(actualizado) Memorial Benfica, Glórias

Elvis the Pelvis

Grande tópico ednilson, parabéns! :bow2:

Dos enormes jogadores que aqui tens postado, já tive o prazer de acompanhar de muito perto, os enormes Ricardo Gomes, Schwartz, Rui Águas e outros, e sinto uma enorme nostalgia. Essa ultima grande equipa do Benfica (de 1990 a 1994), era fabulosa. Apesar do Rui Águas ter cometido essa traição de trocar o nosso clube pelo fcp, é um jogador que marcou a nossa história. Mas destes ultimos que aqui colocaste, o Ricardo Gomes (pela sua classe, inteligência, etc), e o Schwartz (pela sua classe também, abnegação, garra, etc), estão lá no alto, muitas saudades mesmo. 

.:VMPT:.

Todos tiveram a sua pagina na historia do Benfica....

Só n sei pq continuam a falar tão mal do Nuno Gomes, quando ele por exemplo tem muito melhore números que o Rui Aguas e nunca teve equipas tão boas como o Benfica tinha na era Rui Aguas...

Por isso o seu mérito ainda é maior na minha opinião.... Além de ter tido a oportunidade de ir para o FCP como o Rui Aguas, mas n preferiu-nos....

Eu aconselhava o Nuno Gomes a sair do Benfica, pq o Benfica, ou melhor certos adeptos n o merecem no Benfica, preferem idolatrar quem fez menos de metade e dignificou menos de um terço...

:slb2:

ednilson

Silvino de Almeida Louro. Setúbal. 5 de Março de 1959. Guarda-redes.
Épocas no Benfica: 8 (86/94). Jogos: 259. Títulos: 4 (Campeonato Nacional), 2 (Taça de Portugal) e 1 (Supertaça).
Outros clubes: V. Setúbal, V. Guimarães, FC Porto e Salgueiros. Internacionalizações: 23.




Equipa 1986/1987

Quando o patriarca Manuel Galrinho Bento se lesionou no Mundial do México, em 1986, o pânico quase se instalou nas hostes encarnadas. Desde José Bastos, passando por Costa Pereira e José Henrique, até ao mais internacional guarda-redes benfiquista de sempre, a baliza do Glorioso jamais tinha constituído motivo de apreensão. Exigente tarefa aguardava Silvino, contratado no início da época de 86/87, vindo de Guimarães, depois de ter entrado no pátio da fama pelas paragens da sua Setúbal natal.

Por apodo, Mãozinhas ficou. Doce e diminutiva alcunha essa. Mãozorras ficar-lhe-ia melhor. Ele que era mão-tenente, mão-posta, antítese de mãos-largas. Ou até mão-de-judas, apagador último dos vestígios ofensivos dos adversários. A mãos ambas, entregou-se à empreitada. Em primeira mão, passou incólume, com mãos de ferro, com mãos de mestre. Sem nunca meter os pés pelas mãos, sem nunca ficar fora de mão, mão de rédea exerceu, a mão ao sucesso deu.

Nas quatro primeiras épocas, a concorrência perdeu veleidades. Silvino era o dono das redes. Venceu dois Campeonatos, uma Taça, uma Supertaça ainda. Por duas vezes, participou na final dos Campeões Europeus. À primeira oportunidade, manteve a baliza inviolada durante 120 minutos, mas já não foi capaz de suster seis pontapés da marca de grande penalidade, desferidos por jogadores do PSV. Na segunda, dois anos depois (89/90), o holandês Rijkaard conseguiu desfeiteá-lo, dando o titulo ao Milan. Mesmo assim, teve uma atitude globalmente positiva e os pecados benfiquistas, se os houve, não podem ser assacados à retaguarda.



No segundo ciclo da sua estada na Luz, as coisas não correram já tanto de feição. Laureado foi em mais dois Campeonatos e uma Taça, mas ficou muitos encontros na sombra do ágil Neno, seu principal candidato ao lugar. Só na temporada de 92/93 se aproximou das melhores anotações do passado recente. No termo de 94, na condição de campeão nacional, despediu-se no Bessa por entre lágrimas devido ao já conhecido abandono de Toni e os aplausos pela revalidação do titulo. Apenas esse jogo fez, durante a temporada, jogo merecido, jogo de consagração. Era à época o quarto guarda-redes mais internacional do futebol autóctone, depois de Vítor Baia, Bento e Vítor Damas.

