Decifrando imagens do passado

ivodaniello

Citação de: Theroux em 14 de Julho de 2014, 13:44
???


Citação de: RedVC em 15 de Julho de 2014, 00:33
Citação de: Benfiquista_ em 14 de Julho de 2014, 18:45
Qual era o nosso ali?

Estive à espera de uma ajuda de alguém que sabe muito mais do que eu.
E a resposta que me deu foi surpreendente: os dois!

Os dois campos lado a lado são do Benfica. Existia um bancada dupla entre os dois que dava para um campo (do futebol) e outro. Engenhoso.

O segundo campo tinha uma pista de cinza (inaugurada em 1946), um campo de ténis no topo e um campo de basquetebol e voleibol atrás da churrasqueira. Aí o Benfica jogava hóquei em campo, râguebi e andebol.

O Estádio do Lumiar era onde depois foi o Estádio de Alvalade. A fotografia deve ser de 1947 pois são visíveis obras nesse estádio. Seria assim uma remodelação do Lumiar e não o princípio da construção do José Alvalade.


Meu deus, então quer dizer que o novo estádio do sportém está exactamente localizado no terreno onde outrora era pertença do Benfica!

Abidos

Não.
O terreno nunca pertenceu ao Benfica, era um Aluguer da CML. Solução encontrada após a expropriação do Campo das Amoreiras... esse sim, era nosso.

RedVC

Exacto. O Abidos tem toda a razão. O primeiro ocupante do terreno foi o Lisbon Cricket Club.
Eu já vi elementos dispersos mas nunca juntei dados.
Assim salvo o erro o campo terá sido inaugurado em 1912. Foi utilizado pelo Lisboa Foot-ball Club que equipava de azul e branco. Entre 1914 e 1920 o campo foi conhecido por Stadium de Lisboa. Depois de umas questões com rendas terá passado para o uso do SCP. Assim foi verde entre 1916 e 1937. Em 1936 os visconde passaram a chama-lo Campo 28 de Maio (quem é que era o clube do regime, quem era?). Esteve inactivo entre 1937 e 1941 uma vez que o SCP mudou-se para o lado para o campo do Lumiar. Como o Sport Lisboa e Benfica foi expropriado pelo Estado (recebendo um valor bem inferior ao que lá tinha investido - clube do regime uma OVA!) o nosso clube teve de arranjar uma solução de recurso. Em pouco tempo forma construídas bancadas de madeira e alindado de tal forma que ficou melhor do que o verde Campo do Lumiar  ali ao lado. Mas o nosso clube não fez só investimentos também lhe mudou o nome. E assim como todos os outros estádios da nossa história foi chamado de Estádio do Sport Lisboa e Benfica (clube do regime uma OVA!). Em 1947 os viscondes fizeram obras (a fotografia deve ser dessa época) pois Alvalade só seria concluído lá para 1956.

Abidos

As bancadas em Madeira já existiam quando fomos para lá, mas estavam todas podres!!!
Tal como aconteceu mais tarde no Estádio da Luz, foram os sócios que voluntariamente, e gratuitamente, meteram mãos à obra...
Foi remodelado, com o suor e calos dos Benfiquistas.

RedVC

#124
-38-
Um ancião curioso.

24 de Julho de 1932, Asilo d'Espie de Miranda em Campolide. Sessão solene cujo motivo não está explicitado na legenda da fotografia:


Fonte: Digitarq


Ora, o asilo d'Espie de Miranda,  ainda hoje existe. Presentemente é uma associação sem fins lucrativos, legalmente reconhecida pela Segurança Social e que tem por missão apoiar o cidadão idoso.


Fundado em 1875, foi inaugurado em 6 de Junho 1900. Era um asilo para idosos e inválidos com sede na antiga residência dos fundadores, na antiga Quinta da Mineira, ao Arco das Águas Livres, a Campolide. Tinha por base o património deixado pelos seus instituidores, dr. João José de Miranda, a sua esposa D. Adelaide de Espie Miranda e Pedro Gomes da Silva. Destinava-se a albergar artistas pobres do sexo masculino, impossibilitados de trabalhar.

