Decifrando imagens do passado

Jayson Tatum

#1290
Citação de: Guardião Encarnado em 04 de Dezembro de 2022, 14:24
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 13:31
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não ficaria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna com que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.

Bem lembrada a conexão com Pedro Álvares Cabral. É provável a ligação.

Muito obrigado, Red!

Sou natural de Belmonte e confesso q não estou a ver qual é o restaurante. Diz aí que posso tentar saber a ligação.

Já fizeram o meu dia  :drunk:

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)

Vitor21

Fui passar uns dias a um hotel na zona do Douro. Na parede em frente ao meu quarto tinha uma foto e reparei num pormenor  :slb2:
Reparem no joelho do homem da foto



RedVC

#1292
Citação de: Vitor21 em 04 de Dezembro de 2022, 17:45
Fui passar uns dias a um hotel na zona do Douro. Na parede em frente ao meu quarto tinha uma foto e reparei num pormenor  :slb2:
Reparem no joelho do homem da foto



Isso é foto dos anos 80.  :cool2:

Usavam-se esses remendos de marcas para tapar rasgões nas calças. Hoje é bem mais simples pois se não tem rasgões, fazem-se uns  ;D

E depois, o detalhe da bainha virada e das meias brancas... Inconfundível.

Benfiquista a divertir-se com a sua miúda. À noite ouvia o relato  ;D


Guardião Encarnado

Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 17:40
Citação de: Guardião Encarnado em 04 de Dezembro de 2022, 14:24
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 13:31
Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não ficaria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna com que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.

Bem lembrada a conexão com Pedro Álvares Cabral. É provável a ligação.

Muito obrigado, Red!

Sou natural de Belmonte e confesso q não estou a ver qual é o restaurante. Diz aí que posso tentar saber a ligação.

Já fizeram o meu dia  :drunk:

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)

Já me estive a informar. Abriu muito recentemente. Nunca fui. Aparentemente, é de facto de imigrantes brasileiros.

Tenho de lá dar um pulo, passei lá há 2 semanas e cativou-me a esplanada!

xico17

Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04



Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?






"Apanhámos pela frente um super Flamengo."





Desculpem, continuem. Estou a gostar de aprender.

RedVC

#1295
Citação de: xico17 em 04 de Dezembro de 2022, 20:05
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04



Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?






"Apanhámos pela frente um super Flamengo."





Desculpem, continuem. Estou a gostar de aprender.


Nunca pensei que uma menção dessa criatura chegasse a este tópico  :crazy2:

;D

Pasárgada

Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 13:23
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 12:04
Muito obrigado, RedVC!

Que acuidade. Não imaginei que fosse possível identificar tão rapidamente a correspondência.

Tinha quase a certeza acerca do José Águas e do Costa Pereira (bem como do Coluna pelo contexto), mas não fazia ideia do ano.

Muito obrigado, uma vez mais.

O prazer é meu.
A ligação não é fortuita. Belmonte é terra natal de Pedro Álvares Cabral. E, como disse, esse torneio e esse dia, no Rio de Janeiro, foi muito importante para a comunidade portuguesa que lá estava emigrada.

Não seria surpreendente se houvesse alguma tradição familiar do dono, antigo ou atual, do restaurante a memórias desse dia.

O Benfica é imenso. Lá fora percebemos melhor isso.

Partilho uma história pessoal:

Há alguns (muitos) anos, fui estudar durante 1 ano para a Suécia.
Fiquei numa residência universitária.
Quando saí do quarto, na primeira manhã, reparei que tinha um galhardete do Benfica afixado na porta...

Perguntei quem o tinha lá colocado e logo apareceu um sueco, Martin, que disse que era de Falkenberg e que durante as férias trabalhava numa estância onde o Benfica tinha estagiado como parte da pré temporada. ..

E falou, falou, falou, sobre os jogadores, sobre Toni, etc, elogiando tudo e todos. Que orgulho foi ouvir aquelas palavras.

Depois de umas curtas férias de Natal, levei um cachecol ao Martin. Estou certo que ainda hoje deve ficar feliz quando vê o Benfica vencer. Fica para a vida.

Parte da grandeza do Benfica é também esta componente social. É termos homens íntegros e com uma noção do que é ser a imagem do Clube dentro e fora de portas. As vitórias começam fora do campo. O prestígio faz-se também pela impressão positiva, honrosa e digna, que os nosso atletas, técnicos e dirigentes deixam por esse mundo fora. Fica para a vida inteira. E multiplica-se.