No Benfica, Silvino revelou-se aposta ganha. Na linha dos melhores intérpretes da função no longo historial do clube, irradiou simpatia, conquistou adeptos, cimentou prestigio, na arte de bem defender a baliza.

ednilson

#198
Shéu Han. Inhassoro, Moçambique. 3 de Agosto de 1953. Médio.
Épocas no Benfica: 17 (72/89). Jogos: 488. Golos: 45. Títulos: 9 (Campeonato Nacional), 6 (Taça de Portugal) e 2 (Supertaça).
Outros clubes: SL Beira. Internacionalizações: 24.




Equipa 1974/1975

É bem um caso de veri, vidi, vici, o do menino africano de origem asiática, europeu se fez, por Shéu Han responde. Filho de um pescador, Low Fuck Him, que significa "aquele que nasceu da terra a ela há-de voltar um dia". Paciente como os chineses, harmonioso como os moçambicanos, determinado como os portugueses, de Inhassora viajou até à actualidade, absorvendo um misto de culturas, com denominador comum, a graça do jogo, a magia da bola.

Tinha Shéu seis anos quando foi para a cidade da Beira. Sentia-se sufocado, longe daqueles espaços infindáveis que calcorreava a seu bel-prazer. No colégio sentiu o valor da liberdade, mas as obrigações escolares não o amoleceram. Tornou-se prematuramente maduro, crescendo mais na vida que na idade, ele que já não adormecia nos olhos protectores da mãe.

A "chincha" colou-se-lhe ao destino. Começou por se recriar no a-e-i-o-u do pontapé. Sugeria dotes para a função. Depois, não muito depois, já menos ócio e mais sacerdócio, integrou-se na equipa do Sport Lisboa e Beira, filial moçambicana do Benfica, glosando o posto de extremo-direito e a vocação pelo golo. Não tardou que seleccionado fosse, no Dia do Júnior, para a equipa da Beira, que se bateu perante a congénere de Lourenço Marques. "Como era muitas vezes apanhado na situação de fora-de-jogo, talvez pela ânsia de marcar, o treinador fez-me recuar para a zona central do terreno". Virou médio, naquele instante. Médio seria, até ao termo da carreira.



Se alguma virtude o colonialismo teve, talvez seja possível encontra-la nas frequentes deslocações de cidadão portugueses, socialmente importantes, aos territórios dos subjugados países africanos. Que o diga Shéu, quando foi observado pelo tenente-coronel Manuel da Costa, que logo se rendeu ao seu engenho. Benfiquista de gema, aquele militar abordou a família e a Lisboa comunicou o achado. Corria o ano de 1970. O ano do desembarque de Shéu na então metrópole.

Vivia no Lar, à Baixa só ia por necessidade, que "aquele movimento fazia uma enorme confusão", treinava-se nos escalões juniores do Benfica. Mário Coluna, o eterno capitão, foi o seu primeiro treinador, logo seguido de Ângelo Martins, outra das maiores referências do vermelho-vivo. Disciplinado, atento, colheu ensinamentos preciosos. Não regateou o trabalho, o esforço. Dava gosto vê-lo, sempre aprumado, naquelas milícias jovens, transportando ambição. A primeira consequência, foi o titulo no Campeonato de Lisboa, na categoria júnior, frente ao Sporting, por 2-1, com um golo da sua paternidade. Campeão nacional seria também no mesmo escalão etário.

Na passagem a sénior, o clube não prescindiu dos seus serviços, naquela que foi a sua primeira grande afirmação. Claro que era difícil impor-se, tão abundante se mostrava o quadro de jogadores. Nem por isso se deixou aperrear. A 15 de Outubro de 1972, experimentou o frenesim da estreia na turma de honra, no Barreiro, com José Henrique, Malta da Silva, Humberto Coelho, Rui Rodrigues, Adolfo, Jaime Graça, Toni, Simões, Nené, Eusébio, Artur Jorge e Jordão. O Benfica venceu, por 3-0. Campeão seria. Também Shéu, mercê dessa única aparição, no ano em que "o meu ídolo Eusébio, já com 31 anos, conquistou a sua segunda Bota de Ouro, ao marcar 40 golos". Nas duas temporadas seguintes, mais uma com Hagan e Cabrita, outra com Milorad Pavic, Shéu quase penou, só aparecendo de forma pouco mais que fugaz.



