Decifrando imagens do passado

RedVC

#735
-205-
Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.




Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.



A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.



Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...



Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.



O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.




A equipa do AC Torino




A equipa do SLB




Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.




Antes e depois da fatídica viagem.





Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.



Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB



RedVC

Citação de: NoneOfUsWillSeeHeaven em 09 de Março de 2018, 22:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2018, 22:01
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Dia 19 de Fevereiro de 1944. Estádio de Wembley, Londres.



Estádio de Wembley, dia 19 de Fevereiro de 1944. O Rei Jorge V de Inglaterra cumprimenta os jogadores da Selecção Inglesa de futebol. Fonte: raggyspelk.co.uk


Em pleno tempo de guerra o futebol mostrava a sua importância. Nesse dia o Rei Jorge V de Inglaterra cumprimentava os jogadores das selecções de Inglaterra e Escócia, que se aprestavam para iniciar uma partida de futebol. Essa partida, embora hoje não seja reconhecida oficialmente pela FIFA, é parte da História da Selecção Nacional daqueles dois países.

Entre os seleccionados Ingleses estava um jogador com 26 anos de idade que pertencia aos quadros do Sheffield United. Chamava-se James Hagan mas era conhecido no meio futebolístico por Jimmy Hagan. Era um homem reservado e duro que mais tarde se tornaria célebre como treinador de futebol. No seu tempo, Hagan foi também um conceituado jogador internacional de futebol.

A fotografia com que iniciamos este texto capta o exacto momento em que o Rei Jorge V cumprimenta Jimmy Hagan.



James Hagan jogou por 17 vezes na Selecção Nacional de futebol da Inglaterra. Fonte: sheffieldhistory.co.uk



Cumpriram-se no passado Domingo, 100 anos sobre o nascimento de Jimmy Hagan, um treinador Inglês que deixou marcas profundas na História do Sport Lisboa e Benfica. Foi um homem de futebol singular, muito reservado mas nem por isso menos controverso.

Como treinador e como manager, Hagan conheceu um sucesso extraordinário quando treinou o Sport Lisboa e Benfica, o maior Clube de Portugal e um dos maiores da Europa. Mas Hagan tinha também uma severa abordagem disciplinar nas suas equipas e por isso teve vários episódios conflituosos nos diversos clubes por onde passou. Nesse aspecto, o SL Benfica seria apenas mais um. Em tudo o resto a sua carreira no Glorioso foi quase sempre um trajecto ganhador verdadeiramente extraordinário.


Vamos hoje à boleia dessa fotografia inicial, que representa um dos picos da carreira de Hagan enquanto jogador profissional de futebol, os anos que viveu antes de se tornar um dos mais vitoriosos e marcantes treinadores do futebol do Sport Lisboa e Benfica.

Em homenagem a Hagan, publica-se aqui uma fusão de textos biográficos, coligidos a partir de algumas fontes da net. A fonte principal é o sítio do seu irmão Colin Hagan, ao qual aliás aconselho vivamente uma visita:

http://www.raggyspelk.co.uk/washington_pages/selections3/jimmy_hagan.html

outras fontes usadas:

http://www.independent.co.uk/news/obituaries/obituary-jimmy-hagan-1148385.html

http://www.derbytelegraph.co.uk/sport/football/football-news/the-player-derby-county-slip-377993



Os primórdios


Hagan nasceu em Washington, County Durham, no dia 21 de Janeiro de 1918. Nasceu no Nordeste de Inglaterra no seio de uma família Católica. Era também oriundo de uma família de futebol pois o seu pai Alf Hagan jogou num período pós Primeira Guerra Mundial no Newcastle United FC ("Magpies", fundado em 1892), no Cardiff City Football Club ("Bluebirds", fundado em 1899) e no Tranmere Rovers Football Club ("Rovers", fundado em 1884).



Washington, County Durham, a terra natal de James Hagan, ali nascido a 21 de Janeiro de 1918. Fonte: wikipedia.



Pelos relatos de seu irmão Colin, o pai de Jimmy era também um homem de convicções fortes, tendo aliás retirado o seu filho da St. Joseph's School, uma escola Católica depois de um desentendimento com um Padre. Esse conflito terá aliás sido selado quando Alfie Chapman mimoseou o referido padre com um murro...




Nesses anos iniciais, o jovem Jimmy estudaria e jogaria futebol em mais três escolas: a Usworth Colliery School, a Durham County Boys e a England Schoolboys. O jovem Jimmy mostrou desde logo uma forte personalidade e nomeadamente dois dos traços mais transversais aos seus 80 anos de vida: um grande amor pelo jogo de futebol e um carácter ferozmente independente. Ao que parece terá até desistido de uma das suas escola secundárias, "apenas" porque o futebol não era praticado por lá.



O jovem Jimmy Hagan segurando a bola numa equipa da Durham County Schools. Fonte: durhamcountyschoolsfa.org.uk



Outro aspecto sintomático é que apesar de viver numa região onde se tornaria mais lógico a ingresso nas escolas de futebol do Newcastle FC ou do Sunderland AFC ("Black Cats", fundado em 1879), os dois colossos locais, Jimmy optou por ingressar aos 14 anos de idade nas camadas amadoras do Liverpool FC ("Reds", fundado em 1892).

