapa, dirigidas por presidentes, eleitos sempre por um sistema democrático. Sempre, sem exceções, sem oligarquias e sem nomeações vindas do poder político. É importante difundir o conhecimento dessas figuras do Benfiquismo, dos episódios, dos dilemas e das soluções. É importante ilustrar as grandezas e as derivas, deixando claro que o Benfiquismo foi sempre renovado com a constante militância e a promoção do mérito. As vitórias resultaram do Benfiquismo. E resultarão ainda mais, no futuro.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Dezembro de 2021, 23:57
Citação de: Harlem em 12 de Dezembro de 2021, 09:37
O trabalho que fazes neste tópico é formidável, autêntica enciclopédia do Benfica.
Que nunca se perca!


Obrigado, Harlem  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Dezembro de 2021, 21:41
-318-
Presidente Fernando Martins



(https://i.postimg.cc/DZmrbHq8/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/W41rQCYX/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/C1Wqn1hQ/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/MK0QXqh9/04.jpg)
(https://i.postimg.cc/t42ntDRP/05.jpg)
(https://i.postimg.cc/wBMyWJ3r/06.jpg)
(https://i.postimg.cc/T1MKY4Q8/07.jpg)
(https://i.postimg.cc/65h8tzvS/08.jpg)
(https://i.postimg.cc/BnQX6D5v/09.jpg)
(https://i.postimg.cc/MGnH0SF2/10.jpg)
(https://i.postimg.cc/Vsq6W4D6/12.jpg)
(https://i.postimg.cc/MpmZyGDF/13.jpg)
(https://i.postimg.cc/506xdSMh/14.jpg)
(https://i.postimg.cc/wvZ96Rq7/15.jpg)
(https://i.postimg.cc/QNKXfmm5/16.jpg)
(https://i.postimg.cc/Y2FH692z/17.jpg)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 13 de Dezembro de 2021, 22:24
A ultima foto...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Dezembro de 2021, 22:50
Citação de: Alexandre1976 em 13 de Dezembro de 2021, 22:24
A ultima foto...

Ainda há pior...

(https://i.postimg.cc/N07kRR9r/R-bf57d17a29d41ec6af9b8c2b23cbc406.jpg)


Nunca entendi esta amizade. Ao longo das décadas manteve pública e florescente uma amizade a uma criatura que fez tanto mal ao Benfica, emporcalhando para sempre o nosso país (nem foi só o futebol). Quem viveu os anos 90 nunca esquecerá tudo o que se passou, semana a semana. Nem vale a pena dizer muito mais sobre isso.

Fernando Martins deixou obra no Clube, deu-nos muito a ganhar e soube manter a dignidade do Clube, mas, em em tempo útil, não percebeu nem enfrentou aquela criatura e toda a sua organização criminosa. E digo criminosa porque foi condenada sem sequer ter recorrido da condenação.

O presidente Fernando Martin merece reconhecimento mas isso não implica que se esqueça essa terrível falha.

Que descanse em paz.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 13 de Dezembro de 2021, 22:56
Subscrevo na integra Red VC.As modalidades com a honrosa excepção do Basket e vá lá,do Atletismo e natação sofreram bem na pele a politica unha de fome que foi implementada no clube a partir do inicio do fecho de terceiro anel.Isto sem falar do desinvestimento no futebol e a consequente perda de poder competitivo em relação á vara das antas.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 13 de Dezembro de 2021, 23:00
Mas tambem teve coisas bem positivas durante os seus mandatos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Dezembro de 2021, 23:38
Citação de: Alexandre1976 em 13 de Dezembro de 2021, 23:00
Mas tambem teve coisas bem positivas durante os seus mandatos.

Sim. Essencialmente, descobrir o filão nórdico e as novas ideias para financiamento do Clube.

Hoje sabemos que não soube ter visão. Deixou o dirigismo nacional entregue aos pintos lá de cima. E acima de tudo, a aposta no fecho do 3º anel foi um erro. Manda a verdade que se diga que na altura pouca gente terá percebido isso. Não se soube antecipar que seria nos contratos televisivos e publicitários que viria o maior quinhão do financiamento dos clubes.

A partir do fecho do 3º anel, o Estádio encheu poucas vezes e era deprimente ver aquelas bancadas vazias. É claro que nos (poucos) jogos de casa cheia ficamos com imagens únicas do Benfiquismo. Os jogos contra o Steaua de Bucareste e o Marselha são momentos únicos, irrepetíveis e que dão as gerações novas a ideia de como nesse tempo o Benfiquismo era uma partilha de Amor extraordinária e incondicional. Os mais antigos sabem no entanto que com o terceiro anel por fechar esse mesmo ambiente se gerava naquelas noites europeias em particular.

A maior mágoa que tenho é de não ter vivido uma noite europeia com Águas, Coluna, Eusébio, Germano, Costa Pereira, José Augusto, etc, a jogar naquela relvado. O consolo é que o meu pai ainda os viu e ainda me pode contar alguma coisa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Lawliet em 16 de Dezembro de 2021, 03:07
(https://i.ibb.co/4fchzq1/benfica.jpg)

Encontrei na internet esta foto do último jogo no antigo Estádio da Luz

Muitos dos intervenientes não conheço e por isso não consegui identificar. Talvez a malta mais sénior consiga.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 19:35
Citação de: Lawliet em 16 de Dezembro de 2021, 03:07
(https://i.ibb.co/4fchzq1/benfica.jpg)

Encontrei na internet esta foto do último jogo no antigo Estádio da Luz

Muitos dos intervenientes não conheço e por isso não consegui identificar. Talvez a malta mais sénior consiga.

Só consigo identificar alguns e... com erros, certamente!

(https://i.postimg.cc/25ZVTmnW/SLSaudade-2005.png)


Em cima, da esquerda para a direita:

1- Mário João
2- ?
3- ?
4- João Alves
5- ?
6- Mário Wilson
7- Guilherme Espírito Santo
8- Joaquim Macarrão
9- Bento
10- Rogério Pipi?
11- José Henrique
12- Nené
13- Adolfo
14- Ricardo Rocha
15- Veloso
16- Dimas
17- Jorge Silva
18- Angelo Martins
19- Jaime Graça
20- José Rachão
21- Palmeiro Antunes
22- ?
23- António Bastos Lopes
24- ?
25- José Bastos
26- ?
27- José Águas
28- ?
29- Artur Santos
30- ?
31- Humberto Coelho?
32- Vítor Martins
33- Mariano
34- Artur Correia

Em baixo, da esquerda para a direita:
35- António Simões
36- Sheu
37- Pietra
38- José Luís
39- Chalana
40- ?
41- ?
42- ?
43- Matine
44- ?
45- ?
46- ?
47- Chiquinho
48- Charouco
49- ?
50- ?
51- Fidalgo ?
52- ?
53- ?
54- ?
55- Eusébio

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 20:01
-319-
Presidente João Maria dos Santos Júnior


(https://i.postimg.cc/QCF8xZhm/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/rmPd9Jph/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/HkzbybbN/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/mgLHBhKy/04.jpg)
(https://i.postimg.cc/Kc7jjxPq/05.jpg)
(https://i.postimg.cc/nrTnkVTn/06.jpg)
(https://i.postimg.cc/d0McGTv8/06A.jpg)
(https://i.postimg.cc/85488KvH/07.jpg)
(https://i.postimg.cc/qvy5VDV3/08.jpg)
(https://i.postimg.cc/v81R2zBW/09.jpg)
(https://i.postimg.cc/pTpS7W22/10.jpg)
(https://i.postimg.cc/fbg2YGY1/11.jpg)
(https://i.postimg.cc/zBsxcTtj/12.jpg)
(https://i.postimg.cc/Bnb22XNQ/13.jpg)




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 17 de Dezembro de 2021, 22:04
Saudades do Benfica da minha adolescência.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 22:31
-320-
Presidente Jorge Artur Rego de Brito


(https://i.postimg.cc/V6wP57bx/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/pr0wGR1v/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/dVZb6MRM/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/qR4WpzP0/04.jpg)
(https://i.postimg.cc/Y9RZ0t7F/05.jpg)
(https://i.postimg.cc/Fzn6bG7s/06.jpg)
(https://i.postimg.cc/05thq5cR/07.jpg)
(https://i.postimg.cc/g2h7RVdm/08.jpg)
(https://i.postimg.cc/7LyWN5Y7/09.jpg)
(https://i.postimg.cc/ZqFDsJCQ/10.jpg)
(https://i.postimg.cc/Hx6vH304/11.jpg)
(https://i.postimg.cc/8csKCWt8/12.jpg)
(https://i.postimg.cc/mZ6p5XgT/13.jpg)
(https://i.postimg.cc/pXwG2mj7/14.jpg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Moikano em 18 de Dezembro de 2021, 08:54
Citação de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 20:01
-319-
Presidente João Maria dos Santos Júnior


(https://i.postimg.cc/QCF8xZhm/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/rmPd9Jph/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/HkzbybbN/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/mgLHBhKy/04.jpg)
(https://i.postimg.cc/Kc7jjxPq/05.jpg)
(https://i.postimg.cc/nrTnkVTn/06.jpg)
(https://i.postimg.cc/d0McGTv8/06A.jpg)
(https://i.postimg.cc/85488KvH/07.jpg)
(https://i.postimg.cc/qvy5VDV3/08.jpg)
(https://i.postimg.cc/v81R2zBW/09.jpg)
(https://i.postimg.cc/pTpS7W22/10.jpg)
(https://i.postimg.cc/fbg2YGY1/11.jpg)
(https://i.postimg.cc/zBsxcTtj/12.jpg)
(https://i.postimg.cc/Bnb22XNQ/13.jpg)





Obrigado este foi o "meu" presidente. A sua saída foi o principio de uma crise que se arrasta até hoje.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Çula em 18 de Dezembro de 2021, 09:09
Estas montagens são tuas, Red?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Dezembro de 2021, 09:14
Citação de: Çula em 18 de Dezembro de 2021, 09:09
Estas montagens são tuas, Red?

Sim, Çula. Com o material que está disponível.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 18 de Dezembro de 2021, 13:10
Jorge de Brito. Todos os adjectivos ou elogios são poucos para descrever o que esse Mito deu ao nosso clube. Estaremos eternamente gratos a quem deu tanto,mas tanto ao Sport Lisboa e Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: MaFd_R@_SLB em 18 de Dezembro de 2021, 13:16
Qual o melhor Presidente da história?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 18 de Dezembro de 2021, 14:17
Não consigo escolher.Mas 3 são indiscutivelmente fortes candidatos.
Mauricio Vieira de Brito
Joaquim Ferreira Bogalho
Duarte Borges Coutinho
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: IPASLB em 18 de Dezembro de 2021, 15:11
Diz-se que pinto da costa aprendeu tudo com Fernando Martins, ou alguns dizem isso para insinuar coisas menos transparentes a Fernando Martins.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: joaoaria em 18 de Dezembro de 2021, 15:16
Citação de: Alexandre1976 em 18 de Dezembro de 2021, 13:10
Jorge de Brito. Todos os adjectivos ou elogios são poucos para descrever o que esse Mito deu ao nosso clube. Estaremos eternamente gratos a quem deu tanto,mas tanto ao Sport Lisboa e Benfica.
Sim deu muito aí Benfica, mas também ficou provado no seu mandato que o mecenato nos clubes de futebol só os regredia porque travava um desenvolvimento que não se realizava porque havia alguém a pôr dinheiro.
É de louvar o seu amor pelo Benfica, mas isso não trouxe vantagens nem a ele nem ao Benfica
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: IPASLB em 18 de Dezembro de 2021, 15:16
Tive a sorte (melhor só se o SLB tivesse conseguido ser campeão europeu nas finais perdidas) de assistir ao vivo jogos nacionais e internacionais no estádio da Luz com o terceiro anel fechado e nas épocas em que o SLB foi ás últimas finais da principal competição europeia, João Santos era o presidente e fez sonhar muitos Benfiquistas, o SLB conseguiu ir a duas finais da principal competição internacional entre clubes, saudades desses tempos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: joaoaria em 18 de Dezembro de 2021, 15:18
Citação de: IPASLB em 18 de Dezembro de 2021, 15:11
Diz-se que pinto da costa aprendeu tudo com Fernando Martins, ou alguns dizem isso para insinuar coisas menos transparentes a Fernando Martins.

LOL, Fernando Martins é o início dos comidos de cebolada pelos andrades.  :crazy2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: IPASLB em 18 de Dezembro de 2021, 15:19
Se hoje em dia o SLB está na história como um dos clubes europeus com mais finais na principal competição internacional entre clubes, também se deve a João Santos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: IPASLB em 18 de Dezembro de 2021, 15:22
Citação de: joaoaria em 18 de Dezembro de 2021, 15:18
Citação de: IPASLB em 18 de Dezembro de 2021, 15:11
Diz-se que pinto da costa aprendeu tudo com Fernando Martins, ou alguns dizem isso para insinuar coisas menos transparentes a Fernando Martins.

LOL, Fernando Martins é o início dos comidos de cebolada pelos andrades.  :crazy2:
Não sou eu que o digo, basta copiares e colares no navegador o que eu disse antes...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Dezembro de 2021, 17:31
Escolher entre 34 presidentes dá para escolher de forma diversa. Todos temos os nossos favoritos. É claro que os presidentes mais vencedores ou aqueles que edificaram mais infraestruturas, serão os mais lembrados, seja para o bem seja para o mal.

As vitórias europeias conferiram uma notoriedade maior ao Clube e aos presidentes da altura, mas é interessante que Ferreira Bogalho, passados quase 5 décadas da sua morte e quase 7 décadas do seu último mandato, é o mais lembrado. E de forma positiva. Ferreira Bogalho deixou uma obra notável mas não era uma pessoa consensual no seu tempo. Era duro e tinha um feitio complicado, o que para uns era adequado à função e para outros nem tanto. Ferreira Bogalho fez obra no Clube ao longo de umas 4 décadas, ocupando os cargos mais diversos, tendo se calhar a sua mais notável contribuição sido o saneamento financeiro do Clube, quando estava asfixiado pelas dívidas da construção do Campo das Amoreiras... Foi por isso que recebeu a Águia de Ouro muito antes de estar por trás da construção do Estádio da Luz...

E sabem que a primeira localização para o parque de jogos era nuns terrenos onde é hoje o LNEC? Numa das zonas da Avenida do Brasil a caminho do aeroporto... Essa escolha, que foi definida no mandato de Félix Bermudes, foi alvo de ENORME contestação, tendo sido inviabilizado o projeto. Logo Félix Bermudes, que foi e é uma das figuras máximas da História do Clube... Chegou a pensar sair do Clube! Felizmente não o deixaram sair até ele ter bom senso.

Depois nos mandatos de Manuel da Conceição Afonso, Tamagnini Barbosa e Mário Madeira tudo mudou tendo depois sido escolhidos os terrenos em Carnide onde finalmente se edificou a nossa querida Luz. Foi um processo, um caminho longo. Nenhum desses passos foi inútil e muito menos dado por quem queria mal ao Clube.

O meu ponto depois de tudo o que disse é que não devemos pensar só nas vitórias mas pensar que houve mandatos que não tiveram resultados visíveis mas foram fundamentais para que o Benfica fosse hoje o que é. Cosme Damião nunca foi (porque não quis) presidente mas foi o pai do Benfiquismo e o homem mais destacado na edificação da competitividade e organização desportiva do Clube. E é lembrado mais como o fundador do Clube quando foi apenas um dos 24...

Há muitas ideias simplistas e que não sendo erróneas ainda assim são atalhos para o Benfiquismo. Conhecer melhor a História do Clube é um passaporte para amar mais o Sport Lisboa e Benfica. As vitórias, os presidentes vitoriosos são concretizações coletivas e muitas vezes esses nem foram os presidentes mais notáveis ou seja aqueles que definiram mais o futuro do Clube. Se calhar tiveram foi o mérito de saber aproveitar bem um contexto favorável e uma base desportiva e estrutural deixada por outros.

Também a ideia que o mecenato era nocivo para os clubes de futebol me parece que deve ser ponderada. Em determinados contextos talvez. Noutros, não! O nosso Clube não seria nem sequer aproximado do que é se não fosse o mecenato. Os primeiros mecenas foram o Conde do Restelo, Manuel Gourlade e Félix Bermudes, entre outros. Se não tivessem doado dinheiro ao Clube a fundo perdido o Clube teria morrido. Não existiria hoje.

Avançando umas décadas, Ferreira Bogalho deixou a presidência em 1957 não apenas porque estava cansado da monumental obra mas porque percebia que o Benfica tinha chegado a um ponto que para dar o salto competitivo  precisava de um músculo financeiro muito maior. A solução passava por um presidente-mecenas. E os manos Vieira de Brito, com uma fortuna considerável, foram fundamentais. A base estava lá ou seja uma grande equipa de futebol e um Estádio novo e magnífico mas faltava dinheiro para manter e melhorar o que já era notável. E o dinheiro colocado no Clube por Maurício Vieira de Brito foi considerável, algum adiantado outro a fundo perdido. E estavam reunidas as condições para que com competência e sorte o Benfica fosse bicampeão europeu. A vitória de Amesterdão surgiu já com Fezas Vital na presidência, ele que era um antigo vice de Maurício Vieira de Brito, porque este último não podia continuar no cargo.

Ferreira Bogalho, sim! Borges Coutinho, sim! Maurício Vieira de Brito, sim! Manuel da Conceição Afonso, sim! Mas quase todos os outros, também! Todos ele tiveram papel fundamental.

Por último, não se esqueçam nunca de Félix Bermudes. Foi FUNDAMENTAL, foi brilhante, foi absolutamente determinante no nascimento, sobrevivência, nas junções, no desenvolvimento, na grandeza de valores e de concretizações do nosso Clube. Fundamental, e se calhar até foi o mais importante e por mais tempo, dos presidentes da nossa História e por razões muito mais desconhecidas da esmagadora maioria dos atuais Benfiquistas!

Este projeto de resumo gráfico dos presidentes procura dar corpo a esse entendimento mais completo e mais justo do que foram estes homens e do seu papel ao longo da nossa História.

No final, a mais importante conclusão é que mais importante que tudo é que por mais decisiva que tenha sido a sua contribuição individual, nada poderiam ter feito se não fosse a paixão e a obra coletiva de milhões de Benfiquistas. Dos que já morreram e dos que ainda vivem.Todos somos transitórios e enquanto cá estivermos amamos o Benfica, porque só Benfica é eterno.
´
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 18 de Dezembro de 2021, 18:07
Fernando Martins foi o primeiro presidente do Benfica a cair que nem um patinho na estratégia escabrosa que o velho cagão e senil das antas aprendeu com o velhaco do Pedroto.Para os suinos terem poder e sucesso tinham que estar bem com um dos grandes da capital e em guerra com o outro.De 76 a 81 com Ferreira Queimado e João Rocha essa estratégia teve relativo sucesso com os 2 campeonatos roubados ao Benfica em 77-78 e 78-79.Até o velho cagão ir para o poleiro em 82 os porcos estavam condenados a ser a terceira força futebolistica do Pais.Aí o boi azul comeu de cebolada Fernando Martins que varias vezes foi chamado á atenção por João Rocha para as reais intenções do porco de merda.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Dezembro de 2021, 20:33
-321-
Presidente Manuel Damásio Soares Garcia


(https://i.postimg.cc/9QN36tLY/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/KzBdgXx0/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/zvk60nLW/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/L6Hrh07V/04.jpg)
(https://i.postimg.cc/50BR2wSG/05.jpg)
(https://i.postimg.cc/sDDN3GQ6/06.jpg)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Dezembro de 2021, 20:39
-322-
Presidente João António de Araújo da Cunha Vale e Azevedo


(https://i.postimg.cc/nzWCMDV4/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/YjK0zBWj/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/43mKGPsf/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/NMX590KZ/04.jpg)
(https://i.postimg.cc/ZK4Cn44D/05.jpg)
(https://i.postimg.cc/zDSG96Kw/06.jpg)
(https://i.postimg.cc/zXxXfhdV/07.jpg)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Dezembro de 2021, 11:25
-323-
Presidente Manuel Lino Rodrigues Vilarinho


(https://i.postimg.cc/Kv9DsC44/01.jpg)
(https://i.postimg.cc/prsz4nW3/02.jpg)
(https://i.postimg.cc/t4ZWvTLm/03.jpg)
(https://i.postimg.cc/vB34ZFJV/04.jpg)
(https://i.postimg.cc/fy1TVwBJ/05.jpg)
(https://i.postimg.cc/nLTFvK38/06.jpg)
(https://i.postimg.cc/XNr5YXvN/07.jpg)
(https://i.postimg.cc/sxW19QBp/08.jpg)
(https://i.postimg.cc/TPHPzqgV/09.jpg)


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Ned Kelly em 19 de Dezembro de 2021, 22:35
Bem... Deste naipe de presidentes, gostava de destacar o João Santos. Homem vertical, desportista, defendia intransigemente o clube. Um presidente à Benfica.

Jorge de Brito, grande benfiquista, grande mecenas. Foi presidente no tempo errado (para ele), mas fica na minha memória como um dos grandes vultos do Benfica.

Damásio, João Vale e Azevedo. Nunca lhes perdoarei.

Vilarinho, Fernando Martins. Ambos foram importantes num momento inicial dos seus mandatos, ambos me dececionaram depois. Mais Fernando Martins, ao ser comido de cebolada pelo velho peidoso, de quem se dizia amigo. Essa faceta nunca compreendi nem perdoei.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Dezembro de 2021, 20:25
Caros amigos Benfiquistas, para todos um abraço e

(https://i.postimg.cc/9MdrL9cn/Dwcifrando-Boas-Festas-2021.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 27 de Dezembro de 2021, 16:35
(https://pbs.twimg.com/media/FHns3amXwBATK3p?format=jpg&name=medium)

Bola de Ouro

Campeonato: 20 Jogos, 28 Golos;
Taça de Portugal: 7 Jogos, 12 Golos;
Taça de Honra : 2 Jogos, 4 Golos;
Taça dos Campeões: 9 Jogos, 9 Golos;

Total: 38 Jogos, 53 Golos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Dezembro de 2021, 00:17
Citação de: Baron_Davis em 27 de Dezembro de 2021, 16:35
(https://pbs.twimg.com/media/FHns3amXwBATK3p?format=jpg&name=medium)

Bola de Ouro

Campeonato: 20 Jogos, 28 Golos;
Taça de Portugal: 7 Jogos, 12 Golos;
Taça de Honra : 2 Jogos, 4 Golos;
Taça dos Campeões: 9 Jogos, 9 Golos;

Total: 38 Jogos, 53 Golos.


Fotografia com Denis Law (Manchester United), Max Urbini (L'Equipe) e Eusébio (SL Benfica)

Denis Law tinha sido o Bola de Ouro do ano anterior...

A fotografia foi captada no Estádio da Luz no dia 9 de março de 1966, antes da 2ª mão da eliminatória contra o Manchester United.


(https://i.pinimg.com/736x/97/86/41/978641bf4c7dfb92c599abb5dd9429ed.jpg)

(https://i.pinimg.com/originals/13/2a/3f/132a3ffa36b2dd8552944a2d118041e8.jpg)


Acabou por ser uma noite triste, tamanha foi a derrota depois de uma primeira mão que não comprometeu (2-3). Foi um dos episódios tristes do dececionante regresso de Bela Guttmann...


ECCC-1965/1966 SL Benfica - Manchester United 1-5 (09.03.1966)

https://www.youtube.com/watch?v=OntSjabqD_o&t=5s (https://www.youtube.com/watch?v=OntSjabqD_o&t=5s)


A bola de ouro foi atribuída depois de uma dura compita com Fachetti, o capitão da Inter que em maio do ano anterior se tinha sagrado campeã europeia, às custas do Benfica.

Classement Ballon d'Or 1965

1. Eusebio (Portugal, Benfica), 67 points.

2. Facchetti (Italie, Inter Milan), 59 pts.

3. Suarez (Espagne, Inter Milan), 45 pts



Aqui há mais informação:

https://www.francefootball.fr/news/1965-eusebio/423377

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Fundado1904 em 03 de Janeiro de 2022, 21:58
Citação de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 19:35
Citação de: Lawliet em 16 de Dezembro de 2021, 03:07
(https://i.ibb.co/4fchzq1/benfica.jpg)

Encontrei na internet esta foto do último jogo no antigo Estádio da Luz

Muitos dos intervenientes não conheço e por isso não consegui identificar. Talvez a malta mais sénior consiga.
Spoiler

Só consigo identificar alguns e... com erros, certamente!

(https://i.postimg.cc/25ZVTmnW/SLSaudade-2005.png)


Em cima, da esquerda para a direita:

1- Mário João
2- ?
3- ?
4- João Alves
5- ?
6- Mário Wilson
7- Guilherme Espírito Santo
8- Joaquim Macarrão
9- Bento
10- Rogério Pipi?
11- José Henrique
12- Nené
13- Adolfo
14- Ricardo Rocha
15- Veloso
16- Dimas
17- Jorge Silva
18- Angelo Martins
19- Jaime Graça
20- José Rachão
21- Palmeiro Antunes
22- ?
23- António Bastos Lopes
24- ?
25- José Bastos
26- ?
27- José Águas
28- ?
29- Artur Santos
30- ?
31- Humberto Coelho?
32- Vítor Martins
33- Mariano
34- Artur Correia

Em baixo, da esquerda para a direita:
35- António Simões
36- Sheu
37- Pietra
38- José Luís
39- Chalana
40- ?
41- ?
42- ?
43- Matine
44- ?
45- ?
46- ?
47- Chiquinho
48- Charouco
49- ?
50- ?
51- Fidalgo ?
52- ?
53- ?
54- ?
55- Eusébio
[fechar]

O n.° 27 não pode ser o Cabecinha D'Oiro. Faleceu no ano 2000.

Mas também não sei quem é.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Janeiro de 2022, 23:31
Citação de: Fundado1904 em 03 de Janeiro de 2022, 21:58
Citação de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 19:35
Citação de: Lawliet em 16 de Dezembro de 2021, 03:07
(https://i.ibb.co/4fchzq1/benfica.jpg)

Encontrei na internet esta foto do último jogo no antigo Estádio da Luz

Muitos dos intervenientes não conheço e por isso não consegui identificar. Talvez a malta mais sénior consiga.
Spoiler

Só consigo identificar alguns e... com erros, certamente!

(https://i.postimg.cc/25ZVTmnW/SLSaudade-2005.png)


Em cima, da esquerda para a direita:

1- Mário João
2- ?
3- ?
4- João Alves
5- ?
6- Mário Wilson
7- Guilherme Espírito Santo
8- Joaquim Macarrão
9- Bento
10- Rogério Pipi?
11- José Henrique
12- Nené
13- Adolfo
14- Ricardo Rocha
15- Veloso
16- Dimas
17- Jorge Silva
18- Angelo Martins
19- Jaime Graça
20- José Rachão
21- Palmeiro Antunes
22- ?
23- António Bastos Lopes
24- ?
25- José Bastos
26- ?
27- José Águas
28- ?
29- Artur Santos
30- ?
31- Humberto Coelho?
32- Vítor Martins
33- Mariano
34- Artur Correia

Em baixo, da esquerda para a direita:
35- António Simões
36- Sheu
37- Pietra
38- José Luís
39- Chalana
40- ?
41- ?
42- ?
43- Matine
44- ?
45- ?
46- ?
47- Chiquinho
48- Charouco
49- ?
50- ?
51- Fidalgo ?
52- ?
53- ?
54- ?
55- Eusébio
[fechar]

O n.° 27 não pode ser o Cabecinha D'Oiro. Faleceu no ano 2000.

Mas também não sei quem é.

É verdade.
Bem, vamos esperar que alguém possa identificar mais algumas destas velhas glórias.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luziaspin em 10 de Janeiro de 2022, 00:57
Boas!

Sem certezas nenhumas mas o nº 21, parece-me o Fernando Cabrita.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luziaspin em 10 de Janeiro de 2022, 00:57
Queria dizer o nº 27 e não o 21.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Janeiro de 2022, 18:58
Citação de: luziaspin em 10 de Janeiro de 2022, 00:57
Queria dizer o nº 27 e não o 21.


(https://i.postimg.cc/PxWffRzK/HF-ou-FC.jpg)

Fernando Cabrita? Eventualmente, mas não me convence.

Cabrita nasceu em 1923 e teria na altura 81 anos de idade.

(https://th.bing.com/th/id/R.dc508015db8a3b7f8b20b90f18dd8a65?rik=s6hXSz3r70ecHw&riu=http%3a%2f%2f3.bp.blogspot.com%2f-e-t7KgxxV88%2fVIRzgVMtrnI%2fAAAAAAAAS5Y%2f-R70_Q84wws%2fs1600%2fFCBR.png&ehk=RFIjVamaMvDWVX7Z0gZN9C8G%2fh6W7dvoXoGjnxyNlfo%3d&risl=&pid=ImgRaw&r=0)


Apostaria mais em Humberto Fernandes que nasceu em 1938 e faleceu em 2009. Em 2003, Humberto Fernandes tinha 74 anos

(https://i.pinimg.com/originals/2b/bd/58/2bbd588303d732120b661fc5882fe2d0.png)

Não tenho nenhuma fotografia dele já com idade avançada mas para mim faz mais sentido.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 11 de Janeiro de 2022, 11:50
Citação de: RedVC em 03 de Janeiro de 2022, 23:31
Citação de: Fundado1904 em 03 de Janeiro de 2022, 21:58
Citação de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 19:35
Citação de: Lawliet em 16 de Dezembro de 2021, 03:07
(https://i.ibb.co/4fchzq1/benfica.jpg)

Encontrei na internet esta foto do último jogo no antigo Estádio da Luz

Muitos dos intervenientes não conheço e por isso não consegui identificar. Talvez a malta mais sénior consiga.
Spoiler

Só consigo identificar alguns e... com erros, certamente!

(https://i.postimg.cc/25ZVTmnW/SLSaudade-2005.png)


Em cima, da esquerda para a direita:

1- Mário João
2- ?
3- ?
4- João Alves
5- ?
6- Mário Wilson
7- Guilherme Espírito Santo
8- Joaquim Macarrão
9- Bento
10- Rogério Pipi?
11- José Henrique
12- Nené
13- Adolfo
14- Ricardo Rocha
15- Veloso
16- Dimas
17- Jorge Silva
18- Angelo Martins
19- Jaime Graça
20- José Rachão
21- Palmeiro Antunes
22- ?
23- António Bastos Lopes
24- ?
25- José Bastos
26- ?
27- José Águas
28- ?
29- Artur Santos
30- ?
31- Humberto Coelho?
32- Vítor Martins
33- Mariano
34- Artur Correia

Em baixo, da esquerda para a direita:
35- António Simões
36- Sheu
37- Pietra
38- José Luís
39- Chalana
40- ?
41- ?
42- ?
43- Matine
44- ?
45- ?
46- ?
47- Chiquinho
48- Charouco
49- ?
50- ?
51- Fidalgo ?
52- ?
53- ?
54- ?
55- Eusébio
[fechar]

O n.° 27 não pode ser o Cabecinha D'Oiro. Faleceu no ano 2000.

Mas também não sei quem é.

É verdade.
Bem, vamos esperar que alguém possa identificar mais algumas destas velhas glórias.

o 35 nao me parece ser o simoes.
o 43 parece me mais ser o reinaldo
o 44 entao deve ser o geovanni

o 49 parece ser o jorge calado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Janeiro de 2022, 13:37
Citação de: alfredo em 11 de Janeiro de 2022, 11:50
Citação de: RedVC em 03 de Janeiro de 2022, 23:31
Citação de: Fundado1904 em 03 de Janeiro de 2022, 21:58
Citação de: RedVC em 17 de Dezembro de 2021, 19:35
Citação de: Lawliet em 16 de Dezembro de 2021, 03:07
(https://i.ibb.co/4fchzq1/benfica.jpg)

Encontrei na internet esta foto do último jogo no antigo Estádio da Luz

Muitos dos intervenientes não conheço e por isso não consegui identificar. Talvez a malta mais sénior consiga.
Spoiler

Só consigo identificar alguns e... com erros, certamente!

(https://i.postimg.cc/25ZVTmnW/SLSaudade-2005.png)


Em cima, da esquerda para a direita:

1- Mário João
2- ?
3- ?
4- João Alves
5- ?
6- Mário Wilson
7- Guilherme Espírito Santo
8- Joaquim Macarrão
9- Bento
10- Rogério Pipi?
11- José Henrique
12- Nené
13- Adolfo
14- Ricardo Rocha
15- Veloso
16- Dimas
17- Jorge Silva
18- Angelo Martins
19- Jaime Graça
20- José Rachão
21- Palmeiro Antunes
22- ?
23- António Bastos Lopes
24- ?
25- José Bastos
26- ?
27- José Águas
28- ?
29- Artur Santos
30- ?
31- Humberto Coelho?
32- Vítor Martins
33- Mariano
34- Artur Correia

Em baixo, da esquerda para a direita:
35- António Simões
36- Sheu
37- Pietra
38- José Luís
39- Chalana
40- ?
41- ?
42- ?
43- Matine
44- ?
45- ?
46- ?
47- Chiquinho
48- Charouco
49- ?
50- ?
51- Fidalgo ?
52- ?
53- ?
54- ?
55- Eusébio
[fechar]

O n.° 27 não pode ser o Cabecinha D'Oiro. Faleceu no ano 2000.

Mas também não sei quem é.

É verdade.
Bem, vamos esperar que alguém possa identificar mais algumas destas velhas glórias.

o 35 nao me parece ser o simoes.
o 43 parece me mais ser o reinaldo
o 44 entao deve ser o geovanni


Provavelmente tens razão, Alfredo  O0.
O 35 é realmente duvidoso e logo... António Simões. Talvez alguém consiga identificar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Março de 2022, 19:43
Para quem gosta de cromos de futebol.

Hoje, Alberto Miguéns e eu próprio, publicamos uma coleção de cromos virtual: "Colecção de Cromos, Sport Lisboa e Benfica, 1904 - 2022".

Pode ser consultada e guardada, aqui:


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2022/03/coleccao-de-cromos-1904-2022.html



Esta é uma coleção de cromos virtual uma vez que foi elaborada para nunca ser disponibilizada em cromos. Sem fins lucrativos, feita apenas em nome do Benfiquismo, de Benfiquistas para Benfiquistas.

Algumas capturas-exemplo.

(https://i.postimg.cc/tgtTCQcc/Cromos.jpg)


Apreciem!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: joker17 em 28 de Março de 2022, 22:50
Citação de: RedVC em 25 de Março de 2022, 19:43
Para quem gosta de cromos de futebol.

Hoje, Alberto Miguéns e eu próprio, publicamos uma coleção de cromos virtual: "Colecção de Cromos, Sport Lisboa e Benfica, 1904 - 2022".

Pode ser consultada e guardada, aqui:


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2022/03/coleccao-de-cromos-1904-2022.html



Esta é uma coleção de cromos virtual uma vez que foi elaborada para nunca ser disponibilizada em cromos. Sem fins lucrativos, feita apenas em nome do Benfiquismo, de Benfiquistas para Benfiquistas.

Algumas capturas-exemplo.

(https://i.postimg.cc/tgtTCQcc/Cromos.jpg)


Apreciem!
Deveria estar nas melhores mensagens... De sempre!!!

Parabéns pelo trabalho monstruoso!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Março de 2022, 23:17
Citação de: joker17 em 28 de Março de 2022, 22:50
Citação de: RedVC em 25 de Março de 2022, 19:43
Para quem gosta de cromos de futebol.

Hoje, Alberto Miguéns e eu próprio, publicamos uma coleção de cromos virtual: "Colecção de Cromos, Sport Lisboa e Benfica, 1904 - 2022".

Pode ser consultada e guardada, aqui:


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2022/03/coleccao-de-cromos-1904-2022.html



Esta é uma coleção de cromos virtual uma vez que foi elaborada para nunca ser disponibilizada em cromos. Sem fins lucrativos, feita apenas em nome do Benfiquismo, de Benfiquistas para Benfiquistas.

Algumas capturas-exemplo.

(https://i.postimg.cc/tgtTCQcc/Cromos.jpg)


Apreciem!
Deveria estar nas melhores mensagens... De sempre!!!

Parabéns pelo trabalho monstruoso!

Muito obrigado joker17  O0
O Benfiquismo explica tudo. O Benfica merece ser admirado, celebrado e partilhado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Mikaeil em 29 de Março de 2022, 10:41
Citação de: RedVC em 25 de Março de 2022, 19:43
Para quem gosta de cromos de futebol.

Hoje, Alberto Miguéns e eu próprio, publicamos uma coleção de cromos virtual: "Colecção de Cromos, Sport Lisboa e Benfica, 1904 - 2022".

Pode ser consultada e guardada, aqui:


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2022/03/coleccao-de-cromos-1904-2022.html



Esta é uma coleção de cromos virtual uma vez que foi elaborada para nunca ser disponibilizada em cromos. Sem fins lucrativos, feita apenas em nome do Benfiquismo, de Benfiquistas para Benfiquistas.

Algumas capturas-exemplo.

(https://i.postimg.cc/tgtTCQcc/Cromos.jpg)


Apreciem!

Muito obrigado!  :slb2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Serendipitist em 29 de Março de 2022, 15:15
A iniciativa é interessante e é de parabenizar o trabalho e tempo dedicados com o projeto, mas não posso deixar passar a oportunidade de expressar que deveria ter existido um proofreading mais rigoroso antes de se partilhar a informação. Numa leitura rápida e pouco minuciosa, detetei quatro tipos de incongruências, sendo que algumas delas se repetem várias vezes.

A primeira tem que ver com a incoerência da numeração dos cromos. Por exemplo, o Karagounis, que esteve no Benfica as mesmas duas épocas que o Miccoli, de 2005 a 2007, deveria aparecer no topo esquerdo da página 39 com o número 282 (o italiano é o último da página anterior com o 281). Em vez disso, há 5 jogadores que entraram depois do grego que aparecem antes deste.

O segundo erro é referente ao período de alguns jogadores. Na mesma página 39, considerou-se que o Amorim teve duas passagens, por causa do empréstimo ao Sporting de Braga, mas não se teve em consideração o empréstimo do Carlos Martins (o jogador imediatamente anterior) ao Granada.

Ainda na mesma página, Di María está mal escrito porque não levou o acento gráfico no segundo nome.

Para terminar, destaco pela negativa a página 43. Percebe-se a intenção de tentar elevar o Benfica Campus, mas a decisão peca pelos pontos negativos que levantou. São eles: a ordem dos jogadores (ver crítica do segundo parágrafo), a escolha de alguns jogadores (porquê Bernardo Silva e Cancelo e não Hélder Costa ou Ivan Cavaleiro?) e o facto de o André Gomes não estar junto deste lote (aparece na página 41).

Com algum tempo, creio que tudo merece ser corrigido.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Março de 2022, 15:40
Citação de: Serendipitist em 29 de Março de 2022, 15:15
A iniciativa é interessante e é de parabenizar o trabalho e tempo dedicados com o projeto, mas não posso deixar passar a oportunidade de expressar que deveria ter existido um proofreading mais rigoroso antes de se partilhar a informação. Numa leitura rápida e pouco minuciosa, detetei quatro tipos de incongruências, sendo que algumas delas se repetem várias vezes.

A primeira tem que ver com a incoerência da numeração dos cromos. Por exemplo, o Karagounis, que esteve no Benfica as mesmas duas épocas que o Miccoli, de 2005 a 2007, deveria aparecer no topo esquerdo da página 39 com o número 282 (o italiano é o último da página anterior com o 281). Em vez disso, há 5 jogadores que entraram depois do grego que aparecem antes deste.

O segundo erro é referente ao período de alguns jogadores. Na mesma página 39, considerou-se que o Amorim teve duas passagens, por causa do empréstimo ao Sporting de Braga, mas não se teve em consideração o empréstimo do Carlos Martins (o jogador imediatamente anterior) ao Granada.

Ainda na mesma página, Di María está mal escrito porque não levou o acento gráfico no segundo nome.

Para terminar, destaco pela negativa a página 43. Percebe-se a intenção de tentar elevar o Benfica Campus, mas a decisão peca pelos pontos negativos que levantou. São eles: a ordem dos jogadores (ver crítica do segundo parágrafo), a escolha de alguns jogadores (porquê Bernardo Silva e Cancelo e não Hélder Costa ou Ivan Cavaleiro?) e o facto de o André Gomes não estar junto deste lote (aparece na página 41).

Com algum tempo, creio que tudo merece ser corrigido.

Obrigado pelas críticas e pelas sugestões. Com tempo e mesmo com o meu amadorismo talvez consiga fazer  um pouco melhor.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 19:41
Realmente é preciso ter um estomago do cacete para aturar certas picuinhices.Continua o grande trabalho que tens feito Red VC.Sabes que muitos de nós estimamos e agradecemos o que tens colocado aqui no Forum relacionado com a Gloriosa História do SLB.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: luckyluke em 29 de Março de 2022, 20:32
Gamarra
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Março de 2022, 20:41
Citação de: luckyluke em 29 de Março de 2022, 20:32
Gamarra

Obrigado pela sugestão 👍

Eu sei... E outros houve que me custaram muito, alguns que são muito pouco conhecidos mas que historicamente tiveram alguma importância. Talvez numa atualização próxima. Em abril deverá sair outra. Depois, se houver saúde haverá atualizações mais espaçadas que, espero, enriqueçam ainda mais este projeto.

Presentemente, são 288 jogadores com cromo, num universo de cerca de 1200 jogadores... Havia que excluir mas não poderia usar só o critério de mais utilizados pois nem um dos jogadores das primeiras duas décadas seria escolhido.... Peço a vossa compreensão para lacunas.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Março de 2022, 21:53
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 19:41
Realmente é preciso ter um estomago do cacete para aturar certas picuinhices.Continua o grande trabalho que tens feito Red VC.Sabes que muitos de nós estimamos e agradecemos o que tens colocado aqui no Forum relacionado com a Gloriosa História do SLB.

Abraço Alexandre e mais importante ainda, o meu reconhecimento expresso pela qualidade da tua contribuição em diversos tópicos deste fórum, em que se honra os ases que nos honraram o passado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 22:03
Está um trabalho extraordinário.Pena que este tipo de iniciativas feitas por pessoas que ocupam o seu tempo gratuitamente em prol da divulgação da Nossa Gloriosa História não tenha eco na obsoleta e hedionda laia de dirigentes que aproveitam para pavonear a sua incompetência á frente dos destinos do clube.Em termos da divulgação(documental e de imagens) somos uma autentica miséria.Têm que ser sócios anónimos cujo o objectivo é divulgar a nossa história a fazer o que competia ao clube.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 25 de Abril de 2022, 09:35
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 22:03
Está um trabalho extraordinário.Pena que este tipo de iniciativas feitas por pessoas que ocupam o seu tempo gratuitamente em prol da divulgação da Nossa Gloriosa História não tenha eco na obsoleta e hedionda laia de dirigentes que aproveitam para pavonear a sua incompetência á frente dos destinos do clube.Em termos da divulgação(documental e de imagens) somos uma autentica miséria.Têm que ser sócios anónimos cujo o objectivo é divulgar a nossa história a fazer o que competia ao clube.

obrigado a vós dois, e mais alguns que contribuem de vez em quando. mas principalmente o vosso trabalho e dedicacao é que merecem destaque da mina parte porque onde passo para aprender mais sobre a história do clube, vós ja lá estais com conhecimento profundo e vontade e gosto de partilhar com os outros. um grande obrigado
por razoes de respeito acho que certas críticas ou aviso de erros, deviam ser feitas por mp, tal como ja fiz, em vez de levar para a praca pública umas pichinchas que nao acrescentam muito ao contexto global.
isto sao obras feitas por pessoas nos seus tempos livres e nao para serem vendidas.

e ja agora, Victor. se tivesses a gentileza de passar pelo tópico da final da youth league, pagina 404, para esclarecer que nao existe maldicao. obrigado
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Abril de 2022, 10:28
Citação de: alfredo em 25 de Abril de 2022, 09:35
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 22:03
Está um trabalho extraordinário.Pena que este tipo de iniciativas feitas por pessoas que ocupam o seu tempo gratuitamente em prol da divulgação da Nossa Gloriosa História não tenha eco na obsoleta e hedionda laia de dirigentes que aproveitam para pavonear a sua incompetência á frente dos destinos do clube.Em termos da divulgação(documental e de imagens) somos uma autentica miséria.Têm que ser sócios anónimos cujo o objectivo é divulgar a nossa história a fazer o que competia ao clube.

obrigado a vós dois, e mais alguns que contribuem de vez em quando. mas principalmente o vosso trabalho e dedicacao é que merecem destaque da mina parte porque onde passo para aprender mais sobre a história do clube, vós ja lá estais com conhecimento profundo e vontade e gosto de partilhar com os outros. um grande obrigado
por razoes de respeito acho que certas críticas ou aviso de erros, deviam ser feitas por mp, tal como ja fiz, em vez de levar para a praca pública umas pichinchas que nao acrescentam muito ao contexto global.
isto sao obras feitas por pessoas nos seus tempos livres e nao para serem vendidas.

e ja agora, Victor. se tivesses a gentileza de passar pelo tópico da final da youth league, pagina 404, para esclarecer que nao existe maldicao. obrigado

Obrigado Alfredo

Já segui a tua sugestão. É lamentável mas esse desmentido vai ter de ser feito vezes sem conta no futuro.

Mais lamentável é ver os Benfiquistas a serem propagadores desse vigarice histórica que só interessa ao anti-Benfiquismo.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jotenko em 26 de Abril de 2022, 11:46
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 19:41
Realmente é preciso ter um estomago do cacete para aturar certas picuinhices.Continua o grande trabalho que tens feito Red VC.Sabes que muitos de nós estimamos e agradecemos o que tens colocado aqui no Forum relacionado com a Gloriosa História do SLB.


O serendepentist criticou e colocou por extenso os pontos de melhoria.

Não fez nada de mal.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Abril de 2022, 17:49
Citação de: Jotenko em 26 de Abril de 2022, 11:46
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 19:41
Realmente é preciso ter um estomago do cacete para aturar certas picuinhices.Continua o grande trabalho que tens feito Red VC.Sabes que muitos de nós estimamos e agradecemos o que tens colocado aqui no Forum relacionado com a Gloriosa História do SLB.


O serendepentist criticou e colocou por extenso os pontos de melhoria.

Não fez nada de mal.

Felizmente, o projeto teve algumas sugestões de melhoria, sendo que a grande maioria, e por sinal as mais interessantes, foram feitas de forma privada.

A versão que atualmente está disponível inclui a larga maioria delas.

Previsivelmente, em 28 de fevereiro de 2023, estará disponível uma versão aumentada e melhorada.

Assim a saúde e a paciência permitam.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jotenko em 26 de Abril de 2022, 17:52
Citação de: RedVC em 26 de Abril de 2022, 17:49
Citação de: Jotenko em 26 de Abril de 2022, 11:46
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 19:41
Realmente é preciso ter um estomago do cacete para aturar certas picuinhices.Continua o grande trabalho que tens feito Red VC.Sabes que muitos de nós estimamos e agradecemos o que tens colocado aqui no Forum relacionado com a Gloriosa História do SLB.


O serendepentist criticou e colocou por extenso os pontos de melhoria.

Não fez nada de mal.

Felizmente, o projeto teve algumas sugestões de melhoria, sendo que a grande maioria, e por sinal as mais interessantes, foram feitas de forma privada.

A versão que atualmente está disponível inclui a larga maioria delas.

Previsivelmente, em 28 de fevereiro de 2023, estará disponível uma versão aumentada e melhorada.

Assim a saúde e a paciência permitam.

Já agora, muitos parabéns pelo projeto.

Confesso que é de admirar como gente como tu ainda vive o clube desta maneira.

Mas também, se todos fossem como eu se calhar já nem clube havia, tal maneira me desliguei disto.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Abril de 2022, 17:58
Citação de: Jotenko em 26 de Abril de 2022, 17:52
Citação de: RedVC em 26 de Abril de 2022, 17:49
Citação de: Jotenko em 26 de Abril de 2022, 11:46
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Março de 2022, 19:41
Realmente é preciso ter um estomago do cacete para aturar certas picuinhices.Continua o grande trabalho que tens feito Red VC.Sabes que muitos de nós estimamos e agradecemos o que tens colocado aqui no Forum relacionado com a Gloriosa História do SLB.


O serendepentist criticou e colocou por extenso os pontos de melhoria.

Não fez nada de mal.

Felizmente, o projeto teve algumas sugestões de melhoria, sendo que a grande maioria, e por sinal as mais interessantes, foram feitas de forma privada.

A versão que atualmente está disponível inclui a larga maioria delas.

Previsivelmente, em 28 de fevereiro de 2023, estará disponível uma versão aumentada e melhorada.

Assim a saúde e a paciência permitam.

Já agora, muitos parabéns pelo projeto.

Confesso que é de admirar como gente como tu ainda vive o clube desta maneira.

Mas também, se todos fossem como eu se calhar já nem clube havia, tal maneira me desliguei disto.

O Benfica está perante uma das fases mais críticas da sua História.

Cada benfiquista tem o dever de refletir acerca de como poderá ajudar o Clube.

Não voltaremos a ter o Benfica da nossa meninice mas de certeza que não quero "este" Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Maio de 2022, 21:07
-324-
Pereira à luz; o génio louco de Artur

Domingo, 23 de outubro de 1910. Campo da Feiteira, Benfica.

(https://i.postimg.cc/Yqh32WW3/A01.jpg)
Equipa juvenil do Sport Lisboa e Benfica, 23-10-1910. Colorida a partir de original. Fonte: AML


Uma equipa juvenil do Sport Lisboa e Benfica posa, alinhada no campo da Feiteira em conjunto com uma equipa juvenil do Sport União Belenense. Disputava-se um dos primeiros jogos dessa época, passadas que estavam duas semanas da revolução republicana em Portugal.



A democratização de um desporto juvenil

No princípio do século XX, o futebol em Portugal ainda era basicamente o futebol em Lisboa. Depois de um início ligado à juventude das camadas mais favorecidas da sociedade lisboeta, estava em curso uma democratização da modalidade.

Era crescente o número de miúdos interessados em praticar esse desporto dos ingleses, a que alguns se referiam jocosamente como o "jogo do coice". Era, por isso, crescente o número de clubes, embora muitos tivessem vida efémera, assim como o número de jogos particulares, combinados entre os capitães.

Apesar de no final do século XIX ter havido um esboço competitivo embora errático entre uma meia dúzia de equipas que na altura existiam, nenhum desses clubes sobreviveu até aos dias de hoje. Havia também um grande fosso técnico e tático entre as equipas de ingleses ou mistas relativamente às formadas exclusivamente com jogadores portugueses. O primeiro torneio de futebol, realmente competitivo, foi o torneio Viúva Senna, organizado em 1906, disputado por 4 equipas, uma delas o nosso Sport Lisboa...

Desde o início, nosso Clube, nascido Sport Lisboa, foi capaz de competir ao mais alto nível, tendo a honra de ter sido o único clube que, utilizando exclusivamente jogadores portugueses, foi capaz de ganhar aos ingleses - e em mais de uma ocasião!  O prestígio veio logo nos primeiros anos, assim como a adesão popular.


Recrutamento

Uma das vantagens iniciais do Sport Lisboa foi ter uma notável capacidade de recrutamento no futebol. Por ter nascido em Belém, local de manifesto entusiasmo pelo futebol, o Clube atraiu muita gente nova que afluía às Salésias, ansiando ver e praticar o futebol. Para além disso, estava próximo o colégio da Casa Pia, alfobre de tantos talentos e dedicações das primeiras décadas do Clube. Tudo e todos confluíam para o campo das Terras do Desembargador às Salésias.


(https://i.postimg.cc/q7jwMXj1/A02.jpg)
Campo das Terras do Desembargador às Salésias. Era comum a presença de numerosa assistência.


O Sport Lisboa aproveitou bem essa afluência popular, muita dela juvenil, para organizar equipas de categorias inferiores e até equipas juvenis (ou infantis) de futebol, garantindo com isso uma abundância multigeracional de jogadores. Nem sempre com grande compromisso, saliente-se, porque na continuidade, e absorvidos pela labuta diária e pelas obrigações familiares e profissionais, muitos miúdos faltavam aos treinos, levando o capitão-geral ameaçar publicamente os absentistas com uma exclusão definitiva...

