Decifrando imagens do passado

RedVC

#525
-132-
O trepidante Costa

Aproveitando um belo texto de Mafalda Esturrenho no jornal "O Benfica", volto a salientar esta fotografia:


Com a presença do massagista Brasileiro Mão de Pilão (ver os números 129 e 130) e do seu colega Zézinho, a fotografia foi captada no Estádio da Luz no dia 14 de Abril de 1957. O grande dia da comemoração do campeonato de 1957.


Os campeões nacionais de 1956-1957. Nota-se que José Águas ampara nas mãos a sua filha pequenina, Helena.


Curiosamente fazia-me impressão a ausência de Costa Pereira nesta fotografia de grupo da festa do Campeonato de 1956-1957. Mas, olhando para as estatísticas dessa época percebe-se a razão. Costa Pereira não foi Campeão Nacional nessa época. Ou seja não jogou nenhuma partida do Campeonato.

De facto, depois de ter sido titular absoluto nas suas duas primeira épocas no Benfica (1954-1955 e 1955-1956), nas duas épocas seguintes (1956-1957 e 1957-1958), Alberto da Costa Pereira foi relegado para o banco de suplentes. Otto Glória tinha dado a titularidade a Bastos que cumpriu com brilhantismo. O Benfica tinha dois óptimos guarda-redes. Assim, nessa época de 1956-1957 Costa Pereira terá feito 4 jogos na Taça de Portugal e um na Taça Latina. Não sendo Campeão Nacional não apareceu na fotografia de grupo envergando a respectiva faixa. Não obstante, Costa Pereira não deixou de manifestar a sua alegria, assim se compreendendo que estivesse em trajos "civis".

Mas Alberto da Costa Pereira era uma figura por si só. Para além de um dos maiores guarda-redes de futebol da nossa história, era um homem com outros talentos desportivos (basquetebol e atletismo). Atleta completo e rapaz com uma atitude bem característica da juventude nativa da África colonial Portuguesa, um perfil bem distinto da juventude reprimida da metrópole.

Costa Pereira era igualmente - como se vê - um jovem dado aos trepidantes ritmos Afro-Brasileiros! Para ilustrar, nada melhor que ler o texto em baixo, com os devidos créditos:


"Adeptos, atletas, técnicos e dirigentes juntaram-se para festejar 'à Benfica' o nono título de campeão nacional.

'Raramente se terá visto em Portugal uma festa tão extraordinária como a que no passado domingo se realizou na Luz'. Assim iniciava, o jornal O Benfica, o relato das festividades que, a 14 de Abril de 1957, a Comissão Central organizou para comemorar mais um título conquistado pelo futebol benfiquista: o de campeão nacional.

Embora tivesse como primordial pretexto a consagração da equipa, com a entrega simbólica das faixas de campeões, a 'bela tarde primaveril' contou com cinco horas de animação non stop. 'Festa rija, bonita, colorida, «à Benfica»', 'onde apenas se respirou o perfume estonteante e delicioso de uma vitória do campeonato'.

Cedo começou a '«romaria» das gentes encarnadas para a Luz'. 'Por todos os lados se viam, agitadas pelo vento ou pelos frenéticos aplausos, bandeiras do Benfica'. Foram milhares de adeptos que quiseram confraternizar com os seus ídolos.

Do programa constaram inúmeras actuações. Entre elas, números de ginástica, entregas de troféus, números musicais e até um jogo de futebol, entre a primeira categoria e a equipa de aspirantes, em que a 'gentil filhinha de José Ricardo Domingues' (presidente da secção de futebol) 'com todo o estilo possível' deu o pontapé de saída. Porém, um dos momentos altos de tarde foi, sem dúvida, o protagonizado por Costa Pereira.

Após um conjunto de números musicais 'no qual tomarem parte os conhecidos artistas Luís Piçarra, Tristão da Silva e Frutuoso França', guarda-redes 'encarnado' deu o seu show. No centro do relvado, acompanhado pelos brasileiros Irmãos Guarás, 'fez a sua estreia - e muito bem! - com artista de variedades', noticiou o Diário de Lisboa.

A actuação, a que não ficou alheia a objectiva de Roland Oliveira, proporcionou aos benfiquistas ali presentes, um 'momento folclórico de pura inspiração brasileira' e revelou um artista de grande talento e excelente sentido de humor. O insólito e pitoresco episódio captado na fotografia, em que Costa Pereira cantou e sambou, alcançou tal êxito entre os presentes que, no final, os colegas de equipa o ergueram em ombros perante uma entusiástica ovação do público..."


Mafalda Esturrenho, in O Benfica









Fonte: DL, 15 Abril 1957



Os "Irmãos Guarás"



https://youtu.be/S18nWqS8jq0

Trio vocal e instrumental criado em meados da década de 1940 pelos irmãos Juca no acordeom, Pimentinha no violão e Toninho no pandeiro. Em 1945, o trio gravou pela Continental os sambas "Advinhação" e "Palhaço apaixonado", ambos de Príncipe Pretinho. Seguiram-se apresentações em programas de Rádio e apresentações pelos estados do sudeste. Fonte: http://dicionariompb.com.br/trio-guaras



Deixo por fim, em imagens, uma homenagem a este grande desportista em três pilares que o distinguiram durante a sua longa e Gloriosa carreira de Águia ao peito: dedicação, dor e glória









Obrigado Alberto da Costa Pereira!







Theroux

#526


Será que existem fotografias do segundo autocarro da equipa?

O primeiro é sobejamente conhecido, mas nunca vi o segundo.

EDIT: Estão todos no Em Defesa do Benfica: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/09/sob-o-signo-das-primeiras-vezes-v.html

RedVC

#527
Citação de: Theroux em 26 de Novembro de 2016, 13:14


Será que existem fotografias do segundo autocarro da equipa?

O primeiro é sobejamente conhecido, mas nunca vi o segundo.

EDIT: Estão todos no Em Defesa do Benfica: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2016/09/sob-o-signo-das-primeiras-vezes-v.html


Há sim Senhor



Captura de ecran de imagens de um treino captadas em 1965 (salvo o erro) por uma equipa de filmagens Francesa.