Na cidade do Mersey, Jimmy jogaria apenas 3 ou 4 meses nos "Reds", regressando depois a casa. Justificou-se dizendo ao seu pai de uma forma simples mas afirmativa: "fui para Liverpool para jogar futebol e não para trabalhar num depósito de madeira"... A questão é que nesses dias aos aprendizes de futebol era atribuído um emprego durante o dia e pelo que se viu, o trabalho reservado ao jovem Hagan foi do seu inteiro desagrado.

Mas Jimmy não era de desistir e assim pouco depois, em Maio de 1933, assinou pelo Derby County FC ("Rams", fundado em 1884). Fez a sua estreia pelos "Rams" com apenas 16 anos de idade e por lá se tornou, em 1935, um jogador profissional. Ao que parece num dos seus 31 jogos pelo Derby County terá jogado no Roker Park perante uma assistência estimada em 76.000 pessoas.



O muito jovem Jimmy Hagan envergando a camisola do Derby County FC. Fonte: derbytelegraph



Nos 31 jogos que fez pelo Derby County, Jimmy Hagan terá marcado uns 7 golos, revelando um grande virtuosismo técnico, segundo algumas fontes mostrando por vezes uma habilidade quase mágica. Esse facto demonstra que apesar de ser um produto da escola Inglesa, Jimmy era um homem de futebol sensível ao virtuosismo técnico, uma característica mais latina e algo com que viria a trabalhar com fartura nos seus Gloriosos anos do Estádio da Luz.

Não obstante o bom percurso nos Rams, Jimmy viria depois a incompatibilizar-se com George Jobey, o manager do Clube e por via disso, em Novembro de 1938 seria transferido para o Sheffield United FC ("Blades", fundado em 1889). Teddy Davidson, na altura o manager do Sheffield, mostrou grande interesse nessa contratação mas, não obstante o conflito que tinha com o jogador, Jobey jogou duro nas negociações. O acordo seria fechado apenas por 2.925 libras, valor apreciável para a época.

Em Bramall Lane, jogando pelos "Blades", a carreira de Hagan conheceu um grande crescimento, mostrando-se na sua posição de interior como um jogador com distribuição de jogo fluente, excelente controlo de bola e posicionamento táctico astuto. Em Sheffield permaneceria 20 anos, de 1938 a 1958, ano em que se retirou como jogador de futebol.



Jimmy Hagan fez grande parte da sua carreira no Sheffield United, chegando a capitão de equipa.




Fonte: Premier Football Cards




Hagan teve honras de primeira página no número de Fevereiro de 1954 do Charles Buchan's Football Monthly.



Jimmy Hagan era o craque da equipa, assumindo uma tal preponderância que causou algum desconforto nos seus companheiros. Ficou aliás célebre uma brincadeira de um fotógrafo que fez uma montagem dessa equipa do Sheffield United com 11 jogadores com cabeças de Jimmy Hagan. Infelizmente não encontrei uma cópia.





No total, Jimmy Hagan terá feito 361 jogos e 117 golos pelo Sheffield United. Colectivamente a maior conquista foi um campeonato da 2ª divisão Inglesa na época de 1952-1953. Fez uma longa carreira de 20 anos como jogador do United embora apenas 14 épocas tenham sido efectivas uma vez que perdeu 6 épocas por via da Segunda Guerra Mundial.



A equipa campeã de 1952-1953. Hagan é segundo jogador sentado, a partir da direita.



Os anos da guerra


A Segunda Guerra Mundial ceifou a vida de muitos futebolistas e devastou muitas carreiras de futebol, e naturalmente afectou também a de Hagan. Integrou o exército Britânico e combateu os nazis em França. Sobreviveu.

Ainda assim, seria neste período que Hagan se tornou internacional pelo seu país, isto apesar de os 16 jogos para o qual foi seleccionado não serem hoje reconhecidos pela FIFA, uma vez que se trataram de jogos disputados em tempo de guerra.

Ainda assim, o historial da FIFA regista que Hagan foi internacional por uma vez por Inglaterra, num jogo disputado em Janeiro de 1948, pouco depois do fim da guerra, quando a sua selecção defrontou a Dinamarca em Copenhaga (empate 0-0).

No entanto, apesar do que o que a FIFA nos diz, a verdade histórica é outra. Nesses 16 jogos internacionais não-oficiais, Hagan apresentou-se com a camisola de Inglaterra de forma brilhante ao lado de estrelas como Stanley Matthews, Tommy Lawton e Raich Carter. É desse tempo a fotografia do início deste texto tal como as que abaixo se apresentam.



Hagan cumprimentando figuras célebres com a camisola da Selecção. Fonte: derbytelegraph.co.uk e Getty Images




A equipa nacional Inglesa que defrontou o País de Gales em utubro de 1941. De pé, esquerda para a direita: Harry Goslin, Joe Bacuzzi, George Marks, Denis Compton, Stan Cullis. Sentados: Stanley Matthews, Jimmy Hagen, Eddie Hapgood, Don Welsh and Joe Mercer. Fonte: spartacus-educational.com


No período pós-guerra, Hagan permaneceu fiel ao Sheffield United mesmo quando o seu clube aceitou uma proposta de transferência para os rivais do Sheffield Wednesday ("Owls", fundado em 1867). Falou-se de 32.500 libras, o que na altura seria um recorde Britânico. Contra a vontade do seu Clube, Hagan recusou, continuando a jogar pelo United sendo que, curiosamente, o Wednesday desceria à segunda divisão logo na época seguinte.

