Decifrando imagens do passado

RedVC

Citação de: Alexandre1976 em 01 de Maio de 2017, 15:35
Fabulosa epopeia a da construçao da nossa antiga Catedral.Ferreira Bogalho e seus pares merecem por direito próprio pertencer á galeria de imortais do Benfica.De cada vez que vejo imagens da antiga Luz é como me espetassem uma faca no coraçao. :cry2:

Sim Alexandre. Compreendo. Mas ainda assim eu continuo a tentar ver acima de tudo... alegria. Saudade com alegria! Tanto quanto é possível. A beleza e o sentimento de profundo respeito por um local que ajudou a moldar a personalidade de muitos. Porque nunca se deve esquecer que nestes tempos de truculência e de activa promoção da ignorância, feita de forma deliberada para controlar e vender tudo aquilo que se possa imaginar, neste tempos é preciso ter memória. É preciso ter valores. É preciso hoje lembrar e honrar os Ases do passado. Aqueles que desbravaram o caminho. Aqueles que nos ensinaram o Benfiquismo. É preciso lembrar um local que foi o baluarte desses homens e desses valores. Especialmente porque muitos milhares de Benfiquistas não tiveram a sorte, o privilégio de ter pisado aquelas bancadas. Tu e eu tivemos esse privilégio e por isso devemos estar gratos e ter alegria.

Ser Benfiquista é ter memória. É ser alegre e devotado aos valores maiores do desportivismo, da lusitanidade, do respeito pelos consórcios e pelos adversários. Paixão pelo Clube. Respeito e memória. Alegria! Benfica!

Alexandre1976

Concordo.Acho que é a saudade a falar mais alto,pois no fundo fomos uns privilegiados em termos tido a oportunidade de frequentar a antiga catedral.Fosse no futebol,mas também no saudoso pavilhao,onde assisti a momentos inesqueciveis do nosso hoquei e do basket.

Bakero

Fantásticas fotos e fantástico texto sobre a eterna Catedral.

A epopeia de construção da antiga Luz deve ser a história mais bonita de toda a História do Benfica...

lPhoenix

Citação de: Alexandre1976 em 01 de Maio de 2017, 18:18
Concordo.Acho que é a saudade a falar mais alto,pois no fundo fomos uns privilegiados em termos tido a oportunidade de frequentar a antiga catedral.Fosse no futebol,mas também no saudoso pavilhao,onde assisti a momentos inesqueciveis do nosso hoquei e do basket.

Tivemos o privilégio de viver o futebol quando a paixão pelo jogo se sobrepunha a tudo. O tal amor à camisola... os sacríficios pela causa maior... o encanto pelos artistas da bola. Tudo tão maravilhosamente genuíno, vibrante e apaixonante. As lágrimas de tristeza na derrota, a esperança renovada, a felicidade da vitória, tudo tão restricto ao que se passava dentro das 4 linhas.

Hoje muito do que se fala é rasteiro e enquadrável numa folha de cálculo.

Enfim, muita saudade desse tempo, mas também tenho muita fé no futuro do Benfica, apesar desta fase suja orientada pelo dinheiro, a alma do clube continua intacta e brilha nos olhos de quem conhece e se orgulha da sua História. Estes nunca deixarão morrer o Sport Lisboa e Benfica.

joao12soares

Citação de: RedVC em 01 de Maio de 2017, 14:55
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O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante.

Benfica, 1 de Dezembro de 1954.



O arquitecto João Simões e a sua equipa desfilando na inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Com emoção e sentimento do dever cumprido, terminava nesse dia a grande Aventura da construção do Estádio da Luz! Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.

 

Excerto do artigo do DL em 2-12-1954. À esquerda a medalha comemorativa do grande dia.


Foi um dia inolvidável para o Benfiquismo. Com o sentimento do dever bem cumprido, centenas de homens que ajudaram a construir a Catedral Benfiquista, desfilaram envergando orgulhosamente na sua lapela a medalha que assinalava esse grande dia.

Com esse majestoso desfile inaugurava-se o Estádio e terminava a aventura da sua construção... inicial. Um Estádio que levou 50 anos a concretizar depois de muitas mudanças e lágrimas. No passado tinham ficado para trás as Terras do Desembargador, Quinta da Feiteira, Sete Rios, Gomes Pereira, Amoreiras e Campo Grande. Agora era tempo de estabilizar, de investir no futebol e sonhar com conquistas futuras. E para isso não seria preciso esperar sequer uma década.

Nos 50 anos seguintes, esse maravilhoso Estádio do Sport Lisboa e Benfica, carinhosamente eternizado como Estádio da Luz, passou a ser a Casa do Benfica e dos Benfiquistas. Seria também um local de lendas, de vivências e de conquistas inesquecíveis. Um local temido por tantos e tantos adversários valorosos que ali jogaram e que tantas vezes dali saíram derrotados. Com honra e com respeito.
 





Algumas imagens do desfile e das cerimónias do dia da inauguração do grandioso Estádio da Luz. Fonte: Arquivo RTP.


João Simões, o desportista

João Simões com o manto sagrado. Data e local desconhecido.
Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



Nesse dia 1 de Dezembro de 1954, aniversário da reconquista da independência Nacional, tudo começou. À frente da sua equipa, o Arquitecto João Simões (13-06-1908 a 24-11-1993) desfilou com emoção e com o sentimento do dever cumprido. Ele e a sua equipa foram os primeiros responsáveis pelo projecto e pela verificação da construção do Estádio. Quanto trabalho, quanta paixão, quanta dedicação estavam ali representadas naquele majestoso Estádio? eles mais do que ninguém sabiam a resposta.

Voltamos hoje a falar deste grande homem e figura Benfiquista (ver texto 63 – Arquitecto da Catedral; http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.msg1081393617#msg1081393617) e da nossa antiga e muito querida Catedral. Olhando para fotografias que ficaram por mostrar da sua vida enquanto desportista e da sua vida profissional aquando da aventura da construção da nossa Catedral. Não sendo uma evocação do seu trajecto profissional pois esse é muito rico e diversificado e do qual falamos na primeira parte. Falaremos hoje essencialmente do grande dia da inauguração. Desse dia mais brilhante em que João Simões e a sua equipa tiveram o justo reconhecimento das dezenas de milhares de Benfiquistas que ali foram para celebrar aquele marco da sua vida associativa.

João Simões foi um homem de trabalho e talento, que combinando essas virtudes pessoais com a sua paixão pelo Sport Lisboa e Benfica nos deixou um legado impressionante. Nada de estranhar num homem que na sua juventude foi um dedicado atleta Benfiquista, tendo contribuído de forma modesta mas empenhada em diversas modalidades do nosso Clube. Ali, exposto aos Ideiais do Benfiquismo, moldou para sempre a sua paixão pelo nosso Clube.

Apesar de não ter feito uma carreira destacada no nosso futebol, o jovem Benfiquista João Simões chegou a fazer 3 jogos na nossa equipa principal nas épocas de 1928/29 a 1930/31. Ao que sei terão sido jogos particulares mas ainda assim jogou pelo menos um jogo contra o Sporting e outro contra o Belenenses, ambos vitoriosos para as nossas cores.



Campo das Amoreiras, algures na década de 20. João Simões (assinalado) numa equipa de categorias inferiores. Infelizmente é uma equipa da qual consigo apenas consigo identificar um outro jogador, Dinis (primeiro de pé, à esquerda). Em baixo, perto da bola está talvez o pequeno e irrequieto Eugénio Salvador. Data e local desconhecido. Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.



João Simões, o arquitecto

Com as suas belas maquetas o arquitecto João Simões apresentou à Direcção Benfiquista a sua visão do Estádio.



O Arquitecto João Simões de indicador estendido, apresenta a alguns dirigentes do SLB o seu projecto para a futura Catedral na forma de uma maqueta. Estava prestes a terminar a Estância de madeiras. O maior Clube Português ganhava enfim uma casa condigna.


