Decifrando imagens do passado


administrador



Nunca tinha visto. Um deles canta a razão de estarmos aqui.

RedVC

#1382
Citação de: administrador em 16 de Março de 2023, 14:11

Nunca tinha visto. Um deles canta a razão de estarmos aqui.



Cantando "Ser Benfiquista"


Com Edith Piaf





RedVC

#1383
-348-
 
O Congresso dos pioneiros – parte I

Dia 23 de outubro de 1938, sede da Associação Comercial de Lisboa.

Um aspeto da assistência no dia inaugural do "I Congresso Nacional de Futebol", em 23-10-1938. Fonte: TT


Uma assistência, maioritariamente constituída por anciãos, assiste à sessão inaugural do "I Congresso Nacional de Futebol".

Este evento esteve integrado na "Semana comemorativa das Bodas de Ouro do futebol português", que decorreu de 23 a 30 de outubro. Para além do Congresso, foi ainda organizada a "I Exposição Histórica do Futebol (1888-1938)" e disputou-se um jogo de futebol, no dia 30 de outubro, entre a seleção nacional de futebol e um grupo misto, com diversos jogadores do campeonato nacional.

Voltando à sessão inaugural do congresso, identifica-se entre os assistentes, um homem que, mais do que todos os outros, merece o nosso destaque. Isto, apesar da forma discreta como se apresentou, característica aliás transversal à sua vida. Falamos de Cosme Damião (1885-1947), um dos nossos 24 fundadores, o pai do Benfiquismo, um inovador, um orientador, um concretizador, mas acima de tudo, um desportista de conduta irrepreensível.





Cosme Damião foi um dos numerosos anciãos presentes nos eventos dessa semana comemorativa, à qual, e sem pretensão de ser exaustivos, daremos aqui destaque neste e no próximo texto. Identificaremos e falaremos brevemente de alguns desses homens, salientando a sua contribuição, diligente, e generosa, para a implantação e desenvolvimento do futebol em Portugal. Outros, apesar de identificados, como são habitualmente mencionados neste tópico, não merecerão desta vez um desenvolvimento no texto.


Dois ilustres Benfiquistas entre a assistência do "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


"I Congresso Nacional de Futebol"

Os eventos da "Semana comemorativa das Bodas de Ouro do futebol português", pretenderam comemorar o 50º aniversário da introdução do futebol em Portugal. Decorreram por iniciativa do jornal "O Século", em colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF). O jornal "O Século" era então o mais prestigiado periódico português, dotado de excelentes profissionais e de um acervo fotográfico e documental verdadeiramente extraordinário, que está hoje em grande parte depositado na Torre do Tombo.

O congresso foi, o evento mais significativo dessa semana comemorativa, porque juntou grandes figuras, praticantes e pensadores, de diversas gerações. Foi um evento que não apenas homenageou quem o merecia ser, como também juntou gente válida, pensadores, que debateu soluções para as mudanças que vieram a ser introduzidas, a curto e médio prazo, nos modelos competitivos e até nas infraestruturas do desporto português.

Foram convidados e compareceram antigos e atuais jogadores dessa época, assim como árbitros, técnicos, jornalistas, dirigentes de clubes, representantes da FPF e das associações de futebol.

Entre a comissão organizadora, encontramos Francisco Calejo (1871-1944?), um antigo dirigente benfiquista, que nas décadas de 10 e 20 deu uma enorme contribuição ao Clube. Nesse ano de 1938, Francisco Calejo ainda revelava força e entusiasmo para se envolver nestas iniciativas.


A comissão organizadora das comemorações das bodas de ouro do futebol português. Fonte: TT


De Calejo, tivemos já a oportunidade de falar neste tópico (ver texto: -192- "Poeira do tempo: Francisco Calejo", pág. 48).


Em 1919, Francisco Calejo, Cosme Damião e Cândido de Oliveira, eram três figuras de destaque do Sport Lisboa e Benfica.


