A História do Benfica

Bakero

Estive nos últimos tempos a preparar o texto para introduzir na página do Benfica na Wikipédia acerca da História do clube, já que aquilo estava uma desgraça e já agora, apresento-o também aqui.

Centrei-me essencialmente na sequência dos títulos, deixando um pouco de lado as histórias e historietas, que são sempre muito interessantes, mas que na minha opinião, acabam sempre a fazer imensas fugas ao que interessa em textos destes.

A página é esta: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sport_Lisboa_e_Benfica

Isto foi o que introduzi:

Os Primeiros Anos

Em 28 de Fevereiro de 1904, um grupo de ex-alunos da Real Casa Pia de Lisboa (24 elementos de onde se destacava a figura de Cosme Damião), criou, nas traseiras da Farmácia Franco, na zona de Belém, o Grupo Sport Lisboa (com uma única secção, a de futebol). Nessa reunião histórica, ficou definido que o novo clube jogaria de vermelho e branco e que teria no emblema uma águia e o moto "E Pluribus Unum".

O primeiro campo de jogos foi na Quinta da Feiteira, mas os tempos eram dificeís. Devido a problemas financeiros, vários jogadores da primeira equipa abandonaram o Benfica para o mais abastado Sporting, o que contribuiu para a fusão do Sport Lisboa com o Grupo Sport Benfica (que tinha como práctica o Ciclismo), levando à origem do actual emblema (com a introdução da roda de bicicleta) e o nome definitivo: Sport Lisboa e Benfica.

Contudo, as dificuldades mantêm-se. Nestes primeiros tempos, o Benfica salta de campo em campo: Em 1913 muda-se para Sete Rios, mas devido à elevada renda, quatro anos depois o clube vê-se obrigado a mudar para o campo de Benfica, onde em 1919 efectua, pela 1ª vez em toda a península ibérica, jogos nocturnos. Em 1925 o Benfica compra uns terrenos nas Amoreiras e fica pela 1ª vez proprietário de um estádio, com capacidade para 15.000 espectadores. É neste estádio que o Benfica conquista os primeiros títulos nacionais.

Entretanto, já o Benfica tinha criado as secções de Hóquei em Patins, Hóquei em Campo, Râguebi, Basquetebol, Andebol, Bilhar e Voleibol.

Os primeiros campeonatos nacionais de futebol arrancam em 1935 e após perder a 1ª edição, o Benfica vence as 3 seguintes entre 1936 e 1939. Em 1940 o Benfica vence a sua primeira Taça de Portugal.

No ano seguinte, o Benfica volta a mudar-se, desta vez para o Campo Grande. É neste campo que o Benfica luta contra o domínio do Sporting. Na década de 40, o Benfica é apenas campeão por 3 vezes, em 1942, 43 e 45, e conquista a Taça de Portugal em 4 ocasiões: 1940, 43, 44 e 48.

Contudo, em 1950 o Benfica atinge o seu 1º grande feito internacional com a conquista da Taça Latina. Após ultrapassar a Lazio nas ½ finais, o Benfica defronta o Bordeús de França na final e depois de um empate a 3 bolas, o jogo é repetido uma semana mais tarde e aí o Benfica acaba por ganhar por duas bolas a uma, com o golo decisivo a ser marcado, após dois prolongamentos, no minuto 146. O clube encarnado é o único clube português a ter vencido esta competição.

Em 1954 chega um momento vital na História do clube: com a larga contribuição de muitos associados e simpatizantes, o Benfica inaugura o Estádio da Luz, de princípio com capacidade para 30.000 espectadores, onde jogaria até 2003.

Finalmente com campo próprio e com a chegada de Otto Glória que introduz o profissionalismo em toda a estrutura encarnada e treinos inovadores em Portugal, o Benfica começa a fazer frente ao domínio sportinguista. Em 54/55 o Benfica conquista o campeonato, após 4 anos com o Sporting a terminar sistematicamente campeão. Em 1957 o Benfica faz a 3ª dobradinha da sua História e participa pela 1ª vez na Taça dos Campeões Europeus.