Facto notório da primeira versão da maqueta do Estádio da Luz é que o projecto inicialmente contemplava dois anéis e uma bancada em terceiro anel com pala. Um projecto ao jeito da época e que apesar de causar boa impressão não prometia ainda o aspecto esmagador que o futuro terceiro anel viria a ter.




A maquete da primeira fase do futuro Estádio do Sport Lisboa e Benfica, para sempre conhecido como o Estádio da Luz. O mais belo e querido de todos os Estádios. Fonte: Museu Cosme Damião.



A construção do Estádio

Durante os primeiros seis anos a primeira versão do nosso novo Estádio veio apenas a exibir dois anéis. Construído no espaço da antiga Quinta do Montalegre e erigido pela firma Alves Ribeiro, o nosso Estádio foi um esforço colectivo impressionante dos Benfiquistas. Quando foi inaugurado a 1 de Dezembro de 1954, o Estádio tinha apenas dois anéis.



De Junho de 1953 a Dezembro de 1954. A aventura da construção do Estádio da Luz. Fonte: Retalhos de Benfica e Restos de Colecção.



Fonte: DL, Junho de 1953.



O Arquitecto João Simões com os desenhos do projecto, membros da sua equipa e membros da Direcção liderada por Joaquim Ferreira Bogalho (de mãos nos bolsos à direita). Distinguem-se entre outros, José Ricardo Domingues Júnior, João Simões, ?, Manuel Abril e o presidente Joaquim Ferreira Bogalho.


Participar na aventura da planificação e construção do Estádio foi um privilégio que o Arquitecto João Simões procurou activamente desde que soube da decisão da Direcção do SLB em construir um novo Estádio. Aliás ao que parece nem seria ele o arquitecto que inicialmente indicado para liderar o projecto. Mas foi ele, com o seu Benfiquismo voluntarista, que acabou por assumir esse papel. Foi também um privilégio que mereceu inteiramente pelas suas qualidades pessoais e profissionais. O Estádio seria o orgulho dos Benfiquistas pelo projecto e pela concretização, fruto da vontade, paixão e solidariedade dos Benfiquistas.

No dia da inauguração Joaquim Ferreira Bogalho, o grande presidente do SL Benfica deixou claro que o Estádio estava integralmente pago. Chave na mão, as portas abriam-se para os sonhos que em breve seriam tarde e noites de Glória. Títulos nacionais e europeus. Dias inesquecíveis. Joaquim Ferreira Bogalho, a sua equipa Directiva e todos os Benfiquistas que contribuíram tinham conseguido o milagre. O Estádio era o orgulho de todos os Benfiquistas!



A grande Direcção presidida por Joaquim Ferreira Bogalho. Homens imortais para a História do Benfiquismo.



Fonte: Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.


Belo, alvo, simples, funcional. O novo Estádio traduzia finalmente a grandeza de um Clube que com 50 anos de vida tinha desde sempre a preferência maioritária da população Portuguesa na metrópole e nas colónias. Um Estádio finalmente condigno com o estatuto do Clube mais popular de Portugal. Um Estádio que dava finalmente condições para estabilizar o Clube, para que as equipas de futebol trabalhassem e que nos traria as maiores alegrias e algumas das melhores páginas da História do SLB.


A evolução do projecto

Mas os projectos evoluem em função das necessidades. A realidade dos números impõe-se a partir das necessidades trazidas pelos novos tempos. Com a melhoria das condições e com a Glória Europeia, cedo se percebeu que o SLB precisava de aumentar a capacidade do Estádio para níveis nunca antes vistos no nosso país. Aliás os estudos iniciais apontavam essa evolução.


O projecto de construção do terceiro anel. Este era o sonho a mais longo prazo. Um complexo desportivo onde já se projectava o fecho do terceiro anel e a construção de um Estádio para as modalidades.


E por isso estiveram bem os nossos dirigentes quando permitiram que em lugar da bancada com pala inicialmente prevista, viesse antes a nascer o imponente, majestoso, terceiro anel. Era uma etapa intermédia para o fecho do terceiro anel, que na verdade teria de esperar mais de 20 anos para ser concretizado.

Ainda assim aquela nova bancada veio a ser rapidamente rentabilizada tendo ficado desde sempre associado à grandeza do Clube e às enormes façanhas desportivas do Clube. Em especial ficou na memória a intensidade da paizão que ali se vivia e manifestava nas grandes noites Europeias.



Imagem impressionante de um jogo disputado durante a primeira fase da construção do terceiro anel. José Águas prepara-se para marcar mais um golo.



O terceiro anel foi durante décadas uma visão aterradora para tantos adversários durante mais de 30 anos de Glória Benfiquista.


Para aqueles que tiveram o privilégio de ainda ir ao terceiro anel sem que estivesse concretizado o fecho ficaram as imagens da imponência mas também da linha do horizonte que à frente daquele majestoso anel nos dava a imagem das zonas envolventes de Benfica e Carnide, bastante diferentes da paisagem que hoje contemplamos quando nos acercamos do novo Estádio.




Serviu este texto não como lamento do que se perdeu mas antes de evocação da beleza do que existiu, assim como do mérito e do labor de quem o construiu. Um texto de alegria. Alegria em particular ao evocar a acção de um homem de excepção como foi o Arquitecto João Simões. Um homem de trabalho, generoso, Benfiquista de coração. Serviu também este texto para evocar com alegria os tempos magníficos vividos naquele Estádio, jornadas de lenda e de memória inesquecível, perene e alegre. E de todos os que por lá passaram. Todos o que por lá viveram a alegria de ser Portugueses, desportistas e Benfiquistas. Com orgulho muito seu.





:bow2: :bow2: :bow2:

Usei essa última foto para capa da minha página do FB, espero que não leves a mal ter "roubado" a foto.

RedVC

Citação de: joao12soares em 04 de Maio de 2017, 21:46
Citação de: RedVC em 01 de Maio de 2017, 14:55
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O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante.

Benfica, 1 de Dezembro de 1954.



O arquitecto João Simões e a sua equipa desfilando na inauguração do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Com emoção e sentimento do dever cumprido, terminava nesse dia a grande Aventura da construção do Estádio da Luz! Fonte: Doutor Francisco George, genro do Arquitecto João Simões.

 
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:bow2: :bow2: :bow2:

Usei essa última foto para capa da minha página do FB, espero que não leves a mal ter "roubado" a foto.

Presumo que a fotografia em questão é essa em cima.
Essa fotografia foi cedida gentilmente pelo Doutor Francisco George genro do saudoso Arquitecto João Simões. Gentilmente e sem qualquer restrição. Para mim ou para quem a quiser usar.

Tal como o seu sogro, o Doutor Francisco George é um homem de grande qualidade humana e (digo eu) de grande qualidade profissional.

Obrigado pelas tuas palavras   O0  :slb2:


RedVC

#636
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A batalha de Madrid

Junho de 1957, o plantel Benfiquista prepara-se para fazer um treino de adaptação ao relvado do mítico Estádio Santiago Bernabéu.



Fonte: Arquivo de Helena Águas


Atrás da equipa Benfiquista estavam as imponentes bancadas de um estádio mítico já carregado de histórias mas que onde nos 10 anos seguintes se veriam algumas das páginas mais belas da História do Real Madrid e do futebol Mundial.


Um Estádio mítico

Inaugurado em 14-12-1947 com o nome de Estádio de Chamartín. No entanto a partir de 4-01-1955, depois de se concluírem grandes obras de remodelação, uma Assembleia Geral de Sócios Compromissários do Real Madrid, decidiu alterar o nome de Chamartin para Santiago Bernabéu. Com essa alteração pretenderam homenagear talvez a maior figura de sempre do Real Madrid. Santiago Bernabéu foi o principal artífice da construção do estádio, um antigo avançado dos primórdios do clube Madrilista, tendo sido presidente do clube durante 35 anos, desde 1943 a 1978, data da sua morte. Por ele passaram as decisões que contribuíram para tornar o Real Madrid no colosso, conhecido, admirado e temido em todo o mundo.