Aqui em movimento!

http://footage.framepool.com/mov/820-590-247.mp4


http://footage.framepool.com/en/shot/820590247-estoril-team-bus-training-camp-benfica-lissabon


E aqui Germano e companhia a saírem do autocarro

http://footage.framepool.com/mov/706-149-650.mp4


RedVC


Não é bem decifrando mas quis colocar aqui.
Guardo no coração o privilégio de lá ter ido muitas vezes.
Uma extensa e carinhosa evocação da nossa querida

133 -
Catedral




















JDiogo20

Consegues meter no imgur para ter tudo junto?

Obrigado O0

RedVC

Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:15
Consegues meter no imgur para ter tudo junto?

Obrigado O0

Caro, desculpa a ignorância mas o imgur não é só para hospedagem grátis de imagens?
Dá também para processar as imagens e fundi-las?
Eu uso o tinypic uma vez que ao longo dos anos não falha, as imagens não desaparecem.

JDiogo20

Citação de: RedVC em 06 de Dezembro de 2016, 17:30
Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:15
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Obrigado O0

Caro, desculpa a ignorância mas o imgur não é só para hospedagem grátis de imagens?
Dá também para processar as imagens e fundi-las?
Eu uso o tinypic uma vez que ao longo dos anos não falha, as imagens não desaparecem.
Sim, mas era para ver as imagens como se fosse um álbum.

RedVC

Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:33
Citação de: RedVC em 06 de Dezembro de 2016, 17:30
Citação de: JDiogo20 em 06 de Dezembro de 2016, 17:15
Consegues meter no imgur para ter tudo junto?

Obrigado O0

Caro, desculpa a ignorância mas o imgur não é só para hospedagem grátis de imagens?
Dá também para processar as imagens e fundi-las?
Eu uso o tinypic uma vez que ao longo dos anos não falha, as imagens não desaparecem.
Sim, mas era para ver as imagens como se fosse um álbum.

OK, daqui a bocado faço o upload  O0

RedVC

http://imgur.com/a/m2DzQ

Há alguma forma de os thumbnails ficarem aqui visíveis?

RedVC

#534
Índice

-1- Uma proposta de identificação. (p.1)
-2- Uma identificação errada. (p.1)
-3- Um jogo de beneficência. (p.1)
-4- Os mestres Ingleses na Feiteira. (p.1)
-5- Rostos familiares. (p.2)
-6- À porta da Farmácia Franco.  O0 (p.2)
-7- Sonho de uma noite de Verão. (p.2)
-8- A última alegria do Chacha.  O0 (p.2)
-9- Recuando no tempo. (p.2)
-10- Catataus e Co. (p.3)
-11- Uma homenagem em terras africanas.  O0 (p.3)
-12- Uma taça e dois pioneiros (I). (p.3)
-13- Uma taça e dois pioneiros (II). (p.3)
-14- As camisolas de Júlio Cosme Damião. (p.3)
-15- Futebol e touros. (p.4)
-16- Um regresso feliz. (p.4)
-17- Nos areais de Belém. (p.4)
-18- Uma imagem rara. (p.4)
-19- Um Stromp à Benfica. (p.4)
-20- O António das Caldeiradas.  O0 (p.4)
-21- O terceiro homem.  O0 (p.5)
-22- Os primeiros troféus (parte I): o Restaurante Bacalhau.  O0 (p.5)
-23- Um Ilustre nos primórdios do futebol sadino. (p.5)
-24- Os Condes do Restelo. (p.5)
-25- Resistência: sugestão e mistério. (p.5)
-26- Araújo: uma carreira que ficou por fazer. (p.6)
-27- A primeira Águia.  O0 (p.6)
-28- Amor à camisola. (p.6)
-29- Amor ao clube! (à falta de camisola...). (p.6)
-30- Prémios aos campeões. (p.6)
-31- O primeiro guardião. (p.7)
-32- Glorioso por um dia.  O0 (p.7)
-33- Eusébio às riscas. (p.8)
-34- Dois dias de festa. (p.8)
-35- Sport Lisboa e Salésias: anatomia de uma fotografia.  O0 (p.8)
-36- 111 anos depois: a (possível) iconografia dos fundadores. (p.8)
-37- Três gigantes, três caminhos separados. (p.8)
-38- Um ancião curioso.  O0 (p.9)
-39- Um banquete de notáveis. (p.9)
-40- Cosme, o presidente. (p.10)
-41- Um militar futebolista. (p.10)
-42- Duas despedidas e um alegre convívio. (p.10)
-43- Um jogo infeliz, uma pista extraordinária.  O0 (p.11)
-44- Homenagem a um grande artista. (p.11)
-45- Glória e tragédia. A vida do campeão Carlos Sobral.  O0 (p.12)
-46- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte I)  O0 (p.12)
-47- A Missão Portugueza Intelectual e Sportiva no Brasil, 1913 (parte II)  O0 (p.13)
-48- A última ceia. (p.13)
-49- A noite da Cruz Vermelha. (p.13)
-50- Ascenção e queda do Pantufas. (p.13)
-51- Escultor de excepção, futebolista sem fronteiras.  O0 (p.13)
-52- Uma escala africana, um desafio histórico.  O0 (p.14)
-53- Dois entre doze. (p.14)
-54- Dois sadinos, duas Saudades. (p.14)
-55- Dois Casapianos num barco sadino. (p.14)
-56- Revisitando o Campo Grande. (p.14)
-57- A vida Paulista de Bella Guttman. (p.14)
-58- Um encontro Americano.  O0 (p.14)
-59- Alguém tinha de pagar!  O0 (p.15)
-60- Belém, a Benfiquista.  O0 (p.16)
-61- Um certo pátio.  O0 (p.17)
-62- 13, ou a Glória Benfiquista de Lázaro. (p.19)
-63- O arquitecto da Catedral. (p.19)
-64- O tribunal dos conspiradores.  O0 (p.20)
-65- Festa de gerações. (p.20)
-66- Memórias Francesas. (p.20)
-67- Cosme e o inventor do Fla-Flu.  O0 (p.20)
-68- Desforra Inglesa em tempo de Monarquia. (p.21)
-69- As manas Bermudes, Gloriosas a pedalar. (p.21)
-70- O dia da dúzia! (p.21)
-71- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (I).  O0 (p.21)
-72- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (II).  O0 (p.21)
-73- O Cruzeiro Aéreo às Colónias (III).  O0 (p.22)
-74- A Taça Amadora (parte I): Os Recreios Desportivos da Amadora (p.22)
-75- A Taça Amadora (parte II): O grande jogo.  (p.22)
-76- Huelva 1910, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-77- Extinções e fusões, pequeno manual para verdes I's. (p.22)
-78- O casal virtuoso.  O0 (p.23)
-79- Da vida de Cosme (parte I). (p.23)
-80- Da vida de Cosme (parte II). (p.23)
-81- Gloriosos mesa-tenistas no Brasil. (p.23)
-82- Eterno Bermudes. (p.24)
-83- O poço dos nossos adversários. (p.24)
-84- Ora festeje lá outra vez! (p.24)
-85- Gloriosas compras na pátria do futebol.  O0 (p.24)
-86- Um inesperado Glorioso. (p. 25)
-87- As Terras das Salésias. (p. 25)
-88- "O Benfica saúda o Porto"  O0 (p. 25)
-89- Outros Carnavais (p. 25)
-90- Construtor de Catedrais  O0 (p. 25)
-91- Pantera Negra em noite madrilena (p. 26)
-92- Da Catumbela a Freamunde (p. 26)
-93 - 112 anos de Paixão! (p. 26)
-94- O sósia. (parte I)  (p. 26)
-95- O sósia. (parte II)  (p. 26)
-96- L'étude fait l'avenir (parte I)  O0 (p.27)
-97- L'étude fait l'avenir (parte I) (p.27)
-98- Um fresco em prosa: o António das Caldeiradas revisitado.  O0 (p.27)
-99- A Pharmácia Franco (I) – As duas primeiras gerações.  O0 (p.28)
-100- A Pharmácia Franco (II) – A terceira geração e o Sport Lisboa O0 (p.28)
-101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. (p.29)
-102- Os primeiros troféus (parte II) – os Costas de Belém.  (p.29)
-103- Os primeiros troféus (parte III) – a Taça "Olímpica".  (p.29)
-104- Miramons de Portugal.  (p.29)
-105- Águias na Guerra (parte I)  O0 (p.30)
-106- Águias na Guerra (parte II)  O0 (p.30)
-107- Águias na Guerra (parte III)  O0 (p.30)
-108- Olhos de fogo, coração de Belém  O0 (p.30)
-109- Em homenagem a Guilherme Pinto Basto. (p.30)
-110- Acidente no Cartaxo (parte I) (p.31)
-111- Acidente no Cartaxo (parte II) (p.31)
-112- Unidos na dor. (p.31)
-113- Um hóquista feliz. (p.31)
-114- Primus inter pares. (p.32)
-115- A "Corrida da Marathona". (p.32)
-116- "Memórias de Viena". (p.32)
-118- Taça Charles Miller '55 (parte I): O torneio e o seu tempo. O0 (p.32)
-119- Taça Charles Miller '55 (parte II): A comitiva Benfiquista. O0 (p.32)
-120- Taça Charles Miller '55 (parte III): Esses loucos dias cariocas. O0 (p.32)
-121- Taça Charles Miller '55 (parte IV): Entre treinos e feijoadas. O0 (p.32)
-122- Taça Charles Miller '55 (parte V): Mengo, Mengão; Azarão!    O0 (p.33)
-123- Taça Charles Miller '55 (parte VI): Escaramuças Uruguaias!    O0 (p.33)
-124- Taça Charles Miller '55 (parte VII): Doces Palmeiras.    O0 (p.33)
-125- Taça Charles Miller '55 (parte VIII): America amarga. O0 (p.33)
-126- Taça Charles Miller '55 (parte IX): O "caseiro" Alemão. O0 (p.33)
-127- Taça Charles Miller '55 (parte X): Gente boa que se vai! O0 (p.33)
-128- Taça Charles Miller '55 (parte XI): O regresso dos heróis. O0 (p.33)
-129- O "caramujo" do futebol (parte I). (p.34)
-130- O "caramujo" do futebol (parte II). (p.34)
-131- Mobilis in mobile. O0 (p.35)
-132- O trepidante Costa. (p.36)
-133- Catedral O0 (p.36)
-134- Os botes da Ericeira O0 (p.36)
-135- O "Café Gelo" (p.36)
-136- Uma equipa infantil (p.37)
-137- Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro O0 (p.37)
-138- Gloriosa Magyarország (parte II): János Biri, uma aposta feliz! (p.37)
-139- O outro Živković (p.38)
-140- Um avô especial (p. 38)
-141- Os 24 Primeiros O0 O0 (p. 38)
-142- Este árbitro é um Artista! (p. 39)
-143- Sport Lisboa, Bemfica 1923 (p. 39)
-144- A Taça Ruy da Cunha (p. 40)
-145- Gourlades da linha. O0 (p. 40)
-146- Para lá da Lenda O0 (p. 40)
-147- Capitães Latinos (Parte I) (p. 41)
-148- Capitães Latinos (Parte II) (p. 41)
-149- De Como a Milão (p. 42)
-150- Mântuas de Belém (p. 42)
-151- Festival taurino do SLB (p. 42)
-152- O arquitecto da Catedral (parte II): O dia mais brilhante (p. 42)
-153- A batalha de Madrid (p. 43)
-154- A Rotunda da Vitória O0 (p. 43)
-155- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte I) (p. 43)
-156- De Benfica para o Mundo: os fabulosos irmãos Augusto (parte II) (p. 43)
-157- Águias na Guerra (parte IV): "Deste triste viver" O0 (p. 44)
-158- Águias na Guerra (parte V): veterano de guerra. (p. 44)
-159- Loio e o fim do Feitiço (p. 44)
-160- A semente da Farmácia Franco O0 (p. 44)
-161- O primeiro Luís F. Vieira O0 (p. 44)
-162- De Guilherme para Guilherme (p. 45)
-163- Um princípio com regras (parte I)  (p. 45)
-164- Um princípio com regras (parte II)  (p. 45)
-165- A lenda de Nicolau I  (p. 45)
-166- Para lá de Nicolau  (p. 45)
-167- Pelas estradas de Sintra  (p. 45)
-168- Braga à Benfica (parte I) -  o princípio é um tempo delicado O0 (p. 45)
-169- Braga à Benfica (parte II) – De fusões e omissões O0 (p. 46)
-170- Rebelde com causas O0 (p. 46)
-171- O Sonho, o Homem, a Obra O0 (p. 46)
-172- Até sempre Alfredo Valadas! (p. 46)
-174- O Olímpico Bermudes (parte I) – Gloriosos tiros O0 (p. 46)
-175- O Olímpico Bermudes (parte II) – Fora de Paris, dentro dos Jogos O0 (p. 46)
-176- O Olímpico Bermudes (parte III) – Muitos tiros, poucos pontos O0 (p. 46)
-177- Tamancos de oiro (parte I) – por terras do Sul O0 (p. 46)
-178- Tamancos de oiro (parte II) – as quinas da glória O0 (p. 46)
-179- Tamancos de oiro (parte III) – o Glorioso Tamanqueiro O0 (p. 46)
-180- Tamancos de oiro (parte IV) – do Sado ao Rio. O0 (p. 47)
-181- Tamancos de oiro (parte V) – o Benfica não esquece os seus! O0 (p. 47)
-182- Amesterdão 1928 (parte I) – a varanda dos heróis O0 (p. 47)
-183- Amesterdão 1928 (parte II) – o evento e os eleitos O0 (p. 47)
-184- Amesterdão 1928 (parte III) – um Chili saboroso (p. 47)
-185- Amesterdão 1928 (parte IV) – e todas as esperanças foram permitidas (p. 47)
-186- Amesterdão 1928 (parte V) – morrer sim, mas de pé... (p. 47)
-187- Amesterdão 1928 (parte VI) – emoções à Holandesa O0 (p. 47)
-188- Caçador de leões O0 (p. 48)


Bakero

Este tópico vale ouro! Existe muito material e documentação do Benfica a partir dos anos 60 até aos dias de hoje por essa net e livros fora, mas para trás é quase nulo.

Muito tenho aprendido aqui sobre os anos de base que transformaram um clube "pequeno" num clube gigante  :bow2:

RedVC

Citação de: Bakero em 11 de Dezembro de 2016, 07:54
Este tópico vale ouro! Existe muito material e documentação do Benfica a partir dos anos 60 até aos dias de hoje por essa net e livros fora, mas para trás é quase nulo.

Muito tenho aprendido aqui sobre os anos de base que transformaram um clube "pequeno" num clube gigante  :bow2:

Obrigado Bakero  O0

Ao olhar para este índice admiro-me com a diversidade de material. Começou de forma pouco definida e acabou por me ir surpreendendo com a riqueza do que fui descobrindo.

Não estou inactivo mas decidi não colocar material durante algum tempo. Há diversas histórias quase terminadas mas estou a dar prioridade à pesquisa. A seu tempo haverá coisas bastante interessantes.

A secção das memórias no SB é fascinante. Pela quantidade e pela qualidade. Temos aqui pessoal com excelente capacidade de pesquisa, trabalho e organização. E ainda mais importante, com vontade de partilhar. À Benfica! Pessoal com aptidão para o vídeo, fotografia, criação de imagens, pesquisa. Dá para perder horas nesta secção. O que temos para aqui dá para um mini Museu Cosme Damião. O pessoal do Museu poderá ficar bem servido vindo aqui pesquisar. E aliás, eu estou convencido que o fazem.


RedVC

#537
-134-
Os botes da Ericeira

Tarde do dia 5 de Outubro de 1910. Cerca das 15h00 na Praia dos pescadores na Ericeira. Um fotógrafo capta uma imagem extraordinária de um momento dramático da História de Portugal.



Praia dos pescadores na Ericeira. "El-Rei conservou-se sempre de pé dentro da barca até fora do porto" (in José Jacob Bensabat, A Verdade dos Factos). Nota-se a presença de numerosos populares que segundo as crónicas assistiram em silêncio aos acontecimentos. Fotografia original de José Maria da Silva. Fonte: AML


A fuga desesperada

Cinco dias depois, esta e outras fotografias foram publicadas de forma exclusiva na revista Ilustração Portuguesa (nº 242, 10 de Novembro de 1910). Os editores deram destaque a esta fotografia em particular, associando-lhe uma legenda que não obstante factual nem por isso deixou de transmitir a importância e o dramatismo do episódio:

"No dia 5 de Outubro, horas depois da proclamação da Republica, o Rei Dom Manuel com sua mãe, sua avó e a comitiva embarcou na praia da Ericeira com destino ao "Yacht" "Amélia" onde o aguardava seu tio D. Affonso. O Rei deposto, na popa do barco que o conduzia, olhava só o mar como receoso de encontrar núm adeus à Terra, essa enorme muralha que barra o fundo do quadro e que parecia sapara-lo para sempre do resto do Paiz. Ali terminou o seu reinado. Ali começou o seu exílio e uma pobre barca de pescadores foi o derradeiro bergantim do último Rei de Portugal. (cliché do Sr. José Maria Silva, reprodução inteiramente reservada)."




Uma composição de Cecil King recriando a partida dos dois botes da Praia dos pescadores na Ericeira de encontro ao iate Amélia fundeado ao largo. O último Rei de Portugal partia para o exílio. Fonte: Ilustração Portuguesa, nº 246 de 7 de Novembro de 1910.


Naquela praia da Ericeira deu-se um dos episódios de maior rotura da história de Portugal. Naquele dia terminavam os cerca de setecentos e sessenta e sete anos da Monarquia Portuguesa. Ali, por meio daqueles dois botes concretizava-se a fuga do último Rei constitucional de Portugal. O jovem Rei Dom Manuell II, de apenas 20 anos de idade e rodeado dos seus últimos fiéis, concretizava uma desesperada fuga à revolução iniciada horas antes numa cidade de Lisboa em profunda convulsão.



Recriação da etapa final da fuga da Família Real : embarque na praia da Ericeira na tarde de 5 de Outubro de 1910. Autor: José Henriques Moreira, [1910]. Fonte: Biblioteca Nacional (http://purl.pt/22468/2/e-142-r_JPG/e-142-r_JPG_t24-C-R0150/e-142-r_0001_t24-C-R0150.jpg).


A fuga permitiu poupar o Rei à humilhação da prisão ou até ao assassinato e garantir a sua partida para o exílio. Apesar do Rei pretender dirigir-se ao Porto para tentar encontrar fieis à sua causa, foi demovido pela sua mãe e avó e convencido a rumar a Gibraltar. Aí viria a embarcar num barco Inglês, seguindo para Inglaterra onde viveu até à sua morte, que ocorreria cerca de duas décadas mais tarde.

Nessa praia da Ericeira deu-se um adeus amargo à Pátria. Um adeus cheio de mágoas, lembrando os mortos nas ruas de Lisboa e os militares e populações em profundo sobressalto. O regresso a Portugal só ocorreria depois da sua morte quando, em 1932, os seus restos mortais foram depositados num túmulo do panteão real em São Vicente de Fora. E ali descansam ao lado dos túmulos de seu Pai e irmão, assassinados no terreiro de Paço no já longínquo dia de 1 de Fevereiro de 1908.

Uma família desfeita, um país em convulsão. Nesse clima de desolação e descontrolo emocional, o Rei e os seus últimos fiéis esperaram impotentes que findassem os vagarosos preparativos dos pescadores dos dois botes contratados para os levarem até ao iate Amélia, que esperava ao largo daquela praia. Esses dois botes do exílio chamavam-se "Bonfim" e "Navegador". Eram manobrados por simples pescadores daquela localidade que por via desse episódio acabaram por ver os seus nomes guardados para a posteridade.



Os sete pescadores que operaram o bote "Bonfim" (matrícula F.60.E.43). Direita para a esquerda, Arraes: João Carriço; remadores: José Ramalho, António Maria Pachita, José Sardo, Jeronymo Carramona, Basílio Casado Júnior e António Marques. Foram estes os homens que transportaram o Rei Dom Manuel II para o iate Real Amélia. Fotografia original de José Maria da Silva. Fonte: Ilustração Portuguesa nº 244 de 24 de Outubro de 1910.



Os sete pescadores que operaram o bote "Navegador" (matrícula F.60.E.10c). Direita para a esquerda, Arraes: José Maria; remadores: José Valladão, Albino Sardo, José Soares, Miguel dos Santos, António Gonçalves e José da Silva Carramona. Fora estes os homens que transportaram a Rainha Dona Amélia e sua sogra, a Rainha Dona Maria Pia para o iate Real Amélia. Fotografia original de José Maria da Silva. Fonte: Ilustração Portuguesa nº 244 de de 24 de Outubro de 1910.



O iate Real Amélia.


Durante esse dilacerante adeus, o Rei Dom Manuel II, manteve-se de pé, hirto no bote "Bonfim" durante a curta viagem para embarcar no iate "Amélia". Momentos depois o bote "Navegador" faria o segundo trajecto entre a praia e o iate, transportando entre outros, a Rainha Dona Amélia e a Rainha Dona Maria Pia (respectivamente mãe e avó paterna do Rei).



Os dois botes que transportaram a comitiva Real assegurando o embarque da comitiva real no iate "Amélia".


Segundo os relatos da época, ainda as barcas não tinham atracado ao iate "Amélia", quando irrompeu pela vila da Ericeira, vindo do lado de Sintra, um automóvel com revolucionários civis, armados de carabinas e munidos de bombas, que se propunham atirar para a praia caso tivessem chegado a tempo de ver o embarque (Fonte: http://realfamiliaportuguesa.blogspot.pt/2011/09/foi-nesta-praia.html). Esse atraso terá evitado uma tragédia ainda maior.



O cruzamento da História

Mas como noutros casos, a grande História de Portugal cruza-se frequentemente com episódios da História Benfiquista. Caso para dizer: o Mundo pequeno, o Benfica é enorme.

Também neste caso existiu um detalhe curioso que liga este dramático episódio da História de Portugal ao universo Benfiquista. Para decifrar esse insuspeito detalhe vamos concentrar-nos naqueles dois botes. E vamos atentar a uma pista improvável, vinda de um jornal Brasileiro editado no dia 11 de Março de 1911, ou seja cerca de cinco meses depois do embarque da Ericeira.



Fragmento de artigo sobre política Portuguesa publicado no dia 11 de Março de 1911 no jornal Brasileiro "O Paiz". Fonte: Hemeroteca Brasileira.


A confirmação desta ligação está na revista Ocidente de 30 de Outubro de 1910



Fonte: Ocidente nº 1146 de 30 Out 1910.


E assim ficamos a saber que os botes "Bonfim" e o "Navegador" eram propriedade do empresário de pescas Cândido Rodrigues, um nome ilustre da História inicial do nosso Clube.

Cândido Rodrigues era tão-somente o pai de três dos 24 fundadores do Sport Lisboa, os três irmãos Rosa Rodrigues: José, Cândido e António.



Os três irmãos Rosa Rodrigues. Os famosos irmãos Catatau. Três dos 24 fundadores do Sport Lisboa.


A empresa de Cândido Rodrigues tinha concessões de pescas e interesses nas costas da Figueira da Foz (Buarcos), da Nazaré, da Ericeira, de Sesimbra e de Setúbal (in História do SLB 1904-1954 de Mário Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, edição de autor).



Postal datado de 1924 captando a "chegada das barcas do Catatau". Era alusiva a um dos irmãos Catataus, talvez ainda ao Pai Catatau (Cândido Rodrigues) falecido em 1912 ou ao seu filho mais velho, José Rosa Rodrigues, falecido em 30 de Abril de 1924.


Da leitura do artigo do jornal Brasileiro percebe-se que por oferta de Cândido Rodrigues, os dois botes constaram do acervo do Museu da Revolução. Foi o segundo museu de iniciativa da edilidade alfacinha e teve por objectivo a preservação da memória da revolução do 5 de Outubro. Proposto em sessão da CML em 30 Novembro de 1910, foi à época, designado de "museu revolucionário da Camara". Instalado no Convento do Quelhas em Lisboa, o Museu da Revolução foi inaugurado em 29 de Dezembro de 1910, abrindo ao público em 1 de Fevereiro de 1911. Constava de 5 salas: sala da marinha, sala do exército, sala dos documentos, sala do povo e sala do Buiça e Costa.



O Museu da Revolução. As armas dos dois regicidas. Fonte: Ilustração Portuguesa Nº 255, 9 de Janeiro de 1911.



As cinco salas do Museu da Revolução. Fonte: Revista Ocidente, 10 de Janeiro de 1911.


Esse Museu viria no entanto a ter uma curta existência pois logo a 21 de Outubro de 1913 foi assaltado e destruído aparentemente por um movimento revolucionário monárquico. Mais uma das numerosas convulsões pós-revolucionárias daquela época. Nesse turbilhão destruidor quase todo o recheio desapareceu sem deixar rasto, incluindo as armas e as roupas dos dois regicidas... Segundo a Revista ABC nº 134 de 1923, restou apenas no pátio o barco em que tinha embarcado a família real para o exílio... Provavelmente seria o Bonfim. Estranha ironia. Esse barco terá sobrevivido até aos dias de hoje? Parece pouco provável.

Detalhes esquecidos da História. O Mundo é pequeno, o Benfica é enorme!


RedVC


RedVC

#539
-135-
O "Café Gelo"

O "Café do Gelo", algures na primeira década do século XX:


Fotografia do Café do Gelo, Rossio nº 64 algures na primeira década do século XX. Localizado no Rossio, entre uma perfumaria e um Papelaria/Tipografia, era nesse tempo bastante utilizado como local de encontro. Fonte: AML.


Situado no Rossio (ou Rocio como antigamente se escrevia), o "Café do Gelo" foi um espaço comercial e de convívio que, atravessando décadas turbulentas, acumulou uma história rica e tormentosa. Desde os dias finais da Monarquia Portuguesa até às crises estudantis dos anos 60 do século XX muitos foram os episódios e muitas as figuras de maior e menor estatura intelectual que coloriram aquele espaço localizado em pleno coração de Lisboa.

Mas para nós Benfiquistas este "Café do Gelo" apresenta outros motivos de interesse. Vamos assim viajar até ao distante dia 12 de Março de 1905, um dia em que o "Café do Gelo" foi usado como local de encontro por um grupo de jogadores e Manuel Gourlade, então Capitão Geral (figura que podemos definir como o treinador da época) do Sport Lisboa. Desse local a nossa comitiva deslocou-se depois em carro eléctrico até ao Lumiar. chegados ao Campo da Charneca, o Sport Lisboa com as suas Gloriosas flanelas vermelhas compradas no mês anterior (ver -101- As Gloriosas fazendas de Alcântara. p.29) defrontou e venceu o competente Grupo do Gilman Football Club, proprietário do terreno de jogo. Se não foi o primeiro então terá sido seguramente um dos primeiros jogos em que o nosso Clube ganhou uma partida de futebol fora de casa.

Para esse jogo, Manuel Gourlade tentou garantir a presença dos 11 jogadores seleccionados. Nos três primeiros anos do nosso Clube quase todos foram crónicos titulares da primeira categoria. Essa equipa era uma mescla de jogadores jovens e ambiciosos provenientes do Grupo dos Catataus com os prestigiados e já algo veteranos ex-Casapianos / antigos membros da Associação do Bem. Uma equipa talentosa que envergando aquelas camisolas berrantes foi grandemente responsável pela popularidade de que o Sport Lisboa desfrutou logo desde o princípio da sua Gloriosa História. E Manuel Gourlade fez essa convocatória pelo menos por duas vias.

A primeira, cerca de três dias antes do jogo, foi feita através de um "documento interno", manuscrito (pela sua mão) em papel timbrado da Pharmacia e Drogaria Franco, Filhos - Conde do Restelo & Cª.



Documento manuscrito por Manuel Gourlade datado de 9-03-1905, convocando os seus jogadores para o jogo contra o Gilman Football Club a disputar três dias depois. Para isso usou um papel timbrado da Farmácia Franco, local onde trabalhava e que funcionou como a primeira sede do nosso Clube sob o assentimento dos seus donos. Fonte: Museu Cosme Damião e http://nemvaleapenadizermaisnada.blogs.sapo.pt/748458.html

Como se pode ler no referido documento, Gourlade redigiu desta forma a convocatória:

***********************************************************************************************
Grupo Sport Lisboa
9-3-905 às 6h.t.
Caro amigo.
Domingo 12 corte. (corrente) match com Gilman Football Club no Campo da Charneca (Lumiar).
Deves estar antes das 10h.m. no Café Gelo - ponto de reunião nossos jogadores.
Escusas de vir a Belém, pois tudo que estiver nosso quarto vae dentro de 1 mala grande para Lisbôa.
Não faltes! Sê pontual.
Traze calção branco e meia alta.
Lê Século ou Notícias de 10 ou 11 do corrente secção de Sport pelo nosso Captain.
(Emilio pede-te que não faltes, pois podes ter que entrar em match)»
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Felizmente este precioso documento sobreviveu aos quase 112 anos que entretanto passaram. Podemos orgulhosamente encontra-lo exposto logo à entrada no nosso Museu Cosme Damião!



Manuscrita por Manuel Gourlade, a Gloriosa convocatória está hoje exposta no Museu Cosme Damião.


Mas o previdente Gourlade assegurar-se-ia que existiria ainda uma segunda convocatória, por via indirecta através de um discreto artigo publicado no Diário Ilustrado, um jornal de grande circulação nessa época:



Uma das primeiras convocatórias do nosso Clube. Manuel Gourlade procurava garantir a presença dos nosso 11 jogadores para o jogo contra o Gilman Football Club. Fonte: Diário Ilustrado 11-03-1905.


Curiosamente em ambos os casos Gourlade utiliza apenas o termo "Café Gelo", omitindo o "de". Uma simplificação que provavelmente seria comum na época e que talvez explique porque muitos anos depois, já na década de 50, os donos daquele estabelecimento tenham optado por deixar cair o "de"...

Nota-se assim que apenas 1 anos e 13 dias depois da fundação do nosso Clube, Gourlade fazia uso dos meios de divulgação comuns a esses tempos pioneiros. A dispersão das moradas dos jogadores pela cidade de Lisboa e arredores devia exigir essa capacidade de convocatória. Sem telefones generalizados, e muito menos correios electrónicos ou facebook, havia que passar a informação e garantir a mobilização. Manuel Gourlade procurava garantir a presença à hora de jogo de pelo menos 11 jogadores, desiderato por vezes problemático para qualquer Clube desse tempo. Assim, as convocatórias eram feitas por anúncios pagos em jornais de circulação de forma a garantir que aqueles que moravam longe de Belém sabiam ou não se esqueciam do compromisso para com o Clube.



Um outro exemplo do uso de um anúncio em jornal para Manuel Gourlade comunicar com os seus jogadores. Convocatória feita 1 semana depois o jogo vitorioso contra o Gilman FC. Gourlade não dispensava ninguém do treino nas Salésias! Rigor e exigência em 1905! Fonte: Diário Ilustrado 18-03-1905.


O Rocio era um local de encontro óbvio uma vez que estava situado em pleno coração de Lisboa. Era fácil lá chegar e por lá era fácil apanhar um meio de transporte conveniente para o campo do adversário (neste caso o Lumiar). Como hoje, nesse tempo o Rocio pululava de actividade e frenesim citadino mas havia diferenças... Oh se havia!



O Rocio, algures por volta de 1909. O "Café do Gelo" por pouco não aparece mas estava localizado logo ali do lado esquerdo. Notam-se dois carros eléctricos a circular. Eram carros abertos permitindo que os passageiros entrassem e saíssem mesmo em pleno andamento. Terá sido num carro destes que a nossa comitiva se fez transportar para o Lumiar. Nota-se também o curioso aspecto de ainda existirem carros de tracção animal. Fonte: AML.


O Jogo

Como se pode constatar pela crónica do jogo, Manuel Gourlade foi bem-sucedido em reunir o seu grupo de (pelo menos) onze jogadores seleccionados. Teve ainda particular cuidado na convocatória de Emílio de Carvalho, um elemento importante pela qualidade e experiência que dava ao grupo. Naquele tempo Emílio, cinzelador de profissão, já tinha recuado no terreno e jogava preferencialmente como defesa à esquerda na famosa (e por muito tempo adoptada) táctica da pirâmide (2:3:5).



Breve crónica do jogo Gilman Sport Club 0 – Sport Lisboa 2. Fonte: Diário Ilustrado 11-03-1905



A equipa do Sport Lisboa que alinhou no jogo Gilman FC 0 – Sport Lisboa 2. Golos de Couto e António Rosa Rodrigues (Catatau). Fonte: Diário Ilustrado 11-03-1905.



A equipa do Sport Lisboa que em 1906 defrontou o Lisbon Cricket Club para o torneio Viúva Senna. É praticamente a equipa que defrontou o Gilman FC no ano anterior. A esquerda para a direita, em cima: António Couto, Albano dos Santos Emílio de Carvalho, Manuel Mora, Cosme Damião, Fortunato Levy. Em baixo: Carlos França, António Rosa Rodrigues, Daniel Queiroz dos Santos, Cândido Rodrigues e Silvestre da Silva. Destes não jogaram contra o Gilman Cosme Damião (que aqui substituiu José da Cruz Viegas) e Daniel Queiroz dos Santos (substituído por Duarte). O árbitro neste jogo foi o inglês John Armour. Fonte: Tiro e Sport; Hemeroteca de Lisboa.


E claro os nossos onze bravos convocados venceriam o jogo por 2-0 com golos de António Rosa Rodrigues e António Couto! Venceram não obstante jogarem em terreno adversário (Charneca do Lumiar). Não sei ao certo mas este jogo terá sido provavelmente a nossa primeira vitória fora do Campo das Salésias (o "nosso" sem ser "nosso" campo de jogos).


O Café Gelo

Como vimos, o Café Gelo foi usado como local de encontro da nossa equipa. Este mítico Café tem associado um conjunto de histórias e lendas que resultam da sua longevidade, das inúmeras figuras que por lá passaram e dos acontecimentos históricos que por ali se deram ou prepararam. O Café era um ponto de encontro para as mais diversificadas pessoas algumas das quais - como adiante veremos – ligadas a episódios dramáticos da História de Portugal.



Registos fotográficos de diversas épocas da longa história do Café Gelo desde o século XIX até aos nossos dias. O estabelecimento chegou a ser extinto para dar lugar a uma hamburgueria. Depois e á no tempo actual, voltou a abrir com a mesma designação embora já tenha pouco a ver com o espaço antigo. Diversas fontes.


A respeito dessa fama que vem de longe, atente-se ao que nos diz Hernâni de Lemos Figueiredo do Café Gelo:

"O Gelo", como o Café Gelo era usualmente conhecido por todos, teve sempre uma grande tradição revolucionária e reviralhista, a sua sala traseira era o local de encontro de republicanos, maçons, socialistas, anarquistas e carbonários. Aquilino Ribeiro chamou-lhe a sede informal da ala radical da carbonária e da maçonaria e um centro conspirativo por excelência, segundo este escritor o atentado no Terreiro do Paço foi urdido naquelas quatro paredes. Seria daqui que terão saído em 1 de Fevereiro de 1908, Alfredo Costa e Manuel Buiça para o Terreiro do Paço para cometerem o regicídio. Fonte: https://saladainquietacao.files.wordpress.com/2012/02/republica-final-individual.pdf

E podemos acrescentar outros detalhes através de algumas linhas de um belo artigo publicado no DN, da autoria de Joana Emídio Marques, http://150anos.dn.pt/2014/10/04/cafe-gelo-uma-historia-de-oposicionismo/

A história do século XX português passa por este café, com quase 150 anos, que antes de ter o melhor pastel de nata da cidade, foi uma verdadeira "toca" de oposicionistas e poetas

No dia 2 de Fevereiro de 1908, pouco antes das 17.00, Manuel Buiça e Alfredo Costa saíram do café Gelo com as carabinas escondidas debaixo dos sobretudos e dirigiram-se para a praça do Comércio. Pouco depois das 17.00 mataram o Rei D. Carlos e o seu filho D. Luis Filipe. E só por isto o Gelo já tem garantida a eternidade do seu excêntrico nome na História de Portugal. Mas mais do que o local onde, na Lisboa do fim do século XIX e início do século XX, se reuniam os oposicionistas à monarquia, maçons, carbonários, anarquistas, este foi o primeiro estabelecimento comercial na cidade a ter... gelo.

Não se sabe exactamente o ano em que abriu portas, ali nos números 64 e 65 da praça do Rossio, sob o nome de Botequim Gonzaga, mas sabe-se que foi em meados do século XIX e que pouco depois foi transformado no Café Freitas. À entrada do século XX ganhou o nome de Café do Gelo.

Nos anos 20 e 30 foi lugar de passagem de intelectuais e poetas como Fernando Pessoa ou Raul Leal. Nos anos 50 veio a primeira grande remodelação e a portas envidraçadas que davam para ver o exterior e uma clientela feita de empregados do comércio e jovens com pouco dinheiro. Passou a chamar-se apenas Café Gelo.

Quando em 2001, Fernando Jorge Gomes Ferreira da empresa Januário Mateus & Batista, (também proprietários dos centenários Café Nicola e Café Luso), comprou o espaço da hamburgaria Abracadabra, pouco sabia de toda esta história. "Soube do passado do café durante as negociações da compra do espaço. Fiquei tão impressionado que quis devolver essa história à cidade e resolvi, ali mesmo, recuperar o nome", contou ao DN. E foi assim que, em 2003, o Gelo reabriu como pastelaria, mas com um mural ilustrado onde se conta o regicídio e as fotos de alguns poetas que voltariam a colocar o café na História.
(...)

Segundo o editor Luiz Pacheco: "Na clientela do Café Gelo, nos anos 50-60, não teria homogeneidade etária, coexistiam tipos dos 8 aos 80, do José Carlos González, caco infantil, ao Raul Leal, do Orpheu, caquético total. Escassa identidade ideológica, dos fascistas à Goulart Nogueira aos anarcas como o Forte, o Henrique Tavares, o Saldanha da Gama. Prostitutas, bêbados e maricas. Maluquinhos como o António Gancho. Nenhuma programação estética. Dali não saiu revista, doutrina, escola que se aproveitasse. Então?! Havia, isso sim, um espaço de convívio em liberdade plena, feroz e mútua crítica, nenhuma contemplação pelo arrivismo..."



O Gilman Football Club


Uma equipa do Gilman Football Club de 1909. Pouco antes do Clube ter terminado pelo menos com essa designação. Não dispomos de qualquer identificação.


O Gilman FC foi o nosso adversário naquele dia 12 de Março de 1905. Fundado pelo proprietário (à época) da Fábrica de Loiça de Sacavém, o Inglês James Gilman (1854 – 1921), este curioso clube foi o precursor do Sport Grupo Sacavenense (este fundado em 19 de Março de 1910). James Gilman foi inicialmente guarda-livros da fábrica fundada em 1850 pelo Barão de Howorth de Sacavém. A partir de 1893, por morte do Barão, Gilman passou a administrador da fábrica numa sociedade em comandita com a viúva do barão de Sacavém, tornando-se a partir de 1909 o seu único administrador.



Esquerda: James Gilman e José de Sousa, respectivamente o dono e o primeiro chefe fabril português da fábrica de loiças de Sacavém. Fonte: Ilustração Portuguesa, número 346, de 7 de Outubro de 1912. Direita: Recorte de artigo sobre a fábrica de louça de Sacavém publicado no Diário Ilustrado de 17-01-1898.



Aspectos de actividades de convívio social de trabalhadores da fábrica onde o Inglês James Gilman se integrava. Na fotografia de baixo vê-se ao centro James Gilman (chapéu) e José Sousa (boné). Fonte: http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/james+gilman e Ilustração Portuguesa, número 346, de 7 de Outubro de 1912.

James Gilman veio a revelar-se um administrador competente, apostando em aumentar as exportações para o mercado inglês. Introduziu igualmente importantes inovações tecnológicas visando melhorar a produção de cerâmicas da sua fábrica, destacando-se em 1912 a aquisição de um forno-túnel no qual terá sido utilizado pela primeira vez o betão armado em Portugal. Mas já antes, em 1898 a fábrica movimentava mais de 400 operários.



Mas James Gilman tinha também uma perspectiva social da sua fábrica tendo promovido e participado em convívios e também criado um clube de futebol. Assim, o Gilman FC surgiu para permitir que alguns dos seus operários pudessem praticar uma modalidade de crescente implantação e popularidade no Portugal do início do século XX). Gilman viria ainda a ceder alguns terrenos da fábrica para que fosse instalado o corpo de Bombeiros Voluntários de Sacavém. Esse facto explica que ainda hoje a Avenida onde se situa o quartel dos Bombeiros tenha o seu nome. James Gilman veio a falecer em 1921, com a idade de 67 anos. Foi substituído pelo seu filho Raul Gilman, que formou uma parceria com Herbert Gilbert, outro Inglês. Extensos detalhes sobre a História da Fábrica de Louças de Sacavém podem ser encontrados em diversas ligações de grande interesse:

http://www.loicadesacavem.pt/real-fabrica-de-sacavem-gilman-cta/
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/07/fabrica-de-loica-sacavem.html
http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/mem%C3%B3rias+de+clive+gilbert
http://mfls.blogs.sapo.pt/tag/james+gilman
https://desenvolturasedesacatos.blogspot.pt/2014/02/fabrica-de-loica-de-sacavem-fabrica-de.html