Decifrando imagens do passado

Godescalco

Que trabalhão, RedVC!

:bow2:

Obrigado por partilhares estas histórias e enriqueceres o fórum com estes conteúdos absolutamente preciosos.

RedVC

Citação de: Gottschalk em 02 de Janeiro de 2016, 00:43
Que trabalhão, RedVC!

:bow2:

Obrigado por partilhares estas histórias e enriqueceres o fórum com estes conteúdos absolutamente preciosos.

Obrigado  O0

RedVC

#347
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Eterno Bermudes.

Cumprem-se hoje 56 anos desde a morte de Félix Redondo Adães Bermudes.

Nasceu na cidade do Porto, freguesia de Santo Ildefonso, no dia 4 de Julho de 1874. Mas seria em Lisboa que viria a deixar a sua marca em Portugal e no melhor clube do mundo. Um clube que ele não fundou mas que desde cedo aderiu logo no ano de 1904 quando contava 30 anos de idade. Um clube que, quatro anos depois, Félix ajudaria a sobreviver, ultrapassando os dias mais delicados da sua história, hoje centenária.

Eterno Bermudes. Eterno Sport Lisboa e Benfica.
 


Muito oportunamente e com toda a justiça, Alberto Miguéns irá publicar uma trilogia de artigos celebrando a figura inigualável de Félix Bermudes. A estrutura e os conteúdos que essa série nos vai dar foram já definidos por aquele ilustre Benfiquista. Serão acredito eu materiais absolutamente a não perder pela sua excelência e pela ampla visão que nos darão sobre a multifacetada e brilhante contribuição que este homem deu ao Sport Lisboa e Benfica e às Artes em Portugal:
http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2016/01/felix-bermudes-um-benfiquista-inaudito.html

Hoje, faz-se aqui uma simples evocação usando material de uma homenagem em vida feita a essa grande figura do desporto e das artes teatrais e dos direitos de autor. Uma pequena nota adicional demonstrativa do reconhecimento que lhe foi dado pelos seus amigos, pares do desporto, das artes e dos direito de autor.



Solar do Porto Velho, 5 de Julho de 1954. Homenagem a Félix Bermudes.

Dia 5 de Julho de 1954. Solar do Porto Velho, instalado no Palácio do Ludovice, Bairro Alto. Figuras de destaque da sociedade Portuguesa reuniram-se para prestar homenagem a Félix Bermudes. Nesse ano Félix Bermudes completava 80 anos. Viveria ainda mais cinco anos. Apenas mais cinco anos mas onde continuaria a trabalhar com o entusiasmo e força que os Bermudes sempre mostraram.

Félix Bermudes levava nessa altura vinte e seis anos como presidente do Conselho Director da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses (S. E. C. T. P.) e, vinte, como o vice-presidente da Federação Internacional de Homens de Letras.

A comissão organizadora era presidida por Luís de Oliveira Guimarães e integrava a actriz Amélia Rey Colaço, o poeta José Galhardo, e o actor João Villaret.

Nessa homenagem já não esteve presente o seu irmão falecido seis anos antes. o prestigiado Arquitecto Arnaldo Adães Bermudes (Porto, 1 de Outubro de 1864 — Sintra, 18 de Fevereiro de 1948) foi um dos expoentes máximos do movimento da Arte Nova em Portugal: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arnaldo_Redondo_Ad%C3%A3es_Bermudes


Arnaldo Redondo Adães Bermudes, irmão de Félix Redondo Adães Bermudes

A homenagem a Félix Bermudes começou com o emotivo discurso de Luís de Oliveira Guimarães.


Luís de Oliveira Guimarães discursa em nome da Comissão de Organização da Homenagem a Félix Bermudes.


Félix Bermudes recebendo um abraço de Olegário Mariano, poeta e embaixador do Brasil.


Seguir-se-ia a famosa actriz Amélia Rey Colaço que recitou um soneto do Dr. José Galhardo escrito de propósito para o homenageado. Falou depois Luís Galhardo, em nome dos funcionários da S. E. C. T. P.. Depois o extraordinário actor João Villaret recitou a excelente tradução de Félix Bermudes da famosa poesia «If», de Rudyard Kipling. Por fim Raul de Oliveira, director do Mundo Desportivo, evocaria o legado desportivo do homenageado.

Desportista completo, praticou futebol, tiro, equitação, ténis, ciclismo, remo, natação, entre outros. Nas suas próprias palavras, Félix praticou "todas as modalidades. Acentuadamente algumas.". E foi campeão em futebol, tiro, esgrima e atletismo. Apenas...


Tiro, Esgrima, Hipismo, Ciclismo, Atletismo, Futebol. Eterno Bermudes.


Esta homenagem foi publicada num livro que tem disponível uma cópia digital de acesso livre: https://archive.org/stream/homenagemflixb00berm#page/26/mode/2up

Nele se pode ler este excerto:

Homenagem Félix Bermudes

Sociedade de escritores e compositores teatrais Portuguesa

Félix Bermudes fez, agora, oitenta anos. E, de tal modo este homem é obra sua, que dir-se-ia ser o seu aniversário decisão exclusiva da sua vontade... É um forte, que sempre respeitou os fracos; um vencedor, que nunca desdenhou os vencidos.

Foi — que o torna excepcional — um homem na sua integralidade. Dispôs até hoje de duas saúdes: a do corpo e a do espírito, de ambas nunca deixando de cuidar com meticulosidade.

E delas tirou um rendimento de que se deve orgulhar, pois de cada uma extraiu notoriedade.

