Teresa Vaz de Carvalho (Atletismo)

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Filha de dois nomes grandes do nosso desporto – Terezinha Vaz e Joaquim Carvalho – e irmã de outra grande promessa – Marisa Vaz Carvalho – Teresa foi notícia em 2014 quando com apenas 19 anos saltou 6.52 metros, tornando-se na, altura, a segunda melhor atleta portuguesa da história, com uma marca que significava um novo recorde nacional júnior e sub-23, além de lhe ter dado o título do Campeonato do Mediterrâneo Sub-23. O recorde júnior ainda o mantém e o sub-23 apenas o viu ser batido no passado dia 27 de Maio, sendo neste momento a terceira melhor atleta da história no Comprimento.

Depois de uma temporada 2014 em grande, uma lesão bastante grave no tendão rotuliano impediu a atleta de marcar presença nos Jogos Olímpicos do Rio, que era o seu grande objectivo na altura. Desde o seu regresso, redefiniu objectivos e prepara-se agora para voltar aos grandes saltos, focando-se a partir do próximo mês exclusivamente no Atletismo. Conversámos com a mesma após os Great City Games de Manchester, numa entrevista onde a atleta não evitou qualquer tema e mostrou-se bastante recetiva a todas as perguntas.

Bola na Rede/Planeta do Atletismo: Este foi o teu primeiro evento do género. O que é que achaste da experiência e o que achas destes eventos no geral?

Teresa Vaz Carvalho: Foi uma experiência muito engraçada mesmo, completamente diferente daquilo a que estamos habituados. Eu cheguei aqui a pensar que ia estar numa verdadeira prova, mas na realidade eu não estava numa prova, eu estava num espectáculo de Atletismo. Uma experiência que eu nunca tinha vivenciado nem em Portugal, nem fora do país. A maioria dos atletas voltam todos os anos a este evento mesmo por isso, eles dizem que não se sentem a fazer Atletismo, sentem pura diversão a fazer aquilo que estão a fazer. A cultura do desporto aqui em Inglaterra é também muito forte e as pessoas sabem o que está a acontecer e percebem o desporto, o que ajuda imenso ao espectáculo. Uma experiência super diferente e em que só posso tirar coisas positivas.

BnR/PdA: No que diz respeito à competição, ficaste satisfeita com o teu resultado?

TVC: Não totalmente. Eu vim sozinha, nem tinha cá a minha mãe, que é a minha treinadora, nem o meu manager e estava um bocado sem noção. Consegui acertar a corrida no aquecimento, entrei bem no primeiro salto, com um SB o que é sempre bom mas depois como não tive aquele feedback...saltei e nem sabia onde tinha posto o pé, então fiquei um bocado perdida na prova. No segundo salto percebi que ia dar nulo, então encurtei a corrida e não saiu bem. No terceiro, fiz uma possível contratura no quadríceps e depois no quarto salto já fui saltar com dores e nem o devia ter feito. Mas valeu muito pela experiência. Tenho a certeza que numa pista diferente, o resultado será diferente porque o piso aqui era uma plataforma montada e o tartan escorregava um pouco – todos os atletas se queixaram disso um pouco, mesmo nas provas de velocidade. O Aries Merritt, por exemplo, caiu nas barreiras porque a pista era muito rápida, os bicos agarravam, mas a pista flutuava.

BnR/PdA: Já fizeste uma marca (6.16) muito próxima do teu melhor na temporada passada (6.20). Os mínimos para os Europeus são 6.60 metros. Para os conseguires terás que bater o teu recorde pessoal (6.52). É um dos teus objectivos para este ano?

TVC: É, sem dúvida! É o meu maior objectivo para esta época. Quero principalmente estar consistente na casa dos 6.40 e conseguir esse salto de 6.60 para ir ao Europeu este ano. Eu acho que sinceramente esse salto está para breve. O nulo que eu fiz aqui era um bom salto e os próprios 6.16 foi um pouco a travar e no início da tábua. Acho que sim, é algo que espero conseguir nestes meses que faltam antes do Europeu.


BnR/PdA: Quais são as tuas próximas provas?

TVC: Antes do Europeu, tenho algumas provas pela selecção que quero fazer. Quero fazer o Triangular de Saltos, que é uma prova entre Portugal, Espanha e Itália, que vai ser por equipas e Portugal estará, em princípio, muito bem representado: Patrícia, Susana, Nélson, se o Pichardo puder ir...acho  que temos uma equipa interessante. Também gostava muito de ir aos Jogos Ibero-Americanos que vão ser no Perú e aos Jogos do Mediterrâneo que vão ser em Espanha. E os Nacionais, claro.

BnR/PdA: Já ouvimos falar de ti há muito tempo, mas na verdade ainda tens apenas 23 anos. Quais são os teus grandes objectivos de carreira neste momento?

TVC: Sem dúvida alguma que os meus grandes objectivos como atleta passam por ir a uns Jogos Olímpicos e Tóquio em 2020 é mesmo o meu foco. Eu confesso que quando saltei o meu recorde pessoal em 2015, pus os Jogos Olímpicos do Rio como uma meta fazível porque faltavam apenas 18 centímetros e 2 anos para os Jogos. Infelizmente tive uma lesão muito complicada, demorei bastante tempo até poder voltar, um ano completamente fora, sem competir. Entretanto, também meteu-se a faculdade e a vida de atleta-estudante não é fácil. Vou acabar o meu curso no próximo mês, então acho que a partir deste ano vou voltar aos grandes vôos. Vou-me dedicar ao Atletismo a 100% pelo menos até 2020, já com esse curso que dá outra segurança e estabilidade para perseguir este sonho.