A partir da regência de Mário Wilson, em 75/76, ganhou lugar quase cativo no onze. Assim continuaria durante anos a fio. Sempre discreto, no estilo de pézinhos de lã, era o melhor no combate da eficiência. Tornou-se um centro campista de características defensivas. Lajos Baroti, mestre da FIFA, chegou a dizer que "o Shéu bem merecia vestir a camisola com as insígnias da UEFA". Fez 17 épocas ininterruptas, garantindo nove Campeonatos, seis Taças e duas Supertaças. Participou ainda na final da Taça UEFA, mas o golo que marcou perante o Anderlecht, na Luz, revelou-se insuficiente para o triunfo sorrir ao Benfica. E, com a braçadeira de capitão, subiu ao palco do Neckarstadion, em Estugarda, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, ganha pelo PSV, após aquele famigerado remate de Veloso da marca dos 11 metros. Internacional foi ainda por 24 ocasiões, com dois golos no bornal.

Figura incontornável do Benfica, com low profile, Shéu fixou-se no clube até à actualidade, no desempenho dos mais diferentes cargos. Fixou-se também, como se de verdadeiro general se tratasse, na galeria dos notáveis do exército vermelho.


VitorPaneira7

Grande Shéu han  :bow2: . um tio meu de moçambique que foi defesa esquerdo no SL Beira ainda jogou com ele.

SHÉU QUEM É NATURAL NÃO TREME  :slb2:

VanBasten

Grande Sheu...há uns anos encontrei-o em Albufeira...sempre educado, sem tiques de vedeta, lá acedeu autografar-me um exemplar d'A Bola...Sheu é Benfica.

Elvis the Pelvis

O Shéu é uma grande figura da história do Benfica. Para além do grande jogador que foi, parece ser uma pessoa extremamente simpática e educada, e isso só abona em seu favor.

ednilson

António Simões Costa. Corroios. 14 de Dezembro de 1943. Avançado.
Épocas no Benfica: 14 (61/75). Jogos: 448. Golos: 70. Títulos: 10 (Campeonato Nacional), 5 (Taça de Portugal) e 1 (Taça dos Campeões).
Outros clubes: Estoril, Bóston Minutemen, San José Earthquakes e Dallas Tornado.
Internacionalizações: 46.




Equipa 1961/1962

Quem diria que um jogador de futebol, pelas suas qualidade intrínsecas, a tantos heróis de banda desenhada pudesse ser comparado? Quem? Simões, António Simões, o genial extremo-esquerdo, que emergiu no começo da década de 60 e até meados da seguinte pontificou no Benfica. Ele era o Rato Mickey, na sua principal alcunha, imagem da agilidade em corpo minguado. Ele poderia ser o Speedy Gonzalez, conceito de rapidez, de velocidade. Ele poderia ser também o Astérix, noção de combatente, de indomável. Ele poderia ser ainda o Lucky Luck, ideal de oportunidade, de precisão. E porque parecia driblar mais rápido que a própria sombra, ele só poderia ser o nosso Simões. Que ao poema chamava finta.

Deu os primeiros passos na casa de pasto do pai, em Corroios, sem acompanhado por Amílcar, o irmão gémeo. Também por lá, um e outro ouviram as primeiras das depois recorrentes invectivas. O futebol jamais daria sustento, advogavam os pais, assim com quem água deita ao fogo da paixão. Aos 14 anos, já sem os carinhos e as censuras do progenitor, o Almada insistiu com a viúva, a D. Palmira, para que os jovens se inscrevessem nas fileiras do clube. Ao projectar dois sorrisos de orelha a orelha, a mãe permissão deu. Mesmo assim, António começou a trabalhar numa empresa de máquinas de escrever, enquanto Amílcar tão-pouco ingressou no Almada, optando pelos estudos, ele que mais tarde atravessaria o Atlântico, fixando-se no Brasil, no negócio livreiro.



Pouco tempo depois, o Belenenses haveria de convidar António Simões. Prometeram-lhe 15 escudos por treino, depois dos primeiros testes em Belém, mas os dirigentes do seu clube fizeram abortar a transferência ao exigirem compensação de 50 contos. Apareceu o Sporting, com a oferta de 750 escudos mensais. Passou a treinar-se em Alvalade, embora ao domingo actuasse pelo Almada, que a época ainda não havia terminado e o dinheiro também não chegara à margem esquerda do Tejo.