Logo após abandonar o Sheffield United, Jimmy Hagan juntou-se brevemente a 15 jogadores do Blackpool ("Seasiders, fundado em 1887) para fazer uma digressão pela Austrália. Por lá marcou 21 golos em 15 partidas. E assim terminou a carreira de futebolista.


Um treinador implacável


Terminados os seus dias de jogador, Hagan iniciou a sua carreira no Peterborough United FC ("Posh", fundado em 1934) onde treinou de 1958 até 1962. Foi uma passagem bem-sucedida, culminada com a conquista do 4th Division Championship logo na primeira época em que aquele modesto clube jogou numa liga nacional Inglesa. A sua equipa registou o incrível número de 134 golos só nessa temporada, um recorde que permanece. Apesar de na época seguinte ter consolidado os "Posh" na terceira Liga, ainda assim um amargo conflito com os jogadores faria com que Hagan fosse demitido em Outubro de 1962. Não seria caso único na sua carreira...





De 1963 a 1967, Hagan treinou o West Bromwich Albion ("Baggies", fundado em 1878), clube que militava na primeira Liga inglesa. O maior feito deste período foi conseguido em 1966 quando Hagan levou os Baggies à conquista da Football League Cup. Foi uma final a duas mãos vencida (resultado agregado de 5-3) contra o West Ham United FC ("Hammers", fundado em 1895) que contava nas suas fileiras com três craques da selecção Inglesa: Moore, Peters e Hurst.

Mas o futebol são altos e baixos... Na época seguinte disputaria também a final, desta vez num jogo único em Wembley contra o Queens Park Rangers ("Hoops", fundado em 1882), clube na altura numa divisão inferior. Apesar de ao intervalo estarem a ganhar por 2-0, os Baggies seriam derrotados por 2-3. Acabaria ali o percurso de Hagan nos Baggies.

Foi também nos Baggies que Hagan teve mais um episódio revelador da sua fibra enquanto treinador. No dia 1 de Janeiro de 1964, Jimmy Hagan enfrentou uma greve de 21 jogadores da categoria principal. Estes protestavam para com a exigência do treinador de terem de se treinar com calções num dia particularmente frio. Hagan foi inflexível, e enfrentando a greve, foi ele mesmo com os seus 46 anos de calções treinar para o meio do campo. Ali mesmo perante os sócios a dar o exemplo.



O incrível dia em que Hagan treinou sozinho em calções. Os jogadores em greve ficaram a ver o treinador. Fonte (https://www.birminghammail.co.uk/sport/football/football-news/nostalgic-pictures-day-west-bromwich-343386)



Esse conflito terá no entanto sido apenas mais um pois os jogadores queixavam-se de que os métodos de treino de Hagan eram aborrecidos e a postura do treinador era áspera e inacessível. A perda da final de 1967 acabaria por ser uma justificação conveniente que a Direcção dos Baggies usou para demitir um treinador em conflito com o seu plantel.


No Glorioso


Não sendo o foco do texto de hoje, não poderia fechar sem mencionar brevemente a importância da passagem de Hagan pelo Glorioso.

Deposi dos Baggies, Hagan só voltaria a treinar em Março de 1970, desta vez em Portugal, quando aceitou um convite do Glorioso Sport Lisboa e Benfica feito pelo grande Presidente Duarte Borges Coutinho. Falou-se na altura que a primeira escolha do Dr. Borges Coutinho terá sido Alf Ramsey o treinador campeão do mundo pela Inglaterra em 1966.

A escolha de Hagan parecia assim uma escolha secundária, quiçá uma medida desesperada de um presidente depois de uma recusa no mesmo mercado. Hagan no entanto revelar-se-ia uma escolha certeira, um golpe de inspiração. De facto, o duro Inglês conseguiria finalmente disciplinar e renovar uma equipa que ainda tinha grandes jogadores mas à qual eram reconhecidos sérios problemas de disciplina e alguma veterania. Essa fibra disciplinadora terá sido um dos factores decisivo que levaram o Dr. Borges Coutinho a contratar este duro Inglês.

A equipa foi disciplinada, renovada, e significativamente melhorada na sua capacidade física e atlética. Os títulos vieram depois. Três campeonatos conquistados de forma espantosa. Uma extraordinária digressão pelo Japão e muitos outros jogos célebres fariam ainda parte da lenda.

Nesse percurso, Hagan aplicou uma vez mais os seus duríssimos métodos de treino e disciplina. Apesar das vitórias o desgaste foi-se acumulando explicando que uma vez mais fosse um pequeno episódio disciplinar a levar à saída de Hagan. Um episódio triste que talvez tenha evitado que o primeiro tetra da nossa história tivesse ocorrido na década de 70.



Uma sessão de treinos de Jimy Hagan no Estádio da Luz. Alguns jogadores são identificáveis.




Um dos mais célebres planteis. Os invencíveis de 1972. Fonte: Museu Cosme Damião.