É o Benfica. Somos nós. Do mundo e para o mundo.
Isto para mim é que é beber, comer e respirar Benfica! Um deleite ler estas histórias e a prontidão de como identificaste a fotografia ( pintura ) do tal restaurante! Uma maravilha ler estas coisas. Viva o Benfica.

Flak_Benficatv

Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04



Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Qual o nome do restaurante?

RedVC

Citação de: Flak_Benficatv em 04 de Dezembro de 2022, 22:28
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04



Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Qual o nome do restaurante?

Está em cima, o Jayson já o mencionou

Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 17:40
...

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)

RedVC

-339-
Morte no balneário (parte I – de dor e de talento)

7 de dezembro de 1966. Olhão, Algarve.





Tocando num caixão coberto pela bandeira do Sport Lisboa e Benfica, a mãe de Luciano, chorava a maior dor que se pode sentir.

À sua volta, rostos de angústia, estupefação, consternação. O drama tocava todos, perante a perda trágica de um homem na flor da vida, um desportista de talento, um bom companheiro. Luciano tinha morrido eletrocutado, dois dias antes, em pleno balneário do Estádio da Luz.


Evocação

Passam hoje 56 anos da trágica morte de Luciano, ocorrida em pleno balneário do Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Evoca-se o homem, o filho, o atleta. Honre-se a sua memória.


Ascensão

Luciano Jorge Fernandes nasceu em Olhão, no dia 6 de agosto de 1940. Foi um futebolista que atuava no sector defensivo e a quem eram reconhecidas grandes qualidades. Luciano iniciou-se no futebol com a camisola rubro-negra do SC Olhanense e com ela cumpriu 7 anos de competição.



Luciano nos seus tempos rubro-negros. Fonte: olhanense.net


O SC Olhanense é um clube histórico do futebol português, tendo na temporada 1923-1924 conquistado um campeonato de Portugal (prova antecessora da atual Taça de Portugal). Nessa altura tinha uma grande equipa em que o expoente foi o famoso Raúl Figueiredo "Tamanqueiro", médio internacional que vestiria também de águia ao peito, de 1925 a 1928. O glorioso Tamanqueiro já recebeu amplo e merecido destaque neste tópico (ver textos 177 a 181- Tamancos de oiro, partes I a V; pág. 46 e 47).

Oriundo de uma família de parcos recursos, Luciano ingressou nos juniores do SC Olhanense na temporada de 1956-57, onde se destacou, ascendendo à primeira equipa em 1958-59, quando os rubro negros disputavam o campeonato nacional de futebol da segunda divisão.

Depois de durante quase toda a década de 40, o futebol do SC Olhanense se ter notabilizado com classificações honrosas no campeonato nacional da primeira divisão, os rubro-negros militaram na segunda divisão durante toda a década 50. Com o valioso contributo de Luciano, a equipa principal do SC Olhanense concretizou o regresso à primeira divisão na temporada de 1960-1961.



A festa do regresso do SC Olhanense à primeira divisão. Fonte: olhanense.net



Na divisão principal, Luciano cumpriria ainda mais duas temporadas de rubro-negro, conquistando, por duas vezes, o 8º lugar entre 14 participantes. A consistência e a qualidade das suas exibições despertaram o interesse do SL Benfica, que o recrutou para os seus quadros na temporada de 1963-1964.



Um artigo da época sobre Luciano. Inclui uma fotografia de um jogo entre o SCO e o SLB, em que Luciano enfrenta Cávem, seu futuro companheiro, e que com ele poderia ter morrido no fatídico acidente. Fonte: ANTIGAS GLÓRIAS DO FUTEBOL ALGARVIO E ALENTEJANO



De águia ao peito




No Benfica, mal-grado uma sucessão de irritantes lesões, Luciano confirmou ser um defesa de valor, eficiente, e com a qualidade técnica exigida pelo lugar. As recorrentes condicionantes físicas foram sempre o problema. Luciano era visto como o provável sucessor de Germano de Figueiredo, na liderança do eixo central da defesa Benfiquista, mas nunca pode confirmar as expectativas por via dessas condicionantes físicas.

E se o destino não tivesse sido tão cruel, provavelmente teria integrado uma linha de grandes centrais benfiquistas que teve nomes como Félix Antunes (década de 40), Artur Santos (50s), Germano de Figueiredo (60s) e Humberto Coelho (70s).