No entanto, a figura mais relevante entre os membros desta comissão organizadora, era Cândido de Oliveira (1896-1958). Jornalista, antigo casapiano e antigo jogador do SLB e do Casa Pia AC, Cândido era então selecionador nacional de futebol (e sê-lo-ia em 3 ocasiões; de 1926 a 1929, de 1935 a 1945, e em 1952).

Cândido de Oliveira era dotado de vastos conhecimentos quer em de aspetos técnicos quer quanto a muitos dos elementos organizativos do futebol desse tempo, tendo demonstrado essa competência quando exerceu diversos cargos federativos.

Nesta semana comemorativa, para além de integrar a comissão organizadora, Cândido de Oliveira apresentou também uma comunicação ao congresso, intitulada "A formação dos jogadores de futebol". Durante essa comunicação, mestre Cândido revelou a sua reconhecida erudição, dando também uma visão histórica da fascinante génese do futebol em Portugal. E tudo isto, tendo na assistência alguns dos mais relevantes pioneiros, sobreviventes desses tempos primordiais.


Cândido de Oliveira durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Ora, dois dos mais destacados pioneiros do futebol português, foram os irmãos Eduardo Ferreira Pinto Basto (1869-1944) e Guilherme Ferreira Pinto Basto (1864-1957). Em 1938, ambos estavam ainda vivos, e por isso foram convidados pela organização para estarem presentes e darem o seu testemunho. Os dois faziam parte da trintena de homens que participou no primeiro treino de futebol de que há registo em Portugal. Esse famoso treino, ocorreu em outubro de 1888, num domingo à tarde, no Jardim da Parada de Cascais.




Aliás, a História conhecida, diz-nos que o organizador desse treino de futebol terá sido justamente Guilherme Pinto Basto. Guilherme tinha regressado, cerca de dois anos antes, de Inglaterra, onde, tal como o irmão Eduardo, estudou num colégio particular.  E foi na velha Albion, que tomou contacto com esse "novo" desporto, então já massificado, e que tanto apaixonava os britânicos. De lá, trouxe uma bola de futebol, e o conhecimento das regras. Por cá, começou um trabalho paciente, e diligente, de divulgação da modalidade. Com inteira justiça, Guilherme esteve entre os oradores desse dia inaugural.


Guilherme Pinto Basto durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT



Guilherme Pinto Basto teve uma vida longa e extraordinária, mostrando sempre interesse pelo futebol e pelos seus executantes. Em 1950, esteve ainda no Jamor, quando o SL Benfica arrebatou a Taça Latina. Foi ele que entregou a Taça Latina ao nosso Rogério Pipi.


Após o Sport Lisboa e Benfica ter conquistado a Taça Latina, Guilherme Pinto Basto entrega a Taça a Rogério Pipi, o capitão improvisado desse dia.


Outro pioneiro em destaque no Congresso, foi o Comandante Joaquim Costa, então já um velho marinheiro, e figura prestigiada das primeiras décadas do futebol em Portugal. Apesar de estar mais ligado ao Lisbonense FC (hoje extinto) e depois ao CIF (ainda em atividade), Joaquim Costa consta também da pequena lista de sócios de mérito, e beneméritos, do Grupo Sport Bemfica. Durante o Congresso, Joaquim Costa mostrou que continuava a ser um orador vibrante, que continuava a mostrar uma enorme paixão pelo futebol.


O comandante Joaquim Costa durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Outro ilustre orador foi o jornalista, e olisipógrafo, Norberto de Araújo (https://norbertoaraujo.org/notas-biograficas/), que apresentou uma comunicação intitulada "O Futebol - sugestão de Arte". Para além das suas extraordinárias capacidades profissionais, e de uma erudição sem igual, Norberto de Araújo era igualmente um ilustre Benfiquista, tendo sido colega de Cosme Damião, nos anos em que trabalharam juntos no jornal "O Sport de Lisboa", no distante ano de 1913.