Fisicamente, para o público, foi um grande desportista. Proezas suas: ganhou campeonatos de atletismo, de tiro, de esgrima e de futebol. Foi, com êxito, participante nos Jogos Olímpicos de Antuérpia (1920) [nota: na verdade não há registo de Félix Bermudes ter efectivamente participado nos jogos de 1920] e de Paris (1924), onde alcançou o 4° lugar na grande prova de Mestres Atiradores Internacionais à pistola, a 50 metros. Não se confinou num único desporto: tratou por tu a ginástica, o hipismo, o remo, o ciclismo, o alpinismo e o ténis.

Teatralmente, para o público, ocupou os palcos de todas as salas de espectáculos do País, durante dezenas de anos. No Teatro, como no Desporto, Félix Bermudes foi o mesmo homem; quer dizer, foi igualmente campeão...

Escreveu em colaboração, ou apenas com a sua assinatura, ora criando, ora adaptando, 105 peças de teatro.

Como não foi desportista de uma única modalidade, não foi, teatralmente, o autor encerrado na fronteira de um único género. A revista, a opereta, a farsa, a comédia e a mágica saíram dos bicos da sua pena em quantidade — e em qualidade. Pode dizer-se que, em regra, não escrevia peças — escrevia êxitos. Das revistas ficaram, entre outras, legendárias, pelo mérito e pelo êxito, «Sol e Sombra», «De Capote e Lenço», «Novo Mundo», «Torre de Babel» e «Lua Nova» ; das operetas, «O João Ratão», «J. P. C.» e «Pérola Negra» são modelares; das comédias, «O Conde Barão », «O Amigo de Peniche», «O Leão da Estrela», «A Bicha de Rabiar» e «Arroz Doce» viveram longa e intensamente. Transportados para o cinema «O João Ratão» e «O Leão da Estrela» figuram entre os melhores filmes portugueses. Numa noite, peças suas ocupavam os palcos de cinco teatros de Lisboa. Quer o desportista, quer o autor dramático, foram, com brilho, persistentes na criação de regras de convivência e de organismos de cooperação.

O desportista elaborou os estatutos da Associação de Futebol de Lisboa e fundou o Sport Lisboa e Benfica, ainda hoje, no género, a colectividade mais popular; o escritor teatral fundou e dirigiu agremiações da especialidade e, há 26 anos, preside aos destinos da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, e, há 20 anos, exerce o cargo, alto e honroso, de vice-presidente de Federações Internacionais de Sociedades de Autores e Homens de Letras.

É um homem que chegou, muito tarde, à velhice. Explica-se porquê: ganhava campeonatos aos 50 anos!

Até nos desaires foi vencedor: o «João Ratão», freneticamente pateado no coro de abertura, por culpa do encenador, teve 1.000 representações; a revista «Zig-Zag», apupada, mortalmente, na primeira sessão, ressuscitava na segunda, para acabar longeva!

A sua obra de escritor inclui, publicados, volumes de versos e de novelas, bem como ensaios de filosofia política e de filosofia espiritual, que marcaram pelo desassombro e pela serenidade austera. Compôs e traduziu vários poemas de conduta moral, entre os quais os «Versos Doirados dos Pitagóricos».

Mas o seu livro mais empolgante é «O Homem Condenado a ser Deus», em que desenrola um vasto e atraente sistema filosófico a demonstrar que, através de inúmeras quedas e incontáveis erros, o homem conserva intacta a centelha divina, a semente de divindade, que herdou do seu Criador. Ao cabo da longa jornada da evolução, cada ser humano, conquistada a perfeição como unidade de consciência, tornar-se-á um deus, na infância, mas à imagem e semelhança de seu Pai.

Félix Bermudes, que desmente, em actos e palavras a sua certidão de idade, se escrevesse um livro de recordações poderia, à imitação de um seu colega espanhol, intitulá-lo: «Memórias dos meus primeiros 80 anos»!...



No livro estão listadas as numerosas e famosas individualidades que tomaram parte neste acto de homenagem, ou a ele se associaram por carta ou telegrama:

