Decifrando imagens do passado

alfredo

alguem me arranja fotos de jogos ou da equipa em equipamentos brancos que foram tirados entre 1955 e 1965, sff? RedVc ou Rodolfo?

Theroux

https://www.youtube.com/watch?v=v98DuwVw7vs&feature=youtu.be&t=2921

Ele chama-se Nené Leung.


2014
Spoiler

Diz que hoje tem 30 anos, mas o Nené esteve com o Benfica em Hong Kong em 1970, portanto o Sr. Leung teria 10 anos. Coloco aqui caso alguém tenha conhecimento de mais viagens a Hong Kong.

Mas qual é a probabilidade de existir mais que um "Nene Leung"?

RedVC

Citação de: alfredo em 31 de Março de 2017, 09:57
alguem me arranja fotos de jogos ou da equipa em equipamentos brancos que foram tirados entre 1955 e 1965, sff? RedVc ou Rodolfo?

Tenho pouca coisa e algumas até pode nem ser desse período. Aqui fica:

















alfredo

Citação de: RedVC em 31 de Março de 2017, 20:51
Citação de: alfredo em 31 de Março de 2017, 09:57
alguem me arranja fotos de jogos ou da equipa em equipamentos brancos que foram tirados entre 1955 e 1965, sff? RedVc ou Rodolfo?

Tenho pouca coisa e algumas até pode nem ser desse período. Aqui fica:

















Obrigado redvc.
A primeira é de 1962/63, as duas seguintes dos fins dos anos 50 e as outras duas à volta de 1967.

RedVC

#605
-147-
Capitães Latinos (Parte I)



Um dia para a História do SLB. Capitães Latinos: Jacinto Marques e Jean Swiatek, capitaãs do Sport Lisboa e Benfica e do Girondins des Bordeaux. Fonte: http://scapulaire.com/365/wp-content/uploads/2013/03/Swiatek-Coupe-latine-Benfica.jpg


Sobre o olhar do árbitro Italiano Bertoglio, os capitães Jacinto Marques (SLB) e Jean Swiatek (Girondins de Bordeaux) cumprimentam-se antecedendo um intenso jogo. Em disputa estava a Taça Latina de 1950. Seria preciso não uma mas duas finais. Uma longa, intensa e nobre luta, sob o maravilhoso palco do Estádio Nacional. Com os prolongamentos, atingiram-se uns espantosos e quase desumanos 226 minutos para se encontrar um vencedor. Venceria o Sport Lisboa e Benfica! Desde esse tempo o SLB passou a ser o único Clube Português a vencer a Taça Latina.







Tudo esteve por um fio em ambos os jogos. No primeiro jogo muitos espectadores já tinham saído do Estádio tendo de regressar depois de a 10 segundos do fim o pequeno Arsénio ter marcado o golo que empatava o encontro. O pequeno grande Arsénio, filho do Barreiro e conhecido pelos seus colegas como uma enciclopédia ambulante, marcou o golo mais importante da sua carreira. Tudo se decidiria no prolongamento.

Mas o prolongamento regulamentar não trouxe mais mudanças de marcador. Nessa época não estavam previstos os pontapés da marca de grande penalidade e por isso decidiu-se continuar até à marcação de um golo. Um golo dourado. Um golo de morte. Quem o marcaria?

E assim se jogou até ao minuto 146 do jogo em que o imortal Julinho na sequência de um canto marcou um golo pouco ortodoxo. De certa forma os jogadores de ambas as equipas acabaram por receber o apito final com um profundo suspiro de alívio. Vários jogadores colapsam um após o outro no relvado verde do Estádio Nacional. Por exemplo, Corona foi levado desmaiado para só acordar nos balneários debaixo do chuveiro. Jacinto Marques jogou uma boa parte do segundo jogo com um punho partido. O cansaço era geral mas a felicidade foi só para os Benfiquistas. Para os Franceses foi a desilusão e resignação.

Ambas as equipas mereciam aquela taça mas ela seria do Benfica. Num Estádio de linhas belas, clássicas, onde o jogo foi nobre e o esforço quase desumano, vencia o Benfica mas honra foi devida aos combatentes de ambos os lados. Glória aos vencedores. Respeito aos vencidos! Diria Ted Smith, o treinador Inglês do Benfica "Em 20 anos de carreira nunca vi semelhante jogo!"