De Chamartin a Santiago Bernabéu, as sete idades de um estádio mítico. A fotografia no topo à direita mostra-nos o estádio em 1957. Fonte: estadiosdeespana.com.



A recepção da Direcção Madrilena à nossa comitiva. Santiago Bernabéu em pose de discurso. Ao lado o presidente Benfiquista Joaquim Ferreira Bogalho. De costas distinguem-se três dos nossos jogadores, Francisco Calado, Mário Coluna e José Águas. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Como se vê foi logo desde o início um Estádio grandioso, com uma capacidade para 75.145 espectadores (27.645 com assentos e 47.500 de pé). O estádio Santiago Bernabéu foi o palco para a disputa da final da Taça Latina de 1957, por sinal a última vez que esta competição seria disputada.


Sport Lisboa e Benfica, Real Madrid CF, AC Milan e AS Saint-Étienne preparavam-se para disputar aquela que viria a ser a última edição da Taça Latina. E essa edição decorreria já depois da conquista da segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus pelo Real Madrid. Estava em curso o reinado europeu de 5 anos da fabulosa equipa do Real Madrid de Di Stéfano, Kopa, Gento, depois Púskas e tantos outros. Mas essa Taça Latina conquistada pela cor branca ainda assim teria muitas nuances em vermelho. Lá iremos.

O sorteio ditou emparelhamentos que permitiam à nossa equipa ter esperanças em disputar mais uma final. Assim o Real Madrid disputaria a meia-final contra o AC Milan, (vencedor da edição do ano anterior, como aliás vimos no texto 150 - De Como a Milão) enquanto as Águias disputariam o acesso à final contra os Franceses do Saint-Étienne.


Os preparativos

O SLB chegou à capital Espanhola na noite de terça-feira, dia 15-06-1957, ou seja cerca de 4 dias antes do primeiro jogo. A Direcção optou por uma fatigante viagem usando o autocarro do Clube, facto no entanto que deve ter originado uma jornada de grande convívio para a comitiva ou outra coisa não seria de esperar quando se juntavam pelo menos três dos homens da comitiva: o médico Dr. Sousa Pinho, o massagista Mão de Pilão e Costa Pereira. Gente sempre bem disposta e que contagiava os restantes.



A notícia da partida da comitiva do SLB para Madrid. Viagem por autocarro. DL, 15-06-1957



A mesma fotografia do início deste texto mas agora legendada com a identificação de 15 dos 17 jogadores que viajaram para Madrid. Estão apenas 15 jogadores, faltando Palmeiro Antunes e Artur Santos.


Chegados a Madrid, a equipa faria o tal treino de adaptação ao relvado, ficando alarmada com o estado do terreno, algo mal tratado pelo treino que o seu opositor Francês tinha acabado de fazer. Alguma apreensão também por causa do arraial que existia à volta do treino pois nas bancadas a assistir estavam tão-somente os planteis do Saint-Étienne, Real Madrid e AC Milan. Ou seja todos os potenciais adversários estavam ali pachorrentamente a ver os Benfiquistas a treinar!

Passadas as reservas ou medos iniciais, a equipa Benfiquista, liderada por Otto Glória, decidiu fazer um treino à séria, de tal forma que surpreendidos com a velocidade imposta pelos nossos jogadores durante essa sessão, os nossos adversários ficaram impressionados. Impressionados e alertados... Havia que contar com aquela equipa Benfiquista!


A meia-final



Com uma assistência calculada em cerca de 100 mil espectadores, o Benfica venceu justamente embora sem especial brilho. Ainda assim no final a meia-final foi ultrapassada, o objectivo atingido. Neste jogo e na ausência de Fernando Caiado, seria Francisco Calado a ser nomeado capitão de equipa.

O jogo foi lento no princípio, com a defesa dos Franceses a carregar nos avançados Benfiquistas. José Águas sofreu uma carga no período inicial e Cavém já na segunda parte teria também que contar. Aqueles Franceses sabiam bem a quem dar pancada. Da nossa parte também houve resposta, sendo Zézinho aquele que segundo as crónicas mais deu despacho aos Franceses, ou melhor a Rijvers, o avançado Holandês do Saint Étienne. Amor com amor se paga.



O Capitão Francisco Calado e o capitão de equipa do Saint-Étienne nos cumprimentos iniciais. Fonte: DL


Neste jogo, há a apontar a boa exibição de Costa Pereira, comandando uma defesa Benfiquista que jogou com muita concentração e acerto nas marcações. Lá na frente, Águas e companheiros rematavam pouco. Levando a sua missão a sério, Calado pautava o jogo Benfiquista, e seria ele que num centro com uma trajectória inesperada conseguiu desfeitear o guarda-redes Francês. Logo aos 16 minutos de jogo o Benfica atingia o resultado final da partida. Viria depois um golo anulado a Palmeiro e mais picardias.

O jogo no entanto continuou lento com o público a dar conta do seu desagrado com... palmas de tango. Original, convenhamos. Em particular a equipa Benfiquista passou a contar com o desfavor do público, sentindo provavelmente que este seria o opositor do Real Madrid.



Jogo contra o Saint-Étienne. Salvador em disputa da bola em pleno Santiago Bernabéu.


A segunda parte traria mais do mesmo, sendo no entanto de notar a carga de um defensor Francês que praticamente inutilizou Cavém para o resto do jogo. Apesar da hostilidade do público, ainda assim Mário Coluna foi uma notável excepção pois a sua classe era tal que o público passou a dispensar-lhe aplausos reconhecendo a sua qualidade. Até ao fim do jogo apenas foi digna de nota uma escandalosa grande penalidade cometida sobre José Águas e que o árbitro espanhol decidiu ignorar. No final do jogo houve muita alegria do lado Benfiquista com o apuramento para mais uma final da Taça Latina.

Uma nota final e curiosa sobre este jogo foi que a ele assistiu a grande fadista Amália Rodrigues que nessa altura se encontrava na capital Espanhola. Apesar da sua predilecção Belenense, Amália terá certamente torcido pelas nossas cores.



Fonte: DL 18-06-1957


Na outra meia-final deu-se um verdadeiro esmagamento do AC Milan. Por 5-1, o Real Madrid apurou-se para a final, impondo a sua classe e o factor casa. Com essa exibição e por disputaram a final no seu Estádio, era notório e justificado o favoritismo dos Espanhóis. Havia aliás muito boa gente que esperava uma vitória arrasadora dos madrilistas sobre os campeões Portugueses. Mas o SLB, como noutros momentos da sua História, soube dar resposta. O jogo teria muita história para contar mas essa não seria certamente a lista dos golos da equipa da casa...



A batalha final

E chegou o grande dia. 23 de Junho de 1957. Ambiente escaldante no Santiago Bernabéu com mais de 100 mil espectadores. O ambiente era perfeitamente hostil às nossas cores. O Real Madrid tinha oportunidade de chegar à segunda vitória na Taça Latina. Muita pressão sobre os nossos jogadores perante a ameaça de serem esmagados pela valorosa equipa Madrilista.




A Gloriosa equipa que defrontou em 23-06-1957, o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu para a final da Taça Latina 1957.  Em cima, da esquerda para a direita: Bastos, Zézinho, Serra, Alfredo, Calado, Ângelo. Em baixo: Palmeiro, Coluna, José Águas, Fernando Caiado e Cavém. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Do lado do SLB, Otto Glória optou por entregar a baliza Benfiquista a Bastos deixando Costa Pereira no banco. O capitão Fernando Caiado estava de regresso para liderar a equipa na importante final. De resto a mesma equipa da meia-final uma vez que tanto Águas como Cavém conseguiram ultrapassar os toques sofridos no duro confronto com os Franceses.



