Robert Enke

Guarda-redes, (1977-08-24 - 2009-11-10),
Alemanha
Equipa Principal: 3 épocas (1999-2002), 93 jogos (8304 minutos), 0 golos

KKK24

Tenho a certeza que seria muito feliz na sua casa com vista para o palácio da pena :cry2:

RedVC

Que descanse em paz.

ana_lopes2009


Miguel23xxx


Dennis_Bergkamp

Alguém sabe onde consigo arranjar a primeira parte deste documentário sobre o Enke?
Lembro-me de ter visto isto há uns anos mas agora não encontro em lado nenhum na net...

https://fb.watch/dG5v3ouZBx/

bnfc

#4295
Sempre me pareceu uma pessoa espectacular. Só cá esteve 3 anos, mas ao fim de pouco tempo já falava um português bem decente. Foi sempre 100% profissional, com aquela formalidade algo típica dos alemães, algo reservado mas sempre cordial e afável. Quando o jogo parava, por vezes ia a uma mochila que guardava atrás da baliza e comia uma banana. Vi-o fazer isso algumas vezes.

E era um grande GR. Quando chegou, muitos acharam que seria o suplente do Bossio, mas ao fim do primeiro jogo já se sabia o que estava ali. Muito ágil e com uns reflexos fantásticos. Os primeiros tempos de Barcelona não lhe correram bem. Cometeu alguns erros nos primeiros jogos que fez e isso afectou-o bastante. A imprensa e mesmo os adeptos também foram bastante duros. Depois aconteceu aquilo com a sua filha, já ele tinha regressado à Alemanha. Chegou, mesmo assim, à selecção nacional e isso demonstra bem a qualidade que tinha.

Por vezes, gosto de pensar no que poderia ter acontecido se tivesse ficado. Já não teria passado pelo que passou em Barcelona. A nascer um filho ou uma filha, já não seria a mesma pessoa e possivelmente já não teria o mesmo problema cardíaco. Mesmo que ele pudesse, certamente não aceitaria voltar atrás; aquela filha era insubstituível; não queria outra filha saudável, queria aquela. Mas se tudo tem sido diferente desde o início, esta questão nem se colocaria. Podia ter sido feliz. Mesmo que tivesse outros tormentos, estes dificilmente teriam conduzido ao mesmo desfecho.

As coisas não deviam ter sido assim. Lamento muito o que lhe aconteceu. E lamento muito o que aconteceu e continua a acontecer a quem sente a sua falta todos os dias.


Festivus

Citação de: bnfc em 17 de Julho de 2022, 02:12
Sempre me pareceu uma pessoa espectacular. Só cá esteve 3 anos, mas ao fim de pouco tempo já falava um português bem decente. Foi sempre 100% profissional, com aquela formalidade algo típica dos alemães, algo reservado mas sempre cordial e afável. Quando o jogo parava, por vezes ia a uma mochila que guardava atrás da baliza e comia uma banana. Vi-o fazer isso algumas vezes.

E era um grande GR. Quando chegou, muitos acharam que seria o suplente do Bossio, mas ao fim do primeiro jogo já se sabia o que estava ali. Muito ágil e com uns reflexos fantásticos. Os primeiros tempos de Barcelona não lhe correram bem. Cometeu alguns erros nos primeiros jogos que fez e isso afectou-o bastante. A imprensa e mesmo os adeptos também foram bastante duros. Depois aconteceu aquilo com a sua filha, já ele tinha regressado à Alemanha. Chegou, mesmo assim, à selecção nacional e isso demonstra bem a qualidade que tinha.

Por vezes, gosto de pensar no que poderia ter acontecido se tivesse ficado. Já não teria passado pelo que passou em Barcelona. A nascer um filho ou uma filha, já não seria a mesma pessoa e possivelmente já não teria o mesmo problema cardíaco. Mesmo que ele pudesse, certamente não aceitaria voltar atrás; aquela filha era insubstituível; não queria outra filha saudável, queria aquela. Mas se tudo tem sido diferente desde o início, esta questão nem se colocaria. Podia ter sido feliz. Mesmo que tivesse outros tormentos, estes dificilmente teriam conduzido ao mesmo desfecho.

