Decifrando imagens do passado

alfredo

Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:


Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?


(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola


Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado


E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:



Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.





Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:



Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.



Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

RedVC

Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro


As árvores avaliam-se pelos seus frutos. A importância de um País avalia-se pelas obras dos seus filhos. No futebol alguns países vão para além do seu tamanho físico tornando-se gigantes ao longo dos mais de 100 anos do futebol. A Hungria, a Magyarország, é justamente um desses casos notáveis, tendo dado ao futebol mundial muitos jogadores e treinadores que fizeram evoluir o futebol em termos tácticos e técnicos e espalharam o perfume do seu futebol pelo mundo fora. O Glorioso sempre esteve atento e por isso alguns deles por cá estiveram escrevendo algumas das mais belas páginas do futebol Benfiquista.

Vamos hoje partir de uma fotografia com quase 93 anos para identificar dois desses filhos, figuras imortais, nobres e prestigiadas do futebol Benfiquista. Vamos reconhece-los numa famosa selecção da Hungria que participou nos jogos Olímpicos de Paris em 1924.



A famosa equipa nacional da Hungria que participou na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924. Da esquerda para a direita: Fogl, Opata, Hirzer, Jeny, Eisenhoffer, Béla Guttmann, Mándi, Obitz, Braun, Orth e Kiss. Em baixo János Biri.


Falamos do guarda-redes János Biri e do médio centro Béla Guttmann, dois dos melhores treinadores de sempre do SLB. Ambos foram titulares nos dois jogos dessa aventura olímpica. Dois outros jogadores, Jeny e Orth, também estiveram ligados ao futebol Português mas não ao SLB.

Hoje centraremos atenção em Béla Guttman, o melhor treinador da História do SLB.


Béla Guttmann

(Budapeste, 27-01-1899 - Viena, 28-08-1981)


Húngaro de nascimento, cidadão do mundo pelas circunstâncias e por opção, Béla Guttmann chegou ao nosso Clube em 1959. Vinha com uma já longa história de vida, tendo trabalhado em muitos países e diversas culturas desportivas. Chegou envolto em polémica ao voltar as costas aos FCP, onde se sagrou campeão nacional, para trabalhar no grande Benfica. Guttmann sabia que era a única equipa em Portugal com potencial para a glória europeia.

Era já um nome conhecido e prestigiado do futebol internacional, que pela sua personalidade peculiar nunca se tinha fixado num país, partindo geralmente após um período máximo de 2 anos de permanência. Nas duas finais Europeias defrontou colossos europeus com alguns dos mais afamados jogadores Húngaros de sempre (Kubala, Czibor e Bószik no FC Barcelona, Púskas no Real Madrid), todos estrelas de primeira grandeza do futebol Mundial, todos conhecendo e/ou tendo trabalhado no passado com o nosso mago.

Mas Guttmann conhecia-os melhor ainda e por isso estava em vantagem. E usou bem esse conhecimento, assim como a sua sageza futebolística e experiência de vida para, com a genialidade dos jogadores Benfiquistas, escrever as duas mais belas páginas da nossa História. Ao ganhar finais contra colossos Europeus, fez realidade do sonho, tornando-nos os maiores na Europa. Liderou uma equipa que se tornou a lenda europeia e mundial. Com ele fomos mais alto, com ele fomos mais do que nunca Benfica!


Béla Guttmann nasceu em Budapeste, em Janeiro do último ano do século XIX. Filho de uma família de origem judia, teve uma precoce educação musical, incluindo a dança, dada pelos seus pais Abraham Guttman e Ester Szánto, bailarinos de profissão. Assim se compreende que em algumas circunstâncias e lugares que percorreu na sua vida, a dança tenha servido de actividade profissional de recurso, permitindo-lhe por o pão na mesa em tempos difíceis. Mas o desporto e a prática desportiva do futebol mereceram-lhe precoce interesse e prioridade.

 


Elementos pessoais de Béla Guttmann. Em cima: registo de nascimento. Em baixo: mala de viagem de Béla Guttmann e duas fichas de emigração temporária no Brasil. Na mala vê-se uma etiqueta do Hotel Batalha no Porto e do Hotel Eden em Spietz, local onde o SLB estagiou antes da grande vitória de Berna em 1961.


Guttman, o jogador

Definido como um jogador combativo, generoso e inteligente, Béla Guttmann foi um médio organizador de jogo, com carreira feita na Hungria, Áustria e Estados Unidos. Iniciou-se no modesto Törevkés SC onde permaneceu de 1917 a 1919, transferindo-se depois para o famoso MTK de Budapeste, que à época, com o Ferencváros, dominava o futebol Húngaro. Por lá permaneceu duas temporadas e, apesar de tapado por jogadores mais velhos e prestigiados, foi campeão Húngaro. Na segunda época, alterações políticas levaram ao agravamento do clima de anti-semitismo, forçando Guttmann a emigrar para a vizinha Áustria.


Törevkés SC. Guttman é o sexto, de pé a contar da esquerda. Fonte: http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251


Em Viena, integrou de 1922 a 1924, os quadros do SC Hakoah, clube fundado em 1909. Nesse tempo, o Hakoah era um dos quatro principais clubes do futebol austríaco (todos da capital): Rapid (1899), First (1894), Austria (1911; na altura chamado Wiener Amateur). Tanto o Áustria como o Hakoah tinham grande influência cultural e financeira da comunidade judaica, embora Hakoah (palavra que significa Força) fosse considerado o clube dos judeus pobres, sendo mais activo e tendo maior adesão popular. Nessa época, o futebol austríaco e húngaro eram dos mais avançados da Europa, dispondo de boa organização e bastante dinheiro, com excelentes jogadores e grandes treinadores incluindo génios como o escocês Jimmy Hogan (1882-1974) e o austríaco Hugo Meisl (1881-1937).

No auge desse período austríaco, Guttman seria convocado para integrar a forte selecção Húngara de futebol que participou em Paris, 1924. Depois de uma vitória inicial robusta por 5-0 contra a Polónia, veio uma desastrosa derrota por 0-3 contra o Egipto. Os jogadores foram muito criticados mas muitas atenuantes foram apontadas para explicar o fiasco desportivo, desde uma deficiente alimentação a uma péssima planificação e acompanhamento dos dirigentes (que ao que parece era tantos quantos os jogadores...). O jogo contra o Egipto seria o último de Guttmann na selecção húngara. No total, Guttmann jogaria apenas 4 vezes com a camisola nacional, algo frequente dado o número exíguo de jogos entre selecções nesse tempo.



O Hakoah estava também interessado em apresentar-se fora da Áustria, tendo-se deslocado em 1923 a Inglaterra onde jogou e venceu o West Ham United, naquela que foi a primeira derrota de um clube inglês no seu terreno contra uma equipa estrangeira. Em 1925, o Hakoah venceria pela primeira e única vez o campeonato austríaco, num ano inesquecível que culminou com uma bem-sucedida digressão aos EUA. Vivia-se um período breve mas de grande exuberância financeira e desportiva do futebol na América.



Cartaz promocional do Hakoah Wien para a sua digressão aos EUA em 1926.


A admiração de Guttmann por Nova Iorque e pela América levou-o ainda em 1926 a aceitar uma das propostas que recebeu em NY. Iniciou assim uma nova etapa de vida de seis anos em que jogou em cinco clubes nova-iorquinos. Em 1930 o Hakoah All Stars faria mesmo uma digressão pelo Brasil, Argentina e Uruguai, altura em que Guttman terá tido primeiro contacto com o futebol Sul-Americano. Mas em 1932, o futebol Americano entrou num declínio fatal. Tempo para uma nova mudança, levando Guttman a regressar ao Hakoah, para jogar a sua última época.



Guttman, capitão de equipa no Hakoah All Stars durante a digressão na América do Sul em 1930.


Como jogador, Guttmann teve um trajecto feito de muitas e diversas experiências. Sempre em movimento, opção que repetiria enquanto treinador. Trabalhou com treinadores famosos, verdadeiros pioneiros que tiveram parte activa na evolução táctica e técnica do futebol. Disputou campeonatos competitivos e talvez ainda mais interessante acumulou uma experiência de vida que lhe permitiu compreender como poucos os homens, os tempos e as particularidades de um jogo de futebol. A essas virtudes juntou a sua forte personalidade e a coerência dos seus critérios. Faltava conseguir treinar equipas com recursos que lhe permitissem chegar à glória. Levaria tempo e seria um caminho de pedras. Um caminho que o traria ao SL Benfica, Clube onde atingiu o zénite das suas capacidades e obteve as suas maiores glórias individuais.



Quatro das equipas onde Guttmann jogou.


O trajecto do jogador Bélla Guttmann. Fonte: wikipedia


Guttman, o treinador



Foi no Hakoah Wien que Guttmann iniciou a sua carreira de treinador. Dois anos depois começaria uma longa e intensa vida de globetrotter que o levaria a pelo menos doze países na Europa e na América do Sul. A primeira paragem foi o FC Twente (então Enschede), contrato que conseguiu por intercessão do grande Hugo Meisl. Nessas experiências começaram a manifestar-se traços de que raramente Guttman abdicou: discutir detalhadamente e com dureza os diversos aspectos dos seus contratos, ficar não mais de dois anos num clube e exigir autonomia e dignidade de trabalho aos dirigentes dos clubes. Tudo tarefas complicadas dado que os treinadores tinham pouca relevância e por isso capacidade reivindicativa. Mandavam os dirigentes.