Depois do SL Benfica viria um período de 2 anos a treinar no Kuwait e depois o regresso a Portugal onde treinaria Sporting CP (1976-77), Boavista FC (1978-79), Vitória Setúbal (1979–80), CF Belenenses (1980–81) e GD Estoril Praia (1981–82). Teve sucesso no Boavista onde venceu a Taça de Portugal de 1978-79 e no GD Estoril Praia onde subiu à 1ª divisão.

Findo a experiência no Estoril, Jimmy Hagan decidiu retirar-se com a idade de 64 anos.

Apesar da abrupta rotura, ficou sempre no nosso Clube um enorme respeito pela figura deste Inglês, duro, autoritário exigente mas também e acima de tudo campeão. Não admira que o nosso Rei Eusébio tenha generosamente participado em alguns eventos evocativos do grande treinador Inglês.



Eusébio num evento de homenagem a Jimmy Hagan.


James Hagan morreria em Sheffield no dia 26 de Fevereiro de 1998, com a idade de 80 anos.



Até sempre Mister!
Paz à sua Alma. Honra à sua memória!

Na primeira imagem é o Rei Jorge VI :)

Certíssimo!  O Rei Jorge V faleceu em 1936. Há que corrigir.

Obrigado  O0

Bakero

Aqui há uns tempos o meu querido avô de 92 anos contou-me que foi a esse jogo (apesar de ser sportinguista, mas queria ver ao vivo essa fantástica equipa do Torino) e durante algum tempo andou com o bilhete do jogo no casaco.

Até que um dia no café tirou o bilhete para fora e alguém o abordou a dizer que fazia colecção desse tipo de coisas e o meu avô ofereceu-lhe o bilhete. Quanto não valeria uma coisa dessas hoje em dia?  :)

VitorPaneira7

Citação de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:35
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Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.




Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.



A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.



Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...



Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.



O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.




A equipa do AC Torino




A equipa do SLB




Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.




Antes e depois da fatídica viagem.





Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.



Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB



Desde que soube do desastre de Superga, via o livro 50 anos da Bola lá para 1994-1995,  e a história do Grande Torino que é dos clubes que mais simpatizo e gostaria de ver triunfar novamente.

Alexandre1976

Um dos melhores tòpicos do Ser Benfiquista. Autentico manual indispensável para quem quer conhecer toda a  nossa historia.

RedVC

É um enorme prazer ler os vossos comentários, Bakero, VitorPaneira7 e Alexandre1976  pois reconheço em vocês o interesse contínuo em conhecer, comentar e divulgar tudo o que distingue a Gloriosa História do nosso querido Clube. Obrigado! O0

E caro Bakero, quanto valeria o bilhete?
Não faço ideia do valor de mercado deve ter em conta a conservação e a raridade que parece não ser muita






Mas isso é acessório. O valor maior seria sempre o valor sentimental.
O teu Avô soube reconhecer a importância do evento embora claro ninguém pudesse imaginar quão importante ele viria a ser.

E claro, o valor que o bilhete teria para ti seria que ele simbolizaria o desprendimento e generosidade do teu Avô. Mais, apetece dizer que hoje em dia já poucos Sportiguistas existirão com todas essas qualidades e desportivismo. Eu sei que eles existem mas encontra-los é que é mais difícil...

ps: espero lá para o final da semana publicar mais um texto que segue a linha destes dois últimos. Está a crescer a olhos vistos, vai tocar em aspectos trágicos, dentro e fora de campo mas, no final vincará como sempre a nobreza e a dimensão maior do nosso querido Clube.

Bakero

#741
O meu avô é um Sportinguista com S grande sim, como já há poucos.

É um prazer ouvi-lo falar dos cinco Violinos, da rivalidade que já havia entre o Benfica e o Sporting nos anos 40 e 50, etc.

Adora contar-me a história da Taça do Século que supostamente seria para o Benfica e acabou das duas vezes por ir parar ao Sporting. Já me contou isso tanta vez, mas faz como se fosse a primeira e eu oiço como se fosse a primeira ;)

E já me disse mais que uma vez que se houve clube protegido no Estado Novo foi o Sporting e não o Benfica.

Alexandre1976

O teu avô merece todo o respeito da nossa parte.

Petrov_Carmovich

Citação de: Bakero em 15 de Março de 2018, 10:14
O meu avô é um Sportinguista com S grande sim, como já há poucos.

É um prazer ouvi-lo falar dos cinco Violinos, da rivalidade que já havia entre o Benfica e o Sporting nos anos 40 e 50, etc.

Adora contar-me a história da Taça do Século que supostamente seria para o Benfica e acabou das duas vezes por ir parar ao Sporting. Já me contou isso tanta vez, mas faz como se fosse a primeira e eu oiço como se fosse a primeira ;)

E já me disse mais que uma vez que se houve clube protegido no Estado Novo foi o Sporting e não o Benfica.

Eu não tenho problema com esse tipo de rivalidades e de sportinguistas. Havia mais honra e respeito. O que sucede nos dias de hoje nada tem a ver com os tempos do teu avô.

Alexandre1976

Eu proprio sendo filho de um Sportinguista,sempre vi no meu velho um respeito pelo Benfica. Outros tempos em que a rivalidade era só isso mesmo,rivalidade.