As coisas não deviam ter acontecido assim. Lamento muito o que lhe aconteceu. E lamento muito o que aconteceu e continua a acontecer a quem sente a sua falta todos os dias.


Penso que o Enke, um par de anos ou assim antes de morrer, disse numa entrevista que não se importaria de voltar ao Benfica um dia para acabar a carreira. Acho que teria sido bem aceite pela maioria dos adeptos.

A notícia do suicídio dele obviamente que apanhou toda a gente desprevenida, mas eu era jovem na altura e foquei-me mais no falecimento dele do que nas causas que o levaram a cometer suicídio.

Hoje em dia, estando eu a passar por uma depressão crónica há já alguns anos, vejo a morte dele de uma maneira algo diferente. Sinto ainda mais pena e frustração, porque só mesmo quem passa por depressões consegue entender o quão difícil é combatê-las. Hoje em dia sou mais sensível em relação a esse tipo de coisas. Tal como fiquei triste quando soube do Anthony Bourdain há uns anos, por exemplo. E depois fiquei a saber que ele também tinha passado por uma depressão no passado e que tinha tido um passado de consumo de drogas.

Tanto o Enke como o Bourdain não seriam pessoas que passavam fome nem eram pessoas com maus empregos. Mas obviamente que isso não chega para uma pessoa ser feliz. No caso do Enke, tinha perdido um dos seus filhos. Qualquer pai que tenha perdido um filho vos dirá que é uma dor que nunca se supera. A pior perda que se pode ter na vida.

Este tipo de tragédias fazem uma pessoa reflectir. O que é realmente importante nesta vida?

humbug_1904

Citação de: Festivus em 17 de Julho de 2022, 02:21
Citação de: bnfc em 17 de Julho de 2022, 02:12
Sempre me pareceu uma pessoa espectacular. Só cá esteve 3 anos, mas ao fim de pouco tempo já falava um português bem decente. Foi sempre 100% profissional, com aquela formalidade algo típica dos alemães, algo reservado mas sempre cordial e afável. Quando o jogo parava, por vezes ia a uma mochila que guardava atrás da baliza e comia uma banana. Vi-o fazer isso algumas vezes.

E era um grande GR. Quando chegou, muitos acharam que seria o suplente do Bossio, mas ao fim do primeiro jogo já se sabia o que estava ali. Muito ágil e com uns reflexos fantásticos. Os primeiros tempos de Barcelona não lhe correram bem. Cometeu alguns erros nos primeiros jogos que fez e isso afectou-o bastante. A imprensa e mesmo os adeptos também foram bastante duros. Depois aconteceu aquilo com a sua filha, já ele tinha regressado à Alemanha. Chegou, mesmo assim, à selecção nacional e isso demonstra bem a qualidade que tinha.

Por vezes, gosto de pensar no que poderia ter acontecido se tivesse ficado. Já não teria passado pelo que passou em Barcelona. A nascer um filho ou uma filha, já não seria a mesma pessoa e possivelmente já não teria o mesmo problema cardíaco. Mesmo que ele pudesse, certamente não aceitaria voltar atrás; aquela filha era insubstituível; não queria outra filha saudável, queria aquela. Mas se tudo tem sido diferente desde o início, esta questão nem se colocaria. Podia ter sido feliz. Mesmo que tivesse outros tormentos, estes dificilmente teriam conduzido ao mesmo desfecho.

As coisas não deviam ter acontecido assim. Lamento muito o que lhe aconteceu. E lamento muito o que aconteceu e continua a acontecer a quem sente a sua falta todos os dias.


Penso que o Enke, um par de anos ou assim antes de morrer, disse numa entrevista que não se importaria de voltar ao Benfica um dia para acabar a carreira. Acho que teria sido bem aceite pela maioria dos adeptos.

A notícia do suicídio dele obviamente que apanhou toda a gente desprevenida, mas eu era jovem na altura e foquei-me mais no falecimento dele do que nas causas que o levaram a cometer suicídio.

Hoje em dia, estando eu a passar por uma depressão crónica há já alguns anos, vejo a morte dele de uma maneira algo diferente. Sinto ainda mais pena e frustração, porque só mesmo quem passa por depressões consegue entender o quão difícil é combatê-las. Hoje em dia sou mais sensível em relação a esse tipo de coisas. Tal como fiquei triste quando soube do Anthony Bourdain há uns anos, por exemplo. E depois fiquei a saber que ele também tinha passado por uma depressão no passado e que tinha tido um passado de consumo de drogas.