Lembrando outro ângulo desta grande vitória vamos falar dos dois capitães que comandaram as equipas nestes dois jogos, mas não só. Falaremos ainda do capitão que não pode jogar e do capitão que se "arranjou" para receber a bela Taça da qual só existe um exemplar em Portugal e que pode ser admirado no Museu Cosme Damião:



A mais desejada. A Taça Latina de 1950. Fonte: Museu Cosme Damião.


O capitão ausente
 

Francisco Ferreira (1919-1986).
O grande capitão do SLB mas que não jogou qualquer dos dois jogos da grande final da Taça Latina de 1950.


Foi uma infelicidade pessoal mas Francisco Ferreira não participou em qualquer dos 3 jogos da competição. O grande capitão do Sport Lisboa e Benfica nessa época não era Jacinto Marques mas sim Francisco Ferreira. O grande Chico Ferreira podia ter sido o capitão que recebeu a Taça Latina mas Francisco Ferreira assim o não quis. Pelo bem da equipa. Lesionado no primeiro jogo, o grande capitão Benfiquista estava aparentemente recuperado. Teria sido ele a receber a Taça tal tantas e tantas vezes o fez.

   

Francisco Ferreira a receber a Taça de Portugal de 1949 das mãos do General Craveiro Lopes, presidente da Republica de Portugal. Erguendo a Taça ao céu para o público Benfiquista, o popular Chico Ferreira ganhava mais um plano para a imortalidade. No dia da Taça Latina o destino foi-lhe cruel. Não foi ele a receber a bela Taça.


Mas antes do jogo Chico Ferreira falou com Ted Smith e com a nobreza de personalidade dos grandes homens, o capitão pôs os interesses da equipa acima dos seus. Sentindo que fisicamente não estava na melhor da sua forma e que por isso não poderia dar à equipa o que ela precisava, abdicou dolorosamente. Qual teria sido o desfecho do jogo se Francisco Ferreira tivesse tomado outra decisão para o segundo jogo? Teríamos perdido o jogo? Nunca o saberemos.

Francisco Ferreira gozava de um enorme prestígio entre os Benfiquistas, ganho em longas e generosas batalhas de Águia ao peito. E esse prestígio explica que uns dias antes tenha viajado para a Corunha com o dirigente Francisco Retorta para espiar a SS Lazio que jogou nessa cidade contra o Atlético Madrid na preparação para a Taça Latina. As suas impressões apareceram no Diário de Lisboa no dia seguinte. Outros tempos...



Fonte: Diário de Lisboa 6-06-1950.


Nos dias dos jogos, Francisco Ferreira esteve ali ao lado dos companheiros, ali bem ao lado na linha final e dentro do relvado durante o período de intervalo que antecedeu o prolongamento no jogo decisivo. Com palavras de ânimo e de conquista. Dando expressão à nobreza do seu carácter e à ambição do seu Benfiquismo. Um capitão à Benfica!

 

Dois tempos que ilustram a ansiedade e companheirismo do Capitão Chico Ferreira junto dos seus colegas. Na linha final e ao lado de Arsénio que recupera forças para enfrentar o prolongamento no segundo jogo. Fonte: Cinemateca Portuguesa.


Francisco Ferreira nasceu em Guimarães a 23 de Agosto de 1919 mas cedo a sua família foi viver para o Porto. O seu pai era guarda do campo da Constituição e por isso o jovem Francisco Ferreira começou a jogar futebol nas camadas jovens do FCP. Ascendeu aos seniores e logo em 1936-1937, na época de estreia, sagrou-se campeão nacional. Francisco Ferreira cotou-se como a grande revelação da equipa, com participação em 13 dos 14 jogos dessa época. Mas, infelizmente para ele a esse destaque não correspondeu o reconhecimento salarial. Era parte da prata da casa e por isso quando pediu aumento de salário compatível com a sua importância recebeu apenas desprezo por parte dos dirigentes portistas. Desiludido, decidiu aceitar o convite do SLB. Quando os dirigentes portistas se aperceberam ainda tentaram acenar com dinheiro mas Francisco Ferreira só tinha uma palavra e essa tinha sido dada ao SL Benfica.

A sua contratação teve aliás parecenças com a que décadas mais tarde definiria a contratação de Eusébio. No caso de Francisco Ferreira, o homem chave foi o grande Benfiquista Ilídio Nogueira, antiga glória do hóquei em patins e hóquei em campo do nosso Clube. O processo foi tão complicado que obrigou mesmo esconder Francisco Ferreira numa Quinta em Valadares durante alguns dias. O SL Benfica acabaria por ter de pagar uma soma enorme (cerca de 13.500 escudo) para a época mas essa contratação valeria muito mais do que isso. Foi certamente uma das contratações mais felizes da nossa história. Ganhou-se um grande jogador e um grande Benfiquista.
Para Francisco Ferreira, essa mudança significou também a imortalidade no futebol Português. Ao longo das 14 épocas de Águia ao peito transformou-se numa referência do Benfiquismo.