Alexandre1976

Nessa equipa mitica do Torino a grande estrela era Valentino Mazzola,pai de Sandro Mazzola que foi uma grande figura do Inter ,onde também jogavam estrelas como Facchetti,Jair ou Suarez e que nos ganharam uma Taça dos Campeões.Em relação a essa equipa do Benfica que venceu o Torino em 1949,Rogério,Arsénio,Espirito Santo,Felix e o grande capitão F.Ferreira são legendas do nosso Benfica.

RedVC

#746
-206-
Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956



A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)



Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.



Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.



Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.



Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.



Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.



Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.



Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola




Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).




O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.



Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.








Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.



Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.



As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.



Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.




Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola



Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.



Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.



O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.






Petrov_Carmovich

Citação de: RedVC em 16 de Março de 2018, 21:22
-206-
Os filhos do campeão

Superga, Julho de 1956



A comitiva Benfiquista prestando homenagem ao Grande Torino.


Para lá de 1968, aquando da célebre meia-final da Taça dos Clubes Campeões disputada com a Juventus, uma outra delegação do Sport Lisboa e Benfica homenageou em Milão a grande equipa do AC Torino.

Foi em Julho de 1956, aproveitando o facto de a nossa equipa principal de futebol estar em Milão para disputar a edição de 1956 da Taça Latina (já aqui evocada no texto -149- De Como a Milão, p. 42)



Uma tentativa de legendagem da fotografia.



Nessa homenagem não faltaram Sandro Mazzola e Ferruccio Mazzola, os dois filhos de Valentino Mazzola.



Os dois filhos de Valentino Mazzola foram destacados pela nossa revista "O Benfica ilustrado".


Depois de alguns momentos de silêncio profundo, Justino Pinheiro Machado, na altura presidente da FPF e antigo membro da Direcção de Ferreira Bogalho, fez um curto mas emocionado discurso. Logo depois, Jacinto Marques, capitão de 1ª categoria do nosso futebol e único membro ainda no activo da equipa que em 1949 tinha defrontado o AC Torino, depositou uma coroa de flores no memorial. Estava cumprida a curta mas sentida romagem ao memorial dos grandes campeões Italianos.



Os 18 jogadores que pereceram no acidente de Superga no dia 4 de Maio de 1949. Também pereceram os técnicos Leslie Lievesley e Ernö Erbstein, o massagista Osvaldo Cortina, os dirigentes Arnaldo Agnisetta, Ippolito Civalleri, Andrea Bonaiuti, os jornalistas Renato Casalbore, Luigi Cavallero e Renato Tosattie os membros da tripulação Pierluigi Meroni, Antonio Pangrazi, Celestino d' Inca e Cesare Biancardi. Ao todo faleceram 31 pessoas.



Um choque profundo em Turim, em Itália, no mundo inteiro. Fonte: BND



Os filhos do Campeão


Filhos de campeão que foram campeões. Assim se pode resumir o trajecto dos dois manos Mazzola, filhos de Valentino.



Os dois irmãos desde cedo se encantaram pela Internazionalle. Logo em 1954 os dois manos posaram ao lado de Ghezzi, guarda-redes da Inter. Depois, já na década de 60 os dois manos ainda chegaram a jogar ao mesmo tempo com a camisola azul-negra.


Veio cedo o fascínio dos manos Mazzola pelo mundo do futebol. Era inevitável, ditado pelo sangue e pelo exemplo paternal. Bem vistas as coisas, nas poucas memórias que guardaram do seu pai, houve ainda espaço para a recordação de momentos felizes onde esteve presente uma bola de futebol.



Memórias com bola. Fonte: Vecchie Glorie Toro


Os dois irmãos cresceram na memória querida de um Pai eternamente Campeão. Viviam rodeados pelo futebol, num país que nunca cessou de lamentar aquela perda que marcou o fim de uma era. E, regularmente, o mundo do futebol vinha ter com eles.



Dois instantâneos de uma evocação da memória do Valentino. Sandro e Ferruccio ao lado de José Altafini, o Brasileiro que virou Italiano e que ao serviço do AC Milan veio a ser o nosso carrasco na final de Wembley em 22 de Maio de 1963.



Alessandro "Sandro" Mazzola




Sandro nasceu em Turim, no dia 8 de Novembro de 1942. Era o filho mais velho de Valentino e como o Pai, quando cresceu veio também a ser um extraordinário futebolista. Foi um homem de um só Clube, fazendo toda a sua carreira (1960-1977) na Internazionalle de Milão.

Sandro Mazzola foi indiscutivelmente um dos melhores jogadores do futebol italianos de sempre. Jogou geralmente como interior direito ou até como avançado sendo considerado como veloz, criativo, habilidoso. Foi segundo classificado na eleição da Bola de Ouro de 1971, ganha por Johan Cruijff. Ao serviço dos neroazurri, Mazzola venceu 4 títulos da Serie A (1963, 1965, 1966 e 1971), 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1964 e 1965) e 2 Taças Intercontinentais (1964 e 1965).




O presidente, o treinador e o plantel da FC Internazionale de Milano, bicampeão Europeu em 1964 e 1965 Fonte: http://twb22.blogspot.pt e The Sun.