Depois dessa aventura holandesa, Guttmann regressou ao Hakoah para dois anos depois retornar novamente ao seu país natal para treinar o Újpest, onde foi campeão Húngaro e onde ganhou a Taça Mitropa, o primeiro grande torneio entre clubes europeus, equivalente à Taça Latina, disputado desde 1927 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitropa_Cup).

Mas, no final dessa época desportiva, rebentou a segunda guerra mundial. Guttman interrompeu a sua actividade desportiva e provavelmente passou à clandestinidade para poder sobreviver, escapando às perseguições nazis. Pouco se sabe desse período. Terá sido preso? Terá estado num campo de concentração? Guttmann nunca falou. Não sabemos como ele sobreviveu mas, ao que li, pelo menos um irmão e um primo de Guttmann morreram num campo de concentração nazi. Mais uma etapa dura de vida, mais sofrimento causada pelo horror que certo comportamento humano consegue causar aos seus semelhantes. Guttmann sobreviveu.

Finda a guerra, Guttman voltou a treinar na Hungria desta vez no Vasas de Budapeste. Seguiu-se um ano na Roménia, o regresso ao Ujpest e depois uma importante experiência no Kipest, onde foi substituir o pai de Púskas no comando técnico da equipa. Aliás o plantel integrava o já então famoso Púskas. E seria um conflito de personalidades em que Púskas acabaria por causar a saída de Guttmann apesar do plantel permitir pensar em grandes conquistas. Uma vez mais o carácter de Guttmann impunha-se às conveniências de circunstância e aos vedetismos. Sempre coerente na dignidade que exigia para as suas funções.

Em 1949-1950 foi contratado pelo Padova treinando finalmente em Itália. Por lá conseguiu algum destaque mas incompatibilizou-se com dirigentes que interferiram no seu trabalho. Exigia respeito e independência. Demitiu-se e foi-se embora. Na época seguinte o Triestina e depois em 1953, uma breve experiência na Argentina e outra em Chipre.

Mas o seu prestígio em Itália permanecia intocável, tendo ainda neste ano sido contratado pelo poderoso AC Milan. Nos rossoneros orientou grandes craques como o italiano Schiaffino e os suecos Nordhal, Gren e Liedholm. Apesar dos vedetismos, ganhou o respeito da equipa e os excelentes resultados obtidos nas 15 primeiras jornadas, valeram-lhe a liderança do campeonato. Viria depois alguma instabilidade e conflitos com a Direcção do clube. Como sempre Guttmann não pactuou e demitiu-se. Mas a equipa estava lançada, e sendo depois dirigida por Puricelli, veio a sagrar-se campeã de Itália. Na hora da conquista vários foram os jogadores que não se esqueceram de Guttmann.

Outra das notáveis paragens foi a oportunidade de Guttman treinar no Brasil em 1957, a grande equipa do Hónved que por ali andava em digressão. Na verdade era mais uma fuga de que uma digressão de uma equipa que contava com os grandes Koczis, Puskas e Czibor. Os Húngaros estavam no Brasil a convite do Flamengo mas recusavam voltar à sua pátria pois ali viviam-se dias negros de revolução comunista.



Guttmann com Kócsis e Púskas. Três génios do futebol Húngaro.


Aproveitando essa estadia, Guttmann recebeu um convite do São Paulo FC. Aceitou e foi campeão Paulista treinando craques como Zizinho. Por lá os métodos, a personalidade e as inovações tácticas de Guttmann deixaram marcas, sendo claro que influenciaram a evolução e competitividade do futebol Brasileiro que no ano seguinte se sagraria campeão mundial na Suécia.



Uma fotografia extraordinária de três génios do futebol. Zizinho, Guttmann e Púskas em São Paulo, 1957. Fonte: fourfourtwo.hu


Fonte: Revista Cruzeiro, 1958



Os Clubes mais importantes da longa carreira de Béla Guttmann.


Viria depois o convite do FCP, que aceite levou Guttmann a acrescentar Portugal à lista de países onde trabalhou. Por lá foi campeão depois de uma acesa compita com o SLB. Astuto, na hora do balanço, Guttmann percebeu que o futuro estava no SLB, clube que dispunha de excelentes jogadores, e de meios para lhe poder dar outros voos. Era o SLB que ele queria treinar. E assim foi. E assim se fez História.



Momentos de glória no SLB.


Depois do SLB seria convidado pelo Penarol de Montevideo para mais uma aventura Sul-Americana. Dois anos antes tinha disputado com os Uruguaios uma Taça Intercontinental, conhecendo por isso o ambiente. E uma vez mais Guttman foi campeão, juntando o título Uruguaio ao seu currículo. Mas uma vez mais não ficou muito tempo regressando para treinar o Austria Wien.



Juan Alberto Schiaffino, um dos melhores jogadores Uruguaios de sempre com Béla Guttman.


Nunca regresses a um local onde já foste feliz. Assim foi com Guttman.

Diz-se que em 1965, aquando do seu regresso, Guttman chegou ao Estádio da Luz, olhou para os bólides dos jogadores por lá parqueados e logo disse que o seu regresso tinha sido um erro. O mago percebeu logo que a força motriz de ambição e de conquista não existia mais na Luz. Eram tempos diferentes, os jogadores aburguesaram-se, o clube estava diferente. Mas até Guttmann estava diferente.

A época foi má, o título foi perdido para o SCP, esfumando-se o tetra. Fomos também estrondosamente eliminados da Taça dos Clubes Campeões Europeus por um jovem e ambicioso Manchester United. Na hora da saída, Guttmann queixou-se amargamente. Era o fim da ligação Guttmann com o SLB. O fim que selava uma era que na verdade tinha terminado em 1962, logo após a partida do feiticeiro.



As declarações amargas de Guttmann na hora da partida. Fonte: Jornal "A Bola".


Guttmann ainda treinaria na Suiça, Grécia e Áustria, mas viria a finalizar a carreira no FCP. Sempre sem resultados dignos de menção. E assim fechou a sua extraordinária carreira. Sem a glória de outros tempos mas sempre com a mesma dignidade e sempre fiel aos seus princípios.



O trajecto do treinador Béla Guttmann. Fonte: wikipedia


Eu gostar do Benfica!




Guttmann foi um gigante da vida e do futebol. Foi e com razão muitas vezes acusado de pensar primeiro na sua carteira. Como não? Como não o fazer quando esteve exposto ao anti-semitismo, às agruras da guerra, às leviandades e à maldade dos homens, à inconstância das personalidades, à falta de critérios dos dirigentes dos clube, aos caprichos dos jogadores, à pressão dos adeptos, enfim às agruras da vida. Como não o fazer se a vida é um local duro em que somos todos cavaleiros na tempestade?

Guttmann foi um guerreiro, um sobrevivente, um gigante. Mas teve e mostrou ter coração. Mostrou-o aqueles que lhe deram a sua paixão e reconhecimento. Aqueles que lhe deram os dias mais felizes da sua longa vida do futebol. Deu-o aos adeptos Benfiquistas. Deu-o de forma intemporal, aos Benfiquistas passados, presentes e futuros. E deu-o de tal forma que é difícil conter as lágrimas ao recordar os seus tempos como Benfiquista. E assim não poderia fechar este texto sem ir buscar algumas das palavras sábias, de Amor, gratidão e reconhecimento que proferiu sobre o Sport Lisboa e Benfica, sobre os Benfiquistas e sobre a mística Benfiquista:



"Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno... Por terra... Por mar... Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa... Grande... Incomparável... Extraordinária... massa associativa!"



Obrigado Míster. Estará sempre nos nossos corações.




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

alfredo

Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
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Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro


As árvores avaliam-se pelos seus frutos. A importância de um País avalia-se pelas obras dos seus filhos. No futebol alguns países vão para além do seu tamanho físico tornando-se gigantes ao longo dos mais de 100 anos do futebol. A Hungria, a Magyarország, é justamente um desses casos notáveis, tendo dado ao futebol mundial muitos jogadores e treinadores que fizeram evoluir o futebol em termos tácticos e técnicos e espalharam o perfume do seu futebol pelo mundo fora. O Glorioso sempre esteve atento e por isso alguns deles por cá estiveram escrevendo algumas das mais belas páginas do futebol Benfiquista.

Vamos hoje partir de uma fotografia com quase 93 anos para identificar dois desses filhos, figuras imortais, nobres e prestigiadas do futebol Benfiquista. Vamos reconhece-los numa famosa selecção da Hungria que participou nos jogos Olímpicos de Paris em 1924.



A famosa equipa nacional da Hungria que participou na modalidade de futebol nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924. Da esquerda para a direita: Fogl, Opata, Hirzer, Jeny, Eisenhoffer, Béla Guttmann, Mándi, Obitz, Braun, Orth e Kiss. Em baixo János Biri.