Os capitães de equipa em cumprimentos antes do início do desfio. Munoz do lado Madrilista e Fernando Caiado do lado dos Benfiquistas. Fonte DL 24-06-1956.



À esquerda, os dois homens decisivos do jogo: Di Stefano que foi marcador do único golo da partida e Zézinho que foi expulso injustamente. Em cima e à direita José Basto agarra a bola protegido por Serra. Em baixo, A entrada da equipa Benfiquista no Santiago Bernabéu. Quase 100 mil vozes gritavam contra a nossa equipa. Fonte: DL 24-06-1956.


Às 18 horas daquele dia o árbitro Francês Lequesme apitou para o início do jogo. E seria justamente este árbitro o principal (e infeliz) factor de decisão da partida. Medroso ou tendencioso, o árbitro Francês expulsou Zézinho, oito minutos depois do Real Madrid marcar o seu golo, fazendo com que o SLB jogasse 32 minutos em inferioridade numérica.





O Benfica começou com personalidade e até podia ter marcado primeiro por intermédio de José Aguas, jogador que não se encontrava no melhor da sua forma. Logo de seguida mais uma oportunidade, agora de Cavém. Depois começaria a pressão dos madrilista que passaram a semear oportunidades na área Benfiquista. A crónica de Luís Alves no DL aponta que os Benfiquistas se revelaram nessa primeira parte superiores em termos tácticos e físicos.

Mas logo no início da segunda parte tudo mudaria com dois incidentes de jogo. Primeiro foi o génio de Di Stefano a fazer a diferença no jogo e na competição. Aos 50 minutos de jogo, com um remate seco, o genial jogador Argentino, naturalizado Espanhol, selava o marcador nesse dia.


Depois viria a bárbara expulsão (sic). Expulsão porque Zézinho agarrou a camisola de um adversário. Primeira falta e expulsão. Incompreensível, inaceitável, injusta expulsão. Vergonhosa. A saída de Zézinho fragilizou tanto a defesa como o ataque Benfiquista, tal a generosidade e influência do valoroso jogador na nossa equipa. Zézinho terá talvez pago as escaramuças que manteve com os jogadores do Saint Etienne na meia-final. Talvez o árbitro Francês tenha querido ajustar contas. Apitando "a torto e a direito" em desfavor da nossa equipa, este árbitro revelou-se influente para o resto do jogo. Fraco ou mal-intencionado deixou marca injusta no desfecho do jogo.



Fonte: DL, 24-06-1957


Apesar de já ter visto imagens em movimento desse jogo, não encontrei no youtube um resumo. Ainda assim fica aqui um filme da vitória do Real Madrid sobre a AC Fiorentina (2-0), vitória que deu aos merengues a sua segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus. O filme mostra bem o que era o ambiente do Santiago Bernabéu.



No final ganhava a equipa mais credenciada, a equipa da casa. Este título completou a Tripla Corona ou seja o Real Madrid nessa época conquistou a Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Taça Latina e o Campeonato Nacional de Espanha. Terminava a Taça Latina mas para o Real Madrid a saga das Taças dos Campeões ainda ia na segunda da primeira série de cinco conquistas.





O Benfica no entanto deixou uma imagem impressiva da sua raça como equipa e da sua qualidade de jogo. O Benfica perdia a final sofrendo apenas um golo, aliás o único que sofreu na competição. Um golo sofrido aos pés de um génio do futebol. Esse mesmo que cinco anos depois seria procurado pelo menino Eusébio e que com ele trocaria de camisolas. Alfredo Di Stéfano, a estrela cintilante do Real Madrid sorriu nesse dia. Mas Di Stefano era um Senhor, e as suas declarações que talvez hoje fossem inaceitáveis deixaram a entender o que ele pensou do que se passou no terreno de jogo.



Algumas declarações depois do jogo. Fonte: DL, 24-06-1957



Resultados e classificação final da Taça Latina de 1956. Fonte: DL 24-06-1956.



As duas Taças Latinas expostas no Museu do Real Madrid. À direita a conquistada ao Stade de Reims em 26-06-1955 e à direita contra Sport Lisboa e Benfica em 23-06- 1957. Fonte: Defesacentral.com. A fotografia do galhardete foi tirada pelo nosso colega de fórum poiudivino.


Mas as contas não estavam fechadas. Existiriam mais contas para ser feitas daí a cerca de 5 anos. Para Costa Pereira, Serra, Ângelo, Águas, Coluna e Cavém aquele jogo de Madrid certamente passou a ter outro gosto depois da grande aventura de Amesterdão em Maio de 1962. Para se chegar ao topo tem de se subir degraus. E assim foi. E assim será. Assim esperam todos os Benfiquistas. Com o passado se aprende e se sonha com o futuro. Sonhar à Benfica!


alfredo

Citação de: RedVC em 14 de Fevereiro de 2015, 00:38
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Eusébio às riscas

Stoke-on-Trent, Inglaterra, 12 de Dezembro de 1973:


De facto assim foi. Jogo de despedida de Gordon Banks, o grande guarda-redes Inglês.

Jogo contra o Manchester United. Eusébio joga com a camisola do Stoke City. Derrota do Stoke City por 2-1. Quem marca o golo do Stoke? Isso.




Testemunho de Banks:
Eusébio era um grande, grande jogador. Fiquei extremamente triste ao saber da sua morte.
Quando enfrentamos Portugal na semi-final de 1966, Alf Ramsey fez questão em alertar-nos para a sua qualidade. Eusébio era um daqueles jogadores capaz de fazer coisas notáveis com aquela bola pesada, coisas só ao alcance de poucos.
Naquele dia ele marcou-me de penalti o primeiro golo que concedi no Mundial - enganou-me, enviou-me para o lado errado.



Era um cavalheiro. No final desse jogo apertámos as mãos e ele desejou-nos o melhor... Fiquei muito honrado em ele ter participado no meu jogo de despedida. Era uma grande pessoa.

E de facto assim foi. Mais uma oportunidade para conviverem e apertarem as mãos. E já não vinha longe também a despedida de Eusébio.







Fonte:http://www.stokesentinel.co.uk/Stoke-City-2-Leicester-City-1-Mark-Hughes-check/story-20404013-detail/story.html#ixzz3Recm6d4F


Gordon Banks foi um fantástico guarda-redes do Chesterfield, Leicester City, Stoke City e da selecção Inglesa. Finalizou a sua actividade depois de um acidente de automóvel que lhe afectou a visão do olho direito. Um caso muito triste à semelhança do craque Brasileiro Tostão, e do nosso excelente defesa Vicente.

A sua defesa no mundial de 1970 após um remate de cabeça de Pelé é ainda hoje considerada a melhor da história do futebol.


A qualidade não é boa mas três meses antes Gordon Banks esteve no jogo da festa de homenagem a Eusébio em  26 de Setembro de 1973. O dia em que Hagan bateu com a porta. Mas isso é outra história.




Dois gigantes que se respeitaram e que se habituaram a apertar as mãos. Mereceram ambos a homenagem recíproca. Os grandes atraem os grandes.

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Aqui a medalha que os jogadores receberam pela participacao no jogo da homenagem ao "king". No avesso está gravado a data.

alfredo

Citação de: RedVC em 06 de Maio de 2017, 22:06
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A batalha de Madrid

Junho de 1957, o plantel Benfiquista prepara-se para fazer um treino de adaptação ao relvado do mítico Estádio Santiago Bernabéu.



Fonte: Arquivo de Helena Águas


Atrás da equipa Benfiquista estavam as imponentes bancadas de um estádio mítico já carregado de histórias mas que onde nos 10 anos seguintes se veriam algumas das páginas mais belas da História do Real Madrid e do futebol Mundial.


