Chalana, o Pequeno Genial


Outras fichas

Fernando Chalana

Nome completo
Fernando Albino de Sousa Chalana
Posição
avançado
Posição detalhada
Extremo Esquerdo
Número
10
Pé preferido
Esquerdo
Altura
1.65 m
Data de nascimento
10 Fevereiro 1959
Data de morte
10 Agosto 2022 (63 anos)
País
Portugal
Naturalidade
Barreiro - Portugal
Internacionalizações
Internacional A
Periodo na equipa principal

1976-1984

1987-1990


Equipa Principal Jogos Minutos Cartões (A./V.) Golos
  1975/1976 2 72 0 / 0 0  
Campeonato Nacional 2 72 0 / 0 0
Amigáveis 0 0
  1976/1977 33 2879 0 / 0 11  
Campeonato Nacional 28 2484 0 / 0 10
Taça de Portugal 3 215 0 / 0 1
Taça dos Campeões Europeus 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 13 5
  1977/1978 37 3088 0 / 0 8  
Campeonato Nacional 28 2429 0 / 0 8
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 3 270 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 4 389 0 / 0 0
Amigáveis 7 2
  1978/1979 35 2802 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 30 2532 0 / 0 3
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 2 180 0 / 0 0
Taça UEFA 1 90 0 / 0 1
Amigáveis 10 0
  1979/1980 10 802 0 / 0 0  
Campeonato Nacional 8 637 0 / 0 0
Taça UEFA 2 165 0 / 0 0
Amigáveis 3 0
  1980/1981 39 3421 0 / 0 3  
Campeonato Nacional 24 2091 0 / 0 1
Taça de Portugal 6 540 0 / 0 0
Taça das Taças 8 709 0 / 0 2
Supertaça 1 81 0 / 0 0
Amigáveis 7 0
  1981/1982 31 2390 0 / 0 1  
Campeonato Nacional 21 1549 0 / 0 0
Taça de Portugal 6 495 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 2 166 0 / 0 1
Supertaça 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 8 1
  1982/1983 46 3840 1 / 0 5  
Campeonato Nacional 29 2486 1 / 0 3
Taça de Portugal 6 411 0 / 0 2
Taça UEFA 11 943 0 / 0 0
Amigáveis 8 2
  1983/1984 34 2764 1 / 0 7  
Campeonato Nacional 23 1908 1 / 0 7
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 1 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 4 360 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 4 316 0 / 0 0
Supertaça 2 180 0 / 0 0
Amigáveis 3 2
  1987/1988 18 1022 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 10 641 0 / 0 2
Taça de Portugal 4 283 0 / 0 2
Taça dos Campeões Europeus 3 25 0 / 0 0
Supertaça 1 73 0 / 0 0
Amigáveis 1 0
  1988/1989 18 1224 0 / 0 4  
Campeonato Nacional 14 940 0 / 0 2
Taça UEFA 4 284 0 / 0 2
Amigáveis 12 0
  1989/1990 15 441 0 / 0 0  
Campeonato Nacional 8 359 0 / 0 0
AF Lisboa Taça de Honra 1ª Divisão 2 0 0 / 0 0
Taça de Portugal 1 15 0 / 0 0
Taça dos Campeões Europeus 3 45 0 / 0 0
Supertaça 1 22 0 / 0 0
Amigáveis 12 1
Total Jogos Amigáveis 84 13
Total Jogos Oficiais 318 24745 2 / 0 47
Na equipa principal

Primeiro jogo

Último jogo

SL Benfica 3 - 0 SC Braga

Sáb, 30 Novembro, 2002, 18:00

Campeonato Nacional

12ª Jornada, Sporttv
Estádio da Luz (1954 - 2003), Lisboa

Por Diavolo Rosso a Quarta, 31 Janeiro 2024


Outras fichas

Fernando Chalana

Nome completo
Fernando Albino de Sousa Chalana
Posição
treinador
Data de nascimento
10 Fevereiro 1959
Data de morte
10 Agosto 2022 (63 anos)
País
Portugal
Naturalidade
Barreiro - Portugal
Periodo na equipa principal