Num desses jogos, o experiente Fernando Caiado foi ao Montijo. A intenção era observar Jorge e Moreira, mas os olhos derreteram-se-lhe com a exibição do miúdo António. O Benfica investiu célere. A Corroios chegaria um cheque de cinco mil escudos para Simões, outro de meia centena de contos para o Almada.

Começou pelos juniores, no começo de uma arrancada fulgurante. Ainda em 1960, jogou por Portugal, em Viena, terceiro classificado seria no então Torneio Internacional da UEFA, uma espécie de Campeonato Europeu. No ano imediato, debutava José Maria Pedroto como treinador, Simões venceu o troféu, em Lisboa, numa altura em que Guttmann o havia já chamado para trabalhar com os seniores.

De repente, tinha o mundo a seus pés. Campeão nacional e europeu se fez, titularidade garantida, passou a ser peça obrigatória no xadrez encarnado. Tinha um futebol virtuoso. Amava o drible. Actuava sempre com rapidez, versatilidade e alegria. Roçava a perfeição. Parecia gnomo contra titã. "Às vezes trocava os pés e até os dedos no auge do esforço", confessava. Era verdade.



Momentos de volúpia foram mais que muitos. Sempre a serpentear pelos campos, ao longo de 14 anos no Benfica, coleccionou dez Campeonatos, cinco Taças de Portugal e uma dos Campeões Europeus. Rico palmarés esse, a que se soma o terceiro lugar no Mundial de Inglaterra. Sem pasmo que "Simões é, sem discussão também, o melhor extremo-esquerdo da Europa". O panegírico foi da autoria de Hermann Eppenhoff, treinador do Borússia de Dortmund. Tinha Simões 20 anos.

Em 1966, a campanha dos Magriços teve muito de Eusébio, mas dele também. De resto, ambos marcaram naquele alucinante jogo frente ao campeão Brasil de Pele. Ironicamente, o golo de Simões, que abriu o marcador, foi apontado com a cabeça. "Quando o Manga, guarda-redes brasileiro, de lágrimas nos olhos, me veio felicitar, mal a partida terminou, só sei que não consegui olhar para aquele gigante que estava a cumprimentar-me, depois de eu, quase um anão ao pé dele, lhe ter marcado um golo de cabeça". A mão, essa, estendeu; os olhos projectou no relvado.

O know-how de Simões foi, por mais do que uma ocasião, de grande utilidade para o Benfica. No clube assumiu o cargo de director desportivo. Simões e Benfica merecem-se. O Benfica lançou Simões. Simões projectou o Benfica. Em muitas das mais belas liturgias de cem anos de memórias.

Corrosivo

Shéu - 38 anos consecutivos de serviço prestados ao Sport Lisboa e Benfica.

ès grande

ednilson

#205
Glenn Stromberg. Gotemburgo, Suécia. 5 de Janeiro de 1960. Médio.
Épocas no Benfica: 2 (82/84). Jogos: 44. Golos: 6. Títulos: 2 (Campeonato Nacional) e 1 (Taça de Portugal).
Outros clubes: Gotemburgo e Atalanta. Internacionalizações: Suécia.




Equipa 1983/1984

Tinha pressa, muita pressa, sempre pressa, mas não perdia a graciosidade. Era pressa de lutador, pressa de indomável, como a pressa dos vikings, seus antepassados. E depressa se afirmou na pressa das vitórias, na pressa dos títulos. Ainda à pressa, saiu do Benfica, ele que tão depressa conquistou dois Campeonatos e uma Taça. Tudo na pressa de apenas dois anos.

Longa cabeleira amarela ao vento, no alto dos seus quase um metro e 90, Stromberg destacava-se pelo sentido estético. Ora a defender, ora a atacar. Um nórdico recauchetado, com arte, com perfume de odor quente. "Foi dos jogadores que mais me entusiasmaram", revela Fernando Chalana, assinado gabo que nenhum amante do oficio enjeitaria receber. De olhar profundo, agressivo era, tinha mesmo instinto assassino. Pernalta, varria a zona de jurisdição com indisfarçável egoísmo. Era Stromberg, a panaceia do miolo encarnado.