Falamos do guarda-redes János Biri e do médio centro Béla Guttmann, dois dos melhores treinadores de sempre do SLB. Ambos foram titulares nos dois jogos dessa aventura olímpica. Dois outros jogadores, Jeny e Orth, também estiveram ligados ao futebol Português mas não ao SLB.

Hoje centraremos atenção em Béla Guttman, o melhor treinador da História do SLB.


Béla Guttmann

(Budapeste, 27-01-1899 - Viena, 28-08-1981)


Húngaro de nascimento, cidadão do mundo pelas circunstâncias e por opção, Béla Guttmann chegou ao nosso Clube em 1959. Vinha com uma já longa história de vida, tendo trabalhado em muitos países e diversas culturas desportivas. Chegou envolto em polémica ao voltar as costas aos FCP, onde se sagrou campeão nacional, para trabalhar no grande Benfica. Guttmann sabia que era a única equipa em Portugal com potencial para a glória europeia.

Era já um nome conhecido e prestigiado do futebol internacional, que pela sua personalidade peculiar nunca se tinha fixado num país, partindo geralmente após um período máximo de 2 anos de permanência. Nas duas finais Europeias defrontou colossos europeus com alguns dos mais afamados jogadores Húngaros de sempre (Kubala, Czibor e Bószik no FC Barcelona, Púskas no Real Madrid), todos estrelas de primeira grandeza do futebol Mundial, todos conhecendo e/ou tendo trabalhado no passado com o nosso mago.

Mas Guttmann conhecia-os melhor ainda e por isso estava em vantagem. E usou bem esse conhecimento, assim como a sua sageza futebolística e experiência de vida para, com a genialidade dos jogadores Benfiquistas, escrever as duas mais belas páginas da nossa História. Ao ganhar finais contra colossos Europeus, fez realidade do sonho, tornando-nos os maiores na Europa. Liderou uma equipa que se tornou a lenda europeia e mundial. Com ele fomos mais alto, com ele fomos mais do que nunca Benfica!


Béla Guttmann nasceu em Budapeste, em Janeiro do último ano do século XIX. Filho de uma família de origem judia, teve uma precoce educação musical, incluindo a dança, dada pelos seus pais Abraham Guttman e Ester Szánto, bailarinos de profissão. Assim se compreende que em algumas circunstâncias e lugares que percorreu na sua vida, a dança tenha servido de actividade profissional de recurso, permitindo-lhe por o pão na mesa em tempos difíceis. Mas o desporto e a prática desportiva do futebol mereceram-lhe precoce interesse e prioridade.

 


Elementos pessoais de Béla Guttmann. Em cima: registo de nascimento. Em baixo: mala de viagem de Béla Guttmann e duas fichas de emigração temporária no Brasil. Na mala vê-se uma etiqueta do Hotel Batalha no Porto e do Hotel Eden em Spietz, local onde o SLB estagiou antes da grande vitória de Berna em 1961.


Guttman, o jogador

Definido como um jogador combativo, generoso e inteligente, Béla Guttmann foi um médio organizador de jogo, com carreira feita na Hungria, Áustria e Estados Unidos. Iniciou-se no modesto Törevkés SC onde permaneceu de 1917 a 1919, transferindo-se depois para o famoso MTK de Budapeste, que à época, com o Ferencváros, dominava o futebol Húngaro. Por lá permaneceu duas temporadas e, apesar de tapado por jogadores mais velhos e prestigiados, foi campeão Húngaro. Na segunda época, alterações políticas levaram ao agravamento do clima de anti-semitismo, forçando Guttmann a emigrar para a vizinha Áustria.


Törevkés SC. Guttman é o sexto, de pé a contar da esquerda. Fonte: http://www.nemzetisport.hu/benfica/guttmann-a-focista-vendegposzt-2-resz-2470251


Em Viena, integrou de 1922 a 1924, os quadros do SC Hakoah, clube fundado em 1909. Nesse tempo, o Hakoah era um dos quatro principais clubes do futebol austríaco (todos da capital): Rapid (1899), First (1894), Austria (1911; na altura chamado Wiener Amateur). Tanto o Áustria como o Hakoah tinham grande influência cultural e financeira da comunidade judaica, embora Hakoah (palavra que significa Força) fosse considerado o clube dos judeus pobres, sendo mais activo e tendo maior adesão popular. Nessa época, o futebol austríaco e húngaro eram dos mais avançados da Europa, dispondo de boa organização e bastante dinheiro, com excelentes jogadores e grandes treinadores incluindo génios como o escocês Jimmy Hogan (1882-1974) e o austríaco Hugo Meisl (1881-1937).

No auge desse período austríaco, Guttman seria convocado para integrar a forte selecção Húngara de futebol que participou em Paris, 1924. Depois de uma vitória inicial robusta por 5-0 contra a Polónia, veio uma desastrosa derrota por 0-3 contra o Egipto. Os jogadores foram muito criticados mas muitas atenuantes foram apontadas para explicar o fiasco desportivo, desde uma deficiente alimentação a uma péssima planificação e acompanhamento dos dirigentes (que ao que parece era tantos quantos os jogadores...). O jogo contra o Egipto seria o último de Guttmann na selecção húngara. No total, Guttmann jogaria apenas 4 vezes com a camisola nacional, algo frequente dado o número exíguo de jogos entre selecções nesse tempo.



O Hakoah estava também interessado em apresentar-se fora da Áustria, tendo-se deslocado em 1923 a Inglaterra onde jogou e venceu o West Ham United, naquela que foi a primeira derrota de um clube inglês no seu terreno contra uma equipa estrangeira. Em 1925, o Hakoah venceria pela primeira e única vez o campeonato austríaco, num ano inesquecível que culminou com uma bem-sucedida digressão aos EUA. Vivia-se um período breve mas de grande exuberância financeira e desportiva do futebol na América.



Cartaz promocional do Hakoah Wien para a sua digressão aos EUA em 1926.


A admiração de Guttmann por Nova Iorque e pela América levou-o ainda em 1926 a aceitar uma das propostas que recebeu em NY. Iniciou assim uma nova etapa de vida de seis anos em que jogou em cinco clubes nova-iorquinos. Em 1930 o Hakoah All Stars faria mesmo uma digressão pelo Brasil, Argentina e Uruguai, altura em que Guttman terá tido primeiro contacto com o futebol Sul-Americano. Mas em 1932, o futebol Americano entrou num declínio fatal. Tempo para uma nova mudança, levando Guttman a regressar ao Hakoah, para jogar a sua última época.



Guttman, capitão de equipa no Hakoah All Stars durante a digressão na América do Sul em 1930.


Como jogador, Guttmann teve um trajecto feito de muitas e diversas experiências. Sempre em movimento, opção que repetiria enquanto treinador. Trabalhou com treinadores famosos, verdadeiros pioneiros que tiveram parte activa na evolução táctica e técnica do futebol. Disputou campeonatos competitivos e talvez ainda mais interessante acumulou uma experiência de vida que lhe permitiu compreender como poucos os homens, os tempos e as particularidades de um jogo de futebol. A essas virtudes juntou a sua forte personalidade e a coerência dos seus critérios. Faltava conseguir treinar equipas com recursos que lhe permitissem chegar à glória. Levaria tempo e seria um caminho de pedras. Um caminho que o traria ao SL Benfica, Clube onde atingiu o zénite das suas capacidades e obteve as suas maiores glórias individuais.



Quatro das equipas onde Guttmann jogou.


O trajecto do jogador Bélla Guttmann. Fonte: wikipedia


Guttman, o treinador



Foi no Hakoah Wien que Guttmann iniciou a sua carreira de treinador. Dois anos depois começaria uma longa e intensa vida de globetrotter que o levaria a pelo menos doze países na Europa e na América do Sul. A primeira paragem foi o FC Twente (então Enschede), contrato que conseguiu por intercessão do grande Hugo Meisl. Nessas experiências começaram a manifestar-se traços de que raramente Guttman abdicou: discutir detalhadamente e com dureza os diversos aspectos dos seus contratos, ficar não mais de dois anos num clube e exigir autonomia e dignidade de trabalho aos dirigentes dos clubes. Tudo tarefas complicadas dado que os treinadores tinham pouca relevância e por isso capacidade reivindicativa. Mandavam os dirigentes.

Depois dessa aventura holandesa, Guttmann regressou ao Hakoah para dois anos depois retornar novamente ao seu país natal para treinar o Újpest, onde foi campeão Húngaro e onde ganhou a Taça Mitropa, o primeiro grande torneio entre clubes europeus, equivalente à Taça Latina, disputado desde 1927 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitropa_Cup).

Mas, no final dessa época desportiva, rebentou a segunda guerra mundial. Guttman interrompeu a sua actividade desportiva e provavelmente passou à clandestinidade para poder sobreviver, escapando às perseguições nazis. Pouco se sabe desse período. Terá sido preso? Terá estado num campo de concentração? Guttmann nunca falou. Não sabemos como ele sobreviveu mas, ao que li, pelo menos um irmão e um primo de Guttmann morreram num campo de concentração nazi. Mais uma etapa dura de vida, mais sofrimento causada pelo horror que certo comportamento humano consegue causar aos seus semelhantes. Guttmann sobreviveu.