Estreou-se como Capitão de equipa no dia 25-12-1939 num jogo particular frente ao Vitória de Guimarães. No entanto, apenas em 1-01-1945, num jogo particular contra o SC Vila Real, passaria a ser regularmente o Capitão da nossa primeira equipa. Teve a honra de suceder a Francisco Albino. Foi também Capitão da equipa nacional Portuguesa por 13 vezes. E foi um Capitão de excelência, capitão de carácter, pela sua qualidade quer como jogador quer como Homem.

Foi uma figura inesquecível e imensamente popular do nosso Clube tal como se demonstrou na digressão que o Clube fez a África em 1950. As multidões que vitoriaram a nossa comitiva gritavam SLB, SLB! e Chico Ferreira, Chico Ferreira! Nesse tempo era a imagem do Benfiquismo!

Esquerdino, embora não fosse dotado de uma grande técnica, tinha no entanto um notável sentido posicional e de organização de jogo. Disputava cada bola com ardor e lealdade, jogando quer no centro quer na faixa lateral esquerda. E fazia-o sempre, sempre com uma voz de comando arrebatadora, cheia de autoridade vinda do carácter e do exemplo! Assim era o nosso Chico Ferreira!

   

As revistas sempre deram grande destaque ao jogador e ao homem. Francisco Ferreira foi um ídolo do futebol Nacional.


Angústias foram poucas. A maior foi o fatídico episódio de Superga em Maio de 1949, tornar-se-ia um drama permanente nas recordações de Francisco Ferreira. No dia seguinte à tragédia, lavado em lágrimas, ofereceu a totalidade da receita da sua festa de homenagem às famílias enlutadas. A angústia viveria consigo para sempre e seguramente levou-a para o túmulo. Ninguém merecia mas muito menos merecia o nobre e generoso Francisco Ferreira.

 

Festa de homenagem a Francisco Ferreira em 3-05-1949.


Coberto de glória e com o carinho e respeito da nação Benfiquista, Francisco Ferreira teve enfim a merecida festa de despedida em 7 de Setembro de 1952. Nessa festa onde até compareceu Jules Rimet, presidente da FIFA, viveram-se momentos de emoção. Para trás ficavam 14 épocas de SLB, entre 1938/39 e 1951/52, em que conquistou quatro Campeonatos Nacionais, seis Taças de Portugal e um Campeonato de Lisboa. Faleceu em Lisboa no dia 14-12-1986. Nesse dia partiu um dos maiores capitães da História do SL Benfica.

   

António Ribeiro dos Reis lendo um texto de homenagem na festa de despedida do grande Chico Ferreira. Um dia de grandes emoções. Fonte: Museu Cosme Damião



(continua)


RedVC

#606
-148-
Capitães Latinos (Parte II)


Prosseguindo, vamos falar de 3 outros grandes capitães presentes nos dois grandes jogos.


O capitão tranquilo
 

Jacinto do Carmo Marques (1921 - 2000).
O nosso capitão nas duas finais da Taça Latina de 1950.
http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=41882.0


Jacinto do Carmo Marques. Nascido na Cova da Piedade em 1-11-1921, foi um excelente defesa, jogando com serenidade e eficácia. Jogou no Piedense, Aldegalense e Carcavelinhos, transferindo-se depois em 1943 para o SLB. As duas primeiras épocas foram discretas pois tinha à sua frente jogadores de elevada craveira e com estatuto dentro do Clube. Mas Jacinto soube esperar e o Clube também soube ser paciente. Um luxo que hoje em dia é cada vez mais raro...

Na sua longa carreira de Águia ao peito, Jacinto somou 14 épocas, de 1943-1944 a 1957-1958, não marcou nenhum golo mas evitou muitos, porque era para isso que era pago. Para além da Taça Latina de 1950, ajudou a vencer 4 Campeonatos Nacionais e 6 Taças de Portugal. Jogou a última meia hora da finalíssima dessa Taça Latina com um pulso partido. Terá sido por causa disso que deixou a honra de receber a Taça para Rogério Pipi? Pelas descrições de Rogério isso terá mais sido devido ao acaso fruto da precipitação do momento.