BnR/PdA: No passado, como já referiste, tiveste problemas graves a nível de lesões. Achas que essa grave lesão irá prejudicar a tua carreira e até onde podes chegar no futuro ou acreditas que serás um daqueles casos – como o do Nélson – em que o tempo que tiveste sem competir, ao não impactar e desgastar o corpo, poderá levar a uma maior longevidade na tua carreira?

TVC: É uma pergunta difícil. A nível psicológico, eu hoje sou uma pessoa completamente diferente, acho que a lesão me fez crescer muito enquanto atleta e enquanto pessoa e acho que posso tirar muitas coisas positivas desse período. O meu joelho actualmente está a fortalecer-se, ainda não está ao nível que estava antes da lesão, mas acredito que possa vir a não ter dores um dia. Eu confesso que hoje em dia ainda tenho dor, faço as coisas com dor, mas é uma dor que agora sei o que é e é suportável. Sei como combate-la e combato-a diariamente. Eu acredito que este joelho nunca mais me vai voltar a dar problemas tão graves, mas lesões que são da nossa fisionomia, nós não podemos controlar. O desporto é muito imprevisível. Nós um dia estamos super bem e no dia a seguir pode-nos acontecer algo que nos pode estragar meses ou anos de treino. Só o tempo o dirá mesmo. No entanto, também já não sou tão nova, não descuro tanto a recuperação e o descanso, que são essenciais no treino. Claro que é necessário sorte, mas a sorte procura-se e se trabalharmos diariamente para não ter azares, as probabilidades deles acontecerem diminuem.

BnR/PdA: Com 19 anos já saltavas acima dos 6 metros e meio e na verdade a tua marca (6.52) coloca-te como a segunda melhor atleta da história nacional no Comprimento. Esses resultados que fazias com essa idade não eram muito diferentes daqueles que faziam com 19 anos, as atletas que hoje dominam o Comprimento – a (Tianna) Bartoletta por exemplo tinha um recorde com essa idade de apenas mais 8 centimetros que tu. Achas que sem essa grave lesão, agora poderias estar nesse grupo?

TVC: (risos) É difícil de responder. Como não foi isso que aconteceu, é difícil de prever. Eu acredito muito que as coisas acontecem por alguma razão e como eu já referi, acho que se não me tivesse lesionado gravemente, não teria a maturidade que tenho agora e até poderia ter acontecido uma outra coisa qualquer e eu não ter evoluído na mesma. Eu vejo hoje raparigas com 15 ou 16 anos a fazerem mínimos para os Jogos Olímpicos e a bater recordes como se não fosse nada. Ontem em conversa com alguns colegas, falámos disso e eles referiram que essas pessoas que conseguem essas marcas tão cedo nem sequer se apercebem do trabalho que dá e do que é ser atleta. Será que essas pessoas mais tarde vão conseguir suportar as adversidades psicologicamente? É complicado, muitas vezes quando eu estive mal no passado recente, eu pensei "bem, quem me dera nunca ter saltado o que saltei antes", porque é bastante frustrante não conseguir bater o teu recorde pessoal durante 4 anos. Mas o que eu vejo é que hoje sou melhor a todos os níveis: tenho mais força, mais velocidade, a cabeça está melhor, por isso acho que só posso melhorar em relação aquilo que já fiz. Se calhar se tivesse continuado tão bem no Atletismo, talvez não tivesse tirado o meu curso. Talvez pudesse ter saltado os 6.70, ter ido ao Rio, mas como não aconteceu, eu não vivo no passado. Não aconteceu, mas há-de acontecer. Eu sei que o meu salto está reservado para algum dia!

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BnR/PdA: Falaste de algumas marcas este ano que têm sido assombrosas. A título de exemplo, temos visto enormes resultados da Tamari Davis, da Briana Williams e, claro, da Sydney McLaughlin. A verdade é que tu a nível nacional tiveste algo muito semelhante. O que é que pensaste no momento em que saltaste os 6.52 com apenas 19 anos? Achaste que já nada te poderia parar?

TVC: Eu acho que sempre tive os pés muito bem assentes no chão, os meus pais sempre me passaram a mensagem de que o Atletismo poderia acabar um dia, muitas coisas podiam acontecer e não evoluir. Eu olho muito para as experiências que os outros atletas tiveram em Portugal e no estrangeiro. Foco muito nas coisas más porque tenho muito medo que me aconteça o mesmo. Mas confesso que no dia em que fiz isso eu pensei "tenho dois anos, faltam-me 18 centímetros, é óbvio que eu estou nos Jogos Olímpicos do Rio". Não pensei "sou a maior, ninguém me pára", mas pensei "nos Jogos do Rio estou lá, eu treino todos os dias, eu mereço estar lá, claro que vou conseguir". Realmente, foi um choque. Eu lesionei-me em Dezembro de 2015, em Janeiro de 2016 fui operada e sabia que só iria começar a treinar daqui a 6 meses e só com 2 meses de treino era óbvio que eu não ia conseguir ir aos Jogos Olímpicos.

BnR/PdA: Referiste há pouco o Aries Merritt, que é um atleta que também passou por uma situação complicada de saúde, que o afastou muito tempo de competição. O que é que passa pela cabeça de um atleta quando regressa à competição depois de tanto tempo parado?