Tanto o Enke como o Bourdain não seriam pessoas que passavam fome nem eram pessoas com maus empregos. Mas obviamente que isso não chega para uma pessoa ser feliz. No caso do Enke, tinha perdido um dos seus filhos. Qualquer pai que tenha perdido um filho vos dirá que é uma dor que nunca se supera. A pior perda que se pode ter na vida.

Este tipo de tragédias fazem uma pessoa reflectir. O que é realmente importante nesta vida?
Com a minha idade já não apanhei o Enke. Mas revi epocas do Vietname e o Enke é dos jogadores que me "lembro" mais se pensar nesses anos.

Não apanhei o Enke mas apanhei depressão na minha família na minha infância, felizmente hoje essa pessoa vive dias muitos melhores, mas foi e ainda é a coisa mais traumatizante da minha infância. Ver uma pessoa que adoras e que admiras fechar-se ao mundo e sem poderes fazer nada, muito menos eu que tinha uma compreensão da situação limitada.

É triste e preocupante hoje em dia ver que ainda há pessoas que não levam a sério as depressões e o resto das doenças mentais que passam mais "despercebidas", quando uma celebridade mata-se depois de uma depressão o mundo todo une-se e faz aquele momento "temos de refletir muito e mudar a sociedade", mas passado uma semana já toda a gente se esqueceu e nada foi feito para aumentar a awareness

A ti não tenho muito a dizer que já não te devem ter dito, mas força nisso. Melhores dias chegarão.  :amigo:

Festivus

Citação de: humbug_1904 em 17 de Julho de 2022, 02:32
Citação de: Festivus em 17 de Julho de 2022, 02:21
Citação de: bnfc em 17 de Julho de 2022, 02:12
Sempre me pareceu uma pessoa espectacular. Só cá esteve 3 anos, mas ao fim de pouco tempo já falava um português bem decente. Foi sempre 100% profissional, com aquela formalidade algo típica dos alemães, algo reservado mas sempre cordial e afável. Quando o jogo parava, por vezes ia a uma mochila que guardava atrás da baliza e comia uma banana. Vi-o fazer isso algumas vezes.

E era um grande GR. Quando chegou, muitos acharam que seria o suplente do Bossio, mas ao fim do primeiro jogo já se sabia o que estava ali. Muito ágil e com uns reflexos fantásticos. Os primeiros tempos de Barcelona não lhe correram bem. Cometeu alguns erros nos primeiros jogos que fez e isso afectou-o bastante. A imprensa e mesmo os adeptos também foram bastante duros. Depois aconteceu aquilo com a sua filha, já ele tinha regressado à Alemanha. Chegou, mesmo assim, à selecção nacional e isso demonstra bem a qualidade que tinha.

Por vezes, gosto de pensar no que poderia ter acontecido se tivesse ficado. Já não teria passado pelo que passou em Barcelona. A nascer um filho ou uma filha, já não seria a mesma pessoa e possivelmente já não teria o mesmo problema cardíaco. Mesmo que ele pudesse, certamente não aceitaria voltar atrás; aquela filha era insubstituível; não queria outra filha saudável, queria aquela. Mas se tudo tem sido diferente desde o início, esta questão nem se colocaria. Podia ter sido feliz. Mesmo que tivesse outros tormentos, estes dificilmente teriam conduzido ao mesmo desfecho.

As coisas não deviam ter acontecido assim. Lamento muito o que lhe aconteceu. E lamento muito o que aconteceu e continua a acontecer a quem sente a sua falta todos os dias.


Penso que o Enke, um par de anos ou assim antes de morrer, disse numa entrevista que não se importaria de voltar ao Benfica um dia para acabar a carreira. Acho que teria sido bem aceite pela maioria dos adeptos.

A notícia do suicídio dele obviamente que apanhou toda a gente desprevenida, mas eu era jovem na altura e foquei-me mais no falecimento dele do que nas causas que o levaram a cometer suicídio.

Hoje em dia, estando eu a passar por uma depressão crónica há já alguns anos, vejo a morte dele de uma maneira algo diferente. Sinto ainda mais pena e frustração, porque só mesmo quem passa por depressões consegue entender o quão difícil é combatê-las. Hoje em dia sou mais sensível em relação a esse tipo de coisas. Tal como fiquei triste quando soube do Anthony Bourdain há uns anos, por exemplo. E depois fiquei a saber que ele também tinha passado por uma depressão no passado e que tinha tido um passado de consumo de drogas.

Tanto o Enke como o Bourdain não seriam pessoas que passavam fome nem eram pessoas com maus empregos. Mas obviamente que isso não chega para uma pessoa ser feliz. No caso do Enke, tinha perdido um dos seus filhos. Qualquer pai que tenha perdido um filho vos dirá que é uma dor que nunca se supera. A pior perda que se pode ter na vida.

Este tipo de tragédias fazem uma pessoa reflectir. O que é realmente importante nesta vida?
Com a minha idade já não apanhei o Enke. Mas revi epocas do Vietname e o Enke é dos jogadores que me "lembro" mais se pensar nesses anos.

Não apanhei o Enke mas apanhei depressão na minha família na minha infância, felizmente hoje essa pessoa vive dias muitos melhores, mas foi e ainda é a coisa mais traumatizante da minha infância. Ver uma pessoa que adoras e que admiras fechar-se ao mundo e sem poderes fazer nada, muito menos eu que tinha uma compreensão da situação limitada.

É triste e preocupante hoje em dia ver que ainda há pessoas que não levam a sério as depressões e o resto das doenças mentais que passam mais "despercebidas", quando uma celebridade mata-se depois de uma depressão o mundo todo une-se e faz aquele momento "temos de refletir muito e mudar a sociedade", mas passado uma semana já toda a gente se esqueceu e nada foi feito para aumentar a awareness

A ti não tenho muito a dizer que já não te devem ter dito, mas força nisso. Melhores dias chegarão.  :amigo:
Ja foi pior. Muito se tem evoluído neste século. Não era como há uns 20-30 anos em que irá ao psiquiatra era "coisa de malucos".

As pessoas também hoje em dia estão melhor informadas e conseguem identificar os sinais e sabem quando devem ir ao médico para ver o que se passa. Já não é tabu como dantes.

Isto no mundo Ocidental atenção. Nos países em desenvolvimento e até mesmo em países desenvolvidos como o Japão ou a Coreia ainda existe um bocado esse tabu. Tal como em alguns países de Leste Europeu ainda.

Não é à toa que paises dessas regiões mais alguns países africanos se encontrem no top 20 dos países com taxas de suicídio mais elevadas. As pessoas não procuram ajuda e acabam por não se tratar. Eventualmente isso leva-as a cometerem um acto que poderia muito bem ser evitado se tivessem conseguido arranjar ajuda e tratamento a tempo uns anos antes.

humbug_1904

Citação de: Festivus em 17 de Julho de 2022, 02:38
Citação de: humbug_1904 em 17 de Julho de 2022, 02:32
Citação de: Festivus em 17 de Julho de 2022, 02:21
Citação de: bnfc em 17 de Julho de 2022, 02:12
Sempre me pareceu uma pessoa espectacular. Só cá esteve 3 anos, mas ao fim de pouco tempo já falava um português bem decente. Foi sempre 100% profissional, com aquela formalidade algo típica dos alemães, algo reservado mas sempre cordial e afável. Quando o jogo parava, por vezes ia a uma mochila que guardava atrás da baliza e comia uma banana. Vi-o fazer isso algumas vezes.

E era um grande GR. Quando chegou, muitos acharam que seria o suplente do Bossio, mas ao fim do primeiro jogo já se sabia o que estava ali. Muito ágil e com uns reflexos fantásticos. Os primeiros tempos de Barcelona não lhe correram bem. Cometeu alguns erros nos primeiros jogos que fez e isso afectou-o bastante. A imprensa e mesmo os adeptos também foram bastante duros. Depois aconteceu aquilo com a sua filha, já ele tinha regressado à Alemanha. Chegou, mesmo assim, à selecção nacional e isso demonstra bem a qualidade que tinha.

Por vezes, gosto de pensar no que poderia ter acontecido se tivesse ficado. Já não teria passado pelo que passou em Barcelona. A nascer um filho ou uma filha, já não seria a mesma pessoa e possivelmente já não teria o mesmo problema cardíaco. Mesmo que ele pudesse, certamente não aceitaria voltar atrás; aquela filha era insubstituível; não queria outra filha saudável, queria aquela. Mas se tudo tem sido diferente desde o início, esta questão nem se colocaria. Podia ter sido feliz. Mesmo que tivesse outros tormentos, estes dificilmente teriam conduzido ao mesmo desfecho.

As coisas não deviam ter acontecido assim. Lamento muito o que lhe aconteceu. E lamento muito o que aconteceu e continua a acontecer a quem sente a sua falta todos os dias.


Penso que o Enke, um par de anos ou assim antes de morrer, disse numa entrevista que não se importaria de voltar ao Benfica um dia para acabar a carreira. Acho que teria sido bem aceite pela maioria dos adeptos.

A notícia do suicídio dele obviamente que apanhou toda a gente desprevenida, mas eu era jovem na altura e foquei-me mais no falecimento dele do que nas causas que o levaram a cometer suicídio.

Hoje em dia, estando eu a passar por uma depressão crónica há já alguns anos, vejo a morte dele de uma maneira algo diferente. Sinto ainda mais pena e frustração, porque só mesmo quem passa por depressões consegue entender o quão difícil é combatê-las. Hoje em dia sou mais sensível em relação a esse tipo de coisas. Tal como fiquei triste quando soube do Anthony Bourdain há uns anos, por exemplo. E depois fiquei a saber que ele também tinha passado por uma depressão no passado e que tinha tido um passado de consumo de drogas.

Tanto o Enke como o Bourdain não seriam pessoas que passavam fome nem eram pessoas com maus empregos. Mas obviamente que isso não chega para uma pessoa ser feliz. No caso do Enke, tinha perdido um dos seus filhos. Qualquer pai que tenha perdido um filho vos dirá que é uma dor que nunca se supera. A pior perda que se pode ter na vida.

Este tipo de tragédias fazem uma pessoa reflectir. O que é realmente importante nesta vida?
Com a minha idade já não apanhei o Enke. Mas revi epocas do Vietname e o Enke é dos jogadores que me "lembro" mais se pensar nesses anos.

Não apanhei o Enke mas apanhei depressão na minha família na minha infância, felizmente hoje essa pessoa vive dias muitos melhores, mas foi e ainda é a coisa mais traumatizante da minha infância. Ver uma pessoa que adoras e que admiras fechar-se ao mundo e sem poderes fazer nada, muito menos eu que tinha uma compreensão da situação limitada.

É triste e preocupante hoje em dia ver que ainda há pessoas que não levam a sério as depressões e o resto das doenças mentais que passam mais "despercebidas", quando uma celebridade mata-se depois de uma depressão o mundo todo une-se e faz aquele momento "temos de refletir muito e mudar a sociedade", mas passado uma semana já toda a gente se esqueceu e nada foi feito para aumentar a awareness

A ti não tenho muito a dizer que já não te devem ter dito, mas força nisso. Melhores dias chegarão.  :amigo:
Ja foi pior. Muito se tem evoluído neste século. Não era como há uns 20-30 anos em que irá ao psiquiatra era "coisa de malucos".

As pessoas também hoje em dia estão melhor informadas e conseguem identificar os sinais e sabem quando devem ir ao médico para ver o que se passa. Já não é tabu como dantes.

Isto no mundo Ocidental atenção. Nos países em desenvolvimento e até mesmo em países desenvolvidos como o Japão ou a Coreia ainda existe um bocado esse tabu. Tal como em alguns países de Leste Europeu ainda.

Não é à toa que paises dessas regiões mais alguns países africanos se encontrem no top 20 dos países com taxas de suicídio mais elevadas. As pessoas não procuram ajuda e acabam por não se tratar. Eventualmente isso leva-as a cometerem um acto que poderia muito bem ser evitado se tivessem conseguido arranjar ajuda e tratamento a tempo uns anos antes.
Sim, é verdade que nas últimas décadas mudou o paradigma destas questão e ainda bem que é cada vez mais "aceite" e vista como outra doença qualquer.

Mesmo assim acho que ainda há que melhorar, até no ocidente. A minha mãe por acaso está agora a fazer os últimos anos de psicóloga e conta-me montes de vezes que os pacientes que têm outros distúrbios mentais tinham que ir a consultas em segredo com medo de serem julgados, isto nesta década.

Festivus

Citação de: humbug_1904 em 17 de Julho de 2022, 02:44
Citação de: Festivus em 17 de Julho de 2022, 02:38
Citação de: humbug_1904 em 17 de Julho de 2022, 02:32
Citação de: Festivus em 17 de Julho de 2022, 02:21
Citação de: bnfc em 17 de Julho de 2022, 02:12
Sempre me pareceu uma pessoa espectacular. Só cá esteve 3 anos, mas ao fim de pouco tempo já falava um português bem decente. Foi sempre 100% profissional, com aquela formalidade algo típica dos alemães, algo reservado mas sempre cordial e afável. Quando o jogo parava, por vezes ia a uma mochila que guardava atrás da baliza e comia uma banana. Vi-o fazer isso algumas vezes.

E era um grande GR. Quando chegou, muitos acharam que seria o suplente do Bossio, mas ao fim do primeiro jogo já se sabia o que estava ali. Muito ágil e com uns reflexos fantásticos. Os primeiros tempos de Barcelona não lhe correram bem. Cometeu alguns erros nos primeiros jogos que fez e isso afectou-o bastante. A imprensa e mesmo os adeptos também foram bastante duros. Depois aconteceu aquilo com a sua filha, já ele tinha regressado à Alemanha. Chegou, mesmo assim, à selecção nacional e isso demonstra bem a qualidade que tinha.

Por vezes, gosto de pensar no que poderia ter acontecido se tivesse ficado. Já não teria passado pelo que passou em Barcelona. A nascer um filho ou uma filha, já não seria a mesma pessoa e possivelmente já não teria o mesmo problema cardíaco. Mesmo que ele pudesse, certamente não aceitaria voltar atrás; aquela filha era insubstituível; não queria outra filha saudável, queria aquela. Mas se tudo tem sido diferente desde o início, esta questão nem se colocaria. Podia ter sido feliz. Mesmo que tivesse outros tormentos, estes dificilmente teriam conduzido ao mesmo desfecho.

As coisas não deviam ter acontecido assim. Lamento muito o que lhe aconteceu. E lamento muito o que aconteceu e continua a acontecer a quem sente a sua falta todos os dias.


Penso que o Enke, um par de anos ou assim antes de morrer, disse numa entrevista que não se importaria de voltar ao Benfica um dia para acabar a carreira. Acho que teria sido bem aceite pela maioria dos adeptos.

A notícia do suicídio dele obviamente que apanhou toda a gente desprevenida, mas eu era jovem na altura e foquei-me mais no falecimento dele do que nas causas que o levaram a cometer suicídio.

Hoje em dia, estando eu a passar por uma depressão crónica há já alguns anos, vejo a morte dele de uma maneira algo diferente. Sinto ainda mais pena e frustração, porque só mesmo quem passa por depressões consegue entender o quão difícil é combatê-las. Hoje em dia sou mais sensível em relação a esse tipo de coisas. Tal como fiquei triste quando soube do Anthony Bourdain há uns anos, por exemplo. E depois fiquei a saber que ele também tinha passado por uma depressão no passado e que tinha tido um passado de consumo de drogas.

Tanto o Enke como o Bourdain não seriam pessoas que passavam fome nem eram pessoas com maus empregos. Mas obviamente que isso não chega para uma pessoa ser feliz. No caso do Enke, tinha perdido um dos seus filhos. Qualquer pai que tenha perdido um filho vos dirá que é uma dor que nunca se supera. A pior perda que se pode ter na vida.

Este tipo de tragédias fazem uma pessoa reflectir. O que é realmente importante nesta vida?
Com a minha idade já não apanhei o Enke. Mas revi epocas do Vietname e o Enke é dos jogadores que me "lembro" mais se pensar nesses anos.

Não apanhei o Enke mas apanhei depressão na minha família na minha infância, felizmente hoje essa pessoa vive dias muitos melhores, mas foi e ainda é a coisa mais traumatizante da minha infância. Ver uma pessoa que adoras e que admiras fechar-se ao mundo e sem poderes fazer nada, muito menos eu que tinha uma compreensão da situação limitada.

É triste e preocupante hoje em dia ver que ainda há pessoas que não levam a sério as depressões e o resto das doenças mentais que passam mais "despercebidas", quando uma celebridade mata-se depois de uma depressão o mundo todo une-se e faz aquele momento "temos de refletir muito e mudar a sociedade", mas passado uma semana já toda a gente se esqueceu e nada foi feito para aumentar a awareness

A ti não tenho muito a dizer que já não te devem ter dito, mas força nisso. Melhores dias chegarão.  :amigo:
Ja foi pior. Muito se tem evoluído neste século. Não era como há uns 20-30 anos em que irá ao psiquiatra era "coisa de malucos".

As pessoas também hoje em dia estão melhor informadas e conseguem identificar os sinais e sabem quando devem ir ao médico para ver o que se passa. Já não é tabu como dantes.

Isto no mundo Ocidental atenção. Nos países em desenvolvimento e até mesmo em países desenvolvidos como o Japão ou a Coreia ainda existe um bocado esse tabu. Tal como em alguns países de Leste Europeu ainda.

Não é à toa que paises dessas regiões mais alguns países africanos se encontrem no top 20 dos países com taxas de suicídio mais elevadas. As pessoas não procuram ajuda e acabam por não se tratar. Eventualmente isso leva-as a cometerem um acto que poderia muito bem ser evitado se tivessem conseguido arranjar ajuda e tratamento a tempo uns anos antes.
Sim, é verdade que nas últimas décadas mudou o paradigma destas questão e ainda bem que é cada vez mais "aceite" e vista como outra doença qualquer.

Mesmo assim acho que ainda há que melhorar, até no ocidente. A minha mãe por acaso está agora a fazer os últimos anos de psicóloga e conta-me montes de vezes que os pacientes que têm outros distúrbios mentais tinham que ir a consultas em segredo com medo de serem julgados, isto nesta década.
Há sempre coisas a melhorar, sim.

Em relação a Portugal, a Ordem dos Psicológicos devia correr com o imbecil do Quintino Aires. Não favorece NADA a profissão. Penso que os próprios psicólogos sentem vergonha desse sujeito.

Gaio17

O suicídio nem sempre está ligado à depressão.
Sobretudo no oriente, em países como o Japão.
É uma circunstância muito complexa de avaliar.

Será a vida um direito ou um dever?

Quanto a mim só a primeira, mas a morte pode ser a circunstância mais egoísta da humanidade.

Gaio17

Grande Enke, um senhor que muito nos honrou enquanto benfiquistas.

Festivus

Citação de: Gaio17 em 17 de Julho de 2022, 02:52
O suicídio nem sempre está ligado à depressão.
Sobretudo no oriente, em países como o Japão.
É uma circunstância muito complexa de avaliar.

Será a vida um direito ou um dever?

Quanto a mim só a primeira, mas a morte pode ser a circunstância mais egoísta da humanidade.
Sim, no Japão historicamente houve gente a cometer suicídio por "questões de honra".

Em tempos modernos... quando penso em suicídios no Japão penso na pressão académica enorme que os estudantes têm. Na Coreia é bastante parecido penso eu.

Mas em relação ao Ocidente penso que esteja sobretudo relacionado com depressões. Pessoas que claramente não estão felizes com a vida. Pode haver inúmeros motivos para alguém ser infeliz. Cada caso é um caso.

bnfc

Citação de: Gaio17 em 17 de Julho de 2022, 02:52
O suicídio nem sempre está ligado à depressão.
Sobretudo no oriente, em países como o Japão.
É uma circunstância muito complexa de avaliar.

Será a vida um direito ou um dever?

Quanto a mim só a primeira, mas a morte pode ser a circunstância mais egoísta da humanidade.

O suicídio nunca acaba com a dor. Simplesmente transfere a dor de uma pessoa para as pessoas que a amam. Mas não acredito que seja sinónimo de egoísmo. Acho simplesmente que acontece a quem já não consegue ver com clareza. É uma fatalidade.