Jacinto Marques no intervalo antes do prolongamento do segundo jogo, descansa e é assistido pelo corpo médico.




Jacinto como capitão a cumprimentar árbitros e adversários e depois receber a Taça de Portugal num jogo de uma final da Taça de Porgugal disputada contra o Sporting da Covilhã em 1957.


Fora de campo, Jacinto Marques era igualmente um homem discreto, calmo, ponderado e previdente. Ainda jogador tinha já uma unidade de transformação de cortiça. Tanto quanto sei essa empresa, a Jacinto do Carmo Marques Lda (Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas) ainda existe (é localizável usando o Google Earth).



Fonte: Museu Cosme Damião


Jacinto teve uma muito merecida festa de despedida no dia 1-09-1957 numa partida contra o SC Braga e com vitória do Benfica por 5-4. Levado aos ombros pelos companheiros despediu-se em glória e com o sentimento de dever cumprido.

 

No dia da sua festa de despedida, Jacinto foi carregado em ombros pelos seus dois guarda-redes Bastos e Costa Pereira. Nada mais justo.


O capitão Francês



Foram dois jogos duros para ambos os lados mas é certo que para os Girondinos o desfecho final tornou cruel o balanço de todo aquele esforço. Os Girondinos tiveram em todos os jogos um comportamento competitivo e leal durante toda a competição. Nas meias-finais, mesmo ficando privados do seu eficaz extremo-esquerdo holandês De Harder, tendo por isso de jogar um quarto de hora com apenas dez jogadores contra o campeão espanhol Atlético de Madrid. No final do tempo regulamentar venceriam por 4-2. Para os Franceses seguir-se-ia um jogo duro contra a equipa da casa. Mas nem os Franceses sabiam quão duro seria...

Treinada por um antigo guarda-redes de seu nome Andrew Gerard, a equipa girondina tinha dentro de campo um verdadeiro líder, Jean Swiatek, um imponente defesa que era também o capitão de equipa.

Nascido em 11-12-1921 em Dusnik, Polónia, Jean Swiatek emigrou com os pais para a França com apenas com 4 anos de idade. Este Franco-Polaco ingressou nos Girondins de Bordeaux em 1943, num período que coincidiu com a formação de uma equipa profissional neste clube e que viria a ascender à divisão principal do futebol Francês. Nos seus 10 anos de Clube, Swiatek conquistaria um campeonato de França em 1949-1950 depois de acesa disputa com o Lille. Foi justamente este campeonato conquistado que possibilitou que os Girondinos participassem na disputa da edição da Taça Latina de 1950. Dada a sua reconhecida classe e autoridade natural foi à volta de Jean Swiatek que a equipa girondina foi montada.

 

A classe e imponência de Jean Swiatek não passaram despercebidas. Fonte: DL. Na fotografia em baixo Swiatek protege o seu guarda-redes de uma investida de Corona. Fonte: Cinemateca Portuguesa.


Entre os restantes jogadores Bordeleses a grande estrela era o marroquino M'Barek. Destaque também para Garriga, Merignac, Kargu e Mustapha, o calmo e perspicaz René Gallice, e para jogadores mais técnicos como André Doye, o Holandês Bertus De Harder, Camille Libar, assim como para o rápido extremo Persillon.



A classe e imponência de Jean Swiatek num registo do primeiro jogo.


A lealdade e correcção de Swiatek ficaram bem expressas nas suas declarações no final da partida.



Muitas décadas depois, o já idoso Swiatek declarou que essa era uma das suas maiores mágoas como jogador:

"Recordo-me sempre da final da Taça Latina contra o Benfica em Lisboa em 1950. Era capitão de equipa. Faltava apenas um minuto para jogar e vencíamos por 3-2. Num lance, gritei para o meu companheiro de equipa chutar a bola para fora. Infelizmente perdeu a bola e um Português marcou igualando o jogo. Tivemos de disputar um novo jogo e dessa vez perdemos." E Jean Swiatek prosseguiu, explicando melhor esse vazio, sorrindo com ironia: "Ainda me lembro quando, perto no final desse primeiro jogo eu já pensava onde teria de ir para receber e levantar a Taça...." Fonte: http://www.aqui.fr/societes/jean-swiatek-ancien-girondin-et-doyen-des-internationaux-francais-de-football-fete-ses-88-ans,2632.html


Mas como todos os presentes constataram, a equipa Girondina foi muito correcta dentro e fora de campo, aproveitando para dentro da sua agenda social homenagear os mortos na Grande Guerra. Tinham passado quase 40 anos depois do fim do primeiro conflito. E a memória da Guerra estava ainda fresca pois apenas cinco anos antes tinha terminado a brutal segunda guerra mundial. O futebol recuperava e os Franceses sabiam ser reconhecidos a um povo amigo que derramou sangue em terras de França.





E...
o Capitão que se "arranjou"
 

Rogério Lantres de Carvalho (1922- ).
O homem que ergueu a Taça Latina de 1950.


Segundo a lógica deveria ter sido Jacinto Marques a receber a Taça Latina. No entanto, entre a confusão do momento ou por qualquer outro motivo, acabou por ser Rogério Pipi que a recebeu das mãos do General Óscar Carmona, presidente da Republica. Como disse Rogério: "Com a invasão do campo, todos perdemos a cabeça. Empurraram-me, fui indo no meio da multidão, quando dei por mim estava na tribuna à frente do senhor Presidente da Republica e naquela confusão ele só conseguiu atirar-me o troféu para as mãos..." Fonte: jornal "Público".

Por estar com uma idade avançada e adoentado ou por estar algo incomodado com a confusão, o presidente Óscar Carmona, sócio do Sporting Clube de Portugal, terá querido despachar-se na missão de entregar o belo troféu ao nosso improvisado capitão. Ainda assim estranhamente (embora com certeza que exista) nunca vi uma fotografia de Rogério ao lado de Óscar Carmona a entregar a Taça.

Antes, temos a famosa fotografia em que nos aparece Guilherme Pinto Basto, um dos pioneiros do futebol em Portugal, a entregar a Taça ao nosso Pipi. Estou certo que ambos os homens partilharam uma grande emoção. Seria o momento mais alto do futebol Português até à conquista das duas Taças dos Clubes Campeões Europeus na década seguinte.

 

Dois momentos, duas imagens para a História do Sport Lisboa e Benfica e do futebol Português.



Uma outra imagem de Rogério a receber a ofertas do Ministro da Educação, Dr. Pires de Lima. Lá em cima na tribuna identifica-se uma velha Glória do SLB, o grande Vítor Gonçalves, antigo jogador e o primeiro treinador Português a conquistar um Campeonato Nacional ao serviço do SLB.


Rogério Lantres de Carvalho nasceu em Lisboa, há 94 anos, em 7 de Dezembro de 1922. É uma figura de imenso prestígio no nosso Clube. A sua notável carreira Benfiquista foi resumida de forma magistral por Alberto Miguéns, aqui: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/12/o-nosso-rogerio-faz-90-anos.html

Facto raro, nesses dois jogos Pipi não marcou. E digo raro porque foi naquele mesmo Estádio Nacional que Rogério rubricou exibições portentosas e marcou inúmeros golos, conquistando diversas Taças de Portugal. Nesses dias embora não marcando lutou e ajudou muito os seus colegas a fazerem os golos que nos deram a Taça.



Rogério em êxtase a celebrar o golo decisivo marcado por Julinho. Caído por terra um Francês resigna-se com a perda do troféu.


Com a chegada de Otto Glória em 1954 e as profundas mudanças no nosso futebol com a introdução do profissionalismo Rogério decidiu sair do SLB. Saiu pelo seu próprio pé por não querer ser profissional. A sua actividade profissional como vendedor de automóveis era bem mais rentável e por outro lado sentia igualmente já ter dado muito ao Clube.

E assim em ambiente caloroso e festivo, no dia 5 de Setembro de 1954 Rogério Pipi teve a sua festa de despedida do SLB. A sua grandeza como pessoa ficou demonstrada quando aceitou que a sua festa coincidisse com a despedida Feliciano, uma das Torres do CF "os Belenenses", um forte mas sempre leal adversário. Foi uma festa bonita e um dia de grande celebração do futebol Português.

 

Bilhete da festa de despedida de Rogério Pipi (que nobremente aceitou fazê-la conjuntamente com Feliciano, o grande jogador Belenense. Os dois jogadores cumprimentam-se com o sportinguista Travassos entre eles. Fonte: Em Defesa do Benfica.


Ecos na imprensa


Fontes: Jornal o Benfica de 21-06-1950 e jornal Mundo Deportivo, 19-06-1950.



Fontes: Jornal "A Bola".



alfredo

obrigado redvc por teres dado importância a um promenor que poucos dao conta ou pagam atencao. ter tido praticamente três captiaes num jogo só, nao acontece todos os dias.
esses homens dizem me algo e ja li sobre eles, mas esse tempo está tao distante, que mal os meus pais se lembram deles. mas assim parece que voltam a ser vivos... vivos nas nossas memórias.
obrigado também por nao teres esquecido o capitao adversário que comandou uma equipa equivalente que nem teria merecido perder.

alfredo

Citação de: Bakero em 01 de Março de 2017, 21:01
Fantástico! É incrível como o nosso clube tão grande começou de um modo tão simples...pensar que nada disto existiria, que nem sequer estaríamos todos aqui a falar uns com os outros, que eu ontem não teria estado no Estoril, senão tem havido essa reunião inaugural. Se esses 24 imortais não tivessem lutado tanto para levar o clube avante. É mindblowing!

E muito obrigado pelo vosso trabalho de pesquisa! Eu desde adolescente sempre fui um apaixonado pela História do Benfica, mas centrava-me mais na História do clube que se misturava com a minha (nascido em 83).

Progressivamente a minha curiosidade começou a estender para a gloriosa década de 70 e a inigualável década de 60, mas este tópico tem-me feito perceber que também houve muito e interessantíssimo Benfica nos seus primeiros 50 anos.

Um bem-haja!  :slb2:

faco as tuas palavras as minhas!

alfredo

Citação de: RedVC em 17 de Setembro de 2016, 21:01
-128-
Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis.




Lisboa, 10 de Agosto de 1955. Do aeroporto até à Rua do Jardim do Regedor. Imagens de intensa alegria e comunhão entre adeptos e a comitiva Benfiquista regressada da América do Sul:



Duas imagens do autocarro do Clube ladeado por entusiasmados Benfiquistas com o detalhe extraordinário de vermos 6 fotógrafos sentados no tejadilho do autocarro. Loucura no regresso dos heróis!. Fonte: Helena Águas.


Terminada a aventura Sul-americana foi tempo da comitiva Benfiquista regressar a casa. E que regresso foi!


Fonte: Museu Cosme Damião.


Nesse dia 10 de Agosto de 1955 a comitiva chegou a Lisboa depois de uma longa digressão por terras Brasileiras e Venezuelanas. A comitiva Benfiquista chegava cansada mas com intenso orgulho pelas suas notáveis prestações desportivas complementadas por uma agenda social que em muito prestigiaram o nome do Sport Lisboa e Benfica e Portugal.

O aeroporto de Lisboa estava abarrotado de pessoas à espera da comitiva. Depois milhares de pessoas distribuíram-se pelo trajecto até à sede na Rua do Jardim do Regedor. A comitiva fez o seguinte percurso: Aeroporto de Lisboa, Bairro de Alvalade, Avenida da Republica, Praça Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade e por fim Praça dos Restauradores até à Rua Jardim do Regedor. O cortejo durou cerca de três horas a chegar à nossa sede, observando-se pelo caminho as mais variadas manifestações de apreço e clubismo. Um belo ensaio para seis anos depois quando apenas uma Taça (e outra no ano seguinte) trariam tanta felicidade aos Benfiquistas.

Na sede estavam os membros dos órgãos sociais e outras grandes figuras Benfiquistas que integraram a comissão de boas vindas que formalizou a recepção á comitiva: Ribeiro dos Reis, Justino Pinheiro Machado, José Magalhães Godinho, entre outros. Presentes também representantes da FPF, da AFL, e de vários clubes desde o Oriental até ao SCP.
Já no Estádio, a equipa desfilou e posou para as fotografias exibindo orgulhosamente todos os troféus ganhos na longa, cansativa mas também altamente prestigiante e rentável digressão Sul-Americana!



De volta ao Estádio da Luz, a comitiva Benfiquista exibiu orgulhosamente os troféus conquistados na digressão ao Brasil e Venezuela. A réplica da Taça Charles Miller está assinalada em ambas as fotografias. Em cima reconhecem-se, de pé, Angelino Fontes, Vieirinha, Bastos, Monteiro, Calado, Coluna, Alfredo, Otto Glória, Artur, Pegado, Caiado, Costa Pereira. Em baixo: Jacinto, Zézinho, Palmeiro, Arsénio, Águas, Salvador e Ângelo. Fonte: Em Defesa do Benfica e Helena Águas.


Os Benfiquistas viviam dias excitantes. Com um novo Estádio, um título nacional e uma equipa renovada e com talentos emergentes, tudo era alegria. O futebol Benfiquista encarava o futuro com uma organização moderna, estruturada, coesa e eficiente. Estava em curso a transformação do velho Sport Lisboa e Benfica na máquina fortíssima que se sagraria Bicampeã Europeia. Estava em curso a projecção do SL Benfica e do País à escala planetária; algo nunca antes visto! Cruzando culturas, credos, raças, perspectivas e estilos de vida, a todo o lado chegou o Sport Lisboa e Benfica. Na linguagem universal do futebol, a nossa equipa exibiu desportivismo, talento, educação e respeito pelas diferenças exibidos na expressão da sua lusitanidade.


Voou alto a nossa Águia!



Voou alto nesses inesquecíveis dias Brasileiros!

E Pluribus unum



Uma nota final

Este conjunto de onze textos foi, por opção consciente, uma longa série com muito material que nunca vi apresentado ou analisado em qualquer outro lado. Reunir, analisar e estruturar esse material levou muito tempo e deu muito trabalho. Sabia que não haveria muito retorno. Assim foi.

Talvez não valesse a pena fazer esta série se não desse tanto gozo pessoal a fazer. Se não desse prazer em os partilhar com o pequeno número de membros deste fórum que têm a capacidade e inteligência de ir para lá da espuma dos dias. A esses Benfiquista que leram, que conseguem desfrutar de forma completa o que é verdadeiramente o Sport Lisboa e Benfica, deixo um bem-haja e um sincero obrigado.




onde descobres estas informacoes? já há muito tempo queria saber mais sobre essa, quase mítica, digressao ao brasil. li algo breve sobre ela, mas longe do que tu aqui apresentaste. como disseste certo: material que nao viste analisado noutro lado...
um grande: OBRIGADO (e eu sempre escrevo em letra minúscula. ;-) uma bela obra!

Cuccittini

#610
Isto é claramente um refresco de ananás.


RedVC

Citação de: alfredo em 03 de Abril de 2017, 14:22
Citação de: RedVC em 17 de Setembro de 2016, 21:01
-128-
Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis.




Lisboa, 10 de Agosto de 1955. Do aeroporto até à Rua do Jardim do Regedor. Imagens de intensa alegria e comunhão entre adeptos e a comitiva Benfiquista regressada da América do Sul:



Duas imagens do autocarro do Clube ladeado por entusiasmados Benfiquistas com o detalhe extraordinário de vermos 6 fotógrafos sentados no tejadilho do autocarro. Loucura no regresso dos heróis!. Fonte: Helena Águas.


Terminada a aventura Sul-americana foi tempo da comitiva Benfiquista regressar a casa. E que regresso foi!


Fonte: Museu Cosme Damião.


Nesse dia 10 de Agosto de 1955 a comitiva chegou a Lisboa depois de uma longa digressão por terras Brasileiras e Venezuelanas. A comitiva Benfiquista chegava cansada mas com intenso orgulho pelas suas notáveis prestações desportivas complementadas por uma agenda social que em muito prestigiaram o nome do Sport Lisboa e Benfica e Portugal.

O aeroporto de Lisboa estava abarrotado de pessoas à espera da comitiva. Depois milhares de pessoas distribuíram-se pelo trajecto até à sede na Rua do Jardim do Regedor. A comitiva fez o seguinte percurso: Aeroporto de Lisboa, Bairro de Alvalade, Avenida da Republica, Praça Marquês de Pombal, Avenida da Liberdade e por fim Praça dos Restauradores até à Rua Jardim do Regedor. O cortejo durou cerca de três horas a chegar à nossa sede, observando-se pelo caminho as mais variadas manifestações de apreço e clubismo. Um belo ensaio para seis anos depois quando apenas uma Taça (e outra no ano seguinte) trariam tanta felicidade aos Benfiquistas.

Na sede estavam os membros dos órgãos sociais e outras grandes figuras Benfiquistas que integraram a comissão de boas vindas que formalizou a recepção á comitiva: Ribeiro dos Reis, Justino Pinheiro Machado, José Magalhães Godinho, entre outros. Presentes também representantes da FPF, da AFL, e de vários clubes desde o Oriental até ao SCP.
Já no Estádio, a equipa desfilou e posou para as fotografias exibindo orgulhosamente todos os troféus ganhos na longa, cansativa mas também altamente prestigiante e rentável digressão Sul-Americana!