Com o compatriota Eriksson, chegou ao Benfica ia já a mais de meio a temporada de 82/83. O clube sufocava de ambição, na perspectiva de recuperar o titulo nacional e de brindar com a excelência do seu futebol os melhores palcos europeus. Juntou-se a Bento, a Humberto, a Carlos Manuel, a Alves, a Nené, a Chalana. A uma equipa na esteia das melhores de 60 e do principio de 70. Uma delicia de colectivo, ademais superiormente regido. Que chegou à final da Taça UEFA, frente ao Anderlecht, após imperial trajecto. Soçobrou em glória, que o mesmo é dizer, no derradeiro fôlego.



Na época seguinte, Stromberg revalidou o titulo e juntou-lhe uma Taça de Portugal, ganha à custa do FC Porto. Pela primeira vez, uma final disputava-se na temporada seguinte à da sua calendarização inicial. Tudo porque a teimosia do FC Porto era não abrir mão das Antas. Nas Antas foi. O Benfica venceu. Carlos Manuel marcou, Stromberg deslumbrou.

O belo edifício ruiu. Eriksson avançou para Itália, seduzido pelas liras de um contrato faraó. Chalana, em alta, rumou ao Bordéus. Stromberg decidiu-se, à semelhança do treinador, pelas paragens italianas, pela Atalanta. Trocavam-se jogadores por cimento, no fecho do Terceiro Anel da velha e majestática Luz. Sinal dos tempos. Tempos que consagraram Stromberg. Um autêntico glutão. Dois anos, dois títulos de campeão nacional. E o abandono. Depressa de mais.


ednilson

Joaquim Teixeira. Horta, Açores. 18 de Março de 1917. Avançado.
Épocas no Benfica: 7 (39/46). Jogos: 171. Golos: 119. Títulos: 3 (Campeonato Nacional) e 3 (Taça de Portugal).
Outros clubes: Angústias, Vitória Guimarães, Elvas e Almada. Internacionalizações: 1.




Equipa 1941/1942

No século XX, o ano de 1917 encerra um significado especial. Foi, a nível externo, a revolução russa, dirigida por Lenine. Foi, internamente, a aparição de Fátima, na jura de Jacinta, Francisco e Lúcia, os mais célebres pastores da história da pátria. E foi também, por mera coincidência, o ano do nascimento de Joaquim Teixeira, duas décadas depois goleador afamado do Sport Lisboa e Benfica. Aquele que seria o primeiro açoriano a envergar o uniforme da Selecção Nacional.

Permaneceu sete temporadas no clube. Garantiu três Campeonatos, o mesmo número de Taças de Portugal. Pertenceu, no Benfica, a uma geração com inegável poder de fogo. Ele era Espírito Santo, era Arsénio, era Julinho, era Valadas, era Rogério. Eram avançados do tempo, avançados de todos os tempos. Jogadores de eleição, tão raros, tão raros, como raro era também Joaquim Teixeira. Todos juntos, em jogos oficiais, fizeram 1056 golos (!) no Benfica.

Viviam-se os tempos do futebol romântico, do futebol atacante. A acção defensiva não era, como agora é, tão meritória quanto a ofensiva. O que valia mesmo era jogar para a frente. Quase só para a frente. O prazer do peão era o golo, eram os golos. Pediam-se, exigiam-se. Sem golos não havia futebol, havia outra coisa qualquer. Dificilmente se verificava um nulo, esse resultado abjecto, verberado, antiespectáculo.



Joaquim Teixeira fez 171 jogos oficiais pelo Benfica, assinando 119 tentos. Tinha expressão individual, tinha também a noção do colectivo. Tinha embalo, tinha codícia. Sabia fugir às marcações, era preciso nos passes, fatal nos remates. Na sua primeira época (39/40), após percurso invicto, venceu o Campeonato de Lisboa, mas perdeu o Nacional, ganho pelo FC Porto. Curiosamente, os portistas haviam ficado em terceiro lugar na competição distrital do Porto e, por consequência, não lhes era permitido disputar a mais importante das provas. Nos gabinetes do poder, em Lisboa, por ironia, foi engendrada uma solução, a do alargamento, para o FC Porto incluir. E ainda se queixam de descriminação. Dá para rir...