Luciano chegou ao Benfica na temporada em que o romeno Lajos Czeiler liderou o futebol benfiquista. Seria uma temporada de intenso domínio benfiquista nas provas nacionais, e também a melhor temporada de Luciano com a águia ao peito.

A sua estreia com o manto sagrado ocorreu no Estádio da Luz, no dia 5 de setembro de 1963, num evento de grande simbolismo para o Benfiquismo, em que José Águas teve a sua merecida festa de despedida, terminando uma carreira esplendorosa. Entre outras atividades, o SL Benfica disputou um jogo particular em que defrontou e venceu o FCP, por 3-2.

Entre as diversas substituições, Águas passou o testemunho a Torres enquanto que Luciano entrou para o lugar de Ângelo Martins. E, apesar de uma desatenção inicial que originou de um dos golos portistas, Luciano reagiu, mostrando caráter, quando poucos minutos depois fez uma assistência para um golo de José Torres. Estava ali um jogador para o futuro.



5 de setembro de 1963, o dia da estreia de Luciano, na festa de despedida a José Águas.


Nessa primeira temporada, Luciano cumpriu 27 jogos oficiais, sendo 20 deles no campeonato (nota: números não verificados), tendo contribuído de forma relevante para a conquista do título nacional, garantida com 6 pontos de avanço sobre o FCP, 2º classificado, e que seriam 9 pontos no sistema de pontuação utilizado atualmente. Luciano foi opção regular até se ter lesionado gravemente em Guimarães, no dia 8-03-1964.

O Benfica conquistou também a Taça de Portugal dessa temporada, depois de esmagar o mesmo FCP, na final do Jamor, por 6-2. Nessa final, Germano de Figueiredo foi o titular no centro da defesa, mas Luciano participou em 4 dos 11 jogos da competição.

Infelizmente, a nível internacional a temporada não correu nada bem. Logo na 2ª ronda da Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Benfica foi eliminado de forma escandalosa perante o Borussia de Dortmund. Depois de uma vitória em Lisboa por 2-1, onde se desperdiçaram muitas oportunidades de golo, a nossa equipa foi copiosamente derrotada (0-5) em Dortmund, sofrendo 3 golos de rajada entre os minutos 33 e 36...

Nessa noite fria de Dortmund, sentiram-se muito as ausências de jogadores nucleares como eram Eusébio, Torres, Germano, Raúl, Neto, Ângelo e Costa Pereira. Luciano jogou ambos os jogos, mas em Dortmund, tal como os restantes companheiros, revelou grande inadaptação ao frio, às condições do terreno e à capacidade atlética do adversário.



A equipa benfiquista que não evitou o desastre em Dortmund, a 4 de dezembro de 1963




Luciano ao lado do guarda-redes Rita, a tentaram bloquear uma das investidas germânicas.




Outra imagem extraordinária da impotência Benfiquista na noite de Dortmund. Luciano em primeiro plano a tentar ajudar o guarda redes Rita. Fonte: Gettyimages



A nível de seleções, quando chegou ao Benfica, Luciano contava já com uma internacionalização na seleção sub-21. Foi internacional ao lado dos futuros companheiros Jacinto, Jaime Graça e Serafim.

Em 15 de novembro de 1964, quando já integrava os quadros benfiquistas, o selecionador nacional Manuel da Luz Afonso, convocou-o para a seleção B, para disputar um jogo em Cordóva, contra a sua congénere espanhola (ver: https://www.fpf.pt/Jogadores/Jogador/playerId/730171). Seria a sua última internacionalização. A internacionalização pela seleção A nunca chegaria, ao contrário do que se lhe augurava.



Uma das duas internacionalizações de Luciano; a seleção sub-21 que defrontou a Grécia, no Estádio Nacional no dia 14-04-1963 (vitória por 2-1).


Infelizmente, nas duas temporadas seguintes, Luciano jogou muito pouco, condicionado por sucessivas lesões. Nesse contexto, as negociações para renovação do seu contrato foram difíceis, levantando-se muitas dúvidas nos dirigentes do Benfica quanto à possibilidade de recuperar o atleta.

Atingido o acordo negocial, Luciano iniciou a temporada de 1966-67, encarando-a como uma nova oportunidade de confirmar as suas qualidades e reverter a má-sorte que até aí o havia atingido.