Na Squadra Azurra


Na selecção italiana, Sandro teve também grandes sucessos. Sandro foi campeão Europeu em 1968 quando a selecção Italiana foi anfitriã do torneio. Essa fase final do torneio contou apenas com 4 equipas, a saber: Itália, Inglaterra, Jugoslávia e URSS. Os italianos venceram a selecção da Jugoslávia por 2-0 numa finalíssima, isto depois de numa primeira partido terem empatado por 1-1. Para trás tinha ficado uma meia-final em que a Itália eliminou a URSS por decisão de moeda ao ar após um empate 0-0 no final dos 90+30 minutos regulamentares. Sandro foi escolhido para a Equipa do Torneio.

Em 1970, Sandro também participou no Campeonato do Mundo do México, um dos torneios mais deslumbrantes da história do Futebol. A selecção Italiana chegaria à final mas perdeu-a (1-4) para o extraordinário Brasil de Pelé, Tostão, Carlos Alberto, Gérson, Rivelino e Jairzinho, entre outros. Nas meias-finais, Sandro jogou a primeira parte daquele que veio a ser chamado o "jogo do século". Nessa partida a Itália derrotou a Alemanha de Beckenbauer por 4-3, após um prolongamento dramático; ver: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_do_s%C3%A9culo_(futebol).

Para lá desses dois torneios, Sandro também participou nos Campeonatos do Mundo da FIFA de 1966 (Inglaterra) e 1974 (Alemanha), embora com menos sucesso. Em 1977 chegou o fim de carreira, sempre ao serviço da Inter. Depois do futebol Sandro ainda trabalhou como comentador de futebol na RAI.



Os dias felizes na Squadra Azurra.




A final da vergonha


Com o que atrás se disse, percebe-se que Sandro Mazzola se voltou a cruzar com o Sport Lisboa e Benfica naquela sombria final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, disputada em Milão no dia 27 de Maio de 1965.

Sandro Mazzola era já uma das principais figuras da equipa que nos venceu numa final que foi superiormente arbitrada pelo Suiço Dienst, o mesmo árbitro que tinha apitado a final de Berna, 1961.

Inicialmente a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1965 foi marcada pela UEFA para o Estádio Olímpico de Roma. O jogo no entanto veio a ser disputado em San Siro, ou seja na casa da Inter. Esta triste decisão resultou de um despudorado cozinhado entre os dirigentes de topo da UEFA e os dirigentes da Inter. Foi uma vergonha que mancha para sempre as instituições envolvidas. Um lodaçal do dirigismo europeu.

Para piorar o que já era mau, nessa noite o relvado de San Siro esteve transformado num charco de água e de lama. Nesse outro lodaçal, a equipa mais beneficiada foi obviamente a Inter pois tinha como estratégia primária defender, e como estratégia secundária defender. Com isso a Inter assumiu a notória superioridade de classe e de virtuosismo técnico do Benfica. Criaram-se assim as condições perfeitas que a dupla Herrera / Moratti tanto procurou. A ideia seria jogar futebol? Sim, mas não muito.








Nesse dia o catenaccio de Helénio Herrera acabou por ser premiado com o frango e com a incapacidade física e mental de Costa Pereira.

O Catenaccio é um sistema incontornável na história da evolução das tácticas do futebol. Foi um produto do seu tempo, um sistema talvez inevitável na evolução do Futebol que até aí tinha sempre privilegiado as estratégias ofensivas. Consistia numa certa maneira de interpretar o jogo, prescindido do talento e de uma estratégia ofensiva, para adoptar uma postura ultra-defensiva que bloqueasse o adversário.

Uns anos mais tarde, sem criticar abertamente mas fazendo uma nota acutilante, Béla Guttmann diria que o Catenaccio era como ter 7 Carusos e manda-los todos para um coro em vez de os colocar a brilhar como solistas... Não admira pois com Guttmann o futebol foi sempre ofensivo, de posse de bola, mas sempre na procura do golo.

A realidade é que o Catenaccio impôs-se durante muitos anos no futebol Europeu. Em Itália foi refinado até à perfeição, tornando-se o modelo padrão do país, de tal forma que ainda nos anos 80 era comum olhar-se para as tabelas de resultados da série A e poder contar-se com os dedos de duas mãos todos os golos da jornada... Como teria sido se Herrera não tivesse sido tão bem sucedido? E se o Benfica tivesse vencido nessa noite?

Há ainda que dizer que esse calculismo italiano, alguns diriam mesmo cinismo, tem de ser aceite como uma das interpretações possíveis do futebol. Nessa década, em particular, essa postura trouxe muito sucesso desportivo a alguns clubes italianos, mas não deixa de ser lamentada para todos os que gostam do futebol-arte e que acreditam que é na promoção dessa beleza que se garante a continuidade do fascínio e da popularidade do desporto-rei.

Haveria ainda que esperar pela Holanda de Cruijff, para que com o Futebol-total se destruísse de vez a ideia que ao Catenaccio estavam associados os métodos mais eficazes para se conquistar títulos.