A nível de modalidades, é de destacar a importância de José Maria Nicolau, vencedor de duas edições da Volta a Portugal na década de 30 e que de camisola encarnada, espalhou a admiração pelo clube a todo o país.

A Década de 60:

Para a nova década, foi acrescentado um 3º anel (embora incompleto) ao estádio da Luz, aumentando a capacidade para 80.000 espectadores, ao mesmo tempo que chegava para treinador, vindo do rival FCPorto, um Húngaro que teria um impacto imediato: Béla Guttmann.

O Benfica sagra-se campeão nacional em 59/60 e 60/61, mas mais do que isso, atinge pela 1ª vez na sua História a Final da Taça dos Campeões Europeus (TCE), em 1961, onde defronta o Barcelona. Num jogo bastante emotivo, os encarnados vencem por 3-2 e conquistam a sua 1ª taça europeia.

No ano seguinte, o Benfica não vai além do 3º lugar no Campeonato, em grande medida porque se concentra em nova aventura europeia (pelo meio vence também a Taça de Portugal), atingindo de novo a final da TCE. Já com Eusébio na equipa, o Benfica recupera de 2 desvantagens no marcador, para vencer por uns sensacionais 5-3 o Real Madrid, com 2 golos do Pantera Negra. O Benfica sagrava-se bicampeão da Europa.

Contudo, no final desta partida Béla Guttmann resolve sair do Benfica e lançar a famosa maldição: "Nos próximos 100 anos, o Benfica não voltará a ser campeão europeu"[3]. O que é certo é que desde então nunca mais o Benfica venceu uma final europeia, apesar de ter marcado presença em várias.

Já com novo treinador (Fernando Riera), o Benfica recupera o título de campeão em 62/63, ao mesmo tempo que atinge novamente a final da TCE. Mas desta vez sai derrotado, por 1-2 frente ao AC Milan, tendo uma lesão de Mário Coluna a meio do jogo sido fulcral para o desfecho[4].

Na época seguinte, o Benfica faz o pleno doméstico, com campeonato e Taça de Portugal (vitória de 6-2 na final frente ao FCPorto) e em 64/65 chega ao tricampeonato. Pela 4ª vez nos últimos 5 anos o Benfica apresenta-se em nova final da TCE (tendo, no percurso para a final, alcançado uma memorável vitória sobre o Real Madrid por 5-1), mas mais uma vez sai derrotado. Defrontando o Inter de Milão em San Siro, o Benfica perde por 1-0, ficando famoso o frango de Costa Pereira e a lesão do mesmo, minutos depois, obrigando o Benfica a jogar grande parte da partida com 10 elementos e Germano na baliza[5].

65/66 revela-se a única temporada da década de 60 sem títulos para o futebol do Benfica, mas na época seguinte o título de campeão nacional regressa à Luz. Em 67/68 chega o bicampeonato e a 5ª presença na final da TCE em 8 anos. Encontrando o Manchester United em Wembley, o jogo termina empatado a 1 bola, mas no prolongamento os ingleses marcam 3 golos e vencem por 4-1. Eusébio teve uma oportunidade de ouro no minuto 90 para vencer a Taça para o Benfica, mas não consegiu transpor o guarda-redes do Manchester[6].

Em 68/69 o Benfica faz mais uma dobradinha. A final da Taça de Portugal é vencida frente à Académica de Coimbra, num encontro marcado por grande importância política, devido à oposição dos estudantes ao regime ditatorial[7].

Nas modalidades, o Hóquei em Patins e o Basquetebol destacam-se ambos com 6 campeonatos conquistados. Nesta década o Benfica vence por 3 vezes a Volta a Portugal.

