Decifrando imagens do passado

RedVC

#1050
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Mistérios do Football Club

Belém, 1903, uma equipa trajando de branco alinha para uma câmara fotográfica:





Apesar da sua fraca qualidade gráfica, trata-se de uma fotografia de valor inestimável para a História do Sport Lisboa e Benfica.

Nela estão presentes 7 dos 24 fundadores do nosso Clube. Reconhecendo esse facto, Mário de Oliveira e Rebelo da Silva publicaram esta fotografia na página 8 do primeiro fascículo da sua monumental obra, "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954", a fonte decisiva para sabermos detalhes da História inicial do nosso Clube.


O Football Clube, foi o grupo que em 1903 constituiu o embrião do Sport Lisboa, clube fundado em 28 de fevereiro de 1904. Foi um grupo organizado de rapazes que moravam em Belém e que se juntaram para a prática do futebol. Também conhecidos por Belém Football Club ou Grupo dos Catataus, teve existência efémera, competindo informalmente contra outros grupos que se iam formando e desfazendo pelas imediações.


Belém, no início do século XX.


Durante o ano de 1903, a populosa e buliçosa Belém tinha deixado já há alguns anos de ser sede de um concelho, mas continuava a ser uma vigorosa localidade e, em particular para o nosso interesse, um dos palcos lisboetas do recrudescimento no interesse do futebol em Lisboa.

Na transição do século XIX para o século XX, a prática da modalidade tinha sofrido uma acentuada redução depois da questão do "Ultimato Inglês" e da perda dos terrenos usáveis para a prática do futebol, perto do Campo Pequeno, por via da edificação da grande praça de touros.

Belém foi então um dos palcos do recrudescimento do interesse no futebol. Mais do que noutro local, ali ocorreu a democratização do futebol, deixando de ser um exclusivo da juventude das classes mais favorecidas. Em Belém, existia muita gente jovem e muitos terrenos livres aproveitáveis para improvisar campos de futebol. Numerosos grupos de jovens, de composição mais ou menos fluida, iam praticando e com isso propagando o interesse pela modalidade. Esses grupos tinham muitas vezes a sua base em amizades vindas de bairros, escolas ou grupos familiares, mas integravam também elementos mais velhos, alguns trintões da primeira geração de praticantes, ativos no século anterior.



Alguns locais e aspetos sociais da Belém, no início do século XX. Fonte: AML.


Há uma tradição – errada – de atribuir a fundação do nosso Clube a um conjunto de miúdos pobres, órfãos casapianos unidos pela camaradagem e pelo prazer de praticar o jogo. A história fantasiosa dos "pés descalços".

Sendo inegável, prestigiante e fundamental para a matriz dos primeiros anos do nosso Clube, a componente casapiana não foi ainda assim a base da fundação do Sport Lisboa.

Entre os nossos 24 fundadores, temos apenas dois, Cosme Damião e Augusto Jorge de Sousa, que sabemos terem sido alunos casapianos. Outros, como Abílio Meireles, Eduardo Corga e Henrique Teixeira, tinham familiares ligados à Casa Pia mas, tanto quanto se sabe, não integraram o internato casapiano.

Assim sendo, é na juventude de Belém, em boa parte abastada ou remediada, que encontramos a maioria dos 24 fundadores do Sport Lisboa. Uma boa parte deles estavam já no Football Club e foram descritos nas diversas camadas de jogadores que Daniel dos Santos Brito, um desses fundadores, mais tarde evocou.

Sabemos que o Football Club estava organizado pois embora aparentemente não tenham sobrevivido listas de sócios ou (eventuais) regulamentos, existiu quotização de sócios. Aliás nos primeiros meses do Sport Lisboa as quotas impressas do Football Club ainda foram usadas para conveniência do Sport Lisboa. Subsistiram também documentos oficiais em que ainda se fazia menção ao grupo antigo.



Em março de 1903, já depois da transição do Football Club para o Sport Lisboa, foi emitido a fatura da compra de uma bola usada aos ingleses do Lisbon Cricket Club. Assinado por José Rosa Rodrigues, o presidente do Sport Lisboa.




Quotas do Belém Football Club e do Sport Lisboa. Assinadas por Daniel Santos Brito, secretário e Manuel Gourlade, tesoureiro. Foram cedidas na década de 60 por Cândido Rosa Rodrigues à Revista Flama.




Os homens


Apesar de no Football Club terem jogado mais elementos, vamos centrar atenções nos 11 rapazes presentes na fotografia, dando notas biográficas resumidas, sempre que possível para cada um deles.


José da Cruz Viegas tinha apenas 22 anos em 1903. Nasceu em Belém, mas era filho de algarvios de Olhão. Terá estudado na Casa Pia, financiado por uma bolsa de estudo. Foi militar de carreira, prisioneiro da I Guerra Mundial no campo de Bergen, tendo deixando relatos escritos impressivos dessa sua experiência. Manteve sempre interesse e atividade no futebol, promovendo alguns desafios de futebol entre seleções militares, iniciativa que ia colmatando à época, a inexistência de jogos internacionais. Apenas por um acaso do destino, José da Cruz Viegas não foi um dos fundadores do Sport Lisboa, mas isso não impediu que se tornasse um elemento decisivo nesses primeiros anos e em particular na definição das cores do Clube. É a ele que devemos o nosso "vermelho e branco"!




Foi do acervo pessoal de José da Cruz Viegas que vieram algumas raras e reveladoras fotografias desses anos pioneiros do futebol, entre as quais esta única fotografia do Football Club. Esse acervo foi fundamental para que Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva tenham escrito e ilustrado os primeiros capítulos da monumental obra "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".


Os irmãos Rosa Rodrigues, também conhecidos por irmãos Catatau, tinham raízes familiares em Almada e em Lisboa. Os manos lideraram quer o Football Club quer depois o Sport Lisboa, Em 1903, Cândido e António tinham respetivamente, 18 e 17 anos de idade. Na fotografia do Football Club aparecem-nos como avançados.

O seu irmão mais velho, José, tinha 19 anos de idade e apesar de não constar da fotografia, esteve também muito comprometido com os dois grupos. No ano seguinte, José Rosa Rodrigues tornar-se-ia no primeiro presidente do Sport Lisboa, tendo sido eleito pelos restantes 23 fundadores.