TVC: Eu no início quando voltei, fiquei muito feliz. A primeira prova em que regressas sentes que finalmente acabou a maré de azar. Mas depois...é muito difícil gerir as diferenças de marcas. Antes da lesão, para mim fazer 6.15 ou 6.20 era o meu dia a dia, às vezes todos os saltos da mesma prova a 6.20, por vezes a cair em pé e ficava chateada com esses saltos. E agora saber que faço uma marca que para mim era banal é um bocado frustrante, porque não consigo entender o que é que se passa. Estou a fazer tudo bem mas não passo daquelas marcas. Ainda assim acho que temos que acreditar no processo e nunca desistir. Os desportos individuais exigem uma força brutal a nível psicológico. Olho por exemplo para o Aries Merritt e ele é recordista mundial, foi campeão olímpico, campeão mundial e mesmo assim perde provas. É impossível estar sempre no máximo e às vezes temos que dar dois passos atrás para poder dar três à frente. É nisso que eu acredito.

BnR/PdA: Os teus pais foram grandes atletas, o teu tio também e certamente eles foram grandes influências na tua vida e carreira. Que tipo de conselhos eles te foram dando? Foram eles que te incentivaram a seguir a via do Atletismo?

TVC: Não. A única coisa que os meus pais sempre me impuseram foi a escola. Foi do género "tu vais fazer Atletismo, mas vais passar todos os anos, vais acabar o 12.º e fazer um curso. Podes não exercer logo, mas sabes que tens alguma coisa na gaveta e um dia quando acabares a carreira tens um backup" e sempre me mostraram o exemplo de grandes atletas do tempo deles que hoje em dia não estão tão bem na vida como poderiam estado se tivessem estudos e tivessem percebido que o Atletismo não é para sempre. Foi a única mensagem que eles me passaram e eu confesso que sempre vivi com esse medo. Quando me aconteceu o que aconteceu ao joelho, fiquei com medo de nunca mais poder vir a saltar e pensei "agora, o que é que eu faço?". Eu até poderia estar a fazer os meus estudos de forma diferente. Poderia estar a fazer agora só metade das cadeiras e estender o curso ao longo dos anos, mas lá está, isso ia demorar muito mais a fazer e eu ia acabar o curso com 30 anos. Então preferi nunca usufruir do estatuto de atleta-estudante, faço o curso como uma pessoa normal e acredito que até há professores que nem saibam que eu sou atleta porque eu nunca troquei a data de um exame, a data de um teste e nunca falto às aulas. Eu também tenho consciência que o meu rendimento no Atletismo não é tão bom por causa disso e é por isso que estou muito motivada e acredito muito nesta época e na próxima época porque, depois de Junho, vou-me poder focar a 100% no desporto, principalmente na parte da recuperação. Eu durmo seis horas por dia e tenho a noção que nenhum atleta faz isso. Passo o dia na faculdade sentada a fazer trabalhos, vou treinar completamente estoirada e eu sei que não é bom, mas sei que é um projecto a longo prazo e prefiro fazer este sacrifício agora para depois poder colher os frutos mais tarde.

BnR/PdA: A Evelise ficou muito próxima do teu recorde sub-23 no ano passado (a Evelise fez 6.47, o recorde da Teresa é de 6.52). Achas que esse recorde sub-23 está em risco este ano? Como te sentes em relação a isso? [Evelise Veiga viria mesmo a bater o recorde sub-23 no passado dia 27 em Birmingham]

TVC: Acho. Tenho a certeza absoluta. É assim...eu acho que os recordes são feitos para serem batidos. Eu tenho o de juniores, bati o de sub-23, gostava de ter podido melhorar essa marca antes dos 23 anos, tenha pena de não o ter elevado um bocadinho mais, mas acho que esse risco existe sem dúvida. Ela tem muito potencial e tem ainda um ano de sub-23 pela frente. Não fico triste porque nada ganho em ter o recorde, só o nome no recorde. No entanto (risos) se a Evelise bater a minha marca passa a ser segunda melhor de sempre e eu isso não quero. Quero melhorar a minha marca e continuar a ser a segunda melhor de sempre e, quem sabe, um dia chegar aos 7 metros.

BnR/PdA: Agora vou-te fazer uma pergunta um pouco complexa. Algumas colegas tuas do Comprimento, nomeadamente a Brittney Reese – campeã olímpica e mundial – e a Lorraine Ugen, têm referido que as atletas no Atletismo são muitas vezes mais seguidas pela beleza ou aspecto físico. Achas que é verdade que os homens são mais seguidos pelas suas performances desportivas e as mulheres, muitas vezes, mais por essas questões de beleza?

TVC: (Longa pausa) Sim, concordo em certa parte. A imprensa faz isso em relação às mulheres, não só no Atletismo, mas em todos os desportos, vemos isso no ténis, na natação...existem sempre aquelas eleições das mais bonitas dos Jogos Olímpicos, por exemplo. Os jornais desportivos exploram muito essa vertente e no Atletismo nota-se que há uma ou duas figuras, como a Ivana Spanovic ou a Daria Klyshina que são conhecidas como as divas do Comprimento ou a própria Patrícia Mamona no Triplo Salto. E sim, isso nota-se e sente-se, até entre atletas. No entanto, não vejo uma realidade assim tão díspar entre homens e mulheres. Apreciar a beleza, aspeto físico ou personalidade de alguém é algo quase inato e entendo perfeitamente o porquê de isso acontecer e não condeno nem acho de todo descabido. Penso que o atleta não é só as marcas que faz, mas também a pessoa que é, ou seja, a forma como se apresenta e relaciona com as pessoas. O Usain Bolt e o Cristiano Ronaldo são prova disso, é lógico que são os melhores, mas têm bastante mais mediatismo do que atletas igualmente bons como o Michael Phelps ou o próprio Messi. O seu "personal branding", ou seja, a forma como exploram a sua marca pessoal e se "vendem" faz com que os públicos os adorem e "comprem" como se eles mesmos fossem uma marca. Acho que é uma situação inevitável, talvez seja mais notória em algumas mulheres porque a industria do desporto é maioritariamente consumida por homens, no entanto, acho mesmo que se verifica isso em ambos os sexos... Uma vez que o marketing foi a área que estudei na faculdade entendo perfeitamente o porquê de assim ser, basicamente só damos ao consumidor aquilo que ele quer.