Na fotografia é captado um momento dessa sessão solene, sendo possível ver retratos nas paredes daqueles que se presume foram os beneméritos da instituição. À esquerda um retrato de uma Senhora, à direita um retrato de dois homens e uma outra figura que parece ter sido apagada de propósito.

Entre os presentes, nota-se que três homens conduziam a sessão, provavelmente responsáveis pela instituição e eventualmente – digo eu - representantes do Estado Português.

Na audiência estão 23 pessoas sentadas, compondo um grupo diversificado em idade, em género e aparentemente em estrato social. Alguns deveriam ser convidados outros quase seguramente residentes no Asilo. Nota-se também na primeira fila estava sentada uma Senhora de idade que tinha uma medalha ao peito, facto que indicia ter sido homenageada nesse dia.

Mas a nós interessa olhar não para a primeira fila mas antes para a última. Reparem que lá ao fundo, à esquerda podemos ver um ancião que inclinava a cabeça para a sua esquerda para melhor observar o que se ia passando.

Olhar vivo, rosto enrugado. Lembra-vos alguém?


Manuel Gourlade, ele mesmo.

Manuel Gourlade, o diligente empregado da Farmácia Franco. A primeira águia, um homem que 28 anos antes, cheio de genica, entusiasmo e dinamismo esteve com mais 23 companheiros na fundação de um Grupo que originou o Sport Lisboa e Benfica.

Sabemos que em 1929, Gourlade já estava recolhido no Asilo d'Espie de Miranda. Nessa época tinha 57 anos de idade mas pelo envelhecimento precoce requeria já cuidados de terceiros. Sabemos que foi levado para lá por mãos amigas – presumo por Daniel Santos Brito e pelo seu antigo patrão Pedro Augusto Franco, que o encontraram já em decadência física e privações materiais.

Em Julho de 1932, neste dia da sessão solene, Gourlade estava perto dos 60 anos de idade mas mantinha um olhar vivo e curioso. Sabemos que por lá ficou por mais cerca de 11 anos. Sabemos que recebeu visitas de Daniel Santos Brito e tenho ideia de haver indícios de ter sido visitado por Cosme Damião. Ambos o terão mantido informado sobre a evolução do clube que ele ajudou a fundar e a dinamizar numa acção seminal e determinante para a sua sobrevivência. Um feito de perseverança e coragem num tempo em que clubes se fundavam e extinguiam a uma velocidade vertiginosa.

Gourlade viria a falecer em 1-01-1944, com quase 74 anos de idade. Faleceu anónimo e quase completamente esquecido. Nesse tempo era apenas recordado por um punhado de Benfiquistas e de pessoas que com ele conviveram nos dias felizes.
Hoje cabe a nós, Benfiquistas, resgatar a sua memória, exaltar a sua obra, agradecendo em pequenas contribuições a sua acção, os seus ideais e coragem. Contribuições decisivas para que hoje exista o Sport Lisboa e Benfica.

Obrigado Manuel Gourlade. Descansa em Paz. O clube vive. E viverá vencedor.




faneca_slb4ever


Fake Blood

Sensacional trabalho de pesquisa  :clap1:

Grande história entre o RdR e o CdO. Amigos, amigos... Benfica à parte.

RedVC

Obrigado Fake  O0
Fui beber muita informação a pessoas que sabem muito mais do que eu entre as quais destaco (e de forma recorrente porque merecida) Alberto Miguéns.
Tu também és um pesquisador e sabes com certeza que dá muito prazer encontrar alguma coisa rara e que não está devidamente legendada e relacionada.
Dá prazer e tenho também a noção que é uma pequena mas interessante contribuição para que outros conheçam a nossa história, as nossas grandes figuras, mesmo que com algumas falhas e incongruências.
Vamos em frente. Vamos continuar a explorar e a partilhar.

fudim flan

Citação de: RedVC em 07 de Março de 2015, 12:16
Obrigado Fake  O0
Fui beber muita informação a pessoas que sabem muito mais do que eu entre as quais destaco (e de forma recorrente porque merecida) Alberto Miguéns.
Tu também és um pesquisador e sabes com certeza que dá muito prazer encontrar alguma coisa rara e que não está devidamente legendada e relacionada.
Dá prazer e tenho também a noção que é uma pequena mas interessante contribuição para que outros conheçam a nossa história, as nossas grandes figuras, mesmo que com algumas falhas e incongruências.
Vamos em frente. Vamos continuar a explorar e a partilhar.
como é que é possível o alberto migueis não ser património do clube.
o homem é um museu vivo,uma relíquia.