Finda a guerra, Guttman voltou a treinar na Hungria desta vez no Vasas de Budapeste. Seguiu-se um ano na Roménia, o regresso ao Ujpest e depois uma importante experiência no Kipest, onde foi substituir o pai de Púskas no comando técnico da equipa. Aliás o plantel integrava o já então famoso Púskas. E seria um conflito de personalidades em que Púskas acabaria por causar a saída de Guttmann apesar do plantel permitir pensar em grandes conquistas. Uma vez mais o carácter de Guttmann impunha-se às conveniências de circunstância e aos vedetismos. Sempre coerente na dignidade que exigia para as suas funções.

Em 1949-1950 foi contratado pelo Padova treinando finalmente em Itália. Por lá conseguiu algum destaque mas incompatibilizou-se com dirigentes que interferiram no seu trabalho. Exigia respeito e independência. Demitiu-se e foi-se embora. Na época seguinte o Triestina e depois em 1953, uma breve experiência na Argentina e outra em Chipre.

Mas o seu prestígio em Itália permanecia intocável, tendo ainda neste ano sido contratado pelo poderoso AC Milan. Nos rossoneros orientou grandes craques como o italiano Schiaffino e os suecos Nordhal, Gren e Liedholm. Apesar dos vedetismos, ganhou o respeito da equipa e os excelentes resultados obtidos nas 15 primeiras jornadas, valeram-lhe a liderança do campeonato. Viria depois alguma instabilidade e conflitos com a Direcção do clube. Como sempre Guttmann não pactuou e demitiu-se. Mas a equipa estava lançada, e sendo depois dirigida por Puricelli, veio a sagrar-se campeã de Itália. Na hora da conquista vários foram os jogadores que não se esqueceram de Guttmann.

Outra das notáveis paragens foi a oportunidade de Guttman treinar no Brasil em 1957, a grande equipa do Hónved que por ali andava em digressão. Na verdade era mais uma fuga de que uma digressão de uma equipa que contava com os grandes Koczis, Puskas e Czibor. Os Húngaros estavam no Brasil a convite do Flamengo mas recusavam voltar à sua pátria pois ali viviam-se dias negros de revolução comunista.



Guttmann com Kócsis e Púskas. Três génios do futebol Húngaro.


Aproveitando essa estadia, Guttmann recebeu um convite do São Paulo FC. Aceitou e foi campeão Paulista treinando craques como Zizinho. Por lá os métodos, a personalidade e as inovações tácticas de Guttmann deixaram marcas, sendo claro que influenciaram a evolução e competitividade do futebol Brasileiro que no ano seguinte se sagraria campeão mundial na Suécia.



Uma fotografia extraordinária de três génios do futebol. Zizinho, Guttmann e Púskas em São Paulo, 1957. Fonte: fourfourtwo.hu


Fonte: Revista Cruzeiro, 1958



Os Clubes mais importantes da longa carreira de Béla Guttmann.


Viria depois o convite do FCP, que aceite levou Guttmann a acrescentar Portugal à lista de países onde trabalhou. Por lá foi campeão depois de uma acesa compita com o SLB. Astuto, na hora do balanço, Guttmann percebeu que o futuro estava no SLB, clube que dispunha de excelentes jogadores, e de meios para lhe poder dar outros voos. Era o SLB que ele queria treinar. E assim foi. E assim se fez História.



Momentos de glória no SLB.


Depois do SLB seria convidado pelo Penarol de Montevideo para mais uma aventura Sul-Americana. Dois anos antes tinha disputado com os Uruguaios uma Taça Intercontinental, conhecendo por isso o ambiente. E uma vez mais Guttman foi campeão, juntando o título Uruguaio ao seu currículo. Mas uma vez mais não ficou muito tempo regressando para treinar o Austria Wien.



Juan Alberto Schiaffino, um dos melhores jogadores Uruguaios de sempre com Béla Guttman.


Nunca regresses a um local onde já foste feliz. Assim foi com Guttman.

Diz-se que em 1965, aquando do seu regresso, Guttman chegou ao Estádio da Luz, olhou para os bólides dos jogadores por lá parqueados e logo disse que o seu regresso tinha sido um erro. O mago percebeu logo que a força motriz de ambição e de conquista não existia mais na Luz. Eram tempos diferentes, os jogadores aburguesaram-se, o clube estava diferente. Mas até Guttmann estava diferente.

A época foi má, o título foi perdido para o SCP, esfumando-se o tetra. Fomos também estrondosamente eliminados da Taça dos Clubes Campeões Europeus por um jovem e ambicioso Manchester United. Na hora da saída, Guttmann queixou-se amargamente. Era o fim da ligação Guttmann com o SLB. O fim que selava uma era que na verdade tinha terminado em 1962, logo após a partida do feiticeiro.



As declarações amargas de Guttmann na hora da partida. Fonte: Jornal "A Bola".


Guttmann ainda treinaria na Suiça, Grécia e Áustria, mas viria a finalizar a carreira no FCP. Sempre sem resultados dignos de menção. E assim fechou a sua extraordinária carreira. Sem a glória de outros tempos mas sempre com a mesma dignidade e sempre fiel aos seus princípios.



O trajecto do treinador Béla Guttmann. Fonte: wikipedia


Eu gostar do Benfica!




Guttmann foi um gigante da vida e do futebol. Foi e com razão muitas vezes acusado de pensar primeiro na sua carteira. Como não? Como não o fazer quando esteve exposto ao anti-semitismo, às agruras da guerra, às leviandades e à maldade dos homens, à inconstância das personalidades, à falta de critérios dos dirigentes dos clube, aos caprichos dos jogadores, à pressão dos adeptos, enfim às agruras da vida. Como não o fazer se a vida é um local duro em que somos todos cavaleiros na tempestade?

Guttmann foi um guerreiro, um sobrevivente, um gigante. Mas teve e mostrou ter coração. Mostrou-o aqueles que lhe deram a sua paixão e reconhecimento. Aqueles que lhe deram os dias mais felizes da sua longa vida do futebol. Deu-o aos adeptos Benfiquistas. Deu-o de forma intemporal, aos Benfiquistas passados, presentes e futuros. E deu-o de tal forma que é difícil conter as lágrimas ao recordar os seus tempos como Benfiquista. E assim não poderia fechar este texto sem ir buscar algumas das palavras sábias, de Amor, gratidão e reconhecimento que proferiu sobre o Sport Lisboa e Benfica, sobre os Benfiquistas e sobre a mística Benfiquista:



"Chove? Faz Frio? Faz Calor? Que importa, nem que o jogo seja no fim do mundo, entre as neves das serras ou no meio das chamas do inferno... Por terra... Por mar... Ou pelo ar, eles aí vão, os adeptos do Benfica atrás da equipa... Grande... Incomparável... Extraordinária... massa associativa!"



Obrigado Míster. Estará sempre nos nossos corações.




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim

RedVC

Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:


Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?


(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola


Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado


E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:



Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.





Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:



Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.



Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

RedVC

Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro
...




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim


Fantástico. Parabéns. Não está à venda mas ainda deve valer uns cobres. Do ponto de vista simbólico é de enorme valor.   :slb2:

Quando fiz o texto de Guttmann apercebi-me que existe/existiram objectos em sites de leilão que alegadamente eram de Guttmann. Teve uma vida aventurosa. Não deixou descendentes directos (que eu saiba) mas com certeza que alguém ficou com o espólio.

alfredo

Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:


Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?


(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola


Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado


E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:



Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.





Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:



Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.



Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.

alfredo

Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:41
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro
...




a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim


Fantástico. Parabéns. Não está à venda mas ainda deve valer uns cobres. Do ponto de vista simbólico é de enorme valor.   :slb2:

Quando fiz o texto de Guttmann apercebi-me que existe/existiram objectos em sites de leilão que alegadamente eram de Guttmann. Teve uma vida aventurosa. Não deixou descendentes directos (que eu saiba) mas com certeza que alguém ficou com o espólio.

Sim, foi no leilao em que foram vendido os bens dele que comprei alguns objetos.

RedVC

Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:47
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:41
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:30
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:22
Citação de: RedVC em 22 de Janeiro de 2017, 11:45
-137-
Gloriosa Magyarország (parte I): o Feiticeiro
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a faixa na ultima foto, é a do meu avatar.

A original? A de Béla Guttmann?

Sim


Fantástico. Parabéns. Não está à venda mas ainda deve valer uns cobres. Do ponto de vista simbólico é de enorme valor.   :slb2:

Quando fiz o texto de Guttmann apercebi-me que existe/existiram objectos em sites de leilão que alegadamente eram de Guttmann. Teve uma vida aventurosa. Não deixou descendentes directos (que eu saiba) mas com certeza que alguém ficou com o espólio.

Sim, foi no leilao em que foram vendido os bens dele que comprei alguns objetos.

O que eu vi e coloquei aí uma imagem foi uma mala de viagem dele com vários autocolantes de hoteis por onde passou incluindo o de Spietz onde estagiamos antes da final de Berna.

RedVC

Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:45
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:


Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?