2008-2008


Equipa Principal Jogos Vitórias Empates Derrotas
  2007/2008 10 3 (30%) 3 (30%) 4 (40%)  
Campeonato Nacional 8 3 (38%) 3 (38%) 2 (25%)
Taça de Portugal 1 0 (0%) 0 (0%) 1 (100%)
Taça UEFA 1 0 (0%) 0 (0%) 1 (100%)
Total 10 3 3 4
Na equipa principal

Primeiro jogo

Último jogo


Por administrador a Quinta, 25 Janeiro 2024

MANOCAS37


Nome Completo: Fernando Albino Sousa CHALANA
Posição: Extremo Esquerdo
Nacionalidade: Português (Internacional A)
Data de Nascimento: 10-02-1959
Número da Camisola: 10
Pé Preferido: Direito



Épocas ao serviço do Benfica: 12
Total de Jogos pelo Benfica: 310
Total de Golos pelo Benfica: 47
Títulos pelo Benfica:
6 Campeonatos Nacionais (1975/76, 1976/77, 1980/81, 1982/83, 1983/84, 1988/89)
2 Taças de Portugal (1980/81, 1982/83)
2 Supertaças (1980/81, 1989/90)


1975/1976
Jogos: 2
Golos: 0

1976/1977
Jogos: 33
Golos: 11 (10 na Liga)

1977/1978
Jogos: 35
Golos: 8 (8 na Liga)

1978/1979
Jogos: 33
Golos: 4 (3 na Liga)

1979/1980
Jogos: 10
Golos: 0

1980/1981
Jogos: 39
Golos: 3 (1 na Liga)

1981/1982
Jogos: 31
Golos: 1 (0 na Liga)

1982/1983
Jogos: 46
Golos: 5 (3 na Liga)

1983/1984
Jogos: 33
Golos: 7 (7 na Liga)

1987/1988
Jogos: 17
Golos: 4 (2 na Liga)

1988/1989
Jogos: 18
Golos: 4 (2 na Liga)

1989/1990
Jogos: 13
Golos: 0 




Como Treinador:

Épocas ao serviço do Benfica: 2
Total de Jogos pelo Benfica: 11
Total de Vitórias pelo Benfica: 4
Títulos pelo Benfica: 0

2002/2003
Jogos: 1
Vitórias: 1 (1 na Liga)

2007/2008
Jogos: 10
Vitórias: 3 (3 na Liga)

19DIABO82

#1
Fernando Albino Sousa Chalana. Barreiro. 10 de Fevereiro de 1959. Avançado.
Épocas no Benfica: 12 (75/84 e 87/90). Jogos: 311. Golos: 47. Títulos: 6 (Campeonato Nacional), 3 (Taça de Portugal) e 2 (Supertaça).
Outros clubes: Barreirense, Bordéus, Belenenses e Estrela da Amadora. Internacionalizações: 27. Treinador do Benfica em 2002/2003.



Chalana e a bola. Qual axioma! A suspeita começou pouco tempo depois de abandonar o berço. A confirmação ocorreu por altura daqueles primeiros passos titubeantes. A prova, essa, encontra-se na quase totalidade das fotografias do Fernando nos tempos da infância. Chalana e a bola. Sempre! Herdeiro foi de uma casta notável de futebolistas. No Barreiro. Terra de muita(s) luta(s). Terra de Azevedo, de Carlos Gomes, de Pireza, de Félix, de Moreira, de Vasques, de José Augusto, de Adolfo. De gente grande do oficio da bola. Que marcou décadas gostosas de futebol. No Benfica ou no Sporting. Na defesa de outros emblemas. Um pouco por todo o lado.

Ainda gaiato, Chalana jogava, jogava muito, quase sempre com os mais velhos. Baixo, franzino, fazia futebol inocente, mas nele havia uma maturidade esquisita. É que já inteligia o jogo, deixando os outros, mais forte, mais altos e de mais idade, embasbacados q.b..