A existência dessas múltiplas equipas e capacidade de recrutamento de jogadores, explica, em parte, a capacidade de sobrevivência do Clube, em particular durante a grande crise de maio de 1907. Nesse tempo delicado, com o Clube ameaçado de extinção depois de perder praticamente toda a 1ª equipa; Manuel Gourlade, Cosme Damião, Félix Bermudes e Marcolino Bragança lideraram a resistência, apelando ao regresso de dezenas de jogadores, entretanto dispersos por outros clubes, por julgarem eminente a extinção do Sport Lisboa. Essa capacidade de sobrevivência contrastou com muitos outros clubes que nessa altura se desfizeram, num turbilhão associativo, muitas vezes resultante da penúria material e da ausência de um quadro competitivo regular, fundamental para estabilizar os grupos.

Infelizmente, temos poucos registos dessas equipas de categorias inferiores. Por isso mesmo, é particularmente valiosa a foto com que começamos este texto. Foi captada já no Campo da Feiteira, ou seja, já depois da mudança de Belém para Benfica. Esse abandono forçado de Belém poderia ter desmobilizado os miúdos de Belém, mas, percebe-se que, se isso aconteceu, foi apenas de forma parcial, uma vez que se identifica, entre outros, a presença de Francisco Pereira.

Por ter sido um jogador nas equipas Benfiquistas da década de 10 e por ter uma história de vida interessante, é sobre Francisco Pereira e, (incontornavelmente) sobre o seu famoso irmão, Artur José Pereira, que iremos falar. Os Pereiras de Belém.


Os Pereira de Belém

(https://i.postimg.cc/Hk3vVgL0/A03.jpg)


Francisco Abel Nunes Pereira terá nascido na vila de Cascais no dia 7-08-1892, sendo batizado apenas no mês seguinte, em Belém, local onde os seus pais residiam. Apesar do registo de batismo indicar Belém como local de nascimento, neste caso terá de prevalecer a palavra do próprio, que referiu Cascais numa entrevista que deu e que foi publicada ainda durante a sua vida.

Francisco era cerca de 4 anos mais novo que o mano Artur José Pereira, nascido em Belém no dia 15-10-1888. Eram ambos filhos do casal José Pereira Nunes, um comerciante natural de Ferreira de Zêzere, e Elisa Augusta Ramos, doméstica, natural de Aldeia Galega, localidade hoje conhecida por Montijo.

A família Pereira foi mudando a sua morada por diversos locais de Belém, até se radicar na Rua do Embaixador, local onde os dois manos residiriam até ao fim da sua vida. Essa rua, que ainda hoje existe com o mesmo nome, é uma paralela à Rua da Junqueira, em Belém, bem perto da Rua de Belém e dos terrenos onde se localizaram os campos das Terras do Desembargador e das Salésias. Nessa rua também moraram outras figuras ilustres dos primeiros anos do nosso Clube, como Francisco Reis Gonçalves e António Severino Alves, fundadores do Sport Lisboa assim como José Manuel Soares "Pepe", o mais famoso jogador da história do CFB.

É importante perceber que a lógica de vida dos manos Pereira teve sempre a marca da ligação umbilical ao seu bairro natal.


(https://i.postimg.cc/KYRfj3wF/A04.jpg)
Em Belém, alguns dos palcos dos primeiros dias do Sport Lisboa. Fonte: AML


Nos seus anos mais juvenis, os manos Pereira enfrentaram a forte oposição parental à vontade precoce que mostraram em jogar futebol. O pai José achava que o futebol era um desporto perigoso, quiçá mortal... Não obstante, o interesse e o talento dos manos Pereira era tão acentuado que o pai teve de se conformar. Artur mostrava-se o mais rebelde, chegando até a roubar as botas do pai para jogar nos descampados de Belém, não se livrando por isso de alguns dissabores quando o pai descobria....

Tragicamente, o pai dos manos Pereira faleceria muito cedo, quando Francisco tinha cerca de 10 anos e Artur 14 anos de idade. Pouco tempo antes, os manos tinham também perdido uma irmã mais velha. A perda do pai deixou a família desamparada, obrigando Artur a empregar-se na CUF, Companhia União Fabril, enquanto que Francisco se empregou primeiro como servente na construção civil e depois como empregado numa bijuteria de portas abertas no Chiado.

Anos mais tarde, Francisco lembrava esses anos duros, marcados por grandes dificuldades económicas, mas também pelo fascínio dos seus primeiros passos no futebol. Lembrava que estiveram entre os numerosos miúdos que se colocavam por trás das improvisadas balizas montadas nas Terras do Desembargador, vendo jogar as primeiras equipas do Sport Lisboa! Os manos moravam a 50 metros do campo e por lá assistiram ao nascimento do Sport Lisboa e Benfica, apesar de serem demasiados novos para participar!


(https://i.postimg.cc/Z5qFsyT3/A05.jpg)
Aspeto de um jogo disputado nas Terras do Desembargador, às Salésias, em 1906, entre o Sport Lisboa e o CIF. Os manos Pereira muito provavelmente estiveram entre a assistência. Colorida a partir de original. Fonte: AML.


E como a camisola vermelha estava ainda inacessível, seria num clube mais modesto de Belém, o Sport União Belenense, que Artur se revelaria para o futebol. Há alias uma fotografia que tem tanto de notável como de desconhecida, em que Artur aparece integrado numa equipa vestida de branco, no campo das Terras do Desembargador, às Salésias.


(https://i.postimg.cc/rpr4717d/A06.jpg)
Sport União Belenense no Campo das Terras do Desembargador. Equipa muito provavelmente de 1907. Fonte: AML


Muito provavelmente tratava-se do SU Belenense, equipa que mais tarde passou a equipar-se com camisola azul. O seu autor, o fotógrafo Alexandre Cunha, terá captado essa fotografia, antes do SUB enfrentar uma equipa do Sport Lisboa, que naquele dia apresentava Manuel Gourlade... à baliza!


(https://i.postimg.cc/NfjHQqWv/A07.jpg)
Fonte: AML


Trata-se da mais antiga fotografia de Artur José Pereira, alinhado numa equipa de futebol, e estranhamente não vejo isso salientado em lado algum, muito menos pelo clube que mais tarde fundaria, o CF "os Belenenses" ... Implacável, a poeira do tempo e a ignorância dos homens!

O SUB teria existência curta, mas revelaria alguns talentos que mais tarde foram captados pelo Sport Lisboa (Francisco Belas, Francisco Viegas e Salvador Ângelo, entre outros) e pelo Sporting CP (Amadeu Cruz).

Artur passaria depois, embora ainda que brevemente, pelo Football Cruz Negra, mas inevitavelmente o seu destino estava ligado à grandeza do Sport Lisboa e Benfica!


Pereira à luz;
De Belém até Benfica
(https://i.postimg.cc/qRrNY98Y/A08.jpg)


Artur José Pereira estreou-se pelo Sport Lisboa, com 19 anos e meio, no dia 15 de março de 1908, num jogo disputado no Campo Grande contra o Football Cruz Negra. Estreia auspiciosa essa, pois o Sport Lisboa venceria por conclusivos 3-0. Começava ali um percurso que duraria sete temporadas e mais de 100 jogos, num tempo em que se disputavam poucos desafios por temporada. De Artur, já aqui falamos algumas vezes, embora talvez de forma mais aprofundada, no texto "Olhos de fogo, coração de Belém", pág. 30 deste tópico. Ainda assim, neste texto vamos resumir alguns dos factos mais marcantes da sua passagem pelo Glorioso.

No Benfica, Artur ganhou títulos, apurou o seu futebol e tornou-se o favorito dos adeptos. O seu enorme talento futebolístico seria lembrado e exaltado durante décadas, por homens do futebol tão qualificados como Cosme Damião, Cândido de Oliveira e Ribeiro dos Reis.

Dotado de capacidades técnicas e físicas notáveis para a época, Artur tinha também uma personalidade forte e competitiva. Nos primeiros anos, Artur comportava-se como uma fera em campo, pouco disciplinado, vertiginoso, potente, intuitivo, mas também conflituoso.... Revelava tiques de vedeta, e por vezes tinha comportamentos pouco elegantes dentro e fora de campo, alguns dos quais viriam a estar na base de polémicas nunca antes vistas.


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Artur José Pereira mostrando o seu estilo e talento no Campo da Feiteira, Benfica. Jogo disputado em 22 de maio de 1911, aquando da estreia em jogos internacionais do SLB. Jogo contra o Stade Bordelais. Apesar da derrota por 2-4, Artur marcou um dos golos Benfiquistas. Colorido a partir de original. Fonte: Hemeroteca Lx.


Por se achar muito acima das capacidades dos companheiros, Artur só queria treinar quando lhe apetecia. Esses caprichos de vedeta chocavam de frente com os métodos e a personalidade de Cosme Damião. Dentro de campo e ao longo dos anos, Artur iria evoluir para um jogador mais completo, inteligente e disciplinado, mas fora de campo, as relações com o Clube foram azedando até ao ponto de rotura. Em particular, a sua convivência com Cosme, inicialmente baseada numa obediência respeitosa, por lhe reconhecer conhecimentos e capacidades de liderança, foi-se degradando, depois de diversos episódios de indisciplina, que forçaram a aplicação de medidas disciplinares por parte das direções do SLB.

Um dos episódios mais graves deu-se em 1912, aquando da digressão do Benfica à Corunha, em que dentro de campo, Artur insultou um jogador adversário, de forma rude e antidesportiva. Cosme, inflexível, exerceu a sua autoridade, dando ele próprio ordem de expulsão a Artur! Preferiu jogar com 10 a manter Artur na equipa! No hotel, Cosme agravou a penalização trancando Artur em seu quarto... tal era a autoridade que nesse tempo tinha um capitão geral! E somente com a intercessão de um espanhol, é que Artur foi "libertado" a tempo de participar numa receção dada pelo clube galego aos ilustres visitantes portugueses!


(https://i.postimg.cc/xdvCKtWP/A10.jpg)
Fonte: História SLB 1904-1954



Pelo lado positivo, foram numerosos os jogos em que Artur José Pereira deixou expressa a sua classe quer nos campos lisboetas quer em partidas disputadas em Espanha (Corunha, Madrid, Bilbao) e até no Brasil, onde integrou uma famosa seleção da AFL que, em meados de 1913, disputou partidas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Ao que parece alguns clubes brasileiros terão estado interessados em contar com os seus préstimos, mas seria o seu companheiro Luís Vieira a aceitar um convite do CR Botafogo. Artur estava demasiado ligado à sua terra.

De regresso a Lisboa, tudo se precipitou, num agravamento irremediável das tensões entre a direção do SL Benfica e Artur José Pereira.

Em termos futebolísticos, nas equipas Benfiquistas dessa época, Cosme Damião ocupava o lugar de médio centro, posição mais determinante do modelo de jogo em pirâmide (2:3:5), dando apoio à defesa e lançando o ataque. Embora menos virtuoso que Artur, Cosme revelava uma personalidade forte e ponderada, sendo um verdadeiro líder em campo. Artur jogava ao seu lado, como médio interior à esquerda, que pela sua destreza técnica e força física, impressionava vivamente aqueles que o viam, nada habituados a essas explosões e vertigem ofensiva. É possível que um dos elementos para a tensão fosse a impossibilidade de Artur jogar numa posição mais central, de maior protagonismo e autoridade em campo.


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Quatro equipas, quatro tempos da categoria de honra do SLB. Cosme Damião e Artur José Pereira, quase sempre lado a lado. Uma relação muitas vezes difícil e com atitudes corporais condizentes...


Ao longo da sua vida profissional, Artur teve diversos empregos, na CUF, num famoso casino em Algés, na Farmácia Franco, onde parece que trabalhava pouco, passando a maior parte do tempo a falar com os proprietários.... Há também sinais de que, por volta de 1912, a vida privada de Artur se complicou, com o nascimento de uma filha, fruto de uma ligação não oficializada. É possível que a necessidade de aumentar os seus rendimentos, tenha também predisposto Artur a procurar novos rumos. A oportunidade de mudança surgiria no ano seguinte e viria vestida de verde...


Uma rotura ruidosa

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Ironicamente, em setembro de 1914, o SCP decidiu contratar Artur José Pereira, justamente o jogador Benfiquista contra quem os sportinguistas, mais tinham verberado, em diversos episódios de anti-Benfiquismo primário. Artur estava novamente suspenso pela direção do SLB depois de alguns atos de indisciplina, dando assim oportunidade para a investida verde.

Sabendo desses conflitos, o SCP atacou, desrespeitando um acordo de cavalheiros que existia entre os dois clubes, que aliás se estendia ao CIF, o outro grande clube da altura. O acordo consistia em que nenhum clube contrataria jogadores alheios sem que antes consultasse a direção contrária, certificando-se que não haveria impedimento algum.

Apesar do precedente de maio de 1907, estando em vigo esse acordo, seria de esperar outra lisura pois nesse tempo o cavalheirismo e o respeito à palavra dada era algo de muito sério. Foi por isso chocante para muita gente, ver como alguns senhores da elite da sociedade lisboeta, afinal se comportavam da forma mais desleal e desprovida de valores. Em contraste, poucos meses antes, o Benfica tinha recusado a inscrição de Jaime Cadete, jogador do SCP que mostrara vontade de transitar para o SLB...

Ao transferir-se para os leões, Artur tornou-se, muito provavelmente, o primeiro jogador de futebol a ser remunerado em Portugal, beneficiando ainda de algumas outras mordomias exóticas. A contratação teve contornos tumultuosos, gerando até convulsões internas no SCP e um forte repúdio por parte da direção do Benfica, que chegou a cortar relações com o rival.

No SCP, Artur tornou-se médio-centro, com contribuição muito positiva pois nessa temporada, depois de alguns incidentes e escaramuças, os leoninos venceriam o campeonato regional, impedido o que teria sido o primeiro tetra da história do Glorioso. Infelizmente, essa conquista ficou também marcada, assim como alguns jogos no ano seguinte, por episódios de evidente rancor de Artur José Pereira para contra o seu antigo Clube... Onde é que já vimos essas rábulas?

Na mesma altura, e não satisfeita, a direção sportinguista contratou mais dois jogadores Benfiquistas, o guarda-redes Paiva Simões e o médio Boaventura Silva (este, da 2ª categoria). Chegou inclusivamente a inscrever também Francisco Pereira que, apesar de ter chegado a apresentar a demissão de sócio do Benfica (que chegou a ser aceite) e ter estado com um pé no SCP, acabaria por se arrepender e reaparecer no Benfica. Apresentadas as desculpas a Cosme Damião, Francisco Pereira foi reintegrado na equipa e permaneceria no SL Benfica por mais cinco anos, de 1914 a 1919.

Ao longo de 3 temporadas, os dois manos permaneceram em campos opostos, até que Artur, entrando já numa fase descendente como futebolista, decidiu concretizar o sonho de fundar um novo clube na sua Belém natal. E assim, numa noite de agosto de 1919, Artur lançou esse desafio a um núcleo restrito de amigos, todos Benfiquistas ou ex-Benfiquistas, entre eles o mano Francisco. A história repetia-se, tal como o SCP, também o CFB formou a sua primeira equipa competitiva retirando jogadores aos quadros do SLB...

E assim, a 23 de setembro de 1919, fundava-se o Clube de Futebol "os Belenenses". Os três primeiros sócios, escolhidos de entre os 28 fundadores, foram: nº1 Henrique Costa (velho companheiro de Cosme e membro leal de tantas batalhas Benfiquistas); o nº 2, Artur José Pereira e o nº 3, Francisco Pereira. Esta ordem, que terá sido imposta pela vontade de Artur, mostra-nos bem a relevância destes antigos elementos Benfiquistas na fundação do CFB. Ao fim de 5 anos, os dois manos voltaram a jogar juntos, embora por pouco tempo porque a veterania já pesava.


(https://i.postimg.cc/1Rj9Vk8Q/A13.jpg)
Os manos Pereira numa das primeiras equipas do CFB.


No próximo texto falaremos mais em detalhe do mano Francisco, cuja vida e passagem pelo SLB teve igualmente aspetos curiosos, que interessa conhecer.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Maio de 2022, 21:22
-325-
Pereira à sombra; Francisco, o "pobrezinho"

Uma fotografia que reúne 4 grandes figuras das primeiras décadas do Sport Lisboa e Benfica


(https://i.postimg.cc/Hs0yg0YR/B01.jpg)

Francisco Pereira, em segundo plano, observa o malogrado Álvaro Gaspar, que juntamente com Artur José Pereira foi a grande estrela da década de 10 Benfiquista. Atrás, estão dois fundadores do Sport Lisboa: Cândido Rosa Rodrigues, então árbitro e já ligado ao SCP, e Cosme Damião, capitão geral e médio-centro daquela equipa de honra. Fonte: História SLB 1904-1954.


Pereira à sombra
(https://i.postimg.cc/kgntXVD4/B02.jpg)


Com um irmão tão talentoso e mediático, seria de esperar que Francisco Pereira o acompanhasse quando, em meados de 1913, Artur passou a vestir de verde. E de facto, Francisco Pereira esteve com um pé no SCP, tendo também deixado de aparecer aos treinos no SL Benfica. Acabaria, no entanto, por se arrepender, apresentando uma carta a pedir a readmissão e como reapareceu nos treinos, Cosme Damião decidiu reintegra-lo, depois de ouvir as justificações.

Intimidado com o ambiente elitista do SCP ou emocionalmente ligado ao SL Benfica? Desconhecemos as razões do arrependimento, mas nesse episódio Francisco mostrou ter uma personalidade diferente do seu irmão. Certo é que Francisco Pereira tinha uma ligação emocional forte ao SL Benfica, e o seu caráter humilde e bem formado ficou demonstrado num episódio em que esteve doente e que recebeu a solidariedade monetária dos companheiros


(https://i.postimg.cc/jdhL9svr/B03.jpg)
Fonte: Historia SLB 1904-1954



Até então, os dois manos tinham feito juntos o seu trajeto futebolístico. Em 1908, quando Artur foi recrutado, ainda pelo Sport Lisboa, Francisco tinha apenas 13 anos, estando apenas habilitado a integrar algumas equipas juvenis do Sport Lisboa. No entanto, é o próprio Francisco que conta que se estreou por uma equipa juvenil do Benfica, ainda em 1907, ou seja, com cerca de 15 anos de idade. Essa estreia foi contra o CIF, então o grande rival do Sport Lisboa, tendo o jogo decorrido no campo do oponente, na altura situado em Alcântara. É bastante possível que tenha sido ainda Manuel Gourlade o responsável pelo recrutamento de Francisco Pereira.

Em 1907-1908, o Sport Lisboa lutava pela sobrevivência numa transição, em que foi forçado a sair de Belém, por via da inexistência de terrenos disponíveis para manter atividade e sonhar em edificar um parque desportivo próprio. Os contactos com o Grupo Sport Benfica intensificaram-se e viriam a resultar na junção que assegurou a sobrevivência do Clube.

O primeiro registo fotográfico desportivo de Francisco Pereira data então de 1910, captado em Benfica, justamente aquele com que iniciamos o texto anterior. Essa equipa juvenil do Sport Lisboa e Benfica defrontou o SU Belenense, no Campo da Feiteira, bem perto da Igreja de Nossa Sr.ª do Amparo, em Benfica. Disputado no domingo, 23 de outubro de 1910, o que diferencia esse jogo de muitos outros, é que foi reportado com grande destaque pelo jornal "Os Sports Illustrados", então uma das poucas publicações de então, dedicadas ao desporto.


(https://i.postimg.cc/fRLTrYJx/B04.jpg)
Sport Ilustrados, 29-10-1910. Fonte: Hemeroteca Lx


Essa equipa juvenil de 1910, integrava outros jogadores que também chegaram à primeira equipa do Benfica, embora Francisco tenha sido, de longe, o que atingiu maior visibilidade. Ora, em 1910, Cosme Damião já tinha sucedido a Manuel Gourlade como o principal organizador do futebol Benfiquista. Com Cosme já havia um pensamento estruturado e inovador para a época, sobre como organizar os diversos escalões do futebol no Clube. Premiava-se o mérito, garantia-se a formação, a competitividade e a ambição das equipas. Subjacente a tudo isso estava a transmissão dos valores do Clube. A Mística.

Foram instituídas quatro categorias adultas e reuniu-se os mais novos numa equipa juvenil. A ascensão até à primeira categoria era geralmente lenta, porque assente na demonstração do mérito futebolístico, mas também da demonstração dos valores do Clube. Esses valores, já então sólidos, eram assentes na ambição, no desportivismo, e no respeito pelos adversários, sendo transmitidos pelos jogadores mais velhos. Era assim frequente a incorporação de alguns jogadores veteranos nessas equipas predominantemente jovens, veteranos esses com larga experiência nas categorias superiores.


(https://i.postimg.cc/cCh0DJW9/B05.jpg)
Domingo, 12 de outubro de 1912. Inauguração do Campo de Sete Rios, Francisco Pereira semeando o pânico na baliza do Sporting. Colorida a partir de original. Fonte: AML


Francisco Pereira estreou-se pela primeira equipa do Sport Lisboa em 1911, com apenas 16 anos de idade mas segundo o que afirmou, a sua fixação na equipa principal deu-se em 1913, aquando do celebre jogo que o Benfica disputou contra os ingleses do New Cruzaders.


(https://i.postimg.cc/3xV7fVMT/B06.jpg)
Francisco Pereira, observando a investida de Álvaro Gaspar sobre a defesa do CIF. Colorida a partir de original.


No total, desde 1911 e até 1917, Francisco cumpriu 6 temporadas e mais de 80 jogos, tornando-se um elemento valioso para a conquista de muitos títulos. Jogando em diversas posições avançadas, tinha golo e raça, tornando-se influente nas equipas orientadas por Cosme Damião.


(https://i.postimg.cc/7ZGrz95Q/B07.jpg)
Francisco Pereira, segurando a bola, no centro do ataque de uma equipa da temporada de 1914-1915, logo após a deserção do mano Artur. Colorida a partir de original.



E a grande guerra o levou


Em 1917, a mobilização para a frente africana da I Guerra Mundial, marcaria o final da passagem de Francisco pelo Benfica. Prestou serviço Moçambique, numa secção de metralhadoras, integrada num regimento onde também estava o Cap. Ribeiro da Costa (antigo jogador e futuro presidente do SL Benfica) e o Alferes Maia Loureiro (futuro presidente do SCP).


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Embarque de militares portugueses para África no Cais Sodré, Lisboa. Foto: J. Benoliel, AHM. À direita, o sargento Francisco Pereira, numa foto datada de 1918. Fonte: Hemeroteca Lx



Apesar de ter existido um conflito ativo contra as tropas alemãs (para os interessados: https://www.momentosdehistoria.com/MH_05_02_Exercito.html) na verdade morreram mais militares portugueses pela fome e pelas doenças do que pelos combates... Aliás, a unidade de Francisco nunca terá defrontado em combate aberto as unidades alemãs porque, ao que parece, os germânicos assim queriam, sendo comandados por um jovem oficial astuto que tinha o apelido... Rommel!

Por Moçambique, Francisco Pereira esteve em Nampula, em Lourenço Marques e em Goba, no Transval, tendo por diversas vezes chegado a colher alguns benefícios por ter sido, diversas vezes, reconhecido quer por populares quer por um jornal, como sendo um jogador destacado do SL Benfica, o clube mais popular da metrópole! E até chegou a jogar futebol em Nampula, contra militares ingleses ali estacionados!



Um banco de jardim numa noite de verão

(https://th.bing.com/th/id/R.895ee25be945c89b639ac9f062e81754?rik=TTzaF6cImA%2bZmw&riu=http%3a%2f%2f4.bp.blogspot.com%2f-5db0Y6DC_5w%2fUZIOuut0WUI%2fAAAAAAAAEgQ%2fHt9vTDbWgmI%2fw1200-h630-p-k-no-nu%2fOnde%2bnasceu%2bBelenenses.JPG&ehk=Fd8z2yFjYXB1v22CzhUunjpxdMKS53RepAP7gBqWqQo%3d&risl=&pid=ImgRaw&r=0)


Francisco regressou à metrópole em julho de 1919, e logo no mês seguinte, esteve naquele célebre encontro num banco de jardim em Belém, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos. Nesse encontro, o mano Artur lançou a ideia da fundação de um novo clube que viria a ser o Clube de Futebol "os Belenenses". Estiveram presentes 5 elementos: Francisco, o mano Artur, e os ainda ligados ao Benfica, Manuel Veloso, Romualdo Bogalho... e Herculano Santos. Apenas este último permaneceria no Benfica.

O contexto era propício pois Artur estava desencantado no SCP e os restantes por via da veterania e por conflitos com a direção Benfiquista, pouco jogavam nas equipas orientadas por Cosme Damião. Ao que Francisco Pereira contou, na altura ele ainda estava emocionalmente ligado ao SL Benfica. Teria preferido ficar, mas não conseguiu dizer não ao repto do mano Artur. Segundo Francisco o primeiro repto do irmão tinha sido feito meses antes, por carta, quando ainda estava em África!

Aceite o repto de Artur, os 5 elementos terão juntado alguns tostões entre eles, tendo Francisco sido o recetor dessas primeiras quotas. A eles juntar-se-iam outros jogadores relevantes do SL Benfica como, entre outros, Henrique Costa, Carlos Sobral e também o antigo Benfiquista e agora sportinguista Alberto Rio...

Depois de ouvidas duas figuras ilustres do meio belenense (Reis Gonçalves, que 15 anos tinha sido fundador do Sport Lisboa, e o Dr. Virgílio Paula, também antigo jogador do SL Benfica), fundou-se CFB em 23 de setembro de 1919. Nos anos seguintes, dois antigos Benfiquistas seriam presidentes do CFB: Francisco Reis Gonçalves e Luís Vieira.

Francisco Pereira ainda jogaria alguns anos na primeira equipa do CFB, apesar de já sentir a veterania. Nesta altura, o mano Artur esteve profissionalmente destacado um ano no Porto e, juntamente com o mano Francisco jogaram, a troco de bom dinheiro, algumas partidas no Progresso FC.

Finda a carreira desportiva, e enquanto a saúde lhe permitiu, Artur ficou sempre ligado ao CFB em diversos cargos operacionais, desde treinador, massagista, formador, o que fosse necessário. A sua personalidade e formação não eram compatíveis com cargos dirigentes, mas esteve sempre ligado ao Clube, onde foi sempre reconhecido como figura maior, a par do malogrado Pepe.


(https://i.postimg.cc/9F063bYF/B09.jpg)
Artur José Pereira (de fato escuro), desfilando em 1939, ao lado do porta-estandarte, numa cerimónia oficial do CFB, no estádio das Salésias, comemorando os 20 anos do Clube.


Fim

Artur José Pereira faleceu em 06-09-1943, com apenas 54 anos, em Belas, Sintra, vítima de uma tuberculose. Foi sepultado no cemitério da Ajuda, bem perto do local onde nasceu. As homenagens sucederam-se envolvendo os três maiores clubes onde deu o seu talentoso contributo. Apenas na década de 50 e 60 com a emergência de talentos superlativos como Coluna e Eusébio, o velho Artur deixaria de ser lembrado como o melhor jogador português de sempre.


(https://i.postimg.cc/HxTN69Lm/B10.jpg)
Notícias da morte de Artur José Pereira, quer em jornais portugueses quer em brasileiros. Fonte: BND e Belenenses Ilustrado.


Em 1953, Francisco ascenderia a sócio nº 1 do CFB, depois da morte do velho Henrique Costa, velha glória do SLB e do CFB. E seria nessa condição de sócio nº 1 do CFB, que Francisco Pereira conduziu o estandarte do seu clube no dia 23 de setembro de 1956, data em que o clube cumpria 37 anos e em que o Estádio do Restelo foi solenemente inaugurado.


(https://i.postimg.cc/VN8ZNWnt/B11.jpg)
Francisco Pereia, sócio nº 1, porta-estandarte do CFB, no dia da inauguração do Estádio do Restelo.



Francisco Abel Nunes Pereira faleceu em 8-01-1966, na sua casa da Rua do Embaixador, Belém, vítma de complicações com a diabetes. Foi sepultado no cemitério da Ajuda.


(https://i.postimg.cc/gkLgqTKR/B12.jpg)
Notícia do falecimento de Francisco Pereira. Fonte: DL



Paz e respeito às almas de Artur José Pereira e Francisco Abel Nunes Pereira.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: dfernandes em 21 de Maio de 2022, 14:42
O melhor tópico deste forum! Nunca é demais referi-lo. Muito obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Maio de 2022, 14:53
Citação de: dfernandes em 21 de Maio de 2022, 14:42
O melhor tópico deste forum! Nunca é demais referi-lo. Muito obrigado!

Muito obrigado, Daniel  O0

Alguns destes textos são extensos demais, eu sei. No entanto, a ideia é recuperar informação perdida e deixar registo para que não se perca.

Alguma desta informação custa muito tempo e esforço a desenterrar dos arquivos mas estes Ases do passado bem merecem.

Depois, há o prazer de descobrir, e em cada detalhe celebrar o Benfica. Enorme, inigualável!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Maio de 2022, 22:56
-326-
No fim de uma era

Dia 2 de agosto de 1925, Jardim de Inverno do Teatro de São Luiz, Lisboa.


(https://i.postimg.cc/BbLHqrrC/01.jpg)
Cerca de 90 convivas reunidos no Jardim de Inverno no Teatro São Luiz, em 2 de agosto de 1925. Fonte: SLB


O Teatro São Luiz está localizado em pleno Chiado, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa e é uma das grandes casas da cultura da nossa capital. Foi inaugurado em 22 de maio de 1894, tendo nessa altura o nome de Teatro Dona Amélia, à época rainha de Portugal, esposa do Rei Dom Carlos. Em 1896, este Teatro foi o segundo espaço que apresentou aos lisboetas uma novidade tecnológica chamada "cinema".

Em 1910, com a revolução republicana seria renomeado Teatro da República, mas em 1914 sofreria um incêndio devastador. Seria reabilitado de imediato, voltando a abrir portas em 1916, tendo em 1918 sido rebatizado para o seu nome atual, numa homenagem póstuma ao Visconde de São Luiz de Braga, seu grande dinamizador (ver: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/07/sao-luiz-teatro-municipal.html).


(https://i.postimg.cc/YSdXnmQL/02.jpg)
Os fundadores do então Teatro D. Amélia, atual Teatro Municipal Dom Luís. Fonte: Restos de Coleção.


Foi nesse espaço amplo que, depois de jantar, se reuniram os cerca de noventa convivas, para fazer uma foto de grupo. O jantar tinha decorrido ali perto, no Largo do Chiado, na Pastelaria Garret.


(https://i.postimg.cc/nVy3Px92/03.jpg)
Fonte: Restos de Coleção



A "Garret" era um local de encontro para uma certa faixa elegante da sociedade lisboeta, tendo uma banda permanente que animava os chás e os jantares que ali decorriam.

O propósito desse evento era prestar homenagem a António Ribeiro dos Reis, jogador de futebol do Sport Lisboa e Benfica que terminava a sua carreira desportiva. E embora os convivas não soubessem, a sua homenagem ainda foi mais justificada porquanto Ribeiro dos Reis iniciava aí mais de 4 décadas de extraordinário serviço associativo ao seu Clube.


(https://i.postimg.cc/TwZJFj11/04.jpg)
Folheto de divulgação do jantar de homenagem de Benfiquistas a António Ribeiro dos Reis. Fonte: História do SLB 1904-1954.


Identificações


Não é fácil fazer identificações na fotografia inicial deste texto, quer pela poeira do tempo passado, quer pela limitada resolução da imagem. Ainda assim, tentemos alguns reconhecimentos.

Em cima, no varandim interior, enfeitado com a bandeira do Clube, temos reunidos os dirigentes da altura. Entre eles identificam-se duas figuras maiores do Clube: Félix Bermudes e Cosme Damião. Parece também estar Bento Mântua, na altura o presidente da direção


(https://i.postimg.cc/3N52nKfD/05.jpg)
Uma rara fotografia em que Félix Bermudes está lado a lado com Cosme Damião. Nota-se a presença da bandeira do Clube.


Em baixo, sentado ao centro, está o homenageado e ao seu lado, também sentados, estão alguns dos seus colegas, ou seja, jogadores da nossa equipa principal de futebol.

De pé, reconhecem-se ainda Manuel da Conceição Afonso e Joaquim Ferreira Bogalho, dirigentes ainda muito jovens, e que alguns anos mais tarde chegariam à presidência do Clube.


(https://i.postimg.cc/ZqXN5bSD/06.jpg)
Identificações


E mais identificações:


(https://i.postimg.cc/PJQvy18B/07.jpg)
Identificações



Um gigante no seu tempo

Jogador, dirigente, formador, ideólogo e treinador, António Ribeiro dos Reis (Lisboa, 10-07-1896 - Lisboa, 3-12-1961) é uma das figuras de primeira grandeza da História do Sport Lisboa e Benfica. Dele por aqui falamos no texto nº 37 - Três gigantes, três caminhos separados (pág.8).

Reafirma-se o que na altura se disse: "António Ribeiro dos Reis representa o caminho dos valores, da persistência, da mística Benfiquista no seu estado mais puro. De valores incorruptíveis até ao fim. O clube para alem de qualquer homem. Um gigante.".

Como jogador iniciou a sua atividade nos grupos de futebol na Casa Pia, entrando para o SL Benfica em 1913, ascendendo rapidamente à primeira equipa. Avançado de grande valor, cumpriu 11 temporadas e cerca de 125 jogos na equipa de honra, chegando a capitão prestigiado e prestigiante. Representou também o Clube em provas de atletismo, em especialidades de velocidade.



(https://i.postimg.cc/Qdy9f8Hx/08.jpg)
Algumas imagens do trajeto de António Ribeiro dos Reis enquanto jogador de futebol (1913-1925).


Como jogador, Ribeiro dos Reis integrou a primeira seleção nacional portuguesa, em 18-12-1921. Ao seu lado, como capitão de equipa, esteve o seu grande amigo Cândido de Oliveira. Com este manteria uma sólida amizade fora do Clube, mas de corte inflexível nos assuntos ligados ao SL Benfica, dado nunca lhe ter perdoado a deserção de 1920, aquando da fundação do Casa Pia Atlético Clube. Valores incorruptíveis.


(https://i.postimg.cc/TwXPspGG/09.jpg)
Primeiro jogo da seleção nacional de futebol.


No SL Benfica, desempenhou cargos de máxima responsabilidade como, entre outros, membro do Conselho Fiscal, vice-presidente da Direção, presidente da Mesa da Assembleia-Geral e capitão geral do futebol (supervisor, treinador, organizador). Recebeu a Águia de Ouro em 1933, ou seja, apenas oito anos após deixar de jogar futebol. Notável.

Fora do Benfica, foi selecionador nacional em 1926, 1931 e 1943, secretário-geral da FPF, presidente da Comissão Central de Árbitros, membro de comissões de estatutos e representante português junto da FIFA.

Foi um militar prestigiado, com cargos na administração militar e no Instituto de Altos Estudos Militares. Passou à reserva em 1949 com o posto de Tenente-Coronel.

Foi ainda um dos três fundadores o jornal "A Bola", periódico onde desempenhou o cargo de redator principal, tendo também colaborado com vários outros jornais.

Publicou livros e formou diversas gerações e deu palestras, onde divulgou as diversas componentes táticas e técnicas do futebol.



(https://i.postimg.cc/9FfQs334/10.jpg)
António Ribeiro dos Reis, dirigente, militar e jornalista (1925-1961).



Cumprir o destino

Finda essa homenagem de 1925, António Ribeiro dos Reis iria começar a cumprir o seu destino como dirigente destacado do Clube. Esse ano de 1926 marcaria uma rotura dolorosa com o passado e com a visão de Cosme Damião.

Numas eleições realizadas num clima de grande dramatismo, a lista de Bento Mântua e Cosme Damião foi derrotada pela lista de António Ribeiro dos Reis, Ávila de Melo, Ferreira Bogalho, Vítor Gonçalves e outros. Apesar de tentarem nomear Cosme como presidente do Clube, este recusou e decidiu abandonar a vida associativa no Clube. Irredutível nas suas convicções. Felizmente, alguns anos depois, houve como esfriar esses desentendimentos e recuperar Cosme para a vida do Clube.

Concretizava-se a rotura com uma linha de ação que até então tinha privilegiado as obras no parque desportivo das Amoreiras e uma visão puramente amadora para o futebol do Clube. Ribeiro dos Reis e companheiros tiveram a lucidez de perceber os equívocos em que o Clube se tinha enredado e da necessidade de mudanças para garantir o futuro do Clube. Investir no futebol e permitir a contratação de jogadores era a única forma de impedir o definhamento competitivo do Clube.

Foi um processo eleitoral de roturas dolorosas, mas em que o Clube foi colocado acima de tudo e de todos. Anos mais tarde, Cosme Damião acabaria por reconhecer que a visão de Ribeiro dos Reis estava certa. Cosme voltaria ainda a assumir funções de dirigente no SL Benfica, tornando a fazer ouvir a sua voz e sabedoria, em prol da unidade do Clube.

Nas 4 décadas seguintes, Ribeiro dos Reis manteria intensa atividade ao serviço do Clube, embora por vezes entre-cortada devido à sua atividade profissional. Foi alvo de muitas mais homenagens dentro do Clube.



(https://i.postimg.cc/zvGqmhQm/11.jpg)
Outra homenagem no Clube a Ribeiro dos Reis, agora em 1943. Fonte: Stadium


E homenagens de fora do Clube


(https://i.postimg.cc/KzZ2LLxK/12.jpg)
Em 1947, Ribeiro dos Reis receberia na sede do SL Benfica, a Ordem de Avis por parte do Estado Português. Fonte: Stadium


António Ribeiro dos Reis faleceu em Lisboa, no dia 3-12-1961, com a idade de 65 anos, vítima de uma doença prolongada. Apesar da doença, terá ainda tido consciência da conquista da primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus. Foi sepultado no cemitério dos Prazeres onde também descansa o seu amigo e mestre, Cosme Damião.



(https://i.postimg.cc/SR33ZzFf/13.jpg)
Diversos obituários de António Ribeiro dos Reis


Nas décadas seguintes, a sua filha Margarida seria acionista do jornal "A Bola" e uma digna representante do legado de seu pai. O SL Benfica e a autarquia de Lisboa fariam ainda uma sentida homenagem póstuma a Ribeiro dos Reis, quando já na década de 70, deram o seu nome a uma rua de Lisboa.


(https://i.postimg.cc/KvXyrdGS/14.jpg)
Fevereiro de 1972, homenagem póstuma a António Ribeiro dos Reis. Fonte: jornal "O Benfica".



Paz e honra à alma de António Ribeiro dos Reis.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Junho de 2022, 15:28
Passam hoje 72 anos que o Sport Lisboa e Benfica conquistou a Taça Latina em futebol.

(https://i.postimg.cc/t4nqgyyk/72-anos.png)

(https://i.postimg.cc/j2B1gp9q/1949-1950-Ta-a-Latina2.png)


Obrigado

José Bastos, Joaquim Fernandes, Félix, Jacinto Marques, José da Costa, Rosário, Rogério Pipi, Francisco Moreira, Corona, Julinho, Arsénio e Pascoal.

Treinador Ted Smith, presidente Mário Madeira e todos os restantes membros da equipa, sejam eles jogadores, treinadores, médicos, massagistas e dirigentes.

Paz às suas almas. Honra às suas memórias.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jotenko em 24 de Junho de 2022, 02:27
Brutal este tópico e o trabalho do RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 24 de Junho de 2022, 20:56
Citação de: Jotenko em 24 de Junho de 2022, 02:27
Brutal este tópico e o trabalho do RedVC.

Muito obrigado Jotenko  O0

Nos próximos tempos não deverá haver novidades, apesar de haver ideias. Falta tempo...
Mas, como sempre, quem quiser colocar imagens, terá seguramente algum tipo de retorno.
Vamos esperar que este início de temporada nos traga bom futebol e boa inspiração para todos nós. Bem precisamos, nestes tempos carregados de escuridão.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: John F. Kennedy em 13 de Julho de 2022, 09:48
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola
São os Lynyrd Skynyrd  :smokin:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Julho de 2022, 10:13
Citação de: John F. Kennedy em 13 de Julho de 2022, 09:48
Citação de: Baron_Davis em 24 de Novembro de 2020, 12:54
(https://pbs.twimg.com/media/EnSrqgFXYAco33c?format=jpg&name=medium)

pérola
São os Lynyrd Skynyrd  :smokin:

https://www.youtube.com/watch?v=QxIWDmmqZzY (https://www.youtube.com/watch?v=QxIWDmmqZzY)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: WHERO em 13 de Julho de 2022, 16:29
Nunca me canso de aqui vir refurgiar-me da espuma dos dias. Aguardo o dia em que possa tirar estas histórias da estante, escritas e organizadas desta forma, sem tirar nem pôr, sabendo que as gerações vindouras possam ter a mesma sorte. Obrigado, RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Julho de 2022, 18:48
Citação de: WHERO em 13 de Julho de 2022, 16:29
Nunca me canso de aqui vir refurgiar-me da espuma dos dias. Aguardo o dia em que possa tirar estas histórias da estante, escritas e organizadas desta forma, sem tirar nem pôr, sabendo que as gerações vindouras possam ter a mesma sorte. Obrigado, RedVC.

Muito obrigado, Whero!  O0

O conhecimento e a partilha a são uma parte fundamental, maravilhosa, desta celebração diária que é Ser Benfiquista.

Lá para setembro espero concretizar alguns novos textos. Há ideias, falta o tempo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Godescalco em 13 de Julho de 2022, 18:53
Trabalho superlativo do RedVC.

Um tópico cheio de tesouros históricos inestimáveis.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Julho de 2022, 18:56
Citação de: Godescalco em 13 de Julho de 2022, 18:53
Trabalho superlativo do RedVC.

Um tópico cheio de tesouros históricos inestimáveis.

Muito obrigado, Godescalco!  O0

É um enorme prazer poder partilhar o Benfiquismo com todos vocês que usam algum do vosso tempo para ler estes textos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 13 de Julho de 2022, 20:58
Não tens nada que agradecer o tempo que supostamente é perdido a ler estes fabulosos excertos da nossa história.Falando por mim,eu é que te agradeço o muito que tenho aprendido com o que aqui publicas.E pensava eu que sabia muito do historia do Glorioso.Obrigado Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Julho de 2022, 21:03
Citação de: Alexandre1976 em 13 de Julho de 2022, 20:58
Não tens nada que agradecer o tempo que supostamente é perdido a ler estes fabulosos excertos da nossa história.Falando por mim,eu é que te agradeço o muito que tenho aprendido com o que aqui publicas.E pensava eu que sabia muito do historia do Glorioso.Obrigado Red VC.

Obrigado, Alexandre! O0
Aprendemos todos uns com os outros. O Benfica é gigante e há mundos nele ainda por descobrir.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Julho de 2022, 09:40
-327-
E (algum)a Europa "descobriu" o Benfica!


Estádio da Luz. Tarde do dia 6 de novembro de 1961.


(https://i.postimg.cc/HLFbNzvh/01.jpg)
A máquina Benfiquista alinhando antes de uma vitória épica.



A poderosa equipa do Benfica alinha para a eternidade. Em breve, a Europa do futebol, a menos atenta, iria "descobrir" uma nova potência do futebol europeu.

De facto, nos primeiros 28 minutos daquela partida, a avalanche ofensiva rubra, carregada de técnica e de "Mística", arrasou com uma das mais poderosas e conceituadas equipas da Europa. Não obstante a resposta resoluta dos húngaros no início da segunda parte, marcando dois golos, o Benfica vincaria a vitória com mais um golo, deixando o resultado nuns impensáveis 6-2!


(https://i.postimg.cc/QCJ5H382/02.jpg)
Ecos mediáticos de uma grande vitória.


Foi um resultado tremendo, que espantou a Europa do futebol menos atenta. E diz-se menos atenta porque apesar de já ter conquistado uma Taça Latina e disputado mais duas finais na década anterior, o SL Benfica era ainda considerado como um clube de um futebol periférico, emergente de um país pobre e politicamente isolado.

Não obstante, nessa e nas eliminatórias seguintes, as equipas do SL Benfica confirmariam as suas novas credenciais, conquistando a competição com sagacidade e classe. Nos anos seguintes, o Clube consolidaria o seu estatuto, tornando-se o mais bem-sucedido na Taça dos Clubes Campeões Europeus de Futebol, durante a década de 60.



Újpest Football Club


(https://i.postimg.cc/yxjg7ynB/03.jpg)
Alguns dos muitos emblemas que se podem encontrar relacionados com o Újpest FC


O nosso oponente desse dia era o Újpest Futebol Clube, campeão do então imensamente prestigiado futebol húngaro. O clube foi fundado em 16 de junho de 1885 em Újpest, então uma pequena cidade ainda separada de Budapeste, capital da Hungria. O primeiro nome da coletividade foi Újpesti Torna Egylet (Újpesti TE), sendo inicialmente uma coletividade dedicada à prática do atletismo, ginástica e esgrima, às quais aplicava o seu lema: "Solidez, Força, Harmonia".

O futebol chegaria à cidade de Újpest apenas em 1899, tendo nessa altura sido fundado um novo clube chamado Újpesti FC, que definiu o roxo e o branco como as suas cores, opção que ainda hoje se mantém.

Durante dois anos, os dois clubes da cidade, o Újpesti TE e o Újpesti FC, coexistiram, mas em 1901, acordaram a sua junção. Nesse processo, foi criada uma divisão de futebol no Újpesti TE, que na altura foi inscrita na segunda divisão da recém-formada Liga Húngara. Ou seja, parece ter ocorrido um processo de junção algo similar com o que ocorreu entre os nossos Grupo Sport Benfica e Sport Lisboa...

Em 1904, o Újpest TE ascenderia à primeira divisão, onde se manteve desde então, com exceção da temporada 1911-12. A partir de 1926, após a introdução do futebol profissional na Hungria, a equipa de futebol passou a competir sob o nome de Újpest FC. O clube orgulha-se de ser uma das duas coletividades magiares que praticam o futebol sem qualquer interrupção desde a constituição das competições de futebol na Hungria.

À presente data, o Clube ostenta 20 títulos de campeão húngaro (último em 1997-98), sendo apenas suplantado pelo MTK-Hungária 22 títulos e pelo Ferencváros com 33 títulos. O UFC conquistou ainda 11 taças da Hungria (última em 2021) e 3 supertaças (última em 2014).

Em 1950, o governo comunista no poder, escolheu o Újpest FC como o clube oficial da polícia e renomeando-o primeiro como Budapesti Dózsa e depois de como György Dózsa... Essa situação era frequente um pouco por todo o mundo que ficou por trás da cortina de ferro. Só em 1998, o clube recuperaria o seu nome de Újpest FC.

Ao longo dos seus 137 anos de história, o UFC teve nos seus quadros muito e bons treinadores, com destaque para Béla Gutmann (em 1937-38 e depois em 1947) e Lájos Baroti (1961-1973). E, sem surpresa, ambos deixariam uma marca impressiva na história do UFC.

Nas suas duas passagens pelo UFC, Béla Guttmann conquistou dois campeonatos (1938-39 e 1946-47) uma Taça Mitropa (1939). Ou seja, quando em 1960, Béla Guttmann defrontou um adversário que conhecia muito bem e onde tinha sido extraordinariamente bem-sucedido. Infelizmente não consegui encontrar fotografias desses dois períodos.

Também a passagem de Lájos Baroti ficou associada ao início de uma nova era dourada do UFC. Lajos Baróti treinou o UFC desde 1967 a 1971, tendo nessa altura conquistado o campeonato de 1969 e disputado a final da Taça das Cidades com Feira (UEFA) no mesmo ano (e 6-2 no total contra o Newcastle United). Quando, em 1971, Baroti deixou o clube, a equipa continuou a ganhar, conquistando 7 títulos consecutivos entre 1969 e 1975.

(https://i.postimg.cc/vBMZD64m/04.jpg)
Em 1969, o UFC, liderado por Lájos Baroti.



O futebol húngaro

Apesar de, atualmente, o futebol húngaro ser considerado como estando numa segunda linha do futebol europeu, nas décadas de 40, 50 e 60, o seu prestígio era imenso. Aliás, na década de 50, sem favor ou equívoco, o futebol magiar foi mesmo o mais prestigiado a nível mundial. Apenas por acasos circunstanciais, a Hungria não se sagrou campeã mundial no torneio da Suíça 1954, perdendo numa malfadada final frente à Alemanha.

Nessa década, os húngaros dispunham de muitos futebolistas extraordinários, que estavam entre as maiores figuras do futebol internacional. Púskas, Kocsis, Czibor, Kubala, Hidegkuti e Bószik, entre outros, praticavam um futebol-arte, de grande associação, com passe curto, executado com grande precisão e mobilidade ao mesmo tempo que eram orientados por treinadores que introduziram grandes inovações táticas.

O futebol húngaro estava incluído na grande escola do Danúbio, ou seja, num espaço geográfico decorrente do antigo império Austro-Húngaro, compreendendo regiões hoje pertencentes à Áustria, Chéquia e a Hungria. Essa escola foi fomentada desde a década de 20, por ação de treinadores extraordinários como o boémio Hugo Meisl e o inglês Jimmy Hogan, e teria seguimento em muitos outros notáveis treinadores, tendo os seus expoentes sido, talvez, Gusztáv Sebes (mítico treinador da seleção húngara) e Béla Guttmann!

Quando Guttmann chegou ao futebol português e ao Benfiquista em particular, já muitos outros treinadores da escola do Danúbio tinham dado contribuição fundamental. Nomes como Arthur John, Lipót Hertzka e János Biri serão sempre incontornáveis na História do SLB.


Regressando ao jogo


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O Ujpest Dósza, apresentou.se no Estádio da Luz, capitaneado pela sua maior estrela, Férenc Szusza (1923-2006; https://en.wikipedia.org/wiki/Ferenc_Szusza), que embora estivesse em final de carreira, continuava influente e prestigiado. Szusza foi orientado por Guttmann aquando da segunda passagem deste pelo Újpest FC. Ainda hoje o estádio do UFC ostenta o nome deste grande jogador, o maior da sua história.


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As duas grandes estrelas húngaras da eliminatória.


Cumpridas as amabilidades dos cumprimentos inaugurais, o jogo iniciou-se com uma velocidade vertiginosa, deixando rapidamente os húngaros debaixo do domínio Benfiquista que, como se escreveu na altura, praticava um futebol "atómico e cilindrador". E de tal forma foram dominados, que nem perceberam bem o que lhes estava a acontecer.

Enquanto tentavam responder com o seu futebol requintado, perfumado, cheio de classe, feito de trocas de bola e de precisão geométrica e inteligência posicional, o Benfica respondia com um futebol atacante dinâmico, cheio de garra e técnica, que confundiu completamente os húngaros. Os golos sucederam-se fazendo daquela tarde uma epopeia benfiquista. O resultado final seria implacável para os húngaros, definindo-se desde logo o desfecho da eliminatória.


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Vendaval ofensivo.


No início da sua segunda temporada ao serviço do Benfica, e ainda sem contar com Eusébio e Simões, a máquina Benfiquista estava montada por Béla Guttmann. Na baliza o genial apesar de inconstante Costa Pereira, na defesa a segurança do capitão Artur e a raça do aguerrido Ângelo. No meio campo estavam os músculos infatigáveis da equipa: Cruz, Neto e Saraiva. E depois, no ataque deslumbrava a poderosa e incomparável linha ofensiva com os extremos José Augusto e Cávem, a técnica sublime de Santana, a liderança e força ofensiva do monstro sagrado Coluna e o classe do requintado e letal José Águas.


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Uma equipa fabulosa, um treinador lendário.



Todos eles integram a mais fina flor dos futebolistas que alguma vez pisaram os relvados portugueses. São intemporais, inesquecíveis e gloriosos. São e serão, Benfica!


Roland Oliveira, um Eusébio da fotografia


(https://i.postimg.cc/QN1v0nYv/09.jpg)
(São Vicente, Cabo Verde, 25-03-1920 – Lisboa, 07-09-2007),



Naquela tarde de novembro, as imagens da tremenda vitória Benfiquista, foram captadas pelo inesquecível Roland Oliveira. É mais do que justo lembrar essa grande figura da nossa História.