Norberto de Araújo durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT



Destaque também para Ricardo Ornelas (https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/02/obrigado-ornelas.html), antigo casapiano, e ilustre jornalista, que apresentou a comunicação "O ensino e a vulgarização das regras de jogo".



Ricardo Ornelas durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Destaque ainda para o prestigiado dirigente federativo Virgílio Paula, que fez também uma comunicação.


Virgílio Paula durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Apesar de estar mais ligado ao universo belenense, tendo sido elemento chave na fundação do CF "os Belenenses", Virgílio Paula tinha também sido jogador de futebol do SL Benfica. Aliás, entre 1907 e 1913. foi um dos mais relevantes companheiros de Cosme Damião. Este último, tinha justamente dado um papel importante a Virgílio Paula na reorganização do nosso Clube, aquando dos dias turbulentos que sobrevieram à grande deserção de jogadores para o SCP, em maio de 1907 e à junção entre o Sport Lisboa e Grupo Sport Bemfica, em setembro de 1908.

Ainda a respeito de Virgílio Paula refira-se ainda que, por uma conjugação de circunstâncias, chegou a ser nomeado selecionador nacional de futebol, embora exercendo o cargo em apenas 3 jogos, entre 1947 e 1948. Era, obviamente, alguém a quem eram reconhecidos amplos conhecimentos de futebol, dentro e fora das 4 linhas.


Virgílio e Cosme, décadas de respeito e amizade. Fonte: TT


Mas as comunicações mais relevantes foram aquelas que versaram os problemas mais agudos do futebol em Portugal.

Uma dessas comunicações seria proferida pelo então presidente da Federação Portuguesa de Futebol, o casapiano Professor Cruz Filipe. E, note-se, seria na vigência das suas presidências (de 1934 a 1942) que se dariam algumas das mais importantes transformações do quadro competitivo do futebol português.

Viva-se então a ressaca de uma humilhante derrota com a seleção espanhola (0-9, em março desse ano) que tinha exposto uma gritante necessidade de melhorar a competitividade e a organização do futebol em Portugal. Faltavam recursos e sobrava o imobilismo. Eram precisas boas ideias e acima de tudo, capacidade de as implementar.


Cruz Filipe (presidente da FPF) durante a sua comunicação no "I Congresso Nacional de Futebol". Fonte: TT


Nesse sentido, o ponto alto do Congresso seria a comunicação de Mário de Oliveira, emérito jornalista, que na altura, era também delegado da Associação de Futebol do Algarve na FPF. Naquele dia 25 de outubro de 1938, Mário de Oliveira apresentou: "A organização nacional do futebol e as suas grandes competições nacionais". Dada a relevância das suas ideias, a tese mereceu mais tarde honras de publicação.



Uma comunicação relevante na História do Futebol português. Fonte: Em Defesa do Benfica.


A relevância do seu diagnóstico e as sugestões apresentadas, tornaram esta uma das contribuições mais importantes do evento. Debatia-se o futuro competitivo e a sustentação económica do futebol português.

Mário de Oliveira não era apenas um reporter, mas também um homem dotado de grande capacidade de compreensão do passado e presente do futebol em Portugal. Anos mais tarde seria um dos autores da monumental "História do SLB 1904-1954", ainda hoje uma ferramenta imprescindível para qualquer Benfiquista que queira conhecer o seu Clube. Foi aliás, ele, o principal executor dessa tremenda obra, que está hoje disponível, aqui: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/11/o-benfiquismo-e-assim.html

Num dado ponto dessa comunicação, Mário de Oliveira declarava que: "Atualmente, as duas grandes competições nacionais são os torneios das Ligas – leia-se Campeonato Regionais – e o Campeonato de Portugal, que devem passar respetivamente a Campeonato Nacional e a Taça de Portugal". Pode-se ler mais sobre esta comunicação, no belo texto de Afonso de Melo, aqui: https://sol.sapo.pt/artigo/735611/99-anos-de-taca-de-portugal

Na sequência, e, como nos diz Alberto Miguéns, em mais uma das suas informadas e argutas crónicas, a Direção da Federação Portuguesa de Futebol, usaria as conclusões do Congresso, no sentido da aprovação, oficializando a decisão no Artigo 6.º - Provas do «Relatório e Contas da Época de 1938/39».

