Decifrando imagens do passado

alfredo

Citação de: RedVC em 16 de Março de 2018, 21:22
-206-
Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956



A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)



Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.



Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.



Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.



Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.



Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.



Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.



Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola




Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).




O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.



Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.








Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.



Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.



As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.



Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.




Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola



Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.



Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.



O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.






se pudesse dar meia duzia de likes, faria-o. que história comovente e excelentemente contada. nao acabou pela história dos irmaos mazzola, mas também a final de 65 e promenores que desconhecia (nao sabia que era para ser disputada em roma), e a história trágica desse clube simpático, que sempre ficará ligado à nossa.
já repeti muitas vezes, mas a qualidade dos teus resumos pelomenos merece um tópico imóvel. eu até penso que valia a pena imprimir e fazer um livro.
enorme respeito pelo teu trabalho, victor. :bow2:

RedVC

Citação de: alfredo em 17 de Março de 2018, 20:43
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:35
-205-
Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.




Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.



A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.



Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...



Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.



O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.




A equipa do AC Torino




A equipa do SLB




Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.




Antes e depois da fatídica viagem.





Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.



Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB




essas nossas camisolas...  :smitten: quanto nao daria por uma delas...


Ah, pois! Aquilo era para olhar para ela todos os dias  :cool2:

O nosso Clube devia ter feito como as grandes casas de Vinho do Porto fazem com algumas garrafas de cada ano de colheita. Todos os anos guardava uma meia dúzia de camisolas para armazenar. Para que as gerações vindouras pudessem ter o privilégio de vê-las, autênticas, lindas, Gloriosas.

RedVC

Citação de: alfredo em 17 de Março de 2018, 21:05
Citação de: RedVC em 16 de Março de 2018, 21:22
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Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956



A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)



Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.



Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.



Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.



Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.



Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.



Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.



Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola




Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).




O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.



Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.








Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.



Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.



As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.



Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.




Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola



Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.



Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.



O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.






se pudesse dar meia duzia de likes, faria-o. que história comovente e excelentemente contada. nao acabou pela história dos irmaos mazzola, mas também a final de 65 e promenores que desconhecia (nao sabia que era para ser disputada em roma), e a história trágica desse clube simpático, que sempre ficará ligado à nossa.
já repeti muitas vezes, mas a qualidade dos teus resumos pelomenos merece um tópico imóvel. eu até penso que valia a pena imprimir e fazer um livro.
enorme respeito pelo teu trabalho, victor. :bow2:

Caramba Alfredo... Um abraço e muito obrigado pelas tuas palavras!  O0

Ned Kelly

Obrigado por mais esta pérola sobre o Torino. Curiosamente se o meu pai fosse vivo teria também 92 anos, como o avô do Bakero. Também era do Sporting e também esteve nesse jogo. Aliás, aprendi muito do que sei do Benfica com ele, nomeadamente sobre estas figuras desse tempo, como o Chico Ferreira (e o Peyroteo), e sobretudo sobre a mística do Benfica. Parece paradoxal, mas a rivalidade era só isso: rivalidade.

Também por ele, quando fomos à final com o Sevilha fui lá deixar uma bandeira do Benfica em Superga, assinada por toda a turma que foi comigo.

RedVC

-207-
Uma referência elaborada

Uma nota breve a propósito de uma dúvida que vi recentemente no blogue Memória Gloriosa.

Questionava-se acerca desta fotografia que agora é muito conhecida.




Na altura em que publiquei um texto onde a mostrava  ("-100- A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa, p.28)" não me ocorreu identificar a fonte completa original. Bom... antes tarde do que nunca.

Acontece que a dita imagem foi publicada pela primeira vez numa revista científica de 1905. No kidding...

Encontrei-a depois de uma pesquisa na internet na página 28da seguinte revista:


Página de rosto e a página 28 onde foi publicada a imagem da Farmácia Franco captada muito provavelmente ainda em 1904.


E assim podem pela primeira vez ler a legenda integral e já agora a tradução conforme a pude fazer




"Uma fabulosa farmácia portuguesa. - A "Farmácia Franco" de Lisboa é uma da mais famosas lojas de boticário em Portugal. Foi estabelecida em 1826 pelo Senhor Ignácio José Franco, e à data da sua morte passou para o seu filho, o primeiro Conde do Restelo, que mais tarde se associou com os seus dois filhos, um deles o segundo Conde do Restelo, e o outro Pedro Augusto Franco. Este último é o actual co-proprietário. Esta casa produz diversas muito conhecidas especialidades farmacêuticas; e já conquistou cinco medalhas de ouro e uma de prata em diversas exibições Europeias, sem mencionar o Grande Prémio garantido na Exibição de Londres deste ano (nota: 1905). Como pode ser visto a partir da gravura, a farmácia é muito bela, e para além disso tem o interesse de representar uma tipologia mais próxima da Espanhola, sendo por isso bastante diferente do que estamos acostumados nos Estados Unidos.



Assim, em jeito de referência bibliográfica aqui fica a referência completa


The Bulletin of Pharmacy. 1905. Vol XIX - January to December. pp. 28. R. G. Swift, Medical Publisher. Detroit. USA.


Foi esta a Farmácia onde os nossos fundadores e todos os outros que contribuíram para a formação do nosso Clube se reuniram.


Curiosidades sobre um local que nos dias de hoje deveria ser bastante mais do que a simpática Pensão Residencial Setubalense ou uma dependência de um banco... Mas enfim, isso são outras histórias!



Que lindo que ali ficaria uma loja do Sport Lisboa e Benfica... Fonte: Trivago.










andrenet



Manniche, ?, Carlos Manuel, Shéu... Quem é o 2º na foto?
De onde a tirei diza que é o Frederico.
Porém, o Frederico saiu para o Boavista em 83/84, época em que o Manniche chegou ao Benfica. Não chegaram a jogar juntos...

RedVC

Citação de: andrenet em 24 de Março de 2018, 12:22


Manniche, ?, Carlos Manuel, Shéu... Quem é o 2º na foto?
De onde a tirei diza que é o Frederico.
Porém, o Frederico saiu para o Boavista em 83/84, época em que o Manniche chegou ao Benfica. Não chegaram a jogar juntos...


Oliveira!




https://serbenfiquista.com/forum/de-aguia-ao-peito/oliveira/

bom jogador que Eriksson usou para substituir Humberto Coelho que se lesionou de forma irremediável.


RedVC

#757
-208-
Laranja vintage


Domingo, dia 5 de Abril de 1936. Enschede, Holanda.



"A equipa campeã do Sportclub Enschede". Foto da equipa de futebol de 1935-1936. Fonte: www.gahetna.nl



Nesse dia a equipa de futebol do Sportclub Enschede (SCE) que equipava com camisolas negras e calções brancos, sagrou-se campeã regional do Distrito Leste da Holanda. O treinador desta equipa era um Húngaro de 37 anos chamado Béla Guttmann.

Béla Guttmann estava a iniciar a sua carreira internacional de treinador. Poucos anos antes tinha iniciado a sua carreia ao aceitar o cargo de jogador-treinador do Hakoah de Viena, o clube onde mais se destacou enquanto jogador. Em meados de 1935 Guttmann aceitou o convite dos Holandeses e assumiu a direcção técnica do SC Enschede.



Béla Guttmann com 37 anos, numa fotografia publicada em 1936 num jornal Holandês. Fonte: https://www.delpher.nl




A notícia integral do dia em que o SC Enschede se tornou campeão regional. Fonte: https://www.delpher.nl



Os dirigentes do SCE concretizaram a contratação de Béla Guttman depois de uma sugestão que lhes foi feita pelo grande treinador e mestre do Futebol Austríaco Hugo Meisl. Até essa altura os Holandeses tinham uma experiência bem-sucedida com treinadores Ingleses mas nesse ano decidiram experimentar uma outra escolar e daí o contacto que estabeleceram com Hugo Meisl.

Guttmann trataria de aproveitar bem essa oportunidade mas ficaria apenas mais uma época na Holanda. Começava aí a seguir a uma regra de ouro, uma opção que tornaria quase uma constante na sua carreira: não permanecer mais do que duas temporadas no mesmo clube. O Benfica seria uma excepção ditada pelo coração mas também pela razão.


A Holanda futebolística nos anos 30


Localizada no leste da Holanda, a 4 km da fronteira com a Alemanha, a cidade de Enschede tem hoje cerca de 160 mil habitantes. Em 1936 a cidade tinha dois pequenos clubes de futebol, o SC Enschede (com as cores preto e branco) e o SV De Enschedese Boys (com as cores verde e branco).



Enschede, antiga e actual. A cidade está localizada no leste da Holanda perto da fronteira Alemã. Fonte: wikipedia e Delcampe.



Fundado em 1 de Junho de 1910, o Sportclub Enschede formou-se a partir da união de dois clubes Hercules (1898) e Phenix (1903). Os dois clubes decidiram formar um novo clube que pudesse a ter ambições nacionais e que pudesse competir com os grandes clubes do oeste do país (Ajax a Feijenoord, entre outros). Seria Bernard Vos, então o então presidente do SCE, que instituiria o lema do Clube: "Alcançar mais não é uma questão de ser capaz, mas uma questão de querer".