Roland Carlos de Oliveira ou Roland Oliveira, foi o grande fotógrafo de "O Benfica". Ao longo das suas muitas décadas de atividade, foi um infatigável e apaixonado fotógrafo, captando imagens de atividades e figuras do SL Benfica. Morreu na sequência de um acidente profissional, justamente quando procurava captar uma determinada imagem do novo Estádio da Luz. Deixou-nos milhares de fotografias com a marca do seu apurado sentido estético e imbatível oportunidade. Grande parte desse espólio, de valor incalculável, permanece por publicar.


(https://i.postimg.cc/JzvqwRGx/10.jpg)
Roland de Oliveira, em dois tempos, com dois dos seus temas favoritos: o Estádio da Luz e Eusébio. Benfiquista infatigável e apaixonado.


Uma sentida e excelente homenagem pode ser lida aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/03/o-fotografo-fotografado-e-foto.html

O nosso Museu evoca-o com frequência e com grande justiça, tendo incorporado, por doação da família de Roland Oliveira, uma boa parte do seu espólio, constituído por cerca de 80 mil negativos, captados ao longo de décadas de trabalho dedicado e inspirado.


(https://i.postimg.cc/cLgRBPXn/11.jpg)
Fonte: https://media.slbenfica.pt/-/media/BenficaDP/Images/museu/ficaemcasa/artigo-27marco



E que melhor homenagem a Roland Oliveira senão voltando aquela tarde de 6 de novembro de 1960, apresentado mais colorizações de algumas das suas fotografias...



(https://i.postimg.cc/vT2nWvnh/12.jpg)
Costa Pereira e Torok.


(https://i.postimg.cc/y8ZRZc8h/13.jpg)
Cruz cumprimentando um adversário. De costas Artur, e mais atrás José Águas.


(https://i.postimg.cc/NjmyMtdp/14.jpg)
José Águas, Torok e José Augusto.


(https://i.postimg.cc/DfNmP0Dx/15.jpg)
Publicado na revista "Benfica Ilustrado", o cumprimento entre os capitães de equipa: Artur Santos e Férenc Szusza.



(https://i.postimg.cc/1tt5p1Kx/16.jpg)
Artur e José Augusto cumprimentando os árbitros.


De notar o notável desportivismo dos Húngaros. Classe. Mesmo depois de um vendaval ofensivo e de uma derrota tão inesperada quanto pesada, ainda assim os magiares mostraram admiração e respeito pelo adversário.

Na segunda mão, em Budapeste, apesar do vendaval ofensivo, o Benfica resistiu, marcou primeiro embora tenha perdido o jogo por 1-2. Seria a única derrota da campanha europeia da equipa Benfiquista, que resultaria no primeiro título europeu. No jogo de Budapeste, Béla Guttmann não se sentou no banco, pois o presidente Maurício Vieira de Brito não autorizou a sua deslocação à capital húngara, temendo que as autoridades húngaras pudessem deter o seu treinador (histórias antigas que agora não interessa falar). Antes como agora, muitas vezes a política ensombra a nobreza e a liberdade do desporto.


(https://i.postimg.cc/9QC4rSs2/17.jpg)
Outra imagem espantosa de Roland Oliveira. O banco Benfiquista na temporada de 1959-1960, antecâmara da glória europeia.



Glória aos notáveis jogadores, treinadores e dirigentes que construíram as míticas conquistas europeias do Sport Lisboa e Benfica!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Agosto de 2022, 15:25
Chalana era POESIA. Chalana era BENFICA.

Homenagem ao melhor jogador que vi jogar ao vivo com a camisola do Benfica.

Obrigado.

Descansa em paz, CAMPEÃO.




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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 15 de Setembro de 2022, 10:58
sempre vale a pena passar por este tópico. as histórias que contas, Victor, sao o fundamento do que o benfica é hoje...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Setembro de 2022, 20:36
Citação de: alfredo em 15 de Setembro de 2022, 10:58
sempre vale a pena passar por este tópico. as histórias que contas, Victor, sao o fundamento do que o benfica é hoje...


Obrigado, alfredo  O0

Espero que em outubro próximo possa voltar a colocar aqui alguns textos novos.
A História do Sport Lisboa e Benfica é um orgulho e uma inspiração, mas nem sempre há tempo de qualidade para fazer esses textos.

Abraço!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Setembro de 2022, 15:34
-328-
As noites broncas de Montevideo

Lisboa, noite de 4 de setembro de 1961.

José Águas, capitão da equipa do SL Benfica cumprimenta William Martinez, capitão da equipa do FCA Penarol.


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William Martinez e José Águas, cumprimentam-se no Estádio da Luz, sob o olhar do árbitro suíço, Othmar Huber.


Estava prestes a iniciar-se a disputa da Taça Intercontinental de 1961, opondo o Sport Lisboa e Benfica, campeão europeu de 1961 e o FCA Peñarol, de Montevideo, vencedor da Taça Libertadores da América de 1961.

Nessa primeira mão, disputada no Estádio da Luz, em Lisboa, perante cerca de 40.000 pessoas, o Benfica venceu por 1-0, golo de Mário Coluna, perto dos 60 minutos de jogo.


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Essa não era a primeira vez que os dois clubes se enfrentavam, uma vez que 6 anos antes, em 26 de junho de 1955, tinham já disputado um jogo no Rio de Janeiro, a contar para a Taça Charles Miller, partida na altura vencida pelos Benfiquistas por 2-0 (ver: -123- Taça Charles Miller '55 (parte VI): Escaramuças Uruguaias!; pág.33).


Agora, a competição era oficial e o empenho das duas equipas era total.



Cilindrados...

Duas semanas depois, na noite de 17 de setembro de 1961, o Benfica jogou em Montevideo, perante cerca de 56 mil espetadores, perdendo por conclusivos 0-5...


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O galhardete entregue pelo capitão José Águas no jogo da 2ª mão da Taça Intercontinental de 1961.


Que se terá passado?

Foi um jogo aziago em que tudo correu mal, desde a indisponibilidade de José Águas até à exibição de Costa Pereira.

O jogo começou mal, pois logo aos 10 minutos Sasia marcou de grande penalidade, marcada a castigar uma pretensa mão de Cruz. Depois, até ao final da primeira parte a pressão foi contínua, tendo os uruguaios chegado aos 4-0. Na segunda parte, apesar das melhorias do jogo Benfiquista, o Penarol marcou o quinto golo, estabelecendo o resultado final.

Apesar do escândalo do resultado, havia que analisar as incidências do jogo. Para além da boa exibição dos uruguaios, foi também notória a influência da arbitragem do argentino Carlos Enrique Nay Foino, tendo este assinalado uma grande penalidade contra a equipa Benfiquista a propósito de uma mão casual de Cruz e tendo validado um golo em claro fora de jogo...

Carlos Foino era um juiz conhecido na sua terra por ferver em pouca água, chegando pelo menos em duas ocasiões a usar as aptidões desenvolvidas no seu passado de praticante de boxe, para resolver alguns episódios de contestação...

Nesse jogo, um dos adjuntos de Foino era o também argentino Jose Luiz Praddaude, cuja "competência" como árbitro principal viria também a ser demonstrada na finalíssima... Sim, o fiscal de linha do primeiro jogo foi o árbitro principal do segundo jogo. Foi essa a máxima concessão que a FIFA fez perante os protestos dos dirigentes Benfiquistas...

Perante tão desnivelado resultado desse primeiro jogo, não se colocando em causa a justeza da derrota, ainda assim as versões sobre as incidências do jogo variaram consoante as fontes...


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Fonte: DL



A finalíssima

Como nesse tempo, como de nada valia a diferença de golos, houve lugar, três dias depois, a 20 de setembro, à disputa da negra, da finalíssima. Um jogo a que assistiram cerca de 60 mil espectadores.

Para esse jogo, Béla Guttmann decidiu retirar da equipa Saraiva, Mário João, Santana (lesionado) e Mendes, entrando Humberto Fernandes, Simões, Eusébio e José Águas. Com o regresso à equipa de José Águas e a inclusão de Eusébio e Simões, que tinham sido chamados de emergência logo após o primeiro jogo, o jogo atacante da equipa foi amplamente reforçado. E assim, com o maior acerto de Costa Pereira na baliza, o Benfica surgiu bem mais competitivo e assertivo.

Ainda assim, a formidável equipa do Penarol desde cedo comandou as operações, inaugurando o marcador logo ao minuto 5, por intermédio de Sasia. Só que, ao contrário do jogo anterior, o Benfica não se desconcentrou, chegando ao empate ao minuto 35, através de um excelente golo de Eusébio.

O empate durou, no entanto, pouco tempo, tendo a partida seria decidida pouco depois, ao minuto 40, quando o árbitro argentino Praddaude decidiu assinalar uma grande penalidade, por suposta mão de Coluna. Até ao final, não foi possível anular a desvantagem. A Taça foi para o FCA Penarol.


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Costa Pereira durante a finalíssima. Fonte: El Grafico.


Comandados pelo treinador Roberto Scarone, o Penarol conquistava a Taça Intercontinental, numa das mais luzidias conquistas da sua prestigiosa história. O Penarol é um dos Clubes míticos, um que pertence à restrita galeria da qual também consta o SL Benfica.


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Apesar da acidentada disputa, a comitiva Benfiquista não colocou em causa o mérito da conquista, nem muito menos a classe do seu oponente. Nesse ano, o Penarol dispunha de uma excelente equipa, comandada pelo treinador uruguaio Roberto Scarone, apoiada por um público caloroso e entusiasta.

Curiosamente, dois anos depois, seria Béla Guttmann a treinar os uruguaios, falhando a reconquista da Taça Libertadores, ao cair perante o Santos de Pelé. Apesar de ter falhado esse objetivo maior, Guttmann sempre se referiu de forma muito elogiosa aos seus tempos passados na capital situada na margem nordeste do Rio de La Plata.

Mas os jogos de Montevideo terão sido inteiramente justos e limpos? Vejamos o testemunho do Glorioso José Augusto, publicado numa recente entrevista concedida a Rui Miguel Tovar, para o "Mais Futebol":

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Nada como um pouco de picante sul-americano para compor uma tela de uma conquista lendária...

Aqui ficam os detalhes desses famosos jogos disputados no mítico Estádio Centenário...


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E para tornar ainda mais pitoresca a descrição aqui ficam mais alguns recortes de jornais da época

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E vejamos mais algumas declarações dos jogadores Benfiquistas:

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Em nenhum caso se colocou em causa o merecimento da vitória uruguaia, mas isso não quer dizer que nas noites broncas de Montevideo, o caldinho argentino deixasse que o SL Benfica lutasse de forma justa e equitativa pelo triunfo.

Apesar de tudo, entre os jogadores e entre os Clubes, houve um clima de respeito e de desportivismo.

Pena é que a terceira equipa tenha estado ao nível do pior nível tão habitual naquele tempo nos jogos da América latina, em que até equipas como o Santos FC terminavam alguns jogos com brigas de proporções épicas.

Pois é... Para a História ficou o resultado, mas agora ficam também algumas outras estórias que interessava contar...

Olé!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Setembro de 2022, 15:00
-329-
Caiado para vencer! (parte I): De Leça à Boavista.

Dia 12 de junho de 1955, Estádio Nacional.


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Caiado levanta a Taça de Portugal! Glória aos vencedores! Colorida a partir de original do AML


Fernando Caiado, capitão da equipa principal do Sport Lisboa e Benfica, levanta a Taça de Portugal, segurando também um troféu atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa. O Glorioso fechava, de forma brilhante, a temporada de 1954-1955!


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O General Craveiro Lopes, presidente da República, entrega a Taça de Portugal e um troféu atribuído pela CML, a Fernando Caiado. Alguns degraus abaixo, Passos, capitão do Sporting CP assiste á consagração do vencedor. Foto colorida a partir de original do AML


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1954-55, uma temporada notável para o Benfiquismo.


Nesse dia o Benfica conquistava a sua 11ª Taça de Portugal, ao derrotar o Sporting CP por 2-1, com dois golos de Arsénio, o pequeno mas letal avançado benfiquista (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19541955/taca-de-portugal/1955-06-12/sl-benfica-2-x-1-sporting).

Nessa celebração, ao levantar a Taça de Portugal no majestoso palco do Jamor, Fernando Caiado juntou-se a uma galeria ilustre de capitães do Benfica. Ao longo dos oito anos como jogador do Benfica, quatro como capitão, Caiado habituou-se a levantar taças, mas naquele dia, perante a imponência do cenário, e as autoridades oficiais do país, talvez tenha atingido o pico da sua brilhante carreira ao serviço do Glorioso.


De Leceiro a boavisteiro


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As cores da juventude. Caiado, ídolo no Bessa.


Fernando Augusto do Amaral Caiado nasceu em 2 de março de 1925, em Leça da Palmeira, localidade situada a 8 km do Porto. Era um de cinco filhos do casal José Augusto Caiado e Ana Amélia do Amaral, todos eles praticantes entusiastas do futebol e todos eles a jogar futebol no Boavista FC: António, José, Fernando, Francisco e Artur.

Concluídos os estudos primários, Fernando ingressou na Escola Industrial Infante D. Henrique, no Porto, tendo por isso ido viver para casa de uma avó.

Como o estádio do Bessa ficava ali perto e assim Fernando tentou a sua sorte nas captações do Boavista FC. Por ser franzino, foi recusado das primeiras vezes, não lhe dando sequer a possibilidade de tocar na bola. Quando finalmente o deixaram equipar-se e entrar em campo, foi recrutado, tornando-se rapidamente a estrela das as camadas jovens boavisteiras.

Caiado fez a sua estreia oficial com a camisola boavisteira, na temporada de 1940-41, numa partida entre as equipas de juniores do Boavista FC e do Sport Progresso. Nessa sua primeira época, Caiado sagrou-se o melhor marcador da equipa de juniores do Boavista FC. Cumpriria ainda mais uma temporada nos juniores, confirmando que estava pronto para ascender aos seniores.

Sem surpresas, Caiado transitou em 1942-43 para a equipa sénior, que ainda militava na 2ª divisão nacional. Com essa ascensão deixaria de lado os estudos, e assumindo uma atividade profissional como desenhador de máquinas de fundição (fonte: blogue "Glorias do passado").

Caiado jogava inicialmente a avançado (interior esquerdo), mas dada sua qualidade técnica, polivalência e capacidades de pensar e ritmar o jogo, cedo os seus treinadores decidiram a recua-lo no campo. Mesmo jogando na 2ª divisão, Caiado destacou-se de tal forma que motivou a cobiça da Académica de Coimbra, do FC Porto e do Sporting CP. Não obstante, as promessas dos academistas de que poderia ingressar num curso à sua escolha, Caiado permaneceu fiel aos boavisteiros. A ligação de Caiado ao Boavista era intensa, praticando também andebol e hóquei em campo. 


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Cinco Caiados boavisteiros. Fernando e os seus 4 irmãos.


Os Caiados contribuíram assim para que a metade final da década de 40 e a inicial da década de 50, fossem um período notável de ascensão do futebol boavisteiro. Depois de duas experiências episódicas (1935-36 e 1940-41), de 1945 a 1955, o Boavista FC cumpriu um período de 9 temporadas na primeira divisão, interrompido apenas durante a temporada de 1949-50.

Fernando Caiado estreou-se em jogos do campeonato nacional, em 1945-46 num jogo em Elvas, mas seria no Porto que enfrentaria pela primeira vez o Benfica, num jogo que os boavisteiros perderam por 2-4. Caiado marcou um dos golos boavisteiros e conquistou uma grande penalidade que originou o segundo boavisteiro, mas Espírito Santo (2 golos), Mário Rui e Rogério impuseram a superioridade benfiquista.


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Dia 2-02-1946, no estádio do Bessa, Caiado ainda boavisteiro defrontou pela primeira vez o SL Benfica para o campeonato nacional. Marcou... Fonte: Hemeroteca Lx


Curiosamente, o Benfica venceria pelos mesmo números, o jogo da 2ª volta disputado no Campo Grande. Caiado voltou a marcar um golo a Martins, mas Julinho (2), Félix e Arsénio voltam a impor a superioridade Benfiquista.


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O campeonato de 1945-46 foi muito peculiar tendo sido conquistado pelo CF "os Belenenses", no que veio a ser o seu único título nacional da I Divisão. No Boavista, não obstante a penúltima posição da equipa, o desempenho de Caiado não escapou a Tavares da Silva, o selecionador nacional que o convocou. Com 21 anos de idade, Caiado fazia a sua estreia pela seleção nacional de Portugal, num jogo disputado contra a Irlanda, no dia 16 de junho de 1946, em pleno Estádio Nacional. Portugal venceu por 3-1.


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Caiado, tornou-se internacional português em 16-06-1946. Note-se que os jogadores portugueses a fazer a saudação com a mão estendida... Fonte: Hemeroteca Lx


Inabalável, manteve-se boavisteiro durante mais seis anos, resistindo às propostas de mudança de ares, e mantendo-se figura de grande destaque dos campeonatos nacionais. Exibia uma qualidade de passe excecional, era rápido, inteligente, tecnicista e tinha uma visão de jogo ímpar. Estas qualidades eram admiradas no Benfica, sendo visto por Ferreira Bogalho como um reforço óbvio, por ser um jogador de caráter e que poderia trazer um significativo acréscimo de classe e garra ao jogo Benfiquista.


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Boavista, 1951-52; Caiado, na sua última temporada no Boavista FC. Nota-se a presença do mano António.



No final da temporada 1951-52, o Boavista conseguiu um inédito e sensacional 5º lugar. Caiado sentiu que seria hora para repensar a sua carreira. Abriam-se novas possibilidades e o Benfica de Bogalho estava atento!


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António Caiado e Serafim, jogadores do Boavista FC, a ladear Fernando Caiado, já vestido com o manto sagrado.


Nos próximos dois textos falaremos de forma tão sintética quanto possível primeiro da extraordinária carreira de jogador depois de treinador de Fernando Caiado no Sport Lisboa e Benfica.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Setembro de 2022, 20:39
-330-
Caiado para vencer! (parte II): de Águia ao peito!


Dia 19 de setembro de 1957, Estádio Nervion, Sevilha.

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Caiado, capitão do SL Benfica cumprimenta Busto, o capitão do Sevilha CF, perante a equipa de arbitragem liderada pelo francês Jean-Louis Groppi.


Fernando Caiado, capitão do SL Benfica cumprimenta Busto, o guarda-redes e capitão do Sevilha CF. Nesse dia Caiado foi o capitão de uma equipa histórica do SL Benfica, a primeira que disputou um jogo a contar para a Taça dos Clubes Campeões Europeus.

Nesse tarde, em Sevilha, o Benfica perdeu por 1-3, mostrando-se uma equipa cansada, particularmente na 2ª parte, período em que sofreu os três golos sevilhanos. Como Ângelo Martins mais tarde lembrou, a equipa benfiquista jogou cansada porque viajou de avião para Sevilha no próprio dia do jogo! Erros, só explicáveis pela inexperiência internacional dentro e fora de campo; erros que se pagam muito caro em alta competição.


https://www.youtube.com/watch?v=QeRULTTUT9c (https://www.youtube.com/watch?v=QeRULTTUT9c)


Na semana seguinte, Caiado não jogou a segunda mão, optando Otto Glória por utilizar Zezinho. Infelizmente, o Benfica não conseguiria reverter a derrota da 1ª mão, não passando de um frustrante nulo. Três anos depois, na segunda participação europeia, tudo seria diferente. Em 1957, era ainda tempo de aprender, e de melhorar!

Apesar desse começo trôpego, estava aberta a via europeia, criavam-se as bases para sucessos futuros. Caiado, que já levava já 5 anos de águia ao peito, já tinha um percurso sólido no Benfica...


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Enfim, Glorioso!


Como percebemos no texto anterior, foi longo e árduo o caminho de Fernando Caiado até ingressar no Sport Lisboa e Benfica. Após 11 anos de irredutível permanência e brilhante percurso no Boavista FC, no final da temporada de 1951-52, Caiado voltou a ter muitos interessados na sua contratação. Os boavisteiros tinham conquistado um inédito e sensacional 5º lugar no campeonato nacional, com destacada contribuição de Caiado. Com 27 anos de idade, Caiado era a estrela da companhia, e por isso decidiu ouvir com atenção as propostas para mudar de ares.

E foi num contexto de intensa disputa com o FC Porto, que Caiado optou pelo SL Benfica, preferindo mudar-se para Lisboa. No auge das suas capacidades, com cerca de 150 jogos disputados no Boavista, 64 golos marcados, e seis internacionalizações, Caiado deu enfim um salto qualitativo gigante, tornando-se um ídolo Benfiquista. Entrou pela porta grande.

Só que, estranhamente, os dirigentes boavisteiros recusaram autorizar a transferência, forçando Caiado a extremar a sua posição, ao ponto de ameaçar deixar de jogar futebol! Só depois de duas assembleias gerais convocadas para discutir essa transferência, os dirigentes boavisteiros cederam e viabilizaram o acordo. O Benfica aceitou pagar 150 contos ao Boavista e 100 contos ao jogador. Verbas consideráveis para a altura.

A estreia de Caiado no Benfica aconteceria a 7 de setembro de 1952, no Estádio Nacional, e logo num contexto especial, no decurso de uma festa de despedida ao capitão Francisco Ferreira, em que vencemos o FC Porto (1-0). A passagem de testemunha não poderia ser mais simbólica, pois o treinador benfiquista, o argentino Alberto Zozaya, aos 15 minutos de jogo, fez entrar Caiado para o lugar do lendário capitão Francisco Ferreira.


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A estreia de Caiado na despedida de Francisco Ferreira. Fonte: DL


Com a sua qualidade futebolística, Caiado rapidamente se integrou numa equipa onde se ainda se distinguiam os defesas Jacinto e Félix, e os avançados Arsénio e Rogério e onde também já brilhava o jovem José Águas.

No entanto, também dentro do Benfica a entrada de Fernando Caiado geraria algumas convulsões. Desde a conquista do campeonato nacional e da Taça Latina em 1949-50, o futebol benfiquista não vencia o campeonato nacional e assim continuaria até 1954-55, permitindo que o SCP conquistasse um inédito tetracampeonato.

Cresciam, portanto, as tensões no Benfica, havendo a convicção de que alguns dos jogadores mais prestigiados estavam numa fase de declínio ou pelo menos de alguma acomodação. O presidente Bogalho estava ciente de que era necessário renovar e aumentar a qualidade da equipa e pensava também em mudanças efetivas na orientação técnica, embora faltasse ainda um par de anos para que fizesse a escolha acertada (só em 1954 chegaria Otto Glória, com a sua famosa diagonal...).


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Caiado entre os seus novos colegas, ainda numa lógica do quinteto atacante da tática do WM...


Em 1952-53, na sua primeira temporada Benfiquista, orientado primeiro por Alberto Zozaya e depois por Ribeiro dos Reis, Caiado fez 25 jogos oficiais e marcou 5 golos, mas o Benfica perdeu uma vez o campeonato para o Sporting CP. A conquista da Taça de Portugal, após derrotar na final o FCP com um rotundo 5-0, atenuou de alguma forma a frustração da temporada, mas havia que fazer melhor!

Na temporada seguinte, 1953-54, orientado primeiro por Ribeiro dos Reis (numa comissão técnica com José Simões e tendo Alfredo Valadas como treinador de campo...) e depois pelo argentino Jose Valdivielso, o Benfica perdeu novamente o campeonato, mas desta vez com a agravante de também ter perdido a Taça de Portugal nos oitavos de final perante o Sporting CP. Caiado fez 23 jogos oficias, e marcou 3 golos.


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Caiado numa equipa que disputou um jogo particular em Portalegre.


A agravar este contexto de frustração e de muitas mudanças, surgiu ainda o triste episódio que levou à suspensão de Félix Antunes. A situação foi muito bem explicada por Alberto Miguéns, que ouviu uma versão da boca do próprio Fernando Caiado, uma vez que o mesmo esteve envolvido (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/felix-antunes-reu-ou-vitima.html).

Ao que parece Félix, frustrado com derrotas e multas recentes, olhava para Caiado como um novato na equipa, que por ser mais bem pago, tinha obrigação de correr bem mais do que ele... Durante o intervalo de um jogo em Setúbal cuja primeira parte tinha sido desastrosa para a equipa benfiquista, um comentário de Caiado incendiou a personalidade de Félix. Viveu-se então uma situação dramática de confronto no balneário, entre esses dois grandes jogadores internacionais do Benfica. Os atos de Félix Antunes foram relatados ao presidente Ferreira Bogalho que lhe impôs uma dura punição, impondo de forma inflexível o fim precoce da passagem de Félix pelo Benfica.

Exigiam-se mudanças profundas, mas felizmente o presidente Bogalho estava à altura dos desafios.

Essas mudanças surgiram em 1954-55, com a chegada de Otto Glória, numa aposta pessoal do presidente, ao que parece pouco compreendida pela restante direção. Otto Glória vinha de um futebol evoluído e inovador, trazendo uma verdadeira revolução ao futebol benfiquista. Otto impôs a profissionalização e a reformulação do plantel e do departamento de futebol, assim como a adoção de novas práticas de treino e de preparação dos jogos, e de novas táticas de jogo.


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Otto Glória, no Campo Grande, numa sessão de aprendizagem tática aos seus jogadores. Caiado e restantes companheiros ouvem atentos os novos conceitos.


Em Fernando Caiado, Otto Glória viu um líder, nomeando-o capitão de equipa, isto apesar de existirem jogadores mais antigos no Clube. Caiado respondeu de forma positiva, fazendo 30 jogos oficiais, marcando 3 golos, mantendo-se como um dos elementos-chave, liderando o meio campo Benfiquista, e mostrando a classe e o empenho de sempre.

A época ficaria marcada por uma das mais dramáticas e saborosas conquistas de sempre no campeonato nacional. Na última jornada, no dia 24 de abril de 1955, o Benfica sagrou-se campeão em 1954-55, vencendo o Atlético na Luz por 3-0, quando ao mesmo tempo o Belenenses empatava em casa com o SCP, e com isso perdendo o 1º lugar que ocupava até então. Um golo do sportinguista Martins valeu uma festa de arromba no Estádio da Luz!


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Momento inesquecível no Estádio da Luz; Caiado e Otto Glória levados em ombros após a dramática conquista dom campeonato de 1954-55.


Nessa tarde, Otto Glória e o seu capitão de equipa, Fernando Caiado, foram levados em ombros! Três anos depois de chegar ao Benfica, Caiado conquistava o seu primeiro campeonato nacional.


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Caiado, pela 1ª vez campeão nacional, integrando a equipa que defrontou o CR Flamengo, Taça Charles Miller, RJ, Brasil, 1955.


Mas houve mais, ainda em 1955. Para além de uma saborosa dobradinha (como vimos no texto anterior), no final da temporada, o Benfica foi convidado para disputar um prestigiante torneio no Brasil, disputado entre julho e agosto, no Rio de Janeiro e em São Paulo, contra 5 outras prestigiadas equipas: Flamengo, America, Penarol, Corinthians e Palmeiras.

Essa prestigiosa participação do futebol do Benfica na Taça Charles Miller, da qual aqui falamos de forma extensa em 11 textos (ver -118 a 133 - Taça Charles Miller '55 (parte I-XI); págs. 32-33), foi também marcada por sentidas homenagens da extensa comunidade portuguesa naquelas duas cidades brasileiras. Fernando Caiado, como capitão de equipa, foi um alvo privilegiado dessas homenagens. Inesquecível!


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Caiado, capitão de uma equipa carregada de homenagens em terras brasileiras.


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Momentos inesquecíveis da passagem pela digressão brasileira de 1955. Alegria, tristeza, festa e convívios, Caiado e companheiros viveram tudo de forma intensa, "À Benfica!". Legenda: a) ficha emigração temporária no Brasil; b) antes do jogo com o CR Flamengo; c) no balneário após derrota contra o America FC (0-2); d) treino com Coluna e Zizinho (jogador que Guttmann considerou melhor que Pelé); e) Caiado na equipa que jogou contra o CR Flamengo (0-1)


A última metade da década de 50, foi marcada por intensas disputas não apenas com o SCP, mas também com o FCP de Yustrich, um treinador brilhante embora muito conflituoso, e que tinha sido um antigo mestre de... Otto Glória, nos tempos do Vasco da Gama!

A temporada de 1955-56 terminou com a perda do campeonato para os portistas, mas a confiança em Otto Glória permanecia incólume, apesar da equipa praticar um futebol menos ofensivo relativamente à tradição e ao gosto dos adeptos benfiquistas! Caiado mantinha números similares às temporadas anteriores.


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Caiado numa equipa que disputou um jogo particular em Valado dos Freires, em maio de 1956.


E, de facto, a confiança era merecida. Na temporada seguinte, em 1956-57, o Benfica voltou a conquistar ima dobradinha, com o campeonato duramente disputado com o FCP. Caiado participou em menos jogos, facto talvez atribuível à progressiva melhoria do plantel e ao aumento da competitividade interna.

A Taça de Portugal foi conquistada coma  vitória na final frente ao Sporting da Covilhã (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19561957/taca-de-portugal/1957-06-02/sl-benfica-3-x-1-sp-covilha), mas nesse dia Caiado não jogou, tendo erguido a Taça o capitão Jacinto Marques.


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Caiado, pela 2ª vez, campeão nacional, integrando o plantel campeão. José Águas carrega nos braços a sua filha Helena.


A temporada quase teve também uma consagração europeia, não fora a derrota na final da Taça Latina de 1957, perante o Real Madrid, num jogo épico disputado em casa do adversário...


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Caiado na equipa benfiquista que disputou a final da Taça Latina de 1957.


A temporada seguinte, de 1957-58 não seria tão feliz, sendo aliás a última em que Caiado contribuiu de forma mais efetiva para a equipa. Com 34 anos, notava-se-lhe já um declínio das capacidades, embora participasse ainda em 18 dos 26 jogos.

A última temporada de Caiado como jogador seria a de 1958-59. Caiado jogou apenas uma vez no campeonato nacional, num jogo foi disputado no Estádio da Luz, em 28 de setembro de 1958, para a 3ª jornada, que resultou numa vitória do Benfica sobre a Académica por 5-0, com 3 golos de Águas e 2 de Cavém.


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O último jogo de Caiado no campeonato nacional. Fonte: DL


A direção do Benfica, reconhecendo-lhe contributo significativo, tratou de organizar uma festa de despedida. Caiado afirmou então: "Quero uma cerimónia de despedida recíproca entre mim e o público que sempre me acarinhou e não uma festa de homenagem".

E assim, a 17 de junho de 1959, foi organizada a sua festa de despedida, num desafio contra o seu Boavista FC, que foi o último em que envergou o manto sagrado. Facto notável, por sua decisão sua, cinquenta por cento da receita dessa partida foi atribuída à campanha de obras do Terceiro Anel. Um gesto de Benfiquismo inexcedível, proporcional à atitude e grandeza com que sempre usou o nosso Emblema.


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Em cima, à esquerda: a medalha evocativa da festa de despedida de Fernando Caiado. À direita: abraço de Caiado ao seu treinador Otto Glória. Em baixo: recorte do jornal O Benfica" anunciando a festa.


Caiado fechava a sua carreira como jogador, após 7 temporadas em que conquistou 2 campeonatos nacionais, 4 taças de Portugal. Pelo Glorioso, Caiado marcou um total de 29 golos, disputando um total de 207 jogos, sendo capitão de equipa em 134 deles (quase 65%). Soube conquistar a estima e o respeito de todos os Benfiquistas.


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Títulos, conquistas, honrarias.


Essa temporada final seria também marcada pelo fim da primeira passagem de Otto Glória pelo Clube. Não obstante todos os títulos e tremendo trabalho feito, Otto tinha já um grande desgaste à sua volta. As bases para o grande Benfica europeu estavam lançadas, por via da ação de um conjunto de homens notáveis, que dentro e fora de campo, trabalharam infatigavelmente.

Não obstante ser um profissional, e por isso ter passado por outros clubes, Otto Glória foi um dos mais importantes treinadores da História do Benfica. O seu contributo para o Benfiquismo é inquestionável e valoroso, sendo por isso merecedor da eterna gratidão e reconhecimento dos Benfiquistas. Também a ele foram feitas diversas homenagens, entre as quais algumas dos seus próprios jogadores. Os Benfiquistas sabem sempre ser gratos a quem defende e honra o Clube e Caiado, profundamente ligado ao brasileiro, foi um dos que lhe soube agradecer.


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Caiado e diversos companheiros de equipa homenageando o seu treinador Otto Glória com a entrega de uma fotografia autografada por todos os jogadores.


No próximo texto falaremos brevemente da vida de Caiado após o abandono dos relvados. Também como treinador soube dar um excelente contributo ao Glorioso.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 25 de Setembro de 2022, 21:16
Fantástico Red VC.Apenas um aparte,a foto da equipa de 54-55 tem alguns nomes trocados.
Em cima estão o Dr.Angelino Fontes,Costa Pereira,Jacinto Marques,Fernando Caiado,Alfredo Abreu,Artur Santos,Ângelo Martins,José Bastos e Otto Glória.Em baixo temos Zezinho,Arsénio,José Águas,Mário Coluna e Francisco Palmeiro.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Setembro de 2022, 21:20
Citação de: Alexandre1976 em 25 de Setembro de 2022, 21:16
Fantástico Red VC.Apenas um aparte,a foto da equipa de 54-55 tem alguns nomes trocados.
Em cima estão o Dr.Angelino Fontes,Costa Pereira,Fernando Caiado,Alfredo Abreu,Artur Santos,Ângelo Martins,José Bastos e Otto Glória.Em baixo temos Zezinho,Arsénio,José Águas,Mário Coluna e Francisco Palmeiro.


Muito obrigado, Alexandre! Vou corrigir  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 25 de Setembro de 2022, 21:25
Faltava o nome do Jacinto Marques que está entre o Costa Pereira e o Fernando Caiado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Setembro de 2022, 22:42
-331-
Caiado para vencer! (parte III): os anos de treinador

Dia 1 de julho de 1962, Estádio Nacional.


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De pé, da esquerda para a direita: Dr. Sousa Pinho, Hamilton Pena (massagista), Eusébio, José Augusto, Fernando Caiado (treinador), Germano, Cavém e Costa Pereira. Em baixo: Ângelo, Cruz, Mário João, José Águas, Coluna e Simões.


A equipa principal de futebol do Benfica, sagrada bicampeã europeia no mês anterior, celebra a conquista de mais uma Taça de Portugal, a 14ª da sua História, após vencer o Vitória de Setúbal por concludentes 3-0 (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19611962/taca-de-portugal/1962-07-01/sl-benfica-3-x-0-v-setubal). A vitória foi selada com dois golos de Eusébio e um de Cavém, todos na segunda parte.

Na foto de grupo, nota-se a ausência de Béla Guttmann, estando presente Fernando Caiado, que durante essa temporada tinha sido o treinador adjunto do húngaro. Ocupava essas funções desde a temporada de 1958-59, uma vez que o húngaro queria trabalhar com alguém que conhecesse o Clube, os jogadores e que impusesse disciplina.

Foi aliás, para Caiado que Guttmann, encantado com o primeiro treino do recém-chegado Eusébio da Silva Ferreira, disse: "É ouro, Caiado, é ouro!"


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Caiado ao lado de Guttmann numa espantosa fotografia de Roland Oliveira na temporada de 1959-1960, antecâmara da glória europeia.


O facto é que nesse primeiro dia de julho de 1962, Guttmann já não era treinador do Benfica. O contrato de tinha expirado no dia anterior. As partes tinham extremado posições e não havendo acordo para uma nova renovação do contrato, a direção benfiquista nomeou Fernando Caiado como treinador principal interino naquele jogo. Caido desempenhou essa função não apenas naquele jogo mas também em dois jogos disputados alguns dias depois, em Luanda e em Lourenço Marques.

Caiado era duro, conhecedor, disciplinador, competente e capaz de transmitir a Mística do Clube. Em boa verdade, diga-se que essas virtudes lhe eram reconhecidas desde o seu tempo de jogador, particularmente por Otto Glória. Aliás no período de transição de jogador para treinador, Caiado terá também auxiliado José Valdivieso (juniores e reservas) e até treinado equipas escolares do Colégio Moderno!


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A Fernando Caiado desde cedo forma reconhecidas virtudes para se tornar um excelente treinador. Fonte: "O Benfica ilustrado".


E assim se explica que, de 1958 até 1966, Caiado tenha integrado sucessivas equipas técnicas Benfiquistas: Otto Glória (1958-59), Béla Guttmann (1959-62), Fernando Riera (1962-1963), Lajos Czeizer (1963-64) e Elek Schwartz (1964-1965).

O conjunto de títulos e troféus ganho nesse período é impressionante, desde campeonatos nacionais, taças de Portugal, torneios particulares disputados pelos quatro cantos do mundo, e acima de tudo duas Taças do Campeões Europeus e duas outras finais perdidas. O período de ouro do Sport Lisboa e Benfica!


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Caiado, treinador adjunto de Béla Guttmann, com todos os campeões europeus de 1960-61.


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A receção apoteótica no Estádio da Luz feita aos campeões europeus de 1960-61. Caiado ao lado de Guttmann.


Algumas semanas depois da inolvidável conquista da Taça de Portugal de 1961-62, a direção Benfiquista anunciou a contratação do chileno Fernando Riera, para liderar a nova equipa técnica. Riera chegava prestigiado, como o ex-selecionador chileno que tinha levado a sua seleção ao terceiro lugar do mundial do Chile 1962, concluído cerca de duas semanas antes. Riera aceitou as condições da direção do Benfica, formando uma equipa técnica com dois treinadores adjuntos. Eram três Fernandos...


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Fernando Cabrita (adjunto), Fernando Riera (principal) e Fernando Caiado (adjunto), a equipa técnica para a temporada 1962-1963.


Uma vez mais o sucesso corou o trabalho do futebol Benfiquista, embora pelas razões conhecidas não se tenha conquistado a terceira Taça dos Campeões Europeus, perdendo-se em Wembley talvez a final mais fácil da nossa História.


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Riera, Cabrita e Caiado. Os três Fernandos a celebrar mais uma vitória do Benfica!


Vieram depois as eras Czeiler e Schwartz, sempre com conquistas e com equipas mostrando um grande futebol. A epopeia Benfiquista era coroada de sucessos nacionais, mas, por alguns detalhes, a glória europeia não mais voltou. E nem sempre houve perspicácia em saber manter as melhores apostas, como foi por exemplo o caso do excelente treinador Elek Schwartz...


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Caiado, treinador adjunto de Elek Schwartz, na equipa Benfiquista que disputou e venceu a Taça de Portugal de 1965.


Em meados de 1965, após a partida de Schwartz, e com o regresso de Guttmann ao Benfica, seria de esperar que Caiado continuasse no Benfica. Assim não foi, e do ponto de vista do Benfica, terá sido talvez um erro. O regresso de Guttmann foi infeliz, ao mesmo tempo que Otto Glória ganhava o campeonato em Alvalade...

Ora, em 1966, o selecionador nacional era Manuel da Luz Afonso, figura prestigiada ligada ao Benfica, e profundamente ligado às glórias europeias do Clube. Apesar dessa filiação clubística, Manuel da Luz Afonso era uma figura respeitada por todos os sectores do futebol nacional. Como treinador de campo foi escolhido Otto Glória, que dois anos antes tinha orientado o FC Porto e como atrás se disse, nesse mesmo ano tinha sido campeão orientando o Sporting CP. E nessa função de treinador da selecção nacional portuguesa, Otto Glória não teve dúvidas, chamando Fernando Caiado para o auxiliar. Caiado foi um dos "magriços", nas funções de treinador adjunto.


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Caiado, treinador adjunto na equipa técnica que liderou Portugal no Mundial 1966.


E que extraordinária aventura seria essa participação portuguesa no Mundial de Inglaterra, em 1966...

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Quatro magriços: três jogadores e um treinador. Fonte: AML


Concluído o Mundial de 1966, Otto Glória foi para o Atlético de Madrid. Fernando Caiado decidiu assumir o papel de treinador principal, aceitando um convite do SC Braga, que tinha acabado de vencer a sua primeira Taça de Portugal. Em 1966-67, com Caiado ao leme, os bracarenses conseguiram um 9º lugar no campeonato nacional e chegaram a uma meia-final da Taça, perdida para a Académica.

No final dessa temporada, Caiado recebeu um convite do SCP. Surpreendente? Talvez não! É preciso considerar que nos 7 anos anteriores, o Benfica tinha sido duas vezes campeão europeu e ido a mais duas finais. Tinha sido 5 vezes campeão nacional (1959-60, 1960-61, 1962-63, 1963-64, 1964-65). E, como noutros períodos históricos (1907, 1914, etc, etc) de avassalador domínio benfiquista, o Sporting decidiu tentar transplantar a capacidade competitiva e vencedora inerente à mística benfiquista. Como? Recrutando Benfiquistas!

Entenda-se que dizer isso não se coloca em causa o indiscutível valor profissional de Fernando Caiado, mas esse convite sportinguista só podia ser entendido como o reconhecimento de que a receita de sucesso estava no outro lado da segunda circular. Caiado era considerado um discípulo de Otto Glória e de Béla Guttmann e isso era um cartão de mérito indiscutível.

Fernando Caiado aceitou o desafio, tornando-se o treinador do SCP durante cerca de 16 meses. Completou o campeonato de 1966-67 num 2º lugar, a 4 pontos do campeão Benfica (https://www.wikisporting.com/index.php?title=1967/68). O título foi perdido nas jornadas finais, depois de um dérbi na Luz, ganho pelo Benfica que, entretanto, tinha contratado... Otto Glória! Voltas e revoltas...

Caiado ainda iniciou a temporada seguinte como treinador, mas os bons resultados continuaram a não aparecer, acabando por sair à sétima jornada, sem que com isso fosse beliscada a sua imagem de profissional digno e conhecedor (https://www.wikisporting.com/index.php?title=1968/69). Outros destinos viriam.


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Foram 16 meses como treinador do SCP. Fonte: DL


Nos 10 anos seguintes, Caiado percorreu alguns dos mais prestigiados clubes primo-divisionários de então. No Vitória de Guimarães chegou a disputar uma final da Taça de Portugal, mas perdeu (e logo) para o Boavista (1975-76)... Era metódico e rigoroso, preparando com grande cuidado os jogos da sua equipa. Deixou sempre uma imagem competente e conhecedora do seu ofício.


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Quadro abreviado da carreira de Fernando Caiado como treinador de futebol.


Em 1979, concluída a primeira era Mortimore, e após a perda frustrante de dois campeonatos, a direção Benfiquista liderada por Ferreira Queimado chamou novamente Caiado, desta vez para ser adjunto de Lájos Baroti. Com o prestigiado treinador húngaro, Caiado formou uma dupla de sucesso, que conquistou de forma brilhante o campeonato de 1979-80.

Na temporada seguinte não se viu o mesmo futebol, mas antes uma equipa fustigada com lesões e com algum azar competitivo. Nessa temporada, Toni, a convite de Baroti, já tinha reforçado a equipa técnica, mas percebeu-se que era tempo de mudança na liderança da equipa.


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Fernando Caiado e Toni (treinadores adjuntos), Lájos Baroti (treinador) e Prof. Monge da Silva (preparador físico).


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Fernando Caiado, adjunto de Baroti e um plantel de grande qualidade.


O novo presidente, Fernando Martins, decidiu então apostar num treinador jovem e ambicioso, o sueco Sven Goran Eriksson, aureolado pela conquista da Taça UEFA ao leme do IFK Goteborg.

Para adjuntos, o sueco aceitou Fernando Caiado e Toni, ou seja os adjuntos de Baroti na temporada anterior. E, claro, o sueco sentiu-se muito mais à vontade com a personalidade e métodos de trabalho de Toni, com o qual não tinha uma diferença geracional, mas também com quem partilhava a sua visão do jogo e dos métodos de trabalho.

Eriksson foi uma lufada de ar fresco no futebol português, trouxe inovações táticas, de metodologias de treino e uma nova visão da preparação dos jogos, responsabilizando muito mais os jogadores, rompendo com a tradição dos longos estágios e dessa forma com uma prática mais rígida e controladora. Foram duas temporadas de grande sucesso desportivo. Inesquecíveis!


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Caiado, treinador adjunto de Sven Goran Eriksson (1982-83)


Não deixando de contribuir para o sucesso da primeira era benfiquista do sueco, tinha chegado o tempo da partida de Fernando Caiado. Com uma longa missão de serviço cumprido, e de forma brilhante, ao Clube, o leceiro deixava o Benfica. Deixou uma imagem de um profissional digno e de exceção, de uma enorme dedicação ao Benfica, mesmo que em alguns momentos não fosse consensual entre os jogadores, sempre muito mais sensíveis a uma visão menos rigorosa e em certa medida, menos exigente, das suas obrigações e responsabilidades como futebolistas do Sport Lisboa e Benfica.


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Fernando Caiado (1925-2006), uma dedicação ao Sport Lisboa e Benfica. Obrigado, Fernando Caiado!



Fernando Caiado, faleceu na sua residência na cidade do Porto, no dia 12 de novembro de 2006, contando com 81 anos de idade, vítima de uma doença prolongada. Foi sepultado no cemitério de Aldoar. Que descanse em paz.


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Fernando Caiado nos seus anos finais.


Obrigado, Fernando Caiado!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 29 de Setembro de 2022, 00:08
Red VC, o médico que não está identificado na primeira foto acho que é o Dr. Sousa Pinho.
Mais um pedaço de história fantástico.Obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 29 de Setembro de 2022, 00:27
Citação de: Alexandre1976 em 29 de Setembro de 2022, 00:08
Red VC, o médico que não está identificado na primeira foto acho que é o Dr. Sousa Pinho.
Mais um pedaço de história fantástico.Obrigado.


Provavelmente é o Dr. Pinho. Tenho uma ligeira dúvida e por isso é que não identifiquei. Como sabes fiz um trabalho extenso sobre muitos dos médicos e dos enfermeiros-massagistas que serviram o Clube desde os primeiros anos.

Falei do Dr. Pinho logo no primeiro de 5 textos:


https://serbenfiquista.com/forum/memorias/25/decifrando-imagens-do-passado/53816/1050

Texto -275- Ases com mãos de oiro - parte I

Nesses anos haviam dois médicos a servir o Clube.Para além do Dr. Pinho havia um outro que agora não consigo encontrar o nome. Nunca vi uma fotografia desse outro e como o médico da fotografia inicial do texto parece ter (ainda) menos cabelo do que o que conhecia do Dr. Pinho, decidi não identificar.

Aidna assim, é bastante provável que fosse o Dr. Pinho por isso aceitei de bom grado a tua sugestão. Sempre apreciadas as sugestões de correções  O0  Obrigado.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 29 de Setembro de 2022, 00:37
Realmente tens razão,é um bocado complicado saber se é o Dr.Pinho sendo que como dizes existia outro medico no clube.Até pode ser um dirigente do clube.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 03 de Outubro de 2022, 20:42
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O primeiro tango (parte I): de La Plata a Lisboa

Dia 1 de fevereiro de 1937, Estádio Gasómetro de Boedo, Buenos Aires, Argentina.


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A seleção argentina, vencedora da Copa América de 1937, com o avançado centro Alberto Zozaya em destaque


A Copa América de 1937, na altura designada por Campeonato Sul-Americano, disputou-se na Argentina, desde o final de dezembro de 1936 até ao primeiro dia de fevereiro de 1937. Nesse estádio, propriedade do San Lorenzo de Almagro, a seleção da casa venceu a competição, depois derrotar o Brasil num jogo de desempate (ver: https://pt.besoccer.com/competicao/tabela/copa-america/1937).

Entre os 11 jogadores argentinos, reconhece-se o avançado-centro Alberto Máximo Zozaya, "Don Padilla". Essa foi a única competição que Zozaya conquistou com a camisola alviceleste. Com 5 golos marcados, Zozaya foi melhor marcador argentino e o segundo melhor da competição.


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A seleção argentina de 1937, com Alberto Zozaya em destaque


Quinze anos mais tarde, Alberto Máximo Zozaya, tornou-se o primeiro treinador argentino do futebol Benfiquista.


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Esquerda: anúncio da contratação de Zozaya em agosto de 1953. Fonte: DL


Zozaya foi contratado para ser treinador da equipa principal em agosto de 1952, sucedendo a um homem da casa, o dedicado Cândido Tavares, que por sua vez tinha substituído o inglês Ted Smith que, por problemas pessoais, tinha abandonado o clube.

Nesse final de temporada, Cândido Tavares orientou um plantel que perdeu o título de campeão para o Sporting CP, mas que conquistou a Taça de Portugal, após uma vitória épica de 5-4 contra o rival leonino.


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15 de junho de 1952, as 3 equipas que disputaram a Taça de Portugal de 1951-52.


A contratação de Zozaya, técnico argentino desconhecido, entende-se num contexto em que o futebol sul-americano estava muito valorizado depois das espantosas exibições (e resultados) que uma equipa do San Lorenzo de Almagro fez, alguns anos antes, em janeiro-fevereiro de 1947, em Lisboa (10-4 a um misto SLB-SCP-CFB) e no Porto (9-4 ao FCP).

Nunca se tinha visto uma equipa dotada de tanta técnica e de um jogo coletivo tão preciso, harmonioso e concretizador. Foi um choque e um fascínio que teria implicações em todos os principais clubes de Portugal. Na altura escrevia-se na revista Stadium

"O seu jogo veio revolucionar o futebol da Península, despertando a atenção de todos para o treino e preparação dos jogadores, a qual não deverá começar quando os praticantes entram para os clubes, mas numa idade menos avançada." "O San Lorenzo caracterizara-se mais uma vez pelo valor do seu formidável conjunto, servido pelos mais perfeitos dominadores de bola que jamais vimos." (ver mais: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Stadium/1947/N218/N218_item1/P2.html).


"Don Padilla"


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Alberto Máximo Zozaya (1908-1981)


Alberto Máximo Zozaya, nasceu em 13 de abril de 1908, em Urdinarrain, pequena localidade, hoje com menos de 10.000 pessoas, pertencente ao distrito de Gualeguaychú, província de Entre Rios, Argentina. Era um de dez irmãos, tendo começado a jogar futebol aos 11 anos no Juventude Unida e aos 14 transitado para o Central Entrerriano, ambos pequenos clubes da sua vila. Ao mesmo tempo estudava, ambicionando talvez tornar-se escrivão, quiçá mesmo advogado...

Zozaya foi uma das grandes figuras históricas do Club Estudiantes de La Plata, onde fez carreira notável como jogador, a partir do final da década de 1920 e durante toda a década de 30. Era um avançado centro, excelente cabeceador, e muito prolífico. Ainda hoje é o terceiro maior goleador de sempre do clube, com 144 golos marcados ao longo de 10 temporadas, número significativa para a época.

Foi descoberto pelo Estudiantes quando, em 1929, jogaram contra o Central Entrerriano. Zozaya manteve-se no clube durante 10 temporadas, saindo apenas em 1940, quando já estava prestes a abandonar o futebol, para fazer alguma no Racing Avellaneda e nos uruguaios do Bella Vista. Uma grave lesão muscular ditaria o fim da sua carreira de jogador.


Estudiantes, um grande não tradicional...

Fundado em 1905, o Estudiantes de La Plata equipa de camisola com listas verticais vermelhas e brancas e tem como mascote o Leão. Sendo o principal clube de La Plata, província da zona de Buenos Aires (https://pt.wikipedia.org/wiki/Club_Estudiantes_de_La_Plata) tem como maior rival da cidade, o Gymansia y Esgrima de La Plata, que equipa de azul e branco e tem como mascote o Lobo (https://pt.wikipedia.org/wiki/Club_de_Gimnasia_y_Esgrima_La_Plata).

Existe uma estimativa que aponta para que os dois clubes tenham um número similar de adeptos (ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Campeonato_Argentino_de_Futebol). Aspecto pitoresco é que os leões vermelhos (Estudiantes) e os lobos azuis (Gymnasia) também têm alcunhas bem mais pitorescas, os primeiros como "pincharratos" (fura-ratos) e os segundos como "triperos" ou "lixeros". Tudo dito sobre as rivalidades na cidade de La Plata...


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Os dois clubes rivais da de La Plata. Alcunhados de Lobos (Gymnasia, de azul e branco) e Leões (de vermelho e branco). Figurando estão dois dos seus craques da década de 30: Naon (Gymnasia) e Zozaya (Estudiantes). Fonte: wikipedia e El Gráfico.