O tirocínio fê-lo no Jogos Juvenis do Barreiro. Enquanto suspirava pela CUF, divertiu-se no futebol de salão, alinhando pela equipa de Serpa Pinto. Arrebatou o troféu de melhor marcador, a Taça Joanina. Logo surgiu a cobiça dos Unidos e do Sporting do Lavradio, conquanto o seu segundo amor haveria de falar mais alto. No corta-mato, já pela CUF, venceu a competição de Lisboa para iniciados e, em Coimbra, averbou a quinta posição no Campeonato Nacional.

Correr sim, mas com bola, desse modo cortou a paixão pelo atletismo, bem cerce, não sem antes ter corrido quilómetros e mais quilómetros, num exercício que a vida justeza fez. Bateu à porta do departamento de futebol juvenil da CUF, com 14 anos. Como inepto o trataram. Foi rejeitado. Imperava a lei da cunha. Afinal, o que lhe sobrava em talento, aos pais, operários da actual Quimigal, faltava em influência.

Recepcioná-lo-ia o Barreirense.

Com idade de juvenil actuava já nos juniores. A pinta não dava lugar a equívocos. Logo, Juca o chamou para o seio dos mais velhos. Um puto entre homens feitos, seis jogos, apenas seis, era jogador do Benfica. Para trás ficava, entre outros, o convite do Sporting. Pouco leonino, já que oitocentas notas de mil não comoveram os responsáveis de Alvalade. Teimoso, um tal Sr. Edgar, na Luz, desfazia-se em louvores ao miúdo Fernando Albino. Tal como São Tomé, o treinador Pavic sentou-se, um belo dia, na bancada do campo do Oriental. Chalana não desmereceu. O jugoslavo ficou de olhos arregalados.



A 6 de Março de 1976, o Anfiteatro da Luz como que virou pia baptismal. Lá jogava o Sporting Farense, em partida do Campeonato. Já com os ouvidos entregues aos sábios conselhos do mestre Ângelo, treinador dos juniores encarnados, Chalana escutou as indicações do britânico John Mortimore. Tinha 17 anos e 25 dias. Ao intervalo entrou para o lugar de Toni, anos mais tarde seu técnico, para quem "depois do Eusébio, foi o Chalana o mais espectacular jogador que pelo Benfica vi passar". A estreia apadrinhada foi também por Bento, Artur, Eurico, Messias, Bastos Lopes, Vítor Martins, Vítor Baptista, Nené, Jordão e Diamantino. Triunfo por 3-0, com golos de Jordão (2) e Nené. Neste mesmo mês no dealbar da Primavera, voltaria Chalana a jogar entre os consagrados, de novo na Luz, ante o Sporting de Braga que regressou ao Minho, vergado ao peso de uma derrota, por 7-1. Campeão menino se fez essa temporada. De juniores e de seniores. Despontava o Pequeno Genial da prosa escorreita de José Neves de Sousa.

No ano seguinte, inconcebível era um Benfica sem Chalana. Fez quase o pleno de jogos. O primeiro falhou. Foi o da derrota, em Alvalade, por 3-0, na abertura do pano do Nacional de 76/77. Pedagógico, dir-se-ia, o insucesso. É que depois, deu Chalana, muito Chalana, sempre Chalana. De resto, segundo melhor marcador viria a cotar-se, logo depois do eterno Nené, começando a virar hábito o tangencial 1-0 do Benfica, com ponto por ele assinalado. Foi assim na Antas, em Coimbra, na Póvoa de Varzim... E o Benfica de novo campeão se fez.

O futebol cristalino de Chalana cedo o levou também à Selecção. Ainda não tinha atingido a maioridade, que não a futebolística, já o então seleccionador, José Maria Pedroto, com ele contava para as empresas do combinado nacional. Perante a Dinamarca, com vitória difícil, por 1-0, Chalana rubricou trabalho preeminente. "Chalana é um jogador "super-sénior", que tem a visão ou a presciência de um futebol de cem metros, quer dizer, de um futebol do campo todo, que só se faz se cada um e todos os jogadores de uma equipa têm nos olhos os quatro vértices de terreno onde o jogo se pratica e são capazes de meter a bola em todos os pontos desse rectângulo", escreveu, por essa altura, mais coisa menos coisa, o jornalista Vítor Santos.