O Clube vivia então a ressaca da perda do campeonato nacional na temporada anterior, durante um turbulento e frustrante regresso de Béla Guttmann. No entanto, com o regresso do chileno Fernando Riera ao Benfica e com a notável prestação da linha ofensiva Benfiquista no Mundial de 1966, abriam-se boas perspetivas quanto à nova temporada. E assim seria, numa temporada em que o nosso mais forte oponente foi... a Académica de Coimbra!



Dia 31 de janeiro de 1965, Luciano titular no empate arrancado em Alvalade: SCP 2- SLB 2.


Como se esperava, o Benfica arrancou bem no campeonato, registando 8 vitórias e 1 empate nas primeiras 9 jornadas, ali se incluindo duas vitórias conclusivas, na Luz, sobre SCP e FCP, ambas por 3-0. Essa série foi fechada a 4 de dezembro, com uma vitória em casa da Sanjoanense por 3-1.

Riera era um treinador que privilegiava equilíbrios táticos, não se convencendo com vertigens ofensivas. Para esse modelo de jogo, Riera contava com excelentes opções para o centro da defesa: Germano, Raúl, Jacinto, Humberto Fernandes e Luciano.

Não sendo particular apreciador das características de Germano de Figueiredo, Riera deu a titularidade a Luciano nas 5 primeiras jornadas até que este se lesionou no jogo contra o Atlético CP, em 16-10-1966. Até esse jogo, embora mostrasse a sua qualidade, notava-se que Luciano jogava algo condicionado pelo medo de novas lesões, mas isso era compreensível depois de um calvário de lesões. Naquele início de dezembro de 1966, a recuperação estava em curso, e Luciano tinha perspetivas legítimas de recuperar o lugar na equipa.


Detalhes adicionais sobre o trajeto Benfiquista de Luciano, podem ser lidos, aqui:
https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/12/luciano-54.html


No próximo texto falaremos da manhã do trágico dia de 5 de dezembro de 1966.




Flak_Benficatv

Citação de: RedVC em 04 de Dezembro de 2022, 23:29
Citação de: Flak_Benficatv em 04 de Dezembro de 2022, 22:28
Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 11:04



Existe esta pintura num restaurante em Belmonte.

Alguém consegue identificar está equipa (época e jogadores)?

RedVC, consegues ajudar?

Qual o nome do restaurante?

Está em cima, o Jayson já o mencionou

Citação de: Jayson Tatum em 04 de Dezembro de 2022, 17:40
...

Taverna
(Rua Pedro Álvares Cabral, 227)


Muito obrigado forte abraço

RedVC

#1301
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.



Voros1904

Citação de: RedVC em 05 de Dezembro de 2022, 18:56
-340-
Morte no balneário (parte II – de tragédia)

Sessão de banhos no balneário do Estádio da Luz. Foi num dia assim, que a tragédia caiu sobre o Sport Lisboa e Benfica.


Luciano ladeado por José Augusto e Germano, numa sessão de banhos no balneário da Luz. Fonte: Record


Naquela fatídica manhã de 5 de dezembro, o plantel benfiquista, cumpria um dia de treino de recuperação, onde se incluíam banhos e massagens, no tanque da Luz. Desde há alguns anos, o Benfica contava com infraestruturas e equipamentos para esses procedimentos de recuperação. Não havendo os modernos jacuzzis, estavam, no entanto, já disponíveis aparelhos elétricos que eram colocados dentro de água para provocar um efeito vibratório de massagem.



No início da década de 60, os banhos e hidromassagens eram já usados no futebol Benfiquista. Fonte: Museu SLB


O acidente explica-se por uma conjugação inadmissível de circunstâncias infelizes. Sem que o treinador Fernando Riera e o seu adjunto Fernando Cabrita soubessem, e mesmo sem que Domingos Claudino, diretor de campo do Estádio da Luz, também soubesse; um novo aparelho para hidromassagem foi usado nessa sessão de banhos e massagens. A autorização terá vindo da equipa médica do Benfica, confiando que, em termos técnicos, a segurança seria salvaguardada.

As circunstâncias do acidente não foram totalmente comunicadas. Segundo as recordações de José Augusto, naquele tempo estava em experiência um aparelho americano que tinha um cabo curto, tendo por isso sido feita uma extensão que terá sido isolada para evitar problemas. Infelizmente não se contou com o vapor da água e com a condensação que terá caído sobre a zona do isolamento e terá provocado a eletrocussão.

Tudo se desencadeou num instante de terror. De repente levantou-se uma enorme gritaria no balneário, tendo quem estava na zona, acudido aos jogadores que estavam dentro do tanque.