BnR/PdA: O problema do doping voltou a estar nas bocas do mundo. Qual é a tua opinião em relação a situações como a de Naide Gomes – que viu a medalha de Bronze passar a Prata passados 12 anos dos Mundiais Indoor de Moscovo em 2006. O que sentes em relação a esses atletas que não viram o seu esforço reconhecido no local e tempo certo e o que sentes em relação aos atletas que infringem as leis?

TVC: Há uma coisa que sempre tive dificuldade em entender: o tempo que se demora a saber determinados resultados dos controlos anti-doping. Não consigo entender porque é que esses atletas só são apanhados tantos anos mais tarde. É completamente impensável estar a dar uma medalha a uma pessoa de uma coisa que aconteceu há 8 anos atrás, por exemplo. O dia e a hora já passou, o mediatismo já passou. Tudo o que a pessoa podia ter usufruído com isso já passou porque seres vice-campeão olímpico e passares para campeão olímpico não tem rigorosamente nada a ver. Também não percebo como é que há atletas que são apanhados uma e duas vezes e ainda continuam a competir. Há casos de contaminação que são provados, é verdade, e confesso que tenho receio disso. Mas quando se sabe que é premeditado acho que esses atletas deveriam ser erradicados ou se quisessem criar uma Liga apenas para as pessoas que queiram usar esse tipo de substâncias, como há certas competições no culturismo. E é uma situação que deixa todo o mundo em desvantagem, não apenas aqueles que perdem medalhas. Porque se pensarmos bem, por exemplo, os mínimos são cada vez mais altos, influenciados por essas performances, o que não permite a atletas limpos qualificarem-se para esses eventos. Se calhar eu fico em casa por causa desses mínimos adulterados por atletas dopados que baralharam a estatística.

BnR/PdA: Estão a chegar os Europeus. Portugal normalmente tem boas performances em Campeonatos da Europa, mas ainda assim é comum assistirmos a uma exigência desfasada por parte da imprensa face à nossa realidade. Achas que Portugal dá as condições ideais aos seus atletas ou sentes que se estivesses a viver no Reino Unido ou nos EUA, já poderias estar num outro patamar?

TVC: É uma pergunta difícil. Ontem por acaso em conversa com alguns atletas norte-americanos, um deles referiu que gostava de saber como poderia ter nacionalidade portuguesa. Porque o atleta em causa é medalhado olímpico e mundial e não consegue entender porque ninguém lhe dá valor e dizia que no meu país de certeza que alguém quereria saber dele. Chegámos também à conclusão que os ingleses têm bastantes mais apoios que os norte-americanos, mas isso acontece porque a estrutura do desporto em Inglaterra está montada de uma forma muito eficiente. Eu acho que a nível de condições não me posso queixar.

Tenho uma pista coberta, uma pista ao ar livre, tenho os fisios, os terapeutas, tenho tudo, mas às vezes sinto que é um bocado a nossa mentalidade portuguesa. Valorizamos sempre mais o que está no exterior do que no nosso próprio país. Um grupo de treino eu penso que poderia, sim, fazer a diferença, porque quando muitas pessoas boas treinam juntas, isso vai ajudar a subir o teu rendimento e isso vê-se no grupo de treinos do Iván Pedroso agora, que tem o Nelson Évora, a Ana Peleteiro, a Yulimar Rojas, o Teddy Tamgho, tudo atletas de topo. Eu acho que muitas vezes nós vivemos muito fechados. Eu vejo que nos outros países, os atletas estão sempre em estágios no estrangeiro, aprendendo e bebendo um pouco de cada país.

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BnR/PdA: Tocaste numa questão importante. Temos um caso particular nos EUA, em que o Edrick Floréal é o treinador de uma série de barreiristas de elite (Kendra Harrison, Kori Carter, Camacho-Quinn, Sydney McLaughlin ou Omar McLeod) e isso, para muitos, tem contribuído para que as performances desses atletas evoluam mais rapidamente. Achas que por vezes sentes essa falta de motivação ou de te sentires "picada" um pouco no treino para poderes atingir mais?

TVC: Sim, sem dúvida. Eu acho que os portugueses acanham-se um pouco quando vêm cá fora porque não estão habituados. A nossa primeira experiência, muitas vezes, é logo um Europeu. Ou seja, eu saio do campeonato nacional, onde sou a maior e chego a um Europeu onde sou a pior e penso "oh meu Deus, o que é que eu faço agora?". Foi um pouco isso que eu senti ontem ao ver muitas pessoas que eu, em pequena, via a competir pela televisão, mas depois pensei "eu agora estou aqui, não posso ficar com vergonha ou acanhada". A nível de infra-estruturas, eu acho que as infra-estruturas são boas. A nível de apoios é mais complicado, é óbvio que não temos muitos e vai tudo para o futebol. Nós só temos os apoios quando chegamos a um determinado nível.