O rapaz do Barreiro continuou a encantar. É verdade que, de 78 a 81, o Benfica jejuou. Foram os anos brasa da luta Norte/Sul, com o FC Porto a impor-se, por uma unha negra, em 77/78 e 78/79. Da primeira vez, o insólito aconteceu, invicto terminou a prova o Benfica, só que o goal average madrasto foi. Da segunda, um só ponto separou na pauta as duas equipas. Já no ano imediato, o Sporting conquistaria o ceptro, após a menos luzidia campanha benfiquista. Mesmo assim, Chalana fazia as despesas da alegria. Era, por essa altura, o melhor jogador português, como deixava entender Mário Wilson: "Ele é futebol da cabeça aos pés. Sim, ele é todo futebol. É senhor de intuição extraordinária para jogar à bola. Numa equipa com Chalana é simples resolver qualquer problema, porque ele é um rapaz cheio de futebol. Um rapaz capaz de solucionar qualquer problema. Além disso, não se envaidece. Por isso, Chalana é um craque".

O Europeu, de 84, em França, terá sido o palco onde o jogador mas fez refulgir o génio. Apeado dos grandes certames internacionais, desde a odisseia de 66, numa fase sabática que provocou descontentamento, eis Portugal de novo entre os grandes, pela primeira vez na fase final de um Campeonato da Europa. Nessa altura, bipartia-se a liderança do nosso futebol. Por isso, Benfica e FC Porto cederam o grosso do contingente que arraiais assentou em terras gaulesas.

Os empates com a Alemanha e a Espanha, mais o triunfo sobre a Roménia, guindaram os herdeiros dos Magriços às meias-finais da competição. Infantes os rotularam, sendo que infante maior Chalana haveria de ser. Produziu lances ornados de fantasia, com técnica superior, de bela plástica. Estatura meã, cabelos ao vento, barba farta, espírito guerreiro, concitava todas as atenções, qual Astérix na Gália. Da poção mágica não rezam as crónicas, antes do futebol enleante, provocador, eficaz.



Inesquecível esse despique com a França, pais organizador e campeão da prova. A poucos minutos do fim, o adversário parecia agonizar, perante a vantagem portuguesa, já em pleno prolongamento, graças às cirúrgicas assistências de Chalana ao felino Jordão, goleador de serviço. Só que Portugal sucumbiu nos derradeiros instantes. Chalana e seus pares derramaram...lágrimas de Portugal.

No começo da época subsequente, partiu para França, de novo, milionário contrato havia assinado pelo Bordéus. Uma aventura que não resultou. Lesionado gravemente, rescindiu o vinculo, perdeu muito dinheiro, ao Benfica regressou, corria o ano de 87, após calvário que se não deseja ao mais refinado inimigo.

Nem gozou a final da Taça dos Campeões, essa mesma época, frente ao PSV. Estava magoado. Era a sua sina. Dois anos volvidos, viajou com a equipa para Viena. Ficou fora da lista de convocados, já na erosão da carreira, por cruel veredicto de Eriksson. Era a segunda impossibilidade prática de vingar a derrota com o Anderlecht, na única final europeia em que interveio. Haveria de gozar, isso sim, um triunfo, mais de uma década adiante, no também único jogo que orientou na condição de treinador principal do Benfica.

Estádio da Luz, Lisboa, 30 de Novembro de 2002. Benfica, 3 – Sporting de Braga, 0. Chorou. Porque os campeões também podem ser meninos.



Tópico: Memorial Benfica, Glórias
Autor: Ednilson
Link: http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=22362.45