Um Estádio mítico

Inaugurado em 14-12-1947 com o nome de Estádio de Chamartín. No entanto a partir de 4-01-1955, depois de se concluírem grandes obras de remodelação, uma Assembleia Geral de Sócios Compromissários do Real Madrid, decidiu alterar o nome de Chamartin para Santiago Bernabéu. Com essa alteração pretenderam homenagear talvez a maior figura de sempre do Real Madrid. Santiago Bernabéu foi o principal artífice da construção do estádio, um antigo avançado dos primórdios do clube Madrilista, tendo sido presidente do clube durante 35 anos, desde 1943 a 1978, data da sua morte. Por ele passaram as decisões que contribuíram para tornar o Real Madrid no colosso, conhecido, admirado e temido em todo o mundo.



De Chamartin a Santiago Bernabéu, as sete idades de um estádio mítico. A fotografia no topo à direita mostra-nos o estádio em 1957. Fonte: estadiosdeespana.com.



A recepção da Direcção Madrilena à nossa comitiva. Santiago Bernabéu em pose de discurso. Ao lado o presidente Benfiquista Joaquim Ferreira Bogalho. De costas distinguem-se três dos nossos jogadores, Francisco Calado, Mário Coluna e José Águas. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Como se vê foi logo desde o início um Estádio grandioso, com uma capacidade para 75.145 espectadores (27.645 com assentos e 47.500 de pé). O estádio Santiago Bernabéu foi o palco para a disputa da final da Taça Latina de 1957, por sinal a última vez que esta competição seria disputada.


Sport Lisboa e Benfica, Real Madrid CF, AC Milan e AS Saint-Étienne preparavam-se para disputar aquela que viria a ser a última edição da Taça Latina. E essa edição decorreria já depois da conquista da segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus pelo Real Madrid. Estava em curso o reinado europeu de 5 anos da fabulosa equipa do Real Madrid de Di Stéfano, Kopa, Gento, depois Púskas e tantos outros. Mas essa Taça Latina conquistada pela cor branca ainda assim teria muitas nuances em vermelho. Lá iremos.

O sorteio ditou emparelhamentos que permitiam à nossa equipa ter esperanças em disputar mais uma final. Assim o Real Madrid disputaria a meia-final contra o AC Milan, (vencedor da edição do ano anterior, como aliás vimos no texto 150 - De Como a Milão) enquanto as Águias disputariam o acesso à final contra os Franceses do Saint-Étienne.


Os preparativos

O SLB chegou à capital Espanhola na noite de terça-feira, dia 15-06-1957, ou seja cerca de 4 dias antes do primeiro jogo. A Direcção optou por uma fatigante viagem usando o autocarro do Clube, facto no entanto que deve ter originado uma jornada de grande convívio para a comitiva ou outra coisa não seria de esperar quando se juntavam pelo menos três dos homens da comitiva: o médico Dr. Sousa Pinho, o massagista Mão de Pilão e Costa Pereira. Gente sempre bem disposta e que contagiava os restantes.



A notícia da partida da comitiva do SLB para Madrid. Viagem por autocarro. DL, 15-06-1957



A mesma fotografia do início deste texto mas agora legendada com a identificação de 15 dos 17 jogadores que viajaram para Madrid. Estão apenas 15 jogadores, faltando Palmeiro Antunes e Artur Santos.


Chegados a Madrid, a equipa faria o tal treino de adaptação ao relvado, ficando alarmada com o estado do terreno, algo mal tratado pelo treino que o seu opositor Francês tinha acabado de fazer. Alguma apreensão também por causa do arraial que existia à volta do treino pois nas bancadas a assistir estavam tão-somente os planteis do Saint-Étienne, Real Madrid e AC Milan. Ou seja todos os potenciais adversários estavam ali pachorrentamente a ver os Benfiquistas a treinar!

Passadas as reservas ou medos iniciais, a equipa Benfiquista, liderada por Otto Glória, decidiu fazer um treino à séria, de tal forma que surpreendidos com a velocidade imposta pelos nossos jogadores durante essa sessão, os nossos adversários ficaram impressionados. Impressionados e alertados... Havia que contar com aquela equipa Benfiquista!


A meia-final



Com uma assistência calculada em cerca de 100 mil espectadores, o Benfica venceu justamente embora sem especial brilho. Ainda assim no final a meia-final foi ultrapassada, o objectivo atingido. Neste jogo e na ausência de Fernando Caiado, seria Francisco Calado a ser nomeado capitão de equipa.

O jogo foi lento no princípio, com a defesa dos Franceses a carregar nos avançados Benfiquistas. José Águas sofreu uma carga no período inicial e Cavém já na segunda parte teria também que contar. Aqueles Franceses sabiam bem a quem dar pancada. Da nossa parte também houve resposta, sendo Zézinho aquele que segundo as crónicas mais deu despacho aos Franceses, ou melhor a Rijvers, o avançado Holandês do Saint Étienne. Amor com amor se paga.



O Capitão Francisco Calado e o capitão de equipa do Saint-Étienne nos cumprimentos iniciais. Fonte: DL


Neste jogo, há a apontar a boa exibição de Costa Pereira, comandando uma defesa Benfiquista que jogou com muita concentração e acerto nas marcações. Lá na frente, Águas e companheiros rematavam pouco. Levando a sua missão a sério, Calado pautava o jogo Benfiquista, e seria ele que num centro com uma trajectória inesperada conseguiu desfeitear o guarda-redes Francês. Logo aos 16 minutos de jogo o Benfica atingia o resultado final da partida. Viria depois um golo anulado a Palmeiro e mais picardias.

O jogo no entanto continuou lento com o público a dar conta do seu desagrado com... palmas de tango. Original, convenhamos. Em particular a equipa Benfiquista passou a contar com o desfavor do público, sentindo provavelmente que este seria o opositor do Real Madrid.



Jogo contra o Saint-Étienne. Salvador em disputa da bola em pleno Santiago Bernabéu.


A segunda parte traria mais do mesmo, sendo no entanto de notar a carga de um defensor Francês que praticamente inutilizou Cavém para o resto do jogo. Apesar da hostilidade do público, ainda assim Mário Coluna foi uma notável excepção pois a sua classe era tal que o público passou a dispensar-lhe aplausos reconhecendo a sua qualidade. Até ao fim do jogo apenas foi digna de nota uma escandalosa grande penalidade cometida sobre José Águas e que o árbitro espanhol decidiu ignorar. No final do jogo houve muita alegria do lado Benfiquista com o apuramento para mais uma final da Taça Latina.

Uma nota final e curiosa sobre este jogo foi que a ele assistiu a grande fadista Amália Rodrigues que nessa altura se encontrava na capital Espanhola. Apesar da sua predilecção Belenense, Amália terá certamente torcido pelas nossas cores.



Fonte: DL 18-06-1957


Na outra meia-final deu-se um verdadeiro esmagamento do AC Milan. Por 5-1, o Real Madrid apurou-se para a final, impondo a sua classe e o factor casa. Com essa exibição e por disputaram a final no seu Estádio, era notório e justificado o favoritismo dos Espanhóis. Havia aliás muito boa gente que esperava uma vitória arrasadora dos madrilistas sobre os campeões Portugueses. Mas o SLB, como noutros momentos da sua História, soube dar resposta. O jogo teria muita história para contar mas essa não seria certamente a lista dos golos da equipa da casa...



A batalha final

E chegou o grande dia. 23 de Junho de 1957. Ambiente escaldante no Santiago Bernabéu com mais de 100 mil espectadores. O ambiente era perfeitamente hostil às nossas cores. O Real Madrid tinha oportunidade de chegar à segunda vitória na Taça Latina. Muita pressão sobre os nossos jogadores perante a ameaça de serem esmagados pela valorosa equipa Madrilista.




A Gloriosa equipa que defrontou em 23-06-1957, o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu para a final da Taça Latina 1957.  Em cima, da esquerda para a direita: Bastos, Zézinho, Serra, Alfredo, Calado, Ângelo. Em baixo: Palmeiro, Coluna, José Águas, Fernando Caiado e Cavém. Fonte: Arquivo de Helena Águas


Do lado do SLB, Otto Glória optou por entregar a baliza Benfiquista a Bastos deixando Costa Pereira no banco. O capitão Fernando Caiado estava de regresso para liderar a equipa na importante final. De resto a mesma equipa da meia-final uma vez que tanto Águas como Cavém conseguiram ultrapassar os toques sofridos no duro confronto com os Franceses.