Na temporada seguinte, em vez de dez, de novo oito clubes, que já não fazia sentido manter o Nacional alargado. Venceu o Sporting, mas o fim do jejum estava à distância de um ano. Do sucesso, plural o Benfica fez (41/42 e 42/43). Actuava já no recém-inaugurado reduto do Campo Grande, com o magiar Janos Biri na liderança técnica. Joaquim Teixeira foi quase totalista.

Abandonou o clube no ano em que o Belenenses conquistou o seu único Campeonato. Mesmo assim, em sete jogos fez sete golos. Teixeira foi, seguramente, no Benfica, um dos mais emblemáticos intérpretes do idioma golo.

ednilson

#208
Jonas Magnus Thern. Falkoping, Suécia. 20 de Março de 1967. Médio.
Épocas no Benfica: 3 (89/92). Jogos: 101. Golos: 10. Títulos: 1 (Campeonato Nacional) e 1 (Supertaça).
Outros clubes: Malmoe, Zurique, Nápoles, Roma e Rangers. Internacionalizações: Suécia.




Equipa 1991/1992

Tempos houve em que a Suécia era uma espécie de segunda pátria do Benfica. A influência de Sven-Goran Eriksson, a sua erudição, o alto rendimento dos jogadores que apadrinhou no clube, numa torrente iniciada com Stromberg, transformaram aquele país do Norte da Europa numa referência obrigatória para a nação benfiquista. Na época de 89/90, a par de Magnusson, a equipa recepcionou Jonas Thern, um centrocampista de 21 anos, internacional sueco. À Luz se fez com uma miríade de sonhos.

Depressa virou menino-bonito da plateia. No seu jeito grave, excitante. O ímpeto e o fôlego eram as melhores vias de acesso ao diploma da fama. Até porque com Jonas Thern o jogo era coisa sagrada. Tinha no bolso a chave da fortaleza, mas também o plano de ataque ao território adversário.

O meio-campo do Benfica dependia em larga medida do jogador sueco. Mesmo com Valdo. Mesmo com Rui Costa. Mesmo com Kulkov ou Paulo Sousa. Na primeira época, fez o pleno até à chegada a Viena, palco da final da Taça dos Campeões. Perdeu o titulo europeu, é certo, mas frente ao AC Milan, à época a melhor esquadra mundial. Na segunda temporada, conquistou o titulo português, num dramático mano-a-mano com o FC Porto e um espectacular triunfo nas Antas. À terceira jejuou, mas 42 jogos dão bem conta de quão imprescindível era.



Foras três anos rápidos, demasiados rápidos. Sempre na liça, sempre também na equipa nacional sueca. Rumou a Itália, a troco de muitas liras, estabelecendo-se durante cinco temporadas, primeiro no Nápoles e depois na defesa de um dos dois mais representativos emblemas romanos, a AS Roma. Em 1999, no Glasgow Rangers, ao lado de Paul Gascoine e Brian Laudrup, foi forçado a renunciar, após intricada lesão.

No flashback benfiquista, o nome de Jonas Thern surge com naturalidade absoluta. Entrou a sonhar, bebeu saber na fonte da Luz, saiu no patamar maior da consideração colectiva.

ednilson

António José Conceição Oliveira. Mogofores. 14 de Outubro de 1946. Médio.
Épocas no Benfica: 13 (68/81). Jogos: 395. Golos: 24. Títulos: 8 (Campeonato Nacional), 4 (Taça de Portugal) e 1 (Supertaça).
Outros clubes: Académica, Las Vegas Quick Silver. Internacionalizações: 33
Treinador do Benfica entre 1987 e 1989, 1992 e 1994, 2000 e 2002 (conquistou dois títulos nacionais e venceu uma Taça de Portugal).




Equipa 1978/1979

Os mais arreigados militantes da causa sustentam, como Artur Semedo, que "o Benfica é uma religião". Culto esse, anos a fio, praticado por Toni, que mal se deu quase sempre por outras paragens. Ele que fez parte da sua formação no Instituto Salesiano, que se derretia perante as aptidões de Matateu e do Belenenses, que sonhava com a advocacia. Outra causa abraçou, o futebol e, no caso vertente, o seu Benfica, "com orgulho muito seu".

Da equipa dos Salesianos passou para o Anadia. Em 63, num jogo como vitória sobre a Académica (3-0), fez uma exibição todo-o-terreno, esclarecedora e vibrante. Já com Mário Wilson na cidade dos doutores, transferiu-se, depois da aquiescência do pai Ventura, a troco da promessa de lhe pagarem os estudos. Os deuses da fortuna estavam como ele e quando "o Gervásio foi atacado de febre tifóide, fui chamado à equipa que jogou a final da Taça com o Setúbal. Destaquei-me, sobretudo pela minha grande capacidade física. Foi um desafio dramático, com dois prolongamentos sofridos, e já era noite quando o Jacinto João, depois do Rocha ter atirado à barra, marcou o golo que nos levou a Taça".

A 9 de Junho de 1968, o Jornal "A Bola" fazia manchete com o ingresso de Toni na Luz, por 1305 contos de rei. Viviam-se os tempos de "Fátima, Benfica e Fado". Rodeado de estrelas, o Craque Saloio, como passou a ser conhecido, experimentou algumas dificuldades para se impor. Mesmo assim, episodicamente, lá ia assinando o ponto.



Batia-se bem, revelava-se proficiente. Refulgia na intermediária, com a cadência de um relógio de hora certa, sobretudo valorizava a força do pulmão, num jeito alegre, contagiante, abnegado, jamais precisou fazer mea culpa. Marcou uma geração de ouro no carrossel das vitórias encarnadas.

No tempo da equipa-maravilha do inicio dos anos 70, ficou ligado à saída do britânico Jimmy Hagan. Involuntariamente. No dia da festa de Eusébio, com Humberto e Nélinho, foi proscrito da convocatória, que o exigente britânico não transigia com faltas de disciplina, menores elas fossem. Afinal, os três jogadores haviam apenas negligenciado um mero exercício físico. Tentativas houve de reconciliação. Inflexível foi Hagan. Borges Coutinho ordenou que os jogadores participassem "na festa do amigo e do ídolo". Desautorizado, o inglês partiu para sempre.

A bonomia sempre foi uma das suas características, um lado humano fascinante. No termo da década de 70, num jogo com o FC Porto, disputado nos rigores do Inverno, partiu uma perna ao portista Marco Aurélio. Sem querer. Inviperou-se com a desgraça. Caíram-lhe lágrimas de uma dor patente. Até o resultado da contenda subestimou.

O apego à justiça, o amor pelo colectivo, fizeram de Toni um lutador. Nos dias da democracia-bebé, dedicou-se às lutas sindicais, pelo fim da abjecta lei de opção dos futebolistas. Viviam-se tempos em que os atletas necessitavam até de autorização das directorias para se... casarem. Campeão também nesse combate contra o futebol-escravidão acabava por ser.



Dos outros títulos reza a história. Oito Campeonatos Nacionais, quatro Taças e uma Supertaça. Anos a fio capitão de equipa, líder se afirmou, com simplicidade, com a naturalidade dos grandes homens. A Selecção Nacional também o chamou, ao todo 33 vezes. Jogou a Minicopa no Brasil. Mas, tal como Humberto Coelho, João Alves ou Artur Jorge, não interveio em nenhuma fase final de uma grande competição. É o seu maior azedume.

Despediu-se dos relvados no dia 24 de Maio de 1981. Com o Vitória de Setúbal. E com a correspondente faixa do titulo. Pouco mais tarde, era convidado para treinador-adjunto. Com Eriksson. Com outros depois. Intocável, que a lealdade era das suas principais virtudes. Até que chegou a técnico principal, transformando-se, historicamente, no único campeão, na dupla tarefa de jogador e treinador, da longa caminhada benfiquista.

Campeão europeu poderia ter sido. Ficou a um pontapé de distância. O pontapé fatídico de Veloso, na final de Estugarda, em 1988. Foi o último técnico ganhador no Benfica. As gigantescas bancadas da velha Luz tributaram-lhe o justo e prolongada aplauso. Era gente feliz com lágrimas. Já se sabia que para o seu cargo estava apalavrado Artur Jorge. Só não se sabia que era o inicio da mais prolongada hibernação competitiva do Benfica.

António Mega Ferreira, notável escritor, bem poderá ter assinado o melhor elogio, ao passar a letra de forma que "foi com homens como Toni que se fez o Glorioso".