Decifrando imagens do passado

Alexandre1976

Enorme orgulho e uma honra tremenda pertencer a esta familia criada por estes 24 Imortais Senhores. Um agradecimento eterno a todos eles.

RedVC

#931
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Pioneiro, em terra e no mar! (parte I)


Frederico Guilherme Duff Burnay, o primeiro velejador olímpico nacional:






Vamos hoje falar de um homem que é recordado no meio desportivo Português como um prestigiado velejador do Clube Naval de Lisboa.

Frederico foi o primeiro velejador olímpico Português ao participar nos Jogos Olímpicos de Paris, 1924, competiu a expensas próprias, na localidade de Meulan. Participou na classe de monótipos tendo conseguido um 8º lugar entre 17 concorrentes.




Imagens das competições náuticas em Paris, 1924, disputadas em Meulan. À esquerda a medalha de participação de Frederico Burnay.




Classificação de Frederico Burnay em Paris, 1924




Quatro anos depois, competiu nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, 1928, participando nas regatas disputadas na localidade de Zuidersee. Competiu na classe embarcações de seis metros, integrando a tripulação do Camélia" a par de Carlos Eduardo Bleck, Ernesto Mendonça, António Guedes Herédia e João Penha Lopes. Conseguiram o 12.º lugar entre 13 participantes.




Uma imagem do "Camélia" participando na prova olímpica de Amesterdão, 1928. À esquerda a medalha de participação de Frederico Burnay.





A classificação de Frederico Burnay e seus pares em Amesterdão, 1928



Apesar de alguns erros biográficos grosseiros, a participação olímpica de Frederico GD Burnay pode ser consultada em linha (ver: https://web.archive.org/web/20141007041902/http://www.sports-reference.com/olympics/athletes/bu/frederico-burnay-1.html).

Anos mais tarde Frederico Burnay integrou o Comité Olímpico Português e teve funções destacadas na Federação Portuguesa de Vela (FPV).




Recepção a uma personalidade estrangeira na FPV em 22-01-1935



Frederico Burnay representou durante toda a sua vida desportiva o Clube Naval de Lisboa (CNL), uma prestigiada colectividade náutica, fundada em 1890. Entre os fundadores do CNL destacou-se Frederico José Burnay, seu pai, que na altura liderou uma Comissão que transformou o pré-existente "Rowing Club de Lisboa" no CNL.



Sessão comemorativa dos 40 anos do Clube Naval de Lisboa onde Frederico GD Burnay, homenageando seu pai. Fonte: Hemeroteca Lx


Aliás diga-se que a forte tradição naval da família Burnay recua ainda mais ao tempo pois o avô de Frederico Burnay também competiu na sua juventude tendo conquistado algumas regatas. Três gerações de Fredericos.




Três gerações da família Burnay. Fonte: http://remo-historia.blogspot.com





Ligações familiares e vizinhanças


Frederico Guilherme Duff Burnay nasceu em Lisboa, freguesia de Alcântara, na Rua da Junqueira nº 220, no dia 15-08-1888. Foi um dos nove filhos do casal Frederico José Guilherme Burnay e Virgínia Ffrench Duff, uma família da alta burguesia Lisboeta.




Rua da Junqueira na década de 1880-1890. Ao fundo avista-se Belém. Fonte: AML



Foi na Rua da Junqueira que o jovem Frederico Burnay cresceu e conviveu com outros rapazes de quem era vizinho. Naquele princípio do século XX, Alcântara foi um dos palcos de uma notável proliferação do interesse da prática desportiva. Esse entusiasmo foi mostrado por uma juventude relativamente desocupada, pertencente às famílias mais endinheiradas, que privilegiou a prática das actividades náuticas, tão convidativas naquela ampla margem do Tejo.

A natação, improvisada no rio Tejo, sem que existisse sequer algo parecido com piscinas, era um desporto bem mais democrático e muito popular. Depois havia o futebol que começou praticado pelas classes mais altas mas rapidamente de democratizou.




A natação na doca de Alcântara no início do século XX. Imagens de grande beleza. Fonte: AML




Depois de alguns anos de letargia, o futebol reapareceu em força nessa primeira década do século XX. Muita da evolução do futebol Lisboeta então verificada, deu-se no triângulo das freguesias de Belém-Ajuda-Alcântara onde ainda existiam muitos terrenos ainda livres que convidavam à prática do futebol. Um dos locais privilegiados para essas futeboladas eram os terrenos onde hoje se situa a antiga FIL, actual Centro de Congressos de Lisboa.




Na freguesia de Alcântara até à década de 30 existiram terrenos amplos que convidavam à prática do futebol.



Foi nesses espaços que o crescente interesse pela prática do futebol e a existência de muitos jovens, propiciou uma democratização da modalidade. Tornou-se acessível a miúdos de classes menos favorecidas e aumentou muito o interesse pela modalidade.

Frederico Burnay não foi alheio a esse interesse talvez também devido a ligações familiares que tinha com outros jovens entusiastas do futebol. Falaremos nisso no próximo texto mas desde logo se adianta que as pistas passam pelas ligações familiares que tinha com as famílias "Empis" e "Honorato Mendonça".

Antes de finalizar este texto, impõe-se mencionar uma outra ligação familiar dos Burnay. Não sendo especialista nem querendo aprofundar as complexas ramificações genealógicas da família Burnay (com origens Helvéticas), é sabido que Frederico Burnay era aparentado com Henry Burnay (1838-1909), o célebre Conde de Burnay.




Fonte: Hemeroteca Lx



Henry Burnay foi um dos homens mais ricos de Portugal na transição do século XIX para o século XX. Empresário, industrial e banqueiro (até do Rei Dom Carlos, que o fez Conde) estabeleceu em 1875 a casa Henry Burnay & C.ª, ali desenvolvendo uma visão empresarial activa que aproveitava qualquer boa oportunidade de negócio nos mais diversos ramos de actividades financeiras e industriais.

A sua residência mais conhecida (e faustosa) é ainda hoje conhecida por "Palácio Burnay", sendo localizada justamente na Rua da Junqueira, freguesia de Alcântara, vizinha de Belém. Fruto do crescente poder social e financeiro, as ligações familiares dos Burnay foram-se ramificando ao longo das décadas, associando-se a outras famílias endinheiradas. Duas dessas famílias eram os "Empis" e os "Honorato Mendonça"...




Vista da fachada e do lado Norte (traseira) do Palácio de Burnay na Rua da Junqueira. Fonte: AML



No próximo falaremos das ligações de Frederico Burnay aos primeiros anos do nosso Clube. Nesse contexto, serão mostradas ligações familiares interessantes e demonstrada a participação activa de Frederico nos primeiros treinos do Sport Lisboa.





RedVC

#932
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Pioneiro, em terra e no mar! (parte II)


Os treinos nas Terras do Desembargador...



Treino de futebol nas Salésias. Sport Lisboa contra uma equipa de casapianos.



Neste texto falaremos da participação de Frederico Burnay nos primeiros treinos do Sport Lisboa, realizados em 1904, o ano da fundação. Aproveitaremos ainda para falar de alguns detalhes que são conhecidos acerca desses treinos.



Os treinos de 1904


Para lá do profundo interesse nos desportos náuticos, Frederico Burnay mostrou também interesse no futebol, modalidade que praticou na sua juventude. Sabemos isso porque o seu nome consta de alguns dos registos que Manuel Gourlade fez, de forma metódica, das presenças de jogadores nos 24 treinos efectuados durante o ano de 1904. O primeiro desses treinos decorreu no próprio dia da fundação, reunindo 10 dos 24 fundadores.




Registos do 1º e 2º treino de futebol do Sport Lisboa em 1904. Boletins manuscritos por Manuel Gourlade. Fonte: SLB




Ora, o nosso Clube foi fundado no final de Fevereiro de 1904 por gente nova, leia-se com uma média de 20 anos de idade (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/com-quantos-anos-de-idade-se-pode.html). Seria assim de esperar que a grande maioria dos fundadores comparecesse aos treinos. E, de facto, assim aconteceu, uma vez que nessa lista dos 31 jogadores que compareceram aos treinos de 1904, encontramos 17 dos 24 fundadores:


                                       •   António Rosa Rodrigues, 24,
                                       •   José Rosa Rodrigues, 24,
                                       •   Manuel Gourlade, 24,
                                       •   Cândido Rosa Rodrigues, 23,
                                       •   Daniel dos Santos Brito, 21,
                                       •   Carlos Alberto de Oliveira França, 21
                                       •   Eduardo Afra Jorge da Costa, 20,
                                       •   Eduardo Gomes Corga, 17,
                                       •   Raul Júlio Empis, 17,
                                       •   Joaquim Ribeiro, 13,
                                       •   Henrique do Carmo Teixeira, 11,
                                       •   Abílio Maria de Jesus Meireles, 10,
                                       •   Joaquim Peters d'Almeida, 8,
                                       •   Joaquim José Linhares d'Almeida, 3,
                                       •   Amadeu d'Almeida Rocha, 1,
                                       •   António Severino Alves, 1,
                                       •   Francisco Reis Gonçalves, 1.


A presença de outros 13 jogadores demonstra que o núcleo inicial que também estava envolvido com o Clube, era maior do que os 24 que ficaram para a História.

É lícito assumir que esses 13 rapazes poderiam também ter sido fundadores e que somente razões circunstanciais terão levado a que nessa manhã de Domingo, dia 28-02-1904, não tivessem podido estar presentes na reunião da Farmácia Franco.