Não os temos no processo para lá chegar e as pessoas esperam que nós tenhamos os resultados, sem termos esse apoio durante o processo. Eu senti isso quando me lesionei. Estás lesionada e os apoios são cortados do dia para a noite. Se uma pessoa não estiver num Benfica ou num Sporting é muito difícil. Eu não me posso queixar, porque o Benfica dá-me tudo como se eu fosse um jogador de futebol e eu estou feliz em Portugal porque tenho o meu clube e sei que tenho a possibilidade de ir treinar a qualquer sítio do mundo e tenho sempre o suporte do clube. Mas se não fosse o meu clube, eu tenho a certeza que eu não estava em Portugal. Eu só não fui para os Estados Unidos porque estava no Benfica. Eu considerei isso, mas pensei "o sonho dos atletas norte-americanos é serem atletas profissionais e eu a ir para lá vou ser amadora". Tive também a sorte do meu Mundial de Júniores ser lá e eu ter visto aquela realidade de perto e ter percebido que eles dão tudo o que o Benfica dá e não acho que os treinadores deles sejam melhores que os nossos. Acho que a principal e grande diferença poderia ser ter um bom grupo de treino e ter pessoas ao meu nível a treinar e competir comigo, a puxar por mim todos os dias.

BnR/PdA: Falaste um pouco das questões escolares e é verdade que nos EUA, o desporto escolar é bastante forte e as rivalidades entre atletas começam a sentir-se desde bastante cedo. Tu achas que essa rivalidade que eles acabam por sentir logo aos 13, 14 anos, acaba por influenciar no tipo de resultados que esses atletas serão capazes de atingir mais tarde?

TVC: Sem dúvida alguma! Aquilo é um bocado a lei de Darwin. Apenas sobrevivem os mais fortes e desde pequenos que se começa a perceber logo quem é que é forte o suficiente. Mas eu comparo muito isso com a situação do futebol no nosso país. Toda a gente anda no futebol e depois são muito poucos os que chegam lá. Sem dúvida que o desporto deles está muitíssimo bem estruturado, mas em Portugal, infelizmente, está apenas direcionado para o futebol e não chega às outras modalidades.

BnR/PdA: De facto não nos podemos comparar ao caso norte-americano até pela dimensão e estrutura do país. Mas não seria bom olharmos um pouco para o caso inglês ou até, quem sabe, pensar numa estrutura mais abrangente de desporto escolar a nível europeu?

TVC: Sim, claro. A nível europeu, existe a FISEC (Fédération Internationale Sportive de L'Enseignement Catholique) e a ISF (International School Sport Federation), cheguei a participar enquanto andava no desporto escolar, mas não têm, de facto, nada a ver com a realidade norte-americana. Acaba por ser um encontro de escolas que nem é bem de escolas, acaba por ser uma selecção outra vez.

BnR/PdA: No que diz respeito a trazer mais público para o desporto, em especial os mais jovens. Que tipo de iniciativas é que achas que podem ser particularmente interessantes para isso passar a ser uma realidade?

TVC: Eu acho que o desporto escolar deveria ser obrigatório. Ou seja, eu acho que para além da aula de Educação Física, todas as crianças deveriam escolher um desporto para fazer, como actividade extra-curricular. Acho que isso seria muito bom para dar a conhecer outros desportos que não o futebol. E é importante porque sinto que as pessoas só se lembram que há outras modalidades de 4 em 4 anos e sempre para exigir resultados. Este tipo de eventos como o deste fim-de-semana – Great City Games – em Portugal seria algo importante também. No entanto a cultura britânica é também diferente da nossa. Eu vi que no meu evento tinha uma atleta juvenil que foi apresentada como a esperança inglesa para daqui a 8 anos, ou seja, eles promovem muito as crianças e os jovens atletas e não apenas quando já és uma estrela, como acontece em Portugal.

BnR/PdA: Os ídolos são normalmente muito importantes para os jovens que acompanham a modalidade. Como esta é a última questão, vou-te complicar um pouco: Tens algum ídolo no desporto desde pequena, deixando de parte os teus familiares?

TVC: Quando eu era mais nova, os meus ídolos eram sempre os melhores. Ou seja, se eu vejo o Bolt a ganhar uma medalha, ele é o meu ídolo porque ele é o ídolo de toda a gente. Se eu vejo o Mo Farah a ganhar, ele é o meu ídolo porque ele é o ídolo de toda a gente. Eu acho que isso foi assim até determinada idade. Eu sempre tive como referência os nossos atletas, como a Naide Gomes, o Nelson Évora e outros mais antigos como a Aurora Cunha ou a Rosa Mota, mas a determinada altura passei talvez a valorizar outro tipo de atletas, que têm histórias difíceis de superação e que nos transmitem coisas muito positivas.

Consigo valorizar um atleta como o Jorge Paula, o Yazaldes ou o Arnaldo Abrantes, porque olho para a história de vida deles e inspiro-me. Eu olho para o Arnaldo Abrantes e vejo um médico, atleta olímpico, super bem-sucedido em ambas as partes e é óbvio que é algo a louvar e que te faz incentivar a querer fazer igual. Quando, por exemplo, estou na escola a stressar antes de uma prova, eu digo para mim própria "fogo, o Arnaldo é médico e foi aos Jogos Olímpicos ao mesmo tempo. Se ele consegue, eu também consigo". Em relação ao Jorge Paula e ao Yazaldes, treinando com eles e vendo a quantidade de lesões pelas quais eles passaram e o facto de terem caído e se terem levantado várias vezes, isso é algo que me inspira a lutar. Com o passar do tempo percebi que, por vezes, as referências não têm que ser aquelas pessoas mediáticas que ganham tudo, mas podem ser atletas que talvez até nunca tenham ido a um Europeu ou Mundial, mas que têm histórias tão interessantes para contar e tão motivadoras que acabam por nos entregar um pouco de si. Não digo ídolos porque sinceramente eu não idolatro ninguém, mas acho que posso retirar um bocadinho de toda a gente para poder moldar a pessoa que quero ser.