Os capitães de equipa em cumprimentos antes do início do desfio. Munoz do lado Madrilista e Fernando Caiado do lado dos Benfiquistas. Fonte DL 24-06-1956.



À esquerda, os dois homens decisivos do jogo: Di Stefano que foi marcador do único golo da partida e Zézinho que foi expulso injustamente. Em cima e à direita José Basto agarra a bola protegido por Serra. Em baixo, A entrada da equipa Benfiquista no Santiago Bernabéu. Quase 100 mil vozes gritavam contra a nossa equipa. Fonte: DL 24-06-1956.


Às 18 horas daquele dia o árbitro Francês Lequesme apitou para o início do jogo. E seria justamente este árbitro o principal (e infeliz) factor de decisão da partida. Medroso ou tendencioso, o árbitro Francês expulsou Zézinho, oito minutos depois do Real Madrid marcar o seu golo, fazendo com que o SLB jogasse 32 minutos em inferioridade numérica.





O Benfica começou com personalidade e até podia ter marcado primeiro por intermédio de José Aguas, jogador que não se encontrava no melhor da sua forma. Logo de seguida mais uma oportunidade, agora de Cavém. Depois começaria a pressão dos madrilista que passaram a semear oportunidades na área Benfiquista. A crónica de Luís Alves no DL aponta que os Benfiquistas se revelaram nessa primeira parte superiores em termos tácticos e físicos.

Mas logo no início da segunda parte tudo mudaria com dois incidentes de jogo. Primeiro foi o génio de Di Stefano a fazer a diferença no jogo e na competição. Aos 50 minutos de jogo, com um remate seco, o genial jogador Argentino, naturalizado Espanhol, selava o marcador nesse dia.


Depois viria a bárbara expulsão (sic). Expulsão porque Zézinho agarrou a camisola de um adversário. Primeira falta e expulsão. Incompreensível, inaceitável, injusta expulsão. Vergonhosa. A saída de Zézinho fragilizou tanto a defesa como o ataque Benfiquista, tal a generosidade e influência do valoroso jogador na nossa equipa. Zézinho terá talvez pago as escaramuças que manteve com os jogadores do Saint Etienne na meia-final. Talvez o árbitro Francês tenha querido ajustar contas. Apitando "a torto e a direito" em desfavor da nossa equipa, este árbitro revelou-se influente para o resto do jogo. Fraco ou mal-intencionado deixou marca injusta no desfecho do jogo.



Fonte: DL, 24-06-1957


Apesar de já ter visto imagens em movimento desse jogo, não encontrei no youtube um resumo. Ainda assim fica aqui um filme da vitória do Real Madrid sobre a AC Fiorentina (2-0), vitória que deu aos merengues a sua segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus. O filme mostra bem o que era o ambiente do Santiago Bernabéu.



No final ganhava a equipa mais credenciada, a equipa da casa. Este título completou a Tripla Corona ou seja o Real Madrid nessa época conquistou a Taça dos Clubes Campeões Europeus, a Taça Latina e o Campeonato Nacional de Espanha. Terminava a Taça Latina mas para o Real Madrid a saga das Taças dos Campeões ainda ia na segunda da primeira série de cinco conquistas.





O Benfica no entanto deixou uma imagem impressiva da sua raça como equipa e da sua qualidade de jogo. O Benfica perdia a final sofrendo apenas um golo, aliás o único que sofreu na competição. Um golo sofrido aos pés de um génio do futebol. Esse mesmo que cinco anos depois seria procurado pelo menino Eusébio e que com ele trocaria de camisolas. Alfredo Di Stéfano, a estrela cintilante do Real Madrid sorriu nesse dia. Mas Di Stefano era um Senhor, e as suas declarações que talvez hoje fossem inaceitáveis deixaram a entender o que ele pensou do que se passou no terreno de jogo.



Algumas declarações depois do jogo. Fonte: DL, 24-06-1957



Resultados e classificação final da Taça Latina de 1956. Fonte: DL 24-06-1956.



As duas Taças Latinas expostas no Museu do Real Madrid. À direita a conquistada ao Stade de Reims em 26-06-1955 e à direita contra Sport Lisboa e Benfica em 23-06- 1957. Fonte: Defesacentral.com. A fotografia do galhardete foi tirada pelo nosso colega de fórum poiudivino.


Mas as contas não estavam fechadas. Existiriam mais contas para ser feitas daí a cerca de 5 anos. Para Costa Pereira, Serra, Ângelo, Águas, Coluna e Cavém aquele jogo de Madrid certamente passou a ter outro gosto depois da grande aventura de Amesterdão em Maio de 1962. Para se chegar ao topo tem de se subir degraus. E assim foi. E assim será. Assim esperam todos os Benfiquistas. Com o passado se aprende e se sonha com o futuro. Sonhar à Benfica!



Mais um grande resumo Vitor. Obrigado

RedVC

Obrigado Alfredo  O0  :slb2:
É um prazer perceber que alguns destes textos são apreciados por outros Benfiquistas.
Agradeço também as palavras simpáticas que outros membros deste fórum por aqui têm deixado.

RedVC

Decifrando imagens do presente.

Fui hoje ao Panteão. Apenas dois túmulos tinham flores.





Amor do Povo. Amor eterno a estas duas figuras sagradas do Portugal Bom.





Bakero

Eu tenho algures o vídeo dessa final entre o Benfica e o Real Madrid, mas agora não estou a encontrar  :ashamed:.

Se achar isso, partilho aqui neste maravilhoso tópico. Gostei imenso de ler mais essa aventura do Benfica, na Taça Latina  O0

RedVC

Citação de: Bakero em 07 de Maio de 2017, 18:04
Eu tenho algures o vídeo dessa final entre o Benfica e o Real Madrid, mas agora não estou a encontrar  :ashamed:.

Se achar isso, partilho aqui neste maravilhoso tópico. Gostei imenso de ler mais essa aventura do Benfica, na Taça Latina  O0

Obrigado Bakero  O0  :slb2:

Se acabares por encontrar o video será ótimo se conseguires colocar aqui nem que seja umas capturas de ecrã. Acho que poderão dar uma ajuda a se compreender o ambiente intenso, a pressão que foi feita sobre a nossa equipa.

Ao fazer evocação destas finais perdidas da Taça Latina não estou a celebrar derrotas mas antes a dar justa lembrança a jogos em que a nossa equipa mostrou raça e prestigiou o nosso Clube. desgraçadamente perdemos várias finais em condições adversas por jogar em casa (cidade ou pais) dos nossos opositores. E mesmo assim com raça vendemos cara a derrota. Em Milão 1956, em Madrid 1957, em Milão 1965, em Londres 1968. Contra isto só contra-balançamos a vitória de 1950. Trágico.

Nunca consegui ver os vídeos integrais as derrotas de 1963, 1965 e 1968. Nunca os verei. Mas confesso que se um dia aparecer o video integral (nem deve existir) de Milão 1956 e Madrid 1957, então gostarei de ver. É preciso lembrar sempre que a Taça Latina era uma competição com prestígio. Ganhamos uma final e perdemos duas. 

RedVC

#643
-154-
A Rotunda da Vitória

Maio de 1934. Lisboa, Rotunda do Marquês de Pombal.



Fonte: AML


Não, não é a preparação da Praça Marquês de Pombal para mais um festejo de um título do SLB. Antes, é uma imagem tirada perto do dia 13 de Maio de 1934, altura em que se ultimavam os detalhes para o dia da inauguração do Monumento ao Marquês de Pombal.