Prof. Dr. Caeiro da Mata (Jurista, Reitor da Universidade de Lisboa); Dr. Olegário Mariano (poeta e Embaixador do Brasil); Dr. Augusto de Castro (advogado, jornalista, diplomata e político); Aníbal David (representante da Presidência da Câmara Municipal de Lisboa); Prof. Dr. Ferreira da Costa (político Brasileiro); António Eça de Queirós (filho do Escritor, político); Tenente-Coronel José Raposo Pessoa e esposa; Dr. Ivo Cruz (compositor musical); Prof. Dr. Henrique de Vilhena (médico, professor universitário, académico, escritor); Dr. Fernando de Paiva, representando o S. N. I.; Coronel Óscar de Freitas; Comandante Galeão Roma; Coronel Lobo da Costa; Ferreira de Castro (escritor); Prof. Dr. Ricardo Jorge (médico); Dr. Luís Cunha Gonçalves (político, deputado); Drs. Ramada Curto (advogado, escritor e político português) e José Galhardo (compositor musical); João Bastos (co-autor com Félix Bermudes e Ernesto Rodrigues de numerosas peças teatrais e de revista); Rui Coelho (compositor musical); Frederico de Freitas (compositor musical) e esposa; Carlos Selvagem (militar, jornalista, escritor, autor dramaturgo e historiador); Ascensão Barbosa (autor teatral); João Nobre (compositor musical); Aníbal Nazaré (compositor musical); Francisco Lage (dramaturgo); Venceslau Pinto (compositor musical); Dr. José Pontes (dirigente desportivo); Prof. Dr. Délio Nobre Santos (docente da Universidade de Lisboa) e esposa; Angel Tejada (político, legislador); Lopo Lauer (compositor musical); Palmira Bastos (actriz); Amélia Rey Colaço (actriz); Joaquim Leitão (escritor e jornalista); Manuel Fragoso (farmacêutico); Pavia de Magalhães (violinista, compositor musical); Virgínia Vitorino /dramaturga); Manuela de Azevedo (jornalista e escritora portuguesa); Fernanda de Castro (escritora); Dr. Álvaro de Lacerda e Melo (político, ex-ministro Agricultura); Fernando Fragoso (Cineasta); Carlos Leal (actor); Fernando Ávila (escritor); Senhora e Filha de Luís Galhardo; Dr.ª Maria Guilhermina Mota Carmo (Historiadora, Docente); Capitão Maia Loureiro; Alberto Barbosa (dramaturgo); Dr. Domingos Mascarenhas (escritor); Roberto Nobre (cineasta e pinto); Arnaldo Leite (dramaturgo); Artur Inês (jornalista); Vasco Santana (actor); Reis de Carvalho (pintor, desenhista e professor brasileiro); Teresa Gomes (actriz); Maria Lalande (actriz); Coronel Eduardo Libório; Armando Stichini Villela (arquitecto); Laura Alves (actriz); Adelina Campos (actriz); Mário Salvador; Major Ribeiro da Costa (ex-futebolista e ex-presidente do SL Benfica); Conde de Almarjão; Eduarda Lapa (pintora); Laura Chaves (escritora); Delfina Vitorino; Luís de Freitas Branco (compositor musical); Dr. Alberto Xavier (Docente Direito); Ruy d'Orey Lacerda e Melo; Laura Galhardo; Luís Schwalbach (Escritor, dramaturgo e jornalista); Amadeu do Vale (compositor musical); Assis Pacheco (médico); Lúcia Mariani; Alice Ogando (escritora); Arquitecto Jorge Bermudes (sobrinho de Félix e filho de Adães Bermudes); Armando Ferreira; António Palma; José Gamboa; Joly Braga Santos (compositor musical); Eng.° João de Figueiredo; Costa Mota; Cristiano Lima; Fernando Santos; Dr. João de Barros ; Frederico Valério (compositor musical); José Barahona (Cineasta), Dr. Norberto Lopes (jornalista e escritor); João Pereira da Rosa (jornalista, Director de "O Século"); João Ramos; Dr. F. Cunha Leão (escritor); Dr. Fernando Teixeira; Dr. José Duarte de Figueiredo (político); Augusto de Lima Mayer; Dr. Júdice da Costa; António Lopes Ribeiro (cineasta); Dr. Manuel L. Rodrigues; Francisco Ribeiro; Érico Braga (actor); Valentim de Carvalho (editor discográfico); Brito Chaves; António Duarte Montez (actor); Vasco Morgado (empresário teatral); Dr. José Lebre (Docente Direito); Robles Monteiro (actor); António Maria Pereira (advogado); Dr. Vasconcelos Carvalho; Max Azancot; Alexandre de Almeida; Carapinha; Frederico Burnay (banqueiro); Mário de Oliveira (jornalista e autor da História do SLB 1904-1954); Santos Carvalho; Silva Tavares (poeta); Álvaro Santos; João Ramos Filho; Álvaro de Andrade (jornalista e homem do teatro); Mário Barros; Cardoso Santos; Coronel Pessoa; Francisco Fialho; João Santos; Amadeu Monteiro; António Silva (actor); M. R. Soares Silva; Fernando de Carvalho; Laura Carvalho; Alma Flora (actriz); Saiu de Carvalho; Carlos Lopes; António Cruz; Horta; Stélio Gil (compositor musical); João Moura; José de Figueiredo; Pedro Cabral; Júlio Carvalho; Avelar Costa; Arnaldo Gomes.
Fizeram-se representar, além da Imprensa de Lisboa e Porto, entre outras, as seguintes colectividades: Sport Lisboa e Benfica, Lisboa Ginásio Clube, Sociedade de Tiro n°. 2, e Cooperativa dos Automobilistas Portugueses.

Ausentes mas com cartas enviadas e lidas durante a homenagem: Júlio Dantas (escritor e primeiro presidente do S. E. C. T. P.).

Também compareceram representantes de numerosas instituições internacionais tendo de outras sido recebidas missivas de homenagem, admiração e afecto, demonstrando relações pessoais de grande amizade e reconhecimento:

•   François Hepp (Chefe da Divisão do Direito de Autor da UNESCO)
•   René Jouglet (Secretário Geral da Confederação Internationale des Sociétés d'Auteurs et Compositeurs)
•   L. Boosey (Presidente da The Performing right Society, Ltd)
•   Marcel Poot (Presidente Société Belge des Auteurs, Compositeurs et Éditeurs «SABAM»)
•   Paulo Barbosa (Presidente da União Brasileira de Compositores)
•   Adolf Streuli (Société Suisse des Auteurs et Editeurs «SUISA»)
•   Philippe Pares (Le Président Société Pour L'Administration du Droit de Reproduction Mécanique des Auteurs, Compositeurs et Editeurs)
•   Rodolfo Mendiolea (Presidente Sociedad de Autores y Compositores de México)
•   Bénigme Mentha (Sociedad Argentina de autores y Compositores de Musica "SADAIC")
•   José Maria Contursi (Director Honorário de Bureau Internacional de Berne)
•   Charles Méré (Roder Ferdinand ilustre autor dramático. Presidente da Sociedade dos Autores Dramáticos da França)
•   Ilustre Autor Dramático, Presidente honorário da Sociedade dos Autores  Compositores Dramáticos da França e da Confederação Internacional das Sociedades de Autores Georges Auric (Presidente da Société des Auteurs, Compsiteurs et Éditeurs de Musique)
•   Luís Fernández Ardavin (Presidente da Sociedad General de autores de Espanha)
•   Marcel Henrion (Jurista Francês, consultor jurídico da Confederação e membro da comissão de legislação Francesa)
•   Valério de Sanctis (jurista do direito intelectual, delegado plenipotenciário da Itália às Conferências Diplomáticas do direito de autor)
•   Emiel Hullebroeck (Presidente Honorário da «SABAM»)
•   Marcel Boutet (Presidente da Association littéraire et artistique Internationale, fundada por Víctor Hugo)
•   J. Van Nus (Advogado, Director das Sociedades Holandesas BUMA e STEMRA)
Muitas outras individualidades associaram-se telegraficamente à homenagem estiveram Fernandez Ardavin, Moreno Torraba, Calvo Sotelo, Joracy Camargo, Wiessing, Jon Leips, Aldo de Beneditti, Osvaldo Santiago, Mandillo Saviotti. E ainda: Pondu (Madrid) e Acum Admon.