(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola


Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado


E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:



Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.





Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:



Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.



Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.

O que fará sentido é averiguar junto dos antigos jogadores ou família da existência dessas camisolas. Tem havido doações e presumo que outras acontecerão. O Museu deverá receber, preservar e honrar essas doações.

alfredo

Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 19:19
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:45
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:


Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?


(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola


Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado


E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:



Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.





Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:



Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.



Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.

O que fará sentido é averiguar junto dos antigos jogadores ou família da existência dessas camisolas. Tem havido doações e presumo que outras acontecerão. O Museu deverá receber, preservar e honrar essas doações.

Sim, fazem isso. Mas têm tanta coisa que nem o museu chega para mostrar tudo. Nos arquivos existem mais de 300mil objetos guardados

RedVC

Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 19:29
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 19:19
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 18:45
Citação de: RedVC em 16 de Fevereiro de 2017, 18:38
Citação de: alfredo em 16 de Fevereiro de 2017, 15:54
Citação de: RedVC em 08 de Outubro de 2016, 12:44
Citação de: Rodolfo Dias em 08 de Outubro de 2016, 11:22
Vou "usurpar" o tópico ao Red por um bocadinho apenas para ver se ele (ou outra pessoa, atenção) me consegue esclarecer - espero que ele me desculpe a audácia :)

Nas primeiras fotografias que se conhecem do Sport Lisboa, vê-se que os jogadores vestiam-se mais ou menos assim:


Todavia, sabe-se as máquinas fotográficas dessa altura não abundavam em qualidade - e fotografavam a preto e branco, o que faz com que as fotos a cores dessa era que se conhecem, logicamente, sejam manipulações. E custa-me a crer um bocadinho que o Sport Lisboa (e depois o Sport Lisboa e Benfica) tenham jogado sem o seu emblema na camisola. Por isso... será que aquela primeira camisola não terá sido antes algo assim?


(sim, isto está relacionado com algo que estou a cozinhar e que pode ser visto em "preview" no sub-fórum das Imagens  :metal: )




Boa questão Rodolfo  O0

Primeira nota, apesar de ter iniciado o tópico e ser o maior contribuinte já o disse e reafirmo o tópico é de todos. Aliás é assim que funciona o SB. Não tenho um blogue meu por uma conjugação de manifesta preguiça e de falta de tempo para lhe dedicar. Prefiro investir nas pesquisas.

Em tempos falei aqui nas Gloriosas flanelas d'Alcântara (nº 101, http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.420) que de alguma forma explica (no meu entender) o contexto ligado aos equipamentos nesses tempos  pioneiros.


Há questões ligadas aos primeiros anos do Sport Lisboa que temos poucos detalhes. Não conheço nenhum emblema do Sport Lisboa original mas sabemos que foi definido com cuidado e como era hábito antigamente (coisa que em grande parte se perdeu nos dias de hoje) cada elemento era pensado com um propósito bem definido. É por isso que as re-invenções que vão para além de modernizações estética são um vergonhoso desrespeito pelos nossos Ases do passado.

O mais antigo que conheço está numa bandeira e não numa camisola


Restaurante Bacalhau em meados 1910. Percebe-se que o emblema já estava (e assim era desde 1908) plenamente definido embora a faixa fosse ainda azul e branca (cores da monarquia)

Por falar nisso esse emblema melhorado do Sport Lisboa fui eu que a "amanhei" a partir de outros dois tendo depois aprimorado com umas colorações de acordo com as sugestões de Alberto Miguéns. Mas bom, bom era que um designer gráfico fizesse uma coisa bem feita.

Em outros tempos falei também do "ovo estrelado" ou seja da evolução do emblema no manto sagrado


E como se pode ver na primeira década já alguns jogadores do SLB usavam os bolsos bordados geralmente com as letras do Clube. Emblema? As coisas não seria fáceis pois o dinheiro não abundava e por isso ficava dependente do cuidado feminino dedicado e isso só era assegurado pelas mães ou namoradas. Assim era frequente que alguns tivessem bolsos bordados outros não. Para além disso e pelas mesmas razões monetárias, acho que a norma era partilha de camisolas. Isso não apenas no nosso Clube mas em todos os outros. A excepção era os lagartos que com o dinheiro do Visconde de Alvalade podiam mandar vir as camisolas de Inglaterra e tinham o emblema padronizado.

Nesse estudo do "ovo" estrelado e olhando para o quadrado da primeira década vê-se da esquerda para a direira António Meireles, Francisco Belas e Leopoldo Mocho. Percebe-se que são diferentes.

Olhando para a fotografia mais antiga do SL (pelo menos assim penso). geralmente temos uma que já foi colorida e muito trabalhada. Ainda assim o original será algo com isto:



Nãop dá para perceber mas parece-me que não havia emblemas.


Há uma outra fotografia desses tempos (acho eu) tirada nas Salésias que eu aliás legendei pela primeira vez mas cujo ângulo de luz que facilita perceber o que estava ou não nos bolsos. Adiante.

No principio de 1907 num jogo contra o CIF seriam eventualmente as mesmas camisolas e parece que nenhum bolso tinha qualquer adorno. Alguns jogadores usavam o bolso de forma utilitária para lá colocar o seu lenço.





Depois e já com o segundo modelo, Em 1908 percebe-se que só Meireles tinha o bolso bordado. A namorada de António cuidava de lhe dar esses mimos   :coolsmiley:



Já com o segundo modelo e em 1911 (jogo contra o Carcavellos Club) percebia-se que todas as camisolas tinham emblemas mas esses eram heterogéneos.



Em resumo, temos apenas fotografias de alguns jogos mas ainda assim percebe-se que só na segunda década é que houve possibilidade de colocar o emblema em todas as camisolas e ir caminhando para a uniformização.

Enfim, esta são as minhas ideias baseado nos elementos que tenho.



obrigado por esse excurso á história das nossas camisolas. muito interessante, para mais que praticamente ja nao existem essas camisolas. a nao ser de uma das primeiras, que se encontra no museu, aínda nunca vi uma pré-meados 50 ao vivo ou em fotos atuais. há anos que procuro camisolas mais antigas, mas nunca chegaram até mim.
já agora, permite-me dar o meu pequeno contributo: na foto de 1907 nao me parece serem as mesmas que em 1904. a barra branca no meio da camisola de 1907 é mais curta que na primeira. por isso penso que já tinha havido alteracoes nelas. provavelmente nem foram feitas de propósito, mas simplesmente porque houve necessidade de as trocar e como tudo era feito à mao, o resultado foi o que se vê.

Obrigado alfredo O0

O Rodolfo fez um belo trabalho a recriar graficamente os equipamentos. Muito completo, diria mesmo Gloriosamente exaustivo, e esteticamente excelente.

Camisolas originais? No Museu conheço a de Cosme Damião (e de mais alguns outros pois nesse tempo era partilhada - às vezes no mesmo dia dava para três jogadores...) que é do primeiro modelo (ou segundo de acordo com outra teoria), ou seja uma das primeiras - até 1907 ou 1908 embora esporadicamente fosse usada por outros. Conheço também a de António Ribeiro dos Reis que é do segundo modelo. Essa em particular deve ser datada dos anos 10s ou 20s. Ambas estão algo degradadas e mesmo que não perceba nada disso arrisco-me a dizer que a iluminação vai degradando o que resta da cor original. Eventualmente existem mais que não estão em exposição.

Sim, refiro-me á de cosme damiao.
Espero que utilizam luzes que evitam o degradamento por emitirem menos raios uv. Existem essas lâmpadas e muitos museus utilizam-nas.
Sim existem mais no arquivo. Vi algumas , mas nada pre 1960 pelo que sei.

O que fará sentido é averiguar junto dos antigos jogadores ou família da existência dessas camisolas. Tem havido doações e presumo que outras acontecerão. O Museu deverá receber, preservar e honrar essas doações.

Sim, fazem isso. Mas têm tanta coisa que nem o museu chega para mostrar tudo. Nos arquivos existem mais de 300mil objetos guardados

Há quem diga que algumas das maiores descobertas da Ciência estavam guardadas em gavetas de Museus. Espero que exista capacidade de não apenas catalogar e preservar mas também de perceber e enquadrar o objecto. Não deve ser fácil pois por exemplo na temática deste tópico (fotografias) há muito para perceber e enquadrar. Não é fácil mas dá gozo.

RedVC

#566
-139-
O outro Živković


À esquerda Zvonko Živković com o manto sagrado no dia 3 de setembro de 1986 aquando da sua apresentação no Estádio da Luz num jogo contra o CF Belenenses. Fonte: Arquivo Lusa. À direita Zvonko Živković no Partizan Belgrado. Fonte: http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2012/11/foto-arhiva-zvonko-zivkovic.html


Nesta temporada os Benfiquistas estão a descobrir o grande futebol do jogador Sérvio Andrija Živković. A contratação desta grande promessa do futebol Sérvio trouxe ao Glorioso um jogador de enorme talento cuja qualidade permite antever que num futuro próximo se torne um nome grande do nosso futebol.