Em 1926, o SC Enschede conseguiu o seu único título nacional Holandês e logo de forma invicta. Nesse tempo, o modelo competitivo Holandês previa a disputa de 5 ligas regionais, cujos campeões depois competiam entre eles para definir o campeão nacional. No entanto e até 1954, época em que foi instituído o profissionalismo no futebol Holandês, o SC Enschede conquistou apenas três títulos de campeão regional da zona Leste: 1932, 1936 e 1943.

O título regional de 1936 foi justamente o conquistado por Béla Guttmann enquanto treinador do SCE. A competição nacional desse ano seria disputada pelo Feijenoord, FC Groningern, SC Enschede, Ajax e NAC. Seria o Feijenoord a sagrar-se campeão nacional da Holanda 1935-1936.



Os Clubes Holandeses competidores da fase final de atribuição do título de Campeão Nacional de Futebol na Holanda em 1935-1936.



Em 1965, o SC Enschede estava fragilizado por dívidas e por isso viu-se forçado pelo seu Município a aceitar uma fusão com os rivais do SV De Enschedese Boys. Da união dos dois clubes formou-se o FC Twente (cor vermelha). Ainda assim, parte do SCE conseguiu resistir e assegurar a continuidade do clube, mantendo as mesmas cores e símbolos e competindo ainda hoje nas ligas amadoras de futebol da Holanda. O FC Twente veio a vingar como clube profissional à escala nacional e conseguiu mesmo ser campeão Holandês em 2009-2010, numa época em que Luís Suárez foi o melhor goleador do campeonato usando a camisola do Ajax...






Um documento único


Um aspecto interessante desta aventura Holandesa de Béla Guttman é que existe um filme onde podemos ver uma parte significativa dessa temporada de 1935-1936. O registo deverá ter sido feito por elementos do próprio SC Enschede pois regista vários jogos no seu campo. Mais importante ainda é que no filme podemos identificar Béla Guttmann em pelo menos dois momentos. Se alguém perceber Holandês pode sempre complementar...




E para os que não quiserem ver o filme, ficam aqui capturas de imagem de alguns momentos interessantes.

A primeira parte do filme refere-se à conquista do título regional do distrito Leste da Holanda, captando o jogo decisivo desse campeonato que foi o dérbi da cidade entre o SC Enschede e o SV De Enschedese Boys.






Depois, no filme fora também registados alguns dos jogos da competição à escala nacional que, como atrás se disse, seria vencida pelo Feijenoord de Roterdão.







O Futebol segundo Guttmann


Para nós Benfiquistas, a Holanda futebolística dos anos 30 parece um universo que embora pitoresca parece distante e com pouco interesse. No entanto, há nele alguns detalhes curiosos para se entender melhor o trajecto de Béla Guttmann. É sabido que Guttman esteve exposto a muitas e bem diversas realidades futebolísticas e sociais durante a sua carreira. Ao longo dessas décadas, dirigiu e enfrentou clubes grandes e pequenos em realidades competitivas diversas na América do Norte, América Latina, Europa Central e Europa Latina, experiências que enriqueceram como homem e como profissional.

A Holanda, mesmo sendo uma etapa breve, foi a primeira e por isso importante para que Guttmann começasse desde logo a definir-se como um treinador ganhador, capaz de passar as suas ideias aos jogadores, tornando-os mais competitivos e ganhadores.

E Guttmann não falhou. Nesse campeonato regional deixou impressa a imagem de ganhador, orientando uma equipa concentrada, com vertigem ofensiva e posse de bola orientada para um jogo rectilíneo para a baliza. A obsessão pela busca do remate e da procura uma concretização eficaz foi algo que impôs às suas equipas. E os números das suas equipas são elucidativos acerca dessa obsessão. Mais tarde, o Benfica bicampeão europeu seria a sua criação mais perfeita mas antes disso houve décadas de caminhos de pedras em que refinou a sua visão e os seus métodos.

Lendo alguma imprensa Holandesa da época, confirma-se que os métodos e personalidade de Guttmann eram já muito do que conhecemos, e que os mesmos foram entendidos e admirados pelos adeptos.





● O segredo do Sportclub Enschede para a conquista do campeonato foi a sua grande unidade e força de vontade colectiva.

● Apesar de um começo extremamente assustador, após algumas partidas a equipe do SCE conseguiu superar esse atraso inicial com uma vontade de ferro, através da perseverança até o limite.

● A nomeação do Sr. Guttmann, sem dúvida, contribuiu muito para o sucesso desta temporada. O novo treinador entregou-se à sua tarefa com coração e alma e fez todo o possível para conseguir algo para o SCE.

● Pedimos então ao treinador do Sportclub, que nos explicasse porque a extraordinária produtividade ofensiva do SCE. A resposta foi que como treinador fez todo o possível para dar a aprender as técnicas e habilidades de remate. Ele prestou especial atenção à necessidade de rematar com os dois pés. Rematar assim que houver possibilidade para isso.

● Obtivemos ainda uma explicação detalhada sobre o melhor método de jogo. No passado, de acordo com Guttmann, as pessoas prestaram muita atenção ao futebol bom e gracioso mas na verdade o objectivo final do jogo de futebol é fazer golos. Por isso toda a atenção se deve concentrar nesse aspecto.

● Basta olhar para a equipa do SCE, que apesar de não jogar um jogo de combinação muito sofisticado de passes curtos, ainda assim encontra sempre o caminho mais rápido para a baliza. O futebol moderno exige velocidade. O SCE tem alas excelentes e um trio habilidoso de ataque. O objectivo da equipa terá de ser sempre ultrapassar a defesa do adversário, usando pra isso um jogo rápido e incisivo. Da direita para a esquerda, em frente à baliza, a ideia é rematar. Veja-se os números de golos obtidos para perceber isso.

● Graças à sua influência sobre os jogadores, o treinador Guttmann conseguiu incitá-los ao maior entusiasmo...

● Com 38 anos de idade, o actual treinador de Enschede é um homem muito activo e que possui uma grande capacidade de persuasão. Não é de admirar que ele conseguisse influenciar os jogadores de uma maneira tão admirável.

● Guttman foi de opinião que a conquista do campeonato foi alcançada pela grande homogeneidade na equipe e no espírito proeminente. Todos se deram por inteiro, os jogadores interagiram uns com os outros como amigos. Os mais velhos exerceram uma boa influência sobre os jogadores mais jovens. Todos foram inspirados pela vontade de vencer.


E depois vejam como continua o artigo:

● O lema da equipa do SCE é sempre "Um para todos e todos para o nosso clube", e o Sr. Guttmann decidiu cuidar dele...


Curioso, não é?

Guttmann estava destinado a treinar o Glorioso.

A Mística... Ao longo da sua carreira, Guttmann treinou e enfrentou diversos Clubes com adeptos fervorosos e com filosofia ganhadora mas ficaria genuinamente impressionado pela Mística que veio encontrar no nosso Clube. Vindo de fora, Guttman soube perceber e aproveitar de forma magistral essa Mística e a qualidade da equipa.

Curiosamente Guttmann chegou a Portugal para orientar o FCP, mas desde logo percebeu o potencial do Benfica. Na sua cabeça deve ter desde logo percebido onde estaria o cavalo ganhador.

De facto, quando chegou a Portugal para treinar o FCP, Guttmann deu nota de que conhecia a equipa do Benfica, a quem reconhecia qualidade. No ano anterior, altura em que treinava o São Paulo FC, Guttmann tinha visto o Benfica jogar no Brasil. Chegando a Portugal, percebeu o potencial daqueles jogadores e do Clube. Não admira que tenha prontamente aceitado o convite que recebeu – ao que parece da boca de Gastão Silva - no Verão de 1959 quando estava de regresso a Viena. Para trás tinha ficado o FCP, agora era o tempo do Benfica.

E foi no nosso Clube que Guttmann se elevou como nunca se tinha elevado. Foi aqui que percebeu melhor a Mística única do Benfica. Única no Mundo, incomparável, baseada no amor incondicional dos seus sócios. Assim éramos, assim somos.

Ao mesmo tempo, Guttmann percebeu a diferença entre os sócios e os dirigentes. Nesses tempos era ainda muito diferente a percepção e a importância que os adeptos e principalmente os dirigentes davam à acção dos treinadores. Essa aliás foi uma das lutas constantes, transversais a toda a carreira de Béla Guttmann. Ele teria de lutar constantemente e por vezes de forma dura - mesmo até ao ponto da rotura - pelo reconhecimento da dignidade e do valor dos treinadores como agentes fundamentais do futebol.

Outra batalha pessoal foi a luta pela devida remuneração da sua actividade, algo que ele aprendeu a não transigir desde o tempo traumático em que viveu e trabalhou nos EUA, onde conheceu as agruras trazidas pelo crash bolsista de 1929. Nessa dia negro, Guttmann perdeu tudo e viu colegas e amigos voltarem-lhe as costas. "Tudo tens, tudo vales; nada tens, nada vales". Guttmann conhecia muito bem a fragilidade da glória, efémera pela sua natureza, ditada pela natureza humana e a volatilidade dos sócios e dirigentes.