Eterno Bermudes. Glória Benfiquista, Glória das artes. Homem vertical. À Benfica!





RedVC

#348
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O poço dos nossos adversários.

Campo das Amoreiras, 26 de Abril de 1936.
Alinhada para a fotografia fica imortalizada uma grande equipa Benfiquista onde pontificavam alguns dos mais brilhantes jogadores de sempre do Glorioso. Estava prestes a disputar-se o jogo contra o Sporting. Jogo decisivo na caminhada para o título.


Da esquerda para a direita: Cândido Tavares (1935-1938), Rogério de Sousa (1932-1940), Gustavo Teixeira (1931-1940), Francisco Gatinho (1930-1937), Gaspar Pinto (1934-1947), Francisco Albino (1933-1945). Em baixo: Domingos Lopes (1933-1939), Luís Xavier (1931-1939), Vítor Silva (1927-1937), Carlos Torres (1932-1937) e Alfredo Valadas (1934-1945). Ver também: http://serbenfiquista.com/team/19351936-seniores-futebol/sl-benfica-0

Disponibilizada pelo Senhor Xávi, neto da grande Glória e Saudade Benfiquista Luís Xavier, no seu pequeno mas excelente blogue http://osvermelhos.blogspot.pt/ em que partilha memórias da sua infância, génese do seu Benfiquismo. É autor de outros blogues de grande qualidade. Um agradecimento pela partilha dessas bonitas memórias. Está lá também uma outra fotografia mais tardia e da qual terei também o prazer falar no próximo texto.


A nossa equipa era liderada por Lippo Hertzka (19 Novembro 1904 – 14 Março 1951) que uns anos antes tinha sido treinador do Real Madrid, Real Sociedad, Sevilha, entre outros.

Iniciamos o campeonato em 12 de Janeiro de 1936 com uma vitória sensacional contra o Vitória de Setúbal em casa por 5-3. Sem contarmos com Alfredo Valadas, extremo esquerdo que teria uma grande importância no resto do campeonato, conseguimos impor a nossa lei. A perder por 1-0, golo de Francisco Rodrigues, nosso futuro goleador, conseguiríamos reagir empatando por Luís Xavier. Mas antes do final da 1ª parte nova vantagem vitoriana com golo de João Cruz. No arranque da 2ª parte empatamos por Domingos Lopes e passaríamos para a frente com golo de Guedes Gonçalves que jogava no lugar de Valadas. E seria o pequeno GG que marcaria o 4º golo para por fim Vítor Silva selar a nossa vitória. O sadino Rendas faria ainda o terceiro para o Setúbal. Alucinante.

Mas na semana seguinte formos às Salésias perder com o Belenenses por 1-3 em que o golo de Carlos Torres foi insuficiente para parar o poderio belenense. Nesse jogo o Benfica não pode contar com três habituais titulares: Luís Xavier, Domingos Lopes e Alfredo Valadas.

Esta derrota foi complicada de digerir pois logo a seguir teríamos uma deslocação complicada ao Porto. Ali no Campo do Ameal, mostramos carácter, empatando com o FCP por 2-2. Começamos bem com dois golos um de Luís Xavier e outro de Vítor Silva mas não conseguimos vencer pois no final da primeira parte contra a corrente do jogo o FCP lá conseguiu empatar o jogo. E assim se manteria o marcador até final da partida.

Nova deslocação desta vez a Coimbra onde no Campo de Santa Cruz conseguiríamos uma folgada vitória por 6-2 num jogo em que Valadas marcou 4 golos sendo os restantes da autoria de Domingos Lopes e de Rogério Sousa.


Jogo no Campo de Santa Cruz conta a Associação Académica de Coimbra.

E para acabar essa série terrível fomos jogar ao Campo Grande, nessa altura ainda ocupado pelos viscondes ganhar por 4-2. Dois golos a fechar a primeira parte deram uma vantagem que seria selada no final do jogo. Jogo que teve várias escaramuças. Uma vitória espectacular no campo do adversário até à altura líder do campeonato. Vitória selada com a veia goleadora de Valadas que marcou mais dois golos tendo os restantes sido marcados por Vítor Silva e por um autogolo leonino. Com esta vitória a liderança do campeonato passou do SCP para o Vitória de Setúbal.

A nossa linha atacante estava endiabrada e a vítima seguinte foi o Boavista que levou 8-2 nas Amoreiras num jogo disputado em difíceis condições atmosféricas. Dois golos marcados pelo inevitável Valadas, dois por Luís Xavier e Carlos Torres, um de Vítor Silva e outro de Rogério de Sousa. Na jornada seguinte recebemos o Carcavelinhos e ganhamos por 2-1, concretizando uma reviravolta no marcador depois de termos estado a perder. Marcaram Alberto Cardoso e Vítor Silva. Com este jogo terminava a primeira volta estando o Benfica e o SCP empatados na liderança da classificação.