Mas não é a primeira vez que esse apelido consta dos nomes do plantel principal de futebol do Glorioso. De facto há cerca de 30 anos o Sport Lisboa e Benfica teve um outro jogador centrocampista Sérvio (na altura ainda Jugoslavo) com o apelido Živković. De seu nome completo, Zvonko Živković, foi um dos nossos primeiros jogadores estrangeiros tendo chegado a chancela de qualidade de um futebol que já nos tinha dado o grande Zoran Filipovic. Nada de admirar pois o futebol Jugoslavo sempre deu grandes nomes ao futebol Mundial, tanto que os conhecedores profundos do futebol saberão recordar nomes como Dragan Džajić, Safet Susic, Dragan Stojkovic, e mais tarde, depois da pulverização do país, os fabulosos Pedrag Mijatovic, Dejan Savicevic, Zvonimir Boban, Robert Prosinecki, Davor Suker, etc, etc.

Assim se compreende que na década de 80, alguns anos depois de quebrado o impedimento estatutário Benfiquista que impedia a inscrição de jogadores estrangeiros, tenha existido vontade por parte de uma Direcção Benfiquista liderada por Fernando Martins, em se contratar um promissor jogador jugoslavo de nome Zvonko Živković.


Um carreira desigual


Carreira de Zvonko Živković. Desconheço se os dados são correctos ou não. Fonte: www.foradejogo.net


Nascido em Belgrado em 31-10-1959, Zvonko Živković chegou ao SL Benfica já com 27 anos de idade. Provavelmente tal como o seu compatriota (igualmente Jugoslavo embora da região do actual Montenegro) Zoran Filipovic, também Zvonko terá apenas recebido autorização para emigrar numa fase já mais avançada da sua carreira. E Zvonko chegaria ao SLB depois de cumprir 9 épocas ao serviço do FK Partizan, um dos dois grandes clubes de Belgrado (o outro é o Estrela Vermelha), clube onde se estreou nos seniores na época de 1977-1978. Antes tinha iniciado a sua carreira no FK Galenika (agora FK Zemun) por volta de 1973.


Dias de glória

Zvonko viveu os seus melhores anos de futebolista FK Partizan, ajudando o clube a conquistar dois títulos de Campeão Jugoslavo (1977-1978 e 1982-1983; https://pt.wikipedia.org/wiki/Campeonato_Iugoslavo_de_Futebol). Nesse tempo, o campeonato era bastante competitivo integrando grandes clubes como o Estrela Vermelha, o Dínamo de Zagreb e Hajduk Split, entre outros.



O emblema do Fudbalski Klub Partizan (para nós o Partizan de Belgrado), fundado em 4 de Outubro de 1945.


Zvonko brilharia igualmente em alguns dos jogos Europeus mais memoráveis da história do seu Clube, como por exemplo aquando da sensacional revirada contra os Ingleses do Queen's Park Ranger na Taça UEFA da edição de 1984-1985. Nessa eliminatória o Partizan venceria em Belgrado os Ingleses por um rotundo 4-0; resultado suficiente para virar a derrota da primeira mão em que os alvi-negros tinham sido derrotados por 2-6. Nesse dia 7-11-1984, Zvonko Živković marcaria o 4º e decisivo golo. Foi a loucura em Belgrado tal como atestam as fotografias e vídeos. Este jogo entrou para a história da UEFA como uma das mais sensacionais reviravoltas de uma eliminatória a duas mãos.


https://youtu.be/FgCtoldl-IM
Dia 25-10-1984, jogo da 1ª mão dos 1/16 de final da Taça UEFA de 1984/85:  QPR 6 – Partizan 2



Momento decisivo do jogo da 2ª mão dos 1/16 de final da Taça UEFA de 1984/85. O cabeceamento de Zvonko Živković resultou no 4º golo da sua equipa. Partizan 4 - QPR 0! Fonte http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2011/10/partizan-queens-park-rangers-4-0.html



A festa dos adeptos Partizanis abraçados a Zvonko Živković depois do golo decisivo. Fonte http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2011/10/partizan-queens-park-rangers-4-0.html


https://youtu.be/6m4ylzGmRUc
O vídeo do golo decisivo de Zvonko Živković.



A equipa do FK Partizan de Belgrado de 1983-1984. Zvonko Živković é o segundo a contar de baixo na fila à esquerda. Fonte http://crno-bela-nostalgija.blogspot.pt/2011/10/partizan-queens-park-rangers-4-0.html




Na selecção Jugoslava

Apesar de à época a selecção Jugoslava estar recheada com bons executantes, Živković integrou os 22 seleccionados Jugoslavos para o Mundial de Espanha 1982, tendo-lhe sido atribuído o número 10 que, apesar de ser número craque nem por isso lhe permitiu sair do banco nesse torneio. A Jugoslávia tinha-se qualificado para esse Mundial num grupo em que ficou à frente da Itália que se sagraria campeã desse torneio. Assim se percebe que essa selecção estava dotada de jogadores de elevada craveira tais como Ivan Gudelj, Zlatko Vujović, Safet Sušić, Ivica Surjak, entre outros.



Os 22 selecionados da selecção Jugoslava para o Mundial de Espanha 1982. Fonte: http://www.planetworldcup.com/CUPS/1982/squad_yug82.html


Mais tarde, Zvonko não seria seleccionado para a equipa Jugoslava que participou no Euro 1984 em França apesar do seu nome constar dos seleccionáveis. Ao longo da sua carreira na equipa nacional, Zvonko Živković disputou um total de cinco jogos e marcou dois golos. O primeiro desses golos foi apontado em 15-12-1982, num jogo de qualificação para o Campeonato da Europa contra o País de Gales, (4-4) e o segundo em 29-01-1985, num jogo amigável contra a China (1-1). Mais tarde já depois de encerrar a sua carreira foi treinador das camadas jovens de diversos clubes e também das selecções jovens do seu país.



Listado nos convocáveis para a selecção da Jugoslávia que disputaria o Europeu 1984 em França, Zvonko acabaria por não integrar o lote final. Nota: o nome do jogador está mas escrito. Fonte: Caderneta do Campeonato da Europa 84 (Disvenda).


No Sport Lisboa e Benfica

E assim, o SLB contratava para a época de 1985-1986 um jogador já com algum prestígio e com uma certa maturidade. Caberia a Mortimore trabalhar com este jovem introspectivo e que tinha a sua primeira experiência profissional fora do seu País.



Plantel do SLB para a época de 1985-1986. Zvonko Živković está ao lado de Eusébio na terceira fila.


Mas tudo seria difícil para o Jugoslavo, a começar pela enorme categoria da equipa de futebol do SLB, dotada de jogadores com enorme talento e forte personalidade. E assim se percebe que nessa primeira experiência fora da Jugoslávia para além de implicar um inevitável choque cultural, o jovem Sérvio não tenha conseguido impor-se em termos futebolísticos, não deixando particular impressão. Ao que parece apenas terá mantido uma relação melhor com Veloso, situação que não foi suficiente para a sua adaptação. Para além disso, John Mortimore tinha muito por onde escolher e apesar de tentar puxar por ele, o Sérvio nunca correspondeu, acabando por ficar para segundo plano nas escolhas do treinador.

No balanço de final dessa época, Zvonko participou em 14 jogos (3 completos) tendo somado pouco mais de 600 minutos. Estreou-se num jogo na Luz em 5-08-1986 contra o Southampton FC (vitória 2-0) e último jogo na Luz em 24-05-1987 contra o SCP (vitória 2-0). Muito fraco. Assim no final da temporada não espantou a sua dispensa. Fim da linha. Ainda assim saiu como Campeão Nacional. Nada mau.



Um dos três jogos do SLB em que Zvonko Živković actuou a titular. Dia 5-10-1986, vitória sobre o VSC (1-0). Fonte: Diário de Lisboa 6-10-1986.



Suplente de Diamantino em Chaves. Mais uma vitória (2-1). Fonte: Diário de Lisboa, 20-10-1986.



A notícia da saída de Zvonko Živković do SLB. Fonte: Diário de Lisboa de 28-09-1987.


Depois do SLB seguir-se-ia uma experiência mais bem-sucedida mas igualmente fugaz no Fortuna de Dusseldorf na Segunda Divisão B Alemã onde na época de 1986-1987 jogaria por 20 vezes marcando 4 golos. Logo depois optaria por mudar-se para o futebol Francês ao integrar por três épocas o Dijon que então militava na segunda divisão Francesa. No Dijon Zvonko jogaria bastante, marcando golos e provavelmente conseguindo algum do destaque que o tinha levado a tentar o estrangeiro. Mas a idade (e eventualmente alguma lesão) não perdoa e em 1991 encerraria a sua carreira com apenas 32 anos de idade.

A passagem apagada pelo nosso Clube deste Sérvio acabou por ser mais um dos casos de jogadores estrangeiros que foram apostas falhadas nesses primeiros anos de abertura a não portugueses nos planteis Benfiquistas. Nem o destaque nos campeonatos do país de origem ou mesmo já com carreira internacional correspondeu a uma boa aposta dos nossos dirigentes. Não é só de agora...´


Um apelido para o futuro



30 anos separam estas fotografias. O mesmo apelido mas espera-se que carreira muito diferentes com o manto sagrado! Fontes das fotografias, esquerda Crno-bela nostalgija e direita StarSport.