Quando Béla Guttmann chegou a Lisboa, o nosso Clube sabia que contratava treinador ganhador com grandes conhecimentos de futebol e também um homem notável de vivências extraordinárias. No entanto, talvez ninguém terá tido consciência que ali estava o homem que iria mudar para sempre a História do nosso Clube. Tempos de lenda, irrepetíveis, de grandes conquistas e carinhosas memórias. Guttmann merece o carinho eterno e a memória de todos os Benfiquistas.




Como todos os Clubes e homens grandes, também à volta do Benfica e de Guttman se gerou a inveja e o despeito. Ainda hoje esse ruído invejoso persiste, algo com que não podemos nem devemos colaborar. Esqueçam. Não colaborem nisso. Existirão sempre anti-Benfiquistas ou Benfiquistos que procurarão explorar pseudo-maldições apenas com o objectivo de atacar o clube que odeiam e invejam.



Béla Guttmann amava o Benfica.


Muitos anos depois de sair do Benfica, já radicado em Viena onde viria a falecer, um jornalista Português foi encontra-lo com um emblema de diamantes do Benfica na sua lapela. Guttmann disse que o usava sempre, que guardava o nosso Clube no coração com carinho e reconhecimento. E se não há amores imaculados, as espinhas que ele sentiu no percurso que fez no Glorioso nunca ensombraram o seu carinho e agradecimento ao Clube que mais alto soube levar os seus ensinamentos e que foi parte fundamental da sua lenda.

Hoje e sempre, Béla Guttmann será lembrado como um dos grandes da História do Futebol e o seu nome estará sempre ligado ao nome Glorioso do Sport Lisboa e Benfica. E isso nos envaidece.





Obrigado Mister!










Alexandre1976


alfredo

a faixa que o sr. guttman tem posta na ultima foto, é a do meu avatar...

RedVC

#760
-209-
Magaga, Holandês Voador e Calções Limpinhos.


Dia 31 de Outubro de 1973. Estádio Camp Nou, Barcelona.

Dois génios do Futebol posam para uma foto histórica.



De um lado Eusébio, celebrizado como o Pantera Negra mas também conhecido por Magagaga (em landim, o "supersónico") no início da sua carreira.

Do outro, Johan Cruijff, alcunhado de El Flaco, O Magrinho ou ainda de Holandês Voador (a minha preferida). Dois jogadores geniais, dois supersónicos do futebol.

Envergando uma camisola laranja com um símbolo alusivo ao nosso planeta, nesse dia Eusébio e Cruijff integraram uma selecção da Europa que disputou um jogo contra uma Selecção da América do Sul. O jogo fez parte das celebrações do 1º Dia Mundial do Futebol, evento de beneficência promovido pela FIFA.

A FIFA planeava que esta fosse a primeira de muitas edições mas a iniciativa viria a ter pouco sucesso e acabou abandonada. Integravam o Comité de honra e organizador, entre outros: o inglês Stanley Rouss (presidente da FIFA), o ditador espanhol Francisco Franco e o futuro rei de Espanha, Juan Carlos. O Comité integrava ainda muitas personalidades Catalãs da época.

Para este jogo, a FIFA nomeou Lázló Kubala para o cargo de seleccionador da equipa da Europa. Kubala, um outro génio do futebol, estava já retirado sendo nessa altura seleccionador nacional da Espanha (ver -204- Pesadelos de Berna). Como seleccionadores da equipa da América do Sul a FIFA nomeou o Brasileiro Mário Zagalo e o Argentino Omar Sivori, outros dois antigos grandes jogadores, e que eram nessa altura seleccionadores nacionais do Brasil e Argentina, respectivamente.



Fonte: Delcampe e La Vanguardia




Boletim oficial do FC Barcelona de Outubro de 1973 publicado já depois do evento realizado



Como depois se tornou hábito neste tipo de eventos, a organização procurou garantir a presença de algumas das grandes estrelas da época e jogadores jovens promissores. Procurou também garantir a presença do maior número possível de países tentando não comprometer o interesse do público. Infelizmente, pelo que rezam as crónicas, apenas cerca de 25.000 pessoas compareceram, facto que face ao gigantismo do Camp Nou tornou algo desolador o espectáculo.


A equipa da Europa



A Selecção da Europa que integrou Eusébio e Néné. Entre Eusébio e Keita estava o Húngaro Bene que nesta foto se encontra tapado.



As maiores figuras do evento foram notoriamente Eusébio e Cruijff, estrelas de primeira grandeza desse tempo. Eusébio estava já numa fase madura da sua prestigiada carreira, enquanto o Holandês estava lançado para uma carreira notável que duraria mais alguns anos no FC Barcelona e na Selecção da Holanda. Cruijff gozava já de um estatuto que lhe garantiu ser nomeado capitão da equipa Europeia. Curiosamente três dias antes o Holandês tinha-se estreado com a camisola blaugrana. E logo com dois golos.




Na equipa da Europa destaque ainda para as presenças do italiano Fachetti, do inglês Bobby Moore, dos espanhóis Asensi, Pirri, do Áustriaco Jara e do francês Keita que mais tarde veio a jogar no SCP embora já estivesse numa fase descendente. Chegou ainda a estar prevista a participação do Inglês Bobby Moore viu-se impedido porque os aeroportos de Londres estavam fechados. Já no caso do italiano Sandro Mazzola, dos Alemães Netzer, Beckenbauer e Gerd Muller, todos terão optado por não aparecer.

Destaque igualmente para a presença do nosso Nené que era uma estrela em ascensão no futebol Europeu e que na altura jogava no Benfica a extremo direito. Nené viria a substituir Eusébio, jogando toda a 2ª parte.



Nené na Selecção da Europa em 1973



A equipa da América do Sul


Na Selecção da América do Sul, vestida de branco, destaque para o peruano Cubillas que veio a jogar no FCP, para o Chileno Sotil que jogava no FC Barcelona e para os Brasileiros Paulo César e Rivelino.



A selecção da América do Sul que contou com os craques Rivelino, Paulo César, Sotil e Cubillas.



Arbitrado pelo italiano Angonese, o jogo foi transmitido pela TVE para Espanha e para diversos outros países entre os quais Portugal, por via da RTP1.



Fonte: DL



O jogo foi agradável em particular na sua 1ª parte. Um resumo do jogo pode ser visto no youtube:






Colagem de títulos. Fonte: La Vanguardia



O jogo começou em bom ritmo e animou ainda mais depois do primeiro golo marcado pelo Chileno Hugo Sotil após uma bela jogada à linha do Brasileiro Paulo César. Depois a partida seria no geral agradável, jogada em ritmo brando e recheada de bons momentos. Marcaram-se um total de 8 golos, registando-se no final um empate a 4 golos, resultado que premiou o pouco público que acorreu nessa noite ao Camp Nou.

O grande destaque da noite acabaria por ser o segundo golo da partida, marcado por Eusébio depois de um cruzamento magistral do capitão Johan Cruijff. Destaque pelos interveniente e também pela sua espectacularidade pois Eusébio correspondeu com um magnífico salto de peixe e uma cabeçada fulgurante levando a bola a anichar-se no fundo da baliza do Argentino Santoro. Golo de Eusébio a centro de Cruijff! Um golo de homenagem ao Futebol, eles que foram dos seus mais ilustres praticantes de sempre!



Quatro momentos do golo de Eusébio, marcado a corresponder a um centro de Johan Cruijff.




Outros ângulos do grande golo de Eusébio.



Foram oito golos todos diferentes e todos de belo efeito. Uma bonita homenagem ao futebol. Uma prenda para os poucos espectadores que se deslocaram para ver este jogo.



Os oito golos da partida.



Foi um jogo agradável principalmente na primeira parte, antes de se iniciarem as substituições. No final, como alguém tinha de vencer, a partida terminaria com a marcação de pontapés da marca de grande penalidade. A equipa da América foi mais eficaz, concretizando 3 penalidades (Borja, Morena e Caszely) contra apenas 2 da equipa da Europa (Odermath e Fachetti).

Já nas zonas dos croquetes, foram muitas as manifestações de regozijo pelo evento e pelo jogo por parte das diversas grandes figuras presentes como Stanley Rouss, presidente da FIFA e o ex-jogador e génio do futebol, Ferenc Púskas,



Ecos da partida. Fonte: Mundo desportivo.


Já Eusébio e Cruijff, como dizia o Mundo Deportivo, pareciam inseparáveis no convívio pós-jogo.



A Pantera Magaga e o Holandês Voador. Montagem de recortes. Fonte: Mundo Deportivo




Nené: elegante, letal... e com os calções limpinhos


Nené jogou durante a segunda parte, período em que o jogo decresceu de qualidade e interesse. Também não foi muito feliz quando no final falhou umas das grandes penalidades. Mas naquela noite Nené terá guardado a satisfação de participar numa festa prestigiante em que conviveu com muitos craques.