Para que conste, porque merecem ser lembrados, os seus nomes são:


                                       •   José da Cruz Viegas, 17,
                                       •   Duarte José Duarte, 12,
                                       •   José Dias, 11,
                                       •   Fortunato Levy, 10,
                                       •   Armando Macedo, 7,
                                       •   Mário Leite, 5,
                                       •   (Luís) Portugal, 5,
                                       •   Frederico Burnay, 5,
                                       •   Zoheger (ou eventualmente Zoheb), 2,
                                       •   Faísca, 2,
                                       •   Luís Ribeiro, 1,
                                       •   Romualdo (Bogalho), 1,
                                       •   Vasconcelos, 1.


Note-se que os que estão à cabeça desta segunda lista foram alguns dos que compareceram a maior número de treinos e que alguns fundadores compareceram a apenas 1 treino...  Há até o caso de José da Cruz Viegas, militar, que nem sempre tinha disponibilidade para estar presente mas que foi o homem que definiu as nossas cores: camisolas vermelhas, calções brancos e meias pretas.

E diria mais, mesmo que sabendo que foram 31 jogadores a comparecer aos treinos de 1904 ainda assim pelos testemunhos do fundador Daniel Santos Brito, sabemos que o número de envolvidos terá sido bem mais alargado. Não pecaremos por excesso ao assumir que o núcleo inicial alargado terá rondado as 6 ou 7 dezenas de rapazes. Essa relação terá um dia de ser feita.




A relação dos jovens que compareceram aos treinos do Sport Lisboa em 1904. Informação compilada e publicada em "História do SLB 1904-1954" a partir dos cartões originais manuscritos por Manuel Gourlade. A presença de Frederico Burnay está assinalada.



Estratégias


Um conceito importante a ser apreendido sobre estes treinos é que quem ia aos treinos era essencialmente a rapaziada mais nova, aqueles que moravam perto do local dos treinos e não tinham ainda grandes impedimentos profissionais ou académicos.

Os treinos realizavam-se geralmente na madrugada dos dias escolhidos, aproveitando a frescura da manhã e a maior disponibilidade dos jogadores, muitos deles ainda estudantes, outros empregados no comércio local.


Outro factor a ter em conta é na estratégia seguida pelo Clube nesse primeiro ano de existência, esteve previsto um crescimento racional e sustentado. Apesar do entusiasmo pelo jogo ser muito, a competição era encarada como coisa séria e fundamental para o sucesso do Clube. Não houve vontade de queimar etapas.

O primeiro jogo "a sério" foi disputado oito meses depois da fundação, no dia 1-01-1905, contra o Campo de Ourique. Os Ingleses vieram depois e só quando as nossas equipas mostraram qualidade para serem aceites na Quinta Nova de Carcavelos...

Assim, durante o ano de 1904, toda a actividade futebolística do Clube resumiu-se a treinos. Foi um tempo formativo em que não se enfrentou qualquer das equipas dos Clubes já estabelecidos. Seguiu-se uma estratégia de aprendizagem e reforço da coesão e conhecimentos técnicos do jogo e nesse âmbito há a salientar o papel de Manuel Gourlade, que traduziu as regras originais inglesas (que mandou adquirir em Inglaterra). Manuel Gourlade era tudo no Clube, tendo sido também o primeiro homem a orientar os treinos e a seleccionar os melhores para competição.

A importância de Gourlade tem de ser colocada a par de outros dois homens que também decisivos nesses tempos iniciais: Cosme Damião e Félix Bermudes. Estes três homens permanecem como os mais importantes da História do nosso Clube.

Nota-se também que na lista dos treinos não estão presentes os antigos estudantes casapianos, prestigiados jogadores, que viriam a constituir a base das equipas que disputaram os jogos de 1905 a 1907. Eram jogadores mais velhos, experientes e já prestigiados no meio futebolístico Lisboeta pois na década anterior tinham constituído uma equipa casapiana só com Portugueses que tinha conseguido o feito inédito de derrotar os mestres Ingleses do Carcavellos Club.

Esses antigos casapianos, embora não tendo sido fundadores, pelo seu saber e personalidade, rapidamente ocuparam lugar de destaque no futebol e na vida associativa do Sport Lisboa. Isto até meados de 1907, altura da primeira grande crise, em que a maioria saiu do nosso Clube.

Sucede que estes "veteranos" geralmente não treinavam com a rapaziada mais nova, quer por uma questão de "estatuto", quer por já terem vida profissional bem estabelecida, quer ainda por residirem longe das três freguesias onde decorriam os treinos. Nesse tempo não existiam a mobilidade nem a rede viária dos dias de hoje...

Foi também esse o caso de Cosme Damião que apesar de ser de uma geração mais nova, morava no centro de Lisboa e dava os seus primeiros passos como funcionário da Casa de Palmela, ligação profissional que manteve durante toda a sua vida.

Não obstante, a presença destes antigos casapianos foi fundamental pelo que representou de enriquecimento das competências técnicas, pela força do seu associativismo e valores e pelo prestígio conferido pela sua presença. Esteve bem Manuel Gourlade e outros fundadores quando convidaram António Couto, Silvestre da Silva, Januário Barreto, etc.



Os terrenos dos treinos


Apesar de ser apenas parcialmente correcto, se quisermos de alguma forma de simplificar a História inicial do nosso Clube, pode dizer que tudo começou com um pequeno núcleo de uma a duas dezenas de jovens praticantes do futebol no pátio da Farmácia Franco. Nesse prédio moravam os irmãos Rosa Rodrigues (Catatau) que tinham um objecto raro e precioso nessa época: uma bola de futebol.

Rapidamente, o entusiasmo desse núcleo contagiou algumas outras dezenas de miúdos, de todas as "classes sociais", moradores naquele triângulo Belém-Ajuda-Alcântara. Todos unidos pelo prazer do jogo.



Um grupo de miúdos de Belém entusiastas do futebol. Entre eles está o fundador Cândido Rodrigues e José da Cruz Viegas (à civil). Muitos destes certamente terão "futebolado" no pátio da Farmácia Franco.




Este crescimento rapidamente tornou o pátio num local demasiado pequeno. Para além disso a rapaziada enfrentava a animosidade crescente da maioria dos moradores locais apesar do beneplácito dos donos da Farmácia.

Os jovens viram-se assim forçados a procurar terrenos livres ali perto, espaços amplos onde pudessem praticar o jogo. Encontraram esses espaços em terrenos próximos à praia de Belém entre a linha férrea e o Palácio Marialva (Duques de Loulé). Sabemos pela mão de Manuel Gourlade que foi esse o local do primeiro treino, no próprio dia da fundação do Clube.

Usaram também as Terras do Desembargador, às Salésias, local que apesar de já alguns anos ser usado por outros clubes / grupos, tinha o problema de ser um espaço público que muitas vezes usado pelos militares para treinos de cavalaria, situação que que danificava muito o terreno. Pior ainda, não tinha segurança sendo frequente alguns populares invadirem o terreno durante os jogos originando alguns acidentes.




Do pátio da Farmácia Franco, passando pelos areais de Belém, até às Salésias. Os primeiros palcos do nosso Clube.




Não obstante essas condições precárias, foi naqueles terrenos que se reuniram as vontades, se moldaram os valores e os comportamentos, se estabeleceram as amizades e se avançou no conhecimento do jogo. Por ali se forjou a primeira versão do Sport Lisboa e Benfica. Foram muito importantes esses tempos.

Ao Benfica nunca nada foi dado. Não tivemos meninos mimados com avós milionários nem benesses das autoridades, isto embora alguns dos nossos jovens pioneiros fossem também de famílias endinheiradas. Desde cedo o nosso Clube foi uma reunião de vontades e talentos, unidos pelo prazer do Jogo. Com ambição e desportivismo.




As ligações familiares


Voltando a Federico Burnay, há que notar que compareceu a apenas 5 dos 24 treinos de 1904. Ao que sabemos esses treinos terão decorrido quer nos terrenos desocupados de Belém junto à linha férrea e ao Palácio de Marialva quer nas Terras do Desembargador às Salésias. O súbito afluxo de jogadores forçou a que fossem procurados esses terrenos amplos ultrapassando os tempos em que, no ano anterior, pouco mais de uma dezena de jovens comparecia no pátio da Farmácia Franco.

Parece provável que Frederico tenha sido sócio do Sport Lisboa nesses primeiros tempos. Infelizmente não parece ter sobrevivido sequer uma lista dos sócios do Sport Lisboa durante o período entre 1904 e 1906.

Certo é que em 1907, Frederico não constava da lista de sócios apresentada pelo Clube durante as conversações que levaram à junção com o Grupo Sport Benfica. Como vários outros casos, provavelmente a ligação de Frederico ao nosso Clube terá sido fugaz. Provavelmente nem sequer terá mantido qualquer ligação ao futebol, dedicando-se desde então à sua paixão náutica e ao Clube Naval de Lisboa.

Do que atrás se disse, deduz-se que para lá do interesse pelo jogo de futebol, a presença fugaz de Frederico Burnay nos treinos do primeiro ano da nossa História poderá ter-se devido a ter estado no local certo, no tempo certo e convivido com os amigos certos.

Essas ligações são típicas dos primórdios do futebol Lisboeta em que simples embora entusiásticas amizades e solidariedades determinaram a existência mais ou menos fugaz de grupos, alguns dos quais se vieram a constituir em Clubes. O grau de sobrevivência dos Clubes dependeu muito das compatibilidades de personalidades nesses círculos de ligações familiares, profissionais ou até de vizinhança. Dependeu da capacidade de organização e da geração de receitas, tão precárias e curtas eram essas fontes... Há ainda muito para perceber nesses (muitos e interessantes) círculos dentro da realidade vivida pelo Sport Lisboa.

No caso de Frederico, sabemos que em 1903 e 1904 morava ainda com os pais na Rua da Junqueira. Entre os seus amigos / familiares contavam-se dois jovens chamados Raúl Júlio Empis e José Honorato Mendonça.




Frederico Burnay, Raul Empis (fundador do Sport Lisboa) e José Honorato Mendonça. Laços familiares, de vizinhança e de camaradagem.



Raul Júlio Empis, morava no Palácio de Burnay, tendo sido um dos 24 fundadores do Sport Lisboa. O seu pai, Ernest Empis, que era sócio e amigo de Henry Burnay tinha tido um primeiro casamento com uma Senhora da família Burnay. Esses laços familiares e de negócios explicam a convivência entre os dois jovens. Raul Empis era de uma família da alta burguesia Lisboeta, estudou no estrangeiro e cedo assumiu posições de administrador em diversas grandes empresas da época ligadas ao grupo Burnay. Raul Empis compareceu a 17 dos 24 treinos de 1904 e foi titular como avançado centro no nosso primeiro jogo, disputado em 1-01-1905, contra o Campo de Ourique.


A estes há a acrescentar José Honorato Mendonça que era primo, pelo seu lado materno, de Frederico Burnay. José Honorato Mendonça morava em Belém na Travessa do pátio das Vaccas, bem perto da Farmácia Franco. E ainda mais significativo para a ligação entre os dois rapazes é saber que, em finais de 1907, José Honorato Mendonça casou com Maria Antonieta Duff Burnay, irmã de Frederico Guilherme Duff Burnay.

Não tendo sido fundador por um qualquer acaso do destino, José Honorato Mendonça foi um dos mais entusiastas do Clube desses primeiros meses, actuando naquele vibrante contexto da Farmácia Franco. Colaborou de perto com José da Cruz Viegas, com Manuel Gourlade e Daniel Santos Brito. José não compareceu a nenhum dos treinos quer em 1904 quer em 1905 mas sabemos por Daniel dos Santos Brito que foi um dos jovens que futebolou no pátio traseiro da Farmácia Franco.

Da figura e curta vida de José Honorato Mendonça já por aqui falamos, prestando-lhe justa homenagem (ver: -160- A semente da Farmácia Franco, p. 44).


Em resumo: Frederico Guilherme Duff Burnay teve ligações estreitas com alguns dos fundadores do nosso Clube e de outros que apesar de importantes estão em grande medida perdidos para a memória colectiva Benfiquista.

Este tópico sempre tem procurado relembrar e homenagear os mais conhecidos e sempre que possível resgatar alguns dos esquecidos. Pela sua contribuição, todos são merecedores sempre da nossa memória e carinho. Assim foi, assim é, assim será.


Todos Juntos. Todos por Um.



Frederico Guilherme Duff Burnay faleceu em Lisboa, freguesia de Arroios, no dia 10-02-1964. Descansa no cemitério dos Prazeres. Paz e honra à sua memória.







luis.live

redVC , Cosme Damiao não está entre os 24 fundadores , certo? a teoria de que foi ele que escreveu o nome dos ilustres fundadores é treta , certo? quem escreveu foi o Manuel Goularde , certo?  Cosme Damião aparece depois da fundação do Sport Lisboa e tem sim , papel fundamental no Sport Lisboa quando recusa ir para o recem fundado Sporting e , mantém o Sport Lisboa e é ele o grande responsavel pela fusão com o grupo sport Benfica , certo ou estou enganado?

Alexandre1976

Na acta da fundação julgo que terà sido Cosme Damião que escreveu os nomes dos 23 fundadores. Mas o seu nome não està là.

RedVC

#935
Caros amigos, em resposta ao que questionam, fica aqui um texto escrito enquanto curo uma gripe... Espero que a informação seja esclarecedora.


-255-
Dissecando uma Acta





A Acta do evento que fundou o Sport Lisboa e Benfica foi dada ao conhecimento público - como dezenas de outros documentos - em 1954, aquando da publicação, em fascículos, da magnífica "História do Sport Lisboa e Benfica 1904-1954". Foi uma obra de autor (financiada pelo seu próprio bolso) de Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva.


Não sabemos de que acervo veio e onde está actualmente. Talvez constasse do acervo de Cosme Damião, talvez do acervo dos irmãos Rosa Rodrigues ou de Daniel dos Santos Brito.

É um documento simples, próprio de um Clube que não primava pela organização mas sim pelo voluntarismo e talento para jogar futebol.

No documento podemos extrair vários níveis de informação:

- foi manuscrita por uma só pessoa (inferido pela caligrafia)
- o local e a data em que foi redigida
- os nomes de 23 fundadores
- a constituição da primeira Direcção (presidente, secretário e tesoureiro)


Assim sendo, vamos por partes.


Caligrafia

Atente-se nesta comparação gráfica. À esquerda está um registo da inscrição de jogadores da 1ª categoria de 1908 manuscrita por Cosme Damião. À direita está a Acta:




Acho que esta comparação é conclusiva. É a letra de Cosme Damião.

É inacreditável que se continue a repetir que Cosme Damião não tem nada a ver com a fundação. Só há uma solução contra isso que é divulgar a informação, a verdade.

O facto de Cosme Damião ter escrito a Acta não merece admiração pois ele foi sempre um homem organizado. É aliás relevante lembrar que 1 ano antes, em 1903, Cosme Damião teve um papel fundamental na estrutura organizativa da Direcção da Associação do Bem. A Associação do Bem tinha como foco desenvolver actividades de convívio, culturais e desportivas, reunindo antigos casapianos. Alguns deles era prestigiados no futebol Lisboeta. Se bem me lembro, Cosme foi secretário dessa Associação apesar de ser dos mais novos.

Em 1904, Cosme era ainda muito novo (19 anos) mas já tinha quer as qualificações profissionais quer a personalidade adequada para perceber e assumir a responsabilidade de efectuar registos.
´
Nesses primeiros meses de vida do Sport Lisboa, para além de Cosme Damião, também Manuel Gourlade e Daniel Santos Brito assumiram um papel na burocracia do Clube. Ambos tinham rotinas profissionais adequadas à função dado serem empregado da Farmácia Franco, uma verdadeira empresa que vendia os seus produtos quer em Portugal e quer fora de Portugal.

Apesar da escassez ou das perdas, sobreviveram alguns documentos da contabilidade do Sport Lisboa que tem a caligrafia de Daniel Santos Brito, de Manuel Gourlade e de José Rosa Rodrigues (1ª Direcção do Clube). Sabemos por isso que a caligrafia da Acta não é de nenhum deles.



Local e data

A data da Fundação aparece muito claramente no cabeçalho do documento.

Lá se refere que nessa mesma data foi feito o primeiro treino do Clube.

Essa afirmação é concordante com o registo feito por Manuel Gourlade, aqui sim com a caligrafia de Gourlade:





O local da reunião aparece escrito de forma encavalitada, como que adicionado. Parece óbvio que foi isso o que aconteceu.





Note-se que aparece Farmácia Franco, Rua de Belém 147. Algures na década de 20 já vigorava uma nova numeração na referida Rua, facto que baliza no tempo essa adição.


Como Cosme mais tarde mencionou, o prazer pelo jogo antecedeu a formação do Clube. O documento terá sido rapidamente escrito e só mais tarde Cosme terá reparado que faltava precisar o local. Acho óbvio que a adição foi feita depois e isso poderá explicar o facto de Farmácia aparecer escrito sem "Ph", um detalhe que a "gente do contra" tentou sempre explorar.

Cosme Damião faleceu em 1947 ou seja 7 anos antes de Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva publicarem a sua obra.

No entanto, em 1945, Cosme foi longamente entrevistado por Mário de Oliveira e esse testemunho foi fundamental para a escrita desse capítulo inicial da obra destes dois autores. Do meu conhecimento, esta obra foi o primeiro registo jornalístico escrito que alguma vez foi publicado com detalhes da Fundação. Permanece como obra de referência e tudo o que tem sido investigado com base em documentação original da época tem confirmado os factos ali apresentados.




Os 23 nomes


Não sabemos também porque Cosme Damião decidiu não colocar o nome dele. É seguro dizer que o que sabemos dos seus traços de carácter mostra que Cosme era tudo menos vaidoso. Colocava o colectivo à frente do individual. Em minha opinião, não colocou o seu nome na Acta por modéstia ou eventualmente por esquecimento.

Não sabemos e essa pergunta aparentemente não lhe foi feita. E não foi feita se calhar porque nesse tempo não se questionavam as coisas como agora. Acreditava-se mais na palavra das pessoas. A palavra dos homens tinha valor. Selava questões. Triste tempos os que hoje vivemos em que as pessoas não tem palavra nem dignidade e por isso duvidam tanto uns dos outros...


Para além disso, para quem sabe alguma coisa desses tempos e desses homens - e desculpem a pouca modéstia - eu sei muito, é evidente que alguns dos nomes só estão na lista pelo simples facto de ela ter sido escrita no próprio dia da fundação!

O que quero dizer é que estão lá registados nomes de homens dos quais apenas existe registo fugaz de passagem no Clube. A sua presença nesse dia na Farmácia Franco é um episódio raro e fugaz, tendo em conta o que se seguiu depois. Constam da Acta mas rapidamente deixaram de fazer parte da vida do Clube, muito provavelmente porque na altura moravam ou trabalhavam na zona de Belém de forma transitória. Pouco depois foram para outras paragens levados pela vida familiar ou profissional ou até porque... morreram. São esses os casos de Amadeu Rocha, Manuel França, João Ignácio Gomes, entre outros.

O ponto essencial a reter é que esses homens de presença fugaz, rapidamente desapareceram da vida do Clube e logo entraram no esquecimento da memória colectiva. O facto dos seus nomes estarem na acta é um atestado da autenticidade do documento mas nem devíamos estar a falar de autenticidades de tão absurdo é.

Note-se também que, aquando da publicação da obra supra-citada, o Comandante (Marinha) Francisco Reis Gonçalves, um dos 24 fundadores, escreveu uma carta aos autores da obra, onde salienta que a lista tinha de facto algumas imprecisões mas de resto confirmava tudo o resto, inclusive o seu estatuto de fundador, facto do qual se orgulhava.

Com a investigação que eu fiz, e continuo a fazer, hoje julgo conseguir detalhar todas ou quase todas as imprecisões que Francisco Reis Gonçalves se referia. Por exemplo:


- "Jorge de Sousa" era na verdade Augusto Jorge de Sousa.
- "Jorge da Costa Afra" era na verdade Eduardo Afra Jorge da Costa,
- o próprio Francisco Reis Gonçalves aparece na lista só como "Francisco Reis".



Há ainda mais um par de outras imprecisões, leia-se abreviações de nomes, mas o essencial fica demonstrado. A acta tem imprecisões mas em nada belisca a sua autenticidade.

O que isto quer dizer é que quem escreveu a lista fez isso escrevendo os nomes que conhecia, os nomes com que os próprios provavelmente eram mais conhecidos entre os colegas. E é lícito pensar que Cosme Damião conhecia melhor alguns dos seus colegas fundadores do que outros.

Repare-se ainda no importante facto de que quando a obra de Mário de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva foi publicada ainda estavam vivos os fundadores, a saber:


Abílio Meireles
Cândido Rosa Rodrigues
Daniel Santos Brito
Francisco Reis Gonçalves
Joaquim de Almeida
José Linhares
Raul Empis





e estavam igualmente vivos outros homens que não tendo sido fundadores, estiveram presentes antes e depois da fundação. Homens cuja acção nos primeiros meses do Clube foi fundamental, tais como José da Cruz Viegas e Félix Bermudes, entre outros.


Não se ouviu qualquer desmentido da parte de todos estes homens. Antes pelo contrário, muitos deles deram os seus testemunhos directos e documentos do seu acervo pessoal. O que sabemos veio da sua boca e das suas gavetas.

O único verdadeiro reparo que se ouviu foi dado por Cândido Rosa Rodrigues, não sobre factos associados à fundação mas sim sobre a grande crise de 1907.

O que Cândido Rosa Rodrigues lamentou - mesmo passadas 5 décadas - foi o facto de não se ter considerado que o Sport Lisboa foi extinto aquando da grande cisão de Maio de 1907.

Como devem estar lembrados nessa altura 8 jogadores do Sport Lisboa (Cândido Rosa Rodrigues incluído) e mais alguns outros sócios do nosso Clube, saíram para o SCP, aceitando o convite de José de Alvalade. É natural que os manos Rosa Rodrigues encarassem o Clube como seu mas o facto indesmentível é que foram eles a abandonar.

O que Cândido Rosa Rodrigues não referiu é que enquanto ele foi para o SCP, ficaram no Sport Lisboa pelo menos os seguintes seis fundadores: Abílio Meireles, Carlos França, Cosme Damião, Eduardo Corga, Henrique Teixeira e Manuel Gourlade.

Os fundadores que ficaram disseram presente nesses primeiros tempos do Clube em Benfica, ajudaram à subscrição que juntou dinheiro para salvar o Clube e muitos deles continuaram jogaram nas nossas equipas de futebol. Há fotografias que atestam isso. Há documentos escritos que atestam isso.

Depois de 1907, igualmente ficaram no Clube alguns sócios protectores dos tempos de Belém. Estes eram sócios de mérito que não jogavam mas que contribuíam financeiramente mais do que os sócios ordinários. Entre esses sócios podemos referir, entre outros, o médico António de Azevedo Meireles, ou Ignácio José Franco ou seja o 2º Conde do Restelo e um dos donos da Farmácia Franco). Há documentos que atestam isso.


Todos eles constavam da lista de sócios que o Sport Lisboa apresentou aquando da junção com o GSB, em Setembro de 1908. Muitos deles fizeram inclusivamente parte dos Orgãos Sociais desses tempos. Há documentos que atestam isso.


O que Cândido Rosa Rodrigues não referiu é que em 1907-1908, o Clube continuou a competir com o nome Sport Lisboa, com o emblema e com as camisolas vermelhas e calções brancos.


O que Cândido Rosa Rodrigues não referiu é que ele próprio continuou a ser sócio do Clube nesse período e que continuou a pagar quotas.


As opiniões de Cândido Rosa Rodrigues eram a sua verdade, as suas desilusões, o seu desgosto pelo trajecto posterior do Clube. O problema é que esbarram nos factos.


Para além disso todo o processo de junção foi negociado (e ficou registado em diversas actas, ainda hoje existente no acervo do Clube) pela parte do Sport Lisboa por Cosme Damião e por Félix Bermudes. Nesse processo ficou registado em acta que os dois Clubes se juntavam mantendo a sua individualidade, o Sport Lisboa com a autonomia da gestão e prática do futebol e o Grupo Sport Benfica com a gestão central do Clube e a prática de outros desportos.  Naturalmente, o tempo encarregou-se de ir diluindo essas atribuições distintas.


É por isso que se deve falar em junção e não em fusão. Conceitos distintos.


Mas já estou a sair do âmbito da questão inicial, voltemos ao foco deste texto.

O fundamental de tudo o que foi dito é saber-se que neste nosso Clube não há data inventadas. Não há fundadores martelados. Está tudo registado, fundamentado por documentos ou por testemunhos directos de vários homens que lá estiveram.



A primeira Direcção


Foi escolhido para presidente José Rosa Rodrigues, o mais velho dos manos Rosa Rodrigues, que moravam por cima da Farmácia Franco, que eram os donos da única bola existente nesse dia da fundação e que eram o núcleo do (Belém) Football Club, fundado em 1903 e que antecedeu o nosso Sport Lisboa, fundado em 1904.

Aliás as primeiras quotas em Abril de 1904 tinham ainda o cabeçalho Football Club.




Isto mostra que existe/existiu mais informação, documentos e listas que hoje não estão disponíveis mas ainda assim o que está disponível é conclusivo ao que se aqui afirma.

Na Acta é indicado também que foram escolhidos para Secretário o fundador Daniel Santos Brito e para tesoureiro o fundador Manuel Gourlade que eram funcionários da Farmácia Franco com responsabilidade profissionais compatíveis com essas funções. Os donos da Farmácia eram sócios do Clube e eram entusiastas do futebol e por isso deram o seu beneplácito e financiamento ao novo Clube, deixando também que na Farmácia funcionasse provisoriamente a primeira sede do Clube.


Está tudo documentado.


Tudo o que tenho revelado e tenho muito mais do que aqui publico, é conclusivo quanto à veracidade do que sabemos da História inicial do nosso Clube. É um orgulho saber que nada foi aldrabado e que tudo pode ser provado.


O nosso Clube tem uma História transparente. Teve 24 fundadores mas muitos mais contribuíram para definir os Valores e outras traços distintivos definidores do Clube.

Muita coisa mudou mas o essencial permaneceu pois


https://www.youtube.com/watch?v=amBpCiD9ppM



...Olhando altivo o seu passado pode ter fé no seu futuro pois conservou imaculado um Ideal sincero e puro...

...Honrai agora os ases que nos honraram o passado...






luis.live

VIVA , VIVA O SPORT LISBOA E BENFICA...

alfredo

Muito bem, continua a ser um dos meus tópicos preferidos. Obrigado Victor.

RedVC

#938
-256-
Entre regatas e futebóis


Alcântara, dia 2 de Abril de 1907.



As equipas do Arsenal da Marinha e da canhoneira "Tejo". Fonte: delcampe



Duas equipas alinham para as máquinas fotográficas, antes de iniciarem uma partida de futebol.

O jogo de futebol que disputaram foi parte de um evento comemorativo da entrada de novos recrutas para a Marinha Portuguesa. As equipas do Arsenal da Marinha (camisola com uma âncora) e da canhoneira "Tejo" disputaram uma renhida partida de futebol da qual os primeiros saíram vencedores por 2-1.




Fonte: Hemeroteca Lx



Nos primeiros anos do século XX, o campo de futebol de Alcântara foi um importante terreno para a prática do futebol em Lisboa, tendo sido frequentemente utilizado pelo Clube Internacional de Futebol (CIF). Aliás, ao que parece, em finais de 1902, o direito da utilização desse campo gerou discussões e dissensões que estiveram na base da fundação do CIF.

Era um campo amplo, sem bancadas e com um terreno duro e abrasivo. Valia apenas pela localização e pela conveniência de utilização num tempo em que escasseavam locais com um mínimo de aptidão para a prática de futebol.




Aspecto do jogo de 2-04-1907 e da assistência. Fonte: Delcampe



É justo referir o papel fundamental do CIF e de algumas das suas figuras-maiores na difusão da teoria e da prática do futebol no Exército e em particular na Marinha Portuguesa. Homens como Carlos Villar, o seu primeiro presidente, e Joaquim Vilar, que eram aliás oficiais da Marinha Portuguesa. Refira-se ainda que membros da família Pinto Basto, introdutores do futebol em Portugal e estreitamente ligados do CIF, terão doado bolas de futebol à Marinha Portuguesa, num tempo em que esse era um bem escasso e raro.




Joaquim Costa e Carlos Villar, dois entusiastas da difusão do futebol na Marinha Portuguesa. Fonte: Marinha Portuguesa.




Junho de 1907. Fonte: Hemeroteca Lx



O Arsenal e a Canhoneira


O Arsenal da Marinha é uma antiga instituição Portuguesa, cujas origens podemos traçar ao século XV, ao chamado "Arsenal da Ribeira das Naus". Implantada a poente do Terreiro do Paço, era uma instituição devotada à construção naval e ao saber náutico, e que teve as suas infra-estruturas grandemente devastadas pelo terramoto de 1755.

A reconstrução e uma série de melhoramentos levaram ao aparecimento do "Arsenal da Marinha", instituição com notáveis capacidades de construção naval e fornecedora de todos os materiais para a actividade naval. Ver mais em: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2014/10/arsenal-da-marinha.html




Fonte: Restos de Colecção



Acompanhando as inovações tecnológicas da época, o Arsenal da Marinha passou a ter capacidades de construção de navios em aço no início do século XX. E assim, a canhoneira "Tejo", lançada ao mar em 1904 e mantida em serviço até 1927, foi uma das primeiras unidades militares navais desse tipo, que ali foram construídas (fonte: https://www.wikiwand.com/pt/NRP_Tejo_(contratorpedeiro)).




A canhoneira "Tejo" (1904-1927)



Para lá das alterações que mais tarde surgiriam nesta instituição, desde a construção das instalações no Alfeite (com as indemnizações de Alemanha por via da I Guerra Mundial) até ao aprazível local turístico que por lá hoje encontramos, deve reter-se a ideia de que em 1907 o Arsenal da Marinha era uma instituição militar de grande vitalidade, palco de múltiplos e relevantes eventos sociais e políticos.

Mas vamos voltar a olhar para a imagem da equipa do Arsenal da Marinha e vamos concentrar atenções no homem que trajava à civil. Façamos umas comparações.




Fonte: Delcampe e AML



Assim se identifica Albano dos Santos, na altura ainda futebolista do Sport Lisboa. Sairia para o SCP no mês seguinte.

Em 1907, Albano dos Santos era um funcionário relativamente novato do Arsenal da Marinha mas era já prestigiado como remador do Clube Naval de Lisboa (CNL) e futebolista do Sport Lisboa. Olhando para a sua postura na foto e considerando a sua notoriedade desportiva, percebe-se que nesse dia muito provavelmente Albano dos Santos estaria a orientar a equipa de futebol formada pelos seus colegas de trabalho.

Mas para nós Benfiquistas, o importante é reter que Albano dos Santos integrou o meio-campo das primeiras equipas de futebol da história do nosso Clube. Foi um dos pioneiros, um dos atletas que ajudou a que o Sport Lisboa, desde os seus primórdios, se apresentasse como um clube vencedor. Envergando a camisola rubra, Albano dos Santos integrou o nosso mais antigo plantel principal de futebol.




A mais antiga equipa do Sport Lisboa, provavelmente captada em 1905. O original a preto e branco é da autoria do fotógrafo Nazareth Chagas e está guardado no acervo de José da Cruz Viegas. Albano dos Santos está entre Fortunato Levy e António do Couto, seus companheiros do meio-campo.



Albano, o náutico


No início do século XX, quando o futebol dava os seus primeiros passos em Portugal, já a prática dos desportos náuticos estava implantada há diversas gerações nas diversas freguesias ribeirinhas de Lisboa. Com propriedade, o Remo e a Vela podem ser consideradas as primeiras modalidades desportivas portuguesas, a base do desporto em Portugal. E tal como em muitos outras modalidades desportivas que vieram depois, nos seus primeiros anos o Remo e a Vela eram essencialmente praticadas pela juventude das classes sociais mais abastadas.

Para muitos desses desportistas, a prática dos desportos náuticos era a sua prioridade desportiva, particularmente nos meses do tempo quente. O futebol era um desporto para o Inverno, uma novidade, ainda quase só praticada por essas classes mais favorecidas. Foi esse também o caso de Albano dos Santos, que para lá de se notabilizar como futebolista foi essencialmente um campeão do remo, e mais tarde um prestigiado dirigente do CNL.




Albano dos Santos e a tripulação que integrou, vencedora da prestigiada Taça Lisboa no ano de 1909. Fonte: Hemeroteca Lx



Recentemente falou-se por aqui na importância do CNL e de alguns dos seus mais destacadas membros (ver -253- Pioneiro, em terra e no mar!). Fundado em 27 de Janeiro de 1892, sediado na zona de Alcântara, e actualmente com sedes em Cascais, Portimão, Lagos, Luanda, Funchal, Faro, Pedrouços, o CNL contou desde cedo com um enorme contingente de sócios e praticantes. Nas suas primitivas indumentárias, os timoneiros fardavam-se de branco e os remadores vestiam camisolas listadas horizontalmente de preto e vermelho.

E é com essa primitiva camisola do CNL, que podemos identificar três dos seus sócios com ligações ao nosso Clube: Albano dos Santos, Jaime Aldim e José Honorato Mendonça Jr.




Entre dezenas de membros do CNL, identificam-se Albano dos Santos, Jaime Aldim e José Honorato Mendonça Jr. Fonte: http://remo-historia.blogspot.coml



Numa imagem similar de um outro convívio entre desportistas náuticos, identifica-se Albano dos Santos e António do Couto.




Entre dezenas de membros do CNL, identificam-se Albano dos Santos e António do Couto. Fonte: http://remo-historia.blogspot.com/



Albano dos Santos, Jaime Aldim, José Honorato de Mendonça Jr. e António do Couto, são quatro dos elementos que estiveram presentes nos míticos treinos de futebol de 1903-1904, no campo das Salésias. Foi nesse tempo e local que se criaram ligações e interesses comuns que levaram à fundação do Sport Lisboa, a primeira evolução do Sport Lisboa e Benfica.



Albano, o footballer


Apesar de evocadas várias décadas depois dos acontecimentos, pelo detalhe e riqueza das memórias de um dos nossos fundadores, Daniel Santos Brito, sabemos que Albano dos Santos participou nos famosos treinos das Salésias, entre os anos de 1903-1904.



Recordações de Daniel Santos Brito, fundador do Sport Lisboa.



Lendo essas passagens percebe-se que o afluxo crescente de jogadores para os treinos de futebol nas Salésias se explica com a existência de diversos núcleos de amizades, ligações académicas e profissionais. Note-se no entanto que, bem antes de 1903-1904, período que marcou o início do nosso Clube, já há alguns anos se faziam treinos de futebol nas Salésias. Terão começado mesmo antes de 1900, provavelmente por volta de 1892-1893, altura em que após a construção da praça de touros, os terrenos do Campo Pequeno deixaram de estar disponíveis.

Em 1903-1904, vários grupos treinavam o futebol nas Salésias. Foi nesse ambiente de prática pré-competitiva do futebol que se estabeleceram as amizades e o espírito de grupo que foram essenciais para a génese do nosso Clube. Para lá do grupo Football Club, grupo belenense liderado pelos irmãos Catatau, compareceram nesses treinos diversos outros grupos de estudantes, de militares, de marinheiros e de desportistas náuticos.

Atentemos também a que nesses primeiros anos do século XX não existiam competições estruturadas nem sequer algum tipo de regularidade de jogos. Reinava o improviso e a inconstância própria do voluntarismo, situações que se traduziam na quase inexistência de clubes estáveis e organizados.

Era frequente ver-se os jogadores a circular por entre os diversos clubes, em função de oportunidades casuais e de amizades diversas. Praticava-se o jogo, pelo prazer e pela circunstância do momento. Não era estranho ver jogadores a integrar um determinado grupo numa semana e a defronta-lo na semana seguinte...

Terá sido também o caso de Albano dos Santos, do qual há notícia de integrar grupos mistos, clubes prestigiados como o SC Campo d'Ourique onde foi colega de Manuel Mora, mais tarde também nosso jogador e ainda de clubes com fugaz e obscura existência, tais como o Clube de Santos. Uma curiosidade histórica onde se identificam outros nomes já por aqui falados.




Fonte: hemeroteca Lx



Quando chegou ao nosso Clube, Albano dos Santos era já um elemento prestigiado entre os futebolistas nacionais e assim, sem surpresas, Manuel Gourlade seleccionou-o para a nossa primeira categoria. Sabemos pouco sobre o seu estilo de jogo mas parece ter sido um centro-campista duro e voluntarioso, por vezes até demais...

Os seus parceiros de sector eram o virtuoso e atlético Fortunato Levy e o energético e organizador António do Couto. Albano dos Santos descaia mais pela esquerda, Fortunato Levy jogava mais pela direita, deixando a António do Couto a coordenação do jogo pelo meio, uma função fundamental no modelo táctico da época, o "2:3:5", também conhecido como a "pirâmide invertida".




Albano dos Santos durante um Sport Lisboa versus Clube Internacional de Football, disputado nas Salésias em Janeiro de 1906. Fonte: AML.



Albano dos Santos manteve-se no Sport Lisboa durante 3 temporadas, de 1904-1905 até 1906-1907. Nesse período ficou registada a sua participação num total de 17 partidas de futebol. Não aprece muito mas é preciso atentar que por um lado nesse tempo disputavam-se poucos jogos e por outro, muito provavelmente alguns jogos nem terão sido registados.

De qualquer forma, Manuel Gourlade deu sempre a titularidade a Albano dos Santos, tendo este participado em jogos tão importantes como aquele que em 11 de Fevereiro de 1907 nos deu a glória de derrotar os até então invencíveis ingleses do Carcavellos Club. Nenhum outro Clube Português cometeu tal proeza.

Em Maio de 1907, Albano dos Santos esteve entre a vintena de atletas do Sport Lisboa que aceitaram o convite de José de Alvalade para se transferirem para o Sporting Clube de Portugal. Apesar do impacto inicial dessa enorme dissidência ter sido bastante substancial e negativo, a perda desses elementos levaria não à extinção mas antes a um novo e irresistível impulso de crescimento para o Sport Lisboa.

Durante algum tempo, os dissidentes terão apreciado o fausto dos chás dançantes e o conforto dos banhos quentes que o jovem, ambicioso e endinheirado SCP dispunha. Seria no entanto breve essa aventura leonina pois ao que sabemos depois de um campeonato de 1907-1908 em que o SCP se sagrou 2º classificado atrás dos ingleses do Carcavellos Club, o Clube leonino entraria num declínio de resultados pouco condizentes com as suas ambições.




Primeira equipa do SCP em 1907-1908. Oito dissidentes do Sport Lisboa... Fonte: hemeroteca Lx



Ora, nesse tempo a veterania futebolística chegava mais cedo, e o estatuto social e uma vida profissional activa não eram os melhores atributos para os jogadores de futebol. Era pois, fácil prever que aquela equipa cheia de dissidentes do Sport Lisboa, não iria durar muito tempo. Albano dos Santos foi um dos que menos tempo permaneceu no SCP, cumprindo apenas durante duas temporadas, mudando-se depois para o Gilman FC em 1909-1910.



No Gilman SC, 1909-1910



Viria por fim, o SC Império, clube onde ainda jogaria durante 4 temporadas e onde terá encerrado a carreira como futebolista.




No SC Império. Esquerda: equipa do Império (riscas pretas e amarelas) alinhando com o árbitro Cândido Rosa Rodrigues (um dos 24 fundadores do Sport Lisboa). Direita: jogo disputado na Quinta da Feiteira entre o Sport Lisboa e Benfica e o Império. Fonte: hemeroteca Lx



Embora já estivesse nos seus anos de declínio como futebolista, Albano dos Santos continuou activo e prestigiado. Integrou selecções de jogadores que participaram em jogos de beneficência e também arbitrou desafios de futebol, incumbência apenas concedida a elementos de grande respeitabilidade e prestígio no futebol Lisboeta.




Equipa mista de Portugueses que defrontou um misto de Ingleses no âmbito de um evento desportivo em favor das vítimas de graves inundações ocorridas pouco antes no Porto. Identificam-se os jogadores Benfiquistas e Albano dos Santos. Fonte: hemeroteca Lx


Não conheço detalhes do seu trajecto como dirigente do CNL mas sei que Albano dos Santos manteve o seu prestígio como membro e dirigente do CNL. Independentemente do seu trajecto futebolístico ter ficado marcado por aquela dissidência de Maio de 1907, esse não terá sido seguramente o momento mais importante da vida desportiva de Albano dos Santos.

O futebol terá sido uma paixão passageira mas o mar foi o amor de toda a sua vida.


Honra à memória de Albano dos Santos.



Albano dos Santos, o vermelho ficou-lhe sempre bem.





RedVC

#939
-257-
As cores do dérbi (parte I): o Clube Internacional de Futebol


Dia 28 de Janeiro de 1906. Campo das Salésias, Belém.




Campo das Salésias, Sport Lisboa e Internacional em pleno convívio. Colorido a partir de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML.



Dezassete jogadores de duas equipas de futebol e um árbitro alinham em conjunto para a objectiva do fotógrafo Eduardo Alexandre Cunha.

Dez jogadores envergam a camisola vermelha do Sport Lisboa e sete a camisola listada de preto e branco do Clube Internacional de Futebol, popularmente conhecido como o "Internacional".

Preto, branco e vermelho. Durante a primeira década da nossa História foram essas as cores do dérbi Lisboeta: Sport Lisboa x Internacional.




As cores do primeiro dérbi Lisboeta.



O primeiro desafio entre os dois clubes foi disputado em 22 de Janeiro de 1905, tendo saído vencedor o Internacional por 1-0. Em termos absolutos e formais, esse jogo foi o segundo da nossa História depois da vitória por 1-0 obtida também no campo das Salésias contra o Sport Club de Campo d'Ourique, no dia 1 de Janeiro de 1905.

Não temos fotografias desse jogo de 1905 e na verdade as imagens captadas por Eduardo A. Cunha são as primeiras que tenho conhecimento de um jogo do Sport Lisboa. Uma preciosidade com valor histórico.

Fazendo jus ao seu nome, naquele dia de 28 de Janeiro de 1906, o Internacional apresentou-se com uma equipa com apenas 3 portugueses (os irmãos/primos Pinto Basto). De resto havia ainda 1 brasileiro e 7 ingleses.

Ao invés, o Sport Lisboa apresentou 11 jogadores portugueses, respeitando uma política interna do Clube que duraria até 1979.

Neste texto falaremos do antigo dérbi da cidade de Lisboa. Honrando esse nosso antigo rival, detalhando alguns aspectos da sua génese e das figuras-maiores da sua fundação.

No próximo texto detalharemos um pouco mais o jogo desse dia 28 de Janeiro de 1906.



Campo das Salésias, a equipa do Internacional. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML.




Clube Internacional de Futebol, 1902



Com as suas camisolas de listas verticais pretas e brancas, o Internacional exibia-se orgulhoso no campo das Salésias. Era um Clube que tinha nascido prestigiado pois foi fundado pela reunião de vontades de alguns dos mais destacados pioneiros do futebol em Portugal, com mais de uma década de actividade em prol da divulgação e prática da modalidade.

A data de fundação do Internacional, assumida pelos seus fundadores, é o dia 8 Dezembro de 1902. Não obstante, a designação de "Clube Internacional de Futebol" parece ter apenas surgido em finais de 1904.

Ao que se sabe, o Internacional foi fundado num contexto em que se discutia a eventual refundação do Football Club Lisbonense, um antigo e prestigiado Clube, então já inactivo.

O FC Lisbonense tinha sido fundado no já distante ano de 1889 pelos filhos do proprietário do Colégio Lisbonense, os 4 irmãos Villar (Afonso, Henrique, Carlos e Alexandre) juntamente com alguns alunos que estudavam naquele colégio elitista. Apesar de extinto, o FC Lisbonense guardava a honra de ter sido o primeiro clube português fundado exclusivamente para a prática do futebol e de sempre se ter batido de forma valorosa contra os ingleses do Carcavellos. Nos primeiros anos o FC Lisbonense chegou a ser superior aos Ingleses.



Algumas das principais figuras da História inicial do Internacional



O desejo por trás dessa eventual refundação explica-se pelo facto de alguns dos futuros fundadores do Internacional terem estado ligados ao FC Lisbonense. Era grande a volatilidade de existência ou de composição dos grupos de futebol de então e o FC Lisbonense era já uma recordação. Ao invés, em anos mais recentes os fundadores do Internacional tinham estado ligados ao "Grupo dos Pinto Basto" e ao "Football Club Swifts". Curioso nome pois "swifts" pode ser traduzido quer como "andorinhões" ou como "velozes"... Apesar de não dispormos de muito elementos disponíveis sobre esse período, é razoável dizer que estes dois grupos estiveram para o CIF como o (Belém) Football Club esteve para o Sport Lisboa.

Já no início do ano de 1906, o Internacional era presidido por Carlos Villar, oficial da marinha e um dos fundadores do FC Lisbonense. Carlos Villar já não jogava mas continuava a ser um pedagogo dinâmico e empenhado, promotor da modalidade quer a nível associativo quer na divulgação das regras da modalidade.

Em campo, as equipas de futebol do Internacional eram lideradas pelos manos Pinto Basto, Eduardo e Fernando, ambos presentes no jogo de Janeiro de 1906. Com um misto de jogadores Portugueses, Ingleses e casualmente de outras nacionalidades, o Internacional era um Clube indubitavelmente elitista que, a par dos Ingleses do Carcavellos Club, tinha um prestígio inatacável. Prestigiado mas não popular...



Vitórias e prestígio



O plantel do Internacional em 1909-1910, vice-campeão de Lisboa atrás do Sport Lisboa e Benfica. Modificado de original.



Até 1914, o Internacional apresentou sempre equipas muito competitivas no campeonato regional de Lisboa, então a competição mais importante da modalidade em Portugal.

Os ingleses do Carcavellos Club participaram apenas nos primeiros quatro campeonatos regionais, tendo vencido de forma convincente os três primeiros (de 1906-07 até 1908-09).

Mas em 1909-10, o último campeonato no tempo da monarquia tudo seria diferente. Com uma determinação e um apuro técnico nunca visto, o Sport Lisboa conseguia enfim derrotar os ingleses e sagrar-se campeão. Nenhum outro clube português conseguiu tal feito.

Na temporada seguinte, os ingleses retiraram-se definitivamente da competição, alegando "superioridade moral", conceito nunca explicado. Curiosamente nessa temporada seria o Internacional a sagrar-se campeão, arrebatando o primeiro campeonato disputado após a instauração da Republica.

Falando de vitórias, o Internacional tem também o mérito de ter sido o primeiro clube português a deslocar-se e a vencer um adversário fora de Portugal. O feito foi conseguido em 5 de Janeiro de 1907, quando se deslocaram a Madrid, para derrotar o Madrid Football Club (que apenas em 1920 passaria a ser "Real") por 2-0. Embora reforçado com alguns craques ingleses do Carcavellos Club, o Internacional utilizou uma maioria de elementos do seu plantel. A vitória foi muito celebrada pelos jornais da época. Com todo o merecimento.



Reportagens acerca da vitória do Internacional em Madrid em Janeiro de 1907. Fonte: Hemeroteca Lx



Um aspecto importante que deve ser salientado é que o Internacional não era só futebol, dispondo também nos seus quadros de excelentes praticantes de ténis, cricket, atletismo e tiro. Atletas como Armando Cortesão e António Silva Martins participaram com boas prestações em Olimpíadas do início do século XX. Um Clube ecléctico, totalmente devotado ao desporto amador. Em 1914 o Internacional era uma grande e prestigiada colectividade do nosso desporto.



1914, o ano de todas as mudanças


Na temporada 1913-14, o Internacional apresentou uma equipa competitiva que disputou arduamente com o Benfica o campeonato regional. As duas equipas chegaram invictas ao penúltimo jogo, um dérbi que tudo iria decidir, em que o Internacional recebia o Benfica no seu terreno, o campo das Laranjeiras.




Campo das Laranjeiras, 14-02.1914, o Benfica venceu o Internacional por 2-1 e conquistou de mais um campeonato regional



Venceu o Benfica por 2-1, resultado que deu o tricampeonato à equipa orientada por Cosme Damião. Um ano Glorioso para o nosso Clube que venceu o campeonato em todas as 4 categorias e que teve Álvaro Gaspar como o melhor jogador e marcador.

Infelizmente para o Internacional, esse seria o último campeonato em que lutou realmente para ser campeão.




Campo das Laranjeiras, 14-02.1914, o Benfica venceu o Internacional por 2-1, conquistando o tricampeonato regional. Fonte: hemeroteca Lx



Apesar da rivalidade desportiva, o Benfica e o Internacional mantiveram um relacionamento respeitoso, isento de atritos semelhantes aos causados pelo SCP. Os dois clubes beneficiavam também de terem à sua frente dois homens de elevada craveira ética e moral, como eram Eduardo Luís Pinto Basto e Cosme Damião.




Eduardo L. Pinto Basto e Cosme Damião, capitães-gerais do Internacional e do Benfica.



Esse relacionamento cordial e frutuoso ficou comprovado aquando da deslocação de uma selecção de jogadores da Associação de Futebol de Lisboa (AFL) ao Brasil em Julho-Agosto de 1913. Nessa digressão, Eduardo Luís Pinto Basto integrou a comitiva como guarda-redes e director financeiro e Cosme Damião como médio-centro e Capitão-Geral, cargo equivalente ao de treinador (ver textos: 42 e 42 nas páginas 12 e 13).



Novas cores, o fim de uma era


No final do dia dessa grande final de 1914, ninguém poderia prever que, apenas alguns meses depois, se dariam dramáticas mudanças políticas e sociais na Europa. O impacto dessas mudanças seria profundo também no futebol Português e em particular no destino do Internacional.

De facto, no dia 28 de Julho de 1914 deflagrou a I Guerra Mundial. O conflito levou à imediata mobilização-geral dos britânicos e ao consequente êxodo de muitos Ingleses que residiam em Portugal. O Internacional sofreu desde logo uma sangria no seu quadro de futebolistas e o que acarretou um notório declínio competitivo da sua equipa principal de futebol.

Atento e oportunista, o SCP aproveitaria o momento para agudizar ainda mais a frágil situação do Internacional, recrutando alguns dos mais importantes jogadores branco-negros. É certo que o SCP existia desde 1906, mas até então nunca tinha conseguido sagrar-se campeão. Dentro de campo, até 1914, a verdadeira rivalidade no futebol lisboeta foi sempre entre o Benfica e o Internacional.

Não satisfeito, o SCP desferiu também um golpe no SLB, contratando três jogadores Benfiquistas entre os quais Artur José Pereira, o melhor jogador Português de então. Uma vez mais os leões extremavam a rivalidade fora de campo criando uma situação que lembrava a grande dissidência de Maio de 1907, quando decidiram rechear a sua equipa principal de futebol com 8 titulares do Sport Lisboa. A força bruta do dinheiro trazia o verde para os dérbis de Lisboa.




As cores das maiores rivalidades desportivas entre 1906 e 1914



No calor da refrega, Cosme Damião nunca teve dúvidas proferindo uma afirmação que se tem revelado certeira ao longo das décadas que entretanto se passaram.




Nunca esquecer nem nunca deixar inverter.



1920, o ano da rotura


Era óbvio que a crescente mercantilização no futebol Português colocava ao Internacional o desafio insolúvel de tentar compatibilizar esses novos tempos com a sua fidelidade ao ideal olímpico ou seja ao amadorismo e à elevação do desporto.

Em 1920, a Direcção do Internacional viu-se forçado a tomar uma decisão fundamental para o seu futuro: aceitar ou recusar qualquer tipo de semiamadorismo no seu futebol?

Estava em causa aceitar ou recusar o pagamento de despesas de deslocação, alimentação e equipamentos aos futebolistas. Decisão tomada e recusa assumida, os dirigentes do Internacional perceberam que tinha deixado de ser viável manter uma equipa no campeonato da I Divisão Regional e assim sem surpresa no final dessa temporada o Internacional desceu à II Divisão Regional.

Essa época de 1919-20 seria marcada pelos últimos dérbis entre Benfica e o Internacional.

No dia 11 de Janeiro de 1920, o Benfica deslocou-se ao terreno do Internacional para vencer por concludentes 3-0 com golos dos manos Artur Augusto (2) e Alberto Augusto.



O dérbi Lisboeta Internacional 0–3 SLB, disputado em 11-01-1920. Na foto Artur Augusto, autor de 2 golos. Fonte: "Em Defesa do Benfica"



No mês seguinte, no dia 29 de Fevereiro de 1920, o Benfica recebeu e venceu o Internacional por uns arrasadores 12-1. Cosme Damião terá certamente lamentado mais do que festejado o resultado desse último dérbi. A rivalidade entre o Benfica e o Internacional foi sempre muito diferente da mantida com o SCP.

Para o Internacional o capítulo final da sua primeira era viria em 1923/24, quando já despromovido ao Campeonato de Promoção (terceiro escalão do futebol regional), decidiu desligar-se definitivamente das competições seniores de futebol (ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2020/01/bom-ano-2020-com-dobradinha.html).



Poucos anos depois, nas eleições de 1926, seria a vez do Sport Lisboa e Benfica enfrentar um dilema similar. Cosme Damião, Bento Mântua e seus pares mantinham-se irredutíveis em recusar a contratação de futebolistas. A democracia interna do Clube funcionou e a maioria dos sócios votantes decidiu trilhar um caminho oposto. A decisão levou a um doloroso embora temporário afastamento de Cosme Damião. Se tivesse prevalecido a vontade de Cosme, muito provavelmente o SLB que conhecemos não existiria.



Ao serviço do desporto e pelo desporto


Desde 1923, o Internacional percorre o caminho que escolheu. Fiel às suas raízes, o Clube Internacional de Futebol ainda existe e apresenta-se confiante no seu futuro. Com as modalidades de ténis, futebol (formação), padel, futsal e karaté, o clube está hoje sediado no Caramão da Ajuda





No próximo texto falaremos sobre o jogo de 28 de Janeiro de 1906. Uma bela partida de futebol que felizmente ficou agradavelmente ilustrada.





Ned Kelly

De vez em quando almoçava lá, no CIF. Sempre me deliciava com umas fotos antigas destas figuras que tu mencionas no teu belo texto. Agora já não vou lá tanto, porque o meu eixo escola-trabalho-casa mudou. (Agora mesmo não vou lá nunca...)

RedVC

#941
-258-
As cores do dérbi (parte II): uma vitória portuguesa

De volta ao dia 28 de Janeiro de 1906. Campo das Salésias, Belém.




A equipa do Sport Lisboa que venceu o Internacional no dia 28-01-1906. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML.



Os 11 jogadores da equipa do Sport Lisboa e o seu capitão-geral Manuel Gourlade, todos portugueses, posam com o árbitro da partida.

Com aquelas camisolas vermelhas, o Sport Lisboa marcava a diferença nos campos de futebol lisboeta naquela primeira década do século XX. Uma atracção e um dos factores que explicam a precoce popularidade do nosso Clube.




As cores dos principais clubes de Lisboa em 1906.



Em 1906, passados dois anos desde a sua fundação, o Sport Lisboa tinha uma base de recrutamento de algumas dezenas de jogadores, um recurso valioso, pouco comum para a época e que lhe permitia apresentar excelentes equipas em primeiras, segundas e terceiras categorias. Homens fundamentais para o Clube em anos vindouros, tais como Cosme Damião e Félix Bermudes, entre outros, ainda jogavam na segunda categoria.

Nesses anos juvenis do futebol português são escassas as notícias sobre os jogos e ainda mais quando se tratavam das categorias inferiores. Há no entanto uma notícia curiosa do Tiro e Sport, prestigiada publicação da época, que fala num jogo renhido e polémico, disputado entre as equipa das segundas categorias do Internacional e do Sport Lisboa.

 

Tiro e Sport, N.º 323, 31 Jan. 1906. Fonte: Hemeroteca de Lisboa.



Não temos detalhes sobre a constituição das equipas mas do nosso lado a equipa não terá fugido muito à da foto que a seguir se apresenta




A segunda categoria do Sport Lisboa em 1906. A equipa dos "espertos".



Mas o aspecto mais interessante é ler que o jogo se disputou no dia 21 de Janeiro 1906, ou seja uma semana antes do jogo de primeira categorias de que hoje vamos falar. Do palavreado tão característico da época percebe-se ainda que a partida foi renhida, com o Internacional a triunfar por 1-0 mas com acalorada discussão sobre o mérito da vitória. Uma boa demonstração de que a rivalidade estava instalada entre as duas colectividades.


***


Mas voltando ao jogo entre as primeira categorias, na nossa equipa principal pontificavam ainda alguns dos antigos e prestigiados futebolistas casapianos que não tendo sido fundadores, desde cedo chegaram ao Clube trazendo a sua qualidade técnica, compreensão do jogo e o prestígio acumulado por mais de uma década de actividade no futebol lisboeta.

Nesse dia 28 de Janeiro de 1906, Manuel Gourlade apostou numa equipa muito forte, misturando a experiência dos 4 antigos casapianos: Queirós Santos, David da Fonseca, António do Couto e Emílio de Carvalho, com a juventude de antigos elementos do Football Club: Cândido Rosa Rodrigues, Carlos França e José da Cruz Viegas; este último presente apesar de muito condicionado pela sua vida militar. Alinharam também Fortunato Levy e Marcial Freitas e Costa, dois jovens que compunham uma dinâmica ala direita. Havia por fim o guarda-rede Manuel Mora e o médio Albano dos Santos, dois valiosos futebolistas provenientes do SC Campo d'Ourique. Uma equipa que provou ser capaz de bater o Internacional.




A equipa do Sport Lisboa



Nesse dia, o Internacional era um opositor formidável, cheio de prestígio e de... ingleses! Fazendo jus ao seu nome, o Internacional apresentou uma equipa com 3 portugueses (os irmãos/primos Pinto Basto), 1 brasileiro (José Luís Guerra) e 7 ingleses.

Gourlade e seus homens sabiam que o jogo era importante pois o Sport Lisboa entrava no seu segundo ano de competição efectiva, precisava de ganhar prestígio e sócios. Ainda e apenas com jogos particulares, na ausência de qualquer tipo de campeonato organizado, o Clube vencia jogos mostrando ter uma matriz vencedora. Ao Clube não bastava ter sido feliz na cuidadosa escolha do símbolo, lema e equipamentos, mas também interessava mostrar atitude competitiva em campo e ganhar a qualquer adversário por mais forte que fosse.

Nessa altura, o futebol lisboeta tinha como que uma hierarquia de equipas, definida em função dos resultados desse jogos particulares e do valor/prestígio dos seus elementos. Acima de todos estavam os ingleses do Carcavellos Club, que desde a extinção do FC Lisbonense se mostrava praticamente imbatível. Logo abaixo tínhamos a par, os ingleses do Lisbon Cricket Club e o Internacional. Depois havia o SC Campo d'Ourique, e um pouco mais tarde o FC Cruz Negra, este último formado a partir de uma dissidência dos primeiros. No final de 1906, o SCP era uma nulidade no futebol Lisboeta, não se atrevendo a desafiar os clubes mais fortes e apanhando goleadas do FC Cruz Negra.

Ora, como veremos, o Sport Lisboa muito rapidamente escalou essa hierarquia. Depois de um ano de divulgação do jogo e das suas regras, de treinos, para apuramento técnico e selecção dos melhores, era chegado o tempo para desafiar todas essas equipas. Entre 1905 e 1906 o nosso Clube venceu todos esses adversários supostamente mais fortes, exceptuando o Carcavellos Club com o qual começamos sofrendo uma goleadas. Em Fevereiro de 1907, no terceiro jogo contra os ingleses, também isso mudou quando fomos vence-los ao seu próprio terreno, apresentando uma equipa quase idêntica à deste dia 28-01-1906! Para um histórico com o Carcavellos Club ver: https://em-defesa-do-benfica.blogspot.com/2017/02/os-imprescindiveis-em-carcavelos-ha.html



O desafio


O Sport Lisboa era o clube mais importante de Belém, zona então bastante jovem e populosa, sedenta de futebol. Para lá de atrair a juventude da terra, o Clube beneficiava daquela componente casapiana que crescia e fazia grande parte da sua formação ali perto, no Mosteiro dos Jerónimos e nas suas cercanias. Apesar do campo das Salésias ser um local familiar às duas equipas, o Sport Lisboa jogava em casa e, como seria de esperar, o desafio atraiu uma numerosa assistência afecta a equipa das camisolas berrantes.




Fotografia aérea da zona de Belém-Ajuda na década de 30 com localização do espaço onde ficava o antigo campo das Salésias, então já desactivado. Fonte: AML



O jogo decorreu em condições climáticas agradáveis, com o numeroso público a não se coibir de manifestar apoio ao Clube da terra. Essa nota foi aliás descrita na agenda de Cândido Rosa Rodrigues, fundador do Sport Lisboa e participante naquele jogo.




Nota da agenda de Cândido Rosa Rodrigues relativa ao jogo de 28-01-1906.



O detalhe do numeroso público a rodear o campo, é aliás bem captado nas fotografias de Eduardo Alexandre Cunha. Percebe-se que havia gente de todas as idades.




A linha defensiva do Sport Lisboa. Nota-se o numeroso público e identifica-se a Igreja da Memória na Ajuda. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML





Mais detalhe. Cruz Viegas, o homem que definiu a escolha das cores vermelha e branca. Vê-se também um árbitro de linha e o numeroso público.



Infelizmente nem a agenda de Cândido Rosa Rodrigues nem a única reportagem disponível sobre o jogo detalham os marcadores dos golos do Sport Lisboa. Há no entanto indicação de que o Sport Lisboa praticou um jogo mais homogéneo, com melhor capacidade física, melhor ligação e maior acutilância. A descrição original é aliás deliciosa:

"O Grupo Sport Lisboa ganhou pela homogeneidade dos jogadores que, mais seguros do seu fôlego e mais scientes do seu jogo, avançavam vigorosamente sobre o campo dos seus adversários que prejudicavam a ofensiva para auxiliarem a defensiva"




Reportagem do jogo na Revista "Serões". Fonte: Hemeroteca Lx


Ou seja dito de outra forma, o Sport Lisboa jogou tendencialmente em ataque continuado e o Internacional esteve na expectativa, tentando explorar o contra-ataque.

O repórter salientou ainda o bom desempenho do meio-campo do Sport Lisboa e particularmente a exibição de António do Couto, infatigável durante o jogo. Salientou ainda a boa combinação de jogo apresentada pelo ataque do Sport Lisboa, associando essa qualidade às virtudes do treino. Observação certeira.




Couto lá ao fundo observando a refrega onde estavam 3 companheiros.




Mais detalhe. Pressão vermelha!



Do lado do nosso opositor viu-se um jogo mais defensivo, menos combinado, o que ainda assim deu aso a que alguns jogadores se tenham destacado, tais como o guarda-redes Shaddock, o médio Scarlett e particularmente o avançado Fernando Pinto Basto, autor do golo do Internacional.




Luta renhida a meio campo. Colorido a parti de um original de Eduardo Alexandre Cunha. Fonte: AML




Mais detalhe. Dois santos e o público do nosso lado...




Mais detalhe. Fortunato Levy, o primeiro jogador cabo-verdiano do nosso Clube. David da Fonseca jogava com uma espécie de punhos. Não se vêm pessoas nas varandas. Alguns espectadores improvisam lugares sentados...



Para a história e prestando a merecida homenagem, lembram-se aqui os 12 Gloriosos jogadores, apresentados em jeito de cromos. Os cromos que nunca tiveram...






Obrigado.




RedVC

#942
Não é um texto mas é uma precisão


Imagem de ontem




Mesmo que solidário na "filosofia" ainda assim vou precisar ao pessoal que escreveu esta tarja aquilo que podendo parecer um pormenor é na verdade um pormaior.



Imagens de há mais de 100 anos





Este Senhor chamava-se Henrique da Costa e em Maio de 1907 foi recrutado por José de Alvalade para passar a integrar os quadros do futebol do Sporting Clube de Portugal.

Henrique da Costa aceitou e assim desertou do Sport Lisboa, trocando a camisola vermelha pela camisola branca do SCP. Henrique da Costa pensou que o Sport Lisboa estava extinto e pretendendo continuar a jogar futebol aceitou uma oferta generosa a qual incluía balneários, banhos quentes, equipamentos limpos ao intervalo, bolas novas, etc. Luxos para a época.

Afinal estava enganado pois o Sport Lisboa não se extinguiu antes se renovou e fortaleceu, competindo de forma valorosa nessa temporada de 1907-1908.

Na época seguinte o Sport Lisboa juntou-se ao Grupo Sport Benfica passando em Setembro de 1908 a designar-se por Sport Lisboa e Benfica.

Nessa temporada de 1908-09, Henrique da Costa ao contrário dos restantes 7 desertores, voltou e envergar a camisola rubra.

Apesar dos luxos do Campo Grande, preferiu os improvisados balneários de Belém, a escassez de recursos de um Clube que tinha apenas para oferecer a riqueza da camaradagem, a ambição da conquista, o talento do jogo, a Mística que se fortalecia. Preferiu a camisola vermelha do Sport Lisboa.

Voltou ao seu Clube de coração. Durante 10 anos foi o mais fiel e valoroso dos companheiros de Cosme Damião. coração gentil, alma humilde, atleta de enorme valia. Talvez o melhor defesa Português entre 1904 e 1918.

Henrique da Costa

1884-1953


Solidário no propósito ainda assim fica feita precisão e reposta a verdade histórica.







Ned Kelly

"Erro táctico de Henrique da Costa"

Mas, ao contrário do mais famoso erro táctico do futebol português, este foi corrigido a tempo.

alfredo

este tópico nao deve saír da primeira pagina...