Os três irmãos Catatau eram, juntamente com mais uma irmã e um irmão mais novos, os filhos de Cândido Rodrigues, um abastado armador, empresário do sector pesqueiro, com concessões de pesca em diversos portos do centro e sul de Portugal.

Os Catataus eram os donos da bola e principais promotores das míticas futeboladas no pátio da Farmácia Franco, edifício aliás onde moravam à época, no apartamento do 1º direito. Em maio de 1907, Cândido e António decidiram desertar para o SCP, clube onde assumiram uma fugaz preponderância competitiva. Mais tarde, também José se juntaria aos manos no clube verde e branco.

Infelizmente, José e António teriam vidas curtas. Ao invés, Cândido viveria uma vida longa, tendo por algumas vezes defendido que o Sport Lisboa foi extinto em maio de 1907. Todos têm direito à sua verdade apesar de todas as evidências mostrarem o contrário...




Daniel dos Santos Brito tinha 20 anos de idade em 1903. Com raízes familiares em Torres Vedras e Lisboa, foi por longos anos um dedicado funcionário da Farmácia Franco. Assumiu o cargo de secretário das primeiras Direções do nosso Clube. Na fotografia do Football Club aparece-nos como médio à esquerda. Teve uma vida longa tendo fornecido informações fundamentais para conhecermos mais sobre os anos pioneiros do nosso Clube.





Manuel Gourlade, em 1903 tinha 31 anos de idade. Nascido numa família com origens francesas e com alguma visibilidade social, teve uma educação esmerada para a época, sendo, ao que tudo indica, fluente em inglês e francês. Contabilista na Farmácia Franco, foi o grande organizador e entusiasta quer do Football Club quer do Sport Lisboa, do qual foi fundador. Na fotografia do Football Club aparece-nos como defesa à esquerda mas existe uma outra em que nos aparece como guarda-redes.

Profundo conhecedor das regras do futebol, as quais mandou traduzir do original inglês, com participação também de Duarte José Duarte, Gourlade veio a assumir o que hoje poderíamos definir como as funções de treinador nos primeiros anos, até à mudança do Clube de Belém para Benfica. É uma das figuras maiores da nossa História.




Depois temos três elementos dos quais não abundam informações: Duarte José Duarte, Armando Macedo e Eduardo Afra Jorge da Costa. Do primeiro sabemos que era telegrafista e que era natural e criado em Belém onde tinha irmãos. Dos restantes sabemos que jogaram em equipas das categorias secundárias do Sport Lisboa e basicamente mais nada. Esse desconhecimento é uma lacuna importante no nosso conhecimento tanto mais que o último foi também fundador do Sport Lisboa. Dois mistérios que persistem por desvendar.





Raul Júlio Empis, foi também ele um fundador do Sport Lisboa. Nasceu no dia 28 de fevereiro de 1887, ou seja, Raul Empis celebrou o seu 17º aniversário no dia da fundação do Sport Lisboa... Na fotografia do Football Club aparece-nos como avançado, lugar aliás onde jogou no primeiro jogo conhecido, disputado em 1-01-1905, opondo do nosso Clube contra um adversário organizado.

A família Empis tinha raízes Belgas, nomeadamente de Antuérpia e o seu pai era um abastado empresário, sócio em múltiplos negócios do poderoso banqueiro e empresário Henri Burnay, ao qual aliás estava ligado por laços familiares (foi casado com uma Senhora da família Burnay antes de casar com a mãe de Raul). Raul cresceu com os irmãos no Palácio Burnay situado na Rua da Junqueira. Era tudo menos um pé descalço...





Carlos França tinha 17 anos de idade em 1903. Os Oliveira França tinham raízes no Seixal e em Belém. Na fotografia do Football Club é muito provavelmente Carlos França que está presente como médio centro, uma vez que não existe evidência que Manoel França, o seu irmão dois anos mais velho, alguma vez tenha praticado futebol. No entanto nota-se a curiosidade de que a legenda original da fotografia apenas refere "França".

Ambos os irmãos França vieram a ser fundadores do Sport Lisboa, mas Manoel faleceu em 1908 tendo sido muito provavelmente o primeiro dos 24 fundadores a desaparecer. Carlos França foi um destacado membro das nossas equipas de futebol durante a primeira década da nossa História. Na fotografia do Football Club aparece-nos como médio centro, um lugar destacado na equipa, o que revela que lhe eram reconhecidas virtudes futebolísticas. No entanto, parece ter jogado mais vezes a extremo esquerdo. Na fase final da sua carreira desportiva jogou com frequência nas categorias inferiores onde transmitia a sua experiência e a Mística do Clube. Teve uma vida curta, falecendo em 1930 com apenas 44 anos de idade.




Resta-nos falar de um homem que na fotografia nos aparece como guarda-redes. Segundo a legenda era identificado como Galeano. Quem seria?

Durante alguns anos, a minha interpretação foi que esse homem tinha parecenças fisionómicas acentuadas com... José Rosa Rodrigues! E de facto é sabido que José Rosa Rodrigues jogou algumas vezes a guarda-redes embora a sua polivalência também o levasse a jogar como avançado e defesa...




Seria "Galeano" uma alcunha dada a José Rosa Rodrigues, o mais velho dos manos Catatau?

Apenas recentemente com a localização de um registo, passei a dispor de indícios que apontam que se se tratavam de dois homens distintos. De José Rosa Rodrigues falamos atrás, restava esclarecer quem foi "Galeano".


Os indícios que recolhi proveem de três fontes. Em primeiro lugar, através de um registo de casamento (https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=5931659) revelou-se que em 28 de setembro de 1908, na Igreja paroquial de Santa Maria de Belém, casaram João Velasco Galiano e Augusta Carolina Ferreira de Matos. O noivo não esteve presente, nomeando um procurador para o representar. Segundo esse registo de casamento, João Velasco Galliano tinha na altura 30 anos de idade e era natural da cidade de Luanda, Angola, localidade onde provavelmente residia. João era filho ilegítimo de Euzébio Velasco Galliano e de Mariana João.

Esta família Galiano parece ter tido origem italiana e passagem pelo Brasil para depois se radicar em Angola. Euzébio seria muito provavelmente um jornalista que no final do século XIX foi também Diretor do jornal Angolense.

O segundo indício revelador veio de um Almanaque comercial em que nos aparece a informação de que João Velasco Galiano era farmacêutico e que em 1907 exercia atividade em Belém na morada onde estava situada a... Farmácia Franco!



Almanaque Palhares, 1907, pág. 159.



O terceiro indício provém do Centro de Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos, em que num livro de sócios se confirma que João Velasco Galiano era sócio correspondente da Ordem, com atividade em Luanda. A sua entrada na Ordem foi proposta por António Manuel Augusto Mendes, que tudo indica era o "velhote" Mendes de quem falava Daniel Santos Brito, numa das suas memórias dos gloriosos dias das futeboladas no pátio da Farmácia Franco.



Fonte: Ordem dos Farmacêuticos.



A conclusão que retiro destes elementos é de que João Velasco Galiano foi quase de certeza o guarda-redes do Belém Football Club, imortalizado na fotografia com que iniciamos o texto. Estaria a cumprir um estágio de aprendizagem na prestigiada Farmácia Franco e terá sido contagiado pela febre do futebol. Esteve no local certo à hora certa. Não foi caso único, mas isso são coisas para falar num outro dia.




Ned Kelly

Que trabalho do caraças! Obrigado por mais esta pérola. O prazer que nos dás com estes detalhes da nossa História!

RedVC

#1052
Obrigado Ned  O0

Muitas vezes começa por uma pista, uma observação que não bate certo. Depois é tentar desfiar o novelo e às vezes acaba-se com uma história que se integra noutra história maior e na qual temos parte. A História do Sport Lisboa e Benfica!

Jayson Tatum

Obrigado RedVC. Isto é pré-história do nosso Clube!

RedVC

#1054
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Crónicas do Benfica e do Benfiquismo – parte I


 

Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva



Ao longo da sua Gloriosa História, o Sport Lisboa e Benfica teve a contribuição de extraordinários atletas, dirigentes, treinadores e colaboradores com as mais diversificadas competências. Alguns são reconhecidos por todos os Benfiquistas, geralmente jogadores, dos quais recordamos o talento e a dedicação dos seus contributos. Esses são os imortais, sempre presentes no carinho da nossa memória.

E, no entanto, quão desconhecedores somos de tantos outros homens e mulheres que deram igualmente significativas contribuições para o Benfiquismo.

Vamos hoje falar de dois Benfiquistas, hoje quase anónimos, mas que no seu tempo deram uma extraordinária contribuição para o Benfiquismo. Essa contribuição está imortalizada e é uma referência incontornável para todos os que amam o Sport Lisboa e Benfica e procuram ver para lá da espuma do tempo, da polémica do momento, da bola que entra ou bate na trave. É incontornável para todos os que procuram saber as raízes do Benfiquismo e a explicação da grandeza do Clube.

Falamos de dois jornalistas, de seu nome, Mário Fernando de Oliveira (1890-1969) e Carlos Rebelo da Silva (1898-1970). Falaremos dessa contribuição e daremos os elementos biográficos possíveis.



Uma obra monumental

Em 1954, aquando das "Bodas de Ouro" do nosso Clube, Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva foram autores e responsáveis pela publicação da monumental obra "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".

Tratou-se de uma edição de autor (elaborada e paga do seu próprio bolso) que originalmente foi publicada em fascículos. No seu todo, é uma História cronológica dos primeiros 50 anos do nosso Clube, que compreende um total de 1.156 páginas, divididas por dois volumes (I - 575 páginas; II - 581 páginas).






Recibo de subscrição da publicação da obra em fascículos.



Na altura, foram também disponibilizadas capas duras que permitiram reunir os fascículos em dois grandes volumes. Quando aparecem e são leiloados bons exemplares desta obra, as licitações vencedoras chegam a atingir algumas centenas de euros.




Aquando da publicação desta obra, Mário Fernando Oliveira era o sócio nº 85 e Carlos Rebelo da Silva era o sócio nº 148, o que dá desde logo uma ideia da sua dedicação ao Clube. Mas, melhor do que qualquer consideração sobre o seu Benfiquismo, atentemos aos propósitos doa autores aquando da publicação desta obra:




O primeiro volume está dividido em 7 capítulos, cobrindo os primeiros 25 anos do Clube, desde a pré-fundação do Clube até ao ano de 1928, quando, terminada a liderança de Cosme Damião, o Sport Lisboa e Benfica trilhava novos rumos e desafios.





O segundo volume está dividido em outros 7 capítulos, cobrindo o período iniciado com as "Bodas de Prata", até aos excitantes tempos das "Bodas de Ouro" do Clube, que coincidiram com a construção e inauguração do Glorioso Estádio da Luz, lançando-se assim as bases para aparecer o grande Campeão Europeu de futebol da década de 60!




Rica, meticulosa, rigorosa e profusamente ilustrada, esta obra permitiu descobrir e publicar algumas das mais relevantes fotografias e documentos da História do nosso Clube, vindos das fontes originais, localizadas quer em arquivos institucionais quer em acervos particulares, muitos deles até então inexplorados.

Caso não tivessem sido localizados e usados nesta obra, é possível que muitos desses inestimáveis documentos estivessem hoje ignorados ou até perdidos, quiçá descartados no lixo produzido pela incúria e ignorância. A publicação dessa informação foi fundamental para conhecer e destacar a grandeza do nosso Clube relativamente a todos os outros clubes nacionais.




Algumas das separatas coloridas que integraram a "História do SLB 1904-1954".



Entre os autores, Mário Fernando de Oliveira foi o homem de campo que identificou e entrevistou algumas das figuras fundamentais da História do Clube. Foi também ele que reuniu e verificou a informação e que escreveu os textos. Aliás, já na sua atividade na revista "Stadium", Mário de Oliveira escreveu com alguma frequência artigos sobre eventos e figuras históricas do Clube, inclusive um especial de duas páginas celebrando os 40 anos do Clube (ver: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Stadium/1944/N84/N84_item1/P7.html). Tudo aponta que também tenha sido o ideólogo inicial desta obra, provavelmente pensando na aproximação das bodas de ouro do Clube.

É possível também que a ideia tenha germinado aquando da notável entrevista que Mário de Oliveira fez a Cosme Damião e que foi publicada no jornal "A Bola" na segunda-feira, 5 de março de 1945 (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2015/11/cosme-damiao-130.html). Cosme viveria apenas mais dois anos e o seu desaparecimento físico assim como a riqueza da informação deixada nessa entrevista, terão alertado Mário de Oliveira para a urgência de recolher e divulgar os testemunhos de outros pioneiros que ainda estavam vivos e contactáveis.

Infelizmente, não temos fotografias dessa entrevista a Cosme Damião, mas alguns anos mais tarde, quando Mário de Oliveira entrevistou Daniel dos Santos Brito, outro dos fundadores do nosso Clube, houve já o cuidado de registar esse momento e destacar a importância desse testemunho. Esse encontro histórico e a visita guiada aos locais emblemáticos de Belém, que deverão ter ocorrido em 1953, foram registados pela câmara fotográfica do filho de Carlos Rebelo da Silva.



Fotografia captada pelo filho de Carlos Rebelo da Silva, publicada na página 5 do volume I da "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954".



No próximo texto falaremos um pouco mais sobre os autores desta obra.
Cronistas do Benfica e do Benfiquismo.




alfredo


Çula

Tenho essa colecção completa.
Comprei na feira da ladra há uns 5 anos em estado absolutamente novo.

Duas semanas depois encontrei a mesma colecção na feira do alfarrabista do Chiado, a quase metade do preço do que tinha lá em casa.

Comprei na mesma.  :-X

RedVC

#1057
Citação de: Çula em 30 de Agosto de 2021, 19:07
Tenho essa colecção completa.
Comprei na feira da ladra há uns 5 anos em estado absolutamente novo.

Duas semanas depois encontrei a mesma colecção na feira do alfarrabista do Chiado, a quase metade do preço do que tinha lá em casa.

Comprei na mesma.  :-X


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RedVC

#1058
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Crónicas do Benfica e do Benfiquismo – parte II


Dezembro de 1944, todos os presentes num jantar-convívio comemorativo do 2º ano da revista Stadium posam para uma câmara fotográfica. Entre esse ilustre grupo de jornalistas e figuras relevante do desporto português da altura, podemos reconhecer Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva.



Carlos Rebelo da Silva (convidado, jornalista do DN) e Mário de Oliveira (colaborador) num jantar-convívio dos funcionários da revista Stadium em 1944. Fonte: Hemeroteca Lx.


Vamos hoje concluir a evocação destes dois grandes cronistas do Benfica e do Benfiquismo, mostrando quão ricas e diversificadas foram as suas carreiras profissionais.

Apresentaremos alguns elementos biográficos, mostrando alguns dos seus cruzamentos com episódios relevantes da História do Sport Lisboa e Benfica., demonstrando que, para lá de cronistas, foram por vezes contribuintes para a evolução do nosso Clube.



Para uma curta biografia de Mário Fernando de Oliveira (1890-1969)



Duas caricaturas de Mário Fernando de Oliveira pelo traço do grande caricaturista Pargana, seu colega na revista Stadium.


Por ser devido, salienta-se que muita da informação biográfica que aqui se apresenta para Mário de Oliveira, foi recolhida de um artigo publicado pelo Sr. José Carlos Vilhena Mesquita (ver: https://promontoriodamemoria.blogspot.com/2018/01/mario-de-oliveira-um-jornalista-na.html).


Filho de uma lisboeta e de um sapateiro natural de Viseu, Mário Fernando de Oliveira nasceu no dia 26 de novembro de 1890, na Rua São João da Praça 24, 3º, freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa.



Rua São João da Praça, nº 24, Lisboa. Fotografia captada em julho de 1907. Fonte: Machado & Souza, AML


Estudou no antigo Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, onde concluiu o curso especial de telégrafos, formação que, em 1909, lhe permitiu ingressar nos C.T.T. como aspirante auxiliar. Dois anos depois foi destacado para Faro onde assumiu funções de chefia dos serviços de eletrotecnia dos C.T.T.-T.L.P..


Em paralelo, entre 1912 e 1916, e sempre revelando sempre um enorme dinamismo, Mário de Oliveira iniciou uma intensa atividade no jornalismo colaborando com a imprensa local algarvia e, como correspondente, com diversos títulos da imprensa da capital, para os quais enviava notícias locais cobrindo os mais diversos assuntos algarvios.


Por terras algarvias permaneceria até 1916, envolvendo-se em iniciativas de divulgação do desporto e em particular na formação e organização desportiva do futebol. Empenhou-se na oficialização estatutária de alguns clubes locais e na organização de torneios regionais assim como de instituições reguladoras da prática desportiva. Foi um dos proponentes iniciais da implementação de um torneio de futebol de âmbito nacional, tendo depois, como delegado da Associação de Futebol do Algarve, integrado a comissão organizadora do primeiro campeonato de Portugal. Essa competição viria a realizar-se pela primeira vez em 1921, tendo sido conquistada pelo Futebol Clube do Porto embora tivesse sido restrita a dois competidores (FCP e SCP), numa final a duas mãos (Porto e Lisboa) e uma finalíssima (Porto). Havia ainda muito caminho a fazer...


Em 1926, já em Lisboa, assumiu a chefia da respetiva circunscrição técnica dos C.T.T., tendo em 1935 sido promovido para o cargo de chefe dos serviços telefónicos. Altamente qualificado e classificado, Mário de Oliveira integrou também o Conselho Disciplinar dos C.T.T. tendo redigido um regulamento interno da instituição. Foi ainda diretor da Associação de Classe do Pessoal Maior dos Correios e Telégrafos e redator do «Boletim» que lhe serviu de órgão público. E foi já como chefe de serviços de 1.ª classe que se reformou do quadro de inspetores dos C.T.T.


No jornalismo lisboeta, colaborou como redator (e por vezes diretor), com um vasto número de periódicos, em particular de títulos desportivo: «O Sport» de Lisboa, (1916-1920 e depois diretor, 1921-1924); «A Pátria» (1924), «Os Sports» (1925-1931); «Correio Desportivo» (1926); «O Sport Ilustrado» (diretor, 1934); «Sprint» (1934); entre muitos outros.


Entre toda essa atividade jornalística, destaque particular para a sua colaboração com a revista "Stadium", onde foi autor de artigos de divulgação do pioneirismo desportivo em Portugal. Integrou também a primeira redação do jornal "A Bola", fundado a 29 de janeiro de 1945, um periódico que alterou o panorama da imprensa desportiva da época, que na altura era liderada pela a revista "Stadium" e que contava também com "os Sports", e "O Norte Desportivo".

Note-se aliás que a entrevista a Cosme Damião que salientamos no texto anterior, foi publicada em "A Bola" apenas um mês após a sua fundação. Por fim, colaborou também e quase até ao fim da sua vida, na secção desportiva do jornal «O Século», onde foi colega de Carlos Rebelo da Silva.



Fonte: Em Defesa do Benfica



Como se ainda não bastasse, Mário de Oliveira assumiu importantes cargos diretivos nas Federações Portuguesas de Ciclismo e de Natação. Esteve ainda integrado na organização do I Congresso Nacional de Futebol, realizado em Lisboa no ano de 1938, em que se comemorou o 50.º aniversário da introdução do futebol em Portugal.



Mário de Oliveira em 1946, discursando na Federação Portuguesa de Natação. Fonte: Hemeroteca Lx.



Mário de Oliveira casou aos 52 anos de idade com Zita Paula Gema dos Reis, uma viúva de 43 anos com ascendência familiar de Faro. Depois de uma vida incrivelmente rica e produtiva, faleceu em Lisboa, com 78 anos de idade no dia 25-05-1969, tendo ainda oportunidade de ver as conquistas europeias e o esplendor planetário atingido pelo seu Benfica.



Notícia do funeral de Mário de Oliveira (fonte: DL) e última fotografia conhecida.[/color



Paz e Honra à memória de Mário Fernando de Oliveira.



Para uma curta biografia de Carlos Rebelo da Silva (1898-1970)


Infelizmente, para Carlos Rebelo da Silva disponho de menos elementos biográficos relativamente aos apresentados para Mário de Oliveira. Por ser devido, salienta-se que alguma dessa informação biográfica foi recolhida de artigos escritos pelo não menos notável cronista do Benfica e do Benfiquismo, que se chama Alberto Miguéns.

Carlos Rebelo da Silva terá nascido em 1898, mas ignoro ainda em que local. Teve um prestigiado embora por vezes atribulado, percurso profissional de várias décadas, ligado ao "mundo dos jornais". Entre outros periódicos, Carlos Rebelo da Silva foi redator desportivo em "O Século" e no "Diário de Notícias" mas é mais recordado pela sua longa atividade no jornal satírico "Os Ridículos".



Homenagem do "Eco dos Sports" a figuras da imprensa Lisboeta na década de 30. Fonte: delcampe


O jornal satírico "Os Ridículos" (ver: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/OsRidiculos/OsRidiculos.htm) foi fundado em 1895, mas ao longo da sua história teve várias séries e algumas descontinuidades. Entre 1933 e (pelo menos) 1953, Carlos Rebelo da Silva foi diretor, editor e proprietário deste periódico, tendo nesse período sido confrontado com uma forte censura prévia, tornando-se aliás um dos títulos de imprensa que mais problemas teve com a censura salazarista.



"Os Ridículos" era um periódico que não poupava na sátira, tornando-se alvo constante do lápis azul. Fonte Matos e Braga, 2009.


Para lá do humor corrosivo com acutilante alcance político e social, "Os Ridículos" tinha um estilo único desde logo dado pelo traço inconfundível dos desenhos publicados na primeira página. Contava para isso com a colaboração literária de notáveis cronistas e de diversas gerações de desenhadores e caricaturistas de primeira água como Silva Monteiro, Natalino Melchiades, José Pargana, "Alonso", Américo, Stuart Carvalhais e Jorge Colaço.


Aliás, a publicação da "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954" só foi possível porque Carlos Rebelo da Silva era proprietário da gráfica do jornal "Os Ridículos", onde os fascículos foram impressos. O objetivo dessa colaboração foi facilitar a burocracia, acesso à tipografia (Carlos Rebelo da Silva era proprietário) e, principalmente, diminuir os custos de uma publicação em fascículos, com distribuição mensal, assinaturas, venda de capas duras para encadernar em dois volumes, entre outras razões.

Carlos Rebelo da Silva entrou para sócio do Sport Lisboa e Benfica ainda na década de 20 tendo dado algumas importantes contribuições ao Clube. Em 1930, durante a primeira presidência de Manuel da Conceição Afonso, integrou a importante Comissão de Estatutos e Regulamentos onde teve como parceiro António Ribeiro dos Reis. Em 1954, Rebelo da Silva ostentava o cartão de sócio com o número 148!


Nessa longa dedicação ao Clube, inevitavelmente no seu percurso profissional, acabou por ter a oportunidade colaborar com o semanário "O Benfica0". Numa primeira fase, a partir de março de 1943 e durante dois anos, foi redator principal de "O Benfica", contribuindo de forma ativa para um período de franco progresso do jornal, traduzido num aumento de tiragem em cerca de 30%.

Ainda assim, em princípio de 1945, Rebelo da Silva acabaria por sair do cargo em aceso litígio com a Direção liderada por Félix Bermudes. Essa saída embora despoletada por incidente circunstancial ligado ao papel do editor do jornal, evoluiu de forma a que fossem acentuadas – em termos públicos - diferenças de visão relativamente à ação da Direção e da situação associativa do Clube. Viviam-se tempos conturbados na vida interna do Clube e Carlos Rebelo da Silva era apenas um dos muitos críticos da gestão do Clube, que reclamavam uma modernização de processos e das infraestruturas do Clube por estas não dignificarem nem acompanharem o crescimento associativo desses anos.



Fonte: Hemeroteca Lx



Entre esses críticos estavam figuras que se revelaram fundamentais para o substancial progresso do Clube na década seguinte, tais como Ferreira Bogalho e Manuel da Conceição Afonso, entre outros. Discutia-se de forma acesa a localização, amplitude e expansibilidade futura do novo parque desportivo. Discutia-se também a organização do Clube, a gestão desportiva competitiva, etc. E assim, não obstante o seu prestígio, reconhecido como uma figura de primeira grandeza da História do Clube, Félix Bermudes perderia as eleições de 1947, saindo muito desgostoso do cargo, tanto que quase abandonou o Clube.

Felizmente acabou por imperar o bom senso. A vontade da maioria impôs-se e mesmo implicando dolorosas cisões, os eleitos pelos sócios colocaram o Clube acima de tudo e todos, trabalhando para o progresso seguro e constante do Clube. Antes como agora, essa mudança ou a continuidade terá de ser definida pelos sócios, assente na discussão interna e na votação livre e democrática. No seu tempo, Carlos Rebelo da Silva contribuiu ativamente para essa agitação e para esse enriquecimento do Clube. Antes como agora essa é uma das mais nobres contribuições que qualquer Benfiquista pode dar ao seu Clube...

Mais tarde, já no início do mandato da Direção de Mário Madeira., Carlos Rebelo da Silva voltaria ao jornal "O Benfica", sendo nomeado diretor, assumindo o cargo em 12-03-1949, e mantendo-se nessas funções durante 4 anos. Quando abandonou o cargo em 28-03-1953, deixou a sua assinatura num total de 212 edições!



Notícia da nomeação de Carlos Rebelo da Silva para diretor de "O Benfica".


Num belo artigo onde expõe a evolução do nosso jornal, Alberto Miguéns escreveu acerca da contribuição de Rebelo da Silva (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/11/sete-e-meio-ii-o-benfica-como-vanguarda.html):


"Com Rebelo da Silva surge a simplificação do nome - de Sport Lisboa e Benfica" para "O Benfica" - e a cor vermelha rubra garrida num cabeçalho simples, mas bem "esgalhado", À Benfica. A primeira (e decisiva) modernidade chegava ao nosso Semanário. Pela mão (cabeça) de um perito na bela arte de bem tipografar e dar leitura a mentes que dela necessitavam. Como do pão para a boca. Na edição que estreou 1950 duas inovações que se mantiveram até à actualidade, ainda que passando por alterações de modernização dessas duas ideias base fundidas numa: O Benfica a vermelho!"


Entre as históricas edições do jornal que Carlos Rebelo da Silva assinou, salientam-se duas, em que se relatavam a conquista da Taça Latina e a da partida para aquela maravilhosa digressão a África.



Duas edições históricas do jornal "O Benfica, assinadas pelo diretor Carlos Rebelo da Silva.


Sempre ativo, Rebelo da Silva esteve também na comissão organizadora da grande homenagem Benfiquista ao capitão Francisco Ferreira, que viria a decorrer no dia 3 de Maio de 1949. Como todos sabemos, esse evento ficaria para sempre associado à tragédia de Superga.



Dois aspetos da homenagem a Francisco Ferreira e à equipa do Torino antes e depois da tragédia de Superga. Carlos Rebelo da Silva esteve envolvido nas homenagens. Fonte: Hemeroteca Lx.



Também no exercício da direção do jornal "O Benfica", Carlos Rebelo da Silva organizou um evento de homenagem aos sócios que cumpriam 25 anos de ligação ao Clube.



Maio de 1949. Fonte: Hemeroteca Lx.



Mas a ação de Rebelo da Silva no nosso Clube foi bem mais alargada e por vezes com carácter inovador. Ainda em 1945, integrou uma Comissão de Iniciativa e Propaganda, altura em que esteve envolvido na criação e uma casa de repouso para atletas e eventualmente sócios do Sport Lisboa e Benfica

A iniciativa pretendia a construção de uma casa que fosse um prolongamento do Clube, localizada perto de Lisboa, mas em pleno campo. Essa casa estaria vocacionada para receber atletas, visando em particular estágios em vésperas de grandes provas. Ou seja, era uma proposta de um "Seixal" quase 60 anos antes de isso acontecer... Apesar de estarem previstos eventos desportivos e artísticos para angariar fundos, ao que soube, a ideia não se veio a concretizar. Apenas na década seguinte, em 31 de agosto de 1954, viria a ser inaugurado o Lar do jogador, projeto pensado por Otto Glória e o presidente Ferreira Bogalho e que se viria a revelar fundamental para a progressão do nosso futebol. Rebelo da Silva e seus companheiros de projeto, no seu vibrante voluntarismo Benfiquista, estavam à frente do seu tempo.



Carlos Rebelo da Silva, um Benfiquista activo! Fonte: Hemeroteca Lx.


Carlos Rebelo da Silva terá falecido em 1970, mas ignoro ainda a data precisa. Não tendo mais elementos biográficos de Carlos Rebelo da Silva, fica aqui o compromisso de complementar a informação agora apresentada com factos relevantes que vier a encontrar.


Paz e Honra à memória de Carlos Rebelo da Silva!






Baron_Davis


RedVC

Equipa da meia-final





1965

Participants:

Real Zaragoza (Spain)
SL Benfica (Portugal)
CR Flamengo (Brazil)
Real Betis (Spain)

Semifinals [Aug 28]
SL Benfica   2-1 Real Betis
  [1-0 Eusebio 51´, 2-0 Eusebio (p) 59´, 2-1 Ríos 83´]
SL Benfica:   Costa; Pereira, Cavern, Germano, Raúl, Ferreira, Pinto,
              José Augusto, Eusebio, Torres (pedras), Coluna, Simoes.
Real Betis:   Pérez-Estévez; Aparicio, Ríos, Grau, Quino, Montaner,
              Zacarizom, Rogelio, Ansola, Pallarés, Cruz.
Real Zaragoza   3-0 CR Flamengo
  [1-0 Marcelino 65´, 2-0 Enderiz 75´, 3-0 Marcelino 78´]
R. Zaragoza:  Yarza; Cortizo, Santamaría, Reija, Endériz, Violeta, Canario,
              Santos, Marcelino, Villa, Lapetra.
Flamengo:     Waldomiro; Murilho, Diato, Jayme, Jarvar (Walter), Paulo Enrique,
              Pedrinho (Samuel), Amaury, Silva, Evaristo, Fefeu.


Third place match [Aug 29]
CR Flamengo   3-0 Real Betis
  [1-0 Evaristo 11´, 2-0 Amaury, 3-0 Evaristo 85´]
CR Flamengo:  Waldimiro; Murinho (Jarbas), Lui Carlos, Jaime, Nelsinho,
              Paulo Henríquez, Amaury, Fefeu, Evaristo, Silva, Neves.
Real Betis:   P. Estévez; Aparicio, Ríos, Paquito, Quino, Montaner, Cruz,
              Pallarés (Landa), Ansola, Rogelio (Lasa), Zacarizo.


Final [Aug 29]
Real Zaragoza   3-2 SL Benfica
   [1-0 Violeta 4´, 1-1 Torres 11´, 2-1 Santos (p)69´,
    3-1 Villa 77´, 3-2 Eusebio 87´]
R. Zaragoza:  Yarza; Cortizo, Santamaría, Reija, Endériz, Violeta,
              Canario (Encontra), Santos, Marcelino, Villa, Pais.
SL Benfica:   Costa Pereira; Cavem, Germano, Cruz, Calado, Raúl,
              José Augusto, Colunna, Torres, Eusebio, Simoes.


Fonte: http://www.rsssf.com/tablesc/carranza.html#65


Çula

Tenho algures aqui por casa uma colecção de fotos relativas a este torneio (várias edições) e tenho quase a certeza que há lá material desta edição de 1965.

Vou ver se encontro e meto aqui algumas delas.

goscinny13


RedVC

#1063
-275-
Ases com mãos de oiro – parte I

Uma das mais reconhecidas fotografias da História do Sport Lisboa e Benfica:




Os bicampeões europeus posam, eternamente jovens, a celebrar a glória que trouxeram ao maior Clube Português.

Seis décadas passadas, muitos Benfiquistas ainda serão capazes de reconhecer a maioria dos jogadores. Ao contrário, muito poucos serão capazes de reconhecer dois dos homens presentes nesta fotografia.

De pé, entre José Augusto e Germano está José de Sousa Pinho, médico.

Depois, entre Béla Guttmann e José Águas, está Hamilton Marques Pena, massagista.

Dois homens que serviram o Clube de forma dedicada e profissional e que merecem ser reconhecidos pelo seu próprio direito.

O objetivo deste, e dos próximos quatro textos, é usar fotografias do passado para recordar alguns médicos, enfermeiros e/ou massagistas que deram dedicadas e inestimáveis contribuições ao Sport Lisboa e Benfica.

Sem pretensões de ser exaustivo, porque estamos a falar de muitas décadas até porque faltam dados biográficos, e sabendo que muitos outros ficarão por lembrar, os que foram escolhidos serão evocados numa perspetiva de prestação de homenagem a todos os que deram o seu contributo ao Clube nesta área tão importante, apesar de muitas vezes invisível.

Assim se continuará a cumprir um dos objetivos deste tópico, que é ilustrar, divulgar e honrar a memória de Ases que nos honraram o passado.


José de Sousa Pinho
(Décadas 40-60)



No seu tempo, o Dr. Pinho foi uma figura extraordinária, distinguindo-se não apenas pelo exercício das suas funções médicas, mas também pela sua grande sociabilidade.

Nasceu em Lisboa em agosto de 1917. Ficou órfão aos 4 meses de idade quando o seu pai foi assassinado durante o movimento revolucionário de 6 de dezembro de 1917. O seu pai era funcionário público, mas tinha funções adstritas ao Ministério da Guerra, e terá estado no local errado durante o movimento que depôs Bernardino Machado, um presidente eleito democraticamente e levou ao poder o major Sidónio Pais. Sidónio seria assassinado, um ano depois, a 14 de dezembro de 1918.

Não sei ao certo quando o Dr. José Pinho começou a colaborar com o Clube, nas tudo aponta para que tenha sido durante a década de 40, uma vez que já o encontramos em plenas funções, integrado na comitiva que fez a célebre digressão a África, no Verão de 1950, logo após a conquista da Taça Latina.



Fonte: Em Defesa do Benfica.


Nessa digressão, o Dr. Pinho foi um dos mais animados membros da comitiva, tendo testado não apenas a sua resistência física como também os seus conhecimentos. Nas crónicas publicadas no jornal "O Benfica", o Dr. Pinho foi diversas vezes descrito como um dos mais alegres e comunicativos elementos da comitiva. E muitas vezes aquele que revelava maior apetite...




Esquerda: excerto uma crónica publicada em "O Benfica" aquando da digressão de África em 1950. Fonte: Em Defesa do Benfica. Direita: aspeto de uma refeição da comitiva tomada em Luanda.


O preço do desgaste provocado por essa longa digressão seria pago na desastrosa temporada desportiva seguinte. Uma temporada que provavelmente foi também muito trabalhosa para a equipa médica do Benfica.

Ao que sei, o Dr. José Pinho não integrou a comitiva Benfiquista que participou na "Taça Charles Miller", disputada no Brasil em 1955, mas em 1957 integrou a comitiva que fez outra grande digressão sul-americana. Nessa, como em muitas outras ocasiões, o Sport Lisboa e Benfica deixou sempre uma imagem inesquecível de grandeza quer do ponto de vista desportivo quer do ponto de vista social.



Uma comitiva Benfiquista em 1962.


Mas os momentos mais exaltantes do Dr. José Pinho foram vividos na Europa, e em particular em Berna e Amesterdão. O Dr. Pinho, tal como o seu dedicado assistente Hamilton Pena, esteve presente e ativo nas comitivas que por duas vezes conquistaram a Taça dos Clubes Campeões Europeus.



A equipa médica integrada na comitiva Benfiquista que estagiou em Spiez, antes da final de Berna.


Sentado no banco, teve a oportunidade de assistir a alguns dos jogos míticos da nossa História. Com que nervos terá assistido a esses jogos, assaltado pelo duplo sobressalto de ao mesmo tempo que via o seu Benfica a competir, ver os seus atletas sempre em risco de se lesionar.



Durante o jogo, o Dr. Pinho fumando ali ao lado de gigantes Benfiquistas!


Nos balneários e enfermarias, o cuidado meticuloso, o trabalho de equipa com os seus massagistas e enfermeiros. Em particular, trabalhou de perto com Hamilton Pena, de quem falaremos mais à frente neste texto.



Nas suas mãos e no seu saber estavam as esperanças de milhões!


Para a história daquelas duas finais europeias, ficou também o susto com o ataque cardíaco do presidente nos balneários de Berna e aquela curiosa imagem do Dr. Pinho a cuidar do ursinho "Benfica", que foi oferecido à comitiva Benfiquista pelo jardim Zoológico de Amesterdão. Uma oferta só possível naqueles tempos!



Um susto em Berna e um momento de carinho em Amesterdão.


Foi um tempo de grandes e justas celebrações. Exaltante! À Benfica!




Um dos eventos de festejo dos bicampeões europeus, em maio de 1962.


Desconheço a data da morte do Dr. José Pinho.

Uma vida cheia e que tocou milhões de outras vidas. Paz e honra à memória do Dr. José Pinho.



Hamilton Marques Pena
(Décadas 60-80)


Hamilton Marques Pena nasceu em 09-07-1927 em Lisboa, na freguesia do Socorro.

Desconheço outros elementos biográficos iniciais, mas sei que em 1952 já tinha a sua especialização de enfermeiro-massagista uma vez que chegou a ter ficha de inscrição individual no Comité Olímpico Português para participar como massagista, na XV Olimpíada de Helsínquia, em 1952. Infelizmente para ele, não terá chegado a participar nos Jogos.



Fonte: COP


Em 1956 esteve ao serviço da Federação Portuguesa de Futebol, dando apoio à seleção nacional B, inclusive em deslocações ao estrangeiro. Esteve algumas temporadas ao serviço do FC Barreirense, tendo a sua última época sido em 1959-1960.

Tudo indica que tenha sido recrutado pelo Benfica na época de 1960-1961, vindo para substituir Mão de Pilão, o notável massagista brasileiro que o presidente Ferreira Bogalho tinha ido buscar ao CR Vasco da Gama por sugestão de Otto Glória.

Hamilton fez assim uma entrada pela porta grande, ajudando o Benfica a sagrar-se bicampeão europeu nas duas temporadas seguintes e, como todos sabemos, falhando o título de tricampeão provavelmente por causa de uma porrada de Pivatelli em Coluna e de um fora de jogo escandaloso não marcado de Altafini... Nem Hamilton Pena conseguiu remediar aquela agressão não punida nem o árbitro quis ter olhos de ver para cumpri a lei do jogo...

Mas, Coluna foi sempre um alvo preferencial nessas finais. Em Berna pelo que se diz, depois de uma porrada na primeira parte, perdeu por completo a memória do que fez até ao intervalo.



Hamilton Pena e o Dr. José Pinho apoiando Coluna durante a final de Berna, 1961


Com uma equipa recheada de tão grandes talentos e que mostravam tanta raça nos jogos, não é de estranhar que Hamilton Pena tivesse muito trabalho em particular no final dos jogos.



Hamilton Pena tratando das mazelas sofrida por Eusébio, Costa Pereira, José Augusto e Torres.


Ao longo de mais de 3 décadas em que esteve ao serviço do Glorioso, Hamilton viveu muitos momentos inolvidáveis, alguns dramáticos, mas sempre com uma intensidade só possível pela dimensão planetária que o Benfica tinha nesses anos.



Os festejos da i0nesquecível conquista do torneio Ramón de Carranza, em 1963.


Grandes figuras e momentos de sentida homenagem.



Hamilton Pena testemunhando a condecoração de José Águas.


A qualidade do seu trabalho era amplamente reconhecida, sendo os seus serviços frequentemente requisitados pela FPF como por exemplo no Mundial de 1966, competição em que Eusébio foi o melhor marcador e claramente o melhor futebolista.



A equipa médica da seleção nacional de futebol de Portugal que participou no Mundial de 1966.


Integrou um dos grupos mais fortes da História da equipa nacional de futebol.



Foto de grupo da seleção nacional de futebol de Portugal que participou no Mundial de 1966.


Foram jogos inesquecíveis e com uma recompensa que ficou aquém do merecido.



Hamilton ao fundo observa o Rei no "seu" Mundial.


Em 1972, também esteve presente na inesquecível participação da seleção portuguesa na Taça Independência do Brasil, também conhecida como Minicopa ou Mundialito. Nada de admirar atendendo que o selecionador era o "nosso" José Augusto e a equipa nacional tinha 12 jogadores do Benfica. E só não foram 13 porque António Simões fraturou um braço pouco antes da partida da equipa para o Brasil! A nossa seleção perdeu apenas no último minuto da final contra o Brasil, bem menos desgastado do que os portugueses. Até à final foram "banhos de bola", como escreveu o grande jornalista Carlos Pinhão!



A comitiva da seleção nacional que participou no Mundialito no Brasil em 1972.


Hamilton Pena trabalhou com muitos dos melhores treinadores da História do Benfica. Foi um desfile de grandes jogos, grandes vitórias, grandes profissionais, momentos inesquecíveis. Uma vida bem vivida, nos anos mais brilhantes da História do Sport Lisboa e Benfica!




Momentos gloriosos


Foram tempos deslumbrantes em que aqueles homens deram novos mundo ao mundo do Benfica!



Glória aos Gloriosos!


Desconheço a data da sua morte.


Uma vida cheia e que tocou milhões de outras vidas. Paz e honra à memória de Hamilton Marques Pena.







Alexandre1976

Li uma vez que o inigulavel José Águas referiu que numa das finais europeias desabafou com o Dr.Pinho por causa da abstinencia a que os jogadores eram obrigados.O saudoso médico disse ao Grande Capitão para tomar um brandy e um café.
Hamilton Pena foi um dos iconicos membros do nosso departamento médico.Muitos Benfiquistas poderão desconhecer mas pertence a uma linhagem de massagistas e enfermeiros onde pontificaram Mão de Pilão,Hamilton Pena,Palhinhas ,José Ramos ou Asteronimo Araujo. Homens que tambem ajudaram e muito a fazer o Grande e verdadeiro Benfica.