Com esse ato formal, a FPF para sempre decidiu que o Campeonato da I Liga continuaria como Campeonato Nacional da I Divisão; que o Campeonato da II liga continuaria como Campeonato Nacional da II Divisão; e que o Campeonato de Portugal continuaria como Taça de Portugal. Esta decisão é irrevogável, mesmo que alguns cabeçudos oportunistas continuem a marrar no sentido oposto. Para mais detalhes ler: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/07/se-fpf-esta-desarrumada.html


No próximo texto falaremos brevemente de outros eventos desta comemoração, em particular da "I Exposição Histórica do Futebol, 1888-1938".




Baron_Davis



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#1388
-349-
O Congresso dos pioneiros – parte II


Dia 23 de outubro de 1938, uma das salas da sede da Associação Comercial de Lisboa.


 

Aspeto geral de uma das salas da I Exposição Histórica do Futebol Português, na Associação Comercial de Lisboa. Fonte: TT



"I Exposição Histórica do Futebol (1888-1938)"


A I Exposição Histórica do Futebol (1888-1938), exibiu material gráfico, documentação, livros, jornais, e alguns dos troféus mais significativos dos primeiros 50 anos do futebol em Portugal. Evocou tempos de grandes dificuldades, mas também de grande empolgamento, onde se forjaram os grandes clubes nacionais, e se destacaram as primeiras grandes figuras do nosso futebol. Com a presença de autoridades e dando justo destaque à contribuição seminal inglesa.


 

Comitiva do VIPs que visitaram a I Exposição Histórica do Futebol, 1888-1938. Distinguem-se Carneiro Pacheco, ministro da Educação, William Balfour embaixador inglês em Lisboa, Virgílio Paula (FPF) e Cândido de Oliveira (selecionador nacional).


O excecional acervo fotográfico e documental do jornal "O Século" foi o recurso mais utilizado nessa exposição, mas também foram usados arquivos particulares, e institucionais. As fotografias históricas evocaram momentos e competições célebres, e também a própria evolução do jogo, dos equipamentos, e lembrar os seus interpretes.

As coleções privadas dos fotógrafos Senna Cardoso (periódico "Tiro e Sport") e Arnaldo Garcês Rodrigues (extraordinário repórter fotográfico da I Guerra Mundial e um Benfiquista de quem já por aqui falamos), enriqueceram particularmente a exposição.


 

Algumas fotografias históricas que se reconhecem na exposição. Fonte: TT


Em lugar de destaque estiveram igualmente diversos trofeus de alguns dos mais simbólicos desses tempos, como aquele que foi conquistado na digressão de uma seleção de futebol de Lisboa, ao Brasil, em julho e agosto de 1913, quando ainda não existia formalmente a AFL.




Relembra-se que já se falou neste tópico (ver: -46 e 47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (partes I e II; págs.12 e 13), dessa maravilhosa digressão, em que uma seleção de Lisboa orientada por Cosme Damião, deixou uma excelente imagem social e desportiva em terras brasileiras.


 

Uma das equipas da comitiva da AFL, que fez uma digressão pelo Brasil, em 1913.


E distingue-se ainda o famoso troféu "Bernardino Costa", propriedade do Sport Lisboa e Benfica, e que por muitos anos foi tido como o primeiro troféu da História do nosso Clube, algo que sabemos hoje em dia, não corresponder à verdade histórica.


 


Hoje quase completamente esquecidos, esses jogos contra os ingleses do Carcavellos Club foram fundamentais para que desde cedo o nosso Clube tivesse a preferência popular. As vitorias que conquistamos contra os mestres ingleses estiveram até na base do adjetivo "Glorioso" ou Gloriosíssimo"!