RedVC

Falar de Alberto Miguéns é falar de um Benfiquista superlativo. Da excelência de valores, do conhecimento rigoroso, da capacidade de comunicar, da perspicácia, da seriedade. Intransigente contra a trapaça, a mentirola, a reinvenção da história e o ataque recorrente ao Sport Lisboa e Benfica. É falar de um Benfiquista que tem mantido ao longo de várias décadas (e felizmente é alguém ainda bastante novo) uma pesquisa paciente, sistemática e rigorosa. O nosso clube tem muita sorte por ter um sócio e adepto desta fibra. E espero que os homens que conduzem o nosso clube, o reconheçam sempre. Espero que ele me perdoe por estar a falar assim tão enfaticamente dele mas é-lhe merecido e eu não ficaria bem comigo se não aproveitasse a deixa.

fudim flan

Citação de: RedVC em 07 de Março de 2015, 23:28
Falar de Alberto Miguéns é falar de um Benfiquista superlativo. Da excelência de valores, do conhecimento rigoroso, da capacidade de comunicar, da perspicácia, da seriedade. Intransigente contra a trapaça, a mentirola, a reinvenção da história e o ataque recorrente ao Sport Lisboa e Benfica. É falar de um Benfiquista que tem mantido ao longo de várias décadas (e felizmente é alguém ainda bastante novo) uma pesquisa paciente, sistemática e rigorosa. O nosso clube tem muita sorte por ter um sócio e adepto desta fibra. E espero que os homens que conduzem o nosso clube, o reconheçam sempre. Espero que ele me perdoe por estar a falar assim tão enfaticamente dele mas é-lhe merecido e eu não ficaria bem comigo se não aproveitasse a deixa.
excelente post.parabens.

Theroux



1987

União Futebol Comércio Indústria vs Sport Lisboa e Benfica
_______

Alguém sabe a que competição se refere este jogo?

RedVC

Olha... José Mourinho.
A Taça de Portugal não foi http://serbenfiquista.com/team/19861987-seniores-futebol/sl-benfica
O União Futebol Comércio Indústria pertence à AF Setúbal.Terá sido um amigável?


Lorne Malvo

Eu estou com o RedVC. Taça de Portugal não foi e Taça de Honra da AF Lisboa também não, porque essa equipa pertence à AF Setúbal. Só pode ter sido um amigável.

RedVC

#134
-39-
Um banquete de notáveis.

O texto vai ser longo mas com boas razões.
Vamos hoje olhar para uma fotografia extraordinária:



Pertence ao espólio de um dos retratados, o grande Norberto de Araújo.

Norberto Moreira de Araújo nasceu em Lisboa a 21 de março de 1889. Foi um grande jornalista, escritor e Olissipógrafo. Muita e boa informação reunida por seus herdeiros acerca da sua vida e da qualidade da sua obra e pensamento: http://norbertoaraujo.org/

A fotografia está datada de 15/11/1913 e capta treze convivas que participaram num banquete de homenagem ao foto-jornalista Arnaldo Garcêz, celebrando o éxito da sua participação numa Exposição Nacional das Artes Gráficas que terá decorrido nesse mesmo ano. Caso para dizer se fossem supersticiosos espero bem que tenham convidado o fotógrafo para também dar ao dente.

O que há de notável nesta fotografia? Em primeiro lugar os homens retratados e depois o motivo indirecto para que estivessem reunidos. Senão vejamos as identificações:



Um fundador, quatro presidentes, dois eméritos jogadores. Todos figuras notáveis da primeira década do Sport Lisboa e Benfica. Parece-me que isso por si só basta...

