Decifrando imagens do passado

RedVC

#330
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Um casal virtuoso.

Lisboa, fotografia de final de curso de Medicina de 1902.


Finalistas do curso de Medicina de Lisboa, 1902.
A Dr.ª Carolina Beatriz Ângelo e o Dr. Januário Barreto estão sentados ao centro. Fonte: RTP.

É a única fotografia que conheço em que se vê lado a lado o casal Dr. Januário Barreto e Dr.ª Carolina Beatriz Ângelo. Um casal virtuoso.

Januário e Carolina foram marido e mulher, primos e colegas de curso de Medicina de 1902. Foram também dois seres superiores, dois humanistas, dois republicanos.
Foram duas figuras notáveis que brilharam de forma fugaz mas intensa. Foi curta demais a sua viagem neste mundo. Pouco o tempo em que mostraram a sua inteligência, o seu voluntarismo, o seu sentido de justiça e gosto em ajudar os outros. O que fizeram no curto tempo da sua existência deixa antever que poderiam ter deixado uma marca de maior destaque na sociedade Portuguesa.

Hoje falaremos de Januário Gonçalves Barreto Duarte. Do Casapiano, do presidente do Sport Lisboa e Benfica, mas também do sócio e membro do conselho fiscal do Sporting Clube de Portugal. Foi tudo isso com a nobreza de carácter de um espírito superior, dado apenas às virtudes do companheirismo e da sã convivência entre os homens de boa vontade.


Januário Gonçalves Barreto Duarte
Aldeia do Souto, Covilhã 1 de Abril de 1877 – Lisboa 3 de Outubro de 1911

Órfão aos oito anos, o menino Januário ingressou na Real Casa Pia de Lisboa menos de um ano depois, em 30 de Junho de 1886 (fonte: Em Defesa do Benfica).

Januário, o Casapiano

A importância de Januário Barreto na difusão do futebol em Portugal é grande. Diz-se que foi ele juntamente com o seu colega Casapiano Bruno do Carmo que, como alunos externos da Casa Pia, foram os entusiastas introdutores desse desporto junto dos seus companheiros. E foi um rastilho. O futebol foi entusiasticamente adoptado numa Instituição que levava já décadas de cultura e prática desportiva efectiva. Um oásis no país.

Tiveram também a sorte de ter como provedor da Casa Pia, Francisco Simões Margiochi (1848-1904), um homem de visão que encomendou uma bola de futebol a uma casa comercial em Inglaterra. A bola, objecto raro e muito desejado nesses anos do pioneirismo do futebol Português. A geração de estudantes Casapianos que ficou conhecida por geração Margiochi foi a mais célebre e brilhante, com diversos homens, intelectuais e artistas a escreverem a ouro etapas da vida social, desportiva e artística de Portugal entre várias décadas que se seguiriam ao final dos seus cursos.



Bruno do Carmo (azul) e Januário Barreto (vermelho), os introdutores do futebol na Real Casa Pia. Fonte: http://www.casapia-ac.pt/Casa_Pia_Implantao.pdf.




Francisco Simões Marghiochi (Lisboa, 22 de Dezembro de 1848 — Lisboa, 6 de Outubro de 1904). Par do reino, presidente da Câmara Municipal de Lisboa e provedor da Casa Pia de Lisboa; Provedor da Real Casa Pia de 1889 a 1894

Foi notável a geração Marghiochi. Muitos fizeram cursos superiores, médicos, veterinários, militares, escultores, pintores, cinzeladores, professores da Casa Pia, de Liceu e da escola primária. Notável! De desafortunados da vida, orfãos, estes jovens cresceram em corpo e mente, prestigiaram a grande Instituição que os acolheu e prestigiaram o País. Cresceram na vida pelo mérito, pelo seu esforço e pela força da sua generosidade, irmandade e partilha. E deixaram obra.

E assim, em 1893 no pátio Páteo das Malvas no Colégio de Pina Manique em Belém, Margiochi ou alguém em seu nome (os relatos não são unânimes) entregou a Januário e a Bruno a famosa bola que serviu para aumentar o entusiasmo Casapiano pelo novo desporto. Essa bola foi mandada vir de Londres e paga pelo próprio Francisco Simões Margiochi.


Casapianos em exercícios físicos. Pátio do Colégio Pina Manique, Belém. Fonte: AML

Quem sabe? Quem sabe se essa famosa bola é a que aparece nas fotografias de duas das famosas equipas do GCP, Grupo Casa Pia. Esta é pelo menos a minha hipótese e não GCP, Ginásio Clube Português (que teria emprestado a bola) como já li.



Duas das lendárias equipas da Real Casa Pia de Lisboa do final do Século XIX.
A - João Pedro, Emílio de Carvalho (SL-SCP), Silvestre da Silva (SL), António Couto (SL-SCP) e Raúl Carapinha; Sentados nas cadeiras: João Lourenço, Pedro Guedes (cap.; SL) e Januário Barreto; Sentados no chão: João Cambraia, Daniel Queiroz dos Santos (SL-SCP) e Bruno do Carmo.
B - - de pé, da esquerda para a direita: João Cambraia, António Couto (SL-SCP), Emílio de Carvalho (SL-SCP), Raúl Carapinha, Silvestre da Silva (SL), Januário Barreto; Francisco dos Santos (SL-Lázio-SCP), José Netto (SL-SCP); Sentados: João Pedro, Pedro Guedes (SL), Bruno do Carmo;


Nota-se que no segundo plano existem árvores no espaço – que presume-se – era usado para os treinos. Existem relatos que dizem que muitas vezes e como auto didactas quanto aos treinos, os Casapianos usavam as árvores como "adversários" para treinar os passes e fintas e aprimorar o jogo de equipa.

Depois de sair da casa mãe, Januário continuou ligado ao futebol enquanto dirigente. Bruno do Carmo chegou à patente de Coronel e nunca mais voltou a estar ligado ao futebol. Ao contrário por exemplo do Coronel José da Cruz Viegas.

Nessas equipas Casapianas, para além de Francisco dos Santos com passagem elogiada pela Lazio de Roma, talvez os mais talentosos destas equipas fossem António do Couto, Pedro Guedes e Emílio de Carvalho, uma vez que integraram um misto de Portugueses e Ingleses que derrotou os mestres Ingleses do Carcavellos. Facto inédito e de grande repercussão nessa época. Mas um ano mais tarde viria a glória suprema.

Com uma equipa somente de Portugueses, disputou-se no dia 22 de Janeiro de 1898, um épico desafio na Quinta Nova em Carcavelos. Apesar de disputado no Inverno, o jogo decorreu num tempo agradável embora com uma assistência reduzida.

Não existe nenhuma fotografia mas existe um belo relato assinado por Valentim Machado publicado no Tiro Civil de 1 de Fevereiro 1898.



Excerto da notícia da vitória da equipa da Real Casa Pia contra o Carcavellos FC em 1898. Fonte: Tiro Civil, Hemeroteca de Lisboa.

E segundo ele os Portugueses alinharam da seguinte forma:


A equipa da Real Casa Pia que derrotou os Ingleses em do Carcavellos FC em Janeiro de 1898. Fonte: Tiro Civil, Hemeroteca de Lisboa.

Nesse jogo o guarda-redes foi Silvestre da Silva e não Pedro Guedes, que sete anos depois, em Janeiro de 1905, veio a ser o guarda-redes da nossa primeira equipa oficial. Pedro Guedes jogou a defesa à direita e Januário Barreto defesa à esquerda.

Considerando esta equipa de 1898 e os jogadores retratados nas fotografias em cima, quatro não estão presentes: Tavares, A. Torres, David da Fonseca e João Persónio. Conhecemos apenas o rosto dos dois últimos de quem já aqui falamos pois integraram algumas das nossa primeiras equipas entre 1905 e 1910.

Mas o grande destaque desse dia foram aos resistentes e talentosos médios António do Couto, Emílio de Carvalho e Daniel Queiroz dos Santos. No final venceram os Casapianos por 2-0. E como se relata na crónica de Valentim Machado: "ecoam palmas, bonets voam pelos ares e com razão porque é um grupo completamente portuguez... Viva! Tres vezes "Viva" pelos valentes rapazes que em tão poucos annos tanto conseguiram".

A actuação de Barreto foi dada como indecisa, cingindo-se mais a tarefas defensivas. Não era o mais talentoso da sua equipa mas era um dos mais entusiastas.

Apenas nove anos depois uma equipa Portuguesa voltaria a derrotar os mestres Ingleses: o Sport Lisboa com as gloriosas camisolas de flanela vermelha. E nesse tempo o presidente do nosso clube era... Januário Barreto! O primeiro presidente eleito do nosso Clube.

A Associação do Bem

Da importância da Associação do Bem já se falou. Fundada em 1903 por antigos alunos da Casa Pia, dedicava-se a ajudar os Casapianos mais desfavorecidos, a promover a Cultura Portuguesa e os ideiais Casapianos.  Também promovia a prática desportiva era uma importante motivação para a reunião destes antigos estudantes Casapianos.


Estreia da equipa da Casa Pia de Lisboa, no jogo com o Grupo Académico de Futebol.  Em pé da esquerda para a direita: escultor Francisco dos Santos, professor João Pedro, cinzelador Emilio de Carvalho, pintor Pedro Guedes, escultor José Neto, professor Silvestre da Silva, Dr. Januário Barreto, Dr. Estanislau Nogueira, Dr. António da Cunha Belém, Dr. António Simões Alves, engenheiro Craveiro Lopes, engenheiro Assunção, João Lourenco Marques, ?, pintor Falcão Trigoso e arquitecto António Couto; Ao meio: Ernesto  Camacho; Sentados: Aragão e Brito, Mascará, Dr. Joao Simões Alves, coronel Bruno do Carmo, Tavares da Silva, Dr. Mário Costa, Kebe e coronel José Ferreira da Silva. Fonte: http://dubleudansmesnuages.com/?cat=60


A nostalgia dos tempos antigos e a paixão mantida intacta pelo futebol fê-los regressar aos areais de Belém para praticar o futebol. Lá conheceram Manuel Gourlade que como múltiplas fontes referem foi o elemento de ligação entre os Casapianos e o grupo dos Catataus. O resto é História Gloriosa.

A fundação do Sport Lisboa em 28 de Fevereiro de 1904 teve vários Casapianos, curiosamente os menos conhecidos. Como disse Hélder Tavares (responsável pelo museu da Casa Pia) num V&P, os mais destacados Casapianos ou por modéstia ou por estatuto social, ou pela idade, ou simplesmente para deixar os mais novos trabalhar, acabaram por não assinar. No entanto eles estiveram lá, dando consistência quer aos valores, quer à filosofia desportiva. Estiveram lá também como futebolistas, dando competência desportiva e transmitindo a sua experiência e saber futebolístico nos jogos (ao que parece não treinavam). Prova disso foi a presença de diversos na primeira equipa oficial: Pedro Guedes, Silvestre da Silva, António do Couto, Emílio de Carvalho. Estes competentes veteranos aliados aos mais novos tais como José da Cruz Viegas, Fortunato Levy e os três Rosa Rodrigues resultaram em vitórias e a conquista de um rápido estatuto e grande popularidade. As bases do nosso clube radicam nesses valores, nesses tempos, nestes homens.

Januário, o Presidente

Januário era um desses homens que não obstante já não jogar continuava presente e continuava entusiasta das virtudes do futebol.

E por isso foi o primeiro presidente eleito da história do nosso clube. Foi um presidente importante e de quem se relata no site oficial do SLB:

3º Presidente
Dr. Januário Barreto, 12/18/1906 – 13/09/1908

Figura de prestígio à procura de soluções
Em 1906, o Sport Lisboa alcançara posição de destaque, sendo considerado pela imprensa como o melhor grupo de futebolistas portugueses. Mas faltavam infra-estruturas. Aquando da eleição da primeira Direcção, em 22 de Novembro de 1906, permaneceram os três membros da Comissão Administrativa, sendo eleito presidente Januário Barreto – figura grata no desporto, prestigiado conhecedor das regras do futebol, árbitro e médico. Durante a sua gerência, o Clube conquistou os dois primeiros troféus, no Torneio Inter-Clubes do Internacional (CIF), em 2.ª e 3.ª categorias.

Januário, o dirigente

Até à fundação da Associação de Futebol de Lisboa em 3 Outubro de 1910, a regulamentação e a organização do futebol era uma missão muito complicada. A primeira organização criada para esse fim foi presidida pelo Tenente da Armada Portuguesa Joaquim Costa tendo este sido secretariado por José de Alvalade, fundador do SCP. A segunda viria a ser presidida pelo Dr. Januário Barreto que foi secretariado por Eduardo Luiz Pinto Basto. Esta organização designou-se Liga Portugueza de Foot-Ball (LPF). Foi fundada em 17 de Setembro de 1908 e extinta em Setembro de 1910. Às portas da Republica.

A LPF pretendia promover e organizar o futebol ao nível nacional. Pretendia-se a criação de uma Liga Norte e uma Liga Sul. Infelizmente as resistências e os recursos eram escassos e a sua acção generosa mas muito limitada acabou por resultar na organização de dois campeonatos regionais de Lisboa em 1908/1909 e 1909/1910. Não obstante a inteligência e o labor da sua Direcção e seu presidente, o Dr. Januário Barreto a Liga Portugueza de Foot-Ball viria a ter uma curta e atribulada vida. Era muito difícil dada a total ausência de estruturas e recursos. O facciosismo desportivo e as rivalidades pessoais e colectivas revelaram-se igualmente problemáticos.

Ainda assim ficaram experiências instrutivas para os dirigentes que viriam a seguir. As duas Ligas anteriores à AFL assentaram as bases da organização, revelaram os problemas e as virtudes de um desporto que viria depois a ser dirigido pela Associação de Futebol de Lisboa. A importância desta associação foi enorme tanto mais que se deve notar que apenas em 31 de Março de 1914 foi fundada a União Portuguesa de Futebol (UPF). A UFP foi primeiro organismo que regulou o futebol português ao nível nacional. Em 28 de maio de 1926 a UFP passaria a chamar-se Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Até hoje.

Para a história ficam os fundadores da Associação de futebol de Lisboa: Tenente da Armada Carlos Villar, Raúl Nunes, Pedro Del-Negro, José Netto, Félix Bermudes e Cosme Damião. Três dos últimos jogaram no Sport Lisboa. Os dois últimos são das maiores figuras da história do nosso clube.


Fonte: Em Defesa do Benfica.

Nestes nomes notava-se uma ausência ilustre: o notável e nesse tempo já saudoso Dr. Januário Barreto.

Januário, segundo o site do SCP viria a ser um dos dirigentes que decidiram ingressar no SCP em Fevereiro de 1909. Em 4 de Janeiro de 1910 tornou-se no primeiro Presidente do Conselho Fiscal do clube fundado por José de Alvalade e que integrava como relator, António Couto o seu companheiro Casapiano. No fundo Barreto tal como Queiroz dos Santos, Francisco dos Santos, Emílio de Carvalho e José da Cruz Viegas, veio a seguir António do Couto na sua aventura verde. A amizade entre estes homens era sincera e forte e assim se explica esta aventura verde colectiva. Valia mais a Amizade num tempo em que as rivalidades ainda não existiam (na verdade eram mais com o CIF), em que a precariedade das condições e a vida efémera dos clubes e das pessoas tornavam estas decisões de mudança muito diferentes dos dias de hoje. Até me atrevo de forma facciosa com certeza, a dizer que Januário teria valores que nos dias de hoje só o levariam a sentir-se bem no Sport Lisboa e Benfica.

E foi realmente efémera a sua experiência verde. Apenas 4 meses depois de entrar nesse clube, Januário faleceu a 23 de Junho de 1910. A sua morte provocou uma grande consternação junto dos seus amigos e dos mais diversos agentes do desporto Português. Januário foi substituído nesse cargo directivo do SCP por José da Cruz Viegas. O mesmo homem que 6-7 anos antes definiu as nossas cores. Tudo se cruzou nesse tempo. Foi o tempo de grandes figuras, homens de grande voluntarismo e personalidade que criaram as bases do que hoje vivemos no futebol Português.

Januário, o médico ilustre

Januário revelou-se um excelente aluno tendo ingressado no curso de Medicina da Universidade de Lisboa. Nesse curso teve como colega a primeira mulher a formar-se em Medicina em Portugal, a sua prima Carolina Beatriz Ângelo. Ali tiveram ali como eminentes professores tais como Ricardo Jorge, Alfredo da Costa, Miguel Bombarda e Curry Cabral (fonte: http://capeiaarraiana.pt/tag/januario-barreto/).

Ao que sei Januário terá sido um médico prestigiado e de carácter generoso. E muito provavelmente veio a ser essa sua vontade de partilha, de dedicar algum do seu tempo aos outros, aos mais necessitados, que o viria a vitimar. Adoeceu (eventualmente de tuberculose) e viria a falecer. Na flor da vida. Um fim brutal para um homem que muito tinha a dar a este País. Só os bons morrem jovens. Nem sempre é assim mas neste caso certamente foi.

Paz e honra à memória do Dr. Januário Gonçalves Barreto Duarte.


Homenagem a Januário Barreto na aldeia do Souto. Fonte: http://cavaca.blogs.sapo.pt/2014/01/?page=2



Carolina Beatriz Ângelo
S. Vicente, Guarda 16 de Abril de 1878 – Lisboa 3 de Outubro de 1911

Frequentou o Liceu na sua terra natal da Guarda. Veio depois a ingressar nas Escolas Politécnica e Médico-Cirúrgica em Lisboa, onde concluiu o curso de Medicina em 1902.

Nesse mesmo ano, casou-se com Januário Barreto. Tornou-se a primeira médica portuguesa a operar no Hospital de São José, dedicando-se mais tarde à especialidade de ginecologia.

Activista dos direitos femininos, sufragista, foi uma destacada militante da Liga Republicana das Mulheres.

Para melhor perceber a importância social e política da Drª Carolina Beatriz Ângelo sugiro a leitura deste excelente artigo do Alberto Miguéns:

http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2014/03/o-benfiquismo-e-d-carolina-beatriz.html

E também aqui: http://run.unl.pt/bitstream/10362/4003/1/textoCBA.pdf

E ainda: http://www.igualdade.gov.pt/images/stories/documentos/documentacao/publicacoes/carolina%20beatriz%20angelo.pdf

Como os artigos deixam ver, existe muito a saber em relação à Drª Carolina Beatriz Ângelo. Infelizmente também morreu muito nova. No dia 3 de Outubro de 1911, morreu de miocardite, aos 33 anos, ao regressar à sua residência da Rua António Pedro S.D., após uma reunião política de "senhoras feministas" (fonte: http://medicosportugueses.blogs.sapo.pt/6263.html).

O casal deixou uma filha de oito anos chamada Maria Emília Ângelo Barreto (1903-1981) que viria a ser professora e secretária do Liceu Nacional Infanta D. Maria em Coimbra.


Benfiquista_


RedVC


Benfiquista_

Eu é que agradeço :)

Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..

RedVC

Citação de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:06
Eu é que agradeço :)

Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..


Algumas destas história deram trabalho a pesquisar e cruzar fontes. Mas guardar para mim não faz sentido. Claro que qualquer Benfiquista pode guardar e divulgar. Essa é a ideia. O material é público e para todos os Benfiquistas.

Na verdade um dos moderadores propôs-me em tempos que o tópico estivesse aqui para ser lido por Benfiquistas e não Benfiquistas.

Eu não detenho quaisquer direitos sobre estas imagens embora algumas tenham sido trabalhadas para salientar determinados aspectos.

Com a indicação das fontes a ideia é nunca apropriar-me mas antes valorizar esse material que encontrei em livre acesso na net. Uma fotografia sem legendagem e contextualização não tem valor, ou quando muito tem apenas valor estético.

Eu tenho ideia que todas as imagens estão disponíveis mas se faltar algum talvez ainda tenha por aqui arquivada.

Benfiquista_

O que aqui está deu imenso trabalho, imagino.

Seria uma pena perder-se com o tempo.

Actualmente eu é que não tenho muito disponibilidade, porque se não faria isso.

Muita qualidade. Ao teu nível apenas o Alberto Miguéns.

RedVC

Ninguém está ao nível de Alberto Miguéns. Temos uma sorte danada em que seja o Benfica e não um dos outros clubes a ter um homem com tantos conhecimentos e vontade de divulgar.

E existem outras pessoas com bons conhecimentos que não publicam ou fazem-no de forma .

Hoje em dia encontram-se muitos recursos online. Mas o segredo não é encontrar. O segredo é perceber. e relacionar. Tudo isso dá trabalho.

Há muita coisa e coisa boa por sinal que ainda não está em regime de livre acesso. Temos a hemeroteca e o digitarq que têm material mas poderiam ter mais. Há material que ainda não foi colocado online. Acredito que a informação deveria ser livre. Seria muito bom que aqueles que querem conhecer mais e divulgar tivessem acesso ao acervo de outros jornais.

Benfiquista_

Sem dúvida, que a Cultura deveria ser Livre e Aberta a todos e não apenas a quem pode...

RedVC

Só uma precisão

Quando dizia "guardar para mim" queria dizer não partilhar. Ou seja não faz sentido para mim investigar e não partilhar.

É claro que tenho um backup de segurança. Nem poderia ser de outra forma. Por isso "no worries".

Há algumas coisa que eu me deparo e que não publico. Razões:
1) não tenho informação suficiente;
2) não acho que seja interessante;
3) aguarda melhor ocasião;
4) porque assim acordei com outras pessoas.
5) porque não há mais tempo.

Esta última é mesmo verdade apesar da "produção" dos últimos meses

Benfiquista_

Acredito !) Continua com o projecto!

Rodolfo Dias

Citação de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:06
Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..
Confesso que comecei a fazer isso mesmo...  :ashamed:

Benfiquista_

Citação de: Rodolfo Dias em 15 de Dezembro de 2015, 21:41
Citação de: Benfiquista_ em 14 de Dezembro de 2015, 19:06
Tens um manancial incrível de Histórias.Já pensei em guardar os textos e as imagens com a tua autorização. Pena que algumas já não dêem..
Confesso que comecei a fazer isso mesmo...  :ashamed:
Há aí material muito bom mesmo.

RedVC

#342
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Da vida de Cosme (parte I)

E assim terminará o ano. Prioridade às imagens.
Fragmentos visuais da vida de Cosme Damião. O maior de todos nós.








RedVC


RedVC

#344
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Gloriosos mesa-tenistas no Brasil.

Dia 19 de Dezembro 1956, Rio de Janeiro, restaurante do Clube de Regatas Vasco da Gama.


Restaurante do Club de Regatas Vasco da Gama. 19/12/1956. Arthur Braga Pires, presidente do clube carioca confraterniza com o Benfiquista Rui Castro Cadillon.

Almoço de gala em que uma comitiva Benfiquista da modalidade de ténis de mesa foi homenageada pela direcção do Club de Regatas Vasco da Gama, o clube o mais querido da comunidade Portuguesa no Rio de Janeiro. Na fotografia vê-se em primeiro plano o Sr. Rui Castro Cadillon, chefe da delegação Benfiquista a confraternizar com o presidente do popular clube carioca, Sr. Arthur Braga Pires.

Cumpriram-se no passado dia 4 de Dezembro 50 anos que a comitiva Benfiquista partiu de Lisboa para chegar ao Aeroporto Internacional do Galeão, Rio de Janeiro, no dia 5 Dezembro 1956. A chegada ao Brasil fez-se com cerca de 20 horas de atraso relativamente ao previsto.

A comitiva integrava os seguintes quatro membros: Chefe Rui de Castro Cadillon (Feira, 18-02-1920); Fernando de Oliveira Ramos (Lisboa, 12/11/1921); Francisco Barreiros Campas (Lisboa, 11/06/1921) e Manoel da Silva Carvalho (Porto, 10/10/1926). Ou seja os nossos atletas contavam entre 30 e 35 anos. Estariam pois em plena posse das suas capacidades competitivas.

   
Da esquerda para a direita: Rui de Castro Cadillon (chefe da comitiva); Fernando de Oliveira Ramos; Francisco Barreiros Campas e Manoel da Silva Carvalho Os quatro integrantes da Gloriosa comitiva da digressão do ténis de mesa ao Brasil em Dezembro de 1956.

No Rio de Janeiro os quatro Benfiquistas ficaram hospedados na sede Naútica do Clube de Regatas Vasco da Gama.


Fichas de emigração (temporária) ao Brasil dos quatro integrantes da Gloriosa comitiva da digressão de 1956. As fichas tem alguns elementos biográficos dos membros da comitiva. Aspecto curioso é que todos têm como morada a Rua do Jardim do Regedor nº 9, Lisboa, local onde funcionava a secretaria do nosso Clube.

No plano da digressão estavam inicialmente previstos sete jogos, três no Rio de Janeiro, três em São Paulo e um em Belo Horizonte.


Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro os nossos mesa-tenistas participaram no Torneio Internacional de Ténis de Mesa, promovido pela FMTM (Federação Metropolitana de Ténis de Mesa). Os restantes participantes eram os clubes Brasileiros: CR Flamengo, Tijuca TC e CR Vasco da Gama. Os jogos nocturnos (a partir da 20h00) foram todos realizados no pavilhão do Tijuca T.C: dia 5 de Dezembro contra o Flamengo, dia 6 contra o Tijuca, dia 7 contra o Vasco da Gama.


Os três jogos contra os clubes Cariocas disputados em 5, 6 e 7 de Dezembro de 1956. Fonte: Diário de Lisboa.

O primeiro embate contra o Flamengo foi muito condicionado pelo atraso de 20 horas registado na chegada da nossa comitiva ao Rio de Janeiro. Com pouco tempo de recuperação a nossa equipa acabou por ser derrotada por 3-5. Os jornais Brasileiros não deixaram de fazer notar a fadiga dos Benfiquistas mas salientaram a simpatia dos nossos atletas em querer adiar o encontro pelo respeito que lhes merecia os seus anfitriões. Uma atitude de grande carácter e respeito para com o público. À Benfica!

No dia seguinte, dia 6 de Dezembro, os nossos atletas disputaram o segundo embate desta vez contra o Tijuca FC. E vencemos por 5-3 (ver em baixo o detalhe dos jogos). O embate decorreu num ambiente simpático e agradável no ginásio da Tijuca. O público aplaudiu de forma igual tanto os Benfiquistas como os seus atletas. Os resultados mostraram equilíbrio e competitividade:

Ivan Assunção (Tijuca) 2-0 Francisco Campas  (21x17; 21x13)
Carlos Alberto (Tijuca) 2-0 Manuel Carvalho  (21x14; 21x19)
Thex Silva (Tijuca) 0-2 Oliveira Ramos  (7x21; 13x21)
Carlos Alberto (Tijuca) 2-0 Francisco Campas  (21x11; 21x18)
Ivan Assunção (Tijuca) 1-2 Oliveira Ramos  (?x21; 18x21; 13-21)
Thex Silva (Tijuca) 0-2 Manuel Carvalho (17x21; 12-21)
Carlos Alberto (Tijuca) 1-2 Oliveira Ramos  (21x14; 15x21; 20-22)
Thex Silva (Tijuca) 1-2 Fancisco Campas  (15x21; 15-21)



Algumas horas antes, na tarde desse mesmo dia 6 de Dezembro, a nossa comitiva visitou a Prefeitura do Rio de Janeiro. Nessa recepção a nossa equipa teve a oportunidade de oferecer o emblema de ouro do nosso Clube ao Prefeito do Rio de Janeiro, o Sr. Francisco Negrão de Lima.

A comitiva Benfiquista foi também recebida nas instalações do Clube Ginástico Português. Uma recepção sentimental e quase inevitável tendo em conta a importância desta colectividade para a comunidade Lusa no Rio de Janeiro. Aspecto curioso, tratava-se da mesma instituição que 43 anos antes tinha recebido Cosme Damião e seus companheiros durante a famosa digressão da AFL ao Rio de Janeiro.

No dia seguinte terceiro embate, contra o Vasco da Gama, e nova vitória por 5-4. Mais uma demonstração da qualidade da nossa equipa.

Por fim, pela excelente prestação desportiva e pela simpatia que rodeou a presença dos nossos atletas no Rio de Janeiro foi ainda acordada a realização de um quarto embate contra um combinado dos três opositores anteriores. E numa clara demonstração de superioridade, os nossos atletas venceram por 5-2 demonstrando grande superioridade técnica tal como foi salientado pelo jornal Diário da Noite na sua edição de 10 de Dezembro de 1956.



Vitória da equipa de ténis de mesa do SLB contra um combinado Carioca. Fonte: Diário da Noite na sua edição de 10 de Dezembro de 1956


Oliveira Ramos, figura em destaque

Não por acaso o jornal carioca Diário da Noite na sua edição de 14 de Dezembro de 1956 fez um artigo com este nosso (quase crónico) campeão e digno capitão de equipa. E aqui temos alguns elementos biográficos deste imortal Benfiquista. O Basquetebol foi a sua primeira paixão desportiva mas a necessidade de usar óculos obrigou-o ao abandono da modalidade. É possível por isso que ainda tenha jogado no velho campo de Basquetebol nas Amoreira. Iniciou-se depois no pingue-pongue em 1935 com 14 anos e jogando um anos nas terceiras categorias do Benfica passando depois para a primeira categoria. Oliveira Ramos era também um grande adepto de futebol não perdendo um jogo da nossa equipa. Entrevistado no intervalo de um jogo entre o Vasco da Gama e o América, Oliveira Ramos mostrava-se admirado com a grandeza do Maracanã. No Brasil era (é) tudo em escala grande!



Fonte: Diário da Noite, 14 de Dezembro de 1956

Fernando de Oliveira Ramos foi uma grande figura do nosso ténis de mesa.


Fernando de Oliveira Ramos (1921-2011). Fonte: Lusa e Diário da Noite.

Tal como os seus colegas Manuel de Carvalho e Francisco Campas (notavelmente evocado por Alberto Miguéns: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/12/faleceu-um-benfiquista.html e http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/12/so-o-tempo-derrotou-o-campas.html)



A Gloriosa equipa que fez a digressão ao Brasil em 1956. Da esquerda para a direita: Manuel de Carvalho, Francisco Campas e Oliveira Ramos.

Repare-se o nosso brilhante palmarés nesta modalidade e quando ele foi maioritariamente conquistado: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt/2013/06/obrigado-querido-benfica_10.html.


São Paulo

Mas voltando à digressão Brasileira, viriam depois os três embates na cidade de São Paulo contra o Atlético Fazenda Estadual, a Associação Atlética de Santa Helena e por fim o Unidos Clube. Pelos resultados terão sido jogos com maior exigência competitiva dos que os disputados contra os cariocas. Derrotas nos embates contra o Atlético Fazenda Estadual (1-5) e o Unidos Clube (1-5) e vitória contra a Associação Atlética de Santa Helena (5-0). Pelos resultados percebe-se que Oliveira Ramos terá estado em melhor nível do que os seus colegas pois foi o único a marcar vitórias em dois jogos nos embates em que fomos derrotados.


Os três jogos contra os clubes Paulistas disputados em 12, 13 e 14 de Dezembro de 1956. Fonte: Diário de Lisboa.


Belo Horizonte
Em Belo Horizonte a nossa equipa disputaria o seu último embate vencendo, a 16 Dezembro 1956, o Mugiaé por 5-0. Mais uma grande demonstração técnica da nossa equipa.


O único jogo disputado em Belo Horizonte contra o Mugiaé em 15 de Dezembro de 1956. Fonte: Tribuna de Imprensa.


Homenagens e despedidas

De regresso ao Rio de Janeiro e perto da despedida às terras Brasileiras, a nossa delegação foi alvo da homenagem de diversas personalidades e instituições. No dia 17 de Dezembro, o Conselho Nacional de Desportos (CND) do Brasil homenageou a nossa delegação recebeu das mãos do Deputado Federal Sr. Geraldo Starling Soares, presidente do CND, ex-presidente da Federação Carioca de Futebol e futuro Ministro do Tribunal Superior do Trabalho do Brasil.



Homenagem da CND à nossa delegação em 17 de Dezembro de 1956. Fonte: Diário de Noticias (RJ, 18/12/1956).

Viriam por fim as homenagens no dia 19 Dezembro, véspera do regresso. Antes do jantar com que começamos este artigo, a nossa comitiva foi ainda homenageada na embaixada na rua da Real Grandeza com um Porto de Honra patrocinado pelo embaixador de Portugal no Brasil, António Faria no Rio de Janeiro.

No regresso a nossa comitiva deve ter guardado grata memória por estas duas semanas de digressão Brasileira. Foi como se nota pelos registos uma notável e prestigiosa digressão. A qualidade técnica e a postura cívica e amistosa da nossa delegação prestigiaram de forma notável o nome do nosso clube e do nosso País. O Benfica é um Clube grande em todo lado do mundo e no Brasil sabem bem isso. Sabem-no desde o tempo de Cosme Damião e companheiros. Em 1956, Rui de Castro Cadillon, Francisco Campas, Fernando Oliveira Ramos e Manuel Carvalho souberam prestigiar os seus notáveis antecessores. À Benfica!

Infelizmente todos estes Benfiquistas já partiram mas é preciso que os Benfiquistas NUNCA SE ESQUEÇAM destes que foram GRANDES.

Infelizmente na fase final da sua vida o Clube não prestigiou estes Homens como devia. Foi uma vergonha. E se esse facto não pode ser reparado pelo menos nós aqui podemos lembrar e agradecer a sua memória e tanto que deram ao nosso Clube.

Obrigado Rui de Castro Cadillon.
Obrigado Fernando Oliveira Ramos.
Obrigado Francisco José Barreiros Campas.
Obrigado Manuel da Silva Carvalho.