O monumento foi inaugurado a 13 de Maio de 1934; cumprem-se hoje 83 anos!

Hoje vamos falar deste local de festas para o nosso Clube. De forma simples e breve falaremos da sua história e dos três homens que assinaram o projecto vencedor. E como veremos todos eles tiveram uma ligação ao Sport Lisboa e Benfica.


A história do projecto

A primeira pedra deste monumento foi lançada em 1917 ou seja dezassete anos antes a inauguração! Bem à Portuguesa... Foi lançada mais concretamente no dia 12 de Agosto de 1917, num dia ensolarado em que o presidente Bernardino Machado e sua comitiva se deslocaram ao local.

Mas tudo começou bem antes. De facto, já em 1882 se iniciou uma subscrição pública para obter fundos para a construção de um monumento ao Marquês de Pombal. O projecto já previa a construção do monumento no topo norte da Avenida da Liberdade, final do antigo "Passeio Público" pombalino. O local escolhido era a "Rotunda" situada no antigo "Vale do Pereiro", assim se chamava ao local.

O projecto ficou parado provavelmente por falta de fundos e/ou por falta de oportunidade política. Mas esse já era um local importante para a vida Lisboeta. Foi aí, por exemplo, que 1910, logo após a revolução republicana do 5 de Outubro de 1910, que se fizeram parte das exéquias ao Dr. Miguel Bombarda e ao Almirante Cândido dos Reis, os dois mortos mais célebres da revolução triunfante.



Em cima, à esquerda: 1888, Vale do Pereiro durante uma Feira pecuária. À direita: 1917-08-12, lançamento da primeira pedra do monumento ao Marquês de Pombal. Em baixo à esquerda: 1917-08-12, visita às obras de Bernardino Machado, Presidente da República. À direita: 1917-08-12, aspecto geral da assistência que viu serem formalmente iniciados os trabalhos de construção do monumento ao Marquês de Pombal. Fonte AML e Restos de Colecção.

Mas poderia ter sido bastante diferente. Os mais notáveis arquitectos e escultores do nosso País concorreram e as propostas foram de elevada qualidade. O projecto vencedor apresentava na estatuária evocações de diversas etapas da vida do grande estadista: esmagamento da revolta contra a ordem vigente, renascença da indústria e comércio, reedificação de Lisboa, expulsão dos Jesuítas, diversos  colaboradores da obra do estadista. Por este projecto os seus autores receberam 3 mil escudos e a honra de verem o seu projecto edificado. Lentamente mas lá foram vendo...

No entanto, olhando para o registo dos projectos que não venceram, percebe-se que também havia qualidade e é curioso notar como o monumento poderia ter sido algo diferente.



Os quatro projectos premiados do concurso Monumento ao Marquês de Pombal. 1º prémio, arquitecto Arnaldo Redondo Adães Bermudes e António Couto Abreu, escultor Francisco dos Santos; 2º prémio, arquitecto Marques da Silva, escultor Alves de Sousa; 3º prémio, arquitecto Ferreira da Costa, escultor Paula de Campos; 4º prémio, arquitecto Edmundo Tavares, escultor Maximiano Alves


Lentamente, por fim o projecto lá avançou, mas foram preciso os tais 17 anos e uma mudança de regime para que enfim fosse inaugurado com grande pompa e cerimónia.


Diversos aspectos da construção do pedestal e da estátua. Fonte: Restos de Colecção.


Aspectos da construção da estatuária do monumento. A estátua do Marquês, a estátua Lisboa, os motivos diversos da obra pomabalina, a estátua Minerva. Fonte: digitarq-TT



O grande dia. A primeira enchente. Inauguração do Monumento ao Marquês de Pombal em 13-05-1934. Fonte: AML.



1934-05-13, inauguração do monumento ao Marquês de Pombal. Presentes, entre outros, o influente Ministro Duarte Pacheco, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Alberto da Costa Gomes e o General Vieira da Rocha. Fonte: AML.



Ecos da inauguração do monumento. Fonte: Restos de Colecção.


Os autores

Tal como nos aparece na Revista Ilustração Portuguesa, foram três os autores do projecto vencedor. Dois arquitectos e um escultor. Dois deles são figuras familiares ao universo Benfiquista pois foram dois dos jogadores das nossas primeiras equipas. O arquitecto António Couto Abreu e o escultor Francisco dos Santos. O terceiro era o irmão mais velho de Félix Redondo Adães Bermudes, em minha opinião um dos três homens mais importantes da história do Sport Lisboa e Benfica.



Os três autores do Monumento ao Marquês de PombalFonte: Hemeroteca de Lisboa.


1927-05-13, comissão do monumento ao Marquês de Pombal. Reconhecem-se os três autores do projecto. Fonte: TT-digitarq.


1928-05-13, visita do Marechal Carmona (à civil) ás obras. Faltavam ainda cinco anos para a inauguração. Reconhecem-se os três autores do projecto. Fonte: TT-digitarq.



Arnaldo Redondo Adães Bermudes,
assim era o seu nome completo. Nasceu no Porto em 1-10-1864, sendo por isso 10 anos mais velho do que o seu irmão Félix Bermudes. Orfão de pai e mãe terá sido criado por tios. A família era originária da Galiza mas estabelecida no Porto ainda antes do nascimento de Arnaldo.

Foi um notável arquitecto e professor. Era conhecido no meio artístico como Adães Bermudes, tendo-se destacado no movimento da Arte Nova, tão influente na arquitectura e correntes artísticas da primeira metade do século XX. Recebeu numerosas distinções e prémios pelas suas obras. Formado em arquitectura pela Academia Portuense de Belas Artes e pela École des Beaux-Arts de Paris, tendo sido professor da Escola de Belas-Artes de Lisboa.

Foi funcionário e dirigente do Ministério do Reino e depois do Ministério do Comércio e Comunicações. Ao contrário do seu irmão, interessou-se por política tendo sido um eminente Republicano e membro da Maçonaria. Chegou a ser senador e presidente interino da Câmara Municipal de Lisboa. Foi deputado da nação tendo intervindo em acesos debates principalmente em assuntos das obras públicas e da Educação.

E foi justamente na Educação que deixou uma obra notável ao conceber algumas das obras mais icónicas da arquitectura escolar em Portugal. Essa obra foi de tal importância que o seu nome identifica uma tipologia de escolas do antigo ensino primário que é familiar aos nossos pais e avós. Para além do monumento ao Marquês de Pombal concebeu várias outras obras de referência como a Escola Central de Coimbra, o Instituto Superior de Agronomia na Tapada da Ajuda, a Escola Normal Primária de Lisboa, o Hotel Batalha em Coimbra. Tanto quanto sei não manifestou interesse pelo desporto.

Faleceu em Paiões, Sintra no dia 18-02-1948 com a idade de 84 anos. Paiões foi justamente a terra onde nasceu Francisco dos Santos, seu companheiro neste projecto do Monumento ao Marquês de Pombal. É um nome lembrado no seu meio. Tem uma Rua com o seu nome em Marvila. Mais informações, aqui: https://www.infopedia.pt/$adaes-bermudes



Em cima, à esquerda no dia 1929-03-21, festa de homenagem a Columbano Bordalo Pinheiro onde estiveram António do Couto e Arnaldo Adães Bermudes. À Direita, a notícia na Ilustração Portuguesa do prémio Valmor de 1909 que premiou Arnaldo Adães Bermudes. Note-se as impressionantes parecenças físicas com o seu irmão Félix. Em baixo, à esquerda, no dia 1934-03-16, comissão de escolha da maquete para o monumento ao Dr. António José de Almeida. Ma vez mais António Couto e Adães Bermudes juntos. À direita, aspecto do alçado principal da Escola Adães Bermudes. Uma tipologia que se repetiu por todas as regiões de Portugal.