Vamos por partes.

Cosme Damião, glorioso fundador do Sport Lisboa. Não foi a figura de maior relevo nos primeiros 3-4 anos mas a partir de 1908/1909 veio a ser o homem decisivo do clube. E foi a Alma maior do clube durante cerca de 18 anos. Homem de valores e ideias. Homem da fundação, da resistência, da expansão. Tinha uma ideia ecléctica e uma visão de clube com uma dimensão combinada e complementar em aspectos desportivos, sociais e culturais. Soube gerir outros homens. Soube organizar e inovar. Descobriu e orientou talentos novos para a nossa equipa de futebol. Ganhou campeonatos atrás de campeonatos fazendo do Sport Lisboa e Benfica o maior e mais ganhador clube de Portugal. Tudo isto logo na primeira década de vida do nosso clube. Introduziu diversas novas modalidades no clube e no país. Estimulou a criação de filiais que propagaram os nossos valores e ideais. Liderou um clube pobre, sem casa própria, com carências diversas que ao contrário dos outros tinha de investir em casa alheia para depois ser escorraçado e ter de procurar casa nova. Até o Estado Português nos escorraçava. Riam-se de quem vos falar em clube de regime. Mas Cosme e seus pares, com uma vontade imensa e liderando um número crescente de almas e talentos, conseguiram moldar um clube que pelo seu dinamismo e decisões acertadas cedo revelou uma capacidade surpreendente de captar novos sócios e crescer. Tudo isto de forma sustentada. Por isso e pelas vitórias sucessivas motivava a inveja alheia. E claro isso rapidamente se começou a notar na hostilidade de uma boa parte da imprensa desportiva da época. Em reacção a essas campanhas e pela vontade de dar aos sócios e simpatizantes uma visão mais completa e rigorosa Cosme e seus pares viriam a concretizar uma ideia pioneira e original. em certa medida num paralelismo interessante com os dias de hoje. Mas lá iremos.

E quanto aos outros notáveis da fotografia?

Luís Carlos de Faria Leal, presidente do Grupo Sport Benfica, de 18/11/1906 – 15/09/1907. Teve um papel de relevo no processo de fusão entre o GSB e o SL. Foi opositor ao regime de Salazar tendo por isso sofrido graves dissabores e provavelmente por isso não terá tido outro protagonismo no clube. Ainda assim no sítio oficial do SLB é adjectivado de "eclético, empreendedor e organizado". E ainda: "...Em 12 de Agosto de 1906, foi designado presidente da Direcção, sendo confirmado no cargo a 18 de Novembro de 1906, em Assembleia Geral. Foi eleito "Sócio Benemérito" (1909). O carácter ecléctico do clube, bem como a sua organização, atraíram inúmeros associados, entre eles, sócios do Grupo Sport Lisboa, como Cosme Damião, fundador do Sport Lisboa, que foi o associado n.º 81 do Grupo Sport Benfica." Não sei a data da sua morte mas sei que ainda viveu o suficiente para assistir à vitória da Taça Latina e à inauguração do Estádio da Luz. É uma figura fascinante da história do nosso clube. Gostaria de saber mais da sua vida.

Alberto Lima, presidente do Sport Lisboa e Benfica por três vezes, compreendendo dois períodos: de 09/07/1911 a 31/03/1912 e depois de 05/12/1912 a 29/08/1915. Segundo o sítio oficial do SLB "Teve um primeiro mandato de oito meses, após o qual foi vice-presidente. Regressou à presidência numa gerência em que estreou uma sede, na Baixa (Rua Garrett), iniciando-se a ginástica (1913);... inaugurou o campo de Sete Rios, onde se iniciaram a natação e o ténis. O futebol obteve o primeiro "tri" no Regional de Lisboa (1912, 1913 e 1914), com a proeza (única) de ter ganho as quatro categorias em 1914, com Cosme Damião, médio-centro e capitão da 1.ª categoria, como treinador e dirigente." Homem de grande personalidade e cultura. Respeitoso e respeitado, foi também um fotógrafo amador. Uma personalidade notável.