Sven

07-03-2006 - 30 anos de Pequeno Genial

Um Benfica... à Chalana

JOSÉ MARINHO

Para os benfiquistas hoje devia ser feriado nacional. Completam-se trinta anos sobre o radioso dia em que Chalana sentiu, pela primeira vez, o peso de uma das camisolas mais pesadas do futebol europeu: a do Benfica. Quando a instalação sonora do antigo estádio da Luz soprou esse nome aos sócios do Benfica, muitos deles já sabiam do que se tratava: era o jogador a que mais tarde o jornalista Neves de Sousa imortalizaria com a famosa alcunha de Pequeno Genial. Já lá vão trinta anos.
Por estes dias, o jornalista da Sport TV e antigo editor deste jornal, entra na intimidade de uma carreira e prepara-se para escrever uma das biografias mais esperadas do futebol português. Para esse livro, uma frase de Mourinho arrancada a um texto inédito, faz a síntese de um talento divino: "O futebol precisa de Chalanas. Eu preciso de Chalanas."
Toda a gente precisa de Chalanas, mas não há uma linha de montagem. O que há é toda uma carreira de fintas, em que cada uma era uma autópsia do antijogo. A futura biografia do Pequeno Genial será precedida de uma introdução do jornalista que a escreve e que será a sua homenagem ficcionada ao que considera "o melhor jogador português de sempre, depois do Eusébio". Com a devida autorização, O JOGO antecipa esse texto, trinta anos depois da estreia de Chalana.
 
Bota fora

Certo dia, numa feira internacional de botas de futebol, estava na montra principal uma chuteira, considerada o último grito da moda futebolística. Uma bota sofisticada, com todo o luxo a que qualquer actual aspirante a craque da bola julga ter direito. Climatizada, de forma a prevenir odores irrespiráveis, dirigível por controle remoto e até com air-bag traseiro, para prevenir as famosas e perseguidas "entradas por trás". Tinha também, no seu exterior, uns sensores laterais que estabeleciam comunicação com a sua congénere mais próxima. Depois de muitos estudos, os autores desta bota inteligente, ruminaram na instalação de um mecanismo de precisão sensorial, que permitisse aos jogadores uma certeira e rápida circulação da bola. Só faltava mesmo mini-bar e pay-tv. A primeira equipa a utilizar estas sensacionais botas foi o Chelsea de José Mourinho, como se sabe, o maior apóstolo do futebol tecnológico. Fanático pelo detalhe, escravo da minúcia, o melhor treinador do mundo ficou fascinado com o alcance imediato desta bota na modificação extrema que provocaria no futebol. É talvez reveladora a sua curta mas definitiva declaração de apoio à nova bota: "Já posso contratar o Beto". Pelos vistos, aquelas botas fazem milagres. Ainda babados pela inovação, poucos repararam numa outra bota, na montra ao lado, desprezada pelo tempo e carcomida pela gula tecnológica. Um pecado mortal para a humanidade, uma normalidade no futebol. Tinha um ar pútrido, apresentava uma nítida curvatura que nascia a montante do calcanhar e apenas terminava a jusante da biqueira e era, portanto, uma espécie de pé-descalço das botas de futebol. E no entanto, tinha um brilho intangível, uma aura que a cercava e amarrava os olhos de uma criança, por instantes desviados da quinta essência da tecnologia desportiva. O que fariam aqueles olhos, debruçados sobre uma bota velha, arregalados de fascínio, galgando umas lentes grossíssimas que mascaravam a miopia de nascença? Diante daquela bota, aquele par de faróis seriam luzes intensas contra o nevoeiro da sofisticação que baixava aos baldios da tecnologia. O que é verdade é que aquela bota guardava o mistério de uma certa fé no jogo.