Plano da Escola primária de Albergaria a Velha. Documento de 1900, desenhado e assinado por Arnaldo Redondo Adães Bermudes. Fonte: http://www.prof2000.pt/users/HJCO/Aderav/Patrimonios/Patrim10_079.htm


Francisco dos Santos,
era o génio criativo da equipa. Nasceu em Paiões, Rio de Mouro, Sintra em 22 de Outubro de 1878. Orfão, entrou para a Casa Pia, revelando-se um notável estudante e desportista. Pelo seu mérito, conseguiu uma bolsa de estudo para estudar em ateliers de Paris (Raoul Verlét) e Roma.

Bom de bola, jogador da famosa equipa do Casa Pia que terá sido a primeira equipa Portuguesa a vencer os mestres ingleses do Carcavellos Club. Terá sido o primeiro jogador Português a jogar no estrangeiro, mais concretamente na Lazio de Roma em 1907-1908, equipa que chegou a capitanear em reconhecimento das suas qualidades humanas e futebolísticas. Francisco dos Santos jogou na nossa primeira categoria em 1905 ou 1906, mas infelizmente não temos qualquer imagem dele envergando o manto sagrado.

Foi ele quem esculpiu a estatuária do monumento ao Marquês de Pombal, uma obra-prima que não conseguiu concluir, pois foi surpreendido pela morte em 27 de Junho de 1930. Foram os também notáveis escultores José Simões de Almeida (sobrinho) e Leopoldo Neves de Almeida a concluir essa obra. Deixou muitas obras magníficas, algumas estão espalhadas por Lisboa e que são com certeza familiares a muitos de nós. Provavelmente não sonhamos é que foram esculpidas por um antigo jogador do SLB. Sobre ele já por aqui falamos: ver -51- Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras. (p.13)



Em cima à esquerda, Francisco dos Santos no seu atelier. Ao meio enquanto estudante em Paris (nº 4) e em baixo à esquerda na equipa da Lazio de Roma em 1907.



Francisco dos Santos a dar o último retoque na estátua do Marquês de Pombal


António Couto Abreu,
nasceu em Barcarena, freguesia de Oeiras, em 08-04-1874. Orfão com apenas 9 anos de idade entrou para a Casa Pia e foi um membro destacado da famosa geração Margiochi, tão cravejada de génios artísticos, pedagogos e de homens da Ciência. Frequentou a Casa Pia de frequentou de 05-12-1883 a 01-05-1897, foi o aluno nº 1455.

Interessado no desporto integrou as famosas equipas de futebol da Casa Pia, sendo sempre médio ao centro, a mais importante posição da equipa, e uma posição que manteria nos tempos do Sport Lisboa. Fez parte da Associação do Bem, tal como Francisco dos Santos, Silvestre da Silva, Januário Barreto, Emílio de Carvalho e Pedro Guedes, entre outros, nomes grandes da nossa História inicial.

Foi um notável estudante e viria a formar-se em Arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1899. Formou-se com distinção tendo obtido Vinte Valores, uma Medalha de Prata e 30$000, valor considerável para a época.

Trabalhou com alguns dos principais arquitectos da sua época, nomeadamente Ventura Terra, com quem trabalhou na Assembleia da República e Adães Bermudes no monumento ao Marquês de Pombal. Fez uma carreira notável. Em 1900, foi Arquitecto tirocinante dos estudos de remodelação do edifício das Cortes, servindo sob a direcção do Arquitecto Ventura Terra, autor desse projecto. Em Março de 1910 foi nomeado Arquitecto de 3ª Classe para o quadro das Obras Públicas. Nove anos depois ascendeu a Arquitecto de 2ª Classe e, em 1934, Arquitecto de 1ª Classe, servindo, em 1942, nesta categoria, na restauração da Sé Patriarcal de Lisboa, para onde foi nomeado em 1911.

Recebeu em 1907, o Prémio Valmor, pela melhor habitação particular construída, nesse ano, em Lisboa. Essa casa era o Palacete Empis, família a que pertencia Raul Empis, um dos 24 fundadores do Sport Lisboa. Para além do monumento ao Marquês de Pombal, Couto foi autor do Pavilhão Português na Exposição Universal de S. Francisco (Panamá-Pacífico) de 1914, do Monumento Equestre a Joaquim Mouzinho de Albuquerque (colaboração com o Escultor Simões de Almeida (Sobrinho)), inaugurado em Lourenço Marques (Moçambique), em 29-12-1940. Nome influente no meio artístico nacional, foi um destacado membro de Direcções da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa (SNBA). (fonte: https://ruascomhistoria.wordpress.com/2015/11/11/antonio-do-couto-arquitecto-foi-um-dos-autores-da-estatua-do-marques-de-pombal-lisboa-7/)



Em cima, António do Couto entre Casapianos. Em baixo já idoso, junto de diversos artistas, antigos companheiros casapianos entre os quais se destacavam Francisco dos Santos, Pedro Guedes e José Netto. Todos em algum momento da sua vida ligados ao Sport Lisboa e Benfica. Em baixo, à direita, António do Couto em 1934 integrado na Direcção da Sociedade Portuguesa de Belas Artes. Fonte: AML

Não tendo sido um fundador do Sport Lisboa, António Couto acabou por integrar as primeiras equipas tendo sido um dos mais destacados jogadores. Fez assim parte do contingente de jogadores já perto dos 30 anos, prestigiados já no incipiente meio futebolístico nacional, e que deram a consistência, experiência e o espírito ganhador à equipa e ao Clube. Era médio centro, jogador de grande qualidade e resistência física. Era um líder absoluto em campo, tendo jogado até bastante tarde.

No entanto, como nos relatou Cosme Damião, o seu estatuto social terá levado a abandonar o Sport Lisboa em Maio de 1907 tendo aceitado o convite de José de Alvalade e passado para os quadros do ambicioso mas inconsequente em termos desportivos, Sporting Clube de Portugal. Aspirava a outro estatuto social e o SCP parecia dar-lhe acesso a esses círculos.

E por lá permaneceu durante décadas tendo chegado a sócio nº 1. Terá sido ele o homem que influenciou outros a fazer essa mudança. Terá sido ele que motivou Francisco dos Santos e outros antigos companheiros a também ingressar no SCP quando regressou de Roma. Estava escrito que nunca mais voltariam ao Sport Lisboa, á na sua versão Sport Lisboa e Benfica. Mais tarde na década de 30 foi vice-presidente do Casa Pia Atlético Clube, durante a presidência de Cosme Damião. Caminhos cruzados de dois casapianos.



Em cima António Couto na nossa primeira equipa envergando o manto sagrado. Em baixo integrado numa das equipas casapianas ao lado de diversos outros nomes grandes entre os quais Francisco dos Santos. Em baixo à direita, enquanto vice-presiente do Casa Paia atlético Clube, durante a presidência de Cosme Damião.

Foram estes três homens os construtores de uma das Praças mais famosas do nosso País. Local que num passado recente se tornou um dos salões de festas populares aquando das conquistas do Sport Lisboa e Benfica. Perto do Rossio, local onde tradicionalmente se celebravam os nossos títulos e local onde estava a nossa sede no Jardim do Regedor. Mas como não ficar impressionado com esse mar de gente no Marquês de Pombal? Esse mar vermelho? Esses milhares de pessoas de coração em alegria e gritando a plenos pulmões pelo seu Clube, pelo nosso Clube, pelo Glorioso SLB!!! Com alegria, com paixão! À Benfica!





Fonte: EDB


BENFICA, BENFICA, BENFICA
DÁ-ME O 37!!!!!!



RedVC

#644
"A Bola diamante" faz uma alusão a esta temática

O título é um mimo

O TETRA DO BENFICA NA ESTÁTUA DE DOIS JOGADORES DO SPORTING*

* ANTES DE SEREM SEDUZIDOS POR JOSÉ DE ALVALADE TINHAM SIDO DO SPORT LISBOA QUE AINDA NÃO ERA SLB



http://www.abola.pt/diamante/

para quem quiser gastar dinheiro com um jornal que já foi grande.