De volta ao Estádio da Luz, a comitiva Benfiquista exibiu orgulhosamente os troféus conquistados na digressão ao Brasil e Venezuela. A réplica da Taça Charles Miller está assinalada em ambas as fotografias. Em cima reconhecem-se, de pé, Angelino Fontes, Vieirinha, Bastos, Monteiro, Calado, Coluna, Alfredo, Otto Glória, Artur, Pegado, Caiado, Costa Pereira. Em baixo: Jacinto, Zézinho, Palmeiro, Arsénio, Águas, Salvador e Ângelo. Fonte: Em Defesa do Benfica e Helena Águas.


Os Benfiquistas viviam dias excitantes. Com um novo Estádio, um título nacional e uma equipa renovada e com talentos emergentes, tudo era alegria. O futebol Benfiquista encarava o futuro com uma organização moderna, estruturada, coesa e eficiente. Estava em curso a transformação do velho Sport Lisboa e Benfica na máquina fortíssima que se sagraria Bicampeã Europeia. Estava em curso a projecção do SL Benfica e do País à escala planetária; algo nunca antes visto! Cruzando culturas, credos, raças, perspectivas e estilos de vida, a todo o lado chegou o Sport Lisboa e Benfica. Na linguagem universal do futebol, a nossa equipa exibiu desportivismo, talento, educação e respeito pelas diferenças exibidos na expressão da sua lusitanidade.


Voou alto a nossa Águia!



Voou alto nesses inesquecíveis dias Brasileiros!

E Pluribus unum



Uma nota final

Este conjunto de onze textos foi, por opção consciente, uma longa série com muito material que nunca vi apresentado ou analisado em qualquer outro lado. Reunir, analisar e estruturar esse material levou muito tempo e deu muito trabalho. Sabia que não haveria muito retorno. Assim foi.

Talvez não valesse a pena fazer esta série se não desse tanto gozo pessoal a fazer. Se não desse prazer em os partilhar com o pequeno número de membros deste fórum que têm a capacidade e inteligência de ir para lá da espuma dos dias. A esses Benfiquista que leram, que conseguem desfrutar de forma completa o que é verdadeiramente o Sport Lisboa e Benfica, deixo um bem-haja e um sincero obrigado.




onde descobres estas informacoes? já há muito tempo queria saber mais sobre essa, quase mítica, digressao ao brasil. li algo breve sobre ela, mas longe do que tu aqui apresentaste. como disseste certo: material que nao viste analisado noutro lado...
um grande: OBRIGADO (e eu sempre escrevo em letra minúscula. ;-) uma bela obra!

Obrigado alfredo!  O0
Nos meus tempos livres faço pesquisas em arquivos online de Portugal, Brasil, Espanha, etc. É uma terapia, um passatempo. Gosto de História e do SLB. Porque não juntar os dois. Acabo por aprender um pouco de tudo, Geografia, Sociologia, Filosofia, Política, Religião, etc. A partilha é uma parte do prazer. Há também a descoberta, a selecção de informação, o cruzamento de fonte, e a pesquisa dedicada aos detalhes. Os detalhes são o diabo mas dão um prazer danado descobrir. Neste últimos três anos consegui desenterrar coisas que nem imaginava que existia. E sim, tens razão, esta é uma forma de trazer de novo alguns destes homens à consciência colectiva dos Benfiquistas. Fazer-lhe honra e justiça.

Honrai hoje os ases do passado!

Dandy






   Palavras para quê? ...

   Enorme Victor João Carocha!

   "Víctor" ou "Victor"? :)




RedVC

Citação de: Dandy em 05 de Abril de 2017, 19:58





   Palavras para quê? ...

   Enorme Victor João Carocha!

   "Víctor" ou "Victor"? :)


Obrigado Dandy  O0
um dos fieis aqui e também alguém que cumpre bem esse lema, homenageando em permanência um homem grande e bom.

Mike era um enorme atleta do basquetebol do SLB. Saudades daqueles cumprimentos antes do início dos jogos. Saudades de um dos atletas mais correctos e generosos que já vi jogar. Saudades daquela sua atitude cheia de garra dentro do campo. Um dos nossos Ases do passado.

ps: sim, "Victor"  :coolsmiley:

Ned Kelly

Sempre fomos um clube de raça! Nunca tivemos conquistas fáceis. Jogámos com os melhores de cada tempo e por isso apanhámos as épocas áureas de cada um dos outros grandes campeões. E tornámo-nos admirados também por causa disso.

A Taça Latina não podería ser diferente. Foi até cair para o lado. Aquela imagem do Rogério mais a do Zé Águas a levantar a Taça dos Campeões são as maiores fotos da história do Benfica. Fazem chorar de tanta mística!