Nené, por opção própria nunca quis jogar fora do Benfica. Foram 20 anos de excelente carreira, sempre de Águia ao peito e de muito trabalho, talento, dedicação e amor ao Benfica. Ao que parece Nené chegou a receber um convite do Real Madrid mas recusou argumentando que depois de conseguir o mais difícil não ia trocar a titularidade do Benfica por nada. E se essa decisão lhe terá custado mais visibilidade europeia e provavelmente mais dinheiro, também é certo que sem isso talvez nunca se viesse a tornar um dos mais distintos e notáveis jogadores de toda a História do Sport Lisboa e Benfica.




Tamagnini Manuel Gomes Baptista Nené nasceu em Leça da Palmeira em 20 de Novembro de 1949. Filho de Tamagnini, um antigo jogador do Lusitano de Vila Real de Santo António, a família radicou-se na Beira, Moçambique ainda nos tenros anos de Tamagnini filho. Por lá se iniciou no futebol tendo-se destacado nas camadas juvenis do Ferroviário da Beira.



Os primeiros passos do futebolista Nené. Na quipá do Benfica Nené é o segundo em baixo a contar da direita.



Primo direito de Cavém, terá sido esse parentesco o elemento chave que o levou ao Clube do seu coração. Por indicação do primo aos dirigentes Benfiquista Nené foi mandado vir da Beira para treinar no Benfica. Chegou à Luz em 1967, e apesar dos tenros 17 anos, à volta do seu nome existiam expectativas elevadas depois das exibições que tinha protagonizado na Beira. Os dirigentes moçambicanos quiseram dificultar a transferência mas um lapso burocrático acabou por os tramar e facilitar a vida a Nené.

Nos seus primeiros tempos na Luz, Nené foi orientado por Ângelo Martins, um dedicado e competente formador de grandes craques da década de 70. Nené jogou dois anos nas camadas jovens, ao lado de outros jogadores promissores como por exemplo Humberto Coelho, obtendo sempre grande destaque.

A entrada na equipa principal foi o passo seguinte, natural e bem-sucedido. Fernando Cabrita, Fernando Riera e Otto Glória, todos apostaram nele embora ainda a espaços pois a competição era muita e boa. Seria no entanto com o duro Inglês Jimmy Hagan que Nené obteve a plena explosão e reconhecimento do seu futebol vertiginoso e com grande técnica. Hagan colocou-o na extrema-direita dando-lhe a titularidade na sua máquina de futebol.



Alguns dos mais deslumbrantes planteis Benfiquistas em que Nené esteve integrado. Nené foi orientado por alguns dos mais bem-sucedidos treinadores da nossa História.



Nessa sua primeira etapa de profissional na Luz havia convicção de que estava encontrado o sucessor de José Augusto. Infelizmente para o Benfica aquele sector ofensivo de sonho com Nené, Vitor Baptista, Eusébio, Artur Jorge, Jordão e Simões duraria poucos anos. Rapidamente as necessidades da equipa forçariam a passagem de Nené para o centro do ataque Benfiquista.

E aí viu-se um outro Nené. Bastas vezes foi incompreendido, muitas vezes assobiado. Não ia ao choque, não era dado a correrias, não suava a camisola e pasme-se, acabava sempre os jogos com os calções limpinhos! Haja paciência... Nené mais tarde declararia

"Se não os sujava era porque achava que não era preciso. Mas muito mais injusto que isso foi a ideia que se criou de que era um jogador pouco lutador."


Pois eu ainda vi Nené jogar. Eu vi e adorava a sua inteligência, fineza, a sua classe, a sua capacidade goleadora quase infalível.




E Nené raramente falhava. Nos momentos mais difíceis o que era natural acontecer era mais tarde ou mais cedo ouvir naqueles relatos: "Golo do Benfica! Golo de Nené!"
Calções limpos? Sempre! Golos? Quase sempre! Nené era sinónimo de golos e de inteligência, de saber onde e quando colocar o melhor do seu saber e esforço. Classe. De todos os que depois se seguiram talvez o estilo de Jonas seja o que mais se aproxime do que mostrou o nosso querido Assassino Silencioso ou Sr. Calções Limpinhos. Do grande Tamagninin Nené. Classe.




O Clube e os seus adeptos souberam retribuir com carinho o que Nené sempre fez por merecer. Nené é uma lenda do nosso Clube.



Obrigado Campeão! Bem-haja sempre o grande Tamagnini Nené!



Durante 7 temporadas de 1968-1969 até 1974-1975, Eusébio e Nené foram colegas de equipa, contribuindo com o brilho do seu futebol para uma galáxia de extraordinários futebolísticos que tantos e tantos títulos deram ao nosso Clube. Foi um privilégio para aqueles que viram e um lamento para os que partiram cedo demais ou como é o meu caso, para aqueles que chegaram depois.



Pantera Magaga e o Sr. Calções Limpinhos. Duas lendas do Benfica.


Eusébio sempre foi respeitado e admirado pelos seus colegas e adversários no campo. Principalmente os adversários que durante e após as suas carreiras sempre votaram profunda amizade ao cavalheiro do Futebol que foi o nosso Eusébio. Cruijff não foi excepção, antes pelo contrário.

Hoje temos dezenas de fotos de convívio com os seus pares ou seja com os maiores jogadores do Futebol de sempre. Foram muitas as ocasiões em que Eusébio e Cruijff conviveram alegres, ainda na força da vida e na partilha do passado e presente, dando-nos o melhor exemplo do que deve ser o futebol dentro e fora do campo.

De um ponto de vista puramente desportivo, esquecendo o mundo dos dinheiros, contratações e rivalidades tão infestante do Futebol, que lindo teria sido se pudéssemos ter visto mais jogos com Cruijff e Eusébio na mesma equipa. Foram dois jogadores que deslumbraram todos os que amam o futebol dentro das 4 linhas, aquele que apenas contempla o futebol jogado com bola. Foram inesquecíveis.

Sem raiva mas com prazer, com arte e sem rancor, com desportivismo e sem vigarice, com paixão pelo jogo e sem ódio pelo adversário. Esses dois jogadores de tão diferentes origens familiares e contextos sociais, foram jogadores da mais fina flor que o futebol alguma vez viu. Foram homens que se estimaram dentro e fora dos campos, em diversas ocasiões, sempre com a amizade, respeito e admiração mútua. Como grandes campeões, como grandes homens.

Partiram demasiado cedo. Deixaram a dor profunda de todos os que os amaram. Todos os que não os esquecem. Deixaram a mensagem que perdura, que anima, que deu o exemplo e o orgulho a todos os que amam o desporto e o futebol. Porque dos rancorosos e invejosos não rezará a história.



Entre os seus pares.


Viva Nené, viva Johan Cruijff, viva Eusébio da Silva Ferreira, viva o Futebol!




O Sr. Calções Limpinhos, o Holandês Voador e a Pantera Magaga. Uma colagem gráfica de três lendas do futebol usando a cor dos campeões.






Petrov_Carmovich

Citação de: RedVC em 01 de Abril de 2018, 09:25
-208-
Laranja vintage


Domingo, dia 5 de Abril de 1936. Enschede, Holanda.



"A equipa campeã do Sportclub Enschede". Foto da equipa de futebol de 1935-1936. Fonte: www.gahetna.nl



Nesse dia a equipa de futebol do Sportclub Enschede (SCE) que equipava com camisolas negras e calções brancos, sagrou-se campeã regional do Distrito Leste da Holanda. O treinador desta equipa era um Húngaro de 37 anos chamado Béla Guttmann.

Béla Guttmann estava a iniciar a sua carreira internacional de treinador. Poucos anos antes tinha iniciado a sua carreia ao aceitar o cargo de jogador-treinador do Hakoah de Viena, o clube onde mais se destacou enquanto jogador. Em meados de 1935 Guttmann aceitou o convite dos Holandeses e assumiu a direcção técnica do SC Enschede.



Béla Guttmann com 37 anos, numa fotografia publicada em 1936 num jornal Holandês. Fonte: https://www.delpher.nl




A notícia integral do dia em que o SC Enschede se tornou campeão regional. Fonte: https://www.delpher.nl



Os dirigentes do SCE concretizaram a contratação de Béla Guttman depois de uma sugestão que lhes foi feita pelo grande treinador e mestre do Futebol Austríaco Hugo Meisl. Até essa altura os Holandeses tinham uma experiência bem-sucedida com treinadores Ingleses mas nesse ano decidiram experimentar uma outra escolar e daí o contacto que estabeleceram com Hugo Meisl.

Guttmann trataria de aproveitar bem essa oportunidade mas ficaria apenas mais uma época na Holanda. Começava aí a seguir a uma regra de ouro, uma opção que tornaria quase uma constante na sua carreira: não permanecer mais do que duas temporadas no mesmo clube. O Benfica seria uma excepção ditada pelo coração mas também pela razão.


A Holanda futebolística nos anos 30


Localizada no leste da Holanda, a 4 km da fronteira com a Alemanha, a cidade de Enschede tem hoje cerca de 160 mil habitantes. Em 1936 a cidade tinha dois pequenos clubes de futebol, o SC Enschede (com as cores preto e branco) e o SV De Enschedese Boys (com as cores verde e branco).



Enschede, antiga e actual. A cidade está localizada no leste da Holanda perto da fronteira Alemã. Fonte: wikipedia e Delcampe.



Fundado em 1 de Junho de 1910, o Sportclub Enschede formou-se a partir da união de dois clubes Hercules (1898) e Phenix (1903). Os dois clubes decidiram formar um novo clube que pudesse a ter ambições nacionais e que pudesse competir com os grandes clubes do oeste do país (Ajax a Feijenoord, entre outros). Seria Bernard Vos, então o então presidente do SCE, que instituiria o lema do Clube: "Alcançar mais não é uma questão de ser capaz, mas uma questão de querer".

Em 1926, o SC Enschede conseguiu o seu único título nacional Holandês e logo de forma invicta. Nesse tempo, o modelo competitivo Holandês previa a disputa de 5 ligas regionais, cujos campeões depois competiam entre eles para definir o campeão nacional. No entanto e até 1954, época em que foi instituído o profissionalismo no futebol Holandês, o SC Enschede conquistou apenas três títulos de campeão regional da zona Leste: 1932, 1936 e 1943.

O título regional de 1936 foi justamente o conquistado por Béla Guttmann enquanto treinador do SCE. A competição nacional desse ano seria disputada pelo Feijenoord, FC Groningern, SC Enschede, Ajax e NAC. Seria o Feijenoord a sagrar-se campeão nacional da Holanda 1935-1936.



Os Clubes Holandeses competidores da fase final de atribuição do título de Campeão Nacional de Futebol na Holanda em 1935-1936.



Em 1965, o SC Enschede estava fragilizado por dívidas e por isso viu-se forçado pelo seu Município a aceitar uma fusão com os rivais do SV De Enschedese Boys. Da união dos dois clubes formou-se o FC Twente (cor vermelha). Ainda assim, parte do SCE conseguiu resistir e assegurar a continuidade do clube, mantendo as mesmas cores e símbolos e competindo ainda hoje nas ligas amadoras de futebol da Holanda. O FC Twente veio a vingar como clube profissional à escala nacional e conseguiu mesmo ser campeão Holandês em 2009-2010, numa época em que Luís Suárez foi o melhor goleador do campeonato usando a camisola do Ajax...






Um documento único


Um aspecto interessante desta aventura Holandesa de Béla Guttman é que existe um filme onde podemos ver uma parte significativa dessa temporada de 1935-1936. O registo deverá ter sido feito por elementos do próprio SC Enschede pois regista vários jogos no seu campo. Mais importante ainda é que no filme podemos identificar Béla Guttmann em pelo menos dois momentos. Se alguém perceber Holandês pode sempre complementar...




E para os que não quiserem ver o filme, ficam aqui capturas de imagem de alguns momentos interessantes.

A primeira parte do filme refere-se à conquista do título regional do distrito Leste da Holanda, captando o jogo decisivo desse campeonato que foi o dérbi da cidade entre o SC Enschede e o SV De Enschedese Boys.






Depois, no filme fora também registados alguns dos jogos da competição à escala nacional que, como atrás se disse, seria vencida pelo Feijenoord de Roterdão.







O Futebol segundo Guttmann


Para nós Benfiquistas, a Holanda futebolística dos anos 30 parece um universo que embora pitoresca parece distante e com pouco interesse. No entanto, há nele alguns detalhes curiosos para se entender melhor o trajecto de Béla Guttmann. É sabido que Guttman esteve exposto a muitas e bem diversas realidades futebolísticas e sociais durante a sua carreira. Ao longo dessas décadas, dirigiu e enfrentou clubes grandes e pequenos em realidades competitivas diversas na América do Norte, América Latina, Europa Central e Europa Latina, experiências que enriqueceram como homem e como profissional.

A Holanda, mesmo sendo uma etapa breve, foi a primeira e por isso importante para que Guttmann começasse desde logo a definir-se como um treinador ganhador, capaz de passar as suas ideias aos jogadores, tornando-os mais competitivos e ganhadores.

E Guttmann não falhou. Nesse campeonato regional deixou impressa a imagem de ganhador, orientando uma equipa concentrada, com vertigem ofensiva e posse de bola orientada para um jogo rectilíneo para a baliza. A obsessão pela busca do remate e da procura uma concretização eficaz foi algo que impôs às suas equipas. E os números das suas equipas são elucidativos acerca dessa obsessão. Mais tarde, o Benfica bicampeão europeu seria a sua criação mais perfeita mas antes disso houve décadas de caminhos de pedras em que refinou a sua visão e os seus métodos.

Lendo alguma imprensa Holandesa da época, confirma-se que os métodos e personalidade de Guttmann eram já muito do que conhecemos, e que os mesmos foram entendidos e admirados pelos adeptos.





● O segredo do Sportclub Enschede para a conquista do campeonato foi a sua grande unidade e força de vontade colectiva.

● Apesar de um começo extremamente assustador, após algumas partidas a equipe do SCE conseguiu superar esse atraso inicial com uma vontade de ferro, através da perseverança até o limite.

● A nomeação do Sr. Guttmann, sem dúvida, contribuiu muito para o sucesso desta temporada. O novo treinador entregou-se à sua tarefa com coração e alma e fez todo o possível para conseguir algo para o SCE.

● Pedimos então ao treinador do Sportclub, que nos explicasse porque a extraordinária produtividade ofensiva do SCE. A resposta foi que como treinador fez todo o possível para dar a aprender as técnicas e habilidades de remate. Ele prestou especial atenção à necessidade de rematar com os dois pés. Rematar assim que houver possibilidade para isso.

● Obtivemos ainda uma explicação detalhada sobre o melhor método de jogo. No passado, de acordo com Guttmann, as pessoas prestaram muita atenção ao futebol bom e gracioso mas na verdade o objectivo final do jogo de futebol é fazer golos. Por isso toda a atenção se deve concentrar nesse aspecto.

● Basta olhar para a equipa do SCE, que apesar de não jogar um jogo de combinação muito sofisticado de passes curtos, ainda assim encontra sempre o caminho mais rápido para a baliza. O futebol moderno exige velocidade. O SCE tem alas excelentes e um trio habilidoso de ataque. O objectivo da equipa terá de ser sempre ultrapassar a defesa do adversário, usando pra isso um jogo rápido e incisivo. Da direita para a esquerda, em frente à baliza, a ideia é rematar. Veja-se os números de golos obtidos para perceber isso.

● Graças à sua influência sobre os jogadores, o treinador Guttmann conseguiu incitá-los ao maior entusiasmo...

● Com 38 anos de idade, o actual treinador de Enschede é um homem muito activo e que possui uma grande capacidade de persuasão. Não é de admirar que ele conseguisse influenciar os jogadores de uma maneira tão admirável.

● Guttman foi de opinião que a conquista do campeonato foi alcançada pela grande homogeneidade na equipe e no espírito proeminente. Todos se deram por inteiro, os jogadores interagiram uns com os outros como amigos. Os mais velhos exerceram uma boa influência sobre os jogadores mais jovens. Todos foram inspirados pela vontade de vencer.


E depois vejam como continua o artigo:

● O lema da equipa do SCE é sempre "Um para todos e todos para o nosso clube", e o Sr. Guttmann decidiu cuidar dele...


Curioso, não é?

Guttmann estava destinado a treinar o Glorioso.

A Mística... Ao longo da sua carreira, Guttmann treinou e enfrentou diversos Clubes com adeptos fervorosos e com filosofia ganhadora mas ficaria genuinamente impressionado pela Mística que veio encontrar no nosso Clube. Vindo de fora, Guttman soube perceber e aproveitar de forma magistral essa Mística e a qualidade da equipa.

Curiosamente Guttmann chegou a Portugal para orientar o FCP, mas desde logo percebeu o potencial do Benfica. Na sua cabeça deve ter desde logo percebido onde estaria o cavalo ganhador.

De facto, quando chegou a Portugal para treinar o FCP, Guttmann deu nota de que conhecia a equipa do Benfica, a quem reconhecia qualidade. No ano anterior, altura em que treinava o São Paulo FC, Guttmann tinha visto o Benfica jogar no Brasil. Chegando a Portugal, percebeu o potencial daqueles jogadores e do Clube. Não admira que tenha prontamente aceitado o convite que recebeu – ao que parece da boca de Gastão Silva - no Verão de 1959 quando estava de regresso a Viena. Para trás tinha ficado o FCP, agora era o tempo do Benfica.

E foi no nosso Clube que Guttmann se elevou como nunca se tinha elevado. Foi aqui que percebeu melhor a Mística única do Benfica. Única no Mundo, incomparável, baseada no amor incondicional dos seus sócios. Assim éramos, assim somos.

Ao mesmo tempo, Guttmann percebeu a diferença entre os sócios e os dirigentes. Nesses tempos era ainda muito diferente a percepção e a importância que os adeptos e principalmente os dirigentes davam à acção dos treinadores. Essa aliás foi uma das lutas constantes, transversais a toda a carreira de Béla Guttmann. Ele teria de lutar constantemente e por vezes de forma dura - mesmo até ao ponto da rotura - pelo reconhecimento da dignidade e do valor dos treinadores como agentes fundamentais do futebol.

Outra batalha pessoal foi a luta pela devida remuneração da sua actividade, algo que ele aprendeu a não transigir desde o tempo traumático em que viveu e trabalhou nos EUA, onde conheceu as agruras trazidas pelo crash bolsista de 1929. Nessa dia negro, Guttmann perdeu tudo e viu colegas e amigos voltarem-lhe as costas. "Tudo tens, tudo vales; nada tens, nada vales". Guttmann conhecia muito bem a fragilidade da glória, efémera pela sua natureza, ditada pela natureza humana e a volatilidade dos sócios e dirigentes.

Quando Béla Guttmann chegou a Lisboa, o nosso Clube sabia que contratava treinador ganhador com grandes conhecimentos de futebol e também um homem notável de vivências extraordinárias. No entanto, talvez ninguém terá tido consciência que ali estava o homem que iria mudar para sempre a História do nosso Clube. Tempos de lenda, irrepetíveis, de grandes conquistas e carinhosas memórias. Guttmann merece o carinho eterno e a memória de todos os Benfiquistas.




Como todos os Clubes e homens grandes, também à volta do Benfica e de Guttman se gerou a inveja e o despeito. Ainda hoje esse ruído invejoso persiste, algo com que não podemos nem devemos colaborar. Esqueçam. Não colaborem nisso. Existirão sempre anti-Benfiquistas ou Benfiquistos que procurarão explorar pseudo-maldições apenas com o objectivo de atacar o clube que odeiam e invejam.



Béla Guttmann amava o Benfica.


Muitos anos depois de sair do Benfica, já radicado em Viena onde viria a falecer, um jornalista Português foi encontra-lo com um emblema de diamantes do Benfica na sua lapela. Guttmann disse que o usava sempre, que guardava o nosso Clube no coração com carinho e reconhecimento. E se não há amores imaculados, as espinhas que ele sentiu no percurso que fez no Glorioso nunca ensombraram o seu carinho e agradecimento ao Clube que mais alto soube levar os seus ensinamentos e que foi parte fundamental da sua lenda.

Hoje e sempre, Béla Guttmann será lembrado como um dos grandes da História do Futebol e o seu nome estará sempre ligado ao nome Glorioso do Sport Lisboa e Benfica. E isso nos envaidece.





Obrigado Mister!

Fosse eu presidente do Benfica em 1962, eu aceitava o pedido de aumento do salário...quem sabe se não tínhamos pelo menos ficado com mais dois títulos europeus em 1963 e em 1965. Não me acredito que o aumento fosse assim tão péssimo para o clube, que com mais conquistas iria de certeza encher mais os cofres do Benfica. Enfim, o que poderia ter sido...

RedVC

Citação de: Petrov_Carmovich em 07 de Abril de 2018, 11:14
Citação de: RedVC em 01 de Abril de 2018, 09:25
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Laranja vintage


Domingo, dia 5 de Abril de 1936. Enschede, Holanda.



"A equipa campeã do Sportclub Enschede". Foto da equipa de futebol de 1935-1936. Fonte: www.gahetna.nl



Nesse dia a equipa de futebol do Sportclub Enschede (SCE) que equipava com camisolas negras e calções brancos, sagrou-se campeã regional do Distrito Leste da Holanda. O treinador desta equipa era um Húngaro de 37 anos chamado Béla Guttmann.

Béla Guttmann estava a iniciar a sua carreira internacional de treinador. Poucos anos antes tinha iniciado a sua carreia ao aceitar o cargo de jogador-treinador do Hakoah de Viena, o clube onde mais se destacou enquanto jogador. Em meados de 1935 Guttmann aceitou o convite dos Holandeses e assumiu a direcção técnica do SC Enschede.



Béla Guttmann com 37 anos, numa fotografia publicada em 1936 num jornal Holandês. Fonte: https://www.delpher.nl




A notícia integral do dia em que o SC Enschede se tornou campeão regional. Fonte: https://www.delpher.nl



Os dirigentes do SCE concretizaram a contratação de Béla Guttman depois de uma sugestão que lhes foi feita pelo grande treinador e mestre do Futebol Austríaco Hugo Meisl. Até essa altura os Holandeses tinham uma experiência bem-sucedida com treinadores Ingleses mas nesse ano decidiram experimentar uma outra escolar e daí o contacto que estabeleceram com Hugo Meisl.

Guttmann trataria de aproveitar bem essa oportunidade mas ficaria apenas mais uma época na Holanda. Começava aí a seguir a uma regra de ouro, uma opção que tornaria quase uma constante na sua carreira: não permanecer mais do que duas temporadas no mesmo clube. O Benfica seria uma excepção ditada pelo coração mas também pela razão.


A Holanda futebolística nos anos 30


Localizada no leste da Holanda, a 4 km da fronteira com a Alemanha, a cidade de Enschede tem hoje cerca de 160 mil habitantes. Em 1936 a cidade tinha dois pequenos clubes de futebol, o SC Enschede (com as cores preto e branco) e o SV De Enschedese Boys (com as cores verde e branco).



Enschede, antiga e actual. A cidade está localizada no leste da Holanda perto da fronteira Alemã. Fonte: wikipedia e Delcampe.



Fundado em 1 de Junho de 1910, o Sportclub Enschede formou-se a partir da união de dois clubes Hercules (1898) e Phenix (1903). Os dois clubes decidiram formar um novo clube que pudesse a ter ambições nacionais e que pudesse competir com os grandes clubes do oeste do país (Ajax a Feijenoord, entre outros). Seria Bernard Vos, então o então presidente do SCE, que instituiria o lema do Clube: "Alcançar mais não é uma questão de ser capaz, mas uma questão de querer".

Em 1926, o SC Enschede conseguiu o seu único título nacional Holandês e logo de forma invicta. Nesse tempo, o modelo competitivo Holandês previa a disputa de 5 ligas regionais, cujos campeões depois competiam entre eles para definir o campeão nacional. No entanto e até 1954, época em que foi instituído o profissionalismo no futebol Holandês, o SC Enschede conquistou apenas três títulos de campeão regional da zona Leste: 1932, 1936 e 1943.

O título regional de 1936 foi justamente o conquistado por Béla Guttmann enquanto treinador do SCE. A competição nacional desse ano seria disputada pelo Feijenoord, FC Groningern, SC Enschede, Ajax e NAC. Seria o Feijenoord a sagrar-se campeão nacional da Holanda 1935-1936.



Os Clubes Holandeses competidores da fase final de atribuição do título de Campeão Nacional de Futebol na Holanda em 1935-1936.



Em 1965, o SC Enschede estava fragilizado por dívidas e por isso viu-se forçado pelo seu Município a aceitar uma fusão com os rivais do SV De Enschedese Boys. Da união dos dois clubes formou-se o FC Twente (cor vermelha). Ainda assim, parte do SCE conseguiu resistir e assegurar a continuidade do clube, mantendo as mesmas cores e símbolos e competindo ainda hoje nas ligas amadoras de futebol da Holanda. O FC Twente veio a vingar como clube profissional à escala nacional e conseguiu mesmo ser campeão Holandês em 2009-2010, numa época em que Luís Suárez foi o melhor goleador do campeonato usando a camisola do Ajax...






Um documento único


Um aspecto interessante desta aventura Holandesa de Béla Guttman é que existe um filme onde podemos ver uma parte significativa dessa temporada de 1935-1936. O registo deverá ter sido feito por elementos do próprio SC Enschede pois regista vários jogos no seu campo. Mais importante ainda é que no filme podemos identificar Béla Guttmann em pelo menos dois momentos. Se alguém perceber Holandês pode sempre complementar...




E para os que não quiserem ver o filme, ficam aqui capturas de imagem de alguns momentos interessantes.

A primeira parte do filme refere-se à conquista do título regional do distrito Leste da Holanda, captando o jogo decisivo desse campeonato que foi o dérbi da cidade entre o SC Enschede e o SV De Enschedese Boys.






Depois, no filme fora também registados alguns dos jogos da competição à escala nacional que, como atrás se disse, seria vencida pelo Feijenoord de Roterdão.







O Futebol segundo Guttmann


Para nós Benfiquistas, a Holanda futebolística dos anos 30 parece um universo que embora pitoresca parece distante e com pouco interesse. No entanto, há nele alguns detalhes curiosos para se entender melhor o trajecto de Béla Guttmann. É sabido que Guttman esteve exposto a muitas e bem diversas realidades futebolísticas e sociais durante a sua carreira. Ao longo dessas décadas, dirigiu e enfrentou clubes grandes e pequenos em realidades competitivas diversas na América do Norte, América Latina, Europa Central e Europa Latina, experiências que enriqueceram como homem e como profissional.

A Holanda, mesmo sendo uma etapa breve, foi a primeira e por isso importante para que Guttmann começasse desde logo a definir-se como um treinador ganhador, capaz de passar as suas ideias aos jogadores, tornando-os mais competitivos e ganhadores.