BnR/PdA: Tentas fazer isso em relação aos mais jovens ou achas que ainda é cedo?

TVC: (risos) É cedo. Eu fico feliz quando eles me vêm pedir para tirar uma foto, costumo sempre perguntar o que é que eles fazem e digo-lhes para não desistirem e para perseguirem o seu sonho. Sinceramente, eu gostava de um dia ser uma referência. Gostava que alguém quando pensasse em Atletismo, que eu fosse um dos primeiros nomes que lhes surgisse à cabeça. Quando eu penso em Atletismo, penso logo na Naide, no Nelson, na Aurora, na Rosa e gostava que um dia o meu nome estivesse junto com os deles.


Entretanto, como referimos, Evelise Veiga bateu o recorde Sub-23 de Teresa Carvalho, como a jovem atleta já preconizava. Fomos tentar perceber a reacção da atleta a este novo dado:

BnR/PdA: Já deves saber que a Evelise Veiga acaba de bater o teu anterior recorde Sub-23 com uma marca de 6.54m em Birmingham, sendo também agora a segunda atleta portuguesa da história a saltar mais longe. Esta marca da Evelise é algo que te motiva a querer ainda mais?

TVC: Sim, somos muitas a percorrer o mesmo sonho. É evidente que queremos todos ser os melhores e ganhar tudo, mas temos de ter consciência que todos os que treinam e sacrificam vários aspetos da sua vida pessoal também merecem ver frutos do seu trabalho. Fico feliz por ela porque se alcançou este salto foi por mérito e trabalho, o salto já estava dentro dela há mais tempo. É muito bom ter competição porque melhor do que ganhar é aprender a perder. Mas sou sincera em dizer que estou e sempre estive focada em mim e não no que as adversárias fazem. Podemos ir duas ou até mesmo três aos Jogos Olímpicos na mesma disciplina, temos todas timings diferentes e eu vou continuar a treinar para voltar a ter o meu.

pedr0

Citação de: Carlsberg87 em 05 de Junho de 2018, 21:27

BnR/PdA: Falaste de algumas marcas este ano que têm sido assombrosas. A título de exemplo, temos visto enormes resultados da Tamari Davis, da Briana Williams e, claro, da Sydney McLaughlin. A verdade é que tu a nível nacional tiveste algo muito semelhante. O que é que pensaste no momento em que saltaste os 6.52 com apenas 19 anos? Achaste que já nada te poderia parar?

TVC: Eu acho que sempre tive os pés muito bem assentes no chão, os meus pais sempre me passaram a mensagem de que o Atletismo poderia acabar um dia, muitas coisas podiam acontecer e não evoluir. Eu olho muito para as experiências que os outros atletas tiveram em Portugal e no estrangeiro. Foco muito nas coisas más porque tenho muito medo que me aconteça o mesmo. Mas confesso que no dia em que fiz isso eu pensei "tenho dois anos, faltam-me 18 centímetros, é óbvio que eu estou nos Jogos Olímpicos do Rio". Não pensei "sou a maior, ninguém me pára", mas pensei "nos Jogos do Rio estou lá, eu treino todos os dias, eu mereço estar lá, claro que vou conseguir". Realmente, foi um choque. Eu lesionei-me em Dezembro de 2015, em Janeiro de 2016 fui operada e sabia que só iria começar a treinar daqui a 6 meses e só com 2 meses de treino era óbvio que eu não ia conseguir ir aos Jogos Olímpicos.

BnR/PdA: Referiste há pouco o Aries Merritt, que é um atleta que também passou por uma situação complicada de saúde, que o afastou muito tempo de competição. O que é que passa pela cabeça de um atleta quando regressa à competição depois de tanto tempo parado?

TVC: Eu no início quando voltei, fiquei muito feliz. A primeira prova em que regressas sentes que finalmente acabou a maré de azar. Mas depois...é muito difícil gerir as diferenças de marcas. Antes da lesão, para mim fazer 6.15 ou 6.20 era o meu dia a dia, às vezes todos os saltos da mesma prova a 6.20, por vezes a cair em pé e ficava chateada com esses saltos. E agora saber que faço uma marca que para mim era banal é um bocado frustrante, porque não consigo entender o que é que se passa. Estou a fazer tudo bem mas não passo daquelas marcas. Ainda assim acho que temos que acreditar no processo e nunca desistir. Os desportos individuais exigem uma força brutal a nível psicológico. Olho por exemplo para o Aries Merritt e ele é recordista mundial, foi campeão olímpico, campeão mundial e mesmo assim perde provas. É impossível estar sempre no máximo e às vezes temos que dar dois passos atrás para poder dar três à frente. É nisso que eu acredito.

BnR/PdA: Os teus pais foram grandes atletas, o teu tio também e certamente eles foram grandes influências na tua vida e carreira. Que tipo de conselhos eles te foram dando? Foram eles que te incentivaram a seguir a via do Atletismo?

TVC: Não. A única coisa que os meus pais sempre me impuseram foi a escola. Foi do género "tu vais fazer Atletismo, mas vais passar todos os anos, vais acabar o 12.º e fazer um curso. Podes não exercer logo, mas sabes que tens alguma coisa na gaveta e um dia quando acabares a carreira tens um backup" e sempre me mostraram o exemplo de grandes atletas do tempo deles que hoje em dia não estão tão bem na vida como poderiam estado se tivessem estudos e tivessem percebido que o Atletismo não é para sempre. Foi a única mensagem que eles me passaram e eu confesso que sempre vivi com esse medo. Quando me aconteceu o que aconteceu ao joelho, fiquei com medo de nunca mais poder vir a saltar e pensei "agora, o que é que eu faço?". Eu até poderia estar a fazer os meus estudos de forma diferente. Poderia estar a fazer agora só metade das cadeiras e estender o curso ao longo dos anos, mas lá está, isso ia demorar muito mais a fazer e eu ia acabar o curso com 30 anos. Então preferi nunca usufruir do estatuto de atleta-estudante, faço o curso como uma pessoa normal e acredito que até há professores que nem saibam que eu sou atleta porque eu nunca troquei a data de um exame, a data de um teste e nunca falto às aulas. Eu também tenho consciência que o meu rendimento no Atletismo não é tão bom por causa disso e é por isso que estou muito motivada e acredito muito nesta época e na próxima época porque, depois de Junho, vou-me poder focar a 100% no desporto, principalmente na parte da recuperação. Eu durmo seis horas por dia e tenho a noção que nenhum atleta faz isso. Passo o dia na faculdade sentada a fazer trabalhos, vou treinar completamente estoirada e eu sei que não é bom, mas sei que é um projecto a longo prazo e prefiro fazer este sacrifício agora para depois poder colher os frutos mais tarde.

BnR/PdA: A Evelise ficou muito próxima do teu recorde sub-23 no ano passado (a Evelise fez 6.47, o recorde da Teresa é de 6.52). Achas que esse recorde sub-23 está em risco este ano? Como te sentes em relação a isso? [Evelise Veiga viria mesmo a bater o recorde sub-23 no passado dia 27 em Birmingham]

TVC: Acho. Tenho a certeza absoluta. É assim...eu acho que os recordes são feitos para serem batidos. Eu tenho o de juniores, bati o de sub-23, gostava de ter podido melhorar essa marca antes dos 23 anos, tenha pena de não o ter elevado um bocadinho mais, mas acho que esse risco existe sem dúvida. Ela tem muito potencial e tem ainda um ano de sub-23 pela frente. Não fico triste porque nada ganho em ter o recorde, só o nome no recorde. No entanto (risos) se a Evelise bater a minha marca passa a ser segunda melhor de sempre e eu isso não quero. Quero melhorar a minha marca e continuar a ser a segunda melhor de sempre e, quem sabe, um dia chegar aos 7 metros.

BnR/PdA: Agora vou-te fazer uma pergunta um pouco complexa. Algumas colegas tuas do Comprimento, nomeadamente a Brittney Reese – campeã olímpica e mundial – e a Lorraine Ugen, têm referido que as atletas no Atletismo são muitas vezes mais seguidas pela beleza ou aspecto físico. Achas que é verdade que os homens são mais seguidos pelas suas performances desportivas e as mulheres, muitas vezes, mais por essas questões de beleza?

TVC: (Longa pausa) Sim, concordo em certa parte. A imprensa faz isso em relação às mulheres, não só no Atletismo, mas em todos os desportos, vemos isso no ténis, na natação...existem sempre aquelas eleições das mais bonitas dos Jogos Olímpicos, por exemplo. Os jornais desportivos exploram muito essa vertente e no Atletismo nota-se que há uma ou duas figuras, como a Ivana Spanovic ou a Daria Klyshina que são conhecidas como as divas do Comprimento ou a própria Patrícia Mamona no Triplo Salto. E sim, isso nota-se e sente-se, até entre atletas. No entanto, não vejo uma realidade assim tão díspar entre homens e mulheres. Apreciar a beleza, aspeto físico ou personalidade de alguém é algo quase inato e entendo perfeitamente o porquê de isso acontecer e não condeno nem acho de todo descabido. Penso que o atleta não é só as marcas que faz, mas também a pessoa que é, ou seja, a forma como se apresenta e relaciona com as pessoas. O Usain Bolt e o Cristiano Ronaldo são prova disso, é lógico que são os melhores, mas têm bastante mais mediatismo do que atletas igualmente bons como o Michael Phelps ou o próprio Messi. O seu "personal branding", ou seja, a forma como exploram a sua marca pessoal e se "vendem" faz com que os públicos os adorem e "comprem" como se eles mesmos fossem uma marca. Acho que é uma situação inevitável, talvez seja mais notória em algumas mulheres porque a industria do desporto é maioritariamente consumida por homens, no entanto, acho mesmo que se verifica isso em ambos os sexos... Uma vez que o marketing foi a área que estudei na faculdade entendo perfeitamente o porquê de assim ser, basicamente só damos ao consumidor aquilo que ele quer.

BnR/PdA: O problema do doping voltou a estar nas bocas do mundo. Qual é a tua opinião em relação a situações como a de Naide Gomes – que viu a medalha de Bronze passar a Prata passados 12 anos dos Mundiais Indoor de Moscovo em 2006. O que sentes em relação a esses atletas que não viram o seu esforço reconhecido no local e tempo certo e o que sentes em relação aos atletas que infringem as leis?

TVC: Há uma coisa que sempre tive dificuldade em entender: o tempo que se demora a saber determinados resultados dos controlos anti-doping. Não consigo entender porque é que esses atletas só são apanhados tantos anos mais tarde. É completamente impensável estar a dar uma medalha a uma pessoa de uma coisa que aconteceu há 8 anos atrás, por exemplo. O dia e a hora já passou, o mediatismo já passou. Tudo o que a pessoa podia ter usufruído com isso já passou porque seres vice-campeão olímpico e passares para campeão olímpico não tem rigorosamente nada a ver. Também não percebo como é que há atletas que são apanhados uma e duas vezes e ainda continuam a competir. Há casos de contaminação que são provados, é verdade, e confesso que tenho receio disso. Mas quando se sabe que é premeditado acho que esses atletas deveriam ser erradicados ou se quisessem criar uma Liga apenas para as pessoas que queiram usar esse tipo de substâncias, como há certas competições no culturismo. E é uma situação que deixa todo o mundo em desvantagem, não apenas aqueles que perdem medalhas. Porque se pensarmos bem, por exemplo, os mínimos são cada vez mais altos, influenciados por essas performances, o que não permite a atletas limpos qualificarem-se para esses eventos. Se calhar eu fico em casa por causa desses mínimos adulterados por atletas dopados que baralharam a estatística.

BnR/PdA: Estão a chegar os Europeus. Portugal normalmente tem boas performances em Campeonatos da Europa, mas ainda assim é comum assistirmos a uma exigência desfasada por parte da imprensa face à nossa realidade. Achas que Portugal dá as condições ideais aos seus atletas ou sentes que se estivesses a viver no Reino Unido ou nos EUA, já poderias estar num outro patamar?

TVC: É uma pergunta difícil. Ontem por acaso em conversa com alguns atletas norte-americanos, um deles referiu que gostava de saber como poderia ter nacionalidade portuguesa. Porque o atleta em causa é medalhado olímpico e mundial e não consegue entender porque ninguém lhe dá valor e dizia que no meu país de certeza que alguém quereria saber dele. Chegámos também à conclusão que os ingleses têm bastantes mais apoios que os norte-americanos, mas isso acontece porque a estrutura do desporto em Inglaterra está montada de uma forma muito eficiente. Eu acho que a nível de condições não me posso queixar.

Tenho uma pista coberta, uma pista ao ar livre, tenho os fisios, os terapeutas, tenho tudo, mas às vezes sinto que é um bocado a nossa mentalidade portuguesa. Valorizamos sempre mais o que está no exterior do que no nosso próprio país. Um grupo de treino eu penso que poderia, sim, fazer a diferença, porque quando muitas pessoas boas treinam juntas, isso vai ajudar a subir o teu rendimento e isso vê-se no grupo de treinos do Iván Pedroso agora, que tem o Nelson Évora, a Ana Peleteiro, a Yulimar Rojas, o Teddy Tamgho, tudo atletas de topo. Eu acho que muitas vezes nós vivemos muito fechados. Eu vejo que nos outros países, os atletas estão sempre em estágios no estrangeiro, aprendendo e bebendo um pouco de cada país.

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fui ver e nos great city games, de americanos so competiram a allyson felix, aries merritt e o bershawn jackson.. ela falou no masculino pelo que a allyson nao seria ate pq ela é bastante reconhecida, o merritt tambem tem notoriedade. o Bershawn jackson é que nao tem tanta e ja foi campeao mundial e 3*nos jogos olimpicos.. sera que se estava a referir a ele? ou sera outro que esteve la e nao competiu?? 

Mikaeil


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teresavazcarvalho2018...
O fim deste ano está à porta e a retrospectiva do mesmo tem andado em loop na minha cabeça nos últimos tempos.
Quem me conhece sabe que feliz ou infelizmente, sempre fui a minha maior crítica. Tenho tendência para desvalorizar tudo o que faço pois sempre rotulei algumas conquistas pessoais como pura obrigação e sempre criei em torno dos meus sonhos e objetivos muita pressão e angústia. Mas este ano dei passos demasiado importantes na minha vida para passarem despercebidos. Este ano arrisquei, respirei fundo e saltei para o vazio. No livro da minha vida terminei diversos capítulos, continuei a escrever algumas histórias e adicionei novas páginas com novas personagens e aventuras.
O ano de 2018 fica marcado pelo final da minha licenciatura, o meu primeiro projeto profissional e a decisão de por o marketing em standby, precedida pela necessária saída da zona de conforto: mudança para Espanha.
Faz 2 meses que estou a viver em Valência. Deixei tudo em Portugal para me dedicar ao atletismo. Plantei uma semente e tenho-a regado todos os dias, mais tarde ou mais cedo sei que irei colher frutos, sejam eles quais forem.
Hoje escrevo este post porque pela primeira vez, em muito tempo, sinto-me orgulhosa de mim e do meu percurso. Ainda não estou onde quero estar, mas vou continuar a trabalhar e a escrever esta história que, sem a ajuda de pessoas e instituições, que não me abandonaram nos momentos menos bons, não podia ser tão bonita.
Seguimos juntos 🤜🏼🤛🏾❤️

Mikaeil


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Citação de: Mikaeil em 16 de Janeiro de 2019, 14:01
Espaço Pink alert.

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Diogo Antunes não ficou chateado, agora sacou a Patrícia Mamona ao Miguel Marques

Mikaeil




Naruto

#132
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Suspendeu a carreira de atleta.