Também originário do Partizan de Belgrado, mas ao contrário de Zvonko, o actualmente nosso jogador Andrija Živković parece não suscitar dúvidas que vamos ter homem! Ao seu talento e garra certamente corresponderão títulos individuais e colectivos. Aprenderá o peso da camisola e a força da Mística. Será feliz e trará a felicidade. Certamente que tal como eu todos os outros Benfiquistas desejam muita sorte e glória a este rapaz Sérvio!



Andrija Živković. Fonte: Eu Visto de Vermelho e Branco



RedVC

#567
-140-
Um avô especial.



Carlos Alves
(Lisboa, 10-10-1903 — Lisboa, 12-11-1970)


O Neto


O grande João Alves com a camisola que melhor lhe assentou. Diversos tempos da carreira Benfiquista de um génio do futebol Nacional.




Página da Revista Onze com três grandes Glórias do Sport Lisboa e Benfica. Dispensa apresentações.


João António Ferreira Resende Alves nascido em Albergaria-a-Velha em 5-12-1952, o nosso João Alves, foi um dos jogadores de futebol mais talentosos que tive o prazer de ver jogar com o manto sagrado.

A passagem de João Alves pelo Sport Lisboa Benfica soube a pouco. Foi uma daquelas ironias da história Benfiquista, a infelicidade de termos visto um homem que, apesar de ser um grande Benfiquista, não pôde dar ao seu Clube do coração tudo aquilo que gostaria de ter dado. Um homem que chegou a recusar o Real Madrid para cumprir o sonho de ser campeão nacional com a camisola do seu coração.

É claro que nisto há sempre uma forma mais positiva de ver as coisas. Se formos por aí há então que salientar o privilégio que foi ver o génio do seu futebol vestido com o manto sagrado. Com uma carreira de júnior que já lhe augurava um grande futuro, o jovem João Alves viria a ser alvo de uma futilidade conflituosa com um prestigiado jogador Benfiquista. Esse conflito levou alguns dirigentes da altura a cometer mais um dos numerosos disparates que levaram para outras paragens alguns jogadores jovens de grande talento e que poderiam ter-se tornado essenciais para o futuro do Glorioso. Em alguns casos a perda foi definitiva, noutros como o de João Alves ainda foi possível minorar o disparate. O trajecto de João Alves está detalhadamente descrito aqui: http://gloriasdopassado.blogspot.pt/2008/08/joo-alves.html




Uma das mais fabulosas equipas de júniores de sempre do SLB. Dirigido pelo grande Ângelo Martins, João Alves era o génio do meio campo tendo ao seu lado Shéu.


Por vezes penso o que seria sido se tivesse feito a carreira integralmente no Benfica. Era um talento único. Nunca me esqueço da sensacional partida que fez no Estádio Olímpico de Roma quando lá ganhamos por 2-1. No dia anterior Alves, algo irritado com provocações jornalísticas, tinha desmentido o boato de que teria dito que iria ensinar Falcão, o craque Brasileiro e jogador Romano, a "jogar à bola". Certo é que no dia seguinte Alves deu mesmo um banho de bola a toda a equipa Romana, incluindo Falcão, Prohaska, Conti e Ancellotti. Inesquecível.




A fabulosa, inesquecível equipa de 1982-1983 que venceu a AS Roma em pleno Estádio Olímpico de Roma (2-1). Em cima, da direita para a esquerda: Néné, Álvaro, Humberto, Filipovic, Bastos Lopes e Bento. Em baixo: Shéu, Pietra, Alves, Chalana e Carlos Manuel. Fabulosa.


Um avô especial



Carlos Alves uma Glória do futebol Nacional.


Mas antes de João Alves, o futebol nacional teve um outro primeiro "luvas pretas", o seu avô Carlos Alves. Carlos Alves foi um jogador de talento mas que nunca jogou no Benfica. Fez a maior parte da carreira no histórico Carcavelinhos, um clube popular que esteve na génese do popular Atlético Clube de Portugal.



Alguns cromos de Carlos Alves.

A lenda das luvas pretas começou por uma história bem recordada pelo próprio neto:

Com esse meu avô, um dos grandes futebolistas da sua geração, com presença assídua na selecção, célebre por ter chegado aos quartos-de-final dos Jogos Olímpicos28, em Amesterdão. Ele, na altura, jogava no Carcavelinhos quando foi jogar com o Benfica. Momentos antes, uma menina aproximou-se dele e pediu-lhe que jogasse com as suas luvas pretas. Ele, que era defesa, explicou-lhe que não poderia satisfazer o seu pedido, pois o futebol e o jogo em questão eram assuntos demasiado sérios para estas brincadeiras. A menina calou-se mas não desistiu. Ao intervalo, com o Benfica em vantagem, o meu avô descobriu dentro dos bolsos dos seus calções o pequeno par de luvas pretas que ela ali colocara sem autorização. O meu avô calçou então as luvas e começou a segunda parte. E não é que o Carcavelinhos deu a volta e ganhou jogo? A partir daí, o meu avô jogou sempre com as luvas. Fonte: http://observador.pt/especiais/joao-alves-o-pedroto-estava-muuuuito-a-frente/




Vem de longe o interesse dos media pela história das luvas pretas. Revista "Azes", ano desconhecido.

A história aliás é consistente com a versão contada pelo próprio Carlos Alves, conforme nos refere Rui Manuel Tovar, que transcreve uma descrição publicada no jornal "A Bola" na edição de 15 de Novembro de 1950;

"Era do Carcavelinhos e antes de um jogo com o Benfica, uma menina aproximou-se e pediu-me que jogasse com as suas luvas pretas calçadas. Disse-lhe que não, que o jogo em questão era assunto demasiado sério para estas brincadeiras. A menina calou-se mas não desistiu. Ao intervalo, com o Benfica em vantagem, descobri dentro dos bolsos dos meus calções o pequeno par de luvas pretas que ela ali colocara sem autorização. Calcei-as para a segunda parte e... ganhei. Nunca mais as tirei." Fonte: https://ionline.sapo.pt/419825


Essa tradição das luvas pretas seria passada para o seu neto, João Alves.


O Carcavelinhos Foot-ball Club



O Emblema do Carcavelinhos Futebol Clube numa camisola da época.


Fundado em 1912, o Carcavelinhos Football Clube (CFC), foi um pequeno mas muito aguerrido clube com uma forte adesão popular na zona de Alcântara. Segundo o sítio oficial do seu sucessor, o Atlético Clube de Portugal, o CFC era um clube que tinha a sua base de adeptos assente na comunidade de operários. Dadas as suas cores (uma espécie de grená) e dada a sua postura aguerrida, o clube chegou a ser conhecido por Sparta de Alcântara.

Carlos Alves esteve ligado ao maior momento de glória do CFC, no qual o pequeno clube ganhou a imortalidade ao fazer tombar os gigantes de Lisboa para ganhar o Campeonato de Portugal de 1927-1928, competição que antecedeu a actual Taça de Portugal. A campanha começou com a vitória sobre o Beira-Mar FC (3-0), depois o SC Salgueiros (8-1) nos quartos-de-final. Depois viria o grande feito de derrotar o SL Benfica (3-0) nas meias-finais no Estádio das Amoreiras! E a saga terminaria na final disputada no terreno do SCP, com uma brilhante vitória sobre o Sporting CP (3-1) com dois golos de José Domingues e um de Manuel Rodrigues contra apenas um do sportinguista Abrantes Mendes. Nesse jogo o CFC alinhou com Gabriel Santos (gr); Carlos Alves e Abreu (defesas); Artur Pereira, Daniel Vicente e Carlos Rodrigues (médios); Manuel Abrantes, Armando Silva, Carlos Canuto, José Domingues e Manuel Rodrigues (avançados). Carlos Canuto era jogador-treinador. Uma carreira memorável do popular Sparta de Alcântara!




Carlos Alves na final do Campeonato de Portugal em 1928 em que os Alcantarense venceram o favorito SCP por 3-1. À direita a famosa equipa do Carcavelinhos que venceu o Campeonato de Portugal.




O famoso campo da Tapadinha, palco onde o Carcavelinhos FC disputou muitos e aguerridos jogos. Fonte: Atlético Clube de Portugal (http://www.atleticocp.pt/site/futebol/a-saga-epica-do-carcavelinhos/).





Equipa do Carcavelinhos FC em 1927 alinhada no seu campo de Alcântara antes de um jogo contra o SCP. Carlos Alves usando as suas luvas pretas é o primeiro à esquerda. Fonte: Cinemateca Portuguesa. O filme pode ser visualizado aqui: http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=6166&type=Video




Carlos Alves em disputa de bola contra o nosso Vítor Silva durante um Carcavelinhos FC – SL Benfica.


O CFC terá até chegado a ter uma publicação periódica, um mensário, oficial que infelizmente não está disponível na BNP.



O CFC manter-se-ia em competição, tendo sido sempre um clube complicado de defrontar, até 18 de Setembro de 1942, data em que se fundiu com o União Foot-Ball Lisboa (fundado em 3-03-1910), clube da zona de Santo Amaro, para fundar o Atlético Futebol Clube.