E Guttmann não falhou. Nesse campeonato regional deixou impressa a imagem de ganhador, orientando uma equipa concentrada, com vertigem ofensiva e posse de bola orientada para um jogo rectilíneo para a baliza. A obsessão pela busca do remate e da procura uma concretização eficaz foi algo que impôs às suas equipas. E os números das suas equipas são elucidativos acerca dessa obsessão. Mais tarde, o Benfica bicampeão europeu seria a sua criação mais perfeita mas antes disso houve décadas de caminhos de pedras em que refinou a sua visão e os seus métodos.

Lendo alguma imprensa Holandesa da época, confirma-se que os métodos e personalidade de Guttmann eram já muito do que conhecemos, e que os mesmos foram entendidos e admirados pelos adeptos.





● O segredo do Sportclub Enschede para a conquista do campeonato foi a sua grande unidade e força de vontade colectiva.

● Apesar de um começo extremamente assustador, após algumas partidas a equipe do SCE conseguiu superar esse atraso inicial com uma vontade de ferro, através da perseverança até o limite.

● A nomeação do Sr. Guttmann, sem dúvida, contribuiu muito para o sucesso desta temporada. O novo treinador entregou-se à sua tarefa com coração e alma e fez todo o possível para conseguir algo para o SCE.

● Pedimos então ao treinador do Sportclub, que nos explicasse porque a extraordinária produtividade ofensiva do SCE. A resposta foi que como treinador fez todo o possível para dar a aprender as técnicas e habilidades de remate. Ele prestou especial atenção à necessidade de rematar com os dois pés. Rematar assim que houver possibilidade para isso.

● Obtivemos ainda uma explicação detalhada sobre o melhor método de jogo. No passado, de acordo com Guttmann, as pessoas prestaram muita atenção ao futebol bom e gracioso mas na verdade o objectivo final do jogo de futebol é fazer golos. Por isso toda a atenção se deve concentrar nesse aspecto.

● Basta olhar para a equipa do SCE, que apesar de não jogar um jogo de combinação muito sofisticado de passes curtos, ainda assim encontra sempre o caminho mais rápido para a baliza. O futebol moderno exige velocidade. O SCE tem alas excelentes e um trio habilidoso de ataque. O objectivo da equipa terá de ser sempre ultrapassar a defesa do adversário, usando pra isso um jogo rápido e incisivo. Da direita para a esquerda, em frente à baliza, a ideia é rematar. Veja-se os números de golos obtidos para perceber isso.

● Graças à sua influência sobre os jogadores, o treinador Guttmann conseguiu incitá-los ao maior entusiasmo...

● Com 38 anos de idade, o actual treinador de Enschede é um homem muito activo e que possui uma grande capacidade de persuasão. Não é de admirar que ele conseguisse influenciar os jogadores de uma maneira tão admirável.

● Guttman foi de opinião que a conquista do campeonato foi alcançada pela grande homogeneidade na equipe e no espírito proeminente. Todos se deram por inteiro, os jogadores interagiram uns com os outros como amigos. Os mais velhos exerceram uma boa influência sobre os jogadores mais jovens. Todos foram inspirados pela vontade de vencer.


E depois vejam como continua o artigo:

● O lema da equipa do SCE é sempre "Um para todos e todos para o nosso clube", e o Sr. Guttmann decidiu cuidar dele...


Curioso, não é?

Guttmann estava destinado a treinar o Glorioso.

A Mística... Ao longo da sua carreira, Guttmann treinou e enfrentou diversos Clubes com adeptos fervorosos e com filosofia ganhadora mas ficaria genuinamente impressionado pela Mística que veio encontrar no nosso Clube. Vindo de fora, Guttman soube perceber e aproveitar de forma magistral essa Mística e a qualidade da equipa.

Curiosamente Guttmann chegou a Portugal para orientar o FCP, mas desde logo percebeu o potencial do Benfica. Na sua cabeça deve ter desde logo percebido onde estaria o cavalo ganhador.

De facto, quando chegou a Portugal para treinar o FCP, Guttmann deu nota de que conhecia a equipa do Benfica, a quem reconhecia qualidade. No ano anterior, altura em que treinava o São Paulo FC, Guttmann tinha visto o Benfica jogar no Brasil. Chegando a Portugal, percebeu o potencial daqueles jogadores e do Clube. Não admira que tenha prontamente aceitado o convite que recebeu – ao que parece da boca de Gastão Silva - no Verão de 1959 quando estava de regresso a Viena. Para trás tinha ficado o FCP, agora era o tempo do Benfica.

E foi no nosso Clube que Guttmann se elevou como nunca se tinha elevado. Foi aqui que percebeu melhor a Mística única do Benfica. Única no Mundo, incomparável, baseada no amor incondicional dos seus sócios. Assim éramos, assim somos.

Ao mesmo tempo, Guttmann percebeu a diferença entre os sócios e os dirigentes. Nesses tempos era ainda muito diferente a percepção e a importância que os adeptos e principalmente os dirigentes davam à acção dos treinadores. Essa aliás foi uma das lutas constantes, transversais a toda a carreira de Béla Guttmann. Ele teria de lutar constantemente e por vezes de forma dura - mesmo até ao ponto da rotura - pelo reconhecimento da dignidade e do valor dos treinadores como agentes fundamentais do futebol.

Outra batalha pessoal foi a luta pela devida remuneração da sua actividade, algo que ele aprendeu a não transigir desde o tempo traumático em que viveu e trabalhou nos EUA, onde conheceu as agruras trazidas pelo crash bolsista de 1929. Nessa dia negro, Guttmann perdeu tudo e viu colegas e amigos voltarem-lhe as costas. "Tudo tens, tudo vales; nada tens, nada vales". Guttmann conhecia muito bem a fragilidade da glória, efémera pela sua natureza, ditada pela natureza humana e a volatilidade dos sócios e dirigentes.

Quando Béla Guttmann chegou a Lisboa, o nosso Clube sabia que contratava treinador ganhador com grandes conhecimentos de futebol e também um homem notável de vivências extraordinárias. No entanto, talvez ninguém terá tido consciência que ali estava o homem que iria mudar para sempre a História do nosso Clube. Tempos de lenda, irrepetíveis, de grandes conquistas e carinhosas memórias. Guttmann merece o carinho eterno e a memória de todos os Benfiquistas.




Como todos os Clubes e homens grandes, também à volta do Benfica e de Guttman se gerou a inveja e o despeito. Ainda hoje esse ruído invejoso persiste, algo com que não podemos nem devemos colaborar. Esqueçam. Não colaborem nisso. Existirão sempre anti-Benfiquistas ou Benfiquistos que procurarão explorar pseudo-maldições apenas com o objectivo de atacar o clube que odeiam e invejam.



Béla Guttmann amava o Benfica.


Muitos anos depois de sair do Benfica, já radicado em Viena onde viria a falecer, um jornalista Português foi encontra-lo com um emblema de diamantes do Benfica na sua lapela. Guttmann disse que o usava sempre, que guardava o nosso Clube no coração com carinho e reconhecimento. E se não há amores imaculados, as espinhas que ele sentiu no percurso que fez no Glorioso nunca ensombraram o seu carinho e agradecimento ao Clube que mais alto soube levar os seus ensinamentos e que foi parte fundamental da sua lenda.

Hoje e sempre, Béla Guttmann será lembrado como um dos grandes da História do Futebol e o seu nome estará sempre ligado ao nome Glorioso do Sport Lisboa e Benfica. E isso nos envaidece.





Obrigado Mister!

Fosse eu presidente do Benfica em 1962, eu aceitava o pedido de aumento do salário...quem sabe se não tínhamos pelo menos ficado com mais dois títulos europeus em 1963 e em 1965. Não me acredito que o aumento fosse assim tão péssimo para o clube, que com mais conquistas iria de certeza encher mais os cofres do Benfica. Enfim, o que poderia ter sido...

É verdade. Béla Guttmann ficou desgostoso com alguns dirigentes nomeadamente uma atitude lamentável de lhe cobrarem a ida da esposa de Guttmann a Amesterdão (se não estou em erro). Não conhecendo detalhes parece-me uma situação que deixa cicatrizes.

Depois, havia a ideia de Guttmann de sair dos clubes sempre quando estava por cima, geralmente depois de dois anos. Para além disso Guttmann foi ganhar uma pequena fortuna para o Penarol que tinha uma grande equipa e aliás era campeão Sul Americano e vencedor da Taça Intercontinental. Guttmann foi bastante feli no Penarol embora tenha perdido para o Santos a Taça dos Libertadores de 1963.

Houve várias hipóteses para a substituição de Guttmann. À luz do que hoje sabemos Fernando Riera foi uma decisão infeliz. é certo que o Benfica jogou um futebol bonito mas ainda assim desprovido de um atrevimento vital para a conquista das grandes competições. O saber futebolístico, o calo da vida, a capacidade de gerir homens foram também outros pontos a desfavor de Riera. encostou Germano e não soube preparar a equipa para o embate com o Milão em Wembley onde devíamos ter sido tri-campeões Europeus. Com Guttmann estou certo que teríamos sido tri-campeões.