A Década de 70:

Após mais uma Taça de Portugal em 69/70 (vitória na final sobre o Sporting por 3-1), em 1970 chega ao Benfica um treinador inglês, Jimmy Hagan, que impulsionaria o clube para 3 anos de ouro. Em 70/71 o Benfica recupera de uma grande desvantagem no campeonato, para o vencer em grande estilo, ao passo que na época seguinte junta a Taça de Portugal ao campeonato. A final revelou-se uma das mais emotivas de sempre, com o Benfica a vencer o eterno rival Sporting por 3-2, no prolongamento, com um hat-trick de Eusébio. Também na europa o Benfica brilha, com especial destaque para uma vitória de 5-1 sobre o Feyenoord, mas a caminhada europeia terminaria nas ½ finais da TCE, aos pés do Ajax de Johan Cruyff.

Em 72/73 o Benfica torna-se no campeão mais perfeito da História do futebol Português. 28 vitórias, 2 empates, 0 derrotas, 101 golos marcados, apenas 13 sofridos. O 1º campeonato invicto da História do futebol Português.

Contudo, Jimmy Hagan abandona o Benfica no início da época seguinte, e em 73/74 o Benfica nada vence. Dá-se entretanto a Revolução dos Cravos, o que traz implicações para o clube encarnado: perde as colónias como campo de recrutação (recorde-se que o Benfica apenas utilizava jogadores Portugueses) e as dificuldades económicas que atingem o país, também afectam o Benfica que é pela 1ª vez obrigado a vender os seus melhores jogadores para o estrangeiro. De qualquer maneira, o Benfica atinge o 4º tricampeonato consecutivo entre 1975 e 1977, atingindo a impressionante soma de 14 campeonatos em 18 anos.

Contudo, entre 1978 e 1980 o Benfica fica 3 anos sem vencer o campeonato. Em 77/78, apesar de fazer novo percurso invicto, perde o título para o FCPorto por diferença de golos; em 78/79 fica a 1 ponto da liderança; e em 79/80 termina na 3ª posição.

Tal sequência de maus resultados, terá contribuido para a decisão dos sócios de permitir que o Benfica passasse a poder contratar jogadores estrangeiros[8]. E curiosamente é um deles, o Brasileiro César, que marca o solitário golo na vitória na final da Taça de Portugal sobre o FCPorto, que marca o regresso do Benfica às conquistas.

Entretanto, nas modalidades, são inauguradas as piscinas e o pavilhão Borges Coutinho e no voleibol feminino fica famosa a equipa conhecida como "As Marias" que vence 9 Campeonatos consecutivos entre 1966 e 1975.

A Década de 80:

O Benfica abriu a década de 80 com novo pleno nacional: Campeonato, Taça de Portugal (3-1 ao FCPorto na final) e a Supertaça Cândido de Oliveira, pela 1ª vez na História do clube.

Contudo, a época seguinte foi negativa, o Benfica nada venceu e era chegada a altura de escolher novo treinador. E da Suécia chegou um jovem treinador chamado Sven Göran Eriksson que iria revolucionar o futebol benfiquista e por extensão o futebol Português. Com métodos novos e modernos para a época, e apoiado por um conjunto de grandes jogadores, o Benfica faz nova temporada de ouro. Conquista o campeonato, a Taça de Portugal (1-0 novamente ao FCPorto, jogo disputado no...estádio das Antas) e chega à final da Taça UEFA. Contudo, a tripla é falhada, pois o Benfica perde por 1-2 para o Anderlecht no total das duas eliminatórias.

Na época seguinte, chega o bicampeonato e Eriksson parte para a AS Roma. O pós Eriksson revela-se, contudo, difícil e o Benfica falha os títulos de 84/85 e 85/86. Mas não falha nos outros troféus já que conquista neste período as 2 edições da Taça de Portugal em disputa (3-1 ao FCPorto; 2-0 ao Belenenses nas finais) e mais uma Supertaça Cândido de Oliveira. Entretanto, o 3º anel do estádio da Luz é fechado, aumentando a capacidade para uns impressionantes 120.000 lugares.

Em 86/87, o Benfica sofre a maior goleada de sempre aos pés do Sporting (1-7), mas vinga-se meses depois com uma vitória sobre o eterno rival que lhe dá o campeonato e outra na final da Taça de Portugal (2-1), conquistando assim a dobradinha pela 9ª vez na sua História. O Benfica vencia a prova rainha pela 3ª vez consecutiva e a 6ª nos últimos 8 anos.

Em 87/88, o Benfica falha o bicampeonato, mas volta a brilhar na Europa, atingindo 20 anos depois de Wembley'68, a final da TCE. Num jogo muito renhido, o Benfica acaba por perder a final nos penaltys para o PSV[9].

No ano seguinte o Benfica recupera o título de campeão e em 89/90, já com Eriksson de volta, para além de mais uma Supertaça, o Benfica atinge novamente a final da TCE. Só que mais uma vez, volta a perder, desta vez para o AC Milan por 1-0[10].

Nas modalidades, arranca, nos finais da década a hegemonia do basquetebol que duraria até meios da década de 90.

A Década de 90:

O Benfica arranca a nova década com um campeonato quase perfeito (32 vitórias, 5 empates e apenas 1 derrota), em que o título foi assegurado com uma épica vitória nas Antas, por 2-0, com ambos os golos a serem marcados já perto do fim.

Contudo, 91/92 revela-se uma época sem títulos, com apenas um ponto alto (uma vitória sobre o campeão inglês Arsenal, em Highbury, por 3-1, para uma eliminatória da TCE) e Eriksson abandona novamente o clube.

Na temporada seguinte, o Benfica tem uma equipa cheia de talento, mas falha novamente o título. Vinga-se na Taça de Portugal, derrotando na final o Boavista por uns sensacionais 5-2. E no ano seguinte, chega ao 30º Campeonato da sua História, com o título a ser practicamente assegurado com uma esmagadora vitória por 6-3 no campo do Sporting.

Contudo, este ano marca um ponto de viragem, já que as dificuldades económicas, e as constantes más escolhas de presidente, treinadores e jogadores, levam o Benfica a entrar numa crise financeira e desportiva profunda, que dura de certa maneira até aos dias de hoje.

Em 94/95, o Benfica não vai além da 3ª posição no campeonato e em 95/96 fica-se pelo 2º lugar. Contudo, esta época acaba num bom plano, já que o Benfica vence mais uma Taça de Portugal, desta vez derrotando o Sporting por 3-1.

Na época seguinte, nova má classificação no campeonato (3º lugar) e nova presença no Jamor, mas desta vez para perder a Taça para o Boavista por 2-3.

A crise vai-se aprofundando e o Benfica continua longe do título. 2º lugar em 97/98, 3º lugar em 98/99 e novo 3º lugar em 99/00. Nesta época, o Benfica sofre a maior derrota europeia da sua História, sofrendo 7 golos aos pés do Celta de Vigo.

Nas modalidades, destaca-se o Basquetebol que tem um período de ouro, entre 1985 e 1995, em que conquista 10 campeonatos em 11 possíveis (7 deles de forma consecutiva), o Hóquei em Patins com 5 campeonatos e 1 Taça CERS, e o ciclismo, com o Benfica a vencer a Volta a Portugal de 1999, por equipas e individual (David Plaza).

O Novo Milénio:

Se a década de 90 tinha terminado mal, a nova não começou muito melhor. 00/01 é talvez a pior época da História do clube, já que o Benfica termina o campeonato num inacreditável 6º lugar. E no ano seguinte não faz muito melhor, ficando-se pela 4ª posição.

Mas em 02/03 o Benfica recupera, subindo para a 2ª posição, o que repete em 03/04, sendo que esta época (que é a do centenário) marca o regresso do Benfica às conquistas: a Taça de Portugal é conquistada com uma vitória por 2-1, no prolongamento, sobre o FCPorto. Esta época fica marcada também pela inauguração de um novo estádio da Luz, com capacidade para 65.000 pessoas e pelo triste falecimento de Miklós Féher, enquanto envergava a camisola do clube.

04/05 traz o título de campeão novamente para a Luz, após 11 anos de seca. Num título disputado até ao fim, uma vitória sobre o Sporting na penúltima jornada garante practicamente o 31º Campeonato.

Contudo, nas 3 épocas seguintes o Benfica volta aos maus resultados, conquistando apenas a Supertaça Cândido de Oliveira em 05/06, somando más classificações no Campeonato: 3º lugar em 05/06, 3º lugar em 06/07 e 4º lugar em 07/08.

Nas modalidades, destacou-se primeiro o Hóquei em Patins, com várias conquistas e grandes exibições, liderados por Panchito Velásquez e mais recentemente o Futsal que, fundado em 2001, soma 4 campeonatos nacionais desde a sua existência.



Ps: Lendo isto, dá para ver bem como decaímos de forma estrondosa em 94, não dá?  :disgust:

Ps2: É nestas coisas que revelo o meu fanatismo...pensam que pesquisei algum livro para escrever isto? Bah... :bah2:  :ashamed:

Aloutre

E não mostra melhorias para a actualidade :)

Como é que este tópico não tinha sequer 1 post além do inicial, lol

AntonioFugueiraSLB

Como está a farmácia que foi a nossa origem.


CitriC

lol nem sabia da existência deste tópico.


Aqui está uma contribuição que fiz. Centrei na história da rivalidade dos dois maiores de Portugal e onde começou essa rivalidade.

Traduzi também para inglês esta página, mas enfim já me a eliminaram :(

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Benfica_e_Sporting

Cumps

joaojordao13

Há um blog muito bom de um grande historiador do Benfica que é o Alberto Miguéns fantástico para aprender e estudar a história do Glorioso. A maior parte do pessoal já deve conhecer, claro, mas cá fica para quem não sabe: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt

CitriC

Citação de: joaojordao13 em 23 de Junho de 2014, 22:24
Há um blog muito bom de um grande historiador do Benfica que é o Alberto Miguéns fantástico para aprender e estudar a história do Glorioso. A maior parte do pessoal já deve conhecer, claro, mas cá fica para quem não sabe: http://em-defesa-do-benfica.blogspot.pt
yap! é o melhor blog na minha opinião.

Leio-o religiosamente :)

luis.live

#6
Bakero, dos 24 fundadores nem todos eram casapianos. Alguns pertenciam a uma colectividade que havia nessa zona de belém que se chamava "associação do bem". Nesse grupo para além de Manuel goularde , faziam tb parte os irmãos catatau.

  ou seja os fundadores do sport Lisboa são elementos dessa associação e ex casapianos.

Mestre30

Citação de: luis.live em 24 de Junho de 2014, 16:44
Bakero, dos 24 fundadores nem todos eram casapianos. Alguns pertenciam a uma colectividade que havia nessa zona de belém que se chamava "associação do bem". Nesse grupo para além de Manuel goularde , faziam tb parte os irmãos catatau.

  ou seja os fundadores do sport Lisboa são elementos dessa associação e ex casapianos.
Já percebi o porquê de AMAR tanto mas tanto o Benfica!  :smitten: :smitten: :smitten:

RedVC

#8
A ideia é muito boa e por isso podemos todos contribuir para ir refinando.

Inquestionavelmente o blog de Alberto Miguéns é o melhor que podemos encontrar. Os seus conhecimentos são profundos, rigorosos e apoiados em extensa e curada estatística sobre o nosso clube.

Dito isto, a partir de algumas passagens do actual texto, aqui ficam alguns pontos que podem contribuir para uma eventual melhoria do texto.


1 - Nesses primeiros anos, de entre os 24 fundadores, as figuras de maior destaque foram Manuel Gourlade, Daniel Santos Brito e os irmãos Rosa Rodrigues (Catatau).

2 - Desses 24 fundadores cerca de 15 elementos eram ligados ao grupo dos irmãos Catatau.
Os restantes eram casapianos não sei se todos seriam membros da Associação do Bem.
O grupo dos Catataus era mais alargado e ia variando consoante a disponibilidade para vir aos treinos. Exercitavam o futebol no patio traseiro da Farmácia Franco (com a bonomia dos donos, o Conde do Restelo e do médico António de Azevedo Meireles, que viriam a ser sócios beneméritos do Sport Lisboa). Depois quando se tornou demasiado grande, o grupo começou a sair para praticar o futebol em campos que se localizariam perto de onde agora é o Centro Cultural de Belém e eventualmente nas Salésias (embora aí talvez fosse mais frequente estar o pessoal da Casa Pia).
Assim sendo, alguns dos 24 fundadores serão de alguma forma fundadores acidentais. Outros se estivessem estado nesse treino teriam certamente constado da lista.
O grupo dos Catataus chegou a ter uma organização rudimentar (com papeis de cotas para sócios) tendo-se em alguma fase designado por Belem Football Club (esta parte não tenho muitos elementos).



3 - A reunião histórica de fundação do clube, em 28/02/1904 foi antecedida de outros eventos, jogos e convívio.
A ideia inicial de juntar forças ter-se-á ficado a dever a Manuel Gourlade, funcionário da Farmácia Franco (ver o tópico desta figura fundamental, incontornável da história do Sport Lisboa e Benfica).
Um misto do grupo dos Catataus e de antigos casapianos terá desafiado em Dezembro de 1903 um grupo dos irmãos Pinto Basto. Perderam o primeiro jogo mas ganharam o segundo numa vitória de grande significado pois à exceção do Carcavellos e do Lisbon Cricket (formados por Ingleses) este era o grupo mais forte do nosso primitivo futebol.
Ora, depois dessa grande vitória, em clima de grande convívio e animação terá aparecido a ideia de fundar um clube.
Com toda a probabilidade não foi nessa reunião de Fevereiro de 1904 que se estabeleceram as cores do equipamento e o emblema do clube. As cores e emblema terão sido propostas por José da Cruz Viegas, talvez o único que era simultaneamente ex-Casapiano e membro do grupo dos Catataus.
José da Cruz Viegas não consta da lista dos 24 logo não deverá ter estado na reunião do acto de fundação.



José da Cruz Viegas (à paisana na fotografia anterior) viria a ser um dos jogadores atraídos pelos balneários, banhos de água quente e chás dançantes com as menina da alta sociedade...
Foi militar, e terá combatido no corpo expedicionário Português na I Guerra Mundial.



3 - O primeiro campo do nosso clube, leia-se tempo do Sport Lisboa não foi a Quinta da Feiteira. Esse campo foi o primeiro depois da fusão, embora o Sport Lisboa ao que parece ainda lá terá feito jogos e/ou treinos devidamente autorizado pelo Grupo Sport Benfica.
Os primeiros campos do Sport Lisboa foram o campo das Salésias e as terras do Desembargador em Belém.



Infelizmente depois da saída do CFB para o estádio do Restelo, o campo das Salésias foi-se degradando. Aquilo que deveria ser um local de grande significado, de evocação, de homenagem aos grandes pioneiros é isto (não sei bem a data da fotografia mas hoje a coisa não deve ser muito melhor)...


4 - Os terrenos das Amoreiras foram comprados em 1921, por visão e intermédiação de Cosme Damião, num processo penso que facilitado pelo seu cargo na administração da Casa de Palmela, proprietária do(s) terreno(s).





ver:

http://www.slbenfica.pt/pt-pt/estadio/estadiosanteriores/estadiodasamoreiras.aspx

http://www.cbenfica.com/estadio/amoreiras.html


O projecto do Estádio das Amoreiras nunca foi completamente concluído mas na altura parece ter sido considerado o melhor complexo desportivo da península Ibérica.
O projecto levou dois anos a preparar tendo sido aprovado em Assembleia Geral realizada em 04/02/1923.
O complexo foi formalmente inaugurado em 13/12/1925. Teria capacidade para cerca de 15 000 pessoas!

Em termos de infrastruturas foi a grande obra de Cosme Damião tendo sido dimensionado para garantir o futuro eclético do clube.
O clube teve de se endividar muito para essa construção.
Assim, a par da irredutível defesa do conceito de amadorismo (ponto de honra de Cosme Damião), essa dívida foi um factor limitativo da competitividade e conquista de títulos na década de 20.
Com o descontentamento criado, em 1926 estando o clube a passar por um período conturbado, Alfredo Ávila de Melo e Ribeiro dos Reis ganharam as eleições contra Cosme e Bento Mântua.
Por saberem da importância de Cosme, apesar de lhe terem pedido que assumisse a presidência do clube este por coerência viria a recusar. A sua lista tinha sido derrotada e acima de tudo ele discordava do conceito de clube e organização desportiva que esses dois homens propunham para adaptar o clube a exigências mais modernas.
É irónico quando algumas pessoas vão para o tópico de Cosme Damião sem saberem que a manutenção do modelo que ele propunha teria gradualmente convertido o Sport Lisboa e Benfica num segundo CIF, Clube Internacional de Futebol. Os tempos era outros e era altura de mudar.

Cosme não foi o único fundador mas foi o mais importante desses primeiros tempos. A ele (e não só) devemos a sobrevivência, crescimento, robustecimento, competitividade, valores, e tanto mais. Tal como um pai, sim. Mas depois como numa relação de filho-pai, era tempo para partir, quebrar amarras e deixar o filho crescer.

Assim partiu Cosme. Sereno e com honra. Voltaria mas apenas episódicamente para ocupar o lugar de presidente da mesa da Assembleia Geral. Faleceu em 11/06(1947.

Infelizmente por apenas 3 anos não chegou a ver a conquista da Taça Latina. Teria sido um dia que fecharia com chave de ouro uma vida maravilhosa. Um longo e honrado trajeto. De orfão a fundador, grande inspirador, talentoso jogador, dedicado capitão geral, mentor de um clube que defende e propaga valores e procura sempre conquistar as competições em que participa. De um clube que tantos e tanto milhões amaram, amam e amarão. Sim, esse dia teria sido inesquecível para Cosme. Ironicamente quem entregou a Taça a Rogério Pipi foi Guilherme Pinto Basto, introdutor do futebol em Portugal (segundo algumas teorias). Apesar de também ser uma grande homenagem a um grande homem, para nós teria tido outro significado se tivesse sido entregue por... Cosme Damião.

ps: de acordo com Alberto Miguéns, e em correção ao que escrevi no ponto 3, o campo das Salésias usado pelo Sport Lisboa não era o mesmo do campo que depois foi o estádio das Salésias usado pelo CFB antes do Estádio do Restelo. Tratam-se de zonas adjacentes.


RedVC

#9
O António das Caldeiradas

Alguém conhece? Alguém ouviu falar?



Situado na Rua Vieira Portuense na Belém antiga foi um importante lugar para a génese do Sport Lisboa (e Benfica). Mas lá iremos.

A partir das considerações de Fialho de Almeida (7/05/1857-4/03/1911) sobre a culinária, e em particular sobre a caldeirada, sabemos que a mais emblemática da sua época era a do António da "Barbuda", cuja casa se situava para os lados de Belém, mais precisamente na Rua do Cais de Belém, local que desapareceu com a Exposição do Mundo Português, em 1940. O nome de António da Barbuda terá ficado a dever-se ao buço da mãe... (1).

Também Rafael Bordalo Pinheiro (21/03/1846-23/01/1905) apreciador de patuscadas, caldeiradas incluídas, mencionou o "António das Caldeiradas", tendo-o apresentado sob a forma de Zé Povinho travestido de anjo, em gravura publicada in António Maria de 19.07.1883, pg. 230 (2).



E o que terá este restaurante a ver com a pré-história do nosso clube?

Bem para isso vamos à fonte mais credível. Vamos a uma transcrição de uma passagem de uma célebre entrevista de um dos nossos fundadores, Júlio Cosme Damião ao jornal "A Bola" (3):

"Veio o primeiro treino, realizado num domingo, compareceram talvez uns 24 jogadores. Formaram-se dois grupos e não houve lugar para todos... Ao segundo treino, no domingo imediato, marcado, como todos, para o Hipódromo, compareceram apenas 18 ou 19. Já não foi possível arranjar dois «teams»... No terceiro domingo, o número desceu para 12 ou 13.



Quando os treinos findaram, os que podiam reuniam-se em almoço, na casa do António das Caldeiradas, à esquina do Largo de Belém.

Os teinos, os almoços, tudo isto se foi tornando conhecido a pouco e pouco, em Belém.

E começou a aparecer gente a ver os nossos treinos. Foi num dos domingos do Hipódromo que se travou conhecimento com o José Trabucho, antigo mestre do hiate real, e que acompanhava o grupo dos rapazes de Belém. E foi ali também que conhecemos um outro rapaz, o Manuel Gourlade"


O resto é história (ver o tópico de Manuel Gourlade)



Rua Vieira Portuense, ilustração de Roque Gameiro

Esse restaurante foi pois um lugar central no convívio entre os dois grupos de rapazes que esteve na base da ideia da junção de forças e talentos. Foi um dos lugares chave para o de convívio entre rapazes pobres e remediados, mistura de classes e experiências de vida, congregação de vontades e talentos. Reunidos pelo amor ao futebol, construindo uma ideia de clube apologista da defesa dos valores e da saudável competição mas já com a vontade indómita de ganhar. Uma construção do povo e para o povo. De espírito Português com desejo de se estender pelo país e pelo mundo.

De Belém para o mundo com passagem e morada em Benfica: Sport Lisboa e Benfica!


Rua Vieira Portuense nos dias de hoje.

Da próxima vez que lá forem não se esqueçam de parar numa esplanada e brindar aos nossos fundadores. Afinal eles são os responsáveis por uma parte importante da nossa vida.

Ah, e já agora para os que desconhecem. O terreno à frente desse restaurante foi também o local do primeiro campo do Clube de Futebol "os Belenenses". A sede era um prédio bem ao lado do António das Caldeiradas.

Os Belenenses, clube fundado por grandes ex-futebolistas do Benfica numa tentativa de recuperar o ideal e bairrismo de Belém. Local onde nasceu o Sport Lisboa mas também o Sport União Belenense e o Ajudense, clubes de existência efémera mas todos demonstrativos da vitalidade e paixão que nesses tempos pioneiros se viveram em Belém e nos seus grandes descampados.



Campo do Pau do fio. O primeiro campo do CFB.
Em segundo plano lá está o António das Caldeiradas. Ao lado vê-se a bandeira do CFB hasteada na sede.

Belém foi um local seminal em tantas épocas da nossa história. Porque não haveria também de o ter sido para o futebol?


Referências:
(1)   João Reboredo in http://www.gazetacaldas.com/24865/caldeiradas/
(2)   http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OAntonioMaria/OAntonioMaria.htm
(3)   http://tudoportibenfica.blogspot.pt/2013/02/entrevista-cosme-damiao-ii.html






RedVC



Ned Kelly

Eh pá RedVC, muito bom material. Os meus parabéns pela pesquisa e conhecimento.


Benfiquista_

O Casa Pia Atlético Clube, está umbilicalmente ligado a nós.

Alguns dos seus fundadores, como Cosme Damião, foram também os nossos.

Pena que hoje, o Casa Pia AC, dê guarida a uma escola dos andrades em Lisboa.A única.