Segundo José Augusto, Luciano seria o homem que estava a segurar o aparelho e por isso terá sido ele quem levou a carga maior. Outros disseram que era Luciano estava submerso aquando da eletrocussão e por isso foi o mais exposto. Luciano sem hipóteses, terá tido morte instantânea. Em desespero, o Doutor Azevedo Gomes ainda executou duas punções diretamente no coração de Luciano, mas de nada valeu. Já nada havia a fazer. A morte foi confirmada.

Mas, no balneário viviam-se outros dramas. Estendidos no chão, outros jogadores lutavam pela vida. Assistidos pela equipa médica, durante horas, sofreram convulsões e para alguns o fio da vida esteve prestes a ser cortado.



Uma tragédia impensável.


Nesse dia, também Cavém, Eusébio, Santana, Malta da Silva, Carmo Pais, e Camolas estiveram às portas da morte. Todos eles foram eletrocutados.



Quem pode sequer imaginar o que teria sido se todos aqueles jogadores tivessem morrido eletrocutados, ali, naquele dia trágico?

Eusébio... seis meses depois do esplendor do Mundial de 1966, morto por eletrocussão?! Eusébio, a figura maior do futebol Benfiquista... E todos os outros, que tanto prestígio nos deram, antes e depois do acidente...

Foi Jaime Graça que os salvou.


Foi Jaime Graça que os salvou.


Chegado ao Clube apenas uns meses antes, Jaime Graça foi, nesse dia, o homem providencial, o anjo da guarda. Também afetado pelas descargas, Jaime Graça revelou um notável sangue frio, e, valendo-se dos seus conhecimentos de eletricista, conseguiu desligar o quadro e evitar a morte dos companheiros.



Jaime Graça, o anjo salvador, só não conseguiu salvar Luciano.



Em 2010, Jaime Graça lembrava o acidente, numa entrevista ao jornal I: "Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.". E acrescentou: "Noutras condições e mais despreocupados, teríamos sido atingidos sem solução. Pobre Luciano...".

Também Cavém lembrava: "Foi tudo vertiginoso. Era como se um polvo gigantesco nos tivesse agarrado pelas pernas. Uns momentos mais e ninguém se salvava. O que me valeu foi agarrar-me ao varão da escada".

As consequências individuais e associativas foram terríveis. Nunca o Benfica tinha vivido tal tragédia.



Dor.


As manifestações de dor multiplicaram-se, atingindo a equipa, a direção, os adeptos. Foram dias de enorme sofrimento.



Dor.



O funeral



A comitiva fúnebre a atravessar a ponte sobre o Tejo.



De regresso à sua terra, num caixão, Luciano fez a sua última viagem, acompanhado por uma comitiva impressionante. Toda a equipa do Benfica acompanhou o corpo, mas não só. José Augusto recordou: "Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.".



Dor.



Mesmo num tempo bem distinto do mediatismo que atualmente rodeia o futebol, o funeral de Luciano seria televisionado para várias dezenas de países, que deram reporte da tragédia que envolvia um dos clubes mais prestigiados do mundo.



Dor.


O Benfica nunca tinha vivido tamanha tragédia. Nos dias de hoje, apenas temos um comparativo com a trágica perda de Miki Féher. Resta-nos evoca-los. Que ambos descansem em paz.




Luciano, quatro temporadas e 46 jogos de Águia ao peito
3 campeonatos nacionais e 1 Taça de Portugal
Para sempre recordado.
Descansa em Paz, Luciano.



Bom post. Nunca ouvi esta historia nem sabia que alguma vez estivemos tao perto de perder varios jogadores-simbolo do clube. Escrevo isto com lagrimas nos olhos.

Voros1904

Melhor topico do forum.
E nem sabia que existia. wow

RedVC

Citação de: Voros1904 em 06 de Dezembro de 2022, 12:48
Melhor topico do forum.
E nem sabia que existia. wow


Obrigado, Voros1904  O0

Em 8 de Novembro este tópico fez 9 anos. Quando o iniciei não fazia ideia do que seria. Sabia pouco da História do Benfica, e, passados 9 anos, continuo a aprender.
Essa descoberta e a interação com o pessoal do fórum, torna a presença regular no Estádio cada vez mais uma experiência recompensadora. Fiz-me Benfiquista pela mão do meu pai, mas passei a amar o Benfica pelo que vi, li e ouvi.
"Só nós sentimos assim".