Ao longo da sua história, o Estudiantes já conquistou 6 títulos de campeão argentino (1913, 1967, 1982, 1983, 2006 e 2010) enquanto que o rival da mesma cidade, o Gymnasia tem apenas 1 título de campeão argentino (1929).

Mas a maior distinção e orgulho do Estudiantes resulta de já ter conquistado 4 taças dos Libertadores da America (1968, 1969, 1970 e 2009) e uma taça Intercontinental (1968). O Estudiantes foi, aliás, o primeiro clube a conquistar 3 taças Libertadores seguidas e só não foram 4 porque perderam a final de 1971...

A Taça Libertadores da América, oficialmente CONMEBOL Libertadores, é a principal competição de futebol entre clubes profissionais da América do Sul, organizada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) desde 1960. É o equivalente sul-americano à Champions League.

Estranhamente, apesar de tão grande destaque internacional, o Estudiantes não é tradicionalmente incluído no grupo dos grandes do futebol argentino, sendo essa distinção dada a 5 outros clubes (https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_grandes_do_futebol_argentino), três de Buenos Aires e dois de Avellaneda. Se compararmos vemos:

CA Independiente (7 Libertadores, 2 Intercontinentais e 16 campeonatos argentinos),

CA Boca Juniors (6 Libertadores, 3 Intercontinentais e 34 campeonatos argentinos),

Racing C Avellaneda (1 Libertadores, 1 Intercontinental e 18 campeonatos argentinos),

CA River Plate (4 Libertadores, 1 Intercontinental e 37 campeonatos argentinos),

CA San Lorenzo de Almagro (1 Libertadores e 15 campeonatos argentinos).


A diferenciação dada pela tradição parece assim estar assente no número de títulos internos e no número de adeptos.



Los Profesores

O ano de 1931, foi o primeiro do futebol profissional na Argentina. Apesar do Gymnasia de La Plata se ter sagrado campeão pela única vez na sua história em 1929, seria o Estudiantes que mais se destacaria nessa transição para o futebol profissional. De facto, apesar dos pincharratas terem ficado em 3º lugar, nesse primeiro campeonato de 1931 ganho pelo Boca Juniors, Zozaya ficou registado como o primeiro jogador a marcar um golo no futebol profissional. Foi também o maior marcador desse campeonato, onde o Estudiantes atingiu a impressionante marca de 104 golos marcados. O poder de fogo da linha atacante dos pincharratas seria a sua imagem de marca.

Ora, no início da década de 30, o Estudiantes dispôs de uma linha atacante temível, mítica, denominada Los Profesores, que integrava as suas 5 grandes estrelas: Lauri - Flecha de Oro, Scopelli - el Conejo, Zozaya - Don Padilla, Ferreira - el Piloto Olímpico e Guaita - el Indio.


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Los Profesores, nos seus dias áureos da década de 30


A curiosa alcunha de Zozaya parece que teve a sua génese num evento que fez parte das comemorações do centenário da independência da Argentina, em 1910. Nessa ocasião, e durante a visita da Infanta Isabel da Espanha, foi organizado um campeonato de adestramento de potros, vencido por um famoso cavaleiro chamado Magín Padilla. Ao que parece, quando tinha 7 ou 8 anos, Zozaya, que cresceu no campo, foi montado num bezerro pelos seus irmãos mais velhos que queriam a testar a habilidade natural do mano. Entusiasmados porque o petiz nunca mais caía do bezerro, os manos lá o foram encorajando aos gritos de "Padilla, viejo nómas!", comparando-o ao famoso cavaleiro. Ficou para a vida...


Voltando a "Los Profesores", segundo alguma imprensa desportiva da época o quinteto terá sido a "primeira grande expressão da arte coletiva dentro de um campo de futebol". Mas, como no futebol moderno, também em 1933, o quinteto se desfez, com as saídas de Scopelli e Guaita para Itália (ambos chegaram a jogar na seleção italiana), e de Lauri para França (também jogaria pela seleção gaulesa)...

Mesmo que só tenham jogador juntos 3-4 anos, ficou, para sempre, a memória desse virtuosismo, e a amizade, celebrada em diversas reuniões nas décadas seguintes.


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Los Profesores, na mesma ordem, mas já na década de 60.


Há também um interessante vídeo que nos relata a história deste quinteto.


https://www.youtube.com/watch?v=xCu8WlZzCHk (https://www.youtube.com/watch?v=xCu8WlZzCHk)



Scopelli, e o Benfica

Companheiro de Zozaya, no Estudiantes e na seleção argentina, "Lo profesor" Scopelli também fez parte da sua carreira de treinador em Portugal, tendo-se inevitavelmente cruzado com o Benfica.


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Scopelli e Zozaya na seleção argentina


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Dois jogadores mediáticos. Scopelli (de pé) e Zozaya (sentado) envergando a camisola alviceleste.


Alejandro Scopelli (1908-1987) chegou a Portugal em 1939, fugindo de Paris, forçado a deixar para trás o Racing de Paris, onde jogava desde 1938, já depois de também ter passado pelo Red Star (Paris) e pela AS Roma. Chegou a Lisboa para jogar e treinar no CF "os Belenenses" (1939-41), tendo aliás sido nas Salésias que iniciou a sua carreira de treinador.

Finda a sua primeira passagem pelo CFB, e após treinar durante 4 anos no Chile, regressou ao CFB (1947-48), tendo depois saltado entre Espanha e Portugal durante diversas temporadas. Em Portugal teve passagens pelo FCP (1948-49) e pelo SCP (1955-56), tendo, já perto do final da sua carreira, voltado ao CFB (1972-74). Deixou sempre uma excelente imagem, particularmente no Restelo, onde ainda hoje é recordado com carinho e admiração.

E, apesar de nunca tendo jogado ou treinado no Benfica, Scopelli acabou por ficar indiretamente ligado a diversos episódios relevantes da História do Glorioso. Para nosso deleite, salientemos três desses episódios.

O primeiro, aconteceria no dia 24 de abril de 1955, aquando da última jornada da temporada de 1954-55. Scopelli era então treinador do SCP, que o contratou em fevereiro de 1955, depois do despedir o húngaro József Szabó. À partida para essa última jornada, o CFB liderava o campeonato com 1 ponto de avanço sobre o Benfica e 2 sobre o SCP. Os três clubes podiam ser campeões, dependendo da conjugação de resultados.

O CFB recebia o SCP e o Benfica recebia o Atlético. Nas Salésias, nos últimos minutos de jogo, os sportinguistas impuseram aos azuis do Restelo um empate (2-2) ... Ao mesmo tempo o Benfica vencia o Atlético por 3-0, sagrando-se campeão nacional! Scopelli, terá então desabafado "Uma coisa é a simpatia, outra é a profissão". Scopelli foi profissional, impondo aos azuis do Restelo uma das maiores feridas da sua história.


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Drama nas Salésias e Festa na Luz!


O segundo episódio, que também aconteceu durante a temporada de 1954-55, deu-se quando o Benfica venceu o Sporting no Estádio do Jamor, conquistando a 14ª Taça de Portugal da sua História. A equipa de Scopelli não conseguiu travar a de Otto Glória, vencendo por 2-1, com dois golos do pequeno e letal Arsénio. Scopelli queixou-se da má fortuna, da lesão de Travaços e da dureza do adversário...


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A equipa do SL Benfica que conquistou a Taça de Portugal, vencendo o Sporting CP, no dia 12 de junho de 1955.


O terceiro episódio esteve ligado à disputa da primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1955-56. O representante português nomeado foi o Sporting, 3º classificado na temporada finda! A equipa do SCP ainda era orientada por Scopelli (seria demitido em abril de 1956). Ora, o exotismo desse convite decorre de que o Sporting foi convidado em detrimento do campeão nacional, Benfica e do 2º classificado, o Belenenses da temporada anterior...


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Alejandro Scopelli e Otto Glória


Ao que se diz, o jornal L'Equipe, organizador dessa edição inaugural da competição, fez o convite ao SCP apenas porque recebeu essa sugestão por parte da... FPF! É claro que nunca apareceram documentos oficiais da FPF a comprovar o rumor, mas isso já nos acostumamos, e em diversas outras ocasiões. Uma vez mais, os benfiquistas foram "beneficiados" durante o Antigo Regime.

De pouco serviria essa benesse ao SCP, uma vez que seriam eliminados logo na 1ª eliminatória pelo Partizan de Belgrado. O maior feito de Scopelli, como treinador, seria obtido em Espanha, à frente do Valência, quando conquistou a Taça das Cidades com Feira de 1962-63.


No próximo texto falaremos da curta estadia de Alberto Zozaya no Benfica.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Outubro de 2022, 21:13
-333-
O primeiro tango (parte II): meio ano em Lisboa

Equipa principal de futebol do Club Estudiantes de La Plata. Vencedores da "Copa de la Republica" de 1945.


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Alberto Zozaya, treinador da equipa do Club Estudiantes de La Plata em 1945


Em 1945, cerca de 5 anos após terminar a carreira de jogador, Alberto Zozaya assumiu o cargo de treinador da equipa principal do "seu" Club Estudiantes de La Plata. Logo no primeiro ano venceu a "Copa de la República" (uma das antecessoras da Copa Argentina, atual competição a eliminar, similar à Taça de Portugal). Manter-se-ia no cargo até 1949, fazendo ainda uma campanha destacada na temporada de 1947-48, embora sem conquistar qualquer título.


Zozaya no Benfica

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Desde 1929 que os adeptos do Benfica se habituaram a ver treinadores estrangeiros no banco de suplentes. Em 1952, era o quinto que tinha tido essa honra e responsabilidade. O primeiro foi o checo Arthur John (1929-1931), seguido pelos húngaros Lipót Hertzka (1936-39, 1947-48) e János Biri (1939-47) e finalmente pelo inglês Ted Smith (1948-50).

A chegada de Alberto Zozaya tinha apenas o elemento exótico de ser o primeiro sul-americano, no caso argentino. Não seria o último.

Ainda não faço ideia de como a direção Benfiquista terá chegado ao nome e ao contato de Zozaya. Com a informação por ora disponível, e apesar do prestígio que o futebol argentino então tinha, é estranho que Ferreira Bogalho e seus companheiros de direção, eleitos em março de 1952, tenham dado o comando da equipa principal de futebol a um treinador que, aparentemente, tinha pouca experiência e pouco destaque no seu país.

Quando Zozaya foi contratado, em agosto de 1952, encontrou uma equipa que precisava de reconstrução e rejuvenescimento, após a perda de dois campeonatos para o SCP.

Em 1950-51, ainda na ressaca da vitoria na Taça Latina, e ainda sob o comando do inglês Ted Smith, o Benfica tinha comprometido a temporada ao sofrer as consequências do desgaste de uma longa digressão por África.

No entanto, em 1951-52, a equipa voltaria a fraquejar, numa temporada marcada pela abrupta saída de Ted Smith, que alegou razões pessoais, e da sua substituição por Cândido Tavares, dedicado homem da casa. Em ambas as temporadas, o melhor que se conseguiu foi a conquista da Taça de Portugal.

Nessa nova temporada de 1952-53, o Benfica vivia também um contexto interno complexo embora empolgante, uma vez que estava prestes a iniciar-se a epopeia da construção do Estádio da Luz. E, apesar da prioridade da Direção Benfiquista ser a edificação do novo estádio sem que com isso o Clube ficasse endividado, ainda assim Ferreira Bogalho e seus homens, não deixaram de investir em contratações relevantes para um plantel que precisava de melhorias e rejuvenescimento.

Durante toda temporada, a equipa de futebol ainda jogaria no envelhecido Campo Grande, que com o seu pelado e bancadas de madeira, apresentava cada vez menos condições e que não era de todo condizente com a grandeza do Clube. Ainda assim continuava a ser a casa do Benfica e somente nos jogos contra o Sporting, o palco escolhido seria o majestoso Estádio Nacional.


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Um jogo no Campo Grande contra o Vitória de Guimarães. Fonte: Helena Águas.


Para 1952-53 foram contratados 9 jogadores: o guarda-redes Garcia (?), o defesa Ângelo Martins (ex-Académico do Porto), os médios António Rosa (ex-Estrela de Portalegre), Fernando Caiado (ex-Boavista) e Monteiro (ex-Candal), e os avançados Veirinha (ex-Estoril), Gonzaga (ex-Estoril), Zézinho (ex-Montijo) e Mário Rui (ex-Belenenses, embora fosse um regresso). Todos eles eram atletas de valor, embora quatro viessem a justificar mais a aposta do Clube. Ângelo trazia mais força e genica para o sector defensivo, enquanto que Caiado, Vieirinha e Zézinho foram apostas regulares para o sector ofensivo, durante grande parte da temporada.


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As aquisições mais impactantes na temporada de 1952-53


No sentido oposto, saíram do plantel 12 atletas: os guarda-redes Rosa, Braúlio, e Furtado, o defesa Cesário, o médio Gomes Reis e os avançados Manero, Mascarenhas, Caraça, Batalha, Lara, Taborda e José da Costa.

Houve por isso uma redução do plantel, num tempo em que era frequente integrarem cerca de 30 jogadores. Como ainda não eram autorizadas as substituições durante as partidas de futebol, muitos jogadores eternizavam-se na categoria de reservas, sem oportunidades na equipa principal, até que eram dispensados. Na perspetiva das direções, planteis vastos eram considerados um indicador da robustez desportiva e financeira do clube, ao mesmo tempo que davam opções de escolha aos treinadores. Essa visão apenas mudaria – e drasticamente - no final da década, com a chegada de Béla Guttmann.

As contratações para 1952-53 foram racionais, aumentando a qualidade global, ao mesmo tempo que rejuvenesciam o plantel. Para lá do grande capitão Francisco Ferreira, que teve a sua festa de despedida a 9 de setembro de 1952, algumas das maiores figuras estavam já numa fase de declínio: os defesas Félix, Fernandes, Jacinto Marques e os avançados Rogério Pipi e Julinho. Outros havia que mesmo sendo considerados valores sólidos da equipa, acabariam por não ficar muito mais anos, à medida que foram chegando reforços de grande valor nas temporadas seguintes. Ferreira Bogalho e seus homens foram sempre muito diligentes no reforço dos planteis, criando uma base que anos mais tarde nos daria a glória europeia.


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Os 20 jogadores utilizados no campeonato nacional de 1952-53. Dispostos de cima para baixo e da esquerda para a direita por ordem decrescente de utilização.


Um percurso de (poucos) altos e (muitos) baixos


Os primeiros jogos, de carácter particular, orientados por Alberto Zozaya até deram boas indicações, obtendo-se duas vitórias sobre o FCP (1-0 e 3-2) e um empate com o SCP (2-2). No entanto, para o Benfica, o campeonato começou logo com duas derrotas, que geraram apreensão nos adeptos e alguma tensão na equipa. Em Setúbal, mesmo com uma grande comitiva de adeptos benfiquistas presente no Campo dos Arcos, o Benfica perdeu (1-2), num jogo arbitrado por Inocêncio Calabote... Uma semana depois, jogando no Estádio Nacional, na receção ao SCP (2-3), a equipa voltou a não conseguir mostrar futebol convincente. Segundo Tavares da Silva, jornalista e por diversas vezes selecionador nacional, o Benfica mostrou propensão ofensiva e velocidade, mas sem grande jogo coletivo.

Vieram depois 3 vitórias robustas, mas quando se pensava que a equipa estava a melhorar, sofreu nova derrota, desta vez nas Antas, a nova casa do FCP (1-2). Nesse jogo, apesar de termos entrado a dominar e de termos marcado primeiro por Águas, uma desatenção da defesa permitiu o empate ainda na primeira parte. Na segunda parte, e com Félix fisicamente debilitado, o Benfica continuou dominador, mas um golo polémico, altamente contestado pelos nossos jogadores, acabou por dar o triunfo ao FCP. Foi uma derrota bastante penalizadora e injusta, mas como nenhum candidato se mostrava muito superior, e tendo apenas 2 pontos de atraso para o SCP, CFB e FCP, a nossa equipa mantinha-se na luta.


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Derrota no Jamor contra o SCP. Fonte: Helena Águas.


Veio depois uma série de 8 jogos que nos trouxeram 7 vitórias e 1 empate em Guimarães, chegando à vice-liderança, a 2 pontos do Sporting. Assim a liderança do campeonato jogar-se-ia na 15ª jornada, no 2º jogo da 2ª volta, contra o SCP, num jogo arbitrado por Inocêncio Calabote. Tal como o jogo da 1ª volta, a partida foi disputada no Jamor, e uma vez mais o SCP venceu por 3-1.

Foi um momento definidor. Com essa vitória, o SCP aumentou a diferença para 4 pontos, ficando instalada, no Benfica, a sensação de que a conquista do campeonato estava altamente comprometida. Essa convicção ditou o afastamento de Zozaya.

Para o substituir, o presidente Bogalho e a direção Benfiquista chamaram novamente Ribeiro dos Reis, que uma vez mais voltou a formar uma equipa técnica com José Simões, deixando o trabalho de campo a Francisco Ferreira, retirado dos campos no início dessa mesma temporada.


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A equipa técnica nomeada para liderar o futebol Benfiquistas, após a saída de Alberto Zozaya


Ribeiro dos Reis, pelo prestígio de longos anos de serviço, e pela sua posição como Presidente da Mesa da Assembleia Gera, era a figura nº 1 do Clube. Teórico, altamente conhecedor do futebol, antigo selecionador nacional e que por diversas vezes liderou ao nosso futebol, era um homem certo para enfrentar aquele momento. Impunham-se mudanças.

E de facto, ou por eventuais limitações físicas, ou pelo reconhecimento do mau momento de forma, ou até pela necessidade de agitar as águas, Ribeiro dos Reis, reformulou a linha ofensiva do Clube, dando descanso a figuras como Arsénio e Rogério. Fez também Fernando Caiado avançar no terreno, manteve Veirinha e Zézinho na equipa, e lançou Rosário no ataque e Ângelo Martins na defesa. Os consagrados Félix, Rogério e Arsénio voltariam às escolhas da equipa apenas numa fase mais tardia da temporada, voltando a demonstrar a sua classe.


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A linha avançada modificada, que foi a aposta inicial de Ribeiro dos Reis após a saída de Zozaya


No final das 26 jornadas, o Benfica manteve os 4 pontos de atraso, embora assegurasse o 2º lugar. Uma vez mais a Taça de Portugal seria o objetivo, a compensação para mais uma temporada menos bem conseguida.

E seria conquistada, de forma brilhante, impondo ao FCP uma derrota esmagadora de 5-0, que na altura era treinado por Cândido de Oliveira, amigo de uma vida de Ribeiro dos Reis, embora sempre com a máxima de "amigos, amigos, Benfica à parte!"


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Vitória na Taça de Portugal de 1951-52. Vitória de 5-0 sobre o FC Porto. Legenda: a- a equipa do SL Benfica; b - Francisco Ferreira, treinador de campo abraça o jovem Ângelo Martins; c – a capitão Fernandes recebe a Taç das mãos do General Craveiro Lopes, presidente da República.



Regresso à Argentina

Em fevereiro de 1953, após ter deixado o Benfica, Zozaya terá voltado à sua cidade de La Plata, encontrando o Estudiantes numa crise desportiva e financeira, que o levaria a baixar à II divisão argentina, pela primeira vez na sua história. O Estudiantes voltaria à primeira divisão no ano seguinte, fazendo uma grande campanha nesse ano de 1954-55. Essa descida de divisão não é caso único entre os maiores clubes argentinos, pois tanto quanto percebi, apenas o Boca Juniors e o San Lorenzo de Almagro, se mantiveram sempre na 1ª divisão.

Entre 1957 e 1958, Zozaya voltou a prestar os seus serviços ao Estudiantes. O clube, que continuava a passar por dificuldades económicas, passou a basear o seu futebol no trabalho intenso e aproveitamento das suas camadas jovens, e com bons resultados.
Só na década seguinte o Estudiantes deixaria de andar pelos lugares de descida, e sob o comando do também argentino Osvaldo Zubeldía, entraria na sua era de ouro, conquistando três Taças dos Libertadores sucessivas. Entre os seus jogadores mais destacados deste período encontrava-se o argentino Carlos Bilardo.


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Alberto Zozaya, treinador da equipa do Club Estudiantes de La Plata em 1958


Não abundam as informações sobre a carreira de Zozaya enquanto treinador neste período mas terá ainda orientado equipas do Platense; Gymnasia de La Plata; Lanús e Defensores de Cambaceres, embora aparentemente sem grande destaque.

Apesar de algum exotismo da sua contratação e da brevidade da sua permanência no Benfica, Zozaya faz parte da História do Glorioso, merecendo por isso o devido destaque.

A atestar muito favoravelmente as capacidades de Alberto Zozaya, temos um testemunho muito relevante de Ângelo Martins, que vestiu pela primeira vez a camisola do Benfica, justamente lançado pelo treinador argentino. Atentemos:


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Alberto Máximo Zozaya faleceu na cidade de La Plata, em 17 de fevereiro de 1981. Que descanse em paz.



Obrigado, Alberto Zozaya

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Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 09 de Outubro de 2022, 20:15
(https://pbs.twimg.com/media/FepnP9xXwAA4dyE?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Outubro de 2022, 18:55
Citação de: Baron_Davis em 09 de Outubro de 2022, 20:15
(https://pbs.twimg.com/media/FepnP9xXwAA4dyE?format=jpg&name=medium)

Perdemos na final, contra o Athletic Bilbao. Ficou 1-2, após prolongamento.
Ganhamos no ano anterior ao Penarol por 3-0
Troféu mítico pela sua dimensão e beleza e pelo histórico impressionante de equipas e jogadores que por lá passaram. Sediado em Cadiz.

https://www.campeoesdofutebol.com.br/ramon_carranza.html
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Outubro de 2022, 20:45
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El Trotamundos (parte I): na mobilidade, há bênção


Dia 19 de julho de 1959, Estádio Nacional.

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O treinador José Valdivielso entre os vencedores da Taça de Portugal de futebol em 1958-59.


A equipa principal de futebol do Sport Lisboa e Benfica celebra a conquista de mais uma Taça de Portugal, a 13ª da sua História, após vencer o Futebol Clube do Porto por 1-0 (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19581959/taca-de-portugal/1959-07-19/sl-benfica-1-x-0-fc-porto).

A vitória ficou selada com um golo de Cavém, marcado logo aos 12 segundos de jogo! Cavém marcou o golo decisivo mais rápido de sempre das finais da Taça de Portugal!


https://www.youtube.com/watch?v=6cMnMGbPAB8 (https://www.youtube.com/watch?v=6cMnMGbPAB8)


A temporada de 1958-59 não foi fácil, pois perdeu-se o título de campeão nacional, justamente para o FCP. No entanto, naquele final de tarde, o Benfica foi mais forte e impôs a superioridade que, por vicissitudes diversas, o treinador Otto Glória e a sua equipa não tinham conseguido demonstrar durante a temporada.


Mas, Otto Glória não nos aparece na fotografia...


É que o treinador brasileiro estava de saída do Clube e, alegando que o seu contrato tinha expirado em 30 de junho, decidiu que não orientaria a equipa nos jogos disputados para lá daquela data!

Como solução de recurso, a direção Benfiquista incumbiu essa difícil tarefa, a José Alberto Valdivielso, até então treinador das camadas jovens do Clube.

Foi uma situação ainda mais corajosa do que a nomeação de Fernando Caiado, quando substituiu Béla Guttmann, para orientar "apenas" o jogo da final da Taça de 1961-62.

Valdivielso foi um profissional de futebol dedicado e competente, muito sabedor do seu ofício, e que, durante quase 10 anos (≈1953-1962), contribuiu decisivamente para os primeiros anos de profissionalização do futebol do Sport Lisboa e Benfica e para a formação de novos jogadores no Clube.

Valdivielso tem uma interessante história de vida, parte da qual dedicada ao nosso Clube. Aliás, o Benfica foi o Clube em que ele permaneceu mais tempo durante todo o seu trajeto desportivo.

A importância da sua passagem pelo Glorioso merece ser lembrada e elogiada. Dessa forma, mesmo assumindo lacunas explicadas pela escassez de informação, neste e nos próximos dois textos, iremos tentar divulgar factos relevantes dessa vida.


José Alberto Valdivielso, "el trotamundos", expressão espanhola que quer dizer "o viajante do mundo".


Argentino e "trotamundos"


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José Alberto Valdivielso nasceu em Sán Martin, Buenos Aires, Argentina, no dia 16 de setembro de 1919. Filho de pai espanhol e mãe argentina, o pequeno José Alberto cresceu na sua cidade natal, cedo mostrando interesse pelo futebol.


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Registo de batismo de José Alberto Valdivielso


Na mobilidade, há bênção...

Há um velho provérbio que nos diz: "Na mobilidade, há bênção"...

Ao que parece, desde cedo, Valdivielso incorporou esse lema de vida, transitando de clube em clube, de cidade em cidade, sempre procurando o melhor para a sua carreira. Ao permanecer cerca de 10 anos por cá, o Benfica seria uma pequena exceção nessa vida de itinerância.

Aos 18 anos, Valdivielso jogava no Central Argentino, um pequeno clube da sua localidade natal, e cujo futebol sénior, amador, militava no terceiro escalão. Seis meses depois, e por 500 pesos, foi transferido para o Club Sportivo Dock Sud, agremiação sediada na cidade de Avellaneda, e que então militava no segundo escalão.

Apenas 10 meses passados, regressou a Buenos Aires, para ser contratado pelo famoso San Lorenzo de Almagro, a troco de mil pesos e de dois jogadores. O San Lorenzo de Almagro era, e continua a ser, um dos 5 grandes clubes argentinos de futebol.

Depois, na temporada 1943-44, Valdivielso parece ter transitado pelo Chile, Equador, Perú e México.... Terá jogado, entre outros, nos mexicanos do UA Moctezuma de Orizaba e no Atlas de Guadalajara.

Na temporada 1944-45, parece ter regressado a Buenos Aires, mas, por impedimentos vindos dos regulamentos de novas inscrições, acabou por viajar para a Venezuela, onde conseguiu um contrato com o Loyola SC de Caracas, clube pertencente ao Colégio dos Jesuítas da capital venezuelana.


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Março de 1945, passagem de Valdivielso pelo Rio de Janeiro, em trânsito para Caracas.


Valdivielso era um dos apenas três profissionais do plantel do Loyola SC, que na altura ostentava o título de bicampeão venezuelano de futebol. A temporada não parece ter corrido bem, tendo o Loyola SC perdido o título, e Valdivielso saído do clube, ao que parece de forma bastante turbulenta. Não seria a última vez.


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Valdivielso nos venezuelanos do Loyola SC


Por volta de 1946, Valdivielso chegou à Europa, a Espanha, num tempo em que por lá começavam a ser permitidas as inscrições de jogadores e treinadores estrangeiros. Como referimos nos textos anteriores, nas décadas de 40 e 50, o futebol argentino estava na moda, muito por via das impressionantes digressões, na Europa, de alguns dos seus grandes clubes.


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O San Lorenzo de Almagro era uma potência futebolística durante a década de 40


Em Portugal, ficaram famosas as apresentações do San Lorenzo de Almagro em 1947 (ver: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Stadium/1947/N218/N218_master/StadiumN218_1947.PDF) e do Boca Juniors e do Independiente em 1953.

Já em Espanha, Valdivielso ingressou então no Racing de Santander, que na altura militava na segunda divisão espanhola. Em Santander, Valdivielso distinguiu-se como um excelente jogador, mesmo apesar dos fracos resultados desportivos nessa temporada do Racing.

Assim se explica que, na temporada seguinte de 1947-48, Valdivielso tenha sido contratado pelo Atlético de Madrid, tornando-se o primeiro argentino a integrar os quadros dos colchoneros.


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Valdivielso incluído numa coleção de cromos espanhola de 1948-49.


Por Madrid permaneceu durante duas temporadas, jogando mais na primeira do que na segunda temporada.


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De 1947 a 1949; durante duas temporadas, Valdivielso foi colchonero.


Jogava numa posição média no campo, sendo considerado como um jogador muito técnico, cerebral e disciplinado, mais forte nas tarefas ofensivas do que defensivas. Verdade ou não, ficou também com a fama de ter introduzido, pela primeira vez, a "rabona" no futebol espanhol. Para além disso, Valdivielso gostava também da componente tática do futebol, mostrando capacidades precoces como organizador tático e pensador de jogo. Estava ali já o germe da sua carreira de treinador.


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Um artigo do jornal "Marca", de setembro de 1947, onde se salientava o perfil de Valdivielso e o seu interesse pela componente tática do jogo.



Nas suas duas temporadas como colchonero, Valdivielso parece ter feito um total de 25 partidas, marcando dois golos. A sua principal conquista foi a "Copa del Presidente de la Federación Española de Fútbol de 1947" (ver: https://los50.es/la-copa-del-presidente-de-la-federacion-espanola-de-futbol-de-1947-el-cuarto-de-los-treinta-y-tres-titulos-del-club-atletico-de-madrid/

Num determinado momento parece que terá até ponderado a possibilidade de se naturalizar espanhol, -à semelhança de outros argentinos que jogaram nas seleções de Espanha, França e Itália. Aparentemente não terá concretizado essa eventual intenção.
No início de 1949, apesar de rumores de um forte interesse dos franceses do Saint-Étienne, Valdivielso transferiu-se para o Real Zaragoza, que por ele terá pago a então substancial verba de 125.000 pesetas. Tornou-se então o primeiro estrangeiro da história do clube e, na altura, o mais bem pago.


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Integrando o plantel do Real Zaragoza 1950-51


Também em Saragoça, jogaria mais na primeira temporada, não permanecendo por lá mais do que duas temporadas. Em meados de 1951 estava pronto para novas aventuras. Mantinha-se o padrão de vida de "trotamundos"...


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As quatro temporadas espanholas de Valdivielso. Fonte: https://www.bdfutbol.com/j/j10449.html


Aqui chegando, tenho um hiato de conhecimento da parte final da sua carreira de jogador. Pelas declarações que lemos, numa entrevista da década de 50, parece que ainda terá jogado no Brasil e em Itália...

Por volta de 1952, terá iniciado a sua carreira de treinador, chegando a Portugal, eventualmente na sequência de um interesse do GD Estoril-Praia, mas acabaria por ser contratado pelo Benfica. Presumo que terá sido contratado inicialmente para orientar as camadas jovens do Clube, ou eventualmente como preparador físico. O que é certo é que na temporada 1953-54 assumiria o comando da equipa principal de futebol do Benfica.

No próximo texto falaremos da passagem de Valdivielso pelos quadros do Sport Lisboa e Benfica.



Nota: fonte privilegiada de material apresentado neste texto, foi obtida aqui: https://twitter.com/i/events/1261392078686355459

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Outubro de 2022, 20:46
-335-
El Trotamundos (parte II): uma entrada turbulenta

Dia 19 de julho de 1959, Estádio Nacional. Final da Taça de Portugal de 1958-59.
Sport Lisboa e Benfica 1 – Futebol Clube do Porto 0.
Uma outra fotografia, um outro ângulo.

(https://i.postimg.cc/K8rTZPrR/B01.jpg)
O treinador José Valdivielso entre os vencedores da Taça de Portugal de futebol em 1958-59.


Sugestão de leitura de uma ótima evocação desta grande vitória Benfiquista:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/07/1-2-3-4-5-6-7-8-9-10-11-e-12-segundos.html


A final dos bancos "renovados"

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Valdivielso no banco de suplentes, após a expulsão de Mário João... Fonte: DL0


Como mencionamos no texto anterior, Otto Glória já não se sentou no banco do Benfica nessa final. Aliás já não se tinha sentado em todos os jogos antecedentes disputados após 30 de junho de 1959, o dia em que o seu contrato tinha expirado.

É que, naquela temporada de 1958-59, a disputa dos quartos e das meias finais da Taça de Portugal foi marcada para o mês de julho. E, como as eliminatórias eram disputadas a duas mãos, isso significa que a tarefa de Valdivielso até à desejada final, foi a de orientar a equipa em 4 jogos de alta tensão e risco.

Nos quartos de final eliminamos o Belenenses (3º classificado nesse campeonato de 1958-59) por 1-3 e 3-0, e nas meias-finais, eliminamos o Sporting (4º classificado) por 1-2 e 3-1! Foi um caminho muito duro, mas bem-sucedido.

Curiosamente, na final também no banco do FCP não estava sentado o treinador principal dessa temporada, ou seja, Béla Guttmann! O húngaro também estava de saída do FCP! Segundo alguns, estava demissionário, mas segundo o próprio, o seu contrato já tinha expirado.

Nesse dia, Guttmann até esteve nas bancadas a assistir ao jogo, dizendo que estava... de férias e que nos dias seguintes iria passar uma temporada a Zurique! Resta dizer que nessa altura os rumores já diziam que Béla Guttmann estava de saída para o Benfica! E assim seria.


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Otto Glória (1917-1986) e Béla Guttmann (1899-1981), representavam o passado e o futuro do Benfica, nessa final da Taça de Portugal de 1958-59.


Ora, Béla Guttmann tinha chegado ao FCP uns 9 meses antes, em 1 de novembro de 1958. Chegou com a temporada já a decorrer e encontrou uma equipa descrente, em crise de resultados. Mas, sem receios, operou uma verdadeira revolução na equipa titular e no modelo de jogo, conseguindo o milagre de guindar os portistas ao título, conquistado apenas pela diferença de 1 golo...

Pelo caminho, os portistas beneficiaram de algumas goleadas esquisitas e arbitragens condizentes, mas ainda hoje a generalidade dos seus adeptos replica as fantasias do chamado "caso Calabote". Replicam como se fosse verdade. Replicam, como se não tivesse sido em Torres Vedras, onde o Porto jogava nessa jornada final, que se deram expulsões decisivas para o desfecho do jogo e do campeonato! Mentir mil vezes para dar uma ilusão de verdade...

Foi neste contexto, de relações tumultuosas entre clubes e treinadores, que Valdivielso liderou a equipa Benfiquista. A Taça de Portugal de 1958-59 seria o seu único título nacional ao serviço do Benfica, em equipas seniores. Um percurso que se iniciou em 1953-54, temporada que por merecer destaque, será desenvolvida neste texto.

Com a chegada de Béla Guttmann, Valdivielso regressaria ao seu extraordinário trabalho de formador de futebolistas e treinador das camadas jovens do Benfica. Seguir-se-iam anos extraordinários para o Benfiquismo!



Uma entrada turbulenta


José Alberto Valdivielso assinou pelo Sport Lisboa e Benfica no dia 2 de fevereiro de 1954.
Segundo a documentação oficial do Clube, nessa altura, Valdivielso foi contratado para o cargo de treinador adjunto e para a "categoria júnior", ou seja, para orientar as camadas jovens.

No entanto, pelo menos alguma imprensa deu conta que Valdivielso foi contratado para assumir as funções que até então tinham sido assumidas pelo Conselho Técnico que dirigia o futebol do Benfica. Foi contratado porque Ribeiro dos Reis e José Simões, as duas principais figuras desse Conselho Técnico tinham apresentado a sua demissão.


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Fonte: DL, 4 de fevereiro de 1954


Até então, a orientação do nosso futebol era feita por um Conselho Técnico liderado por António Ribeiro dos Reis, coadjuvado por José Simões, antigos jogadores e duas grandes figuras do Benfiquismo. Como treinador de campo tínhamos Alfredo Valadas, coadjuvado por Francisco Ferreira.

Essa equipa técnica vinha já da temporada anterior, tendo sido nomeada logo após a saída do argentino Alberto Zozaya, com a exceção de Alfredo Valadas, que regressou ao Clube no início da temporada de 1953-54.


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A equipa técnica que liderou o futebol Benfiquista no princípio da temporada de 1953-54


Só que, apesar de ser uma estrutura de homens de inexcedível Benfiquismo e conhecimentos futebolísticos, nem por isso obteve resultados satisfatórios. E, nem por isso, a contestação dos adeptos deixou de se fazer sentir....

Mas as demissões não se ficaram por aí, pois Francisco Ferreira resignaria ao seu cargo de treinador adjunto, logo no dia 8 de fevereiro. Apenas Alfredo Valadas se manteve no cargo de treinador de campo até ao final da temporada, altura em que saiu para treinar o DC "O Elvas".

Com o ingresso de Otto Glória, a 21 de junho de 1954, e devidamente coadjuvado por José Valdivielso, entraria em curso a mudança do futebol Benfiquista para o profissionalismo e para a adoção de novos métodos de treino e de preparação de jogos.

A temporada de 1953-54 foi, portanto, uma época de transição para uma outra realidade, em que com a introdução do profissionalismo, o Benfica estabeleceu em definitivo a sua grandeza nacional e internacional.

Assim, chegados aqui, interessa falar do contexto dos primeiros dias – turbulentos - de Valdivielso, no Benfica, até para que no final se possam comparar as realidades do Clube, uma década depois.

E em tudo o que vai dizer, deve também perceber-se como o presidente Ferreira Bogalho não pode ser considerado "apenas" o "Homem do Estádio". É que para além das infraestruturas, Bogalho criou também as bases desportivas do Benfica Europeu. O segredo foi identificar os homens certos para essa missão gigantesca, ou seja, Otto Glória e José Valdivielso. E se o primeiro é plena e justamente lembrado e reconhecido, o segundo é hoje um quase desconhecido dos Benfiquistas. É contra esse desconhecimento que estes dois textos são feitos. Feitos em memória e em reconhecimento à obra de José Valdivielso.


Uma época de desilusões e despedidas


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Os 25 jogadores utilizados no campeonato nacional de 1953-54. Dispostos de cima para baixo e da esquerda para a direita por ordem decrescente de utilização.


José Alberto Valdivielso estreou-se a orientar o plantel principal de futebol do Benfica no dia 7 de fevereiro de 1954. Disputava-se então a 16ª ronda de um campeonato com 26 jornadas. Nesse dia, no Campo Grande, vencemos o Vitória de Setúbal, por 9-0, com 4 golos de José Águas, que tinha regressado pouco tempo antes, após debelar uma lesão prolongada.

Só que, quando Valdivielso assumiu o cargo de treinador principal, o Benfica já tinha cinco derrotas e três empates, ou seja, tinha perdido pontos em metade dos jogos disputados.... E na jornada anterior tínhamos sido goleados em Braga por 0-5, e descido para o 5º lugar, com 6 pontos de atraso para o SCP.

Assim, depois de derrotas com o VFC (Setúbal), Académica de Coimbra, FCP, SCP e SC Braga, o título de campeão era uma miragem. Em campo, as nossas equipas revelavam notórias limitações, com pouco entendimento nos diversos sectores. Havia descrédito e tensão. Tinha havido também um caso grave de indisciplina, que resultou na suspensão interna de Félix Antunes, logo na 3ª jornada.

Infelizmente, até ao final da temporada, apesar de algumas melhorias, o Benfica continuaria a fazer um campeonato irregular, com mais duas derrotas e três empates, terminando em 3º lugar, a 11 pontos do SCP e a 4 pontos do FCP.

No balanço, percebe-se que 1953-54 foi uma época de afirmação de novos jogadores como Fialho (vindo do Sport Lisboa e Bissau), Francisco Palmeiro (GD Portalegrense) e de Francisco Calado, Salvador (ex-juniores), mas também de ocasos, como o já citado Félix. Outros, como Rogério Pipi, Moreira, Rosário, Mário Rui, Fernandes, teriam aqui a sua última temporada, embora a maioria até tivesse jogado muitas vezes.

E foi neste cenário de maus resultados desportivos e de profundas mudanças, que a direção Benfiquista teve o discernimento de não dispensar os serviços de Valdivielso, valorizando o seu profissionalismo e conhecimentos. Essas enormes capacidades de trabalho foram muito bem usadas em benefício do Clube, passando a treinar as camadas jovens, e a dar apoio de campo ao novo treinador. E, nos anos seguintes, Otto Glória, primeiro, e Béla Guttmann, depois, beneficiariam muito do apoio de Valdivielso.


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Sport Lisboa e Benfica, plantel campeão nacional de 1956-57. José Valdivielso está assinalado ao meio, por trás de Otto Glória.


Nos seus tempos de trabalho conjunto, Valdivielso dizia que tinha uma perfeita camaradagem com o Otto Glória, e que isso servia maravilhosamente para o bem do Clube.


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Fonte: BND


Também com Béla Guttmann, estabeleceu uma boa colaboração, de tal forma que, como nos disse Alberto Miguéns (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/05/ha-60-anos-na-india.html), foram indicações de Valdivielso que levaram o húngaro a aceitar a reformulação da política de formação do quadro de reservas para 1960-61, privilegiando os jogadores formados nas camadas jovens e não jogadores contratados a outros clubes.


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Uma das fornadas de José Valdivielso


Valdivielso era então uma peça chave no departamento de futebol, e sabia bem da qualidade que estava a ajudar a apurar, no seu labor diário. Sabia que os jovens jogadores dessa fornada deveriam manter-se reunidos em benefício do Benfica.

Ao mesmo tempo, Valdivielso era também um divulgador dos seus conhecimentos técnicos e táticos, publicando artigos no nosso jornal.

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Fonte: jornal "O Benfica"


Mas, talvez a mais importante contribuição de Valdivielso tenha sido a sua ação como formador de novos jogadores que enriqueceram as nossas equipas principais.

No próximo texto falaremos, brevemente, dessa faceta


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 12 de Outubro de 2022, 20:55
-336-
El Trotamundos (parte III): forjador de campeões


Um artigo de "O Benfica Ilustrado", revista do Clube

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Artigo de "O Benfica ilustrado" salientando o trabalho de José Valdivielso na formação.


Durante os quase 10 anos que permaneceu no Benfica, José Valdivielso ganhou cerca de uma vintena de títulos nacionais, orientando as equipas das camadas jovens. Só em juniores, entre 1954-55 e 1961-62, em 9 campeonatos possíveis, o Benfica conquistou 7, ficando os restantes 2 para o SCP (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2014/02/formacao-made-in-slb.html).


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Valdivielso com o plantel de juniores, campeão nacional em 1956-57. Alguns como Mendes, Humberto Fernandes e Ramalho, chegariam à equipa principal.


Muito desse sucesso vinha não apenas dos conhecimentos técnicos que punha ao serviço da melhoria individual dos atletas e coletiva das equipas, mas também pela ambição que colocava nas competições. Era intratável, exigindo sempre que se lutasse pela vitória, e que os seus atletas lutassem como "homens".

Durante toda a década de 50, José Valdivielso foi a grande figura da formação do Benfica, dando continuidade a uma tradição longa de formação de jogadores de forma a abastecer a equipa principal. E, como lembrava, já na década de 70, pelas suas equipas jovens passaram futuras grande estrelas do futebol Benfiquista, e não só, tais como: António Simões, Cruz, Santana, José Henrique, José Torres, Gervásio, Melo, Guerreiro, Humberto Fernandes, e tantos outros....

Valdivielso seria reconhecido, e até condecorado quer pelo Benfica quer pela Federação Portuguesa de Futebol.


Uma tradição que vinha de longe

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Equipa juvenil de 1910, no campo da Feiteira, Benfica


A formação de novos jogadores, apostando em equipa de camadas jovens, foi desde cedo uma preocupação do Clube. logo na primeira década da nossa História, Manuel Gourlade e Cosme Damião, estruturaram um modelo de organização desportivo que passava por 4 categorias, mas também de equipas juvenis que dentro das limitações da época, aproveitavam o grande interesse da juventude para a prática do futebol.

A ideia era, por um lado, assegurar uma fonte de recrutamento larga a partir da qual seria selecionada e premiada a qualidade, com a ascensão dos melhores até à equipa principal, e por outro lado inculcar a Mística e os Valores do Clube através do exemplo e da convivência com elementos veteranos.

A satisfação dessas necessidades era tanto mais fundamental quanto se pensa que para além da ambição e exigência competitiva do Clube, ainda havia a tradição de jogar apenas com jogadores portugueses, algo que só mudou no final da década de 70 do século XX.

É certo que, na década de 50, quando Valdivielso chegou, o Benfica estava também a iniciar um aproveitamento bem maior e mais profícuo do viveiro das então colónias ultramarinas. No entanto, de que valeria recrutar bem se depois não se fizesse bem o aproveitamento desse talento? Foi também aí que Valdivielso deu inestimável contribuição ao Benfica.


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Os novos recrutas da temporada de 1954-55, posam com o treinador José Valdivielso. Nota-se a presença de 3 jogadores vindos das colónias: Costa Pereira, Naldo e Coluna...



Assim, ao longo das décadas, com altos e baixos, houve uma linha de continuidade nas apostas da formação no SL Benfica, mesmo aquando da profunda reformulação da estruturação competitiva das competições do futebol em Portugal, como foram as que ocorreram na década de 30.

Esta aposta continuada explica que grandes nomes da História do SL Benfica estejam associados à formação ao longo das décadas: Ribeiro dos Reis (década de 30), János Biri (40), José Valdivielso (50), Ângelo Martins (60 e 70) Fernando Caiado (80), Néné (90) e Jaime Graça (00).

Apesar de estes terem sido, provavelmente, os nomes mais destacados da longa tradição de formação no Sport Lisboa e Benfica, é preciso dizer que muitos outros deram e dão valiosa contribuição. Antes como agora, esse é um sector que deve ser privilegiado e acarinhado por todos os Benfiquistas.


Tempo de despedidas

Em 9 de janeiro de 1962, Valdivielso apresentaria a sua demissão do Benfica, por motivos que desconheço. Essa saída precedeu a de Béla Guttmann, que saiu em 7 de junho desse mesmo ano, poucos dias depois de se sagrar bicampeão europeu. Chegava ao fim uma grande dupla técnica da História do Sport Lisboa e Benfica. O Benfica soube ser grato a quem o bem serviu, e o grande presidente Maurício Vieira de Brito foi um dos intérpretes dessa gratidão.


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Valdivielso a receber manifestação pública de apreço por parte do presidente Maurício Vieira de Brito


Valdivielso seria substituído por Fernando Cabrita, que alguns meses mais tarde, juntamente com Fernando Caiado, passaria também a dar apoio técnico ao chileno Fernando Riera. Na essência, o organigrama de sucesso da orientação técnica do futebol Benfiquista mantinha-se, mas agora com outros protagonistas.


(https://i.postimg.cc/dtcg7CT8/B15.jpg)
As mudanças da orientação técnica do futebol Benfiquista. Fonte: Em Defesa do Benfica


Eram tempos de mudança para o Benfica, e no caso de Valdivielso, era o regresso à sua vida de trotamundos. Uma vez mais, trotamundos.


Novos rumos

Depois do Benfica, em 1962-63, Valdivielso aceitou um convite para assumir o comando da equipa de futebol do Sporting da Covilhã, que na altura tinha baixado para a II divisão. A decisão torna-se mais compreensível quando se percebe que na altura os serranos tinham diversos jogadores proveniente dos quadros do Benfica, alguns dos quais tinham lá chegado por via da transferência do guarda-redes Rita para a Luz. Valdivielso conhecia muito bem esses jogadores.

O Sporting da Covilhã disputava então a zona norte da II Divisão (então dividida em três zonas), um campeonato muito competitivo. Mas, no final de janeiro, no final da 1ª volta, Valdivielso renunciaria ao cargo, alegando que o plantel não lhe dava condições para fazer um trabalho em profundidade. Renunciou de forma litigiosa e atribulada, isto apesar dos serranos estarem em 3º lugar, a apenas dois pontos da liderança... (fonte: https://www.historiascc.com/index.php?option=com_content&view=article&id=633:2014-10-28-13-06-04&catid=34:treinadores&Itemid=195).


(https://i.postimg.cc/sxdHhF1V/B16.jpg)
Sporting da Covilhã, 1962-63. A sublinhado estão antigos recrutas do Benfica.


E, extremando a sua vontade de correr mundo, a etapa seguinte seria nos antípodas, pois Valdivielso aceitou um convite do Canterbury FC, clube então baseado em Sidney (https://en.wikipedia.org/wiki/Canterbury_Bankstown_FC)!

Mais tarde, regressaria à Venezuela, para orientar o Deportivo Galícia, onde se sagrou campeão nacional da I divisão, em 1964 (https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%BAtbol_Club_Deportivo_Galicia). E pela Venezuela parece que terá ocupado outros cargos e, presumo, terá residido até à sua morte.


Tempo de memórias


(https://i.postimg.cc/T1V7jkWn/B17.jpg)
Valdivielso aquando da sua visita a Lisboa, em janeiro de 1971


Em janeiro de 1971, quando era professor de futebol no Instituto do Desporto na Venezuela, e desfrutando de um período de férias em Portugal, Valdivielso visitou o nosso Clube. Fez também algumas declarações relevantes a diversos jornais portugueses, onde lembrava a sua colaboração com o Glorioso:

"Estive quase dez anos no Benfica em todas as categorias e fui o treinador da "primeira categoria" que conquistou a Taça de Portugal em 1959. "No Benfica fui forjador de vedetas e tive miúdos que foram e ainda são gente no futebol, casos do Simões, Cruz, Santana, José Henrique, Gervásio, Melo, Guerreiro, Humberto e tantos outros".

E assim, no final desta evocação, como não lembrar algumas declarações mais antigas, que nos remetem ainda para o extraordinário ano de 1955, num tempo em que Valdivielso estava ao serviço do nosso Clube há menos de dois anos....


(https://i.postimg.cc/fLXBZHC1/B18.jpg)


Valdivielso sabia bem o que falava. É que chegou quando o Clube vivia a empolgante epopeia da construção do Estádio da Luz! Aventura única, que lhe deu a imagem perfeita da grandeza única do Sport Lisboa e Benfica!

E, se compararmos, Valdivielso entrou no Benfica com o Clube em profunda crise desportiva e quando saiu o Clube estava prestes a sagrar-se bicampeão europeu de futebol. É indesmentível que Valdivielso teve uma quota importante nessa transformação competitiva do Clube. A sua ação merece ser lembrada. A sua memória merece ser honrada.


José Alberto Valdivielso faleceu em 8 de abril de 1996, com a idade de 74 anos.

Paz à sua alma. Honra à sua memória!


(https://i.postimg.cc/SQ6DvvJM/B19.jpg)

José Valdivielso (1919-1996)

Obrigado, José Valdivielso!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 15 de Outubro de 2022, 13:31
(https://pbs.twimg.com/media/FfGupfuXgAQNewt?format=jpg&name=900x900)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: dsdsds44 em 09 de Novembro de 2022, 08:41
Este tópico é simplesmente incrível.

Sempre que aqui passo fico sem palavras para descrever o trabalho do user RedVC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 09 de Novembro de 2022, 08:54
Citação de: dsdsds44 em 09 de Novembro de 2022, 08:41
Este tópico é simplesmente incrível.

Sempre que aqui passo fico sem palavras para descrever o trabalho do user RedVC.

Obrigado, dsdsds44  O0

Nos próximos tempos não haverá mais textos, mas outra coisa está em marcha.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: dsdsds44 em 09 de Novembro de 2022, 09:07
Citação de: RedVC em 09 de Novembro de 2022, 08:54
Citação de: dsdsds44 em 09 de Novembro de 2022, 08:41
Este tópico é simplesmente incrível.

Sempre que aqui passo fico sem palavras para descrever o trabalho do user RedVC.

Obrigado, dsdsds44  O0

Nos próximos tempos não haverá mais textos, mas outra coisa está em marcha.
Vou estar atento.

Eu é que tenho que agradecer porque aprendo bastantes coisas com os teus textos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 22 de Novembro de 2022, 23:30
(https://pbs.twimg.com/media/FiMHgfRXwAYm44A?format=jpg&name=900x900)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Novembro de 2022, 18:52
Citação de: Baron_Davis em 22 de Novembro de 2022, 23:30
(https://pbs.twimg.com/media/FiMHgfRXwAYm44A?format=jpg&name=900x900)

25 de maio de 1988

(https://i.postimg.cc/3xqsVnBj/psv-1988.jpg)

Tanta falta nos fez Diamantino
Talvez a equipa que jogou contra o AC Milan dois anos depois, vencesse estes holandeses
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Dezembro de 2022, 00:29
-337-
Dia da Luz

Dia 1 de dezembro de 1954. Inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica.
Passam hoje 68 anos desse que se celebrou esse dia da Luz!


(https://i.postimg.cc/X77jX0wF/01.jpg)


O General Craveiro Lopes, presidente da República de Portugal, impõe a condecoração da Medalha de Mérito Desportivo.

Uma das muitas emoções que encheram o coração dos Benfiquistas nesse grandioso dia da Luz!

Nesse ano o Clube celebrava 50 anos desde a sua fundação. Um Clube que nasceu com parcos recursos, reunindo meninos pobres, ricos, e remediados, de todas as condições sociais, e que depois de tantas glórias, conquistadas entre alegrias e tristezas, tinha enfim, uma nova casa. Tinha, enfim, um parque desportivo que refletia a sua grandeza passada e presente, e que era compatível com o seu indisputado estatuto de maior Clube de Portugal.

Um Estádio, carinhosamente chamado pelos seus adeptos de "ESTÁDIO DA LUZ" e que nas cinco décadas seguintes se tornou parte indissociável da grandeza futebolística que projetou o Sport Lisboa e Benfica ao estatuto de um dos gigantes da Europa.

E foi naquele dia 1 de dezembro de 1954 que ele surgiu aos olhos dos Benfiquistas. Alvo, simples, belo, arrebatador, inesquecível.



(https://i.postimg.cc/GpYr63C0/02.jpg)
A Catedral quase pronta para ser inaugurada em 1 de dezembro de 1954.



Como esquecer a descrição que nos deixaram Mário de Oliveira e Rebelo da Silva, a propósito desse que foi um dos dias mais brilhantes do Benfiquismo?


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A emocionante condecoração do estandarte pelo Chefe de Estado


Com o desfile de velhos e novos Benfiquistas, que pela primeira vez pisaram a terra batida que ladeia o magnífico relvado do novo Estádio, terreno que lhes pertence, por fazer parte do monumento grandioso que oferecemos ao Benfica, no ano comemorativo das suas Bodas de Ouro, ficou assinalada mais uma das muitas páginas da grandiosa epopeia Benfiquista.

No relvado, depois de terminado o desfile, ficaram os porta-bandeiras de todos os Clubes que nele tomaram parte.

De repente, bandeiras ao alto, todos se puseram em movimento até ao próximo da tribuna presidencial, ficando à frente o estandarte do Benfica e a sua Guarda de Honra. O Chefe de Estado, acompanhado pelo Ministro da Educação Nacional, e por outras individualidades, concedeu a suprema honra de descer ao relvado a fim de colocar no estandarte do Benfica a Medalha de Mérito Desportivo.

Seguidamente o Chefe de Estado ficou em continência, prestando ao símbolo do Clube a maior honra que lhe poderia ser concedida: a continência do Chefe de Estado.

Mais um momento de delírio foi vivido no Estádio. Os "vivas", o agitar das bandeiras, as lágrimas a correrem mais uma vez pelas faces de onde não tinham desaparecido ainda os sinais da alegria e da comoção, eram o testemunho de um quadro extraordinário, que mal se pode reproduzir nestas páginas, por maior que seja a nossa vontade.

In "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".

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(https://i.postimg.cc/tCTbpNjN/03.jpg)
Um outro ângulo do momento da imposição da condecoração.



(https://i.postimg.cc/JzHWB7ty/04.jpg)
A Medalha de Mérito Desportivo atribuída ao nosso Clube em 26 de novembro de 1954 e imposta pelo chefe de Estado no nosso estandarte, no dia da inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica.



Honrai agora os Ases que nos honraram o passado.

(https://i.postimg.cc/3wg5nLXY/05.jpg)

Viva, viva o Sport Lisboa e Benfica


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 01 de Dezembro de 2022, 18:16
Que foto espetacular da nossa antiga Catedral no dia da inauguração.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 01 de Dezembro de 2022, 21:00
Citação de: Alexandre1976 em 01 de Dezembro de 2022, 18:16
Que foto espetacular da nossa antiga Catedral no dia da inauguração.

Alexandre, na verdade, essa foto (que eu colori) é dos últimos dias em que o Estádio estava a ser construído, antes da inauguração.

Uma foto do dia da inauguração é esta

(https://i.postimg.cc/9fjFxddd/Eo-G2wje-WEAA5-EYh.jpg)


Mas, como conta Helena Águas, no livro de homenagem ao seu pai, ainda o Estádio da Luz estava a ser construído, quando já tinha bancadas, muitos sócios iam em romaria para lá e festejaram golos do Benfica, noutros campos, à medida que iam ouvindo os relatos!

À Benfica!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 14:18
(https://scontent.flis8-1.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/317309784_5633663210012906_5666474873514214198_n.jpg?stp=cp6_dst-jpg_s960x960&_nc_cat=109&ccb=1-7&_nc_sid=8bfeb9&_nc_ohc=CXntzC12gz4AX_CrLbT&_nc_oc=AQloPrWnDFyMr1OqiMyT5kgx97R03WTyIpsrUCEck2cSHzVAeXJ6RJN5QWq6fGU5xE8&_nc_ht=scontent.flis8-1.fna&oh=00_AfASoCSfyOEVjdE3zi345GoPlsMN_gngT9B-n8__WSwxpQ&oe=638F018B)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Dezembro de 2022, 22:14
Citação de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 14:18
(https://scontent.flis8-1.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/317309784_5633663210012906_5666474873514214198_n.jpg?stp=cp6_dst-jpg_s960x960&_nc_cat=109&ccb=1-7&_nc_sid=8bfeb9&_nc_ohc=CXntzC12gz4AX_CrLbT&_nc_oc=AQloPrWnDFyMr1OqiMyT5kgx97R03WTyIpsrUCEck2cSHzVAeXJ6RJN5QWq6fGU5xE8&_nc_ht=scontent.flis8-1.fna&oh=00_AfASoCSfyOEVjdE3zi345GoPlsMN_gngT9B-n8__WSwxpQ&oe=638F018B)

Alguém sabe quantos destes elementos jogaram no Benfica?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 22:16
Citação de: RedVC em 02 de Dezembro de 2022, 22:14
Citação de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 14:18
(https://scontent.flis8-1.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/317309784_5633663210012906_5666474873514214198_n.jpg?stp=cp6_dst-jpg_s960x960&_nc_cat=109&ccb=1-7&_nc_sid=8bfeb9&_nc_ohc=CXntzC12gz4AX_CrLbT&_nc_oc=AQloPrWnDFyMr1OqiMyT5kgx97R03WTyIpsrUCEck2cSHzVAeXJ6RJN5QWq6fGU5xE8&_nc_ht=scontent.flis8-1.fna&oh=00_AfASoCSfyOEVjdE3zi345GoPlsMN_gngT9B-n8__WSwxpQ&oe=638F018B)

Alguém sabe quantos destes elementos jogaram no Benfica?

não faço ideia, essa foto é do 1º jogo do Eusébio no União de Tomar, acho que de 1977....
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Dezembro de 2022, 22:20
Citação de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 22:16
Citação de: RedVC em 02 de Dezembro de 2022, 22:14
Citação de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 14:18
(https://scontent.flis8-1.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/317309784_5633663210012906_5666474873514214198_n.jpg?stp=cp6_dst-jpg_s960x960&_nc_cat=109&ccb=1-7&_nc_sid=8bfeb9&_nc_ohc=CXntzC12gz4AX_CrLbT&_nc_oc=AQloPrWnDFyMr1OqiMyT5kgx97R03WTyIpsrUCEck2cSHzVAeXJ6RJN5QWq6fGU5xE8&_nc_ht=scontent.flis8-1.fna&oh=00_AfASoCSfyOEVjdE3zi345GoPlsMN_gngT9B-n8__WSwxpQ&oe=638F018B)

Alguém sabe quantos destes elementos jogaram no Benfica?

não faço ideia, essa foto é do 1º jogo do Eusébio no União de Tomar, acho que de 1977....


Pelo menos 4.

Eusébio (1960-1975)
António Simões (1961-1975)
Sarmento (juniores)
Veirinha (1952-1955)


O União de Tomar esteve algumas épocas na 1ª divisão na década de 70 e apresentou diversos ex-jogadores do Benfica, ou alguns já em final de carreira ou antigos juniores.

Creio que Eusébio e Simões jogaram ali durante o período em que o futebol nos EUA estava no  defeso. Eusébio também jogou no Beira-mar.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 22:25
Citação de: RedVC em 02 de Dezembro de 2022, 22:20
Citação de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 22:16
Citação de: RedVC em 02 de Dezembro de 2022, 22:14
Citação de: rcoelho em 02 de Dezembro de 2022, 14:18
(https://scontent.flis8-1.fna.fbcdn.net/v/t39.30808-6/317309784_5633663210012906_5666474873514214198_n.jpg?stp=cp6_dst-jpg_s960x960&_nc_cat=109&ccb=1-7&_nc_sid=8bfeb9&_nc_ohc=CXntzC12gz4AX_CrLbT&_nc_oc=AQloPrWnDFyMr1OqiMyT5kgx97R03WTyIpsrUCEck2cSHzVAeXJ6RJN5QWq6fGU5xE8&_nc_ht=scontent.flis8-1.fna&oh=00_AfASoCSfyOEVjdE3zi345GoPlsMN_gngT9B-n8__WSwxpQ&oe=638F018B)

Alguém sabe quantos destes elementos jogaram no Benfica?

não faço ideia, essa foto é do 1º jogo do Eusébio no União de Tomar, acho que de 1977....


Pelo menos 4.

Eusébio (1960-1975)
António Simões (1961-1975)
Sarmento (juniores)
Veirinha (1952-1955)


O União de Tomar esteve algumas épocas na 1ª divisão na década de 70 e apresentou diversos ex-jogadores do Benfica, ou alguns já em final de carreira ou antigos juniores.

Creio que Eusébio e Simões jogaram ali durante o período em que o futebol nos EUA estava no  defeso. Eusébio também jogou no Beira-mar.

sim, jogou no beira mar e há um caso "famoso" de um jogo contra o Benfica que não quis marcar um livre....

no união de tomar só fez 9 jogos....
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 10:58
-338-
Eusebio toujours Eusebio


31 de março de 1975. Stade de Colombes, Paris.

Eusébio rodeado de três jogadores portistas, investe sobre a defesa adversária. Nesse dia, o SL Benfica esmagou o FC Porto por 5-1 e Eusébio marcou o seu último golo de águia ao peito!


(https://i.postimg.cc/JzjWNsw0/01.jpg)
Eusébio nos seus dias finais de águia ao peito. A classe de sempre.



Tratou-se de um jogo particular, organizado para a numerosa emigração portuguesa (na ordem das centenas de milhar) que vivia e trabalhava na coroa parisiense.


Stade Colombes, Paris


Inaugurado em 1907, na zona noroeste dos arredores de Paris, o Stade des Colombes (https://fr.wikipedia.org/wiki/Stade_d%C3%A9partemental_Yves-du-Manoir#Histoire) foi inicialmente designado como Stade du Matin. Desde 1972, ano de inauguração do Parc des Princes, passou a ser conhecido por Stade Olympique Yves-du-Manoir (1904-1928; famoso jogador de râguebi e um pioneiro/vítima da aviação).


(https://i.postimg.cc/Hn8NTNdn/02.jpg)
Stade de Colombes, 1924, palco das VIII Olímpiadas, acolheu também jogos do Mundial de futebol (incluindo a final), 1938


O Stade de Colombes foi o estádio-sede das VIII Olimpíadas, de Paris, 1924, e o estádio da final do Mundial de futebol em 1938, conquistado pela Itália. É um local de enorme importância histórica, ligado não apenas do futebol, mas também ao râguebi e ao boxe francês. Acolheu mais de 250 competições desportivas oficiais no século XX. Será um dos locais das competições das Olimpíadas Paris, 2024 (https://www.paris2024.org/fr/site/stade-yves-du-manoir/).


O jogo


O Benfica estava a poucos meses de se sagrar campeão nacional, reconquistando o título perdido na temporada anterior, e iniciando a conquista de mais um tricampeonato.

A equipa do Benfica, comandado pelo jugoslavo Pavic, alinhou com uma equipa de luxo, onde Eusébio, limitado de forma recorrente pelo seu joelho, alinhava já no meio do terreno, distribuindo jogo e revelando virtudes de visão de jogo.


(https://i.postimg.cc/XJrWyQnS/03.jpg)


Vincando a sua superioridade, os golos surgiram cedo por Artur Jorge (10'), Eusébio (17'), Humberto Coelho (23') e Toni (34').

Ao intervalo o marcador registava um rotundo 4-0 e abriam-se as perspetivas de uma goleada ainda maior. Só que Pavic decidiu-se por deixar Eusébio nos balneários e foi fazendo alterações que abrandaram o ritmo da equipa.

Por volta da hora de jogo, o FCP marcaria o seu tento de honra por Fernando Gomes, um jovem avançado de grande valor, que no ano anterior tinha iniciado a sua carreira na equipa sénior do FC Porto. Um adversário sempre leal, respeitador, de grande valor e que recentemente faleceu. Paz à sua alma.


(https://i.postimg.cc/tCycK28q/04.jpg)
Dois extraordinários avançados, duas figuras de primeira grandeza nos respetivos clubes.


Até ao fim, sem acelerar o jogo, o Benfica ainda marcou mais um golo, na sequência de uma grande penalidade, convertida aos 81' por Humberto Coelho, uma vez que Eusébio já não se encontrava em campo. E assim, terminou, para gaudio dos Benfiquistas presentes.


A grande aventura americana

Nesse final de março de 1975, Eusébio vivia os seus últimos dias como jogador do Benfica, estando prestes a partir para os Estados Unidos, em busca de um final de carreira ativo, e bem remunerado em dólares. Partiria acompanhado do seu irmão branco, António Simões que poucos dias depois teria a sua festa de despedida na Luz, no dia 11 maio de 1975, num jogo do campeonato contra o União de Tomar.


(https://i.postimg.cc/TY7ct06H/05.jpg)
Eusébio e Simões no Boston Minutemen, EM 1975, a primeira etapa das suas aventuras americanas. Legenda: Eusébio (13), Bill Wilkinson (2), Tony Simões (11), Don Welbourne (4), Ade Coker (12). Fonte: http://www.nasljerseys.com/Players/E/Eusebio.htm


A partida dessas duas glórias eternas do Benfica seria muito sentida por todos os Benfiquistas. Percebia-se que era o final de uma era inesquecível, que terminava muito pela necessidade dos jogadores de procurar outro desafogo financeiro e pelo Clube em procurar a renovação e novas referências do Benfiquismo. Elas surgiriam, mas de facto o brilhantismo dos anos 60 não mais voltou.

Nesse tempo, tal como outras grandes estrelas do futebol mundial que estavam em final de carreira (Pelé, Beckenbauer, entre outros) os dois partiram em busca dos dólares que então abundavam no emergente mercado americano, um mercado com características bem distintas do europeu. Nessa primeira aventura, os dois jogaram no Boston Minutemen, começando as suas aventuras americanas.

Eusébio vestiria muitas outras camisolas, tendo atingido o auge em 1976-1977 ao se sagrar campeão da NASL (North American Soccer League), o campeonato nacional de futebol americano, também conhecido por Soccer Bowl, que então se disputava nos EUA.

Jogava então no Toronto Metros Croatia, uma organização muito peculiar, emergente de uma comunidade emigrante com origens croatas, que mesmo sem grandes virtudes de organização e de promoção comercial, ainda assim conseguiu juntar um conjunto de estrelas que formaram uma equipa campeã. A chave do sucesso esteve em Eusébio, fundamental na conquista, tendo sido ele o marcador do golo decisivo do campeonato contra uma equipa de Minnesota. O seu virtuosismo, profissionalismo, simpatia, solidariedade e generosidade são ainda hoje recordados.


https://www.youtube.com/watch?v=9kRqHLoE_4U (https://www.youtube.com/watch?v=9kRqHLoE_4U)
Toronto Croatia (Metros) Soccer History Film. A contribuição e personalidade inesquecível de Eusébio recebe amplo enfoque a partir do minuto 39:17.


O profissionalismo de Eusébio, associado às saudades de casa, levaram-no a aproveitar os defesos das épocas americanas, para continuar atividade no campeonato português.

Apesar de abordagens do Sporting e do Belenenses, optou sempre pelos clubes onde se sentiu mais desejado e melhor tratado. Outras camisolas que não desvirtuam aquela que foi uma carreira extraordinária, em condições muito mais duras e isentas de privilégios.

Tivesse Eusébio os benefícios das modernas metodologias de treino, cuidados médicos, de nutrição, de equipamentos desportivos, financeiras, mediáticas, etc, que certamente Eusébio ainda teria deixado mais recordações inesquecíveis em todos os que tiveram o privilégio de o ver jogar, de sentir a sua enorme dimensão de desportista e de homem.

Sem arrogâncias, sem má-educação, sem faltas de respeito pelos adversários, treinadores e companheiros, antes pelo contrário. Assim era o nosso Eusébio e por isso foi sempre amado por todos, tanto Benfiquistas como por adversários. E assim continua e assim continuará porque a sua memória ficou impoluta, inteira e inesquecível. Um Senhor, um Benfiquista, um Homem.


Inesquecível único, extraordinário Eusébio da Silva Ferreira!

(https://i.postimg.cc/hvHtGNm5/06.jpg)

(https://i.postimg.cc/s2wfWMSS/07.jpg)


Para sempre reconhecido por todos os Benfiquistas, Obrigado, Eusébio!



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 11:34
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Claro que sim.

Evoca esta fotografia:

(https://i.postimg.cc/7Y89C9kF/1955-Charles-Miller-SLB-Flamengo.png)


Em pé, da esquerda para a direita: Angelino Fontes (massagista que não aparece na pintura), Costa Pereira, Jacinto Marques, Fernando Caiado, Alfredo, Artur Santos, Ângelo Martins, Bastos, e Otto Glória (treinador). Em baixo, da esquerda para a direita: Zézinho, Arsénio, José Águas, Coluna e Francisco Palmeiro.

Trata-se da equipa que defrontou o CR Flamengo no dia 19 de junho de 1955, no Rio de Janeiro, Estádio do Maracanã, a contar para o torneio Charles Miller (https://pt.wikipedia.org/wiki/Torneio_Internacional_Charles_Miller) que celebrava a figura de Charles Miller, inglês, que terá sido o introdutor do futebol no Brasil.

Falei aqui - extensamente - desse torneio: textos 118 a 128 - Taça Charles Miller '55 (partes I
a XI).


Nesse dia, a nossa equipa que recentemente se tinha sagrado campeã nacional de futebol, recebeu muitas homenagens da grande comunidade portuguesa emigrada no Rio de Janeiro.

O Benfica foi a mais-valia desse torneio, financeira, desportiva, social, etc. Apresentou um grande futebol (coisa que os brasileiros desconheciam que existisse em Portugal), encheu os estádios por onde passou e deixou uma imagem extraordinária de correção desportiva e social que prestigiou não apenas o nosso Clube como o nosso país.

Os jogadores mais relevantes foram Costa Pereira, Coluna e José Águas, cujo sucesso não se circunscreveu aos campos de futebol. Há muitas histórias rocambolescas e muitos dos nossos jogadores foram amplamente mediatizados. Era todo um outro mundo que se descobriu de parte a parte. Inesquecível.

As pessoas não têm a noção do que essa digressão fez pelo nosso país no Brasil, então um país muito diferente - para melhor em muitos aspectos - do que atualmente é.

É uma pintura excelente, evocativa de um dia de grande relevância da extensa História do Sport Lisboa e Benfica.

Obrigado pela partilha.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não seria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna, que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam por esse mundo fora. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 13:31
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não ficaria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna com que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.

Bem lembrada a conexão com Pedro Álvares Cabral. É provável a ligação.

Muito obrigado, Red!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Guardião Encarnado em 04 de Dezembro de 2022, 14:24
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 13:31
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não ficaria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna com que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.

Bem lembrada a conexão com Pedro Álvares Cabral. É provável a ligação.

Muito obrigado, Red!

Sou natural de Belmonte e confesso q não estou a ver qual é o restaurante. Diz aí que posso tentar saber a ligação.

Já fizeram o meu dia  :drunk:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Dezembro de 2022, 14:28
1954-55 a 1974-1975.O inicio e a consolidação do Benfica multi vencedor,profissional e moderno.A construção do antigo Estádio da Luz e subsequentemente de outras estruturas fisicas de apoio ao futebol profissional e das modalidades numa era marcada por um punhado de presidentes lendários(Joaquim Ferreira Bogalho,Mauricio Vieira de Brito,Adolfo Vieira de Brito e Borges Coutinho)que tanto engrandeceram o nosso clube.O dominio do mercado nacional e das ex colonias na politica de aquisições associada a uma irrepreensivel aposta nas camadas jovens com a marca de nomes sagrados como os senhores Angelo e Coluna.Duas decadas de inquestionavel dominio.O defeso de 1975 marca o fim do Super Benfica com as saidas dos monstruosos Eusebio,Simões,Jaime Graça,Adolfo,Artur Jorge e Humberto Coelho(que regressaria 2 anos depois).
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 14:56
Mais algumas evocações dos media a propósito desse dia dia 19 de junho de 1955, no Rio de Janeiro, Estádio do Maracanã

(https://i.postimg.cc/SNKLyn8H/esporte-ilustrado-n-900-70755-pster-do-benfica-14728-MLB4314070346-052013-F.png)

(https://i.postimg.cc/kXDS0kPm/6856-Big.png)

(https://i.postimg.cc/QMDHdzwV/revista-capa.png)

(https://i.postimg.cc/sgd2T8VK/I0020995-2-Alt-001727-Lar-001270-Larg-Ori-004401-Alt-Ori-005986.png)

(https://i.postimg.cc/63mWnbjr/venceu-um-campeao.png)

O Flamengo venceu por 1-0. golo aos 2' marcado por Evaristo.

Evaristo seria o avançado centro do FC Barcelona, seis anos depois, em Berna quando o Benfica venceu os catalães e se sagrou Campeão Europeu pela primeira vez na sua história.

No final, Costa Pereira, Ângelo Martins, Coluna e José Águas riram melhor.  :cool2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: SLBAMOR em 04 de Dezembro de 2022, 15:00
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 11:34
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Claro que sim.

Evoca esta fotografia:

(https://i.postimg.cc/7Y89C9kF/1955-Charles-Miller-SLB-Flamengo.png)


Em pé, da direita para a esquerda: Angelino Fontes (massagista que não aparece na pintura), Costa Pereira, Jacinto Marques, Fernando Caiado, Alfredo, Artur Santos, Ângelo Martins, Bastos, e Otto Glória (treinador). Em baixo, da esquerda para a direita: Zézinho, Arsénio, José Águas, Coluna e Francisco Palmeiro.

Trata-se da equipa que defrontou o CR Flamengo no dia 19 de junho de 1955, no Rio de Janeiro, Estádio do Maracanã, a contar para o torneio Charles Miller (https://pt.wikipedia.org/wiki/Torneio_Internacional_Charles_Miller) que celebrava a figura de Charles Miller, inglês, que terá sido o introdutor do futebol no Brasil.

Falei aqui - extensamente - desse torneio: textos 118 a 128 - Taça Charles Miller '55 (partes I
a XI).


Nesse dia, a nossa equipa que recentemente se tinha sagrado campeã nacional de futebol, recebeu muitas homenagens da grande comunidade portuguesa emigrada no Rio de Janeiro.

O Benfica foi a mais-valia desse torneio, financeira, desportiva, social, etc. Apresentou um grande futebol (coisa que os brasileiros desconheciam que existisse em Portugal), encheu os estádios por onde passou e deixou uma imagem extraordinária de correção desportiva e social que prestigiou não apenas o nosso Clube como o nosso país.

Os jogadores mais relevantes foram Costa Pereira, Coluna e José Águas, cujo sucesso não se circunscreveu aos campos de futebol. Há muitas histórias rocambolescas e muitos dos nossos jogadores foram amplamente mediatizados. Era todo um outro mundo que se descobriu de parte a parte. Inesquecível.

As pessoas não têm a noção do que essa digressão fez pelo nosso país no Brasil, então um país muito diferente - para melhor em muitos aspectos - do que atualmente é.

É uma pintura excelente, evocativa de um dia de grande relevância da extensa História do Sport Lisboa e Benfica.

Obrigado pela partilha.





Obrigado por partilhares o conhecimento não conhecia essa parte da história do Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 04 de Dezembro de 2022, 15:32
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 14:56
Mais algumas evocações dos media a propósito desse dia dia 19 de junho de 1955, no Rio de Janeiro, Estádio do Maracanã

(https://i.postimg.cc/SNKLyn8H/esporte-ilustrado-n-900-70755-pster-do-benfica-14728-MLB4314070346-052013-F.png)

(https://i.postimg.cc/kXDS0kPm/6856-Big.png)

(https://i.postimg.cc/QMDHdzwV/revista-capa.png)

(https://i.postimg.cc/sgd2T8VK/I0020995-2-Alt-001727-Lar-001270-Larg-Ori-004401-Alt-Ori-005986.png)

(https://i.postimg.cc/63mWnbjr/venceu-um-campeao.png)

O Flamengo venceu por 1-0. golo aos 2' marcado por Evaristo.

Evaristo seria o avançado centro do FC Barcelona, seis anos depois, em Berna quando o Benfica venceu os catalães e se sagrou Campeão Europeu pela primeira vez na sua história.

No final, Costa Pereira, Ângelo Martins, Coluna e José Águas riram melhor.  :cool2:
E tambem Fernando Caiado que era um dos adjuntos de Bella Gutmann e Artur Santos que nessa altura já era reserva do inigualavel Germano de Figueiredo.Bela partilha Red VC.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 17:40
Citação de: Guardião Encarnado em 04 de Dezembro de 2022, 14:24
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 13:31
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não ficaria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna com que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.

Bem lembrada a conexão com Pedro Álvares Cabral. É provável a ligação.

Muito obrigado, Red!

Sou natural de Belmonte e confesso q não estou a ver qual é o restaurante. Diz aí que posso tentar saber a ligação.

Já fizeram o meu dia  :drunk:

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Vitor21 em 04 de Dezembro de 2022, 17:45
Fui passar uns dias a um hotel na zona do Douro. Na parede em frente ao meu quarto tinha uma foto e reparei num pormenor  :slb2:
Reparem no joelho do homem da foto

(https://i.ibb.co/6RXCkKv/20220809-145925.jpg) (https://ibb.co/6RXCkKv)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 19:06
Citação de: Vitor21 em 04 de Dezembro de 2022, 17:45
Fui passar uns dias a um hotel na zona do Douro. Na parede em frente ao meu quarto tinha uma foto e reparei num pormenor  :slb2:
Reparem no joelho do homem da foto

(https://i.ibb.co/6RXCkKv/20220809-145925.jpg) (https://ibb.co/6RXCkKv)

Isso é foto dos anos 80.  :cool2:

Usavam-se esses remendos de marcas para tapar rasgões nas calças. Hoje é bem mais simples pois se não tem rasgões, fazem-se uns  ;D

E depois, o detalhe da bainha virada e das meias brancas... Inconfundível.

Benfiquista a divertir-se com a sua miúda. À noite ouvia o relato  ;D

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Guardião Encarnado em 04 de Dezembro de 2022, 19:27
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 17:40
Citação de: Guardião Encarnado em 04 de Dezembro de 2022, 14:24
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 13:31
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não ficaria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna com que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.

Bem lembrada a conexão com Pedro Álvares Cabral. É provável a ligação.

Muito obrigado, Red!

Sou natural de Belmonte e confesso q não estou a ver qual é o restaurante. Diz aí que posso tentar saber a ligação.

Já fizeram o meu dia  :drunk:

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)

Já me estive a informar. Abriu muito recentemente. Nunca fui. Aparentemente, é de facto de imigrantes brasileiros.

Tenho de lá dar um pulo, passei lá há 2 semanas e cativou-me a esplanada!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: xico17 em 04 de Dezembro de 2022, 20:05
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?



(https://i.ibb.co/WfjDHkB/6-AB650-DB-2-BC4-41-EE-B3-C8-69-B4576-FDB5-B.jpg)


"Apanhámos pela frente um super Flamengo."





Desculpem, continuem. Estou a gostar de aprender.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 20:20
Citação de: xico17 em 04 de Dezembro de 2022, 20:05
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?



(https://i.ibb.co/WfjDHkB/6-AB650-DB-2-BC4-41-EE-B3-C8-69-B4576-FDB5-B.jpg)


"Apanhámos pela frente um super Flamengo."





Desculpem, continuem. Estou a gostar de aprender.


Nunca pensei que uma menção dessa criatura chegasse a este tópico  :crazy2:

;D
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Pasárgada em 04 de Dezembro de 2022, 21:11
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não seria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna, que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam por esse mundo fora. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.
Isto para mim é que é beber, comer e respirar Benfica! Um deleite ler estas histórias e a prontidão de como identificaste a fotografia ( pintura ) do tal restaurante! Uma maravilha ler estas coisas. Viva o Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Flak_Benficatv em 04 de Dezembro de 2022, 22:28
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Qual o nome do restaurante?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 23:29
Citação de: Flak_Benficatv em 04 de Dezembro de 2022, 22:28
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Qual o nome do restaurante?

Está em cima, o Jayson já o mencionou

Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 17:40
...

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 00:18
-339-
Morte no balneário (parte I – de dor e de talento)

7 de dezembro de 1966. Olhão, Algarve.


(https://i.postimg.cc/jdJCWzh7/01.jpg)


Tocando num caixão coberto pela bandeira do Sport Lisboa e Benfica, a mãe de Luciano, chorava a maior dor que se pode sentir.

À sua volta, rostos de angústia, estupefação, consternação. O drama tocava todos, perante a perda trágica de um homem na flor da vida, um desportista de talento, um bom companheiro. Luciano tinha morrido eletrocutado, dois dias antes, em pleno balneário do Estádio da Luz.


Evocação

Passam hoje 56 anos da trágica morte de Luciano, ocorrida em pleno balneário do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Evoca-se o homem, o filho, o atleta. Honre-se a sua memória.


Ascensão

Luciano Jorge Fernandes nasceu em Olhão, no dia 6 de agosto de 1940. Foi um futebolista que atuava no sector defensivo e a quem eram reconhecidas grandes qualidades. Luciano iniciou-se no futebol com a camisola rubro-negra do SC Olhanense e com ela cumpriu 7 anos de competição.


(https://i.postimg.cc/k575hLPQ/02.jpg)
Luciano nos seus tempos rubro-negros. Fonte: olhanense.net


O SC Olhanense é um clube histórico do futebol português, tendo na temporada 1923-1924 conquistado um campeonato de Portugal (prova antecessora da atual Taça de Portugal). Nessa altura tinha uma grande equipa em que o expoente foi o famoso Raúl Figueiredo "Tamanqueiro", médio internacional que vestiria também de águia ao peito, de 1925 a 1928. O glorioso Tamanqueiro já recebeu amplo e merecido destaque neste tópico (ver textos 177 a 181- Tamancos de oiro, partes I a V; pág. 46 e 47).

Oriundo de uma família de parcos recursos, Luciano ingressou nos juniores do SC Olhanense na temporada de 1956-57, onde se destacou, ascendendo à primeira equipa em 1958-59, quando os rubro negros disputavam o campeonato nacional de futebol da segunda divisão.

Depois de durante quase toda a década de 40, o futebol do SC Olhanense se ter notabilizado com classificações honrosas no campeonato nacional da primeira divisão, os rubro-negros militaram na segunda divisão durante toda a década 50. Com o valioso contributo de Luciano, a equipa principal do SC Olhanense concretizou o regresso à primeira divisão na temporada de 1960-1961.


(https://i.postimg.cc/KcCBscqt/03.jpg)
A festa do regresso do SC Olhanense à primeira divisão. Fonte: olhanense.net



Na divisão principal, Luciano cumpriria ainda mais duas temporadas de rubro-negro, conquistando, por duas vezes, o 8º lugar entre 14 participantes. A consistência e a qualidade das suas exibições despertaram o interesse do SL Benfica, que o recrutou para os seus quadros na temporada de 1963-1964.


(https://i.postimg.cc/vm8V64Tw/04.jpg)
Um artigo da época sobre Luciano. Inclui uma fotografia de um jogo entre o SCO e o SLB, em que Luciano enfrenta Cávem, seu futuro companheiro, e que com ele poderia ter morrido no fatídico acidente. Fonte: ANTIGAS GLÓRIAS DO FUTEBOL ALGARVIO E ALENTEJANO



De águia ao peito


(https://i.postimg.cc/SKZzLmY2/05.jpg)


No Benfica, mal-grado uma sucessão de irritantes lesões, Luciano confirmou ser um defesa de valor, eficiente, e com a qualidade técnica exigida pelo lugar. As recorrentes condicionantes físicas foram sempre o problema. Luciano era visto como o provável sucessor de Germano de Figueiredo, na liderança do eixo central da defesa Benfiquista, mas nunca pode confirmar as expectativas por via dessas condicionantes físicas.

E se o destino não tivesse sido tão cruel, provavelmente teria integrado uma linha de grandes centrais benfiquistas que teve nomes como Félix Antunes (década de 40), Artur Santos (50s), Germano de Figueiredo (60s) e Humberto Coelho (70s).

Luciano chegou ao Benfica na temporada em que o romeno Lajos Czeiler liderou o futebol benfiquista. Seria uma temporada de intenso domínio benfiquista nas provas nacionais, e também a melhor temporada de Luciano com a águia ao peito.

A sua estreia com o manto sagrado ocorreu no Estádio da Luz, no dia 5 de setembro de 1963, num evento de grande simbolismo para o Benfiquismo, em que José Águas teve a sua merecida festa de despedida, terminando uma carreira esplendorosa. Entre outras atividades, o SL Benfica disputou um jogo particular em que defrontou e venceu o FCP, por 3-2.

Entre as diversas substituições, Águas passou o testemunho a Torres enquanto que Luciano entrou para o lugar de Ângelo Martins. E, apesar de uma desatenção inicial que originou de um dos golos portistas, Luciano reagiu, mostrando caráter, quando poucos minutos depois fez uma assistência para um golo de José Torres. Estava ali um jogador para o futuro.


(https://i.postimg.cc/rpYK0g75/06.jpg)
5 de setembro de 1963, o dia da estreia de Luciano, na festa de despedida a José Águas.


Nessa primeira temporada, Luciano cumpriu 27 jogos oficiais, sendo 20 deles no campeonato (nota: números não verificados), tendo contribuído de forma relevante para a conquista do título nacional, garantida com 6 pontos de avanço sobre o FCP, 2º classificado, e que seriam 9 pontos no sistema de pontuação utilizado atualmente. Luciano foi opção regular até se ter lesionado gravemente em Guimarães, no dia 8-03-1964.

O Benfica conquistou também a Taça de Portugal dessa temporada, depois de esmagar o mesmo FCP, na final do Jamor, por 6-2. Nessa final, Germano de Figueiredo foi o titular no centro da defesa, mas Luciano participou em 4 dos 11 jogos da competição.

Infelizmente, a nível internacional a temporada não correu nada bem. Logo na 2ª ronda da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica foi eliminado de forma escandalosa perante o Borussia de Dortmund. Depois de uma vitória em Lisboa por 2-1, onde se desperdiçaram muitas oportunidades de golo, a nossa equipa foi copiosamente derrotada (0-5) em Dortmund, sofrendo 3 golos de rajada entre os minutos 33 e 36...

Nessa noite fria de Dortmund, sentiram-se muito as ausências de jogadores nucleares como eram Eusébio, Torres, Germano, Raúl, Neto, Ângelo e Costa Pereira. Luciano jogou ambos os jogos, mas em Dortmund, tal como os restantes companheiros, revelou grande inadaptação ao frio, às condições do terreno e à capacidade atlética do adversário.


(https://i.postimg.cc/Jnf0K0rn/07.jpg)
A equipa benfiquista que não evitou o desastre em Dortmund, a 4 de dezembro de 1963



(https://i.postimg.cc/SxSsgwhW/08.jpg)
Luciano ao lado do guarda-redes Rita, a tentaram bloquear uma das investidas germânicas.



(https://i.postimg.cc/kGPMKHsR/09.jpg)
Outra imagem extraordinária da impotência Benfiquista na noite de Dortmund. Luciano em primeiro plano a tentar ajudar o guarda redes Rita. Fonte: Gettyimages



A nível de seleções, quando chegou ao Benfica, Luciano contava já com uma internacionalização na seleção sub-21. Foi internacional ao lado dos futuros companheiros Jacinto, Jaime Graça e Serafim.

Em 15 de novembro de 1964, quando já integrava os quadros benfiquistas, o selecionador nacional Manuel da Luz Afonso, convocou-o para a seleção B, para disputar um jogo em Cordóva, contra a sua congénere espanhola (ver: https://www.fpf.pt/Jogadores/Jogador/playerId/730171). Seria a sua última internacionalização. A internacionalização pela seleção A nunca chegaria, ao contrário do que se lhe augurava.


(https://i.postimg.cc/kXcMRfbD/10.jpg)
Uma das duas internacionalizações de Luciano; a seleção sub-21 que defrontou a Grécia, no Estádio Nacional no dia 14-04-1963 (vitória por 2-1).


Infelizmente, nas duas temporadas seguintes, Luciano jogou muito pouco, condicionado por sucessivas lesões. Nesse contexto, as negociações para renovação do seu contrato foram difíceis, levantando-se muitas dúvidas nos dirigentes do Benfica quanto à possibilidade de recuperar o atleta.

Atingido o acordo negocial, Luciano iniciou a temporada de 1966-67, encarando-a como uma nova oportunidade de confirmar as suas qualidades e reverter a má-sorte que até aí o havia atingido.

O Clube vivia então a ressaca da perda do campeonato nacional na temporada anterior, durante um turbulento e frustrante regresso de Béla Guttmann. No entanto, com o regresso do chileno Fernando Riera ao Benfica e com a notável prestação da linha ofensiva Benfiquista no Mundial de 1966, abriam-se boas perspetivas quanto à nova temporada. E assim seria, numa temporada em que o nosso mais forte oponente foi... a Académica de Coimbra!


(https://i.postimg.cc/T3NRC1Q6/11.jpg)
Dia 31 de janeiro de 1965, Luciano titular no empate arrancado em Alvalade: SCP 2- SLB 2.


Como se esperava, o Benfica arrancou bem no campeonato, registando 8 vitórias e 1 empate nas primeiras 9 jornadas, ali se incluindo duas vitórias conclusivas, na Luz, sobre SCP e FCP, ambas por 3-0. Essa série foi fechada a 4 de dezembro, com uma vitória em casa da Sanjoanense por 3-1.

Riera era um treinador que privilegiava equilíbrios táticos, não se convencendo com vertigens ofensivas. Para esse modelo de jogo, Riera contava com excelentes opções para o centro da defesa: Germano, Raúl, Jacinto, Humberto Fernandes e Luciano.

Não sendo particular apreciador das características de Germano de Figueiredo, Riera deu a titularidade a Luciano nas 5 primeiras jornadas até que este se lesionou no jogo contra o Atlético CP, em 16-10-1966. Até esse jogo, embora mostrasse a sua qualidade, notava-se que Luciano jogava algo condicionado pelo medo de novas lesões, mas isso era compreensível depois de um calvário de lesões. Naquele início de dezembro de 1966, a recuperação estava em curso, e Luciano tinha perspetivas legítimas de recuperar o lugar na equipa.


Detalhes adicionais sobre o trajeto Benfiquista de Luciano, podem ser lidos, aqui:
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/12/luciano-54.html


No próximo texto falaremos da manhã do trágico dia de 5 de dezembro de 1966.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Flak_Benficatv em 05 de Dezembro de 2022, 12:33
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 23:29
Citação de: Flak_Benficatv em 04 de Dezembro de 2022, 22:28
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04

(https://i.ibb.co/wzvjQSf/IMG-20221203-152926812.jpg) (https://ibb.co/rwWNpxV)

Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Qual o nome do restaurante?

Está em cima, o Jayson já o mencionou

Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 17:40
...

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)


Muito obrigado forte abraço
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Voros1904 em 06 de Dezembro de 2022, 12:35
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.



Bom post. Nunca ouvi esta historia nem sabia que alguma vez estivemos tao perto de perder varios jogadores-simbolo do clube. Escrevo isto com lagrimas nos olhos.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Voros1904 em 06 de Dezembro de 2022, 12:48
Melhor topico do forum.
E nem sabia que existia. wow
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Dezembro de 2022, 13:19
Citação de: Voros1904 em 06 de Dezembro de 2022, 12:48
Melhor topico do forum.
E nem sabia que existia. wow


Obrigado, Voros1904  O0

Em 8 de Novembro este tópico fez 9 anos. Quando o iniciei não fazia ideia do que seria. Sabia pouco da História do Benfica, e, passados 9 anos, continuo a aprender.
Essa descoberta e a interação com o pessoal do fórum, torna a presença regular no Estádio cada vez mais uma experiência recompensadora. Fiz-me Benfiquista pela mão do meu pai, mas passei a amar o Benfica pelo que vi, li e ouvi.
"Só nós sentimos assim".
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Royal_Flush em 06 de Dezembro de 2022, 13:25
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




Que cena macabra.

Houve depois algum litígio com a família do Luciano ou ficou tudo resolvido por acordo?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: piratas15 em 06 de Dezembro de 2022, 13:33
Citação de: Voros1904 em 06 de Dezembro de 2022, 12:35
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.



Bom post. Nunca ouvi esta historia nem sabia que alguma vez estivemos tao perto de perder varios jogadores-simbolo do clube. Escrevo isto com lagrimas nos olhos.
conhecia a história, e também venho aqui dizer que me caiem as lágrimas pelo rosto abaixo , o Benfica mexe  verdadeiramente com os sentimentos de  um gajo mesmo que seja frio como uma pedra ...puta que pariu a isto 😢😢
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Capitao Moura em 06 de Dezembro de 2022, 14:10
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




Luciano era meu conterrâneo, de Olhão. Paz à sua alma
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Realix em 06 de Dezembro de 2022, 14:29
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 00:18
-339-
Morte no balneário (parte I – de dor e de talento)

7 de dezembro de 1966. Olhão, Algarve.


(https://i.postimg.cc/jdJCWzh7/01.jpg)


Tocando num caixão coberto pela bandeira do Sport Lisboa e Benfica, a mãe de Luciano, chorava a maior dor que se pode sentir.

À sua volta, rostos de angústia, estupefação, consternação. O drama tocava todos, perante a perda trágica de um homem na flor da vida, um desportista de talento, um bom companheiro. Luciano tinha morrido eletrocutado, dois dias antes, em pleno balneário do Estádio da Luz.


Evocação

Passam hoje 56 anos da trágica morte de Luciano, ocorrida em pleno balneário do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Evoca-se o homem, o filho, o atleta. Honre-se a sua memória.


Ascensão

Luciano Jorge Fernandes nasceu em Olhão, no dia 6 de agosto de 1940. Foi um futebolista que atuava no sector defensivo e a quem eram reconhecidas grandes qualidades. Luciano iniciou-se no futebol com a camisola rubro-negra do SC Olhanense e com ela cumpriu 7 anos de competição.


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Luciano nos seus tempos rubro-negros. Fonte: olhanense.net


O SC Olhanense é um clube histórico do futebol português, tendo na temporada 1923-1924 conquistado um campeonato de Portugal (prova antecessora da atual Taça de Portugal). Nessa altura tinha uma grande equipa em que o expoente foi o famoso Raúl Figueiredo "Tamanqueiro", médio internacional que vestiria também de águia ao peito, de 1925 a 1928. O glorioso Tamanqueiro já recebeu amplo e merecido destaque neste tópico (ver textos 177 a 181- Tamancos de oiro, partes I a V; pág. 46 e 47).

Oriundo de uma família de parcos recursos, Luciano ingressou nos juniores do SC Olhanense na temporada de 1956-57, onde se destacou, ascendendo à primeira equipa em 1958-59, quando os rubro negros disputavam o campeonato nacional de futebol da segunda divisão.

Depois de durante quase toda a década de 40, o futebol do SC Olhanense se ter notabilizado com classificações honrosas no campeonato nacional da primeira divisão, os rubro-negros militaram na segunda divisão durante toda a década 50. Com o valioso contributo de Luciano, a equipa principal do SC Olhanense concretizou o regresso à primeira divisão na temporada de 1960-1961.


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A festa do regresso do SC Olhanense à primeira divisão. Fonte: olhanense.net



Na divisão principal, Luciano cumpriria ainda mais duas temporadas de rubro-negro, conquistando, por duas vezes, o 8º lugar entre 14 participantes. A consistência e a qualidade das suas exibições despertaram o interesse do SL Benfica, que o recrutou para os seus quadros na temporada de 1963-1964.


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Um artigo da época sobre Luciano. Inclui uma fotografia de um jogo entre o SCO e o SLB, em que Luciano enfrenta Cávem, seu futuro companheiro, e que com ele poderia ter morrido no fatídico acidente. Fonte: ANTIGAS GLÓRIAS DO FUTEBOL ALGARVIO E ALENTEJANO



De águia ao peito


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No Benfica, mal-grado uma sucessão de irritantes lesões, Luciano confirmou ser um defesa de valor, eficiente, e com a qualidade técnica exigida pelo lugar. As recorrentes condicionantes físicas foram sempre o problema. Luciano era visto como o provável sucessor de Germano de Figueiredo, na liderança do eixo central da defesa Benfiquista, mas nunca pode confirmar as expectativas por via dessas condicionantes físicas.

E se o destino não tivesse sido tão cruel, provavelmente teria integrado uma linha de grandes centrais benfiquistas que teve nomes como Félix Antunes (década de 40), Artur Santos (50s), Germano de Figueiredo (60s) e Humberto Coelho (70s).

Luciano chegou ao Benfica na temporada em que o romeno Lajos Czeiler liderou o futebol benfiquista. Seria uma temporada de intenso domínio benfiquista nas provas nacionais, e também a melhor temporada de Luciano com a águia ao peito.

A sua estreia com o manto sagrado ocorreu no Estádio da Luz, no dia 5 de setembro de 1963, num evento de grande simbolismo para o Benfiquismo, em que José Águas teve a sua merecida festa de despedida, terminando uma carreira esplendorosa. Entre outras atividades, o SL Benfica disputou um jogo particular em que defrontou e venceu o FCP, por 3-2.

Entre as diversas substituições, Águas passou o testemunho a Torres enquanto que Luciano entrou para o lugar de Ângelo Martins. E, apesar de uma desatenção inicial que originou de um dos golos portistas, Luciano reagiu, mostrando caráter, quando poucos minutos depois fez uma assistência para um golo de José Torres. Estava ali um jogador para o futuro.


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5 de setembro de 1963, o dia da estreia de Luciano, na festa de despedida a José Águas.


Nessa primeira temporada, Luciano cumpriu 27 jogos oficiais, sendo 20 deles no campeonato (nota: números não verificados), tendo contribuído de forma relevante para a conquista do título nacional, garantida com 6 pontos de avanço sobre o FCP, 2º classificado, e que seriam 9 pontos no sistema de pontuação utilizado atualmente. Luciano foi opção regular até se ter lesionado gravemente em Guimarães, no dia 8-03-1964.

O Benfica conquistou também a Taça de Portugal dessa temporada, depois de esmagar o mesmo FCP, na final do Jamor, por 6-2. Nessa final, Germano de Figueiredo foi o titular no centro da defesa, mas Luciano participou em 4 dos 11 jogos da competição.

Infelizmente, a nível internacional a temporada não correu nada bem. Logo na 2ª ronda da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica foi eliminado de forma escandalosa perante o Borussia de Dortmund. Depois de uma vitória em Lisboa por 2-1, onde se desperdiçaram muitas oportunidades de golo, a nossa equipa foi copiosamente derrotada (0-5) em Dortmund, sofrendo 3 golos de rajada entre os minutos 33 e 36...

Nessa noite fria de Dortmund, sentiram-se muito as ausências de jogadores nucleares como eram Eusébio, Torres, Germano, Raúl, Neto, Ângelo e Costa Pereira. Luciano jogou ambos os jogos, mas em Dortmund, tal como os restantes companheiros, revelou grande inadaptação ao frio, às condições do terreno e à capacidade atlética do adversário.


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A equipa benfiquista que não evitou o desastre em Dortmund, a 4 de dezembro de 1963



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Luciano ao lado do guarda-redes Rita, a tentaram bloquear uma das investidas germânicas.



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Outra imagem extraordinária da impotência Benfiquista na noite de Dortmund. Luciano em primeiro plano a tentar ajudar o guarda redes Rita. Fonte: Gettyimages



A nível de seleções, quando chegou ao Benfica, Luciano contava já com uma internacionalização na seleção sub-21. Foi internacional ao lado dos futuros companheiros Jacinto, Jaime Graça e Serafim.

Em 15 de novembro de 1964, quando já integrava os quadros benfiquistas, o selecionador nacional Manuel da Luz Afonso, convocou-o para a seleção B, para disputar um jogo em Cordóva, contra a sua congénere espanhola (ver: https://www.fpf.pt/Jogadores/Jogador/playerId/730171). Seria a sua última internacionalização. A internacionalização pela seleção A nunca chegaria, ao contrário do que se lhe augurava.


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Uma das duas internacionalizações de Luciano; a seleção sub-21 que defrontou a Grécia, no Estádio Nacional no dia 14-04-1963 (vitória por 2-1).


Infelizmente, nas duas temporadas seguintes, Luciano jogou muito pouco, condicionado por sucessivas lesões. Nesse contexto, as negociações para renovação do seu contrato foram difíceis, levantando-se muitas dúvidas nos dirigentes do Benfica quanto à possibilidade de recuperar o atleta.

Atingido o acordo negocial, Luciano iniciou a temporada de 1966-67, encarando-a como uma nova oportunidade de confirmar as suas qualidades e reverter a má-sorte que até aí o havia atingido.

O Clube vivia então a ressaca da perda do campeonato nacional na temporada anterior, durante um turbulento e frustrante regresso de Béla Guttmann. No entanto, com o regresso do chileno Fernando Riera ao Benfica e com a notável prestação da linha ofensiva Benfiquista no Mundial de 1966, abriam-se boas perspetivas quanto à nova temporada. E assim seria, numa temporada em que o nosso mais forte oponente foi... a Académica de Coimbra!


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Dia 31 de janeiro de 1965, Luciano titular no empate arrancado em Alvalade: SCP 2- SLB 2.


Como se esperava, o Benfica arrancou bem no campeonato, registando 8 vitórias e 1 empate nas primeiras 9 jornadas, ali se incluindo duas vitórias conclusivas, na Luz, sobre SCP e FCP, ambas por 3-0. Essa série foi fechada a 4 de dezembro, com uma vitória em casa da Sanjoanense por 3-1.

Riera era um treinador que privilegiava equilíbrios táticos, não se convencendo com vertigens ofensivas. Para esse modelo de jogo, Riera contava com excelentes opções para o centro da defesa: Germano, Raúl, Jacinto, Humberto Fernandes e Luciano.

Não sendo particular apreciador das características de Germano de Figueiredo, Riera deu a titularidade a Luciano nas 5 primeiras jornadas até que este se lesionou no jogo contra o Atlético CP, em 16-10-1966. Até esse jogo, embora mostrasse a sua qualidade, notava-se que Luciano jogava algo condicionado pelo medo de novas lesões, mas isso era compreensível depois de um calvário de lesões. Naquele início de dezembro de 1966, a recuperação estava em curso, e Luciano tinha perspetivas legítimas de recuperar o lugar na equipa.


Detalhes adicionais sobre o trajeto Benfiquista de Luciano, podem ser lidos, aqui:
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/12/luciano-54.html


No próximo texto falaremos da manhã do trágico dia de 5 de dezembro de 1966.

Isto sim um post à Benfica.
As melhores mensagens fazem impressão, é só mensagens do tópico mundial. Irra
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Dezembro de 2022, 15:20
Citação de: Royal_Flush em 06 de Dezembro de 2022, 13:25
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
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Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

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Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


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No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




Que cena macabra.

Houve depois algum litígio com a família do Luciano ou ficou tudo resolvido por acordo?

É algo que também pensei diversas vezes.
Eu não era nascido e nunca tentei saber.

Tenho a ideia que terá sido incompetência dos técnicos que instalaram o aparelho. Sem conseguir confirmar, penso que seria da marca Whirlpool, mas terão sido técnicos do representante. Eram tempos muito diferentes e se calhar houve - se houve - lugar a uma indemnização ridícula...