José Eduardo Moreira Sales, presidiu ao clube de 31/03/1912 – 05/12/1912 ou seja num período entre os mandatos do Dr. Alberto Lima. Dele se diz no sítio oficial do clube: "Foi de curta duração esta gerência, com os Estatutos, elaborados por Alberto Lima (vice-presidente) e Félix Bermudes e aprovados em Assembleia Geral em 1912, a fazerem coincidir os mandatos com os anos civis, pelo que houve eleições no final de 1912. Durante a curta gerência, trocou-se o periférico bairro de Benfica pelo centro da cidade, na Baixa Pombalina, inaugurando então a Sede em pleno Rossio, de forma a tornar-se mais acessível aos associados, pois o clube há muito que extravasara os limites de Benfica e Belém (onde continuava a ser muito popular)."

Alberto Silveira Ávila de Melo, foi o presidente num período de 25/08/1926 – 15/08/1930. Esse período marcou uma rotura decisiva e traumatizante. A rotura com a gestão e visão de Cosme Damião e Bento Mântua. Companheiro de lista de António Ribeiro dos Reis e de Vítor Gonçalves, dele se diz no sítio oficial do clube: "Nos três mandatos iniciais, teve Ribeiro dos Reis como Capitão-Geral, num período com carência de vitórias no futebol (apesar das valorosas conquistas nas categorias inferiores). Com a situação financeira do Clube a melhorar foi construído, junto ao estádio das Amoreiras, um campo para uma nova modalidade, o basquetebol (1927). Surge, também, o ténis de mesa (1928). Com a mudança na política de aquisição de futebolistas, conquistou-se em 1930, pela primeira vez, o Campeonato de Portugal. Em 1929, era o presidente, quando o maior clube português comemorou as Bodas de Prata."

Temos ainda dois eméritos jogadores de futebol do nosso clube:

Carlos Homem de Figueiredo, que se notabilizou como médio à direita embora tenha também por vezes evoluído com defesa ao lado do grande Henrique Costa ou de Francisco Belas. Era aliás nessa posição que o grande Artur José Pereira, seu companheiro de equipa dele disse que teria jogado quase sempre na posição errada. Uma bicada nas opções de Cosme Damião. AJ Pereira era assim de opinião que Homem de Figueiredo teria sido muito melhor defesa do que médio. É possível que tivesse razão mas em defesa de Cosme presumo que como sempre ele terá pensado primeiro no benefício do clube do que benefício do jogador. Carlos Homem de Figueiredo teve actividade no nosso clube de 1910 a 1918 com um episódico regresso na época de 1921/1922. Foi um dos integrantes da comitiva da AFL ao Brasil uns meses antes, em Julho-Agosto de 1913. Essa selecção é em minha opinião a primeira selecção nacional. Apenas não o foi em termos oficiais mas isso é um detalhe irrelevante. Os melhores jogadores do país estavam no campeonato de Lisboa e Homem de Figueiredo era um deles.
 
Florindo Serras, Casapiano como Cosme. Foi avançado, tendo no entanto tido menor notoriedade futebolística, com presenças entre 1909 a 1914 embora em 1910/1911 tenha evoluído na 2º categoria. Esse facto não quer dizer menos da sua qualidade futebolística pois Cosme por vezes reforçava propositadamente uma categoria inferior quando pretendia ganhar um campeonato ou troféu. O clube acima de qualquer homem. E há vários casos destes. Mas Florindo Serras foi também um emérito praticante de outras modalidades tais como atletismo (salto em altura e comprimento, corrida com barreiras), aliás com bons resultados.