Foi pena que a escola Húngara não tenha sido mantida. Falou-se em Gusztáv Szebes, antigo selecionador da Hungria que era um homem á altura de Guttmann. Falouu-se em Giyorgy Orth, outro grande treinador e antigo companheiro de Guttmann. Foi pena

Mais tarde veio Elek Schwarz que perdeu a Taça na final de Milão em 1965 mas que até aí fez uma bela campanha. Foi um erro te-lo mandado embora e feito regressar Guttmann. A química era outra e Guttmann deveria ter sido preservado. Schwarz era um óptimo treinador e conhecia a equipa. Teríamos sido tetracampeões nacionais e provavelmente teríamos sido mais eficazes na Europa. A equipa estava a envelhecer e nunca se pode voltar atrás no passado.

Foi pena. Todos terão feito o seu melhor mas - e isto vale para os dias de hoje - não se pode nem se deve voltar ao passado. O Benfica tem de se fazer de renovação quando for mesmo necessário mudar.

Mesmo assim Guttmann e é nesse sentido que recupero partes da sua história profissional e pessoal, fica para sempre como o nome maior entre os treinadores da nossa História.




RedVC

100 Anos


9 de Abril de 1918 - 9 de Abril de 2018



Cumprem-se hoje 100 anos desde a data em que se deu a Batalha de La Lys.

Nessa batalha morreram milhares de bravos rapazes Portugueses enviados para combater numa terra estranha e num conflito que não lhes dizia respeito e que não lhes foi explicado.


Nessa batalha estiveram alguns dos nossos bravos pioneiros. Homens que honraram o manto sagrado.




Nesse e noutros dos funestos eventos desse período negro da Humanidade estiveram nomes ilustres do Benfiquismo.

Neste tópico tive já a honra de evocar os seus nomes e de dar os detalhes possíveis para homenagear os seus sacrifícios pela Pátria Amada.


-105- Águias na Guerra (parte I) (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II) (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III) (p.30)
-157- Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver" (p. 44)
-158- Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra. (p. 44)




Espero ainda no futuro voltar a evoca-los.


Não querendo nunca glorificar a Guerra, não querendo nunca centrar-me na indignidade dos que para lá os enviaram, o que interessa hoje é evocar os seus nomes.




Paz, Honra e Glória à memória destes grandes Homens. Que nunca sejam esquecidos!






E Pluribus Unum




RedVC

#764
-210-
Glorioso preto e branco

Esgar de dor e satisfação. Explosão da Mística. Golo!




Eusébio e Simões, 1969, fotografados por Eduardo Gageiro. Fonte: http://www.eduardogageiro.com/



Expressões sublimes, misto de dor e satisfação dos Gloriosos Eusébio e Simões captadas por um génio do preto e branco: Eduardo Gageiro.

É de Eduardo Gageiro, mestre da fotografia, bom Português, que hoje falaremos, fazendo notar que tal como os Gloriosos Roland de Oliveira e Nuno Ferrari, também ele expressou a sua Arte num acervo maravilhoso que retratou o tempo em que o Sport Lisboa e Benfica brilhou com um fulgor nunca visto. Mas lá iremos.



O Mestre. Foto de Rui Gageiro


Eduardo Gageiro nasceu em Sacavém no dia 16 de Fevereiro de 1935. E foi ali ao lado, na fábrica de loiças de Sacavém que teve o seu primeiro emprego, mas em breve a fotografia o reclamaria.

Ali, cirandando como paquete da fábrica, conviveu com artistas e artesãos, falando e aprendendo, enquanto trabalhava para ajudar a família. E foi ali, aos operários e as estruturas e divisões da fábrica que começou a fotografar aos 12 anos, usando uma Kodak Baby, máquina de plástico emprestada por um tio. E logo nesse ano o pequeno Eduardo teria uma fotografia sua publicada na primeira página no Diário de Notícias.



Fonte: Rapaz de Sacavém, fotógrafo do Mundo. Edição Camâra Mucicipal de Loures. http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf



Mas o caminho seria longo. Melhor do que ninguém, Eduardo Gageiro saberia captar as emoções de um povo, das gentes que labutavam pela sobrevivência, das suas dores, alegrias, religiosidades e misticismos. Portugal a preto e branco.




A sua primeira máquina à séria seria comprada quando tinha 15 anos na loja do Sr. Rego e de uma outra lenda da Fotografia, Amadeu Ferrari, pai do Glorioso Nuno Ferrari. Os grandes atraem os grandes. Fica aqui uma ligação com uma bela entrevista sobre esses tempos e os que viriam depois. Leiam que vale a pena: http://expresso.sapo.pt/cultura/2017-07-29-Eduardo-Gageiro-So-nao-vou--com-a-maquina-para-o-caixao#gs.cTUaY_c


Eduardo Gageiro iniciou a sua carreira de repórter fotográfico em 1957 no extinto Diário Ilustrado. Seguir-se-iam outras revistas relevantes da época tais como O Século Ilustrado, Eva, Almanaque, Match Magazine. Até ao 25 de Abril de 1974 registaria trabalhos fotográficos inesquecíveis, mas nesse sublime dia maior, dia em que a Liberdade saiu às ruas num amanhecer que ele e outros tão bem registaram; nesse dia Eduardo elevou-se à condição de imortal da Fotografia.





Cirandando entre militares e populares, fotografou muito e bem. Deixou-nos registos icónicos da maior mudança política e social da nossa História. Deu luz ao preto e branco, seguramente cores perfeitas para captar as cores da Liberdade.

Gentes, Artes, Revoluções, Personalidades, tudo mereceu a sua atenção, da sua Arte, do seu Saber. As três colagens que apresento foram feitas com fotos encontradas na internet, catalogadas como da autoria de Eduardo Gageiro. A sua colocação aqui tem apenas o propósito de ilustrar a minha admiração pelo grande fotógrafo. A sua colocação aqui não tem mais do que o interesse pela exaltação do génio, pelo agradecimento ao profissional e homem.







Mais tarde, Gageiro tornar-se-ia fotógrafo da Companhia Nacional de Bailado e da Presidência da República. Nos últimos anos venceu a luta contra uma doença terrível, revelando uma vez mais a tenacidade e a força interior que sempre o caracterizou por trás das camaras.

Não deixem de visitar o seu sítio oficial: http://www.eduardogageiro.com/



Benfica em modo Gageiro


Como atrás se disse, também no desporto, mesmo sendo uma área onde não se especializou, Eduardo Gageiro nos apresenta um acervo tremendo. Ficou célebre o seu trabalho nos dramáticos Jogos Olímpicos de Munique quando acompanhou o dramático desencadear de um mortífero ataque terrorista. Gageiro registaria o momento decisivo em que chegou o autocarro com os israelitas e os palestinianos. Os momentos antes da grande tragédia com o embarque nos helicópteros.Na época esse registo não chegou a revista internacionais por um acaso do destino as suas fotografias são hoje essenciais para contar essa história.



O dramático embarque dos reféns Israelitas. A tragédia em curso. Fonte: Rapaz de Sacavém, fotógrafo do Mundo. Edição Camâra Mucicipal de Loures. http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf



Mas curiosamente o seu primeiro trabalho internacional seria justamente no desporto. Eduardo Gageiro estreou-se em 1962, na cidade de Amesterdão, numa noite luminosa de Maio. Eduardo Gageiro esteve lá, fotografando o seu Clube do coração, registando algumas das mais belas fotografias do Sport Lisboa e Benfica, bicampeão Europeu



A gloriosa noite vermelha de Amesterdão captada pela câmara de Eduardo Gageiro. Fonte: Rapaz de Sacavém, fotógrafo do Mundo. Edição Camâra Mucicipal de Loures. http://www.cm-loures.pt/media/provisorio/pdf/Catalogo_Gageiro.pdf




Três anos depois, Eduardo Gageiro fotografou um outro célebre embate entre os dois colossos ibéricos, uma vez mais com a vitória a cair para o lado Benfiquista.




A grande noite de 24 de Fevereiro de 1965. O Estádio da Luz via uma vitória esmagadora do SLB sobre o Real Madrid por 5 golos. Dois deles assinados por Eusébio. Fonte: Largo dos Correios.




E depois a 2ª mão dessa inesquecível eliminatória



A famosa noite de Chamartin em de 17 Março de 1965 em que o Real Madrid apens ganhou por 2-1 não conseguindo reverter a copiosa derrota de 1-5 que sofreu no Estádio da Luz. Fonte: Largo dos Correios.






Ao longo da sua vida Gageiro registou ainda outras fotografias célebres com figuras do Benfica. Em particular Eusébio, como as maravilhosas fotos do dia do seu casamento com Flora. Fica aqui uma homenagem sentida e um agradecimento carinhoso ao enorme Eduardo Gageiro por tudo o que nos tem dado a ver e a sentir com os seus inigualáveis registos a preto e branco.




Obrigado Mestre. Vida (ainda) mais longa e Saúde.