Já o Benfica tinha e tem uma tradição de assistência a estes casos. Por essa altura houve também a tragédia de Augusto Silva e penso que passou a ser funcionário do Clube.
Luciano tinha origens muito humildes. Seguramente a sua ajuda seria fundamental para os seus pais. Estou convencido que o Benfica não os terá deixado desamparados. Espero que sim e que tenha sido seguida a tradição do Clube, que nessa altura tinha excelentes dirigentes, com Cultura de Clube.

Se alguém souber, que nos faça saber.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: HoMiCiDaL em 06 de Dezembro de 2022, 18:10
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56


obrigado pelo post fantástico  O0

RIP Luciano
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Torgal em 07 de Dezembro de 2022, 00:50
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
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Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

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Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

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Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


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Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


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Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.


Arrepiante.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Raydenn em 07 de Dezembro de 2022, 12:10
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
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Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


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No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


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Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

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Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


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Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


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Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


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Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


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Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


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Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.


Obrigado!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 13 de Dezembro de 2022, 22:32
-341-
Um gigante da velha Albion (parte I – de Grays a Londres)

Dia 10 de janeiro de 1938, Estádio The Den, Londres, Inglaterra.

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Nove jogadores do Millwall FC de 1937-1938. Fonte: Gettyimages


Os jogadores do Millwall FC ultimavam a preparação de um jogo de desempate contra o Manchester City, campeão inglês de futebol. Estava em disputa a qualificação para as meias-finais da Taça de Inglaterra de 1937-1938.


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O jovem Ted Smith, entre os seus colegas do Millwall FC, 1937-38


Essa eliminatória constituiu um dos maiores feito da história do Millwall FC. O desafio teve um amplo destaque dos media, existindo aliás um registo fílmico interessante e que nos mostra o encanto – até mesmo visual - desses tempos no futebol inglês.


https://www.youtube.com/watch?v=I2FO-XXfZN0 (https://www.youtube.com/watch?v=I2FO-XXfZN0)


Entre os jogadores do Millwall FC, nota-se a presença de um jovem, na altura com 24 anos, alto, loiro, atlético, chamado Edward John Smith. Era mais conhecido por "Ted Smith", e era o titular da defesa, jogando à direita, ainda no tradicional sistema de pirâmide (2x3x5).


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O jovem Ted Smith, defesa central à direita do Millwall FC de 1935 a 1947


Edward John Smith nasceu em Grays, uma pequena cidade situada no condado de Essex, Inglaterra. Nasceu no dia 3 de setembro de 1914, o ano em que deflagrou a I Guerra Mundial.

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Ted Smith foi um desportista e um cavalheiro durante toda a sua vida, em múltiplos locais e circunstâncias. Em outubro de 1948, alguns meses após terminar a sua carreira de futebolista, seria contratado para treinador principal de futebol do Sport Lisboa e Benfica. Um salto profissional que lhe daria cerca de 4 anos de grande intensidade coletiva e de conquistas relevantes. Mas, lá iremos...


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O jovem Ted Smith, defesa central à direita do Millwall FC de 1935 a 1947. Fonte: Gettyimages



De Grays até aos leões


Ted Smith iniciou-se no futebol em representação da equipa da sua escola primária, a Arthur Street School, em Grays. Passou depois por diversos pequenos clubes, caso do Thames Mills, do Grays Athletic FC em 1932 (https://www.graysathletic.co.uk/), do Barking FC (https://barking-fc.co.uk/) em 1933, e do Tilbury FC (https://tilburyfc.co.uk/) em 1934.


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As diversas etapas da carreira de futebolista de Ted Smith.


Em maio de 1935, Ted Smith assinou o seu primeiro contrato como jogador profissional de futebol, ao ser recrutado pelo Millwall FC (https://www.millwallfc.co.uk/). Fundado em 1885, o Millwall tinha uma maior dimensão social e desportiva, embora nessa altura também participasse numa liga secundária. Seria no Millwall, até 1947, que Ted Smith faria o resto da sua carreira de futebolista.


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O plantel do Millwall FC em 1937-1938. Ted Smith em destaque.


No Millwall FC, Ted Smith tornou-se titular, e figura relevante da equipa, logo na sua primeira temporada. Jogador de características defensivas, marcou apenas um golo durante toda a sua carreira de futebolista (em casa, frente ao Walsall, em março de 1937).

Na temporada de 1937-1938, o Millwall foi campeão da divisão III (Sul), ascendendo à Division II. Essa terá sido a temporada de maior sucesso de Ted Smith. Mas, seria nas eliminatórias da Taça de Inglaterra (F.A. Cup) das temporadas de 1936-1937 e 1937-1938, que o Millwall conseguiria atingir alguns dos maiores feitos da sua história. Em ambas, os leões enfrentaram o Manchester City.


Leões vs Citizens


Ora, em 1936-1937, no dia 6 de março de 1937, jogando no seu estádio "The Den", o Millwall eliminou o Manchester City (2-0), numa eliminatória que ainda hoje é considerada como um dos maiores "giant killings" da história da competição. Para se ter uma noção do feito, nessa mesma temporada, o Manchester City sagrou-se campeão de futebol de Inglaterra...

Não obstante, o Millwall cairia na meia-final, perdendo para o Sunderland FC, clube que conquistaria a Taça, vencendo na final o Preston Norht End (ver: https://en.wikipedia.org/wiki/1936%E2%80%9337_FA_Cup).


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Ted Smith num treino coletivo do Millwall FC. Fonte: Getty images



Quis o destino que na temporada seguinte, em 1937-1938, o Manchester City, agora campeão de Inglaterra em título, defrontasse de novo o Millwall. E, apesar de avisados pelo escândalo da temporada anterior, os citizens voltaram a sentir enormes dificuldades perante os leões.

Numa eliminatória épica, no dia 8 de janeiro 1938, o Millwall conseguiu empatar (2-2) o primeiro jogo, disputado no "The Den". Só no jogo de desempate, disputado no estádio Maine Road, então a casa dos citizens, o City conseguiu triunfar por 3-1, e com isso obter a sua desforra (ver: https://en.wikipedia.org/wiki/1937%E2%80%9338_FA_Cup).


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O programa do jogo de 8-01-1938


Em 1939, à semelhança de muitos outros futebolistas (Jimmy Hagan, do Sheffield United, por exemplo...), Ted Smith foi forçado a interromper bruscamente a sua carreira de futebolista, com o deflagrar da II Guerra Mundial. Esse hiato de seis anos, dos 25 até aos 31 anos, roubou-lhe aqueles que provavelmente teriam sido os seus melhores anos enquanto futebolista.

Mas, como muitas vezes o destino devolve algo do que tira, seria nesses anos que Ted Smith teve encontros que definiriam o resto da sua vida. Mas, lá iremos...

No final de 1945, com o fim da guerra, Ted Smith regressaria à atividade de futebolista, cumprindo mais três temporadas no Millwall. Em fevereiro de 1948, Ted Smith fez o seu último jogo pelo Millwall, em Bury, cumprindo um total de 161 jogos pelos leões.

Era chegado um outro tempo. O passo seguinte seria em Portugal, no Sport Lisboa e Benfica.

Nos próximos 3 textos falaremos mais extensamente de Ted Smith, enquanto homem e treinador de futebol.



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Dezembro de 2022, 19:36
-342-
Um gigante da velha Albion (parte II – o regresso do campeão)


Estádio Nacional, dia 12 de junho de 1949. O Sport Lisboa e Benfica conquista a sua 7ª Taça de Portugal em futebol!

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A equipa principal do Sport Lisboa e Benfica, que conquistou a Taça de Portugal em 1948-1949. De pé podemos identificar Ted Smith ladeado por Cândido Tavares (esquerda) e o dirigente Francisco Retorta (direita). Na extrema esquerda identificam-se o massagista Hugo Correia e o velho treinador Lipo Herczka. Os homens-chave do futebol benfiquista.


Liderada pelo inglês Ted Smith, a equipa benfiquista consolava os benfiquistas com uma vitória depois da perda do campeonato nacional. Nessa final, vencemos o Atlético CP (2-1; ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19471948/taca-de-portugal/1949-06-12/sl-benfica-2-x-1-atletico-cp). Foi a primeira conquista nacional de Ted Smith enquanto treinador do futebol do Benfica.

De 1948 a 1952, em três temporadas e meia, Ted Smith exerceu uma liderança sabedora e resoluta, tornando-se o primeiro inglês a orientar o futebol do Sport Lisboa e Benfica. Até então, o nosso Clube tinha contratado somente treinadores do leste europeu: primeiro um boémio/checo (Arthur John) e depois dois húngaros (Herczka e Biri).

Ao optar por um treinador vindo do ultra prestigiado futebol inglês, anunciavam-se mudanças efetivas. Cinco décadas depois dos tempos da fundação do Clube, em que os estrondosos embates com os ingleses do Carcavelos FC, foram importantes para fortalecer a Mística e a unidade do Clube, o Benfica abria portas a um footballer da velha Albion.

Ted Smith, literalmente um gigante inglês, deixou marcas no nosso futebol, trazendo algumas alterações de hábitos, e de opções técnico-táticas! Acima de tudo deu-nos a primeira vitória numa competição europeia, derrotando campeões de alguns dos países com o futebol mais competitivo da Europa (mediterrânica). Também a nível nacional, o Benfica regressou aos títulos e por isso enriqueceu o palmarés.

O retorno dado pelos benfiquistas foi amplo, apaixonado e generoso. O Clube proporcionaria ainda ao gigante inglês, um tempo inesquecível, repleto de experiências desportivas e culturais únicas e gloriosas!

Neste e no próximo texto, falaremos de algumas dessas vitórias e experiências, e de circunstâncias curiosas que caracterizaram a vida desportiva de Ted Smith, enquanto treinador.


Um encontro na Base das Lages


Tal como referimos no texto anterior, em setembro de 1939, Ted Smith interrompeu bruscamente a sua carreira de futebolista ao ser mobilizado para servir o seu país na 2ª Guerra Mundial.

Foi então destacado para a Base das Lajes, Santa Maria, Açores, talvez em finais 1943 ou já no início de 1944, pouco depois da assinatura dos acordos entre o estado português e os estados inglês e americano.


https://www.youtube.com/watch?v=68ZtYLmC0C0 (https://www.youtube.com/watch?v=68ZtYLmC0C0)
A história da base das Lages na perspetiva americana


Sucede que nesse tempo, na estrutura do comando português das referidas instalações militares, estava o engenheiro João Tamagnini Barbosa, cuja patente militar da altura me é desconhecida. Tamagnini Barbosa era também um excelso Benfiquista, e haveria de tornar-se amigo do militar inglês cujo passado desportivo certamente o terá impressionado. Poucos anos depois, a memória dessa convivência haveria de determinar o convite e a vinda de Ted Smith para o futebol benfiquista.

João Tamagnini Barbosa foi o 18º presidente do Sport Lisboa e Benfica. Exerceu o cargo de 25 de janeiro de 1947 até 15 de dezembro de 1948, data em que faleceu, tornando-se o único presidente a falecer no exercício das funções.

Ou seja, foi João Tamagnini Barbosa quem convidou Ted Smith para o cargo de treinador principal do futebol do Benfica embora trabalhassem juntos no Clube, apenas uns 2-3 meses...


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O Brigadeiro João Tamagnini Barbosa, presidente do Sport Lisboa e Benfica em 1947 e 1948


Quando ascendeu à presidência, João Tamagnini Barbosa, tinha pela frente a árdua tarefa de pacificar o Clube, então mergulhado em divisões internas, muito por causa da escolha do local da construção do futuro estádio e parque desportivo.

O clube precisava de regressar aos títulos, uma vez que os dois últimos campeonatos tinham sido perdidos para o Belenenses e para o Sporting. Bem para trás tinham ficado os anos bem-sucedidos sob o comando do húngaro János Biri.

Dessa forma, uma das tarefas fundamentais de Tamagnini Barbosa e Francisco Retorta, o principal dirigente benfiquista para o futebol; passava por uma escolha certeira de um novo treinador principal.

Para a temporada de 1947-1948, foi contratado Lipo Herczka, que regressava a um Clube que conhecia bem, e onde tinha sido bicampeão nacional na década de 30.

Infelizmente, apesar da igualdade pontual, a diferença de golos deu o título ao SCP dos "5 violinos", orientado por Cândido de Oliveira, tendo como treinador de campo o inglês Robert Kelly.

Para 1948-1949, Tamagnini Barbosa e Francisco Retorta montaram uma estrutura similar à dos rivais, contratando um treinador principal, que, com maior vitalidade, coordenasse todo o futebol do clube, e que desse um novo ímpeto de modernização ao futebol do Clube.

Percebe-se assim que Tamagnini Barbosa se tenha lembrado do seu jovem amigo inglês dos tempos açoreanos. Alguém a quem reconhecia virtudes e conhecimentos necessários para a tarefa. A adaptação de Ted Smith foi bem pensada, tendo um intérprete em regime permanente, função que suponho possa ter sido acumulada pelo treinador-adjunto Cândido Tavares, e mantendo-se Lipo Herczka, mas agora como treinador de campo.

E, apesar do inglês ser um desconhecido, e de ainda não ter currículo como treinador, a vontade do presidente impôs-se.


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Um loiro inglês para treinar o Benfica... Fonte: Hemeroteca Lx


Para os benfiquistas, apesar da falta de currículo, havia a noção de que o novo treinador vinha da pátria do futebol, do país com o futebol mais prestigiado e com a organização mais desenvolvida desse tempo, quer nas vertentes desportiva quer empresarial. Aliás, em Portugal estava bem demonstrada a tremenda força do futebol inglês, pois em maio de 1947, a seleção inglesa veio a Portugal esmagar a portuguesa por 10-0... Não foi por acaso que, nesse final da década de 40, e num tempo ainda não existiam competições europeias oficiais, o Benfica disputou alguns jogos amigáveis com clubes britânicos (Charlton, Rangers e Arsenal).

Ted Smith aceitou o repto do presidente benfiquista e, em outubro de 1948, mudou-se para Lisboa, mostrando-se favoravelmente impressionado nos seus primeiros contactos com o Clube.


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Ted Smith ambientando-se ao novo Clube, jogadores e jornalistas. Fonte: Hemeroteca Lx


Ao gigante inglês foi atribuído um amplo raio de ação, acompanhando também de perto, as atividades das equipas das reservas e de juniores. Esta última categoria beneficiava ainda da existência de uma "Escola de Jogadores", que recentemente tinha sido instituída.


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Ted Smith acompanhando categorias de reserva e juniores.


Ted Smith trouxe algumas inovações táticas (modelo 3x2x5), a adoção de marcações cerradas e de um exaustivo estudo dos adversários. Foi uma temporada de contratações pouco sonantes, apostando-se mais na progressão e no aproveitamento dos recursos humanos existentes.

Apesar de algumas melhorias relativamente a um passado recente, essa primeira temporada de Ted Smith não seria fácil, persistindo uma desvantagem competitiva para com o SCP, ainda liderado por Cândido de Oliveira, voltou a conquistar o título, mas desta vez com 5 pontos de avanço.

Apesar da perda do campeonato, Mário Madeira, o novo presidente, manteve a confiança em Ted Smith. E, com a saída de Lipo Herczka para o União de Montemor (onde haveria de falecer pouco tempo depois) a dupla Ted Smith e Cândido Tavares manteve-se ao leme da equipa. A aposta haveria de frutificar.


Enfim, campeão!


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Ted Smith (de pé, à esquerda) com o plantel do Sport Lisboa e Benfica, campeão nacional de futebol em 1949-1950.


A temporada de 1949-1950 seria a segunda e a mais bem-sucedida de Ted Smith. Seria, aliás, uma das mais bem-sucedidas da História do Benfica. O plantel contava com cerca de uma dezena de novos recrutas, mas na verdade os que mais impacto tiveram vieram das camadas jovens (Bastos e Artur Santos). As melhorias competitivas foram ainda mais vincadas, e permitiram conquistar o campeonato nacional com 6 pontos de avanço sobre o SCP.

Curiosamente, não foi possível conquistar a dobradinha, porque a FPF tinha decidido que nesse ano não se realizaria a Taça de Portugal, tradicionalmente disputada no final da temporada. Ao que se diz, esta decisão absurda ter-se-á devido à ilusão da FPF de que a seleção nacional poderia vir a participar no Mundial de 1950, no Brasil!

É que, apesar de ter sido eliminada na qualificação frente à Espanha, com a desistência de numerosos países em participar no evento, terá havido vontade da organização brasileira em convidar a FPF.... Acabou por haver (ou por ser imposto pela FIFA...) algum bom senso, e desvaneceu-se a ilusão, mas também acabou por não se disputar essa edição da Taça de Portugal. Antes como agora, a FPF tem quase sempre dirigentes que são bons ilusionistas.



De novo, a irregularidade


A temporada de 1950-1951, a terceira de Ted Smith, seria marcada por uma enorme irregularidade competitiva, pagando-se o preço do desgaste físico provocado pela longa digressão por terras de África (que mencionaremos no próximo texto).

O campeonato seria no novamente perdido para o SCP, e de tal forma foi desastroso que o Benfica ficou no 3º lugar, a 15 pontos do SCP. Pagou-se caro a inexperiência...

Nessa temporada, com exceção da extraordinária contratação de José Águas, uma descoberta sensacional feita durante a digressão por África; os restantes novos recrutas teriam pouco impacto na equipa principal.

No final da temporada, e uma vez mais, vencemos a Taça de Portugal, no caso a 8ª da nossa História. Derrotamos a equipa da Académica de Coimbra (5-1) numa final onde se assistiu a mais uma tarde de gala de Rogério Pipi, autor de 4 golos (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19501951/taca-de-portugal/1951-06-10/sl-benfica-x-academica). Facto curioso, é que nos estudantes militavam entre outros, o nosso antigo avançado Rui Gil, e Melo, o pai do "nosso" António Melo!


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Ted Smith com a equipa principal do Sport Lisboa e Benfica, que conquistou a Taça de Portugal em 1950-1951.



Uma temporada bizarra

A quarta e última temporada de Ted Smith foi no mínimo bizarra, e nunca ficou bem esclarecida. Sem grandes contratações, o Benfica até arrancou bem no campeonato, liderando a prova em acesa disputa com o FCP. No entanto, a 2 de dezembro, o Benfica deslocou-se a Guimarães, perdeu o jogo(1-2) e com isso cedeu a liderança aos portistas.

Na semana seguinte, alegando razões pessoais, Ted Smith abandonou a equipa, partindo de forma abrupta para Inglaterra. A direção Benfiquista optou por convidar Cândido Tavares a ascender ao comando da equipa de futebol. Antigo guarda redes do Clube, e colaborador de grande dedicação, Cândido Tavares aceitou o desafio.


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Cândido Tavares, alguns anos mais tarde a orientar um treino de uma seleção portuguesa.


Curiosamente, na mesma altura, também o treinador do FCP decidiu abandonar os azuis e brancos. No meio de toda esta bizarria, o SCP que até tinha começado mal o campeonato ia recuperando na tabela e passou a disputar o título.

E para que a bizarria atingisse níveis ainda superiores, no final de fevereiro de 1952, Ted Smith regressou a Portugal e apresentando-se a Francisco Retorta, mostrou disponibilidade para retomar o seu cargo. Como nessa semana o Benfica tinha perdido por 0-2 nas Salésias frente ao Belenenses, e porque a equipa não evidenciava grande fiabilidade, ou por outras razões desconhecidas, o inglês foi autorizado a regressar ao leme da equipa. O que esta história não daria em espalhafato mediático nos dias de hoje...

Infelizmente, nada melhorou... Na jornada seguinte defrontamos o SCP e perdemos por 2-3, com várias expulsões e com um dos golos leoninos obtido em claro fora de jogo. Logo de seguida fomos empatar à Amoreira, perante o Estoril Praia, e com isso selou-se a entrega do título. Terminamos em 2º lugar a 1 ponto do SCP. Perdeu-se um título que esteve na nossa mão.

Felizmente, no fecho da temporada, uma vez mais vencemos a Taça de Portugal, a 9ª da nossa História. Numa partida épica derrotamos o SCP por 5-4 (ver: https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19511952/taca-de-portugal/1952-06-15/sl-benfica-5-x-4-sporting). Foi talvez a mais sensacional final de sempre e uma nova tarde de glória de Rogério Pipi, autor de três golos. O seu último, e decisivo golo, foi obtido a alguns segundos do apito final.


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A equipa principal do Sport Lisboa e Benfica que conquistou a 9ª Taça de Portugal, em 1951-1952. O treinador Cândido Tavares, está em pé, à direita.


Nessa final épica a equipa foi orientada uma vez mais pelo discreto e competente Cândido Tavares. É que Ted Smith já tinha novamente regressado a Inglaterra... Ou seja Ted Smith voltou em março e partiu em abril.... Quaisquer que tenham sido as suas razões, certo é que essa temporada foi uma das mais bizarras da nossa História.

No próximo texto, falaremos brevemente de alguma das mais extraordinárias experiências que Ted Smith viveu ao serviço do Glorioso.

No quarto e último texto desta série, falaremos das circunstâncias do regresso de Ted Smith a Portugal, já na década de 70.




Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 15 de Dezembro de 2022, 15:09
(https://pbs.twimg.com/media/Fj-d8Y-XkAI8oJc?format=jpg&name=900x900)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Dezembro de 2022, 17:26
Citação de: Baron_Davis em 15 de Dezembro de 2022, 15:09
(https://pbs.twimg.com/media/Fj-d8Y-XkAI8oJc?format=jpg&name=900x900)

Extraordinária fotografia.

Tenho ideia que foi tirada em Londres, em 1962, quando o Benfica jogou e eliminou o Tottenham.

Como falarei num dos textos a publicar, nessa altura o Benfica estava hospedado em Londres, no Park Lane Hotel. E foi no exterior desse hotel que José Águas teve em reencontro emotivo com Ted Smith, seu antigo treinador e o homem que deu o aval ou deu a sugestão de o contratarem ao Lusitano do Lobito.

Obrigado pela partilha.


adenda:


https://www.gettyimages.pt/detail/fotografia-de-notícias/portuguese-footballer-fernando-cruz-portuguese-fotografia-de-notícias/1412865244?adppopup=true (https://www.gettyimages.pt/detail/fotografia-de-not%C3%ADcias/portuguese-footballer-fernando-cruz-portuguese-fotografia-de-not%C3%ADcias/1412865244?adppopup=true)


Benfica Players Take A Stroll, 1962
Portuguese footballer Fernando Cruz, Portuguese footballer Jose Aguas (1930-2000), Portuguese footballer Mario Coluna (1935-2014), Portuguese footballer Eusebio (1942-2014), Portuguese footballer Antonio Simoes, and Portuguese footballer Santana (1936-1989) walk through an unspecified park in London, England, 5th April 1962. The Portuguese champions are in London to play the second leg of their European Cup semi final against Tottenham Hotspur; Spurs won the second leg 2-1 but Benfica won the tie 4-3 on aggregate. (Photo by Evening Standard/Hulton Archive/Getty Images)



A Getty troca José Augusto por Fernando Cruz  :crazy2:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: DBdennisDB em 15 de Dezembro de 2022, 18:05
Citação de: Baron_Davis em 15 de Dezembro de 2022, 15:09
(https://pbs.twimg.com/media/Fj-d8Y-XkAI8oJc?format=jpg&name=900x900)

Sr.Coluna. :smitten:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 15 de Dezembro de 2022, 19:21
Citação de: DBdennisDB em 15 de Dezembro de 2022, 18:05
Citação de: Baron_Davis em 15 de Dezembro de 2022, 15:09
(https://pbs.twimg.com/media/Fj-d8Y-XkAI8oJc?format=jpg&name=900x900)

Sr.Coluna. :smitten:

Sr José Augusto; Sr José Águas; Sr Coluna; Sr King; Sr Simões; Sr Santana
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 15 de Dezembro de 2022, 19:22
-343-
Um gigante da velha Albion (parte III – de Lisboa para o mundo)

Estádio Nacional, dia 18 de junho de 1950, o Sport Lisboa e Benfica sagra-se campeão latino de futebol!

Liderada pelo inglês Ted Smith, a equipa campeã de Portugal conquistava a sua primeira glória europeia!


(https://i.postimg.cc/W4G7hvZW/3-01.jpg)
Uma montagem que homenageia os campeões latinos e o seu treinador, o inglês Ted Smith.


Depois de eliminar a Lazio, o campeão italiano (3-0) e após uma finalíssima contra os Girondinos de Bordeús, que se prolongou por dois prolongamentos e mais de duas horas, o Benfica venceu com um golo de Julinho.

Entre os jogadores extenuados e um público exultante, Ted Smith terá tido muita dificuldade em dominar as suas emoções. Infelizmente nunca vi alguma fotografia, ou filme, que o mostre nesse dia no palco do Jamor.

Antes do início da competição, Ted Smith mostrava-se convicto das possibilidades do Benfica vencer.

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Declarações de Ted Smith antes do início da Taça Latina de 1949-1950.


A conquista desta competição europeia, a primeira da História do Benfica ou de qualquer clube português, teve as suas circunstâncias, mas teve também um indiscutível mérito. E mais do que qualquer outra conquista, foi a Taça Latina que fez com que o nome de Ted Smith tenha ficado, para sempre, escrito a ouro na História do Sport Lisboa e Benfica.


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Uma página gloriosa do nosso Clube.



A vitória mais amarga


O Estádio Nacional, naquele tempo, era o mais bonito e funcional campo de futebol do nosso país. Foi aliás palco frequente dos jogos de futebol em que o Benfica enfrentou adversários europeus e sul-americanos que vieram em digressão a Portugal. Foi também esse o caso do Torino, que naquela trágica homenagem ao capitão Francisco Ferreira, acabaria por ser vitimado pelo funesto desastre de Superga.

Nesse dia 3 de maio de 1949, o Torino também era orientado por um treinador inglês, que certamente terá trocado palavras de apreço e de experiências com o nosso Ted Smith. A vitória (4-3) obtida sobre a grande equipa do Torino, foi muito prestigiante para ao Benfica e para Ted Smith, mas infelizmente, a tragédia do dia seguinte, obliterou o feito desportivo. Tornou-se uma data quase maldita.


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Os treinadores Leslie Lieveslly (Torino AC) e Ted Smith (treinador do SL Benfica), com o árbitro Pearce. Fonte: Hemeroteca Lx



Pelas colónias, prestigiando o Benfiquismo


Logo depois da conquista da Taça Latina, entre o final de Julho e o princípio de setembro, o Benfica fez uma longa e cansativa digressão por terras de África (Moçambique, África do Sil, Angola e Congo Belga). Alberto Miguéns deu-nos alguns extraordinários reportes dessa aventura única que podem ser lidos aqui:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/09/sob-o-signo-das-primeiras-vezes-iv.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/12/o-meu-brinquedo-de-natal.html


(https://i.postimg.cc/LXhhGkmt/3-05.jpg)
Fonte: blogue EDB


Como bom súbdito inglês, certamente que Ted Smith terá apreciado as riquíssimas experiências sociais e culturais proporcionadas por tão longa digressão por algumas colónias ultramarinas portuguesas. Comunidades e geografias que iriam mudar muito nas décadas seguintes...


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Ted Smith em algumas das etapas de gloriosa digressão Benfiquista por terras de África, em julho-setembro 1950.


A digressão foi também uma extraordinária jornada de propagação do Benfiquismo, tal o brilho desportivo e social de que se revestiu. Ainda hoje existem muitos fiéis e dedicados benfiquistas entre os povos angolanos e moçambicanos. Abriu ainda mais espaço para se explorar o filão de jogadores africanos, que tão fundamentais foram para as gloriosas conquistas da década de 50 e 60.

Seria em Lobito, por sinal uma das paragens que traria uma rara derrota à nossa equipa, que seria descoberto José Águas. Decisivo na nossa derrota, ao nos marcar dois golos com a camisola do Lusitano do Lobito, José Águas despertou desde logo um enorme interesse a Rogério Pipi e a Ted Smith.

Águas foi convidado para o banquete oferecido nessa noite à comitiva Benfiquista, e ali mesmo terá sido abordado por Rogério Pipi, que nos deixou as suas recordações sobre esse momento.


(https://i.postimg.cc/qMH2S75N/3-07.jpg)
Recordações de Rogério. Nota: a imagem é relativa a um jantar em Luanda, serve para fins ilustrativos. Fonte: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/09/rogerio-responde-e-bem.html


(https://i.postimg.cc/4N1H0Qc0/3-08.jpg)
Uma imagem de sofrimento de José Águas já no nosso Estádio do Campo Grande, saindo do terreno apoiado na equipa médica, e com Ted Smith a acompanhar. Fonte: Helena Águas.


Apesar do desgaste acumulado que viria a ter preço elevado na temporada de 1950-1951, a comitiva Benfiquista trouxe o sentimento de dever cumprido. Uma experiência inolvidável, prestigiante e formativa.


(https://i.postimg.cc/yxyxw7DR/3-09.jpg)
A comitiva Benfiquista no regresso a Portugal continental. Ted Smith é o penúltimo, de pé, à direita.


Na pérola do Atlântico


Tradicionalmente um dos destinos favoritos dos britânicos, a ilha da Madeira foi outro dos destinos fora de Portugal continental em que Ted Smith teve o privilégio de integrar uma comitiva benfiquista.


(https://i.postimg.cc/kXhqDVP4/3-10.jpg)


Detalhes desta digressão podem ser lidos aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2011/12/glorioso-na-madeira-esta-se-bem.html
E citando o autor, Alberto Miguéns: "Uma grande jornada que fez do Benfica, definitivamente, o clube mais popular na Madeira, cimentando em 1949, a simpatia que expandira em 1922 e 1936."


Neste texto escolhemos apenas algumas das mais extraordinárias experiências sociais, desportivas e culturais que Ted Smith viveu ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. Experiências que demonstraram a grandeza que o Clube já gozava nessa altura, e que contribuíram para a multiplicar muito.

A grandeza constrói-se dentro e fora de campo. Felizes dos profissionais que trabalham num Clube destes. Feliz do Clube que tem profissionais destes. Eterno, Benfica!

No próximo texto finalizaremos a evocação de Ted Smith, falando dos seus anos finais.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jayson Tatum em 16 de Dezembro de 2022, 01:00
Citação de: RedVC em 15 de Dezembro de 2022, 19:22

(https://i.postimg.cc/qMH2S75N/3-07.jpg)

Rogério Pipi.

O goleador, o galã.

E o negociador!

"No final fale com o nosso treinador"  :smokin:  :drunk:
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Dezembro de 2022, 19:32
-344-
Um gigante da velha Albion (parte IV – os anos finais)


(https://i.postimg.cc/vTMgNf8P/4-01.jpg)
Dois tempos distintos de Ted Smith como treinador de futebol.
Na década de 50 com o Benfica e na década de 70 com o Atlético.


Logo depois de abandonar o Benfica, Ted Smith regressou ao seu país, tendo algum tempo depois sido convencido a assumir o cargo de treinador principal dos amadores do Workington AFC (https://profilpelajar.com/article/Workington_A.F.C.), equipa da cidade com o mesmo nome, em Allerdale, Cumbria, no noroeste de Inglaterra. Pelo Workington passariam, anos mais tarde, outros treinadores que ganhariam fama como Bill Shankly e Keith Burkinshaw.

Tudo indica que essa foi uma experiência breve a que não deu continuidade, pelo menos numa base regular. Continuava, no entanto, a ser procurado por alguns clubes, que lhe pagavam para ser olheiro, custeando o bilhete do seu bolso, como um qualquer espetador, para assim ver e reportar qualidades e defeitos nos jogadores que mereciam interesse de quem o procurava.

A sua principal atividade seria, no entanto, o negócio dos pubs, tendo sido senhorio (ou dono?) do Red Cross Pub, situado em Lancaster, Skerton, numa das margens do rio Lune, no condado de Lancashire. Em 1967, voltou a aceitar um desafio, desta vez dos amadores Lancaster City FC, clube sediado na cidade onde vivia.


(https://i.postimg.cc/c4kCQV3k/4-02.jpg)
O Red Cross Pub, situado em Lancaster, Skerton, e que foi propriedade de Ted Smith.


Ted Smith nunca se esqueceu dos seus gloriosos dias de Lisboa e do Benfica, havendo indicação que terá tido um reencontro emotivo com José Águas, no exterior de um hotel em Park Lane, Londres, onde o Benfica estava hospedado.

(https://i.postimg.cc/DzTTsgxY/4-02b.jpg)
José Águas, capitaneando o jogo contra o Tottenham, cumprimenta Danny Blechflowers, capitão dos Spurs antes do épico jogo de Londres, em março de 1962


A nossa equipa preparava-se para enfrentar o Tottenham Hotspurs, numa emocionante meia final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1962. O Benfica viria a perder esse jogo épico, mas a vencer a eliminatória, acedendo à final de Amesterdão onde se viria a sagrar bicampeão europeu vergando o Real Madrid.

Não custa imaginar a alegria e o orgulho de Ted Smith ao saber dessas conquistas europeias, tendo ele sido o desbravador dessas epopeias, talvez vendo nelas um pouco de si, do seu trabalho, dos seus ensinamentos.


Os anos finais em Lisboa


(https://i.postimg.cc/x8cDYFdq/4-03.jpg)
Ted Smith (de pé, à esquerda), treinador do Atlético CP em 1971-1972


Em 1971, quando nada o faria esperar, regressa a Portugal, e à atividade de treinador de futebol, aceitando um desafio do Atlético CP. Orientou então os alcantarenses de 1971 a 1973, aquando do regresso do clube à primeira divisão. Na primeira temporada conseguiria um 10º lugar entre 16 participantes, mas na segunda, e com um plantel significativamente enfraquecido, ficou-se pelo 15º lugar, com consequente descida à segunda divisão.

A direção alcantarense optou então por nomear o antigo sportinguista Fernando Mendes para treinador, relegando Ted Smith para treinador das camadas jovens. A inerente redução salarial e um conjunto de circunstâncias diversas, terão levado Ted Smith e a esposa a acabar por ter de viver algum tempo numa "roulotte". Foi nessas circunstâncias que deu uma entrevista a "A Bola", mas onde manteve a sua postura irrepreensível de cavalheiro com uma invulgar estrutura moral e ética.


(https://i.postimg.cc/5t3ZzMY6/4-04.jpg)
Ted Smith a viver numa "roulotte". A dignidade de um cavalheiro, de um homem vertical.


Açores, porto de abrigo, trabalho e carinho


Felizmente, uma vez mais os Açores teriam papel virtuoso na vida de Ted Smith. Recebeu um convite para dinamizar o futebol juvenil nos Açores, feito por João Gago da Câmara, então o Presidente da Associação de Futebol de Ponta Delgada.

Aqui se pode ler um testemunho da sua importante ação no fomento do futebol açoreano: https://www.rtp.pt/acores/desporto/ted-smith-um-tecnico-que-veio-de-longe-joao-de-brito-zeferino_8007

Citando uma passagem sugestiva: "Cavalheiro de fino trato e duma simplicidade a toda a prova, Ted só tinha o pecado, em nossa opinião, de nunca ter dominado a língua portuguesa, falando sempre a língua de Camões um pouco intercalada com a de Shakespeare, o que dava uma miscelânea interessante e até divertida, que nos permitia a todos que com ele privavam, uma forma de respeitosa e sincera amizade.".

E é nos Açores, que encontramos o rasto da sua atividade, nomeadamente na freguesia Porto Formoso, onde, desenvolveu meritório trabalho, guindando a turma furnense para lugares cimeiros do futebol Açoreano. E, a julgar pelos testemunhos, deixou sempre uma imagem de um homem vertical, de fino trato e profundo conhecedor de futebol. Um irredutível cavalheiro.


(https://i.postimg.cc/fLyg0SQr/4-05.jpg)
Equipa de futebol amadora do Porto Formoso. Ted Smith (em pé, à direita) a transmitir os seus conhecimentos. Fonte: https://acasadamosca.blogspot.com/2006/01/onde-pra-o-nosso-futebol.html


Olhando para a carreira de Ted Smith, enquanto treinador futebol, de todo se pode falar em continuidade, e nunca de falta de conhecimentos e talento para as funções. Talvez a sua personalidade não se adequasse às exigências e às pressões, muitas vezes injustas, da profissão de treinador de futebol.


(https://i.postimg.cc/rwbvC9QL/4-06.jpg)
Os emblemas dos clubes em que Ted Smith treinou.


Regressaria a Lisboa atormentado por uma grave doença. Os jornais noticiariam a sua morte, ocorrida no Hospital dos Ingleses, em Lisboa, no dia 18 de janeiro de 1989. Foi sepultado no Cemitério dos Ingleses, na freguesia da Estrela, em Lisboa, onde repousa para a eternidade.


(https://i.postimg.cc/Gp2Zv5kK/4-07.jpg)
Obituário de Ted Smith. Fonte: DL


É importante que, para lá de alguma futilidade dos dias que correm, para lá das figuras menores que povoam o futebol, inclusivamente do nosso Clube, que os Benfiquistas sejam cultos na História do seu Clube, na Mística, nos Valores, nas suas Figuras maiores e do respetivo legado. Ver o Clube por aquilo que ele foi, que ele é e aquilo que desejamos que ele seja. Uma construção coletiva, virtuosa, respeitosa e respeitadora. O Clube acima de tudo.

Ted Smith foi uma dessas figuras. Merece ser conhecido, lembrado, homenageado.

Honrai agora os Ases que nos honraram o passado.


Obrigado, Mister Ted Smith!
Para sempre uma glória do Sport Lisboa e Benfica!
Descanse em paz.

(https://i.postimg.cc/jd49mbcv/4-08.jpg)

Edward John "Ted" Smith
(Grays, Inglaterra, 1914 – Lisboa, Portugal, 1989)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 18 de Dezembro de 2022, 12:12
(https://pbs.twimg.com/media/FkLki7jXoAE9azD?format=jpg&name=medium)

(https://pbs.twimg.com/media/FkLk8BpX0AEocKK?format=jpg&name=360x360)

em dia de final de mundial onde a Argentina estará presente, relembrar que o Maior os defrontou em 1982 no Monumental em Bueno Aires
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Dezembro de 2022, 13:21
Citação de: Baron_Davis em 18 de Dezembro de 2022, 12:12
(https://pbs.twimg.com/media/FkLki7jXoAE9azD?format=jpg&name=medium)

(https://pbs.twimg.com/media/FkLk8BpX0AEocKK?format=jpg&name=360x360)

em dia de final de mundial onde a Argentina estará presente, relembrar que o Maior os defrontou em 1982 no Monumental em Bueno Aires


https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4 (https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4)

(https://th.bing.com/th/id/OIP.2jEZWTkKTZTkGwklywv_NAHaEK?pid=ImgDet&rs=1)


(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422577_8.jpg?1637030643)(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422578_8.jpg?1637030645)

https://www.julienslive.com/lot-details/index/catalog/398/lot/168975

"Diego Maradona 1982 match worn Argentina shirt. The blue Le Cog Sportif brand shirt features the Argentine Football Association crest sewn on the left breast area. On the back of the long-sleeve shirt, Maradona's number "10" is embroidered in white lettering. Maradona wore the shirt during a friendly match against Benfica Lisbon on May 26, 1982. Argentina won 1-0."



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: NotARiot em 18 de Dezembro de 2022, 21:56
(https://i.ibb.co/dWwwd2q/20221218-215534.jpg) (https://ibb.co/dWwwd2q)

Alguém sabe quem é?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: a13263 em 18 de Dezembro de 2022, 21:58
Citação de: NotARiot em 18 de Dezembro de 2022, 21:56
(https://i.ibb.co/dWwwd2q/20221218-215534.jpg) (https://ibb.co/dWwwd2q)

Alguém sabe quem é?

Capristano.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: jp23 em 19 de Dezembro de 2022, 08:19
(https://i.ebayimg.com/images/g/rfYAAOSwKcNiKJTC/s-l1600.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 20 de Dezembro de 2022, 21:44
Citação de: jp23 em 19 de Dezembro de 2022, 08:19
(https://i.ebayimg.com/images/g/rfYAAOSwKcNiKJTC/s-l1600.jpg)

Eusébio e Trapattoni, Wembley, 22 de maio 1963.

Talvez a final europeia mais fácil perdida pelo Benfica. Um absurdo que talvez se explique pela agressão de Pivatelli a Coluna. Tão bárbara quanto impune.

(https://i.postimg.cc/8kZrqQG0/gettyimages-833089196-2048x2048.jpg)



Já agora, para o que gostam de pdfs de revistas antigas de desporto, aqui fica um sítio onde podem descarregar:


https://www.tapatalk.com/groups/roonbafr/magazine-digital-archive-t3230.html

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: jp23 em 21 de Dezembro de 2022, 05:00
Citação de: RedVC em 20 de Dezembro de 2022, 21:44
Citação de: jp23 em 19 de Dezembro de 2022, 08:19
(https://i.ebayimg.com/images/g/rfYAAOSwKcNiKJTC/s-l1600.jpg)

Eusébio e Trapattoni, Wembley, 22 de maio 1963.

Talvez a final europeia mais fácil perdida pelo Benfica. Um absurdo que talvez se explique pela agressão de Pivatelli a Coluna. Tão bárbara quanto impune.

(https://i.postimg.cc/8kZrqQG0/gettyimages-833089196-2048x2048.jpg)



Já agora, para o que gostam de pdfs de revistas antigas de desporto, aqui fica um sítio onde podem descarregar:


https://www.tapatalk.com/groups/roonbafr/magazine-digital-archive-t3230.html



Curiosamente não encontro fotos dos 2 aquando da passagem do Trapattoni pelo Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Dezembro de 2022, 09:10
Citação de: jp23 em 21 de Dezembro de 2022, 05:00
Citação de: RedVC em 20 de Dezembro de 2022, 21:44
Citação de: jp23 em 19 de Dezembro de 2022, 08:19
(https://i.ebayimg.com/images/g/rfYAAOSwKcNiKJTC/s-l1600.jpg)

Eusébio e Trapattoni, Wembley, 22 de maio 1963.

Talvez a final europeia mais fácil perdida pelo Benfica. Um absurdo que talvez se explique pela agressão de Pivatelli a Coluna. Tão bárbara quanto impune.

(https://i.postimg.cc/8kZrqQG0/gettyimages-833089196-2048x2048.jpg)



Já agora, para o que gostam de pdfs de revistas antigas de desporto, aqui fica um sítio onde podem descarregar:


https://www.tapatalk.com/groups/roonbafr/magazine-digital-archive-t3230.html



Curiosamente não encontro fotos dos 2 aquando da passagem do Trapattoni pelo Benfica.

Provavelmente em algum tempo terá ficado desfeito o equívoco que o nosso Monstro Sagrado guardou durante muitos anos sobre quem o lesionou naquele dia.

O Sr. Coluna pensava que tinha sido Trapattoni mas na verdade foi Pivatelli... Foi um crime lesa-futebol que deveria ter sido punido com expulsão sumária.

O Benfica foi duplamente roubado nesses dia. O Sr. Coluna sabia bem o que tinha sofrido e quanto isso fez ruir as probabilidades de ganhar. Os italianos eram conhecidos por essa manhas desonestas e não ficou surpreendido que tenha sido deliberado. O ressentimento era justificado, embora na pessoa errada


https://www.record.pt/futebol/futebol-nacional/liga-bwin/benfica/detalhe/trapattoni-inocente-no-caso-coluna

Leitura interessante... indica que o capitão Maldini assegurou que nunca foi propositado, mas o Sr. Coluna não pareceu muito convencido:

https://www.theguardian.com/football/blog/2020/apr/11/pivotal-pivatelli-how-random-events-helped-elevate-two-great-milan-sides



Esta foto parece comprovar que em algum tempo terá sido esquecido, atenuado ou eliminado esse equívoco.


(https://i.postimg.cc/T1RDfZvw/transferir-1.jpg)

Hilário (SCP), Joaquim Chissano (presidente Moçambique), Mário Coluna, Jorge Sampaio (presidente Portugal), Giovanni Trapattoni e Eusébio.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: jp23 em 21 de Dezembro de 2022, 16:12
Citação de: RedVC em 21 de Dezembro de 2022, 09:10
Citação de: jp23 em 21 de Dezembro de 2022, 05:00
Citação de: RedVC em 20 de Dezembro de 2022, 21:44
Citação de: jp23 em 19 de Dezembro de 2022, 08:19
(https://i.ebayimg.com/images/g/rfYAAOSwKcNiKJTC/s-l1600.jpg)

Eusébio e Trapattoni, Wembley, 22 de maio 1963.

Talvez a final europeia mais fácil perdida pelo Benfica. Um absurdo que talvez se explique pela agressão de Pivatelli a Coluna. Tão bárbara quanto impune.

(https://i.postimg.cc/8kZrqQG0/gettyimages-833089196-2048x2048.jpg)



Já agora, para o que gostam de pdfs de revistas antigas de desporto, aqui fica um sítio onde podem descarregar:


https://www.tapatalk.com/groups/roonbafr/magazine-digital-archive-t3230.html



Curiosamente não encontro fotos dos 2 aquando da passagem do Trapattoni pelo Benfica.

Provavelmente em algum tempo terá ficado desfeito o equívoco que o nosso Monstro Sagrado guardou durante muitos anos sobre quem o lesionou naquele dia.

O Sr. Coluna pensava que tinha sido Trapattoni mas na verdade foi Pivatelli... Foi um crime lesa-futebol que deveria ter sido punido com expulsão sumária.

O Benfica foi duplamente roubado nesses dia. O Sr. Coluna sabia bem o que tinha sofrido e quanto isso fez ruir as probabilidades de ganhar. Os italianos eram conhecidos por essa manhas desonestas e não ficou surpreendido que tenha sido deliberado. O ressentimento era justificado, embora na pessoa errada


https://www.record.pt/futebol/futebol-nacional/liga-bwin/benfica/detalhe/trapattoni-inocente-no-caso-coluna

Leitura interessante... indica que o capitão Maldini assegurou que nunca foi propositado, mas o Sr. Coluna não pareceu muito convencido:

https://www.theguardian.com/football/blog/2020/apr/11/pivotal-pivatelli-how-random-events-helped-elevate-two-great-milan-sides



Esta foto parece comprovar que em algum tempo terá sido esquecido, atenuado ou eliminado esse equívoco.


(https://i.postimg.cc/T1RDfZvw/transferir-1.jpg)

Hilário (SCP), Joaquim Chissano (presidente Moçambique), Mário Coluna, Jorge Sampaio (presidente Portugal), Giovanni Trapattoni e Eusébio.

Muito interessante! Obrigado
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Dezembro de 2022, 21:45
Ano novo que aí vem, ano velho que aí vai...


Para todos os leitores e contribuintes deste tópico:


(https://i.postimg.cc/vBZJc6dR/Festas-Felizes-decifrando.jpg)


Um abraço para todos, e VIVA O BENFICA!


nota: a imagem do fundo deste cartão foi desenhada por Manuel Móra, o guarda-redes do primeiro jogo do nosso Clube, em 1 de janeiro de 1905.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: administrador em 21 de Dezembro de 2022, 23:06
Citação de: RedVC em 21 de Dezembro de 2022, 21:45
Ano novo que aí vem, ano velho que aí vai...


Para todos os leitores e contribuintes deste tópico:


(https://i.postimg.cc/vBZJc6dR/Festas-Felizes-decifrando.jpg)


Um abraço para todos, e VIVA O BENFICA!


nota: a imagem do fundo deste cartão foi desenhada por Manuel Móra, o guarda-redes do primeiro jogo do nosso Clube, em 1 de janeiro de 1905.

Manuel Móra ou Pedro Guedes?
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Dezembro de 2022, 23:15
Citação de: administrador em 21 de Dezembro de 2022, 23:06
Citação de: RedVC em 21 de Dezembro de 2022, 21:45
Ano novo que aí vem, ano velho que aí vai...


Para todos os leitores e contribuintes deste tópico:


(https://i.postimg.cc/vBZJc6dR/Festas-Felizes-decifrando.jpg)


Um abraço para todos, e VIVA O BENFICA!


nota: a imagem do fundo deste cartão foi desenhada por Manuel Móra, o guarda-redes do primeiro jogo do nosso Clube, em 1 de janeiro de 1905.

Manuel Móra ou Pedro Guedes?

Bravo, olho de águia. Erro meu.
Correto, no dia 1 de janeiro de 1905 foi efetivamente Pedro Guedes, casapiano.
Manuel Móra foi o guarda-redes do primeiro jogo que disputamos para o 1º Campeonato Regional de Lisboa, no dia 4 de novembro de 1906

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19061907/campeonato-de-lisboa/1906-11-04/carcavelos-sc-3-x-1-sl-benfica

Muito bem, administrador.
Festas Felizes.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 22 de Dezembro de 2022, 11:44
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




finalmente um post com a devida quantia de likes!
nao que antes disso nao foram bons, os posts, mas parece que a "audiência" aumentou.
bem merecido, e como sempre um obrigado por partilhares.
um abraco
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 22 de Dezembro de 2022, 13:59
Citação de: RedVC em 18 de Dezembro de 2022, 13:21
Citação de: Baron_Davis em 18 de Dezembro de 2022, 12:12
(https://pbs.twimg.com/media/FkLki7jXoAE9azD?format=jpg&name=medium)

(https://pbs.twimg.com/media/FkLk8BpX0AEocKK?format=jpg&name=360x360)

em dia de final de mundial onde a Argentina estará presente, relembrar que o Maior os defrontou em 1982 no Monumental em Bueno Aires


https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4 (https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4)

(https://th.bing.com/th/id/OIP.2jEZWTkKTZTkGwklywv_NAHaEK?pid=ImgDet&rs=1)


(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422577_8.jpg?1637030643)(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422578_8.jpg?1637030645)

https://www.julienslive.com/lot-details/index/catalog/398/lot/168975

"Diego Maradona 1982 match worn Argentina shirt. The blue Le Cog Sportif brand shirt features the Argentine Football Association crest sewn on the left breast area. On the back of the long-sleeve shirt, Maradona's number "10" is embroidered in white lettering. Maradona wore the shirt during a friendly match against Benfica Lisbon on May 26, 1982. Argentina won 1-0."




Muito cuidado com essa camisola... sei de pelomenos três pessoas que dizem que a camisola nas coleccoes deles foi desse jogo. como sempre: proveniência vale tudo... so quem a tiver adquirido do jogador é que terá a certeza...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Dezembro de 2022, 14:00
Obrigado, Alfredo. Um abraço!

Como sabes, o propósito de fazer estes textos não passa pelos likes. São agradáveis porque reconhecem o esforço da investigação, que muitas vezes requer tempo, paciência e criatividade. São também indicadores de que são lidos por muitos membros ou visitantes do fórum. E essa é mesmo a ideia, contribuir para divulgar e honrar a nossa história, a nossa identidade, o nosso legado.

Se fosse pelo número de likes, estrito senso, já teria desistido 😁

Está aqui um repositório que espero poder vir a melhorar e melhor ainda, que espero possa ser enriquecido por outros membros do fórum.

Festas felizes!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Dezembro de 2022, 14:04
Citação de: alfredo em 22 de Dezembro de 2022, 13:59
Citação de: RedVC em 18 de Dezembro de 2022, 13:21
Citação de: Baron_Davis em 18 de Dezembro de 2022, 12:12
(https://pbs.twimg.com/media/FkLki7jXoAE9azD?format=jpg&name=medium)

(https://pbs.twimg.com/media/FkLk8BpX0AEocKK?format=jpg&name=360x360)

em dia de final de mundial onde a Argentina estará presente, relembrar que o Maior os defrontou em 1982 no Monumental em Bueno Aires


https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4 (https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4)

(https://th.bing.com/th/id/OIP.2jEZWTkKTZTkGwklywv_NAHaEK?pid=ImgDet&rs=1)


(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422577_8.jpg?1637030643)(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422578_8.jpg?1637030645)

https://www.julienslive.com/lot-details/index/catalog/398/lot/168975

"Diego Maradona 1982 match worn Argentina shirt. The blue Le Cog Sportif brand shirt features the Argentine Football Association crest sewn on the left breast area. On the back of the long-sleeve shirt, Maradona's number "10" is embroidered in white lettering. Maradona wore the shirt during a friendly match against Benfica Lisbon on May 26, 1982. Argentina won 1-0."




Muito cuidado com essa camisola... sei de pelomenos três pessoas que dizem que a camisola nas coleccoes deles foi desse jogo. como sempre: proveniência vale tudo... so quem a tiver adquirido do jogador é que terá a certeza...

Sim, acredito que devem haver mais algumas ainda por aparecer 😁

Infelizmente muitos modernos vendilhões de relíquias, hoje em dia dedicam-se ao mundo do desporto. Maradona, com a devassa que a sua vida teve, deve ser um dos mais atingidos.

Aviso avisado, Alfredo. Obrigado.  O0
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 22 de Dezembro de 2022, 14:10
Citação de: RedVC em 22 de Dezembro de 2022, 14:04
Citação de: alfredo em 22 de Dezembro de 2022, 13:59
Citação de: RedVC em 18 de Dezembro de 2022, 13:21
Citação de: Baron_Davis em 18 de Dezembro de 2022, 12:12
(https://pbs.twimg.com/media/FkLki7jXoAE9azD?format=jpg&name=medium)

(https://pbs.twimg.com/media/FkLk8BpX0AEocKK?format=jpg&name=360x360)

em dia de final de mundial onde a Argentina estará presente, relembrar que o Maior os defrontou em 1982 no Monumental em Bueno Aires


https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4 (https://www.youtube.com/watch?v=YaHxJp83Oy4)

(https://th.bing.com/th/id/OIP.2jEZWTkKTZTkGwklywv_NAHaEK?pid=ImgDet&rs=1)


(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422577_8.jpg?1637030643)(https://www.julienslive.com/images/lot/4225/422578_8.jpg?1637030645)

https://www.julienslive.com/lot-details/index/catalog/398/lot/168975

"Diego Maradona 1982 match worn Argentina shirt. The blue Le Cog Sportif brand shirt features the Argentine Football Association crest sewn on the left breast area. On the back of the long-sleeve shirt, Maradona's number "10" is embroidered in white lettering. Maradona wore the shirt during a friendly match against Benfica Lisbon on May 26, 1982. Argentina won 1-0."




Muito cuidado com essa camisola... sei de pelomenos três pessoas que dizem que a camisola nas coleccoes deles foi desse jogo. como sempre: proveniência vale tudo... so quem a tiver adquirido do jogador é que terá a certeza...

Sim, acredito que devem haver mais algumas ainda por aparecer 😁

Infelizmente muitos modernos vendilhões de relíquias, hoje em dia dedicam-se ao mundo do desporto. Maradona, com a devassa que a sua vida teve, deve ser um dos mais atingidos.

Aviso avisado, Alfredo. Obrigado.  O0
exacto. diria que quase todas camisolas dele, que aparecem em leiloes ou sites, nao foram vestidas por ele. as originais encontram-se nas coleccoes dos jogadores, ou entao nas coleccoes dos que as compraram.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 22 de Dezembro de 2022, 14:13
Citação de: RedVC em 22 de Dezembro de 2022, 14:00
Obrigado, Alfredo. Um abraço!

Como sabes, o propósito de fazer estes textos não passa pelos likes. São agradáveis porque reconhecem o esforço da investigação, que muitas vezes requer tempo, paciência e criatividade. São também indicadores de que são lidos por muitos membros ou visitantes do fórum. E essa é mesmo a ideia, contribuir para divulgar e honrar a nossa história, a nossa identidade, o nosso legado.

Se fosse pelo número de likes, estrito senso, já teria desistido 😁

Está aqui um repositório que espero poder vir a melhorar e melhor ainda, que espero possa ser enriquecido por outros membros do fórum.

Festas felizes!

eu sei que nao fazes pelos likes.
honorem ei, qui meritur

boas festas!
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 23 de Dezembro de 2022, 19:04
(https://pbs.twimg.com/media/FkrtTLrWAAIeEs0?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Dezembro de 2022, 19:24
Citação de: Baron_Davis em 23 de Dezembro de 2022, 19:04
(https://pbs.twimg.com/media/FkrtTLrWAAIeEs0?format=jpg&name=medium)


Eliminatória simpática. Lembro-me mal, mas também nessa altura andava pela universidade  ::)

Algumas fotografias para quem queira ver

(https://pbs.twimg.com/media/D0g8ieSWkAA-lNc.jpg)
(https://www.derryjournal.com/webimg/b25lY21zOjMyNDdkZjIyLTE4ZGItNGMwYy05OTBlLTYzZmZhYTVjNGExYzoyZmI0NDgxZS1mMTc2LTQ0ODgtYTFiMy05ZWMyZWZjZTM0ZWU=.jpg?crop=61:45,smart&width=800)
(https://pbs.twimg.com/media/D0g2PTGXQAAJsNp?format=png&name=900x900)

(https://www.belfasttelegraph.co.uk/news/northern-ireland/28663/35556812.ece/AUTOCROP/h1060/2017-03-23_new_29692714_I1.JPG)


23 fotografias desse jogo

https://www.derryjournal.com/heritage-and-retro/heritage/23-photographs-of-derry-city-versus-the-greats-benfica-at-the-brandywell-1989-3917997


Pequeno resumos

https://www.youtube.com/watch?v=U_IdI40pShE (https://www.youtube.com/watch?v=U_IdI40pShE)


https://www.youtube.com/watch?v=aN5Qfn-0Teg (https://www.youtube.com/watch?v=aN5Qfn-0Teg)


Na Luz forma 4


https://www.youtube.com/watch?v=774sX1vNGGw (https://www.youtube.com/watch?v=774sX1vNGGw)

Créditos à "Memória Gloriosa"


ps: o golo de Ricardo Gomes é qualquer coisa... Craque tremendo!

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 23 de Dezembro de 2022, 21:08
Na foto de equipa estão 11 internacionais.Bons tempos.Salvo erro foi nesse jogo que o colossal Jonas Thern marcou o seu primeiro golo pelo Benfica.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 23 de Dezembro de 2022, 22:53
(https://pbs.twimg.com/media/Fkp6ee_UcAUGu0h?format=jpg&name=large)

highbury in London 4 Aug 1971
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 23 de Dezembro de 2022, 23:09
Citação de: Baron_Davis em 23 de Dezembro de 2022, 22:53
(https://pbs.twimg.com/media/Fkp6ee_UcAUGu0h?format=jpg&name=large)

highbury in London 4 Aug 1971


O Misterioso caso das meias amarelas...


(https://4.bp.blogspot.com/-w2cPpxHEtPI/W31m4sUxa0I/AAAAAAAA1c0/U261n_IF5G8sI_NVCKmXMTaSFvpULXhtQCLcBGAs/s1600/4%2BAgosto%2B1971.jpg)


Contado por quem sabe:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2018/08/odio-derrota-e-o-caso-das-meias-amarelas.html

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 27 de Dezembro de 2022, 01:33
(https://pbs.twimg.com/media/Fk8kjsJX0AQsn7j?format=jpg&name=medium)

Bola de Ouro 1965
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 30 de Dezembro de 2022, 18:56
Dennis Law e Eusébio, nessa noite de 9 de março de 1966, Estádio da Luz.

(https://i.ebayimg.com/images/g/~oMAAOSwl41dA9-w/s-l1600.jpg)

a única coisa foi mesmo essa Bola de Ouro...
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 02 de Janeiro de 2023, 00:01
(https://pbs.twimg.com/media/FlbNQelWQAEmQVM?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 02 de Janeiro de 2023, 00:57
Citação de: Baron_Davis em 02 de Janeiro de 2023, 00:01
(https://pbs.twimg.com/media/FlbNQelWQAEmQVM?format=jpg&name=medium)

The King and the Kaiser...

Paris, Estádio de Colombes, dia 2 de abril de 1972. SL Benfica 2 - Bayern Munique 1

(https://i.ebayimg.com/images/g/bW4AAOSwLmVXD6cH/s-l1600.jpg)

Artur Jorge e Sepp Maier
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jotenko em 09 de Janeiro de 2023, 02:44
Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.

(https://i.postimg.cc/Lsv9Kwcc/12.jpg)
Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.


(https://i.postimg.cc/JnrZqw8t/13.jpg)
No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.


(https://i.postimg.cc/NFWKZS36/14.jpg)
Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.

(https://i.postimg.cc/9X4tNhTq/15.jpg)


Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.

(https://i.postimg.cc/Z5YW28gD/16.jpg)
Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.


(https://i.postimg.cc/YqM0LNpq/17.jpg)
Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.


(https://i.postimg.cc/rs8TsJ5B/18.jpg)
Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.


(https://i.postimg.cc/3rLV2Yh4/19.jpg)
Dor.



O funeral


(https://i.postimg.cc/RFTFgqdz/20.jpg)
A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".


(https://i.postimg.cc/VkfkNXqQ/21.jpg)
Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.


(https://i.postimg.cc/05fJ85S4/22.jpg)
Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.


(https://i.postimg.cc/VNQNq2MM/23.jpg)

Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.




Uma história absolutamente macabara.

Obrigado pela partilha.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 09 de Janeiro de 2023, 23:29
(https://pbs.twimg.com/media/FmDFN4QXkAAP3Rb?format=jpg&name=4096x4096)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 10 de Janeiro de 2023, 21:48
Nessa altura o Benfica andou pela Indonésia,Hong Kong,China,Irão.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Janeiro de 2023, 23:26
Verdade. Só explorei um pouco a ida do Benfica ao Japão em 1970. E foi uma digressão fascinante.

Não abunda o material desse tempo de "Benfica Universalis". Liderados por Borges Coutinho, e com Eusébio como lenda do Futebol, as digressões foram muitas e prestigiantes. Por vezes pagava-se no campeonato, mas mesmo assim era o tempo de 3 títulos para o Benfica e 1 título para o Sporting. Porto, zero.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 10 de Janeiro de 2023, 23:46
(https://pbs.twimg.com/media/FmGiGcjWYAUv0v6?format=jpg&name=large)

Torres e Ângelo com o mítico troféu Carranza
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 11 de Janeiro de 2023, 16:09
Na final o Bom Gigante marcou 4 golos na vitoria por 7-3 sobre a Fiorentina.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: alfredo em 18 de Janeiro de 2023, 09:08
edit
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Fevereiro de 2023, 09:49
-345-
"A ignorância não aproveita nada a ninguém"


Dia 14 de junho de 1970. Estádio do Jamor. Final da Taça de Portugal em Futebol.

(https://i.postimg.cc/SsRpS6dm/01.jpg)
A equipa do SL Benfica que venceu a Taça de Portugal de 1970.


A equipa do SL Benfica alinha para as fotografias, com o Almirante Tomaz, e respetivos netos. O Almirante então o presidente da República, alinhou também, nos mesmo modos, com a equipa do Sporting CP, o nosso oponente desse dia. O dérbi de Lisboa ia decidir se o SLB evitava a dobradinha do SCP. Nesse ano, e pela terceira vez consecutiva, o SCP tinha vencido o campeonato em ano de mundial de futebol, evitando um tetracampeonato do Benfica.

O Benfica ganhou por 3-1, golos de Artur Jorge (14'), José Torres (50') e Simões (63'),




Sem Eusébio, mas com António Simões a capitanear, a equipa do Benfica impôs a sua qualidade, vencendo a Taça, atenuando uma temporada atribulada...


(https://i.postimg.cc/W3xpxYvB/02.jpg)
Honra ao vencedor! O presidente da República, o Dr. Borges Coutinho (presidente do SL Benfica), António Simões e José Carlos, capitães do SLB e SCP, respetivamente.


Mas não é deste jogo que vamos continuar a falar neste texto. Vamos antes, partir deste jogo e liga-lo às últimas horas de vida de um Português excecional, um Artista superlativo, um dos maiores de sempre do nosso país: Mestre Almada Negreiros.


(https://i.postimg.cc/KjXF0K7F/03.jpg)
Fonte: http://paladocamoes.blogspot.com/2014/02/as-ultimas-palavras-de-7-nomes-da.html (http://paladocamoes.blogspot.com/2014/02/as-ultimas-palavras-de-7-nomes-da.html)


É que nesse mesmo dia, 14 de junho de 1970, também em Lisboa, mas no Hospital de São Luís dos Franceses, agonizava José Sobral de Almada Negreiros. Ao que parece no mesmo quarto onde, 35 anos antes, tinha falecido Fernando Pessoa Mestre Almada, com 77 anos, padecia de uma insuficiência cardíaca e antevia-se que não sobreviveria por muito mais tempo. Morreria no dia seguinte, pelas 21h00.

E, verdade ou não, conta-se que no seu leito de morte, Almada perguntou a um amigo:

"Quanto ficou o Benfica?"
Esse amigo terá replicado: "Que interessa isso, agora?"
E, recebeu uma resposta lapidar: "A ignorância, seja no que for, não aproveita nada a ninguém!"


Mestre Almada Negreiros, irreverente e brilhante até ao fim!

E, para além de ser Benfiquista de coração, existem outras ligações de Mestre Almada ao Glorioso. Mas, lá iremos...


(https://i.postimg.cc/RhQrGgVQ/04.jpg)
José Sobral de Almada Negreiros, Mestre de Orpheu, Futurista e Tudo!


José Sobral de Almada Negreiros, foi um Artista autodidata e multifacetado. Foi um génio. Foi tudo, ou quase tudo, ou seja, foi pintor, desenhador, cenógrafo, bailarino, ator de cinema, figurinista, caricaturista, vitralista, romancista, ensaísta, crítico de arte, e poeta, entre tantas outras atividades e capacidades.

Foi também contemporâneo de outros génios como Fernando Pessoa (de quem foi amigo, e com quem colaborou no movimento Orpheu) e Amadeo de Souza-Cardoso. Mas, ao contrário destes, Almada teve uma vida longa, tendo ainda obtido reconhecimento pelo grande público, como artista de exceção que era. Ficou célebre a sua passagem pelo Zip-Zip, 1 ano antes da sua morte

(https://cdn-images.rtp.pt/arquivo/2016/12/almada-negreiros-no-zip-zip_1481136713.jpg?crop=top&fit=crop&h=461&ixlib=php-1.1.0&w=860)
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-almada-negreiros-no-zip-zip/


Para além da sua vasta e multifacetada obra artística, Almada teve ainda vasta colaboração com jornais portugueses e espanhóis, tendo sido particularmente notável a colaboração com o Diário de Lisboa, de cujo primeiro diretor (Joaquim Manso) era particular amigo.

Envolveu-se também em grandes e ruidosas polémicas públicas, como por exemplo a questão do mistério dos painéis de S. Vicente, sobre os quais tinha uma teoria original e profundamente disruptiva.

Publicou livros, deu conferências e entrevistas. Deixou-nos não apenas uma obra monumental e influente para gerações vindouras, mas também, como acentuou Jorge de Sena, "contribuiu decisivamente para a criação, prestígio e triunfo de uma mentalidade moderna" na Cultura Portuguesa.


Das origens africanas até uma ligação a... Benfica


José Sobral de Almada Negreiros nasceu em 7 de abril de 1893, em São Tomé, na Roça Saudade, freguesia da Trindade. Foi um dos dois filhos do casal António Lobo de Almada Negreiros (Aljustrel, 1868 - Paris, 1939) e de Elvira Freire Sobral (S. Tomé, 1873 - S. Tomé, 1896).


(https://i.postimg.cc/hPPZHDCq/05.jpg)
Alguns locais das origens são-tomenses de José Sobral de Almada Negreiros.


Aos dois anos de idade, José vem viver para Cascais, para a casa dos seus avôs maternos, na mesma altura em que nasceu o seu irmão António. Mas, logo aos sete anos de idade, a tragédia mudaria o curso da sua vida, quando em 29 de dezembro de 1896, a mãe morreu, com apenas 23 anos de idade. Elvira morreu em S. Tomé, na sequência de um funesto trabalho de parto, em que deveria ter nascido uma irmã dos pequenos José e António. Morreram mãe e filha.


(https://i.postimg.cc/Gh2zXM2L/06.jpg)
A família Sobral de Almada Negreiros. 1 - 1894, Elvira, a mãe, com o filho José de 1 ano de idade; 2 – Elvira com os dois filhos, José e António (este ao colo); 3 – os dois irmãos já órfãos de mãe; 4 – José aos 7 anos de idade quando entrou para o Colégio; 5 - António, o pai, em 1902, já em Paris.


Tolhido de dor, o pai, António Lobo de Almada Negreiros, viu-se forçado a mudar de vida. De raízes alentejanas, era um antigo funcionário dos Correios, mas que se tinha demitido e saído de Aljustrel para partir para São Tomé, onde assumiu um cargo de administração.

E foi por S. Tomé que conheceu e casou com Elvira Freire Sobral, um dos cinco filhos naturais de José António Freire Sobral, um abastado agricultor (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ant%C3%B3nio_Freire_Sobral (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ant%C3%B3nio_Freire_Sobral)). Elvira estudou em Coimbra, no Colégio das Religiosas Ursulinas, onde ganhou fama de hábil desenhadora. O filho José herdaria essa propensão para as artes.

Com a tragédia, tudo mudava para pai e filhos. António decidiu tudo mudar uma vez mais na sua vida, e partir para ganhar a vida longe de S. Tomé. Em 1900, aceitou um destacamento para Paris, para preparar a representação colonial portuguesa na Exposição Universal de Paris, desse ano.

Pela capital francesa permaneceria longos anos, casou novamente, e trabalhou como correspondente do jornal "O Século", até 1933. Do seu labor jornalístico destaca-se a notável cobertura da I Guerra Mundial 1914-1918. Foi um pensador e intelectual, com obra profusa e rica, nomeadamente sobre as questões coloniais portuguesas. Publicou livros cobrindo assuntos tão diversos como etnografia, geografia, história, sociologia, política, etc. A sua obra de reflexão e divulgação, na propaganda colonial, foi considerada como um alto serviço à pátria. Foi membro de prestigiadas associações académicas e científicas, nacionais e estrangeiras. De personalidade vincada, recusou diversas honrarias. Assim se percebe que muitos traços de personalidade do pai, foram herdados por José...

Com a decisão de emigrar, o pai dos Almada Negreiros, fez algo que provavelmente era comum nesse tempo, internando os filhos num prestigiado colégio interno, no caso Colégio dos Jesuítas de Campolide, em Lisboa, local onde hoje está sediada um campus da Universidade Nova de Lisboa (https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/12/colegio-de-campolide.html).

Para os dois irmãos, José, com 7 anos de idade, e António com 5 anos de idade, a partida do pai representou um abandono físico e afetivo, ficando entregues a si próprios. Em Campolide, os dois manos completaram os estudos primários, tendo depois seguido para o Liceu de Coimbra e para a Escola Nacional de Lisboa.

Entrando na vida adulta, os manos seguiram carreiras profissionais distintas. António seguiu a carreira militar, chegando a Tenente miliciano de cavalaria, tendo recebido uma condecoração como Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (1931).

Já José, que cedo tinha revelado propensão para desenho e pintura, enveredou por uma brilhante carreira artística, carregada de virtuosismo técnico, pensamento, inovação, inteligência, e sempre, sempre, de pitadas de polémica, tão características dos génios.

Não sendo este um espaço adequado a descrever essa longa e marcante carreira, apresenta-se algumas obras emblemáticas, e recomenda-se a procura de um maior conhecimento dessa obra e do extraordinário legado artístico e de pensamento, deixado por Mestre Almada.


(https://i.postimg.cc/fykXfrv1/07.jpg)
Algumas das obras pictóricas emblemáticas de Almada Negreiros



(https://i.postimg.cc/XJ1Bqg0L/08.jpg)
Fonte: wikipedia



(https://i.postimg.cc/bwfDZJ47/09.jpg)
Alguma da produção literária de Almada Negreiros.



Quando morreu, José deixou viúva, a notável pintora Sarah Afonso e dois filhos, o arquiteto José Afonso de Almada Negreiros e a poetisa Ana Paula de Almada Negreiro. Foi sepultado no cemitério dos Olivais, tendo mais tarde sido transladado para o Alto de S. João, onde repousa para a eternidade... e para além dela!


(https://i.postimg.cc/bJ5dpNQF/10.jpg)


Uma nota final, uma ligação inesperada


Como atrás se referiu, a mãe de Almada Negreiros, Elvira Freire Sobral, foi uma das filhas, (por sinal a mais velha) do casal José António Freire Sobral e Leopoldina Amélia de Azevedo. Era todos filhos naturais, mas que foram depois reconhecidos e criados por seu pai.

Elvira estudou em Coimbra, no Colégio das Religiosas Ursulinas, onde ganhou fama de hábil desenhadora. Um seu meio-irmão chamado Joaquim Freire Sobral também foi artista e pintor.

Ora, um aspeto pouco divulgado das origens maternas de Almada, é que entre os irmãos de Elvira Freire Sobral, a sua mãe, encontramos António Freire Sobral (1887-1940), que foi, tão só, um dos 15 sócios fundadores do Grupo Sport Bemfica!

https://www.geni.com/people/Antonio-Freire-Sobral/6000000020328109401


Em 1906, António Freire Sobral, tio materno dos manos José e António Sobral de Almada Negreiros, morava na Avenida Gomes Pereira, em Benfica, pertencendo a uma elite burguesa que esteve na origem do GSB. Uma elite em grande parte aparentada entre eles,


Em 15 de setembro de 1907, António Freire Sobral foi eleito para o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Grupo Sport Bemfica. Foi eleito no mandato de Luís Carlos de Faria Leal, um dos grandes dirigentes da nossa História.

(https://i.postimg.cc/CLWMdfyY/Freire-Sobral.jpg)
Fonte: História do SLB 1904-1954


Foi um tempo decisivo em que se acordou  a Junção entre o Grupo Sport Bemfica e o Sport Lisboa. Um tempo em que a direção do GSB negociou com Félix Bermudes e Cosme Damião, mandatados pelo Sport Lisboa. Em que ne acordaram os termos de harmonização das estruturas das duas coletividades, as cores, o Emblema, o próprio nome do Clube. Em que se definiu uma nova etapa do Clube. Tudo ficou registado em Ata, em reuniões conduzidas por António Freire Sobral.

Infelizmente, não dispomos ainda de uma fotografia desse nosso ilustre consócio, mas esperemos que um dia ela possa surgir.


(https://i.postimg.cc/kMtWGkBt/11.jpg)


Não admira que Mestre Almada, combatesse a ignorância, também no desporto, também e sempre no amor ao Sport Lisboa e Benfica.

Irreverente e Benfiquista até ao fim!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 06 de Fevereiro de 2023, 18:40
Citação de: RedVC em 05 de Fevereiro de 2023, 09:49-345-
"A ignorância não aproveita nada a ninguém"


Dia 14 de junho de 1970. Estádio do Jamor. Final da Taça de Portugal em Futebol.

(https://i.postimg.cc/SsRpS6dm/01.jpg)
A equipa do SL Benfica que venceu a Taça de Portugal de 1970.


A equipa do SL Benfica alinha para as fotografias, com o Almirante Tomaz, e respetivos netos. O Almirante então o presidente da República, alinhou também, nos mesmo modos, com a equipa do Sporting CP, o nosso oponente desse dia. O dérbi de Lisboa ia decidir se o SLB evitava a dobradinha do SCP. Nesse ano, e pela terceira vez consecutiva, o SCP tinha vencido o campeonato em ano de mundial de futebol, evitando um tetracampeonato do Benfica.

O Benfica ganhou por 3-1, golos de Artur Jorge (14'), José Torres (50') e Simões (63'),




Sem Eusébio, mas com António Simões a capitanear, a equipa do Benfica impôs a sua qualidade, vencendo a Taça, atenuando uma temporada atribulada...


(https://i.postimg.cc/W3xpxYvB/02.jpg)
Honra ao vencedor! O presidente da República, o Dr. Borges Coutinho (presidente do SL Benfica), António Simões e José Carlos, capitães do SLB e SCP, respetivamente.


Mas não é deste jogo que vamos continuar a falar neste texto. Vamos antes, partir deste jogo e liga-lo às últimas horas de vida de um Português excecional, um Artista superlativo, um dos maiores de sempre do nosso país: Mestre Almada Negreiros.


(https://i.postimg.cc/KjXF0K7F/03.jpg)
Fonte: http://paladocamoes.blogspot.com/2014/02/as-ultimas-palavras-de-7-nomes-da.html (http://paladocamoes.blogspot.com/2014/02/as-ultimas-palavras-de-7-nomes-da.html)


É que nesse mesmo dia, 14 de junho de 1970, também em Lisboa, mas no Hospital de São Luís dos Franceses, agonizava José Sobral de Almada Negreiros. Ao que parece no mesmo quarto onde, 35 anos antes, tinha falecido Fernando Pessoa Mestre Almada, com 77 anos, padecia de uma insuficiência cardíaca e antevia-se que não sobreviveria por muito mais tempo. Morreria no dia seguinte, pelas 21h00.

E, verdade ou não, conta-se que no seu leito de morte, Almada perguntou a um amigo:

"Quanto ficou o Benfica?"
Esse amigo terá replicado: "Que interessa isso, agora?"
E, recebeu uma resposta lapidar: "A ignorância, seja no que for, não aproveita nada a ninguém!"


Mestre Almada Negreiros, irreverente e brilhante até ao fim!

E, para além de ser Benfiquista de coração, existem outras ligações de Mestre Almada ao Glorioso. Mas, lá iremos...


(https://i.postimg.cc/RhQrGgVQ/04.jpg)
José Sobral de Almada Negreiros, Mestre de Orpheu, Futurista e Tudo!


José Sobral de Almada Negreiros, foi um Artista autodidata e multifacetado. Foi um génio. Foi tudo, ou quase tudo, ou seja, foi pintor, desenhador, cenógrafo, bailarino, ator de cinema, figurinista, caricaturista, vitralista, romancista, ensaísta, crítico de arte, e poeta, entre tantas outras atividades e capacidades.

Foi também contemporâneo de outros génios como Fernando Pessoa (de quem foi amigo, e com quem colaborou no movimento Orpheu) e Amadeo de Souza-Cardoso. Mas, ao contrário destes, Almada teve uma vida longa, tendo ainda obtido reconhecimento pelo grande público, como artista de exceção que era. Ficou célebre a sua passagem pelo Zip-Zip, 1 ano antes da sua morte

(https://cdn-images.rtp.pt/arquivo/2016/12/almada-negreiros-no-zip-zip_1481136713.jpg?crop=top&fit=crop&h=461&ixlib=php-1.1.0&w=860)
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-almada-negreiros-no-zip-zip/


Para além da sua vasta e multifacetada obra artística, Almada teve ainda vasta colaboração com jornais portugueses e espanhóis, tendo sido particularmente notável a colaboração com o Diário de Lisboa, de cujo primeiro diretor (Joaquim Manso) era particular amigo.

Envolveu-se também em grandes e ruidosas polémicas públicas, como por exemplo a questão do mistério dos painéis de S. Vicente, sobre os quais tinha uma teoria original e profundamente disruptiva.

Publicou livros, deu conferências e entrevistas. Deixou-nos não apenas uma obra monumental e influente para gerações vindouras, mas também, como acentuou Jorge de Sena, "contribuiu decisivamente para a criação, prestígio e triunfo de uma mentalidade moderna" na Cultura Portuguesa.


Das origens africanas até uma ligação a... Benfica


José Sobral de Almada Negreiros nasceu em 7 de abril de 1893, em São Tomé, na Roça Saudade, freguesia da Trindade. Foi um dos dois filhos do casal António Lobo de Almada Negreiros (Aljustrel, 1868 - Paris, 1939) e de Elvira Freire Sobral (S. Tomé, 1873 - S. Tomé, 1896).


(https://i.postimg.cc/hPPZHDCq/05.jpg)
Alguns locais das origens são-tomenses de José Sobral de Almada Negreiros.


Aos dois anos de idade, José vem viver para Cascais, para a casa dos seus avôs maternos, na mesma altura em que nasceu o seu irmão António. Mas, logo aos sete anos de idade, a tragédia mudaria o curso da sua vida, quando em 29 de dezembro de 1896, a mãe morreu, com apenas 23 anos de idade. Elvira morreu em S. Tomé, na sequência de um funesto trabalho de parto, em que deveria ter nascido uma irmã dos pequenos José e António. Morreram mãe e filha.


(https://i.postimg.cc/Gh2zXM2L/06.jpg)
A família Sobral de Almada Negreiros. 1 - 1894, Elvira, a mãe, com o filho José de 1 ano de idade; 2 – Elvira com os dois filhos, José e António (este ao colo); 3 – os dois irmãos já órfãos de mãe; 4 – José aos 7 anos de idade quando entrou para o Colégio; 5 - António, o pai, em 1902, já em Paris.


Tolhido de dor, o pai, António Lobo de Almada Negreiros, viu-se forçado a mudar de vida. De raízes alentejanas, era um antigo funcionário dos Correios, mas que se tinha demitido e saído de Aljustrel para partir para São Tomé, onde assumiu um cargo de administração.

E foi por S. Tomé que conheceu e casou com Elvira Freire Sobral, um dos cinco filhos naturais de José António Freire Sobral, um abastado agricultor (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ant%C3%B3nio_Freire_Sobral (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ant%C3%B3nio_Freire_Sobral)). Elvira estudou em Coimbra, no Colégio das Religiosas Ursulinas, onde ganhou fama de hábil desenhadora. O filho José herdaria essa propensão para as artes.

Com a tragédia, tudo mudava para pai e filhos. António decidiu tudo mudar uma vez mais na sua vida, e partir para ganhar a vida longe de S. Tomé. Em 1900, aceitou um destacamento para Paris, para preparar a representação colonial portuguesa na Exposição Universal de Paris, desse ano.

Pela capital francesa permaneceria longos anos, casou novamente, e trabalhou como correspondente do jornal "O Século", até 1933. Do seu labor jornalístico destaca-se a notável cobertura da I Guerra Mundial 1914-1918. Foi um pensador e intelectual, com obra profusa e rica, nomeadamente sobre as questões coloniais portuguesas. Publicou livros cobrindo assuntos tão diversos como etnografia, geografia, história, sociologia, política, etc. A sua obra de reflexão e divulgação, na propaganda colonial, foi considerada como um alto serviço à pátria. Foi membro de prestigiadas associações académicas e científicas, nacionais e estrangeiras. De personalidade vincada, recusou diversas honrarias. Assim se percebe que muitos traços de personalidade do pai, foram herdados por José...

Com a decisão de emigrar, o pai dos Almada Negreiros, fez algo que provavelmente era comum nesse tempo, internando os filhos num prestigiado colégio interno, no caso Colégio dos Jesuítas de Campolide, em Lisboa, local onde hoje está sediada um campus da Universidade Nova de Lisboa (https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/12/colegio-de-campolide.html).

Para os dois irmãos, José, com 7 anos de idade, e António com 5 anos de idade, a partida do pai representou um abandono físico e afetivo, ficando entregues a si próprios. Em Campolide, os dois manos completaram os estudos primários, tendo depois seguido para o Liceu de Coimbra e para a Escola Nacional de Lisboa.

Entrando na vida adulta, os manos seguiram carreiras profissionais distintas. António seguiu a carreira militar, chegando a Tenente miliciano de cavalaria, tendo recebido uma condecoração como Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (1931).

Já José, que cedo tinha revelado propensão para desenho e pintura, enveredou por uma brilhante carreira artística, carregada de virtuosismo técnico, pensamento, inovação, inteligência, e sempre, sempre, de pitadas de polémica, tão características dos génios.

Não sendo este um espaço adequado a descrever essa longa e marcante carreira, apresenta-se algumas obras emblemáticas, e recomenda-se a procura de um maior conhecimento dessa obra e do extraordinário legado artístico e de pensamento, deixado por Mestre Almada.


(https://i.postimg.cc/fykXfrv1/07.jpg)
Algumas das obras pictóricas emblemáticas de Almada Negreiros



(https://i.postimg.cc/XJ1Bqg0L/08.jpg)
Fonte: wikipedia



(https://i.postimg.cc/bwfDZJ47/09.jpg)
Alguma da produção literária de Almada Negreiros.



Quando morreu, José deixou viúva, a notável pintora Sarah Afonso e dois filhos, o arquiteto José Afonso de Almada Negreiros e a poetisa Ana Paula de Almada Negreiro. Foi sepultado no cemitério dos Olivais, tendo mais tarde sido transladado para o Alto de S. João, onde repousa para a eternidade... e para além dela!


(https://i.postimg.cc/bJ5dpNQF/10.jpg)


Uma nota final, uma ligação inesperada


Como atrás se referiu, a mãe de Almada Negreiros, Elvira Freire Sobral, foi uma das filhas, (por sinal a mais velha) do casal José António Freire Sobral e Leopoldina Amélia de Azevedo. Era todos filhos naturais, mas que foram depois reconhecidos e criados por seu pai.

Elvira estudou em Coimbra, no Colégio das Religiosas Ursulinas, onde ganhou fama de hábil desenhadora. Um seu meio-irmão chamado Joaquim Freire Sobral também foi artista e pintor.

Ora, um aspeto pouco divulgado das origens maternas de Almada, é que entre os irmãos de Elvira Freire Sobral, a sua mãe, encontramos António Freire Sobral (1887-1940), que foi, tão só, um dos 15 sócios fundadores do Grupo Sport Bemfica!

https://www.geni.com/people/Antonio-Freire-Sobral/6000000020328109401


Em 1906, António Freire Sobral, tio materno dos manos José e António Sobral de Almada Negreiros, morava na Avenida Gomes Pereira, em Benfica, pertencendo a uma elite burguesa que esteve na origem do GSB. Uma elite em grande parte aparentada entre eles,


Em 15 de setembro de 1907, António Freire Sobral foi eleito para o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Grupo Sport Bemfica. Foi eleito no mandato de Luís Carlos de Faria Leal, um dos grandes dirigentes da nossa História.

(https://i.postimg.cc/CLWMdfyY/Freire-Sobral.jpg)
Fonte: História do SLB 1904-1954


Foi um tempo decisivo em que se acordou  a Junção entre o Grupo Sport Bemfica e o Sport Lisboa. Um tempo em que a direção do GSB negociou com Félix Bermudes e Cosme Damião, mandatados pelo Sport Lisboa. Em que ne acordaram os termos de harmonização das estruturas das duas coletividades, as cores, o Emblema, o próprio nome do Clube. Em que se definiu uma nova etapa do Clube. Tudo ficou registado em Ata, em reuniões conduzidas por António Freire Sobral.

Infelizmente, não dispomos ainda de uma fotografia desse nosso ilustre consócio, mas esperemos que um dia ela possa surgir.


(https://i.postimg.cc/kMtWGkBt/11.jpg)


Não admira que Mestre Almada, combatesse a ignorância, também no desporto, também e sempre no amor ao Sport Lisboa e Benfica.

Irreverente e Benfiquista até ao fim!



Segundo se consta o nosso ex Presidente Jorge de Brito tinha bastantes quadros da autoria de Almada Negreiros.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2023, 18:47
Citação de: Alexandre1976 em 06 de Fevereiro de 2023, 18:40
Citação de: RedVC em 05 de Fevereiro de 2023, 09:49
Spoiler
-345-
"A ignorância não aproveita nada a ninguém"


Dia 14 de junho de 1970. Estádio do Jamor. Final da Taça de Portugal em Futebol.

(https://i.postimg.cc/SsRpS6dm/01.jpg)
A equipa do SL Benfica que venceu a Taça de Portugal de 1970.


A equipa do SL Benfica alinha para as fotografias, com o Almirante Tomaz, e respetivos netos. O Almirante então o presidente da República, alinhou também, nos mesmo modos, com a equipa do Sporting CP, o nosso oponente desse dia. O dérbi de Lisboa ia decidir se o SLB evitava a dobradinha do SCP. Nesse ano, e pela terceira vez consecutiva, o SCP tinha vencido o campeonato em ano de mundial de futebol, evitando um tetracampeonato do Benfica.

O Benfica ganhou por 3-1, golos de Artur Jorge (14'), José Torres (50') e Simões (63'),




Sem Eusébio, mas com António Simões a capitanear, a equipa do Benfica impôs a sua qualidade, vencendo a Taça, atenuando uma temporada atribulada...


(https://i.postimg.cc/W3xpxYvB/02.jpg)
Honra ao vencedor! O presidente da República, o Dr. Borges Coutinho (presidente do SL Benfica), António Simões e José Carlos, capitães do SLB e SCP, respetivamente.


Mas não é deste jogo que vamos continuar a falar neste texto. Vamos antes, partir deste jogo e liga-lo às últimas horas de vida de um Português excecional, um Artista superlativo, um dos maiores de sempre do nosso país: Mestre Almada Negreiros.


(https://i.postimg.cc/KjXF0K7F/03.jpg)
Fonte: http://paladocamoes.blogspot.com/2014/02/as-ultimas-palavras-de-7-nomes-da.html (http://paladocamoes.blogspot.com/2014/02/as-ultimas-palavras-de-7-nomes-da.html)


É que nesse mesmo dia, 14 de junho de 1970, também em Lisboa, mas no Hospital de São Luís dos Franceses, agonizava José Sobral de Almada Negreiros. Ao que parece no mesmo quarto onde, 35 anos antes, tinha falecido Fernando Pessoa Mestre Almada, com 77 anos, padecia de uma insuficiência cardíaca e antevia-se que não sobreviveria por muito mais tempo. Morreria no dia seguinte, pelas 21h00.

E, verdade ou não, conta-se que no seu leito de morte, Almada perguntou a um amigo:

"Quanto ficou o Benfica?"
Esse amigo terá replicado: "Que interessa isso, agora?"
E, recebeu uma resposta lapidar: "A ignorância, seja no que for, não aproveita nada a ninguém!"


Mestre Almada Negreiros, irreverente e brilhante até ao fim!

E, para além de ser Benfiquista de coração, existem outras ligações de Mestre Almada ao Glorioso. Mas, lá iremos...


(https://i.postimg.cc/RhQrGgVQ/04.jpg)
José Sobral de Almada Negreiros, Mestre de Orpheu, Futurista e Tudo!


José Sobral de Almada Negreiros, foi um Artista autodidata e multifacetado. Foi um génio. Foi tudo, ou quase tudo, ou seja, foi pintor, desenhador, cenógrafo, bailarino, ator de cinema, figurinista, caricaturista, vitralista, romancista, ensaísta, crítico de arte, e poeta, entre tantas outras atividades e capacidades.

Foi também contemporâneo de outros génios como Fernando Pessoa (de quem foi amigo, e com quem colaborou no movimento Orpheu) e Amadeo de Souza-Cardoso. Mas, ao contrário destes, Almada teve uma vida longa, tendo ainda obtido reconhecimento pelo grande público, como artista de exceção que era. Ficou célebre a sua passagem pelo Zip-Zip, 1 ano antes da sua morte

(https://cdn-images.rtp.pt/arquivo/2016/12/almada-negreiros-no-zip-zip_1481136713.jpg?crop=top&fit=crop&h=461&ixlib=php-1.1.0&w=860)
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/entrevista-a-almada-negreiros-no-zip-zip/


Para além da sua vasta e multifacetada obra artística, Almada teve ainda vasta colaboração com jornais portugueses e espanhóis, tendo sido particularmente notável a colaboração com o Diário de Lisboa, de cujo primeiro diretor (Joaquim Manso) era particular amigo.

Envolveu-se também em grandes e ruidosas polémicas públicas, como por exemplo a questão do mistério dos painéis de S. Vicente, sobre os quais tinha uma teoria original e profundamente disruptiva.

Publicou livros, deu conferências e entrevistas. Deixou-nos não apenas uma obra monumental e influente para gerações vindouras, mas também, como acentuou Jorge de Sena, "contribuiu decisivamente para a criação, prestígio e triunfo de uma mentalidade moderna" na Cultura Portuguesa.


Das origens africanas até uma ligação a... Benfica


José Sobral de Almada Negreiros nasceu em 7 de abril de 1893, em São Tomé, na Roça Saudade, freguesia da Trindade. Foi um dos dois filhos do casal António Lobo de Almada Negreiros (Aljustrel, 1868 - Paris, 1939) e de Elvira Freire Sobral (S. Tomé, 1873 - S. Tomé, 1896).


(https://i.postimg.cc/hPPZHDCq/05.jpg)
Alguns locais das origens são-tomenses de José Sobral de Almada Negreiros.


Aos dois anos de idade, José vem viver para Cascais, para a casa dos seus avôs maternos, na mesma altura em que nasceu o seu irmão António. Mas, logo aos sete anos de idade, a tragédia mudaria o curso da sua vida, quando em 29 de dezembro de 1896, a mãe morreu, com apenas 23 anos de idade. Elvira morreu em S. Tomé, na sequência de um funesto trabalho de parto, em que deveria ter nascido uma irmã dos pequenos José e António. Morreram mãe e filha.


(https://i.postimg.cc/Gh2zXM2L/06.jpg)
A família Sobral de Almada Negreiros. 1 - 1894, Elvira, a mãe, com o filho José de 1 ano de idade; 2 – Elvira com os dois filhos, José e António (este ao colo); 3 – os dois irmãos já órfãos de mãe; 4 – José aos 7 anos de idade quando entrou para o Colégio; 5 - António, o pai, em 1902, já em Paris.


Tolhido de dor, o pai, António Lobo de Almada Negreiros, viu-se forçado a mudar de vida. De raízes alentejanas, era um antigo funcionário dos Correios, mas que se tinha demitido e saído de Aljustrel para partir para São Tomé, onde assumiu um cargo de administração.

E foi por S. Tomé que conheceu e casou com Elvira Freire Sobral, um dos cinco filhos naturais de José António Freire Sobral, um abastado agricultor (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ant%C3%B3nio_Freire_Sobral (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Ant%C3%B3nio_Freire_Sobral)). Elvira estudou em Coimbra, no Colégio das Religiosas Ursulinas, onde ganhou fama de hábil desenhadora. O filho José herdaria essa propensão para as artes.

Com a tragédia, tudo mudava para pai e filhos. António decidiu tudo mudar uma vez mais na sua vida, e partir para ganhar a vida longe de S. Tomé. Em 1900, aceitou um destacamento para Paris, para preparar a representação colonial portuguesa na Exposição Universal de Paris, desse ano.

Pela capital francesa permaneceria longos anos, casou novamente, e trabalhou como correspondente do jornal "O Século", até 1933. Do seu labor jornalístico destaca-se a notável cobertura da I Guerra Mundial 1914-1918. Foi um pensador e intelectual, com obra profusa e rica, nomeadamente sobre as questões coloniais portuguesas. Publicou livros cobrindo assuntos tão diversos como etnografia, geografia, história, sociologia, política, etc. A sua obra de reflexão e divulgação, na propaganda colonial, foi considerada como um alto serviço à pátria. Foi membro de prestigiadas associações académicas e científicas, nacionais e estrangeiras. De personalidade vincada, recusou diversas honrarias. Assim se percebe que muitos traços de personalidade do pai, foram herdados por José...

Com a decisão de emigrar, o pai dos Almada Negreiros, fez algo que provavelmente era comum nesse tempo, internando os filhos num prestigiado colégio interno, no caso Colégio dos Jesuítas de Campolide, em Lisboa, local onde hoje está sediada um campus da Universidade Nova de Lisboa (https://restosdecoleccao.blogspot.com/2012/12/colegio-de-campolide.html).

Para os dois irmãos, José, com 7 anos de idade, e António com 5 anos de idade, a partida do pai representou um abandono físico e afetivo, ficando entregues a si próprios. Em Campolide, os dois manos completaram os estudos primários, tendo depois seguido para o Liceu de Coimbra e para a Escola Nacional de Lisboa.

Entrando na vida adulta, os manos seguiram carreiras profissionais distintas. António seguiu a carreira militar, chegando a Tenente miliciano de cavalaria, tendo recebido uma condecoração como Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (1931).

Já José, que cedo tinha revelado propensão para desenho e pintura, enveredou por uma brilhante carreira artística, carregada de virtuosismo técnico, pensamento, inovação, inteligência, e sempre, sempre, de pitadas de polémica, tão características dos génios.

Não sendo este um espaço adequado a descrever essa longa e marcante carreira, apresenta-se algumas obras emblemáticas, e recomenda-se a procura de um maior conhecimento dessa obra e do extraordinário legado artístico e de pensamento, deixado por Mestre Almada.


(https://i.postimg.cc/fykXfrv1/07.jpg)
Algumas das obras pictóricas emblemáticas de Almada Negreiros



(https://i.postimg.cc/XJ1Bqg0L/08.jpg)
Fonte: wikipedia



(https://i.postimg.cc/bwfDZJ47/09.jpg)
Alguma da produção literária de Almada Negreiros.



Quando morreu, José deixou viúva, a notável pintora Sarah Afonso e dois filhos, o arquiteto José Afonso de Almada Negreiros e a poetisa Ana Paula de Almada Negreiro. Foi sepultado no cemitério dos Olivais, tendo mais tarde sido transladado para o Alto de S. João, onde repousa para a eternidade... e para além dela!


(https://i.postimg.cc/bJ5dpNQF/10.jpg)


Uma nota final, uma ligação inesperada


Como atrás se referiu, a mãe de Almada Negreiros, Elvira Freire Sobral, foi uma das filhas, (por sinal a mais velha) do casal José António Freire Sobral e Leopoldina Amélia de Azevedo. Era todos filhos naturais, mas que foram depois reconhecidos e criados por seu pai.

Elvira estudou em Coimbra, no Colégio das Religiosas Ursulinas, onde ganhou fama de hábil desenhadora. Um seu meio-irmão chamado Joaquim Freire Sobral também foi artista e pintor.

Ora, um aspeto pouco divulgado das origens maternas de Almada, é que entre os irmãos de Elvira Freire Sobral, a sua mãe, encontramos António Freire Sobral (1887-1940), que foi, tão só, um dos 15 sócios fundadores do Grupo Sport Bemfica!

https://www.geni.com/people/Antonio-Freire-Sobral/6000000020328109401


Em 1906, António Freire Sobral, tio materno dos manos José e António Sobral de Almada Negreiros, morava na Avenida Gomes Pereira, em Benfica, pertencendo a uma elite burguesa que esteve na origem do GSB. Uma elite em grande parte aparentada entre eles,


Em 15 de setembro de 1907, António Freire Sobral foi eleito para o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Grupo Sport Bemfica. Foi eleito no mandato de Luís Carlos de Faria Leal, um dos grandes dirigentes da nossa História.

(https://i.postimg.cc/CLWMdfyY/Freire-Sobral.jpg)
Fonte: História do SLB 1904-1954


Foi um tempo decisivo em que se acordou  a Junção entre o Grupo Sport Bemfica e o Sport Lisboa. Um tempo em que a direção do GSB negociou com Félix Bermudes e Cosme Damião, mandatados pelo Sport Lisboa. Em que ne acordaram os termos de harmonização das estruturas das duas coletividades, as cores, o Emblema, o próprio nome do Clube. Em que se definiu uma nova etapa do Clube. Tudo ficou registado em Ata, em reuniões conduzidas por António Freire Sobral.

Infelizmente, não dispomos ainda de uma fotografia desse nosso ilustre consócio, mas esperemos que um dia ela possa surgir.


(https://i.postimg.cc/kMtWGkBt/11.jpg)


Não admira que Mestre Almada, combatesse a ignorância, também no desporto, também e sempre no amor ao Sport Lisboa e Benfica.

Irreverente e Benfiquista até ao fim!
[fechar]



Segundo se consta o nosso ex Presidente Jorge de Brito tinha bastantes quadros da autoria de Almada Negreiros.


Sem dúvida. Tinha bom gosto, recursos e generosidade

(http://3.bp.blogspot.com/_NPl2DlV8gq4/TTW-9zVMOpI/AAAAAAAAASQ/-3MtZ8g-qzk/s1600/jorge%2Bbrito%2Bdoa%25C3%25A7ao.bmp)

Jorge Brito na cerimónia de doação do retrato de Fernando Pessoa à Câmara Municipal de Lisboa

Fonte: http://arquivolarte.blogspot.com/2011/01/coleccao-jorge-de-brito.html


Mais:

https://expresso.pt/cultura/2017-05-06-Jorge-de-Brito-o-grande-colecionador-de-arte



Jorge de Brito era um homem superior. O destino foi cruel, mas estou certo que os Benfiquistas bem informado NUNCA terão dúvidas sobre o seu Benfiquismo e como ele amou e ajudou o Clube.

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2018/07/em-defesa-de-jorge-brito.html


Jorge de Brito é uma Saudade do Benfica. Um dos Grandes.


(https://images.impresa.pt/expresso/2017-05-03-benfica-Toni--adjunto---Sven-Goran-Eriksson--treinador--Joao-Santos--presidente--Jorge-de-Brito--vice-presidente--e-Gaspar-Ramos--diretor-desportivo---da-esq.-para-a-dir.-.-Jorge-de-Brito-Joao-Santos/16x9)

(https://images.impresa.pt/expresso/2017-05-03-jorge-de-brito_-1/original/mw-960)


Paz, Honra e Memória à alma de Jorge de Brito.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 06 de Fevereiro de 2023, 18:57
(https://live.staticflickr.com/7596/16368304084_4458f5b608_b.jpg)


O Pátio das Antigas: O restaurante do retrato de Pessoa

Fonte: https://www.timeout.pt/lisboa/pt/noticias/o-patio-das-antigas-o-restaurante-do-retrato-de-pessoa-032722

A primeira versão do retrato pintado por Almada Negreiros esteve no Restaurante Irmãos Unidos até este fechar, em 1969. Está hoje na Casa Fernando Pessoa.

Trinta contos. Foi quanto Almada Negreiros recebeu, em 1954, do dono do Restaurante Irmãos Unidos, António Guisado, irmão do poeta Alfredo Guisado, um dos homens do grupo do Orpheu, pelo célebre quadro representando Fernando Pessoa. O poeta era cliente regular daquele estabelecimento situado no Rossio desde 1830 e que incluía ainda o Hotel Irmãos Unidos, aberto em meados do século XIX. Junto à pintura foi posta uma placa de mármore com os nomes de todos os membros do Orpheu, que ali se costumavam reunir e onde a revista homónima foi criada, em 1915. Em 1964, Almada pintou uma segunda versão do retrato, esta com a figura de Pessoa invertida, encomendada pela Fundação Gulbenkian, onde se encontra.

O retrato ali esteve até à falência e ao fecho do restaurante, em 1969. Em Janeiro do ano seguinte, realizou-se um concorridíssimo leilão do recheio, que encheu as páginas dos jornais e das revistas por causa do quadro de Almada. Este acabaria por ser comprado por um coleccionador por 1350 contos. António Guisado deu 228 contos ao artista. O Restaurante Irmãos Unidos deu lugar à Camisaria Moderna, também já desaparecida. Ainda em 1970, o banqueiro e coleccionador Jorge de Brito adquiriu o retrato, que ofereceria à Câmara Municipal de Lisboa e está na Casa Fernando Pessoa desde a sua inauguração, em 1993. A placa de homenagem aos homens do Orpheu encontra-se no Museu de Lisboa, e também pode ser vista na Casa Fernando Pessoa.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 14 de Fevereiro de 2023, 19:19
(https://pbs.twimg.com/media/Fo8zppDWYAcuZyt?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2023, 20:07
Citação de: Baron_Davis em 14 de Fevereiro de 2023, 19:19(https://pbs.twimg.com/media/Fo8zppDWYAcuZyt?format=jpg&name=medium)

Penso que é parte de uma coleção de cromos alemã ou austríaca.

Está aí uma raridade, um cromo de Armando Ramalho, o guarda-redes suplente que só esteve duas temporadas no nosso plantel sénior, de 1960-1962.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Jotenko em 22 de Fevereiro de 2023, 10:59
Citação de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2023, 20:07
Citação de: Baron_Davis em 14 de Fevereiro de 2023, 19:19(https://pbs.twimg.com/media/Fo8zppDWYAcuZyt?format=jpg&name=medium)

Penso que é parte de uma coleção de cromos alemã ou austríaca.

Está aí uma raridade, um cromo de Armando Ramalho, o guarda-redes suplente que só esteve duas temporadas no nosso plantel sénior, de 1960-1962.

Os cromos dessa altura eram tão a e s t h e t i c brutal
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 22 de Fevereiro de 2023, 13:19
Citação de: Jotenko em 22 de Fevereiro de 2023, 10:59
Citação de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2023, 20:07
Citação de: Baron_Davis em 14 de Fevereiro de 2023, 19:19(https://pbs.twimg.com/media/Fo8zppDWYAcuZyt?format=jpg&name=medium)

Penso que é parte de uma coleção de cromos alemã ou austríaca.

Está aí uma raridade, um cromo de Armando Ramalho, o guarda-redes suplente que só esteve duas temporadas no nosso plantel sénior, de 1960-1962.

Os cromos dessa altura eram tão a e s t h e t i c brutal


Faz parte desta caderneta

(https://i.postimg.cc/nrYTkhRk/00.jpg)


podem descarregar a caderneta, aqui:


https://amagiadoscromos2.blogspot.com/2017/11/fussball-bundesliga-1965-1966.html


pode-se verficar que a caderneta é maioritariamente acerca da bundesliga de 1965-1966, mas acaba por também incluir os clubes mais relevantes dessa época


Santos, Inter Milão, Real Madrid, Benfica, Liverpool FC, Atl. Madrid, AC Milão e Rapid Viena
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 23 de Fevereiro de 2023, 01:11
(https://pbs.twimg.com/media/FpmFhPlXsAEqV9w?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 27 de Fevereiro de 2023, 13:19
-346-
Honrai agora os Ases que nos honraram o passado: 2021-2023

Tínhamos ficado por aqui:

https://serbenfiquista.com/forum/memorias/25/decifrando-imagens-do-passado/53816.1035

Atualizando a iniciativa de dar cor e nome a imagens de equipas do SLB


(https://i.postimg.cc/bY3yfpVP/2021-2022.jpg)

(https://i.postimg.cc/cHkbT9hp/2022-2023.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2023, 00:04
-347-
Coleção de cromos Sport Lisboa e Benfica 1904-2023


Aos interessados,
no blogue "Em Defesa do Benfica", de Alberto Miguéns, ficou hoje disponível a versão de 2023 da "Coleção de Cromos do Sport Lisboa e Benfica".

Pode ser visualizada, aqui:


https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2023/02/coleccao-de-cromos-1904-2023.html


(https://i.postimg.cc/pdbcdHw0/SL-c2023.jpg)


É uma coleção de cromos virtual, feita sem fins lucrativos.

A versão de 2023 está bastante aumentada em relação à versão de 2022.

Novidades:
total de 87 páginas, antes eram 61;
total de 602 cromos, antes eram 424;
introduzida uma cronologia da implantação das modalidades no Clube, no período 1904-2001;
total de 297 cromos de "futebol masculino atletas"; acréscimo de 9 cromos;
total de 54 cromos de "futebol masculino - treinadores"; acréscimo de 1 cromo;
secção nova do "futebol feminino - atletas", com 18 cromos;
secção nova das "modalidades desportivas - atletas", com 72 cromos;
seccão nova de "Presidentes da Mesa da Assembleia Geral", com 30 cromos;
seccão nova de "Águias de Ouro", com 39 cromos;
secção nova de "troféus", com 9 cromos;
Foram ainda melhorados algumas dezenas de cromos, em todas as secções antigas.

No entender dos autores, as novas introduções tornam esta obra mais demonstrativa do Clube, enquanto instituição. Um Clube que vai muito para além do futebol. É com seus múltiplos atletas, treinadores, e dirigentes, através das suas grandes figuras, e até daqueles que lhe fizeram mal, que se pode demonstrar a grandeza do Clube. Inigualável. Nós, os adeptos, os que temos a sorte de poder desfrutar dessa grandeza, temos a obrigação e o prazer de contribuir para essa grandeza. É o Benfica, é o Clube de todos nós; adeptos passados, presentes e futuros.

Esta é uma obra que estará em evolução anual, e que eventualmente só será concluída em 2029, aquando dos 125 anos do Clube. Existem ideias para futuras versões aumentadas e melhoradas, assim haja tempo e material para o fazer.

Atentem que, esta é uma obra puramente amadora, feita sem fins lucrativos, apenas pelo prazer da partilha com os interessados. Feita para a celebração do Clube, e dos seus ases do passado. Os critérios de seleção, bons ou maus, são os dos autores, e sujeitos a críticas. As sugestões bem intencionadas serão sempre avaliadas, e, se possível, adotadas em futuras edições. Num Clube com uma História centenária, quaisquer que sejam os critérios de seleção de figuras do Clube, há sempre lugar ao lamento da exclusão.

Apreciem e partilhem!

Obrigado a todos os que se interessam.

E, "Viva o Benfica!".

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 28 de Fevereiro de 2023, 15:12
(https://pbs.twimg.com/media/FqDDlYPWAAYogUL?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2023, 18:49
Citação de: Baron_Davis em 28 de Fevereiro de 2023, 15:12(https://pbs.twimg.com/media/FqDDlYPWAAYogUL?format=jpg&name=medium)

31 de Julho de 1910
Almoço de Homenagem aos campeões regionais, nas três categorias
O local escolhido foi o famoso Restaurante Bacalhau, para lá de Benfica,

(https://i.postimg.cc/9QXQhWNq/05.jpg)

1 - António da Silva Marques (?), jogador SLB
2 –
3 -  Duarte Rodrigues, Jornalista Director técnico do jornal "Tiro e Sport"
4 – José Eduardo Moreira Sales (?) (futuro presidente do SLB)
5 – António Nunes de Almeida Guimarães, dirigente, Secretário da Direção SLB, presidente SLBeleito em 26 de Março de 1911 sucedendo a João José Pires
6 -
7 –
8 -  Alberto Rio, jogador SLB
9 - Germano de Vasconcelos Júnior, jogador SLB
10 – António Bernardino Costa, jogador SLB
11 – Félix Bermudes, jogador, dirigente SLB
12 – Cosme Damião, jogador SLB, capitão-geral SLB, dirigente, fundador Sport Lisboa
13 – António Augusto Marques, jogador SLB
14 – António Meireles, jogador SLB
15 – Luís Vieira, jogador SLB
16 – Artur José Pereira, jogador SLB
17 – Francisco Pereira, jogador SLB
18 –
19 –
20 – Carlos França, jogador SLB, fundador Sport Lisboa
21 –
22 -
23 –
24 – Carlos Homem de Figueiredo, jogador SLB e jornalista
25 – Eduardo Corga, jogador SLB, fundador Sport Lisboa
26 -
27 -
28 – David da Fonseca, jogador SLB
29 – João Carvalho Persónio, jogador SLB
30 - João Carlos Mascarenhas de Melo, dirigente GSB e  SLB
31 -
32 –
33 -
34 -
35 -
36 –
37 – Álvaro Gaspar, jogador SLB
38 -
39 -
40 -
41 -
42 -
43 -
44 -


Na primeira fila estão predominantemente dirigentes, na segunda e terceira uma maioria de jogadores e na terceira provavelmente predominam outros sócios.


Mais detalhes, aqui:

-22- Os primeiros trofeús

https://serbenfiquista.com/forum/memorias/25/decifrando-imagens-do-passado/53816.60

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 05 de Março de 2023, 11:19
Citação de: Baron_Davis em 23 de Fevereiro de 2023, 01:11(https://pbs.twimg.com/media/FpmFhPlXsAEqV9w?format=jpg&name=medium)

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 08 de Março de 2023, 22:52
(https://pbs.twimg.com/media/Fqutsb_WAAQzVj8?format=jpg&name=900x900)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 09 de Março de 2023, 00:01
Fantastica foto.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 10 de Março de 2023, 18:29
(https://pbs.twimg.com/media/Fq3aARXXoAE51UA?format=png&name=small)

Eusébio e Gordon Banks, 1972, Londres
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 10 de Março de 2023, 19:08
Citação de: Baron_Davis em 10 de Março de 2023, 18:29(https://pbs.twimg.com/media/Fq3aARXXoAE51UA?format=png&name=small)
Eusébio e Gordon Banks, 1972, Londres

Publiquei em fevereiro de 2015, um pequeno texto evocativo das circunstâncias onde essa foto foi captada.

Curioso, hoje escreveria tudo de forma bem diferente...


-33-
Eusébio às riscas

Stoke-on-Trent, Inglaterra, 12 de Dezembro de 1973:

(https://i.postimg.cc/nL3vsmfk/01.jpg)

De facto assim foi. Jogo de despedida de Gordon Banks, o grande guarda-redes Inglês.

Jogo contra o Manchester United. Eusébio joga com a camisola do Stoke City. Derrota do Stoke City por 2-1. Quem marca o golo do Stoke? Isso.

(https://i.postimg.cc/HLvyWCbv/02.jpg)


Testemunho de Banks:
Eusébio era um grande, grande jogador. Fiquei extremamente triste ao saber da sua morte.
Quando enfrentamos Portugal na semi-final de 1966, Alf Ramsey fez questão em alertar-nos para a sua qualidade. Eusébio era um daqueles jogadores capaz de fazer coisas notáveis com aquela bola pesada, coisas só ao alcance de poucos.
Naquele dia ele marcou-me de penalti o primeiro golo que concedi no Mundial - enganou-me, enviou-me para o lado errado.


(https://media.gettyimages.com/id/3307728/photo/eusebio-penalty.jpg?s=1024x1024&w=gi&k=20&c=jND0ITJhpfz0oPpCvL-g_jXs1SVxjByAiidyVt7SOKI=)

Era um cavalheiro. No final desse jogo apertámos as mãos e ele desejou-nos o melhor... Fiquei muito honrado em ele ter participado no meu jogo de despedida. Era uma grande pessoa.

E de facto assim foi. Mais uma oportunidade para conviverem e apertarem as mãos. E já não vinha longe também a despedida de Eusébio.

(https://i.postimg.cc/zXYRG7RN/04.jpg)
(http://i.guim.co.uk/static/w-620/h--/q-95/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2014/9/20/1411209454220/6e780c22-b9ed-4848-b147-7a4d6f3c202b-680x1020.jpeg)
(http://i2.mirror.co.uk/incoming/article2990268.ece/alternates/s615/Gordon-Banks-goalkeeper-for-England-with-Eusebio-in-1973.jpg)

Fonte:http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F  (http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F)


Gordon Banks foi um fantástico guarda-redes do Chesterfield, Leicester City, Stoke City e da selecção Inglesa. Finalizou a sua actividade depois de um acidente de automóvel que lhe afectou a visão do olho direito. Um caso muito triste à semelhança do craque Brasileiro Tostão, e do nosso excelente defesa Vicente.

A sua defesa no mundial de 1970 após um remate de cabeça de Pelé é ainda hoje considerada a melhor da história do futebol.

(https://media3.giphy.com/media/SqBSVpOUwjauJouEx0/giphy.gif)

A qualidade não é boa mas três meses antes Gordon Banks esteve no jogo da festa de homenagem a Eusébio em  26 de Setembro de 1973. O dia em que Hagan bateu com a porta. Mas isso é outra história.

(https://i.postimg.cc/50pk2ysd/Doxlpj-YXk-AI2-PMQ.jpg)

Dois gigantes que se respeitaram e que se habituaram a apertar as mãos. Mereceram ambos a homenagem recíproca. Os grandes atraem os grandes.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 10 de Março de 2023, 23:03
Julgo que junto ao King Eusébio estão Salif Keita,Paulo Cesar Caju e Gunter Netzer.
Em cima estão George Best,Jack Charlton,Gordon Banks,Hilario e Bobby Charlton.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Pierre van Hooijdonk em 11 de Março de 2023, 22:23
Que jogo é este?

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Pierre van Hooijdonk em 11 de Março de 2023, 22:28
https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19861987/amigavel/1986-08-10/sporting-cp-x-sl-benfica

Jogo particular
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 11 de Março de 2023, 23:27
Foi um portento. Inesquecível.


(https://i.postimg.cc/Jz3Fq0My/118035759-4200014816735591-1430605871866662457-n.jpg)

Deixou muitas boas memórias mas ele também guardou experiências inesquecíveis.

https://www.record.pt/multimedia/videos/detalhe/manniche-melhores-momentos-da-minha-vida-foram-no-benfica-931194
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Alexandre1976 em 11 de Março de 2023, 23:33
Citação de: Pierre van Hooijdonk em 11 de Março de 2023, 22:23Que jogo é este?

Torneio Internacional de Lisboa de 86-87
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 15 de Março de 2023, 23:03
(https://pbs.twimg.com/media/FrRyQlCX0AIYgy9?format=jpg&name=large)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Março de 2023, 09:02
Citação de: Baron_Davis em 15 de Março de 2023, 23:03(https://pbs.twimg.com/media/FrRyQlCX0AIYgy9?format=jpg&name=large)


(https://i.postimg.cc/xT4ms9Lw/93041160-1.jpg)

Dois Clubes míticos. Dois jogos, dois empates, ninguém se vergou...


https://m.facebook.com/MuseuBenficaCosmeDamiao/photos/em-agosto-de-1967-o-sport-lisboa-e-benfica-atravessou-todo-o-continente-american/1595738983940819/

https://www.historiadeboca.com.ar/historial-boca-benfica-portugal/7015/1967/1967/2967/0/0/50.html

https://www.historiadeboca.com.ar/partido/boca-1-benfica-portugal-1-amistosos-1967/3845.html

https://www.historiadeboca.com.ar/partido/boca-1-benfica-portugal-1-amistosos-1967/3845.html
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: administrador em 16 de Março de 2023, 14:11
(https://pbs.twimg.com/media/FrSmGPQXsAcgZSM?format=png&name=360x360)

Nunca tinha visto. Um deles canta a razão de estarmos aqui.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 16 de Março de 2023, 14:17
Citação de: administrador em 16 de Março de 2023, 14:11(https://pbs.twimg.com/media/FrSmGPQXsAcgZSM?format=png&name=360x360)

Nunca tinha visto. Um deles canta a razão de estarmos aqui.

(https://i.postimg.cc/y88qnWJs/dist.jpg)

Cantando "Ser Benfiquista"
(https://i.postimg.cc/kGHM98RN/Vit-rias-e-Patrim-nio-E116-TVRip-Xvid-Up-PTMSNM-avi-001577080.jpg)

Com Edith Piaf
(https://i.postimg.cc/CLyLvCYY/Lu-s-Pi-arra-com-Edith-Piaf.jpg)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 18 de Março de 2023, 08:53
-348-
 O Congresso dos pioneiros – parte I

Dia 23 de outubro de 1938, sede da Associação Comercial de Lisboa.

(https://i.postimg.cc/Bvzhz4MD/01.jpg)
Um aspeto da assistência no dia inaugural do "I Congresso Nacional de Futebol", em 23-10-1938. Fonte: TT


Uma assistência, maioritariamente constituída por anciãos, assiste à sessão inaugural do "I Congresso Nacional de Futebol".

Este evento esteve integrado na "Semana comemorativa das Bodas de Ouro do futebol português", que decorreu de 23 a 30 de outubro. Para além do Congresso, foi ainda organizada a "I Exposição Histórica do Futebol (1888-1938)" e disputou-se um jogo de futebol, no dia 30 de outubro, entre a seleção nacional de futebol e um grupo misto, com diversos jogadores do campeonato nacional.

Voltando à sessão inaugural do congresso, identifica-se entre os assistentes, um homem que, mais do que todos os outros, merece o nosso destaque. Isto, apesar da forma discreta como se apresentou, característica aliás transversal à sua vida. Falamos de Cosme Damião (1885-1947), um dos nossos 24 fundadores, o pai do Benfiquismo, um inovador, um orientador, um concretizador, mas acima de tudo, um desportista de conduta irrepreensível.



(https://i.postimg.cc/gcVDVVF3/02.jpg)


Cosme Damião foi um dos numerosos anciãos presentes nos eventos dessa semana comemorativa, à qual, e sem pretensão de ser exaustivos, daremos aqui destaque neste e no próximo texto. Identificaremos e falaremos brevemente de alguns desses homens, salientando a sua contribuição, diligente, e generosa, para a implantação e desenvolvimento do futebol em Portugal. Outros, apesar de identificados, como são habitualmente mencionados neste tópico, não merecerão desta vez um desenvolvimento no texto.


(https://i.postimg.cc/PqvbPZQp/03.jpg)
Dois ilustres Benfiquistas entre a assistência do "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


"I Congresso Nacional de Futebol"

Os eventos da "Semana comemorativa das Bodas de Ouro do futebol português", pretenderam comemorar o 50º aniversário da introdução do futebol em Portugal. Decorreram por iniciativa do jornal "O Século", em colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF). O jornal "O Século" era então o mais prestigiado periódico português, dotado de excelentes profissionais e de um acervo fotográfico e documental verdadeiramente extraordinário, que está hoje em grande parte depositado na Torre do Tombo.

O congresso foi, o evento mais significativo dessa semana comemorativa, porque juntou grandes figuras, praticantes e pensadores, de diversas gerações. Foi um evento que não apenas homenageou quem o merecia ser, como também juntou gente válida, pensadores, que debateu soluções para as mudanças que vieram a ser introduzidas, a curto e médio prazo, nos modelos competitivos e até nas infraestruturas do desporto português.

Foram convidados e compareceram antigos e atuais jogadores dessa época, assim como árbitros, técnicos, jornalistas, dirigentes de clubes, representantes da FPF e das associações de futebol.

Entre a comissão organizadora, encontramos Francisco Calejo (1871-1944?), um antigo dirigente benfiquista, que nas décadas de 10 e 20 deu uma enorme contribuição ao Clube. Nesse ano de 1938, Francisco Calejo ainda revelava força e entusiasmo para se envolver nestas iniciativas.


(https://i.postimg.cc/7YBS9XBJ/04.jpg)
A comissão organizadora das comemorações das bodas de ouro do futebol português. Fonte: TT


De Calejo, tivemos já a oportunidade de falar neste tópico (ver texto: -192- "Poeira do tempo: Francisco Calejo", pág. 48).


(https://i.postimg.cc/2Ssb9tny/05.jpg)
Em 1919, Francisco Calejo, Cosme Damião e Cândido de Oliveira, eram três figuras de destaque do Sport Lisboa e Benfica.


No entanto, a figura mais relevante entre os membros desta comissão organizadora, era Cândido de Oliveira (1896-1958). Jornalista, antigo casapiano e antigo jogador do SLB e do Casa Pia AC, Cândido era então selecionador nacional de futebol (e sê-lo-ia em 3 ocasiões; de 1926 a 1929, de 1935 a 1945, e em 1952).

Cândido de Oliveira era dotado de vastos conhecimentos quer em de aspetos técnicos quer quanto a muitos dos elementos organizativos do futebol desse tempo, tendo demonstrado essa competência quando exerceu diversos cargos federativos.

Nesta semana comemorativa, para além de integrar a comissão organizadora, Cândido de Oliveira apresentou também uma comunicação ao congresso, intitulada "A formação dos jogadores de futebol". Durante essa comunicação, mestre Cândido revelou a sua reconhecida erudição, dando também uma visão histórica da fascinante génese do futebol em Portugal. E tudo isto, tendo na assistência alguns dos mais relevantes pioneiros, sobreviventes desses tempos primordiais.


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Cândido de Oliveira durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Ora, dois dos mais destacados pioneiros do futebol português, foram os irmãos Eduardo Ferreira Pinto Basto (1869-1944) e Guilherme Ferreira Pinto Basto (1864-1957). Em 1938, ambos estavam ainda vivos, e por isso foram convidados pela organização para estarem presentes e darem o seu testemunho. Os dois faziam parte da trintena de homens que participou no primeiro treino de futebol de que há registo em Portugal. Esse famoso treino, ocorreu em outubro de 1888, num domingo à tarde, no Jardim da Parada de Cascais.

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Fonte: https://maisfutebol.iol.pt/efemeride/rubrica/o-dia-em-que-se-realizou-o-primeiro-jogo-de-futebol-publico-em-portugal (https://maisfutebol.iol.pt/efemeride/rubrica/o-dia-em-que-se-realizou-o-primeiro-jogo-de-futebol-publico-em-portugal)



Aliás, a História conhecida, diz-nos que o organizador desse treino de futebol terá sido justamente Guilherme Pinto Basto. Guilherme tinha regressado, cerca de dois anos antes, de Inglaterra, onde, tal como o irmão Eduardo, estudou num colégio particular.  E foi na velha Albion, que tomou contacto com esse "novo" desporto, então já massificado, e que tanto apaixonava os britânicos. De lá, trouxe uma bola de futebol, e o conhecimento das regras. Por cá, começou um trabalho paciente, e diligente, de divulgação da modalidade. Com inteira justiça, Guilherme esteve entre os oradores desse dia inaugural.


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Guilherme Pinto Basto durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT



Guilherme Pinto Basto teve uma vida longa e extraordinária, mostrando sempre interesse pelo futebol e pelos seus executantes. Em 1950, esteve ainda no Jamor, quando o SL Benfica arrebatou a Taça Latina. Foi ele que entregou a Taça Latina ao nosso Rogério Pipi.


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Após o Sport Lisboa e Benfica ter conquistado a Taça Latina, Guilherme Pinto Basto entrega a Taça a Rogério Pipi, o capitão improvisado desse dia.


Outro pioneiro em destaque no Congresso, foi o Comandante Joaquim Costa, então já um velho marinheiro, e figura prestigiada das primeiras décadas do futebol em Portugal. Apesar de estar mais ligado ao Lisbonense FC (hoje extinto) e depois ao CIF (ainda em atividade), Joaquim Costa consta também da pequena lista de sócios de mérito, e beneméritos, do Grupo Sport Bemfica. Durante o Congresso, Joaquim Costa mostrou que continuava a ser um orador vibrante, que continuava a mostrar uma enorme paixão pelo futebol.


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O comandante Joaquim Costa durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Outro ilustre orador foi o jornalista, e olisipógrafo, Norberto de Araújo (https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/ (https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/)), que apresentou uma comunicação intitulada "O Futebol - sugestão de Arte". Para além das suas extraordinárias capacidades profissionais, e de uma erudição sem igual, Norberto de Araújo era igualmente um ilustre Benfiquista, tendo sido colega de Cosme Damião, nos anos em que trabalharam juntos no jornal "O Sport de Lisboa", no distante ano de 1913.


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Norberto de Araújo durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT



Destaque também para Ricardo Ornelas (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/02/obrigado-ornelas.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/02/obrigado-ornelas.html)), antigo casapiano, e ilustre jornalista, que apresentou a comunicação "O ensino e a vulgarização das regras de jogo".



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Ricardo Ornelas durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Destaque ainda para o prestigiado dirigente federativo Virgílio Paula, que fez também uma comunicação.


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Virgílio Paula durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Apesar de estar mais ligado ao universo belenense, tendo sido elemento chave na fundação do CF "os Belenenses", Virgílio Paula tinha também sido jogador de futebol do SL Benfica. Aliás, entre 1907 e 1913. foi um dos mais relevantes companheiros de Cosme Damião. Este último, tinha justamente dado um papel importante a Virgílio Paula na reorganização do nosso Clube, aquando dos dias turbulentos que sobrevieram à grande deserção de jogadores para o SCP, em maio de 1907 e à junção entre o Sport Lisboa e Grupo Sport Bemfica, em setembro de 1908.

Ainda a respeito de Virgílio Paula refira-se ainda que, por uma conjugação de circunstâncias, chegou a ser nomeado selecionador nacional de futebol, embora exercendo o cargo em apenas 3 jogos, entre 1947 e 1948. Era, obviamente, alguém a quem eram reconhecidos amplos conhecimentos de futebol, dentro e fora das 4 linhas.


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Virgílio e Cosme, décadas de respeito e amizade. Fonte: TT


Mas as comunicações mais relevantes foram aquelas que versaram os problemas mais agudos do futebol em Portugal.

Uma dessas comunicações seria proferida pelo então presidente da Federação Portuguesa de Futebol, o casapiano Professor Cruz Filipe. E, note-se, seria na vigência das suas presidências (de 1934 a 1942) que se dariam algumas das mais importantes transformações do quadro competitivo do futebol português.

Viva-se então a ressaca de uma humilhante derrota com a seleção espanhola (0-9, em março desse ano) que tinha exposto uma gritante necessidade de melhorar a competitividade e a organização do futebol em Portugal. Faltavam recursos e sobrava o imobilismo. Eram precisas boas ideias e acima de tudo, capacidade de as implementar.


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Cruz Filipe (presidente da FPF) durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Nesse sentido, o ponto alto do Congresso seria a comunicação de Mário de Oliveira, emérito jornalista, que na altura, era também delegado da Associação de Futebol do Algarve na FPF. Naquele dia 25 de outubro de 1938, Mário de Oliveira apresentou: "A organização nacional do futebol e as suas grandes competições nacionais". Dada a relevância das suas ideias, a tese mereceu mais tarde honras de publicação.



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Uma comunicação relevante na História do Futebol português. Fonte: Em Defesa do Benfica.


A relevância do seu diagnóstico e as sugestões apresentadas, tornaram esta uma das contribuições mais importantes do evento. Debatia-se o futuro competitivo e a sustentação económica do futebol português.

Mário de Oliveira não era apenas um reporter, mas também um homem dotado de grande capacidade de compreensão do passado e presente do futebol em Portugal. Anos mais tarde seria um dos autores da monumental "História do SLB 1904-1954", ainda hoje uma ferramenta imprescindível para qualquer Benfiquista que queira conhecer o seu Clube. Foi aliás, ele, o principal executor dessa tremenda obra, que está hoje disponível, aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/11/o-benfiquismo-e-assim.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/11/o-benfiquismo-e-assim.html)

Num dado ponto dessa comunicação, Mário de Oliveira declarava que: "Atualmente, as duas grandes competições nacionais são os torneios das Ligas – leia-se Campeonato Regionais – e o Campeonato de Portugal, que devem passar respetivamente a Campeonato Nacional e a Taça de Portugal". Pode-se ler mais sobre esta comunicação, no belo texto de Afonso de Melo, aqui: https://sol.sapo.pt/artigo/735611/99-anos-de-taca-de-portugal (https://sol.sapo.pt/artigo/735611/99-anos-de-taca-de-portugal)

Na sequência, e, como nos diz Alberto Miguéns, em mais uma das suas informadas e argutas crónicas, a Direção da Federação Portuguesa de Futebol, usaria as conclusões do Congresso, no sentido da aprovação, oficializando a decisão no Artigo 6.º - Provas do «Relatório e Contas da Época de 1938/39».

Com esse ato formal, a FPF para sempre decidiu que o Campeonato da I Liga continuaria como Campeonato Nacional da I Divisão; que o Campeonato da II liga continuaria como Campeonato Nacional da II Divisão; e que o Campeonato de Portugal continuaria como Taça de Portugal. Esta decisão é irrevogável, mesmo que alguns cabeçudos oportunistas continuem a marrar no sentido oposto. Para mais detalhes ler: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/07/se-fpf-esta-desarrumada.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/07/se-fpf-esta-desarrumada.html)


No próximo texto falaremos brevemente de outros eventos desta comemoração, em particular da "I Exposição Histórica do Futebol, 1888-1938".



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 25 de Março de 2023, 14:57
(https://pbs.twimg.com/media/FsEeRNdXoAUJrGb?format=png&name=900x900)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Março de 2023, 19:25
Citação de: Baron_Davis em 25 de Março de 2023, 14:57(https://pbs.twimg.com/media/FsEeRNdXoAUJrGb?format=png&name=900x900)


Interessante

(https://www.jornaldosclassicos.com/wp-content/uploads/2020/06/369172_b87f056ac0c7d68091b892286ebc81a8-1-1536x1214.jpg)

Há alguma informação interessante, por aí...

https://www.jornaldosclassicos.com/2021/11/17/o-rei-eusebio-e-os-automoveis/

https://www.facebook.com/auto.baixinhos/posts/1038581789488325/


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 27 de Março de 2023, 22:20
(https://pbs.twimg.com/media/FsPJhnxWcAI7rFJ?format=png&name=900x900)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Março de 2023, 11:27
Citação de: Baron_Davis em 27 de Março de 2023, 22:20(https://pbs.twimg.com/media/FsPJhnxWcAI7rFJ?format=png&name=900x900)

(https://i.ebayimg.com/images/g/rb8AAOSwGUFj-00-/s-l1600.jpg)
(https://i.ebayimg.com/images/g/ZAMAAOSwNQ9j-005/s-l1600.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 08 de Abril de 2023, 09:05
-349-
O Congresso dos pioneiros – parte II


Dia 23 de outubro de 1938, uma das salas da sede da Associação Comercial de Lisboa.


 
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Aspeto geral de uma das salas da I Exposição Histórica do Futebol Português, na Associação Comercial de Lisboa. Fonte: TT



"I Exposição Histórica do Futebol (1888-1938)"


A I Exposição Histórica do Futebol (1888-1938), exibiu material gráfico, documentação, livros, jornais, e alguns dos troféus mais significativos dos primeiros 50 anos do futebol em Portugal. Evocou tempos de grandes dificuldades, mas também de grande empolgamento, onde se forjaram os grandes clubes nacionais, e se destacaram as primeiras grandes figuras do nosso futebol. Com a presença de autoridades e dando justo destaque à contribuição seminal inglesa.


 
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Comitiva do VIPs que visitaram a I Exposição Histórica do Futebol, 1888-1938. Distinguem-se Carneiro Pacheco, ministro da Educação, William Balfour embaixador inglês em Lisboa, Virgílio Paula (FPF) e Cândido de Oliveira (selecionador nacional).


O excecional acervo fotográfico e documental do jornal "O Século" foi o recurso mais utilizado nessa exposição, mas também foram usados arquivos particulares, e institucionais. As fotografias históricas evocaram momentos e competições célebres, e também a própria evolução do jogo, dos equipamentos, e lembrar os seus interpretes.

As coleções privadas dos fotógrafos Senna Cardoso (periódico "Tiro e Sport") e Arnaldo Garcês Rodrigues (extraordinário repórter fotográfico da I Guerra Mundial e um Benfiquista de quem já por aqui falamos), enriqueceram particularmente a exposição.


 
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Algumas fotografias históricas que se reconhecem na exposição. Fonte: TT


Em lugar de destaque estiveram igualmente diversos trofeus de alguns dos mais simbólicos desses tempos, como aquele que foi conquistado na digressão de uma seleção de futebol de Lisboa, ao Brasil, em julho e agosto de 1913, quando ainda não existia formalmente a AFL.


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Relembra-se que já se falou neste tópico (ver: -46 e 47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (partes I e II; págs.12 e 13), dessa maravilhosa digressão, em que uma seleção de Lisboa orientada por Cosme Damião, deixou uma excelente imagem social e desportiva em terras brasileiras.


 
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Uma das equipas da comitiva da AFL, que fez uma digressão pelo Brasil, em 1913.


E distingue-se ainda o famoso troféu "Bernardino Costa", propriedade do Sport Lisboa e Benfica, e que por muitos anos foi tido como o primeiro troféu da História do nosso Clube, algo que sabemos hoje em dia, não corresponder à verdade histórica.


 
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Hoje quase completamente esquecidos, esses jogos contra os ingleses do Carcavellos Club foram fundamentais para que desde cedo o nosso Clube tivesse a preferência popular. As vitorias que conquistamos contra os mestres ingleses estiveram até na base do adjetivo "Glorioso" ou Gloriosíssimo"!


 
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A equipa do Sport Lisboa e Benfica que venceu os ingleses do Carcavellos Club, em Carcavelos, na Quinta Nova, no dia 11-02-1911.



Grande festival de exibição do futebol e dos seus pioneiros

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Um jogo entre a seleção nacional e uma equipa de jogadores nacionais designada por "Resto do País", rematou as celebrações. Foi vencido pelos primeiros por conclusivos 7-2.

O jogo e o desfile comemorativo decorreram no Estádio das Salésias, então designado por "Estádio José Manuel Soares "Pepe"", propriedade do Clube de Futebol "os Belenenses".

Mas, talvez mais significativo foi o momento do pontapé de saída que foi protagonizado por Eduardo Ferreira Pinto Basto.

(peço desculpa pela marca de água mas há por aí um lagarto plagiador que gosta de vir aqui roubar imagens e trechos integrais de texto, fazendo-os seus, sem dar o devido crédito. Assim, pelo menos, terá mais trabalho a roubar o esforço de investigação e a escrita dos outros.)


 
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Eduardo Ferreira Pinto Basto, a dar o pontapé de saída do jogo entre uma seleção nacional de futebol e um misto de jogadores do campeonato português de futebol. Fonte: TT



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Os irmãos Pinto Basto a agradecer o aplauso do público. Fonte: TT


 
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O presidente da FPF a cumprimentar os pioneiros do futebol em Portugal. Fonte: TT



O festival incluiu também um desfile de clubes e de atletas, mais de 400, que prestaram homenagem aos pioneiros e às autoridades presentes, nos modos "requeridos" nessa época...


Um filme que registou alguns dos momentos da cerimónia e o jogo das Salésias.


E, particularmente para alguns incultos que vão para a televisão fazer tristes figuras, eis uma fotografia que só pode ser entendida na época, em que se fazia uma saudação habitual naqueles tempos. Um destes homens é o insuspeito Cândido de Oliveira, que anos mais tarde seria implacavelmente perseguido pelo regime ditatorial.

 
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Saudação às autoridades presentes. Fonte: TT



Todos estes eventos de outubro de 1938 tiveram um grande significado histórico, homenageando alguns dos que mereciam reconhecimento. Que nunca sejam esquecidos, mas antes celebrados e respeitados, pelo seu exemplo e legado.

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 17 de Abril de 2023, 20:23
-350-
À grande e à francesa!

Campo da Feiteira, Benfica. Dia 21 de maio de 1911.


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A seleção da AFL, maio de 1911. Colorido a partir de original. Fonte: TT

(Nota: peço desculpa pelas marcas de água, mas há um lagarto plagiador que, no fórum deles, gosta de publicar fotos e trechos integrais dos meus textos, sem dar o devido crédito. Ao menos, se continuar a roubar sem citar, que pelo menos tenha mais trabalho!)


Uma equipa da Associação de Futebol de Lisboa, alinha com o seu equipamento bipartido, azul e branco. Estava prestes a iniciar um desafio de futebol contra os ilustres visitantes franceses do Stade Bordelais UC.

Apesar estarem decorridos seis meses desde a implantação da República, a equipa selecionada para representar a Associação de Futebol de Lisboa, equipou ainda com as cores da monarquia. Ao que parece, já estariam encomendados equipamentos com as cores da República, mas antes como agora, muita coisa nunca chega a tempo e horas...

O Campo da Feiteira, em Benfica, terreno arrendado pelo seu dono, o Comendador César Figueiredo ao Sport Lisboa e Benfica, era um espaço amplo, airoso, embora em grande medida desprovido das mais elementares condições para a prática do futebol, da forma como hoje o entendemos. Ainda assim, era o único campo de jogos capaz de receber uma massa humana significativa (provavelmente até 10.000 pessoas) ao seu redor, mesmo que não existissem bancadas... Naquele tempo era o melhor que se arranjava, perto do espaço urbano lisboeta. E, dentro dos condicionalismos a direção do SLB, na altura presidida por António Nunes de Almeida Guimarães, lá tratou de assegurar a vedação, de demarcar bem o campo e as balizas, e de alindar as áreas envolventes. Estava tudo "de estalo" como então se dizia...


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Parte do Campo da Feiteira, em Benfica, casa do nosso Clube de 1906 até 1911.


Os primórdios da AFL

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A evolução do emblema, e as atuais instalações da AFL


Fundada em 23 de setembro de 1910, a Associação de Futebol de Lisboa (https://afl.pt/historial/), completará este ano a proveta idade de 113 anos.

Ao contrário do que a própria AFL propaga, em publicações oficiais recentes, a instituição foi fundada não por cinco, mas sim por três clube: o SC Império, o SC Campo de Ourique e o Sport Lisboa e Benfica. Foram estes os três clubes que fizeram a sua filiação no dia 23 de setembro de 1910:


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Os três clubes fundadores da Associação de Futebol de Lisboa.


Ou seja, atualmente apenas o nosso Clube se mantém em atividade. Os outros dois estão extintos.

Os outros dois clubes ainda em atividade, e que são anunciados pela AFL como "fundadores" são o Sporting CP e o Clube Internacional de Futebol. Sucede que a verdade histórica é outra, pois tanto o CIF como o SCP filiaram-se na AFL mais tarde, e por isso não podem em rigor ser considerados fundadores.

Detalhando, o CIF que é o sócio n.º 4, filiou-se na AFL em 29 de outubro de 1910, ou seja, 36 dias depois da fundação da AFL. Já o SCP, que é o sócio n.º 5, filiou-se na AFL no dia 3 de novembro de 1910, ou seja, 41 dias depois da fundação da AFL. Esta é a verdade histórica, o resto é revisionismo "à la carte", opção essa, que, ao que parece, faz algumas criaturas andarem mais felizes.


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Os sócios nº 4 e 5, NÃO FUNDADORES, da AFL.


Está tudo explicado aqui, em maior detalhe, pela pena autorizada de Alberto Miguéns:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/o-gosto-em-mentir.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/eles-nao-dizem-dizemos-nos.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2013/07/valha-nos-isso.html



Um nascimento conturbado

A AFL nasceu num ano particularmente tumultuoso quer do ponto de vista do incipiente e desorganizado sector desportivo lisboeta, quer no ambiente sociopolítico da nação, que numa inexorável agitação revolucionária, levaria à instauração da República em 5 de outubro de 1910.

Dois anos antes, tinha sido fundada a Liga Portuguesa de Football, uma das antecessoras da FPF (filiou-se na FIFA em 1909), instituição que teve vida curta, e que se revelou impotente na sua tentativa de disciplinar e organizar a um ambiente caótico, em que a desorganização burocrática e competitiva, era constantemente agravada pelas rivalidades clubísticas.

Provavelmente, o golpe fatal na LPF viria em junho de 1910, com a morte do seu presidente, o Dr. Januário Barreto, médico ilustre, e figura prestigiada, de grande inteligência e capacidade.


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Nessa altura, Januário Barreto era sócio do SCP, mas anos antes tinha também sido o primeiro presidente eleito do Sport Lisboa (1905), para além de ter tido outros cargos noutras entidades desportivas. Era verdadeiramente um homem respeitado por tudo e todos, tendo a sua falta sido muito sentida.


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A LPF, antecessora da FPF. Reconhecem-se Januário Barreto e Cosme Damião. Fonte: Hemeroteca Lx


Aquando da sua fundação, a AFL propunha-se organizar um sector que já integrava dezenas de clubes, e movimentava já algumas centenas de futebolistas. A organização do campeonato 1910-1911, representou o maior desafio de uma temporada em que se anunciava de grandes mudanças.

Notavelmente, na temporada anterior, o Sport Lisboa e Benfica tinha colocado fim à invencibilidade dos ingleses do Carcavellos Club, vencendo o campeonato regional de Lisboa, na altura a mais importante competição do país. O Sport Lisboa e Benfica foi o único clube português, campeão regional de Lisboa durante o tempo da monarquia.

Os ingleses, fosse de forma ressentida, ou então racional, anunciaram que não mais participariam em competições organizadas portuguesas. Desapareceram também equipas até aí relevantes como o Gilman FC e o Lisbon Cricket. Assim, apresentaram-se à competição o SL Benfica, o CIF, o SCP, o Campo de Ourique, o Império, o Lisboa FC e o SU Belenense. Foram organizados campeonatos de 1ª, 2ª e 3ª categorias.

E assim, foi neste contexto que, em maio de 1911, foram organizados estes jogos com os franceses do "Stade Bordelais", que terão sido a primeira equipa de futebol estrangeira a chegar em digressão a Lisboa, para disputa desafios contra adversários portugueses. Anunciava-se a cinda de uma equipa francesa aureolada como competitiva, tendo a iniciativa desse convite sido da direção do jornal, "Os Sports Ilustrados", que cumpria o primeiro ano da sua existência. Ao que parece, apesar da significativa adesão do público lisboeta, ainda assim a iniciativa não teve grande compensação financeira para os organizadores.


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O anúncio da vinda a Lisboa da equipa de futebol do Stade Bordelais


Stade Bordelais UC


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A evolução do emblema do Stade Bordelais


Fundado em 18 de julho de 1889, com o nome mais sintético de "Stade Bordelais", o clube francês foi evoluindo com uma série de uniões com outros clubes universitários da zona de Bordéus. Quando chegaram à gare do Rossio, o clube era oficialmente designado por "Stade Bordelais Université Club", e privilegiava a prática do futebol, do râguebi e do atletismo (https://books.openedition.org/msha/15957). Atualmente designa-se por Stade Bordelais Football (https://stade-bordelais-football.com/) (https://fr.wikipedia.org/wiki/Stade_bordelais_(football)).

Os franceses chegaram a Lisboa nas primeiras horas do dia 19 de maio, de forma relativamente anónima, à gare do Rossio. Mas, logo na sua chegada, tiveram o azar de sofrerem um acidente de automóvel que não sendo grave, ainda assim impediu que três dos seus jogadores ficassem disponíveis para competir.

Nessa digressão os franceses disputaram três jogos, numa sucessão diária, algo relativamente incompreensível nos dias de hoje, tanto mais que tinha chegado pouco tempo antes.

O preço dos bilhetes variou entre 500 reis para cadeiras, 200 reis no peão, hvendo ainda a possibilidade de fazer uma assinatura para os lugares de cadeira para assistir a todos os três jogos programados, por 1.200 reis...

O primeiro desses desafios foi disputado, logo a 20 de maio, ou seja, no dia seguinte à sua chegada. Jogaram e perderam (1-2) contra o CIF. O jogo foi arbitrado por Francisco dos Santos, antigo casapiano que jogou futebol no Sport Lisboa, na Lazio e no Sporting CP.


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Aspetos do jogo CIF 2 – Stade Bordelais UC 1. Fonte: AML e Hemeroteca Lx

No dia seguinte disputou-se o desafio contra a seleção da AFL, e aí houve lugar a uma estrondosa vitória portuguesa, por robustos 5-1!


A equipa portuguesa

Na equipa lisboeta, alinharam jogadores pertencentes aos quadros dos três clubes portugueses de maior nomeada dessa altura, o Sport Lisboa e Benfica, o Clube Internacional de Futebol e o Sporting Clube de Portugal.

O SL Benfica, campeão de Lisboa, era já então o mais popular dos clubes nacionais, fosse pelas suas cores, pelas conquistas precoces no futebol, ou por admitir exclusivamente atletas portugueses nos seus quadros, tradição que viria a manter por sete décadas.

O seu maior rival de então era o Clube Internacional de Futebol, um clube elitista, onde eram muito influentes as famílias Pinto Basto e Vilar, e onde se recebia de braços abertos atletas de nacionalidade estrangeira.

E por fim, o emergente e ambicioso Sporting Clube de Portugal, que, fundado por iniciativa de miúdos desavindos e ressabiados, fazia valer o poder do seu dinheiro, para fazer contratações sonantes, que aumentaram a sua capacidade competitiva, ao mesmo tempo que enfraqueciam os adversários. Foi logo desde inicio...

Os 11 jogadores que se apresentaram com a camisola azul e branca da AFL, foram:

(https://i.postimg.cc/YqrKWP4w/11.jpg)(https://i.postimg.cc/bv2KPc51/12.jpg)(https://i.postimg.cc/6QbnrqfN/13.jpg)(https://i.postimg.cc/rsqb5dw9/14.jpg)(https://i.postimg.cc/4NNqdhMf/15.jpg)(https://i.postimg.cc/d0pZ7dnz/16.jpg)


 
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Outro ângulo da seleção da AFL, maio de 1911. Colorido a partir de original. Fonte: TT


Bordelais vs. Glorioso


Ironicamente, o último dos três desafios disputados pelos bordaleses, apesar de ser o que mais nos interessa, foi também o único para o qual encontrei apenas imagens das equipas. Procurei imagens do jogo, mas sem qualquer sucesso, pois não estão disponíveis os periódicos desportivos dessa data.

Nesse dia 22 de maio de 1911, o Stade Bordelais UC, já mais adaptado às condições apresentadas, mostrou finalmente a qualidade do seu coletivo e venceu a equipa principal do SL Benfica por 4-2.


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A equipa principal do SL Benfica que disputou o jogo (2-4) contra o Stade Bordelais UC. A equipa foi fotografa nas cercanias do Campo da Feiteira, provavelmente perto do lugar onde se equipou. Colorido a partir de original.


(https://i.postimg.cc/BnG0vvxM/19.jpg)
A equipa do Stade Berdelais UC, no campo da Feiteira, antes de disputar um jogo contra o SL Benfica, em 22 de maio de 1911. Nota-se a presença do árbitro português, o prestigiado ex-casapiano, futebolista e escultor Francisco dos Santos. De notar também a vedação improvisada do campo, e a coloração da baliza, provavelmente pintada de vermelho e branco.


Ficha de jogo:

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19101911/amigavel/1911-05-22/sl-benfica-x-stade-bordelais


Ao que parece, o Benfica teve o azar de enfrentar os franceses no dia do seu maior acerto competitivo. Parece também que foi um jogo acidentado, uma vez que o nosso capitão Cosme Damião sofreu um violento pontapé no peito, num lance à margem de qualquer lei do futebol. E, como naquele tempo era comum, logo de seguida o agressor (que por acaso até era italiano de nascença), recebeu os "mimos" de volta, quando levou uma cabeçada nos queixos por parte do nosso José Domingos Fernandes. Na sequência, e contando alguns dentes partidos, o agressor certamente terá sentido que já estava pago, e com juros! Um "souvenir" que ele fez por merecer!

E lá terminou o jogo, sob o apito do inglês Meyrick de Mascarenhas Barley (1889-1946), que por sinal tinha jogado nos dias anteriores pela seleção da AFL, e pelo CIF...


Foi mesmo acabar, à grande e à francesa!


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 21 de Abril de 2023, 19:47
(https://pbs.twimg.com/media/Ftq2tW1XgAAE3pd?format=png&name=900x900)

1974/1975
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 21 de Abril de 2023, 20:20
Citação de: Baron_Davis em 21 de Abril de 2023, 19:47(https://pbs.twimg.com/media/Ftq2tW1XgAAE3pd?format=png&name=900x900)

1974/1975


11 de maio de 1975. Um dia marcante para o Benfiquismo.


https://serbenfiquista.com/team/19741975-seniores-masculino-futebol/sl-benfica

Festa de campeão nacional de futebol do Sport Lisboa e Benfica

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19741975/campeonato-nacional/1975-05-11/sl-benfica-3-x-1-u-tomar


Despedida de António Simões, que foi substituído por Jordão.

(https://i.postimg.cc/Ss35tq88/Adeus-Simoes.jpg)

(https://i.postimg.cc/8CWrrm4S/guarda-de-honra.jpg)

(https://i.postimg.cc/90fM1ddz/998774-671789106179870-1406204696-n.jpg)


Despedida de Milorad Pavic, que apesar de campeão, acordou a sua saída com a Direção do Benfica, tendo em conta as novas realidades financeiras do país e do Clube, na ressaca das mudanças políticas e económicas que se viviam no país.

(https://i.postimg.cc/1XYxS6Lg/Pavic-adeus.jpg)

(https://i.postimg.cc/sxPkBqQh/1974-1975-W.jpg)

Falava-se no regresso de José Augusto mas acabaria por ser contratado Mário Wilson.


Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 24 de Abril de 2023, 22:33
(https://pbs.twimg.com/media/FugZXHoWIE80elt?format=jpg&name=medium)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 25 de Abril de 2023, 23:30
Citação de: Baron_Davis em 24 de Abril de 2023, 22:33(https://pbs.twimg.com/media/FugZXHoWIE80elt?format=jpg&name=medium)

Eusébio gostava de ténis


(https://i.postimg.cc/k4m9fXsm/imagem161.png)
(https://i.postimg.cc/pT24m9kp/mw-1280-83.jpg)

Eusébio apreciava também diversas outras modalidades. Tenho ideia que era bastante bom em ténis de mesa. Já tive umas fotos dele a jogar essa modalidade mas estão desaparecidas nalgum canto recôndito dos meus arquivos...

(https://i.postimg.cc/DytNqpBV/PT-TT-FLA-SF-001-2549-004-m0001-derivada.jpg)
(https://i.postimg.cc/PxrVtgrD/IMG-20190412-143639.jpg)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: bruno cardoso em 26 de Abril de 2023, 20:37
(https://pbs.twimg.com/media/FupD4Z1XwAE17Yi?format=jpg&name=large)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 26 de Abril de 2023, 21:14
Classe.

(https://i.postimg.cc/XYWfHgD6/DBC-JSN.png)

Homem de coragem, que nada tinha de cumplicidades com o antigo regime.
Soube representar o Benfica de forma superior, em todas as circunstâncias,
Da Expo 1970 no Japão, aos palcos da Revolução de abril de 1974. Classe.
Oito anos que souberam a escassos para todos os Benfiquistas.

(https://i.postimg.cc/nr8jsHyf/01.jpg)



Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Baron_Davis em 12 de Maio de 2023, 22:34
(https://pbs.twimg.com/media/Fv9IN2MWwAQTKAC?format=jpg&name=large)
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 19 de Dezembro de 2023, 19:18
Aproveito este espaço para dizer ao PALERMA, ao ASNO, ao PALHAÇO, que anda a tentar VENDER a coleção de cromos virtuais que eu e Alberto Miguéns fizemos SEM QUAISQUER INTERESSE COMERCIAL, que deixe de vender aquilo que não é dele.


Salvador G, PALERMA, ASNO, e PALHAÇO,
a vender aqui:


https://es.wallapop.com/item/colecao-impressa-602-cromos-sport-lisboa-e-benfica-885794652



A coleção é para todos os Benfiquistas e não Benfiquistas que queiram usufruir da Gloriosa História do Sport Lisboa e Benfica. SEM PAGAR NADA.

Não é para um PALERMA, ASNO e PALHAÇO andar a vender. Percebe?

Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: Vitor84 em 27 de Dezembro de 2023, 09:29
Citação de: RedVC em 19 de Dezembro de 2023, 19:18Aproveito este espaço para dizer ao PALERMA, ao ASNO, ao PALHAÇO, que anda a tentar VENDER a coleção de cromos virtuais que eu e Alberto Miguéns fizemos SEM QUAISQUER INTERESSE COMERCIAL, que deixe de vender aquilo que não é dele.


Salvador G, PALERMA, ASNO, e PALHAÇO,
a vender aqui:


https://es.wallapop.com/item/colecao-impressa-602-cromos-sport-lisboa-e-benfica-885794652



A coleção é para todos os Benfiquistas e não Benfiquistas que queiram usufruir da Gloriosa História do Sport Lisboa e Benfica. SEM PAGAR NADA.

Não é para um PALERMA, ASNO e PALHAÇO andar a vender. Percebe?


Cada vez mais se vêem mais anormais destes no universo benfiquista :cry2:

Obrigado RedVC pela contínua partilha que vais fazendo connosco.
Título: Re: Decifrando imagens do passado
Mensagem de: RedVC em 28 de Fevereiro de 2024, 00:07
(https://i.postimg.cc/t4NPyD2g/2024.png)


Está já disponível a versão de 2024 da coleção de cromos Sport Lisboa e Benfica - 120 anos de glória - 1904-2024.

Pode ser encontrada no blogue de Alberto Miguéns, aqui:

 https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2024/02/120-anos-de-gloria-do-glorioso.html (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2024/02/120-anos-de-gloria-do-glorioso.html)


Esta versão está bastante aumentada relativamente às versões de 2023 e 2022.

Novidades:

- 117 páginas; em 2023 eram 87, em 2022 eram 59;
- 776 cromos; em 2023 eram 602, em 2022 eram 424;

- introduzidas 2 separatas com os hinos oficial e oficioso do Clube;
- 306 cromos de "futebol masculino atletas"; acréscimo de 9 cromos (2023);
- 57 cromos de "futebol masculino e feminino - treinadores"; acréscimo de 3 cromos (2023);
- 27 cromos de "futebol feminino atletas"; acréscimo de 9 cromos (2023);
- 99 cromos de "modalidades desportivas - atletas", acréscimo de 27 cromos (2023);
- introduzida secção nova: "Assistência médica"; com 18 cromos;
- introduzida secção nova: "Jogos inesquecíveis, rivais ilustres"; com 120 cromos referentes a 60 jogos contra adversários internacionais (de 1906 a 2023).


Uma vez mais, o critério de inclusão/exclusão é da responsabilidade dos autores.

Esse critério embora seja discutível, é genuíno, sem preconceitos ou malabarismos.

Tentou-se fazer a melhor escolha tendo em conta as limitações de material, de informação e de espaço disponível.

As próximas edições tentarão ainda melhorar o projeto, minorando lacunas ou erros identificados pelos autores e pelos interessados em fazer sugestões válidas e construtivas. Essas sugestões serão acolhidas com atenção e prazer.

Esta é uma edição para todos os interessados, sejam eles Benfiquistas ou não.
É uma edição sem fins lucrativos.
Os autores lamentam e repudiam qualquer aproveitamento comercial.
O objetivo é celebrar o Clube e homenagear as suas grandes figuras.
É celebrar a grandeza passada e presente do Clube.
É Ser Benfiquista e amar o Clube.
Todos por um.