Decifrando imagens do passado

RedVC

#615
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De Como a Milão

Lago de Como, Julho de 1956.

Quatro membros de uma comitiva Benfiquista posam numa embarcação no Lago de Como. Atrás deles, um cenário deslumbrante.



Lago de Como, Julho 1956. Uma bela imagem de confraternização com José Águas, Mão de Pilão, José Ricardo Domingues Júnior (director do SLB) e Ângelo Martins. De costa está outro jogador Benfiquista. José Ricardo Domingues tem na mão uma máquina fotográfica. Para mais tarde recordar. Fonte: Helena Águas.


Na fotografia identificamos quatro dos membros da comitiva Benfiquista que foi a Milão disputar a Taça Latina de 1956: José Águas (avançado), Ângelo Martins (defesa), José Ricardo Domingues Júnior (dirigente) e Mão de Pilão ou Aurelino Gomes (massagista Brasileiro ao serviço do SLB; ver textos 129 e 130 - O "caramujo" do futebol; p.34).



Os locais da aventura

Os quatro homens posaram para a câmara registando-se para sempre um momento de lazer e convívio no Lago de Como.





O lago de Como é o terceiro maior lago da Itália. Formado nos vales resultantes da descongelação de glaciares, é um dos lagos mais profundos da Europa, atingindo em alguns pontos os 414 metros de profundidade. O lago proporciona uma das vistas mais bonitas da deslumbrante (e rica) região da Lombardia. O cenário é absolutamente deslumbrante: um lago cristalino com muitos tons de azul, rodeado por montanhas e florestas, que abriga dezenas de pequenas cidades, vilas históricas, igrejas centenárias, castelos medievais e casas multicoloridas. A beleza das flores e a infinidade de cores das suas encostas é indescritível. Fonte: http://www.oguiademilao.com/o-lago-de-como/

Foi perto destas maravilhosas paisagens que a brava comitiva Benfiquista se preparou para a disputa da Taça Latina de 1956.


Os quatro jogos da competição foram disputados no Arena Civica, apesar de existir o magnífico SanSiro / Giuseppe Meazza e do FC Internazionale e o AC Milan serem co-proprietários desse estádio desde 1947. Inaugurado no distante ano de 1807 e nos dias de hoje oficialmente designado por Estádio Gianni Brera, a Arena Civica ainda existe, sendo também conhecida como "Arena Napoleónica". É um estádio polivalente com arquitectura neoclássica, capacidade para um máximo de 30.000 espectadores. Foi até à década de 50, maioritariamente utilizado pelo FC Internazionale. Hoje em dia tem uma utilização reduzida, mantendo-se no entanto utilizado em eventos desportivos (atletismo, râguebi e futebol) e culturais.





A meia-final

Liderada por Otto Glória, a comitiva partiu para aquilo que se esperava serem dois jogos muito competitivos. O primeiro seria a meia-final contra o AC Milan, o segundo dependeria dos resultados. Era a segunda vez que o SL Benfica participava na competição mas desta vez como vice-campeão, depois da renúncia do campeão FC Porto. Curiosamente também o nosso primeiro oponente foi vice-campeão pois ficou atrás do campeão Fiorentina.



De pé, esquerda para a direita: Bastos, Fernando Caiado, Jacinto, Alfredo, Artur Santos, Ângelo. Em baixo: Garrido, Coluna, José Águas, Salvador e Cávem. Fonte: DL

 

Bilhete do jogo de dia 27 Junho de 1956 em que a equipa do AC Milan defrontou a do SL Benfica para a meia-final da Taça Latina de 1956. Fonte: http://www.magliarossonera.it/.

 

À direita: os capitães de equipa Niels Liedholm (ACM) e Fernando Caiado (SLB) trocam cumprimentos e galhardetes antes do início da partida. À esquerda:fase de Jogo com uma investida atacante dos Milaneses. Fonte: http://www.magliarossonera.it/.


Jogando em sua casa, o AC Milan soube procurar a fortuna ganhando-nos por conclusivos 4-2. Segundo Tavares da Silva a competição não mereceu grande entusiasmo em Itália. O mesmo jornalista salientou ainda as fracas condições to terreno de jogo e iluminação.




O SL Benfica bateu-se bem mas foi pouco feliz e pouco proficiente na concretização das oportunidades que soube criar em particular na segunda parte. No final os 4-2 a favor dos Milaneses foram definidos pelos golos de Mariani, Schiaffino (2) e Bagnoli. Do lado do Benfica marcaram Coluna e Caiado.



Cronica do jogo publicada no DL de 3-06-1956.


Diário de Lisboa, 4 Julho 1956


Um (longo) jogo que nada teve de consolação

No dia 3 de Julho viria o jogo para a atribuição do 3º e 4º lugar da Taça Latina de 1956. O oponente era o Olympique GC Nice de França, curiosamente outra equipa com as cores "rossoneras` dirigida pelo Argentino Carniglia. O Nice tinha perdido a sua meia-final por 0-2 contra o Athletic de Bilbao, campeão de Espanha.

Num terreno transformado num batatal depois de uma noite de chuva torrencial, o "desafio de consolação" foi disputado por duas equipas que nunca revelaram qualquer desalento por disputarem o terceiro lugar. Nas bancadas encontravam-se no início de jogo apenas cerca de 300 pessoas, mas que viriam a ser privilegiadas por assistir um jogo emocionante com dois prolongamentos, muita luta e o talento possível naquelas condições. O jogo foi movimentado mas não rendeu qualquer golo na primeira parte. Na segunda parte o Benfica aumentou ritmo e impôs algum domínio territorial mas o marcador em nada se alterou até ao apito final para o tempo regulamentar. Viriam os prolongamentos.