Certo é que nessa noite, Coluna, Eusébio, Torres e restantes companheiros nada puderam fazer. No nosso banco, Elek Schwarz foi impotente para conseguir que o Benfica marcasse um golo aos italianos. Como teria sido com Guttmann? Não poderemos nunca responder a essa questão mas teria sido interessante ver um duelo Herrera-Guttmann.



Em baixo, duas imagens, uma do princípio e outra do final do jogo. Prevaleceu no entanto a imagem de cima, que captou a pior defesa da vida de Costa Pereira.



Quanto ao desfecho dessa noite e o futebol que foi possível jogar nessas condições, as crónicas desse dia não deixam dúvidas sobre o que se passou nessa noite tempestuosa de Milão.



As crónicas do jornal "A Bola" da autoria dos grandes jornalistas Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari, deixaram bem expressas a injustiça do que aconteceu naquela noite.


De Helénio Herrera, figura incontornável do futebol da década de 60, há que salientar que foi muito titulado com esse sistema que ele usou de forma refinada e cínica. Bastas vezes com postura arrogante, teve com certeza muitos méritos técnicos e tácticos para refinar de forma tão perfeita o seu catenaccio.

Sobre o desfecho dessa noite de Milão. Herrera foi igual a si próprio para dizer de forma recheada de arrogância e soberba que a sua equipa tinha conseguido um triunfo justo e que não estava muito eufórico pois estava habituado a momentos desses. É destas figuras que a História do Futebol precisa para fazer o contraste com aqueles que efectivamente souberam contribuir para a beleza do futebol e para a promoção do espírito desportivo.



Ecos da noite de Milão.



Mas, Independentemente da justeza ou não do desfecho desse jogo, e também da infelicidade de uns e da felicidade de outros, é importante dizer que essa noite será para sempre o sinónimo de uma das maiores vergonhas da história da UEFA. Foi inconcebível e indesculpável que o SLB tenha sido obrigado a jogar na casa do adversário numa final disputada a um só jogo. Foi uma mancha que para sempre mostrará como alguns dirigentes podem decretar de forma arbitrária e sem um pingo de vergonha, algo que rebaixa as instituições que deviam reger o futebol na efectiva persecução do desportivismo e do fair play. Infelizmente não seria a última com que a UEFA "presentou" o Benfica com semelhante medida. São factos e não choros.




Ecos da noite de Milão.



Mas voltando aos irmãos Mazzola, falemos agora ainda que brevemente no mano Ferruccio



Ferruccio Mazzola



Ferruccio Mazzola nasceu em Turim, no dia 1 de Fevereiro de 1945 e faleceu em Roma no dia 7 de Março de 2013. Era o filho mais novo e como o pai e o irmão foi futebolista, embora com uma carreira mais modesta.

Talvez no seu caso o apelido Mazzola tenha pesado mais, não apenas porque tinha sido herdado mas também era usado com grande sucesso pelo mano mais velho. Ao contrário do seu irmão, Ferruccio jogou em muitos clubes, isto embora também tenha iniciado a sua carreira na Inter. Jogaria depois – e nem sempre muito - no Veneza, Lecco, Fiorentina e na Lazio de Roma. Foi aliás quando estava novamente no plantel da Lazio (depois de um ano na Fiorentina), que conquistaria o Scudetto de 1973-1974. Infelizmente para Ferruccio nessa época já não disputou qualquer jogo nessa temporada. Para lá desse título, durante a sua carreira Ferruccio ajudou a conquistar dois campeonatos da Séria B ao serviço do Venezia (1965-1966) e da Lazio (1968-1969). Abandonou a carreira em 1977 e foi ainda treinador e dirigente.



Uma outra tragédia


Para lá o da ligação eterna entre o Sport Lisboa e o AC Torino, o Toro é um Clube que merece o mais profundo respeito e carinho pelos Benfiquistas. Ao contrário do vizinho, que (tinha de ser) joga com camisola às riscas e que já foi condenado por corrupção, o Toro tem mantido uma postura digna, glorificada pelo passado embora sempre ensombrado por Superga.

Fundado em 1905 e refundado (Torino FC) em 1995, o Toro merecia talvez ter tido mais sorte e critério aquando da tentativa de reconstrução da sua equipa feita após a tragédia de 1949. Não teria sido possível fazer de outra forma pois a competição com os outros grandes de Itália era grande e como se disse no texto apenas lhes restaram dois jogadores. Talvez se Agnelli tivesse sido adepto do Torino e não da Juventus a história tivesse sido muito diferente... Foi tudo muito trágico.

E trágicos foram outros episódios desse grande Clube. Um deles, talvez o mais mediático foi a morte de Gigi Meroni, outro grande jogador internacional A, que foi vítima de um trágico acidente de automóvel em 15-10-1967. Ao que parece tinha tudo para ser um jogador marcante. A Juventus esteve quase a conseguir a sua contratação mas um início de motim entre os adeptos do Toro acabaria por evitou essa transferência. Poucos meses mais tarde foi atropelado e não sobreviveu. Trágico.



Gigi Meroni, outra tragédia do Toro. Fonte: Tutosport



O AC Torino ainda foi campeão em 1975-76 mas nunca mais assumiu o estatuto de maior equipa de Turim e de Itália. Esperemos e desejemos que o Toro venha a conseguir novos êxitos no seu futuro.