Na jornada seguinte, a começar a segunda volta, fizemos uma deslocação difícil a cidade do Sado para empatar a três bolas com o Vitória de Setúbal. Luís Xavier, Torres e um autogolo sadino não chegaram para vencer no velho campo dos Arcos. Nessa jornada dar-se-ia um exótico FCP 10 – SCP 1. Não me enganei, foram mesmo dez a um! Um jogo em que o SCP ficou sem o seu guarda redes (o nosso antigo jogador Dyson) e que como se vê pelos números os verdes foram absolutamente massacrados.

No jogo seguinte recepção ao Belenenses com um resultado raro para esse tempo 0-0. Nessa época o Belenenses revelou-se um adversário difícil. Apesar disso continuávamos à frente com um avanço de um ponto para o SCP e dois para o FCP. Felizmente a veia goleadora regressaria à equipa na jornada seguinte quando recebemos e despachamos o FCP por 5-1. Dois golos de Vítor Silva e de Carlos Torres e um de Luís Xavier. Ao intervalo já vencíamos por 4-0. Mas as oscilações continuavam pois na jornada seguinte fomos à Tapadinha jogar com o Carcavelinhos onde não fomos além de um novo empate a zero. Dominamos amplamente e o Carcavelinhos respondeu com dureza e a intensidade de jogo próprias dos alcantarenses. Este empate fez com que passássemos a partilhar a liderança do campeonato com o FCP. Uma decepção, pois aproximava-se um jogo decisivo com o SCP.

E assim na jornada seguinte, num jogo de nervos recebemos e vencemos a Académica. Logo no início do jogo uma grande contrariedade. Uma lesão traumática impediu que o nosso guarda-redes Cândido Tavares continuasse em campo. Não havendo lugar a substituições a baliza foi ocupada por Vítor Silva! Logo no início do jogo o nosso maior goleador foi para a baliza! Mas mesmo em inferioridade numérica a nossa equipa foi para a frente e com tenacidade e garra conseguiu no final ganhar o jogo por 3-1, fruto de dois golos de Carlos Torres e um de Valadas. Seguir-se ia o jogo do título. Na recepção ao Sporting a espada estava sobre a cabeça das duas equipas e do FCP que estava à espreita. Se vencêssemos seria-mos campeões.


E seria Valadas o homem decisivo do dérbi! Valadas só à sua conta esmagou o SCP no nosso campo das Amoreiras ao marcar um hat-trick a Azevedo! Valadas, o mesmo homem que que anos antes tinha sido desprezado no clube dos viscondes, tornou-se nosso jogador e aplicou uma dose aos verdes que selou a nossa conquista do campeonato. Não admira que se tornasse Benfiquista de coração.

Já com o título no bolso fomos na jornada seguinte ao Porto, para no estádio do Lima empatarmos a duas bolas com o Boavista. Carlos Torres de penalti e Luís Xavier marcaram para a nossa equipa. Mas tudo estava garantido já desde a semana passada.


Honra e glória aos nossos campeões! Foram 14 jogos, com 8 vitórias, 5 empates e 1 derrota, 46/23 em golos. À Benfica!

E já agora uma versão com menor resolução mas colorida da fotografia com que começamos o texto.


Glória e honra aos campeões e atletas que integraram o plantel: Cândido Tavares, Gustavo, Gatinho, Albino, Gaspar Pinto, Luís Xavier, Valadas, Domingos Lopes, Rogério de Sousa, Vítor Silva, Carlos Torres, Fernando Cardoso, Raúl Baptista, Pedro da Conceição, Francisco Costa, Amaro, Guedes Gonçalves, Paduco e Manuel de Oliveira.


RedVC

#349
-84-
Ora festeje lá outra vez!


Alguns campeões de 1936/1937. Da esquerda para a direita (a condirmar): Valadas, António Vieira, Luís Xavier, Barbosa, Fernando Cardoso, Gaspar Pinto, NN, Espírito Santo, Guedes Carvalho, Albino e Cândido Tavares.

Não querendo fazer do relato das conquistas dos nossos campeonatos a norma deste tópico, a existência de uma notável fotografia leva-me a fazer o mesmo para a conquista do campeonato de 1936/1937. Penso, ainda não tenho ainda a certeza, que se trata de uma fotografia dos festejos dessa época.

O início dessa época seria desde logo assinalado pela tristeza do abandono de Vítor Silva. Ainda relativamente novo uma lesão que hoje em dia seria facilmente resolvida pela medicina desportiva acabou por forçar o fim da sua carreira desportiva. Mas no Benfica a perda de um grande jogador significa o aparecimento de outro. Saiu Vítor Silva entrou Guilherme Espírito Santo. Assim a 13 de Setembro Vítor Silva teve a merecida festa de homenagem num festival de futebol e atletismo no Campo das Amoreiras (ver nº -53- "Dois entre doze").


Fonte: Vedeta ou Marreta

Um ídolo que chegava. Guilherme Espirito Santo um goleador que marcaria uma época. Brilhante sucessor do não menos brilhante Vítor Silva. Fonte: Em Defesa Do Benfica

A perda de Vítor Silva tornava moderada a expectativa de um eventual sucesso na Liga que se iniciava. E começamos bem com uma vitória no Campo dos Arcos sobre o Vitória de Setúbal por 2-1. Nesse jogo Alcobia alinhou no lugar de Albino e mostrou algumas dificuldades. A perder por 0-1, Valadas assistiria Espírito Santo para o empate quase ao findar da primeira parte. E seria já na segunda parte que o novato Espírito Santo selou a nossa vitória uma vez mais depois de um remate de Valadas.

Seguir-se-ia uma recepção ao Carcavelinhos que resultou num robusto 5-1. Já com Albino na equipa, seria Espírito Santo a abrir o marcador tendo depois Rogério de Sousa marcado dois golos, Luís Xavier e Valadas um cada. Curiosamente que as críticas sobre a falta de um avançado centro continuavam. A memória de Vítor Silva ainda estava fresca e Espírito Santo ainda estava a ambientar-se à equipa. Antes como agora é preciso ter paciência...

Mas mais robusto ainda seria a vitória na semana seguinte por 10-2 sobre o Leixões. Num Campo das Amoreiras alagado seria curiosamente a equipa matosinhense a adaptar-se melhor na primeira meia hora. Depois o Benfica impôs-se e faria cair uma enxurrada de golos sobre os matosinhenses. Rogério de Sousa só à sua conta marcou cinco golos (dois de grande penalidade), Valadas marcou três, Luís Xavier e Albino um cada.

Com tanta veia goleadora a vítima seguinte foi o SCP. Uma sensacional vitória no Campo Grande, campo dos verdes. Na estância de madeiras, nosso futuro estádio, marcou inicialmente Espírito Santo e logo no minuto seguinte Rogério de Sousa. Valadas faria depois o terceiro golo Benfiquista colocando o score em 3-0. Reagiria o SCP com um golo de Mourão antes de terminar a 1ª parte. Mas na segunda parte continuaria a pressão Benfiquista que foi ainda selada com mais um golo de Rogério de Sousa a selar um triunfo indiscutível.

Na jornada seguinte entramos mal em Coimbra sofrendo um golo da Académica mas depois viria a reviravolta com um golo de Domingos Lopes e outro de Rogério de Sousa ainda antes do final do primeiro tempo. Na segunda parte manter-se-ia inalterado o marcador.

Na semana seguinte tivemos casa cheia nas Amoreiras para ver a vitória por 2-0 frente ao Belenenses. Golos de Espírito Santo e Rogério de Sousa ainda no primeiro tempo.

Só que logo a seguir veio a deslocação ao campo da Constituição no Porto em que sofremos uma derrota por 1-2 contra o FCP. Marcamos primeiro por Espírito Santo mas depois os portistas conseguiram a reviravolta. O Benfica mostrou no entanto personalidade tendo atacado com persistência. Apesar da derrota continuamos a liderar a classificação geral.

De volta às Amoreiras no início da segunda volta esmagamos o Vitória de Setúbal por 8-1. Três golos do inevitável Rogério de Sousa, dois de Espírito Santo, um de Albino, Valadas e de Domingos Lopes. Depois viria uma deslocação à Tapadinha para uma nova vitória por 3-1. Dominamos amplamente mas só na segunda parte se veriam os golos. Marcou primeiro o Carcavelinhos mas depois veio a reviravolta com golos de Luís Xavier e Espírito Santos por duas vezes.

A vítima seguinte foi o Leixões que levou seis em pleno estádio do Mar. Augusto Amaro passou a ser o guarda redes ganhando o lugar ao habitual titular Cândido Tavares. A nossa poderosa linha atacante marcou mais seis golos. Foram autores os do costume, Rogério de Sousa por três vezes, Espírito Santo por duas e Valadas por uma.

E claro, a seguir viria mais um despacho em grande estilo. Mão cheia ao SCP! Ganhamos por 5-1 na nossa recepção aos verdes. Os golos vieram todos na segunda parte. Marcaram Espírito Santo por duas vezes, Rogério de Sousa, Luís Xavier e Alfredo Valadas. Depois desta jornada seria o Belenenses a ascender à segunda posição com a nossa equipa destacada na liderança.


Fonte: Em Defesa do Benfica.

Na jornada seguinte fomos a Coimbra e derrotamos a Académica por 3-1. Começaram melhor os estudantes que marcaram primeiro. Empataria ainda no primeiro tempo Espírito Santo. Na segunda parte Valadas e por fim Espírito Santo dariam a vitória às nossas cores. Jogo difícil mas importante pois o Belenenses não desarmou vencendo o seu jogo contra o FCP. Tínhamos três pontos de avanço e faltavam duas jornadas. Mas na jornada seguinte teríamos justamente uma deslocação a Belém.

E correu mal. Ante cerca de 20.000 pessoas o Benfica foi derrotado nas Salésias por 1-0. O jogo foi correcto tendo antes do seu início sido efectuada a cerimónia de inauguração do relvado das Salésias, o primeiro em Portugal.


As equipas e Direcções do Sport Lisboa e Benfica (esquerda) e Clube de Futebol "os Belenenses" alinhadas antes do início do jogo. Manuel da Conceição Afonso intervém num discurso, homenageando o clube de Belém liderado por Francisco Mega.

O presidente do Benfica Manuel da Conceição Afonso ofereceu uma águia em estojo ao presidente do CFB, Francisco Mega. Deveria ser sempre assim. Os dois clubes deveriam ter melhor relação pois partilham o mesmo berço. é pena que tradicionalmente o CFB tenha melhor relação com o FCP do que com o seu irmão de berço.

No campo, apesar de um jogo equilibrado, o CFB acabou por estar melhor pois concretizou uma oportunidade. Isto apesar do golo apontado por Varela Marques ter resultado de uma grande penalidade discutível. Apesar disso o Belenenses ganhou com justiça, relançando o campeonato. No final apenas um ponto separava as duas equipas. Continuávamos à frente mas na última jornada tudo se decidia frente o FCP. Felizmente que o jogo era no campo das Amoreiras.

E se havia que vencer assim aconteceu. E já agora sem deixar dúvidas. Foi servida meia dúzia de golos sem resposta. Acabamos o campeonato a dar 6-0 ao FCP! Dois auto golos portistas a abrir e fechar o marcador e pelo meio mais quatro golos, um de cada um dos nossos goleadores de serviço: Rogério de Sousa, Espírito Santo, Valadas e Luís Xavier. À Benfica!




No final do jogo houve lugar a invasão pacífica de campo embora a GNR não se tenha apercebido disso (onde é que eu já ouvi isto?). Houve carga policial e  por isso algum sururu. Mas os ânimos acabaram por serenar.

A Taça de Campeão Nacional seria entregue pelo presidente da FPF, Dr. Cruz Filipe no Estádio das Salésias no Domingo seguinte, dia dia 9 de Maio de 1937. Nesse dia jogou-se um Lisboa 2 – Porto 1 onde jogaram os nossos jogadores: Gustavo, Gaspar Pinto, Albino e Valadas.



O Dr. Cruz Filipe entrega a Taça de Campeão Nacional ao Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Manuel da Conceição Afonso. De óculos, está também presente o Dr. Virgílio Paula, médico de profissão, ligado ao CF Belenenses e à AFL mas que foi nosso jogador no tempo de Cosme Damião.

Honra e glória aos nossos campeões! Foram 14 jogos, com 12 vitórias e duas derrotas, 57/13 em golos. À Benfica!


Os Campeões de 1936/1937, fotografia tirada em 9 de Maio de 1937. Em cima, esquerda para a direita: Guilherme Espírito Santo (1936-1950), Luís Xavier (1931-1939), Rogério de Sousa (1932-1940), Alcobia (1936-1945), Gustavo Teixeira (1931-1940) e Cândido Tavares (1935-1938). Em baixo: Domingos Lopes (1933-1939), António Vieira (1936-1940), Gaspar Pinto (1934-1947) (com a Taça), Alfredo Valadas (1934-1945) (com a bola), Francisco Albino (1933-1945) e João Correia (1930-1938).

Rodolfo Dias

Apenas um breve apontamento do que foi a cerimónia de entrega do troféu da Liga, no intervalo do Lisboa-Porto:


RedVC

Citação de: Rodolfo Dias em 19 de Janeiro de 2016, 01:17
Apenas um breve apontamento do que foi a cerimónia de entrega do troféu da Liga, no intervalo do Lisboa-Porto:




Obrigado Rodolfo. Nesse tempo a relação etre os dois clubes era - aparentemente . muito boa. O Benfica ofertou uma águia em estojo aquando da inauguração do relvado das Salésias. Não admira estavam dois presidentes notáveis de cada lado. Manuel da Conceição Afonso, extraordinário presidente do Benfica - um dos melhores da noss História e Francisco Mega, presidente do Beleneneses. Tirado dos site oficiais dos dois clubes:





Lorne Malvo

Sempre em grande forma, RedVC. É um gosto ler o teu tópico.

Quando puderes actualiza o índice na 1ª página, por favor. Às tantas perco-me no que li e no que ainda não li.

RedVC

Citação de: Lorne Malvo em 21 de Janeiro de 2016, 19:16
Sempre em grande forma, RedVC. É um gosto ler o teu tópico.

Quando puderes actualiza o índice na 1ª página, por favor. Às tantas perco-me no que li e no que ainda não li.

Obrigado Lorne  O0

Está actualizado. Estava actualizado na página 22.

Gostava que tivesse ligações mas não consigo perceber como definir o link para cada post.

Lorne Malvo

Citação de: RedVC em 21 de Janeiro de 2016, 20:08
Citação de: Lorne Malvo em 21 de Janeiro de 2016, 19:16
Sempre em grande forma, RedVC. É um gosto ler o teu tópico.

Quando puderes actualiza o índice na 1ª página, por favor. Às tantas perco-me no que li e no que ainda não li.

Obrigado Lorne  O0

Está actualizado. Estava actualizado na página 22.

Gostava que tivesse ligações mas não consigo perceber como definir o link para cada post.

Sem dúvida que com ligações directas aos textos na 1ª página ia ser muito útil, mas como percebo pouco disto não te posso ajudar nesse aspecto.

Mas expõe a tua questão aqui:

http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=2847.6585

RedVC

#355
-85-
Gloriosas compras na pátria do futebol.

Belém, 9/03/1907. Manuel Gourlade procura concluir uma encomenda à casa Frank Sugg Ltd. com sede na cidade de Liverpool, Inglaterra. Gourlade, tesoureiro do Clube, tinha iniciado a transacção em Fevereiro de 1907 e para garantir a conclusão do processo declara no documento ter enviado o "resto em estampilhas fiscais".


Fonte: Museu Cosme Damião

Entre Fevereiro e Março de 1907, o Sport Lisboa encomendava seis bolas e uma bomba para as insuflar. Tratava-se de uma compra fundamental para a actividade do Clube. O total da encomenda ascendia a 3.56 libras (se não estou em erro), despesa pesada para cofres modestos.

Nessa época as bolas eram um objecto caro e com grande desgaste (atendendo aos terrenos). Existe aliás um documento datado de Março de 1904 que atesta um pagamento de sessenta Reis a um sapateiro por coser uma bola. Por outro lado há notícia de uma bola mandada fazer, presumivelmente em Belém, que não sendo de material adequado inchava com a água da chuva até atingir proporções desadequadas para a prática do futebol. Assim, as encomendas a Inglaterra eram inevitáveis para o nosso Clube.


Manuel Gourlade, fundador e tesoureiro do Sport Lisboa (1904-1908). Fonte: AML

E a propósito desta transacção comercial vou hoje abordar de forma breve alguns aspectos interessantes do que já era a indústria do desporto na pátria do futebol no início do século XX. Comecemos pela Frank Sugg Ltd. Não tenho uma imagem da loja de Liverpool onde Gourlade encomendou as seis bolas e a bomba mas podemos ter uma ideia desse local a partir de um esboço que fazia parte de um folheto promocional.


A Frank Sugg Ltd. era uma prestigiada casa comercial de artigos de desporto que tinha um catálogo importante. O negócio do futebol tinha já um volume importante e levava décadas de evolução na velha Albion.



A empresa tinha sido fundada por dois irmãos, dois eméritos jogadores de cricket e futebol: Walter e Frank Sugg.


Os irmãos Walter 21 Maio 1860, Ilkeston, Derbyshire - 21 Maio 1933, Dore, Yorkshire e
Frank Howe Sugg (Ilkeston, Derbyshire, 11 Janeiro 1862 - Waterloo, Liverpool, Lancashire, 29 Maio, 1933) e Walter Sugg (Ilkeston, Derbyshire, 21 May 1860 – Dore, Yorkshire, 21 May 1933)


Dos dois, Frank foi talvez o mais destacado. Foi um futebolista e um jogador de cricket de primeira classe. No futebol jogou no Sheffield Wednesday, Derby County (1884-85), Burnley (1884-88), Everton (1888) e Bolton Wanderers. Foi aliás capitão de equipa nos três primeiros clubes desta lista. Frank Sugg para além de jogar num dos clubes de Liverpool (Everton FC), também terá sido amigo do Liverpool FC sendo muito provavelmente o fornecedor de camisolas nos primeiros 10-20 da sua existência (fonte: http://playupliverpool.com/1905/09/09/frank-suggs-shop-on-fire/). Sinais de que era também um empresário inteligente...


Frank Sugg, futebolista.


De notar que esses clubes eram alguns dos colossos do futebol Inglês dessa época. Senão, atente-se neste parágrafo da wikipedia referente à formação da Football League em 1888.

********************************************************************
The first meeting was held at Anderton's Hotel in London on 23 March 1888 on the eve of the FA Cup Final.[11] The Football League was formally created and named in Manchester at a further meeting on 17 April at the Royal Hotel.[11] The name "Association Football Union" was proposed by McGregor but this was felt too close to "Rugby Football Union". Instead, "The Football League" was proposed by Major William Sudell, representing Preston, and quickly agreed upon.[8] Although the Royal Hotel is long gone, the site is marked with a commemorative red plaque on The Royal Buildings in Market Street. The first season of the Football League began a few months later on 8 September with 12 member clubs from the Midlands and North of England: Accrington, Aston Villa, Blackburn Rovers, Bolton Wanderers, Burnley, Derby County, Everton, Notts County, Preston North End, Stoke (renamed Stoke City in 1926),[12] West Bromwich Albion and Wolverhampton Wanderers.
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Football_League
********************************************************************

Walter Sugg, irmão mais velho de Frank, foi igualmente um bom jogador de cricket. Em 1888, justamente no ano de fundação da Football League, os dois irmãos tiveram visão empresarial e abriram uma loja de artigos desportivos na cidade de Liverpool, na 32 Lord Street, com saída para a 10 North Street.


Lord Street, cerca de 1908. Fonte: http://www.liverpool-city-group.com/


Durante 12 anos, de 1894 a 1905, os dois irmãos publicaram um periódico anual de referência o Sugg's Cricket Annual. Mas para além do cricket, a propósito de um interessante folheto promocional percebe-se que o negócio abrangia a venda de material desportivo para muitas mais modalidades. E assim, em 1914 o negócio tinha-se expandido de forma a tornarem-se líderes de mercado contando com mais algumas lojas em Leeds, Sheffield e Cardiff.


Folheto promocional das lojas Sugg.

Mais tarde, aparentemente por divergências comerciais, os dois irmãos seguiriam caminhos diferentes e negócios separados. Walter terá querido diversificar enquanto Frank queria permanecer apenas no material desportivo. Walter sediou a HBB Sugg Ltd. em Sheffield enquanto Frank sediou a Frank Sugg Ltd. em Liverpool. Na década de 20 os ventos mudaram mas a Sugg, já sem a gestão da família Sugg, manter-se-ia em operação até ser definitivamente encerrada em 2002. Fecharam 11 lojas e perderam o emprego 118 pessoas.


As lojas Sugg em Lincolnshire, Sheffield e Nottingham.

A propósito desta actividade comercial, atentemos em algumas curiosidades que nos permitem perceber como o negócio do futebol na Inglaterra do início do século XX já justificava uma imprensa dedicada e florescente.


Justificava igualmente a produção industrial de bolas e de outros produtos comerciais para a prática do futebol. Os Ingleses inventaram o futebol mas também a indústria, a publicidade e imprensa associadas ao futebol. Fica aqui uma imagem de uma fábrica onde em 1905 eram produzidas bolas de futebol à escala industrial:


e as respectivas redondinhas:
 

Imagem de uma típica bola de futebol na primeira década do Séc. XX. Á esquerda a bola carregada por Cosme Damião num jogo na Quinta da Feiteira em 1910.

E para concluir como começamos, um outro exemplo de como o nosso Sport Lisboa tinha já activos contactos e transacções com lojas da pátria de futebol. Em 26/10/1904, Gourlade manifestava estranheza pela demora de satisfação de uma encomenda feita à casa Gamage em Holborn Street, Londres:


Telegrama enviado por Manuel Gourlade, Rua de Belém 147 (morada da Farmácia Franco) aos armazéns Gamage de Londres estranhando a demora na satisfação da encomenda do Sport Lisboa. Fonte: Sport Lisboa e Benfica.



Armazéns Gamage, na Holborn Street, Londres.


Lorne Malvo

Sabes se a nota de encomenda das seis bolas que mostras logo no início do post está na posse do Benfica?

RedVC

Citação de: Lorne Malvo em 26 de Janeiro de 2016, 14:16
Sabes se a nota de encomenda das seis bolas que mostras logo no início do post está na posse do Benfica?

Museu Cosme Damião  :cool2:


RedVC

Esqueci-me é claro de colocar a fonte. Por vezes passa-me. Bem notado Lorne  O0

alfredo

Redvc, obrigado por partilhares essas histórias todas conosco. Grande fonte de informacao e um belo trabalho.
Excelente!