Quando aos 12 minutos da primeira parte do prolongamento o Nice marca o seu golo tudo parecia perdido para o Benfica. Mas a nossa equipa reagiu "à campeão" intensificando o domínio de jogo e perseguindo com crença teimosa o empate que nunca mais chegava. E o golo chegaria a apenas a quatro minutos do fim quando Cavém marcou um golo de belo efeito a passe de Isidro. Seria necessário um segundo prolongamento. Parecia sina que o Benfica tivesse que disputar jogos intermináveis na compita da Taça Latina!

O segundo prolongamento teria mais duas partes de 15 minutos mas foi jogado em sistema de "golo da morte" ou "golo dourado" consoante as perspectivas. Quem o marcaria? Só mesmo o imortal José Águas poderia resolver! E foi mesmo José Águas, a fina flor dos nossos avançados, que marcou aos 132 minutos de jogo o golo da nossa vitória. Exultaram os nossos jogadores! O SL Benfica joga sempre para ganhar seja qual for o jogo seja qual for a competição!

Esse triunfo de acordo com os jornais até devia ter surgido bem antes correspondendo à clara superioridade dos Benfiquistas, num êxito classificado com incontestável, brilhante e mais do que justificado. Apenas a infelicidade com postes à mistura impediu uma vitória no tempo regulamentar.



Diário de Lisboa, 4 Julho 1956.



Mundo Deportivo 4 Julho 1956.



Corriere dello Sport



Fantasmas do passado



Fonte: DL, 30 Jun 1956.


Ferruccio Mazzola e Sandro Mazzola exibindo a fotografia de Valentino, o seu mítico pai. Fonte: Quatro tratti


Num gesto de profundo significado e sentimento, a comitiva do SL Benfica seria visitada pelos dois filhos de Valentino Mazzola, falecido sete anos antes no trágico acidente de Superga. A visita do Benfica aquela localidade foi uma das diversas homenagens que o nosso Clube soube sempre fazer, num profundo respeito à ligação que para sempre ficou entre os dois Clubes. Não tenho fotografia desses eventos mas fica aqui o registo de tão profundo e comovedor gesto. Sandro Mazzola seria em 1965 depois integrante do FC Internazionale de Milan que nos venceria naquela malfadada final de Milão, em plena casa dos nossos adversários. Uma das maiores vergonhas da (triste) história da UEFA.



A grande final



Glória aos campeões. A equipa do AC Milan que conquistou a Taça Latina de 1956. De pé, esquerda para a direita: Schiaffino, Maldini, Liedholm (cap.), Zagatti, Mariani. Em baixo: Fassetta, Buffon, Bagnoli, Radice, Dal Monte, Frignani. Fonte: Wikipedia.

   

O Sueco Nils Liedholm, o capitão rossonero recebe a Taça Lataina. Ao centro, a bela Taça que está orgulhosamente exposta no museu do AC Milan. À esquerda, o Director Desportivo Toni Busini a levantar o troféu.


Na final o AC Milan defrontou e venceu o Athletic Bilbao por 3-1, tornando-se assim bicampeão da Taça Latina a par do FC Barcelona. Durante as oito edições da prova, o AC Milan foi a única equipa Italiana que teve a honra de conquistar a Taça Latina. No ano seguinte o Real Madrid conquistaria também o seu segundo troféu. Em 1958 não haveria mais a Taça Latina. Era chegado o tempo de atenção plena para a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Estávamos apenas a três anos da Glória Benfiquista.



Balanço de uma competição de prestígio


Predecessor da Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Taça Latina é hoje orgulhosamente mencionada nos seus sites por todos os seis Clubes Vencedores:

https://www.fcbarcelona.cat/futbol/fitxa/palmares-futbol
http://www.realmadrid.com/sobre-el-real-madrid/palmares/futbol
http://www.slbenfica.pt/pt-pt/futebol/palmares.aspx
https://www.acmilan.com/en/club/history
http://stade-de-reims.com/le-club/histoire/


Dando como boa a informação da wikipedia aqui deixo resumos das 8 edições da Taça Latina:


As oito edições e os cinco campeões da Taça Latina. Barcelona FC, Real Madrid FC e AC Milan com duas vitórias, Stade de Reims e SL Benfica com uma vitória. Fonte: Wikipedia

E o palmarés na prova dos 17 Clubes que participaram nessas oito edições da competição:




Nota: O CFB participou em 1955 não por ter sido Campeão Nacional mas porque o SL Benfica decidiu abdicar dessa presença em desfavor da digressão que fez ao Brasil para participara na Taça Charles Miller de 1955 (ver textos 117 a 128). Apenas 5 Clubes venceram a competição, dois Espanhóis: Real Madrid FC (2) e FC Barcelona (2), um Francês: Stade de Reims (1), um Italiano: AC Milan (2) e um Português: o Sport Lisboa e Benfica (1).

Com estes números não admira que os nossos adversários façam tudo para desprestigiar uma competição com esta importância. Dois deles nunca passaram da cepa torta, o outro nem sequer teve coragem para se meter em competição. É assim, quem tem unhas toca guitarra. Neste caso garras... de Águia!






Dandy






   É um Prazer viajar de Carocha pela História do Benfica.

   E já que se falou de UEFA, referir que, em matéria de finais "IMPORTANTES", o palmarés do nosso Maior anda mais ou menos (em função da oficialidade/oficiosidade das competições) assim:



   7 finais da TCCE/UCL

   3 finais da Taça UEFA/Europa League

   2 finais da Taça Latina

   2 finais UEFA Futsal Cup

   1 final da Taça das Taças de futsal

   1 final da UEFA Youth League



   ORGULHO!




RedVC

#617
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Mântuas de Belém

Janeiro de 1908, cemitério do Alto de São João, Lisboa. Uma carreta transporta o corpo do dramaturgo D. João da Câmara.