O plantel que conquistou o Scudetto de 1975-1975.







Honra, respeito e glória ao Torino. Que tenham mais sucesso nas terras transalpinas do que somente ser uma equipa do meio da tabela da série A. E já agora subir mais uns degraus nas competições da UEFA.

Alexandre1976

Também tenho grande apreço pelo Torino.Embora a squadra que mais gosto em Itália seja o Inter(por causa do tridente alemao Matthaus,Brehme e Klinsmann),tambem sigo com atençao o percurso de Napoles e Roma.O desprezo total é para a Juve,uma especie de porcos á escala italiana.

alfredo

#749
Citação de: RedVC em 09 de Março de 2018, 22:35
-205-
Superga por um fio

Turim, algures na década de 70.




Lázsló Kubala visita o memorial às vítimas da tragédia de Superga.

Como nos relembrou recentemente o jornal Mundodeportivo, a propósito da tragédia da Chapecoense, Kubala, mais do que ninguém, tinha motivos para fazer aquela visita. Em 1949, recebeu um convite para integrar a comitiva do AC Torino que se deslocou a Lisboa para no dia 3 de Maio de 1949, disputar um jogo de homenagem ao capitão do Benfica, Francisco Ferreira.

A tragédia de Superga poderia assim ter sido o primeiro e último cruzamento entre Kubala e o Benfica. Quis o acaso ou se quiserem o destino, que este grande jogador não tivesse perecido naquele horrível acidente. A história merece um pouco de desenvolvimento que servirá de complemento ao texto anterior.



A notícia do Mundodeportivo.



Em 1949, Kubala era um jogador livre, depois de se ter exilado definitivamente do seu país-natal e tentado a sua sorte no futebol Italiano. Apesar de estar impedido pela FIFA de disputar jogos oficiais, ainda assim o AC Torino via naquele jovem Húngaro uma excelente oportunidade para reforçar ainda mais a sua valorosa equipa. Kubala tinha nos poucos meses em que efectuou jogos particulares pelo Pro Patria, demonstrado o seu excelente futebol e com isso despertado o interesse dos grandes de Itália. Os dirigentes do AC Torino terão pensado que o jogo particular de Lisboa seria o palco ideal para aquilatar das capacidades de integração de Kubala naquela fantástica equipa. Kubala terá aceitado e por isso esteve previsto o seu embarque no avião fatal.

Felizmente para ele e para o futebol, à última hora acabaria por não embarcar. Existem versões ligeiramente diferentes para explicar as razões de Kubala não ter embarcado. Uma delas refere que a mulher e o filho de Kubala tinham chegado recentemente de Bratislava e que o esperavam na cidade de Udine. Uma outra versão refere que Kubala não terá embarcado porque o seu filho estava doente e com febre.



Seis anos depois, Kubala e a sua família... Fonte: todocoleccion



Não embarcaram e por isso salvaram-se do terrível desastre apenas três homens:

o defesa Sauro Tomà, que falhou a vinda a Lisboa devido a uma lesão no menisco;

o guarda-redes suplente Renato Gandolfi, que não veio a Portugal em desfavor de Dino Ballarin por pressão do seu irmão Aldo Ballarin;

e o húngaro Lázsló Kubala, pelas razões atrás mencionadas. Como recentemente se escreveu no Mundodeportivo, o homem que anos mais tarde mudaria a história do FCB, salvou-se por um triz. Superga por um fio...



Renato Gandolfi e Sauro Tomà. Fonte: liberopallone.blogspot.pt



Para trás perdeu-se irremediavelmente uma grande equipa. Perderam-se bravos homens, enlutaram-se famílias, enlutou-se o futebol. Para Kubala, Galdolfi e Tomà houve lugar a uma segunda oportunidade. Todos a terão aproveitado bem mas a História do futebol registou a letras de ouro a contribuição do mágico magiar László Kubala.

Para trás ficou também esse jogo mítico em que a homenagem a Francisco Ferreira, o grande capitão do Sport Lisboa e Benfica, se tornou um memorial à generosidade, ao talento, à sã convivência entre os homens do futebol. Quase todos os Benfiquistas que jogaram nesse dia já partiram mas para sempre ficaram registadas as imagens daquele dia e daquela vitória magnífica do Benfica e a derrota honrosa do AC Torino. O último dia do Gran Torino.



O último jogo do AC Torino. Estádio Nacional, SL Benfica 4 – Torino AC 3.




A equipa do AC Torino




A equipa do SLB




Imagens do grande jogo que o SLB venceu por 4-3.




Antes e depois da fatídica viagem.





Tal como Kubala, também a equipa do SL Benfica homenageou por diversas vezes, de forma digna e emotiva, aqueles bravos e infortunados homens. Numa dessas ocasiões, no dia 14 de Maio de 1968, Mário Coluna, José Torres, José Augusto, Adolfo Viera de Brito e Eusébio, deslocaramse ao memorial de Superga e apresentaram a sua homenagem e agradecimento aos bravos heróis do Gran Torino. De campeões para campeões.



Campeões Portugueses homenageando os campeões italianos que pereceram em Superga. Fonte: EDB




essas nossas camisolas...  :smitten: quanto nao daria por uma delas para ter na minha colecao...