Quanto ao homenageado, Arnaldo Garcêz foi um excelente repórter fotográfico. Mais e boa informação aqui:
http://www.tipografos.net/fotografia/garcez.html.
http://historia-dos-tempos.blogspot.pt/2009/03/arnaldo-garcez.html
Era um homem de instrução limitada mas com enorme força de vontade e empreendedorismo. À semelhança do grande Joshua Benoliel, Arnaldo Garcez integrou as tropas portuguesas que participaram na I Guerra Mundial, tornando-se assim num dos primeiros fotógrafos a ser repórter de guerra. Embarcou para França como Alferes equiparado em 17/12/1917. Fotógrafo auto-didacta, veio a reportar o dia-a-dia das trincheiras em imagens impressivas que relatavam a dureza e crueldade daquele conflito. Estes fotógrafos deixaram-nos um legado impressionante.
http://postaisilustrados.blogspot.pt/2013/04/os-portugueses-na-primeira-grande.html. Quando olho para essas imagens penso quão inconsciente são as pessoas que falam em conflitos como estratégias de xadrez e quão criminosas são as pessoas que decidem esses conflitos. Mas voltando a Garcêz, a sua ligação ao nosso clube deverá ter recuado a uns bons anos antes. Penso ter encontrado referência à sua participação em 14 de Julho de 1907 numa prova velocipédica organizada durante um evento desportivo organizado pelo Grupo Sport Benfica. Uma figura que não desmerecia em nada dos restantes convivas que aliás o justamente homenagearam nesse dia de 1913.

Os restantes convivas terão sido jornalistas e personalidades eméritas do jornal "O Sport Lisboa" mas a minha ignorância e falta de pesquisa não permitem dar detalhes.

E é justamente aqui que falamos da tal razão indirecta para que estes homens se tenham reunido. O banquete de homenagem a Arnaldo Garcez realizou-se em Novembro. Cerca de 3 meses antes, em 24 de Agosto de 1913, iniciou-se a publicação do jornal "O Sport Lisboa". Curioso como foi escolhido o nome do grupo que Cosme fundou.


O jornal era propriedade do nosso clube e tinha como Director o Dr. Alberto Lima, como editor Alfredo Ávila de Melo e como administrador Jorge Paixão. Custava dois centavos (20 réis). Pretendia não apenas dar informação mais extensa e acima de tudo rigorosa aos sócios e simpatizantes das actividades do clube mas igualmente fornecer notícias com um foco mais alargado. Conforme refere Francisco Pinheiro na excelente obra "Imprensa desportiva portuguesa: do nascimento à consolidação (1893-1945)", apresentava "secções variadas, como por exemplo: "Crónicas do Porto" e "O «Sport» no Estrangeiro"".

Soa familiar esta preocupação de rapidamente ter um carácter extra-Benfica?

É... Salvaguardando as devidas distâncias e as enormes diferenças de época, soa-me muito a alguns dos motivos que estiveram na base da formação da Benfica TV. Agredidos constantemente por uma imprensa hostil ao clube, que transmitia informação escassa e frequentemente com carácter tendencioso ou mesmo mentiroso das actividades e factos associados ao nosso clube, era natural a indignação frequente da nossa Direcção. Tenho ideia do próprio Cosme terá respondido por escrito a campanhas com evidente má-fé e deturpação da verdade por exemplo acerca da postura e acções de AJ Pereira. Cosme sempre em defesa do nosso clube. Antes como agora, tudo se repete...

Mas finalizando, o jornal terminaria (ou evoluiria numa outra perspectiva) em 27 de Agosto de 1915. Sucedeu-lhe o jornal "O Sport de Lisboa" que saiu para as bancas em 13 de Março de 1915 apenas sendo extinto em 26 de Maio de 1934. Ou seja, foi um jornal desportivo que sobreviveu à I Guerra Mundial. "O Sport de Lisboa" tinha igualmente periodicidade semanal sendo dirigido por Álvaro de Lacerda , Eduardo Pereira e José Colmeiro. O nome era assim ligeiramente diferente e deixou de ser propriedade do clube passando a ser detido pela empresa de "O Sport de Lisboa". Mas claro a linha de sucessão era bem evidente.

Para quem quiser saber mais aqui fica a ligação do trabalho de Francisco Pinheiro: http://www.ceis20.uc.pt/ceis20/site/UserFiles/Image/FranciscoPinheiroLerHistoria49.pdf