Diversos aspectos do funeral de Dom João da Câmara em Janeiro de 1908. Cemitério dos Prazeres, o caixão saíndo da sua morada na Rua da Junqueira e a carreta a caminho do cemitério. Fonte: AML.


De origens nobres (descendente de João Gonçalves Zarco, um dos descobridores da Madeira e Porto Santo), Dom João da Câmara (1852-1908), nado e criado na Rua da Junqueira ali bem ao lado da Gloriosa Belém, foi um dramaturgo importante para a renovação do teatro Português no início do século XX. Por ser uma figura querida e por ser ainda relativamente novo, a sua morte foi muito sentida por parte dos seus amigos e a comunidade Lisboeta das Artes. No seu funeral compareceram diversos amigos de elite das letras lisboetas e claro, diversos outros dramaturgos. E é num desses colegas que iremos concentrar atenções.

De facto, ali num segundo plano, à entrada no cemitério estava um homem discreto, amigo do falecido, colega de profissão, que viria a ter anos mais tarde um importante papel na evolução do Sport Lisboa e Benfica. Ali, numa segunda fila, podemos escrutinar a presença de Bento Mântua, futuro presidente do SLB, que durante nove anos foi companheiro fiel de Cosme Damião nas lides directivas do Sport Lisboa e Benfica.



Entre os vários homens que acompanharam Dom João da Câmara à sua última morada, encontravam-se figuras destacadas do Teatro e da cultura em Portugal no início do século XX: o escritor e médico Júlio Dantas (1876-1962), o escritor e dramaturgo André Brun (1881-1926) e, mais discreto, o dramaturgo Bento Mântua (1878-1932). Fonte: AML.


Filho de Belém com raízes Angolanas


Bento Mântua nasceu em Belém no dia 6-09-1878. Filho natural de Alfredo Cortez Mântua, natural de São Julião do Tojal, Vila Franca de Xira, e de Balbina de Jesus Lima, natural de Luanda, Angola. Era neto paterno de Bento Joaquim Cortez Mântua e de Maria Natalina Cortez Mântua. Bento teve pelo menos um irmão mais novo chamado Alfredo, que nasceu em Luanda em 12-11-1880, embora tenha sido baptizado em Santa Maria de Belém tal como Bento, o seu irmão mais velho. Nessa época os seus pais eram moradores em Luanda embora, pelo que se percebe, o seu pai faria questão de baptizar os filhos sempre na Igreja de Santa Maria de Belém. Alfredo viria a ser um músico com algum destaque no panorama cultural Português naquele princípio do século XX.



Alfredo Mântua (Luanda, 1880 - ?). Músico e irmão de Bento Mântua.


O homem de Finanças

Para lá das suas actividades como jornalista, dramaturgo, dirigente desportivo, sabemos que em 1911 Bento Joaquim Cortez Mântua era funcionário superior do Ministério das Finanças (ou Fazenda Pública), tendo-lhe sido atribuída uma promoção de 2º oficial da Direcção Geral da Fazenda Pública, para 1º oficial da referida Direcção Geral.



Fonte: excertos de Notícias e acta de uma sessão do Parlamento Português (27 e 28 Janeiro 1921) que atestam que Bento Mântua foi um fincionário superior do Ministério das Finanças antes da implantação do Estado Novo. Fonte: Hemeroteca de Lisboa e BND.


Em 1925 viria a ter um processo disciplinar do qual desconheço os motivos e o resultado. Esse ano de 1925 e principalmente o ano seguinte onde perderia as eleições no SLB, terão sido dois dos anos mais complicados da vida de Bento Mântua. Infelizmente, Bento não viveria muitos anos mais.

Apesar desta faceta de oficial contabilista, seria nas Artes de palco e no dirigismo desportivo que Bento atingiria a sua fama. E não tenhamos dúvidas que essas aptidões profissionais terão sido bastante úteis para o SLB... Antes como agora sempre o SLB enfrentando uma dívida gigantesca.


O dramaturgo



Entre os seus pares. Bento Mântua acompanhado de outros escritores teatrais entre os quais Félix Bermudes, um outro presidente e figura superlativa do SLB. Assim encontramos, de pé, da esquerda para a direita: Félix Bermudes, Barbosa Júnior, André Brun, Bento Mântua e João Bastos. Sentados, Acácio de Paiva, Ernesto Rodrigues, Eduardo Garrido, Xavier Marques e Xavier da Silva. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca de Lisboa.



Diversas fotografias e menções ao dramaturgo Bento Mântua. Fonte: Ilustração Portuguesa, Hemeroteca de Lisboa.



Alguns anúncios de peças de teatro levadas à cena em Portugal e no Brasil por companhias Portuguesas em digressão. Nota-se à direita que Bento Mântua constava da lista de autores representados pela famosa companhia Rey Colaço e Robles Monteiro. Fonte: BND.


Não tendo um descritivo de toda a sua obra na dramaturgia, ainda assim pude socorrer-me da listagem de documentos manuscritos depositados na Torre do Tombo, que ilustra alguma da produção de Bento Mântua:


● "DAQUI A TRINTA ANOS", Peça em um acto
● "QUEM ME DERA VER", Diálogo em verso
● "A MORTE", Peça em um acto
● "O MUDO", Episódio dramático
● "MÁ SINA", Peça em um acto
● "FURTAR", Peça em um acto
● "QUANDO MANDA O CORAÇÃO", Peça em um acto
● "UM HOMEM", Diálogo em prosa
● "QUANDO MANDA O CORAÇÃO...", Episódio em um acto
● "MINHA LINDA BENFEITORA", Peça em um acto
● "O FADO", Drama em um acto


Talvez a sua peça mais conhecida – com representações em Portugal e no Brasil - tenha sido "O Fado", inspirada no célebre quadro de José Malhoa com o mesmo título.


Notícia de 21-10-1935. Fonte: BND.