 

A equipa do Sport Lisboa e Benfica que venceu os ingleses do Carcavellos Club, em Carcavelos, na Quinta Nova, no dia 11-02-1911.



Grande festival de exibição do futebol e dos seus pioneiros






Um jogo entre a seleção nacional e uma equipa de jogadores nacionais designada por "Resto do País", rematou as celebrações. Foi vencido pelos primeiros por conclusivos 7-2.

O jogo e o desfile comemorativo decorreram no Estádio das Salésias, então designado por "Estádio José Manuel Soares "Pepe"", propriedade do Clube de Futebol "os Belenenses".

Mas, talvez mais significativo foi o momento do pontapé de saída que foi protagonizado por Eduardo Ferreira Pinto Basto.

(peço desculpa pela marca de água mas há por aí um lagarto plagiador que gosta de vir aqui roubar imagens e trechos integrais de texto, fazendo-os seus, sem dar o devido crédito. Assim, pelo menos, terá mais trabalho a roubar o esforço de investigação e a escrita dos outros.)


 

Eduardo Ferreira Pinto Basto, a dar o pontapé de saída do jogo entre uma seleção nacional de futebol e um misto de jogadores do campeonato português de futebol. Fonte: TT




Os irmãos Pinto Basto a agradecer o aplauso do público. Fonte: TT


 

O presidente da FPF a cumprimentar os pioneiros do futebol em Portugal. Fonte: TT



O festival incluiu também um desfile de clubes e de atletas, mais de 400, que prestaram homenagem aos pioneiros e às autoridades presentes, nos modos "requeridos" nessa época...


Um filme que registou alguns dos momentos da cerimónia e o jogo das Salésias.


E, particularmente para alguns incultos que vão para a televisão fazer tristes figuras, eis uma fotografia que só pode ser entendida na época, em que se fazia uma saudação habitual naqueles tempos. Um destes homens é o insuspeito Cândido de Oliveira, que anos mais tarde seria implacavelmente perseguido pelo regime ditatorial.

 

Saudação às autoridades presentes. Fonte: TT



Todos estes eventos de outubro de 1938 tiveram um grande significado histórico, homenageando alguns dos que mereciam reconhecimento. Que nunca sejam esquecidos, mas antes celebrados e respeitados, pelo seu exemplo e legado.


RedVC

#1389
-350-
À grande e à francesa!

Campo da Feiteira, Benfica. Dia 21 de maio de 1911.



A seleção da AFL, maio de 1911. Colorido a partir de original. Fonte: TT

(Nota: peço desculpa pelas marcas de água, mas há um lagarto plagiador que, no fórum deles, gosta de publicar fotos e trechos integrais dos meus textos, sem dar o devido crédito. Ao menos, se continuar a roubar sem citar, que pelo menos tenha mais trabalho!)


Uma equipa da Associação de Futebol de Lisboa, alinha com o seu equipamento bipartido, azul e branco. Estava prestes a iniciar um desafio de futebol contra os ilustres visitantes franceses do Stade Bordelais UC.

Apesar estarem decorridos seis meses desde a implantação da República, a equipa selecionada para representar a Associação de Futebol de Lisboa, equipou ainda com as cores da monarquia. Ao que parece, já estariam encomendados equipamentos com as cores da República, mas antes como agora, muita coisa nunca chega a tempo e horas...

O Campo da Feiteira, em Benfica, terreno arrendado pelo seu dono, o Comendador César Figueiredo ao Sport Lisboa e Benfica, era um espaço amplo, airoso, embora em grande medida desprovido das mais elementares condições para a prática do futebol, da forma como hoje o entendemos. Ainda assim, era o único campo de jogos capaz de receber uma massa humana significativa (provavelmente até 10.000 pessoas) ao seu redor, mesmo que não existissem bancadas... Naquele tempo era o melhor que se arranjava, perto do espaço urbano lisboeta. E, dentro dos condicionalismos a direção do SLB, na altura presidida por António Nunes de Almeida Guimarães, lá tratou de assegurar a vedação, de demarcar bem o campo e as balizas, e de alindar as áreas envolventes. Estava tudo "de estalo" como então se dizia...



Parte do Campo da Feiteira, em Benfica, casa do nosso Clube de 1906 até 1911.


Os primórdios da AFL


A evolução do emblema, e as atuais instalações da AFL


Fundada em 23 de setembro de 1910, a Associação de Futebol de Lisboa (https://afl.pt/historial/), completará este ano a proveta idade de 113 anos.

Ao contrário do que a própria AFL propaga, em publicações oficiais recentes, a instituição foi fundada não por cinco, mas sim por três clube: o SC Império, o SC Campo de Ourique e o Sport Lisboa e Benfica. Foram estes os três clubes que fizeram a sua filiação no dia 23 de setembro de 1910:



Os três clubes fundadores da Associação de Futebol de Lisboa.


Ou seja, atualmente apenas o nosso Clube se mantém em atividade. Os outros dois estão extintos.

Os outros dois clubes ainda em atividade, e que são anunciados pela AFL como "fundadores" são o Sporting CP e o Clube Internacional de Futebol. Sucede que a verdade histórica é outra, pois tanto o CIF como o SCP filiaram-se na AFL mais tarde, e por isso não podem em rigor ser considerados fundadores.

Detalhando, o CIF que é o sócio n.º 4, filiou-se na AFL em 29 de outubro de 1910, ou seja, 36 dias depois da fundação da AFL. Já o SCP, que é o sócio n.º 5, filiou-se na AFL no dia 3 de novembro de 1910, ou seja, 41 dias depois da fundação da AFL. Esta é a verdade histórica, o resto é revisionismo "à la carte", opção essa, que, ao que parece, faz algumas criaturas andarem mais felizes.



Os sócios nº 4 e 5, NÃO FUNDADORES, da AFL.


Está tudo explicado aqui, em maior detalhe, pela pena autorizada de Alberto Miguéns:

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/o-gosto-em-mentir.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2012/05/eles-nao-dizem-dizemos-nos.html

https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2013/07/valha-nos-isso.html



Um nascimento conturbado

A AFL nasceu num ano particularmente tumultuoso quer do ponto de vista do incipiente e desorganizado sector desportivo lisboeta, quer no ambiente sociopolítico da nação, que numa inexorável agitação revolucionária, levaria à instauração da República em 5 de outubro de 1910.

Dois anos antes, tinha sido fundada a Liga Portuguesa de Football, uma das antecessoras da FPF (filiou-se na FIFA em 1909), instituição que teve vida curta, e que se revelou impotente na sua tentativa de disciplinar e organizar a um ambiente caótico, em que a desorganização burocrática e competitiva, era constantemente agravada pelas rivalidades clubísticas.

Provavelmente, o golpe fatal na LPF viria em junho de 1910, com a morte do seu presidente, o Dr. Januário Barreto, médico ilustre, e figura prestigiada, de grande inteligência e capacidade.





Nessa altura, Januário Barreto era sócio do SCP, mas anos antes tinha também sido o primeiro presidente eleito do Sport Lisboa (1905), para além de ter tido outros cargos noutras entidades desportivas. Era verdadeiramente um homem respeitado por tudo e todos, tendo a sua falta sido muito sentida.



A LPF, antecessora da FPF. Reconhecem-se Januário Barreto e Cosme Damião. Fonte: Hemeroteca Lx


Aquando da sua fundação, a AFL propunha-se organizar um sector que já integrava dezenas de clubes, e movimentava já algumas centenas de futebolistas. A organização do campeonato 1910-1911, representou o maior desafio de uma temporada em que se anunciava de grandes mudanças.

Notavelmente, na temporada anterior, o Sport Lisboa e Benfica tinha colocado fim à invencibilidade dos ingleses do Carcavellos Club, vencendo o campeonato regional de Lisboa, na altura a mais importante competição do país. O Sport Lisboa e Benfica foi o único clube português, campeão regional de Lisboa durante o tempo da monarquia.

Os ingleses, fosse de forma ressentida, ou então racional, anunciaram que não mais participariam em competições organizadas portuguesas. Desapareceram também equipas até aí relevantes como o Gilman FC e o Lisbon Cricket. Assim, apresentaram-se à competição o SL Benfica, o CIF, o SCP, o Campo de Ourique, o Império, o Lisboa FC e o SU Belenense. Foram organizados campeonatos de 1ª, 2ª e 3ª categorias.

E assim, foi neste contexto que, em maio de 1911, foram organizados estes jogos com os franceses do "Stade Bordelais", que terão sido a primeira equipa de futebol estrangeira a chegar em digressão a Lisboa, para disputa desafios contra adversários portugueses. Anunciava-se a cinda de uma equipa francesa aureolada como competitiva, tendo a iniciativa desse convite sido da direção do jornal, "Os Sports Ilustrados", que cumpria o primeiro ano da sua existência. Ao que parece, apesar da significativa adesão do público lisboeta, ainda assim a iniciativa não teve grande compensação financeira para os organizadores.



O anúncio da vinda a Lisboa da equipa de futebol do Stade Bordelais


Stade Bordelais UC



A evolução do emblema do Stade Bordelais


Fundado em 18 de julho de 1889, com o nome mais sintético de "Stade Bordelais", o clube francês foi evoluindo com uma série de uniões com outros clubes universitários da zona de Bordéus. Quando chegaram à gare do Rossio, o clube era oficialmente designado por "Stade Bordelais Université Club", e privilegiava a prática do futebol, do râguebi e do atletismo (https://books.openedition.org/msha/15957). Atualmente designa-se por Stade Bordelais Football (https://stade-bordelais-football.com/) (https://fr.wikipedia.org/wiki/Stade_bordelais_(football)).

Os franceses chegaram a Lisboa nas primeiras horas do dia 19 de maio, de forma relativamente anónima, à gare do Rossio. Mas, logo na sua chegada, tiveram o azar de sofrerem um acidente de automóvel que não sendo grave, ainda assim impediu que três dos seus jogadores ficassem disponíveis para competir.

Nessa digressão os franceses disputaram três jogos, numa sucessão diária, algo relativamente incompreensível nos dias de hoje, tanto mais que tinha chegado pouco tempo antes.

O preço dos bilhetes variou entre 500 reis para cadeiras, 200 reis no peão, hvendo ainda a possibilidade de fazer uma assinatura para os lugares de cadeira para assistir a todos os três jogos programados, por 1.200 reis...

O primeiro desses desafios foi disputado, logo a 20 de maio, ou seja, no dia seguinte à sua chegada. Jogaram e perderam (1-2) contra o CIF. O jogo foi arbitrado por Francisco dos Santos, antigo casapiano que jogou futebol no Sport Lisboa, na Lazio e no Sporting CP.



Aspetos do jogo CIF 2 – Stade Bordelais UC 1. Fonte: AML e Hemeroteca Lx

No dia seguinte disputou-se o desafio contra a seleção da AFL, e aí houve lugar a uma estrondosa vitória portuguesa, por robustos 5-1!


A equipa portuguesa

Na equipa lisboeta, alinharam jogadores pertencentes aos quadros dos três clubes portugueses de maior nomeada dessa altura, o Sport Lisboa e Benfica, o Clube Internacional de Futebol e o Sporting Clube de Portugal.

O SL Benfica, campeão de Lisboa, era já então o mais popular dos clubes nacionais, fosse pelas suas cores, pelas conquistas precoces no futebol, ou por admitir exclusivamente atletas portugueses nos seus quadros, tradição que viria a manter por sete décadas.

O seu maior rival de então era o Clube Internacional de Futebol, um clube elitista, onde eram muito influentes as famílias Pinto Basto e Vilar, e onde se recebia de braços abertos atletas de nacionalidade estrangeira.

E por fim, o emergente e ambicioso Sporting Clube de Portugal, que, fundado por iniciativa de miúdos desavindos e ressabiados, fazia valer o poder do seu dinheiro, para fazer contratações sonantes, que aumentaram a sua capacidade competitiva, ao mesmo tempo que enfraqueciam os adversários. Foi logo desde inicio...

Os 11 jogadores que se apresentaram com a camisola azul e branca da AFL, foram:




 

Outro ângulo da seleção da AFL, maio de 1911. Colorido a partir de original. Fonte: TT


Bordelais vs. Glorioso


Ironicamente, o último dos três desafios disputados pelos bordaleses, apesar de ser o que mais nos interessa, foi também o único para o qual encontrei apenas imagens das equipas. Procurei imagens do jogo, mas sem qualquer sucesso, pois não estão disponíveis os periódicos desportivos dessa data.

Nesse dia 22 de maio de 1911, o Stade Bordelais UC, já mais adaptado às condições apresentadas, mostrou finalmente a qualidade do seu coletivo e venceu a equipa principal do SL Benfica por 4-2.



A equipa principal do SL Benfica que disputou o jogo (2-4) contra o Stade Bordelais UC. A equipa foi fotografa nas cercanias do Campo da Feiteira, provavelmente perto do lugar onde se equipou. Colorido a partir de original.



A equipa do Stade Berdelais UC, no campo da Feiteira, antes de disputar um jogo contra o SL Benfica, em 22 de maio de 1911. Nota-se a presença do árbitro português, o prestigiado ex-casapiano, futebolista e escultor Francisco dos Santos. De notar também a vedação improvisada do campo, e a coloração da baliza, provavelmente pintada de vermelho e branco.


Ficha de jogo:

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19101911/amigavel/1911-05-22/sl-benfica-x-stade-bordelais


Ao que parece, o Benfica teve o azar de enfrentar os franceses no dia do seu maior acerto competitivo. Parece também que foi um jogo acidentado, uma vez que o nosso capitão Cosme Damião sofreu um violento pontapé no peito, num lance à margem de qualquer lei do futebol. E, como naquele tempo era comum, logo de seguida o agressor (que por acaso até era italiano de nascença), recebeu os "mimos" de volta, quando levou uma cabeçada nos queixos por parte do nosso José Domingos Fernandes. Na sequência, e contando alguns dentes partidos, o agressor certamente terá sentido que já estava pago, e com juros! Um "souvenir" que ele fez por merecer!

E lá terminou o jogo, sob o apito do inglês Meyrick de Mascarenhas Barley (1889-1946), que por sinal tinha jogado nos dias anteriores pela seleção da AFL, e pelo CIF...


Foi mesmo acabar, à grande e à francesa!



Baron_Davis


RedVC

Citação de: Baron_Davis em 21 de Abril de 2023, 19:47

1974/1975


11 de maio de 1975. Um dia marcante para o Benfiquismo.


https://serbenfiquista.com/team/19741975-seniores-masculino-futebol/sl-benfica

Festa de campeão nacional de futebol do Sport Lisboa e Benfica

https://serbenfiquista.com/jogo/futebol/seniores/19741975/campeonato-nacional/1975-05-11/sl-benfica-3-x-1-u-tomar


Despedida de António Simões, que foi substituído por Jordão.








Despedida de Milorad Pavic, que apesar de campeão, acordou a sua saída com a Direção do Benfica, tendo em conta as novas realidades financeiras do país e do Clube, na ressaca das mudanças políticas e económicas que se viviam no país.





Falava-se no regresso de José Augusto mas acabaria por ser contratado Mário Wilson.



Baron_Davis


RedVC

Citação de: Baron_Davis em 24 de Abril de 2023, 22:33

Eusébio gostava de ténis





Eusébio apreciava também diversas outras modalidades. Tenho ideia que era bastante bom em ténis de mesa. Já tive umas fotos dele a jogar essa modalidade mas estão desaparecidas nalgum canto recôndito dos meus arquivos...