Em 1931-1932, Carlos Alves decidiu mudar-se para a cidade do Porto para jogar no Académico Futebol Clube aí ficando até 1934-1935, tendo depois finalizado a carreira com uma época no FCP em 1935-1936. Nesse ano foi acometido por uma grave doença pulmonar. Durante dois anos Carlos Alves lutou pela vida num sanatório, de onde felizmente saiu recuperado.



Uma imagem rara ou impossível nos dias de hoje, jogadores do SL Benfica em confraternização com os do FC Porto num jogo disputado em 1935. Da esquerda para a direita: Vítor Silva, ? (fcp), Valdemar Mota (fcp), Carlos Torres, Avelino Ferreira (fcp), Gustavo Teixeira, Carlos Alves (fcp). Em baixo: Luís Xavier, Rogério de Sousa, ? (fcp).


Carlos Alves vestiu também episodicamente a camisola do Sporting e do Vitória de Setúbal nas digressões que estes dois clubes fizeram ao Brasil no final da década de 20. Nesse tempo em nome do "supremo interesse nacional" era comum que certos clubes se reforçassem para jogos internacionais com craques de outros clubes. O SLB apenas fez isso em alguns jogos internacionais mas disputados em Portugal. Que eu saiba isso nunca aconteceu fora de Portugal.



Equipa do SCP que defrontou o Fluminense na digressão ao Brasil em 1928. Carlos Alves vestiu a camisola do SCP apenas nesta digressão. Foi aliás a primeira vez que a camisola de listas verdes e brancas foi usada pelo SCP. Fonte: hemeroteca Brasileira.


Finda a sua carreira como jogador, Carlos Alves fez ainda carreira como treinador iniciando-se no Farense, com grande sucesso diga-se não atingindo a I Divisão apenas por questões estatutárias. Mais tarde retirar-se-ia para Albergaria-a-Velha onde permaneceu até à data da sua morte, orientando ainda o Alba.


Na Selecção Nacional



Carlos Alves destacou-se também na Selecção Nacional tendo sido internacional por 18 vezes. Integrou a famosa equipa dos Jogos Olímpicos de Amesterdão de 1928. Essa equipa contava com jogadores extraordinários como Vítor Silva, Pepe, Raul Tamanqueiro, Jorge Vieira, António Roquete, Valdemar Mota, Jorge Tavares, Aníbal José e... Carlos Alves, entre outros. Essa equipa foi talvez a melhor selecção nacional antes dos Magriços de 1966. Em Amesterdão 1928, a campanha de Portugal foi excelente, tendo sido alcançados os quartos-de-final, onde inesperadamente (depois das excelentes exibições em jogos anteriores) fomos eliminados pela equipa nacional do Egipto. Carlos Alves esteve em excelente plano, tendo comandando a defesa nacional ao lado do Sportinguista Jorge Viera.

Apresento de seguida uma série de belas fotografias que ilustram o destaque que Carlos Alves teve na Selecção Nacional. Peço desculpa por em vários casos não ter guardado a fonte original da fotografia e por isso não a apresentar.



Carlos Alves ao lado de Raul Tamanqueiro (Olhanense e Benfica) na Selecção Nacional de Portugal a oferecer flores a um adversário.




Uma bela imagem do final do jogo em que Portugal venceu a Jugoslávia por 2-1 no torneio Olímpico de futebol dos Jogos de Amsterdão 1928. Carlos Alves e as suas luvas pretas em primeiro plano.




Entrada em campo da equipa Olímpica de 1928. Desconheço qual o jogo. Carlos Alves é o jogador mais à direita.




Carlos Alves em disputa da bola num jogo contra o Egipto durante os Jogos Olímpicos de Amsterdão 1928.


Carlos Alves acabou por nunca envergar a camisola da Águia. Apenas o seu neto João se viria a transformar num Príncipe do futebol Benfiquista. E não exagero pois quem viu jogar João Alves não esquece a sua classe apesar das tão escassas 4 épocas em que usou a Águia ao peito. Certamente que teve a vontade de fazer uma carreira Benfiquista ainda mais brilhante. Assim o destino não permitiu. Por esse motivo e por tudo o que estes dois homens fizeram fica aqui o meu agradecimento e a minha homenagem como anónimo Benfiquista.






As diversas camisolas da brilhante carreira de Carlos Alves



RedVC

#568
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Os 24 Primeiros.

Dia 28 de Fevereiro de 1904. Uma certa Farmácia em Belém.


O interior da Farmácia Franco em Belém, 1904. Um dos locais-chave onde nasceu o nosso Clube.

Cumprem-se hoje 113 anos desde o dia em que se concretizou o Acto Fundador do Sport Lisboa!

Foi hoje publicada no blogue Em Defesa do Benfica do grande Benfiquista Alberto Miguéns, um texto intitulado "Com Quantos Anos de Idade Se Pode Fundar Um Clube Glorioso?".

Nesse texto, que assino em co-autoria com Alberto Miguéns, estão contribuições inéditas e – acredito - valiosas para a História inicial do Sport Lisboa e Benfica.

O texto sumariza alguma da informação obtida em investigações sobre os 24 fundadores do nosso querido Clube. Com esse trabalho conseguimos aumentar e estruturar melhor o conhecimento de quem foram esses 24 homens. Os 24 Primeiros! Como se refere numa passagem do texto, "Desde 1904 até hoje, o Clube tinha uma lista de fundadores com 24 nomes de pessoas. A partir de 2017, através de uma pesquisa usando fontes documentais (em registos paroquiais, hemerotecas, bibliotecas e diverso conhecimento disperso incluindo contactar familiares e conhecidos de alguns deles) o SLB pode dizer que tem para o Futuro uma lista de 24 pessoas com nomes."

A pesquisa permitiu revelar, para a maioria desses homens, as datas e locais de nascimento, nomes completos, datas e locais de falecimento, nomes de familiares directos e algum do seu contexto familiar e socioeconómico. Pela primeira vez.

Este novo conhecimento trouxe algumas surpresas, revelou ligações, corrigiu alguns nomes, esclareceu algumas dúvidas e acima de tudo permitiu erradicar algumas mistificações sobre a origem do nosso Clube. Há mais ainda por revelar mas espera-se que esta informação estimule os descendentes dos 24 Primeiros a vir a público revelar mais dados sobre os seus familiares.

Estes 24 homens merecem toda a consideração e carinho por parte de todos os Benfiquistas. Do seu sonho e da sua acção resultou o Sport Lisboa e Benfica. Resultou o nosso querido Clube, resultou uma parte bonita da nossa vida, uma instituição que tem enchido de alegria e de orgulho os milhões de Benfiquistas que ao longo destes 113 anos viveram e participaram intensamente nesta História tão bonita.

Só nós sentimos assim!

Desde 1954, data em que foi publicada a obra de referência "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954", de Mário Fernando Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, que existe o conhecimento da lista que nos informou os nomes desses 24 homens. Mas para a maioria pouco mais se sabia do que o nome. No entanto, a obra permanece como a referência mais rica, mais fiável e por isso a mais notável sobre esses tempos e sobre os primeiros 50 anos da nossa História. A sua leitura dá-nos a conhecer factos e pessoas decisivos para a definição do nosso Clube, da sua grandeza, dos seus Ideais e da razão da sua popularidade. As pesquisas que agora se apresentam permitem adicionar novos e enriquecedores elementos a essa obra de referência.

Nenhum Benfiquista poderá realmente perceber o seu Clube se não tiver noções mínimas do passado. Conhecer o passado mais remoto do nosso Clube permite entender melhor o presente e dá pistas para o futuro. Expande o nosso orgulho. Ter esse conhecimento é em si mesmo Ser Benfiquista!

Sem querer, por agora, retirar e desenvolver aqui detalhes desse texto, convido-vos a ler o texto "Com Quantos Anos de Idade Se Pode Fundar Um Clube Glorioso?". Aqui:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html


Ficam aqui os seus Gloriosos nomes


Abílio Maria de Jesus Meireles

Amadeu d'Almeida Rocha

António Rosa Rodrigues

António Severino Alves

Cândido Rosa Rodrigues

Carlos d'Oliveira França

Cosme Damião

Daniel Santos Brito

Eduardo Afra Jorge da Costa

Eduardo Gomes Corga

Francisco Calisto

Francisco Reis Gonçalves

Henrique Augusto Teixeira

João Ignácio Gomes

João Virgílio Goulão

Joaquim José Linhares d'Almeida

Joaquim Peters d'Almeida

Joaquim Ribeiro

Jorge Augusto de Souza

José Rosa Rodrigues

Manoel d'Oliveira França

Manuel Gourlade

Raúl Júlio Empis

Virgílio Augusto Ferreira da Cunha



Viva o Sport Lisboa e Benfica!


pauliter

Obrigado, muito obrigado por este "bocadinho" de Benfica. Em dia de aniversario, um regresso ao passado fez-me amar ainda mais este clube, este simbolo e esta cor.

Obrigado RedVC, muito sentido obrigado.