Contrariamente ao que muita gente pensa não existem uma mas duas versões de 'O Fado'. José Malhoa pintou-as em 1909 e 1910.



Aspecto da exposição simultânea dos dois quadros de Malhoa expostos em 2001 na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa.. Fonte: DN.


Estes quadros são célebres não apenas pela maravilhosa pintura, técnica e perspectiva, do seu autor mas também porque Malhoa conseguiu captar de forma genial o clima de amor, ciúme, intriga, violência, marialvismo, fadista, marginalidade, enfim dos extremos de comportamento típico de uma certa Lisboa.

Conforme nos disse António Pedro Pereira no seu excelente artigo do DN:

A história desta obra de Malhoa é uma síntese da história de Portugal dos últimos cem anos. Socioculturalmente e, com algum exagero, até politicamente, está lá o País cuspido e escarrado. Podia ser um livro. Mas não é ainda um livro - é verdade que Lourenço Pereira Coutinho, historiador e escritor, escreveu em 2005 uma obra sobre o artista em que falava abundantemente desta obra de faces múltiplas. Tal como não é um filme (mas esteve no primeiro filme mudo português, realizado em 1923) ou uma peça de teatro, embora tenha sido explorado dramaturgicamente em peças do tempo da I República. Mas é um fado: o Fado Malhoa que José Galhardo escreveu para Amália celebrizar, e no qual a fadista canta sobre "o mais português dos quadros a óleo", um dos versos de Galhardo (musicados por Francisco Valério e cantado pela primeira vez pela diva em 1947).

O quadro é isto, mas, objectivamente, é também uma história de intrigas, facadas, violência conjugal, opiniões reais, populares, especializadas e, factualmente, cerca de uma dezena e meia de estudos de José Malhoa e duas telas. Autênticas. Duas faces de uma mesma obra que raras pessoas conseguiram ver juntas.

Há um punhado de anos, apareceu esta primeira versão do quadro que retrata Amâncio, afamado marginal (ou "fadista", então sinónimo) da Mouraria a quem chamavam "pintor" (e por isso, no bairro, chamavam a Malhoa o "pintor fino"), e Adelaide, mulher de má vida, conhecida por Adelaide da Facada (exibia no rosto uma cicatriz desenhada a navalha). E começaram os comentários desdenhosos, as desconfianças, as invejas. Exames periciais resolveram as dúvidas: não havia só um original, mas dois. A riqueza desta obra emblemática do mestre Malhoa também se mede em quantidade: duas versões, vários estudos.

...
Artigo integral em http://www.dn.pt/artes/artes-plasticas/interior/amp/um-encontro-de-irmas-que-demorou-um-seculo-1602380.html


O quadro "O Fado" esteve aliás também na origem do primeiro filme sonoro Português, realizado por Leitão de Barros e que por si só tem também uma história rocambolesca envolvendo, desfalques e prisões, com acção em Lisboa e Paris. Fiquemos por aqui...



Aspectos de "A Severa", o primeiro filme sonoro realizado em Portugal. Fonte: http://cinemaportugues.com.pt e Restos de Colecção.


Tudo isto para nos permitir perceber em particular a temática  relevância histórica e artística dessa obra de Malhoa e como Bento Mântua a soube explorar, levando-o ao sucesso em palcos de Portugal e Brasil.


Mas voltemos ao nosso foco, deixando claro que para além desta obra muitas outras peças de Bento Mântua foram igualmente levadas ao palco não apenas em Portugal mas também no Brasil.


O presidente

Não nos vamos estender muito por aqui uma vez que é conhecido o seu papel como presidente do SLB. Ainda assim fica aqui o texto oficial sobre a sua figura e a sua presidência exposto no Museu Cosme Damião.



Fonte: Museu Cosme Damião.


Bento Mântua, o homem tinha também alguns aspectos interessantes na sua vida particular como por exemplo ser um fumador compulsivo. E usava argumentos que hoje são de todo politicamente incorrectos. Outros tempos...



Fonte: BND


Que o tabaco é o companheiro do sonho e do devaneio, dulcificador de amarguras e amigo misterioso que a dor procura? Ou que o tabaco é uma esfinge que atrai e assassina, monstro centrípeto e voraz que se deve temer e odiar. Credo...




O fim e a memória

Bento Mântua faleceu na freguesia dos Anjos em Lisboa em 20-12-1932, com 54 anos de idade. Conforme nos diz o seu obituário publicado no DL, Bento Mântua era à data do falecimento, jornalista de "O Século". Era considerado um homem bom, generoso e de talento. Apesar da sua forte personalidade, traduzida no seu envolvimento em causas nobres foi um dedicado e notável Benfiquista, de alguma forma apagando-se ao lado do refulgente Cosme Damião, a alma e coração do Clube durante quase 20 anos. Bento foi um companheiro fiel de Cosme Damião, percebendo a excelência da liderança – efectiva – com que Cosme fazia evoluir o Clube, respeitando os Ideias e dando sempre o melhor exemplo.





Da vida que passa,

a Bento Mântua ficou associado a recordação de ter tido um importante papel como presidente do Glorioso e também de ter sido um dramaturgo importante nesse princípio do século XX. Paz à sua Alma. Glória e agradecimento à sua acção como presidente do Glorioso Sport Lisboa e Benfica.



alfredo

@redvc: victor, no teu belo resumo sobre a taca latina de 56, está lá um pequeno erro. A foto em que o presidente do acm levanta a taca, nao se trata da taca latina. É parecida, mas nao é a mesma das duas fotos ao lado.
um abraco

RedVC

Citação de: alfredo em 14 de Abril de 2017, 15:11
@redvc: victor, no teu belo resumo sobre a taca latina de 56, está lá um pequeno erro. A foto em que o presidente do acm levanta a taca, nao se trata da taca latina. É parecida, mas nao é a mesma das duas fotos ao lado.
um abraco

Muito bem observado alfredo.  O0

Erros propagados em sites como wikipedia (normal) e do Athletic Bilbao (finalista vencido) dando como origem o magliarossonera

https://memoriasdelfutbolvasco.wordpress.com/2015/02/18/carmelo-cedrun-y-la-primera-aventura-italiana-del-athletic-la-copa-latina-1956/



E eu nem notei...

A verdadeira é esta aqui levantada pelo Director Desportivo Toni Busini



Há que corrigir! Obrigado!  O0

alfredo

A foto do rizzoli é com a taca de campeao italiano em 56/57. Foi esse o modelo nos anos 50.

Ilian

RedVC, obrigado por este teu trabalho de dar a conhecer algumas das pessoas que, no decurso da vida do clube, foram dando muito de si, contribuindo para tornar o Benfica no emblema glorioso que é hoje. É um trabalho de extraordinário mérito e que nos enriquece a todos, adeptos benfiquistas e não só.

É com muito orgulho que encontrei nos teus posts, familiares e homens com quem tive a honra de conviver, mas que, infelizmente, já cá não estão para contar em pessoa aqueles momentos (e outros tantos) que mencionas nos teus posts.

Por todo o teu trabalho, um grande obrigado.

RedVC

#622
Citação de: Ilian em 14 de Abril de 2017, 22:24
RedVC, obrigado por este teu trabalho de dar a conhecer algumas das pessoas que, no decurso da vida do clube, foram dando muito de si, contribuindo para tornar o Benfica no emblema glorioso que é hoje. É um trabalho de extraordinário mérito e que nos enriquece a todos, adeptos benfiquistas e não só.

É com muito orgulho que encontrei nos teus posts, familiares e homens com quem tive a honra de conviver, mas que, infelizmente, já cá não estão para contar em pessoa aqueles momentos (e outros tantos) que mencionas nos teus posts.

Por todo o teu trabalho, um grande obrigado.

Obrigado Ilian. As tuas palavras são uma grande recompensa para mim pois um dos objectivos primordiais destes textos é voltar a dar destaque merecido a grandes homens, grandes desportistas que encheram de orgulho os Benfiquistas do passado. Nomes inesquecíveis, homens de coragem e talento. É uma grande satisfação pessoal poder fazê-lo.

No decurso da pesquisa para muitos desses textos descubro factos novos para mim que adicionam outras dimensões a homens que eu pensava já conhecer bem. E quando termino esses textos fico ainda mais orgulhoso e mais satisfeito por o meu Pai me ter feito Benfiquista.

Gostaria que aparecessem mais pessoas a colocar aqui material e levantar dúvidas pois elas podem levar a mais e melhor conhecimento sobre o Glorioso passado do nosso querido Clube. Os recursos actualmente disponíveis para a pesquisa são bons mas - assim espero - no futuro ainda serão melhores. Existe no entanto outro factor igualmente importante que é a partilha do conhecimento. Essa é também uma componente essencial do Benfiquismo.

Nenhum Benfiquista poderá ter o prazer e orgulho máximo do seu Clube se não conhecer esse passado tão rico, tão brilhante, tão fascinante.

Uma vez mais um sincero obrigado por essas palavras.


Dandy





   Actualização:


   Em matéria de finais "IMPORTANTES", da UEFA, o palmarés do nosso Benfica anda mais ou menos (em função da oficialidade/oficiosidade das competições) assim:



   7 finais da TCCE/UCL

   3 finais da Taça UEFA/Europa League

   2 finais da Taça Latina

   2 finais da UEFA Futsal Cup

   2 finais da UEFA Youth LEague

   1 final da Taça das Taças de futsal



   ORGULHO!




RedVC

Citação de: Dandy em 21 de Abril de 2017, 17:59




   Actualização:


   Em matéria de finais "IMPORTANTES", da UEFA, o palmarés do nosso Benfica anda mais ou menos (em função da oficialidade/oficiosidade das competições) assim:



   7 finais da TCCE/UCL

   3 finais da Taça UEFA/Europa League

   2 finais da Taça Latina

   2 finais da UEFA Futsal Cup

   2 finais da UEFA Youth LEague

   1 final da Taça das Taças de futsal



   ORGULHO!


Caro Dandy, próxima actualização em breve?  :coolsmiley:  :slb2:

RedVC

#625
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Festival taurino do SLB

Dia 26 de Outubro de 1952. Praça de touros do Campo Pequeno.


Fonte: Arquivo de Helena Águas.


Vestidos a rigor para suportar um frio intenso e uma chuva miudinha que ia caindo, sete jogadores Benfiquistas e o seu treinador assistem a um festival taurino.

Reconhecem-se, da esquerda para a direita, José Bastos, Cândido Tavares, José Águas, Jacinto Marques, José Mascarenhas, Joaquim Fernandes, António Clemente e José da Costa. Uns mais conhecidos do que outros. Não desenvolvendo detalhes biográficos ficam aqui alguns dados da carreira Benfiquista de cada um destes jogadores:



Em 1952 o SLB estava em plena aventura da construção do seu Estádio e por isso fazia-se uso de toda a criatividade e todo o Benfiquismo dos seus adeptos para se conseguir recolher fundos. Essa aventura era liderada pelo presidente Joaquim Ferreira Bogalho e tornou-se uma das mais belas páginas da História do Glorioso.




Aspectos do interior e exterior do pavilhão da Feira Popular de Lisboa onde se fez a exposição de angariação de fundos para a construção do Estádio da Luz, em 1953. Ali esteve o famoso gigantesco mealheiro que ao ser aberto revelou as muitas e generosas ofertas de sócios e simpatizantes do SLB.


O festival taurino do SLB
   
Numa nota pessoal prévia gostaria de deixar claro que não sendo adepto de touradas (antes pelo contrário), entendo que este destaque a um festival taurino do SLB resulta de ter percebido o contexto social e cultural desses tempos, muito diferentes dos actuais. Nessa altura o gosto pelas touradas estava mais generalizado pela população Portuguesa e era um espectáculo ao qual, como é visível na fotografia, os jogadores assistiam sem problemas. Decerto que isso não aconteceria nos dias de hoje, muito menos no âmbito de actividades promovidas pelo nosso Clube. Eram mesmo outros tempos.





Aspectos do cartaz e de um ferro usados no festival taurino de 1952, expostos no Museu Cosme Damião.


O festival taurino foi mais uma das iniciativas para a arrecadação de fundos para a construção do Estádio. Conforme nos é desenvolvido pelo Sr. Alberto Franco (http://afestamaisculta.blogspot.pt/2010_04_01_archive.html):


"Do cartel constavam os cavaleiros João Núncio, José Rosa Rodrigues e Francisco Sepúlveda, os diestros Manuel dos Santos, António dos Santos, Joaquim Marques e Francisco Mendes, e os forcados amadores de Lisboa. À última hora, juntou-se-lhes o matador espanhol Manolo González, que se disponibilizou para lidar um dos novilhos cedidos por Cláudio Moura.

A gerência do Campo Pequeno, na pessoa de José Ricardo Domingues Júnior, filho do empresário, tudo fez «para o bom êxito da iniciativa.» Só o tempo não ajudou. «Toda a manhã de domingo choveu a bom chover, chuva miudinha que irritava e entristecia, e que pôs o chão da arena em 'papa'.» A praça não encheu, mas mesmo assim o clube arrecadou uma receita líquida de 150 contos."


Ainda no dito artigo remata-se de forma magistral:

"O facto mais marcante da corrida foi a saída pela Porta Grande dos forcados de Lisboa, em condições muito especiais. Segundo o antigo forcado Carlos Patrício Álvares (Chaubet), no seu livro «Pega de Caras», Manuel dos Santos terá incitado os forcados a pegarem a rês que acabara de tourear. «Estes, satisfeitos por poderem mostrar que pegavam sem dificuldade o que entre nós se toureia a pé, imediatamente acederam.» A pega foi concretizada e muito aplaudida, mas o director de corrida não esteve pelos ajustes e ordenou que o pegador fosse detido. «Evidentemente, bem à grupo de Lisboa da época – se vai um vão todos – lá saiu o grupo todo pela Porta Grande, escoltados pela polícia.» Os forcados foram libertados a tempo de poderem comparecer no jantar oferecido pelo Benfica, na Adega Mesquita. Nuno Salvação Barreto, esse, ficou sob custódia, mas enviou um telegrama aos seus rapazes: «A lei não me deixa comparecer, mas o vosso cabo está convosco. Viva o Benfica»."


Nota-se que o gerente comercial da Praça de touros do Campo Pequeno, José Ricardo Domingues Júnior, era à época um dinâmico e generoso Benfiquista que teve importantes funções no departamento de futebol do SLB. Aliás falamos nele no recente texto "-148 - De Como a Milão", a propósito da participação na Taça Latina de 1956.
 



O Diário de Lisboa do dia seguinte dá mais detalhes sobre o festival taurino:



Parte da reportagem do festival taurino publicada no Diário de Lisboa em 27-10-1952.


Ganadaria Rosa Rodrigues

Talvez o ponto mais interessante desse cartel tenha sido a presença do cavaleiro José Rosa Rodrigues. Soa familiar? Pois... era mesmo um membro da família dos Catataus. Era filho de Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos quatro irmãos Rosa Rodrigues, os famosos Catataus.



Jorge Rosa Rodrigues, o mais novo dos irmãos Catatau e o único que não foi fundador pois era demasiado jovem em Fevereiro de 1904.



Duas imagens da carreira futebolística de Jorge Rosa Rodrigues no SLB. Á esquerda numa equipa juvenil do SLB na Quinta da Feiteira, provavelmente por 1908-1909 e depois à direita, ao lado de Cosme Damião, antes de um jogo contra o Carcavelos Club em 1910. Nota-se que Jorge Rosa Rodrigues usava luvas, algo que tanto quanto sei não era normal nessa época. O facto de ser de uma família com bons recursos ajuda com certeza a perceber essa curiosidade. Fonte: AML.


Ora foi justamente Jorge Rosa Rodrigues que, casando em 1913 no Concelho da Chamusca, terra para onde foi viver, fundou em 1927 a prestigiada ganadaria "Rosa Rodrigues".



Alguns dados da ganadaria Rosa Rodrigues como constam do seu sítio oficial.


Em 1965, já com 67 anos de idade passaria a ganadaria para o nome do seu filho, o cavaleiro José Rosa Rodrigues. Jorge Rosa Rodrigues viveria ainda mais seis anos, falecendo em 14-11-1971 com 79 anos de idade. Dos seus irmãos apenas Cândido estava vivo pois José tinha falecido no já longínquo anos de 1924 e António tinha falecido em 1953.

José Rosa Rodrigues tomou alternativa como cavaleiro tauromáquico em 26-07-1944, tendo sido padrinho o prestigiado cavaleiro João Branco Núncio. Nesse dia, o jovem José Rosa Rodrigues destacou-se num cartel que incluía também o ainda jovem (e mais tarde célebre) toureiro Manuel dos Santos. Como cavaleiro tauromáquico José Rosa Rodrigues conquistou também bastante notoriedade no meio taurino nas décadas de 40 e 50. Ao que julguei perceber foi introdutor das corridas de touros nas Filipinas tendo também toureado noutras zonas do globo. 

 

À esquerda notícia da alternativa de José Rosa Rodrigues, Fonte: DL 27-07-1944. À direita José Rosa Rodrigues esteve envolvido num cartel histórico ao lado do seu mestre João Branco Núncio e do trágico Manolete (talvez o maior toureiro de todos os tempos) que morreria 1 mês depois em Linares, Espanha.



Notícia do DL que informa dos triunfos do cavaleiro José Rosa Rodrigues em Manila, Filipinas.
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Cartaz de uma das corridas de touros em Manila onde esteve envolvido José Rosa Rodrigues.


Curiosamente não obstante as cores verdes e as ligações ao clube de Alvalade, o Engenheiro e cavaleiro José Rosa Rodrigues, quando em 1955 recebeu em sua casa na Chamusca dirigentes do Vasco da Gama então em digressão pelo nosso país, lembrou a ligação da sua família ao Sport Lisboa e Benfica



Fonte: Jornal dos Sports. BND.

Por muito que se negue o vínculo dos Rosa Rodrigues ao Sport Lisboa e Benfica é e será sempre umbilical.

Mundo pequeno, Benfica enorme!


Dandy






   Família Catatau, na pessoa de um certo João, para sempre ligada à publicação de livros dedicados ao ensino do código da estrada em Portugal.




RedVC


RedVC

#628
-152-
O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante.

Benfica, 1 de Dezembro de 1954.



O arquitecto João Simões e a sua equipa desfilando na inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Com emoção e sentimento do dever cumprido, terminava nesse dia a grande Aventura da construção do Estádio da Luz! Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.

 

Excerto do artigo do DL em 2-12-1954. À esquerda a medalha comemorativa do grande dia.


Foi um dia inolvidável para o Benfiquismo. Com o sentimento do dever bem cumprido, centenas de homens que ajudaram a construir a Catedral Benfiquista, desfilaram envergando orgulhosamente na sua lapela a medalha que assinalava esse grande dia.

Com esse majestoso desfile inaugurava-se o Estádio e terminava a aventura da sua construção... inicial. Um Estádio que levou 50 anos a concretizar depois de muitas mudanças e lágrimas. No passado tinham ficado para trás as Terras do Desembargador, Quinta da Feiteira, Sete Rios, Gomes Pereira, Amoreiras e Campo Grande. Agora era tempo de estabilizar, de investir no futebol e sonhar com conquistas futuras. E para isso não seria preciso esperar sequer uma década.

Nos 50 anos seguintes, esse maravilhoso Estádio do Sport Lisboa e Benfica, carinhosamente eternizado como Estádio da Luz, passou a ser a Casa do Benfica e dos Benfiquistas. Seria também um local de lendas, de vivências e de conquistas inesquecíveis. Um local temido por tantos e tantos adversários valorosos que ali jogaram e que tantas vezes dali saíram derrotados. Com honra e com respeito.
 





Algumas imagens do desfile e das cerimónias do dia da inauguração do grandioso Estádio da Luz. Fonte: Arquivo RTP.


João Simões, o desportista

João Simões com o manto sagrado. Data e local desconhecido.
Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



Nesse dia 1 de Dezembro de 1954, aniversário da reconquista da independência Nacional, tudo começou. À frente da sua equipa, o Arquitecto João Simões (13-06-1908 a 24-11-1993) desfilou com emoção e com o sentimento do dever cumprido. Ele e a sua equipa foram os primeiros responsáveis pelo projecto e pela verificação da construção do Estádio. Quanto trabalho, quanta paixão, quanta dedicação estavam ali representadas naquele majestoso Estádio? eles mais do que ninguém sabiam a resposta.

Voltamos hoje a falar deste grande homem e figura Benfiquista (ver texto 63 – Arquitecto da Catedral; http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.msg1081393617#msg1081393617) e da nossa antiga e muito querida Catedral. Olhando para fotografias que ficaram por mostrar da sua vida enquanto desportista e da sua vida profissional aquando da aventura da construção da nossa Catedral. Não sendo uma evocação do seu trajecto profissional pois esse é muito rico e diversificado e do qual falamos na primeira parte. Falaremos hoje essencialmente do grande dia da inauguração. Desse dia mais brilhante em que João Simões e a sua equipa tiveram o justo reconhecimento das dezenas de milhares de Benfiquistas que ali foram para celebrar aquele marco da sua vida associativa.

João Simões foi um homem de trabalho e talento, que combinando essas virtudes pessoais com a sua paixão pelo Sport Lisboa e Benfica nos deixou um legado impressionante. Nada de estranhar num homem que na sua juventude foi um dedicado atleta Benfiquista, tendo contribuído de forma modesta mas empenhada em diversas modalidades do nosso Clube. Ali, exposto aos Ideiais do Benfiquismo, moldou para sempre a sua paixão pelo nosso Clube.

Apesar de não ter feito uma carreira destacada no nosso futebol, o jovem Benfiquista João Simões chegou a fazer 3 jogos na nossa equipa principal nas épocas de 1928/29 a 1930/31. Ao que sei terão sido jogos particulares mas ainda assim jogou pelo menos um jogo contra o Sporting e outro contra o Belenenses, ambos vitoriosos para as nossas cores.



Campo das Amoreiras, algures na década de 20. João Simões (assinalado) numa equipa de categorias inferiores. Infelizmente é uma equipa da qual consigo apenas consigo identificar um outro jogador, Dinis (primeiro de pé, à esquerda). Em baixo, perto da bola está talvez o pequeno e irrequieto Eugénio Salvador. Data e local desconhecido. Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



João Simões, o arquitecto

Com as suas belas maquetas o arquitecto João Simões apresentou à Direcção Benfiquista a sua visão do Estádio.



O Arquitecto João Simões de indicador estendido, apresenta a alguns dirigentes do SLB o seu projecto para a futura Catedral na forma de uma maqueta. Estava prestes a terminar a Estância de madeiras. O maior Clube Português ganhava enfim uma casa condigna.


Facto notório da primeira versão da maqueta do Estádio da Luz é que o projecto inicialmente contemplava dois anéis e uma bancada em terceiro anel com pala. Um projecto ao jeito da época e que apesar de causar boa impressão não prometia ainda o aspecto esmagador que o futuro terceiro anel viria a ter.




A maquete da primeira fase do futuro Estádio do Sport Lisboa e Benfica, para sempre conhecido como o Estádio da Luz. O mais belo e querido de todos os Estádios. Fonte: Museu Cosme Damião.



A construção do Estádio

Durante os primeiros seis anos a primeira versão do nosso novo Estádio veio apenas a exibir dois anéis. Construído no espaço da antiga Quinta do Montalegre e erigido pela firma Alves Ribeiro, o nosso Estádio foi um esforço colectivo impressionante dos Benfiquistas. Quando foi inaugurado a 1 de Dezembro de 1954, o Estádio tinha apenas dois anéis.



De Junho de 1953 a Dezembro de 1954. A aventura da construção do Estádio da Luz. Fonte: Retalhos de Benfica e Restos de Colecção.



Fonte: DL, Junho de 1953.



O Arquitecto João Simões com os desenhos do projecto, membros da sua equipa e membros da Direcção liderada por Joaquim Ferreira Bogalho (de mãos nos bolsos à direita). Distinguem-se entre outros, José Ricardo Domingues Júnior, João Simões, ?, Manuel Abril e o presidente Joaquim Ferreira Bogalho.


Participar na aventura da planificação e construção do Estádio foi um privilégio que o Arquitecto João Simões procurou activamente desde que soube da decisão da Direcção do SLB em construir um novo Estádio. Aliás ao que parece nem seria ele o arquitecto que inicialmente indicado para liderar o projecto. Mas foi ele, com o seu Benfiquismo voluntarista, que acabou por assumir esse papel. Foi também um privilégio que mereceu inteiramente pelas suas qualidades pessoais e profissionais. O Estádio seria o orgulho dos Benfiquistas pelo projecto e pela concretização, fruto da vontade, paixão e solidariedade dos Benfiquistas.

No dia da inauguração Joaquim Ferreira Bogalho, o grande presidente do SL Benfica deixou claro que o Estádio estava integralmente pago. Chave na mão, as portas abriam-se para os sonhos que em breve seriam tarde e noites de Glória. Títulos nacionais e europeus. Dias inesquecíveis. Joaquim Ferreira Bogalho, a sua equipa Directiva e todos os Benfiquistas que contribuíram tinham conseguido o milagre. O Estádio era o orgulho de todos os Benfiquistas!



A grande Direcção presidida por Joaquim Ferreira Bogalho. Homens imortais para a História do Benfiquismo.



Fonte: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.


Belo, alvo, simples, funcional. O novo Estádio traduzia finalmente a grandeza de um Clube que com 50 anos de vida tinha desde sempre a preferência maioritária da população Portuguesa na metrópole e nas colónias. Um Estádio finalmente condigno com o estatuto do Clube mais popular de Portugal. Um Estádio que dava finalmente condições para estabilizar o Clube, para que as equipas de futebol trabalhassem e que nos traria as maiores alegrias e algumas das melhores páginas da História do SLB.


A evolução do projecto

Mas os projectos evoluem em função das necessidades. A realidade dos números impõe-se a partir das necessidades trazidas pelos novos tempos. Com a melhoria das condições e com a Glória Europeia, cedo se percebeu que o SLB precisava de aumentar a capacidade do Estádio para níveis nunca antes vistos no nosso país. Aliás os estudos iniciais apontavam essa evolução.


O projecto de construção do terceiro anel. Este era o sonho a mais longo prazo. Um complexo desportivo onde já se projectava o fecho do terceiro anel e a construção de um Estádio para as modalidades.


E por isso estiveram bem os nossos dirigentes quando permitiram que em lugar da bancada com pala inicialmente prevista, viesse antes a nascer o imponente, majestoso, terceiro anel. Era uma etapa intermédia para o fecho do terceiro anel, que na verdade teria de esperar mais de 20 anos para ser concretizado.

Ainda assim aquela nova bancada veio a ser rapidamente rentabilizada tendo ficado desde sempre associado à grandeza do Clube e às enormes façanhas desportivas do Clube. Em especial ficou na memória a intensidade da paizão que ali se vivia e manifestava nas grandes noites Europeias.



Imagem impressionante de um jogo disputado durante a primeira fase da construção do terceiro anel. José Águas prepara-se para marcar mais um golo.



O terceiro anel foi durante décadas uma visão aterradora para tantos adversários durante mais de 30 anos de Glória Benfiquista.


Para aqueles que tiveram o privilégio de ainda ir ao terceiro anel sem que estivesse concretizado o fecho ficaram as imagens da imponência mas também da linha do horizonte que à frente daquele majestoso anel nos dava a imagem das zonas envolventes de Benfica e Carnide, bastante diferentes da paisagem que hoje contemplamos quando nos acercamos do novo Estádio.




Serviu este texto não como lamento do que se perdeu mas antes de evocação da beleza do que existiu, assim como do mérito e do labor de quem o construiu. Um texto de alegria. Alegria em particular ao evocar a acção de um homem de excepção como foi o Arquitecto João Simões. Um homem de trabalho, generoso, Benfiquista de coração. Serviu também este texto para evocar com alegria os tempos magníficos vividos naquele Estádio, jornadas de lenda e de memória inesquecível, perene e alegre. E de todos os que por lá passaram. Todos o que por lá viveram a alegria de ser Portugueses, desportistas e Benfiquistas. Com orgulho muito seu.





Alexandre1976

Fabulosa epopeia a da construçao da nossa antiga Catedral.Ferreira Bogalho e seus pares merecem por direito próprio pertencer á galeria de imortais do Benfica.De cada vez que vejo imagens da antiga Luz é como me espetassem uma faca no coraçao. :cry2: