Nené, o goleador que não sujava os calções

Avançado, 75 anos,
Portugal
Equipa Principal: 18 épocas (1968-1986), 590 jogos (46002 minutos), 365 golos

Títulos: Campeonato Nacional (10), Taça de Portugal (7), Supertaça (2), AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão (8)





Dixi

Nené sempre foi um Senhor. Respeitou sempre o Porto e não perdeu nada com isso. Essa camisola é do Romeu.

Zlatan

Tamagnini Gomes B. Nené. Leça da Palmeira. 20 de Novembro de 1949. Avançado.
Épocas no Benfica: 18 (68/86). Jogos: 577. Golos: 361. Títulos: 10 (Campeonato Nacional), 7 (Taça de Portugal) e 2 (Supertaça).
Outros clubes: Ferroviário da Manga. Internacionalizações: 66.




Milhões de miúdos, de jovens, de mais graúdos, com as mais diversas origens e ao longo dos mais diferentes tempos, terão aspirado, aspiram ainda, a vestir o jersey do Benfica. Camisola mítica, familiar pelos quatros cantos do Planeta, quando muito e tão-só comparável à do Real Madrid, do Manchester United, do Bayern de Munique, da Juventus, do Boca Juniores ou do Flamengo, num curto desfile que, estudos sustentam, revela à sociedade os mais famosos e queridos emblemas internacionais, com falanges de aficionados espalhados pelos cinco Continentes.

De nome exótico, Tamagnini Nené, profissional exemplar de futebol, na verdade centenária do seu Benfica. Foi o que mais vezes a águia colocou ao peito. A sua contabilidade pessoal – como duvidar de um escravo da organização - , acusa 941 prestações.  Com jogos oficiais e particulares. Do dealbar júnior até à despedida. "Sinto-me um privilegiado. Afinal, foram tantos os jogadores a representar o Benfica e ser logo eu a ter a sorte de jogar mais vezes que todos os outros... Na minha infância ou já na juventude nunca me ocorreu que tal fosse possível. Agora, penso que se trata de um recorde dificilmente ultrapassável", precisa, com indisfarçável enleio.

Afinal, tudo começou com uma fotografia. A estampa veio no "Noticias da Beira". Era o garoto Nené, equipado com as cores do Ferroviário da Manga, em pose de futebolista. O pai, antigo jogador do Lusitano de Vila Real, crente nas potencialidades do filho, enviou o precioso documento para Lisboa, ao cuidado de Cavem, seu primo carnal, já figura grada da família vermelha, à custa de dois títulos europeus e de competições nacionais de-se-lhe-perder-a-conta.

O miúdo na altura encantava. Tinha apenas 15 anos e corria, corria que se fartava, a todos batendo em velocidade. Gostava de plasmar o jogo, daí que a opção fosse para o centro do terreno. Esse e outros atributos foram constatados in loco por um tal sr. Rodrigues, emissário benfiquista, alertado por um telefonema intercontinental, procedente da Rua do Jardim Regedor, tudo depois de, em boa hora, Cavem ter feito o trabalho que nem de sapa precisou ser.



Só faltava fechar o negócio. Os dirigentes do clube moçambicano começaram por pedir 900 contos pela desobrigação contratual de Nené, à época com 17 anos. Uma fortuna! Objectou o Benfica, no limite foram oferecidos 300 contos, maquia já tida por expressiva. A nega dos homens da ex-colónia deixou a família de Nené com arrepios até à raiz dos cabelos. Só que não primando propriamente pelo rigor, os dirigentes do Ferroviário da Manga esqueceram-se de notificar o jogador, como os regulamentos exigiam, para a renovação do vinculo. Melhor era impossível, caída do céu, qual carta de alforria! O pai de Nené apressou-se a comunicar ao Benfica, o bilhete de avião chegaria num ápice, a ver navios ficaram os gulosos moçambicanos.

No dia do Entrudo, chegava a Lisboa, logo tomando a direcção da Calçada do Tojal. No Lar do Jogador conheceu caras novas e cedo encontrou Vítor Martins e Raul Águas os companheiros para maiores cumplicidades. No campo ficou entregue aos bons ofícios do mestre Ângelo. Época e meia fez como júnior, campeão nacional da categoria se sagrou, com o aditivo de ter marcado importante golo, na vitória sobre a Académica, por 2-1, mesmo por debaixo do majestático Castelo de Leiria.

Aquele que já havia sido laureado com o prémio de melhor júnior do ano, em Moçambique, não deixou de experimentar algumas dificuldades, até à afirmação plena na equipa principal do Benfica. Dois anos andou, entre os seniores, numa espécie de penumbra. Regularmente, actuava apenas na reserva, mais não tendo feito que uma vintena de jogos pela turma de honra. Jaime Graça, Toni, Eusébio, Torres, Artur Jorge ou Simões não pareciam desalojáveis do estatuto da titularidade.

Nené soube ser precatado. E se Otto Glória até não desdenhava do seu talento, rendido ficou Jimmy Hagan. O britânico passou a utilizá-lo a extremo-direito, com o propósito de optimizar a velocidade. A partir da segunda metade da temporada 70/71, Nené haveria de fixar-se, quase sempre com aquele "7" nas costas, número que viraria carismático pelas bandas da Luz.

Criou o hábito da vitória. No Campeonato, na Taça, nos jogos europeus, ao serviço da Selecção, cuja chamada não tardou, mesmo sem que soubesse que um dia seria o mais internacional dos jogadores portugueses. Na defesa das cores nacionais, no ano de 1972, altura em que foi eleito "Atleta do Ano", Nené participou na Minicopa, no Brasil. À final chegava Portugal, com uma das mais vermelhas equipas de sempre, na qual apenas os sportinguistas Peres e Dinis conquistariam o direito de se divertirem entre os benfiquistas.



Ultrapassados os consulados de Hagan e de Pavic, com Cabrita de permeio, a época de 75/76 abre com novo líder na oficina encarnada. Mário Wilson descobre em Nené o killer intinct, como dizem os ingleses, susceptível dele fazer um ponta-de-lança. Desafio aceita e lá partiu o jogador, mais voraz que nunca, para o magistério do golo. "Ele é um fora-de-série indiscutível e discutido. Naturalmente frio como todo o jogador super-inteligente, Nené é um craque de explosões irresistíveis e de velocidade diabólica, para além de rematador fulminante de cabeça e com qualquer dos pés. Jogador de rara inteligência a actuar. É um criador exímio de espaços livres, um grande futebolista com e sem bola". O velho capitão Wilson dixit.

Também pela sua singularidade enquanto jogador, Nené fez crescer água na boca aos responsáveis de grandes equipas europeias. Se o Arsenal e o Anderlecht tentaram a sua sorte, entre muitos outros, o Real Madrid, em 72, esteve próximo de garantir o seu concurso. Valeu a intransigência do Benfica e o proibitivo pedido de Borges Coutinho, até mesmo para os normalmente abastados cofres madrilenos.

"Financeiramente, sempre fui pouco ambicioso, nunca me importei com o que os outros ganhavam, já que ganhei no Benfica aquilo que mereci, dentro das possibilidades do clube". Mesmo após ter ganho a Bola de Prata, em 80/81, muitos anos depois de ter vestido a camisola azul da Selecção da Europa, ao lado de Eusébio, Cruijff ou Facchetti.



No Glorioso, em jogos oficiais, Nené é o terceiro melhor marcador, a seguir a Eusébio, "o meu ídolo", e a José Águas. Nessa matéria, destaca como momentos apolíneos de uma carreira brilhante, os cinco golos que marcou ao Ajax, no Torneio de Paris, disputado no Parque dos Príncipes, para gáudio dos emigrantes, no fantástico triunfo, por 5-0. Ou os três que apontou ao FC Porto, numa final da Taça de Portugal, no Jamor, invariavelmente assistido pelo companheiro Shéu. Mas para alegria não só dos benfiquistas como dos devotos de outras cores, como não recordar o golo que marcou à Roménia, no Euro 84, garantia da qualificação de Portugal para as meias-finais do certame. Nesse jogo, a nove minutos do fim, com o então sportinguista Jordão e o portista Gomes em campo, foi Nené a fazer a despesa, ele que havia saltado do banco, como que persuadido da protecção dos deuses.

Aos quadros do Benfica pertence até hoje. Após abandonar a prática da modalidade, em 86, dedicou-se ao futebol juvenil do clube, ainda que tenha feito uma fugaz incursão nos seniores, coadjuvando Mário Wilson. Com propriedade se poderá dizer que o seu endereço é Avenida General Norton de Matos.

A prosa dedicada a Nené ficaria incompleta se olvidado fosse que conviveu sempre com o estigma de não sujar os calções. "Se não os sujava era porque achava que não precisava". E não mesmo. Ponto final.


Tópico: Memorial Benfica, Glórias
Autor: Ednilson
Link: http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=22362.135


solee

Olha a "filha" dele no Splash e ele na plateia...

AChamaImensa

ENORME!

E está com óptimo aspecto para 63 anos.

fred_cardozo7


pcssousa

Nené, o jogador que mais vezes envergou a mítica camisola do Benfica e ainda hoje o 3º melhor marcador da sua história tem o seu percurso no clube marcado por uma série de curiosidades.

Ingressaria no clube do seu coração no inicio da época de 1967/68, vindo de África a conselho do primo Domiciano Cavém. Assim que chegou assinou um contrato de júnior válido por 2 anos. Logo no primeiro destacou-se, foi o melhor jogador da prova e conquistou o Campeonato Nacional e na época seguinte começou a treinar com os séniores sob orientação de Otto Glória, mas não jogava na equipa principal.
A curiosidade acontece já com Jimmy Hagan à frente da equipa. O Benfica vai fazer uma digressão a África e o jovem Tamagnini Nené, que já não via os pais há dois anos e meioencheu-se de coragem e foi falar com o Inglês perguntando-lhe se o poderia incluir na comitiva para, pelo menos, poder ver os pais. Hagan, com fama de duro mas uma pessoa de grande sensibilidade imediatamente acedeu, Nené integraria a comitiva.
O primeiro jogo realizado em África seria em Luanda. A dada altura Jaime Graça lesiona-se e Hagan olha para o banco pensando quem iria meter na direita. Acaba por lançar Nené.
O jovm Tamagnini não se atemoriza e realiza exibição de tal calibre que segura o lugar. Quando se reencontra com os pais em Lourenço Marques é já titular da primeira equipa do maior clube português.

A partir daqui é uma história de sucesso que todos conhecemos... mas que teria acontecido se Nené não se tem enchido de coragem para se dirigir a Hagan ou se o Britânico não tem acedido?

575 jogos de águia ao peito!

Geovanni95

Citação de: Shoky em 21 de Abril de 2013, 00:03
Citação de: Dixi em 15 de Abril de 2013, 18:30


Citação de: Dixi em 15 de Abril de 2013, 18:58


Citação de: Dixi em 15 de Abril de 2013, 18:33



Coloquem os jogos a que se refere se faz favor...para eu colocar no 2º post. O0

O do meio: Porto - Benfica de 1981-82 jogo dos quartos de final da taça de PT nas antas. Ganhamos 1-0. Depois nas meias fomos eliminados em Braga.

Shoky

Nantes 0-2 Benfica | Taça UEFA 1978/79 - 1ªEliminatória (1ªMão)


MrJohnny