De súbito, aqueles olhos escondidos atrás de uma densa amálgama de dioptrias, foram abalroados pela confusão reinante na montra ao lado, onde o cotovelo do mais forte prevalecia sobre o tórax do mais fraco. Seguia-se um concurso, promovido pela famosa marca que apostou milhares de euros na certificação da nova e estupenda bota. Tudo não passava de uma acção infalível de marketing, a que se submetiam dez concorrentes escolhidos ao acaso entre o estimável e babado público. Tudo isto, em directo, com as televisões como testemunhas evangélicas do novo milagre da precisão. Os concorrentes eram simples figurantes da escandalosa delinquência publicitária que seria o anúncio da perfeição no futebol. Estavam todos bem calçados, os concorrentes e os multimilionários autores da bota. O objectivo era acertar com uma bola, a uma distância de cem metros, num buraco de perímetro pouco maior do que o objecto atirado. Missão impossível com uma bota normal, nem mesmo à medida dos maiores super-heróis do futebol mundial. Agora, com esta bota, era quase possível colocar duas pessoas nas extremidades opostas de uma montanha a trocar certeiros e infalíveis pontapés na bola. Incrível. Isto, claro, se nos fiarmos no exagerado texto de apoio inscrito num mailing enviado para as maiores sedes de futebol em todo o mundo.
O concurso começou e ao primeiro pontapé, bola fora do alvo. Inquietação generalizada mas convencimento de que tinha sido apenas um pequeno desvio humano na perfeição tecnológica. Como era possível? Os remates seguintes, mais de cem - já que o número de concorrentes alastrou - confirmariam que o futebol não é para todos nem admite a intrusão dos novos pregadores da ciência robótica. Nem um remate certeiro. Em desespero de causa, já com as televisões desmobilizadas, os cabos recolhidos e os anunciantes em fuga, deu-se uma imagem de epilepsia colectiva. Chegavam, entretanto, reforços: a marca desportiva não se dava por vencida e para provar a eficiência do seu invento, contratou a peso de ouro, Ronaldinho, Zidane e Figo para novo teste. Primeiro, o brasileiro dentudo, gingão e melhor do mundo e arredores. Falhou. Pela primeira vez, Ronaldinho perdeu aquele sorriso cinematográfico. Depois, Zidane, com os dedos dos pés apoiados nas extremidades como uma bailarina, voando para a bola, mas aterrando na crua realidade. Novo e estrondoso falhanço. Agora, Figo, avança determinado, verdadeiro Átila dos campos de futebol, faz a paradinha, engana o público e no momento em que todos esperam o estrepitoso embate com a bola, Figo olha para o lado e suspira. Aqui sim, deu-se um momento de viragem. O craque português faz uma diagonal até à montra ao lado e olha para a bota velha e caduca. Parecia já um tamanco, mas Figo colou o seu olhar no menino míope e viu-se a si próprio, nos anos da sua adolescência. Esse recuo no tempo fá-lo reconhecer aquela bota, j* que durante muito tempo não se cansara de a ver. É Figo que se lembra que o último homem a descalçar aquela bota tinha sido um fenomenal jogador chamado...Chalana. O seu ídolo em criança. Aquele olhar de Figo e do menino míope convocam Chico Buarque numa das suas inúmeras definições sobre o jogo: "O drible do corpo é quando o corpo tem presença de espírito". Aquela bota era a casa de todos os espíritos benignos do futebol. Por isso o brilho, a aura. Aquela bota parecia acabada por fora, mas imortal por dentro. Tinha o forro do talento e o suor do génio. Figo não chutou a bola, deixou que fosse o menino míope a fazê-lo. Calçou-lhe a bota velha, que tinha sido de Chalana e milagre, a bola entra, guiada pelos bons espíritos. Para refazer todos os queixos que entretanto caíram, seriam necessários agora vários meses de paciente cirurgia reconstitutiva. Uma bota velha e um menino míope tinham vencido os estúpidos pergaminhos do futebol evolutivo. E melhor do que isso, Chalana voltava a ser o maior. Para que não o esqueçam os que o viram jogar e para que o saibam os que nunca lhe puseram a vista em cima.

CURRÍCULO

NOME: Fernando Albino de Sousa CHALANA
DATA DE NASCIMENTO: 10/02/1959 (47 anos)
NATURALIDADE: Barreiro
POSIÇÃO: Extremo esquerdo
ÉPOCAS NO BENFICA: 12 (1975 a 1984 e 1987 a 1990)
JOGOS PELO BENFICA: 310
GOLOS PELO BENFICA: 47
OUTROS CLUBES: Barreirense, Bordéus (França), Belenenses e Estrela da Amadora
PRIMEIRO JOGO: 7 de Março de 1976, Farense, Estádio da Luz (3-0)
TREINADOR QUE O LANÇOU: Mário Wilson
ÚLTIMO JOGO: 20 de Maio de 1990, Belenenses, Estádio da Luz (1-0)
TÍTULOS: 11 (6 Campeonatos Nacionais; 3 Taças de Portugal; 2 Supertaças)
INTERNACIONALIZAÇÕES: 27 (todas pelo Benfica)
PRIMEIRA INTERNACIONALIZAÇÃO: 17 de Novembro de 1976
ÚLTIMA INTERNACIONALIZAÇÃO: 12 de Novembro de 1988
GOLOS PELA SELECÇÃO: 2

Mário Wilson, Ex-treinador do Benfica
"Já se via o seu nível ímpar nos juniores"


Faz hoje 30 anos que Chalana surgiu na equipa principal do Benfica e pela sua mão. O que o levou a apostar num jovem para um plantel recheado de figuras emblemáticas?
R | Já nos juniores se percebia que Chalana era diferente dos demais companheiros e via-se o seu nível futebolístico ímpar. Fazia as coisas com facilidade e a sua promoção foi vista como uma pequena irreverência da parte da equipa técnica... Mas no desenvolvimento dos jogos começou a surgir reclamação por parte do público para que entrasse de início e não que fosse lançado com as partidas a decorrer, como eu fazia...
 
"Dos seus pés saía futebol de requinte"

Que características lhe reconhece e enaltece?
R | Classe, ligeireza, toda uma dinâmica simples e eficaz. Tinha um pé esquerdo fabuloso, a bola "colava-se" ao pé e só com uma "ginga" de corpo ultrapassava adversários. Fazia os passes com uma suavidade impressionante e cruzamentos de uma beleza extraordinária, apenas ao alcance de génios. Transmitia a ideia de classe e dos seus pés saía um futebol de requinte. Fazia coisas de pasmar, de autêntico predestinado, de eleição, tudo com "sabor" a classe...
 
"Fazia tudo parecer fácil"

Pelas suas palavras deduz-se que o considera uma das figuras incontornáveis do Benfica...
R | Sem dúvida. Eusébio, Coluna, Águas são figuras incontornáveis na história do Benfica e, entre outros, Chalana também tem de ser inserido nesse capítulo. Dentro deste perfil é um dos meus eleitos, porque possuía uma classe extraordinária, fazia tudo parecer fácil e dele saía um futebol de eleição...


Amsterdam

o meu jogador preferido de sempre....

Bola7

Grande jogador...acabou cedo...culpa da Anabela...

Aguiar

um verdadeiro galatico!!

Sousa_slb

Alguem arranja vidios de jogadas dele?é k nunca vi nd dele e nem sabia k tinha sido um dos maiores artistas do slb!Secalhar nessa época n havia videos e n há clips se n houver peço desculpa!

ILLEGAL

Craque!!!

ILLEGAL
Sócio nº 22.849 (desde 1988)

Amsterdam

#8
Quem se lembra do Euro 2004 ?


Chalanix.....


ps 19 anos depois apenas para dizer que era o euro 1984

VitorPaneira7

Por altura de realização de europeus o eurosport costuma transmitir os melhores jogos de sempre desta competição e vi por mais de uma vez o portugal 2-3 frança de 1984.É incrivel ver as fintas que o chalana fazia tudo baseado no drible rapido e na finta de corpo, um dos lances que mais gostei foi quando fez um frances saltar 2 vezes quando simulava o cruzamento, e já agora acrescento que nesse jogo outro benfiquista despontou, o bento , com uma exibição espectacular houve alturas que parecia que voava ou que era feito de borraca tantas eram as defesas que fez ( se fosse outro portugal tinha levado 7 ou mais) e os saltos que dava com o seu 1,73 m.

#30 Miccoli

agora temos "o pequeno genio", fabrizio miccoli  :P

Bola7

Citação de: #30 Miccoli em 24 de Abril de 2006, 21:55
agora temos "o pequeno genio", fabrizio miccoli  :P
Eheheh...não fazes ideia do que dizes...

Andrew86

nunca o vi jogar, só em videos, mas que era um jogador com uma tecnica acima da media era(quantos jogadores portugueses havia com a sua qualidade de drible?)...e claro é do barreiro!!

VitorPaneira7

http://www.youtube.com/watch?v=AY_Qm-Pl8LE


alguém pode-me dizer a que clube Chalana faz o golo, só sei que é genial.

CorDeSang2

Meu Deus, que abuso!    :laugh: